O PAPEL DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM REDES … · interpessoais e constituição de redes, bem...

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Universidade Federal de Santa Catarina Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção Caio Márcio Gonçalves O PAPEL DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM REDES INTERORGANIZACIONAIS Dissertação de Mestrado Florianópolis 2005

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Universidade Federal de Santa Catarina

Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção

Caio Márcio Gonçalves

O PAPEL DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EMREDES INTERORGANIZACIONAIS

Dissertação de Mestrado

Florianópolis

2005

CAIO MÁRCIO GONÇALVES

O PAPEL DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM REDESINTERORGANIZACIONAIS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção daUniversidade Federal de Santa Catarina comorequisito parcial para a obtenção de grau deMestre em Engenharia.

Orientador: Profa. Aline França de Abreu, Ph.D.

Florianópolis

2005

CAIO MÁRCIO GONÇALVES

O PAPEL DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM REDESINTERORGANIZACIONAIS

Esta dissertação foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Mestre em Engenhariade Produção no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da

Universidade Federal de Santa Catarina.

Florianópolis, 29 de março de 2005.

Prof. Edson Pacheco Paladini, Dr.

Coordenador do Programa

Banca Examinadora

Prof. Álvaro G. Rojas Lezana, Dr.Universidade Federal de Santa Catarina

Profa. Aline França de Abreu, Ph.D.Universidade Federal de Santa CatarinaOrientadora

Profa. Leila Amaral Gontijo, Dra.Universidade Federal de Santa Catarina

Prof. Fuad Gattaz Sobrinho, Ph.D.Sistema Estadual de Universidades do Texas

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, esposa, filhos e irmãos.

À minha referência Fuad Gattaz Sobrinho.

Ao IGTI, em especial aos professores Pedro e Aline.

Aos amigos florianopolitanos Maria Helena, Dorzeli, Douglas, Manoel, Jacira e Adalberto.

Aos compadres e amigos José Neto e Rita, Túlio e Marli, Cícero e Cris.

À Sociedade Educacional Uberabense, em especial Vera Maria Marquez Palmério.

Ao ensino público brasileiro, representado pela UFSC.

À Itapagipe, minha terrinha.

RESUMO

GONÇALVES, Caio Márcio. O papel das relações interpessoais em redesinterorganizacionais 2005. 137 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) –Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis.

A busca de relacionamento, ajuda mútua, interação, integração, flexibilidade, autodefesa,compartilhamento e complementaridade têm levado pessoas a estabelecerem comunicaçãoe se arranjarem sob arquiteturas organizacionais inovadoras. Neste contexto, redeinterorganizacional configura-se como alternativa e representa arranjo de pessoas, estruturade comunicação, conjunto de relações interpessoais. O funcionamento de redes, além deprovocar alterações comportamentais dos atores, requer continuadas ações de estímulo àparticipação de seus atores, para atuar como brokers ou animadores, ou ainda,hipercondutores. O trabalho visa delinear uma proposta de diretrizes para a gestão dasrelações interpessoais nos estágios de formação, desenvolvimento e consolidação de redesinterorganizacionais. Para tanto, buscou-se identificar a correspondência entre relaçõesinterpessoais e constituição de redes, bem como, procurou-se mapear os principais papéisque limitam ou estimulam as relações interpessoais em redes interorganizacionais. Agestão de redes e seu funcionamento repousam cada vez mais no manejo sistemático dosrelacionamentos, induzindo investigação acerca das relações interpessoais, na medida queessas se inserem no escopo da pesquisa social e se caracterizam como fenômeno de gestão.Importa ainda especular sobre o papel das relações interpessoais e buscar subsídios emmodelos existentes para ajudar na compreensão da influência dos atores como animadoresde rede, seus vínculos e interdependência. Para operacionalização da proposta, utilizou-seestudo de múltiplos casos, centrado em uma rede de cooperativas agroindustriais e umarede de biotecnologia. O design da pesquisa contemplou o levantamento bibliográficocomo método de levantamento de problema. Na etapa de definição da unidade-caso,empregou-se a pesquisa bibliográfica, que subsidiou a elaboração do protocolo dapesquisa. Os dados foram coletados a partir de um estudo de múltiplos casos, comaplicação das técnicas de análise documental, entrevista e pesquisa-ação. O cotejamentoentre modelos estudados e redes pesquisadas forneceu elementos comparativos para aanálise dos dados. A partir da adoção das diretrizes propostas, os perfis deempreendedores, agentes de mudança, arquitetos e irradiadores, boundary spanning egatekeepers, lead operator, guardiões de confiança, termômetro e care taker foram maisfacilmente identificados e ficou evidenciada a relevância destes em cada estágio deconstituição da rede. A ampliação do team management e a conseqüente redução dadependência da rede por determinados atores melhores situados ofereceram ganhosqualitativos na gestão das relações interpessoais. Espera-se que a ênfase em relaçõesinterpessoais possa contribuir à temática de redes, principalmente no que se refere àperspectiva interorganizacional, como instrumento gerencial e referência futura para amodelagem matemática e computacional de redes interorganizacionais.

Palavras-chave: Redes interorganizacionais. Relações interpessoais. Brokers.

ABSTRACT

GONÇALVES, Caio Márcio. O papel das relações interpessoais em redesinterorganizacionais 2005. 137 p. Dissertation (Master Degree in Science – OperationsEngineering) – Post-graduation Program in Production Engineering, UFSC, Florianópolis.

The search for relationships, mutual help, interaction, integration, flexibility, self-defenseand sharing has led people to establish communication and to arrange themselves ininnovative architectural organizations. In this context, the interorganizational networkpositions itself as one alternative and represents an arrangement of people, structure ofcommunication and a set of interpersonal relationships. The functioning of networks,beyond provoking alterations in the behavior of the actors, requires continuos actions thatstimulate the participation of the actors to act as brokers or animators or evenhyperconductors. This work aims to delineate a proposal of directives for the managementof interpersonal relationships in the stages of training, development and consolidation ofinterorganizational networks. Towards this end, it searches to identify a correlationbetween interpersonal relationships and the make up of networks, as well as, seeks to mapout the principal roles that limit or stimulate interpersonal relationships ininterorganizational networks. The management of networks and their functioning rests evermore frequently in the systematic management of relationships, calling for investigationabout interpersonal relationships, so far as these relationships are inserted into the scope ofsocial research and are characterized as a management phenomenon. It is still important tospeculate about the roles of interpersonal relationships and search for subsidies in existingmodels to help comprehend the influence of the actors as network animators, the rapportbetween each other and interdependence. To operationalize this proposal, multiple casestudies were used, centering on a network of agroindustrial cooperatives and abiotechnology network. The design of this study contemplated an initial bibliographicalstudy as way to incite the problem. In the case unit definition stage, a bibliographical studywas used which subsidized the elaboration of the research protocol. The data was collectedfrom a study of multiple cases, with the application of document analysis, interviews andresearch action techniques. The comparison between the studied models and networksprovided comparative elements for the analysis of the data. Beginning with the adoption ofthe proposed directives, the roles of the undertakers, the agents of change, architects andirradiators, boundary spanners and gatekeepers, lead operators, guardians of trust,thermometer and care takers were most easily identified and evidenced relative to eachstage in the construction of the network. The amplification of team management andconsequently a reduction of dependence on the network by certain better situated actors,offered qualitative gains in the management of interpersonal relationships. It is hoped thatan emphasis in interpersonal relationships can contribute to the theme of networks,principally referring to the interorganizational perspective, and as a management tool andas a future reference for mathematical and computational modeling of interorganizationalnetworks.

Key-words: Interorganizational networks. Interpersonal relationship. Brokers.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Representações gráficas das estruturas piramidal e rede .................................... 18

Figura 2 - Relação entre pontos e nós e densidade de rede ................................................. 24

Figura 3 - Estrutura organizacional em rede ....................................................................... 39

Figura 4 - Ponto hiperconector ............................................................................................ 40

Figura 5 - Estilos de comportamento em situação de conflito ............................................ 52

Figura 6 - Condições para a expansão da rede .................................................................... 63

Figura 7 - Representação da geração do modelo................................................................. 71

Figura 8 - Motivação e decorrências da constituição de redes ............................................. 102

Figura 9 - Dimensões de atuação dos atores e seus papéis em três estágios de redes........104

Figura 10 - Constituição do team management para a formação de rede interorganizacional .... 106

Figura 11 - Formação de liderança para cooperação......................................................... 107

Figura 12 - Atores e conexões do estágio preliminar de formação de rede

interorganizacionais................................................................................................... 108

Figura 13 - Papel e conexões do estágio de desenvolvimento de redes interorganizacionais

................................................................................................................................... 109

Figura 14 - Brokers lead operator e boundary spanning no estágio de desenvolvimento de

rede ............................................................................................................................ 113

Figura 15 - Broker gatekeeper e guardiões de confiança no desenvolvimento de rede .... 114

Figura 16 - Broker care taker no estágio de consolidação de rede ................................... 118

LISTA DE QUADRO

Quadro 1 - Comparação entre organizações formal e informal ..........................................26

Quadro 2 - Tipologia de rede...............................................................................................30

Quadro 3 - Noções associadas à tipologia de rede segundo Loiola e Moura (1996)...........33

Quadro 4 - Papéis e atividades de atores em redes interorganizacionais.............................43

Quadro 5 - Arcabouço teórico..............................................................................................61

Quadro 6 - Design da pesquisa.............................................................................................70

Quadro 7 - Protocolo da pesquisa.........................................................................................72

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 10

1.1 Problematização da pesquisa ......................................................................................... 12

1.2 Objetivos........................................................................................................................ 13

1.2.1 Objetivo geral ............................................................................................................. 13

1.2.2 Objetivos específicos .................................................................................................. 13

1.3 Justificativa e motivação ............................................................................................... 14

1.4 Limitações da pesquisa.................................................................................................. 15

1.5 Resultados esperados..................................................................................................... 15

1.6 Estrutura e organização do trabalho .............................................................................. 16

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... 17

2.1 Abordagens conceitual e histórica de rede .................................................................... 17

2.1.1 Definição de rede interorganizacional....................................................................... 20

2.1.2 Classificação de rede interorganizacional................................................................. 25

2.1.3 Tipologia de redes ...................................................................................................... 29

2.2 Atores e papéis no contexto de rede interorganizacional .............................................. 34

2.2.1 Conceituação de atores de rede interorganizacional ................................................ 34

2.2.2 O papel dos atores no contexto de rede interorganizacional..................................... 35

2.2.3 Brokers e atividades em redes interorganizacionais.................................................. 41

2.3 Relações interpessoais ................................................................................................... 47

2.3.1 Caracterização das relações interpessoais formais................................................... 49

2.3.2 Caracterização das relações interpessoais informais................................................ 49

2.3.3 Interação entre relações interpessoais e rede interorganizacional ........................... 50

2.4 Gestão das relações interpessoais em rede interorganizacional .................................... 53

2.4.1 Aspectos interpessoais da gestão de relacionamentos interpessoais de rede

interorganizacional ............................................................................................................. 54

2.4.2 Coordenação das relações interpessoais de rede interorganizacional ..................... 55

2.4.3 O papel da confiança na gestão das relações interpessoais de rede

interorganizacional ............................................................................................................. 58

2.4.4 Modelos de gestão das relações interpessoais em redes interorganizacionais ......... 60

2.4.4.1 Modelo de Alvarez, Silva Filho e Proença .............................................................. 62

2.4.4.2 Modelo de Böhe e Silva .......................................................................................... 63

2.4.4.3 Modelo de Stephenson ............................................................................................ 64

2.5 Considerações gerais ..................................................................................................... 65

3 METODOLOGIA DA PESQUISA.................................................................................. 68

3.1 Caracterização da pesquisa............................................................................................ 68

3.2 Delineamento da pesquisa ............................................................................................. 69

3.3 População, unidade de análise e amostra ...................................................................... 73

3.4 Instrumentos de coleta de dados.................................................................................... 74

3.4.1 Técnicas de coleta de dados na rede de cooperativas agroindustriais...................... 76

3.4.2 Técnicas de coleta de dados da rede de biotecnologia .............................................. 78

4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ...................................................................... 80

4.1 Rede de cooperativas agroindustriais ............................................................................ 81

4.1.1 Ambiente e perfil institucional.................................................................................... 83

4.1.2 Caracterização da rede de cooperativas agroindustriais .......................................... 84

4.1.3 Coordenação das relações interpessoais da rede de cooperativas agroindustriais .. 86

4.2 Rede de biotecnologia ................................................................................................... 89

4.2.1 Caracterização da rede de biotecnologia .................................................................. 90

4.2.2 Coordenação das relações interpessoais da rede de biotecnologia .......................... 91

4.2.3 Modelagem das relações interpessoais da rede de biotecnologia ............................. 94

5 PROPOSTA DE DIRETRIZES PARA GESTÃO DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

EM REDES INTERORGANIZACIONAIS...................................................................... 100

5.1 Contextualização das diretrizes ................................................................................... 100

5.2 Diretrizes para gestão das relações interpessoais em redes interorganizacionais ....... 101

5.2.1 Diretrizes para gestão das relações interpessoais no estágio de formação de redes

interorganizacionais.......................................................................................................... 104

5.2.2 Diretrizes para identificação das relações interpessoais no estágio de

desenvolvimento de redes interorganizacionais................................................................ 111

5.2.3 Diretrizes para identificação das relações interpessoais no estágio de consolidação

de redes interorganizacionais ........................................................................................... 116

5.3 Considerações sobre as diretrizes propostas................................................................ 119

6 CONCLUSÕES.............................................................................................................. 121

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 124

APÊNDICE ....................................................................................................................... 133

Apêndice A - Roteiro para entrevista de atores de redes interorganizacionais ................. 133

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1 INTRODUÇÃO

A globalização dos mercados e sua tendência de concentração vêm modificando a

realidade econômica e social em nível local e mundial, gerando dificuldades e

oportunidades para as empresas em termos de competitividade. Várias formas

organizacionais alternativas têm sido estudadas e empregadas pelas empresas no

enfrentamento das dificuldades evidenciadas pelo novo cenário socioeconômico.

Essas mudanças contextuais têm encaminhado o mundo dos negócios à adoção da

cooperação, que segundo Lewis (1992), não se limita à alta tecnologia ou a empresas

globais. A cooperação reflete nos padrões de relacionamentos interpessoais e

interorganizacionais, incentivando a confiança como elemento fundamental no sistema de

valor coletivo. Timm e Silva (2004) destacam o associativismo de empresas como meio

alternativo de competitividade, visto que esse modelo propicia ganhos, tanto de escala

quanto de poder econômico ou alguma vantagem competitiva.

O homem, assim como as organizações, apresenta necessidade de estabelecer

relações com outros, considerando-se que ninguém é estritamente individual. Segundo

Villasante (2002), cada pessoa é um conjunto coerente de relações, tanto físicas quanto

intelectuais, com a natureza, com os objetos e com outras pessoas; relações que se

transformam continuamente decorrentes do contexto de mudança do mundo globalizado.

As pessoas desejam mais do que ter relações superficiais; querem fazer parte das

relações, isto é, participar de um papel dentro da organização ou de um grupo. De acordo

com Demo (2001, p. 87), “a participação é a conquista do significado de processo:

infindável, um constante vir-a-ser, sempre se fazendo. Não existe participação suficiente,

nem acabada. Participação que se imagina completa, nisto mesmo começa a regredir”.

No ambiente relacional ocorrem situações de possibilidades mútuas de controle, no

seio do qual um indivíduo se encontrará submetido, em todos os sentidos, à percepção

direta de todos os presentes; estes, por sua vez, podem ser igualmente percebidos. Essas

situações de interação se manifestam apenas em contextos sociais ou nos ambientes em

que dois indivíduos, ou mais, estão fisicamente na presença da resposta que um dá ao outro

(GOFFMAN, 1982 apud CHANLAT, 1996).

11

Dessas interações depreende-se que todo ser humano constrói-se em sua relação

com o outro e que, normalmente, o homem amplia sua capacidade relacional em ambiente

organizacional. De acordo com Chanlat (1996, p. 154), “o ambiente organizacional

configura-se como ambiente privilegiado onde se tecem numerosas relações, um terreno

fértil para observar a dinâmica psíquica que afeta as relações interpessoais”. Para o autor,

as ciências do comportamento organizacional nem sempre levam em consideração as

relações interpessoais conjugadas às dimensões espaço e tempo, fixando-se às visões

funcional e econômica.

A temática de redes tem emergido significativamente nos debates e pesquisas das

ciências social, humana, econômica e, principalmente, no universo da gestão. De acordo

com Latour (1994), há tempos o tema vem despertando interesse dos estudiosos em

antropologia, sociologia, psicologia, economia e, mais recentemente, passa a ser adotado

como objeto das ciências administrativas, uma vez que a gestão das organizações e seu

funcionamento repousam cada vez mais no manejo sistemático dos relacionamentos.

No decorrer dos tempos, várias proposições teóricas vêm sendo apresentadas com

vistas à obtenção de eficácia de redes interorganizacionais que, embora denotem diferenças

de ordem semântica, parecem convergir para uma mesma direção, a noção de redes com

ênfase nas relações das pessoas (CORVELO; MOREIRA; CARVALHO, 2001). Em

grande parte, trata e caracteriza o processo em rede interorganizacional como atividade de

compartilhamento decorrente das relações interpessoais e da definição de atribuições e

papéis na rede. Percebem-se nestas proposições ênfase dada às pessoas como determinante

do sucesso organizacional.

Para Castells (2001), uma rede interfirmas possibilita a redução do tempo e espaço

nas inter-relações entre seus atores e constitui fator estratégico para a competitividade das

organizações do século XXI. Todavia, a noção de rede carrega uma polissemia e é notória

sua complexidade, fatos que permitem o emprego nos sentidos acadêmico, político,

econômico e organizacional (MINHOTO; MARTINS, 2001).

Diante de tal situação, não é de se admirar que os interesses em pesquisas que

envolvem a abordagem de redes intra e interorganizacionais têm amplamente incorporado

esta tendência. Negligenciando em grande parte as aquisições das ciências antropológicas,

sociológicas, as ciências do comportamento organizacional limitaram-se a refletir os

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interesses e a visão de que podia ter um mundo regido segundo a razão econômica e

técnica.

O equacionar de questões referentes a competência e perfis profissionais ligados a

redes interorganizacionais, mostra-se ainda um assunto pouco explorado, tanto que a

maioria da literatura sobre esta temática adota a perspectiva intra-organizacional, mais do

que interorganizacional (CORVELO; MOREIRA; CARVALHO, 2001). A análise de rede

revela-se mais fecunda a partir de estratégias construtivas e participantes da realidade, visto

que é objeto dinâmico e processual e que ilustra as relações entre grupos e instituições.

Este capítulo, além de realçar a visão geral do assunto, apresenta a formulação do

problema de pesquisa, os objetivos geral e específicos. Compreende ainda os seguintes

tópicos: justificativa e motivação; limitações; resultados esperados; estrutura e organização

do trabalho.

1.1 Problematização da pesquisa

A formulação do problema, geralmente, decorre de um processo de reflexão e de

imersão em fontes bibliográficas (GIL, 2002). A literatura corrente em redes

interorganizacionais revela que pessoas e organizações tendem à cooperação e ao

compartilhamento interpessoal na busca de novas capacidades e competências. Decorre daí

uma mobilidade dos atores socioeconômicos, político-cultural no desempenho de seus

papéis.

Entretanto, no bojo das relações interpessoal e interorganizacional emanam

interesses distintos e emergem conflitos e situações passíveis de conciliação. Esta dinâmica

enseja estruturas de relacionamento com arquitetura que se aproximam do formato de rede,

na medida que estas tendem proporcionar um menor nível de hierarquização e maior

flexibilidade.

O cenário dinâmico e de mudança tem direcionado pesquisadores a incorporarem a

abordagem em redes na formulação de problemas de seus estudos. O problema investigado

se insere no escopo da pesquisa social e se caracteriza como fenômeno de gestão de redes,

na medida que especula sobre o papel das relações interpessoais e identifica atores, papéis

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e inter-relações em redes interorganizacionais. Também, busca subsídios em modelos

existentes para compreender a influência dos atores como animadores de rede, seus

vínculos e interdependência, especialmente, em situações de rede voltadas para

competências de alguns poucos atores.

Em face às relações interpessoais formais e informais, a constituição de rede

interorganizacional tende a estabelecer afinidade com o desempenho de pessoas que, de

certa forma, tem agenciado a dependência de um único animador ou broker. Neste sentido,

a pesquisa busca responder como identificar o papel das relações interpessoais na

constituição de rede interorganizacional?

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo geral é identificar o papel das relações interpessoais no processo de

constituição de rede interorganizacional.

1.2.2 Objetivos específicos

Os objetivos específicos são:

1. identificar a correspondência entre relações interpessoais e o processo de

constituição de rede interorganizacional;

2. evidenciar os principais papéis dos atores que limitam ou estimulam as relações

interpessoais no processo de constituição de rede interorganizacional;

3. delinear diretrizes para identificar as relações interpessoais nos estágios de

formação, desenvolvimento e consolidação de rede interorganizacional.

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1.3 Justificativa e motivação

A seleção da abordagem em rede interorganizacional apóia-se em duas realidades:

a) atuação como pesquisador do Núcleo de Estudos em Inovação, Gestão e Tecnologia de

Informação (IGTI), proponente de uma metodologia para implantação de redes

interorganizacionais (GOEDERT, 1999) que prescindia de um enfoque interpessoal; e, b)

atuação profissional no monitoramento de rede interorganizacional de biotecnologia. O

IGTI é vinculado ao Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas e ao Programa

de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina.

A rede de biotecnologia é composta por entidades nacionais e internacionais que gravitam

em torno de uma tecnologia de biocatalização de resíduos orgânicos e inorgânicos.

A constituição de rede interorganizacional é objeto dinâmico que requer

monitoramento, acompanhamento e fornecimento de dados, informações e

compartilhamento de conhecimento. De maneira oposta à maioria das pesquisas

acadêmicas, esta pesquisa foi realizada no transcurso de seus eventos e atividades,

desenvolvidas com os diferentes atores da rede. Essa interatividade proporciona a

edificação do relacionamento, o progresso e encorajamento da abertura e a transparência

do processo em rede.

Na perspectiva teórica, a pesquisa se justifica pela escassa apreciação do tema

desenvolvido acerca da estruturação das relações interpessoais em rede

interorganizacional. O estudo reveste-se de importância à medida que a literatura corrente

em redes tende a focar mais questões pertinentes às motivações e aos objetivos na

formação de rede e, dessa forma, promove uma discussão mais superficial sobre seus

resultados e seus efeitos para as organizações que dela fazem parte (MINHOTO;

MARTINS, 2001).

O contexto contemporâneo, ao prescrever um crescente nível de integração e

colaboração, encaminha para relacionamentos duradouros entre atores e entre

organizações. A contribuição prática da pesquisa repousa-se nos instrumentos de gestão

dos relacionamentos que tendem assegurar a sustentabilidade das relações interpessoais e a

perenidade da rede interorganizacional de biotecnologia. Neste sentido, a pesquisa pode

contribuir, uma vez que a rede estudada apresenta repercussão positiva nos campos

econômico, político e cultural, bem como mantém estreita relação com o contexto social.

15

1.4 Limitações da pesquisa

A gestão de rede interorganizacional é de caráter contingencial, cujo campo de

estudo amplo envolve várias facetas. A acessibilidade aos dados e o contato com os atores

da rede permitem a observação e apreciação crítica do fenômeno “em tempo quasi real”,

possibilitando a averiguação da mobilidade dos papéis e competências dos participantes. O

emprego da técnica do questionário associada ao método de estudo de caso provê melhor

entendimento e busca validação das relações intra e interorganizacionais que ocorreram em

rede.

Não obstante o caráter científico, a fase preliminar que se encontra a rede

interorganizacional de biotecnologia constitui barreira para o processo investigativo. O

desenvolvimento da pesquisa coincidente com formação da rede implica, ao mesmo tempo,

em oportunidade, mas também pode limitar certos procedimentos. No que se refere ao caso

da rede de cooperativas agroindustriais, a variável restritiva repousa-se na cronologia do

evento, incorrendo na perda de dados pela falta de memória dos entrevistados.

1.5 Resultados esperados

A pesquisa pretende contribuir com o processo de formação, desenvolvimento de

rede, reunindo subsídios para elaboração de diretrizes para gestão das relações

interpessoais em redes interorganizacionais. Espera-se que o modelo proposto colabore à

minimização da dependência de redes por determinados animadores ou brokers.

O cotejamento do levantamento bibliográfico com os estudos de caso pode

contribuir com os estudos organizacionais, principalmente no que se refere ao papel das

relações interpessoais em rede interorganizacional. O aporte científico advindo da

sociologia, da psicologia e da antropologia permitiu melhor compreensão dos

relacionamentos entre nós e conexões interorganizacionais. O modo de ocorrência,

intensidade e grau de equivalência das relações entre atores também podem ser mais bem

esclarecidos, a partir da identificação da coexistência entre redes visíveis ou formais com

as invisíveis, também chamadas informais ou emergentes.

16

1.6 Estrutura e organização do trabalho

A elaboração da dissertação passa inicialmente pela preparação de projeto que

compreende planejamento da pesquisa, bem como a construção de cronograma de todas

fases do projeto. A dissertação está estruturada em seis capítulos:

− capítulo 1 Introdução: faz-se a contextualização e a problematização da pesquisa.

Contempla ainda objetivos, justificativa e motivação, limitações e resultados

esperados da pesquisa. Nesta fase apresentam-se a estrutura e organização do

trabalho;

− capítulo 2 Fundamentação teórica: procura-se elaborar a fundamentação teórica do

fenômeno escolhido. Aqui se desenvolve o referencial teórico do fenômeno

definido na estrutura do trabalho e a abordagem das metodologias existentes na

literatura. Nesse momento, toda a pesquisa bibliográfica está concluída e a estrutura

da fundamentação igualmente clara;

− capítulo 3 Metodologia: descreve-se nesta seção o desenho metodológico utilizado

para tratar o problema identificado ao final da revisão bibliográfica e colocado

como objetivo do trabalho. Procura-se caracterizar a pesquisa e procedimentos

metodológicos adotados;

− capítulo 4 Descrição e análise dos dados: detalham-se os estudos de caso da rede

interorganizacional de cooperativas agroindustriais e da rede interorganizacional de

biotecnologia;

− capítulo 5 Proposta de diretrizes para a gestão das relações interpessoais em redes

interorganizacionais: faz-se o cotejamento dos estudos de caso com levantamento

da literatura, identificando-se a influência de atores e o papel de broker nas relações

interpessoais em rede interorganizacional de biotecnologia. Propõem-se diretrizes

para gestão das relações interpessoais em rede interorganizacional;

− capítulo 6 Conclusão: realiza-se a síntese do estudo, evidenciando os resultados

alcançados à luz dos objetivos de pesquisa estabelecidos inicialmente.

Demonstram-se as contribuições, limitações e estudos futuros.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo caracteriza relações interpessoais, bem como define, classifica e

apresenta a tipologia de rede interorganizacional, demonstrando a interação entre relações

interpessoais e redes interorganizacionais. Conceitua e evidencia os papéis dos atores de

rede interorganizacional, salientando os princípios e valores que norteiam a constituição de

redes interorganizacionais. Apresenta os modelos de redes baseados em papéis e discute a

gestão das relações interpessoais em redes interorganizacionais.

2.1 Abordagens conceitual e histórica de rede

A apreciação de rede teve distintas tradições acadêmicas. Segundo Villasante

(2002), por onde se desenvolveu, a rede foi tratada ora de forma demasiadamente genérica

e abstrata, ou excessivamente culturalista ou psicologista. Inscreveu-se como uma técnica

nas teorias da sociologia ou da antropologia, na tentativa de se constituir com a sua própria

lógica e tratar de dar os seus próprios frutos.

A expressão rede, conforme explica Moraes (2003), remonta de tempo atrás e

caracteriza-se pela multiplicidade de uso. Todavia, em todas expressões faz-se notar a

noção de ligação, de vínculo. A partir de seus achados, relata que já, no século XIII, os

inquisidores católicos pararam o avanço da heresia explorando princípios que são

incrivelmente parecidos com os que a ciência usa hoje para descrever redes tão diversas

quanto estruturas sociais, o contágio de uma doença e a internet. Os inquisidores

perceberam que para evitar a disseminação da heresia, não bastava caçar e isolar o

indivíduo herético. A heresia dizia respeito às conexões mais do que aos indivíduos.

Para Moraes (2003), assim como a heresia, o conceito de rede refere-se aos

relacionamentos entre atores em um dado contexto. A noção de rede, segundo Latour

(1994) guarda algo relativo a conexão, a articulação entre elementos híbridos e tomando a

Internet como metáfora digital de rede, a noção de rede enfatiza a ação, o trabalho de

fabricação e transformação presente nas redes. Para o autor, rede transcende a idéia de

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vínculo, de aliança para a dimensão o que estes vínculos produzem, que efeitos decorrem

de tais alianças.

