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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A “VEZ DO MESTRE” O Pensamento Prospectivo em um Estudo da Metodologia de Ensino e da Grade Curricular como Instrumento de Reflexão Por: JOELSON COELHO FAGUNDES Orientador: Prof. ANDRÉ GUSTAVO GUIMARÃES DA CUNHA Rio de Janeiro, Campus Tijuca –RJ. 15 de março de 2002.

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A “VEZ DO MESTRE”

O Pensamento Prospectivo em um Estudo da Metodologia de Ensino e da Grade Curricular como

Instrumento de Reflexão

Por: JOELSON COELHO FAGUNDES

Orientador: Prof. ANDRÉ GUSTAVO GUIMARÃES DA CUNHA

Rio de Janeiro, Campus Tijuca –RJ. 15 de março de 2002.

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A “VEZ DO MESTRE”

O Pensamento Prospectivo em um Estudo da Metodologia de Ensino e da Grade Curricular como

Instrumento de Reflexão

Por: JOELSON COELHO FAGUNDES

Orientador: Prof. ANDRÉ GUSTAVO GUIMARÃES DA CUNHA

Trabalho monográfico apresentado

como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Docência do Ensino Superior.

Rio de Janeiro, Campus Tijuca – RJ. 15 de março de 2002.

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ÍNDICE

RESUMO ........................................................................................................................................................4

INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................5

1 - DIRETRIZES GERAIS DA DISCUSSÃO.............................................................................................7

1.1 - Bases técnico-teórica da proposta.................................................................................. 8

2.- A METODOLOGIA DA AULA E A NECESSIDADE DA PESQUISA ...........................................12

2.1. - O ensino superior no Brasil e seus primórdios ............................................................ 12

2.1.1 -O perfil do professor.................................................................................................... 13

2.1.2 - Currículos seriados, programas fechados ................................................................. 16

2.1.3 - O aluno no processo de ensino em curso superior ................................................... 17

2.1.5 - A formação de profissionais sob a ótica da totalidade............................................... 18

2.1.6 - Desenvolvimento no aspecto afetivo-emocional e das habilidades .......................... 20

2.2 - O Impacto da nova revolução tecnológica sobre a formação de profissionais. ........... 21

2.2.1 - Desafios atuais ao ensino superior. ........................................................................... 22

2.2.2 - Processo de ensino-aprendizagem............................................................................ 23

2.2.3 - O professor como conceptor e gestor de currículo.................................................... 24

3- ELEMENTOS ESSENCIAIS DA PROPOSTA ...................................................................................26

3.1 - Procedimentos metodológicos ...................................................................................... 27

3.1.1 - A contribuição de Skinner e do Behaviorismo ........................................................... 28

3.2 - A Concepção Cartesiana dos Currículos...................................................................... 28

3.3 – A Pedagogia Relacional ............................................................................................... 29

3.4 – A aprendizagem dos alunos e a transmissão de conhecimentos................................ 31

4 - O PONTO DE VISTA SOCIAL ............................................................................................................33

5 - CONCLUSÃO ........................................................................................................................................36

ANEXOS:......................................................................................................................................................38

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS:.......................................................................................................39

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RESUMO

Este estudo é uma pesquisa bibliográfica que objetiva apoiar e demonstrar

a necessidade da introdução de metodologia de ensino que proponha ultrapassar

o dogmatismo do conteúdo, aplicável aos cursos de Ciências Contábeis,

Administração e afins, com foco na “Contabilidade Prospectiva”, de forma a

incentivar a reflexão e o exercício dos conhecimentos proporcionados pela grade

curricular. Os profissionais supracitados têm entre suas responsabilidades

produzir estudos e propostas de soluções que venham apoiar a gestão, mitigar os

riscos, otimizar e demonstrar o retorno dos investimentos, antever a influência do

cenário econômico sobre seus negócios, colaborando para reduzir as tensões dos

agentes envolvidos com o empreendimento - os investidores, financiadores e

administradores. Ocorre que quando a questão é o ensino nesses cursos de

graduação, observa-se pelas grades no final anexadas, que prevalece em um

grande número de escolas o método cartesiano como forma de obter o

conhecimento cientifico. A comunidade acadêmica em geral, começa a discutir o

valor da interdisciplinaridade e do estudo de caso, como forma de inverter esse

processo e romper com o dogma do conteúdo. O pensamento simples e

reducionista, agora, divide espaço com um pensamento mais amplo, em que os

fenômenos são analisados de forma íntegra, respeitando-se a complexidade, a

incerteza, e o aleatório.

A abrangência deste estudo foi restrita à utilização da interdisciplinaridade

em contraponto ao padrão cartesiano no ensino contemplando: (i) evolução

histórica do ensino superior no Brasil e os parâmetros que prevaleceram no

planejamento da grade curricular; (ii) a preparação do corpo docente; (iii) uma

proposta de novas diretrizes para o planejamento da grade curricular (iv) a visão

social do ensino.

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INTRODUÇÃO

Os investidores e administradores não raro, vivem a tensão de gerenciar

um empreendimento para que ele se mantenha competitivo e em condições de

remunerar adequadamente os recursos investidos e o de cumprir sua função

social. É, portanto, mister que a visão de futuro esteja fundamentada em cenários

consistentemente preparados, apoiados em projeções financeiras, que por sua

vez estão baseadas em premissas estudadas, aceitas e confrontadas com a

realidade da conjuntura econômica que afeta a empreitada econômica.

Em geral o planejamento da grade curricular quando está voltado para o

aprendizado técnico – teórico, cartesiano, fragmentado. Que visa uma aplicação

dirigida à gestão da empresa e de negócios e empreendimentos sociais, e inclui

uma ampla variedade de assuntos correlacionados, no objetivo de preparar os

discentes aos desafios que virão do mercado de trabalho. (anexos 1 a 4)

Busca-se com esta pesquisa bibliográfica:

I. Demonstrar a necessidade de vincular o planejamento da grade

curricular desses cursos e os objetivos de qualidade da formação dos

discentes;

II. Discutir a inclusão na grade curricular da graduação em Ciências

Contábeis e Administração de Empresas de um novo pensamento, aqui

denominado de “Contabilidade Prospectiva”, como uma disciplina orientada

à prática de projetar negócios, investimentos em implantação e em

expansão de capacidades produtivas, haja vista o complexo de fazer

projeções no mundo da economia e dos negócios encontra-se, entre os

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III. analistas de mercado de capitais, por exemplo, certo consenso

sobre a utilidade desse importante instrumento de administração e de

planejamento na análise da tendência dos negócios.

IV. Mostrar que essa proposta passa por várias dependências, que

vão da organização da grade curricular do curso até a formação dos

docentes envolvidos, todas com alto grau de viabilidade pelo aspecto

provocador e motivador de sua essência.

V. Justificar que a adoção dessa disciplina na grade curricular dos

cursos de Administração e Ciências Contábeis valida-se como instrumento

de valorização do profissional no mercado de trabalho, considerando-se que

cursos de economia e engenharia de produção já contam com uma

disciplina denominada “elaboração e análise de projetos”, que incluiu todos

os elementos de uma projeção em sua composição, sem, contudo, se firmar

no aspecto gerencial da contabilidade prospectiva que neste estudo se

apregoa.

VI. Considerar que a preocupação tecnicista dos currículos dos

cursos de Administração e Ciências Contábeis não foi suficiente para

perceber a utilidade do conhecimento prospectivo e da elaboração e

análise de projetos, como uma disciplina específica, de cognição,

adequada à necessidade de produzir profissionais que possibilitem ao

empresário-investidor a visualização futura de seus negócios.

