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O PAPEL DO PSICÓLOGO HOSPITALAR NA ATUALIDADE: UM ESTUDO INVESTIGATIVO Adriana Campos Meiado*, João Paulo Fadini ** RESUMO A psicologia hospitalar é uma área do conhecimento que visa fornecer suporte ao sujeito em adoecimento, com o intuito de que este possa atravessar essa fase com maior resiliência. É um campo de entendimento e tratamento dos aspectos biológicos e psicológicos em torno do adoecimento e não somente doenças psicossomáticas. Alguns autores acreditam que o profissional da psicologia inserido no contexto hospitalar não tem consciência de quais sejam suas tarefas e seu papel dentro das instituições, ao mesmo tempo em que o hospital também tem dúvidas quanto ao que esperar desse profissional. Desse modo o distanciamento da realidade institucional e a inadequação da assistência mascarada por um falso saber pode gerar experiências mal sucedidas. O objetivo geral deste artigo é entender a construção do papel do psicólogo hospitalar na atualidade, verificando a construção histórica do perfil desse profissional na realidade brasileira e seus possíveis desdobramentos levando em consideração sua atuação na dimensão assistencial e na saúde pública atualmente. Trata-se de um estudo bibliográfico, realizado com artigos através de bancos de indexação, livros e revistas entre os anos de 2000 a 2013, utilizando também de bibliografia anterior a esta data devido a fatos históricos de relevância. Diante do estudo foi possível identificar que a atuação do psicólogo hospitalar é auxiliar o paciente em seu processo de adoecimento, visando a minimização do sofrimento provocado pela hospitalização. A família também cumpre um papel de extrema importância em situações de adoecimento e tratamento. São inúmeras as condições que favorecem a presença do psicólogo na área da saúde, mais especificamente no hospital, como também são inúmeros os benefícios proporcionados por esses profissionais. Há um longo caminho a ser percorrido e acredita-se que é a partir da academia de formação, isto é, dos cursos de preparação que tal visão poderá ser ampliada e desta forma espera-se que este breve estudo venha ser um oásis para futuros profissionais. *Psicóloga, Doutora em Educação Escolar pela UNESP/Araraquara. Docente das Faculdades Integradas de Jaú.**Graduado em Psicologia pelas Faculdades Integradas de Jaú. Mestrando pela Universidade Estadual Julio de Mesquita Filho – Unesp/Bauru.

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O PAPEL DO PSICÓLOGO HOSPITALAR NA ATUALIDADE: UM ESTUDOINVESTIGATIVO

Adriana Campos Meiado*, João Paulo Fadini **

RESUMO

A psicologia hospitalar é uma área do conhecimento que visa fornecersuporte ao sujeito em adoecimento, com o intuito de que este possa atravessaressa fase com maior resiliência. É um campo de entendimento e tratamentodos aspectos biológicos e psicológicos em torno do adoecimento e nãosomente doenças psicossomáticas. Alguns autores acreditam que oprofissional da psicologia inserido no contexto hospitalar não tem consciênciade quais sejam suas tarefas e seu papel dentro das instituições, ao mesmotempo em que o hospital também tem dúvidas quanto ao que esperar desseprofissional. Desse modo o distanciamento da realidade institucional e ainadequação da assistência mascarada por um falso saber pode gerarexperiências mal sucedidas. O objetivo geral deste artigo é entender aconstrução do papel do psicólogo hospitalar na atualidade, verificando aconstrução histórica do perfil desse profissional na realidade brasileira e seuspossíveis desdobramentos levando em consideração sua atuação na dimensãoassistencial e na saúde pública atualmente. Trata-se de um estudobibliográfico, realizado com artigos através de bancos de indexação, livros erevistas entre os anos de 2000 a 2013, utilizando também de bibliografiaanterior a esta data devido a fatos históricos de relevância. Diante do estudo foipossível identificar que a atuação do psicólogo hospitalar é auxiliar o pacienteem seu processo de adoecimento, visando a minimização do sofrimentoprovocado pela hospitalização. A família também cumpre um papel de extremaimportância em situações de adoecimento e tratamento. São inúmeras ascondições que favorecem a presença do psicólogo na área da saúde, maisespecificamente no hospital, como também são inúmeros os benefíciosproporcionados por esses profissionais. Há um longo caminho a ser percorridoe acredita-se que é a partir da academia de formação, isto é, dos cursos depreparação que tal visão poderá ser ampliada e desta forma espera-se queeste breve estudo venha ser um oásis para futuros profissionais.

