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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
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O papel da Multidisciplinaridade no estudo dos impactos dos desastres sobre a
atividade turística em Santa Catarina, na região turística Costa Verde e Mar
Prof. Dr. Marcos Antônio Mattedi Universidade Regional de Blumenau (FURB) – [email protected]
Marcelo Mariano da Rocha Universidade Regional de Blumenau (FURB) – [email protected]
Eixo temático: Conhecimento Interdisciplinar
1. Resumo
O presente trabalho tem por propósito apresentar a relação entre a multidisciplinaridade, desastre, turismo e
políticas públicas na região turística Costa Verde e Mar localização no litoral de Santa Catarina. A
multidisciplinaridade vem sendo um elemento difundido como um campo do saber por ter uma importância
na contribuição para a realização de pesquisas em função dessa área do saber agregar diversas áreas do
conhecimento. A região turística Costa Verde e Mar é conhecido por suas belezas naturais, que
consequentemente atrai milhares de turista anualmente para desfrutar dos atrativos naturais e culturais
existentes. No entanto, essa mesma região tem histórico de desastres que ocorreram ao longo de sua história
afetando a atividade turística direta e indiretamente. O trabalho vem apresentando como a
multidisciplinaridade poderá contribuir para a realização dessa pesquisa e de que forma esse campo do saber
poderá trazer benefícios para a pesquisa, sendo que o campo de pesquisa, ou seja, o turismo e os desastres
são elementos multidisciplinares.
2. Introdução
O presente trabalho examina a multidisciplinaridade na abordagem da relação entre os impactos dos
desastres e o planejamento da atividade turística na região Costa Verde e Mar, no litoral norte de Santa
Catarina. O estudo da relação entre Desastres e Turismo é multidisciplinar porque envolve tanto a
consideração do processo de formação quanto de dissolução das atividades turísticas no território. Pressupõe
a consideração da ambivalência que surge entre a necessidade de difundir uma imagem de território positiva
para atração do turista e, ao mesmo tempo os eventuais efeitos negativos provocados pelo impacto de
desastres de um território. A compreensão desta relação pressupõe o enfoque de diversas disciplinas
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simultaneamente porque se trata de uma situação complexa, que envolve tanto a consideração de dimensões
naturais relacionadas aos desastres, como dimensões sociais relacionadas ao turismo.
Esta pesquisa constitui parte das atividades de pesquisa da elaboração da dissertação de mestrado que
está sendo desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional na Universidade
Regional de Blumenau – PPGDR/FURB. O trabalho baseia-se na revisão bibliográfica da temática dos
desastres, do desenvolvimento do turismo no Brasil e em Santa Catarina, e do processo de implementação de
políticas públicas contra desastres no turismo na região turística Costa Verde e Mar. O interesse na
consideração multidisciplinar da relação entre Turismo e Desastres resulta da percepção que as
preocupações políticas para o setor só aparecem quando este adquire importância econômica ou quando
começa a causar transtornos. Antes disso, caracterizam pela espontaneidade, com pouco ou nenhum controle
de seu desenvolvimento, obedecendo apenas à lei de mercado.
O estudo da relação entre Turismo e Desastres tem como pressuposto os possíveis impactos na
atividade turística que resulta da inexistência de um plano de contingência e o delineamento de medidas
contra os desastres. É importante propor para essa região um plano de contingência para minimizar os
impactos decorrentes de um possível desastre. Mais precisamente, a sustentabilidade das atividades turísticas
depende tanto de medida pré-impacto como de ações pós-impacto para o setor. O que tem se notado através
dos levantamentos preliminares da pesquisa é o poder público não dispõe de nenhuma estratégia para lidar
com os eventuais efeitos dos desastres sobre a atividade na região Costa Verde e Mar. Nesse sentido, a
multidisciplinaridade torna-se essencial e importante nesse campo da presente pesquisa na medida em que
integra as informações produzidas em várias áreas do conhecimento como, por exemplo, a geografia, a
sociologia, a história, o turismo, mas também, a meteorologia, a hidrologia, o planejamento para entender tal
implicações e interações desse fenômeno.
Desta forma, a multidisciplinaridade torna-se decisiva na realização desta pesquisa, sendo que
turismo, desastres e território encontram-se interligados, e ambos possuem diferentes áreas de conhecimento
que são importantes para a realização da pesquisa, e também em função do conjunto dessas áreas de
conhecimento se tornam essencial para objetivar o foco da pesquisa.
