O Paciente de Dor e a Acupuntura

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O Paciente de Dor e a Acupuntura: Razões na Escolha do Tratamento Dr. Marcus Vinicius Ferreira médico acupunturista Introdução Este trabalho tem como finalidade demonstrar as motivações pessoais e analisar as queixas principais que levam os pacientes a elegerem a acupuntura como forma de tratamento. Para tanto, analisamos um questionário enviado a 450 pacientes selecionados aleatoriamente e devolvidos por 85 destes pacientes; além disto, foram analisadas 3133 fichas clínicas de 2207 pacientes de um consultório privado, cujo titular (o autor) exerce exclusivamente a acupuntura. Método a) Estabelecendo as motivações pessoais que levam o paciente a escolher a acupuntura: Foram selecionados aleatoriamente 450 (quatrocentos e cinquenta) pacientes que tivessem comparecido ao consultório do autor no período entre seis meses e dois anos anteriores à data de início deste trabalho. A estes pacientes foram enviados questionários impressos com postagem de retorno gratuita. Os questionários constavam de: 1) opção de sexo. 2) opção de idade por faixas de dez anos a partir de 10 anos até mais de setenta anos. 3) razão que levou o paciente a procurar o tratamento por acupuntura, em escolha múltipla, constando das seguintes opções: a) indicação médica b) outros tratamentos não fizeram efeito c) ser mais natural d) não ter efeitos colaterais e) experiência positiva de amigos/parentes f) curiosidade g) não confia na medicina tradicional h) outras razões ]A opção "outras razões" trazia um espaço para que o paciente detalhasse à qual razão se referia.

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O Desenvolvimento histrico do Tuin na China

O Paciente de Dor e a Acupuntura: Razes na Escolha do Tratamento

Dr. Marcus Vinicius Ferreira mdico acupunturista

Introduo

Este trabalho tem como finalidade demonstrar as motivaes pessoais e analisar as queixas principais que levam os pacientes a elegerem a acupuntura como forma de tratamento. Para tanto, analisamos um questionrio enviado a 450 pacientes selecionados aleatoriamente e devolvidos por 85 destes pacientes; alm disto, foram analisadas 3133 fichas clnicas de 2207 pacientes de um consultrio privado, cujo titular (o autor) exerce exclusivamente a acupuntura.

Mtodo

a) Estabelecendo as motivaes pessoais que levam o paciente a escolher a acupuntura:

Foram selecionados aleatoriamente 450 (quatrocentos e cinquenta) pacientes que tivessem comparecido ao consultrio do autor no perodo entre seis meses e dois anos anteriores data de incio deste trabalho. A estes pacientes foram enviados questionrios impressos com postagem de retorno gratuita. Os questionrios constavam de: 1) opo de sexo. 2) opo de idade por faixas de dez anos a partir de 10 anos at mais de setenta anos. 3) razo que levou o paciente a procurar o tratamento por acupuntura, em escolha mltipla, constando das seguintes opes:

a) indicao mdicab) outros tratamentos no fizeram efeitoc) ser mais naturald) no ter efeitos colateraise) experincia positiva de amigos/parentesf) curiosidadeg) no confia na medicina tradicionalh) outras razes]A opo "outras razes" trazia um espao para que o paciente detalhasse qual razo se referia. 4) com relao ao resultado final do tratamento: se foi bem ou mal sucedido, com espao para que o paciente justificasse o porqu do insucesso do tratamento. 5) as desvantagens do tratamento pela acupuntura, em escolha mltipla, constando das seguintes opes:

a) dorb) medoc) custod) durao do tratamentoe) outrasA opo "outras razes" trazia um espao para que o paciente detalhasse a que outra desvantagem se referia. 6) se o paciente utilizaria ou j havia utilizado a acupuntura de novo 7) se o paciente j havia utilizado outra forma no convencional (alternativa) de medicina. Em caso de resposta positiva, foi deixado um espao para a especificao do tratamento utilizado.

b) Estabelecendo as queixas principais que levam escolha da acupuntura como forma de tratamento:

Os dados constantes das fichas clnicas foram analisados estatisticamente, procurando se avaliar a frequncia das queixas, o perfil do paciente quanto ao sexo e idade, o nmero mdio de sesses de acupuntura em cada situao; num segundo momento, foram analisados somente os casos onde "dor" era a queixa principal. A etiologia no foi levada em considerao, somente o sintoma e sua localizao.