*Psicóloga, Doutora em Educação Escolar pela UNESP/Araraquara. Docente das FaculdadesIntegradas de Jaú.**Graduado em Psicologia pelas Faculdades Integradas de Jaú. Mestrandopela Universidade Estadual Julio de Mesquita Filho – Unesp/Bauru.

Palavras-chave: Psicologia hospitalar. Psicologia da saúde. Psicólogohospitalar.

ABSTRACT

The hospital psychology is a field of knowledge which aims to provide supportto the subject in illness, in order to enable it to go through this phase withgreater resilience. It is a field of understanding and treatment of biological andpsychological aspects surrounding the disease and not only psychosomaticillnesses. Some authors believe that the professional psychology inserted inhospitals are unaware of what their tasks and its role within the institutions,while the hospital also has doubts as to what to expect of this professional.Thereby distancing the institutional reality and the inadequacy of assistancemasked by a false knowledge can lead to unsuccessful experiences. The aim ofthis article is to understand the construction of the hospital psychologist's roletoday, by checking the historical construction of this professional profile of theBrazilian reality and its possible developments taking into account theirperformance in the care dimension and currently public health. This is abibliographic study, with articles by indexing banks, books and magazinesbetween the years 2000-2013, also using previous literature to this date due tohistorical facts of relevance. Before the study was identified that theperformance of hospital psychologists is to assist the patient in their diseaseprocess, aimed at minimizing the suffering caused by hospitalization. The familyalso plays a role of utmost importance in situations of illness and treatment.There are numerous conditions that favor the presence of psychologists inhealth care, specifically in hospital, as are also numerous benefits provided bythese professionals. There is a long way to go and it is believed that it is fromthe academy, that is, the preparation courses that such a view can be magnifiedand therefore it is expected that this brief study will be an oasis for futureprofessionals.

Keywords: Hospital psychology. Health psychology. Psychologist hospital.

INTRODUÇÃO

O adoecimento traz em si uma desorganização da vida do paciente,

provocando várias transformações em sua subjetividade (CHIATTONE, 2011).

Essa desorganização pode envolver mudanças de hábitos, de identidade

(despersonalização) e muitas vezes o paciente pode acabar se tornando

apenas mais um número de CID e de leito (ESTIVALET, 2000). Sendo assim,

junto com a equipe multidisciplinar surge a figura do psicólogo com o intuito de

escutar e acolher o sofrimento do indivíduo frente as suas principais

dificuldades no que tange essa fase. O objetivo do psicólogo hospitalar é

auxiliar o paciente em seu processo de adoecimento, visando à minimização do

sofrimento provocado pela hospitalização, devendo prestar assistência ao

paciente, seus familiares e a toda equipe de serviço, levando em conta um

amplo leque de atuação e a pluralidade das demandas (CHIATTONE, 2011). A

atuação do profissional da psicologia no contexto hospitalar não se refere

apenas à atenção direta ao paciente, refere-se também a atenção à família e a

equipe de saúde, com o objetivo de promover mudanças, atividades curativas e

de prevenção, além de possibilitar a diminuição do sofrimento que a

hospitalização e a doença causam no sujeito.

Santos; Jacó-Vilela, (2009) apud Gioia-Martins; Rocha Júnior (2001)

acreditam que o profissional da psicologia inserido no contexto hospitalar não

tem consciência de quais sejam suas tarefas e seu papel dentro das

instituições, ao mesmo tempo em que o hospital também tem duvidas quanto

ao que esperar desse profissional, desse modo o distanciamento da realidade

institucional e a inadequação da assistência mascarada por um falso saber

pode gerar experiências mal sucedidas. A psicologia hospitalar por ser uma

área que lida diretamente com a subjetividade e sofrimento do outro exige que

o psicólogo entenda os limites de sua atuação para não se tornar um dos

elementos invasivos provenientes da hospitalização, bem como promover a

humanização e a transformação social no ambiente hospitalar, sem ficar preso

nas teorizações que isolam conflitos mais amplos (ESTIVALET, 2000).

Conjuntamente com o enfoque da humanização e do atendimento em saúde, a

interdisciplinaridade é uma das bases da tarefa do psicólogo que adentra no

hospital, pois partindo desse pressuposto o sujeito doente deve ser

considerado biopsicossocial (TAVARES et al., 2012).

