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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ RUDINEI CARLOS SCARANTO DAZZI O PATRIMÔNIO HISTÓRICO EDIFICADO COMO FORMA DE AGREGAR VALOR AO TURISMO: uma análise da paisagem edificada no entorno da Praça Dogello Goss - Concórdia /SC Balneário Camboriú 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

RUDINEI CARLOS SCARANTO DAZZI

O PATRIMÔNIO HISTÓRICO EDIFICADO COMO FORMA DE AGRE GAR VALOR

AO TURISMO: uma análise da paisagem edificada no en torno da Praça Dogello

Goss - Concórdia /SC

Balneário Camboriú 2009

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RUDINEI CARLOS SCARANTO DAZZI

O PATRIMÔNIO HISTÓRICO EDIFICADO COMO FORMA DE AGRE GAR VALOR

AO TURISMO: uma análise da paisagem edificada no en torno da Praça Dogello

Goss - Concórdia /SC

Trabalho apresentado para a Defesa de Dissertação do Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria, da Universidade do Vale do Itajaí. Orientadora: Profª Dra. Josildete Pereira Oliveira.

Balneário Camboriú 2009

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AGRADECIMENTOS

A arte sempre acompanhou o ser humano em sua evolução histórica, retratando a maneira de pensar e as características de determinados povos. Retratos representavam a forma de viver, dessa forma a arquitetura é transportada para a tela imortalizando o modo de viver de um povo. Arquitetura e arte são potenciais turísticos que levam as pessoas a ter uma percepção abrangente da vida.

Estruturar uma dissertação, compor textos, descobrir mundos, nos levam a uma viagem impregnada de conceitos e história. A arquitetura, a arte, a cultura, a gastronomia, o turismo, fusão mágica que nos faz usar todos os sentidos.

Neste momento agradecer denota reconhecer que este trabalho tem marcas, significados e momentos. Portanto, por participarem espontaneamente (ou não) da minha vida, dos sonhos e das dificuldades, eu agradeço:

• A minha família que me apoiou no momento difícil de decisão de mudança em busca de conhecimento e novos desafios.

• A todos os amigos , que mesmo distantes (fisicamente) estiveram ajudando e incentivando nesta caminhada. Em especial aqueles que pelo carinho, pela disponibilidade, pela partilha de momentos tristes e alegres, pelos ensinamentos, pelas correções e acima de tudo pela amizade;

• A todos os professores e a minha orientadora do Mestrado , que, por meio de seus ensinamentos, participaram no meu crescimento e colaboraram na construção desta dissertação;

• A todos os colegas , pelas discussões, pela troca de conhecimento e fundamentalmente pelo carinho e companheirismo nos momentos difíceis;

• A todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para chegar até aqui.

Faço destes agradecimentos uma prece de gratidão a Deus, pelo olhar cuidadoso e amoroso, pelos caminhos cruzados, pela presença constante, pelo conforto, e, ainda pela falta de respostas, que nos impulsiona à busca e à crença.

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RESUMO

A importância do turismo está sendo reconhecida a partir da globalização, sendo cada vez mais evidente a necessidade de estratégias que venham a conduzir tal atividade para satisfazer o público alvo. A paisagem edificada é um dos elementos que proporcionam qualidade turística e cultural. A paisagem é dinâmica e se transforma com o tempo, podendo-se considerar que está no centro da atratividade turística em um determinado local. O presente trabalho tem como objetivo analisar o estudo de caso da paisagem urbana edificada de Concórdia – Santa Catarina, no recorte da Praça Dogello Goss e seu entorno, enquanto atrativo turístico. Nesta pesquisa, procurou-se entender e explicar, por meio da análise descritiva, os elementos da paisagem urbana, relacionando-os com as características históricas de sua formação, os aspectos geográficos e a morfologia da cidade. A análise documental foi utilizada para caracterizar as transformações da paisagem edificada, conforme a legislação urbana do município, sendo corroborada pela percepção dos residentes e turistas, através da lente da máquina fotográfica e do DSC`s que retratam a história e as mudanças ocorridas ao longo dos anos, gerando o mapeamento da paisagem edificada e seu potencial de atratividade turística, alcançada pelas categorias de análise de Cúllen (1971) óptica, local e conteúdo. As características morfológicas da cidade condicionaram a sua evolução, alterando o traçado da Praça, como uma paisagem formada por fatos históricos do passado e do presente que auxiliam na compreensão da organização espacial e na evolução acurada pelo processo dialético. Percepções evidenciadas no discurso dos residentes e turistas por meio dos registros de imagens e imaginário ao percorrerem os espaços da Praça e seu entorno, caracterizando este espaço como atrativo turístico. Palavras-chave : Patrimônio histórico; Paisagem urbana; Turismo; Cultura; Concórdia-SC.

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ABSTRACT The importance of tourism has been recognized since the start of the globalization era, and the need for strategies that ensure that this activity meets the demands of the target public is becoming increasingly evident. The urban landscape is one of the elements that promote tourism and cultural quality. The landscape is dynamic, transformed over time, and can be considered as being at the heart of tourism activity in a determined location. This work analyzes a case study of the urban built landscape of Concórdia – Santa Catarina, in the specific area of Praça Dogello Goss and its environs, as a tourism attraction. Through a descriptive analysis, it seeks to understand and explain the elements of the urban landscape, linking them to the historical characteristics of their formation, the geographical aspects and the morphology of the town. Documentary analysis was used to characterize the changes that have taken place in the built landscape, based on the urban legislation of the municipal district, and this is corroborated by the perceptions of residents and tourists, through the lens of a camera, and of the DSCs that portray the history and the changes that have taken place over the years, generating a mapping of the urban landscape and its potential as a tourist attraction, as achieved through Cúllen’s (1971) categories of analysis: optic, place and content. The morphological characteristics of the town have determined its development, altering the course taken by Praça, as a landscape formed by historical facts of the past and present that further an understanding of the spatial organization and particular evolution by the dialectic process. Perceptions evidenced in the discourse of the residents and tourists by means of recorded images and imagination, as they use the spaces of Praça and its environs, characterize this space as a tourism attraction. Key words : Historical heritage; Urban landscape; Tourism; Culture; Concórdia-SC

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIC Associação dos Biólogos de Concórdia

ACCS Associação Catarinense de Criadores de Suínos

ACIC Associação Comercial e Industrial de Concórdia

AECON Associação dos Arquitetos e Engenheiros de Concórdia

AMAUC Associação dos Municípios do Alto Uruguai Catarinense

CDL Clube de Dirigentes Lojistas

CNEC Campanha Nacional de Escolas da Comunidade

CNPSA Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves

COPERDIA Cooperativa de Produção e Consumo Concórdia

COTESPHAMC Comissão Técnica do Serviço do Patrimônio Histórico Artístico e Natural do Município de Concórdia

CTG Centro de Tradições Gaúcha

DSC Discurso do Sujeito Coletivo

ECH Expressão Chave

ELETROSUL Centrais Elétricas do Sul do Brasil S/A

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FABET Fundação Adolfo Bosio para o Transporte

FEAUC Fundação Educacional do Alto Uruguai Catarinense

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IC Idéia Central

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IDS Índice de Desenvolvimento Social

ONG Organização Não Governamental

PIB Produto Interno Bruto

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SMEC Secretaria Municipal de Educação e Cultura

SPHAN Serviço do Patrimônio Histórico Artístico e Natural do Município de Concórdia

UHE – ITA Usina Hidrelétrica de Ita

UNC Universidade do Contestado

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Estrutura da pesquisa....................................................................... 17

Figura 2 Localização geográfica do município............................................... 35

Figura 3 Vista de Concórdia no ano de 1927................................................. 40

Figura 4 Festa de emancipação do Município de Concórdia em 29/7/1934..........................................................................................

43

Figura 5 Vista da Praça e Igreja Matriz no ano de 1950................................ 44

Figura 6 Vista aérea de Concórdia................................................................. 45

Figura 7 Vista de Concórdia na década de 1930........................................... 49

Figura 8 Plantio das tipuanas na antiga Praça da Bandeira (década de 1930)................................................................................................

50

Figura 9 Vista das alterações realizadas na Praça das Bandeiras (década de 1940)...........................................................................................

51

Figura 10 Vista da Praça de Concórdia na década de 1950............................ 53

Figura 11 Vista de Concórdia no inicio da década de 1960............................. 53

Figura 12 Vista de Concórdia no ano de 1969................................................. 54

Figura 13 Vista de Concórdia na década de 1980........................................... 55

Figura 14 Vista de Concórdia na década de 1990........................................... 56

Figura 15 Vista da Praça Dogello Goss............................................................ 57

Figura 16 Edifício Itália Chiuchetta e edifício Fioravante Massolini.................. 57

Figura 17 Vista panorâmica de Concórdia na década de 1940........................ 59

Figura 18 Vista panorâmica de Concórdia no ano de 2000............................. 60

Figura 19 Vista da Concha Acústica – Praça Dogello Goss no ano de 2008..................................................................................................

62

Figura 20 Vista noturna do chafariz da Praça Dogello Goss no ano de 2007..................................................................................................

63

Figura 21 Vista diurna do chafariz da Praça Dogello Goss no ano de 2008..................................................................................................

63

Figura 22 Vista do prédio da Câmara de Vereadores de Concórdia no ano de 2008.............................................................................................

64

Figura 23 Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário.......................................... 65

Figura 24 Quiosque do largo Rio Branco......................................................... 66

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 1.................... 74

Quadro 2 Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 2.................... 75

Quadro 3 Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 3.................... 76

Quadro 4 Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 4.................... 77

Quadro 5 Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 5.................... 78

Quadro 6 Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 6.................... 79

Quadro 7 Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 7.................... 80

Quadro 8 Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 8.................... 81

Quadro 9 Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 9.................... 82

Quadro 10 Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 10.................. 83

Quadro 11 Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 11.................. 84

Quadro 12 Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 12.................. 85

Quadro 13 Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 13.................. 86

Quadro 14 Síntese da entrevista e análise do DSC – Turista 1......................... 89

Quadro 15 Síntese da entrevista e análise do DSC – Turista 2......................... 90

Quadro 16 Síntese da entrevista e análise do DSC – Turista 3......................... 91

Quadro 17 Síntese da entrevista e análise do DSC – Turista 4......................... 92

Quadro 18 Síntese da entrevista e análise do DSC – Turista 5......................... 93

Quadro 19 Síntese da entrevista e análise do DSC – Turista 6......................... 94

Quadro 20 Síntese da entrevista e análise do DSC – Turista 7......................... 95

Quadro 21 Síntese da entrevista e análise do DSC – Turista 8......................... 96

Quadro 22 Síntese da entrevista e análise do DSC – Turista 9......................... 97

Quadro 23 Síntese da entrevista e análise do DSC – Turista 10....................... 98

Quadro 24 Síntese da entrevista e análise do DSC – Turista 11....................... 99

Quadro 25 Síntese da entrevista e análise do DSC – Turista 12....................... 100

Quadro 26 Síntese da entrevista e análise do DSC – Turista 13....................... 101

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LISTA DE MAPAS E TABELA

Mapa 1 Mapa da cidade de Concórdia com a localização do objeto de estudo...............................................................................................

49

Mapa 2 Mapa da Praça Dogello Goss e entorno, com o patrimônio edificado...........................................................................................

50

Mapa 3 Mapa das potencialidades turísticas– Registro das percepções de residentes e turistas.........................................................................

104

Tabela 1 Distância de Concórdia em relação a outros municípios................. 36

Tabela 2 Distância da sede do município de Concórdia em relação aos seus distritos....................................................................................

37

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 10 1.1 Contextualização do tema........................................................................ 10 1.2 Estruturação da pesquisa......................................................................... 13

2 ABORDAGEM METODOLÓGICA........................... ................................ 15 2.1 Natureza da pesquisa............................................................................... 15 2.2 Procedimentos metodológicos ................................................................. 16 2.3 Análise dos dados coletados.................................................................... 18

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................... .................................... 20

3.1 Patrimônio histórico cultural...................................................................... 20 3.2 Espaço urbano.......................................................................................... 23

4 CARACTERIZAÇÃO ESPACIAL DO MUNICÍPIO DE CONCÓRDIA ..... 35 4.1 Caracterização geográfica........................................................................ 35 4.2 Caracterização histórica........................................................................... 39 4.3 Caracterização sócio-econômico/cultural................................................. 45 4.4 Delimitação da área de estudo................................................................. 47

5 ANÁLISE DA EVOLUÇÃO MORFOLÓGICA E DA PAISAGEM EDIFICADA DA PRAÇA DOGELLO GOSS E ENTORNO.......... ............

51

5.1 Evolução morfológica da cidade de Concórdia........................................ 51 5.2 Evolução morfológica da paisagem edificada.......................................... 59 5.3 Políticas públicas: legislação urbana e bens tombados........................... 66 5.4 Contextualização da paisagem edificada pelo registro de imagens e

DSC’s de residentes e turistas................................................................. 70 5.5 Mapeamento da potencialidade de atratividade turística: olhar de

residentes e turistas.................................................................................. 102

6 CONSIDERACOES FINAIS............................. ........................................ 105

REFERÊNCIAS................................................................................................... 109

APÊNDICE.......................................................................................................... 113

Apêndice A - Roteiro de entrevista aberta para os residentes e visitantes do município de Concórdia – SC..............................................................................

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização da pesquisa

Ao se investigar a natureza de um núcleo urbano, percebe-se que a formação

do seu centro histórico surge a partir de sua constituição inicial, e a ocupação deste

espaço passa por transformações ao longo do tempo. A cidade contemporânea

emerge desse centro que precisa ser preservado como um todo, sendo os pontos de

interesse identificados e analisados na conjuntura da paisagem.

Esta pesquisa explora o conceito de paisagem urbana e turismo, as relações

culturais como forma de conhecimento dos bens materiais produzidos pelo homem,

bem como as transformações que o mesmo causa na paisagem. Para que se

entenda a paisagem urbana, os bens materiais precisam ser preservados em seu

conjunto. As políticas públicas promovem a preservação dos bens culturais a partir

de um processo individual, permitindo a perpetuação da paisagem como um todo.

Deste modo, busca-se caracterizar o objeto de estudo, que nesta investigação é a

Praça Dogello Goss e o entorno, para posteriormente analisar o potencial do atrativo

turístico por meio do olhar dos residentes e dos turistas.

Assim, trabalho objetiva analisar o potencial turístico da paisagem do

município de Concórdia-SC, através de descrição dos elementos da paisagem

urbana da Praça Dogello Goss como potencial turístico, apoiando-se em pesquisas

documentais, bibliográficas e iconográficas.

As mudanças decorrentes dos fatos históricos e da urbanização sem regras

geram uma transformação da paisagem urbana e, a Praça Dogello Goss é um

exemplo disso, pois a mesma é ponto de referencia da população da cidade.

Portanto, a Praça torna-se palco das manifestações políticos/culturais da cidade e

menciona essas transformações por meio da paisagem. A sociedade passa então a

conviver com situações que, em alguns momentos, não podem ser modificadas. A

evolução se torna necessária, mesmo que o progresso não permita que se

mantenha na totalidade o conjunto edificado, o que muitas vezes não é benéfico

para a sociedade e suas as relações sociais com o meio construído. Assim, a

compreensão dos valores sócio-econômicos, históricos e culturais da cidade se

torna pertinente para a identificação dos modos de uso indicados para esse espaço,

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quer seja por residentes, quer seja por turistas.

Para compreender essa dinâmica optou-se por uma abordagem

metodológica, segundo a visão serial proposta por Cullen (1971), que possibilita ao

observador múltiplas leituras do espaço, penetrando neste mundo de sensações e

percepções únicas. As imagens reveladas pelos residentes e turistas, serão

analisadas segundo a abordagem da “Visão Serial”, onde Cullen (1971) destaca três

aspectos: a óptica, o local e o conteúdo. A ótica destaca a paisagem urbana como

uma sucessão de surpresas; o local, refere-se às reações frente à posição no

espaço, a inter-relação do aqui e o ali, que produz belos efeitos urbanos e; o

conteúdo, refere-se à relação da textura, escala, cor, traçado e estilo em seus

processos evolutivos.

Segundo Cullen (1971) a paisagem em uma cidade não existe simplesmente

para ser vista, mas também para ser descoberta, explorada, analisada, percorrida

pelo observador, a fim de buscar sua história, sua memória, ou seja, seus registros

de passado e presente que, juntos, formam um atrativo turístico.

A partir desse arcabouço, este trabalho procurou analisar a compreensão da

paisagem e verificar o seu potencial enquanto recurso turístico, assim como seu

significado para a comunidade local.

A paisagem em uma cidade não existe simplesmente para ser vista, mas

também para ser descoberta, explorada, analisada, percorrida pelo observador, a fim

de buscar sua história, sua memória, ou seja, seus registros de passado e presente

que, juntos, formam um atrativo turístico.

O turismo é definido como “o movimento de pessoas, por tempo determinado,

para a destinação fora do seu local de residência, e as atividades realizadas durante

o tempo de permanência nas localidades visitadas” (TREMBLAY, 2000, p. 25);

ocasionando uma nova compreensão do espaço urbano, em especial pelas

edificações históricas que fazem parte deste contexto. Deste modo, surge o

interesse em compreender o potencial turístico através da paisagem edificada da

Praça Dogello Goss do Município de Concórdia-SC.

Fundamenta-se a preeminência da abordagem por ser considerada um

interessante referencial para a análise do turismo, uma vez que a paisagem

edificada influencia a capacidade de atrair o visitante, promovendo o destino, e, em

conseqüência, contemplando toda a cadeia produtiva do setor.

A organização espacial da paisagem com os elementos construídos revelam

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a evolução e a história da população envolvida, sendo que seus estilos e períodos

levam a múltiplas leituras. A paisagem urbana é uma sucessão de surpresas,

conduzindo o visitante a percepções únicas, estimulando-o a percorrer novos

espaços. A personalidade do local e a interação do visitante com a paisagem é única

e produzem sensações que serão repassadas a outros turistas e também aos

residentes. As edificações antigas são admiradas, quando preservadas e; com os

novos usos que possibilitam o residente e o turista interagirem e desvendarem estes

espaços.

Nesse sentido, menciona-se os indicadores de competitividade de

destinações turísticas baseados no modelo de Dwyer e Kim (2003): recursos

herdados e recursos criados. Para os autores, os recursos herdados aparecem em

forma de recurso natural, definindo a estrutura do ambiente, englobando o clima, a

flora, a fauna e outros aspectos físicos da destinação e; também figuram a cultura e

o patrimônio local (DWYER e KIM, 2003). Murphy et al. (2000) dizem que cultura e

patrimônio são uma força para atrair o visitante. Outrossim, os recursos criados são

todos os serviços e equipamentos disponibilizados para o desenvolvimento da

atividade turística (DWYER e KIM, 2003). De acordo com Cooper et al. (2002), são

os recursos naturais, incluso cultura e patrimônio que garantem a atratividade em

relação ao visitante, mostrando-se como uma faceta de prosperidade local e

regional.

