O Possível e o Impossível Em João Duns Scotus e Algumas Considerações

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    http://dx.doi.org/10.5007/1677-2954.2015v14n1p57

    ethic@-Florianpolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.1, p.57-81, Jul. 2015.

    O POSSVEL E O IMPOSSVEL NA CONCEPO DE JOO DUNSSCOTUS E ALGUMAS CONSIDERAES

    THE POSSIBLE AND THE IMPOSSIBLE IN CONCEPTION OF JOHNDUNS SCOTUS AND SOME CONSIDERATIONS

    PABLO FERNANDO CAMPOS PIMENTEL

    (Pontifcia Universidade Catlica RS, Brasil)

    RESUMO

    Este trabalho com a investigao a cerca do problema do possvel e do impossvel tem como objetivo clarear emum primeiro momento, aquilo que Aristteles que brevemente concebe em sua Metafsica e intrincadamente se

    encontra naquelas obras de Joo Duns Scotus que ficaram conhecidas como os comentrios aos livros dassentenas de Pedro Lombardo. Juntamente com a interlocuo de grande importncia feita por Henrique deGand, o qual, pertence ao mesmo perodo de produo filosfica e teolgica de Scotus. O que se visa aqui trabalhar conceitos da filosofia da alta escolstica pouco estudados atualmente, como onipotncia divina,intelecto ou ideias divinas, possvel, impossvel, lgico e metafsico. Conceitos tais que, nos remetem a umuniverso de discusso muito rico, no qual se deve ter muita ateno e insistncia, pois o modo dispensado a essetipo de investigao um tanto rduo e altamente reflexivo. O cunho histrico e filosfico de tal estudo deimportncia equiparada, pois, sua importncia histrica se d ao se referir ao perodo no qual florescia nasuniversidades medievais as chamadas disputationese outro fator histrico muito importante foi o de que nessesculo em questo, a saber, o sculo 13, exatamente no ano de 1277, Henrique de Gand participava de algomuito importante, a condenao das 219 teses. Deste modo, Scotus escreveu trs verses aos Libri quatuor

    setentiarumde Lombardo, os quais serviam de base de estudos teolgicos para aqueles que desejavam se ordenare crescer dentro das ordens religiosas. De modo que, as distines sobre o possvel e o impossvel encontram -se

    de modo minuciosamente trabalhados nesses comentrios de Scotus aos Quatro livros das sentenas de PedroLombardo.Palavras-chave:Possvel. Impossvel. Scotus .Henrique de Gand. Onipotncia divina.

    ABSTRACT

    This work with research about the problem of possible and impossible aims clear at first, what Aristotle brieflyconceives in his Metaphysics and intricately is those works of John Duns Scotus that became known as thecomments to the sentences booksof Peter Lombard. Along with the dialogue of great importance made by Henryof Ghent, which belongs to the same period of philosophical and theological production of Scotus. What's aimshere is to work concepts of high scholastic philosophy currently little studied, as divine omnipotence, intellect ordivine ideas, possible, impossible, logical and metaphysical. Such concepts that lead us to a universe very rich ofdiscussion in which we must be very careful and insistence because accorded so this kind of research is

    somewhat arduous and highly reflective. The historical and philosophical nature of a such studies is ofequivalent importance, because, its historical importance is given when referring to the period in whichflourished in the medieval universities the said disputationsand other historical factor very important was that inthis century in question, to wit, the thirteenth century, exactly in the year of 1277, Henry of Ghent participatingin something very important, the condemnation of the 219 theses. That way, Scotus writing three versions to the

    Libri quatuor setentiarumof Lombard, which formed as the basis of theological studies for those who wished toorganized and grow within religious orders. So that, the distinctions about the possible and impossible are sothoroughly worked in these comments of the Scotus to the Four books of the sentences of Peter Lombard. Key-words: Possible. Impossible. Scotus . Henry of Ghent. Divine. Onipotence.

    INTRODUO

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    Comecemos com uma breve introduo quanto quilo que O Filsofo expressa em sua

    obra primordial no que tange o impossvel, conforme Aristteles (2005, p. 145):

    Efetivamente, impossvel a quem quer que seja acreditar que uma mesma

    coisa seja e no seja, (...) E se no possvel que os contrrios subsistam juntos nomesmo sujeito (e acrescente-se a essa premissa as costumeiras explicaes), e seuma opinio que est em contradio com outra o contrrio dela, evidentementeimpossvel que, ao mesmo tempo, a mesma pessoa admita verdadeiramente que amesma coisa exista e no exista. Quem se enganasse sobre esse ponto teria aomesmo tempo opinies contraditrias. Portanto, todos os que demonstram algumacoisa remetem-se a essa noo ltima porque, por sua natureza, constitui o principiode todos os outros axiomas.

    Portanto, pode-se notar precipuamente que o possvel e o impossvel, para Aristteles,

    esto ligados fundamentalmente quilo que no fere o princpio de no-contradio. Pois, em

    outras passagens da obra esses conceitos aparecem sempre relacionados quilo quenecessariamente tem conexo com um outro, ou, com aquilo que no vai de encontro com o

    princpio de no-contradio.

    Muitos poderiam inquirir-se quanto ao que significa dizer que uma coisa possvel ou

    impossvel. Quanto a esse questionamento, a saber, sobre o que so o possvel e o impossvel,

    tentar-se- demonstrar o pensamento de Aristteles em sua Metafsica e distinguindo duas

    formas de argumentao nas indagaes de Scotus sobre essas questes. As interpretaes que

    se fazem notar nos escritos de Joo Duns Scotus1

    e Henrique de Gand2

    que contemplam tantouma argumentao lgica quanto uma argumentao metafsica, as quais, por vezes se

    diferenciam e em outros momentos se harmonizam.

    Seguindo o questionamento de Scotus ser fundamental talvez que se faa a mesma

    indagao que esse se fez, se algo impossvel que seja feito, pergunta -se ento, deste modo,

    porque esse algo impossvel?

