o Papel Da Afetividade No Processo de Aprendizagem

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UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO – LATO SENSU EM PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA PATRÍCIA MARA FONSECA O PAPEL DA AFETIVIDADE NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM Santos-SP 2011

Transcript of o Papel Da Afetividade No Processo de Aprendizagem

  • UNIVERSIDADE SANTA CECLIA

    CURSO DE PS-GRADUAO LATO SENSU EM PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLNICA

    PATRCIA MARA FONSECA

    O PAPEL DA AFETIVIDADE NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

    Santos-SP

    2011

  • UNIVERSIDADE SANTA CECLIA

    CURSO DE PS- GRADUAO - LATO SENSU PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLNICA

    PATRCIA MARA FONSECA

    O PAPEL DA AFETIVIDADE NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

    Monografia apresentada a Universidade Santa Ceclia como requisito parcial para obteno do ttulo de Ps- Graduado em Psicopedagogia Institucional e Clnica.

    Orientao: Professor Dr. Tadeu dos Santos.

    Santos-SP

    2011

  • PATRCIA MARA FONSECA

    O PAPEL DA AFETIVIDADE NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

    Monografia apresentada a Universidade Santa Ceclia como exigncia parcial

    para obteno do ttulo de Ps-Graduado em Psicopedagogia Institucional e Clnica.

    Data da aprovao: / / Banca Examinadora Professor Ms. Examinador Professor Dr. Tadeu dos Santos Orientador

  • RESUMO

    Esta pesquisa busca compreender a importncia da afetividade no

    desenvolvimento e na aprendizagem da criana. Para falarmos de afetividade e

    cognio no podemos deixar de citar Henri Wallon, que contribuiu com seus

    estudos, no qual, afirma que a funo tnica, a expresso emocional, o

    comportamento e a aprendizagem do ser humano dependem uma da outra.

    Concluiu-se que o sucesso da aprendizagem infantil se estabelece atravs de uma

    prtica pedaggica que leve em considerao a criana como um ser com

    caractersticas e ritmos prprios, as quais contribuam para a vida afetiva pela

    satisfao encontrada nas atividades, e pelo alvio de tenses que permitem um

    clima de satisfao para o educando. Faz-se necessrio um repensar por parte dos

    educadores em como se analisar a criana, compreendendo-a como um ser capaz

    de construir os seus prprios conhecimentos, ser criativo e autnomo, pois desta

    forma, entende-se necessidade de ao, de movimentos de aprendizagem do

    educando.

    PALAVRAS-CHAVE: Afetividade Aprendizagem Desenvolvimento Cognitivo.

  • Frisson Elba Ramalho

    Meu corao pulou

    Voc chegou me deixou assim

    Com os ps fora do cho

    Pensei, que bom

    Parece enfim, acordei

    Pra renovar meu ser

    Faltava mesmo chegar voc

    Assim sem me avisar

    E acelerar

    Um corao que j bate pouco

    De tanto procurar por outro

    Anda cansado

    Mas quando voc est do lado

    Fica louco de satisfao

    Solido nunca mais

    Voc caiu do cu

    Um anjo lindo que apareceu

    Com olhos de cristal

    Enfeitiou

    Eu nunca vi nada igual

    De repente voc surgiu na minha frente

    Luz cintilante

    Estrela em forma de gente

    Invasora do planeta, amor

    Voc me conquistou

    Me olha, me toca

    Me faz sentir

    Que hora,agora

    Da gente ir

  • DEDICATRIA

    Ao meu filho Samuelzinho, por ser a alavanca da minha vida, ao meu marido

    Samuel, pelo apoio moral e pela sua compreenso, a minha me, aos mestres deste

    curso e em especial ao meu Orientador professor Dr. Tadeu dos Santos por ter sido

    uma referncia nesta pesquisa e por sua pacincia e dedicao.

  • AGRADECIMENTOS

    Primeiramente a Deus, por ter me abenoado, dando sabedoria e oportunidade para realizar esta Pesquisa.

    Ao meu marido, Samuel Mendes, por toda sua compreenso, por me apoiar financeira e moralmente em meus estudos acadmicos e pelas crticas nos

    momentos certos, Samuel, voc o maior e melhor acontecimento da minha vida.

    Ao meu filho Samuelzinho, pela alegria da maternidade e por ser a alavanca da minha vida nos momentos de superao, eu te amo.

    A minha me Mriam do Carmo Fonseca, por ter me acessado a este mundo, por seu amor e pelo apoio moral.

    A minha tia Mary Fonseca Soares, por me levar a fora para a escola na fase mais difcil de minha infncia as primeiras sries do antigo primrio.

    A querida Helosa Terezinha da Costa Praa a Teresa (em memria), por sua parceria com a tia Mary na difcil tarefa de me levar para a escola, ainda

    bem que vocs no desistiram.

    A minha amiga Adriana Bispo, por seus livros impregnados de sensibilidade e por seu carinho que me inspiraram a escrever sobre afeto.

    Ao meu professor orientador pela pacincia em ouvir e responder minhas dvidas quando precisei.

    E a todos os demais professores deste curso que me apoiaram e me incentivaram nos estudos durante as aulas.

  • SUMRIO

    INTRODUO 08

    1. A HISTRIA DA AFETIVIDADE E SEUS CONCEITOS 09

    1.1 Afetividade e Cognio 12

    1.2 Henri Wallon e a Teoria da Afetividade 14

    2. VISO PSICANALTICA DO VNCULO AFETIVO 21

    2.1 John Bowlby e a Formao do Vnculo Afetivo 23

    2.2 Resilincia 24

    2.3 Autoestima 25

    3. AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM 27

    CONSIDERAES FINAIS 30

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 32

  • 8

    INTRODUO

    Esta pesquisa busca compreender a relao entre a afetividade e o

    desenvolvimento cognitivo, mostrando a responsabilidade da famlia e dos

    educadores na formao da personalidade da criana. Este assunto tem sido muito

    discutido por professores, educadores e pais.

    A afetividade e a inteligncia no so imutveis, elas evoluem, so

    construdas e se modificam. De acordo com o perodo de desenvolvimento da

    criana, as necessidades afetivas se tornam cognitivas. Segundo Almeida (1999, p

    63) ao mencionar Wallon ela observa que so as emoes que unem a criana ao

    meio social: elas que antecipam inteno e o raciocnio.

