O planejamento de pesquisa qualitativa em educação

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    o P L A N E J A M E N T OD E P E S Q U IS A SQ U A L I T A T I V A S~E M E D U C A 9 A OA id a Judith A lvesd a F acu ld ad e d e E du ca ga o/U FR J

    RESUMO ABSTRACTo presente artigo surgiu da oonstataqao da difiouldade, de-monstrada por alunos de p6s-graduaqao, de planejar suas pes-quisas e, mais espeoifioamente, de elaborar 0 projeto, quandooptam por trabalhar corn uma metodologia qualitativa. Tais dl-fiouldades, em grande parte deoorrentes da pr6pria naturezadesse tipo de abordagem, aliadas a esoassez de literatura espe-oltioa sobre 0 assunto, muitas vezes resultam em estudos poucooonsistentes. Procurou-se aqui oaracterizar a pesquisa qualitati-va, indicando pontos de conccrdsncia. e de divergencia entreas diversas vertentes que a cornpoem, e fazer indioaqoes pre-oisas para elaboraqao do projeto, analisando e exemplificandoseus aspectos essenciais, bem come as alternativas que se ofe-reoem ao pesquisador em cada um deles.

    PLANNING QUALITATIVE RESEARCH IN EDUCATION. Thispaper stems from the observation of post graduate students'diffioulty in planning their research, particularly in designing theproject, when fhey ohoose to use qualitative methodology. Suohdiffioulties are mostly l inked to the nature of the approach itself,as well as to the soarcity of related literature, often leading touncongruous studies. The paper seeks to depict qualitativeresearch, by typifying points of agreement and divergenceamong its several trends, and to give precise indioations toproject outlining, by analyzing and giving examples both of itsessential features and of the choioe of alternatives for theresearcher in each case.

    Cad. Pesq., Sao Paulo (77): 53-61, maio 1991 53

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    Eu sei 0 que eu quero pesquisar.Mi-nha maior dificuldade e fazer 0projeto.Se eu vou trabalhar numa linha qua/ita-tiva, muita coisa s6 vai se definir no de-correr do estudo. Mas eu preclso apre-sentsr' um projeto para aprovar:;ao.0que e que eu tenho que dizer nesseprojeto?Orientadores de teses e dlssertacoes de alunos de

    pos-qraduacao freqOentemente se detrontam- com essetipo de lndaqacao, Conduzir um estudo qualitativo, como rigor necessarlo a producao de conhecimento relevan-te, e bem mais diffcil do que possa parecer. 0 crescenteprestfgio das abordagens qualitativas naotern sido, napratlca, acornpanhado pela utillzacao adequada de me-todologias que permitam lidar, de maneira competente,com 0 problema proposto (Fetterman, 1984; Miles eHuberman, 1984; Yin, 1985), 0 que faz com que muitossstudos ditos qualitativos nao passem de relatos lrnpres-:sionistas e superficiais que pouco contribuem para aconstrucao do conhecimento e/ou a rnudanca de pratt-cas correntes. Como obssrvou Demo (1988, p.333), "sstase tornando um modismo banal a aceltacao acrftica demetodologias alternativas, que, por vezes, nao passamde falta de mstodo". Embora reconhecendo que a reali-dade nao pode ser reduzida ao tamanho do metodo, es-se autor enfatiza a necessidade de "saber formalizar, nosentido da slstsmatlzacao, da analise ordenada, da coletadisciplinada". Isto requer um planejamento cuidadoso,que, sem descer ao detalhamento exigido na pesquisatradicional, explicite passos e procedimentos necessarlosa consecucao dos objetivos do estudo, com rigor e pro-fundidade interpretativa. .

    As dificuldades inerentes a essa tarefa sao varlas,Muitas delas derivam da pr6pria natureza do paradigmaqualitativo, que abriga uma variedade de tradlcoes filo-s6ficas, epistemol6gicas e metodol6gicas (Patton, 1986).A[em disso, por ser a abordagem qualitativa uma praticarecente na pesquisa educacional, nao M ainda experlen-cia acumulada suficiente sobre a transposlcao de sstra-tegias oriundas de outras areas para 0 campo da edu-caQao (Wolcott, 1982). A esses problemas se acrescentaa escassez de literatura especffica sobre 0 planejamentode pesquisas qualitativas (Marshall e Rossman, 1989), 0que e ainda mais not6rio quando se trata de trabalhosem Ifngua portuguesa.