VII. Lançar um olhar social sobre os estudantes que investem seu

tempo, dedicação e dinheiro nestes cursos, inferindo-se que provê-los com

ferramentas adequadas de trabalho e de um conhecimento que os inclua no

mercado de trabalho com uma técnica potente, é condição de valorização

social do homem e do profissional.

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1 - DIRETRIZES GERAIS DA DISCUSSÃO

O novo ambiente do mundo dos negócios é marcado pela alta competição

também no mercado de trabalho com igual ou maior intensidade. Urge incluir,

então, competências adicionais ao tecnicismo já tradicional, com ferramentas

inovadoras utilizadas numa direção cada vez mais negocial.

A invenção do futuro, por mais subjetiva que seja, não é uma abstração,

mas a inclusão de um novo pensamento, estrutural, abrangente, no ensino ao

nível de graduação e não só nas pós-graduações, incluindo a disseminação de

novas idéias e o fomento à discussão de estratégias de proatividade em face de

um cenário global complexo e incerto.

O Prof. Lopes de Sá comenta que “diante do panorama atual, de uma nova

realidade internacional, também a realidade brasileira alterou-se. O Contador de

nossos dias deve ter formação cultural humanista bem forte e uma cultura volvida

a saber pensar”.

“O perfil profissional de nossos dias exige que o ensino prepare um

intelectual que tenha condições de orientar as empresas para a prosperidade,

para a eficácia da riqueza”.

“Saber analisar, conhecer a razão do porque ocorrem os fatos, indicar

caminhos para o uso racional da riqueza das células sociais, é a missão do

profissional da atualidade”.(Lopes de Sá, 2002).

Tem-se da teoria contábil que, em resumo, a função da Contabilidade é

prover informação útil para a tomada de decisões econômicas, além de reportar e

registrar a história do empreendimento.

No entanto, enfatizar o “que é útil ou não para a tomada de decisões

econômicas é, todavia, muito difícil de ser avaliada na prática” em conseqüência

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das várias expectativas existentes em cada tipo de investidor ou administrador de

negócios.(Iudícibus 1997)

O investidor busca maximizar seu rendimento (fluxo de dividendos), e

também aumentar o valor da empresa, para a hipótese de venda do controle

acionário ou liquidação da sociedade. Freqüentemente, a maximização do

dividendo por ação e do valor empresa exigem tomadas de decisões, no tempo,

senão conflitantes, pelos menos diferenciadas quanto à ênfase.

Vê-se, portanto, que amparado na técnica contábil pode ser desenvolvida

metodologia adequada, para que outras visões possam ser oferecidas aos alunos

de modo que estes sejam preparados para não só produzir relatórios com

informações sobre os fatos ocorridos, mais também tenham condições de

produzir diagnósticos do futuro dos negócios da empresa ou de projetos de

investimentos para expansão de capacidades.

1.1 - Bases técnico-teórica da proposta

A elaboração de relatórios especiais deve obedecer a uma conceituação

técnica, a princípios fundamentais, para não fugir do campo de abrangência

científico. Assim, vamos analisar o enfoque técnico a partir da teoria já aplicada.

A teoria contábil (Iudícibus, 1997) pode ser encarada sob várias

abordagens. Apresentamos a seguir algumas das abordagens teóricas para

basear as diferentes possibilidades de elaboração de relatórios financeiros.

Abordagem Ética:

“Segundo esta abordagem, a Contabilidade deveria apresentar-se como

justa e não enviesada para todos os interessados. Deveria repousar nas noções

de verdade. Ao mesmo tempo em que todos concordam que a Contabilidade

deveria ser” “verdadeira”, “justa” e “não enviesada”, é muito difícil, como afirma

Hendriksen, definir, objetivamente, o que vem a ser “justo”, “verdadeiro” ou “não

enviesado” (Hendriksen apud Iudícibus, 1997 p. 24).

“Contadores diferentes poderiam ter diferentes idéias sobre tais conceitos.

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Por exemplo, alguns poderiam conceber que todos os usuários seriam bem

servidos se a base de avaliação fosse a custos históricos, na premissa de que

são objetivos e, portanto, verdadeiros, justos e não enviesados”.

“Para outros, todavia, o custo histórico pode ser enviesado em algumas

circunstâncias, no sentido de que não fornece uma avaliação do custo de

reposição dos fatores de produção, na data dos balanços. Isto pode introduzir um

viés no julgamento, e também não seria “justo”, digamos nos preços dos

inventários, por exemplo, deixando de atribuir à gerência o mérito por uma

estocagem antecipada” ( op.cit)

Abordagem Comportamental:

“As informações contábeis deveriam ser feitas “sob medida”. Nesta

abordagem é dada ênfase à forma pela qual os relatórios contábeis são

produzidos mais do que ao desenvolvimento lógico dos demonstrativos. Em

outras palavras, é melhor um procedimento empírico que leve a decisões corretas

do que um procedimento contábil conceitualmente correto que possa levar a uma

decisão ou a um comportamento inadequado. Relata ainda Iudícibus que muita

pesquisa será necessária, ainda, no campo da teoria do comportamento, antes

que esta abordagem possa ser aplicada, com maior intensidade, na

Contabilidade. Informa, no entanto que seu uso é crescente, principalmente na

pesquisa”(Id).

Abordagem Macroeconômica:

“ A contabilidade é semelhante à da teoria do comportamento, porém fixa-

se em objetivos econômicos definidos. Utiliza-se do approach da teoria do

comportamento para atingir determinados fins macroeconômicos. Por exemplo,

durante períodos de recessão, os relatórios contábeis poderiam ser elaborados

obedecendo a um conjunto de princípios que favorecessem uma retomada do

processo econômico, por meio da distribuição de mais dividendos ou de maiores

gastos de capital”.

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“Quem toma as decisões para distribuir mais dividendos ou gastar mais em

termos de expansão, são os administradores, tomadores de decisão. A

contabilidade apenas favoreceria este tipo de política. Por outro lado, o inverso

poderia ocorrer em períodos de expansão exagerada e de conseqüente inflação,

de forma que as práticas contábeis desfavorecessem os investimentos. A maioria

dos países realiza tais políticas de aquecimento ou desaquecimento por

intermédio da política monetária ou da política fiscal, enquanto outros,

principalmente a Suécia, fazem tentativas para basear seus conceitos contábeis

em metas macroeconômicas. Um dos aspectos fundamentais desta abordagem é

reportar lucros relativamente estáveis de período para período, o que é

conseguido por meio de políticas flexíveis de depreciação e de provisões”.

“Da mesma forma que a teoria do comportamento, esta abordagem

apresenta aspectos subjetivos de difícil avaliação à luz do estágio atual do

desenvolvimento da economia. Por outro, por restringir-se à obtenção de

determinadas metas macroeconômicas, que são normalmente determinadas pelo

planejamento central de um país, esta abordagem somente seria viável em

economias altamente planificadas”.

Abordagem Sociológica

“A Contabilidade, nesta abordagem, é julgada por seus efeitos no campo

social. Uma variante dessa abordagem é a chamada Contabilidade Social que

consiste em ampliar a evidenciação contábil para incluir informações sobre níveis

de emprego da entidade, tipos de treinamento, demonstração de valor adicionado

etc. Outra ramificação importante é a Contabilidade Ecológica.”

