o Pastor Evangelista

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O PASTOR EVANGELISTA “O empenho dos obreiros agora deve ser aprender o mister de apanhar almas na rede do evangelho.” ELLEN G. WHITE. O PASTOR EVANGELISTA SUA VIDA, MINISTÉRIO E RECOMPENSA ROY ALLAN ANDERSON TRADUÇÃO DE Jairo N. de Araújo e Renato A. Bivar Primeira Edição 3º Milheiros CASA PUBLICADORA BRASILEIRA Santo André, São Paulo Título do original em inglês: THE SHEPHERD-EVANGELIST Copyright para tradução e publicação em língua portuguesa da CASA PUBLICADORA BRASILEIRA Avenida Pereira Barreto, 42 Santo André, São Paulo 1965 Dedicado aos meus colegas no evangelismo em todo o mundo, e escrito em honra de meu pai, cuja pregação destemida e conselhos compreensivos durante mais de meio século inspiraram-me a seguir as pegadas do grande Pastor-Evangelista. IMPRESSO NO BRASIL Printed in Brazil

Transcript of o Pastor Evangelista

O PASTOR

EVANGELISTA

“O empenho dos obreiros agora deve ser aprender o mister de apanhar almas na rede do evangelho.” – ELLEN G. WHITE.

O PASTOR EVANGELISTA SUA VIDA, MINISTÉRIO E RECOMPENSA

ROY ALLAN ANDERSON

TRADUÇÃO DE Jairo N. de Araújo

e Renato A. Bivar Primeira Edição

3º Milheiros

CASA PUBLICADORA BRASILEIRA Santo André, São Paulo

Título do original em inglês: THE SHEPHERD-EVANGELIST

Copyright para tradução e publicação em língua portuguesa da CASA PUBLICADORA BRASILEIRA Avenida Pereira Barreto, 42

Santo André, São Paulo – 1965

Dedicado aos meus colegas no evangelismo em todo o mundo, e escrito em honra de meu pai, cuja pregação destemida e conselhos compreensivos durante mais de meio

século inspiraram-me a seguir as pegadas do grande Pastor-Evangelista.

IMPRESSO NO BRASIL Printed in Brazil

Introdução

Eis aqui um livro que eleva a alma. Como ministros de Deus conduz-nos mais e mais ao cume do

monte sobre o qual podemos divisar novos aspectos da expectativa divina, e receber novas concessões de poder habilitador. Ë um resumo magistral dos princípios básicos do lançar a rede às profundezas da angústia humana, e recolher mais homens para Deus. Ou, para mudar de figura, esta obra inspirará aos pastores espirituais, no buscar e no achar e então no verdadeiramente apascentar as ovelhas de Deus, O gênio e o escopo integrais do ministério evangélico podem ser agrupados em torno dessas duas metáforas estimulantes. E aqui impressionàvelmente desdobradas, elas tomam-se grandes e luminosas em significação.

Eis aqui um livro que vem suprir uma grande necessidade. Dentro de seu campo, é superior a qualquer outra coisa em nossa literatura — embora em realidade de seja uma extensão e aplicação dos altos ideais e princípios práticos daquele indispensável modelo provido para nosso guia, o Evangelismo. Volta nossos olhos das coisas menores para as coisas maiores do tempo e da eternidade da mecânica humana à dinâmica espiritual. Todo verdadeiro ministro anseia pelo poder do Pentecostes que, unicamente, o habilitará a terminar sua parte na grande tarefa. Devemos reconquistar o impulso divino

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dos primórdios da igreja, que há de regressar em plenitude nestes últimos tempos. Esta é nossa suprem a necessidade e nossa única esperança, como ministros de Deus.

Eis aqui uma filosofia segura e sólida de evangelismo. Ê tão digna e espiritual em sua forma, quanto prática e incisiva em sua apresentação. Em suas citações bíblicas próprias para cada título de cada capítulo, é original. Traz-nos uma mensagem comovedora que prende o coração. Estimula novas áreas de pensamento, e nos chama a uma consagração mais profunda. Eis aqui verdades básicas inestimáveis, reunidas em seqüência atraente. Elas desafiam-nos a ponderá-las, recebê-las, aprendê-las e experimentá-las.

O ministério de almas é o trabalho mais delicado em rodo o mundo, pois requer maior habilidade, e conhecimento mais amplo do que qualquer vocação ou profissão secular. Requer um toque mais sensível e seguro do que o da mão de um cirurgião. Requer o melhor que está em nós, juntamente com o melhor que Deus pode fazer por nós e através de nós. As alturas dessas realizações nos acenam através dessas páginas. Uma de nossas maiores necessidades hoje, é antes de novos homens do que de novos métodos. É a necessidade de uma nova visão de nossa vocação sublime, dedicada à salvação dos homens, e não simplesmente de novas técnicas — uma visão que ao mesmo tempo enobreça e capacite. Nossa necessidade suprema é a de uma nova compreensão da expectativa e da provisão generosa de Deus para com as nossas deficiências. O poder transformador certamente seguirá o trilho desses novos conceitos em relação para com Deus.

Este volume salienta a cruz de Cristo como sendo o fundamento de toda pregação verdadeira. E corretamente assegura que o grande objetivo do ministério evangélico, é pregar um evangelho salvador e não meramente pronunciar uma mensagem que impressione. Ganhar almas para Cristo, e não

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simplesmente admoestar um mundo. Nossa responsabilidade é proclamar a plena salvação de Deus e não meramente denunciar o pecado do desvio do código moral. Devemos primeiro conquistar o interesse dos homens e informá-los, e depois convidá-los e persuadi-los a partilhar as abençoadas provisões da graça divina.

Os princípios aqui apresentados são fidedignos, pois são baseados nos claros conselhos da inspiração. Representam, portanto mais do que mera opinião pessoal; são a própria expressão das verdades sólidas e seguras que emanam da mente de Deus.

Este livro foi escrito e é dedicado expressamente para o ministério do Movimento do Advento. O palpitar do evangelismo vivo e dinâmico pulsa através de suas páginas. Trata do poder habilitador provido para fazer frente há esta hora portentosa. Seus conselhos agrupam-Se em torno do homem, da mensagem e do método que satisfarão às necessidades desse dia novo e desafiante.

Nenhum ministro pode ler com interesse estas páginas, sem se tomar um melhor obreiro e um servo de Deus mais produtivo. Eis aqui uma mistura feliz de princípios inestimáveis e processos práticos — idealismo misturado com a prática. Ë escrito em estilo fascinante, com um fraseado comovedor e pitoresco. Mas, sobretudo, seus itens preeminentes têm base bíblica sólida e confirmação no Espírito de Profecia, transcendendo, portanto a meras atitudes opcionais.

Apesar de escrito primàriamente para os ministros mais jovens que estão no limiar do serviço, será sem dúvida igualmente útil ao obreiro experiente. Dará oportunidade a nós todos — jovens e velhos — de avaliar-nos, ponderar nosso sentimento e procurar aquela unção divina que, certamente, suprirá as necessidades desta hora de crise.

Este volume é o resultado de mais de trinta anos de rico ministério pastoral e evangélico, de ensino bem sucedido em

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classes e no campo, e de ampla leitura, observação e experiência em muitas terras, e sob variadas condições. Há quinze anos atrás, encontrei pela primeira vez o autor, em Londres, ao reunir-nos para um pouco

de pesquisa na Biblioteca do Museu Britânico, e desde então temos gozado de feliz amizade. E agora por oito anos nossos esforços têm estado ligados, por sermos ambos secretários da Associação Ministerial da Associação Geral, em Washington. Este companheirismo no serviço aprofundou minha apreciação pela liderança e visão espiritual deste verdadeiro colega de trabalho.

Estou, portanto, contente, por serem publicados em forma permanente para estudo e referência, esses bons conselhos e princípios básicos, por anos dados oralmente. E como pessoal de uma associação estamos gratos por esta oportunidade de servir desta maneira tangível ao grupo de obreiros de todo o mundo.

16 de outubro de 1949

LEROY EDWIN FROOM.

As referências no rodapé são às fontes originais, mas a maioria delas são encontradas no livro Evangelismo, compilação de citações que cobrem os ensinos dos escritos de E. G. White quanto à arte de ganhar almas pública e pessoalmente. O autor do presente volume foi um dos compiladores de Evangelismo. Por conveniência, o número de páginas de cada referência é colocado em parênteses, depois da menção da fonte original.

Os volumes escritos pela Sra., E. G. White são tão bem conhecidos que as referências a eles, nos rodapés, são dadas somente pelo título.

O leitor notara que na primeira parte do livro o tratamento é da terceira pessoa (Me, você, o senhor); e na segunda parte é da segunda do plural (vós), o que, porém, em nada afeta o sentido.

NOTA DO EDITOR.

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ÍNDICE

Prólogo .......................................................................................................................................... 11 PRIMEIRA PARTE — O CHAMADO AO EVANGELISMO PASTORES

“Sereis Pescadores de Homens”

A Emoção do Evangelismo ............................................................................................ 17 “Levanta os Teus Olhos!”

O Desafio de um Evangelismo Crescente....................................................................... 27

“Separados para o Evangelho de Deus” O Chamado Divino para o Evangelismo......................................................................... 43

SEGUNDA PARTE – PREPARANDO A IGREJA PARA O EVANGELISMO

“Nossa Comunhão é com o Pai”

Formação de uma Camaradagem Espiritual................................................................ 63 “Resplandeceis Como Luzeiros no Mundo”

Preparar as Lâmpadas para Produzir Luz....................................................................... 81 “No Semeeis Entre Espinhos” Primeiros Aspectos da Preparação do Campo............................................................... 93

“Lançai a Rede à Direita” Desenvolvendo o Interesse Antes da Campanha.......................................................... 111

TERCEIRA PARTE – O EVANGEUTSTA E SEU MÉTODO “Eu vos Farei Pescadores’

Aumentando a Eficiência Evangelística......................................................................... 131 “O que Ganha Almas é Sábio”

Conselhos do Pescador-Mestre..................................................................................... 143 “A Voz do Senhor Clama à Cidade”

Planejando Campanhas Metropolitanas e Distritais...................................................... 155 “Persuadimos o Homens”

O Chamado ao Altar e a Reunião Posterior.................................................................. 167 “Pela Fé Escolheu Moisés”

Princípios para Obter Decisões Pessoais....................................................................... 193 “Pedras Vivas para uma Casa Espiritual”

Preparando os Conversos para Serem Membros da Igreja........................................... 223 “Quando Passares Pelas Águas”

Dirigindo o Serviço Batismal.......................................................................................... 241 “Todo o Edifício bem Ajustado”

Integrando os Novos Membros na Vida e Atividades da Igreja..................................... 261

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QUARTA PARTE — O PREGADOR E SUA MENSAGEM “Prega a Pregação que Eu te Disser”

Que é um Sermão?........................................................................................................ 285 “O Pregador Ensinou Sabedoria ao Povo”

Desenvolvendo Seminários de Sermões........................................................................ 301 “Para os que se Assentam nas Trevas”

Usar lustrações para Iluminar Sermões Obscuros......................................................... 317 “Para Fazer Todos os Homens Verem”

O Evangelismo Visual..................................................................................................... 339 “Do Senhor Vem a Salvação”

Pregando a Certeza da Salvação.................................................................................... 357 “Pregamos a Cristo Crucificado”

Uma Mensagem Cristocêntrica..................................................................................... 373 “Queríamos Ver a Jesus”

Pregando a Cristo na Verdade Presente........................................................................ 391 “Enquanto eu Meditava”

O Preparo do Coração do Pregador............................................................................... 413

QUINTA PARTE — O EVANGELISTA E SEUS COOBREIROS

“Meus Cooperadores em Cristo Jesus”

Formação da Equipe Evangelística................................................................................. 433 “Cantando ao Senhor com Graça em Vosso Coração”

Música e Músicos para o Evangelismo.......................................................................... 449 “Mede o Templo de Deus e os que Nele Adoram”

Medida, Análise e Avaliação.......................................................................................... 467

SEXTA PARTE — O PASTOR E SEU REBANHO “Onde Está o Rebanho que se te Deu?”

A Obra do Pastor Fiel..................................................................................................... 479 “Ninguém Cuidou da Minha Alma”

Princípios Primários de Conselhos Pastorais................................................................. 499 “Às Ovelhas Perdidas”

Reavendo os Transviados.............................................................................................. 516 “O Bom Pastor Dá a Sua Vida”

O Coração de um Verdadeiro Pastor............................................................................. 529 “O Primeiro Será Servo de Todos”

A Avaliação Divina da Verdadeira Grandeza.................................................................. 549 “Os que Semeiam em Lágrimas”

A Recompensa do Serviço Fiel....................................................................................... 567 “Anunciar o Evangelho, Não Onde Cristo Fora Nomeado”

O Poder de uma Visão Ungida....................................................................................... 581

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PRÓLOGO

ENQUANTO nosso grande transatlântico abria vagarosamente caminho através das correntes reticuladas do Estreito de Messina, pus-me a refletir. Que histórias fantásticas havia tecido a lenda ao redor desta passagem histórica! Abaixo de nós, jazia um verdadeiro cemitério de incontáveis navios naufragados, cujos pilotos possivelmente houvessem ignorado, ou perdido as cartas e mapas preparados por outros que já haviam passado por este tortuoso caminho antes deles. Certamente era confortador saber não somente que os homens que tripulavam nosso navio sabiam o caminho, mas que também estendida diante deles na sala de mapas, estava uma figura de cada abrolho, e de cada enseada pelos quais passávamos. A navegação e todo o progresso científico, foram possíveis, porque os descobridores deixaram seus registros para outros cujas ambições os encaminhassem ao mesmo trilho.

Quando me veio o convite para escrever este livro, lembrei-me de minhas meditações no Mar da Sicília e lembrei- me também da importância de uma rota bem cartografada. Mas, se eu tivesse que desenhar um mapa para os meus camaradas marinheiros espirituais, esta contribuição só teria valor se fosse baseada na estrutura de minha própria experiência.

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E mesmo assim, eu também, como outros cartógrafos, tenho recorrido aos registros e contribuições de outros, alguns dos quais eu observei, e com muitos dos quais trabalhei.

Estes pensamentos não são originais, pois ninguém sabe melhor do que o autor, que quaisquer que sejam as técnicas citadas nas páginas seguintes, que se possam provar valiosas na formação de um ministério mais eficiente, essas mesmas técnicas foram amadurecidas através da ajuda de meus muitos colaboradores, amáveis e talentosos. E conquanto estes meus ―cooperadores em Cristo Jesus‖, permaneçam em sua maior parte an6nimos, e sejam encontrados em vários países diferentes, eu me regozijo, pois desta maneira suas obras os seguem. Meus colaboradores na Associação Ministerial, e também muitos outros amigos, animaram-me a elaborar este manuscrito, e sua ajuda foi incalculável. Conquanto eu não esteja ciente de qualquer plágio, estou entretanto cônscio de minha divida à grande galáxia de escritores cujas obras, através dos anos, têm-me trazido inspiração.

Ao estabelecer estes princípios, fui animado pela afirmação de meu há pouco finado amigo, Dr. William Stidger, cujos poemas e livros tão grandemente abençoaram o mundo. Em sua introdução a Planejando sua Pregação‖, diz ele:

―Nenhum pregador deve desculpar-se mais sèriamente do que Kipling desculpou-se, por utilizar idéias de outros homens, contanto que estas idéias sejam tocadas com o fogo e a forma da personalidade do homem que as usa. Este é o gênio da originalidade que tem estado em todas as terras e através de todos os tempos neste mundo criativo.‖

Mais adiante, ele afirma: ―O homem que cita um grande pensamento ou um grande poema, é de tanto valor,na ligação do serviço,as pessoas que ouvem o

poema pela primeira vez, quanto o homem que o criou. Portanto temos um serviço a prestar a humanidade ao apresentar-lhe as grandes verdades através de poemas, prosa, método e ilustração‖.

Apesar de aparecerem através destas páginas, várias técnicas

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de pregação, evangelismo, e obra pastoral, o alvo real deste livro não é tanto exprimir um método, é sim desafiar os componentes do ministério a serem homens de Deus, em sua tarefa dada por Ele. Nenhum método pro si só, possui poder salvador, nem técnica evangelística alguma, pode sozinha levar homens perdidos a Deus. É Cristo quem salva e não nossos métodos! Mesmo o inigualável plano de salvação, se estudado meramente como um plano, não poderia nunca restaurar a raça ao companheirismo com o Pai. Não é o plano, e sim a providência, não é a idéia e sim o evento, que trazem a salvação aos homens. E assim, ao exprimir um método, não o faço afirmando que a minha é a única ou a melhor maneira. Os métodos emanam dos homens e se queremos ter melhores métodos deveremos ter melhores homens. Os maiores sermões ainda estão para ser pregados. E sem dúvida técnicas mais bem sucedidas serão ainda descobertas. Jamais um mapa é final. Mudam-se as fronteiras, e apresentam-se novas situações que demandam revisão periódica. Ao mudarem-se os tempos, não exigir-se-ia também a mudança dos métodos? Mas, graças a Deus, temos um evangelho imutável.

Os métodos do Mestre foram acentuados neste trabalho, entretanto o próprio gênio de Jesus, nunca era formalizado, estereotipado, ou institucionalizado em Suas aproximações. O trabalho dEle era vital porque não era mecânico.

Não pode a nossa ortodoxia, por- si mesma, salvar uma alma. A igreja deve ser mais do que evangélica; deve ser evangelística. O ―evangelismo‖ é sem dúvida um Ideal pelo qual lutar, mas o que a igreja necessita é a evangelização como uma força por intermédio da qual conquistar. E se tal evangelização emana de um conceito maior de nosso Salvador e de Sua, maravilhosa graça, e de uma relação mais próxima entre o evangelista e seu Senhor, então será um poder propulsor, e não meramente um plano idealizado para aumentar o número de membros de nossa igreja.

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Os dias nos quais vivemos exigem nova ênfase no evangelismo. Precisamos de evangelistas itinerantes mais fortes, homens cuja

vida inteira seja devotada ao grande serviço da salvação de almas. Mas, mais do que isso, cada obreiro na causa de Cristo deve ser ajudado a tomar-se um ganhador de almas. É a convicção do autor, que podemos aproximar-nos do Modelo divino somente quando cada pastor, administrador, professor, colportor, e líder departamental, juntamente com cada membro da igreja, forem galvanizados em ação salvadora de almas. E este livro é uma tentativa de pôr ênfase evangelística em todos os aspectos de nosso trabalho ministerial. A despeito das muitas tarefas que certamente se encerram no escopo das responsabilidades de um ministro, se ele quer realmente fazer plena prova de seu ministério, deve fazer o trabalho de um evangelista; deve ―pregar entre os gentios, as infindáveis riquezas de Cristo.‖ Pregar o evangelho de Jesus Cristo é o mais alto privilégio e a aventura mais sedutora jamais comissionada ao homem, e ainda o propósito final de toda pregação do evangelho, é a evangelização — a real conversão de almas para Cristo.

Ao tentar colocar ao alcance de nossa geração nascente de obreiros promissores, algo de nossa experiência amadurecida de mais de três décadas felizes no ministério, faço-o com a oração de que Deus tome estas humildes sugestões e faça-as produtivas, por Sua graça.

Tem sido meu propósito seguir de perto a Palavra de Deus e os conselhos de Seu Espírito, e ao produzir este volume para os meus irmãos de ministério em todo o mundo, eu os saúdo com as palavras do grande apóstolo: ―Agora pois, irmãos, encomendo-vos a Deus e à palavra da Sua graça; a Ele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados.‖

R. A. A.

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PRIMEIRA PARTE

O Chamado ao Evangelismo Pastoral {15}

Introdução à Primeira Parte

A maior força conhecida na História, é a força explosiva das grandes idéias. Mesmo as idéias erradas possuem poderes persuasivos

que movem multidões, ainda que na direção também errada. Nestes capítulos de abertura de O Pastor-Evangelista, são apresentados idéias e ideais que vêm diretamente do coração do

Evangelista-Mestre. ―Eu vos farei pescadores de homens‖, disse Ele ao enviar aqueles primeiros arautos do evangelho. Quão privilegiados foram aqueles pescadores que ouviram o chamado de Cristo junto ao mar! Sua tarefa era grande, mas não é a nossa maior? Seu mundo achava-se na maior parte ao redor das praias do Mediterrâneo; o nosso abrange os seis continentes e os sete mares. Neste grande dia de destino, cada nação da Terra está esperando uma mensagem de esperança, e a nós foi confiada à tarefa de dar essa mensagem nesta geração. Como isso poderá ser feito, se a maré da dificuldade se levanta em vários lugares? Contudo ainda podemos ouvir através dos séculos a voz do Mestre, em seu claro chamado: ―Levantai os vossos olhos e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa‖. Somente homens com os olhos levantados, podem discernir uma colheita madura. Somente homens de visão clara podem ver além do problema presente.

Idéias, assim como exércitos, marcham hoje, contudo as idéias marcham mais depressa do que os exércitos. Tal como a Renascença do passado distante trouxe um grande despertamento à Europa, assim a renascença de idéias evangelísticas, virá acompanhada de ênfase e oportunidades expansivas. O evangelista hoje precisa ser mais do que um espectador. Tem de estar disposto a permanecer em meio à corrente de filosofias rivais e revolucionárias, e enquanto redemoinham ao seu redor as grandes marés do pensamento confuso, ele deve saber como erguer seus semelhantes à segurança, colocando-lhes os pés na Rocha — Cristo Jesus. Nesta grande e solene hora, Deus chama para o serviço homens e mulheres que, inspirados pelo Espírito do Eterno, enfrentarão a maré enchente das circunstâncias e guiarão um povo à vitória. Para esta tarefa designada por Deus, a igreja necessita de homens chamados por Deus — homens que sejam de fato ―separados para o evangelho de Deus‖.

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SEREIS PESCADORES DE HOMENS

S. LUCAS 5:10 1

A EMOÇÃO DO EVANGELISMO ―O QUE se sente ao pescar um peixe? O interlocutor esperava resposta, mas o pescador estava ocupado. O esporte estava bom.

Peixe após peixe era içado. Alguns esplêndidos espécimes jaziam-lhe aos pés, e agora ele estava pondo isca no anzol novamente. Após lançar a linha, olhou de relance para o estranho e disse:

— Você quer saber como a gente se sente ao pescar um peixe? Bem, quando você pesca um, fica logo com vontade de pescar outro.

Verdadeiramente! Este é o próprio espírito do evangelismo. ―Pescar outro‖, torna-se a paixão da vida, quando o evangelista tem o espírito de verdadeiro pescador. E que emoções existem no pescar de homens!

―Eu desejaria mais ser um evangelista do que um ministro de gabinete ou um milionário‖, declarou certa vez o estadista britânico Lord Beaverbrook, ―porque o evangelista é o homem que tem maior capacidade para fazer o bem‖. Esta é uma declaração impressionante, e a reflexão serena provará que não é exagerada. O evangelista tem certamente a maior

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oportunidade para fazer o bem pois seu trabalho é levantar os homens do mar do pecado e estabelecê-los sobre a Rocha dos Séculos. Este trabalho difícil, porém glorioso, requer tato, talento e técnica. Interessar meramente a um homem não é o suficiente. É necessário que ele seja pescado e içado.

O Chamado de Cristo aos Pescadores Jesus passou Sua infância não longe do mar da Galiléia. Durante muito tempo observou os pescadores em sua faina diária de lançar,

içar e remendar as redes, até que esta operação se tornou para Ele uma parábola de Sua própria missão neste mundo. Quando chegou o tempo de escolher e chamar os primeiros evangelistas, escolheu pescadores. Ouçam o que diz: ―Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens.‖ S. Mat. 4:19. O que Ele realmente queria dizer, era; ‗Vinde e vivei comigo; partilhai Meus fardos e Minhas alegrias; comei comigo; palmilhai as estradas poeirentas comigo; visitai os mercados; entrai nos lares deste povo; passai a noite comigo no santuário silencioso da oração; aprendei de Mim a amar, a chorar, a vigiar e a orar; então sereis pescadores de homens.‖ Foi um grande desafio e uma oportunidade sem paralelo. Nunca houve maior do que esta.

Pedro e André eram homens ocupados. Estavam lançando suas redes quando Jesus os chamou. Quando o Senhor quer obreiros sempre procura homens e mulheres ocupados. Leiam o relato do chamado de Eliseu, de Rebeca e de Gideão, e ainda o de muitos outros. Eram todos gente ocupada. Um grande pregador do século passado declarou que nenhum preguiçoso entraria no Reino, e que muito menos se tornaria um trabalhador, batalhando contra as águas da oposição, esforçando-se para salvar homens. Não! Pedro e André não eram aposentados nem estavam meramente procurando algo para matar o tempo. Longe disso! Eram mourejadores de mãos calejadas, sangue forte e que tinham um propósito na vida;

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homens que aprenderam a trabalhar sob quaisquer condições atmosféricas; homens que não contavam seu tempo por horas, mas sim pelos resultados; homens que já haviam alcançado o sucesso no campo de trabalho que haviam escolhido

Estes foram os homens que Ele chamou. E como pescadores podiam aprender mais depressa a arte de ganhar almas, porque o negócio de sua vida havia sido uma preparação inconsciente para o trabalho do evangelismo. Pescar é um ofício duro e arriscado. Naturalmente, o pescador esporádico que passa suas férias fascinado pelo anzol e pela linha, cai em uma categoria inteiramente diferente da do homem que faz da pesca o seu meio de vida.

Lições Tiradas de uma Aldeia de Pescadores

Muitos anos atrás, eu estava visitando de casa em casa na parte sul da Austrália, no Estado de Vitória. Ali encontrei um jovem cujo

nome era Alce, e que parecia sobressair-se de modo proeminente em seu grupo. Logo formamos uma amizade agradável. Era um tipo ótimo, com bom físico e encantadora personalidade. A pequenina Vila pesqueira na qual vivia parecia pertencer a outro inundo, tão quieta e repousante parecia, quando comparada à grande metrópole apenas a setenta milhas de distância. Durante todo o dia eu havia estado visitando os lares, considerando com aqueles pescadores as coisas concernentes ao reino de Deus. Era agora à noitinha e juntei-me ao meu novo amigo para um passeio pelo molhe. Palestramos despreocupadamente acerca de nossas respectivas ocupações, tão semelhantes — ambos

pescadores, mas de espécie diferente. Logo juntaram-se a nós outros Jovens, e Alec, indubitavelmente seu líder, os apresentou como um grupo de amigos e colegas pescadores. Eram gente saudável e não sofisticada. Naqueles dias o cinema estava na infância, e naturalmente o rádio e a televisão ainda não eram sonhados.

Era uma agradável noitinha de verão, e enquanto as

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ondas solapavam o cais, nós palestramos e cantamos por um par de horas. Mais ou menos às dez horas, começamos a nos retirar, quando casualmente Alce observou:

—Dentro de três horas estarei lá fora, em meu barco! — Três horas! disse eu; — então será uma hora da madrugada; você começa a trabalhar no meio da noite? — Às vezes, replicou. Como o senhor vê, as marés determinam minhas horas de trabalho. Tenho que pescar quando os peixes estão

correndo. Eu estava interessado, e desejoso de saber mais. Assim conversamos durante outra hora. Quantas coisas aprendi acerca das marés

e das tempestades! Naquele ponto da costa a maré tem enchentes e vazantes fenomenais, variando entre 3 e 5 metros, de acordo com a estação. E a vida inteira de Alec era manobrada conforme este fenômeno natural. Seu trabalho não tinha feriados. Quando entrava em seu barco, não o fazia para um mero cruzeiro de prazer. Saltar do barco às três da madrugada, e então vadear por uma hora ou mais com água gelada pela cintura, enquanto a geada caía na terra, lançar uma rede sem saber quando uma arraia de ferrão, ou até mesmo um tubarão, poderia disputar o direito de passagem — não são experiências que atraiam a um covarde! Isto tudo e mais um sem-número de outras coisas igualmente não atrativas, ele havia estado fazendo dia após dia, mês após mês, durante anos, sem férias, exceto o dia de Natal. E ali estava ele continuando com sua pesada rotina, sem se queixar. De fato, parecia mesmo emocionado, pois cada dia trazia seus novos interesses e problemas peculiares.

Era uma história fascinante. Não somente me desafiou; arrancou-me de minha auto-complacência. Era tarde quando fui para o quarto, mas antes de me deitar, pensei um pouco. Estava eu disposto a manobrar minha vida conforme as marés do interesse humano? Atirar-me-ia tão voluntariamente à luta para pescar homens, como Alec e seus companheiros o

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faziam para pescar peixes? Sobriamente, humildemente e com nova devoção, reconsagrei-me a Deus e a Seu serviço naquela noite.

Sim, a pesca é um trabalho duro; duro também é o evangelismo, mas existem compensações que sobrepujam e muito as dificuldades e os perigos da pesca de homens. ―Ë um grande momento quando recolhemos os peixes, dizia Alec com entusiasmo. Sim, é verdade. E durante muitos anos na pesca de almas, pude comprovar a veracidade de suas palavras. Contemplar uma multidão ansiosa e em expectativa; perceber que esses milhares vão ouvir a voz de Deus através de Sua Palavra; observar-lhes a fisionomia, enquanto a mensagem proclamada encontra resposta em seu coração; e então, sob a direção do Espírito de Deus, recolher a rede do evangelho e com alegria verificar que a pesca rompe a rede, e enche o barco—sim, é um grande momento!

Tais coisas, entretanto, não acontecem simplesmente. Atrás das cenas está a preparação, a observação, a organização e a consagração. Muitos fatores combinam-se para produzir o sucesso evangelístico. O evangelista deve observar as marés. Deve pescar quando os peixes estão correndo‖. Deve planejar seu trabalho e pôr em prática o seu planejamento. E como ganhador de almas, deve estar atento às oportunidades providenciais.

A Preparação Detalhada Precede o Sucesso

A igreja bem poderia aprender uma lição do exército. Observa-se a um alto comando quando planeja uma campanha militar. As

guerras se fazem com homens e com mapas. E assim, com o terreno todo estendido diante deles, o general e seus assessores reúnem-se e coordenam toda a informação disponível. Quando decidem à hora e o local do ataque, a preparação é feita nos mínimos detalhes. A observação e organização, são vitais para o sucesso. Tendo sido iniciada a campanha,

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há observação constante, para encontrar o menor sinal de falha na linha de defesa. Naquele ponto vulnerável, são concentradas as forças. Homens, munições e unidades mecanizadas, são postos em ação. Nada desprezado.

Por importante que seja reter as linhas, as batalhas não são ganhas meramente por conservar linhas. Napoleão costumava dizer: ―Um exército nas trincheiras já está derrotado e a melhor defensiva é uma ofensiva‖, Entretanto nenhuma ofensiva pode ter sucesso sem visão e o mais exigente preparo.

Pensem no planejamento que levou à invasão Aliada na Europa em 1945! Nada nos anais da Historia se lhe compara. Imaginem uma armada de mais de quatro mil navios carregando quinhentos mil veículos e dois milhões de homens! Adicionem a isto os vinte oleodutos estendidos como cabos sob o Canal da Mancha, e depois estendendo-se por centenas de quilômetros no continente, para suprir de gasolina a este poderoso exército mecanizado e móvel. Somente os planos navais exigiram mais de oitocentas páginas, e uma coleção completa, incluindo os mapas necessários, pesava mais de cento e quarenta quilos. Era planejamento moderno de último grau, pois as guerras nesses dias não eram mais ganhas pelos métodos das gerações antigas. O mundo andou muito desde os dias de Washington e Napoleão. E o evangelista precisa conservar-se em dia com os tempos.

Sinalização Rodoviária Significativa

Viajando ao longo de uma estrada no Estado de Indiana, passei por uma casa velha junto à rodovia. No jardim havia muitos artigos

velhos para vender—coisas tais como rodas de fiar, aquecedores de cobre e outras quinquilharias das gerações anteriores. Não era novidade

para mim já havia visto desses lugares antes. Todavia foi uma tabuleta numa árvore que chamou minha atenção. Dizia: ―Isca para pescar e antiguidades; vendem-se aqui.‖ — Deveras uma estranha combinação

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de negócios. Mas sugeria algo De fato, o anúncio acabou se transformando num de meus sermões, pois eu me dirigia a um concílio de preparo de jovens ministros.

Não discuto o fato de que haja pessoas que apreciem antiguidades, mas a pesca e as antiguidades não parecem dar-se muito bem. Enquanto continuava minha viagem, fiz a mim mesmo as seguintes perguntas: ―Será que estou tentando pescar homens modernos, com isca antiga? Será que a igreja do Deus vivo está tentando suprir as necessidades dos apressados dias atuais, com métodos do tempo do cavalo e da carroça da geração passada?‖ Os métodos de outras épocas são totalmente inadequados quando se enfrentam os maiores desafios da História. Estamos nós fracassando por estarmos dormindo sobre os louros de vitórias passadas? O que pode ser feito para apresentar a mensagem de Deus à altura desta grande hora?

No dia de Pentecostes, a multidão perguntava: ―Como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?‖ Atos 2:8. Isto é que dá poder a um pregador. Quando ele traz sua mensagem à altura da hora, então os homens compreenderão e responderão Eles devem ouvir o chamado de Deus de maneira que permita sua apreciação. O mundo pensa de modo diferente hoje do que há vinte anos atrás. Suas guerras mundiais não somente mudaram certas fronteiras, mas também trouxeram tremendas modificações no pensamento humano. Os homens já não vêem as coisas como se via há uma geração atrás. E se temos que apelar aos homens hoje, devemos primeiro conhecer seus pensamentos. Para alcançar os homens devemos alcançar primeiro seus pensamentos. Freqüentemente, nós pregadores, poderíamos ser acusados de haver falado virtualmente em ―língua estranha‖. Como pescadores devemos saber que isca utilizar.

Na Inglaterra, não muito longe de Londres, apareceu este anúncio: ―Vendem-se moscas-próprias para a pesca nesta localidade‖. A princípio ri-me, mas depois fiquei a refletir.

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Até mesmo os peixes têm suas preferências! Peixes diferentes requerem iscas diferentes. A parábola tornava-se cada vez mais real. Era divertido, mas a lição ficou através dos anos, Os pescadores devem conhecer a isca.

Um Mundo Ferido Pela Guerra Precisa de um Evangelho de Conforto Hoje enfrentamos um mundo espantosamente mudado. Algo desconcertante, drástico e trágico aconteceu à nossa geração. Em

1844 um preeminente educador americano, pleiteando a causa da educação compulsória, baseava seus reclamos na idéia de que a única coisa da qual necessitávamos para evitar a guerra era a educação. Homens educados jamais guerreariam, disse ele. Pobre homem! Pobre homem! Quão pouco sabia! As piores guerras vieram após o despertar da educação. Podemos todos regozijar-nos pela rapidez com que vai desaparecendo o analfabetismo, mas a tragédia que é a guerra, a guerra vermelha, sangrenta, brutal, mecanizada e universal, ainda está conosco. A educação em vez de curar o germe da guerra, somente aumenta nossos conhecimentos no sentido de construir meios mais diabólicos ainda para destruir a vida.

Em sessão especial que durou toda a noite, em 1914, o Parlamento Britânico debatia um item importantíssimo: A Inglaterra declararia ou não guerra à Alemanha? Era um momento tenso na História. Deixando a Câmara dos Comuns, Earl Grey, Secretário da Guerra, caminhava de volta ao Ministério das Relações Exteriores, enquanto os primeiros clarões anunciavam a chegada de um dia que seria lembrado durante muito tempo. Da janela de seu escritório Me podia observar um acendedor de lampiões, apagando as luzes da rua uma por uma. Cansado e abatido, o estadista virou-se para o seu auxiliar e declarou: ―As lâmpadas estão se apagando em

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toda a Europa, e não as veremos acesas novamente em nossa vida.‖

Estas palavras soam hoje como as de uma profecia, pois a paz ainda parece uma miragem escarnecedora. Estadistas e pacificadores vacilam ao verem seus planos serem esmagados. O que pode deter a terrível avalancha de destruição humana? Um mundo confundido por promessas não cumpridas, deprimido por esperanças estremecidas, e coberto com o espólio da desilusão, tal é o mundo que enfrentamos hoje.

E ainda assim é uma hora de grande oportunidade para o evangelismo. Porque ―esta mesma desilusão de nossos dias é a matéria-prima da esperança cristã.‖ O humanismo e o otimismo, que falavam tão fluentemente acerca do inevitável progresso, e da inevitável suficiência do homem, deram lugar ao pessimismo e ao cinismo amargo. Homens e mulheres em toda parte estão procurando a realidade. Tal como nos dias de João Batista, ―o povo estava em expectativa e imaginava em seus corações‖ (S. Luc. 3:15), assim hoje todos os homens em todos os lugares estão ansiosos por uma mensagem de esperança e certeza. Essas condições deram a João uma chance. Vulgaridades pias não satisfaziam suas necessidades. Ansiavam por algo real, e reconheceram a João Batista como um mensageiro enviado de Deus. Ele tinha uma mensagem clara, própria para seu tempo e para seu lugar. É uma mensagem tal como a que João trouxe à sua geração, é o que é necessário para suprir as necessidades de nossos dias. Tempos momentosos como estes, requerem ação igualmente momentosa.

Os homens precisam ter seus pensamentos desafiados. Precisam ouvir este evangelho secular, proclamado com um novo poder conquistador. As potencialidades espirituais desta hora cataclísmica, são tremendas. Sentimo-Ias? Percebemos que a maior hora do evangelismo soou, e que a oportunidade suprema

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da igreja está aqui? Vivemos na maior hora de nascimento da História.

Foi em similar hora de nascimento que o Mestre disse: ―E necessário que Eu faça as obras dAquele que Me enviou enquanto é dia‖. S. João 9:4. É necessário que as façamos também. As conhecidas palavras de Shakespeare acerca de ―uma maré nos negócios humanos‖ certamente se aplicam ao presente. Mas uma maré nos negócios de Deus, é muito maior e de alcances mais amplos. Frederico Spurr, líder da comunidade presbiteriana, conta de um pequeno londrino que até aos cinco anos, não havia visto o mar. Fascinado e atemorizado, observa o rolar das ondas. De pé, com pàzinha e balde na mão. Estava quase sem falar de admiração. ―É tão grande papai!‖ dizia ele. Na manhã seguinte veio correndo para a praia. Mais era maré vazante. A água estava bem longe. Abatido gritou: ―Que pena que o mar foi embora. Não podemos mais brincar nele.‖

Mas algumas horas mais tarde, teve uma experiência excitante. Pôde observar a enchente da maré que veio ainda mais acima do que antes. Tenso de emoção, exclamou:

— Papai, o mar sempre volta assim depois que vai embora? — Sim, meu filho, sempre, foi à resposta. Colegas evangelistas, a maré está subindo. Podeis ouvir o chamado de Cristo, chamando pescadores corajosos e consagrados?

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LEVANTA OS TEUS OLHOS! ISAIAS 49:18

2 O DESAFIO DE UM EVANGELISMO CRESCENTE

JESUS estava em Samaria, e falava a um grupo de homens que escolhera para levar Sua mensagem de amor aos confins da Terra.

Sentindo que tinham necessidade de uma visão mais ampla, Ele disse: ―Erguei os vossos olhos e vede os campos.‖ Aqueles homens eram evangelistas. Tinham ouvido o chamado do Mestre, e já haviam deixado suas casas, seus amigos, e seus negócios, para serem mensageiros de esperança às ovelhas perdidas de Israel. O sucesso lhes coroara os esforços, mas seu trabalho havia sido em favor de uma única raça.

Agora, o Senhor queria renovar seus pensamentos. Para realizar isto, seria necessário que eles mudassem de ambiente. O orgulho nacional e o preconceito embaçavam-lhes a visão. Sempre é assim, e sempre assim será. ―Quando não há visão, o povo fica dissoluto‖, declara o sábio. (Prov. 29:18. Trad. Trinit.) Que grande verdade! Pois é a visão que faz o homem. É a visão que lhe dá alcance e poder. Somente a visão pode elevá-lo da mediocridade, e colocar seus pés no caminho do progresso. A visão o ajuda a ver uma máquina na chaleira, um anjo no mármore, uma nova língua nas nuvens, um

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povo na multidão. Os inventores, os artistas, os cientistas, os estadistas, e sobretudo os evangelistas, são feitos pela visão

Estranhos Acontecimentos Junto ao Poço

Imaginem esse grupo de pregadores itinerantes. Foram escolhidos para formar o núcleo de uma nova igreja. O mundo logo ouviria

sua mensagem. Porém, antes de poderem cumprir o plano que o Senhor lhes havia designado, Ele necessitava ajudá-los a terem uma nova visão.

Quando os judeus viajavam para o norte para a Galiléia, planejavam a viagem de tal modo a evitar Samaria. O itinerário preferido era dar a volta pelo lado leste do Rio Jordão, apesar de assim aumentarem vários quilômetros no total da viagem. Entretanto a afirmação encontrada no relato de João, é que para Jesus, ―era necessário atravessar Samaria‖ (S. João 4:4), o caminho mais curto, mas não o mais comum. Os judeus prefeririam adicionar vários quilômetros à jornada, a atravessar esta terra e encontrar um povo a quem desprezavam. Porém uma compulsão divina parecia apossar-se do Salvador, e O enviava por este outro caminho. ―Era-Lhe necessário atravessar Samaria.‖

Vemo-Lo agora junto ao poço de Jacó. Que lugar apropriado para iniciar o trabalho missionário pelos samaritanos! Porventura não estava enraizada sua árvore genealógica na memória daquele mesmo homem que cavara aquele poço dezessete séculos antes? Nosso Senhor era psicólogo. Sabia sempre achar um ponto de reunião comum, quando os corações necessitassem de cura, e as mentes precisassem ser moldadas em unidade.

Para os discípulos esta visita a Samaria era tão só um incidente em sua jornada para o norte. Mas para o Salvador era uma grande aventura evangelística. Todo detalhe nesta história é emocionante. Não foi sem propósito, que Jesus

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mandou Seus discípulos à cidade para comprar alimentos, apesar de a história mais tarde revelar que o alimento era coisa bem secundária ao Seu propósito. O fato é que àqueles homens não estavam prontos para fazer trabalho missionário Samaria. Mesmo algum tempo mais tarde, alguns desses mesmos homens ainda abrigavam preconceitos, sugerindo que se pedisse fogo dos Céus para consumir a alguns samaritanos, que se haviam negado a providenciar acomodações para o grupo de pregadores itinerantes. A falta de hospitalidade para os estrangeiros pode ter sido uma característica nacional dos samaritanos da época. Entretanto não cremos que assim fosse. Mas a um grupo de viajantes cansados, a quem se recusava uma cama, o fato não ajudava a curar a ferida de seus antepassados. Era uma crise, mas revelava os pensamentos escondidos no coração dos discípulos. Fossem quais fossem as causas, uma coisa era certa — aqueles homens não estavam prontos para evangelizar Samaria.

Assim, o que o Senhor não podia fazer com eles, deveria fazer sem eles. Observem Seu método. Afasta-Se do grupo; eles vão para a cidade e Ele vai ao poço. Não muito tempo depois, uma mulher, má e voluntariosa, vem tirar água. É meio-dia e ela está só. Não era comum vir-se ao poço tirar água no auge do calor do dia. O sol do meio-dia estava quente. Porém vir sozinha era ainda mais estranho. As mulheres sempre vinham em grupos, o que lhes dava a oportunidade de trocarem entre si os mexericos que houvessem recolhido. Mas esta queria evitar o mexerico e os olhares penetrantes das outras.

Entretanto, não permanecerá sozinha, pois sentado na borda de pedra do poço está um Forasteiro judeu. Ela não era do tipo que se

encabulasse diante de um homem, mas certamente ficou sem jeito quando Ele, judeu, lhe pediu água. Entretanto, Jesus não está procurando favores nem argumentos; procura aqueles que levarão Sua mensagem salvadora

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de paz e de boa vontade, a esses inimigos políticos de Sua nação. Encontra um portador - uma alma bem estranha. E ainda assim essa mulher sem nome, de Samaria, alcança uma cidade inteira, tornando-se o primeiro missionário cristão a seu povo.

Todavia, antes que o Senhor seja capaz de utilizá-la, precisa elevar sua mente bem acima do orgulho e da paixão. Notem os golpes magistrais, com os quais o divino Escultor cinzela na pedra, para obter o anjo que havia divisado nessa estranha alma E com que sabedoria a conduz passo a passo a um conceito mais amplo de Deus, até finalmente descobrir Sua identidade de Messias prometido!

Uma Rude Interrupção

Exatamente quando Jesus alcançava o ponto alto de sua pregação, entram em cena os discípulos Surpreendidos e embaraçados,

eles ―se admiraram de que estivesse falando com uma mulher‖ S. João 4:27. Imaginem suas reações – primeiro curiosidade, então espanto, depois desgosto e afinal impaciência. Pensar que Ele gastava Seu tempo com gente como ela, era demais para eles. E eles eram demais para a mulher. Assim ela fugiu da cena, deixando atrás seu cântaro. Um Poço de água viva brotava-lhe, entretanto, na alma. Ela obtivera uma visão, e apressava-se em compartilhá-la com seus amigos e vizinhos.

Mas esperem um momento Aqui há algo que não podemos perder Na presença do Salvador, essa alma carregada de pecados, estava perfeitamente à vontade apesar de saber que Ele havia lido seu coração. Contudo, em presença dos discípulos sentia-se desconcertada. Eles nada tinham para ela, e ela instintivamente o sabia, Seria um exercício saudável, para cada obreiro do evangelho, examinar seu próprio coração, orando para que o Espírito do Mestre Ganhador de AImas,

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o possua de tal modo que as almas combalidas e enfermas de pecado não sejam embaraçadas por nenhuma atitude de maior santidade ou superioridade espiritual. Antes que o médico possa ajudar ao paciente, ele deve primeiro faze-lo sentir-se emocionalmente à vontade. Isto é especialmente necessário no campo da psiquiatria. E é ainda mais essencial no campo de evangelismo.

Agora, com a mulher ausente, o Senhor podia tratar do problema maior, que eram Seus próprios obreiros. Precisava ser bondoso, porém franco. Nem tudo que disse está registrado. Mas uma coisa era urgente — esses homens precisavam de uma nova compreensão e necessitavam de uma visão mais ampla. Jesus não era meramente o Messias dos judeus; era o Salvador do mundo. É significativo o fato de que os samaritanos compreenderam isso antes do que aqueles pregadores ordenados.

Samaria, para os discípulos, era apenas um deserto de descrença, mas para Jesus era uma colheita espiritual amadurecida. Os discípulos viram somente hostilidade e oposição; Jesus viu aberta a porta da oportunidade. Onde eles viam somente adversidade, Ele via avançamento.

Se pudéssemos escutar as palavras do Senhor, enquanto falava com aqueles homens, teríamos ouvido Jesus dizer algo mais ou menos assim: ―Sei que os irmãos crêem que o evangelho alcançará Samaria dentro de algum tempo, mas a questão é que vos falta fé. Enquanto adiais este acontecimento a um futuro distante, Eu vos digo que agora, se tão-somente tivésseis olhos para ver, compreenderíeis que o Espírito de Deus já vai adiante de nós. Aqui há uma colheita esperando pelos ceifeiros. Sei que isso soa estranho aos vossos ouvidos, mas levantai os vossos olhos e vede! Vede!‖ E voltando-se viram uma multidão que descia a encosta da montanha. Quem são eles?‖ exclamaram com surpresa. Aonde vão? Olhai! São todos samaritanos! E agora vêm todos para cá. E quem é que

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os guia? É inacreditável! A própria mulher a quem enxotamos poucas horas atrás! Que significa tudo isto?‘ Os discípulos não tiveram que esperar muito. A veracidade das palavras do Salvador começou a despontar neles. Estavam mesmo presenciando a colheita, e uma colheita pela qual não haviam trabalhado. Que revelação E que dia para ser lembrado!

Pedro e João devem ter falado muitas vezes sobre aquele dia. Quatro anos mais tarde foram chamados a Samaria para consolidar os resultados evangelísticos do trabalho de Filipe. Sem dúvida viveram novamente a experiência daquela revelação maravilhosa junto ao poço de Jacó, Seria interessante saber o que veio a acontecer com a mulher que conduziu os primeiros de seu povo ao Salvador. Que pessoas pouco promissoras usa o Senhor às vezes! Ela era certamente uma alma muito estranha, para tomar-se a portadora da água da vida aos seus sedentos compatriotas. Tal é o poder da graça divina; o Senhor pode tomar o material menos promissor e em Suas mãos de amor moldá-lo em um vaso de amor e perfeição para a realização de Seu trabalho.

Não somente a mulher, mas a cidade inteira, foi tocada pela Sua graça. As hostilidades amargas desapareceram; um espírito de companheirismo os unia. Pediram ao Senhor que Se demorasse com eles. E Ele o fez. Passou dois dias em sua cidade. Não nos é dito a que horas se recolheram os discípulos naquela noite, mas podemos ter certeza que eles fizeram alguns ajustes em sua maneira de pensar antes de dormir. Nem tudo o que aconteceu durante esses dois dias, se encontra escrito, mas antes que os pregadores continuassem a sua jornada, aqueles samaritanos já haviam aceitado a Jesus como o Cristo. E confessaram sua crença nEle não somente por haverem ouvido a mulher, mas porque ouviram a palavra dEle por si mesmos. Tiveram uma experiência em primeira mão, nas coisas de Deus. Viram-nO, não como o Messias dos judeus

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ou dos samaritanos, mas antes como o Cristo, o Salvador do mundo. Que conceito! E que desafio!

Grandes Lições Aprendidas em Samaria

Sim, foi realmente um grupo de homens bastante mudado, que iniciou a segunda etapa da viagem, em demanda à Galiléia. Haviam

aprendido muitas lições dessa experiência, três das quais salientavam-se. Primeiro: Deus às vezes escolhe trabalhar de maneiras muito fora do comum. Certamente não existe melhor ,método de

evangelismo. Segundo: O sucesso no evangelismo, freqüentemente depende de encontrar alguém que possa ser um ponto de contato, uma alma-chave para abrir a porta de uma comunidade. Tal pessoa não precisa ser necessàriamente um líder na vida social da cidade. Deus não faz acepção de pessoas, e pode usar a qualquer cujo coração tenha sido tocado por Seu amor e Sua graça. Terceiro: Uma coisa essencial no evangelismo, é a visão. O evangelismo começa com uma visão consagrada, e avança com os horizontes dilatados.

Os samaritanos certamente haveriam de perecer antes que os discípulos resolvessem levar-lhes o evangelho Isto não quer dizer que aqueles obreiros fossem egoístas ou maus. Eram homens bons e verdadeiramente ortodoxos. Trabalhavam em harmonia com os conceitos da época. Afinal, Deus era o Deus dos judeus, argumentavam, e em todos os seus planos precisavam ter certeza de que a nação judaica estivesse na frente de todas as coisas espirituais. Não há dúvida de que alguns acreditavam ser isto mais fácil de se conseguir, se eliminassem da cena algumas outras pessoas. Esse tipo de argumentação não é exclusivo do tempo deles. É acentuadamente moderno em seus traços gerais.

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Argumentação de um Profeta Antigo

Séculos antes, outro líder espiritual dos judeus, raciocinara da mesma maneira. Deus o mandou a Nínive, porém ele não via razão

para ir. Encontrou mesmo várias razões para não ir. E por que haveria pressa no assunto? Verdadeiramente, Deus dera apenas quarenta dias de prazo à cidade, mas Jonas sem dúvida convenceu-se — e provavelmente isto estava em Harmonia com o conselho que recebera de outros — de que, afinal, seria uma boa coisa se Deus cumprisse Sua ameaça e destruísse os assírios, porque esta nação era um borrão negro na civilização. O povo em mau, bruto e cruel. Eram famosos pela mutilação desumana dos prisioneiros de guerra. Sem dúvida havia uma censura estrita, que deixava as nações ao seu redor na ignorância do que se passava atrás do cenário. Entretanto, tudo o que acontecesse, vinha com ares de coisa terrível. Assim, indubitavelmente, argumentavam os israelitas. E Jonas, entrando no espírito de seu tempo, achou-se secretamente desejando a destruição de Nínive. Portanto decidiu não ir. Mas Deus tem maneiras de trazer um homem de volta para cumprir Seus propósitos.

Alguns sugeriram que talvez este antigo profeta estivesse com medo, e, portanto fugia. Contudo não há nada que demonstre medo em um homem, que pede para ser atirado ao mar. Não! Não era o medo que o impedia de cumprir o dever. Havia outros fatores. Ele era nacionalista e agia movido por impulsos patrióticos. Seus pensamentos são claramente revelados em Jonas capítulo 4, verso 2, onde ele diz: ―Não foi isso que eu disse estando ainda na minha terra? - . pois sabia que és Deus piedoso e misericordioso, longânimo, grande em benignidade, e que Te arrependes do mal.‖―Por isso me preveni, fugindo para Társis‘. Era essa sem dúvida a opinião religiosa e política ortodoxa de seus dias. Se o Senhor mandasse descer fogo do céu e consumir aqueles assírios, isso

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resolveria um grande problema para Israel e para o resto do mundo.

Mas o povo de Deus nunca foi chamado a regulamentar problemas. A igreja não está no mundo para ladear um protocolo, ou para prescrever ou proscrever a política de qualquer nação. Nosso trabalho é levar o evangelho da paz e do amor a todos os homens, não importa de que lado estejam vivendo quanto a barreiras políticas. A glória e o gênio da mensagem cristã, têm sido sempre sua capacidade de atender à necessidade humana, sob quaisquer circunstâncias ou condições. Esta é uma verdade que os obreiros de Deus nunca deveriam esquecer. Nos casos de Nínive e de Sarnaria, os mensageiros tinham os olhos no problema e não na procura de almas.

A Desobediência Destrói o Poder Espiritual

A tragédia na experiência de Jonas, é que, apesar de ser ele o único homem no navio que conhecia o Deus vivo, dormia durante a

crise. A tripulação sabia o propósito da sua jornada, pois ―ele lho tinha declarado‖ (Jonas 1:10). E quando a tempestade surgiu, suspeitaram que tinha alguma coisa que ver com esse passageiro estranho. Todavia eram um grupo de homens de bom coração, e a despeito da perda da carga e aprestos, fatigavam-se mais e mais na batalha contra o mar impossível Oh, se pudesse estar registrado que Jonas conduzira uma reunião de reavivamento e ganhara almas entre aqueles homens! Contudo, um pregador desobediente é homem muito mal preparado para conduzir um reavivamento. Os marinheiros em desespero voltaram-se afinal para o verdadeiro Deus. Lemos que fizeram votos e ofereceram sacrifício a Jeová.

No entanto, quão diferente poderia ter sido tudo isto, se tão-somente este profeta houvesse tido uma visão da necessidade de Nínive! Ele não sentia sobre si a carga das almas daquelas

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grande cidade; nem evidentemente se estava importando com os marinheiros pagãos. Jonas era um verdadeiro teólogo. Poderia ter feito uma ótima apresentação da doutrina de Deus. É evidente que ele conhecia muito bem as Escrituras, pois em sua fervorosa oração para livrar-se da prisão das profundezas, citou passagens de nada menos de cinco diferentes livros da Bíblia. Este homem era una estudante das Escrituras; e era lógico em sua teologia, porém dormia profundamente. E pior ainda, dormia durante a crise!

O Lugar de Jonas em Israel

Não é provável que lhe faltasse preparo, pois a tradição o coloca como sendo o filho da viúva, que Elias levantou dos mortos, e que mais tarde, como servo de Elias, figurou tão definitivamente, no drama do Monte Carmelo. As referências escriturísticas a Jonas, revelam-no como sendo o profeta do norte de Israel, sucessor de Elias e de Eliseu, contemporâneo de Amós e de Oseías (II Reis 14:25). Mesmo com todas estas vantagens, não compreendia o propósito divino para com as nações. Falhou em sua responsabilidades evangelísticas, porque lhe faltou visão.

Quão diferente era a atitude de Jesus! Quando nosso Salvador contemplou a cidade, chorou sobre ela. (S. Luc. 19:41.) ―Quando via as multidões movia-Se em compaixão‖. S.Mat. 9:36. Esta era a reação do Mestre às necessidades humanas.

A Cultura Mutável de Nossos Tempos

Em nossos dias, as cidades tem crescido a ponto de alcançarem populações enormes. Estes grandes centros de cultura, comércio,

conveniência e congestionamento, constituem o maior desafio evangelístico de todos os tempos. O mundo muda rapidamente. A vida nunca foi tão cômoda como hoje.

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Existem milhares de novas atrações para desviar os homens s ambientes mais simples da vida.

E ainda não chegamos ao fim. A ―cidade do amanhã‖ será tão diferente das de hoje, quanto às de hoje o são, quando comparadas com as do passado. E será ainda mais difícil atrair a atenção da multidão. Porém o pecado será ainda tão real quanto hoje e cem vezes mais sutil. Mesmo agora as medidas ordinárias não são suficientes para atender às necessidades espirituais de nosso tempo. No entanto, se olhos tivéssemos para ver, reconheceríamos que Deus agora mesmo prepara o caminho para Seus mensageiros.

Enfrentamos um mundo desiludido, e ferido pela guerra. Cidades conhecidas durante séculos, como sinônimo de cultura e comércio, hoje são meros montes de cascalho e de mina. Por toda parte encontramos lares e corações partidos. Compreendendo que as filosofias materialistas, sobre as quais se firmavam, transformaram-se em miragens escarnecedoras, os homens de todas as partes procuram a realidade, O holocausto amedrontador da guerra, provocou o clamor de todos os homens em todas as terras, pela paz e pelo conforto. A raça humana nunca precisou tanto da bendita esperança como agora. Saindo de suas agonias, os homens descobrem que precisam mais de Deus do que de canhões, que precisam mais da Bíblia do que de bombas A ou H, e que Cristo uma proteção mais segura, do que qualquer aliança política, e que ‗nem só de pão vive o homem‘. A despeito da desilusão de nossos tempos, existe também um tremendo movimento de ansiosa e apaixonada esperança.

―Muitos há que estão lendo as Escrituras sem compreender-lhes o verdadeiro significado. Em todo o mundo homens e mulheres olham atentamente para o Céu. De almas anelantes de luz, de graça, do Espírito Santo, sobem orações, lágrimas e indagações. Muitos estão no limiar do reino, esperando somente serem recolhidos.‖ (1)

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A Necessidade de um Novo Wesley

Em Londres, um evangelista associado e eu, estávamos negociando com certo homem o uso de seu teatro para reuniões evangelísticas. Ele nunca dantes havia aberto suas portas a reuniões religiosas, de modo que nosso pedido era um tanto incomum. Colocamos nossa proposta diante dele, e ficamos satisfeitos ao receber uma resposta algo compreensiva. Repentinamente ele disse; Suponho que os senhores gostariam de saber porque me interesso em uma proposta que realmente será um prejuízo financeiro para mim, pois o dinheiro de que os senhores podem dispor para pagar-me não chegará nem para atender às despesas de limpeza, aquecimento e iluminação do prédio. Entretanto, cavalheiros, sou um estudante de História. E ultimamente tenho chegado a conclusões bem definidas. E natural que o ambiente não é similar, mas as condições sociais de nosso tempo, são em muitos aspectos semelhantes às do tempo de João Wesley. Não sou homem religioso, mas sei como pensa o povo; e o que o mundo precisa hoje, é de uma voz. Precisamos de outro Wesley. E creio que o Todo-poderoso não nos desapontará. Sim, podeis usar o meu teatro, e eu vos desejo sucesso.‖

Foi um grande momento. Apertamos-lhe a mão, e ao lhe olharmos nos olhos, silenciosamente elevamos uma prece a Deus, para que pudéssemos, pelo menos em parte; atender às necessidades da hora, e ser um cumprimento parcial de sua muda oração.

O mundo à procura de um Wesley! Era um pensamento animador. No entanto, Wesley era produto de sua época. Grandes mudanças políticas e sociais haviam produzido uma era de soerguimento na Europa. Entre outras coisas, a corte católica da Inglaterra havia sido derrubada, e estabelecera-se o novo regime da casa de Orange. Isso concitava a um programa de expansão, que trouxe consigo alguns dos problemas

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mais acremente discutidos da história britânica. Estas condições exigiam raciocínio claro. A igreja oficial perdera seu poder. O vício e a degradação, o pecado e a tristeza abundavam em toda parte. É duvidoso que a Inglaterra tenha afundado moralmente em qualquer outra época, mais do que na primeira metade do século XVIII. Um historiador informa-nos que em Londres, de cada seis lojas, uma era taverna, e anúncios como este eram comuns: ―Bêbado por um penny, super-bêbado por dois pence, canudinho incluído‖. A vida era barata, a bebida era abundante, e a violência estava em toda parte.

Entretanto, em meio àquela hora trágica, surgiu um evangelista ainda não superado desde os tempos apostólicos. Os homens procuravam a realidade. E a encontraram, E o século XVIII ainda é conhecido como o ―século evangélico.‖ Os distúrbios políticos e a degradação social tornaram-se a oportunidade evangelística. O desafio daqueles dias sombrios deu à igreja o ensejo de provar sua comissão divina.

Um Mundo em Expectativa

Hoje, porém, enfrentamos um desafio e uma oportunidade maior, pois não somente um ou dois países, mas o mundo todo está

em busca de uma mensagem. Nunca foram mais apropriadas as palavras do apóstolo Paulo, pois a ―ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus‖ Rom. 8:19.

Falando diante de um grupo de estudantes de Teologia, na Escócia, o Dr. James Stewart comentou este texto da seguinte maneira: O mundo inteiro espera ouvir o som distante de um côro de peregrinos . . perscruta a estrada por onde aparecerá essa hoste de resgatados, essa nobre raça das santos, à hora solene e certa em que isso deverá ocorrer. ―Vossa tarefa‖, disse, ―é enfrentas a desilusão que predomina hoje

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em dia, esmagá-la com a Cruz de Cristo, e envergonhá-la com esplendor da ressurreição.‖ (2) E, poderíamos acrescentar, arrastá-la ao esquecimento com a gloriosa esperança do regresso iminente de Nosso Senhor.

A igreja nunca dantes enfrentou tamanha oportunidade para o evangelismo ganhador de almas. Nunca no curso da História, foi possível à igreja estender sua influência sobre área tão ampla. Hoje o mundo inteiro é uma porta aberta. Mesmo em terras onde a oposição acerba frustrou os esforços dos arautos do evangelho, há evidências de que esta se está debilitando ou mudando seus métodos. Recentemente visitei um país, onde por muitos anos houve a mais cruenta oposição e feroz perseguição. Alguns que aceitaram a mensagem, foram martirizados por sua fé. Porém após trinta anos de testemunho fiel, por homens e mulheres bravos e leais, a oposição aberta está começando a desaparecer. Onde, até recentemente, era-se considerado pária e escória da sociedade por tornar-se adventista, agora é diferente. Não somente se é respeitado como bom cidadão, mas por haver mudado de religião ainda se eleva a posição social. Por todo o mundo vemos o Espírito de Deus trabalhando e chamando um povo para Seu nome.

―Na África pagã, nas terras católicas da Europa e da América do Sul, na China, na Índia, nas ilhas do mar e em todos os escuros recantos da Terra, Deus tem em reserva um firmamento de escolhidos que ainda brilharão em meio às trevas‖ (3)

Para tarefa tão gloriosa, para tão santa cruzada, o evangelista de hoje precisa ter visão. Pelos olhos da fé, ele deve discernir uma seara branca, mesmo onde as probabilidades de sucesso parecem muito remotas. Tão proibitivas quanto pareçam as coisas, ele deve lembrar-se de que ―as perspectivas são tão brilhantes quanto as promessas de Deus‖. Samarias

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pré-conceituadas, e Nínives pagãs, esperam pela última mensagem de esperança e amor.

Oxalá, como evangelistas, possamos testificar nas palavras do grande apóstolo, que, respondendo por sua fé, disse: ‖Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial.‖ Atos 26:19.

1) Atos dos Apóstolos, pág. 109. 2) James Stewait, Heralds of God, pgs. 25 e 21 — Usado com permissão de Charles Scribner‘s & Sons. 3) Profetas e Reis. págs. 188 e 89 (706 e 707).

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SEPARADOS PARA O EVANGELHO DE DEUS

ROMANOS 1:1 3

CHAMADO DIVINO PARA O EVANGELISMO

O EVANGELISMO é a combinação de três coisas — uma mensagem, um mensageiro e um método. Todos são naturalmente, a mensagem vem primeiro. É infinitamente mais importante do que o mensageiro ou do que o método. Entretanto, a mensagem precisa de um mensageiro. ―E como ouvirão, se não há quem pregue?‖ Rom. 10:14.

No Novo Testamento existem oito ou dez palavras gregas , relacionadas com algum aspecto da pregação. Porém, como diz o Dr. G. Campbell Morgan, duas são supremas — evangelizo e kerusso. A primeira simplesmente dá a idéia de proclamar o evangelho, ou as boas-novas. Esta palavra ocorre mais do que cem vezes no Novo Testamento, e dela provém as palavras portuguesas: evangelho, evangelista e evangelismo. O evangelista é chamado para proclamar as boas-novas da graça de Deus, aos homens que precisam dessa graça. Como representante de Deus, ele está entre a necessidade humana e a graça divina.

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A segunda palavra, kerusso, envolve uma proclamação proveniente de um trono. A mensagem é dada em nome de um

governante. Unindo esses dois significados, obtemos a idéia básica de pregação. É proclama a mensagem da graça divina, para atender às necessidades humanas, e proclamá-la sob a autoridade do trono de Deus, O pregador vem então com boas- novas, e não somente com bons conselhos. Mais ainda, sua mensagem deveria fazer insistentes exigências àqueles que a ouvem, porque vem de um Rei. Sua autoridade é o trono da Divindade.

Um Mensageiro Enviado do Céu Comove à Palestina

O simples relato de S. Lucas, concernente a João Batista, o arauto do primeiro advento do Salvador, é cativante. Aqui encontramos os três elementos do evangelismo, isto é, a mensagem, o mensageiro e o método. O relato diz simplesmente que veio a palavra de Deus a João. . . e percorreu ... pregando.‖ S. Luc. 3:2 e 3. A Palavra de Deus era a mensagem; João era o mensageiro; e a pregação era o seu método. Como mensageiro divino, João tomou-se a encarnação de ambos, mensagem e método. Ele era um homem enviado por Deus, e sua mensagem de arrependimento varreu o pais como um incêndio de pradaria. Sacerdotes e povo, publicanos e pecadores, soldados e santos, todos vinham ouvi-lo. Sua missão foi marcada pela pregação simples, pungente, proposital e cheia de apelo ao coração. Era um profeta ardente e que possuía uma mensagem, e o efeito foi tremendo.

―Ele era a lâmpada que ardia e alumiava‖ (S. João 5:35), disse Jesus, e ―Jerusalém, e toda a Judéia, e toda a região ao redor do Jordão‖ (S. Mai. 3:5) sentiram o fogo de seu evangelho. João não era um faz de conta, nem uma meia reflexão, nem imitação; tampouco era um combustor de gás colocado na lareira. Ardia enquanto brilhava. Consumiu-se em seu

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serviço. Sua mensagem era guiada pelo Espírito e pelo mesmo Espírito recebia poder. Era o fervor levado ao máximo; convicção em ação.

Quando o povo — as multidões comuns de todo dia como as que compõem nossas comunidades — o ouvia, tremia, pois sua mensagem penetrava profundamente no coração egoísta do homem. ―Que faremos?‖ perguntavam. ―Não entesoureis vossos bens‖ era sua resposta. ―Ao invés, distribuí-os entre os menos afortunados.‖ S. Luc. 3:12-15.

Outro grupo que dificilmente se comovia com a religião, eram os publicanos. Eram empregados civis, chamados coletores de impostos. Em realidade eram meros dentes na engrenagem da máquina estatal romana. Não se guiavam por padrões morais, e geralmente extorquiam profissionalmente. Suas injustiças haviam amargurado a nação judaica. Como um grupo, certamente não eram material promissor para prática do evangelismo. Mas o fervor do apelo de João Batista tocou até a estes e vieram até ele dizendo: ―Mestre, que havemos de fazer?‖ Tocando no âmago de suas necessidades espirituais, João desafiou-lhes o pensamento, e muitos deles entregaram o coração a Deus.

Mais notável ainda é a impressão causada por sua mensagem sobre os soldados. Também eles vieram perguntar o que deveriam fazer, Os soldados romanos daqueles dias eram homens violentos e sanguinários. A brutalidade e a destruição dos direitos humanos os seguiam; seus corações não se comoviam. Nem mesmo com o derramar das lágrimas de uma viúva. Lares partidos e vidas arruinadas, eram o seu orgulho. Agora porém, acusados, como se fosse perante a própria corte celeste, esses ensangüentados membros da comunidade, vinham buscar auxílio deste mensageiro de Deus.

João não discursava acerca de Deus; falava por Deus. Havia autoridade por detrás de sua fraseologia. Não era um sacerdotezinho, e muito menos um simples eco; era uma voz,

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uma voz de Deus, clamando no meio do deserto de pensamentos confusos em seu tempo. Em suas mãos os rolos dos profetas brilhavam com novo esplendor. João era um pregador da profecia, e um pregador de poder; todavia sua mensagem não era simplesmente um prognóstico especulativo, ou uma filosofia humanitária. Veio preparar o caminho para o Senhor, mostrar aos homens o Cordeiro de Deus, que tiraria o pecado do mundo.

A grande maioria dos ouvintes de João estava amargamente desiludida. Viviam dia após dia no temor de que alguma coisa pior lhes sobreviesse. Intimidados pelos romanos invasores encontravam-se dominados sob o açoite de um totalitarismo cruel. A alegria fugira dos corações dos homens, e em toda parte orava-se pelo livramento. ―O povo estava na expectativa.‖ S. Luc. 3:15. Assim, quando João veio com sua mensagem clara, não baseada em fraseologia antiga, mas na linguagem do momento, todos os homens ouviam, ao desdobrar este pregador profético a mensagem divina com novo e estranho poder.

―Camponeses e pescadores iletrados dos distritos vizinhos; soldados romanos dos quartéis de Herodes; comandantes, de espada à cinta, dispostos a aniquilar qualquer coisa que cheirasse a rebelião; os avaros cobradores de impostos de suas coletorias; e do Sinédrio, os sacerdotes e seus filatérios — todos escutavam como presos de fascinação; e todos, mesmo o fariseu e o saduceu, o frio e impassível zombador, saíam calando seu motejo, e sentindo o coração penetrado do sentimento de seus pecados.‖ (1)

Chamados de Deus

O comentário escriturístico acerca de seu trabalho, é simples porém enfático: Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João.‖ S. João 1:6. Quando um homem é enviado de Deus, ele o sabe, e o mundo também o sabe. Dentre todas as preparações essenciais para o evangelismo, nada

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é mais importante do que a preparação do pregador. Precisamos sentir novamente o nosso supremo chamado, Deus poderia ter usado anjos para proclamar Sim mensagem. Entretanto escolheu usar homens — homens simples e homens humildes — ―para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós.‖ II Cor. 4:7. Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios ... e Deus escolheu as coisas humildes do mundo. .. a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus.‖ (1 Cor. 1:27, 28 e 29.)

―O braço da carne vos falhará, E não ousareis confiar no que é vosso‖. Ser chamado de. Deus, e ser comissionado do Céu, como um arauto do evangelho, é ao mesmo tempo a honra mais elevada, e o

desafio mais solene. Não existe trabalho mais glorioso, nem trabalho mais exigente. Pregação é trabalho, trabalho duro; o mais severo trabalho de todo o mundo. E não ousamos enganar o nosso Senhor ―com tépidas lealdades e interesses divididos.‖

Um jovem em Londres, perplexo quanto a seu futuro, veio a Spurgeon pedir conselho: ―O Senhor acha que eu devo tornar-me um pregador?‖ perguntou.

— Somente se não puder evitá-lo, foi a sábia resposta desse guerreiro espiritual. Uma reflexão cuidadosa nos convencerá de que sua resposta estava correta, apesar de estranha. Mostra sabedoria nascida de

experiência real. O único homem que vale alguma coisa no ministério é aquele que não pode, nem ousa fazer outra coisa. Se ele pode dizer como

Jeremias que a Palavra de Deus está ―em meu coração como um fogo ardente, encerrado em meus ossos‘, então compreenderá o que o antigo profeta quis dizer quando declarou: ―Já desfaleço de sofrer, e não posso mais.‖ Jer. 20:9. Jeremias enfrentou o cárcere e a perseguição. Mas

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recuar era ainda mais difícil do que avançar. Precisava dar a mensagem, a despeito da desonra e da oposição. Então o Senhor tomou-Se para ele aquilo que deseja tornar-Se para todos nós, ―o valente terrível‖, que é capaz de livrar ―a alma do necessitado da mão dos malfeitores.‖ Versos 11 e 13.

O Ministério, Vocação e Não Profissão

Tal trabalho santo e elevado requer o conhecimento do chamado divino, pois ―ninguém toma esta honra para si mesmo.‖ Heb.

5:4. Quando um homem entra no ministério, entra numa luta da qual não há dispensa. Não pertence mais a si mesmo; está sob ordens. Um homem pode escolher uma profissão, mas o ministério não pode ser invadido desse modo, pois o ministério não é uma profissão; é vocação. Pode-se escolher o magistério, a medicina, a advocacia, o comércio, e deles sair, sem sofrer perda espiritual alguma. Todavia, infeliz do homem que, tendo posto a mão no arado ministerial, olha para trás.

Paulo, o Servo

Para ser bem sucedido neste chamado divino, é necessário que se cobice a honra de ministrar, no sentido exato da palavra.

Deve-se ser servo de todos. ―Fiz-me escravo de todos,‖ declarou o grande apóstolo, ―a fim de ganhar o maior número possível.‖―Procedi, para com os judeus, como judeu para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse. . . Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse. . . Fiz-me fraco para com os fracos. . . . Fiz-me tudo para com todos, com o fim de por todos os modos, ganhar alguns. Tudo faço por causa do evangelho.‖ 1 Cor. 9:19-23.

Alguma coisa aconteceu aquele dia na estrada de Damasco quando Saulo, o erudito, encontrou a Jesus, o Senhor vivente. Sua descrição da cena é arrebatadora: ―Ao meio-dia,‖ diz ele, ―vi uma luz no céu, mais resplandecente que o Sol.

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E, caindo todos nós por terra, ouvi uma voz que me falava. ...E disse-me: Eu sou Jesus a quem tu persegues. Mas levanta-te e

firma-te sobre teus pés, porque por isto te apareci para te constituir ministro e testemunha. . . livrando-te do povo. . . para os quais Eu te envio, para lhes abrir os olhos e convertê-los das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus.‖ Atos 26:13-18.

Uma expressão salienta-se entre os detalhes da descrição. Paulo diz que o Senhor lhe apareceu para fazê-lo ministro. Uma expressão similar encontra-se em Efésios 3:7: ―Fui feito ministro‖, afirma de, E nisto estava muito certo pois não existem ministros natos. Eles precisam ser feitos. E leva bastante tempo para moldar um mensageiro de Deus. Mais ainda: ―Somente Aquele que fez o mundo pode fazer um pregador.‖ Diz-se que Miguel Ângelo sempre fabricava suas próprias ferramentas, e seus próprios pincéis. Da mesma maneira o Escultor celeste forma os instrumentos, com os quais cinzelará os súditos de Seu reino.

Declara o Bispo Quailey: ―O elemento principal na pregação, não é a própria pregação, e sim o pregador. . . Não há dificuldade em pregar, porém existe enorme dificuldade para se formar um pregador.‖

Quando o Senhor encontrou a Saulo de Tarso, na estrada de Damasco, iniciou a formação de um pregador, cujo nome seria ouvido em todos os rincões da Terra. Vários anos se passaram, antes de aparecer o produto final. A primeira coisa que o Escultor celestial fez naquela estrada síria, foi esmagar o orgulho natural e ô amor-próprio, daquele sábio representante do Sinédrio. Na presença do Cristo

vivo, a vanglória e a ambição humana foram espojadas na poeira da estrada. Mas então veio a ordem: ―Levanta-te e firma-te sobre teus pés.‖ E desde aquele momento, Saulo percebeu que estava sob ordens e preso por cadeias invisíveis.

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Seu chamado, certamente, não foi uma preferência entre alternativas Não havia outra alternativa. ―Sobre mim pesa essa

obrigação‖, declarou ele. 1 Cor. 9 16. Contudo, a despeito dessa premência divina, havia uma emoção em todo o seu serviço para Deus. Vez após vez, suas mensagens soam com esta nota de alegria. ―Regozijei-me grandemente no Senhor,‖ diz ele em Fil. 4:10. E ao admoestar os seus conversos, escreve: ―Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, alegrai-vos‖ E ―quanto ao mais, irmãos meus, alegrai-vos no Senhor.‖ Fil. 4:4; 3:1.

Observem este homem que despojado da honra mundana, tido como louco, suportando às vezes a pior perseguição, traído por falsos irmãos, sofrendo todos os tipos de indignidades e mesmo a ―perda de todas as coisas‖ por Cristo — ainda avança conquistando. Impelido por um grande ânimo, declara: ―Mas uma coisa faço.‖ Fil. 3:13. Nisso de nos dá o índice de sua vida reso luta. Seu ministério não o tornava orgulhoso, porque ele diz: ―Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!‖ 1 Cor. 9:16.

Foi como se as mãos poderosas do Espírito de Deus tomassem a esse homem e o possuíssem, coração, mente, corpo e alma. Saulo o erudito tornou-se Paulo o pregador, e, dirigido por uma divina compulsão, era levado adiante em seu glorioso empreendimento. A despeito de estarem todas as igrejas diàriamente sob o seu eu dado, Paulo ansiava por levar o evangelho a lugares onde não fosse conhecido o nome de Cristo. (Rom. 15:23.) Era um evangelista por excelência: não somente um evangelista itinerante, mas um evangelista pastoral no mais verdadeiro sentido da palavra.

Motivos do Ministro

Para compreender sua vida, devemos estudá-la em relação

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com a visão que de obteve a caminho de Damasco. Foi aquela visão que pelo resto de sua vida dominou a todos os seus planos. A maneira pela qual se entra no ministério é importante. Um homem pode não estar consciente de todas as influências que o levaram a iniciar-se no ministério, mas sem dúvida deveria saber porque permanece nele. Se a causa de sua permanência no ministério é a ambição, e o alvo cobiçado é o mero ―sucesso‖, então não existe nada de vertical em sua visão, e ele errou o caminho. A menos que um homem esteja preparado para ser dominado, controlado e dirigido por uma grande causa; a menos que de possa entregar-se a um alegre abandono em favor de sua grande tarefa, a menos que esteja sempre tão cônscio de suas exigências quanto de suas recompensas, deve antes lamentar-se do que congratular-se.

O ministério deve ser mais do que uma maneira de ganhar a vida. Deve ser o único modo pelo qual um homem possa viver. Alguma coisa na massa do seu sangue deve influir em sua busca por almas. Escutem a João Knox clamando, noite após noite, na agonia do desespero de sua alma; ―Deus, dá-me a Escócia ou morro‖ O mesmo senso de responsabilidade pessoal movia o coração de Paulo quando escreveu: ―Meus filhos, por quem de novo sofro as dores do parto, até ser Cristo formado em vós.‖ Gál. 4:19. Tais fardos do coração e tais orações insistentes por parte de homens chamados e inspirados por Deus, estão a uma enorme distância da mera jactância de certos tipos de obreiros cuja intriga política ou façanhas administrativas, tornam-se um meio de agradar a ambição humana. Somente um homem chamado por Deus pode cumprir uma tarefa dada por Deus.

Capinando seu jardim, num dia de verão, um homem subitamente parou de trabalhar e, olhando para o Sol, largou a enxada e exclamou: ―O sol estou quente. As ervas daninhas

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sou altas. Este homem sou chamado a pregar!‖ Será que era mesmo?

Preferência pessoal, prestígio social e o amor à comodidade — nunca devem ser os motivos atuantes que conduzam alguém ao ministério Somente quando Deus estiver em todos os nossos pensamentos, e Sentirmos em nossas almas os movimentos terríveis e misteriosos do divino Espírito; somente quando nossa resposta for incondicional irrestrita e absoluta, teremos valor suficiente para sermos chamados ―co-obreiros de Deus‖. Lemos a respeito do Mestre: ―O zelo da Tua casa Me Consumirá.‖ S. João 2:17. E em Sua oração por todos aqueles que levariam Sua mensagem, disse: ―Assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo.‖ S. João 17:18.

Completa dedicação a um propósito vitalício, e a compreensão constante de que se está servindo sob a cruz — são as duas coisas essenciais, que levam o ministro a encontrar aquela alegria que satisfaz a alma, e que é a recompensa de tão santa e elevada missão.

Tipos de Homens a Quem Deus Tem Chamado

Há somente um caminho para o ministério de Deus; o chamado. E quão variados têm sido os meios que Deus escolhe para

chamar Seus servos. Alguns, como João Batista e Jeremias, foram separados desde o nascimento. Outros ouviram a voz interior e viram a mão que os convidava, enquanto estavam dos nos meios comuns de ganhar a vida. Desses Amós e Eliseu são exemplos notáveis.

A alma de Amós foi movida, quando ouviu a história sórdida do vício e do pecado de Israel. O luxo e a prodigalidade haviam se introduzido profundamente na vida da nação. Amós não era um homem instruído. ―Eu não era profeta, nem filho de profeta‖, diz ele em Amós 7:14. Enquanto cuidava do

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gado nas solitárias pastagens de Tecoa, ouviu o chamado misterioso. ―Mas o Senhor me tirou de após o gado, e me disse: Vai, e profetiza ao Meu povo.‖ Verso 15. E assim este tropeiro tornou-se um dos grandes líderes na causa de Deus.

Moisés também era um pastor, mas ao contrário de Amós, havia sido bem treinado para a liderança pelos maiores educadores de sua época. Era um sábio brilhante, um gênio literário, general do exército, e uma personalidade amistosa; aos quarenta anos de idade estava aparentemente preparado para a obra de sua vida. Não somente estava completa sua educação, como também já renunciara a seus direitos sobre o trono egípcio. Havia deliberadamente escolhido compartilhar os sofrimentos de um povo então em escravidão.

Mas a educação, o prestígio social e a habilidade inata não são por si mesmas qualificações para a liderança espiritual. Moisés tinha outras lições mais importantes a aprender. Para prepará-lo inteiramente para a obra de sua vida, a Providência permitiu que as circunstâncias oferecessem a este príncipe do Egito, um novo curso de instrução. Lá fora, no deserto de Sinai, bem longe dos palácios luxuosos do Faraó, Moisés viria a aprender a verdadeira escala de valores da vida. Antes que ele pudesse ser usado como instrumento nas mãos de Deus, sua alma precisava ser purificada de todo o orgulho e auto-suficiência. Por isso Deus o enviou ao Sinai. Não haveria melhor lugar para tal reeducação. Em meio às inóspitas paragens onde as montanhas elevam suas escarpas arrojadas aos céus, desapareceram todas as vaidades do Egito. Ali ele aprendeu a comungar com o Deus da Natureza. E após anos de tal treinamento gradativo, o líder pôde ouvir e reconhecer a Voz divina, quando falava em meio à sarça ardente.

Quão bem Deus conhece a maneira de apelar àqueles a quem escolhe! Uma mente científica é naturalmente atraída por um fenômeno. Observem este físico, ao admirar a sarça ardente. Maravilhado, pergunta-se: Como está a sarça em

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chamas, e não se consome?‖Aproximando-se da cena, percebe a Presença divina. Espantado, escuta o desafio concernente a Israel. Quarenta anos atrás, sentia-se animado a executar a tarefa. Agora suplica pan não fazê-la. Sente-se indigno e mal preparado. Como poderá voltar atrás?

Mas novamente a Voz se dirige a Moisés: ―Que é isso que tens na mão?‖ E ele responde mansamente: ―Uma vara‖. Poderia muito bem estar segurando um cetro; ao invés disso segura uma vara, um cajado de pastor, que dia após dia lhe

relembra o fracasso e o pecado. Fazia já quatro décadas, desde que fugira do Egito, mas ainda permanecia como servo, pastoreando os rebanhos alheios. A vida certamente era uma desilusão para ele. Por que chega Deus tão perto dos pensamentos secretos de um homem? Por que Se referiu justamente vara? Ah, a vara não mais será um símbolo de fracasso humano; logo se tomará o emblema do poder divino.

―Lança-a na terra‖, foi a ordem dada. Moisés obedece, e aquele pedaço de pau seco, torna-se uma coisa viva e desafiante, uma serpente tão aterrorizante, que o intimorato príncipe do deserto foge dela. Entretanto, mesmo essa atitude toma- se um símbolo. Não estivera ele fazendo a mesma coisa durante quarenta anos — fugindo às dificuldades?

―Pára!‖ brada a Voz. ―Pára, e pega-a‖ Ele obedece e a serpente torna-se novamente uma vara. No entanto, alguma coisa deve ter acontecido à serpente, pois lemos que Moisés apanhou-a pela cauda. Sem dúvida deve ter

dado meia-volta, e fugido de Moisés, quando este foi pegá-la. Para os interessados no estudo da psicologia, esta parte é interessante. Somente estamos verdadeiramente qualificados para a

liderança, quando pudermos agarrar aquilo que nos amedronta a alma e nos embarga os passos. Os fracassos do

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passado, podem tornar-se pela graça divina, os símbolos de vitória ao obedecermos à voz de Deus. Algo mais aconteceu à vara naquele dia — mudou de dono. Depois disso Moisés sempre se referiu a ela como sendo ―a vara de

Deus.‖ Não somente a vara, mas também o próprio pastor passou a pertencer a Jeová. Ali, ao lado da sarça ardente, Jetro perdeu um empregado. Deus achou um líder, e o libertador de Israel recebeu sua comissão divina No deserto, ele descobriu que todos os desapontamentos que haviam frustrado seu trágico passado, eram apenas planos de Deus para fazer possível o seu glorioso futuro. Que milagres podem ocorrer no deserto, se se tem olhos para ver e ouvidos para ouvir!

Depois de Moisés, o maior escritor do Velho Testamento foi o profeta Isaías. Quão diferentes foram, entretanto, as circunstâncias de seu chamado. Isaías era um amigo de reis, e freqüentador de côrtes. Este homem culto encontra a obra de sua vida no tempo em que Israel chora a morte de seu soberano. Uzias havia sido um Forte governante. Havia feito muito por Israel. E este jovem tinha tido muita fé no rei. Eram dias escuros, pois a Assíria ameaçava invadir a qualquer momento, e o país inteiro se estava preparando para a ação. Os exércitos estavam em toda parte. Nunca uma nação precisou tanto de um líder, como Israel precisava naquela época.

Os jovens eram requisitados para as tropas, e Isaías, recém formado pelo seminário hebraico, pondera acerca do futuro, sob o pórtico do templo. O que lhe reservará o futuro? Repentinamente ele se dá conta da presença divina. Sua mente é limpa do tráfico das coisas mundanas, e Deus penetra silenciosamente em sua consciência. Ouve música — não as desafinações terrestres, porém harmonias celestiais, que lhe envolvem a alma. Com o olhar voltado para cima, ele contempla o Senhor ―alto e sublime,‖ cujo séquito enchia o templo. (Isa. 6:1.)

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Quando a ―coluna da esperança humana‖ desmorona, Isaías vê que a Coluna do universo permanece. Quão diferente parece o

mundo, quando um homem vê as coisas pela perspectiva certa! Impérios em decadência e homens mobilizados, não são toda a história. Acima e além da névoa do pensamento humano, e ―atrás do desconhecido, está Deus dentro da sombra, vigiando aqueles que Lhe pertencem.‖

O fiel profeta escuta: Ele ouve as harmonias do Céu. ―Toda a Terra se encheu de glória,‖ é a mensagem do côro angelical. Sem dúvida, este é um pensamento novo. Isaias crê que a terra está cheia de assírios maus, prontos a tramar a destruição do povo de Deus. Mas Deus tem outras revelações importantes a fazer a este jovem pregador.

Quando a Divindade descobre os céus para fazer-Se real a um homem, também descobre a alma do homem, para fazê-lo real a si próprio. Angustiado pela consciência de suas terríveis necessidades, Isaias clama em agonia: ―Ai de mim, que vou perecendo‖ Cultura educacional, posição administrativa e prestígio social — quão pueris parecem estas coisas perante a Divindade! Sua necessidade é por demais aparente. Ele é um homem de lábios impuros, e prega a um povo de lábios impuros. Deve ser purificado. Assim, um anjo é comissionado para levar-lhe a brasa purificadora, do altar divino. É importante notar que o fogo não é para tornar o pregador eloqüente, e sim para purifica-Io,

Por entre as câmaras internas de sua alma, soa agora uma VOZ — ―A quem enviarei e quem há de ir por nós?‖ Isaías olha em torno e não há ninguém para responder. Ali, de pé, começa a sentir a própria responsabilidade pessoal. Não foi ele purificado? Não é um homem de Deus? Portanto com coragem advinda da convicção, responde simplesmente: ―Eis me aqui; envia-me a mim.‖ Instantaneamente recebe a comissão: ―Vai e dize a este povo.‖

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―Mão Forte‖

Isaías, assim como Moisés, encontrou a obra de sua vida ao encontrar a si próprio. Daquele mesmo dia em diante iniciou-se a

obra de sua vida. A experiência tomou-se sua credencial. Ele foi chamado e não ousava pedir dispensa. ―O Senhor falou assim comigo com mão forte,‖ foi sua significativa expressão. Daquele dia em diante era como se ele estivesse preso em um torno. Constantemente sentia o agarrar da mão invisível.

E não temos nós ministros, também que sentir sobre nós o peso dessa ―mão forte‖? Conhecemos nós a coação misteriosa que não nos deixa alternativas? Se a resposta for afirmativa, então nosso serviço não será apenas um meio de ganhar a vida. Não nos perderemos no emaranhado das profissões. Nem aspiraremos aos favores oficiais, e seu fardo de empreendimentos ansiosos, sob os quais freqüentemente espreita o perigo da impotência espiritual. O homem que viu o Senhor ―alto e sublime‖, sempre quer compartilhar esta visão. Custe o que custar, precisa estar no calor da grande luta.

Uma vez que o manto é atirado aos nossos ombros, nada mais resta a fazer, além de despedirmo-nos dos que ficam em casa e seguir avante no trabalho de Deus. Melhor ainda, é tomar o jugo dos bois e os instrumentos de nosso serviço anterior e oferecê-los em sacrifício.

Quando Júlio César queimou seus navios nas praias de Dover, não somente preveniu uma retirada romana, mas deu ao mundo uma evidência de uma vida com propósito. Deveria o ministro de Cristo mostrar menos? Quanto aos discípulos o registro é simples porém significativo: ―Deixando tudo, O seguiram.‖

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Uns Encontro com Deus

Nada menos que uma completa consagração atenderá às exigências de Deus. Estudem as vidas dos homens e mulheres que

têm feito uma real contribuição na liderança espiritual, e descobrirão que em algum ponto do caminho, cada um deles ingressou numa dedicação definida e total a seu Deus.

Como exemplo, tomem o caso de William Shaw, um dos líderes cristãos mais interessantes da história da Africa do Sul. Nascido em Glasgow, capital da Escócia, entrou para a banda do regimento do rei com apenas nove anos de idade. Serviu como soldado músico até aos 18 anos. Durante esse tempo suas horas de Folga eram bem aproveitadas. Enquanto estudava música, também estudava teologia, preparando-se assim para o seu futuro trabalho. Desde menino fora um pensador perspicaz, e em idade bem tenra, deu seu coração ao Salvador. Tinha quase dezenove anos, quando recebeu seu chamado ao ministério. Não possuía então diploma universitário, mas possuía algo muito mais vital. Poucos meses depois deixou sua terra natal a fim de se tornar um missionário pioneiro e portador das boas-novas ao Continente Negro. Seu navio atracou à Cidade do Cabo nas primeiras semanas de 1799. O metodismo naqueles dias era um poder espiritual, e os que avançavam como arautos das novas gloriosas de plena graça, tinham que conhecer o gôzo do evangelho em seu próprio coração. Eram homens consagrados, e seu ministério tinha poder. Eram testemunhas vivas do evangelho. Cristo crucificado era mais do que uma doutrina, era uma experiência.

Quão completamente se entregou o jovem Shaw ao Senhor, é evidenciado por este pequeno artigo aparecido em seu diário, que naquele tempo cada ministro metodista era obrigado a manter, O artigo ocupa mais do que quatro páginas, e torna-se mais interessante, quando nos lembramos de que

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Shaw tinha apenas dezoito anos de idade quando o escreveu. Fala a linguagem de outra época, mas aparece a profunda sinceridade. Deus honrou significativamente este ato de dedicação, como nos é revelado pela história de sua liderança espiritual na terra à qual serviu por mais de meio século. Imaginem a este rapaz, no fim do ano, comparecendo a esta entrevista com Deus, e ouçam-no fazer esta dedicação:

―Temível Majestade! Santa, Abençoada e Gloriosa Trindade, Três pessoas em um Deus! Eu, um verme pecador da Terra, prometo agora em Teu terrível nome, e com a força que me dês: Aborrecer o Diabo e todas as suas obras; as pompas e as vaidades deste mundo mau. 2°.— Prosseguir em completa santidade de coração e vida. 3°. — Usar os meios mais próprios para conservar viva e em movimento a obra da graça em meu coração. 4° — E se assim quiseres, e me chamares, prometo entregar-me este ano, ao ministério, completa, sincera e inteiramente.

―Santo Deus, não posso depender de minha própria força, para cumprir este pacto contigo, mas humildemente e fervorosamente Te imploro que ratifiques este pacto e aceites a este sacrifício no Céu, dando-me poder na Terra, para cumprir meus votos para com o Senhor — Amém, e que os anjos em côro digam Amém, enquanto me subscrevo, o servo dedicado do Senhor, William Shaw.‖ (2)

Não admira que seu trabalho fosse um sucesso! Se cada jovem ministro que entrasse para o trabalho do Senhor, tivesse que emergir de tal fundo espiritual de examinação própria, somente Deus mesmo poderia prever os resultados.

Para servir sob as prerrogativas divinas de embaixadores de Cristo, deve-se primeiro ter ouvido o chamado de Deus, e ter-se visto a visão celestial. Para mover os homens na direção de Deus, deve-se ter por trás das simples palavras algo daquela segurança apostólica, que levou Paulo a declarar: ―Eu sei.‖ Um homem assim foi sem dúvida George Whitefield, de quem é dito que quando pregava, ―não pregava apenas um mero sermão; era uma mensagem celestial.‖ Ele e seus ouvintes estavam cônscios de que Deus falava através dele. Havia

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ausência completa de qualquer arrogância espiritual, e ainda assim era como um mensageiro divino, que chamava os homens do pecado para a santidade. Em sua alma havia a confiança profética, que levava os antigos videntes a pontuarem seus pronunciamentos com um: ―Assim diz o Senhor‖. Ele não reclamava o direito de ser chamado profeta, no sentido clássico da palavra, mas era realmente um ―vidente do futuro‖, e cônscio do chamado divino.

1) Obreiros Evangélicos, (3° Ed.), págs. 54 e 55. 2) The Outspan, Africa do Sul, abril de 1947.

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SEGUNDA PARTE

PREPARANDO A IGREJA PARA O EVANGELISMO

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PREPARANDO A IGREJA PARA O EVANGELISMO

Quando Paulo, o experimentado veterano de uma centena de batalhas, estava aconselhando a um oficial do exército do Senhor,

disse: ―Sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, e cumpre o teu ministério.‖ II Tim. 4:5. Somente fazendo o trabalho de um evangelista, pode alguém dar provas completas de seu ministério, O evangelismo não é uma

ocupação marginal; é o próprio coração de todo o ministério cristão. O ganhar almas é o trabalho primário do pastor-evangelista. Este será um homem que irá a muitos lugares, respondendo a muitos chamados, mas seu trabalho real será ganhar almas. Para conseguir isto, ele faz da igreja uma comunidade espiritual. Os membros para ele são uma irmandade e não simplesmente um auditório; participantes e não simplesmente espectadores. E sejam quais forem os dons espirituais com os quais o evangelista seja dotado, quer pregar, quer ensinar, pescar ou pastorear, serão eles meios de aperfeiçoar os Santos, e trazer unidade aos membros para o trabalho do ministério. Enquanto prepara o campo è organiza a igreja para o Serviço, guia os em sua conquista evangelística, ―terrível como um exército com bandeiras‖. Assim participa do empreendimento mais emocionante que é dado ao homem praticar.

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NOSSA COMUNHÃO É COM O PAI

4 1 S. JOÃO 1:3

FORMAÇÃO DE UMA CAMARADAGEM ESPIRITUAL ―QUE farei?‖ perguntava um jovem pregador. ―Tenho uma igreja-problema para pastorear e uma cidade pequena para

evangelizar. Por onde começo?‖ Estava perplexo. Fiquei sabendo, não sem pesar, que a igreja para a qual aquele jovem havia sido chamado, não era um grupo feliz; de fato, havia sido uma igreja dividida durante longo tempo. ―Seria acertado,‖ perguntava, ―trazer novos conversos pan essa igreja? Outros tentaram fazê-lo, porém com resultados desalentadores. Por onde devo começar meu trabalho?‖

Era uma situação que muitos jovens obreiros já tiveram que enfrentar. Em resposta à sua pergunta iniciamos um estudo de princípios vitais. A afirmação de Paulo, de que Deus deu à igreja apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e professores, revelava que esses diferentes campos de liderança foram dados para o trabalho específico de ―aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério,‖ Efés. 4:12. Pregadores, professores e pastores existem para aperfeiçoar os santos e então

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conduzir os santos ao trabalho do ministério. Este era o modelo apostólico.

É o propósito de Deus unir intimamente a igreja em companheirismo, unidade e irmandade, onde abundem o amor e a paciência, a alegria e a paz; então a igreja por si, toma-se uma agência evangelizadora poderosa. O primeiro trabalho do pastor é reunir o seu rebanho. Se ele consegue acender uma chama na igreja, então a igreja iluminará a comunidade. Uma igreja ardente aquece toda uma região. Mas para acender o fogo, deve haver primeiro o companheirismo.

Muitas igrejas são audiências, em vez de serem irmandades e os membros espectadores, em vez de participantes. Será estranho que busquem o companheirismo em outras partes? Seja qual for a tarefa que caiba ao ministro, seu, trabalho imediato é com a igreja. Se

ele consegue cristianizar a sua igreja, então poderá cristianizar a comunidade, O sucesso de um ministro não é medido por quanto ele possa fazer, mas sim por quanto pode fazer com que a igreja faça. Os santos precisam ser aperfeiçoados para o trabalho do ministério. Ao avaliarmos o trabalho de um evangelista, não é suficiente enumerar meramente os conversos. A grande pergunta é: Estão eles realmente treinados e inspirados para trazerem outras almas à igreja? O teste não é: quantos entram na igreja para adorar, mas sim quantos saem da igreja para ganhar almas para Deus‖

Ministros e Membros Unidos na Salvação de Almas

Foi um grande golpe de estratégia, quando o diabo conseguiu dividir a igreja em dois grupos – o clero e os leigos. Esta divisão

não existia na igreja apostólica. Naturalmente, havia os que eram chamados a cumprir a responsabilidade da liderança e dar o seu tempo integral ao trabalho, e esses eram ordenados. Mas os membros não ordenados trabalhavam conjunta e constantemente com eles. E mesmo alguns dos maiores

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ganhadores de almas da igreja primitiva, eram o que hoje poderíamos chamar de membros leigos.

Quando o clero existe como um grupo separado, a tendência é a de formar-se uma hierarquia. A Igreja Católica Romana é um exemplo perfeito disso. Lá a hierarquia é exaltada acima dos leigos. É uma classe separada, absoluta e que se perpetua, enquanto os membros são meros espectadores, dependendo inteiramente do clero para suas bênçãos espirituais.

Muitos supõem que o espírito missionário, a qualificação para trabalho missionário, é um dom especial concedido aos ministros alguns poucos membros da igreja, e, que todos os outros são meros espectadores. Nunca houve maior engano. Cada verdadeiro cristão possuirá um espírito missionário pois ser cristão é ser como Cristo...Todo aquele que já provou os poderes do mundo por vir, se velho ou moço, educado ou iletrado, será movido com o espírito que atuava em Cristo.‖ (1)

A Igreja Católica Romana, durante muitos séculos, nem inspirou nem treinou seus membros para levarem o evangelho ao próximo. Apesar de em algumas democracias, onde predomina o protestantismo, existir uma certa, adaptação de programa leigo, a regra histórica é que este trabalho é posto inteiramente nas mãos do clero, sendo que os membros têm pouco ou nada a ver com o alimento do número de membros da igreja.

Tal condição existia na igreja judaica no tempo de Jesus, e porque nem Cristo, nem os Seus apóstolos pertenciam à hierarquia, não foram reconhecidos, nem apoiados pela igreja daqueles dias. Entretanto o Mestre organizou uma nova igreja e assentou um novo modelo de serviço— um modelo divino. Ordenou a, doze, e enviou-os a pregar, e foram à fundação de uma nova ordem (S. Luc. 6:13; Efés. 2:19 e 20). Juntamente com esses líderes Ele ―designou outros setenta‖ (S. Luc. 10:1). Exatamente quem compunha este grupo,

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não nos é dito, mas, ainda que não ordenados, eram parte definida da equipe evangelística. Este novo modelo de evangelismo mostrava como os obreiros e os membros podem unir- se no alegre trabalho de salvar homens e mulheres.

Todo ministério não é o mesmo. Deus coloca vários tipos de obreiros na igreja — evangelistas, pastores, professores, profetas e apóstolos — e esses devem combinar-se no trabalho de aperfeiçoamento dos santos para que a igreja completa, pastor e povo, possam fazer juntos o trabalho do ministério. Deus não terminará Sua obra na Terra pelo poder de alguma hierarquia, nem por mera organização, cultura ou educação. Ele não a terminará por aparatosos edifícios de igreja ou equipamento, mas antes pelo companheirismo aceso, e inspirado no amor divino.

―A mal os irmãos‖

Os escritores do Novo Testamento têm muito a dizer quanto a este assunto de companheirismo. A palavra em si traz a idéia de

camaradagem, coleguismo e comunhão. E a igreja é exatamente isso — uma comunhão de cidadãos do reino de Deus; uma comunhão atada pelos laços do divino amor. ―Tende amor intenso uns para com os outros‖, implora Pedro (1 5. Ped. 4:8). E João, o pastor ideal, tem a mesma inspiração quando diz: ―Aquele que ama seu irmão, permanece na luz.‖ 1 S. João 2:10, E mais adiante: ―Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos.‘ 1 S. João 3:14. De fato, devemos dar nossa vida pelos irmãos.‖ 1 S. João 3:16. Isto é amor em ação.

Agora, ouçam ao apóstolo Paulo aconselhando aos Tessalonicenses. Diz ele: ―No tocante ao amor fraternal, não há necessidade de que eu vos escreva, porquanto vós mesmos estais por Deus instruídos que deveis amar-vos uns aos outros. . . Contudo vos exortamos, irmãos, a progredirdes cada vez mais.‖ 1 Tess. 4:9 e 10. Isso não é uma nota estranha.

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Tais expressões como: ―Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros‖(Rom. 12:10), ocorrem no Novo Testamento vez por vez. Os homens foram feitos para o companheirismo, e os membros da igreja precisam mais do que o privilégio de escutar sermões, pagar o dízimo e alcançar os alvos da Igreja.

Quando Paulo escreveu aos coríntios, seu objetivo era trazê-los a um companheirismo tal, para que pudessem servir. Dedica um capítulo inteiro ao assunto de organização, enumerando os variados tipos de ministério. Estes ele coloca em ordem de importância, encerrando com a sugestão: ―procurai, com zelo, os melhores dons.‖ 1 Cor. 12:31. Então deixando o assunto da organização, volta-se o apóstolo para alguma coisa de muito mais importância. Ele mesmo já havia descoberto ―Um caminho ainda mais excelente‖, e queria que os irmãos o compartilhassem com Me. Seu maravilhoso capítulo acerca do amor, o conduz a uma linguagem não superada em toda a Bíblia. Ali declara o que é o amor, como age, como compadece, como cobre as faltas, e como ganha vitórias. Sim o amor é o ―caminho

ainda mais excelente.‖ Sem todos os outros talentos são sem valor. Com ele mesmo os mais fracos tomam-se fortes. Ser mártir de uma fé, ou morrer por uma causa, é sem valor a menos que se esteja inspirado por verdadeiro amor.

O Senhor vai ainda mais adiante quando diz: ―Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei a vós.‖ S. João 15:12. Esta afirmação é difícil de compreender. Não a despojemos de seu elevado conteúdo por falharmos na compreensão de seu significado. Jesus não estava falando aqui acerca da atitude do cristão com respeito ao mundo, mas antes de sua atitude específica com respeito à igreja. Não falava acerca da irmandade do homem, O humanitarismo vago ou a filantropia por atacado, não eram o motivo de Sua exortação. Não pensava mesmo nos homens em geral e sim nos homens em

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particular. Preocupava-Se com Sua própria igreja. E não é de amor comum que falava, mas de amor copiado do Seu próprio amor um amor de sacrifício, um amor fervente, um amor que constrói um companheirismo divino. Jesus declara que este amor é a lei de Sua igreja! É o distintivo que identifica os discípulos. É o evangelista-chefe em Sua causa. Quando esse amor arder com o auge de sua intensidade, então fundirá os membros em uma unidade. Tal amor, quando aceso se espalha até bem longe. Mas primeiro precisa ser aceso.

A Igreja, Um Companheirismo em Cristo

É o propósito de Cristo que Sua igreja seja a própria expressão do amor divino, e é pregador sábio aquele que luta para trazer os

membros de Sua igreja para este companheirismo mais pleno. Uma igreja pode ser rica em dinheiro e em equipamento; podem abundar nela idéias e métodos; pode orgulhar-se de alcançar grandes alvos; pode ser grande em número e rica em cultura; mas, se é pobre em amor, então, sejam quais forem seus títulos, certamente não é a igreja de Jesus Cristo.

Paulo deu o exemplo às gerações futuras, quando aceitou a um escravo como irmão em Colosso. Alguns dizem que ele não ergueu a voz contra os males políticos de seu tempo. Fez mais do que erguer a voz. Recusou-se a reconhecê-los. Atravessou incólume as hipocrisias e tendências de seu tempo. E no espírito de verdadeiro companheirismo, prosseguiu construindo igrejas, e ignorando as divisões políticas, culturais e raciais do mundo infeliz ao seu redor. Viu a igreja de Jesus Cristo como um laboratório para a execução de experiências sobre a natureza humana, experiências que maravilham os próprios anjos. ―Porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens.‖ 1 Cor. 4:9. Mesmo o próprio Satanás contempla está igreja como ―uma fortaleza inatacável

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por seus sofismas e ciladas. São para ele ministério compreensível.‖ (2)

Quando o capitalista e o operário apertam as mãos junto à cruz; quando o culto e o ignorante, o rico e o pobre, se sentam juntos à mesa do Senhor; quando deixam a atmosfera de culto em conjunto, e saem juntos para um serviço de amor pelo próximo, então é que os homens vêm a saber que o Pai enviou Seu Filho, para ser o Salvador do mundo.

As vidas que têm sido desfeitas pelos conflitos sociais, doutrinários, nacionais ou culturais devem ser unidas. E o maior pregador é aquele que pode unir o maior número possível de corações cristãos, e então conduzi-los às searas de Deus. Para ser permanente, não somente deve o evangelismo mudar a vontade e transformar a vida; deve adestrar o converso para servir. E esse serviço deve ser uma continuação natural do companheirismo divino.

O Desafio da Tarefa

O ajuntar de cada ―junta e membro‖, para que não haja cisma, é um desafio tremendo. Mesmo o próprio Mestre conseguiu que

doze homens orassem e planejassem juntos, sem algumas exibições de irritação e mesquinhez humanas. De fato, o período áureo de Sua vida foi devotado à difícil tarefa de unir os corações dos homens que seriam o núcleo de Sua igreja. Que pequenez, que maldade, e que feiúra, existem na natureza humana! Que coisas estranhas vêm à luz, com a mínima provocação!

O ministro que se dispõe a construir um companheirismo real, logo compreenderá que o pecado de fato lavrou estragos na raça. Sua força mental e espiritual serão provadas ao extremo. Se é bom pregador, o povo ouvirá seus sermões; Poderá ser até um prazer. Se é bom financista, será bem apoiado. As doações podem ser ocasiões para se ganhar algum prestígios

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pessoal. Se é um bom organizador, fará com que o povo trabalhe. Porém, para trazê-los a um companheirismo onde não haja rivalidades, e onde cada um estima o outro mais do que a si próprio, o ministro descobrirá que encara um desafio ao mesmo tempo grande e desconcertante.

Não se requer esforço especial para denunciar pecados ou mesmo para desdobrar belas idéias e ideais. Mas para induzir homens de diferentes camadas sociais — representantes de diversos níveis culturais, contendo, quem sabe, membros de raças diferentes — induzir esses homens a viver, amar e trabalhar juntos, requer um mestre construtor que deseje pagar o preço em agonizante oração. Sermões de si próprios são insuficientes, pois o homem não pode viver somente de sermões, mas sim de toda palavra de Deus. E companheirismo é uma das grandes palavras de Deus.

―A igreja não é uma galeria destinada à exibição dos cristãos eminentes,‖ declara Henry Ward Beecher, ―mas sim uma escola para a educação dos cristãos imperfeitos.‖

E o Dr. Clayton Morrison, por tanto tempo redator do Christian Century, adiciona o seguinte pensamento em suas palestras sobre Beecher:

―A igreja cristã não é uma sociedade de personalidades integradas, nem de filósofos, nem de mistérios, nem mesmo de boas pessoas. É uma sociedade de personalidades quebradas, de homens e mulheres com mentes preocupadas, de pessoas que sabem que não são boas.

A igreja cristã é uma sociedade de pecadores. ―É a única sociedade no mundo, na qual o único requisito para tornar-se membro é ser indigno de ser membro.‖ (8)

Companheirismo, o Fôlego do Culto e do Serviço

Sem o companheirismo, tanto o culto como o serviço, perecem. Para tornar o culto animado e atrativo, os adoradores devem

primeiro unir-se. Mas o calor deve brotar do companheirismo dos corações tocados por Deus. Para criar este companheirismo,

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o pregador não deve viver meramente livros. Deve viver com o seu povo, deve ver com seus olhos, e sentir com seus corações. Deve compartilhar suas alegrias e carregar suas tristezas. Dessa maneira unirá seu povo. E isto ele precisa fazer, pois compreende que o fogo não pode arder se não forem aumentadas as brasas, e conservadas juntas.

Em sua carta a Timóteo, Paulo diz: . . . te admoesto que reavives o dom de Deus que está em ti.‖ II Tim. 1:6. Este reavivamento é vital, porque uma igreja que brilha é uma igreja que cresce. Conduziremos nós como obreiros a nossas igrejas de modo a brilharem com o fogo do amor de Deus? Então vamos trazer o povo ao altar de oração, e ali pedir que o Espírito de Deus assopre as brasas que se apagam, para que voltem a inflamar-se. Oração insistente, incansáveis visitas pastorais, e estudo mais profundo da Bíblia, capacitarão o indivíduo a reavivar o fogo do amor de Deus nos corações de Seu povo. Quer sejamos pregadores, professores, evangelistas, apóstolos ou pastores, nossa tarefa é trazer os santos a um companheirismo tal, que através deles Deus possa revelar-Se ao mundo. Nós somos ―cooperadores com Ele,‖ declara o grande apóstolo. (II Cor. 6:1.) E é este ―com‖ que queremos enfatizar— com Deus e com cada um dos outros, Este é realmente o modelo divino.

Que interessante variedade de pessoas existem para o ministro tratar. Alguns são afetados e formais, espécimes ansiosos por perpetuar as qualidades de Sua árvore ancestral. Depois há os pios ostensivos que ecoam as palavras de um grande profeta da antiguidade: ―Somente eu fiquei‖ (pobre alma! O Senhor teve que dizer-lhe que as coisas estavam sete mil vezes melhor do que ele imaginava). Encontra-se também o otimista extrovertido, que declara que o pastor é o pregador mais maravilhoso que já apareceu por ali, e em contraste existe o pessimista dispéptico, que vive no passado, sempre lamentando que ―as coisas não são mais como eram‖; ou

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então o entusiasta da Recolta, cujo grande propósito é ultrapassar à Sra. Smith no alvo pessoal; o zelador que quer agradar a todos e acaba agradando a ninguém; aqueles cujo ego precisa ser reforçado cada poucos dias; o diácono arrogante; o tesoureiro super-preocupado; o fastidioso, o fanático e o errante; os gabolas, os pusilânimes e os críticos; os caçadores de heresias; e aqueles que sempre buscam pendências.

Deveras, uma variedade! Porém todas as pessoas amáveis e interessantes. Não são maus. São apenas material comum, do qual o mundo e a igreja são feitos. É trabalho do pastor ajudá-los a crescer em companheirismo divino, à semelhança do Senhor a quem desejam servir Uma tarefa emocionante se apresenta a ele, se possui a sabedoria e a graça de atender a cada item com hombridade. Abençoado seja o problema se ele o aceita como uma oportunidade para o estudo da natureza humana, e para exercitar seu bom senso.

Se entre os dons ministeriais, o Senhor Se designou a outorgar um pouco da graça salvadora do bom senso, e do senso de humor, isso ajudará grandemente a enfrentar as situações. Um espírito irritável, febril e inquieto, não somente enfraquece os tecidos da alma, mas espanta aqueles que realmente necessitam de ajuda.

John Brown, de Haddington, disse certa vez a seus alunos de teologia: ―Se vos faltar a graça, Deus vo-la dará; se vos faltar a sabedoria, farei o que puder para ajudar-vos, mas se vos faltar o bom senso, queira o Senhor ter misericórdia de vós, porque nem eu nem Ele poderemos ajudar-vos‖.

Verdadeiramente, a timidez das ovelhas ou a falta de santidade dos santos, são suficientes às vezes para perturbar um pastor. Mas se tão somente ele pudesse cultivar o espírito de compreensão, recusando preocupar-se ou ousando mesmo ver o humor de tudo, isto já o ajudaria muito na resolução dos problemas.

Como pastores, muitas vezes contemplamos a ―vida no

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vivo‖, mas mesmo aqui, há muito com o que compensar. Se tivéssemos olhos para ver, e corações para apreciar, compreenderíamos que a mistura da tragédia e da comédia provê as situações de vida que tornam o trabalho do pastor original e interessante. Nossos membros não são todos ou sempre, completamente anjos. O Dr. DeBlois certa vez sugeriu que o pastor talvez descobrisse ―uma unha fendida, onde esperava encontrar pés vestidos com a preparação do evangelho da paz.‖ Não devemos entretanto espantar-nos, pois porventura não encontrou nosso Senhor o mesmo?

Como ministros precisamos levar a sério nosso chamado, nunca devemos deixar-nos levar a nós mesmos a sério demais. Não devemos ser sensíveis, porque isto é evidência que o orgulho espreita algures. Um homem presunçoso, sensível, nunca poderá sorrir diante dos insultos de seus subordinados. Se tivermos de mostrar nossa superioridade não devemos fazê-lo por prevalecer-nos dela. Um severo sentido de retidão é essencial, mas um oportuno senso de humor proverá uma boa atmosfera para o cultivo da retidão. A maioria das pessoas são boas, a despeito de suas faltas. Quando as coisas vão mal, sorria, e dê ao próximo o benefício da dúvida.

Um idoso santo cujo ministério exerceu salutar influência sobre a vida de centenas de jovens, e que, tendo alçando seus oitenta anos, ainda é um dos favoritos da juventude aconselhava certa vez a um grupo de obreiros, dizendo: ―Nunca tive dificuldade em suportar as excentricidades dos outros, porque sei que eles têm que suportar as minhas.‖ Que grande verdade! E todos nós as temos.

Mas não tente fazer tudo sozinho. Tal procedimento é convite ao fracasso. Pode-se fazer pouca coisa por si mesmo, mas através do companheirismo, mesmo o mais fraco pode vencer. Jesus enviou Seus obreiros dois a dois — os doze ―ordenados‖, e os setenta ―designados‖. A proporção de obreiros ordenados e não ordenados no trabalho do Mestre é significativa.

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Encerra uma lição para nós hoje. Mas fosse qual fosse o chamado, todos saíram aos pares. Havia um propósito divino nisto, pois juntos podiam muito mais—não o dobro, e sim dez vezes mais, porque ―um só [poderia] perseguir mil, dois fazer fugir dez mil.‖ Deut. 32:30. Sim, a igreja verdadeira é uma irmandade, movendo-se em unidade e majestade, ―terrível como um exército com bandeiras.‖ Cant. 6:4. Nessa unidade e irmandade, a igreja é capaz de fazer fugir aos exércitos inimigos. Entretanto, existe hoje uma tendência de perder de vista êste elevado propósito. Elton Trueblood, com visão clara a define com as seguintes palavras:

―Uma das marcas mais reveladoras do nosso cristianismo atual, é a relativa ausência de testemunhas públicas da fé. Mesmo os metodistas o perderam suas reuniões de classe decaíram e suas reuniões de testemunhos tornaram-se, onde ainda existem, em reuniões quase que só para senhoras idosas. Enquanto isso os membros deixam tudo para o clérigo. Não é para isso que foi empregado? Ele é um religioso profissional, e portanto deve falar e oferecer orações em voz alta, mas isso não é para os leigos. Tudo isso signif ica declínio. Está no mesmo nível dos esportes profissionais onde alguns poucos peritos atuam, enquanto a multidão observa‖ (4)

É fácil ocupar as cadeiras de trás e fugir à responsabilidade—é mais fácil ser espectador, porque um espectador raramente parece ridículo. Mas a igreja não é apenas uma sociedade de beneficência de senhoras; é um exército em marcha, avançando em conquista. E um exército requer de cada homem a sua participação. As reuniões, conquanto profundamente devocionais, deveriam servir também para o planejamento de grandes campanhas espirituais.

Amor, o Fundamento do Cristianismo

Na construção do companheirismo real, o mutualismo deve permear todos os planos, e os fundamentos devem ser colocados

sobre o amor. ―Porém cada um veja como edifica‖,

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declara o apóstolo. 1 Cor. 3:10. O objetivo pode estar certo, mas o método pode estar errado. Qualquer programa que inspire serviço através de incitar competição, rivalidade e oportunidade para se mostrar, é tentar fazer o trabalho de Deus à maneira do mundo. O espírito de competição destrói o companheirismo. Os membros que lutam pelos lugares mais elevados, não sentem o mínimo desejo de carregar os fardos alheios. ―Esta não é a sabedoria que desce lá do alto, mas sim a terrena, animal e demoníaca,‖ Tiago 3:15. A rivalidade não tem lugar em corações cheios de Cristo. ―Não podemos criar rosas sem amor‖, diz o jardineiro. Tampouco criar caracteres cristãos, sem o fundamento do cristianismo – o amor.

Unir pessoas que por anos e anos têm estado desunidas, não é trabalho para um novato. Pode ser feito, mas requer coragem, confidência, paciência e simples bom senso. Se os itens conservam-se claros, e o amor mostra o caminho, então o problema pode ser resolvido. ―Se o orgulho e o egoísmo fossem deixados de lado, cinco minutos bastariam para remover a maioria das dificuldades.‖ (5)

Sim, unir as pessoas, às vezes é um problema, mas conservá-las unidas é freqüentemente um problema maior ainda, porque muitas vezes os nossos programas de serviço cristão, são feitos à base de rivalidades e competição. Nossa igreja, nosso grupo, nossa associação, devem estar por cima, apesar de tudo!

A dificuldade é que somos todos tão humanos Quando outro toma a dianteira da corrida, em vez de regozijarmo-nos em seu sucesso, começamos a ter pena de nós mesmos, ou ainda pior, somos tentados a desmerecer-lhe o sucesso, a menos que o Espírito do Senhor habite em nosso pobre coração. Aparecem sentimentos de inveja e o companheirismo é rompido. Mesmo os ministros não estão isentos desses sentimentos humanos. Ao invés de nos tomarmos camaradas em batalhas,

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tendemos a tornarmo-nos beligerantes, tornando partidos.

Unidade, o Espírito do Evangelismo

Quando nasce o Sol da Justiça trazendo cura em Suas asas, não demora muito até se derreter o gelo do próprio eu. Iniciar um

programa evangelístico em uma cidade, onde a igreja não está preparada nem santificada, não somente é convidar o desapontamento, como também privar os membros das mais ricas bênçãos de sua vida.

Há muitos anos, foi-nos dito que ―um sério obstáculo ao êxito da verdade, e de que talvez não se suspeite, encontra-se em nossas próprias igrejas... Ao trabalhar em lugares onde de já se encontram alguns na fé, o ministro deve não tanto buscar a princípio converter os incrédulos, como exercitar os membros da igreja para prestarem cooperação proveitosa... Quando estiverem preparados para apoiar o ministro mediante orações e serviços, maior êxito há de lhes acompanhar os esforços.‖ (6)

Mais alarmante ainda é a afirmação de que o Senhor agora não trabalha tanto para trazer a muitos para a verdade, por causa dos membros das igrejas que nunca foram convertidos, e aqueles que havendo sido convertidos, escorregaram.‖(7)

Não temos que procurar muito, então, para achar pelo menos uma grande razão para a escassez de nossos, resultados evangelísticos. Não pode vir uma grande colheita de um campo de grãos praguejados

―Quando há ação harmoniosa entre os membros individuais da igreja, quando há amor e confiança, manifestados de irmão para com irmão, haverá força e poderes proporcionais, em nossa obra pela salvação dos homens.‖ (8)

• A igreja cujos membros ouviram os passos majestosos de Deus em seu meio; o grupo que sentiu o fogo de Sua presença {76}

dissolvendo a escoria dos ódios de classe, colisões raciais, rupturas sociais e controvérsias teológicas; onde o ferro, o estanho, o cobre, o bronze, a prata e o ouro, Foram todos postos dentro do cadinho de Seu amor purificador e fundidos em uma nova substância — o metal do sino celeste — a igreja ressoará com a alegre mensagem de graça, e com harmonias do Espírito Santo; e será evangelística porque seus membros serão testemunhas vivas de Seu poder e de Seu amor.

A respeito das primeiras testemunhas cristãs, lemos que homens ―admiraram-se e reconheceram que haviam eles estado com Jesus.‖ Atos 4; 13. Mesmo seus inimigos reconheciam a diferença quando estavam de acordo, de coração e de alma. Tornavam-se um poder irresistível quando no eram mais um ―grupo de unidades independentes, ou elementos discordantes em conflito.‖ (9) Estavam imbuídos do espírito de amor, e a ―paz de Cristo brilhava em suas faces Seu próprio semblante evidenciavam a entrega que haviam feito.‖(10)

Quando Cristo enche o coração de cada membro, e o avanço de Seu reino se torna a paixão da vida de cada converso; quando o Espírito Santo ilumina a cada mente; quando as barreiras do orgulho pessoal e do preconceito são derrubadas, então é que a igreja em sua integridade se toma um poder evangelístico, para trazer almas para Cristo,

Não há maior bem-aventurança abaixo do céu, do que ganhar almas para Cristo. O coração dos obreiros inunda-se de alegria ao compreenderem que este grande milagre nunca poderia haver sido operado por agentes humanos, mas somente por Aquele que ama as almas prestes a perecer - A presença divina está bem perto de todo obreiro fiel, fazendo com que as almas se arrependam. Assim se forma a fraternidade cristã. O obreiro e aqueles por quem é feito o trabalho são tocados com o amor de Cristo. Coração toca coração, e a fusão de alma com alma é como o intercâmbio celeste entre os anjos ministradores.‖ (11)

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Assim moldados em companheirismo evangelístico, a igreja, unindo-se com os irmãos de todo o mundo, avança para proclamar

às nações o Cristo ressurgido.

Técnica para Estudo em Grupo

PROBLEMA: ―Nossa igreja não ganhou uma única alma durante anos Temos dois líderes de opinião forte, que vêem as coisas de modo diferente em qualquer problema. Cada um tem o seu próprio séquito! Conseqüentemente temos uma igreja dividida. Qual ser ia o primeiro passo para trazer a reconciliação?‖

TÉCNICA: Deixemos que um veterano pacificador, cuja reputação é bem conhecida, nos de a resposta. Como o Sr. o faz?‖ perguntamos.

E esta foi a sua resposta: ―Bem, naturalmente é o Senhor que guia, nas minha técnica é muito simples. Parto da premissa de que todo mundo tem o seu

lado bom. Então ponho-me em campo para descobrir o lado bom de uma ou de outra parte. Podemos conversar acerca do assunto e eu o ajudo a descarregar um pouco do amargo criticismo que lhe vai na alma há anos. Então repentinamente digo: ―Bem, parece que pelo que o irmão diz, o irmão fulano é mesmo mau, uma espécie de caso perdido...

