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Subsídios para Escola Bíblica Dominical Igreja Evangélica Assembleia de Deus - Ministério de SBCampo www.iead-msbc.com.br - 1 O PODER DA VERDADEIRA PROFECIA Resumo O subsídio desta semana (Lição 08 – 2º Trimestre 2010 de 23/05/2010) da Revista “Lições bíblicas” de Jovens e Adultos, que está abordando o tema Jeremias – Esperança em tempos de crise (um estudo no livro do profeta Jeremias), traz o assunto acerca da Profecia, com o título “O Poder da Verdadeira Profecia”. O texto áureo desta lição está registrado no livro do Profeta Isaías 8.20 “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva”. O Pr. Claudionor de Andrade tirou a seguinte verdade prática do texto base da aula (Jr 28.5-12, 16, 17): “Os dons espirituais não se destinam à autopromoção; são concedidos por Deus à Igreja, visando a edificação dos santos e a divulgação sobrenatural do Evangelho de Cristo”. Este subsídio tem como objetivo explorar profunda e exaustivamente este assunto; não sendo, de forma alguma, a última palavra em um assunto tão amplo. Espera-se contribuir assim com os objetivos listados na lição bíblica que é: “compreender qual é a função e a relevância do profeta de acordo com as Escrituras; saber que os falsos profetas sempre vão se opor aos profetas do Senhor; e, conscientizar-se de que, nos últimos dias, aparecerão muitos falsos profetas que, se possível, enganarão até os escolhidos”. 1 Bons estudos!!! Palavras-Chaves: Profetas; Profecia; Falsos Profetas; Dom; Discernimento; Amor Introdução Esse meio de comunicação entre o divino e o humano, a profecia, não causa polêmica, ao contrário, é uma forma de Deus comunicar-se conosco. E, isso é bom! Mas, o uso errôneo desse meio de comunicação é um grave problema para a igreja. Então estaremos considerando três pontos necessários para a perfeita comunicação: profeta-conteúdo-igreja. Primeiramente, iremos tratar do portador da profecia, o profeta. Depois, analisaremos a própria mensagem, conteúdo; para, por fim, considerar o receptor da mensagem, a igreja. Em ambos há problemas. O profeta pode falar por Deus, por si mesmo, ou pelos demônios; o conteúdo, pode, igualmente, ser de Deus, de conceitos humanos ou das trevas; e a recepção desse conteúdo pode esbarrar no comportamento do profeta bem como no conteúdo. E, para a igreja 1 LIÇÕES BÍBLICAS. Jovens e Adultos. 2º Trimestre de 2010. CPAD, 2010. 57 p.

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O PODER DA VERDADEIRA PROFECIA

Resumo

O subsídio desta semana (Lição 08 – 2º Trimestre 2010 de 23/05/2010) da Revista “Lições bíblicas” de Jovens e Adultos, que está abordando o tema Jeremias – Esperança em tempos de crise (um estudo no livro do profeta Jeremias), traz o assunto acerca da Profecia, com o título “O Poder da Verdadeira Profecia”. O texto áureo desta lição está registrado no livro do Profeta Isaías 8.20 “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva”. O Pr. Claudionor de Andrade tirou a seguinte verdade prática do texto base da aula (Jr 28.5-12, 16, 17): “Os dons espirituais não se destinam à autopromoção; são concedidos por Deus à Igreja, visando a edificação dos santos e a divulgação sobrenatural do Evangelho de Cristo”. Este subsídio tem como objetivo explorar profunda e exaustivamente este assunto; não sendo, de forma alguma, a última palavra em um assunto tão amplo. Espera-se contribuir assim com os objetivos listados na lição bíblica que é: “compreender qual é a função e a relevância do profeta de acordo com as Escrituras; saber que os falsos profetas sempre vão se opor aos profetas do Senhor; e, conscientizar-se de que, nos últimos dias, aparecerão muitos falsos profetas que, se possível, enganarão até os escolhidos”.1 Bons estudos!!!

Palavras-Chaves: Profetas; Profecia; Falsos Profetas; Dom; Discernimento; Amor

Introdução

Esse meio de comunicação entre o divino e o humano, a profecia, não causa polêmica, ao contrário, é uma forma de Deus comunicar-se conosco. E, isso é bom! Mas, o uso errôneo desse meio de comunicação é um grave problema para a igreja. Então estaremos considerando três pontos necessários para a perfeita comunicação: profeta-conteúdo-igreja. Primeiramente, iremos tratar do portador da profecia, o profeta. Depois, analisaremos a própria mensagem, conteúdo; para, por fim, considerar o receptor da mensagem, a igreja. Em ambos há problemas. O profeta pode falar por Deus, por si mesmo, ou pelos demônios; o conteúdo, pode, igualmente, ser de Deus, de conceitos humanos ou das trevas; e a recepção desse conteúdo pode esbarrar no comportamento do profeta bem como no conteúdo. E, para a igreja

1 LIÇÕES BÍBLICAS. Jovens e Adultos. 2º Trimestre de 2010. CPAD, 2010. 57 p.

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interpretar corretamente uma profecia precisa de discernimento. Embora, Paulo insista que precisamos julgar o conteúdo e não o profeta; sabemos que nosso grau de discernimento não está lá grande coisa! Ora, acreditamos no conteúdo por causa do carisma do profeta; e a desacreditamos, por falta mesmo de carisma do proclamador. E, pode, ainda, ocorrer que o profeta carismático esteja falando de si mesmo e o profeta não-carismático seja o próprio Deus falando. Por isso, os grandes problemas da igreja seriam parcialmente resolvidos, na questão da correta interpretação das profecias, se a mesma estivesse com seu grau de discernimento elevado. Ocorre que nem sempre está assim, pois, muitas vezes, Deus fala, justamente isso: por estarem afastados de Deus, não discernem mais as coisas de Deus, nem entre o sagrado e o profano, nem entre Deus e Baal. Que o digam Elias, Isaías, Jeremias, Ezequiel, etc.

Como então podemos resolver essas questões conceituais na prática? Como impedir do falso profeta de profetizar? Isso é possível? Como saber se uma profecia é de Deus ou não? Como entender que tanto o conteúdo quanto à interpretação que fazemos desse conteúdo transmite, de fato, o Conselho de Deus? Essa dificuldade, apareceu, também, na época de Jeremias. O profeta de Deus, aliás, sofreu problemas por conta da falta de discernimento do povo, do conteúdo e da pessoa do profeta Hananias que eram falsos.

O pastor Claudionor de Andrade em sua introdução nesta lição afirmou: “Quem já não se defrontou com um falso profeta? Inescrupulosos, arrogantes e com ares de santo, esses indivíduos jogam a igreja contra o seu pastor, induzem os obreiros à desinteligência e lançam os fiéis à apostasia... patrocinados pelo Estado e contando com a simpatia de boa parte da população, tinham eles como objetivo perverter os caminhos do Senhor, e desviar os filhos de Israel da verdade”.2

O profeta

Passamos, então, a analisar o portador do conteúdo: o profeta. Biblicamente, hoje, existe essa figura, como existia nos tempos vetero-testamentários? O profeta de hoje é igual ao da Antiga Aliança? Vamos analisar a figura do profeta tanto na antiga como na nova aliança.

No Antigo Testamento a primeira pessoa a quem a Bíblia chama de profeta foi Abraão, “mas a profecia do Antigo Testamento recebeu sua forma normativa na vida e pessoa de Moisés, que passou a constituir padrão de comparação para todos os profetas futuros (Dt. 18.15-19). Cada característica que caracterizava o verdadeiro profeta de Yahweh, na tradição clássica da profecia vetero-testamentária, foi pela primeira vez encontrada em Moisés”.3 Em Moisés, então temos as características de um profeta: (a) é chamado por Deus; (b) sua chamada é específica; (c) é um homem que se apresentara diante de Deus; (d) tinha discernimento antecipado dos fatos da história; (e) tinha preocupações éticas e sociais, “antes mesmo de sua chamada; e, depois, esboçou a maioria dos códigos

2 LIÇÕES BÍBLICAS. Jovens e Adultos. 2º Trimestre de 2010. CPAD, 2010. 58 p. 3 O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA. São Paulo: Edições Vida Nova, 1997. 1318 p.

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humanos e filantrópicos do mundo antigo, preocupado pelos incapazes, sendo inimigo do opressor (Lv. 19.9)”; 4 (f) desempenha um papel ativo, próprio de estadista, nos negócios nacionais; (g) tinha a combinação de proclamação e predição “(é nesse entrelaçamento que se discerne entre o verdadeiro profeta e o mero prognosticador)”;5 (h) usava símbolo na entrega de suas mensagens; (i) nele estava o aspecto intercessor da tarefa profética.

Os profetas do Antigo Testamento eram chamados de “homens de Deus”, assim como Moisés (Dt. 33.1). Essa consideração evidenciava a diferença de caráter do profeta e dos demais homens. Eram chamados, também, por Deus, de “servos” (2 Rs. 17.13, 23). O profeta era um homem da Palavra de Deus. Ele era incumbido de anunciar a Palavra de Deus a seus semelhantes. Eles eram homens que tinham algo a dizer. Eram os porta-vozes de Deus. Sua Palavra era a Palavra de Deus. “Os profetas possuíam uma total certeza a respeito de suas próprias palavras, o que só pode acontecer com desequilibrados ou, então, com homens que estiveram presentes nos conselhos de Deus e ali receberam o que deviam dizer sobre a terra”. 6 Algumas vezes sua comunicação eram feitas por parábolas, alegorias, e símbolos representados por atitudes dos próprios profetas, como, por exemplo, a flecha que é lançada contra a Síria. Era a flecha da vitória do Senhor, era, portanto, uma ação simbólica. Mais exemplos de símbolos, encontramos em Isaías quando teve de andar despido e descalço (Is. 20); Jeremias quando despedaçou o vaso do oleiro no lugar dos cacos de barro (Jr. 19); Ezequiel cercou uma cidade em miniatura (Ez. 4.1-3); assim era uma ação de Deus para com o homem, uma atividade a respeito da qual Deus já se resolvera, era dessa maneira declarada e promovida sobre a terra.

Essas características de profeta, que vimos em Moisés, foram a base de todo caráter do verdadeiro profeta. A ação dos profetas, se dá, inclusive, e, principalmente, no período monárquico. É importante afirmar isso tendo em vista a necessidade de situar o contexto na qual o profeta Jeremias se encontrava. Ele profetizava contra o Estado e seus governantes. Vou, mais uma vez, e pela, terceira vez nesse semestre, me reportar a um texto que demonstra a ação dos profetas no Antigo Testamento.

“A atuação dos profetas é concreta”, “eles são intérpretes da história”. Sua aparição, e, principal atuação, deu-se ao instalar da monarquia em Israel. Há um inter-relacionamento entre profetas e reis. A monarquia de Israel foi divida em duas: Reino do Norte e do Sul. Em 722 a.C., o Reino do Norte foi arrasado pelo expansionismo do imperialismo mesopotâmico; acontecendo, semelhantemente, com Judá (Sul), ao ser arrasado pelos babilônicos, em 587 a.C. O período da monarquia foi, também, o período dos profetas, do 11º o 6º século. “Os profetas exigem ser lidos e interpretados em uma ótica político-religiosa”, dentro do período monárquico.