Abordagem Sistêmica

“Esta parece ser a mais profícua para a Contabilidade, que, de fato, pode

ser conceituada como método de identificar, mensurar e comunicar informação

econômica, financeira, física e social, a fim de permitir decisões e julgamentos

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adequados por parte dos usuários da informação...Realça a noção de relevância,

talvez uma das poucas formas de delimitar a quantidade e a qualidade da

informação prestada; caso contrario, não saberíamos quais os limites a serem

impostos à comunicação e à informação. Envolve um processo de participação

entre usuário e Contabilidade e uma noção sistêmica da Contabilidade dentro do

processo ou sistema de informação empresarial”.

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2.- A METODOLOGIA DA AULA E A NECESSIDADE DA PESQUISA

Neste capitulo apresenta-se o olhar critico sobre as metodologias e as

práticas das aulas. Procura-se constatar que há um novo paradigma na

metodologia do ensino onde a construção do conhecimento é uma combinação de

métodos e técnicas de pesquisa e experimentação. No sistema tradicional, a

prática das aulas é feita pela transmissão e recepção do conhecimento, onde o

professor é quem detém o saber e o aluno é um aprendiz que irá ser conduzido

para adquirir este conhecimento.

2.1. - O ensino superior no Brasil e seus primórdios

Procura-se, assim, organizar um raciocínio apoiado na soma dos

conhecimentos já disponíveis na grade curricular dos cursos já referidos

alavancados sempre em metodologia capaz de obter a mais real possível taxa de

retorno de um projeto ou de fundos adicionais necessários à sustentação do

crescimento da empresa.

A discussão e entendimento dessa forma de avaliação dentro da

graduação, no entanto, passa pela leitura do nosso passado, da história da

educação nos cursos superiores em geral e especial naqueles discutidos neste

estudo. Se não vejamos:

O ensino superior no Brasil começa a partir do modelo europeu, trazido

pelo rei e a corte portuguesa que se transferiu para o Brasil em 1808. Antes, os

brasileiros que se interessavam por cursar universidades faziam-no em Portugal

ou em outros países europeus. Havia uma preocupação da Coroa Portuguesa em

relação à formação intelectual e política da elite brasileira, procurava de todas as

formas manter o Brasil como colônia, e sob controle, para que não se

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manifestassem aqui no Brasil, ideais de liberdade política e econômica, já

disseminados na Europa.

Com a interrupção das comunicações com a Europa, estabelece-se a

necessidade de formação de profissionais com capacidade de atender essa nova

e inesperada exigência de educar as novas gerações.

Surge então na década de 1820 as primeiras Escolas Régias Superiores: a

de Direito em Olinda - Pernambuco; Medicina em Salvador - Bahia e de

Engenharia, no Rio de Janeiro. Mas tarde foram criados outros cursos:

Agronomia, Química, Desenho Técnico, Economia Política e Arquitetura.

Segundo Darcy Ribeiro, em sua obra A universidade necessária, o modelo

inspirador da organização curricular dos novos cursos superiores no Brasil é o

padrão francês, da universidade napoleônica, não transplantado na totalidade,

mas nas suas características de escola autárquica com uma supervalorização das

Ciências Exatas e Tecnológicas, a conseqüente desvalorização da Filosofia, da

Teologia e das Ciências Humanas; com a departamentalização estanque dos

cursos voltados para a profissionalização. Não foi transplantado o conteúdo

político de instituição centralizadora, de órgão monopolizador da educação geral

destinado a unificar culturalmente o país e integra-lo na civilização industrial

emergente.

2.1.1 -O perfil do professor

Inicialmente, pessoas formadas pelas universidades européias, mas, logo

depois, com a expansão dos cursos superiores, o corpo docente precisou ser

ampliado com profissionais das diferentes áreas do conhecimento. Buscavam

profissionais renomados, com sucesso em suas atividades profissionais e os

convidavam a ensinar seus alunos a serem tão bons profissionais quanto eles.

Até a década de 70, embora já estivessem em funcionamento inúmeras

universidades brasileiras e a pesquisa já fosse um investimento em ação,

praticamente exigia-se do candidato a professor o bacharelado e o exercício

competente de sua profissão.

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Havia uma crença, de que quem sabe, automaticamente sabe ensinar.

Felizmente, embora recente, há uma certa conscientização de que, a docência,

como a pesquisa e o exercício de qualquer profissão necessita de qualificação

própria e específica.

O Ensino Bancário

Paulo Freire em sua Pedagogia do Oprimido, adverte que o considerado

ensino “bancário”, em que o professor deposita em seus alunos os conhecimentos

que possui afeta a necessária criatividade do educando e do educador. O

educando a ele sujeitado pode, não por causa do conteúdo cujo “conhecimento”

lhe foi transferido, mas por causa do processo mesmo de aprender, dar, como diz

na linguagem popular, “a volta por cima” e superar o autoritarismo e o erro

epistemológico do “bancarismo” ( Freire, 1979).

E acrescenta que ensinar exige estética e ética onde a necessária

promoção da ingenuidade à criticidade não pode ou não deve ser feita à distancia

de uma rigorosa formação ética ao lado sempre da estética. Decência e beleza de

mãos dadas. Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer, da ética,

quanto mais fora dela. Estar longe ou pior, fora da ética, entre nós, mulheres e

homens, é uma transgressão. Transformar a experiência educativa em puro

treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no

exercício educativo: o seu caráter formador. Se se respeita a natureza do ser

humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do

educando. Educar é substancialmente formar.( Freire, 1996)

Busca-se demonstrar que cabe a ambos se colocar na postura de reflexão

e renovação do saber, com a implicação do professor como elemento de

coordenação e responsabilidade pelo saber a ser alcançado.

O mérito está em tornar a pesquisa algo acessível e necessário, que deve

ser realizada por qualquer estudante, embora em níveis diferenciados conforme a

profundidade almejada.

A ênfase no ensino e na pesquisa da Contabilidade Prospectiva, apoiada

pela teoria em suas várias abordagens possibilitará ao estudante não só a

interação com realização de pesquisas teóricas ou teórico - práticas como postura

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avançada e de busca do saber, bem como o exercitar de todos os conhecimentos

adquiridos ao longo de todo o curso.

O professor Doutor Antonio Lopes de Sá, em suas Diretrizes e Bases de

uma Metodologia Geral no Curso de Ciências Contábeis (Sá 2002:.2), orienta

que:

“O reforço da cultura geral exige que as cadeiras sejam lecionadas com o

fim de ampliar o conhecimento do homem e do conteúdo de sua mente, quer no

lógico, quer no extralógico, com destaque para o social.”

E acrescenta:

“A finalidade do conhecimento contábil é a eficácia da riqueza, ou seja, a

satisfação das necessidades das células sociais, onde o homem é o centro e a

riqueza o meio indispensável”.

A Contabilidade Gerencial Prospectiva e/ou a elaboração e a análise de

projetos de investimentos de qualquer natureza, exigem de seus participantes,

conhecimentos de administração, informação sobre a tecnologia aplicável,

pesquisa do mercado a ser explorado e seu padrão de concorrência, da estrutura

financeira dos agentes do investimento, do custo tributário do investimento em

seus vários aspectos, do impacto ambiental no local da implantação do projeto e

de todo o percurso do produto desse projeto na sociedade. Todas essas

pesquisas enriquecerão a visão do aluno sobre a utilidade da aplicação desses

conhecimentos no seu mercado de trabalho, transformando-o em profissional

valorizado e permanentemente atualizado.