―Oh, não! Não digo isto. De fato, em muitos aspectos ele até que é um bom sujeito.‖ ―Ali!‖ replico eu, então ele tem algumas boas qualidades! Diga-me uma delas‖. ―Então começa a enumerar algumas coisas boas. Pode até referir-se à boa amizade que tinham entre si, algum tempo atrás. Uma

vez atingido este ponto, não é conveniente permitir que a Conversação recaia nas queixas e críticas, mas antes deve ser encerrada com uma oração que mencione especialmente o outro irmão.

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―Dirijo-me então ao outro irmão. Seguindo a mesma técnica, quando chego a um ponto em que a situação parece sem saída, digo: ―Bem,

parece que ele não fala da mesma maneira que o senhor. Falei com ele e ele disse algumas coisas muito boas a seu respeito. Até mencionou a época em que os irmãos eram bons amigos e trabalhavam juntos. Deveras, ele e a esposa declararam acreditar em sua sinceridade.‖

―Depois disso, digo-lhe algumas das boas coisas que o outro irmão disse a respeito dele, não mencionando naturalmente as outras coisas por demais evidentes no começo da entrevista, Ao chegar-se a este ponto, seu preconceito vai desaparecendo. Dentro de pouco tempo também este irmão estará dizendo coisas boas acerca do primeiro irmão. Sem muita pressa encerramos a conversação com uma oração, tendo o cuidado de mencionar o nome do outro irmão diante do trono da graça.

―Armado agora com as expressões bondosas desse irmão retorno ao outro, e relato-lhe as partes da entrevista que tendam a construir a boa vontade. Uma vez conseguido que um diga boas coisas acerca do outro, a vitória está próxima. É seguro agora sugerir uma entrevista com os dois juntos. Se o trabalho de aproximação tiver sido bem feito, eles mesmos estarão ansiosos por tal oportunidade.

Quando se encontrarem, tenha-se sempre à mão algo de interesse mútuo, tal como o traçado de um novo edifício, que possam estudar juntos sem o silêncio desajeitado e embaraçoso, tão evidente em tais ocasiões. Então, sem muita demora, chegue-se ao ponto, ofereça-se uma breve oração, e conduza-se com tato à discussão, repetindo algumas das boas coisas que disseram um do outro. A má vontade e o preconceito ‗dobrarão suas tendas, como os Árabes, e silenciosamente se retirarão.‘

―Algumas das minhas mais preciosas experiências com o

{79} Senhor têm ocorrido em ocasiões como essa,‖ declaro ele. ―Sim, minha técnica é muito simples. Creio que foi Deus quem ma

deu, e nunca falhou.‖ Naturalmente nunca falhou, porque é simplesmente a abordagem psicológica de um grande apóstolo que disse: ―Vence o mal

com o bem‖. Rom. 12:21. Não há problema de igreja tão grande, que não ceda a uma técnica simples como essa. Amor, paciência, simpatia e um coração compreensivo, são nossas armas de guerra, ao libertarmos os cativos do preconceito e do ódio de classe.

1) Testimonies for the Church, Vol. 5, págs. 385 e 386.

2) Testemunhos para Ministros, pág, 18. 3) Charlos CIayton Morrison, What is Christianity?, pág. 211. Usado com permissão de HaspeR & Brothers, editores. 4) Alternative to Futility, pág. 66. 8) Early Writings, pág. 119.

6) Obreiros Evangélicos, (3° ed,), pág. 196. 7) Testimonies for the Church, Vol.6, pág. 371. 8) Testemunhos para Ministros, pg. 188, 9) Atos dos Apóstolos, pág. 45.

10) Idem, pág. 46. 11) White, Manuscrito 36, 1901 (333).

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RESPLANDECEIS COMO LUZEIROS NO MUNDO 5

FILIPENSES 2:15 PREPARAR AS LÂMPADAS PARA PRODUZIR LUZ

SOMENTE a igreja que vive para conquistar novos membros, tem esperança - de sobreviver. Portanto o evangelismo é a

suprema missão da igreja. Sua própria existência depende dele. Não há igreja que morra possuindo-o, e não há igreja que continue vivendo negligenciando-o. Suas necessidades essenciais são: paixão espiritual, visão clara e zelo pela salvação. A paixão evangelística é o prelúdio do poder evangelístico. Sua dinâmica é mais importante do que sua mecânica. Entretanto, se devemos traduzir nosso zelo em realidade evangelística, a mecânica é importante.

A igreja cristã iniciou-se sob o apelo poderoso da reunião Pentecostal de Pedro, mas sua expansão futura foi mais um crescimento diário. ―Acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.‖ Atos 2:47. Foi o testemunho contínuo, o programa perene, levado a efeito por todos os membros da igreja, que tornou possível o crescimento fenomenal da igreja apostólica. Não é o evangelismo casual, e sim o evangelismo contínuo, que constrói uma igreja.

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Cada Pastor Deve Ser um Evangelista de Púlpito

O verdadeiro pastor é essencialmente um construtor. Constrói os membros no conhecimento da Palavra. Deve estabelecer sua

confiança na verdade, sustentar o modelo divino de organização, promover o verdadeiro espírito de camaradagem e serviço cristãos, e conduzir os membros avante, para alcançar grandes alvos. Mas enquanto faz isso, deve estar adicionando novos recrutas ao exército do Senhor. Promover programas na igreja é importante, mas adicionar novos membros é primário.

Cada pastor deveria ser um evangelista. Sua igreja deveria ser conhecida como um lugar onde as almas nascem pan o reino. Quando alguém diz: ―Não sou evangelista, sou um pastor,‖ está revelando tremenda falta de compreensão de seus próprios privilégios e responsabilidades Uma parte vital em seu trabalho de pastor, e que traz vitalidade a todas as outras atividades da igreja, consiste em conduzir avante todos os membros numa evangelização intensiva e ganhadora de almas.

Freqüentemente a palavra evangelista significa em nosso pensamento alguém que se especializou em certas técnicas evangelísticas, próprias para tendas, tabernáculos, salões ou teatros. Mas o evangelista itinerante não é o único evangelista nas fileiras do Senhor. Alguns dos maiores ganhadores de almas na igreja, são pastores cujo trabalho os retém em algum lugar de real necessidade.

Spurgeon

Poucos homens igualaram-se a Charles Haddon Spurgeon em poder evangelístico. Estacionado na mesma cidade, trabalhando

pela mesma população, permaneceu na mesma igreja durante trinta e cinco anos. Era o seu pastor, mas enquanto cuidava das necessidades da congregação, que ultrapassava a casa dos cinco mil membros, levava avante um programa

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evangelistico agressivo, com resultados tremendos. Milhares e milhares encontraram o Salvador através de seu ministério. E no entanto, ao mesmo tempo pastoreava a maior congregação das Ilhas Britânicas. Sua igreja, conhecida como o Tabernáculo Metropolitano, era um belo edifício de pedra, que de maneira nenhuma lembrava uma construção temporária. Com acomodações para mais de seis mil pessoas, sempre estava lotado até as portas. Alguns que ainda vivem em Londres, lembram-se daquelas grandes reuniões, e nos têm dito com justificável orgulho, que para se conseguir um lugar na quinta-feira à noite, noite do culto de bração, era necessário fazer fila às portas do Tabernáculo, uma hora e meia antes do início da reunião. Algumas vezes filas de um quilômetro e meio de extensão esperavam pela abertura das portas antes da reunião.

Spurgeon e Moody

Spurgeon fazia seu grande trabalho ao mesmo tempo que Dwight L. Moody cativava grandes multidões na América e na Grã-Bretanha. Esses dois homens foram talvez os mais destacados ganhadores de almas de sua geração. Mesmo apesar de serem amigos e freqüentemente orarem, planejarem e chorarem juntos, ainda assim o tipo de seu trabalho era muito diferente. Moody e ra o evangelista itinerante por excelência, alcançando um público de mais de cem milhões de pessoas, com sua pena e sua voz. Spurgeon, por outro lado, era um pastor-evangelista, e de seu púlpito movia um país, ou mesmo um continente, para Deus. Moody

viajava de cidade em cidade, de país a país; Spurgeon permanecia em Londres. Seria difícil dizer qual dos dois fez maior contribuição para a causa de Cristo. Ambos eram homens de Deus. Ambos fizeram um trabalho poderoso. E a palavra-chave de cada um deles era: evangelismo.

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Moody arrebatou enormes multidões, em ambos os lados do Atlântico, e enquanto trazia Cristo aos milhões, obtinha muita

inspiração de Spurgeon. Quando a oportunidade se lhe apresentava, ia ao Tabernáculo de Spurgeon, para refrescar a própria alma. Sentado na galeria, ouvia a Spurgeon, com lágrimas a correr-lhe pelas faces enquanto o embaixador dos Céus, em sua maneira inimitável, e em sua linguagem ardente, exaltava o Salvador e então apelava aos homens para que aceitassem o dom da vida eterna. Spurgeon era um pregador poderoso, porque era um homem que tinha paixão pelos perdidos. Moody tornou-se o grande evangelista, porque também amava os perdidos. Assim, todo homem que realmente ama os perdidos, encontrará uma maneira de trazê-los a Deus.

Mais Trabalho que Viagens

Não se precisa necessariamente viajar para ganhar almas, no entanto precisa-se trabalhar. O pastor que leva as almas de sua

igreja e de sua comunidade em seu cotação, tem uma vantagem sobre todos os outros, ao alcançar homens para Deus. A idéia de que cada evangelista precisa estar constantemente em movimento, é fundamentalmente ilógica. Apesar de a causa de Cristo precisar de fortes evangelistas itinerantes, — e sempre haverá um lugar vital para eles — precisa também, desesperadamente, de evangelistas de púlpito—homens que, como pastores e líderes distritais, possam planejar um programa de evangelismo contínuo e fervoroso; homens que possam tomar suas igrejas, e de seus próprios membros, construir equipes evangelísticas, e então conduzi-los avante nos campos do serviço ganhador de almas.

Pudesse cada igreja tornar-se um hospital espiritual, onde homens e mulheres renascessem diàriamente para o reino, e onde os cansados e feridos da comunidade encontrassem o bálsamo curativo do companheirismo e o conforto do amor

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de Deus, o ministério não precisaria molestar-se com as apostasias Quando os membros estão levando outros a Cristo, eles próprios crescem na graça. As igrejas tomam-se igrejas problema, quando cessam de ser igrejas evangelísticas.

O Chamado para Testemunhar Uma das tragédias dos dias atuais, na cristandade altamente organizada, é a tentativa que se tem feito para departamentalizar o

evangelismo. O modelo da igreja cristã foi definitivamente estabelecido no dia de Pentecostes. Não, somente os apóstolos, nem meramente um único departamento da igreja, mas cada creme era cheio do Espírito Santo ―Ora, estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, de todas as nações debaixo do céu. Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade‖, com as coisas que vira e ouvira. ―Estavam, pois, atônitos, e se admiravam.‖ Atos 2:5-7 Este foi o nascimento da igreja. E a cristandade progride em proporção exata ao cumprimento do modelo divino.

A igreja apostólica era uma igreja evangelística porque era uma igreja que testemunhava. Cada membro tornava-se uma testemunha E o evangelismo é nada mais, nada menos, que testemunhar. O testemunho claro de alguém verdadeiramente convertido, não á fácil de ser controvertido. Uma coisa sei: Eu era cego, e agora vejo‖ (S. João 9:25), foi uma resposta que os teólogos fariseus não puderam contradizer. E a menos sue nosso evangelismo seja testemunhante, não importa quão esplêndida seja nossa organização, quão cuidadosa e fielmente o programa seja financiado, ou quão eloqüente o sermão, ele será de pouco ou nenhum valor. Disse o Senhor: ‗E sereis Minhas testemunhas.‘ Atos 1:8. Isto era ao mesmo tempo uma ordem e uma promessa.

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Testemunho Aceitável é o da Experiência

Uma testemunha é alguém que conta o que viu. Pode testificar apenas daquilo que sabe e que experimentou. A evidência em

primeira mão não é somente a melhor evidência, mas também é a única aceitável numa corte de justiça. E o único testemunho aceitável do evangelho, é aquele de quem por experiência conhece a alegria do Senhor e a vitória sobre o pecado.

Contai-lhes como achastes a Jesus, e quão abençoados tendes sido desde que obtivestes experiência em Seu serviço. Contai-lhes a ventura que vos advém ao vos assentardes junto aos pés de Jesus, e aprenderdes preciosas lições de Sua Palavra. Contai-lhes da alegria e do gôzo que há na vida cristã. Vossas palavras Fervorosas os convencerão de que achastes a pérola de grande preço. Permiti que vossas palavras alegres e encorajadoras mostrem que com certeza encontrastes um caminho mais elevado. Isto é trabalho missionário genuíno, e ao ser ele feito, muitos acordarão como de um sonho.‖ (1)

Se uma igreja tem que tornar-se verdadeiramente evangelística, seu pastor e seus membros devem ter companheirismo com Jesus. Devem conhecê-Lo como Salvador pessoal. Devem experimentar Sua presença em suas vidas. Tal como o Israel antigo foi livrado da terra do Egito, assim devemos conhecer ao Senhor como nosso Libertador. Os laços que nos ligavam ao imundo, têm de ser rompidos pela abundante graça de nosso Libertador. A libertação do pecado, através do habitar de Cristo em nossos corações, deve ser a legre experiência diária, pois somente os cristãos vitoriosos podem contar do poder salvador do Cristo vitorioso. Este era o segredo do sucesso apostólico.

Aqueles primeiros evangelistas não pleiteavam uma causa, eram arautos proclamando um Senhor ressurgido. Suas mensagens eram baseadas na certeza do evangelho. O que temos ouvido, o que temos visto com nossos próprios olhos,

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o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam‖ — este era seu apelo. (1 S. João 1:1) Mais tarde, quando Saulo de Tarso encontrou o Senhor ressurgido perto de Damasco, caiu à terra, cego. Como deve ter sido este

momento tremendo e penetrante, diante da glória revelada de Cristo! O Salvador era uma realidade viva, para estes arautos da esperança. E nada menos do que isso bastaria para nossos dias. Nem perfeição de planos, nem detalhes de organização, nem orçamento evangelístico, mas antes a visão evangelística e o espírito de camaradagem na equipe — são as coisas que dão bons resultados no evangelismo.

Toda a Igreja, uma Equipe Treinada

A igreja completa deveria formar uma tal equipe. O pastor é o capitão reconhecido, mas cada membro é parte de sua equipe.

Mesmo os meninos e as meninas podem ser treinados para ganhar almas. Nada é tão inspirador como uma igreja entusiasta e bem organizada, conduzida a conquistas evangelísticas por verdadeiro pastor-evangelista. ―Formidável como um exército com bandeiras‖ (Cant. 6:4), é a descrição que o sábio faz dessa hoste conquistadora.

Este era o segredo do êxito de Spurgeon. Toda a sua igreja estava inspirada e bem preparada para o evangelismo. Cada ano realizava um culto especial, durante o qual fazia um apelo público para que os membros se alistassem na gloriosa tarefa de ganhar almas. Ao terminar essa reunião anual, convidava os que queriam fazer o concerto com Deus de ganhar pelo menos uma alma durante o ano que se aproximava, a virem para a frente e apertarem-lhe a mão. Mais de três mil pessoas faziam cada ano este pacto, e, ao apertarem a mão do pastor, publicamente se alistavam no exército de Deus. Era um companheirismo que ganhava almas, e não admira que obtivessem resultados tão maravilhosos! Os recrutas eram

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treinados cabalmente na técnica do evangelismo leigo. Seu recente amor pelo Salvador os inspirava a sair em busca de outros. Aquela igreja tornou-se um centro evangelizador para levantar novas congregações.

O Poder do Evangelista Reside na Oração

Havia, porém, mais do que recrutamento e preparo. Spurgeon, aquele veterano ganhador de almas, sabia que a oração é o gume

da evangelização. Em cada reunião em que implorava por almas, um grupo de seus membros mais piedosos— uns cem ou mais — se reunia numa sala debaixo do púlpito em que se pregava a Palavra, e enquanto o evangelista exaltava a Cristo perante a congregação, estes intercessores erguiam os braços em oração, suplicando que Deus batizasse seu pastor com a unção do alto, a fim de que pudesse conduzir homens a Deus. Isso bem pode servir de modelo para nós hoje. ―O coração dos membros de nossa igreja deve abrir-se em oração por aqueles que se acham pregando o evangelho.‖ (2) Oração é poder, e a igreja que ora é sempre uma igreja que trabalha. E a igreja que trabalha é uma igreja que cresce. Mas a oração é o segredo do poder da igreja. Era o segredo do poder do Salvador. Jamais uma vida foi tão repleta de labor e responsabilidade como a Sua, contudo o Mestre dos homens achava tempo para orar.

Lemos que: ―Tendo-se levantado alta madrugada, saiu, foi para um lugar deserto e ali orava.‖ S. Mar. 1:35. ―Grandes multidões afluíam para ouvi-Lo. . - Ele, porém, Se retirava para lugares solitários e orava.‖ S. Luc. 5:15 e 16. E novamente: ―Naqueles dias, retirou-Se para o monte a fim de orar, e passou a noite orando a Deus.‖ 5. Luc. 6:12. Ele sabia que somente através da comunhão com Seu Pai, poderia receber poder para mover os homens em direção de Deus. E como líderes da igreja de Deus nesta grande hora devemos encontrar tempo para orar.

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Estarão os Planos e Programas Substituindo a Oração?

É fácil ficar tão carregado com os fardos e cuidados do próprio trabalho de Deus, a ponto de nos esquecermos de orar.

Estaremos então no mesmo perigo que os judeus no tempo de Cristo. Davam tanta importância aos planos, programas, formalidades e cerimônias, que a mera atividade tomava o lugar da genuína piedade. Pode-se ainda ser ministro de propaganda, tendo-se já deixado de ser um verdadeiro ministro de Cristo.

―Não nos esqueçamos de que ao aumentarem as atividades, ao nos tomarmos bem sucedidos em fazer o trabalho que deve ser feito, há o perigo de confiarmos demais nos métodos e planos humanos. Haverá uma tendência para orar menos e para ter menos fé.‖ (3)

―Na opinião dos rabinos, o mais alto grau da religião mostrava-se por contínua e ruidosa atividade. Dependiam de alguma prática exterior para mostrar sua piedade superior. Separaram assim sua: alma de Deus, apoiando-se em presunção. Os mesmos perigos ainda existem. À medida que aumenta a atividade, e os homens são bem sucedidos em realizar alguma obra para Deus, existe o perigo de confiar nos planos e métodos humanos. Há a tendência de orar menos e ter menos fé. Como os discípulos, arriscamo-nos a perder de vista nossa dependência de Deus, e buscar fazer da nossa atividade um salvador. Precisamos olhar constantemente para Jesus, compreendendo que é Seu poder que realiza a obra. Conquanto devamos trabalhar ativamente pela salvação dos perdidos, cumpre-nos também consagrar tempo à meditação, à oração e ao estudo da Palavra de Deus. Unicamente o trabalho realizado com muita oração e santificado pelos méritos de Cristo, demonstrar-se-á afinal haver sido eficaz.‖ (4) (Grifo nosso.)

Esta são palavras desafiadoras. E como obreiros de Deus deveríamos fazer a nós mesmos as perguntas: Estou fazendo de minha atividade meu salvador? Estou confiando meramente nos planos e métodos humanos? Está meu trabalho sendo - cumprido através de muita oração, ou estou orando cada vez menos, à medida que aumenta a responsabilidade? Somente

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um obreiro que ora, pode ser um real ganhador de almas.

Um Fogo no Púlpito

O segredo para se ter uma igreja ganhadora de almas, é ter um pastor ganhador de almas, que inspire seu povo com o espírito

do evangelismo. O entusiasmo de um pastor que demonstre paixão pelas almas animará a igreja toda. O povo pegará seu espírito. As grandes vitórias evangelísticas geralmente começam no coração do pregador, e não se passa muito tempo até que toda a igreja esteja ardendo para Deus.

Há alguns anos, uma igreja do interior sofreu um incêndio. Em poucos minutos, muitos vizinhos se haviam ajuntado para ajudar a extinguir as chamas, O ministro, de colarinho desabotoado e de mangas arregaçadas, trabalhava junto com eles. Entrando no edifício em chamas, surpreendeu se de encontrar entre os ajudantes, um homem, que por anos e anos havia sido um ferrenho oponente do cristianismo, naquele lugar. Agora trabalhava febrilmente para apagar as chamas. Com expressão de gratidão e surpresa o ministro lhe disse: ‗Amigo, creio que é a primeira vez que o vejo na igreja, não é?‘

‗Sim‘, foi à resposta, ‗pois também é a primeira vez que vejo a igreja em chamas‘ Quando as igrejas pegam fogo, os infiéis são atraídos para Cristo.

Quando um homem arde para Deus, homens de todos os tipos virão vê-lo arder. João Batista era uma luz ardente brilhante. Não admira que toda a região viesse ouvir sua mensagem. O Dr. E. Stanley Jones conta-nos acerca da descoberta de coisas incomuns atrás dos púlpitos. Entre outras, menciona um extintor de incêndio. Porém acrescenta jocosamente que esta é uma precaução sem fundamento, pois era muito pouco provável que irrompesse fogo naquele referido púlpito.

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Resultados evangelísticos poderosos serão vistos quando os pregadores e as igrejas pegarem fogo. Cada igreja um verdadeiro

centro ganhador de almas, e cada pastor um verdadeiro pastor-evangelista— este é o modelo apostólico. Perguntaram a John Wesley por que tanta gente vinha ouvi-lo. Ele replicou: ―Deus me põe em fogo, e o povo vem me arder.‖ A

palavra de Deus a Zacarias foi: ―Porei os chefes de Judá como uma brasa ardente debaixo da lenha, e como um facho entre gavelas.‖ Zac. 12:6. Nossa paixão prova nossa compaixão.

1) Testimonies for the Church, Vol. 9, pág. 38 (486). 2) White, Carta 49, 1903 (98).

3) White, em Review and Herald. 4 de julho de 1893, pág. 417. 4) O Desejado de Todas as Nações, (34 ed.), págs. 268 e 269.

Descer para Junto do Povo

É um método muito mau de ajudar os homens a saírem da lama, ficar o pregador no tôpo das árvores e atirar sermões neles. A dignidade ministerial, a pia austeridade e os maneirismos do pregador são pobres substitutos do verdadeiro

No terraço de um hotel na parte movimentada da velha Cidade do México, vivia um cão, que começava seus deveres diários latindo ferozmente para a multidão que passava. Corria frenèticamente para lá e para cá até cansar-se, quando então se deitava. Depois de um breve período de descanso, começava tudo de novo. Naturalmente o tráfego movimentado o dava a mínima atenção a esta agitação canina. Da mesma maneira um evangelista pouco impressionará, se apenas arenga de algum pedestal à multidão indiferente e pecaminosa.

Quando o povo está com fome, precisa de alguém que desça até onde eles estão e lhes estenda o pão da vida. ―Vaguear por ai de andas, atirando circulares de propaganda de padaria

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em janelas de 1º. andar,‖ pode ser considerado como serviço, e por alguns como boa publicidade, mas isso nunca alimentará uma alma faminta.

Há um bom estímulo naquela velha narrativa que fala de um pastor austero, que subia ao pináculo do templo, para estar mais perto de Deus, e assim poder passar a palavra divina às suas ovelhas, embaixo. Todos os dias trabalhava no esboço de seu sermão, julgando que os pensamentos lhe vinham diretamente do Céu, e semanalmente derramava sua erudição sobre a cabeça dos ouvintes. Quando ficou velho, um dia Deus lhe disse: ―Desce, para morrer.‖ E ele, da altura do pináculo, perguntou: Onde estás, Senhor?‖ e o Senhor respondeu: ‗Aqui embaixo, junto do Meu povo.‖

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―NÃO SEMEEIS ENTRE ESPINHOS‖

JEREMIAS 4:3 6

PRIMEIROS ASPECTOS DA PREPARAÇÃO DO CAMPO

―PARA que a possa ler o que correndo passa‖ (Hab. 2:2), evidencia o propósito de tornar clara a mensagem para essa hora. Mencionar a importância da distribuição de literatura, pode parecer cediço, mas a necessidade é a de uma distribuição sistemática e mais inteligente. Isto deve ser tão cuidadosamente planejado, e tão sàbiamente dirigido, que ao mesmo tempo possa afastar o preconceito e despertar o interesse.

Onde quer que haja uma igreja estabelecida, os membros geralmente estão ansiosos para serem organizados e treinados para este trabalho. Uma das primeiras coisas a fazer, ao organizar este programa, é procurar um bom mapa da cidade:

Então distribuir o território em distritos, e os ajudantes leigos em grupos. Os participantes deste trabalho são realmente ―visitantes do evangelho‖ e devem ser instruídos em técnicas que lhes assegurem o êxito. A cada grupo deve ser destinada uma parte da cidade, como seu ―lago de pesca‖ particular. Onde for possível, convém descobrir o número aproximado de casas de cada seção. Isto facilitará uma distribuição mais equitativa da responsabilidade. A eliminação das conjeturas t vital para o sucesso de qualquer espécie de organização.

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Os membros de cada grupo podem agora ficar responsáveis, cada um, por certo número de lares. Isto evitará muito esforço duplo

desnecessário, e também proverá a oportunidade para que o visitante do evangelho possa seguir qualquer interesse que porventura possa ter sido despertado.

A distribuição de literatura deve começar pelo menos um mês, ou seis semanas antes das reuniões públicas Esta semeadura sistemática da semente do evangelho, é outra maneira de despertar adiantadamente o interesse nas reuniões.

Deve-se tomar cuidado na seleção da literatura utilizada. Não é qualquer folheto ou revista que se presta a este trabalho. O propósito deste plano não é cobrir todas as doutrinas da igreja, mas antes despertar o interesse na Palavra de Deus, e curiosidade quanto ao significado de nossos dias. Certos folhetos ou revistas preparados especialmente para este fim, serão muito úteis. Mais ou menos na quarta visita, pode ser inserido um cartão na revista ou no folheto, solicitando ao

Caro AMIGO:

Tem sido um prazer deixar-lhe estas mensagens impressas, semana após semana, e nos sentiremos satisfeitos em continuar a deixá-las, se V. S. assim o desejar. Se V. S. apreciou sua leitura e deseja receber mais, bondosamente assine este cartão resposta, e no-lo envie pelo correio. A taxa já está paga, e V. S. não está assumindo qualquer compromisso atual ou futuro. Como este é um trabalho de fé, queremos deixar estas mensagens somente com as pessoas que desejam recebê-las. Desejando-lhe as mais ricas bênçãos de Deus, e esperando sua pronta resposta,

Subscrevemo-nos: Comissão Evangelística.

Nome___________________________________________ Endereço_________________________________________

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leitor que indique se deseja continuar a recebê-los. Este é o primeiro passo para cristalizar o interesse despertado pela literatura. Tal cartão deve ser redigido de maneira simples, endereçado, selado e pronto para ser posto no correio. Algumas vezes pode-se fazer arranjos com o próprio correio para usar um cartão resposta comercial comum, O cartão exemplo da página anterior, dá uma idéia da espécie de palavreado a ser utilizado.

Dentre 100 lares, aproximadamente 20 ou 30 devolverão o cartão. Entretanto, haverá sempre os que pretendiam sinceramente devolver o cartão, mas por um motivo ou outro, não o fizeram. Assim, uma segunda oportunidade deve ser dada a eles, antes de riscar-lhes o nome. Cada cartão devolvido pelo correio é uma indicação de interesse definido, e é nesses lares que o visitante do evangelho deve agora se concentrar. Com uma aproximação provida de tato, muitas dessas pessoas de bom grado reunir-se-ão a uma classe bíblica ou escola bíblica vizinha. Mesmo uma cidade pequena pode ter várias escolas bíblicas em funcionamento, antes da reunião de abertura da campanha. E cada membro dessas classes bíblicas será um agente de publicidade entusiástico, das reuniões que se irão iniciar.

Iniciar um Programa de Rádio

Todos conhecem hoje o valor de um bom programa de radio; e onde for possível, é bom arranjar um, algumas semanas antes da

abertura das reuniões. Muito significa o fato de o público entrar em contato com o evangelista e seus ajudantes, antes da noite de abertura da campanha. Esta introdução inicial deve ser de molde a inspirar confiança no pregador. O rádio é um campo deveras competitivo, e muito depende dos detalhes do programa que se vale apenas das impressões auditivas.

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Para construir uma audiência radiofônica, o orador de rádio deve dar atenção a quatro coisas em particular: a preparação a

apresentação, o material e a maneira de suas palestras. E devem ser palestras, não sermões declamatórios. Nada é mais importante num programa de rádio, do que a voz, pois a voz é ali, a única expressão da personalidade. Nem todos

têm boa voz para o rádio, e deve ser lembrado que uma impressão ruim é pior do que nenhuma impressão. Material excelente no campo do rádio, está sendo constantemente impresso, e aqueles que o desejarem, podem obter valiosa

informação para esse campo especializado de evangelismo.

O Lugar do Trabalho Médico-Missionário

O método de evangelismo de Cristo era pregar, ensinar e curar. (Ver S. Mat. 4:27.) E se seguirmos Seu exemplo, nos tornaremos médicos-missionários.

Jesus passava grande parte do Seu tempo com os doentes. Ele não tinha orçamento de igreja para publicidade. Não o necessitava. Em vez disso visitava o povo — os pobres, os doentes, as autoridades da cidade; de fato, todos os tipos de pessoas. E dessa maneira tornou-Se largamente conhecido. Se existissem hospitais naquele tempo, certamente ali Se encontraria muitas vezes.

―Enquanto ia de um lugar para outro, abençoava e confortava os sofredores, e curava os doentes. Este é o nosso trabalho. Deus quer que aliviemos as necessidades dos destituídos.‖ (1)

―Coisa alguma abrirá portas à verdade como a obra missionária médico-evangelista. Esta achará acesso aos corações e espíritos, e será um meio de converter muitos à verdade.‖ (2)

Quantas vezes a verdade dessas palavras tem sido demonstrada - Nos campos missionários, o trabalho médico-missionário não é somente importante; é imperativo! Se não fosse esses

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mensageiros de amor, muitos campos ainda se encontrariam fechados. Tenho sido inspirado e muitas vezes tenho meditado, ao observar os ajuntamentos diante dos dispensários de nossas estações missionárias. Centenas esperam às vezes. Às quatro ou às cinco da madrugada, começam a fazer fila, esperando o serviço benévolo e habilidoso de médicos e enfermeiras. Alguns viajam vários dias para receberem o tratamento de que tanto necessitam, e quando se combinam o amor e a habilidade, recebem não somente a restauração física, mas também a luz do evangelho irrompe em sua alma obscurecida.

E maravilhoso vermos cirurgiões e médicos experimentados, deixarem práticas lucrativas em sua terra natal, e ir a esses lugares longínquos, pregando o evangelho através da arte de curar. Por causa de seus serviços muitos que nunca

- teriam ouvido da verdade de outra maneira, estão sendo ganhos para Cristo. As ilustrações que acompanham este texto, são típicas de tal trabalho. Eis aqui uma perfeita mistura de trabalho médico e evangelístico. Neste lugar o colégio e o hospital estão bem próximos, e em cada fim de semana o professor de Bíblia do colégio, pilotando ele mesmo um pequeno avião, em numerosas viagens, visita as vilas e cidades, deixando dois de seus alunos em cada lugar.

Tão ansiosos estão os moradores da localidade, para receber esta ajuda, que em alguns lugares, como mostra a primeira fotografia, construíram com suas próprias mãos, uma pista de aterrissagem para o avião. Em outros lugares tais como o da segunda fotografia, a rua principal do lugar fica servindo de pista. Circulando sobre a cidade, o piloto faz sinal para limparem a rua das galinhas, cabras, porcos e crianças para que possa aterrissar. Deixando seus mensageiros de amor para uma visita e pregação de dois dias, ele volta para buscar outros, transportando-os a outras cidades, levando consigo os que necessitam de hospitalização, como mostra a 3ª fotografia.

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Esses doentes são então colocados aos cuidados de médicos e enfermeiras.

Quão diferente é esse moderno método de locomoção, das costumeiras quinze ou vinte horas de caminhão sobre más estradas, e então, quem sabe, cinco ou seis horas mais em lombo de burro Em vez disso, esses doutores e pregadores voam sobre as montanhas, chegando aos lugares onde se precisa de seus serviços, em questão de minutos. Sim, o trabalho médico-missionário tanto no exterior como no interior, abre as portas da oportunidade, aliviando sofredores e conduzindo homens para a cruz de Cristo. A primeira ordem de Jesus a Seus evangelistas em treinamento foi: ―Curai enfermos, purificai leprosos.‖ S. Mat. 10:8. A união da obra semelhante à de Cristo em favor do corpo, e da obra semelhante à de Cristo em benefício da alma, é a verdadeira interpretação do evangelho.‖ (3)

―A obra médico-missionária destina-se a ser uma grande cunha de entrada pela qual a alma enferma possa ser alcançada.‖ (4) ―A obra médico-missionária oferece ensejo de promover um trabalho evangelístico bem sucedido. É na proporção que estes

ramos de serviço se acham unidos, que podemos esperar colher o mais precioso fruto para o Senhor.‘ (5) Quando há intimo companheirismo entre o evangelista e o médico cristão, o trabalho médico-missionário produzirá maravilhosos

resultados. O trabalho de Deus é um só, mas tem muitos ramos. ―O ministério evangélico, a obra médico-missionária e nossas publicações sito instrumentos de Deus. Um não deve suplantar ao

outro.‖ (6) Para que esse trabalho seja realmente eficaz, deve ser intensamente prático. Deveriam ser organizadas classes de enfermagem

caseira e preparação de alimentos, e se o espírito de oração permear o nosso serviço missionário, o interesse {99}

pode ser despertado entre alguns que talvez não pudessem ser alcançados de outra maneira. Dessas classes e também daqueles que têm sido ajudados com simples tratamentos em seus lares, será ceifada uma colheita.

Juntamente com essas classes e a visitação nos lares do povo, será útil visitar regularmente os hospitais da cidade. Isto deveria ser mais do que trabalho preliminar; deveria ser um trabalho contínuo. Se os membros da equipe evangelística passam um pouco de tempo por semana nesse trabalho, isto cooperará muito para estabelecer a obra na comunidade.

―Visitai os doentes e sofredores e mostrai um bondoso interesse neles,‖ é a instrução do Senhor hoje. Vá ao hospital, então, não para discutir teologia, ou acrescentar outra ―visita‖ ao seu formulário de relatório, mas como embaixador de

Cristo para espalhar o amor de Deus e a paz do Céu. Sempre que possível, ore com os sofredores, e dirija-os a Jesus. Torne-se conhecido na instituição como o visitante cristão do sorriso agradável. Faça amigos entre a diretoria do hospital. Faça visitas curtas, porém freqüentes.

— O senhor não me conhece? Disse-me uma senhora bem vestida, ao sair da reunião. — Não, disse eu, mas creio que já a encontrei alguma vez. — Sim, sou aquela por quem o senhor orou no hospital, há três meses atrás, O senhor se lembra, eu estava na enfermaria junto

àquela senhora católica. E o senhor veio e orou por nós duas, Nunca esqueci aquela oração. Sei que o Senhor a ouviu e aqui estou eu novamente sã. —E este é meu marido, disse ela, enquanto orgulhosamente apresentava o companheiro.

Seu lar foi imediatamente aberto para estudos bíblicos e poucos meses depois ambos foram batizados. Aquela visita, aquela palavra bondosa e aquela simples oração, pagaram grandes dividendos, como tantas outras dessas visitas tem feito,

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Uma palavra de bondade ao pé de um leito, pode significar a decisão em uma vida. Henry Ward Beecher falava a um garoto descalço que vendia jornais. Era uma manhã muito fria e o bondoso pregador disse: —

Pobre homenzinho! Não sentes frio ai de pé? — Sentia, senhor, até que o senhor falasse, replicou o rapazinho com um sorriso. Quantos corações frios, e sem alegria, existem nesse velho mundo, ansiosos por uma palavra de bondade Alguns desses estão

nos hospitais e uma expressão de simpatia significa muito para eles. Se você visita regularmente os hospitais, muitos reconhecerão sua fotografia nos jornais, e você terá cem almas agradecidas

orando pelo seu sucesso, muitas das quais acabarão assistindo às conferências.

Alistar Todos os Possíveis Conversos É surpreendente o número de possíveis conversos, que existem numa comunidade, especialmente se já há ali uma igreja

estabelecida. Os membros têm parentes, amigos e vizinhos por quem fervorosas orações têm sido oferecidas durante anos. Entretanto, demasiadas vezes, muitos deles têm sido negligenciados. Poderiam ter sido batizados há longo tempo, se alguém tivesse tomado interesse espiritual neles. Coloque-os numa lista de oração especial e inste com os irmãos para que orem fervorosamente por sua conversão. Cada um deles é um converso em potencial.

Além disso, haverá na cidade os que se extraviaram. Sempre se encontram alguns que já andaram nos caminhos de Deus, e agora não se encontram mais no rebanho—chamam- se apóstatas. Eis um campo muito promissor. Os oficiais da igreja deveriam tomar especial interesse por esses errantes. Reuniões especiais de oração deveriam ser organizadas, para que sejam apresentados diante do trono da graça em intercessão

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especial. Então comece-se a visitá-los Descubra-se se possível quem os trouxe à verdade pela primeira vez. Não importa quão longe uma pessoa esteja do Senhor, sempre guardará boas lembranças daqueles que primeiro lhe trouxeram a mensagem. Simpatia e amor significarão tudo para essas almas necessitadas. No fundo do coração, via de regra estão insatisfeitos e infelizes, algumas vezes até ansiando por retornar ao rebanho. Aliste seus nomes e comece a trabalhar por sua conversão. Em capítulo posterior serão estudados métodos para evitar a apostasia. Mas façamos tudo que pudermos para recuperar aqueles que saíram do nosso meio. Algumas estatísticas deveras reveladoras, acerca do assunto, são apresentadas no capítulo 30.

Sempre haverá também interessados deixados por colportores ou médicos-missionários, antes de a equipe evangelística chegar à cidade. Se esses evangelistas visitantes ou ―tropas de choque‖ fizeram bem seu trabalho, haverá um grande número que poderá ser acrescentado à lista sempre crescente.

Quando todos os nomes estiverem reunidos nesta lista, ela se tornará grande e impressionante. Incluirá parentes, amigos e apostatados; nomes de interessados pelo rádio, pela literatura, pelas visitas médico-missionárias e pelas classes de estudos bíblicos. Mas isto é mais do que uma lista encorajadora; é uma lista desafiadora, e deverá conduzir a equipe evangelística a uma atitude de humildade e oração, ao começarem a construir sobre alicerces cavados por outros. As palavras de Cristo se aplicam a todos: ―Outros trabalham, e vós entrastes no seu trabalho.‖ S. João 4:38. Para todos esses pode ser enviada uma carta especial, juntamente com um cartão especial de convite para a primeira conferência.

Criar uma Atmosfera de Reavivamento

Nada significará tanto para o programa evangelístico, quanto

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uma atmosfera de reavivamento. Se antes de iniciarem-se as conferências os membros da igreja puderem ser visitados em seus lares, e os membros de cada família forem apresentados a Deus em oração, isto terá uma influência tremenda. A oração é mais importante do que a publicidade. E mais poderosa do que a organização. A oração é sem dúvida o fio penetrante do evangelismo. ―O talento para fazer as coisas reside na organização. O poder para fazer as coisas reside na oração.‖ A vitória de Israel contra os Amalequitas, veio não por causa da organização meticulosa de Josué, e sim pela oração fervorosa de Moisés.

Mas antes que o ministro possa oferecer uma oração inteligente em favor de seu povo, deve saber onde eles vivem e como vivem. ―Deveria visitar cada família, não meramente como hóspede para fruir-lhe a hospitalidade, mas para indagar acerca da condição espiritual de cada membro da Família.‖ (7)

Os parentes não salvos nas famílias dos membros da igreja, deveriam ter um lugar especial em nossas orações. O evangelista que antes de se iniciarem as conferências, vai de ―casa em casa, levando sempre o incensário da fragrante atmosfera de amor celeste,‖ (8) criará um espírito de reavivamento nos corações do povo, que abrirá as portas para que Deus faça um trabalho poderoso.

Organizar Grupos de Oração

Não somente haverá orações nas casas dos membros, mas também devem ser organizados muitos grupos de oração. A reunião

de oração regular da igreja naturalmente estará no coração do evangelista. Esta não deve ser uma reunião formal; deve estar carregada de novas correntes de poder. Deveria ser uma reunião radiante de amor e companheirismo, e permeada com o próprio fôlego dos Céus. Corretamente conduzida, será a ―hora de poder‖ da igreja.

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Grupos especiais serão formados para orar. A juventude precisa ser conduzida e inspirada a orar. Deveriam interceder

especialmente pelos outros jovens que porventura sejam descuidados ou indiferentes. Os oficiais da igreja deverão tomar tempo para orações especiais, pois são os líderes espirituais no programa evangelístico. Reuniões de oração para as mães, também deveriam ser organizadas. Muitas mães podem achar difícil comparecer às conferências notumas mas uma reunião de oração à tarde, uma ou duas vezes por semana, será uma grande bênção. Essas irmãs devem sentir que fazem parte de um programa completo, porque, como foi enfatizado, é a igreja completa que faz o trabalho do ministério. Se essas mães se revezassem, para cuidar das crianças deixadas em algum lar próximo ao local de reunião, isto permitiria que a reunião se processasse sem a interrupção dos pequeninos que ficam inquietos.

Convidar Todos os Cristãos a Orar

Enquanto inspiramos nossa igreja a orar, não devemos esquecer que existem muitos cristãos de outras fés, que se sentem tão

preocupados pela condição espiritual da comunidade, quanto nós. Estas almas sinceras e tementes a Deus ―não dobraram os joelhos a Baal‖ e muitos responderão quando convidados a aderir a um círculo municipal de oração, É uma surpresa agradável descobrir quantos bons cristãos há em uma comunidade, e que unirão suas preces às nossas por um reavivamento de verdadeira piedade.

Se forem preparados alguns cartõezinhos, e se animar nossos membros a levarem-nos aos amigos e vizinhos, uma maravilhosa oportunidade se apresentará para revelar o propósito real da campanha. Dentre todos os cristãos, nós que pretendemos ser os mensageiros especiais do evangelho eterno, deveríamos ser conhecidos como um povo de oração. Um cartão

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como o que segue poderia ser utilizado. Podem ser feitas as adaptações necessárias para atender às situações especiais.

As pessoas podem ser membros desta ou daquela igreja, ou mesmo de nenhuma igreja, mas todos podem orar. O trono de misericórdia e de graça é um lugar onde todos nós podemos reunir, sem ter em conta o ambiente, e sentirmos as boas-vindas do bondoso e compreensivo Pai celestial.

O Dr. Torrey certa vez declarou que ―o grande clamor do momento é trabalho, trabalho, trabalho, nova organização, novos métodos e nova maquinaria. A grande necessidade de nossos dias é a oração.‘

Os grandes reavivamentos sempre tiveram início no coração de uns poucos homens e mulheres que através da oração puderam alcançar o poder do Deus vivo. Quando os homens

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oram, tomam-se participantes de uma causa vencedora. E um campo que é preparado para o evangelismo, através de muita oração é possível de dar bom fruto. Os homens devem ―orar sempre e nunca esmorecer‖, disse Jesus, (S. Luc. 18:1), e Paulo acrescenta: ―Ceifaremos, se não desfalecermos‖ (Gál. 6:9).

―As maiores vitórias obtidas em favor da causa de Deus, não são o resultado de elaborados argumentos, amplas facilidades, vasta influência, ou abundância de meios; elas são alcançadas na câmara de audiência com Deus, quando, com sincera e angustiosa fé, os homens se apegam ao forte braço do poder.‖ (9)

A oração precedeu o Pentecostes. E somente a oração trará a chuva serôdia e preparará a igreja de Deus para sua gloriosa vitória final.

Ao preparar um campo para o evangelismo, muitos aspectos demandam atenção. Serão ampliados no capítulo seguinte. Aqui são apresentados para consideração:

1. Um estudo do território 2. Seleção cuidadosa do lugar de reuniões 3. Organização e inspiração da equipe evangelística 4. Preparação da igreja para cooperação leal 5. Organização de uma ‖guarda avançada‖ para criar interesse 6. Agrupar os ajudantes para a distribuição de literatura 7. Organização de escolas bíblicas na comunidade 8. Planejamento de um programa de rádio 9. Travar conhecimento com as autoridades da cidade e com ministros de outras denominações 10. Introdução de um programa médico-missionário 11. Um programa de publicidade de longo alcance 12. Organização de toda a igreja para o serviço 13. Alistar a todos os nossos ministros e os cristãos de outras crenças para orações especiais. E de todos esses, sem dúvida, o último o mais importante.

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De fato, o coração de toda preparação que valha a pena, pode ser resumida numa só palavra: — ORAÇÃO.

―Do lugar secreto da oração, veio o poder que sacudiu o mundo na Grande Reforma.‖ (10) E do mesmo lugar da oração, virá o poder para sacudir o mundo no maior despertamento espiritual de todos os tempos — o

derramamento do Espírito de Deus na chuva serôdia e a pregação da igreja para a trasladação.

Técnica para Estudo em Grupo PROBLEMA: Como organizaremos um círculo de oração que abranja toda a cidade? Não encontraremos pessoas com

preconceitos? RESPOSTA: Sim, freqüentemente as pessoas são preconceituadas, mas para responder esta pergunta, voltemo-nos para o

laboratório da experiência.

No começo de uma grande campanha evangelística, em um importante centro metropolitano, enfrentei os problemas comuns de uma grande cidade. Foi durante a Segunda Guerra Mundial, e sendo um dos maiores centros industriais do país, esta cidade, estava interessada em muito pouca coisa além esforço de guerra. A região não era decididamente um assunto popular na mente do público. Entretanto, seguindo meu processo costumeiro, apresentei às nossas igrejas o plano de oração do círculo metropolitano, insistindo para que membros convidassem seus vizinhos a reunir-se em certos lares para orar.

Ao concluir-se a reunião de sábado à tarde, um irmão levantou-se e afirmou que apesar de o plano parecer-lhe bom, nunca daria certo em sua rua. Disse que vivia ali há vários anos, dera vários estudos bíblicos, sem entretanto conseguir conversas. Ali o povo era completamente preconceituado, dizia, assim que ninguém ousaria vir à sua casa para orar. E

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havia mais um ou dois que compartilhavam da mesma opinião.

Insistimos com ele pata que fosse e levasse a Seus Vizinhos esse apelo à oração, e que se dirigisse especialmente às casas que tivessem bandeirinhas especiais na janela, indicando que algum ente querido da família estava em serviço na guerra. Com efeito, foi aconselhado a concentrar-se somente nas casas que tivessem bandeiras. Até mesmo uma aproximação simples como esta, foi sugerida:

―Boa tarde, Sra. __________. Possivelmente eu seja um estranho para a Sra., apesar de ser um de seus vizinhos. Notei uma bandeira de serviço militar em sua janela, e isto me diz que alguém da casa está distante do lar. Pois bem, segunda-feira próxima, à noite, um grupo de amigos reunir-se-ão em minha casa para termos orações especiais em favor dos rapazes ausentes de nossa comunidade, e naturalmente também em favor de suas famílias. Pensei que talvez a Sra. se interessasse em saber que a Sra. e os seus estão sendo incluídos em nossas orações. Se a Sra. nos fizesse a gentileza de citar seus nomes, nós os apresentaremos pessoalmente diante do trono da graça. Ou melhor ainda, quem sabe se a Sra. gostaria de juntar-se a nós nas orações? Será bem-vinda, não importa qual seja a sua religião.‖

Aquele irmão saiu da igreja dizendo que ia tentar, mas sempre protestando que não adiantaria nada. Três horas mais tarde recebi um telefonema daquele bom irmão. Estourava de entusiasmo quando disse: ―Tive o dia mais emocionante de minha vida. Fiz como o Sr. disse, e fiz visitas maravilhosas. De fato, até o momento, visitei apenas seis lares, mas já fiz oração em cada um deles, e quase não me deixam sair. Segunda-feira virão mais de trinta pessoas à minha casa para uma reunião de oração. E agora? O que vou fazer? Pode me mandar alguém para ajudar? Não posso lidar com todo esse povo.

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Seu pedido foi atendido e alguém foi enviado para ajudá-lo. Foi sem dúvida uma reunião notável. Reuniram-se cada segunda-

feira à noite, daí em diante. Alguns abandonaram o grupo, porém outros vieram tomar-lhes o lugar, e aquela reunião que se iniciara com um simples convite à oração, tomou-se uma das classes bíblicas regulares.

Seguindo a mesma técnica, muitos outros grupos como aquele foram formados na grande metrópole. Entre os que se reuniam para orar se encontravam católicos, judeus, e não religiosos. Entretanto vinham, e deles foi ceifada uma colheita. Sim, a oração é sem dúvida o fio cortante do evangelismo. E ―somente o que é realizado com muita oração permanecerá como fruto de nosso trabalho.‖ Para um sumário das técnicas de preparação de campo ver as págs. 125 e 126.

1) White, Carta 54, 1898 (516),

2) White, Manuscrito 58, 1901 (513) 3) White, An Appeal for a Medical Missionary College, págs. 14 e 15 (514) 4) Counsels on Health, pág 535 (513). 5) White, em Review and Herald, 7-9-1905, pág. 8 (516).

6) White, Carta 54, 1903 (547) 7) White, em Signs of the Times, 28-1-1886 (347). 8) White, Carta 50, 1897 (349), 9) Obreiros Evangélicos, pág. 259.

10) O Conflito dos Séculos, pág. 210,

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LANÇAI A REDE À DIREITA

S. JOÃO 21:6 7

DESENVOLVENDO O INTERESSE ANTES DA CAMPANHA QUANDO Jesus deu esta ordem, estava falando a pescadores experimentados, que apesar disso haviam trabalhado a noite

inteira e não haviam pescado nada. Cada pescador do evangelho conhece alguma coisa desse desapontamento. Segue os processos regulares, trabalha duro,

trabalha toda a noite, mas há pouco resultado. O povo parece não responder. Talvez o tempo tenha sido desfavorável, ou o salão não tenha sido próprio, ou o campo não tenha sido bem preparado. Pode dar uma dúzia de razões, porém nenhuma delas é a verdadeira.

Mas voltemos à história. Era de manhã quando Jesus encontrou Seus discípulos perto de Tiberíades. Interessado no trabalho deles, perguntou:

—Tendes aí alguma coisa para comer? Responderam-Lhe eles: —Não... -Quase podemos ouvir o tom de desgosto em sua resposta. Então diz o Mestre: Lançai a rede à direita do barco,

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e achareis.‖ Era uma afirmação desafiadora, pois já era dia, o que não é de maneira alguma a melhor hora para pescar naquelas

águas claras. Além disso, desde tempos imemoriais era o costume dos pescadores lançar a rede do lado esquerdo do barco. Talvez não se possa dar explicação plausível ao fato, mas era o costume secular. Mas eis aí o Mestre dizendo a esses pescadores experimentados que lancem sua rede à direita do barco. Eles haviam estado pescando durante toda a noite, como era costume, mas sem nenhum sucesso. ―Mudai o método!‖ diz Jesus. Eles obedecem, e que peixes trazem à praia!

Jesus queria, evidentemente, que estes futuros evangelistas experimentassem a satisfação de saber que Ele nunca depende de métodos e costumes pré-estabelecidos ou estereotipados, para o sucesso de Seu trabalho, Podia pescar tão bem, ou quem sabe até melhor, afastando-se de alguns dos costumes pré-estabelecidos dos séculos. Seriam descobertas novas técnicas, e verificariam que Ele efetuaria o trabalho através deles, de maneiras bem fora do comum.

Esta história sem dúvida contém uma lição para nós hoje. Existem novos métodos que Ele deseja que usemos em nosso trabalho de ganhar almas? Tendas e tabernáculos, salões e teatros, igrejas e parques ao ar livre, todos têm sido usados com sucesso no evangelismo. Cada um tem suas vantagens peculiares, alguns mais do que outros.

A Importância da Boa Localização A localização da campanha evangelística é muito importante. ‗Estudem sua localização‖ é a admoestação. Mas estudem-na

particularmente ―a fim de deixar brilhar a luz para outros.‖ (1) Isto nem sempre tem sido feito. Conseqüentemente o trabalho de Deus não tem avançado em alguns lugares, como

{112} deveria. Em alguns países a causa da verdade ―poderia estar muito mais adiantada atualmente, se nossos irmãos não

houvessem procurado, ao começo, trabalhar com tanta parcimônia. Se houvessem alugado boas salas, levando avante o trabalho como quem possui grandes verdades, as quais hão de necessàriamente triunfar, teriam obtido êxito maior.‖ (2)

Quão freqüentemente a causa do evangelismo tem sido vítima de visões restritas! Gastos desnecessários e extravagância, não é de modo algum o que estamos aconselhando, mas freqüentemente o programa que gasta menos, acaba saindo mais caro. Para quê todo o trabalho e as lágrimas, os barcos e as rede, a menos que se apanhem peixes? O evangelismo precisa de homens e equipamento, mas êsses homens devem saber como e onde lançar a rede.

―O Senhor deseja que se aprenda o manejo da rede do evangelho. Muitos precisam aprender esta arte. Para se ter sucesso no trabalho, as malhas da rede — a aplicação das escrituras — devem ser bem fechadas, e seu significado facilmente discernível. Então faça-se o máximo ao puxar a rede.‖ (3)

O Plano do Mestre Para o Preparo do Campo Planejar um verdadeiro programa evangelístico, não é tarefa pequena. Muitas coisas devem ser levadas em consideração.

Precisa-se de entusiasmo, mas também se precisa de organização. A boa pregação e o planejamento cuidadoso, são fatores essenciais do sucesso.

―Não há maneira fortuita, solta e fácil de fazer trabalho em qualquer lugar.‖ Os pontos especiais na preparação do campo, já anotados no capítulo prévio, foram agrupados sob os seguintes cinco títulos: 1. Estude o território. Acostume-se com a região. 2. Crie um interesse antes das conferências. 3. Inicie o trabalho médico-missionário.

{113} 4. Aliste todos os conversos possíveis. 5. Crie uma atmosfera de reavivamento através da oração e de visitas. Encontram-se sumariados no fim do capítulo, porém aqui os consideraremos em seus detalhes. Estude o Território Nenhum cirurgião, hoje em dia, operaria um paciente antes de conseguir um relatório médico completo. Deve estudar todos os

sintomas e conseguir uma história completa do caso. Isto pode levar várias semanas, sendo feitos vários testes diferentes, antes de ser dado o diagnóstico completo. Deveria o cirurgião espiritual ser menos científico em sua aproximação?

Da mesma forma como um paciente é diferente do outro e requer, portanto, estudo especial, assim também cada cidade tem seus problemas peculiares. Algumas são definitivamente industriais, outras são centros educacionais. Numa área rural agrícola, o povo será muito diferente do povo encontrado em áreas turísticas. Podem falar a mesma língua, mas seus interesses estão tão afastados, quanto um pólo do outro. As influências políticas e religiosas, também obrigam o evangelista a uma variação em seus métodos de aproximação.

Em um país predominantemente católico, um de nossos evangelistas de mais êxito empregava um método original. Na primeira semana da campanha, pregava apenas acerca do sacerdócio. Que espécie de homem deveria ser um sacerdote? Quais deveriam ser suas normas de vida? Quais são suas prerrogativas? Como perdoa os pecados? Poderia ele comunicar poder para impedir a continuação do pecado?

Tendo convencido o auditório de que homem algum serviria, dirigia então sua atenção para o nosso Sumo Sacerdote

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e Seu ministério no santuário celeste. Daí por diante o interesse da assistência concentrava-se em Jesus. Sua técnica era diferente, mas bem sucedida. Ganhou milhares de almas para Cristo, e muitos desses estão hoje se regozijando

na abençoada esperança. O método surgiu do ambiente. Isto está longe do procedimento seguido por certo presidente de associação, o qual declarou que em sua associação não toleraria um evangelista que não iniciasse sua série de conferências com Daniel 2. Que estultícia deplorável. Os evangelistas mais experimentados geralmente reservam Daniel 2 para uma ocasião mais oportuna. Na noite de abertura, a multidão está mais curiosa do que interessada, ou tem apenas interesse casual, e Daniel 2 é muito importante para ser desperdiçado em meros curiosos. Além disso, essa profecia já tem sido usada tantas vezes como tema de abertura, que pode haver criado preconceito. Não haverá lugar para novas aproximações?

Um melhor conhecimento do campo, trará consigo melhores métodos de aproximação. Devemos estudar o território. Como foi expresso no capítulo primeiro, as guerras se lutam com mapas e com homens. O general sábio conhece cada morro e cada vale do terreno, antes de atacar. Seu sucesso depende em grande parte do seu conhecimento da região.

Elaborar um Relatório dos ―Antecedentes‖ da Cidade Para mudar de ilustração, o evangelista, como sábio cirurgião espiritual, elaborará um relatório dos antecedentes da cidade ou

vila antes de efetuar a operação. Muitas cidades sofreram e outras expiraram na mão de cirurgiões evangelísticos ineficientes ou inexperientes. O evangelista, entretanto, não é sempre culpado, pois às vezes é empurrado para dentro da cidade com o ultimato de iniciar as conferências

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dentro de duas semanas. Assim o trabalho se inicia praticamente sem preparação alguma. Freqüentemente ouve-se o brado: ―Não temos tempo a perder; temos que fazer a obra.‖ Mas o mais triste de tudo isso, é que sob este plano, a obra não está sendo feita. Territórios que poderiam produzir uma rica colheita, estão sendo queimados.

―Devemos estudar o campo cuidadosamente, e não pensar que precisamos seguir os mesmos métodos em todos os lugares.‖ (4) Saber há quanto tempo existe a cidade, como foi fundada, sua população, suas indústrias, suas principais fontes de renda —

todas essas informações de ordem material, são importantes. Todavia, mais vitais ainda, são as informações concernentes à religião do povo. Qual é a religião predominante? Onde se localizam as maiores igrejas? Moram ali alguns ministros famosos? Quais são as facilidades de recreação que se encontram na cidade? Onde estão localizados os hospitais? E as organizações de beneficência? As escolas? Os colégios? Quais são os clubes culturais e comerciais existentes na cidade? Seria também conveniente saber alguma coisa acerca de seus ―night clubs‖, teatros, cinemas ou até mesmo cadeias, pois devemos pescar em todas as águas. (Uma das Marias da igreja apostólica, provinha de um ambiente deveras duvidoso.)

Sim, tudo isto é informação valiosa para os dias que se seguirão. Tal informação não é difícil de se obter. A câmara de comércio e as autoridades públicas poderão ser de alguma ajuda. Os cidadãos de destaque da cidade não se negarão por certo a dar uma informação detalhada dentro de suas possibilidades. Com uma aproximação conveniente, em poucas horas pode-se ficar conhecendo melhor uma localidade do que muitos dos que nela vivem, por toda a vida.

Isto coloca o pregador em situação vantajosa, especialmente se na primeira reunião puder referir-se inteligentemente a

{116} um acontecimento de importância que pode ter ocorrido uns cinqüenta anos atrás. Imediatamente seus ouvintes percebem que

ele os conhece, que é um com eles, e é um amigo. Ao final da reunião, alguns que se recordam do incidente poderão estar ansiosos por acrescentar algum detalhe novo. Imediatamente seus lares estarão abertos para uma visita amigável. Muitos desses contatos têm sido o início de estudos bíblicos. Uma ponte que caiu, um edifício demolido, ou a contribuição cultural de algum cidadão preeminente há anos atrás, pode provar-se a cunha penetrante, que afinal conduzirá uma família inteira, ou até mesmo um grupo de famílias para a igreja.

Contatos Amistosos com as Autoridades Outra parte importante na preparação do campo, é o evangelista relacionar-se pessoalmente com as autoridades municipais —

prefeito, vereadores, homens de negócios, dirigentes governamentais e do comércio, doutores, educadores e advogados. Não os visite como um homem de igreja, mas sim como um simples amigo. ―Que cada ministro viva como um homem entre os

homens.‖(5) Então é conveniente tornar-se interessado nas atividades cívicas da cidade, bem como nos problemas sociais. Fazer amigos entre os homens influentes pode abrir o caminho para uma oportunidade de falar em clubes sociais ou comerciais. Isto fará muito em favor da quebra do preconceito e da construção da boa vontade. Ter amigos entre esses homens, pode significar muita coisa no caso de se levantarem certos tipos de oposição contra o trabalho.

Nosso Salvador assistia aos grandes festivais da nação que se celebravam anualmente. Tornava-Se parte integrante da vida de Seu tempo. Tinha amigos de todas as classes. Quando O convidavam para uma festa, ali comparecia, mesmo que fosse na casa de um desprezado publicano. (Ver Evangelismo, págs. 53 e 58.)

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Amizade com Ministros de Outras Crenças

Nada é mais importante nessa preparação do campo para o evangelismo, do que torna-se conhecido dos ministros de outras igrejas. Assistir a seus serviços de culto, revelará uma atitude amistosa, é também dará oportunidade de tomar o pulso da situação espiritual da comunidade.

―Quando nossos obreiros entram em um novo campo, devem procurar relacionar-se com os pastores das várias igrejas do lugar. Muito se tem perdido por negligenciar isto. Se nossos ministros se mostrarem amigáveis e sociáveis, e não agirem como se se envergonhassem da mensagem que apresentam, isto há de ter excelente efeito, e pode dar a esses pastores e a suas congregações impressões favoráveis da verdade.‖(6)

É-nos dado ainda um conselho mais definido, quanto à atitude que devemos tomar em relação a esses líderes espirituais. Há meio século a mensageira do Senhor escreveu as seguintes palavras:

―Nossos ministros devem procurar aproximar-se dos ministros de outras denominações. Orai por e com estes homens por quem Cristo está intercedendo. Pesa sobre eles solene responsabilidade.‖ (7)

E possível orar por esses homens no retiro de nossos lares. Não é necessário conhecê-los pessoalmente para orar por eles. Entretanto para orar com eles, é necessário estar onde eles estão. Devem ser visitados em seus lares ou lugares de culto. O ministro deve criar ocasiões em que possa encontrá-los e assim cultivar um verdadeiro companheirismo espiritual.

A sentença seguinte do parágrafo recém-citado diz-nos que ―como mensageiros de Cristo, cumpre-nos manifestar profundo e zeloso interesse nesses pastores do rebanho.‖ Notai, não são citados como falsos pastores, e sim como pastores do

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rebanho. Sem dúvida existem alguns falsos pastores no meio deles, (havia até mesmo um Judas entre os doze), porém muitos deles são homens sinceros e piedosos, que anseiam luz e amizade.

―Nossos ministros devem fazer sua obra especial o trabalhar em favor de outros ministros. Não devem entrar em conflito com eles, mas, com a Bíblia na mão, incitá-los a estudar a Palavra. Se isto é feito, muitos ministros que agora pregam o erro hão de pregar a verdade para este tempo.‖(8)

Notem, deve ser o trabalho especial do ministro trabalhar por esses ministros. E isso é exatamente o que fará se tiver o coração cheio do amor de Deus. E não deve ―entrar em conflito com eles‖, é o conselho do Senhor. Então vem a reafirmação de que se for mantida a relação certa para com eles, muitos que ―agora pregam o erro, hão de pregar a verdade para este tempo.‖ Apenas ao pensar quanto o movimento tem perdido, por negligenciar o conselho inspirado, estremece-se.

Aproximar-se dos ministros de outras crenças, nem sempre é fácil, especialmente onde um espírito de controvérsia tem separado os grupos de cristãos. Entretanto, o testemunho de todos os que em humildade e oração têm seguido essa instrução do Senhor, é que ela traz grandes bênçãos e um espírito de boa vontade cristã. Quando um obreiro chega a um lugar onde no passado houve alguma controvérsia religiosa, debate ou rompimento de relações, deve fazer seu melhor para modificar tal estado de coisas, e dar uma impressão diferente. Por assistir aos cultos da igreja daquele ministro, fazer-se conhecido e expressar apreciação pelo serviço, pode fazer muito para sarar as feridas de dias anteriores.

―Muita sabedoria é necessária para atingir ministros e homens de influência. Mas por que haviam eles de ser negligenciados por nosso povo, como tem sido até agora? . . . Não

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deve haver mais profundo estudo e muito mais oração por sabedoria, para que possamos aprender como alcançar essas classes?‖ (9)

Nosso povo tem perdido muito, por seguir planos tão estreitos, que as classes mais inteligentes e melhor educadas não são atingidas.‖ (10)

Se o obreiro porventura encontrar preconceito, logo verificará que este tem raízes infelizes. Os homens agem de certa maneira porque lhes falta compreensão. Seguindo os métodos do Mestre, pode aplainar com sucesso certas dificuldades.

Quando encontrardes pessoas que, como Natanael, estão prevenidas contra a verdade, não insistais muito fortemente em vossos pontos de vista peculiares. Falai a princípio com eles de assuntos em que possais concordar. Curvai-vos com eles em oração, e em humilde fé apresentai vossas petições ao trono da graça. Tanto vós como eles sereis levados a mais íntima ligação com o Céu, enfraquecer-se-á o preconceito, e será mais fácil chegar ao coração.‖ (11)

―Deus tem um trabalho a ser feito que os obreiros ainda não compreenderam plenamente... Deve haver mais diligente busca de Deus mais cabal estudo; pois as faculdades mentais serão exercitadas ao máximo ao se delinear planos que ponham a obra de Deus em uma plataforma mais elevada. Aí é onde sempre deveria ter estado.‖ (12)

Onde em vez do sentimento de controvérsia se fomentou o espírito saudável de companheirismo, alguns que se opunham à obra, desconhecendo o propósito do movimento, não somente se tornaram amigos da causa, mas hoje também pregam a mensagem, tal como nos diz a mensageira do Senhor. Se é necessário discordar, não o façamos de uma maneira desagradável. Nunca esqueçamos o fato de que somos enviados como cordeiros para representar o Cordeiro divino. Guardemo-nos contra a tendência de revelar outro espírito além do espírito

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puramente cristão. O conselho do Senhor é bem claro nesse ponto.

―Nossos obreiros devem ser muito cuidadosos em não darem a impressão de serem lobos que se procuram introduzir para apanhar as ovelhas.‖ (13)

Um novo dia raiará para a causa de Deus quando no coração de cada obreiro nascer o Sol da Justiça, com Suas benéficas asas de amor.

Criar Interesse Antes do Início dos Reuniões

O método do Mestre, segundo é exarado em 5. Luc. 10:1-16, merece ser estudado de maneira especial. Em Sua organização,

Jesus apontou setenta obreiros, além dos doze apóstolos ordenados. E esses setenta foram usados como pontas de lança em Seu programa evangelístico. Eram evidentemente leigos, e possivelmente estivessem incluídas ali algumas mulheres. Foram enviados de dois em dois, ―para que O precedessem em cada cidade e lugar aonde Ele estava para ir.‖ S. Luc. 10:1. Como já notamos em capítulo anterior, havia um propósito divino em uní-los dessa maneira, pois um poderia ―perseguir mil, e dois fazer fugir dez mil.‖ Deut. 32:30. Dois não são apenas duplamente eficientes, são dez vezes mais eficientes do que um só. Não admira que Jesus haja enviado Seus obreiros dois a dois.

Notem agora Sua instrução. Disse que haveria uma abundante colheita, mas que também haveria escassez de ceifeiros. E parece que essa tem sido sempre a situação comum. A maior dificuldade não é a de encontrar pecadores desejosos de abraçar a mensagem, e sim achar obreiros desejosos de espalhar as boas-novas. Em todo o mundo se estragam as colheitas por falta de ceifeiros.

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Visitação Amistosa

O Salvador advertiu que as condições seriam hostis (S. Luc. 10:3). O mundo mau que levou Nosso Senhor ao Calvário nunca

esteve esperando de braços abertos pelos arautos da verdade. ―Eis que ireis como cordeiros para o meio dos lobos‖, disse Ele, ―de modo que portai-vos sempre como cordeiros e não como lobos.‖

Assim também, como não os enviou como negociantes, Suas instruções foram: ―Não leveis bolsa nem alforje.‖ Desde que o propósito da visita deles não era meramente social, disse-lhes: ―E a ninguém saudeis pelo caminho‖ (verso 4). Aqueles que conhecem o Oriente, compreenderão a sabedoria dessa admoestação. Uma saudação naquelas terras, não é somente um cumprimento de cortesia, como o nosso ―boa-tarde‖, ou ―boa-noite‖. De maneira nenhuma! Requer na maioria das vezes certa troca de informações incluindo toda a história das respectivas famílias. E depois de dar resposta a miríades de questões tais como: ―Como se sente?‖ ―Como está sua pele?‖ ―Como estão os seus ossos? E a medula dos seus ossos?‖, e assim por diante, não haveria portanto o incentivo, nem a oportunidade para a discussão das coisas espirituais ou das boas-novas da graça de Deus. Assim, o Mestre ordenou que mantivessem sua conversação nas paragens elevadas da verdade espiritual, falando somente do reino de Deus e da maravilha de Sua graça.

Esses obreiros deveriam ir ao lar das pessoas (verso 5). O lar é o melhor lugar para se encontrar um homem, se se pretende ganhá-lo do pecado para a santidade. E quando em visita a um lar, deve-se ir ali, como embaixador de paz e boa vontade. Não se deve ir ali pala discutir, e sim para testemunhar. ―Ao entrardes numa casa, dizei antes de tudo; Paz seja nesta casa!‖ Pode ser a casa de um pagão ou de um infiel. Pode ser a casa paroquial católica, mas em toda a casa

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em que se entrar, diga-se: ―Paz!‖ Lembrem-se: ganhar almas não é um debate; é um testemunho.

Há muita infelicidade nos lares de hoje. Os fundamentos da sociedade estão cedendo. Os registros dos tribunais de delinqüência juvenil revelam que oitenta por cento dos delinqüentes juvenis provêm de lares despedaçados. O lar é o berço da civilização, a oficina do caráter e o campo de provas da verdadeira cultura. Entretanto, lares em grande número, preferem construir prestígio social, em vez de poder espiritual. A procura é antes por bugigangas e cortinas, do que por piedade e caráter. Esses lares precisam da visita periódica do arauto da esperança, trazendo paz e boa vontade.

Outro item definido na técnica do Senhor, dizia respeito ao trabalho médico-missionário. Jesus disse: ―Curai os enfermos e anunciai-lhes: A vós outros é chegado o reino de Deus.‖ Que maravilhosas oportunidades se abrem ao obreiro que sabe tratar dos doentes.

―Muitos perderam o senso das realidades eternas e a semelhança de Deus, e dificilmente sabem se possuem uma alma a salvar, ou não. Não têm fé em Deus nem confiança no homem. Quando vêem em alguém sem estímulo de louvor ou recompensa terrenos entrar em seu mísero lar, atender aos doentes, alimentar o faminto, vestir o nu e encaminhar todos Àquele de cujo amor e piedade o obreiro humano é apenas o mensageiro — ao verem isso, seu coração é tocado. Brota a gratidão. Ateia-se a fé. Vêem que Deus cuida deles, e acham-se preparados para escutar quando Lhe abrem a Palavra.‖(14)

Ao saírem, os obreiros não deveriam temer o fracasso. Foram enviados para pregar o evangelho, e Cristo Se responsabilizaria pelo seu sucesso (versos 10 a 16). Mas ai daqueles que rejeitaram a mensagem! E ai dos mensageiros que negligenciaram seu trabalho!

O registro diz que aqueles obreiros foram, e ao voltarem trouxeram uma maravilhosa história de sucesso. Regozijando-se no que haviam experimentado, exclamavam: ―Os próprios

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demônios se nos submetem pelo Teu nome.‖ Verso 17. Sim, o Senhor estava com aquêles obreiros humildes e que não foram escolhidos ―entre os sábios e entendidos‖. Eram inexperientes, mas um poder divino acompanhava seu ministério, e, sem dúvida, grande foi o resultado.

Uma Guarda Avançada

Esta é uma técnica simples, mas é a técnica do Senhor. Traz resultados maravilhosos e não pode ser superada. Feliz é o

evangelista que dispõe de tal guarda avançada para precedê-lo em cada cidade ou lugar aonde esta para ir. Se os métodos do Nosso Salvador estivessem realmente sendo seguidos, então deveria haver pelo menos dois obreiros

consagrados para anteceder ao evangelista. Isto deveria ser um parte definida no planejamento total do programa evangelístico. Poderiam ser colportores-evangelistas ou médicos-missionários. Seu trabalho não seria pregar, mas preparar o caminho para a pregação. Se se

compreendesse definitivamente que esta ―guarda avançada‖ faz parte da equipe evangelística, participando com ela das alegrias dos resultados, isto faria muito para unir todo o programa evangelístico da igreja. É fácil calcular o aumento do número de membros da igreja e associá-lo a um ministro, como se ele fosse completamente responsável pela conversão daquelas almas, quando pode ter tido pouca participação na mesma, havendo casos em que só lhe coube o privilégio de batizá-las.

Computar o Interesse Despertado Pela Guarda Avançada

Tal programa de visitas deve começar suficientemente cedo para permitir a visita a todos os lares, O tamanho da cidade

determinará o número de obreiros que serão necessários para essa primeira visita. Ao serem alcançados os lares, e ao darem os indivíduos mostras de interesse definido, deveriam

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ser cuidadosamente anotados, e entregues ao evangelista que os seguirá na cidade.

Onde um plano completo como este for levado a efeito, e testemunhas consagradas prepararem o caminho para o evangelista durante vários meses, haverá literalmente centenas de pessoas a quem possam ser enviados cartões e convites especiais, informando-os das próximas reuniões. Seria ainda melhor que esses missionários avançados pudessem apresentar pessoalmente os interessados a um dos membros da equipe evangelística, tal como um obreiro bíblico. A causa de Deus perde muito por não seguir o interesse despertado. Quando cada obreiro evangelístico na causa de Deus estiver unido com cada um dos outros ganhadores de almas; quando todos os departamentos da igreja unirem-se e integrarem seus planos e objetivos; quando houver menos preocupação Com as estatísticas departamentais e mais ansiedade em compartilhar a alegria do sucesso, então poderemos esperar um novo dia de avanço espiritual. Este trabalho é um só, e conquanto um Paulo semeie e um Apolo regue a semente, é Deus quem dá o crescimento. Quando o carpinteiro anima o ourives e o ourives alegra-se em dar crédito ao serviço fundamental do carpinteiro, então, e somente então, poderemos esperar a chuva serôdia e a colheita abundante prometida para a vinda do Rei.

Sumário das Técnicas Para Preparação do Campo

I. Estudo do Território

A. Construir os antecedentes da cidade

a. Igrejas b. Indústrias c. Hospitais d. Escolas e colégios e. Clubes culturais f. Organizações beneficentes g. Centros de diversão

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B. Relacionar-se com as autoridades

a. Prefeito b. Vereadores c. Câmaras de Comércio d. Doutores e. Professores f. Dirigentes governamentais e de negócios g. Editores

C. Assistir aos cultos de outras igrejas a. Procurar aproximar-se dos ministros b. Guardar-se de dar a impressão de ladrão de ovelhas

II. Criar Interesse Antes das Reuniões

A. Seguir o método de Cristo B. Organizar distribuição sistemática de literatura. Série ―Boas-Novas‖ etc.

a. Dividir o território em distritos, cabendo a cada grupo um ―lago de pesca‖ b. Selecionar membros e treiná-los na arte do contato pessoal c. Depois de algumas semanas, testar o interesse, mediante a remessa de um cartão endereçado e selado, pelo qual

o interessado peça a continuação. Se não houver resposta, desistir após o segundo convite.

C. Organizar escolas bíblicas na comunidade dos interesses já despertados D. Iniciar, se possível, um programa de rádio, algumas semanas antes das conferências públicas

III. Começar o Trabalho Médico-Missionário A. Seguir o método de Cristo — aliviar a dor física e descobrir portas abertas B. Conservar a aproximação espiritual. É vital a oração

{126} C. Ministro e médico trabalhando e aconselhando-se juntos D. Iniciar classes de enfermagem caseira e arte culinária

IV. Alistar todos os possíveis conversos

A. Parentes e amigos e os membros da igreja B. Relapsos (começar a visitar todos) C. Interessados pela colportagem (visitá-los, se possível, em companhia dos colportores) D. Todos os interessados pelo rádio

V. Criar uma Atmosfera de Reavivamento

A. Organizar grupos de oração a. Reunião de oração da igreja b. Reunião de oração das mães c. Reunião de oração dos jovens d. Períodos de oração dos oficiais da igreja

B. Visitar todos os membros da igreja. Conhecer a situação espiritual de cada um C. Visitar os hospitais, como embaixadores de boa vontade D. Convidar os cristãos de todas as crenças para orarem pelo reavivamento. 1) Testemunhos para Ministros, pág, 400 (75).

2) Obreiros Evangélicos, (3 ed), pág. 462 (75 e 76). 3) Conselhos a Pais, Professores e Estudantes, pág. 227 (174). 4) White, Manuscrito 121, 1897 (125). 5) White, Carta 50. 1897 (349).

6) White, em Review and Herald, 13-6-1912, pág. 3 (144). 7) Testimonies for the Church, Vol. 6, pág. 78 (562). 8) White, Carta 72, 1899 (562). 9) White, em Review and Herald, 25-11-1890, pág. 3 (144)

10) Idem, (562). 11) White, Practical Adresses em ―Historical Sketches‖, pás. 149 (446). 12) White, em Review and Herald, 25-11-1890, pág, 721 (563). 13) Idem, 13-6-1912, pág. 3 (143 e 144)

14) Idem, 3-8-1905, pág 9 (517)

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TERCEIRA PARTE

O EVANGELISTA E SEU MÉTODO

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Ganhar homens e mulheres, meninos e meninas, para Deus, apanhando-os na rede do evangelho, é a tarefa mais santa e

emocionante, já comissionada a seres humanos. Para fazer este trabalho com sucesso, o evangelista deve tornar-se um pescador do evangelho.

As quatro divisões principais do trabalho do ministro são: regar, ensinar, pescar e pastorear. Através da pregação e do ensino, o evangelista desperta o interesse, e o desenvolve. Mas no papel de pescador, ele prende o interesse ao levantar as almas que se agitam no mar do pecado e estabelecê-las na Rocha Eterna. As técnicas através das quais logra alcançá-lo são vitais para o seu sucesso.

Não é o suficiente informar aos homens! Eles devem ser transformados pela graça divina. O evangelista não deve apenas interessá-los, deve trazê-los a Deus. Sua mensagem tanto precisa ganhar, como admoestar. Várias técnicas serão empregadas para despertar o interesse e trazer indivíduos e famílias à decisão. Havendo então conduzido as almas a renderem-se aos pés da cruz, o evangelista deve tomá-las uma por uma e estabelecê-las como ―pedras vivas‖ no templo espiritual do Senhor. Como um escavador, entra nas pedreiras do pecado, onde as almas perdidas estão presas pela cadeia do vício, libertando-as das associações anteriores, pelo dinâmico poder do evangelho, integrando-as finalmente na vida e no serviço da igreja.

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EU VOS FAREI PESCADORES

S. MATEUS 4:19 8

AUMENTANDO A EFICIÊNCIA EVANGELÍSTICA

CADA pastor um ganhador de almas e cada igreja um centro de esforço evangelístico! Este é o modelo divino. Ainda assim fazemos bem em estudar as técnicas do evangelismo. Não é suficiente conhecer o vocabulário evangelístico; também são necessárias a técnica e a visão evangelísticas.

―Aprenda cada ministro a usar os sapatos do evangelho.‖ (1) Quando os pés de alguém estão calçados com a preparação do evangelho da paz, este naturalmente se torna em embaixador de boa vontade para com os homens. Sua vida irradia as boas-novas do reino. Mas o teste real para o evangelista é assegurar a decisão.

Auditórios e congregações não são a mesma coisa. Um auditório, seja ele grande ou pequeno, é um grupo de ouvintes, pessoas que se ajuntaram para ouvir. Podem representar todos os tipos e camadas da sociedade. Alguns virão por mera curiosidade. Encontram-se ali por causa de boa publicidade. Mas talvez não passem disso. Provavelmente virão uma vez ou duas e então desistirão.

Uma congregação é também um grupo de ouvintes, mas é composto de pessoas que possuem mais ou menos as mesmas idéias e ideais. Foram moldadas até atingirem uma unidade.

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Um espírito de interesse mútuo e de companheirismo os une. Um evangelista pode começar com um auditório de mil pessoas. Desperta-se vivo interesse, e ao terminar ele a campanha evangelística, deixa uma igreja de uns quarenta ou cinqüenta membros. Essa é sua congregação.

A Técnica Aperfeiçoada Multiplica a Colheita

Tal evangelista pode muito bem ser considerado bem sucedido. Mas se aquele mesmo evangelista, por meio de uma melhor

técnica, puder construir uma congregação de duzentos ou mais, partindo do mesmo auditório de mil, seu êxito será maior. O povo nem sempre deixa de assistir às reuniões por não serem buscadores sinceros. Um colportor pode ir a um certo território e vender cem livros, enquanto que outro homem com melhor técnica, venderá quinhentos livros, no mesmo território. A diferença não é devida à falta de interesse do povo, ou mesmo à falta de dinheiro, e sim à falta de melhor técnica do colportor. O mesmo acontece com o evangelista. Pode ir a uma cidade, e conseguir poucos conversos. Outro homem irá à mesma cidade, e o lugar será abalado e surgirá ali uma grande igreja. Como me disse há alguns anos um presidente: ―Quando quero causar boa impressão sobre o público, envio a Fulano, pois é um grande orador e um malabarista de palavras. Mas quando desejo obter conversos e fundar uma igreja, envio a Beltrano, Ele sabe como ganhar homens.‖ Um era melhor orador que o outro, mas não era ganhador de almas. Um conhecia a técnica; o outro não. O homem que constrói uma igreja de duzentos e cinqüenta membros pode ter que gastar três vezes mais tempo que aquele que constrói uma de apenas cinqüenta. Mas o grupo maior e o período maior, representam um evangelismo muito mais forte. Se alguém é evangelista itinerante, pode não cobrir tanto território em determinado tempo, mas seu trabalho estará muito melhor estabelecido, O

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tipo de evangelismo mais caro é aquele que se extingue em poucas semanas, deixando como resultado uns poucos grupos de conversos, espalhados por aqui e por ali, muito reduzidos para serem adequadamente cuidados.

Quando o dinheiro é investido num programa evangelístico, a igreja tem o direito de esperar resultados. O fazendeiro que toma um saco de trigo e o atira no chão, não está desperdiçando o seu grão e sim multiplicando-o. Espera recompensa por seu investimento. Mas o tamanho das colheitas dependerá de várias coisas. A qualidade da semente e a preparação do solo, são fatores importantes.

Anos atrás os fazendeiros de Iowa costumavam plantar três grãos de milho por cova e se davam por satisfeitos se obtinham uma planta robusta com pelo menos uma espiga. Cada espiga pesaria talvez aproximadamente trezentas gramas. Entretanto, não estão satisfeitos com resultados como êsse, hoje em dia o estudo da agricultura ensinou-lhes como aumentar o número de plantas por cova e também a aumentar o peso das espigas. E em alguns lugares dobraram, triplicaram, e até mesmo quadruplicaram a produção de milho da região. O Ministério de Agricultura em Washington D. C. está pronto em qualquer momento para aconselhar os fazendeiros, com o objetivo de torná-los mais bem sucedidos.

Em alguns Estados, durante os últimos anos, meros rapazes tomaram-se agricultores eficientes. Tão definidas têm sido suas realizações em certos campos, que grupos desses rapazes têm sido convidados à capital da nação como convidados especiais do Ministério. Um rapaz conseguiu produzir recentemente quinze vezes mais por acre do que a média dos fazendeiros. O resultado obtido veio graças à aplicação de princípios definidos.

Em todos os países civilizados, os homens se põem a estudar como conseguir mais do solo, e como conseguir maiores resultados de seus investimentos. Boa semente, bom solo

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e bom tempo são essenciais para uma boa colheita. Mas o tempo e a semente significarão muito pouco se não houver um solo bem preparado e a técnica da semeadura não for boa.

Assim como os fazendeiros, os evangelistas devem estar continuamente estudando os seus problemas e melhorando sua técnica. Se os homens podem conseguir um pouco mais do solo por meio do estudo, uma espiga a mais em cada cova, e um bom aumento no peso de cada espiga, porque não podemos nós como fazendeiros espirituais, pelo estudo e aplicação de melhores princípios e métodos, acrescentar muito mais almas para Cristo? ―Devemos ir ao solo se quisermos tirar mais dele.‖

Muito se tem perdido para a causa devido ao trabalho imperfeito de homens, dotados de aptidões, mas que não receberam o devido preparo. Empenharam-se numa obra de cujo manejo não entendiam, e em resultado, pouco chegaram a realizar. Não fizeram a décima parte do que poderiam ter produzido, houvessem eles recebido a necessária disciplina ao princípio. Apoderaram-se de algumas

idéias procuraram assenhorear-se de alguns discursos, e aí findou seu progresso. Sentiram-se aptos para ensinar, quando mal se haviam tornado senhores do a b c no conhecimento da verdade. Têm vindo desde então a tropeçar, não correspondendo ao que devem a si mesmos, nem à obra. Não parecem ter bastante interesse para despertar as energias adormecidas, ou ativar as faculdades de modo a se tornarem obreiros eficientes. Não se deram a trabalhos para delinear planos completos e bem combinados, e sua obra apresentou deficiência por toda parte.‖ (2)

Na parábola do milho, o alvo constante do fazendeiro é: mais pés, e espigas mais pesadas. Não deveria ser o alvo do evangelista; mais conversos, e conversos mais fortes? Nicodemos e Saulo de Tarso foram numericamente apenas dois conversos a mais, entretanto, quanto à contribuição que deram à causa e à construção do reino de Deus, somente a eternidade revelará os resultados. Em um programa evangelístico,

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é necessário estudar não somente as maneiras de ganhar mais conversos, mas também as maneiras de ganhar conversos mais fortes. Um pescador analisa sua pesca não somente pelos números, mas também pelo peso. Que melhoramentos podem ser feitos na técnica para trazer melhores resultados? Esta pergunta está nos lábios de cada pastor e de cada evangelista no mundo todo.

O Senhor espera que Seus trabalhadores obtenham bons resultados. Quando Jesus chamou a Pedro, disse: ‖Doravante sereis pescadores de homens.‖ O Senhor espera que eles façam mais do que simplesmente interessar aos homens ou retê-los. Devem pescá-los e trazê-los ao companheirismo com Deus. Estudemos agora alguns princípios gerais para ganhar almas.

Pesca de Rede e de Vara

Os pescadores usam dois métodos principais de pesca — a rede e a vara. Jesus falou do reino dos Céus como se fosse uma

rede na qual ―peixes de toda espécie‖ seriam pegos. O evangelismo público pode ser comparado com a pesca de rede, e o evangelismo pessoal com a pesca de vara. Muitos peixes escapam da rêde, apenas para serem apanhados afinal pelo anzol. Por outro lado, um peixe pode muito bem evitar o anzol e afinal de contas achar-se dentro da rede. Para a pesca de rede o trabalho de equipe é necessário, enquanto que a pesca de linha é individual. Ambos os métodos são necessários e cada um deles pode complementar o outro.

Certo homem, após assistir muitas reuniões e haver ouvido toda a mensagem apresentada em várias campanhas evangelísticas, tomou-se aparentemente endurecido aos apelos do evangelho. A pregação da palavra parecia fazer nele, pouca ou nenhuma impressão. Afinal começou a vangloriar-se de que nunca seria convertido. Pobre homem! Era ainda um pecador perdido e não o sabia. Estava acostumado à técnica

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dos apelos públicos e endurecia o coração contra as súplicas do Espírito. Entretanto, certo dia, um amigo visitava casualmente sua casa, e começou a admirar o seu belo jardim. Passeando com ele entre os botões de flores, este obreiro pessoal, conseguiu mediante bastante tato, conduzir a conversa para temas espirituais. Inconscientemente este homem que durante tanto tempo resistira ao Espírito, subitamente abriu uma janela em sua alma. E ali entre as flores o visitante foi capaz de conduzí-lo a dar o coração a Deus. Deve ser enfatizado, entretanto, que este visitante não conhecia somente o evangelho; conhecia também às flores. Sabia falar a mesma língua que falava a alma necessitada. E foi a discussão do solo e das sementes que conduziu à sua conversão. ―Tornar-se todas as coisas para todos os homens‖, para ganhar toda espécie de homens é uma parte vital do evangelismo pessoal.

Encontrando um Ponto de Contato

Outro homem foi convertido através do estudo de cães. Era realmente um ateu, e dizia não interessar-se em nada que se

referisse à religião. Entretanto, certo dia, o ministro descobriu que o seu passatempo favorito eram os buldogues. Descobrindo que o seu possível converso tinha vários cães em casa, este evangelista pessoal começou a estudar os buldogues.

Três meses mais tarde, este cavalheiro estava passeando com dois de seus cães, quando o evangelista viu a sua oportunidade. Parou o seu carro e começou a admirá-los, congratulando-se com o homem por seus belos espécimes. Durante aqueles três meses o pregador havia aprendido os vários aspectos da raça e por isso podia falar a linguagem do outro homem. Isto conduziu ao convite para ver os outros cães na casa do ateu. Logo formou-se uma amizade. Três meses mais tarde aquele ateu deu o coração a Deus. Valeu a pena dedicar-se ao estudo dos buldogues para

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ganhar uma alma para o reino. Apanhar um criador de cães ateu requer uma isca diferente daquela necessária para apanhar um carpinteiro que é professor na escola dominical.

Iscar o anzol da verdade é sem dúvida uma arte delicada. Muitas vezes os peixes que poderiam ter sido pegos, simplesmente passam de largo pelo anzol porque a isca não era atrativa. E muitas vezes um pecador ainda está no oceano da indiferença, porque o evangelista não soube como despertar seu interesse. Alguns peixes, por outro lado, estão tão famintos em certas estações do ano, que abocanham qualquer coisa, mesmo um anzol sem isca. Pescar em tais águas, é sem dúvida excitante, mas não traz méritos ao pescador.

E existem algumas pessoas tão famintas espiritualmente, que aceitarão a mensagem, não importa de que modo ela seja apresentada. Não podem ficar do lado de fora. Como peixes famintos abocanharão tudo que encontrarem, até mesmo saltando da água para dentro do barco. Estes, naturalmente, são poucos e não se encontram facilmente. A maioria tem que ser atraída. Saber como iscar o anzol da verdade é uma parte importante da técnica evangelística. Aquele que deixa de aprender esta arte nunca será bem sucedido.

Existe, entretanto, outro tipo de pescador mal sucedido, que deveria ser mencionado. E aquele que leva bastante isca, mas não tem anzol. Atira a isca na água e aparentemente se satisfaz observando os peixes devorarem-na, O fato de ele ter um grande séquito não é

evidência de sucesso real. Não é o número de peixes vistos, mas sim a qualidade e a quantidade dos peixes pegos, que indica o sucesso real do pescador. E a qualidade é tão importante quanto a quantidade.

Trabalho de Equipe Para o Evangelismo Metropolitano

Também há muito que aprender na pesca de rede, mas esta requer trabalho de equipe. E a equipe precisa estudar as marés.

Deve saber como lastrar a rede e lançá-la tão silenciosamente,

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de modo a não afugentar os peixes. A rede mal manejada, trará mais danos do que benefícios. Se os pescadores são desajeitados, ou se não há trabalho de equipe, quando a rede for recolhida, a pesca será pouca.

Entretanto, existem três coisas que o pescador não pode controlar, mas que deve considerar. São elas: as marés, o tempo e os hábitos dos peixes. Cada uma delas deve ser cuidadosamente estudada, se é que se deseja o sucesso.

O fracasso do pescador pode resultar de várias coisas. Falta de isca, isca errada, isca demais, métodos errados de colocar a isca, falta de anzol, rede defeituosas, falta de conhecimento do movimento das marés, ou falta de conhecimento acerca dos hábitos dos peixes. Qualquer dessas coisas pode ser a causa do fracasso do pescador. Como pescadores do evangelho, devemos observar o nosso equipamento e a nossa técnica. ―Muito depende da maneira em que lançamos mão do trabalho, conseguirmos ou não almas em resultado de nossos esforços.‖ (3)

Aprender a calçar os sapatos do evangelho, e descobrir meios de trazer conversos para Cristo, requer muito estudo e oração, O ganhador de almas realmente bem sucedido, será um contínuo estudante dos métodos de Cristo. Aprenderá a ―andar como Cristo andou. Será capaz de proferir palavras adequadas, e falá-las em amor. Não buscará incutir pela força a divina mensagem da verdade. Tratará com ternura cada coração. . . Nunca terá maneiras impetuosas. Cada palavra dita terá uma influência suavizante e subjugadora.‖(4) Como seu Mestre, não haverá nele ―mancha de fanatismo‖, ―nem fria austeridade em sua conduta.‖

Quando Jesus ―passava por cidades e vilas, era como uma corrente vivificadora, difundindo vida e alegria.‖ Conquanto fosse ―um homem de dores e experimentado nos trabalhos‖, ao ministrar ao povo, Sua vida transbordava de amor

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e gôzo, cheia de bondade e graça. O evangelista deve ter uma alma alegre. Ouçam estas palavras de conselho:

―Deus não quer fisionomias tristes nesse terreno; o Senhor não deseja pessoa alguma em melancolia ou tristeza; quer que levanteis o rosto para Ele e deixeis que nele derrame o brilho da luz do Sol da Justiça‖ (6)

Um dos pontos essenciais do evangelismo bem sucedido, é irradiar a alegria do evangelho. Estudem este texto: ―E vós com alegria tirareis águas das fontes de salvação.‖ Isa. 12:3. Não ―alegria, após ser terminado o trabalho‖, e sim alegria agora, enquanto o trabalho está sendo feito. Esta é a visão divina do evangelismo.

―Aquilo que se encontra no poço dos vossos pensamentos‖, declara Emerson, ―subirá no balde de vossa linguagem.‖ O ganhador de almas precisa viver no gôzo do evangelho. Deve ser uma personalidade radiante, demonstrando a descoberta de que a vida cristã ―não é de melancolia e tristeza; mas de paz e regozijo unidos a dignidade cristã e santa solenidade.‖

Para ganhar uma alma para Cristo, porém, é necessário mais do que amor e alegria da parte do obreiro. Existem outros pontos essenciais, tais como tato, sabedoria e clareza, que também são necessários para induzir os homens a aceitarem o evangelho. Encontrar acesso aos corações no é fácil. As pessoas por natureza se ressentem ao serem corrigidas. Assim sendo, quer na apresentação pública do evangelho ou em estudos bíblicos particulares, devemos tentar achar terreno comum. Estude para mostrar que aquilo que deseja apresentar para os outros crerem é de algum modo coisa que eles já crêem, pelo menos em parte. Um desdobramento maior das verdades fundamentais da igreja. A todo custo devemos encontrar terreno comum: alguma verdade sobre a qual existe acordo.

―Existem muitas dessas verdades que são caras a todos os cristãos. Eis aqui terreno comum sôbre o qual podemos encontrar pessoas

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de outras denominações; e ao nos relacionarmos com elas, devemos demorarmos mais sobre tópicos em que todos sentimos interesse, e que não conduzem diretamente e incisivamente aos pontos de discórdia.‖ (8)

Derrube a oposição e desarme seu preconceito, seguindo os métodos do Senhor. Jesus encontrava acesso às mentes pelo caminho de suas associações mais familiares. Perturbava o mínimo possível, sua

costumeira corrente de pensamento. . . Apresentava verdades antigas sob uma nova e preciosa luz.‖ (9) A afirmação mais desafiadora que já vi impressa, acerca do evangelismo, é a seguinte: ―Aqueles que estudaram os métodos de ensino de Cristo, e se educaram em Lhe seguir o trilho, hão de atrair grande número de

pessoas, mantendo sua atenção, como Cristo fazia em Seu tempo.‖(10)

Retendo a Presa Os conceitos implicados nestas palavras são tremendos. O ensinamento de Cristo não era casual. Seguia um certo método, e se

como ministros nos educarmos de modo a lhe seguirmos o trilho, teremos o Seu sucesso. O palhaço de um circo pode atrair homens, mas suas momices não podem conservá-los. Com bastante dinheiro e algum conhecimento no setor de propaganda, qualquer pessoa pode ajuntar uma multidão. Mas o teste real é retê-la. Atrair homens é uma coisa, mas retê-los é outra, Não requer muita inteligência perder uma grande assistência; mas é a técnica de conservá-la, que somos aconselhados a estudar. Trazer centenas ou milhares de pessoas a um

salão, e depois deixá-los ir antes de terem tido uma oportunidade de conhecer realmente os pontos maravilhoso da mensagem do Senhor, é trágico.

Jesus tinha um método que prendia as multidões. Desdobrava

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a verdade de Deus tão atrativa e ternamente, que as pessoas não sentiam vontade de se retirar. Segurava mesmo aqueles que não concordavam com Sua doutrina. Somente ao fim de Seu ministério, permitiu certa feita que a multidão se dividisse. Seu método de ensinar a verdade sem dúvida cumpria a passagem que diz: Goteje a minha doutrina como a chuva, destile o meu dito como o orvalho; como chuvisco sobre a erva e como gotas d‘água sobre a relva.‖ Deut. 29:2.

Sua mensagem não vinha com ruído de trovão. Suas doutrinas não eram apresentadas como granizo que destrói o crescimento, nem como a tempestade que deixa apenas destruição em seu rastro. Longe disso, Suas verdades caíam como chuva na grama tenra. Nunca ia mais depressa do que Seus ouvintes pudessem acompanhar.

―O grande Mestre tinha, em mãos, todo o esquema da verdade, mas não o descerrou todo aos Seus discípulos. Abria-lhes apenas os temas que lhes eram essenciais para o avanço no caminho do Céu. Muitas coisas havia sobre que Sua sabedoria O fazia silenciar‖ (11)

Não tentou destruir o templo espiritual das pessoas, antes de haver erigido outro. Transmitia as verdades diretamente do coração. E a multidão percebia que Sua mensagem era para eles. Falava a homens

trabalhadores e a mulheres cansadas, com tal simpatia que lhes cativava o coração. Não criava pontos que os dividissem, mas olhando para a multidão, movia-Se em compaixão, pois eram como ovelhas sem pastor. Torna-Se seu pastor, e eles sentiam-se seguros em Sua presença. Não os prendia pela argumentação, mas pelo amor.

Foi através do Espírito de Deus que Ele aprendeu Sua técnica. Assim apresentava os tesouros da verdade da maneira mais atrativa.

Também nós necessitamos da direção do Espírito de Deus

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ao procurarmos aprender a técnica divina do evangelismo. Nunca dantes um grupo de pregadores precisou tanto da unção celestial. Cabe-nos a tarefa de preparar um povo para a trasladação. Procuremos a unção divina, para que cada dia possamos avançar como ungidos de Deus, para trazer ao mundo uma revelação de Seu amor.

1) White, Manuscrito 127, 1902 (174). 2) Obreiros Evangélicos, (3ª ed.), págs, 78 e 79. 3) White, Manuscrito 14, 1887 (141). 4) White, Manuscrito 127, 1902 (174).

5) A Ciência do Bom Viver, pág. 14 (488), 6) White, Manuscrito 42, 1894 (488). 7) White, Manuscrito 6, 1888 (180). 8) White, em Review and Herald, 13-6-1912, pág. 3 (144),

9) White, Manuscrito 44, 1894 (140). 10) Testimonie for Church, Vol, 6, pág. 57 (124). 11) White, em Review and Herald, 23-4-1908, pág, 8 (202).

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O QUE GANHA ALMAS É SABIO

PR0VÉRBIOS 11:30 9

CONSELHOS DO PESCADOR-MESTRE JESUS era um grande psicólogo. Em Seus métodos de ensino, primeiramente encontrava um ponto de acordo. Partindo então do

conhecido para o desconhecido, levando Seus ouvintes consigo. ―Todo o mundo foi após Ele,‖ queixaram-se Seus inimigos. E havia uma razão, O mundo não ia após o Fariseu. Ele era muito frio e crítico. Nem o escriba meticuloso, com seus escritos secos e empoeirados, encontrava o mundo a seguir-lhe. Mas quando Jesus apareceu como Mestre, era como uma corrente vivificante através do deserto espiritual de um ritualismo macilento. Seus ouvintes eram ganhos pela simpatia de Sua aproximação, e maravilhavam-se da profundidade das verdades expressadas em linguagem tão Simples.

―Os mais altamente instruídos ficavam encantados com Suas palavras, e os não educados tiravam sempre delas benefício. Tinha uma mensagem para os iletrados; e levava os próprios gentios a compreender que tinha para eles uma mensagem.‖ (1)

Não era somente aquilo que dizia, mas a maneira como o dizia que cativava o povo. Êle tinha um método que apelava

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às pessoas, e esse método foi passado a Seus discípulos. Encontrava um método para que a mensagem atravesse a mente dos ouvintes, requer mais estudo e preparação do que colecionar material.

Jesus era o ―Príncipe dos Mestres‖. E todos os apóstolos, exceto Judas, se tornaram grandes mestres. Quando pensamos em Sócrates, Platão e Aristóteles, os grandes mestre que se sobressaíram na História, vemos que nenhum deles, ou todos juntos, até, alcançam uma influência tão grande e variada na vida humana quanto Os mestres treinados por Cristo. Entretanto, não eram meramente um grupo selecionado. Leiam a promessa de Jesus em S. Mat. 13:52: Por isso todo escriba instruído acerca do reino dos Céus, é

semelhante a um pai de família, que tira de seu tesouro, coisas novas e velhas‖. Pensem nisso! Um escriba trazendo coisas novas! Inacreditável! Não pertenciam eles a uma ordem que se prezava por ser capaz de reproduzir com máxima exatidão cada detalhe de um documento? A originalidade não deveria ter lugar no pensamento de um escriba. Modificar, por pouco que fosse, a cópia do orig inal, desqualificaria todo o trabalho. Cada letrinha deveria estar no seu lugar. Os pontos dos ii, e os traços dos tt, deveriam estar exatamente como no original, mesmo que este estivesse errado. Mas eis que Jesus declara que: se tais copistas secos como poeira, adotassem Seus métodos tornar-se-iam pais de famílias espirituais, trazendo de suas casas espirituais, para alegria de seus hóspedes, coisas novas e velhas. Que promessa! É revolucionária mas verdadeira. Certamente nossos corações clamam: ―Ó Mestre, ensina-nos Teu método. Faze-nos pais de família espirituais. Capacita-nos a trazer as velhas verdades de uma maneira nova.‖

Que maravilhosos conselhos nos têm vindo do Espírito dAquele que enviou os primeiros pescadores. Alguns desses são apresentados aqui com algum comentário ocasional.

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Apresentar as Verdades Menos Difíceis Primeiro

―Quando estiverdes trabalhando em um lugar onde as almas estão apenas começando a remover dos olhos as escamas, e a ver

os homens como árvores ambulantes, sede muito cuidadosos em não apresentar a verdade de tal maneira a despertar preconceitos, e a fechar a porta do coração à verdade. Concordai com o povo em todo ponto em que podeis coerentemente assim fazer. Vejam eles que amais sua alma, e quereis, tanto quanto possível, estar em harmonia com eles.‖ (2)

Que os nossos ministros tragam sempre em mente que o alimento mais forte não deve ser dado aos bebês que não conhecem os princípios fundamentais da verdade, da maneira como a cremos.... Mas se bem que tenhamos muitas coisas a dizer, podemos ver-nos obrigados a reter algumas delas por algum tempo, porque o povo não está preparado para recebê-las agora.‖ (3)

―Falai-lhes, em se vos oferecendo oportunidade, de pontos de doutrina, sobre os quais estais em harmonia. Insisti sobre a necessidade da piedade prática.‖ (4)

Muitos estão ―presos em cadeias de preconceito e ignorância‖, e como mestres da verdade, precisamos ―exercitar a mesma sabedoria divina que Paulo manifestava.‖ (5)

―Quando ele foi trabalhar entre os judeus, não mencionou em primeiro lugar o nascimento, traição, crucifixão e ressurreição de Cristo, não obstante serem estas as verdades especiais para aquele tempo. Primeiro trouxe os passo a passo, através das promessas que diziam respeito a um Salvador, e através das profecias que O apontavam. Depois de demorar-se sobre esses pontos até que estivessem distintos na mente de todos, e até saberem que haviam de ter um Salvador então apresentava o fato de que este Salvador Cristo Jesus cumpria todos os requisitos. Este era o ‗estratagema‘ com que Paulo apanhava almas. Apresentava a verdade de tal maneira que seu antigo preconceito não surgia para lhes cegar os olhos e perverter o juízo,‖ (6)

Os métodos evangelísticos de Paulo, são sem dúvida uma revelação. Quando trabalhava pelos judeus demora-se principalmente nas escrituras proféticas e na lei de Deus. Mas

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quando trabalhava pelos gentios utilizava-se de um método diferente.

―Aos gentios, ele [Paulo] pregou a Cristo como sua única esperança de salvação, mas não teve, a princípio, coisa alguma definida que dizer quanto à lei. Mas depois que o coração deles foi alegrado com a apresentação de Cristo como o dom de Deus ao nosso mundo, e com o que estava incluso na obra do Redentor ao fazer o sacrifício de alto preço para manifestar o amor de Deus ao homem, mostrou com a mais eloqüente simplicidade esse amor a toda a humanidade — tanto judeus quanto gentios — para que fossem salvos por meio da entrega do coração a Ele. Assim, quando, enternecidos e subjugados, se entregaram ao Senhor, Ele apresentou a lei de Deus como prova de sua obediência. Era esta a maneira de ele agir — adaptava seus métodos para ganhar almas.‖ (7)

O grande apóstolo não fugia da verdade; finalmente a apresentava completa. Sua grande preocupação não era ganhar discussões, mas ganhar almas, Os olhos dos homens estavam cegados pelo preconceito e isso ele procurava prevenir. Não suavizava a mensagem, nem a encobria, (Evangelismo, pág. 230), mas tinha cuidado em não fechar os ouvidos de seus ouvintes. Sua mensagem também era de ―vida ou morte‖, mas variava sua aproximação de acordo com seu auditório, e somos admoestados a seguir os seus métodos

―Não salienteis os aspectos da mensagem que são uma condenação dos costumes e práticas das pessoas, sem que elas tenham a oportunidade de saber que cremos em Cristo, que cremos em Sua divindade e em Sua preexistência.‖ (8) (Grifo nosso.)

―Não apresenteis ao público, logo de início, os pontos mais objetáveis de nossa fé, para que não fecheis os ouvidos das pessoas para quem estas coisas chegam como uma revelação. Apresente-se-lhes tais porções da verdade que sejam capazes de aprender e apreciar.‖ (9)

Cristo, o Tema

―Falai-lhes, em se vos oferecendo oportunidade, de pontos de doutrina, sobre, os quais estais em harmonia.‖ (10) (Grifo nosso.)

{146} ―Estes são nossos temas: Cristo crucificado por nossos pecados, Cristo ressurgido dos mortos, Cristo nosso intercessor diante de

Deus; e intimamente relacionada com estes assuntos acha-se a obra do Espírito Santo,‖ (11) ―Apresentar com uma voz segura uma mensagem afirmativa. Exaltai-O, ao Homem do Calvário, cada vez mais alto. Ha poder na

exaltação de Cristo. . . . Cristo deve ser pregado, não de um modo controvertido, mas afirmativamente. Assumi a vossa posição sem controvérsias.‖ (12) (Grifo nosso.)

―Os religiosos em geral divorciam a lei da evangelho, ao passo que nós, por outra parte, quase fizemos o mesmo de outro ponto de vista. Não expusemos às pessoas a justiça de Cristo nem a ampla significação de Seu grande plano de redenção. Deixamos de lado a Cristo e a Seu amor incomparável, e introduzimos as teorias e raciocínios, e pregamos argumentos.‖ (13)

―Reuni as mais vigorosas declarações afirmativas atinentes à expiação que Cristo fez pelos pecados do mundo.... Reuni todas as declarações afirmativas e provas que fazem do evangelho as boas-novas de salvação para todos quantos recebem a Cristo . . .‖ (14)

Evitar a Argumentação

Quando a alegria de Jesus enche o coração do evangelista, sua apresentação não será meramente argumentativa, mas uma

representação radiante do Salvador que veio trazer paz e alegria a um mundo perdido. ―Aprendei a encontrar as pessoas onde elas estão. Não apresenteis assuntos que suscitem controvérsia. Não permitais que a

vossa instrução seja de molde a confundir a mente.‖ (15) ―Não desperteis oposição antes de o povo ter tido oportunidade de ouvir a verdade e saber a que se estão opondo.‖ (16) ―Apresente-se-lhes tais porções da verdade, que sejam capazes de aprender e apreciar; embora possa parecer estranho e

surpreendente, muitos reconhecerão com alegria que nova luz se derramou sobre a Palavra de Deus, Ao passo que, fosse a verdade apresentada em tanta quantidade que a não pudessem receber, alguns iriam embora para nunca mais voltar.‖ (17)

Eis aqui outro principio vital. Apresentar a verdade depressa demais, espanta o povo:

{147} Foi-me mostrado que vossos ministros expõem muito rapidamente seus assuntos, e apresentam cedo demais em sua serie de

conferências, os princípios de nossa fé mais sujeitos a preconceitos. ―Mas os homens que não são prudentes avançam nestas questões cedo demais e assim fecham os ouvidos das pessoas, quando

com maior cuidado, mais fé, mais aptidão e mais sabedoria, poderiam tê-las conduzido passo a passo através dos importantes acontecimentos das profecias, permanecendo mais tempo nos temas práticos dos ensinos de Cristo.‖ (18) (Grifo nosso.)

Perdemos muitas pessoas de nossos auditórios, não porque elas sejam más, e sim porque estão confusas. Nosso fracasso em seguir ―a maneira os ensinamentos de Cristo‖, e aprender os Seus método, é responsável por nossos parcos resultados.

―É necessária grande sabedoria para lidar com mentes humanas. . . Detendes-vos demais sobre idéias e doutrinas especiais, e o coração do descrente não é abrandado. Querer impressioná-lo, é como malhar em ferro frio.‖ (19)

―É necessária grande sabedoria no assunto de como a mensagem é apresentada ao povo. (20) ―A questão da não imortalidade da alma, também deve ser tratada com grande cuidado, para que, ao introduzir-se o assunto, não

surja profunda e excitadora disputa que feche a porta para uma investigação futura da verdade.‖ (21) Alguns ministros, quando se encontram diante de pessoas que têm preconceitos contra os nossos pontos de vista acerca da

mortalidade da alma, sem Cristo, sentem-se impelidos a pronunciarem uma conferência acerca do assunto. Os ouvintes não estão preparados para receber isso, e unicamente lhes aumenta o preconceito e incita a oposição. Desta maneira todas as boas impressões que poderiam haver sido feitas, se o obreiro houvesse seguido procedimento sensato, ficam perdidas. Os ouvintes permanecem arraigados em sua descrença. Corações poderiam ter sido ganhos, porém foi vestida a armadura de combate. Foi-lhes dado alimento muito forte e as almas que poderiam haver sido ganhas, foram afastadas para mais longe do que estavam antes.

―A armadura de combate e o espírito de debate, devem ser postos

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de lado. Se queremos ser como Cristo, devemos alcançar os homens onde estão.‖ (22) ―Existem dois extremos que devem ser evitados. Um consiste em fugir ao dever de declarar todo o conselho de Deus, e incorrer

no espírito dos reavivalistas atuais que clamam: ‗Paz, paz quando não há paz introduzindo no serviço um elemento que move os sentimentos, sem converter o coração.

―O segundo extremo é estar sempre martelando sobre o povo de uma maneira rude e anticristã falando de tal modo que pensem que estais irritados.‖ (23)

A verdade, então, pode ser apresentada de tal maneira, que as pessoas podem ser realmente afastadas em vez de aproximarem-se da mensagem. Com palavras tão cortantes como navalha, alguns ―cortam as orelhas do povo, . . . e isso é o fim da história de sua conversão à verdade.‖ (24)

Apresentai a Verdade com Amor

―A maneira pela qual a verdade é apresentada, freqüentemente tem muito que ver com a determinação de sua aceitação ou

rejeição.‖ (25) ―Ao invés de imitar a Cristo em sua maneira de trabalhar, muitos são severos, críticos e ditatoriais. Repelem as almas, em vez de

atraí-las. Estes nunca poderão enumerar quantos fracos foram feridos e desencorajados por suas palavras duras.‖ (20) ―Alguns ministros erram em tomar seus sermões inteiramente argumentativos.‖ (27) ―Muitos permanecem quase exclusivamente em assuntos doutrinários, enquanto que a natureza da piedade verdadeira, da

bondade prática, recebem pouca atenção. Jesus, Seu amor e graça, Sua abnegação e sacrifício próprio, Sua mansidão e tolerância, não são apresentados ao povo como deveriam. . . Muitos que aceitam a verdade, ensinam-na com espírito áspero.‖ (28)

―Deus quer desviar a mente da convicção da lógica para uma convicção mais profunda, pura e gloriosa. Freqüentemente a lógica humana tem quase apagado a luz que Deus quer fazei brilhar em claros raios, para convencer os homens de que o Senhor da Natureza merece todo o louvor e glória, porque é o Criador de todas as coisas.‖ (29)

{149} ―Não se pode esperar que as pessoas vejam imediatamente a vantagem da verdade sobre o erro que tem acariciado. A melhor

maneira de expor a falácia do erro é apresentar as evidências da verdade. Esta é a maior censura que pode ser dada ao erro. Dissipai a nuvem de obscuridade que paira sobre as mentes, refletindo a brilhante luz do Sol da Justiça.‖ (30)

―Não devemos, ao entrar em um lugar, construir barreiras desnecessárias entre nós e outras denominações.‖ (31) ―Não se deve sair do caminho para atacar outras denominações; pois isto só cria um espírito combativo e fecha ouvidos e

corações à entrada da verdade. Temos um trabalho a fazer, que não é derribar, mas construir.‖ (32) ―Fui instruída para dizer ao nosso povo: Sede cautelosos. Ao levar a mensagem, não façais ataques pessoais às outras igrejas,

nem mesmo à Igreja Católica Romana. Os anjos de Deus vêem nas diferentes denominações muitas almas que somente podem ser alcançadas com muito cuidado. Portanto sejamos cuidadosos com nossas palavras. Não sigam nossos ministros seus próprios impulsos ao denunciarem e exporem ‗os mistérios da iniqüidade.‘ Sobre estes temas o silêncio é eloqüência. Muitos estão enganados. Falai a verdade em tons e palavras de amor. Cristo Jesus deve ser exaltado. Conservai-vos na parte afirmativa da verdade. Nunca se deixe o caminho reto de Deus, com o objetivo de atacar alguém. Este ataque pode fazer muito mal e nenhum bem. Pode apagar a convicção em muitas mentes. Permita-se que a Palavra de Deus, que é a verdade, mostre a inconsistência dos que estão em erro.‖ (33) (Grifo nosso.)

―Eles [os evangelistas] devem apresentar a verdade em humildade, com o mais profundo amor pelas almas e um forte desejo pela sua salvação, e devem deixar que a verdade atue sozinha. Não devem desafiar ministros de outras denominações, e procurar provocar um debate.... O desdém, a vanglória, e a injúria, devem vir dos oponentes da verdade que representam o papel de Golias. Nada desse espírito deve ser visto naqueles que foram enviados por Deus para proclamar a última mensagem de advertência a um mundo condenado (34)

―O espírito de debate, de controvérsia, é uma armadilha de Satanás.‖ (35) ―Dispa-se a armadura do debate e vista-se a armadura da justiça de Crista.‖ (36) {150} ―Pregue-se a verdade, mas restrinjam-se as palavras que mostrem n espírito áspero.‖ (37) Miguel, o arcanjo, não quis fazer uma acusação injurio- nem mesmo contra o diabo. Jesus recusou lutar contra grande acusador,

utilizando munição que não pertencesse Seu reino de amor. Nós também não deveríamos combater argumento com argumento, pois o amor vai mais longe do que a lógica.

―As pessoas que gostam de ver oponentes combaterem-se, podem pedir discussões. Outros, que desejam ouvir as evidências de ambas is partes, podem incitar o debate; mas sempre que pudessem ser evitadas as discussões, deveriam sê-lo. . - Deus raramente é glorificado ou a verdade favorecida nessas pugnas.‖ (38)

‗É de lastimar que muitos não compreendam que a maneira pequal a verdade bíblica é apresentada, tem muito que ver com as impressões feitas sobre a mente, e com o caráter cristão formado mais tarde por aqueles que aceitam a verdade,‖ (39)

Um Espírito de Unidade

Esta é uma afirmação reveladora, pois mostra que é possível dar a mensagem certa de maneira errada. E a maneira pela qual a verdade é apresentada, tem muito que ver não somente com sua aceitação ou rejeição, mas também

com o espírito da igreja estabelecida posteriormente pelo evangelista. Se o povo foi ganho por intermédio de argumentos cortantes e mordazes, a igreja que formarão sobre esse fundamento será um grupo argumentativo.

―Faço tudo o que posso,‖ disse o pastor de uma congregação grande porém desunida, ‗mas ainda encontram motivos para criar casos e dissensões.‖ EIe estava pedindo conselho acerca de como seria possível mudar a atitude de alguns de seus membros. Esta congregação numerosa era bastante versada em argumentação teológica. Podiam por certo dar a razão da esperança que tinham. Faltavam-lhes, entretanto, a

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meiguice e o temor dos quais falou o apóstolo. Quando vieram à tona os fundamentos do problema daquele pastor, não foi surpreendente encontrar a mesma situação em um ou dois lugares mais. O evangelista que levantara aquela igreja era um estudante da Palavra, perspicaz, porém crítico. Sua apresentação da verdade era feita em grande parte pela lógica e pelo argumento. As pessoas que vêm para a igreja através da crítica feita a outros grupos cristãos, geralmente continuam a argumentar entre si depois que estão na igreja. O pregador que levantou a referida igreja, certamente vestia a armadura de combate. Mal imaginava ele, entretanto, que os argumentos que estava vencendo e a crítica que atirava tão ironicamente contra os outros, eram nada mais e nada menos do que a semeadura de uma colheita funesta no coração de seus futuros membros, colheita esta que não seria recolhida por ele e sim pelos que o seguiriam.

Um dos primeiros princípios para preparar uma colheita, é prestar atenção na maneira de semear, Preparar o solo, então semear a semente com cuidado, lembrando-se de que a maneira em que se semeia determina em grande parte a colheita resultante. ―Deus não se deixa escarnecer; porque tudo aquilo que o homem semear, isto também ceifará.‖ Gál. 6:7.

Sigam o método do Mestre. Se Seus métodos forem adotados, grande número de pessoas não somente serão atraídas, mas conservadas, ―como Cristo conservava a assistência em Seus dias.‖ E a menos que selam retidas, nunca serão ganhas. Não é o programa de publicidade, mas os métodos de apresentação, que conservarão o povo.

Não é necessário gênio especial para se livrar de um auditório. Mas para conservar a multidão, mês após mês, e mesmo ano após ano, ao mesmo tempo tirando dela conversos e mais conversos, requer sabedoria. Era nas quietas horas da alta madrugada, que Jesus recebia a sua técnica. (Isa. 50:6.)

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Vinha diretamente de Seu Pai Celestial. O que Ele recebia, também podemos receber, mas devemos estar preparados recebê-lo do mesmo modo como o Salvador o recebia.

1) O Desejado de Todas as Nações, (3º ed.), pág. 184 (124). 2) White, Practical Adresses em ―Historical Sketches‖, pág. 122 (140 e 141). 3) White, em Review and Herald, 14-10-1912, pág. 7 (200),

4) Obreiros Evangélicos, (3º ed.), pág. 120. 5) White, Practical Adresses em ―Historical Sketches‖, pág. 121 (141). G) Idem, págs. 121 e 122 (141 e 142). 7) Special Testimonies, Serie A, n°. 6, pág. 55 (230 e 231).

8) Testimonies for the Church, vol. 6, pág. 58 (231). 9) General Conference Bulletin, 25-2-1895 (201). 10) White, em Review, and Herald, 30-8-1892, pág. 545. 11) White, Carta 86, 1895 (287).

12) White, Carta 65, 1895 (187). 13) White, Manuscrito 24, 1890 (231 e 232). 14) White, Carta 65, 1905 (187). 15) Testemonies for the Church, vol. 6, pág 58 (142 a 143).

16) Idem, pág. 36 (146). 17) White, Manuscrito 44, 1894 (142). 18) White, Carta 48, 1886 (246 e 247), 19) White, Carta 12, 1890 (247).

20) White, Carta 14, 1887 (248). 21) White, Carta 12, 1890 (247), 22) White, Manuscrito 104, 1898 (245 e 249). 23) White, Carta 43, 1886, (281).

24) White, Carta 44, 1886 (573). 25) Testemonies for the Church, Vol. 4, págs, 404 e 405 (168). 26) White, Practical Adresses em ―Historical Sketches‖, pag, 121 (168). 27) Obreiros Evangélicos, (3, ed.), pág. 158 (193).

28) White, em Review, and Herald, 9-2-1892, pág. 81 (163 e 164). 29) Obreiros Evangélicos, (3º ed.), págs. 157 e 158 (193). 30) White, Manuscrito 6, 1902 (577) 31) White, Manuscrito 14, 1887 (573 574).

32) White, Certa 39, 1887 (574). 33) White, Manuscrito 6, 1902. 34) Testemonies for the Church, Vol. 3, pág. 228 (162 e 163), 35) White. em Review and Herald, 9-2-1892, pág. 81 (163).

36) White, Carta 21, 1895 (166). 37) White, Carta 20, 1896 (575). 38) Testemonies for the Church, Vol. 3, pág, 424 (162). 39) White, Practical Adresses em ―Historical Sketches‖, pag, 121 (168).

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AGORA

JORGE CESAR MOTA

Se consideras teu trabalho ingrato, Faze-o agora.

O céu de hoje é puro, azul e claro, Pode amanhã o Sol tornar-se avaro; Não poderás mais ―ontem‘ praticar um ato:

Faze-o agora. Se tens algo a Cantar, pois canta agora. Canta a harmonia que a alegria gera, Pura como a dos pássaros na primavera. Cada dia canta e em cada hora.

Se tens palavras doces a dizer, singelas, Dize-as agora.

Pode ser que amanhã não mais te lembres dela. Dize-as brandas, suaves, belas, E dize-as sempre, pela vida a fora.

Se tens prazer em dar-nos um sorriso Contagioso, pois sorri agora. Revela-nos dessarte, sem demora, A doce calma que em teu peito mora; E instalarás ao teu redor o paraíso.

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A VOZ DO SENHOR CLAMA A CIDADE

MIQUEIAS 6:9 10

PLANEJANDO CAMPANHAS METROPOLITANAS E DISTRITAIS

ESTUDANDO os métodos de Jesus, descobrimos que Ele não tinha a todos os membros de Sua equipe evangelística, trabalhando ao mesmo tempo nos mesmos lugares. Dividia Suas forças e as enviava em equipes de dois, a todas as cidades e vilas. Então, em certo tempo pré-determinado, todos se reuniam em reuniões grandes para conselho, oração e planejamento.

Se isto era sábio em Seus dias, quanto mais o é hoje. O mundo mudou tremendamente no século passado, produzindo problemas graves para o evangelista. A revolução industrial trouxe um novo tipo de civilização. Na Palestina durante os dias de Cristo o povo era em sua maior parte moral. Hoje todo mundo tem mentalidade metropolitana. As pessoas podem viver no interior, mas todos eles gozam das vantagens da vida urbana, O rádio e o filme unificaram o pensamento do mundo. Cada ano enfrentamos novos desafios.

A própria cidade tem mudado tremendamente. Os cortiços congestionados e as fábricas cheias, de uma geração ou

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duas atrás, estão desaparecendo rapidamente. Em vez disso temos grandes áreas metropolitanas que se espalham, sendo na realidade cidades múltiplas ligadas. O transporte moderno e as boas estradas têm possibilitado às pessoas morarem a muitos quilômetros do local onde trabalham, sem inconveniente. Viajam de um lado para outro em trens subterrâneos ou em largas e expressas rodovias.

