O papel dos jornais é perene

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A2 Espaço aberto QUARTA-FEIRA, 29 DE MAIO DE 2013 O ESTADO DE S. PAULO “Não procuro dirigir nem criar a opinião pública no meu Estado. Ao contrário, procuro apenas sondar com cautela as opiniões em que o Estado se divide e deixo-me ir, confiado e tranquilo, na corrente daquela que me parece seguir o rumo mais certoJulio Mesquita (1862-1927), uma cabeça de rede em qualquer época R ede social sem- pre existiu, o de- safio é trabalhá- la também no mundo digital e, consequente- mente, na nova infraestrutura da economia. É esse o caminho para as velhas redações conti- nuarem desempenhando seu papel no ecossistema da infor- mação, comunicação e articula- ção da sociedade. Se dominam (como deveriam) o ferramen- talda internet,suas mídias e fer- ramentas, cabe a elas construir, manter e contribuir para a arti- culação de redes de interesse e segmentos da sociedade, que é o papel histórico dos jornais. Redessociais não são as ferra- mentas/mídias (FB, Twitter, blog, Sulia, Pinterest, Papper.li, Scoop.it, Ning, YouTube, Tum- blr, Google+, RSS, o diabo). São assuas(vocêindivíduo,vocêen- tidade, você empresa) relações (amigos, consumidores, forne- cedores, distribuidores) articu- ladaspor meiodas ferramentas/ mídias que você escolheu para estruturar a sua rede social com as tecnologias digitais na Web. Monitoramento + curadoria + edição jornalística da aparen- te balbúrdia (O dilúvio está aí, fal- ta o Noé http://articulaconfins. com.br/somos_noe/), conside- rando a arquitetura da nova in- fraestrutura, a nova plataforma da informação, comunicação, articulação da sociedade, é o de- safio que temos pela frente. Ên- fase para organização da infor- mação, sem menosprezar a co- bertura jornalística clássica. As fontes estão na rede, todas as fontes estão na rede. Não exis- tem dois mundos, o analógico e o digital. Um é extensão do ou- tro.Conteúdonão éconsequên- cia da sua capacidade escrevi- nhadora. O conteúdo é o ponto de partida para a articulação da sociedade em torno dos seus in- teresses. O momento hoje é das redes digitais. A geração de con- teúdo – monitoramento + cura- doria+ ediçãojornalística (agre- gação) – é o caminho para cons- truir redes digitais de interesse específicooudenicho,redesso- ciais dentro da rede e o conjun- to das mídias que a compõe. O jornalista Frédéric Filloux, hoje um analista e consultor do setor, argumenta que o drama dastradicionaisempresasjorna- lísticas (e dos jornalistas) é que ambos se sentem intelectual- mente superiores aos mortais comuns. Em função disso, não mergulharam nas peculiarida- desdainternet(http://www.mon- daynote.com/2012/07/08/transfer- of-value/). A principal delas é a capacidade do algoritmo de criar comunidade sobre comu- nidadeapartirdonada.Nós,jor- nalistas, não somos o farol do mundo, somos uma ferramenta do público. Tanto nós quanto as empresas jornalísticas precisa- mos recuperar o papel de inter- mediário, de filtro, e abandonar os arroubos de “autoridade”, de donos da verdade. A oportunidade está aí, num mundomaisfragmentado,com- plexo e rico. Monitoramento e curadoria(contextoeperspecti- va) em processos organizados é o mercado para os velhos pla- yers. E é a Demanda Zero para a imensa maioria dos usuários darede,vítimasdabalbúrdiaopi- nativadasmídiassociais.Anotí- cia é o início da conversa, abre a porta para o diálogo,um convite para a participação. O negócio dos jornais é consequência da sua capacidade de articular pú- blicos em torno de ideias, so- nhos,problemas,consumo.Ain- formação, editorial e comercial, é ferramenta. Nada mudou. Fi- cou mais complexo e rico. A Web é infraestrutura, além de fonte básica sobre qualquer matéria.Umaredaçãotemdees- tar preparada para “editar” a re- de, com um determinado olhar, foco, viés, e com isso contribuir para a articulação de públicos, para a articulação da sociedade em torno dos seus interesses. A Web é um ecossistema mais complexo e fragmentado, com- posto por novas ferramentas/ mídias e processos de interação, com uma dinâmica evolutiva ja- mais sonhada. Rede social é a base das suas relações, seja você um indiví- duo, uma entidade, uma empre- sa, um