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A2 Espaço aberto QUARTA-FEIRA, 29 DE MAIO DE 2013 O ESTADO DE S. PAULO

“Não procuro dirigir nem criara opinião pública no meu Estado.Ao contrário, procuro apenassondar com cautela as opiniõesem que o Estado se divide edeixo-me ir, confiado e tranquilo,na corrente daquela que meparece seguir o rumo mais certo”Julio Mesquita (1862-1927), umacabeça de rede em qualquer época

R ede social sem-pre existiu, o de-safio é trabalhá-la também nomundo digital e,c o n s e q u e n t e -

mente, na nova infraestruturada economia. É esse o caminhopara as velhas redações conti-nuarem desempenhando seupapel no ecossistema da infor-mação,comunicação e articula-ção da sociedade. Se dominam(como deveriam) o ferramen-talda internet,suas mídiase fer-ramentas, cabe a elas construir,manter e contribuir para a arti-culação de redes de interesse esegmentos da sociedade, que éo papel histórico dos jornais.

Redessociais nãosãoasferra-mentas/mídias (FB, Twitter,blog, Sulia, Pinterest, Papper.li,Scoop.it, Ning, YouTube, Tum-blr, Google+, RSS, o diabo). Sãoassuas(vocêindivíduo,vocêen-tidade, você empresa) relações(amigos, consumidores, forne-cedores, distribuidores) articu-ladaspor meiodas ferramentas/mídias que você escolheu paraestruturar a sua rede social comas tecnologias digitais na Web.

Monitoramento + curadoria+ edição jornalística da aparen-te balbúrdia (O dilúvio está aí, fal-ta o Noé – http://articulaconfins.com.br/somos_noe/), conside-rando a arquitetura da nova in-fraestrutura, a nova plataformada informação, comunicação,articulaçãoda sociedade, é ode-safio que temos pela frente. Ên-fase para organização da infor-mação, sem menosprezar a co-bertura jornalística clássica. Asfontes estão na rede, todas asfontes estão na rede. Não exis-tem dois mundos, o analógico eo digital. Um é extensão do ou-tro.Conteúdonãoéconsequên-cia da sua capacidade escrevi-nhadora. O conteúdo é o pontode partida para a articulação dasociedade em torno dos seus in-teresses. O momento hoje é dasredes digitais. A geração de con-teúdo – monitoramento + cura-doria+ediçãojornalística(agre-

gação) – é o caminho para cons-truir redes digitais de interesseespecíficooudenicho,redesso-ciais dentro da rede e o conjun-to das mídias que a compõe.

O jornalista Frédéric Filloux,hoje um analista e consultor dosetor, argumenta que o dramadastradicionaisempresasjorna-lísticas (e dos jornalistas) é queambos se sentem intelectual-mente superiores aos mortaiscomuns. Em função disso, nãomergulharam nas peculiarida-desdainternet(http://www.mon-daynote.com/2012/07/08/transfer-of-value/). A principal delas é acapacidade do algoritmo decriar comunidade sobre comu-nidadeapartirdonada.Nós,jor-nalistas, não somos o farol domundo, somos uma ferramentadopúblico. Tanto nós quanto as

empresas jornalísticas precisa-mos recuperar o papel de inter-mediário, de filtro, e abandonaros arroubos de “autoridade”, dedonos da verdade.

A oportunidade está aí, nummundomaisfragmentado,com-plexo e rico. Monitoramento ecuradoria(contextoeperspecti-va) em processos organizados éo mercado para os velhos pla-yers. E é a Demanda Zero paraa imensa maioria dos usuáriosdarede,vítimasdabalbúrdiaopi-nativadasmídiassociais.Anotí-cia é o início da conversa, abre aportaparao diálogo,um convitepara a participação. O negóciodos jornais é consequência dasua capacidade de articular pú-blicos em torno de ideias, so-nhos,problemas,consumo.Ain-formação, editorial e comercial,é ferramenta. Nada mudou. Fi-cou mais complexo e rico.

A Web é infraestrutura, alémde fonte básica sobre qualquermatéria.Umaredaçãotemdees-tar preparada para “editar” a re-de, com um determinado olhar,foco, viés, e com isso contribuirpara a articulação de públicos,para a articulação da sociedadeem torno dos seus interesses. AWeb é um ecossistema maiscomplexo e fragmentado, com-posto por novas ferramentas/mídias e processosde interação,com uma dinâmica evolutiva ja-mais sonhada.