Resultados

1- Quanto s motivaes pessoais: Foram devolvidos respondidos 85 (18,89%) questionrios.

1.1- Sexo: distribuio de acordo com a tabela 1; a proporo de respostas do sexo feminino foi 1,56 vezes maior do que a proporo de respostas do sexo masculino, com nvel de significncia de 10%. No houve diferena significativa (x = 0,59) entre a amostra pesquisada e a amostra de pacientes do consultrio ( tabela 6).

1.2- Idade: distribuio de acordo com a tabela 2; a idade mdia calculada foi 46,5 anos, com varincia de 186,99 e desvio padro de 13,67. No houve diferena significativa (t = 0,96) entre a idade mdia da amostra pesquisada e a idade mdia da amostra de pacientes do consultrio. O grfico 2 demonstra que as curvas estabelecidas pelas idades das amostras so similares, denominando pesquisa ao conjunto de questionrios devolvidos, total ao conjunto de fichas clnicas e dor, ao conjunto de fichas clnicas onde a queixa principal era dor.

1.3- Razes que levaram o paciente a procurar o tratamento por acupuntura: distribuio de acordo com o grfico 3 e a tabela 3;

1.3.1- Podemos supor que as opes 3, 4 e 7 so consideradas como indicadoras de que a escolha do paciente foi conceitual, havendo uma procura por uma forma de medicina diferente da convencional. Separando os pacientes de acordo com a escolha destas opes, formamos dois grupos: o que denominaremos "naturalistas", que assinalaram ao menos uma das opes acima (3,4 ou 7); "outros", os que no assinalaram nenhuma das opes anteriores. Os dados resultantes esto agrupados no grfico 4 e na tabela 4. A frequncia do grupo "outros" 1,66 maior do que a frequncia do grupo "naturalista" (p = 0,012). Ao analisarmos a distribuio por sexo, constatamos que nos dois grupos o comportamento significantemente diferente ao nvel de 10% (x = 3,61), com maior frequncia relativa feminina no grupo "naturalista" (44,7% das mulheres contra 23,3% dos homens). No houve diferena significativa entre as idades mdias dos grupos "naturalista" e "outros" (t = 1,04 p=0,3).

1.3.2- Definindo a opo "outras razes" encontramos, nos termos empregados pelos pacientes: "substitui medicamentos convencionais agressivos ao organismo", "insere-se numa filosofia de vida", "adequado ao tratamento muscular", "acho eficaz" e "por saber de seus bons resultados".

1.4- Resultado final do tratamento: 73 pacientes (85,8%) marcaram a opo "bem sucedido", enquanto 6 (7,1%) marcaram a opo "mal sucedido"; 6 (7,1%) marcaram as duas opes ao mesmo tempo. A frequncia dos grupos "bem sucedido" e a frequncia do grupo formado por todos os que marcaram a opo "mal sucedido" (12 pacientes, 14,2%) so significativamente diferentes (p < 0,001).

1.4.1- As razes de insucesso apontadas foram: a)devidas ao mdico-2 respostas; b)devidas doena-1 resposta; c)devidas ao prprio paciente-2 respostas; d) devidas ao tratamento em si-4 respostas.

1.5- Desvantagens da acupuntura: distribuio de acordo com o grfico 5 e a tabela 5.

1.5.1- Na opo "medo de qu" encontramos: "das agulhas"- 3 respostas; " de dor"- 4 respostas; " de contaminao" - 3 respostas (AIDS foi citada 1 vez)

1.5.2- Na opo "outras desvantagens" encontramos: 5 respostas associando a acupuntura possvel contaminao ( AIDS foi citada 1 vez); 3 respostas questionando os resultados do tratamento ( se paliativo, se trata somente o sintoma); 5 respostas apontando as desvantagens do mtodo em si (desconforto, a frequncia das sesses, o tempo de cada sesso).

1.6- Se o paciente utilizaria (ou j utilizou) a acupuntura de novo: 76 pacientes (89,4%) responderam que sim, enquanto 6 (7,1%) responderam que no utilizariam de novo.