setor da economia, um partido político, uma igreja, o que for. Fornecer a arquitetura e estruturarestesprocessosnare- de e suas ferramentas/mídias é a extensão natural do papel histó- rico dos jornais, das tradicionais empresas de informação, do mundo analógico para a sua ex- tensão digital. Da informação segmentada para setores da so- ciedadeparaaorganizaçãodese- tores por meio da curadoria, agregação e articulação da infor- mação do público, o que signifi- ca também geração de informa- ção.Oconteúdoganhanovossig- nificados, num novo contexto, mas com a mesma perspectiva. Nãoémaispossívelmenospre- zar ou ignorar as novas possibili- dades de organização que a Web nostraz.Osimpactosvãodarela- çãocapital versus trabalhoàinte- ração com o mercado; a nova in- fraestrutura permite e fomenta novas arquiteturas de negócios, novas arquiteturas de relaciona- mentopolíticoenovasarquitetu- ras de relacionamento social. Ela não é só um novo meio de armazenamento, processamen- to e distribuição de informação. É muito mais do que isso e, em- bora não seja a causa primária, compreendida em toda a sua di- mensão, ajuda a entender a pro- fundidade e extensão da crise global que estamos vivendo. Ojornaléumconceito,opon- to de encontro, a Ágora da pólis, a cidade-Estado na Grécia da Antiguidade clássica. Esta mis- são está viva na rede. A deman- da de serviços e produtos de in- formaçãoparaaarticulaçãoeor- ganização da sociedade é enor- me. Os processos informativos das mídias sociais são um novo componente, mas ainda não conformaramopontodeencon- tro, a praça para a reflexão sobre onde estamos e para onde va- mos.Ojornaldepapelnãodesa- parece neste processo, ele com- plementaa landing page parapú- blico, o eixo de sustentação des- te novo processo, num conceito que vai muito além do de home pages concebidas para distri- buir informação, ao invés servir como ponto de encontro para a reflexão e o debate. JORNALISTA TWITTER: @RMESQUITA E m qualquer socie- dade do século 21, são inúmeras as demandas so- ciais, econômi- cas e culturais. Aqui, no Brasil, não é diferen- te. Apesar de muitos progres- sos, ainda temos enormes desa- fios pela frente. De fato, é muito difícil falar em prioridade. Entretanto, não há estratégia mais vigoro- sa e sustentável para melhorar a vida dos brasileiros e elevar o patamar do País em diversas áreas do que garantir o direito da população a uma educação pública de qualidade. Se existe uma área capaz de ir muito além de seus resulta- dos diretos, essa área é a educa- ção. Seu impacto na saúde, na segurança, no crescimento econômico, na redução da po- breza e das desigualdades e até na felicidade das pessoas está consagrado nas mais recentes e robustas pesquisas nacionais e internacionais. Esse entendimento, aliás, existe há muito tempo em nos- so país. Mais de 80 anos atrás, os chamados “Pioneiros da Educação Nova” assim abri- ram o seu Manifesto, de 1932: “Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da educação”. Além de entendermos todos os bons impactos da educação de qualidade na nossa vida, é preciso reconhecer que a edu- cação básica é um direito cons- titucional – e que, portanto, se devem assumir claramente o dever e a responsabilidade de fazer com que esse direito seja cumprido. Pois bem, então, de quem é a responsabilidade pela educa- ção no País? A nossa Constituição fede- ral diz que é um dever do Esta- do e da família, com a colabora- ção da sociedade. Ao Estado ca- be garantir o direito dos alunos ao acesso, à permanência e à conclusão dos estudos, em sis- tema público gratuito, com equidade e qualidade. Os três Poderes fazem parte do Estado. No entanto, o pri- meiro que vem à mente do ci- dadão é o Poder Executivo (principalmente o Executivo federal). Depois, o Poder Le- gislativo e, com sorte, o Poder Judiciário. Porém todos os três Poderes têm o dever cons- titucional de garantir o direito à educação. O Sistema de Justiça é espa- ço essencial para garantirmos condições mais justas de vida e de desenvolvimento dos bra- sileiros e do Brasil. Seus opera- dores – juízes, promotores, de- fensores públicos – são a cha- ve para a garantia do direito à educação de qualidade para to- dos os