Alcançar as massas nessas áreas metropolitanas modernas, apresenta um desafio que não encontra paralelo em nenhuma outra época. Novas técnicas devem ser idealizadas. A época na qual um tabernáculo ou uma tenda poderiam ser erigidos em um terreno baldio no centro da cidade, e as reuniões se sucediam noite após noite, está no passado. Não somente desapareceu o terreno baldio no centro da cidade, mas também desapareceu o povo que dava atenção à coisas religiosas e procurava as verdades bíblicas, comparecendo às nossas reuniões. Estes mudaram-se das arcas industriais congestionadas. O lugar de reunião em si, pode ser bom e acessível, mas geralmente esta nos limites e um dos bairros menos promissores da cidade. As novas áreas residenciais estão atualmente a sete, quinze, ou quem sabe, até mesmo a trinta quilômetros do centro da cidade. Mesmo que quisessem, as pessoas não poderiam vir a uma reunião central todas as noites.

Como os Alcançaremos?

A questão é: Como alcançaremos o povo? Uma maneira é estabelecer centros evangelísticos, para estender o trabalho por toda a

área metropolitana. Se o grupo é dividido em grupos menores de dois ou três obreiros, certo número de seções diferentes podem ser trabalhadas ao mesmo tempo. Poderão ser feitas reuniões menores simultaneamente em vários bairros, e uma, duas ou possivelmente três vezes por semana, todos se reuniriam para uma reunião central, O povo

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que vem dos vários bairros da cidade sentir-se-ia bem em reunir- se em seus próprios bairros. Isso também dá aos obreiros a oportunidade de estarem mais perto deles. Algum plano desse tipo pode-se entrever em afirmações como esta:

―Vá um grupo de obreiros a uma cidade e trabalhe fervorosamente na proclamação da mensagem em cada parte dela.‖ (1) ―Estabeleçam-se centros em todas as grandes cidades.‖ (2) ―Que os obreiros saiam dois a dois e trabalhem juntos nas muitas partes de nossas cidades.‖ (3)

Uns Plano para as Cidades O diagrama que segue revela como de um ponto central toda uma área pode ser trabalhada. Fazendo talvez três reuniões

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centrais, e duas outras por semana, em cada distrito, um programa extenso de evangelismo pode ser levado a efeito durante um longo período, desenvolvendo ao mesmo tempo os ,talentos evangelísticos de todo o grupo.

Nem sempre é possível possuir o edifício onde as reuniões tais são conduzidas, mas se se pode alugar por bastante tempo o salão municipal ou algum salão bem conhecido, o ano funciona muito bem. Este plano já foi levado a efeito em cidades grandes, com excelentes resultados evangélicos, trazendo alegria às igrejas e ânimo aos obreiros. As reuniões regionais e as escolas bíblicas da comunidade alimentam as reuniões centrais maiores, e as reuniões centrais dão inspiração às reuniões menores.

Nas zonas suburbanas ou regionais, os assuntos podem seguir a linha geral das reuniões de domingo à noite. Se um assunto como a certeza da volta de nosso Senhor estiver sendo programado para a reunião central, as reuniões regionais bem poderão apresentar naquela semana assuntos acerca dos resultados de Sua vinda. Assim, o programa todo se entrosará e se movimentará em ação conjunta. Cada área relacionando-se ao tema central.

Essas equipes menores não são competidoras e sim cooperadoras. Todo o grupo torna-se um companheirismo evangelístico, regozijando-se no sucesso dos outros e ajudando a resolver os seus problemas. Em concílios semanais gerais, onde estiver reunido todo o pessoal, consideram-se os planos gerais e recebem-se relatórios breves de cada distrito e de cada obreiro. Seguindo a este concílio semanal, as equipes menores podem reunir-e para planejar seus próprios programas. Se existem igrejas situadas perto ou dentro dessas áreas, os pastores dessas igrejas estarão naturalmente ansiosos por cooperarem com as equipes evangelísticas. Esses pastores podem agir como conselheiros nos planos_e especialmente tomar a responsabilidade de preparar ao batismo os candidatos que serão

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futuros membros de suas igrejas. Classes bíblicas ou escolas bíblicas vizinhas podem ser também organizadas em cada região.

Um Programa Barato Isto pode parecer planejamento elaborado, e portanto muito caro. Mas a experiência revela que este é mais barato do que outros

métodos. Com um plano de longo alcance, cobrindo pelo menos um ano, ou melhor, dois ou três anos, é sábio construir solidamente. Paulo ficou dois anos em Éfeso. Se o evangelista tenta começar tudo numa semana, segue-se a confusão. Um edifício permanente, leva meses ou até anos pan ser terminado. O obreiro deve se concentrar primeiro na reunião central. Depois de duas semanas muitos lamentarão a falta de tais reuniões, em seus próprios bairros, sendo então conveniente sugerir que se pudessem arranjar um salão em seu bairro, poderia haver reuniões lá, uma vez por semana também. Esses interessados geralmente encontrarão um salão, e muitas vezes arcarão com as despesas. Na próxima reunião central, pode-se mencionar que o povo do noroeste da cidade estava tão ansioso em ter as reuniões também em seu próprio bairro, que encontraram e pagaram um salão para terem reuniões uma vez por semana também ali. A reação imediata será que outros bairros também desejarão reuniões em suas regiões, especialmente se se pede àqueles que não moram na área das novas reuniões para não virem.

Começarão então a chegar pedidos para abertura de novos ponto de reunião, e tudo sem gasto algum. De fato, consegui conduzir um programa de evangelismo metropolitano como este, durante anos, com pouca ou nenhuma ajuda, financeira da associação. As ofertas davam para custear a publicidade e o aluguel do salão central e o povo estava contente porque era uma reunião na qual haviam podido tomar parte em sua promoção.

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Os programas evangelístico que terminam justamente quando as reuniões estão ficando conhecidas, são sempre caros. Qualquer

programa de publicidade custa mais ao começar do que ao continuar. E o evangelismo que é construído na recomendação sempre custa menos e traz maiores resultados.

―Em campanhas feitas em grandes cidades, metade do trabalho é perdido porque os obreiros encerram as atividades cedo demais, dirigindo-se a outros campos. Paulo trabalhava durante muito tempo em seus campos, continuando sua chia por vezes, um ano em um lugar e um ano e meio em outro lugar. A pressa em encenar uma campanha evangelística, freqüentemente tem resultado viu grande perda‖ (4)

―O Sr. Moody me pede para sublinhar a todos os evangelistas a importância de ficar em um lugar o tempo suficiente para garantir a continuidade do trabalho quando saírem,‖ diz R. C. Morgan escrevendo acerca do grande evangelista. ―É de pouca utilidade construir uma ponte até a metade do rio. Têm havido exemplos disso, aqui, sendo quase perdido o trabalho do evangelista, porque este o abandonou incompleto.‖ (5)

Entretanto, leva mais tempo hoje, para fazer um cristão, do que levava no tempo de Moody. Em 1908, veio-nos este conselho: ―É mais difícil alcançar o coração dos homens hoje do que era há tinte anos. Os argumentos mais convincentes podem ser

apresentados, e ainda assim os pecadores parecem mais longe do que nunca da salvação.‖ (6) Hoje é muito mais difícil do que então. Certamente necessitamos de novos planos, mas uma das necessidades mais

desesperadas ainda é a de novo poder. Evangelismo para Áreas Rurais Uma modificação deste plano metropolitano, funciona bem para evangelismo distrital, em áreas rurais, sendo que as vilas

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não distem mais do que 15 a 45 quilômetros de distancia. Se o pastor do distrito puder inspirar seus membros a cooperarem em um plano progressivo de evangelismo, um grande avanço será dado à causa de Deus e grande alegria proporcionada a seus membros.

Uma das vilas maiores pode tornar-se o centro do qual ramificar-se-ão duas ou três outras seções, funcionando simultaneamente. Havendo reuniões mais ou menos duas vezes por semana na vila central, o pastor-evangelista pode organizar nas vilas adjacentes, classes bíblicas ou reuniões menores, nas noites restantes da semana. Se o povo que assiste a essas reuniões menores for encorajado a assistir à reunião maior e central, pelo menos uma vez por semana, poderão compreender que as reuniões realizadas em suas vilas não são coisas sem importância, e sim parte integral de um grande movimento.

Um programa intensivo como este pode ser executado seis meses por ano,e então se uma vila diferente for escolhida para centro cada ano, em poucos anos, toda a região terá ouvido a mensagem de Deus para esses dias finais. Um programa de rádio dando o curso bíblico por correspondência, também é de ajuda maravilhosa para lograr uma colheita.

O ímpeto crescente de tal programa evangelístico faz um LyaO duradouro na comunidade. As igrejas não crescem mente em número, mas também em poder espiritual. E o próprio pastor cresce em força espiritual. Muitas vezes se tem dito que nossos evangelistas são homens comuns. E muitas vezes se tem sugerido que façamos os planos do evangelismo de acordo com o homem comum. Mas um programa como este, alarga o pensamento e a experiência de um homem, fazendo com que ele deixe de ser um homem comum. Deanvolver-se-á como pastor e como líder. E o talento leigo das Igrejas também se estará desenvolvendo. Os homens se emocionam com a grandeza de um verdadeiro desafio.

Quantas vezes já ouvimos o comentário: ―Quem diria que

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ele se desenvolveria dessa maneira? Conheci-o há anos atrás, e não era tão promissor assim, mas agora se está desenvolvendo num verdadeiro líder.‖ Porque os homens se desenvolvem? Simplesmente porque são colocados em tal situação que têm que carregar pesos e fazer decisões. A melhor coisa para desenvolver ministros e líderes leigos, é lançá-los na responsabilidade.

Jesus deu-nos um modelo real para o treinamento de homens. Quando instruiu os primeiros evangelistas, dirigiu-lhes o olhar, mais para a tarefa do que para si mesmos. Enviou- os para pregar. Deviam aprender fazendo. Sua escola era a da experiência. Não tirariam sermões de cadernetas, e sim das situações reais da vida. Eram construtores de um templo espiritual, e seus conversos eram pedras vivas.

Cada vez que visito a Catedral de Milão, emociono-me. E um dos edifícios mais belos e bem equilibrados do mundo. Trezentas grimpas e quatro mil e quatrocentas estátuas, adornam o seu mármore maciço. Naturalmente sabemos que ―o Senhor não habita em templos feitos por mãos‖. Mas o planejamento necessário para construir este magnífico edifício é algo a admirar e apreciar. Passaram-se seiscentos e cinqüenta anos para que Me pudesse ser terminado, e todo operário — arquiteto, escultor e artista — dava seu trabalho sem nenhuma remuneração. Alguns dos maiores gênios da Itália, trabalharam no projeto. crianças de dez ou onze anos, começavam a trabalhar na estrutura, e ali permaneciam construindo até aos oitenta e mesmo noventa anos. Vidas inteiras eram dedicadas à construção do edifício, somente pela honra de terem seu nome ligado a ele Seus amigos e parentes supriam- lhes as necessidades temporais. Era sem dúvida uma devoção Podemos pensar que ela fosse digna de uma causa melhor. Mas eles davam seu trabalho com amor e alegria, sentindo parte do alto privilégio que era tomar parte na ereção de tal Casa de culto.

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Como evangelistas, também somos cooperadores de Deus. Estamos construindo uma casa para Seu nome. Entretanto, sentimos

nós a honra e o privilégio de ter parte nesse trabalho?

―Que fazes, amigo? Perguntei a alguém. E ele, espalhando o reboco, Olhou-me com surpresa, Respondendo simplesmente: ―Assento tijolos!‖ ―A outro observei, e também perguntei, Que fazes depressa e sem parar? Suas mãos habilidosas, trabalhavam sem pausa: ―Tenho mulher e filhos para alimentar‘....‖ E ainda a um terceiro minha pergunta fiz. Com a colher pousada, levantou a cabeça, E uma gloriosa visão lhe brilhava nos olhos, Senhor, construo uma catedral!‘ disse.‖

HELEN W. RICHARDSON

Todos estavam fazendo o mesmo trabalho. Para o primeiro era trabalho enfadonho. Para o segundo, era necessidade. Para o

terceiro era inspiração. O que é o seu trabalho, para V.S., amigo evangelista? De sua resposta depende até certo o sucesso de seu serviço. 1) White Manuscrito 42, 195(79) 2) Medical Ministry, pág. 300 (78).

3) White, Carta 8. 1910 (79). 4) White, Carta 48, 1886 (42), 5) R. D. Johnson, The Man, Who Moved Multitudes, pág. 36. 6) White, em Review and Herald, 23-4-1908, pág. 8 (178),

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Persuadimos os Homens

II CORINTIOS 5:11 11

O CHAMADO AO ALTAR E A REUNIÃO POSTERIOR

O OBTETIVO de todo o evangelismo é assegurar a decisão da alma para Cristo. A conversão raramente vem repentinamente. A rendição final do coração Deus e a determinação de obedecer-Lhe de modo completo, são geralmente o resultado de muitas decisões menores

Em todos os auditórios, encontram-se pessoas de todos os tipos e em todos os estágios de experiência cristã. Alguns podem estar prontos para fazer a decisão final, enquanto que outros podem estar recebendo suas primeiras impressões daquilo que é ser um cristão. A reunião existe para ajudar a todos eles a aproximarem-se de Deus, Ao ser Jesus exaltado diante deles em súplica, sermão e cântico, o Espírito de Deus ali está para lhes impressionar o coração.E nenhuma reunião deveria ser realizada sem que fosse dada a oportunidade para que as almas aceitassem a salvação. Este é o propósito do apelo. Não existe melhor maneira para chegar ao coração,

porque as pessoas são tão diferentes. Eis porque deveriam ser feitos apelos freqüentes. Naturalmente as aproximações variam de modo a alcançar os vários tipos de indivíduos. E é

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bom lembrar que tanto no evangelismo público como no pessoal, as grandes decisões são feitas geralmente nos lares do povo.

Neste capitulo consideraremos um método definido de trazer homens a uma decisão em reuniões públicas. Entretanto, é reconhecido que qualquer método é um perigo quando tende a suplantar o objetivo para o qual foi designado. O método e a experiência nem sente são os mesmos. Falando acerca desse ponto, o Dr. G. S. Dobbins ilustrou bem o caso quando disse:

―Um mapa de estradas de rodagem pode capacitar o viajante a planejar sua viagem, mas este mapa nunca o levará ao seu destino. Uma tabela de horários é sempre útil ao planejarmos uma viagem de trem, mas de modo algum será um substituto do próprio trem. A maneira pela qual uma pessoa se salva, pode ser explicada com muito proveito, mas ninguém jamais foi salvo pela explicação. Logo que um método evangelístico se torna institucionalizado, começa a perder seu poder. Não há processo pré-estabelecido pelo qual os perdidos sejam conduzidos a Cristo. Não necessitam ir por meio de um ‗banco de lamentações‘, nem por uma ‗profissão de fé pública‘, nem por haverem passado no teste de uma comissão examinadora, nem por gastarem algum tempo na ‗sala de perguntas,‘ nem por cumprirem as condições de confirmação‘, nem por qualquer outro processo Lixo. Pode haver valor em algumas dessas maneiras de. conduzir a confissão daquilo que se tem no coração mas elas tornam-se enganos quando colocadas como condições de salvação.

―‗O evangelismo está onde você o encontra‘. É a experiência e o testemunho do crente encontrando a necessidade do descrente. As circunstâncias nas quais isso pode ocorrer são tão variadas como a própria vida. A maioria das vezes em que Jesus pretendia ganhar almas para serem Seus discípulos, agiu não premeditadamente. Houve vezes em que Ele tratou com indivíduos e grupos com intenção planejada.

Muitos são os exemplos, nos quais Jesus Se aproveitou da oportunidade do momento para apresentar Seus apelos. Sentou-Se ‗a borda do poço, em Samaria, à espera dos discípulos, quando a mulher samaritana veio tirar água, e deu-Lhe uma oportunidade. Foi enquanto pensava, que Ele viu o cego a quem ganhou para a fé salvadora. Foi enquanto descia o monte sobre o qual havia pronunciado

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o sermão inigualável, que aquele leproso veio e O adorou, implorando para que fosse limpo. Ao sair do barco, no país dos gezarenos, um homem endemoninhado foi livrado de sua possessão. Estava a caminho da casa de Jairo, cuja filha estava à morte, quando foi tocado pela mulher que tinha um fluxo de sangue, cujo corpo Ele curou e a quem declarou: Filha, a tua fé te salvou: ‗Vai em paz e sê curada de tua moléstia,‘ Talvez a coisa mais impressionante do método de Jesus, era o Seu oportunismo ao trabalhar para ganhar discípulos. Seu exemplo deveria admoestar-nos contra a dependência em fórmulas fixas e processos rotineiros, negligenciando o impacto vital de personalidade sobre personalidade, sempre e em todos os lugares onde aparecer à oportunidade.‖ (1)

Uma campanha evangelística deveria ser conduzida em espírito de reavivamento. Deveria ser evidente durante toda a série de reuniões que o programa todo estava sendo dirigido e inspirado pelo Espírito de Deus, O povo deveria sentir que ali é um lugar onde as almas podem achar a salvação. E cada reunião deveria tornar-se uma ocasião para fazer decisões definidas.

―Em nossas reuniões campais (2) existe muito pouco reavivamento e pouca procura do Senhor. Os serviços de reavivamento deveriam ser celebrados desde o começo até o fim das reuniões. Deveria ser dada a oportunidade ao auditório para fazer decisões, após cada reunião. . . .Muitos que veem a reunião estão cansados e carregados de pecados. . . . Deveria haver oportunidade para aqueles que estão preocupados e que querem descansar no Espírito e encontrar auxilio. Depois de um sermão, aqueles que desejam seguir a Cristo deveriam ser convidados a manifestar o seu desejo. Convidai a virem à parte todos aqueles que não estão satisfeitos . . . Permiti que os que são espirituais conversem com essas almas. Orai com eles e por eles . . , Ensinai-lhes como render-se a si mesmos a Deus, como crer, e como reclamar as promessas divinas. Permiti que o amor profundo de Deus seja expresso em palavras de ânimo e de intercessão, Permiti que haja muito mais luta com Deus pela salvação das almas.‖ (8)

O século XVII foi chamado pelos historiadores de ―Século Evangélico‖ O título provém dos grandes movimentos espirituais

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que varreram grande parte da Europa e das colônias da América naquele tempo. Os Wesleys, George Whitefield, Jonathan Edwards e vintenas de outros grandes líderes espirituais, traziam nova esperança às multidões. Um dos itens proeminentes do movimento todo era o ‗chamado ao altar‖, onde as almas convictas de seus pecados, avançavam e permaneciam de pé ou ajoelhavam-se à beira do altar em frente do púlpito. As decisões públicas eram esperadas e isso provia a oportunidade das almas demonstrarem a necessidade de ajuda espiritual e a necessidade de salvação. Desde aqueles dias o chamado ao altar tornou-se um modelo aceito nas reuniões de reavivamento. Provê oportunidade de intercessão especial, onde vitórias definidas podem ser alcançadas e onde os convictos pelo Espírito Santo podem ser instruídos acerca da maneira pela qual podem render o coração a Deus. De todos os evangelistas desde os dias dos Wesleys, D. L. Moody foi o homem que indubitavelmente fez mais para estabelecer este método. Entretanto, acrescentou dois outros fatores importante.s ao método: os hinos evangélicos e a ―sala perguntas‖. Principalmente pôr causa de sua associação com Sankey, os hinos evangélicos tiveram um lugar vital em seus apelos. Sanky escrevia ele próprio muitas das melodias, e homens como Bliss e Billhorn escreveram centenas de outras. Então Moody descobriu o expediente de trazer os que precisavam de ajuda especial a uma ―sala de perguntas‖ onde ele e seus obreiros associados se concentravam nas pessoas que vinham à frente, conduzindo-as à rendição individual. Ali também davam instruções acerca de como reclamar vitória sobre o pecado. Moody não era somente um grande pregador, mas também um grande organizador, e nas reuniões posteriores realmente consolidava o seu trabalho.

Passos para um Apelo Eficaz

Que passos deveriam ser tomados para fazer um apelo efetivo

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e como deveria a reunião posterior ser conduzida de modo a trazer os melhores resultados? Existe um modelo definido que possa ser seguido? Todos concordaremos que esta parte do trabalho do evangelista não é fácil. Qualquer homem que a conheça, dirá que não existe nada no seu ministério que tome tão grande parte de sua força espiritual e mental, corno este trabalho de fazer apelos. É alguma coisa da qual nunca deixamos de aprender. Não existem pessoas que saibam tudo que existe a respeito do assunto. E algo que podemos estudar infinitamente pois é tão amplo como a necessidade humana. Podemos enunciar entretanto Oito princípios vitais que fornecerão uma base para o estudo:

Primeiro: Planejar o apelo, Uma reunião posterior não deveria ser um pensamento posterior apenas, ou seja, alguma coisa casual que o pregador repentinamente decide fazer quando termina o sermão. Pelo contrário, deveria ser o ponto focal de toda a mensagem. Esta deveria conduzir ao apelo de maneira natural, Os hinos, as orações e o sermão deveriam ser todos estudados com isto em mente, Não temos direito de esperar uma colheita onde não houve semeadura. A semeadura pode ter sido feita através da pregação do sermão que precedeu ao apelo ou durante um período de tempo, durante varias reuniões. O apelo pode vir como resultado de muitos sermões e estudos bíblicos. Em qualquer um dos casos, houve semeadura, pois de outro modo não podemos esperar colheita. Para mudar de ilustração, digamos que antes de construir a superestrutura, devemos lançar os alicerces.

Segundo: Variar os apelos O tipo de apelo que comove a um certo tipo de pessoa, falhará redondamente em comover ,outro. Não se poderia concordar completamente com o título de um livro recente: 65 Maneiras de Fazer Apelos Evangelísticos, entretanto é verdade que existem muitas maneiras de apelar ao coração humano. O pescador que conhece somente um modo de iscar o anzol, ou que usa somente um

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tipo de isca, não pescará muitas qualidades diferentes de peixe. Se existe sempre um chamado ao altar, ou se o convite é feito da mesma maneira todas às vezes, perde o poder de apelo. Um chamado geral para consagração, pedindo ao povo que se ponha de pé, pode ser bem próprio, mas mesmo isto pode tornar-se um ritual sem significação se é feito freqüentemente. O mesmo acontece com o levantar de mãos. Existem muitas maneiras diferentes de fazer apelos. Mesmo inverter o processo comum de chamado ao altar, às vezes dá resultado. Em vez de chamar o povo à frente enquanto a congregação está de pé, pede-se a todos os que sentem necessidade de ajuda especial, que permaneçam em suas cadeiras e inclinem a cabeça em oração silenciosa. Tenho visto algumas conversões através desse método, quando quase todos os outros pareciam falhar. A disposição das cadeiras, ou o arranjo do salão podem sugerir outros métodos. Deus tem muitas maneiras de alcançar o coração humano e a mente do evangelista deve estar aberta às impressões de Seu Espírito ao fazer apelos.

Terceiro Fazer apelos freqüentes. Aquele que leva no coração a carga das almas, ―não despedirá a congregação sem apresentar-lhe a Jesus Cristo, único refúgio do pecador, fazendo apelos veementes que alcancem seus corações.‖ (4) Fazer um chamado ao altar definido, todas às vezes, pode não ser conveniente, mas algum tipo de apelo deveria ser o clímax de cada reunião. ―Ao final de cada reunião devem ser pedidas decisões.‖ (5)

―Em cada sermão, devem ser feitos apelos ferventes para que o povo abjure seus pecados e retorne a Cristo.‖ (9) ―No domingo 8 de outubro de 1871, à noite, Moody pregava à maior congregação que já havia tido na cidade de Chicago. Seu

texto era: ‗Que farei então de Jesus, chamado o Cristo? Ao final do sermão Moody declarou: ‗Desejaria que levásseis este texto para casa convosco e pensásseis nele durante a semana, e no próximo Sábado,

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consideraremos o Calvário e a Cruz, e então decidiremos o que fazer de Jesus de Nazaré.‘ ―Então Sankey começou a cantar o hino:

―Hoje o Salvador chama Ao refúgio das tempestades E das quedas da justiça Quando a morte se aproxima.‖

―Mas o hino nunca terminou, porque enquanto Sankey cantava, ouviu-se o barulho dos carros de bombeiros, e antes que amanhecesse, Chicago jazia em cinzas. Até o dia de sua morte, Moody lamentou haver dito àquela congregação que voltasse na próxima semana para fazer a sua decisão. ‗Eu nunca mais ousaria dar a uma congregação uma semana para pensar em sua salvação. Se se perderem, ,podem se levantar no julgamento contra mim. Nunca mais vi aquela congregação desde então. Nem nunca mais encontrar-me-ei com aquelas pessoas outra vez a não ser no outro mundo. Entretanto, quero-vos contar uma lição que aprendi aquela noite, a qual nunca esquecerei: Quando eu pregar, apresentando a Cristo ao povo, devo tentar trazê-los a Ele, no mesmo momento e no mesmo lugar. Preferiria cortar minha mão direita a dar agora uma semana a um auditório para decidir o que fazer de Jesus‘.‖ (7)

Quarto: Fazer o apelo urgente. - O evangelista que sente que ―talvez nunca mais se encontre com esses ouvintes até o grande dia de Deus‖, (8) não será indiferente em seus esforços para levar o povo a se decidir por Cristo. ―Conhecendo o temor do Senhor, persuadimos os homens‖, disse o apóstolo Paulo. A religião perdeu muito de sua velha dignidade. Hoje o pecado é freqüentemente interpretado como uma expressão própria. Quando os homens perdem o significado do pecado, a mensagem de salvação é desnecessária. Hoje se faz muita pregação no seguinte teor: Fazei de conta que estais arrependidos, e crede mais ou menos, porque senão estareis perdidos até certo ponto.‖ Não é o mundo somente fraco. É tambÉm mau. Não precisa cinicamente de cultura, precisa de Calvário.

Quinto: Esclarecer o assunto. E uma responsabilidade tremenda {173}

ser um porta-voz de Deus. A compreensão do fato de que o trabalho que os anjos bem gostariam de fazer, foi comissionado a homens mortais, produzirá nos ministros uma humildade de coração e uma urgência de propósito que se expressarão em apelos Fervorosos para que os pecadores se convertam. As seguintes palavras vêm muito a propósito, sendo dignas de estudos.

Trabalhai pela salvação das almas como se soubésseis, por tê-Lo visto, que estáveis à plena vista de todo o universo celestial. Cada anjo na glória está interessado no trabalho que está sendo feito pela salvação das almas. Não estamos despertos como deveríamos estar. Todas as hostes angélicas são nossos ajudadores.‖ (9)

Eliseu certa vez pediu ao Senhor que abrisse os olhos do moço, para que ele pudesse ver a hoste celeste de ajudadores que estavam prontos a lutar por Jeová e a livrar aqueles que nEle confiam. O monte estava repleto de carruagens divinas. Era o sentido da presença do exército invisível que dava ao profeta sua confiança em meio à crise. Era uma questão de vida ou morte. Quando nós como evangelistas, virmos o que viu Eliseu, então ―atiraremos fora toda aparência de apatia, e levaremos o povo a crer que realmente a vida e a morte estão envolvidas nestas questões.‖ (10)

Devemos fazer bem claros os nossos pontos de vista. ―Devemos esclarecer os direitos que Cristo tem sobre o povo. Devem ser levados a decidir agora estar do lado do Senhor.‖ (11) Agora é o tempo aceitável‘. A salvação está sempre no tempo presente para alguém.

Sexto: Nunca dividir o auditório. Ao levarmos as pessoas a enfrentarem grandes decisões, é bom lembrar que nem todos estão prontos para tomar uma resolução naquele momento preciso. Se se insiste no assunto, tomarão uma decisão errada. Enquanto dá ênfase à importância da verdade, o evangelista também precisa conservar a confiança das pessoas, e tratá-las

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como honestas a despeito do fato de não trilharem o mesmo caminho do que os mais adiantados. ―Portanto tratai a todo homem como honesto‖(2), é o conselho que devemos seguir. ―O Senhor quer que Seu povo siga outros métodos que não aquele da condenação do erro.... O trabalho que Cristo veio fazer

neste mundo, não foi erigir barreiras, nem lançar constantemente sobre o povo o fato de que estavam errados. Aquele que espera iluminar um povo enganado, deve aproximar-se dele, e trabalhar por ele em amor. Deve tornar-se um centro de santa influência‖ (13)

Quando apresentamos tais assuntos como o do sábado, sempre seria conveniente introduzi-los mais ou menos assim: ―Sei que existem alguns aqui que não compreendem estas doutrinas tão bem quanto outros, mas todos nós amamos o mesmo Salvador, querendo servi-Lo. Entretanto alguns dos senhores iniciaram há pouco tempo o estudo dessas verdades e pode não compreender em toda a extensão a importância desses pontos. Assim quer vejamos, quer não, da mesma maneira, nossas obrigações, uma coisa é certa; amar-nos-emos no Senhor e seremos bons amigos, tanto antes quanto depois de havermos examinado juntos estes pontos‖

Não digo isto apenas para conservar o auditório, mas porque realmente assim o sinto. As pessoas não são desonestas se o Espírito Santo não abriu sua mente à verdade completa. Uma técnica como esta ajuda a não dividir a multidão, e muitos que se sentiriam fora de lugar, ali continuaram a vir, e depois de meses, ou em alguns casos até de anos, chegaram a compreender a verdade completa, e hoje se regozijam na mensagem.

Sétimo: Os apelos devem vir de corações limpos e humildes. Somente aqueles que experimentaram a brasa purificadora do fogo celestial, estão preparados para conduzir outros a um companheirismo com Deus.

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Existem almas em cada - congregação que estão hesitando. Encontram-se quase persuadidas a se entregarem inteiramente a

Deus. A decisão está sendo feita para o presente e para a eternidade porém é muito freqüente o caso de o ministro não ter o espírito e o poder da mensagem da verdade em seu próprio coração, assim não dirige apelos diretos às almas que tremem na balança. O resultado é que as impressões não se aprofundam no coração dos convictos; e eles deixam as reuniões sentindo-se menos inclinados a aceitar o serviço de Cristo, do que quando chegaram. Decidem esperar por uma oportunidade mais favorável; mas esta nunca chega.‖ (14)

Quantas almas foram impedidas de entrar no reino somente por falta de preparo do instrumento humano! Comentando o trabalho de certo evangelista metropolitano, a mensageira do Senhor disse: ―Quando ele apresenta estas verdades, surge às vezes um espírito que não é de proveniência divina. Às vezes proferem-se

palavras, Fazem-se censuras Com Um ímpeto, um vigor, que levam as pessoas a desviar-se das belas verdades que Me traz Necessita do santo óleo que, dos tubos de ouro é vertido nos corações humano‖ (15)

O óleo santo precisa de homens santos. Como disse McCheyene da Escócia, há mais de um século: ―Não são os grandes Talentos que o Senhor mais abençoa mais sim a semelhança a Jesus. Um ministro santo é uma terrível arma nas mãos de Deus.‖

Oitavo: Dar-se conta de que o seu apelo pode ser o ultimo, para alguns. Um pregador foi convidado a falar aos internos de uma grande penitenciária. Durante a tarde do dia anterior ao que deveria pregar, foi visitar a instituição. O diretor mostrou-lhe a prisão e afinal chegaram à capela. Era um grande auditório com capacidade para mais ou menos 1500 pessoas.

- Estará repleta, amanhã de manhã, senhor, disse o diretor. Não foi o número de poltronas que chamou a atenção do pregador, mas sim duas cadeiras na primeira fila.

{176} — Por que estão elas enfeitadas de preto? perguntou o pregador. Respondeu o diretor: —Os dois homens que ocuparão essas cadeiras amanhã, estão condenados à morte. Na segunda- feira,

irão para a cadeira elétrica! —Condenados à morte! repetiu silenciosamente o ministro. Depois acrescentou: —Segundo entendo, será este então o último culto a que assistirão O pastor havia visto o suficiente. Precisava agora de um Lugar onde pudesse estar só e meditar. Logo que chegou a casa, foi ao

escritório, onde leu e revisou o sermão que havia preparado, rasgando-o então! — Não senhor, disse. Não está à altura da necessidade. Caindo então de joelhos, suplicou:

— Ó, Deus, dá-me uma mensagem especial para aqueles dois homens que se assentarão nas cadeiras com guarnições pretas. Todavia, em todos os auditórios existem cadeiras enlutadas. Se nós como ministros chegarmos à compreensão do fato de que

cada vez que pregamos estamos defronte de almas que hão de enfrentar o juízo, e que estamos falando a homens e mulheres sob sentença de morte, então apoderar-se-á de nossos corações um sóbrio senso de responsabilidade.

―Talvez alguns estejam escutando o último sermão que lhes é dado ouvir, e outros nunca mais se encontrarão em condições apropriadas para que lhes seja apresentada a cadeia da verdade, com uma aplicação prática ao seu coração. Perdida essa oportunidade áurea, estará perdida para sempre.‖ (16)

Algumas sugestões úteis acerca da técnica das reuniões posteriores encontram-se às páginas 182-185.

{177} Creio existirem quatro áreas principais dentro das quais o apelo pode ser feito efetivamente São elas: 1. O chamado à oração. 2. O chamado a aceitar a Cristo. 3. O chamado a aceitar a mensagem do advento. - 4. O chamado aos privilégios e responsabilidades do companheirismo cristão. Esses poderiam ser chamados entregas sucessivas, que conduzem da escuridão para a luz. Se o primeiro chamado é feito como

um convite à oração, então o evangelista e seu auditório estarão em terreno comum. Todas as religiões oram. Protestantes, católicos, judeus e pagãos, todos oram. Muitos que não têm religião alguma, mesmo assim oram. Shakespeare disse: ―Quando estão desesperados todos os homens oram‖ Eis portanto terreno comum. A oração derruba barreiras. Mais tarde o evangelista pode tomar-se mais específico e convidar o povo a aceitar a Cristo para salvar-Se. Então, ao serem apresentados os pontos mais definidos da mensagem, o pregador pode apelar em favor da aceitação dessas grandes verdades.

Quando chega a época de apresentar o evangelho completo da vida santificada, incluindo assuntos tais como: a mensagem da reforma de saúde, o dízimo, os dons espirituais, pode ser dada a oportunidade para que os interessados aceitem esses pontos. E afinal serão trazidos à última decisão, o batismo. Assim através de muitas respostas a diferentes chamados, uma alma é levada a fazer sua decisão final.

O grupo de assuntos que segue, foi organizado para mostrar os vários ângulos da verdade espiritual e doutrinária que podem ser usados como aproximações, conservando se ainda na área particular de apelo. Por exemplo: um apelo para aceitar a Cristo pode vir através da apresentação do assunto da criação. Tendo criado os céus, e conservando-os com Seu poder,

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certamente poderá recriar aqueles que vêm a Ele com le. O assunto do santuário e da ministração sacerdotal, sendo apresentado, pode servir como aproximação a um apelo para a aceitação de Cristo, como seu Sumo Sacerdote. Qualquer dos assuntos da lista que se segue pode conduzir a um apelo definido, mas dará melhores resultados se os primeiros apelos de uma campanha se fazem dentro de uma área de compreensão comum. Eis porque sugiro que se inicie com um chamado à oração.

Áreas nas Quais se Podem Fazer Apelos Eficazes

1. O poder unificador da oração

(A) CHAMADO O À ORAÇÃO 2. A necessidade da oração pessoal 3. O poder da oração em épocas de crise nacional 4. O chamado divino à oração

1 Como Criador 2. Como Revelador de Deus ao homem

CHAMADO A ACEITAR A CRISTO 3. Como Salvador pessoal 4. Como Sumo Sacerdote 5. Como Rei de um reino vindouro 1. A volta pessoal e visível de Cristo

CHAMADO A ACEITAR A 2. A natureza do homem — a esperança da ressurreição MENSAGEM DO ADVENTO 3. Julgamento à luz da verdade do santuário

4. A Lei de Deus e o sábado 5. A Terra renovada como o lar dos salvos. 1. Mordomia — dízimo 2. Santificação — reforma de saúde e vestuário

CHAMADO A ACEITAR AS 3. Dons espirituais — Espírito de Profecia RESPONSABILIDADES NO 4. Modelo divino de organização da igreja COMPANHEIRISMO 5. Batismo

6. Serviço Cristão. Esta lista não pretende ser uma seqüência de assuntos para sermões, mas antes uma sugestão de temas após os quais podem

ser feitos vários tipos de apelos.

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O Chamado à Oração Crendo que o poder para ganhar almas está na oração e não no argumento, sempre planejo fazer um chamado ao altar na noite

de abertura de uma campanha evangelística, ou pelo menos na primeira semana. O primeiro chamado é um chamado à oração. - E o convite é estendido a todos, independentemente de afiliações religiosas ou não religiosas. Se o assunto apresentado trata das condições do mundo e de sela significado, depois de enfatizar o dilema das nações, e de ter pintado em côres vivas o retrato de nosso mundo desorientado, é nossa incumbência mostrar a solução divina para o problema. E esta saída não é através de guerras ou concílios internacionais, e sim através da oração e da consagração individual. Por intermédio de uma boa ilustração, pode-se passar ao apelo dizendo alguma coisa como as palavras que se seguem: Em vista do que sucede, damo-nos conta de que nestes tempos todos nós deveríamos buscar a Deus de todo o coração. Ele nos fala por meio de um antigo profeta hebreu, dizendo: ―Congrega-te, sim congrega-te ó nação que não tens desejo. Antes que saia o decreto. Buscai ao Senhor, todos vós mansos da Terra, que pondes por obra o Sela juízo. Buscai a justiça, buscai a mansidão Porventura sereis escondidos no dia da ira do Senhor.‖ Eis aqui o chamado de Deus à oração, e é um chamado individual, Destina-se a você e a mim, numa hora de grande crise. Os presentes que desejarem juntar-se a mim no buscar ao Senhor, no pedir a Ele perdão e poder espiritual para viver uma vida piedosa, queiram por favor ficar de pé. A grande maioria, e geralmente todos os presentes, responderão.

Enquanto estão de pé devem ser convidados a curvarem a cabeça em oração. E ao fazerem-no, brevemente peça que levantem a mão, aqueles que necessitarem de oração especial, por si mesmos ou por um ente querido. Muitas mãos se erguerão.

{180} Sem mais delongas, ofereça-se uma petição em favor daqueles que estão de pé sinceramente, especialmente por aqueles que

estão de mãos levantadas, indicando alguma necessidade particular. Ore-se também pela cidade e suas autoridades. Ore-se especialmente para que Deus envie um reavivamento de verdadeira piedade a todos os que professam o nome de Cristo.

Imediatamente depois da oração, pode-se sugerir que em vista do grande número de pessoas que levantaram a mão, convida-se a estes e a quaisquer outros que assim o desejarem, a permanecerem após a reunião para um breve período de oração. O convite pode ser dado em palavras mais ou menos como estas: ―É inspirador ver quantas pessoas estão em busca de Deus, e sinto-me impressionado a convidar a todos os que podem ficar por mais dez ou doze minutos, que o façam após a reunião, pois queremos ter uma reunião especial de oração. Naturalmente compreendemos que alguns precisam ir, agradecemos sua presença na reunião maior, mas os que quiserem ficar sintam-se livres para fazê-lo.‖ Então enquanto o côro começa a cantar um hino apropriado, ou enquanto o órgão toca suavemente, os ajudantes prèviamente instruídos, devem começar imediatamente a dirigir à frente aqueles que parecem estar aceitando o convite para ficar, não esquecendo também de despedir em silêncio aos que não vão ficar.

Numa reunião de duzentos, talvez sessenta ou setenta responderão ao chamado. Numa reunião maior, de uns quinhentos, aproximadamente, não será surpresa se permanecerem mais de duzentos para a breve reunião. Quando iniciei as reuniões evangelísticas em Londres, fiz um chamado à oração em harmonia com as sugestões acima, e setecentos permaneceram para a oração. Noutro bairro da cidade, de uma assistência de duas mil e quinhentas pessoas presentes na reunião de abertura, fiz um chamado à oração no final do sermão, e mais de mil pessoas vieram à frente. E ainda dizem

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que os britânicos dificilmente se comovem; ao menos isto era o que me diziam antes de eu ir lá... Entretanto segui a mesma técnica que havia usado em cidades da Austrália e da Nova Zelândia, e concluí que a geografia não faz muita diferença quando o Espírito de Deus está presente em poder. As nacionalidades devem ser tomadas em consideração ao planejarmos o evangelismo, mas a necessidade do coração humano é a mesma em qualquer clima. Mesmo entre os povos freqüentemente não emocionais da Europa do Norte, e também entre os povos algo orgulhosos e indiferentes da Europa Central e do Sul, presenciei alguns dos mais importantes movimentos do Espírito de Deus, para a completa surpresa de Seus próprios conterrâneos.

A Reunião Posterior

Quando há um grande número de pessoas, precisa-se de um pouco mais do que dez minutos para a reunião posterior. As grandes multidões movem-se devagar, porém desde a hora do término da reunião principal até a conclusão da reunião posterior, não deveriam passar-se mais do que quinze ou vinte minutos. Uma reunião posterior não deveria ser demorada, especialmente se for a primeira, e um chamado à oração. As orações longas por certo cansam aos anjos. As reuniões posteriores podem também tornar-se uma reunião de instrução, mas a princípio devem ser curtas.

É importante ter o povo junto a si na amizade e na informalidade de uma reunião posterior. Isso ajudará a quebrar o preconceito. Qualquer plano que possa encurtar a distância entre o pregador e a audiência, significará muito no obter decisões posteriormente. Quando o povo vem -à frente, deve sentar-se. O evangelista falará a eles naturalmente de fora da plataforma. Algumas palavras são suficientes para introduzir a sessão de oração. Mas antes que se ajoelhem juntos, peça para que aqueles que estão particularmente preocupados

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consigo mesmos ou com seus queridos, levantem novamente a mão. Quando indicarem seus desejos pelo levantar da mão, esteja pronto para citar uma promessa da Palavra de Deus. Isto fortalecerá sua fé. Lembre-se de que é a Palavra de Deus que é o martelo que quebra as duras rochas do pecado. Pergunte certas questões em estilo simples e informal. Por exemplo: ―Quantos de vós estão aqui por causa de seus filhos, por quererem vê-los andando. nos caminhos retos?‖ Quando as mãos se levantarem, cite um texto, como por exemplo: ―Porque eu contenderei com os que contendem contigo, e os teus filhos Eu remirei.‖ Isa. 49:25. Tendo perguntado algumas questões como estas e

tendo citado algumas passagens bíblicas com preciosas promessas, convide sem demora ao povo para que se ajoelhe em oração. Aqueles que não podem ajoelhar-se podem permanecer sentados com a cabeça curvada.

Tenha sempre umas duas ou três pessoas prontas a dirigir as orações. Todas as orações deveriam ser curtas e específicas cobrindo somente dois ou três pontos. Seria conveniente que se houvesse aconselhado prèviamente àqueles de quem se espera que tomem parte nessa sessão de oração pública. A oração em qualquer tempo é importante, porém essas orações são particularmente importantes. O tipo errado de oração pode destruir a reunião inteira. Algumas petições, muito bem apropriadas para uma reunião de oração comum, são completamente contraproducentes em uma reunião como esta. Muitos são fervorosos mas não criteriosos. Portanto é conveniente ter alguns dos obreiros ou crentes prontos para dirigirem a reunião. Três ou quatro orações são suficientes. Encerre-se a sessão de oração com uma prece do próprio evangelista fazendo menção às necessidades pessoais dos presentes. E lembre-se de orar pela cidade e pelas várias igrejas e seus ministros. Peça a Deus que abra as fontes da água da vida e envie um reavivamento à comunidade.

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Havendo terminado sua oração, sugira imediatamente que o povo se levante. Para terminar, diga-lhes que esta é apenas a

primeira de uma série de reuniões idênticas, e que todas as reuniões serão impregnadas de oração. Peça-lhes que comecem a orar em seus próprios lares. Sugira também que quando encontrem seus ministros digam-lhes que o evangelista está orando por eles, e por todos os ministros da cidade. Mas, mais ainda Peça-lhes que digam a seus ministros para orarem por você. Alguns ministros certamente serão por demais preconceituados para atender tal pedido, mas muitos outros o farão. E antes de muito tempo, alguns estarão assistindo às reuniões e também às reuniões posteriores. Esse E ao de que na primeira reunião e nas reuniões subseqüentes, você haja orado pelos outros ministros, mencionando talvez a alguns mesmo pelo nome, quebrará o preconceito, e dará impressões próprias do nosso trabalho. Somos grandemente aconselhados a ―orar com e por esses pastores do rebanho‘. Então, com orações tão reais no começo da campanha, lançam- se modelos para o futuro. Com o espírito de reavivamento no ar e o programa completo planejado em oração, você terá dado o grande primeiro passo para sobrepujar a oposição que o grande inimigo das almas está sempre pronto a incitar.

Chamados Mais Específicos ao Avançarem as Reuniões

Os chamados ao altar no começo da campanha, são de natureza mais geral. Mas ao você ir conhecendo melhor o povo e ao irem

eles começando a compreender as grandes doutrinas envolvidas em nossa mensagem, os chamados podem tomar-se mais específicos. Quando se oferece o convite não deve haver ambigüidade no apelo. O assunto deve ser claro. Decisões vitais e eternas estão em jogo.

Mas a resposta ao chamado ao altar sempre é melhor se o apelo inclui mais do que uma necessidade particular. Por exemplo: (1) Um chamado a ser feito por aqueles que uma

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vez conheceram o Senhor mas que agora estão afastados. (Prefiro não usar a palavra apostatado num chamado como este.)

(2) Outro chamado na mesma reunião, poderia bem ser para aqueles que nunca dantes haviam dado o coração a Deus, (É melhor, geralmente, não fazer desse o primeiro apelo.

Quando outros estão respondendo, isto ajudará a alguns que são tímidos ao verem os outros de pé.) (3) Algumas vezes uma sugestão como esta será útil: Convide os pais de filhos e filhas afastados da igreja, para virem à frente e permanecerem com os outros no lugar dos queridos ausentes. Isto, se não for feito freqüentemente demais, ajudará alguns pais a sentirem mais definidamente suas responsabilidades para com os filhos. (4) O chamado ao altar poderia bem ser concluído com um chamado geral à reconsagracão Entretanto, se um bom número já veio à frente, pode ser melhor que este último chamado geral seja respondido de outra maneira. Se muitos vêm à frente, isto derruba o próprio propósito do chamado, não dando a oportunidade para ajudar aos que têm necessidade de conselho especial e oração.

Enquanto prosseguem as reuniões e as verdades mais definidas vão sendo apresentadas, também deveriam ser feitos chamados mais definidos para a aceitação da salvação através dessas verdades. Aceitar a salvação de maneira abstrata, certamente não nos salvará. Somente quando aceitamos a revelação da verdade nEle que é a Verdade, é que pode ela tornar-se para nós sabedoria e justiça, santificação e redenção. E esta revelação é gradual. Assim alguém que talvez tenha respondido ao primeiro convite à oração, uma ou duas semanas mais tarde, poderá responder ao convite para aceitar a Cristo como seu Salvador pessoal. Tendo ouvido a mensagem de Sua segunda vinda, aceitá-lo-á como Rei. Então, reconhecendo suas responsabilidades como cidadão do reino de Deus, expressará sua determinação em obedecer à Lei de Deus. Mais tarde ainda aceitará o sistema divino do dizimo. Havendo

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feito todas estas decisões estará pronto afinal para dar o último passo que é o batismo.

É interessante descobrir que depois que as reuniões se realizam já há algum tempo, existem entre os que vêm ao altar, alguns que estão ali para demonstrar o seu desejo de serem batizados. Outros virão para testemunhar sua aceitação de Cristo, e ainda outros, tendo assistido somente a uma ou duas reuniões, estarão ali em resposta ao chamado à oração especial. Se esses chamados diferentes são dados em uma ou duas sentenças claras, sem ambigüidade, não há confusão na mente daqueles que- o respondem. Nem todos são impressionados da mesma maneira. Existem vários graus de percepção espiritual. Na maior hora de crise espiritual em nosso planeta, Deus o Pai falou a Seu Filho com voz audível. Foi uma resposta à Sua oração. Alguns que ouviram a voz disseram que trovejava. Outros pensaram que era a voz de um anjo, mas Jesus disse: ―Pai‖ Assim, quando a voz do Espírito se ouve na alma, Sua mensagem não é sempre compreendida. De fato, nunca é compreendida completamente pelos que permanecem de fora. Somente Seus filhos conhecem o significado completo de Sua mensagem.

Dividir os Grupos de Acordo com as Várias Necessidades

Tendo respondido da melhor maneira possível aos convites do Espírito, é importante agora, que os interessados sejam separados para que se possa lidar com suas necessidades específicas. Se os líderes da equipe evangelística estão prontos, tão logo que o povo seja dividido em grupos, podem começar a trabalhar. Se existem salas, e estas são convenientemente localizadas em relação ao auditório principal, pode ser útil fazer uso delas. Entretanto, bons resultados podem ser obtidos conservando todos os grupos no auditório principal, tomando-se a precaução de separá-los o bastante, de modo a permitir que cada líder aconselhe o seu grupo, sem interrupção

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indevida. Mas deve ser lembrado que alguns precisarão de auxílio muito definido. Terão problemas particulares que demandarão estudo especial e muita oração. Podem-se marcar horas para se resolver os casos especiais em outra ocasião. Mas, por comuns que sejam seus problemas, deve-se encontrar uma maneira para ajudá-los. Lembre-se sempre de que todas as dificuldades são grandes para quem as tem. E a simpatia, a paciência e a oração podem obrar milagres.

É conveniente ter os nomes de todas as pessoas nos diferentes grupos. Alguns são refratários em dar o nome, mas isto pode ser conseguido com bastante tato. As pessoas em alguns países são mais conservadoras do que em outros. Acho ser de grande utilidade enviar a cada um deles uma carta assinada pessoalmente. As pessoas gostam de receber cartas e partindo do Lato de que algumas recebem muito poucas, a sugestão é sempre bem recebida. Se existem quatro ou cinco grupos diferentes, precisaremos de quatro ou cinco tipos de cartas. Mesmo apesar de as cartas seguirem um certo modelo e serem duplicadas, ainda assim, dão a aparência de uma carta pessoal por levarem a assinatura. Devem ser enviadas em envelope fechado. Não se deve perder a importância de um toque pessoal, procurando poupar no porte. Se for preciso enviar 500 cartas, tanto melhor. As cartas desta natura pagam grandes dividendos.

A redação de tais cartas naturalmente é importante, porque aqueles que as recebem estão tendo dessa maneira as primeiras impressões do trabalho que você representa, e as primeiras impressões são duradouras. Tenho encontrado pessoas que vinte anos atrás receberam sua primeira carta de mim. Com que orgulho e alegria particulares, contaram-me como leram e releram aquela carta vez após vez, particularmente durante as primeiras semanas após terem dado o coração ao Senhor, As cartas serão mais úteis do que os folhetos, Mas

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se com a carta se junta um folheto apropriado, ter-se-á um apelo duplo.

Seguem-se modelos de cartas que tenho utilizado com bons efeitos: Carta Enviada Àqueles que Tomaram Posição ao Lado de Cristo no Chamado ao Altar Prezado Amigo: Eis aqui a carta que prometi escrever— lhe, e ela vai com minhas saudações pessoais no Senhor, O passo que V. S. tomou no

domingo à noite quando consagrou sua vida a Jesus, é a coisa mais nobre que se pode fazer na vida. Estamos orando por V. S. todos os dias para que Deus faça do sua vida cristã, uma vida de alegria e de paz.

Você é agora um filho de Deus, um membro de Sua família. A Escritura declara, que tendo aceitado a salvação, V. S. passou ―da morte para a vida‖. Mas isso não é porque você se ache necessàriamente bom, mas sim porque Deus é bom, e porque V. 3. aceitou a Sua misericórdia.. A Bíblia diz: ―Deus prova o Seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Rom. 5:8. Foi o Espírito de Deus que o conduziu a dar esse passo e ―todos os que são guiados pelo Espírito de Deus esses são filhos de Deus‖. Rom. 8:14. Deus é honrado quando reclamamos nossos direitos de filhos, porque Jesus morreu para que pudéssemos nos tornar membros da família de Deus.

Quem sabe V. S. se lembra de uma afirmativa que fiz quando falei com todos os irmãos em uma reunião posterior de oração. Disse que ninguém pode transformar-se num

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cristão completamente maduro, repentinamente. Jesus falou desta nova experiência como um novo nascimento. Ora, um bebê é uma coisinha muito dependente. Só pode fazer duas coisas: alimentar-se e chorar. Há nisto uma lição para V. S. Como filho de Deus recém nascido, V. S. está dependente de seu Pai celeste, O apóstolo Pedro diz: ―Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo‖. 1 S. Ped. 22. Leia algumas partes da Bíblia cada dia. O evangelho segundo S. João seria um bom lugar para começar, e o livro dos Atos também ajudará e inspirará a uma vida de serviço fiel.

Mas com sua leitura, esteja certo de não negligenciar a oração. Davi disse: ―De tarde e de manhã e ao meio-dia orarei; e clamarei, e Ele ouvirá a minha voz‖. Sal. 55:17. Assim como cada mãe ouve a seu bebê quando fala as primeiras palavras, assim Se compraz Deus em ouvir nossas orações, não importa quão imperfeitamente possamos expressar nossos pensamentos.

Sei que V. S. assistirá ao maior número de reuniões possível. Assim aprenderá mais de Sua mensagem maravilhosa de amor e salvação. Incluso vai um folheto, que creio será de grande ajuda para V. S.

Agora, encomendando-o ao cuidado de nosso Pai celestial, e com saudações em nome do nosso Salvador, subscrevo-me, Sinceramente, seu em Seu serviço,

R. ALLAN ANDERSON

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Modelo de Carta Pedindo Privilégios de Sábado

Nome da Firma Senhores: Um problema deveras importante tem estado pesando em minha mente por algum tempo, e como afeta de perto ao meu trabalho,

tomo a liberdade de agora apresentá-lo perante os Senhores, respeitosamente pedindo. sua atenção. Penso que os Senhores sabem quão grandemente aprecio trabalhar com (Nome da Firma) e especialmente por causa do espírito amigo sempre evidente, senti-me encorajado a esperar que a bondosa cooperação de V. S. venha ajudar-me a resolver este problema particular. Tenho-me preocupado seriamente, porque tenho que viver com minha consciência e eu lhes pediria portanto que n,o considerassem a matéria como um assunto sem importância ou como uma decisão impulsiva de minha parte.

Ultimamente convenci-me de que devia observar o dia de adoração de Deus, o sétimo dia, o sábado, como está evidenciado nos Dez Mandamentos, e estou-lhes pedindo para que os Senhores bondosamente me ajudem e marquem o meu programa de trabalho de modo a ter este dia livre. Isto significaria muito para mim no achar a paz mental que procuro.

Tenho pensado acerca do assunto e ocorreu-me que se poderiam fazer arranjos de modo que meu trabalho não sofresse detrimento algum. Permitam-me portanto sugerir o seguinte, como maneira de resolver o problema. (A sugestão de algum plano em poucas palavras poderia ser útil.) Quaisquer ajustes que se sejam necessários, tais como compensar

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o trabalho em horas extras, podem contar comigo para fazer tudo o que puder e cooperar completamente. Penso que os Senhores sabem que tenho os interesses da (Nome da Firma) no coração. Se a questão pudesse ser resolvida o quanto antes possível, eu apreciaria muitíssimo, pois é algo que significa muito para mim. Se é de algum interesse para os Senhores a discussão do assunto pessoalmente, estarei às ordens de Vs. Ss.

Esperando sua benévola resposta, permaneço respeitosamente, 1) Gaines Stanley Dobbins, Evangelism According to Christ, págs. 201 e 202. Usado com permissão de Broadman Press, Nashville. 2) Quando isso foi escrito a reunião campal era o método reconhecido de evangelismo público entre nós. Algumas vezes, 5, 6 ou mesmo 8 reuniões campais eram

levadas a efeito em uma associação em um único ano. Essas reuniões se estendiam por um período de dez dias a um mês. Alem das reuniões evangelísticas regulares

durante a noite, havia reuniões durante o dia, seguindo um plano similar ao das reuniões campais que ainda conduzimos. Geralmente unia igreja era levantada no fim da reunia campal, ou logo depois, e alguns ministros eram apontados pan permanecerem e consolidarem o trabalho. O objetivo dessas reuniões campais era definitivamente evangelístico, e eram conduzidas em lugares diferentes. Em lugar daquele método, temos agora a companhia evangelística regular, cobrindo muitos meses. Mas os conselho, concernentes a essas reuniões campais de antigamente são aplicáveis s campanhas evangelísticas de hoje em dia.

3) Testimonies, for the Church, Vol. 6, págs. 64-66. 4) Idem, Vol. 4, pág. 316 (280) 5) ldem, Vol. 6, pág. 65 (281). 6) Idem, Vol. 4, pág. 396 (280).

7) Clarence E. McCartney, Presching Without Notes, págs. 24 e 25. Usado com permissão de Abingdon - Cokesbury Press. 8) Testimonies for the Church, Vol. 4, pág. 316 (280). 9) White, Carta 126, 1896 (282). 10) White, Carta 8, 1890 (283).

11) White, Carta 29, 1890 (283). 12) Testimonies for lhe Church, Vol. 6, pág, 122 (306). 13) Idem, pág. 121 (305). 14) Idem, Vol. 4, pg. 447 (279 e 280).

15) White, Manuscrito 120, 1902 (293). 16) Testimonies for the Church Vol. 4, pág. 394 (280).

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Vitória em Duas Jogadas

A maioria: de nós já viu aquela pintura famosa intitulada ―O Jogo Perdido‖, O jovem está jogando uma partida de xadrez com o

diabo, O artista pintou o demônio com um sorriso maldoso na face e com um olhar de triunfo, porque o jovem subitamente percebeu o fato de que o jogo estava perdido. Seu coração está cheio de consternação porque lhe parece agora que não vale a pena terminar a partida.

Certo dia um famoso jogador de xadrez viu a figura e depois de estudá-la par alguns momentos, exclamou: ―O artista está errado! O jogo não está perdido. Tragam-me um tabuleiro de xadrez e eu o provarei. Trouxeram-lhe o tabuleiro de xadrez e ele arranjou as pedras nas mesmas posições que se viam na figura. Então disse: ―Posso ganhar esse jogo em duas jogadas.‖ E o fez! O que parecia ser um jogo perdido tomou-se uma vitória.

A história tem uma grande lição. Quando o demônio é bem sucedido em envolver um jovem pelos meandros do mal, fá-lo com um único objetivo: Destruí-lo. Não se passa muito tempo até que ele tente persuadi-lo de que sua condição é sem esperanças; de que o jogo da vida está perdido. Mas este não está nunca completamente perdido. Não importa quão desafiadora a situação seja, Me pode ser sempre vencido, e vencido em duas jogadas. Primeiro, arrependimento, que é a tristeza pelo pecado e um abandono das maneiras más de vida segundo: fé que nos conduz a aceitar a expiação, que nos pertence em Cristo.

O evangelista é o obreiro mais privilegiado na causa de Deus, pois pode ir até um pecador degradado, e desesperançoso, levando-o a reconhecer que a penalidade completa do pecado já foi paga. Em Cristo estamos seguros.

―Deus não cobrará duas vezes; Primeiro das mãos sangrentas de meu Salvador, E depois novamente das minhas‖ Se pudermos conduzir um homem a fazer estas duas jogadas, Deus o transformará de um pecador em um santo. São novas

maravilhosas. Tudo que foi perdido através do pecado, é restaurado em Cristo. Graças sejam ao Senhor, que nos deu a vitória através de Nosso Senhor Jesus Cristo.‖ 1 Cor. 15:57.

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PELA FÉ ESCOLHEU MOISES

HEBREUS 11:24 E 25 12

PRINCIPIOS PARA OBTER DECISÕES PESSOAIS

As conferências públicas não são os únicos lugares onde são feitas decisões. As decisões mais importantes ocorrem nos lares do povo. Quando Paulo comenta sua técnica evangelística, Fala de ―admoestar a cada homem e ensinar a cada homem em toda a sabedoria, para que possamos apresentar a cada homem perfeito em Cristo Jesus‘ (sol. 1:28). A visitação pessoal teve um -grande papel em seu programa evangelístico. ―Como nada que útil seja deixei de vos ensinar publicamente de casa em casa.‖ Atos 20:20. A apresentação pública apenas abre o caminho para o trabalho pessoal.

Ouvi um evangelista experimentado perguntar o seguinte a um grupo de ministros: Se dissessem a vocês que teriam de perder um olho e lhes dessem o ensejo de escolher, qual deles vocês prefeririam perder, sendo que a vista fosse perfeita em ambos? Aqueles pregadores pensaram por um pouco então admitiram que não saberiam de qual os olhos prescindir, pois precisavam de ambos. ―Naturalmente necessitais de ambos‖, disse ele. —Pois um olho é tão importante quanto o outro. Um ajuda ao outro. Existem dois olhos, representem em uma só coisa. Agora, permitamos que esses dois olhos representem os do aspecto do evangelismo

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- publico e pessoal. Ambos são iguais e ambos são necessários. Cada um deles ajuda ao outro. O evangelismo publico traz a convicção o e evangelismo pessoal traz a decisão.

Quão verdadeiro! O ministério público é mais geral e o ministério pessoal é mais específico. Na igreja as pessoas escutam ao pregador enquanto que no lar o pregador escuta às pessoas. Muda sua esfera de trabalho, mas não a sua missão. Sua audiência é menor mas sua tarefa é a mesma.

O Evangelismo Pessoal é o Teste Verdadeiro do Evangelismo Bem Sucedido

Esta visitação pessoal não é fácil. É talvez por isso que tão poucos gostem de fazê-la. Onde existem uma dúzia de pregadores

preparados para enfrentar à multidão, existe apenas um que se sente realmente à vontade nos lares. Muitos gostam de pescar com a rede, mas relutam em pescar com a vara. Mas a responsabilidade do pastor-evangelista está tanto no lar como no púlpito. Tanto por ―uma ovelha perdida‖ como pelas noventa e nove‖ no rebanho. E é para achar aquela ovelha perdida que ele foi enviado. As pessoas geralmente não estão perdidas na igreja. Os espinhos não são encontrados nos corredores dos templos. Mas muitos estão perdidos em suas casas e é aí que devemos procurá-los.

A Aproximação Pessoal de Natã

Por algum tempo Davi foi um homem perdido, mesmo ocupando o trono. Mas graças a Deus havia alguém que estava desejoso

de enfrentá-lo sozinho. Foi preciso muita coragem da parte de Natã para enfrentar o rei, olhá-lo de frente e dizer: ‗Tu és o homem‖. Mas esta franqueza salvou uma alma. Isto era evangelismo pessoal por excelência. E a aproximação de Natã é digna de estudo. Era psicologicamente firme. Construiu uma parábola e fez dela o veículo

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para sua mensagem. A parábola transmitiu o seu pensamento de maneira mais bondosa e apelativa. Seja qual for o poder que este profeta tenha tido como pregador, um incidente importante em seu ministério, pelo qual ele é sempre particularmente lembrado, é este apelo pessoal. E ele estava sozinho com o rei quando lutou pela alma deste.

Não importa quão eloqüente um ministro possa ser no púlpito, seu trabalho sempre será fraco, a menos que Me possa conversar calmamente com alguma alma necessitada e ganhá-la para Cristo. Se gastássemos menos tempo em sermonear e mais tempo no ministério pessoal, veríamos resultados muito maiores. E há muito o que fazer.

―Os pobres devem ser socorridos, cuidados os doentes, os aflitos e os que sofreram perdas confortados, instruídos os ignorantes e os inexperientes aconselhados. Cumpre-nos chorar com os que choram, e alegrar-nos com os que se alegram. Aliada ao poder de persuasão, ao poder da oração e ao poder do amor de Deus, esta obra não há de, não pode ficar sem frutos.‖ (1)

―Não é a pregação que é o mais importante; é o trabalho de casa em casa, raciocinando sobre a Palavra, e explicando-a. São os obreiros que seguem os métodos e Cristo seguiu, que ganharão almas para sua recompensa.‖ (2)

Lembramo-nos de que Jesus estava visitando um lar quando disse: Hoje houve salvação nesta casa‖. E Ele era o exemplo perfeito de um evangelista pessoal. Dezenove vezes o registro do evangelho mostra-O lidando com uma única pessoa. De fato, a maioria das grandes verdades que Ele proferiu, foram ditas a uma única pessoa. Criava situações tais para que pudesse estar sozinho com os indivíduos. Nicodemos veio até Ele de noite, porque temia o povo. Sua esposa, seus amigos, a sociedade de Jerusalém, tornariam isso embaraçoso para ele, se soubessem que estava falando com Jesus. Assim sob o manto da escuridão, fugiu para estar sozinho com o Mestre. Existem muitos como Nicodemos hoje Eles precisam

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da ajuda individual de um evangelista pessoal. Ganhar almas não pode ser feito somente por procuração; deve ser feita por proximidade.

―Se metade do tempo agora usado em pregar, fosse dado ao trabalho de casa em casa, ver-se-iam resultados favoráveis. Efétuar-se-ia muito bem, pois os obreiros poderiam entrar em íntimo contato com o povo. O tempo gasto em visitar as famílias e ali falar com Deus em oração, cantar Seu louvor e explicar Sua, palavra, fará freqüentemente mais benefício do que uma série de conferencias publicas. Muitas vezes a mente é impressionada com força dez vezes maior por apelo pessoais do que por qualquer outra espécie de trabalho.‖(3)

Sendo sociáveis e aproximando-vos bem do povo podereis mudar-lhes a direção dos pensamentos muito mais facilmente do que pelos mais bem feitos discursos. A apresentação de Cristo em família, ao pé da lareira e em pequenas reuniões em casas particulares, é muitas vezes mais bem sucedida em atrair almas para Jesus, do que sermões proferidos ao ar livre, às turbas em movimento, ou mesmo em salões ou igrejas.‖ (4)

Quando uma equipe evangelística está trabalhando junto, será a responsabilidade particular de alguns membros, o estudo das escrituras com o povo em seus lares. Alguns naturalmente gastarão mais tempo do que outros nesse trabalho, mas mesmo assim, cada membro da equipe deveria ter uma parte no mesmo, pois é o evangelismo pessoal que realmente traz resultados.

―Quando as grandes multidões se apinhavam em torno do Salvador, Ele instruía aos discípulos e à multidão. Então, depois do discurso, os discípulos misturavam-se com o povo, repetindo-lhes o que Cristo dissera. Muitas vezes os ouvintes haviam aplicado mal as palavras de Cristo, e os discípulos lhes diziam o que declaravam as Escrituras e o que Cristo havia ensinado que elas diziam.‖ (5)

Os lares se abrirão para estudo regular da Bíblia, e isto continuará por muitas semanas ou meses, mas quando chegar a hora da decisão, se o evangelista que primeiro despertou o interesse por sua apresentação pública, for à casa com o instrutor

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bíblico, isso significará muito no trazer aquela alma através do novo nascimento.

A relação entre o médico e a enfermeira, é uma boa ilustração. Quando chega o tempo de ser lançada no mundo uma nova vida, a enfermeira que durante meses e meses cuidou da futura mamãe, chamará agora ao médico, e juntos tratarão de trazer a nova vida ao mundo. Cada nascimento é uma crise e cada um deles precisa de cuidado pessoal e profissional. O médico tem a responsabilidade de verificar antes de retirar-se se aquela pequenina alma está bem encaminhada na estrada da vida. Assim, o instrutor bíblico que conhece a arte do trabalho pessoal, arranjará se possível, a presença do evangelista no momento em que aquela alma esteja renascendo no reino. A maioria de nós viemos ao mundo sozinhos, mas muitas vezes aparecem gêmeos na família, Assim também, a maioria da decisões para Cristo são individuais, mas às vezes uma família inteira tomará sua decisão juntamente. Mas isso não é comum, e mesmo nesse caso, cada um deve receber atenção pessoal. E como o médico, o evangelista deve certificar-se de que cada converso está bem encaminhado na estrada para o Céu.

O indivíduo que finalmente se apresenta para o batismo, terá feito muitas decisões ao longo da senda de preparo. Não somente se decidiu a servir a Cristo, mas essa decisão significou a remoção do lixo dos hábitos mundanos. E isso não foi fácil. Ele conhece o poder do inimigo, porque cada centímetro de terreno foi contestado pelo príncipe deste mundo, Quão freqüentemente o evangelista teve que permanecer com ele na hora de conflito espiritual. E cada nova batalha foi vencida por intermédio do trabalho pessoal. Ganhar a vitória sobre os vícios, geralmente requer toda a força mental, física e espiritual que se possa reunir. Encontrar um novo

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emprego onde se possa obedecer a Deus é freqüentemente um teste, mas nada se compara ao teste que alguns têm que atravessar para deixar de fumar ou de beber.

Bem me lembro de como passei uma noite inteira com um pobre homem, andando para um lado e para outro, nas ruas de uma grande cidade, falando, orando, e aconselhando essa pobre vítima do vício. Ele estava desesperado nas ganas do hábito de beber. Alguém tinha que ajudá-lo através da crise, e a decisão veio afinal enquanto estávamos de joelhos. Gostaria que o vissem poucos meses depois, na igreja, sua continência irradiando sua vitória. Nunca suspeitariam da luta getsemânica através da qual ele passou naquela noite terrível. Pouco tempo depois, estava tomando cargos de responsabilidade na igreja. Foi o evangelismo pessoal sobre o duro calçamento das ruas da cidade que o trouxe para a igreja.

Um jovem bateu em minha porta certa noite. Quando eu abri ele disse-me: — O senhor é o pastor Anderson? —Sim, disse eu. Então de maneira muito desembaraçada, disse: — Vim pedir-lhe que desaconselhe minha irmã de assistir às suas reuniões. Ela tem sua própria igreja e não precisa da sua. Foi tão descortês, quanto possível. Assim, sorrindo, convidei-o a entrar para tratar do problema. Sentamo-nos diante de uma

lareira. Era inverno, e a Nova Zelândia é fria no mês de julho. Palestramos por um pouco de tempo e eu aprendi muito acerca dele. Era mecânico e corredor de motociclismo. Como muitos rapazes de seu tipo, pontuava suas sentenças com expressões bastante coloridas, Mas era mais do que mecânico. Ensinava uma classe de Bíblia para os meninos na igreja um pouco mais adiante na estrada. Olhei para suas mãos bastante manchadas com nicotina, e depois disse-lhe:

— Jack, o que você ensina aos meninos em sua classe? — Bem, ensino-lhes o evangelho, replicou. — Mas você conhece o poder do evangelho em sua própria vida? perguntei. — Sim, penso que sim Apontando para seus dedos, perguntei-lhe calmamente — Então o que significam essas manchas? —Oh! Um homem enlouqueceria em meu trabalho se não fumasse, disse ele. Assim, esquecemos o problema da irmã, e começamos a discutir o seu próprio problema pessoal. Isto conduziu a um estudo

sobre a santificação. E antes que houvéssemos terminado, Jack estava em lágrimas. Deu o coração a Deus. Tirando do bolso os cigarros e os fósforos, atirou-os ao fogo como verdadeira oferta queimada ao Senhor. Foi uma noite de vitória, mas a luta foi terrível. Depois disso, Me

vinha à minha casa toda segunda-feira à noite com sua irmã e alguns outros. Estávamos estudando a Bíblia juntos. Certa noite ao nos levantarmos para nos despedir, eu disse:

— Jack, quero falar com você a sós. E entramos em outro quarto. — Meu filho, você está fumando de novo! disse-lhe olhando-o bem nos olhos. Ele corou e abaixou a cabeça dizendo: — Como o senhor ficou sabendo? Contei-lhe que ficara sabendo por sua atitude. Ele era um rapaz intimorato, mas com os olhos banhados em lágrimas, disse: — Pastor, simplesmente não posso vencer. Comecei a fumar de novo há duas semanas. E esperava que ninguém descobrisse. Fizemos um plano. Pelo poder da oração conquistaríamos o diabo. Ele passava por minha casa cada dia em seu caminho para o

trabalho. Arranjamos para que Me parasse todas as manhãs às 7,30, na hora do almoço e então cada noitinha

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também às 5,30. Buscaríamos ao Senhor para que nos ajudasse a conseguir a vitória. Não me foi fácil arranjar o programa de trabalho para estar ali naqueles horários. Eu estava dirigindo uma campanha evangelística na cidade e tinha muitos outros compromissos, mas a salvação da alma daquele jovem estava em jogo. Durante os três meses seguintes, reuni-me em oração três vezes por dia com aquele jovem, e o poder da oração quebrou as cadeias do vício. Ele e suas duas irmãs mais tarde foram ao nosso colégio e tornaram-se obreiros na causa de Deus. Mas foi o evangelismo e o estudo da Bíblia juntamente com a oração que o tomaram um vencedor em Cristo Jesus.

―A influência pessoal é um poder. Quanto mais direto for nosso trabalho por nossos semelhantes, tanto maior o beneficio realizado. . . Deveis entrar em íntimo contato com aqueles por quem trabalhais, para que não somente vos ouçam a voz, mas vos apertem a mão, aprendam vossos princípios, e sintam vossa simpatia.‖ (6)

Em seu excelente livro, O Instrutor Bíblico, Louise Kleuser exara os princípios reais do evangelismo pessoal. Parece haver pouco a adicionar, por ela ter coberto tão completamente o assunto. E é da experiência real que fala a senhorita Kleuser quando diz:

―O instrutor bíblico é a ferramenta que o Senhor usa para cultivar o solo no qual o evangelista plantou a semente. Mas somente Deus pode fazer com que a planta produza fruto. Somente Ele pode mudar o coração; somente Ele pode conduzir essa alma a uma decisão. Se o obreiro permanecer junto à fonte de todo o poder, e se estiver disposto a ser uma ferramenta na mão de Deus, então Deus pode usá-lo efetivamente para trazer almas para Cristo.‖ (7)

Às páginas 72 e 73 desse livro estimulante, encontramos uma análise maravilhosa, baseada no livro Evangelismo. Experiências interessantes são narradas e são exarados princípios vitais. Cada pastor-evangelista será recompensado por estudar cuidadosamente esses princípios. Os títulos que se seguem

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são alguns sob os quais se encontra uma variedade de mais de cinqüenta assuntos.

O trabalho pessoal na mensagem final. Ilustrações dó trabalho pessoal. Encontrando acesso aos corações. O trabalho pessoal e o estudo da Bíblia.

Sete Princípios para Assegurar Decisões Notemos agora os sete princípios definidos que devem ser observados na conquista pessoal de almas, se queremos ser bem

sucedidos. São eles: 1º Ser agradável. Tratar dos pontos da verdade nos quais podemos concordar. Assim construiremos a confiança. ―Se o obreiro mantém o coração alçado em oração, Deus o ajudará a dizer a palavra oportuna a seu tempo.‖ (8) ―Concordai com as pessoas em todos os pontos em que podeis fazê-lo consistentemente.‖(9) 2º Ser alerta. Observar as indicações que revelem a linha de pensamentos. Ajudar ao indivíduo a construir as suas próprias conclusões. Lembrar-se de estar construindo uma ponte, e assim erigir um pilar de cada vez. ―Sobre o ministro repousa a sagrada responsabilidade de cuidar das almas como alguém que tem de prestar contas. Ele deve interessar-se nas almas por quem trabalha, encontrando e resolvendo todas as perplexidades e dificuldade que as atrapalham no andar na luz da verdade.‖(10) 3º Ser direto. Mover-se diretamente ao objetivo. Evitar quaisquer circunlocuções. Conservar o pensamento da pessoa avançando em direção ao alvo. Mas não depressa demais. ―O segredo do nosso sucesso e poder, como povo advogando a verdade, será achado ao fazermos apelos diretos e pessoais aos interessados.‖ (11) ―Fazem-se convites gerais, mas não suficientes convites definidos e pessoais. Se os chamados pessoais fossem feitos em maior número, mais decisões seriam feitas em favor de Cristo.‖ (12) ―Muita vezes as mentes são impressionadas com dez vezes

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mais força com os a os pessoais do que, por qualquer outro tipo de trabalho.‖ (13) 4° Ser bondoso e cortês. Lembrar que Jesus era sempre cortês. Nunca uma palavra descortês. Cada manhã Ele recebia uma língua erudita, (Isa. 50:4.) Sabia dizer a seu tempo uma boa palavra ao que está cansado‘; pois nos lábios Lhe era derramada graça, a fim de que transmitisse aos homens, pela mais atrativa maneira, os tesouros da verdade.‖ (14)

―Ponde no que dizeis o espírito e a vida de Cristo.‖ (15) ―Ponde na voz toda a ternura e amor cristãos possíveis.‖ (16) 5° Nunca argumentar. E possível vencer uma discussão e perder o homem. Um bom vendedor nunca argumenta. E o evangelista deve ser um bom vendedor. ‗Satanás está constantemente procurando produzir efeitos maus, com ataques rudes e violentos; mas Jesus encontrou acesso às mentes por intermédio de suas associações mais familiares. Ele perturbava o mínimo possível, sua costumeira corrente de pensamento.‖ (17) 6º Combater as objeções com as Escrituras. Jesus combatia os argumentos dos fariseus e as tentações do diabo, citando a Palavra de Deus. A cada novo desafio Ele respondia; ―Está escrito!‖ Encontraremos nossa força onde o Salvador encontrava a dele. ―Cada uma das objeções pode ser combatida com um ‗Assim diz o Senhor‘.‖ (18) As histórias da Bíblia formam uma base maravilhosa para um apelo ao coração. Quando Rebeca enfrentou a decisão real, ouvia por um lado o chamado do Senhor, e por outro lado sentia a atração natural do lar. Era uma crise em sua vida e não era uma decisão fácil de fazer. Afinal disse: ―hei‖. Esta decisão a pôs na linhagem real. 7º Fazer a pergunta conveniente. Quando uma pessoa é preparada pelo estudo bíblico e pela oração e chega ao ponto em que

eu sinto que está pronta para fazer uma decisão inteligente, faço três perguntas importantes, que feitas na ordem certa, geralmente trazem a resposta certa:

1ª. ―Naturalmente V. S. crê que esta é a mensagem de Deus ao mundo, não?‖ Quando obtemos a resposta afirmativa, podemos dizer: ―Sim, eu sabia que V. S. cria isso.‖ Entretanto não se detenha em dissentir isso, mas passe vagarosamente à próxima questão.

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2ª ―E algum dia pretende finalmente aceitá-la, não?‖ Novamente ao receber a afirmativa, prosseguir até a última questão dizendo alguma coisa como esta: 3ª Tenho somente mais uma questão a propor-lhe — QUANDO?‖

Havendo feito esta pergunta de vida ou morte, o lhe a pessoa bem nos olhos e espere a reposta. Não diga outra palavra, mas espere, e espere com o coração elevado a Deus em oração para que Deus dê àquela alma a coragem de que necessita. Freqüentemente ela estará lutando tenazmente. E o silêncio toma mais real a ―voz mansa delicada‖ do Espírito.

Quando a resposta for ―Agora‖, aperte-lhe a mão e diga: ―Graças a Deus por isso. Essa decisão traz alegria aos anjos.‖ Imediatamente sugira que se ajoelhem para orar e assim selar a

decisão. Será bom insistir que a própria alma que se decidiu ore também. Se está muito nervosa para orar, faça-a repetir as palavras que disser. Mas procure fazê-la uma oração pessoal dela.

Entretanto um ponto mais vital ainda para ser lembrado é: Nunca fazer a última pergunta antes de haver colocado o fundamento certo; até que seja impressionado pelo Espírito Santo, de que ―agora é o tempo aceitável, agora é o dia da salvação‖, para aquela alma em particular.

Não ganhamos os corações por argumento, mas sim por amor. Algumas vezes é possível esmagar a resistência de alguém pelo argumento, mas os corações não são movidos em direção a Deus por este método. Um bloco de gelo pode ser esmagado com uma martelada, mas os pedaços ainda continuam a ser gelo. Ponha-o entretanto ao calor dos raios solares e ele logo desaparecerá.

Nunca deixe um lar sem fazer uma oração. Pode não ser necessário ou mesmo conveniente ajoelhar sempre, mas uma oração simples, ofertada com sinceridade, significará muito.

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Nada moverá o coração como o espírito de oração e do amor de Jesus

―Apresentai a Jesus.... Deixai que Seu amor enternecedor, sua graça preciosa jorrem dos lábios humanos. - Tomai a Palavra, e com terno, anelante amor pelas almas, mostrai-lhes a preciosa justiça de Cristo, a quem vós e elas precisais ir para vos salvar.‖ (19)

―Se tão-somente nos humilhássemos diante de Deus, e fôssemos bondosos, corteses, compassivos e piedosos, haveria cem conversões para a verdade onde agora existe apenas uma.‖ (20)

Técnicas para Ajudar aos Novos Conversos

PROBLEMA: Recentemente um jovem obreiro perguntou-me o seguinte: ‗Quando um homem decide pôr a vida em harmonia com

a vontade de Deus e observar o sábado, o que o Sr. pensa ser o melhor método: Ajudá-lo, aproximando-se de seu empregador, ou deixá-lo entrevistar o empregador e resolver o problema sozinho? O novo converso não necessita de experiência, lutando suas próprias batalhas para desenvolver um caráter cristão forte?‖

RESPOSTA: Não há dúvida de que o caráter se desenvolve por intermédio de tais experiências, mas o problema é muito mais profundo do que a questão deixa prever. Seria mais conveniente resgatar algumas experiências que ilustram Como os nossos ministros podem ajudar aos novos conversos a conseguirem o sábado livre. Para mim é uma questão vital e posso sugerir uma técnica que auxiliará a essas almas na época em que mais precisam.

Na Inglaterra Conservadora

Primeiro vamos à Inglaterra conservadora. A tradição constitui ali uma grande parte da vida nacional. Entretanto também existem

muitas almas de coração honesto que estão desejosas de encontrar a luz. Geralmente têm que perder seus empregos para guardar o sábado. Num país onde geralmente

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se aprende apenas um ofício, e este mesmo é aquele que tem sido seguido pela família durante gerações, é difícil para eles pensarem em um tipo diferente de trabalho. também são pequenos os seus salários e geralmente não há reserva financeira na qual possam se apoiar em meio à crise.

A família pode consistir do marido, da mulher e de três ou quatro crianças. Todos têm que ser alimentados, vestidos, calçados e assim por diante. São um povo que está entretanto esperando por alguém que os guie. Como evangelista em Londres tive o privilégio de trazer à mensagem ali, centenas e centenas de almas, mas a grande maioria perdeu o emprego para poder obedecer ao Senhor. Como obreiros, nossa própria fé foi posta a uma prova severa, e muitas vezes tivemos que colocar as mãos nos bolsos e compartilhar das dificuldades daqueles queridos irmãos.

Descobri o seguinte: Se como ministro, ia ao empregador do homem e punha o caso diante dele, não tanto para pedir por ele mas para representá-lo, isso ajudava grandemente a fé dos novos conversos. Alguns ministros dizem que melhor para os novos conversos lutarem sem ajuda. Dizem que faz com que a pessoa fique mais forte. Não tenho notado isto. Pelo contrário notei enfraquecimento e desencorajamento através desse método. É o lugar do pastor estar com suas ovelhas, e especialmente com os cordeiros. E esses novos conversos são ―cordeiros‖ - de acordo com a interpretação do Espírito de Profecia.

Além disso, percebemos que na Inglaterra um empregador está numa camada social mais elevada do que seus empregados, e quando o empregado vai pedir um favor, encontra-se imediatamente em desvantagem. Mas quando eu vou, como um ―membro do clero‖, como costumam dizer lá, posso falar ao empregador como igual e como profissional. Mais ainda, se o empregador levanta oposição, como geralmente o faz a princípio, posso então referir-me a outros com

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quem obtive sucesso em conseguir os privilégios do sábado. E se porventura ele começa a argumentar pelo lado teológico da questão, estou mais preparado para enfrentar seus argumentos, enquanto que o novo converso não poderia sair se tão bem e sua confiança na verdade poderia ser enfraquecida. Esse empregador pode estar familiarizado com certo tipo de argumentação por mais de vinte anos, e quando o novo converso abre a questão, ele diz: ―Oh, não, você não vai querer fazer uma coisa tão boba.‖ E começa a argumentar acerca da questão tão sutilmente que o pobre homem não poderá responder. Mesmo que não seja estremecido em sua fé, o novo converso não pode sugerir a seu empregador como dirigir seus negócios. Assim, quando o patrão diz: ―Não, acho que não poderíamos fazer isso‖, esse é o fim da questão.

Mas quando o empregador começa a dizer-me quão impossível é obter o sábado livre, simplesmente respondo: ―E estranho, amigo; naturalmente pode ser que o Sr. não possa levar avante o seu negócio dessa maneira, mas outras firmas estão fazendo ajustes semelhantes‘ Então continuando posso citar um caso similar ao dele. Citando o lugar e o homem, posso dizer como esta firma arrumou seu programa para ajudar a outro homem em idênticas posições. Quando termino de relatar a experiência, talvez esse empregador diga: ―Bem isso talvez possa ser feito.‖ Pode-se então fazer outras sugestões acerca de como outras pessoas resolveram o problema.

Isto não é meramente teoria. Tenho visto o método em ação em centenas de casos. Enquanto eu trabalhava em Londres, atravessávamos uma depressão econômica, mas as experiências que tive ali, ajudaram-me a desenvolver algumas técnicas sólidas que sei que o Senhor pode abençoar. Sempre que um homem chega ao ponto de decidir-se pelo sábado, eu o aconselho a não ir ao seu empregador antes de eu

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ter tido unia entrevista com ele. É um assunto muito importante ter contato com os empregadores. Conheceremos melhor ao homem, e assim poderemos ajudá-lo mais definidamente ao entrar para a igreja. Pode haver alguns detalhes que convém que o pastor conheça acerca dele.

Um Ascensorista Resolve seus Problemas de Sábado

Seu serviço pode não ser sempre em favor de homens- chaves. Havia um ascensorista em um grande banco e Cia. de seguros

numa cidade do norte dos Estados Unidos. Um ascensorista, geralmente não tem muita influência. Este homem também queria guardar o sábado, assim que fui ver o seu gerente. Levei comigo um jovem obreiro. t um bom treinamento para os jovens permitir que eles se associem conosco nessas entrevistas importantes.

Fomos juntos descobrir primeiro o nome do gerente e então esperamos um pouco para vê-lo. Ele provavelmente pensou que eu estava ali para discutir um problema de milhões de dólares. Eu tinha dado a entender à sua secretária que era um assunto muito importante. E era. Quando afinal fomos introduzidos em seu escritório, eu disse:

— Bem, Sr. S., quero falar-lhe acerca de alguma coisa que pode parecer-lhe um assunto insignificante, mas que é um grande problema para mim. Não se relaciona com dinheiro, mas o Sr. tem um ascensorista que não possui saúde muito boa. Ele foi ferido na última guerra.

— Sim, eu sei, replicou ele interessadamente. — Bem, esse homem está em dificuldades — não desonestidade ou coisa que o valha, mas poderia conduzir à desonestidade, se

ele não agir. Esperei um momento enquanto esperava que a afirmação fizesse sua impressão. — Esse homem quer ser honesto diante de Deus. E se

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o homem não é honesto diante de Deus, quem pode garantir Que ele seja honesto para com os seus semelhantes. E afinal de contas, os Srs. estão em um banco aqui. Bem, Sr., esta é a minha dificuldade, e tanto o senhor como eu estamos envolvidos nela.

Expliquei o assunto para ele e então de maneira simples perguntei-lhe: —Não haveria alguma coisa que o Sr. pudesse fazer acerca deste caso? Observem sua resposta típica: — Oh, ele pode ter os sábados à tarde livres! Nós fechamos aos sábados, ao meio-dia. Farei com que ele saia antes das onze

horas para que possa ir ao culto. Está certo. —É muito generoso do Sr. sugerir isto, e nós o apreciamos, mas isso não resolve o problema. Se o sábado começasse às 11

horas estaria bem, mas ele começa na noite anterior. — O que o Sr. quer dizer com isso Então eu lhe expliquei alguma coisa sobre os limites do sábado. — E apesar de apreciarmos imensamente sua sugestão, ainda assim esse empregado se sentiria tão culpado perante Deus por

trabalhar das 7 às 11 como se trabalhasse o dia inteiro; e de fato seria melhor vê-lo trabalhar o dia inteiro, porque então não se estaria enganando a si próprio pensando que estava guardando o sábado quando somente estava guardando meio sábado.

A princípio o gerente pareceu intrigado, mas logo disse —Oh, sim, compreendo. Parece que teremos de modificar o horário todo, não? Mas sem dúvida podemos resolver o caso.

Tentaremos fazê-lo, esteja certo. Obrigado pela visita.

Problemas de Sábado em uma Siderúrgica

Com um grupo de obreiros, eu estava conduzindo reuniões

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evangelísticas em um dos maiores centros industriais da América. Estávamos durante aqueles tempos difíceis da guerra. Muitos homens estavam tão agarrados obrigatoriamente a seus trabalhos, que não era fácil conseguir o sábado livre. Lembro-me de haver do entrevistar o dono de uma grande siderúrgica em favor de um de nossos novos conversos. Entrando na fábrica, fui diretamente ao diretor e disse:

— Senhor, gostaria de vê-lo em particular. Tenho alguma coisa a tratar com o Sr., que se refere a um de seus empregados. Ele levou-me a seu escritório, mas a secretária estava ali. Observei: Bem, isso é ótimo, mas não poderíamos conversar calmamente sobre o assunto? A secretária sabia o que fazer. Não queria nenhum olhar atravessado daquela moça para influenciar ao empregador enquanto eu

apresentava o caso. Quando estou sozinho com o empregador e Deus está do meu lado, compreendo que estou na maioria. — Senhor S., tenho uma grande dificuldade e vim até aqui para ver se o Sr. poderia ajudar-me. Sou um estranho para o Sr., mas

preciso da sua ajuda. Sou ministro e pastor daquela igreja da Rua...................... Como o Sr. sabe, nós guardamos o sétimo dia da semana o sábado. Eis aqui a minha dificuldade. Um de seus empregados tem vindo às nossas reuniões e expressou ultimamente o desejo de ser batizado e unir-se com a nossa congregação. Naturalmente estamos contentes com a sua decisão, mas isso levanta um grande problema. Sua fábrica está levando agora um programa de sete dias por semana. Se eu aconselhar aquele homem a fazer o que a sua consciência está mandando que faça, ele não estará aqui no próximo sábado, e isto sem dúvida interferirá no seu programa de trabalho. Mas ainda assim, a minha consciência não permitiria que eu o aconselhasse de outra maneira.

{209} Quando me vem perguntar o que deve fazer acerca da guarda do sábado, então diante de Deus eu tenho um dever, e por isso

devo dizer-lhe o que eu creio que Deus quer que ele faça. Estou seguro que o Sr. pode perceber a dificuldade em que estou. — Sim, vejo, replicou ele. Então continuei: — Bem Sr., isto afinal chegou a uma crise e eu tenho mesmo que impressionar aquele homem com a urgência de fazer a vontade

de Deus. Entendo que ele é um homem-chave, e quando lhe digo que ele vai guardar o sábado, independentemente do emprego, os Srs., perderão um homem-chave. Mas diante de Deus, não posso esmagar a minha própria consciência, e como ministro não posso esmagar a consciência daquele homem. E uma espécie de triângulo que dificulta a nós três, Certamente deve haver um caminho lógico para que nós resolvamos isso juntos. O que o Sr. pensa?

O gerente, nesse caso, sugeriu que o homem estivesse livre do trabalho em tempo de reunir-se à nossa congregação às 11horas. Eu agradeci, mas disse que o problema era mais difícil do que isso.

— Ele não pode vir trabalhar no sábado e ter uma consciência tranqüila. O Sr. não gostaria de ter um empregado cuja consciência não está tranqüila. Mas se nós três pudéssemos achar uma forma de ajudar a este homem no presente momento, sinceramente creio que o Sr. ficará com um empregado melhor do que o que tinha antes. Entretanto, esse homem terá que ter os seus sábados livres.

O gerente, um aristocrata centímetro por centímetro, não tinha mais do que quarenta anos, mas ainda assim era um homem de negócios capaz.

— Vejo seu problema, disse pensativamente. Não sei como vamos resolvê-lo, mas certamente ‗vamos ,resolvê-lo de alguma maneira.

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Então ele continuou dizendo que tinha uma tia que era adventista. Ela costumava escrever à sua mãe na América do Sul e

contar-lhe acerca de suas crenças. Recordou-se acerca desse ―negócio de sábado‖.

— Ele não poderá estar aqui, em nenhum sábado, não importa quão apertados de trabalho estejamos? perguntou. —Temo que não repliquei e mais do que isso, tampouco o pode estar aqui na sexta-feira à noite. E no inverno terá que sair antes

do pôr ao Sol. Provavelmente o Sr. se lembrará das cartas de sua tia, que o sábado começa no pôr do Sol. — Bem, isto é um problema que interferirá com os turnos. Mas precisamos achar uma forma de resolve-lo. Iremos achá-la. — Muito obrigado, disse eu. É muita bondade de sua parte. Se possível veja que o Sr. Fulano saia uma hora antes do pôr do Sol

de sexta-feira, para que possa ir para casa preparar-se para o sábado. Novamente assegurou-me que faria o seu melhor. Apertei a mão do homem. — Sr. S., o Sr. me prestou um grande serviço hoje. Vim aqui com o coração pesado e estou saindo tão feliz quanto me é possível.

Creio que o Senhor nos ajudou nesta manhã e encontrou um caminho para nós. Sua resposta foi significativa: — Não sou um homem religioso, mas creio que Ele o fez. Cumprimentei-o e não disse mais nada Ele era um homem ocupado e

eu também Na sexta-feira, o turno do homem terminava às cinco horas e o sábado entrava mais ou menos às cinco e meia. Mas o gerente

veio para ele às quatro horas e disse: — Bem, parece que este vai ser o seu primeiro sábado não? O pastor disse que você deveria sair mais ou menos uma hora antes

do pôr do Sol, e acho melhor você ir andando. Nós

{211} lhe pagaremos. Não quero nada na minha consciência. Não gostaria de ficar responsável por você.

Freqüentemente no mundo dos negócios os homens mais importantes são mais bondosos e compreensivos Por esta razão eu sempre faço o possível para ver os homens de cima. Quando vou a um homem de negócios importante, com o meu problema, não o deixo pensar que se trata de um problema dele. Isto é psicologia profunda. Existe alguma coisa na natureza humana que gosta de ajudar as outras pessoas quando estão em dificuldades depois que contei a ele o meu problema, volto-me e digo: É não somente minha a dificuldade, mas ela também é sua. Uma espécie de triângulo, que envolve a nós três. Mas o outro homem está mais envolvido do que o Sr. ou eu, porque ele tem que viver a verdade do sábado diante de seu Deus. Não posso dizer àquele homem para trabalhar no sábado. Se eu pudesse, o faria. Alguns ministros parecem capazes de dizer a seus homens para trabalharem em qualquer dia da semana. Mas eu não, O seu homem veio a mim pedindo conselho sobre o que deveria fazer. Tenho que ser leal a Deus, e ao assim fazer estou criando dificuldades para o senhor. Portanto eu vim vê-lo, porque não pude encontrar uma forma de resolver o problema.‖ Converso sobre o assunto de maneira calma, dando a ele tempo para refletir, e desde que comecei com este método simples de aproximação não me lembro de um único exemplo onde eu tenha deixado de obter a decisão desejada.

Sábado Livre em uma Fábrica de Aviões

Uma senhorita veio para a verdade, com sua mãe. Havia sido treinada para inspecionar as linhas de montagem de uma fábrica de

aviões que empregava milhares de homens e mulheres. Fui ao escritório principal, apresentei o meu cartão e informei-me acerca de quem eu deveria ver. Mas a secretária disse que eu não poderia vê-lo pessoalmente. Pelo

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menos cria que ele não haveria de vir. Mas que eu poderia falar com ele pelo telefone. Comecei a pensar: Mas o que eu poderei fazer pelo telefone, onde nem ao menos posso vê- lo? Então a secretária indicou-me a cabine telefônica onde eu deveria esperar o seu chamado. Fui até lá e orei a Deus para que me desse uma voz bondosa, pois essa era a única maneira pela qual este homem poderia julgar-me.

Depois de cinco minutos o telefone tocou. — Sr. P., sou um estranho para o Sr., porém estou em grande dificuldade. Mas o que é mais importante, é que a minha

dificuldade envolve o senhor. Depois dessa abertura, prossegui com a minha técnica costumeira e assegurei-lhe que estávamos cientes de que a guerra estava

funcionando sete dias por semana. Expliquei-lhe o caso, lamentando muito que não pudesse vê-lo pessoalmente, mas deixaria o problema com ele. Ele então disse:

— Não sou o homem que o Sr. deveria ver. E deu-me o nome de um outro homem, ressaltando todavia, que eu não poderia vê-lo até segunda-feira. Eu disse-lhe então que não poderia esperar tanto, pois aquele dia era uma sexta-feira, e a moça definitivamente estava decidida a

não trabalhar outro sábado. E se ela levasse avante a sua intenção, não estaria no trabalho no dia seguinte e isso atrapalharia o serviço pois ela era uma inspetora. Disse então de modo apelativo:

— Amigo, sei que estou atrapalhando, mas estou a serviço do sei; não posso fazer mais do que trazer o problema ao Sr. Entretanto, confio que o Sr. fará a coisa mais acertada. Estive orando acerca disso. E a moça também orou e chorou para que de alguma maneira Deus fizesse com que o Sr. pudesse ajudá-la. Assim que vim aqui para falar por ela.

Novamente afirmou que gostaria que eu visse o Sr. Fulano. Então eu pedi como favor que ele tentasse descobrir uma maneira de passar sem ela por aquele sábado até que

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eu pudesse resolver o assunto com o Sr. Fulano na segunda- feira. Ele prometeu fazer isto. Então pedi-lhe mais um favor. (Tudo isto foi através do telefone)

—Será que o Sr. não poderia abordar o assunto com o Sr. Fulano, pois quando ele chegar na segunda-feira de manhã, descobrirá que ela não estava no seu posto no sábado e quererá saber por quê. O senhor admite que ela é uma moça muito fiel, mas também sabe que ela é tímida, não? E que não gostaria de ter que aproximar-se dos chefes acerca disso. O senhor a ajudará?

— Ajudarei, sim. Foi a sua resposta. Na segunda-feira aquela moça voltou ao trabalho e não tinha estado muito tempo ali quando o gerente-chefe a chamou.

Ela teve oportunidade de relatar o seu caso. Eu havia falado com o gerente interno e ele havia explicado o caso ao seu chefe. Depois de ouvirem sua apresentação, eles mandaram-na de volta ao trabalho e passaram horas e horas tentando descobrir como poderiam passar sem ela no sábado. O Senhor respondeu às orações como eu tinha certeza que aconteceria, O gerente me havia dito que talvez eles pudessem arranjar o caso por alguns meses, mas eu pensei nas palavras de Moisés a Faraó ―Nada será deixado‖, e disse:

— Isso é bom, mas não é suficiente, pois os Srs. terão o problema de volta a cada poucos meses. Quando o gerente-chefe sugeriu que se desse a ela um bilhete cor-de-rosa, indicando que ela estava temporàriamente livre aos

sábados, o homem com quem eu havia conversado pelo telefone, disse: Isso não serve, pois somente servirá para termos a coisa de volta a cada momento. Assim que resolveram o seguinte: Dar a ela um bilhete azul permanente, estipulando que a Srta. O. deveria sair nas tardes de

sexta-feira, uma hora antes do pôr do Sol, e

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não precisava estar de volta antes de uma hora depois do pôr do Sol no sábado. Aquela jovem nunca teria conseguido o sábado, se alguém não tivesse falado por ela E o que é mais importante eu tive

oportunidade de discutir alguma coisa acerca da verdade com aquele gerente mesmo pelo telefone. E quem sabe se mais tarde, isto não produzirá frutos?

Privilégios de Sábado Para um Chefe de Departamento numa Loja

Outro caso interessante foi o de um homem que era chefe de departamento em uma loja muito grande que empregava 5.500

pessoas. O irmão em questão era chefe do departamento de decoração interior, Quando tomou a decisão pela verdade, criou-se um grande problema pois ele tinha um grupo de homens sob suas ordens. Já trabalhava para a mesma firma há 15 anos. Sua mãe era adventista, e como menino, ele havia assistido à igreja adventista, porém nunca se tornou um membro, e perdera o contato com a igreja aos quinze anos de idade. Mas agora havia vindo às nossas reuniões, e seu coração foi tocado. Veio a hora de aceitar a verdade do sábado. Apenas uma ou duas semanas antes disso, ele havia pedido ao Sr. B., o seu diretor gerente, um aumento de salário. Como o assunto requeria a passagem por comissão, ele estava um tanto apreensivo. Portanto quando eu me ofereci para ver o empregador por ele, disse: ―Não o faça agora! Se o Sr. pedir outro favor para mim, pode parecer que estou exigindo demais.‖ Não estava muito pronto para fazer a parte dele, assim que eu disse: ‗Muito bem, irmão, vamos continuar orando.‖

Depois de algumas semanas, eu lhe disse — Ouviu alguma coisa de seu gerente? —Não, disse ele. —Então são boas notícias, pois o homem está em débito

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para com você. Se ele lhe houvesse concedido o aumento de salário, então o irmão estaria em débito para com ele. Mas o irmão prefere o sábado ao aumento de salário, não?

— Sim, disse, preferiria mesmo receber um corte no salário a não obter o sábado livre. Assim que oramos juntos fervorosamente antes de eu ir entrevistar o gerente. Ao ser introduzido no luxuoso escritório do gerente, eu pedi para conversar particularmente com ele acerca de um de seus

empregados. O gerente interessou-se imediatamente não sabendo se se tratava de um roubo ou coisa pior. Cordialmente convidou-me a sentar. Continuei:

— O Sr. tem um empregado por nome Homero...... , e é sobre ele que eu desejo falar. Que espécie de homem é ele? — Bem, respondeu, está dando bom serviço, e tem um ótimo registro, entre os trabalhadores daqui. — Estou contente de saber isto, pois o Sr. veja, que recentemente vim a conhecê-lo. Mas existem algumas coisas no caso dele

que eu gostaria de estudar com o Sr. Ele está enfrentando um verdadeiro problema. — De que se trata? perguntou o gerente. Ele tem algo no coração que o perturba, e somente o Sr. pode ajudá-lo, repliquei. Falou-me acerca do caso. O Sr. vê, sou um

ministro, e vim vê-lo porque preciso de sua ajuda. Eis aqui o problema dele. O gerente era um judeu liberal, não muito cioso da guarda do sábado, Assim que eu disse: — Sou um ministro adventista. Não sei se o S. sabe muito acerca de nossa fé... — Conheço um pouco acerca de vocês, disse. Tive duas estenografas adventistas trabalhando para mim na firma de Nova York. Perguntei-lhe se elas haviam dado bom serviço e ele respondeu-me que o trabalho delas havia sido excelente, a tanto {216}

que ele confiaria às moças qualquer coisa. Perguntei então o que havia sido arranjado a respeito do trabalho delas no sábado, e ele disse que simplesmente lhes dera os sábados livres.

— Esplêndido! exclamei. Homero está justamente na mesma situaçáo.

—Oh, replicou o gerente de maneira pensativa, com ele é diferente, pois está a cargo de um departamento inteiro. Não sei o que poderíamos fazer no caso dele, Talvez seria conveniente chamá-lo, não?

Creio que ele queria ver quão sincero era o homem. Tivemos que esperar uns quinze minutos enquanto encontravam a Homero. Enquanto isto contei-lhe a história de uma loja de departamentos em Brisbane, onde eu havia conseguido privilégios de sábado para um dos empregados. Mencionei o fato de que ali, o gerente era um católico romano, e presidente dos Cavaleiros de Colombo, muito influente socialmente.

Enquanto conversávamos cordialmente, Homero entrou. O Sr. B., dirigindo-se a de, disse: — O reverendo aqui falou-me acerca desse plano de não trabalhar aos sábados. Você sabe, naturalmente, que se você não

estivesse encarregado de um departamento, poderíamos arranjar o assunto, ainda que mesmo isso fosse difícil. Mas como estão as coisas no momento, não sei como nos arranjaremos.

Assim o gerente fazia com que eu enfrentasse face a face o seu problema. Mas isto deu-me a oportunidade, pois eu lhe disse que a mãe de Homero havia pertencido à nossa igreja, e esta era realmente a igreja da infância de Homero, e que ele gostaria de voltar à igreja de sua infância. Depois perguntei se ele não achava uma boa coisa para um homem voltar à igreja de sua infância, e ele achou que sim.

Voltando-se para Homero, o gerente disse: {217} — O que você acha, Homero? Você pensa que poderemos resolver isso? — Sim, tenho certeza de que pode ser arranjado no meu departamento, Sr. B. —Bem, disse o Sr. B., você conhece o Sr. R. (o presidente da companhia, pois havia outras lojas em outras cidades), e você

conhece o Sr. C, (o gerente do departamento). como você se arranjará com eles acerca do assunto? —Acho que me arranjarei bem com o Sr. G., mas o Sr. R. será o grande problema. —Muito bem, disse o gerente, vou ‗cavar‘ para você e ver o que é possível fazer. Depois que Homero se retirou, tivemos uma longa conversa. Afinal, concluí, dizendo: — Sr. B., sei que o assunto que trouxe foi um assunto muito desorganizador, e sinceramente gostaria de não precisar trazê-lo,

mas eis o meu problema: Não posso aconselhar aquele homem a trabalhar no sábado quando sei que ele não deve fazê-lo, O Sr. não poderia esperar isso de mim. Veja, eu mesmo estou em dificuldades, e o Sr. é o homem que Pode ajudar-me.

Após quase uma semana, visitei novamente o Sr. B. Ele cumprimentou-me cordialmente, dizendo que estava satisfeito por ver-me. Perguntei como ele se tinha saído com o Sr. R.

— Oh, disse, não ficou muito satisfeito com o caso, mas deixou o problema nas nossas mãos para que o resolvamos. A próxima dificuldade será o Sr. C. Ele é mais difícil de se tratar. Entretanto, chegou hoje de viagem e seria conveniente que nós três discutíssemos o assunto juntos, enquanto o senhor está aqui.

Fiquei satisfeito, pois isso dava-me a oportunidade de conhecer mais outro homem importante da firma. Ao chamar o Sr. G., o Sr. B. descobriu que ele estava numa comissão dos chefes de departamentos, atuando como presidente. Mas

{218} o Sr. B. insistiu para que ele viesse discutir uma coisa muito importante, e o Sr, G. chegou dentro de cinco minutos.

Tirando o assunto de minhas mãos, disse o Sr. E.: — Que espécie de homem é Homero? Ele e esse Sr. O. haviam viajado por todo o país, e o Sr. O. falou muito bem dele, — Age sempre como um verdadeiro cavalheiro, não? continuou o Sr. E., pondo a Homero tão alto quanto lhe fosse possível no

conceito do Sr. O. Então disse: — Não gostaríamos de perder um homem como este, não? — Não, respondeu o Sr. G. Ele vai deixar-nos? —Espero que não, mas ele está em grande dificuldade agora. Acho que era melhor o reverendo lhe contar. Prossegui apresentando o meu caso, sentindo que no diretor-gerente eu tinha um bom amigo. Imediatamente o Sr. O. apresentou

uma dificuldade: — Apesar de ser um problema difícil, poderíamos arranjar isso, mas se déssemos o sábado a Homero, estaríamos em

dificuldades, pois temos bastantes judeus ortodoxos trabalhando lá em baixo, e eles todos desejariam o sábado livre e nós não poderíamos fazer isso.

—Ouça, disse o Sr. E., o senhor sabe de algum judeu nesta companhia que esteja disposto a perder o emprego para guardar o sábado? Se eu conheço aqueles judeus lá em baixo, posso afirmar que eles quereriam o sábado livre para prazer ou negócio. Em todo caso, o Sr. pensa que eles estariam dispostos a perder o emprego por causa de sua religião?

— Não, não penso .. ., replicou o Sr. O. francamente. — Bem, esta é justamente a diferença entre os judeus lá de baixo e este homem. Homero está disposto a perder o emprego, se

necessário, para poder guardar o sábado. Lembremo-nos de que esses eram dois dos maiores homens de negócios dos Estados Unidos, no ramo. Era interessante {219}

ouvi-los discutir este problema. Ouvi por algum tempo e então dirigi-me ao Sr. O.

— Sr. G., desejo colocar-lhe algo no coração. Eis aqui um homem que sente em sua alma um desejo real pelas coisas espirituais, O senhor e eu sabemos que as maiores coisas na vida não são somente os negócios. O senhor já disse que não deseja que ele deixe a sua firma, mas o problema agora está nas suas mãos, amigo. O que o senhor fará por Homem?

Ele pensou um pouco e depois de mais meio minuto, virou-se para o Sr. B., e perguntou: — O que você pensa acerca do assunto? — Eu penso que é nosso dever pelo menos tentar — Bem, talvez possamos. Sim, tentaremos. Conseguindo que eles chegassem até esse ponto, levantei-me para ir. —Não vá por um momento, disse o Sr. B., estamos contentes por o senhor estar aqui. Entretanto o Sr. O. desculpou-se dizendo que tinha que ir, e ao sair, apertei-lhe a mão e disse: — Homero tem sido um bom empregado. Será agora um empregado ainda melhor. Não precisa se preocupar, pois ele nunca os

desapontará. Então sentei-me e conversei com o diretor-gerente por alguns minutos. Finalmente levantei-me e disse: — Sr. B., devo dizer-lhe que de todos os gerentes que encontrei nas diferentes partes do mundo — e tenho encontrado alguns

importantes homens de negócios em Londres, na Austrália e na América — creio que o senhor foi um dos mais bondosos e atenciosos que já encontrei, e quero que o senhor saiba que apreciei muito sua cooperação. Orei muito para que o senhor pudesse ajudar de alguma maneira a Homero.

O homem deu um passo em minha direção e tomando-me a mão calorosamente, disse com sentimento;

{220}

— Reverendo, é bondoso de sua parte dizer isso e aprecio suas palavras. Creio-lhe quando diz que esteve orando por Homero. Mas quando o senhor orar por Homero, não quer fazer uma oraçãozinha por mim também?

Seus olhos estavam úmidos. — Irmão, farei uma grande oração! foi a minha resposta espontânea. E ao nos despedirmos, fêz-me o seguinte convite: — Sempre que o Sr. estiver na cidade, passe por aqui pra ver-me. O senhor sabe que em altos negócios como esse, é tudo

matéria, e não temos tempo de pensar nas coisas reais das quais o senhor nos contou. Homero está voltando para a igreja de sua infância, e alguns de nós deveríamos fazer isso também. Precisamos que os senhores ministros nos ajudem. Venha ver-me novamente, sim?

Foi um da daqueles raros momentos quando as palavras são desnecessárias, porque pode-se ler o significado das ações. Sei que o coração daquele homem foi tocado pelo Espírito de Deus, e creio que aquele contato valeu meses de trabalho na cidade de Cleveland. Penso que naquele homem tenho um amigo vitalício, e cada vez que vou a essa cidade, dou um pulinho ao seu escritório e converso com ele um pouco. Homero ainda trabalha para a mesma firma, mas é também o ancião de uma de nossas maiores igrejas naquela cidade e leva avante muitas outras responsabilidades na igreja. É um caráter sólido e um líder em todos os aspectos. Aquela loja de departamentos também já permitiu que vários outros empregados tivessem o privilégio de não trabalhar aos sábados.

Seu exemplo de fidelidade à verdade, capacitou-o a testemunhar uma boa confissão. Homens daquele tipo, estão pregando sermões durante todo o dia por intermédio de sua vida de consagração. Precisamos muitas testemunhas como aquela. Nunca devemos esquecer que Ciro, Nabucodonosor

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e Artaxerxes receberam conhecimento acerca do verdadeiro Deus pelo testemunho fiel de homens como Daniel e Esdras.

Desejo enfatizar um ponto importante para o evangelista. Sob a crosta da formalidade dos negócios esses homens têm corações. Mas o que estamos fazendo nós, para encontrá-los? Meramente passamos de largo por eles. Não deveriamos tentar encontrar métodos de alcançá-los para Deus? É inspirador ir ao escritório desses grandes homens de negócios e falar a eles calma e fervorosamente acerca de sua alma. Sim! Eles também têm almas para serem salvas. ―Por que deveriam ser negligenciados como têm sido?‖ pergunta a mensageira do Senhor. Entretanto, existe uma técnica para a aproximação que deveríamos muito bem aprender.

1) Obreiros Evangélicos, (3ª ed.), pág. 363.

2) Idem, pág. 468. 3) White, Carta 95, 1896 (463). 4) Obreiros Evangélicos, (3ª ed.), pág. 193 (437). 5) Idem, pág. 408.

6) White, em Review and Herald, 8-12-1885, pág. 754 (438 e 439). 7) The BibIe Instructor, pág. 71. 8) Obreiros Evangélicos,, (3ª ed.), pág, 120. 9) White, Practical Addresses em ―Historical Sketches‘‘, pág. 122 (144).

10) Obreiros Evangélicos págs. 190 e 191. 11) White, em Review and Herald, 30-8-1892, pá 45. 12) Idem, 15-8-1899, pág, 518. 13) White Carta 95, 1896.

14) 0 Desejado de Todas as Nações, (3ª ed), pág. 183. 15) Conselho aos Professores, Pai, e Estudantes, pág. 228 (175) 16) White, Manuscrito 127. 1902 (174). 17) White, Manuscrito 44, 1894 (140).

18) White, Carta 95, 1896. 19) White, Manuscrito 27, 1895 (442). 20) Testimonies, for the Church, vol, 9, pág. 189.

{222}

PEDRAS VIVAS PARA UMA CASA ESPIRITUAL

1 S. PEDRO 2:5 13

PREPARANDO OS CONVERSOS PARA SEREM MEMBROS DA IGREJA

―NÃO deixei de declarar-vos todo o conselho de Deus‖, afirma o apóstolo Paulo. Que senso de satisfação deve ter se apoderado desse grande líder ao compreender que ao se despedir daqueles por quem havia trabalhado, o podia fazei com uma consciência tranqüila. Nenhum ponto da fé havia sido deixado sem tocar; nem verdades importantes deixadas para que Outros as apresentassem. Os seus conversos compreendiam suas responsabilidades, pois seu instrutor não havia fugido ao seu dever.

O tipo de evangelismo que parece temer a declaração de todo o conselho de Deus ou aquele que por necessidade, tem de apressar-se para ir a outro campo antes que o povo tenha sido instruído completamente, sempre deixa atrás de si um rastro de tristeza. A hora de instruir os conversos completamente, é antes do batismo. Naquele tempo estão ansiosos por aprender, e o fogo do primeiro amor arde brilhantemente no altar de seu coração. Estão fazendo já muitos ajustes

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espirituais e sociais. Esta é verdadeiramente, dentre todas as horas, a mais conveniente para colocar diante deles todos os privilégios e responsabilidades da comunhão da igreja.

Aceitar a luz em pontos de fé tais como a reforma de saúde ou as ofertas sistemáticas, ou o dom divino da profecia, é fácil a essas pessoas naquele momento; enquanto, se esses e outros itens vêm a ser descobertos depois, não é de se admirar que a sua confiança comece a diminuir e o fogo do primeiro amor a se apagar. Sem dúvida todos conhecem alguns que perderam o caminho e abandonaram a mensagem simplesmente porque na época em que foram trazidos à igreja algumas dessas coisas não lhes foram esclarecidas. Fazer com que o povo se apresse em sua decisão, sempre resulta num trabalho fraco. Preencher um relatório de ba tismo, não é a única responsabilidade do obreiro. Deve construir a igreja de Deus; e ele somente pode fazer isso ao construir em seus membros o espírito de confiança – confiança na mensagem, na liderança do movimento, e nos princípios da vida santificada. A igreja que está pronta e esperando pela aparição do Senhor, deverá contrastar ponto por ponto com o mundo e com os cristãos nominais.

Ao prepararmos um povo para o Senhor, devemos guardar-nos contra as inclinações. Leva muito mais tempo para fazer um cristão de estatura completa hoje, do que levava há alguns anos atrás. Mesmo nas terras onde os princípios da Cristandade são reconhecidos, é um processo mais vagaroso do que costumava ser. Algumas décadas atrás, na maioria dos países civilizados a Bíblia era reconhecida como autoridade no campo da religião. Hoje não acontece mais isso. As inclinações educacionais modernas tendem mais e mais a expulsar Deus de Seu próprio Universo, O novo converso hoje, tem muito que aprender e muito que desaprender, e isso leva tempo. Além disso, o trabalho de classe, somente, não

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é satisfatório para preparar conversos para o batismo. Sempre há problemas individuais que estão precisando de conselho cuidadoso e de oração. O povo entra no reino de Deus através do novo nascimento e este é uma experiência individual. Portanto, quando um candidato está se preparando para o batismo, deve-se dar tempo para o estudo de cada necessidade individual.

A Pressa Indevida Enfraquece o Trabalho Os métodos de evangelismo que tendem a apressar as pessoas a serem membros da igreja, dando pouca oportunidade de se

provarem a si mesmos antes do batismo, devem ser certamente censurados. Quando pessoas entram na comunhão da igreja depressa demais, são como crianças nascidas prematuramente. Precisam de cuidado muito especial, e alguns nunca chegam a tornar-se cristãos fortes espiritualmente e sadios. Onde se exerce pressão para conseguir um relatório até certa data, há uma tendência de ignorar as necessidades do indivíduo. Não é melhor dar uma oportunidade para crescer na graça e no conhecimento, mesmo que isso signifique atrasar o batismo por algumas semanas e até mesmo meses?

A importância de apresentar as verdades de prova, antes do batismo, é reconhecida por todos, mas em realidade, qualquer verdade pode ser uma verdade probante. O que é uma prova para um, não o é para outro. Alguns aceitarão a mensagem da reforma de saúde ou do dízimo com regozijo. Mas quando chegamos à natureza do homem e sua condição na norte, isso parece muito mais duro. Outros, tendo aceitado todos os pontos de fé, podem não receber a revelação de Deus nesse ponto. Outros aceitarão tudo menos o sábado. Outros ainda recusar-se-ão a acertar o plano de Deus para organização da igreja. Uma ótima Família de quem me lembro, aceitou cada ponto da fé exceto a Ceia do Senhor. Isto foi a

{225}

sua verdade de prova, e a prova foi demasiadamente dura. Havendo-se regozijado na luz que lhes havia vindo, durante muitos meses, resistiam naquele ponto, e logo perderam todo o interesse, apesar de estarem entre os interessados mais promissores. Nunca se poderia pensar que uma verdade tão comumente aceita como a Ceia do Senhor pudesse tornar-se uma barreira em sua mente. Se o evangelista reconhece que cada verdade é uma verdade de prova, para alguém, isto o ajudará a ser mais cuidadoso na maneira de apresentar cada ponto de fé. E sempre prudente compreender que a mensagem que se está apresentando em cada sermão, é um cheiro de vida para vida ou de morte para morte, Jesus dizia a Seus ouvintes: ―Vede como Ouvis‖. Não somente o que eles ouviam, mas como o ouviam, decidia o seu destino.

Mudar a nacionalidade de alguém, requer tempo e estudo. Ás autoridades responsáveis tomam grande cuidado para que somente aqueles que sejam dignos disso, sejam admitidos à cidadania. Tanto os conhecimentos como a atitude da pessoa que se

apresenta para obter a cidadania, são esquadrinhados . Pode ser que nisso e em algumas outras coisas ― filhos do mundo em sua geração sejam mais sábios do que os filhos da luz?‖ Se houvesse um preparo cabal dos conversos, antes de se tomarem membros da igreja, haveria muito menos perdas. A falta de instrução da parte do evangelista, entretanto, não é a maior causa das apostasias. Existem outras causas que, como líderes, deveríamos enfrentar; causas que podem e devem ser removidas. Algumas delas serão discutidas nos capítulos dedicados ao pastoreio. Mas se o evangelista fez um bom trabalho, na preparação dos candidatos a membros da igreja, isto o ajudará bastante a reforçar a igreja para as experiências que estão diante dela.

Um Plano Útil

Eis aqui um plano que considero útil: Depois de cobrir

{226} bem cada item da mensagem nas classes preparatórias pelo menos duas semanas antes do batismo, ponho nas mãos dos candidatos um certificado batismal, pedindo que revisem ali os princípios de nossa fé esboçados em suas páginas internas.

(Este certificado foi prepara o por uma comissão nomeada na Sessão da Conferência Geral de 1941 e adotado no Concílio Outonal seguinte.) Um dia ou dois antes do serviço batismal faço questão de visitar todos os candidatos, separadamente ou em família. Dou-lhes a oportunidade de fazerem perguntas, para ver se a confiança deles está firmemente estabelecida nos princípios da fé, e no movimento com o qual agora se identificarão, A última entrevista não é uma revisão de doutrinas. Longe disso! Estou ansioso de ajudá-los a compreender as implicações profundamente espirituais da ordenança propriamente dita. Isto para mim é muito importante, porque o batismo é mais do que uma ordenança. Pode ser, e deve ser, uma bela experiência. Esta breve visita final significa muito para o candidato. Naturalmente dá a oportunidade para esclarecer qualquer ponto de doutrina, mas seu objetivo principal é ajudar ao candidato a reclamar o poder do Espírito Santo ao erguer-se do túmulo aquático. Deve sentir que doravante deve andar em novidade de vida. De fato, os últimos estudos deveriam ser definitivamente acerca do lugar e do poder do Espírito Santo na vida convertida. ‗Nossa conversação com essas almas deve ser de um caráter espiritual e encorajador‘. (1) Devem ser ensinados a como chamar o Espírito de Deus para a vitór ia pessoal. Devem ser levados a ver que o Espírito Santo não compartilhará o trono do coração com o eu ou o pecado.

Se eles foram cabalmente preparados nas classes, o certificado batismal será apenas um sumário da mensagem que eles aprenderam a amar.

Tenho ficado agradavelmente surpreso ao descobrir quão seriamente algumas almas aceitaram o certificado batismal.

{227}

Alguns que vêm de outros grupos cristãos olham para ele como uma espécie de catecismo, e mais de uma vez encontrei casos em que os novos membros decoraram o sumário inteiro como se encontra no certificado batismal, junto com todas as referências escriturísticas, e mesmo as palavras completas dos textos. Naturalmente isso não é exigido nem mesmo aconselhado, mas aqueles que vêm à comunhão da igreja de tais ambientes, geralmente vêm para ficar. Sempre haverá um Dimas ou um Judas em algum lugar, mas estes serão muito poucos e espaçados, se Formos mais cuidadosos e houver mais orações na preparação daqueles a quem a destra da comunhão será estendida.

O Pastoreado Fiel Previne as Apostasias

Em uma cidade grande no estrangeiro, eu havia estado dirigindo uma série de conferências de nove semanas. O Senhor havia

abençoado grandemente o trabalho e quase duzentas pessoas foram batizadas. Entretanto, era-me necessário, por causa de outras responsabilidades, deixar este trabalho quando o interesse estava no auge. Isto estava longe de ser o ideal, mas parecia não haver outra saída. Assim, deixando com este grande número de novos crentes a responsabilidade de serem fiéis à mensagem que haviam abraçado, e deixando no coração dos obreiros que permaneceriam, e dos membros das quatro ou cinco igrejas da cidade o desafio de cuidar desses novos conversos, encomendei-os ao Senhor e parti.

Nove anos se passaram antes que eu tivesse a alegria de ver esses crentes novamente. Fiquei muito satisfeito, entretanto, ao receber um relatório não solicitado de um dos lideres daquele campo, 3 anos depois que eu saí. Ele dizia que depois de investigação detalhada em companhia dos obreiros locais, descobriram que dos 193 batizados 186 ainda se regozijavam

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na verdade; estavam fielmente apoiando a causa de Deus com dízimos e ofertas. De fato 180 deles haviam alcançado naquele ano o seu alvo de recolta através de solicitação publica. Esse líder declarou que enviou o relatório porque cria que ele pudesse trazer-me alegria. E o fez. Sempre alegra o coração do obreiro, saber que aqueles a quem ele conduziu às águas batismais estão continuando a andar em novidade de vida, mas uma instrução completa e detalhada é essencial para que nossos converses permaneçam na fé.

Mais importante ainda é a carga que o pastor e a igreja carregam por esses novos. Lembro-me de uma grande campanha evangelística, em resultado da qual mais de trezentos foram batizados. Entretanto, as apostasias nesse grupo eram desproporcionalmente numerosas. Mas o pastor que permaneceu, era um homem fiel e sentia o peso de seu trabalho. Seguindo o interesse despertado pelas reuniões, ele continuou a batizar novos membros até que ao fim de doze meses a despeito do grande número daqueles que haviam perdido o caminho, existia justamente o mesmo número de novos conversos na igreja. O evangelista que pode contar com um pastor assim para seguir o seu trabalho, é afortunado. Geralmente falando, consideramos um evangelismo forte e aceitável se dois terços permanecem fiéis e podem ser localizados depois três a cinco anos nas igrejas. Alguns batizam poucas pessoas e têm menos apostasias. Outros batizam grandes números as perdas são maiores, O ponto saliente no registro Pentecostes é que eles continuaram na doutrina e na comunhão dos apóstolos.