Contudo, é um desafio para o profissional da psicologia adentrar em um

contexto onde se predomina o olhar biomédico, onde há limites institucionais

regidos por regras, condutas e normas, além disso, o trabalho do psicólogo é

muitas vezes deficiente no contexto hospitalar, pois a ausência de estrutura

física impossibilita o espaço de cuidado do psicólogo (CHIATTONE, 2011).

Ainda é muito presente o modelo tradicional de atuação do mesmo nesse

contexto, porém, na verdade, mesmo que se busquem novas formas de

cuidados psicológicos, nos deparamos com situações onde o profissional

obriga-se a exercer seu trabalho nos corredores e entre macas (SEBASTIANI,

2011).

O estado precário da saúde da população brasileira é um entrave dentro

do saber psico, pois exige do profissional uma revisão de seus valores

pessoais, acadêmicos e emocionais. Assim, nessa perspectiva, o contexto

hospitalar difere-se do contexto de aprendizagem e orientação acadêmica, já

que se percebe uma realidade precária nas condições de saúde da população

que é alvo constante das injustiças sociais e aspira por um tratamento

hospitalar digno (SALMAN; PAULASKAS, 2013). Diante dessa concepção e

das dúvidas que abarcam a psicologia e o papel do psicólogo hospitalar, a

pesquisa realizada teve como objetivo entender a construção do papel do

psicólogo hospitalar na atualidade, verificando a construção histórica do perfil

desse profissional na realidade brasileira e seus possíveis desdobramentos,

levando em consideração sua atuação na dimensão assistencial e na saúde

pública atualmente.

A PSICOLOGIA E SUA CONSTRUÇÃO COMO CIÊNCIA

Segundo Soares (2010), por volta do século XIX, historiadores da

medicina deram uma grande importância e vasta contribuição para o estudo da

Psicologia no Brasil, onde através de seus doutoramentos, assim chamado os

trabalhos de conclusão do curso de medicina, foi possível trazer para o homem

de cultura grandes conclusões interessantes e que contribuíram para esse

processo. Com tendência a Neuropsiquiatria, a Psicofisiologia e Neurologia, as

faculdades de medicina, não excluíam a Psicologia de seus estudos, pois havia

muita relação da mesma com os campos de estudos e suas pesquisas.

Em meados do século XX, Ivan Petrovitch Pavlov inicia seus estudos

pautados nos reflexos condicionados, tendo influência muito grande para a

psicologia, denominando então sua teoria de Psicologia Experimental, onde no

Brasil Henrique Roxo foi o primeiro autor a orientar estudos relacionados ao

tema e com bases no estudo de Binet-Simon associou a Psicologia

Experimental à Psiquiatria e à Neurologia (SOARES, 2010).

Ainda para Soares (2010), com a grande influência benéfica de

correntes doutrinárias que as faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de

Janeiro recebiam no período, com teses, atividades e ensaios médicos

averiguou-se que estes então traziam um caráter científico, preciso e rico no

interesse psicológico, por estarem voltados aos métodos e técnicas da

psicologia de maior objetividade e confiabilidade, onde diante deste movimento

começaram a surgir nos hospitais e clínicas psiquiátricas os laboratórios de

Psicologia.

A atuação do psicólogo brasileiro se consolidou primeiramente no âmbito

privado com o objetivo da prática psicoterápica clínica, assim para Marcon,

Luna e Lisboa (2002) após a década de 60, a área da saúde pública abriu o

espaço para a absorção dos profissionais em diversos segmentos, fazendo

com que sua atuação nos hospitais se tornasse então uma nova área de

atuação. Todavia, sabe-se que somente em 1962 a profissão de psicólogo foi

regulamentada no Brasil e o primeiro curso de Psicologia foi implantado na

universidade de São Paulo, quando logo mais tarde em 1987 a 1ª Conferência

de Saúde Mental aprovou a redução progressiva de leitos em hospitais

psiquiátricos e sua substituição por serviços alternativos à internação

psiquiátrica, em seguida no ano de 1992 a 2ª Conferência de Saúde Mental

aprovou a rede de atenção integral à saúde mental, com o objetivo de substituir

os hospitais psiquiátricos. No âmbito de sua atuação, embora já se visualizasse

a passagem para um modelo de atenção integral, o psicólogo era visto ainda

exercendo seu trabalho clínico e não um trabalho ligado à saúde ou ao

biopsicossocial e que em relação a sua formação os psicólogos não a tiveram

pautados na área da saúde (MARCON; LUNA; LISBOA, 2002).