    Evidencia-se, de maneira muito clara, como j havia sido dito, duas formas de

    argumentao a respeito desses temas, a saber, uma argumentao metafsica e, todavia umaargumentao lgico/formal.

    As questes sobre o possvel e o impossvel aparecem em Scotus naqueles textos que

    ficaram conhecidos como os comentrios aosLibri quatuor sententiarumde Pedro Lombardo,

    ou seja, aos Quatro Livros das Sentenas. Faz-se importante ressaltar que Scotus fez trs

    comentrios a essa obra conforme Honnefelder (2010, p. 30):

    A mais antiga verso foi apresentada por Scotus em Oxford (designada comoLectura), na qual ele, mais tarde, comeou a retrabalhar (designada comoOrdinatio); segue-se a ela a verso que apresentou em Paris e que se encontra naforma de uma transcrio por parte de alunos (designada comoReportatio).

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    ethic@-Florianpolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.1, p.57-81, Jul. 2015.

    Constata-se, assim, ser de suma importncia investigar o que significa dizer que uma

    coisa ou algo seja possvel ou impossvel de ser feita, e se o for, por que o ? Por causa de

    Deus ou por causa da coisa criada?

    Ao analisarem-se as distines quadragsima segunda, quadragsima terceira e

    quadragsima quarta, a saber, naLectura I, Ordinatio I, eReportatio Parisiensis Examinata I,

    pode-se fazer um cotejamento e ao mesmo tempo perceber um amadurecimento no

    pensamento de Scotus. Onde, para se entender aquilo que Scotus concebe como algo ser

    feito possvel ou impossvel, entre uma distino e outra em comparao criteriosa entre uma

    verso a outra dos comentrios, descobrem-se os vrios conceitos-chave que Scotus usa para

    tentar elucidar este problema.Algo que, pode se perceber em atenta leitura passando de uma verso outra so as

    crticas que o autor faz a Henrique de Gand. A primeira, quanto a sustentar opinies opostas

    em dois textos diferentes quanto impossibilidade, pois, sobre a possibilidade constata-se que

    esse sustenta o mesmo. A outra crtica quando Scotus argumenta contra a primeira viade

    Gand, de que Deus a causa no-precisa da impossibilidade da coisa factvel.

    Cumpre-se no momento, uma anlise da exposio da argumentao, da forma como

    esta est disposta nos textos de Scotus. No entanto, quanto ao que se refere s distinesquadragsima segunda e quadragsima quarta, estas sero usadas como recurso explicativo a

    algo que no tenha se estabelecido suficientemente bem na quadragsima terceira distino.

    Acredita-se que, para um melhor panorama argumentativo, expor a progresso de um

    comentrio a outro, seja de fundamental importncia, visto que se finalizar na ltima obra de

    Scotus, a saber, a suaReportatio Parisiensis Examinata I, comentrio esse tido como o final

    sobre as Sentenas domestre Pedro Lombardo. O qual o terceiro e ltimo comentrio que

    Scotus realizou das mesmas, correspondendo assim, leitura que este realizou novamente emParis, no ano acadmico de 1302/1303, como requisito obteno do grau de doutor e

    sucessivamente sua nomeao como magister regens, em outras palavras, uma ctedra

    reservada Ordem franciscana na Universidade de Paris (SCOTUS, 2008).

    Ainda segundo o professor PICH em SCOTUS (2008, p. 14):

    (...) o conjunto de textos mencionado corresponde leitura de distines dasSentenas tal como anotada ou reportada (cf. a expresso reportatio) pelosdiscpulos e alunos e, nesse caso, tambm examinada (examinata) e aprovada pelo

    mestre Scotus para a publicao e divulgao.

    Por esse motivo, sempre se dar maior salincia aos argumentos levantados nessa

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    ltima verso dos comentrios, e isto, por motivos bvios, por possuir segundo muitos, o

    carter maduro e revisado dessas prelees das Sentenas. Outro fator que se faz necessrio

    o de que nos atenhemos ao fato de que, por vrias vezes, como anteriormente mencionado,

    como recurso explicativo recorrer-se- s distines quadragsima segunda e quadragsima

    quarta, ou seja, uma distino anterior e outra posterior, tendo em vista sempre o carter sutil

    e detalhista do qual Scotus sempre fora lembrado pela tradio filosfica e do qual fora

    intitulado, o Doctor Subtil. Deste modo, cr-se mostrar um quadro terico argumentativo

    muito melhormente elaborado e explcito sobre o referido e proposto tema.

    Portanto, a titulo de esclarecimento apenas, a exposio se far do seguinte modo,

    analisando nas trs verses do referido comentrio, (i) o problema sobre o qual se est a

    discutir, (ii) as opinies ou posies do interlocutor de Scotus, a saber, Henrique de Gand, (iii)as refutaes dessas opinies por parte de Scotus e (iv) as opinies prprias ou como

    aparecem nos comentrios por vezes, a opinio prpriade Scotus. Com isso pode-se dizer

    que esto abarcados de forma completa e sob um ponto de vista mais unificador a forma com

    a qual ao final desta analise poderemos compreender melhor a soluo ou solues que vo se

    dar aos referidos problemas.

    O problema nos trs comentrios de Scotus

    Aqui, volta-se questo inicial, geradora desse debate: O que significa dizer que algo

    seja impossvel de ser feito?

    Deste modo, far-se- o de antemo j dito, ou seja, uma anlise da posio de

    Henrique de Gand, bem como a refutao dessa opinio da parte de Scotus, subsequentemente

    a posio do prprio Scotus, a qual aparece logo na sequncia refutao da opinio de Gand.