Alguns partirão, não importa quão cuidadosamente tenham sido instruídos, mas muitos permanecerão, se como o apóstolo, o evangelista tomar cuidado em declarar a eles todo o conselho de Deus. Não é o número que aparece no relatório para a associação, e sim o número dos que estarão de pé no mar de vidro, que é a medida do verdadeiro sucesso.

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Nada é tão desencorajador para o avançamento da mensagem presente do que o trabalho ao acaso feito por alguns dos

ministros pelas igrejas. Necessita-se serviço fiel. As igrejas estão fracas e enfermiças por causa da infidelidade daqueles que deveriam trabalhar entre elas e cujo dever é superintende-Ias velando pelas almas como se delas tivessem que dar conta. (2)

Em alguns lugares seria difícil fazer um trabalho tão completo porque algumas administrações parecem requerer que a despeito das circunstâncias, a campanha evangelística seja consumada dentro de um tempo específico. Isto tende a deixar os obreiros nervosos, e superficiais em suas tentativas. O limite de tempo freqüentemente tem causado fracasso onde poderia ter havido sucesso. Infelizmente a decisão do espaço de tempo no qual o evangelista deve encerrar o seu trabalho é até certo ponto feita por aqueles que estão mais longe da campanha e sabem pouco acerca das necessidades reais.

O Senhor nos deu um conselho claro nesse ponto: Ninguém pode prescrever os dias, ou as semanas que alguém deve permanecer em certa localidade antes de ir a outro lugar...

não devem ter limites circunscritos‖(3) ―Nas serie conferencias feitas em grandes cidades, a metade do trabalho e perdido porque eles [os obreiros]encerram o trabalho

muito cedo.‖(4) Mas quando se faz pressão para encerrar um trabalho florescente, a pressa indevida freqüentemente aparece no preparo dos

candidatos ao batismo. Alimentar à força os novos conversos para fazer uma mostra favorável, certamente faz os ministros culpados da acusação de ―tráfico de almas.‖

Muitos são batizados sem estarem devidamente preparados para essa ordenança sagrada. Não viram a Cristo nem receberam-no pela fé.‖ (5)

―A aquisição de membros que não foram renovados no coração e reformados na vida, é uma fonte de fraqueza para a igreja. Este fato é freqüentemente ignorado. Alguns ministros e igrejas estão tão desejosos de conseguir um aumentar o de número, que não dão testemunho

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fiel contra os hábitos e práticas não cristãos. . . Requer pouca abnegação ou sacrifício o passar para uma forma de bondade e ter o nome alistado no livro da igreja. Assim muitos sem primeiro unir-se a Cristo. Nisto Satanás triunfa. Esses conversos são os seus a entes mais eficientes. Servem de laço para outras almas e são luzes falsas atraindo os incautos à perdição. (6)

A Competição Mata o Espírito de Companheirismo

Também se deve lamentar que às vezes o espírito de competição e rivalidade se infiltra entre os obreiros, Quando os obreiros são classificados pelo número de conversos conseguidos em certo tempo, tudo se resume em produzir números. Mas onde reina a competição, o companheirismo desaparecer é o Espírito Deus esta ausente. Não estamos competindo uns com os outros. Antes competimos juntos contra o inimigos de nossas almas. Movemo-nos para a frente unidos como um exército, terminados pela graça de Deus a capturar tantos prisioneiros para o Senhor quantos pudermos. E se algum outro soldado de Cristo consegue mais do que nós, então agradeçamos a Deus. Não é este o tempo de ―nos alegrar com aqueles que se alegram‖? Isto pode exigir maior esforço do espírito humano do que se fôssemos convidados a chorar com os que choram.‖

Não, não estamos competindo, e sim somos membros de uma grande comunhão. E como soldados do Senhor, temos que carregar os fardos alheios. Como já dissemos, a competição faz desaparecer o companheirismo. E sem o companheirismo, a própria existência da igreja está em perigo. Somos cooperadores, e juntos lutamos, juntos construímos. Nosso trabalho é um só. Um Paulo pode plantar e um Apoio regar, mas somente Deus pode dar o crescimento. E a menos que seja Deus quem dê o aumento, nosso fruto não permanecerá.

Um pregador poderoso e persuasivo ganhador de almas,

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viajava de bonde pelas ruas de uma grande cidade, há alguns anos atrás, quando um homem pobre e infeliz, no pior estado de embriaguez, subiu no carro. Reconhecendo o pregador, veio ocupar o lugar vazio ao seu lado. Ele era muito tagarela e logo todos os outros passageiros do bonde estavam prestando atenção a sua conversa algo desencontrada. Era embaraçoso, pois aquele pregador era bem conhecido do público. Notando sua relutância no responder, o bêbado encarou-o e disse:

—O senhor não me conhece? Sou Um de seus conversos Isto foi ainda mais embaraçoso. Mas respondeu o pregador, com o coração pesado: Está certo, você deve ser um dos meus conversos; e como existem tantos! Quisera Deus que você fosse um dos conversos de

Jesus Cristo! Não estaria então nesse estado.‖ Ele era um converso do pregador, mas não o era de Jesus Cristo.

Estabelecidos no Senhor Se os nossos conversos permanecerem afinal na presença do Deus todo-poderoso será porque são conversos de Cristo. E como

Seus embaixadores precisamos fazer com que, tendo feito a sua decisão, possam permanecer, sem envergonhar-se, com o povo de Deus através do último conflito terrível, antes que Nosso Salvador apareça. Precisamos ajudá-los a conhecerem a Bíblia, mas especialmente a

conhecerem seu Senhor. Sua graça deve moldar-lhes a vida e devem ser capazes de justificar sua esperança com mansidão e temor. Nem deveria o evangelista sair, antes que seus filhos no Senhor‖ sejam estabelecidos.

―O preparo para o batismo é assunto que precisa ser cuidadosamente considerado, Os novos conversos à verdade devem ser fielmente

{232} instruídos no ‗Assim diz o Senhor.‘ A Palavra do Senhor deve-lhes ser lida e explicada ponto por ponto.

‗Todos os que entram na nova vida devem entender, antes de seu batismo, que o Senhor requer afeições não divididas. . . A prática da verdade é essencial. Os frutos é que testificam do caráter da árvore... - Há necessidade de uma inteira conversão à verdade.‖ (7)

Há necessidade de um preparo mais cuidadoso dos candidatos ao batismo. Necessitam de instrução mais conscienciosa do que a que geralmente lhes tem sido dada. Os princípios da vida cristã devem ser claramente explicados aos recém-vindos à verdade. Não se pode confiar em sua mera profissão de fé como prova de que tem uma ligação salvadora com Cristo. Importa não só dizer ‗creio‘ mas também praticar a verdade. É pela conformidade à vontade de Deus em nossas palavras, atos e caráter, que provamos nossa ligação com Ele.‖ (8)

―O obreiro nunca deve deixar de fazer uma porção do trabalho, porque não goste de fazê-la, e pensando que o ministro que virá em seguida o fará para ele. Quando isto é o caso, se o segundo ministro apresenta os direitos de Deus sobre o Seu povo, alguns se retiram dizendo: O ministro que nos trouxe para a verdade não mencionou estas coisas. E se escandalizam com a palavra.‖ (9)

―Os ministros não devem sentir que seu trabalho está terminado, até que aqueles que aceitaram a teoria da verdade compreendam mesmo a influência de seu poder santificador e se tornem verdadeiramente convertidos. Quando a palavra de Deus, qual espada aguda e de dois gumes, penetra o coração e desperta a consciência, muitos supõem que isto é suficiente, mas o trabalho está apenas iniciado. As boas impressões foram deixadas, mas a menos que essas boas impressões sejam aprofundadas com esforço cuidadoso e cheio de oração, Satanás as anulará. Não fiquem contentes os obreiros com o que foi conseguido, mas o sulco da verdade deve ir mais fundo, e isso certamente será feito, se forem feitos esforços completos para dirigir os pensamentos e estabelecer as convicções dos que estão estudando a verdade. Freqüentemente o trabalho é deixado inacabado. Em muitos casos desses fica em nada. Algumas vezes, depois que um grupo de pessoas aceita a verdade o ministro pensa imediatamente ir a um novo campo; e às vezes, sem a devida investigação, ele é autorizado a ir. Isto é errado. Ele deve terminar o trabalho iniciado; porque deixá-lo incompleto, traz mais mal do que bem. Nenhum campo é tão pouco promissor como aquele que foi

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cultivado apenas o bastante para dar às ervas daninhas um crescimento mais luxuriante. Por esse método de trabalho, muitas almas têm sido deixadas à mercê de Satanás e à mercê de membros de outras igrejas que têm rejeitado a verdade; e muitos são levados aonde nunca mais poderão ser alcançados. É melhor que o evangelista não se meta na obra, a menos que possa terminá-la inteiramente.

―A menos que aqueles que recebem a verdade sejam totalmente convertidos, e a menos que haja uma mudança radical na vida e no caráter, e a menos que a alma esteja ligada à Rocha Eterna, não subsistirão à prova. - O trabalho de Deus não deve ser feito atamancada ou desalinhadamente. Quando um ministro entra num campo, deve trabalhá-lo completamente. Não deve satisfazer-se com o seu sucesso enquanto não puder, mediante trabalho fervoroso e as bênçãos dos Céus, apresentar ao Senhor conversos que tenham o verdadeiro senso de responsabilidade e que façam o trabalho que lhes seja apontado. Se ele instruiu devidamente os que se acham sob o seu cuidado, ao partir para outros campos de trabalho, a obra não se desfará estará tão firmemente estabelecida, que ficará segura.‖ (10)

A organização de uma classe batismal onde os pontos da fé são revistos, há muito tempo tem sido uma parte estabelecida de nosso programa evangelístico, Mas como já acentuamos, a instrução de classe somente não é bastante para preparar o candidato para um passo tão somente. Não somente deve conhecer a teoria da verdade, deve experimentar vitória pessoal e individual sobre o pecado. E seu problema particular pode nem ser tocado em classe. Deve haver, portanto, muita oração e conselho individual para cada candidato. Em hospital alguns casos requerem um tratamento mais longo que outros, antes que a doença possa ser curada. Existem também em nosso evangelismo aqueles que requerem ajuda progressiva para assegurar sua conversão a Cristo, assim como também à verdade presente. Hoje o viciado em fumo e bebida, precisa mais do que atenção casual, O médico espiritual também precisa dar ajuda compassiva, e muitas vezes paciente labor, aos casos que devem receber alívio permanente.

Naturalmente os evangelistas estão interessados em grandes

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batismos. Tais serviços são espetaculares e freqüentemente ajudam bastante na publicidade de um programa evangelístico. Ainda assim, um batismo grande pode representar um trabalho fraco e preparação pobre. A menos que a equipe evangelística tenha grande quantidade de obreiros experimentados, é de se esperar que em um batismo grande, alguns estejam sendo batizados com o coração não preparado. Isso é trágico, porque o batismo não é alguma coisa que se deva repetir na vida da pessoa, exceto em casos muito raros. Deve ser a maior experiência na vida de uma pessoa.

Uma Colheita Acumulada O sermão de Pentecostes, de Pedro, trouxe resultados surpreendentes, pois três mil foram batizados no mesmo dia e

acrescentados à igreja. Assim, alguns têm argumentado que os conversos devem ter recebido sua instrução depois. Mas a reflexão pura e simples acerca da situação revela que na verdade aqueles não eram conversos de Pedro. Ele nunca os reclamou para si, e os resultados do Pentecostes, surpreenderam-no tanto quanto a seus outros irmãos. A grande colheita de almas era positivamente trabalho do Espírito de Deus, e procedia de uma sementeira feita num período de vários anos, na qual muitos participaram, sendo as mensagens do próprio Jesus a influência principal, que produziu a colheita.

Os discípulos estavam assombrados e sobremodo jubilosos com a abundante colheita de almas. Eles não consideravam esta maravilhosa colheita como resultado de seus próprios esforços; sabiam que estavam entrando no trabalho de outros homens. Desde a

queda de Adão, Cristo estivera confiando a servos escolhidos a semente de Sua Palavra, para ser lançada nos corações humanos. Durante Sua vida na Terra ele semeara a semente da verdade e regara-a com Seu Sangue. As conversões havidas no dia de Pentecostes foram o resultado dessa semeadura, a colheita da obra de Cristo, revelando o poder de seus ensinos.‖(11)

{235}

Então esses milhares eram claramente conversos de Cristo, e haviam vindo de muitos países. Durante anos o Espírito de Deus

os estava preparando para este grande dia. Muitos deles haviam ouvido a João Batista e outros haviam ouvido a Jesus e recebido Seus ensinamentos. Além disso havia pelo menos cento e vinte obreiros, homens e mulheres batizados pelo Espírito, que sem dúvida examinaram os seus casos. Isto significaria apenas um pouco mais do que vinte e cinco conversos para cada obreiro. E ainda devemos lembrar-nos que para preparar essas almas devotas para o batismo, havia pouca coisa a aceitar além do fato de que Jesus era o Messias prometido, e o cumprimento das escrituras proféticas, e que Sua morte e ressurreição selavam Sua identidade. Todos eles criam nas Escrituras, e assuntos como a vida santificada e a obediência à Lei de Deus eram já praticados por eles de acordo com a vontade revelada de Deus, pois eram bons judeus. Assim, realmente não temos base verdadeira de comparação, quando consideramos a esse grupo particular em relação às grandes colheitas de crentes modernos.

Mas nem todos os conversos da igreja cristã foram tirados dentre os judeus. Quando os apóstolos pregavam entre os gentios, seu trabalho era muito mais vagaroso. Os conversos trazidos de procedências pagãs tinham muito mais a aprender e muito mais a desaprender. As práticas pagãs e mundanas tinham que ser postas de lado, O estudo do livro de Atos revela que eles tinham que ser preparados da mesma maneira como são preparados os conversos hoje. Eis Paulo organizando uma - escola Bíblica diária em Éfeso. E continuou a ensinar naquela cidade por dois anos mais, de modo que toda a Ásia ouviu a Palavra. Ao concluir seus trabalhos, dirigiu uma queima pública de livros pagãos de filosofia e de artes satânicas. Sem dúvida livros acerca de astrologia, horóscopos idolatria e ocultismo, juntamente com trabalhos duvidosos acerca

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de moralidade, ou antes de imoralidade — tão comuns nos seus dias, foram todos destruídos. Aquele fogo representava milhões de cruzeiros em livros, e os livros naqueles dias eram raros. Isto foi, então, não o trabalho de um dia ou dois ou mesmo de três meses, mas sim de dois longos anos.

Ajudando os Candidatos ao Batismo Podemos ver o fiel apóstolo desdobrando as poderosas verdades da Escritura e aplicando sua mensagem às necessidades

pessoais. Ele fazia exatamente o que somos instruídos a fazer. Cumpre ao pastor ―realizar com eles reuniões especiais. Estudai com eles a Bíblia, falai e orai com eles, mostrando-lhes

claramente as exigências que lhes são feitas da parte do Senhor. Lede-lhes o que diz a Bíblia com respeito à conversão. Mostrai-lhes o que seja o fruto da conversão, a prova de que amam deveras a Deus. Explicai-lhes que a legítima conversão se manifesta numa mudança do coração, pensamentos e intenções, pela renúncia de maus costumes, mexericos, ciúme e desobediência. Uma luta tem de ser travada contra cada mau traço de caráter e então o crente poderá prevalecer-se da promessa: Pedi, e dar-se-vos-á‘. S. Mat. 7:7.‖ (12)

O batismo deve ser mais do que um rito, deve ser uma experiência real do coração, pois o candidato não está meramente unindo-se à igreja e sim aceitando o fato de ser um membro na família real dos Céus. Daí por diante, deve estar sob a autoridade tri pla do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Seu batismo é uma declaração pública de sua renúncia ao mundo e sua aceitação das responsabilidades do reino. O rito é uma evidência externa da sua mudança de cidadania. Não é mais um estrangeiro no reino de Deus.

Vindicação do Leproso Curado

Quando um israelita atacado de lepra era banido do campo, não podia voltar antes que a sua cura e sua capacidade de viver em

sociedade, fossem atestadas pelo sacerdote. O serviço

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da vindicação desse homem era singular. O sacerdote tinha que sair do acampamento e examinar pessoalmente o doente. Se o caso era resolvido em seu favor, o sacerdote ordenava que trouxesse duas aves vivas. Junto deveria trazer hissope e madeira de cedro, e escarlata. Então lançava-se a sorte e uma das duas aves era morta. Seu sangue era recolhido ―em uma vasilha de barro sobre água corrente,‖ isto é, em um vaso que contivesse água viva ou água fresca. Depois mergulhava-se a outra ave viva — pés, penas e tudo—na mistura de água e sangue com as madeiras e o hissope. O sacerdote então borrifava o homem sete vezes com essa mistura, antes de pronunciá-lo limpo. A ave viva era solta no campo depois. (Ver Levítico 14:2-7.)

As duas aves são particularmente significativas, pois representam o pecador e seu Salvador. Uma ave deve morrer para que o homem possa ser aspergido com o seu sangue, mas a ave viva ganha a liberdade visto como a sorte havia caído em sua companheira e da podia voar e descansar. Nosso Salvador morreu, e porque Ele morreu é nos possível voltar à comunhão com Deus. Como o leproso, todos por natureza são como uma coisa imunda. Por causa do pecado todos fomos excluídos da família de Deus. Mas um plano divino foi imaginado pelo qual todos podem ser curados e trazidos de volta ao campo dos santos. Um ministério de reconciliação foi comissionado ao evangelista e como o sacerdote antigamente, ele deve sair do acampamento e trazer os banidos. Mas antes do serviço do batismo Deus o responsabiliza pelo exame daqueles que ele traz. Nenhum homem está pronto para o serviço do batismo a menos que a lepra espiritual seja limpa. O sacerdote não ousava fazer a cerimônia a menos que houvesse feito exame pessoal daquele que pedia sua admissão.

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Quando Estão os Conversos Prontos Para o Batismo?

O evangelista que sai do acampamento levando as boas- novas de reconciliação através do sangue remidor de Cristo, pode

estender o seu convite a todo o mundo, pois todo que quiser pode vir. Mas somente aqueles que pela fé se apoiaram na graça de Cristo e vivem em harmonia com a vontade revelada de Deus, estão prontos para seguir e entrar em comunhão plena com a família de Deus. A preparação cabal e um exame detalhado são importantes pontos essenciais a cargo daquele que efetua o serviço que traz os banidos de volta à comunhão. Sua palavra os trará ou os afastará. Quão verdadeiras, então, são estas palavras: ―Permanece sobre os ministros a responsabilidade solene de fazerem um trabalho cabal. Devem conduzir os jovens discípulos sábia e judiciosamente, passo a passo, para a frente e para o alto, até que cada ponto essencial haja sido exposto diante deles. Nada deve ser ocultado.‖ (13)

As pessoas que regularmente não assistem às reuniões no sábado e que não estão vivendo em harmonia com os princípios da vida saudável, ou que não entendem os princípios nem praticam o hábito de dar seus dízimos e ofertas regular- mente a Deus, não estão realmente prontos para o batismo. Se, por outro lado, esses novos crentes são membros regulares na escola sabatina e estão ativos no trabalho missionário da igreja; se no caso de famílias, conduzem o culto familiar, e ao mesmo tempo se vão familiarizando com os maravilhosos conselhos do Espírito de Profecia, então o evangelista não tem o que temer ao trazê-los às águas. Esses geralmente vêm para ficar e não se passa muito tempo até que selam verdadeiros carregadores de fardos na igreja. E a menos que os candidatos sejam medidos por esse modelo, não estão cabalmente preparados, nem é sábio nem mesmo bondoso batizá-los. Se a ordenança significa alguma coisa para eles, deve significar tudo

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E se assim não é, foram enganados e roubados das mais ricas bênçãos de sua vida ao serem batizados cedo demais. E a pressa para que sejam batizados não deve nunca partir do desejo que tenha o ministro de poder apresentar bom número de almas em seu relatório. ―A tempo para tudo debaixo do Sol‖, declara a Escritura, portanto também existe a hora de serem batizados. E tal serviço sagrado não deve ser apressado nem adiado demais. No pode haver maior experiência na vida de um cristão, do que ir com Jesus às águas batismais.

Ao contemplarmos estas coisas podemos muito bem exclamar com o apóstolo: ―Quem é suficiente para estas coisas?‖ Mas podemos também tos regozijar com ele, pois a ―nossa suficiência é de Deus, que também nos fez ministros capazes de um novo testamento‖, por quem e em cujo nome avançamos para declarar o completo conselho divino.

1) Testimonies for the Church, Vol. 6, pág. 93 (317), 2) White, Manuscrito 8 a, 1888 (326).

3) White, Carta 8, 1895 (326). 4) White, Carta 48, 1886 (42). 5) White em Review and Herald 4-2-1890, pg. 66 (319). 6) Testimonies for the Church, Vol. 5, pág, 172 (319 e 320).

7) White, Manuscrito 56, 1900 (308). 8) Testimonies for the Church, Vol, 6, págs. 91 e 92 (308 e 309). 9) Obreiros Evangélicos, pág. 369 e 370 (321). lo) Idem,, págs. 367-369 (321,323).

II) Atos os Apóstolos, págs. 44 e 45. 12) Testimonies for the Church, Vol, 6, pg, 25 (311), 13) Obreiros Evangélicos, pág. 367.

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QUANDO PASSARES PELAS AGUAS ISAIAS 43:2

14 DIRIGINDO O SERVIÇO BATISMAL

―Agradeço a Deus, porque a nenhum de vós batizei‖ exclama o apóstolo Paulo ao escrever aos Coríntios. Um espírito de

competição havia-se introduzido entre aqueles crentes e eles estavam divididos, alguns declarando: ‗Sou de Paulo,‖ e outros: ‗Sou de Apolo‖. Tentando corrigir esta situação, o apóstolo escreveu essas palavras memoráveis, em 1 Cor. 1:14.

Alguns julgam por essas palavras que esse grande líder cristão considerava o batismo uma coisa sem importância. Entretanto, dentre todos os escritores do Novo Testamento, é Paulo quem desdobra mais claramente o belo significado espiritual do batismo. Escrevendo aos Gálatas, ele diz: ‗Porque todos quantos fostes batizados em Cristo, já vos revestistes de Cristo.‖ O batismo é uma ordenança sagrada, designada por Deus para levar ao candidato a experiência espiritual mais rica, mas isto a igreja corintiana não compreendia completamente.

Paulo exara um belo princípio quando declara: ―Plantei e Apolo regou, mas Deus deu o crescimento.‖ Ele e seus companheiros de trabalho formavam uma unidade, cada um construindo sobre o trabalho do outro. E este é sempre o caso

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Nenhum homem pode ter o crédito completo por um sucesso alcançado. Ele somente compartilha de um trabalho. Ao primeiro grupo de obreiros cristãos Jesus disse: Outros homens trabalharam e vós entrareis em seus trabalhos‖.

Quando o evangelista tem o privilégio de conduzir almas preciosas através das águas batismais, isto é tanto fruto de trabalho de outros como de seu próprio. Era este princípio que Paulo acentuava. Quando ele passa a preocupar-se com creditar a si próprio os conversos ganhos, perde o espírito do evangelismo, e o batismo, ao invés de ser uma experiência para ligar a igreja em unidade, toma-se uma causa de contenda! Quão trágico se torna o fato de que a própria ordenança designada para comemorar a morte e ressurreição do Salvador, e que deveria simbolizar a nossa morte para o eu e para o pecado, e nossa ressurreição para uma nova vida, se torne realmente a causa de mal-entendidos na igreja. Mas foi assim mesmo na igreja apostólica, portanto não devemos nos surpreender demais se isto ocorrer em nossos dias. Neste capítulo algumas técnicas serão sugeridas para tomar esse serviço profundamente impressivo. Mas antes de tratar desses detalhes, consideremos brevemente alguns princípios:

Quando se planeja uma campanha evangelística, necessitando talvez de um evangelista para conduzir as reuniões, a questão: ―Quem batizara os novos conversos‖, freqüentemente é confusa. Aqueles que estão vindo para a igreja, naturalmente esperam que aquele que os trouxe ao Senhor os batize. E em muitos casos isto é o mais apropriado. Entretanto, seria melhor ainda se o evangelista e o pastor local ou os pastores locais, executassem o serviço conjuntamente. Isso contribuiria bastante para unir os novos crentes a seus pastores espirituais e firmá-los em suas igrejas. A própria natureza do trabalho de um evangelista itinerante, exige que ele vá de um lado para outro, e seus conversos têm que ser deixados aos cuidados de outros. Essa transferência de lealdade

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e interesse não é sempre fácil. -Pode resultar em perda real de almas. Deve ser feito todo o esforço possível para evitar tal situação. Se é desenvolvido um espírito real de companheirismo, entre os obreiros temporários e os obreiros residentes, isto contribui para consolidar o trabalho Quando a equipe evangelística se retira, os novos conversos já estarão estreitamente ligados às igrejas.

Os Pastores Locais Preparam Candidatos

Numa grande campanha metropolitana existem geralmente muitos pastores que cuidam de várias igrejas na região. Se cada pastor, em cooperação com o evangelista, toma a si o encargo de preparar aqueles que se uniram à sua congregação, isso fará com que ele conheça suas necessidades pessoais, O evangelista que leva homens à decisão por Cristo, é a quem eles desejam naturalmente, para guiá-los. Quanto mais cedo seja possível transferir suas afeiçoes dele para o pastor que será seu futuro conselheiro, tanto melhor. E ninguém no mundo melhor para cimentar as relações deles com sua futura igreja, como o evangelista que os trouxe à luz da verdade. Se então o evangelista manifestar o espírito de João Batista, disposto a diminuir, permitindo que o pastor cresça, isto trará um espírito saudável de boa vontade e fará muito para estabelecer esses líderes nas afeições da igreja.

Meu método pessoal é fazer com que o pastor entre no tanque batismal comigo. Enquanto eu, como evangelista recebo os candidatos na água, conduzo-os ao pastor, que os imerge. Assim temos parte no batismo deles. Depois, ao sair cada um dos candidatos da água, ambos podemos cumprimentá-los e desejar que Deus os abençoe ao saírem para andar no

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caminho do serviço alegre e em completo companheirismo o seu Senhor. O fato de compartilhar o serviço, dá uma impressão profunda e duradoura, não somente àqueles que estão sendo batizados, mas também aos espectadores. Esse princípio de compartilhar o serviço batismal pode ser feito sem o evangelista realmente entrar no tanque batismal, mas o efeito é maior se isto é feito.

Se 50 almas devem ser batizadas no mesmo serviço, e devem ser distribuídas depois em três congregações diferentes, os pastores que prepararam as almas para o batismo, devem conduzir os seus grupos à água da maneira sugerida. Ao invés de diminuir a solenidade do serviço, realmente esse plano a aumenta consideravelmente, como também ajuda a evitar o desenvolvimento de uma situação corintiana, na qual alguns clamarão ser de Paulo e outros de Apolo. Pode ser conveniente batizar esses grupos diferentes em serviços separados, porém a união de vários grupos pode aumentar a expressividade do serviço.

Um Pastor Magnânimo

Vários anos atrás, foi planejado que eu dirigisse uma campanha evangelística em certa cidade. Dois meses antes da abertura da

campanha, o pastor de uma das grandes igrejas naquela área, veio a mim e disse: ―Irmão, tenho um grupo de pessoas fervorosas esperando o batismo; estão todos preparados e estávamos marcando a data para o batismo quando me ocorreu que logo o senhor estará conosco. Assim estou sugerindo adiar o batismo deles até que o senhor venha. São onze ao todo e isso será um ótimo núcleo com o qual iniciar seu trabalho.‖ Ao fazer sua sugestão magnânima, eu orava silenciosamente para que a tribo dele aumentasse. Como o profeta Daniel, que foi elogiado por seu ―excelente espírito,‖ esse bom irmão estava revelando o princípio vital de todo o

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sucesso verdadeiro na causa de Deus. Quando os apóstolos saíam para proclamar o evangelho ao mundo, eram ternos, atenciosos e desinteressados. Seu alvo era acender o amor de Deus nos corações. A mesquinhez do amor-próprio, tão característica antes do Pentecostes, não tinha lugar agora em sua vida. E aquele pastor tinha esse espírito. Não era difícil ver onde estava seu interesse. Não estava em si mesmo e sim no sucesso da campanha de ganhar almas, que se aproximava.

Dois meses depois e apenas duas semanas antes da reunião de abertura nessa cidade, tive a alegria de conduzir essas almas, juntamente com alguns outros, através das águas do batismo. O grupo que ele preparou certamente nos foi um bom começo e o Senhor nos abençoou com uma abundante colheita. Um pastor com uma atitude como esta não somente é um companheiro alegre no serviço, mas também influência em toda a igreja, com seu genuíno espírito cristão. Nunca trabalhei em um lugar onde o espírito de unidade e de companheirismo saudável fosse mais evidente. Quem vive em companheirismo com Jesus nunca se preocupa com o crédito pessoal. Quando o sucesso é compartilhado ele é maior, e no trabalho de Deus, nada é mais importante do que o espírito dos obreiros.

Técnica Para Conduzir o Serviço Batismal

A Bíblia revela o batismo como uma ordenança, e como mais ainda do que uma ordenança. Ele deve trazer ao candidato uma

experiência real, e ao espectador uma impressão profunda e duradoura mas para fazer com que a cena seja impressionante, deve-se fazê-la venerável, isto é: deve ser um culto de adoração. Nada de rude ou grosseiro deve ser introduzido. Naturalmente toma-se um serviço muito solene porque simboliza a morte e o sepultamento de nosso Senhor, mas também é uma confissão pública da parte daquele que

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esta sendo batizado de que ele também está morto para o pecado. Entretanto, o mesmo serviço deve expressar também a alegria da ressurreição, pois havendo sido sepultado com seu Senhor, o candidato ressuscita agora para andar em novidade de vida‖. Durante um período de muitas semanas ou antes do serviço ele esteve no processo de morrer para o eu. Tem estado crucificando os desejos da carne. Agora expressa tudo isto por meio de um ato definido. Ele é sepultado com o Senhor. Tendo morrido para o pecado, levanta-se novamente para a alegria da vida ressurgida. Assim o serviço deve ser alegre e cheio da esperança da ressurreição.

Para fazê-lo impressionante, tudo deve ser apropriado.

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Quando sepultamos a um ente querido, não poupamos esforços para fazer a ocasião tão própria quanto possível. Nenhum túmulo chega a ser bonito, mas ainda assim a presença de flores e de um tapete de grama, mesmo sendo artificial, certamente fazem muito para aliviar o choque da morte. Especialmente nos Estados Unidos este ponto é considerado importantíssimo. Assim também com um pouco de planejamento especial, o serviço batismal pode tornar-se impressionante e expressivo.. Quando é corretamente executado dá sua mensagem com rara eloqüência. Quando cada pormenor é planejado, o serviço completo é permeado de espiritualidade profunda, temos o culto de adoração em seu auge.

E sempre um privilégio unir almas preciosas ao Senhor, neste sepultamento público da velha natureza. É um serviço por demais importante para ser encaixado num canto, ou como recheio entre duas reuniões. Algumas vezes, tem sido posto no fim de um serviço de pregação, o qual, por falta de planejamento, ficou inteiramente fora de lugar. O batismo deve ser, não somente uma parte do seriço mas sim a sua parte vital e principal. Tudo no serviço— hinos, orações, sermão, deve concorrer para isso. As duas ordenanças — o batismo e a Ceia do Senhor quando corretamente conduzidas, farão muito mais para consolidar a experiência espiritual dos crentes do que talvez qualquer outra coisa. Vem-nos da mensageira do Senhor um conselho muito definido acerca do batismo.

Aquele que administra a ordenança do batismo deve fazer dela um momento solene, de influência sagrada sobre todos os espectadores. Cada ordenança da igreja deve ser conduzida de modo que seja edificante em sua influência. Nada deve receber um feitio vulgar ou insignificante, ou ser reduzido ao nível das coisas triviais. Nossas igrejas precisam ser educadas de modo a terem maior respeito e reverência pelo serviço sagrado de Deus.‖ (1)

―Tudo que se liga a esta santa ordenança, deve revelar preparação tão perfeita quanto possível‖(2)

{248} Na mesma referência, é-nos dito que devemos evitar usar coisas desgraciosas e de mau gosto, pois isso seria uma ofensa a Deus.

A Importância do Equipamento Apropriado Quando esse serviço é levado a efeito em um rio ou lago, obtém-se uma oportunidade maravilhosa para o testemunho público.

Entretanto, essas reuniões externas requerem maior atenção ao cuidado dos candidatos do que quando o serviço é realizado onde tudo já está prèviamente arranjado. Um batismo numa igreja produz menos dificuldades, mas suas oportunidades evangelísticas também são menores.

Alguns dos serviços mais impressionantes já levados a efeito, têm sido em grandes auditórios ou teatros metropolitanos onde têm sido efetuadas campanhas evangelísticas. Um serviço como este, pode fazer uma tremenda impressão para o bem, ruas onde quer que seja realizado, deve-se providenciar o equipamento apropriado. Poucas coisas são tão importantes quanto as túnicas batismais. As túnicas apropriadas não são um gasto desnecessário e sim um sábio investimento.

―Isso não deve ser considerado como uma despesa desnecessária. É uma das coisas necessárias para cumprir a preceito: ‗Faça-se tudo decentemente e com ordem.‖ 1 Cor. 4 :40.

―Não é bom que a igreja dependa de tomar emprestadas de outras igrejas, túnicas de batismo. Freqüentemente quando se precisa das túnicas, elas não são encontradas, pois alguém que as tomou emprestadas negligenciou sua devolução Cada igreja deve prover suas próprias necessidades. Que se levante um fundo para este fim. Se toda a igreja se unir e cooperar neste sentido, isto não se tomará um fardo pesado.‖ (8)

Se é conveniente que cada igreja tenha um conjunto de túnicas batismais, também é conveniente que cada equipe evangelística numerosa possua tal equipamento. Tanto a vestimenta do ministro como a dos candidatos deve ser simbólica.

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Se possível, deve-se providenciar uma túnica individualmente a cada candidato, juntamente com um pano de rosto. Este pano deve ser pequeno, mas o suficiente para cobrir o rosto do candidato, quando é imergido. Poder-se-ia usar um lenço, entretanto esses variam tanto em tamanho, que a experiência provou a conveniência de suprir este pano conjuntamente com a túnica.

Realização do Serviço Batismal Lembrando que um dos pontos mais importantes do serviço é impressionar corretamente o auditório, gosto de ter os candidatos

todos separados e vestidos, antes de iniciar-se a reunião. Isto evita confusão e aumenta muito o espírito de verdadeira adoração. Então, se os candidatos estão sentados

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nas fileiras da frente, a mensagem da hora pode ser particularmente dirigida a eles. Apesar de o serviço ser para o auditório todo, em sentido especial, ele é particularmente para os candidatos, assim como, um sermão de formatura é para os formandos. Sendo este o dia mais importante de sua vida, eles devem ser auxiliados a sentir isso plenamente.

Antes que os candidatos tomem seu lugar no recinto da reunião, seria conveniente reuni-los como um grupo, pan algumas instruções de última hora. Esses breves momentos são de importância vital. A maneira e a ordem na qual entrarão no recinto devem ser fixadas, e também dê-se-lhes a certeza de segurança nas mãos do pastor oficiante. Algumas pessoas ficam excessivamente nervosas numa ocasião dessa natureza, e é bom dar ao grupo uma demonstração breve de como serão segurados. Depois de haver encomendado brevemente os candidatos ao Senhor, eles podem prosseguir como um grupo, tomando seus lugares na ordem em que serão batizados.

Segurando o Candidato

Obviamente existe mais de uma maneira de segurar um candidato, entretanto algumas sugestões são úteis neste ponto. Alguns

batismos, carecem tanto de graça como de eficiência, e as impressões feitas, certamente, não são boas. A experiência provou que o procedimento que se segue é o melhor: Primeiro coloco o pano de rosto especialmente preparado em minha mão direita, e o candidato segura meu pulso direito, com ambas as mãos. Isso lhe dá um senso de segurança. Então coloco a mão esquerda firmemente entre os ombros do candidato, e com algumas poucas palavras bem escolhidas expresso aos adoradores a minha crença na sinceridade do candidato, em sua confiança em Deus, na rendição de seu eu, e em sua ressurreição para uma vida de vitória. Concluo com a fórmula batismal, em palavras tais como: ―E agora irmão

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(ou irmã), sabendo que deste teu coração ao Senhor Jesus, e que descansas inteiramente em Seu sacrifício consumado para tua salvação, eu (levantando a mão esquerda) alegremente te batizo, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.‖ Dando um passo para a esquerda, baixo o candidato gentilmente à água. Ao mesmo tempo trago minha mão direita para cima de modo a cobrir sua face. Isto previne qualquer tendência a engasgar, e assegura um perfeito controle de movimentos na imersão. Lembre-se de que os movimentos deliberados e vagarosos são essenciais para o sucesso. E nada deve ser feito à pressa. O elevar do candidato é, naturalmente o símbolo da ressurreição, e é bom que o auditório cante uma estrofe de algum hino apropriado. Mesmo que o órgão toque sozinho, é eficaz. Mas o serviço batismal é adoração, e os adoradores receberão uma bênção maior participando do serviço em vez de ficarem meramente observando.

Ao levantar o candidato da água aperta-lhe á mão e dar-lhe a certeza da bênção de Deus para uma vida de vitoria. Então ele passa ao vestiário,onde ajudantes alegres o ajudarão a remover as roupas molhadas. Um toque de gentileza pode ser acrescentado ao serviço, se ao deixar a água o candidato receber um flor branca. Pode ser uma rosa para as mulheres e cravo para os homens. Mas deve ser alguma flor que simbolize pureza. Talvez o evangelista associado ou o diácono chefe, Possa fazer isto pelos homens, e a instrutora

bíblica ou a diaconisa chefe pode presentear essa lembrança as mulheres, com algumas palavras simples, tais como: ―Possa essa flor ser uma lembrança da pureza da vida de Jesus. Que ela o (ou a ) inspire a conservar-se imaculado (ou imaculada) no mundo.‖

Estes pormenores podem parecer insignificantes, mas significam muito para o sucesso do serviço. E apesar de eu ser da opinião de que não devemos gastar tempo em coisas desnecessárias, ainda penso que tais detalhes num acontecimento

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tão importante quanto o batismo, merecem nossa melhor atenção. Este é o maior dia da vida do candidato, e os minutos extras gastos para pôr em prática essas sugestões, aumentarão muito o espírito de verdadeira adoração e trarão uma experiência mais rica aos que forem batizados.

É Essencial Ter Ajudadores do Tipo Certo Outra coisa que ajudará a tornar o serviço significativo para o candidato, é ter um grupo de ajudantes competentes e bondosos

por trás das cenas. Devem ser selecionados com cuidado especial, tendo certeza de que tudo o que porventura eles venham a fazer, o façam movidos pelo espírito de amor e companheirismo genuíno. Porque alguém é pela igreja eleito diácono ou diaconisa, isso não quer dizer que tenham a gentileza e o espírito bondoso, tão essenciais para a ocasião, Todos os que tomam parte em um serviço batismal, devem sentir sua importância, e nada deve ser feito de modo desasseado ou ao acaso, Devemos permitir que o serviço exare sua mensagem na plenitude de seu poder espiritual.

Se os membros de uma mesma família vão ser batizados em um mesmo serviço, torna-se mais impressivo se descerem à água conjuntamente. O marido e pai pode vir primeiro e então, com sua ajuda paternal, auxiliará os outros membros da família a entrarem e saírem da água. É conveniente que o evangelista expresse sua alegria pelo fato de a família inteira assim seguir ao Senhor, como fez o carcereiro filipense e sua casa. Conduzir os candidatos em pares ou grupos não somente economiza tempo, mas também aumenta o interesse geral do auditório. Outros parentes ou amigos especiais, poderão querer entrar na agua juntos.

Como foi indicado, exatamente antes de imergir o candidato, eu pessoalmente aprecio apresentá-lo ao auditório, com algumas sentenças escolhidas, Toco em seu passado, mencionando

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talvez sua associação religiosa anterior ou fazendo referência a alguma experiência importante na sua conversão. Isso aumenta grandemente o interesse. Por exemplo: Se alguém foi um líder preeminente em outra fé, ou mesmo se foi inimigo acérrimo da Cristandade, significar muito se uma referência breve for feita a essas experiências. Entretanto, devemos tomar muito cuidado para dizer as coisas certas da maneira certa. Se fazemos referência a qualquer outra igreja, essa deveria ser feita com espírito bondoso. Assim: Essa irmã (ou família) durante muitos anos foi membro fiel da comunhão católica romana. Ela era uma servidora sincera do Senhor Jesus, andando em toda a luz que possuía. É uma alegria dar-lhe as boas-vindas na maior luz da mensagem de Deus para hoje. Oremos para que ela possa ser uma cristã fiel e feliz em seu lar, irradiando à família a alegria do evangelho que ela encontrou.‖ Depois dessa referência breve à experiência do candidato, o ministro pode entrar diretamente na fórmula batismal, dizendo palavras como: ―E agora, por haveres aceito a Jesus Cristo como teu Salvador pessoal, eu prazerosamente te batizo...‖

Concluir o Serviço Batismal com um Apelo

Quando o batismo propriamente dito conclui o serviço da hora, é impressionante se a bênção é pronunciada do tanque. Mas

antes de despedir a reunião, tenho por costume fazer um convite para que quaisquer outros que porventura tenham sido impressionados pelo Espírito de Deus e que gostariam e indicar seu desejo e participar num serviço como este em futuro próximo, se manifestem. Isto eles podem fazer levantando a mão ou mesmo ficando em pé. Tendo testemunhado a vitória dos outros, tiveram seu coração abrandado e nessa ocasião poderão render-se alguns que nunca responderiam pelas maneiras comuns.

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Ao terminar meu primeiro serviço batismal grande, em um país verdadeiramente conservador, fiz meu apelo costumeiro, e o

Senhor certamente moveu o cotação de muitos. Estavam presentes mais de três mil pessoas e quando pedi que se levantassem aqueles que quisessem expressar o seu desejo de participar de um serviço semelhante em futuro próximo, pensei que talvez uns trinta ou quarenta fossem responder. Imaginem minha surpresa quando cento e dezesseis se levantaram! Recepcionistas bem treinados, que estavam sempre prontos para qualquer emergência, ràpidamente anotaram seus nomes e eles mais tarde foram matriculados em classes preparatórias. Nem todos estavam realmente prontos para serem batizados no batismo seguinte e muitos precisavam de mais preparo, entretanto foram impressionados e aquela foi a hora de sua decisão. Este apelo não precisa ser sempre feito por aquele que está batizando, e às vezes tenho sido convidado a fazer o apelo para o evangelista. Deve seguir-se imediatamente à última imersão. Tenho ficado contente ao ver em certas ocasiões uma resposta muito grande. Isto tem sido particularmente verdadeiro em alguns lugares da América do Sul, a despeito de ter que fazer o apelo através de um tradutor.

Quando se conclui o serviço batismal, é bom que se proveja transporte para que cada candidato se dirija a seu lar. Isto nem sempre é necessário, pois muitos podem ter os seus próprios carros, mas se porventura o for, deveriam ser reunidos alguns ajudantes que possuam carros para este serviço de amor. Tal plano é particularmente útil se aqueles que puserem seus carros à disposição, puderem ser instruídos quanto à conversação que devem encaminhar durante o percurso, especialmente no sentido da vitória espiritual. Isto reforçará a experiência que o candidato já tenha porventura ganho.

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O Batismo Traz Benção Física e Espiritual

Pode haver condições nas quais seria mesmo inconveniente que um candidato fosse imerso, mas eu nunca testemunhei qualquer

mau resultado físico, em qualquer candidato que, completamente submisso à vontade de Deus, haja cumprido esta ordenança confiando plenamente no poder divino. Tenho batizado a alguns que, considerando todas as circunstâncias, poderiam muito bem ter sido dispensados da imersão, mas é uma alegria testificar do poder do Senhor em resposta a sua fé. E que milagres tenho presenciado às vezes Aleijados curados, sofredores de desordens nervosas e moléstias do coração e de outros tipos de enfermidades, têm-se erguido curados do tanque batismal.

Se alguém está sob os cuidados do médico, convirá que se peça seu conselho, antes de o animar a batizar-se. Alguns médicos, entretanto, acham que, conquanto o conhecimento profissional os levasse a recusar seu consentimento, esse rito faz parte de um domínio em que a habilidade talvez não sela a última palavra. Bem me lembro de uma família de quatro irmãs que desejavam batizar-se juntas. Uma delas, entretanto, estava sofrendo de uma enfermidade séria do coração, que exigia que ela dormisse entre muitos travesseiros. Não dormia deitada havia mais de oito anos, e seu médico insistia em que ela sob hipótese alguma deveria tomar banho. Era banhada de modo especial por uma enfermeira. Mesmo andar pela casa era-lhe um esforço tremendo. Ela, porém, queria ser batizada. Não recusei o seu pedido, mas naturalmente senti-me preocupado com o caso. Quando me aproximei de seu médico e lhe contei o caso, estava preparado para receber a negativa. Dificilmente esperava que ele respondesse como o fez, pois não era nem mesmo um cristão professo.

Disse; ―Pessoalmente eu proibiria que ela entrasse na água. Mas os senhores clérigos parecem capazes de abrir recursos

{256} de poder dos quais nós médicos não conhecemos muito. Sim, tem o meu consentimento, pois confio que, se ela tiver fé suficiente, provavelmente irá tudo bem,‖

Senti que isso era uma prova de fé, para mim e para ela, ao conduzi-Ia à água, juntamente com suas irmãs, em uma noite de domingo. Novamente estavam presentes três mil pessoas no grande teatro. Não fiz referência especial ao estado daquela irmã, mas apenas manifestei a alegria de ver uma família inteira decidir-se a seguir o seu Senhor. Mas quando a imergi, em harmonia com uma combinação particular prévia, tomei a precaução de baixá-la à água em decúbito frontal em vez de dorsal como seria o comum. Ela não sofreu nada, mas em vez disso sua saúde melhorou grandemente. Nos anos que se seguiram, ela nunca se cansou de dar seu testemunho à igreja, aos seus vizinhos e parentes, da bênção maravilhosa que lhe havia advindo física e espiritualmente, desde que saíra do tanque batismal. Não há necessidade de dizer que o seu médico ficou profundamente impressionado. Embora nunca se tornasse tão robusta quanto os outros membros da família, todos reconheciam que desde o momento de seu batismo ela passou a constituir-se num testemunho vivo do poder de Deus. Deus às vezes traz bênçãos físicas juntamente com as espirituais, à alma que pelo batismo entra na satisfação e na vitória da vida ressurgida.

Um Batismo de Emergência

Algumas vezes as circunstâncias tornam impossível que o indivíduo participe desse serviço da maneira regular, e em casos de

emergência especial, tenho batizado candidatos em seus próprios lares, usando a banheira como tanque batismal. Isto está longe do ideal, mas mesmo assim pode-se tomar um serviço bem reverente Para resolver uma emergência semelhante há anos atrás, veio o seguinte conselho da mensageira

{257}

do Senhor: ―A única maneira pela qual a cerimônia pode ser executada, é arranjar-se uma banheira e imergi-lo na água.(4) Como já foi indicado, somente uma emergência extrema comporta tal método, pois o batismo deve ser um testemunho público em favor dAquele que morreu uma morte pública por nós. Mas quando isto é impossível, um batismo como o descrito acima pode ser de grandes bênçãos a uma alma doente que, havendo aceitado ao Senhor, deseje participar das alegrias e privilégios plenos da vida cristã.

O batismo é certamente uma ordenança, mas se isto é tudo que o batismo é, então o seu propósito está derrotado. Além disso, deve ser uma experiência. Ser nascido da água não é o suficiente. Devemos ser nascidos do Espírito também, se é que queremos experimentar a verdadeira vitória em nossa vida. Quando Ananias disse a Saulo de Tarso: ―Levanta-te e batiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor‖ (Atos 22:16), certamente falava de alguma coisa mais do que uma mera ordenança.

O Batismo de Nosso Senhor

Quando Nosso Salvador foi batizado, lemos que ele saiu da água, e ajoelhando-Se nas margens do Jordão, pediu ao Pai o

batismo de poder. Foi então que recebeu a unção do Espírito. Entrava em uma nova era de Sua vida, e precisava de um poder especial. Estas palavras descritivas nos impressionam:

―O olhar do Salvador parece penetrar o Céu, ao derramar a alma em oração. Bem sabe como o pecado endureceu o coração dos homens, e quão difícil lhes será discernir Sua missão, e aceitar o dom da salvação eterna. Suplica ao Pai poder para vencer a incredulidade deles, quebrar as cadeias com que Satanás os escravizou e derrotar, em seu benefício, o destruidor. Pede o testemunho de que Deus aceita a humanidade na Pessoa de Seu Filho. Nunca dantes haviam os anjos ouvido tal oração. Anseiam trazer a seu amado Capitão

{258}

uma mensagem de certeza e conforto. Mas não; o próprio Pai responderá à petição do Filho. Diretamente do trono são enviados os raios de Sua glória. Abrem-se os céus, e sobre a cabeça do Salvador desce a forma de uma pomba da mais pura luz — fiel emblema dÊle, o manso e humilde.

―Dentre a massa à beira do Jordão, poucos, além do Batista, divisaram essa visão celeste. Entretanto, a solenidade da divina presença repousou sobre a assembléia, O povo ficou silencioso, a contemplar a Cristo. Seu vulto achava-Se banhado pela luz que circunda sem cessar o trono de Deus. Seu rosto erguido estava glorificado como nunca tinham visto antes um rosto de homem. Dos céus abertos, ouviu-se uma voz, dizendo: Este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo‘.‖ (5)

E aquele que segue ao seu Senhor pode pedir o mesmo Espírito de poder. Assim, ao preparar os nossos candidatos para esse serviço, façamo-lo de modo a conservar diante deles essa experiência maior, e pela graça de Deus conduzamo-los a reclamar o dom do Espírito. Demasiados cristãos são batizados no batismo de João, o qual era apenas um batismo de arrependimento. O batismo do Espírito, somente, pode preparar a igreja para a trasladação. As seguintes palavras de Isaías, embora não se refiram primàriamente à experiência do batismo, podem ser apropriadas como promessa em tal ocasião: ‗Quando passares pelas águas estarei contigo‖. Isa. 43:2. Sua presença com eles fará de seu batismo uma antevisão dos Céus.

1) Testimonies, for the Church, vol. 6, pág, 97 (314). 2) Idem, pág. 98 (315). 3) Idem, págs. 97 e 98 (314).

4) White, Carta 126, 1901 (315). 5) O Desejado de Todas as Nações, pág. 112.

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TODO O EDIFÍCIO BEM AJUSTADO

EFESIOS 2:21 15

INTEGRANDO OS NOVOS MEMBROS NA VIDA E ATIVIDADES DA IGREJA

TRÊS mil homens e mulheres batizando-se! Que cena! A velha Jerusalém havia sido palco de muitos outros triunfos em outros dias, mas nenhum deles tão comovedor quanto este. E ainda assim existe algo mais maravilhoso do que os acontecimentos daquele dia — maior ainda do que o serviço batismal propriamente dito, e isto é o registro contido no próximo verso: ‗E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações‖. Atos 2:42. A expressão: ―E perseveravam‖, é a parte mais maravilhosa das cenas do Pentecostes. Haver testemunhado a conversão e o batismo de tal multidão deve ter sido verdadeiramente inspirador, mas saber que todos eles perseveravam na doutrina e no companheirismo dos apóstolos, é ainda mais surpreendente.

A igreja apostólica tinha poucos recursos materiais. Operava grandemente em edifícios emprestados ou ao ar livre. Mas possuíam alguma coisa maior do que edifícios. Existia o espírito de verdadeiro companheirismo entre esses cristãos primitivos, e avançando juntos eles tornavam-se um exército conquistador. Aqueles que acrescentavam a suas fileiras tomavam-se tão integrados à vida e à atividade do grupo que, pegando

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o espírito do movimento, testemunhavam gloriosamente do poder da vida santificada.

Toda a igreja, cada membro da comunhão, tornava-se uma parte de um evangelismo palpitante. Mais tarde, quando veio a perseguição, e os membros foram espalhados, lemos que eles ―iam a todos os lugares pregando a palavra‖ Estes dispersos que faziam a pregação não eram os apóstolos, pois lemos que os apóstolos permaneceram em Jerusalém. Os membros,entretanto, estavam espalhados, e foram estes leais membros leigos que fizeram a pregação. Onde quer que fossem, levavam as boas-novas, Isto é um modelo que a igreja precisa reconquistar.

Num exército espera-se que todo homem sirva; cada soldado tem sua responsabilidade pessoal. Assim também na igreja de Deus cada membro deve ter seu lugar designado, no qual possa servir. E deve receber esse mandato logo que se alista. Mesmo antes de batizar-se deve ser ativo em levar outros ao Senhor. Evangelização alguma é completa a menos que leve os evangelizados a evangelizarem.

Em seu inspirador livro Living Evangelism, Carlyle B. Haynes ilustrou bem o caso, dizendo: ―Antes que os novos sejam batizados e recebidos na igreja, devem receber um curso de instrução sistemática e compreensiva

nos fundamentos da verdade cristã e de sua responsabilidade de ser testemunhas de Cristo e de Sua verdade. . Quando tais crentes interagiam uma nova igreja, deve-se-lhes dar instruções que os fortaleçam na fé, no amor e compreensão da verdade. . . Deve-se instar com eles para que se provejam de todas as coisas materiais necessárias em sua nova vida na igreja, e a confiar em Deus e na Bíblia e em seu próprio companheirismo em vez de na ajuda exterior. Deve-se-lhes ensinar que irão crescendo e fortalecendo-se até transformar-se em igreja viva e vigorosa, pensando mais em dar do que em receber; assumindo encargos financeiros e espirituais, e não dependendo de outros. A responsabilidade para com a igreja e sua obra, juntamente com seu cuidado e crescimento, como também todas as suas atividades, deve-se fazer notar ao grupo de crentes que compõem essa igreja.

{262}

Devem saber que deles se espera que colaborem em todas as atividades normais da igreja, sua manutenção, seu culto e seu

testemunho.‖ (1)

Preparo de Ganhadores de Almas

Foi interessante para mim o observar que em alguns campos missionários cada candidato ao batismo leva consigo alguma alma

como fruto de seu trabalho missionário pessoal. Semelhante programa evangelístico Fará mais para Fortalecer os novos conversos, do que qualquer outra coisa. As pessoas crescem fazendo e não meramente ouvindo. Foi dessa maneira que a igreja apostólica desenvolveu o seu poder espiritual. Cada converso tornou-se um criador de novos conversos. A ordem divina é: ―Aquele que ouve diga: Vem‖. Todo aquele que ouve recebe a responsabilidade de compartilhar a mensagem de boas-novas com alguém. A igreja de Deus avança, não com os edifícios e instituições que erige, mas sim com os pés das testemunhas fiéis, membros leigos leais, que, havendo achado a pérola de grande preço, saem para compartilhá-la com outros. Não há membro tão limitado que não possa ter uma parte nesse trabalho.

―Deus toma os homens tais quais são, e educa-os para Seu serviço, uma vez que se Lhe entreguem. O Espírito de Deus, recebido na alma, vivificar-lhes-á todas as faculdades. Sob a direção do Espírito Santo, o intelecto que se consagra sem reservas a Deus desenvolve harmonicamente, e é fortalecido para compreender e cumprir o que Deus requer. O caráter fraco e vacilante muda-se em outro forte e firme. A devoção contínua estabelece uma relação to íntima entre Jesus e Seu discípulo, que o cristão se torna como Ele em espírito e caráter. Mediante ligação com Cristo terá visão mais clara e ampla. O discernimento se tornará mais penetrante, mais equilibrado o juízo. Aquele que anela ser de utilidade a Cristo é tão vivificado pelo vitalizaste poder do Sol da justiça, que é habilitado a produzir muito fruto para glória de Deus.‖ (2)

E para a glória de Deus e seu próprio desenvolvimento espiritual,

{263} que esses novos conversos devem ser treinados a tornarem-se testemunhas, O gadareno curado implorou o privilégio de seguir com o Mestre ao próximo lugar. Jesus, porém, não lho permitiu e disse-lhe: ―Vai para tua casa e para os teus e anuncia-lhes quão grandes coisas o Senhor te fez e como teve misericórdia de ti. E ele foi e começou a anunciar em Decápolis, quão grandes coisas o Senhor lhe fizera, e todos se maravilhavam.‖ S. Mar. 5:19 e 20. O Senhor precisava do testemunho desse homem curado, pois seu testemunho abriu toda a região, à mensagem de Jesus. Este era o método do Mestre.

Deus quer testemunhas. Não homens que discutam, mas simplesmente homens que digam o que sabem. Não somos chamados a ser fiscais e sim chamados a ser testemunhas, E uma testemunha não precisa necessariamente ser educada. Não precisa ter uma conta no banco. Tudo que necessita é o amor de Deus no coração, e o íntimo de avançar e contar quão grandes coisas o Senhor fez por ele. Se cada cristão hoje, desse um testemunho verdadeiro do poder salvador do evangelho, não se passaria muito tempo antes que o mundo ouvisse as gloriosas novas de Salvação.

―Se cada membro da igreja procurasse iluminar a outros, milhares e milhares hoje estariam com o povo que guarda os mandamentos de Deus.‖ (3)

―Se os cristãos agissem em conjunto, avançando como um só, sob a direção de um Poder, para cumprir um propósito, moveriam o mundo.‖ (4) (G. N.)

Cristo Se propõe a construir Seu reino pelo testemunho de Seus redimidos. Vós sereis minhas testemunhas‖, disse Ele. Foi o testemunho fiel de membros leigos e leais que trouxe os resultados maravilhosos da Cristandade do primeiro século.

Um jovem médico, oculista, foi para um distrito onde era

{264}

desconhecido, Sua clientela formava-se muito vagarosamente, mas certo dia o especialista viu um vendedor ambulante perto de sua casa, O pobre estava quase cego, com catarata. Movido de piedade por esse infeliz, perguntou-lhe se queria ser operado. A cirurgia foi bem sucedida, e sua vista restaurada. Quão diferente era agora a vida para esse pobre homem! Mas ficou humilhado quando percebeu que não podia pagar tostão sequer, por serviços profissionais tão maravilhosos. Mas o doutor confortou-o, dizendo: Não me deve nada, Fi-lo com prazer. Tudo que lhe peço é que conte isso a seus amigos. Naturalmente o homem, em sua gratidão, espalhou a noticia por todos os cantos. Em pouco tempo o doutor tinha mais pacientes do que os que podia atender. O testemunho daquele pobre vendedor ambulante construiu uma clientela lucrativa.

Cristo está procurando exatamente testemunhas como essa, E como Seus embaixadores, não teremos feito bem o nosso trabalho enquanto não tivermos treinado cada converso para que tome seu lugar neste maravilhoso serviço de testemunhar. O ministro que trabalha em tal plano, multiplica-se grandemente. Usar as massas para alcançar as massas, é a maneira pela qual fazemos avançar o reino de Deus. É-nos dito que guando os romanos encurtaram suas espadas, alongaram seu território. Este mesmo princípio foi afirmado em capítulo anterior, mas vale a pena repeti-lo: O teste verdadeiro do evangelismo, não é quantos entram na igreja para adorar, e sim quantos saem dela para trabalhar.

―Há necessidade de educação — o preparo de todos os que entram no campo do evangelho, não só para o manejo da foice e para colher a seara, mas sim para ajuntá-la e cuidar dela. Essa colheita tem sido feita em todas as partes, mas rendeu muito pouco porque houve muito pouco trabalho fervoroso pelo esforço pessoal para ajuntar o trigo separando-o da palha, e atando-o em molhos para o celeiro.‖ (5)

{265}

―Se fôsse dada instrução apropriada e fossem seguidos os métodos corretos, cada membro da igreja faria este trabalho, como

membro do corpo. Faria trabalho missionário cristão. Mas as igrejas estão morrendo, e querem um ministro para pregar-lhes.‖ (6) ―Toda igreja deve ser uma escola missionária a obreiros cristãos. Seus membros devem ser instruídos em dar estudos bíblicos,

em dirigir e ensinar classes da escola sabatina, na melhor maneira de ajudar os pobres e cuidar dos doentes, de trabalhar pelo inconversos. Deve haver escolas de higiene, de arte culinária, e classes em vários ramos de serviço no auxílio cristão. Não somente deve haver ensino, mas trabalho real, sob a direção de instrutores experientes. Que os mestres vão à frente no trabalho entre o povo, e outros,

unindo-se a eles, aprenderão em seu exemplo. Um exemplo vale mais que muitos preceitos. Cultivem todos as faculdades físicas e mentais ao máximo de sua capacidade, a fim de poderem trabalhar para Deus onde Sua providência os chamar‖ (7)

Notem: São os professores que devem mostrar o caminho. Os exércitos são conduzidos pelos generais, mas os que lutam são os soldados. E o soldado comum que agüenta o peso das batalhas do mundo. A vitória ou a derrota depende dele. E da mesma forma, a vitória e a derrota para a causa de Deus dependem da força espiritual e evangelística dos membros leigos.

Quando um grupo de novos crentes se une a uma congregação, é a responsabilidade do evangelista alistá-los no serviço. Mas ele deve fazer mais do que isso. Deve atá-los à vida e à atividade missionária da igreja porque esses novos crentes agora devem associar-se a outros em seu serviço. Ê importante, portanto, que o evangelista consiga que a igreja e seus oficiais conheçam a experiência de cada converso. Deve dizer aos oficiais da igreja, de onde vêm esses conversos, sua filiação religiosa anterior, se houver, e quaisquer outras informações que possam ser consideradas úteis, pois são esses oficiais que agora devem assumir a responsabilidade de guiá-los em seu serviço missionário. Naturalmente os membros da comissão da igreja ou pelo menos seus representantes, já tiveram

{266}

contato com os novos conversos. Provavelmente alguns deles estiveram presentes nas classes bíblicas anteriores ao seu batismo, mas agora todo o grupo de líderes deveria conhecer as experiências prévias desses conversos para poderem melhor achar as espécies de serviço que mais se prestam a cada indivíduo.

Se lembrarmos que ―cada verdadeiro discípulo nasce no reino de Deus como missionário‖ (O Desejado, pág. 195), então compreenderemos que não estamos cumprindo nosso dever a menos que planejemos algum trabalho missionário definido para cada converso.

Isto deve ser posto diante de cada converso como parte definida de sua experiência em crescer em Cristo. Em nenhuma outra oportunidade estarão mais desejosos de servir e sacrificar-se do que logo após haverem encontrado seu Salvador. ―Avancemos à perfeição‖, exclama o apóstolo, e essa perfeição, inclui santidade e devoção no serviço dos homens.

Numa carta a Thomas Rankin, diz John Wesley: ―Tenho pensado bastante ultimamente acerca de um ponto onde talvez todos nós estejamos falhando. Não fizemos uma regra,

logo que uma pessoa justificada, lembrar-lhe que prossiga até à perfeição. Pois este é o tempo preferível a todos os outros. Têm então eles a simplicidade de criancinhas; são fervorosos no espírito; prontos a cortar a mão direita ou a vazar o olho direito. Mas se nós permitimos que este fervor se esfrie, então acharemos que é bastante duro, levá-los novamente a esse ponto.‖

Conduzamos esses novos na satisfação do evangelismo ganhador de almas. E existe certamente muito que fazer. Os pobres devem ser aliviados, os doentes cuidados, os tristes e aflitos confortados, os ignorantes instruídos, e os inexperientes

aconselhados Devemos chorar com os que choram e regozijar-nos com os que se regozijam. Acompanhados pelo poder da persuasão, pelo poder da oração, pelo poder do amor de Deus, esse trabalho não ficará nem poderá ficar sem produzir frutos. (8)

{267} Se seguirmos o conselho inspirado e visitarmos cada lar da vizinhança, não haverá falta de oportunidade missionária. ―Sempre que uma igreja é estabelecida, seus membros devem colocar-se ativamente no trabalho missionário. Devem visitar cada

família na vizinhança e saber de sua condição espiritual. (9) (Grifo nosso.) Isto é certamente um desafio. Saber a condição espiritual de cada família na vizinhança requer mais do que simplesmente uma

visita casual. Um programa como este requer organização e treinamento. E deve haver atitude de observação e simpatia, da parte do visitante. Um plano deste tipo desenvolverá personalidades à maneira de Cristo, que podem ser tocadas com as necessidades de seus vizinhos.

Se cada irmã na igreja fosse uma Dorcas, suprindo aos necessitados os gêneros de primeira necessidade, e se cada irmão fosse um Simão de Cirene carregando a cruz alheia, que igreja teríamos!

Temos que ser mais do que teólogos possuídos de teorias. Devemos ser missionários. As teorias finas são convenientes, desde que possam ser tecidas em roupas para os pobres. Estes quatro grandes objetivos são dados pelo meu amigo, Dr. Adilai Esteb, e colocam diante de nós os ideais de uma igreja verdadeiramente evangelística:

1. Cada membro da igreja, um cristão vitorioso. 2. Cada membro, uma testemunha para Cristo e Sua verdade. 3. Cada igreja, uma escola para o desenvolvimento dos obreiros cristãos. 4. Cada igreja organizada para o serviço, com um programa definido de evangelismo. Quando o apóstolo Paulo estava falando aos líderes em Éfeso, lembrou-os de que lhes havia ensinado ―püblicamente, de casa

em casa‖ (Atos 20:20). Este era indubitavelmente o

{268} método apostólico, evidenciado pelas palavras: ―E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar e de anunciar a Jesus Cristo.‖ A tradução inglesa de Goodspeed torna isto mais claro ainda: Não deixavam um só dia de pregar e ensinar no templo e nas casas particulares, as boas-novas de Jesus, o Cristo.‖ (10) Cristo mesmo, os apóstolos que havia ensinado, e Paulo, aquele que Ele chamou depois pan ser apóstolo, todos seguiam este método de evangelismo. Era mesmo um plano novo, e o conselho era que: _Quanto mais estreitamente o plano do Novo Testamento fosse seguido no trabalho missionário, tanto mais bem sucedidos serão os esforços feitos.‖ (11)

Como fazer de cada departamento da igreja um meio evangelístico ganhador de almas, deve preocupar a direção de cada igreja. Por exemplo, as possibilidades evangelísticas da escola sabatina são tremendas. Se cada classe fosse reconhecidamente um grupo de salvamento, e os professores considerados como capitães de equipes salva-vidas, cujo trabalho é achar os perdidos, isto daria ênfase ao estudo da lição e inspiraria nos membros da classe um espírito de evangelismo. Verdadeiramente, a escola sabatina é a igreja em estudo,

mas o objetivo de todo o estudo teológico deve ser compreender o propósito de Deus para a salvação dos perdidos. A teologia só tem valor quando está em ação.

Certo anúncio na parede de uma fábrica diz: ―Fabricantes de Acessórios Para Transmissão de Força.‖ Isto é justamente o que cada membro deve ser, um acessório para transmitir força divina.

A Escola Sabatina como Agência Ganhadora de Almas

As ofertas da escola sabatina provêem grande porção de nossos fundos missionários, mas enquanto tentamos alcançar os

pagãos de além-mar, encontramos muitos sem Deus e sem

{269}

igreja dentro de nossas próprias portas. Se a lição é ensinada com ênfase evangelística, os membros se inspirarão com o espírito do evangelismo.

Cartazes de alvos e outros recursos são interessantes, mas realmente são apenas um meio para um fim. O fim real é o evangelismo. Podemos realmente agradecer a Deus por tudo que a escola sabatina tem feito através dos anos, mas com planejamento conveniente pode tornar-se uma agência evangelística ainda maior. É fácil perdermos os objetivos reais da escola sabatina no programa promocional. Naturalmente os membros devem ser inspirados a dar para as missões, e quando são corretamente ensinados, essa inspiração virá grandemente do estudo da Palavra, mas do mesmo estudo da Palavra, deve vir também o anseio de serem realmente ganhadores de almas.

Em certo campo missionário os filhos dos missionários estrangeiros estavam agrupados em uma classe. Eram ativos e atentos, e orgulhavam-se de serem atingidos sempre os seus alvos de estudo diário e de ofertas per capita. Depois de certo tempo, uma nova família começou a vir à escola sabatina. Duas das crianças daquela família caíram no grupo da idade das crianças dos missionários e deveriam ter-se juntado a essa classe. Mas os outros protestaram, dizendo: ‗Não os queremos em nossa classe. Mandem-nos a qualquer outra parte. Eles abaixarão nossas médias de oferta per capita e registros de estudo diário‖ Imaginem: Os pais dessas crianças haviam vindo a esse campo através de milhares de quilômetros, a expensas da obra, e acarretaram um grande gasto para a causa de Deus, justamente para evangelizar aqueles a quem seus filhos agora rejeitavam.

Este é um caso isolado, mas que serve muito bem para mostrar o perigo de superacentuar certos alvos e perder a visão evangelística da escola sabatina.

{270}

Se cada classe tivesse seu objetivo evangelístico, como por exemplo adicionar um membro novo em cada trimestre, e essas

adições fossem parte do relatório de cada trimestre, isto faria muito para acentuar as possibilidades evangelísticas da escola. A integração dos novos membros à vida real e à atividade ganhadora de almas na escola sabatina, faz muito para conservá-los nas doutrinas e na comunhão.

A escola sabatina deve tornar-se tanto evangelística como educacional, produtiva como promocional e mais cooperativa do que competitiva.

Missionários Voluntários

Da mesma maneira, a divisão dos jovens da igreja deve tomar-se definitivamente evangelística. Um grande ímpeto tem sido dado

à nossa juventude através do programa ―Partilha tua Fé‖, que foi lançado para aproveitar o entusiasmo dos corações jovens no trabalho missionário. De todas as partes do campo mundial uma notícias emocionantes do trabalho ganhador de almas dos Missionários Voluntários, Centenas estão sendo trazidos ao conhecimento da mensagem de Deus através de seu original testemunho.

Em outro capítulo, as grandes possibilidades do evangelismo ao ar livre foram encarecidos. Nenhum grupo na igreja pode fazer melhor este trabalho do que a juventude. Significa muito tomarem os jovens e as jovens o encargo desse trabalho, e no espírito de seu Mestre, o maior de todos os evangelistas ao ar livre, avançarem para dar o evangelho às multidões. As crianças e os jovens que são ativos no serviço missionário, especialmente no serviço de testemunhar, não são os que saem da igreja.

Trabalhando Pelas Crianças e Pela Juventude

Se fizermos planos definidos para guiar e desenvolver as {271}

crianças e a juventude, muito se fará pelo estabelecimento da igreja do futuro. Moody disse uma grande verdade ao afirmar que, quando um evangelista traz um homem de meia-idade para o Senhor, salva uma alma, mas quando ele traz uma criança, salva toda uma tabuada de multiplicar. Isto é, ele salva uma alma que testemunhará por toda a vida. Existe significação no registro de que ―Jesus chamou a si um menino e o pôs no meio deles‖. A criança é indubitavelmente a igreja de amanhã.

Desde seus mais tenros anos a criança deve sentir que também pertence à igreja de seus pais. De fato, uma das maiores obras da igreja é tomar a isso que chamamos infância e dirigi-Ia em direção de Deus. A criança deve ser criada para o reino. As crianças e jovens das famílias de novos conversos devem receber boas-vindas especiais.

Quando os pais aceitam a mensagem, geralmente trazem seus filhos consigo, mas o romper súbito com as antigas associações produz uma espécie de desnorteamento a esses jovens. E a menos que os pastores e seus auxiliares, forem particularmente solícitos para com eles naquela época, eles começarão a se desencorajar e não permanecerão na igreja. A falta de interesse pelas crianças e o fracasso

na tentativa de integrá-las no programa da igreja tem sido o começo de muitas apostasias de uma família inteira. Transplantar uma árvore é sempre um abalo para o seu crescimento, e transplantar árvores para o jardim do Senhor requer grande habilidade. Davi orou para que ―nossos filhos sejam como plantas crescidas na sua juventude‖. (Sal. 144:12.) A igreja tem uma responsabilidade definida em ajudar seus membros mais jovens a crescerem e tornarem-se plantas fortes e frutíferas para Deus. Mas ao ajudá-los a desenvolver-se, devemos primeiro ganhar sua confiança. É melhor trabalhar com eles do que trabalhar por eles. Portanto devemos dar-lhes alguma responsabilidade

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Os jovens não precisam nem de dependência nem de independência. Precisam de companheirismo.

As repreensões e as correções, especialmente as correções em público, somente criam embaraços e desgostos. A liderança pastoral significa mais quando é dada de maneira pessoal.

Certa ocasião, numa reunião evangelística, um grupo de juvenis dirigiu-se à galeria. Esta estava inteiramente desocupada. Provavelmente não tencionavam fazer nada demais ali, mas um deles tinha alguns grãos de café no bolso, e de seu lugar estratégico viam alguns bons alvos nas carecas abaixo deles. Um tiro ou dois com boa mim alcançaram o alvo. Naturalmente isso era uma coisa vergonhosa para se fazer, e muitos pregadores poderiam perder a calma com o incidente. Mas ao final da reunião o evangelista se colocou aonde os rapazes teriam de passar. Com uma piscadela, perguntou o que haviam usado para demonstrar sua boa pontaria. Um dos rapazes tirou relutantemente uns grãos de café de dentro do bolso. Sem uma única palavra de reprovação naquele momento, o pastor disse:

— Sabem donde vêm estes grãos? — Não, disseram os garotos. — Então vão à minha casa amanhã à noite, que eu lhes contarei algumas coisas acerca do povo que os planta. O convite foi aceito, e uma vez na casa do pastor, um plano foi delineado: Viriam à casa do pastor cada segunda-feira à noite, às

6:45, e durante meia hora estudariam tudo acerca da América do Sul—sua geografia, seu clima, seu povo, e particularmente seus missionários, O pastor mostrou- lhes como desenhar grandes mapas, e onde conseguir informações. Ficaram bastante contentes e trabalharam incansavelmente no projeto. Como resultado, o evangelista não teve mais problemas com tiro ao alvo, ou outros.

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Poucos meses depois permitiu que esses rapazes compartilhassem a conferência pública com ele. Cada um deu um relatório de

um aspecto interessante do trabalho das missões nos países de língua espanhola e portuguesa, que haviam estudado. O salão ficou lotado, e todos foram inspirados pelas mensagens classes jovens. Mas mais importante ainda: Algumas semanas mais tarde esses rapazes inquietos foram batizados e hoje são líderes na igreja de Deus. Não trabalhar contra eles nem meramente por eles, e sim trabalhar com eles, resolveu o problema. E resolverá a maioria dos problemas da juventude.

O futuro da igreja está ligado a esses feixes de energia. O pastor-evangelista e seus associados precisam ter isso definitivamente em mente ao fazerem seu plano. Saber como diminuir enquanto ajudamos a juventude a aumentar, é vital em todo o trabalho da juventude. Podemos ilustrar isso: Coloquemos os vinte e quatro anos como uma idade arbitrária para o momento em que o jovem se torna realmente adulto. Quando alcança a idade de vinte e quatro, deve ser uma personalidade totalmente integrada e pronta para tomar encargos na igreja.

O simples diagrama que se segue poderá salientar o lugar que o pastor ou professor deve ter na vida da criança, desde o nascimento até à idade adulta.

Integrar a juventude na vida da igreja é uma das obrigações na administração da igreja. E coisa que não pode ser evitada, porque como ja afirmamos a criança é a igreja de amanhã.

A parte vital da mensagem de Elias relaciona-se com a vida de família. Voltar os corações dos país aos filhos e dos filhos aos pais, é uma das partes mais grandiosas de nosso trabalho. Não somente cada pai na carne, mas também cada pai espiritual tem uma responsabilidade para com as crianças. Verdadeiramente isso é um problema educacional, mas é também

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um problema sociológico. Pois o homem não é somente mental, mas também é social, físico e espiritual. E o aspecto social da natureza humana não deve ser deixado de lado.

A Recreação á Parte Importante E aqui chegamos diretamente à questão da recreação. Nenhum programa evangelístico é completo se ignorar esta necessidade

vital. Como foi observado, o homem é um ser de quatro dimensões: deve ser ajudado a desenvolver-se espiritualmente, mentalmente, fisicamente e socialmente. Estes aspectos de seu desenvolvimento devem ser harmoniosos. Enquanto o povo está sendo iluminado espiritualmente, deve também haver um plano para uma recreação saudável. As reuniões sociais não são reuniões no sentido geral da palavra, mas sem dúvida provêem oportunidades evangelísticas maravilhosas para o pastor-evangelista prudente. Seria inconveniente,

{275} é claro, que qualquer coisa entrasse nestas reuniões além daquilo que preservasse os modelos elevados e espirituais estabelecidos pela pregação da Palavra. Mesmo na escolha de alimento e diversão, devemos ser cuidadosos em manter os princípios cristãos verdadeiros. Uma social, pode trazer mais malefícios do que benefícios se for mal conduzida. Entretanto, o pastor não tem melhor oportunidade de aproximar-se de seu povo do que em tais ocasiões, porque tem oportunidade de observá-los em um ambiente informal.

A natureza humana mostra-se diferente numa função social do que num serviço da igreja. Freqüentemente podemos observar qualidades de liderança onde menos esperávamos. Esta mudança de personalidade no ambiente da sociabilidade cristã, é um estímulo definido para o crescimento espiritual e a igreja é fraca em todos os outros três pontos de seu ministério se não planeja e guia este assunto da verdadeira recreação cristã.

Nem deve ser delegada a outros esta responsabilidade, O evangelista ou o pastor deve supervisionar o planejamento e conduzir pessoalmente o programa, ou pelo menos aconselhar àqueles que o vão fazer. Isto é uma ocasião para que todo mundo se conheça, e o evangelista que faz disso seu trabalho particular para apresentar os novos membros e não permitir que sejam postos de lado, deu o passo inicial em integrá-los na vida e na atividade da igreja. Fazer com que as almas retraídas sintam que são parte de um todo, cimentá-las-á no companheirismo. Fomentar um espírito sadio de boa vontade e comunhão é o objetivo dessas reuniões. Não é a mera frivolidade o que se deseja ali, e sim divertimento saudável, dê acordo com o que diz a Escritura: ―O coração alegre serve de bom remédio.‖ A alegria é um fruto do Espírito.

Seja um convescote ou uma hora social em um salão, é sempre apropriado buscar a bênção de Deus sobre a ocasião. Qualquer coisa que façamos deverá ser feita para honra e gIória

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de Deus, Se a oração é simples, sincera e apropriada, todos podem participar do espírito dela. Alguma coisa como o que se Segue seria uma oração apropriada para a abertura de tal ocasião: ―Nosso Pai celestial, diante de quem os anjos velam a face, vimos à Tua presença com gratidão pelas bênçãos abundantes que partilhamos. Estamos felizes de estar aqui, e lembramo-nos da promessa de nosso Salvador, que diz:

‗Onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome aí estarei.‘ Faze-nos cônscios de Tua presença. Viemos aqui para partilharmos o espírito do companheirismo cristão. Agradecemos-Te todas as provisões do Teu amor, e oramos para que anjos de Tua presença possam nos colocar em Tuas mãos e guardar-nos em todos os nossos caminhos. Assim, encomendando esta reunião ao Teu cuidado, oramos para que tudo o que façamos seja para honra e glória dAquele cujo exemplo lutamos por seguir, mediante Jesus Cristo nosso Senhor. Amém.‖

Apesar de não ser uma reunião evangelística, a hora social provê algumas das oportunidades evangelísticas mais maravilhosas. Amigos e parentes que não são de nossa fé, estarão presentes, e deveremos orar para que tais impressões sejam Feitas que lhes abram o coração para o estudo da Palavra de Deus. Um piquenique, ou uma noite social, tem sido muitas vezes o ponto de partida de uma experiência que conduziu finalmente a uma conversão completa.

E fácil negligenciar a alguns grupos na igreja. Mesmo os apóstolos enfrentaram este problema. No sexto capítulo de Atos nos é contada a história da escolha dos diáconos. Este plano nasceu das queixas de que alguns dos novos conversos estavam sendo negligenciados. Se tal negligência era possível nos dias apostólicos, não é surpreendente se situações similares se levantam nos dias presentes. A integração dos novos membros é vital para o sucesso da igreja, pois somente uma igreja unida pode avançar em conquista espiritual, cumprindo

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a descrição escriturística: ―formidável como um exército com bandeiras‖

E o pastor-evangelista precisa planejar o seu trabalho de tal maneira que todas as idades na igreja recebam atenção. Quando cada departamento na igreja está palpitando com poder espiritual e propósito de ganhar almas; e quando os jovens e velhos, crentes novos e antigos carregadores de fardos, ministros e leigos, todos juntos avançarem num grande empreendimento evangelístico, então veremos que a igreja iluminará o mundo com a glória do evangelho. Esta é a figura profética da igreja que espera a vinda de seu Senhor.

―Cristo não tem mãos além das nossas, para fazer Seu trabalho hoje, Não tem pés além dos nossos para conduzir os homens no caminho, Não tem língua além da nossa para contar aos homens como Ele morreu, E não tem auxílio além do nosso, para levá-los para Seu lado.‖

Técnicas Para Desenvolver o Espírito de Unidade

PROBLEMA: Eis aqui uma questão realista. Vem de um pastor escrupuloso que pede conselho. Pode muito bem formar a base

para estudos proveitosos. ―Existe alguma maneira eficaz de encarregar os novos membros das várias atividades da igreja e ao mesmo tempo ajudar os

velhos a saberem que não estão sendo postos de lado? Sou pastor de uma igreja antiga. Durante anos, eles não tiveram pastor, mas continuaram muito bem, com boa liderança local. Naturalmente durante esses anos não houve um programa evangelístico na igreja, mas o programa regular da igreja foi levado a efeito de maneira bem aceitável. Mas agora, uma campanha evangelística produtiva está em progresso, e muitos novos membros vieram para a fé. E entre esses líderes locais que têm sempre conduzido as coisas com mão firme, parece haver uma tendência de reter o controle. Não desejam mostrar-se inamistosos, mas dão essa impressão aos novos crentes

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Que posso fazer para unir esses dois grupos e ligar completamente esses novos à igreja?‖

RESPOSTA: Este é um problema desafiador, e mais agudo em alguns lugares do que noutros. Pode e deve ser resolvido, porque a menos que todos esses novos crentes selam definitivamente ligados à igreja, alguns logo se desencorajarão e sairão dela.

Colocar a Responsabilidade nos Membros Antigos

Se fizermos um plano para que os membros antigos tomem individualmente e pessoalmente a responsabilidade do cuidado

desses novos, o problema se resolverá por si mesmo. Já experimentastes a idéia de dar um ―protetor‖ para cada novo crente? Alguns anos atrás um de nossos evangelistas metropolitanos experimentado, revelou-me este plano. Ele o havia usado com sucesso e desde então provei o seu real valor. Não somente ajuda aos novos membros, mas faz muito pelos veteranos. Selecionar alguma pessoa conveniente para ser completamente responsável por cada novato e então instruí-lo nos princípios de uma liderança sábia. Estes que forem apontados como guardiães ou ―protetores‖ deveriam apresentar relatório em cada mês e se quaisquer dos que estão sob o seu cuidado mostrar quaisquer sinais de desencorajamento, podem ser ajudados antes que o caso se torne sério. Um plano como este cimenta o grupo todo em união e constrói um espírito de camaradagem cristã. O que se segue é um modelo de carta já provadamente bem sucedido. Use-a, ou alguma adaptação, e sem dúvida se tomará para a sua igreja a mesma bênção que foi para outros.

Sugestões aos ―Protetores‖

PREZADO IRMÃO Ajudante: O irmão foi chamado para uma responsabilidade sagrada, sendo

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Como evangelista, seu ministro deve ganhar almas, mas em sua capacidade como pastor tem que pastorear o rebanho e agora o irmão é chamado a ser um de seus assistentes. Ê agora um sub-pastor. Que amar e ternura precisará para cumprir sua feliz tarefa Que Deus lhe possa dar graça especial e Sua influência possa ser sempre uma inspiração.

Falando a alguns responsáveis pelo cuidada espiritual de outros na igreja, o apóstolo disse: Velam pelas almas como aqueles que hão de dar conta delas.‖ Heb. 13: 17.

As seguintes sugestões podem ajudá-lo a ser bem sucedido em seus propósitos: 1. Ser amigo daquele que está a seu cuidado, mas não dar a impressão de ser sua sombra 2. Nunca deixar que se passe uma reunião sem dizer algumas palavras amistosas a ele. 3. Freqüentemente apresentá-lo a outros para que possa tornar-se conhecido de todos os membros da igreja. 4. Se ele está ausente no sábado, não deixar passar a semana sem perguntar-lhe a razão. Escrever-lhe, telefonar-lhe, mas preferivelmente visitá-lo. 5. Convidá-lo a visitar sua casa ocasionalmente. 6. Se ele está sapinho, convidá-lo ocasionalmente a sentar-se com você durante as reuniões. 7. Fazer com que ele se acostume com as revistas de nossa igreja. Emprestar-lhe livros, especialmente da série o Conflito dos Séculos‖. 8. Ao visitar os doentes e ir ao trabalho das Dorcas ou a distribuir literatura, levá-lo junto. 9. Orar por ele cada dia e deparar ocasiões em que possam orar juntos. 10. Ser cuidadoso em sua conversação. Tentar conservar sua confiança na liderança, e no triunfo final da causa que todos amamos.

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11. Falar das bênçãos que você está pessoalmente recebendo do Senhor, e ajudá-lo a regozijar-se na salvação que é nossa em Cristo. 12. Dar ao pastor as questões que não puder responder e não deixar de relatar qualquer problema ou crise grave. 1) Págs. 398 e 399, 2) O Desejado de Todas as Nações, pág. 251. 3) Testimonies for the Church, Vol 6, pág. 296.

4) Serviço Cristão, pág. 75. 5) White, Carta 16, 1892. 6) White, Manuscrito 150, 1901 (381). 7) Ciência do Bom Viver pág.125 e 126.

8) Obreiros Evangelicos, pág. 363. 9) Testimonies for the Church, Vol. 6, pág, 296. 10) Smith, Goodspeed, The BibIe: An American Translation. University of Chicago Press. 11) Testimonies for the Church, Vol. 3, pág. 210.

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QUARTA PARTE

O Pregador e Sua Mensagem

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A pregação é um trabalho divino. Como pregador, o evangelista torna-se um arauto de esperança, um portador de boas-novas, que leva a mensagem do rei. Não meramente fala acerca do Rei, fala pelo Rei. Fala aos homens por Deus, e fala a Deus pelos homens. Como embaixador dos Céus, fala com autoridade. É ―em lugar de Cristo‖ que ele torna conhecido o propósito eterno de Deus. Seu trabalho consiste em proclamar a salvação de Deus, pegar a Cristo crucificado, e trazer à luz aqueles que estão na escuridão e fazer com que a mensagem seja tão clara que homens de todos os tipos e condições possam compreender as provisões divinas da graça.

Como porta-voz de Deus ele não é um pressagiador de condenação e sim um arauto de felicidade. Traz a alegria do Senhor aos abatidos e desencorajados. Eleva os homens da lama do pecado à presença de Deus. Nenhum poder na Terra pode igualar-se ao pregador inspirado do Espírito. Na esteira daquele cujos lábios foram tocados com o fogo divino haverá sempre milagres da graça. Isto é verdadeiramente um ministério profético. Através dele o pregador desperta o interesse e conduz homens à comunhão com Deus.

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PREGA A PREGAÇÃO QUE TE DISSER

16 JONAS 3:2

QUE É UM SERMÃO? ALGUEM perguntou: — Que e um sermão? E a significativa resposta de Ruskin foi: — São trinta minutos capazes de ressuscitar mortos. Desejaríamos que isso fosse verdade, mas muito freqüentemente não há despertamento algum. O sermão é pregado, as pessoas

vão para casa, mas não são diferentes do que quando chegaram à reunião. Um sermão é mais do que dizer alguma coisa: é fazer alguma coisa. Ele deve fazer alguma coisa — ao pregador e ao povo. A

menos que tal resultado seja alcançado, a mensagem é um fracasso, não importa quão profundo possa ter sido o raciocínio ou quão eloqüente a sua elocução. A palavra sermão, diz-se que significa um impulso. Quando um homem toma a espada da Palavra de Deus em sua mão e empunhando-a limpa o caminho para seu povo, então esta Palavra deve brilhar com um novo brilho, Somente um sermão banhado na Palavra de Deus pode ser poderoso a ponto de derrubar as fortalezas.

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Um sermão é mais do que um discurso acerca de Deus, e mais do que o desenvolvimento de algum pensamento teológico: é o

fluir de uma vida. ―Leva-se vinte anos para fazer um sermão‖, disse E. M. Bounds, ―porque leva vinte anos para fazer um homem.‖ O pregador não fala meramente acerca de Deus; fala por Deus. Não possui apenas uma mensagem, mas é possuído pela mensagem. E até o ponto em que a verdade seja reproduzida na vida do pregador, até ai o sermão será um poder. É a mensagem possuindo o homem que o torna dinâmico. Ele então se torna uma testemunha viva, pois sua personalidade desaparece na virtude do Todo-poderoso.

Um sermão, pois, é vastamente diferente de um discurso, de uma dissertação, ou de uma palestra política. ―É derivado de revelação; é o produto de uma iluminação espiritual é preparado com oração humilde, e expresso em confiança consciente no Espírito Santo. E resultado de um processo sobrenatural; devotado a um trabalho sobrenatural efetuado por influência sobrenatural.‖ (1) Deve ser mais do que um ―discurso literário ou uma dose medicinal de calmante‖. Deve ser o apelo do Todo-poderoso aos filhos e filhas de uma raça caída.

O Sermão é uma Ferramenta

Os sermões são ferramentas, e não obras de arte. Como necessitamos de ferramentas diferentes, para trabalhos de tipos diversos, assim o pregador deve moldar suas mensagens para prover às necessidades específicas. Como jardineiro espiritual, toma da sua enxada quando deseja cultivar as flores da graça de sua congregação; mas utiliza-se do martelo se necessita pregar um prego da verdade num certo lugar.

Para conhecer suas necessidades e problemas e saber que qualidades de ferramentas são necessárias, o pregador deve viver com seu povo e sentir com seus corações. Somente ao

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ser um deles, é que ele pode conhecer suas tristezas. Misturando-se com seu rebanho como um pastor, receberá que muitos de seus melhores sermões se originam exatamente nos lares de seu povo. Seus problemas sociais e espirituais suas mágoas e alegrias — estes são os ambientes nos quais ele constrói suas mensagens.

―Como sabe o nosso pregador acerca do que estamos pensando?‖ perguntava um velho crente à saída do culto de sábado. Como? Porque durante toda a semana ele havia estado partilhando suas experiências.

Shakespeare falou de ―sermões em pedras‖ e de ―livros em regatos.‖ Mas os sermões encontrados nos lares, são geralmente mais estimuladores do que aqueles encontrados nas pedras. Naturalmente sabemos o que o poeta queria dizer, e um pregador pode encontrar sermões em toda parte. Ele pode não colocar sua mensagem em rimas, mas todo pregador é um poeta.

Ouvimos entretanto de um literalista estrito, que ao ler estas linhas pela primeira vez, exclamou à esposa: ―Isto não pode estar certo! Deve haver algum erro de imprensa! Não tiramos sermões de pedras. Tiramos sermões dos livros e tiramos pedras dos regatos. Nunca teríamos livros nos regatos, pois eles se molhariam todos.‖ Pobre alma! Mas mais pobre ainda é aquele que tem que sentar-se sob um ministério tão vazio de imaginação! Mas para falar a verdade, muito freqüentemente os sermões vêm de livros ―e cheiram mui to a pestanas queimadas.‖

Um pregador ocupado, correndo daqui para lá, e cuidando da maquinaria espiritual, é freqüentemente tentado a confiar em algum livro de sermões, E muito freqüentemente o evangelista tomará os discursos de algum outro ganhador de almas e tentará pregá-los como se fossem seus. É um engano. Um sermão é mais do que textos e fatos; é mais do que argumento doutrinário. É, e deve ser, o fluir de uma vida.

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Sermões de livros que nunca foram nem nunca poderiam ser parte da vida do pregador, são pobres substitutos, O povo pode não

saber a razão da falta de poder, mas sente que alguma coisa está errada. O melhor sermão só é de segunda mão se vem de um livro. Os livros de sermões só são bons para estudo pessoal, mas pobres substitutos para um pregador super ocupado ou preguiçoso. Os evangelistas que usam os discursos de outros homens nunca chegam a desenvolver-se até alcançarem a posição de lideres fortes.

Já é ruim usar os sermões de outro homem, porém ter uma coleção de mensagens medíocres, as quais pregamos repetidamente, é pior ainda. Novamente saem as mesmas notas amarelecidas, e atravessamos os mesmos pontos, contando as mesmas histórias, iludindo-nos a nós mesmos, pensando que tal serviço trará os mesmos resultados.

Embaraços ao Poder da Pregação

Se me pedissem pua citar os dois maiores embaraços mecânicos para o desenvolvimento de um ministério verdadeiramente

poderoso, eu diria que primeiramente vêm as notas gastas e os esboços amarelecidos, e em segundo lugar, o sistema de alto-falantes. Os esboços encanecidos pela idade empatam o desenvolvimento da força mental. Não há desafio a um pensamento novo. Os músculos mentais enfraquecem- se com a falta de uso. E temos ainda os alto-falantes, que empatam o desenvolvimento do poder vocal. Desvirtuam a voz natural e como as notas velhas tornam-se uma muleta. Existem algumas circunstâncias nas quais é conveniente usar esta invenção moderna. Devemos ser agradecidos por termos tal auxílio quando nos vamos dirigir a uma grande multidão, apesar de homens de outras eras terem podido falar a multidões de dez a cinqüenta mil sem contarem com este aparelho artificial. Entretanto, presenciar jovens ministros, que deveriam estar no vigor de suas forças, usarem sistema de

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auto-falantes para falar a algumas centenas de pessoas, é deplorável. Como acentuei antes, a experiência ensinou-me que o melhor lugar para treinar os pregadores é o ar livre, preferivelmente uma rua movimentada, pois ali não se tem esboços nem amplificador.

As notas para sermão tiradas freqüentemente de um livro de folhas soltas, papéis amarelos de idade, são mesmo muletas miseráveis! Falta-lhes vitalidade espiritual. Raramente elevam os corações em direção aos Céus. Podem ter sido bons anos atrás, mas seus dias já foram contados. Mas se você não quer destruir estas notas e quer dar-lhes um lugar honrado em seus arquivos, pode arquivá-las, mas evite utilizá-las. Não pregue com elas. Alguns dos pensamentos são bons e aplicáveis, podendo ser usados com sabedoria. Mas coloque-os em roupagem nova. Permita que se desenvolvam em um novo sermão, antes de pregá-los novamente. Porque insultar a um povo faminto trazendo-lhes uma oferta tão pobre? As notas podem ser usadas, contanto que sejam poucas e novas.

Davi disse em II Samuel 24:24: ―Não oferecerei ao Senhor meu Deus holocaustos que me não custem nada.‖ Trazer um saco de ossos secos à igreja na manhã de sábado, é um insulto ao povo que durante toda a semana batalhou contra a tentação e lutou com seus problemas. O coração da gente desanima ao ver as folhas velhas e rotas serem colocadas sobre o púlpito. E parece-nos que ouvimos o chocalhar dos ossos. Milton disse: ―As ovelhas famintas olharam para cima e não foram alimentadas.‖ Lembre-se, o sermão é o pregador em dia. Quão em dia está você? É estranho o modo pelo qual nos sacrificamos para comprar um carro último tipo, e não nos importamos em produzir um novo hino ou um novo sermão para nossos rebanhos famintos. Sermões em livros! Fuja da tentação, irmão! O sermão deve estar na cabeça

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do pregador e em seu coração se ele quer pregar com poder.

Conselho de Salomão Acerca da Oratória Sagrada Ponderemos as seguintes palavras de sabedoria: ―Quanto mais o pregador foi sábio, tanto mais sabedoria ao povo ensinou,

atentou, e esquadrinhou, e compôs muitos provérbios. Procurou o pregador achar palavras agradáveis; e o escrito é a retidão, palavras de verdade.‖ Ecl. 12:9 e 10.

Os pregadores sábios ensinam a sabedoria. As qualificações para o bispado requerem que o candidato seja ―apto a ensinar‖. Os membros devem ser ajudados a crescer em conhecimento, para que também possam crescer na graça. A tarefa do pregador é desafiar o pensamento deles. Tomás A. Edison estava certo quando disse estas palavras: Não existe incômodo tão grande que a humanidade não o prefira, ao trabalho de pensar.‖ Sim, pensar é um trabalho duro, e todos nós gostamos de evitar o trabalho - . O pensamento vigoroso e criativo é necessário se desejamos usar as lentes da sabedoria do século vinte para colocar a verdade antiga sob um foco significativo. E isto deve ser feito, se quisermos conservar o povo.

O pregador era capaz de ensinar conhecimento porque: (1) Ele atentou; (2) ele esquadrinhou muitos provérbios; (3) e os compôs, isto é, colocou-os em ordem. O pregador deve ser sempre um aprendiz. Deve estar atento à revelação de Deus através de Sua Palavra. Sua sabedoria é discernida por sua habilidade em esquadrinhar muitos provérbios. Um provérbio é sabedoria reduzida a uma sentença curta. E expresso em linguagem que uma criança possa entender. Não é simples quanto ao pensamento; é simples quanto à expressão. E uma expressão simples é o que o povo necessita e o que o povo gosta. Uma congregação sempre reage ao homem que desafia o seu pensamento — isto é, se ele consegue reduzir

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o pensamento a palavras de modo que eles possam entendê-las. Mas é preciso haver bastante sabedoria para apresentar verdades profundas em forma de provérbios simples.

Pregar acima das cabeças do povo, é sempre ruim, mas pregação é pior quando faz com que nenhuma cabeça pense. O Dr. Sloane Coffin dá-nos isso como receita para fabricar muitos sermões comuns: ―Tomar uma colher de chá de pensamento

fraco, adicionar água, e servir.‖ Então ele acrescenta: ―O fato de ser muitas vezes servido quente pode aquecer os ouvintes, mas nunca nutri-los.‖ Outro homem disse a um colega pregador: ―Quando o pensamento é fraco, o púlpito.‖―Certamente é um tipo de pregação muito pobre, esse de esmurrar‖.

Não Existe Estrada Real ao Poder da Pregação Mesmo os bons pensamentos precisam ser organizados. O pregador deve colocá-los em ordem e isso pede preparação

cuidadosa. Diz Lorrimer: ―Há vasta diferença entre ter um carregamento de fatos miscelâneas na cabeça misturando-se em trânsito, e carregar o mesmo sortimento propriamente encaixotado, e embalado para o manuseio conveniente e distribuição imediata.‖ (2)

Um discurso bem preparado já está mais do que meio falado. Mas a preparação é sempre custosa e requer a disciplina da alma. Não existe estrada real para aprender, e não há atalhos para uma pregação bem sucedida. Encontrem o homem que está fazendo uma contribuição realmente valiosa, e descobrirão que por trás de seu sucesso se escondem anos de trabalho duro e preparação cansativa.

— O senhor favoreceu aquele homem . . . disse um grupo de obreiros a um presidente de união. Estavam discutindo certo evangelista que segurava grandes multidões e fazia com que muitos se decidissem por Cristo.

— Bem, disse o presidente ele faz Ótimo trabalho, não?

{291} —Oh, sim, ele é um bom pregador, mas isso é porque os senhores o favoreceram. Obteve todas as chances. Se outros de nós

tivéssemos tido as mesmas oportunidades, seríamos tão bons quanto ele. — Vocês tiveram todos as mesmas oportunidades, respondeu o presidente, mas não as agarraram. — Como? veio a pergunta em côro. — Bem, vou dizer-lhes algumas das poucas coisas que sei. Este jovem durante anos não conheceu outra coisa além da paixão

de ganhar os perdidos. Desde manhã cedo até tarde da noite, ele tem estado visitando e pregando. Sei que por cinco anos não tirou férias. De fato, estava casado já há dois anos quando pôde passar um serão em casa. E quando um compromisso foi cancelado por causa da doença da pessoa a quem ia visitar, ele e a esposa decidiram passar aquela sexta-feira à noite, juntos em casa. Ao sentarem-se para partilhar a pequena poltrona no quartinho que alugavam, choraram pela alegria de pensar que podiam passar aquela sexta- feira de noite sem interrupções, ou compromissos. Em toda as outras noites, ou ele sozinho ou os dois Juntos estavam visitando os lares ou dirigindo reuniões. Voltando tarde da noite de estudos bíblicos ou de quaisquer outros compromissos de pregação, ainda trabalhava durante duas horas mais ou menos, lendo, escrevendo e orando. Muito tempo depois de vocês estarem na cama ele está trabalhando, e muito antes de vocês sofrem da cama ele já está de pé.

Vocês dizem que ele pegou todas as chances, mas eu não sei é como ele não perdeu a saúde. Tem uma paixão pelos perdidos e deu-se a si mesmo coro absoluto abandono para o trabalho do evangelismo. Teve sua oportunidade, é verdade, e assim vocês a têm ainda. Porque não as aproveitam e fazem de cada dia um dia de desenvolvimento como pregadores? Meus irmãos: Não vos enganeis, ―Deus não Se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear, isso também

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ceifará. O homem que deseja pagar o preço encontrará o sucesso. Mas existe um preço a ser pago.‖ Ao despedir-se, o presidente deixou aquele grupo pensando. Não, não há estrada real para o êxito na pregação. Maquinações secretas, manobras políticas, o prestígio social, podem ajudar a

pôr um homem numa posição, mas a estrada para o poder da pregação é sempre áspera e escabrosa.

Conservar Bem Claro o Objetivo

Essa questão de pôr os pensamentos em ordem exige clara análise. O sermão é como uma viagem; deve ter um roteiro. Não é um carrossel, deve levar a algum lugar; deve ter um propósito. A Fórmula de Rousseau para as cartas de amor mui freqüentemente é a norma de pregadores Começam sem saber o que vão dizer, e terminam sem saber o que disseram.

O pregador é chamado para sustentar guerra contra o pecado. E a guerra exige preparo. Napoleão costumava dizem que a guerra é uma ciência em que não sucede coisa alguma que não tenha sido sabiamente calculada e bem meditada. Deve o sermão ser bem ideado, antes de poder ser elaborado. Deve ser claro, antes de ser bem convincente. Se no pensamento houver sedimento flutuante, a expressão será obscura.

Faz muitos anos, falava o bispo de Litchfield a um grupo sobre a necessidade de preparo cabal do sermão. Mais tarde, foi o bispo abordado por certo vigário que não concordava com sua tese. Para reforçar seu argumento disse o vigário: ―Muitas vezes, quando estou na sacristia, ainda não sei sobre o que vou pregar, mas vou ao púlpito e prego, e não mais penso nisso.‖―Você está certo em não mais pensar nisso‖, replicou o bispo, pois os mordomos de sua igreja me têm dito que participam de sua opinião‖.

Iniciar com um bom pensamento e terminar com uma moral não é pregação. Lembramo-nos do menino de escola

{293} cujo ensaio foi publicado num jornal ocidental. Seu tema era o milho. Disse êle:

―O milho é um vegetal muito útil. Se não fosse o milho, não haveria bolos de milho com manteiga e melaço. O milho cresce em grandes campos, e vós o arais com o cavalo. Havia um homem que tinha um milharal, e não possuía nenhum cavalo, mas tinha uma esposa grande e fiel, que dele cuidou, acompanhada de um cão fiel, enquanto Me escrevia poesias para os jornais. Devemos ser gratos, se tivermos ama boa esposa, o que é muito melhor do que andar rondando os bares ou desperdiçando o tempo na ociosidade. Também se usa o milho para alimentar porcos, e também pode ser transformado em cachimbos de sabugo, que vos podem deixar doentes, se com eles não estiverdes acostumados. Resolvamos firmemente que nos havemos de reformar e levar vida melhor.‖ (8)

A alma de Spurgeon se comoveu com a tragédia de um ministério infrutífero. Disse Me: ―Que centenas têm errado o caminho e tropeçado num púlpito tristemente evidenciam os ministérios infrutíferos e as igrejas

decadentes que há ao nosso redor.‖(4) ―Há irmãos no ministério cujo sermão é intolerável ou vos suscitam a ira ou então vos fazem dormir. Não há clorato anídrico que

jamais se compare a alguns discursos nas propriedades soporíficas; nenhum ser humano, a não ser que seja dotado de infinita paciência, poderia suportar ouvi-los por muito tempo, e bem faz a natureza em dar à vítima a libertação pelo sono. Ouvi alguém dizer, um dia destes, que certo pregador não tinha mais dom para o ministério que uma ostra, e ao meu próprio ver era isso uma calúnia à ostra, pois aquele digno bivalve revela grande discrição em suas aberturas, e sabe quando fechar. Se alguns homens fossem sentenciados a ouvir seus próprios sermões seria isso um justo julgamento para eles, e logo clamariam como Caim ‗Meu castigo é maior do que eu posso suportar‘.‖ (5)

Maravilhoso conselho vem-nos da pena da mensageira do Senhor, com relação à elevada vocação do ministério, Notai estas palavras:

Durante a noite passaram perante mim muitas cenas. Alguém,

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cheio de autoridade, proferiu as palavras, e procurarei repetir em palavras finitas as instruções dadas relativamente à obra a ser feita. Disse o Mensageiro celestial.

―O ministério está-se enfraquecendo devido a estarem assumindo a responsabilidade de pregar homens que não receberam o necessário preparo para essa obra. Muitos têm cometido um erro em receber credenciais. Eles terão de empreender uma obra para a qual se achem mais aptos do que a menção da palavra.

―Deus pede homens que compreendam que devem desenvolver fervoroso esforço, homens que ponham em seu trabalho reflexão zelo, prudência, capacidade, e os atributos do caráter de Cristo. A salvação de almas é uma vasta obra, a qual requer o emprego de todo talento, todo dom da graça. Aqueles que se empenham nela devem constantemente crescer em eficiência. De muitas maneiras está o ministério perdendo seu caráter sagrado‖ (6)

A Importância do Preparo

Pôr reflexão, zelo e prudência em seu trabalho, exige do homem ardoroso esforço. A salvação de almas requer graça e eficiência.

E os homens que pregam com poder, são os que gastam longas horas em preparo. Cuidadosamente preparam seus sermões; então se preparam espiritualmente.

- Um homem cuja mensagem tem alegrado o coração do povo do advento em todo o mundo, e que durante anos foi um dos líderes preeminentes do movimento, contou-me que nunca pregava um sermão de quarenta minutos sem levar? pelo menos, vinte horas de estudo. E se esse sermão fosse pregado de novo, não o seria sem algumas horas de renovado preparo.

Lord Bowen, afamado Juiz inglês, dá-nos numa sentença as qualidades necessárias para ter êxito no tribunal. Diz Me: ―Os casos são ganhos nos escritórios‖. Uma verdade altamente iluminadora! Não o tribunal público, mas o estudo privado é a arena crítica em que o jurista faz o seu maior trabalho, pois ali reúne Me os fatos e põe em ordem as descobertas que faz. Deve ser o conhecimento posta em ordem,

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e a menos que o seja, quanto mais dele a pessoa tiver, tanto maior será sua confusão, Somos homens humildes, quando lemos que Burke escreveu dezesseis vezes sua acusação de Warren Hastings, antes de a apresentar. Ousarão homens de menores dons fazer menos? Lloyd George declara ―O caminho mais seguro para a inspiração é o preparo‖.

Não novas idéias, mas novo desenvolvimento de velhas idéias; não dizer coisas novas, mas dizer coisas velhas numa nova maneira- isso é que torna o sermão apelante; é isso que prende os corações. Nada há realmente novo; a novidade resulta da ilustração e do método. A retórica é apenas um método de dizer uma coisa de maneiras diferentes.

―Como faz para construir um sermão?‖ perguntou o aluno de um colégio. ―Não Construo‖, disse-lhe eu. ―Os sermões não são construídos; eles se desenvolvem.‖

―O pregador assemelha-se ao horticultor, e os sermões são como as rosas. O homem que quer produzir lindas rosas deve dar atenção às condições sob as quais crescem belas rosas. Deve o solo ser fértil, deve haver abundância de luz solar, deve haver suficiente umidade, e simplesmente assegurando essas condições brotam as rosas por si mesmas. O homem preenche as condições e Deus produz rosas. . . . Mas a obra do homem confina-se, em grande parte, à cultura do solo. O homem que se lança entusiasticamente à procura de seus sermões, determinado a dedicar suas forças e seu tempo aos processos de construção do sermão, é um homem que certamente fracassará, porque está começando errado. No sentido mais amplo, somente Deus faz sermões, e o que o homem deve fazer é trabalhar incessantemente no solo, O homem que conserva sua alma fertilizada e dócil, nunca . . . se encontrará sem um sermão.

―O problema dos problemas então, para cada pregador, não é como fazer um sermão, mas como cultivar a alma de tal maneira que haja suficiente seiva para produzir flores sermônicas que tornarão fragrantes os sábados, e folhas que sirvam para a cura da congregação‖ (7)

Se vos demorardes sobre vosso tópico, surpreender-vos-eis de quantas idéias vos inundarão a alma. A criação veio à existência

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enquanto o Espírito de Deus Se movia, ou demorava, sobre a face das águas. Vivei com vosso assunto, e conforme este se for desenvolvendo, ponde vossos pensamentos no papel — não necessàriamente

num papel especial, mas em qualquer pedaço de papel que esteja à mão,Alguém sugeriu que se as idéias da pessoa se encontrarem em muitos pedaços de papel, tanto melhor. Mais fácil será reuni-Ias mais tarde. Caso cultiveis o hábito, uma dúzia de diferentes sermões podem estar se desenvolvendo ao mesmo tempo. Estai certos, contudo, de que sabeis onde esses pensamentos se encontram, quando os precisardes reunir. Certamente haverá muito mais do que ireis usar de uma vez. Será uma virtude deixar fora algumas idéias. Poderão elas formar o fundamento de outro sermão sobre o mesmo assunto. Se alguém estiver apresentando a mensagem do segundo advento de Cristo, poderá arranjar esse assunto numa dezena de maneiras diferentes. Ou, se estiver confortando os santos, na manhã de sábado, poderá apresentar o assunto sob inumeráveis ângulos. Decidir o que eliminar é sempre mais difícil do que descobrir o que incluir.

Uma jovem noiva chorava, na hora da ceia, porque seu bolo tinha um gosto muito ruim. O noivo simplesmente não podia comer nada dele. Foi um momento embaraçoso para ambos. Então a jovem senhora falou afoitamente, dizendo:

―Meu querido, não sei o que é que eu teria deixado fora desse bolo que o tornou tão horrível.‖ Ao que ele respondeu: Querida, não foi nada que você deixou fora que lhe tomou o gosto tão ruim.‖ É essa a dificuldade. Não é o que deixamos fora, mas o que recusamos eliminar que freqüentemente estraga a mensagem.

Quando Estará Pronto o Sermão para Ser Pregado?

Bem disse o Dr. Jowett que nenhum sermão está pronto

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para ser pregado, não está pronto para ser escrito, enquanto não lhe pudermos exprimir o tema numa sentença curta e fecunda, tão clara como cristal. Acho que obter essa sentença é o trabalho mais difícil, mais exigente, e mais frutífero de meu estudo‖ (8)

Dotai vossas sentenças de significado. Quer gostemos quer não, devemos conformar-nos com o impaciente ritmo dos tempos. ―O homem que não pode aprender a enunciar sentenças tão fortes e tão diretas como as varetas de aço da espingarda, melhor

seria que se tornasse chapeleiro de senhoras, lidando com penas e enfeites, em vez de tentar falar em público, aos seus necessitados semelhantes, sobre palavras que são espírito e vida.‘ (9)

E assim, saliente-se novamente que não é só o que alguém inclui, mas o que deixa fora, que torna uma apresentação poderosa. Toda literatura que sobrevive é uma evidência de pensamento concentrado, Os poemas acabados de Kipling, tinham em média

um terço de seu tamanho original, mas esse terço viveu. Para que suas árvores produzam mais frutos, poda-as o pomicultor. O escultor toma sua estátua mais bela pelo trabalho extra de seu cinzel. As sentenças expressivas e pungentes atingem o coração e fazem impressão. As declarações públicas do Mestre são um excelente estudo neste campo. São como setas, velozes e verdadeiras.

Não há nada complicado no sermão da montanha. As palavras do Mestre eram curtas, mas fez com que cada palavra tivesse valor. Insondável era a profundeza de sua significação, e sua enunciação tão límpida como um regato na montanha. Seus pensamentos eram profundos, mas foram expressos em sentenças curtas —poderíamos chamá-los de provérbios. Não havia amplificação ou circunlóquio para cansar o auditório. Assim os homens O ouviam durante todo o dia. Esqueciam a fome física, ao serem satisfeitas as suas necessidades

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espirituais pelas palavras que tão graciosamente Lhe saíam dos lábios. Estudai sentenças assim, como estas: ‗Pedi, e dar-se-vos- á; buscai, e encontrareis‖. Ninguém pode servir a dois

senhores.‖―Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.‖―Não julgueis, para que não selais julgados.‖―Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça.‖ Que pensamentos profundos são encontrados em tão poucas pa1avras Os romanos teriam dito: multum in parvo! Não admira que Suas palavras vivessem e que ainda sejam lembradas. Tremendo é o impacto de ,um sermão compacto.

1) David R. Breed, Preparating to Preach, pág. 7 (Introdução). Usado com permissão de Harper & Brothers, publicadores. 2) Citado em Public Speaking, and Influencing Men of Business, por Dale Carnegie, pág. 64. Usado com permissão da Association Press, Publidores

3) Citado em The English of the Pulpit, por Lewis H, Chrisman, pág. 70. Usado com permissão de Harper & Brothers, publicadores. 4) Lectures to My Students, Primeira Série, (1897), pg. 22. 5) Second Series of Lectures to My students, pág. 25. 6) Obreiros Evangélicos, (3 ed,), págs. 94 e 95,

7) Charles Edward Jefferson, The Minister as Prophet, págs 101 e 102. Publicado por Zondervan Publishing House, Grad Rapids, Michigan, 1933. 8) J. H. Jowett, The Preacher: His Life and Work, pág. 133. Usado com a permissão de Harper & Brothers. 9) Charles R. Brown, The Art of Preaching, pág, 182. Copyright 1922, por The Macmillan Company. Usada com permissão.

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O PREGADOR ENSINOU SABEDORIA AO POVO

ECLESIASTES 12:9 17

DESENVOLVENDO SEMINÁRIOS DE SERMÕES

Não somente deve o pregador pensar claramente; devem também seus pensamentos ser arranjados de maneira clara e bem encadeada. Seus ―provérbios‖ devem ser ―postos em ordem‖. A visão de Ezequiel, de ossos secos, tem uma lição para nós. Os ossos, no vale, estavam secos, sequíssimos, diz o profeta. Mas houve um reboliço, e os ossos se ajuntaram — cada osso ao seu osso. Houve afinidade, ali. Que tragédia seria, tivessem os ossos do pé se ajuntado ao crânio, ou se o cúbito se houvesse ligado às vértebras! Não! ―Se juntaram, cada osso ao seu osso‖. Então vieram os nervos uni-los. E no fim de tudo, a carne e a pele os cobriram. Os grandes fatos devem ser devidamente relatados; fato deve achegar-se a seu fato. Então devem ser ligados juntamente por nervos espirituais para dar força ao sermão, bem como coerência. Vigorosas ilustrações virão dar-lhe, imediatamente, forma e beleza. A pregação profética exige uma visão de profeta. Deve haver unidade de pensamento progressão de idéias. Deve ter lógica. Deve o sermão levar-nos a algum lugar. Pode ele

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estar repleto de boas idéias e ilustrações interessantes, mas se não seguir um plano definido, não chegará a nenhum lugar. Estudai o sermão de Pedro no Pentecostes, e notai a progressão do pensamento que culmina num dramático clímax. Não admira que clamassem: Que faremos, varões irmãos?‖ Quando Esquino falou, o povo saiu dizendo: Que magnífica oração foi esta! Ao falar Demóstenes disseram: marchemos contra Filipe‘. É esta, hoje, a prova real do discurso eficiente, como o era nos dias da Grécia antiga. Ali estás para por vosso povo em marcha contra a Macedônia.‖ (1) Devem os pregadores da derradeira mensagem de Deus por os homens em marcha contra as hostes do pecado. A pregação que não faz um apelo espiritual, que nada solicita, não pode ser chamada de sermão. Mas se um sermão deve fazer homens marcharem, deve ter ele mais do que meros fatos. Necessitam-se mais do que ossos, para fazer um homem. E mais do que fatos são necessários para fazer um sermão. ―O sermão que expõe seus ossos ao público como algum pobre sofredor - faminto da Índia, propende a sugerir à congregação que ele também não teve suficiente alimento antes de ser posto à exibição.‖ (2) Ossos apenas, seriam uma apresentação muito pouco atraente. Contudo, oculta em qualquer lugar, fora da vista, deve haver uma sólida coluna vertebral, ao redor da qual se possa organizar a matéria para o sermão. Depois de decidirdes qual será o tema de vosso sermão, então reuni a matéria. Arranjai tudo o que puderdes sobre o assunto — textos, citações, argumentos, ilustrações, poemas etc. Então iniciai a seleção e o arranjo.

Um Processo Simples

Eu sigo este plano simples. Tendo ajuntado toda a matéria que provavelmente possa ser usada, dela faço um sumário, em breves sentenças, numa folha de papel. E quando digo:

{302} ―toda a matéria‖ quero dizer justamente isso. Tudo o que poderia ser usado é apontado. Então, orando pela direção do Espírito de Deus, começo a selecionar os pontos que fariam uma seqüência eficiente. Tendo todo o material diante de mim, é mais fácil fazer a escolha. Conforme os diferentes pontos são ajustados no esboço, são eles riscados da primeira folha. Certamente, sempre há mais do que o que se possa usar de uma vez, mas a matéria não usada poderá ser guardada para outra ocasião. Nenhuma congregação deseja ouvir tudo o que alguém saiba sobre um assunto. Não tenteis esgotar o assunto, antes induzi o auditório a estudo posterior. Sempre que a congregação

recebe a impressão de que o pregador tem reservas ainda não reveladas, nele tem confiança. O Niágara salta, para sua grandeza, porque cinco grandes lagos estão para trás dele. Certamente certos pontos são mais fortes que outros. E embora eu não queira ser dogmático, julgo ser sensata escolher o ponto mais forte e pô-lo na conclusão. Os sermões são preparados ao reverso dos itens das notícias dos jornais. O repórter de notícias procura por no começo o ponto mais forte. Resume toda a história no parágrafo inicial. Os parágrafos que seguem desenvolvem a história. Se alguém não ler tudo, já tem uma idéia. Mas o alvo do pregador não é interessar o povo. Deve conseguir ação. A congregação deve ser levada à decisão. Na idade clássica, tinha a oratória romana três regras, placere, docere, movere: agradar no sentido de criar interesse, ensinar pela comunicação de conhecimento benéfico, mover o coração. Ou, em outras palavras, levar à ação. E, naturalmente, não deve ter, o pregador, norma inferior a essa. Deve conseguir ação. Prega para alcançar uma decisão, e por isso põe na conclusão o seu ponto mais forte, seu maior clímax. Lembrai-vos de que é a seqüência dos clímaxes que leva à ação. O pensamento claro e a construção metódica

{303} exigem trabalho árduo. Mas haverá qualquer crescimento sem dor? O preço deve ser pago, se é que se deseja ser poderoso pregador. Tendo achado minha conclusão, a que me ajudará a fazer o apelo, escrevo-a, como sendo o ponto para o qual estou construindo. Agora, procuro o segundo ponto forte, que se torna o inicial, O sermão deve começar com alguma coisa interessante e atraente. Não comeceis com uma frase batida, como esta: ―O assunto que vamos considerar hoje é.......―! Ide direto ao ponto. Declarai, em poucas palavras, vosso objetivo. Tomai as duas sentenças iniciais curtas, mas completas — tão completas que se vós as cortásseis elas sangrassem. Prendei vosso povo pelos ouvidos. Nem sempre desejareis começar como Isaías no seu qüinquagésimo quinto capítulo: ―Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas‖; ou como o Salvador, ao dar Seu grande convite no último dia da festa: ―Se alguém tem sede, venha a Mim, e beba‖; mas vossa introdução deve ser positiva e atraente. Se lerdes um texto como introdução, lede-o bem, e preferivelmente sem comentário. Então, com sentenças positivas e Fecundas apelai ao pensamento, seja por perguntas ou estabelecendo clara proposição. Raramente o povo se assenta com a respiração suspensa aguardando vossa mensagem. Tendes de criar o apetite. Tendes de irromper através de sua indiferença. E isso podeis freqüentemente fazer com as sentenças introdutórias. Mas não é sensato iniciar em alta velocidade, pois isso não vos deixaria lugar para os clímaxes. Os oradores impressivos sempre dão a idéia de que sabem para onde vão, muito embora seja esse um caminho desconhecido para o auditório.

―Cingindo os Lombos do Vosso Entendimento‖ Lembrai-vos de que o povo vai com várias disposições de espírito às reuniões. Pudesse o pregador ler o pensamento do

{304} povo e poderia perder absolutamente a esperança de levar o grupo a segui-lo. Seus corpos estão na igreja, mas seu pensamento pode estar em tantos e diferentes lugares quantas são as pessoas presentes. O pregador deve ajudá-las a cingir os lombos do seu entendimento. O cântico e as orações têm ajudado a alguns, e estes já têm atendido à direção do Espírito; mas o pensamento de muitos outros ainda está vagueando. Alguns podem estar acalentando tristeza ou ressentimento; outros estão no momento realmente fazendo compras, ou assistindo a uma festa, pelo menos no espírito. Deve o sermão ser um meio da graça para realizar um trabalho santo. Deve pôr essas pessoas em comunhão com Deus e umas com outras. Nenhum ministro pode consentir em se descuidar dessa parte importante de sua grande tarefa. Sim, o começo do sermão é importante. Somente uma parte dele é mais importante ainda: e essa é o fim. Um anticlímax sempre é incômodo, fastidioso, e num sermão isso é imperdoável. É patético e cansativo contemplar um pregador, como um marinheiro perdido, navegando costa acima e costa abaixo à procura de um porto; ou, como o piloto de um avião que perdeu a rota e que descreve círculos ao redor, à procura de um campo de pouso. Não decoleis antes de saberdes com certeza onde ireis aterrar. Fazer um trem parar exige maior habilidade do maquinista e mais vapor da locomotiva do que pô-lo em movimento. É mais pela maneira em que conclui do que por qualquer outra coisa que o pregador revela sua habilidade e experiência. Um bom início é importante; a boa conclusão, imperativa. Quando tendes uma boa introdução e uma boa conclusão (contanto que não estejam muito distantes) podeis ter a certeza de conseguir a reação que desejais a despeito das deficiências que haja pelo caminho.

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A Medida do Sermão

Estamos prontos para insistir em que o tamanho do sermão tem Importância, embora não seja esse o único fator importante. Ao aquilatar o sermão, devemos ter a certeza de que temos mais que uma medida de uma só dimensão. Pode o sermão ser curto no tempo, mas também o pode ser em tudo mais, igualmente. Precisam os sermões ter amplitude, profundidade e altura, bem como o devido comprimento. Certo ministro visitou nossa igreja natal, quando eu era apenas um jovem. Ao ser apresentado à congregação, esta certamente se interessou, pois viera de além-mar. No início, seu sermão era realmente promissor. Mas dentro de dez minutos já havia acabado. Evidentemente estava ele ansioso por deixar uma impressão. E deixou. Mas que espécie de impressão? Não dissera uma simples coisa que qualquer pessoa pudesse lembrar. Depois disso, muitas vezes ouvi seu nome ser discutido, mas sempre com um sorriso. Triste fato foi o de que ninguém ouvira nem notara o Senhor durante aquela pequena palestra. Tinham apenas visto um homem procurando deixar uma

impressão. Seu sermão foi curto—curto em tudo. Aquilo que um verdadeiro sermão deve ter, faltou naquele dia, O povo saiu da igreja faminto espiritualmente. Um bom sermão é aquele em que o comprimento, amplitude, profundidade e altura são iguais. Se quisermos que o povo vá para casa inspirado, deve haver amplitude de simpatia, profundidade de convicção e altura de aspiração. O coração humano precisa ser purificado e sua alma confortada. Nossos serviços de culto devem levar nosso povo a ser mais bondoso, mais honesto e mais semelhante a Cristo no trato de uns para com os outros. De outra forma, falhamos, não importa quão curto ou longo seja o sermão. O espírito de adoração deve ser levado para a cozinha, a loja, o pátio de brinquedos, o escritório. Quando o povo verdadeiramente encontrou

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a Deus no culto, é mais bondoso em casa, mais honesto nos negócios, mais paciente na sala de aula, e as crianças são menos bulhentas no recreio. Pode ser que nem todos concordemos com o deão Brown, da Yale School of Divinity (Escola Teológica de Yale) que se distingue por seus curtos sermões (raramente excedem vinte e cinco ou trinta minutos). Declara ele algumas coisas bem interessantes quanto ao tempo que deve durar o sermão, quando diz;

―A devida duração de qualquer sermão deve ser determinada à luz do alcance e do poder mental da compreensão do homem, à luz de sua capacidade de manter, de interessar e de melhorar um grupo de ouvintes pela sua apresentação da verdade....

