O Papel da Bioantropologia na Recolha de Evidências de Violência Interpessoal, Ritual e Guerra...

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al-madan online I adenda electrónica SUMÁRIO s al-madan online | adenda electrónica adenda electrónica N.º 16 | Dezembro 2008 [http://www.almadan.publ.pt] III Dois Bronzes de Entidades Tutelares da cidade romana de Bracara Augusta | Rui Morais IV Escavações Arqueológicas no Quarteirão dos Antigos CTT (Braga): resultados preliminares | Luís Fontes et al. V A Necrópole Romana da Qtª da Torrinha / Qtª de Stº António: incursão ao universo funerário, paleodemográfico e morfométrico | Sandra Assis e Rui Pedro Barbosa VI Levantamento Arqueológico do Concelho de Tábua | Suzana Pombo dos Santos VII Uma Primeira Leitura da Carta Arqueológica de Avis | Ana Ribeiro VIII A Faiança Portuguesa nas Ilhas Britânicas: um projecto de investigação | Tânia Manuel Casimiro IX A Faiança Portuguesa no Mosteiro de S. João de Tarouca: metodologia e resultados preliminares | Luis Sebastian e Ana Sampaio e Castro X Sepulturas Escavadas na Rocha do Monte do Biscaia | Joana Valdez, Filipa Pinto e João Nisa XI Pertinência da análise bioantropológica em espólio osteológico humano descontextualizado: A Necrópole da Igreja Matriz de Montalvão | António Matias e Cláudia Costa XII A Musalla do Hisn Turrus / / Torrão: uma hipótese de trabalho | António Rafael Carvalho XIII Os Sítios do Paleolítico Médio na Margem Esquerda do Estuário do Tejo | Rui Miguel Correia XIV A Relação entre o Parque Arqueológico do Vale do Côa e a População Local: balanço da primeira década | António Batarda Fernandes et al. XV O Papel da Bioantropologia: violência interpessoal, ritual e guerra primitiva nos restos osteológicos humanos | Luís Faria e Eunice Gomes XVI A Ausência da Análise Etnográfica e Experimental no estudo da cerâmica pré-histórica em Portugal | Gonçalo de Carvalho Amaro XVII A Influência dos Modelos de Importação de Cerâmica Fina nas produções madeirenses do século XVII | Élvio Duarte M. Sousa I Sumário II Editorial | Jorge Raposo Arqueologia Opinião Património XXI Notícias: actividade arqueológica XX Notícias: eventos científicos XIX Livros XVIII Um Passeio Geológico na Almada Oitocentista | José M. Brandão

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S U M Á R I O sal-madan online | adenda electrónica

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N.º 16 | Dezembro 2008

[http://www.almadan.publ.pt]

III Dois Bronzes de EntidadesTutelares da cidade romana de Bracara Augusta | Rui Morais

IV Escavações Arqueológicasno Quarteirão dos AntigosCTT (Braga): resultadospreliminares | Luís Fontes et al.

V A Necrópole Romana daQtª da Torrinha / Qtª de StºAntónio: incursão ao universofunerário, paleodemográfico emorfométrico | Sandra Assis eRui Pedro Barbosa

VI LevantamentoArqueológico do Concelhode Tábua | Suzana Pombodos Santos

VII Uma Primeira Leitura daCarta Arqueológica de Avis| Ana Ribeiro

VIII A Faiança Portuguesa nasIlhas Britânicas: um projectode investigação | Tânia ManuelCasimiro

IX A Faiança Portuguesa no Mosteiro de S. João deTarouca: metodologia eresultados preliminares| Luis Sebastian e AnaSampaio e Castro

X Sepulturas Escavadas naRocha do Monte do Biscaia| Joana Valdez, Filipa Pinto e João Nisa

XI Pertinência da análisebioantropológica em espólioosteológico humanodescontextualizado: ANecrópole da Igreja Matrizde Montalvão | AntónioMatias e Cláudia Costa

XII A Musalla do Hisn Turrus / / Torrão: uma hipótese detrabalho | António RafaelCarvalho

XIII Os Sítios do PaleolíticoMédio na Margem Esquerdado Estuário do Tejo| Rui Miguel Correia

XIV A Relação entre o ParqueArqueológico do Vale doCôa e a População Local:balanço da primeira década |António Batarda Fernandes et al.

XV O Papel da Bioantropologia:violência interpessoal, ritual eguerra primitiva nos restososteológicos humanos| Luís Faria e Eunice Gomes

XVI A Ausência da AnáliseEtnográfica e Experimentalno estudo da cerâmica pré-histórica em Portugal| Gonçalo de Carvalho Amaro

XVII A Influência dos Modelos de Importação de CerâmicaFina nas produçõesmadeirenses do século XVII| Élvio Duarte M. Sousa

I Sumário

II Editorial | Jorge Raposo

Arqueologia

Opinião

Património

XXI Notícias: actividade arqueológica

XX Notícias: eventos científicos

XIX Livros

XVIII Um Passeio Geológico na Almada Oitocentista | José M. Brandão

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Uma das consequências não despiciendas da extinção do InstitutoPortuguês de Arqueologia (IPA), cujas atribuições e competênciasforam remetidas para o actual Instituto de Gestão do Património

Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), foi a redução do panorama editorialda Arqueologia portuguesa, com os responsáveis da tutela a entenderem “não prioritária” a manutenção da Revista Portuguesa de Arqueologia e da série monográfica Trabalhos de Arqueologia. Ambas haviam sido lançadas ouretomadas pelo IPA, com a primeira a registar 19 edições (duas por ano entre1998 e 2006 e uma última em 2007) e a segunda a chegar ao número 50(atingido com as quatro edições de 2007), materializando a aposta consequenteno fomento da publicação científica, uma das atribuições cometidas a esseInstituto na respectiva Lei Orgânica. É verdade que documento equivalentetambém confere aos IGESPAR a missão de “coordenar, no âmbito do Ministérioda Cultura, a actividade de divulgação editorial e de promoção nas áreas dopatrimónio cultural arquitectónico e arqueológico”. Mas, assumidamente, o seuexercício não é prioridade... pelo menos no que respeita à RPA e aos TA.