Rede social é a base das suasrelações, seja você um indiví-duo, uma entidade, uma empre-sa, um setor da economia, umpartido político, uma igreja, oque for. Fornecer a arquitetura eestruturarestesprocessosnare-de e suas ferramentas/mídias é aextensão natural do papel histó-rico dos jornais, das tradicionaisempresas de informação, domundo analógico para a sua ex-tensão digital. Da informaçãosegmentada para setores da so-ciedadeparaaorganizaçãodese-tores por meio da curadoria,agregaçãoe articulação da infor-mação do público, o que signifi-ca também geração de informa-ção.Oconteúdoganhanovossig-nificados, num novo contexto,mas com a mesma perspectiva.

Nãoémaispossívelmenospre-zarou ignorar as novaspossibili-dades de organização que a Webnostraz.Osimpactosvãodarela-çãocapitalversus trabalhoàinte-ração com o mercado; a nova in-fraestrutura permite e fomentanovas arquiteturas de negócios,novas arquiteturas de relaciona-mentopolíticoenovasarquitetu-ras de relacionamento social.Ela não é só um novo meio dearmazenamento, processamen-to e distribuição de informação.É muito mais do que isso e, em-bora não seja a causa primária,compreendida em toda a sua di-mensão, ajuda a entender a pro-fundidade e extensão da criseglobal que estamos vivendo.

Ojornaléumconceito,opon-to de encontro, a Ágora da pólis,a cidade-Estado na Grécia daAntiguidade clássica. Esta mis-são está viva na rede. A deman-da de serviços e produtos de in-formaçãoparaaarticulaçãoeor-ganização da sociedade é enor-me. Os processos informativosdas mídias sociais são um novocomponente, mas ainda nãoconformaramopontodeencon-tro, a praça para a reflexãosobreonde estamos e para onde va-mos.O jornaldepapelnãodesa-parece neste processo, ele com-plementaa landing page parapú-blico, o eixode sustentação des-tenovoprocesso, numconceitoque vai muito além do de homepages concebidas para distri-buir informação, ao invés servircomo ponto de encontro para areflexão e o debate.

JORNALISTA

TWITTER: @RMESQUITA

Emqualquer socie-dade do século21, são inúmerasas demandas so-ciais, econômi-cas e culturais.

Aqui, no Brasil, não é diferen-te. Apesar de muitos progres-sos, ainda temos enormes desa-fios pela frente.

De fato, é muito difícil falarem prioridade. Entretanto,não há estratégia mais vigoro-sa e sustentável para melhorara vida dos brasileiros e elevar opatamar do País em diversasáreas do que garantir o direitoda população a uma educaçãopública de qualidade.

Se existe uma área capaz deir muito além de seus resulta-dos diretos, essa área é a educa-ção. Seu impacto na saúde, nasegurança, no crescimentoeconômico, na redução da po-breza e das desigualdades e aténa felicidade das pessoas estáconsagrado nas mais recentese robustas pesquisas nacionaise internacionais.

Esse entendimento, aliás,existe há muito tempo em nos-so país. Mais de 80 anos atrás,os chamados “Pioneiros daEducação Nova” assim abri-ram o seu Manifesto, de 1932:“Na hierarquia dos problemasnacionais, nenhum sobrelevaem importância e gravidade aoda educação”.

Além de entendermos todosos bons impactos da educaçãode qualidade na nossa vida, épreciso reconhecer que a edu-cação básica é um direito cons-titucional – e que, portanto, sedevem assumir claramente odever e a responsabilidade defazer com que esse direito sejacumprido.

Pois bem, então, de quem é aresponsabilidade pela educa-ção no País?

A nossa Constituição fede-ral diz que é um dever do Esta-do e da família, com a colabora-ção da sociedade. Ao Estado ca-be garantir o direito dos alunosao acesso, à permanência e àconclusão dos estudos, em sis-tema público gratuito, comequidade e qualidade.

Os três Poderes fazem partedo Estado. No entanto, o pri-meiro que vem à mente do ci-dadão é o Poder Executivo(principalmente o Executivofederal). Depois, o Poder Le-gislativo e, com sorte, o PoderJudiciário. Porém todos os

três Poderes têm o dever cons-titucional de garantir o direitoà educação.

O Sistema de Justiça é espa-ço essencial para garantirmoscondições mais justas de vidae de desenvolvimento dos bra-sileiros e do Brasil. Seus opera-dores – juízes, promotores, de-fensores públicos – são a cha-ve para a garantia do direito àeducação de qualidade para to-dos os brasileiros, tanto por setratar de um direito humanofundamental quanto por seressencial ao exercício dos de-mais direitos.