Redes constituem a nova morfologia social da sociedade atual e a difusão da lógica

de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos processos

produtivos e de experiência, poder e cultura (CASTELLS, 2001). Conforme pode ser

observado na Figura 1, as organizações contemporâneas tendem a apresentar uma

configuração mais horizontalizada, menos verticalizada ou hierarquizada. A morfologia de

redes é uma fonte de reorganização das relações de poder. As conexões que ligam as redes

representam os instrumentos privilegiados do poder e tornam-se fontes fundamentais da

formação, orientação e desorientação das sociedades, uma vez que os conectores são

detentores do poder.

Figura 1 - Representações gráficas das estruturas piramidal e rede Fonte: Martinho (2003)

A figura de rede, segundo Martinho (2003) é a imagem mais usada para designar ou

qualificar sistemas, estruturas ou desenhos organizacionais caracterizados por uma grande

quantidade de elementos dispersos espacialmente e que mantêm alguma ligação entre si.

Uma rede é uma arquitetura plástica, não-linear, aberta, descentralizada, plural, dinâmica,

horizontal e capaz de auto-regulação. É uma forma de organização caracterizada

fundamentalmente pela sua horizontalidade, isto é, pelo modo de inter-relacionar os

elementos sem hierarquia.

19

As organizações em presença dos crescentes problemas de gestão organizacional

passaram a privilegiar estratégias de inserção em redes, perpassadas por relações de

reciprocidade e de troca que constituem a estrutura e o tecido da rede (CÂNDIDO;

ABREU, 2000). De um lado, essa arquitetura se expressa por um banco de oferta de

recursos e competências disponibilizados formal ou informalmente por instituições,

organizações ou pessoas; de outro, ela se expressa por um banco de demandas sociais e dos

próprios componentes da rede.

De acordo com Martinho (2003), a formação de redes no Brasil ganhou impulso na

década de noventa, sendo que as experiências em redes de educação ambiental se

mostraram pioneiras. As redes tornaram-se a principal forma de expressão e organização

coletiva, no plano político e na articulação de ações de grande envergadura, de âmbito

nacional ou internacional, das ONGs e dos novos movimentos sociais. Considera ainda que

existem diversas estruturas organizativas que se apresentam com o nome de rede e

definitivamente não o são em função de sua arquitetura vertical, da decisão centralizada e

de seu perfil não-participativo e autoritário de gestão.

Os estudos organizacionais têm evidenciado uma gama de abordagens em redes. Neste

sentido, Balestrin e Vargas (2002) compilaram uma série de evidências teóricas e

identificaram que redes interorganizacionais:

- são estudadas por diferentes correntes paradigmáticas e perspectivas teóricas

(economia industrial, estratégia, dependência de recursos, marxistas e críticas,

redes sociais, custos de transação, comportamento organizacional, ecologia

populacional, teoria evolucionária e teoria contingencial) permitindo assim, um

ampla compreensão das redes;

- são formadas a partir de pressões contingenciais (necessidade, assimetria,

reciprocidade, eficiência, estabilidade, legitimidade, flexibilidade e

competitividade) e feitas possíveis pela existência de fatores viabilizadores

(conectividade, coerência e infra-estrutura);

- apresentam atributos estratégicos (fluidez, economias relacionais,

aprendizagem, economias de escala, acesso a recursos tangíveis, redução de

custos de transação e credibilidade organizacional) que potencializam a

performance das empresas em ambientes hipercompetitivos;

20

- podem ser classificadas a partir da observação de quatro elementos-chave

(cooperação, hierarquia, contrato e conivência), possibilitando, dessa forma,

uma ampla variedade de tipologias;

Também na tentativa de compreender o apelo e o potencial descritivo do conceito

de rede, Minhoto e Martins (2001), apontam algumas das razões que poderiam explicar a

disseminação do emprego de rede na atualidade. Segundo os autores, em uma perspectiva

organizacional, o conceito de rede tem sido utilizado para descrever o ambiente de atuação

das organizações contemporâneas, em que estas, consideradas individualmente, não

estariam em condições de realizar suas metas por si sós.

O discernimento das relações entre organizações que atuam e articulam em rede

implica na compreensão de ambientes formais e informais que perpassam rede

interorganizacional. Parcela significativa das ações intra e interorganizacional ocorre por

meio de redes informais (MACEDO, 1999). Vale destacar que este tipo de rede desperta

interesse e se constitui em objeto desta pesquisa. Neste sentido importa definir, identificar

a tipologia e reconhecer características e influência deste universo de redes informais que

coexistem com as redes formais da organização em rede ou da rede de organizações.

2.1.1 Definição de rede interorganizacional

Castells (2001) sintetiza que redes são estruturas abertas capazes de expandir de

forma ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar-se dentro da rede,

ou seja, desde que compartilhem os mesmos códigos de comunicação (por exemplo,

valores ou objetivos de desempenho). Uma estrutura com base em redes é um sistema

aberto altamente dinâmico suscetível de inovação sem ameaças ao seu equilíbrio.

A análise de redes interorganizacionais é um estudo eminentemente social,

multidisciplinar e interdisciplinar e busca complementaridade em outras ciências. A partir

da dimensão de coordenação e cooperação interfirmas, Grandori e Soda (1995) consideram

redes como modos de organização das atividades econômicas.

Redes, para Latour (1994), são séries heterogêneas de elementos animados e

inanimados conectados e agenciados; consubstanciam-se em fluxos, circulações, alianças,

21

movimentos em vez de remeter a uma entidade fixa. Redes não devem ser compreendidas

ou reduzidas a um ator sozinho, uma vez que as redes afetam os padrões de relacionamento

e mudam o comportamento devido à freqüência, intensidade e honestidade do diálogo

entre seus atores. Desta forma, o funcionamento de rede implicará em alterações

comportamentais dos atores que a constitui.

Em um sentido mais genérico, Dussuc (2000, apud BALESTRO; MESQUITA,

2003) coloca que rede é constituída por nódulos ou ligações, onde os nódulos da rede

podem representar indivíduos, grupos, coletividades, empresas, governos etc. e as ligações

significam fluxos de diferentes naturezas, por exemplo: informações, recursos e relações de

respeito, amizade, poder e dominação.

Rede é um conjunto de nós interconectados. Nó é um ponto no qual uma curva se

entrecorta e sua existência depende do tipo de rede. As unidades da rede, formadas de

vários sujeitos e organizações, modificam-se continuamente conforme as redes adaptam-se

aos ambientes de apoio e às estruturas do mercado. Assim, arquitetura e composição das

redes de empresas em formação em todo o mundo são influenciadas pelas características

das sociedades em que essas redes estão inseridas (CASTELLS, 2001).

Martinho (2003) define redes como sistemas ponto-a-ponto não lineares, onde a

ligação de um ponto a outro é denominada de conexão. A representação gráfica de rede

evidencia pontos e linhas. Os pontos representam as unidades que compõem a rede:

pessoas, organizações, locais etc. As linhas representam as relações entre esses elementos,

que podem ser canais de comunicação, estradas, dutos, fios etc que recebem o nome de

links, arestas, ligações, conexões. As linhas são mais importantes do que os pontos num

desenho de rede, isso porque são as conexões que fazem a rede. O relacionamento entre os

pontos é qualificador de conjunto à rede. As conexões representam um par de pontos.

Uma rede é caracterizada, do ponto de vista topológico, por suas conexões, seus

pontos de convergência e bifurcação. Ela é uma lógica de conexões, e não de superfícies,

definidas por seus agenciamentos internos e não por seus limites externos. Assim, uma

rede é uma totalidade aberta capaz de crescer em todos os lados e direções, sendo seu único

elemento constitutivo o nó (LATOUR, 1994). Ainda no que se refere à topologia de redes,

Castells (1999, p. 498) ressalta que:

22

a topologia definida por redes determina que a distância (ouintensidade e freqüência da interação) entre dois pontos (ouposições sociais) é menor (ou mais freqüente, ou mais intensa), seambos os pontos forem nós de uma rede do que se nãopertencerem à mesma rede. Por sua vez, dentro de determinadarede os fluxos não têm nenhuma distância, ou a mesma distância,entre os nós. Portanto, a distância (física, social, econômica,política e cultural) para um determinado ponto ou posição variaentre zero (para qualquer nó da mesma rede) e infinito (paraqualquer ponto externo à rede). A inclusão/exclusão em redes e aarquitetura das relações em redes, possibilitadas por tecnologias dainformação que operam à velocidade da luz, configuram osprocessos e funções predominantes em nossas sociedades.

Por outro lado, segundo Faggion, Balestrin e Weyh (2002), a rede também não

pode ser confundida com um tipo de vínculo que liga de modo previsível elementos

estáveis e perfeitamente definidos, porque as entidades das quais ela é composta, sejam

elas naturais, sejam sociais, podem a qualquer momento redefinir sua identidade e suas

mútuas relações, trazendo novos elementos para a rede.

A definição de redes e a maneira como elas operam ainda causam alguma confusão.

As redes implicam em um conjunto de relações externas ou significam laços informais

entre as pessoas com atividades interfuncionais. Charan (1997) expõe que o processo de

formação de rede envolve desde a definição do objetivo estratégico mediante o qual é

constituída até a escolha dos membros e recursos partilhados, passando pela sua forma,

orgânica e regulação no âmbito de relações que, sendo à partida de confiança, necessitam

sempre de um quadro institucionalizado de regras e princípios de entendimento que

facilitem a comunicação, a interação e a conseqüente decisão por mútuo acordo.

Nohria e Ecles (1992) destacam conectividade e coerência como elementos de

interferência no desempenho de rede. Isto é, capacidade estrutural de facilitar a

comunicação sem ruídos entre seus componentes e convergência de interesses

compartilhados entre os objetivos da rede e de seus componentes. A quantidade, dispersão

geográfica e interligação são aspectos caracterizadores de redes.

De acordo com Capra (2002), embora a forma seja um fator decisivo, o desenho da

rede não é o suficiente para explicá-la ou caracterizá-la como um sistema com propriedade

e um modo de funcionamento específicos. É necessário entender que possui:

23

- não-linearidade: a rede estende-se em todas as direções (e não numa só),

resultando em poder de expansão e multiplicação;

- capacidade de operar sem hierarquia – a não-hierarquia pode ser representada

pela arquitetura de rede, onde o conjunto de nós e linhas interligados de forma

horizontal. Uma rede não comporta centro porque cada ponto conectado pelo

emaranhado de linhas pode vir a ser centro, dependendo do ponto de vista,

dependendo do ponto de partida do diagrama. No máximo, pode-se dizer que

existem muitos centros, porém, centro é uma dessas categorias totalitárias que

não admitem oposição: se há muitos centros e não um único, então não pode

haver qualquer centralidade;

- dinamismo organizacional ou conectividade: fenômeno de produção de

conexões que constitui a dinâmica de rede. A rede se exerce por meio da

realização contínua das conexões, existindo somente se houver ligações sendo

estabelecidas. Portanto, a medida da rede é o número de conexões, não de

pontos;

- transitividade: um nó da rede é via de passagem para outro nó e as conexões de

um ponto servem como conexões de segundo grau ao ponto imediatamente

anterior. É pela transitividade que os pontos que não possuem todas as conexões

possíveis podem chegar a tê-las: pelas conexões de ponto a ponto;

- horizonte crítico: incapacidade de um determinado ponto (uma pessoa, por

exemplo) de enxergar ou conhecer a extensão completa da rede. A maior parte

da rede.

A densidade da rede não está relacionada diretamente ao número de pontos que a

constituem, mas à quantidade de conexões que esses pontos estabelecem entre si. Esse é o

aspecto mais importante e parece provar que a capacidade da rede ultrapassa em muito a

mera soma de seus elementos. Isso permite depreender que o limite máximo de

conectividade é alcançado quando todos os pontos estabelecem ligações com os demais,

quando todos estão ligados com todos diretamente, sem qualquer ponto intermediário

(MARTINHO, 2003).

24

Figura 2 - Relação entre pontos e nós e densidade de redeFonte: Martinho (2003)

A figura 2 demonstra que um mesmo número de pontos pode produzir redes de

densidades diferentes; a densidade é relativa à quantidade de conexões que interligam o

conjunto. O complexo entrecruzamento das conexões entre as várias redes (que se

sobrepõem) é responsável por uma extensão de caminho virtualmente baixa entre as

quaisquer pontos eqüidistantes da rede pelo fato de oferecer uma gama variada de

caminhos diferentes.

Ao contrário das cadeias (estruturas de conexão linear, como as hierarquias), não

existe, no âmbito do sistema-rede, um caminho único para se trafegar de um ponto a outro.

Numa cadeia de comando, ou numa burocracia, há uma rígida trajetória a ser cumprida por

uma informação, uma ordem ou uma solicitação, por exemplo. Uma informação que se

coloca na rede, por sua vez, pode se propagar em muitas direções diferentes, por vias

diversas, muitas vezes insuspeitadas. A disponibilidade de múltiplos caminhos faz da rede

uma espécie de terra fértil e generosa para o inusitado e a inovação.

As redes são configurações privilegiadas que permitem, a cada um dos seus

membros (embora em formas e graus diferenciados) o alargamento da sua base de

competências e a aquisição de conhecimento. As relações interorganizacionais

consubstanciam-se tanto em redes formais que evidenciam as relações visíveis,

contratualizáveis, mensuráveis como em redes informais, também denominadas invisíveis.

25

(CORVELO; MOREIRA; CARVALHO, 2001). Tendo em vista que a organização do

trabalho e a gestão de recursos e de pessoas são influenciadas pela formalidade e

informalidade da rede, faz-se necessário classificar e apresentar tipologia de redes

interorganizacionais.

2.1.2 Classificação de rede interorganizacional

A sobrevivência das organizações que operam em ambientes complexos e

turbulentos depende de canais de comunicação suplementares ou alternativos (GROSSER,

apud MACEDO, 1999) e que sua efetividade passa pelo reconhecimento da existência das

relações humanas e pelo aprendizado de como trabalhar com essas redes no planejamento e

provimento dos recursos.

De acordo com Tornatzky e Fleischer (1990), tanto o ambiente interno quanto o

externo organizacional desenham a rede de relações formais e informais dos indivíduos

com critérios abrangentes e variados, cuja legitimidade de papéis é duvidosa. As redes

informais são baseadas em relacionamentos pessoais que contrabalançam a rigidez da

estrutura formal. Estas redes são costuradas por uma linha de expectação da interação

contínua, fornecendo conselhos, afirmação, simpatia, informação privilegiada e acesso a

redes relacionadas (LIPMAN-BLUMEN, 1999).

Confrontadas com a organização formal, que é muito eficiente em lidar com os

problemas previstos – a organização informal – por sua natureza altamente adaptativa – é

capaz de responder melhor do que aquela aos problemas inesperados. Para Krackhardt e

Hanson (1997), esse fato implica em uma integração com a estrutura formal, uma vez que

essa revela maior eficiência em lidar com problemas previsíveis.

A rede informal se refere a um conjunto de interações espontâneas passíveis de

descrição num dado momento, que aparecem num contexto definido pela presença de

certas práticas mais ou menos formalizadas. A rede formal diz quanto ao propósito de

organizar essas interações de um modo mais explícito, traçando-lhes uma fronteira ou

limite, conferindo-lhes um nome e gerando, assim, um novo nível de complexidade, uma

nova dimensão (PAKMAN, 1995 apud MINHOTO; MARTINS, 2001).

26

Diferentes das rígidas hierarquias das organizações formais, o sistema informal

pode ser composto, segundo Lipman-Blumen (1999), de muitas redes frouxamente

estruturadas, fora de canais hierárquicos. Mais flexíveis do que as hierarquias, os

segmentos das redes podem operar separadamente, podem permanecer independentes

temporariamente para objetivos específicos e se re-agruparem, algumas vezes, em novas

configurações.

As organizações formais e informais apresentam características distintas no que se refere a

estrutura, modo de influência e forma de comunicação. Da mesma forma, possuem

mecanismos distintos para ingresso de pessoas e condições de interação. As diferenças

decorrentes do tratamento formal e informal são demonstradas no quadro1.

Organização formal Organização social e informal

Estruturaa) origemb) racionalidadec) estabilidade

Prescritiva Racional Estável

Emergente Emocional Dinâmica

Influênciaa) baseadab) tipoc) sentido

Posição Autoridade De cima para baixo

Personalidade Poder De baixo para cima

Comunicaçãoa) canaisb) redes

Canais formais Bem definidas com canais formais

Canais informais Precariamente definidas erecortadas por redes formais

Ingresso dos indivíduos Indicados pelo papel e posiçãoformal

Somente aqueles supostamenteaceitáveis

Condições parainteração

Prescritas pela função e deveresfuncionais

Características pessoais eespontâneas

Quadro 1 - Comparação entre organizações formal e informalFonte: Conway (2000)

Depreende-se do cotejamento das relações entre redes formais e informais que as

redes informais são importantes mecanismos de promoção da comunicação, integração,

flexibilidade e inovação dentro e entre organizações. As redes informais podem ser vistas

27

como estruturas suplementares, que complementam e adicionam valor às organizações

formais.

As redes informais operam tanto intra como entre organizações complexas.

Geralmente, as decisões-chave moldam-se no sistema informal das organizações, os

gestores devem trabalhar suas agendas por meio de vastas redes de atores, valorizando e

nutrindo os relacionamentos dentro e fora das barreiras de suas próprias organizações,

mantendo-se em contato com um amplo número de atores (LIPMAN-BLUMEN, 1999).

Stephenson (2003) chama a atenção para a formação de rede invisível quando cada

profissional, em seu ambiente de trabalho, desenvolve diferentes estratégias de

relacionamento. Tais redes não correspondem à estrutura hierárquica, mas podem ser muito

mais poderosas que ela. As pessoas se sentem confortáveis em trabalhar mediante uma

sólida relação de confiança, considerando-a força real, não palpável, que mantém as

pessoas unidas em redes de relacionamentos O relacionamento é revestido de aspectos de

reciprocidade e mutualidade, onde as pessoas comunicam-se e trocam informações com os

pares que confia (POIRIER; REITER, 1997; STEPHENSON, 2003).

As redes invisíveis podem ser encontradas dentro das relações informacionais ou

mesmo na organização informal, existente dentro da organização formal. Na perspectiva da

comunicação, Capra (2002) sublinha que as redes informais materializam-se nas pessoas

que se dedicam à prática comum. Chama a atenção à mobilidade e capacidade de

reconfiguração destas redes, face à dinâmica de entrada e saída de atores, impactando de

algum modo a estrutura ou até mesmo deixando de existir.

Para Allen (1984 apud MACEDO, 1999), as organizações – independentemente de

sua distribuição geográfica ou configuração formal – são constituídas também por redes

invisíveis compostas por indivíduos com alto grau de exposição a fontes de informação

externas à sua organização, conhecimento e ligações profissionais e pessoais fora de sua

comunidade próxima de trabalho e outros que atuam na transferência de informação e

importação de informações estratégicas para as organizações.

As redes informais, segundo Krackhardt e Hanson (1997) são redes de relações que

os indivíduos formam dentro e entre as organizações para o cumprimento de suas tarefas

mais rapidamente. Estas redes podem ser decompostas em:

28

- redes de confiança, onde há o compartilhamento de informações politicamente

delicadas;

- redes de trabalho, que envolvem o uso da estrutura informal para o contato com

indivíduos que possuem informações técnicas que facilitam o cumprimento de

objetivos de trabalho;

- redes de comunicação, aquelas relativas aos indivíduos que trocam informações

de trabalho;

- redes sociais, adotadas para assuntos não relacionados ao trabalho;

- redes de autoridade, que envolvem comunicações relativas à autoridade e

responsabilidade entre membros da organização;

- redes de experts, utilizadas para informações técnicas.

As redes invisíveis na organização, identificadas por Stephenson (2003), se

mostram importantes, pois é por meio delas que se pode observar aderência ou rejeição das

pessoas aos processos de aceitação da condução da liderança, de contribuição à mudança,

de formulação do processo de tomada de decisão. A confiança é ponto nevrálgico da rede,

pois por meio dela que o conhecimento flui ou não pela organização, o que determina a

existência de diferentes redes de relacionamento em uma companhia.

Assim como Krackhardt; Hanson (1997), Stephenson (2003) mapeou redes de

confiança, sustentado na premissa que a verdadeira força de uma organização não está em

suas estruturas formais, mas nas relações de confiança que existem entre as pessoas.

Todavia, a gestão de rede fica mais suscetível de manipulação pelas pessoas, na medida

que as redes são mais flexíveis que a hierarquia. Para a autora, em função do motivo que

levam as pessoas se relacionarem, formam-se diferentes redes de confiança, que podem ser

distinguidas em redes de:

- trabalho, nas quais acontecem as conversas sobre as tarefas rotineiras da

organização ou pessoas com quem se conversa sobre a rotina do trabalho;

- inovação, onde os profissionais questionam a forma tradicional de fazer as

coisas ou pessoas com quem se discute novas idéias;

29

- conhecimento, onde está armazenado o conhecimento especializado da empresa

ou pessoas que se recorre quando se precisa aprofundar num assunto;

- aprendizado, aquelas que possibilitam às pessoas optar por novas formas de

trabalhar, para discutir mudanças nos processos;

- sociais, onde as pessoas do relacionamento são procuradas, dentro ou fora do

espaço da atividade, para se reconhecer o que está acontecendo na organização.

É nas redes sociais que as pessoas mostram se naquela empresa o nível de

confiança é alto ou baixo;

- carreira, aquelas que os profissionais atuam como mentores e ganham

visibilidade, ou podem ser entendidas como pessoas do relacionamento com

quem se conversa sobre a carreira e sobre o futuro.

Vários autores têm procurado precisar a noção e ampliar o conceito de rede, a partir

da elaboração de tipologias. Segundo a distinção de redes formais e informais apresenta-se

variada tipologia de redes, que se estende do econômico até o social.

2.1.3 Tipologia de redes

Em face à polissemia encontrada no termo rede, depara-se com extensa tipologia de

redes. No quadro 2, introduz-se a diversidade de conceitos e de aplicação de rede e, dada

esta heterogeneidade, surgem várias formas de rede. A categorização, conforme o enfoque

e óptica de autores, varia desde as genéricas até as específicas.

30

Autores Tipologia

Laumann,Galaskiewick eMardsen (1978)

Redes formadas de modocompetitivo

Redes formadas de modocooperativo(contingente e mandada)

Garofoli (1992)Hierarquizadaespacialmente

descentralizada

Hierarquizadaespacialmentecentralizada

Laços decooperação entre

firmasespacialmente

descentralizadas

Laços de cooperação entrefirmas espacialmente

descentralizadas

Lipnack eStamps (1994) Pequeno grupo Grande

organização Empreendimento Aliança Mega grupoeconômico

Ernst (1994) Redes defornecedores

Redes deprodutores Redes de clientes

Redes decoalizões-

padrão

Redes decooperaçãotecnológica

Grandori e Soda(1995)

Redes sociais

Simétricas ouassimétricas

Redesburocráticas

Simétricas ouassimétricas

Redes proprietárias simétricas ouassimétricas

Loiola e Moura(1996)

Relativa aocampo dasrelações

interpessoais

Relativa aoscampos de

movimentossociais

Relativa ao Estado Relativa aos negócios

Muller e Surel(1998) Rede temática Rede de

produtores

Redeintergovernamen-

tal

Redeprofissio-

nal ousetorial

Comunidadede políticas

públicas

Inojosa (1998) Redesubordinada Rede tutelada Rede autônoma ou orgânica

Quadro 2 - Tipologia de redeFonte: Adaptado de Minhoto e Martins (2001) e Cândido (2001)

A tipologia de rede, conforme evidenciada no quadro 2, decorre das características

técnicas e produtivas apresentadas, bem como das informações técnicas e de mercado e das

regras que definirão as transações entre as partes envolvidas. A partir de compilações de

Cândido (2001) e Minhoto e Martins (2001) descrevem-se e detalham-se os tipos de redes.

31

Em uma compilação acerca da tipologia de redes, Cândido (2001) cita que as redes

de Laumann, Galaskiewicz e Mardsen (1978) relacionam-se com o processo de formação e

estão baseadas na competição e a cooperação. As redes de Garofoli (1992) classificam-se

mediante a definição de políticas mais adequadas de apoio, considerando-se a dimensão

espacial, podendo ser hierarquizadas, com rígidas relações entre elas, ou não

hierarquizadas. Lipnack e Stamps (1994) dividem as redes em níveis de organização,

obedecendo a uma certa hierarquia, importância e complexidade dentro do contexto

organizacional, passando de um contexto mais interno e atuação mais restrita para um

contexto externo e atuação mais genérica. Já a classificação de Ernst (1994) pauta-se na

organização da rede conforme as atividades econômicas dos setores mais importantes.

Minhoto e Martins (2001), em coletânea de redes, destacam que Muller e Surel

(1998) trabalham com a tipologia destinada a abarcar a totalidade das formas de articulação

entre os grupos sociais e o Estado. A proposta tipológica de Inojosa (1998) é tripartite de

redes, composta por: a) rede autônoma ou orgânica, que se caracteriza pela articulação de

atores autônomos em torno do coletivo e da preservação da identidade original de cada um;

b) rede tutelada, refere-se a uma autonomia relativa dos atores, que se articulam sob a

égide de uma organização que os mobiliza e modela o objetivo comum; e, c) rede

subordinada, que é constituída de atores que são parte de uma organização ou de um

sistema específico com interdependência de objetivos. Nesse caso, a rede independe da

vontade dos atores e há apenas um locus de controle.

Alvarez, Silva Filho e Proença (2002) apresentam a tipologia proposta por Grandori

e Soda (1995), que se baseia no grau de formalização, que varia desde um extremo onde as

relações estão baseadas em mecanismos sociais até outro no qual até mesmo a propriedade

dos nós é compartilhada e formalmente estabelecida. Nas redes sociais, os relacionamentos

entre os integrantes da rede não são regidos por instrumentos formais, estão baseados nos

laços sociais estabelecidos entre os atores das organizações (nós). As redes burocráticas

regem-se por regramentos formais quanto à organização e condições de relacionamentos

entre os nós. As redes proprietárias existem instrumentos formais/legais que dispõem são

somente sobre a organização da rede e o relacionamento entre as partes, mas também sobre

a propriedade dos nós, a alocação de recursos e a repartição da propriedade de nós

específicos são formalizados.

32

Destaca-se a tipologia de Loiola e Moura (1996, apud MINHOTO; MARTINS,

2001) devido à alusão aos campos interpessoal e produção/circulação. O quadro 3

evidencia que os autores, ao contemplarem estas dimensões, contribuem de sobremaneira à

compreensão do problema de pesquisa e, portanto, repercute de modo significativo no

processo investigado.

As redes podem apresentar diferentes configurações de rede, conforme os campos

ou abrangência considerados. O quadro 3 evidencia a tipos de redes decorrentes dos

campos das relações interpessoais; movimentos sociais; Estado e políticas públicas; e

produção e circulação. As diferenças tipológicas se fazem notar, acarretando em uma

variedade semântica característica de redes, que se estruturam conforme objetivos, espaço

e tempo dos atores envolvidos.

A partir da tipologia de Loiola e Moura (1996) pode-se inferir que a reciprocidade,

a confiança e a contingência apresentam-se como elementos característicos das redes do

tipo campo produção-circulação. O interesse desta pesquisa recai sobre os tipos campo-

produção e interpessoal, na medida em que o objeto investigado centra-se em

relacionamento e modelos de gestão de redes interorganizacionais.

Minhoto e Martins (2001), à luz da tipologia proposta por Loiola e Moura (1996),

explicam que a rede tende a se constituir por meio de interações quando o foco recai sobre

o indivíduo. Estas interações visam à comunicação, à troca e à ajuda mútua, a partir dos

interesses compartilhados e de situações vivenciadas em agrupamentos ou localidades.

Enquadram-se neste campo as redes primárias, as redes submersas e as redes de

comunicação. No campo dos negócios, a rede assume a forma de organização

intermediária entre a firma e o mercado, levando à superação do princípio da hierarquia

inflexível, que caracteriza a firma, e do princípio da liberdade de movimentos, que é típica

do mercado.

33

Campointerpessoal

Campo movimentossociais

Campo Estado,Políticas Públicas

Campo Produção,circulação

Ato

res

Indivíduos ONG, organizaçõespopulares, grupos,atores políticosassociaçõesprofissionais,sindicatos, etc

Agênciasgovernamentais,governos locais eoutros níveis

Agentes econômicos:produtores,fornecedores, usuáriosetc.