O ex-Diretor do Banco Central do Brasil, prof. Contador Nelson Carvalho

alerta que:

“Acabou-se definitivamente, a época do Contador preso entre quatro

paredes esperando que dados e documentos lhe sejam trazidos pelo pessoal

operacional: ou o Contador moderno torna-se, ele mesmo, operacional, ou torna-

se desnecessário, substituído por computadores e outras máquinas”. E diz ainda

que “A primeira fase do processo de planejamento estratégico, aqui também

sugerido como o processo de tentar ver o futuro, requer virtudes que são, ou

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deveriam ser, inerentes ao perfil profissional do Contador, e devemos estar

preparados para ela, cada vez mais, no próximo milênio”.(Carvalho, 1999)

A identificação do retorno de um investimento é uma atividade permanente.

Há que considerar-se então que uma adequada previsão dos custos, de toda

ordem, que recaia sobre um projeto/negócio tenham que apresentar adequada

metodologia de estudo para que nenhum elemento de custo relevante seja

desprezado e os indicadores de retorno do capital revelem a realidade de seu

potencial e demonstre-se comparativa a outros projetos de investimentos

similares

Ensina Eudícibus, que as variedades de possibilidades técnicas

possibilitam que, por exemplo, ao ser a questão do empresário procurar ver

maximizado seu rendimento (dividendos por ação), as entradas liquidas de caixa

futura talvez sejam o insumo informativo mais importante, enquanto que por outro

lado pode ser fornecido um outro conceito de lucro contábil, expresso em termos

de custos de reposição, que pode ser o mais adequado ao seu objetivo.

Se, mesmo no contexto de um único tipo de agente decisório, a

Contabilidade freqüentemente tem necessidade de contar com um conjunto

básico de informações bastante diferenciadas, o que dizer, então, dentro de um

quadro mais amplo de vários tipos de usuários da informação contábil como no

caso de uma empresa de capital aberto?

Por exemplo, o desejo de maximização de fluxos de caixa aparece muitas

vezes sendo um tipo de informação que os relatórios financeiros publicados não

contêm. Todas essas questões vêm como elemento de análise na Contabilidade

Prospectiva.

2.1.2 - Currículos seriados, programas fechados

O currículo ou o plano de estudo é o ponto de partida onde a escola

estrutura seu interesse e modelo de ensino. Muitas são as abordagens e visões a

respeito desse tema que desperta situações altamente conflituosas.

“O currículo tem sido o fulcro das discussões, nas últimas décadas, sobre a

concepção e as características dos Cursos de Graduação em Ciências Contábeis.

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Não há dúvida sobre a importância do currículo na estrutura do curso, embora

reconheça a existência de outros fatores igualmente importantes no que respeita

à qualidade da formação acadêmico-profissional, como o corpo docente, as

técnicas didáticas empregadas, os recursos bibliográficos disponíveis, os meios

computacionais à disposição, o tempo médio de permanência dos estudantes na

instituição, os procedimentos de avaliação e aprovação, e muitos outros fatores

mais. Ainda assim, é provável que a maioria dos professores perfilhe a tese de

que o currículo persista como o fator mais importante no que concerne à

qualidade do curso. No entanto, parece claro, que qualquer reforma deverá

contemplar a metodologia de ensino, o que implicará a diminuição das aulas

expositivas massificadas e a prevalência de grupos reduzidos de discussão”.(

(Koliver, 1999)

Como se vê a questão da organização curricular perpassa um grande

espectro filosófico. O professor livre-docente da USP e professor titular da PUC-

SP, Marcos Tarcísio (Masetto,1995) nos ajuda em todo este capitulo com seu

estudo: O professor Universitário: um profissional da educação na atividade

docente:

As faculdades criadas e instaladas no Brasil, desde seu início e nas

décadas posteriores, voltaram–se diretamente para a formação de profissionais

que exerceriam uma determinada profissão. Currículos seriados, programas

fechados, que constavam unicamente das disciplinas que interessavam imediata

e diretamente ao exercício daquela profissão e procuravam formar profissionais

competentes em uma determinada área ou especialidade. Mas o exercício

docente no ensino superior exige competências específicas, que não se

restringem a ter um diploma de bacharel, ou mesmo de mestre ou doutor, ou

ainda, apenas o exercício de uma profissão. Exige isso tudo, além de outras

competências próprias. ( Masetto, 1995)

2.1.3 - O aluno no processo de ensino em curso superior

Currículos para formar profissionais. Os planos de ensino (currículos)

caracterizavam-se por um rol imenso de conteúdo cada vez maiores e mais

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específicos, porque mais atualizados, a serem transmitidos aos aprendizes, e por

uma prática que permitisse o desenvolvimento de algumas habilidades

profissionais.Com a consciência crítica de que o processo de aprendizagem é o

objetivo central dos cursos de graduação, a própria maneira de conceber a

formação do profissional também passou por uma transformação.

Mesmo que toda a organização curricular do ensino superior no Brasil

estivesse voltada para a transmissão de conhecimento e experiências de

profissionais e, por isso mesmo, a grande preocupação sempre girasse em torno

de encontrar professores competentes para ensinar, sem dúvida, o aluno-

aprendiz não se colocava fora dos horizontes desse ensino. Pretendia-se formar

profissionais. E aprender significava, em geral, a capacidade de repetir em provas

o que o professor havia ensinado em aula. Quando “o aluno fosse mal nas provas

e, por conseguinte, não fosse aprovado, a responsabilidade dessa situação era

atribuída unicamente ao aluno que não havia estudado, que não tinha

freqüentado as aulas, que não estava apto para seguir aquele curso, que não

havia sido bem selecionado, e assim por diante”. Mas, “em nenhum momento, por

exemplo, perguntava-se se o professor tinha transmitido bem a matéria, se havia

sido claro em suas explicações, se estabelecerá uma boa comunicação com o

aluno, se o programa estava adaptado às necessidades e aos interesses dos

alunos, se o professor dominava minimamente as técnicas de comunicação. Isso

tudo, aliás, era percebido como supérfluo, porque, para ensinar, era suficiente que

o professor dominasse muito bem apenas o conteúdo da matéria a ser

transmitida”. (Masetto, 1995)

2.1.5 - A formação de profissionais sob a ótica da totalidade

Parte-se do princípio de que as instituições de ensino superior, como

instituições educativas, são parcialmente responsáveis pela formação de seus

membros como cidadãos (seres humanos e sociais) e profissionais competentes.

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Isso tem uma conseqüência. As faculdades e universidades surgem como

locais de encontro e de convivência entre educadores e educandos, que

constituem um grupo que se reúne e trabalha para que ocorram situações

favoráveis ao desenvolvimento dos aprendizes nas diferentes áreas do

conhecimento, no aspecto afetivo-emocional, nas habilidades e nas atitudes

valores.

Aquisição, elaboração e organização de informações, acesso ao

conhecimento existente, relação entre o conhecimento que se possui e o novo

que se adquire, reconstrução do próprio conhecimento com significado para si

mesmo, inferência e generalização de conclusões, transferência de

conhecimentos para novas situações, compreensão dos argumentos

apresentados para defesa ou questionamento de teorias existente, identificação

de diferentes pontos de vista sobre o mesmo assunto, emissão de opiniões

próprias com justificativas, desenvolvimento da imaginação e da criatividade, do

pensamento e da resolução de problemas. Desenvolver um saber integrando os

conhecimentos de uma área específica com os de outras áreas, de forma

interdisciplinar, voltada para os compromissos sociais e comunitários.