    Dito isso, se faz necessrio que se d o titulo da quadragsima terceira distino nosrespectivos comentrios de Scotus e, comearemos por expor o titulo da quadragsima

    terceira distino em Lectura I: Utrum impossibilitas fiendi sit primo ex impossibilitate

    factibilis vel ex parte Dei facientis3, depois em ordinatio I, Utrum prima ratio

    impossibilitatis rei fiendae sit ex parte dei vel rei factibilis4 e por fim em sua Reportatio

    parisiensis examinata I, onde tem-se duas questes dentro da mesma distino, onde a

    quaestio prima recebe o seguinte nome Utrum prima ratio impossibilitatis in rebus sit ex

    parte Dei vel ex parte rei. As quais o professor Roberto Hofmeister Pich traduziu em sua

    coletnea de textos de Scotus primeiramente em Lectura I Distino 43 por Se a

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    impossibilidade de ser feito provm primeiramente da impossibilidade do factvel ou da parte

    de Deus que faz5. Depois em Ordinatio I Distino 43 por Se a razo primeira da

    impossibilidade de uma coisa a ser feita da parte de Deus ou da coisa factvel6e por fim

    em Reportatio Parisiensis examinata I Distino 43 dividida em duas quaestio, as quais a

    primeira denominada por Se a primeira razo da impossibilidade nas coisas da parte de

    Deus ou da parte da coisa7.

    Muito claramente pode se perceber uma pequena diferena nos ttulos entre as trs

    verses dos comentrios. E poderia se fazer a seguinte pergunta: Tratariam desse modo, do

    mesmo assunto ou problema?

    Cr-se que, mesmo com leves diferenas de nfases nos ttulos dessas distines, as

    mesmas tratem do mesmo problema, a saber, do problema da impossibilidade e da ligaodesta com Deus.

    A estrutura dos seus comentrios sempre se d, ou, se dispem do seguinte modo: (i)

    argumentos a favor e contra a tese de que tal impossibilidade sim, proviria primeiramente da

    parte de Deus, (ii) a exposio da opinio ou das posies de Henrique de Gand, (iii) a

    reprovao dessa opinio ou posies por parte de Scotus, (iv) a opinio prpria de Scotus a

    cerca do problema em questo e (v) uma breve posio quanto razo principal.

    Desse modo, exposto e delimitado o problema, ou seja, o de saber se a impossibilidadede ser feito provm primeiramente da impossibilidade do factvel ou da parte de Deus que faz,

    partimos para a analise dessa estrutura para que se possa chegar a concluses mais claras.

    Exposto, deste modo, o titulo da distintioj se pode perceber o problema sobre o qual quer se

    tematizar, Scotus inicia sua arguio com a defesa de que a impossibilidade de algo a ser

    feito provm primeiramente de Deus que no daria criatura capacidade ou como

    comumente utilizado, potncia para tal realizao.

    Assim, sempre teremos uma posio defendendo que tal impossibilidadeprimeiramente da parte de Deus e logo em seguida outra posio defendendo o contrrio,

    que primeiramente essa impossibilidade se d devido a uma incapacidade da criatura e no de

    Deus que no teria dado tal capacidade para que esse algo seja possvel.

    Deve-se notar que, no entanto, os primeiros argumentos dessas distines nas trs

    verses dos comentrios, no sero to salientados quanto o sero s opinies de Henrique de

    Gand e as subsequentes reprovaes e opinies prprias feitas por Scotus ao mesmo. Pois,

    estas so aquelas teses iniciais que sempre principiam (i) por defender a impossibilidade

    enquanto limitao do Poder divino e (ii) contra a tese de que a impossibilidade seria

    proveniente primeiramente da parte de Deus mas, sim da criatura.

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    A opinio de Henrique de Gand nos comentrios lectura i

    Depois disso, quanto exposio da opinio de Gand em Lectura I, em sua primeira

    via, este diz que Deus dito terpotentia activa, traduzindo-se por poder ativo e esse poder

    umaperfectio simpliciter, ou seja, uma perfeio pura, e o , segundo de Deo ad se, a saber,

    segundo Deus quanto a si mesmo e no na ordem a criatura. Aqui se encontra claramente um

    argumento metafsico, pois vai tratar do problema em questo enquanto ligado a Deus

    mesmo8. Pois, para este, visto que a potncia ativa pela qual Deus ser dito Omnipotente uma

    perfeio pura, a mesma sempre ser na ordem quanto a si mesmo e nunca na ordem ou,

    quanto a outro diferente de si, que no seja Deus. Por isso que, mais adiante, o mesmo far a

    diferenciao entre privaes e imperfeies em contrapartida a perfeies. Mas, antes disto,cabe demonstrar o esquema relacional do qual se vale Henrique, para provar a inverdade em

    dizer que a impossibilidade proviria primeiramente de Deus. E nessa linha, mostra -se

    necessrio expor tal quadro relacional, onde (i) a potncia ativa pela qual Deus dito potente

    somente em relao ao sujeito no qual a mesma , a saber, quanto a Deus mesmo, (ii) a

    potncia ativa em Deus considerada a potncia passiva na criatura em si e em (iii)

    considera-se essa potncia passiva na ordem para com Deus e em (iv) segue-se a relao da

    potncia ativa em Deus com a criatura e, por isso mesmo no diz uma dignidade, porque nadaque em Deus na relao com a criatura diz uma dignidade, dizendo que isso provado por

    Santo Anselmo no captulo quinze de seuMonologion(SCOTUS, 2008).

    Com isso, parece que aqui Scotus quer colocar a posio de Gand como defendendo a

    tese de que aquela potncia ativa que considerada em Deus uma perfeio pura, sempre

    considerada quanto a Deus em si mesmo e nunca em uma relao com a criatura, onde nada

    de perfeito e digno dito. E isso corroborado pela prpria exposio de Gand ainda no final

    de seu primeiro pargrafo quando este diz que essa potncia ser uma perfeio pura em Deusabsolutamente e no na ordem criatura. Posto isso, entra em cena um argumento dado por

    Henrique de Gand no qual diz que no se diria que algo ser feito impossvel porque Deus

    no pode fazer, mas, ao contrrio, Deus no pode fazer porque outra coisa no pode ser feita,

    de modo que (...) [(SCOTUS, 2008, p. 165)]. Assim, deste modo, se nos afigura claro que

    sob o aspecto metafsico da argumentao a impossibilidade de algo provm primeiramente

    do factvel e no de Deus que no pode no caso em questo primeiramente pela

    impossibilidade exterior a si mesmo. necessrio que aqui se pare e se reflita com bastante

    ateno e cuidado por um instante e possa se perceber a sutileza no argumento exposto por

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    Henrique de Gand, pois, o mnimo descuido que se venha a ter se pode passar

    despercebidamente por algo da mais suma importncia.