Informalidade Informalidade, poucaformalidade

Formalidade,informalidade

Formalidade,informalidade

Interesse evalorescomuns

Interesses e projetospolíticos e culturaiscoletivos

Problemas, ações,projetos concretos egestão de processoscomplexos

Interesses e projetosprecisos

Troca, ajudamútua

Mobilização derecursos, intercâmbio

Associação derecursos, intercâmbio

Troca, associação derecursos, intercâmbio,aprendizado

Confiança,cumplicidade

Solidariedade,cooperação, conflito

Cooperação,reconhecimento decompetências, respeitomútuo, conflito

Reciprocidade,cooperação, confiança,competição

Interaçõeshorizontais

Interações horizontais Centro animador,operador catalisador;hierarquia, nãohierarquia

Empresa focal,liderança; hierarquia,não hierarquia

Mudanças,flutuações

Mudanças, flutuações Efêmero, grupodefinido

Flexibilidade, longoprazo

Engajamentovoluntário

Engajamento voluntário Adesão porcompetência, interesse

Adesão porcompetência,contingência

Car

acte

ríst

icas

Racionalidadecomunicativo,instrumental

Racionalidadecomunicativoinstrumental

Racionalidadeinstrumentalcomunicativa

Racionalidadeinstrumentalcomunicativa

Tip

os d

e re

des

deco

rren

tes Redes

primárias,naturais,submersas edecomunicação

Redes sociais Redes institucionais,secundárias formais,sócio-governamentais,locais de inserção

Redes deinovação,sistêmicas,secundárias nãoformais, estratégicas,fluxo unidirecional,fluxos multidirecional

Quadro 3 - Noções associadas à tipologia de rede segundo Loiola e Moura (1996)Fonte: Adaptado de Minhoto e Martins (2001)

34

A gestão de rede pode se beneficiar desta tipologia de redes, tanto no que se refere

à diversidade arquitetônica organizacional quanto à gestão por ela ensejada. Assim, à

medida que os animadores de rede incorporarem modelo focado no comportamento e

desenvolvimento da pessoa, tendem a restringir o fortalecimento de posições de

determinados atores melhores situados, a reduzir a dependência unilateral dos demais

atores e a diminuir as ameaças de expropriação.

A extensa tipologia de rede decorre da possibilidade de analisar a situação da qual

indivíduos participam como atores e dos acontecimentos que se desenrolam em um

contexto. Em virtude disso, a conceituação de atores e papéis é requerida, com destaque

para aqueles envolvidos na animação ou brokers de redes interorganizacionais.

2.2 Atores e papéis no contexto de rede interorganizacional

Considerando-se que as ações humanas são dialéticas em todos os níveis de

interação, seja no nível das regras, dos papéis e dos atributos e organizacional ou no nível

da sociedade (DUPUIS, 1996), o conceito de ator passa a implicar no resgate dos conceitos

centrados na pessoa, no sentido de ator consciente do alcance dos seus atos. Não obstante

do foco na pessoa, o conceito de atividade também deve ser realçado, pois as ações são

inerentes ao comportamento e papel dos atores. Referindo-se à linguagem nas

organizações, Chanlat (1996) decompõe a organização como sistemas de pessoas em

atividade voltadas para certos fins e, em outro sentido, como ordem social que são atos

orientados para a coletividade.

2.2.1 Conceituação de atores de rede interorganizacional

Segundo Latour (1994), o ator é tudo o que tem agência, isto é, ele se define pelos

efeitos de suas ações, o que significa dizer que um ator não se define pelo que ele faz, mas

pelos efeitos do que ele faz. O par ator-rede é insuficiente para dar conta da ação que se

distribui em rede, dos processos de fabricação do mundo.

35

A noção de rede não deve ser tomada como um contexto que se acrescenta a um

indivíduo. Se de um lado a noção de rede é interessante porque traz a idéia de movimento,

de circulação, de outro lado, ela é insuficiente porque não dá conta dos processos de

fabricação, das ações que se estabelecem entre atores heterogêneos (LATOUR, 1994).

Depreende-se que rede é sinônimo de atividade; de ação distribuída entre todos os atores.

Cada ator, individual ou coletivamente, procura, na medida de suas possibilidades,

apropriar-se de parte ou da totalidade do espaço organizacional, através da territorialidade

e das relações de poder (CHANLAT, 1996). A visão do ator, segundo Déry (1996), como

máquina de tratamento de informação passa a ser substituída pela construção da

argumentação, onde os atores organizacionais apóiam-se de um lado sobre seus

conhecimentos sobre o objeto de sua argumentação, e de outro lado levam em

consideração características dos membros da organização, que eles querem convencer.

2.2.2 O papel dos atores no contexto de rede interorganizacional

Uma organização para alcançar os objetivos propostos estabelece papéis a seus

participantes, pressupondo um conjunto de expectativas de desempenho. O desempenho

desses papéis é viabilizado à medida que a organização oferece condições básicas ao

desenvolvimento de papéis e que o indivíduo esteja capacitado e comprometido com os

papéis que lhe foram atribuídos pela organização (KATZ; KAHN, 1978).

Os relacionamentos em rede induzem ao desempenho de papéis que carregam uma

série de implicações. No desempenho de seus papéis, atores de redes procuram influenciar

outras pessoas. Para Chiavenato (2001), a influência refere-se a qualquer comportamento

da parte de uma pessoa que altere o comportamento, atitudes e sentimento da parte de outra

pessoa. O poder significa o potencial para exercer influência e a autoridade representa o

poder institucionalizado, refere-se ao poder que é inerente ao papel de uma posição na

organização. O enfoque no papel do ator-sujeito, segundo Chanlat (1999) tende a resgatar a

afetividade nas relações sociais e da experiência vivida e da humanização da gestão,

privilegiando a inter-relação entre as ciências sociais e a gestão.

O papel, segundo Katz e Kahn (1978), origina-se do destaque de algumas

características essenciais e persistentes dos atos específicos que compreendem o

comportamento. Mintzberg (1995), Schermerhorn Júnior et al. (1999), Robbins (2000)

36

definem papel como um conjunto de expectativas da organização a respeito do

comportamento da pessoa. Cada papel representa atividades que os gestores, líderes

conduzem para cumprir com as funções de planejar, organizar, dirigir e controlar.

Katz e Kahn (1978) propõem o conceito de papel como elemento de ligação entre

indivíduo e os níveis organizacionais, como blocos para a construção de sistemas sociais e

como somatório dos requisitos com que os sistemas confrontam seus membros como

indivíduos. O desempenho de papéis é influenciado pelas razões, ações e motivos que

regem as expectativas dos indivíduos.

Nas organizações formais os papéis que as pessoas desempenham são mais uma

função do ambiente social do que de suas próprias características. Por isso, segundo Katz e

Kahn (1978), o critério básico para estudar o comportamento em papel é identificar o

sistema ou subsistema social relevante e focalizar os eventos recorrentes que se ajustam na

conversão de algum insumo em produto.

Devido à ausência de regras descritivas, Schermerhorn Júnior et al. (1999, p. 153)

mencionam que os papéis implícitos são baseados em um conjunto de crenças e

expectativas que geram normas informais de comportamento em função de uma estratégia

de ação. Os indivíduos criam expectativas sobre o grau de contribuição de cada

componente do grupo; e, de certa forma, entre si, eles já estão mapeando os papéis

implícitos a partir dos papéis explícitos. Katz e Khan (1978) chamam de expectativas de

papel, as prescrições e proscrições dos membros de um conjunto de papéis.

O resultado do confronto de expectativas de papel divergentes do indivíduo é o

conflito de papel, que existe quando um indivíduo descobre que a obediência a um

requisito de um papel pode tornar mais difícil a obediência a um outro papel e numa

situação estrema, poderia se incluir situações em que duas ou mais expectativas de papel

sejam mutuamente contraditórias (SCHERMERHORN JÚNIOR et al., 1999; ROBBINS,

2000). Segundo Schermerhorn Júnior et al. (1999) ocorrem conflitos do tipo intra-

remetente de papel, inter-remetente de papéis e conflitos pessoa-papel. É vital, nos

relacionamentos entre atores de uma rede, a identificação de como os conflitos impostos

por expectativas divergentes dentro da organização impactam no comportamento global,

gerenciando as tensões e frustrações.

37

Alguns papéis, de acordo com Tornatzky e Fleischer (1990), são como jogos

esperados de comportamento e dependem da concordância de outras pessoas para

manterem seus formatos, mesmo que seja um entendimento informal da existência

daqueles papéis. São papéis que, necessariamente, devem ser exercidos por alguém sem,

contudo, terem legitimidade definida numa organização. Ao desempenhar seus papéis, os

indivíduos incorporam outras qualidades cognitivas que não fazem parte da descrição

formal do trabalho, mas são características intrinsecamente relacionadas à natureza

cognitiva dos seus papéis na organização, dentro dos padrões de desempenho profissional

esperado.

Déry (1996) aponta razões para duvidar da existência de diferenças fundamentais

entre os executivos e outros membros da organização defendida por Mintzberg (1995).

Pautado na perspectiva de que não há duas categorias de seres humanos na organização,

propõe a ampliação da teoria dos papéis dos dirigentes ao conjunto dos atores

organizacionais. A visão do ator como máquina de tratamento de informação passa a ser

substituída pela construção da argumentação, onde os atores organizacionais apóiam-se de

um lado sobre seus conhecimentos sobre o objeto de sua argumentação, e de outro lado

levam em consideração características dos membros da organização, que eles querem

convencer.

A animação de redes interorganizacionais depende de atores cujo papel se destaca

dos demais participantes (SNOW; THOMAS, 1993). Alguns atores destacam-se dos

demais por possuírem características comportamentais empreendedoras capazes de

promover um diferencial em relação à média. A competência destes atores sustenta-se em

conhecimentos específicos, atitudes e habilidades requeridas para o desempenho ótimo das

atividades das organizações que pertence. Estes animadores do processo de redes têm

recebido a denominação de brokers, conforme visualizado na figura 3.

Miles e Snow (1992) definem broker como gestores-chave que operam através das

hierarquias, criando e juntando recursos controlados por entidades exteriores à sua

organização. Para Corvelo, Moreira e Cravalho (2001), broker é uma liderança interna,

com características específicas, elemento capaz de mobilizar e motivar os demais, a partir

do interior da rede. Deve ser ainda capaz de congregar a confiança dos outros atores da

rede e conhecer todo o processo de construção da cooperação e de suas dinâmicas, bem

38

como possuir características para promover a transparência dos processos, saber negociar e

gerir relacionamentos dos cooperantes.

Martinho (2003) chama de broker o nó animador, que realiza o trabalho

permanente de estimular a participação dos integrantes no sistema. Faz referência ao

broker como nó hiperconector, designado-o como figura comum nas redes organizacionais

humanas, especialmente nas redes da sociedade civil e também o denomina de pólos de

irradiação ou de convergência.

Hill apud Zaleski (2000), a partir do contexto de redes flexíveis, sugere que o

broker apresente características de independência; mediação e habilidade de negociação,

capacidade de comunicação e habilidade de analista de mercado, gestão do processo e de

relacionamento com os demais da rede, além do conhecimento do setor. Ainda no tocante

ao perfil do broker, considera interessante e com possibilidade de maior sucesso a medida

que o animador pertença ao mesmo setor dos demais integrantes da rede, que tenha

experiência e que seja reconhecido como consultor orientado a resultado.

A figura 3 evidencia que o papel do broker é estabelecer comunicação, criando

interfaces, isto é, relacionando-se com atores do processo produtivo. O broker deve ainda

realizar parte dos trabalhos e incentivar a comunicação informal entre os membros da rede

e identificar novos projetos, bem como articular o fornecimento de serviços que sejam do

proveito para todos os membros de modo a promover o crescimento da rede. Como ponto

de convergência e indução, o broker facilita a emergência de redes pautadas no conceito da

complementaridade, pois seus os atores são estimulados a intensa relação de troca.

De acordo com Martinho (2003), embora todos os pontos da rede sejam pontes

entre redes, há alguns nós que realizam essa função de maneira intensiva. São pontos

hiperconectores (ou "pontos-de-mil-linhas") e que funcionam, dentro da dinâmica de

caminhos da rede, como atalhos entre um ponto e outro. Isso é facilmente explicado

quando voltamos às redes sociais: quanto mais pessoas um indivíduo conhece, mais

pessoas ele tende a conhecer, o que o torna ainda mais conhecido e capaz de fazer novas

conexões.

39

Figura 3 - Estrutura organizacional em redeFonte: Snow, Miles e Coleman Jr. (1992)

A partir de Tolbert et al.(1995); Martinho (2003), os nós hiperconectores podem ser

entendidos como broker, visto que tais hiperconectores são atalhos justamente por

reduzirem a extensão característica de caminho entre dois pontos eqüidistantes. Quanto

mais conectado é um ponto, maior probabilidade ele tem pela extensão de sua rede, de

fazer novas conexões.

O centro da figura 4 demonstra o nó hipercondutor e suas múltiplas conexões que

servem de atalho para os demais pontos que compõem a rede. Martinho (2003) confirma a

existência, nas redes sem escala, de nós hiperconectores ou pólos de convergência e

irradiação. Denominam-se convergentes, porque são preferencialmente escolhidos para

conexão por servirem de atalho para outros nós e de irradiadores por sua própria

capacidade de conectar-se ainda mais.

Brokers

Projetistas

Fornecedores

Produtores

Negociadores

40

Figura 4 - Ponto hiperconector Fonte: Martinho (2003)

Uma eventual eliminação simultânea de 5% a 15% dos nós hiperconectores poderia

resultar no colapso de todo o sistema, segundo a pesquisa. Isto é, poderia culminar no

rompimento do tecido de conexões. Esse rompimento não levaria à total desintegração da

rede, mas produziria o desligamento de pequenas redes umas das outras.

Essa abordagem do papel dos nós hiperconectores revela que indivíduos com

características de hiperconectores agem como atalhos de comunidades inteiras, isto é,

ligam comunidades inteiras umas às outras. Estes também podem servir de catalisadores da

mudança no âmbito das comunidades porque permitem o surgimento de inúmeras pontes

entre outros nós da rede e contribuem ainda mais para a irradiação da conectividade.

A competência e/ou a formação não são a resposta que garante o sucesso de uma

iniciativa de cooperação ou em rede. Segundo Corvelo, Moreira e Carvalho (2001), a

correta mobilização de competências, por si só, não garante o sucesso de uma iniciativa de

cooperação interorganizacional. Consideram que há competências e características-chave

nos atores que beneficiam a construção e o desenvolvimento do processo cooperativo.

Neste sentido, o papel de broker, como ator e animador de rede, fica evidenciado

como fundamental para a formação, desenvolvimento e consolidação de redes

interorganizacionais, na medida que atua como elemento facilitador das relações de

partilha, de liderança, para a geração e gestão da confiança entre atores, educando para

uma cooperação sustentada. Assim, para alcançar resultado desejado, redes

interorganizacionais precisam identificar os papéis de seus atores, considerando-se que as

ações das pessoas que ocorrem através e no interior das organizações.

41

2.2.3 Brokers e atividades em redes interorganizacionais

A dinâmica empresarial e o contexto de mudança acenam à necessidade do re-

arranjo organizacional que possibilite a emergência de uma abordagem de redes baseada

em papéis, onde atores, em especial brokers, desempenhem suas atividades de forma

harmônica e independente.

A crescente dinâmica de fusão, aquisição e aliança estratégica entre empresas e

uma multiplicação das associações em rede nas últimas décadas e a complexidade inerente

às relações organizacionais induzem a relativa dificuldade na compreensão de papéis e

novas competências requeridas, principalmente no que se refere à facilitação da

colaboração interorganizacional e ao tipo de transformações do conhecimento que esse

novo domínio de colaboração implica (CORVELO; MOREIRA; CARVALHO, 2001).

Nas organizações baseadas em conhecimento a necessidade de aprender é algo

significativo porque estimula os indivíduos a incorporarem seus papéis no sentido de

vivenciarem suas realidades profissionais. Nonaka e Takeuchi (1997) consideram que o

valor da contribuição de uma pessoa é determinado menos pela sua localização na

hierarquia organizacional e mais pela importância da informação que ela fornece ao

sistema de criação do conhecimento como um todo.

Para Corvelo, Moreira e Carvalho (2001), os fluxos permanentes de troca serão

mais facilitados quanto mais se gerar um clima de confiança e se, esta última, fizer parte

das crenças e valores socialmente dominantes. De acordo com Nohria e Champry (1997), a

rede redefine como e quem toma as decisões essenciais de negócios. Além de integrar as

decisões horizontalmente com maior velocidade, uma rede pode ajudar identificar uma

empresa dentro de outra. Isto é, pode colaborar na identificação de ligações ocultas ou

invisíveis que podem interessar e potencializar o processo de toda a organização.

As atividades de redes interorganizacionais caracterizam-se pela

interdisciplinaridade, uma vez que um elenco de atividades é demandado no cotidiano dos

atores. O escopo das atividades compreende as redes formais e informais e não se restringe

à divisão das tarefas e disseminação de conhecimento e de tarefas. Da mesma forma, redes

apresentam formas híbridas, transcendendo os limites da hierarquia e do mercado. Vários

estudos têm sido desenvolvidos no intuito de ampliar a abordagem em atores e papéis de

rede interorganizacional.

42

Neste sentido, Krackhardt e Hanson (1997) afirmam que as organizações em rede

ou rede de organizações podem aumentar sua efetividade mediante o mapeamento das

redes informais, que resultaria em benefícios como a identificação de gaps

comunicacionais, intensificando-se relacionamentos desejáveis e incentivando-se a

interação destes.

A identificação das relações interpessoais em rede interorganizacional implica

mapeamento de papéis e atividades dos atores em rede, base para a elaboração de diretrizes

para gestão destas relações. A partir da óptica de vários autores, o quadro 4 revela um

elenco de papéis e atividades desempenhados pelos atores de redes.

43

Aut

or e

s

Abo

rdag

em

em r

ede

Papel Atividades Desenvolvidas

Cha

ran

(199

7)

Iintra

-firm

as Gerente

projetista

Identificação dos principais responsáveis pela tomada de decisões

na organização; reunião em rede; divulgação à empresa e

administração das incompatibilidades.

Arquiteto

Empreendedores que promovem a combinação de competências

requeridas e equipamentos para processo de produção. Criam

novos grupos que são necessários em papéis especializados de

apoio. Guia a empresa e procuram organizações com competências

desejáveis.

Lead operator

Organização dos elementos e definição de todas as relações da fase

inicial de formação da rede. Promoção de alterações e adaptações

em nível organizacional.

Mile

s e S

now

(199

2)

Inte

rorg

aniz

acio

nais

Care taker

Interface e manutenção da rede. O posicionamento dependerá

grandemente da dimensão e natureza das organizações em questão

e do tipo de funções que comportam.

Centros

irradiadores

Passam boa parte do tempo com os outros na empresa. Pessoas com

um grande número de conexões e são fáceis de serem identificados

nas representações gráficas das redes de confiança, assemelhando-

se com o centro de uma estrela cheia de pontas.

Guardiões

Posicionamento de forma que a informação passe sempre por eles

antes de chegar aos outros e costumam ficar entre os irradiadores

ou entre as diferentes áreas da empresa. Não têm tantos

relacionamentos, mas suas conexões são bastante estratégicas e

fortes.Step

hens

on (2

003)

Inte

rorg

aniz

acio

nal

Termômetro

Monitoramento da saúde da organização. São pessoas que cultivam

relações indiretas, sendo bastante difícil identificar este tipo de

pessoas, devido às suas conexões serem esparsas e seguirem um

padrão matemático muito particular.

continua

44

continuaçãoA

utor

es

Abo

rdag

em

em r

ede

Papel Atividades Desenvolvidas

Gerador da idéiaContribuição com idéias, tanto para iniciar o projeto como para

ajudar a solucionar os problemas.

Empresário epromotor

Defesa e estímulo à troca e à inovação, tomando as idéias

independentemente de serem suas ou não e tratam da maneira de

adotá-las e desenvolvê-las.

Chefe (diretor

do programa)

Planejamento, confecção de cronogramas, controle, supervisão

técnica, coordenação financeira e negócio na área de P&D. É o

único papel que coincide com o posto de trabalho na organização.

Gatekeeper

Levantamento das informações; contato com grupos técnicos

dentro da mesma empresa; ligação dos centros tecnológicos para

a cooperação entre eles (universidades, centros de pesquisa,

outras empresas).

Rob

erts

(198

4)

Inov

ação

tecn

ológ

ica

PatrocinadorAtividade desempenhada pela pessoa de maior experiência e de

maior nível hierárquico da empresa.

Torn

atzk

i e F

leis

cher

(199

0)

Com

unic

ação

Gatekeeper

Relacionamento com as informações externas na organização,

manutenção das regras de controle das informações, para serem

utilizadas nos processos de decisão; fornecimento de informações

necessárias para o desenvolvimento da rede. Reunião dos nós da

rede de forma coesa.

Dirigentes Tomada de decisão estratégica e planejamento

Pesquisadores Inovação em produtos e processo.

Projetistas Adaptação, embalagem e definição dos objetivos da inovação.

Integradores Gerenciamento das relações entre a decisão, a inovação, o projetoe a execução.

Operadores Execução das tarefas sob a própria iniciativa e entendimento.Cas

tells

(200

1)

Soci

ais

Dirigidos Execução de tarefas auxiliares, pré-programadas que não foramou não podem ser automatizadas.

continua

45

continuaçãoA

utor

es

Abo

rdag

ePapel Atividades Desenvolvidas

Figura principal Desempenho de obrigações rotineiras de natureza legal ou social

Líder Motivação e direção dos subordinados

Ligação Manutenção da rede contatos externos

MonitorRecebimento de informação; serve como centro nervoso de

informação interna e externa da organização

DisseminadorTransmissão de informação recebida de fora ou de outros

subordinados para membros da organização

Porta-vozTransmissão de informação para fora sobre os planos, políticas,

ações e resultados da organização

EmpreendedorBusca de oportunidades na organização e seus ambientes e inicia

projetos que tragam mudanças

Administrador

de problemas

Ação corretiva quando a organização enfrenta problemas

importantes e inesperados

Min

tzbe

rg (1

995)

Intra

-org

aniz

acio

nal

Negociador Representatividade da organização em importantes negociações

Rog

ers (

1995

)

Com

unic

ação

Agente de

mudança

Desenvolvimento da a necessidade de mudança; estabelecimento

de um relacionamento de troca de informação; diagnóstico de

problemas; criação de uma intenção de mudança no cliente;

tradução da intenção em ação; estabilização da adoção e

prevenção de descontinuidades; alcance de um relacionamento

terminal

Quadro 4 - Papéis e atividades de atores em redes interorganizacionais

No que se refere à perspectiva tecnológica de redes (ROBERTS, 1984;

TORNATZKY; FLEISCHER, 1990; ROGERS, 1995) depreende-se que as pessoas

envolvidas no processo de desenvolvimento tecnológico desempenham papéis relevantes

por meio da aplicação de sua habilidade técnica, inclusive por considerar o indivíduo que

tem contatos com as informações externas na organização.

46

Allen (1984 apud MACEDO, 1999) identificou os gatekeepers tecnológicos

como indivíduos que, pelo grau de exposição a fontes externas à sua organização, pelo seu

conhecimento e ligações profissionais e pessoais fora de sua comunidade próxima de

trabalho, representam papel informacional dentro do seu grupo, tanto como fontes de

informação quanto como consultores internos. O gatekeeper está presente em vários tipos

de organização como excelente receptor e transmissor de informações, um extensor e

amplificador da informação para todos aqueles com quem faz intrercâmbio.

Adicionalmente, Macedo (1999) coloca que o gatekeeper desempenha as funções

de: a) identificar os gaps comunicacionais onde os relacionamentos fortes deveriam ser

desejáveis, permitindo o incentivo a que essas interações ocorram, o que, se não assegura,

em um primeiro momento a formação das relações necessárias, aumenta a probabilidade de

sua ocorrência pela contínua exposição a elas, o que incrementa a performance

organizacional; b) atuar tanto como agentes promotores do conhecimento quanto como

consultores. Sua participação como elo, interface e protocolo de comunicação nas

organizações oportuniza diálogo e feed back em tempo real, criando uma nova forma de

trabalho.

A abordagem de atores de rede, especificamente rede de confiança (MILES;

SNOW, 1992; KRACKHARDT; HANSON, 1997; STEPHENSON, 2003) evidencia que o

mapeamento de arquétipos existentes nas redes informais é premente ao sucesso das

relações interpessoais em rede interorganizacional. Considerando as perspectivas intra-

organizacional e interorganizacional (MINTZBERG, 1995; CHANLAT, 1996; LATOUR,

1994; NOHRIA, 1997; CHARAN, 1997; CASTELLS, 2001) a análise de papéis é centrada

nos atores enquanto líderes capazes de influenciar o processo gerencial.

A identificação dos arquétipos centros irradiadores, guardiões, termômetro,

definidos por Stephenson (2003), pode ser crucial ao desempenho de rede

interorganizacional. O mapeamento destes papéis aumenta a eficiência, promove a

inovação ou, em outro extremo, boicota qualquer tentativa de mudança.

Miles e Snow (1992) delineiam um mapa de rede composto por atores, papéis e

atividades envolvidos no processo de formação, manutenção e desenvolvimento de redes.

No decorrer da construção da rede surgem necessidades de diferentes perfis profissionais

ajustados às funções específicas de atividades iniciais e de operacionalização da rede,

47

emergindo os denominados arquiteto da rede e o lead operator que, segundo os autores,

são duas figuras que se apresentam como interiores à rede, mas exteriores a cada um dos

seus nós, já que a sua preocupação principal se fixa na organização dos elementos e na

definição de todas as suas relações e não tanto nas alterações e adaptações em nível

organizacional que o estabelecimento de uma rede pode provocar no interior de cada um

dos organismos que a compõem.

Adicionalmente consideram que podem surgir, ainda nesta fase, novas figuras

ligadas a mudança na estrutura interior dos nós da rede, como processo de adaptação e

simultaneamente de mudança organizacional, isto é, chefes de equipes, gerentes de

projetos, gestores de informação. No final deste processo é natural que as figuras do

arquiteto e lead operator desapareçam como tal, dando lugar a uma disseminação de partes

das suas funções pela rede, atribuindo-as a alguns de seus atores funções de monitoramento

da estrutura, de adaptações, de avaliação de entrada de novos membros.

Em decorrência destas mudanças na estrutura, Miles e Snow (1992) definem

perfis para atuarem no âmbito da rede, podendo-se observar o aparecimento de novos

perfis e de novas competências por duas vias: estímulo exógeno, isto é, via necessidade na

rede e estímulo endógeno, isto é, a partir de uma necessidade que os componentes da rede

apresentam.

Em uma fase subseqüente, a fim de assegurar o funcionamento/manutenção da

rede, surge a figura do care-taker (MILES; SNOW, 1992) que carreando a necessidade de

novo perfil e justificado em decorrência de que os novos perfis e competências originados

da atividade em rede devem ser tratados como questões relativas à novas estrutura e

trabalho em rede e outras referentes aos papéis entre atores. Isto implica identificar as

relações interpessoais e o modo de coordenação de redes, visto que a gestão de

relacionamentos é tão importante quanto o processo de constituição de redes

interorganizacionais.

2.3 Relações interpessoais

A cooperação entre os indivíduos emerge da necessidade de refrear as limitações

que restringem a atuação isolada de cada um. A necessidade de cooperar entre si leva as

48

pessoas a constituírem grupos sociais. Segundo Moscovici (2002), um grupo social

somente existe em presença da interação entre dois ou mais indivíduos, do desejo e a

disposição para cooperar e de objetivos comuns entre eles.

O processo de interação humana apresenta natureza complexa e, segundo

Moscovici (2002) ocorre permanentemente entre pessoas, sob a forma de comportamentos

manifestos e não-manifestos, verbais e não-verbais, pensamentos, sentimentos, reações

mentais e / ou físico-corporais. De acordo Chanlat (1996, p.154), “todo ser humano

constrói-se em sua relação com o outro e é no ambiente organizacional onde se tecem

numerosas relações, um terreno fértil para observar a dinâmica psíquica que afeta as

relações interpessoais”.

As relações interpessoais desenvolvem-se em decorrência do processo de interação

e resultam em comportamento. Para Kanaane (1999), o comportamento individual retrata

as reações inerentes ao indivíduo e suas condutas no contexto organizacional. O

comportamento grupal refere-se à gama de reações dos indivíduos que compõem um

grupo; as ações emergentes do comportamento grupal retratam as múltiplas influências

decorrentes da dinâmica existente, incluindo as pessoas, a interação, o sentimento, as

atividades, a comunicação e os objetivos. O comportamento organizacional diz respeito às

manifestações emergentes no contexto das organizações, indicando os controles, o

processo decisório e os esquemas técnico-administrativos assumidos num dado momento

organizacional.

O relacionamento interpessoal pode manter-se harmonioso e permitir um trabalho

cooperativo, em equipe, com integração de esforços, conjugando as energias,

conhecimentos e experiências para um produto maior que a soma das partes. Em outro

extremo, quando os relacionamentos tenderem a tensão, conflito pode levar à desintegração

de esforço, à divisão de energias e crescente deterioração do desempenho grupal

(MOSCOVICI, 2002).