Ao lado do Executivo e do Le-gislativo, o Sistema de Justiçatem, portanto, a missão con-temporânea de combater omaior erro histórico do nossopaís: o descaso para com a edu-cação. Por séculos, milhões depessoas tiveram sua realizaçãopessoal e sua capacidade decontribuir para uma sociedademelhor sacrificadas.

Em recente lançamento dolivro Justiça pela Qualidade naEducação, publicação organi-zada pelo Movimento TodosPela Educação e pela Associa-ção Brasileira de Magistrados,Promotores de Justiça e Defen-sores Públicos da Infância e daJuventude (ABMP), o relatorespecial da Organização dasNações Unidas para o Direitoà Educação, dr. Kishore Singh,

observou, de forma ilumina-da, que “o direito à educaçãonão é um ideal ou uma aspira-ção, mas um direito legalmen-te executável”.

O trabalho da Justiça, por-tanto, deve ser o de garantirque o direito à educação sejaefetivado em suas diversas di-mensões, com foco em solu-ções estruturantes – ainda queos pleitos específicos ou indivi-duais também mereçam aten-ção. É preciso que o mundo ju-rídico e o educacional se en-contrem e se articulem com opropósito de elevar a qualida-de da educação para o aluno,pois ainda é muito comum queo desconhecimento mútuo le-ve a decisões judiciais que pre-judicam a educação e açõeseducacionais fora dos limites

legais.Em 2001, o Sistema de Justi-

ça mobilizou-se em torno daJustiça pela Educação, umapoio sem o qual o Brasil nãoteria dado o grande salto rumoà universalização do ensinofundamental, a etapa obrigató-ria na época. E isso significouum avanço importante: em2012, chegamos a 98,2% decrianças e jovens de 6 anos a 14anos na escola.

Não há dúvida, no entanto,deque a mobilização pela quali-dade da educação é a maior ne-cessidade contemporânea bra-sileira, uma vez que, mesmotendo avançado nesse sentidonos últimos anos, esse avançoainda é lento.

Portanto, a ideia de aproxi-mar mais as duas áreas – a daeducação e a do Direito – parabuscar ajudar o Brasil a dar es-se imprescindível novo saltoeducacional não significa a ju-dicialização da educação. Aocontrário, a ideia é fazer comque, juntas, essas áreas pos-sam ajudar-se no entendimen-to sobre a questão da qualida-de da educação, mais especifi-camente da garantia da apren-dizagem dos alunos, e assim fa-zer com que a área educacionalavance de maneira mais acele-rada e persistente nos próxi-mos anos.

O Poder Executivo, o Legisla-tivo e o Sistema de Justiça po-dem, juntos, estabelecer umaestrutura de ações e articula-ções necessárias para a obten-ção de resultados, com respon-sabilidades bem definidas decada um dos entes envolvidos,buscando a efetivação do direi-to à educação de qualidade pa-ra todos.

A questão não é simples.Existem muitos consensos naárea educacional, mas tam-bém muitas divergências. Aaprendizagem dos alunos des-de os primeiros anos na escola,no entanto, é um consenso eum direito deles, que deve serassegurado.

Devemos ter em mente quenão será qualquer educaçãoque efetivará os direitos dascrianças e dos jovens. Nem ga-rantirá a sustentabilidade so-cial e econômica do Brasil.

DIRETORA EXECUTIVA

DO MOVIMENTO

TODOS PELA EDUCAÇÃO

●✽RODRIGO LARAMESQUITA

Fundado em 1875Julio Mesquita (1891-1927)Julio de Mesquita Filho (1927-1969)Francisco Mesquita (1927-1969)Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988)Julio de Mesquita Neto (1969-1996)Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884)Nestor Rangel Pestana (1927-1933)Plínio Barreto (1927-1958)

Justiça pela qualidadena educação

Fórum dos Leitores

O papel dos jornaisé perene

GOVERNO DILMADeu no ‘Estadão’

Dilma admite falhas e quer me-lhor controle do Bolsa Família,Caxirola, apresentada por Dilma,é vetada pela Fifa na Copa dasConfederações, Obra da Trans-nordestina nem chegou à metade,mas orçamento quase dobrou. Jáque não adianta chorar, vamoscantar: “O governo vem caindo/Sem cumprir o seu papel...”CLÁUDIO [email protected]ão Paulo