A Praça Dogello Goss e seu entorno, objeto deste estudo, estão pontuados

de edificações e elementos escultóricos que marcam a evolução da cidade de

Concórdia, revelando uma história de luta, glória e desenvolvimento. Do período do

Contestado, onde conflitos foram deflagrados, a colonização, com a chegada de

imigrantes e migrantes italianos e alemães, da “concórdia” entre eles, que gerou o

nome da cidade, aos poucos esta paisagem foi se transformando. Onde antes havia

apenas terra e grama riscadas por conflitos, surge a praça com arruamento tosco em

seu entorno, recebendo construções de madeira, como a primeira igreja católica. A

praça da pequena vila foi mudando e definindo a sua estrutura espacial, que no ano

de 1969 tem seu traçado definitivo com um chafariz ao centro e uma concha

acústica onde manifestações artísticas e políticas são organizadas, tornado-se o

ponto de encontro de residentes e turistas. O chafariz com suas águas coloridas à

noite que se projetam ao céu proporcionando um espetáculo de cores e

movimentos, fazendo com que os visitantes no inicio tentassem, em frascos de vidro,

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levar um pouco daquela água colorida.

Nesta perspectiva, os argumentos expostos instigaram à concepção de

pesquisa para valorizar as culturas locais, agregando significado ao Turismo

Cultural; cujo problema expressa-se com as perguntas que seguem na seqüência.

• Como a paisagem edificada do entorno da Praça Dogello Goss agrega

valor ao turismo no município de Concórdia - SC?

• As legislações específicas para os bens tombados no município de

Concórdia no Estado de Santa Catarina abarcam as áreas públicas e representam

as características morfológicas da Praça Dogello Goss?

• Como a paisagem edificada da Praça Dogello Goss é percebida por

residentes e turistas?

A partir desses questionamentos, o escopo da pesquisa foi delineado sendo o

objetivo geral:

• Analisar a paisagem edificada da área central da cidade, delimitada pela

Praça Dogello Goss e seu entorno, verificando as possibilidades de uso como forma

de agregar valor ao turismo no município de Concórdia - SC.

E os demais objetivos específicos:

���� Analisar a evolução morfológica do centro urbano de Concórdia, onde se

localiza o patrimônio histórico no conjunto da Praça Dogello Goss;

���� Analisar a legislação urbana, contemplando a legislação específica dos

bens tombados e os períodos que caracterizam a paisagem edificada;

���� Contextualizar a representatividade da paisagem edificada da Praça

Dogello Goss e seu entorno, por meio da percepção do residente e do turista;

���� Mapear e descrever a paisagem edificada e seu potencial de atratividade

turística.

1.2 Estruturação da dissertação

A presente investigação foi desenvolvida visando o melhor entendimento de

como o patrimônio histórico edificado agrega valor para o turismo, servindo de

subsídio para o exercício da atividade turística e outras produções científicas, além

de otimizar conhecimento.

O trabalho está estruturado em seis partes. A primeira apresenta a justificativa

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e as linhas condutoras do estudo, através dos objetivos – geral e específicos,

introduzindo a pesquisa. A segunda parte aborda a metodologia empregada na

pesquisa, que foi elaborada por meio do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC’s) de

Lefévre e Lefévre (2003) e pela análise das imagens em função da ÓPTICA que

descreve Cullen (1971) como Visão Serial, pelo LOCAL e CONTEÚDO. Na terceira

parte, trata-se do referencial teórico, que abrange desde Patrimônio Histórico

Cultural ao espaço urbano, com a paisagem turística e arte visual. Na quarta,

menciona-se a caracterização do município de Concórdia - SC. A quinta parte,

apresenta a análises dos dados e resultados referentes as percepções de residentes

e turistas. E, finalmente, as considerações finais que respondem aos objetivos

específicos da pesquisa.

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2 ABORDAGEM METODOLOGICA

Este capítulo apresenta a metodologia empreendida na atividade de pesquisa.

Segundo Lakatos e Marconi (1991), a atividade de pesquisa é uma apreciação

crítica na busca de acontecimentos e princípios. Pesquisar é descobrir respostas às

questões sugeridas, usando métodos científicos; sendo, para Demo (2000), tanto um

procedimento de produção de conhecimento, como de aprendizagem. O método é

uma ordem que se deve impor aos diferentes processos necessários para atingir um

dado fim ou um resultado desejado (CERVO e BERVIAN, 1983).

2.1 Natureza da pesquisa

A metodologia é um processo de construção da pesquisa que se inicia por

uma base teórica servindo como alicerce para atingir os objetivos propostos em uma

investigação (HUSSEY e COLLIS, 2006). A coleta de dados serve para aprofundar

as questões investigadas, gerando informações capazes de levarem o pesquisador

a compreender e analisar o fenômeno em estudo.

Desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa básica para responder as questões

que norteiam o estudo e, também, pela diversidade de disciplinas e temas que

possibilitam a investigação interpretativa, assegurada pela multiplicidade de métodos

(DENZIN e LINCOLN, 2006).

A pesquisa objetiva analisar os elementos da paisagem urbana, mantendo

uma relação entre a formação e características históricas de um espaço geográfico,

decompondo a morfologia da cidade. Por meio desta perspectiva, define-se como

objeto de estudo a área central, delimitada pela Praça de Dogello Goss e seu

entorno, localizada no município de Concórdia – SC.

Segundo Yin (2005), esta investigação denomina-se estudo de caso, pois

atende as especificidades de um objeto com o aprofundamento necessário a uma

pesquisa científica. Este tipo de pesquisa possibilita a descrição, ilustração e

explicação de um fenômeno que, aliado a outras técnicas, chega a um cruzamento

de informações oficiais que confirmam a veracidade dos fatos ocorridos e auxiliam

na amarração de dados para análise (YIN, 2005).

Neste momento, o estudo de caso potencializa a paisagem urbana composta

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por recursos naturais e histórico-culturais. Método predominantemente qualitativo,

focado na análise da percepção que o impacto visual da cidade exerce sobre seus

habitantes ou visitantes (CULLEN, 1971).

A metodologia apoiou-se na pesquisa bibliográfica, documental e

iconográfica. Nesse sentido, foi consultada a bibliografia pertinente ao tema proposto

e pesquisas documentais, especialmente no que se refere aos recursos naturais e

histórico-culturais.

Este trabalho tem como objetivo analisar a evolução morfológica da paisagem

urbana edificada do município de Concórdia SC, com um recorte voltado à Praça

Dogello Goss e seu entorno, verificando o potencial turístico da paisagem, segundo

a metodologia da visão serial de Cullen (1971), que contempla a observação.

Cullen (1971) cita três aspectos a serem considerados. O primeiro é a

ÓPTICA, onde a paisagem urbana surge como uma sucessão de surpresas ou

revelações através dos pontos de vista que se mantém durante o percurso, o que o

autor entende como VISÃO SERIAL. O percurso revela diferentes pontos de vista.

Assim, devemos considerar que, ao nível cientifico ou comercial, a cidade se

constitui em um todo. Na análise da perspectiva visual, temos a imagem existente e

a emergente. De modo geral, ao observador e ao transeunte aparecem como fatos

gratuitos, e sua ligação não passa de coincidência.

O segundo aspecto é o LOCAL: só diz respeito às nossas reações perante a

nossa posição no espaço. A inter-relação entre o aqui e o ali produz alguns dos mais

belos efeitos urbanísticos. Ao percorrer uma rua, só se desvenda o mistério quando

se está a frente ou no mesmo nível das edificações que se diferenciam em relação

às outras. O cérebro humano reage aos contrastes, as diferenças, e, se estimulado,

permite novas leituras.

O terceiro aspecto é o CONTEÚDO: se relaciona com a constituição da

cidade, sua textura, escala, cor, estilo, natureza, personalidade e todos os aspectos

que a individualiza. Considerando-se que as cidades são resultados de seus

processos evolutivos, seu traçado irregular, seus estilos arquitetônicos, é natural que

se descortine uma confusão de estilos, materiais e escalas.

2.2 Procedimentos metodológicos

Estabeleceu-se, por meio do quadro metodológico (figura 1), o

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desenvolvimento e aplicação de métodos e técnicas para responder aos

questionamentos intrínsecos da investigação com grau de confiabilidade sob os

resultados alcançados.

Figura 1 : Estrutura da pesquisa

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2008)

PESQUISA QUALITATIVA

ESTUDO DE CASO

Pesquisa Bibliográfica / Fontes Primárias e Secundárias

Analisar a evolução morfológica do centro urbano

de Concórdia, onde se localiza o conjunto da Praça

Dogello Goss;

Pesquisa Documental

Lei e Decretos Municipal

Analisar a legislação urbana, contemplando a legislação

específica dos bens tombados e os períodos que

caracterizam a paisagem edificada;

Fase II

Pesquisa Iconográfica

Fotografia e acervo histórico

Contextualizar a representatividade da

paisagem edificada da Praça Dogello Goss e seu entorno, por meio da percepção do

residente e do turista;

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Analisar a paisagem edificada do entorno da Praça Dogello Goss e suas possibilidades de uso como forma de agregar

valor ao turismo no município de Concórdia - SC.

Fase I

Análise de Imagem

Visão Serial: Óptica – Local – Conteúdo (CULLEN, 1971)

e

DSC’s

(LEFÈVRE e LEFÈVRE, 2003)

Mapear e descrever a paisagem edificada e seu potencial de atratividade

turística.

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Este estudo busca extrair, através de imagens, informações que são

intrínsecas na percepção do residente e do turista, as quais se realizadas de forma

oral, muitas vezes não expressaria a visão na íntegra dos respondentes.

A fotografia é utilizada como fonte de informação e não como registro. Deste

modo, constrói-se uma rede de dados que corroboram para a análise da atratividade

turística do espaço em estudo pela percepção de quem está fotografando.

A seleção dos participantes foi aleatória e realizada por meio de duas

inserções no município de Concórdia, no mês de agosto e setembro de 2008,

quando o pesquisador esteve no núcleo central da Praça Dogello Goss, onde 26

(vinte e seis) pessoas que adentravam nesta área central foram convidadas para

participar da pesquisa após a explicação dos objetivos. A escolha aleatória dos

respondentes ocorreu em função de tornar o grupo heterogêneo quanto a faixa

etária, condição social, nível de formação e cultural, possibilitando leituras variadas

do mesmo espaço, sem condicionar as respostas, na tentativa de realizar a análise

deste objeto de estudo sem interferência do pesquisador. Os entrevistados foram

divididos em dois grupos, 13 residentes e 13 turistas, procedimento adotado em

função da Praça ser um marco referencial para os residentes e ponto central do

município para os turistas.

Foi solicitado aos respondentes (turistas e residentes) que fizessem dez fotos

da Praça e seu entorno com a máquina fotográfica do pesquisador, segundo a

percepção que eles (respondentes) tinham do espaço, de forma livre e sem qualquer

interferência, para não haver indução das imagens. Após o registro das imagens, o

pesquisador enviou, por meio eletrônico, uma entrevista composta de 5 (cinco)

questões em formulário específico (apêndice A), composto pelas 10 (dez) imagens

fotográficas registradas pelo próprio respondente, solicitando que o mesmo

escolhesse apenas 1 (uma) das imagens para, então, responder a entrevista inclusa

no formulário.

2.3 Análise dos dados coletados

A evolução morfológica da cidade de Concórdia foi analisada por períodos

entre a década de 1940 a 2008, o que possibilitou elaborar um mapa com o

crescimento e desenvolvimento do espaço urbano. A partir da análise do espaço

urbano a Praça Dogello Goss e seu entorno, foi demarcada como recorte para

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através da VISÃO SERIAL de Cullen (1971), servir de objeto de análise para verificar

a potencialidade de atratividade turística.

A análise da Praça Dogello Goss e entorno foi realizada por meio das

imagens fotográficas feitas por residentes e turistas. A atratividade deste objeto de

estudo foi traçado pelas respostas apresentadas no instrumento de pesquisa, onde o

Discurso do Sujeito Coletivo de Lefèvre e Lefèvre (2003) extraiu a percepção dos

residentes e turistas.

A aplicação do instrumento de pesquisa proporcionou a comparação entre o

poder imagético com as respostas verbais, possibilitando a análise da atratividade

deste objeto de estudo. Segundo Lefévre e Lefévre (2005), as respostas oferecidas

pelos turistas e residentes são notadamente marcadas por signos que expressam

ideologias, prioridades, ambientes culturais, ou seja, idéias representativas de

diversos conteúdos cognitivos do grupo em questão. A proposta consiste em

analisar o material verbal coletado, extraindo de cada depoimento as idéias centrais

(IC) e/ou ancoragens e, suas correspondentes expressões chave (ECH); que irão

compor um ou vários discursos sínteses.

Desta maneira, pretende-se comprovar se este marco referencial da cidade e

seus arredores têm poder de atratividade turística e, a partir das informações

extraídas das imagens e do DSC’s, foi elaborado um mapeamento fotográfico com

imagens da Praça Dogello Goss e seu entorno, segundo a percepção do residente e

do turista, traçando um comparativo entre as categorias, com o objetivo de identificar

elementos que sejam percebidos por ambos, que expressou a percepção, o

conhecimento e a associação de idéias dos respondentes.

A utilização da fotografia justifica-se pelo fato de serem signos contidos que

fornecem informações para as respostas que o estudo se propõe, uma vez que,

segundo Santanaella e Nöth (1998) reproduzem a realidade e a relação causal.

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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Patrimônio histórico cultural

A cidade antiga, como papel museal, ameaçada de desaparecimento é

concebida como objeto raro, frágil, precioso para a arte e para a história. Portanto,

não deve ser desperdiçada, mas sim conservada como as obras dos museus

(CHOAY, 2001).

Segundo Choay (2001), o campo patrimonial é palco hoje, de um combate

desigual e incerto (indústria patrimonial, práticas da tendência dominante e evolução

da economia da malha urbana). A palavra-chave “valorização” é inquietante por sua

ambigüidade e não tranqüiliza os conservadores. Reconstituições “históricas” ou

fantasiosas, demolições arbitrárias, restaurações inqualificáveis tornaram-se formas

de valorização correntes.

Obras que propiciam saber e prazer competem com produtos culturais

fabricados, empacotados e distribuídos para serem consumidos. Metamorfose em

valor de uso para valor econômico “engenharia cultural”, empreendimentos públicos

e privados com inúmeros trabalhadores (animadores culturais, profissionais da

comunicação, agentes do desenvolvimento, engenheiros, mediadores culturais) com

tarefa de explorar os monumentos por todos os meios, a fim de multiplicar

indefinidamente o número de visitantes – uso cultural e turístico como produto de

consumo e espetáculo. Pode-se dizer que o consumo cultural está relacionado à

“embalagem” que se dá ao patrimônio histórico (CHOAY, 2001).

Os bens móveis colecionados, bem como os edifícios antigos admirados, não

são investidos de um valor histórico. Dois traços - o étnico e o cronológico, marcam

a diferença entre a relação aos monumentos e ao patrimônio ocidental. O valor dos

bens móveis não prende a relação com a história à qual confere autenticidade ou

permite datar – como os Romanos encantados com objetos de origem grega,

período clássico ou helenístico. Objetos que levam a conhecer as realizações de

uma civilização superior (CHOAY, 2001).

Os monumentos antigos são “reciclados” incorporados a construções novas

para embelezá-las e decorá-las. Segundo Choay (2001) as criações da Antiguidade

não desempenham o papel de monumentos históricos, são preservados para

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reutilização, e muitas vezes esta alterações são grotescas e irreversíveis.

A arquitetura sempre se modifica com novas tecnologias, materiais de

construção, estilos de vida, modismos. Essas condutas acham-se hoje muito

globalizadas por inovações de toda ordem, de forma que alguns padrões

construtivos se repetem nos mais variados pontos do planeta. Nota-se, pelo mundo

afora, que quase não existem mais reproduções de arquiteturas vernaculares1, mas

uma releitura moderna (YÁZIGI, 2001).

A teoria da criatividade demonstra que uma forma nunca surge do nada, de

acordo com Yázigi (2001) a inspiração vernacular deve ser uma das possibilidades,

mas não a única valida e, muito menos a que deva servir de padrão único, porque

nossa historia não é só essa. A história da cultura material brasileira vem sendo

tardiamente revelada por vários pesquisadores, com base na iconografia ou em

pesquisas de campo (YÁZIGI, 2001).

O período mais extensivo da urbanização transcorreu a pouco mais de um

século, durante o período do café, com pequena duração, referindo-se a um

passado urbano no Brasil que tem significado de densidade histórica inferior às

cidades européias ou asiáticas. O estudo dos lugares costuma começar,

erroneamente, pela fundação de suas cidades que segundo Yázigi (2001) é um

equivoco, pois a história urbana pode ser considerada apenas um capítulo da

historia rural, uma vez que os primeiros ciclos econômicos do Brasil são de natureza

rural e, este cotidiano não necessitava de agrupamentos urbanos.

O reconhecimento de uma identidade, que se paute na memória arquitetônica

se vê limitada ao pouco que sobrou, pelo banal que hoje se produz e que não

queremos aceitar como traço memorável identitário. Muitos países do velho mundo

mostram que distintas características, isto é, instituições urbanas que correspondem

a modos de vida, convivem no mesmo território (YÁZIGI, 2001). Neste sentido a

Praça Dogello Goss e seu entorno, demonstram claramente essa diversidade de

estilos, desde construções singelas que podem representar períodos recentes da

arquitetura, a outras de total confusão plástica, onde a composição não se fez

presente e que acarreta na brutalização da paisagem edificada.

No Brasil, cujo padrão de metropolização não conheceu o capitalismo

1 Segundo Yázigi (2001) a arquitetura tradicional é entendida como vernacular desempenhando importante papel, na percepção daquilo que admiramos na paisagem cultural, corroborando com Kevin Linch, para quem a atração dos sítios vernaculares é conseqüência do baixo desenvolvimento que ocorria no interior.

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concorrencial, uma pequena cidade comumente assume fragmento de cidade

grande, ficando sem as qualidades existentes nas pequenas e com muitas

desvantagens das grandes. Deste modo, intensifica-se o uso de modelos e/ou

copias de códigos de obras, por toda parte (YÁZIGI, 2001).

Essas condições sociais, usos ou desusos tecnológicos e de normatizações

por códigos vampiros, que fazem a urbanização produzir os mesmos esquemas em

quase todas as partes, nivelando os aspectos morfológicos em detrimento de

possíveis afirmações positivas de identidades espaciais. Em nome da renovação

que não conservou o antigo, assiste-se a uma progressiva visibilidade da miséria

arquitetônica, caracterizando a identidade de todos os lugares. São bairros inteiros

feitos de cimento sem acabamento, espremidos em lotes sem condições sanitárias e

de privacidade, a isso, somam-se publicidades em calçada sobre o comércio barato

que expressam a própria pobreza das iniciativas de trabalho. Fiações e tubulações

clandestinas, lixo e, animais abandonados completam o quadro (YÁZIGI, 2001).

De acordo com o autor Yázigi (2001) este modo de urbanização periférica se

reflete fortemente no relevo, anulando as características primitivas, as colinas

desaparecem ou perdem visibilidade, a vegetação é sumariamente eliminada, rios e

riachos convertem-se em esgotos. Além do ritmo e modo violento que se torna um

drama, tornando a urbanização sem critérios de seletividade, sem justiça social e

adequações topográficas.

A arquitetura de madeira, comum nos estados de Santa Catarina, Paraná e

Rio Grande do Sul, vem sendo substituída pela alvenaria, deste modo, os padrões

de arquitetura colonial brasileira, presentes em muitos pontos do território nacional,

tornam-se relíquias (YÁZIGI, 2001). As cidades, atualmente, apresentam a mesma

imagem, perdendo a identidade paisagística, que sem a qual, empobrece a

comunidade.