    Ao estudarmos Henri Wallon compreenderemos que a motricidade tem uma

    dimenso psquica, ou seja, o deslocamento no espao uma totalidade motora,

    afetiva e cognitiva. Outra questo que merece destaque a questo do vnculo

    afetivo que se estabelece. Para Bowlby, o vnculo afetivo tem uma importncia

    fundamental na aprendizagem, exercendo papel fundamental em nosso

    desenvolvimento.

    Os gestos de sobrevivncia da criana so a expresso de uma modulao

    tnica e emocional se enquadrando ao seu ambiente. Desde o desenvolvimento

    intra-uterino e o nascimento.

    Este estudo usou o mtodo qualitativo mediante levantamento bibliogrfico,

    atravs de leituras e anlises sobre o material coletado por meio das quais obtemos

    as informaes necessrias para a elaborao de uma proposta coerente e que

    contribua cientificamente para o registro do papel da afetividade no processo de

    aprendizagem.

    Este tipo de abordagem permite ao pesquisador a obteno de uma melhor compreenso do comportamento de diversos fatores e elementos.

  • 9

    1. A HISTRIA DA AFETIVIDADE

    A escola deveria entender mais os seres humanos e de amor, do que de contedos e tcnicas educativas. Eles tem contribudo em demasia para a construo de neurticos por no entenderem de amor, de sonhos, de

    fantasias e de dores.

    (Claudio Saltini)

    De acordo com Mini Dicionrio Luft (2010), afetividade qualidade de

    afetivos, sentimentos; o amor quer dizer afeio profunda, o objeto dessa afeio

    zelo, cuidado. A palavra afeto vem do latim affectur (afetar, tocar) o elemento

    bsico da afetividade, o afeto corresponde a sentimento de amizade, afeioado.

    O que ficou documentado pelos filsofos, da Grcia antiga at a modernidade

    foi que a razo quase sempre superior aos sentimentos.

    A relao entre a razo, o sentimento e a emoo, aqueceu debates

    envolvendo grandes filsofos, que ora valorizavam os conflitos existentes entre

    razo e sentimentos, ora a dicotomia. Eurpedes, por exemplo, investia no tema do

    conflito entre razo e emoo e o ilustrava atravs da dramaturgia, Aristteles, com

    seu dualismo, afirmava que os sentimentos so elaborados no corao e que o

    crebro racionaliza o corao e seus sentimentos. Kant, enaltecendo razo, afirmou

    que as paixes eram a enfermidade da alma. O que ficou documentado pelos

    filosficos, da Grcia antiga at a modernidade, afirmava-se que a razo quase

    sempre superior aos sentimentos.

    No Dicionrio de Filosofia de Nicola Abbagnano (filsofo italiano da era

    contempornea), a palavra afetividade designa o conjunto de atos como bondade,

    inclinao a devoo, a proteo, o apego, a gratido, em resumo, pode ser

    caracterizada como algum que preocupa-se com ou cuida de outra pessoa e a

  • 10

    mesma corresponde positivamente aos cuidados ou a preocupao, essa dita

    como uma das formas de amor.

    Plato definiu como virtude a liberao e troca de todas as paixes,

    prazeres e valores individuais pelo pensamento, considerado por ele ligado

    imutabilidade das formas eternas. At a famosa frase de Descartes Penso, logo

    existo, foi questionada porque queriam que houvesse a separao entre a razo e

    a emoo.

    O filsofo Immanuel Kant, em uma de suas obras Fundamentao da

    metafsica dos costumes (1786), afirmou que impossvel o homem ser feliz e ter

    razo, e perpetuou sua famosa frase Se Deus tivesse feito o homem para ser feliz

    no o teria dotado de razo. Kant dizia que as paixes eram a enfermidade da

    alma, ele acreditava em uma hierarquia entre a razo e as emoes.

    As premissas filosficas ainda vivem atualmente atravs de metforas, que,

    freqentemente ouvimos e repetimos sem nos dar conta: no haja com o corao,

    coloque a cabea para funcionar, seja mais racional. Ento crescemos ouvindo

    e embutindo em nossas crianas que, para ser uma pessoa sria, ela precisa se

    desvincular de seus prprios sentimentos e emoes, em outras palavras, a

    afetividade tem que ser controlada ou at mesmo anulada.

    A psicologia atravs de sua histria, iniciada no sculo XIX, onde logo aps

    o comportamento humano ser considerado sujeito a princpios universais, alguns

    problemas filosficos foram adotados pela psicologia que nos relata uma grande

    semelhana com a filosofia, at mesmo pela forte influncia de seus filsofos que

    deram origem as teorias psicolgicas, pois, estudaram separadamente os

    processos cognitivos e afetivos; infelizmente por serem mal formulados, se

    tornaram difceis de resolv-los cientificamente, pois voltou a se discutir a razo e

    a emoo. Theodor Fechner, um dos precursores da cincia psicolgica, em 1860

    atravs de sua obra Elemente der Psychophisik declarou interessado na cincia

    exata entre razo e a emoo, ele at tentou comprovar a identidade destas, mas,

    infelizmente foi seriamente criticado por muitos psiclogos, no podendo unir aquilo

    que os filsofos separaram h centenas de anos atravs do racionalismo.

  • 11

    No dicionrio tcnico de Psicologia, afetividade um termo utilizado para

    designar e resumir no s os afetos, mas tambm, os sentimentos ligeiros,

    enquanto o afeto definido como qualquer espcie de sentimento e (ou) a emoo

    est associada a idias.

    Tal ciso foi mantida intocvel at o incio do sculo XX, pois o movimento

    dessas dicotomias ganhou fora em diferentes reas e culminou numa discusso

    quase inconcilivel entre os sistemas tericos que dominaram o cenrio dos debates

    sobre conhecimento, pensamento, comportamento e sentimentos humanos.

    Posteriormente, com a consolidao de grandes teorias psicolgicas como a gestalt,

    a psicanlise, o behaviorismo, a epistemologia gentica, a psicologia cultural e a

    psicologia scio-histrica, o problema passou a ser debatido de forma mais profunda

    por cada modelo e comearam a aparecer os estudos sobre as relaes entre

    cognio e afetividade. Mesmo assim, aos olhos do consumo, cada teoria acabou se

    dedicando mais a um aspecto que ao outro. Alm disso, algumas teorias, como, por

    exemplo, o behaviorismo, que insistiu em continuar alimentando uma distino

    radical entre cognio e afetividade. Desse modo, mesmo no campo da psicologia,

    ainda hoje persiste a idia de que cognio e afetividade so instncias dissociadas.