O comportamento dos grupos sociais, segundo Chiavenato (2001), está

condicionado a dois tipos de organização: a organização formal ou racional e a organização

informal ou natural. Nesse entendimento, as organizações constituem-se de relações

formais e informais. A preocupação da organização com os aspectos informais, tais como

grupos informais, comportamento social dos empregados, crença, atitude e expectativa,

49

motivação etc, remonta da Teoria das Relações Humanas. A psicologia administrativa, ao

realçar as relações humanas como gênese de todos os problemas de uma organização,

oferece relevante contribuição para os estudos organizacionais.

2.3.1 Caracterização das relações interpessoais formais

As organizações, como sistemas sociais, interagem como um todo em relação ao

indivíduo, afetando-o em sua ação, favoravelmente. Isso ocorre por processos

inconscientes e não-lógicos, embora o grupo possa também atuar de maneira consciente e

deliberada visando ao indivíduo (ROBBINS, 2000). A organização formal é constituída

pela estrutura organizacional composta de órgãos, cargos, relações funcionais, níveis

hierárquicos etc.

Os relacionamentos interpessoais, no que concerne à dimensão formal, estão

evidenciados e aparecem nos documentos oficiais da organização, seja no organograma,

estatuto, manuais, regimentos que descrevem suas políticas formais, suas estratégias e seus

procedimentos (CAPRA, 2002). Os grupos formais são definidos por Robbins (2000)

como estrutura da organização, onde os comportamentos exibidos são estipulados pelas

metas organizacionais e dirigidos em direção a elas.

2.3.2 Caracterização das relações interpessoais informais

A organização informal constitui-se de interações e relacionamentos que se

estabelecem entre as pessoas, que se contrapõe a organização formal. Os grupos informais

constituem a organização informal da empresa e, eles próprios, definem suas regras de

comportamento, formas de recompensa ou sanções sociais, objetivos, escala de valores,

crenças, expectativas, que cada participante vai assimilando em suas atitudes e

comportamento (CHIAVENATO, 2001).

Capra (2002) menciona quanto maior for o número de participantes de redes

informais, quanto mais desenvolvidas e sofisticadas forem as próprias redes, tanto mais a

organização será capaz de aprender, reagir criativamente a circunstâncias inesperadas,

mudar e evoluir. Ou seja, a vida da organização reside em suas comunidades de prática,

nas redes informais.

50

Os fatores que condicionam os grupos informais, de acordo com Chiavenato

(2001), são os interesses comuns das pessoas; a interação provocada pela própria

organização formal; a flutuação do pessoal dentro da empresa provoca a alteração dos

grupos sociais informais; e os períodos de lazer ou os tempos livres.

As relações interpessoais podem e se devem reforçar, aprofundar-se, aperfeiçoar-se,

mas também podem degradar-se, destruir-se. Segundo Villasante (2002), o mapeamento de

tendência de cada sujeito/ator permite representar graficamente as relações estabelecidas e

as alianças que existem e que podem existir diante das estratégias do futuro. Admite-se

ainda que o delineamento de competências, oriundas das relações formais e informais,

configura-se em instrumento estratégico de gestão organizacional.

2.3.3 Interação entre relações interpessoais e rede interorganizacional

As organizações projetam o comportamento cooperativo das pessoas, e por serem

constituídas a partir da união de indivíduos que buscam determinado objetivo, o resultado

efetivo da interação social não depende apenas das instituições, mas também das ações dos

seus interlocutores (NORTH, 1990 apud SAES, 2000). Nos dias atuais, parcela das ações

das pessoas ocorre através e no interior das organizações, determinando variedade de

modelos e arranjos organizacionais.

O espaço organizacional constitui “um dos pilares fundamentais da ação humana,

permanecendo ligado a outros espaços que ele incorpora ou pelo espaço social ou espaço

do mundo que o envolve”. A situação social é um ambiente feito de possibilidades mútuas

de controle, no qual um indivíduo se encontrará submetido à percepção direta de todos os

presentes; que também podem ser igualmente percebidos (GOFFMAN, 1973 apud

CHANLAT, 1996, p.108).

Portanto, a interação social se manifesta apenas em situações sociais ou nos

ambientes em que dois indivíduos, ou mais, estão fisicamente na presença da resposta que

um dá ao outro. Em suas atividades econômicas, a maioria das pessoas pertence a diversas

comunidades (de prática) no trabalho, na escola, nos esportes e lazer etc. Algumas delas

têm nome e estruturas formais; outras podem ser tão informais que às vezes não são sequer

identificadas como comunidades. Essas redes, que assumem a configuração de alianças,

51

canais informais de comunicação e outras redes emaranhadas de relacionamentos, não

param de crescer, mudar e adaptar-se a novas situações (CAPRA, 2002).

Em toda organização há uma interação contínua entre suas redes formais e as suas

estruturas formais. As políticas e procedimentos formais são sempre filtrados e

modificados pelas redes informais. A partir desta interação, Capra (2002) argumenta que,

idealmente, a organização formal deve reconhecer e apoiar as suas redes informais de

relacionamentos e incorporar as inovações destas às suas estruturas. Todo o

comportamento, incluindo pensamento, emoção, ação, pode ser concebido como uma

mudança de algum estado em uma dada unidade de tempo. Cada comportamento é

resultado de um equilíbrio entre forças impulsionadoras e restritivas. (STONER;

FREEMAN, 1995).

Rondeau (1996) propõe um modelo diagnóstico de conflito que leva em

consideração uma estrutura para compreender as condições gerais que se desenvolve um

conflito a dinâmica de uma situação de conflito e, também, o modelo processual que tenta

descrever a dinâmica de conflito e busca ilustrar as transformações vividas por cada parte

em um episódio conflitual.

Os comportamentos adotados por cada parte em situação de conflito são

apresentados na figura 5, colocando-se em destaque as dimensões da cooperação e da auto-

afirmação, que influem no relacionamento de rede. A gestão das relações interpessoais

deve buscar o equilíbrio das ações dos atores em redes interorganizacionais, minimizando-

se os efeitos decorrentes da cooperação e afirmação.

A combinação dos eixos vertical e horizontal determina cinco estilos de

comportamento em situação de conflito: evasão, acomodação, colaboração e competição.

O compromisso entre as partes tende a dimensão integrativa, à medida que as partes

aumentarem sua satisfação e a dimensão distributiva quando a satisfação de uma das partes

acarretar às expensas da outra.

52

Figura 5 - Estilos de comportamento em situação de conflito Fonte: Rondeau (1996) adaptado de Thomas (1976)

As normas permitem, a partir das interações pessoais e organizacionais, resolver

incerteza e conflito por meio de atitudes e opiniões de pessoas (FRIEDKIN, 2002 apud

BALESTRO, 2002). As relações de troca dentro de uma rede, dada a existência de normas,

são menos incertas do que as relações de torça dentro do mercado.

De acordo com Rondeau (1996), o conjunto de regras e métodos acentua a

tendência à competitividade, e aumenta a tendência a se recorrer a regras, estimulando a

legalização e a burocratização das relações. Enquanto a realidade do gestor é composta

muitas vezes por decisões imersas em paixões pessoais, sob dúvidas e incerteza,

impregnadas de inveja, ciúme, e permeadas pela necessidade de criatividade, a gestão tem

privilegiado, historicamente, a ação, a frieza, o conformismo, a racionalidade, a

homogeneidade, a instrumentalização, o universalismo abstrato e a tecnocracia. A partir

deste contexto, Chanlat (1999) evidencia a lacuna entre o universo concreto vivido pelos

gestores e o mundo sério e racional dos discursos teóricos.

O processo de constituição de redes pode ser visto como a criação de laços flexíveis

que permitem aos indivíduos e organizações atuarem de forma ágil, trocando informações,

COMPROMISSO Compartilhamento

Troca

Competição Coerção Dominação

Colaboração Solução do problema Integração

Evasão Retirada Apatia

Acomodação Apaziguamento Cordialidade

dimensão

Cooperação (interesse em satisfazer as necessidades do outro)

Afir

maç

ão d

e si

(i

nter

esse

em

satis

faze

r sua

s nec

essi

dade

s)

distributiva

+

+

-

dimensão

integrativa

53

e se ajustando mutuamente. A constituição de redes organizacionais questiona

frontalmente as relações interpessoais e interinstitucionais de poder. Participar

verdadeiramente de uma rede implica em aceitar o desafio de rever as formas autoritárias

de comportamento, em buscar a dimensão integrativa da colaboração na busca de soluções

e integração.

Não obstante os aspectos formais, a gestão das relações interpessoais não se

constitui em tarefa fácil, requer habilidade dos gestores, demanda entendimento de

variáveis subjetivas, bem como considerar a confiança como instrumento de coordenação

de relacionamentos em rede.

2.4 Gestão das relações interpessoais em rede interorganizacional

Sistema de gestão são estruturas formais de coordenação e controle da organização,

no que tange à capacitação, referem-se aos sistemas de educação, recompensa e incentivos

que guiam e monitoram o desenvolvimento dos estoques dos conhecimentos tácito e

explícito na organização (LEONARD-BARTON, 1995 apud CARDOSO; ALVAREZ;

CAULLIRAUX, 2002).

O processo de coordenação de rede interorganizacional significa administrar

tensões e maximizar as possibilidades daí decorrentes, envolvendo mecanismos para

articulação de animadores e atores, distribuindo-lhes ações, direitos e responsabilidades.

Uma rede eficiente requer a implementação de mecanismos de gestão, pois no seu

cotidiano, os atores mantêm uma relação difusa e híbrida de cooperação e conflito, uma

situação paradoxal entre o formal e informal, com aspectos tangíveis e intangíveis, ora

concreto e/ou subjetivos. Assim, qualquer dos extremos, tanto aplicação de contratos

quanto de confiança, pode influenciar significativamente no desempenho e perenidade da

rede.

54

2.4.1 Aspectos interpessoais da gestão de relacionamentos interpessoais de rede

interorganizacional

As redes situam-se como formas híbridas entre o mercado e a hierarquia,

implicando na presença de diferentes lógicas de coordenação do trabalho: a racionalidade

de cada troca, o regramento e o poder formais e os mecanismos sociais. Então, nas redes,

surge com grande relevância a coordenação a partir de mecanismos sociais. De modo geral,

para garantir a mistura flexível entre mercado e organização é decisiva para a rede a

capacidade de seus atores de manter sempre abertas as possibilidades de escolher entre os

mecanismos de decisão, de transação, ora de ambos, dependendo das condicionantes que

sejam postas pela própria variabilidade do contexto em que ela opera (MINHOTO;

MARTINS, 2001).

A gestão de rede compreende tanto a forma como o trabalho é organizado como os

meios através dos quais é coordenado (POWELL, 1990; WILLIAMSON, 1996 apud

ALVAREZ; SILVA FILHO; PROENÇA, 2002). O modelo de gestão de rede proposto por

Alvarez, Silva Filho e Proença (2002) deve compreender:

- configuração da rede, estabelecendo quais nós integram a rede;

- definição dos papéis dos nós;

- alocação dos recursos aos nós;

- utilização dos recursos situados em cada nó;

- escolha dos caminhos de fluxo (links) entre os nós e configurações dos mesmos;

- controle dos fluxos entre os nós;

- coordenação do trabalho entre os nós.

Desta forma, o modelo de gestão de redes deve considerar as relações informais

mantidas entre as pessoas e grupos internos e externos à organização, a fim de não incorrer

em risco de exclusão de elementos importantes na formação de redes invisíveis que,

segundo Stephenson (2003), podem fomentar redes de inovação, conhecimento,

aprendizado, carreira, trabalho e social.

55

As relações entre atores são dotadas de uma complexidade natural que se

distanciam da linearidade e se acomodam sob uma arquitetura de rede (CLEMENTE et al.,

2004). Em um processo de rede, as pessoas desempenham vários papéis, devido aos

relacionamentos estabelecidos. Neste sentido, eficiência da arquitetura de um sistema está

ligada ao desenvolvimento e aperfeiçoamento das relações internas e externas.

Genericamente, a coordenação das firmas é realizada pela hierarquia gerencial. No

caso de redes, que revela necessidade de um conjunto de mecanismos para relacionar as

ações de suas unidades com um padrão consistente, é possível coordenar os

relacionamentos internos e externos?

2.4.2 Coordenação das relações interpessoais de rede interorganizacional

As organizações em rede coordenam as ações de seus membros por outros

mecanismos distintos das transações no mercado. Os indivíduos com interesses comuns e

que julgam que as ações individuais desorganizadas são menos eficientes que ação coletiva

destinada a contemplar seus interesses e atuam, sob certas circunstâncias, de maneira

controlada arranjam-se em organizações (OLSON, 1965 apud SAES, 2000).

As organizações em rede devem compreender mecanismos que visem a

coordenação do comportamento dos indivíduos. As regras, segundo Saes (2000),

constituem-se em um mecanismo de coordenação comportamental que visa criar uma

estrutura que permita a interação humana, nos campos político, social ou econômico.

Enquanto as regras formais podem ser entendidas como aquelas que são explicitadas por

algum poder legítimo e tornadas obrigatórias para manter a ordem e o desenvolvimento de

uma sociedade; as regras informais fazem parte de uma herança cultural, podem ser

entendidas como um conjunto de valores transmitido socialmente.

O conjunto de regras formais e informais forma a estrutura de incentivos e controle

que movem os indivíduos a cooperação. North (1990 apud Saes, 2000, p. 167) ressalta que:

As instituições estão para as regras do jogo, assim como asorganizações estão para os jogadores. Estas representam ocomportamento cooperativo e, como tal, são formadas porindivíduos que se unem na busca de um determinado fim [...]. oresultado efetivo da interação social não depende apenas dasinstituições ou regras do jogo, como também das ações dos

56

jogadores, os quais são entendidos como unidades de tomada dedecisão [...]. Mas há situações em que os indivíduos cooperampara atingir determinados objetivos comuns. Nesses casos, asações individuais são coordenadas, a fim de que o objetivo sejaalcançado. As ações de cada indivíduo passam a depender dasdecisões das decisões dos demais e a entidade coletiva formadapela união de esforços individuais pode ser descrita como umaunidade autônoma de tomada de decisão.

As redes mudam ao longo do tempo e o relacionamento entre seus atores deve ser

claramente compreendido. A capacidade de coordenação e o estabelecimento de

mecanismos de ligação entre os atores da rede dependem de uma atmosfera desejável, que

permita que a transparência na troca seja garantida. Sendo assim, a confiança constitui-se

fator essencial na performance de redes.

Segundo Schermerhorn Júnior et al. (1999) existem dois métodos de coordenação:

pessoais e impessoais. Os métodos pessoais de coordenação produzem sinergia,

promovendo diálogo, discussões, inovação, criatividade e aprendizado, tanto dentre como

entre as unidades organizacionais. Dentre os métodos pessoais destacam-se o contato

direto entre os membros, rumores, comitês e forças-tarefa. Os sistemas de informação

também podem funcionar como mecanismo impessoal de coordenação.

As redes, segundo Alvarez, Silva Filho e Proença (2002), podem possuir ou não nós

de coordenação, ou seja, aglomerados de recursos que têm por razão coordenar as relações

entre os nós individuais e do coletivo da rede com outras organizações. No bojo do

processo de coordenação encontram-se instrumentos de tomada de decisão em grupo e de

controle.

A coordenação das relações interpessoais é aspecto primordial na gestão de rede

interorganizacional, visto que em situações que as relações de rede apresentam

características de heterogeneidade tendem a conduzir ao fortalecimento de posições de

determinados atores melhores situados, gerando dependência unilateral dos demais atores e

ameaças de expropriação. Quando na rede estabelecem-se relações de hierarquia e de

subordinação leva os atores à busca de novas relações fora da rede, num movimento de

externalização (HÃKANSON, 1987 apud SILVA et al., 2004).

57

A coordenação das relações interpessoais deve lançar luzes sobre os aspectos que

Tolbert et al. (1995), Gnywali e Madahawan (2002 apud Balestro 2002), Martinho (2003)

chamam de centralidade, autonomia, equivalência e densidade de rede. No que se refere a:

- centralidade, que diz respeito à posição de determinado ator da rede ou em que

medida um ator possui mais acesso a recursos por estar mais conectado a outros

atores do que os demais;

- autonomia estrutural, que trata da situação do ator que estruturalmente

autônomo se aproveita de buracos estruturais em relação aos demais atores aos

quais está conectado. Os buracos estruturais trazem benefícios no volume e na

qualidade de informação para aqueles atores mais conectados dentro da rede.

Ou seja, os atores com maior autonomia estrutural, mas relacionados com atores

ricos em buracos estruturais entre eles. Redes densamente conectadas facilitam

a cooperação e a autonomia tem implicações na conectividade da rede;

- equivalência estrutural, diz quanto aos componentes e perfis semelhantes

encontrados na rede que proporcionam maior simetria entre atores;

- densidade da rede, quanto ao grau de conectividade existente entre atores.

Um dos principais desafios na coordenação de redes é criar mecanismo de

superação dos conflitos de ação coletiva, sendo que a criação e acumulação de capital

social (PUTNAM,1993) podem ser um dos flancos de solução. As redes sociais podem

aumentar a produtividade ao reduzir os custos associados ao estabelecimento de negócios.

O capital social facilita a coordenação e a cooperação

A organização em rede, da mesma forma que a estrutura descentralizada das

organizações, deve evitar que o poder nas tomada de decisões esteja concentrado em um só

local da organização ou nas mãos de uma só pessoa. Recomenda-se que o poder esteja

disperso entre muitas pessoas, o que possibilitará um aumento da participação e instalação

de um ambiente motivador nas pessoas ou instituições que compõem a rede. A estrutura de

rede, de característica descentralizadora, privilegia este tipo de arquitetura porque centra a

coordenação numa base mais colaborativa de sua divisão do trabalho, isto é, agrega valores

como confiança, interação no processo de coordenação.

58

Segundo Park (1996, apud Balestro, 2002) a existência ou não de coordenação

central é mecanismo de coordenação das relações interpessoais e no gerenciamento de

tomada de decisão coletiva. Nesta mesma perspectiva, Grandori e Soda (1995) destacam os

mecanismos de comunicação, decisão e negociação; controle e coordenação social; equipe

comum; relações de hierarquia e autoridade; sistemas de planejamento e controle; sistema

de incentivos; sistema de seleção; sistema de informação; e, apoio público e infraestrutura

como mecanismos que auxiliam coordenação de rede.

A complexidade na coordenação de redes intra e interorganizacionais tende a

ocorrer no nível das várias redes informais, onde o conhecimento e expertise estão

dispersos e freqüentemente guardados em indivíduos e grupos, e podem contribuir para o

aprendizado organizacional, ultrapassando as barreiras organizacionais, incrementando

processos de inovação e otimizando os processo de tomada de decisão (MACEDO, 1999).

Os mecanismos de coordenação, além de contribuir com a caracterização da rede,

permitem reconhecer a perenidade ou temporalidade do arranjo. O funcionamento dos

mecanismos de coordenação e a estabilidade do arranjo estão intimamente relacionados

com a intensidade da confiança nas relações interorganizacionais.

2.4.3 O papel da confiança na gestão das relações interpessoais de rede

interorganizacional

As relações de cooperação podem contribuir para solução de problemas comuns

entre empresas e têm estimulado a formação de redes com vistas a um melhor

aproveitamento das externalidades do arranjo e uma maior sinergia entre os atores

(BALESTRO; MESQUITA, 2003).

As relações interpessoais de redes interorganizacionais voltam-se para relações

cooperativas e parcimoniosas, encaminhando a discussão em torno de confiança como

elemento dinâmico e corrente de rede. Implica considerar e rever de forma acurada os

fundamentos teóricos que ajudam a explicar a influência da confiança na gestão das

relações interorganizacionais e a elucidar visões alternativas e convergências sobre a

construção de confiança.

59

De acordo com Costa Mariz (2002), a confiança é considerada como um

mecanismo de coordenação informal que, além de contribuir decisivamente para a

inovação e a aprendizagem, também pode aumentar o desempenho operacional, ao reduzir

o custo de transação. Por ser um fenômeno de alta complexidade teórica, a confiança

apresenta implicações para as relações interorganizacionais, que passam a requerer

investigação acurada, dentro de novas abordagens.

A gestão das relações interpessoais de rede interorganizacional depara-se

rotineiramente com situações, nas quais a confiança pode ser utilizada como ferramenta de

gestão ou de liderança e fortalecimento da rede. Contingencialmente, os gestores de rede

podem adotar critérios de complementaridade/alternância ou decidir por aquela que

encaminhar para um processo de maior perenidade.

Putnam (1993) ressalta que o conflito apresenta custos humanos e organizacionais,

mas também alimenta o questionamento e a revitalização. Um grupo cujos membros

demonstrem confiabilidade e que depositem ampla confiança uns nos outros é capaz de

realizar muito mais do que outro grupo que careça de confiabilidade e confiança.

Teixeira e Guerra (2002) salientam que a disseminação de princípios de confiança

mútua pode ser explicada pela presença dos seguintes elementos: minimização da incerteza

comportamental associada a práticas oportunistas; eliminação de custos contratuais

vinculados à montagem de arranjos que incorporam mecanismos defensivos de

monitoramento das condutas; otimização da divisão do trabalho no âmbito da rede,

adequando-se as escalas de produção e evitando-se a duplicação de esforços; e viabilização

de transferências de informações de natureza tácita.

No extremo oposto da cooperação, surge o comportamento individualista, que tende

a promover a assimetria de informações, prejudicando a interação dos processos

organizacional e interorganizacional. As ações conjuntas e cooperativas, que assumem a

forma de arranjo de redes interorganizacionais, podem representar a possibilidade de

compartilhamento de recursos e interdependência de ações. Assim, as redes ao impulsionar

a aprendizagem conjunta e ao funcionar como sistemas dinâmicos e adaptativos,

apresentam relevância e aplicação tanto estratégica quanto humana, social e interpessoal.

Ahuja (2000 apud BALESTRO, 2002) observa que redes densamente

interconectadas facilitam a confiança, embora limitem a entrada de informações mais

60

diversificadas e novas perspectivas decorrentes de buracos estruturais. As redes ricas em

buracos estruturais fornecem maior diversidade de informações, mas inibem o

desenvolvimento da confiança.

A fim de minimizar assimetrias, baixa interação de relacionamento, as redes devem

contar com atores que explorem as oportunidades de desenvolvimento da cooperação

baseada na confiança, necessitando para tanto manter freqüentes contatos e estarem

sujeitos ao mínimo de rotatividade. Child (1999 apud COSTA MARIZ, 2002) identificou e

denominou de guardiões da confiança os atores que exercem, nas fronteiras de suas

organizações, os papéis de ligação interorganizacional. Embora em pequeno número, esses

guardiões servem de amálgama nas relações interpessoais.

A confiança, segundo Sydow (1998) é desenvolvida em presença de: a)

comunicação freqüente e aberta, que aumenta a oportunidade de entendimento mútuo e

facilita a previsão do comportamento do outro; b) maior variedade dos conteúdos trocados,

denominada multiplexidade das relações e de intercambialidade de conteúdos entre os

atores da rede; c) relações duradouras ou não finitas; d) relação equilibrada entre

autonomia e dependência; e) menor número, com estruturas comuns ou homogeneidade

dos atores; e, f) maior proximidade e maior reputação dos atores.

Para Child (1998), os laços entre os atores são acompanhados de relações

interpessoais com uma dimensão social. Evidencia a confiança como fenômeno

interpessoal que fundamenta as relações interorganizacionais.

O método ideal de gestão de relações interpessoais de redes interorganizacionais, de

acordo com Chanlat (1999), deve se aproximar o máximo possível do modo de gestão real,

introduzindo a cooperação, a confiança, o reconhecimento de longo prazo, a solidariedade,

o diálogo e a equidade. Neste sentido, apresentam-se as propostas de Alvarez; Silva Filho e

Proença (2002), Böhe e Silva (2004) e Stephenson (2003) para gestionar relacionamentos

interpessoais em redes interorganizacionais.

2.4.4 Modelos de gestão das relações interpessoais em redes interorganizacionais

A literatura corrente de redes revela modelos genéricos de gestão de redes.

Observa-se número limitado de estudos com enfatizam relacionamentos como elemento de

61

destaque na gestão de redes. A importância de se considerar modelos de gestão de redes

focados em relacionamentos prende-se ao fato de que as diferenças nos padrões de

coordenação dos atores influenciam fortemente as possibilidades de respostas.

Assim, procurou-se compreender modelos de gestão das relações interpessoais para

sustentar uma escolha em torno de modelos de gestão de rede interorganizacional. O

quadro 5 sintetiza o arcabouço teórico apresentado ao longo fundamentação teórica,

revelando o diálogo com vários autores, de múltiplas áreas do conhecimento.

Arcabouço Teórico Autores

Redes informais Stephenson (2003);

Capra (2002)

Krackhardt e Hanson(1997)

Allen (1984) Hãkanson (1987)

Atores e papéis Grandori e Soda(1995)

Miles e Snow (1992);Snow e Thomas(1993)

Latour (1994) Katz e Kahn (1978)

Confiança Stephenson (2003) Ahuja (2000) Child (1999) Sydow (1998)

Coordenação deredes

Martinho (2003) Gnywali eMadahawan (2002)

Park (1996) Tolbert (1995)

Modelagem eprocesso de rede

Gattaz Sobrinho(2003)

Conway (2000) Ring; Van deVen (1994)

Quadro 5 - Arcabouço teórico

Apresentam-se, a seguir, alguns referenciais adotados na coordenação das relações

interpessoais em redes interorganizacionais. Estes modelos também servirão de inspiração

para elaboração e aperfeiçoamento das diretrizes de relacionamentos, apresentadas no

capítulo 5. Estes modelos de gestão visam encaminhar a gestão para um ambiente

relacional desejável e corroborar para alcance de processos mais perenes.

62

2.4.4.1 Modelo de Alvarez, Silva Filho e Proença

De acordo com Alvarez, Silva Filho e Proença (2002), os modelos de gestão

contemplam diferentes elementos presentes nas organizações e vinculam-nos a sua

estratégia. De fato, os componentes de um modelo de gestão definem a estratégia da

organização, a forma pela qual o trabalho é organizado, realizado e trabalhado. A robustez

do modelo de gestão requer ainda o alinhamento entre estes elementos e a estratégia.

Devido às suas especificidades, redes sugerem proposições de modelo de gestão

diferentes da lógica das firmas. O modelo aplicado à rede deve apresentar natureza própria,

complexidade natural, na medida que contempla variáveis subjetivas como confiança e

outras de cunho participativo e negocial. Portanto, na construção do modelo de gestão de

rede deve-se, em igual intensidade, considerar a estrutura formal, o projeto de práticas de

trabalho, mas também atentar para a natureza da organização formal e/ou informal e os

processos de seleção, socialização e desenvolvimento de pessoal.

O modelo de gestão de redes, proposto por Alvarez, Silva Filho e Proença (2002),

pode ser pensado em três níveis: infra-estrutura, proposta da rede e modelo de

funcionamento da rede. O primeiro nível do modelo de gestão define os limites da rede e

especifica a sua estrutura. Inclui a definição dos atores e seus objetivos, recursos relevantes

e sua distribuição e as conexões internas e externas e caminhos dos fluxos.

O segundo nível de um modelo de gestão para redes é um nível sistêmico que inclui

a definição dos elementos direcionadores da ação coletiva e da oferta coletiva aos

participantes individuais da proposta da rede. Inclui os seguintes elementos: estratégia

coletiva, arquitetura de serviços, definição dos recursos relevantes para o coletivo,

premissas para a decisão coletiva e dos nós de gestão, conhecimentos relevantes para o

desenvolvimento futuro da rede.

O terceiro nível de um modelo de gestão refere-se à forma como a rede está

organizada para atender aos seus propósitos coletivos e como efetivamente funciona.

Fazem parte desse terceiro nível os seguintes elementos: processos que cortam a rede,

relações entre atividades e recursos, alocação de recursos coletivos, atividades e sua

localização nos nós, modos de coordenação da utilização dos recursos, regras e direitos

para alocação, coordenação do fluxo e repartição de recursos, estrutura de indicadores,

63

estrutura de nós de coordenação, conselhos e fóruns de gestão, burocracia, regras e direitos

de decisão, soluções de tecnologia de informação

2.4.4.2 Modelo de Böhe e Silva

Böhe e Silva (2004) apresentam uma estratégia composta de um conjunto de oito

fatores dirigida a ampliação da rede, no sentido de refrear comportamento oportunista,

facilitar o monitoramento dos atores e manter uma relação sustentável entre custos e

vantagem de permanência na rede, conforme demonstrado na figura 6.

A estratégia proposta por Böhe e Silva (2004, p.169), gerada a partir de evidências

teóricas e de uma experiência em rede de cooperação no Estado do Rio Grande do Sul, visa

consolidar rede, por meio da constituição de elemento relacional suplementar ao

mecanismo formal e contratual. A consolidação administrativa da rede está sustentada na

implementação de dispositivos legais, como estatuto, regulamento interno e código e

comissão de ética, responsáveis pelo cumprimento das regras.