No contexto da globalização, a negação do lugar se vê acentuada pelo

crescente fenômeno de normatização dos homens que buscam trabalho. Dessa

forma, regiões tradicionalmente habitadas por limitado número de etnias, se

deparam com constante vai e vem de trabalhadores, que se instalam num lugar

enquanto outros vão embora. A globalização pode trazer a conscientização da

diversidade, conforme cita Yázigi (2001, p. 33) ”se existir uma cultura global, seria

melhor concebê-la não como uma cultura comum, mas como um campo no qual se

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exerçam as diferenças, as lutas de poder e as disputas em torno do prestigio

cultural”.

A personalidade de um lugar não pertence só aos seus primitivos habitantes,

mas de todos os forasteiros agregados, como no caso de nordestinos e mineiros,

amplamente atraídos pelo mercado da construção civil no litoral norte do Estado de

São Paulo, conforme exemplifica Yázigi (2001).

Yázigi (2001), quando corrobora com Berque (1998) adota o sentido

psicológico da visão, isto é, situa os indivíduos no seio de uma cultura, dando com

isso, um sentido à sua relação com o mundo. O sentido que não é o mesmo para

cada individuo, pois depende da percepção da formação cultural de cada um, onde

as construções mentais, de importância insubstituível, apresentam característica de

não permanecer no tempo, nem se generalizam para todos.

Na mudança planejada do território, reconhece-se que o processo é contado

por décadas, enquanto certas mudanças culturais podem absorver um tempo

diminuto. A arquitetura tradicionalmente entendida como vernacular, desempenha

importante papel na percepção daquilo que admiramos na paisagem cultural. O

entendimento de uma cultura pressupõe a revelação de suas normalidades, sem

reduzir as particularidades (GEERTZ, 1989).

3.2 Espaço urbano

3.2.1 A paisagem turística no espaço urbano

A preservação das edificações, bem como a paisagem urbana no seu

conjunto, valoriza a cultura local, resgata os valores culturais e possibilita a

formatação de um produto turístico, sendo que “[...] esse patrimônio histórico

arquitetônico interessa ao turismo urbano, pois pode representar uma possibilidade

de diversificação da oferta turística do lugar” (CRUZ, 2002, p. 52). Portanto, este

estudo poderá contribuir para o incremento de uma nova atividade econômica, no

caso o turismo, utilizando o potencial arquitetônico e urbanístico da cidade como um

perfeito atrativo turístico.

Mostra-se, então, que a paisagem, inserida neste contexto, é um dos

segmentos da atratividade, fundamental para a construção de um produto turístico.

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As cidades apresentam elementos regionais de uma cultura, únicos, singulares,

importantes para a regionalização do turismo, preservando suas rugosidades, suas

características, sua memória, sua cultura.

Ter cultura significa, do ponto de vista do senso comum, possuir um certo conjunto de conhecimentos ou informações que não são utilizados no dia-a-dia das pessoas comuns e, ao mesmo tempo, ser dotado de uma capacidade especial para apreciar e usar o patrimônio (DURHAM, 1984, p. 24).

A noção de cultura esta relacionada, não apenas às obras, mas também a

uma capacidade humana de produzi-las e usufruí-las. A cultura pode ser definida

como um conjunto de elementos da civilização humana.

Para Sodré (1988, p. 4), ”compreende-se sob o termo de cultura o conjunto

de formas da vida espiritual da sociedade, que nasce e se desenvolve a base do

modo de produção dos bens materiais historicamente determinados”. Assim,

entende-se por cultura o nível de desenvolvimento alcançado pela sociedade na

instrução, na ciência, na literatura, na arte, na filosofia, na moral, etc.

Desta forma, para se compreender os elementos que configuram a paisagem

urbana, é necessário verificar o seu potencial enquanto recurso turístico, bem como

seu significado para a comunidade local.

Face a globalização, pensou-se que perderíamos as características regionais

com a unificação de novos costumes, crenças, hábitos e pensamentos, porém

verificou-se um crescimento da preocupação com a regionalização destes aspectos.

A paisagem em uma cidade não existe simplesmente para ser vista, mas

também para ser descoberta, explorada, analisada, percorrida pelo observador a fim

de buscar sua história, sua memória, ou seja, seus registros de passado e presente,

que, juntos, formam um atrativo turístico. Para Silva (2002, p. 27), “os lugares são

escolhidos e admirados por suas paisagens; neles os panoramas da natureza, a

visão do homem e sua cultura inseridos no território são prazeres a serem

desfrutados e, na maioria das vezes, constituem o motivo condutor do viajante”.

Rodrigues (2000, p. 223) diz que “a paisagem de um lugar pode ser um

recurso turístico valiosíssimo, pois pode determinar o maior ou menor grau de

atratividade do local”. Portanto, a paisagem é um elemento importante para a oferta

turística.

Admiradas como cenários, as paisagens são testemunhos visuais de

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elementos estéticos e simbólicos, construídos historicamente e que, quando

identificados e apropriados pelo viajante, despertam um renovado interesse no lugar

visitado. Alguns autores consideram a paisagem um elemento fundamental como

oferta turística, sendo um item de fundamental importância na decisão da escolha da

destinação.

Sendo a paisagem o que se vê, ela supõe necessariamente a dimensão do real concreto, que se mostra, e a representação do sujeito que o codifica no ato da observação. A paisagem como fruto dessa observação resulta de um processo cognitivo, mediado pelas representações do imaginário social de valores simbólicos (CASTRO, 2002, p. 122).

No entender de Castrogiovanni (2001, p. 31), “a cidade é um mundo de

representações. Pode ser pequena ou uma metrópole. Ela pulsa, vive, seduz,

agride, transforma-se e transforma aqueles que nela interagem”. Dessa forma, a

cidade depende do observador e de suas informações para percebê-la, além do que

os olhos podem ver. Faz-se necessário aprofundar o conhecimento de sua história

para que se possa percebê-la, e, assim, poder ver a cidade por completo.

Podemos afirmar que a paisagem é um registro preciso e precioso da

atividade do homem em determinado ambiente. É preciso considerar que a evolução

da história, com tudo que ela comporta, faz com que os novos meios de uso, tanto

modifiquem as formas antigas, como criem novas estruturas, pensadas para fins

específicos.

3.2.2 Paisagem urbana: uma arte visual

As cidades possuem suas paisagens bem como seu conjunto arquitetônico

tombados. Exemplos não são poucos, como Ouro Preto e Tiradentes, no Estado de

Minas Gerais; Parati, no Rio de Janeiro, entre outras. São apenas algumas cidades

com oferta turística de grande influência no mercado nacional e internacional, pois

estão impregnadas de história, cultura e tradição, resgatando valores, dignificando

seus moradores e proporcionando uma agradável paisagem a seus visitantes.

As cidades são ambientes artificiais criados pela ação do homem em distintas

épocas da história. Para sua formulação, emprega-se o espaço natural como base,

cuja constituição revela-se outra, de base cultural. No meio físico, ficam registradas

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as marcas do tempo e, conseqüentemente, da evolução urbana com seus aspectos

sociais e econômicos. Esse ambiente delineia-se por um complexo de fatores

associados e interativos que se desdobram e modelam gradualmente a forma

urbana e toda a sua complexidade e dinâmica. Portanto, a cidade é vista, é sentida,

não importando o seu tamanho, podendo ser pequena ou uma grande metrópole; ela

pulsa, vive, seduz, agride, transforma-se e transforma também quem nela vive. A

cidade é algo vivo, com identidade e dinamismo próprio e deve ser vista como um

bem cultural (CASTROGIOVANNI, 2001).

Cada lugar se caracteriza por um certo arranjo de variáveis, espacialmente

localizado e, de certa maneira, espacialmente determinado. Esta é uma das formas

como os lugares se distinguem uns dos outros. Este arranjo esta sempre mudando,

com ou sem influxo de fatores externos.

Para Boullón (2002, p. 214), para se obter uma definição de paisagem mais

precisa é necessário combinar uma série de variáveis dispostas em 7 (sete) grupos:

tipo de urbanização; nível socioeconômico das edificações; estilo arquitetônico;

topografia; tipo de rua; tipo de pavimento e; tipo de árvore. Cada grupo se subdivide,

formando um todo de trinta elementos básicos, onde suas combinações formam uma

tipologia da paisagem urbana.

Castro (2002, p. 121) aponta que a paisagem é, antes de tudo, uma imagem.

O recurso técnico da fotografia, desde o final do século XIX, deslocou a paisagem

como cenário dos limites das telas das obras de arte e de um público seleto para a

multiplicação de imagens em papel, disponíveis a um público muito mais amplo.

O prazer especial que a paisagem urbana pode despertar no observador é

arte temporal, e proporciona mais do que os olhos podem ver quando se refere a

esta paisagem (LYNCH, 1997):

Para Silva (2002, p. 27)

Os lugares são escolhidos e admirados por suas paisagens, neles os panoramas da natureza e a visão do homem e sua cultura inserida no território são prazeres a serem desfrutados e, na maioria das vezes, constituem o motivo condutor do viajante. Admiradas como cenários, as paisagens são testemunhos visuais de elementos estéticos e simbólicos construídos historicamente e que, quando identificados e apropriados pelo viajante, despertam um renovado interesse no lugar visitado.

Desta forma, podemos afirmar que a paisagem é um registro preciso da

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atividade do homem em determinado ambiente, em determinada época e em

determinado espírito inspirador.

Ainda segundo Yázigi (2002, p. 17),

As cidades são formadas por uma profusão de formas arquitetônicas, reveladoras de histórias, tecnologia, virtudes, estéticas e muitas outras informações que interessam tanto o estudioso quanto ao amador, freqüentemente na posição de turista ou voyer. Aqui é preciso considerar que a evolução da história, com tudo que ela comporta, faz que os novos usos tanto modifiquem as formas antigas, como criem novas estruturas, pensadas para fins específicos.

A paisagem urbana é vista como a arte do relacionamento que compõe o

ambiente da cidade. Os elementos urbanos se entrelaçam e criam uma ocorrência

emocionante no meio ambiente (CULLEN, 1971).

Ao fazer uma relação entre a paisagem urbana e a proximidade das

construções existentes no espaço urbano, pode-se afirmar que uma construção é

arquitetura, já duas ou mais seriam paisagem urbana (CULLEN, 1971).

A paisagem urbana exerce uma influência muito grande na percepção

individual do observador. Portanto, torna-se um atrativo turístico de grande

magnitude. Por esta razão, a paisagem urbana tem uma relação direta com a

atividade turística, desde quando pode vir a ser um produto para visitação turística.

A teoria dos sistemas aborda no espaço turístico fundamentos como forma

de compreender na distribuição territorial os atrativos turísticos existentes no espaço

urbano. Estes espaços podem ser divididos em zonas, áreas, centros, complexos,

unidades, conjuntos, núcleos, corredores, corredores de traslados e de estadia. Os

elementos destacam os atrativos individuais da paisagem considerando-as como

matérias-prima do turismo (BOULLÓN, 2002).

Dada essa complexidade, os atrativos individuais, vistos como átomos da

paisagem turística, são considerados como a matéria prima do turismo. Em relação

a essa perspectiva Boullón (1985, p. 46) enfatiza que “um país ou uma região deve

empreender um desenvolvimento”, porque lhes faltaria o essencial e somente a

partir desta matéria prima do turismo é que se pode pensar em construir uma planta

turística que permita explorá-lo comercialmente.

Ao discutir o espaço turístico urbano, Boullón (1985) destaca o papel da forma

das cidades. Adaptando o estudo de Lynch (1997), sobre a imagem da cidade,

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apresenta um método de análise que julga ser um instrumento de suma utilidade no

campo turístico, por permitir uma leitura da cidade e, por conseqüência, do espaço

turístico. Para isso, Boullón (1985, p. 167) defende que, como a linguagem de uma

cidade são as formas, sua leitura se apóia naqueles signos que melhor a

representam.

A proposta de leitura do espaço turístico para Boullón (1985) fraciona as

cidades em dois grandes grupos de análise, a saber: os focus urbanos representam

os espaços abertos da cidade, e a relação existente entre os espaços abertos da

cidade é denominada pelo por organização focal. Sua representação será chamada

de esquema físico. Para os focos urbanos, são utilizados seis elementos de

estruturação morfológica que permitem a leitura do espaço desta forma:

Ponto nodal: espaços abertos e cobertos de uso público, onde os turistas

podem entrar livremente. São exemplos de pontos nodais os parques, praças,

zoológicos, feiras, centros comerciais, galerias, mercados, calçadão, estação de

transportes, entre outros.

Marco divisório: objetos, artefatos urbanos e edifícios que, por sua dimensão

e qualidade de forma, se destacam no conjunto, atuando como pontos de referência

externa ao observador. Têm como requisito para enquadrar-se nesta categoria o

contraste e podem também serem atrativos turísticos. São exemplos de marcos

divisórios os edifícios, torres, monumentos, fontes, igrejas, quiosques de

informações, entre outros.

Bairros: são espaços relativamente grandes da cidade e geralmente são

criados por razões políticas para facilitar a administração da cidade. Apresentam

certa homogeneidade física. Em bairros antigos preservados, a unidade temática é

forte e se apresenta nas ruas, edificações, árvores, calçadas, entre outros. Mais

precisamente, são signos que conferem unidades temáticas ao bairro: fachadas, uso

atual, topografia, material das ruas, decoração das ruas etc. Apresentando pontos

nodais e marcos divisórios, o bairro também pode ser atrativo turístico.

Setores: são partes da cidade menores que os bairros, porém com as

mesmas características. Geralmente são remanescentes de bairros antigos e

apresentam valor histórico e arquitetônico.

Margens: são elementos lineares que marcam os limites entre as partes de

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uma cidade. Atuam como fronteiras que separam bairros diferentes, como

autopistas, rios, avenidas, praias. Estes espaços podem ser unificadores por

congregar pessoas em torno de objetivos, como por exemplo, a prática de lazer.

Caminhos estreitos: são corredores de circulação do fluxo turístico veicular

e não veicular que ligam os atrativos e as saídas das cidades. Apresentam a função

de estruturar e ligar o conjunto de atrativos turísticos do espaço urbano. No

planejamento deve-se optar pelo traçado desses caminhos devido a sua qualidade e

não apenas por distância. Os elementos são importantes na constituição da imagem

genérica da cidade. Os eixos físicos refletem a cultura do local visitado e podem ser

divididos em três categorias, as quais em alguns casos atuam como margens:

caminhos de traslado; caminhos de passeio veicular e; caminhos de passeio não

veicular.

Cada indivíduo possui referências, lembranças e também marcas pessoais

sobre a cidade, as quais lhe conferem uma concepção, fazendo com que pessoas

identifiquem o espaço e se identifiquem com ele (MONASTIRSKY, 1997).

Sabe-se que o turismo, por ser um elemento social, está atrelado a diversos

fatores e aspectos, que apresentam como resultados efeitos econômicos,

ambientais, sociais e culturais. Essa influência mútua de fatores possibilita reflexões

sobre um determinado tipo de atividade social, o fenômeno turístico. Desta forma,

analisar a relação entre o espaço e o turismo destaca um conjunto social, onde

características geográficas e da paisagem produzem viagens, favorecendo este tipo

específico da temporalidade moderna.

Ao desenvolver estudos sobre a ordenação urbana dirigida para a atividade

turística Castrogiovanni (2001) entende que a cidade é formada por caminhos e

lugares de encontro (ruas, avenidas, trilhas, entre outros), diferente de Boullón

(1985) que compreende os caminhos como corredores de circulação do fluxo

turístico veicular e não-veicular que ligam os atrativos e as saídas das cidades.

Unificar os atrativos do espaço urbano é importante: pelos pontos que unem

ou por si mesmos. Quando o caminho é significativo por si só, ele mesmo se torna

um atrativo. Isto se deve por seu valor estético, pela qualidade de seus edifícios, e

outros aspectos correlatos. Quando são pontos que unem, os caminhos passam a

ser parte das paisagens, assumindo em seus limites paisagens particulares

(CASTROGIOVANNI, 2001).

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A busca pela organização do turismo não pode ser separada da própria

construção do país e de seu cotidiano. As cidades, antes de tudo, devem atender as

necessidades de seus habitantes, uma vez que nem sempre o que é bom para o

turista é bom para o residente. Assim, as cidades devem trabalhar num processo

civilizatório, para ambas as partes.

O turismo regional é um grande motivador do trabalho para as pessoas,

valorizando a identidade local através de sua paisagem, o que, para Rodrigues

(2000), pode ser um recurso turístico de grande valia, podendo determinar o maior

ou o menor grau de atratividade do destino. Portanto, entende-se que a paisagem é

um elemento importante para a oferta turística.

3.2.3 Cenário urbano: os marcos referenciais da paisagem turística

Marcos referenciais podem ser definidos como produto de relações diante da

complexidade obtida nas suas variáveis. Embora possuidores de propriedades

físicas, forma, extensão, natureza e localização, é o uso que os caracteriza de uma

maneira mais precisa (SILVA, 2002).

A semiótica fornece as ferramentas para o entendimento das propriedades

definidoras das relações e a percepção da cidade pelo usuário passa a ser o fator

fundamental que define os comportamentos coletivos, propondo elaborar uma

análise em três momentos: a principio, a cidade é refletida como uma paisagem de

marcos; posteriormente, interpreta-se o marco na teoria semiótica e; em seguida,

inclui-se o tecido urbano neste contexto teórico (SILVA, 2002).

Conforme Lynch (1997), uma cidade só é “legível” se puder ser “imaginável”,

ou seja, é necessário que haja clareza física na imagem. A descrição da imagem

mental ocorre a partir da percepção dos usuários; os elementos da cidade são

identificados: caminhos, pontos nodais, bairros, limites e marcos. Esta percepção

apresenta relatos descritivos e desenho de mapas mentais esquemáticos (SILVA,

2002).

Os marcos de referência considerados externos ao observador são elementos

físicos cuja escala pode ser variável. As referências contidas na imagem da cidade

implicam na escolha de elementos que apresentam como a principal característica

física a singularidade (SILVA, 2002).

A escolha e identificação dos marcos se tornam mais fáceis quando estes

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contrastam com seu plano de fundo e com a sua localização espacial. Assim, as

pessoas podem reconhecer os marcos pela sua limpeza numa cidade suja, ou por

dois elementos em si. Os marcos podem surgir espontaneamente ou serem objetos

novos numa cidade antiga (SILVA, 2002).

O tempo promove transformações nos marcos referenciais; estas podem ser

físicas, como o acréscimo ou subtração de parte de uma construção, ou de

significado, como a mudança de uso de uma edificação. Muitos marcos podem não

existir mais fisicamente e continuarem com o seu valor de marco; o que se denomina

de “marco mental” (SILVA, 2002).

Quando os marcos, ao longo do tempo, sofrem transformações que induzem

à sua valorização, dinamizam o seu entorno. Contrariamente, proporcionam o seu

declínio levando o conjunto urbano acompanhar a sua decadência.

O marco é um signo que indica uma relação no campo de estudo da

semiótica. Conforme Nöth (1996, p. 33), semiótica ou semiologia é a ciência ou

Teoria Geral dos Signos, cujo “signo lingüístico une não uma coisa a uma palavra,

mas um conceito a uma imagem acústica”.

A teoria da semiótica é abordada por alguns autores, como Peirce (2000), que

estudam as formas de representação que o homem se apropria para manifestar-se.

