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9 Saúde, Batatais, v. 2, n. 1, p. 9-30, jun. 2014 O papel do enfermeiro como educador familiar/cuidador de idosos no pós-operatório de artroplastia total de quadril Bethânia Carolina Mussoline RIBEIRO 1 Gláucia Costa DEGANI 2 Resumo: A Artroplastia Total de Quadril (ATQ), quando prestado cuidado ade- quado com a prótese, possibilita que idosos com fraturas apresentem melhora da dor e disposição para realizar suas atividades cotidianas, fazendo necessárias orientações por parte do enfermeiro para a sua manutenção. O objetivo do estudo foi compreender o papel do enfermeiro como educador do familiar/cuidador de idosos no pós-operatório de ATQ. Tratou-se de pesquisa bibliográfica, com da- dos coletados no LILACS entre 2001 e 2011. Foram identificados 30 artigos, os quais foram classificados em três categorias: “Características da artroplastia de quadril em idosos e suas consequência”, “O enfermeiro como agente do plano de cuidados a serem prestados aos idosos e seus familiares/cuidadores” e “Perfil e principais dificuldades dos familiares/cuidadores de idosos e o papel do enfer- meiro”. Concluiu-se que o enfermeiro possui amplo e fundamental papel, pois a ele são incumbidas orientações acerca dos cuidados com manutenção da prótese e sobre como zelar pela saúde dos familiares/cuidadores. Palavras-chave: Idoso. Cuidados de Enfermagem. Artroplastia Total do Quadril. 1 Bethânia Carolina Mussoline Ribeiro. Graduada em Enfermagem pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>. 2 Gláucia Costa Degani. Mestre em Ciências pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP). Enfermeira da Sala de Urgência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Docente no Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

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O papel do enfermeiro como educador familiar/cuidador de idosos no pós-operatório de artroplastia total de quadril

Bethânia Carolina Mussoline RIBEIRO1

Gláucia Costa DEGANI2

Resumo: A Artroplastia Total de Quadril (ATQ), quando prestado cuidado ade-quado com a prótese, possibilita que idosos com fraturas apresentem melhora da dor e disposição para realizar suas atividades cotidianas, fazendo necessárias orientações por parte do enfermeiro para a sua manutenção. O objetivo do estudo foi compreender o papel do enfermeiro como educador do familiar/cuidador de idosos no pós-operatório de ATQ. Tratou-se de pesquisa bibliográfica, com da-dos coletados no LILACS entre 2001 e 2011. Foram identificados 30 artigos, os quais foram classificados em três categorias: “Características da artroplastia de quadril em idosos e suas consequência”, “O enfermeiro como agente do plano de cuidados a serem prestados aos idosos e seus familiares/cuidadores” e “Perfil e principais dificuldades dos familiares/cuidadores de idosos e o papel do enfer-meiro”. Concluiu-se que o enfermeiro possui amplo e fundamental papel, pois a ele são incumbidas orientações acerca dos cuidados com manutenção da prótese e sobre como zelar pela saúde dos familiares/cuidadores.

Palavras-chave: Idoso. Cuidados de Enfermagem. Artroplastia Total do Quadril.

1 Bethânia Carolina Mussoline Ribeiro. Graduada em Enfermagem pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.2 Gláucia Costa Degani. Mestre em Ciências pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP). Enfermeira da Sala de Urgência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Docente no Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

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The nurse’s role as educator of the family/caregiver of the elderly in postoperative total hip arthroplasty

Bethânia Carolina Mussoline RIBEIROGláucia Costa DEGANI

Abstract: The Total Hip Arthroplasty (THA), when given proper care with the prosthesis, enables elderly fractures exhibit improvement in pain and willingness to perform their everyday activities, making necessary guidelines for the nurse to maintain the same. The aim of the study was to understand the role of the nurse as educator of family/caregiver of the elderly postoperative THA. It was literature, with data collected in LILACS, between 2001 and 2011. 30 articles were identified and classified into three categories: “Characteristics of hip arthroplasty in the elderly and its consequence, “The nurse as an agent of the plan of care to be provided to the elderly and their families/caregivers” and “Profile and main difficulties of family members / caregivers of the elderly and the role of the nurse”. We conclude that the nurse has broad and fundamental role, since it is up to the guidance on the care and maintenance of the prosthesis ensure the health of family members/caregivers.

Keywords: Elderly. Nursing Care. Total Hip Arthroplasty.

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1. INTRODUÇÃO

Dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS, 2012) revelam que, no Brasil, na década de 19980, havia aproximadamente 7,2 milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade e, em 2010, mais de 20,5 milhões já ultrapassa-vam os 60 anos de idade ou mais.

Com o envelhecimento, processo natural de mudança rela-cionada ao tempo, associado ao aumento da expectativa de vida, mais pessoas viverão para ser “mais velhas” e, provavelmente, manterão maior independência funcional e boa saúde. Consequên-cias negativas podem incidir na vida do adulto e de seus familiares necessitando providências para se promover saúde na velhice. Por exemplo, observa-se o crescente número de intervenções cirúrgicas nessa faixa etária. Em 1995, essa população era responsável por 38% das internações hospitalares; como causas, estão as doenças musculoesqueléticas (SMETZER; BARE, 2000).