    Para que se entenda melhor aquilo que est sendo dito necessrio que se entenda o

    argumento lentamente, pois, em se tratando do argumento metafisicamente falando, pela

    argumentao feita at aqui por Gand, deve-se admitir que a impossibilidade primeiramente

    da parte da coisa, ou desse algo ser feito impossvel, pois, se Deus dito Onipotente e isso,

    por possuir esse poder ativo, o qual uma perfeio pura, e essa perfeio pura sempre com

    relao criatura na qual a mesma se d e nunca por uma relao desta com um outro. Dessa

    maneira, de fato, nunca poder se dizer que a impossibilidade de algo est ligada a uma no -

    potncia da parte de Deus. Pois, a sua Onipotncia e sempre foi com relao a si mesmo e

    nunca por uma relao deste com a criatura. E para que o argumento fique de forma maisexplicitamente clara destacar-se- como est no referido texto, SCOTUS (2008, p. 165):

    (...) embora algo seja dito possvel porque Deus primeiramente potente porpotncia ativa, no haver, contudo, uma ordem similar na privao e naimperfeio; donde no se diria que algo ser feito impossvel porque Deus no

    pode fazer [o mesmo], mas, ao contrrio, Deus no pode fazer porque outra coisano pode ser feita, de modo que por essa imperfeio, primeiramente h uma no-

    potncia da parte da criatura, e, em segundo lugar, segue-se uma relao de no-potncia para com Deus, e em terceiro lugar uma relao negativa de Deus com acriatura em razo da qual [Deus] dito no-potente.

    Portanto, cr-se ficar bastante clara a posio de Henrique de Gand quanto ao

    problema em questo, pois, colocando de modo objetivo e direto, uma coisa dizer que algo

    ser feito impossvel por que de si mesmo essa coisa impossvel e outra coisa dizer que

    impossvel porque Deus no pode. Por isso, Gand aponta que essa impossibilidade

    primeiramente na criatura, no factvel, que de si no tem capacidade para tal, para s depois

    atravs de uma relao negativa com a criatura dar-se a no-potncia em Deus. Deste modo a

    impossibilidade est na privao e na imperfeio, e s por isso Deus no pode tal coisa,porque a impossibilidade se encontra na privao e na imperfeio dessa criatura ou desse

    factvel. E contra essa natureza Deus no pode ir opostamente.

    No que tange segunda via dito justamente o contrrio, a saber, que algo

    impossvel porque Deus no pode e no o contrrio que Deus no pode porque impossvel.

    Seguindo essa linha de estruturao, tecer-se-o as duas criticas de Scotus a Henrique de

    Gand.

    A opinio de Henrique de Gand nos comentrios ordinatio i

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    Quanto ao que Henrique de Gand diz na Ordinatio, Scotus se resume a apenas

    mencionar as respectivas posies de Gand em seus textos quodlibetales, conforme SCOTUS

    (2008, p. 302-304):

    3. Aqui, dito por Henrique, na questo 3 do Quodlibet VI, -para o oposto disto,manifestamente, procura na questo 3, QuodlibetVIII.

    4. Contra essa segunda sentena, seja se ela dita corrigindo a primeira sentena desseartigo, seja se ela dita enquanto corrigida pela primeira, - no seria preciso,contudo, argumentar contra ele a no ser pelas suas prprias palavras, que implicammanifestamente coisas opostas.

    De modo que, no que diz respeito ao que Henrique expressa sobre o assunto em

    ordinatio, nos resignaremos ao que brevemente foi colocado por Scotus. Pois, se pode

    constatar que diferentemente do que aparece em Lectura, aqui em ordinatio Scotus faz suas

    crticas Gand dentro mesmo do tpico das posies deste. De fato, quando Scotus cita os

    textos de Gand, a saber, as quaestio 3 dos Quodlibet VI e QuodlibetVIII, no texto recm

    citado aparecem notas de rodap, onde Scotus menciona as posies de Henrique de Gand

    contidas nestes dois textos do mesmo. Nos quais, em Quodlibet VI questo 3 esse afirma de

    maneira bem sucinta onde aqui ir se parafrasear, que Deus no pode porque impossvel e

    no o contrrio, ou seja, de que impossvel porque Deus no pode algo, GANDAVO (1987,

    p. 49).

    No entanto, quando este fala sobre o mesmo assunto em Quodlibet VIII diz segundo

    interpretao de Scotus exatamente ou manifestamente coisas opostas, ou seja, de que algo ser

    feito impossvel porque Deus no pode e no o contrrio.

    A opinio de Henrique de Gand nos comentrios reportatio parisiensis examinata i

    Contudo, quanto ao que se encontra na terceira verso dos comentrios, a saber, nas

    reportationes, Scotus incorpora sutilmente novos elementos dentre os outrora mencionados.

    H, porm, uma novidade aqui, juntamente com o que j havia sido dito nessa distinctionas

    verses anteriores, ou seja, aquilo que dito de Deus quanto a si mesmo e quanto s criaturas.

    No entanto, vale a resalva de que aqui, nessa distino parece haver uma melhor

    sistematizao dessa opinio por parte de Scotus para que possa melhor argumentar contra

    Henrique de Gand. Para tanto, cr-se coerente referenciar o que fora dito nessa introduo por

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    ethic@-Florianpolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.1, p.57-81, Jul. 2015.