brasileiros, tanto por se tratar de um direito humano fundamental quanto por ser essencial ao exercício dos de- mais direitos. Ao lado do Executivo e do Le- gislativo, o Sistema de Justiça tem, portanto, a missão con- temporânea de combater o maior erro histórico do nosso país: o descaso para com a edu- cação. Por séculos, milhões de pessoas tiveram sua realização pessoal e sua capacidade de contribuir para uma sociedade melhor sacrificadas. Em recente lançamento do livro Justiça pela Qualidade na Educação, publicação organi- zada pelo Movimento Todos Pela Educação e pela Associa- ção Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Defen- sores Públicos da Infância e da Juventude (ABMP), o relator especial da Organização das Nações Unidas para o Direito à Educação, dr. Kishore Singh, observou, de forma ilumina- da, que “o direito à educação não é um ideal ou uma aspira- ção, mas um direito legalmen- te executável”. O trabalho da Justiça, por- tanto, deve ser o de garantir que o direito à educação seja efetivado em suas diversas di- mensões, com foco em solu- ções estruturantes – ainda que os pleitos específicos ou indivi- duais também mereçam aten- ção. É preciso que o mundo ju- rídico e o educacional se en- contrem e se articulem com o propósito de elevar a qualida- de da educação para o aluno, pois ainda é muito comum que o desconhecimento mútuo le- ve a decisões judiciais que pre- judicam a educação e ações educacionais fora dos limites legais. Em 2001, o Sistema de Justi- ça mobilizou-se em torno da Justiça pela Educação, um apoio sem o qual o Brasil não teria dado o grande salto rumo à universalização do ensino fundamental, a etapa obrigató- ria na época. E isso significou um avanço importante: em 2012, chegamos a 98,2% de crianças e jovens de 6 anos a 14 anos na escola. Não há dúvida, no entanto, de que a mobilização pela quali- dade da educação é a maior ne- cessidade contemporânea bra- sileira, uma vez que, mesmo tendo avançado nesse sentido nos últimos anos, esse avanço ainda é lento. Portanto, a ideia de aproxi- mar mais as duas áreas – a da educação e a do Direito – para buscar ajudar o Brasil a dar es- se imprescindível novo salto educacional não significa a ju- dicialização da educação. Ao contrário, a ideia é fazer com que, juntas, essas áreas pos- sam ajudar-se no entendimen- to sobre a questão da qualida- de da educação, mais especifi- camente da garantia da apren- dizagem dos alunos, e assim fa- zer com que a área educacional avance de maneira mais acele- rada e persistente nos próxi- mos anos. O Poder Executivo, o Legisla- tivo e o Sistema de Justiça po- dem, juntos, estabelecer uma estrutura de ações e articula- ções necessárias para a obten- ção de resultados, com respon- sabilidades bem definidas de cada um dos entes envolvidos, buscando a efetivação do direi- to à educação de qualidade pa- ra todos. A questão não é simples. Existem muitos consensos na área educacional, mas tam- bém muitas divergências. A aprendizagem dos alunos des- de os primeiros anos na escola, no entanto, é um consenso e um direito deles, que deve ser assegurado. Devemos ter em mente que não será qualquer educação que efetivará os direitos das crianças e dos jovens. Nem ga- rantirá a sustentabilidade so- cial e econômica do Brasil. DIRETORA EXECUTIVA DO MOVIMENTO TODOS PELA EDUCAÇÃO RODRIGO LARA MESQUITA Fundado em 1875 Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958) Justiça pela qualidade na educação Fórum dos Leitores O papel dos jornais é perene GOVERNO DILMA Deu no ‘Estadão’ Dilma admite falhas e quer me- lhor controle do Bolsa Família, Caxirola, apresentada por Dilma, é vetada pela Fifa na Copa das Confederações, Obra da Trans- nordestina nem chegou à metade, mas orçamento quase dobrou. Já que não adianta chorar, vamos cantar: “O governo vem caindo/ Sem cumprir o seu papel...” CLÁUDIO MOSCHELLA [email protected] São Paulo Bolsa-Família Patética a explicação do presi- dente da Caixa Econômica Fede- ral (CEF), Jorge Hereda, em re- de nacional. Fica o registro da in- competência administrativa des- se desgoverno. Embora se tenha pensado em boato sobre o fim do Bolsa Família, cabendo à pre- sidente Dilma Rousseff chamar o