Figura 6 - Condições para a expansão da redeFonte: Böhe e Silva (2004)

Governança contratualRegras explícitas (estatuto, regulamento interno e código de ética)

características das empresas

Confiança

Aprendizagem em rede

Barreiras à saída

Estrutura interna da rede

Comunicação e informatização

Benefícios diretos

Ampliação funcional

Governança relacional

1 2

8

7

6 5

4

3

64

A figura 6 destaca a confiança como decorrência de um regramento que estimula a

intensificação das relações entre atores e da instalação de cultura para a cooperação. Este

ambiente torna o processo de aprendizagem mais fluido na rede, na medida em que a troca

e o processamento de informações são mediados por mecanismos de comunicação interna

e da informatização. A ampliação funcional procura atender os objetivos, reforçando elos

de cooperação e constituindo barreiras à saída de associados. Estes fatores podem moldar a

estrutura interna, invocando a formação de subgrupos que visem a melhoria do

funcionamento operacional, conduzem para a expansão da rede.

Para o caso da rede objeto do estudo, Böhe e Silva (2004) acrescentam que foi

necessário instituir critérios de admissão de novos integrantes como renda mínima e

mínima, histórico do cumprimento de compromissos e condições de infra-estrutura, com a

finalidade de evitar que alguns associados tivessem um poder excessivo dentro da rede.

2.4.4.3 Modelo de Stephenson

O modelo de Stephenson (2003) centra-se no mapeamento das redes sociais

invisíveis utilizadas para enviar mensagens e identificar os pontos de alta intensidade e de

conexão entre os atores de uma rede. Para tanto, desenvolveu algoritmos que quantificam o

valor de uma rede social, baseada em pessoas que desempenham papéis denominados

hubs, gatekeepers e pulse takers.

As redes proporcionam uma mudança radical, rápida, enquanto a hierarquia

proporciona mudança incremental. De acordo com Stephenson (2003), os gestores podem

utilizar mapas de redes sociais para uma amplitude de aplicações, desde o desenvolvimento

de equipes, melhoria da comunicação, construção de relacionamentos a montante e jusante

na cadeia de valor e, ainda, facilitar negociações.

Nas redes identificadas por Stephenson (2003), encontram-se pessoas, denominadas

hubs, que são socialmente conectadas a muitos níveis, que mantém alto número de ligações

e estabelecem muita conversa face-a-face, denominadas. Identificam-se ainda os chamados

gatekeepers que funcionam como caminho humano em processos críticos entre os

membros da rede, que animam ou retardar o fluxo, mediante simpatia ou aversão que

65

estabelece com os interessados na informação. Os Pulsetakers apresentam ligações

indiretas e são geralmente opostos aos hubs.

Os arquétipos identificados por Stephenson (2003) nas redes de confiança

configuram-se como centro irradiador, guardiões de confiança e termômetros. Os centro

irradiadores são atores que passam boa parte do tempo com os outros na empresa. Pessoas

com um grande número de conexões e são fáceis de serem identificados nas representações

gráficas das redes de confiança, assemelhando-se com o centro de uma estrela cheia de

pontas.

Os guardiões de confiança posicionam-se de forma que a informação passe sempre

por eles antes de chegar aos outros e costumam ficar entre os irradiadores ou entre as

diferentes áreas da empresa. Não têm tantos relacionamentos, mas suas conexões são

bastante estratégicas e fortes. Os termômetros são atores responsáveis pelo monitoramento

da saúde da organização, aqueles que cultivam relações indiretas, sendo bastante difícil

identificar este tipo de pessoas, devido às suas conexões serem esparsas e seguirem um

padrão matemático muito particular.

2.5 Considerações gerais

O contexto dinâmico de redes implica em desenvolver a habilidade de lidar

eficazmente com relações interpessoais, de lidar com as pessoas de forma adequada às

necessidades de cada uma e às exigências da situação. Moscovici (2002) aduz que a

habilidade de relacionamento interpessoal desenvolve-se em presença de três componentes:

percepção, habilidade propriamente dita e relacionamento em si.

Os conhecimentos técnicos são suplementares para a gestão de rede

interorganizacional, o que implica em estabelecer, além de papéis e atribuições, padrões de

conduta que devem estar apoiados em princípios e valores, de modo que minimize os

efeitos negativos gerados pelo oportunismo, expropriação e comportamentos danosos à

coletividade. O alcance dos objetivos propostos pelos atores de redes interorganizacionais

requer, no entanto, instituir conceitos genéricos, com larga amplitude e validade. Importa

no desdobramento dos objetivos, entender a hierarquia e conceituar princípios, valores e

políticas.

66

A adoção e o compartilhamento de princípios e valores pelos atores podem

influenciar a conduta e o desempenho de rede interorganizacional, muito embora estes

princípios e valores possuam detalhamento pequeno, apresentam amplitude muito grande e

características genéricas. A aplicação consistente dos princípios pode firmar-se como

hábito comportamental e permitir transformações em indivíduos, relacionamentos e

organizações. À medida que valores e princípios perpassem e dêem suporte às políticas e

diretrizes da rede, acredita-se que a confiança permeará a gestão de redes.

Segundo Chanlat (1999), os valores, os papéis e as normas, como componentes

principais das organizações, podem definir e nortear seu funcionamento. Os papéis são

elementos discriminadores, eles diferenciam os indivíduos a partir dos cargos e funções a

eles atribuídos na organização, as normas e valores são elementos integradores.

Compreender a ação dos valores sobre a formação de competências em redes

interorganizacional é, sobretudo, contribuir para a perenidade da rede, uma vez que

corrobora ao processo de coordenação.

Importa sublinhar que a pesquisa incide sobre os relacionamentos entre indivíduos

ou entre grupos em meio organizacional. Como geralmente ocorre em casos que abordam

redes, especial atenção será dada ao papel de broker em situações amistosas e conflituosas,

que provocam efeitos positivos e danosos em rede. A fim de prover melhor compreensão

do papel de broker, o próximo capítulo apresenta os procedimentos adotados na coleta de

dados das redes de cooperativas agroindustriais e de biotecnologia. Os dados, descritos e

analisados no capítulo 4, servirão de referência para a proposição de diretrizes utilizadas

para identificação das relações interpessoais. Á luz dos modelos apresentados no tópico

2.4.4, o capítulo 5 apresenta uma proposta de diretrizes para a gestão das relações

interpessoais em redes interorganizacionais.

No que tange aos modelos de gestão das relações interpessoais considerados, Miles

e Snow (1992) representam a estrutura das diretrizes para gestão das relações interpessoais

propostas, porque apresentam um modelo que avança em direção da identificação dos

papéis formais encontrados no bojo de redes interorganizacionais. A denominação de

arquitetos, lead operator e care taker os agencidores do processo ou animadores da rede

foi intensamente utilizada na geração do modelo, visto que foi considerada pertinente.

O modelo de Alvarez, Silva Filho e Proença (2002) apresenta relevância porque

serviu de referência para a construção do roteiro de entrevistas, uma vez que foi pensado

67

para os níveis infra-estrutura, proposta da rede e funcionamento da rede. O modelo de

gestão de redes proposto pelos autores contempla a definição de atores e de elementos

direcionadores da ação coletiva e o funcionamento da rede. O modelo de Böhe e Silva

(2004) foi arrolado para a elaboração das diretrizes para a gestão das relações interpessoais

no estágio de consolidação de redes interorganizacionais. Sua contribuição repousa nas

evidências relacionais e contratuais práticas advindas do Programa de Redes de

Cooperação de Empresas do Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

Ambas abordagens deixam uma série de lacunas. Como vários autores têm

sugerido, as redes informais devem ser consideradas como elemento de diferenciação,

inovação, aprendizagem, trabalho, social e carreira. Neste sentido, incorpora-se o modelo

proposto por Stephenson (2003), considerando-se que abrange as redes informais e

caracteriza os papéis relevantes dos atores de redes interorganizacionais.

Não obstante, as relações provenientes da abordagem tipicamente econômica

poderão ser adotadas quando suas contribuições corroborarem à dinâmica das relações

interpessoais de redes interorganizacionais. O relacionamento em rede será efetivamente

considerado a partir do envolvimento e interação de vários atores da rede. Além de se

interessar por relacionamentos interpessoais em rede, o presente trabalho postula que

determinados relacionamentos em rede apresentam certo número de características

generalizáveis, independente do nível de análise.

Pretende-se avançar no estudo sobre como as relações interpessoais influenciam e

estão estruturando a coordenação de redes interorganizacionais, analisando os papéis com

uso de técnicas, cujos aspectos metodológicos serão explorados na próxima seção.

68

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Descreve-se nesta seção o desenho metodológico utilizado para tratar o problema

identificado ao final da revisão bibliográfica e colocado como objetivo do trabalho. A

caracterização da pesquisa visa nortear o leitor, possibilitando-lhe participar da evolução

da abordagem em redes interorganizacionais.

3.1 Caracterização da pesquisa

A pesquisa apresenta natureza aplicada, pois contribui com fins práticos e seus

resultados podem ser imediatamente aplicados ou utilizados na solução de problemas que

ocorrem na realidade (MARCONI; LAKATOS, 2001). A pesquisa aplicada visa, pois,

gerar conhecimentos voltados para a prática e dirigidos à solução de problemas específicos.

Do ponto de vista da forma de abordagem do problema, a pesquisa é considerada

qualitativa, uma vez que é empregada, sobretudo, para explicar fenômenos de natureza

social. Na pesquisa qualitativa procura-se fazer análise de profundidade e as inferências

têm como referência a própria teoria. Conforme comenta Richardson (1999), o método

qualitativo distingue-se do quantitativo, porque o primeiro, em princípio, não emprega um

instrumental estatístico como base no processo de análise de um problema e não pretende

numerar ou medir unidades ou categorias homogêneas. O segundo, caracteriza-se pelo

emprego da quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no

tratamento delas por meio de técnicas estatísticas.

Quanto aos seus objetivos, a pesquisa classifica-se como exploratória. Segundo Gil

(1999, 2002), esse tipo de pesquisa visa identificar os fatores que determinam ou

contribuem para a ocorrência de fenômenos, ao aprimoramento de idéias ou a descoberta

de intuições e aprofunda o conhecimento da realidade porque explica a razão, o porquê das

coisas, utilizando-se do método observacional para explicação dos fatos. Normalmente,

assume a forma de pesquisa bibliográfica ou de estudo de caso e envolvem levantamento

bibliográfico, entrevistas com pessoas e análise de exemplos facilitadores da compreensão

do problema.

69

A investigação do fenômeno de pesquisa, eminentemente social, requereu a adoção

de métodos e técnicas de pesquisa social. Por isso, o estudo procurou coerência científica e

adequação aos contornos da pesquisa social ao adotar as estratégias metodológicas

descritas a seguir.

3.2 Delineamento da pesquisa

A pesquisa é desenvolvida mediante o concurso dos conhecimentos disponíveis e a

utilização cuidadosa de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos (GIL, 2002).

A amplitude das estratégias e táticas de pesquisa requeridas nesta pesquisa deveu-se ao

fato de que não se dispõe de informação suficiente para responder ao problema e, também,

em função do estado da informação disponível, não podendo ser adequadamente

relacionado ao problema.

Existem diferentes abordagens para resolução de problemas que requerem

diferentes estratégias metodológicas. Qualquer tipo de estudo pode se valer de métodos

quantitativos e qualitativos. Nas pesquisas qualitativas procura-se fazer análise de

profundidade e as inferências têm como referência a própria teoria (HOLANDA; RICCIO,

2003). Recomendam ao pesquisador, em presença desta profusão de abordagens,

consorciar métodos e técnicas, levando-se em conta a natureza, a abordagem, os objetivos

do problema e os procedimentos técnicos.

Segundo Alves-Mazzotti e Gewandsznadjer (2001), design da pesquisa significa

desenho ou planejamento, corresponde ao plano e às estratégias utilizadas pelo pesquisador

para responder às questões propostas pelo estudo, incluindo os procedimentos e

instrumentos de coleta, análise e interpretação dos dados, bem como a lógica que liga entre

si diversos aspectos de pesquisa. A pesquisa derivou-se da definição do problema de

pesquisa. De acordo com Gil (2002), o elemento mais importante para a identificação de

um delineamento é o procedimento de coleta de dados, que pode ser definido em duas

vertentes: aqueles que se valem das chamadas fontes de papel e aqueles cujos dados são

fornecidos por pessoas. No primeiro grupo estão a pesquisa bibliográfica e a pesquisa

documental. No segundo grupo estão as pesquisas experimentais, a pesquisa ex-post-facto,

o levantamento e o estudo de caso.

70

Este processo investigativo incorpora a pesquisa bibliográfica e estudo de caso. O

quadro 6 evidencia o design da pesquisa, descrevendo etapas, métodos e técnicas adotados.

Etapas do processo depesquisa

Método Técnica

Formulação do problema Levantamento bibliográfico Fichamento

Definição da unidade-caso Pesquisa bibliográfica Elaboração do protocolo dapesquisa

Análise documental

EntrevistaColeta dos dados

Estudo de casos múltiplosmodalidades intrínseco einstrumental

Pesquisa-ação

Análise de dados Natureza qualitativa Quadro comparativo dos modelosestudados

Quadro 6 - Design da pesquisa – Etapas do processo de pesquisa

O design da pesquisa revela os procedimentos técnicos empregados na

investigação, compreendendo as fases de formulação do problema, coleta e análise de

dados. A pesquisa utiliza o levantamento bibliográfico como técnica de identificação do

problema. Para a identificação das relações interpessoais na constituição de rede

interorganizacional, problema de natureza qualitativa, utilizou-se da técnica de entrevista e

da pesquisa-ação em estudo de casos múltiplos em duas redes interorganizacionais: de

biotecnologia e de cooperativas agroindustriais.

A figura 7 sumariza o processo investigativo que resultou na geração de diretrizes

para a gestão das relações interpessoais em rede interorganizacional. A pesquisa partiu da

revisão bibliográfica e, posteriormente, os estudos de caso agregaram valor, pois

possibilitaram a coleta e construção de resultados.

71

Figura 7 - Representação da geração do modelo

O mapeamento das relações interpessoais implicou em ação interdisciplinar e

foco na realidade organizacional, amparando-se na dualidade ator-rede e nos princípios de

papéis. O modelo tem caráter prático, pois foi edificado com base em reiterados exercícios

de observação e sistematizado a partir da experiência s redes mencionadas. Com relação ao

uso, classifica-se como institucional, pois envolve redes sociais existentes no âmbito de

toda rede interorganizacional. Quanto à gestão das relações interpessoais, o modelo

proposto associa os estágios evolutivos de rede interorganizacional à emergência de atores

no desempenho de papel de broker. Conforme referencial teórico, broker é um papel

desempenhado por atores, que atuam como agenciadores da rede.

A complementaridade das técnicas adotadas na coleta de dados pode ser, em parte,

justificada por Richardson (1999, p. 82), que ressalta:

A observação, quando adequadamente conduzida, pode revelarinesperados e surpreendentes resultados que, possivelmente, nãoseriam examinados em estudos que utilizassem técnicas diretivas.Com a observação podem-se obter informações sobre fenômenosnovos e inexplicados que, de certo modo, desafiam nossacuriosidade. E, com respeito a esse tipo de observação, podemosdizer que sua função é descobrir novos problemas.

Em se tratando de estudos de casos, conforme menciona Yin (2001), o

estabelecimento da unidade de análise corresponde à definição do caso. O protocolo do

Pesquisa em campo Estudos de caso

Revisão da literatura

Diretrizes para gestão das relações interpessoais em redes interorganizacionais

Amostra Instrumento de coleta

Análise e construção de resultados

Modelo

Metodologia

72

estudo de caso deve apresentar quatro seções: a) visão geral do projeto: informações acerca

dos propósitos, cenário do estudo de caso e a literatura referente à rede interorganizacional;

b) procedimento de campo: aqueles que envolvem acesso à organização ou informantes,

material e informações gerais; c) determinação das questões: lembranças acerca das

informações que devem ser coletadas e devem ser acompanhadas das prováveis fontes de

informação; e, d) guia para elaboração do relatório: elaboração do relatório paralelamente à

coleta de dados, resumo, formato da narrativa. O desdobramento do protocolo dos estudos

de caso seguiu a seguinte sistemática:

- acesso aos atores-chave: após o reconhecimento das redes, identificaram-se os

atores responsáveis, cuidando-se de agendamento prévio para as entrevistas.

Aplicou-se o roteiro de entrevista (Apêndice A) com duração aproximada de 1,5

hora;

- recursos de campo: o entrevistador utilizou-se de roteiro de entrevista, gravador

de fita de cassete, folhas e dados do orientador;

- agenda para atividade de coleta de dados: na mesma folha do procedimento para

assistência, identificou-se a agenda de entrevista. Utilizou-se como fonte de

evidências anotações das reuniões da rede de biotecnologia.

Yin (1989) considera as questões do caso a essência do protocolo. O conjunto de

questões substantivas reflete o objeto de investigação. O quadro 7 evidencia o protocolo

da, discriminando as fases da pesquisa e o roteiro de entrevista e seus respectivos blocos

que, para melhor compreensão dos relacionamentos interpessoais, foram divididos de

acordo com os três estágios de constituição de rede interorganizacional .

Fases Roteiro de entrevista

I - Coleta de informações para compreensão do processo de organizaçãoe formação da rede

Bloco I

II – Identificação das relações interpessoais e papéis no estágio dedesenvolvimento de rede

Bloco II

III – Identificação das relações interpessoais e papéis no estágio deconsolidação de rede

Bloco III

Quadro 7 - Protocolo de pesquisa e roteiro de entrevista

73

3.3 População, unidade de análise e amostra

O pesquisador em sua atividade cotidiana pode deparar-se com relativa dificuldade

quando busca explorar todos os ângulos de um fenômeno, num tempo razoavelmente

limitado. A situação pode ser contornada à medida que o sujeito estabelece foco na

investigação e define os contornos do estudo. Para tanto, fez-se necessário definir,

selecionar, recortar a população para atingir o propósito da pesquisa e de modo a obter uma

compreensão mais completa da situação estudada.

População ou universo, é um conjunto definido de elementos que possuem

determinadas características (GIL, 1999). No estudo de caso rede de biotecnologia o

universo da pesquisa é de cinqüenta indivíduos ou organizações, podendo-se notar o

relacionamento entre a empresa detentora da patente da biotecnologia e vinte seis empresas

concessionárias, onze agenciadores de negócio nacionais e cinco agenciadores de negócio

internacionais. Ainda participam da rede, instituições de ensino, pesquisa e extensão,

governo, organizações não governamentais e fornecedores de máquinas e equipamentos.

No caso rede de cooperativas agroindustriais, o universo pesquisado compreende as

empresas agroindustriais lácteas do ramo cooperativado do estado de Minas Gerais.

Em estudos de caso a unidade de análise é o caso em investigação. Pode ser um

evento, um tipo de entidade ou ainda algum tipo de processo como implantação de

mudança organizacional (Gil, 2002). Considerando a pergunta de pesquisa que norteia este

estudo e admitindo que possam surgir diferenças nas percepções e decisões relacionadas às

redes, duas opções de unidade de análise surgiram: indivíduo e organização. Portanto,

optou-se pelos atores como unidade de análise, face às relações interpessoais das redes

interorganizacionais de biotecnologia e de cooperativas agroindustriais. O papel de brokers

no processo de constituição das redes de biotecnologia e de cooperativas foi definido como

nível de análise da pesquisa.

A pesquisa apresenta uma amostragem não probabilística, do tipo acessibilidade ou

por conveniência. Ressalta-se que a constituição das duas redes não ocorreu no mesmo

período. A rede de biotecnologia encontrava-se no estágio de formação, evidenciando uma

cronologia atual. Já, o estudo da rede de cooperativas agroindustriais compreendeu o

período de 1995 a 1997, caracterizando um estudo de natureza histórico-longitudinal.

Segundo Abreu (1995), os estudos retrospectivos são fundamentais porque permitem a

74

comparação dos fatos no decorrer de um período de tempo. O período de tempo

considerado foi coincidente com a época de articulação do processo da rede de

cooperativas agroindustriais.

A pesquisa não contemplou todos os elementos que compõem a população, pois

apresentava restrições devido a questões de tempo, dinheiro. Assim, definiu-se uma

amostra, que segundo Rudio (1986) e Gil (1999) significa parte representativa da

população, um subconjunto do universo ou da população selecionada de acordo com uma

regra ou plano, por meio do qual se estabelecem ou se estimam as características desse

universo ou população.

A rede de biotecnologia apresentava dez categorias de atores envolvidas no

processo de transferência de tecnologia e, para sua operacionalização, escolheu-se três

representantes de cada categoria, totalizando uma amostra de trinta. Por outro lado, o

tamanho da amostra da rede de cooperativas agroindustriais é de dez cooperativas

singulares. A escolha intencional, o que para muitos possa parecer um viés da pesquisa,

está de pleno acordo com Gil (1999), que argumenta favoravelmente acerca da facilidade

de acesso entre as partes como facultador de condições adequadas da pesquisa, e nesta

pesquisa, favoreceu a definição prévia do tipo e tamanho da amostra e a identificação dos

atores.

O conhecimento prévio entre sujeito e objeto de pesquisa, anterior à formulação do

problema, reforça a escolha desse tipo de amostragem. A facilidade de acesso entre as

partes argumenta favoravelmente, na medida em que facultou condições adequadas para

identificação dos atores da rede e definição prévia do tipo e tamanho da amostra.

3.4 Instrumentos de coleta de dados

A pesquisa iniciou-se com a realização do levantamento bibliográfico e a

observação de redes, objetivando identificar uma lacuna na abordagem interpessoal de

redes interorganizacionais para auxiliar na formulação do problema. Nesta etapa,

empregou-se o fichamento como técnica de suporte da pesquisa científica.

75

A observação como instrumento de coleta de dados foi determinante no processo

investigativo, na medida em que esta técnica possibilitou a obtenção de elementos de

identificação, caracterização e definição do problema de pesquisa. Chizzotti (2000) ressalta

que a observação direta permite uma visão fina dos componentes de uma situação e

caracteriza-se por uma partilha completa, duradoura e intensiva da vida e da atividade dos

participantes.

Ainda no que se refere a observação, Alves-Mazzoti e Gewandsznajder (2001)

assinalam que o tipo de observação característico dos estudos qualitativos é a observação

não estruturada, na qual os comportamentos a serem observados não são predeterminados.

Para Rudio (1986), a observação pode ser: a) assistemática, uma vez que se realiza sem

planejamento e controle; e, b) sistemática, pois acontece em condições controladas para se

responder a propósitos que foram anteriormente definidos.

A realização da pesquisa bibliográfica possibilitou a definição da unidade-caso,

momento em que se procurou cotejar os modelos de gestão das relações interpessoais em

redes interorganizacionais encontrados na literatura. A segunda etapa apresentou como

finalidade caracterizar papéis dos atores em rede nas etapas de constituição, identificando-

se os reflexos nos relacionamentos e na estrutura de redes interorganizacionais.

O método de estudo de múltiplos casos, associado aos procedimentos técnicos, foi

adotado para verificar ou validar os modelos de gestão das relações interpessoais em redes

interorganizacionais levantados na literatura. A escolha recaiu sobre o estudo de múltiplos

casos, porque este tipo de estudo confere maior confiabilidade e complementação do

achados referentes ao fenômeno em estudo, para permitir que a estrutura a ser proposta

tenha uma maior validade (YIN, 1994).

De acordo com Yin (1994), o método de estudo de caso é uma estratégia adequada

quando se realiza uma inquisição empírica investigativa de um fenômeno contemporâneo

dentro do seu contexto apropriado, quando os limites entre o fenômeno e o contexto não

são claramente evidentes e no qual múltiplas fontes de evidências são usadas.

Adicionalmente, considera que o estudo de caso permite levantar características

significativas e sistêmicas de eventos em tempo real como processos organizacionais e

gerenciais. Pode ser usado para explicar ligações em intervenções reais; descrever o

contexto real no qual uma intervenção ocorreu e explorar situações nas quais a intervenção

76

em estudo não tem resultados claros. Vale ressaltar que uma das características deste

método é demonstrar que os conceitos ensinados são passíveis de uso, auxiliando a fixação

dos conteúdos.

Segundo Stake (2000 apud GIL, 2002) existem três modalidades de estudo de caso:

intrínseco, instrumental e coletivo. O critério de seleção do método de estudo de caso deve

convergir para o propósito da pesquisa. Optou-se pelo estudo de caso instrumental porque

esta modalidade visa auxiliar no conhecimento ou na redefinição do problema, onde o

pesquisador não revela interesse específico no caso, mas reconhece que pode ser útil para

se alcançar determinados objetivos.

3.4.1 Técnicas de coleta de dados na rede de cooperativas agroindustriais

A coleta de dados da rede de cooperativas agroindustriais situou-se dentro de um

design de pesquisa mais amplo, facultando o emprego de procedimentos técnicos e,

também, requerendo a adoção de outros métodos e técnicas para a análise de dados. Para

atingir o objetivo da pesquisa, utilizou-se de múltiplas fontes de evidência, visto que estas

conferem significância a seus resultados (Yin, 2001). Foram coletados dois tipos de dados:

primários e secundários.

Os dados primários: aqueles coletados pela primeira vez pelo pesquisador com

vistas a materializar os objetivos da pesquisa em andamento. A coleta de dados primários

empregou-se a técnica de entrevista.

Richardson (1999, p. 207) pondera que a “entrevista é uma técnica importante que

permite o desenvolvimento de uma estreita relação entre as pessoas”, e conduz um

indivíduo a projetar-se no outro, permitindo-lhe participar na mente de outro ser humano

por meio da interação face a face, que por sua vez apresenta caráter, inquestionável, de

proximidade entre as pessoas.

As entrevistas foram do tipo semi-estruturadas, com questões pertinentes ao objeto

de estudo. As entrevistas enquadradas neste tipo podem ser realizadas pelo pesquisador,

dispensando treinamento de terceiros para sua aplicação. Anteriormente à aplicação da

entrevista, houve a remessa de correspondência, negociando o agendamento e antecipando

objetivos e informações do conteúdo a serem tratados com o entrevistado.

77

O período considerado na coleta foi de sessenta dias, compreendendo os meses de

setembro e outubro de 2004, tempo em que o entrevistador contatou os entrevistados. Na

fase inicial, elaborou-se o instrumento preliminar de coleta de dados, pois, conforme

destaca Richardson (1999), a aplicação de pré-teste do instrumento de coleta minimiza

falhas e imperfeições.

Inicialmente, procurou-se dar uma abordagem básica às entrevistas, adicionando-se

especificidades, em função das respostas fornecidas pelo respondente. Foram entrevistados

representantes da comissão de constituição da rede de cooperativas agroindustriais, dos

conselhos administrativo e fiscal das cooperativas singulares, dos quadros sociais das

cooperativas singulares, da comunidade em geral, da mídia e do Poder Público Municipal.

Os dados secundários: são aqueles que já foram coletados, tabulados, ordenados e,

às vezes, até analisados, com propósitos outros de atender às necessidades da pesquisa em

andamento, e que se encontram à disposição do pesquisador. A técnica utilizada foi a

análise documental.

O mundo contemporâneo carrega uma série de inovações tecnológicas que

sustentam uma variedade de elementos com valor documental para as Ciências Sociais,

além de documento escrito e de estatística. Para Richardson (1999), objetos, elementos

iconográficos, documentos fotográficos, fonográficos e videocassetes constituem-se em

fontes de informações referentes a fenômenos sociais, muitas das vezes de maneira

dispersa e fragmentária. Adicionalmente, coloca que a base da observação documental tem

como objeto não os fenômenos sociais, quando e como se produzem, mas as manifestações

que registram estes fenômenos e as idéias elaboradas a partir deles.

A análise documental consiste em “uma série de operações que visam estudar e

analisar um ou vários documentos para descobrir as circunstâncias sociais e econômicas

com as quais podem estar relacionadas” (RICHARDSON, 1999, p.230). Considera que o

método mais conhecido de análise documental é o método histórico que consiste em

estudar os documentos visando investigar os fatos sociais e suas relações com o tempo

sócio-cultural-cronológico.

O desenvolvimento da pesquisa demandou a consulta em periódicos, documentos

internos de uma cooperativa singular envolvida no processo de formação da rede de

cooperativas. Foram examinados registros de arquivos, livros e fontes de estatísticas e se

78

obteve dados através de consulta a publicações especializadas, revistas e jornais

especializados.

A análise documental organizou-se em três fases: a pré-análise, a análise do

material e o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação (RICHARDSON,

1999). A leitura dos documentos, conforme recomendam Marconi e Lakatos (2001) foi

seletiva, reflexiva e interpretativa, isto é, foram consideradas as informações pertinentes e

úteis que possibilitaram a confirmação, negação, retificação ou negação do objetivo do

estudo.

