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O PETROLE RO O PETROLE RO Jornal do Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais Edição LV - 22 de fevereiro de 2019 Veja nesta edição: Regap registra mais um incidente com potencial de tragédia Petrobrás rejeita amigo de Bolsonaro para cargo de gerência Editorial: Até quando vamos contar com a própria sorte? 4 3 2

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O PETROLE ROO PETROLE ROJornal do Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais Edição LV - 22 de fevereiro de 2019

Veja nesta edição:

Regap registra mais um incidente com potencial de tragédia

Petrobrás rejeita amigo de Bolsonaro para cargo de gerência

Editorial: Até quando vamos contar com a própria sorte?

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Jornal do Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais

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Diretoria Colegiada: Alas Castro, Alexandre Finamori, Aluízio Castro, Anselmo Braga, Carlos Roberto, Cristiane Reis, Cristiano Almeida, Edson Ferreira, Eduardo de Sousa, Felipe Pinheiro, Joaquim Monteiro, Julionor Quintela,

Leopoldino Martins, Letícia Staela, Márcia Nazaré, Edna Vieira, Orlando Carlos, Osvalmir de Almeida, Paulo Valamiel, Ronaldo Marques, Salvador Cantão, Thiago Marinho, Vinícius Costa e Wender Destro.

Redação, revisão e diagramação: Nathália Barreto - 3426/ES e Thaís Mota - 15616/MG Av. Barbacena, 242 - Bairro Barro Preto - Belo Horizonte/MG - CEP: 30.190-130 - Tel.: (31) 2515-5555

www.sindipetromg.org.br - [email protected]

Até quando vamos contar com a própria sorte?

CALENDÁRIOfevereiro25: Um mês do crime da Vale em Brumadinho;

março5: Carnaval;

8: Dia Internacional da Mulher;

14: Um ano morte de Marielle Franco;

iINFORMES“editorial AMS inicia cobrança retroativa do

Benefício Farmácia

Sindipetro/MG orienta categoria petroleira sobre passagem de serviço

A AMS informou que inicia a partir do dia 25 de fevereiro a cobrança retroativa referente ao período em que o sistema do Benefício Farmácia ficou inoperante - entre outubro de 2015 e agosto de 2016.

A cobrança será feita porque, após o período de suspensão do reembolso e um acordo conquistado pela FUP, a empresa retomou o serviço permitindo aos benefici-ários o reembolso referente aos medicamentos adquiridos no prazo acima descrito.

Ainda conforme a AMS, a cobrança será feita em 11 parcelas que virão no contra-cheque dos beneficiários. As parcelas variam entre R$ 2,75 e R$ 16,53 por beneficiário, conforme a faixa salarial de cada um.

Qualquer dúvida, os beneficiários devem entrar em contato com a AMS pelo tele-fone: 0800-287-2267 (opção 2) ou pelo Fale Conosco, no site da AMS.

O Sindipetro/MG orienta aos petroleiros do regime de turno da Regap, Termelé-tricas Aureliano Chaves e de Juiz de Fora e Usina de Biodiesel Darcy Ribeiro para que não deixem de registrar o ponto imediatamente após a entrada e saída nos relógios de ponto definidos pela empresa em cada unidade.

Isso porque a Petrobrás está medindo o tempo de passagem de serviço para, pro-vavelmente, rediscutir esse tempo durante a negociação do Acordo Coletivo de Tra-balho (ACT) deste ano.

“Não podemos deixar que o tempo de passagem de serviço seja falseado nas medi-ções por possíveis registros de ponto posteriores à entrada ou antecipados na saída”, alertou o coordenador geral do Sindicato, Anselmo Braga.

Não é de hoje que o Sindipetro/MG denuncia sobre acidentes e incidentes que poderiam se tor-nar tragédias em Minas Gerais. O vazamento de GL Nafta no CCF da Regap se soma a outros eventos recentes no refino, com altíssimo potencial de risco aos trabalhadores.