3. Multidisciplinaridade e seus desafios.
O desenvolvimento institucional da ciência sempre se baseou no estabelecimento estratégias para
controlar, estimular e intensificar a criação de novas teorias e descobertas científicas. Desta forma, vão
constantemente sendo formuladas e estabilizadas um conjunto de regras, ao mesmo tempo, morais e
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técnicas, que procuram regular e orientar tanto a relação dos cientistas entre si (princípios) como a relação
deles com o mundo (método científico). Até hoje essas regras visam inibir anomalias e incrementar novas
descobertas pelos possíveis benefícios que a produção regular e sistemática do conhecimento pode
proporcionar à sociedade. A medida que em as descobertas científicas se tornaram a base da inovação
tecnológica este processo tornou-se fundamental e essa reflexão foi regularizada em áreas de conhecimento
como, por exemplo, a sociologia da ciência e a epistemologia. Assim, se, por um lado, o processo de
desenvolvimento científico tende a especialização, a necessidade de aplicação do conhecimento força a
necessidade de integração.
Paralelamente nos últimos anos um conjunto novo de fenômenos vem colocando novos desafios ao
desenvolvimento científico. Entre os principais pode-se assinalar a questão dos problemas ambientais, a
globalização, a família, a violência, o desenvolvimento regional, a nanotecnmologia, a biotecnologia, a
educação, a democracia e a própria ciência. Algumas iniciativas já são amplamente reconhecidas tanto na
comunidade científica como na sociedade como os Estudos Sociais das Ciências e da Tecnologia, os Estudos
Ambientais, os Estudos Culturais e de Gênero, bem como as pesquisas sobre desastres e turismo. Estas áreas
temáticas envolvem a combinação de diversos tipos de informação, forçando, muitas vezes, as próprias
fronteiras entre as ciências naturais e as ciências sociais.
Entre as principais estratégias podemos destacar a interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade e a
multidisciplinaridade. Mais precisamente, a constatação de que sem disciplinaridade não existe inter, trans e
multidisciplinaridade, a disciplinaridade por si mesma não é suficiente para confrontar problemas
complexos. E que a inovação científica e tecnológica surge sempre nos pontos de intersecção de várias
disciplinas.
A partir desse contexto de desenvolvimento institucional da ciência a abordagem multidisciplinar foi
se fortalecendo, disseminando e se impondo como estratégia de abordagem. Contudo, não existe ainda
consenso sobre qual a melhor estratégia para se conceber uma abordagem multidisciplinar. Segundo Arantes
Fazenda (1997), a multidisciplinaridade é a visão menos compartilhada de todas as três visões. Para este, um
elemento pode ser estudado por disciplinas diferentes ao mesmo tempo, contudo, não ocorrerá uma
sobreposição dos seus saberes no estudo do elemento analisado.
Já para Almeida Filho (1997) a ideia mais correta para esta visão seria a da justaposição das
disciplinas cada uma cooperando dentro do seu saber para o estudo do elemento em questão. Nesta, cada
pesquisador cooperará com o estudo dentro da sua própria ótica; um estudo sob diversos ângulos, mas sem
existir um rompimento entre as fronteiras das disciplinas. Como um processo inicial rumo à tentativa de um
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pensamento horizontalizado entre as disciplinas, a multidisciplinaridade institui o inicio do fim da
especialização do conteúdo.
Pode-se definir com mais clareza a multidisciplinaridade como:
[....] conjunto de disciplinas que simultaneamente tratam de uma dada questão, problema ou assunto
(digamos, uma temática r), sem que os profissionais implicados estabeleçam entre si efetivas relações
no campo técnico ou científico. É um sistema que funciona através da justaposição de disciplinas em
um único nível, estando ausente uma cooperação sistemática entre os diversos campos disciplinares.
A coordenação; quando existente, é de ordem administrativa, na maioria das vezes externa ao campo
técnico-científico. (ARANTES FAZENDA, 2011, p. 30)
Nesse sentido, a questão da coordenação é decisiva para a abordagem multidisciplinar. Segundo
Kubrusly e Dantas (2012) hoje, dentro dos mais respeitados centros de pesquisa vemos surgir um certo
clamor por um comportamento científico multidisciplinar ou mesmo interdisciplinar. Mas, por mais
paradoxal e irônico que possa parecer, começam a surgir e até mesmo existem vários especialistas nesses
novos de abordagem multidisciplinares. Exercendo certa tolerância, os cientistas, para salvar seu método
sagrado começam a conversar acreditam que essa nova linguagem de primos trará um entendimento
definitivo para os problemas complexos da modernidade.