Profecia e apocalíptica, são distinguidos pelo ponto de partida. “O ponto de partida dos profetas é Israel ou Judá (nacional). O dos apocalípticos é a terra, o mundo” (internacional). A linguagem apocalíptica está intimamente relacionada ao contexto do imperialismo grego, o que entende ser a sucessora da profecia, pois já existem sinais

4 O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA. São Paulo: Edições Vida Nova, 1997. 1318 p. 5 Idem. 1318 p. 6 Ibidem. 1322 p.

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apocalípticos nas profecias exílicas e pós-exílicas. Daí a diferenciação de profecia e apocalipse torna-se clara: o primeiro é simultâneo às monarquias de Israel e Judá, o segundo, relaciona-se com o imperialismo grego.

Assim, podemos fazer uma segunda distinção: “profetas pré-literários” e “profetas literários”. Os pré-literários atuaram antes de Amós (meados 8º século), dos quais destacamos: Gade, Natã, Aias, “um homem de Deus” (1 Rs. 13.12-14), Jeú, Micaías, e tendo o ponto alto em Elias e Eliseu, dos quais parece ter havido um grupo, uma comunidade profética. A maioria dos pré-literários é do Norte e uns poucos de Judá. “Os profetas parecem ser herdeiros dos juízes libertadores”. Sua motivação é a defesa da justiça dos pobres (2 Rs. 12,1-4; 1 Rs. 21), e, também, “põem a descoberto a idolatria patrocinada pelo próprio Estado”, apelam à adoração exclusiva do Javé Libertador. Vê-se claramente, agora, o Estado, através da monarquia, apostatar da fé e levar consigo seus súditos.

Agora, com os profetas literários, a partir do 8º século, temos um novo momento desde Amós, sem nunca deixarem de se assemelharem com os pré-literários no tocante às injustiças aos pobres e o combate à idolatria. Eles, agora, fazem uma análise do todo, das estruturas inadequadas, conteúdo e propostas. São eles: Amós (campo) e Oséias (clero do campo), que atuaram no Norte, enquanto que no Sul, foram Isaías (Jerusalém) e Miquéias (campo). “Por um lado, dão destaque maior à denúncia da opressão dos fracos e da idolatria”, por outro, “entendem a opressão e idolatria como males que corroem e deterioram o conjunto da sociedade”, de forma mais ampla, com maior aprofundamento e radicalização do que os “pré-literários”, ameaçando o reinado e suas dinastias. Prevêem o fim das estruturas, tais como: monarquia, dinastia, capital/cidades, templos, exércitos, propondo uma revitalização da experiência tribal.

Toda essa ênfase deve-se ao fato de os profetas estarem localizados num contexto social caracterizado pelo conflito entre cidade e campo, ou seja, de uma sociedade tributarista. De um lado estão as cidades, que não era um centro de produção, mas sua força vem do exército e na eficiência administrativa, além da coordenação do conjunto social. Do outro lado estão: as vilas, os camponeses, a maioria da sociedade. Os camponeses não têm como se defender (exército), já “as cidades são capazes de suprir essa deficiência: suas armas – a serviço dos camponeses! – podem protegê-los contra os invasores”, em troca de uma parcela de sua produção. O conflito se dá aí, pois à medida que a cidade cresce, aumenta a necessidade de mais produtos dos camponeses, aumentando sobremaneira a tributação ao campesinato, promovendo uma desigualdade acentuada, assim como acorria nos dias de Salomão, passou a ocorrer no imperialismo do 8º século.

A profecia é uma palavra em meio a esse conflito que contrapõe as cidades e o campesinato, em torno do tributo. A análise é feita tendo como ponto de partida o campo, de quem paga o tributo. “Portanto, a profecia articula a resistência camponesa contra a exploração citadina”.

Os profetas literários do 7º e 6º século continuam com os mesmos propósitos dos do século 8º, entretanto estão num novo contexto. A realidade agora é (a) Israel já não existe; (b) as tradições religiosas e a população migram para o Sul; (c) Judá assume a memória histórica das tribos do norte.

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Com a invasão dos assírios em Judá, Jerusalém foi quase destruída, mas Manasses, então rei de Judá, paga tributos e torna-se aliado dos assírios, inclusive exterminando muitos dos profetas (2 Rs. 21.16), que denunciavam essa aliança. Em 640, o filho de Manasses foi deposto com o enfraquecimento da Assíria, e Judá renasceu com vigor nacionalista. Então o “povo da terra” entronizou Josias, na época com 8 anos de idade.

A independência tornar-se-ia realidade por alguns decênios, Judá anexou os territórios antigamente pertencentes a Israel. O revigoramento teve seu clímax em 622, com a reforma josiânica que teve ênfase: (1) na defesa dos mais fracos (Jr. 22.13-16), e (b) na centralização do culto sacrificial em Jerusalém (2Rs. 22-23).

Os profetas observavam a renovação nacional pela qual Judá passava, pois a reforma josiânica era conseqüência das teses fundamentais das profecias, apesar de nem tudo corresponder às visões. Mas, o perigo de novas invasões imperialistas ameaçava Judá: os egípcios e babilônios. A guerra entre essas duas grandes nações prejudicou Judá, uma vez que se situava entre os dois. Apoiar-se no Egito para livrar-se da Babilônia foi fatal. Assim os babilônios arrasaram as cidades, capital e templo em 597 e 587 aC.

Ezequiel e Jeremias profetizaram nessa época, esse último, afirmou: “Metei o vosso pescoço no jugo do rei da Babilônia” (Jr. 27.12). Naum foi o profeta que iniciou a nova fase criticando socialmente, com ênfase aos pobres, em torno de 650. Sofonias, em torno de 630, analisou a situação de Jerusalém: “opressora, rebelde e manchada de sangue” (Sf. 3.1), mas há esperança no “povo da terra” e no “povo enfraquecido e oprimido” de Jerusalém (Sf. 2.3; 3.12). Jeremias teria sido contemporâneo de Sofonias, em torno de 630. Oriundo da vila de Anatote, começou a profetizar em Jerusalém até após a sua destruição, quando foi deportado para o Egito. Denunciou, inicialmente, a idolatria e a centralização dos sacrifícios em Jerusalém. Estava preso quando Jerusalém foi tomada, os novos conquistadores o libertaram e deram-lhe a opção de ficar em Jerusalém ou ir deportado para Babilônia. Escolheu permanecer em Judá. Para Jeremias a história de Deus com seu povo continuaria na terra (Jr. 32). Ezequiel entendeu que a história se desenvolveria na Babilônia com os deportados, junto ao rio Cobar (Ez. 3.15). Ele mesmo era um exilado. De sacerdote a profeta, Ezequiel atuou até 570. Em suas esperanças, o templo ocupa lugar de especial destaque e leu os sinais dos tempos à luz da opressão e escravidão. Os dois profetas, apesar de realidades diferentes, tomam como ponto de partida, os mais fragilizados: um, do campesinato judaíta, e, outro, das dores dos exilados.

Habacuc, profeta, iniciou seu ministério em torno do ano 600, junto ao templo de Jerusalém (Hb. 2.1-3), aprofundou em sua crítica social e em defesa do pobre “que é devorado” (Hb. 3.14). Obadias é a expressão da dor de quem vivenciou a presença de edomitas entre as tropas babilônicas, ajudando a destruir o templo.

Apesar das diferenças, há convergência nas visões proféticas que caracterizaram os profetas do século 7º e 6º: (1) insistiram na crítica a Sião, que, apesar de ser símbolo nacional, confirmavam que era vontade de Javé destruí-lo, descentralizando a adoração a fim de que sobrevivessem ao exílio; (2) Jeremias interpreta a função dos babilônios, dando a Nabucodonosor, o desígnio de “servo de Javé” (Jr.27.6); (3) Deslocaram o eixo, pois para captar os sinais de Deus, não basta olhar “para dentro” (de Judá, nacional), faz mister olhar

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“para fora” (para outras nações, internacional).

Esses profetas, esmeraram-se em projetar o futuro, em organizá-lo, em sonhá-lo. Esses profetas “discípulos” dos “mestres” do século 8º deram novo projeto profético, identificaram “os pobres da terra”; “um povo oprimido e enfraquecido”; “escravizados e exilados”, e semearam um novo projeto: a terra. Jeremias investe sua vida em resgate da herança sagrada (a terra), que foi escravizada pela monarquia.

Jeremias e Ezequiel anunciam o novo Davi (Jr. 23.5,6; Ez. 37.24). Esse novo davidismo há de ser “crente em Javé e amante da justiça, não idólatras e injustos como a maioria dos monarcas que Israel e Judá conheceram”.

Os profetas não são “criadores” e nem “donos” do que dizem e vêem. São chamados e falam em nome de Javé, são até mesmo “seduzidos” por Deus (Jr. 20.7). Sua ferramenta é a palavra, essa vinda de Deus. A palavra não está solta, mas, vinculada ao contexto em que se instala. A palavra do profeta inclui o risco, que o digam Isaías, Amós e Jeremias (Is. 52.-53). Apesar disso, a palavra profética é dom de Deus, os profetas não são meros alto-falantes, mas são mensageiros situados e contextualizados especificamente e com palavras peculiares. São, em última análise, intérpretes dos projetos de Deus na história. Possuem independência teológica, fazem leituras diferentes de mesmos fatos, mas é a Palavra de Deus que atua na realidade, portanto, “o verbo se fez carne” na ação profética, e mais, tarde, na pessoa de Jesus.

Eles não formam escola, não tem tradições, não tem sucessão, como os “pré-literários”. Nos “literários”, um profeta não tem nada com o outro. Não é a tradição que faz o profeta, e sim, o dom de Deus. (Is. 61.1-3).

Jeremias: entreguista ou realista?

Para entender um pouco mais a atividade profética no Antigo Testamento, vemos a ação de Jeremias (Jr. 38.14-28). Como podemos analisar esse contexto? Jeremias: entreguista ou realista?

Na exegese da perícope do livro do profeta Jeremias (38.14-28), onde surge a dúvida: “Jeremias: entreguista ou realista?”, vale ressaltar que o fundo histórico que Jeremias vivia era demasiadamente difícil. O rei Sedecias ao procurar o profeta estava numa situação incômoda: administrando um estado judaico falido (os principais dos judeus foram levados à Babilônia), o rei precisava saber o que Deus orientaria na difícil decisão de entregar-se à Babilônia ou associar-se ao Egito para fazer frente à ameaça babilônica e guerrear contra ela. Assim chamou o profeta Jeremias e no diálogo, Deus o orientou a entregar-se, contrariando o rei, que lhe prometeu proteção em troca desse silêncio, acaso fosse interpelado pelos príncipes oportunistas, pró-Egito, ou pró-guerra.