Fonseca (2010), em estudo no setor de ortopedia de um hos-pital público no Estado do Rio de Janeiro, constatou que, em 2006, 60% dos clientes internados eram pessoas com mais de 60 anos com fratura de quadril devido a algum tipo de queda, submetidas à intervenção cirúrgica, sendo necessária a implantação de prótese de quadril com articulação artificial.

Para Rocha et al. (2010), as quedas em idosos são consi-deradas um importante problema de saúde pública devido à sua incidência, complicações e aos custos ao sistema de saúde, oca-sionando a perda de autonomia e da independência do idoso. Em pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Traumatologia e Or-topedia (INTO) vinculado ao Ministério de Saúde, revelou-se que um percentual de 20,6% homens com idade entre 60 e 69 anos de idade tem osteoporose, ou seja, perda significativa de massa óssea, tornando-o mais propício a desenvolver algum tipo de fratura. No grupo com 70 a 79 anos, chega a 23,2% e, em grupos com 80 anos ou mais, chega a atingir 36,6%, onde foram observadas, em todos os casos, fraturas nas regiões da coluna lombar e do fêmur.

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O Ministério da Saúde (BRASIL, 2009), em 2008, revelou que, entre as causas relevantes de morbidade e mortalidade dos idosos, está a fratura de quadril. As quedas, dentre as causas exter-nas, são responsáveis por 24% das mortes em idosos, enquanto no restante da população corresponde a 06%. Aproximadamente 30% dos idosos sofrem quedas todo ano e, em idosos acima de 80 anos, essa estimativa sobe para 40%. Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, em 2008, houve um aumento de 8% no número de in-ternações por fraturas de quadril em relação a 2005, responsável por 32.908 internações hospitalares no SUS e a um custo total de R$58,6 milhões.

Dotada de autoestabilidade e com importante desempenho nas atividades de vida diária (AVD), a principal função da articu-lação do quadril é sustentar e locomover o homem, além de estar ativamente ligada na coluna e no joelho através da inserção dos músculos. A articulação do quadril forma um encaixe, em que a cabeça do fêmur está inserida na cavidade acetabular, envolta por músculos, nervos, cápsulas e fáscias que permitem amplos movi-mentos de adução e abdução, extensão e flexão, rotação externa e interna, além de ser altamente vascularizado (TASHIRO; MU-RAYAMA, 2001).

Ferreira (2010) diz que as fraturas de quadril já apresentavam grande desafio aos cirurgiões desde os tempos de Hipócrates, mas que foi na década de 1960 que o britânico Charnley revolucionou a história das artroplastias com estudos que objetivavam beneficiar os portadores de afecções osteoarticulares, no intuito de permitir um quadril livre de sintomas de anormalidades e o alívio da dor.

Em 1962, Charnley realizou a primeira cirurgia de artroplas-tia total do quadril (ATQ), caracterizada pela troca de ambas as superfícies articulares intracapsular articular. No caso do quadril, é feita a remodelagem de toda a cabeça do fêmur e parte do colo femoral e a remodelagem do acetábulo; logo após, é feita a esta-bilização dos componentes no osso através de cimentação ou sob pressão (TASHIRO; MURAYAMA, 2001).

As mesmas autoras dizem que a durabilidade de uma ATQ é prevista em média para 25 anos; sabe-se que a espessura da cápsula

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de polietileno é de 5mm² e que ela sofre um desgaste de 1mm² a cada 5 anos, mas está totalmente ligada à realização de atividade física e das condições do paciente, assim como a falta de cuidados, sobrecarga da articulação, posicionamento incorreto da prótese causando dor, e sinais de instabilidade podem reduzir esse tempo. O enfermeiro, ao desenvolver o plano de alta para o idoso e seu cui-dador, deve ter sempre em mente a preocupação com a longevidade e a manutenção da prótese, além de uma qualidade de vida melhor ao idoso.

2. OBJETIVO

Neste trabalho, tem-se o objetivo de entender o papel do en-fermeiro como educador do familiar/cuidador de idosos, no pós--operatório de artroplastia total de quadril a partir do levantamento das literaturas disponíveis em língua portuguesa e inglesa.

3. MÉTODOS

Tratou-se de uma pesquisa bibliográfica baseada na produção científica nas línguas portuguesa e inglesa sobre a atuação do enfer-meiro como educador do familiar/cuidador de idoso na alta hospita-lar de ATQ. Os dados foram coletados na base de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) indexados entre os anos 2001 e 2011.

De acordo com Vieira e Hossne (2001, p. 135), as revisões bibliográficas “[...] trazem um resumo da literatura especializada sobre determinado tema” e, assim, abordam amplamente os acha-dos relevantes. A revisão bibliográfica deve mostrar a evolução de conhecimento sobre o tema, apontando falhas e acertos, criticando, elogiando e, também, resumindo o que se julga interessante.