Menciona-se que Saussure (1857–1913), lingüista suíço, ressalta o signo verbal em

seus estudos, ao propor uma ciência geral dos signos, onde a lingüística seria um

ramo desta nova ciência e; Peirce (1839–1914), lógico, físico, matemático e filósofo

norte americano, compreende seus estudos na filosofia e na lógica baseado em

doutrinas que enfatizam a concepção fenomenológica.

Ao pesquisar a relação entre uma idéia, que já é uma interpretação, e sua

materialização, Saussure considera a língua como o principal elemento dos sistemas

sígnicos, trabalhando a manifestação oral (fala). Na relação significado/significante,

Saussure exclui o objeto de referência, que seria algo externo ao sistema

considerado. Para ele, o significante seria, dentro do signo verbal, a sua

materialização, a forma que se manifesta concretamente, associada ao plano da

expressão e; o significado seria a idéia, o conceito que esta fisicalidade traduz,

associado ao plano do conteúdo. A partir da compreensão acerca da relação

significado/significante, é possível entender e identificar os marcos referenciais

urbanos, os quais permitem, tanto aos residentes, quanto aos turistas, fazer uma

relação entre a paisagem e o lugar visitado. O objeto de estudo se enquadra nesta

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percepção, pois a Praça Dogello Goss é um referencial e, dentro e no seu entorno

podem ser identificados outros marcos referenciais.

A paisagem do cenário urbano é constituída da interação de diferentes

fatores, como componentes geológicos, fatores geomorfológicos, bióticos e

antrópicos, e interagem progressivamente. Ainda reflete-se no presente o registro

acumulado de toda uma evolução biofísica e da história de culturas anteriores.

Observar um cenário resulta na identificação de elementos e compartimentos

que são fruto da ação dos fluxos de energia, que constituem um mosaico de

unidades que apresentam características essenciais. Estas unidades podem refletir

características de ordem geomorfológica, bem como aspectos históricos e culturais

antrópicos (ROCHA, 1995). De forma mais clara e sintética, Santos (1999, p. 35)

defende que “é um complexo de formas naturais e artificiais e é sempre um conjunto

heterogêneo”.

Ao tratar da paisagem como um cenário, Pires (1999) destaca que a

subjetividade é essencial para a percepção humana, porém a observação da

paisagem em sua condição de expressão espacial e visual do meio permite

descrevê-la objetivamente destacando, no processo, qualidades e fragilidades.

Boullón (1985) orienta que não é possível definir e descrever uma paisagem e suas

qualidades do modo preciso, devido a subjetividade inerente ao processo de

percepção, pois o conceito de beleza irá variar de cultura para cultura e de indivíduo

para indivíduo.

A relação entre paisagem e turismo ressalta uma solidificação cultural entre o

turismo e o patrimônio cultural, condizendo com a configuração da história e do meio

ambiente em um recurso econômico. A paisagem é vista como um reflexo da

sociedade, quando é resultante da interação do homem, de sua visão e da sua

atuação no espaço (YÁZIGI, 2002).

A globalização fez com que pequenas cidades apresentassem as feições e

adquirissem também os problemas de grandes cidades. A modernidade desenfreada

conduz a uma eliminação das raízes do lugar e, conseqüentemente, a perda da

identidade paisagística, enfocada e representada pela arquitetura e pelo traçado

urbano.

Conforme Harouel (1990, p. 498), a partir de 1945, com a construção de

aeroportos, fábricas, edifícios de escritórios e prédios públicos, foi sendo produzido

um número substancial de prédios e obras-primas, bem como um número maior de

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”formigueiros sem identidade e inumanos”. Assim, entende-se que a paisagem

turística depende de atributos para seduzir, encantar e excitar o interesse pela

experiência da visitação. A contestação sobre a atratividade de uma destinação é

extensa, porém este trabalho é motivado pela relevância que os materiais restantes

da cultura apresentam para o espaço turístico urbano. Acrescenta-se a isto a total

significância da experiência da contemplação e da administração da paisagem para

a experiência turística.

A paisagem urbana passa a ser história, quando relacionada a estrutura da

personalidade de um lugar. A paisagem passa a assumir destaque particular, a

partir da existência de uma interface entre paisagem e percepção, de uma

sociedade que herda e se apropria daquilo que suas necessidades requerem e

praticam. Desta forma, a paisagem urbana é o conjunto das formas num dado

momento e período histórico (YÁZIGI, 2001).

Para tal, a percepção é estimulada pela atração, espanto e influência causada

por sua arquitetura, vias, limites, bairros, marcos, avenidas, restaurantes, bares,

marcos referenciais. Trata-se da cidade como uma grande obra-de-arte viva, onde

há cores, hábitos, costumes, culturas, crenças, histórias e memórias e qualquer

outro detalhe que possa torna-se significativo na composição de um todo.

É assim que o espaço urbano possui relação direta com a atividade turística,

como produto para visitação. Seus elementos passam significados que são

essenciais na qualificação do espaço para a prática do turismo, não apenas por sua

dinâmica social e cultural, mas por seus históricos, pela paisagem e seus atrativos

potenciais para os turistas que praticam o turismo cultural e/ou outras atividades

iguais ou que tenham ligações. Wainberg (2000) relata que o turista busca os

elementos da paisagem, os espaços construídos e o movimento da vida e da cultura.

Há nas cidades atratividades turísticas, por tudo o que elas representam,

como obras de arte das sociedades humanas. Assim, é importante na atividade

turística considerar os ambientes urbanos como potenciais destinações turísticas.

Este trabalho se desenvolve a partir dos recursos histórico-culturais da

paisagem na conformação do espaço turístico, pois a transformação dos recursos

em atrativos turísticos parece ser um dos fatores-chave no processo que as cidades

têm para a potencialização da atratividade deste lugar, trabalhando sob

responsabilidade de estratégias de ação turística.

Neste aspecto, parte-se da hipótese de que os recursos da paisagem são

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elementos significativos para o desenvolvimento turístico de um determinado local. É

possível verificar que algumas cidades brasileiras, como São Paulo e Porto Alegre,

apostam na revitalização de espaços públicos ou de elementos de valor histórico e

cultural para integrar o mercado turístico. No ambiente urbano, o turismo irá

depender das conexões estabelecidas, entre a morfologia urbana e o sistema

funcional. Deste modo, pode-se diagnosticar os recursos histórico-culturais inscritos

na paisagem urbana elencados como elementos de atratividade turística.

Conforme Cullen (1971), pela análise da VISÃO SERIAL, pode-se analisar a

paisagem da cidade de Concórdia no recorte da Praça Dogello Goss, identificando

através dos residentes e turistas a percepção que estes têm do objeto em estudo.

Quando observamos uma construção isolada no ambiente, ela nos remete a

noção de uma obra de arquitetura. Um grupo de edificações sugere uma nova visão,

a qual não ocorre quando visualizamos apenas uma edificação. No conjunto

percorremos um caminho, que a cada esquina pode proporcionar nova leitura e

surpresa para o observador. Múltiplas leituras podem ser feitas sob espaço

percorrido, dependendo da disposição das construções, da simetria ou assimetria,

da inclusão de um elemento novo ou com função diferente da seqüência de

construções com uma mesma tipologia. Ao penetrar neste mundo, os espaços serão

descobertos com vida própria.

Dependendo de como a paisagem se apresentar ao observador, como por

exemplo uma igreja em meio a um conjunto de tipologias semelhantes, esta

construção terá seus aspectos evidenciados, como dimensão, complexidade, cor e

outros. Se ocorrer o contrário, se esta igreja estiver envolta em construções como

casarios, a percepção será de monumentalidade, aparentando ser maior. Para

Cullen (1983, p. 10), ”uma cidade é antes do mais uma ocorrência emocionante no

meio-ambiente”.

Deve-se atentar ao sentido da visão, pois é quase inteiramente por meio dela

que aprendemos acerca do que nos rodeia. É pela visão que as reminiscências,

experiências e emoções levam o observador a ter uma percepção dos espaços, das

construções, com intensidade, e que, segundo Cullen (1983), temos que procurar

saber como o meio ambiente suscita essas reações emocionais.

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4 CARACTERIZAÇÃO ESPACIAL DA CIDADE DE CONCÓRDIA

4.1 Caracterização geográfica

O município de Concórdia situa-se na região Oeste Catarinense, na

microregião do Alto Uruguai, a 493 km de Florianópolis. O acesso terrestre ao

município pode ser feito pelas rodovias BR-153, SC-283 e SC-463 e; o aéreo,

através do aeroporto municipal Professor Olavo Cecco Rigon, ou, ainda, pelo

aeroporto de Chapecó, distante 80 km do centro da cidade de Concórdia.

Figura 2: Localização geográfica do município

Fonte: Material promocional das Águas do Alto Uruguai Convention & Visitors Bureau (2008)

O seu território tem uma área de 797,260 Km². Ao norte limita-se com os

municípios de Lindóia do Sul, Ipumirim, Arabutã e Irani, ao sul com o Estado do Rio

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Grande do Sul e os municípios de Alto Bela Vista e Peritiba, a leste com os

municípios de Jaborá, Presidente Castelo Branco, Ipira e, a oeste com o município

de Itá. A hidrografia é constituída pelo rio Uruguai, rio Jacutinga, rio Rancho Grande,

rio Suruvi, rio dos Queimados, rio do Peixe, destacando-se ainda o rio dos Fragosos

e Pinhal (PREFEITURA MUNICIPAL DE CONCÓRDIA, 2008).

O município de Concórdia é servido pela BR-153, SC-283, SC-465, SC-461,

SC-463 e rodovias municipais, sendo que a rodovia federal, bem como as rodovias

estaduais têm revestimento de concreto. Os meios de transportes no município são

rodoviário e aéreo, sendo o primeiro o mais utilizado.

As distâncias entre Concórdia e alguns municípios podem ser visualizadas na

tabela 1. A tabela 2 aponta as distâncias entre as sedes distritais, que são em

número de cinco, em relação a sede do município.

Tabela 1: Distância de Concórdia em relação a outros municípios

CIDADE DISTÂNCIA Balneário Camboriú – SC 476 Km

Blumenau – SC 405 km

Brasília – DF 1.930 km

Chapecó – SC 80 km

Criciúma – SC 444 km

Curitiba – PR 420 Km

Erechim – RS 70 km

Florianópolis – SC 493 km

Itajaí – SC 476 km

Joaçaba – SC 75 km

Joinville – SC 491 Km

Lages – SC 280 km

Passo Fundo – RS 170 km

Porto Alegre – RS 430 km

Rio de Janeiro – RJ 1.267 km

São Miguel d’ do Oeste – SC 227 km

São Paulo – SP 781 km

Fonte: Prefeitura Municipal de Concórdia (2008)

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Tabela 2: Distância da sede do município de Concórdia em relação aos seus distritos

DISTRITO DISTÂNCIA Engenho Velho 25 km

Planalto 22 km

Presidente Kennedy 15 km

Santo Antônio 7 Km

Tamanduá 11 km

Fonte: Prefeitura Municipal de Concórdia (2008)

4.1.1 Clima

O clima é super-úmido e mesotérmico do tipo temperado. A temperatura

média anual é baixa, em torno de 17ºC, com grande amplitude térmica, cerca de

10ºC em média. O verão é um pouco quente e a temperatura oscila em torno de

22ºC, porém é comum a ocorrência de forte calor, já têm sido registradas máximas

em torno de 30ºC a 31ºC.

O inverno apresenta temperatura média em torno de 13ºC, com mínima entre

6 e 9ºC. Em função de sua localização geográfica, o município está sujeito, durante

todo o ano, a constantes invasões de frentes frias de origem polar, implicando em

bruscas mudanças de temperatura e sujeito a muitas geadas. Os totais anuais de

chuvas são elevados, geralmente em torno de 2.000 mm bem distribuídos durante o

ano. O município normalmente não apresenta estação seca, e sim grande excedente

hídrico (PREFEITURA MUNICIPAL DE CONCÓRDIA, 2008).

4.1.2 Relevo

O relevo faz parte do planalto meridional, sendo constituído por patamares

estruturais bastante explorados, que descem em direção à calha do rio Uruguai. A

topografia é suavemente ondulada, destacando-se a serra do Cachimbo

(PREFEITURA MUNICIPAL DE CONCÓRDIA, 2008).

4.1.3 Solo

Predominam solos minerais pouco profundos susceptíveis de erosão

moderadamente drenados, ácidos com elevados teores de mineral primários, fonte

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de nutrientes para as plantas. Esses aparecem associados a solos também minerais

pouco desenvolvidos, raros, bastante susceptíveis à erosão, geralmente bem

drenados e com restrições ao uso agrícola, devido à pouca profundidade. Ocorrem,

também, solos profundos suscetíveis à erosão, bem drenados, ácidos, com elevados

teores de alumínio e apresentando problemas de fertilidade, devido à pobreza de

elementos nutritivos.

Finalmente, encontramos em associação solos pouco profundos, suscetíveis

à erosão, moderadamente drenados, de fertilidade natural variando de baixa a alta

de acordo com sua reserva nutricional (PREFEITURA MUNICIPAL DE

CONCÓRDIA, 2008).

4.1.4 Bacias hidrográficas

A drenagem geral da cidade se dá pelo rio dos Queimados. Seu leito segue

sinuosamente cruzando o perímetro urbano no sentido nordeste para sudoeste. Sua

bacia caracteriza-se por encostas íngremes e acidentadas, formando diversos

cumiados e talvegues. Concórdia desenvolveu-se sobre este terreno ondulado, às

margens do rio dos Queimados e nas encostas e patamares dos morros. Com

altitudes variando de 550m na área central até 750m nos pontos mais altos dos

morros.

A cidade de Concórdia tem grande parte de sua área urbana localizada na

bacia do rio dos Queimados, ao longo da qual a cidade se instalou. A topografia do

local é muito acidentada, sendo suas margens densamente ocupadas. O rio dos

Queimados, que possuía antigamente uma boa capacidade de escoamento das

águas, dadas as condições geométricas de sua bacia, passou, dada a ação do

homem e a falta de um plano de ocupação do solo, a ter inúmeras edificações sobre

seu leito, acarretando retenção do escoamento pluvial em muitos pontos da cidade.

Em 19 de junho de 1983, houve o transbordamento do rio dos Queimados, dado a

grandes precipitações pluviométricas ocorridas no período, causando prejuízos às

diversas camadas da população urbana. Seguiram-se outras em anos subseqüentes

e outras ainda virão, já que a cidade de Concórdia continua crescendo às margens

do rio.

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4.1.5 Vegetação

A vegetação caracteriza-se por duas formações vegetais: a floresta

subtropical, com araucárias, é regionalmente conhecida por floresta da bacia do

Uruguai com presença de grápia, guajuvira, angico, cedro, louro e canela. A floresta

de araucária, no município, pode ser substituída em função das espécies que

compõe a submata: uma predominância de imbúia-socopema, erva-mate e taquara,

e outra que se constitui de angico, grápia, guajuvira e canela. O extrativismo de

madeira de alto valor econômico, bem como a exploração da erva-mate, foi

inicialmente responsável pela degradação de grande parte da cobertura vegetal.

Posteriormente, a implantação de lavouras diversas, tais como a do milho, trigo e

feijão, contribuíram significativamente para a devastação total da vegetação primitiva

(PREFEITURA MUNICIPAL DE CONCÓRDIA, 2008).

4.2 Caracterização histórica

As terras do Estado de Santa Catarina pertenciam, em quase sua totalidade,

aos espanhóis, por determinação do Tratado de Tordesilhas (1494). Com a

implantação, no Brasil, do regime das Capitanias Hereditárias, pelo governo

Português, em 1534, uma estreita faixa do litoral catarinense constituiu a Província

de Santana, pertencente a Pedro Lopes de Souza (PREFEITURA MUNICIPAL DE

CONCÓRDIA, 2008).

O inicio da ocupação se deu antes das incursões dos jagunços e caudilhos.

Foi através de grupos nômades, habitantes de cavernas, por volta do ano 1000 a.C.

que grupos semi-sedentários ceramistas, através da agricultura, determinaram maior

fixação à terra, principalmente no Planalto de Santa Catarina (FERREIRA, 1992).

O Planalto Catarinense começou a ser desbravado, quando, em 1645, uma

representação da Capitania de São Vicente fez incursões para o sul, motivadas

pelas dificuldades no transporte e comércio de gado. Os paulistas abriram caminho

pelo sertão e fundaram Lages, Santa Catarina (PREFEITURA MUNICIPAL DE

CONCORDIA, 2008).

O oeste catarinense, inclusive o atual município de Concórdia, foi desbravado,

a partir desses núcleos iniciais, por jagunços, caudilhos, fanáticos e figuras

lendárias, como o monge José Maria, cuja verdadeira identidade seria Miguel

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Lucena Boaventura.

Com o apoio do Governo Imperial, as províncias do sul passaram a fazer

concessões de terras às companhias estrangeiras.

A construção do trecho catarinense da estrada de ferro São Paulo - Rio

Grande, pela “Brasil Railway Co.”, iniciando em 1908 e concluído em 1910, foi

preponderante para o povoamento do meio oeste catarinense.

Objetivando promover a colonização dessas terras, a Brazil Railway Co.

constituiu uma empresa subsidiária, a Brazil Development and Colonization

Company, com sede em Portland, nos Estados Unidos, autorizada a funcionar no

Brasil, a partir de 13 de março de 1912. Nesta mesma época chegam os primeiros

imigrantes, e fundam uma pequena vila, no local onde já residia o caudilho José

Fabrício das Neves, considerado o pioneiro da colonização (PREFEITURA

MUNICIPAL DE CONCÓRDIA, 2008).

A partir de 1922, a Sociedade Territorial Mosele, Eberle, Ahrnons & Cia.,

passou a vender terras em pequenas extensões, oferecendo muitas facilidades. Isso

atraiu grande número de colonos de origem germânica e italiana, provindos do Rio

Grande do Sul, que se dedicavam à agricultura e à criação de suínos (PREFEITURA

MUNICIPAL DE CONCÓRDIA, 2008).

Figura 3: Vista de Concórdia no ano de 1927

Fonte: Prefeitura Municipal de Concórdia-SC (2008)

A fixação dos brancos, com a criação de fazendas, afastou aos poucos os

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resignados índios que ainda restavam, levando-os a formarem redutos em regiões

remotas. Em 1925, com a definitiva colonização, ainda se encontravam pequenos

agrupamentos indígenas de 15 a 20 elementos nos municípios vizinhos a Concórdia

(FERREIRA, 1992).

Em 1925, a colônia conhecida, até então, pelo nome de Queimados, passa a

ser chamada de Colônia Concórdia, por iniciativa da Sociedade Territorial Mosele,

Eberle, Ahrons & Cia. (PREFEITURA MUNICIPAL DE CONCÓRDIA, 2008).

Os colonizadores, descendentes de italianos e alemães, trouxeram seus

costumes e culturas, que eram distintos aos hábitos caboclos e dos povos indígenas

ali existentes. A instalação oficial do município ocorreu no dia 29 de Julho de 1934,

onde até então, a região era habitada somente por caboclos.

Conforme Seyferth (2001, p. 38)

Essa identificação social aparece como indicativa, em algum grau, de uma condição camponesa e, neste caso, são valores camponeses que presidem sua definição, ao mesmo tempo possuem um conteúdo étnico irredutível, que pressupõe uma distintividade cultural e, em certa medida racial em relação aqueles brasileiros denominados caboclos.