A preocupação de Jeremias é significativa, do ponto de vista da salvação, pretendia Jeremias evitar uma guerra, pois a mesma prejudicaria toda a nação judaica. Se entregar à Babilônia, seria o mesmo que (a) manter a produtividade da terra; (b) manter a integridade física dos exilados da Babilônia; e. (c) manter a memória dos fatos fundantes da fé judaica; e

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não jamais trair seu país. Diante de uma situação difícil, Deus sempre escolheu por proteger o povo, ou, pelo menos fazer com que o povo sofresse menos. Assim como foi com Isaías, que na teologia do seu livro, houve a percepção da salvação vinda de Jeová, também ocorre com Jeremias, que possuía, também, a percepção teológica da salvação vinda de Jeová, preservando a povo de Deus de maiores atrocidades.

Jeremias, enfatizou a salvação, evitando a guerra, que nada pode resolver diante de situações tão diversas, mas incrivelmente tão próximas, a ponto de, através das profecias, ter a mesma sensibilidade teológica para proteger o povo, diminuindo seu sofrimento. Há uma leitura sociológica e de tradição no texto de Jr. 38.14-22. Onde Deus fala ao profeta, o profeta ouve e comunica a vontade de Deus. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!

Então temos que o profeta de Deus é aquele que está em contato permanente com o Senhor, e que transmite sua palavra dentro de cada contexto, mas que é sempre a Palavra do Senhor.

O profeta no Novo Testamento

Essa caracterização do profeta encontra eco no Novo Testamento. “A profecia e os profetas formam a maior linhagem de continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento”. O texto abaixo é um pouco extenso, mas dará uma visão clara da continuidade da linhagem profética.

A linhagem profética não terminou com Malaquias, digamos assim, mas antes, com João Batista. Esse é o ensino expresso de nosso Senhor: “Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João” (Mt. 11.13). A costumeira divisão em dois “Testamentos”, obscurece infelizmente essa maravilhosa unidade do programa revelatório de Deus, porém a linhagem tem continuação desde Moisés até João Batista... Além disso, o Novo Testamento aparece numa relação de cumprimento no tocante à mensagem real dos profetas do Antigo Testamento. Por muitas e muitas vezes isso se torna a mensagem principal do Novo Testamento: o que Deus dissera antigamente, agora cumpria (Mt. 1.22; 26.56; Lc. 24.25, 27, 44; At. 10.43, etc.). A importância dessa caracterização do Novo Testamento, autenticando o Antigo Testamento, dificilmente pode ser exagerada. Os profetas jamais poderão ser considerados como meras curiosidades antigas para nós. Embora tivessem sido uma minoria perseguida (Mt. 5.12; 23.29-37; Lc. 6.23, etc.), foram a mais importante voz que nos veio do passado antigo, pois não foram meros sonhadores ou especuladores ociosos. Foram elevados ao nível de proclamadores da verdade eterna pela verificação de suas mais exaltadas palavras acerca do maior de todos os acontecimentos, a pessoa e a obra de Cristo. Podemos declarar a questão de modo ainda mais completo. O Senhor Jesus Cristo pessoalmente nos apontou os profetas do passado e sua mensagem como uma revelação permanente da parte de Deus. Eles aparecem na relação de mestres autorizados da Igreja cristã, homens cujas palavras até hoje precisam ser ouvidas como Palavra de Deus. Pois Deus apôs o Seu selo à mensagem dos mesmos, tanto pelo fato

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do cumprimento das Profecias, como pelo ensinamento positivo de Seu Filho (Mt. 5.17, etc.).7

No novo testamento todo crente é potencialmente um profeta. Encontramos, no Antigo Testamento, até escolas de profetas, dada sua importância na vida religiosa e política de Israel. A questão da profecia é importantíssima na igreja cristã. Ao tratar desse assunto no ambiente neo-testamentário, precisamos distinguir dois pontos: dom espiritual e dom ministerial. Vou recorrer à obra de Isael de Araújo para definir esses dois pontos:

É preciso distinguir a profecia aqui mencionada [dom de profecia (1 Co. 12.10)], como manifestação momentânea do Espírito, da profecia como dom ministerial na igreja, mencionado em Efésios 4.11. Como dom de ministério, a profecia é concedida a apenas alguns crentes, os quais servem na igreja como ministros profetas. Como manifestação do Espírito, a profecia está potencialmente disponível a todo cristão cheio dele (At. 2.16-18). Quanto à profecia, como manifestação do Espírito, observe o seguinte: (a) Trata-se de um dom que capacita o crente a transmitir uma palavra ou revelação diretamente de Deus, sob o impulso do Espírito Santo (1 Co. 14.24, 25, 29-31). Aqui, não se trata da entrega do sermão previamente preparado. (b) Tanto no AT como no NT, profetizar não é primariamente predizer o futuro, mas proclamar a vontade de Deus e exortar e levar o seu povo à retidão, à fidelidade e à paciência (1 Co. 14.3). (c) A mensagem profética pode desmascarar a condição do coração de uma pessoa (1 Co. 14.25), ou prover edificação, consolo, advertência e julgamento (1 Co. 14.3, 25, 26, 31). (d) A igreja não deve ter como infalível toda profecia desse tipo, porque muitos falsos profetas estarão na igreja (1 Jo. 4.1). Daí, toda profecia deve ser julgada quanto à sua autenticidade e conteúdo (14.29, 32; 1 Ts. 5.20, 21). Ela deverá enquadrar-se na Palavra de Deus (1 Jo. 4.1), contribuir para a santidade de vida dos ouvintes e ser transmitida por alguém que, de fato, vive submisso e obediente a Cristo (1 Co 12.3). (e) O dom de profecia manifesta-se segundo a vontade de Deus, e não a do homem. Não há, no NT, um só texto mostrando que a igreja de então buscava revelação ou orientação através dos profetas. A mensagem profética ocorria na igreja somente quando Deus tomava o profeta para isso (1 Co 12.11).8

Objetivamente o dom de profecia é espontâneo e há desdobramento tais que precisamos tomar cuidado para não nos confundir. Quanto a isso trataremos mais adiante. Vamos agora definir a profecia como dom ministerial.

Efésios 4.11 alista os dons de ministério (i.e., líderes espirituais dotados de dons) que Cristo deu à igreja. Paulo declara que Ele deu esses dons (1) para preparar o povo de Deus para o trabalho cristão (Ef. 4.12) e (2) para o crescimento e desenvolvimento espirituais do corpo de Cristo, segundo o plano de Deus (Ef. 4.13-16)... Os profetas eram homens, que falavam sob o impulso do Espírito Santo, e cuja motivação e interesse principais, eram a vida espiritual e pureza da igreja. Sob o novo concerto, foram levantados pelo Espírito Santo e revestidos pelo seu poder para trazerem uma mensagem da parte de Deus ao seu povo (At. 2.17; 4.8; 21.4). (1) O ministério profético do AT ajuda-nos a compreender o do NT. A missão

7 O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA. São Paulo: Edições Vida Nova, 1997. 1328 p. 8 DICIONARIO DO MOVIMENTO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, 269 p.

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principal dos profetas do AT era transmitir a mensagem divina através do Espírito, para encorajar o povo de Deus a permanecer fiel, conforme os preceitos da antiga aliança. Às vezes, eles também prediziam o futuro, conforme o Espírito lhes revelava. Cristo e os apóstolos são um exemplo do ideal do AT (At. 3.22, 2; 13.12). (2) A função do profeta na igreja incluía o seguinte: (a) Proclamava e interpretava, cheio do Espírito Santo, a Palavra de Deus, por chamada divina. Sua mensagem visava admoestar, exortar, animar, consolar e edificar (At. 2.14-36; 3.12-26; 1 Co. 12.10; 14.3). (b) Devia exercer o dom de profecia. (c) Às vezes, ele era vidente (cf. 1 Cr. 29.29), predizendo o futuro (At. 11.28; 21.10,11). (d) Era dever do profeta do NT, assim como para o do AT, desmascarar o pecado, proclamar a justiça, advertir do juízo vindouro e combater o mundanismo e frieza espiritual entre o povo de Deus (Lc. 1.14-17). Por causa de sua mensagem de justiça, o profeta pode esperar ser rejeitado por muitos nas igrejas, em tempos de mornidão e apostasia. (3) o caráter, a solicitude espiritual, o desejo e a capacidade do profeta incluem: (a) zelo pela pureza da igreja (Jo 17.15-17; 1 Co. 6.9-11; Gl. 5.22-25); (b) profunda sensibilidade diante do mal, e capacidade de identificar e detestar a iniqüidade (Rm. 12.9; Hb. 1.9) (c) profunda compreensão do perigo dos falsos ensinos (Mt. 7.15; 24.11, 24; Gl.19; 2 Co 11.12-15); (d) dependência contínua da Palavra de Deus para validar sua mensagem (Lc. 4.17-19; 1 Co. 15.3, 4; 2 Tm. 3.16; 1 Pe. 4.11); (e) interesse pelo sucesso espiritual do reino de Deus e identificação com os sentimentos de Deus (cf. Mt. 21.11-13; 23.37; Lc. 13.34; Jo. 2.14-17; At. 20.27-31). (4) A mensagem do profeta atual não deve ser considerada infalível. Ela está sujeita ao julgamento da igreja, doutros profetas e da Palavra de Deus. A congregação tem o dever de discernir e julgar o conteúdo da mensagem profética, se ela é de Deus (1 Co. 14.29-33; 1 Jo. 4.1). (5) Os profetas continuam sendo imprescindíveis ao propósito de Deus para a igreja. A igreja que rejeitar os profetas de Deus caminhará para a decadência, desviando-se para o mundanismo e o liberalismo quanto aos ensinos da Bíblia (1 Co. 14.3; cf. Mt. 23.31-38; Lc. 11.49; At. 7.51, 52). Se ao profeta não for permitido trazer a mensagem de repreensão e de advertência, denunciando o pecado e a injustiça (Jo. 16.8-11), então a igreja já não será o lugar onde se possa ouvir a voz do Espírito. A política eclesiástica e a direção humana tomarão o lugar do Espírito (2 Tm. 3.1-9; 4.3-5; 2 Pe. 2.1-3, 12-22). Por outro lado, a igreja com os seus dirigentes, tendo a mensagem dos profetas de Deus, serão impulsionados à renovação espiritual. O pecado será abandonado, a presença e a santidade do Espírito serão evidentes entre os fiéis (1 Co. 14.3; 1 Ts. 5.19-21; Ap 3.2-22).9

É importante frisar essa distinção. A profecia no Novo Testamento tem duas características: (a) proclamação expositiva da mensagem das Escrituras Sagradas, que exige do profeta, nos nossos dias, a leitura da Bíblia, a busca pela mensagem, e sua conseqüente inspiração divina, preparação, exegese, hermenêutica, análise psicológica, sociológica e antropológica, submissão ao crivo dos pais da igreja, de sua tradição e, dos preceitos da reforma protestante, para, enfim, voltar às Escrituras para conferir e depois, sim, proclamá-la. (b) A manifestação espontânea do Espírito, sem preparo prévio, na qual, também, pronuncia a vontade de Deus à igreja. Aqui não se trata do sermão previamente preparado. Tanto num caso como no outro, Deus capacita e inspira-os a que edifiquem Sua Igreja.