―Sempre é o sermão nada mais e nada menos que uma ferramenta! De que tamanho deve ser a ferramenta? Que comprimento deve ter a gadanha? Que peso deve ter o machado? Não pode isso ser determinado por certas pressuposições fixas ou por princípios a priori, quanto ao formato da ferramenta. Deve ser inteiramente determinado pelas exigências da tarefa em que essa ferramenta especial será aplicada. Um homem cortará mais capim com uma foice do tamanho razoável, do que o faria com uma foice de seis metros de comprimento. Cortará mais lenha com um machado de cinco libras do que com um que pese vinte. O sermão também é uma ferramenta, e seu comprimento é inteiramente determinado pelas considerações que indiquem sua capacidade ou incapacidade de alcançar o desejado resultado espiritual. Portanto, podemos pôr de lado, já de início, toda a nossa predileção em favor do sermão de trinta ou de quarenta minutos, como se lhe tivesse sido imposta alguma sanção divina. Na Bíblia não há promessas no sentido de que o povo será ricamente abençoado e finalmente recompensado por ter ouvido com paciência cinqüenta e dois sermões inconvenientemente prolongados, cada um dos anos de sua Peregrinação terrestre. A questão da duração é uma questão inteiramente prática e deve ser respondida pela aplicação da prova da pragmática. Que comprimento do sermão dá melhor resultado? Que tamanho de sermão mais realiza no sentido de criar, nutrir e dirigir impulsos cristãos? Caso possa isso ser determinado, teremos a devida duração do discurso apropriado. Seja qual for à espécie de

{307} filosofia que possais preferir, no tocante a outros interesses vitais, quanto a determinar o tamanho de vossos sermões, melhor seria que todos vós fôsseis pragmatistas. O tamanho do sermão que mais faz para produzir resultados espirituais é o tamanho certo. Tendo bem firme na mente, esse princípio geral, apressar-me-ei em dizer que o relógio nada tem que ver com o comprimento do sermão. Absolutamente nada! Coisa alguma sabem os relógios sobre essa questão. De maneira alguma são os relógios capazes de aquilatar as proporções de um sermão. O sermão longo é o que parece longo. Pode ter durado uma hora, ou ter durado apenas quinze minutos. Se parece longo, é longo — é longo demais. E sermão curto é o que termina enquanto o povo ainda está desejando mais. Pode ele, apenas, ter durado vinte minutos, ou pode ter durado uma hora e meia. Se deixa o povo desejando mais, eles não sabem o que o relógio diz quanto à sua duração, nem com isso se incomodam. Portanto, não podeis dizer quão longo é um sermão por olhar apenas aos ponteiros de um relógio — olhai ao povo. Vede onde suas mãos estão. Se as mãos dos homens estão, a maior parte do tempo, no bolso do colete, puxando o relógio, para verificar, de novo, há quanto tempo nele estais isso é ominoso. Vede onde estão os seus olhos. Vede onde está seu pensamento, então sabereis exatamente que hora do dia é para esse sermão em particular. Pode ser alto tempo de chegar ao fim.‖ (3) Certo homem costumava dizer que não se importava que o povo olhasse aos relógios, mas quando começavam a sacudilos, esse sim, era um mau sinal. Contudo, se o assunto for iluminado por ilustrações bem escolhidas e apropriadas, mesmo um sermão de quarenta e cinco minutos parecerá de vinte e cinco. Terminar enquanto o povo deseja mais, não somente é boa psicologia, mas também demonstra bom senso, e é, pelo menos, um sinal de que se é bom pregador. Longo é o discurso que parece longo.

A pessoa sensata concordará com Duane Dewel, que certa vez sugeriu em sua coluna, de Advance que o raio próximo estimula muito mais pensamentos cristãos que um longo e arrastado sermão.

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Concessão do Espírito

No entanto, mais importante que o tema do sermão, e infinitamente mais importante do que sua duração, é o espírito da mensagem. Ezequiel descobriu que apenas o sopro de Deus podia fazer os ossos viverem. Quando o Espírito de Deus neles entrou, ficaram de pé. Todo ministro sabe quanto é necessário o sopro de Deus em nosso trabalho. E verdadeiramente um dia vazio aquele em que nenhum fôlego de Deus soprou no deserto árido de nossa vulgaridade. A concentração do pensamento e o preparo da matéria são importantes, porém só o Espírito de Deus pode alcançar o coração. Devemos dar lugar para Deus operar. Nossa mente deve estar alerta à impressão do Espírito, mesmo enquanto estamos dando a mensagem, pois alguns dos mais úteis pensamentos virão enquanto estamos pregando. ―Deus quer que seus obreiros nEle confiem inteiramente. Seu coração deve estar aberto, de maneira que Deus lhes possa impressionar o espírito, e então estarão habilitados a comunicar ao povo a verdade que acabam de receber do Céu. O Espírito Santo lhes dará idéias de molde a satisfazer às necessidades dos presentes.‖ (4)

Os pensamentos dados sob a impressão direta do Espírito devem ser escritos depois da reunião, preferivelmente nas notas do sermão. Demorar-se em recordar esses pensamentos será fatal. Rabiscar as notas velhas pode também ser um plano sábio, pois isso poderá evitar ser tentado a pregar outra vez idêntico sermão.

Clareza, Simplicidade, Direitura

Conforme o ministro cresce no conhecimento, devem os seus sermões crescer em poder. Mas deve deixar que Deus opere. O sermão que é preparado até o último detalhe pode ser uma fina peça de arte, mas lhe faltará uma certa liberdade

{309} que vem quando a mente da pessoa está mais aberta para a impressão do Espírito. Alguns ministros arranjam todas as minúcias com tanta exatidão, no preparo de seus discursos, que não deixam margem alguma ao Senhor para lhes dirigir a mente. Cada ponto é fixado, estereotipado, por assim dizer, e eles parecem incapazes de se afastar do plano estabelecido. Isso é um erro grave e, se seguido, fará com que os ministros fiquem estreitos de espírito, e os deixará tão destituídos de vida espiritual e energia, como os montes de Gilboa de orvalho e chuva. ―Quando um ministro sente que não pode variar a maneira estabelecida de um discurso, o efeito é pouco mais do que o de um sermão lido. Discursos sem vida, formais, pouco encerram do poder vitalizante do Espírito Santo; e o hábito de pregar assim há de com efeito destruir a utilidade de um ministro, bem como sua capacidade.‖ (5) Não devem os que ensinam a Palavra evitar a disciplina mental. Todo obreiro, ou grupo de obreiros, deve pelo esforço perseverante estabelecer regras e regulamentos tais que levem à formação de hábitos corretos de pensar e agir. Tal educação, não somente é necessária para os jovens como também para os obreiros mais velhos, para que o seu ministério possa estar livre de erros, e seus sermões sejam claros, corretos e convincentes. ―Algumas mentes mais se assemelham a uma velha loja de curiosidades do que a qualquer outra coisa. Muitos fragmentos ocasionais da verdade têm sido reunidos e ali amontoados, mas não sabem como apresenta-los de um modo claro e encadeado. É a relação que essas idéias têm entre si que lhes dá valor. Cada idéia e declaração deve ser tão intimamente unida como os elos da corrente. Quando o ministro lança um montão de matéria diante do povo para que a apanhem e ponham em ordem, seu trabalho é perdido; pois poucos há que o façam.‖ (6). A pregação é uma transação dual. Devemos lidar com a verdade de um lado, e com a mente do ouvinte do outro. Se, como o bom atirador, o pregador encontrou a posição exata entre si e seus ouvintes, e se conhece a técnica da apresentação do sermão, sua obra será recompensada.

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Faz alguns anos, um atirador de basquetebol foi abordado por um ministro que disse: ―Parece-me estranho que o senhor receba $ 15,000 ao ano por meramente atirar uma bola, enquanto eu, como ministro, recebo apenas $ 1000 por ano‖. O esportista pensou um momento, e então, com um piscar de olho, respondeu: ―Bem, suponho que tudo está no transmitir‖. A experiência havia-lhe ensinado que a linha reta fazia parte importante, de sua técnica. Bem poderia cada pregador aprender esta lição. Direitura e simplicidade são vitais à sua técnica. Dar-se-ia o caso de que alguém realmente dissesse mais se falasse menos? Para pregar com poder, devem ser excluídas todas as expressões inúteis e todas as palavras servis, palavras que sugam o próprio sangue vital do pensamento. Três coisas há de que nos devemos guardar: da garganta do pregador, do tom ministerial, e do vocabulário de mero membro da igreja. Sede graves, mas tirai o povo de seu costumeiro modo de pensar. Sobre a questão da verbosidade, com característica agudeza de espírito e habilidade, Spurgeon disse a um grupo de pregadores: ―Irmãos, pesai vossos sermões. Não os vendeis às jardas, mas reparti-os às libras. Não busqueis a estima pela quantidade de palavras que pronunciais, mas esforçai-vos por ser avaliados pela qualidade de vosso tema. É insensatez ser pródigo em palavras e mesquinho na verdade.‖ ―Dividir bem um sermão pode ser uma arte muito útil, mas como será se não houver nada para repartir. Um mero fazedor de divisão é como um excelente trinchante com um prato vazio diante de si.‖ ―Ai! a enunciação indistinta de muitos quanto à grandeza das realidades eternas, e a obscuridade de pensamento em outros, com relação às verdades fundamentais, tem dado muita ocasião à crítica ... Podeis ser bons retóricos, e ricos em sentenças polidas, mas sem o conhecimento do evangelho e aptidão para ensiná-lo, sois apenas como um metal que soa e como sino que tine. A verborragia é, com muita freqüência, a folha de figueira que faz as vezes de capa da ignorância teológica...

{311} ―A arte de dizer coisas triviais de maneira elegante, pomposa, grandíloqua e bombástica, ainda não se perdeu entre nós, muito embora a sua completa extinção fosse um desfecho a ser devotadamente desejado‘.... É vergonhoso subir ao púlpito e despejar sobre o povo rios de linguagem, catadupas de palavras, em que meras trivialidades são mantidas em solução como grãos infinitesimais de remédio homeopático, num oceano Atlântico de elocução. Muito melhor será dar ao povo um montão de verdades não preparadas, em bruto, como pedaços de carne tirada do cepo do açougueiro, cortada em postas, de qualquer modo, com osso e tudo, e até mesmo caída na serragem, do que passar-lhes pomposa e delicadamente num prato de porcelana uma deliciosa fatia de absolutamente nada, decorada com a salsa da poesia e temperada com o molho da afetação.‖ (9). É direito aspirar à eloqüência, contanto que sintamos o perigo. Podemos ser achados a depender de artifícios de linguagem, em vez de depender da unção do Espírito, a fonte da verdadeira eloqüência.

O Sermão — A Vara na Mão de Deus

Não há poder, na Terra, que se iguale a um sermão inspirado pelo Espírito. Que coisas poderosas poderiam ter sido feitas por verdadeiros pregadores! Reis, rainhas e potentados têm tremido diante dos mensageiros de Deus. Sempre que um sermão é como uma vara nas mãos de um homem enviado por Deus, torna-se uma força poderosa. Quando Moisés foi chamado para guiar as hostes de Israel, tornou-se sua vara de pastor o símbolo do poder divino. Aquela vara era apenas uma haste despojada de todas as suas folhas e rebentos, mas se tomou o sinal de livramento de um povo peregrino. Nas mãos desse príncipe-pastor foi verdadeiramente a ―vara de Deus‖. Bem longe, no coração da África, realizou-se um concílio evangelistico. Duzentos ou trezentos ministros africanos haviam-se reunido a fim de estudar métodos para ter um ministério mais eficiente. Foi uma inspiração falar a esses guias

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piedosos e partilhar de seus problemas. Certo dia, estava o pastor Willard Staples, secretário da Associação Ministerial, daquela grande divisão, falando a um grupo sobre o tema: O ministro e sua responsabilidade para com o rebanho. Os que conhecem o irmão Staples são sabedores de que ele possui uma habilidade fora do comum para ilustrar seus pensamentos. Nesse dia, mostrava ele como um sermão real se poderia tomar uma força poderosa para a correção dos males da vila.

―Sejam vossos sermões como varas que batem para afugentar o pecado que está no coração de vosso povo‖, disse

{313} ele. ―Quando uma cobra entra na vila, não vos assentais e olhais para ela. Não! Correis e apanhais uma vara. E se não a tendes à mão, quebrais um ramo de uma árvore. Mas não tentais bater na cobra com o ramo. Se o fizésseis, tudo o que poderia acontecer seria o sibilar das folhas cortando o ar e levantar-se uma nuvem de pó. A cobra ainda estaria viva e iria embora, serpeando, sem ser ofendida. Não; tendes suficiente senso para não experimentar matar uma cobra com um ramo. Primeiramente despojais o ramo de todas as folhas e brotos inúteis, e então, com essa vara na mão malhais a coisa maligna. Não há poeira e pouco barulho há, mas a cobra jaz morta aos vossos pés. Fazei justamente isso com vosso sermão. Despojai-o de todo o adorno desnecessário; dele arrancai o mero contar histórias, para que vossa mensagem possa ser como a vara de Deus na vossa mão, para trazer rápido juízo sobre os males que há em vosso meio.‖ Foi esse um poderoso apelo, e aqueles obreiros, de olhos arregalados, no coração da África, pegaram o ponto. Mas vamos um pouco mais adiante e nos lembremos de que a vara de Deus não só trouxe um rápido juízo sobre o Egito, mas também abriu um caminho através do Mar Vermelho para as hostes de Deus que marchavam. Ao ser erguida, nas mãos de Moisés, trouxe vitória ao exército de Israel. E certa vez, numa crise, quando a multidão estava abrasada de sede, essa vara fez brotar da rocha água viva, Tais varas são necessárias, hoje. Precisamos de emancipadores que, pelo trabalho exaustivo, ponham seus pensamentos em ordem e, achando o que Salomão chamou de ―palavras aceitáveis‖ ou ―palavras deleitosas‖, tirem da rocha de Deus as curadoras águas da vida. Em verdade, o povo às vezes precisa de correção, mas, com maior freqüência, necessita de conforto. Também necessita de instrução, mas, acima de tudo, necessita de amor. E o discurso evangelístico, ou o sermão de sábado, deve ser um meio de graça nas mãos do pregador. Para apontar o caminho

{314} para Deus, não precisamos ser inteligentes, mas precisamos ser claros. A pregação profética requer uma visão de profeta. Deve o sermão ser uma lâmpada — não uma lâmpada para adornar o lar e atrair para si mesma, mas uma lâmpada de rua, que derrama um dilúvio de luz sobre a estrada palmilhada pelos pés de peregrinos. Ou pode o sermão ser um cântaro, para mitigar a sede do viajor cansado. Pode ser uma trombeta para chamar o povo de Deus à ação, ou talvez para advertir o pecador tremente para que se volte para Deus.

1) Brown, op.cit. pág. 33. Copyright 1922— The Mcemillan Company. Usado com permissão.

2) Idem, pág. 106. 3) Idem, págs, 96-98. 4) Obreiros Evangélicos, (3; ed.), pág. 165. 5) Idem.

6) White, em Review and Herald, 6 de abril de 1886, pág. 7) Lectures to my students, Primeiras Series, pág. 73. 8) Idem, pág. 72. 9) Idem, págs. 74-77.

{315} {316}

PARA OS QUE SE ASSENTAM NAS TREVAS ISAÍAS 42:7

18 USAR ILUSTRAÇÕES PARA ILUMINAR SERMÕES

OBSCUROS

―Um quadro vale dez mil palavras‖, diz o provérbio chinês. E isso é verdade, quer seja uma ilustração verbal ou uma representação numa tela. As anedotas constroem formas concretas ao redor das idéias. Por isso é que os oradores hábeis sempre falam em figuras. Sabem que as figuras viverão muito depois de o argumento estar morto Aos preceitos espirituais falta vivacidade, quando são apresentados de forma abstrata. As ilustrações dão realidade. As histórias são setas de trânsito; elas indicam o caminho.

Janelas para a Luz e o Ar

A ilustração, contudo, não é em si mesma um fim. É uma janela para deixar entrar luz e ar fresco. Quando Deus deu a Noé Suas instruções sobre a construção, disse: ―Farás na arca uma janela‖. Céu. 6:16. Não uma arca de janelas — pois esta se tornaria verdadeiramente muito frágil para tão perigosa viagem — mas uma arca de madeira com pelo menos uma janela. A ilustração deve lançar luz sobre a verdade, mas nunca {317} atrair para si. Para revelar a beleza de alguma obra de ate, freqüentemente iluminamos o quadro. Mas sempre tomamos o cuidado de ocultar a luz, para que sendo vista, não atraia para si. Não deve a ilustração roubar o sermão. Às vezes um poema ilustrará, pois ―a verdade brilha cada vez mais, vestida em verso‖. Mas se usarmos um poema, ainda é verdadeiro o mesmo princípio. O ritmo ajuda a fixar o ponto, contanto que o pensamento não se arraste. Os poemas, nos sermões, sempre devem ser curtos e bem escolhidos, para que penetrem na estrutura do pensamento com calma e graça. A transição será bem mais fácil se o verso for decorado.

A palavra ilustrar significa literalmente avivar com luz, e isso é justamente o que uma ilustração deve fazer. As comparações, não somente devem ser vistas, mas entendidas. Além disso, a palavra janela (window, em inglês) originariamente significava porta para o vento (wind door, em inglês). Todo auditório necessita do sopro de ar ou da brisa dos alegres pensamentos que vêem de uma ilustração apropriada. E todos, da criancinha à cabeça encanecida, abrirão os olhos e os ouvidos quando a luz e o ar de tal janela tornam clara a lição. Foi Josué Shute que disse: ―O sermão que mais erudição tem é o que tem mais simplicidade‖. Por isso um grande sábio costumava dizer: ―Senhor, dá-me suficiente sabedoria para pregar de maneira suficientemente simples‖. Um sermão sem ilustração, é como um edifício sem uma janela. A arca de Noé não era uma arca sem janela. Pelo menos era necessária uma. Construamos uma arca, mas não nos esqueçamos da janela. Se quisermos edificar os santos e prender a atenção dos pecadores, devem nossos discursos ter mais que as sólidas lajes da teologia ou a alvenaria da doutrina. Eles precisam das janelas das parábolas, ou da rótula da poesia.

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O Segredo do Salvador

Era esse o segredo da força do Salvador. ―Nada lhes falava sem parábolas‖. S. Mat. 13:34. Como Ele conhecia bem a mente humana! Seu ministério foi breve, mas marcou época. Contou histórias — as maiores histórias que o mundo já ouviu. Mas as Suas histórias não eram para entreter; eram veículos para a transmissão de tremendas verdades. Tivesse Ele proclamado Suas mensagens em frases abstratas, formais ou estabelecidas, há muito que o mundo já as teria esquecido. Em vez disso, Suas mensagens vivem ainda, tão frescas hoje como quando as multidões ouviam fascinadas nas praias da Galiléia. Ele personalizou a verdade, deu-lhe pernas, fê-la circular. Cada verdade se revestia de uma metáfora ou símile. Lede o sermão da montanha, e então contai as símiles — candeia, peixe, cidades, pão, escorpiões, traça, argueiro, sal, corvos, ferrugem — mais de cinqüenta, ao todo, porém cada uma transmitindo uma mensagem. E todas elas foram tiradas das coisas comuns da vida. ―Procurou o Príncipe dos mestres acesso ao povo pela senda de suas mais familiares associações. De tal maneira apresentou a verdade, que por todo o tempo, depois, esteve ela, para os Seus ouvintes, entretecida em suas mais sagradas recordações e simpatias. Ensinou de um modo que os fez sentir a plenitude de Sua identificação com os interesses e a felicidade deles. Tão simples era Sua instrução, Suas ilustrações tão apropriadas, tão compassivas e alegres eram Suas palavras, que Seus ouvintes estavam encantados‖ (1)

Não havia nada complicado, em Sua apresentação da verdade. Mesmo os ouvintes mais simples podiam todos compreender, e os filósofos ficavam tomados de profundo respeito, ante a magnitude de Sua mensagem. ―Possuía tato para Se aproximar do espírito mais cheio de preconceitos, surpreendendo-o com ilustrações que lhe prendiam a atenção. Por intermédio da imaginação, chegava à alma. Suas ilustrações eram tiradas das coisas da vida diária, e, conquanto simples, encerravam

{319} admirável profundeza de sentido. As aves do céu, os rios do campo, a semente, o pastor e as ovelhas — com essas coisas ilustrava Cristo a verdade imortal; e sempre, posteriormente, quando acontecia verem Seus ouvintes essas coisas da Natureza, elas Lhe evocavam as palavras. As ilustrações de Cristo repetiam-Lhe continuamente as lições... ―Maravilhavam-se ante a verdade espiritual expressa na mais simples linguagem. Os mais altamente instruídos ficavam encantados com Suas palavras, e os não educados tiravam sempre delas beneficio. Tinha uma mensagem para os iletrados; e levava os próprios gentios a compreender que tinha para eles uma mensagem.‖ (2).

Seu poder não residia em pensar com simplicidade, mas em contar com simplicidade. Seus pensamentos eram profundos, Sua linguagem clara. Não usava palavras que as crianças do auditório não pudessem entender. Seu uso de monossílabos era cativante. Não colara grau nas escolas de Seus dias, mas era um mestre de pedagogia. Amigos e inimigos reconheciam-nO como Mestre. ―Sabemos que és Mestre, vindo de Deus‖, disse Nicodemos. E eram os Seus ensinos que os fariseus temiam, pois Ele tinha o domínio de Seus auditórios. Falou de verdades mais elevadas que os Céus e mais profundas que o oceano, mas os pobres e iletrados camponeses, podiam todos compreender. Não a puerilidade, mas a simplicidade da criança, a falta de notar a si mesmo, faz da pessoa um mestre que apela.

As parábolas tornaram-se os veículos pelos quais transmitiu grandes verdades tanto a letrados como a iletrados. No entanto, Seu constante falar por meio de parábolas fez com que os apóstolos ficassem, certa vez, um tanto impacientes, e eles exclamaram: ―Por que lhes falas por parábolas?‖ Em outras palavras: ‗Por que não lhes dás diretamente a verdade?‖Ouvi-Lhe a significativa resposta, ao dizer: ―A vós é dado conhecer os mistérios do reino dos Céus, mas a eles não lhes é dado... E neles se cumpre a profecia de Isaías que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, e, vendo, vereis,

{320} mas não o percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, e ouviram de mau grado com seus ouvidos, e fecharam seus olhos; para que não vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e compreendam com o coração, e se convertam, e Eu os cure.‖ Mas bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos porque ouvem.‖ S. Mat. 13: 11-16.

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Jesus veio a um povo cujos ouvidos estavam moucos e cujos olhos estavam fechados. Suas histórias deram-lhes olhos espirituais, que os habilitaram a perceber a verdade de Sua mensagem. Estava certo o árabe que disse: ‖O melhor orador é aquele que pode transformar um ouvido em olho‖. E para fazer isso é que o orador deve estudar. Deve tomar os ouvidos do povo e transformá-los em olhos, para que vejam o caminho da salvação. Converter a mensagem falada em esboço visual da verdade é arte nobre e régia.

Ouvi o Dr. William Evans dirigir-se a um grupo de obreiros cristãos, em Londres. Algumas coisas daquela palestra jamais esqueci. Uma delas referia-se aos pregadores. Disse ele: ―Na igreja cristã, há três espécies de pregadores — aqueles a quem não podeis ouvir, os que podeis ouvir se envidardes o máximo esforço, e aqueles a quem não podeis deixar de ouvir.‖ E as ilustrações bem medidas e bem contadas muito farão para conservar um auditório. Jesus era um pregador a quem o povo não podia deixar de ouvir. Com Ele ficavam todo o dia, presos por nada mais que o pode r de Sua palavra falada. ―Nunca homem algum falou assim como este Homem.‖ Nada há de extraordinário a respeito de Seus auditórios. Compunham-se dos mesmos tipos que compreendem o auditório médio de hoje. Tinha um círculo íntimo de obreiros e de crentes associados. Além deste, havia outro círculo de pessoas vivamente interessadas, que se apegavam a Seus ensinos, apesar da oposição da religião organizada daqueles dias. Então ainda havia outro círculo, maior, e mais complexo. Também eles deviam saber que Deus os amava. Era a esse grupo que o Salvador constantemente estava apelando, e Suas parábolas tornaram o evangelho real para eles. Desse, constantemente atraia Ele novos conversos.

―No ensino do Salvador por meio de parábolas, há uma indicação do que constitui a verdadeira educação superior.‖ (3).

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Não é a idéia central, mas o desenvolvimento dessa idéia que faz uma apresentação poderosa. Realmente, não há novas verdades, mas as verdades velhas aparecem novas se tivermos dominado a arte e o método da verdadeira ilustração. Mas tende a certeza de que a ilustração não seja vulgar ou usada demais. Os ácidos enfraquecidos pelo uso excessivo, não podem queimar ligas de ouro puro.

Onde Encontrar Ilustrações

Não procureis encontrar ilustrações; deixai que elas vos achem, ao lerdes e observardes. Jesus achou Suas ilustrações nos lugares mais comuns. Muitas lendas tinha o Talmude; nenhuma delas tomou Ele emprestado. A Pérsia e o Egito estavam cheios de contos de fadas; nenhum deles importou. Em vez disso, falou de coisas comuns. Pescadores, agricultores, donas de casa, pastores, campos, frutas e grãos — todos s Lhe proporcionaram os quadros. O povo sempre gosta de ilustrações tiradas das coisas que lhes são mais familiares. Ao contrário do profeta, a ilustração tem a sua maior honra em seu próprio país. E quanto mais familiarizados estiverem os membros de vossa congregação com o ambiente de vossa história, tanto maior será sua compreensão e seu interesse. Estivesse Jesus falando a esta geração, e a Ciência e a Mecânica teriam sido chamadas em Seu auxilio. Bem podemos ouvi-Lo dizer a um grupo de mecânicos: ―Tampouco enche tu homem o tanque de gasolina e então permite que um curto circuito descarregue a bateria, pois nenhuma bateria descarregada pode dar partida num motor. Para produzir centelha deve a bateria estar carregada. E somente a alma inflamada pelo Céu pode pôr em movimento o mecanismo que conduzirá homens ao reino. Para tirar força do trono de Deus, vós mesmos deveis ser carregados pelo Espírito de Deus.‖ Adaptai a ilustração à congregação. Desenvolvei vivo faro

{323} quanto às ilustrações. A Natureza está cheia delas. A História, as biografias e a ciência são ricas fontes. Os livros, sobre quase qualquer assunto, proverão algo que possa ser usado para ilustrar. Sempre que estiverdes lendo conservai um lápiz na mão. Segui algum método simples de marcar os livros e revistas. Algumas pessoas desdenham da idéia de sublinhar, sugerindo ser isso talvez um tanto juvenil e longe estar do verdadeiro procedimento universitário. Não tomeis tal sugestão demasiadamente a sério. Alguns dos maiores eruditos dos dias atuais, homens que mais profundamente estão influenciando o pensamento do mundo, ainda seguem esse método. Os livros não nos são dados para que os admiremos. Eles são nossos amigos — sim, nossos servos — e uma vez marcados e devidamente classificados, em índice assemelham-se a amigos provados e em quem se tem confiança; não mais são meros conhecidos. Contudo, fui, certa vez, companheiro de um ministro que, toda semana, tirava cada um dos livros das prateleiras, limpava-lhes cuidadosamente o pó, e então lustrava as capas com cera de assoalho. Era quase uma obrigação. Houvesse Me despendido o tempo lendo alguns deles, e indubitàvelmente se teria demonstrado obreiro mais eficiente. Os livros não são curiosidades; são companheiros. Tem sido meu costume, ao emprestar livros a um amigo, pedir que marque os trechos que lhe interessarem particularmente, e tenha a bondade de fazer uma anotação na margem. Assim novo valor é acrescentado ao livro. Sinto-me honrado em ter a apreciação de meu amigo, pois a coisa que o impressionou posso ter eu passado completamente por alto. E que leremos? Eis um sábio conselho:

―Lede poesias para obter visão, e música, e cor; biografias em busca de estímulo, coragem e paciência; história devido à perspectiva e à proporção; Ciência, visando obter uma revelação tão maravilhosa a seu modo como a que veio através de Moisés e dos profetas de Israel... Fechai-vos completamente com os grandes livros. Não {324} gasteis tempo demais com revistas e jornais. Lede os grandes poetas, as grandes biografias e as grandes histórias... e esforçai-vos por saber algo das grandes ciências e da biologia. Não os deveis ler para ostentar vosso conhecimento diante de vossa congregação, mas porque os grandes livros fazem sangue, músculos e ossos mentais. ―Deveis saber dez mil vezes mais do que jamais dizeis. Não é somente pelo que diz, que o pregador influencia sua congregação, mas pelo que sabe e sobre isso nada diz. Não nos interessamos no homem que nos conta tudo o que sabe. O sermão é apenas um copo de água e tem melhor sabor quando vem de uma fonte inexaurível. O sermão é apenas uma gota de espuma, e tem em si uma nova efervescência, quando atrás dele sentimos o retumbar do Atlântico. Para pregar bem, deve o pregador ter uma reserva de poder, e a reserva de poder vem de estar o pregador consciente de que tem muitos tesouros que não precisa usar.‖ (4)

Podem as ilustrações ser fàcilmente indicadas na margem por uma linha ou parêntese. Talvez uma palavra ou duas possam ser acrescentadas, para identificação. Dessa maneira forma a pessoa seu próprio repertório de ilustrações, e até mesmo uma boa ilustração vale o preço de um livro.

Mais Sabor nas Variedades Crescidas em Casa Não dependais de ―livros de ilustrações‖. Tais enciclopédias são geralmente desapontadoras — desapontadoras para o comprador, e, com freqüência, duplamente desapontadoras para os que são compelidos a ouvir histórias envelhecidas com o tempo. O comentário de Charles Brown sobre esse ponto salienta a necessidade de cautela: ―Há volumes à venda que contêm vastas coleções de ilustrações e histórias aplicáveis a cada situação da vida. Todas elas ali estão arranjadas em ordem alfabética e ‗prontas para servir‘ como as sopas e o spaghetti anunciados nos bondes, só que não tão apetitosos. Mas o homem que vos precedeu pode ter usado a mesma enciclopédia de ilustração. Pode ser que o povo, na congregação, já tenha comido de todas essas ‗cinqüenta e sete‘ variedades de gêneros enlatados várias

{325} vezes seguidas. Bem pode ser que vosso predecessor no púlpito se tenha esquecida tanto de si mesmo — mesmo a carne ordenada pode às vezes demonstrar-se fraca neste ponto, embora o espírito esteja pronto — que conte algumas dessas emocionantes histórias como sendo dele mesmo. Se lhes começardes a contar tudo de novo, como sendo experiências pessoais por que tendes passado, o povo fará cogitações em seu coração. ―O artigo importado, especialmente onde o homem o obtém em tão grande remessa como a que se encontra nessas enciclopédias de ilustrações, nunca é tão igual no sabor ou na eficiência ao que cresce em casa. Fugi desses carregamentos de ilustrações manufaturadas, e conservai, todo o tempo, um olho ativo, fora, para descobrir ilustrações apropriadas dos campos que vos são familiares — não há outras tão bons.‖ (5) Shakespeare falou de ―sermões em pedras e livros nos regatos corredios.‖ Eles ali estão, mas precisamos ter olhos para vê -los, Jesus usou parábolas porque o povo, tendo olhos, não via, tendo ouvidos, não ouvia. O trabalho do ministro é ―fazer todo homem ver‖ (Efés. 39). E as boas ilustrações ajudam os homens a ver e compreender. A observação consagrada e a imaginação santificada são grandes predicados do mestre da Palavra de Deus, pois as verdades abstratas precisam ser traduzidas em termos concretos. Quão apelante é a verdade a que se dão as asas da imaginação! O argumento sólido pode ser elevado do trilho muito batido da fraseologia familiar para os domínios do elevado apelo moral apenas com o auxílio de uma ilustração. Mas estai certos de que a ilustração realmente encha de luz. As ilustrações que não se adaptam ou que não correspondam aos fatos, as que cheiram a rudeza ou falta de bom gosto, devem ser evitadas, ―para que o ministério não seja vituperado‖. As ilustrações aparecem em infindas variedades em toda a Natureza Jesus as encontrava em toda sorte, no campo e na flor no mar e no céu, na montanha e no vale. E pela senda dessas associações familiares, alcançou as mentes de Sua geração. Havia nisso verdadeiro propósito, pois, como

{326} notamos: ―e sempre, posteriormente, quando acontecia verem Seus ouvintes essas coisas da Natureza, elas Lhe evocavam as palavras. As ilustrações de Cristo repetiam-Lhe continuamente as lições.‖ (6).

A Natureza está Cheia de Ilustrações O sermão do monte é um verdadeiro exemplo de Seus ensinos. O registro de Mateus abre com as beatitudes, mas Ele não começou necessariamente Suas mensagens com elas. Era Seu propósito dirigir a mente do auditório para o amor e o cuidado de Deus, assim colhia lírios formosos e os dava às crianças e jovens; e ao contemplarem-Lhe o rosto juvenil, em que brilhava a luz do semblante de Seu Pai, dava-lhes a lição: ―Olhai para os lírios do campo, como eles (na simplicidade da beleza natural) crescem; não trabalham nem fiam; e Eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles‖. A isto seguia então a doce segurança e a importante lição: ‗Pois, se Deus assim veste a erva do campo que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé. Jesus era Mestre perito. No ambiente do momento encontrou Ele o caminho pelo qual conduziu Seus ouvintes ao terreno elevado das realidades eternas. Nas coisas comuns da vida divisou encanto e encontrou a senda que conduz a Deus. Jesus via, com olho de poeta. E o poeta se torna o que é devido à imaginação. Nesse sentido todo o grande pregador ou mestre é um poeta. Pode não ter Ele posto em verso a Sua filosofia, como têm feito os grandes poetas, mas Seus sermões vivem porque faz com que a teologia abstrata respire uma atmosfera de realidade. A vida se torna mais significativa quando cultivamos visão de poeta. Fiquemos com Roberto Burnes enquanto ele contemplava a destruição de um ninho de ratos do campo. A rêlha do

{327} arado do fazendeiro viram o torrão, e as frenéticas criaturinhas se lançam daqui para acolá de maneira fútil. Toda aquela cena se torna para ele um quadro da tragédia humana. Vendo-a com olhos de filósofo, escreveu estas palavras que têm sido citadas em todo o mundo: ―Os melhores projetos dos ratos e dos homens freqüentemente saem às avessas‖. Olhando àquele sulco, vê ele também a tragédia de sua própria e infeliz vida. Como a muitos outros, faltava a Burnes a certeza do evangelho. Tinha ele olhos para ver a símile, mas necessitava ver a seu Deus. Quão diferente é essa filosofia de temor e incerteza quando comparada com o conforto e a confiança revelados nas observações de James Black, um compatriota de Burnes!

Esse notável teólogo escocês, cujas mensagens durante as últimas décadas têm sido tão assinaladamente abençoadas em ambos os lados do Atlântico, diz-nos que seu campo mais frutífero de ilustrações é a observação das ocorrências de cada dia. Falando perante um grupo de alunos de teologia disse ele: ―Dir-vos-ei o que eu faço — é um grande segredo. Conservo estes dois olhos tão abertos quanto possível! E isso é tudo. Walter Scott disse que aprendera os segredos da natureza humana ao falar com o homem da boléia. Fazei o mesmo. Se virdes um homem derrubando árvores, falai com ele e lhe perguntai algumas coisas. Ele nunca se ressentirá com isso, se vir que estais interessados. Há os anéis na árvore serrada, o relatório de sua vida e crescimento que ali estão estampados tão terrivelmente como nosso próprio crescimento está gravado em nossa mente e em nosso corpo. Ele vos contará outra coisa interessante. Eu apontei para uma árvore dizendo: Vejo que o fungo matou aquela criatura. ‖Não‖, respondeu ele ―o fungo nunca prejudica uma árvore sadia‖. A doença vem sempre primeiro, e então o fungo toma conta. Podeis aplicar isto à vida?... ―Passei por um campo de bulbos na Holanda, no tempo da tulipa, quando as flores, em suas variegadas e garridas cores, fulguravam sob o sol de abril, como uma antiquada colcha. Os pequenos canais que conduziam a água para o solo arenoso eram atravessados por pranchas de um pé de largura. Não achei difícil a aventura até

{329} chegarmos a um canal de cerca de quatro metros de largura e que apenas era atravessado pela mesma prancha estreita. Sinceramente, fiquei contente quando minha esposa recusou avançar. Salvei minha situação. Como a atravessamos? Direis: ‗certamente alargastes o caminho‘, O inspetor tocou seu apito, e outro homem se aproximou do lado oposto do canal e passou uma vara fina, que foi ajus tada num poste que tinha forma de ‗V‘ na ponta. Então fiz uma descoberta maravilhosa — com que facilidade podeis atravessar a prancha, mais estreita, se tão-somente tiverdes algo em que vos segurar!‖ (8) Que lição sobre a vida! Deus não alarga a senda estreita do dever; em vez disso, nos dá Ele algo em que nos segurar — o seguro corrimão da graça. ―Onde o pecado abundou, superabundou a graça‖ Rom. 5:20. As ilustrações sempre são mais valiosas se forem vossas mesmo — quartzo cavado em vossa própria pedreira. Poder dizer ―Eu vi‖, não somente aumenta o interesse, mas dá autoridade. Cultivai o gosto das coisas simples. Muitas vezes as ilustrações virão dos lugares de que menos se esperava. Faz alguns anos falava eu a um grande grupo, ao ar livre, na Dinamarca. Meu texto fora tirado de Malaquias 3:1-3, e o tema tratava do nosso preparo para a volta do Salvador. Acabara eu de desenvolver o pensamento de que o Senhor é como o fogo do ourives, quando notei que quase toda a congregação desviava o olhar do orador para o céu. Sabendo que devia haver uma razão, voltei -me o suficiente para ver o que era. Era um desses aviões que escrevem no céu. Quando seu rastro de fumaça completara as letras ―P-e-r-s,‖ imediatamente soube eu que as últimas duas letras seriam ―i-l‖, ―p-e-r-s-i-l‖. Esse é o nome de um sabão popular para lavanderias, na Europa. E ali, adiante de mim, estava a minha ilustração, pois o texto declara que o Senhor não somente é como o fogo do ourives, mas também como o sabão do lavandeiro! Nem sempre as boas ilustrações vêm de maneira tão apropriada. No entanto, bem me lembro de que pregava na Nova Zelândia sobre o assunto da volta de nosso Senhor, e voltara

{329} ao texto: ―Farei tremer os céus, e a Terra e o mar, e a terra seca‖. Justamente quando li isso, violento tremor sacudiu com ruído o edifício e fez as luzes balançarem. Foi um momento dramático, mas deu a oportunidade de gravar a mensagem; desnecessário será dizer que não houve nenhum sinal de sonolência entre os ouvintes, durante esse discurso. Um grupo de obreiros cristãos reunira-se na velha Londres. Bem conhecido pregador fizera longa viagem para lhes falar. Seus pensamentos estavam bem preparados, e todos chegaram expectantes. Sentindo sua responsabilidade, cogitava ele como deveria começar. Aqueles milhares de homens e mulheres já amavam ao Senhor. Que poderia dizer que os ajudasse a sentir sua própria necessidade pessoal? Com a mente alerta, saiu para o jardim que havia nos fundos do grande salão. A multidão ainda se estava ajuntando. Alguma coisa acima de sua cabeça atraiu-lhe o olhar. Uma gaivota, do mar, que evidentemente perdera o rumo, fazia círculos e descia. E para sua estupefação desceu rapidamente num banheiro improvisado para pássaros que fora colocado ao lado do gramado — um prato para bolos cheio de água. Esse branco mensageiro alado do mar avistara a água, e descera, esforçando-se por satisfazer seu instinto quanto ao seu nativo elemento. Pobre ser uma gaivota do mar num banheiro para pássaros. Uma criatura feita para o seio do oceano procurando encontrar satisfação num prato de bolos. Ao observar isto o pregador, viu seu sermão. Quantas vezes procura o coração humano satisfazer os seus mais profundos anelos nas coisas vistosas, mas sem valor e nas coisas fictícias, quando se poderia refrigerar no ilimitado oceano do amor do Salvador. Era isso uma perfeita moldura para a introdução de sua mensagem. E desnecessário é dizer que sua mensagem lhes alcançou o coração.

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Pintando o Quadro Quando a congregação deixa o lugar de reunião dizendo: ―Nunca vimos isso dessa maneira‖, então sabemos que não somente a verdade ficou de pé, mas também penetrou na cidadela do coração e da mente. Fazer com que a verdade viva exige tudo quanto há em nós. Tempo, talento, observação, consagrado engenho são todos necessários para nos ajudar a auxiliar nossos ouvintes a compreenderem a mensagem de Deus e ver Aquele em quem se centraliza a sua salvação. E nos lembremos de que necessitamos de vidro claro se quisermos obter boa luz. Ao contar uma história, é melhor usar uma linguagem clara, concisa e arrojada. Se o incidente for enfeitado com muitas passagens régias o efeito será destruído. Quando Deus deu instrução quanto à construção de um altar, disse que este devia ser de pedras não lavradas. Pois, disse Ele: ―Se sobre ele levantares o teu buril, profaná-los-ás‖.

Um estilo artificial, que leve as marcas da ferramenta do gravador, será próprio de um tribunal ou de um debate de oratória, mas inteiramente impróprio nas declarações proféticas que contêm a grande mensagem de Deus para hoje. Não estamos pleiteando rudeza, mas clareza. Nenhuma ilustração que seja rude ou que não seja de fato verdadeira deve jamais desonrar a mensagem de Deus. ―A verdade deve ser revestida de linguagem casta e digna; e as ilustrações empregadas precisam ser do mesmo caráter.‖ (9) Bem disse aquele prático filósofo Goethe que ―o homem não demonstra seu caráter de maneira mais clara do que pelo que ele pensa ser ridículo‖, Como Daniel, devem nossas janelas estar sempre abertas para o lado de Jerusalém. ―Pensamentos reais merecem vestes reais.‖ Contar uma história, contudo, é uma arte. Bem faríamos em estudar a escola impressionista de pintura. O artista que

{331} trabalha por amor à arte pintará as árvores, os pintos, uma vaca, ou uma casa, com o máximo cuidado. Cada pequenino detalhe a li estará. Nada é omitido. Mas o que pertence à escola impressionista, pintando a mesma tela, não põe todas as árvores, nem todas as penas nas aves. Fazê-lo destruiria seu propósito. Contudo, ao olhardes para a pintura sem esses insignificantes detalhes, tendes uma impressão geral do que ele deseja apresentar. O mesmo se dá com a pregação. Ao pintardes vossos quadros, usai pinceladas livres e arrojadas, lembrando-vos de que o significado sempre será claro se não tiver sido sepultado sob um montão de detalhes. E certamente o que é óbvio nunca precisa ser explicado; de modo que sede prudentes, nunca elaboreis demais uma ilustração.

A Bíblia é a Melhor Fonte de Ilustração

A Bíblia é o maior manual de ilustrações. Cada página se torna uma janela pela qual obtemos uma paisagem do evangelho. Não somente as suas histórias, mas as suas belas imagens apelam ao nosso coração. A pessoa que saturou sua alma com a Palavra de Deus, e cuja mente tem sido ativada pelo Espírito Santo, naturalmente anunciará a beleza da verdade entesourada. O ministro que faz da Palavra de Deus seu constante companheiro, há de apresentar continuamente verdades de nova beleza. O Espírito de Cristo virá sobre ele, e Deus operará por seu intermédio para ajudar a outros. ―O Espírito Santo lhe encherá a mente e o coração de esperança e ânimo, e imagens bíblicas, e tudo isso será comunicado aos que se encontram sob sua instrução‖ (10) (Grifo nosso). Que poética beleza e imagens livres se encontram nestas palavras de Henry Van Dyke: ―Nascida no Oriente e vestida na forma e imagem oriental, palmilha a Bíblia os caminhos de todo o mundo com pés familiares, e penetra numa terra após outra para em todo o lugar encontrar os seus. Aprendeu a falar em centenas de línguas ao oração do homem. Entra no palácio para dizer ao monarca que ele é servo do Altíssimo, e na cabana para assegurar ao camponês que é filho de Deus. Ouvem as crianças as suas histórias com admiração e deleite, e homens sábios sobre elas ponderam como sendo parábolas de vida. Têm uma palavra de paz para o tempo de perigo, uma palavra de conforto para o dia da calamidade, uma palavra de luz para a hora de trevas. Seus oráculos são repetidos na assembléia do povo, e seus conselhos são sussurrados aos ouvidos do que está solitário. Tremem o sábio e o orgulhoso diante das suas advertências, mas para o ferido e o penitente tem voz maternal. O deserto e os lugares ermos por ela têm sido alegrados e o fogo no coração tem alumiado a le itura de suas bem usadas páginas. Tem-se entrelaçado em nossas mais profundas afeições, e colorido os nossos sonhos mais queridos para que o amor e a amizade, a simpatia e a devoção, a memória e a esperança, vistam as belas roupagens de sua palavra entesourada, recendendo a incenso e mina. Acima do berço e ao lado da tumba vêm-nos espontaneamente suas grandes palavras. Enchem-nos as orações de maior poder do que nós sabemos e sua beleza nos soa aos ouvidos muito depois de esquecidos os sermões que elas adornaram. Voltam para nós mansa e calmamente, como pássaros que vêm voando de longe. Surpreendem-nos com novos significados, como fontes de água que rebentam das montanhas ao lado de caminhos há muito esquecidos. Tomam-se cada vez mais ricas, como acontece com as pérolas quando são usadas perto do coração. Não pobre e desolado o homem que tem como seu esse tesouro. Quando a paisagem escurece e o tremente peregrino chega ao chamado vale da sombra, não teme entrar; toma nas mãos a vara e o cajado da Escritura; diz ao amigo e camarada: Adeus, encontrar-nos-emos de novo‘; e confortado por esse apoio, dirige-se para o solitário passo como alguém que em meio às trevas avança para a luz.‖ Em toda página, seja História, preceito ou profecia, irradia nas Escrituras do Velho Testamento a glória do Filho de Deus. De Cristo dão testemunho todos os profetas. Desde a promessa feita a Adão, descendo pela linha patriarcal e a dispensação legal, a gloriosa luz celeste, tornou claras as pegadas do Redentor (11) Toda história bíblica se toma uma janela pela qual vemos um quadro do evangelho, mas especialmente as histórias da vida e do ministério de Jesus.

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Tomai por exemplo a simples narrativa do homem que sofria de paralisia, conforme é relatada em S.Luc. 5:18-26. A casa estava apinhada. Todos queriam estar perto de Jesus. Um homem, contudo, necessitava muitíssimo dEle. Tendo-o conduzido ao lugar em que o Salvador estava, verificaram seus amigos ser impossível introduzi-lo na casa; de modo que abriram o telhado, e imediatamente essa pobre e infeliz alma, ferida pelo pecado, desceu até o meio da multidão. Podemos ouvir os comentários tanto do observador casual como de Cristo. Mas ―vendo Ele a fé dele disse-Lhe: Homem, os teus pecados te são perdoados‖. Tais palavras provocaram imediata controvérsia entre os críticos. Que blasfêmia! Que direito tem Ele para dizer isso? Mas conhecendo-lhes os pensamentos Jesus perguntou se era mais fácil curar o corpo ou curar a alma. Salientando então essa questão, ordenou ao homem que se levantasse e fosse para sua casa . ―E, levantando-se logo diante dEle foi para casa, glorificando a Deus.‖ Há muitos detalhes nesta história, qualquer um dos quais poderia formar a base de uma interessante palestra. Pode-se desenvolver a idéia de que os que têm um propósito na vida podem esperar alcançar êxito. Este paralítico e seus amigos demonstraram sua determinação. Venceram todo obstáculo, e seu trabalho foi recompensado. Tais pensamentos são bons, mas desviam o foco do Salvador para questões e personagens secundárias,

Então se pode usar também a história para mostrar o valor do trabalho por equipe. Esses homens trabalharam juntos. Alguém pode torná-la a base de uma palestra animada sobre o trabalho missionário leigo, mostrando a importância de dividir a igreja em grupos de trabalho. Os obreiros médico-missionários também poderiam obter muitas idéias úteis dessa história. E, além disso, se estiver falando sobre o assunto da bondade, poderá alguém desenvolver muitos pensamentos sobre a bondosa cooperação do dono da casa, que permitiu que

{334} seu telhado fosse removido. Mesmo os telhados removíveis das terras bíblicas, poderiam ser apresentados como uma vantagem arquitetônica. Então, certos obreiros cristãos ativos, poderiam encontrar na história inspiração ou até mesmo incentivo no desenvolvimento de técnicas para penetrar nos lares do povo.

Encontrando o Pensamento Central Outras lições podem ser tiradas, sendo todas elas absolutamente secundárias. Centralizar o olhar em qualquer outro que não seja o Senhor Jesus é perder todo o propósito da narrativa. Há um texto na história que se deve destacar em alto relevo. É o versículo vinte e quatro, que reza: ―Ora, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a Terra poder de perdoar pecados (disse ao paralítico), a ti te digo: Levanta-te, toma tua cama, e vai para tua casa,‖ Aí está. Toda a história se centraliza em ter o Filho do homem poder para perdoar pecados. Essa é a janela. O ponto focal está em Cristo e a cruz, pois esse foi o lugar em que toda a questão do pecado foi decidida. O pecado ainda deve ser destruído, mas é na virtude do sacrifício acabado de Cristo que é possível essa solução final. Portanto, em cada estudo e em toda a apresentação pública da verdade, conservai a luz focalizada no rosto de Jesus. Certa feita, um artista inglês pintou o retrato do rei. Mas rodeou Sua Majestade de flores tão esquisitas que a figura real era apenas secundária. Todos os olhos se fixavam nos acessórios e não sare Sua Majestade. E essa é uma advertência apropriada aos que foram chamados a pregar, para que pintem o quadro de nosso Senhor de maneira tão clara que todos O possam ver como o Salvador do mundo. Deve Ele ocupar o lugar central em cada mensagem. Parábola e poesia, história e símile, eloqüência e sentimento, devem contribuir

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para Sua glória a fim de que o povo não veja nenhum homem senão somente a Jesus. A salvação do homem por Cristo é a mensagem dominante da Bíblia. Mas para despertar e conservar o interesse do descuidado e indiferente, deve-se fazer com que o velho Livro se torne real. Era esse um dos segredos do poder de Billy Sunday sobre os seus grandes auditórios. Em seus dias, esse impressionante reavivamentalista prendeu a atenção de imensas multidões, e embora eu não lhes exalte necessariamente o método como sendo um modelo para os nossas evangelistas, assim mesmo foi ele maravilhosamente usado em apresentar uma revelação de Jesus às multidões que se aglomeravam para ouvi-lo. Sua condenação direta dos pecados flagrantes da sociedade exerceu tremenda impressão na sua geração. Mas, às vezes ele interrompia repentinamente a denúncia do pecado, e por meio de poderosas sentenças descritivas levava o auditório a nova apreciação de Deus e de Sua Palavra. E isto se fazia de maneira tão interessante que toda a multidão se tornava cativa e influenciada. Numa linguagem vívida costumava ele guiar seus ouvintes at ravés de breve exame das Escrituras, ao dizer alguma coisa assim: ―Faz muitos anos, tendo o Espírito Santo por guia, penetrei no maravilhoso templo do cristianismo. Atravessando o pórtico de Gênesis, caminhei pelas galerias de arte do Velho Testamento, e ali, nas paredes pendiam quadros de Enoque, Noé, Abraão, Jacó, José, Moisés, Davi e Daniel, e outros homens famosos da antiguidade.‖

―Então passei para a sala de música dos Salmos, onde o Espírito percorreu rapidamente o teclado da Natureza até parecer que cada tubo e palheta do grande órgão de Deus respondia à melodiosa harpa de Davi, o suave cantor de Israel. Saindo dali entrei na câmara de Eclesiastes, onde se ouvia a voz do pregador; e então no conservatório de Saron, onde o aroma suave e recendente do Lírio do Vale me encheu e perfumou

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a vida. Então fui para o escritório comercial de provérbios e passei para o observatório dos profetas onde vi telescópios de vários tamanhos, apontando alguns deles para estrelas próximas e outros para acontecimentos já bem distantes; mas o centro para o qual todos eles eram irresistivelmente atraídos, era ‗A BRILHANTE ESTRÊLA DA MANHÑ. Dali fui para a sala de correspondência e obtive uma visão da glória do Salvador, do ponto de vista de Mateus, Marcos, Lucas e João; e atravessando a sala dos Atos dos Apóstolos, vi o Espírito Santo fazer seu trabalho na formação da igreja primitiva. Mais além se sentavam Pedro e Paulo, Tiago, João e Judas, estando todos eles escrevendo suas epístolas à igreja. E por último, subi à sala do trono de Apocalipse, onde se erguiam altaneiras as torres brilhantes da nova Jerusalém. E ao obter uma visão do Rei assentado em Seu trono, em meio à grandeza de Sua eterna glória, exclamei:

―Saudai o nome de Jesus! Ó anjos vos prostrais O Filho do glorioso Deus De glória coroai‖.

1) White, Carta 213, 1902 (148).

2) O Desejado de Todas as Nações (3 ed.), pg. 183 3) Parábolas de Jesus pág. 22. 4) Charles Edward Jefferson, The Minister as Profets, págs. 89-91. Publicado por Zondervan Publishing House, Grand Rapids, Michigan, 1933. Usado com permissão de Thom. Y. Crowell Company.

5) Brown, op. cit,, págs. 73 e 74. Direitos reservados em 1922 por Maemillan Company. Usado com permissão. 6) O Desejado de Todas as Nações (3 ed.), págs, 183 e 184, 7) Parábolas de Jesus, pág. 19. 8) James Black, The Mistery Preaching, págs, 124-126. Usado com permissão de Fleming H. Revell Company, publicadores.

9) Obreiros Evangélicos (3 ed.), pág. 166. 10) Idem, pág. 253, 11) O Desejado de Todas as Nações, (3 ed.), pág. 151.

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PARA FAZER TODOS OS HOMENS VEREM EFÉSIOS 3:9

19 O EVANGELISMO PESSOAL

Primavam os profetas hebreus no uso de auxílios visuais. Figuravam entre os maiores mestres de todos os tempos. Alguns dos métodos que usavam podem parecer um tanto dramáticos, mas o Senhor que lhes deu suas mensagens, também os instruiu sobre a maneira em que deviam tornar eficientes essas mensagens. Por exemplo: quando Jeremias foi chamado para reprovar a nação por sua desobediência e idolatria, foi primeiramente enviado à casa do oleiro para contemplar seu Trabalho na roda. Viu o profeta o barro ser moldado por dedos hábeis, e enquanto observava, o vaso ia tomando forma. Repentinamente a roda parou. Seria um pedaço de pedra inflexível que tinha de ser extraída? Qualquer que tenha sido a causa, lemos: ―O vaso, se quebrou na mão do oleiro‖. Mas Jeremias ainda estava olhando. Viu o oleiro tomar o barro, e, depois de o amassar, colocá-lo mais uma vez na roda. A história conclui com a simples declaração: ―Tornou a fazer dêle Outro vaso‖. Sigamos agora o profeta, enquanto ele toma a botija de

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louça, e, reunindo os anciãos do povo, transmite a lição, e apela para que eles abandonem seus pecados. Israel era o barro nas bondosas mãos do Oleiro divino. Ele os estava amoldando para o Seu serviço, mas o pecado e a obstinação Lhe haviam estragado o trabalho. Deviam eles abandonar o pecado, ou Deus os abandonaria. Deviam entregar-se para serem moldados pelas Suas amoráveis mãos. Se resistissem às súplicas de Sua graça, seriam rejeitados como uma nação. Tendo transmitido sua mensagem cheia do Espírito a todos eles, despedaçou então a botija, dizendo: ―Deste modo quebrarei Eu a este povo e a esta cidade... que não pode mais refazer-se‖. Era uma técnica dramática, mas uma técnica bem conhecida daqueles grandes mestres hebreus.

A Comissão de Habacuque Poucas décadas antes do ministério profético de Jeremias, foi o profeta Habacuque chamado por Deus para dar a mensagem. Havendo recebido a revelação, devia ele seguir a palavra do Senhor: ―escreve a visão, e toma-a bem legível sobre tábuas, para que a possa ler o que correndo passa‖. Habacuque vivia numa hora trágica da História, num tempo de grande crise internaciona l. Contemplava o

ocaso do despotismo assírio, e também testemunhava o período de lutas entre o Egito e Babilônia, pela supremacia do mundo. Seu coração estava dilacerado ao ver a flor dos jovens varonis ser ceifada pela guerra, ou, pior ainda, ser levada para o exílio e para a escravidão pelos ditadores. Que poderia tudo isso significar Sua mente estava perplexa. Que uma coisa assim pudesse até mesmo ser permitida por um Deus justo e santo, parecia quase incompreensível. Embora fosse homem de Deus, não Lhe podia entender o propósito. Tudo parecia confusão. O justo estava sendo destruído por uma ―nação amarga e apressada‖, ao passo que os conquistadores, em sua hora de aparente

{340} vitória prestavam homenagem às armas de guerra, atribuindo sua vitória ao poder de deuses pagãos. Como poderia ser isso? Subindo à torre de vigia da oração, esse confuso profeta aguardou a resposta dos Céus à sua pergunta. Veio a resposta; e dela formou Habacuque uma nova filosofia de vida. As coisas que aconteciam não eram o resultado de um cego acaso. O Senhor estava operando Sua própria vontade, mesmo entre a confusão das nações. Toda a Terra ainda se encheria da glória de Deus. Era esta uma mensagem maravilhosa, e foi esta mensagem que lhe foi ordenado escrever e tornar ―bem legível sobre tábuas‖. (Habacuque 2:2).

Somente quando a visão for tornada clara, é que os homens a lerão e correrão. Outras versões traduziram o texto: ―Para que o que corre a possa ler‖. Ambos os pensamentos são importantes, especialmente ao aplicarmos a mensagem à nossa própria geração. Vivemos numa época de pressa e de afobação. Os homens correm de uma parte para outra. A Palavra de Deus deve ser tornada tão clara que esta geração de correria possa apanhar a significação da mensagem. Longas e complicadas pesquisas no púlpito jamais poderão atender às necessidades espirituais de nosso tempo. Estes dias também são dias de confusão e de caos internacional, e os homens necessitam de uma mensagem que restabeleça a confiança. Milhões perderam o caminho. Almejam luz, e muitos deles ardentemente desejam conhecer o propósito de Deus. Como o profeta da antiguidade, são hoje os mensageiros de Deus chamados para levar a uma geração desorientada a verdadeira filosofia da vida. Nós também devemos tomar clara a Visão — tão clara que em meio à pressa e à correria deste século, possam os homens ler o seu significado.

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Divisar-se-ão Meios

―Com intenso interesse contempla Deus este mundo. Contou Ele Seus obreiros, tanto homens como mulheres, e preparou o caminho diante deles. Pelos seus esforços a verdade apelará a milhares da maneira mais incisiva. Far-se-á a verdade tão proeminente que o que corre possa ler. Divisar-se-ão meios para alcançar os corações.‖ (1) É encorajador o fato de que a verdade se tornará proeminente e de que se divisarão meios para levar a mensagem aos milhões. Falamos de nossa geração como sendo o século da publicidade. E a ciência da boa propaganda é brevidade, arrojo e cor. Seus modernos princípios são adaptáveis ao evangelismo, exigindo, como faz uma aproximação direta. Sendo às vezes populares nos séculos passados, não têm a verbosidade, os circunlóquios e os subterfúgios lugar em nossos dias. Estes tempos são extraordinários e exigem métodos extraordinários. Nas cidades de hoje, onde existem tantas coisas destinadas a atrair e agradar o povo não pode ser interessado por esforços ordinários. Os ministros designados por Deus hão de achar necessário envidar esforços extraordinários para atrair a atenção das multidões. E quando conseguem reunir grande número de pessoas, têm de apresentar mensagens de caráter tão fora da ordem comum que o povo fique desperto e advertido. Têm de fazer uso de todos os meios que possam ser planejados para fazer com que a verdade sobressaia clara e distintamente. A probante mensagem para este tempo deve ser apresentada tão clara e decididamente que comova os ouvintes, e os leve ao desejo de estudar as Escrituras.

Prendendo a Atenção do Público Deve o evangelista do século vinte fazer ―uso de todos os meios que possam ser planejados‖. Eis uma declaração digna de ser utilizada. Quais são alguns desses meios? Como podemos prender a atenção das multidões?

{342} ―Mediante o emprego de cartazes, símbolos e ilustrações de várias espécies, pode o ministro fazer a verdade clara e distintamente. Isto é um auxílio e está em harmonia com a Palavra de Deus.‖ (3). ―O uso de mapas é muito eficiente na explanação de profecias relativas ao passado, ao presente e ao futuro.‖ (4) ―Manifestem os obreiros de Deus tato e talento, e criem meios os quais possam comunicar luz tanto aos que estão perto como aos que estão longe... tem-se perdido tempo. Áureas oportunidades não têm sido aproveitadas, por faltar aos homens visão clara e espiritual, e por não terem eles sido sábios para planejar e idear modos e meios pelos quais se possam antecipar na ocupação do campo antes que dêle o inimigo tenha tomado posse.‖ (5) Idear meios para tornar a mensagem viva exige engenho e originalidade. Mas embora sendo inventivos, devemos evitar qualquer tendência para transpor os limites da conveniência e do bom gosto. Os métodos rudes, ásperos ou grotescos, métodos que desagradam em vez de edificar, não devem estar na obra sagrada de Deus. Contudo deve a verdade tornar-se proeminente. Devem encontrar meios, ainda que estes estejam um pouco fora do comum, para colocar a mensagem diante das massas. ―Ao tentar fazê-lo, indubitavelmente alguns se exporão à crítica de certos irmãos bem intencionados.

―Alguns dos métodos usados nesta obra serão diferentes dos métodos na obra do passado, mas ninguém, por causa disto, obstrua o caminho pela crítica.‖ (6)

O devido uso de filmes, slides, recortes e esquemas em diagrama habilitará o evangelista a alcançar não somente os incultos, mas terá a bênção de Deus para prender a atenção das camadas mais elevadas da sociedade. ―Deve a verdade ser apresentada de várias maneiras. Alguns nas posições mais elevadas da vida, aprende-la-ão ao ser apresentada em figuras e parábolas.‖ (7)

{343} ―Era esse o método de ensino do Senhor. Ele era perito no uso de símbolos.

―Devemos procurar seguir mais de perto o exemplo de Cristo. Seu ativo ministério não consistia meramente em sermonizar, mas em educar o povo... ―Sempre que aumentavam as multidões que O seguiam, ao chegar Ele a um lugar favorável, costumava falar-lhes, simplificando Seus discursos pelo uso de parábolas e símbolos.‖ (8) Nunca o mundo necessitou tanto de luz espiritual como necessita hoje, e descobrir os meios para ilustrar a mensagem de Deus é uma sagrada responsabilidade. Certamente as trevas cobrem a Terra e densa escuridão os povos. Mas nessa mesma hora deve todo o mundo ser iluminado pela glória de Sua verdade, eclipsando qualquer coisa que até aqui se tenha visto. Mapas e ilustrações de várias espécies eram usados pelos mestres da verdade profética, mesmo na idade média. E durante o despertamento profético do século dezenove na Europa e na América, houve um reavivamento dessas técnicas de ensino. Mas grande avanço se tem feito nos últimos anos nas técnicas para o esclarecimento das grandes profecias do evangelho de Deus. O evangelista do século vinte tem vantagens sobre os mensageiros de Deus de qualquer outra época. Seus privilégios são sem-par. E com os privilégios vem a responsabilidade. Para repetir o conselho inspirado: ―Manifestem os obreiros de Deus tato e talento, é criem meios pelos quais comunicar luz tanto aos que estão perto como aos que estão longe‖. (9)

São Recomendados Dispositivos Originais

Faz anos, um preeminente evangelista chamado William Simpson deu muita atenção a esta questão de idear meios de tornar as mensagens proféticas de Daniel e Apocalipse mais reais. Provavelmente ele estava mais adiantado do que o seu tempo, e não surpreende que encontrasse um quinhão de críticas fora do comum. Mas no tempo em que mais necessitava

{344} recebeu real encorajamento de cartas como a que segue: ―Dedicastes muito estudo ao assunto de como tomar interessante verdade, e os quadros que fizestes estão em perfeita conformidade no trabalho que precisa ser feito. Esses quadros são para as pessoas, lições objetivas. Pusestes vigor de pensamento na obra de produzir estas notáveis ilustrações. E elas exercem efeito notável ao serem apresentadas ao público em reivindicação da verdade. Usa-as o Senhor para impressionar as mentes. Fui instruída clara e nitidamente quanto a deverem usar-se quadros na apresentação da verdade estas ilustrações devem tornar-se ainda mais impressivas por meio das palavras que mostram a importância da obediência.‖ (10) Devem ser encontradas muitas declarações da mesma fonte inspirada que exprimem confiança nos métodos de Simpson. ―Ele fala com a simplicidade de uma criança. Nunca põe qualquer dissimulação em seus discursos. Prega diretamente da Palavra, deixando que esta fale a todas as classes.‖ (11) Por meio de mapas e representações simbólicas engenhosamente, conserva ele a atenção do povo, enquanto se esforça por apresentar a verdade. Por esse esforço, centenas de pessoas terão levadas melhor compreensão da Bíblia, do que possuíam antes.‖ (12) O que eram esses ―mapas engenhosamente ideados‖? Eram apresentações vivas feitas de papier-maché, talvez um tanto inconvenientes, mas maravilhosamente eficaz. Deram clareza à exposição das profecias e poder ao apelo. Por intermédio desses meios gráficos, milhares de pessoas foram advertidas e ganhas para Cristo.

Nova Geração

Grandes mudanças têm-se operado em nosso mundo desde que o evangelista Simpson fez seu trabalho. Nossa geração pensa totalmente diferente da maneira em que os homens pensavam meio século atrás. Muitas coisas se têm desenvolvido para operar essa mudança no modo de pensar. As invenções

{345} modernas estão desempenhando uma parte saliente em levar a última mensagem de Deus. A indústria do filme, por exemplo, tem exercido tremenda influência em fazer com que todo o mundo goste de apreciar filmes. Isso oferece singulares oportunidades para o evangelista do século vinte ilustrar sua mensagem. Maravilhoso interesse está sendo despertado pelo uso de quadros evangelísticos na tela. A linguagem dos quadros é universal; e esse é o motivo de o próprio Deus ter escolhido representações simbólicas para transmitir Sua verdade aos homens. Sendo eficientemente apresentados, tem esses símbolos proféticos um convincente apelo. Mal apresentados, repelem definitivamente. Não admira que sejam admoestados a estudar os meios de tornar claras essas mensagens. Então, também tem sido nossa geração educada para esperar mais do que qualquer outra, O gosto do público se tem elevado. O que teria sido correto poucos anos atrás, não será, hoje, aceitável. O filme falado e o rádio acostumaram o povo a ouvir boas palestras. Só esse fato exige que nossas apresentações públicas sejam sempre do nível mais elevado possível Nossa geração, também, possui um padrão mais elevado de educação que qualquer outro da História. E isso não somente é uma realidade no campo acadêmico, mas também o é no campo do conhecimento geral. Torna-se necessário que, enquanto melhoramos nossa técnica, sejamos mais cuidadosos nas nossas referências históricas e científicas. O auxílio proporcionado pelo equipamento apropriado pode ajudar o evangelista a tornar vivas as grandes profecias simbólicas, mas ao reforçar seu apelo deve ele estar certo de que suas mensagens são apoiadas por fatos e não por meras fantasias.

O Uso dos Slides

As chapas estereotípicas têm-se tornado um meio eficiente

{346} de ilustração, e sempre que usadas com sabedoria, podem sei maravilhosamente úteis no esclarecimento da verdade. Mais há um ponto evidentemente fraco no uso de slides. Depois de um quadro ter sido mostrado, necessariamente deve ser substituído por outro, e assim a seqüência e a descrição de uma profecia simbólica se tornam uma questão de memória. Contudo, uma combinação de métodos pode tomar as profecias ainda mais impressionantes e apelativas. Por exemplo, se estiverem sendo apresentados os quatro impérios universais da profecia, e no salão em que se estão realizando as reuniões houver um estrado, nesse tablado poder-se-á erigir um grande quadro do mar. Conforme é apresentada a profecia, pode-se fazer com que os símbolos apareçam em seqüência. Em vez de os símbolos desaparecerem, como se dá no caso dos slides, vão sendo eles levantados perante os olhos do auditório, numa relação progressiva. Assim permanecem à vista durante o resto da apresentação, para gravar a verdade na mente do auditório. Todos os que usam estes métodos de ilustrar as profecias testificam de sua eficiência. É interessante testemunhar o efeito sobre os ouvintes. Muitos se demorarão atrás, como se não tivessem vontade de ir embora. Cândidos afeiçoados da máquina fotográfica estarão ansiosos por tirar algumas fotografias. E, a propósito, é esta uma excelente publicidade.

Se, além do cenário no estrado, também for usada uma tela, o efeito ainda será maior. Pode-se levantar uma tela ao lado do estrado, colocando-a em ângulo. Isso permite que os quadros sejam mostrados ao mesmo tempo em que se vai formando o cenário no tablado. Estando o púlpito colocado a um lado do estrado, pode o auditório ter uma visão completamente desembaraçada de toda a cena. A maior parte dos salões se presta para esse arranjo. O projetor, certamente, deve ser colocado em posição relativa para com a tela. Caso sela a tela colocada num canto e posta

{347} em ângulo, pode o projetor ser manejado do lado oposto. Alguns ―slides‖ bem escolhidos, que abranjam alguns pontos interessan tes, serão suficientes para tornar mais vivido o lugar que cada império sucessivo ocupa na História, É muito mais fácil sugerir o poder de Roma pagã quando são apresentados um ou dois quadros do Coliseu, do Fórum, ou de uma galé romana. Para agravar ainda mais o pensamento, mostrai a cena da crucifixão. Lembrai ao auditório que foi um governador romano que deu a sentença contra o nosso Senhor. E, ainda, não deixeis de salientar o ponto de que os impérios só entram no panorama profético quando afetam ao povo de Deus. A Bíblia não foi escrita como história do mundo, porém como revelação do grande conflito entre Cristo e Satanás, revelando os planos e propósitos de Deus para com Seu povo. O êxito do evangelismo depende de manter o interesse até que se faça a decisão, e esses métodos ajudam a fazer justamente isso. Ao cada aspecto da profecia ser introduzido pelo aparecimento de outro símbolo apropriado, o auditório é visivelmente despertado. Requerem os sãos princípios da pedagogia que somente os aspectos em discussão sejam apresentados ao auditório. Era esse o método do evangelista Simpson, a que já se fez referência. ―Tem ele grandes representações quase vivas dos animais e símbolos de Daniel e do Apocalipse, e essas são apresentadas no devido tempo para lhe ilustrar as declarações. Nenhuma palavra descuida ou desnecessária lhe escapa dos lábios. Ele fala de maneira incisiva e solene. Muitos de seus ouvintes nunca dantes ouviram discursos de natureza tão solene. Não manifestam um espírito de leviandade, mas um solene respeito parece repousar sobre eles.‖ (13) Notai que ―essas representações quase vivas‖ eram ―apresentadas no devido tempo para lhe ilustrar as declarações‖. A cena era formada com a continuação do sermão. Não ficava tudo à vista no começo da reunião. Quão diferente de uma campanha evangelística a que assisti

{348} faz alguns anos. As reuniões eram realizadas numa tenda, e era evidente que o grupo evangelístico não esperava permanecer ali por muito tempo, pois nenhuma tentativa se fez para a assoalhar. E, ao redor de todas as paredes dessa tenda, havia horríveis representações das profecias apocalípticas. Eram obviamente a obra de um amador e não se pareciam com coisa alguma da Terra ou do mar. Pior ainda, foram todas expostas na noite de abertura, lembrando uma das visões de Ezequiel dos animais de quatro pés, e dos répteis pintados nos muros do templo. Será qualquer maravilha que depois de três semanas as conferências terminaram, e os resultados foram nulos?

Vantagem do Mapa Progressivo

Como já tem sido salientado, requerem os sãos princípios da pedagogia que a mente do estudante se concentre somente naquele aspecto especial que está sendo considerado. Quando os animais proféticos são apresentados no devido tempo, a impressão é muito maior. Esse mesmo princípio deve ser observado em todos os dispositivos para ensinar a verdade. Revelar de uma só vez todos os vários aspectos de um assunto, tal como a profecia dos dois mil e trezentos dias ou do milênio, tem muitas falhas definidas. A mente do ouvinte pode vaguear de uma a outra extremidade do diagrama, por mais eloqüente que seja o evangelista, em vez de prestarem atenção à parte especial do mapa que ele está explicando alguns estarão olhando para a outra extremidade do mapa fazendo toda a espécie de reservas mentais, e talvez até mesmo formulando argumentos contra as conclusões finais. Por exemplo, num mapa em que se distinguem as palavras ―terra desolada‖, imediatamente serão despertadas reservas em muitas mentes, pois ele desafia a interpretação dos professos cristãos que tinham um ponto de vista diferente

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quanto ao milênio. Alguns deles podem estar no auditório, e enquanto o sermão prossegue, podem estar calmamente comentando uns com os outros, e decidindo contra a mensagem muito antes de o evangelista ter apresentado os seus pontos de vista e alcançado o clímax. Um ‖mapa progressivo‖ é muito mais eficiente e ajuda grandemente o evangelista a tornar sua mensagem clara, pois estabelece cada ponto conforme este se desenvolve. Por esse método pode o ensinador da verdade ocultar os aspectos do assunto que possam criar preconceito no espírito de seus ouvintes, até que ele tenha posto o fundamento sobre o qual erigir sãs conclusões. Com o auxílio de dispositivos que tratem apenas de um aspecto principal por vez, não dando absolutamente nenhuma indicação do que se vai segui r, é o evangelista habilitado a alcançar o assentimento da congregação em cada ponto, à medida que prossegue. Os aspectos do assunto que possam criar preconceitos são assim reservados até que pontos menos suscetíveis de despertar oposição, tenham sido apresentados e aceitos. Tal procedimento desarma as objeções e granjeia a confiança do povo. Se se puder fazer com que a mente do povo se conserve acompanhando o evangelista nos aspectos da verdade em que há acordo geral, será menos provável que as doutrinas menos compreendidas e que freqüentemente despertam controvérsia, encontrem resistência. Quer seja um único sermão ou toda uma série de sermões, o princípio é correto. ―Não salienteis os aspectos da mensagem que são uma condenação dos costumes e práticas do povo enquanto eles não tiverem ocasião de saber que acreditamos em Cristo, em Sua divindade e preexistência‖ (14) Grande responsabilidade é atribuída ao mestre da verdade, pois não somente o que ele apresenta, mas também a maneira em que o faz, influenciarão a decisão tanto a favor como contra a mensagem.

{350} ―A maneira como a verdade é apresentada, freqüentemente tem muito que ver quanto a determinar se esta será aceita ou rejeitada‖ (15) Às vezes falamos dos que aceitam a mensagem, como sendo os ―sinceros de coração‖. Mas outros justamente de coração tão sincero têm sido desviados da verdade devido a métodos descuidados. O devido equipamento, uma organização perfeita, e uma apresentação digna, muito valerão em ajudar a compreender o grande drama do pecado e da justiça. Podem os mapas progressivos ser usados na apresentação de muitos assuntos diferentes. O princípio de tal mapa pode ser levado a termo cobrindo um mapa comum e depois descobrindo cada parte conforme os pontos vão sendo apresentados. Isso, contudo, é rude e incômodo. Um mapa bem feito é sempre mais impressivo, e verdadeiramente é um digno acréscimo ao equipamento do evangel ista. Método simples e eficiente de fazer tal mapa é tomar duas chapas de madeira compensada ou duratex e unir as extremidades traseiras com sarrafos de 2‖ x 1‖. Para os grandes salões e teatros, duas folhas de 8‖ x 4‖ ou l0‖ x 4‖ proverão uma área de 16‖ x 4‖ ou 20‘x 4‘. Mas verificar-se-á que duas folhas de 5‖ x 3‖, dando uma superfície de 10‖ x 3‖, têm tamanho suficiente para auditórios de até seiscentas ou setecentas pessoas. A tábua provê o andamento sobre o qual é feito o diagrama, e se for pintada de branco dará um excelente fundo. Usam-se fitas de cor, que são presas a sarilhos que ficam atrás do quadro. Cortam-se ranhuras no quadro para permitir que as fitas sejam puxadas elas mesmas. Carretéis de pescar, fazem excelentes sarilhos para as fitas, entretanto que se procurem os de tamanho suficiente. Cada aspecto separado do estudo deve ser resumido em uma ou duas palavras, com um texto de apoio. Esse sumário é pintado em pano branco de propaganda ou em fazenda encerada. As fendas feitas na superfície das folhas de madeira compensada permitirão esses pedaços de pano deslizarem.

{351} Se estes forem embainhados em cima e em baixo, e varinhas de madeira ou arames bem pesados forem inseridos nas bainhas, fàcilmente poderão ser puxados na devida posição no momento apropriado. Uma vez estejam no lugar, eles abaixarão, com as palavras claramente visíveis.

A Psicologia do Método Pelo uso dessas fitas e dos sinais de pano separados, pode a pessoa trabalhar como se estivesse trabalhando num quadro-negro. Mas esse dispositivo leva muitas vantagens sobre o quadro-negro, pois logo que um ponto é alcançado, pode o sinal ser posto imediatamente em posição de modo que apareçam as palavras e o texto; ao passo que com o quadro-negro, tem-se de escrever tão depressa que a palavra não é legível, ou, pior ainda, se se tiver o cuidado de desenhar nitidamente, perder-se-á o interesse do auditório. Quando trabalha com as grandes multidões, quanto mais claro e mais preciso puder ser o evangelista em sua apresentação, tanto maior será seu poder de criar e conservar o interesse.

O mapa ilustrado da página 353 foi usado num grande auditório, com assento para mais de duas mil pessoas. Três discursos distintos foram apresentados com o auxílio desse mapa progressivo. Em realidade eram eles diferentes fases de um assunto. No primeiro, foi desdobrada a profecia das setenta semanas, identificando a Cristo como o centro da revelação profética; a segunda apresentou a profecia do juízo; a terceira estabeleceu um contraste com a grande interpretação falsa, revelando a fantasia do futurismo. O mapa estabelece por contraste tanto as interpretações verdadeiras como as falsas; e ao apresentar esses grandes temas, traçou o evangelista M. K. Eckenroth, a história da interpretação futurista desmascarando o poder por meio do qual ela veio à existência. Há neste método uma psicologia que muito significa não

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somente no ensino da verdade, mas em conservar o interesse daqueles que talvez nem mesmo a desejem ouvir. A curiosidade desempenha a sua parte. Embora muitos discordem do que o evangelista está dizendo, estão não obstante ansiosos de ver o que as outras seções revelam. Depois de feito o primeiro ou o segundo ponto, o auditório pega a idéia e o povo começa a notar que outras palavras ainda vão aparecer. Ainda que muitos possam ter tido a intenção de abandonar a reunião mais cedo, e outros estejam em desacordo com muitos dos pontos apresentados, assim mesmo esperarão até ao fim da apresentação. Dessa maneira ouvem toda a mensagem da noite e também o assentimento geral da congregação a cada aspecto estudado conforme o evangelista segue de um ponto para o outro. Muitas das pessoas cheias de preconceitos que tem sido o meu privilégio ganhar para Cristo e Sua mensagem, asseveraram-me que nunca teriam esperado para ouvir a mensagem, não fossem os métodos e dispositivos usados em sua apresentação. Tendo-lhes sido despertado o interesse, simplesmente não podiam ficar ausentes. Esses métodos criam auditórios, bem como desenvolvem o interesse dos que já são favoráveis. O princípio do mapa progressivo pedagogicamente sadio, e várias técnicas podem ser acrescentadas para torná-lo ainda mais atraente. Por exemplo, o uso da iluminação com Néon, em vez de fitas, é decididamente moderno e atrativo. Mas também é dispendioso e difícil, O aumento da eficiência pode não justificar o acréscimo da despesa. O principal é fazer com que a verdade permaneça em sua beleza e simplicidade. Os métodos teatrais não devem ter o mínimo apoio, embora devamos estudar todos os meios legítimos de habilitar as multidões a compreenderem as verdades de Deus.

O Lugar da Televisão no Evangelismo Visual Outra fascinante oportunidade de usar auxílios visuais é

{354} o meio agora popular da televisão. Tremendas são, as possibilidades nesse novo campo. Naturalmente, as artes do preparo escri to e da produção do programa exigem o melhoramento no talento como na habilidade, mas é surpreendente a simplicidade das idéias de muitos programas de televisão de êxito. As estações estão equipadas para apresentar, simultaneamente com a palavra falada, chapas de 2‖ x 2‖, chapas de 3‖ x 5‖, trechos de filmes, trabalhos de arte no quadro-negro, eu desenhos com giz feitos por artistas, bem como para exibir figuras separadas. A pessoa pode falar diretamente ao auditório de detrás de uma escrivaninha ou de um púlpito, e operador da câmara sob a instrução do diretor, televisionará o orador de vários ângulos e distâncias, para dar variedade e interesse ao que normalmente seria uma simples posição de discurso. Pouco mais se precisa dizer, a não ser declarar serem ilimitadas as possibilidades para um povo que tem crido no auxilio visual e o tem explorado. Devem-se encontrar meios singulares de apelar aos corações e à mente. Nosso dever é escrever a visão e a tornar clara nas tábuas; mas o dispositivo é apenas um meio para alcançar um fim, e não o fim em si mesmo. Devem os homens ser levados a uma experiência tão real, tão transformadora, com Cristo, que um gozo inexprimível e cheio de glória lhes encha a alma. 1) Testimonies for the Church, vol. 7, pág. 25. 2) Obreiros Evangélicos (3 ed.), págs, 345 e 346 (40 e 41).

3) Idem, pág. 355 (206). 4) White, Manuscrito 42, 1905 (203). 5) White, em Review and Herald, 24 de março de 1896, pg. 177 (206). 6) Idem, 30 de setembro de 1902; pág, 7,

7) Medical Ministry, pág. 318 (557). 8) White, carta 192, 1906 (203), 9) White, em Review and Herald, 24 de março de 1896, pág. 177 (206). 10) White, carta 51, 1902 (203).

11) White, Carta 326, 1906 (204). 12) White, em Review, and Herald, 29 de novembro de 1906, pág. 8. 13) White, Carta 350, 1906 (205). 14) Obreiros Evangélicos (3 ed.), pág, 405.

15) Testimonies for the Church, vol, 4, pág. 404.

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DO SENHOR VEM A SALVAÇÃO

JONAS 2:9 20

PREGANDO A CERTEZA DA SALVAÇÃO

Pode-se dizer que como pregador está o evangelista exercendo a sua mais elevada prerrogativa. A pregação é o método primacial de Deus de dar o evangelho. ―Aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação (‗a coisa pregada‘, V. R).‖ 1 Cor. 12:1. Para os gregos, a pregação se assemelhava a uma loucura; a não ser que esteja repleta do poder de Deus, é ela, em verdade, uma coisa louca. A mensagem pregada pelos apóstolos certamente parecia loucura aos ouvidos aquela geração. Os gregos reverenciavam a forma humana. E consideravam um corpo mutilado uma impertinência. Como poderia Alguém que Se permitiu ser crucificado por Seus inimigos dar vida aos homens? Toda essa idéia parecia ridícula, mas Paulo disse: ―A palavra da cruz . . . é o poder de Deus.‖ 1 Cor. 1 :18. Para tornar os sermões poderosos, saturai-os da mensagem da graça divina. Não foi apenas a maneira em que pregavam, mas o que pregavam, que deu aos apóstolos seu poder. ―Pregamos a Cristo‖, declara Paulo, mas acrescenta mais uma palavra: ‗Pregamos a Cristo crucificado!‘ E isso é que faz toda a diferença. Aí é que deve ser posta nossa ênfase. É a cruz que distingue o cristianismo de todas as outras

{357} religiões. Ela era uma pedra de tropeço para os judeus e mera loucura para os gregos, mas para os que iam sendo salvos era o poder de Deus. Para pregar a cruz, devemos fazer mais do que simplesmente contar a história da cruz. Devemos desdobrar o mistério da cruz, e revelar o que a cruz realizou. E seja qual for a doutrina que pregarmos, deve ela provir da cruz. Em seu inspirado livro Heralds of God, lembra-nos o Dr. James Steward uma cena comovente nos escritos de Tolstoy. Longa e desesperada tinha sido a resistência russa à invasão napoleônica. Aqueles anos de terrível tensão e luta dobraram a alma da nação. Koutouzow, o homem sobre quem repousava a sorte de seu país, olhava para o futuro com desânimo. Mas repentinamente se defrontou com as notícias da retirada de Napoleão de Moscou. Não esperava ele tal coisa, e as novas lhe pareceram incríveis. Depois de finalizar seu relatório, o enviado que trouxera a notícia esperou pelas ordens. Nem uma palavra foi dita. Um oficial do estado maior, presente, estava prestes a falar, mas Koutouzow lhe fez sinal para que se calasse. Então o general procurou ele mesmo dizer alguma coisa, mas tão desconcertantes novas o haviam deixado aturdido. Voltando-se, caminhou para a parede, e com intensa emoção exclamou sem restrições: ‗Deus grande, meu Senhor e Criador! Ouviste a minha oração! ―A Rússia está salva.‖ Então se debulhou em lágrimas.

O Enviado de Deus Mas o enviado de Deus é portador de novas muito mais comoventes e mais maravilhosas que as que foram levadas ao general russo. O evangelho transcende em muito às novas de qualquer batalha terrena. Quando nosso Senhor venceu a morte, e irrompeu pelos portais da tumba, ascendeu à presença de Deus, no Céu se ouviu alta voz que dizia: ―Agora chegada está à salvação e a força, e o reino do nosso Deus,

{358} e o poder do Seu Cristo; porque mãos é derribado, o qual diante de dia e de noite.‖ Apoc. 12:10. todo o universo se regozijou com a resplendente vitória somente está o inimigo de Deus batendo em retirada, ele está derrotado. Com seremos nós ser vagarosos? Em nossas apresentações necessitamos da viveza e vitalidade que leva o homem à ação. O povo deixa de sentir o tremendo significado de nossa mensagem, porque com muita freqüência o tema se perde num mundo de detalhes, sepultado sob um montão daquilo que Filipe Brooks chamou: ‖Teologia de bricabraque‖ Aqueles evangelistas cristãos, que primeiro proclamaram a mensagem de Deus eram tão vividos na sua apresentação, que homens eram levados a ver a Jesus. Foi com ―linguagem candente que revestiram suas idéias ao dEIe testificarem‘. (1) Notai a expressão ‗linguagem candente‖. Sua mensagem não era insípida, descuidada e sem vida. Escrevendo aos gálatas o apóstolo declarou que ―Jesus Cristo foi á representado corno crucificado‖. Cá!. 3:1. Ou, como Moffatt traduziu: ―Jesus Cristo, O crucificado (foi) exposto diante de vossos próprios olhos‖. () Expor a Jesus diante dos olhos de um mundo atônito é a ocupação do pregador.

Pregai Grandes Idéias É esse um tema grandioso, e todos os que o proclamam nunca devem perder aquele permanente sentimento de admiração. Guardai-vos de amontoar confusamente a mensagem com coisas não essenciais, ou diluir verdades tremendas com as trivialidades. ―Aqueles que estão diante do povo como mestres da verdade se devem apegar a grandes temas. Não devem ocupar o precioso tempo em falar de coisas triviais‖. (3)

{359} A verdadeira pregação leva o homem a contemplar a imensidão do amor de Deus. Aos assuntos triviais falta o poder de comover as multidões. Pobreza de pensamento nunca leva à ação. ―Pregai de tal maneira que o povo se possa apegar a grandes idéias e cavar o precioso minério oculto nas Escrituras.‖ (4) Grandes idéias impelem a grandes decisões. Exposições muito escrupulosas e exatas, onde a verdade se perde em simples minúcias, jamais podem elevar o coração ao Céu. A história da igreja cristã revela que cada pregador, desde Crisóstomo a Moody, homens que têm movido as multidões para Deus, sempre tem salientado a grandeza da salvação. Ao desvendarem as grandes paisagens da graça divina e revelada tem a imensidão do eterno propósito de Deus, homens foram literalmente arrastados para o reino de Deus. São as grandes verdades que curam.

O Dr. Jowett salienta este pensamento quando nos conta de uma senhora da aristocracia da Inglaterra que foi ao médico para pedir um conselho. Estivera sob grande tensão. Estava nervosa e exausta. Depois de examinar a paciente, este eminente médico, Sr. Derick Erand, exclamou: ―Eis aqui uma prescrição para a senhora. Vá ver algumas grandes coisas. Vá ao Egito e veja a Grande Pirâmide. Vá para o oeste e veja o Niágara. Procure grandes coisas. E então, nos dias futuros, quando estiver enchendo as chávenas ou delas entornando a água, lembre-se de que o Niágara ainda está correndo‖. Que conselho excelente! Nossa tendência é mover-nos entre as coisas pequenas — pequenos problemas, pianos pequenos, pequenos prazeres, conversas mesquinhas. Procurai as grandes coisas. A imensidão é magnificente remédio. O púlpito é o lugar para proclamar as incomensuráveis verdades. ―Pregai sobre os grandes textos das Escrituras. Os textos substanciosos. As tremendas passagens cuja vastidão quase nos deixa aterrados

{360} delas nos aproximarmos. Podemos sentir que apenas somos pigmeus na estupenda tarefa, mas nessas questões, freqüentemente é melhor perder-nos na imensidão do que afinar, sempre nosso peito bote às enseadas limitadas que há ao longo da praia. Sim, devemos apegar-nos às grandes coisas, acerca das quais nosso povo não ouvirá em qualquer outro lugar; as coisas profundas, duradouras, coisas que têm importância permanente... Devem portanto os temas apostólicos ser os nossos temas: A santidade de Deus; o amor de Deus; a graça do Senhor Jesus as solenes maravilhas da cruz; o ministério do perdão divino; a abolição da mortalidade da morte; a vida ilimitada; a casa de nosso Pai; a liberdade da glória dos fios de Deus. Temas como estes devem ser o nosso poder e distinção. ―Tu, anunciador de boas-novas a Sião, sobe u a um monte Tu, anunciador de boas-novas a Jerusalém, levanta a tua voz fortemente; levanta-a, não temas, e dize às cidades de Judá: Eis aqui o vosso Deus‘!‖ Com minha família, estava eu no alto dos grandiosos penhascos de Yosemite, e estávamos quase com a respiração suspensa, em nossa admiração da magnificente grandeza que se estendia aos nossos pés. Era de inspirar respeitoso temor. Eu segurava minha filhinha nos braços. Tinha ela então apenas dois anos e meio de idade. Passara sua pequena vida em Londres e nunca dantes vira um abismo escancarado como aquele. Tomada de espanto, gritou: ―Ó papai! é maravilhoso! é maravilhoso!‖ Seu vocábulo era limitado. Não podia exprimir sua admiração, mas sua mente a compreendeu. Verdadeiramente era maravilhoso. Quão pequeno parece o problema humano diante de El Capitan ou de Half Dome! E quando o povo está fascinado com a imensidão da eternidade, não fica preocupado com a lavagem de roupa ou com a senhora da porta vizinha, ou com a maneira em que estão atados os cordões dos seus sapatos. Em um de seus enriquecedores sermões, diz o Dr. Boreham: ―Nós somos como seixos na praia. Não é fácil conservar-nos entre os grandes que estão em cima — os grandes que sentem as risonhas carícias de cada onda, e o agradável esplendor de cada raio de Sol.

{361} A tendência é ser sacudido entre o cascalho miúdo que está em baixo.‖ (6) Ai está! ―Sacudido entre o cascalho miúdo que está em baixo.‖ Assim muitos estão justamente ali e necessitam ser erguidos acima de si mesmos. Por isso é que Deus necessita de pregadores E esse é o nosso trabalho: Elevar as pessoas acima de si mesmas. Mas se quisermos fazer isso bem feito, nós mesmos devemos viver entre a imensidão das eternidades de Deus. Foi a amplitude do conceito dos apóstolos que comunicou poder ao seu testemunho. Revolucionaram o mundo porque não estavam vivendo no: plano mundano. Pela fé viviam com o seu Salvador ressurreto nos lugares celestiais. EIes disseram: ―Nossa cidadania está nos Céus‖. Filip. 3:20, (E. R.). ―E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus‖. Efé. 2:6 Quão diferente parece o mundo quando mudamos nossa perspectiva! As montanhas, os rios, os vales, as cidades, parecem todos tão pequenos quando vistos do alto. Assim parecem insignificantes as dificuldades, as tristezas, as responsabilidades da casa e da igreja, quando nos assentamos nos lugares celestiais. Lede as epístolas paulinas, e imediatamente sereis dominados pela magnitude, pelo esplendor e pela categoria deste ciclópico pensador. Há na pregação do apóstolo uma múltipla glória positivamente sedutora. Sentis imediatamente estar num país montanhoso, fascinante, cativante, espantoso. Estudai a carta aos Efésios e vagueai com Paulo pelas margens do rio da graça. Levantai então os olhos maravilhados para a grandeza de inefável glória, ao ele falar de Jesus. Vede o Salvador com os olhos de Paulo. Ao fazê-lo, o mundo parecerá diferente. Quão insignificantes parecem os reclamos das paisagens locais depois que alguém contempla a grande amplitude da eternidade. Para criar grandes santos, demorai-vos sobre os grandes

{362} temas. Para habilitar os homens a apreenderem as grandes idéias, afastai-vos das vielas passadas dos pensamentos restritos, e conduzi o povo ao terreno elevado de Deus e do Cordeiro; percorrei com eles as margens do rio da vida. Apanhai as folhas duradoras da árvore da vida e colocai-as nas feridas e tristezas da raça aflita. Pregai grandes idéias e proclamai a grande salvação de Deus.

O Drama da Salvação O Céu se ocupa com grandes coisas. Foi ―uma grande idéia‖ que moveu o coração de Deus a idear o grande plano da salvação. Foi um grande empreendimento arrebatar a ―presa‖ do valente e libertar o ―preso‖ do ―tirano‖. (Isa. 49:24.) Para que isso se realizasse, destinou-se nosso mundo a se tornar o palco em que seria representado todo o drama do pecado e da salvação. Paulo teve uma visão dessa grande idéia, quando escreveu: ―Somos feitos espetáculo (teatro) ao mundo, aos anjos e aos homens.‖ 1 Cor. 4:9. Viu ele o mundo como sendo um palco em que toda a raça humana, cada homem, mulher, moço e moça do mundo eram atores nas cenas comoventes do drama.

Os grandes líderes políticos, os ditadores dos séculos, não reconheceram a parte que estavam desempenhando, mas em todas as marchas e contramarchas das nações vem Deus levando a cabo os conselhos de Sua própria vontade. Não somente os homens, mas também os seres invisíveis, as hostes angélicas têm sido atores. ―Não são porventura todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?‖ Têm esses mensageiros celestes sido comissionados para guiar e proteger os interesses da causa de Deus na Terra, conforme as grandes forças do pecado e da justiça flutuaram através dos séculos, no campo de batalha do mundo. Os habitantes do universo não caído, são os espectadores

{363} dessa renhida luta pela supremacia, e com que intenso interesse contemplam eles, enquanto o drama penetra no ato final, em que vai cair o pano sobre toda a negra tragédia do pecado. ―O mundo não está sem um dominador. A Majestade do Céu tem sob Sua direção o destino das nações e os negócios de Sua igreja... A incansável vigilância dos mensageiros celestiais, e seu incessante empenho em prol dos que vivem na Terra, nos revelam como a mão de Deus está guiando uma roda dentro de outra. O Instrutor divino diz a cada qual que desempenha uma parte em Sua obra o que outrora disse a respeita de Ciro: ―Eu te cingirei, ainda que tu Me não conheças‘‘ Isa. 45:5. (7) Shakespeare pegou um pouco deste pensamento; quando disse:

―Todo o mundo é um palco E todos os homens e mulheres meramente artistas.‖ Mas a maior de todas as revelações é a de que o próprio Deus, na pessoa de Seu Filho, desceu ao palco para ser contado entre

os artistas. Na plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, que, como Herói divino, desceu dos domínios do invisível, e viajando na grandeza do Seu poder, partiu a história em dois, e trouxe aos cativos eterno livramento. Descendo as escarpas do Vale de Elá para uma luta renhida com o gigantesco inimigo, vencendo a Golias, e voltando com o troféu de sua vitória, sempre tem Davi tocado os nossos corações. Contudo, era ele apenas um tipo, uma profecia, do Davi maior, que desceu, mais tarde, as escarpas da morte para Se pegar com o gigante príncipe do mal. Tendo dominado o duro carcereiro, ascendeu de novo; e, em todo o poder de Sua infinda vida, vive Ele para ministrar no trono da graça, tendo em Suas mãos feridas as chaves da morte e da sepultura. É este um evangelho dinâmico e explosivo. E a todos os que o recebem, é o poder de Deus para a salvação.

{364} Até mesmo o mundo cósmico mantém agora, diferente relação para com o Pai que a que mantinha antes da cruz. Pertencia-lhe pela criação; agora Lhe pertence pela redenção, O que Cristo realizou no Calvário, não tem apenas afetado o próprio mundo, porém todo homem, mulher e criança em cada continente e ilha do mundo. Na cruz, pagou a pena da nossa transgressão e Se tomou ―a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo‖. 1 S. João 2:2. Ele é, em verdade, ―o Salvador do mundo‖. Bàsicamente o problema do pecado foi resolvido há dezenove séculos. A mensagem do Novo Testamento é esta: que ―a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram‖, no entanto, é também uma gloriosa verdade que o dom gratuito da salvação veio a ―todos os homens para justificação de vida‖. Nenhuma alma, em todo o mundo, necessita perder-se devido ao pecado de Adão. Tendo penetrado na brecha, o segundo Adão pagou o preço de resgate e trouxe o mundo de novo para Deus. Nesse ato redentor, tanto o Pai como o Filho estavam incluídos, O Pai não era como alguém que acei tava uma dádiva, mas antes como quem oferecia uma dádiva no Calvário; pois ―Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo‖. II Cor. 5:19. E essa salvação provinha inteiramente de Deus. De fato, foi enquanto nós ainda éramos inimigos que o Salvador veio morrer. Nenhum homem na Terra exigia tal sacrifício. O mundo frio e indiferente certamente não estava procurando a salvação. Nem estava a igreja cheia de justiça própria daqueles dias pedindo tal coisa. Seus líderes eram hostis à própria idéia. ―Temos Abraão e Moisés‖, disseram eles. ―De que mais necessitamos?‖ Tampouco os apóstolos, aqueles a quem o Senhor chamam e a quem preparara para levar a Sua mensagem sentiram de qualquer forma a sua necessidade. ―Senhor, tem compaixão de Ti; de modo nenhum Te

{365} acontecerá isto‖, foram as palavras de Pedro — uma conversa que exigiu severa mas bondosa censura da parte do Mestre. S. Mat. 16:22. Em sua ignorância fizeram tudo o que podiam para O impedir. Estavam tão mal preparados para esse anticlímax para um grande ministério, que na crise, ―deixando-O, todos fugiram‖. Mas Jesus conhecia o propósito de Deus para com Ele, e continuou palmilhando sozinho a trágica estrada que conduzia ao Gólgota. O mundo não sabia a razão de Sua morte. Tampouco tinha a igreja de Seus dias qualquer concepção do propósito divino. Mas, apesar da indiferença, ignorância e hostilidade, Deus realizou Sua grandiosa obra, a salvação do mundo. Pela Sua ignominiosa morte e gloriosa ressurreição, trouxe Ele à luz a vida e a imortalidade. E esse sacrifício está consumado; a obra de Deus está feita. ―Mas Este, havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deus, daqui em diante esperando até que os Seus inimigos sejam postos por escabelo de Seus pés.‖ Heb. 10: 12 e 3. Embora Deus tanto tenha feito, no entanto somente os que ―recebem a abundância da graça, e o dom da justiça, reinarão em vida por um só—Jesus Cristo‖. Rom. 5:17. Devem os homens receber as boas-novas da graça, para Lhe poderem aceitar as maravilhosas provisões. Para conhecer o poder salvador de Cristo, não devemos permitir que Ele permaneça enterrado na História. Deve tomar-Se o Cristo vivo em nosso coração. Deve Ele emergir da tumba esquecida dos séculos como um Salvador ativo, constrangedor e pessoal. O anúncio desse poderoso Salvador a todo o mundo, é privilégio e responsabilidade de todo embaixador de Cristo. Ao proclamar as glórias das inescrutáveis riquezas de Cristo, devemos cuidar de que a verdade não seja submergida na discussão de meros problemas políticos ou sociais dos nossos tempos. A cruz e a ressurreição devem ser conservadas como ponto central. Nunca se devem estes grandiosos fatos tomar

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secundários ou subordinados. Não somos pregadores de reformas; somos arautos da redenção. Como já se tem declarado, a mudança dos tempos exige mudança de métodos, mas nunca um tema mutável Nunca deve a gloria da cruz ser eclipsada por qualquer esplendor artificial. Em meio à pompa deste século vinte, deve a cruz ser vista dominando as ruínas do tempo.

Mostrando o Caminho da Salvação Nossa vida moderna é complexa, atraente, mesmérica. A sociedade se adorna de cores brilhantes. A própria igreja se encontra rodeada de interesses em conflito. Há a tentação de o pregador se tomar economista. Se o fizer, encontrará outros que o ultrapassarão em muito. Ele tem um campo legítimo e virgem, pois é enviado a um mundo perdido, não como um sociólogo, mas como evangelista. Sua real preocupação não é a norma de subsistência, mas a norma‘ de vida. Hugh Thomson Kerr apresenta o caso com muita habilidade, nestas palavras: ―Não somos enviados para pregar sociologia, mas a salvação não economia, mas evangelismo; não reforma, mas redenção não cultura, mas conversão; não progresso, mas perdão; não a nova ordem social, mas o novo nascimento; não revolução, mas regeneração; não renovação, mas reavivamento; não ressurgimento, mas ressurreição; não uma nova organização, mas uma nova criação, não democracia, mas o evangelho; não civilização, mas Cristo. Somos embaixadores, não diplomatas.‖ (8) Ao desvendar as grandes profecias relativas ao nosso tempo, é absolutamente possível que o evangelista hodierno, ao dar mais valor ao importante estudo da escatologia cristã, deixe de salientar completamente o sacrifício consumado de Cristo, que é o próprio fundamento do cristianismo. No Calvário, a profecia e a história se encontraram. E aquele encontro dá proeminência e poder ao pregador profético. Chamado

{367} como é para pregar o evangelho eterno do amor de Deus, deve ele, contudo, pregar nesta geração esse evangelho à luz da hora do grande juízo de Deus. Exige isto a revelação de maravilhosas profecias cronológicas, que tão claramente revelam onde estamos no grande drama. Não apelamos aqui pata menos pregação da profecia, mas antes para pregação que ponha a ênfase no seu devido lugar—em Cristo em vez de sobre o anticristo, no poder espiritual, em vez de no poder político. É ainda o evangelho eterno que devemos pregar, e esse evangelho se centraliza na cruz e no túmulo vazio. Nem mesmo podemos localizar a hora do juízo, sem primeiro localizarmos a cruz. Não admira que ―de todos os professos cristãos, devem os adventistas do sétimo dia ser os primeiros a exaltar a Cristo perante o mundo.‖ (9) Nenhum único sermão na série do evangelista deve jamais ser pregado a menos que torne claro ao pecador o caminho da salvação. A mensagem do evangelho informa primeiro aos homens sobre os grandes fatos da salvação, e então os convida a partilhar as bênçãos tão ricamente providas pela graça divina.

A Religião Deve Atingir a Vida A religião no espírito da maioria do povo é apenas uma teoria; não atinge a vida. Para eles é algo que pertence ao futuro. Nada tem que ver com o presente. O que os homens e mulheres precisam entender é que em meio às calamidades e à confusão atuais, o amor de Deus está acima de tudo. E em tudo isto está Ele levando a cabo os conselhos da Sua vontade. Mas ainda muito mais confortador, especialmente para o que está abatido pela tristeza e pela perda, é o pensamento de que a própria experiência pela qual está passando faz parte de um grande e eterno propósito. Cada ferida e esmagador cuidado vem apenas com a permissão divina, e o próprio Deus,

{368} na pessoa de Seu Filho, não somente sofreu na carne quando Este palmilhou os caminhos dos homens na Terra, mas ainda agora, no próprio trono da graça, sofre, compadecendo-Se nossas fraquezas‘. As próprias coisas que nos ferem o coração são por Ele sentidas. Em toda angústia deles foi Ele angustiado...; pelo Seu amor, e pela Sua compaixão Ele os remiu.‖―Assim Ele foi seu Salvador,‖ declara o poeta hebreu. Isa. 63:9 e 8. Aquele que viajou com Seu povo no jornadear do deserto, e que mais tarde Se tomou o Filho do homem, para poder conhecer as dores do sofrimento e da morte, ministra agora à mão direita de Deus, para nos dar Sua graça e para nos confortar em todo o tempo de necessidade. Não somos espancados pela mera dava do acaso, nem somos simplesmente peões no cruel jogo da vida. Somos filhos de Deus, criaturas de Seu amor. esse característico da providência divina que os homens devem chegar a conhecer. E quando o fazem, isso lhes muda toda a perspectiva. Naqueles dias escuros em que Londres era abalada pela saraivada de bombas, um anunciador de rádio dava algumas notícias, quando repentinamente seu ritmo mudou ele começou a insistir com os ouvintes para que corressem em busca de um abrigo. Começara outro reide. E assim o povo de novo seguiu seu penoso caminho para os abrigos. As crianças que cresciam sob tais condições nada mais conheciam da vida senão reides e blackouts, calamidade e morte. E não era nada fora do comum procurar um refúgio no lugar comum de abrigo. E uma ou duas horas mais tarde era dado o sinal de fim de alarme, e emergindo, voltavam às famílias para os seus lares, esperando conciliar um pequeno sono. Novamente estava no ar o locutor de rádio, desta vez contando o resultado desse reide, em especial. Entre outros edifícios, fora bombardeado o hospital, e a ala das crianças fora destruída, com perda de muitas vidas.

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Na manhã seguinte uma menina de oito anos desceu para o almoço, muito pálida. Tinha os olhos inchados. Estivera chorando. E assim a mãe indagou qual a razão, ―Oh, não foi terrível o bombardeio do hospital? Eu não podia deixar de pensar em todas aquelas criancinhas. Sabe, mamãe? E penso que até mesmo Deus deve ter chorado até dormir na noite passada.‖ Doce simplicidade. Mas podereis pensar em outro quadro mais belo de Deus do que este? Ele identifica ao Deus do Céu com Seus filhos dilacerados e torturados. Como disse Isaías, o Deus de amor e piedade ainda Se aflige em todas as suas aflições, e ainda sofre com Seu povo.

Quando o homem vê a Deus como Ele realmente é, um Salvador que sofre e Se compadece, é levado a Lhe entregar o coração. ―Eis aqui está o vosso Deus‖, foi à mensagem de Jeová à geração desnorteada do tempo de Isaías. (Isaías 40:9). As cidades de Israel haviam sido devastadas pelos invasores assírios, mas Deus ainda estava em Seu trono, e embora permitisse a calamidade sobrevi r a Israel, ainda sofria Com Seu povo. Para comover os homens, nossa pregação deve ser com certeza. Conquanto lidemos com o que é sobrenatural, e nossa visão sempre deve ser do outro mundo, assim mesmo não estamos proclamando mera teoria. Pregar a Cristo como sendo a divina revelação de Deus, a nós trazida pela luz interpretadora da literatura inspirada, é apenas a revelação do poderoso mistério de Deus. E esse tema é inexaurível, pois, nesse assunto, tocamos na própria natureza da Divindade, mergulhamos num oceano de incalculáveis profundezas. A Escritura fala da manifestação de Deus em Cristo como sendo o mistério da piedade. Mas a palavra ―mistério‖ não deve ser considerada como alguma coisa misteriosa, indefinida e intangível; é antes um mistério que só pode ser

{370} conhecido pelos iniciados. A inteligência humana pode apreendê-lo porque foi revelado; tem-se cristalizado na pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim vai o pregador para o seu glorioso trabalho de proclamar as realidades da redenção sabendo que ao focalizar a visão dos homens na Palavra feita carne, Aquele que procedeu do Pai, o faz na certeza de que qualquer pessoa, independentemente do fundo educacional ou cultural, pode aprender algo dessa verdade pela qual se toma um filho de Deus. Jesus disse: ‗Se alguém quiser fazer a vontade dEle, pela mesma doutrina conhecerá‘. O Espírito que esquadrinha as coisas profundas de Deus, é capaz de revelá-la até mesmo aos bebês. Mas a revelação dessa tremenda verdade deve ser feita com exatidão e certeza, pois só assim poderemos granjear a confiança. Lidamos com o sobrenatural, mas não com o que é irreal, O verdadeiro pregador da justiça não vem declarando negativas ou discutindo dúvidas. Não há incerteza quanto à mensagem apostólica. Paulo diz: Para o que (digo a verdade em Cristo, não minto) fui constituído pregador e apóstolo, e doutor dos gentios na fé e na verdade‖. 1 Tim. 2:7. ―Dai-me o benefício de vossas convicções, se é que tendes alguma‖, exclama Goethe. ―Guardai vossas dúvidas para vós mesmos. Eu tenho suficientes das minhas.‖ Isso bem exprime a atitude não somente de sua geração, mas a de cada geração. Um amigo visitou Davi Hume uma tarde e descobriu que estava prestes a sair de casa. ―Onde vai?‖ indagou ele. ―Ouvir George Whitefield‖, foi a resposta. ―Mas por que vai lá? O senhor não crê naquilo que ele diz‖, foi à réplica imediata. ―Não! Eu sei que não creio no que ele diz, mas ele crê, e eu gosto de ouvi-lo‖, respondeu o grande agnóstico. Os homens não estão procurando dúvidas e meras probabilidades, mas garantias e certezas. Quando pregamos a Cristo crucificado, ressurreto, ministrando

{371} e voltando outra vez, e pregamos com confiança e persuasivo poder, então é que os homens são apanhados e conservados. ―O mistério da encarnação de Cristo, o relato de Seus sofrimentos, Sua crucifixão e Sua ascensão, revelam a toda a humanidade o maravilhoso amor de Deus e isso comunica poder à verdade.‖ (10) Quando o próprio pregador está profundamente comovido pela magnificência de seu tema, quando é arrebatado pela magnitude de seu evangelho, então se vêem a verdade e a personalidade andarem juntas—a verdade se expressando pelo homem, o Senhor vivo feito novamente carne na consagrada personalidade de Seu mensageiro. É assim que nos tomamos hábeis ministros de Seu novo concerto. E bem podemos nós clamar como o apóstolo: ―Para estas coisas quem é idôneo‖ 1) Atos dos Apóstolos, pág. 46. 2) A Bíblia: Uma nova tradução feita por Tiago Moffat. Copyright 1935. Usado com permissão de Harper & Brothers 3) White, em Review and Herald, 19 de abril de 1906, pág. 8 (151).

4) White, Manuscrito 7, 1894 (169). 5) Jowett, op. cit., págs. 100 e 101. Usado com permissão de Harper & Brothers, Publicadores. 6) The Luggage of Life, pág. 179. 7) Testimonies for the Church Vol, 5, págs, 753 e 754.

8) Citado em Evangelismo Today, por Samuel Marinus Zwemer, pág. 16. Publicado por Fleming E. Revell Company. Usado Com permissão. 9) Obreiros Evangélicos. (3 ed.), pág. 156 (188). 10) White, em Review and Herald, 18 de junho de 1895, pág. 385.

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PREGAMOS A CRISTO CRUCIFICADO I CORÍNTIOS 1:23

21 UMA MENSAGEM CRISTOCÊNTRICA

Toda a religião falsa e toda perversão do cristianismo ensinam alguma forma de boas obras como qualificativo para ser aceito por Deus. A salvação, crêem eles, é uma recompensa de uma vida boa. Mas o verdadeiro cristianismo revela que a bondade humana não acrescenta absolutamente nada ao que já nos foi livremente dado na salvação consumada e perfeita que por nós foi operada na cruz. ―Pela graça sois salvos, por meio da fé... não vem das obras, para que ninguém se glorie.‖ Efé. 2:8 e 9.

A obra da graça é dupla. Salva-nos dos pecados do passado e nos leva a uma vida de santificação e santidade. As boas obras são a evidência, não a base, da salvação. A graça de Deus toma-nos primeiro filhos de Deus, então nos ensina a andar de maneira digna dessa elevada vocação. Leva-nos a graça a negar a impiedade e as concupiscências mundanas. A graça nos inicia no caminho cristão, e somente a graça terminará a obra de Deus em nosso coração. Tudo o que agora somos, e tudo o que venhamos a ser, é da graça. A salvação produz boas obras, mas as boas obras jamais poderão produzir salvação. Não podemos merecer a salvação; ela é gratuita, embora custe mais que dez mil mundos. Vem-nos

{373} por meio de Cristo em cuja justiça, somente, somos aceitos. Isto é o evangelho, e devemos levar essas animadoras novas até aos confins da Terra. Como um povo, somos chamados a proclamar as três mensagens angélicas de Apocalipse a cada nação, e tribo, e língua e povo. Nossa mensagem não é uma mensagem diferente, mas uma mensagem mais ampla que as verdades proclamadas pelos grandes reformadores.

Exaltai o Salvador ―Deve esta mensagem apresentar de maneira mais proeminente diante do mundo o Salvador ressurreto, o sacrifício pelos pecados de todo o mundo.‖ (1) ―Custo e Sua justiça — seja esta a nossa plataforma, a própria vida de nossa fé.‖ (2) ―Ela (a justificação pela fé) é a terceira mensagem angélica.‖ (3) ―O sacrifício de Cristo como expiação pelo pecado, é a grande verdade em torno da qual se agrupam as outras. - Apresento perante vós o grande, magno monumento de misericórdia e regeneração; salvação e redenção — o Filho de Deus erguido na cruz. Isto tem de ser o fundamento de todo o discurso feito por nossos ministros.‖ (4) Essas verdades não são apenas adornos, algo que deva ser acrescentado como uma espécie de especiaria no fim de um sermão; devem elas ser o fundamento de cada discurso. ―Nunca se deve pregar um sermão sem apresentar como a base do evangelho a Cristo, e Ele crucificado.‖ (5) Na cruz, vemos Deus fazer o supremo sacrifício em favor do homem, e não o homem fazer um sacrifício em favor de Deus. Antes de Deus nos pedir que façamos alguma coisa por Ele, já Ele fez alguma coisa por nós. E o fez em face da mais acérrima hostilidade do homem. Essas maravilhosas novas, esse amor infinito, são o próprio coração do evangelho eterno. E é esse evangelho que devemos levar ao mundo.

Ruskin certa vez declarou que se tivésseis de cortar uma polegada quadrada de qualquer dos céus de Turner, ali encontraríeis

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o infinito. Quando pregamos, deve nossa mensagem ser tão cheia de Cristo que se o povo tiver de tirar uma polegada quadrada de nossos sermões, seja levado a ―contemplar o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo‖. Foi dada a comissão de tornar bem claros os grandes fatos da redenção - a redenção que começou na mente de Deus, lá na eternidade passada, mas que será completa quando pecado for finalmente obliterado do universo. Grandes assuntos, tais como a encarnação de Deus, na carne humana, sacrifício todo-suficiente, Seu ministério sacerdotal no santo dos santos, a nossa santificação e obediência por meio de Seu Espírito que em nós habita, o poder, o propósito, e a iminência da volta de nosso Senhor, a aniquilação final do reino das trevas, a restauração do reino eterno da glória, a eterna comunhão na família do Céu — são estas as mensagens todo-abarcantes de Deus para esta geração.

Toda a Bíblia é uma Revelação de Cristo

Na proclamação dessas verdades que tanto abrangem, devemos acautelar-nos para que a luz não deixe de ser focalizada no Filho de Deus. No grande drama não deve o divino Herói ser obscurecido por um mero cenário de palco. Ao apresentarmos o tremendo panorama da verdade doutrinária e profética, tenhamos a certeza de conservar o Salvador constantemente em vista. Ele Se encontra em toda parte das Escrituras, pois ―toda a Bíblia é uma manifestação de Cristo‖. (6) ―Em toda a página, seja história, preceito ou profecia, irradia nas Escrituras do Velho Testamento a glória do Filho de Deus... cada sacrifício, mostrava-se a morte de Cristo. Em cada nuvem de incenso, ascendia Sua justiça. Seu nome ressoava com cada trombeta de jubileu.‖ (7) ―Pois, devidamente compreendida, a Escritura está toda cheia de Cristo, e tudo tem por fim apontar a Cristo como nosso único Salvador. Não é somente a Lei, que é um mestre-escola que leva a Cristo,

{375} nem os tipos que são sombras de Cristo, nem ainda as profecias que são predições de Cristo, mas todo o Velho Testamento está repleto de Cristo.‖ (8) O reconhecimento disto sempre nos inspirará um estudo mais acurado da Palavra de Deus. Há na Inglaterra um brocardo que diz que ―Todas as estradas levam a Roma‖. Todo o trilho sinuoso do campo leva a um caminho que, embora bem distante, conduz irá, por fim, à Capital. Assim, cada texto levará afinal a Cristo, que é o centro, o sublime objetivo de toda a Escritura. Enquanto examinamos as Escrituras em busca de mais fortes argumentos em apoio da verdade doutrinária, busquemos constantemente conceitos mais claros do Cristo salvador, que é a verdade. Deve a Bíblia ser comparada aos enigmas em quadros que tão bem conhecíamos há uma ou duas gerações. O artista desenhava a cena de uma casa num jardim bem organizado. Árvores e flores adornavam a paisagem, e por baixo estavam as palavras: ―Procure o homem‖. As vezes não era fácil localizá-lo. Mas, concentrando-nos tempo suficiente no quadro, sempre podíamos, por fim, descobrir o

homem. Assim devemos procurar o Homem Cristo Jesus. E deve Ele ser encontrado em cada página da Escritura, encrustado em cada história bíblica. Cada profecia e cada doutrina irradia Sua glória. Assim como o prado cintila de manhã com a glória do Sol nascente, porque cada gota de orvalho recebe sua pr6pria visão do astro do dia e reflete todo o Sol, - assim fulgura a Bíblia com a glória de Emanuel. Os parágrafos proféticos e biográficos cintilam, com a presença de Jesus. ―São elas que de Mim testificam‖, disse o Salvador. DE le verdadeiramente testificam as Escrituras—de Sua graça salvadora, Seu amor perdoador, e Seu Espírito que santifica. E quando nossa pregação se centralizar no Salvador, quando nossa ênfase for dada a Cristo e à Cruz, então nossa pregação será com poder.

{376} Quando apresentamos assuntos tão sublimes, como selam a expiação e o ministério sacerdotal de Cristo, edificamos nós sobre o fundamento certo da cruz e da ressurreto? O Desejado de Todas as Nações é Indubitavelmente o livro mais maravilhoso que há sobre a vida e o ministério de nosso Senhor. Nele o sacrifício expiatório de Cristo é realçado com uma nota de certeza que a igreja bem faria em retomar. Notai estas palavras: ―Cristo não entregou Sua vida antes que realizasse a obra que viera fazer, e ao exalar o espírito, exclamou: Está consumado. Ganhara a batalha. Sua destra e Seu santo braço Lhe alcançaram a vitória. Como Vencedor, firmou Sua bandeira nas alturas eternas. Todo o Céu triunfou na vitória do Salvador. Satanás foi derrotado, e sabia que seu reino estava perdido.‖ (9) Da mesma autora, lemos em Obreiros Evangélicos: ―O Capitão de nossa salvação está intercedendo por Seu povo, não como um suplicante que quer mover a compaixão do Pai, mas como um vencedor, que reclama os troféus da Sua vitória. Ele é capaz de salvar perfeitamente a todos quantos se aproximam de Deus por intermédio dEle. Tornai bem claro este fato.‖ (10) Notai, Ele não é um suplicante, mas um conquistador. Não está procurando mover a compaixão do Pai. Ao contrário, reclama os troféus de Sua vitória. A própria base de Sua intercessão é o Seu todo-suficiente sacrifício. Como conquistador, nosso Salvador implantou Sua bandeira nas alturas eternas e ali, na presença de Deus, o Pai, reclama Seus filhos, comprados por Seu sangue. E este fato deve ser tornado bem claro. Deve Ele ser o fundamento de toda a nossa pregação. Deve-se dar ênfase ao que Deus fez e não ao que nós estamos fazendo; ao que o Senhor já realizou e não apenas ao que Ele vai realizar na Sua segunda vinda. Maravilhosa é a mensagem da iminente volta de Jesus, mas é o Seu primeiro advento que toma possível o segundo advento. Está consumado! Consumada está a grande transação. ―Eu sou do Senhor

{377} e Ele é meu.‖ Apresentar o sacrifício de Cristo à maneira apostólica, dá poder à nossa pregação.

―A força impelente da primitiva missão cristã não era a propaganda de belas idéias quanto à fraternidade dos homens; era uma proclamação dos poderosas atos de Deus.‖ (11)

A Cruz — Tragédia e Triunfo A cruz foi uma negra tragédia, mas também foi glorioso triunfo. Foi um símbolo de vergonha, mas se tornou um emblema de vitória. Não percamos a realidade em mero sentimentalismo. Jesus foi um franco realista. Enfrentou um mundo hostil porque representava um reino mui diferente daquele em que os homens viviam. No começo de Seu ministério, falou acerca de o homem tomar a sua cruz e seguir pelo trilho da impopularidade até mesmo ao lugar da morte. Noutra ocasião, declarou que a única maneira de o homem poder entrar em Seu reino era nascer nEle. Sem a morte e o renascimento nem mesmo podia o homem ver o reino de Deus. Mas o homem não nasce de novo sem agonia. Antes da vitória da vida deve primeiro haver a tragédia da morte. A morte do eu e do pecado. E essa crucifixão deve ser voluntária. Não admira que Sua mensagem despertasse alguma hostilidade, pois ela interrompia a corrente do pensamento secular. Algumas coisas eram, em verdade, ―palavras duras‖. Até mesmo os discípulos descobriram isto. E assim mesmo as multidões confiavam em Suas palavras. Atraía o povo pelo poder do Seu apelo.