Sucede isto numa altura em que se agravam as condições de sobrevivênciapara outros projectos editoriais de continuidade, sejam estes de naturezaestritamente científica ou de âmbito mais geral, direccionados para a divulgaçãoe promoção da cultura científica junto de públicos diversificados, enquantoinstrumentos de mediação, partilha e sociabilização do conhecimentoarqueológico e da sua interacção crescente com outras áreas do saber. Face ao alheamento da administração pública central, à situação vão resistindo,melhor ou pior, revistas e seriados produzidos em contexto universitário, com apoios da administração local ou resultantes de estratégias de afirmaçãoempresarial. Porém, a resistência é mais difícil quando o suporte assenta emestruturas organizativas independentes e de recursos económicos e financeirosmais frágeis.

É o caso da Al-Madan e do Centro de Arqueologia de Almada, que sedebatem com uma evidente contradição. Por um lado, é crescente o número deautores que procuram a revista como meio de divulgação dos seus trabalhos,quer na edição impressa quer na complementar Al-Madan Online - AdendaElectrónica (http://www.almadan.publ.pt). Por outro, avolumam-se osconstrangimentos orçamentais decorrentes da subida dos custos de produção e da diminuição das receitas − reduzem-se as vendas, não porque a revista percainteresse junto dos potenciais leitores, mas porque crescem as dificuldades dedistribuição, reduzem-se os postos de venda e aumenta o número dos que nãopagam a tempo os materiais facturados; diminuem as receitas de publicidadeporque a crise afecta as instituições potencialmente interessadas; por fim, com honrosa excepção dos municípios de Almada e do Seixal, diminuemtambém os apoios institucionais que vêm contribuindo para o equilíbriosustentado do projecto.

Enfim... veremos o que o futuro nos reserva.

Jorge Raposo

f i c h a t é c n i c a

Capa Jorge Raposo

Vale do Côa e Quinta da Ervamoira.

Fotografia © António Martinho Baptista / PAVC

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II al-madan online adenda electrónica ISSN 0871-066X | IIª Série (16) | Dezembro 2008C E N T R O D E A R Q U E O L O G I A D E A L M A D Aadenda

electrónica

al-madan IIª Série, n.º 16, Dezembro 2008

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PropriedadeCentro de Arqueologia de AlmadaApartado 603 EC Pragal2801-601 Almada PORTUGAL

Tel. / Fax 212 766 975E-mail [email protected] de imprensa 108998

Http://www.almadan.publ.pt

ISSN 0871-066X Depósito Legal 92457/95

Director Jorge Raposo ([email protected])

Conselho Científico Amílcar Guerra, António Nabais, Luís Raposo, Carlos Marques da Silva e Carlos Tavares da Silva

Redacção Rui Eduardo Botas, Ana Luísa Duarte, Elisabete Gonçalves e Francisco Silva

Colunistas Mário Varela Gomes, Amílcar Guerra, Víctor Mestre,Luís Raposo, António Manuel Silva e Carlos Marques da Silva

Colaboram na edição em papel Ass. Prof. Arqueólogos, MilaAbreu, Alexandrina Afonso, Mª José Almeida, Miguel Almeida,Clementino Amaro, Thierry Aubry, A. Martinho Baptista, PatríciaBargão, Lília Basílio, José Bettencourt, Francisco Caramelo,Guilherme Cardoso, António Chéney, Com. Org. 1º CPAE, MónicaCorga, Dalila Correia, Miguel Correia, Virgílio H. Correia, EugéniaCunha, Lino T. Dias, Ana L. Duarte, José d’Encarnação, CarlosFabião, Luís Faria, A. Batarda Fernandes, Mª Teresa Ferreira, AntónioFialho, Jorge Freire, Mauro Frota, Eunice A. Gomes, M. Varela Gomes,António Gonzalez, Raquel Granja, Amílcar Guerra, Martine Guindeira,Rosa Jardim, António Jerónimo, Patrícia Jorge, Miguel Lago,Alexandra C. Lima, Luís Luís, Isabel Luna, Ludovino Malhadas,Andrea Martins, Isabel Mateus, Simão Mateus, Henrique Mendes,Marta Mendes, Víctor Mestre, Mário Monteiro, Elena Móran, NunoNeto, César Neves, Mª João Neves, José Norton, Luiz Oosterbeek,Rui Parreira, Rodrigo M. Pereira, João Pimenta, Mª João Pina, FilipeS. Pinto, J. Carlos Quaresma, Sara Ramos, Jorge Raposo, LuísRaposo, Paulo Rebelo, Aldina Regalo, Fabian Reicherdt, Anabela P. Sá,Jorge D. Sampaio, André T. Santos, Raquel Santos, António M. Silva,Carlos M. da Silva, André Teixeira e António C. Valera

Colaboram na Adenda Electrónica Elisa Albuquerque, MiguelAlmeida, Gonçalo C. Amaro, Sandra Assis, Thierry Aubry, Rui P.Barbosa, Pedro Barros, Lília Basílio, Delfina Bazaréu, Cristina VilasBoas, José Braga, José M. Brandão, António R. Carvalho, Com. Org.1º CPAE, J. Muralha Cardoso, Bárbara Carvalho, Tânia M. Casimiro,Ana Sampaio e Castro, Dalila Correia, Rui Miguel B. Correia,Cláudia Costa, Eugénia Cunha, Fernando Dias, José d’Encarnação,Luís Faria, A. Batarda Fernandes, Mª Teresa Ferreira, Luís Fontes,Eunice Gomes, Sérgio Gomes, Amílcar Guerra, Vítor O. Jorge,Ângela Junqueiro, Mª Fernanda Lourenço, Luís Luís, FernandaMagalhães, Jaime J. Marques, Andrea Martins, Manuela Martins,António Matias, Samuel Melro, Marta Mendes, Rui Morais, CésarNeves, Mª João Neves, Lurdes Nieuwendam, Susana Nunes, FilipaPinto, Pedro Pinto, João Nisa, Ana Ribeiro, Jorge Sampaio,Constança G. Santos, Raquel Santos, Susana P. Santos, LuísSebastian, José Sendas, Francisco Silva, Élvio Duarte M. Sousa, JoanaValdez, Ana M. Vale e Gonçalo Leite Velho