    Na rea educacional o trajeto tambm no foi e no muito diferente.

    comum, ainda hoje, no mbito escolar, o uso de uma concepo terica que leva os

    educadores a dividirem a criana em duas metades: a cognitiva e a afetiva. Esse

    dualismo um dos maiores mitos presentes na maioria das propostas educacionais

    da atualidade. A crena nessa oposio faz com que se considere o pensamento

    calculista, frio e desprovido de sentimentos, apropriado para a instruo das

    matrias escolares clssicas. Acredita-se que apenas o pensamento, leve o sujeito a

    atitudes racionais e inteligentes, cujo expoente mximo o pensamento cientfico e

    lgico-matemtico. J os sentimentos, vistos como "coisas do corao", no levam

    ao conhecimento e podem provocar atitudes irracionais; Edgar Morin, um dos

    grandes filsofos atuais, atravs da Teoria da Complexidade derruba toda e

    qualquer forma de dualismo que dizem respeito afetividade e cognio. Produzem

    fragilidades de segundo plano, prprias da privacidade "inata" de cada um. Seguindo

    essa crena, as instituies educacionais caminharam para a nfase da razo,

    priorizando tudo o que se relaciona diretamente ao mrito intelectual.

  • 12

    O fato que, estamos no sculo XXI e o uso tcnico especializado do

    dualismo razo e emoo pairam sobre o prisma da cognio e da afetividade.

    1.1 AFETIVIDADE E COGNIO

    A palavra cognio vem do latim co-gnitone, significa a aquisio de um

    determinado conhecimento atravs da percepo. um conjunto de processos

    mentais utilizados no pensamento e na percepo. Ela muito mais que aquisio

    do conhecimento e, conseqentemente, a nossa adaptao ao meio externo,

    tambm se torna um mecanismo de converso sobre a captao para nosso ntimo,

    neste processo o ser humano interage com o meio que vive, portanto um processo

    de conhecimento cujo material a informao do nosso meio e o que j est

    registrado em nossa memria.

    Nossa sociedade que tem o estigma familiar, as crianas so rotuladas com

    habilidades especficas, porque a capacidade de aprender est limitada, aprendem

    algumas coisas e outras no; no participam do cotidiano dos pais, por esse motivo

    a criana exterioriza as suas emoes na sala de aula, atravs da alegria, clera ou

    medo muitas vezes do professor.

    Podemos perceber que a sociedade se preocupa de que maneira vai

    socializar a criana, pois h uma contradio dentro da concepo moderna de

    infncia. Em alguns momentos a criana vista como inocente, algum que

    necessita de proteo, em outros ela, segundo os olhos dos adultos, precisa ser

    domada e engessada dentro dos nossos padres, para que seja til a sociedade que

    se diz moderna, porm, ainda impregnada pelo rano do dualismo, dos contedos

    programticos e das novas velhas tcnicas educativas.

  • 13

    A criana desenvolve melhor e de forma prazerosa sua criatividade, assim

    como, sua maneira de se expressar quando ela se utiliza da linguagem e dos

    conhecimentos adquiridos no ambiente familiar, onde vive um misto de verdades e

    mentiras, pois a criana no tem a noo completa de suas realidades por este

    motivo sonha e cria fantasias. A linguagem importante para o pensamento infantil.

    Segundo Almeida (1999, p. 57): a criana apropia-se dos bens culturais e,

    provavelmente, ingressa como elemento do meio social na medida em que domina

    os instrumentos de origem social, pois a linguagem e os diversos sistemas de

    smbolos possibilitam ultrapassar o nvel da experincia ou da inveno imediata e

    concreta.

    Saber ouvir os filhos de extrema importncia, para tanto, o adulto precisa

    dialogar com o seu passado, voltar a sua infncia, trata-se de autoconhecimento.

    Segundo Tiba (2002,p. 185): Quando a criana sabe que poder contar tudo aos

    pais sente-se mais forte e participativa. Depois eles no devem deixar de ouvir o que

    ela quer contar, a maneira de estar presente mesmo estando ausente.

    A famlia tem por obrigao cuidar e proteger suas crianas para que possam

    evoluir socialmente de acordo com os valores constitudos, auxiliar em sua

    escolarizao e orient-la por meio das instrues sociais, sendo assim, crianas se

    tornaro pessoas emocionalmente equilibradas e com certeza sabero estabelecer

    vnculos afetivos e respeitosos com o seu semelhante.

    Cabe a escola garantir a aprendizagem de alguns contedos tradicionais

    como: leitura, escrita e outras, despertando um senso crtico no educando o que ir

    refletir mais tarde na plena cidadania; alm de ter o papel de facilitadora no

    processo de introduzir na criana competncias, categorias mentais e termos

    cientficos, mas, ser que o sonhar, a fantasia, o brincar, o amor, e por que no

    falarmos da dor e como lidar com ela tambm no deveriam fazer parte dos

    contedos programticos, a escola forma seres humanos no robs.

    A maioria das crianas no tem clareza entre as funes da famlia e as da

    escola, isso se deve ao equvoco de pais que transferem seu papel de primeiro

    educador para a instituio chamada escola. O processo de socializao da criana

    concretamente determinado pela sua condio histrico - social. Alm disso,

  • 14

    enquanto sujeito da histria a criana tem a possibilidade de recriar seu processo de

    socializao e atravs dele interferir na realidade social. (MIRANDA,1994, p. 131).

    A escola, a famlia, o professor, o educando, o ambiente em que vive, todo

    esse conjunto proporciona experincias fundamentais para a construo da

    personalidade da criana, denominando-a ser humano capaz de adquirir e

    armazenar seu conhecimento, e, do afeto atravs de seus vnculos afetivos,

    possibilitando maior evoluo, que resultar em uma sociedade harmoniosa onde se

    extinguir a violncia, a discriminao, o preconceito, o olhar prepotente s

    diferenas, a fome de comida, a fome de conhecimento e a maior e pior de todas as

    misrias, a falta de afeto, e este o alicerce da boa aprendizagem.

    1.2 HENRI WALLON E A TEORIA DA AFETIVIDADE

    Para falarmos de afetividade e cognio no podemos deixar de citar Henri

    Wallon, que contribuiu com seus estudos, do qual afirma que a funo tnica, a

    expresso emocional, o comportamento e a aprendizagem do ser humano

    dependem uma da outra.