ocorrido de fato criminoso, co- mo forma de atingir o seu gover- no, aos poucos o governo fede- ral, por intermédio de seus repre- sentantes, vai tentando ludibriar o povo com explicações inconve- nientes. E quanto mais se expli- ca, mais se complica. Quem se presta a comprar o povo com di- nheiro fácil não deveria estra- nhar a correria aos caixas em busca de mais dinheiro. Convém notar que a subida da classe D para a classe C deixou as pessoas mais exigentes. Basta ver aquela mãe que reclamou por não con- seguir comprar uma calça para a filha porque custava R$ 300. IZABEL AVALLONE [email protected] São Paulo De boatos O governo federal está criando um drama em cima do boato so- bre o fim do Bolsa Família total- mente descabido. Como um boa- to desses, desmentido imediata- mente, poderia desestabilizar o País e o governo? O governo in- venta mentiras atrás de menti- ras e quer pôr na cadeia quem cria um boato desses? Por que o governo federal nunca quis in- vestigar o boato de que a dívida externa foi paga? E a autossufi- ciência em petróleo? Quando o próprio governo cria, vale. ROGÉRIO TÓFOLI KEZERLE [email protected] São Paulo Despreparo e arrogância Muita incompetência e despre- paro da CEF, que admitiu e reve- lou as trapalhadas cometidas por ela mesma com relação à de- sordem e ao tumulto ocorridos nos saques do Bolsa Família. E muita irresponsabilidade e arro- gância (como de praxe entre os petistas) dos ministros Maria do Rosário e José Eduardo Martins Cardozo ao atribuírem premedi- tadamente à oposição a respon- sabilidade pela baderna causada pelo próprio governo federal. PAULO RIBEIRO DE CARVALHO JR. [email protected] São Paulo E agora, presidente? Então, que pena será imposta ao presidente da Caixa, sr. Jorge He- reda, que confirmou o engano e se desculpou pelo boato do Bol- sa Família? Acho bom tanto a se- nhora como seu ministro da Jus- tiça, sr. José Eduardo Cardozo, jogarem fora as pedras de vossas mãos antes de usá-las indevida- mente toda vez que sua possível reeleição seja ameaçada. ARNALDO DE ALMEIDA DOTOLI [email protected] São Paulo Responsabilidades Agora que praticamente ficou provado que o boato que causou o saque tumultuado do Bolsa Fa- mília foi provocado pela própria CEF, o mínimo que um governo responsável deveria fazer é vir a público pedir desculpas pelas acusações falsas que fez. A dife- rença de um governo responsá- vel para o que temos é que o que temos nunca sabe de nada e quando pensa que sabe continua sem saber... VICTOR GERMANO PEREIRA [email protected] São Paulo POLÍCIA MILITAR Virada Cultural O artigo do sr. Guaracy Ming ar- di (O inesperado fez uma surpre- sa, 26/5, Aliás) causou-me estra- nheza e indignação. O sr. Mingar- di afirma que os policiais milita- res assistiram passivamente à ocorrência de crimes durante a Virada Cultural. Como é possí- vel que isso seja verdade, se fo- ram presas 43 pessoas? O articu- lista desrespeita a PM com base em boatos desinformados. Gera espanto que, mesmo afirmando ser improvável, o articulista con- sidere possível que o governo do Estado tenha determinado à PM que “deixasse o crime correr sol- to”. Em seu texto, mostra não sa- ber que a Polícia Militar aumen- tou seu efetivo durante o even- to, pondo 3.500 homens nas ruas. Para explicar sua premissa falsa de que os policiais foram le- nientes durante o evento o arti- culista afirma que os PMs estão insatisfeitos com a Prefeitura, que estaria considerando acabar com a Operação Delegada. Ora, segundo nos tem sido relatado pelo sr. prefeito, a intenção é am- pliar os objetivos dessa opera- ção. Por fim, num exagero de desrespeito à honra de profissio- nais que arriscam a própria vida em defesa da sociedade, o articu- lista considera plausível que um policial deixe de agir porque de- terminado crime não ocorreu em sua área de atuação. Ora, são comuns os casos de policiais que, mesmo de folga e à paisana, sacrificam sua vida para impedir um crime. Seria mais adequado PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940 PRISCILA CRUZ Juntas, as duas áreas podem ajudar o País a dar um novo passo no avanço educacional O conteúdo ganha novos significados, num novo contexto, mas com a mesma perspectiva