Publicidade Elisabete Gonçalves

Apoio administrativo Palmira Lourenço

Resumos Jorge Raposo (português), Luisa Pinho (inglês) e Maria Isabel dos Santos (francês)

Modelo gráfico Vera Almeida e Jorge Raposo

Paginação electrónica Jorge Raposo

Tratamento de imagem e ilustração Jorge Raposo

Revisão M.ª Graziela Duarte, Fernanda Lourenço e Sónia Tchissole

Impressão A Triunfadora, Artes Gráficas Ld.ª

Distribuição CAA | http://www.almadan.publ.pt

Tiragem da edição em papel 1000 exemplares

Periodicidade Anual

Apoios Câmara Municipal de Almada e Câmara Municipal do Seixal

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r e s u m o

Reflexão sobre o papel daBioantropologia na recolha einterpretação de evidências deviolência interpessoal e ritual,ou de contextos de guerra pri -mitiva, a partir de restos osteo -lógicos humanos.O autor destaca a importânciadeste tipo de estudos para aPré-História e regista as situa -ções conhecidas para a Penín -sula Ibérica.

p a l a v r a s c h a v e

Antropologia; Violência; Guer -ra; Pré-História.

a b s t r a c t

Reflection on the role ofBioanthropology in the collec-tion and interpretation of evi-dence, in human osteologic re -mains, of interpersonal and rit-ual violence and primitive warcontexts.The author stresses the impor-tance of this type of study forPrehistory, and registers thesituations that are known onthe Iberian Peninsula.

k e y w o r d s

Anthropology; Violence; War;Prehistory.

r é s u m é

Réflexion sur le rôle de la Bio-anthropologie dans le recueil etl’interprétation de preuves deviolence interpersonnelle et ri -tuelle, ou de contextes de guer -re primitive, à partir de restesostéologiques humains.L’auteur met en avant l’impor-tance de ce type d’études pourla Préhistoire et enregistre lessituations connues dans la Pé -ninsule Ibérique.

m o t s c l é s

Anthropologie; Violence; Guer -re; Préhistoire.

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O Papel daBioantropologiana recolha de evidências de violência interpessoal, ritual e guerra primitiva nos restos osteológicoshumanos

por Luís Faria e Eunice Gomes

Técnicos Superiores de Património e Arqueologia.

O P I N I Ã O oal-madan online | adenda electrónica

nos restos osteológicos humanos descobertos nas es -cavações arqueológicas.

Temos que ter sempre em conta que nem todasas marcas de violência nas ossadas são evidências deguerra: não podemos esquecer a violência interpes-soal, o feud 2, os acidentes e os rituais que, apesar deviolentos, não estão associados à guerra na Pré-His -tória.

A violência interpessoal em populações huma -nas pré-históricas pode ser observada na patologiatraumática óssea, nos traumas que podem ser identi-ficados nos ossos dos nossos antepassados. A patolo-gia traumática óssea tem várias classificações, quepermitem uma melhor análise das suas causas. Se -gundo SILVA (2000): “As lesões traumáticas podemser classificadas de várias formas, incluindo frac-turas, perfurações (acção de armas), deslocações,deformações artificiais, trepanações, canibalismo,entre outras”. Para LESSA (2004: 10): “A identifica -ção de sinais de violência interpessoal… através deindicadores específicos… tais como as fracturas… ea presença de pontas de projéctil encravadas nosossos. […] Também são considerados sinalizadoresde violência os traumas provocados por decapita -ção, escalpe, canibalismo e desmembramento…”.

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ABiantropologia é a disciplina que se ocu-pa do estudo dos restos osteológicos hu -manos. Muita informação fica registada

nos ossos, transformando estes na pista mais directado quotidiano dos nossos antepassados. Da rotinadiária e repetitiva ao acontecimento esporádico, porvezes traumático, dos vários rituais tribais às situa -ções de stress alimentar, tudo fica “escrito” nos nos-sos ossos.

Nas palavras de WALKER (2001: 574): “… bio ar -chaeologists are ideally positioned to explore thecauses of violence in earlier societies. Human remainsfrom archaeological sites are a unique source of dataon the environmental, economic, and social factorsthat predispose people to both violent conflict andpeaceful coexistence”. Para SILVA (2000): “Os sinaisde trauma em populações humanas podem reflectirvários aspectos do seu tipo de vida, como a culturamaterial, a economia, o ambiente, a ocupação e avio lência interpessoal” 1.

Pela análise dos restos osteológicos humanos etendo em conta o modo como são inumados, chega -mos a leituras de comportamentos tanto individuaiscomo de grupo, pois o modo como uma sociedadetrata os seus mortos é um reflexo dessa própria so -ciedade. A Bioantropologia, nomeadamente no estu-do da patologia traumática óssea, Antropologia fu -nerária e Paleodemografia, torna-se assim essencialem qualquer estudo das origens da guerra, onde éuma importante fonte de dados e decididamente amais directa. Se a guerra fazia parte das sociedadespré-históricas, então vamos encontrar as “marcas”

1 O conceito de “violência interpessoal” é definido como interacçãoprejudicial entre pessoas (WALKER 2001: 575).2 O feud, que podemos traduzir como vingança, distingue-se da guerraprimitiva na medida em que o assunto é particular e podemos substituir amorte do adversário por compensações (DENNEN 1995).

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Segundo HAAS (2004), temos vários indicado -res de guerra no registo arqueológico, entre eles in -dica dores no registo osteológico, que consistem em“frac turas de Parry” (ver adiante), fracturas frontaisno crânio, marcas de escalpe e distribuições desequi-libradas nas populações das necrópoles (Paleo de mo -grafia).

A presença de artefactos que causaram os feri-mentos cravados nos ossos é o sinal mais directo deviolência interpessoal. Apesar de certos autores ten -tarem explicar a presença de artefactos cravados nosossos como acidentes, parece-me muito difícil esti -car um arco ou lançar uma lança contra alguém poracidente.