“Essas instituições, que deveriam ser usinas geradoras de desenvolvimento

contábil, de conhecimento, de competência contábil e, porque não dizer, de

excelência contábil, por falta de pesquisas, que são a alma da universidade,

transformam-se em apenas fios condutores de energia gerada. Transmitem o

conhecimento através de mera cópia daquilo que já existe. Não criam, não

inovam, não ensinam os alunos a construir conhecimento, somente expondo-os

aos meios de informação para adquiri-los, não indo além disso. Ensinando-os a

operacionar as informações para, a partir delas, chegar aos conhecimentos, os

professores tornam-se mediadores entre a sociedade da informação e os alunos,

possibilitando o desenvolvimento da reflexão, o caminho para adquirir a sabedoria

necessária à permanente construção do humano.”( Marion, 1999)

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2.1.6 - Desenvolvimento no aspecto afetivo-emocional e das habilidades

Crescente conhecimento de si mesmo, dos diferentes recursos que possui,

dos limites existentes, das potencialidades a serem otimizadas. Para as

faculdades e universidades admitir essa dimensão de aprendizagem significa abrir

espaços para que sejam expressos e trabalhados a atenção, o respeito, a

cooperação, a competitividade, a solidariedade, a segurança pessoal – superando

as inseguranças próprias de cada idade e de cada estágio –, a valorização da

singularidade e das mudanças que venham a ocorrer, e um relacionamento cada

vez mais adequado com o ambiente externo.

O que se faz com os conhecimentos adquiridos e com as experiências

vividas no ensino superior? Alguns exemplos já estão contemplados no

desenvolvimento da área cognitiva (relacionar conhecimentos e informações,

organizar, generalizar, argumentar, deduzir, induzir etc.). Além desses,

poderíamos exemplificar: aprender a trabalhar em equipe, comunicar-se com os

colegas e com pessoas de fora de seu ambiente universitário e presentes em seu

ambiente de trabalho profissional, fazer relatórios, realizar pesquisas, usar o

computador, elaborar trabalhos individuais dos mais diferentes tipos, aprender

com situações simuladas e com atividades em locais próprios de trabalho e em

situações comunitárias.

Encontramo-nos, aqui, no aspecto mais delicado da aprendizagem de um

profissional. É o seu coração, em geral, o menos trabalhado pela universidade.

Seu coração porque, enquanto esse aspecto não for trabalhado, modificações

significativas de aprendizagem também não acontecerão.

Dois exemplos:

“No primeiro deles, um grupo de professores da faculdade de engenharia,

se discute o seguinte: diante de uma determinada situação que exige uma

intervenção técnica de engenharia, é suficiente que os futuros profissionais

conheçam as diferentes opções, identifiquem a melhor dentre elas do ponto de

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visto técnico, aprendam a realizá-la e a executem, sem levar em conta outras

situações como, por exemplo, o efeito sobre a população local, a flora ou a fauna

da região? Se a resposta for um “sim”, eu diria que esses futuros profissionais

são, talvez, técnicos de engenharia, mas não profissionais-cidadãos. Faltam-lhes

valores políticos e sociais.”

O segundo exemplo é do curso de medicina das universidades McMáster,

no Canadá, e Harvard, nos Estados Unidos, que se reestruturaram

completamente em termos curriculares, colocando como um dos pilares da

formação dos médicos a dimensão ética, não como uma disciplina a mais, mas

como uma dimensão que está presente em todas atividades estudantis e

profissionais do profissional de saúde.

Por aprendizagem de atitudes e valores queremos dizer a necessidade de

os cursos superiores se preocuparem com o fato de que seus educandos

valorizem o conhecimento, a pesquisa, o estudo dos mais diversos aspectos que

cercam um problema, a cooperação, a solidariedade, a criticidade, a criatividade e

o trabalho em equipe.

Valores como democracia, participação na sociedade, compromisso com

sua evolução, localização no tempo e espaço de sua civilização ética em suas

mais abrangentes concepções (tanto em relação a valores pessoais como a

valores profissionais, grupais e políticos) precisam ser aprendido em nosso cursos

de ensino superior.

2.2 - O Impacto da nova revolução tecnológica sobre a formação de

profissionais.

Às vésperas do próximo milênio, a sociedade brasileira vive, em diversos

níveis, o desenvolvimento tecnológico das áreas de informática e de

telecomunicação, que, por sua vez, vêm causando verdadeira revolução na

população e na produção e na comunicação do conhecimento, na criação e na

exploração de novos espaços de conhecimento. Estamos vivendo a “sociedade

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do conhecimento”, no dizer de Peter Drucker (Drucker 1993 apud Masetto ).

Esse conhecimento se apresenta como um novo poder nas relações entre

os Estados e os povos, nas relações nacionais e internacionais, políticas e

empresariais. Afeta o desenvolvimento da produção seja quanto aos novos

produtos criados, seja quanto à qualidade desses mesmos produtos. Invade a

área de recursos humanos, exigindo a qualidade de serviços, revisão das

categorias ocupacionais, formação continuada dos profissionais, bem como

novas capacitações como, por exemplo, adaptabilidade ao novo, criatividade,

autonomia, comunicação, iniciativa, cooperação. Necessitam-se de profissionais

intercambiáveis, que combinem imaginação e ação

Quanto à formação desses profissionais, destacam-se como importantes

algumas linhas de ação:

– Formação profissional simultânea com formação acadêmica, por meio de

um currículo dinâmico e flexível, que integre teoria e prática, numa outra

organização curricular que não aquela que acena apenas o estágio;

– Revitalização da vida acadêmica pelo exercício profissional;

– Desestabilização dos currículos fechados, acabados e prontos;

– Dimensionamento do significado da presença e das atividades a serem

realizadas pelos alunos nos cursos de graduação das faculdades e

universidades

– Ênfase na formação permanente que se inicia nos primeiros anos de

faculdades e se prolonga por toda a vida. (Masetto, 1995)

2.2.1 - Desafios atuais ao ensino superior.

“O mais importante será repensar o papel e a função da educação escolar:

seu foco, sua finalidade, seus valores. A tecnologia será importante, mas

principalmente porque nos forçará a fazer coisas novas, e não porque permitirá

que façamos melhor as coisas velhas” (Drucker 1993, p.153 apud Masetto).

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O ensino superior certamente irá rever seus currículos de formação

profissional à luz das novas exigências que estão postas para o exercício

competente das profissões em nossa sociedade. A revisão dos novos perfis das

várias carreiras, por certo, indicará as alterações curriculares que possam

atender melhor às exigências atuais.

Cabe a nos perguntar, então: Qual é esse novo papel?

É exigido do professor um determinado conhecimento específico pela

pesquisa. É também importante que nos demos conta de que esse termo

“pesquisa” abrange diversos níveis. Dizemos tratar-se de pesquisa aquela

atividade que o professor realizar por meio de seus estudos e de suas reflexões

críticas sobre temas teóricos ou experiências pessoais, que reorganizam seus

conhecimentos, reconstruindo-os, dando-lhes novo significado, produzindo texto

e papers que possam ser lidos e discutidos por seus alunos e seus pares.

Os docentes em fase de mestrado ou doutorado também realizam

pesquisa, que certamente serão incorporadas a sua docência. Essa produção

científica também enriquecerá o domínio de conhecimento que se espera de um

docente de ensino superior.