Na verdade esta estratégia deve ser concebida como um tratado de tolerância que admite diversas
vias de concepção e abordagem dos fenômenos. Por isso atualmente, muitas pesquisas realizadas em
diversas áreas da ciência estão sendo desenvolvida a partir do pressuposto da visão multidisciplinaridade, ou
seja, várias áreas do conhecimento vêm trabalhando em conjunto para investigar tal fenômeno e/ou elemento
a fim de propor tais soluções e/ou adquirir novos conhecimentos. No entanto, é importante ressaltar que
alguns autores dizem que para este, “um elemento pode ser estudado por disciplinas diferentes ao mesmo
tempo, contudo, não ocorrerá uma sobreposição dos seus saberes no estudo do elemento analisado” (LEFF,
2001).
A grande dificuldade nesta linha de trabalho se encontra na difícil localização da "via de
interarticulação" entre as diferentes ciências. Nesse sentido, é importante lembrar que cada uma delas possui
uma linguagem própria e conceitos particulares que precisam ser traduzidos entre as linguagens (MORIN,
2000). Esse debate da importância das pesquisas multidisciplinar se tornou essencial para buscar novas
formas de analises de um fenômeno e/ou elemento que causa algum tipo de interferência na sociedade. O
saber multidisciplinar se tornou algo de extrema importância, sendo que a partir desse campo científico se
reúne uma diversidade de pesquisadores com proposito de investigar tal elemento.
O estudo multidisciplinar vem abordando diversas áreas de pesquisa como, da saúde, na área da
educação e, na área ambiental, sendo que a “problemática ambiental promoveu a transformação dos
conhecimentos teóricos e práticos nos quais se funda a racionalidade social e produtiva dominante” (LEFF,
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2001). Assim esse campo do saber em especial vem utilizando o saber multidisciplinar para analisar as
modificações no meio tendo à ação antrópica como principal agente de interferência.
Embora o papel do saber multidisciplinar fosse à abordagem de diversas áreas de conhecimento em
prol de um fenômeno, Almeida Filho (1997) cita outra visão sobre a multidisciplinaridade em relação seu
papel:
[....] a multidisciplinaridade parece esgotar-se nas tentativas de trabalho conjunto, pelos professores,
entre disciplinas em que cada uma trata de temas comuns sob sua própria ótica, articulando, algumas
vezes bibliografia, técnicas de ensino e procedimentos de avaliação. Ainda de acordo com o autor,
pode-se dizer que na multidisciplinaridade as pessoas, no caso as disciplinas do currículo escolar,
estudam perto mas não juntas. A idéia aqui é de justaposição de disciplinas. (p.13)
Portanto, a multidisciplinaridade exerce um importante papel na investigação científica, sendo que
esse saber reúne uma série de contribuições científica de diversas áreas de conhecimento a fim de tratar um
elemento ou fenômeno. O saber multidisciplinar é uma das ferramentas essenciais para o entendimento de
fatos ou fenômenos que afligem a sociedade, e essencial para que os pesquisadores possam chegar os
resultados esperados.
Particularmente, a multidisciplinariedade constitui uma estratégia adequada para considerar as
relações multidimensionais que surge da consideração do turismo e os desastres no território. Em síntese,
pode-se dizer que a multidisciplinariedade constitui uma nova resposta para velhos problemas, ou seja, as
velhas questões relacionadas à tendência de somente considerar somente as dimensões positivas na
territorialização do turismo podem ser superada pela adoção de uma abordagem multidisciplinar.
4. A atividade turística como elemento multidisciplinar
O Turismo que conhecemos atualmente no mundo é uma atividade dinâmica e que se tornou
importantíssima para economia de diversos países, e em especial no Brasil, sendo assim, a mesma passou a
ser tratado com a devida importância tanto pelo poder público e, principalmente, pelo setor privado. No
entanto, o desenvolvimento dessa atividade foi lento, e somente a partir da metade do século XX o turismo
foi se dinamizando, em virtude disso passou a ser um segmento ativo da economia mundial.