9 DICIONARIO DO MOVIMENTO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, 270-71 p.

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Lembremos que o dom de profecia ocorre somente segundo a vontade de Deus. Cabe ao profeta discernir que momento é esse, para não confundir com suas emoções, e acabar transmitindo mensagens que Deus não orientou, muito menos inspirou.

Em 1 Coríntios 14, a profecia refere-se a várias mensagens espontâneas, inspiradas pelo Espírito, numa língua conhecida a quem fala “para edificação [especialmente na fé], exortação [especialmente para avançar na fidelidade e no amor] e consolação [que anima e revivifica a esperança e a expectativa]” (14.3). Com esse dom, o Espírito ilumina o progresso do Reino de Deus, revela os segredos dos corações das pessoas e submete o pecado à convicção (1 Co 14.24, 25). Um exemplo típico é Atos 15.32: “Judas e Silas, que também eram profetas, exortaram e confirmaram os irmãos com muitas palavras”. Aqueles regularmente usados com o dom da profecia eram chamados profetas. Qualquer crente, no entanto, pode exercer esse dom. Mas deve ser aquilatado cuidadosamente (e em público) pelos “outros”, ou seja, pela congregação (1 Co. 14.29). Essa avaliação deve ainda explicar qual o propósito de Deus no assunto, afim de que todos possam aprender e tirar benefício.10

Então temos que o profeta tanto do Novo quanto do Antigo Testamento, dentro de suas peculiaridades, são homens, distintos, idôneos, usados por Deus, para transmitir sua Palavra: seja, por manifestação momentânea, seja através do sermão previamente preparado, seja, por parábolas, símbolos, sempre direcionados para edificar, consolar; exortar e direcionar o povo de Deus, isso tanto no Antigo como no Novo Testamento. Lembrando que a atividade profética não é a mesma que o falar em línguas, nem é, também, a interpretação de línguas. Mas, é, antes, alguma percepção da verdade de Deus, inteligentemente transmitida à assembléia.

Foi um abuso ao dom profético que alguns alegavam estar tomados por êxtase, o que fez, para assim dizer, que os profetas se tornassem descontrolados. Paulo insiste e que “os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas”, ou seja, cada qual estava na plena posse de suas faculdades e era capaz de restringir o impulso de falar, se os interesses da ordem assim o exigissem. O mais importante de tudo é que os profetas não se deviam dar crédito sem discernimento.11

O discernimento é de sua importância para a igreja, a fim de não entrar pelo caminho de aceitar qualquer palavra, pois podemos confundir-nos com a palavra de homens ou mesmo de demônios; precisamos distinguir a Palavra de Deus das demais vontades. É o que trataremos a seguir.

A Profecia, conteúdo

10 TEOLOGIA SISTEMÁTICA. Rio de Janeiro: CPAD, 1996. 474, 75 p. 11 O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA. São Paulo: Edições Vida Nova, 1997. 1328-29 p.

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Se a função do profeta é anunciar a vontade de Deus. Precisamos nos deter um pouco acerca do conteúdo das profecias. É de conhecimento de todos os abusos nessa área. Para ilustrar contarei uma pequena história que presenciei e que indiretamente, me envolvi. Veja:

Certa vez, numa congregação, certo pregador, que, segundo ele mesmo, era usado em revelações, passou a profetizar durante aquele culto. E profetizava para várias pessoas, inclusive para uma irmã que esperava confirmação de uma viagem, na qual, afirmava ela, Deus usaria muito. Então o pregador se dirigiu a ela e profetizou que ela viajaria para determinado país, e que Deus já havia aprovado. A irmã alegrou-se sobremaneira e aguardou, ansiosa, os fatos acontecerem. Ocorre que o tempo, depois disso, foi-se passando,... passando... e nada! Depois de alguns meses, ela, inquieta fez contato com o pregador e cobrou dele o cumprimento da profecia. O pregador, surpreso, disse que isso não lhe cabia, pois não era ele que iria cumprir a profecia, mas Deus. Resultado: a irmã ficou frustrada, pois a viagem não aconteceu; e o pregador ficou desacreditado, pois Deus na havia falado na boca dele. Dias depois, eu mesmo, impressionado com a habilidade dele em revelar o nome das pessoas, antes de saber sobre os fatos ora relatados, aproximei-me dele, na esperança de estabelecer um diálogo o que ele perguntou meu nome e pediu para colocar meu endereço, afirmando que iria orar por mim. Então eu refleti, e percebi, que ele em suas revelações o que mais se destacava era o fato dele sempre, ao revelar uma pessoa, citar o nome da pessoa, como se Deus tivesse revelado o nome a ele, naquele mesmo momento. Mas, com a solicitação dele, percebi que, na verdade, ele pegava o nome antes. Então não dei meu nome. Pensei: se ele é profeta de Deus, e se Deus fala na boca dele, então que, sem eu precisar informar meu nome, que Deus revele para ele. Resultado: outras vezes ele veio à congregação e revelava o nome de outras pessoas, mas nunca o meu. É claro!! Não dei meu nome a ele!! Deve ter ficado bravo!!

Infelizmente, esses fatos acabam por perturbar a ordem de uma igreja. É difícil falar de conteúdo sem associar ao seu portador. Estão intimamente ligados. Se falar de conteúdo que não é de Deus então precisamos falar imediatamente do falso profeta, portador de uma mensagem que não é de Deus. Acerca dos falsos profetas traremos no próximo tópico. Aqui trataremos apenas dos equívocos do profeta verdadeiro. Ele pode errar? Pode ser levado pelas emoções? Pode ser levado pela vontade pessoal?

Vamos nos deter no conteúdo da profecia. Perceberam, com a experiência contada, como uma profecia influencia diretamente uma pessoa. Muitos crentes fracos (aqui fraco é aquele que não tem entendimento das coisas espirituais), acabam se iludindo por palavras que nem sempre foi Deus quem falou.

Mas, alguém pode questionar: como uma pessoa que tem o Espírito de Deus pode confundir palavras ditas pela emoção com a Palavra de Deus? Isso é possível? A resposta é: sim, pode se confundir, sim! Mesmo as pessoas mais bem intencionadas podem, ser levadas pela emoção.

Problematizando a questão, então temos que, mesmo na igreja um servo do Senhor, sério, espiritual, pode ser levado a profetizar sem, na verdade, Jesus ter dito nada a ele. Como então podemos identificar e separar uma coisa da outra: emoção, vontade própria e Palavra de Deus? Deus nos dá uma ferramenta fenomenal: o discernimento de espíritos.

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Coloque-se, você, agora, no lugar da cena bíblica. Dois profetas anunciam, segundo eles, a vontade de Deus. Jeremias e Hananias. Em quem você acredita? É claro que, lendo a Palavra de Deus sabemos quem é o verdadeiro e o falso. Mas, dispa-se deste conhecimento e centralize-se nesse contexto. Dois profetas reconhecidos anunciam conteúdos diferentes: em quem acreditar? Para falar a verdade é mais cômodo ouvir a mensagem que soa melhor aos nossos ouvidos. Mas, prestemos atenção!! As mensagens bonitas e que soam bem aos ouvidos nem sempre são as mensagens de Deus. Então o que fazer? Pedir discernimento a Deus.

A Igreja é aquela de aquilata o profeta. É aquela que é alvo da profecia, portanto, o ouvir uma profecia, ou não; depende exclusivamente dela. Dentro dessa premissa Paulo, grande missionário, pastor e teólogo do cristianismo primitivo, nos fornece orientações sábias, guiadas por Deus. Veja:

“Segui o caminho do amor e exercei com zelo os dons espirituais; contudo, especialmente o dom de profecia. Porquanto quem se expressa em uma língua estranha, não fala aos homens, mas a Deus. De fato, ninguém o compreende, pois em espírito fala mistérios. Entretanto, quem profetiza o faz claramente para edificação, encorajamento e consolação de todas as pessoas. Quem fala em uma determinada língua a si mesmo se edifica, mas quem profetiza edifica a Igreja. Gostaria que todos vós falásseis em línguas, todavia, muito mais que profetizásseis. Quem profetiza é maior do que aquele que fala em línguas, a não ser que as interprete para que toda a comunidade receba a palavra que edifica. Portanto, irmãos, se eu for até vós falando em línguas, que benefício vos trarei, se não vos falar por intermédio de revelação, ou de conhecimento, ou de profecia, ou, ainda, de ensino? Até mesmo considerando objetos sem vida, mas que produzem sons, tais como a flauta ou a harpa, como alguém poderá reconhecer a música que está sendo tocada, se os sons formados por elas não forem distintos? E mais, se a trombeta não emitir um som claro e correto, quem se preparará para a batalha? Da mesma maneira vós, se com a língua não pronunciardes sons que se podem entender, como se compreenderá o que dizeis? Pois estareis como que jogando palavras ao vento” [...] “Dou graças a Deus, por falar em línguas mais do que todos vós. No entanto, na igreja, prefiro comunicar cinco palavras compreensíveis, a fim de orientar os meus semelhantes, do que falar dez mil palavras em uma língua estranha” [...] “Portanto, qual a atitude correta, então? Ora, quando vos reunis, cada um de vós tem um salmo, ou uma mensagem de ensino, uma revelação, ou ainda uma palavra em determinada língua e outro tem a interpretação dessa língua. Tudo seja feito para a edificação da Igreja” [...] “Tratando-se de profetas, falem dois ou três, e os outros julguem com zelo tudo o que foi dito” [...] “O espírito dos profetas está sujeito ao controle dos próprios profetas” (1COR. 14.1-9, 18-19, 26, 29, 32).12

Com a expressão “segui o caminho do amor e exercei com zelo os dos espirituais”, Paulo redefine a prática dos cristãos coríntios que àquela altura já estavam utilizando os dons do Espírito para outros fins, diferentes da edificação da igreja. Paulo orienta que os dons devem ter como premissa e base fundamental o amor. Ao que parece os cristãos da cidade de Corinto estavam utilizando seus dons com fins de promoção pessoal, e com isso duelavam nas reuniões de adoração: uns querendo demonstrar mais espiritualidade do que o outro. Não foi à

12 BÍBLIA. Português. Novo Testamento King James. São Paulo, Sociedade Ibero-Americana. 403-405p.

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toa que Paulo exortou à unidade contra as contradições e desavenças partidárias que ali ocorriam. A disputa era feia!! Veja as expressões que Paulo utiliza e perceba o grau de dificuldade que havia naquela igreja, que, até onde se sabe, transbordava nos dons espirituais.