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Rodrigo Mesquita, O Estado de S.Paulo, 29 de maio de 2013

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A2 Espaço aberto QUARTA-FEIRA, 29 DE MAIO DE 2013 O ESTADO DE S. PAULO

“Não procuro dirigir nem criara opinião pública no meu Estado.Ao contrário, procuro apenassondar com cautela as opiniõesem que o Estado se divide edeixo-me ir, confiado e tranquilo,na corrente daquela que meparece seguir o rumo mais certo”Julio Mesquita (1862-1927), umacabeça de rede em qualquer época

R ede social sem-pre existiu, o de-safio é trabalhá-la também nomundo digital e,c o n s e q u e n t e -

mente, na nova infraestruturada economia. É esse o caminhopara as velhas redações conti-nuarem desempenhando seupapel no ecossistema da infor-mação,comunicação e articula-ção da sociedade. Se dominam(como deveriam) o ferramen-talda internet,suas mídiase fer-ramentas, cabe a elas construir,manter e contribuir para a arti-culação de redes de interesse esegmentos da sociedade, que éo papel histórico dos jornais.

Redessociais nãosãoasferra-mentas/mídias (FB, Twitter,blog, Sulia, Pinterest, Papper.li,Scoop.it, Ning, YouTube, Tum-blr, Google+, RSS, o diabo). Sãoassuas(vocêindivíduo,vocêen-tidade, você empresa) relações(amigos, consumidores, forne-cedores, distribuidores) articu-ladaspor meiodas ferramentas/mídias que você escolheu paraestruturar a sua rede social comas tecnologias digitais na Web.

Monitoramento + curadoria+ edição jornalística da aparen-te balbúrdia (O dilúvio está aí, fal-ta o Noé – http://articulaconfins.com.br/somos_noe/), conside-rando a arquitetura da nova in-fraestrutura, a nova plataformada informação, comunicação,articulaçãoda sociedade, é ode-safio que temos pela frente. Ên-fase para organização da infor-mação, sem menosprezar a co-bertura jornalística clássica. Asfontes estão na rede, todas asfontes estão na rede. Não exis-tem dois mundos, o analógico eo digital. Um é extensão do ou-tro.Conteúdonãoéconsequên-cia da sua capacidade escrevi-nhadora. O conteúdo é o pontode partida para a articulação dasociedade em torno dos seus in-teresses. O momento hoje é dasredes digitais. A geração de con-teúdo – monitoramento + cura-doria+ediçãojornalística(agre-

gação) – é o caminho para cons-truir redes digitais de interesseespecíficooudenicho,redesso-ciais dentro da rede e o conjun-to das mídias que a compõe.

O jornalista Frédéric Filloux,hoje um analista e consultor dosetor, argumenta que o dramadastradicionaisempresasjorna-lísticas (e dos jornalistas) é queambos se sentem intelectual-mente superiores aos mortaiscomuns. Em função disso, nãomergulharam nas peculiarida-desdainternet(http://www.mon-daynote.com/2012/07/08/transfer-of-value/). A principal delas é acapacidade do algoritmo decriar comunidade sobre comu-nidadeapartirdonada.Nós,jor-nalistas, não somos o farol domundo, somos uma ferramentadopúblico. Tanto nós quanto as

empresas jornalísticas precisa-mos recuperar o papel de inter-mediário, de filtro, e abandonaros arroubos de “autoridade”, dedonos da verdade.

A oportunidade está aí, nummundomaisfragmentado,com-plexo e rico. Monitoramento ecuradoria(contextoeperspecti-va) em processos organizados éo mercado para os velhos pla-yers. E é a Demanda Zero paraa imensa maioria dos usuáriosdarede,vítimasdabalbúrdiaopi-nativadasmídiassociais.Anotí-cia é o início da conversa, abre aportaparao diálogo,um convitepara a participação. O negóciodos jornais é consequência dasua capacidade de articular pú-blicos em torno de ideias, so-nhos,problemas,consumo.Ain-formação, editorial e comercial,é ferramenta. Nada mudou. Fi-cou mais complexo e rico.

A Web é infraestrutura, alémde fonte básica sobre qualquermatéria.Umaredaçãotemdees-tar preparada para “editar” a re-de, com um determinado olhar,foco, viés, e com isso contribuirpara a articulação de públicos,para a articulação da sociedadeem torno dos seus interesses. AWeb é um ecossistema maiscomplexo e fragmentado, com-posto por novas ferramentas/mídias e processosde interação,com uma dinâmica evolutiva ja-mais sonhada.