Como critérios de inclusão, utilizaram-se publicações que discorressem sobre o tema proposto e apresentassem texto na ín-tegra para análise posterior. Os critérios de exclusão dos artigos foram: publicações referentes a estudos em Instituições de Longa Permanência e internações hospitalares. Para iniciar a busca dos re-

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sumos, foi acessado o site <www.bireme.br> e, por meio da Termi-nologia em Saúde, foram consultados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), sendo eles: “idoso”, “cuidados de enfermagem”, “artroplastia total do quadril” e “cuidadores domiciliares” em lín-gua portuguesa; e “aged”, “nursingcare”, “arthrosplasty”, “hip”, “caregivers” em língua inglesa.

O levantamento foi realizado no mês de setembro de 2012 e, após a leitura criteriosa na íntegra de cada estudo pré-selecionado, identificou-se que apenas 30 se adequavam ao objetivo proposto do estudo e, portanto, constituíram a amostra definitiva para análi-se. Foi elaborada uma tabela (Tabela 1) que apresenta informações sobre o título, a autoria, o ano e o local de publicação. O critério de categorização utilizado obedeceu aos objetivos propostos, sendo compostas três categorias que resultaram no desenvolvimento do artigo: “Características da artroplastia de quadril em idosos e suas consequências”, “O enfermeiro como agente do plano de cuidados a serem dos cuidados prestados aos idosos e seus familiares/cuida-dores” e “Perfil e principais dificuldades dos familiares/cuidadores de idosos e o papel do enfermeiro”.

Tabela 1. Artigos selecionados entre os anos de 2001-2011.TEMÁTICA ANO TÍTULO AUTORES REVISTA

O enfermeiro como agente dos cuidados prestados aos idosos e seus familiares/cuidadores

2002 Caracterização de um grupo de idosas hospitalizadas e seus cuidadores visando ao cuidado pós-alta hospitalar

MARIN, M. J. S.; ANGERAMI, E. L. S.

Revista Escola Enfermagem USP

2010 Cuidado intergeracional com o idoso: autonomia do idoso e presença do cuidador

FLORES, G. C.; BORGES, Z. N.; DENARDIN-BUDÓ, M. L.; MATTIONI, F. C.

Revista Gaúcha Enfermagem

2011 Fragilidade no idoso: o que vem sendo produzido pela enfermagem

LINCK, C. L.; CROSSETTI, M. G. O.

Revista Gaúcha Enfermagem

2005 Percepção de cuidadores familiares sobre um programa de alta hospitalar

CESAR, A. M.; SANTOS, B. R. L.

Revista Brasileira Enfermagem

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TEMÁTICA ANO TÍTULO AUTORES REVISTA

O enfermeiro como agente dos cuidados prestados aos idosos e seus familiares/cuidadores

2011 Viver com mais idade em contexto familiar: dependência no autocuidado

ARAUJO, I.; PAÚL, C.; MARTINS, M.

Revista Escola Enfermagem USP

Perfil e principais dificuldades dos familiares/cuidadores de idosos e o papel do enfermeiro

2007 A importância do cuidador no contexto da saúde do idoso

MOREIRA, M. D.; CALDAS, C. P.

Escola Anna Nery

2006 A saúde de idosos que cuidam de idosos.

RODRIGUES, S. L. A.; WATANABE, H. A. W.; DERNTL, A. M.

Revista Escola Enfermagem USP

2010 Atenção integral no cuidado familiar do idoso: desafios para a enfermagem gerontológica no contexto da estratégia de saúde da família

PORTELLA, M. R. Rev. Brasileira Geriatria Gerontologia

2009 Atributos da tensão do cuidador familiar de idosos dependentes

FERNANDES, M. G. M.; GARCIA, T.

Revista Escola Enfermagem USP

2005 Projeto Bambuí: a experiência do cuidado domiciliário por esposas de idosos dependentes

GIACOMINI, K. C.; UCHOA, E.; LIMA-COSTA, M. F. F.

Caderno Saúde Pública

2007 Necessidades de educação em saúde dos cuidadores de pessoas idosas no domicílio

MARTINS, J. J.; ALBUQUERQUE, G. L.; NASCIMENTO, E. R. P.; BARRA, D. C. C.; SOUZA, W. G. A.; PACHECO, W. N. S.

Texto Contexto – Enfermagem

2009 Estrutura conceitual da tensão do cuidador familiar de idosos dependentes

FERNANDES, M. G. M.; GARCIA, T.

Revista Eletrônica Enfermagem

2005 Nível de dependência de idosos e cuidados no âmbito domiciliar

THOBERL, E.; CREUTZBERG, M.; VIEGAS, K.

Revista Brasileira Enfermagem

2009 O tornar-se cuidadora na senescência

BRAZ, E.; CIOSAK, S. I.

Escola Anna Nery

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TEMÁTICA ANO TÍTULO AUTORES REVISTA

Perfil e principais dificuldades dos familiares/cuidadores de idosos e o papel do enfermeiro

2005 Papel do responsável pelos cuidados à saúde do paciente no domicílio – um estudo de caso

RODRIGUES, M. R.; Almeida, R. T.