Ainda no que se refere a etapa de coleta de dados, é importante frisar que os

respondentes foram acessíveis à entrevista, porém barreiras foram percebidas no momento

de busca documental de domínio da empresa. Os contatos com a organização estenderam-

se, com vistas a dirimir dúvidas e ampliar compreensão da realidade. A realidade percebida

do estudo de caso, combinada com procedimentos diversos, buscou adicionar valor ao

levantamento bibliográfico, à análise documental e à entrevista e possibilitou encaminhar

os dados coletados para tabulação, tratamento e análise.

3.4.2 Técnicas de coleta de dados da rede de biotecnologia

As relações da rede de biotecnologia são interpretadas como fenômeno e, então,

atribuídos significados. O pesquisador constitui-se em instrumento-chave neste processo e

o fenômeno constitui-se em fonte direta para a coleta dos dados. A coleta de dados da rede

de biotecnologia empregou método e técnica centrados na pesquisa-ação.

De acordo com Holanda e Riccio (2003), a investigação é definida como pesquisa-

ação quando concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a

resolução de um problema coletivo, onde pesquisador e atores da rede envolveram-se de

modo cooperativo ou participativo. O processo da pesquisa ação começa com a

identificação de um problema no seu contexto particular, seguido da coleta de dados por

meio da utilização de entrevista e identificação das necessidades de mudança e a direção

que essa mudança pode tomar. Finalmente, analisa-se e gera-se solução ao problema

identificado. Consideram ainda, como objetivo secundário da pesquisa-ação, a geração de

melhoria de entendimento do grupo de trabalho sobre o problema, por meio da

79

colaboração. Como obter colaboração não é tarefa fácil, o autor recomenda utilizar a

pesquisa-ação.

A definição de pesquisa-ação remonta da década de cinqüenta, quando se percebeu

a lacuna entre a ação social e teoria social e a falta de colaboração entre investigadores e

profissionais. A pesquisa-ação abrange as atividades que pretendem promover mudança no

grupo, nas organizações ou nos demais segmentos da sociedade. A maioria dos autores

concorda que a pesquisa-ação consiste em ciclos de planejamento, ação, reflexão ou

avaliação, e mais adiante ação (HOLANDA; RICCIO, 2003).

O desenvolvimento da pesquisa foi consoante com o processo de formação da rede

fato que propiciou aos participantes uma atuação associativa e cooperativa. A pesquisa

permitiu, no decorrer do processo, fazer o monitoramento, pontuar e propor intervenções,

quando necessárias, em todos os momentos do desenvolvimento da rede. Estas atividades

acomodam-se no conceito de pesquisa-ação, pois são concebidas e realizadas em estreita

associação com o processo de formação da rede ou com a resolução do problema coletivo.

A seleção entre várias alternativas de método de pesquisa incitou a distinção entre

pesquisa-ação. Thiollent (1985 apud Gil, 1999, p.47) define pesquisa-ação como “um tipo

de pesquisa social com base empírica, que é concebida em estreita associação de uma ação

ou com a resolução de um problema coletivo e no qual o pesquisador e participantes

representativos da situação e do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou

participativo”.

Jorgensen (1989); Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2001) enfatizam que a

observação participante apresenta níveis variáveis de participação do observador e,

ponderam ainda, que o nível de exposição de seu papel de pesquisador aos outros membros

do grupo estudo é igualmente variado, embora geralmente se associe a observação

participante à imersão total do pesquisador no contexto, inclusive passando o mesmo a ser

membro do grupo.

80

4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Este capítulo caracteriza as redes interorganizacionais utilizadas como estudo de

caso. Após a descrição, analisam-se os dados coletados, na tentativa de elucidar as relações

interpessoais e identificar atores e o papel de brokers nas redes interorganizacionais

pesquisadas.

Conforme descreve Nigel (1993, apud RICHARDSON, 1999), o processo de

análise das informações deve envolver transcrição das anotações obtidas na coleta de

dados; procura de categorias e pautas; destaque e seleção de dados; elaboração de esquema

de análise. As distintas realidades de rede, tomadas como referência de pesquisa, serviram

de base para a identificação das relações interpessoais em redes interorganizacionais, bem

como para verificação do papel de brokers, atividades e relacionamentos na constituição

das redes de cooperativas agroindustriais e de biotecnologia.

As operações lógicas e mentais que constituíram o desenvolvimento desta pesquisa

apontam a rede interorganizacional como variável dependente e, para tanto, foi realizada

revisão de literatura acerca de temas relacionados com a variável dependente visando

reciclar e/ou melhorar o conhecimento sobre o assunto e identificar um modelo de gestão

das relações interpessoais pelas organizações escolhidas como caso para estudo.

As relações interpessoais, apreciadas como variáveis independentes, foram objeto

de revisão de literatura para identificar fatores limitadores e/ou estimuladores das relações

interpessoais em rede interorganizacional. Em relação ao modelo de gestão, considerado

variável interveniente, dado suas características que levam a determinados impactos, foi

necessário revisar na literatura com a finalidade de: reciclar e/ou melhorar o conhecimento

sobre o assunto; identificar a relação entre modelos de gestão de relações interpessoais e

rede interorganizacional; modelar as características dos modelos de gestão das relações

interpessoais que podem influenciar redes interorganizacionais; e, escolher modelo de

gestão que coordene as relações interpessoais e leve à rede interorganizacional desejada.

A avaliação das variáveis na pesquisa ocorreu mediante a identificação das relações

entre modelos de gestão das relações interpessoais e rede interorganizacional; identificação

de características do modelo de gestão que podem influenciar as redes

81

interorganizacionais; escolha de modelo de gestão que coordene as relações interpessoais e

que leve à rede interorganizacional desejada.

Desta forma, o desenvolvimento teórico e prático da pesquisa, conduzido por uma

estratégia investigativa, teve como base de articulação um conjunto de fatores

comportamentais que limitam e/ou estimulam as relações interpessoais – aqui chamadas

variáveis independentes - em redes interorganizacionais, eleita como variável dependente.

A gestão opera como variável interveniente e, especificamente, com reflexos no

gerenciamento do uso das relações interpessoais no processo de desenvolvimento de redes

interorganizacionais.

A partir da caracterização e avaliação das redes de cooperativas agroindustriais e de

biotecnologia realizam-se inferências para ajudar na proposição de um modelo de gestão

das relações interpessoais em redes. Tanto o bionegócio quanto o agronegócio cooperativo

brasileiro respondem por parcela significativa da economia nacional. Compreendem

extensa rede de agentes econômicos e sociais. Ambos sistemas invocam uma conceituação

preliminar, a fim de oferecer ao leitor melhor compreensão da temática exposta no

trabalho.

4.1 Rede de cooperativas agroindustriais

O agronegócio ou agribusiness pode ser entendido como somatório das operações

de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas

unidades agrícolas, do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos

agrícolas e itens produzidos a partir deles (GOLDBERG, 1957 apud BATALHA, 1997).

O empreendimento cooperativado é um sistema articulado de pequenas empresas

independentes, e assim tem como atribuição fundamental, e como vantagem de negócios, a

possibilidade de articular todo esse sistema de produção ou prestação de serviços

(BIALOSKORSKI NETO, 2000). Cabe destacar que no ato cooperativado, o cooperado

assume diferentes papéis: ora atua como usuário, cliente, gestor e proprietário, fato que,

por vezes, pode causar confusão funcional e comportamental.

82

O arranjo estratégico das cooperativas singulares sob uma estrutura organizacional

que privilegia o formato em rede visa a simetria de informações, o compartilhamento

recursos e competência e valores adicionados aos atores (GONÇALVES, 1996). A

arquitetura de rede encaminha os empreendimentos cooperativados agroindustriais para a

competitividade, uma vez que a estrutura inovadora dos empreendimentos cooperativados

apóia-se em instrumentos de gestão como aliança empresarial, parceria e organiza-se em

torno da cooperação e da confiança. A constituição de rede interorganizacional de

cooperativas agroindustriais implicou em crescente processo de agregação e adição de

valor por parte das cooperativas singulares envolvidas. Agregar valor às cooperativas

associadas e, por conseguinte, adicionar valor aos cooperados, constituíam-se em

motivação e propósito da rede e alternativa de perenidade para o sistema.

O estudo de caso de rede de cooperativas agroindustriais evidencia o esforço

empreendido no planejamento, organização e coordenação de uma rede ou central

cooperativada, a partir de cooperativas singulares de produção de leite. O modelo

verificado na formação e desenvolvimento da rede interorganizacional de cooperativas

agroindustriais permite considerar tipologias e estruturas organizacionais e fazer

inferências acerca do relacionamento entre atores, destacando-se as relações informais e

redes invisíveis que ocorrem e se formam no âmbito de redes interorganizacionais.

Os empreendimentos cooperativados surgem, então, como modalidade ou forma

alternativa de organização que, por um lado, buscam possibilitar a inserção de pessoas ou

pequenos grupos de empresas no mercado, com objetivo ou fins comuns, seja de

compartilhar informação, infraestrutura, difundir tecnologia e agregar valor à atividade.

Por outro lado, este sistema organizacional pode ser precursor da inovação e, não apenas,

meio de compartilhamento de inovações propriamente dita.

O delineamento da rede de cooperativas agroindustriais demanda, preliminarmente,

a contextualização dos ambientes político-legal e sócio-institucional cooperativista, e

envolve definições conceituais e apreciação crítica do cenário, tendências e perspectivas

para o ramo agroindustrial cooperativista em nível internacional, nacional, estadual e

regional.

83

4.1.1 Ambiente e perfil institucional

As economias empresariais cooperativas apresentam-se como sistema

organizacional híbrido, à medida que se posicionam entre as economias próprias dos

cooperados e o mercado. As cooperativas configuram-se como estrutura intermediária,

formada a partir da ação coletiva espontânea, e apresentam uma arquitetura organizacional

distinta, inclusive na distribuição de direitos de propriedade.

A organização cooperativa mostra ser superior às alternativas quando os agentes

que nela atuam ou agem cooperativamente sem a necessidade de monitoramento, sem

oportunismo e buscando alcançar os interesses coletivos. Entretanto, quando o

comportamento foge deste padrão, surgem custos, idênticos àqueles encontrados nas

empresas não-cooperativas (BIALOSKORSKI NETO, 2000).

Os imperativos da competitividade induzem alianças e formação de redes intra e

interorganizacionais. Os mercados agroindustriais, ora globalizados, acenam para

economias de escala e de escopo como condicionantes de competitividade. Esta lógica de

mercado implica na adoção de princípios como ajuda mútua, solidariedade, entre outros, e

impele empresários à associação e cooperação na tentativa de sobrevivência.

De acordo com Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o cooperativismo

brasileiro congrega 7.549 cooperativas e mais de cinco milhões de associados,

respondendo por 6% do Produto Interno Bruto (PIB) e com volume de exportação de 1,09

bilhão de dólares. O agribusiness cooperativo lácteo, por sua vez, apresenta 353

cooperativas de leite no Brasil, verificando que deste total 47,3% situavam no sudeste,

27,5% na região sul, 15,3% no norte-nordeste e 9,9% na região centro-oeste do país

(ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS, 2002).

Em 2002, os empreendimentos cooperativados captaram 59,8% da produção

nacional de leite, com destaque para o sudeste brasileiro responsável por quase metade do

volume total captado. Em nível estadual, as cooperativas gaúchas representam 73,7% do

volume estadual captado, 62,1% do leite no Rio de Janeiro são oriundos de cooperativas e

52,6% do leite captado em Minas Gerais passam por suas cooperativas (IBGE, 2002).

O Brasil apresentava em atividade 1,5 milhão de produtores de leite, em 1980. Já

em 2001, o contingente foi reduzido quase pela metade em função do dispositivo legal de

84

ajustamento às normas sanitárias internacionais. Prevê-se que até 2005, data limite de

implantação do processo de granelização, uma exclusão ainda maior do vetor produtivo de

pequenos produtores de leite. Este cenário reflete uma profissionalização do setor e implica

em posicionamento estratégico por parte dos empreendimentos cooperativados.

4.1.2 Caracterização da rede de cooperativas agroindustriais

As cooperativas singulares de produção agroindustrial, comumente, originam-se da

necessidade de integração e da visão de futuro de líderes que imbuídos de princípios e

valores, persuadem e mobilizam pessoas em torno de objetivos comuns. Observa-se que,

normalmente, na fase inicial de implantação, face à limitação da capacidade de

investimento dos sócios, cooperativas de produção de leite optam por fornecer leite cru

resfriado granelizado a terceiros, processo industrial que requer aporte de tecnologia

simples, riscos reduzidos e conhecimento relativo do mercado.

Em outro extremo, à medida que as cooperativas singulares desenvolvem

capacidades e novas competências, tendem a questionar papéis, diretrizes, políticas e

relação de (in)dependência entre os atores do processo de comercialização. A partir daí,

observa-se tendência para rompimento de contratos e, as cooperativas, aspirando melhor

remuneração do produto e geração de trabalho e renda na localidade, procuram instalar um

processo industrial na região de origem da produção.

O cenário exposto não divergia daquele no qual desenvolveram as cooperativas

singulares participantes da rede de cooperativas agroindustriais. O período compreendido

entre 1995 e 1997 coincidiu com a expansão de empresas existentes e ingresso de novos

entrantes na região, acirrando a concorrência, conferindo poder de barganha aos produtores

e ameaçando os empreendimentos cooperativados de expropriação de associados. Neste

sentido, vale transcrever trecho do documento de apresentação da rede que dizia:

Por iniciativa de um grupo de cooperativas singulares e no anseiode conquistas e consolidação do sistema cooperativista e daprincipal atividade produtiva das envolvidas buscou-se a formaçãode um “pool” ou rede de cooperativas visando a captação damatéria prima, o processamento e a comercialização em conjunto,bem como tudo que resulte em aclive socioeconômico destas,sustentado na colaboração recíproca e no princípio de agregaçãode valores.

85

O cerne da proposta de formação da rede de cooperativas agroindustriais atrelava-

se à necessidade de sobrevivência dos empreendimentos cooperativados singulares. A rede

emergiu da necessidade de instauração de modelo de negócio que garantisse a

competitividade e perenidade, seja por meio da integração de processos ou da confluência

de produtos em torno de uma marca ou identidade regional.

As cooperativas singulares apresentavam-se circunscritas em oito municípios

adjacentes com captação aproximada de 15 milhões de litros por mês, que se sustentavam

em sua base mais larga em pequenos produtores de leite. Este fato, por si, guardava estreita

relação de dependência entre fornecedor e indústria, e firmava a atividade leiteira como

atividade-fim e indutora da economia dos municípios em questão. Aclives e declives dos

preços pagos aos produtores provocavam reflexos imediatos e diretos nos demais setores

econômicos da região.

Em face da realidade evidenciada, as cooperativas passam a perceber que a inserção

competitiva no mercado nacional mantinha relação com a união e otimização de

competências e capacidades das singulares. As diretrizes que norteiam as ações da rede de

cooperativa eram promoção de simetria de informações e o compartilhamento de

competência e capacidade de proporcionar eficácia e otimização de recursos e infra-

estrutura, com ganhos de escala. A propósito, um dos entrevistados mencionou que:

[...] o produtor, que muitas vezes desconhece as agruras domercado moderno, necessita que sua cooperativa ofereçainformação, proteção e, sobretudo, segurança negocial [...] Ascooperativas sempre serviram de indexador de preços para aconcorrência, justificando seu papel social. Cientes da necessidadede integração é premente a união das cooperativas singulares emuma rede, como forma de parceria e ferramenta para otimizar aconstituição e manutenção do processo de cooperação.

Encontros informais fomentaram a idéia de constituição da rede de cooperativas

agroindustriais, passando a ganhar aderência e força. Após cada reunião da política leiteira,

realizada mensalmente, encaminhava-se para o fortalecimento da idéia de cooperação entre

singulares. Daí, suscederam-se encontros entre líderes das singulares e destas com o

quadro social. Também foi realizada visita técnica a central de cooperativas equivalente,

bem como empreendeu-se esforço no sentido de familiarizar produtores, empresários e

representantes institucionais para a estratégia de cooperação entre cooperativas.

86

Na perspectiva de constituição da rede de cooperativas agroindustriais vale

transcrever trecho de correspondência da rede de cooperativas ao Programa Novas

Fronteiras do Cooperativismo do Departamento Nacional de Cooperativismo, solicitando

realização de estudo de viabilidade técnica:

A exemplo do sucesso obtido em vários setores da sociedade, quese uniram para receber determinados benefícios ou executartarefas, estas cooperativas singulares, num esforço para trazer ànossa região incremento nas áreas de tecnologia, gestão,capacitação e investimento decidem formar uma rede decooperativas. Visam ganhar poder de expressão, angariar subsídiose elementos eficazes e compatíveis com as suas atividades e àssuas necessidades para adaptação ao atual contexto nacional. [...]A nossa certeza é de que teremos grande apoio por parte desseinsigne Departamento, no incremento, no fomento na aplicaçãodidática nas áreas de capacitação de recursos humanos, interna eexternamente, gestão empresarial, transferência de tecnologias,estudo de interesses e captação de recursos.

4.1.3 Coordenação das relações interpessoais da rede de cooperativas agroindustriais

Os resultados de pesquisa da rede de cooperativas agroindustriais derivaram-se da

análise obtida a partir da transcrição do conteúdo das entrevistas realizadas e da

compilação das informações decorrentes da análise documental. A modelagem dos

relacionamentos da rede de cooperativas agroindustriais contribuiu na facilitação da

interpretação e da análise dos dados.

A modelagem consistiu no mapeamento dos atores, do papel desempenhado e das

conexões estabelecidas entre eles. Os relatos permitem realizar inferências sobre a

existência do perfil empreendedor e do agente de mudança. Segundo um dos participantes,

a rede de cooperativas agroindustriais originou-se da proposta de uma cooperativa com

visão empreendedora. No que se refere ao papel do empreendedor e do agente de

mudanças, é esclarecedor o depoimento de um presidente de uma cooperativa participante:

A competitividade da região, a autonomia das cooperativas e odesenvolvimento dos associados dependem da capacidade dearticulação em torno de um objetivo comum. Durante muito tempoatuamos de maneira isolada. Veja que, embora tenham maioresfacilidades de assegurar recursos, até as grandes empresas têmdemonstrado que a sobrevivência se relaciona com a capacidade deassociar, de viver em coletividade, de comunicar com outras tribos.

87

A dinâmica de fusão, aliança estratégica e parceria entre grandescorporações é notória e perceptível. Isto tudo remete ascooperativas ao compartilhamento e ao comprometimento entre aspartes, pois ações isoladas tendem a assegurar poucacompetitividade, como também não se ajustam aos princípioscooperativos.

O mapeamento facilitou a detecção de dois nós ou elos, que poderiam ser

denominados de irradiadores. A intensidade de fluxo de informações e a intermitência de

conexões com os demais asseguram a dois atores o papel de arquiteto de rede e irradiador,

respectivamente. Ambos exerciam relativa influência no processo de transferência de

tecnologia e de construção de rede.

Os instrumentos de coleta possibilitaram o reconhecimento de que as cooperativas

singulares proponentes da rede não apresentavam conhecimento sobre o conteúdo de rede,

isto é, do processo de organização de uma rede de cooperativas. Muito embora se tenha

buscado subsídios de conhecimento em outras centrais, os valores adicionados decorrentes

do processo de rede não pareciam claros para os atores.

As relações interpessoais da rede de cooperativas agroindustriais apresentaram

natureza dinâmica e complexa, requerendo esforços de coordenação desde o estágio inicial.

O processo de sensibilização e organização pode ser confirmado por meio da transcrição

do seguinte trecho de um documento oficial:

Todo trabalho de formação de grupo foi eivado de pesquisas,estudos e visitas em similares, sendo observado êxito em todos osaspectos. Busca-se a associação como forma de garantia mútua ecerteza de solidez do negócio, uma vez que a rede é uma iniciativade grande monta e os possíveis riscos serão amparados porpatrimônio solidário, não abalando a estrutura dos participantes.

A rede de cooperativas agroindustriais prescindiu de um robusto processo de

cooperação, da participação de atores capazes de construir relacionamentos edificados na

confiança. Decorre daí que o modelo para formação e desenvolvimento deve pautar na

gestão de relacionamentos, discernindo a influência das relações inter e intra-

organizacional e compreendendo a importância de analisar os diferentes tipos de arranjos

relacionais, capazes de promover interações e funcionalidades.

88

A emergência do perfil guardião de confiança poderia edificar os relacionamentos.

A ausência deste perfil compromete o processo de cooperação e impacta de forma decisiva

nos relacionamentos interpessoais da rede. A rede quando perpassada de confiança tem

ambiente de cooperação, sua gestão pauta-se em relacionamentos mais duradouros e,

comportamentos oportunistas de seus atores tendem a desaparecer.

Em nível interinstitucional, a constituição de rede de cooperativas agroindustriais

aproximou-se da noção de inovação e a difusão de uma tecnologia de gestão, de uma nova

forma de organização. Como estes processos ocorrem por meio de pessoas, estas deveriam

assumir diversos papéis em diferentes momentos do processo. No que diz respeito ao papel

de determinados atores, o depoimento de um dos entrevistados é esclarecedor:

Nós temos dificuldades de formar novas lideranças, que somentesurgirão por meio da informação e da educação cooperativista. Ocooperado e as cooperativas singulares não se preocupam com ainformação, não consideram-na valor para a tomada de decisão.Precisamos de acesso ao mercado e compete às cooperativasunirem-se, formando uma rede de informação para provereminformação para qualquer um, em qualquer tempo e em todo lugar.A rede deve participar do desenvolvimento das pessoas,propiciando condições favoráveis para determinados participantesse capacitarem, ou no mínimo, visitarem o mercado, coletar, tratare realizar a difusão as informações na rede.

O neofobia, a baixa capacidade de assunção de riscos, postura de ética

questionável, pouca disponibilidade financeira não se constituíram nos maiores óbices para

formação da rede de cooperativas agroindustriais. O problema central pareceu se relacionar

com a presença ou ausência de determinados atores, com papel de broker capaz de animar

o processo de cooperação em suas fases mais vulneráveis à falta de confiança.

A respeito do relacionamento entre atores e competências requeridas no processo,

vale transcrever um episódio de uma reunião das cooperativas participantes da rede:

A atuação profissional da rede de cooperativa implica em constituiruma equipe gestora treinada, capacitada e capaz de lidar com asmudanças decorrentes do novo posicionamento no mercado. Éimportante entender que o processo de desenvolvimento não éessencialmente endógeno e, por isso, temos que contar comcompetências externas, pessoas capazes de alavancar recursos detoda ordem. Se, detectada uma deficiência em marketing oufinanças, novas competências nestas áreas devem ser incorporadas.Só assim a rede poderá ser competitiva.

89

Os procedimentos metodológicos aplicados à rede de cooperativas agroindustriais

evidenciaram, com nitidez, a expressividade das redes invisíveis ou informais. A formação

da rede prescindiu da emergência de alguns papéis, citados no Quadro 3. A baixa

capacidade e cultura para cooperação interinstitucional, propósitos difusos e interesses e

projetos imprecisos detonaram um processo conflituoso nos relacionamentos interpessoais.

Os relatos permitem reforçar que a ausência de determinados brokers em momentos

de constituição de rede interorganizacional pode ser vital. No caso da rede de cooperativas

agroindustriais, parece que o delineamento de papéis não ficou claro entre os participantes.

Detectou-se, durante as entrevistas, que alguns atores ainda eram céticos à proposta e não

compreendiam claramente sua participação na rede que se formava.

Percebe-se uma mobilização inócua em torno da busca de um modelo para gerar

confiança, da identificação das diferenças de cada singular. A adoção dos princípios de

processo (premissas da rede) poderia ser o viés para se criar uma cultura de colaboração e

confiança mútua. A confiança é determinante do sucesso da atividade em rede. A

capacitação das cooperativas singulares, visando a minimização da assimetria de

informação, harmonização do conhecimento e tomada de decisão mais coerente com a

realidade, poderia ser instrumento de minimização de riscos e de construção de um modelo

de gestão das relações interpessoais pautada na confiança entre atores da rede.

A rede de cooperativas agroindustriais requeria um team management orientado

pelas premissas, a partir da definição do interesse comum. A condição preliminar para a

formação de rede é a presença de líderes capazes de desenvolver novos líderes, ampliando

a base de sustentação do team management. Importa para qualquer iniciativa de negócio

uma ampla base de competências focadas na colaboração, com objetivo comum e

arranjadas sob uma estrutura interligada.

4.2 Rede de biotecnologia

Caracterizar a rede de biotecnologia implica em conhecer as bases conceituais de

transferência e comercialização de tecnologia em questão. Este tópico procura esclarecer

quanto ao processo biotecnológico. O processo de desenvolvimento é impulsionado por

vários instrumentos e, dentre eles, destaca-se a tecnologia. Os reflexos dos avanços

90

tecnológicos estendem-se no aumento da produção e da produtividade empresarial,

repercutindo ampliação da geração de riqueza e do capital social. O surgimento de novas

tecnologias baseadas em microeletrônica, na biotecnologia e em novos materiais, por um

lado, tornam mais estreitas as fronteiras entre ciência e tecnologia, por outro obriga as

organizações a acordos de projeto e de produção conjunta de componente e de produtos, a

licenciar tecnologia avançada a outras organizações em troca de capital e a

transnacionalizar a economia e a interdependência das organizações (MINHOTO;

MARTINS, 2001).

No bojo da comercialização e transferência de tecnologia, e devido a sua

importância, a propriedade da tecnologia tem garantia legal, conferida pela sociedade que

concede, por determinado período, direito exclusivo do uso da inovação. A venda ou

cessão a terceiros de inovação tecnológica é permitida através da transferência tecnológica

que, como negociação econômica e comercial condicionada a determinados preceitos

legais, precisa ser registrada no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual.

4.2.1 Caracterização da rede de biotecnologia

O processo de constituição da rede de biotecnologia em estudo foi liderado por uma

empresa nacional que desenvolveu uma inovadora tecnologia de biodegradação acelerada,

patenteada nos EUA e com patente requerida no Instituto Nacional de Propriedade

Intelectual. A biotecnologia caracteriza-se como ecologicamente correta, agronomicamente

viável, economicamente viável e socialmente responsável. A difusão da tecnologia, isto é,

o processo de concessão, uso da patente e a própria co-evolução da técnica de

biodegradação implicam em uma complexa rede interorganizacional, com a participação de

vários atores: concessionários, agenciadores de negócios, sociedade civil, fornecedores de

máquinas e equipamentos, governo e detentores da patente, universidades, entre outros.

A biotecnologia, objeto da rede, é uma tecnologia de biodegradação acelerada de

resíduos orgânicos e minerais que resulta na produção de fertilizantes orgânicos e

organominerais, em 72 horas. O processo biotecnológico pode ser aplicado no tratamento

de lixo doméstico, lodo de esgoto, serragem de madeira, bagaço de cana, cama de frango,

resíduos industriais e diversos outros tipos de resíduos. Os fertilizantes podem ser

produzidos de acordo com as necessidades agronômicas específicas e fornecidos na forma

91

líquida, em pó ou granulada. Isso possibilita o uso destes como fertilizante orgânico na

agricultura mecanizada em grande escala.

A rede de biotecnologia, então constituída para enfrentamento do problema de

natureza ambiental, relaciona-se com problemas de diferentes ordens. Na espiral da

inovação e da dinâmica de redes, um problema provoca a geração de uma solução que, por

conseguinte, gera um novo problema. A recorrência problema-solução ganha evidência no

contexto intra e interorganizacional. As organizações, instituídas como elemento de

solução do problema, enfrentaram alternância e instabilidade resultantes do processo de

colaboração, principalmente no que se refere à participação, liderança, inovação,

aprendizagem, diversidade cultural, confiança, reciprocidade, entre outros aspectos, que

exercem influência nas relações e na convivência entre os nós ou atores que compõem a

rede.

4.2.2 Coordenação das relações interpessoais da rede de biotecnologia

A efetividade da gestão da rede está condicionada à capacidade dos atores em

conhecer seus processos, de forma a promover a necessária e racional alocação e

otimização de recursos e competências (MILES; SNOW, 1992). A melhoria dos resultados

práticos por meio da identificação de relações interpessoais em rede implica em estabelecer

condicionantes das ações que tomarão parte na realidade esperada.

Em relação às características do processo de constituição da rede de

biotecnologia, Powell e Brantley (1992) observam a presença de inter-relações complexas

entre atores, grande diversidade de capacitações e conhecimentos requeridos para sua

implementação, custos unitários relativamente altos, além de serem elaborados de acordo

com requisitos bem específicos pelo usuário – o que reflete a customização associada a seu

processo de produção. Nesta perspectiva, importa sublinhar o depoimento de um

entrevistado:

A transferência de uma biotecnologia requer um período deadaptação à inovação, geração de um modelo. No nosso caso nãohavia referência anterior. Não queríamos utilizar a linguagem defranquia, pois o custo de acesso traria adicionais proibitivos àentrada de muitos interessados. O modelo teve que apresentarmuita flexibilidade nas negociações, isentando-se inclusive o custode licença e concessão de uso, mediante o compromisso de

92

quantidade mínima de consumo ou participação no negócio. Arede prescindiu de outros agentes que estabelecessem interfacecom o mercado, que decodificassem a linguagem do negócio, querealizassem adaptações e soluções customizadas requeridas pelosparticipantes. Na verdade, faltou um projeto piloto queevidenciasse o processo global da rede e, se houvesse uma equipede gestão, o avanço teria sido mais rápido.