Ele estabeleceu novas normas de avaliação. O verdadeiro êxito, declarou, não pode ser aquilatado por quão alto alguém sobe no mundo; pois aí estava o Criador e Juiz de todos nós, o próprio Senhor, descendo cada vez mais sim, descendo finalmente até a morte de criminoso. Sabia que Sua

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mensagem não era compreendida, e não se surpreendeu quando notou que Ele mesmo não era popular. Até os antigos vizinhos de Nazaré dEle escarneciam. Sabia qual seria o Seu fim e predisse todo ele. Declarou a Seus discípulos que seria rejeitado pelos guias religiosos daqueles dias, e, ainda mais, que até mesmo eles O abandonariam. Certamente isso deve ter soado de maneira estranha aos ouvidos de homens que haviam dedicado a vida a Sua causa. Haviam voltado as costas aos seus negócios e lançado sua sorte com um movimento impopular. Mas tudo o que Ele predisse veio a acontecer. Sigamos até à cena da agonia e Lhe ouçamos a oração. E profundamente significativa; Ele diz: ―Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem!‖ Era essa a dificuldade: Eles não sabiam. A turba não sabia. Judas não sabia (embora devesse ter sabido). Caifás não sabia (e certamente deveria ter sabido). Pilatos não sabia. Até mesmo os discípulos não sabiam. Ninguém sabia. Parecia que uma cegueira moral universal prevalecia naquele dia terrível. Somente Jesus sentia a significação do que estava acontecendo, visto que num dia inesquecível os dois grandes poderes espirituais do universo colidiram. A cruz foi um lugar de terrível conflito. Rugia a batalha, mas a vitória foi ganha pela morte, e agora a cruz se torna o símbolo de poderosa conquista. Ali vemos o Homem nas Suas melhores condições, e o homem em suas piores condições. Ainda mais, vemos também a Deus enfrentando a questão com um poderoso manifesto de inesgotável amor. E esse manifesto foi que Jesus exprimiu em Sua oração. Nem uma nem duas vezes, mas repetidas vezes continuou dizendo: ―Pai,

perdoa-lhes‖. Assim é que reza no grego. Não foi apenas uma oração espasmódica, mas uma oração contínua. Durante aquelas terríveis horas de agonia e insulto conservou-Se orando pelo perdão de Seus inimigos. Através do abismo que O separava de Seus crucificadores, lançou uma ponte de reconciliação. Foi esta a resposta de Deus

{379} àquele terrível ato. Podia Ele ter estendido a mão e tomado da espada do Onipotente, lançando aqueles perseguidores na perdição. Com uma palavra podia ter Ele esmagado aos Seus crucificadores. Em vez disso, porém, falou a palavra de perdão, pleno, gratuito, eterno. As cenas da crucifixão não eram desconhecidas de Jesus. Sem dúvida já havia contemplado muitas. Era a maneira comum de Roma executar a penalidade máxima. Quando Jesus tinha apenas onze anos de idade um grupo de galileus revoltou-se contra Roma, o que trouxe rápido julgamento. Foi isso em 7 A. D. Soforis, cidade que distava poucas milhas de Nazaré, foi queimada até ao chão, e centenas de jovens foram crucificados. Essa trágica cena deve ter exercido profunda impressão em Sua mente juvenil, pois muito cedo, nos Seus ensinos, introduziu o pensamento de que a vida crucificada é à base da vida vitoriosa. A crucifixão, contudo, era uma horrível tortura. Não somente era um violento esforço físico, mas uma vergonha moral. Era um símbolo de desgraça. Jesus tomou a crucifixão o símbolo da morte espiritual para o pecado, e falou acerca de o homem ter de tomar a sua cruz e segui-Lo até a morte. Mas a crucifixão de nosso Senhor não foi uma execução ordinária. Sua morte foi uma morte substituinte. ―Ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades.‖ Isa. 53:5. Nessa cena somos participantes e não espectadores. Nós O crucificamos. Foram os nossos pecados que O pregaram no madeiro, embora fossem os soldados romanos que bateram os pregos. Aquele que não conheceu pecado, foi feito pecado por nós, para que nEle nos pudéssemos tomar justiça de Deus. Ele pagou a pena dos pecados e vergonhas de todos os séculos. Sobre Ele caiu ―a iniqüidade de nós todos‖. Todos os pecados passados, presentes, e futuros da humanidade recaíram sobre Ele, Ele morreu pelos pecadores e em companhia de

{380} pecadores. Não foi crucificado sozinho. Três cruzes apareciam naquele dia no horizonte em crepúsculo do Gólgota. Três homens foram crucificados juntos. Dois eram ladrões. Um morreu rendendo a vida, desprezando a salvação. O outro morreu recebendo vida, aceitando a salvação Mas Jesus morreu dando vida, oferecendo salvação. ―Dou a Minha vida,‖ disse Ele. ―Ninguém Ma tira de Mim, mas Eu de Mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tomar a tomá-la. Este pensamento recebi de Meu Pai.‘ S. João 10: 17 e 18. O relato é breve — ‗O crucificaram, e com Ele outros dois, em de cada lado, e Jesus no meio‖. S. João 19:18. Embora o relato seja simples, a cena é eternamente simbólica, pois toda a raça se divide no Calvário.

Uma Mensagem de Alegria Sim, há o Cristo com amor perdoador ao nosso lado no madeiro. E todo o que quiser pode ter a vida, amor e perdão. Mas se o pregador quiser fazer com que sua mensagem se tome as boas-novas de salvação, deve ele mesmo fremir com as boas-novas. Deve o gozo de Jesus extravasar do seu próprio coração. A pregação obscura geralmente é o produto de uma teologia obscura. Não é de oratória que o povo precisa. As frases polidas e a retórica impecável são impotentes em si mesmas para mover o coração do homem para Deus. A mera linguagem pode até mesmo ser uma barreira contra o evangelho. (―A letra mata, e o espírito vivifica.‖ II Cor. 3:6.) Mas quando do coração do pregador extravasa a alegria de Jesus, o povo se alegrará e responderá, e, se necessário, até mesmo perdoará os erros gramaticais. Alegam alguns eruditos que até mesmo Paulo se confundia em questões gramaticais. Talvez o fizesse. Mas devemos censurá-lo? Sua mensagem era maior que seu grego. A salvação

{381} é maior que qualquer linguagem. Mas ouvi-o pregar, ou lede os seus escritos, e imediatamente reconhecereis que sua mensagem vem fresca do trono da graça. Vibra com o gozo do evangelho. Nunca é enfadonha. ―Ponde as mais vigorosas energias no trabalho e não permitais que a menor letargia... seja vista em vossos esforços... Qualquer coisa, menos discursos doentios.‖ (12) ―Deve a eficácia do sangue de Jesus ser apresentada ao povo com vigor e poder, para que sua fé possa apropriar-se de seus méritos.‖ (13) Notai a maneira em que Isaías dá sua mensagem ao Povo: ―Eis que Deus é a minha salvação‖, canta ele, ―E vós com alegria tirareis águas das fontes da salvação. . .Cantai ao Senhor. . Exulta e canta de gozo, os habitante de Sião, porque grande é o Santo de Israel no meio de ti.‖ Isa. 12:2-6. O mensageiro de Deus não é um anunciador de condenação, mas arauto de esperança. Novamente notai as palavras de Isaías, do capítulo quarenta, versículo nove:

―Tu, anunciador de boas-novas a Sião, Sobe tu a um monte alto.

Tu, anunciador de boas-novas a Jerusalém, Levanta a tua voz fortemente;

Levanta-a, não temas, E dize às cidades de Judá: Eis aqui está o vosso Deus!‖

O próprio arauto deve fremir com as boas-novas. Seu próprio coração se deve aquecer ao apelar aos homens das grandes e pequenas cidades para que contemplem ao seu Salvador. Se isso era verdade nos tempos do velho testamento, certamente muito mais verdade é hoje. A religião de Cristo á um peã de louvor, não um canto fúnebre.

Carlos Wesley almejava ter mil línguas para cantar as maravilhas do Seu nome. Mas se tão-somente usássemos aquela que temos, faríamos com que Seu louvor soasse por todo o

{382} mundo. Um ministro tímido, sem vida, monótono, é uma insolência. As palavras do Dr. Jowett fazem pensar: ―Nada há que me seja mais desagradável, ao me mover por eu e as pedras veneráveis e as dominantes presenças da abadia de Westminster, do que ouvir a exposição fria, desanimada e destituída de admiração dos guias oficiais. Sim, ainda há uma coisa mais desagradável, ouvir o grande evangelho do amor redentor ser recitado com a apatia metálica de um gramofone, com o frio afastamento de uma máquina nada apreciativa. É esse é o nosso perigo. O mundo está cansado do que é meramente oficial, e faminto do homem vivo. Deseja mais do que um paladar, procura um profeta. Deseja mais que um indicador, procura um Bravo que conheça o caminho para Sião. (14) ―Quanto mais claramente o ministro discernir a Cristo e se apropriar de Seu Espírito, com tanto maior força pregará ele a verdade simples da qual Cristo é o centro.‖ (15) Precisamos de que Seu Espírito nos salve de um frio oficialismo. De tal maneira nos devem comover os grandes fatos da redenção que os que nos ouvem, saibam que nosso próprio coração jorra como poços de alegria. As tremendas verdades que proclamamos nunca se devem tornar uma teologia enfadonha. Devem estar radiantes com a plena alegria do evangelho. Devemos conhecer por experiência o que é ter a vitória sobre o pecado e a morte. Este foi o característico das testemunhas apostólicas. Pegai a nota de triunfo dos escritos de Paulo. Ele viu a cruz ser iluminada por uma glória que irrompia do sepulcro vazio. Lede-lhe os capítulos sobre a ressurreição. Vede como esse invencível evangelista proclama a certeza do evangelho. Ele o toma real, dando primeiro uma lista da negra e sombria perspectiva que haveria, se Cristo não tivesse ressurgido dentre os mortos. ―Não teríamos mensagem cristã,‖ diz ele. ―Não haveria absolutamente nenhuma esperança. A fé seria vã e nós ainda estaríamos em nossos pecados. Mais que isto: Os que adormeceram em Jesus, estariam perdidos.‖ Certamente este é um quadro negro

{383} e trágico — não há mensagem; a fé é vá; as esperanças esgotadas, frustradas, despedaçadas. Então levantando-vos do dilema, contemplai-o ao galgar ele as alturas de Deus. Vede-o com um pé no demônio da morte e o outro sobre a sepultura. Então pondo nos lábios a trombeta de Deus, toca uma mensagem de esperança para a raça perdida. ―Mas agora Cristo ressuscitou dos mortos, e foi feito as primícias dos que dormem.‖ 1 Cor. 15:20. É uma verdade que abala o mundo, uma mensagem que deve ser ouvida até aos confins da Terra, Tudo foi perdido pelo pecado, mas tudo é agora recuperado em Cristo. O mundo está redimido. A vitória é nossa. A morte não tem mais aguilhão; a sepultura não tem nenhuma vitória. ―Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo.‖ 1 Cor. 15: 22. ‗Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.‖ Verso 57. Isto estabelece a norma para os pregadores de hoje. Exaltai a Cristo. Mostrai como fie penetrou nos domínios do demonismo; como abalou os poderes das trevas, como lançou uma ponte sobre o abismo que havia entre dois mundos, e trouxe aos cativos do pecado eterna salvação. Este é o evangelho, e ele deve fazer fremir a alma de cada pregador, ao sair a proclamar liberdade aos cativos a abertura de prisão aos presos.

Contrastando a Vida Com a Morte Mas se quiserdes tornar a verdade ainda mais cativante, segui o método do Mestre. Contrastai os jubilosos fatos da eterna salvação com os trágicos fatos da perda eterna. Os E atos são sempre mais convincentes quando revelados em contraste. Esse é o motivo de Jesus ensinar a verdade por contrastes. Muitas de Suas mais grandiosas verdades foram declaradas em palavras tão simples como as que seguem: ―Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem

{384} perder a sua vida por amor de Mim, achá-la-á. Pois que aproveita o homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma?‖ S. Mat. 16:25 e 26. Nada há complicado no que Jesus ensinou, pois Ele o tornou natural. O texto mais conhecido em toda a Bíblia, é um exemplo de Sua norma divina de pregar. De um lado, apresenta Jesus o trágico quadro de um mundo perdido, uma raça a perecer, a morte eterna. Do outro lado, em glorioso contraste, coloca o amor de Deus, uma raça redimida, o Seu incomparável dom, e a vida eterna. Entre esses grandes picos está a humanidade.

O amor de Deus / Um mundo perdido Seu Incomparável dom / O dom é desprezado Uma raça redimida / Uma raça que perece A vida eterna / A morte eterna

Todo Aquele

Até mesmo o incrédulo Ingersoll disse: ―A vida é um estreito vale entre os picos gelados e áridos de duas eternidades.‖ A sua filosofia era uma filosofia sem esperança, mas ele reconhecia os fatos. Moisés, o grande ensinador dos tempos usou a mesma técnica de contraste. No livro de Deuteronômio, temos as grandes alocuções e apelos finais desse mestre da revelação divina. Jesus tirou mais citações de Deuteronômio do que de qualquer outra Escritura. No capítulo 30:19, lemos: ―Te tenho proposto a vida e morte, a bênção e a maldição: Escolhe pois a vida.‖ Não há uma terceira alternativa. Nunca há. E então, para tornar a verdade mais vivida, Me dramatiza a mensagem da salvação. Chamando representantes de seis das tribos de Israel, coloca-os no Monte Gerizim para representar a bênção e a vida. Depois, tomando representantes das outras seis tribos, coloca-os no Monte Ebal, para representar a maldição e a morte.

Tendo assim estabelecido um contraste entre a vida e a

{385} morte, apela à nação, e a cada homem, mulher e criança, dentro dela, para que escolha a vida. Sua própria existência e seu serviço à humanidade, dependiam de sua escolha. Mas as verdades que ele proclamou três milênios atrás são hoje justamente tão vitais como naqueles dias. Como o grande guia de Israel, devem os pregadores desta geração expor as questões de vida e morte de maneira tão clara, tão apelante, que os homens se sintam compelidos a escolher a vida eterna. Flutuam os homens nos ―nebulosos baixios‖. Nas palavras do profeta: ‗Multidões, multidões, no vale da decisão‘ Joel 3:14. Devemos conduzi-las a Deus. É privilégio do pregador galgar primeiro o monte da vida e da bênção; então, tendo apanhado a visão, voltar aos vales onde os homens trabalham e lutam, e, como Coração Grande, reconduzir alguns ao terreno alto da salvação. O objetivo de cada sermão é elevar os homens dos baixios do eu e do pecado, conduzindo-os à presença do Deus vivo. Essa é a verdadeira pregação. O mensageiro enviado de Deus ―revelará o caminho da paz ao atribulado e desanimado, mostrando a graça e a perfeição do Salvador‖. A pregação é um método divino, e quando é feita do modo que Deus quer torna-se grandioso poder.

O diagrama seguinte apresenta o verdadeiro propósito da pregação. Justamente como o Peregrino, da inspirada alegoria de Bunyan, largou seu fardo ao enfrentar a cruz, assim também a alma que galga as alturas, deixa no vale seu fardo de pecado. A cruz é a grande porta pela qual passamos para o terreno elevado de Deus. E, à porta, está o Salvador oferecendo os símbolos de Seu amor, que cada um deve tomar, se quiser passar para a vida. Não se pode comprar a salvação. Ela é um dom. Não fazemos nosso caminho para a cruz, mas tendo recebido a salvação eterna, continuamos a operar por uma vida de completa santificação, a salvação que é nossa em Cristo. É como um depósito no banco — devemos possuí-lo antes de dêle podermos sacar, antes que este possa

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ser gasto. E por meio da justiça imputada e comunicada de Cristo que nossa vida se torna inteiramente santificada. Nela tudo o que temos e ainda venhamos a ter, vem-nos pela graça de Deus.

Readquirindo o Remanescente Isaias apresenta belo quadro de Deus readquirindo Seu povo das extremidades mais distantes da Terra. Em linguagem vívida, descreve como o Israel espiritual deve ser trazido dos quatro cantos da Terra, para o preparo para a volta do Senhor. Diz-me: ―O Senhor tomará a estender a Sua mão para adquirir outra vez os resíduos do Seu povo‖. Isa. 11:11. Estas palavras ―adquirir outra vez‘, são especialmente interessantes. Vêm da palavra hebraica ganah, e significam adquirir, obter por compra, comprar de novo, redimir. Referem-se a uma prática bem conhecida do profeta, pois vivia naquele trágico tempo em que homens e mulheres eram comprados e vendidos nos mercados de escravos. A escravidão é um negócio cruel, insensível, diabólico. Contudo, nem todo o senhor de escravos era rude e cruel. Alguns tinham bom coração e eram compassivos. Não somente os escravos, mas também os senhores eram vítimas de um ambiente mortal. Aqueles dias eram maus. Mas, apesar das baixas normas de moralidade, às vezes um homem abastado comprava um escravo a fim de pô-lo em liberdade. Mais do que isto, tem-se ciência de que, em raras ocasiões, escravos têm sido adotados como membros da família de seus senhores, garantindo- lhes assim sua adoção absoluta liberdade e comunhão. Ora, fazei a aplicação desse maravilhoso texto da Escritura. O Deus de amor e de piedade vai aos mercados do pecado e da escravidão, e, como um homem abastado, resgata homens e mulheres de uma raça perdida, tornando-os livres em Cristo. Então os adota e os exalta dando-lhes a filiação em Sua família, e finalmente os toma possuidores do universo, como ―herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo‘.

Que tremendo conceito! Que maravilhosas novas! Pensai, então, no preço que Ele pagou para fazê-lo. Mas está feito, graças a Deus, está feito. Certo homem, ao viajar de trem por uma estrada um tanto monótona, pouco ou nada tinha a fazer. Contemplando da janela do trem a paisagem que passava, começou a cantar calmamente para si mesmo, aquele velho cântico evangélico: ―Desde que alcancei perdão, a Jesus eu louvarei.‖ No assento oposto, estava um ministro, que, conhecendo o hino, um tanto inconscientemente a ele se juntou. Ao continuarem, cantaram com maior zelo. Ao terminarem, o ministro falou num tom amigável ao companheiro de viagem. Disse-lhe: ―O senhor canta este hino como se o sentisse. Quanto tempo faz que foi redimido?‖ ―Mil e novecentos anos, senhor‘, foi a alegre resposta. ‗Oh, quero dizer, quanto tempo faz desde que o senhor foi redimido.‖ Mil e novecentos anos, senhor,‘ foi ainda a confiante resposta. Temendo o ministro que houvesse iniciado conversação com alguém um tanto fanático, apenas sorriu e disse: ―Oh, sim Eu vejo‖. E apanhando de novo o jornal, começou a ler. Mas o outro, notando a situação, falou alto dizendo: ―Desculpe-me, senhor, não quero que me compreenda mal. Eu fui redimido mil e novecentos anos atrás, mas a tragédia é que, faz apenas dois anos, que eu o descobri!‖ Graças a Deus que ele o descobriu. E um pouco de reflexão revelará que ele sabia mais sobre a verdade da justiça pela fé, que o ministro. Não admira que cantasse aquele hino como se o sentisse. Provavelmente não conhecia tanta teologia como o ministro, mas conhecia o evangelho e experimentava a alegria da comunhão com Cristo. Apanhara a ―grande idéia‖, e sua alma cantava o cântico da salvação. Para ele, a redenção era mais do que uma teoria, e teologia; era um fato e uma realidade. 1) Testemunhos para Ministros, pág. 91 (190).

2) White, em Review and Herald, 1 de agasto de 1905, pág. 8 (190). 3) Idem, 1 de abril de 1890, pág. 193 (190). 4) Obreiros Evangélicos, (3 ed.), pág. 315 (190). 5) Idem, págs. 158 e 159 (186)

6) Obreiros Evangélicos, (3 ed.), pág. 2S0. 7) O Desejado de Todas as Nações, (3 ed.), págs. 151 e 152, 8) Alfred Edersheim, The Bible History, Vol. 7, pág, xiii. 9) Pág, 565. (3 ed.),

10) Págs. 154 e 155, 11)Stewart, op. cit. pág. 63, Usado com permissão de Charles Scibner‘s Sons, Publicadores, 12) White, Carta 48, 1886 (181). 13) Testemunhos para Ministros, pág. 92 (191).

14) Jowett, op. cit., pág, 102. Usado com permissão de Harper & Brothers, Publicadores. 15) White, em Review and Herald, 24 de março de 1896, pág. 178 (181).

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QUERÍAMOS VER A JESUS

S. JOÃO 12:21 22

PREGANDO A CRISTO NA VERDADE PRESENTE

Um ministro que se distinguia por seu vivo espírito analítico e por suas aproximações um tanto argumentativas, subindo ao estrado do púlpito, certo dia, encontrou, para sua surpresa, estas palavras escritas num cartão que jazia sobre o púlpito: Senhor, queríamos ver a Jesus‖. Evidentemente este ali fora colocado pelos diáconos. Imediatamente reconheceu que isso era uma silenciosa censura ao seu filosofar abstrato e às suas apresentações doutrinárias frias e destituídas de Cristo. Isto o levou a cair, arrependido, de joelhos, pois reconheceu que estava deixando de alimentar o rebanho. Voltou-se para Deus em busca de orientação e auxílio, para poder mudar o ponto enfatizado, O Senhor lhe ouviu os rogos, e logo foi tomado de novo poder, ao começar a pregar a Cristo e Este crucificado. A congregação logo notou a diferença, e embora nada fosse dito sobre o assunto, tanto pelo pastor como pelo auditório, no entanto, certa manhã ao ir pregar, viu de novo, para sua surpresa, e desta vez para seu deleite, que outras palavras das Escrituras estavam no púlpito: ‗De sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor‖. S. João 20:20. ―Queríamos ver a Jesus‖ bem poderia adornar cada púlpito.

{391} De fato, já vi essas palavras gravadas em bronze e presas a certo púlpito, justamente onde o pregador as pode ler, antes de começar a pregar. Pode não ser tão importante telas gravadas em todos os púlpitos, mas devem estar gravadas no coração de cada pregador. Verdadeiramente feliz é a congregação da qual em verdade se pode dizer: ―Ninguém viram senão unicamente a Jesus‖. S. Mateus 17:8. Mas como podemos nós tornar a cruz o centro de cada sermão, quando pela própria natureza das coisas somos chamados a desdobrar as grandes profecias que se relacionam com a volta de nosso Senhor? Não ensinam as igrejas cristãs, em geral, a primeira vinda? Não deve nossa ênfase ser dada principalmente à segunda vinda?‖ São estas algumas perguntas honestas enviadas por um jovem evangelista. Merecem boa resposta. Certamente devemos salientar o segundo advento. A volta de nosso Senhor está perto. As grandes profecias do tempo pelas quais podemos localizar o tempo em que vivemos, são-nos dadas por Deus para que possamos ajudar os homens a reconhecerem que o próximo grande evento do programa divino será o estabelecimento do reino eterno de Deus. E assim mesmo, ao desvendarmos o grande panorama dos séculos, devemos ter a certeza de que conservamos a cruz como ponto central de nosso pensamento. Não poderia haver segunda vinda sem a primeira. A primeira vinda, possibilita a segunda, e a segunda, torna a primeira eficaz. Ele vem com poder e grande glória, para consumar o que começou no Calvário. Da primeira vez, Ele veio para comprar o Seu povo. A segunda vez, vem para reclamar a Sua posse.

O maravilhoso quadro apocalíptico de Sua volta em triunfo e majestade, apresenta-O vindo como: ―Rei dos reis e Senhor dos senhores‖. Como conquistador, é visto chefiando os exércitos dos Céus. É uma cena de indescritível glória. No entanto, no cen tro de tudo isso está o símbolo de Seu sacrifício.

{392} ―Ele traja vestes batizadas de sangue‖. Quando o Salvador vier receber o Seu povo, aqueles a quem Ele resgatou do poder da tumba, trará consigo o recibo do preço da redenção que pagou. O profeta descreve a igreja, aqueles por quem Ele vem, como estando vestidos ―de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino, são as justiças dos santos‖; mas Ele mesmo usa vestes vermelhas de sangue. Ainda que chamados a proclamar o segundo advento, nunca nos devemos esquecer de que Cristo e Sua justiça são os aspectos centrais de nossa fé. As profecias nos foram dadas para que pudéssemos conhecer a maneira e o tempo de Sua vinda. Mas, mais importante que o tempo de Sua vinda, e mais decisivo que a maneira de Sua vinda, o nosso preparo pessoal para a Sua vinda. Meros conhecimentos teológicos não bastam. Naquele terrível dia alguns lamentarão amargamente, declarando: ―Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos‖. Jer. 8:20. Outros até mesmo apelarão da sentença, dizendo: ―Não profetizamos nós em Teu nome?... e em Teu nome não fizemos muitas maravilhas?‖ Mas o Senhor lhes dirá, ―Nunca vos conheci‖. S. Mat. 7: 22 e 23. Então eles alegam que foram obreiros na causa e pregaram em Seu nome. Mas enquanto prepararam seus sermões, não se prepararam a si mesmos e nem a seu povo. A obra dos que proclamam a mensagem da hora do juízo é aprontar um povo que esteja preparado para o Senhor. A pregação não deve somente informar; deve Transformar homens. E só a pregação da cruz o pode fazer.

O Duplo Objetivo da Profecia Deve haver duplo objetivo na pregação das profecias. Enquanto a profecia revela o futuro, deve também revelar o Salvador. Quando Pedro falou acerca da segura palavra da profecia, disse: ―Bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela

{393} da alva apareça em vossos corações‖. Essa manhã raiará e as sombras da longa noite terrena desaparecerão com o esplendor do d ia eterno. Mas na mesma sentença menciona o apóstolo mais alguma coisa. Declara que a Estrela da Alva deve raiar em nosso coração. É isso algo de que não nos devemos descuidar, pois a menos que um novo dia tenha raiado no coração de nossos ouvintes, a vinda do Salvador não será o dealbar de um dia eterno de alegria e sim a aproximação de uma noite eterna de tristezas. E devem os pregadores dessas profecias saber por experiência que a Estrela da Alva o Sol da Justiça, já raiou em seu próprio coração. E a menos que assim seja, pouca iluminação espiritual advirá de seu ministério. A profecia é importante, mas sua função é a do andaime para com o edifício. ―Seja qual for o aspecto do assunto a ser apresentado, levantai a Jesus como centro de toda a esperança‖ (1) ―Em cada discurso, seja ele doutrinário ou não, desejamos que Jesus Cristo seja apresentado distintamente, como João declarou: ‗Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.‖ (2)

Revelando a Cristo nas Profecias de Daniel Alguns pensamentos da familiar profecia do segundo capítulo de Daniel me podem habilitar a esclarecer esse ponto. É esta talvez a mais simples de todas as profecias de tempo. Conhecemo-la tão bem: O sonho do rei, sua ordem definida, o fracasso dos sábios, o cruel decreto real, o pedido de tempo feito por Daniel, a revelação de Deus em resposta à oração, o jovem mensageiro diante do rei, a revelação do propósito divino, a descrição do levantamento e da queda de impérios, a derrocada final dos reinos deste mundo, e o estabelecimento do reino eterno de paz. Foi esse realmente um sonho impressionante, e por ele Deus apelava ao mundo pagão. Nele revelou a natureza efêmera dos impérios terrenos e como os reinos deste mundo

{394} dariam finalmente lugar ao estabelecimento de um reino eterno. Cada aspecto da história é cativante, mas a chave de toda a profecia é a declaração de Daniel ao rei: ―Há um Deus nos Céus, o qual revela os segredos‖. A palavra revela, numa forma ou noutra, é usada sete vezes nesse capítulo. Pode ser chamada a palavra-chave do capítulo. Deus estava em verdade revelando o futuro, mas o Seu verdadeiro propósito era revelar-Se ao rei. E essa revelação é a maior coisa em toda a História. E Daniel teve êxito em inculcar essa mensagem no coração do rei. Isso de tal maneira impressionou a Nabucodonosor que, no fim da interpretação de Daniel, ele disse: ―Certamente, o vosso Deus é Deus dos deuses, e o Senhor dos reis, e o revelador dos segredos‖. A profecia revela o futuro, mas seu grande objetivo é revelar a Deus. Como ensinadores da palavra profética devemos ter o cuidado de por a ênfase no seu devido lugar. ―Deve o agente humano ser conservado fora de vista... Lede o livro de Daniel... E vede como Deus operou para abater o orgulho dos homens, e lançar por terra a glória humana.‖ (3) Lançar por terra a glória humana e elevar os homens a glorificarem ao Deus vivo, é o verdadeiro objetivo de todo o estudo da Bíblia. O verdadeiro estudo da Bíblia traz consigo o claro reconhecimento de que a mensagem central de todas as Escrituras é a justiça pela fé. Essa verdade deve-se tomar central no estudo do livro de Daniel. O sonho foi dado a Nabucodonosor não somente para que este pudesse conhecer o futuro, mas para que viesse a conhecer ao Deus vivo e verdadeiro, o único que conhece os segredos do coração humano e constantemente busca revelar ao homem o segredo de Seu próprio coração — o evangelho da salvação. Esses impressionantes capítulos do livro de Daniel trazem à luz três experiências especiais—o sonho da imagem (cap. 2), o ordálio da fornalha ardente (cap. 3), e o sonho

{395} da grande árvore (cap. 4). Por elas dava Deus o evangelho a Babilônia. Três mensagens chegaram à Babilônia antiga, justamente como três são as mensagens que estão sendo hoje dadas à Babilônia moderna. No capítulo dois Nabucodonosor descobre que Deus é o grande Revelador que revela o futuro e a Si mesmo Se revela. No capítulo três vê ele a Deus como sendo o grande Libertador, que honra Seus servos fiéis, libertando-os da fornalha ardente. No capítulo quatro, aprende que Deus é o Governador todo-poderoso, que executa Sua própria vontade nos exércitos do Céu e entre os habitantes da Terra. (Dan. 4:35.) Com suas próprias palavras conta o rei a história de seus sete anos de alienação mental e sua horrível humilhação. Apresenta ele esse triste capítulo de sua história com o fim de dar testemunho de sua conversão. Foi-lhe difícil aprender as lições da vida, mas finalmente veio a compreender o que todo o mundo precisa entender: a saber, que apesar de tudo que os ditadores possam fazer, é o Altíssimo quem governa o reino dos homens. É Deus, o Deus vivo, que está dirigindo o mundo. Aprendida pelo rei essa lição, submeteu ele sua vontade a Deus e Lhe entregou o coração. Mas para que a aprendesse, verdadeiramente teve Deus de lançar por terra a glória humana.

No capítulo seguinte é apresentado o orgulhoso, jovem e blasfemo Belsazar. Ele não se queria humilhar, e recusou dar a Deus a glória devida a Seu nome. Por isso o cetro lhe foi arrebatado das mãos, e o reino de prata substituiu o ouro. Não foi o poderio militar, ou o poder político da Pérsia, mas antes a fraqueza moral e a instabilidade espiritual dos babilônios que causou o colapso do império. Assim ao apresentar diante do auditório a vívida história da captura da cidade por Ciro, deve o pregador da profecia agrupar as lições práticas, ajudando homens e mulheres a compreenderem que

{396} a razão da queda de Babilônia foi o orgulho pessoal de Belsazar e não o poder político de Ciro. ―Com as profecias devem ser intercaladas lições práticas dos ensinos de Cristo.‖ (4) Somente a aplicação prática da mensagem pode dar-lhe seu real valor. Deve-se fazer com que os princípios da salvação sobressaiam clara e distintamente. Toda nação ou qualquer indivíduo que recusa aceitar a revelação de Deus, Sua libertação, e Seu governo, está condenado. Deve-se ajudar os homens a verem que a salvação depende de sua aceitação dessa tríplice manifestação de Deus. Quando o ansioso carcereiro exclamou: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?‖ Paulo respondeu: ―Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo‖. Atos 16:31. Notai seu uso dos três títulos: Senhor Jesus Cristo. O Salvador deve ser aceito como Senhor de nossa vida, se somos súditos de Seu reino. Jesus, como Deus na carne humana, tornou-Se o Revelador de Deus ao homem. Crista como o Sumo Sacerdote ungido é o grande Libertador que nos salva do castigo dos pecados passados e do poder do pecado presente. Mas ainda mais! Esse mesmo Salvador, nosso Intercessor, deve tornar-Se Senhor e Governador de nossa vida, se quisermos entrar na plenitude de Sua redenção. A mensagem que Paulo deu ao carcereiro filipense incluía cada aspecto do evangelho salvador A religião que os apóstolos levaram ao mundo era intensamente prática. ―De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades.‖ Rom. 11:26. Viram eles o Salvador como sendo o grande Libertador, não somente dos pecados do passado, mas do poder presente e da possibilidade futura de haver pecado. Além disso, somente aqueles a quem Ele agora governa pelo poder de Seu Espírito serão libertados do poder da morte, por ocasião de Seu aparecimento. Paulo louvou a Deus, ―o qual nos livrou de tão grande morte, e livrará

{397} em quem esperamos que também nos livrará ainda‖. II Cor. 1:10. Tanto o passado como o presente e o futuro estão todos compreendidos no alcance dessa declaração. Nosso estudo da profecia deve levar-nos a conhecer a Deus, por quem somos agora salvos do pecado, e por cujo poder pessoal somente seremos afinal libertados da morte eterna. Quando Deus deu o sonho e a interpretação a Nabucodonosor, visava isso certamente habilitar as gerações futuras a conhecer- Lhe o divino propósito, mas em primeiro lugar buscava a salvação do próprio rei, e não somente a do rei mas também a dos sábios daquela geração. A parte peculiar daquela imagem profética que é de especial interesse para nós, são certamente os pés e os artelhos, porque estamos vivendo nesse período simbolizado pela mistura do ferro com o barro. Nossa interpretação costumeira dessa parte é quase que inteiramente política — alguns remos politicamente fortes, outros politicamente fracos. Embora seja isso verdade, no entanto é esta toda a interpretação? Não podem os aspectos internacionais dessa grande profecia ser ignorados, mas devemos nós pôr toda a nossa ênfase na política? Anos atrás foi-nos dito: ―A imagem que foi revelada a Nabucodonosor também representava devidamente o deteriorar da religião.‖ (5) ―A mistura dos negócios da igreja com os negócios do Estado é representado pelo ferro e pelo barro. Essa união está enfraquecendo todo o poder das igrejas. Esse investir da igreja com o poder do Estado trará maus resultados.‖ (6) Eis aqui uma interpretação que certamente longe está da mera política. Vista sob este ângulo, é a profecia da grande imagem algo muitíssimo mais importante para ser usado como um mero despertador de interesse no início de uma campanha evangelística. Há profundezas nessa profecia, como há em todo o livro de Daniel, que ainda não foram proclamadas. Grandes verdades desses capítulos familiares ainda refulgirão

{398} em novo esplendor na mensagem final que prepara o povo de Deus para a trasladação. O alto clamor do terceiro anjo, que inicia o avanço evangelístico final da igreja, indubitavelmente advirá em grande parte de um novo estudo e mais clara compreensão da justiça pela fé. O que deu o poder pentecostal aos apóstolos foi sua nova compreensão de Deus. E o mensageiro de Deus para esta hora necessita do mesmo claro conceito acerca de Cristo.

Pregando a Justiça Pela Fé Não deve o Senhor perder-Se no mero cenário da plataforma. Devem Cristo e Sua cruz tornar-Se tão fundamentais em toda a nossa pregação e ensino que o mundo e a igreja saibam que nós cremos em Cristo, Sua divindade, Sua preexistência e em Seu sacrifício todo-expiatório. Queixou-se um velho puritano de que os pregadores de seus dias estavam tão preocupados com os sinais dos tempos e a direção do vento chamado Euro-aquilão e com as datas dos evangelhos, que nem tinham tempo, força ou inclinação para proclamar o próprio evangelho. Poderiam os arautos do evangelho eterno desta geração ser acusados de alguma coisa como esta? E a justiça pela fé a nota principal de todo o sermão que pregamos? O Senhor chamou para proclamar as elevadas normas do viver cristão. A igreja que aguarda a volta de seu Senhor, será uma igreja plenamente santificada, não lhe faltando nenhum dom; plena santificação significa perfeição. Mas erguer essas elevadas normas não é o suficiente, porque tornar-se perfeito requer mais que sinceridade e boas resoluções. Os homens tornam perfeitos em Cristo por meio de duas operações separadas e distintas—a justificação e a santificação — sendo da uma delas um dom de Deus. Compreendê-las ao apresentar a profecia é de vital importância ao crescimento cristão.

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Paz muitos anos veio-nos esta mensagem: ―Nossas igrejas estão perecendo por falta de ensino sobre o assunto da justiça pela fé em Cristo, e verdades semelhantes‖. (7) Não é por falta de melhores métodos de trabalho, nem por falta de edifícios próprios, nem mesmo por falta de recursos financeiros que estão morrendo, mas por falta de compreensão desse assunto tão vital. É por isso que nossas igrejas estão morrendo. Esses princípios podem ser belamente apresentados ao pregarmos as grandes profecias da Palavra de Deus.

Ainda mais assustadora é a declaração de que ―não há um em cem que compreenda por si mesmo a verdade bíblica sobre este assunto.‖ (8) Poder-se-ia dizer ser esta a nossa condição hoje? Mudamos nós? Estamos pondo a ênfase no devido lugar? Essas graves palavras devem levar-nos a um reestudo de nossa mensagem profética, a reexaminar nosso programa e talvez a revisar nossos métodos.

Que é Justiça Pela Fé?

Justiça pela fé é um assunto muito mais profundo do que muitos pensam. As vezes ouvimos definir a justiça como sendo fazer o

que é direito. Tal definição, e não ser que seja grandemente ampliada e desenvolvida, não somente é inadequada mas também pode ser desorientadora. Fazer o que é direito é e deve ser o fruto da justiça, mas certamente não é a raiz da justiça. Somos justificados pela fé no que Cristo fez — algo em que nós não temos parte. Ela é uma justiça que vem de Deus, que procede inteiramente de Seu amorável coração; algo que é creditado ao homem como uma dádiva que nos permite tornar-nos membros da família de Deus. Nada que o homem jamais tenha feito ou que venha a fazer, pode ser a base de nossa aceitação. Isso é compreendido pelos menos em princípio, até mesmo pelos santos do Velho Testamento, pois Paulo menciona o rei Davi como sendo um dos que descrevem ser ―Bem-aventurado o homem a quem

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Deus imputa a justiça sem as obras‖. Rom. 4:6. Nunca houve um tempo em que as obras ou fazer o que é direito se tornasse a base da aceitação do homem por Deus. A salvação é uma coisa em que o homem absolutamente não tem parte.

Foi nessa justiça que o ladrão moribundo foi aceito por Deus. Nem teve ele tempo nem oportunidade para realizar quaisquer obras boas para mostrar que estava preparado para o Paraíso. Enquanto morria na cruz foi feito filho de Deus e foi aceito justamente como se nunca houvesse pecado. Recebera seu título ao Céu, mas não tivera a oportunidade de para ele se habilitar. Tivesse vivido, e teria tido a oportunidade de demonstrar seu amor a Deus levando uma vida inteiramente consagrada a Ele. A justiça de Cristo pela qual foi justificado, teria operado em sua vida a experiência da santificação, dando-lhe vitória sobre o pecado e sobre todas as obras da carne. Começou sua vida cristã como qualquer outro cristão, aceitando uma dádiva de Deus, e nessa graça triunfou sobre o poder do inimigo.

―O pensamento de que a justiça de Cristo nos é imputada, não por algum mérito de nossa parte, mas como um dom gratuito de Deus, é um precioso pensamento. O inimigo de Deus e do homem não quer que esta verdade seja claramente apresentada; pois sabe que, se o povo a aceitar plenamente, está despedaçado o seu poder.‖ (8)

Devido à falta de compreensão desta verdade, correm muito hoje, como nos dias de Paulo, o perigo de cair na heresia dos gálatas. Tendo recebido de Deus o dom da justiça como base da justificação, pensam eles agora que podem ser santificados pelos seus próprios atos de justiça. Mas a estes bem poderia verdadeiramente o apóstolo dizer: Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo espírito, acabeis agora pela carne?‖ Gál. 3:3. Nem a santificação nem a justificação vem pelas obras. Sua justiça imputada possibilita-nos ser justificados; a comunicação de Sua justiça provê para nós o poder de sermos santificados. Ambas são dons da Justiça

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em Cristo, pois ―Jesus Cristo... para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção‖. E então o apostolo acrescenta ―Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor‖. I Cor. 1:30 e 31. A nossa glória não deve estar em nos mesmos ou nas nossas realizações, mas no Senhor.

E isto é o próprio coração da mensagem do evangelho eterno. Ao se espalhar por todo o mundo, anunciando que é chegada a hora do juízo de Deus, apela aos homens: ―Temei a Deus, e dai-Lhe glória‖. Mas nenhum homem pode verdadeiramente dar glória a Deus se ao mesmo tempo se estiver gloriando nas suas próprias consecuções pessoais. Quão humanos todos nós somos às vezes! Quão fácil é ostentar nossas próprias obras de justiça! Quando um evangelista tem êxito fora do comum, é esse o tempo em que se deve por de guarda para que não centralize a atenção dos homens em si mesmo e estes lhe comecem a dar a glória que só a Deus é devida. Alguém disse:

―Nenhum homem poder dar a impressão de que é hábil e ao mesmo tempo de que para ele Cristo é tudo em tudo‖. Até mesmo carne ordenada pode ser culpada do orgulho e da glorificação própria. Mas nenhuma carne se deve gloriar à Sua vista.

A proclamação da mensagem de Deus hoje requer que revelemos maravilhosas profecias e apresentemos tremendas verdades. Contudo tudo isto pode ser feito de maneira fria mecânica, sem que Cristo seja elevado diante do povo. Pregar realmente a Cristo exige de nós que façamos mais do que simplesmente mencionar-lhe o nome ocasionalmente no correr do discurso. Pregar um sermão ético, desenvolver uma revelação profética, ou fazer um exame filosófico, e então, antes de concluir, sugerir aos presentes que devem dar o coração ao Senhor, não é pregar a Cristo. Tampouco é apenas suficiente lançar um quadro do Salvador na tela no fim de um ‗discurso‘ profético ou doutrinário. A menos que toda a mensagem seja apresentada num molde redentor, nunca

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poderá ser um sermão salvador. Ao serem pregadas as profecias, devem os homens ser levados a contemplar o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.

A Verdadeira Pregação Profética

O sermão de Pedro no Pentecostes é um exemplo da verdadeira pregação profética. Quão depressa entrou ele no assunto. Respondendo brevemente às acusações da multidão, diz: ―Esses homens não estão embriagados, como vós pensais... mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel‖. Lendo a profecia, lança-se imediatamente ao seu tema, focalizando a atenção da multidão para o Salvador. Fala brevemente da crucifixão. Declara que ela foi feita por mãos ímpias. Mas não se demora para desenvolver os aspectos horripilantes da terrível execução. Apresenta a ressurreição; então, como clímax de seus pensamentos exalta a Cristo como sendo o mediador do homem, declarando que Aquele a quem rejeitaram é agora tanto Senhor como Cristo. Foi esta a primeira apresentação pública de Jesus como o Cristo, e tremendo foi seu efeito. Foi este um verdadeiro sermão centralizado em Cristo, sendo a profecia apenas a moldura em que Cristo foi apresentado. Jesus sobressai acima de qualquer outra coisa sendo a figura dominante, a resposta, e a única resposta aos problemas de nossa raça.

Sua dramática conclusão, apresentada sob a inspiração do Espírito de Deus, trouxe comovente reação. Os homens compreenderam-lhe a mensagem, porque em nenhum lugar há ai qualquer nota de incerteza. Todo o sermão freme com a realidade. Pedro poderia ter-se demorado na trágica condição espiritual dos judeus, que os levou a rejeitar a Jesus. Poderia ele ter penetrado nos detalhes, descrevendo os horrores da crucifixão. Em vez disso foi diretamente ao seu tema, e apresentou um Salvador vivo. E a multidão, sentindo o poder

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de sua mensagem, exclamou: Que faremos, varões irmãos?‖ E se o povo não está clamando, se não se está rendendo aos reclamos de Cristo, não poderá ser que a falta esteja na mensagem ou em sua apresentação?

Todo pregador da mensagem do advento sabe quão fácil é, ao apresentar os símbolos de grandes profecias, deixar que sua interpretação seja um mero recitar de fatos históricos, deixando de fazer do Salvador o ponto central. Tomemos como exemplo a profecia dos sete selos do Apocalipse, uma das mais coloridas de todas as profecias simbólicas. Desde os tempos apostólicos tem ela reclamado um lugar muito real no pensamento cristão, O simbolismo profético é em si mesmo um fascinante campo de estudo, e esses símbolos especiais apelam para a propaganda, como evidencia o fato de que o mundo de entretenimentos produziu há poucos anos um filme intitulado ―Os quatro cavaleiros do Apocalipse‖. É este certamente um título que prende a imaginação. Mas depois de ter apresentado todos os interessantes aspectos dos cavalos e de seus cavaleiros, é levado a cabo satisfatoriamente a difícil transição entre o simbólico e o literal, pode-se realmente não ter pregado a Cristo de maneira alguma Nestes dias em que os homens têm comichão nos ouvidos, é fácil voltar-se para o sensacional, na esperança de estimular o interesse. Cabeçalhos assustadores e títulos flamejantes atraem certa parcela da sociedade. Algumas pessoas estão sempre procurando alguma coisa espetacular, mas o pregador da profecia que a isso recorre está seguindo uma norma perigosa.

“As massas ociosamente curiosas, loucamente excitáveis, que amam o que é lúrido e grotesco afluiriam em grande número trazendo os ouvidos comichantes para serem coçados com sensacionais interpretações da profecia que teriam deixado os próprios profetas sobremaneira atônitos.” (10) Nossas interpretações devem ser algo mais profundo que a mera exposição da grande apostasia. Deve o orador fazer

{404] mais do que simplesmente traçar os passes pelos quais o paganismo veio à existência e repetir os terríveis feitos da Idade Escura. Pode ele empregar linguagem sombria para descrever aqueles terríveis séculos em que a Europa era banhada pelo sangue dos mártires, mas deve o povo ver mais do que igreja apóstata, e aprender mais do que a data da queda das estrelas. Devem ser ajudados a ver ao Salvador.

É importante que os homens sejam levados a reconhecer o poder que subtraiu a liberdade das nações. Mais importante é que contemplem o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Devemos saber quem são os quatro cavaleiros, mas é muito mais importante conhecer o Leão da Tribo de Judá, que tendo prevalecido sobre a morte, desatou os selos e abriu o livro. Uma pergunta apropriada que pregador deve fazer a si mesmo é: ―Estão meus ouvintes vendo a Cristo?‖

Não se pode encontrar na literatura quadro mais sublime que o dos capítulos quatro, cinco e seis de Apocalipse. É maravilhoso partir tendo como guia o vidente de Patmos, e contemplando, por assim dizer, através dos portais interiores do céu, vislumbrar o trono cercado pelo arco-íris e ouvir todo Céu a proclamar a grandeza de Deus e do Cordeiro. Tal cena desafia os limites da linguagem. Ali, no trono, está assentado o Todo-poderoso. Tem na mão um livro fechado e selado. Alguém deve abrir o livro. Mas quem? Como a desafiar todo o universo clama o poderoso anjo: Quem é digno de abrir o livro?‖ Todo o Céu fica silencioso. Os anjos esperam. Ninguém responde crendo que o conteúdo do livro trata dos filhos dos homens, o profeta chora quando ninguém aparece para quebrar os selos que o cingem.

Estar esse profeta chorando é significativo, pois para compreender o místico significado desses capítulos, para alcançar plena compreensão de Jesus Cristo dessas revelações, deve a pessoa

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estar preparada para chorar. O livro não foi escrito sem lágrimas, nem sem lágrimas será ele compreendido.

Enquanto o profeta chora, vem alguém e, tocando-lhe, ordena-lhe que olhe de novo. E ali, no meio do trono está Alguém a quem já conhecera em anos anteriores. Mas agora não mais é Ele um pregador sem dinheiro a palmilhar as estradas poentas da Palestina. Em vez disso, é o Leão da tribo de Judá, e tendo prevalecido, tem direito de abrir o livro bem fechado. Ao Se aproximar do que ocupa o trono, todo o Céu irrompe num hino de louvor. Foi à mão traspassada pelos cravos que abriu o livro e desenrolou o rolo do tempo revelando o destino da igreja — suas vitórias, suas tristezas e seus triunfos finais. Há alguma coisa singularmente cativante em torno desta cena.

Nos tempos antigos, quando estava para ser revelado o conteúdo de um testamento, requeria à lei que alguém da família, geralmente o filho mais velho vivo, assumisse essa solene responsabilidade. Na presença de parentes e amigos adiantava-se, rompia os selos, e então passava a ler o conteúdo. E assim era no Céu. Nenhuma das hostes expectantes de anjos podia abrir o livro. Devia ser um dos filhos dos homens, um irmão mais velho, alguém que fosse digno. Devem os homens saber que sem o Homem da cruz não haveria revelação. Suas mãos deviam romper os selos.

Não somente o livro da profecia, mas todas as Escrituras se tornam repletas de significação quando Lhe permitimos romper os selos. Não teria havido Novo Testamento, e o Velho Testamento teria sido a literatura estranha e difícil de uma insignificante raça síria, se Cristo não tivesse vindo. Sua vida, Sua morte, Sua ressurreição, foram elas que deram imortalidade aos escritos dos hebreus. Enquanto o Salvador estava pendurado na cruz, foi revelado o segredo do Velho Testamento. E quando Ele rompeu a tumba, e Se levantou triunfante

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sobre a morte, transfomou-se a esperança em realidade.

Na tarde que se seguiu à ressurreição, um grupo de pregadores confusos reunia-se num cenáculo. Procuravam harmonizar os acontecimentos dos últimos poucos dias, quando repentinamente suas meditações foram interrompidas pelo aparecimento dAquele mesmo sobre quem tinham estado discutindo. Acalmando-lhes os temores, começou Jesus a apresentar-lhes a palavra profética. ―Convinha que se cumprisse tudo‖, disse Ele, ―o que de Mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas, e nos Salmos. Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras.‖ S. Luc. 24: 44 e 45. Foi uma revelação tremenda. A profecia tornou-se insignificativa ao se relacionar com Ele. Contudo, não somente o livro da profecia, mas o livro da doutrina, o livro da história, o livro da Natureza, e até mesmo o livro de nossa própria vida individual — todos estes passam a ter brilhante significado quando o Homem do Calvário lhes revela o mistério. Esse é o propósito da pregação sobre a profecia. Pode alguém apresentar muita profecia e apontar com perdoável orgulho para a nobre linha de testemunhas fiéis; pode revelar que através de todos os longos séculos Deus tem tido um povo fiel. Pode até a congregação estar convencida de que estamos agora vivendo no próprio tempo do fim, mas se a coisa principal que o povo ouviu foi história, então não estão preparados para encontrar o Senhor. Devem conhecer mais do que apenas história; devem conhecer a Cristo. A menos que o pregador faça com que os ouvintes saibam o que é estar vestido com a justiça de Cristo, ele errou o caminho.

O pregador da profecia deve levar os ouvintes a verem o Cordeiro de Deus. É esse o objetivo de todo o estudo profético, e quando os dois proeminentes livros apocalípticos da Escritura, Daniel e Apocalipse, são estudados com este objetivo, trazem r ica recompensa. Certo aluno de uma de minhas

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classes declarou isto desta maneira: ―O valor de um sermão é o que o ouvinte conservou, por assim dizer, o resíduo do pensamento depois que esqueceu a maior parte daquilo que o pregador disse.‖ Isso é verdade, mas eu pergunto: ―O que é o povo propenso a lembrar? O que é que levarão consigo depois de terem ouvido uma apresentação comum dos sete selos? ‖ Contemplaram eles a Cristo ou ao Anticris to? O levantamento e a queda de reinos, o começo da grande apostasia sua culminação no duodécimo e no décimo - terceiro séculos, a referência aos passos dados pela igreja do país distante ao começar a voltar para a casa Paterna — todos esses são campos vitais de estudo das profecias. Mas ainda mais importante do que esses aspectos é o ambiente geral em que veio essa revelação.

―Eis o Cordeiro de Deus‖

Já salientei que não teria havido revelação se Cristo não tivesse rompido os selos. Ainda mais, não foi como o conquistador Leão da tribo de Judá, mas antes como o Cordeiro, que Ele passou a dar essa revelação. E não um cordeiro de impecável beleza e inocência, mas antes como um cordeiro no ato de ser sacrificado. Vinte e sete vezes no livro de Apocalipse, mais vezes que em todo o resto da Bíblia junto, é Cristo chamado o Cordeiro. Mas Ele é descrito como tendo sete olhos e sete pontas — a perfeição da sabedoria e a perfeição do poder. Habacuque diz: ―De suas mãos saíam pontas (‗raios brilhantes saíam do seu lado, margem): e ali estava o esconderijo da sua força‖. Habac. 3:4 versão inglesa. Suas feridas devam-Lhe Seu poder e autoridade. Ele foi ferido nas mãos para que pudesse fazer propiciarão pelos pecados dos atos, ferido nos pés para fazer propiciarão pelos pecados do andar, ferido na cabeça para poder fazer propiciação pelos pecados no pensamento; e de Seu coração fluía uma corrente pela qual podia purificar todos os corações dos afetos

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não santificados. E no trono de Deus ministra Ele, dando aos homens o poder de se tornarem filhos de Deus. E ao terminar finalmente o quadro profético, o Cordeiro vem novamente em cena, Com Ele está um povo triunfante, chamados e eleitos e fiéis. (Apoc. 17:14.) Em contraste com esse há uma outra grande e inumerável hoste que é guiada pelo príncipe dos espíritos maus, e estes estarão guerreando

contra Deus e o Cordeiro. Contudo, ao terminar o conflito, somente aqueles que pela graça de Deus têm prevalecido seguirão o Cordeiro para onde quer que Ele vá. A primeira profecia feita ao homem no jardim do Éden referia-se ao Cordeiro de Deus. E quando o tempo se fundir com a eternidade, ainda será Ele o centro de atração, a grande personalidade ao redor da qual gira todo o eterno propósito de Deus A profecia foi dada para nos levar à maior relação de Cristo e da nossa relação para com Ele. É-nos dito que ―crescente luz brilhará sobre todas as grandiosas verdades da profecia‘, (11) mas ―teremos de estudar fervorosamente e com oração a fim de compreender essas grandiosas verdades.‖ (12)

Pregando o Evangelho na Lei

Há hoje grandes revelações da verdade para o povo de Deus, mas essas verdades devem ser reunidas e redimidas de sua companhia com o erro; pois ao serem colocadas fora do lugar apropriado em associação com o erro, tem sido desonrado o autor da verdade. As preciosas gemas da justiça de Cristo e verdades de origem divina, devem ser cuidadosamente examinadas e colocadas no seu devido lugar.‖ (13) Algumas delas tem Satanás ocultado durante séculos. Outras têm sido ―mal interpretadas, mal aplicadas, e desligadas do Senhor da Glória.‖ (14) E quando a verdade é desligada do seu Autor, perde o seu poder. Mas não é isto que com tanta freqüência acontece?

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Mesmo verdades tão belas como a do sábado podem ser separadas do Senhor da Glória e apresentadas numa moldura de mero

argumento. E então pouco mais que uma discussão de dias. Tornar até mesmo os Dez Mandamentos a razão básica da observância do sétimo dia, o sábado, é cair no perigo de separar esta grande verdade de seu Autor. A verdadeira observância do sábado não se baseia principalmente nos Dez Mandamentos mas na vida e no ministério de nosso Senhor. Foi Aquele que criou todas as coisas que deu o sábado ao mundo, e este deveria ser um dia de descanso. Tivessem sempre os homens observado o dia de descanso de Deus, quão diferente teria sido este mundo. ―Ah se tivesses dado ouvidos aos Meus mandamentos! então seria a tua paz como um rio e a tua justiça como as ondas do mar.‖ Isa. 48:18. Em contraste com este lamento de Deus estão estas palavras: ―Mas os ímpios são como o mar bravo, que se não pode aquietar, e cujas águas lançam de si lama e lôdo. Os ímpios, diz o meu Deus, não têm paz.‖ Isa. 57:20 e21. Ao ser criado, trouxe o mundo a marca de separação da beleza e da serenidade. Mas o pecado obliterou a obra das mãos de Deus. E tanto o homem como a criação inorgânica se perderam. O propósito do evangelho é reconduzir o homem à comunhão com Deus. Para realizar isso, tem Deus de recriar a alma. ―As coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo,‖ II Cor. 5:17. E quando uma alma é criada de novo pelo poder do Cristo que nela habita, é na verdade uma nova criação.

O sábado, que é o sinal do poder criador de Deus, torna-se para ela o sinal de sua santificação. Corretamente entendido, o sábado é muito maior que apenas um dia para cessar o trabalho e ir para a igreja. É uma experiência. Mas quando está separado do Senhor da glória, então se torna um mero argumento, e às vezes acerba controvérsia. Quando tal acontece, perdeu ele seu real apelo. Se não houvesse dez mandamentos como tais, se Deus nunca os tivesse dado a

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Moisés, ainda haveria o sábado, mas agora ele é o símbolo do descanso em que entra o filho recriado de Deus pelo sangue de Jesus Cristo. Como tal, é ele verdadeiramente o sinal da liberdade, da lealdade e do amor. E aquele que aceita o sábado como sendo o sinal do poder criador de Deus, coloca-se sob o eterno concerto divino; está ligado ao seu Senhor pela áurea cadeia da obediência, cada elo da qual é uma promessa, enquanto seguir o Cordeiro para onde quer que vá.

Deus tomou a criação do tempo e a fez uma insígnia da eternidade. Quando Ele fez a Terra rolar no espaço, e a enviou girando sobre o seu eixo, constituiu isso o dia e a noite. Então, tomando um punhado de dias, fez Ele a semana, e do sétimo fez o sábado, para que fosse Seu estandarte distintivo, o sinal de Seu poder criador. Assim como a ceia do Senhor serve de memorial de Seu sacrifício vicário, assim também é o dia do Senhor um memorial de Sua grande criação.E o mesmo que morreu para que nós pudéssemos viver, foi o que fez todas as coisas. Isaías disse: ―O Senhor é o nosso Juiz; o Senhor é o nosso Legislador; o Senhor é o nosso Rei: Ele nos salvará.‖ Isa. 33:22. Aquele que nos criou é Aquele cuja mão em anos posteriores escreveu Sua lei em tábuas de pedra. E foi Ele que nos salvou de nossos pecados. Agora ministra à mão direita de Deus como Rei da Justiça e Rei da Paz. E é Ele que, como advogado e Juiz do homem, pronunciará sentença sobre cada alma vivente. Ao dizer: ―Quem é injusto, faça injustiça ainda: e quem é justo, faça justiça ainda‖, acrescenta estas palavras: ―E o Meu galardão está Comigo, para dar a cada um segundo a sua obra.‖ Apoc. 22:11.

A profecia, o preceito e a doutrina, só se tornam vitais ao estarem ligados com Ele. Até mesmo a história humana, apesar de seus trágicos conflitos, se torna destituída de significação ao ser estudada à luz do Cordeiro de Deus. Tem sido o plano estudado do inimigo divorciar do Senhor da glória a verdade

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Dias há, porém, em que a norma perfeita da verdade está sendo revelada. John Milton, poeta e estadista, ao se dirigir a ambas as casas do Parlamento, fez veemente apelo, pedindo proteção para aqueles que com risco de sua própria vida estavam defendendo as doutrinas de Cristo. Disse ele: “A verdade veio de fato uma vez ao mundo com Seu divino Mestre, e era a mais perfeita e gloriosa forma que se podia contemplar: mas quando ascendeu, e Seus apóstolos depois dEle, adormeceram, então imediatamente se levantou uma raça iníqua de enganadores, que . . tomaram a Verdade Virgem, quebraram-lhe a amável forma em milhares de pedaços e os espalharam pelos quatro ventos. Desde aquele tempo, então, os tristes amigos da Verdade, os que ousaram aparecer... foram acima e abaixo ajuntando ainda membro por membro, conforme os podiam encontrar. Nós ainda não achamos todos eles, Lordes e Comuns, nem jamais o faremos até a segunda vinda de seu Mestre; Ele reunirá cada junta e membro e os amoldará dando-lhes um aspecto imortal de encanto e perfeição.” (15)

Aos pregadores de hoje foi dada a solene responsabilidade de alimpar o caminho para os pés dos peregrinos, procurando um rumo seguro em meio à multidão de pensamentos confusos e turvos destes tempos. Os que têm mente espiritual nesta última geração da Terra estão sendo retirados do reino das trevas e do erro, e, pela luz dAquele que é a luz, devem ser guiados pelo grande caminho profético de Deus para o reino da luz e da paz.

1) Testemunhos para Ministros, pág. 118 (195), 2) White, Manuscritos 42, 1844 (299). 3) Testemunhos para Ministros, pág. 112. 4) White, Carta 46, 1886 (172),

5) White em Review and Herald, 6 de fevereiro de 1900, pág. 81. 6) White, Manuscritos 63, 1899. 7) Obreiros Evangélicos (3 ed.), pág. 30!. 8) White em Review and Herald, 3 de setembio do 1889, pág. 545.

9) Obreiros Fvangéíicos, (3 cd.), pág, 161. 10) Harry Rimmer, The Shadow of Coming Events, pág. 142, publicado por W. B. Eerdimar Publishing Co. Usada com permissão de Research Science Bureal Incorporated. 11) White, Manuscrito 18, 1888 (198). 12) White, Carta 97, 1902 (196).

13) White and Review and Herald 8 de outubro de 1894, pág, 656. 14) White no General Conference Bulletin Vol. 1 nº, 8, 1896, pág. 766. 15) John Milton ―Areopagitica: I Speach for the Liberty of Unlicenced Printing‖ em The Works of John Milton, Vol 4, pág. 435.

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ENQUANTO EU MEDITAVA

SALMOS 39:3 23

O PREPARO DO CORAÇÃO DO PREGADOR

Um sermão é mais do que palavras; é o extravasar de uma vida. O valor real de um sermão depende do homem o espírito que está atrás da fraseologia. Pode a linguagem ser excelente, mas o sermão, um fracasso. Pode ser que nada falte no arranjo. Fatos assustadores podem contemplar em embaraçador repto de cada cornija de seu templo, mas a não ser que ele viva será apenas a letra que mata. A águia empalhada das lojas de taxidermia pode estar com as asas estendidas, mas os seus olhos vidrados deixam de se levantar.

O sermão deve ser mais do que apenas linguagem e forma. Deve ser vivo, uma coisa em chamas, um arbusto que arde, ou nunca compelirá os pastores de casas ou negócios a abandonarem os seus rebanhos de cuidados e se volverem para ouvir a voz de Deus. ―Pregar não é uma arte, mas uma encarnação‖.

A pregação pode ser coisa mortífera. Quer o sintamos quer não, nossos sermões ou serão um cheiro de vida para vida, ou de morte para morte.

―Quando a teoria da verdade é repetida sem que sua sagrada influência seja sentida na alma do que fala, não tem nenhuma força sobre os ouvintes, mas é rejeitada como erro, tornando-se o próprio orador responsável pela perda de almas.‖ (1)

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Que coisa terrível, pensar que uma pessoa designada por Deus para levar a salvação aos homens possa realmente ser

responsável pela perda de almas! Tal tragédia deve ser evitada. Mas como? Primeiramente, o sermão não é a única coisa que necessita de preparo. Se é que o povo deve sentir a força da verdade, deve o

próprio coração do pregador ter sentido o poder de seu apelo, seu próprio coração deve ter sido tocado. ―O preparo do coração é, de todos, o mais importante. ... Os brilhantes raios do Sol da Justiça têm de brilhar no coração do

obreiro, purificando-lhe a vida, antes de a luz vinda do trono de Deus poder, por ele brilhar para os que se acham em trevas‖ (2)

Ativando o Fogo

Estando toda a mensagem preparada e todas as notas do sermão em ordem, então tem esse sermão de sair do papel para a alma do pregador. O fogo deve ser aceso depois de ajuntado o combustível.

―Incendeu-se dentro de mim o meu coração; enquanto eu meditava se acendeu um fogo: então falei com a minha língua.‖ Sal. 39:3. Quando Davi escreveu essas palavras, estabeleceu uma fórmula perfeita para os pregadores. Que texto revelador é este! Foi quando o fogo ardia que ele falou com sua língua. A iluminação divina deu-lhe expressão. E ousa um professo mensageiro de Deus falar a não ser que o fogo esteja ardendo? O feno não pode ser caldeado quando o fogo está baixo. Coisa patética é ver num púlpito uma panela de cinza Aconselhava Paulo a um jovem ministro quando disse: ―Aviva o dom de Deus que há em ti‖, ou, segundo a versão Almeida, ―te lembro que despertes o dom de Deus que existe em ti‖. II Tim. 1:6. Parafraseando, poder-se-ia ler: ―Deixa que o Espírito de Deus abane as brasas que estão morrendo

{414} até que de novo se inflamem.‖ Timóteo devia reavivar as chamas. Mas como?

Em outra carta, disse-lhe Paulo: ―Medita estas coisas; ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto à todos. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina: Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.‖ I Tim. 4:15 e 16. Que conselho verdadeiramente sábio!

Depois de completar o preparo do sermão, deve o pregador preparar seu coração. Dai um passeio, ou ide para um lugar de oração. E ali, na presença de Deus, meditai sobre a mensagem; entregai-vos inteiramente a ela. Segui-a ponto por ponto. Imaginai a

congregação diante de vós. Pensai nas suas necessidades. Pintai a fisionomia de certas pessoas que esperais estejam presentes, alguém que sabeis que necessita dessa mesma mensagem. Meditai sobre cada ponto com oração. Pleiteai com Deus como verdadeiro intercessor. Sejam vossas orações: ―Ó Deus, ajuda-me quando chegar a este ponto. Dá-me palavras que façam com que esta verdade arda no coração daquele homem que está no assento traseiro. Ajuda a ele e a sua família a verem luz na Tua luz, Dá-me sabedoria e graça para apresentar esta mensagem de tal maneira que o povo não me veja a mim, mas a Jesus somente.‖

Esse visualizar a congregação ajudará a vos despirdes de vossa artificialidade. Dar-vos-á simpatia, confiança e coragem. Desejais que o vosso sermão seja uma janela pela qual o povo possa obter um vislumbre de Deus? Lembrai-vos então de que uma janela nunca atrai para si mesma. Só um vidro trincado, sujo ou desigual atrai a atenção para si.

Os pontos e divisões que estão em vossas notas são apenas os ossos da estrutura do sermão. Assim mesmo são importantes. Meditai sobre esses pontos. ―Ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos.‖

O auditório sabe quando o próprio pregador tirou proveito

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de seu preparo, pois se é que o sermão deve ser um poder, deve ele primeiro tornar-se uma coisa viva no coração do pregador. Sobre ele deve ter posto suas mãos cálidas, trazendo-lhe a própria unção de Deus. Quando o seu próprio coração está ardendo em chamas então o povo reconhece o crepitar dos fogos de Deus. Diz Nathaniel J. Brenton: ―Passa o sermão a ser sermão e está livre de ser preleção, ao ser elaborado e apresentado no Espírito Santo‖.

Somos Meramente Preletores ou Somos Verdadeiros Pregadores?

A história de Elias no lar da viúva tem uma mensagem para cada pregador. Lembrais-vos de que o filho morrera, e que a mãe, com o coração dilacerado, apertava ao colo o menino sem vida. Que ternura! Uma mãe tendo nos braços o filho morto! Mas esperai! O homem de Deus dela se aproxima e diz: ―Dá-me o teu filho. E ele o tomou do seu regaço, e o levou para cima, ao quarto, onde ele mesmo habitava, e o deitou em sua cama. E clamou ao Senhor . . . Então se mediu sobre o menino três vezes. . . E o Senhor ouviu a voz de Elias; e a alma do menino tornou a entrar nele, e reviveu. E Elias tomou o menino, . .. e o deu à sua mãe.‖ I Reis 15:19-23.

Foi um menino vivo que o profeta trouxe para baixo, do sótão, naquele dia. Foi um menino de sangue quente que ele entregou à sua mãe. Irmão Pregador, levai os ossos e nervos do esboço de vosso sermão, levai-os convosco para o sótão da oração e da meditação, e ali medi-vos sobre ele até que fique vivo, até que se lhe abram os olhos e que ele olhe para dentro de vossa alma. Deixai que sua mensagem vos desperte o próprio coração. Então chegareis diante do povo como alguém que vem da própria presença de Deus.

A verdadeira pregação é um testemunho. ―E ser-Me-eis

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testemunhas,‖ disse Jesus. E Suas palavras nada perderam de sua força, através dos séculos. ―Nosso Salvador pede fiéis testemunhas nestes dias de formalismo religioso; mas quão poucos, mesmo entre os professos

embaixadores de Cristo, se acham prontos a dar um fiel testemunho pessoal em favor de seu Mestre! Muitos podem dizer o que têm feito os grandes e bons homens das gerações passadas, o que ousaram, o que sofreram e gozaram. Tornaram-se eloqüentes ao salientar o poder do evangelho que a outros habilitou a se regozijarem em suas probantes aflições, e a se manterem firmes diante de cruéis tentações. Mas, ainda que tão fervorosos em apresentar outros cristãos como testemunhas de Jesus, eles próprios não parecem possuir uma experiência nova, atual, própria, para relatar.

―Ministros de Crista, que tendes a contar quanto a vós mesmos? Que conflito de alma experimentastes, que se tornou em bem para vós, para outros, e para a glória de Deus? ... Acaso vosso caráter testifica em favor de Cristo? Podeis vós falar da inf luência da verdade como esta é em Jesus, a qual refina, enobrece e santifica? Que tendes vós visto? Que tendes vós conhecido do poder de Cristo? Esta é a espécie de testemunho que o Senhor pede, e por cuja falta as igrejas estão sofrendo , ... Se quereis arrebatar pecadores da impetuosa corrente, vossos próprios pés não se devem achar em lugar escorregadio.‖ (3)

O Evangelho Ardendo para Deus

O credo de que necessitamos é o do homem cego: ―Uma coisa sei, e é que, havendo eu sido cego, agora vejo.‖ S. João 9:25. Os

sermões que brilham com crenças tão positivas, secundadas pela experiência do pregador, trarão salvação aos homens. ―Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina‖, continua o apóstolo, ―Porque Fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que

te ouvem‖. O sermão que salva a congregação deve ter primeiramente salvo o pregador. Aquele que quer limpar e pensar as feridas de outrem deve ele mesmo estar limpo. Deve o pregador ser uma testemunha viva da verdade

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que proclama. O fogo que arde no altar do coração do evangelista será transmitido aos ouvintes. O sermonizar frio, insípido e formal será substituído pelo apelo real do coração, e o nome de Deus será glorificado. O pregador será eloqüente porque seus pensamentos estarão inflamados. E somente o pregador que é possuído desse sutil elemento de paixão pode conhecer a verdadeira bênção do ministério.

A eloqüência oratória e literária sem o fogo do Espírito de Deus não passa de tributos florais que adornam o esquife de um sermão morto. ―A letra mata, e o espírito vivifica‖. II Cor. 3:6. ―Seja qual for a linguagem que usardes‖, diz Emerson, ―nunca direis coisa alguma senão o que sois‖. ―Nunca estar em chamas é insensatez, se cremos no nosso próprio credo‖, diz Alexandre McLaren.

―Os argumentos dos apóstolos somente, conquanto convincentes e claros, não haveriam removido o preconcei to que resistira a tanta evidência. Mas o Espírito Santo com divino poder convenceu o coração pelos argumentos. As palavras dos apóstolos eram como

afiadas setas do Todo-poderoso, convencendo os homens de sua terrível culpa em haverem rejeitado e crucificado o Senhor da glória. . . Com que abrasante linguagem vestiam suas idéias quando testificavam dEle!‖ (4)

Sua linguagem abrasava porque eles mesmos estavam inflamados do evangelho. As cidadelas do pecado eram consumidas por sua paixão. As mensagens fluíam-lhes candentes do coração. Suas palavras eram abrasadas com o Espírito de Deus, e coisa alguma podia subsistir diante delas.

―Um coração abrasado logo encontra uma língua inflamada. Quão gloriosas são as palavras do pregador cujos lábios são abrasados pelo fogo de Deus‖ exclama Spurgeon.

―Sinto-me constrangida a dizer que o trabalho de muitos de nossos ministros carece de poder ... - Vão passando dia após dia, possuindo apenas fé fria, nominal, apresentando a teoria da verdade, mas fazendo-o sem aquela força vital que provém da comunhão com o

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Céu, e faz com que as palavras proferidas encontrem lugar no coração dos homens.‖ (5)

―Somente o poder divino tocará o coração do pecador Ministros de Deus, com o coração ardente de amor para com Cristo e aos vossos semelhantes, buscai despertar os que se acham mortos em ofensas e pecados.‖ (6)

Necessita a igreja de Deus de homens que sejam movidos por profundo amor a Cristo e aos perdidos. Que coisas maravilhosas fará o amor que está no coração!

Quintin Matsys, um ferreiro flamengo, enamorou-se profundamente da filha de um artista holandês. Seu pai protestou que a filha a ninguém desposaria senão a distinguido mestre de sua própria arte. Era isso um desafio para Matsys. Ele abandonou a forja, e depondo o malho, tomou do pincel. Emergiu do estúdio verdadeiro artista. Deu-se isso há quatro séculos, mas o mundo ainda faz suas peregrinações à catedral de Antuérpia para contemplar com admiração sua Descida da Cruz.

Gustavo Doré exclama:―Quanto mais amo a Cristo, tanto melhor O posso pintar‖. Que verdade! pois, ―ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine‖.

―Falai ao pecador com o coração a extravasar o terno e compassivo amor de Cristo. . . . Cristo crucificado — falai nisso, a esse respeito orai, sobre isso cantai, e isso quebrantará e ganhará corações. Este é o poder e a sabedoria de Deus para atrair almas para Cristo. Frases formais estabelecidas, a apresentação de assuntos meramente argumentativos, pouco bem produzem. O enternecedor amor de Deus no coração dos obreiros será reconhecido por aqueles por quem eles trabalham‖ (7)

O Pão e a Água

Despertar homens mortos em delitos e pecados requer novo senso da importância do pregador e de sua mensagem. O sermão não é uma peça de arte, não é uma fatia de bolo, é

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um pedaço de pão para as almas famintas. Usar o sermão meramente como um meio de promover algum alvo da igreja, por mais digno que este possa ser, e não alimentar o rebanho faminto, é oferecer ao povo uma pedra em vez de pão. Além disso, usar o tempo do sermão para apresentar algum argumento sobre um ponto teológico e não levar o povo a ver ―o Senhor alto e sublime‖, é falhar na obra mais importante do pregador. Coisa trágica é oferecer fogo estranho no altar de Deus.

De modo algum está fora de lugar inspirar o povo de Deus a mais fidelidade no serviço de Cristo, contanto que a inspiração brote de uma renovada visão do Senhor, e não seja produzida pelo espírito de rivalidade. A instrução sobre as profecias e as doutrinas de Cristo pode igualmente ser a base de muito sermão, pois a congregação tanto precisa de instrução como de inspiração. Mas o propósito da pregação não é principalmente entusiasmar ou informar, e sim inspirar e transformar homens, de pecadores fazer santos. Realmente, o sermão é uma questão de vida e morte e deve ser feito em nome de Cristo e com a autoridade do Céu. Sempre que o embaixador de Deus, ao dar a mensagem, sentir o elevado propósito de sua missão, não se preocupará principalmente com o equilíbrio de suas sentenças e com a justeza de seu discurso; em vez disso, sentirá o fato de que está falando por Deus ao homem perdido. E a não ser que sinta isso, não importa que sua retórica seja impecável e irrespondíveis seus argumentos, ou quão responsivo seja o povo a sua apresentação, ele falhou redondamente. Deve o povo ouvir mais que a voz do pregador; deve ouvir a voz de Deus. Ao trazer o portador das alegres novas da salvação a mensagem a sua congregação deve ela contemplar ―o Senhor alto e sublime‖. A menos que o façam, os conclusivos argumentos, a linguagem brilhante, a eficiente apresentação, as ilustrações interessantes e impressionantes—todos eles serão para

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vergonha do pregador. ―Icabod‖ muito bem se poderia escrever; nos umbrais de sua porta.

O Dr. Charles Gooddell, o grande pastor-evangelista de Nova York em dias passados, a esse respeito observa: ―É o sermão um fracasso justamente na proporção em que deixa de produzir o grande resultado para o qual é feito todo o

verdadeiro sermão. .. Não se pode deixar de relembrar a velha história do médico que fazia uma preleção acerca de uma nova operação cirúrgica.

―Quantas vezes realizou esta operação?‖ perguntaram os médicos. ―Sessenta e cinco‖, foi a resposta. ―Quantos de seus doentes recuperaram a saúde?‖ ‖Todos morreram, mas a operação é muito brilhante‖. Se o pregador quiser pregar um grande sermão, convença-se ele de que este, para algumas almas naquele dia, é vida ou morte, e de que terão sua sorte nas mãos dele.

É uma grande hora aquela em que o cirurgião segura o bisturi, em cuja extremidade está a vida ou morte para o paciente. Maior hora é aquela em que o advogado enfrenta um júri, com a convicção de que se cometer um erro um homem inocente será enforcado, e uma família será infelicitada para sempre. ―Mas a maior hora que um ser humano jamais enfrenta é aquela em que ele está como representante de Deus diante de um homem que corre para sua condenação, sendo comissionado para lhe oferecer o perdão que deve perdurar por toda a eternidade.‖ (8)

Tal conceito impelirá o homem a pregar para alcançar uma decisão. A tendência de usar passagens purpurinas e meros floreados de eloqüência literária, será esquecida. Quando o senso da premência do tempo domina a alma do pregador, muitas coisas se tornam secundárias.

―Quando um homem fala como se quisesse dizer o que diz, tendo a alma a lhe brilhar nos olhos, as palavras vibrantes de profunda preocupação, tendo esquecido a arte e o método no tremendo domínio do evangelho sobre sua própria alma, então os homens propendem a ouvir e a voltar novamente.‖ (9) Sim, essa espécie de pregadores constrói uma comunidade de crentes. O coração aquecido de uma congregação é

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o mais eficiente anúncio evangelístico. Tal homem não está demasiadamente preocupado com a linguagem que se prende aos graus acadêmicos. Fala do coração, e naturalmente cultiva uma aproximação íntima, cativante, digna, mas dinâmica. Seus sermões não se tomam enfadonhos por apelar demasiadamente para as raízes gregas e hebraicas. Mas há clareza e poder em suas mensagens, e, como as multidões dos tempos antigos, é o povo levado a dizer: ―Como pois os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos?‖ Não haja desprezo ao estudo do original — longe disto. O conhecimento das línguas bíblicas deve estimular a meditação e abrir novas perspectivas de revelação para o pregador. Mas ele se deve guardar de levar a congregação à atmosfera de simples discussão escolástica. Bem faremos em nos lembrar de que nosso Senhor foi uma vez crucificado sob uma inscrição em Latim, Grego e Hebraico. Não haverá o perigo de que, num excesso de ênfase sobre a erudição, seja Ele de novo crucificado, enquanto debatemos acerca da interpretação de línguas mortas?

Paulo, o evangelista de Corinto, lembrou seus conversos de que ao lhes levar as boas-novas sua pregação, não consistiu em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de espírito e de poder‖. I Cor. 2:4. A palavra poder, dunamis, no grego, é a raiz da nossa palavra portuguesa dinamite. O que ele realmente disse foi: ―Quando eu cheguei a vós, foi em demonstração da dinâmica espiritual.‖ É essa a maneira em que cada pregador se deve aproximar de sua tarefa. Como o Sol nascente que abre os portais da manhã, deve ele vir ―regozijando-se como um homem forte que disputa uma corrida‖. Humildemente, contudo confiante em seu Deus, deve ele subir ao púlpito com uma oração como esta: ―Ó Deus, ajuda-me hoje a pôr a Cristo na mensagem e a pôr dez dias nesses trinta minutos de pregação‖.

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Para fazê-lo, deve estar preparado no corpo, na alma e no espírito. É um exercício salutar calcular o custo aproximado dessa hora de culto. Traduzi o tempo de cem ou de quinhentas pessoas em

valor monetário. Com mil pessoas presentes não é uma hora que está sendo gasta, mas mil horas. A um dólar cada hora (Cr$ 700,00), é uma boa importância. Se o valor de cada minuto, durante as reuniões evangelísticas, fosse calculado nessa base, seria um desafio para melhor preparo dos sermões. Ajudaria a eliminar a inclusão de muitas coisas inúteis e sem valor. Que tempo precioso é gasto fazendo cansativos anúncios! E que sacrifício é quando esses itens estranhos e nada edificantes, e que pouco ou nada contribuem para o programa, têm de ser suportados. Disse alguém que deve haver no Céu uma recompensa especial para as almas pacientes que estão dispostas a deixar pregadores inexperientes praticarem com eles. Mas o que dizer daquelas almas que apesar dos longos e tediosos anúncios ainda suportam em silêncio e então voltam, na noite seguinte, para ouvir mais? Todos os aspectos irrelevantes devem ser eliminados. Incentivar alguns momentos de calma reflexão fará mais do que qualquer outra coisa para preparar o povo para a mensagem de Deus. O incentivo é essencial, mas não é a única coisa necessária. Para que o sermão seja, um poder deve ele estar no devido ambiente. E esse ambiente não é necessariamente o barulho. Tanto é verdade hoje como nos dias de Isaías que ― no sossego e na confiança estaria a vossa força‖. Isa. 30: 15. Elias teve de aprender que o Senhor não estava no vento.

Mas calma e frieza não são sinônimos. Tampouco são o barulho e o poder. A catarata ruge ao saltar no canhão, mas quando ela é controlada por instrumentos, silencia; sua força pode então iluminar toda uma cidade ou meio Estado. O poder espiritual não é gerado pela agitação, mas pela consagração.

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O Púlpito em Fogo

Preocupado com a frieza de sua igreja, um jovem buscou o auxílio de velho e experimentado pastor—evangelista. ―Que posso Fazer‖, disse ele, ―para mudar a atmosfera? Faço o melhor que posso para preparar meus sermões, trabalho àrduamente no meu es tudo, mas o povo parece tão frio e indiferente‖! ―Vá para casa, jovem, e acenda um grande fogo no púlpito‖

Numa das grandes reuniões do Congo, fazia horas que os nativos se vinham reunindo, vindos de todas as direções. Era inspirador contemplar esse dedicado povo vir pelas montanhas e vales. Já havia mais de dez mil pessoas sentadas esperando com ansiosa expectação. Os ministros que deviam dirigir a reunião estavam passando alguns minutos em conselhos e oração. O ministro visitante, que devia pregar naquele dia, olhou por cima daquele mar de rostos, e, não estando acostumado a falar ao ar livre, exprimiu sua preocupação de que poderia falhar quanto a se fazer ouvir pelo povo. ―Oh, o senhor não se precisa preocupar a esse respeito‖, disse um dos irmãos. ―O senhor não precisa fazer o povo ouvir. Eles não o compreenderiam se ouvissem. Tudo o que diz está sendo traduzido. Não se canse. Não faça o mínimo esforço. Nosso irmão aqui fará tudo isso. É a ele que devem ouvir.‖

O tradutor nativo ouvia atentamente. Então, com a usual deferência do africano, protestou mansamente: ―Eu sei, Bwana, que devo Fazer o povo ouvir, Eu sei que devo puxar o trem montanha acima. Mas como posso pegar vapor a não ser que este Bwana ponha fogo debaixo de mim? O que eu necessito e de um grande fogo.‖

Ele estava certo, pois o verdadeiro tradutor não somente

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traduz palavras, mas também deve transmitir ao auditório algo do espírito e da paixão do orador. E se não há paixão no pregador, não haverá nenhuma no tradutor ―Não é a Minha palavra como o fogo, diz o Senhor, e como um martelo que esmiúça a penha?‖ Jer. 23:29. Pode ao mensageiro faltar subtileza, mas não lhe deve faltar fogo. Paixão! Espírito! Sentimento! Sinceridade emotiva! São estas as qualidades que tornam vivo um sermão.

Fala o Dr. E. Stanley Jones sobre certa igreja ornada, que era notável devido às suas belas janelas de vidro colorido e aos seus ricos adornos, e que tinha uma janela situada imediatamente atrás do púlpito (má posição para qualquer janela por mais bela que seja), na qual estava escrito um texto estranho. O desenhista dessa obra de arte estava evidentemente mais preocupado com sua arte do que com a propriedade de seu desenho, pois ali, à base dessa bela janela, e imediatamente acima da cabeça do pregador, encontram-se as palavras: ―Depois de morto, ainda fala‖! Impróprio? Não, talvez não! Paulo fala de certas pessoas que estão mortas embora vivam. Exige-se mais do que um edifício bem ornamentado ou um sermão cheio de oratória para fazer com que o culto seja uma experiência viva.

É possível os expositores da Palavra tornarem-se tão refinados em seus gostos que o povo tenha a impressão de que são superficiais, meras borboletas no jardim de Deus. Seu trabalho não é esvoaçar de flor em flor, mas guiar as hostes de Deus ao longo da estrada que leva à luz e à verdade.

A artificialidade sempre se trai. Interessante lenda conta que a rainha de Sabá levou a Salomão belas e esquisitas flores artificiais. Embora falsas, eram elas quase tão perfeitas que desafiavam quem o descobrisse. A forma, a cor e até mesmo o perfume das flores reais, todos ali estavam. Essas flores artificiais foram colocadas ao lado das flores naturais, e se pediu a Salomão que descobrisse quais eram as verdadeiras

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e quais as artificiais. Depois de estudar cuidadosamente as flores por alguns momentos, o sábio homem disse: ―Abram as janelas e deixem as abelhas entrar‖. Depressa lhe deram elas a resposta.

Em meio a um mundo torto e perverso, devem os mensageiros de Deus brilhar como luzes, apresentando a Palavra da Vida. Os sermões que deviam estar repletos de vida, com muita freqüência estão pejados de morte. Deveriam eles pulsar com o poder da ressurreição, mas ai, com quanta freqüência são as congregações amarradas de pés e mãos com vestes sepulcrais. Um pregador sem conhecimento e superficial é um flagelo, mas nenhum poder na Terra se pode igualar ao de um pregador inspirado pelo Espírito. É ele um guia que acompanha no caminho, e não meramente uma seta que aponta com dedos sem vida aos transeuntes que podem achar ou deixar de achar a estrada.

Escadas Para Alcançar o Céu

Devem os sermões ser escadas pelas quais o pregador e o povo subam até poderem olhar a face de Deus. Ao ser o povo

levantado cada vez mais alto, subindo passo a passo, são eles gradualmente levados à presença divina. E todo ponto do sermão deve naturalmente conduzir ao ponto seguinte. Possivelmente serão suficientes cinco ou seis pontos. Os textos e as ilustrações são apenas passos que levam finalmente ao altar de Deus. Todo sermão deve começar onde o povo está. E então, com a continuação do sermão, o pregador consegue com uma mão alcançar o trono de Deus, e com a outra segurar a congregação, subindo com ela cada vez mais alto. Ou, mudando a figura, enquanto apresenta o sermão, o pregador se torna uma ponte de carne e osso, ―um caminho vivo‖, sobre o qual seu povo pode passar para a presença de Deus.

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O diagrama que segue pinta o sermão como sendo uma escada, representando os degraus mais largos as principais divisões, os degraus regulares representam o material que o pregador usa no desenvolvimento, de seu tema. Mas nenhum sermão é sermão enquanto permanece no papel para que se possa tornar um ―caminho vivo‖, deve ele ser pregado no poder do Espírito. Como o guia das montanhas leva o povo cada vez mais alto para contemplar as belezas de variada paisagem, assim ao subir a escada com sua congregação, permanece o pregador em cada ponto principal o tempo suficiente para habilitá-la, por meio de textos, ilustrações e citações, a apreender a beleza e significação da verdade que está sendo desenvolvida. Ao concluir, tendo tanto ele como a congregação feito juntos a subida espiritual, são conduzidos à sala de banquete do Rei celestial.

O alvo de todo o verdadeiro culto rever a Deus e recriar o homem. ―Com uma das mãos apegar-se-ia o obreiro a Cristo, enquanto que com a outra seguraria os pecadores e os atrairia ao Salvador.‖ (10) ―Tende fé e esperança, e atrai sim, atrai almas para o banquete do evangelho.‖ (11) O sermão, pois, é verdadeiramente mais do que palavras, e o pregador mais que um simples orador. Como a árvore que se curva

ante um vento impetuoso assim deve o pregador ser dócil nas mãos do Espírito de Deus. Não há verdadeiramente homem que pregue que não sinta uma tensão nervosa, mas nunca a deve ele revelar. Deve ser como as

cordas de um violino. Mas somente a corda que é esticada dá som. Se o povo pegar a melodia do Céu, será porque o Espírito de Deus Se moveu sobre o instrumento submisso e vivo. E quanto mais o mensageiro é submisso, e todas as outras coisas sendo assim, tanto mais apelante será a mensagem.

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Conta-se a história de Paganini, o grande violinista italiano do século passado, que um dia estava andando pela Ponte de Londres quando passou por um mendigo idoso e meio cego que ganhava sua pitança diária arranhando uma velha rabeca. O mestre contemplou a cena com piedade, e, dirigindo-se para o mendigo, disse: ―Amigo, deixe-me ver o seu instrumento. Eu gostaria de afiná-lo para você.‖ Tomou-o, afinou-o e começou a passar o arco sobre às cordas. A multidão apressada parou como se a isso fosse compelida. Cinqüenta pessoas estavam ouvindo, depois cem. Mil pessoas! A rua ficou impedida, conforme melodia após melodia era tirada daquele velho violino. Dentro de alguns minutos Paganini devolveu o instrumento, e pediu dádivas ao povo. Choveram moedas no chapéu do idoso homem — não centavos, mas prata e ouro. Que fez a diferença? Foi o toque do mestre.

Meus companheiros pregadores, oremos para que sejamos tão submissos ao nosso Mestre nesta trágica hora de tristeza e temor que, enquanto as multidões passam apressadas pelo caminho largo da destruição, possamos dar a melodia do amor dos Céus e fazer com que parem para ouvir o plangente apelo de Seu Espírito.

1) Obreiros Evangélicos, (3 ed), pág, 253. 2) Idem, pág. 94, 3) Idem, págs. 273 e 274, 4) Atos dos Apóstolos, págs, 45 e 46,

5) Obreiros Evangélicos, (3°ed,) pág. 35. 6) Idem, págs. 34 e 35, 7) Testemonies for the Church, Vol. 6, pág, 67. 8) Charles E. Goodell, Pastoral and Personal Evangelism, pág. 113 e 114, usado com permissão de Fleming H. Revell Company, publicadores.

9) Idem, pág. 109. 10) White, em Review and Herald, 10 de setembro de 1903, pág, 6 (293). 11) White, carta 112, 1902 (293).

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Quinta parte

O Evangelista e Seus Coobreiros

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Introdução da Quinta Alguns aspectos vitais são apresentados nesta seção, a saber, a formação da equipe evangelística, o financiamento da campanha, e o planejamento do programa musical. Evangelismo com êxito é mais do que método e organização. Está ligado à personalidade. Deve o evangelista saber como combinar personalidades diversas e com elas formar um grupo evangelístico. Também deve saber guiá-los e inspirá-los ao dirigi-los no serviço. E em cada parte do programa é a camaradagem mais necessária do que a ditadura. Os obreiros não são um grupo indiscriminado reunido por causa da tarefa. São antes uma unidade: ―Membros uns dos outros‖. Como equipe, devem partilhar as alegrias mútuas e também levar os fardos uns dos outros, O que realmente importa é o espírito da equipe mais que o tamanho dela. Somente onde a confiança e a consagração são supremas podemos esperar o poder miraculoso de Deus. Contudo, o companheirismo em si é insuficiente. Deve haver fé em Deus e finanças sábias e prudentes. Um programa evangelístico grande geralmente requer grande dispêndio. O evangelista deve saber dirigir com sabedoria e também como levantar seus

recursos financeiros. Muito programa promissor tem fracassado devido a finanças mal dirigidas. O Senhor declara: ―Minha é a prata e Meu é o ouro‖, mas o evangelista deve saber como obtê-los. Deve saber fazer um orçamento funcional e também saber trabalhar dentro desse orçamento. No entanto, a fé sempre é maior que um orçamento, contanto que seja fé verdadeira e não mera insensatez. A música também é uma necessidade no programa evangelístico moderno. Nesta seção são apresentados princípios vitais para ajudar o cantor-evangelista na criação de uma atmosfera evangelística. O cântico evangelístico e o sermão evangelístico são servos um do outro. Cada um desempenha uma parte vital em levar uma alma à salvação. Esta seção conclui com um estudo dos princípios de analise, medica e avaliação. A aplicação desses princípios melhorará nossa apresentação em público.

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MEUS COOPERADORES EM CRISTO JESUS

ROMANOS 16:3 24

FORMAÇÃO DA EQUIPE EVANGELISTICA Ao começar nosso Senhor Seu programa evangelístico, a primeira coisa que fez foi formar um grupo evangelístico. O relatório é breve mas revelador. ―E subiu ao monte, e chamou para Si os que ele quis . . . para que . . os mandasse a pregar.‖S. Mar. 3:13 e 14. Que variedade de tipos compunha esse grupo! Mas todos eles eram necessários e cada um deu a sua própria contribuição particular. Mais importante do que a localização, mais decisivo do que o tempo ou o orçamento, é o pessoal e o espírito da equipe. Mesmo um campo difícil produzirá uma colheita quando a equipe é eficiente e vive em harmonia. Mas o lugar mais promissor se demonstrará um desapontamento quando há dificuldades na equipe. ―Por que o não pudemos expulsar?‖ perguntaram os discípulos a seu Senhor. O Mestre pôs o dedo no problema: ―Que estáveis vós discutindo pelo caminho?‖ perguntou Ele. ―Mas eles calaram-se; porque pelo caminho tinham disputado entre si qual era o maior.‖ S. Mar, 9:34 e 35. Houve falta de oração e uma conseqüente falta de poder. Mas por que a falta de oração?

{433} Porque havia falta de harmonia no grupo. Tinham inveja um do outro. É esta uma velha história. Começou no Céu quando Lúcifer teve inveja do Altíssimo. Encontrou eco no cárcere que matou a Abel . E sua contraparte se vê nas sangrentas batalhas de todos os séculos. É o espírito do inimigo. Mas também se pode introduzir sut ilmente no acampamento dos santos. Forçou caminho até à equipe evangelística de nosso Senhor. Embaraçou-lhe o trabalho. Roubou-lhe o poder. Sim, o espírito da equipe é verdadeiramente mais importante que o orçamento. Onde o amor, a confiança e a consagração se combinam, operam-se milagres. Mas ―onde há inveja e espírito faccioso, aí há perturbação e toda a obra perversa‖. S. Tiago 3:16. A equipe deve trabalhar junta. Benjamim Franklin estava certo quando disse na assinatura da Declaração da Independência: ―E agora, cavalheiros, devemos todos ficar juntos ou seremos todos enforcados separadamente‖. A força de qualquer exército está em sua união. Levantar o moral é muito mais vital que formar o equipamento. ―Conjuntamente com a proclamação da mensagem em cidades grandes, há muitas espécies de trabalhos a ser efetuado por obreiro de vários dons. Uns devem trabalhar de um modo e outros de outro...Como cooperadores de Deus devem procura estar em harmonia uns com os outros‖ (1) ―Em todos os arranjos do Senhor, nada há mais belo que Seu plano de dar a homens e mulheres diversidade de dons. A igreja é Seu jardim, adornado com uma variedade de árvores, plantas e flores. Ele não espera que o hissôpo assuma as proporções do cedro,nem que a oliveira atinja a altura da majestosa palmeira‖ (2) ―Nem todas as flores são iguais na forma ou na cor. Algumas possuem virtudes curadoras. Algumas são sempre fragrantes. . . . Na igreja de Deus há lugar para caracteres tão variados como são as flores nos jardins.‖ (3) É a fusão desses talentos que assegura o êxito. Uma equipe

{434} de basebol é escolhida com cuidado, interceptadores da bola, e pegadores são tão necessários na equipe como os lançadores. Cada um deve desempenhar a sua parte, deve cada um ser o complemento dos outros, devendo todos trabalhar juntos no interesse do todo. Tendo escolhido o pessoal, começam agora a levantar no grupo o que se chama o espírito de equipe. Esse espírito de equipe na igreja apostólica tornou-a invencível. Antes do Pentecostes, eram ―uma coleção de unidades independentes‖, ciosos de posição e ansiosos por obter vantagens. ―Mas o espírito de Deus tornou-os unânimes‖, de modo que ―era um o coração e a alma‖ deles. ―Depois da descida da Espírito Santo, quando os discípulos saíram para proclamar um Salvador vivo, seu único desejo era a salvação de almas. Rejubilavam-se na doçura da comunhão com os santos. Eram ternos, prestativos, abnegados, voluntários em fazer qualquer sacrifício pelo amor da verdade. Em seu contato diário entre si revelavam aquele amor que Crista lhes ordenara. Por palavras e obras de altruísmo, procuravam acender esse amor em outros corações.‖ (4) (Grifo nosso.) Quanto mais poderia ter o Senhor realizado tivessem esses homens tão-somente possuídos essa experiência desde o principio! Mas a natureza humana é obstinada, E esses homens eram tão humanos! Não foi senão depois do Pentecostes que eles se tornaram uma equipe. Então abalaram o mundo. Dividindo suas forças em pequenos grupos, arrojaram-se eles até aos confins da Terra. Juntaram-se às fileiras outros que também se tornaram líderes. Sem dúvida a pessoa preeminente entre todos esses lideres posteriores foi Paulo. O Senhor o enviou ―aos gentios de longe‖. Mas ele não foi sozinho. ―Justamente, em sua primeira viagem missionária, lemos de Paulo e seus companheiros‖. Ele não era apenas um evangelista proeminente, mas também um treinador de evangelistas. Fez uma obra estupenda

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mas não estava sozinho em suas proezas evangelísticas. Onde quer que fosse levava consigo seus auxiliares. Alguns pareciam ser parte de seu corpo permanente de obreiros. Com ele iam para todas as partes. Alguns a ele se uniram por algum tempo, e depois se separaram para levar o evangelho a algum outro campo necessitado. Outros ainda foram deixados atrás para estabelecer as novas igrejas que haviam sido suscitadas pelo grupo evangelístico. Com que ternura o vemos falar de seus colaboradores. A Priscila e Áquila chamou de ―meus cooperadores em Cristo Jesus, os quais pela minha vida expuseram as suas cabeças‖ . Que maravilhosa dedicação! Então de Andrônico e Júnia, fala ele assim: ―meus parentes e meus companheiros na prisão‖. E a Lucas, que com ele trabalhou com tanta constância, se refere como sendo ―o médico amado‖. Menciona Tito como meu verdadeiro filho segundo a fé comum‖. E a Timóteo se dirigiu da seguinte maneira: ―Meu amado filho‖. Muitos nomes de sua lista não nos são familiares; isto é, não são mencionados em qualquer outro lugar como tendo feito qualquer coisa importante. Mas eram membros de sua equipe evangelística, e a força de todo o programa ligava-se à cooperação daqueles consagrados coobreiros. Foram os seus esforços unidos que levaram o evangelho às grandes e pequenas cidades da Europa e da Ásia Menor. Foi à fusão dos diferentes talentos que lhes deu eficiência ao trabalho.

O Plano do Mestre

Jesus no enviou os obreiros sozinhos. ―Nunca foi o desígnio de Deus que, em regra, seus servos saíssem sozinhos para trabalhar.‖ (5) Ao serem enviados os primeiros evangelistas, saíram eles dois a dois. ―Chamando os doze para ao pé de Si, Jesus ordenou-lhes que fossem

{436} dois a dois pelas cidades e aldeias, Nenhum foi mandado sozinho, mas irmão em companhia de irmão, amigo ao lado de amigo. Assim se poderiam auxiliar e animar mutuamente, aconselhando-se entre si, e orando um com o outro, a força de um suprindo a fraqueza do outro. Da mesma maneira enviou ele posteriormente os setenta. Era o desígnio do Salvador que os mensageiros do evangelho assim se associassem. ―Teria muito mais êxito à obra evangélica em nossos dias, fosse esse exemplo mais estritamente seguido.‖ (6) Evidentemente o Mestre não Se preocupava muito, como nós às vezes, com o fato de alguns parentes trabalharem juntos. De fato, parecia ser parte de Seu plano que assim fosse. Pedro e André eram irmãos, como eram também Tiago e João e o outro Tiago e Judas. Os primeiros quatro eram primos, e ―Tiago o menor‖ e Judas eram realmente irmãos do próprio Jesus. Nosso Senhor evidentemente não teve dificuldade em trabalhar com Seus próprios irmãos. Suas equipes compunha-se de parentes consangüíneos. E isso não era alguma coisa nova. A equipe que guiou a Israel para fora do Egito consistia de dois irmãos e uma irmã, Moisés, Arão e Miriã. E aqui vemos o Salvador colocando deliberadamente ―irmão com irmão‖ e ―amigo com amigo‖. Faz-nos pensar que ―teria muito mais êxito a obra evangélica em nossos dias, fosse esse exemplo mais estritamente seguido‖, especialmente quando o esforço parece às vezes ser o de nos afastarmos o máximo possível dessa norma. João e Carlos Wesley e Carlos Haddon Spurgeon e seu irmão João são exemplos de como Deus pode abençoar os esforços de irmãos carnais, quando esses são completamente consagrados ao Seu serviço.

A Equipe Evangelística

Mas ainda há uma relação mais íntima que o parentesco. Também é uma relação de sangue, possibilitada pelo precioso sangue de Cristo e consumada com a habitação de Seu Espírito

{437} Quando é mantida essa relação espiritual desaparecem as montanhas de dificuldades. Deve a equipe consistir de diversos tipos de obreiros, mas possuindo todos eles o mesmo espírito. Esta declaração de Obreiros Evangélicos vale a pena ser repetida neste ponto: ―Conjuntamente com a proclamação da mensagem em cidades grandes, há muitas espécies de trabalho a ser efetuado por obreiros de vários dons. Uns devem trabalhar de um modo, outros de outro.‖ (7) ―Um [obreiro] pode ser bom orador, outro bom escritor, outro ainda pode possuir o dom da oração sincera, fervorosa, outro o de cantar, e ainda outro a capacidade de expor com clareza a Palavra de Deus. E cada um desses dons se deve tomar uma força em favor de Deus, pois Ele opera por meio do obreiro.‖ (9) Um grupo ou equipe evangelística poderia incluir evangelistas, pastores, professores, instrutores bíblicos, músicos, enfermei ras, colportores, visitadores evangélicos, repórteres, artistas, mecânicos, e estudantes do evangelho (Evangelismo, pág. 96). E alguns que tenham o especial dom da ―oração sincera fervorosa‖ bem se poderiam demonstrar também uma parte vital da equipe. Podem eles ser chamados intercessores. Geralmente não é costume chamar para ser membro do grupo evangelístico alguém cuja principal contribuição seria a intercessão. Mas a oração desempenha uma parte muito maior no verdadeiro êxito evangelístico do que às vezes se reconhece. Foi a oração que precedeu ao Pentecostes. O evangelismo apostólico estava saturado de oração. Charles G. Finney, cujos grandes reavivamentos, há mais de um século, se tornaram tão amplos, atribuiu os resultados de seu trabalho ao espírito de oração que prevalecia entre alguns de seus companheiros. Em sua autobiografia, dá ele um lugar de grande importância à oração e à sua influência, em seu ministério. Diz ele:

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―Quando estava a caminho de Rochester, ao passar por uma vila, que ficava trinta milhas a leste deste lugar, um irmão ministro que eu conhecia, ao ver-me no navio do canal, pulou para bordo para ter uma pequena conversa comigo, tencionando viajar apenas um pouco e voltar. Contudo, interessou-se na conversa e ao descobrir onde eu ia, decidiu continuar e ir comigo a Rochester. Estávamos ali

apenas há alguns dias, quando este ministro ficou tão convencido que não pôde deixar de chorar em voz alta numa ocasião em que passávamos por uma rua. O Senhor lhe deu um poderoso espírito de oração, e seu coração estava quebrantado. Enquanto ele e eu orávamos juntos, pensei em sua fé quanto ao que o Senhor iria fazer ali. Lembro-me de ele ter dito: Senhor, não sei como é, mas me parece saber que Tu irás fazer uma grande obra nesta cidade.‖ O espírito de oração foi derramado poderosamente, e de tal maneira que algumas pessoas se afastaram do culto público para orar, sendo incapazes de restringir seus sentimentos ante a pregação. ―E aqui devo introduzir o nome de um homem, que freqüentemente terei ocasião de mencionar, o Sr. Abel Clary. Era ele filho de um homem excelentíssimo, e ancião da igreja onde eu me converti. Converteu-se no mesmo reavivamento em que eu me converti. Tinha recebido licença para pregar, mas tal era o seu espírito de oração, tão preocupado estava com a alma dos homens, que não podia pregar muito, sendo todo o seu tempo e forças dedicados à oração. Tão grande era freqüentemente o fardo de sua alma que não podia ficar em pé e se retorcia e gemia angustiado. Eu estava bem familiarizado com ele, e conhecia algo do maravilhoso espírito de oração que sobre ele repousava. Era um homem muito reservado, como quase todos aqueles que têm esse forte espírito de oração‘.‖ (9) Sim, a oração verdadeiramente é o lado cortante do evangelismo. Há necessidade de pregadores poderosos, muito maior, porém é a necessidade de intercessores que movem o coração, e que sentem estar entre os vivos e os mortos. Não é fácil formar uma equipe para atender às necessidades de uma grande cidade. Quanto a isso, é bem claro e específico o conselho do Senhor. ―Não menos de sete homens devem ser escolhidos para levar as grandes responsabilidades da obra de Deus nas grandes cidades.‖ ―Devem esses sete homens ser homens bem despertos, homens de

{439} coração humilde, manso e submisso. Devem investigar as necessitadas cidades‖ (10) ―Quem dera que pudéssemos ver as necessidades dessas grandes cidades como Deus as vê! Devemos planejar colocar nestas cidades homens capazes, que possam apresentar a mensagem do terceiro anjo de maneira tão impressiva que toque profundamente o coração‖.(11) Competente liderança, visão clara, amplo planejamento e consagrada cooperação são essenciais ao êxito da equipe evangelística, contudo é a oração o poder que move o braço de Deus. E só Ele pode dar verdadeiro êxito, Se todos nós nos pudéssemos lembrar de que não há grandes homens entre nós e sim que ―Somos pequenos homens que lidam com grandes assuntos‖, (Evangelismo, pág. 134), isso nos ajudaria a ser mais humildes.

Companheirismo Evangelístico Paulo fala de emulações‖, alistando-as entre os pecados do interesse pessoal. Essa determinação de ser o primeiro minará o espírito até do mais hábil líder. ―Um grande líder nunca se coloca acima de seus companheiros, exceto quanto a levar a responsabilidade‖, declara Ormant. A verdadeira qualidade de um líder vê-se em sua capacidade de inspirar os seus coobreiros e não em sua habilidade para usar os homens meramente como degraus pelos quais galgar a fama. Garibaldi contou às suas tropas que nada tinha a lhes oferecer senão fome, dureza e possivelmente a morte, no entanto se o seguissem juntos uniriam a Itália. Elas o seguiram. E sob sua liderança libertaram o seu país‖. Sua capacidade de inspirar os seus homens mudou o curso da história italiana. Mas como verdadeiro líder, não aceitou favores que não pudesse partilhar com seus homens. Vadeou rios, caminhou através da lama, comeu escassas rações, e dormiu sob as estrelas. Partilhou suas durezas para que eles pudessem partilhar de sua honra.

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É o companheirismo evangelístico, mais que a ditadura evangelística, que traz o êxito. E o desenvolvimento dessa comunhão é a obra do superintendente da equipe. Ao assim fazer, não somente deve ele ser um bom pregador mas também um bom organizador e um grande ensinador de outros homens. Os jovens obreiros que com ele se associam devem ser treinados. Se em relação com a grande campanha for dirigida uma escola de evangelismo, muitos obreiros se poderão estar preparando ao mesmo tempo. Neste caso, não precisa o superintendente dar todo o ensino. Uma equipe é mais do que um grupo indiscriminado. Depois de os membros terem sido escolhidos devem fundir-se. ―Nosso Salvador sabia que pessoas se deveriam associar. Não ligou com o manso e amado João alguém do mesmo temperamento; mas com ele ligou o ardoroso e impulsivo Pedro, esses dois homens não se assemelhavam nem na disposição nem em sua maneira de trabalho, Pedro era pronto e zeloso na ação, ousado e inflexível, e freqüentemente feria; João era sempre calmo e atencioso para com os sentimentos dos outros, e vinha atrás para ligar e animar. Assim eram os defeitos de um encobertos parcialmente pelas virtudes do outro‖ (12) A equipe evangelística pode ser de duas ou vinte pessoas, dependendo da espécie de trabalho a ser feito. O evangelista que se muda de um lugar para outro, empregando todo o tempo ao evangelismo público e a levantar igrejas, naturalmente necessitará de um grupo maior de auxiliares que aquele que é pastor-evangelista e que tem sob seus cuidados uma ou várias igrejas. Como está registrado num capítulo anterior, é o plano do Senhor que ao se estabelecer uma igreja esta se torne um agente evangelizador, dirigindo o pastor os membros no esforço de ganhar almas. Pode de às vezes ter suficiente sorte de ter consigo mais um ou dois obreiros de tempo integral, mas a equipe se constituirá em grande parte de membros leigos. Não pense o pastor que, visto no ter ao seu redor um grupo de obreiros auxiliares, não pode ser

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evangelista. Por menor que seja a igreja pode ele inspirá-la e guiá-la para o campo a fim de batalhar para o Senhor. Alguns dos maiores ganhadores de almas têm tido igrejas a seu cargo.

Embora esteja trabalhando em lugares que já tenham igrejas estabelecidas, deve o pregador, como Paulo, conservar sempre diante de si o repto das grandes regiões não evangelizadas. Era o grande propósito do apóstolo Paulo pregar o evangelho onde Cristo não era nomeado. (Rom. 15: 20). Necessita-se de equipes evangelísticas itinerantes que saiam e suscitem igrejas. E necessariamente devem essas equipes ser maiores. Seja porém a equipe pequena ou grande, há necessidade de três tipos de obreiros— evangelistas pregadores, evangelistas cantores e evangelistas professores. Quanto maior for o grupo, tanto mais variados serão os obreiros, mas esses três tipos são o fundamento especial. Se a equipe se compuser de três, seis ou dezesseis pessoas, os membros se disporão ao redor desse triunvirato. O evangelista pregador, ou superintendente, fará certamente a maior parte da pregação. Mas também preparará os da equipe que planejam fazer da pregação o trabalho de sua vida. O evangelista cantor, que bem pode desempenhar a parte de secretário da equipe, estaria, nesse caso, encarregado das finanças. Mas em acréscimo a essa parte mecânica do trabalho, também seria responsável pelo preparo dos cantores e dos que estão dedicando a vida à música evangelística. Se sua responsabilidade não for cuidar das finanças, bem poderá ele encarregar-se da publicidade ou de qualquer outro aspecto da obra. O evangelista professor, ou o instrutor bíblico dos adultos, responsabilizar-se-ia pelos interessados. Seria sua responsabilidade organizar e elaborar planos para a obra bíblica nos lares do povo. Pode até mesmo ter a seu cargo a classe bíblica

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pública. Também instruirá os instrutores bíblicos mais novos na arte de dar estudos bíblicos, indo aos lares com eles, e, como o evangelista e seus auxiliares, mostrar-lhes-á como levar almas à decisão em favor de Cristo. A técnica de preparo de obreiros do Mestre, não pode sei suplantada. Seus discípulos se desenvolveram na escola da experiência. Viram-no trabalhar. Viram como apresentava a verdade e como lidava com questões embaraçosas. Tomaram parte em Seu ministério em favor dos doentes, e dessa maneira aprenderam a ser pescadores de homens. Foram expostos a um programa de ganhar almas e ficaram contagiados com o espírito de evangelismo. O método de ―nada ou afunda‖ de preparar obreiros, não era o modo do Mestre. Ele levava os obreiros Consigo. Aconselhava-os e os inspirava. E nenhum ministro veterano tem qualquer outro privilégio maior que o de moldar os obreiros mais novos para a causa de Deus. Mas isso é mais do que uma máxima de sala de aula, O evangelismo á apanhado mais do que ensinado. ―Não devem os inexperientes ser enviados sozinhos. Devem ficar justamente ao lado dos ministros mais velhos e mais experimentados, onde estes os possam educar.‖ (13)

Pessoal Sugestivo da Equipe

O que segue é uma equipe sugestiva para uma cidade grande: Evangelista pregador (superintendente, elabora planos para todo o programa)

1. Evangelista auxiliar (Possivelmente encarregado da publicidade) (5 ou 6 anos de experiência) 2. Evangelista auxiliar (3 ou 4 anos de experiência) 3. Pregador recém-formado (em preparo no campo) 4. Pregador recém-formado (em preparo no campo)

Evangelista cantor (líder auxiliar, possivelmente secretário das finanças)

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1. Evangelista cantor (4 anos de experiência) 2. Cantor recém-formado (em preparo no campo) Evangelista professor (senhora, auxiliar) 1. Instrutor bíblico auxiliar (5 ou 6 anos de experiência) 2. Instrutor bíblico auxiliar (3 ou 4 anos de experiência) 3. Instrutor bíblico recém-formado (em preparo no campo) 4. Instrutor bíblico recém-formado (em preparo no campo)

A Importância, de se Aconselharem Mutuamente

Toda equipe evangelística deve ter concílios freqüentes. Encontrei-me certa vez com um grupo de obreiros numa grande cidade. Estavam ansiosos de que com eles examinasse os seus problemas. Na reunião de conselho verifiquei que nenhuma vez, desde a noite de abertura da campanha, se haviam eles reunido como uma equipe para orar e aconselhar- se. Fazia mais de dois meses que estavam realizando as reuniões, mas nenhum sabia muito sobre o que os outros estavam fazendo. Não é de admirar que estivessem em dificuldades. O fato triste é que eles não eram uma equipe; eram um grupo de obreiros, mas certamente não havia entre eles o espírito de equipe.

O Espírito de Equipe é Vital ao Êxito

―Devem os obreiros em cada cidade reunir-se freqüentemente para conselho e oração, a fim de poderem ter sabedoria e graça para trabalharem juntos eficiente e harmoniosamente.‖(14) Sempre que se faça um esforço especial num lugar importante, deve-se estabelecer um bem organizado sistema de trabalho. Os que são obreiros devem ser também discípulos, e enquanto o ministro trabalha na palavra e na doutrina não devem estar vagando indiferentemente ao redor, como se nada houvesse no sermão que eles necessitassem ouvir. Não devem considerar o pregador

simplesmente como um orador, porém como um mensageiro de Deus aos homens, Não se devem permitir que as preferências e preconceitos pessoais os influenciem no ouvir. Se todos imitassem o exemplo de Cornélio, e dissessem: ―Agora pois estamos todos presentes diante de Deus,

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para ouvir tudo quanto por Deus te é mandado, receberiam muito mais proveito dos sermões que ouvem.‖ (15) ―Devem conservar-se na própria atmosfera das reuniões, familiarizando-se com as pessoas conforme entram e saem, mostrando a máxima cortesia e bondade e terna consideração para com sua alma.‘ (16) O espírito de equipe determina em grande escala o êxito do esforço. ―Quanto você pesa, filhinho?‖ perguntou um cavalheiro de bondoso semblante. ―Trinta quilos‖, foi a resposta. Mas acrescentou apressado: ―Mas o senhor precisa ver-me quando me estou esforçando bastante, então peso uma tonelada!‖ Precisamos de equipes que se estejam esforçando bastante; equipes que vivam para uma coisa somente o preparo de um povo para se encontrar com Deus. Stephen Zweig, recorda um incidente que ocorreu durante os terríveis dias da revolução francesa. Aqueles dias eram escuros e perigosos. Sob o acompanhamento dos tambores abafados, Luiz XVI, o monarca condenado, começou sua trágica jornada pelas ruas de Paris até o lugar da execução. Era este, um momento supremo na luta da França pela liberdade. Uma multidão, tensa de excitação, reunira-se para testemunhar a execução. Não longe do local, contudo, havia uma fileira de pescadores na margem do Sena, com as linhas na Corrente. Seria possível que qualquer francês estivesse indiferente aos momentosos acontecimentos daquela hora? Talvez estivessem ansiosos por escapar da repugnante cena de sangue e carnificina. Em qualquer caso evidentemente outros interesses para eles significavam mais do que as grandes crises políticas dos seus dias. Continuaram sua pescaria. Também nós estamos vivendo em anos cheios de acontecimentos. A idade atômica nos sobreveio com uma precipitação que nos deixa atônitos. Os homens falam acerca de suas horripilantes possibilidades e cada nação vive temendo o futuro. Há perigo de que estas coisas se tornem supremas

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em nossa vida. Nossa obra não é endireitar o mundo, mas chamar um povo preparado para os Séculos Eternos, em vez de para a Era Atômica. Enquanto o ar está cheio de confusão, continuemos pescando. As próprias perplexidades de nosso tempo são a garantia de nosso êxito. É do próprio gênio do evangelho de Cristo que ele se possa sobrepor a cada obstáculo. A oposição torna-se a oportunidade; o repto provê a oportunidade. Se continuarmos pescando, apanharemos homens. Anos atrás, o Princess Alice, um navio de passeio, regressava da viagem. Uma multidão, ansiosa e expectante enchia o convés enquanto essa embarcação subia ruidosamente o estuário do Tamisa. O Sol se punha, e estavam quase em Gravesend, quando repentinamente a cerração desceu sobre o rio tornando a visibilidade muito difícil. Dois pescadores haviam remado para casa, e haviam amarrado os seus botes. Um já havia saído com sua escassa pesca e já estava quase fora de vista, quando repentinamente se ouviu um terrível estrondo, pois o Princess Alice colidira com outro navio — o Bywell Castle. Gritos agudos substituíram as alegres risadas daqueles que estavam gozando os feriados, e inesperadamente novecentos homens, mulheres e crianças foram arremessados ao mar. Ali estavam eles, alguns agarrados à embarcação que afundava, outros nadando, e outros já desaparecendo na escura corrente. Sem um segundo de hesitação, um desses pescadores, esquecendo as suas próprias necessidades pessoais, desamarrou seu pequeno bote e remou como nunca dantes remara, Logo estava no cenário. E com braços ansiosos puxava para dentro tantos homens e mulheres, meninos e meninas, quantos podia. O que significava o seu pequenino bote cheio em face de tamanha tarefa? Carregado até às bordas, dirigiu-se para a praia. Mas mãos crispadas se estendiam para ele. Enquanto se afastava do cenário da tragédia, de todos os lados chegavam apelos desesperados de auxílio. O que mais podia

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ele fazer? Mais uma pessoa afundaria a sua pequena embarcação. No entanto homens se estavam afogando diante de seus próprios olhos. Retorcendo as mãos, olhou para o Céu e clamou: ―Oh Deus, um bote maior‖! Seiscentas pessoas perderam a vida naquele dia trágico. Então durante o inquérito que prosseguiu, ambos os pescadores foram chamados como testemunhas. Um fizera o máximo, salvara a todos que podia salvar. O outro infelizmente, nenhuma tentativa fizera para alcançar o local do desastre. É verdade que a cerração obscurecia a visão; da praia eles não podiam ver justamente o que estava acontecendo. Cada um percebeu que alguma coisa horrível acontecera, pois tinham ouvido o barulho da colisão. O oficial encarregado de investigar a causa das mortes ao citar o caso, voltou- se para o homem faltoso e disse: ―O senhor não se envergonha de si mesmo por não ter ido em auxílio?‖ ―Envergonho-me, senhor‖, respondeu ele tremendo, ―e me envergonharei de mim mesmo até o fim dos meus dias‖. Ele poderia ter ido, mas não foi. Tivesse ele formado uma equipe com o outro homem, e tivessem ambos os barcos sido levados ao cenário do desastre e quantos mais se poderiam ter salvo! Não precisamos relembrar-nos de que estamos vivendo no ocaso da História. Tampouco deixamos de saber que uma cerração desceu sobre o nosso mundo ralado de tristeza, e que gritos frenéticos de auxílio se ouvem em cada terra. Mas qual é nossa resposta? Ser chamados para o trabalho de salvar os homens que perecem; ser conclamados para levantá-los das águas escuras da morte eterna, tanto é um repto como um privilégio. Mas tal trabalho necessita botes maiores e melhores homens, visões mais amplas e maiores planos. Possuindo os, que equipe de obreiros voluntários unidos em sua tarefa poderia calcular as possibilidades em resultados evangelísticos? Espírito de equipe e visão — esses são os fatores do êxito.

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Se temos sido chamados para sermos ―cooperadores juntamente com Deus‖, tenhamos também a certeza de que somos cooperadores uns dos outros ao nos apressarmos a ir salvar homens das garras do desespero e do pecado Estejamos preparados para nos regozijarmos com o êxito uns dos outros bem como para simpatizarmos com os reveses mútuos. Nada é mais precioso à vista de Deus do que o companheirismo de consagrados ganhadores de almas. E o evangelista certamente não tem recordação mais feliz do que a daquelas reuniões de oração e de lutas, em que com os companheiros eles juntos se apoderaram do braço poderoso em favor daqueles por quem trabalhavam. O tempo certamente traz as suas mudanças e alguns daqueles com quem trabalhávamos estão hoje longe de nós. Pode ser que nossos caminhos jamais se cruzem outra vez, contudo, como membros da equipe mundial de ganhadores de almas é um privilégio sentir o espírito de união que nos- torna a todos uma só pessoa em nosso grande objetivo. Ao sairmos, membros da grande equipe mundial, possa o Espírito do Mestre dirigir-nos de ta maneira que conservemos a comunhão nos laços do amor e da paz. 1) Obreiros Evangélicos, (3º ed), pág. 345 (97).

2) White, Carta 122, ‗902 (98 e 99), 3) White, Carta 9 902 (98), 4) Atos dos Apóstolos, pág. 547. 5) White, Practical Adresses em ―Historical Sketches‘‘, pág, 126 (73).

6) O Desejado de Todas as Nações, pág. 258. 7) Obreiros Evangélicos, (3º ed.), pág. 345 (97). 8) Idem, pág. 483 (99). 9) Citado em How to Promote and Conduct a Successful Revival, With Suggestive Outlines por R. A. Torrey, pág. 20 e 2‘,

10) White, Carta 58, 1910 (37). 11) White, Manuscrito 83, 1909 (38). 12) White, Practical Adresses em ―Historical Sketches, pág. 127 (72 e 73). 13) White, Manuscrito 104, 1898 (684).

14) White, Medical Ministry, pág. 300 (78) 15) Fundamentals of Christian Education, pág. 107 e 108. 16) Testimonies for the Church, Vol. 6, pág. 46.

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CANTANDO AO SENHOR COM GRAÇA EM VOSSO CORAÇÃO

COLOSSENSSES 3:16 25

MÚSICA E MÚSICOS PARA O EVANGELISMO Tinha eu treze anos de idade quando ouvi pela primeira vez Charles Alexander dirigir um grande auditório num serviço de canto. Milhares de pessoas estavam presentes nessa reunião, Deu-se isso na cidade de Melbourne, e ao penetrar no grande salão em companhia de meu pai, meu coração foi movido ao ouvir a multidão entoar a mensagem naquele simples cântico: ―Não há amigo igual a Cristo‖. A interpretação da congregação dirigida por Alexander era inesquecível. E quando nos levantamos afinal para cantar o ―Glory Song‖, parecia-me ver o Salvador abrindo as portas de pérola da cidade celestial. Milagres de melodia operaram-se em meu coração infantil naquele dia, e determinei perante Deus, que, com o seu auxílio, eu também seria um diretor de canto algum dia. Eu me criara numa casa cheia de música, pois meu pai era músico, mas isto era mais do que música; era evangelismo incandescente ao branco. Quando o Dr. Wilbur Chapman se levantou para pregar cada um estava pronto para a mensagem.

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O serviço de cântico havia arado e gradeado o solo, preparando-o para a semente do evangelho. ―Trazei-me um tangedor‖, clamou o profeta Eliseu. ―E sucedeu que, tangendo o tangedor veio sobre ele a mão do Senhor‖. II Reis

3:15. Necessitavam esses soldados ser reduzidos ao silêncio antes que a mão do Senhor viesse sobre o profeta. E esse é um dos grandes propósitos do serviço de cântico evangelístico.

A maior mensagem que Deus já enviou à Terra veio nas asas do cântico. Foi um anúncio de paz e de alegria a todos os homens de todas as nações, para todos os tempos.

“Por anjos de luz levada, foi na calma noite dada.” Sua mensagem ecoou sobre as colinas de Belém, trazendo ao mundo as boas-novas pelas quais os homens tanto haviam

esperado. O cristianismo é uma religião de cântico porque traz uma mensagem de alegria. As únicas terras onde o povo canta com

naturalidade em tom maior são aquelas que têm sido influenciadas peio pensamento cristão. Todas as outras cantam em tom menor. O reavivamento e o regozijo andam juntos. ―Não tomarás a vivificar-nos, para que o Teu povo se alegre em Ti?‖ clama o salmista.

A nova vida em Cristo deve exprimir-se. E, através de todos os séculos, cada novo despertamento do pensamento religioso se tem imortalizado em cântico. Paulo fala: ―Admoestando-nos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao Senhor com graça em vosso coração‖. Col. 3:16. Quer seja Ambrósio de Milão no quarto século, ou Bernardo de Clairvaux no século doze, ou Wiclef a Estrela da Alva da Reforma, ou Lutero, o cantor de Erfurt, o trabalho de cada um deles foi assinalado pela voz do cântico. Os hinos de Carlos Wesley, que eram mais

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de seis mil, são realmente o movimento que fez época em seu tempo, expresso em música vivificadora. João Wesley fez o povo chorar de arrependimento. Seu irmão Carlos fe-los cantar de gozo.