    Com base na literatura recente sobre abordagensqualitativas, e em minha pr6pria experi~ncia como pes-quisadora e orientadora de teses e dlssertacoes, procu-rei, neste artigo, sintetizar algumas preocupacoes esuqsstoes referentes ao planejamento de estudos qual i-tativos, focalizando em particular a elaboracao do projetode pesquisa. Alem de balizar 0 trabalho do investigador,o projeto e essencial para a avallacao da viabilidade erslsvancla do estudo proposto, tanto por cursos de p6s-graduaQao como por ag~ncias f inanciadoras.

    Antes de tratar do projeto, entretanto, e nscessanoexaminar sudntamente alguns aspectos essenciais dasabordagens qualitativas para que se possa compreendermelhor certas caracterfsticas do planejamento desse tipode pesquisa.

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    A PESQUISA QUALITATIVACaracterizar a pesquisa qualitativa nao e facil. A dificul-dade corneca com a enorme variedade de denomina-Qaes que compos essa vertente: naturalista,p6s-positi-vista, antropol6gica, etnoqrattca, estudo de caso, hurna-nista,fenomenoI6gica, hermensutlca, idiografica, ecol6gi-ca, construtivista, entre outras. Alem disso, essasdiferen-tes denornlnacoes r.ef letem origens e ~nfases diversas, 0que resulta em uma grande variedade de definiQoes, ca-racterfsticas consideradas essenciais a estratsqlas depesqulsa, Apesar denenhuma das denornlnacoes exis-tentes nos parecer satisfat6ria, optamos pela exprsssao"pesquisa qualitativa" por duas razoss: (a)por apresentarabranqencia suficiente para eng lobar essas multiplas va-riantes; e (b) por ser a mais freqOentemente encontradana literatura. Este termo, entretanto, tem 0 inconvenienteCle sugerir uma falsa oposlcao entre qualitativo e quanti-tativo, que deve, de infcio, ser descartada: a questao ede Mfase e nao de exclusividade.

    Patton (1986), embora reconhecendo a grande va-riedade de traolcoes e de estratsqlas englobadas pelo ro-tulo geral de pesquisa qualitativa, considera que 0 queexiste de mais comum entre suas diversas formas e atraolcao verstehen (hermensutlca). Esta abordagem partedo pressuposto de que as pessoas agem em tuncao desuas crencas, percepcoss, sentimentos e valores e seu.comportamento tem sempre um sentido, um significadoque nao se da a conhecer de modo imediato, precisandoser desvelado.

    Coerente com essa postcao, Patton indica tr~s ca-racterfsticas que considera essenciais aos estudos qua-litativos: vlsao hollstlca, abordagem indutiva e investiga-Qao naturalfstica. A vlsao holfstica parte do princfpio deque a cornpreensao do significado de um comportamen-to ou evento s6 e possfvel em funcao da compreensaodas lnterrelacoes que emergem de um dado contexto. Aabordagem indutiva podeser definida como aquela emque 0 pesquisador parte de observacoes mais livres, del-xando que as dlrnensoss e categorias de interesse emer-jam progressivamente durante 0 processo de coleta eanalise de dados. Finalmente, lnvestlqacao naturalfstica eaquela em que a lntervencao do pesquisador no contextoobservado e reduzida ao mfnimo.

    Tais caracterfsticas t~m varias impllcacoes para apesquisa. Entre elas podemos destacar 0 fato de se con-siderar 0 pesquisador como 0 principal instrumento deinvestigac;:ao e a necessidade de contato direto e proton-gado com 0 campo. Daf decorre tambsm a natureza pre-dominante dos dados qualitativos: "descncoes detalha-das de sltuacoes, eventos, pessoas, interaQaes e com-portamentos observados; cltacoes literais do que as pes-soas falam sobre suas experlsnclas, atitudes, crencas epensamentos; trechos ou fntegras de documentos, cor-respondenclas, atas ou relat6rios de casas" (Patton,1986, p.22).

    As caracterfsticas apontadas por Patton (1986), em-bora citadas por diversos autores, nao representam, emseu conjunto, um consenso entre pesquisadores qualita-tivos. Alguns deles, embora concordando com estas,acrescentariam outras (Lincoln e Guba, 1985, por exem-plo, apresentam 14 caracterfsticas). Outros, como Milese Hubermam (1984), questionam as vantagens de umaabordagem altamente indutiva.