As patologias traumáticas ósseas só podem serinterpretadas como prova da existência de violênciainterpessoal. Para considerarmos a existência deguerra primitiva 3 temos que ter uma elevada fre-quência destas ocorrências em ossadas relacionadasentre si. Existem outras justificações para as patolo-gias traumáticas, nas palavras de OSGOOD et al.(2000: 19): “… skeletons exhibiting weapons injuriesare not necessarily proof of warfare (other explana-tions include executions, murders, immediate post-mortem wounds and even ritual killing)…”. As re -moções, canibalismo e trepanações entram no cam-po do ritual e têm uma leitura mais subjectiva.

As fracturas e perfurações dão-nos uma ideia daszonas do corpo mais visadas pelos ataques e as ar -mas usadas. Estas podem ter uma origem acidental,principalmente se o habitat das populações for aci-dentado (SILVA 2000). Logo, nas sociedades de ca -çadores-recolectores e de pastores temos mais aci-dentes.

Nos EUA, num estudo de ferimentos por causasviolentas, verificou-se que apenas 16 % deixavammarcas no esqueleto (RAND e STORM 1997 in LESSA

2004). Segundo GUILAINE e ZAMMIT (2002: 152):“…aquellos heridos y muertos por un impacto ensus partes brandas (carne, músculos, vísceras). Ladesaparición de esta porción importante del cuerpono permite apreciar, ni siquiera someramente, el altoporcentaje de muertos…”. Segundo WALKER (2001),em posição frontal, o esqueleto humano ocupa cercade 60 % da área alvo possível durante um ataque.Portanto, por cada evidência de violência interpes-soal que temos marcada nos ossos, muitas mais nãodeixaram vestígios.

Em relação ao tipo de fractura temos que obser-var, nas palavras de WALKER (2001: 576): “…ante-mortem [traumas anteriores à morte do indivíduo]and perimortem [por volta da altura da morte doindivíduo] injuries are of considerable anthropolo -gical interest because of the implications they havefor human behavior”.

Temos que ter em conta que as fracturas peri-mortem que não apresentam sinais de cicatrização,podem ter sido causadas após a morte do indivíduoou devido a processos tafonómicos (LESSA 2004: 10).A melhor maneira de identificar uma fractura ante-mortem consiste na observação da formação de ossonovo na fractura (WALKER 2001: 576).

SILVA (2000) traz-nos a seguinte definição defractura: “Por fractura entende-se um evento trau -mático que resulta da descontinuidade completa ouparcial de um osso […]. Pode resultar de uma forçaaguda, de um stress repetitivo (fractura por fadiga)ou do enfraquecimento do osso devido a doença”.Temos fracturas que são, pelas suas características,associadas à violência interpessoal. As fracturas dosmembros nos terços médio e distal dos antebraços,denominadas “fracturas de Parry”, estão associadasà violência interpessoal. Esta fractura sugere um mo -vimento em que o indivíduo levanta o braço em fren -te à cabeça para se proteger de um ataque (ORTNER ePUTSCHAR 1985; MERBS 1989; JURMAIN 1991; WEBB

1995 in LESSA 2004: 13).Segundo VEGAS et. al. (1999), temos ainda a

fractura de Monteggia, que é semelhante à de Parry:“…fracturas de cúbito de las denominadas de Mon -teggia o de paro. Se trata de una característica rotu-ra del hueso producida por un golpe directo con unaestaca u otro objeto contundente sobre la cara dor-sal del antebrazo, mientras lo agredido lo levantapara defenderse en un movimiento reflejo”. As frac-turas cranianas por depressão ou na face, principal-mente nos ossos nasais, podem ser um sinal claro deviolência interpessoal (LESSA 2004: 10), uma vezque num combate de proximidade a cabeça é umalvo preferencial.

As fracturas no crânio, quando isoladas e sem apresença de outros traumas noutras partes do corpo,podem indicar que não temos um acidente (LESSA

2004: 13), pois numa queda é difícil magoar só acara. Segundo WALKER (1989; 1979 in LESSA 2004:11), as lesões atribuídas a acidentes apresentam umadistribuição irregular, com tamanhos e formatos va -riados.

É possível determinar a intenção dos golpes apli-cados. Por exemplo, o frontal (no crânio) é mais re -sistente que o parietal, pelo que em combates onde oobjectivo não seja matar, pode ser atingido com maisfrequência (WILKINSON 1997 in LESSA 2004: 12). Se -gundo LESSA (2004: 12), o ângulo com que o golpefoi aplicado também pode ser determinado. Porexemplo, lesões no occipital (no crânio) podem in -dicar que a vítima estava de costas (a fugir, imobili -zada ou apanhada de surpresa).

As fracturas concentradas numa zona do corpo,ou quando apresentam um padrão regular de tama -nho e forma, podem estar associadas ao tipo de armausada e de violência interpessoal (LESSA 2004: 11).

2

3 “Guerra primitiva” é definidacomo violência interpessoalcolectiva entre duas ou maiscomunidades políticas distintas,com o uso de armas, tendo comoobjectivo causar fatalidades, porum assunto colectivo e semhipótese de compensação(definição do autor baseada emvárias leituras).

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Segundo THORPE (2003: 155-157): “Bennicke’sex amination of cranial trauma in Denmark […] showsthat during the Mesolithic there were a high numberof injuries in the form of fractures and impressions.[…] A similar pattern of cranial injuries has beendetected… among Yanomamo, where these general-ly non-lethal wounds result from fighting duels withheavy wooden clubs”. LESSA (2004: 14-15), no estudode populações da cultura Tiwanaku (Chile, 500 d.C.),descreve as lesões encontradas no crânio: “… em suamaioria de formato oval… principalmente na regiãofrontal… arremesso de pedras atiradas com fundas,que os arqueólogos admitem como um dos tipos dearma da região”. As fracturas causadas por cortes dearmas brancas (lâminas) deixam uma marca caracte -rística, são fáceis de identificar e atribuir à violênciainterpessoal.

A frequência de traumas em estudos de âmbitomais alargado permite detectar variações na intensi-dade da violência interpessoal. No estudo de popula -ções italianas detectaram-se mais traumas do crâniono Neolítico. Estes diminuem no Eneolítico e voltama aumentar nas idades do Bronze e do Ferro (ROBB

1997 in WALKER 2001: 587). WALKER (2001: 587)co menta este estudo, em relação à iconografia doguer reiro na Idade do Bronze: “… The cultural cele -bration of violence seems to have had an inverserelationship to its frequency”.