1.7- Quanto ao uso de outra medicina no convencional: 56 (65,9%) responderam que j haviam utilizado outra forma de medicina alm da convencional; 25 (29,4%) responderam que no. A diferena significativa (p < 0,001). Houve diferena significativa entre os sexos: 78% das mulheres j usaram formas de tratamento no convencionais, enquanto 19,1% no utilizaram (p < 0,001); quanto aos homens, 50% j haviam utilizado, enquanto 46,7% no (p = 0,37). Dos tratamentos no convencionais, a homeopatia foi assinalada 51 vezes (60%); fitoterapia 4 vezes (4,7%); medicina ortomolecular 2 vezes (2,4%); shiatsu, radiestesia, quiroprtica, massagem chinesa tuin, cromoterapia 1 vez cada (1,2%). A fisioterapia foi considerada um tratamento no convencional por 5 pacientes (5,9%) e a psicanlise por 1 paciente (1,2%).

2- Quanto s queixas principais que levam escolha da acupuntura como forma de tratamento:

2.1- Anlise de todas as fichas clnicas: foram analisadas 3133 fichas clnicas.

2.1.1- Sexo: distribuio de acordo com a tabela 6; a diferena entre as frequncias significativa (p < 0,001).

2.1.2- Idade: distribuio por faixas etrias de acordo com a tabela 7; a idade mdia foi de 45 anos, com desvio padro 15 e varincia 225,4; a idade mdia do sexo masculino foi de 43,5 anos, com desvio padro 14,3 e varincia 203,8 enquanto a idade mdia do sexo feminino foi de 46 anos, com desvio padro 15,5 e varincia 239,3 ; a diferena significativa (t = 4,68, p < 0,001).

Obs: O ponto mdio da faixa "mais de 70" foi calculado como sendo a mdia da idade de todos os pacientes com a idade acima de 70 anos.

2.1.3- Queixas mais frequentes: distribuio de acordo com a tabela 8.

Na tabela 9 esto listadas as outras queixas alm das mais frequentes, todas com frequncia relativa abaixo de 1%.

2.1.4- Quanto ao tempo de durao das queixas: distribuio de acordo com a tabela 10. Consideramos duas possibilidades: queixas com menos de seis meses de durao, e queixas com mais de seis meses de durao. A diferena entre as frequncias significativa (p < 0,001).

A tabela 11 correlaciona o sexo com a durao da queixa. A diferena significativa ao nvel de 1% (x = 22,19).

2.1.5- Quanto mdia do nmero de sesses at a interrupo do tratamento: a mdia em toda a amostra, independendo da queixa, foi de 6,9 sesses, com desvio padro de 11,91 e varincia de 141,82. Correlacionando o sexo dos pacientes com a mdia de sesses, obtemos a tabela 12A; a diferena encontrada nas frequncias significativa (t = 2,11 p < 0,05). Correlacionando o tempo de durao da queixa com a mdia das sesses, obtemos a tabela 12B; a diferena encontrada nas frequncias significativa (t = 8,82 p < 0,001).

Correlacionando a idade dos pacientes com a mdia das sesses, obtemos a tabela 13. A relao entre idade e nmero mdio de sesses significativa (r = 0,88).

2.2- Anlise das fichas onde "dor" era a queixa principal: 2859 casos de dor foram analisados.

2.2.1- Sexo: distribuio de acordo com a tabela 14; a diferena entre as frequncias significativa (p < 0,001). No houve diferena significativa entre as frequncias quanto ao sexo dos casos de dor e da amostra geral ( tabela 6) (x = 0,02).

2.2.2- Idade: distribuio por faixas etrias de acordo com a tabela 15; a idade mdia foi de 45,8 anos, com desvio padro 15,1 e varincia 226,8; a idade mdia do sexo masculino foi de 43,8 anos, com desvio padro 14,2 e varincia 201,4 enquanto a idade mdia do sexo feminino foi de 47,4 anos, com desvio padro 15,5 e varincia 240,6; a diferena significativa (t = 6,38, p < 0,001). No houve diferena significativa entre a idade mdia do grupo de pacientes cuja queixa principal foi dor e o total de pacientes analisados (t = 2,05 p < 0,05). Dentre as localizaes mais frequentes de dor , houve diferena significativa entre a idade mdia da amostra total dos casos de dor e a idade mdia dos casos de dor no ombro (idade mdia 49,3 anos, varincia 188,92) (t = 4,36 p < 0,001). Nos outros casos a diferena entre as mdias das idades no foi significativa.

2.2.3- Localizaes de dor mais frequentes: distribuio de acordo com a tabela 16.