    Cad. Pesq. (77) maio 1991

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    Analisando as caracterfsticas apresentadas pelos di-versos autores, podemos dizer que as que aparecem co-mo "pontos modais" sao aquelas que mais diretamenterefletem pressupostos de ordem epistemol6gica, explici-tamente reconhecidos ou nao, que se referem a naturezada realidade e ao processo de conhecimento. Emboranao caiba aqui a anallse desses pressupostos, e impor-tante assinalar que eles sao freqQentemente expressesem contraposlcao ao paradigma positivista. Assim, se pa-ra 0 positivismo existe uma realidade exterior ao sujeitoque pode ser conhecida objetivamente, e cujos fenOme-nos podem ser fragmentados. e explicados at raves de re-lacoes de causa e efeito amplamente generalizaveis, paraos "qualitativos" a realidade e uma construcao social daqual 0 investigador participa e, portanto, os fenOmenoss6 podem ser compreendidos dentro de uma perspectivaholfstica, que leve em conslderacao os componentes deuma dada situaCfao em suas lntsracoes e influ!ncias re-cfprocas, 0 que exclui a possibilidade de se identificar re-lacoes lineares de causa e efeito e de se fazer generali-zacoes de tipo estatfstico. E mais, enquanto os positivis-tas buscam lndepsndencla entre sujeito e objeto, e neu-tralidade no processode investigaCfao, para os "qualita-tivos" conhecedor e conhecido estao sempre em intera-Cfaoe a influ~ncia dos valores e inerente ao processo deinvestigaCfao.

    Partindo desses pressupostos, nao se pode, no pro-cesso de investigaCfao, deixar de valorizar a imersao dopesquisador no contexto, em lnteracao com os partici-pantes, procurando apreender 0 significado por eles atri-bufdo aos fenOmenos estudados. E tarnbern com preen-sfvel que 0 foco do estudo va sendo progressivamenteajustado durante a lnvestlqacao e que os dados dela re-sultantes sejam predominantemente descritivos e expres-sos atraves de palavras.

    Na verdade, as pesquisas qualitativas diferem entresi mais pelo grau de estruturacao imposto ao design quepela otscordancla quanto a presence das caracterfsticascitadas. .

    Guba (1978), desenvolvendo uma ideia inicialmenteexposta por Willems e Rausch, observa que a naturezade uma investigaCfao pode ser caracterizada em tuncaode duas dimensoes: a rnanipulacao dos estfmulos e amanipulacao das respostas. A primeira se refere ao grauem que 0 pesquisador interfere nas condlcoes antsce-dentes do fenOmeno e a segunda corresponde ao graude rigidez quanto as respostas possfveis (ou as varlavelsou categorias a serem observadas). 0 grau maximo dernenipulacao de estfmulos e respostas e representadopelos experimentos de laborat6rio, nos quais 0 pesqui-sador manipula uma ou mais varlavsls experimentais,procurando exercer 0 rnalor controle possfvel sobre asvarlavels estranhas, e verifica os efeitos dessa manipula-cao sobre varlavels dependentes selecionadas em fun-Cfao de retacoes antecipadas pela teoria. No outro extre-mo estaria a investigaCfao "puramente naturalista" 1, naqual nao haveria qualquer interfer~ncia do pesquisadorsobre os antecedentes da sltuacao ou sobre 0 tipo deresposta a serem consideradas. E evidente que este tipoextrema e tao virtual quanto 0 experimento em que todasas conoicoes sao control adas.

    As pesquisas qualitativas podem, assim, ser melhordescritas se situadas num continuum que, embora ocu-pando os graus inferiores nas duas dlrnensoes citadas,o planejamento de pesquisa ...

    admite grande variabilidade interna,em termos do grauda estruturacao previa imposta ao estudo.