A POLÍTICA DE HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR E OS PAPÉIS DOS

PROFISSIONAIS DE SAÚDE

Segundo Mota; Martins e Véras (2006) no âmbito hospitalar o

movimento de humanização é voltado para um processo de educação e

treinamento dos profissionais da saúde para tornar a experiência da

hospitalização algo mais confortável para o usuário, desmistificando toda

aquela dor que a internação trás a ele, visa melhorar o atendimento ao usuário

e as condições do ambiente de trabalho para os profissionais da saúde.

Partindo desse pressuposto, podemos falar da ética, que é quando alguém se

preocupa com a consequência de sua conduta sobre o outro, mas para que

haja ética é preciso mudar o olhar sobre o outro, mudança essa que culmine no

respeito a ele como ser humano (MOTA; MARTINS; VÉRAS; 2006).

Facilmente se presume que o psicólogo passou a ser bem visto no

contexto hospitalar, nas enfermarias e nos ambulatórios quando sua atenção

voltou-se para a humanização, fazendo compreender a relação dos

profissionais da saúde com o paciente e com os familiares. Estudos apontam

que buscar informações sobre a historia do paciente é algo indispensável em

sua atuação, pois é o psicólogo quem pode oferecer uma escuta, uma ajuda

psicológica e oferecer a oportunidade de confronto do paciente com sua

angústia e sofrimento na fase da hospitalização, fase esta que gera muitas

crises (MOTA, MARTINS e VÉRAS, 2006).

Para Salman; Paulaskas (2013), a humanização tem como aspecto

fundamental a valorização do indivíduo como um todo, fazendo com que o

psicólogo tenha como papel a valorização do ser doente do que a patologia do

mesmo, aprendendo também a ouvir seus familiares em um local próprio e

adequado, nos deixando claro que para a prática da humanização dar certo é

necessário realizar uma execução reflexiva acerca dos valores e princípios que

norteiam a prática profissional, culminando num tratamento digno, solidário e

acolhedor por parte dos profissionais da saúde ao doente, garantindo que a

humanização busque sempre manter ou melhorar a qualidade da comunicação,

consequentemente a possibilidade de relacionamentos mais saudáveis e

próximos.

Um aspecto importante em relação ao papel dos profissionais da

psicologia no hospital é que este profissional deve estar pautado nos aspectos

do adoecer, das crenças e das fragilidades dos pacientes e de seus familiares,

assim para os autores o psicólogo deve promover a diminuição da angústia e

da tensão para então mudar a impressão que as pessoas têm sobre o hospital,

em contrapartida fazendo os usuários perceberem o hospital como um lugar

que tenta oferecer condições para uma manutenção ou recuperação da saúde,

ficando claro que a atuação do psicólogo hospitalar consiste de uma rápida

capacidade de ação emergencial e para a construção de uma política

qualificada em relação à saúde a humanização deve ser vista como uma das

dimensões indispensáveis nesse processo, onde tenha função de mostrar que

além de um programa, sua aplicação tem objetivo de torna-se uma política que

opere em toda rede dos hospitais brasileiros (MOTA, MARTINS e VÉRAS,

2006).

PACIENTES EM CRISE E O PAPEL DO PSICÓLOGO HOSPITALAR

Ao trabalhar com o paciente enfermo, o psicólogo lida com o sofrimento

físico e psíquico, tendo que compreender o sujeito em sua integralidade,

entendendo e considerando o conflito determinado pela situação da doença e

da hospitalização, o sofrimento físico, a dor e o mal-estar, destacando que a

necessidade do atendimento psicológico muitas vezes não é percebida pelo

paciente, pois diante da situação em si, todas as preocupações estão voltadas

para o corpo doente, fazendo necessário então que a atuação preventiva no

contexto hospitalar se torne real, com o objetivo de oferecer ajuda para que os

pacientes possam alcançar o reconhecimento das motivações que estão

subjacentes a seus problemas, dedicando-se precocemente ao diagnóstico de

transtornos psicológicos do paciente e seus familiares, em trabalho diário com

o objetivo de decodificar suas dificuldades. Com um perfil mais emergencial e

focal, a intervenção pode ser feita pela psicoterapia breve ou pela psicoterapia

de emergência, dando total apoio e suporte ao paciente, considerando o

momento de crise vivenciado pelo mesmo na situação especial e critica da

doença e sua hospitalização, sendo assim, tanto a psicoterapia de emergência

como a intervenção em crise são caracterizadas como técnicas breves

advindas da psicanálise com especificas adaptações no nível estratégico para

situações de emergência ou crise (CHIATTONE, 2011).