O nome Concórdia deve-se ao fato de um acordo de paz, estabelecido entre

os jagunços, liderados por José Fabrício das Neves, líder da Guerra do Contestado,

e a Brazil Development Colonization Company (PREFEITURA MUNICIPAL DE

CONCÓRDIA, 2008). Outro fato que motivou a mudança do nome da Vila

Queimados foi por aquele exercer uma força psicológica negativa muito forte sobre

os moradores, devido ás inúmeras lendas contadas na região. Contavam que o

nome havia sido dado ao rio, que cortava a vila, por funcionar como depósito de

caboclos mortos, que eram queimados antes de serem jogados em suas águas.

Para outros, eram os cadáveres de caboclos abandonados, sem famílias, após lutas

entre grupos rivais e queimados vivos a mando de José Fabrício das Neves

(PREFEITURA MUNICIPAL DE CONCÓRDIA, 2008). O nome “Queimados”

permanece nominando o rio que corta a cidade - rio dos Queimados.

A Guerra do Contestado, que manteve em ebulição o planalto catarinense e

paranaense de 1912 a 1916, foi o resultado do acúmulo de injustiças sociais

sofridas, por décadas, pela população sertaneja da região. As tensões advinham,

principalmente, do anseio por um pedaço de terra, bem-estar e segurança para as

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famílias camponesas. Dominada por coronéis e negligenciada pelos governantes,

essa região foi o cenário de uma das mais sangrentas rebeliões ocorridas no Brasil

republicano, com um saldo de cerca de seis mil sertanejos e mil soldados do

governo mortos. O estopim foi a imensa concessão dada em 1908 à empresa

inglesa Brazil Railway Company, do empresário Percival Faquhar (dono da Madeira-

Mamoré e da Port-of-Pará), para a construção da estrada de ferro São Paulo-Rio

Grande do Sul. O acordo dava à empresa 15 Km de terras para ambos os lados dos

trilhos (sinuosos, por coincidência) e que passariam exatamente sobre o território

contestado. Mais de 34 mil Km² de presente para estrangeiros (LAPS, 2003).

Com a aceleração no desenvolvimento da colonização, os problemas gerados

pela dependência de Cruzeiro (atualmente Joaçaba) tornaram-se mais evidentes.

Havia também muito descontentamento pelo fato de os impostos ali gerados serem

recolhidos sem que se observasse algum retorno significativo. O povo, liderado pela

Companhia Mosele, fez um abaixo-assinado pedindo a criação do Distrito.

Percebendo o crescente desenvolvimento desse núcleo colonial, o prefeito de

Cruzeiro, Coronel Passos Maia, embora relutante diante do pedido que poderia

significar o enfraquecimento de seus limites de influência, concluiu que tal aspiração

era justa e poderia resultar positivamente tanto para o povo como ao município

(PREFEITURA MUNICIPAL DE CONCÓRDIA, 2008).

Assim, pela Lei Municipal nº 82, de 11 de agosto de 1927, a Colônia

Concórdia foi elevada à categoria de Distrito. A solenidade de instalação ocorreu em

25 de setembro do mesmo ano.

Com o progresso, a população de Concórdia aspirava sua autonomia

administrativa. A colônia era grande e o novo município, caso viesse a ser criado,

abrangeria as atuais regiões de Concórdia, Lindóia do Sul, Ipumirim, Xavantina,

Seara, Arabutã, Alto Bela Vista, Itá, parte de Peritiba e parte de Presidente Castelo

Branco; limitando-se com Cruzeiro, Chapecó, Campos Novos e o Estado do Rio

Grande do Sul.

Na cidade de Marcelino Ramos, Leonel Mosele, surpreso de tão importante

situação, contando com a colaboração de líderes do Distrito de Concórdia, elaborou

um memorial esclarecedor sobre a situação do distrito e da intenção de seus

objetivos, referendados por numerosas assinaturas concordienses. Ainda incrédulo,

devido a pouca idade da vila, dirigiu-se a Florianópolis, obtendo pronta acolhida do

Interventor no Estado, Coronel Aristiliano Ramos, que, aprovando a solicitação,

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possibilitou o retorno de Mosele com a promessa de que o município seria criado

(PREFEITURA MUNICIPAL DE CONCÓRDIA, 2008).

Em 12 de julho de 1934, atendendo às justas pretensões do povo, o Coronel

Aristiliano Ramos, Interventor Federal do Estado, assinou o Decreto nº 635, que

criou o município de Concórdia, instalado solenemente no dia 29 de julho de 1934,

com a presença do Dr. Plácido Olímpio de Oliveira, Secretário do Interior e Justiça.

O novo município possuía uma área de 2.745 Km², onde viviam 21.086 moradores.

(PREFEITURA MUNICIPAL DE CONCÓRDIA, 2008).

Havia orgulho e esperança. O sonho maior daquela gente pioneira está

concretizado hoje no município de Concórdia. Em cada construção que se ergue, em

cada jardim cultivado, em cada vida. Em seus filhos, netos, em todos os que

participaram e participam do trabalho e do desenvolvimento de Concórdia. Em 29 de

julho de 1934, a cidade emancipou-se politicamente (figura 4), passando a ter

desenvolvimento próprio (PREFEITURA MUNICIPAL DE CONCÓRDIA, 2008).

Figura 4: Festa de emancipação do município de Concórdia em 29/7/1934

Fonte: Prefeitura Municipal de Concórdia-SC (2008)

Os imigrantes de origem italiana e alemã marcaram muito a arquitetura do

município, proporcionando um conjunto paisagístico em consonância com as colinas

que se fazem presentes no entorno da cidade (DAZZI, 2004). As principais

edificações foram projetadas e construídas pelo imigrante italiano e arquiteto-

construtor Leônidas Fávero, que deu forma a configuração urbana da cidade, no

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inicio da década de 1940. Dazzi (2004, p. 15), argumenta que estes traços ainda são

fortes na cidade e no interior, formando um conjunto onde um observador sensível e

disposto percebe aspectos naturais e construídos da paisagem, ora bucólicos com

sua ondulação verde, ora lúdica em suas casas ou pequenas casas, na maioria de

madeira, dispostas simetricamente.

A Praça Dogello Goss é o principal cartão-postal da cidade. Inicialmente, no

ano de 1926, a praça já constava na planta da cidade, assinada pelo engenheiro

Homero Araújo, se chamava Santos Dumont, medindo 100mx100m, e onde os

terrenos nas ruas perimetrais da praça eram os mais habitados. Mais tarde, após a

emancipação do município, o Prefeito Dogello Goss resolveu “rebaixar” a altura da

praça e aterrar o terreno onde fica o Fórum e o Colégio Deodoro.

Figura 5: Vista da Praça e Igreja Matriz no ano 1950

Fonte: Prefeitura Municipal de Concórdia-SC (2008)

As árvores foram retiradas do terreno e no centro foi erguido um mastro, para

hasteamento da bandeira nacional. Com este fato, o local passou a se chamar Praça

da Bandeira. No ano de 1940, com o auxílio do comerciante Caetano Chiuchetta,

foram plantadas árvores na praça, sendo que duas delas existem até hoje. Na

gestão seguinte, a praça ganhou postes de iluminação e bancos de concreto. A atual

forma e denominação da praça ocorreram no ano de 1969, com a construção do

chafariz, concha acústica, com sala de música e os sanitários públicos, uma fonte

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sonoro-luminosa, arborização organizada em canteiros, além de um parque infantil

(PREFEITURA MUNICIPAL DE CONCÓRDIA, 2008).

4.3 Caracterização sócio-econômico/cultural

Atualmente, possui área de 797,26 km² e população de 67.249 habitantes,

sendo que 71,76% da população vivem no perímetro urbano e 28,23% no perímetro

rural. Desta população, 46.136 são eleitores do município (IBGE, 2008).

Figura 6: Vista aérea de Concórdia

Fonte: Prefeitura Municipal de Concórdia-SC (2008)

A economia do município tem por base a agroindústria, predominando a

suinocultura, avicultura, pecuária de leite, culturas agrícolas e indústria alimentícia.

Tendo como principal característica a estrutura rural, Concórdia é formado

basicamente por minifúndios. Possui uma área industrial de 207.000 m², localizada

nas margens da BR-153, próxima a sede, com infra-estrutura básica para a

instalação de novas empresas. Concórdia é a 12ª economia do Estado, com uma

taxa de crescimento anual de 2,91%. O PIB (Produto Interno Bruto) do município de

Concórdia é elevado, sendo de R$ 13.715,00 per capita/ano (IBGE, 2008).

Dentre os 5.507 municípios brasileiros, ocupa a 32ª posição no Índice de

Desenvolvimento Humano, e no estado ocupa a 11º lugar no IDH (Índice de

Desenvolvimento Humano, 2004), e a 12ª posição no Índice de Desenvolvimento

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Social – IDS, entre os 293 municípios de Santa Catarina (IBGE, 2008).

O município recebeu, em 2002, o 1º Lugar do país no Prêmio de Gestão

Fiscal Responsável. Na área de tecnologia, Concórdia possui o Centro Nacional de

Pesquisa de Suínos e Aves, com sede na EMPRAPA (Empresa Brasileira de

Pesquisa Agropecuária) sendo conhecida nacionalmente como a capital da

suinocultura. Ainda na tecnologia, Concórdia é pioneira no país na educação para o

transporte, através da FABET (Fundação Adolfo Bosio para o Transporte).

O município de Concórdia tem na agroindústria sua base econômica, sendo

berço e sede da matriz da empresa Sadia S.A., o maior frigorífico da América Latina,

conhecido no Brasil e no mundo (PREFEITURA MUNICIPAL DE CONCÓRDIA,

2008). Nele estão presentes as mesmas características e conseqüências do modelo

agroindustrial da região.

No meio rural, predominam as agroindústrias familiares, o pequeno agricultor

e o sistema desenvolvido pelas grandes agroindústrias, denominado “Integração”:

granjas que abastecem o setor. Concórdia centraliza o recebimento de praticamente

toda a produção agrícola regional, através de cooperativas de produção e consumo.

É líder nacional na produção de suínos e aves, possuindo a maior bacia leiteira do

Estado (PREFEITURA MUNICIPAL DE CONCÓRDIA, 2008).

Na economia urbana, o comércio é forte e bem estruturado. No setor de

serviços, destacam-se o transporte, a educação técnica e superior e, a saúde, todos

com faturamento expressivo e alta qualificação. O município tem sua economia

bastante concentrada no cluster agroindustrial, com uma razão de dependência de

60 a 70% do movimento econômico. A base econômica fomenta outras atividades

potenciais dentro da vocação tecnológica na área de informática, dos setores

moveleiro, de metal-mecânica, têxtil e da construção civil e do agronegócio.

Na área de pesquisa e desenvolvimento, destacam-se importantes

instituições: a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária); CNPSA

(Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves de Concórdia), que atende a todo o

sistema agroindustrial familiar e de destaque nacional e internacional; SADIA;

PERDIGÃO; CHAPECÓ; AURORA e; UNC (Universidade do Contestado), que

possui curso de Tecnologia em Informática, provendo os recursos humanos com a

necessária qualificação.

No tocante à intervenção do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e

Pequenas Empresas), há no município uma agência de articulação, que atende os

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quinze municípios da AMAUC (Associação dos Municípios do Alto Uruguai

Catarinense). Esta desenvolve ações diretas com os empreendedores e empresários

da região, através de entidades credenciadas (ACICs e CDLs, Sindicato dos

Produtores Rurais), na realização de cursos de gestão empresarial (marketing,

custos e finanças, empreendedorismo, etc), qualidade total, capacitação de

produtores rurais em parceria com a COPERDIA (Cooperativa de Produção e

Consumo Concórdia), mobilização de empresários/empreendedores para conhecer

feiras e novas oportunidades de negócios, constantes treinamentos e consultorias

para empresas da área rural, em função da forte vocação nesta área, oportunizando

constante reciclagem para gestão de seu negócio, apoio à criação de uma ONG de

microcrédito (CREDICERTO), prospecção de recursos junto a outras instituições

financeiras, palestras e consultorias coletivas de orientação ao empresariado para a

visão estratégica e competitiva do seu negócio (PREFEITURA MUNICIPAL DE

CONCÓRDIA, 2008).

A UHE Itá (Usina Hidroelétrica de Itá) tem um custo na ordem de R$1 bilhão,

gerando cerca de 2.500 empregos diretos e 1.500 indiretos, contribuindo para o

desenvolvimento econômico da região (PREFEITURA MUNICIPAL DE

CONCÓRDIA, 2008).

4.4 Delimitação da área do estudo

A escolha do universo de pesquisa no caso desta investigação, se fez para

delimitar a área a ser estudada, o que possibilita uma análise mais detalhada,

focando apenas no objeto de estudo, a Praça Dogello Goss e seu entorno. A

escolha em analisar a paisagem edificada da área central da cidade, ocorre como

ferramenta, que possibilita a ponderação deste objeto tornar-se um agregador de

valor para o turismo.

Como forma de compreensão, faz-se necessários analisar as políticas

públicas de tombamento e preservação do município, bem como, as relacionadas ao

turismo, verificando se o espaço poderá ser preservado tornando-se um atrativo

turístico para a região.

A pesquisa observou a história de Concórdia, a evolução morfológica da área

urbana, possibilitando a elaboração de um mapa que delimita o objeto em estudo,

bem como apresenta a formação dos bairros, conforme mapa 1 (p. 47).

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Sob a perspectiva de visualizar detalhadamente o objeto em estudo e seu

entorno com o patrimônio edificado, elaborou-se o mapa 2 (p. 48). Neste momento

será apresentado a paisagem edificada e seu potencial como atrativo turístico

cultural, baseado em dados empíricos, Leis e Decretos municipais, referencial

teórico, mapas parciais e acervo fotográfico, que auxiliarão na compreensão e

discussão referente a agregação de valor turístico que o objeto em estudo

potencializa.

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Mapa 1: Mapa da cidade de Concórdia com a localização do objeto de estudo

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2008)

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5 ANÁLISE DA EVOLUÇÃO MORFOLÓGICA DA PAISAGEM EDIFI CADA DA

PRAÇA DOGELLO GOSS E ENTORNO

5.1 Evolução histórica de concórdia 2

A evolução morfológica da cidade de Concórdia foi analisada nesta

investigação por meio do recorte da Praça Dogello Goss e seu entorno, ao longo de

sete décadas, até o momento (2008), tendo sido utilizado como marco a data de

emancipação político-administrativa do município, ocorrida em 1934.

5.1.1 Período de 1934-1944

Em 1934, Concórdia contava com uma população de 3 mil habitantes, e teve

como primeiro prefeito eleito, o lageano José Luis de Castro que ficou no cargo até

janeiro do ano seguinte, deixando como sucessor Segundo Dallacosta. Esta foi uma

época de constante abertura de estradas, em função dos colonizadores que

chegavam ao município, sendo a maioria, trabalhadores da colonizadora Mosele

(figura 7).

Figura 7: Vista de Concórdia na década de 1930

2 As informações que precedem esta análise morfológica foram extraídas com base no documentário realizado com o objetivo de comemorar os 70 anos do município de Concórdia, bem como de leituras de jornais e livros que relatam os fatos históricos ocorridos durante as 7 décadas.

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Fonte: Documentário - Concórdia: sete décadas de história (2004) Concórdia teve seu primeiro hospital em 1935, de madeira, período que a

cidade passou por um surto de tifo que dizimou famílias inteiras. Em 1937, surgiu o

INCO, primeiro banco do município, e foi inaugurada a usina de energia que

funcionava a base de diesel chamada de ’Maria Fumaça’, porque o gerador era feito

de um motor velho de trem. Um aspecto presente no município, desde sua

formação, é a religiosidade, marcada pelo lançamento da pedra fundamental da

igreja Nossa Senhora do Rosário, que até então era em madeira.

No ano de 1939, surge o grupo escolar São José, gerido pela congregação

das freiras de Garibaldi - RS, e, posteriormente, o colégio Deodoro, construído pelo

governo do Estado de Santa Catarina.

A praça foi demarcada pelo prefeito Dogello Goss, no inicio dos anos 40,

recebendo o nome de Praça da Bandeira onde no centro desta foi colocado um

pedestal e um mastro com a bandeira do Brasil. Neste período as calçadas

formavam desenhos geométricos, com vielas que convergindo ao centro, até

alcançar um circulo e formar canteiros simétricos, configuração que permanece ate

os dias de hoje. Em 1943, Dogello Goss trouxe ao município 40 mudas de tipuanas,

árvores de grande porte, que atualmente resistem em número de duas, tombadas

como Patrimônio Natural do Município, plantadas por Caetano Chiucheta,

empresário local e prestigiada pela comunidade, conforme a figura 8.

Figura 8: Plantio das tipuanas na antiga Praça da Bandeira (década de 1930)

Fonte: Documentário - Concórdia: sete décadas de história (2004)

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5.1.2 Período de 1945-1954

A instalação da indústria SADIA - Sociedade Anônima Concórdia, por Attilio

Fontana, em 1944, coincidiu com a Segunda Guerra Mundial, momento que

acarretou em dificuldades na importação de equipamentos e maquinários. Passando

este período, a indústria SADIA começa a gerar a expansão da cidade. No pós-

guerra, dois aviões são comprados para facilitar a distribuição dos produtos pelo

país, sendo o momento precursor do impulso econômico do município, que passa a

ter população de 48 mil habitantes. Este fato leva o município, com apenas 16 anos

de emancipação, a tornar-se a 11ª economia do Estado de Santa Catarina, sob a

administração do prefeito Fioravante Massolini.

Neste mesmo ano de 1944, a antiga Praça da Bandeira toma novas formas,

com arrojado mobiliário urbano, como os bancos em concreto e a iluminação no

estilo moderno da época (figura 9).

Figura 9: Vista das alterações realizadas na Praça das Bandeiras (década de 1940)

Fonte: Documentário - Concórdia: sete décadas de história (2004)

Em 1947, foi reinaugurado o hospital São Francisco, que teve suas

instalações de madeira substituídas por modernas instalações de alvenaria em estilo

neoclássico, mesmo ano em que o hospital São Pedro foi inaugurado, o qual foi

desativado anos depois.

Também foi construído o prédio da prefeitura, que abrigava o correio, a

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delegacia, o cartório civil e a rodoviária da cidade. Edifício que, atualmente, abriga a

Câmara de Vereadores de Concórdia, tombado pela legislação municipal. O cinema

da cidade foi erguido também nesse período no qual também surgiu o primeiro jornal

da cidade - O Tempo, e, em 1949, surge a rádio Concórdia.

Em 1951, a prefeitura municipal é assumida por Attílio Fontana, época em

que circulava cerca de 400 veículos nas 33 ruas da cidade, sendo que destas

apenas 5 eram pavimentadas. Surgiram as dificuldades de energia, devido ao

aumento da produção industrial. A velha Maria Fumaça já não gerava energia

suficiente ao município, sendo inaugurada, em 1951, a usina elétrica da SADIA.