No entanto, dificilmente poderemos falar de profissionais do processo de

ensino-aprendizagem que não dominem, no mínimo, quatro grandes eixos desse

processo: o próprio conceito de processo de ensino-aprendizagem, o professor

como conceptor e gestor do currículo, a compreensão da relação professor-aluno

e aluno-aluno no processo, a teoria e prática da tecnologia educacional.

2.2.2 - Processo de ensino-aprendizagem

Como já foi dito anteriormente, “o objetivo máximo de nossa docência é a

aprendizagem de nossos alunos. Donde a importância de o professor ter clareza

sobre o que significa aprender, quais são os princípios básicos da aprendizagem,

o que se deve aprender atualmente, como aprender de modo significativo, de tal

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forma que a aprendizagem se faça com maior eficácia e maior fixação, quais as

teorias que hoje discutem a aprendizagem de pessoas adultas que valham para

alunos do ensino superior, como integrar no processo de aprendizagem o

desenvolvimento cognitivo, afetivo-emocional, de habilidades e a formação de

atitudes? Como aprender a aprender permanentemente?” (Masetto, 1995)

“Diga-me e esquecerei, ensina-me e lembrarei, envolva-me e aprenderei”.

(Garcia, 2000)

2.2.3 - O professor como conceptor e gestor de currículo

Em nossa realidade, é muito freqüente o professor lecionar uma, duas ou

três disciplinas num determinado curso de forma um tanto independente.

Desenvolvendo-as um tanto isoladamente, sem fazer relações explícitas com

outras disciplinas do mesmo currículo ou com as necessidades primeiras do

exercício de determinada profissão. Às vezes, por achar que os alunos já

conhecem muito bem a importância da disciplina para sua profissão; às vezes,

porque o mesmo professor desconhece as relações entre sua disciplina e o

restante do currículo, uma vez que não participou da elaboração do currículo ou o

desconhece em sua totalidade. Ele foi contratado apenas para lecionar aquela

matéria.

É fundamental que o docente perceba que o currículo de formação de um

profissional abrange o desenvolvimento da área cognitiva quanto à aquisição, à

elaboração e à organização de informações, ao acesso, ao conhecimento

existente, à produção de conhecimento, à reconstrução do próprio conhecimento,

à identificação de diferentes pontos de vista sobre o mesmo assunto, à

imaginação, à criatividade, à solução de problemas.

O currículo abrange também a aprendizagem de habilidades como, por

exemplo, trabalhar em equipe multidisciplinar, comunicar-se com os colegas e

com pessoas de fora de seu ambiente universitário, fazer relatório, pesquisar em

bibliotecas, hemerotecas, videotecas, usar o computador para atividades

acadêmicas e profissionais etc.

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Conciliar o técnico com o ético na vida profissional é fundamental para o

professor e para o aluno. Mesmo nas disciplinas chamadas teóricas, conhecer a

história da ciência, como se formou o pensamento científico, o tempo cultural e

social em que ele se formou, suas utilizações durante a história dos homens, e

suas possíveis aplicações hoje são modos de educar politicamente os cidadãos.

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3- ELEMENTOS ESSENCIAIS DA PROPOSTA

A idéia de organizar/incluir uma disciplina que abranja o escopo dos

conhecimentos necessários ao desempenho do profissional na prospecção de

balanço futuro na elaboração e análise de projetos de investimentos. Deve

considerar todos os aspectos estruturais da grade curricular e da escola.

Visando a assegurar um tratamento amplo e a incentivar a integração de

conhecimentos e habilidades necessários à escolha de professores, os

programas de ensino poderiam respeitar uma estruturação curricular articulada da

seguinte forma:

VISÃO CONTEXTUAL

A compreensão do processo de ensino - aprendizagem com referência à

pratica dos professores, considerando tanto as relações que se passam no

interior da escola, com seus participantes, quanto as suas relações, como

instituição, com o contexto imediato e o contexto geral onde está inserida. O

atingir das metas de aprendizagem deve envolver todo o esforço da grade

curricular.

VISÃO ESTRUTURAL

Convergiriam os conteúdos curriculares, sua organização seqüencial,

avaliação e integração com outras disciplinas, os métodos adequados ao

desenvolvimento do conhecimento em pauta, com o necessário ajustamento ao

processo de ensino – aprendizagem, convergiriam em uma reflexão geral e

aprofundada.

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VISÃO INTEGRADORA

Proponho estar centrada nos problemas concretos enfrentados pelos

alunos na aprendizagem, com vistas ao planejamento e a reorganização do

trabalho escolar, discutidas a partir das diferentes perspectivas teóricas, por meio

de iniciativas multidisciplinares, e com a participação articulada dos professores

das várias disciplinas inerentes ao assunto.

3.1 - Procedimentos metodológicos

O programa deve desenvolver-se com a aplicação de horas/aulas

suficientes à compreensão de todos os aspectos dos conhecimentos envolvidos,

relativamente à habilitação específica, às técnicas de integração com os demais

membros de grupos de trabalho, ao respeito aos conhecimentos específicos

especializados e ao provimento de atos gerenciais e de coordenação das

informações relevantes à elaboração do estudo. Destaca-se nesta breve reflexão

os seguintes aspectos sem, contudo estreitar sua aplicação:

• Pesquisa da operação projetada e de seus aspectos tecnológicos

vis-à-vis o objetivo social dos investidores;

• Pesquisa do mercado ao qual se destina o produto e seus riscos

internos e externos;

• Pesquisa do roteiro do produto até seu destino final do ponto de

vista físico - ambiental;

• Pesquisa da legislação aplicável – ambiental, tributária, tarifária e

aduaneira;

• Pesquisa dos retornos médios de projetos similares e seus

impactos no meio ambiente.

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3.1.1 - A contribuição de Skinner e do Behaviorismo Introduz-se aqui uma nova componente que forçosamente estará presente

no conjunto dessa proposta que é a contingência. Observa-se que se trata de um

paradigma similar ao modelo de estímulo-resposta proposto por Skinner, que se

preocupa basicamente com a adequação da resposta, deixando de lado os

processos pelos quais um estímulo resulta na emissão de uma resposta. Para

Skiner, o comportamento aprendido opera sobre o ambiente externo para

provocar alguma mudança no ambiente. Se o comportamento causa uma

mudança no ambiente, então a mudança ambiental será contingente em relação

ao comportamento. A contingência é uma relação do tipo “se-então”.

O conceito skinneriano de contingência envolve três elementos principais

que se aplicam perfeitamente ao pressuposto dessa pesquisa:

1. um estado ambiental anterior ou sinal;

2. um comportamento;

3. uma conseqüência.

Skinner procura enfatizar as conseqüências ambientais como mecanismos

controladores do comportamento aprendido. O comportamento atua sobre o

ambiente para produzir uma determinada conseqüência. Ele pode ser mantido,

reforçado, alterado ou suprimido de acordo com as conseqüências produzidas.

Assim, o comportamento é função de suas conseqüências. Essa abordagem é

eminentemente externa: enfatiza o efeito das conseqüências ambientais sobre o

comportamento observável e objetivo das pessoas. Skinner tenta substituir o

conceito de comportamento respondente (desenvolvido por Pavlov, Watson,

Thorndike, Hull e outros psicólogos) pelo conceito de comportamento operante. O

comportamento respondente é reativo e baseia-se nas conexões de estímulo-e-

resposta (E-R) do behaviorismo (Skinner et Chiavenato, 1999 p. 548).