    A emoo nesse estgio de evoluo do ser humano quase que o nico

    detonador da ao, chega a ser uma pr-linguagem, pois o adulto ou a me passa a

    ser a fonte de afetividade para o beb.

    Ele nos explica que os simples movimentos do beb so gestos de

    sobrevivncia, o que significa a expresso de uma modulao tnica e emocional se

    adequando ao seu meio externo, isso quer dizer que, tanto a maturao neurolgica

    quanto o desenvolvimento social, um depende do outro.

    Atravs do choro, da postura e de movimentos da criana, o adulto vai se

    ligando afetivamente com a criana suprindo suas necessidades fisiolgicas e

  • 15

    emocionais, o que cria entre eles vnculos importantes e fundamentais para um bom

    desenvolvimento psicomotor.

    Com a troca de afetividade por meio das necessidades saciadas do beb

    que nasce a vida psquica dando origem conscincia subjetiva e a individualidade

    deste ser.

    Quando o beb experimenta junto com o adulto a troca de carcias, abraos, e

    outros gestos de afeto vo criando sinais afetivos como alegria e contentamento;

    neste estgio Wallon nos explica que a relao entre a funo tnica e a emoo

    essencial para o desenvolvimento psicomotor, o que ressalta que a tonicidade um

    dos alicerces da psicomotricidade, onde o papel da emoo relevante no

    desenvolvimento global da criana.

    Para Wallon, citado por Fonseca (2008), a emoo moldada atravs da

    funo tnica, portanto a tonicidade a matria-prima da vida afetiva; tanto o

    aumento do tnus como a sua reduo refletem na sua vida e vo esculpindo o

    corpo deste ser.

    A teoria de Wallon foi criada atravs da anlise de seus estudos e

    comparando as semelhanas e diferenas entre crianas normais e patolgicas,

    adultos, identificou os estgios deste processo em desenvolvimento, que seguem na

    seguinte ordem:

    1) Impulsivo Emocional (0 a 1 ano);

    2) Sensrio-Motor e Projetivo (1 a 3 anos);

    3) Personalismo (3 a 6 anos);

    4) Categorial (6 a 11 anos);

    5) Puberdade e Adolescncia (11 anos em diante).

  • 16

    Estes estgios nos mostram que o motor, o afetivo, o cognitivo, a pessoa,

    apesar terem estruturas diferenciadas esto integrados, pois um faz parte do outro,

    sendo separados apenas para estudo descrio.

    1) Estgio Impulsivo Emocional: Este compreende do nascimento at 1 ano

    de idade e se divide em dois momentos:a impulsividade motora e o emocional.

    O beb no incio de sua vida totalmente dependente do meio externo,

    necessitando da interpretao do adulto para satisfazer suas necessidades de

    sobrevivncia.

    A impulsividade motora inicia-se no nascimento e dura aproximadamente trs

    meses (reflexos e movimentos impulsivos); logo aps o nascimento o beb est

    monopolizado por suas necessidades fisiolgicas, alimentares ou do sono, diferente

    do perodo fetal, que so automaticamente atendidas por esta fase que causa

    momentos de ansiedade, espera e desconforto o que provoca movimentos reflexos,

    isso uma manifestao de impulsividade motora, estes movimentos refletem

    sensaes de bem-estar ou mal-estar, a primeira linguagem da criana, e assim a

    fase impulsiva vai dando lugar emocional.

    O emocional nada mais que, a mudana da descarga motora para a

    expresso e comunicao, ou seja, a linguagem primitiva feita de emotividade

    pura, temos ento a primeira forma de sociabilidade. A partir deste processo entre a

    criana e seu cuidador, nasce a vida psquica, onde se cria as primeiras imagens

    mentais, sua individualidade. Wallon nos explica que por volta dos doze meses, este

    estgio basicamente afetivo e voltado para si, e ir priorizar a construo do real.

    2) Estgio Sensrio-Motor e Projetivo: Caracterizado pela investigao

    e explorao da realidade exterior este estgio vai de 1 ano a trs anos, a criana

    tem contato com o mundo e um aspecto objetivo, a inteligncia prioriza a construo

    da realidade; ela comea a manipular objetos, ou se deslumbra com o corpo que

    acaba de descobrir; neste momento, desenvolve-se a inteligncia prtica; ainda

  • 17

    nesse perodo, a linguagem decisiva para o desenvolvimento psquico, pois outra

    maneira de explorao deste novo mundo.

    Portanto, o andar e a linguagem daro oportunidade para a criana ingressar

    no mundo dos smbolos. A criana ainda no capaz de imaginar sem representar

    (expresso corporal); neste momento a criana ela inicia a etapa projetiva, onde

    seus atos mentais projetam-se atravs dos atos motores uma caracterstica forte

    sua percepo do meio externo, e, j capaz de elaborar seu pensamento, para

    tanto sero necessrios dois movimentos: Imitao e Simulacro. A Imitao est

    relacionada a um ato anterior, a uma representao, claro que no incio trata-se de

    um recurso simblico, a criana comea reproduzir situaes que lhe agradem, isto

    j uma expresso afetiva.

    O simulacro inicia-se durante a atividade exploratria e projetiva sua principal

    caracterstica o pensamento apoiado em gestos, ou seja, ela comea a lidar com

    seus desejos de sua prpria criao, para tanto, a atividade sensrio-motora estiver

    subordinada representao, o comeo da organizao mental; nesta etapa a

    linguagem elabora a expressividade mental da criana.

    Neste estgio ela comea a ter conscincia de si, atravs da manipulao do

    seu corpo onde ela conseguir diferenciar suas partes. A seguir vem a identificao

    e apropriao do corporal, ela estabelecer uma relao entre sua pessoa e sua

    imagem, o que de suma importncia para a atividade cognitiva. Segundo

    Wallon(apud Costa,2010,p.37), A criana tem dupla necessidade: admitir imagens

    que s tem a aparncia da realidade e afirmar a realidade de imagens que se furtam

    percepo, esse processo realiza-se com o auxlio da explorao dos objetos, do

    aparecimento da funo simblica e da objetivao do prprio corpo, um clssico

    exemplo quando a criana v sua imagem refletida no espelho. Tanto a funo

    simblica, de desdobramento e substituio da realidade que a criana que do

    suporte para que a criana separe sua personalidade do outro ser, dando espao

    para o estgio personalista que vai diferenciar o eu psquico.