Em 1954, no final do mandato de Attílio Fontana, a prefeitura firmou um

convênio com o Ministério da Aeronáutica para a construção do aeroporto municipal,

até então era operado pela SADIA; sendo inaugurado em 1956. Também, no ano de

1954, foi fundado o Ginásio Concórdia, que atualmente faz parte da CNEC –

Campanha Nacional de Escolas da Comunidade. Outras aquisições foram realizadas

pela prefeitura, como o terreno para o parque de exposições. Novamente sob a

administração de Fioravante Massolini, a cidade transformou-se em um canteiro de

obras, com abertura de novas ruas, pontes e calçadas. O rio dos Queimados sofreu

alguns desvios, em decorrência da urbanização crescente da cidade, culminando

com sua canalização em concreto na década de 1970.

5.1.3 Período de 1955-1964

O primeiro CTG (Centro de Tradições Gaúcha) fora do Estado do Rio Grande

do Sul é fundado, em 1957, em Concórdia, devido a forte presença da cultura

gaúcha, que por muitas décadas marcou a paisagem da cidade com sua arquitetura

em madeira.

O crescimento e organização da cidade motivaram o empresariado de

Concórdia a fundar, em 1958, a ACIC (Associação Comercial e Industrial de

Concórdia) e, em 1959, a ACCS (Associação Catarinense de Criadores de Suínos).

Em 1961, assume a prefeitura Domingos Machado de Lima, que se

preocupou com o abastecimento de água e energia elétrica, em função do

crescimento do município. No ano seguinte, em 1962, começa a construção do

grupo escolar Vidal Ramos Júnior, primeira escola Agrotécnica Federal do Estado de

Santa Catarina, inaugurada em 1965.

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Nesta época, o município contava com 50 mil habitantes, dos quais apenas

11 mil viviam no centro urbano, formando uma sociedade elitizada. Em função deste

núcleo urbano, na década de 1960, os clubes Aliança e Juventos eram os espaços

de lazer. Posteriormente, unificados no atual Clube 29 de Julho (data que

comemorada a emancipação política-administrativa do município). Em 1969, é

inaugurada a fonte sonora e luminosa e a concha acústica, local de eventos e

manifestações sociais. Configuração que a praça manteve, praticamente, até os dias

de hoje.

Figura 10: Vista de Praça de Concórdia na década de 1950

Fonte: <http://www.guiacatarinense.com.br/concordia/historia.htm>

Figura 11: Vista de Concórdia no inicio da década de 1960

Fonte: Documentário - Concórdia: sete décadas de história (2004)

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5.1.4 Período de 1965-1974

No inicio da década de 1970, começa o processo de demolição da Igreja

Nossa Senhora do Rosário e a construção da atual, obra concluída em 1974. Neste

período, em plena ditadura, Concórdia era 4ª economia do Estado, em seus 40 anos

de emancipação. Época que surge um novo jornal denominado ‘O Jornal’ e que a

cidade crescia em estrutura e população, onde era implantada a EMBRAPA suínos e

aves (Empresa Brasileira de Pesquisa Agrícola), a nova rodoviária municipal e a

FEAUC (Fundação Educacional do Alto Uruguai Catarinense), ao lado do colégio

São José, com os cursos superiores de enfermagem e ciências. Em 1977, é

inaugurada a BR-153, pelo Presidente da República Ernesto Geisel (trecho de União

da Vitória/PR e Erechim/RS), que facilitou o escoamento da produção agroindustrial

do município.

Figura 12: Vista de Concórdia no ano de 1969

Fonte: Documentário - Concórdia: sete décadas de história (2004)

5.1.5 Período de 1975-1984

Na década de 1980, a cidade recebe revestimento asfáltico nas ruas e a

criação de núcleos habitacionais para as famílias de baixa renda. Época em que foi

construída a nova sede administrativa do município.

Em 1983, o descuido com o esgoto residencial, despejado diretamente no rio

dos Queimados, causa uma enchente com enorme prejuízo à cidade, que possuía

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62 mil habitantes. O aumento populacional, conseqüentemente, acarreta a expansão

da cidade em direção ao atual bairro Salete, onde foi construído o Colégio de

Aplicação e o Campus da UNC (Universidade do Contestado).

Figura 13: Vista de Concórdia na década de 1980

Fonte: Documentário - Concórdia: sete décadas de história (2004)

5.1.6 Período de 1985-1994

Nesta fase a cidade tem uma expansão maior nos bairros, principalmente a

partir de 1988. Em 1986, por iniciativa municipal, Concórdia teve seu primeiro

tombamento: as duas árvores tipuanas da Praça Dogello Goss. Por volta de 1990,

foi entregue à comunidade a edificação do teatro Maria Luisa de Mattos, junto a

Casa de Cultura do município, e, posteriormente, em 1994, foram inaugurados os

quiosques e o calçadão, que se tornaram cartão-postal para a cidade.

5.1.7 Período de 1995-2004

Neste ínterim a cidade teve um crescimento acelerado e junto as mudanças

tecnológicas ocorridas em nível mundial, o município deu um salto em qualidade de

vida. A urbanização passou por melhorias e transformou a paisagem do centro da

cidade, por meio dos passeios padronizados, da sinalização cultural no entorno da

Praça Dogello Goss, com a fixação de murais contando a historia do município em

todo percurso do calçadão. Foi criado o Memorial Attilio Fontana, na antiga

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residência da família, em comemoração ao centenário do seu nascimento. No ano

de 2002, obras do contorno viário norte foram concluídas, com pavimentação

asfáltica, diminuindo o tráfego de veículos pesados no centro da cidade.

Figura 14: Vista de Concórdia na década de 1990

Fonte: Documentário - Concórdia: sete décadas de história (2004)

5.1.8 Período de 2005 ao momento atual

Em torno de 2005, ocorreu a consolidação do bairro Salete, fato advindo da

mudança da universidade do centro para o bairro, a qual, desde 1990, apresentava

um crescimento constante. O referido bairro apresentava um crescimento ordenado

e, paralelamente, o centro uma verticalização crescente em virtude de sua topografia

acidentada.

A preocupação com o patrimônio edificado passa a ser o novo mote no século

XXI, em função da melhoria da infra-estrutura da cidade. A Associação dos

Arquitetos e Engenheiros de Concórdia – AECON inicia a movimentação em defesa

do patrimônio, propondo o tombamento de novas edificações. A Praça Dogello Goss

e os edifícios Fioravante Massolini (antigo Ed. Lorena) e Itália Chiucheta estão entre

os bens edificados a serem tombados (JORNAL MÍDIA MAIS, 2008).

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Figura 15: Vista da Praça Dogello Goss

Fonte: Arquivo pessoal do autor (2008)

Figura 16: Edifício Itália Chiuchetta e edifício Fioravante Massolin

Fonte: Arquivo pessoal do autor (2008)

Para Lamas (2004), a morfologia urbana é o estudo das formas que compõem

o espaço, a cidade, os fenômenos e processos que lhe deram origem. A forma

urbana relaciona-se com uma disposição espacial que não é, necessariamente,

verificável empiricamente. Lamas (2004) afirma que o espaço intra-urbano deve ser

estudado por meio da forma, que como filtro permite a leitura da cidade e de sua

formação. Assim, Lamas (2004, p. 41) compreende que “a noção de forma aplica-se

a todo espaço construído em que o homem introduziu sua ordem e refere-se ao

meio urbano, quer como objeto de análise quer como objetivo final de concepção

arquitetônica. O objetivo final da concepção é a forma”.

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Desta maneira, a “forma” é a materialização no espaço dentro de um contexto

preciso. Entre os critérios colocados por Lamas (2004) a “função” esta vinculada a

maneira que permite o desenvolvimento das atividades e o desempenho dos papéis

que a forma pretende abrigar. Destaca também a “figura” que relaciona os valores

estéticos que a forma é capaz de comunicar e transmitir, a estética é inerente à

humanidade, faz parte do nosso dia-a-dia (LAMAS, 2004, p. 56). Se a forma urbana

muda historicamente seu conteúdo muda ainda mais rapidamente. Pode-se analisar

as diferentes funções dadas as mesmas formas e as novas formas que resultam,

pois, segundo Sposito (1999, p. 95), “a materialidade da cidade, enquanto paisagem

produzida, resulta de um processo social, mas é igualmente imaginada, e que a

importância disso resulta do fato de que o valor dessa materialidade está também na

urbanidade que ele suscita”.

O espaço urbano é o resultado de formas e funções e dotado de historicidade

e este não se constitui apenas como produto das relações sócias, mas também

como condicionador dessas relações, enquanto produz sua própria negação, através

da dispersão. A cidade não deixa de existir, mas sim assume novas formas.

É nesse sentido que Sposito (1999, p. 95) cita: “a revolução informacional, a

ampliação do consumo e a homogeneização dos hábitos e formas de idas urbanas

redefinem a cidade. Ela se expande, ganha largas extensões e, ao estar em todo

lugar, redimensiona seu conteúdo de urbanidade”.

No caso de Concórdia, se percebe as mudanças nas tipologias das

construções e na verticalização das mesmas, bem como nas novas tecnologias

empregadas, configuração e ocupação dos lotes, fatores que promovem a alteração

na paisagem.

Para compreender a morfologia urbana da cidade de Concórdia, se faz

necessário também analisar os elementos morfológicos do espaço conforme detalha

Lamas (2004) quando categoriza e descreve estes elementos.

Os elementos morfológicos são aqueles elementos e/ou variáveis do sistema

forma urbana, arranjados e ordenados segundo características próprias do seu

espaço, seu sitio, de suas forças produtivas e da sociedade, que foram construídas

através da sua história. O modo como esses elementos se organizam e se articulam,

para configurar o espaço urbano, dependem do período de sua construção e

também com o tipo de linguagem e da organização do espaço. Lamas (2004)

categoriza esses elementos em um total de onze categorias. São elas: solo,

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edifícios, lote, quarteirão, fachada, logradouro, traçado, praça, monumento, árvore e

vegetação e, mobiliário urbano.

Assim, “o objetivo do desenho urbano e, por extensão do urbanismo, não será

apenas organizar o território para acolher atividades, mas também atuar na forma,

para que exista comunicação estética e significado” (LAMAS, 2004, p. 61).

5.2 Evolução morfológica da paisagem edificada

A cidade de Concórdia teve seu desenvolvimento de forma natural (fotografia

15) seguindo as ondulações de sua topografia e o traçado sinuoso do Rio dos

Queimados. A Praça Dogello Goss, que está a margem esquerda do rio, e onde

surgiu o primeiro núcleo urbano, tem concentrado os poderes do Legislativo,

Executivo e Judiciário no seu entorno, bem como a Igreja Matriz Nossa Senhora do

Rosário.

Figura 17: Vista panorâmica de Concórdia na década de 1940

Fonte: Prefeitura Municipal de Concórdia (2008)

Atualmente, a edificação do Poder Judiciário o antigo Fórum, passa por um

processo de mudança para abrigar o Museu Municipal e a Biblioteca, pois o mesmo

ocupa outra edificação construída para este fim. Este é espaço ocorrem todas as

manifestações públicas, movimentos políticos e culturais.

Analisando a evolução morfológica da cidade de Concórdia através da Visão

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Serial de Cullen (1971), pela ÓPTICA ao decompor as principais ruas que circundam

a Praça Dogello Goss, sendo Dr. Maruri e Marechal Deodoro, dispõe-se de múltiplas

percepções, pois dependendo do sentido a ser analisado encontram-se elementos,

massa vegetal, construções com gabaritos e estilos variados (fotografia 16). A

paisagem é apresentada com uma sucessão de surpresas e revelações, que podem

encantar o residente e o turista.

Figura 18: Vista panorâmica de Concórdia no ano de 2000

Fonte: <http://i232.photobucket.com/albums/ee261/genesiogasperini/Concordia-SC005-PracaDogelloGoss-Ep.jpg>

Na área central da cidade, o Plano Diretor Municipal (2001), permite uso de

solo e gabaritos com maior índice de aproveitamento, verticalizando as construções,

por outro lado a Praça e seus edifícios de interesse histórico, arquitetônico e cultural,

o que permite uma maior visibilidade da cidade, em função da intercalação de

edificações assobradadas, com outras de vários pavimentos e deste modo, cria-se

um espaço aberto.

As ruas Dr. Maruri e Marechal Deodoro, são como serpentes que se

espalham pela paisagem no sentido leste-oeste, enquanto que as outras, como as

ruas Adolfo Konder e Leonel Mosele se apertam entre os morros condicionando e

definindo esta paisagem. A rua Dr. Maruri, nos anos de 1960 findava na interseção

com a rua Leonel Mosele, e após sua abertura, a cidade teve um maior crescimento

em direção oeste, chegando até ao pátio da indústria Sadia, onde atualmente

termina a rua Dr. Maruri e inicia a rua Attilio Fontana. A cidade se estendeu na

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direção leste-oeste primeiro, condicionada pela topografia e depois avançou sobre

os morros no sentido norte-sul.

Quando se analisa a Praça e as ruas em seu entorno imediato através do

LOCAL descrito por Cullen (1971) as reações do posicionamento do observador no

espaço permite que este tenha impressões de clausura diante de edificações com

gabarito elevado e, de liberdade quando em área aberta. O aqui e ali, podem

proporcionar belos efeitos na paisagem, passando a ser uma experiência plástica.

A ocupação dos espaços em torno da Praça como pode ser observado no

mapa 2, o arruamento inicial apesar da praça formar um quadrilátero, não tem a

seqüencia de um tabuleiro de xadrez. As ruas acabam em construções que se

apropriaram dos morros ou em outros casos como a rua Do Comércio que corre

perpendicular a Praça criando um novo caminho dividindo-se com a rua Anita

Garibaldi, esta que se espalha pela encosta do morro de forma vertical. O rio Dos

Queimados condicionou as construções, o que não impediu que na década de 1980

tivesse muitas construções sobre si, mudando radicalmente a paisagem. Neste

mesmo período teve seu leito desviado e canalizado, o que causa sérios problemas

de cheias na cidade.

Observando a cidade pelo CONTEÚDO Cullen (1971) percebe-se o centro no

recorte da Praça Dogello Goss, como um espaço único com personalidade onde

múltiplas texturas, cores, estilos a individualizam. Yázigi (2000) dialoga nesse

sentido com Cullen, quando coloca que a paisagem passa a ser história, quando

relacionada a personalidade do lugar. Mesmo com a implantação do Plano Diretor

Municipal no ano de 1982, perdeu-se muito da paisagem inicial, mas não a

personalidade do local, pois a Praça é um ponto de encontro e manifestações.

A morfologia do espaço em estudo permite que, se observe os vários

períodos nas construções, nos diferentes estilos arquitetônicos e, na irregularidade

do traçado. Se considerado o traçado e sua evolução morfológica, a cidade não

passa por monotonia, pois sua paisagem se posiciona e encanta.

Com o olhar focado ao objeto de estudo pode-se analisar a Praça Dogello

Goss, a partir do ano de 1926, quando chamava-se Santos Dumont. Após a

emancipação do município, o prefeito Dogello Goss resolveu “rebaixar” a altura da

praça e aterrar o terreno onde fica o Fórum e o Colégio Deodoro. As árvores foram

retiradas do terreno e, no seu centro, erguido um mastro para hasteamento da

bandeira nacional. Com este fato, o local passou a se chamar Praça da Bandeira. No

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ano de 1940, com o auxílio do comerciante Caetano Chiuchetta, foram plantadas

árvores na praça, sendo que duas delas existem até hoje. Na gestão seguinte, foram

inseridos ao mobiliário da praça postes de iluminação e bancos de concreto.

A atual forma e denominação da Praça ocorreu no ano de 1969, com a

construção do chafariz, concha acústica com sala de música, sanitários públicos,

uma fonte sonoro-luminosa, arborização organizada em canteiros, além de um

parque infantil.

Figura 19: Vista da Concha Acústica - Praça Dogello Goss no ano de 2008

Fonte: Arquivo do pesquisador (2008)

O chafariz está localizado no centro da Praça Dogello Goss, possui fonte

luminosa e sonora (figura 20 e 21). Sua construção ocorreu em 1967, com o objetivo

de remodelar a praça. Os administradores da época buscavam algo vistoso, porém,

que não onerasse o poder público. Assim, surgiu o chafariz, através de uma

adaptação trazida de Poços de Caldas - MG. A obra levou três anos para ser

construída e sua inauguração ocorreu no dia 12 de dezembro de 1969, juntamente

com a reforma da praça com nome de Dogello Goss.

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Figura 20: Vista noturna do chafariz da Praça Dongello Goss no ano de 2007

Fonte: <http://www.ferias.tur.br/informacoes/8424/concordia-sc.html> (2008)

Figura 21: Vista diurna do chafariz da Praça Dongello Goss no ano de 2008

Fonte: arquivo do pesquisador (2008)

Em 1942, por solicitação do prefeito Dogello Goss, o secretário de educação

do Estado, em viagem a Concórdia para a criação do Grupo Escolar Deodoro, trouxe

uma planta modelo para a construção de um prédio para a prefeitura. Essa planta

era uma cópia da prefeitura de Caçador, construída pouco tempo antes.

Em 1943, quando o Governador Nereu Ramos veio a Concórdia para

inaugurar o Grupo Escolar Deodoro, o prefeito lançou a pedra fundamental do prédio

da prefeitura.

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Em 1944, a obra foi iniciada e, no mesmo ano, por problemas políticos, foi

paralisada. A obra foi inaugurada em 1º de julho de 1947, pelo prefeito Fioravante

Massolini, com a presença do Governador do Estado, senhor Aderbal Ramos da

Silva. No prédio se instalaram: a prefeitura, a delegacia, o Fórum, o Cartório de

Registro Civil e a Câmara de Vereadores que, até aquele momento, denominava-se

Conselho Consultivo do Município de Concórdia. Em 1965, a delegacia e o Fórum

foram transferidos de local.

Em 30 de junho de 1967, foi instalada naquele local a Biblioteca Pública

Municipal que, alguns anos depois, passou a funcionar em outros locais, sendo no

pavilhão da Igreja Matriz, na antiga casa do Sr. Hermano Zanoni e no prédio onde

funcionava o hospital São Pedro. Em 1981, retornou ao prédio da Câmara, onde

funcionou até julho de 2001.

A partir de 1982, com a transferência do executivo municipal para as novas

instalações da prefeitura, permaneceram no prédio somente o legislativo e a

Biblioteca Pública Municipal.

No primeiro semestre de 2001, devido ao precário estado de conservação do

imóvel, a Câmara de Vereadores transferiu sua sede, provisoriamente, para a rua

Marechal Deodoro, 773 – edifício Leonardo Da Vinci, e a Biblioteca Pública

Municipal para a rua Marechal Deodoro, 1410, para que as obras de restauração e

reforma do prédio fossem executadas e iniciada. A finalização das obras se deram

em julho de 2004, com o retorno do poder legislativo ao espaço.

Figura 22: Vista do prédio da Câmara de Vereadores de Concórdia no ano de 2008

Fonte: Arquivo do pesquisador (2008)

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A igreja matriz, próxima a Praça Dogello Goss, faz parte do eixo cultural da

cidade. Construída em 1970, em estilo moderno funcional, com linhas de arquitetura

germânica e mão de obra executada por profissionais concordienses. As imagens

foram esculpidas por um artista tirolês.

O presbitério foi decorado com os vitrais da antiga igreja, proporcionando

maior iluminação ao ambiente. Destaca-se a obra do arquiteto Zanon, um vitral

confeccionado em concreto e vidros coloridos, formando o quadro da ressurreição.