Acta paulista enfermagem

2008 Desvelando o cotidiano dos cuidadores informais de idosos

ROCHA, M. P. F.; VIEIRA, M. A.; SENA, R. R.

Revista Brasileira Enfermagem

2005 Projeto Bambuí: a experiência do cuidado domiciliário por esposas de idosos dependentes

GIACOMINI, K. C.; UCHOA, E.; LIMA-COSTA, M. F. F.

Cad. Saúde Pública

2009 Determinantes da tensão do cuidador familiar de idosos dependentes

FERNANDES, M. G. M.; GARCIA, T.

Revista Brasileira Enfermagem

2010 Implicações na saúde mental de cuidadores de idosos: uma necessidade urgente de apoio formal

CAMARGO, R. C. V. F.

Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drogas

2011 Conflitos no relacionamento entre cuidadores e idosos: o olhar do cuidador

CARNEIRO, V. L.; FRANÇA, L. H. F. P.; FRANÇA, L. H. F. P.

Rev. Brasileira Geriatria Gerontologia

Características da artroplastia de quadril em idosos e suas consequências

2010 A influência de variáveis sociodemográficas, clínicas e funcionais sobre a qualidade de vida de idosos com artroplastia total do quadril

RAMPAZO, M. K.; D’ELBOUX, M. J.

Rev. Brasileira Fisioterapia

2004 Análise pré e pós-operatória da capacidade funcional e qualidade de vida de pacientes portadores de osteoartrose de quadril submetidos à artroplastia total

PATRIZZI, L. J.; VILAÇA, K. H. C.; TAKATA, E. T.; TRIGUEIRO, G.

Rev. Brasileira Reumatologia

2010 Artroplastia parcial no tratamento das fraturas do colo do fêmur

ONO, N. K.; LIMA, G. D. A.; GUIMARÃES, R. P.; JUNIOR, W. R.; QUEIROZ, M. C.

Revista Brasileira Ortopedia

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TEMÁTICA ANO TÍTULO AUTORES REVISTA

Características da artroplastia de quadril em idosos e suas consequências

2007 Avaliação da qualidade de vida dos pacientes idosos com fratura do colo do fêmur tratados cirurgicamente pela artroplastia parcial do quadril

CHIKUDE, T.; FUJIKI, E. N.; HONDA, E. K.; ONO, N. K.; MILANI, C.

Acta Ortopedia Brasileira

2009 Avaliação epidemiológica e radiológica das fraturas diafisárias do fêmur: estudo de 200 casos

MORAES, F. B.; SILVA, L. L.; FERREIRA, F. V.; FERRO, A. M.; ROCHA, V. L.; TEIXEIRA, K. S.

Revista Brasileira Ortopedia

2010 Avaliação funcional de idoso vítima de fraturas na hospitalização e no domicílio

Monteiro, C. R.; Faro, A. C. M.

Revista Escola Enfermagem USP

2001 Infecções hospitalares em 46 pacientes submetidos à artroplastia total do quadril

LIMA, A. L. L. M.; BARONE, A. A.

Acta Ortopedia Brasileira

2011 O Custo Direto da fratura de fêmur por quedas em pessoas idosas: análise no Setor Privado de Saúde na cidade de Brasília, 2009

ARNDT, A. B. M.; TELLES, J. S.; KOWALSKI, S. C.

Rev. Brasileira Geriatria Gerontologia

2011 Fraturas da extremidade proximal do fêmur tratadas no Hospital São Paulo/Unifesp – estudo epidemiológico

ASTUR, D. C.; ARLIANI, G. G.; FERNANDES, H. J. A.; BALBACHEVSKY, D.; REIS, F. B.

Revista brasileira medicina

2009 Fatores preditivos para marcha na fratura transtrocanteriana do fêmur

ASSUNÇÃO, J. H.; FERNANDES, T. L.; SANTOS, A. L. G.; SAKAKI, M. H.; ZUMIOTTI, A. V.

Acta Ortopedia Brasileira

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4. RESULTADOS

Características da artroplastia de quadril em idosos e suas con-sequências

Dados epidemiológicos sobre idosos submetidos à artroplas-tia de quadril (AQ) revelaram que a maioria dos idosos era do sexo feminino e possuía idade ≥ 70 anos, sendo as fraturas de fêmur o principal motivo desse procedimento cirúrgico, muitas vezes de-correntes de queda da própria altura (CHIKUDE et al., 2007; AS-TUR et al., 2008; MORAES et al., 2009; ASSUNÇÃO et al., 2009; MONTEIRO; FARO, 2010; ONO et al., 2010; ARNDT; TELLES; KOWALSKI, 2011). Esse tipo de fratura vem sendo apontada como a mais importante e comum causa de perda funcional e mortalidade entre os idosos, tendo sido o lar desses idosos o principal cenário, seguido pelo ambiente público. A prevalência de quedas no domi-cílio justifica-se pela condição física e/ou social, caracterizada pela permanência no ambiente domiciliar por mais tempo (ONO et al., 2010).