  • 18

    3) Estgio do Personalismo: Neste estgio a condio corporal do indivduo necessria para conscincia de si e vai de 3 a 6 anos.Segundo

    Wallon (apud Bastos e Der, 2010, p.39):

    Podemos perceber que as aquisies so graduais e alternantes: da constituio do eu corporal para a constituio do objeto e desta para a do eu psquico. Progressivamente, a criana vai tomando conscincia de si como sujeito social que luta para se individualizar, se diferenciar, para sair da massa indiscriminada e sincrtica em que se encontra. Entra num perodo que sua necessidade de afirmar, de conquistar sua autonomia vai lhe causar, uma srie de conflitos.

    Sem esquecer que o processo de inteligncia fundamenta-se pela afetividade,

    o ser humano repleto de conflitos, contradies e crises que se fazem presentes

    em sua evoluo fsica e emocional.

    Nesta etapa de evoluo a linguagem ntida, assim como, a sua prpria

    conscincia, trs fases distintas caracterizam este estgio: oposio, seduo e

    imitao.

    A oposio se d por volta dos 3 anos, pela afirmao de si e na busca de

    sua independncia, a criana gosta de contrariar pessoas prximas a ela, Wallon

    denominou esta fase como recusa e reivindicao.

    A seduo fase em que a criana necessita ser admirada, quer ser querida

    pelos outros, por isso faz gracinhas; seus movimentos chegam a atingir a perfeio,

    assim mostra que tem qualidades. A hiptese levantada por Wallon (apud Bastos e

    Der, 2010, p 42) para atender essa necessidade de aprovao a participao

    mtua, experimentada ainda no primeiro ano de vida, que a ligava s pessoas por

    meio do contgio emocional.

    Esta fase muito delicada, por estar extremamente ligada as frustraes,

    requer maior ateno do adulto, pois pode marcar negativamente a relao da

    criana com o seu meio.

  • 19

    A imitao encerra a terceira fase do personalismo, a criana no enxerga

    suas qualidades, da, a necessidade de criar e fantasiar personagens que so

    referencias em seu meio, pois nesse perodo a criana busca modelos.

    Nesta idade, geralmente a criana freqenta a pr-escola, o que vai aos

    poucos diminuindo a influncia da famlia que ainda muito significativa, motivo pelo

    qual a relao do professor deve se mais maternal e menos disciplinar.

    Os grupos sociais atravs do meio externo influenciam positivamente ou

    negativamente na construo do processo de sua aprendizagem social.

    No personalismo, os critrios de afetividade dominam os objetivos e lgicos

    em seu pensamento, portanto confuso e contraditrio; precisamos compreender a

    evoluo do ser humano de forma que ele se configure um ser biolgico,

    sociocultural numa grande teia tecida pela afetividade, inteligncia o motor; que no

    prximo estgio ser o alicerce da inteligncia.

    4) Estgio Categorial: Neste estgio que vai de 6 a 11 anos, seu comportamento ser orientado atravs do desenvolvimento intelectual. A emergncia do

    pensamento categorial depende da influncia conjunta do desenvolvimento biolgico

    e da insero no meio humano, comea a existir a autodisciplina mental (apud

    Amaral, 2020, p. 52).

    O ambiente da escola expem a criana meios variados, e esta vasta

    experincia a leva forte individualizao, o seu eu ganha grande dimenso, ento

    aumentam os conflitos dos seus interesses e dos outros, o conjunto de foras

    maturacionais e exigncias de seu meio que vo orientar sua atividade social.

    O categorial caracterizado por duas etapas. A primeira vai mais ou menos

    at 9 anos, onde ainda existem resduos sincretismo que Wallon denomina pr-

    categorial. A segunda etapa corresponde aos 9/10 anos, onde se forma as

    categorias intelectuais. A fuso do pensamento categorial com o pensamento pr-

    categorial nasce a inteligncia discursiva. Ainda nesta fase necessrio que a

    criana tenha estmulos e participe de grupos sociais diferentes, trabalho em equipe,

    sem esquecer que o ambiente tem que ser acolhedor; para tanto o adulto prioriza as

  • 20

    necessidades da infncia para que a afetiva se fortalea e torne a adolescncia

    menos turbulenta.

    5) Estgio da Puberdade e da Adolescncia: Durante o categorial existe uma harmonia entre a criana e o adulto que se rompe entre 11/12 anos, tambm

    chamado de crise da puberdade, esta fase afeta a vida da criana na rea afetiva,

    cognitiva e motora, as modificaes fisiolgicas transformam o corpo e o psquico.

    As meninas comeam a modelar seus corpos atravs dos seios e quadris e

    juntamente acontece a primeira menstruao, a puberdade marcada pelas

    espinhas, pelos pubianos e nas axilas. Algumas vsceras tambm se modificam

    nesta fase.

    Diante de tantas transformaes, o adolescente tem necessidade assim como

    no passado de se apropriar de um corpo que no reconhece, e, tem o espelho

    novamente como descoberta de prazeres e inquietaes. Como no estgio do

    personalismo existe a necessidade de se reorganizar o esquema corporal, a sua

    identidade ser prioridade, a afetividade mais intensa. A adolescncia um misto de

    sentimentos e atitudes, provindos da vida afetiva, o adolescente experimenta

    renncia e aventura, desejo de oposio e conformismo e outros. A identificao e

    as diferenas com o outro possibilita uma personalidade vigorosa na adolescncia,

    graas ao trabalho de incorporao e expulso do outro que a criana realizou

    atravs dos diferentes estgios com a finalidade de se tornar um indivduo pleno,

    tanto no mbito afetivo, motor e cognitivo.

    Todavia, para que isso se efetive na viso psicanaltica, o vnculo afetivo de

    extrema importncia, como veremos no prximo captulo.

  • 21

    2. VISO PSICANALTICA DO VNCULO AFETIVO

    O ser humano no fabricado, e muito menos a querida cegonha bate a

    nossa porta com uma linda criana pronta, biolgica e psiquicamente. Toda histria

    comea a partir do encontro e da juno entre o vulo e o espermatozide, cria-se o

    zigoto, o milagre da vida. Este zigoto cresce e vira um feto e no transcorrer do

    processo gestacional este pequeno ser experimenta sensaes; se envolve com o

    perfume do lquido amnitico constitudo biologicamente por sua me atravs de seu

    organismo, relaxa quando sua protetora dorme, agita-se respondendo aos estmulos

    externos e no final consegue at reconhecer vozes dizem alguns. Est claro que o

    vnculo afetivo do beb ser humano com seus pais comea no ventre. O homem

    sempre soube que amor e cuidados so indispensveis para a sobrevivncia dos

    bebs, mas, foi Freud quem iniciou uma investigao cientfica sobre afeto; ele

    acreditava que nossa vida afetiva est mergulhada em nossa infncia.