    Gand atravs das palavras de Scotus, conforme SCOTUS (2008, p. 466):

    (...) aquelas [propriedades] que so ditas de Deus existem numa trplice diferena.Algumas delas, pois dizem uma perfeio pura, como os atributos que convm a

    Deus em si e no por uma relao externa. Algumas dizem uma perfeio e umadignidade, mas no uma perfeio pura, a qual em todo e qualquer [ente] melhorser do que no ser, (...) e assim so aquelas [propriedades] que convm a Deus comrespeito criatura, tal como ser senhor, criador, governador e desse tipo. Outras[ainda] so as que convm a Deus privativamente ou negativamente, como oimpossvel, que priva nele a razo de potncia passiva.

    Dito isto, ou melhor, dizendo de forma mais explicita, os atributos de Deus so ditos

    ou podem ser pensados de trs formas distintas, a saber: como uma perfectio simpliciter, uma

    perfeio pura, ou seja, de Deus nica e exclusivamente quanto a si mesmo, de Deus em

    relao s criaturas e de Deus privativa ou negativamente, a qual em outras palavras Deus

    seria dito no potente perante algo.

    No entanto, um pouco mais adiante nessa mesma parte, ele responde questo sobre

    o que dizer do impossvel?9. Aqui mais uma vez, ele coloca que quanto a essas

    [propriedades] que so ditas de Deus negativamente na relao com a criatura no tem a

    primeira razo da parte de Deus, mas a primeira razo de impossibilidade da parte da

    criatura, conforme SCOTUS (2008, p. 467). E no que diz respeito ao impossvel

    privativamente, se faz certa hierarquizao quanto a atribuio dessa impossibilidade onde sediz que em um primeiro momento essa impossibilidade seria passiva, num segundo momento,

    uma impossibilidade da criatura para com Deus e em um terceiro momento a impossibilidade

    ativa de Deus com respeito criatura.

    Deve ser dito, no entanto, que essas coisas que at aqui, nessa distino foram

    colocadas, j foram ditas anteriormente, contudo, da forma como aqui foram colocadas essas

    afirmaes acredita-se terem sido mais bem elaboradas pelo prprio Scotus, a fim de que

    pudesse arguir melhor contra as mesmas. E isso se d, ao fato, de que na prxima opinio deHenrique de Gand se repete a mesma coisa do que anteriormente j havia sido dito por este, a

    saber, de que este se contradiz em dois textos diferentes. Nos quais, em um desses textos diz

    uma coisa e, em outro diz outra coisa completa e manifestamente oposta. A saber, que,

    conforme SCOTUS (2008, p. 468):

    (...) no pura e simplesmente verdadeiro sobre o impossvel que Deus no podefazer isto pelo fato de que isto no pode ser feito, mas, ao contrrio, [isto] no podeser feito porque Deus no pode faz[-lo]. Pois, assim como na [proposio]

    afirmativa no dito que Deus pode fazer algo porque aquilo possvel de ser feito,mas, ao contrrio, porque Deus pode fazer isto, por isso mesmo isto pode ser feito,seja subjetivamente, seja objetivamente, assim se d tambm na [proposio]negativa.

  • 7/25/2019 O Possvel e o Impossvel Em Joo Duns Scotus e Algumas Consideraes

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    66 PIMENTEL, P. O Possvel e o Impossvel na Concepo de Joo Duns Scotus e Algumas Consideraes

    ethic@-Florianpolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.1, p.57-81, Jul. 2015.

    Deste modo, Scotus pensa ter clareado bastante o problema do argumento de Gand,

    quanto sua contraditoriedade, expondo de maneira objetiva e clara a forma como este

    defende coisas opostas em textos diferentes. Porm, cumpre ressaltar que Scotus tende a

    concordar mais com a primeira opinio exposta e defendida por Henrique de Gand, a saber, a

    de que Deus no pode algo porque esse algo de si impossvel e, portanto, Deus no pode e

    no que impossvel justamente porque Deus no pode para com esse algo.

    Reprovao da opinio de Henrique de Gand por parte de Scotus lectura i

    Volta-se de todo modo agora reprovao da opinio de Henrique de Gand no texto deLectura I. Quanto s criticas que foram feitas por Scotus a Henrique de Gand nota-se de

    inicio que aquele comea por criticar a opinio deste nasegunda viapara s depois criticar a

    opinio exposta em sua primeira via. E isto, denota ao longo dos respectivos comentrios,

    certo tipo de critrio, o qual se v no modo como este diverge opinio de seu interlocutor,

    pois, ao comear sua critica pela opinio exposta sempre na sua ltima via, deixa claro querer

    atacar a ltima opinio exposta, pois ainda est viva no texto, para depois rebater a opinio

    exposta inicialmente.Seguindo, ento, o curso de suas criticas, comea-se por atacar veemente a contradio

    que claramente se pode perceber na opinio exposta nessa segunda via, onde Henrique de

    Gand afirma justamente o contrrio do que afirma em sua via anterior. A saber, que a

    impossibilidade primeiramente em Deus e s depois na criatura. Esse posicionamento

    contraditrio para Scotus, bem como para qualquer estudioso atento, se faz perceber

    claramente, pois em um momento faz uma afirmao dizendo que Deus no pode porque

    impossvel porque de si a coisa impossvel e em outro momento afirma falando justamente ocontrrio, que, impossvel porque Deus no pode para com esse factvel.

    E, no que diz respeito a essa segunda via, Scotus vai dizer que o dito precedente,

    exposto na via anterior, mais verdadeiro que esse segundo dito, (...) porque dizer que a

    negao e a privao so primeiramente em Deus e a partir disto na criatura deveras

    absurdo [(SCOTUS, 2008, p. 166)]. Com isso Scotus apenas corrobora aquilo que o prprio

    Henrique de Gand dizia no inicio, ou seja, que no existe ordem similar nas privaes e

    imperfeies e que as mesmas sempre sero primeiramente no sujeito no qual as mesmas se

    do e nunca por ao de um agente externo10.