3.2 - A Concepção Cartesiana dos Currículos A compreensão do todo com base na decomposição das partes

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constituintes mais simples está estabelecida no planejamento dos currículos. É a

concepção cartesiana. Observe-se que essa concepção influencia a estrutura, a

escolha do corpo docente e o planejamento da grade curricular. A conseqüência

desse reducionismo e fragmentação dos fenômenos tende a ser o isolamento

entre as várias áreas do saber e algumas limitações e danos ao conhecimento.

Em momento oportuno, a comunidade acadêmica volta a discutir o valor da

interdisciplinaridade e do estudo de caso nos cursos de graduação, como forma

de inverter esse processo. Esse pensamento simples e reducionista, agora, divide

espaço com o pensamento mais vasto, em que os fenômenos são analisados de

forma íntegra, respeitando-se a complexidade, a incerteza, e o aleatório.

A Busca da Interdisciplinaridade, no ensino superior, é não só necessária

como premente quando se avalia que a superação da fragmentação e da

linearidade do conhecimento é considerada possível, a partir da incorporação de

uma nova prática pedagógica interdisciplinar no contexto educacional. Todavia, o

reconhecimento da necessidade da interdisciplinaridade não é suficiente para

garantir a sua efetividade (cf. Paiva, 1999).

O que significa dizer que a integração e a conexão com o maior número de

possível de outras áreas do conhecimento – a Filosofia, Sociologia, Economia,

Matemática, Estatística – devem nortear as ações acadêmicas dos educadores

nos cursos em referência neste estudo, mas de uma forma integrada, vinculadora,

pois só assim se conseguirão condições favoráveis à construção de uma visão

orgânica do conhecimento, propiciando, aos alunos, condições reais de melhor

compreensão da complexa realidade que os circunda. Está implícita a importância

do exercício do aprender a aprender, com o contemplar de experiências de

aprendizagem para construir estratégias que ajudem o aluno utilizar, de forma

consciente, produtiva e racional, todo o potencial da visão do todo.

3.3 – A Pedagogia Relacional

A chamada pedagogia relacional e seu pressuposto epistemológico.

Para Piaget, mentor por excelência de uma epistemologia relacional, não

se pode exagerar a importância da bagagem hereditária nem a importância do

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meio social. Levi Vigostski, importante pensador em educação, acreditava que o

individuo não nasce pronto nem é cópia do ambiente externo. Em sua evolução

intelectual, há uma interação constante e ininterrupta entre processos internos e

influências do mundo social. Por esse pensamento, Vigostski foi considerado um

visionário. Desenvolvimento é fruto, sim, da influência das experiências do

indivíduo, mas cada um dá um significado particular a essas vivências. O jeito de

cada um aprender o mundo é individual. Por isso, o professor que trabalha com a

pedagogia relacional não acredita que o aluno é uma tabula rasa, antes ao

contrário, ele traz uma herança biológica que é o oposto da folha de papel em

branco. O professor, por sua vez, tem todo um saber construído, sobretudo numa

determinada direção do saber formalizado. E este professor, que age segundo o

modelo pedagógico relacional, professa uma epistemologia também relacional.

Ele concebe o seu aluno, como tendo uma história de conhecimento já percorrida:

a aprendizagem da língua materna, por exemplo, é um fenômeno que

absolutamente não pode ser subestimado: eu ousaria dizer, que a criança que

fala uma língua tem condições, respeitado o nível de formalização, de aprender

qualquer coisa (Piaget apud Becker, 1992).

A aula é um encontro de professor e aluno que em si mesma já produz

sinergia motivadora que vai possibilitar a estruturação de um conhecimento novo.

O patamar já construído pelo aluno se abrirá para novas visões tanto quanto o

professor consiga mobilizar sua atenção e despertar seu interesse, com técnicas

de problematização, que vão permitir a assimilação e provocar a reflexão (op.cit).

Este conteúdo assimilado, ao entrar no mundo do sujeito-aluno, provoca, ai,

perturbações, pelo algo novo que traz consigo, para o qual a estrutura

assimiladora não tem instrumentos. Dá-se então que o aluno refaz seus

instrumentos de assimilação em função do que vê de novo.

E o refazer do aluno sobre si mesmo é a acomodação do novo

conhecimento. É este movimento, esta ação, refaz seu equilíbrio cultural, e em

outro nível, criando algo novo no individuo. Este algo novo fará com que as

próximas assimilações sejam diferentes das anteriores, mais consistentes, em

novo patamar.

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3.4 – A aprendizagem dos alunos e a transmissão de conhecimentos.

A aprendizagem dos alunos é o objetivo central dos cursos de graduação e

que o trabalho do docente deve privilegiar não apenas o processo de ensino, mas

o processo de ensino-aprendizagem, em que a ênfase esteja presente na

aprendizagem e não na transmissão de conhecimento.

Significa dizer que “o papel docente é fundamental e não pode ser

descartado como elemento facilitador, orientador, incentivador da aprendizagem.

Como simples e tão-somente repassadores de conhecimento, esse papel

realmente está em crise e, já há algum tempo, ultrapassado”. (Masetto, 1995).

“Colocar a aprendizagem na prática como objetivo central da formação dos

alunos significa iniciar pela alteração da pergunta que fazemos regularmente

quando vamos preparar nossas aulas – o que devo ensinar aos meus alunos? –

por outra mais coerente – o que meus alunos precisam aprender para se

tornarem cidadãos profissionais competentes numa sociedade contemporânea?

Se fizermos essa pequena experiência em nosso trabalho docente, veremos as

implicações e as modificações que resultarão, de imediato”. (Masetto, op. Cit.)

“Queremos dizer que a docência no ensino superior exige não apenas

domínio de conhecimentos a serem transmitidos por um professor como também

um profissionalismo semelhante àquele exigido para o exercício de qualquer

profissão. A docência nas universidades e faculdades isoladas precisam ser

encaradas de forma profissional, e não amadoristicamente”. (Masetto, op. Cit.)

“Um dos grandes desafios que se põe ao desenvolvimento do currículo (...)

é o contemplar experiências de aprendizagem que permitam construir estratégias

que ajudem o aluno a utilizar de forma consciente, produtiva e racional o seu

potencial de pensamento e que permitam torná-lo consciente das estratégias de

aprendizagem a que recorre para construir (reconstruir) os seus conceitos,

atitudes e valores” (Santos, 1994).

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Fonte: Robert S. Kaplan e David P. Norton. "Using the Balanced Scorecard as a

Strategic Management System", Harvard Business Review (janeiro-fevereiro de 1996)

ESCLARECENDO ETRADUZINDO A VISÃO E A ESTRATÉGIA

• Esclarecendo a visão• Estabelecendo oconsensoCOMUNICANDO E

ESTABELECENDO VINCULAÇÕES

• Comunicando e edu- cando • Estabelecendo metas • Vinculando recompen sas a medidas de desempenho

CONTABILIDADE

PROSPECTIVA

FEEDBACK E APRENDIZADO ESTRATÉGICO

• Articulando a visão compartilhada • Fornecendo feedback • Facilitando a revisão e o aprendizado estratégico

PLANEJAMENTO EESTABELECIMENTODE METAS• Estabelecimento de metas• Alinhando iniciativas estratégicas• Alocando recursos

OS VETORES CRÍTICOS DA EMPRESA

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4 - O PONTO DE VISTA SOCIAL

A revolução dos sistemas de informações gerenciais, marcada por

constantes inovações tecnológicas, instalou novo ritmo e provocou rupturas no

sistema de ocupação das funções antes próprias aos profissionais de

contabilidade e administração e atualmente disputadas por profissionais de

economia, direito e de engenharia, caso da controladoria, do planejamento

tributário e da contabilidade gerencial ou decisória (na verdade toda ela é),

respectivamente. Nessas modificações sobressai o aumento em geral da

concorrência pelos postos de trabalho e a separação entre incluídos nos

benefícios da sociedade que compra seus conhecimentos e os excluídos para o

degredo de suas margens.