Uma perfuração pode ser um sinal de violênciainterpessoal. Se tivermos restos ou a totalidade doprojéctil que a causou, então não deixa dúvidas. Alémde projécteis, podemos também ter perfurações porartefactos afiados.

As perfurações, através da localização e trajectó -ria de penetração do projéctil, podem informar quan-to à estratégia do ataque (LESSA 2004: 13). Mas, se -gundo uma pesquisa do registo arqueológico fran -cês, temos marcas de projécteis em todo o corpo hu -mano (GUILAINE e ZAMMIT 2002: 155).

Por cada projéctil que é encontrado cravado nosossos, temos que ter em conta os que foram retira-dos, os que não se mantiveram no sítio com o passardo tempo, aqueles que seriam feitos de materiaisperecíveis, a área cúbica total do corpo humano e aprobabilidade que o projéctil tinha de acertar emosso. Também temos que ter em conta os que fa -lharam. Resumindo, por cada projéctil encontrado insitu cravado no osso, muitos mais foram disparadose atirados contra alvos humanos.

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Evidências de Violência Interpessoal ou Guerra Primitivano registo arqueológico da Península Ibérica 4

Arqueossítio, País, Período Descrição e Interpretação 5 Fontes

Sima de los Huesos, Espanha,Paleolítico Médio.

Moita do Sebastião, Portugal,Mesolítico.

Cabeço da Arruda I, Portugal,Neolítico.

Serra da Roupa, Portugal,Neolítico.

Bóbila Madurell, Espanha,Neolítico.

Camí de Can Grau, Espanha,Neolítico.

Dólmen de Ansião, Portugal,Neolítico Final / Calcolítico.

Poço Velho, Portugal, NeolíticoFinal / Calcolítico.

Eira da Pedrinha, Portugal,Calcolítico.

Monte Canelas, Portugal,Calcolítico.

São Pedro do Estoril, Portugal,Calcolítico.

Leceia, Portugal, Calcolítico.

Dólmen de Clara, Espanha,Neolítico Final / Calcolítico.

Cartuja de las Fuentes, Espanha,Neolítico Final / Calcolítico.

Cueva de las Cáscaras, Espanha,Neolítico Final / Calcolítico.

Venta del Griso, Espanha,Neolítico Final / Calcolítico.

Cueva del Barranco de la Higuera,Espanha, Neolítico Final /Calcolítico.

Vários crânios com várias fracturas curadas.

Violência interpessoal ou guerra primitiva.

Uma marca de projéctil nos ossos do pé.

Violência interpessoal.

Uma marca de impacto no crânio.

Violência interpessoal.

Duas fracturas no crânio por depressão.

Violência interpessoal.

Uma fossa com dois indivíduos do sexo masculinocom os crânios esmagados. Uma ponta de setacravada numa vértebra lombar.

Violência interpessoal ou guerra primitiva.

Uma ponta de seta de sílex cravada no arco deuma vértebra.

Violência interpessoal.

Uma lesão num fragmento de osso do frontal, que aponta para uma perfuração por uma ponta deseta, e cinco traumas em crânios por fractura.

Violência interpessoal ou guerra primitiva.

Uma lesão traumática incisa ao nível do exocrânioe do diploe (tecido craniano esponjoso), provocadapor um objecto cortante. Três crânios comdepressões.

Violência interpessoal ou guerra primitiva.

Uma depressão na região média do lado esquerdodo osso frontal.

Violência interpessoal.

Duas fracturas cranianas por depressão e umacalote craniana com uma lesão oval no parietaldireito.

Violência interpessoal ou guerra primitiva.

Uma calote craniana masculina apresenta umadepressão no lado esquerdo do osso frontal.

Violência interpessoal.

Presença de restos osteológicos de indivíduosadultos do sexo masculino numa lixeiraestruturada.

Guerra primitiva.

Quatro traumatismos cranianos.

Violência interpessoal ou guerra primitiva.

Uma marca de ponta de seta nos restososteológicos humanos.

Violência interpessoal.

Um projéctil cravado num fémur.

Violência interpessoal.

Várias marcas de projéctil nos restos osteológicoshumanos.

Violência interpessoal ou guerra primitiva.

Uma lesão no crânio de um dos indivíduos,causada por um objecto duro e angular.

Violência interpessoal.

CERVERA et al. 1998: 143 inTHORPE 2003: 151.

LUBELL et al. 1989 in THORPE

2003: 153.

LUBELL et al. 1989 in THORPE

2003: 153.

SILVA 2000.

OSGOOD et al. 2000: 46.CAMPILLO, MERCADAL eBLANCH 1993 in GUILAINE eZAMMIT 2002: 172.

MARTÍ, POU e CARLOS 1993in GUILAINE e ZAMMIT 2002:172.

SILVA 2000.

ANTUNES-FERREIRA 2005: 88.

MENDES CORREA e TEIXEIRA

1949 in Silva 2000.

SILVA 2000.

SILVA 2000.

CARDOSO 1991: 80 e 81.

MERCADAL e AGUSTI 2006:44

ETXEBERRIA e VEGAS 1988a;CAMPILLO 1995 in OSGOOD

et al. 2000: 47.

GUILAINE e ZAMMIT 2002:172.

ETXEBERRIA e VEGAS 1988a;CAMPILLO 1995 in OSGOOD

et al. 2000: 47.

ETXEBERRIA e VEGAS 1988a;CAMPILLO 1995 in OSGOOD

et al. 2000: 47

4 Os casos de canibalismo gastronómico e trepanação não estão incluídos.5 Nunca esquecendo que podemos ter apenas acidentes nos casos deviolência interpessoal. Também nos casos de guerra primitiva podemos terapenas feud (vinganças por motivos particulares que não se enquadram numadefinição de guerra primitiva).