2.2.4- Quanto ao tempo de durao das queixas de dor: distribuio de acordo com a tabela 17. A diferena entre as frequncias significativa (p < 0,001). Analisando as tabelas 10 e 17, verificamos que h uma diferena significativa entre elas ao nvel de 5% (x = 4,63), com menor frequncia da durao "maior que seis meses" nos casos de dor.

A tabela 18 correlaciona o sexo com a durao da queixa. A diferena significativa ao nvel de 1% (x = 36,94).

2.2.5- Quanto ao nmero mdio de sesses at a interrupo do tratamento: a mdia em toda a amostra, independentemente da queixa, foi de 6,3 sesses, com desvio padro de 9,62 e varincia de 92,52. Correlacionando o sexo dos pacientes com a mdia de sesses, obtemos a tabela 19 A; a diferena encontrada nas frequncias significativa (t = 3,36 p < 0,001). Correlacionando o tempo de durao da queixa com a mdia de sesses, obtemos a tabela 19 B; a diferena encontrada entre as frequncias significativa (t = 8,21 p < 0,001)

Correlacionando a idade dos pacientes com a mdia de sesses, obtemos a tabela 20. A relao entre idade e nmero mdio de sesses significativa (r = 0,96).

Quanto localizao da dor, em trs situaes a diferena entre a mdia de sesses no caso especfico e a mdia de sesses no total dos casos de dor foi significativa: dor lombar: mdia 5,5 desvio padro 7,84 e varincia 61,52 (t = 2,57 p < 0,01); dor no ombro: mdia 8,1 desvio padro 10,66 e varincia 113,56 (t = 2,37 p < 0,02); dor na perna: mdia 5,1 desvio padro 4,64 e varincia 21,51 (t = 2,19 p < 0,05).

Concluses

1) A amostra pesquisada atravs do questionrio significativamente correspondente amostra total de pacientes do consultrio. 2) O que leva o paciente acupuntura no o conceito de medicina natural ou alternativa, e sim seus resultados, aferidos atravs da experincia prvia de amigos e/ou parentes. Dentre os pacientes que procuraram a acupuntura por alguma razo "alternativa", encontramos maior frequncia de pacientes do sexo feminino. Os pacientes do sexo masculino apontaram em sua maioria razes sem relao ao conceito de "medicina natural". No houve variao significativa entre a idade mdia do grupo feminino e do grupo masculino. 3) Nesta amostra, a maior parte foi bem sucedida no tratamento, e voltaria ( ou j voltou) a utilizar a acupuntura. 4) A desvantagem mais frequentemente marcada foi o custo do tratamento, seguida pela sua durao. Ainda neste item, somente 8 pacientes se referiram possibilidade de contaminao atravs da acupuntura. 5) A maioria dos pacientes admitiu j ter utilizado outra forma de medicina no convencional; a homeopatia sendo a mais frequentemente utilizada. 6) O paciente de acupuntura tende a ser do sexo feminino, com a idade mdia de 45 anos. 7) A queixa mais frequentemente encontrada foi dor, presente em 91% dos casos, seguida por tenso emocional (10% dos casos). 8) A maior parte dos pacientes procura a acupuntura antes da queixa completar seis meses. 9) O nmero mdio de sesses at a interrupo do tratamento aumenta proporcionalmente idade do paciente e ao tempo de durao da queixa, sendo significativamente maior nos pacientes do sexo feminino do que nos do sexo masculino. 10) Dor lombar a queixa de 1/3 dos pacientes que procuram a acupuntura, e tem a mdia de sesses at a interrupo do tratamento significativamente mais baixa que a mdia da amostra total.

Resumo

Foram analisados 85 questionrios e 3133 fichas clnicas de pacientes de acupuntura, buscando se definir o perfil deste paciente. Notou-se que a razo de escolher a acupuntura como tratamento deve-se experincia prvia de amigos e/ou parentes, e que a viso conceitual de "medicina alternativa" influi pouco nesta escolha. Custo a principal desvantagem apontada pelos pacientes. O paciente padro do sexo feminino com a idade mdia de 45 anos, cuja queixa principal dor, principalmente dor lombar. O nmero mdio de sesses at a interrupo do tratamento proporcional idade do paciente e ao tempo de durao da queixa. Os pacientes do sexo feminino tendem a ter o nmero mdio de sesses maior que os do sexo masculino.