Além de dois gravíssimos acidentes com afas-tamento ocorridos no último ano na Regap, outras ocorrências sem vítimas ou perdas de patrimônio se multiplicam nas unidades operacionais da Petrobrás - que estão em processo intenso de sucateamento. Em Minas, o grave acidente envolvendo vazamento de ácido sulfúrico na Utilidades, numa evidente fa-lha de gestão da empresa, por pouco não resultou na morte de um companheiro de trabalho.

Em agosto de 2018, um grave acidente na Replan nos ilustrou o quanto a insegurança em nossas uni-dades pode ter consequências assustadoras. Naquela ocasião, um tanque foi arremessado a 300 metros de distância, após explosão no mesmo setor de craque-amento da refinaria paulista. O vídeo interno com imagens do momento exato da explosão, poucos mi-nutos após verificada a presença de operadores na-quela área, atemorizou toda a categoria petroleira.

A mensagem na cabeça de todos nós é a mesma: poderia ter sido um de nós. Até quando vamos de-pender da nossa própria sorte? Até quando vamos bater cartão preocupados se retornaremos vivos do trabalho? Até quando as gerências irão dar de om-bros para essa verdadeira bomba-relógio sobre nos-sas cabeças?

O fantasma da privatização e da retirada de direi-tos tem trazido grande angústia para os trabalhado-res, o que pode ser entendido como a prioridade má-xima de luta e mobilização da categoria petroleira no próximo período. Mas é de grande importância que possamos resistir pela garantia de nosso mais sagrado direito - o direito à vida.

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REGAP REGISTRA MAIS UM INCIDENTE COM POTENCIAL DE TRAGÉDIA"goma" acumulada no equipamento. A medida tinha por objetivo reduzir as vibrações.

Porém, antes do início do proce-dimento foi verificada a trinca com vazamento do produto. A unidade foi completamente parada e, por sorte, não houve consequências mais gra-ves. “Isso era uma tragédia mais ou menos anunciada porque tem mais de mês que esse compressor apresenta uma pressão alta nesse interestágio e as linhas têm vibrado muito”, relatou um operador.

Segundo o coordenador do Sin-dipetro/MG, Anselmo Braga, o va-zamento poderia ter provocado uma explosão na refinaria, como ocorreu em 1998. "Há pouco mais de um mês, lembramos os 20 anos do acidente causado por um vazamento de nafta na Regap que matou cinco pessoas e deixou várias feridas durante uma parada de manutenção. Agora, temos um incidente como esse na CCF, que poderia ter sido evitado dado que já haviam sido registrados e denuncia-dos problemas nas linhas do compres-sor. No entanto, nada foi feito".

Ainda de acordo com Anselmo Braga, a Regap está em situação de abandono. "A refinaria está em pro-

Mais um incidente grave foi registrado na Regap na última sexta-feira

(15). Segundo denúncias de trabalha-dores, uma trinca em um vaso para sucção (também conhecido como vaso nocaute) do compressor 04K01 provocou o vazamento de GLNafta - mistura de GLP com nafta que tem alta concentração de ácido sulfídrico (H²S) e alto poder de combustão e de explosão.

O caso aconteceu no interestágio da unidade de Craqueamento Catalí-tico (CCF 1), que precisou ser parali-sada para contenção do vazamento e reparos no vaso nocaute, só voltando a operar no dia 19.

Ainda conforme operadores do se-tor, as linhas desse compressor de GL-Nafta apresentavam fortes vibrações há alguns meses e o caso já havia sido denunciado à gerência da Petrobrás em uma reunião de SMS. Para conter o problema, as linhas teriam sido pre-sas e amarradas para evitar o rompi-mento de alguma delas.

No dia do incidente, uma Permis-são de Trabalho (PT) foi emitida para realização de um processo de "limpe-za" do compressor, por meio da inje-ção de um produto que removeria a

cesso de sucateamento, exatamen-te como aconteceu na década de 90, quando a Petrobrás também estava sob ameaça de privatização como agora".

Esse é o segundo inci-dente grave de-nunciado pelos trabalhadores da Regap ao Sindipetro/MG só este ano.