Segundo Rejowski e Solha (2002) após a Segunda Guerra Mundial, a atividade turística tomou novos
rumos, consolidou-se e expandiu-se, profissionalizando-se. Ao mesmo tempo, perceberam-se com mais
clareza os riscos e as oportunidades do seu desenvolvimento, relacionado à evolução inicial do seu estudo
científico. Mas acima de tudo, o que caracterizou esse período foi a massificação do turismo possibilitada
por fatores políticos, econômicos, educacionais, culturais, sociológicos, trabalhista.
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Dentro disso, a atividade turística foi ganhando um cenário mundial baseado na grande dissolução
desse segmento na sociedade, tendo em vista que ela havia se tornado uma atividade de massa, e sendo
assim, a mesma passava por grandes transformações no seu âmbito de abrangência. O estilo do
desenvolvimento do turismo no Brasil, não fugiu de via de regra dos demais países onde essa atividade
surgiu. O turismo brasileiro teve seu crescimento e fortalecimento baseado inicialmente na exploração dos
recursos naturais, e isso ficou evidenciado nos discursos tanto do poder público, e principalmente do setor
privado, afirmando que o Brasil possuía todos os requisitos possíveis para o desenvolvimento do trade.
De acordo com Ouriques (2003) existem algumas intenções dos grandes capitalistas em relação ao
Turismo.
A imagem do Brasil como um cartão postal natural aparece explicitamente nos discursos do poder
público, dos capitalistas do setor e dos pesquisadores a serviço do capital. Documentos produzidos
por órgãos estatais sempre enfatizam a natureza do país como justificativa da denominada “ação”
turística. Os capitalistas do setor de regra se pronunciam pedindo apoio por parte do estado (lei se
isenções e financiamentos), já que Deus foi generoso para o Brasil, pois a natureza aqui é divina,
constituindo-se na matéria-prima fundamental para o turismo. (176)
Em detrimento desse aspecto de crescimento da atividade turística no Brasil foi necessário tentar
compreender como esse fenômeno se desenvolvia no país para tentar analisar qual seria seu papel na
sociedade a partir desse período. A partir disso, alguns campos da ciência passou a perceber o turismo como
um campo do saber e novas áreas de conhecimento passaram a investigar o turismo, pesquisando como esse
segmento se desenvolvia, quais seriam os benefícios do turismo, e também para apontar os pontos negativos
dessa atividade. Em função dessas características, o turismo se tornou um campo científico de diversas áreas
do conhecimento, assim, “o estudo científico do turismo passou a ser um trabalho recente de natureza
multidisciplinar e interdisciplinar, tendo em vista que está inserido num ambiente sujeito a influências de
diferentes paradigmas” (DENCKER, 2002).
Dentro disso, o turismo se tornou um campo da ciência totalmente complexo em função da sua
dinamicidade de investigação se tornando um campo científico inter e multidisciplinar em detrimento da
necessidade de analisar o turismo por diferentes campos da ciência, para só assim poder compreender
melhor o dinamismo desse segmento.
Segundo Mota (2005);
[....] o Turismo é objeto de estudo de várias disciplinas e utiliza referenciais teóricos da maioria das Ciências Sociais, o que caracteriza a multidisciplinaridade. Na Psicologia, Antropologia e Sociologia,
o Turismo torna-se um objeto quando estudam sobre as motivações, preferências e condutas dos
turistas, suas condições sócio-econômico-culturais, que determinam a necessidade de viajar e efeitos
que a interação social provoca no comportamento das populações emissoras e receptoras do fluxo
turístico. (p.3)
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A partir dessa complexidade e necessidade de pesquisar o turismo para compreender seu surgimento,
crescimento e desenvolvimento e suas interligações com a sociedade, foi necessário que algumas áreas de
conhecimento fossem se incorporando a esse segmento, e assim, se tornando uma atividade inter e
multidisciplinar. Portanto, várias pesquisas vêm sendo desenvolvidas sempre com caráter multidisciplinar
para tentar chegar ao objetivo proposto. O estudo em questão trata de investigar uma região turística de
Santa Catarina denominada de Costa Verde e Mar. O Estado de Santa Catarina é um dos destinos turísticos
mais procurados pelos turistas provenientes de várias localidades brasileiras, atraídos por diversas paisagens
naturais e culturais. O Estado é dividido por regiões turísticas que visam realizar a exploração do turismo de
forma regional. O mapa abaixo vem apresentado o território da região turística Costa Verde e Mar, que se
constitui dentro de um território constituindo pelos seguintes municípios; Luís Alves, Balneário Piçarras,
Penha, Ilhota, Itajaí, Camboriú, Balneário Camboriú, Itapema, Porto Belo e Bombinhas.