Alguns aspectos podem comprometer a qualidade de vida dos idosos submetidos à ATQ, tais como: aspectos físicos, capacidade funcional, rigidez e dor. Patrizziet et al. (2004) trouxeram que ATQ devolve aos pacientes a amplitude do movimento muito próxima da normalidade, amenizando a dor e promovendo a realização das AVDs. Os pacientes envolvidos em seu estudo, no 60º dia de pós--operatório, apesar de demonstrarem dispostos, referiram insegu-rança e medo para retornarem as suas atividades. Para Rampazo e D’Elboux, (2012), investir em aspectos funcionais, na locomoção e alívio da dor contribui para qualidade de vida positiva e para a satisfação dos idosos. Para Chikudeet et al. (2007), pacientes dis-seram estar satisfeitos com os aspectos físicos no pós-operatório e foca que a preocupação não deve ser só em relação ao procedimen-to cirúrgico, que o cuidado da família e a atenção médica também contribuem para melhor qualidade de vida.

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Estudos que avaliaram a capacidade funcional de pacientes submetidos à ATQ identificaram que, apesar de a capacidade fun-cional ser influenciada por vários fatores (o sexo, estado civil, tipo de fratura e região acometida), estes não são considerados deter-minantes no estado funcional dos idosos (PATRIZZI et al., 2004; CHIKUDE et al., 2007; MONTEIRO; FARO, 2010; RAMPAZO; D’ELBOUX, 2012). Chikude et al. (2007) ainda afirmam que a baixa capacidade observada se dá pelo fato de pessoas idosas apre-sentarem baixa atividade diária, inclusive pré-fratura; porém, elas se mostraram satisfeitas com relação aos aspectos físicos.

Nesse sentido, Monteiro e Faro (2010) sugerem algumas me-didas a fim de reduzir incapacidades e promover a qualidade de vida do idoso, destacando: investir na formação de profissionais qualificados para avaliar a capacidade funcional, atendendo suas necessidades a partir da elaboração de planos que minimizem as incapacidades; fortalecer as políticas públicas que visem a estra-tégias preventivas, e não só interventivas, assegurando ao idoso a circulação livre e segura ao seu ambiente; controlar as doenças e orientar familiares/cuidadores incentivando a participação dos ido-sos em programas de atividades físicas.

Além de interferir na funcionalidade do idoso e em sua quali-dade de vida, outra complicação física observada foi a infecção no período pós-operatório. O fator de maior relevância para o desen-volvimento dessa infecção foi o retardo do momento da fratura até o procedimento cirúrgico em si (LIMA; BARONE, 2001). Ono et al. (2010) relataram um caso em que foi necessária a ressecção da prótese devido à infecção aguda no sítio operatório.

Há que se pensar também que artroplastia do quadril gera um grave impacto financeiro. Em pesquisa realizada em Brasília, no ano de 2009, constatou que a fratura de quadril, que resulta em procedimento cirúrgico na faixa etária acima dos 60 anos, tem o valor de uma redução cirúrgica, pode chegar a aproximadamente R$ 10 mil, de modo que as despesas não terminam com a alta hos-pitalar, permanecendo significativo até sua reabilitação (ARNDT; TELLES; KOWALSKI, 2011). Daí a importância de sensibilizar os profissionais de saúde quanto à sua prática, prevenindo infecções,

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e promover a conscientização do idoso/ familiar/ cuidador quanto à manutenção da prótese.

O enfermeiro como agente do plano de cuidados a serem pres-tados aos idosos e seus familiares/cuidadores

O aumento da longevidade e das doenças crônicas pode con-tribuir com o aumento de idosos portadores de limitações funcio-nais, implicando uma maior necessidade de cuidados continuados, geralmente prestados por familiares sem apoio. Segundo Araújo, Paul e Martins (2011), alguns fatores são determinantes na hora da elaboração do plano de cuidados para tais idosos, tornando-se in-dispensável a presença do enfermeiro que visualize essa realidade identificando as fragilidades e forças desses familiares/cuidadores, reconhecendo as necessidades e dificuldades para realizar a avalia-ção do grau de dependência que indicarão os diagnósticos precisos e determinando que os cuidados sejam humanizados, necessários e fundamentados na resposta funcional do idoso e no bem-estar do seu familiar/cuidador.

A faixa etária avançada deve ser considerada importante, pois quanto maior é a idade maior o risco de adoecer e aumentar o grau de dependência para realização das AVDs. A avaliação da depen-dência é o ponto inicial para elaboração de planos de assistência, havendo grande necessidade da atuação interdisciplinar visando à reabilitação, uma vez que essas atividades interferem ativamente no bem-estar, na autoestima na qualidade de vida desses idosos.

Com o intuito de aumentar a possibilidade de manutenção ou melhoria do estado de saúde do idoso a ser cuidado, bem como sua independência para atividades cotidianas, Marin e Argerami (2002) concluíram que o familiar/cuidador e o idoso devem ser incluídos na elaboração do plano de cuidados após hospitalização, conside-rando que a alta se inicia no ambiente hospitalar.