Em janeiro, a carcaça de um compressor de ar

Portaria da General Motors (GM) . Foto: Divulgação

se rompeu arremessando o rotor do equipamento a uma certa distância e, inclusive, atingindo e derrubando uma luminária na Unidade 114, tam-

bém conhecida como URE.

Esta uni-dade é res-ponsável pelo tratamento ao ácido sulfídri-co (H²S) pro-duzido pela refinaria. Por

sorte, ninguém se feriu.

$"Há pouco mais de um mês, lembramos os 20

anos do acidente causado por um vazamento de nafta na Regap que matou cinco pessoas e deixou várias feridas durante uma parada de manutenção. Agora, temos um incidente como esse na CCF, que poderia ter sido evitado dado que já haviam sido

registrados e denunciados problemas nas linhas do compressor. No entanto, nada foi feito"

Anselmo Braga, coordenador do Sindipetro/MG

Foto: Regap (MG) - Agência Petrobras

Ação contra Petrobrás pode impactar PLR dos petroleirosA Petrobrás informou que pro-

visionará mais de US$ 600 milhões (o equivalente a cerca de R$ 2,226 bilhões) referentes à sentença de arbitragem movida pela Vantage Deepwater Company e Vantage Deepwater Drilling contra a com-panhia e subsidiárias.

Em comunicado aos acionistas no dia 7 de fevereiro, a Petrobrás explicou que "arbitragem movida pela Vantage originou-se de um contrato de serviços de perfura-ção obtido mediante corrupção, conforme revelado pela Operação Lava Jato. Em 03/07/2018, o Tri-

bunal Arbitral formado por três árbitros decidiu por maioria, com um voto divergente, que a Petro-bras e suas subsidiárias deveriam pagar à Vantage a quantia de US$ 622,02 milhões, acrescida de juros compostos de 15,2% a.a., a título de ressarcimento pela rescisão an-tecipada do referido contrato e fa-turas relativas à perfuração de um poço no Golfo do México".

Sendo assim, a empresa recor-reu da decisão com base no argu-mento do árbitro divergente, mas a audiência final sobre o caso na Corte Federal do Texas está pre-

vista para 8 de março deste ano. Confirmada a decisão ou não, o

valor provisionado pela Petrobrás (pouco mais de US$ 600 milhões) reduzirá o lucro líquido da em-presa, impactando assim na Par-ticipação nos Lucros e Resultados (PLR) dos petroleiros em 2019.

Isso porque a empresa infor-mou que esse montante será "re-conhecido no resultado consoli-dado do Sistema Petrobras do 4º trimestre de 2018" - que será di-vulgado em 27 de fevereiro, por-tanto, antes do resultado final do processo.

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"Vamos ter pelo menos uma venda de refinaria este ano", diz presidente da Petrobrás

Em entrevistas recentes, o presidente da Petrobrás, Ro-berto Castello Branco, vol-

tou a alardear sobre a privatização do refino e cravou: "Vamos ter pelo me-nos uma venda de refinaria este ano". A afirmação foi feita ao jornal "O Glo-bo", em entrevista publicada no dia 16 de fevereiro.

A expectativa é de que esse pro-cesso de desintegração da Petrobrás tenha início no segundo semestre. Se-gundo Castello Branco, a proposta é que a Petrobrás detenha apenas 50% de sua capacidade atual de refino, ou seja, metade passará às mãos da ini-ciativa privada.

Além disso, o presidente da estatal também tem afirmado que está reven-do o plano de privatizações, cujo mo-delo de venda deve ser alterado. "O projeto de venda vai ser diferente do que já foi anunciado. A empresa pode comprar a refinaria e alugar serviços (de infraestrutura)", afirmou.

Já em entrevista ao Valor Econô-mico, publicada em 7 de fevereiro, ao ser questionado se alguma refinaria seria inegociável, Castello Branco

respondeu: "Não existe nada inegoci-ável, tudo depende do preço. Não te-nho paixão por nenhum ativo".

Inclusive, em declarações recen-tes, ele disse que a Petrobrás retoma-rá a proposta de vender sua fatia na Braskem, que foi suspensa para estu-dos pela gestão anterior, e analisa a possibilidade de venda da BR Distri-buidora.