FONTE: http://www.costaverdeemar.com.br/pt/costa-verde-mar/localizacao/
No entanto, esse espaço turístico existente em Santa Catarina, além de apresentar potencial turístico,
também apresentam históricos de desastre, e dessa forma, a região turística Costa Verde e Mar, vem
apresentando essas duas características, sendo que os desastres se tornaram um elemento negativo para a
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continuidade de três características, desenvolvimento, crescimento e fortalecimento do trade dessa região.
De acordo com Zucco; Magalhães (2010, p.603) “o turismo é altamente sensível a crises e elas se agravam
quando associadas a desastres e, um sistema de proteção aos turistas e de recuperação das áreas turísticas
deve ser implementada pelas autoridades competentes”.
O turismo é uma atividade muito sensível a impactos negativos, onde esse setor está alicerçado na
relação interpessoal, e quando ocorrem fenômenos negativos ao turismo essa atividade sofre profundas
modificações em seu ciclo. Como enfatizam Maditinos e Vassiliadis (2008 apud ZUCCO; MAGALHÃES,
2010), os desastres aumentam as preocupações de turistas com segurança e proteção colocando pressão
crescente sobre planejadores e gestores envolvidos com o turismo, impelindo-os a analisar o impacto das
catástrofes sobre essa indústria e a desenvolver estratégias para lidar com as crises.
Assim, se faz necessário realizar um aprofundamento científico para tentar compreender como se dá
essa relação entre a atividade turística e os desastres na região turística Costa Verde e Mar. Para que essa
pesquisa seja realizada, é preciso desenvolver um trabalho de caráter multidisciplinar a fim de agregar
campos da ciência, como a sociologia, a geografia, a história, a hidrologia, e o turismo sendo que essas áreas
de conhecimento, no campo do turismo se torna objeto importante no estudo da preservação e sustentabilidade
do meio ambiente, e assim, se tornam elementos importantíssimos para a consolidação do turismo.
5. A multidimensionalidade dos desastres.
Os impactos ambientais causadores da degradação da natureza podem ser considerados um fenômeno
estritamente prejudicial ao desenvolvimento do turismo em uma determinada região turística. A atividade
humana vem alterando a dinâmica natural do planeta, e essas mudanças passaram a ocorrer tanto em
ambientes localizados como em grandes ecossistemas. A degradação ambiental passou a agravar-se devido
ao aumento da interferência humano no ambiente, e na prática limita a capacidade de uma determinada área
de absorver estes impactos, reduzindo a capacidade natural de resistir às ameaças e recuperar-se. Segundo
Santos (2007) no Brasil há uma relação muito estreita entre o avanço da degradação ambiental, a intensidade
dos impactos dos desastres e o aumento da vulnerabilidade humana. Ainda para Santos, “na verdade,
arriscamos dizer que a degradação ambiental aumenta a possibilidade de ocorrências de perigos naturais e,
frequentemente, ocorre à possibilidade do perigo se transformar em uma situação previsível, geradora de
desastres, causando danos às pessoas” (SANTOS, 2007).
Além disso, quando a degradação ambiental é significativa o suficiente para alterar a padrões
naturais de um ecossistema, os efeitos são enormes para a atividade humana, os exemplos mais evidentes
são a variabilidade climática atual e as mudanças climáticas. Práticas ambientais inadequadas, a mudança
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ambiental global, o crescimento populacional, a urbanização, a injustiça social, a pobreza, os conflitos e a
visão econômica de curto prazo estão gerando sociedades vulneráveis. Pretende-se que a estratégia para a
redução do risco de desastres para produzir os resultados esperados, deve ser dirigida diretamente o efeito do
desenvolvimento de desastres, em uma sociedade cada vez mais instável. Dentro dessas questões alguns
desastres trazem enormes transtornos para a sociedade do território atingindo e, trazendo muitos danos
materiais, consequentemente perdas de vidas. O gráfico 1 vem apresentando ocorrências mensais de tornado
por região em todo território nacional no período de 1991 a 2010.