Chiattone (2011) ressalta ainda a importância do olhar do psicólogo em

relação aos pacientes hospitalizados, devendo levar em consideração alguns

aspectos importantes nos processos de resolução da crise, sendo eles: os

traços de personalidade dos pacientes, suas atitudes frente a vida, a

maturidade interna e o grau de integração psíquica, as crenças que o mesmo

possui sobre sua doença, suas reações a crises passadas e suas perdas

significativas, os sinais psicológicos ou físicos de depressão, a presença de

reações ou sinais paranóides e por fim a doença instalada, onde a psicoterapia

emergencial surge como um apoio caracterizando-se de um processo de

superação dos problemas ligados a situações de natureza traumática, onde

dependendo do olhar que a pessoa tem sobre a situação permite que a mesma

possa expressar livremente seus sentimentos em relação ao seu estado, sendo

indicada a pacientes que passam por sobrecarga emocional muito grande,

auxilia o paciente a atravessar o período critico em que se encontra,

determinado pelo processo da doença e hospitalização, permitindo-lhe buscar

a elaboração e integração subjetiva dos acontecimentos.

Considerando que o hospital é uma instituição marcada pela luta

constante entre a vida e a morte. Um dos princípios significativos da psicologia

no contexto hospitalar é a atuação conjunta do psicólogo e as equipes de

saúdes, onde o objetivo é maximizar nos pacientes a esperança de melhora,

cura e minimização ou suspensão do sofrimento em si, já que a maioria das

pessoas tem uma imagem negativa relacionada ao ambiente hospitalar,

marcada por mortes e sofrimentos, sendo um local onde excita uma batalha

constante diante das condutas terapêuticas. Portanto, a atuação do psicólogo

requer uma maturidade que passa pelo exame detalhado de sua posição diante

da morte e do morrer, sendo de suma importância o profissional elaborar o

medo e a negação em relação a essa problemática, diagnosticar em si as

dificuldades de enfrentamento e elaboração da própria negação da morte para

então entender a negação da própria instituição, do paciente e dos familiares,

sendo que muitas vezes trabalhar com o sofrimento ou perda de significado da

existência pelo paciente pode despertar nos profissionais as mesmas vivências

(CHIATTONE, 2011).

Sendo assim, para Chiattone (2011), a tarefa do psicólogo se define pela

capacidade de apoio, compreensão e direcionamento humanizado das

diferentes situações pelas quais passam esses pacientes e seus familiares, e

culminar para que todo programa terapêutico eficaz e humano deva incluir

apoio psicológico para o enfrentamento de todo o processo de doença e

possibilidade de morte, pois o manejo de pacientes hospitalizados inclui a

adaptação fisiológica e medica e a adaptação psicológica e existencial frente a

situação traumática em si. Em relação aos pacientes e seus familiares, o

psicólogo deve estruturar um trabalho de psicoterapia pautado num modelo

comunicativo, reforçando o trabalho estrutural e de adaptação dos pacientes e

seus familiares no enfrentamento da problemática vivenciada por ambos,

direcionado, então, em um nível de apoio, atenção, compreensão, suporte ao

tratamento, clarificação dos sentimentos, esclarecimentos sobre a doença e o

fortalecimento dos vínculos pessoais e familiares.

Em segundo plano, o psicólogo hospitalar pode ainda realizar a

formação de grupos com o objetivo de informar, culminando num espaço de

reflexão e expressão dos sentimentos, minimizando o impacto emocional e

estresse vivenciados pelos mesmos. Em relação às equipes de saúde, o

psicólogo hospitalar pode sistematizar a realização de grupos operativos,

realizando um treinamento e clarificando o papel de cada profissional, além de

estimular a realização de atividades para a diminuição do estresse visto que

em profissionais da área da saúde o nível de estresse é elevado (CHIATTONE,

2011).