“Suplico-vos, queridos irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que concordeis uns com os outros no que falam, a fim de que não haja entre vós divisões; antes, sejais totalmente unidos, sob uma mesma disposição mental e no mesmo parecer. Caros irmãos, fui informado a vosso respeito, pelos da família de Cloé, que existem discórdias entre vós. Refiro-me ao fato de um de vós afirmar: ‘Eu sou de Paulo’; enquanto o outro declara: ‘Eu sou de Apolo’; e outro: ‘Eu sou de Pedro’; e outro ainda: ‘Eu sou de Cristo!”. Ora, acaso Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado em vosso favor? Fostes batizados em nome de Paulo?” [...] “Portanto, vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se tornou para nós sabedoria da parte de Deus, justiça, santificação e redenção,” [...] “As pessoas que não têm o Espírito não aceitam as verdades que vêm do Espírito de Deus, pois lhes parecem absurdas; e não são capazes de compreendê-las, porquanto elas são discernidas espiritualmente. Contudo, aquele que é espiritual pode discernir todas as coisas, e ele mesmo por ninguém é compreendido; porquanto: ‘Quem jamais conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo?’ Todavia, nós temos a mente de Cristo!” [...] “Eu plantei; Apolo regou; mas foi Deus quem deu o crescimento. De forma que nem o que planta nem o que rega são de alguma importância; mas unicamente Deus, que realiza o crescimento. O que planta e o que rega ministram de acordo com um propósito, e cada um será premiado segundo o seu próprio trabalho.” (1 COR. 1.10-13, 30; 2.14-16; 3.6-8).13

Desse modo, Paulo então exorta aos crentes a não utilizar os dons espirituais para interesses próprios, promoção pessoal, numa atitude soberba, individualista a fim de demonstrar, em competição, um grau maior de uma espiritualidade em comparação ao outro; na verdade, distante da espiritualidade bíblica.

A verdadeira espiritualidade, ensinava Paulo, era fundamentada no amor. Assim, longe de profetizar por competição, que acaba por profanar esse meio de comunicação divino-humano; profetize, sim, tendo como alvo edificar. Quem ama edifica. Assim, não se deve profetizar por competição, nem para procurar controlar a vida do outro. É!! Existem profecias, na qual a pessoa, não fala da parte de Deus, mas de si mesmo. São pessoas que conhecem a vida do outro, e, não tendo coragem de aproximar-se dela para fornecer um conselho, temendo ser desprezado, utiliza desse expediente santo e o transforma numa ferramenta para impor seu ponto de vista pessoal sobre a vida do outro. Pois, devido ao fato da igreja acreditar mais em profecias desse nível, alguns identificaram esse grau de temor, e... pronto! Descobriu-se um meio de falar à pessoa, usando como ferramenta, a profecia. Pobre coitado!!

Alguns eruditos pensam que o mesmo [(1 Co 14.26)]14 descreve o que eles faziam, e que as palavras “um... outro... este... aquele... e ainda outro...” significam que muitos deles procuravam exercer grande variedade de dons espirituais, de ensinamentos, de falar em línguas, de cânticos, de cânticos

13 Idem. 379-382 p. 14 Grifo meu

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em línguas, etc., e que cada qual agia de tal modo a abafar e ultrapassar aos demais. Ora, isso transformava a congregação cristã de Corinto em um teatro, onde cada ator procurava ser o grande centro das atenções.15

Paulo, então, estabelece a ordem no culto, tratando, principalmente das questões de maturidade, pois uma igreja madura é uma igreja equilibrada e descarta as obras da carne. As raízes de confusão que existia ali envolviam não somente o falar em línguas, mas também a profecia. Quando Paulo, no versículo 33 do capítulo 14 de 1º aos Coríntios, afirma que “... Deus não é Deus de confusão, mas sim de paz...”, ele destaca o termo “confusão”, como algo que devia ser evitado; pois, que indica o tumulto, a desordem, a baderna, que pode, também, significar qualquer forma de desordem, distúrbio, desregramento. “Dons descontrolados levaram Paulo a pensar acerca dos cultos pagãos, onde a desordem e os sentimentos frenéticos eram reputados como grande sinal da possessão por partes dos deuses. Mas o apóstolo não queria que os cultos da igreja de Cristo se assemelhassem aos ritos frenéticos dos pagãos”.16 As raízes da confusão são oriundas de homens descompromissados com Deus e com o próximo. Veja:

1. Quando os homens substituem a edificação espiritual pelos interesses próprios e pela ostentação, necessariamente passa a imperar a confusão espiritual, em resultado. Isso foi o que aconteceu em Corinto. 2. Um homem qualquer falava em línguas, profetizava e tomava o tempo restante com sermões longos e supostamente piedosos, não permitindo a participação de outros. Esse indivíduo estava servindo a si mesmo, procurando o louvor e o reconhecimento alheios, como se fora o ator de um teatro. Isso é confusão, e não edificação! 3. A simulação dos dons espirituais (pois quem diria que o Espírito Santo é quem inspirava o que aquelas pessoas faziam?) achava-se na raiz da confusão que imperava na igreja de Corinto.17

O Deus de paz é o Deus de natureza pacífica, que não se compraz na contenda. A confusão e desordem são atitudes contrárias à própria natureza divina.

Assim, temos que, a profecia pode ser estabelecida pela vaidade humana e pelas contendas, e para tanto é preciso, para evitar esses equívocos, que a igreja desenvolva o dom de discernimento. Esse discernimento deve ser a base para o julgamento a que se refere o apóstolo Paulo em 1 Co. 14.29, quando diz “Tratando-se de profetas, falem dois ou três, e os outros julguem com zelo tudo o que foi dito”.18 Analisar a profecia é um ato para os crentes. John Short, citado por Champlin, disse:

Esse dom (da profecia) está sujeito à disciplina do autocontrole. As reuniões de natureza religiosa, tais como as reuniões de outras naturezas, podem ser saturadas ao ponto da total incapacidade dos ouvintes absorverem qualquer coisa mais, se houver um excesso de iluminação profética. Paulo sabia que o indivíduo pode ficar ofuscado ante o excesso de luz, em mais de um sentido. Há um lugar genuíno para a proporção na

15 CHAMPLIN. O Antigo Testamento Interpretado – São Paulo: CANDEIA, 2000. Volume 4. 226 p. 16 Idem. 229 p. 17 Ibidem. 228 p. 18 BÍBLIA. Português. Novo Testamento King James. São Paulo, Sociedade Ibero-Americana. 404 p.

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prédica, até mesmo nos casos onde há um único pregador. Aqueles que pregam se inclinam por esquecer a significação do fato que eles contam com um tempo normalmente maior para meditarem e para se prepararem, do que aqueles que são os ouvintes. Deixar os ouvintes com a impressão que o pregador tem reservas, e que essas poderão ser expostas em uma ocasião posterior apropriada, é muito melhor do que a tentativa de exaurir as riquezas inexauríveis do evangelho, em uma única reunião pública. Quão sábio era Paulo!”19

Em se tratando da igreja, e de profetas que, na verdade procuram expressar a vontade de Deus, embora, não sejam infalíveis, é necessário o julgamento do conteúdo da profecia, e não do profeta. Isso evitaria que àqueles que Deus levanta não fossem “marcados” e “taxados” como pessoas das quais deveria se evitar, mas, sim, de reconhecer a fragilidade do “vaso” usado. Esse sentimento demonstra humildade da parte de quem julga e estabelece um padrão de comportamento humilde; e, também, do profeta, ao reconhecer que, dada a sua infalibilidade, pode, também, errar. Necessitando, também, todos da graça de Deus!! Alguém em serviço para a comunidade não pode pura e simplesmente ser banido dela. Mas, seu aperfeiçoamento se dará justamente nesse julgamento (da profecia). Pois, tentando agradar a Deus, ou por falta de maturidade, ou por displicência, acabam errando. E, muito! A igreja precisa ajudá-los, pois ela, também, será ajudada no serviço profético.

Os profetas atuam como guardiães da igreja. “... e os outros julguem...”. Esse juízo deve averiguar se a “profecia” proferida vem ou não da parte do Espírito de Deus. O dom do “discernimento de espíritos” sem dúvida alguma é o dom que aqui entra em ação; não está em foco o mero juízo intelectual, e nem apenas um juízo gerado pela reação emocional ao que acaba de ser dito. Paulo quis dar a entender um julgamento verdadeiramente espiritual, mediante certa operação do Espírito de Deus. Essa manifestação protege a congregação dos falsos profetas, porquanto nem todos que dizem “Assim diz o Senhor” realmente falam por inspiração divina. Paulo parece dar a entender que os que falam por inspiração também possuem algum discernimento espiritual. Esses deveriam perceber se alguém está falando mediante o “Espírito Santo”, ou mediante algum espírito estranho [humano ou demoníaco],20 talvez até mesmo maligno, que se apresente como anjo de luz, com o propósito de iludir (ver II Cor. 11.14); e também deveriam esses perceber se o espírito humano do profeta está de acordo com a natureza do Espírito de Deus e seus ensinamentos. Assim, pois, os profetas devem agir como aqueles que edificam a congregação, e também como aqueles que são seus guardiões. Não devem permitir que mestres e ensinamentos falsos atuem livremente na igreja.21

Discernimento de espíritos é um dom de sua importância para igreja, pois, através dele, consegue-se lapidar e purificar o conteúdo das profecias. Isael de Araújo nos ajuda, mais uma vez, nesta questão:

Dom de Discernimento de Espíritos (1 Co. 12.10). Trata-se de uma dotação especial dada pelo Espírito, para o portador do dom discernir e julgar corretamente as profecias e distinguir se uma mensagem provém do

19 CHAMPLIN. O Antigo Testamento Interpretado – São Paulo: CANDEIA, 2000. Volume 4. 228 p. 20 Grifo meu. 21 CHAMPLIN. O Antigo Testamento Interpretado – São Paulo: CANDEIA, 2000. Volume 4. 228 p.

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Espírito Santo ou não (1 Co. 14.29; 1 Jo. 4.1). No fim dos tempos, quando os falsos mestres (Mt. 24.5) e a distorção do cristianismo bíblico aumentarão muito (1 Tn. 4.1), esse dom espiritual será extremamente importante para a igreja.22

Ainda, sobre discernimento, Shore, citado por Champlin, esclarece acerca da natureza desse dom que é: “O poder de distinguir entre as operações do Espírito Santo e as operações de espíritos malignos e enganadores (ver I Tm. 4.1 e I João 4.1)”.23

Existem muitos indivíduos, dotados de poderes espirituais e psíquicos, que não pertencem ao reino da luz. Muitos existem que não confessam e nem aceitam a Jesus como Senhor. Profetas falsos causaram muita confusão na igreja cristã primitiva . Talvez as comunidades cristãs fossem um tanto infantis em sua aceitação de qualquer manifestação aparentemente sobrenatural. Ora, o dom do discernimento de espíritos servia de ajuda à igreja, para que esta pudesse distinguir o falso do verdadeiro, para que percebesse quando Deus opera através de um homem, ou quando atua algum “espírito”, algum poder estranho, mais do que humano, mas mesmo assim estranho. Lemos em I João 4.1 “Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos, se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora”. A grande distinção entre os falsos e os verdadeiros é se confessam a Jesus como Senhor, vindo na carne. Naturalmente, o gnosticismo é aqui particularmente referido. A palavra “... espírito...”, provavelmente é uma alusão direta aos indivíduos “influenciados por algum espírito”, o que indica, portanto, tanto o espírito do homem assim controlado, como o espírito sobre-humano que controla aquele. Pois existem outros “espíritos”, além do Espírito Santo. Talvez nenhum outro dom seja mais necessário na igreja, hoje em dia, do que esse, numa época em que tantas igrejas locais dos crentes se têm transformado em virtuais centros de espiritismo, a funcionarem sob o pendão de Cristo. Qualquer exercício dos dons espirituais, em uma congregação local, é perigoso sem o concurso do “dom de discernimento de espíritos”, que controle aquela atividade. A própria ausência desse discernimento de espíritos serve de indicação da natureza estranha de muitos dos “espíritos” que operam entre as igrejas, hoje em dia. Pois se os dons fossem realmente provenientes do Espírito Santo, em qualquer dada igreja local, também deveria estar em funcionamento o dom de discernimento de espíritos, que visa conservar os crentes libertos de influências estranhas.24

Em termos práticos, como se dava esse julgamento, fundamentado no amor e com o dom do discernimento? J. D. Douglas nos ajuda:

Dois testes eram aplicados a qualquer declaração profética: primeiro, havia o teste da experiência de outros profetas presentes. Diz o apóstolo “e os outros julguem” (vers. 29), ou seja, deviam sujeitar a declaração que estava sendo feita a um exame, baseados no critério do conhecimento que tinham de Deus e Sua verdade. Em segundo lugar, havia o teste da totalidade do depósito apostólico. O teste do verdadeiro profeta, ou de qualquer indivíduo que apresenta reivindicação de espiritualidade, é expresso pelo apóstolo

22 DICIONARIO DO MOVIMENTO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, 268 p. 23 CHAMPLIN. O Antigo Testamento Interpretado – São Paulo: CANDEIA, 2000. Volume 4. 188 p. 24 CHAMPLIN. O Antigo Testamento Interpretado – São Paulo: CANDEIA, 2000. Volume 4. 188 p.