  • 7/25/2019 O Possvel e o Impossvel Em Joo Duns Scotus e Algumas Consideraes

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    PIMENTEL, P. O Possvel e o Impossvel na Concepo de Joo Duns Scotus e Algumas Consideraes 67

    ethic@-Florianpolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.1, p.57-81, Jul. 2015.

    E, ainda, no tocante critica feita a essa via, deve-se prestar bastante ateno ao tipo

    de soluo que se d, pois aparentemente parece colocar a esse problema, onde conforme

    SCOTUS (2008, p. 167) ele diz:

    (...) contra aquela [segunda] via: nada pura e simplesmente impossvel a no seraquilo ao que repugna o existir; porm, a coisa nenhuma repugna primeiramente oexistir porque no h uma relao de um com a mesma, mas a razo primeira porque a algo repugna o existir ser intrnseca a partir da repugnncia formal [daquelestermos] a partir dos quais constituda: porque, pois, um daqueles [itens]formalmente repugna ao outro, por isso mesmo no podem constituir um nico, masquele [complexo], por causa da incompossibilidade deles, repugna o existir; se,

    portanto, algo impossvel de ser feito, isto ser da parte daquelas coisas quedeveriam constituir aquilo, porque se contradizem formalmente, e no por causa deum defeito de alguma relao com o mesmo. No deve ser dito, portanto, que,

    porque Deus no pode fazer, por isso mesmo impossvel que outra coisa seja feita.

    Acredita-se com essa afirmao que Scotus aqui tenha introduzido pela primeira vez

    em sua argumentao nessa distino o aspecto lgico do que dizer o impossvel. Pois,

    aparecem termos como, repugnncia formal das partes e incompossibilidade. Termos esses

    que denotam explicitamente o carter lgico da discusso. E isso se reveste de vital

    importncia, pois essa forma lgica de arguio caracterstica tpica do silogismo

    aristotlico.

    Portanto, nesse excerto Scotus vai entrar no mrito de que o impossvel todo e

    qualquer factvel que possua uma incompossibilidade, e, aqui se entende incompossibilidade

    como algo que por si possvel comporta uma incompatibilidade formal entre os seus termos,

    ou seus extremos como o mesmo vai dizer. Pois, pensando nessa direo pode -se notar

    quando se fala em repugnncia formal das partes e incompossibilidade, onde, por impossvel,

    se entende o todo que a partir dos seus termos ou extremos, esses termos ou extremos no

    podem formar esse todo coeso por haver em sua constituio, por assim dizer, uma

    contradio. Dito isso, percebe-se de maneira muito forte que para Scotus algo pura e

    simplesmente impossvel ser em um primeiro momento aquilo ao que repugna o existir, por

    comportar em sua constituio uma contradio, ficando bastante evidente nesses termos o

    principio de no-contradio de Aristteles do qual Scotus se vale para argumentar nesse

    caminho. Princpio esse que segundo Aristteles (2005, p. 145):

    Ns, ao contrrio, estabelecemos que impossvel que uma coisa, ao mesmo tempo,seja e no seja; e, baseados nessa impossibilidade, mostramos que esse o maisseguro de todos os princpios. Ora, alguns consideram, por ignorncia, que tambmesse principio deva ser demonstrado. (...) impossvel que exista demonstrao de

    tudo (...). Se, portanto, de algumas coisas no se deve buscar uma demonstrao,aqueles certamente no poderiam indicar outro principio que, mais do que este, notenha necessidade de demonstrao.

  • 7/25/2019 O Possvel e o Impossvel Em Joo Duns Scotus e Algumas Consideraes

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    68 PIMENTEL, P. O Possvel e o Impossvel na Concepo de Joo Duns Scotus e Algumas Consideraes

    ethic@-Florianpolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.1, p.57-81, Jul. 2015.

    Seguramente tomando esse axioma aristotlico, a saber, o princpio de no-

    contradio, Joo Duns Scotus desenvolve com consistncia sua argumentao a cerca do

    impossvel, o qual mais tarde o prprio Scotus insere dentro de uma de suas notas de rodap

    algo muito semelhante ao que o prprio Aristteles dissera, a saber, segundo o que fora dito

    pelo prprio Henrique de Gand em seu Quodlibet VI quaestio 3citado em SCOTUS (2008, p.

    303):

    O no poder fazer coisas contraditrias que so ao mesmo tempo atribudo a Deus,porque impossvel que essas mesmas em si recebam a simultaneidade; e dissotampouco deve ser procurada alguma razo da parte de Deus..., porque no h razo[para isso] a no ser uma [razo] puramente privativa, a qual no pode ser

    encontrada da parte de Deus segundo si.

    Assim, deste modo, parece que procurar razes ou motivos do por que da

    impossibilidade dos contraditrios subsistirem, segundo esses autores e desde Aristteles,

    quando este diz que o princpio de no-contradio no necessita de demonstrao, mostra-se

    ser de total insignificncia para a discusso em questo. Pois, o que parece ter se consignado

    com Henrique de Gand e Scotus que o princpio de no -contradio colocado como um

    axioma irrefutvel, por ser algo to amplamente aceito por outros pensadores de seu tempo, se

    afigura aos autores em questo como uma lei Divina da qual ningum pode transgredir, nem

    mesmo o seu criador, e conforme Gand e Scotus, para isto no precisaramos procurar um

    motivo da parte de Deus do por que nem mesmo Ele, Deus, no pode transgredir tal regra, tal

    lei, supostamente instituda como sendo constituinte da ordem do universo.