Bolsa-Família

Patética a explicação do presi-dente da Caixa Econômica Fede-ral (CEF), Jorge Hereda, em re-de nacional. Fica o registro da in-competência administrativa des-se desgoverno. Embora se tenhapensado em boato sobre o fimdo Bolsa Família, cabendo à pre-sidente Dilma Rousseff chamar

o ocorrido de fato criminoso, co-mo forma de atingir o seu gover-no, aos poucos o governo fede-ral, por intermédio de seus repre-sentantes, vai tentando ludibriaro povo com explicações inconve-nientes. E quanto mais se expli-ca, mais se complica. Quem sepresta a comprar o povo com di-nheiro fácil não deveria estra-nhar a correria aos caixas embusca de mais dinheiro. Convémnotar que a subida da classe Dpara a classe C deixou as pessoasmais exigentes. Basta ver aquelamãe que reclamou por não con-seguir comprar uma calça para afilha porque custava R$ 300.IZABEL [email protected]ão Paulo

De boatos

O governo federal está criandoum drama em cima do boato so-bre o fim do Bolsa Família total-mente descabido. Como um boa-to desses, desmentido imediata-

mente, poderia desestabilizar oPaís e o governo? O governo in-venta mentiras atrás de menti-ras e quer pôr na cadeia quemcria um boato desses? Por que ogoverno federal nunca quis in-vestigar o boato de que a dívidaexterna foi paga? E a autossufi-ciência em petróleo? Quando opróprio governo cria, vale.ROGÉRIO TÓFOLI [email protected]ão Paulo

Despreparo e arrogância

Muita incompetência e despre-paro da CEF, que admitiu e reve-lou as trapalhadas cometidaspor ela mesma com relação à de-sordem e ao tumulto ocorridosnos saques do Bolsa Família. Emuita irresponsabilidade e arro-gância (como de praxe entre ospetistas) dos ministros Maria doRosário e José Eduardo MartinsCardozo ao atribuírem premedi-tadamente à oposição a respon-sabilidade pela baderna causada

pelo próprio governo federal.PAULO RIBEIRO DE CARVALHO [email protected]ão Paulo

E agora, presidente?

Então, que pena será imposta aopresidente da Caixa, sr. Jorge He-reda, que confirmou o engano ese desculpou pelo boato do Bol-sa Família? Acho bom tanto a se-nhora como seu ministro da Jus-tiça, sr. José Eduardo Cardozo,jogarem fora as pedras de vossasmãos antes de usá-las indevida-mente toda vez que sua possívelreeleição seja ameaçada.ARNALDO DE ALMEIDA [email protected]ão Paulo

Responsabilidades

Agora que praticamente ficouprovado que o boato que causouo saque tumultuado do Bolsa Fa-mília foi provocado pela própria

CEF, o mínimo que um governoresponsável deveria fazer é vir apúblico pedir desculpas pelasacusações falsas que fez. A dife-rença de um governo responsá-vel para o que temos é que o quetemos nunca sabe de nada equando pensa que sabe continuasem saber...VICTOR GERMANO [email protected]ão Paulo

POLÍCIA MILITARVirada Cultural

O artigo do sr. Guaracy Ming ar-di (O inesperado fez uma surpre-sa, 26/5, Aliás) causou-me estra-nheza e indignação. O sr. Mingar-di afirma que os policiais milita-res assistiram passivamente àocorrência de crimes durante aVirada Cultural. Como é possí-vel que isso seja verdade, se fo-ram presas 43 pessoas? O articu-lista desrespeita a PM com baseem boatos desinformados. Geraespanto que, mesmo afirmando

ser improvável, o articulista con-sidere possível que o governo doEstado tenha determinado à PMque “deixasse o crime correr sol-to”. Em seu texto, mostra não sa-ber que a Polícia Militar aumen-tou seu efetivo durante o even-to, pondo 3.500 homens nasruas. Para explicar sua premissafalsa de que os policiais foram le-nientes durante o evento o arti-culista afirma que os PMs estãoinsatisfeitos com a Prefeitura,que estaria considerando acabarcom a Operação Delegada. Ora,segundo nos tem sido relatadopelo sr. prefeito, a intenção é am-pliar os objetivos dessa opera-ção. Por fim, num exagero dedesrespeito à honra de profissio-nais que arriscam a própria vidaem defesa da sociedade, o articu-lista considera plausível que umpolicial deixe de agir porque de-terminado crime não ocorreuem sua área de atuação. Ora, sãocomuns os casos de policiaisque, mesmo de folga e à paisana,sacrificam sua vida para impedirum crime. Seria mais adequado

PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO

Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439CEP 01060-970-SP . Tel. 3856-2122 (PABX)Fax Nº (011) 3856-2940

●✽PRISCILACRUZ

Juntas, as duas áreaspodem ajudar o País adar um novo passono avanço educacional

O conteúdo ganhanovos significados, numnovo contexto, mas coma mesma perspectiva