César e Santos (2005), ao realizarem trabalho voltado à per-manência do familiar/cuidador durante a internação visando à alta hospitalar, observaram a importância do incentivo à autonomia no processo de inserção e interação do familiar/cuidador, tanto no pro-

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cesso de interação ao tratamento como na recuperação do idoso. Um dos pontos importantes apresentados no trabalho foi a carência financeira do idoso e de seu familiar/cuidador, que, muitas vezes, os impede de dar continuidade adequada aos cuidados do idoso em domicílio, pois os familiares, quando se deparam com o compro-metimento da saúde de seus entes e não recebem as devidas orien-tações, acabam por construir uma rede informal de apoio entre si. Assim, torna-se evidente e necessária uma intervenção dos serviços de saúde na busca do idoso doente em domicílio e seu familiar/cuidador, promovendo orientações por parte do enfermeiro, o que reduziria o desamparo vivenciado pela pessoa que cuida, evitaria hospitalizações desnecessárias, reduziria o ônus para o sistema pú-blico de saúde e contribuiria para melhor recuperação, restabele-cendo incapacidades e/ou impedindo sua evolução.

Da mesma forma, outro estudo voltado para o processo de introdução da família englobando o cuidado ao idoso no ambiente hospitalar e/ou no retorno à comunidade visa à capacitação para o desenvolvimento dos cuidados a serem realizados em domicílio e a construção de vínculos entre enfermeiros e os familiares/cui-dadores, investindo no conhecimento sobre a família, bem como propondo estratégias entre a equipe de saúde e o grupo familiar. Investir na capacitação dos familiares/cuidadores para desenvolver um cuidado de forma efetiva poderia reduzir o número de reinter-nações dos idosos (LINCK; CROSSETTI, 2001).

Em relação ao cuidado proporcionado pelos familiares/cui-dadores, na maioria das vezes, este é realizado por mulheres, com idade em torno dos 55 anos, o que é de certa forma considerado normal, uma vez que estas estão inseridas socialmente no papel de mãe. Sendo assim, os homens, em sua maioria, são cuidados pe-las esposas, enquanto as mulheres recebem os cuidados das filhas, netas e irmãs solteiras e/ou viúvas, que recebem suporte de outros membros da família (MARIN; ARGERAMI, 2002).

Para Flores et al. (2010), o cuidado intergeracional faz-se presente através da qualidade do cuidado e está baseado em cor-responder às necessidades humanas (estar disponível, controlar e administrar as medicações, morar perto), respeitando o direito de

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decisão do idoso em relação aos cuidados em sua totalidade. Ou-tro fator que reflete diretamente na qualidade de vida do idoso é a preservação da sua autonomia mesmo diante de sua dependência, devendo, assim, dar oportunidade e liberdade a ele de agir e res-peitar suas escolhas. De acordo com as autoras, o enfermeiro para qualificar seu plano de cuidados deve trabalhar com a dependência do idoso, aproveitando os espaços de aproximação e conhecer a realidade dos idosos e de seus familiares/cuidadores a fim de trans-mitir segurança. Assim, é possível troca de saberes (experiência de vida e conhecimento científico), com intuito de construir um rela-cionamento eficaz à base do respeito, confiança e o vínculo entre o enfermeiro, familiar/cuidador e o idoso.

Perfil e principais dificuldades dos familiares/cuidadores de idosos e o papel do enfermeiro

Em estudo de Martins et al. (2007), os familiares/cuidadores de idosos pertenciam à faixa etária mais velha, entre 70 e 89 anos, dados semelhantes aos apresentados por Rodrigues, Watanabe e Derntl (2006), ou seja, entre 68 e 81 anos. Cuidadores senescentes possuem necessidades e particularidades em relação à atenção à própria saúde (BRAZ; CIOZAK, 2009). O ato de cuidar, além de desgastante, implica riscos à saúde de quem cuida e, na maioria das vezes, os familiares/cuidadores estão sobrecarregados de tra-balho, submetidos a um estado de esgotamento emocional, isola-mento social e vivenciando situações rotineiras de intenso confli-to no ambiente familiar. Com isso, tem-se observado o constante adoecimento deles (ROCHA; VIEIRA; SENA, 2008; CAMARGO, 2010).

Em estudo de revisão bibliográfica, Moreira e Caldas (2007) identificaram que o perfil dos cuidadores de idosos se constitui de uma rede autônoma, desintegrada dos serviços de saúde e carente de informações, orientações e suporte dos profissionais de saúde. Cuidadoras de Bambuí – Minas Gerais revelaram que, devido à falta de orientações e à carência de recursos, prestam cuidados a seus maridos de forma cotidiana, integral, improvisada, intuitiva e solitária (GIACOMIN; UCHOA; LIMA-COSTA, 2005). Martins

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et al. (2007) observaram a vontade e a necessidade por parte dos familiares/cuidadores de obterem orientações sobre o estado dos idosos, medicamentos e os cuidados.