Rede social é a base das suasrelações, seja você um indiví-duo, uma entidade, uma empre-sa, um setor da economia, umpartido político, uma igreja, oque for. Fornecer a arquitetura eestruturarestesprocessosnare-de e suas ferramentas/mídias é aextensão natural do papel histó-rico dos jornais, das tradicionaisempresas de informação, domundo analógico para a sua ex-tensão digital. Da informaçãosegmentada para setores da so-ciedadeparaaorganizaçãodese-tores por meio da curadoria,agregaçãoe articulação da infor-mação do público, o que signifi-ca também geração de informa-ção.Oconteúdoganhanovossig-nificados, num novo contexto,mas com a mesma perspectiva.

Nãoémaispossívelmenospre-zarou ignorar as novaspossibili-dades de organização que a Webnostraz.Osimpactosvãodarela-çãocapitalversus trabalhoàinte-ração com o mercado; a nova in-fraestrutura permite e fomentanovas arquiteturas de negócios,novas arquiteturas de relaciona-mentopolíticoenovasarquitetu-ras de relacionamento social.Ela não é só um novo meio dearmazenamento, processamen-to e distribuição de informação.É muito mais do que isso e, em-bora não seja a causa primária,compreendida em toda a sua di-mensão, ajuda a entender a pro-fundidade e extensão da criseglobal que estamos vivendo.

Ojornaléumconceito,opon-to de encontro, a Ágora da pólis,a cidade-Estado na Grécia daAntiguidade clássica. Esta mis-são está viva na rede. A deman-da de serviços e produtos de in-formaçãoparaaarticulaçãoeor-ganização da sociedade é enor-me. Os processos informativosdas mídias sociais são um novocomponente, mas ainda nãoconformaramopontodeencon-tro, a praça para a reflexãosobreonde estamos e para onde va-mos.O jornaldepapelnãodesa-parece neste processo, ele com-plementaa landing page parapú-blico, o eixode sustentação des-tenovoprocesso, numconceitoque vai muito além do de homepages concebidas para distri-buir informação, ao invés servircomo ponto de encontro para areflexão e o debate.

JORNALISTA

TWITTER: @RMESQUITA

Emqualquer socie-dade do século21, são inúmerasas demandas so-ciais, econômi-cas e culturais.

Aqui, no Brasil, não é diferen-te. Apesar de muitos progres-sos, ainda temos enormes desa-fios pela frente.

De fato, é muito difícil falarem prioridade. Entretanto,não há estratégia mais vigoro-sa e sustentável para melhorara vida dos brasileiros e elevar opatamar do País em diversasáreas do que garantir o direitoda população a uma educaçãopública de qualidade.

Se existe uma área capaz deir muito além de seus resulta-dos diretos, essa área é a educa-ção. Seu impacto na saúde, nasegurança, no crescimentoeconômico, na redução da po-breza e das desigualdades e aténa felicidade das pessoas estáconsagrado nas mais recentese robustas pesquisas nacionaise internacionais.

Esse entendimento, aliás,existe há muito tempo em nos-so país. Mais de 80 anos atrás,os chamados “Pioneiros daEducação Nova” assim abri-ram o seu Manifesto, de 1932:“Na hierarquia dos problemasnacionais, nenhum sobrelevaem importância e gravidade aoda educação”.

Além de entendermos todosos bons impactos da educaçãode qualidade na nossa vida, épreciso reconhecer que a edu-cação básica é um direito cons-titucional – e que, portanto, sedevem assumir claramente odever e a responsabilidade defazer com que esse direito sejacumprido.

Pois bem, então, de quem é aresponsabilidade pela educa-ção no País?

A nossa Constituição fede-ral diz que é um dever do Esta-do e da família, com a colabora-ção da sociedade. Ao Estado ca-be garantir o direito dos alunosao acesso, à permanência e àconclusão dos estudos, em sis-tema público gratuito, comequidade e qualidade.

Os três Poderes fazem partedo Estado. No entanto, o pri-meiro que vem à mente do ci-dadão é o Poder Executivo(principalmente o Executivofederal). Depois, o Poder Le-gislativo e, com sorte, o PoderJudiciário. Porém todos os

três Poderes têm o dever cons-titucional de garantir o direitoà educação.

O Sistema de Justiça é espa-ço essencial para garantirmoscondições mais justas de vidae de desenvolvimento dos bra-sileiros e do Brasil. Seus opera-dores – juízes, promotores, de-fensores públicos – são a cha-ve para a garantia do direito àeducação de qualidade para to-dos os brasileiros, tanto por setratar de um direito humanofundamental quanto por seressencial ao exercício dos de-mais direitos.