A implantação de um produto biotecnológico, diferentemente do sistema de

produção em massa, é geralmente elaborada por coalização de organizações e envolvem

uma série de fases, incluindo pesquisa e desenvolvimento, patente do processo ou produto,

conceituação e detalhamento do design, a fabricação, entrega e instalação, a inovação pós-

produção, a manutenção e, algumas vezes, a desativação do sistema de produção

encomendado (TEIXEIRA; GUERRA, 2002). Todas essas características podem interferir

diretamente nos processos de inovação dos sistemas de produção de biotecnologia,

forçando uma forte interação entre os vários atores envolvidos no desenvolvimento de

produtos.

A estrutura organizacional de rede tem se tornado um arranjo interorganizacional

típico dos sistemas de produção em biotecnologia, definindo a configuração e a

coordenação do processo inovativo e da evolução organizacional. Dada a especificidade

dos bens e serviços que compõem o sistema de produção biotecnológico, o relacionamento

das empresas presentes é primordialmente de longo prazo e envolve contratos de valor

significativo, o que tende a conferir relativa estabilidade à rede.

A coordenação e a conciliação de projetos e empreendimentos que apresentem

afinidade com a biotecnologia em discussão devem ser objeto central da rede. As

interações entre os nós, entre atores da rede emanam da facilitação de ações, buscando a

otimização da aplicação de recursos, porém esquivando-se da redundância e desviando-se

da duplicação de esforços (POWELL, 1990). A co-evolução da tecnologia, por meio de

incentivo e difusão da pesquisa e desenvolvimento, e a integração de empreendimentos de

base tecnológica podem conferir perenidade e sustentabilidade à rede.

A bioprospecção, na forma de projetos ou empresas, e o avanço rumo a cooperação

com empresas, universidades e centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D)

internacionais em biotecnologia são imprescindíveis à competitividade da rede. Outro

desafio da rede é desenvolver sistema de informação e comunicação às empresas, assim

93

como um programa de rede de usuários ou da cadeia produtiva bio-industrial, provendo

informes sobre regulamentação, propriedade intelectual, comercialização e e-business.

Outros aspectos como a relação com investidor e técnicas de marketing dirigidas à

opinião pública, que visam a validação de empresas que usam a biotecnologia, além da

associação inter-firmas e alianças estratégicas intersetoriais (POWELL, 1990) podem

conferir vantagens competitivas à rede interorganizacional de biodegração acelerada em

resíduos orgânicos e minerais. Outro ponto relevante na discussão da rede é aquele

concernente à legislação, ou seja, referente a patente, licença obrigatória, segredo industrial

e não publicação e royalties. A partir desta perspectiva, vale transcrever parte do

depoimento de um dos entrevistados que ressalta:

Eu conheci a tecnologia e me encantei. Os empreendedores foramarrojados e quebraram paradigmas. Penso que o papel do líder é ageração de negócios. No entanto percebi que a gestão deexpectativas foi complicada em diferentes etapas, faltaramrespostas aos parceiros. O desenho da rede preliminar, mesmo quede forma simplificada, e o planejamento poderiam amenizar efacilitar a compreensão do modelo de negócio. Eu não percebiespírito de cooperação na rede, devido a fatores de divergências efalta de confiança mútua. A ausência de contratos formais e adificuldade de se colocar no papel do outro também motivaramdesgastes, frustrações dos participantes. Os interesses individuaissobrepuseram ao coletivo e o sentimento de autodefesa eraacionado todo momento, pois todo e qualquer situação poderia serameaçadora. O fator crítico de sucesso era a atualização edesenvolvimento de pessoas”. Creio que o plano de negócios e oestabelecimento de compromisso formal entre os participantespoderiam encaminhar a rede para um processo mais sustentável.

A coordenação das relações interpessoais da rede aponta para a necessidade de

emergência de atores no desempenho de papéis nos estágios de formação e

desenvolvimento. Observa-se com nitidez o broker empreendedor e, de forma difusa, o

broker agente de mudança. Porém, os papéis de arquiteto, boundary spanning e de

gatekeeper, lead operator, guardião de confiança, fundamentais no processo de construção,

coleta de informações e interface com o mercado, difusão e manutenção do funcionamento

e da confiança de rede, ainda não emergiram, apesar de já terem sido requeridos.

94

4.2.3 Modelagem das relações interpessoais da rede de biotecnologia

As relações interpessoais da rede de biotecnologia foram modeladas a partir da

pesquisa-ação, que envolveu o acompanhamento do projeto de cooperação

interinstitucional e a participação em workshop sobre a tecnologia e em encontro de

agenciadores de negócios e concessionários. As atas de reuniões do projeto e as

entrevistas com os atores, bem como o monitoramento de um projeto de pesquisa com

envolvimento da tecnologia e de todos atores da rede, também contribuíram para o

reconhecimento e percepção dos relacionamentos da rede.

A identificação dos atores, o mapeamento das características e perfis para o

desempenho de papéis articuladores da gestão de rede foi considerado elemento relevante

no processo investigativo. Preliminarmente, a rede revelou princípios de organização

baseados nos propósitos coletivos, conforme pode ser constatado na ata de reunião, onde

um participante declara que:

[...] sempre buscamos uma formatação de atividades para assimque houver sincronia, essa primeira fase possa ser instalada. Demodo que, nivelando assim nossas expectativas, sinto que a redepossa nos trazer uma contribuição muito grande, um crescimento,um avanço para nossos propósitos. A partir daqui, tenho certezaque estamos saindo mais afinados e os trabalhos ganharãovelocidade, mesmo considerando-se as características peculiares acada instituição, suas facilidades e dificuldades. Temos aquireunidos representantes de ONG, de instituições de ensino epesquisa pública e privadas, empresários. São muitos interessadose, é certo, o alinhamento destas expectativas representa o maiordesafio.

No entanto, nem todas estas características encaminhavam para a criação de

situações desejáveis na gestão de relacionamentos interpessoais de redes

interorganizacionais, uma vez que se formava um conjunto de forças que apontava para a

dependência de determinado ator com ameaças de expropriação e perda de confiança.

O papel de empreendedor foi bastante perceptível no processo de constituição da

rede. Inicialmente, ficou patente a capacidade empreendedora de dois atores e, no decorrer

do tempo, os demais atores demonstraram suas características comportamentais

empreendedoras. Na verdade, os demais podem ser chamados de empreendedores porque

95

buscavam oportunidades e devido ao negócio tratar-se de quebra de fronteira, de inovação

tecnológica e, ainda, requerer a assunção de risco.

A incapacidade de diagnosticar problemas e de estabelecer um relacionamento de

troca de informações, caracterizou a ausência do ator denominado de agente de mudanças.

De certa forma, não ficou evidente este perfil porque não se criou uma intenção de

mudança no cliente e faltou decodificar a intenção em ação. O monitoramento do projeto

de pesquisa pode legitimar a ausência do agente de mudanças e das atividades inerentes ao

seu papel. As passagens apresentadas foram extraídas de reuniões do projeto de pesquisa e

podem prover uma visão nítida da pouca sensibilidade dos atores acerca das mudanças:

Cada instituição (ator) apresenta características eresponsabilidade próprias. Todos não devem se limitar a resolverproblemas particulares, a desenvolver apenas atribuições inerentesà sua atividade. As reuniões (rede) são momentos para cooperação,partilha e compartilhamento. Os relacionamentos devem focar olongo prazo e prevenir descontinuidades. A eficiência da soluçãoestá associada à capacidade de diagnosticar problemas e, emoperações de rede, resolvê-los de forma antecipada pareceencaminhar a coletividade para situações de convivência amistosa,cooperativa, duradoura, produtiva e sustentável.

A parca combinação de competências requeridas e de equipamentos para o

processo enfatiza o incipiente papel de arquiteto ou construtor desenvolvido pelos atores da

rede. A não criação de novos grupos necessários em papéis especializados de apoio e a

falta de foco na procura de organizações com competências desejáveis confirmam a não

emergência do perfil arquiteto. Estas atividades são inerentes a esse broker, denominado

construtor de rede.

Davenport apud Cardoso, Alvarez e Caulliraux (2002) destaca que a eficiência

refere-se à alocação correta das competências nos contextos apropriados e, na perspectiva

de redes, reforça que o conjunto de organizações que compõe a rede pode ser encarado

como um grande e complexo sistema produtivo, composto por processos que visam o

fornecimento de bens ou serviços. Adicionalmente, considera que a garantia de

fornecimento efetivo depende da capacidade da rede de manter suas unidades

harmoniosamente articuladas, de maneira que as atividades necessárias à produção possam

acontecer com efetividade, minimizando os riscos de interrupção no fornecimento e

aumentando o desempenho sistêmico.

96

Efetivamente, a realidade da rede interorganizacional de biotecnologia embora

tenha possibilitado a ampliação da percepção acerca do grau de compartilhamento e a

intensidade de relacionamento entre os nós e conexões da rede e também reforçar a noção

de confiança como domínio que tende a ser mais qualificável do que quantificável. A

literatura realça a confiança como cola invisível do tecido social e tende a conferir

consistência e robustez em ambiente de rede com características parcimoniosas,

equilibradas.

No entanto, as características parcimoniosas e equilibradas não compuseram o

cenário permanente da rede. O workshop e encontro de negócios ofereceram evidências

acerca da assimetria de informações, divergência de propósitos, conflitos de interesses, na

medida em que de seus atores manifestou o descontentamento com a estrutura e a forma de

comunicação centralizada instalada na rede. Conforme documento oficial destes eventos,

descreve que:

O workshop e o encontro de negócios apresentam como propósito ocompartilhamento de competências, bem como a integração dosatores da rede de biotecnologia. É uma oportunidade paraagenciadores de negócios, concessionários e a sociedade em geraldiscutirem alternativas e novos caminhos do processobiotecnológico. Desta forma, importa a todos conhecer o modelo degestão da comunicação e informação, as tecnologias de solução deproblemas comuns à rede.

Estes eventos possibilitaram, de forma subjacente, o reconhecimento dos perfis lead

operator e do gatekeeper, assim como permitiu notar a ausência do guardião de confiança.

A condução dos trabalhos nos eventos, de certa forma, incitou o surgimento do porteiro de

informações, daquele ator que faz levantamento, recebe e transmite, que faz contato com

grupos técnicos e que se estabelece como referência para os demais atores, entre eles

centros de pesquisa.

A modelagem das relações interpessoais permitiu a identificação e análise crítica

dos processos de uma organização com vistas a uma melhoria radical das operações ou

uma gestão integrada. O delineamento das relações formais e informais contribui

diretamente para a melhoria de desempenho de rede, uma vez que as relações invisíveis são

tão importantes quanto àquelas estabelecidas processualmente na organização.

97

Quanto às redes invisíveis, vale transcrever um trecho da entrevista com um dos

líderes da rede e relatar passagens do evento, que ressaltam o seguinte:

[...] as relações entre agenciadores, concessionários, governo sãoamplas e não se fixam à rotina de reuniões. Tenho sido procuradopara dirimir dúvidas ou outros motivos não correlatos à tecnologia.Nestas relações, parece existir uma dinâmica, onde determinadoselos buscam se conectar mais intensamente a outros, no intuito deformar uma rede de relacionamentos, para resolver assuntos queextrapolem conteúdos meramente técnicos. Ultimamente, orelacionamento com outros três concessionários me ajudou aresolver problemas inerentes à tecnologia, mas também questões deoutras naturezas. A identidade de hábitos e costumes promoveuencontros entre famílias. Afastando a suspeição de lobby, hojeimplementamos uma política mais consistente de negócios na rede.Praticamos a defesa dos interesses individuais sem, contudo,sobrepor o coletivo.

A modelagem da rede de biotecnologia foca-se nos processos que incluam a

participação das pessoas. Senge (1990) ressalta que o convívio com a coletividade e todas

as peculiaridades decorrentes deste convívio, bem como as atividades não-estruturadas e

não-repetitivas, fomentam o desenvolvimento de outras competências não-processuais que

não devem ser desprezadas. O foco da rede de biotecnologia investigada deve perceber as

pessoas no sentido lato e tratar a tecnologia de forma stricto, pois apresenta aspectos

relacionais às vezes quase invisíveis e pouco mensuráveis.

O conceito de negócio volta-se para a visão compartilhada e cooperação de

competências rumo ao retorno econômico. A perenidade do negócio pode ser assegurada

pela arquitetura de rede, que contempla dimensões social e ambiental. No caso da rede de

biotecnologia estudada, a expectativa de participação dos atores volta-se para o encontro de

um arranjo estruturado capaz de operacionalizar as atividades requeridas pelo negócio.

Neste sentido, os atores devem construir coletivamente as premissas para operar a rede.

O presente caso oferece evidências da não observância aos critérios considerados

importantes nas etapas de formação e desenvolvimento de redes. A incipiente estruturação

da rede determina assimetria de informações, notada na expectativa dos concessionários

acerca de uma robusta estruturação da rede, principalmente no que se refere a presença de

provedores de máquinas e equipamentos, eficiente logística do trâmite ambiental e

marketing conjunto.

98

Neste sentido, vale transcrever o depoimento de um ator:

O grande problema da rede de biotecnologia foi a gestão depessoas. Embora, o início tenha coincidido com a implantação doparque tecnológico, ambiente favorável à iniciativaempreendedora, o negócio arrastou-se pelas diferenças de visãoentre os atores. A participação de instituição de ensino e pesquisafoi importante, porque promoveram a alavancagem e conferiramcredibilidade ao negócio. A comunicação do propósito da rede namídia televisiva provocou uma avalanche de interessadosmulticulturais e ampliou o número de atores. Á medida queaumentava a complexidade da rede, multiplicavam-se os conflitos,não houve a entrada de novas competências e não se percebeumaior dedicação dos pares. A falta de profissionalização levou-mea atuar, muitas vezes, como conciliador e, também, como difusordo conceito do negócio da rede; faltou gente qualificada. Asrelações interpessoais começaram a deteriorar devido a formaçãode expectativa de alguns participantes, que enxergavam o curtoprazo (imediatistas) e desprezaram a realidade empresarial. A faltade soluções tecnológicas para operacionalização e ganhos deescala foi outro fator determinante da insatisfação de determinadosatores.

A deficiente gestão da rede de suprimentos, parca logística de atendimento às

necessidades operacionais, táticas e operacionais das ações coletivas levou proprietários da

patente, concessionários e agenciadores do negócio a negligenciarem as condições de

constituição da rede de biotecnologia. Por outro lado, as expectativas de interação,

relacionamento, ajuda mútua, compartilhamento, integração, complementaridade,

flexibilidade e autodefesa dos concessionários não foram alcançadas face à inobservância

de princípios coletivos e à fragilidade do sistema.

A partir destas constatações pode-se inferir que o modelo do negócio careceu de

robustez. A confiança, que é um dos pressupostos para deflagrar ações em rede, ficou

fragilizada. A deficiente conformação da rede e falta de compartilhamento da visão de

futuro ensejaram desconfiança e insatisfação. A inserção da rede biotecnologia em um

framework de rede existente e a busca de sincronia entre funcionamento da rede e

interesses dos atores parecem ser alternativas para reaver a dinâmica da rede

interorganizacional. A adoção de tecnologias de informação na mediação de processos de

comunicação e de modelagem do negócio também pode contribuir para um processo

perene da rede.

99

As redes revelaram condições pouco favoráveis para a capacitação dos atores para

autogestão. Ambas redes estudadas careceram de ambiente de informação para mediar o

compartilhamento e multiplicar o efeito de aprendizagem da rede. Vários recursos, entre

eles os do tipo tutorial, também poderiam ser empregados como ferramenta auxiliar do

processo de capacitação. Nestes contextos, deve-se contar com suporte tecnológico desta e

de outra natureza, com vistas a ampliar o team management e facilitar a emergência de

atores com papel de broker.

100

5 PROPOSTA DE DIRETRIZES PARA GESTÃO DAS RELAÇÕES

INTERPESSOAIS EM REDES INTERORGANIZACIONAIS

Este capítulo apresenta o modelo teórico, onde se procurou atribuir a cada um dos

estágios evolutivos de redes interorganizacionais os elementos essenciais para a gestão das

relações interpessoais, sob a perspectiva de broker.

5.1 Contextualização das diretrizes

A necessidade de animar continuamente encaminha o estudo de redes

interorganizacionais para uma abordagem interpessoal. Esta abordagem tende a compor

uma das principais dificuldades gerenciais na constituição de redes. Seja na perspectiva

estratégica, tática ou operacional, importa aos gestores de rede conciliar métodos e técnicas

para a efetiva coordenação das relações interpessoais. Os imbróglios estratégicos, táticos e

operacionais também desafiaram a instrumentalização da proposta, principalmente no que

se refere ao registro dos dados e sistematização das relações interpessoais.

Na tentativa de entender, mudar, gerenciar e controlar uma realidade, as pessoas

procuram construir modelo, isto é, representar externa e explicitamente parte daquela

realidade enxergada por elas, para auxiliar na compreensão do todo. A possibilidade de

aplicação de modelo parte da exigência comum de redes que, rotineiramente e em

diferentes contextos, desafiam gestores de redes interorganizacionais no que se refere a

gestão das relações interpessoais.

A geração do modelo, configurado nas diretrizes, compreendeu a realidade de

duas redes, que convergiam para as situações de dependência de determinados atores

melhores situados e de animação da rede. A pesquisa considera que esta situação de

unilateralidade tende a comprometer a animação e a perenidade de redes. Procurou-se,

então, delinear um modelo de gestão de relações interpessoais, a partir do reconhecimento

dos relacionamentos entre atores das redes formais e informais ou invisíveis. Depreende-se

do processo investigativo que a identificação de atores, novos papéis, colabora para a

101

redução da dependência, diminuição das ameaças de expropriação da rede e ampliação do

tecido social.

A proposta para gestão das relações interpessoais em redes interorganizacionais é

composta por diretrizes norteadoras de relacionamento entre atores, no desempenho de

papéis no processo de formação, desenvolvimento e consolidação de rede. É a

sistematização da prática vivenciada no espaço organizacional, do relacionamento com

empresários e profissionais, público e privado, especificamente no desempenho de papéis

no cotidiano das redes de biotecnologia e de cooperativas agroindustriais.

5.2 Diretrizes para gestão das relações interpessoais em redes interorganizacionais

A formação de redes intra-organizacionais e interorganizacionais decorre do

processo de comunicação (ROGERS, 1995), da interação dos relacionamentos

interpessoais, dos atores. As redes são arranjos estruturais emergentes dos protocolos de

comunicação entre atores e ambiente. A figura 8 demonstra que redes são valores

adicionados da comunicação, das relações interpessoais de “n” perfis que, estimulados pela

interação, relacionamento, ajuda mútua, compartilhamento, integração,

complementaridade, flexibilidade e autodefesa, compõem o team management. A

constituição de redes interorganizacionais, de acordo com grau de formalidade

apresentado, revela a formação de redes formais e informais. A coexistência de ambas leva

a formação de diversos tipos de redes informais, que funcionam como fonte suplementar

de trabalho, inovação, conhecimento, aprendizagem e o convívio social.

102

Comunicaçãoentre atores

Grau deformalidade

Estímulosmotivação

Figura 8 - Motivação e decorrências da constit

A partir desta perspectiva, ap

interpessoais nos estágios de formaçã

estágio põe em tela atores no papel de

tático e operacional da rede.

Inicialmente, o modelo eviden

natureza dinâmica da morfologia

potencialidade de tensão existente entre

rede informal apresenta relativo poder

rede. Em terceiro lugar, identificam-s

operam dentro e entre rede e o papel d

permite realçar os tipos de poder e influ

Relacionamento

Ajuda mútua

Interação

Integração

Flexibilidade

Autodefesa

Compartilhamento

Complementaridade

Arranjosestruturais

uição de redes

resentam-se as diretrizes para gestão

o, desenvolvimento e consolidação de

broker e sua participação nos níveis

cia o conjunto de ações em diferentes

de rede. Em segundo lugar, repr

a organização formal e informal, onde

de determinados atores-chave na imple

e as relações interpessoais e os atore

e broker. A visualização das relações i

ência que cada tipo ou posição de ator

Redes intra-organizacio-nais Redes interorgani- zacionais Redes de relaciona-mento

Redes formais Redes informais

co

ap

Tipos deredesinformais

das relações

rede. Cada

estratégico,

tempos e a

esenta-se a

a emergente

mentação de

s-chave que

nterpessoais

ou grupo de

Redes de trabalho

Redes de inovação

Redes de nhecimento

Redes de rendizagem

Redes de carreira

103

ator representa para a rede, bem como destacar as diretrizes do modelo para a gestão das

relações interpessoais em redes interorganizacionais.

O primeiro estágio – formação da rede - implica em identificar as relações que

perpassam interesses individuais e coletivos dos atores e apontar perfis ajustados para as

atividades requeridas nesta etapa. A mobilização e o mapeamento dos atores para o

processo cooperativo e para o atendimento do interesse comum relacionam-se com a

emergência de atores desempenhando o papel de agente de mudança (ROGERS, 1995),

mobilizador-empreendedor (MINTZBERG, 1985); arquiteto de rede (MILES; SNOW,

1992) e irradiadores (STEPHENSON, 2003).

O segundo estágio – desenvolvimento da rede – caracteriza-se pela densidade das

relações interpessoais nos processos de comunicação, informação, trabalho e troca. Novos

perfis são requeridos, emergindo atores com agenciadores da informação e confiança,

denominados de boundary spanning (ROBERTS, 1984), gatekeeper (TORNATZKI,

FLEISCHER, 1990), lead operator (MILES; SNOW, 1992) e guardiões de confiança

(STEPHENSON, 2003).

A consolidação é o terceiro estágio evolutivo de rede de aplicação das diretrizes

para gestão das relações interpessoais. No intuito de assegurar a perenidade da rede, os

atores são impelidos a revisão do conceito de negócio, reinventar e re-significar a própria

rede. Neste estágio surgem o broker chamado de termômetro (STEPHENSON, 2003), ator

que desempenha o papel de monitor da saúde da organização e que cultiva relações

indiretas e o broker, denominado de care taker (MILES; SNOW, 1992). Este último é

responsável pela interface e manutenção da rede e seu posicionamento dependerá da

dimnesão e natureza das organizações em questão e do tipo de funções que comportam.

A figura 9 oferece uma visão geral das dimensões, atores e papéis, isto é, os

brokers na constituição de rede. De forma sintética, ilustra-se os brokers por meio da

emergência de perfis H, K, L, M em cada estágio de constituição de rede.

104

A seguir, as diretrizes sã

de redes interorganizacionais,

relações interpessoais.

5.2.1 Diretrizes para gestão da

interorganizacionais

O estágio de formaçã

em evidência a axiomática, na

Estas interações requerem pro

face a face e manual e possu

próprios. Nesta fase preliminar

ou necessidade, que usualmen

redes motivadas e oriundas dest

Estágio de rede

interorganizacional

Dimensão ou nível

de atuação

Ator e papel

desempenhado

o

Perfil K

Formação Desenvolvimento Consolidaçã

Estratégica Tática Operacional

Empreendedor e Boundary spanning e Termômetro

agente de mudanças Gatekeeper

Arquiteto de rede e Lead operator Care taker

Irradiador Guardiões de confiança

Perfil L Perfil M Perfil H Perfil L

Figura 9 – Dimensões de atuação dos atores e seus papéis em três estágios de redes.

o analisadas seqüencialmente, isto é, por estágio evolutivo

apresentando-se os aspectos mais relevantes destas nas

s relações interpessoais no estágio de formação de redes

o coincide com a dimensão estratégica da rede, colocando

medida que atores interagem entre si e com o ambiente.

tocolos de comunicação que podem alternar entre digital,

em linguagem e timining de codificação e decodificação

da rede importa questionar a noção de boa idéia, intuição

te determina e perpassa a constituição de rede, visto que

as razões tendem a apresentar pouca sustentabilidade.

105

A formação, assim como os demais estágios de constituição de rede

interorganizacional, refletem de forma sistematizada a gestão das relações interpessoais e

deve compreender as seguintes diretrizes:

1. observação da dinâmica preliminar de formação de rede, com ênfase no

processo de reconhecimento e sensibilização para o conceito de negócio. A

animação e indução deste processo devem coincidir com a emergência do ator

com o papel de agente de mudança (ROGERS, 1995);

2. promoção de canais de comunicação para a difusão do conceito de negócio,

bem como para intensificação das relações interpessoais. O agenciamento

destas atividades faz parte do papel do mobilizador-empreendedor

(MINTZBERG, 1985);

3. monitoramento do broker de mudança e de empreendedorismo para efetivar a

identificação do interesse individual dos atores da rede e seu valor adicionado,

uma vez que formação de expectativa é influenciada pelo esclarecimento sobre

a identidade, motivos, impacto e justificativa de participação de cada ator na

rede (GATTAZ SOBRINHO, 2003);

4. prospecção e fomento à emergência do agenciador responsável pela seleção

do(s) interesse(s) coletivo(s) requerido(s) pelo contexto e negociação formal do

comportamento de escolha entre as partes e do processo sócio-psicológico da

construção de sentidos (RING; VAN DE VEN, 1994);

5. emergência do arquiteto de rede (MILES; SNOW, 1992) como agenciador da

composição do team management, voltado à cooperação e à luz de premissas

estabelecidas conjuntamente. O broker de construção da rede deve promover a

escolha do interesse comum e busca de um framework existente e, se

necessário, sustentação com tecnologia de informação. A modelagem e

simulação das interações relacionamentos, considerando-se conectividade,

centralidade e equivalência estrutural (TOLBERT et al., 1995) deve ser

entendida como protocolo de comunicação e atividade inerente ao papel deste

ator para estabelecimento do ponto de equilíbrio da rede;

6. legitimação do broker do comprometimento mútuo. O irradiador

(STEPHENSON, 2003) é o papel desempenhado pelo ator que objetiva a

106

promoção do acordo entre atores quanto às obrigações e regras para a ação

futura no relacionamento e no que se refere ao estabelecimento do mecanismo

de gestão (RING; VAN DE VEN, 1994).

A figura 10 oferece uma visão esquemática da proposta de diretrizes para a gestão

de redes, destacando-se a emergência de atores com o papel de broker, de agenciadores das

relações interpessoais e evidenciando-se o estabelecimento de uma rede de recursos

humanos ou team management.

Figura 9 - Constituição do team management para a formação de rede interorganizacional

Depreende-se da figura 10 que a gestão das relações interpessoais no processo de

formação de rede guarda relação com premissas, infra-estrutura. Conforme detalhado na

quarta diretriz do estágio de formação de rede, as premissas devem representar o interesse

coletivo e ser consideradas como princípios e valores que os atores não estão dispostos a

ceder. A estruturação do componente humano pode representar a perenidade da rede, na

medida em que a animação e o agenciamento das relações interpessoais são papéis dos

atores da rede. A figura 11 reflete o papel de ator, líderes, empreendedores e arquitetos da

Gestão das

relações

interpessoais

interação

relacionamento

ajuda mútua

integração

complementaridade

compartilhamento

flexibilidade

autodefesa

Formação do team

management

Atores

Premissas

Infraestrutura

107

rede no processo de sensibilização para a cooperação e mobilização de um conjunto de

atores com n perfis em torno da formação do team management para favorecer na gestão

das relações interpessoais.

Figura 10 - Formação de liderança para coope

As figuras 10 e 11 permitem i

rede repousa-se no processo de sensib

preliminar para atendimento de intere

ser liderada por ator, essencialmente e

capacidade de inovação e persuasão e

e coordenador do processo de sensi

management e para a instalação do am

A diretriz 5 para gestão das

salienta a necessidade de modelagem

sentido, a figura 12 procura eviden

comunicação, colocando em relevo

empreendedor e mobilizador do proces

S para

ão

broker de arquitetura da rede

ensibilizar

cooperaç

Perfil A

Perfil B

Perfil C

Perfil E

Perfil F

Perfil D

Perfil G

n Perfis

ração

nferir que

ilização p

sses colet

mpreende

m torno do

bilização

biente de

relações i

e simula

ciar as in

o papel

so de form

premissas

a gênese do prim

ara cooperação,

ivos. A mobilizaç

dor, com credibil

objetivo comum

é imprescindível

cooperação na red

nterpessoais em r

ção das interaçõ

terações entre at

do perfil K, q

ação da rede.

Perfis voltados para

cooperação ou team

management

eiro estágio evolutivo de

constituindo-se iniciativa

ão para cooperação deve

idade, comprometimento,

. O papel de mobilizador

à estruturação do team

e.

edes interorganizacionais

es entre os atores. Neste

ores e os protocolos de

ue se caracteriza como

108

A indução da sensibilização e mobilização da rede parte da visão empreendedora

do perfil K que, no intuito de ampliar o conceito do negócio, conecta-se com a comunidade

próxima. Inicialmente, o perfil K busca identificar interesses individuais dos perfis L, I e J

que visam, genericamente, a interação, relacionamento, ajuda mútua, compartilhamento,

integração, complementaridade, flexibilidade e autodefesa.