Neste processo, surgem os bacharéis não habilitados. Aqueles desviados

da área de sua formação pelo baixo aproveitamento de sua graduação, expulsos

pela concorrência desferida até por outras profissões que, preparam-se para

atender a real demanda do mercado.

Se por um lado, o mercado de trabalho exige profissionais de alta

qualificação, preparados em técnicas sempre aperfeiçoadas, por outro ocorre a

desvalorização daqueles que passam a ser considerados e tratados como sem

importância, qualificados para funções de menor relevo na hierarquia do quadro

de pessoal das empresas e logo relegados à obsolescência e até a extinção,

como profissionais.

A escola que se constituiu na esteira do vazio permitido pelas autoridades

da educação e dos representantes de classe, que não investiram contra a

proliferação de cursos com grades curriculares impotentes e excessivamente

tecnicista, à parte gloriosas exceções, pouco forneceram, de uma forma geral,

aos seus alunos, como elementos de reflexão suficientes para que estes se

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desenvolvessem no mercado de trabalho, exigindo assim iniciativas individuais,

não disponíveis a todos, para superar a deficiência.

A Doutora em Filosofia da Educação, Célia Frazão (Linhares, 2001) em seu

pensar sobre “Trabalhadores sem trabalho e seus professores”, propõe algumas

perguntas:

Porque não há pressa na mudança dos currículos quase congelados pelos

mecanismos de reprodução que multiplicam fracassos escolares?

Qual a lógica que explica a simultaneidade do alargamento da escola e o

encolhimento das oportunidades de trabalho?

Porque a escola continua crescendo, criando empregos para professores,

enquanto, na esfera da produção o número de empregos decresce?

Qual a significação de um trabalho com pequenas chances de realização

de objetivos dos quais seus sujeitos se orgulhem e que os fortaleçam?

Como enfrentar, em nossas aulas, discussões como o desemprego, a não-

qualificação de mão-de-obra, a empregabilidade, a formação dos novos

profissionais nas e pelas empresas? Qual a visão social que sustentamos?

“Não se defende que a universidade esteja se submetendo às exigências

do mercado de trabalho, e nem poderia ser, uma vez que ela, como instituição

educadora, tem seus próprios objetivos e autonomia para encaminhá-los. Nem

por isso, porém, ela poderá se fechar em si mesma e, dessa posição, definir o

que seja melhor para a formação de um profissional de hoje e para os próximos

anos. Terá de abrir bem os olhos, ver muito claramente o que está se passando

na sociedade contemporânea, analisar seus objetivos educacionais e, então,

encaminhar propostas que façam sentido para os tempos atuais. Nossos alunos

precisam discutir conosco, seus professores, os aspectos políticos de sua

profissão e de seu exercício nesta sociedade, para nela saberem se posicionar

como cidadão e profissional” (Masseto, op.cit.).

É possível afirmar então que “Não se trata de, obviamente, de inculcar

valores, de doutrinação (...), mas de propiciar aos alunos conhecimentos,

estratégias e procedimentos de pensar sobre valores e critérios de modos de

decidir e agir” ( Libaneo, 2001).

Considere-se então que é um pensamento consistente com o paradigma

da pedagogia relacional e seu pressuposto epistemológico, como escreve Santos

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(1996, p. 104) exortando que “Importa que o desenvolvimento dessas

competências radique num currículo que antecipe situações de aprendizagem

intencionalmente dirigidas para essa finalidade”, valorizando-se, sobretudo o ser

humano-aluno.

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5 - CONCLUSÃO

Propõe-se, de forma ampla, suprir os estudantes, de visão interdisciplinar a

partir da aplicação de uma visão empresarial filosófica, dos conhecimentos

oriundos da organização da informação contábil, bem como da economia, das

finanças e do mercado. A aplicação desse pensamento contribuirá para produzir

um profissional mais completo, preparado com base em pesquisas realizadas e

experimentação da utilidade dos conhecimentos adquiridos durante todo o seu

curso, permitindo-lhe enfrentar o mercado de trabalho em condições de olhar para

cima e para frente.

Coloca-se, então, como proposta de mudança e atualização da grade

curricular mínima principalmente nos cursos de Contabilidade e Administração, a

inclusão de pensamento prospectivo aplicado à análise da tendência dos

negócios empresariais e dos projetos de Investimentos.

Isto porque a maioria dos currículos dos cursos de graduação em Ciências

Contábeis e Administração de Empresas não contam com uma disciplina que

tenha como escopo o conhecimento estruturado de projetar o futuro dos negócios

e com isso exercitar o conhecimento dos alunos, com base em um processo de

reflexão.

Viu-se, pelo exposto, que há uma doutrina na metodologia do ensino que

pode conduzir a dois resultados: o que produz um aluno submetido, que aprendeu

a silenciar, mesmo discordando, perante a autoridade do professor e, portanto,

desistiu da sua cidadania, e aquele que superou a disciplina policialesca e a figura

do professor que a representa e ultrapassou o dogmatismo do conteúdo. Foi

levado à assimilação, mas também à reflexão pela experimentação do

conhecimento, recuperando e reconstituindo o próprio sentido de mundo.

O exercício prospectivo é assim introduzido como uma nova técnica de

ensino, da construção de raciocínio produtivo que parte de premissas sustentadas

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pela lógica, pelo estudo de caso, pela integração em equipe, utilizada a sinergia

interdisciplinar como elemento propulsor.

Obtém-se que o aproveitamento no processo de aprendizagem tende a ser

maior e mais intenso. Adicione-se o grau de dedicação e interesse dos

participantes no assunto focado, a técnica pedagógica do professor e sua

preparação sobre o assunto e surgirá um resultado com grandes chances de ser

positivo para o crescimento cognitivo do próprio grupo.

O Pensamento Prospectivo, que enfrenta as discrepâncias entre a ação

tomada e o que se pensou sobre ela, propicia um exercício de reflexão em todos

os níveis desde o planejamento da grade curricular do curso até a

experimentação dos alunos, não sob uma ótica subjetiva, nem aceitando-se que

seja uma mera abstração, mas a inclusão de um novo pensamento, estrutural,

abrangente, no ensino ao nível de graduação e não só nas pós-graduações,

incluindo a disseminação de novas idéias e o fomento à discussão de estratégias,

de proatividade diante de cenários globais complexos e incertos.

A mensagem que segue neste breve estudo sintetiza-se em “Diga-me e

esquecerei, ensina-me e lembrarei, envolva-me e aprenderei”.

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ANEXOS:

1. Grade Curricular do Curso de Engenharia de Produção da

Universidade Federal Fluminense;

2. Grade Curricular do Curso de Graduação em Administração da

Universidade Estácio de Sá

3. Grade Curricular do Curso de Graduação em Ciências Contábeis

da Universidade Estácio de Sá

4. Grade Curricular do Curso de Graduação em Ciências

Econômicas da Universidade Estácio de Sá.

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