Para Salman e Paulauskas (2013) apud Cordioli (1998), um dos

principais desafios da psicologia tem sido fundamentar e desenvolver técnicas

de intervenção psicológica quem atendam às demandas específicas de

pacientes em ambientes hospitalares, tendo como objetivo possuir

intervenções que levem aos pacientes uma melhor aceitação de sua doença

bem como o tratamento, onde as intervenções com os pacientes em crise

constituam na utilização de técnicas para diminuir a ansiedade, favorecendo o

desenvolvimento de um estado emocional mais tolerável e capaz de restaurar a

estabilidade afetiva e suas relações com o ambiente.

O uso do manejo assistencial centrado na equipe, um diagnóstico

diferencial, um atendimento psicológico de apoio, um manejo ambulatorial,

técnicas complementares e intervenção familiar são fortemente recomendadas,

onde a flexibilidade e a criatividade são condições fundamentais para a

percepção das necessidades que cada paciente apresenta, com isso a

construção de um ambiente terapêutico apropriado e a centralização do

trabalho com o paciente em crise gera o melhor manejo das relações humanas

no ambiente hospitalar, o que não é tarefa somente do psicólogo, mas também

dos outros profissionais da área da saúde inseridos nesse contexto, já que os

mesmos possuem um contato mais próximo e contínuos com esses pacientes,

no caso das enfermeiras, fisioterapeutas, nutricionistas e médicos intensivistas.

(SALMAN; PAULAUSKAS, 2013).

Desse modo, para Salman e Paulauskas (2013), o atendimento

psicológico ao paciente pode ser caracterizado por intervenção focal pautado

na psicoterapia breve de apoio, consistindo em avaliar sua situação, analisar a

maneira de enfrentamento e a manifestação do paciente no momento presente,

bem como construir opções de pensamento e, consequentemente, o

comportamento. O que é levado em conta e o que se espera do terapeuta é

que o mesmo possua uma postura ativa no manejo da assistência, com o

intuito de permitir continência das manifestações, expressando concordância

com ideias e atitudes do paciente, assim também reforçar as funções

adaptativas do ego, reassegurando a boa percepção da realidade, além disso,

o psicólogo tem como papel favorecer a percepção de novas formas de

enfrentamento da situação, promovendo o devido suporte para o momento de

instabilidade emocional, favorecendo o vinculo de confiança com a equipe

multiprofissional.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A QUESTÃO

Diante desse estudo, foi possível conhecer a construção do papel do

psicólogo hospitalar na atualidade, bem como a construção histórica do perfil

desse profissional na realidade brasileira e seus possíveis desdobramentos,

podendo atribuir que o principal objetivo de psicólogo hospitalar é auxiliar o

paciente em seu processo de adoecimento, visando a minimização do

sofrimento provocado pela hospitalização. O profissional da psicologia tem

como objetivo, também, perceber todos os sentimentos gerados e causados

pela hospitalização, promovendo bem-estar à família e ao paciente,

proporcionando uma comunicação interpessoal entre as partes em questão e

desenvolver uma boa interação entre equipe profissional, pacientes e

familiares, para que possam externar seus conflitos, suas dores, sofrimentos,

ansiedades, estresses entre outros sentimentos vividos nesse processo. Foi

possível perceber que a família cumpre um papel de extrema importância em

situações de tratamento de doenças e internações, sendo capaz de se

mobilizar para que seu familiar internado tenha melhores condições para sair

de tal situação, assim também, se este receber o apoio dos profissionais da

saúde mais especificamente do psicólogo, terá muitos subsídios para enfrentar

e apoiar o paciente nessas condições de hospitalização.

São inúmeras as condições que favorecem a presença do psicólogo na

área da saúde, mais especificamente no hospital, como também são inúmeros

os benefícios proporcionados por esses profissionais, assim o psicólogo em

sua função hospitalar pode despertar em outros profissionais de saúde a

conscientização da importância de um trabalho em equipe, assim, o paciente

expondo seu sofrimento não apenas revela sua dor, mas também seus valores,

ou até mesmo a maneira como lida com seu universo perceptivo, embora não

possamos abarcar a totalidade de sua dor, ainda assim temos como

compreendê-lo em sua significação diante desse processo de sofrimento. Vale

ressaltar ainda que a inserção do psicólogo em uma equipe de saúde visa

juntamente somar o saber e o fazer aos demais cuidados, para que se possa

promover um amplo suporte ao paciente numa esfera biopsicossocial.

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