Figura 11 - Atores e conexões doFonte: Adaptado de Conway (20

Da dinâmica da r

com vistas à cooperação

negociação do(s) interesse

decorrente da intensidade

conteúdos de ordem ecossi

o domínio destes conte

I

M

J

K

L

B

F

Perfil

estágio preliminar de formação de rede interorganizacionais00)

ede emerge o perfil K que, pela interação com d

, resulta no estabelecimento de premissas par

(s) coletivo(s) com os perfis I, J e L. A relativa c

de interfaces estabelecidas entre atores eng

stêmica, legal, relacional. Conforme demonstrado

údos confere ao perfil L legitimidade para

Perfil

Perfil C

Perfil H

em

a s

om

end

na

org

Perfil E

Perfil G

Perfil

Perfil

Perfil

Perfil A

Perfil

a

e

p

ra

fi

a

Perfil

Perfil D

is atores

leção e

lexidade

novos

gura 13,

nização,

109

intensificação da comunicação e compartilhamento da informação com perfis A, B, C, D,

E, F e G.

Figura 12 - Papel e conexões do estágio de desenvolvimento de redes interorganizaciFonte: Adaptado de Conway (2000).

O perfil L, apoiado em seu conhecimento, à luz das premissa

possibilidade de adoção de tecnologias de informação, busca asseg

gestão com a prospecção e adesão dos perfis A, B, C, D, E e F, G. Ne

se configura como broker, aquele que arquiteta e constrói relaci

(MILES; SNOW, 1992) ou como centro-irradiador (STEPHENSON, 2

negócio, como negociador de interesses coletivos e regente da c

management. Neste estágio, pode-se perceber aumento da intensid

J

I

Perfil B

onais

s est

urar

sta e

onam

003)

ompo

ade

Perfil C

abelecida

o proce

tapa, o p

entos d

do conc

sição do

das inte

Perfil E

F

Perfil

Perfil G

Perfil

Perfil K

Perfil A

Perfil M

Perfil D

Perfil H

Perfil

Perfil L

s e da

sso de

erfil L

e rede

eito de

team

rações

110

(conexões) e maior grau de relacionamento entre atores, bem como a definição de novos

protocolos de comunicação. A simulação destas interações possibilita ao gestor encontrar o

ponto de equilíbrio da rede, isto é, identificar a posição e o mínimo requerido de cada

perfil.

A modelagem do processo de formação da rede, descrita nas Figuras 12 e 13,

coloca em evidência as relações interpessoais e permite ao gestor enxergar conectividade,

centralidade, autonomia e equivalência estrutural de rede (GNYWALI; MADAHAWAN,

2002). Depreende-se do processo de modelagem que a:

- densidade ou grau de conectividade da rede é determinada pela intensidade das

relações interpessoais estabelecidas entre os perfis K; L; I e J; A, B, C, D, E, F,

G;

- centralidade de rede ocorre à medida que perfil L, melhor situado que I, J e K,

possui mais recursos e conecta-se A, B, C, D, E, F e G;

- autonomia estrutural representada pela independência do perfil L e a

inexistência dos protocolos de comunicação ou buracos estruturais entre A, B,

C, D, E, F e G;

- equivalência estrutural da rede é percebida nos perfis A, B, C, D, E, F e G, na

medida que apresentam mesmas diferenças ou valor adicionado semelhante

entre si e, também, em relação aos perfis K, L, I, J.

A celebração de acordo, principalmente no que se refere às obrigações para ação

futura e estabelecimento de mecanismo de gestão, sela o comprometimento entre atores

necessário para a formação e permite avançar para o estágio de desenvolvimento da rede.

Ao final deste estágio, os papéis desempenhados pelos perfis K e L tendem a desaparecer e

novas perspectivas abrem-se para a emergência de novos brokers, em decorrência do

contexto dinâmico da rede.

111

5.2.2 Diretrizes para identificação das relações interpessoais no estágio de

desenvolvimento de redes interorganizacionais

O estágio de desenvolvimento de rede interorganizacional coincide com a

dimensão tática da rede, ou seja, ocasiona o surgimento de um nível responsável pelo

gerenciamento. A intensificação das relações interpessoais e das atividades requerem

distintos mecanismos de coordenação e ocasionam a emergência de atores, de equipe de

coordenação. Os riscos e incertezas, inerentes às relações interpessoais, demandam a

adoção das premissas e do modelo de gestão estabelecidos na formação da rede.

A coordenação das relações interpessoais deve incorporar normas e

procedimentos balizadores do comportamento e privilegiar ações de cooperação mútua.

Para a regulação de ingresso de novos atores, rotinas operacionais, a rede deve optar por

critérios universais, dentre eles destacam-se a escolha de expertise dentro da rede capaz de

escolher entre atividades de mínimo lucro e máximo lucro e a identificação de modelos

com frameworks estabelecidos.

O processo de autogestão ocorre quando regras, sanções, dentre outros mecanismos

de controle partem dos próprios atores (RONDEAU, 1996). A burocracia é instrumento de

autodefesa contra comportamento inadequado, e até mesmo oportunista, dos demais atores.

As diretrizes para estágio de desenvolvimento de rede interorganizacional ajustam-se à

com a fase de execução do comprometimento e regramento (RING; VAN DE VEN, 1994).

Ademais, as diretrizes de gestão das relações interpessoais, aqui propostas, baseiam-se em

no modelo de Alvarez, Silva Filho e Proença (2002). Considerando que a constituição de

rede é processual, as diretrizes, descritas a seguir, são imbricadas, contínuas do primeiro

estágio e aplicadas à gestão das relações interpessoais no estágio de desenvolvimento de

rede interorganizacional:

7 monitoramento da interação entre os atores da rede, verificação da configuração

decorrente e definição de papéis dos atores são decorrentes do estímulo à

emergência e identificação do broker, denominado lead operator (MILES;

SNOW, 1992);

8 adoção de critérios universais para seleção de novos ingressantes e de

rotinização da rede demanda a constituição de equipe comum ou central de

coordenação, despontando-se líderes de equipe, gerentes de projeto e gestores

112

de informação com objetivo de controlar as interações e coordenar os

relacionamentos por meio de normas, reputação e mútuo controle dos atores;

9 busca de informação, alocação e otimização dos recursos aos atores, escolha dos

caminhos de fluxo entre os atores e configuração dos mesmos devem ocorrer

em presença de boundary spanning (ROBERTS, 1984);

10 instituição estratégica do papel de gatekeeper (TORNATZKI; FLEISCHER,

1990) para promover a difusão da comunicação, decisão e negociação;

11 coordenação do trabalho entre atores por meio da definição de sistema de

planejamento e controle, instalação de sistema de incentivos, criação de sistema

de seleção. O agenciamento destas atividades é maximizado em presença de

guardiões de confiança (STEPEHENSON, 2003).

As figuras 14 e 15 procuram oferecer evidências para aplicação das diretrizes

propostas para a gestão das relações interpessoais no estágio de desenvolvimento de rede

interorganizacional. Como o processo evolutivo da rede atrela-se à eficiência do sistema de

coordenação, passa a ser imperativo o surgimento de brokers. De acordo com a

necessidade de informação, de trabalho, de aprendizagem, de inovação, surgem atores e

multiplicam-se conexões na rede em desenvolvimento.

As conexões do perfil M, demonstradas na figura 14, ilustram a multiplicidade dos

relacionamentos e a expressividade da rede informal na gestão das relações interpessoais

da rede. Hipoteticamente, este perfil, até então, externo ao processo formal de coordenação

da rede, emerge da rede informal e realiza um microcosmo de experimentação da

convivência entre redes formais e informais. Seus conhecimentos, habilidades e atitudes

permitem estabelecer novas conexões, identificar novos caminhos e fluxos entre atores,

eliminar vazios e suprir lacunas de comunicação, enfim, incrementar o modelo de gestão

de relações interpessoais da rede interorganizacional.

O perfil M ao realizar prospecção, busca de informação, alocação e otimização dos

recursos aos atores e escolha dos caminhos de fluxo entre os atores e configuração dos

mesmos, é legitimado como boundary spanning (ROBERTS, 1984). Suas ações, além de

garantir relacionamento externo da rede, permitem a emergência do perfil L como broker

113

lead operator (MILES; SNOW, 1992) para assegurar os padrões de operacionalização da

rede, descritos nas diretrizes 7 e 8.

Figura 13 - Brokers lead operator e boundary spanning no estágio de desenvolvimento de reFonte: Adaptado de Conway (2000)

O perfil M, independentemente da proximidade dos atores env

utilizar tecnologias de informação como aporte eletrônico intermediário em

Considera-se ainda a emergência desse perfil da rede informal como suple

formal, fonte de suporte e expertise técnicos.

F

D

G

J

Perfil

Perfil L

Perfil A

de

olvido

suas r

menta

Perfil M

Perfil k

Perfil I

Perfil

Perfil

Perfil

Perfil H

Perfil B

s, pode

elações.

r à rede

114

O contexto dinâmico de rede incita a transposição das fronteiras da rede formal,

leva os atores estabelecerem relações interpessoais externas à rede, conforme observado no

comportamento do perfil M e descrito na diretriz 8.

Figura 14 - Broker gatekeeper e guardiões de confiança no desenvolvimento de redeFonte: Adaptado de Conway (2000)

Naturalmente, a gestão de relações interpessoais tende a capitalizar com os

relacionamentos individuais de seus atores. Na medida em que o foco desloca-se para redes

informais, as relações pessoais podem ser úteis para a coleta, tratamento e disseminação de

informação externa para a adição de valor na rede.

Perfil B

Perfil H

Perfil C

Perfil I

Perfil D

Perfil E

Perfil F

Perfil G

Perfil J

Perfil K

Perfil L

Perfil A

115

O aporte de elementos de gestão de diferentes ordens, somado às novas

necessidades informacionais, determina uma nova configuração, na mesma proporção do

desenvolvimento da rede. Conforme as diretrizes 10 e 11, o estímulo à busca de

informação, a alocação e otimização dos recursos aos atores e a escolha dos caminhos de

fluxo entre os atores e configuração dos mesmos delimitam o papel do gatekeeper

(TORNATZKI; FLEISCHER, 1990).

As conexões do perfil H, broker gatekeeper (TORNATZKI; FLEISCHER, 1990),

com as redes formais e informais facilitam o fluxo de informações. O perfil H está

socialmente conectado a muitos níveis, mantém alto número de ligações e estabelece muita

conversa face-a-face. Funciona ainda como caminho humano em processo crítico entre os

membros da rede, que animam ou retardam o fluxo, mediante simpatia ou aversão que

estabelece com os membros na informação (STEPEHENSON, 2003).

O gatekeeper atua como porteiro da informação, isto é, devido ao seu alto número

de ligações pode multiplicar ou irradiar, com facilidade, conteúdos para a solução de

problemas relacionados às relações interpessoais da rede. Suas conexões nutrem,

corroboram a estruturação da rede. A prospecção, fomento e instituição operacional destes

atores, para desempenharem o papel de decodificadores de mensagens e disseminadores de

informação, constitui-se em fator crítico de sucesso da rede.

As conexões do perfil H com os perfis A, B, C, D, E, F, G, I, J, K e L também

determinam a estruturação da confiança na rede. A operacionalização da rede e o

encaminhamento para o estágio de consolidação dependem da coexistência das redes

formais e informais e a dualidade dos atores. Isto significa dizer da interação entre brokers

lead operator (MILES; SNOW, 1992) e guardiões de confiança (STEPHENSON, 2003),

onde um apóia o trabalho do outro e ambos buscam assegurar a robustez da rede.

O estabelecimento da confiança entre atores confere ambiência favorável à

consecução das tarefas na rede, ao processo de autogestão, bem como, pode garantir a

execução do comprometimento e regramento (RING; VAN DE VEN, 1994). A confiança

deve perpassar as relações interpessoais, uma vez que a coordenação das relações

interpessoais parte dos próprios atores (RONDEAU, 1996).

O estágio de desenvolvimento de rede evidencia a abertura e oportunidade de

participação de outros atores e novos ingressantes. A coexistência das redes formais e

116

informais (KRACHARDT; HANSON, 1985) e a emergência de brokers, torna mais

perceptível e reforça a noção de imbricamento social (GRANOVETTER, 1985) e capital

social (PUTNAM, 1993).

5.2.3 Diretrizes para identificação das relações interpessoais no estágio de consolidação

de redes interorganizacionais

O terceiro estágio busca consolidar o processo de constituição da rede

interorganizacional, por meio de mecanismos de operacionalização. A gestão das relações

interpessoais em rede interorganizacional se faz premente, assim como a necessidade de

inovação e a capacidade de reinvenção do negócio e de superação dos desafios impostos

pelos ambientes interno e externo. Neste sentido, os gestores são solicitados a uma

constante vigilância acerca do ingresso, mobilidade, permanência ou evasão dos atores,

assim como participar da definição de novos papéis que contribuem ao alcance da

perenidade da rede. Todos esses esforços, inerentes ao estágio de consolidação, voltam-se

para a efetividade da coordenação das relações interpessoais.

As diretrizes propostas não pretendem estabelecer marco, fronteira ou limite

temporal entre os estágios de constituição de redes interorganizacionais. A transição de um

estágio para outro é tênue, às vezes quase imperceptível. A proposta repousa-se na

observação acurada da passagem dos estágios sem, contudo, fixar-se na lógica cartesiana

do tempo. Portanto, atividades e papéis inerentes ao estágio de desenvolvimento podem

perpassar o estágio de consolidação.

A consolidação de redes interorganizacionais correlaciona-se com adoção de

diretrizes para gestão das relações interpessoais. As diretrizes propostas pautam-se no

modelo apresentado por Böhe e Silva (2004), que prescrevem a implementação de

dispositivos formais ou contratuais, associados aos informais, também chamados de

relacionais, a partir da experiência de cooperação da rede Panimel, inserida no Programa

de Redes de Cooperação de Empresas do Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

De acordo com Böhe e Silva (2004), a consistência dos elos de cooperação e a

melhoria do funcionamento operacional da rede correlacionam com a governança

contratual com as regras explícitas, estabelecidas por meio de estatuto, regulamento interno

e código de ética (OLIVERS; EBERS, 1998). De forma suplementar, apresentam a

117

governança relacional como decorrência da confiança e da formação de grupos ou team

management, que criam mecanismos próprios de coordenação.

A efetividade da gestão das relações interpessoais no estágio de consolidação da

rede aponta para a adoção das seguintes diretrizes:

12 identificação de perfil para realizar interface e prover manutenção da rede. O

posicionamento deste ator dependerá da dimensão e natureza da rede e do tipo

de funções que comporta;

13 emergência de broker care taker (MILES; SNOW, 1992) as atividades

inerentes ao seu papel compreendem a definição das características das

empresas/atores participantes, estímulo à aprendizagem em rede, estruturação

interna da rede e formação do team management;

14 identificação de perfil para prover monitoramento da saúde da rede, otimização

dos mecanismos de comunicação e informatização e promoção da confiança no

ambiente de rede. Avaliação da freqüência e intensidade das relações

estabelecidas por este perfil;

15 emergência de broker termômetro (STEPHENSON, 2003) para verificação das

alternativas para ampliação funcional da rede e auxiliar na instituição de

instrumentos de promoção e avaliação.

A figura 16 apresenta evidência do broker care taker (MILES; SNOW, 1982),

configurado no perfil L. As atribuições centrais deste ator da rede englobam manutenção e

co-evolução dos mecanismos de coordenação dos relacionamentos, sob uma perspectiva

das relações interpessoais de redes interorganizacionais. O perfil L estabelece conexões

com os perfis A, B, C, D, E, F, G, H, I, J e K a fim de promover a aprendizagem,

comunicação e formar o team management.

118

Figura 15 - Broker care taker no estágiFonte: Adaptado de Conway (2000)

As tecnologias de infor

desempenho do perfil L, broker

para contribuir no monitoramen

confiança, torna-se imprescindív

O controle de eventua

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is desvios, indefinições, ameaças

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Este

119

papel é devido ao número de relações indiretas estabelecidas e pode ajudar nas decisões

relativas à ampliação da rede, prospecção de riscos e ameaças, aumento de número de

ingressantes ou do pacote de bens e serviços. Eventualmente, novos brokers, ou mesmo

aqueles papéis demandados em estágios anteriores, podem ser requeridos para a

consolidação da rede.

5.3 Considerações sobre as diretrizes propostas

A constituição de redes interorganizacionais engloba os estágios de formação,

desenvolvimento e consolidação e se caracteriza pela demanda de flexibilidade e

versatilidade dos atores. O processo de coordenação de rede desafia cotidianamente os

gestores e requer sincronismo e agilidade, que podem ser alcançados com a adoção de

diretrizes. As diretrizes propostas, de ordem contratual ou relacional, objetivam facilitar e

instrumentalizar a gestão das relações interpessoais de redes interorganizacionais.

É relevante salientar que as diretrizes apresentadas originaram-se dos estudos de

caso. As entrevistas realizadas, que também foram sutilmente divididas em três blocos,

reforçaram sobremaneira a compreensão do timing de determinados atores, da emergência

de brokers. No que se refere ao primeiro estágio de rede interorganizacional, apresentou-se

seis diretrizes correspondentes à dimensão estratégica. Adicionalmente, procurou-se

demonstrar, através de interface gráfica, a mobilidade, o fluxo e as conexões dos atores

participantes. As diretrizes propõem-se como guia, referência para a gestão das relações

interpessoais, pois evidenciam papéis, atribuições, momento dos brokers agente de

mudança e empreendedorismo, arquiteto e irradiador de rede.

O segundo estágio do modelo corresponde à dimensão tática e coincide com o

desenvolvimento da rede. Pode-se dizer que cada estágio incorpora diferentes níveis de

complexidade e, para tanto, foram incluídas outras cinco diretrizes para balizar a gestão das

relações interpessoais. Destaca-se neste estágio a emergência dos brokers lead operator,

boundary spanning, gatekeeper e guardião de confiança.

Em relação ao terceiro estágio, vale destacar que, embora ambas redes investigadas

não tenham atingido o estágio de consolidação, a sugestão de quatro diretrizes de natureza

operacional partiu do referencial teórico e da experiência do Programa de Redes de

120

Cooperação de Empresas do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. A interface gráfica

do modelo permitiu identificar a emergência dos brokers care taker e termômetro e, assim,

contribuir à gestão das relações interpessoais no estágio de consolidação de redes

interorganizacionais.

121

6 CONCLUSÕES

Redes interorganizacionais são formadas por pessoas, podem ser consideradas

estruturas de comunicação e, assim, representam um espaço de interação. A coordenação

das relações interpessoais, decorrentes da interação, implica em utilizar diversos

mecanismos de gestão. Os gestores contemporâneos têm considerado a expressividade da

emergente rede informal como fonte suplementar da rede formal, perceptível nos modelos

organizacionais. A rede informal revela-se estratégica, visto que se desdobra em redes de

trabalho, inovação, aprendizagem, conhecimento, carreira e social.

A identificação das relações interpessoais e a emergência de atores para

desempenharem papéis são de especial interesse para a gestão de redes

interorganizacionais. Neste contexto, sobressaem-se agenciadores, animadores, brokers

essenciais à formação, desenvolvimento e consolidação de redes interorganizacionais. O

estudo destaca os brokers de empreendedorismo, mobilização, arquiteto, irradiador,

gatekeeper, boundary spanning, lead operator, guardião de confiança, care taker e

termômetro para subsidiar a elaboração de diretrizes.

Quanto aos objetivos propostos inicialmente, pode-se dizer que foram atingidos,

uma vez que se identificou a correspondência entre relações interpessoais e a constituição

de redes e se evidenciou os papéis dos atores que limitam ou estimulam as relações

interpessoais. O arcabouço teórico associado à pesquisa-ação possibilitou a elaboração de

uma proposta composta por quinze diretrizes para a gestão das relações interpessoais em

redes interorganizacionais.

O modelo apresentado é uma estrutura genérica, gerado a partir de inferências nos

estudos de caso. A proposta, que procura consolidar o estudo sobre atores e papéis em

redes interorganizacionais, pode servir de referência para gestão das relações interpessoais

em redes interorganizacionais. Outro aspecto relevante do método reside na orientação

para uma cooperação em rede, uma relação partilhada que, além da dimensão econômica,

social e ambiental, incorpora a perspectiva cultural, levando em conta a confiança como a

cola invisível do capital social.

Ao longo do trabalho foi possível verificar o papel proeminente das relações

interpessoais em redes interorganizacionais. Uma questão importante a ser colocada em

122

relação a isso, diz respeito aos brokers na melhoria das relações interpessoais em redes

interorganizacionais. Como redes interorganizacionais tratam de redes de pessoas, parece

ser o caso de prescrições acerca de conhecimento, atitudes e habilidades requeridas em

cada estágio de rede. Face à dinâmica organizacional, resta aos gestores de considerar a

coexistência das redes formais e informais e a dualidade de papéis que os atores

desempenham em redes.

Considerando-se que a dinâmica organizacional requer uma animação continuada, a

abordagem das relações interpessoais se constitui em um dos principais entraves gerenciais

no desenvolvimento sustentável de redes interorganizacionais. A relação de dependência

de recursos, especialmente por determinados atores, aliada aos parcos métodos adotados na

coordenação das relações interpessoais têm levado a gestão alguns imbróglios estratégicos,

táticos e operacionais de redes. Estes mesmos imbróglios também desafiaram a

operacionalização do modelo, principalmente quanto ao registro dos dados, sistematização

das relações interpessoais em redes e geração do modelo, que só foram possíveis em razão

da cooperação dos atores envolvidos.

Em relação à gestão das relações interpessoais, a pesquisa, ao refletir sobre os

mecanismos de coordenação interpessoal, está em sintonia com o cenário do ambiente

competitivo. A robustez de redes repousa-se no seu componente humano. Redes tendem à

perenidade segundo seu contingente de perfis ou competências, conforme a percepção e

mapeamento de atores com papel de brokers nos níveis estratégicos, táticos e operacionais.

Vale mencionar que as propriedades restritivas que cercaram o trabalho acarretaram

limitações. Devido ao caráter transversal do trabalho, pode-se dizer que as redes

investigadas encontram-se no primeiro estágio – formação. A fim de enxergar como as

propriedades se apresentam ao longo do tempo, haverá a necessidade de um estudo de

caráter longitudinal. A identificação das relações interpessoais nas fases de formação e

desenvolvimento representa uma contribuição original do modelo apresentado.

As diretrizes aplicadas à gestão das relações interpessoais em redes

interorganizacionais foram propostas com base na revisão bibliográfica de redes

interorganizacionais, bem como em modelos de redes existentes. Vale considerar que

algumas diretrizes apresentam suas origens na observação empírica durante a pesquisa-

ação na rede de biotecnologia. A finalidade das diretrizes propostas é instrumentalizar o

123

processo de gestão nos três estágios evolutivos de redes, enfatizando-se as ações dos atores

e necessidade de coordenação decorrente.

No que concerne à coerência entre a proposta do modelo e a realidade dos dados é

possível identificar uma distorção. No caso da rede interorganizacional de biotecnologia,

os atores estavam há pouco tempo no exercício da cooperação. Em se tratando que a

iniciativa de cooperação em rede é processual, aduz-se que o horizonte temporal

pesquisado é de curto prazo e, à medida que avança para o médio prazo, as possibilidades

de coleta podem tornar-se mais profícuas.

Como estudo futuro, considera-se importante investigar em que medida a

modelagem matemática e computacional pode significar um avanço na gestão das relações

interpessoais. A simulação das relações interpessoais representa outra etapa desafiadora da

pesquisa. A partir desse estudo exploratório, pode-se identificar possibilidade de dois

estudos futuros. Um que considere a perspectiva de gestão, abordando os mecanismos

institucionais pelos quais as relações interorganizacionais são iniciadas, negociadas,

desenhadas, coordenadas, monitoradas, adaptadas e terminadas e outro que leve em conta a

perspectiva de redes sociais, isto é, os aspectos e laços sociais e tipos de interações

existentes em relação às posições estruturais dos atores.

124

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133

APÊNDICE

Apêndice A - Roteiro para entrevista de atores de redes interorganizacionais

Sabe-se que novas formas de organização de pessoas trazem significativas mudanças nas

relações interpessoais, diferenciados arranjos estruturais e implicam em modelos

inovadores de gestão. Embora rede interorganizacional desponte-se como alternativa

organizacional, seu funcionamento altera comportamento dos atores. A partir desta

perspectiva, a discussão deverá versar sobre o processo de animação e o papel de

determinados atores nos estágios de formação, desenvolvimento e consolidação de redes

interorganizacional.

Respondentes: Participantes da rede cooperativas agroindustriais e rede de biotecnologia

BLOCO I – ESTÁGIO DE FORMAÇÃO DE REDE

Relato do estágio inicial, sob o ponto de vista e sensibilização e mobilização para

formação da rede interorganizacional.

O PROCESO DE SENSIBILIZAÇÃO, MOBILIZAÇÃO E COMPOSIÇÃO

1) O processo de formação da rede partiu da iniciativa de um líder ou de uma equipe?

Demandou a composição de equipes de trabalho para a sensibilização e mobilização?

134

2) Liderança e comunicação foram fatores críticos de sucesso para este estágio de

constituição da rede?

3) A adesão de novos participantes foi norteada por critérios? O que foi considerado?

4) Considerando-se que o principal propósito do líder é desenvolver o sentido de

comunidade entre os membros da rede, por que esse animador tem de entender como as

relações interculturais são estruturadas?

5) Qual a sua compreensão sobre objetivos e orientações dos perfis organizacionais?

Existiu diferenciação entre os atores?

6) Qual o papel que você desempenhou no processo de formação da rede

interorganizacional?

7) Foi possível perceber a preocupação em identificar atores com competências

desejáveis? Em ajudar a criar novos grupos necessários para o desempenho de papéis

especializados de apoio?

8) Os construtores da rede mantiveram-se atualizados acerca das competências e recursos

requeridos?

9) Dentre as atividades apresentadas e requeridas do construtor de rede, como broker,

quais você considera de maior importância?

10) Houve um processo formal de comprometimento para participação na rede?

135

BLOCO II – ESTÁGIO DE DESENVOLVIMENTO DA REDE

De agora em diante, deve-se considerar a coordenação de rede interorganizacional na

perspectiva interpessoal, ou seja, as características e habilidades dos atores no

desempenho das atividades.

PROCESSO DE CONSTRUÇÃO E MANUTENÇÃO

11) A rede não implica em alterações estruturais, porém exige novas competências

agregadas às atividades existentes. Quais as competências foram mobilizadas?

12) A mudança na estrutura interior da rede implicou no surgimento de novas figuras,

como líder de equipe, gerentes de projeto, gestores de informação?

13) O que considera fundamental para a emergência de cada um desses papéis?

14) Foi possível minimizar a incidência de risco de dependência da rede em um único

animador/agenciador de recursos ou de relacionamentos? Como?

15) Foi possível verificar quais as mudanças decorrentes do desenho de rede? Definiu-se

qual o desenho de rede mais adequado para se alcançar o objetivo proposto?

16) Foi possível identificar a intensidade e interdependência entre determinados atores e

quais foram os mecanismos de coordenação gerados?

136

17) Existiram barreiras interpessoais que se constituíram em fator crítico de sucesso neste

estágio de rede?

18) Se, a negociação colaborativa é uma característica essencial para o gestor da rede, quais

são as responsabilidades envolvidas e seu processo?

19) Considerando-se um acréscimo ou subtração de uma determinada interação de rede,

qual o efeito ou alteração na coordenação entre os atores da rede?

20) Existiram critérios de entrada e seleção de novos atores? Quais as possibilidades de

recrutamento no quadro das organizações atuais?

BLOCO III – ESTÁGIO DE CONSOLIDAÇÃO DA REDE

Considerar quais foram os principais elementos do estágio de consolidação derede interorganizacional que encaminharam-na para um processo sustentável dasrelações interpessoais.

21) Quais as atividades abrangidas para cada um dos papéis e quais as novas competências

exigidas no estágio de consolidação da rede?

22) A partir da mudança (adoção de novas tecnologias e reestruturação do processo de

trabalho) quais são as atividades abrangidas para cada um dos papéis?

137

23) Neste estágio de constituição da rede, foi possível notar a existência de relações

informais nas redes? Quais foram os impactos da participação das pessoas na

performance de redes?

24) Considera a confiança, reciprocidade, colaboração como atributos essenciais à

consolidação da rede?

25) Cada um dos atores apresentou necessidade de comportar alguns papéis e funções.

Como se identificou os atores para assumir as funções de chefe, gerente, gestor capaz

de monitorar a estrutura, fazer adaptações e avaliar entrada de novos membros etc?

Obrigado pela sua colaboração.

Data __/__/___