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Os autores PALOMO I PÉREZ e GIBAJA BAO (2003:179), no estudo das pontas de seta encontradas emmonumentos do Neolítico / Calcolítico da Catalu nha,lançam a hipótese de estas terem chegado ali dentrodos corpos dos inumados.

Certos movimentos repetitivos deixam marcasnos ossos e algumas dessas marcas podem represen-tar acções ligadas à violência interpessoal, como dis-parar um arco ou montar a cavalo. No entanto, estasactividades não são exclusivas da violência interpes-soal.

Tendo em conta as armas usadas na Pré-História,podemos considerar as fracturas na cabeça, pescoçoou nos membros superiores (como a de Parry ou Mon -teggia) associadas a combates de proximidade comarmas de mão, por exemplo, mocas e machados (afunda, no entanto, tem como alvo preferencial a ca -beça). As lesões por cortes com lâminas afiadas têmuma clara associação a uma guerra de proximidadecom armas de mão. As perfurações estão mais asso-ciadas a projécteis e aparecem em todo o corpo, ilus-trando uma guerra à distância com armas de arre -mes so, por exemplo, arco e flechas, javalinas e lan -ças (embora a lança possa ser usada a curta distânciae causar fracturas).

Segundo BAHN (2002: 28), vários autores encon-tram pistas de canibalismo nos ossos humanos, se es -tes tiverem marcas de corte, estiverem esmagados ouapresentarem sinais de terem sido queimados. Aindasegundo este autor (IDEM: 29), outra evidência de ca -nibalismo é o facto de se encontrarem ossos huma -nos misturados com ossos de outros animais, com omesmo tratamento e marcas.

THORPE (2003: 158) relaciona o canibalismocom a guerra primitiva: “If these are cases of canni-balism, then they could be linked to warfare througha common explanation given by historically record-ed groups who practice cannibalism, that the vitalenergies or personal attributes of the enemy wouldbe absorbed by the cannibals. Cannibalism is alsosometimes used in South America societies as a wayof disrespecting the enemy, eating their flesh as ani-mal meat”. Segundo GUILAINE e ZAMMIT (2002: 116):“Muchos autores tienen la tendencia a limitar engran medida el llamado canibalismo alimenticio, in -cluso a negarlo por ser tabú. Proponen razones deguerra par explicar la consumición de carne y san-gre humanas, como manera de desembarazarse delos enemigos, los prisioneros, las personas secues -tra das, siendo entonces una práctica límite”. KEELEY

(1997: 103-106) refere dois tipos de canibalismo:cu linário (comer carne humana como fonte de pro-teínas, no que pode ser um caso extremo de fome) eritual (consumir uma parte do corpo com fins mági-cos).

O canibalismo gastronómico pode ser definidocomo o consumo de membros do grupo após a suamorte (THORPE 2003: 152).

KEELEY (1997: 103-106) traz-nos uma série deexemplos históricos e etnográficos de canibalismoculinário e ritual relacionados com a guerra primiti-va. Destes, gostava de referir o exemplo dos Maori,que resolviam o problema da logística consumindoos prisioneiros, podendo assim continuar as suas cam -panhas movendo-se de ilha em ilha.

Uma evidência vem reforçar a hipótese de cani-balismo entre povos primitivos: a análise de excre-mentos humanos de um arqueossítio do Sudoeste doColorado, revelou uma proteína muscular humanaque só pode ter ido lá parar pela ingestão de carne hu -mana (MARLAR et. al. 2000 in WALKER 2001: 579).No entanto, como referem GUILAINE e ZAMMIT

(2002: 118), podem existir muitas justificações parao canibalismo: motivos guerreiros, mágicos, alimen-tícios, funerários, simbólicos ou sacrificiais.

As remoções de partes do corpo do inimigofazem parte da guerra primitiva. THORPE (2003: 158)menciona: “If headhunting is involved, then thissimultaneously deprives the enemy of the benefit ofthe strength provided by reincorporating the deadinto the group and unleashes the anger of the dead ontheir own community unless the dead can be avenged”.

Em Ofnet, no Mesolítico da Bavaria, temos umexem plo de recolha de cabeças (FRAYER 1997 inWALKER 2001: 586). Ainda segundo este autor, emrelação a Ofnet: “… decapitation is suggested byperimortem cutmarks on many of the cervical verte-brae recovered with the skulls”. ALDHOUSE-GREEN

(2006: 300) refere, acerca da recolha de cabeças: “Insuggesting that the human heads at Gournay werethose of defeated battle-victims, such practiceaccords with a convincing body of evidence for thecollection of enemy trophy-heads in Iron Age andRoman Europe within a ritual context”.

HARDE (2000: 2) traz-nos um caso da Idade doBronze da Boémia, que considera como exemplo desacrifício relacionado com a guerra: “In some cases,the individual has been decapitated…”. DENNEN

(1995: 419) refere e existência da cultura de “head--hunting” entre povos primitivos nas seguintes áreasgeográficas: partes de África, Indonésia, Nova Gui -né, Melanésia, Polinésia, Micronésia, Índia e Amé ri -ca do Sul. Segundo o mesmo autor (IDEM: 421):“Trophies of all sort have been recorded in the lite -rature: skulls, scalps, skins, leg or arm bones, malegenital organs, and above all captives”.

Segundo SILVA (2000) e acerca das trepanações:“Até ao momento, existem descritas 22 trepanaçõesportuguesas do Neolítico até à Idade do Bronze (in -cluindo algumas prováveis e possíveis)”. As trepa -nações podem ser uma forma de medicina ou um ri -tual. No entanto, nos casos em que foi possível deter-minar o sexo dos indivíduos, estes pertenciam aosexo masculino (SILVA 2000).

As remoções, canibalismo e trepanação podemser rituais que, apesar de violentos, tinham a coni vên -

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cia de todos os actores mas, ao contrário dos aci-dentes, revelam intenção. Entre povos etnográficos ehistóricos, temos rituais de iniciação e passagem quepodem ser muito violentos. Outros rituais de carácterreligioso são também violentos e podem levar à mor -te de alguns dos intervenientes, ou seja, ao seu sa -crifício. Em muitos dos casos os sacrificados são pri-sioneiros de guerra (ALDHOUSE-GREEN 2006: 281).