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com as palavras: “reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo”, pois, à parte disso, não haveria outra coisa senão mera ignorância (vers. 37 e 38). Isso nos ensina que os profetas não eram fonte de novas verdades apresentadas à Igreja, mas meros expositores da verdade doutro modo revelada. Assim como o profeta do Antigo Testamento se mantinha em posição de subordinação para com Moisés, que provia a norma doutrinária do ensinamento correto, semelhantemente os profetas do Novo Testamento se mantinham, em relação aos apóstolos, estando assim obrigados a submeterem tudo ao teste daquilo que os apóstolos haviam declarado como Palavra de Deus. É nesse sentido que os apóstolos exortaram aos crentes de seus dias, e certamente nos exortariam hoje também, que desejassem zelosamente profetizar: não que desejassem a notoriedade de inovadores doutrinais, mas antes que contendessem zelosamente pela verdade uma vez por todas, entregue aos santos.25

O problema está, quando, se proliferam as profecias, e, a igreja, não consegue discernir. Aí a confusão está arrumada. Novamente, pergunta-se, com mais elementos, agora: Em que profeta acreditar, Jeremias ou Hananias, se não há discernimento acerca do conteúdo de sua mensagem? Como saber se era de Deus ou não? Vamos tratar, agora, dos falsos profetas.

Os falsos profetas

A Bíblia nos alerta acerca dos falsos profetas. Aqui não estamos lidando com relação aos verdadeiros profetas que se deixam levar pelas emoções, ou, mesmo, pela promoção pessoal ou por competição, tratados a pouco. Mas, sim, do falso, propriamente dito. Para analisar o falso é preciso conhecer o verdadeiro. E a confusão surge nessa questão. Como distinguir o falso do verdadeiro, sem uma base sólida. As heresias que surgiram na igreja só o são em função da ortodoxia cristã. Ou seja, ao conhecer plenamente a verdade, consegue-se saber aquilo que é falso. O Pr. Claudionor de Andrade, quando escreve a interação nessa lição, informa “a respeito da luta de Jeremias contra os falsos profetas, em especial Hananias”.26

Os pseudoprofetas trabalhavam em benefício próprio. Tinham uma boa posição financeira, política e social e entregavam mensagens falsas, levando o povo de Deus a tropeçar. Eles eram bem populares, pois proclamavam somente o que as pessoas queriam ouvir. Aqueles que deveriam falar em nome de Deus, infelizmente, haviam se tornado um obstáculo para que o povo abandonasse o erro.27

Aqui chegamos no ponto onde estava Jeremias. Nem sempre é fácil identificar um falso profeta. Jeremias, profeta fiel a Deus, cuja Palavra foi confrontada por um pseudoprofeta, não temia, em comunicar ao povo as Palavras do Senhor. Não se preocupava com o que o povo pensava acerca dele mesmo; pois, ele, Jeremias, estava à serviço de Deus.

25 O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA. São Paulo: Edições Vida Nova, 1997. 1329 p. 26 LIÇÕES BÍBLICAS. Jovens e Adultos. 2º Trimestre de 2010. CPAD, 2010. 57 p. 27 Idem.

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Uma das formas de identificar um falso profeta é averiguar sua vaidade. O falso profeta é vaidoso, faz de tudo para agradar. Procura aprovação humana, sem importar-se com a aprovação divina. Suas mensagens procuram sinalizar a vontade das pessoas. Alguém pode questionar: mas, então, o verdadeiro profeta só traz mensagens de exortação e nunca uma mensagem branda, amiga, que agrade aos ouvidos humanos? Não, necessariamente! O verdadeiro profeta, também, traz palavras que soam bem aos nossos ouvidos. Entretanto, não sem antes, primeiramente, sinalizar a vontade de Deus.

Ora, convenhamos, os falsos profetas anunciam palavras boas e de prosperidade independente do estado espiritual das pessoas. Isto é, a pessoa pode estar em pecado grave, e o falso profeta transmite a ele mensagens de bênçãos, como se aquela pessoa, que está em pecado, tivesse a aprovação de Deus. O que não é verdade!! O verdadeiro profeta, como Jeremias, só falaria palavras agradáveis se, em primeiro lugar, o povo mudasse de posição diante do pecado, rejeitando-o, e voltando-se para Deus, santificando-se. Aí, sim, Deus renovaria as esperanças, fortaleceria na fé, e ajudaria seu povo, confirmando suas bênçãos.

Então, temos aqui, uma forma peculiar de analisar o falso profeta, e, se, a sua mensagem está fora de contexto da realidade do povo em sua relação com Deus. O falso e o verdadeiro profeta se distinguem quando sua mensagem está em acordo com a forma de relacionamento que o povo tem com Deus. Vejamos algumas situações:

1) Se o povo está em pecado e afastado, e, em rebelião, apostatando-se da verdade eterna, então o Senhor Deus, que é Santo, e que ama as pessoas, mostrará o caminho do arrependimento, exortando a que abandonem o erro e se voltem para Deus, renovando a esperança do povo, “pois sem santificação ninguém verá Senhor”. E, se pó povo resiste, então Deus permite a disciplina, que muitas vezes é bem dolorida;

2) Se o povo está agradando a Deus, podem surgir duas suposições:

a. O profeta poderá transmitir mensagens que comprovam essa boa relação, através de palavras que agradam nossos ouvidos; e/ou

b. O profeta poderá, também, transmitir mensagens que não soem bem aos nossos ouvidos. Podendo ser uma exortação, mesmo que estejamos numa boa relação de comunhão com o Senhor, a fim de prevenir de perseguições, e, de possíveis erros futuros. Entretanto, mesmo que uma mensagem dessa ordem não soe bem aos nossos ouvidos, assim, mesmo elas serão boas mensagens, pois serão sempre amigáveis.

A mensagem sempre deve estar correlacionada com o nível de relação do povo com Deus. Ora, Deus quer ter comunhão com seu povo, e esta comunhão está firmada em dois pilares: na qualidade desse relacionamento, em santidade; e no modo desse relacionamento, em amor. Quando um desses pilares é estremecido, um influencia no outro: ao afrontar a santidade de Deus, a disposição amorosa se torna em ira divina; pois, mesmo amando muito, Deus não admite um relacionamento fora da dimensão de santidade.

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Deus chama seu povo para ser santo. E quando o povo não se santifica, não adianta profetas tentarem amenizar essa situação com palavras lisonjeiras, de afago, de adulação; contrariando a vontade de Deus.

No contexto de Jeremias, havia uma situação de apostasia. O profeta de Deus então exortava ao povo a que mudasse seu comportamento. Ele, o profeta, com todas suas forças, procura remover do coração dos israelitas a apostasia a que estavam cometendo. Mas eles não desistiam de buscar seus próprios caminhos maus. “Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jr. 2.13).

É impressionante a capacidade humana de deixar os caminhos do Senhor!! Não é uma característica própria somente de Israel, mas de toda a humanidade, que em Israel encontra sua reverberação. A discussão entre vontade de Deus e vontade humana está envolto da resistência da humanidade em conviver com o Deus Todo-Poderoso, sem contudo compreender a questão dualística e incompatível entre “Santidade divina x Impiedade humana”. O resultado do afastamento de Deus permitiu o domínio do pecado em toda a esfera da humanidade, trazendo morte, dor, sofrimento, ilusão, engano, falsidade, crueldade. Mas, principalmente, a decisão voluntária do homem de afastar-se do Senhor.

Os perigos dessa atitude são imensos, e as conseqüências, terríveis. Jeremias tinha como missão exortar o povo à obediência e alertá-los quanto à desgraça que se avizinhava de suas fronteiras: os exércitos babilônicos28.

O texto que exemplifica bem a sua pregação neste período é Jr 2.1-37. É um texto escrito em um gênero literário muito usado pelos profetas, o rîbh (= processo). Funciona assim: parte-se do pressuposto de uma aliança entre as duas partes em questão, Iahweh e Israel. Iahweh abre, então, através do profeta, um processo contra Israel, motivado por sua quebra do pacto. Como parte ofendida, Iahweh convoca a natureza como testemunha, questiona o comportamento de Israel, relembra os benefícios passados e ameaça com uma punição.

Jeremias responsabiliza quatro tipos de autoridades pela idolatria e pela desgraça em que caiu o país: são os reis, os príncipes, os sacerdotes e os profetas. A volta ao javismo é possível se Israel resolver praticar a verdade ('emeth), o direito (mishpât) e a justiça (sedhâqâh), segundo Jr 4.2.