E sempre tem sido assim. Não nos lembramos agora dos sermões que Moody pregou, mas ainda cantamos os hinos que Sankey nos deu. Seus cânticos evangélicos simples e penetrantes abrandaram muito coração, que a mensagem falada de seu colega não pudera tocar. Sankey possuía aquele raro dom de subordinar a si e a sua música à mensagem. Sua personalidade como cantor perdia-se, tomando-se o ouvinte cônscio de uma coisa somente-que estava diante de Cristo.

Que Espécie de Música Usaremos?

O cântico é um meio divino de imprimir a verdade espiritual no coração, e ―tanto é um ato de culto como a oração‖. E embora toda música sacra seja boa, e possa ser um meio de culto, contudo a melhor espécie de música apropriada para o evangelismo, geralmente é da espécie mais simples. Não me refiro à música do tipo do jazz, sincopada, sem sentido sentimental que às vezes se dirige sob o nome de ―música evangélica‖. Longe disto! Cânticos como estes não podem estimular a vontade, e a não ser que a música estimule a vontade, não poderá haver a verdadeira entrega do coração.

Admoestando-nos a cantar com graça em nosso coração, Paulo classifica a música da igreja como sendo a de ―salmos e hinos e cânticos espirituais‖. O hino difere de um cântico evangélico. No hino nós nos dirigimos à Deus. Tanto pode ser de louvor como oração, mas é um tributo à Divindade, e geralmente toma a forma de alocução direta. O cântico evangélico por outro lado é um testemunho do amor e do poder de Deus, e se dirige aos homens. Como o sermão, pode o cântico evangélico ser um apelo para a submissão do coração aos reclamos de Cristo. Na obra do evangelismo há

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lugar para ambos. Alguns de nossos hinos mais queridos são também decididamente evangelísticos. Definitivamente, é um erro pensar que somente os cânticos evangélicos são próprios para o evangelismo e que no programa não há lugar para os hinos. A inclinação para a classe de música leviana, sincopada, que com tanta Freqüência passa por típica música evangelística deve ser lamentada. Que coração não fica sensibilizado ao ouvir um grupo de galeses cantando ―Oh amante da minha alma‖, a majestosa melodia de Aberystwyth. E poderia haver um hino mais evangelístico? Cada linha está saturada da mensagem da abundante graça de Deus. Não é necessário ser um hino evangélico para apelar ao coração; e muito menos uma canção leviana. Um hino pode muito bem exprimir as emoções. Vi uma congregação inglesa tão Comovida enquanto cantava ―Coroai-O Rei dos reis‖, que mal podiam pronunciar as palavras, deslizando as lágrimas de muitos pelas faces abaixo ao contemplarem as mãos e os pés feridos e o olhar admirado dos anjos no mistério do divino amor. Então, quando dirigi a orquestra e o coro evangelístico de cento e cinqüenta vozes na interpretação de ―Certamente Ele levou as nossas dores sobre Si,‖ do oratório de HandeI, Messias, aquela grande multidão justamente ficou em silêncio, e muitos choravam enquanto adoravam. Pode o coro estar interpretando um simples hino evangélico, como: ―Oh! nunca separar‖, ou o coro de um dos grandes oratórios, tal como: ―Graças a Deus‖, ou ―Não temais‖, de Elias de Mendelssohn, mas podem os cantores estar tão dominados pelo espírito de evangelismo que pela sua interpretação os corações sejam movidos à oração ou ao louvor. Não é tanto o que se canta como a maneira em que é cantado que o torna evangelístico.

A Importância de Conhecer os Hinos e os Seus Autores

O cantor-evangelista deve ser capaz de levar a congregação

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à presença de Deus pelo serviço do cântico. Para fazê-lo deve ele conhecer os hinos e poder interpretar sua mensagem. Os nossos hinos evangélicos que mais apelam e os nossos hinos mais nobres são o eco de louvor e oração concebidos por almas santificadas em seus momentos de mais elevada inspiração. O hinário contém pura experiência cristã cristalizada. Depois da Bíblia e dos conselhos do Senhor é ele a maior herança da igreja. E sábio é o pastor-evangelista que estuda seus hinos e cânticos.

Nem todos os hinos terão vida longa, mas alguns nunca morrerão. Vieram à existência sob uma grande experiência espiritual. E o evangelista do cântico que sabe como fazê-lo habilitará o auditório a pegar algo da inspiração que se encontra na letra. É esse o motivo de ele dever estar familiarizado com o hinário e conhecer os autores e compositores. Novos significados é dado a um grandioso e velho hino como ―Comigo Habita‖, se o auditório se familiarizar com as circunstâncias que o trouxeram à existência. Realmente é ele gloriosa resposta a uma oração que Henry Lyte escreveu nos primeiros anos de seu ministério. Na ocasião em que escreveu a oração poderia ela ter apenas parecido um sonho nebuloso e abstrato. Mas, com o correr dos anos, cristalizou seu pensamento num propósito definido. Cada dia o encontrou orando para que Deus o ajudasse a cumprir a sua elevada resolução.

Foi qualquer oração jamais respondida de maneira mais magnificente? ―Comigo Habita‖ encontra-se em cada hinário protestante e foi traduzido em mais línguas do que qualquer outro hino.

―Comigo Habita‖ Ouvido na Antártica

Quando o Sr. Ernest Shackleton empreendeu sua última e fatal viagem à Antártica, levou consigo uma gravação da linda interpretação desse belo hino feita por Madame Clara

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Butt. Lidando com aquelas escorregadias geleiras e com bancos flutuantes de gelo queria Me ter a certeza de que o seu Companheiro invisível com ele habitava. Jamais voltou. Como muitos outros, tornou-se um holocausto à causa do descobrimento científico. Quando finalmente veio a se defrontar com a morte, pediu que o hino fosse tocado de novo. E lá entre as grandes vastidões da Antártica ouvia-se ecoar a bela melodia daquela oração evangélica.

“Depressa encontrarei o fim mortal; Desaparece o gozo terreal! Mudança vejo em tudo e corrupção; Comigo faze eterna habitação!” “Presente estás nas trevas e na luz; Não há perigo, andando com Jesus; A morte e a tumba não aterrarão Aquele em quem fizer habitação!” O verdadeiro líder de cântico ajudará o auditório a atingir algo dessa visão. Quando o faz, então a cantarão no espírito de

resignação e de triunfo. ―A música pode ser um grande poder para o bem; contudo não tiramos o máximo proveito desta parte do culto‖. (1) ―O cântico faz parte do culto a Deus, mas na maneira! descuidada em que freqüentemente é dirigido, nem é uma recomendação

para a verdade, nem uma honra a Deus.‖ (2) Longe estão essas declarações de ser lisonjeiras; mas quem as desafiará? Deve o cântico ser dignificado, não negligenciado.

Poderia haver um cântico mais simples do que ―O amor de Deus‖? Contudo, ao ouvir Ben Glanzer cantar estas palavras: ―Sublime amor, o amor de Deus!‖ ninguém pode deixar de abrir o coração às ricas correntes desse divino amor. É um cântico simples — não há mais simples — mas parece que os anjos param admirados, dobrando as asas em atitude de culto e adoração, enquanto vozes humanas tomam o verso e contam a história desse incomensurável amor.

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O Evangelista Cantor e o Pregador Devem Trabalhar em Intima União

Deve haver a mais íntima associação entre o evangelista que canta e o evangelista que prega. Estão fazendo um só trabalho, e

juntos devem elaborar o programa. O serviço de cântico não é uma parte extra ou preliminar. É tão vital como o sermão e deve ser planejado de maneira tão definida como este. Entrar apressadamente perante um auditório e dizer: ―Bem, minha gente! Aqui estamos! Que vamos ter? Quais são os vossos prediletos?‖ é absolutamente imperdoável, e precisamente não leva a nenhum lugar. Naturalmente, deve haver uma certa falta de formalidade quanto ao serviço de canto, a fim de unir o grupo. Mas isso é apenas a aparência exterior. O programa foi elaborado com certo objetivo definido, e cada item — os hinos da congregação, os solos e os números do coro — obedece a uma norma.

O Coro Evangelístico

A organização de um coro evangelístico, muito fará para despertar o interesse do povo no cântico. Mas a formação do coro é

importante. Reunir um grupo indiscriminado de vocalistas cuja ambição excede aos seus talentos, não atende à necessidade. Tampouco deve o coro ser um lugar de mera ostentação de talentos. Aqueles que vêm simplesmente para serem vistos e ouvidos pelos homens, cuja voz é seu orgulho, não são material com que formar um coro que toque a alma. O coro evangelístico é justamente o que o nome implica, e aqueles que a ele se unem, devem fazê-lo sentindo que devem cantar para levar a salvação à alma dos pecadores perdidos. Não precisam ser profissionais, embora o talento seja um ativo, mas precisam ser inspirados e ensaiados.

―Não contrateis músicos mundanos... Reuni cantores que cantem com espírito e também com entendimento.‖ (3)

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―Quando o cântico é de tal molde que os anjos Se podem unir com os cantores exerce-se na mente uma impressão que o cântico de lábios não santificados não pode exercer.‖ (4)

―Quando os cantores oferecem seus préstimos, devem ser aceitos. Mas não deve usar dinheiro para contratar cantores.‖ (5)

O Coro é um Campo Frutífero de Evangelismo Tem-se e o coro evangelístico demonstrado não somente um meio para trazer uma bênção às reuniões em geral, mas também

ele mesmo se tem revelado campo frutífero de evangelismo. Num levantamento que cobria um período de mais de vinte anos, fique i animado ao descobrir que noventa e cinco por cento daqueles que, não pertencendo às nossas fileiras , se uniram ao coro, mais tarde também se uniram à igreja. Enquanto cantavam a salvação fazendo com que esta penetrasse no coração dos outros, cantaram eles mesmos de tal maneira que penetraram na mensagem. O espírito de evangelismo apoderou-se de seu coração, e os tornou tanto conversos como veículos de conversão. Certamente se tomou cuidado para que enquanto estavam adornando a doutrina de Cristo também se estivessem adornando como convém aos santos. Pôr de lado todo o adorno mundano, enquanto cantavam no coro, era um requisito definido, e sempre obtive cem por cento de cooperação. Durante quinze anos dediquei uma noite da semana ao ensaio do coro, e nunca me arrependi disto. Eles eram os meus auxiliares no evangelho. Trabalhávamos juntos.

Cantar Cânticos que Tenham uma Mensagem Real

Para que um cântico tenha poder, deve ele também ter uma mensagem. Nos grandes reavivamentos dirigidos por Charles C.

Finney, há um século ou mais, foram excluídos de suas reuniões quaisquer cânticos que deixassem de exprimir o poder e a certeza da graça redentora. É esse um princípio

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que deve ser seguido. Devem os hinos ser escolhidos com cuidado. O povo nunca entrará no espírito de reavivamento enquanto canta a espécie de hinos mórbidos, sentimentais, humanísticos, que muitas vezes se encontram nos hinários. Os cânticos que cantamos são tão importantes como os assuntos que pregamos.

―Deve a ciência da salvação, ser o fardo de cada sermão, o tema de cada cântico.‖ (6) ―A vida religiosa não é uma vida de obscuridade e de tristeza, mas de paz e alegria,‖ (7) ―Não firais uma nota dolorosa; não canteis hinos fúnebres.‖ (8) Alguns cânticos irradiam o amor e a alegria do Céu. Mas a outros falta aquela nota vibrante de certeza tão real ao evangelho. São

estes hinos ―fúnebres‖ no estilo correto. Alguns cânticos têm pensamento puramente subjetivo, refletindo às vezes uma espécie de enfado. Tais cânticos jamais podem elevar uma congregação aos lugares celestiais.

Vezes há em que um indivíduo pode verdadeiramente cantar sua oração de arrependimento em palavras como as que seguem. ―Aos Teus pés estou prostrado, Venho em contrição; Peço-Te que me consoles Este coração-‖ Mas esse não é o estado normal do cristão. Se ele vive na experiência da vitória sobre o pecado, seu coração estará cheio ―de

indizível alegria e pleno de glória‖. Por que então pedir a toda uma congregação que cante palavras que de maneira alguma se adaptam à sua experiência? Pode, certamente o pecado repentina e inesperadamente fazer com que até mesmo um cristão de longa experiência tropece, mas se isso ocorre, ele imediatamente confessa e abandona seu pecado. E quando o pecado é posto de lado, deve ele então poder cantar

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sobre a misericórdia do Senhor. Mas pedir a toda uma congregação que cante acerca de pecado ―incontrolável‖ ter domínio sobre suas almas — ora isso é um absurdo e absolutamente anticristão. Os que aceitaram o dom gratuito da graça devem estar vivendo num estado de vitória, gozando a experiência de que fala o apóstolo, quando diz: ―Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.‖ Rom. 6:14.

Cowper era bom cristão, e deu à igreja alguns de seus melhores hinos. Mas era um sofredor. Freqüentemente era tomado por uma forma de melancolia, que em algumas ocasiões quase o enlouqueceu. Algumas vezes escreveu quando estava sob esses ataques, e naturalmente seus pensamentos lhe refletiam os sentimentos. Mas por que se deve pedir a uma congregação que o siga até o vale do desespero? Por que se deve exigir que cantem palavras expressivas de desânimo e melancolia?

―O seguido de Cristo não deve ter doloroso vazio‖. Nem Paulo, nem Pedro, nem João, nem Tiago nos dizem algo acerca de um ―doloroso vazio‖. Eles viveram na experiência da vitória. E assim devemos nós viver. Tiago disse: ―Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações‖. Qualquer pessoa se pode regozijar depois de passada a crise. Mas o cristianismo encontrou um modo de se regozijar em meio ao sofrimento. E os cânticos que entoamos devem ter o poder de acalmar a tensão inquieta do cuidado. Devem vir como uma bênção para inspirar fé e confiança. Mas ―hinos fúnebres‖, de claustro e sepulcrais jamais podem ser um meio de comunicação espiritual. Rejeitai-os, ou pelo menos omiti as estrofes especiais que falam de dúvida e derrota. Podem ser ricos em poesia e harmonia, mas tal riqueza apenas será o tributo floral que adorna o esquife de um hino fúnebre.

Por outro lado, um hino que nem é rico em poesia nem em harmonia, pode ter em si o toque do evangelho. Por

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exemplo, àquele bem conhecido hino evangélico ―A mensagem vem de Deus, que Jesus é o Salvador‖, pode faltar música, mas não falta uma mensagem. Notai o efeito sobre a congregação que o canta com verdadeiro entendimento. Quando os homens cantam acerca da salvação de Deus, seu coração se eleva ao Céu. Quando cantam: ―Marchamos para Sião‖, têm vontade de marchar. Desejam ir para a terra de Canaã. Mas quando se lhes pede que cantem acerca do poder do pecado, seus olhos se volvem para si mesmos, e o dirigente de canto que escolhe tais hinos não é melhor do que os dez espias infiéis cuja mórbida perspectiva roubou à nação o descanso em que devia ter entrado. Não se deveria inspirar as congregações a confiar no Deus vivo em vez de fazer com que seus pensamentos se centralizem no poder do inimigo? Os hinos e cânticos cujo tema ou experiência são superficiais, e que não são reais, jamais podem ser evangelísticos. O povo hoje está à procura de certeza e segurança, e os cânticos e sermões da mensagem devem ecoar com realidade, para que os homens possam ouvir e seguir a mensagem de graça de Deus.

Assisti a uma reunião, no coração da África, em que um grupo de ministros e obreiros evangélicos realizavam um concílio. Os africanos gostam de cantar, e a maneira animada em que entravam no cântico revelava que este era para eles um dos prediletos. Ao terminarem, pedi-lhes que reparassem nas palavras. Era uma seleção bem conhecida, o que tornou isso ainda pior, pois revela quantas vezes apenas cantamos as notas e não os pensamentos. A maior parte dos versos do hino são bons, mas a última linha revela uma característica falta de certeza. O poeta pinta o cristão no leito de morte, aguardando ―a doce libertação‖. Em vez de expressar sua confiança no Senhor, cogita ele ali se seu nome está escrito no Céu. Se jamais houve um tempo em que alguém necessita

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ter a certeza da salvação, deve esse certamente ser na hora em que está penetrando nas sombras da morte!

―Cogitando se seus nomes estão ali!‖ exclamei. ―Ora, isso é terrível Pensai nisto. Vós sois os embaixadores de Deus neste grande continente negro da África. Milhões desta terra necessitada jamais ouviram as maravilhosas novas da graça de Deus. E Ele vos chamou para lhes levar a Sua mensagem de amor. Nesta hora de incerteza e de confusão, em que a: maré crescente do nacionalismo ameaça destruir a civilização, vós evangelistas deveis levar uma mensagem de esperança e de certeza ao homem perdido. Mas se vós nem mesmo sabeis se vossos próprios nomes estão ou não no livro da vida, como podeis levar aos outros uma mensagem de confiança? Se não há em vosso coração o toque do evangelho, como podereis fazer com que outros corações se regozijem nas alegres novas da abundante graça de Deus? Paulo pôde dizer: Eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia‖. Confiança e certeza eram a nota tônica de sua mensagem. E aquela mesma certeza deve assinalar a nossa mensagem, hoje!

Então li a declaração do livro Evangelismo que já foi registrada: ―Não canteis hinos fúnebres‖. Lancei um repto ao seu pensamento. Isso os estimulou ao ―reestudo do evangelho‖. Despertou-se um reavivamento entre aquele grupo, e antes de terminarmos aquela semana de concílio, toda a atmosfera daquela reunião estava mudada. Como resultado, suas orações e seus testemunhos ressoaram com uma nota de vitória. Alguns daqueles obreiros se exprimiram como se tivessem achado pela primeira vez a realidade do evangelho. E agora, com segurança podiam cantar as palavras de Carlos Wesley:

―O meu Senhor no trono está assentado, Em Suas mãos meu nome tem gravado.‖

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No Salmo cinqüenta e nove, Davi roga a libertação de seus inimigos. E então no verso dezesseis exclama: ―Eu porém cantarei a Tua força pela manhã louvarei com alegria a Tua misericórdia‖. Sal. 59:16. Então ouvimos o profeta Isaías exclamar: Cantai ao Senhor um Cântico novo, e o Seu louvor desde o fim da Terra. . . Exultem os que habitam nas rochas, e clamem do cume dos montes. Isa. 42:10 e 11. E Paulo, no Novo Testamento, pega o eco dos séculos e diz: ―Enchei-vos do espírito; falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais: cantando e salmodiando ao Senhor em vosso coração‖. Efé. 5:18 e 19.

Este é um bom conselho para hoje. Deixai a doutrina da melancolia para os cientistas. Nós temos glorioso evangelho, um evangelho que iguala o desastre do mundo. Tomemo-lo uma mensagem de radiante esperança. Acabemos com a tristeza, banindo do coração de nossos semelhantes o medo. Em nossos cânticos e em nossos sermões, tenhamos a certeza de que estamos salientando a grande salvação de nosso Deus. Seu poder perdoador deve ser o tema central. Nenhum sermão deve jamais ser pregado, nem entoado cântico algum que não eleve o Salvador.

―Exaltai a Jesus,... exaltai-O nos sermões, em cânticos, em oração. . . . Seja a ciência da salvação o tema central de todo sermão, de todo hino.‖ (9)

Voltai Vossos Olhares Para Jesus

Apressadamente fui chamado a um lar de onde o amor e a confiança haviam fugido. O marido, homem sobre quem o mundo

tinha forte domínio, durante muitos anos prometera nunca mais cair em certo vício do qual era vítima. Mas quebrara a promessa. Isso trouxe uma crise no lar, e quando eu cheguei a casa estava em confusão. A esposa arrumara as malas e estava saindo com as cri anças. As coisas estavam em má condição. Meu irmão, que era membro do grupo evangelístico,

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foi comigo, e ao chegarmos a situação parecia sem esperanças. Durante quatro horas aconselhamos e oramos silenciosamente. As crianças, que esperavam com o chapéu na cabeça, e que estavam prontas para partir com a mãe, finalmente adormeceram na cadeira, na sala de estar. Às vezes parecia impossível. Mas prosseguimos, sob a impressão de que o Senhor permitira tudo isto tendo um propósito em vista. Esse homem, que era funcionário do Banco devia pôr sua confiança em Deus em vez de pô-la em suas próprias e fracas promessas. Mas a pobre esposa magoada não podia ver isso desse jeito. Disse que para ela estava tudo acabado, e quem a poderia censurar! Mas lá pelas duas horas daquela manhã ela estava calma e sossegadamente atendendo à razão. As quatro e trinta, o Senhor Se manifestou entre

nós de maneira muito maravilhosa. Seus corações se abriram para Sua graça, e quando os primeiros raios da alva estavam anunciando um novo dia, testemunhávamos nós também o alvorecer de outro dia. O Sol da Justiça Se levantara trazendo cura em Suas asas. E duas almas se haviam reconciliado com Deus e uma com a outra.

Demos nosso louvor Àquele cujo amor alcançara a vitória. Não foi este um caso fácil, e no dia seguinte tive de procurar o gerente do Banco e rogar que conservasse o emprego desse homem. Outros amigos também tiveram de ser procurados. Um deles, um belo cavalheiro cristão e que em outras épocas fora conselheiro confidencial, disse-me: ―Tudo que esta pobre criatura precisa é voltar os olhos para Jesus.‖ Então citou as palavras daquele pequeno coro evangélico que tão bem conhecemos:

―Volve os olhos a Cristo, Contempla Sua face de amor. Quando ao teu redor há perigos mil, Volve o olhar para o teu Redentor.‖ --Melodias de Vitória, 64.

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Quando ele o acabou de citar, eu disse; ―Que palavras maravilhosas‖. ―Sim‖, disse ele, ―e eu conheço a senhora que as escreveu—a Sra. Lemmel of Surrey. Enviar-lhe-ei uma cópia de seu pequeno hino. Tenho a certeza de que o vai apreciar‖.

Dois dias mais tarde, chegou ela pelo correio e imediatamente fiquei encantado tanto com a música como com a letra. Verdadeiramente tudo o de que aquele homem necessitava era conservar os olhos em Jesus. E isso é tudo o de que qualquer pessoa necessita. Quando aprendemos o segredo de olhar para Jesus, o mundo e todas as suas loucuras em verdade se tornam estranhamente obscuros.

Não muito depois dessa experiência, publiquei outro binário evangelístico. Pedi permissão à senhora Lemmel, para usar seu pequenino coro. Ela Foi muito gentil e bondosa. Nunca me esquecerei de sua resposta. ―Certamente pode usá-lo. Creio que Jesus me deu esse pequenino cântico e se Ele o puder usar para ajudar alguma outra alma a encontrar o aprisco, não desejarei maior honra.‖ Quando publicamos o nosso pequenino livro de cânticos, naturalmente aquele coro foi incluído na coleção. Foi essa a sua primeira inclusão num livro. Desde então tem ele encontrado caminho para correções e livros, em todo o mundo. O homem da história, aquele cuja alma foi iluminada pela presença de Deus nas primeiras horas da manhã, possuía magnífica voz, e se tornou cantor-evangelista, guiando milhares no alegre louvor Àquele cujo sangue Faz expiação pelo pecado.

Permaneceu por muito tempo no emprego do Banto; estando ligado aos nossos missionários voluntários, costumava usar seu distintivo MV na lapela do paletó. Uma manhã, um amigo de outros dias, foi visitá-lo no Banco, notando as letras ―MV‖, sorriu e disse com conhecido piscar de olhos: ―Ah, meu rapaz! isso é verdade — Muitos Vícios.‖? Mas o nosso irmão era tão esperto quanto ele e respondeu: ―Sim, Jack,

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você sabe que isto era que costumava ser. Mas tudo está no passado. Agora, pela graça de Deus, é: ―Muito Vitorioso!‖ pois estou vivendo com os olhos fitos em Jesus. Ele rompeu o poder do vicio e do pecado. ―Hoje, graças a Deus, estou livre.‖

Famílias Reunidas pelo Poder de Simples Cânticos

Um dos mais tocantes dramas de toda a primitiva história americana desenrolou-se entre os índios e o homem branco, quando,

depois de anos de acérrima hostilidade, se declarou a paz. Tão acerba se tornou a animosidade entre os homens dessas tribos e os colonos que rara foi a casa que foi poupada. Ao viajante no trilho e ao negociante no mato era arrancado desapiedadamente o couro cabeludo. O hábil índio, com sua acha de guerra abateu muito trabalhador no campo, e a muito lares roubou os filhos.

Finalmente um grande exército de proprietário foi organizado para varrer as florestas e trazer a seus pés os peles vermelhas. Eles os compeliriam a devolver os jovens cativo. Até mesmo os Quakers de Pensilvânia enviaram um forte contingente. Terminou numa cena que provavelmente não tem paralelo na História.

Debaixo de um caramanchão levantado à margem verde do rio, os grandes chefes dos delawares, dos shawness, e dos sênecas reuniram-se para negociar a paz e entregar os seus cativos. Foi uma cena comovente, quando pais e filhos se uniram. Mas com o passar vagaroso do dia, desenvolveu-se uma situação capaz de provar a subtileza do mais arguto. Fazia tanto tempo que alguns dos filhos haviam sido arrancados dos braços maternos que não havia possibilidade de os pais os poderem identificar.

Que se poderia fazer? Ali havia lindas donzelas e jovens rijos com olhos perscrutadores que não podiam reconhecer

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seus pais e mães. Finalmente algum gênio sugeriu que cada mãe passasse pelas fi leiras de cativos não reclamados e cantasse suavemente as canções de ninar e os cânticos infantis que cantavam nos dias passados. Isto resolveu o problema. Conforme cada mãe, por seu turno, se movia em meio à multidão ansiosa, cantando seus cânticos de amor, algum rapaz alto ou delicada donzela corria para os seus braços chorando:

―Mamãe, Mamãe!‖ A atraente melodia do amor lançou uma ponte sobre o abismo. Talvez o cantor-evangelista não saiba qual é o cântico que vai tocar o coração dos escravos do pecado que há no auditório, mas

o Mestre sabe. Se o coração do dirigente do cântico estiver aberto à impressão do Espírito, o Senhor o habilitará a descer até à multidão e pelo toque harmonioso da melodia levar homens a se entregarem a Deus. Pode o Mestre usar até mesmo o cântico mais simples para atrair a Si um pecador.

1) Evangelismo, pág. 505. 2) White em Review and Herald, 24 de julho de 1883, pág. 466.

3) White, Carta 51. 1902 (509). 4) White, Carta 190, 1902 (509). 5) White, Carta 49, 502 (509). 6) White, Manuscrito 207. ‗898 (502).

7) White, Manuscrito 6, 1888 (180). 8) White, Carta 311, 1905 (180). 9) Obreiros Evangélicos, (3° ed.), pág. 160 (185).

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MEDE O TEMPLO DE DEUS E OS QUE NELE ADORAM

APOCALIPSE 11:1 26

MEDIDA, ANÁLISE E AVALIAÇÃO ―Para onde vais tu?‖ perguntou Zacarias a alguém que ele viu em visão com um cordel de medir na mão. E o anjo respondeu;

―Medir Jerusalém, para ver qual é a sua largura e qual o seu comprimento‖. Zac. 2:2. Os anjos são os agentes medidores de Deus. Através dos séculos, têm esses visitantes celestes estado a descobrir a verdadeira

condição da igreja. Foi um anjo que deu a João uma vara e lhe disse que medisse o templo, o altar, e os adoradores. Mostra esse simbolismo que tanto a organização, como a mensagem e a congregação são importantes para Deus.

Tudo que aparece em suficiente quantidade pode ser medido. Sabemos se um homem é alto, baixo, ou mediano, porque há no mundo milhões de outros homens pelos quais se pode estabelecer a norma. E o serviço de alguém para Deus, o que ele faz, e a maneira em que o faz, também podem ser corretamente averiguados. Não cairíamos no engano de nos medirmos a nós mesmos por nós mesmos, e de nos compararmos entre nós mesmos, pois nos é dito que isso não é sensato.

Mas deve haver alguma espécie de análise pela qual a

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pessoa possa calcular o valor de seu serviço. E se pudermos encontrar ―a reta medida que Deus nos deu, para seguirmos até vós‖. (II Cor. 10:12 e 13), grandemente ajudará isso a melhorar o valor de nosso trabalho.

Observar um grupo de nadadores que se preparavam para as provas olímpicas, foi uma revelação. Um perito, que também era vencedor olímpico, instrui-os. Até os mínimos detalhes eram cuidadosamente estudados, num esforço para melhorar os movimentos natatórios. Ansiosos estavam os competidores por obter o seu auxílio, pois no atletismo até mesmo as frações de segundo têm importância.

Então outro grupo procurou o auxílio do treinador. Estes não eram campeões, mas eram bons nadadores. O que ele fez por eles, dentro de alguns minutos, foi uma maravilha. Não somente lhes ensinou a dar uma braçada mais forte, mas, o que até mesmo e mais importante, como vencer a resistência, da água. Observar esse técnico era educar-se. Então me ocorreu o pensamento: Se alguém. pudesse estudar minha técnica evangelística e me pudesse ajudar a fortalecer os pontos fracos, mostrando os lugares que produzem a resistência humana, ou pudesse observar como dirijo o culto da congregação, e me mostrar onde essas coisas poderiam ser melhoradas, isto certamente me aumentaria a eficácia na obra de Deus. Naquele tempo, não era possível obter o auxílio de um evangelista experiente, de maneira que me voltei para os obreiros que me auxiliavam e para os dirigentes da igreja local, e eles me prestaram valioso auxilio. A maior parte da tarefa é descobrir uma norma aceitável pela qual fazer a apreciação. E assim começamos a estudar o que julgamos dever ser uma norma para cada aspecto do programa.

Encontrando a Norma

Muitas perguntas foram suscitadas, tais como: O que é um verdadeiro serviço evangelístico? Que deve ser incluído

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no verdadeiro serviço de culto? Quais são os fatores determinantes que decidem se uma escola sabatina é forte ou fraca? Quais as coisas que devemos esperar numa reunião em casa de família?, O que constitui uma boa reunião de oração?

Ouvi certo obreiro dizer; ―Tivemos uma reunião maravilhosa, esta noite‖ Mas quando começamos a perguntar o que a tornara ―maravilhosa‖, teve dificuldade em dar uma resposta analítica. De modo que lhe perguntamos: Quais eram seus objetivos? Foram alcançados, e, se o foram, como? Logo se tornou evidente que ele não tinha uma norma pela qual lhe determinar o valor.

O atirador deve ter um objetivo, um alvo no qual atirar, ou nunca saberá se o atingiu. Assim deve o pastor, o evangelista, o instrutor bíblico, o superintendente da escola sabatina, ou o líder dos Missionários Voluntários, ter um alvo, um objetivo. De outro modo, estará atirando nalguma coisa imaginária. Se cada indivíduo tiver sua própria idéia, e a tiver alcançado pelo processo de seu próprio pensamento, não buscando o conselho de ninguém, então sua norma pode ser a norma adequada, porém é mais que provável que ele seja a única pessoa que pensa assim.

Avaliação do Trabalho da Equipe

Grandemente pode o trabalho evangelístico ser melhorado e fortalecido se a equipe evangélica estudar cada item em especial,

de maneira crítica mas compassiva. Foi boa a publicidade? Fizeram os recepcionistas e introdutores com que o povo se sentisse em casa ao vir às reuniões? Ao ser anunciada a oferta, foi isso feito de maneira que encorajasse o povo a adorar a Deus por meio de suas ofertas? Teve a forma correta de apelo ou foi introduzida por meio de uma história tola? Preparou realmente o serviço de cântico o povo para a mensagem? Foi o sermão tudo o que deveria ter sido? Foi clara a mensagem e teve o apelo a espécie - de resposta

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que se esperava? Se assim foi, por que o foi? Sentiu-se o povo bem acomodado? Era o lugar devidamente ventilado? (Isso não deixa de ser importante.) Que foi que contribuiu para o êxito da reunião? Foi apenas um acaso ou seguiu uma norma definida de são planejamento? Houve evidência de liderança sadia e consagrada? Houve coordenação no programa? Ezequiel diz: ―Passei a morar onde eles habitavam; e assentei-me ali atônito no meio deles.‖ Ezeq. 3:15. É uma boa coisa colocar-se o pregador no lugar, junto do povo. Pode ser que ele também, como Ezequiel, ficasse ‖atônito‖.

Então talvez a questão mais importante de todas seja: Qual era a atitude das pessoas ao saírem da reunião? Alguns ouvintes bem escolhidos e alerta espalhados no salão, possibilitarão descobrir a reação do auditório. Perguntas feitas com tato por esses representantes grandemente ajudarão no esforço de fazer a apreciação de todo o programa.

Caso se ache que se podem fazer alguns melhoramentos nos serviços de culto, e poucos há que não possam ser melhorados com um pouco de estudo, pode esse melhoramento ser efetuado apelando habilmente para os dirigentes da igreja, talvez para os membros de sua comissão. Alguns são capazes de contribuir com um conselho muito valioso quando encorajados a assim fazer. Mas para ajudá-los em seu julgamento, ponde-lhes nas mãos um ou dois livros sobre os princípios gerais que regem o culto.

O estudo e a discussão feitos pelo grupo evangelístico ou pela comissão da igreja quanto ao que constitui uma boa reunião, não somente lhes estimularão o interesse, mas também darão ao grupo inteligência sobre as questões vitais que proporcionam o êxito. Jamais houve uma reunião que não pudesse ser melhorada. A pergunta que muitas vezes paira na mente da maioria dos obreiros é: Onde deve começar o melhoramento?

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Medidas Sugestivos

Considerando cinco pontos como ―excelente‖, achareis fácil calcular o número total de pontos possível. Então, colocando uma

folha anotada nas mãos de cinco ou seis diferentes pessoas, com a recomendação de que façam para vós uma apreciação da reunião, podereis chegar a alcançar alguma base de estudo. Certamente sua contagem diferirá, mas uma coisa é geralmente evidente — tanto os pontos fracos como os pontos fortes por todos terão sido anotados quase que na mesma proporção. Assim se pode obter uma idéia bem exata, e com ela, valiosas sugestões quanto aos melhoramentos a serem adotados. Nem sempre é fácil aceitar a opinião dos outros, especialmente se sucede serem eles obreiros de menos experiência. Mas isso faz parte do preço da verdadeira liderança. Sócrates certa vez, disse: ―A vida não examinada não é digna de ser vivida‖. Essa dogmática asserção provavelmente é justificada, porque cada um propende para enganar a si mesmo. E um filósofo atual, Santayana, observa significativamente que ―nada requer mais raro heroísmo intelectual do que ver escrita a sua própria equação pessoal‖. Quando Jesus disse: ―Bem-aventurados os mansos‖, não falava da pessoa que é meramente submissa ou recatada. A palavra ―mansos também poderia ser traduzida por disciplinados‖. E todos, tanto os líderes como os obreiros leigos, necessitam da bênção da disciplina própria ou da disciplina dos fatos reunidos.

Contudo é humano esquivar-se do processo de disciplina própria. No entanto, quando alguém determina melhorar-se e melhorar sua técnica, considerará bem-vindo qualquer plano pelo qual possa analisar sua personalidade e seu programa. E tendo descoberto certos pontos fracos meterá mãos à obra para fortalecê-los.

No campo da educação, continuamente vêm sendo aplicados

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testes e medidas, e geralmente com resultados encorajadores. E por que não se podem encontrar meios de avaliar o nosso programa ministerial? Mas a medida daquele que é chamado pelo Senhor não deve ser empreendida num espírito de fria análise. Também é possível que os que estão familiarizados com os testes e medidas usados no preparo do professor corram o perigo de se tornarem excessivamente técnicos em sua apreciação do ministro, e possam fazer uma avaliação errada quanto a alguém que Deus está usando de uma maneira definida. Tudo isso é bem provável se não tiverem tido o privilégio de observar a obra desse homem em variadas condições. Ninguém está na sua melhor forma todo o tempo, e deve-se tomar em consideração as fraquezas humanas. Um programa de supervisão empreendido pelos entendidos, que têm tido uma base de experiência, é completamente diferente daquele outro tipo de análise que alguns têm chamado de ―espionagem‖. Tudo aquilo que tenda para a espionagem é contrário ao plano aqui advogado. Caso o pedido de útil medida e avaliação venha do próprio ministro se brota do desejo de conhecer a si mesmo e de melhorar os seus métodos, então a medida aplicada se demonstrará uma verdadeira bênção. Havendo descoberto fraquezas, ele, como seu próprio avaliador, se esforçará por melhorar. Essas fraquezas podem estar na sua personalidade ou na sua técnica. Fato triste é que com toda a freqüência a pessoa não se apercebe de tais fraquezas; e não havendo uma pessoa habilitada a fazer a devida apreciação, perpetua elas as próprias coisas que lhe estão minando o êxito.

Cooperação Necessária à Verdadeira Avaliação Mas outra coisa de que nos devemos guardar é aplicar, sob certas pressões e sem o conhecimento ou o consentimento daquele

que está sendo medido, medidas como as que são aqui sugeridas. Se tal acontece, o sistema desmorona, pois

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em lugar de boa vontade e de companheirismo, levantar-se-á o espírito de ressentimento e de desconfiança. Toda a avaliação deve ser efetuada no espírito de camaradagem. E quando fraquezas se revelam e há necessidade de correções, devem estas ser feitas no ambiente de confiança, reconhecendo o avaliador tanto o privilégio como a responsabilidade de ser um formador de homens. -

É essencial que haja alguma espécie de medida, se é que o valor do trabalho do obreiro deve ser determinado. Mas toda a avaliação deve ser feita em base científica. Durante os últimos anos tem a Associação Ministerial estado cooperando com outros no sentido

de fazer cuidadosa análise de algumas das maiores campanhas evangelísticas efetuadas em diferentes partes do mundo, visando obter uma apreciação exata de nosso programa de ganhar almas. Fizeram-se algumas interessantes descobertas e estas com alegria transmitimos. Felizmente muitas dessas descobertas têm sido feitas por homens que tiveram o privilégio de observar o crescimento de nosso evangelismo durante um período de muitos anos, e que devido ao seu longo conhecimento dos objetivos evangelísticos do movimento, não somente são analíticos em suas observações, mas também brandos no juízo.

Acontece, muitas vezes, em nossa obra, ser chamado para a liderança executiva alguém que nunca teve a responsabilidade que advém do evangelismo nas grandes cidades. Nunca sentiu a pressão de tal programa, e naturalmente acha difícil compreender os problemas desse trabalho. Dificilmente dele se poderia esperar que fizesse uma apreciação verdadeira dessa obra. Contudo, como líder, é importante que descubra algum meio de aquilatar a força de seus obreiros.

Disse alguém que a única maneira de determinar nossos verdadeiros resultados evangelísticos é esperar cinco anos depois de passada a campanha, e então fazer uma cuidadosa verificação dos convertidos firmes, e incluir na avaliação uma

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apreciação da influência espiritual da campanha sobre a comunidade, bem como da lealdade dos membros trazidos naquela ocasião. A sabedoria disso se evidencia por si mesma, mas às vezes é difícil se obter tal informação. Contentar-se com contar meramente cabeças no fim da campanha não é certamente suficiente.

Dois Tipos de Evangelismo

Duas grandes campanhas evangelísticas estavam em andamento ao mesmo tempo e na mesma associação. Uma apresentava

numèricamente grandes resultados, mas infelizmente as perdas eram desapontadoras. A outra não produziu tantas adesões à fé, e a igreja especial aludida não recebeu tantos membros novos; a colheita não foi fenomenal. Mas quando se fez um levantamento poucos anos mais tarde, revelou-se que a sólida e consagrada liderança daquela igreja resultara dos conversos daquela campanha. Ainda mais, havia realmente mais membros que permaneciam fiéis à mensagem no lugar que parecia menos produtivo, do que rio outro lugar em que a colheita, à primeira contagem, parecia tão grande — mais do dobro. Não se pode dizer que as perdas eram o resultado de um pastoreado deficiente, pois ambas as igrejas tinham sido bem cuidadas nesse ínterim. O fato é que elas representavam dois diferentes tipos de evangelismo.

Quando o anjo disse a João: ―Levanta-te e mede o templo . . ., e o altar, e os que nele adoram‖, lançava-lhe um repto para que analisasse três coisas — o edifício, o serviço de culto, e a experiência dos adoradores. Todos os três são importantes. Há muito se tem reconhecido o efeito psicológico o edifício sobre os adoradores. Mas, em alguns lugares, a verdadeira ordem do serviço não tem recebido tanta atenção merecida. A experiência dos adoradores está intimamente relacionada com esses dois outros fatores. Mas ainda mais importante são a experiência e o preparo do dirigente do culto:

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o pregador ou o evangelista. Se o anjo, penetrasse em nossa reunião com a vara de medir seriam as descobertas satisfatórias?

Em Isa. 41:6 e 7 é apresentado um quadro muito importante sobre cooperação. Vê-se o carpinteiro animando ao ourives e o que alisa com o martelo incentivando aquele que bate na bigorna. E no verdadeiro espírito de prestatividade cada um diz a seu irmão: ―Esforça-te‖. E qual o resultado? Vê-se o povo renovando suas força e que ―os fins da terra aproximaram-se‖. (Versículos 1 e 5.)

Este é o nosso objetivo—alcançar os confins da Terra com o evangelho eterno de Cristo. E para a realização dessa gloriosa tarefa deve cada um auxiliar o outro. Seja nosso trabalho qual for, não trabalhamos sozinhos; somos um grupo de serviço. E é um pensamento cativante o de que o carpinteiro possa encorajar o ourives. Se o relato da Escritura dissesse que o ourives havia incentivado o carpinteiro, bem o poderíamos entender, mas é o carpinteiro que está incentivando o ourives. Aquele cujas mãos ásperas e duras manuseiam pesadas vigas é visto animando o homem cujo delicado toque o toma o aristocrata dos artífices. Um é artesão, o outro artífice; um é um modelo de modéstia, o outro, um modelo de magnificência. Mas em sua contribuição para com a obra de Deus eles são um.

O espírito desses versos representa perfeitamente o espírito desse capítulo. Seja qual for a obra de alguém, não importa quão importante seja seu cargo na organização, mesmo que seja ourives, ainda necessita do incentivo e do auxílio do carpinteiro. Não há aqui nenhuma afirmação de que, devido a alguém deter uma posição um tanto superior na causa ou de que, tendo sido chamado para algum escritório por voto de uma comissão, é ele portanto dotado de toda a sabedoria necessária para a verdadeira avaliação. Mas antes que como ourives espiritual e tendo sido chamado a ocupar

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uma responsabilidade maior, bem poderia ele procurar o auxílio dos carpinteiros espirituais, os coobreiros menos espetaculares da causa, no esforço de melhorar a edificação do templo espiritual do Senhor. A medida, a análise e a avaliação sob a direção do Senhor e o conselho dos colaboradores habilitarão os obreiros à ajudar um ao outro a melhorar sua técnica nesta grande experiência de culto e evangelismo.

Quando Deus disse: ―Regrarei o juízo pela linha, e a justiça pelo prumo,‖ indicava Sua atitude quanto a esta questão da avaliação. E lembrando-nos de que o anjo disse a João:

―Levanta-te e mede o templo de Deus, e o altar, e as que nele adoram‖, podemos achar proveitoso estudar algumas varas de medir sugestivas, para avaliar vários tipos de reuniões. Para esse exame do serviço de culto de sábado; do trabalho evangelístico regular, da escola sabatina, das reuniões em casas particulares, e da obra social da igreja; foram feitas folhas de testes para cada uma delas. Como já foi observada, cada uma dessas reuniões deve constituir-se uma oportunidade para ganhar almas. O evangelismo é o alvo básico de toda igreja verdadeira.

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SEXTA PARTE

O PASTOR E SEU REBANHO

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O Pastor e Seu Rebanho

O quadro de Jesus que mais apela representa-O como um pastor. Ele mesmo disse ―Eu sou o bom Pastor Dou a Minha vida pelas ovelhas‖. Não é fácil pastorear é esse um trabalho árduo e arriscado, que demanda coragem e constante cuidado. Como pas tor, o evangelista mantém o interesse.

Na Natureza, o instinto materno é muito forte, e no entanto, sob certas circunstâncias, alguns animais abandonam sua prole. Ainda mais, chegarão realmente a destruí-los, a menos que mão bondosa intervenha para protegê-los. Sua separação se torna necessária para sua preservação. E por estranho que pareça, a não ser que selam transferidos para um novo campo, alguns ministros realmente enfraquecem a própria obra para cuja edificação trabalharam tão àrduamente.

Dizendo que é evangelista e não pastor, tal homem começa logo a lançar os olhos ao redor em busca de outros campos mesmo antes de os novos crentes estarem realmente estabelecidos na fé. Qualquer outra pessoa deve fazei isto. Mas tal trabalho sempre resulta em grandes perdas. Nenhum evangelismo é realmente completo enquanto os evangelizados não se tornam evangelistas. E aquele que com maior êxito pode inspirar os novos conversos a se tornarem convertedores é quem os converteu. Essa obra pastoral do evangelista, esse preparo e confirmação de novos membros, é vital, se é que eles devem crescer até atingir a estatura completa de varonilidade e feminilidade cristãs.

Paulo, evangelista incansável, teólogo incomparável, era também um pastor terno e vigilante. Em meio à variedade e aos perigos de seu trabalho, ―o cuidado de todas as igrejas‖ estava continuamente sobre ele. Era o pastor-evangelista ideal. Cada campo principal do ministério pertencia-lhe, de maneira notável. Pregar, ensinar, pescar, pastorear — todos eles fizeram parte do evangelismo do grande apóstolo, e foram os meios pelos quais Me estimulou Timóteo a dar provas de sua divina vocação.

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ONDE ESTA O REBANHO QUE SE TE DEU

JEREMIAS 13:20 27

A OBRA DO PASTOR FIEL

O PASTOR-EVANGELISTA é chamado para a maior das obras que há no mundo. Foi isso que o nosso próprio Senhor veio fazer. Contudo, há hoje uma tendência para o pastor se tornar ―o homem esquecido‖.

Vivemos numa sociedade altamente organizada. A ciência e a educação muito têm contribuído para o nosso conforto e o nosso conhecimento, e isso nos tem dado a sensação de suficiência própria. O prelo, o rádio, e uma dezena de outros agentes tendem a nos tornar independentes. Alguém disse que o pastor de outros dias tem sido escoltado calmamente até a fronteira e então polidamente despedido com um cumprimento.

A pergunta é: ―Necessitamos dele hoje‖? Quando se trata de levantar fundos e alcançar os alvos da igreja, e executar seus programas em geral, olhamos, certamente, para o pastor. Sejam quais forem os planos de fomento que se façam, recaem eles por fim sobre os seus ombros. De fato, a solução de cada programa da igreja está em grande medida ligada ao

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pastor. Mas ocupa ele a posição vital que uma vez ocupava? Necessitamos dele?

Esses dias atuais têm testemunhado muitas mudanças. A velha ordem passou. Novas ocasiões têm-nos ensinado novos deveres, e os métodos antigos de fazer as coisas certamente parecem incultos. Mas depois de dito tudo isso, temos passado por alto o problema principal. A ciência, a educação, a comunicação e o transporte têm mudado a perspectiva humana, mas não mudaram o coração do homem. Ele ainda é o mesmo— enganoso e excessivamente maligno. Isaías pode dizer de nós hoje ―Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho‖. E quando as ovelhas se estão desgarrando, necessitam de pastor.

A civilização moderna tende cada vez mais a perder de vista o indivíduo. Temos a mania de estatísticas, e numa coluna de algarismos ou num gráfico comparativo, a alma solitária é apenas outro número dígito. De fato, um dos maiores perigos da, nossa civilização moderna é a extrema solidão do indivíduo na sociedade urbana. Roçamos os ombros com muitas pessoas, mas conhecemos tão poucos o corações! E, pior ainda, raramente parecemos ter interesse. Kipling disse: ―Nós nos assemelhamos a ilhas e gritamos uns aos outros através dos mares da incompreensão‖.

Estes dias são dias de rápido movimento.- Tudo se mede pela velocidade. E se alguém tropeça e cai, antes de poder vir o auxílio é ele pisado a pés pela multidão que surge. Encontra-se o homem sem lar, em meio a uma floresta de máquinas e forças incontroladas, e milhões cogitam se vale a pena viver. Outros, procurando aliviar sua miséria, estão afundando na corrente da vida ante a música monótona, não sabendo para onde se dirigem, e julgam que ninguém disso se importa. Tais condições exigem pastores — fortes, sábios e bondosos, que possam simpatizar com as fraquezas do coração humano, e amar, pastores que não estejam tão ocupados

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que não possam gastar tempo deslindando problemas individuais e da comunidade. Por todas as partes há lares despedaçados e corações feridos. E estes exigem o cuidado de um pastor. Ao mundo não falta luxo, mas falta amor. Pastores eloqüentes, organizadores minuciosos,

e ocupados executivos, todos eles têm seu lugar na igreja de Deus, mas o rebanho cresce na graça e na piedade sob o delicado toque do pastor. De todos os títulos dados ao nosso Senhor, nenhum é mais belo do que ―O Bom Pastor‖. Ele nunca falou de Si mesmo como sendo bispo, ou sacerdote, executivo ou pregador, mas sempre como pastor.

Pastoreando o Rebanho

A idéia de pastor predomina em toda a parte tanto no Velho como no Novo Testamento. Antes que o homem falasse de Deus

como Seu Pai, dele cantara ternamente como sendo seu Pastor. Os poetas hebreus pintaram Jeová como guardador do rebanho. Oraram ao Pastor de Israel. Aguardavam a vinda do Messias como sendo Aquele que alimentaria Seu rebanho como um pastor, e carregaria os cordeiros no regaço, guiando carinhosamente as que tinham cordeirinhos. Era esse um belo quadro e vïvidamente contrastava com aquela triste cena dos pastores infiéis da profecia de Ezequiel. ―Assim diz o Senhor Jeová: Ai dos pastores de Israel que se apascen tam a si mesmos! não apascentarão os pastores as ovelhas ? Comeis a gordura, e vos vestis de lã; degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas. A fraca não fortalecestes, e a doente não curastes, e a quebrada não ligastes, e a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza. Assim se espalharam, por não haver pastor, e ficaram para pasto de todas as feras do campo, porquanto se espalharam. As Minhas ovelhas andam desgarradas por todos os montes, e por todo o alto outeiro;

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sim, as Minhas ovelhas andam espalhadas por toda a face da Terra, sem haver quem as procure, nem quem as busque .‖Ezequiel 34:2-6.

Os rebanhos dispersos pelas montanhas e despedaçados pelas feras! Os pastores apascentando a si mesmos! Era um quadro patético, mas tràgicamente verdadeiro. Mas, na plenitude dos tempos, veio o Bom Pastor. Ele era ―homem de dores, e experimentado nos trabalhos‖, e veio ―buscar e salvar o que se havia perdido‖. Ao contemplar a multidão, moveu-se-Lhe de compaixão o coração, pois eram como ovelhas que não têm pastor. Anelava ajuntá-las em Seu aprisco. Os que O haviam precedido, declarou Ele, eram ladrões e salteadores . Mas ―Eu sou o Bom Pastor: O Bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas‖. S. João 10:10. Ele começou a ajuntar os pe rdidos, e Seu rebanho se tornou Sua igreja. Então, justamente antes de Sua ascensão, deu aos líderes a sua comissão. Deviam eles completar a obra que Ele iniciara. Deviam ajuntar os perdidos — Suas ―outras ovelhas‖ — e trazê-las para o Seu aprisco.

Não admira que essa idéia de pastoreado tanto se salientasse no pensamento da igreja cristã. Muito escreveu o apóstolo acerca do rebanho e da responsabilidade dos pastores. E a mais antiga figura de Cristo encontrada nas catacumbas pinta-O como um Pastor que carrega um cordeiro e cuida do rebanho.

Uma Mudança Com os Séculos

Nos séculos que se sucederam, contudo, houve uma mudança no pensamento e na terminologia cristãos. Em vez de ser o

cristianismo uma religião do Bom Pastor, tornou-se gradualmente a religião do dominador político. Em vez de ser um rebanho, tornou-se a igreja uma instituição altamente organizada. Muita atenção se deu aos símbolos e ao aparato das formas exteriores e da administração da igreja. Conhecemo-lo

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como sendo a grande apostasia. O Deão Stanley descreve a mudança nestas palavras:

―A bondade, a coragem, a graça, o amor, a beleza do bom pastor era para eles livro de oração e artigos, credo e cânones, tudo em um só. Olhavam para aquela figura e ela lhes transmitia tudo o que desejavam. Com o correr dos séculos, desapareceu o bom pastor da mente do mundo cristão, e outros emblemas da fé cristã têm lhe tomado o lugar. Em vez do gracioso e gentil pastor veio o Juiz onipotente, ou o crucificado Sofredor, o bebê nos braços da mãe, o Mestre na ceia de despedida, a figura de inumeráveis santos e anjos, a elaborada exposição de várias formas de controvérsia teológica. Dificilmente há qualquer alusão ao bom pastor em Atanásio ou em Jerônimo. Raramente há alguma na Suma Teológica de Tomás de Aquino; não há nenhuma no catecismo Tridentino, nenhuma nos Trinta e nove artigos, nenhuma na confissão de Westminster.‖ (1)

Triste dia foi aquele em que a igreja perdeu a visão do pastor, pois então o homem procurou o ofício em vez do serviço . Tornaram-se sacerdotes e administradores e estavam mais preocupados com os credos e a disciplina da igreja do que com o cuidado e a alimentação do rebanho. A confissão auricular nas igrejas substituiu a oração e o conselho nos lares. Em vez de um pastor que está em busca da ovelha e conduz para casa os errantes, tomou o sacerdote medieval seu lugar na igreja. E o rebanho tinha de a ele se dirigir. Em vez de ser considerado como um membro da família, cujo útil conselho era sempre bem-vindo, tornou-se o sacerdote um membro do clero, um grupo bem afastado dos leigos. Perdeu-se em grande parte a idéia do pastor absorvida nas penitências e sacramentos, e no sacrifício sem sangue da missa. Eram aqueles séculos realmente séculos escuros.

Veio a Reforma. Raiou a luz sobre o caminho do peregrino povo de Deus. Transferiu-se a ênfase do ritual para a realidade e da tradição para a teologia. O pregador substituiu o sacerdote, tornando-se o púlpito o centro da atração. Foi um novo dia — um dia de libertação. Apesar, porém, de

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todas as grandes e boas coisas realizadas por esses nobres homens, uma coisa se salientava - geralmente se dava ênfase à pregação em vez de ao pastoreio. E se media o ministro por sua habilidade como pregador e teólogo em vez de por sua habilidade como pastor. Dificilmente precisamos admirar-nos de que alguns rebanhos ainda fossem deixados à espera de um pastor. Necessitamos de pregadores, de homens que podem mover as multidões, mas também necessitamos de pastores que possam cuidar individualmente da ovelha. A combinação de ambos é ideal.

Conselheiros e Confortadores Nos últimos anos, especialmente em alguns círculos, há uma animadora inclinação para um ministério aconselhador mais

eficiente. Mas, falando em termos gerais, quer seja na igreja católica ou na protestante, seja ele sacerdote ou seja um jovem ministro, seu valor é medido por sua habilidade em executar um trabalho público mais do que por sua habilidade ou adaptabilidade como pastor.

―Um moço católico romano que seja candidato ao sacerdócio está sempre olhando para a ocasião em que possa oficiar na missa. A data em que celebra a sua primeira missa é um dia escrita com letras vermelhas em sua vida. O rapaz católico pensa que a principal obra do ministro de Cristo é realizar uma cerimônia — oferecer a Deus uma hóstia que de qualquer maneira inexplicável se tornou o corpo do Filho de Deus. Essa falsa idéia desmoraliza e obscurece todo o mundo católico romano. O moço protestante que pretende entrar no ministério olha para o dia em que pregará o seu primeiro sermão. A data desse acontecimento é um dia cardeal em seu calendário. Até o fim de sua vida falam os ministros protestantes em seu primeiro sermão, justamente como os sacerdotes católicos romanos falam até o ocaso final acerca de sua primeira missa. Ambos os homens se assemelham em por sua suprema ênfase em uma função pública. Uma cerimônia, o outro num discurso.‖ (2)

Ainda outro perigo nos enfrenta hoje. Nem o sacerdote,

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nem necessariamente o pregador, mas antes quem pode organizar e promover o programa é aquele cujos serviços são procurados. A igreja adquiriu o espírito da época, e está fazendo seu trabalho hoje como uma instituição grandemente organizada. Mas a igreja do advento começou sob a liderança de profundos estudantes da Palavra. Os pioneiros eram um grupo de homens e mulheres sumamente espirituais. A oração, o estudo e os freqüentes conselhos faziam parte vital de seu programa. Mas a tendência hodierna é dar ênfase a outras coisas. A capacidade de expor a Palavra e alimentar o rebanho e a habilidade de confortar os contristados e de cuidar dos órfãos, até mesmo a piedade pessoal do obreiro, parece que necessitam ser negligenciados pela virtude do pesado programa desenvolvimentista colocado sobre os homens.

Damos graças a Deus por nossa organização. Veio ela à existência sob a orientação divina. E por essa mesma orientação, tem ela crescido e se tem desenvolvido, até que hoje as nossas cordas estão estendidas em quase cada canto do globo. Assim é que Deus tencionava que fosse. A organização é um meio pelo qual são promovidos os interesses espirituais e evangelísticos. Deve, porém, a máquina ser dirigida pelos homens do movimento, e não os homens dirigidos pela máquina. É possível usar o vocabulário do evangelismo e não ser evangelista. Não é de surpreender num movimento religioso sumamente organizado que o pastor tenda cada vez mais a se tornar um maquinista, cuidando do interesse geral do corpo em vez de cuidar das necessidades particulares das ovelhas, individualmente. Nenhuma forma ou organização elimina inteiramente a possibilidade de trabalhar pelos interesses meramente pessoais. O elemento humano sempre está presente. E, segundo a própria natureza das coisas, quando o ministro é empregado por uma organização em vez de o ser por uma igreja, individualmente, quando é responsável

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ante uma associação em vez de o ser para com a congregação, naturalmente procura agradar àqueles diante de quem é definitivamente responsável. E se os pregadores são o que o apóstolo S. Paulo chamou de bajuladores de homens, tendo os olhos num oficio em vez de os ter no Senhor, fácil lhes será negligenciar uma ou duas ovelhas que se extraviam a fim de passarem o tempo promovendo algum programa que os conserve em favor.

Um professor de teologia prática de uma universidade e ministro de elevada posição de outra denominação surpreendeu-me um dia quando disse em classe: ―Não creio que um ministro possa ser um cristão — pelo menos não da maneira em que fazemos ministros nestes dias.‖ Certamente discordei dele, achando que, afinal de contas, grande parte da obra do ministro é dos homens fazer cristãos; então naturalmente êle mesmo deve ser cristão. Mas quando estávamos a sós ele me deu sua explicação, e isto foi o que me disse:

―O senhor sabe, irmão, que o senhor e eu estamos neste trabalho de fazer ministros, Instruímos homens para receberem as sagradas ordens. Mas ponho em dúvida grandemente a maneira em que o fazemos. Esta é a maneira em que as coisas vão na minha denominação. Enviamos um homem ao colégio, depois o mandamos para o seminário. Quando ele termina, iniciamo-lo em algum lugar pequeno. Ele vai para lá, mas não para se entregar a esse rebanho especial, pois seu êxito não será medido pelo máximo de tempo que ali possa permanecer, mas pela rapidez com que dali possa sair e penetrar numa responsabilidade maior. Assim procura ele todas as espécies de esquemas, e talvez inicie várias campanhas a fim de atrair a atenção. Então algum outro campo que deseja um homem progressista o vê e diz: Este é justamente o homem de que necessitamos‖. Assim ele recebe um chamado. Mas nem bem está de ali e então começa tudo de novo, explorando sua nova congregação com o objetivo

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definido de sair e obter um lugar ainda maior. Está esperando novo chamado, e isso tão depressa quanto possível. Se puder fazer uma grande sensação, suficiente para atrair os olhares dos oficiais de algum outro campo, é de um êxito. Dessa vez, no entanto, está se insinuando para obter o pastoreado de uma grande cidade. Assim usa os amigos e a técnica de uma espécie de arte de negociar, até que finalmente obtém o convite. Agora é de um verdadeiro êxito. E sua esposa diz: ―Agora conseguimos‖. Mas de ainda está olhando para mais alguma coisa. Depois de algum tempo, encontra-a. Tornamo-lo um oficial. E em todo o caminho, desde a sala de aula até ao escritório da administração, seus pensamentos e seus planos centralizam-se em si mesmo. Suas congregações eram apenas um meio para alcançar um fim. Fez algum trabalho bom, mas esse foi estragado pelo seu interesse próprio. E o interesse próprio e a satisfação da ambição pessoal, definitivamente não são cristãos. ―Tudo isso é a própria antítese dos ensinos de Jesus.‖

Ele olhava pela janela enquanto me apresentava este quadro do progresso ministerial. Então, voltando-se, olhou-me diretamente nos olhos e disse: ―Irmão, haverá alguma coisa parecida com isso em seu grupo?‖ Mas eu achei conveniente mudar de assunto.

Durante os anos que decorreram desde essa conversa, tenho pensado realmente. Que estranha lógica é essa que mede o êxito de um ministro pelo número de chamados que consegue? E que estranho modo de pensar é o de crer que quanto mais o homem se afasta do povo por uma designação para algum cargo especial, maior é seu êxito e seu salário.

Jesus disse: ―Eu porém, entre vós, sou como aquele que serve‖. O verdadeiro pastorado é serviço sem o interesse próprio. Nada há mais desprezível que um ministro cheio de interesse próprio e ambicioso. O amor do louvor é a idolatria mesmo. E isso o Senhor condena, pois lemos que

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―a idolatria de si mesmo jaz no fundamento de todo o pecado‖. Pastorear nunca é espetacular. É uma obra humilde. O homem tem de descer das andas de sua importância própria para executá-la. Neste sentido, todo o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. O lugar, a posição, o prestígio e o conforto pessoal não estão em consideração quando alguém é chamado para pastorear o rebanho. O conforto e o cuidado do povo tornam-se o fardo do verdadeiro pastor. O pastor oriental vivia em grande parte com as ovelhas e as estrelas, e só estava contente quando podia servir ao rebanho.

Pastorear é uma Especialidade

A maior obra do ministro freqüentemente é feita fora da vista, quando não há multidões nem aplausos. Mas tal obra jamais apela

ao coração natural. O espírito de Demétrio ainda parece ser o espírito de alguns. Um modo sadio de examinar a si mesmo e ao seu trabalho é fazer esta pergunta:

Sou eu um mercenário que trabalha por aplausos ou um pastor que dá a vida pelas ovelhas? Os antigos egípcios consideravam o trabalho do pastor abominável e degradante. Seria surpresa então se os modernos Faraós,

que estão mais preocupados com a construção de pirâmides estatísticas e a promoção de planos e programas, considerassem o trabalho do pastor como sendo inferior, algo que qualquer pessoa pode fazer?

Mas aqueles que sabem, reconhecem que pastorear é uma especialidade. E para esse trabalho necessita o homem de predicados especiais. Só um verdadeiro homem pode realizar o serviço de grande amplitude de conselheiro espiritual e pastor que salva. Ninguém jamais sonharia em pôr homens sem preparo e inexperientes a cargo das finanças. Provavelmente grande perda seria o resultado. Mas obreiros não habilitados mais de uma vez têm sido encarregados de cuidar

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das almas. Uma congregação, e até mesmo várias, tem sido colocadas sob a liderança de algum bom irmão de pouca ou nenhuma experiência anterior, e que nem tem preparo nem habilidade natural. Será qualquer maravilha que os resultados sejam desapontadores?

É uma tragédia pensar que qualquer pessoa pode pastorear um rebanho. No entanto, homens de toda a sorte de experiências têm sido colocados nessa obra. Às vezes um obreiro cansado e esgotado deseja acomodar-se por alguns anos, de modo que lhe é dado um pastorado, na esperança de que tenha êxito. Pode ele ser bom pregador, mas fraco pastor. Talvez nunca tenha vivido perto do povo. Outro homem que se preparou em ramos financeiros ou promocionais e nesse ramo de serviço teve sua experiência, tem sido, às vezes, chamado para pastorear uma igreja. Sem nenhum período de preparo e de adaptação, tem esses homens sido escolhidos para a obra mais delicada já confiada ao homem.

Não desejo dar a impressão de que o principal qualificativo seja o preparo acadêmico. Longe disto! O amor no coração de um pastor sem preparo fará mais do que todos os títulos que ele possa ter à frente de seu nome. A não ser que seja inspirado pelo amor, o trabalho será verdadeiramente vazio. E geralmente o amor pode encontrar um caminho. Mas ainda mais, o amor jamais pára a fim de avaliar o custo. Tudo suporta e sofre. O bom pastor tem amor e mais a técnica. O amor inspira o serviço, e a técnica mostra a maneira de fazê-lo.

Pastorear é um trabalho arriscado, constante e cansativo. Deve ser essa uma das razões de tantos por ele passarem de largo. Contudo isso, é o mais belo trabalho que Deus já deu ao homem.

Quando Jesus disse: ―Eu . . . conheço as Minhas ovelhas. e das Minhas sou conhecido‖, estabeleceu o princípio de todo o bom pastoreado. A força do pastor consiste grandemente

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em conhecer seu rebanho. Ele deve ter um olhar que reconhece os indivíduos.

Paulo Como Pastor

Paulo era admirável teólogo. Alcançou alturas na revelação espiritual jamais igualada por qualquer outra pessoa, antes dele. E

tremendo era seu programa de pregação. Fica-se admirado ante o que ele conseguiu em trinta anos. Foi uma obra-prima evangelística jamais ultrapassada, exceto pelo próprio Senhor. Como evangelista é ele supremo. Concebeu uma visão do mundo perdido e saiu esforçando-se por pregar por todas as partes o evangelho, principalmente onde Cristo não era nomeado. Como executivo e organizador foi excelente. Caminhou de cidade em cidade, de país em país levantando congregações, preparando lideres, organizando igrejas e inspirando-as com o espírito do evangelismo.

Mas e como pastor que ele atinge o ideal. Estabelece uma norma para o verdadeiro pastorado. Conhecia seu rebanho. ―Saudai meus amigos‖, escreve ele e então passa a individualizá-los. Seus coobreiros, seus companheiros na tribulação, aqueles de cuja hospitalidade havia gozado, seus conversos, seus amigos e até mesmo os inimigos — cada um deles tinha realmente um lugar cm seu

coração. Na segunda carta aos Coríntios, enumera algumas das experiências de provas e perseguição por que passara. É uma categoria de abalar. Foi roubado, exilado, deixado faminto, despido, açoitado, apedrejado e lançado por cima de um muro da cidade como um criminoso morto. Sofreu naufrágio; um dia e uma noite passou ele no abismo. Vede-o agarrado aos destroços no meio do Mediterrâneo, e então, atirado em alguma praia pelas ondas, somente para recomeçar pregando novamente o evangelho. Nada podia impedir esse homem, constrangido como estava pelo amor de Cristo. Suportou experiências que teriam matado qualquer homem comum. E de tudo isso se levantou

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ele como um vencedor. Amava seu Senhor e amava o rebanho. Conhecia o seu povo pelo nome. Não eram eles apenas congregações para o estudo da entrada de dízimos e de ofertas por cabeça. Eram grupos compostos de pessoas que possuem interesses individuais e têm necessidades pessoais. Como líder, era Paulo uma combinação de admirável teólogo e excelente organizador, evangelista incansável e pastor ideal.

Conhecer a Ovelha

―Se o pastor é realmente o pastor das ovelhas, o atributo que sobressairá acima de todos os outros, é o amor às ovelhas. Se ele

não as ama, e não as conhece suficientemente bem para chamá-las pelo nome, sobre elas não terá influência, á muito tempo, nas faldas do Hermom, eu disse a um pastor árabe: ―Será verdade que o senhor tem um nome para cada uma de suas ovelhas, e elas sabem disso e atendem quando o senhor as chama‖? Ele disse: ―É verdade.‖ Então, disse eu, ―Quer ter a bondade de chamar algumas delas para o senhor?‖ Ele hesitou um momento e disse: ―Esta é a hora de se alimentarem. É a pior hora do dia para chamá-las.‘ ‗Ah!‘, pensei eu, ‗não se dá também com o Grande Pastor que muitas de Suas ovelhas estão tão ocupadas na ‗hora de comer‘ que não ouvem a voz do Bom Pastor?‘‗Mas,‘ disse-me o árabe, ‗penso que ainda poderei fazer com que elas me ouçam.‘ Então chamou num tom tão doce como o que poderia ter soado à porta da tenda de Jacó quando chamou Raquel . A segunda repetição do nome, de uma ovelha talvez dois terços mais longe do que qualquer outra, levantou a cabeça, esperou um momento como que para se certificar, e então, ao ser repetido o chamado, saltou no máximo de sua velocidade e se aproximou do pastor, nele deitando amavelmente a cabeça. ―Ninguém na Arábia ou em qua lquer outro lugar, poderia fazer isso senão um amorável pastor.‖ (3)

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A confiança suscitada pela comunhão e a bondade significam mais que qualquer outra coisa, nesta obra de pastorear. O pastor

tem de viver com o povo, para conhecê-lo. Deve ver com os seus olhos, ouvir com os ouvidos deles, sentir com seu coração. Deve sentir as suas tristezas e levar as suas mágoas. Como seu Senhor, freqüentemente será ferido pelas transgressões de outros e moído pelas iniqüidades alheias. O castigo que aos outros traz a paz sobre ele estará. Contudo, freqüentemente falta esse elemento de sacrifício.

Faz poucos anos, um homem atravessava uma rua da cidade de Oklahoma, quando foi atropelado por um bonde e apertado debaixo deste. Ouviu-se um grito de socorro, e dentro de poucos momentos centenas de pessoas se haviam reunido . A polícia e outras pessoas trabalharam febrilmente para dali tirar a pobre criatura, mas sem êxito. Precisavam de equipamento pesado para levantar o carro, Fez-se um pedido urgente à estação de bonde. Mas levaria algum tempo antes de o maquinismo poder chegar. Nesse ínterim o homem machucado ficou histérico e começou a gritar: ―Tirem-me! por favor tirem-me daqui!‖ Sentia alguma dor e estava sofrendo de choque. Para ele os minutos pareciam horas. Que se poderia fazer por esse pobre sofredor? Ainda levaria meia hora para o equipamento de levantar canos poder chegar. Repentinamente um transeunte comum resolveu o problema. Não estava bem vestido, mas tinha bondoso coração. Não estava; como alguns outros, dando toda a sorte de conselhos. Mas, avançando para a frente, entrou, arrastando-se, debaixo do carro e se deitou ao lado do sofredor. Pondo o braço ao seu redor, começou a falar-lhe brandamente, com simpatia ao ouvido. O homem se acalmou. Acabou-se o medo. E um sorriso se lhe estampou na face ao dizer: ―Obrigado, amigo O senhor é tão bondoso‖ Ao chegar o maquinismo, logo mudou a situação. O carro foi levantado e o homem que estava preso foi libertado e levado na ambulância.

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A multidão começava a sair quando alguém perguntou: ―Onde está o homem que se meteu debaixo do carro? Quem é ele?‖ Ninguém o conhecia, e agora já havia ido embora. Mas a lição que ele dera à multidão não estava perdida. Quantos há que estão prontos a dar conselhos! Mas quão poucos se

deitarão ao lado do sofredor! Quando os homens estão feridos necessitam mais do que conselhos necessitam de contorto. Necessitam de alguém que compartilhe de suas feridas e tristezas. O verdadeiro pastor penetra nos problemas do povo.

―Viva cada ministro como um homem entre os homens. Com bem regulados métodos, vá ele de casa em casa, levando sempre o incensário da fragrante atmosfera celestial do amar. Antecipe ―as tristezas, as dificuldades, as lutas dos outros. Penetre nas alegrias e cuidados tanto dos grandes como dos pequenos, dos ricos como dos pobres,‖ (4) -

Em muitos corações estão às lâmpadas da fé queimando bem baixo, ou bruxuleando. Segundo o pensamento do Dr. Leslie Weatherhead, necessitam de uma mão bondosa que lhes espevite o pavio, para fazer com que suas chamas novamente ardam de maneira brilhante. Mas endireitar a chama bruxuleante exige um toque delicado. Lizpeth, de Kipling, é uma história verdadeira de uma moça da Índia. Freqüentava ela uma escola cristã, e muito impressionada estava com tudo que ia aprendendo. De fato, estava quase a se entregar a Cristo quando lhe sobreveio à vida terrível desapontamento. Um jovem lhe cativara e conquistara o amor, e ela aguardava seu casamento, quando repentinamente ele a abandonou por outra. Ficou esmagada. Era esse um terrível golpe, com o que todos os que conhecem a Índia concordarão. Sentindo a necessidade de simpatia e de auxílio, procurou a esposa do missionário, que era funcionária, e membro da junta escolar. Lizpeth contou-lhe sua história e desabafou a alma amargurada. Mas essa pastora era fria e indiferente. Pobre

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moça! Estava agora em uma confusão ainda maior. Em vez de chorar com essa jovem ferida e de lhe dirigir o pensamento para o amor maior de Jesus, tudo que essa esposa missionária fez foi procurar passar por isso como sendo de pouca importância. Isto pareceu ser demais, e a pobre moça saiu vacilante da presença fria dessa funcionária, sacudindo as mãos e gritando em desespero:

―Para meus próprios deuses volto! Pode ser que me dêem maior tranqüilidade Que vosso frio Cristo e complicadas trindades‖. Que oportunidade perdida! Mas quantas oportunidades semelhantes se estão perdendo tanto no campo pátrio como no campo

missionário!

Pastor ou Mercenário

Quando Jesus falou do verdadeiro pastor, estabeleceu um contraste entre ele e o mercenário. ―O bom Pastor, disse Ele, ―dá a Sua vida pelas ovelhas, mas o mercenário e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge: e o lobo as arrebata e dispersa. Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas.‖ S. João 10:11-13.

O mercenário revela sua identidade por sua atitude para com as ovelhas. O pastoreio para ele é apenas uma ocupação. Mas, para o verdadeiro pastor, é ele um privilégio. O mercenário é mais um tosquiador que repartidor. Para ele, o rebanho é algo a explorar, e os extraviados são considerados um aborrecimento. De fato, ele considera uma afronta pessoal se alguns permanecem distantes. Também se poderá ouvir sua esposa dizer: ‗Por que se amofinar com esse povo, querido? Eles não apreciam nada do que você faz por eles. De fato, quando vem à igreja, o que raras vezes acontece, nem prestam atenção. Eu acho que você é um pregador maravilhoso.

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A maior parte do povo diz que você é um verdadeiro sucesso. Por isso, não se preocupe com eles. Se querem que alguém corra atrás deles que procurem um outro qualquer.‖ Pobre homem! Seria difícil alguém ser qualquer outra coisa senão mercenário com um lar como esse. A principal preocupação do mercenário é o que as ovelhas farão em seu favor.

Mas o verdadeiro pastor sempre está pensando no que poderá fazer pelas ovelhas. Ele as ama. Ele as vigia. Cada uma delas tem um lugar em seu coração; os ricos, os pobres, os alguém e os ninguém, todos para ele são queridos. Como Arão, o sumo sacerdote, traz ele seu povo no coração. Quando Arão apareceu diante do Senhor no santuário, trazia nos ombros e sobre o coração o nome dos f ilhos de Israel. (Êxo. 28:12 e 29.)

Se a ovelha se extravia, o pastor sente a ferida em seu próprio coração. Ele pode ―compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados.‖ Heb. 5:2. Reconhecendo que cada ovelha que se está extraviando é um apóstata em potencial, organiza a si mesmo e a seus auxiliares para evitar tal calamidade.

O Pastor e Seu Cão

Então cada pastor necessita de um cão. Mas nem todo cão tem coração de cão pastor. O cão de vigia é diferente do cão pastor.

Tem natureza diferente. Pode ser inteligente e estar alerta, mas o cão pastor necessita de mais do que uma boa mente; deve ter também um espírito dócil. E o verdadeiro cão pastor nunca prejudicará conscientemente uma ovelha. Haverá nisto uma lição para os pastores das igrejas? São os membros das comissões das igrejas delicados e bondosos? Não há necessidade de um gênio para afastar o povo da igreja, mas conservar o rebanho unido exige tato, simpatia, paciência e muita oração. Penetrei na casa de um de nossos minist ros na Nova Zelândia. Vinte anos antes batizara- lhe eu a esposa, quando a trouxe para Cristo. Não tinha ela

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vinte anos. Agora era esposa e mãe nesse lar. Ao nos assentarmos para uma refeição de boas-vindas, notei na parede um quadro que sempre admirara. Um cão de pastor, bem distante, lá em cima, nas colinas cobertas de neve monta guarda a uma ovelha doente. É um belo símbolo de fidelidade e responsabilidade. O cão não ousa voltar para o aprisco em busca de auxílio, temendo que algum perigo possa sobrevir ao pequenino ser sob o seu cuidado. E assim, montando guarda por essa ovelha perdida, chama como só um cão que sente o perigo pode fazê-lo. Admirando o quadro, fiz algumas considerações sobre o belo pensamento do artista. Com a voz embargada, esse obreiro de Cristo disse: ―Irmão, minha esposa e eu conservamos esse quadro aqui, onde o podemos ver cada dia, para não nos esquecermos de nossa responsabilidade para com Deus e para com os cordeirinhos de Seu redil‖. Eles estavam dando sua vida no serviço em favor dos jovens.

Aquele cão pastor na neve, pedindo frenèticamente auxílio, verdadeiramente representa o espírito do pastor-evangelista. Não somente os cordeirinhos, mas também, as ovelhas crescidas têm o hábto de se extraviar. Algumas são voluntariosas, descuidadas e tolas. Outras são Fracas. Talvez algumas sejam surpreendidas numa falta ou apanhadas numa repentina tempestade de paixão. Porém, qualquer que seja a causa, estão fora do aprisco, e necessitam dos cuidados de um pastor.

Recentemente chegou à minha escrivaninha uma carta muito encorajadora. Era do presidente de uma de nossas grandes associações, Entre outras coisas disse Ele:

―Envidamos este ano verdadeiro esforço para estabelecer contato com todos os extraviados e com os que tem sido desligados do rol de nossas igrejas. Por meio dos chefes distritais e dos anciãos de nossas igrejas foi-nos possível obter o nome de aproximadamente novecentas pessoas. A maioria delas tinham sido desligadas. Outras ainda

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são membros da igreja. Boa parte delas têm estado separadas da igreja durante um período de dez, vinte ou até mesmo trinta anos. Enviamos um questionário a estas novecentas pessoas, e até esta data cem deles já foram devolvidos. Alguns ainda estão chegando semana após semana.Tereis interesse em saber que vinte e duas destas cem dizem que estão pensando definitivamente em se unir novamente com a igreja. Em outras palavras, praticamente vinte e cinco por cento das pessoas que têm respondido ao questionário até aqui, têm ―saudades da igreja.‖

Certamente isso é encorajador, e apresenta o pensamento expresso num capítulo anterior, de que muitos dos que não mais estão no rol de nossa igreja são ―infelizes e não estão satisfeitos, e almejam voltar para o aprisco. A espécie de respostas a esse questionário é também iluminadora. Dos que responderam, quatorze por cento declaram terem sido batizados antes de compreenderem completamente as doutrinas; onze por cento declaram que tinham dificuldade em aceitar a posição da igreja com relação a certos aspectos da mensagem; vinte e três por cento dizem que abandonaram a igreja porque esta não manifestou amor e amizade e foi injusta em seu trato para com eles; trinta e seis por cento, contudo, declaram ter deixado a igreja simplesmente porque perderam o interesse e ficaram desanimados. Que podemos nós fazer para evitar que os membros fiquem desanimados? É essa uma questão que merece real estudo.

Deve esse líder receber as congratulações por seu positivo esforço no sentido de reclamar os perdidos que estão dentro do seu território. Qual poderia, porém, ser o resultado se cada dirigente de campo, ao redor do mundo, atacasse o problema de um modo assim definido? Jamais se poderia prestar maior serviço. E, como pastores espirituais é esta nossa definida responsabilidade. Se formos verdadeiros pastores, sempre estaremos alerta ao clamar da profunda miséria.

Quando o bispo Francis J. McConnell era um jovem pregador, lá em Cabo Cod, andava ele pela praia, certa noite,

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em companhia de um velho capitão da marinha. Era uma noite barulhenta e tormentosa, e as ondas açoitavam a praia. Para poderem ouvir um ao outro falar, tinham de gritar a fim de encobrir o rugido dos elementos. Era difícil conversar. Então, repentinamente, o velho capitão a mão ao ouvido em forma de concha, e disse: ―Ouço um grito de angustia lá fora, na ressaca. Alguém está em dificuldade.‖ O pregador nada podia ouvir senão o rugir da borrasca. Mas os ouvidos do velho marujo estavam alerta. Ele ouviu o que os outros não podiam ouvir, e avisou a patrulha da guarda da costa. Era bem certo, lá fora havia dois pescadores agarrados a um bote virado. Foram salvos porque o capitão lhes ouviu o chamado.

Com quanta ternura espera e vigia uma mãe quando o filho está passando mal! Conta o Dr. Stidger de uma que manteve vigília dia e noite até ficar tão exausta que os amigos com ela insistiram para que descansasse um pouco. Logo estava ela dormindo profundamente em outro cômodo da casa. Tocou o telefone, negociantes chamaram, as crianças gritaram ao brincar, porém ela dormia com tudo isso. Parecia que nada a poderia perturbar. Mas quando o filhinho que sofria chamou ―Mamãe! Onde está mamãe? Eu quero mamãe‖, num instante a mãe estava de pé e corria para o quarto do enfermo. Embora estivesse dormindo, seus ouvi - dos pareciam estar alerta ao sussurrado lamento de seu filho. Assim deve o pastor amar o seu rebanho. Seus ouvidos devem ser educados para ouvir o grito angustioso. Não são somente os jovens, mas também os membros de todas as idades e condições, os que necessitam do bondoso e amável cuidado de ternos pastores.

1) Charles E. Jefferson, The Minister as Shepherd, págs. I8 e 19. Usado com permissão de Thom. Y. Crowell Company, publicadores. 2) Idem, págs. 24 e 25. 3) Charles E. Goodell, Pastor and Evangelist, pág. 113. Usado com permissão de Harper & Brothers, publicações.

4) White, Carta 50, 1897.

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NINGUEM CUIDOU DA MINHA ALMA SALMO 142:4

28 PRINCÍPIOS PRIMÁRIOS DE CONSELHOS PASTORAIS

CERTA criada de cor que trabalhava no refeitório de um colégio era tão bondosa e amável quanto eficiente. Alegre, tendo

agudeza e espírito e resposta pronta, tornou-se muito popular a todos os alunos. Em sua jovialidade, os rapazes nunca a podiam ultrapassar. Ela estava sempre à altura de qualquer situação. Mas, uma manhã, (a guerra estava no auge justamente naquela época), os alunos entraram apressadamente como de costume para comer um bocado e bater a sineta para as classes, quando repentinamente houve um barulho. Maria derruba toda uma bandeja de pratos. Ovos fritos, leite, bolinhos fritos, e pratos quebrados se encontravam por toda a parte. Muitíssimo embaraçada, inclinou-se ela para limpar a sujeira.

Foi essa uma boa oportunidade para eles, e os rapazes aproveitaram-na ao máximo. Uma avalanche de risadas e um bombardeio de ditos jocosos caíram sobre a embaraçada Maria. Ela recebeu tudo isso em seu costumeiro bom espírito. Quando tudo foi limpo e as coisas se haviam acalmado, ela falou

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de uma maneira um tanto apologética e disse: ―Rapazes, penso que hoje tenho lágrimas na ponta dos dedos, pois meu filho foi morto ontem na Itália e eu acabo de receber a notícia. Eu penso que hoje tenho lágrimas nas pontas dos dedos.‖

Profundo silêncio caiu sobre o refeitório e todos eles se desmancharam em desculpas. Nunca haviam sonhado na esmagadora tristeza que se ocultava atrás de seu sorriso. Isso lhes ensinou uma lição e estabeleceu um principio que todos nós necessitamos compreender.

O Dr. William Stidger, a quem muito devo por esta história, apresenta-a nestas palavras: ―Freqüentemente quando as pessoas tropeçam e caem, quando parecem não ser capazes de coordenar o suficiente para fazer o seu trabalho, quando seus olhos não focalizam, quando os dedos são desajeitados e suas forças físicas são frouxas, pode ser que tenham lágrimas nas pontas dos dedos.‖ (1)

A Tensão Hodierna

Foi necessário um acidente para revelar a tristeza oculta na alma de Maria. Que atormentadoras tristezas e embaraçadores problemas oprimem o coração do povo! Nunca foi tão necessário o ministério do conforto, como é hoje. Alguns, com a criada de nossa história, são bravos e confiantes em si mesmos. Mas muitos sucumbem ante a pressão de seus problemas, e açoitados pelos seus próprios nervos em frangalhos, vivem em constante apreensão.

O povo vive hoje sob tremenda tensão. O mundo está cheio de temor, e muitos, torturados e atormentados por inominável temor, são incapazes de analisar seus próprios problemas. Vencidos por uma tirania interior, não têm segurança. Se tão-somente alguém lhes descobrisse os complexos ocultos, e os libertasse! O que necessitam é de um conselheiro sábio e compreensivo. Disse alguém que no mundo há duas

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PRINCÍPIOS PRIMÁRIOS DE CONSELHOS PASTORAIS

espécies de pessoas — as pessoas nervosas, e as pessoas que se riem das pessoas nervosas. Ocasionalmente encontramos alguns dessa última espécie no ministério. Como um irmão me disse: ―Não me posso incomodar com pessoas que sofrem de doenças imaginárias. Tenho muito que fazer para perder meu precioso tempo ouvindo histórias de infortúnios‖. Talvez todos nós tenhamos sentido ass im às vezes. Mas ouvir as dificuldades, faz parte vital de nosso trabalho.

Um dos títulos proféticos de Cristo é: ―Maravilhoso Conselheiro‖. De que maneira gloriosa cumpriu Ele essa predição! Verdadeiramente foi Ele o ―Deus forte‖, cuja Palavra dominava os ventos e as ondas, e em cujas mãos foi o pão multiplicado para alimentar os milhares de famintos, mas Ele foi, com maior freqüência, o Conselheiro, falando calmamente a uma única alma, deslindando o emaranhado fio da vida, e a libertando. Verdadeiramente foi um maravilhoso Conselheiro Ele Se ―compadecia do ignorante e dos que estavam fora do caminho‖. E a compaixão é a base de toda a verdadeira moralidade.

O povo sofre de toda espécie de complexos. Incapazes de compreender a si mesmas, algumas pessoas geralmente boas freqüentemente são espiritualmente anormais e mal ajustadas. Precisam de alguém que as livre da contradição de sua própria natureza. E quando encontram alguém que as pode entender, a ele são atraídos como a um magneto. Este é o motivo de o povo correr para Jesus. Ele os compreendia. Tomava tempo para lhes estudar as necessidades. Era Amigo dos que não tinham amigos. Tinha uma técnica simples mas maravilhosa para ajudar o aflito e o oprimido.

Jesus Libertava os Homens

―Os aflitos que iam ter com Ele, sentiam que ligava com os próprios, o interesse deles, como um terno e fiel amigo, e desejavam

conhecer mais das verdades que ensinava, O Céu era trazido perto,

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anelavam permanecer diante dele para terem sempre consigo o conforto de Sua presença.‖ (3) Foi a Sua amigável simpatia que lhes cativou o coração e ―unicamente pela simpatia, fé e amor podem os homens ser atingidos e

enobrecidos‖. (3) ―Ao conduzir almas a Jesus, deve haver certo conhecimento da natureza humana e um estudo da mente do homem.‖ (4) ―Requer conhecimento da natureza humana, acurado estudo, meditação e fervorosa oração saber como aproximar-se de homens

e mulheres para tratar dos grandes temas que dizem respeito a seu bem- estar eterno‖ (5) Esse conhecimento da natureza humana é o maior conhecimento que o homem possui. Muito mais preparo e infinitamente maior

habilidade se requer para ler uma mente que para ler uma folha de balanço. Quanto ao Mestre se disse: ―A todos conhecia; e não necessitava de que alguém testificasse do homem; porque Ele bem sabia o que havia no homem.‖ S.

João 2:24 e 25. A tradução de Moffatt reza: ‖A todos conhecia, e não precisava de evidências de ninguém quanto à natureza do homem; Ele conhecia muito bem o que havia na natureza humana.‖(6)

Jesus veio como uma nova revelação de incomparável poder moral. Veio para recriar o homem mental, física, social e espiritualmente, ―Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância‖, disse Ele. S. João 10:10. No Seu ministério a vida tocava vida, chama acendia outra chama. Contudo não era Ele por assim dizer, uma personalidade que dominava o povo, que o abatia. Em verdade, ―Sua palavra era com autoridade‖, Esta expressão ocorre vinte e cinco vezes nos evangelhos sinóticos, mas Seu poder era o que levantava o homem. Levantava-o do pó do desânimo, da desilusão da doença e até mesmo da morte. Quando Se movia por entre a multidão, estava ―cheio de graça e verdade‖. Falou palavras de graça e as Falou graciosamente. ―Todos . . .se maravilhavam

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das palavras de graça que saíam da Sua boca.‖ S. Luc. 4:22.

A graça é mais do que um dever cumprido. É a maneira de cumprir um dever. A gentileza pode ser cultivada. Mas a benignidade é a expressão não restringida de uma alma que se esquece de si mesma. Jesus não foi enclausurado em algum lugar inacessível; movia-Se no meio do povo; entre todas as espécies de pessoas — tanto entre os homens da igreja como entre os proscritos. ―Amigo dos publicanos e pecadores‖, assim O chamavam. Certamente era amigo deles.

Ele veio para libertar o homem de suas maneiras acanhadas, restritas de pensar. E Seus embaixadores devem seguir- Lhe as pisadas. Eram os fariseus um grupo muito singular. Formas e cerimônias, tradições e códigos, o que comiam e como se lavavam, constituía grande parte de sua religião. Quão revolucionário deve ter parecido quando Jesus disse: ―Nada á, fora do homem, que entrando nele, o possa contaminar, mas o que sai dele isso é que contamina o homem.‖ S. Mar. 7:15. Contudo, não estava Ele dando ao homem perm issão

para comer e beber toda e qualquer coisa. Ele mesmo recusou uma droga paliativa, quando estava morrendo na cruz. Queria Ele, porém, salientar que o homem é mais contaminado pelo que pensa e diz do que pelo que come e bebe.

Em nosso estudo da saúde é-nos ensinada a importância da combinação correta dos alimentos. Mas a saúde é mais influenciada pelo pensamento do que pelo alimento. Instituições notáveis como a clínica Mayo, de Rochester, Minnesota, declaram que setenta a oitenta por cento de todos os males físicos advêm da maneira errada de pensar. Que surpreendente descoberta! Mas, faz muitos anos, foi-nos dito que ―nove décimos das doenças de que sofrem os homens tem aí sua base.‖ (7)

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A Influência da Mente Sobre o Corpo

Tem a mente maior influência sobre o corpo do que muitos pensam. Não somente as boas combinações de alimento, mas as

boas combinações de pensamentos fazem parte da verdadeira reforma pró-saúde. You Are What You Eat (Vós Sois o que Comeis), é o título de um livro recente sobre o assunto do regime alimentar, e isso, até certo ponto, é certo. Mas a Escritura diz: Como imaginou na sua alma, assim é‖. Prov. 23:7. As pessoas fazem as coisas que fazem porque pensam as coisas que pensam. Rogando para que voltem a Deus, diz J. Edgar Hoover:

―Se é que há esperança para o futuro da América; se é que deve haver paz e felicidade em nossos lares, então devemos nós, como uma nação, voltar a Deus e à prática da oração familiar diária. Mas a nação está terrivelmente necessitada de um renascimento da vida simples — uma volta aos dias em que Deus era uma parte de cada lar, quando as famílias se levantavam de manhã com uma oração nos lábios, e terminavam o dia reunindo-se para se colocarem sob os Seus cuidados. Parece que nossa geração tem permitido que as antigas e fiéis práticas religiosas caiam no esquecimento. Como resultado disso, tem a vida familiar sido enfraquecida e a nação sofrido. O lar sem Deus está construído sobre a areia; é convidativo terreno para a multiplicação da decadência moral e do crime. Minha esperança quanto ao futuro desta nação, baseia-se na fé em Deus alimentada na família.‖ (8)

Ele tem razão. Mas há milhões que nunca conheceram a estabilidade da espécie de lar que ele descreve. Pertencem a uma geração que virtualmente voltou às costas a Deus. Muitos estão nas garras do temor, sendo torturados e atormentados por seus próprios pensamentos. Tendo perdido de vista a Deus em sua vida, não sabem para onde se virar em busca de segurança. Como disse recentemente uma senhora enfermeira ao capelão de um hospital: ―Suponho que sou realmente atéia. Veja, não posso crer num Deus bom‖. Aí está o problema. Não podem negar a existência de um poder sobrenatural,

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mas Deus é apenas um poder abstrato — um Deus que deve ser temido em vez de ser um Deus que deve ser amado, O rapaz que pegou num sete e gritou para o gato: ―Vá para casa! Já é suficientemente mau ser seguido por Deus em todas as partes‖, estava realmente exprimindo o pensamento íntimo de muitos dos mais velhos.

Certo escritor apresenta o caso de maneira muito clara quando diz: ―Somente os ‗iniciados‘ podem compreender os incontáveis temores, os fantasmas e duendes que - olham pelas janelas a dentro de espíritos tão angustiados. Podem eles ser imaginários e talvez mais tarde possamos rir-nos deles, mas são suficientemente reais enquanto perduram.‖

Então ilustra o ponto com a história de um velho negro que, repentinamente, verificou certa noite estar num cemitério, e fugindo precipitadamente caiu sobre as lajes dos sepulcros e se arranhou terrivelmente entre as sarças e arbustos. No dia seguinte, ao ouvir alguém sua história, disse-lhe sorrindo: ―O senhor não sabe que os fantasmas não lhe podem fazer mal? ‗Eu sabe disso‘, respondeu a vítima. ‗Mas eles pode fazê o senhô se machucá‘.‖

Tanto os Moços Como os Velhos Necessitam de Orientação

Não é o problema real, mas o problema aparente, que com maior freqüência aflige essas almas infelizes. Afinal de contas, um

buraco não é nada, mas nele podeis quebrar o pescoço. E esses fantasmas de temor que assombram essas casas de incredulidade são muito temíveis. Censurar as pessoas, ou, ainda pior, ridicularizá-las por seus imaginários temores, não resolve o problema. O que elas necessitam é de uma alma bondosa, compassiva, suficientemente sábia para ajudá-las a analisar seus problemas, bastante paciente para auxiliá-las a pôr um novo fundamento sobre o qual erigir um templo de paz. Tal conselheiro precisa ser sadio espiritualmente,

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intelectualmente são, habilitado fïsicamente, e socialmente irrepreensível.

Mas o que está abalado dos nervos e o que está fisicamente alquebrado não são os únicos que necessitam de conselho. Nossa juventude também necessita de orientação. As três decisões mais importantes da vida de uma pessoa jovem são: Decidir-se em favor de Deus, decidir sua vocação e decidir quem deve ser seu companheiro na vida. Essas descobertas não são fáceis de fazer, e a última não é a menos importante. Coloquei-as nesta ordem porque geralmente seguem nesta seqüência. Nem sempre estão os jovens navegadores inteirados de quão traiçoeiros são os mares em que estão velejando. Muito barco, tem afundado ao procurar alcançar esses três ancoradouros. Necessitam de um piloto, de alguém que o guie, de alguma alma bondosa que os possa ajudar a fazer estes três ajustes na vida. Cada igreja necessita de um clínica para conselhos vocacionais e sociais. E tal conselho deve ser acessível, capaz, digno de confiança e razoável. Pode ser que o pastor não esteja habilitado a apresentar todos esses requisitos, mas deve estar suficientemente familiarizado com os problemas para saber onde conseguir o auxílio de que seu povo necessita.

Então há os mais idosos, que necessitam de orientação. É esse um problema crescente que resulta, em grande parte, das tremendas mudanças que se operam na vida sociológica de nossa geração. Devido ao rápido aumento do termo médio de vida, somos compelidos a estudar toda a questão da senilidade. Duas novas ciências foram recentemente adicionadas à lista crescente: A geriatria e a

gerontologia. Sobre essa questão traz Paulo B. Maves à luz alguns fatos bem interessantes. Não estamos dispostos a admitir que o tempo dure tanto quanto ele sugere, mas sua análise da tendência presente é importante. Diz ele: ―Desde os dias de Júlio César até mil e oitocentos, a média da

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duração da vida subiu de vinte e sete para trinta e cinco anos. Lá por mil oitocentos e cinqüenta já subira para quarenta anos. Ao passar o século havia chegado a quase cinqüenta anos. Perto de mil novecentos e quarenta subira para mais de sessenta e três anos e as melhores estimativas que agora temos indicam que a duração média da vida é de aproximadamente sessenta e sete anos. De fato, os geriatristas advertem seus pacientes de que se quiserem ser realistas quanto aos seus planos, devem preparar-se para viver vinte anos de aposentados aos sessenta e cinco anos.

―Em termos de proporção, ao passo que as pessoas de mais idade representavam apenas pouco mais de seis por cento em 1900, representam agora mais de dez por cento. A idade média, ou a ide que tem tantas pessoas acima como abaixo dela, saltou de 16,7 anos em 1820, para 29,0 anos em 1940. Em outras palavras, uma pessoa dentre cada dez pessoas de nossa sociedade tem agora mais de sessenta anos de idade.

Mas não é esse o fim da história. Tal tendência se espera que continue até cerca do ano 2.000. Embora haja a possibilidade de que suba antes. Nesse tempo o número de pessoas de mais idade, nos Estados Unidos, terá crescido dos quinze milhões atuais para perto de trinta milhões e a proporção terá aumentado de dez para cerca de vinte por cento da população.

―Para representá-lo mais vividamente, disse Lawrence Frank que em 1900 se poderia descrever a população como sendo uma pirâmide com uma grande base de crianças, afinando ràpidamente para um ponto. Agora, devido à rápida queda da média de nascimentos, pode ser descrita como sendo um barril com um bojo no meio. Mas dentro de alguns anos será representada por uma vela com quase tantos adultos no topo como crianças na base, com um cone na ponta onde estaria o pavio. Dentro de poucos anos haverá tantas pessoas acima de sessenta anos como há abaixo de quinze.

―Com um pouco de pensamento e imaginação, podemos ver o que isso significará na composição de nossas escolas paroquiais e de nossas congregações, bem como na distribuição de nosso tempo e interesse ao planejar o programa da igreja. A crescente proporção de cabeças grisalhas em nossas congregações e o declínio no tamanho departamento das crianças nas escolas paroquiais deve-se em parte a essa alteração na idade. Em todo o caso, o trabalho com os adultos na igreja, torna-se cada vez mais importante.‖ (9)

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Com as mudanças tecnológicas que com tanta rapidez ocorrem, é difícil as pessoas mais idosas conservarem-se informa das dos

novos desenvolvimentos. Então, também, muitos não tiveram as vantagens educacionais das gerações mais novas. Conseqüentemente são eles considerados como ―números atrasados‖. Outra causa de desajuste é a rápida transição de uma sociedade agrária para uma sociedade industrialização. Muitas pessoas, especialmente as mais idosas, começaram a vida numa zona rural, mas hoje se encontram numa zona urbana, numa zona te totalmente diferente do de seu antigo preparo e experiência. Na própria época em que a ciência tem tornado possível mais pessoas ficarem mais velhas, estão as mudanças nas normas básicas de nossa cultura trazendo maiores dificuldades para os de mais idade. Disse o sábio: ―Coroa de honra são as cãs, achando-se elas no caminho da justiça‖. Prov. 16:31. Mas muita cabeça encanecida está inquieta, ponderando os problemas e procurando acomodar-se a essas novas condições.

Então há muitas almas solitárias que perderam o que possuíam de melhor e mais precioso. E o futuro para elas pouco interesse tem. Ouvem as vozes agora silentes, e na quietude da noite suas orações ascendem a Deus em busca de auxílio e conforto.

―Ele conhece a nossa estrutura, lembra-Se de que somos pó‖, e delicadamente trata com o desanimado. Isso se evidencia da experiência de Jonas, Elias e João Batista. Como embaixadores Seus, devemos nós também lidar bondosamente com as pessoas idosas, com o que está solitário e com entristecido. Essas personalidades vencidas, atormentadas por tensões e conflitos, precisam conhecer a presença permanente de Deus. Precisam de nosso cuidado especial. Com quanta freqüência porém, acontece que os que mais necessitam de amor e simpatia são os que menos recebem. Pode ser que isso se deva a estarem freqüentemente os mais necessitados

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em tal situação que quase não podem retribuir. De modo que o resultado natural é serem negligenciados. Mas é privilegio do pastor ajudar essas almas desafortunadas a se tornarem uma parte na comunhão do serviço.

Dez Sugestões Para os Conselheiros

Podem as seguintes sugestões demonstrar-se proveitosas: 1. Nunca pareçais impacientes. Jesus sempre estava ocupado, mas nunca tão ocupa o que não pudesse falar com uma alma

atribulada. Embora seja sensato contar nosso tempo, são as almas mais preciosas do que ele. ―Melhor é salvar uma vida que economizar um minuto.‖ Quantas almas sensíveis têm sido abaladas pela atitude inquieta e impaciente daquele a quem se dirigiram em busca de conselho! Consultar o relógio cada um ou dois minutos, enquanto fala com uma alma atribulada, é coisa imperdoável. O Mestre que podia passar todo dia com uma alma necessitada e toda a noite com um príncipe da sinagoga, foi quem disse: ―Não há doze horas no dia? A Escritura diz: Aquele que crê se apresse‖.

2. Sede compassivos. As almas atribuladas necessitam de simpatia - tanto de ouvidos compassivos como de palavras de simpatia. E às vezes tudo que se necessita é de uma compassiva audiência. ―O senhor nunca saberá quanto, me ajudou‖ disse uma alma aflita no fim de uma entrevista de três horas. No entanto tudo que eu fizera fora ouvir com simpatia. Raramente enunciara uma palavra, mas era evidente que o jugo se tornara suave e o fardo leve. Foi a simpatia do Salvador que Lhe deu acesso aos corações. ―A verdadeira expressão de piedosa simpatia, dada com simplicidade, tem poder para abrir a porta dos corações que necessitam do toque simples e

delicado do Espírito de Cristo.‖ (10) Profunda tristeza sobreveio certa noite a um lar cristão — uma menina de menos de dois anos de idade morrera. Na manhã seguinte a irmã mais velha que contava seis anos de idade, correu para a

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sua professora da escola sabatina, que não morava muito longe dali, e banhada em lágrimas disse: Oh, professora, uma coisa terrível aconteceu na noite passada - minha irmãzinha morreu. E eu vim aqui para que a senhora chore comigo.‖ Ela sabia para onde se dirigir em busca de verdadeira simpatia. É um dom maravilhoso ser capaz de chorar com os que choram.

3. Sede bons ouvinte. Ouvir é uma arte que todo conselheiro deve cultivar. É mais fácil para o pastor pregar do que ouvir, porque pregar centraliza-se no pregador, enquanto que o ouvir centraliza-se no paroquiano. Exige-se paciência, coragem e discrição para ser um bom ouvinte. ―Um dos maiores valores de um conselheiro é o de saber bastante para guardar silêncio‖, assim escreveu um amigo noutro dia. E ele está certo: ―O conselheiro necessita estar familiarizado com o silêncio.‖

A verdadeira arte de aconselhar é a habilidade de fazer as perguntas certas no tempo certo e do modo certo. Mas a única razão de fazer as perguntas é obter as respostas. A resposta pode dar-vos o fio do problema. ―Nada fiz senão ouvir‖, respondeu alguém que estava surpreso quanto à mudança de atitude da parte de alguém que ele estava procurando ajudar. Não somente era essa a melhor coisa a fazer era a única coisa a Fazer. Treinar-nos para ouvir de maneira criativa é vital ao êxito.

Se alguém pode ouvir passivamente (em silêncio),tão ativamente (Fazendo perguntas sábias), e depois de maneira interpretativa (explicando as causas Fundamentais), está habilitado a dar a segurança tão necessária no tempo da dificuldade.

4. Sede observadores. Observai para obter as informações. Pode o fio da meada de todo o problema revelar-se em algum pequenino ato ou atitude. Saber como penetrar no coração, é uma ciência, e uma ciência que vale a pena estudar. ―Jesus

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observava com profundo interesse as mutações na fisionomia dos ouvintes.‖ (11) Ele estudava, e sempre podia pôr o dedo no fator determinante. Ao lidar como povo lembrai-vos de que a única lei digna de confiança na natureza humana, a de que não há leis que se possam confiar. Estai, portanto, prontos para qualquer coisa.

5. Tende coração grande. Lembrai-vos de que todas as dificuldades são grandes para aqueles que com elas e tão relacionadas. Não menosprezeis o problema pondo-o de lado, como se pouca importância tivesse. É certo analisá-lo e ajudar a alma atribulada a vê-lo na devida luz, mas exibir, um ar de superioridade e dar a impressão de que toda essa coisa é insignificante, significa fracasso. Não fora ela grande para ele nunca a teria trazido ao pastor. A atitude de indiferença somente fere e levanta uma barreira. E o conselheiro bondoso dará a impressão de que, pelo menos no momento, é esta a coisa mais importante e mais critica do mundo. Nunca mostrará por um ato, e nem mesmo por um ligeiro olhar que isso está fora de sua cogitação. Jesus declarou que nosso Pai celestial se interessa até mesmo pela morte de um pardal.

6.Nunca pareçais assustados. Por mais estranha e confusa que seja a situação, nunca deis a impressão de ser particularmente fora do comum. A natureza humana age às vezes de maneira estranha, mas o conselheiro pode consentir em ser cego para com algumas coisas. Pendendo da parede de minha sala de estudos, há o quadro de uma meninazinha que acaricia uma boneca quebrada, com a feição infantil. E um pobre caco de boneca-não tem cabelo, só tem uma perna e a metade de um braço. Ela, não obstante, ocupa um lugar especial em seu coração. Por baixo estão as significativas palavras: ― O amor é cego.‖ Que verdade!

7. Demonstrai prontidão em partilhar das dificuldades. Lembrai-vos de que as dificuldades não partilhadas minam a

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alma. Davi disse: ―Enquanto eu me calei, envelheceram os meus ossos‖. Com quanta freqüência se dá que quando alguém começa a explicar suas dificuldades, realmente, ao explicá-las, ele as afugenta. Partilhá-las torna-as diáfanas. O temor de assombração desaparece quando alguém tenta traduzi-lo em palavras. Sua própria incerteza é sua força. Visto serem mal definidos, parecem terríveis. Mas são destruídos, ao serem partilhados.

8. Jamais quebreis um segredo. Nada é mais desanima- dor que um ministro que não pode guardar um segredo. Pode haver ocasiões em que a informação devia ser partilhada com outros. Mas nunca divulgueis um segredo sem primeiro obter permissão. ―Bem o que devo fazer com essa i incriminadora informação? disse eu, depois que uma alma acabou de falar, desabafando o coração. ―Oh , não diga nenhuma palavra‖, disse ela ―Mas se eu conservar silêncio, o problema nunca será resolvido‖, respondi-lhe .‖ Oh faça o favor de guardar o meu segredo. ―Não deixe ninguém saber‖, foi o pedido de sua alma. ―Dei-lhe minha palavra‖, disse-lhe eu, ―e me pode manter sobre essa promessa enquanto quiser. Mas eu devo transmitir essa informação, se é que esperamos ―melhorar a situação.‖ Então lhe fiz uma sugestão. Oraremos agora sobre esta questão‖, disse-lhe eu, ―e eu deixarei com a senhora dizer-me quando posso transmiti-la.‖ Nós ambos oramos. No dia seguinte, ela voltou, dizendo: Estive orando sobre essa questão, e vejo tudo isso agora justamente como o senhor vê. ―Pode usar a informação quando e da maneira que julgar necessário‖. Fi-lo; e essa informação salvou de uma dupla tragédia. Mas até ter permissão de revelar a historia, era meu dever guardar seu segredo. A capacidade de guardar um segredo inspira confiança.

9. Vede além do problema atual. O verdadeiro conselheiro não a pessoa em seu estado presente, e sim como poderá estar sob a graça de Deus. Vê naquele que a ele se achega

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não uma alma espezinhada, desanimada, ferida pelo pecado, mas antes uma alma que pode, sob o impacto da graça divina, tornar-se um santo de Deus; e como um verdadeiro médico espiritual começa a aplicar ao coração ferido o bálsamo de Gileade.

―Em cada ser humano, apesar de decaído, contemplava um filho de Deus, ou alguém que poderia ser restaurado aos privilégios de Seu, parentesco divino. ... Em cada ser humano Ele divisava infinitas possibilidades. Via os homens como poderiam ser, transfigurados por Sua graça -na graça do Senhor nosso Deus.‖ (Salmo 90:17). Olhando para eles com esperança, inspirava-lhes esperança.

Encontrando-os com confiança, inspirava-lhes confiança. Revelando em Si mesmo o verdadeiro ideal do homem, despertava para a consecução deste ideal tanto o desejo como a fé.‖ (12)

10. Reconhecei a dignidade da personalidade humana. Ao passo que sentis a gravidade do problema ou a aparente falta de esperança de uma situação, tende certeza de não demonstrar por uma palavra, ou mesmo pelo tom da voz, que a pessoa esta fora de esperança. Um dos grandes segredos do êxito do Salvador foi sua habilidade em inspirar esperança no abatido e no carregado de pecados. Por mais, afundado que alguém possa estar no pecado e na devassidão, deve o conselheiro determina-se a inspirar confiança. Quanto à obra do Salvador, lemos: ―Em Sua presença reconheciam as almas desprezadas e caídas que ainda eram homens, e almejavam demonstrar-se dignos de Sua consideração‖. Essa declaração tanto é assombrosa como reveladora. O Espírito de Deus pode despertar em corações que parecem mortos para todas as influências santificadas o desejo de alcançar uma nova vida. Devemos estudar como inspirar confiança em si mesmos, e especialmente no Deus vivo.

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O Mestre via o povo não como era, mas antes como poderiam ser pela Sua graça.

1) Sermon Stories of Faith and Hopes, pág. 12. 2) O Desejado de Todas, as Nações, (3º Ed.), pág, 184. 3) Educação pág. 78, 4) White em Review and Herald, 10 de outubro de 1882, pág. 625.

5) Obreiros Evangélicos, (3º Ed.), págs. 92 e 93, 6) A Bíblia: Nova tradução por James Moffatt. Copyright 1935. Usado com permissão de Harper & Brothers 7) Testemunhos Seletos (Edição Mundial), Vol. 1 págs. 179 e 180. 8) Argonaut, 27 de agosto de 1948,

9) (Ministering to Older People) em Religion in life, Número de Verão, 1949, págs. 374 e 375. Usado com permissão de Abíngdon — Cokesbury Press, NashviIIe, Tenn. 10) Testimonies of the Church, Vol, 9, págs. 30. 11) O Desejado de Todas as Nações, (3º ed.), pág. 184. 12) Educação págs. 79 e 80.

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Domínio Espiritual

―Por que não podemos fazer com que Moody venha realizar algumas reuniões nesta cidade?‖ era a questão discutida muitos

anos atrás, por um de ministros. Depois de alguma discussão, alguém se levantou e disse: ‗Mas por que temos nós de ter Moody? Tem ele o monopólio do espírito santo? Era essa uma pergunta desafiadora. Mas alguém do grupo calmamente se levantou e disse: ―Não o senhor Moody não tem o monopólio do Espírito Santo, mas o Espírito Santo o monopoliza, e esse é o motivo de necessitarmos dele.‖

E justamente aí f está o segredo de seu grande trabalho. ―Sua maior consecução‖, disse Richard Ellsworth Day, consistia em ―viver de tal maneira que aqueles que o contemplavam fixamente não viam homem algum, mas apenas,Jesus.‖ — Bush Aglow, pág. 280.

―Seja como for ninguém poderia estar com ele meia hora sem ter a consciência da presença de Outro.‖ — Idem, pág. 287. Depois de uma ausência de oito anos, voltou ele aos seus antigos pagos, de Northfield e é revelador este comentário da penada

Sra. Jessie Mckinnon: ―O Sr. Moody está novamente entre nós (outubro de 1881). É o mesmo homem simples e honrado que conhecemos nos anos

passados. ...o mesmo mas mais calmo. Parece que ele esta completamente mais calmo — provavelmente a diferença que oito anos com toda a probabilidade exercem sobre um homem. Assim parece a princípio, mas não estamos muito tempo a seu lado até que verifiquemos ter havido um poder sazonador em operação, e que não vem todo da natureza. Ele é o mesmo porém mais calmo, o mesmo, mas se percebe que ele cresceu muito em direção ao céu .. . a parte humana nele diminuiu seu poder, e a celestial avançou grandemente ... o que pouco era visto, esta agora bem distante e fora de vista.‖ Idem pag. 280

Esta expressão, ―cresceu muito em direção ao céu‖, é um repto a cada pastor de almas. Somente quando, o Espírito do Céu nos possui, estamos nós verdadeiramente preparados para reconduzir homens ao aprisco do Senhor.

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ÀS OVELHAS PERDIDAS

S. MATEUS 10:6 29

REAVENDO OS TRANSVIADOS

No Novo Testamento raramente se encontra uma sugestão quanto a expulsar pessoas da igreja, mas toda a ênfase é dada a nela conservá-las; ou, se alguém se tem extraviado, ganhá-lo de novo e de novo trazer o perdido para o aprisco. Se, contudo, devido a uma flagrante, persistente e desafiadora apostasia tem de ser retirada a mão da comunhão, deve a igreja empreender essa terrível tarefa com profunda humildade e muita oração.

A igreja é o corpo de Cristo. É ela o objeto de Sua suprema consideração. Por ela depôs Ele a Sua vida. E todo o membro, individualmente, lhe é precioso. Mesmo aquele que nos possa parecer naturalmente destituído de atração faz parte do Seu corpo, e nossa atitude para com tal pessoa é o índice de nossa atitude para com o próprio Senhor.

Visto à luz do Calvário, até o mais indesejável dentre nós vale mais do que mundos. Bem fazemos em nos lembrar disso, quando, como pastores, somos chamados para lidar com os nossos irmãos. Tempos virão em que a igreja terá de tomar uma decisão quanto a alguns que têm naufragado na fé. Pode ser que até mesmo alguns nomes tenham de ser retirados dos registros da igreja; mas, quando aparecem tais

{516} ocasiões, (e deviam ler poucas e bem distantes umas das outras), deve a igreja humilhar-se em oração diante de Deus desligar um membro da comunhão da igreja deve ser uma experiência muito solene e que toca o coração. Coisa alguma nas relações humanas com ela se pode comparar. É muito pior que a morte, porque se um membro adormece em Cristo, e nós o levamos ao descanso, é isso apenas até que ―raie o dia e as sombra desvaneçam‖. Mas se alguém que andava conosco na comunhão da igreja perde o caminho e se afasta da suave atração e súplicas do Espírito de Deus, e por sua própria vida não regenerada ―se separa‖ de nosso grupo (e essa é a única condição que nos permite retirar um membro do registro da igreja, segundo as Escrituras), não é isso por um tempo, mas para a eternidade. Pode, contudo, um milagre da graça restituir tal pessoa ao aprisco, e por essa volta nunca devemos deixar de trabalhar e orar. Contudo, a menos que se dê tal milagre, não somente está ele perdido para os nossos registros, mas perdido para o reino, e perdido para sempre. Que coisa terrível! E assim mesmo tão verdadeira!

Uma Séria Responsabilidade

Sentimos nós nossa responsabilidade como dirigentes da igreja? Estão nossos membros e oficiais da igreja plenamente cônscios da responsabilidade que assumem quando desejam eliminar alguém do rol da igreja? Nenhuma tentativa é feita aqui para analisar a causa de nossas perdas. Há muitas razões. Pode ser que muitos não compreendam completamente o privilégio e as responsabilidades que implica o ser membro da igreja, ao serem trazidos à sua comunhão. Alguns têm sido trazidos precipitadamente para a igreja a fim de fazer relatórios num sistema de evangelismo de competição. Se isso é verdade, então é uma tragédia. Mas agora que estão dentro da igreja, qual é sua responsabilidade para com eles?

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Acrescentar ou eliminar membros da igreja não é questão de pequena importância. Nunca se deveria entrar levianamente na

comunhão do corpo de Cristo. Para se tornar membro do corpo de Cristo, é necessário mais que mera assistência aos cultos da igreja. Tampouco podem os membros ser eliminados de Sua comunhão meramente por falta de assistência a um ou a todos os cultos. Os homens e mulheres entram em comunhão com Cristo e se tornam membros de Seu corpo por lhe entregarem o coração, e porem sua vida em harmonia com a vida dEle e com Sua vontade. Dão testemunho dessa decisão pelo rito do batismo, e não deveriam ser batizados enquanto não tivessem produzido definitivamente os frutos de uma vida transformada.

Uma vez que tenham entrado na relação do concerto com seu Redentor, é responsabilidade da igreja ajudá-los a manter essa experiência. Não estão sob provas para ver se se adaptam às normas. Isso já devem eles ter feito. Seja qual for o período de prova e instrução que se faça necessário, deve ela preceder e não seguir o batismo. Havendo sido batizados, são agora membros da família de Deus. São bebês recém-nascidos e precisam da alimentação e do cuidado dos membros mais velhos da família. Havendo-se levantado das águas batismais, devem agora ‖andar em novidade de vida‖. É verdade que alguns serão mais fracos do que outros. Isso já se deve esperar. Algumas criancinhas aprendem a andar mais depressa do que outras. E quando os bebês começam a andar não nos surpreendemos se forem um pouco vacilantes. Se caírem, todos os membros capazes da família correm em seu auxílio.

Será possível que tenhamos mais simpatia para com as crianças de nossas próprias famílias do que para com os filhos da família de Deus? Paulo diz: ―Mas, nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos‖. Rom. 15;1. Notai a sugestão. Alguns

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serão ―fracos‖ mas o forte deve suportar-lhes as ―fraquezas‖. Vai ele mais além, pois diz no capítulo 14, versículo 1: Ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas‖. Em outras palavras, não conserveis um membro fraco à distância enquanto em farisaica atitude discutis seu caso. Antes, trazei-o ao caloroso amplexo amigo.

Muitos anos atrás, nos campos de esporte de uma escola superior australiana, dois times estavam jogando o match final do ano. Havia muita agitação. Aos rapazes de escola pode faltar uma certa habilidade profissional, mas não lhes falta o entusiasmo. Era uma tarde de quarta-feira, e o pai de um dos rapazes que estava no time Wesley havia insistido para que eu fosse ver o jogo. Era rápido e furioso, e os escolares gritavam com frenesi. A competição estava bem empatada.

Já haviam passado três partes do jogo, e as equipes estavam mudando de lado, no campo, para o último e intensivo quarto de hora. No fim de cada quarto, ao mudarem de lado as equipes, os fãs, cujas gargantas estavam roucas, mudavam também a fim de estarem mais perto de seus favoritos que estavam jogando. Mas na última mudança notou-se que alguma coisa diferente estava acontecendo. Os torcedores de ambas as escolas se alinhavam e formavam dois quadrados perfeitos. Os grandes, os rapazes mais velhos, estavam do lado de fora, e os calouros, os rapazes mais novos, do lado de dentro. Então começaram a marchar passando um pelo outro com perfei ta precisão. Não se pronunciou uma palavra. Tudo era silêncio.

―Que é isso?‖ perguntou um amigo. Então veio a história. Dois anos antes, estavam as mesmas escolas no último jogo, e na exaltação que houve, quando os torcedores estavam mudando de lado para o último quarto de hora, algumas observações desagradáveis foram feitas. Num abrir e fechar de olhos, todo aquele lugar se havia tomado num verdadeiro

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pandemônio. A polida acorreu à refrega, mas antes que essa pudesse ser debelada, mais de cinqüenta rapazes e três policiais foram levados para o hospital. Desde então eles se põem em fileira, e os rapazes mais velhos põem os mais novos do lado de dentro como precaução.

Era isso uma parábola — os mais fortes rodeando os mais fracos, e todos marchando juntos. Será que no domínio dos esportes os homens se comportam de maneira mais sábia do que no domínio da religião?

Não se requer graça espiritual para criticar um irmão mais fraco. A natureza humana sempre está pronta para censurar e discut ir. Mas nós não podemos lidar com os membros da igreja no mero nível humano. Eles, como nós mesmos, foram feitos filhos de Deus; são ―participantes da natureza divina‖. (II S. Ped. 1 :4), e, como pastores, devemos manifestar por eles verdadeira preocupação. Se houver pessoas fracas, cerquemo-las então de forças, simpatia, e amor fraternal, cuidando de nós mesmos, para que não venhamos também a ser tentados. Isso é que é verdadeiro cristianismo.

Nossa perda de membros devia causar alarme. E muitos desses poderiam ter sido salvos para o reino se apenas nossa atitude como pastores fosse diferente, ou se nossa preocupação por eles tão-somente fosse maior. A verdade é que muitos escapam sem que pouca ou nenhuma atenção lhes tenha sido dada e praticamente nenhum esforço se tenha feito para resgatá-los. Algum incidente banal faz com que alguém permaneça fora da igreja por algumas semanas. Pode ser que o ancião da igreja, ou qualquer outro oficial que está na direção esteja envolvido no caso, e, conseqüentemente, nenhum esforço especial é feito para orar com esse membro ausente ou reavê-lo. As semanas se transformam em meses. Então, para tomar as coisas ainda pior, o suposto infiel é talvez sujeito à ―disciplina da igreja‖. Em vez de sua falta ser estudada por um grupo imparcial, com muita freqüência algumas

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das próprias pessoas envolvidas em seu problema, estão entre os que decidem o caso. Talvez ele saiba disso mais tarde, e isso o torna cada vez mais endurecido em sua atitude. Pode ser que se passe um ano ou mais sem que nele se veja uma mudança. Então o caso é mais uma vez discutido pela comissão da igreja, que está ansiosa por ―limpar os registros‖, e vem uma recomendação a igreja para que se elimine esse nome. Não há choro, nenhuma súplica especial, nenhum jejum, nenhum exame do coração da parte dos oficiais da igreja para ver se, porventura, a causa não jaz neles. Em vez disso, é tratado com indiferença, e o abismo se alarga, até ser quase impossível a recuperação.

Quão diferente é o método do Senhor! Quando os nossos casos estavam na balança, Ele Se lançou na brecha. Ele salvou um mundo pelo sacrifício de Si mesmo. E que repto nos é lançado no exemplo de Moisés! Tão unido estava ele com seu povo que quando o Senhor disse que o iria destruir, Moisés ousou ir à presença de Deus e rogar que o Senhor removesse até mesmo o seu próprio nome do livro da vida caso não pudesse Ele salvar aqueles a quem tirara do Egito. (Exo. 32:30-32.) Para ele seu rebanho era mais que a vida— parece que até mais que a vida eterna. E assim convosco, queridos companheiros pastores?

As almas mais difíceis de ganhar são aquelas que uma vez andaram nos caminhos da verdade, mas que, devido a algum desentendimento ou mau trato, ficaram desanimadas. No entanto algumas delas poderão ser ganhas novamente se nós, como líderes da igreja, nos humilharmos diante de Deus e pusermos em nosso coração essas almas desviadas. Necessitamos de um evangelismo que faça mais que trazer pessoas para dentro da igreja. Necessitamos de um evangelismo que nela as conserve. Que adianta trazer novas pessoas pela porta da frente da igreja enquanto permitimos que nossos próprios

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membros escapem pela porta dos fundos. E nem sempre eles escapam; muitas vezes são tocados.