Para SILVA (2004: 4): “… o conhecimento domun do dos mortos é necessário a tomada de váriosdados do âmbito da Antropologia funerária, tais co -mo, o tipo de sepulcro, a posição da inumação, o nú -mero de indivíduos por sepultura, o espólio associa-do e, no caso de um cemitério, a sua organização es -pacial”. Com GUILAINE e ZAMMIT (2002: 58), temosevidências de guerra na Pré-História em: “… fosasco munes con restos acumulados de cuerpos; es -queletos con diversos traumatismos depositados enpanteones familiares; necrópolis en las que las fa -milias han agrupado a varias personas muertas enen frentamientos, y difuntos abandonados en el cam-po de batalla y fosilizados por un aporte rápido desedimentos. Estos hallazgos arqueológicos son losque el investigador puede someter a un análisis críti-co”.

A destruição de um corpo pode dar-se por ex po -sição, imersão, incineração ou inumação (DAFLEUR

1993 in SILVA 2004: 9). Apenas os dois últimos mé -todos deixam vestígios arqueológicos e o último éaquele que permite encontrar mais pistas de violên-cia interpessoal e guerra.

Temos sepulturas com inumações desde o Pa leo -lítico Médio, com o Homo nean derthalensis, há 100mil anos (GUILAINE e ZAMMIT 2002: 62). A sepulturarepresenta esforço e intenção, é sinónimo de práticasfunerárias e algum tipo de relação para com o indi-víduo. Nas palavras de OSGOOD et. al. (2000: 70):“… burials and cremations with grave-gods were astatement of how people wanted the dead, their an -cestors, to be perceived by their own and perhapsfuture societies”.

A inumação em local que não é habitual, por ve -zes com reaproveitamentos de estruturas com outrasfunções (por exemplo silos, fossas, lixeiras e valas),a inexistência de sepultura, a própria posição do indi-víduo inumado ou inexistência de ritual funerário(sem objectos de cariz funerário), podem ser indica -dores de violência interpessoal e guerra primitiva.Te mos que ter em conta que, na guerra, os corposdos guerreiros caídos nem sempre são sepultados,por que pertencem a grupos inimigos, porque o cam-po de batalha é longe dos locais de sepultura habitu-ais, porque não ficou ninguém para sepultar os de -mais.

A posição em que a ossada se encontra pode aju-dar a perceber se temos uma sepultura (SILVA 2004:8). A posição das mãos cruzadas sobre o peito, pro -vavelmente atadas, pode ser uma evidência de vio-

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Evidências de Violência Interpessoal ou Guerra Primitivano registo arqueológico da Península Ibérica [cont.]

Arqueossítio, País, Período Descrição e Interpretação Fontes

Hipogeu de Longar, Espanha,Calcolítico.

San Juan Ante Portem Latinam,Espanha, Calcolítico.

Valencina de la Concepción,Espanha, Calcolítico.

La Atalayuela, Espanha, Calcolítico.

Grajal de Campos, Espanha,Calcolítico.

Cueva de las Cabras, Espanha,Calcolítico

El Puig, Espanha, Calcolítico.

Carrelasvegas, Espanha,Calcolítico.

Los Llometes, Espanha, Calcolítico.

Cerro de la Encina, Espanha,Calcolítico.

Cerro de la Cabeza, Espanha,Calcolítico.

Aitzibita, Espanha, Calcolítico /Idade do Bronze.

Dólmen de Collet Su, Espanha,Calcolítico / Idade do Bronze.

Cova de L’Heure de L’Arboli,Espanha, Calcolítico / Idade do

Sepultura colectiva de 112 indivíduos de diversasidades e sexos, onde não foram encontradosobjectos de adorno pessoal, só artefactos emsílex, lascas e pontas de setas. Quatro casos deprojécteis em sílex cravados nos restososteológicos humanos, sendo de supor que outraspeças pudessem estar associadas a feridas nasentranhas.

Guerra primitiva.

Restos osteológicos humanos de 289 indivíduos,com nove feridas por flecha e quatro fracturas deMonteggia. Possível inumação simultânea e lesõespor detrás em indivíduos masculinos.

Guerra primitiva.

Ossadas de dois indivíduos foram encontradasnuma vala sem ritual funerário ou outrotratamento especial, faltando algumas partesanatómicas.

Guerra primitiva.

Depósito de indivíduos realizado num momento,com pouca quantidade de artefactos associados.Ponta de seta cravada num crânio.

Guerra primitiva.

Duas pontas de seta (tipo Palmela) cravadas nosossos do crânio.

Violência interpessoal.

Várias marcas nos restos osteológicos humanos.

Violência interpessoal ou guerra primitiva.

Um crânio de um indivíduo que sofreu umafractura em curva.

Violência interpessoal.

Um indivíduo atirado para uma vala, sem um pé,sem deuses funerários.

Violência interpessoal.

Várias marcas de lesões nos restos osteológicoshumanos.

Violência interpessoal ou guerra primitiva.

Um indivíduo com fracturas nos ossos nasais,outro com fracturas nas costelas e um terceirocom um elevado número de outras lesões.

Violência interpessoal ou guerra primitiva.

Uma fossa com onze indivíduos que apresentampatologias traumáticas. Túmulo com seis indivíduoscom diversos projécteis cravados nos ossos.

Guerra primitiva.

Uma lesão no crânio de um indivíduo, provocadapor espada ou machado.

Violência interpessoal.

Uma ponta de seta de metal cravada nos restososteológicos humanos.

Violência interpessoal.

Uma ponta de seta em bronze cravada no maxilar.

Violência interpessoal.

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OSGOOD et al. 2000: 47.

OSGOOD et al. 2000: 48.

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OSGOOD et al. 2000: 48.

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CAMPILLO 1995 in OSGOOD

et al. 2000: 47.

GUILAINE e ZAMMIT 2002:173.

Page 8: O Papel da Bioantropologia na Recolha de Evidências de Violência Interpessoal, Ritual e Guerra Primitiva nos Restos Osteológicos Humanos

lência interpessoal (ALDHOUSE-GREEN 2006: 288).Ainda segundo esta autora: “… The deposition ofbodies face-down… might be linked to the dispatchof captives”. Os indivíduos encontrados numa li -xeira do povoado Calcolítico de Leceia, são umexemplo de local pouco próprio para uma inumação(CARDOSO 1991: 80-81).