    Tem-se tambm a critica feita por Scotus primeira via de Gand, a qual Scotus

    argumenta assim, que, segundo a potncia ativa pela qual Gand diz que Deus o produtor de

    todo e qualquer possvel no ser de existncia, isso no mnimo equivocado, pois, para Scotus,

    primeiramente o ser tem ou ganha possibilidade sendo produzida antes naquilo que Scotuschama de ser inteligvel, a saber, obtm possibilidade no intelecto divino, pois como ele diz,

    segundo SCOTUS (2008, p. 168) (...) ademais, seguir-se-ia que em Deus haveria uma

    relao real com a criatura, porque precedente a toda operao do intelecto. Quanto ao que

    Scotus critica em Lectura deter-se- ao que at foi dito.

    No entanto, vale salientar que, pela primeira vez se tem mencionado por Scotus algo

    muito importante, ou seja, a diferena que o mesmo v entre a produo ativa externa e a

    produo intelectiva intra-mental do ser por parte de Deus.

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    ethic@-Florianpolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.1, p.57-81, Jul. 2015.

    Reprovao da opinio de Henrique de Gand por parte de Scotus ordinatio i

    Quanto ordinatio, Scotus comea por atacar o dito exposto por Gand quanto ao que

    diz respeito que o mesmo denomina em Deus como sendo a potncia ativa, conhecida tambm

    por onipotncia. Referindo-se a essa potncia ativa pela qual Deus dito ser onipotente como

    no sendo formalmente o intelecto, mas como que pressupondo a ao do intelecto. Dizendo

    algo muito importante, que, a saber, o intelecto divino ser aquilo pelo que h a primeira

    razo da possibilidade (...). Logo, no aquela potncia ativa pela qual Deus chamado de

    onipotente que a razo primeira da possibilidade (...). De acordo com SCOTUS (2008, p.

    305).

    De fato, no pargrafo seguinte temos uma definio sobre o possvel que de certomodo nos ajudar a entender, em parte, o que o impossvel. A saber, de que (...) o possvel,

    na medida em que termo ou objeto da onipotncia, aquilo ao que no repugna o existir e

    que no pode a partir de si existir necessariamente. Conforme SCOTUS (2008, p. 305).

    Aparece claramente mais uma vez o argumento lgico, no entanto, dessa vez no que

    toca ao possvel. Porm, estritamente relacionado ao impossvel, pois, se poderia dizer que

    algo impossvel aquilo que repugna de si o existir, e, ao que repugna de si o existir

    poderamos dizer baseados no dito anterior que algo feito ou constitudo de partesformalmente incompatveis entre seus extremos. Para que o argumento se revista de fora

    acredita-se podermos citar algo que se encontra na distino anterior, ou seja, na distino

    quadragsima segunda, com o seguinte titulo Se o fato de Deus ser onipotente pode ser

    provado pela razo natural e usar-se- o exemplo da ordinatio I, onde se podem ler os

    seguintes trechos, segundo SCOTUS (2008, p. 291):

    (...) distinguindo que onipotente por um lado pode ser chamado um agente que

    pode para com todo o possvel, mediata ou imediatamente, -e deste modo a potnciaativa do primeiro eficiente a onipotncia, (...). Por outro lado onipotente tomado de modo propriamente teolgico conforme chamado onipotente aquele que

    pode para com todo efeito e todo e qualquer possvel (isto , para com todo equalquer que no , de si, necessrio nem inclui contradio), (...).

    Com isso, mostra-se nesse momento que se usou de uma definio j exposta em uma

    distino anterior para que se pudesse corroborar uma definio atualmente colocada. Porm,

    nos pargrafos seguintes Scotus explicita de forma clara e contundente que a potncia ativa

    que a onipotncia em Deus aquela potncia pela qual Deus produz as coisas, no entanto,

    antes que as coisas sejam produzidas, elas devem ter ser possvel, e isto significa que a coisa

    produzida primeiramente no ser inteligvel. Portanto, no atravs da onipotncia divina que

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    ethic@-Florianpolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.1, p.57-81, Jul. 2015.

    a coisa tem ser ou existncia possvel primeiramente, mas, por meio de outra causa

    concorrente.

    Reprovao da opinio de Henrique de Gand por parte de Scotus reportatio

    parisiensis examinata i

    Muito semelhante, porm, reprovao feita em ordinatio, o modo como Scotus

    comea sua reprovao em reportatio, ou, argumentando contra a primeira opinio de

    Henrique no que diz respeito potncia ativa de Deus pela qual chamado de onipotente. E,

    novamente faz referncia potncia ativa de Deus como onipotncia como aquela potncia

    executiva, que produz as coisas no ser externo de existncia dizendo reiteradamente que acoisa ou o factvel tem ser possvel primeiramente por meio do intelecto divino.

    Portanto, assim como na ordinatio, aqui novamente trazida a questo de a

    possibilidade estar ligada primeiramente ao intelecto divino. Scotus argumenta que antes da

    criatura ser produzida no ser de existncia pela potncia ativa, tambm denominada

    onipotncia, a criatura tem antes de tudo ser possvel. E, para isso ele diz o seguinte,

    conforme SCOTUS (2008, p. 468-469) (...) quando a criatura existe no intelecto divino, por

    um ato do intelecto, ela tem formalmente ser possvel.Claramente pode se dizer que a causa do ser possvel o intelecto divino que antes de

    qualquer outra causa ou potncia executora d ou gera a existncia no ser possvel para da

    sim passarmos ao ser real de existncia externa. E para o caso em questo d-se o exemplo da

    pedra11. No qual basicamente Scotus diz que antes de qualquer coisa, a pedra tem ser possvel

    pelo ato inteligvel do intelecto divino que primeiramente intelige o ser possvel para s

    depois em um segundo momento passar ao ato de produo atravs da potncia ativa qual

    para com todo e qualquer possvel de si no necessrio que no inclui contradio.No pargrafo seguinte, no entanto, dito que a onipotncia divina no o princpio da

    coisa seno segundo o ser de existncia da prpria coisa segundo as palavras do prprio

    Scotus. E continua dizendo que, esse ser tem de ter sido principiado ou iniciado por algo,

    porm, no pela onipotncia, nem pela potncia ativa, mas, pelo intelecto. Algo curioso e

    interessante que Scotus cita Avicena em uma passagem de sua metafsica onde, de forma

    bem sucinta este diz, conforme SCOTUS (2008, p. 470) (...) que nada pode ser produzido

    por todo e qualquer agente a no ser que em si anteriormente tenha sido possvel.