Ao lado do Executivo e do Le-gislativo, o Sistema de Justiçatem, portanto, a missão con-temporânea de combater omaior erro histórico do nossopaís: o descaso para com a edu-cação. Por séculos, milhões depessoas tiveram sua realizaçãopessoal e sua capacidade decontribuir para uma sociedademelhor sacrificadas.

Em recente lançamento dolivro Justiça pela Qualidade naEducação, publicação organi-zada pelo Movimento TodosPela Educação e pela Associa-ção Brasileira de Magistrados,Promotores de Justiça e Defen-sores Públicos da Infância e daJuventude (ABMP), o relatorespecial da Organização dasNações Unidas para o Direitoà Educação, dr. Kishore Singh,

observou, de forma ilumina-da, que “o direito à educaçãonão é um ideal ou uma aspira-ção, mas um direito legalmen-te executável”.

O trabalho da Justiça, por-tanto, deve ser o de garantirque o direito à educação sejaefetivado em suas diversas di-mensões, com foco em solu-ções estruturantes – ainda queos pleitos específicos ou indivi-duais também mereçam aten-ção. É preciso que o mundo ju-rídico e o educacional se en-contrem e se articulem com opropósito de elevar a qualida-de da educação para o aluno,pois ainda é muito comum queo desconhecimento mútuo le-ve a decisões judiciais que pre-judicam a educação e açõeseducacionais fora dos limites

legais.Em 2001, o Sistema de Justi-

ça mobilizou-se em torno daJustiça pela Educação, umapoio sem o qual o Brasil nãoteria dado o grande salto rumoà universalização do ensinofundamental, a etapa obrigató-ria na época. E isso significouum avanço importante: em2012, chegamos a 98,2% decrianças e jovens de 6 anos a 14anos na escola.

Não há dúvida, no entanto,deque a mobilização pela quali-dade da educação é a maior ne-cessidade contemporânea bra-sileira, uma vez que, mesmotendo avançado nesse sentidonos últimos anos, esse avançoainda é lento.

Portanto, a ideia de aproxi-mar mais as duas áreas – a daeducação e a do Direito – parabuscar ajudar o Brasil a dar es-se imprescindível novo saltoeducacional não significa a ju-dicialização da educação. Aocontrário, a ideia é fazer comque, juntas, essas áreas pos-sam ajudar-se no entendimen-to sobre a questão da qualida-de da educação, mais especifi-camente da garantia da apren-dizagem dos alunos, e assim fa-zer com que a área educacionalavance de maneira mais acele-rada e persistente nos próxi-mos anos.

O Poder Executivo, o Legisla-tivo e o Sistema de Justiça po-dem, juntos, estabelecer umaestrutura de ações e articula-ções necessárias para a obten-ção de resultados, com respon-sabilidades bem definidas decada um dos entes envolvidos,buscando a efetivação do direi-to à educação de qualidade pa-ra todos.

A questão não é simples.Existem muitos consensos naárea educacional, mas tam-bém muitas divergências. Aaprendizagem dos alunos des-de os primeiros anos na escola,no entanto, é um consenso eum direito deles, que deve serassegurado.

Devemos ter em mente quenão será qualquer educaçãoque efetivará os direitos dascrianças e dos jovens. Nem ga-rantirá a sustentabilidade so-cial e econômica do Brasil.

DIRETORA EXECUTIVA

DO MOVIMENTO

TODOS PELA EDUCAÇÃO

●✽RODRIGO LARAMESQUITA

Fundado em 1875Julio Mesquita (1891-1927)Julio de Mesquita Filho (1927-1969)Francisco Mesquita (1927-1969)Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988)Julio de Mesquita Neto (1969-1996)Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884)Nestor Rangel Pestana (1927-1933)Plínio Barreto (1927-1958)

Justiça pela qualidadena educação

Fórum dos Leitores

O papel dos jornaisé perene

GOVERNO DILMADeu no ‘Estadão’

Dilma admite falhas e quer me-lhor controle do Bolsa Família,Caxirola, apresentada por Dilma,é vetada pela Fifa na Copa dasConfederações, Obra da Trans-nordestina nem chegou à metade,mas orçamento quase dobrou. Jáque não adianta chorar, vamoscantar: “O governo vem caindo/Sem cumprir o seu papel...”CLÁUDIO [email protected]ão Paulo