Poucos anos atrás certo irmão foi designado para pastorear uma igreja numa zonal rural. Fora ele um obreiro da Associação, mas a falta de saúde o impossibilitara de continuar a trabalhar no regime de tempo integral. Vindo para seu novo cargo, bem depressa tornou conhecido seu programa. ―iria limpar‖ a igreja. Insignificantes irregularidades se tornaram motivo para investigação e disciplina da igreja. Não demorou muito para que aquela pequena igreja de quarenta e cinco membros estivesse reduzida a quinze seu grito de batalha, ao sair para combater contra as fraquezas da igreja, parecia muito ortodoxo, mas seus métodos eram tão destituídos de misericórdia quanto destituídos de Cristo. ―É melhor ter seis cristãos verdadeiros‖, disse ele, ―do que uma igreja cheia de meios cristãos‖. Tal conversa é irrazoável e insensata. Como deve ter isso deleitado o diabo! Certamente desejamos cristãos verdadeiros em nossas igrejas. Mas a verdadeira comunhão não se edifica com uma ditadura, só o Espírito de Cristo pode purificar Sua igreja. Os esforços humanos para fazer com que certos membros se conformem com certas normas, são impotentes. E expulsá-los da igreja porque não cooperam é seguir o método daquele ímpio e velho rei dos tempos antigos que, havendo decidido que todos os homens deveriam ser de certa estatura, passou a aplicar medidas diabólicas para a realização de sua insensata norma. Os baixos eram esticados numa espécie de roldana, e aos que eram altos cortava as pernas para satisfazer a norma.

Tanto Cuidado Quanto Correção

Nossos membros precisam de mais do que apenas correção; precisam de cuidado. A confiança e o amor da parte dos pastores,

fará mais do que a censura e a disciplina. Deve o rebanho ser guiado, não tocado. Notai o verdadeiro

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espírito de pastor nas palavras de Jacó: ―Estes filhos são tenros, e , tenho comigo ovelhas e vacas de leite ; e se as aí afadigarem somente um dia, todo o rebanho morrerá. .. . Eu irei como guia pouco a pouco, conforme ao passo do gado que está diante da minha face, e conforme ao passo dos meninos.‖

Deve o pastor ser corajoso, mas também deve ser bondoso; sem medo, mas cheio de fé — fé em Deus e fé nos seus companheiros. Se houver necessidade de correção, deve me revelar o espírito do Bom Pastor, do qual se relata que, mesmo quando denunciava os fariseus, ―tinha lágrimas na voz ao pronunciar Suas mais fulminantes censuras‖. O Salvador sabia como guiar mansamente. Foi Seu amor que ganhou as multidões.

Jesus disse: ―Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos armardes uns aos outros‖. E o amor não deve ser expresso pelo barulho e clamor, mas por atos e atitudes calmos de devoção. É de se lamentar que tantas pessoas ―em vez de imitarem a Cristo em Sua maneira de trabalho são severas, críticas e ditatoriais. Repelem em vez de ganhar almas. Tais pessoas nunca saberão a quantos fracos suas palavras ásperas têm ferido e desanimado.‖ (1)

É na verdade entristecedor reconhecer que tendo sido chamados para o sagrado serviço de ganhar homens e mulheres para Cristo, realmente às estejamos afastando do Salvador, simplesmente porque o nosso espírito repele em vez de atrair.

Tão diferente era o método do Mestre! Para Ele, era mais importante ganhar homens que ganhar argumentos. Todas as classes de pessoas eram atraídas para o Salvador.

―A beleza de Seu semblante, a amabilidade de Seu caráter e, sobre tudo, o amor expresso no olhar e na voz, atraiam para ele todos quantos não estavam endurecidos na incredulidade. Não fora o espírito suave, cheio de simpatia, refletindo-se em cada olhar e palavra, e Ele não teria atraído as grandes congregações que atraiu.‖ (2) (Grifo nosso.)

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Ele amava o povo, e esse amor se manifestava em cada expressão de Seu semblante e em toda palavra que pronunciava.

Mesmo o tom de Sua voz servia de ânimo aos desanimados. E essa questão do tom é importante. O povo se impressiona bastante ou até mais com a maneira em que dizemos as coisas do que com o que dizemos.

As congregações são edificadas pelo amor, não pela legislação; pela simpatia e não pela censura.

O Espírito de Diótrofes

Diótrefes amava a preeminência. Tornou-se notório porque estava ―proferindo contra nós palavras maliciosas, e, não contente com isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los, e os lança fora da igreja‖. III S. João 10. O espírito que o movia era o espírito do homem do pecado. Acautelemo-nos para que o espírito de um Diótrefes não se encontre entre nós. Deus o condenou naquela época; Ele o condena agora. Ele nos aconselha a esquadrinharmos os nossos próprios corações, pois ―muitas pessoas são severas, críticas e ditatoriais. Repelem em vez de ganhar almas. Tais pessoas nunca saberão a quantos fracos suas palavras ásperas têm ferido e desanimado.‖ (3)

Será que nesse tempo de espera e de vigia haverá líderes em nossas igrejas que por suas palavras ásperas estão realmente ferindo, desanimando e afugentando de Cristo almas fracas? Um espírito crítico e ditatorial não é o espírito de Cristo. O Bom Pastor deu Sua vida pelas ovelhas. Para Ele um membro que faltava era mais importante que às noventa e nove que já estavam seguras no aprisco. Como somos afetados pela ausência de alguém? Geralmente custa muito dinheiro e esforço trazer um membro para a igreja. E com ele nos regozijamos quando chega ao conhecimento da verdade. Mas cem membros salvos da apostasia valem tanto como cem novos membros ganhos do mundo. Eles até valem mais, porque

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cada apóstata é um constante reclame contra a causa de Deus. Devemos alistar-nos numa grande cruzada para Cristo, uma cruzada para reaver nossos membros que estão ausentes, para

reclamar aqueles que uma vez conosco se regozijaram na mensagem. Em vez de esperar até ao fim do ano e então ir aparando as listas de nossas igreja, visando, talvez, diminuir os nossos alvos financeiros, (trágico método em verdade!), por que não começarmos a atrair e ganhar os fracos, salvando-os assim para a causa e para o reino? Demonstremos tanta diligência em limpar vidas como às vezes demonstramos em ―limpar os registros‖. O fardo do Senhor pelo Seu antigo e desviado povo levou-O a clamar com grande tristeza: ―Como te deixaria, ó Efraim?‖ Oséias 11:8. Esse mesmo espírito deve mover-nos ao contemplarmos a perda de membros. Então, lembrando-Se do Seu amor e direção a eles dispensados, diz: ―Todavia, eu ensinei a andar a Efraim; tomei-os pelos seus braços‖. (Versículo 3.) Justamente como pegamos uma criança pelos braços e lhe ensinamos a dar os primeiros passos, assim Deus ensinou e guiou a esse povo. Não admira que Ele não o pudesse abandonar. Eles eram Seus próprios filhos, alimentados e sustidos por Suas amoráveis mãos. Parecia impossível abandoná-los. Se os membros de nossa igreja estivessem mais ligados a nós, não os poderíamos abandonar com tanta facilidade. Devemos ser mais que padrastos espirituais. Devemos ser para eles verdadeiros pais e mães. Então nossos filhos desviados da igreja pesarão mais profundamente em nosso coração. Escrevendo aos coríntios, diz Paulo: ―Admoesto-vos como meus filhos amados. Porque ainda que tivésseis dez mil aios em Cristo, não teríeis contudo muitos pais.‖ Necessitamos de verdadeiros pais e mães em Israel. Nunca se soube que minha mãe fosse dormir enquanto todos os filhos não estivessem seguros em casa. E às vezes tinha ela de esperar por longas horas.

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Esperava e orava, porém, com paciente amor, pois os filhos eram a sua própria vida. Temos nós como líderes essa espécie de preocupação com nossos rebanhos? Nada menos que isso bastará para esta grande hora.

O Reerguimento de Vidas é nossa Glória

Nova era de oportunidades se abre para a igreja de Deus. A devastação ocasionada pelos terríveis anos de guerra tornou necessário penetrar num urgente programa de reconstrução e reabilitação. Mas a nossa necessidade vai além da reconstrução de prédios de igrejas e instituições destruídos; necessitamos de um programa dirigido pelo Espírito para reivindicação dos membros e famílias da igreja que estão desanimados e transviados. Temos apenas pouco tempo para procurar essas ovelhas que se extraviam e trazê-las de novo para o redil. Acaso não terá chegado o tempo de os líderes da igreja expectante abandonarem todo o orgulho e interesse próprio, e, com coração humilde e pleno de simpatia, orarem e rogarem a Deus que lhes dê poder para ganhar o extraviado, da senda da indi ferença e do pecado? Como oficiais da igreja, professores da escola sabatina e líderes dos jovens, não ousamos quedar-nos contentes enquanto não estiverem todos seguros no aprisco. Tomem os dirigentes em Israel a dianteira. Sejamos caçadores de almas, em vez de caçadores de heresias. E estejamos mais prontos a abrigar que a censurar.

Dois rapazinhos, na Inglaterra, estavam brincando nos belos prados de Devon. Era um dia maravilhoso, e estavam na época da caça. Enquanto brincavam calmamente, ouviram a trompa aguda do caçador, que chamava seus homens para a caçada. Então saíram os

caçadores, latindo os cães furiosamente, ao mesmo tempo em que os cavaleiros, de casacos vermelhos, saltavam regatos e cercas. O grande veado estava bem na dianteira.

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Os rapazes haviam continuado a brincar. Estavam em cima de um penhasco íngreme que dava para o Atlântico, quando, como

que num instante, o animal, tomado de pânico, veio saltando à toda, para o lado deles. Pobre criatura! Estava procurando algum lugar seguro. Lançou-se, com frenesi, para a beira do alcantil. Centenas de pés abaixo, estavam as empoladas ondas do Atlântico. Saltaria no mar? Outros já o haviam feito, antes dele; alguns para sua própria morte. Mas ele mudou de idéia e correu em outra direção. P oucos instantes mais tarde os cães de caça que latiam estavam farejando. Perseguiram o animal até a beira da estrada. Agora haviam perdido a pista. Os caçadores subiam a colina a galope e os meninos sabiam que lhes viriam perguntar em que direção fora o veado. Assim, com infantil inocência, o menino menor disse ao irmão: ―AÍ vêm os caçadores. Perguntar-nos-ão em que caminho ele foi. Nós diremos que não sabemos.‖ Bendito coração! Ele queria proteger a pobre criatura. Mas o irmão mais velho, com calma coragem, respondeu: ―Não! Não devemos dizer isso, pois seria uma mentira, e mamãe nos ensinou que nunca devemos dizer mentiras. Nós diremos que estamos do lado do veado e que não nos devem perguntar.‖ Bela simplicidade e graça varonil! Ele não queria pregar uma mentira. Mas se colocou do lado do que estava sendo caçado e perseguido.

Quer sejam caçados veados ou heréticos, o princípio é o mesmo. E necessário ter coragem às vezes para estar ―do lado do veado‖. Mas esse é o espírito do Mestre. Ele Se colocou do lado do que era caçado e perseguido. Uma indefesa mulher, com cica trizes do pecado, foi arrastada até a Sua presença. Era um caso de prova. Que diria Ele? Compreendendo a situação, pronunciou estas sublimes palavras: ―Aquele que dentre vós está sem pecado, seja o primeiro que atire pedra contra ela‖. Então começou a escrever na areia. Imediatamente todos os olhos se desviaram da acusada. Fora

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ela o único objeto de interesse. O Mestre então aliviou a tensão e os levou a olhar em outra direção. O que escrevia não era muito agradável aos acusadores. E, um por um, aqueles que vieram para condenar, desapareceram furtivamente.

O Salvador não disse uma palavra, mas salvou uma alma que mais tarde se tomou um de seus mais dedicados discípulos e obreiros evangélicos.

E é digno de nota que ele escreveu os pecados desses membros da igreja na areia. Houvesse Ele burilado essas coisas na rocha, e teria a igreja feito uma relíquia do registro, e os homens estariam fazendo peregrinações a esse local, para ver quão pecadores eram esses velhos fariseus. Em vez disso, escreveu na areia, pan que a primeira lufada de vento apagasse o registro. Foi Sua bondade que resolveu a situação. Quando aprendermos Seus métodos de lidar com os pecadores, nosso êxito será cem vezes maior.

Se nus humilhássemos diante de Deus, e fôssemos bondosos e corteses, de coração terno e piedoso, onde agora há apenas uma, haveria cem conversões à verdade.‘ (4)

Tal espírito no coração dos líderes de nossa igreja salvará muito caso aparentemente sem esperança. É o amor que conquista. E o amor cobre uma multidão de pecados.. Constrangidos por Seu divino Espírito, saiamos para reivindicar o descuidado e desanimado, lembrando-nos de que cada membro ausente é um apóstata em potencial.

1) White, Practical Adresses em ―Historical Sketches‘‘, pág, 121.

2) O Desejado de Todas as Nações, (3° ed.), pág. 184 3) White, PracticaI Adresses em ―Historical Sketches‖, pág. 121 (168). 4) Testimonies of the Church, vol. 9, pág. 189.

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O BOM PASTOR DÁ A SUA VIDA

S. JOÃO 10:11 30

O CORAÇÃO DE UM VERDADEIRO PASTOR Que grupo interessante é um rebanho! Temos ali todas as espécies. Jesus apresenta muitas e diferentes figuras para descrever

igreja. Falou uma vez de se assemelhar o reino dos céus a uma rede que pega peixes de toda espécie. Que verdade! Já saístes alguma vez numa traineira, e vistes a incrível variedade de peixes que vêm na rede? Um velho amigo meu da Nova

Zelândia era comandante de uma traineira. Era um idoso e bom cristão e há muitos anos era o ancião local daquela igreja. Tinha alguns problemas sobre teologia que cuidadosamente desejava discutir. De medo que insistiu para que com ele passasse um dia no barco. Nós poderíamos estudar enquanto ele guiava o navio. Estou certo de que eu aprendi mais dele nessa viagem do que ele aprendeu de mim.

O dia era maravilhoso e havia abundância de peixes. A tripulação, que sempre estava interessada na festa, vibrou quando puxaram mais de duas toneladas de peixe. Suas redes quase se rompiam. Que vital toda a classe de peixes — grandes, pequenos, redondos, chatos, compridos, curtos. Nunca pensei que pudesse haver tantas espécies, diferentes em tão poucos quilômetros de água. Alguns estavam calmos e quietos

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ao serem despejados no convés. Outros pulavam de uma parte para outra em desesperado dilema. Não posso dizer que a vista fosse totalmente agradável, pois a morte nunca é atraente. Mas eu estava aprendendo mais da significação das palavras de Jesus: ―Toda a qualidade de peixes‖. Ali estavam eles: — todas as qualidades, até mesmo um tubarão fazendo os seus últimos e desesperados ataques contra os outros. Que insensato. Desconhecia completamente que também ele fora apanhado. Quão viciosa pode ser às vezes a natureza!

E lá adiante havia quatro peixes porco-espinho — grandes e redondos, mais ou menos do tamanho de uma bola de futebol, cobertos por todos os lados de uma coisa que se assemelhava a espinhos. ―Veja aquelas criaturas‖, disse o velho marujo. ―Estão cheias de vento e logo estarão vazias.‖ E era bem certo; dentro de cinco minutos já. se haviam esvaziado. E ali havia alguns caranguejos — que coisas tolas! Os caranguejos sempre andam de lado. Lá no fundo do monte estava uma lagosta. Quando a tiraram, andou para trás — Enquanto observava, minha mente ia correndo através dos anos. Toda aquela cena se tornou uma parábola. E eu disse a mim mesmo:

―Como isso se assemelha a algumas pessoas que eu conheço!‖ Num terço de século de evangelismo encontramos todos os tipos. Isso é que torna o trabalho tão vibrante.

Ao voltarmos nossa traineira rumo ao lar, aquela tarde, levávamos uma boa carga, mas uma carga de morte. Como excursão de pesca, fora um êxito. E então pensei naquele dia em que Pedro e os outros irmãos traziam para casa a sua grande pesca. Nós tínhamos muitas vezes mais que ―cento e cinqüenta e três grandes peixes, mas também o nosso barco era maior e nossas redes eram puxadas por maquinismos. Novamente me soaram aos ouvidos as palavras de Jesus: Amas-Me mais do que estes?‖ Isso disse Ele ao apóstolo. Quando Pedro Lhe assegurou que O amava, então as comissões do Mestre foram: ―Apascenta os Meus cordeiros‖ e, ―apascenta

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as minhas ovelhas‖. Naquele dia, na Galiléia— naquele dia de uma pescaria plena de êxito — Jesus mudou a ocupação de Pedro. Devia ser ele mais que pescador; devia agora ser um pastor. Pastorear é serviço mais nobre do que pescar e exige coração mais bondoso, O que o pescador apanha morre em suas mãos, mas o pastor serve a um rebanho vivo.

Jesus e Pedro pertenciam a uma nação cuja história estava vinculada às ovelhas. Alguns dos maiores heróis dos hebreus eram pastores. Entre os seus principais poetas, legisladores, profetas e reis havia os que tinham sido guardadores de ovelhas. E foi aos pastores que os anjos vieram anunciar o nascimento do Redentor do mundo. Também é interessante notar que, em suas epístolas pastorais, Pedro nunca se refere à pescaria, mas recomenda aos pastores que alimentem o rebanho de Deus. Adverte-os de que não sejam como que senhores da herança de Deus, antes sejam exemplos do rebanho, para que ao aparecer o Sumo Pastor, eles, como subpastores, recebessem a coroa da glória.

A Obra do Pastor

Qual é a obra do pastor? Para termos a resposta vamos ao Oriente, onde nasceu a idéia do pegureiro-pastor. Ali veremos todo o

escopo da responsabilidade do pastor. Tinha-Me muitos deveres. Era protetor, atalaia, guia, provedor, médico e salvador. As ovelhas são criaturas indefesas. Não têm meios de defesa. Quase todos os animais se podem proteger, mas não a ovelha. Está à mercê de todo animal selvagem da floresta. Assim há necessidade de pastores, para guardar e proteger o rebanho.

Tenho visto pastores no alto das montanhas do velho Líbano, tendo os ombros cobertos por seus grandes casacos de peles. São homens fortes, cheios de coragem e de senso comum. Nos primeiros séculos, e mesmo hoje, estava o rebanho exposto a toda espécie de perigos, e o pastor deve estar

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alerta; não deve conhecer temor. Mesmo quando ainda, era rapaz, Davi salvou uma ovelha de um leão e outra de um urso.

Quando Jesus disse: ―Eu sou a porta‖, referia-Se a bem conhecido costume desses homens corajosos. Geralmente curral de ovelhas era uma estrutura muito humilde, com apenas uma entrada. Uma abertura na parede servia de porta e janela, deixando entrar tanto a luz como o ar. Quando as ovelhas eram abrigadas no aprisco para passar a noite, costumava o pastor deitar-se atravessado na soleira da porta, tornando-se por assim dizer, uma porta viva. Nenhum ladrão ou fera poderia atacar o rebanho sem o conhecimento do pastor. Nem tampouco poderia qualquer ovelha escapar do redil, a não ser que passasse sobre o seu corpo. Que belo símbolo do cuidado e da responsabilidade sentidos pelo verdadeiro pastor tornava-se de uma barreira viva entre o rebanho e o inimigo.

Interessante lei se encontra nos estatutos de Israel, e que reza: ―Quando edificares uma casa, nova, farás no teu telhado um parapeito, para que não ponhas culpa de sangue na tua casa, se alguém dalguma maneira cair dela.‖ Deut. 22:8. Esse estatuto tinha verdadeira significação nas terras bíblicas, onde os telhados eram planos. Uma barreira era uma boa precaução, pois era costume subir ao telhado em certas horas do dia. Parece que o telhado era o lugar costumeiro de oração de Pedro. (Atos 10:9.) Assim se exigia do dono que levantasse uma barreira à beira de todo o telhado.

Como pastores-evangelistas, também nós devemos levantar barreiras ao redor da família da fé. Sempre que nova igreja é organizada, deve esta ser instruída no programa quadrilátero de Deus, O cristianismo não tem um lado só. Toda necessidade humana deve achar expressão dentro do programa da igreja — espiritual, mental, físico, e social. De Jesus está registrado que Ele ―crescia em sabedoria (crescimento

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mental) e em estatura (desenvolvimento físico), e em graça para com Deus (consecução espiritual), e os homens (promoção socia l)‖

Para habilitar nossos membros a crescerem ―à medida da estatura completa de Cristo‖, tem o Senhor dado à igreja um programa quádruplo. Pelo estudo da Palavra de Deus, desenvolve-se a nossa vida espiritual. O programa educacional da igreja provê seu desenvolvimento mental. A mensagem de Deus sobre o viver saudável, visa preservar a saúde e a força física. E pela devida recreação e comunhão são atendidas suas necessidades espirituais.

Como guarda do rebanho, deve o pastor planejar e dirigir os quatro aspectos da vida e a atividade da igreja.

Tal programa provê uma ameia de proteção. É muito melhor construir uma barreira no topo da escada do que um hospital no sopé. Conservando as barreiras devidamente reparadas, nenhuma necessidade haverá de despender tanto tempo curando ovelhas meio mortas, para lhes restituir a vida.

O pastor também é um atalaia. Nas terras orientais está o rebanho cercado de perigos por todos os lados. Portanto,

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a vigilância é uma virtude. Deve o pastor conservar olhos vigilantes para ver o perigo que se aproxima. Quão amiúde esteve a palavra vigiai nos lábios do Senhor e dos apóstolos! Paulo falou de lobos devoradores que entrariam na igreja, não poupando o rebanho. Portanto vigiai‖, disse ele. Às vezes construía o pastor oriental uma torre e a certos intervalos, durante o dia, subia e perscrutava a paisagem para ver se havia perigo iminente. Vigiar, é uma parte vital da obra do pastor.

Então deve ele ser um guia. Parece que as ovelhas não têm o sentido da direção; portanto, deve o pastor ser um guia. Deve ele ir à frente do rebanho. O verdadeiro pastor será um líder. Irá Ele à frente de seu rebanho tanto no pensamento como na ação. Se for um líder, as ovelhas o seguirão.

Certo dia, na velha Síria, contemplava eu um pastor que trazia o rebanho para casa. Como de costume, havia algumas cabras entre as ovelhas. Todos os rebanhos orientais se compõem de ovelhas e cabras. Esse pastor estava fazendo o que eu já tinha visto outros fazerem. Ia ele tocando as cabras e deixava que as ovelhas seguissem atrás dele. Parando-o, perguntei-lhe a razão disso. Sua resposta foi interessante: ―Nós não nos precisamos preocupar com as ovelhas. Elas sempre nos seguirão. Mas as cabras seguem seu próprio caminho. Por isso nós as temos de tocar.‖ Que palavras que fazem pensar! As cabras seguem seu próprio caminho; as ovelhas sempre seguem.

O pastor oriental deve também ser um provedor. As ovelhas precisam ser alimentadas e abeberadas. E nas estações secas, precisa o rebanho ser freqüentemente mudado de um pasto para outro. Sábio é o pastor que varia o regime espiritual de seu rebanho. No púlpito, nas classes bíblicas e no lar, deve o pastor ser um aumentador do rebanho.

O trabalho pastoral não consiste apenas em fazer visitas sociais. Pregar e ensinar são uma parte vital de seu trabalho.

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Dizer que um homem é bom pastor, mas pregador indiferente ou deficiente professor, é uma contradição. Nenhum homem está realmente fazendo todo o seu trabalho de pastor se não estiver edificando espiritual e numèricamente seu auditório pela sua pregação. A pregação mais forte produzirá cristãos mais fortes. Muito problema individual é resolvido pelo sermão. A separação e as hostilidades podem freqüentemente ser curadas por meio de uma mensagem reveladora e confortadora do púlpito. Os animais famintos geralmente lutam. Que espécie de pastores somos nós no púlpito?

―Necessita-se de pastores — pastores fiéis — que não lisonjearão o povo de Deus nem o tratarão àsperamente, antes o alimentarão com o pão da vida.‖ (1)

O pastor era o médico do rebanho. Tanto era médico como enfermeiro das ovelhas enfermas. A saúde do rebanho para ele era de vital importância. Mesmo do ponto de vista puramente econômico seria sábio o pastor estudar a saúde das ovelhas. O tamanho da tosquia da lã é em grande parte determinado pela sua condição física. Mas interesses muito acima dos interesses comerciais devem mover o coração do pastor. Em cada rebanho espiritual há algumas almas necessitadas e abatidas. Essas almas requerem os cuidados e o conselho de um pastor. Costumamos cantar: ―Como um poderoso exército avança a igreja de Deus‖. E isso é verdade, pois a igreja deve ser uma hoste con4uistadora. Mas todo exército moderno tem seu corpo médico e seu hospital móvel. A vida costumava ser de pouco valor no campo de batalha. Mas assim não é hoje. Nada é mais importante que a saúde e o cuidado médico e do pessoal que luta. Em Washington, D. C. há dois dos melhores hospitais dos EE. UU. Ambos são instituições do Governo, um serve ao exército e o outro à Marinha. Durante o calor da batalha, no último conflito mundial, quando homens feridos necessitavam de um cuidado especial, ou se não podiam ser levados para hospitais

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mais próximos, eram eles freqüentemente apanhados no campo de batalha e levados por via aérea através de milhares de quilômetros de terra e de oceano, a fim de lhes poder ser dispensado o eficiente cuidado médico dessas grandes instituições. Milhares de vidas americanas foram, assim, salvas pela perícia do serviço médico do exército e da Marinha.

A Igreja é um hospital Espiritual

E quando um soldado da cruz cai no campo de batalha não necessita ele mais de cuidado e conforto do que de censura e de critica? A igreja, em verdade é um exército em marcha, contudo, esse exército necessita de hospitais espiri tuais e de postos de curativos, onde os homens feridos e cansados possam ser medicados de modo a poderem voltar à vida e ao vigor espirituais. Uma coisa é ter a teoria e conhecer o argumento; e bem outra é ter um conhecimento íntimo da alma agoniada e atormentada.

A grande redução da média da morte física nas terras civilizadas, tem para nós uma lição. Sabeis vós que em alguns países já foram acrescentados mais de vinte anos à média de duração de tempo da vida humana? Como se fez isso? Pelo mais cuidadoso tratamento e maior habilidade da parte dos médicos e cirurgiões. Mas o maior fator isolado do programa tem sido um esforço de âmbito nacional para reduzir a mortalidade infantil. O cuidado do bebê tornou-se uma consideração de importância vital. E isso não foi realizado por métodos extensos ou campanhas especiais. Cada bebê e cada paciente se tornaram alvo de particular cuidado, sem o qual mui tos certamente teriam morrido.

E não pode a igreja também diminuir grandemente a sua média de mortos espirituais? Creio que sim. E isso se realizará ao exigir maior habilidade da parte de nossos médicos espirituais e mais fiel e amorável cuidado da parte de nossos

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enfermeiros espirituais. Se cada igreja se tornasse um hospital espiritual e dinâmico centro de cura; se as almas feridas e cansadas, alquebradas e contundidas, pudessem sentir na atmosfera da igreja que há saúde e cura, restauração e regeneração, quão maravi lhosos seriam os resultados!

Mas um hospital necessita de peritos. Ser médico ou cirurgião, requer tanto habilidade como preparo. Quando alguém resolve tornar-se especialista em certo campo, deve fazer completo estudo pós-graduado. É emocionante contemplar o cirurgião enquanto ele remove uma catarata do olho e restitui a visão. Com que minucioso cuidado e exatidão faz ele seu trabalho! Trabalho tão delicado exige dedos muito hábeis. Mas remover as cataratas do pecado de olhos que haviam sido cegados pela vontade própria e por sórdidos prazeres, requer um toque ainda mais delicado. A cirurgia da alma é uma especialidade, e mais ovelhas serão salvas para o aprisco de Cristo, quando tivermos médicos espirituais mais perfeitos.

A Ovelha Doente

Um turista subia as colinas da Escócia, quando chegou a um belo e pequenino lago. A noite se aproximava, mas ele notou que

quatro pastores estavam sentados quase à beira d‘água, conversando. O estranho a eles se ajuntou, pois esperavam até que seus rebanhos se tivessem abeberado aquela tarde. Centenas de ovelhas ali estavam, todas misturadas.

Finalmente um dos pastores se levanta e diz: ―Bem, vocês outros pode esperar um pouco, mas eu vai-me embora‖. Então fez o chamado de pastor, e naquele grupo de ovelhas houve um reboliço, e algumas começaram a sair. Logo todas que a ele pertenciam se haviam separado, e ele se foi embora guiando o rebanho montanha acima.

Logo outro pastor saiu, seguindo a mesma técnica. Apenas foi em outra direção. Dentro em pouco o terceiro chamava

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suas ovelhas, e finalmente apenas um rebanho ali permanecia. Diz o estranho que o que ele vira mais parecia um milagre. ―E a ovelha nunca seguirá a um estranho?‘ perguntou ele. ―Não‖ foi a segura resposta. Então o pastor hesitou e se corrigiu. ―Bem, às vezes segue, mas somente quando está doente‖.

As ovelhas que estão doentes seguem o caminho errado. Somente a ovelha doente segue a um estranho e a ovelha doente necessita mais de cuidado do que de censura.

Noutro dia, aconteceu o turista passar pelo meio de um rebanho ao meio-dia, e as ovelhas estavam pastando. Ao se aproximar do pastor, notou ele que uma ovelha ali estava deitada. Evidentemente estava machucada, e o pastor pronunciava palavras de amor e segurança ao pequenino ser. ―Tem uma ovelha doente aí?‖ perguntou o estranho. ―Bem, não está exatamente doente. Está com uma perna quebrada.‘‗Oh! como aconteceu isso? Suponho que tenha sido um acidente.‖ Mas o velho pastor hesitou em dizer. Achava que o viajante dificilmente compreenderia. Finalmente, contudo, foi persuadido, e esta foi a sua história:

―Esta criatura é uma boa ovelha. Tem todos os característicos de um líder, mas era obstinada e não queria vir quando eu a chamava. Sempre queria levar o rebanho no caminho errado. Procurei ensinar-lhe, porém ela era cabeçuda. Não confiava em mim. Decidi que teria de fazer com ela o que antes fizera com outros. Era duro, mas eu sabia que daria resultado. Preparei as talas e as ligaduras; então, segurando- a, peguei a perninha da criaturinha em minhas mãos e a quebrei sobre a minha, assim‖, e me mostrou como fizera. Mas tinha a voz embargada e os olhos cheios de água, ao reviver a experiência. Sentiu de novo a dor como se fosse sua própria. ―Então arrumei a perna‖, continuou ele, ―e a liguei‖. Isto faz algumas semanas. Desde então cada bocado de alimento e cada gota de água que esta criaturinha recebeu,

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obteve-os das minhas próprias mãos. Todos os dias eu a levo para o campo, e todas as noites a trago de volta. Temos aprendido a amar um ao outro, pois temos sofrido juntos. Dentro de poucos dias removerei as ligaduras, e ela será o meu líder, pois tem aprendido na dor o que de nenhuma outra maneira lhe poderia ensinar.

Que lição para um pastor espiritual! Às vezes um membro de nosso rebanho necessita de correção, mas somos nós tão ternos e atenciosos como aquele rude e inculto escocês? Haverá corações tão bondosos batendo sob as nossas vestes clericais como os que batem sob o velho manto do pastor? Quando, por acaso, precisamos disciplinar um membro, temos nós feito antecipadamente o preparo para lhe ligar as feridas? e o alimentamos e o carregamos nos nossos braços espirituais até que se tenha restabelecido? Ou o colocamos sob censura, e deixamos que ele cuide de si mesmo? Pode às vezes a correção ser necessária, mas com muita freqüência nosso procedimento tem trazido desânimo a uma alma enferma justamente no tempo em que ela de mais auxílio necessitava.

Quanto ao Bom Pastor, lemos: ―Os aflitos que iam ter com Ele, sentiam que ligava com os próprios, o interesse deles, como um terno e fiel amigo, e desejavam

conhecer mais das verdades que ensinava. O Céu era trazido perto. Anelavam permanecer diante dEle, para terem sempre consigo o conforto de Sua presença.‖ (2)

Era a simpatia e a amizade de nosso Salvador que conquistava o coração de homens e mulheres. ―Sua terna compaixão caía como um toque de saúde nos corações cansados e aflitos.‖ (3)

Walt Whitman exprime isso desta maneira: ―Não pergunto à pessoa ferida como se sente. Eu mesmo me torno pessoa ferida.‖

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―O espírito do verdadeiro pastor é de inteiro esquecimento de si mesmo perde de vista o eu para que possa fazer as obras de Deus. Pela pregação da palavra e pelo ministério pessoal nos lares do povo, toma conhecimento de suas necessidades, tristezas e provas; e, cooperando com Aquele que leva o maior fardo, participa das aflições deles, conforta-os em seus dissabores, farta-lhes a alma faminta e salva seus corações para Deus. Nesta obra é o ministro assistido pelos anjos do Céu, sendo ele próprio instruído e iluminado na verdade que o torna sábio para a salvação‖ (4)

―Ruskin declarou isso nestas palavras: Quando o amor e a habilidade trabalham juntos, esperai uma obra-prima‖.

As Ovelhas Errantes Necessitam de um Pastor Finalmente, deve o pastor ser um salvador. As ovelhas se desviam, não porque são más, mas porque são ovelhas. Tem a

propensão de ficarem perdidas. As vezes só a estupidez separará uma ovelha do rebanho. Quando isso acontece, fica ela louca para encontrar os companheiros. Lança-se de um lado para outro, mas quanto mais experimenta, tanto mais longe do aprisco parece ficar. A ovelha perdida nunca encontrará o caminho de casa. Ela necessita de um pastor, e o pastor necessita de um cão.

As ovelhas nunca se perdem repentinamente. Antes que uma delas seja uma ovelha perdida é uma desgarrada. E aí é que necessita de cálida, amigável e compassiva compreensão. Freqüentemente sua confiança pode ser novamente granjeada, e antes de ir longe demais, pode ela ser reintegrada no aprisco. Salvar uma alma da apostasia e conservá-la no redil é certamente tão importante como trazer para dentro alguém que nunca dantes pertenceu ao rebanho.

Parece que alguns têm a paixão de salvar o perdido, mas somente o perdido que nunca pertenceu à igreja, ou aqueles que estão aberta e notoriamente perdidos — ébrios, ladrões, réprobos, ou talvez pagãos idólatras.

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Então, também estamos - desejosos de percorrer terra e mar para os recolher. Submetemo-nos a toda a espécie de despesas, e

aperfeiçoamos toda a classe de apetrechos para atrair novas pessoas para a verdade. Mas uma vez estejam dentro, amiúde nosso interesse nelas parece cessar. Esperamos que elas permaneçam na igreja, e se se desviam, ficamos um tanto ressentidos. Sobre o Pastor celestial lemos: ―Amou- os até ao fim.‖

Um infeliz defeito de nossos formulários de relatórios e estatísticas é que não há provisão para registrar o número de membros salvos para a igreja num ano. Se saem e nós os rebatizamos, podem ser relatados. Mas o rebatismo geralmente pressupõe algum pecado grave ou lapso na experiência cristã. E isso é que o verdadeiro pastor almeja evitar. Conservar os membros na igreja, então, é certamente tão importante como granjear novos membros.

Salvar membros desviados é tarefa difícil e geralmente ingrata. É mais fácil cantar com a multidão: ―Salvai os que perecem‖, do que enfrentar o ermo e o frio e sair sozinho procurar diligentemente nas montanhas e vales, mas é isso o que faz o verdadeiro pastor.

Conta-se uma história acerca de Andrew Bonar. Era ele um dentre três irmãos, todos eles ministros presbiterianos escoceses. Fizeram seu trabalho há quase cento e cinqüenta anos, e deixaram um invejado relatório para as gerações futuras. Muitos anos depois de sua morte, quando alguém estava escrevendo uma biografia de Andrew, dirigiu-se à filha desse piedoso pregador. Era ela agora idosa senhora. ―Qual é a sua mais antiga -lembrança de seu pai como pastor?‖ perguntou ele. Ela pensou uns instantes e então disse:

Bem, eu lhe contarei algo que aconteceu muitos anos atrás. - Tinha eu apenas uns quatro anos de idade naquele tempo. Mamãe fora fazer compras e me deixou com papai. Ele estava muito ocupado na sala de estudo, e eu estava Brincando

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ao redor da casa. Repentinamente ele me chamou e me disse que tinha algumas coisas a fazer lá na velha igreja. Assim, levando-me consigo, e me pondo no último banco, deu-me minhas bonecas, e me disse que as conservasse quietas, pois ali era a casa de Deus. Ali permaneci sozinha tão longo tempo que fiquei um tanto assustada e cogitava onde poderia estar papai. Então, trepei silenciosamente no assento e olhei ao redor. O lugar me pareceu grande demais, pois não via ninguém. Dentro de alguns momentos, meu pai se levantou. Estava abaixado quase na frente da igreja. Estivera orando, e pude ver que estava chorando. Começou a andar vagarosamente pelo corredor, como se procurasse um nome. (Naqueles dias, os nomes da família eram escritos na extremidade dos bancos.) Evidentemente achou o nome que procurava, pois entrando novamente num dos bancos, caiu de joelhos e orou. Não ousei falar, pois parecia que Deus estava naquele lugar. Isso fez meu pai muitas vezes aquela manhã. Esqueci-me de brincar com minhas bonecas, pois estava observando meu pai. Naquele dia tive minhas primeiras reais impressões acerca dele como pastor. Certamente eu o ouvira pregar muitas vezes, mas agora eu o via chorar pelos errantes de seu rebanho, pois meu pai era um pastor.‖

Que quadro do pastor e suas ovelhas! Aquela igreja era mais do que simplesmente uma casa de reunião. Era um santuário saturado pelas orações e lágrimas de alguém que trazia seu povo no coração. Homens como esse podem abalar o reino de Satanás até aos próprios fundamentos.

Anos atrás, naquela mesma terra, vivia uma humilde família de pastor — pai, mãe e filha. Quando sua filhinha foi pela primeira vez colocada nos braços da mãe, foi um grande desapontamento para o pai, pois desejava um menino. Almejava um filho que lhe servisse de companheiro em seu trabalho, entre as ovelhas. Bem, mamãe‖, disse ele, ―farei dela meu rapaz e a tornarei pastora‖. E isto foi o que ele fez.

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Durante aqueles tenros anos da meninice era ela sua constante companheira. Conhecia as ovelhas e as podia chamar tão bem

como o pai. Mas os anos se passaram, e ela estava crescendo. Finalmente ele achou que não mais tinha direito de conservá-la por mais tempo. Depois de conversarem sobre o assunto, deixou-a sair para a grande cidade de Glasgow. Devia ela educar-se e tornar-se uma verdadeira dama. A princípio ela escrevia todos os dias para casa, depois uma vez por semana, mais tarde a longos intervalos. Mas finalmente deixou completamente de escrever.

Foi isso um golpe para os solitários pais; e, muitíssimo perturbados, procuraram encontrá-la, mas sem resultado. Certo dia, um dos rapazes da vila viu-a na cidade e foi falar com ela, mas foi repelido. Evidentemente, ela nada queria saber da velha vida. Quando essa notícia chegou aos ouvidos dos pais, eles ficaram com o coração partido. Teriam perdido a filha? Que poderiam fazer? Finalmente o pai disse: ―Mamãe, se ela está viva, irei descobri-la.‖ ―Mas você não é um homem da cidade‖, disse ela. ―E que poderá lá fazer um velho pastor montanhês como você?‖

Mas ele foi, impelido pelo poder do amor. Ao ali chegar, tudo era estranho, e aparecendo como estava, com sua capa de pastor, era ele uma figura esquisita. A polícia não lhe pôde prestar muito auxílio, e ninguém parecia ter qualquer indício de onde sua filha poderia estar. Durante dias procurou ele, mas sem qualquer sinal dela. Finalmente disse consigo mesmo: ―Ela conhece o chamado do pastor e se o ouvir, saberá que eu cheguei‖. Assim, bem cedo, no outro dia, andou para cima e para baixo num distrito da cidade onde fora informado que ela costumava estar. Chamou repetidas vezes, mas não obteve resposta. O povo saía à janela para olhar, cogitando quem seria tão excêntrica criatura e por que não era preso. Chamou durante todo o dia. E agora

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era noite. Estava cansado e tomado de dor, mas ainda continuava. Ele tinha de encontrar a filha.

Repentinamente uma jovem que estava rodeada de um grupo de amigos parou e prestou atenção. Estavam no meio de um jogo de cartas. Fora servido aguardente, e eles estavam tendo uma hora animada. ―Que aconteceu?‖ perguntou o parceiro. ―Ouça!‖ disse ela. ―Pode ouvir aquilo? Este é meu pai.‖ ―Seu pai! que quer dizer com isto? Venha, sente- se, e continuemos o jogo‖. Não! não posso‖, replicou ela tremendo. ―Devo ir. Este é meu pai.‖ E, jogando as cartas, correu para a porta e rua abaixo. Papai! Papai!‖ gritava ela. ―O senhor veio! O senhor veio!‖ E ela se lançou em seus braços, chorando e fazendo a sua confissão. Sim, o velho pastor chegara. Havia procurado a filha, e ao fazê-lo, desafiava os costumes e o prestígio. Estava procurando aquela que havia perdido, e o chamado de pastor a encontrara.

Ó Deus, se tão-somente fôssemos tais pastores! Se cada um de nós estivesse desejoso de ser qualquer coisa ou mesmo nada, se tão-somente pudéssemos trazer de volta a ovelha perdida e extraviada!

Técnicas Para os Pastores

PROBLEMA: Que procedimento devemos seguir para conservar em dia os nossos registros da igreja? Deve o nome dos faltosos

ser tirado do rol da igreja, sem que a pessoa tenha sido entrevistada? RESPOSTA: É esta uma questão importante. É fácil as comissões de igreja ficarem preocupadas com ―limpar o rol da igreja‖,

especialmente quando os alvos financeiros e os alvos de trabalho da igreja são determinados em proporção com o número de membros. Tal limpeza geralmente começa justamente antes do fim do ano, e a menos que se tome grande cuidado, é possível que seja eliminada uma pessoa

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que nunca o deveria ser. Sempre é mais fácil riscar nomes do que acrescentá-los. Mas pensai nas orações, no trabalho e nas lágrimas que tal nome representa, antes de o riscar. A não ser que seja absolutamente impossível entrar em contato com um membro faltoso, é seguro dizer que jamais deve ser alguém riscado sem que tenham sido envidados pessoalmente diligentes esforços para reaver o perdido.

Numa ocasião como esta, bem me lembro de um certo grupo de oficiais da igreja. Alguns dos presentes estavam resolvidos a fazer a limpeza dos registros, e assim alguns nomes deveriam ser riscados. O pastor era novo, e não estava familiarizado com alguns daqueles cujos nomes estavam sendo discutidos. Fazia mais de dois anos que não se via certa jovem senhora nem dela se ouvia coisa alguma. O secretário da igreja já lhe havia escrito, mas não recebera nenhuma resposta. Insistia-se em que fosse desligada. O pastor perguntou se alguém já a visitara. Eles não estavam bem certos de onde ela estava. ―Bem, irmãos, eu nunca poder ia tomar parte em riscar seu nome dos livros da igreja‖, disse ele, ―enquanto não tivermos estabelecido qualquer contato com ela, ou pelo menos não soubermos mais de sua condição espiritual presente‖. Fizeram-lhe vigorosa oposição, e ele ficou quase sozinho em seu apelo para que retardassem qualquer ação sobre o seu nome. E isso ocorreu especialmente quando ele disse que levariam pelo menos três semanas até que pudesse tentar fazer a longa viagem para o lugar em que julgavam que ela estava. ―Não podemos esperar três semanas‖, disseram. ―Essas três semanas já nos porão no novo ano, e o rol deve ser limpado antes que o ano termine.‖ Que escravos somos nós, às vezes, das normas e estatísticas! Mas ele conservou sua posição, e finalmente conseguiu persuadir a comissão a protelar a ação.

Três semanas mais tarde, o pastor e o ancião da igreja fizeram de carro a longa viagem. Ao chegarem a casa em

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que disseram que ela estava morando, a própria jovem abriu a porta. Estava surpresa, e imediatamente se debulhou em lágrimas. ―Oh! os senhores vieram‖ disse ela em meio aos soluços. Eles entraram, e ela externou abertamente sua confissão. Tentando encobrir eu pecado,

deixara a cidade natal. Eles lhe ouviram a longa e triste história. Ao terminar, dirigiu-se ela a uma gaveta tirando dela dois envelopes. Num estava escrito: Oferta da Escola Sabatina‖, e no outro ‗Dízimo‖. Com lágrimas, contou os esforços que envidava para ser fiel a Deus nessas coisas. ―Eu sei que me devíeis ter riscado do livro da igreja‖, disse ela, ―pois sei que tiram os nomes depois de dois anos, e não sou digna de ser membro. Mas faça o favor, pastor, leve este dinheiro. Ele é de Deus.‖ E ela reverentemente lhe colocou os envelopes na mão. Voltaram-se para as escrituras e leram como Deus trata os pecadores. E então todos os três oraram. Foi uma cena comovente, mas daquelas que fazem os anjos regozijar-se.

Quando o ancião da igreja e o pastor se apresentaram diante da comissão da igreja e contaram o que havia acontecido, todos estavam em lágrimas, e os que mais insistentes tinham sido quanto a remover-lhe o nome, foram os primeiros a insistir em que fosse conservado. Uma alma fora salva, conservado um membro, e a comissão da igreja aprendera melhor maneira de fazer a obra de Deus. Hesitamos em pensar quais teriam sido os resultados, não houvesse um compassivo pastor permanecido na brecha.

Certamente nenhum nome deve jamais ser riscado do rol da igreja enquanto não se houver envidado algum esforço pessoal para trazer de volta à comunhão ativa o descuidado ou desanimado. Somente nos casos mais extremos devemos contentar-nos com meramente escrever uma carta. Até já vimos cartas circulares mimeografadas, em duas vias, com o nome da pessoa no alto, e que declaravam na mais fria espécie de fraseologia, que em certa reunião que se realizaria

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dentro de duas semanas (dando a data), seu nome seria considerado, e que a não ser que ela pudesse estar presente em pessoa, ou enviasse uma carta dando boas razões para sua ausência, seria eliminada. Que absurdo! As ovelhas perdidas não encontram o caminho para casa; têm de ser procuradas! Necessitam de mais do que uma notícia fria e formal; precisam do amor de um verdadeiro pastor. Torne-nos Deus tais pastores!

1) White, Carta 21, 1903 (116).

2) O Desejado de Todas Nações,(3° Ed.) pág. 184 (124) 3) Ibidem 4) Atos do, Apóstolos pág. 527.

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O PRIMEIRO SERÁ SERVO DE TODOS

S. MARCOS 10:44 31

A AVALIAÇÃO DIVINA DA VERDADEIRA GRANDEZA

Que faz um grande homem? Quais são as normas pelas quais se pode aquilatar a verdadeira grandeza? Obtenhamos do Senhor a resposta, enquanto O ouvimos falar à multidão. Diz ele: ―Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista‖. Ninguém maior do que João Batista! Isso é espantoso, pois João não organizou nenhuma igreja, não realizou milagre, não escreveu livros, não liderou qualquer partido político, não era um financista, não possuía uma casa fei ta com esmero. E no entanto era o maior. É verdade que era pregador poderoso, pois despertou toda uma parte do país. Mas isso durou apenas alguns meses. Que foi que o tornou grande? Certamente não foi a sua posição social ou eclesiástica. Não, Não foram elas. Não foi, antes, o seu maravilhoso espírito? Falando de seu Senhor, disse de: ―É necessário que Ele cresça e que eu diminua‖. E isso é a própria antítese da natureza humana. Talvez não queiramos admiti-lo, mas todos nós nascemos egoístas. Somos egocêntricos por natureza, O bebê começa a vida no nível biológico. Se é que ele pensa, de fato, naqueles

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primeiros meses, está ele quase certo de que todo o Universo gira ao seu redor. E, pelo menos nas terras civilizadas, todos parecem ansiosos por ajudar essa criaturinha a descobrir sua própria importância. Todo o seu alvo na vida é ser alguém, de modo que as menores aquisições são saudadas com alegria e orgulho. Certamente os pais e os amigos são apenas um meio para alcançar um fim. Não tendo senso de responsabilidade, só tem ele uma ambição: ―Quero o que quero quando o quero‖. Algumas pessoas crescidas raramente parecem ter saído desse nível de pensamento, pois desrespeitam todos os direitos dos que estão ao seu redor. Quando uma jovem criança chega à escola, descobre que deve fazer alguns ajustes. Aprende - e freqüentemente de maneira bem dura—que viver é dar e não tomar. E ainda que seja apenas uma criança, aprender a repartir é a sua mais dura lição. Mas todo o seu êxito na vida depende de quão bem aprende essa lição. E importante que ela seja alguém, mas quando ser alguém se torna um fim em si mesmo, é isto um beco sem saída.

Não se deve negar que devemos ampliar nosso conhecimento e poder pessoal, pois por esse meio somos nós habilitados a dar maior contribuição no auxilio aos nossos semelhantes. Mas esforçar-nos para alcançar uma posição de poder, contemporizando ou planejando, é a própria antítese do verdadeiro cristianismo. É o método do ditador. Para ele o amor do poder se torna uma paixão, e tudo fará para alcançar seus objetivos. Usará ele seus amigos, encarcerará seus inimigos, e se necessário for, marchará por sobre os corpos mutilados e sangrentos de seus semelhantes para satisfazer uma ambição não santificada. Deve ele ser o primeiro a qualquer custo. Todo o alvo de sua vida é atrair a atenção. Mas todo esse modo de pensar ainda está no nível meramente biológico. No coração de tal pessoa ainda se esconde a idéia infantil de que o mundo todo só existe para ela.

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Ouvimos às vezes dizer que ―a preservação é a primeira lei da vida‖. Mas que vida? Certamente não a vida cristã, pois nem

mesmo começamos a viver como Cristo viveu enquanto o eu não é crucificado. Aquele que está vivendo abundantemente, como exprimiu

nosso Salvador, nunca se preocupa com preservar o eu. É essa idéia de preservação própria que força os homens a lutar. Este é o espírito do reino animal, e onde quer que esse espírito prevaleça, a natureza se torna diabolicamente cruel.

Faz algum tempo, fazia-se um estudo científico sobre o; hábitos dos Gophers (certa espécie de ratão). Esses pequenos roedores, cujas escavações tanto prejuízo têm causado às represas em todo o país, custam anualmente à nação tanto como dez milhões de dólares. A fim de observá-los mais de perto, alguns cientistas capturaram certo número dessas criaturas notumas, doze, para ser exato, e eles foram colocados em recinto fechado para isso especialmente preparado. Havia bastante lugar para todos, e alimento com abundância. Mas em menos de três semanas dez deles estavam mortos, tendo sido mortos, ou levados a morrer de inanição. Somente dos grandes machos restaram. Esses amantes do poder haviam roubado o alimento dos outros e ali estavam sentados como dois ditadores. Um em cada extremidade do recinto, contemplando um mundo conquistado. Que quadro! Certamente os homens têm mais senso que os ratões . . . mas isso só aparece se tiverem aprendido a viver de maneira criativa.

Jesus veio para nos ensinar como viver. ―Eu vim para que tenham Vida‖, diz Ele, ―e a tenham com abundância‖. E aquele que recebeu a plenitude de Sua vida, tem verificado que o segredo da verdadeira alegria é viver inteiramente para os outros. Como o bom samaritano, quando descobre uma necessidade partilha o que tem, e acha verdadeira satisfação em se gastar pelos outros, ainda que sejam seus inimigos. Não é a preservação própria, mas antes a dedicação

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de si mesmo que é a primeira lei da vida abundante. O prestígio, a posição, o poder político ou as riquezas mal adquiridas não apelam àquele que vive abundantemente, pois como o seu Senhor reconhece que a grandeza é algo que muito longe está da pompa e da abastança.

Jesus mediu a vida por uma norma diferente de qualquer outra que antes dEle havia. ―A vida de qualquer não consiste na abundância dos bens que possui‖, declarou Ele. Mas quão difícil é o homem natural ver isso. Durante o ministério de nosso Salvador, o maior repto que se Lhe apresentou, não foi libertar homens possessos do demônio, nem curar os leprosos, nem mesmo ressuscitar os mortos; foi fazer com que Seus discípulos vissem as coisas como Ele as via. Haviam esses homens sido escolhidos para levar ao mundo o evangelho da graça, mas o seu pensamento ligado à Terra limitou- lhes o poder. A questão de quem seria o primeiro no reino por vir, parecia perene tópico de conversa.

Certo dia, uma mãe ambiciosa aproximou-se de Jesus pedindo-Lhe que honrasse seus dois filhos colocando-os um de cada lado dEle, no reino vindouro. Que discussão isso desencadeou! De fato, ela continuou em variado grau justamente até à noite da tra ição. Quase podemos ouvir aqueles homens conversando: Que idéia daquela mulher planejar obter favores para a sua família! ―Ela devia ser posta em seu lugar.‖ Mas tudo que ela fizera fora exprimir em palavras a mesma esperança que realmente se ocultava no coração de cada um daqueles homens! Se assim não fora, não teriam eles ficado tão agitados. Infindáveis reuniões não oficiais da comissão seguiram-se àquela entrevista. É de estranhar que aqueles dez homens indignados deixassem de reconhecer que o mesmo espírito que nela estavam condenando, também estava em seu pobre coração. Quão cega é a natureza humana! Sentindo o problema, chamou o Senhor o grupo para junto de Si e disse: ―Bem sabeis que pelos príncipes dos

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gentios são estes dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro seja Vosso servo; bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a Sua vida em resgate de muitos.‖ S. Mat. 20:25-28. Dois grandes princípios são aqui apresentados em contraste, a saber: o amor do poder e o poder do amor; representando um o reino de Deus, e o outro o reino de Satanás.

Diz-se que Mussolini, ditador da Itália, tinha seu gabinete particular localizado num comprido salão com piso de cerâmica e teto bem alto. Quando alguém vinha fazer uma visita oficial, era-lhe necessário percorrer toda a extensão daquela sala de teto alto, estando cônscio, a todo o tempo, de que estava sob o olhar penetrante do homem cujas mãos retinham os destinos de um império. Havia psicologia nesse plano, pois no momento em que o visitante alcançava o Duce, estava em geral tão completamente dominado e intimidado que pouco havia a discutir. Se fora sua intenção queixar-se, não sentia então nenhum estímulo para abrir o coração.

Mas quão diferente era o Salvador! Não é num longo salão oficial, mas numa amigável sala superior que O vemos, e está ajoelhado diante de Seus discípulos. Lava-lhes dos pés cansados as manchas de viagem, fazendo o serviço de um escravo. Até mesmo lava os pés de Seu traidor, conhecendo- lhe, enquanto isso, o negro propósito do coração. Contudo é bondoso demais para o desmascarar. A natureza divina se revela pelo pôr-se de lado e deixar caminho para os outros, mas a natureza humana se exprime pelo reclamar o primeiro lugar e desprezar aos demais, O egoísta pode abrir caminho para a frente acotovelando, pode alcançar seus alvos e

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começar a se impor diante de seus companheiros; isto é a própria antítese do espírito de Cristo.

―Existe no homem a disposição de se estimar em mais alta conta do que a seu irmão, de trabalhar para si mesmo, de procurar o mais alto lugar.‖ (1) Mas no reino de Cristo, ―não tem lugar o princípio de preferência ou supremacia. A grandeza única é a grandeza da humildade. ―A única distinção baseia-se na dedicação ao serviço dos outros.‖ (2) (Grifo nosso.)

Uma das parábolas de nosso Senhor apresenta em vivido contraste esses dois tipos: ―Dois homens subiram ao templo a orar‖, disse Ele; ―um fariseu e o outro publicano.‖ Ansioso por impressionar os outros com a sua personalidade e posição social, o fariseu se postou em atitude de superioridade. Mas o publicano, com a cabeça curvada, batia no peito enquanto rogava misericórdia. Ambos os homens estavam no lugar de oração, mas somente um tinha o espírito de oração. O publicano comungava com Deus, mas o fariseu apenas orou consigo mesmo. Sua religião girava em torno de seus próprios pensamentos.

As formas da religião—tais como dizimar, os jejuns cerimoniais e a freqüência na sinagoga — estas ele observava com rigor. Mas não sentia nenhuma necessidade pessoal. Como todos os de sua classe, suas posses materiais lhe haviam dado elevada posição social, e suas consecuções intelectuais tornaram-no satisfeito consigo mesmo. Sendo judeu, muito se orgulhava tanto de sua raça como de sua religião, mas não sentia nenhuma responsabilidade pelos gentios ou pelos pagãos. Sua cultura era toda exterior, pois sua educação em vez

de o tornar compassivo para com os menos afortunados, realmente nele desenvolvera certa impaciência para com os incultos e rudes. Estando orgulhoso de sua posição, não sentia nenhuma responsabilidade para com aqueles de sua comunidade que trabalhavam em ocupações mais humildes,

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nem por eles se interessava. Tudo o que tinha viera de Deus, mas em vez de usar essas bênçãos como um meio para servir à sua geração, ficou tão inflado de orgulho que estas verdadeiramente se tornaram uma barreira entre ele e seus semelhantes, e o levaram a desprezar os outros. Exteriormente, esse homem era grande, mas Jesus arrancou a máscara e mostrou quanta pretensão havia em tudo isso. Como é sutil o pecado do orgulho! Pode encontrar lugar até mesmo no coração de um ministro. Uma mente analítica mais arguta, uma língua mais eloqüente, um maior poder de persuasão — podem estes de tal maneira encher alguém de orgulho que ele comece a desprezar os demais. Mas o Mestre diz:

―O que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar, será exaltado.‖ Não somente é o orgulho o pecado mais sutil, é também o maior, porque foi o pecado original. Transformou um querubim cobridor

em diabo. Do outro lado, a humildade é a maior virtude, pois ela nos deu um Salvador e cria em nós uma atitude que torna possível Deus fazer muito por nós. A Escritura diz: ―Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes‖. S. Tiago 4:6. E outra vez: Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar habito, e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos‖. Isa. 57:15. É aos abatidos e contritos que Deus promete reviver. Os ramos que mais carregados estão de frutos sempre se encurvam para baixo. Entre as poderosas declarações de Jesus nenhuma é mais revolucionária do que esta:

―Todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja o vosso serviçal; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro seja vosso servo.‖

Não é aquele que ocupa o elevado trono, mas o escravo ―que se abaixa aos pés do estrado para passar um copo,

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para tirar um sapato, para banhar um pé!‖ — a esse é que Deus chama grande. Revolucionário? Decerto que é, pois é a própria antítese de todo o pensamento humano! Mas nada menos que isso atenderá à norma divina. O Rei dos reis desceu do trono da glória para Se tornar o servo dos servos. Era Ele igual a Deus, contudo Ele ―não considerou que o ser igual a Deus fosse uma coisa que devesse ser segurada, mas Se esvaziou a Si mesmo‖ (Filip. 2:6 e 7, V. A. R.), ―fez a Si mesmo de nenhuma reputação‖ (A. V.). E não disse Ele: ―Um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos‖? S. Mat. 23:8. Oh, se pudéssemos sentir a plena significação de tais palavras!

A um missionário que havia passado bom número de anos num campo de ultramar foi dada a supervisão de certo número de postos missionários. Muitos ministros e professores nativos estavam sob os seus cuidados. Certo dia, enquanto visitava um desses postos, três nativos de outro posto dirigiram-se ao líder nativo para pedir conselho. O dia estava quente, e esses homens haviam andado cerca de noventa e seis a cento e poucos quilômetros, no entanto, ao chegarem, o líder nativo, sem lhes dar uma oportunidade de explicar seu caso, informou-os de que estava muito ocupado. Disse- lhes que saíssem e se sentassem debaixo de uma árvore e ali esperassem, e com a cortesia tão característica daquelas partes, eles foram e esperaram.

Algumas horas se passaram, e o missionário branco, reconhecendo que nada havia de especialmente urgente nas questões que êle e o líder nativo estavam discutindo, aventurou-se a sugerir que este atendesse àqueles homens que estavam esperando debaixo da árvore. Rápida como um relâmpago veio a resposta: Oh, não lhes faz mal esperar. Afinal de contas, eu sou o chefe destas redondezas, e a menos que os faça esperar, eles não o reconhecerão!‖ Abalado, mas também condenado, reconheceu o missionário que essa era

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a norma que ele mesmo havia estabelecido, pois fora ele mesmo quem treinara esse homem. Como bom aluno, estava ele agindo da mesma maneira em que seu professor agira.

Quão errada é a idéia de que a fim de ser distinguida deve a pessoa ser descortês! O homem mais distinguido que já viveu foi Jesus. Mas Sua distinção adveio da bondade! Sua superioridade brotou do sacrifício. ―Ele não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a Sua vida em resgate de muitos‖. O próprio dia em que Jesus parecia ser o mais fraco, foi o dia em que Ele salvou o mundo. A cruz ainda é o paradoxo da História. Mas lá está ela dominando a paisagem, altaneira como um pico de montanha acima das ruínas do tempo. E através dos séculos ainda ouvimos os ápodos e doestos. ―Desce, desce!‖ grita a multidão. ―Salva-Te a Ti mesmo; se Tu és o Filho de Deus desce da cruz!‖ Mas Aquele que estava pendurado no madeiro e ali sofria, era como se nunca tivesse ouvido. Queriam que Ele demonstrasse o que era. E de que maneira gloriosa Ele o fez! Podia Ele ter ordenado às rochas que esmagassem aos Seus crucificadores. Podia ter tomado da espada do Deus Onipotente e a todos lançado na perdição. Em vez disso, Ele orou:

―Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem‖. Ele Se revelou como Filho de Deus. Nenhum homem comum jamais poderia agir assim. Jamais se disse maior verdade do que quando aqueles motejadores disseram: Salvou os outros, e não pode salvar-Se a Si mesmo‖. Tivesse Ele salvo a Si mesmo e nunca poderia ter sido nosso Salvador.

Os séculos têm passado, mas ainda ouvimos essas vozes. De fato, são agora mais clamorosas do que nunca. Jamais foi a ofensa da cruz mais ofensiva do que o é hoje. Muitos irão com sentimento à manjedoura de Belém, mas se conservam distantes do Calvário contemplando aquela cena. Perguntam: ― O que tem a dor e a angústia, a tristeza e o sacrifício, quer ver, de qualquer modo, com a religião? Deus nunca

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espera que Seus filhos sofram tamanha indignidade!‖. Mas os que assim falam jamais conheceram o pensamento de Deus.

A Ciência nos tem prodigalizado suas invenções. Vivemos na época em que se procura poupar o trabalho. E o clamor é por uma igreja que siga o espírito da época As religiões de água-de-colônia abundam por toda a parte. É fácil conhecê-las pelo lugar que elas dão à cruz. Saturadas de sentimento são áridas de sacrifício. Para elas é a cruz apenas um emblema de uma virtude errada. Se é que, afinal de contas, ela tem um lugar, é este meramente o de decoração da igreja, ou algo a ser pendurado no pescoço vaidoso. Mas nenhum lugar tem na experiência pessoal. Como as filosofias dos dias de Cristo, ansiosamente ensinam eles como melhorar o fascínio de si mesmo, mas não o altruísmo pessoal. É Porém a cruz mais do que uma aspiração sentimental. É uma feia viga que deve ser lançada em meio aos prazeres e consecuções do homem. E quando aparece, representa ela o dobre de finados das ambições e vanglórias pessoais. ―Nenhum homem pode ao mesmo tempo dar a impressão de que é inteligente e de que Cristo é tudo em todos.‖ Se tivermos o sentimento de Jesus, constantemente nos lembraremos de que Ele nenhum milagre realizou em favor de Si mesmo. Nada fez para melhorar Sua posição. Em vez disso, Ele deu Sua vida na cruz para que pudéssemos ter Seu Espírito.

E o fruto de Seu Espírito deve ser visto em nossa vida. Longanimidade e amor, gentileza e alegria, paz e domínio- próprio — estas são as evidências da concessão do Espírito. Mas antes de tais frutos da graça poderem aparecer, necessariamente precisam as obras da carne ser crucificadas.

Em sua carta aos gálatas, apresenta Paulo uma lista dessas obras da carne. Lendo essa lista, vemos alguns pecados terríveis, tais como o assassínio, a embriaguez, o roubo e o adultério. Mas os outros, como a inveja, a ira; a malícia e a emulação — bem, estes não parecem tão maus. Alguns dêstes

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pecados encontramo-los até mesmo em pessoas respeitáveis. Os outros, certamente, nós os associamos com pessoas de má reputação.

Se um homem cai nos grandes pecados da carne, é posto fora do ministério e até mesmo fora da igreja. Mas pode ficar raivoso, ciumento ou cobiçoso e ainda manter elevado ofício eclesiástico. Sim, o maior pecado, o orgulho, pode ser encontrado no mais respeitável homem da comunidade; e a maior virtude no mais obscuro. Um pode pecar em sua alma e ainda permanecer na igreja, pois os pecados da disposição não parecem tão maus como os pecados do corpo. Mas, à vista de Deus, podem ser considerados até mesmo piores.

A história do filho pródigo não somente tem uma mensagem para o pecador perdido no mundo, mas também para o pecador que está perdido na igreja. É uma encantadora história como aquele moço desviado voltou finalmente para casa e foi reintegrado no círculo familiar. Isso sempre nos comove o coração. Mas a história não termina com a volta do moço para casa. Jesus continuou a falar no outro filho, o segundo pródigo que permanecera em casa. Ele nunca pecara no corpo. Jamais se rebaixara ante as crassas concupiscências carnais que macularam o caráter de seu irmão. Não, ele não pecara na carne, mas pecara em sua alma. Que infeliz criatura era ele. Mesquinho! Ciumento! Egoísta Quando o irmão perdido voltou para casa, recusou-se ele até mesmo a ir vê-lo. De fato, não se dignaria a chamá-lo seu irmão. ―Este teu filho‖ foi a maneira em que a respeito dele falou a seu velho pai. E quando os amigos se vieram regozijar com a família, ele nem mesmo queria entrar, mas se queixou de que jamais se havia feito para ele uma festa assim. Pobre, puer il, pretensioso egoísta! Quem poderia imaginar que ele tivesse qualquer amigo? Ao terminar a história, vemos agora o moço que infelicitara o lar e quebrantara o coração do pai, dentro do círculo familiar— dentro de casa.

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Mas o irmão mais velho o homem cheio de justiça própria, ciumento, de espírito mesquinho, e que, devido a não poder ser o centro de atração, recusou terminantemente tomar qualquer parte nas festividades — de está fora de casa. Parece que Deus pode fazer mais com um corpo combalido do que com a alma ressequida; com o ébrio e o adúltero do que com o irmão ciumento. Não admira que o grande apóstolo não separa os pecados. Põe todos eles juntos — tanto os pecados da alma como os pecados do corpo, e diz: ―Os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus‖. Gál. 5:21. Nossos motivos, bem como todas as nossas consecuções, estão abertas diante dAquele com quem temos de tratar. Meditai sobre estas sérias palavras:

Muitos recebem aplausos por virtudes que não possuem. O Perscrutador dos corações pesa os motivos, e muitas vezes ações altamente louvadas por homens são por Ele registradas como partindo de egoísmo e baixa hipocrisia. ―Cada ato de nossa vida, seja excelente e digno de louvor ou merecedor de censura, é julgado pelo Perscrutador dos corações segundo os motivos que o determinaram.‖ (3)

Em vista desse conselho, bem poderia ser nossa a oração argüidora de Davi: ―Sonda-me, ó Deus, e conhece o coração: Prova-me, e conhece os meus pensamentos, e vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.‖ Sal. 139:23 e 24. Somente Deus pode verdadeiramente avaliar-nos. Como diz o poeta: ―Seu olhar bondoso mas perscrutador pode descobrir as próprias feridas que a vergonha ocultaria.‖ Devemos portanto tomar tempo para estar a sós com Deus.

Visitava eu o seminário presbiteriano no Cairo, certo dia, e subindo ao telhado, a fim de obter uma visão da velha cidade, notei um pequenino quarto que obviamente não fizera parte do edifício original. A inquirição revelou a história de que o Dr. Zwemer, que por muitos anos havia sido a inspiração espiritual daquele seminário, fora quem construirá

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ali aquele quartinho. Queda que os estudantes tivessem uma capela para oração. Reverentemente nela penetrei, e ali na parede, penduradas, num pequeno caixilho, estavam estas palavras: ―Uma coisa deveis aprender a fazer. Seja o que for que deixeis por fazer, a isto não deveis deixar de fazer. Vosso trabalho será retardado e apenas meio realizado, a não ser que a isto deis atenção. Deveis forçar-vos a estar sozinhos e a orar-‖ Era animador ver tal apelo à oração secreta, pois somente quando estamos sozinhos com Deus é que verdadeiramente nos podemos ver e ser participantes da natureza divina. A impetuosa e turbulenta corrente pode movimentar as rodas d‘água da indústria, mas somente as águas calmas e quietas podem refletir o Céu.

Mas somos nós sinceros? ―A palavra sincero vem de dois vocábulos latinos sine cere, que significam ―sem cêra‖. Diz- se que a palavra se originou de uma revolta contra o uso de cera na manufatura de vasos de cerâmica romana. Poderia um jarro ou vaso ser belo se não fosse um pequeno trincado. Mas o ardiloso oleiro podia tapá-lo com cera, e a tinta e a pintura poderiam encobrir o defeito. Mas ao ser exposta ao calor a cera se derretia, com desastrosos resultados. Assim, para atrair os melhores fregueses, o fabricante honesto costumava

anunciar sua mercadoria como sendo ―sine cere‖ — sem cera. Uma palavra que de fato faz pensar! Pois todo o trabalho do homem finalmente será provado pelo fogo. E aqueles fogos de Deus provarão tanto os nossos motivos como os nossos métodos; tanto os nossos pensamentos Como os nossos atos.

Muitos anos atrás foram-me colocados nas mãos estes importantes parágrafos por um veterano líder dos jovens, M. E. Kern, cuja fiel liderança da juventude é conhecida em todo o mundo. Eu os incluo aqui devido à profunda influência que eles exerceram sobre a minha própria vida. Lamento que mais uma vez o autor seja desconhecido. Mas isso acontece

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com muitas das mais ricas contribuições nesse campo. Seria esta a razão: alguém que verdadeiramente anda com o seu Senhor não está muito preocupado com o fato de seu nome ser colocado no que ele faz, pois reconhece que se sua contribuição vale alguma coisa é apenas porque Cristo nela está? Até mesmo alguns aos livros da Bíblia são anônimos. Com clara compreensão diz o escritor:

―Se é que Deus vos chamou para serdes realmente como Jesus, Ele vos atrairá para uma vida de crucifixão e humildade, e sobre vós colocará tais exigências de obediência que não podereis seguir outras pessoas ou medir-vos pelos outros cristãos; e de muitas maneiras parecerá que Ele deixa outras boas pessoas fazerem o que não vos deixa fazer.

―Outros cristãos e ministros que parecem muito religiosos e úteis poderão empurrar-se, preparar o caminho, e elaborar esquemas para levar avante os seus planos, mas vós não o podeis fazer; e se o tentardes fazer, enfrentareis tal fracasso e censura da parte do Senhor que vos tornarão profundamente arrependidos.

Outros poderão ufanar-se de si mesmos, de suas obras, de seu êxito, de seus escritos, mas o Espírito Santo não vos deixará realizar nenhuma dessas coisas, e se o começardes, levar-vos-á a uma profunda mortificação que fará com que desprezeis a vós mesmos e a todas as vossas boas obras.

―A outros se permitirá fazer dinheiro, ou ser-lhes deixado um legado, mas é bem provável que Deus vos conserve pobre, porque deseja que tenhais algo muito melhor que o ouro, a saber, uma irremediável dependência dele, para que Ele possa ter o privilégio de dia a dia vos suprir as necessidades, de um tesouro invisível.

Pode o Senhor permitir que outros sejam honrados e postos em primeiro lugar, e vos conserve na obscuridade, porque deseja produzir algum fruto escolhido e fragrante para a Sua glória vindoura, que só pode ser produzido na sombra. Pode Ele deixar que outros sejam grandes, mas conservar-vos pequeno.

Poderá deixar que outros façam um trabalho para Ele e disso recebam crédito, mas vos fará trabalhar e labutar sem saber quanto estais fazendo; e então, para fazer-vos trabalhar ainda mais, pode Ele deixar que outros recebam o crédito pelo trabalho que fizestes, tornando assim vossa recompensa dez vezes maior quando Jesus vier.

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―O Espírito Santo porá sobre vós estrita vigilância, com cioso amor, e vos repreenderá por pequeninas palavras e sentimentos, ou

por desperdiçardes o vosso tempo e dinheiro, com o que outros cristãos nunca parecem incomodar-se. ―Assim, assentai no vosso espírito que Deus é um Soberano infinito, e que tem o direito de fazer o que Lhe apraz com o que Lhe

pertence. Pode ser que, em Seu trato convosco, Ele não vos explique mil e uma coisas que vos possam perturbar a razão; mas se absolutamente vos renderdes para serdes escravos do Seu amor, envolver-vos- á em cioso amor e vos concederá muitas bênçãos, bênçãos que só vêm àqueles que estão no círculo mais íntimo.

―Decidi, então, para sempre que deveis tratar diretamente com o Espírito Santo, e que Ele deve ter o privilégio de vos atar a língua, ligar as mãos, ou fechar os olhos, em maneiras que Ele não parece usar para com outros. Ora quando estiverdes tão possuídos do Deus vivo que, no secreto de vosso coração, estejais satisfeitos e deleitados com essa peculiar, particular e zelosa tutela e direção do Espírito Santo sobre vossa vida, tereis encontrado o vestíbulo do Céu.‖

O supremo valor de um grande homem é que ele aumenta o valor de todo e qualquer outro homem com quem entra em contato. Isso foi gloriosamente exemplificado na vida de nosso Senhor. Ele não usou nenhum poder por vanglória; não realizou nenhum milagre para ajudar a Si mesmo; nenhum plano elaborou para melhorar Sua posição. E nós devemos ser semelhantes a Ele. O homem verdadeiramente grande nunca se eleva acima dos homens que o rodeiam por puxar as vestes dos que estão em posição superior. Alegremente permanecerá sem ser notado, se ao assim fazer puder ajudar algum outro a ter êxito. Deus não nos chamará a todos para servirmos numa capacidade toda excelente. Chamará alguns de nós para uma vida de sacrifício e obscuridade. E se esta é a Sua vontade quanto a nós, está bem. Mesmo na causa do avanço da Ciência encontramos aqueles que se consideravam excedentes. Alegremente prestaram seu serviço e até mesmo deram a própria vida crendo que seu sacrifício beneficiaria a raça. Ousarão os ministros de Cristo fazer menos?

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Seremos os sacrificados, sendo os mais importantes, mas no entanto servos de todos?

Conta-se a história de um homem culto e de elevado grau de educação, que há quase dois séculos visitou a ilha de S. Tomé, nas Índias Ocidentais. Foi abalado pelo que viu. Aterradoras eram as condições existentes entre os escravos das plantações de cana-de-açúcar. Sua alma foi atraída para esse patético povo. Como cristão, almejou dar-lhes o evangelho, mas lhe foi negada a oportunidade. Os capatazes recusaram-lhe entrada na ilha, dizendo que os escravos lhes pertenciam, que eles os haviam comprado, e que a religião somente os estragaria para o trabalho. Repetidas vezes tentou ele, mas tudo em vão. No entanto aqueles entenebrecidos africanos estavam morrendo sem Deus e sem esperança. Deve-se fazer algo, disse ele, e finalmente o amor encontrou um jeito. Vendeu-se aos donos como escravo e foi enviado às plantações para trabalhar. O dia inteiro trabalhava ele sob o sol tropical. Experimentou azorrague; conheceu o tormento da fome e da solidão. Em tudo isso se uniu com eles em suas tristezas. Mas toda noite, quando aqueles cansados homens e mulheres se reuniam ao redor do fogo no acampamento, revelava-lhes esse homem branco da Inglaterra a história da Salvação. Ensinou-lhes a cantar de Jesus e Seu amor. Nenhuma necessidade tinha de ali estar, pois seu brilhantismo como erudito muito bem era

atestado pelo seu curso universitário. Mas o seu amor à humanidade quebrantada levou-o de uma vida conveniente de facilidades para a trágica vida e sorte de um escravo. Para o fraco ele se fez fraco, para ganhar o fraco. Tornou-se tudo para todos, rara poder de alguma maneira salvar alguns.

Era um missionário sem nomeação da Associação e sem o privilégio de férias prolongadas, mas compreendera a significação da verdadeira grandeza e se vendera como escravo para que lhes pudesse levar a esperança do Céu, Amou suficientemente

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os homens para com eles viver e morrer — foi verdadeiramente um grande homem, embora quase desconhecido tanto da igreja como do mundo. As vantagens de seu nascimento, sua educação, sua cultura, em vez de o levarem a desprezar o menos afortunado, impeliram-no a participar das tristezas daquele povo torturado, para que eles pudessem participar da alegria da comunhão com Deus e da esperança do Céu. E era um católico romano. Sua teologia estava errada, mas seu espírito estava certo. Foi grande porque, sendo maior, tomou-se servo de todos. A bondade fala uma língua que todo o mundo pode ouvir. Se um homem verdadeiramente viu a Deus não pode ser orgulhoso. E ninguém que tenha tido uma revelação de sua pobre natureza humana pode ser qualquer outra coisa senão humilde. ―Ai de mim!‖ c lamou Isaias, quando se viu à luz de Deus. ―A comunicação do Espírito é a transmissão da vida de Cristo,‖ mas ―apenas àqueles que esperam humildemente em Deus, que estão atentos à Sua guia e graça, é o Espírito concedido.‖ (4)

1) O Desejado de Todas as Nações, (3° ed.), pág. 486.

2) Idem. 3) Obreiros Evangélicos (3º ed.), pág. 275. 4) Idem pág. 285.

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CRISTO

Samuel Medley

Quem dera que o valor que existe, imenso, E a glória que refulge em brilho intenso

No augusto Salvador, Pudesse eu descrever nas frases minhas E vazasse a minha alma nestas linhas

Pra exaltar o Senhor Cantaria esse sangue precioso Que pra salvar-me Ele verteu gozoso

Morrendo em meu lugar. Cantaria esse manto de justiça Em que minha alma crente e mui submissa

Um dia há de abrigar. Cantaria o caráter diamantino As formas desse amor todo divino

Que Lhe é peculiar. Em doces hinos de louvor fervente Havia de cantar eternamente

Seus méritos sem-par. Mas eis que o dia há de chegar por certo Em que eu esteja do Senhor bem perto,

Mirando os olhos Seus. Então meu Salvador, Irmão e Amigo Pra sempre há de ficar assim comigo

Sob as bênçãos de Deus. (Trad. I. A. W.)

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OS QUE SEMEIAM EM LÁGRIMAS

SALMO 126:5 32

A RECOMPENSA DO SERVIÇO FIEL

Se tiverdes visitado o monumento de Adam Clarke, em Londres, lembrar-vos-eis de sua significativa forma. Representa uma vela, queimada até ao castiçal. O pavio está quase acabado e a cera derretida. Realmente simboliza isto aquele velho pastor-evangelista de outro século, talvez melhor conhecido pelo seu monumental comentário bíblico do que por ter ocupado o púlpito de João Wesley. De fato

consumiu sua vida para Deus. Como todos os líderes de seus dias, tivera ele o espírito do fundador do metodismo. Não havia o próprio João Wesley continuado a trabalhar até cair afinal como uma chama exausta e bruxuleante?

Já estive muitas vezes no velho púlpito, na capela de Wesley. E cada vez tenho orado para que a chama da devoção e sacrifício que movera os Wesleys, os Whitefields e os Clarkes pudesse possuir-me a alma. E ainda assim sou forçado a fazer a mim mesmo a pergunta: ―Estou eu disposto a pagar o preço?‖ O longo, o mui longo trilho do ministério evangélico que marca os rastos de homens tais como esses, está ―vermelho de sangue e banhado de lágrimas‖.

Pensai em João Wesley. Com a idade de oitenta anos, ―levantava-se às quatro horas da manhã, viajava de quarenta

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e oito a noventa e seis quilômetros por dia a cavalo, e pregava de duas a quatro vezes, além de escrever e visitar os enfermos e superintender as igrejas.‖ Adquiriu esse hábito de se levantar às quatro da manhã quando era estudante, em Oxford. E o seguiu durante toda a vida. Até parece incrível a prodigiosa quantidade de trabalho por ele realizado. Era ele um homem de método, e assim foi apelidado de ―metodista‖. Mas a sua devoção, seu sacrifício e seu método produziu algo que nunca foi excedido desde os dias do apóstolo Paulo. E, no entanto, apesar de todo o seu árduo trabalho pôde ele dizer: ―Nunca fiquei espiritual ou mentalmente cansado‖.

Whitefield e Wesley — Verdadeiros Exemplos de Fidelidade

Um dos seus companheiros mais íntimos, especialmente nos primeiros dias de seu evangelismo, foi George Whitefield. Também ele possuía a mesma inflamada paixão pelas almas. Era poderoso pregador, de fato, um dos maiores oradores de sua época. Como Wesley, poderia ele ter sobressaído na política, se para isso tivesse inclinação. Mas ele deu tudo que tinha ao serviço de Deus. Treze vezes atravessou o Atlântico num navio a vela, levando numa viagem cinqüenta e quatro dias. E durante todo esse tempo nada mais tinha para comer senão pão duro. Por que fez isso? Para poder levar aos colonos o glorioso evangelho. Durante muitos anos gastou, em média, pelo menos quarenta horas por semana pregando em público a milhares de pessoas. Seu auditório era, às vezes, de dez a vinte mil pessoas. E, segundo alguns, ocasiões houve em que tanto quanto cinqüenta, e alguns dizem oitenta mil pessoas se reuniam ao ar livre para o ouvir pregar a grande salvação de Deus. Mais tarde, quando a sua saúde começou a falhar, ―Ele fez para si um programa

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não tão puxado, pregando apenas uma vez por semana e três vezes aos domingos‖. Verdadeiramente houve gigantes naqueles dias. Mas tende o último vislumbre deste ousado guerreiro ao subir ele as escadas. Com a vela na mão, pronuncia sua mensagem de despedida. Subindo as escadas para seu quarto, como um cansado veterano entra ele calmamente num sono sem sonhos, para aguardar o chamado de seu Comandante. Ao som daquele grandioso toque de alvorada despertará ele para assumir seu lugar ao lado dos grandes generais do exército vitorioso do Senhor — recompensa verdadeiramente própria para tal ganhador de almas.

Como outros da sua qualidade, não deixou Whitefield bens materiais, mas dezenas de milhares de pessoas puderam cantar-lhe louvores por as haver conduzido das trevas do pecado para a luz e para o gôzo de Deus.

―Por que qual é a nossa esperança, ou gôzo, ou coroa de glória?‖ pergunta o apóstolo S. Paulo. E então responde dizendo: Porventura não o sois vós também diante de nosso Senhor Jesus Cristo em Sua vinda? ―Na verdade vós sois a nossa glória e gôzo‖. 1 Tess. 2:19 e 20. Sim, a glória e gôzo do evangelista serão as almas arrancadas do fogo, que com ele estão na presença do Senhor.

Quando o coletor se dirigiu a João Wesley para avaliar sua prata, a fim de poder cobrar o imposto, esse grande ganhador de almas disse: ―Tenho duas colheres de prata em Londres e duas em Bristol, e não comprarei outras enquanto o pobre necessitar de pão‖. Quando faleceu, seu historiador diz: ―Deixou uma boa biblioteca, um traje de clérigo bem usado, e a igreja metodista!‖ O sacrifício e o serviço são a nota tônica de todos os ministros de êxito.

A Verdadeira Recompensa do Ministério Fiel

Era uma manhã de estio. Os dias eram cálidos e secos, e um ministro dizia um apressado adeus à sua pequenina família.

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Um grande dia de trabalho estava diante dele. Havia muitos chamados, alguns realmente urgentes. Ao beijar a esposa dando-lhe adeus, viu que ela não estava passando muito bem. E as crianças também pareciam especialmente rabugentas naquela manhã. Havia lágrimas tanto nos olhos do pai corno da mãe, ao sair ele aquele dia. Se tão-somente pudesse ter permanecido em casa e dado à esposa a companhia de que necessitava! Mas os seus deveres pastorais o chamavam.

Logo estava ele no trabalho, visitando aqui e acolá, aconselhando a esta mãe com relação à filha adolescente, e àquele pai no seu negócio, tendo o coração todo o tempo elevado a Deus em favor de seu rebanho.

Chegou afinal à casa dos Jones. Ao bater, suspirou uma oração para que Deus o ajudasse a conseguir uma decisão em favor de Cristo, antes de sair dali. Abrindo a porta, parecia a Sra. Jones particularmente alegre. E dentro de alguns minutos lhe disse ela como estivera lendo a Bíblia e chegara a crer que a segunda vinda do Salvador deve estar perto. ―Mas o que vai fazer a esse respeito?‖ perguntou-lhe ele. E essa pergunta os levou ao estudo da Palavra de Deus. Ele apresentou o maravilhoso amor de Deus. Finalmente ela disse: ―Vejo-o agora, e tudo entregarei Àquele que me deu tudo o que tinha. Por Sua graça andarei nos caminhos de Seus mandamentos e me prepararei para O encontrar em paz. E também procurarei trazer minha família.‖

Foi uma maravilhosa decisão. E antes de ele deixar o lar, selou a Sra. Jones sua entrega a Cristo com uma oração. Sua próxima visita foi ao hospital. Ali havia enfermos que ele devia ver. Ao lado de cada cama deixou uma bênção celestial. E

houve outras visitas naquele dia. Agora i estava ficando tarde, e tinha uma reunião naquela noite. Vendo que não haveria tempo para ir em casa antes da reunião, ele parou um pouco para ver um amigo, o dono de grande

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e próspero negócio, que havia pedido que lhe fizesse breve visita. Logo que entrou no escritório, foi saudado com estas palavras: Pastor, tive hoje um grande dia. Acabo de fazer um grande negócio. Acabo de ganhar dez mil dólares! Que acha disso? E uma grande coisa quando o negócio corre assim.‖‗Dez mil dólares!‖ repetiu o pregador. Certamente era bastante dinheiro. Seu salário acumulado durante os últimos cinco anos não chegaria a tanto. Palestraram um pouco e então ele partiu. Mas ao descer a rua, repetiu várias vezes para si mesmo: ―Dez mil dólares! Isso certamente é uma boa porção.‖

E uma ou duas vezes pensou ouvir uma voz cochichando: ―Por que deveria você ter de sacrificar-se tanto e trabalhar tanto? Por que deve você ter de ficar longe de casa durante tão longos períodos? Aqui está você palmilhando estas ruas poeirentas e tudo isso por nada. Pegue um emprego onde você possa viver confortavelmente com sua família.‖

Ao chegar ao lugar da reunião, uma multidão o esperava. Depois do culto, encontrou alguns que necessitavam de conselho especial, e assim já era bem tarde, naquela noite, quando ele voltou para casa. A pequenina esposa e mãe parecia cansada e alquebrada, no entanto justamente tão dócil como sempre. Começou ele a recapitular os acontecimentos do dia. Lembrou-se especialmente daquele grande negócio. Olharam um para o outro, e cada um sabia os pensamentos do outro. Quanto poderiam fazer se tão-somente pudessem ―realizar um grande negócio‖.

Antes de se deitar, aquela noite, penetrou na sala de estudos, e, como era seu costume, começou a recapitular o trabalho do dia perante o Senhor. ―O Deus‖, orou ele, ―há aquela senhora que está preocupada acerca da filha. Ela tem de fazer uma grande decisão. Ajuda-a a fazer a escolha certa. E então há aquele pobre irmão no hospital — conforta-lhe a

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alma atribulada‖ Orou sobre cada caso. Finalmente chegou ao nome da Sra. Jones. E ao orar por ela, parecia-lhe que um anjo falava: ―Vós a ajudastes hoje a passar da morte para a vida. Outra alma foi ganha para Deus. Uma alma que vale um milhão de vezes dez mil dólares. Vós também realizastes hoje um grande negócio.‖

Levantando-se, foi ele para onde a esposa estava, na ocasião em que ela punha de lado os últimos brinquedinhos das crianças. Colocando-lhe a mão nos ombros, olhou-lhe nos olhos com uma nota de alegria na alma e disse: ―Mamãe, não lhe dei a maior notícia do dia. Devo dá-la agora. Lembra-se daquela senhora Jones por quem oramos antes de eu sair, esta manhã? Bem, ela fez hoje a sua decisão. Diz ela que irá sempre com o Senhor, e selou sua decisão orando.‖ Então, com os olhos cheios de lágrimas, calmamente se puseram de joelhos e fizeram uma oração de agradecimento. Ao se levantarem, ele disse: ―Sim, querida, com o auxílio do Senhor, nós também fizemos hoje um grande negócio — um negócio que vale não somente dez mil dólares, mas dez mil mundos‖

Ao deitarem a cabeça no travesseiro para repousar, aquela noite, as palavras de um velho Salmo vieram soando através dos anos com uma nova bênção: ―Os que semeiam em lágrimas segarão com alegria. Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará sem dúvida com alegria, trazendo consigo os seus molhos‖ Sal. 126: e 6.

―As almas convertidas são jóias nos porta-jóias dos pais, professores e pastores fiéis‖, (¹) declarou o Dr. Theodore Cuyler no seu sermão de despedida, no fim de quarenta anos de pregação. Então perguntou:

―Que Lord Elton do tribunal, que Webster da Câmara do Senado, que Sir Walter Scott dos domínios do romance, que Darwin do campo da Ciência, que monarca de Wall Street ou de Lombard Street pode levar seus lauréis ou seu ouro ao tribunal e dizer; ―Estes

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são a minha glória e coroa‖? Os lauréis e o ouro serão pó — cinza. Mas se um tão humilde servo de Jesus como vosso pastor puder jamais apontar para o rebanho reunido e que está vestido de branco diante do trono celestial, então ele poderá dizer: ―Qual é a minha esperança, ou gôzo, ou motivo de regozijo? Porventura não o sois vós também diante de nosso Senhor Jesus Cristo em Sua vinda?‖ (2)

Mas as almas só são salvas com sacrifício. Num capítulo anterior, notamos a verdade daquelas palavras pronunciadas pelos inimigos de nosso Senhor, enquanto Ele pendia

da cruz. Escarnecendo do divino Sofredor, os escribas e sacerdotes zombeteiramente disseram: ―Salvou os outros, e a Si mesmo não pode salvar‖. Que verdade - e seja ela repetida; foi por ter recusado salvar a Si mesmo que pôde salvar aos Outros. E o servo do Mestre jamais pode salvar aos outros enquanto está preocupado consigo mesmo. Aquele que está construindo seu próprio ninho, ou ―se preparando para um dia chuvoso‖, não possui o espírito do verdadeiro serviço. Além disso, se um pecador se quiser salvar da condenação da morte eterna terá de ser com o sacrifício de si mesmo. Os pés que trazem o calçado do evangelho nunca se cansarão de trilhar as poentas estradas, montanhas e vilas, à procura de almas. ―Quão formosos são os pés daqueles que pregam o evangelho da paz!‖

O bispo Badley, da Índia, reza uma oração que bem poderia ser a petição de todo pastor de almas e evangelista que faz trabalho pessoal:

―Cristo, se alguma vez meus passos vacilarem, E eu estiver pronto para a retirada, Se o deserto ou o espinho trouxerem lamentação, Senhor, mostra-me Teus pés — Teus sangrentos pés, Tens pés com cicatrizes de cravos Meu Jesus, mostra-me Teus pés.‖ Tivesse Davi Livingstone permanecido na Escócia, teria ele sido um bom doutor, levando alívio a centenas de pessoas?

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Mas teve a visão de umas mil vilas do continente negro que nunca haviam ouvido o nome de Cristo, e lá se foi ele palmilhando os

campos e matas infestados de doenças da velha África. Percorreu milhares de quilômetros a pé, e o que ele fez pela África somente a eternidade revelará. Por fim, lá distante no coração do grande continente, também ele caiu no seu posto. Significativamente, estava de

joelhos quando o encontraram frio e quieto, morto. Sem dúvida estava orando pelos perdidos da terra a que tanto ele havia dado. Mãos fiéis removeram-lhe o coração do corpo ferido da batalha e o sepultaram sob uma árvore, na África Central. Então, os fiéis nativos levaram-lhe o corpo até a costa, numa viagem de mais de mil e seiscentos quilômetros, de onde foi levado para a Inglaterra para repousar entre os grandes e nobres, na histórica Abadia de Westminster. Sim, Livingstone descansa em Londres, mas sua obra continua a viver na África.

Quanto deve o mundo a esses homens de fé e visão! Eles avançaram sob o impulso divino. Nem podiam eles desviar o rosto uma vez que tivessem alcançado a visão.

Anos atrás, tive o prazer da comunhão cristã com proeminente ministro metodista, na Nova Zelândia. Era um filho nativo, um maori, e verdadeiro orador tanto em maori como no inglês. Fora criado em casa de um dos primeiros missionários cristãos daquela terra. Quando o encontrei, já estava ele no ministério há mais de trinta anos. Amava seu trabalho e era profundamente dedicado ao serviço de Cristo.

Mas as coisas tinham ido mal para ele. Três membros de sua família, haviam, recentemente, falecido. A doença, a tristeza, e outros reveses haviam-lhe ferido o nobre coração. Muitos outros teriam ficado completamente desanimados. E, como com tanta freqüência acontece, nesse mesmo tempo recebeu um convite bem fora do comum. Foi convidado a aceitar uma cadeira na Câmara de Representantes, da Nova Zelândia. O membro do distrito de Taranaque havia

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falecido repentinamente deixando uma cadeira vaga na Casa. Essa lhe foi oferecida, e, certamente foi uma elevada honra. Era algo que apelaria a qualquer coração natural, e especialmente a um homem como Me, pois já era o chefe escolhido de sua tribo nativa.

Foi uma grande prova. Tanto ele como a esposa, que eram ambos belos caracteres cristãos, inclinaram-se a principio a aceitar o convite, e então pensaram no que significaria afastarem-se do ministério. Puseram o telegrama diante do Senhor, e oraram pedindo uma orientação definida. Era isso um chamado de Deus? Estava o Senhor afastando-o de seus problemas e lhe recompensando a fidelidade? Não poderia ele continuar sua obra como ministro tanto no Estado como na Igreja? Como lutou ele com esse problema

Então saíram juntos para passear e ali, nos prados, todo o quadro se tornou claro. Sobreveio-lhe uma grande convicção. Não devia aceitar a honra, pois era um ministro escolhido de Deus. Não se devia afastar do ministério nem mesmo para aceitar o chamado de seu governo.

Ao voltarem para casa, preparou a resposta. Era uma obra-prima, e refletia o belo estilo figurado que de maneira tão definida faz parte do pensamento maori. Diz a resposta:

―Profundamente sensibilizado por vosso convite. Aprecio grandemente a honra. Lamento ser impossível aceitar. Não posso virar o rosto. Já sou membro da ―Câmara Alta‖. (Assinado) Haddon.‖

Como na maioria dos países democráticos, é o parlamento da Nova Zelândia organizado com uma Câmara Alta e uma Câmara Baixa. Ao usar esse jogo de palavras, apresentou ele a esses homens um grande princípio. Apesar das durezas do caminho e de toda a tão freqüente falta de apreciação do trabalho que ele, como ministro, havia prestado durante anos, aí estava um homem que achava que servir ao Senhor era até maior honra do que qualquer outra que o

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mundo pudesse dar. Verdadeiramente ele era um membro da ―Câmara Alta‖. As palavras do Mestre são justamente tão verdadeiras hoje. ―Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus.‖ S. Luc. 9:62.

Outro homem, que por longo tempo estivera estudando intensamente o livro de Atos, adormeceu, certa noite, com a mente profundamente ativada. Sua reação mental resultou em impressionante sonho. Diz ele:

Contemplava eu em meu sonho, e eis que cinco homens — Pedro , André, Mateus, João e Paulo — estavam sentados na encosta de um monte contemplando o mar da Galiléia. Era isso vinte anos depois do dia de Pentecostes e eles se haviam reunido, segundo fora combinado para conversar sobre uma crise na vida e no programa de três dentre eles. O trabalho ia mal para eles. ―Paulo havia sofrido a perda de todas as coisas; Pedro deixara tudo para seguir a Cristo e estava achando difícil sustentar a família; e Mateus acabara de receber uma atraente proposta de grande rendimento, para voltar ao seu velho posto na coletoria.‖ (4)

Esses homens estavam olhando para o futuro e, como de costume, Pedro começou a conversa contando como Simão curtidor herdara uma propriedade de um amigo que ele conhecera muito bem nos dias em que ambos eram pescadores, e como este lhe oferecera um completo jogo de botes, cestas e demais apetrechos juntamente com um bem estabelecido negócio, todos eles esperando apenas ser recebidos. ―Parece uma direção providencial,‖ disse Pedro, ―especialmente porque a mãe de minha esposa abriu uma pensão em Cafarnaum, e não me custará nada morar com ela enquanto iniciamos novamente.‖ Estava entusiasmado na consideração de conseguir um belo meio de vida trabalhando apenas cinco dias por semana, e podendo empregar o resto do tempo em fazer algum trabalho evangelístico nas cidades e vilas que ficavam ao redor do lago. Parecia isso uma boa idéia, pois necessitava de dinheiro. E f inalmente disse: ―Vede,

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estou ficando com idade avançada e temo não poder conservar o passo em que tenho estado trabalhando.‖

Então Paulo falou, contando como Áquila e Priscila haviam prosperado grandemente no negócio de fazer tendas, em Éfeso, e como eles lhe haviam feito um lucrativo oferecimento para abrir uma filial em Filipo. E dali poderia supervisionar o negócio em todas as principais cidades da Macedônia. ―Posso fazer esse trabalho‖, disse ele. Não me será mais difícil do que cuidar de todas as igrejas, e eu terei abundantes oportunidades de fazer trabalho cristão, e poderei separar um pouquinho para o tempo de privações que eu posso ver que se está aproximando.‖

Mateus começou em seguida a relatar a excelente aceitação pública dispensada ao seu novo livro sobre a vida de Cristo, e como este estava trazendo o suficiente para pagar as despesas. ―Mas‖, disse ele, ―pode vir a perseguição, e agora tenho a oportunidade de

assumir a minha antiga posição, e eu sei que daí poderei tirar o suficiente não somente para sustentar a mim e a minha família, mas para cuidar do resto de vós, se entrardes em dificuldades.‖

Ao ouvir o querido e idoso André essas conversas, seu coração se perturbou. Voltando-se para Pedro diz: ―Pedro, lembra-se do dia em que pensava ter perdido a mãe e sua esposa? Vê aquela praia arenosa lá adiante? Lá foi que

ancoramos os barcos, depois da miraculosa festa; onde encerramos o negócio da pescaria, e onde o Senhor disse: ―Não temais, pois daqui por diante pescareis homens‖. Que espaço. de tempo é ―daqui por diante‖? Vê aquela encosta de colina? Foi ali que o Senhor al imentou os cinco mil, e posso ver o próprio lugar em que aquele rapaz ficou, quando eu lhe pedi que desse seu lanche para o Senhor o multiplicar. Não se lembra do olhar de compaixão e a ansiedade em Sua face quando Ele contemplou a multidão e nos pediu que orássemos para que fossem enviados obreiros para Sua seara? Se continuarmos a orar para que outros homens se levantem, abandonem tudo, e O sigam, podemos nós fazer menos?‘

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―João, que se recostava em Pedro, sentiu uma grande lágrima cair em sua mão, e olhando para Paulo, viu-lhe o rosto firme, o

olhar de velho batalhador em sua face, e calmamente disse: ―Homens, acho que não necessitamos falar mais sobre esse assunto: Oremos. E ao orarem, as coisas do tempo e dos sentidos recuaram; uma leve brisa sussurrou nas franças do arvoredo vizinho, relembrando-os daquele vento impetuoso e forte do dia de Pentecostes, e do maravilhoso poder com que Pedro pregara o evangelho naquele dia; também parecia verem o próprio Senhor a lhes dizer de novo: ―Faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes para pesca, e não temas, de agora em diante serás pescador de homens‘.‖ (5)

Era à tardinha, e as caravanas estavam justamente aparecendo. Reconhecendo a caravana que ia para Tiro, compreendeu Paulo a situação e deu aos irmãos um apressado adeus.

Adeus!‖ disse ele. ―Devo tomar o próximo navio que vai para Efeso, e tomarei a Áquila, a Timóteo e aos irmãos e começarei um trabalho que pela graça de Deus abalará toda a Ásia.‖

E quando Pedro lhe pegou a mão, disse-lhe: André e eu apenas teremos tempo para dizer adeus aos queridos, e nos uniremos à caravana que vai à meia-noite para o Oriente e poderemos continuar a seguir até à Terra de Sinim.‖

―Parecia que Mateus ouvira o Senhor dizer novamente, segue-Me‖. Quão mesquinho é pensar nas facilidades, no conforto,diante de tal chamado! Com voz de firme decisão, diz ele: ―Irei para o Egito, e subindo o Nilo, até à Etiópia. Ouvi do tesoureiro etíope que todo o país está virtualmente aberto para nós, e

ele crê que toda a Etiópia logo estenderá os braços para Deus.‖ ―Adeus,‖ disse João. E se assentou ali sozinho até aparecerem as estrelas,e as ondas na praia, impelidas pelo vento que se

levantava, soarem como a voz de muitas águas, e ele disse Aquele que perto Senhor, não lhes imputes esta coisa. Eu mesmo me tenho sentido assim às vezes, como Tu sabes, e teria deixado esta obra

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se não fosse o fato de Tu o teres evitado e me haveres fortalecido. Também eles estão prontos a viver e morrer por Ti, como eu estou.‖ (6)

Repentina tempestade desencadeou-se sobre o lago, como tão freqüentemente acontece na Galiléia, e justamente então o sonhador acordou. Sim, era apenas um sonho, mas a impressão por ele deixada foi tremenda. ―Ao pensar no sonho‖, diz ele, ―ouv i a voz de um moderno João chamando- me para seguir o Mestre em Sua maneira de trabalhar com toda a abnegação, gastando-me e deixando-me gastar.‖

Um missionário no Norte do Brasil, cujo trabalho exigia Freqüentes viagens acima e abaixo no grande rio Amazonas e em seus tributários, foi às vezes forçado a passar muitos dias no convés daqueles barcos fluviais ao ir de um lugar para outro. Geralmente o convés estava abarrotado de Pilhas de peles no curtidas, cujo odor era às vezes quase insuportável, naquele calor tropical. Havia farta razão para ele ficar desanimado, mas procurou ver além do presente. Escrevendo a um amigo, diz Me: Estou aqui de novo no convés deste velho barco. Em pilhas altas ao meu redor, estão essas repugnantes peles cruas. Sou às vezes tentado a desanimar, especialmente ao lançar um olhar retrospectivo através dos anos, e não me parecer que o meu trabalho tem tido muito êxito. Trabalho árdua e demoradamente, mas aparentemente com pouco resultado. Então eu me lembro das palavras de Jesus na parábola. Ao dar a recompensa, Ele não dirá: Bem está, servo bom e de êxito,‘ mas antes, ‗Bem está, servo bom e fiel‘. E assim cobro ânimo outra vez e continuo, semeando a semente sobre todas as águas e confiando em que Deus dê o ―crescimento.‖

Não há gênio que se iguale a continuar. As palavras finais de louvor não são necessariamente dirigidas ao servo de êxito, mas antes ao servo fiel. Tendo semeado em lágrimas,

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temos a promessa de que ceifaremos com alegria. E a colheita tomará os anos da eternidade uma contínua bênção para aquele que, havendo lançado mão do arado, avança realizando o serviço mais cheio de sacrifícios, mas também o que mais satisfaz a alma que Deus já deu ao homem.

1) Citado em Pastor and Evangelist, por Charles E. Goodell, pág. 128. Usado com permissão de Harper & Brothers, publicadores. 2) Idem, págs. 128 e 129. 3) Idem, pág. 129. 4) ―Se Eles Tivessem Parado,‖ World Conquest, junho de 1949, Publicado pela - Cruzada Mundial de Evangelização, em Toronto, Ont. Usado com permissão.

5) Ibidem. 6) Ibidem. 7) Ibidem.

HABITA EM MIM

(Autor Desconhecido)

Habita em mim, Senhor! a sombra se aproxima E em meio à escuridão, oh! vem comigo estar! Se abandonado e só, minha alma desanima, Amparo do oprimido! em mim vem habitar! Mui rápida pra o fim desliza a vida humana; A glória se dissipa e o gozo tem seu fim; Tudo murcha e de tudo o pranto o brilho empana; Ó imutável Ser! habita sempre em mim! Necessito de Ti cada instante que passa; Quem, como Tu, me pode auxílio e guia ser? Que vencera o mal, senão a Tua graça? Na dor ou na alegria, oh! vem em mim viver! Em Tua bênção possuindo eu não temo o inimigo; Do mal e dor o fel vencer eu possa enfim; Perde o aguilhão a morte e a vitória o jazigo — E triunfo afinal, se Tu vives em mim.

(Trad. I. A. W.)

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Anunciar o Evangelho Não Onde Cristo Fora Nomeado ROMANOS 15:20

33 O PODER DE UMA VISÃO UNGIDA

Agora chegamos ao fim — mas não ao fim — porém antes, para cada um de nós, assim confiamos, ao começo de um ministério

maior, mais feliz, e mais frutífero. Mas tal ministério deve brotar de uma visão consagrada. Nenhum nome jamais foi gravado de maneira tão profunda na História do subcontinente africano como o de Cecil Rhodes. Duas

grandes províncias receberam o eu nome, e numerosos parques, bulevares e outros lugares públicos perpetuam a memória desse homem vivo e de letras. Nunca chegou a alcançar idade avançada, faleceu com quarenta e nove anos, tendo passado menos de trinta anos na terra que adotou. Mas o que ele realizou nesses breves anos é colossal. Até mesmo nós muito temos que agradecer a esse homem de Estado, pois foi ele quem nos deu Solusi, nosso primeiro posto missionário nativo do mundo.

Quando Rhodes partiu da Inglaterra era jovem mas doente. A África restituiu-lhe a saúde. Mas o que em troca ele deu à África tem enchido muitos volumes. Seu brilhantismo como estadista e erudito é conhecido em cada terra.

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Nas cidades africanas, desde o Cabo até o Congo, são erigidas estátuas em sua honra. Estas obras de arte o apresentam num

bom número de atitudes diferentes, mas o visitante fica impressionado com o fato significativo de cada uma delas estar voltada para a mesma direção. Rhodes está sempre olhando para o Norte.

E não poderia ser de outra maneira, pois esse homem de visão, cuja audaciosa bravura galvanizou sua geração levando-a à ação, viveu para uma coisa — a anexação dos grandes territórios distantes não conquistados. Seu olhar para o Norte simboliza o grande propósito de sua vida. Em verdade, teve inimigos. Qualquer pessoa que realmente ousa fazer alguma coisa os tem. Mas seja qual for o juízo individual de alguém quanto à sua política, ou a avaliação de seu caráter, todos o reconheciam como sendo um homem cuja inabalável confiança no futuro e incansável serviço aos seus semelhantes o haviam gravado bem fundo no coração de um continente. Ficou sumamente rico, no entanto deu e dedicou sua imensa riqueza ao seu único e grande objetivo. Em sua morte, sua propriedade, suas mansões, tudo que tinha tornou-se posse da nação.

E esta é uma grande lição. Uma vez que o homem tenha uma visão real, não lhe é difícil dedicar a uma tarefa seus talentos, seus bens, a si mesmo, e a tudo o que tem. Tampouco se demorará a avaliar suas perdas. Suas visões o farão avançar para aquele lugar em que até mesmo as dificuldades serão consideradas um privilégio.

―Quando a casa pega fogo‖, diz São Francisco de Sales, ―os homens estão prontos a atirar tudo pela janela a fora; e quando o coração está cheio do verdadeiro amor de Deus, os homens naturalmente consideram tudo mais como sendo sem valor.‖ Ê a visão que inflama o coração. ―Não havendo visão o povo se corrompe‖. A visão é vital ao êxito, pois a visão faz o homem. É a visão que lhe dá alcance e poder.

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Ela lhe dá nova direção aos pensamentos. A visão mostra lhe uma máquina numa chaleira, um anjo num bloco de mármore, uma cidade iluminada num papagaio, um povo numa multidão. E ele se torna inventor, artista, cientista, ou estadista. Sem visão a vida pouca significação tem; e o trabalho, mesmo na causa de Deus, torna-se um mero serviço penoso e ingrato.

A visão, contudo, sempre vem acompanhada de um chamado — a ordem de Deus para cumprir o destino que Ele para nós planejou. Está-nos Deus convocando hoje? Qual é o destino deste Movimento do Advento? O futuro da obra de Deus jaz em grande parte

em nossa resposta a essas perguntas. Bem nos poderíamos nos contentar com conservar o que temos. Facilmente nos poderíamos dedicar à construção de melhores prédios para igrejas e maiores instituições. Mas fazê-lo seria fatal. Nunca fomos chamados para nos tornamos apenas outra denominação. Tal plano invalidaria a índole divina desse movimento. Não nos devemos meramente- estabelecer. Fazê-lo seria perigoso e se tornaria o prelúdio do colapso espiritual.

Que fazer com os territórios da Terra ainda não conquistados, com as grandes regiões que ainda são conservadas nas ganas do paganismo? Que fazer com as enormes zonas rurais e gigantescas cidades até mesmo nas terras civilizadas? Em algumas partes dos Estados Unidos, ainda é possível viajar de carro centenas de quilômetros sem ver um edifício de igreja para representar a mensagem final de Deus aos homens.

Mas o que dizer dos outros continentes, como a Ásia, a África, a América do Sul ou a Europa? Milhões esperam ouvir a mensagem de paz. Não deveriam as gigantescas cidades, como Paris, Atenas, Calcutá, Londres, ou até mesmo Nova York, desafiar-nos a fazer alguma coisa por elas? Não deveria a conquista de novas terras, a anexação de novo território,

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dominar os nossos planos? Devemos mudar-nos para novos territórios. Como o apóstolo Paulo, devemos esforçar-nos por pregar o evangelho onde Cristo ainda não foi anunciado. Só temos uma escolha a fazer — avançar ou entrar em decadência. Nosso olhar deve ser para o Norte. Nossa palavra de ordem deve ser Evangelismo. Chistosamente alguém declarou que tudo que se ganha com estar sempre olhando para trás é dor no pescoço. O puro conservador está lutando contra as leis do Universo. Para existirmos absolutamente devemos avançar.

É verdadeiramente espantoso o que Deus já tem realizado, mas olhamos admirados para o que ainda resta por fazer. Visitava eu um de nossos postos missionários em montanhosa região do Congo Belga. Era numa elevação de mais de dois mil e quatrocentos metros, e estando justamente na linha do Equador, sem me mover um palmo, contei sessenta e três vilas separadas com uma população que variava entre duzentas a mais de duas mil almas. A maioria delas nem mesmo fora alguma vez visitada por nossos missionários, para não falar de terem oportunidade para aceitar a salvação. Pensai nisto! Mais de cem mil nativos naquele pequenino lugar aguardando os arautos do evangelho da paz! Ali estão eles com toda a sua trágica necessidade. Mas o que dizer dos quase duzentos milhões que se encontram espalhados por todo o grande Continente Escuro e que até mesmo nunca ouviram o nome de Cristo?

―Tanto por fazer, tão pouco feito!‖ exclama Rhodes ao penetrar nas sombras da morte. Mas antes de terminar seu trabalho já havia ele posto os fundamentos de uma grande estrutura política. E ao contemplarmos as grandes regiões não trabalhadas da Terra, em lugares como o Oriente Médio, o Extremo Oriente, a Índia, a América do Sul e a África, também nós como Rhodes poderíamos dizer: ―Tanto a fazer; tão pouco feito!‖ Contudo, em todas essas terras, vemos, graças

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a Deus, que já foram postos os fundamentos de uma grande estrutura espiritual. Mas tendo uma visão de todos os campos que com tanta brevidade devem ser penetrados, certamente nos deveríamos sentir sob compulsão divina para buscar o derramamento do Espírito de Poder, a fim de que depressa possamos levar aos milhões que esperam as únicas novas que podem tornar livre o homem.

Este é o nosso repto. Slogans, organização, dinheiro, todos eles são desejáveis. Mas a oração e a visão ungida — estas são indispensáveis. Fazer maiores orçamentos é importante; adquirir uma fé maior é imperativo. Precisamos daquela visão que exige consagração de todo o nosso ativo, e a dedicação de todos os nossos talentos para a realização de nossa opressiva tarefa. Nada menos pode competir com essa poderosa hora.

Nosso verdadeiro problema não é a magnitude da tarefa, mas a nossa visão restrita. Corremos o risco de limitar o Santo de Israel. Em Seu programa não há planejamento restrito. Este é um dia de avanço, e Deus apela para que tenhamos maior fé.

Falando a um grupo de líderes protestantes em Busch Hill Falls, na Pensilvânia, a 9 de janeiro de 1950, declarou o Dr. Frank Laubach, cujo grande trabalho em favor dos iletrados o levou a todas as partes do mundo necessitado:

―O Céu estremece temendo que nos demonstremos pequenos demais, que nossos atos sejam por demais pequeninos e sobremaneira atrasados que sejamos amarrados pelos nossos fracos hábitos, quando Deus nos chama para grandes feitos... Temo alguns... que nem estão inflamados nem têm visão... que começam a ver porque isso poderia ser difícil ou sem precedentes, ou prematuro se não for devidamente examinado, ou informal demais, ou grande demais. O tipo que usa breques, ou o que vai devagar demais... pode arruinar o programa de Deus. Ó vós de pouca fé, conservai o pé fora do breque. . . . Quem jamais ouviu que Deus nos segurasse para trás? Ele está sôfrego, chora por nós, como chorou por Jerusalém.

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Nada temos a temer senão temer; não haveremos de falhar quando Deus nos impele. Dir-vos-ei o que precisamos temer: temer o caminho em que agora estamos, pois não somos ―suficientemente bons, suficientemente quentes, suficientemente elevados, não ousamos suficientemente, não temos visão de suficiente alcance, para esta esplêndida hora.‖

Deus anseia derramar Seu Espírito sobre Seu povo. As maiores coisas estão justamente adiante de nós. Os meios com que Ele terminará a obra e a abreviará em justiça, estão em Suas mãos.

Sempre que o poder divino estiver combinado com o esforço humano, a obra se espalhará como fogo no palheiro. Deus empregará agentes cuja origem o homem será incapaz de discernir os anjos farão uma obra que os homens poderiam ter tido a bênção de realizar, não tivessem eles negligenciado atender aos reclamos de Deus.‖ — Review and Herald, 15 de dezembro de 1885.

Nossa necessidade é de maior fé, uma fé que não fracasse por mais difícil que pareça a situação. Tremenda tarefa é levar as novas da breve volta de Cristo a cada região isolada da Terra e chamar homens de toda nação, tribo, língua e povo para adorar o verdadeiro Deus. Examinar os grandes campos ainda não penetrados, e então procurar calcular quanto tempo se tomaria, sob condições normais para alcançá-los com o evangelho, poderia trazer desânimo até ao coração mais forte. Mas tais cálculos são fúteis. Deus nunca confiou ao homem dizer como fie realizará Seu propósito. A Escritura declara que o evangelho da graça irá a todo o mundo, que Deus

―executará a Sua Palavra sobre a Terra, completando-a e abreviando-a‖. Rom. 9:28. Mas justamente como isso se realizará, nenhum homem pode dizer. O Deus do Céu tem mil meios para levar Sua mensagem às nações.

Quem teria pensado, nos dias de Jeremias, quando o antigo povo de Deus estava sendo destroçado, quando o ouro e os tesouros de Jerusalém eram levados para Babilônia, que,

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terrível como era aquela calamidade, nada mais era do que uma configuração dos acontecimentos que levariam as nações a conhecerem a Jeová? Ainda mais, que o próprio rei cujos exércitos haviam saqueado a cidade santa e levado em cativeiro o melhor da terra, seria ele mesmo forçado a ver a grandeza do Deus que havia desafiado. Poderia alguém ter imaginado que Nabucodonosor enviaria um documento oficial a cada nação de seu vasto império, conclamando o povo para adorar ao Deus verdadeiro? Ele era um monarca duro. Pouco sabia acerca da liberdade, mas seu desafiador decreto, que enviou três homens para o fogo, se tornou prelúdio de um apelo de amplitude mundial para a aceitação e o culto do Deus do Céu. De fato, a verdade é mais forte do que a ficção. E nos é dito que a história se repetirá.

Declara a profecia que um dos atos finais do drama da história humana será a saída de um decreto que levará as nações a se defrontarem com Deus e Sua verdade. Quando isso acontecer, bem poderá haver apenas dias, ou talvez horas, para que venha o fim de todas as coisas. Esse poder que opera milagres, apresentado em Apocalipse 13 e que vai enganar o mundo, fará com que ―à vista dos homens‖ e ―na presença da bêsta‖ aconteçam algumas coisas que apresentarão claramente o decreto diante das nações. Ao sair o decreto de Nabucodonosor, somente os que estavam imediatamente próximos do rei e de seus conselheiros, puderam testemunhar o que realmente estava acontecendo. Mas nos nossos dias, algo que esteja sendo realizado num lugar poderá ser visto em todo o mundo. A televisão já está exercendo grande influência na Terra. E isso, ou algo igualmente eficiente, bem poderá desempenhar tremendo papel nos acontecimentos finais, quando todos aqueles cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro são levados a adorar a bêsta e a sua imagem. Repentinamente, o povo do mundo será forçado a fazer estupendas decisões.

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É para preparar o mundo para esse tremendo decreto que Deus está enviando Sua mensagem a todas as nações. Os que

planejam o programa de avanço da obra de Deus, almejam ver mais rápida extensão da mensagem, mas nenhum homem e nenhuma comissão sabe justamente até que distância o evangelho eterno já penetrou. Continuamente chegam relatórios de regiões onde nunca a mensagem havia penetrado e em que agora há interesse. Durante um século tem Deus preparado a rápida finalização de Seu programa, e Seus mensageiros tem Ele apressado a ir a cada país e ilha em toda a parte do mundo, pondo, por assim dizer, um cabo pronto para aquele momento em que Deus libere o poder. Em algum momento dramático do próximo futuro, divina mão moverá a alavanca, e todo o mundo será iluminado com a Sua glória, e ressoará até aos mais remotos recantos da Terra o chamado: ―Sai dela, povo Meu‖. Ver-se-á então que há clara separação entre os que servem ao Senhor e os que O não servem. Aqueles que assentaram no seu coração ficar do lado do Senhor, separar-se-ão então para plena obediência, e tremenda será a colheita de almas sob aquele derradeiro poder pentecostal. Portanto, ainda que devemos ser realistas e enfrentar o repto dos grandes campos ainda não penetrados, conservemos nós os olhos fixos em Deus, em vez de os colocar na tarefa inacabada. Aquela que governa os Céus pode terminar Sua obra em tempo, e o fará.

Uma coisa de que o filho de Deus se deve acautelar é não ser desviado pelos enganos desta época. E esta a geração mais extravagante de todos os tempos. E não corremos nós o risco de participar de seu espírito? Se alguém quiser ser vencedor deve conservar os olhares voltados para o Norte. José, na terra do Egito, é nobre exemplo do que significa conservar a visão do próprio dest ino. Viveu de em meio da deslumbrante grandeza da corte egípcia. Durante mais de setenta e cinco anos andou por entre os templos de granito

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e as pirâmides revestidas de alabastro como honrado estadista, e assim mesmo ainda era um estrangeiro naquela terra que realmente tanto lhe devia. Quando, afinal, chegou ao fim dessa longa e ilustre jornada, abriu uma janela de sua alma e revelou o verdadeiro espírito de peregrino tão característico dos grandes líderes de Deus. O Novo Testamento simplesmente dec lara: ―Pela fé, José, próximo da morte, fez menção da saída dos filhos de Israel‖. Heb. 11: 22. Embora dirigisse os negócios de um vasto império, conservou esse homem uma clara visão. Como todos os grandes heróis de todas as épocas, penetrou José nos vapores impalpáveis da manhã e viu esboçadas as glórias das colinas de além. Sempre olhava para o Norte, pois pertencia ao povo peregrino cujo destino longe estava das moradas do Egito. Canaã devia ser conquistada, e tudo isso lhe estava na mente ao dar suas ordens, antes da morte.

No devido tempo estabelecido por Deus, vemos aquele povo hebreu cumprindo o seu elevado destino e deixando a terra dos faraós. Grande era certamente sua tarefa, mas a nossa ainda é muito maior. Foram chamados para entrar numa terra; a nós é ordenado entrar em cada terra. Eles conquistaram a Palestina para a sua posteridade; nós devemos conquistar o mundo para Cristo. Sua hora foi uma hora importante na História; a nossa é uma hora dinâmica do destino. Eles emergiam da era patriarcal; nós já entramos na idade atômica, e em todas as partes para onde olhamos parecem os homens estar confusos.

Se já houve um tempo em que as nações necessitavam de confiança e coragem, esse tempo é agora. Como precisam os homens obter uma visão da majestade do eterno propósito de Deus para este mundo! Quando a conseguem, assume a vida nova significação. Descobrem que, oculto nas durezas da sua sorte, jaz algo do plano de Deus para eles. Levar os homens a pensar os pensamentos de Deus de acordo

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com os dEle, ajuda-os a ver uma expectação na lamentável despedaçada beleza da vida. Suas esperanças desfeitas tornam-se uma oportunidade de voltarem os olhos para os Céus.

Pelo profeta Joel declara o Senhor: ―Os vossos velhos terão sonhos, os vossos mancebos terão visões‖. Joel 2; 28. E somente os homens que sonham os sonhos de Deus, que discernem os propósitos fundamentais do Eterno, estão preparados para pregar completamente a vinda do reino de paz. Quando alguém é chamado para um destino tão elevado, tudo mais se torna secundário.

Ele declarou isso muito bem, e todo o arauto da cruz, é um membro de ―uma ordem que é guiada avante pelos sonhos‖. Havendo-nos lançado à construção de caminhos para Deus, não deve haver lugar em nosso coração para meros esquemas de ganhar dinheiro.

Como José, que também era sonhador, enquanto nos conservamos imaculados do mundo teremos os sonhos de Deus. Aquele grande santo, contudo, teve de esperar séculos até que seus sonhos se tornassem realidade. Assim não acontece conosco. Já estão na voz do tempo as novas do dia que desponta. ―A noite é passada, e o dia é chegado.‖ A libertação já está às portas. Justamente como a noite de condenação e morte no Egito foi o dia de alegria e de libertação de Israel, assim é em nosso tempo. As mesmas coisas que conservam o mundo na paralisia do temor, trazem coragem ao coração dos filhos de Deus, pois bem sabemos nós que quando as cidades caírem e as nações se lançarem na ruína, quando a Natureza estiver convulsa e as cadeias de montanhas se moverem em suas bases — então é que nós veremos o Rei, assentado em Seu trono de incomparável esplendor. E ali, rodeado da glória dos querubins e serafins, desce Ele da abóbada celeste, e vem receber Sua fiel família de santos lavados no sangue. E quando aquela visão final nos, ferir a vista, será isso o raiar de um dia interminável de maravilhosas

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realidades; um dia que nunca será eclipsado pelas nuvens condensadas da guerra! A tristeza, a dor e a morte não mais existirão.

Transportados para o reino de nosso Pai, banhar-nos-emos no resplendor que jorra de Seu eterno trono; sóis, estrelas e sistemas brilhando a distância como se fossem o piscar de vaga-lumes no verão, e tudo o que nos fez pulsar na Terra o coração, apenas serão lembrados como passatempos de nossas alegrias infantis. E ao se escoarem os séculos eternos seguiremos o Cordeiro para onde quer que vá. Dos próprios lábios de nosso amorável Salvador aprenderemos a história de Seu sacrifício e de Sua paixão ao nos levar Ele cada vez mais fundo no âmago de inefável felicidade. E lá, novamente, com inteira visão contemplaremos as maravilhas da graça divina, para que nós, que uma vez éramos pecadores, e os próprios inimigos de Deus, possamos assumir nosso lugar diante dEle como Seus filhos e filhas honrados — sendo como Ele e com Ele estando para todo o sempre! Essa, então, é a nossa esperança, e certo é o sonho e fiel é a sua interpretação.

Por esta palavra de paz espera o mundo em agonia e sangue. E agora, meu irmão, oxalá o Senhor Deus de amor e de luz nos desperte a todos nós para nos lançarmos ao mar alto levando o evangelho a cada lugar em que o nosso Salvador não é mencionado! Jamais foi confiado ao homem maior encargo. Então, despedindo-nos um do outro oremos aquela sentida oração de Frances Ridley Havergal:

Ao Serviço de Jesus

A Ti seja consagrada Sempre minhas mãos se movam Minha vida, ó meu Senhor; Com presteza e com amor, Meus momentos e meus dias E meus pés velozes corram Sejam só em Teu louvor. Ao serviço do Senhor.

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