Gráfico 1. Fonte: (ATLAS SOBRE DESASTRES NATURAIS 1991 a 2010, 2012)
Os dados do gráfico 1 mostram que algumas regiões ao longo do período pesquisado, ou seja, de
1991 a 2010, tiveram grande incidência de tornados, onde a região que teve a maior incidência desse
fenômeno entre todas do Brasil, foi na região Sul. O gráfico também apresenta que nos meses de janeiro e
outubro foram os períodos que mais aconteceram esse tipo desastre, sendo que o mês de outubro apresentou
como o período que mais surgiram tornados na região Sul. Esses dados mostram que essa região é suscetível
a desastre, com isso os estados que compõem essa região como de Santa Catarina está dentro da eminência
do perigo de um desastre.
As relações entre a ação humana, a gestão ambiental, mudanças climáticas e riscos de desastres estão
se tornando cada vez mais crítica. Os desastres afetam não apenas os países tradicionalmente pobres e mais
vulneráveis, mas também aqueles que pareciam ser bem protegido. “Os desastres, são como uma disrupção
repentina de uma “normalidade” anterior socialmente estabelecida, são caracterizados por serem eventos
adversos que proporcionam impactos negativos tanto físicos quanto sociais nas comunidades atingidas”
(SORIANO, 2009).
De acordo com Castro (1996, p.1),
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[.....] desastre é definido como resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem,
sobre um ecossistema (vulnerável), causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e
consequentes prejuízos econômicos e sociais. Aqui nota-se que o termo adverso significa hostil, inimigo, contrário, aquele que traz infortúnio e infelicidade.
Os impactos dos desastres ocupam o primeiro lugar da mídia apenas por alguns dias, mas as
consequências de desastres são muito mais duráveis e pode ser visto de maneira mais vívida quando
considerados separadamente: a perda da vida, interrupção dos meios de subsistência, propriedade destruída e
meio ambiente afetado. Estas perdas prejudicam o desenvolvimento humano e, muitas vezes minam o
sucesso individual e nacional anteriormente conseguido à custa de muito esforço. Marchezini (2009)
compreende o desastre como um agente externo ameaçador, seria o fruto de um modelo de guerra, no qual
desastres tendem a ser concebidos como um agente externo que causa impactos sobre as comunidades
humanas e estas tendem a responder a esta “agressão”. “Os desastres são assim concebidos como
decorrentes de causas externas à comunidade, isto é, os desastres da natureza que causam danos: “são as
chuvas que destroem casas”, “são as chuvas que matam, que deixam desabrigados” (MARCHEZINI, 2009).
Segundo Soriano (2009, p.4);
Os desastres naturais são eventos adversos que se constituem através da ação da força da dinâmica terrestre, quando ocorre em áreas que atinjam áreas habitadas, principalmente no caso de áreas
densamente povoadas e em situação vulnerável a estes eventos adversos, quando se observa a
ocorrência de vítimas fatais. Trata-se de uma realidade que atinge várias partes do planeta, de formas
e intensidades diferenciadas.
Esses impactos duradouros que os desastres podem causar ao meio, podem se tornar um grande
problema no desenvolvimento de diversos setores da economia. O setor do turismo pode ser um desses
setores a sentirem esse efeito imediatamente em suas destinações turísticas, tendo em vista que um
fenômeno como desastres proporciona profundos impactos negativos no desenvolvimento do trade. A
imagem das destinações turísticas pode ser afetada, e isso pode refletir na relação com os consumidores da
destinação turística, sendo que um dos pontos fortes do turismo é a imagem que é repassada dos produtos
turísticos a fim de vendê-los ao mercado.
Quando um território apresenta ao longo do tempo um histórico de desastre, essa destinação turística
pode sofrer uma grande queda do fluxo turístico em função dos impactos advindo desse fenômeno sobre o
território. Dentro disso, pode-se citar um exemplo do Estado de Santa Catarina que ao mesmo tempo
apresenta regiões exuberantes que são exploradas turisticamente, como já foi apresentado, também possui
um histórico de desastres. Algumas regiões do Estado tem histórico desse fenômeno, onde esse problema
atinge principalmente localidades que possuem grande fluxos de turistas, afetando diretamente o trade
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turístico. O gráfico 2 vem apresentando dados sobre a frequência mensal de inundação brusca no Estado de
Santa Catarina, no período de 1991 a 2010.
Gráfico 2. Fonte:
(ATLAS SOBRE DESASTRES NATURAIS 1991 a 2010, 2011).