    Entre os argumentos usados na literatura para de-fender um mfnimo de estruturacao podemos destacar:a) 0 toco e 0design do estudo nao podem ser definidosa priori po is a realidade e multi pia, socialmente construf-da em uma dada sltuacao e, portanto, nao se pode apre-ender seu significado se, de modo arbltrario e precoce,a aprisionarmos em dimensoes e categorias. 0 foco e 0design devem emergir, por um processo de lnducao, doconhecimento do contexto e das multiplas realidadesconstrufdas pelos participantes em suas influ~ncias recf-procas;b) dada a natureza idiografica e houstlca dos fenOmenossocials, nenhuma teo ria selecionada a priori e capaz dedar conta dessa realidade em sua especificidade e glo-balidade;c) a tocalizacao prematura do problema e a aoccao deum quadro te6rico a priori turvam a vlsao do pesquisa-dor, levando-o a desconsiderar aspectos importantes que

    Em trabalhos recentes (Guba e Lincoln, 1989), esses autoresabandonam 0 termo "naturalista" por varlas razoes, entre asquais 0 fato de estar 0 termo associado ao naturalismo in-gles do seculo XIX, e tambem a uma ontologia realista, comos quais os auto r es citados afirmam nao ter nada em co-mum. Em substituicao, eles propoem 0 termoinvestiga~aoconstrutivista, que reflete 0 pressuposto ontol6gico de queas realidades sociais sao consfrucoes mentais.

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    menores do que nas pesquisas tradicionais. Alem disso,o grau de especmcacao de cada um desses aspectosin~ variar em fun

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    paQao de pais na gestao da escola? Segundo estes gru-pos, de que tipo de declsoas os pais deveriam partici-par?

    Quadro te6rico. Como vimos 'anterlormente, a ado-cao de um quadro te6rico a priori nao a consensual men-te aceita por pesquisadores qualitativos. Alguns deles(como, por exernplo, Lincoln e Guba, 1985) preferem quea teorizacao emerja da analise dos dados (a groundedtheory, proposta por Glaser e Strauss), embora reconhe-earn as dificuldades inerentes a essa pro posta. Se foreste 0 caso, a evidente que 0 quaere te6rico nao podeser. antecipado no projeto, sendo porsm recomendavelque se explicite e justifique a postcao adotada.

    Outros autores, entretanto, (como, por exemplo,Marshall e Rossman, 1989; Miles e Huberman, 1984),consideram que a adocao de um esquema conceitual ade grande utilidade para a identificaQao de aspectos erelacoes significativas entre os eventos observados. Esseesquema conceitual tanto pode ser uma teoria mais ela-borada, como um ou mais constructos, ou mesmo umametatora, dependendo do problema abordado.

    Quando 0 esquema te6rico a escolhido a priori re-comenda-se que se justifique sua adocao, evidenciandosua adequacao ao problema (Lincoln & Guba, 1985).

    Unidade de analise. Outro aspecto que deveraconstar do projeto se refere a unidade de analise: esta-mos primordialmente interessados no que se passa comindivfduos ou com determinados grupos? Em se tratandode estudos de caso, 0 estabelecimento da unidade deanalise corresponde a definiQao do "caso", Estar interes-sado em indivfduos nao significa que nao se possa to-calizar vartos indivfduos, apenaseles nao sao tratadoscomo' grupo. Assim, por exemplo, em um estudo locali-zado em uma instltulcao de ensino superior, pode-seestar interessado no papel do diretor rra lmplementacaode uma lnovacao (nfvel lndivldual), ou na atuacao de al-guns tipos de Ifderes estudantis (nfvel individual), ou po-demos definir 0 nosso "caso" como sendo um departa-mento especffico,uma turma ou toda a lnstltulcao, Umadescrlcao sucinta dos aspectos relevantes do "caso" de-ve ser inclufda no projeto. Por exemplo, se 0 "caso" auma favela, dados sobre locallzacao, condlcoss san i ta-rias e de habltacao, servlcos disponfveis na area (escola,posto de sands, seguranQa), ,grupos atuantes, e outrospertinsntes a questao estudada devem ser inclufdos.

    RelevAncia do problema. Para Marshall e Rossman(1989), a significancia de um estudo pode ser demons-trada indicando sua contrlbulcao para a construcao doconhecimento e sua utilidade para a pratlca profissionale para a tormulacao de polfticas. Esses autores esclare-cem que a !nfase rei at iva da contribuicao para cada urndesses domfnios depsndera dos objetivos do estudo,mas acrescentam que em areas de conhecimento apli-cadas, como a 0 caso da educacao, a especial mente im-portante indicar contrlbulcoes nos tr!s domfnios.