Figura 23 : Igreja matriz Nossa Senhora do Rosário

Fonte: Arquivo do pesquisador (2008)

O quiosque, localizado no calçadão e projetado pela arquiteta Sandra Poletto

e viabilizado pela Prefeitura Municipal de Concórdia, próximo a Praça Dogello Goss,

onde funcionam choperia, cafeteria, loja de artesanato, Águas do Alto Uruguai

Convention & Visitors Bureau e o centro de informações turísticas.

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Figura 24: Quiosque do largo Rio Branco

Fonte: Prefeitura Municipal de Concórdia (2008)

5.3 Políticas públicas: legislação urbana e bens to mbados

A legislação do município de Concórdia-SC, no que se refere à preservação e

tombamento de bens móveis e imóveis - Lei nº 1.925, de 12 de Novembro de 1984,

está fundamentada e amparada na legislação federal de patrimônio, sob o Decreto-

lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, o qual organiza a proteção do patrimônio

histórico e artístico nacional.

De acordo com o art. 1º da Lei nº 1925/84, constituem patrimônio histórico e

artístico do município de Concórdia os bens móveis e imóveis existentes no seu

território, cuja conservação seja de interesse público, quer por vinculação a fatos

históricos notáveis, quer por seu valor cultural a qualquer titulo.

Neste mesmo ano, são regulamentadas as atividades do SPHAN (Serviço do

Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do Município de Concórdia), através do

Decreto nº 2.134, de 18 de dezembro de 1984, órgão encarregado de executar a

política do município em assuntos do patrimônio histórico, artístico e natural, bem

como cria o COTESPHAMC (Comissão Técnica do Serviço do Patrimônio Histórico,

Artístico e Natural do Município de Concórdia), composto por nove membros, tendo

como presidente o secretário municipal de educação e cultura, e como membros o

secretário municipal de administração, um representante das áreas artística,

histórica, arquitetônica, arqueológica, ciências humanas, cultural e bibliotecária, de

livre escolha do chefe do executivo municipal. Esses representantes são indicados

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para mandato de um ano e não recebem qualquer remuneração. Esta comissão está

vinculada à SMEC (Secretaria Municipal de Educação e Cultura).

É de competência do coordenador do SPHAN a organização dos trabalhos,

recebimento de pedidos de registro no livro tombo, bem como encaminhamentos

legais junto ao município. Ele também convoca os técnicos do COTESPHAMC para

reuniões trimestrais, ou em caráter extraordinário, para deliberações em defesa do

patrimônio histórico, artístico cultural e natural. Cabe ao COTESPHAMC assessorar

a SMEC e, por intermédio desta, ao prefeito municipal acerca da sistemática de

tombamento de bens considerados de valor histórico, artístico, cultural e natural

pertinentes ao município, bem como seu aproveitamento, ou seja, seu novo uso,

pareceres nos processos de tombamento, convênios do município com outras

instituições culturais que possam colaborar na defesa, preservação e restauração de

bens tombados ou tombáveis e, fazer levantamentos e projetos de pesquisa dos

bens considerados de valor cultural. Compete ao SPHAN a guarda do livro tombo,

com o registro dos tombamentos efetuados.

Em 1991, é criado o arquivo histórico municipal de Concórdia, considerando

que é de dever do poder público a proteção especial de documentos de arquivo,

como elemento de prova e instrumento de apoio à administração, à cultura e ao

desenvolvimento científico.

A primeira ação de tombamento no município de Concórdia foi a de duas

árvores - Acácia Tipuana - na Praça Dogello Goss, no ano de 1986. Já em 1990 é

tombada a totalidade (interior e exterior) da edificação da Sociedade Porvir

Cientifico, uma das primeiras residências em alvenaria do município. Posteriormente,

no ano de 2003, com o parecer do COTESPHAN, é revogado o tombamento interno,

mantendo apenas a volumetria externa da edificação. Ainda em 1990, a pedido da

ABIC (Associação dos Biólogos de Concórdia), é protocolado o pedido para

tombamento da árvore nativa da espécie angico, no centro comunitário do Bairro

Jardim. Em 1994, é tombado o conjunto arquitetônico do Colégio Estadual Deodoro,

primeira escola estadual do município e com arquitetura característica dos anos de

1940. No ano de 1997, é tombado o bosque localizado junto à Escola Básica

Municipal Giuseppe Sette, no bairro Guilherme Reich e, no ano de 1998, é tombado,

em caráter definitivo, o perímetro externo do prédio da antiga prefeitura municipal,

que, no ano de 2004, após processo de restauração, é entregue à comunidade

como a nova sede da Câmara Municipal de Vereadores. O tombamento da igreja de

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Pinheiro Preto se deu no ano de 1999, sendo esta relocada pela ELETROSUL-

Centrais Elétricas do Sul do Brasil S/A e prefeitura municipal de Concórdia, no bairro

dos Industriários, junto a Escola Waldemar Pfeifer. O processo ocorreu em

conseqüência da inundação por parte da Usina Hidroelétrica de Itá. Atualmente, a

antiga igreja funciona como museu. No distrito de Terra Vermelha, em 2003, foi

tombada uma casa em estilo germânico para abrigar a Associação de Agroturismo e

a oficina de artesanato desta comunidade. Em julho de 2005, é tombado o cemitério

Caboclo, situado em imóvel de propriedade da Escola Agrotécnica Federal de

Concórdia, em Fragosos, distrito mais antigo do município. No momento está sendo

solicitado pela AECON (Associação de Engenheiros e Arquitetos de Concórdia), o

tombamento da totalidade da Praça Dogello Goss, no centro, e o Santuário de

Nossa Senhora de Salete, no bairro Salete, em Concórdia.

No Plano Diretor do Município de Concórdia que foi implantado em 1984, e

através da sua Lei Complementar nº 186 de 11 de maio de 2001, discorre: “Quando

se tratar de imóveis de valor cultural, histórico ou arquitetônico, definido por

comissão técnica e pertencente ao livro de tombo, serão permitidas obras civis para

aumentar a vida útil do imóvel” (SECRETARIA DE URBANSIMO E OBRAS, 2008, p.

6).

As Políticas Públicas específicas para o tombamento asseguram a

preservação do conjunto de bens considerados Patrimônio Cultural. Mas, isso não

impede que sejam intocáveis ou que possam mudar de proprietário. A proteção do

bem de interesse cultural deve servir para desenvolver uma função social, seu

aproveitamento deve ser uma forma de desenvolver atividades ligadas à

comunidade, para que se mantenham como elementos dinâmicos que permitam o

uso pela população, não o tornando inacessível ou apenas propiciem a

contemplação externa de sua arquitetura.

Em muitas situações se faz necessárias algumas alterações, consideradas

aceitáveis, nos imóveis tombados, em decorrência das adaptações à vida moderna.

Essas alterações só são realizadas a partir da autorização, do órgão público que

tombou o bem, seja ele na esfera Municipal, Estadual ou Federal.

O Estado é responsável apenas, em prestar consultoria técnica ao

proprietário do bem tombado. As políticas direcionadas a preservação de bens se

prevalece da necessidade de manutenção e delegam aos proprietários à

responsabilidade financeira com a manutenção do bem tombado. Quando falta

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subsídio financeiro, questiona-se: por que preservar se não se pode manter?

Embora o Art.1 do Decreto Nº 6.403 do IPHAN, referente à Isenção Tributária

(1986, p. 1) que:

Os imóveis de interesse histórico, arquitetônico, cultural, e ecológico ou de preservação paisagística e ambiental, estão isentos de: I – Do Imposto Sobre Serviço (ISS) de qualquer natureza, no que se refere as obras ou serviços de reformas, restauração ou conservação de prédios, visando a recolocá-los ou mantê-los em suas características originais; II – Do Imposto Predial e Territorial Urbana (IPTU), desde que respeitadas as suas características originais e mantidos em bom estado de conservação.

O Plano Diretor de Concórdia, não contempla nenhuma ação que incentive a

preservação por parte da iniciativa privada, não oferecendo vantagens fiscais ou

outras que possibilitem ao seu proprietário manter seu patrimônio, fazendo com que

a demolição seja atrativa e a especulação imobiliária tenha maior apelo, pois quanto

ao uso do solo, gabarito, taxa de ocupação, permitem um aproveitamento maior do

terreno, apenas regulamenta quanto as ações de tombamento, o que muitas vezes

não protege o patrimônio.

Na seção VII, p. 21, artigo 40, do mesmo plano, que discorre sobre demolição

voluntaria, não impõe qualquer restrição quanto a demolição de edificações de

interesse cultural, histórico ou arquitetônico.

Diante disto, em 2004 foi demolido o edifício do antigo Hospital São Pedro, no

centro, uma referencia na paisagem da cidade. Municipalidade e proprietários não

dialogaram e como não há incentivos a demolição, deu lugar a um edifício onde o

aproveitamento dos benefícios do gabarito e taxa de ocupação suplantaram a

arquitetura de importância histórico cultural, não percebida naquele momento, mas

lamentada posteriormente.

O que tem ocorrido ao longo dos anos, são ações isoladas de tombamento,

que protegeram algumas edificações públicas e algumas árvores, porém na esfera

privada teve apenas a volumetria do edifício da Sociedade Porvir Científico tombada,

mais recentemente a preocupação em tombar a Praça Dogello Goss, por parte da

Associação dos Arquitetos e Engenheiros de Concórdia – AECON, preservando seu

conjunto evitando a descaracterização que sucessivas reformas têm promovido na

praça. Dessa maneira, se a população se mobilizar, poderá ocorrer a preservação

da paisagem edificada formando um conjunto de interesse turístico para a região.

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5.4 Contextualização da paisagem edificada pelo reg istro de imagens e DSC’s

de residentes e turistas

Conforme descrito no capítulo 2, o conceito da “Visão Serial” de Gordon

Cullen (1971), empregado para analisar as imagens deste estudo: a OPTICA, o

LOCAL e o CONTEUDO, por meio de registro fotográfico e, o discurso (DSC’s) de

Lefevrè e Lefevrè (2003), como forma de representação interpretativa, enquanto

mediador de leitura, significação e representação do real. Foram criadas cinco

categorias para atender aos objetivos da pesquisa, sendo elas:

A primeira categoria trata da (1) apropriação do espaço urbano, que traz os

elementos constituintes da morfologia urbana descrito por Lamas (2004). A segunda

categoria é a (2) percepção do objeto de estudo, que inclui o pensamento e as

ações, que Santanaella (2000) interpreta como algo diverso da significação, onde o

próprio objeto irá determinar a representação, seja ela externa ou imediata ao

objeto, no qual o juízo é formulado a partir da percepção. A terceira categoria

contempla o (3) patrimônio edificado, que de acordo com Yázigi (2001) e Choay

(2001) pode servir como identificador de monumentalidade. Boullón (1985) dará

suporte a quarta categoria (4) marco referencial e, a última categoria, a da (5)

significação, constitui uma ideia, uma representação mental, ou seja, uma copia de

objetos concretos, que de acordo com Santanaella (2000), os signos não são

capazes de abarcar a totalidade do objeto representado apenas um determinado

aspecto, podendo afirmar, que não existe um limite de interpretações possíveis sob

um mesmo objeto, sendo que o mesmo pode gerar diferentes significados.

Neste sentido, o conceito de Cullen (1971) vem corroborar com os demais

autores utilizados como arcabouço para elencar as categorias de análise, dando

sentido a interpretação da paisagem urbana como uma sucessão de surpresas e

pontos de vista diferentes, que estão exemplificados em quadro síntese das

entrevistas e DSC’s dispostos no final de cada análise (residentes e turistas), na

sequencia deste capítulo. Sendo que, estas categorias elencaram a significação e

(1)

Apropriação do espaço

urbano

(2)

Percepção do objeto de estudo

(3)

Patrimônio edificado

(4)

Marco referencial

(5)

Significação

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retrataram a percepção dos respondentes, tornando possível a identificação da

potencialidade turística do objeto de estudo em questão.

5.4.1 Análise de imagens dos residentes

Segundo Serpa (2007) os usuários não tem grande importância no momento

da elaboração e da implantação dos espaços públicos, mas as práticas espaciais e

as estratégias de representação acabam contribuindo por meio do discurso de seus

usuários, com a apropriação do espaço. Desta forma, os espaços tornam-se parte

integrante do dia a dia dos moradores, formas de linguagem, como a do corpo, dão

origem às práticas de apropriação espacial.

A população residente de Concórdia estabelece uma relação de apropriação

do espaço da Praça Dogello Goss, evidenciado pelas entrevistas e imagens

registradas nesta pesquisa. Relação essa, que não ocorre com os turistas, fato que

pode ser explicado pela ausência de ações públicas que transformem a praça em

um atrativo turístico.

Para Lamas (2004) o elemento morfológico praça constitui o símbolo maior da

ocupação urbana como lugar de encontro e das relações sociais, do lazer, entre

outros. Segundo os residentes, o entorno da Praça Dogello Goss praticamente se

funde, na mesma percepção do autor, pois forma o conjunto da paisagem urbana

central da cidade de Concórdia. Ao analisar o objeto de estudo por meio da

categoria de análise a ÓPTICA (CULLEN, 1971), percebe-se o significado do espaço

e das edificações para os residentes, como forma de apropriação do espaço.

Conforme descrito pelos residentes no decorrer do tempo, surgem surpresas e

revelações na paisagem urbana que trazem a tona, a história do seu povo, que são

perceptíveis no discurso dos mesmos quando citam: “[...] a arborização septuagenária

que encanta [...] Câmara de Vereadores que é o orgulho da cidade” (Respondente 5);

“Espaços e edificações que possuem grande significado para a cidade [...]” (Respondente

8); “[...] cada elemento carrega muita simbologia” (Respondente 12); “[...] todas as imagens

fazem parte da história de Concórdia” (Respondente 13).

Ainda no sentido de apropriação do espaço, outros residentes evidenciam a

ausência de ações públicas que valorizem o local “[...] as pessoas não valorizam o local

onde vivem [...]“ (Respondente 9), ao mesmo tempo em que afirma que o local [...]

representa parte da minha história”. Isto é, ao mesmo tempo que se apropria do lugar,

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acredita que não existe o cuidado necessário, e sendo assim, suas lembranças do

passado correm o risco de não serem preservadas.

Seguindo a categoria de análise de Cullen (1971) referente ao LOCAL,

buscou-se compreender a percepção do residente quanto ao objeto de estudo,

perguntando como o respondente percebia a Praça Dogello Goss e seu entorno. O

fato dos residentes registrarem as imagens que fossem significativas sob o seu

ponto vista, através da lente da máquina fotográfica, permitiu que o discurso dos

mesmos, fosse carregado com a carga emocional contida nas imagens. Emoções

onde o fator histórico e o simbolismo traduzem a percepção dos respondentes

evidenciadas nas seguintes citações: “[...] minha percepção mudou um pouco, pois

passei a observar com emoção, a mudança de coisas que fizeram parte do meu cotidiano

desde criança” (Respondente 1); ”Ponto histórico, belo e um dos principais da cidade”

(Respondente 2); “[...] lugar tranqüilo e aconchegante” (Respondente 3); “Ponto de encontro

das pessoas [...]” (Respondente 5); “[...] representa paz, infância. Cumplicidade da natureza

com o antigo e o moderno” (Respondente 6); “[...] espaço ímpar e diferenciado [...]”

(Respondente 11); “Considero a Praça um símbolo de Concórdia, embora tenha sido nos

últimos anos descaracterizada [...]” (Respondente 13), discursos que mostram a

percepção dos residentes, quanto à mudança do espaço, retratando a história e as

transformações sofridas ao longo dos anos.

A outra categoria de análise de Cullen (1971) sob o CONTEÚDO refere-se ao

patrimônio edificado e sua monumentalidade, da Praça Dogello Goss e entorno,

assim como, o marco referencial, registrado através da imagem marcante no cenário

pesquisado. Imagens que chamam a atenção, com o intuito de mostrar os pontos

históricos, diversidade de plantas, texturas, cores e fachadas, que segundo Cullen

(1971) marcam a individualidade do espaço. Boullón (1985) corrobora dessa

premissa, quando apresenta os elementos de estruturação morfológica com a leitura

do espaço pelo PONTO NODAL, no qual os espaços abertos e cobertos de uso

público permitem aos residentes e turistas transitarem livremente, como é o caso da

Praça Dogello Goss. Castrogiovanni (2002) também compartilha dessa ideia,

quando cita que os caminhos são parte das paisagens.

A praça representa paz, infância, e uma cumplicidade da natureza com o

antigo e o moderno, porém, a impressão é que luta para sobreviver no meio da

poluição e a perda da originalidade, com as intervenções sem critério, tanto no seu

interior como no entorno, alterando a paisagem. A cidade se renova, mas também se

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descaracteriza. As cidades antigas que conseguiram selecionar alguns dos

elementos de sua paisagem foi por conhecerem traços de resistência desde tempos

passados, isso não significa que recusaram os novos valores, mas que mantiveram

e reinterpretaram os antigos no contexto dos novos, como comenta Yázigi (2001).

As construções antigas estão impregnadas de história o que lhe confere

monumentalidade e a convivência com a cidade, especificamente no espaço da

Praça Dogello Goss e entorno, facilitando a identificação deste aspecto.

O tombamento de algumas edificações e árvores, como o prédio da Câmara

de Vereadores e o Colégio Deodoro, reforçam a monumentalidade, mas requerem

maior atenção dos órgãos competentes, para preservação, manutenção e

dinamização destas construções. Existe percepção e preocupação quando os

respondentes colocam que a municipalidade deveria ter mais ações quanto a

preservação da memória histórica da cidade. Porém os respondentes não se

posicionam cobrando as ações dos órgãos competentes, nem sequer levam ao

COTESPHAN, órgão ligado ao município, que faz parte dos encaminhamentos

quanto a preservação dos bens materiais e imateriais do Município.

A fonte luminosa no centro da Praça Dogello Goss é um dos pontos

marcantes no cenário da Praça Dogello Goss e entorno, a noite quando ligada traz

todo significado com os efeitos de luzes e águas, emitindo uma sensação mágica.

As edificações do entorno da Praça, bem como o piso em mosaico português, a

concha acústica, são percebidas no cenário, a aglomeração das árvores tipuanas,

esse conjunto marcam também a paisagem da cidade.

História, arquitetura e natureza em consonância com a paisagem urbana da

cidade de Concórdia, ressaltando a importância destes espaços para os residentes

onde a praça, local de encontro, comemorações e eventos, relembra a infância das

brincadeiras no seu interior, nos finais de tarde, nos passeios pelos caminhos de

mosaico, e contemplação das águas coloridas que se projetam do chafariz ou das

árvores como plano de fundo, e suas “veias” de segurança para a tecnologia da

iluminação elétrica. O leão alado que remete a cultura italiana, tão influente na

região protege simbolicamente a entrada da Praça, porém, a falta de coerência e

planejamento para tal, deixa o espaço poluído e as poucas imagens que restam,

poderiam contar a vida de uma cidade.