Bolsa-Família

Patética a explicação do presi-dente da Caixa Econômica Fede-ral (CEF), Jorge Hereda, em re-de nacional. Fica o registro da in-competência administrativa des-se desgoverno. Embora se tenhapensado em boato sobre o fimdo Bolsa Família, cabendo à pre-sidente Dilma Rousseff chamar

o ocorrido de fato criminoso, co-mo forma de atingir o seu gover-no, aos poucos o governo fede-ral, por intermédio de seus repre-sentantes, vai tentando ludibriaro povo com explicações inconve-nientes. E quanto mais se expli-ca, mais se complica. Quem sepresta a comprar o povo com di-nheiro fácil não deveria estra-nhar a correria aos caixas embusca de mais dinheiro. Convémnotar que a subida da classe Dpara a classe C deixou as pessoasmais exigentes. Basta ver aquelamãe que reclamou por não con-seguir comprar uma calça para afilha porque custava R$ 300.IZABEL [email protected]ão Paulo

De boatos

O governo federal está criandoum drama em cima do boato so-bre o fim do Bolsa Família total-mente descabido. Como um boa-to desses, desmentido imediata-

mente, poderia desestabilizar oPaís e o governo? O governo in-venta mentiras atrás de menti-ras e quer pôr na cadeia quemcria um boato desses? Por que ogoverno federal nunca quis in-vestigar o boato de que a dívidaexterna foi paga? E a autossufi-ciência em petróleo? Quando opróprio governo cria, vale.ROGÉRIO TÓFOLI [email protected]ão Paulo

Despreparo e arrogância

Muita incompetência e despre-paro da CEF, que admitiu e reve-lou as trapalhadas cometidaspor ela mesma com relação à de-sordem e ao tumulto ocorridosnos saques do Bolsa Família. Emuita irresponsabilidade e arro-gância (como de praxe entre ospetistas) dos ministros Maria doRosário e José Eduardo MartinsCardozo ao atribuírem premedi-tadamente à oposição a respon-sabilidade pela baderna causada

pelo próprio governo federal.PAULO RIBEIRO DE CARVALHO [email protected]ão Paulo

E agora, presidente?

Então, que pena será imposta aopresidente da Caixa, sr. Jorge He-reda, que confirmou o engano ese desculpou pelo boato do Bol-sa Família? Acho bom tanto a se-nhora como seu ministro da Jus-tiça, sr. José Eduardo Cardozo,jogarem fora as pedras de vossasmãos antes de usá-las indevida-mente toda vez que sua possívelreeleição seja ameaçada.ARNALDO DE ALMEIDA [email protected]ão Paulo

Responsabilidades

Agora que praticamente ficouprovado que o boato que causouo saque tumultuado do Bolsa Fa-mília foi provocado pela própria

CEF, o mínimo que um governoresponsável deveria fazer é vir apúblico pedir desculpas pelasacusações falsas que fez. A dife-rença de um governo responsá-vel para o que temos é que o quetemos nunca sabe de nada equando pensa que sabe continuasem saber...VICTOR GERMANO [email protected]ão Paulo

POLÍCIA MILITARVirada Cultural

O artigo do sr. Guaracy Ming ar-di (O inesperado fez uma surpre-sa, 26/5, Aliás) causou-me estra-nheza e indignação. O sr. Mingar-di afirma que os policiais milita-res assistiram passivamente àocorrência de crimes durante aVirada Cultural. Como é possí-vel que isso seja verdade, se fo-ram presas 43 pessoas? O articu-lista desrespeita a PM com baseem boatos desinformados. Geraespanto que, mesmo afirmando

ser improvável, o articulista con-sidere possível que o governo doEstado tenha determinado à PMque “deixasse o crime correr sol-to”. Em seu texto, mostra não sa-ber que a Polícia Militar aumen-tou seu efetivo durante o even-to, pondo 3.500 homens nasruas. Para explicar sua premissafalsa de que os policiais foram le-nientes durante o evento o arti-culista afirma que os PMs estãoinsatisfeitos com a Prefeitura,que estaria considerando acabarcom a Operação Delegada. Ora,segundo nos tem sido relatadopelo sr. prefeito, a intenção é am-pliar os objetivos dessa opera-ção. Por fim, num exagero dedesrespeito à honra de profissio-nais que arriscam a própria vidaem defesa da sociedade, o articu-lista considera plausível que umpolicial deixe de agir porque de-terminado crime não ocorreuem sua área de atuação. Ora, sãocomuns os casos de policiaisque, mesmo de folga e à paisana,sacrificam sua vida para impedirum crime. Seria mais adequado

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

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