Fernandes e Garcia (2009a), Fernandes e Garcia (2009b), Fernandes e Garcia (2009c), em estudos acerca da tensão do fa-miliar/cuidador durante os cuidados prestados aos idosos, trazem que esse fenômeno é resultado de fatores biopsicossociais, eco-nômicos e histórico-culturais estabelecidos pelo desequilíbrio da atividade de repouso, alterações no estado físico, emocional e no enfrentamento individual. Da mesma forma ao que acontece com os familiares do estudo de Rodrigues, Watanabe e Derntl (2006), as mudanças autorreferidas atribuídas ao cuidado prestado são: o cansaço, estresse, preocupação, surgimento de sintomas e doenças, mudanças no cotidiano e na autoestima.

É importante considerar no familiar/cuidador sua capacidade ou incapacidade para a realização da assistência ao idoso, além da idade, destreza manual e o físico para a execução dos procedimen-tos. Além disso, torna-se determinante de sua saúde a situação de vida em que o idoso está inserido, pois o desgaste do cuidador, na maior parte das vezes, é proporcional às necessidades do idoso (RODRIGUES; ALMEIDA, 2005).

Thober, Creutzberg e Viegas (2005) também afirmam que o grau de dependência dos idosos influencia diretamente a vida do familiar/cuidador. Faz-se necessário, então, que haja mais de um familiar/cuidador para o auxílio do idoso na realização das AVDs, disponibilizando ocasiões de descanso e lazer e momentos para os cuidados pessoais desse familiar/cuidador. Cabe ao enfermeiro a necessidade de (re)conhecer a realidade, dificuldades e facilidades que englobam o cuidado, aperfeiçoando o suporte, sem transferir toda a responsabilidade à família (MARTINS et al., 2007).

Para tanto, o familiar/cuidador de idosos necessita de uma assistência de enfermagem voltada para a resolução ou minimiza-ção dos problemas cotidianos, com sistematização do planejamento e contextualizando as ações cuidativas (FERNANDES; GARCIA, 2009b). Além disso, as ações devem ser amplas, ou seja, o fami-liar/cuidador deve ser o principal sujeito, com práticas baseadas

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no respeito, afinidade, entendimento e organização de tarefas a fim de trazer benefícios tanto para quem cuida como para quem está sendo cuidado (MOREIRA; CALDAS, 2007; BRAZ; CIOZAK, 2009). Rocha, Vieira e Sena (2008) e Rodrigues e Almeida (2005) propõem, ainda, a implantação de programas de suporte familiar direcionados à realidade dos familiares/cuidadores, incluindo e considerando os idosos.

5. DISCUSSÃO

As ATQs, quando submetidas aos cuidados necessários, du-ram aproximadamente 25 anos. Elas são frequentemente indicadas às pessoas acima de 50 anos devido à realização de baixa atividade física; o posicionamento incorreto, a sobrecarga na articulação e a falta de cuidados com a prótese podem reduzir essa longevidade, gerando instabilidade e dor, afetando diretamente a capacidade fun-cional e a qualidade de vida do idoso (TASHIRO; MARAYAMA, 2001).

No entanto, quando não recebe a manutenção adequada, pode dar origem a complicações locais e sistêmicas. Luxação e sublu-xação são as complicações locais mais frequentes no período pós--operatório de fraturas de fêmur. Dentre as manifestações sistêmi-cas, a infecção pode ser considerada a mais importante, pois pode comprometer a manutenção da prótese. Deve-se atentar o familiar/cuidador quanto aos sintomas da luxação para que possa haver in-tervenção rápida, tais como: dor intensa, deformidade do membro operado (posição de abandono) e aumento da região coxofemoral (um membro mais curto que o outro) (TASHIRO; MARAYAMA, 2001).

No que diz respeito à infecção, Ventura (1996) definiu-a como a complicação sistêmica mais temida pelo cirurgião, pois ela normalmente implica a retirada da prótese. Deve-se, assim, orien-tar o familiar/cuidador a observar as manifestações de infecção da ferida cirúrgica durante a realização do curativo e na hora do ba-nho, como: hiperemia, dor, edema, presença de secreção. A troca do curativo deve ser realizada sempre que este estiver úmido, pois

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curativo molhado favorece a contaminação bacteriana, principal-mente quando apresenta secreção em grande quantidade. Quando a ferida estiver com as bordas íntegras, úmidas e sem secreção, o curativo pode ser mantido aberto, realizando a lavagem da ferida somente com água e sabão (TASHIRO; MARAYAMA, 2001).

Segundo Beendendo e Gurgel (2007), o enfermeiro, em se tratando de cuidados prestados na assistência domiciliar ao idoso, tem papel fundamental, pois atua na prevenção, recuperação e rea-bilitação, objetivando a independência e autonomia do idoso basea-do em orientações e no processo educativo destinados aos pacientes idosos e seus familiares cuidadores.