Segundo o diretor do Sindipetro/MG, Felipe Pinheiro, apesar de ainda não estar claro, tudo indica que essas mudanças no modelo de venda do re-fino deverão ser ainda mais danosas ao patrimônio da Petrobrás.

"Castello Branco tem dado decla-rações no sentido de mudar totalmen-te o processo de privatização gestado por [Aldemir] Bendine e organizado por [Pedro] Parente. Mas para pior".

Ainda conforme avaliação do di-retor, a privatização do refino pode significar "não só a venda de um setor estratégico para o País, mas também a entrega de todo um mercado consu-midor de combustíveis. Isso significa que a população ficará refém da ofer-ta de gasolina, diesel e gás de cozinha

dessas empre-sas privadas, a um preço tão alto quanto for necessário para garantir suas altas taxas de lucro".

A alega-ção de Castello Branco para vender parte do refino é estimu-lar a competiti-vidade no setor.

"Estamos estruturando como fazer, porque queremos criar um mercado competitivo. Não adianta transferir o poder do mercado da Petrobras para a iniciativa privada", disse ao jornal O Globo.

Ainda ao Valor Econômico, Cas-tello Branco acrescentou: "Achamos muito tímido [o programa original de venda de refinarias]. Não queremos simplesmente transmitir um mono-pólio de uma empresa estatal para a iniciativa privada. Queremos concor-rência. Vamos estudar quais ativos

Petrobrás rejeita amigo de Bolsonaro para cargo de gerênciaAtendendo a normas internas, a

Petrobrás rejeitou no dia 14 de feve-reiro a indicação de um amigo pessoal de Jair Bolsonaro (PSL), para a Gerên-cia Executiva de Inteligência e Segu-rança Corporativa. A indicação havia sido feita em janeiro pelo próprio presidente da estatal Roberto Castello Branco.

Carlo Victor Guerra Nagem é ca-pitão-tenente da reserva da Marinha e funcionário da Petrobrás há 11 anos. No entanto, ele não poderia assumir a função pois, para ocupar um car-go de gerência na estatal, o indicado tem que ter pelo menos dez anos de experiência gerencial em empresa de grande porte – o que não é o caso do amigo de Bolsonaro.

O caso foi amplamente denuncia-

do pela imprensa e também pelos sin-dicatos de petroleiros.

A FUP e o coordenador da enti-dade, José Maria Rangel, ingressaram com ações na Justiça contra Castello Branco e questionando a indicação e denunciando irregularidades com base no Plano de Cargos e Remunera-ção (PCR) – implantado de forma uni-lateral pela Petrobrás no ano passado.

À época da indicação, Castello Branco afirmou ter escolhido Nagem em razão de seu currículo - que tam-bém chegou a ser enaltecido por Bol-sonaro em sua conta no Twitter: "A seguir o currículo do novo gerente--executivo de Inteligência e Seguran-ça Corporativa da Petrobras, mesmo que muitos não gostem, estamos no caminho certo".

vamos vender, como vamos estrutu-rar [o desinvestimento]. Isso está sob análise e é uma das prioridades".

Em ambas as entrevistas, ele tam-bém foi taxativo na defesa da redu-ção de investimentos tanto no setor petroquímico quanto em energias renováveis e apontou como priorida-des de sua gestão à frente da estatal a redução de custos da Petrobrás e a desalavancagem. Também reforçou seu compromisso com a exploração do pré-sal e a geração de lucros aos acionistas.

No entanto, a partir das normas do PCR, um profissional de nível pleno, como é o caso de Nagem, jamais po-deria ser alçado a um cargo gerencial que exige profissionais de nível sênior ou máster – triplicando assim o seu salário atual.

Em resposta ao jornal Folha de São Paulo, a Petrobrás informou que "apesar de sua sólida formação acadê-mica e atuação na área, seu nome não foi aprovado porque ele não possui a experiência requerida em posição ge-rencial que é necessária à função".

Jair Bolsonaro e Carlo Victor Nagem. Fotos publicadas em redes sociais.

Roberto Castello Branco, atual presidente da Petrobras