    Para indicar a contribuicao do estudo para a produ-cao de conhecimento, 0 pesquisador deve se referir arsvlsao inicial da literatura pertinente, apresentada na In-troducao, destacando a lacuna que ira preencher ou aslnconslstsnclas entre aspectos te6ricos e pratlcasobser-vadas, ou entre resultados de diferentes pesquisas sobreo mesmo tema, que 0 estudo se. propos a esclarecer. Asignificancia para a pratica e a torrnulacao de polfticas

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    pode ser demonstrada apresentando dados que eviden-ciem a incidAncia e/ou gravidade do problema e os cus-tos sociais e econOmicos af envolvidos. A relevancta deum estudo pode tam bam ser sustentada citando pianosde governo, artigos de especialistas, ou revlsoes de lite-ratura na area que apontem a necessidade de pesquisassobre 0 tema proposto. No caso da pesquisa ser finan-clada, estando 0 tema inclufdo em area prioritarla definidapela agAncia financiadora, esse aspecto_ deve ser tam-bam enfatizado.

    Procedimentos metodol6gicosPartindo do princfpio de que nao ha metodologias "boas"ou "mas" intrinsecamente, e sim metodoloqlas adequa-das ou inadequadas para tratar um determinado proble-ma, recomenda-se que se inicie esta secao demonstran-do a adequacao do paradigma qualitativo ao estudo pro-posto (Lincoln e Guba, 1985; Marshall e Rossman, 1989).A pertlnsncla do modelo especffico adotado - estudode caso, etnografia, hist6rias de vida, ou outro - ao ob-jetivo da pesquisa deve tam bam ser mencionada (Yin,1985).Esta sscao do projeto costuma incluir as etapas doestudo, 0 processo de seleQao dos participantes, os pro-cedimentos e tscnlcae de coleta e anallsedos dados eos recursos utilizados para maxi mizar a confiabilidadedos resultados.

    De um modo geral, tres grandes etapas podem serdistinguidas nos estudos qualitativos: (a) perfodo explo-rat6rio; (b) investigaQao focalizada; e (c) analise final eelaboracao do relat6rio.o principal objetivo da fase explorat6ria a proporcio-nar, atravss da imersao do pesquisador nocontexto, umavlsao geral e nao enviesada do problema considerado,e contrlbuir para a focalizaQao das questoes e a identifi-cacao de inform antes e outras fontes de dados. Pesqui-sadores mais ligados a linha etnoqranca recomendamque, nesse primeiro contato com a campo, se registre 0maior numero possfvel de observacoes, pols aspectoscaracterfsticos ou inusitados de uma dada "cultura" (quepode ser uma escola, uma favela), com a convlvsncla,vae perdendo 0 relevo, passando a "fazer parte da pai-sagem". As perguntas feitas durante essa fase sao, emsua maioria, bastante gerais, do tipo "0 que voce achaque eu deveria saber sobre esta escola?" ou "Como vo-ce se sente com relacao ao novo programa?" "0 quevoce acha que precisa ser mudado neste sindicato?"

    Tendo reunido e analisado informaQoes suficientespara estabelecer as questoss relevantes para 0 estudo,passa-se a segunda fase, de investiga

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    do feita, de modo informal, no decorrer da pesquisa.Considerando-se 'que a abordagem qualitativa a essen-cialmente hermensutlca e que procura captar os signifi-cados atribufdos aos eventos pelos participantes, torna-se necessarlo checar se as lnterpretacoes construfdaspelo pesquisador fazem sentido para aqueles que forne-ceram os dados nos quais essas mterpretacoes se ba-seiam. Isto a feito de modo mais completo e formal aofinal da pesquisa apresentando-se aos participantes osresultados e conclusoes, bem como outros aspectos dorelat6riO julgados relevantes, sob forma escrita, oral ouvisual (dependendo das caracterfsticas dos sujeitos) pe-dindo-Ihes que os avaliem quanta a precisaos rslevan-cia. Com base, nas reacoes obtidas, a entao elaboradoo relat6rio final que sera divulgado entre os interessados.E evidente que 0 projeto nao podera prever tudo 0que sera feito em cada uma destas fases, mas certamen-te pode antecipar as fases previstas (estas ou outras) ealgumas declsoss ini~iais sobre participantes e procedi-mentos de coleta e analise dos dados. Como tol ante-riormente mencionado, e de toda convenlsncla que a ela-boracao do projeto seja precedida de um contato comocampo. Sempre que possfvel, ele deve ser estruturado

    durante a fase explorat6ria. Os resultados das obssrva-ctoes feitas nessa fase, entretanto, devem ser relatadospara embasar as declsoes referentes as fases subss-qOentes. 0 que pode ser antecipado em cada uma des-sas fases sera analisado a seguir.Participantes. Ao contrarlo do que ocorre com aspesquisas tradlclonais, nos estudos qualitativos freqOen-temente nao e possfvel indicar no projeto quantos equais serao os sujeitos envolvidos, embora sempre sejapossfvel indicar alguns, bem como a forma pela qual sepretende selecionar os demais. Lincoln e Guba (1985)sugerem 0 seguinte processo para a setacao de sujeitos:

    1 - ldentlrlcacao dos participantes iniciais. A identif ica-c t a O desses elementos pode ser feita com a ajuda de in-formantes que, por suas caracterfsticas ek: runcoes,tenham amplo conhecimento do contexte estudado. Porexemplo, em um estudo sobre orqanizacao cornunltarla,Ifderes de assocracces demoradores e de comunidadeseclesiais de base podem indicar tanto aqueles que par-ticipam como os que nao participam dos problemas dacomunidade.2 - Emerg~ncia ordenada da amostra", lsto e obtidoatraves da selscao serial, ou seja, novos sujeitos s6 vansendo inclufdos a medida que ja se tenham .obtido aslntormacoes desejadas dos sujeitos anteriormente sele-cionados. Tal procedimento permite que cada novo par-ticipante seja escolhido de modo a complementar ou atestar as intormacces ja obtidas.3 - Focallzacao continua da amostra. A medida que no-vos aspectos relevantes da snuacao van sendo identifi-cados, freqOentementese torna nscessarlo lnclulr outrossujeitos que estejarn rnals relacionados a essas questoesemergentes.4 - Encerramento da coleta. A partir de um certo mo-mento, observa-se que as lntormacoes ja obtidas sstaosuficientemente confirmadas e que 0 surgimento de no-vos dados vai ficandocada vez rnals raro, ata que seatinge um "ponto de rsdundancla" (p.235) a partir doqual nao mais se justifica a lnclusao de novos elementos.a planejamento de pesquisa ...

    Lincoln e Guba (1985) esclarecem que nenhumadessas tarefas pode ser inteiramente antecipada. Consi-deram, entretanto, que 0 planejamento da pesquisa deveincluir alguma olscussao desses aspectos como evid~n-cia de que 0 pesqulsador esta consciente deles e temalguma ideia do que fazer a respeito.

    Nos casos em que nao e possfvel obter.multas in-torrnacoes previae sobre 0 contexto invetigado, a tscnl-ca da "bola de neve" e de grande utilidade no processode ssiecao dos sujeitos. Esta tecnlca consiste em iden-tificar uns poucos sujeitos e pedir-Ihes que indiquem ou-tros, os quais, por sua vez, indlcarao outros e assim su-cessivamente, ate que sa atinja 0 ponto de redundancla,Miles e Huberman (1984) alertam para 0 fate de quea tendsncla de procurar os "atorss principais" doteno-meno estudado pode resultar na perda de lntorrnacoesimportantes e recomendam que se lnvesttqus tarnbsrn a"periferia", ou seja, os "coadjuvantes" e os exclufdos. Istoquer dizer que, por exemplo, na avallacao de um pro-grama de extensao universitaria desenvolvido numa fa-vela, alem de ouvir os membros da comunidade que par-tlclpararn do referido programa, dever-se-ia ouvir tarnbsrn

    2 Ernbora varlos especialistas em pesquisa qualitativa usem 0termo amostra para se referir aos sujeitos incluidos no estu-do (alem de Lincoln e Gl,lba, 1985, podemos citar Hubermane Miles, 1984 e Patton, 1986) concordatnos com Yin (1985)que 0 termo nso e adequado uma vez que, neste tipo deabordagem, nso se pretende fazer generaliza

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    aqueles que nao quiseram participar ou que desistiramem meio ao processo. A sugestao de Miles e Hubermanesta de acordo com observacao de Patton (1986) que,ap6s analisar varlas formas de amostragem proposital,conclui que aquela que proporciona venacao maxima departicipantes t,geralmente, a de rnalor utilidade em pes-quisas qualitativas.Procedimentos e tecnicas de coleta de dados. Umdos raros pontos de consenso entre pesquisadores qua-

    litativos consiste em considerar 0 pesquisador como 0principal instrumento de pesquisa. A valoriza

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    cipar que sua analise sera desenvolvida durante toda ainvestiga

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