Acerca da Idade do Bronze na Europa Central,HARDE (2000: 1), frisa: “… Their bones were eitherdeposited in pitches and ditches or scattered over thesettlement area. Not surprisingly, traces of violenceare over represented in these two last categories ofburials”. Para GARCIA SANJUAN (1993, in SOARES eSILVA 1998: 235): “The grave goods reveal indica-tions of status differentiation related to age and gen-der…”. Entre os “grave goods” podemos encontraras estelas do tipo alentejano (IDEM: ibidem).

As sepulturas colectivas representam um localonde as inumações se sucederam ao longo do tempo,não existindo entre os indivíduos uma estrutura de iso -lamento, o que leva geralmente a uma mistura to taldos ossos dos diferentes indivíduos (SILVA 2004: 8).Se este depósito se deu simultaneamente, em grandenúmero, devido a uma epidemia ou massacre, esta-mos na presença de uma sepultura colectiva múltipla(ZAMMIT 1991 in SILVA 2004: 8) ou vala comum.

HARDE (2000: 2) define enterramentos em mas-sa como sepulturas com mais de quatro inumações.BENNIKE (2006: 305) frisa: “Mass graves or individ-ual graves situated outside a cemetery may indicatea unusual preceding event”. Se numa vala comumtivermos sinais de violência pessoal, como traumasou a presença de projécteis nas ossadas, então temoso indício mais forte e óbvio de guerra. KUNST eUERP MANN (2000: 131) trazem-nos três exemplosdesta situação na Pré-História da Península Ibérica:“Hipogeo de Longar, La Atalayuela e San Juan AntePortam Latinam”.

A presença de armas associadas ao indivíduo inu -mado, leva a que este seja considerado um guerreiro.A sua sepultura pode mesmo ocupar um lugar espe-cial na necrópole, individualizado ou mesmo central.Segundo OSGOOD et al. (2000: 70): “… we can obtainuseful nuggets of information pertaining to warriorsand conflict in the Bronze Age from the archaeologyof the death. […] the various weapons used in ritu-als for the dead. In the transition from the Neolithicto the Bronze Age, dramatic depositions are found,often portraying the dead as rich, powerful war-riors”. Nas palavras de HARDING (2003: 301) e paraa Europa da Idade do Bronze: “… la diferente ri que -za de las tumbas con armas de muestran que los as -pectos simbólicos estaban señalados…indudable-mente las armas fueron utilizadas tal como incons -cientemente se entendieron”.

Para SOARES (2003: 216), em relação ao estudodos hipogeus em Portugal: “No Calcolítico, surgemos primeiros indícios de segregação espacial intra-

tumular. […] A emergência de líderes, no HorizonteCampaniforme de Transição ou Bronze Antigo,encontra-se expressa de forma eloquente em algunscontextos funerários…”.

Muitos dos artefactos que encontramos associa-dos ao indivíduo inumado, nas sepulturas da Idadedo Bronze, são claramente armas. Temos então guer-reiros e um papel para a coerção na sua sociedade.No entanto, no Neolítico as armas eram o arco e aflecha, pelo que nos monumentos funerários destaépoca encontram-se muitos projécteis, alguns delespartidos. PALOMO I PÉREZ e GIBAJA BAO (2003: 179)levantam a hipótese para o “hipogeo de la Costa decan Martorell”: “… pel context funerari on vanaparèixer les puntes, una inhumació múltiple d’uns200 individus,… i pel gran índex de fractures docu-mentades en les puntes,… deriva en el plantejamentde la hipòtesi que una part de les puntes haguessinarribat a l’espai funerari clavades en els cadàvers”.

CHAPMAN et al. (1981: 14) trazem-nos a seguinteleitura: “The spatial patterning of graves within ceme -teries within settlement landscapes forms an impor-tant dimension of these mortuary practices of anycommunity. This patterning should be studied along-side the form of the interment, the treatment of thebody, the nature and frequency of the grave goodsand the demographic and biological attributes of theinterred population in a multidimensional analysis”.

A Paleodemografia revela-se fundamental napro cura de indícios de violência interpessoal e guer-ra na Pré-História. Segundo SILVA (2000), a Paleo -demografia define-se como o estudo das alteraçõesda estrutura e da dinâmica das populações do passa-do. A sua análise tem contribuído para compreenderas condições de vida das populações do passado, no -meadamente no reconhecimento da sua saúde, dasprá ticas funerárias, da história e dos aspectos evolu-tivos da biodemografia humana. Ainda segundo estaautora, a abordagem pode envolver: a mortalidade efertilidade, o tamanho e a densidade populacional, osex-ratio e a migração.

Nas palavras de BISHOP e KNUSEL (2005: 202):“The analysis of demographic patterns aloes aninsight into the ways in witch war as waged and theways that it affected human populations”. Na procu-ra de indícios de guerra nas populações pré-históri -cas pela Paleodemografia, revela-se mais importantea análise da mortalidade, no que diz respeito ao sex--ratio e aos escalões etários. As flutuações da popu-lação no geral e masculina em particular são muitorelevantes, principalmente quando associadas aevidências de violência interpessoal (SILVA 2000).

Segundo BISHOP e KNUSEL (2005: 211), temosque ter em conta: “The majority of the prehistoricsites show that people who would be considered non-combatants by historical armed forces (women andchildren) might have been regularly killed in con-flicts”.

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Evidências de Violência Interpessoal ou Guerra Primitivano registo arqueológico da Península Ibérica [cont.]

Arqueossítio, País, Período Descrição e Interpretação Fontes

Bronze.

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Guerra primitiva.

Grande percentagem de patologias traumáticas.

Guerra primitiva.

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Violência interpessoal.

Fossas reaproveitadas como sepulturas einumações de indivíduos acéfalos.

Guerra primitiva.

Fractura em bisel num individuo.

Violência interpessoal.

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Como este é um trabalho em construção, toda ainformação e crítica construtiva podem ser enviadaspara [email protected], o que desde já seagradece.