Os dados acima mostram que o Estado possui um grande problema sobre a questão das inundações
bruscas, sendo que entre os meses de setembro a fevereiro acontece a maior incidência de chuva no Estado.
Segundo Monteiro (2001 apud Atlas de Santa Catarina, 2011) no verão em Santa Catarina, a intensidade do
calor, associado aos altos índices de umidade, favorece a formação de convecção tropical, resultando em
pancadas de chuvas, principalmente no período da tarde e noite, contribuindo com volumes significativos de
chuvas entre novembro e março. Pode-se citar também que nesse período de precipitação intensa no Estado,
coincide com o período da alta temporada do turismo, sendo que algumas regiões sofrem com os impactos
das chuvas sobre a atividade turística e, assim essa instabilidade climática no estado vem de encontro com o
grande fluxo turístico, sendo que nesse período o estado de Santa Catarina recebe turistas de diversas
localidades do Brasil e também turistas estrangeiros.
A redução do risco de desastres depende principalmente das consequências de decisões coletivas que
são adotadas e contempla a base social, o respeito à diversidade cultural, a equidade e as necessidades das
gerações futuras. É preciso haver um sistema ecológico mais saudável e diversificada que seja produtiva e
capaz de sustentar uma economia saudável para se adaptar às mudanças e considerar as restrições sociais e
ambientais. As relações entre turismo e desastres podem ser muito complexos, porém essa complexidade
tem referência com ponto negativo que podem vir à afetar o setor, sendo que o turismo é uma atividade
profundamente sensível as mudanças, e principalmente por fenômenos negativos, como os desastres.
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6. Considerações finais
Esta proposta de trabalho procurou evidenciar como a abordagem interdisciplinar tornou-se
fundamental para a abordagem da relação entre turismo e desastre. A compreensão da relação entre turismo
e desastre envolve tanto a consideração dos fatores positivos quantos negativos de um território. Esta relação
não pode ser satisfatoriamente considerada numa perspectiva disciplinar, mas envolve uma consideração
interdisciplinar. Essa estratégia foi adotada em virtude da necessidade de pesquisar, simultaneamente, as
dimensões sociais e naturais. Nesse sentido, vários campos do saber e em especial a multidisciplinaridade,
tornou se essencial para o estudo de várias áreas de conhecimento, como meio ambiente, turismo, saúde,
educação e economia. Assim, esse trabalho em conjunto foi se tornando essencial para o sucesso das
pesquisas, onde a inserção da multidisciplinaridade se tornou algo de extrema relevância para o sucesso da
investigação.
Pôde-se perceber, assim, que a multidisciplinaridade será de extrema importância para a elaboração
da pesquisa que se encontra em andamento que terá o objeto a região turística Costa Verde e Mar em Santa
Catarina e suas relações entre turismo e desastre. Assim esse saber multidisciplinar poderá contribuir com a
inserção de outras áreas do conhecimento. Essa pesquisa se tornou multidisciplinar porque os elementos
principais da pesquisa, que são o turismo e os desastres são elementos multidisciplinares e, assim ambos os
elementos são analisados com um olhar multidisciplinar e terão que ser pesquisado dentro desse contexto.
Percebe-se através das reflexões feitas que o saber multidisciplinar terá uma importância para o
desenvolvimento da pesquisa e posteriormente a sua conclusão, sendo que o mesmo faz com que outras
áreas do conhecimento possam agregar conhecimento à pesquisa proposta e, assim chegar os objetivos pré-
estabelecidos. Assim, o foco da pesquisa, à atividade turística, desastres e o desenvolvimento regional
poderá ser analisado de diversos campos científicos, ou seja, áreas como a sociologia, história, geografia,
hidrologia poderá trazer contribuições para a reflexão do problema da pesquisa.
Portanto, objetiva-se com o auxílio do saber multidisciplinar sobre a pesquisa buscar uma proposta
para o problema evidenciado na região turística no litoral de Santa Catarina e, assim, realizar propostas de
intervenção nessa problemática que possam comtemplar os desastres nas políticas públicas de turismo como
elemento agregador para o trade turístico, porém, isso só será possível com um trabalho multidisciplinar de
outras áreas de conhecimento para que a pesquisa possa alcançar seu objetivo.
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7. Referências
ARANTES FAZENDA, Ivani Catarina. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro:
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