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Quadro1: Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 1

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 2: Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 2

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 3: Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 3

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 4: Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 4

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 5: Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 5

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 6: Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 6

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 7: Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 7

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 8: Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 8

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 9: Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 9

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 10: Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 10

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 11: Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 11

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 12: Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 12

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 13: Síntese da entrevista e análise do DSC – Residente 13

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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5.4.2 Análise de imagens dos turistas

Os respondentes turistas tem uma percepção bem mais dura em relação a

praça Dogello Goss e seu entorno, o que confere um posicionamento muitas vezes

desapegado de emoção pois seu posicionamento no espaço é apenas como

visitante, não tendo uma ligação com tempo e historia do local, por outro lado

apontam como atrativa para o turismo, criando uma situação contraditória em certos

momentos, como podemos observar nas seguintes citações:“[...] simplesmente tomei as

imagens que me interessaram de algum modo...simplesmente tomei as imagens que me

interessaram de algum modo...( respondente 2)[...] ela não identifica culturalmente com a

cidade, nem histórico nem cultural, poderia estar em qualquer cidade....” (Respondente 9); ”

“O turismo tem no território, sua principal matéria prima. Se os territórios

deixarem de ser uma produção de seus usuários, compromete o próprio processo de

produção de capital no turismo” (ANJOS, 2004, p. 154).

Se o território não expressa uma possibilidade turística sua capacidade de

atratividade se perde, não permitindo mais que visitações por conta de

deslocamentos sem a intencionalidade da visitação ao local.

A observação despreocupada com o local, apresentou a bagagem histórica

contida nos objetos, mostrando que o passado e o presente compõe a expressão do

espaço central da cidade.

Essa mistura de antigo e novo produz uma sintonia, harmonizada com o

natural da massa verde da praça com o seu entorno edificado.

A história e a cultura representadas através das construções dão suporte para

a identidade da cidade.

A praça é uma referência para as pessoas, bem cuidada, as plantas são

bonitas percebe-se que ela é usada com freqüência pelos residentes.

Porem, outros turistas percebem a praça como um espaço sem identidade e

que poderia estar em qualquer cidade. Isso reflete o desapego destes respondentes

como a historia local, não agregando valor a sua paisagem.

Essa discussão surge também em relação ao entorno, que tem exemplares

arquitetônicos de diversas épocas, porem sem um gabarito definido, o que torna a

paisagem sem identidade.

Pode-se considerar monumentos pelas homenagens subscritas nestes

espaços construídos ou naturais, para alguns turistas os obeliscos são portadores da

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historia e cultura local. Outra ponto levantado pelos respondentes turistas, é em

relação a igreja católica que apesar do mau gosto e descuido com o projeto

arquitetônico pode ser considerada monumento na paisagem da cidade.

São marcantes na paisagem da cidade a praça com sua massa vegetal que

se funde com o jardim da prefeitura, a concha acústica descrita como o “abacate“

por sua cor verde, o chafariz com o balé de águas coloridas, bem como as

construções ao seu arredor destacando a Câmara de Vereadores, que se torna

visível por sua localização e presença na paisagem. Nesse sentido Boullon (1985)

relaciona como Marco Divisório, objetos, artefatos urbanos e edifícios que, por sua

dimensão e qualidade de forma, se destacam no conjunto, atuando como pontos de

referencia externa ao observador. Tem como requisito para enquadrar-se nesta

categoria o contraste e podem também ser atrativos turísticos. Caso das tipuanas e

da torre da igreja católica que são visíveis de vários pontos da cidade.

O contraste da paisagem construída com a natural onde a luz do fim de tarde

projetada neste cenário minimiza o caos urbano, reforça a historia agregada a

arquitetura e permite uma leitura que para alguns respondentes tem identidade com

o local e outros não. Isto é entendido quando analisamos o OPTICA por Cullen

(1971) o percurso revela diversos pontos de vista, considerando que o nível

científico ou comercial a cidade se constitui em um todo, na analise de perspectiva

visual, temos a imagem existente e emergente. Que de um modo geral parecem aos

observadores como fatos gratuitos.

A observação do aqui e ali, nos registros fotográficos produzem ricos espaços

cheios de efeitos que permitem múltiplas leituras, percebidas por quem vem de fora

sem o envolvimento emocional, chamado por Cullen (1971) de LOCAL.

A imagem que contempla a vegetação da Praça Dogello Goss, com a grande

figueira representa bem a cidade, bem cuidada, trazendo a bucólica melancolia

deste refugio no meio da correria do dia-a-dia. Resposta de um turista quando

questionado acerca da significação de uma das imagens feitas pelo respondente.

Que segundo o CONTEÚDO descrito por Cullen (1971), sua escala, natureza, estilo

a indivudualiza. E transmite um recado que em meio ao crescimento há a

necessidade de preservação e a pausa para o laser.

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Quadro 14: Síntese da entrevista e análise do DSC – Turismo 1

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 15: Síntese da entrevista e análise do DSC – Turismo 2

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 16: Síntese da entrevista e análise do DSC – Turismo 3

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 17: Síntese da entrevista e análise do DSC – Turismo 4

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 18: Síntese da entrevista e análise do DSC – Turismo 5

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 19: Síntese da entrevista e análise do DSC – Turismo 6

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 20: Síntese da entrevista e análise do DSC – Turismo 7

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 21: Síntese da entrevista e análise do DSC – Turismo 8

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 22: Síntese da entrevista e análise do DSC – Turismo 9

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 23: Síntese da entrevista e análise do DSC – Turismo 10

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 24: Síntese da entrevista e análise do DSC – Turismo 11

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 25: Síntese da entrevista e análise do DSC – Turismo 12

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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Quadro 26: Síntese da entrevista e análise do DSC – Turismo 13

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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5.5 Mapeamento da potencialidade de atratividade tu rística: olhar de residentes

e turistas

De acordo com as imagens registradas por residentes e turistas e pelas

informações extraídas dos DSC’s observa-se que em relação a percepção da

significação da imagem, encontramos pontos de encontro nos discursos dos dois

grupos estudados o gerou um mapa das potencialidades turísticas para a cidade de

Concórdia no recorte da Praça Dogello Goss e entorno.

Berque (1998) adota o sentido psicológico da visão, isto é, situa os indivíduos

no seio de uma cultura, dando com isso, um sentido à sua relação com o mundo. O

sentido que não é o mesmo para cada individuo, pois depende da percepção da

formação cultural de cada um, onde as construções mentais, de importância

insubstituível, apresentam característica de não permanecer no tempo, nem se

generalizam para todos.

Com relação aos bancos da Praça Dogello Goss encontramos o registro da

imagem extraída do discurso do residente pontuando que esta “[...] durante muito

tempo fez parte do meu cotidiano. Era a vista que tinha do meu trabalho durante mais de 20

anos [...]” (Residente 1). Já para o turista a significação é dada pela “[...] melancolia de

uma cidade que apesar de seu desenvolvimento econômico, apresenta traços de cidade

interiorana, com espaços agradáveis que convidam o visitante a sentar e apreciar” (Turista

3). Outro ponto que coincidem os discursos e imagens são em relação as fotos em

que o residente relata “[...] o Leão Alado nos remete a cultura italiana tão importante para

a nossa região” (Residente 8); discurso que aparece na fala do turista “[...] é prova da

presença veneziana no município de Concórdia” (Turista 8).

A paisagem natural é também percebida por residentes e turistas quanto a

significação, que aponta a imagem como: “[...] faz lembrar a infância, pois atualmente

são poucos os lugares que temos o contato com a natureza.” (Residente 2); “[...] árvore

símbolo como plano de fundo e suas ‘veias’ de segurança para a tecnologia da iluminação

elétrica.” (Residente 4); “[...] a árvore além de ser patrimônio histórico eu fotografei junto

dela os meus filhos quando crianças” (Residente 5). Para o turista: “[...] a imagem da

grande figueira representa bem a cidade, uma árvore nova, frondosa e bem cuidada,

amparada ara poder se manter” (Turista 2). A cidade pequena ou não, é um espaço que

pulsa, seduz e incomoda os atores que nela participam, conforme citado por

Castrogiovanni (2001). O autor coloca que a cidade depende do observador e de

suas informações para percebê-la, além do que os olhos podem ver.

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Para o residente as construções no entorno da Praça são importantes

espaços de referência histórica como podemos observar “[...] a escola Deodoro, a

antiga casa dos Irmãos Lassalistas, e parte da Prefeitura, alguns já foram tombados, outros

falta conscientização para que isso ocorra” (Residente 6), opinião compartilhada pelo

Turista 8 quando cita: ”[...] significa a posição social que o seu proprietário possuía, na

ocasião da construção”, o mesmo ocorre com a edificação da antiga farmácia Santo

Antonio, antigo Fórum e Colégio Deodoro assinalados por residentes e turistas

como edificações de interesse histórico para a população local e região.

O chafariz surge em muitos discursos de residentes e turistas, mas como

imagem significativa aparece apenas aos residentes dando sentido aos mesmos, em

suas memórias afetivas, demonstrado pelo no discurso do Residente 7 que cita ”[...]

quando conheci Concórdia, em 1994, uma das coisas que mais me chamou atenção foi o

chafariz [...]”; e confirmado pelo Residente 10 ”[...] era o ponto de encontro nas tardes,

com musicas e as águas coloridas do chafariz”.

Pela análise da imagens percebe-se que a praça com seus aspectos naturais

e construídos é o ponto onde residentes e turistas atribuem maior significação, para

residentes pela memória e vivencias neste local, para turistas por ser um ponto

central de fácil percepção no meio da massa edificada das construções.

Com base nas informações extraídas dos DSC’s e imagens registradas pelos

residentes e turistas, que geraram análise dos dados coletados, foi possível a

construção de um mapa identificado graficamente os espaços que residentes e

turistas apontam como significantes, resultando na visão da atratividade exercida

pela Praça Dogello Goss e entorno (mapa 3).

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Mapa 3: Mapa das potencialidades turística – Registro das percepções de residentes e turistas

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2009)

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6 CONSIDERACOES FINAIS

O objeto de estudo a Praça Dogello Goss e seu entorno, foi analisada por

meio das modificações e transformações ocorridas ao longo do tempo, pelas suas

memórias, vivencias que são pontuadas na paisagem da cidade de Concórdia. Ao

longo do desenvolvimento desta pesquisa, foi possível observar que as

características morfológicas da cidade de Concórdia condicionaram a sua evolução,

a Praça teve seu traçado alterado, porém seu formato de 100m X 100m permaneceu

inalterado, uma vez que não havia espaço físico para que se modificasse esse

contexto.

Sendo a paisagem formada por fatos do passado e do presente, a

compreensão da organização espacial, bem como de sua evolução, só se torna

possível mediante a acurada interpretação do processo dialético através do tempo,

pelas categorias de análise empregadas nesta pesquisa – Óptica, Local e Conteúdo,

conforme Cúllen (1971).

O Local compreende o aspecto visível de uma coisa. A Óptica pode ser

entendida como uma tarefa ou atividade esperada de uma forma, pessoa, instituição

ou coisa. O Conteúdo implica a interrelação de todas as partes de um todo, o modo

de organização ou construção. O processo pode ser definido como uma ação

continua, desenvolvendo-se em direção a um resultado qualquer, implicando

conceitos de tempo e mudança. Assim percebe-se que a função está diretamente

relacionada com sua forma, portanto, é vista como uma atividade elementar de que

a forma se reveste.

Existe um conjunto arquitetônico que se preservado e restaurado ainda pode

tornar-se um atrativo turístico para residentes e turistas, percebido por parte dos

respondentes. O espaço urbano possui relação direta com a atividade turística,

como produto para visitação onde os elementos da paisagem passam significados

que são essenciais, na qualificação deste espaço para a prática do turismo, não

apenas por sua dinâmica social e cultural, mas por seus históricos. Wainberg (2000)

pontua que o turista busca os elementos da paisagem, os espaços construídos, o

movimento da vida e, da cultura do local visitado.

Para se compreender o espaço social em qualquer tempo, é fundamental

tomar em conjunto o Local, a Óptica e o Conteúdo, como se tratasse de um conceito

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único. Não se pode analisar o espaço através de um só desses conceitos, ou

mesmo de uma combinação de dois deles. Se examinarmos apenas a Óptica e o

Conteúdo, eliminando o Local, perderemos a história da totalidade espacial,

simplesmente porque a Óptica não se repete duas vezes. Separando o Conteúdo e

Óptica, o passado e o presente são suprimidos, com o que a ideia de transformação

nos escapa e as instituições se tornam incapazes de projetar-se no futuro. Examinar

Local e Óptica sem Conteúdo pode resultar na compreensão de uma sociedade

inteiramente estática, destituída de qualquer ação.

O arcabouço teórico utilizado serviu para que se obtivesse respostas mais

precisas quanto a análise da paisagem da Praça Dogello Goss e seu entorno.

Autores como Cullen (1971), Boullón (1985; 2002), Yázigi (2001; 2002), Santanaella

(1998), Castrogiovani (2001) e, Lefévre e Lefévre (2003; 2005), foram utilizados

dialogando entre si, com o propósito de verificar o potencial turístico do objeto de

estudo.

O turismo é o setor que mais cresce em toda sociedade, indiferente a

escassez histórica, os países estão se abrindo para o turismo. Trigo (1996) destaca

que o interesse das pessoas pela história, arte e cultura em geral tem gerado

grandes projetos integrando turismo e cultura. A paisagem urbana de Concórdia

possui símbolos que percebidos pelos turistas podem produzir um novo

descobrimento, um renascer da cidade. Apesar de sua verticalização, a cidade ainda

produz momentos de pura contemplação, bucólica e interiorana, que refletem as

características da cultura local.

A arquitetura religiosa é marcada por muitos santuários circunscritos na área

urbana, como também pela igreja de Pinheiro Preto, relocação bem sucedida com

arquitetura em madeira e que hoje serve como museu. Também na área urbana esta

o Memorial Attílio Fontana – espaço cultural e de grande afluxo de residentes e

visitantes e o museu municipal Hermano Zanoni.

A Praça Dogello Goss, com sua fonte sonora luminosa e seu entorno com

bens tombados, é um dos marcos referenciais da cidade de Concórdia e muito

utilizada pela comunidade em eventos e manifestações artísticas, culturais e

políticas.

Constatou-se, que o município possui uma eficiente e atrativa rede de hotéis

para o conforto dos turistas, como também restaurantes temáticos com boa

gastronomia. Conta com o Convention & Visitors Bureau Águas do Alto Uruguai que

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proporciona a divulgação do município em feiras e eventos relacionados ao turismo.

No entanto, percebe-se que a cidade não atenta para a potencialidade e o

significado de sua paisagem urbana como atrativo turístico. No momento, apenas

veicula duas rotas no interior do município como turísticas: Caminho do Engenho e

Caminho da Roça. A sede do Convention & Visitors Bureau está no entorno da

Praça Dogello Goss e as saídas para as rotas mencionadas também se dão na

praça, o que ratifica esta análise de potencial turístico.

Quando os residentes e turistas percorrem os espaços da Praça e seu

entorno, descobrem múltiplas sensações percebendo a cidade como uma ocorrência

emocionante no meio em que se situa. Pela semiótica compreende-se os marcos

referenciais, os signos contidos nas imagens registradas que relacionam as

características afetivo-simbólicas destes elementos que compõem a paisagem.

As imagens e imaginário dos registros de residentes e turistas ampliam a

discussão da valoração do patrimônio arquitetônico bem como do conjunto da

paisagem e pela busca da identidade do local, sem esquecer a legislação que trás

as questões da aplicação da lei na preservação e conservação de bens de interesse

histórico. A questão patrimônio teve seu inicio com Dom Pedro II, mas efetivamente

é retomado nos anos de 1920 com a Semana de 22 com o Movimento Modernista

no Brasil. Desse modo, se faz necessário estabelecer uma política de incentivos que

estimulem a preservação de fato destas edificações de interesse histórico cultural

para o município.

Para os residentes, a Praça Dogello Goss se apresenta como um espaço de

encontro, lazer, memória onde muito de suas vivencias na cidade passam por ela,

bem como, seu entorno está marcado na memória que através da lente fotográfica

foram externadas, muitas dessas imagens foram negligenciada pela correria do dia.

Outra observação é em relação à importância de manter viva essa paisagem,

cobrando ações por parte dos órgãos competentes. A nostalgia suscitada por

residentes nos faz perceber que um espaço tem cargas informativas, que através do

tempo devem ser preservadas para que consiga uma leitura histórico – cultural onde

esses atores conseguem se reconhecer e dar sentido ao seu dia a dia.

Pelo olhar dos turistas, tem-se dois grupos, o primeiro percebe a

Praça com identidade, como uma cidade portadora de historicidade e o segundo

aponta como um não lugar, que poderia estar em qualquer cidade, pois não

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percebem os traços únicos que fazem referencia a cultura local. Mas, ressalta a

percepção dos respondentes turistas de que a Praça é um espaço de atratividade

turística. Mesmo não tendo uma ligação cultural, emocional com o objeto os

turistas buscam desvendar os mistérios, a história contida nesses espaços, uma

busca mágica, que possa identificar a forma de viver desses atores, fazendo com

que seu cotidiano passe a ser o do visitante em questão. Essa identificação,

possibilita uma opinião mais critica em relação ao espaço e contribui para que a

paisagem se mantenha como atrativo para todos que ali se encontram. Os dados

pesquisados e analisados reforçam a possibilidade da paisagem edificada da

Praça Dogello Goss, ser considerada um atrativo turístico. Consequentemente o

planejamento de ações integradas, que incluem a Praça na rota com atrativo

urbano, é uma alternativa para o incremento do turismo e desenvolvimento

local.

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICE

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APÊNDICE A

Roteiro de entrevista aberta para os residentes e v isitantes do município de

Concórdia - SC

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Programa de Mestrado em Turismo e Hotelaria/UNIVALI

Apresentação e Instruções para Preenchimento da Ent revista

Esta entrevista é parte integrante de uma pesquisa de cunho acadêmico,

realizada para o Programa de Mestrado Acadêmico em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí, tendo como objetivo analisar a paisagem edificada do entorno da Praça Dogello Goss e suas possibilidades de uso como forma de agregar valor ao turismo no município de Concórdia SC.

A coleta de dados para a pesquisa foi desenvolvida em dois momentos,

sendo que, primeiramente, os respondentes foram convidados a registrarem 10 (dez) fotografias da Praça Dogello Goss e seu entorno para, posteriormente, responderem a entrevista individual, por meio eletrônico, garantindo a privacidade e confidência do nome do respondente, os quais serão analisados pelo acadêmico Rudinei Scaranto Dazzi, sob a orientação da Profa. Dra. Josildete De Oliveira Pereira.

O(a) Sr.(a) estará respondendo a entrevista expressando sua opinião pessoal.

Solicito que, ao final, verifique se todas as questões foram respondidas e, desejando, poderá acrescentar outras informações que eventualmente não foram abordadas.

A entrevista possui páginas numeradas de 1 a 3, contendo capa de

apresentação, fotos registradas pelo respondente e, bloco com 5 (cinco) questões abertas. A sua participação é de suma importância para a realização da pesquisa.

Obrigado pela sua colaboração!

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ROTEIRO DE ENTREVISTA ABERTA

Residentes e turistas do município de Concórdia - S C

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Com base nas imagens (fotografias) registradas por você, que se encontram na página anterior, responda as seguintes questões.

1 Ao visualizar a seqüência de imagens registradas, explique o que o motivou a fazê-las.

2 Como você percebe a Praça Dogello Goss e seu entorno?

3 Na sua opinião as edificações que compõe o entorno da Praça Dogello Goss, bem como as da praça, podem ser considerados monumentos?

4 Em relação as imagens fotografadas, existe alguma obra, construção ou qualquer elemento que seja marcante no cenário da Praça Dogello Goss e seu entorno?

5 Selecione uma das imagens fotografadas por você, identificando o número correspondente, e descreva o significado desta imagem.