O piloto
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Transcript of O piloto
O piloto não conseguiria pousar entre as casas daquela área. Mesmo assim,
eles poderiam acionar os guardas pelo rádio.
Decidi que continuaria a andar. Corri por entre os becos e ruas transversais. Os
residentes me viram, mas eu ainda estava disfarçada com o uniforme de jardineira, graças a
Sara. Pobre Sara. Corri mais rápido, para longe da instituição. Enquanto meus pés pudessem
se mover, eu continuaria viva.
O helicóptero retornou, como um inseto faminto. Continuei andando, esgueirando-me
contra paredes ou árvores, qualquer cobertura que eu conseguisse encontrar. Olhei para cima.
Ele não desistiria.
Vi cabos elétricos cruzando o céu alguns quarteirões à minha frente. Corri naquela
direção, esforçando-me ao máximo para permanecer escondida. O inseto preto me seguia.
Quando cheguei à origem dos cabos, uma subestação elétrica, mergulhei debaixo de uma
caminhonete. O asfalto arranhou a palma da minha mão. Eu sabia que o helicóptero não
conseguiria sobrevoar a área, com os cabos perigosos cruzando o céu acima de mim.
Ele desistiu da perseguição, uma vespa que não conseguiu encontrar ninguém para picar.
Observei o helicóptero se afastar.
Eu caminhei, caminhei, caminhei, até que os chinelos se despedaçaram. Arranquei-os dos
pés e caminhei um pouco mais, pensando em Sara a cada passo.
Enxuguei os olhos com as costas da mão. O que acontecera enquanto eu estava debaixo
do veículo? Senti um aperto no estômago ao tentar compreender. Sara provavelmente
percebera que o guarda do portão verificaria a parte de baixo do veículo. Assim, ela usara sua
coragem para distrair todos os que estavam ali e correra em direção à escada, à vista dos
guardas e da própria Beatty. Fizera aquilo por mim. Sacrificara-se por mim, porque sabia que
eu tinha que encontrar meu irmão.
E os guardas atiraram nela.
Quando cheguei à casa de Madison, apertei várias vezes a campainha, mas ela não estava
lá. Eu chegara tão longe e ela não estava lá. O efeito do spray analgésico já havia passado e
meu rosto, marcado pelos pontos cirúrgicos, latejava. Encostei-me contra a porta e deslizei
até o chão, enrodilhando-me ao redor de mim mesma na varanda, onde acabei adormecendo.
Estava começando a escurecer quando ela chegou e me acordou.
— Callie. O que você está fazendo aqui? — Madison se curvou sobre mim, com os
cabelos loiros caídos por cima do rosto. — Não vi seu carro.
Ela me ajudou a levantar e olhou para o disfarce de jardineira que eu usava.
— Que roupas são essas? Algum novo estilo adolescente?
Madison abriu a porta e eu entrei no hall, ficando sob as luzes. Ela finalmente viu meu
rosto maltratado, os pontos e os outros ferimentos.