    O ser humano no nasce com o eu (sujeito psquico) pronto, este se forma a

    partir de si, e de suas relaes familiares e sociais; o incio do mundo mental do feto

    formado por suas representaes atravs do afeto, a criana ao ser desejada por

    seus pais passa a se sentir amada, o que automaticamente sentir prazer em si

    prpria, desenvolvendo o reconhecimento do afeto atravs dos vnculos afetivos.

    A me ao amamentar seu filho com seu leite quentinho j um toque, pois

    estar satisfazendo a sua fome, seu corpo coladinho ao beb acariciando-o uma

    demonstrao de amor, rica fonte de estmulos que so super importantes para

    nosso desenvolvimento. Lembramos que ao colocar um pano com o cheiro da me

    ou simplesmente que a mesma encoste a criana ao seu corpo, esta ir adormecer

    facilmente, isso afeto.

    A atividade psquica atravs do processo de investimento libidinal dos pais e

    pelo prazer que o beb experimenta na descoberta do seu corpo. Este eu busca

    compreenso do que vivencia em seu meio, a nasce o desejo de saber.

  • 22

    Os pais que investem o seu afeto em seus filhos criam uma ponte entre o

    psiquismo da criana e o meio psquico que a rodeia, e nesse processo nasce uma

    auto-estima positiva que vai salientar a busca do prazer em ouvir e pensar.

    A estabilidade emocional de uma criana na sociedade ou na escola depende

    dos seus primeiros anos de vida, para tanto, um bom relacionamento entre me e

    filho de suma importncia. A ambivalncia tem um papel importante, pois

    conseguimos sentir raiva e at dio da pessoa que mais amamos; a forma como

    lidamos com esses sentimentos e como procedemos com os cuidados da criana vai

    regular a capacidade de dominar o dio e dosar o amor, e sentir tanto a ansiedade

    quanto a culpa de forma mais equilibrada, portanto, mais saudvel. Segundo Freud

    (1915), os instintos sexuais e os do ego desenvolvem facilmente uma anttese que

    repete a do amor e do dio. A ambivalncia na vida da criana tem papel

    fundamental na formao de sua personalidade; se a criana seguir um caminho

    favorvel sua ambivalncia, ela crescer consciente de seus impulsos

    contraditrios, porm ter equilbrio suficiente para control-los, a ansiedade e a

    culpa sero suportveis, porm, se seu caminho no lhe for favorvel, a criana no

    ter o mesmo controle, o que vai lhe causar grande sofrimento, o que determina um

    ser humano doente a falta de controle de seus conflitos.

    Quando o beb tem amor e companhia dos pais, ele crescer sem exageros

    de anseios libidinais e sem uma inclinao a sentir dio por aqueles que no

    conseguem lhe dar afeto, palavra chave na vida do beb.

    Uma criana no ir sobreviver somente de afeto, ela necessita de alimento,

    porm uma criana no qual os pais se preocupem somente em prover cuidados

    materiais adoecem com mais facilidade e, remdios e tratamentos no so

    suficientes para cur-las, elas necessitam de ateno, amor, carinho, abraos de

    ouvir quanto so importantes em nossa vida, e muitas vezes pela nsia na corrida

    dos bens materiais esquecemos que os pequenos esperam mesmo o nosso beijo,

    nossos abraos, somente assim iremos resgatar valores humanos e criar fortes

    vnculos afetivos, para que no futuro as sociedades vivam em harmonia e realmente

    felizes.

    Muitos de ns achamos que a educao rgida a melhor para o ser humano

    e somos to radicais a inici-la no bero, ouvimos dizer que a criana vai se

  • 23

    acostumar no colo, e que o beb no pode chorar, pois, est trocado e sem fome,

    ms continuamos nesta linha de raciocnio porque queremos que seja independente,

    Meu Deus! A criana em sua solido muitas vezes chora alto querendo dizer ei! eu

    estou aqui, alm da troca da fralda e do alimento tambm necessito de afeto. O

    toque fsico principalmente nos primeiros anos de vida fundamental para nosso

    reconhecimento enquanto humanos, pois ao crescer passar a transmitir afeto

    atravs das palavras, gestos e outros.

    A ignorncia dos pais ainda um fator determinante na formao da

    personalidade dos filhos, acaba-se criando uma triste cadeia a vtima da vtima,

    que muitas vezes passam geraes presas ao sofrimento.

    2.1 JOHN BOWLBY E A FORMAO DO VNCULO AFETIVO

    John Bowlby, atravs de seus estudos nos deu a convico de que o homem

    se desenvolve emocionalmente e socialmente atravs do seu meio, para tanto

    menciona a teoria da ligao que conceitua a dimenso dos seres humanos

    estabelecerem fortes vnculos afetivos e os problemas de personalidade como,

    raiva, depresso, ansiedade e desligamentos emocionais causadas pela separao

    e perda mesmo que involuntria.

    At metade da dcada de 50 achava-se que os vnculos afetivos estavam

    totalmente ligados a certos impulsos como alimentao na infncia e sexo na vida

    adulta e em seguida vinha dependncia e relaes pessoais, o desenvolvimento do

    beb humano com sua me puderam ser melhor compreendidos aps vrias

    pesquisas com aves. Segundo John Bowlby (1990) o comportamento de ligao

    distingue os seres humanos do bero at a sua morte nele se inclui o choro e o

    chamamento, que suscitam cuidados e desvelos, o seguimento e o apego.