O enfermeiro deve tentar interferir no ambiente domiciliar do idoso com o intuito de adequar esse lar para recebê-lo após alta de ATQ. De acordo com Dandy e Edwards (2011), a partir do 2º dia de PO, o idoso submetido à ATQ já está autorizado a sentar-se fora da cama, o que deve ser feito em uma cadeira alta com braços para evitar a flexão dos quadris além de 90º, além de forçar o membro operado na hora de levantar, podendo levar ao deslocamento do quadril. Deve-se manter um travesseiro entre MMII por um mês; retirar tapetes e melhorar a iluminação para prevenir quedas (VEN-TURA, 1996; DANDY; EDWARDS, 2011).

Familiares/cuidadores, ao desenvolverem cuidados aos ido-sos, devem priorizar essa relação respeitando a independência e proporcionar a participação no processo de recuperação, favore-cendo a qualidade de vida do idoso, e não apenas procedimentos técnicos. Fonseca (2008) identificou que a principal necessidade do familiar/cuidador expressa a partir de suas preocupações é em relação aos cuidados diretos com a prótese. O medo ao manipular o idoso com prótese evidencia o despreparo e a necessidade de orien-tação para a realização dos cuidados necessários. A autora também evidenciou que o estado de dependência do idoso gera uma deman-da física e emocional relacionada às condições socioeconômicas do idoso e de seus cuidadores interferindo na qualidade de vida de todos os integrantes dessa relação.

O enfermeiro, quando é capaz de identificar as dificuldades encontradas pelos familiares/cuidadores e consegue transmitir seu

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conhecimento em forma de orientações ao cuidado com a ferida cirúrgica, torna-os capazes de avaliar, prevenir e tratar as feridas, contribuindo com a melhoria na relação familiar/cuidador-idoso--enfermeiro e, consequentemente, na qualidade de vida dessa po-pulação (TELLES, 2011).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo possibilitou compreender as características da ATQ em idosos e suas consequências, visualizar o enfermeiro como agente do plano de cuidados a serem prestados aos idosos por seus familiares/cuidadores e entender o perfil e as principais dificuldades dos familiares/cuidadores de idosos e o papel do en-fermeiro.

Foi possível identificar que os cuidadores, em sua maioria, são integrantes da família dos idosos e que se encontram desampa-rados pelos profissionais de saúde ao assumir a responsabilidade do cuidado no pós-operatório da ATQ. Houve a necessidade de orien-tações quanto ao estado de saúde, aos medicamentos a fazer uso e aos cuidados específicos ao idoso. Além disso, na maior parte das vezes, familiares/cuidadores sentem-se sobrecarregados e desgas-tados, implicando riscos à saúde também de quem cuida.

Dessa forma, o enfermeiro, ao elaborar um plano de cuidados ao idoso após ATQ, deve incluir o familiar/cuidador, considerando sua capacidade ou incapacidade, a idade e a destreza manual para a execução dos procedimentos; assegurar momento de lazer, de des-canso e de cuidados pessoais; haver uma forma de revezamento de cuidadores, ou seja, o enfermeiro deve atentar-se também à saúde do familiar/cuidador.

Quanto aos cuidados específicos ao idoso, o enfermeiro deve orientar o familiar/cuidador quanto ao reconhecimento precoce dos sintomas de luxação (dor intensa, deformidade do membro opera-do, desnivelamento do membro), aos possíveis sinais e sintomas de infecção (dor, hiperemia, edema, presença de secreção, febre), realizar ou supervisionar a troca dos curativos adequadamente, ofe-recer medidas de alívio da dor e o controle de doenças prévias.

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Deve, ainda, sugerir adaptações no ambiente domiciliar do idoso para recebê-lo após alta de ATQ, especialmente quanto à mobilida-de precoce.

Além disso, o enfermeiro necessita fazer uso de instrumen-tos que avaliem o grau de dependência e autonomia desses idosos, maximizando o vínculo entre os envolvidos e sanando dificuldades encontradas. A transmissão de segurança, respeito e confiança ao idoso e ao cuidador/familiar pode permitir o sucesso do tratamento e da recuperação.

A partir deste estudo, acredita-se que a abordagem preven-tiva para quedas, fraturas e consequente procedimento cirúrgico é necessária. No entanto, após o evento, torna-se imprescindível a atuação de profissionais preparados, inclusive de equipe interdis-ciplinar; na elaboração de cuidados específicos e direcionados às necessidades do idoso e, também, do familiar/cuidador.

7. CONCLUSÃO

Conclui-se, assim, que o papel do enfermeiro como educador do familiar/cuidador de idosos, no pós-operatório de artroplastia total de quadril, é o de trazer orientações quanto: ao reconhecimen-to precoce dos sintomas de luxação (dor intensa, deformidade do membro operado, desnivelamento do membro), aos possíveis si-nais e sintomas de infecção (dor, hiperemia, edema, presença de secreção, febre), à realização/supervisão da troca dos curativos adequadamente, ao oferecimento de medidas de alívio da dor e ao controle de doenças prévias. O enfermeiro deve sugerir adaptações no ambiente domiciliar do idoso para recebê-lo após alta de ATQ, especialmente quanto à mobilidade precoce.

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