Devido os israelitas haverem escolhido seguir pelo caminho da idolatria, e adorar ao SENHOR apenas exteriormente, Deus incumbiu o profeta Jeremias de proferir um sermão na porta do átrio do Templo. O átrio exterior era o pátio onde os judeus se reuniam para cultuar. Os povos de todas as cidades reuniam-se no ali, e assim podiam levar a mensagem de volta para as suas cidades.29

28 LIÇÕES BÍBLICAS. Jovens e Adultos. 2º Trimestre de 2010. CPAD, 2010. 05 p. 29 GOMES, Eliseu Antonio. Disponível em http://belverede.blogspot.com/2010/04/o-discurso-de-jeremias-na-porta-do.html, acessado em 17/04/2010, às 10h14)

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Um violento discurso contra o Templo, que foi conservado em duas versões: Jr 7.1-15 (texto tipo C) e Jr 26.1-24 (texto tipo B). O primeiro destaca o conteúdo, o segundo as circunstâncias do discurso. Entre setembro de 609 e abril de 608 a.C., talvez durante uma festa, Jeremias coloca-se no pátio do Templo e denuncia a confiança da população judaíta no Templo de Iahweh como falsa e promete a destruição do santuário, tal qual outrora acontecerá com Silo. A morte de Josias em combate contra o faraó, o curto governo de seu filho Joacaz (3 meses), seu exílio, a dependência do Egito sob Joaquim: tudo isso criara um clima de incerteza e insegurança geral. O que faz o povo? Refugia-se na crença de que a presença de Iahweh no Templo garante a cidade e a sua liberdade. Jeremias denuncia esta crença porque, segundo ele, só a aliança Iahweh-Israel poderia garantir o povo. Mas esta não funcionava, pois nos tribunais não se praticava o direito, oprimiam-se o estrangeiro residente, o órfão e a viúva, condenava-se o inocente e, além disso, seguiam-se deuses estrangeiros. 30

Deus chama o povo mais uma vez a arrepender-se de seus maus caminhos, mas eles criam estar seguros simplesmente por causa do templo e dos seus ritos. Não percebiam a necessidade de arrependimento.

O povo cometia todo tipo de pecado (vv. 5-9); depois, no sábado, vinha ao templo, apresentava-se a Deus, e deste modo enganava-se, crendo que estava seguro mediante o amor que Deus lhe tinha. Existe na atualidade esta falsa teologia. Os crentes vivem em desobediência a Deus e à sua palavra, e julgam-se seguros, porque crêem no “sangue de Cristo”. Na linguagem de Jeremias, estão confiando “em palavras falsas (i. e., enganosas), que para nada são proveitosas” (v.8)31

Jeremias ao confrontar a religião de Judá, o fez de forma a denunciar seus abusos. Devemos ter bem clara que uma coisa são os preceitos de Deus, e outra coisa é a interpretação que as pessoas fazem desses preceitos. Não raramente, os preceitos de Deus são distorcidos conforme a conveniência da ocasião. Veja, por exemplo, como os falsos profetas que se gabavam por falar em nome de Deus, acabavam por proferir mentiras, conforme o que as pessoas queriam ouvir. Então temos um povo querendo ser enganado e um grupo de pessoas dispostas a enganar. Que situação!!

A elevada concepção de Jeremias sobre sua chamada, e sua entrega total à mesma, criavam dentro de si um antagonismo inflexível contra os profetas e sacerdotes profissionais, e estes, por sua vez, eram seus inimigos jurados. A polêmica principal de Jeremias com os sacerdotes era a respeito de sua orientação que procurava tirar lucro de seu ofício e a respeito da contenção dos mesmos que o Templo de Jerusalém nunca cairia perante os babilônicos (Jr. 6.13; 18.18; 29.25-32, etc.). Os profetas falsos confirmavam o iludido povo de Judá nesse otimismo fácil (Jr. 8.10-17; 14.14-18; 23.9-40).32

30 Disponível em http://www.airtonjo.com/faq_jeremias.htm#Onde nasceu o profeta Jeremias?, acessado em 17/04/2010, às 10h39) 31 BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Pentecostal. Almeida Revista e Corrigida.CPAD, 1995. 32 O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA – Edição em 1 Volume. Organizado por J. D. Douglas. Editor da edição em português: R. P. Shedd, M. A., B. D., Ph. D. Tradução João Bentes – São Paulo: Edições Vida Nova, 1997.

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Jeremias procurava vencer essa situação com engajava confiança em Deus, que se desenvolvia em esperança. A concepção que Jeremias tinha acerca de Deus era totalmente diferente da concepção dos falsos profetas e sacerdotes. Jeremias cria num Deus que tudo vê e faz. Essa concepção desenvolveu em Jeremias, a despeito da idolatria e imoralidade de Israel, uma profunda esperança de restauração. Jeremias cria no Deus Criador e Soberano Senhor. Para Jeremias, Deus governa sobre todas as coisas; dispõe de tudo conforme Sua vontade; Jeremias sabia que “Deus conhece os corações dos homens (Jr. 17.5-10), e é a fonte da vida para todos quantos nEle confiam (2.13; 17.13). Ele ama ternamente ao Seu povo (2.2; 31.1-3), mas exige a obediência e a lealdade da parte deles (7.1-15)”.33 Por conta disso Jeremias entendia que “tanto os sacrifícios oferecidos a deus pagãos como as oblações a Ele oferecidas por parte de um povo desobediente são igualmente abomináveis para Ele”.34

Assim, Jeremias pôde construir sua característica essencial: era um pregador de julgamento que não se deixava comprometer.

Entretanto, seu anúncio de julgamento estava eivado do princípio ao fim de esperança. O exílio de Judá na Babilônia não duraria para sempre (Jr. 25.11; 29.10). De fato, a própria Babilônia seria derrubada (caps. 50 e segs.). Essa palavra de esperança, concernente à sobrevivência de Judá depois do julgamento, estava presente na mensagem de Jeremias desde o início (Jr. 3.14-25; 12.14-17), porém, conforme a situação se ia tornando cada vez mais difícil, a confiança de Jeremias brilhava com mais intensidade (23.18; caps. 30-33). E foi justamente essa esperança que deu nascimento ao seu grande ato nos dias mais negros de Judá (32.1-15). Jeremias pôde, dessa maneira, antecipar a destruição do Templo, a queda da dinastia davídica, a cessação do sistema de sacrifícios, e o ministério do sacerdócio com perfeita serenidade. Chegou até mesmo a proclamar que o sinal externo da aliança, a circuncisão, não tinha significado algum sem a circuncisão do coração (Jer. 4.4; 9.26; cf 6.10). Confiança no Templo, nos sacrifícios e no sacerdócio era vã a não ser que fosse acompanhada pela mudança de coração (7.4-15, 21-26). Até a própria arca da aliança seria eliminada (3.16). Conhecer a lei sem obedecê-la era totalmente inútil. Jeremias, por conseguinte, viu a necessidade da Lei ser escrita não em pedras, mas sobre o coração, assim impelindo a toda espontânea e perfeita obediência (31.31-34; 32.40). O desaparecimento dos sinais externos da aliança significaria não o fim da aliança, mas antes, a sua renovação sob uma forma mais gloriosa (33.14-26). Assim, sendo, Jeremias olhava para bem além da volta de Judá do exílio, e bem além do reinício da vida na Palestina. No futuro ideal, a Samaria teria participação, a abundância prevaleceria, Jerusalém seria santa ao Senhor, e seria chamada de “Senhor, justiça nossa”. Seus habitantes retornariam ao Senhor arrependidos e de todo coração. Deus os perdoaria, poria dentro deles o Seu temor, estabeleceria o governo do príncipe messiânico sobre eles, e admitiria as nações gentílicas para que compartilhassem da bênção (16.19; 3.17; 30.9).35

Mesmo Israel tendo transformado a religião judaica numa religião como ópio. Deus procura restaurar essa nação.

33 Idem. 34 Ibidem. 35 O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA – Edição em 1 Volume. Organizado por J. D. Douglas. Editor da edição em português: R. P. Shedd, M. A., B. D., Ph. D. Tradução João Bentes – São Paulo: Edições Vida Nova, 1997.

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Os falsos profetas, assim como Hananias, falavam o que parecia bem aos seus próprios olhos e não segundo os olhos de Deus. Na lição bíblica temos as observações do Pr. Claudionor de Andrade que afirma:

Quem era Hananias: A única coisa que se sabe deste tal Hananias é que era filho de Azur. Ele era do tipo que impressionava. Falava como profeta, tinha discurso de profeta e como profeta, vestia-se. Aliás, era mais dramático que os profetas de Deus. Além disso, só falava o que o povo queria ouvir. Vinha ele pregando a paz e determinando a prosperidade. Positivamente, tudo confirmava. As Palavras de Hananias: Foi no auge da crise de Judá que Hananias aparece para perturbar o povo e afrontar o profeta Jeremias. Este exortava Judá a arrepender-se de seus pecados, a curvar-se ante a vontade de Deus e aceitar o jugo babilônico. “Politicamente correto”, aquele induzia o povo à rebelião, dizendo-lhe que, dentro de dois anos, seriam os cativos repatriados e os tesouros do Santo Templo, devolvidos. Sua profecia jamais se cumpriu; no teste do verdadeiro profeta, estava reprovado (Dt. 18.22).36

Qual é o teste para averiguar a veracidade de um profeta? “Quando o tal profeta falar em nome do Senhor, e tal palavra se não cumprir, nem suceder assim, esta é palavra que o Senhor não falou; com soberba a falou o tal profeta: não tenhas temor dele” (Dt. 18.22). Outras passagens bíblicas tratam da questão dos falsos profetas. Veja no próprio livro de Jeremias. A leitura é extensa, mas importante para compreensão:

“Quanto aos profetas. O meu coração está quebrantado dentro de mim; todos os meus ossos estremecem; sou como um homem embriagado e como um homem vencido pelo vinho, por causa do Senhor e por causa das palavras da sua santidade. Porque a terra está cheia de adúlteros e a terra chora por causa da maldição; e os pastos do deserto se secam, pois a sua carreira é má, e a sua força não é reta. Porque tanto o profeta como o sacerdote estão contaminados; até na minha casa achei a sua maldade, diz o Senhor. Portanto, o teu caminho lhes será como lugares escorregadios na escuridão; serão empurrados e cairão nele; porque trarei sobre eles mal, o ano mesmo da sua visitação, diz o Senhor. Nos profetas de Samaria, bem vi eu loucura: profetizaram da parte de Baal e fizeram errar o meu povo de Israel. Mas, nos profetas de Jerusalém, vejo uma coisa horrenda: cometem adultérios, e andam com falsidade, e esforçam as mãos dos malfeitores, para que não se convertam da sua maldade; eles têm-se tornado para mim como Sodoma, e os moradores dela, como Gomorra. Portanto, assim diz o Senhor dos Exércitos acerca dos profetas: Eis que lhes darei a comer alosna, e lhes farei beber águas de fel, porque dos profetas de Jerusalém saiu a contaminação sobre toda a terra. Assim diz o Senhor do Exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos profetas que entre vós profetizam; ensinam-nos vaidades e falam da visão do seu coração, não da boca do Senhor. Dizem continuamente aos que me desprezam: O Senhor disse: Paz tereis; e a qualquer que anda segundo o propósito do seu coração, dizem: Não virá mal sobre vós. Porque quem esteve no conselho do Senhor, e viu, e ouviu a sua palavra? Quem esteve atento à sua palavra e a ouviu? Eis que saiu com indignação a tempestade do Senhor, e uma tempestade penosa cairá cruelmente sobre a cabeça dos ímpios. Não se desviará a ira do Senhor