    A constante manuteno de um vnculo afetivo cria uma fonte de segurana,

    quanto mais experincias maternas o beb tiver com uma pessoa, maiores so as

    chances de se ligar a ela, motivo pelo qual mesma passa a ser a sua figura de

  • 24

    ligao, a explorao e o cuidar so essenciais para o desenvolvimento sadio do

    beb. O desempenho dos pais na vida da criana ir refletir em sua sade mental,

    muitas vezes, os pais por suas infncias infelizes, emocionalmente sero indivduos

    com uma inclinao maior a problemas familiares. A base segura e estmulos para a

    explorao do beb so fundamentais, isso vai implicar na compreenso intuitiva do

    comportamento de ligao e no reconhecimento de que uma das fontes mais

    comuns de raiva na criana a frustrao de seu desejo de amor e cuidados

    (JohnBowlby, 1990), a ansiedade tambm est ligada a disponibilidade dos pais

    para com a criana e pode trazer grandes prejuzos se o desempenho do mesmo

    no obtiver sucesso.

    No podemos esquecer que nem toda criana que durante sua gestao no

    foi desejada por seus pais (pois o vnculo comea a) e ao nascer continua no se

    sentindo amada e desejada, esta criana no est condenada a ter problemas com

    seus vnculos afetivos e sua personalidade, atravs do autoconhecimento e da

    resilincia pode transformar essa energia difcil para o ser humano em princpios

    positivos para sua vida sem danos para com aqueles que futuramente ela ser uma

    figura de ligao, uma ponte entre seus filhos e o mundo com uma base concreta,

    capaz de criar vnculos estreitos com sua famlia e enriquecer o desejo como objeto

    fundamental no complexo processo de aprendizagem que tem incio no seio familiar

    em seus primeiros dias de vida onde aprendemos a amar e a receber amor.

    2.2 RESILINCIA

    A palavra resilincia vem do latim RESILIO, quer dizer voltar ao normal;

    o equilbrio entre tenso e a fora de lutar contra algo negativo at atingir outro nvel

    de conscincia, onde mudamos o padro de pensamento que altera nosso

    comportamento e a capacidade de lidar com o equilbrio entre a tenso e a

    habilidade de lutar contra os obstculos da vida pessoal e profissional.

    O termo resilincia psicolgica surgiu na dcada de 1960, quando Frederic

    Flach, estudando sua histria de vida e de outros que haviam superado grandes

    adversidades. Desde ento a resilincia tem sido atribuda a pessoas com

  • 25

    capacidade de enfrentar desafios e superar crises, ou seja, mantendo seu equilbrio

    emocional.

    Este maravilhoso processo tambm acontece quando se ativa o sistema

    fisiolgico do corpo provocado por estresse emocional. A resilincia sofre grande

    influncia do meio, ou seja, as estruturas familiares, os tipos de relacionamentos,

    todo este cenrio contribui negativa ou positivamente para o estmulo e a

    intensidade da resilincia.

    O olhar das autoridades dos diversos segmentos que influenciam no destino

    da sociedade precisa ser mais aberto a criatividade para que aqueles menos

    favorecidos ou em sofrimento de qualquer natureza consigam se superar, porm, o

    que vemos ao nosso redor o abandono das crianas consideradas perdidas,

    caladas e sufocadas nas diversas misrias intituladas por doenas sociais.

    A criatividade faz parte do processo de resilincia e antes dela o indivduo

    precisa falar, aceitar o problema para ento, este se transformar em fora para a

    superao.

    2.3 AUTOESTIMA

    A autoestima uma estrutura complexa e construda periodicamente desde a

    mais tenra infncia e se estende at o final da vida, juntamente cria-se o superego,

    onde armazenamos os nossos padres ticos e morais, aquilo que se deseja ser,

    e este mix de sentimentos e descobertas pode gerar alguns conflitos com o que sou.

    Este processo tambm ligado autoconfiana; ao recordarmos Wallon, veremos que

    nos ensinou que o esquema corporal, a confiana em seu cuidador e a formao

    dos vnculos afetivos tem incio pela motricidade, e em meio a tudo isto o ser

    humano comea a apreciar seu prprio corpo.

    A criatividade significativa para a resilincia, esta est ligada a ruptura e a

    integrao dos fatos acontecidos; o pensamento criativo tem papel fundamental no

    processo de desaprender e aprender nas novas descobertas, contudo, ainda hoje,

  • 26

    agir e pensar criativamente so moldadas ou reprimidas dura o nosso

    desenvolvimento desde as estruturas familiares at o nico lugar que esse tipo de

    coisa poderia ocorrer a escola infelizmente educandos tem que se conformar

    intelectualmente no aprendizado, a viso obtusa daqueles que deveriam incentiv-

    los so os mesmos que os impedem de exercitar e estimular toda sua criatividade.

    Por toda a importncia da criatividade que brincar essencial para a criana,

    o ldico parte de um todo no mundo infantil; brincando o cognitivo estimulado e

    liberta idias mesmo que contraditrias, na verdade um grande e delicioso

    exerccio para a vida inteira.

    O jogo uma brincadeira que alm de socializar, alfabetizar, ensinar

    matemtica entre outras, trabalha criticamente o aprendizado, de maneira

    espontnea atravs dos desafios gerados para obter novas idias. Brincar serve de

    interesse para a criatividade e alimenta a resilincia, alm do que, auxilia nas buscas

    da sobrevivncia e reduz o estresse na hora de resolver situaes problemticas.

    O professor emocionalmente inteligente, com autoestima elevada capaz de

    minimizar a violncia e a indisciplina, atravs do ambiente acolhedor, com carinho,

    passando segurana aos seus educandos e longe das punies e

    castigos,despertar o desejo de aprender, e com certeza com a auto-estima em alta

    at mesmo crianas com fraturas emocionais conseguir deixar fluir a doce e

    complexa energia e bem estar que a resilincia nos proporciona tambm na sala de

    aula.

  • 27

    3. AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM

    No primeiro captulo resgatamos a histria da afetividade, mostramos a

    importncia da motricidade na vida do ser humano desde a sobrevivncia at

    formao de sua personalidade atravs de Wallon.

    No segundo captulo a viso psicanaltica nos permitiu compreender a

    formao do vnculo afetivo com John Bowlby, onde nos mostra a contribuio do

    afeto e os prejuzos que a falta dele nos traz, muitas vezes irreversveis; e por falar

    na grandeza do afeto essencial citarmos a resilincia que um processo lindo que

    permite ao ser humano entender e transformar seu sofrimento em energia leve, pura

    e de amor e auto-compaixo que apesar de ser parecida com a palavra auto-

    piedade tem significados completamente diferentes, a primeira o grande eixo da

    resilincia j a segunda estagnao, a pena de si prprio, a trava que no

    permitir retomar sua autoestima.

    Neste captulo iremos falar sobre a relao entre afetividade e a

    aprendizagem. O professor antes de qualquer coisa serve de apoio emocional,

    acreditando em seu papel de transformador e, na capacidade que o educando tem

    em crescer e se desenvolver. No existem frmulas mgicas, para resolver todas as

    dificuldades de aprendizagem num piscar de olhos. A pretenso bem mais

    modesta, porm, exige acima de tudo, amor por si prprio, pelo prximo e por seu

    trabalho. O educador deve ser preparado desde a universidade para em primeiro

    lugar ter conscincia que a profisso que abraou exigir preparo emocional alm do

    que, sempre se aprimorar e se atualizar na sua rea, pois sua ferramenta de

    trabalho o ser humano.

    Sentimentos e afetividade na Educao so temas que deveriam ser mais

    investigados e debatidos no meio acadmico. Docentes deveriam saber lidar melhor

    consigo mesmos e seus educandos.

    Aprender e exercitar o autocontrole durante infncia no significa apenas ser

    passivo, ao contrrio, tem que ter capacidade para discriminar os contextos

    apropriados para falar, brincar,rir, etc. Crianas no aprendem sozinhas, necessitam

    de apoio para aprenderem a manter seu comportamento direcionado a

  • 28

    aprendizagem. Ressaltamos que, as relaes iniciam a partir do momento que as

    limitaes do outro so respeitadas.

    O ato de ensinar e aprender, entre outras coisas, o produto da troca de

    informaes e das experincias pessoais entre educando e educador. Nessa troca

    os resultados sero marcantes e especiais, neste relacionamento o vnculo afetivo

    ser um grande facilitador no processo de ensino aprendizagem, atravs de um forte

    vnculo afetivo, a criana se sentir protegida e acolhida, facilitando seu

    aprendizado, envolvido em uma atmosfera de afeto, que ir harmonizar o ambiente

    escolar com alegria, companheirismo, ou seja, de maneira prazerosa o contedo

    ser trabalhado.

    A afetividade no modifica a estrutura no funcionamento da inteligncia,

    porm, poder acelerar ou retardar o desenvolvimento dos indivduos, podendo at

    interferir no funcionamento das estruturas da inteligncia.

    As principais emoes que influenciam no ambiente da sala de aula so: o

    medo, que visvel em situaes em que as crianas precisam se posicionar por

    meio de alguma atividade; a alegria, que pode ocasionar entusiasmo para a

    realizao das tarefas e a clera, que pode criar desgastes fsicos e emocionais

    para educador e educando, um clssico exemplo, o fato que o movimento significa

    desateno, porm, no podemos esquecer que os movimentos criam as emoes

    Crianas agressivas ou totalmente passivas, ou que sofrem de baixa

    autoestima, podem extravasar esse desequilbrio emocional em seus colegas e at

    mesmo em seus professores.

    O abismo criado pela forma metdica e mesquinha que separa o educador

    da emoo, no lhe permite enxergar as expresses na sala de aula, da a

    importncia na evoluo do desenvolvimento scio-afetivo.

    Lembramos que existem dois fatores que interferem negativa ou

    positivamente no processo de aprendizagem. Primeiramente os fatores internos ou

    psicolgicos, o outro fator o externo que, est ligado metodologia escolhida pela

    instituio ou at mesmo pelo educador, recursos didticos e a condio scio-

  • 29

    econmica. Portanto as dificuldades de aprendizagem poderiam ser evitadas, pois,

    nada mais so, que conflitos relacionados prtica pedaggica, ao sistema adotado

    pela escola, ou o que pode ser pior, o vnculo afetivo que o indivduo tem com a

    escola, com os professores, com a famlia e vai refletir na sua vida em sociedade.

    Desta maneira que o afeto explica a acelerao ou retardamento da formao

    das estruturas; acelerao caso haja interesse do aluno, e retardamento quando a

    situao afetiva obstculo no desenvolvimento intelectual da criana.

  • 30

    CONSIDERAES FINAIS

    Na sociedade de mudanas aceleradas em que vivemos, somos sempre

    levados a adquirir competncias novas, pois o indivduo a unidade bsica de

    mudana, trata-se do exerccio de habilidades necessrias ao domnio e ao bom uso

    da inteligncia emocional, por isso a raa humana se diferencia, por ser racional.

    Os diversos olhares dos tericos que nos serviram de referncia nos mostram

    a real contribuio da afetividade em nosso desenvolvimento, sem falar que o afeto

    o grande x no que diz respeito tanto ao sucesso quanto ao fracasso no incrvel

    processo de aprendizagem que comea logo que nascemos os acompanha por toda

    vida.

    O sucesso da aprendizagem infantil se estabelece atravs de uma prtica

    pedaggica que leve em considerao a criana como um ser com caractersticas e

    ritmos prprios, as quais contribuam para a vida afetiva pela satisfao encontrada

    nas atividades, e pelo alvio de tenses que permitem um clima de satisfao para o

    educando.

    Faz-se necessrio um repensar por parte dos educadores em: como se

    analisar a criana, compreendendo-a como um ser capaz de construir os seus

    prprios conhecimentos, ser criativo e autnomo, pois desta forma, entende-se

    necessidade de ao, de movimentos e de aprendizagem do educando.

    A pesquisa realizada considerou a importncia do afeto no desenvolvimento

    do ser humano e suas conseqncias que sua ausncia pode causar. Fica claro que

    a afetividade dentro do processo de aprendizagem muito mais que contedos

    curriculares, notas, frmulas e etc., a base da aprendizagem a afetividade desde a

    famlia, o cuidador at a professora acolhedora que exercita sua percepo ao se

    lembrar de que antes de seguir a risca os contedos, ela estudou para lidar com

    seres humanos em formao.

    Sintetizando, deve-se trabalhar a criana, tomando como ponto de partida que

    esta um ser com caractersticas individuais e que precisa de estmulos para o seu

    crescimento e desenvolvimento, de forma a possibilitar-lhes fatores fundamentais

    como a criatividade, a capacidade inventiva, a iniciativa e, acima de tudo, o

    desenvolvimento de um senso crtico, objetivando o favorecimento da aprendizagem

  • 31

    infantil. Isto significa redimensionar as prticas pedaggicas na aprendizagem

    infantil, onde o afeto representa a plena libertao do homem saudvel fsica e

    mentalmente, um homem feliz.

  • 32

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    FrissonElba Ramalho