36 LIÇÕES BÍBLICAS. Jovens e Adultos. 2º Trimestre de 2010. CPAD, 2010. 59 p.

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até que execute e cumpra os pensamentos do seu coração; no fim dos dias, entendereis isso claramente. Não mandei os profetas; todavia, eles foram correndo; não lhes falei a eles; todavia, eles profetizaram. Mas, se estivessem no meu conselho, então, fariam ouvir as minhas palavras ao meu povo, e o fariam voltar do seu mau caminho e da maldade das suas ações. Sou eu apenas Deus de perto, diz o Senhor, e não também Deus de longe? Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? – diz o Senhor. Porventura, não encho eu os céus e a terra? – diz o Senhor. Tenho ouvido o que dizem aqueles profetas, profetizando mentiras em meu nome, dizendo: Sonhei! Sonhei! Até quando sucederá isso no coração dos profetas que profetizam mentiras e que são só profetas do engano do seu coração? Os quais cuidam que farão que o meu povo se esqueça do meu nome, pelos sonhos que cada um conta ao seu companheiro, assim como seus pais se esqueceram do meu nome, por causa de Baal. O profeta que teve um sonho, que conte o sonho; e aquele em quem está a minha palavra, que fale a minha palavra, com verdade. Que tem a palha com o trigo? – diz o Senhor. Não é a minha palavra como fogo, diz o Senhor, e como um martelo que esmiúça a penha? Portanto, eis que eu sou contra os profetas, diz o Senhor, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu companheiro. Eis que sou contra os profetas, diz o Senhor, que usam de sua língua e dizem: Ele disse. Eis que eu sou contra os que profetizam sonhos mentirosos, diz o Senhor, e os contam, e fazem errar o meu povo com as suas mentiras e com as suas leviandades; pois eu não os enviei, nem lhes dei ordem e não trouxeram proveito nenhum a este povo, diz o Senhor. Quando,pois, te perguntar este povo, ou qualquer profeta, ou sacerdote, dizendo: Qual é o peso do Senhor? então, lhe dirás: Vós sois o peso, eu vos deixarei, diz o Senhor. E, quanto ao profeta, e ao sacerdote, e ao povo que disser : Peso do Senhor, eu castigarei o tal homem e a sua casa. Assim direis, cada um ao seu companheiro e cada um ao seu irmão: Que respondeu o Senhor? Que falou o Senhor? Mas nunca mais vos lembrareis do peso do Senhor, porque a cada um lhe servirá de peso a sua própria palavra. Vós torceis as palavras do Deus vivo, do Senhor dos Exércitos, o nosso Deus.”(JEREMIAS 24.1-36).37

Os falsos profetas e falsos mestres apresentam equívocos diante do povo: Eles “levam Israel a se desviar pelas profecias de Baal; usam injustamente o poder, são perversos, cometem adultério e vivem a mentir; fortalecem as mãos dos malfeitores; enchem de vãs esperanças; apresentam heresias destrutivas que negavam a soberania do Senhor; são atrevidos, arrogantes, não temem difamar as autoridades, seguem os desejos corruptos da natureza pecaminosa, adoram a avareza; apelam ‘com paixões carnais’, prometem ‘liberdade’ da natureza humana, quando eles mesmos são escravos da corrupção”.38

Deus havia falado pela boca do profeta Jeremias que levaria seu povo cativeiro, e que por 70 anos permaneceria sob jugo de outra nação. Tempo, imagina-se suficiente para Israel aprender a nunca mais sair atrás de outros deuses, e, finalmente, amar o Senhor Deus acima de todas as coisas. Mas, outro profeta, Hananias, “falou o que o rei queria ouvir, profetizou o

37 BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Pentecostal. Almeida Revista e Corrigida.CPAD. 1111-12 P. 38 LIÇÕES BÍBLICAS. Jovens e Adultos. 2º Trimestre de 2010. CPAD, 2010. 58 p.

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que o povo ansiava escutar, e vaticinou o que todos almejavam acontecesse naquele momento”.39

Perceba, no texto de Jeremias 28.5 “Então, falou Jeremias, o profeta, a Hananias, o profeta, aos olhos dos sacerdotes e aos olhos de todo o povo que estava na Casa do Senhor”, e não aos olhos de Deus. O Senhor não aprovava Hananias como seu porta-voz. Jeremias, primeiramente, deseja que as palavras boas do profeta Hananias se cumprissem, pois Jeremias amava Israel. “Disse, pois, Jeremias, o profeta: Amém! Que assim faça o Senhor! Que o Senhor confirme as tuas palavras que profetizaste e torne ele a trazer os utensílios da Casa do Senhor e todos os do cativeiro a Babilônia a este lugar” (Jr. 28.6). Entretanto, Jeremias, agora, pretende por um fim à farsa, e mostra qual deve ser a prova da verdadeira profecia, que dá autenticidade ao profeta, e diz: “Mas ouve, agora, esta palavra que eu falo aos teus ouvidos e aos ouvidos de todo o povo: Os profetas que houve antes de mim e antes de ti, desde a antiguidade, profetizaram contra muitas guerras e contra grandes reinos guerra, e mal, e peste. O profeta que profetizar paz, somente quando se cumprir a palavra desse profeta é que será conhecido como aquele a quem o Senhor, na verdade, enviou” (Jr. 28.7-9). Então, empolgado, Hananias, fez o impensável e foi confirmar algo que não provinha de Deus. Talvez ali era sua chance de voltar atrás e se arrepender, mas foi mais longe em sua mentira: “Então, Hananias, o profeta, tomou o jugo do pescoço do profeta Jeremias e o quebrou. E falou Hananias aos olhos de todo o povo, dizendo: Assim diz o Senhor: Assim quebrarei o jugo de Nabucodonosor, rei da Babilônia, depois de passados dois anos completos, de sobre o pescoço de todas as nações.” (Jr. 28.10-11). Que situação embaraçoso!!

Nesse momento, Jeremias que não falava de si mesmo, nem para autopromoção, muito menos por contenda. Levantou-se e foi-se embora. “E Jeremias, o profeta, se foi, tomando o seu caminho” (Jr. 28.11). Perceba que até Jeremias se deixou levar pela palavra de Hananias, comprovando, assim, a astúcia pela qual se engana até mesmo os escolhidos, como bem vaticinou o Senhor Jesus. Por isso, o mestre Jesus, nos orientou para nos acautelarmos dos falsos profetas.

Ora, Jeremias não falaria algo que Deus não falou, então, seguiria seu caminho, afinal de contas, já havia deixado bem claro que se a profecia fosse de Deus, para ser autenticada, primeiramente precisaria ser confirmada pelos fatos. Então restava, somente, aguardar os fatos futuros, se procederia conforme as palavras de Hananias, que havia declarado “Assim diz o Senhor”.

Mas, Deus, que não se deixa escarnecer, e que tudo vê, inspirou o profeta Jeremias e o levantou com autoridade e poder. Aí se vê o PODER DA VERDADEIRA PROFECIA [grifo meu]. Diz a Bíblia: “Mas veio a palavra do Senhor a Jeremias, depois que Hananias, o profeta, quebrou o jugo de sobre o pescoço do profeta Jeremias, dizendo: Eis que te lançarei de sobre a face da terra; este ano, morrerás, porque falaste em rebeldia contra o Senhor” (Jr. 28.12-13). É de estremecer!! O verdadeiro profeta só fala quando vem a ele a Palavra do Senhor. Louvemos a Deus pela vida dos verdadeiros profetas.

39 Idem. 59 p.

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Ao povo que observava toda essa cena, e a Jeremias e Hananias, restavam-lhe apenas aguardar quem era o verdadeiro profeta. O tempo se passou. A angústia de Hananias por certo era grande, bem como dos que presenciaram aquilo. Jeremias, estava confortado pois tinha certeza de que a Palavra de Deus veio até ele. Pois, não havia programado nada daquilo. Suas emoções estavam voltadas para o bem de Israel, não tinha, em si mesmo, o desejo mesquinho de autopromoção, e nem de ficar bem diante da opinião pública israelita; como sua história bem o comprava. O profeta que fala pela boca do Senhor dorme tranqüilo. Pois o Espírito Santo testifica com seu espírito de que Deus falara.

Por fim, a Bíblia relata quem era o verdadeiro profeta e qual era a verdadeira profecia: “E morreu Hananias, o profeta, no mesmo ano, no sétimo mês” (Jr. 28.17). Pelo pouco que se conhece de Jeremias, por certo isso o entristeceu, mas, por outro lado, entendia a soberania de Deus.

Conclusão

Falsos profetas se apresentam aqui e acolá, e para impressionar usam de artifícios para reafirmar sua posição de homem de Deus. Ocorre que esses tais não estão preocupados com as conseqüências de suas falas, mas querem estar bem com o pastor, e com a congregação. Esquecem que, primeiramente, precisam estar bem com Deus. Diante dessa disposição (de não se importar em estar de bem com Deus), o inimigo de nossas almas se aproveita da situação e influencia o povo, através desses falsos profetas.

E o que é estar bem com Deus? É falar a sua Palavra. E como saber qual é a Palavra de Deus? Tendo comunhão com o Senhor. E como poderemos ter comunhão com o Senhor? Sendo amigo d’Ele, seguindo seus preceitos e fazendo sua vontade.

É verdade que os profetas enganam a igreja do Senhor, entretanto somos orientados pela Palavra de Deus a estar alerta!!! A igreja precisa saber ouvir a profecia. Muitos não sabem ouvir a profecia. Aliás, não sabem interpretar se determinada profecia é ou não de Deus. E, sem esse discernimento são lançados no campo das dúvidas. E qual será, então, sua forma de analisar uma profecia?? Através de seus sentimentos naquele momento; ou seja sua percepção pessoal emocional e não espiritual.

Então temos que considerar sempre três aspectos: a responsabilidade do profeta, a veracidade de uma profecia, e, a recepção dessa profecia por parte da igreja.

A parte interessada em ouvir, e, fazer conforme a Palavra de Deus, é a igreja. O falso profeta, por certo, pagará pelo seu erro, mas é a Igreja que precisa discernir entre o sagrado e o profano. Portanto, cabe a ela ter cuidado com o que ouve, para não desprezar as verdadeiras profecias; e, também, não incorrer no erro de dar ouvidos às falsas.

Falsos profetas sempre existiram aqui na Terra, mas Deus nos deu as ferramentas: comunhão, inteligência, santidade e discernimento. Portanto, Igreja, esteja sempre atenta para avaliar as profecias e filtrar o que se pode reter e o que desprezar.

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Soli Deo gloria!

Referências

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LIÇÕES BÍBLICAS. Jovens e Adultos. 2º Trimestre de 2010. CPAD, 2010. O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA – Edição em 1 Volume. Organizado por J. D. Douglas. Editor da edição em português: R. P. Shedd, M. A., B. D., Ph. D. Tradução João Bentes – São Paulo: Edições Vida Nova, 1997. DICIONÁRIO DO MOVIMENTO PENTECOSTAL – 1ª Edição. Organizado por Isael de Araújo – Rio de Janeiro: CPAD, 2007. TEOLOGIA SISTEMÁTICA: Uma Perspectiva Pentecostal. Título Original: Systematic Theology: a Pentecostal Perspective. 1ª Edição. Editado por HORTON, S. M. Tradução para o português: CHOWN, G. – Rio de Janeiro: CPAD, 1996.

São Bernardo do Campo, 17 de maio de 2010.

Valter Borges dos Santos40

40 Evangelista, pastor AD Thelma. E-mail: [email protected]