    Por isso, dito por Scotus que a coisa enquanto inteligida pelo intelecto divino em

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    ethic@-Florianpolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.1, p.57-81, Jul. 2015.

    essncia recebe e tem possibilidade e, assim, o antes de qualquer ao ou poder ativo em

    Deus.

    No entanto, um pouco mais adiante nessa distino Scotus vai afirmar algo que j o

    fizera nas respectivas distines quadragsima terceira em Lecturae ordinatio, onde este diz

    que no que se refere ao assunto em questo conforme SCOTUS (2008, p. 471) que, (...) o

    impossvel pura e simplesmente inclui uma contradio, porque tudo o que no inclui

    repugnncia formal ou contradio possvel a Deus. E isto tudo no que se refere aos

    contraditrios12.

    Reprovao da opinio de Henrique de Gand por parte de Scotus Reportatio

    Parisiensis Examinata I -Corolrios

    Ademais, h uma novidade que se insere aqui, a saber, a de que Scotus introduz trs

    corolriospara contrapor a posio de Gand e salvaguardar a sua. O qual o primeiro corolrio

    diz respeito teoria de Gand acerca dos quatro instantes, quanto potncia passiva da criatura

    ser referida a Deus no terceiro instante, pois como Scotus claramente nota que o prprio

    Henrique de Gand j havia exposto que a relao de Deus com a criatura se dava no quarto

    instante. Portanto, o problema o que dar termo a essa relao, ou Deus daria termo a essarelao sob uma razo absoluta, porm, Scotus diz que isso vai contra o que ele mesmo

    defendera em outro lugar citando Prepositino de Cremona corrige o dito deste conforme

    SCOTUS (2008, p. 472) dizendo que (...) Deus d termo a uma relao da criatura com ele

    mesmo segundo uma relao de razo, e no segundo uma relao real. Pode se perceber

    aqui uma clara critica de Scotus aludida teoria dos quatro instantes de Gand, encontradas j

    nas distines das verses anteriores, o qual hierarquiza as relaes de potncia e impotncia

    de Deus com a criatura.No segundo corolrio critica a contradio existente na sustentao da opinio de

    Henrique, de que a potncia ativa em Deus ou a sua onipotncia anterior potncia dita

    passiva na criatura, pois, segundo o prprio Henrique de Gand a relao da criatura com Deus

    se daria no instante o qual, por sua vez, anterior relao que Deus teria com a criatura,

    visto que essa se d apenas no quarto instante.

    E, no que diz respeito ao terceiro corolrio temos o seguinte problema conforme

    SCOTUS (2008, p. 472-473):

    (...) a partir do que foi dito por ele, que a onipotncia ou a potncia ativa, enquanto

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    ethic@-Florianpolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.1, p.57-81, Jul. 2015.

    um atributo, meramente um absoluto, e no algo que diz uma relao de razo,assim como ele mesmo afirma em outro lugar. (...) Pois, segundo ele, aqui a potnciaativa , no primeiro instante, completamente relacionada consigo mesma, e to-somente no quarto instante h uma relao nele com um objeto.

    E, para as colocaes em questo acredita-se estarem suficientemente claras as criticas

    postas nestes trs corolrios, de forma sistemtica.

    Quanto s opinies prprias e as razes ou argumentos principais lectura

    De maneira que se possa deixar o argumento o mais claro possvel, far-se- uma

    explicitao breve de cada um desses argumentos respectivamente. No que tange opinio

    prpria Scotus traz a questo da impossibilidade como que ligada s ideias divinas13. Quando

    se fala em ideias divinas quer se dizer aquela potncia pela qual primeiramente o ser

    possvel por meio de um intelecto que o concebe. Por esse motivo que Scotus vai criticar

    duramente a concepo de Henrique de Gand quanto a sustentar que a onipotncia ou a

    potncia ativa de Deus que a responsvel pela produo ou pela possibilidade em algo ser

    feito. Pois, para Scotus antes de uma potncia executiva necessrio que haja uma potncia

    criativa, que pense e apresente o ser possvel para que seja feito.

    Por isso, com muita justia vai ser dito pelo mesmo que a potncia de Deus pela qual

    denominado onipotente seria a causa no-precisa por que alguma coisa produtvel e factvel,

    no entanto, em concorrncia com essa potncia os termos no podem ser contraditrios ou se

    repugnarem. Seguindo sua linha de raciocnio vai ser dito, conforme SCOTUS (2008, p. 169)

    que (...) porque a primeira operao divina a do prprio intelecto, pela qual as coisas so

    produzidas primeiramente no ser inteligvel, e no a potncia ativa pela qual algo produzido

    externamente.

    Prximo a isso no texto em questo feita por Scotus uma hierarquizao de como ofactvel produzido14, colocando novamente o foco na potncia do intelecto como

    criativamente iniciadora do ser possvel.

    No que se refere razo principal novamente reforada a questo de que a

    incapacidade observada no factvel no por culpa de Deus que no concedeu ou deu tal

    capacidade, mas a potncia divina seria a causa no-precisa de tal incapacidade. Deve se notar

    aqui que o termo usado incapacidade, ou melhor, a no capacidade para que algo seja feito

    e no propriamente o termo impossvel.

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    PIMENTEL, P. O Possvel e o Impossvel na Concepo de Joo Duns Scotus e Algumas Consideraes 73

    ethic@-Florianpolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.1, p.57-81, Jul. 2015.

    Quanto s opinies prprias e as razes ou argumentos principais ordinatio i

    Tm-se aparentemente de inicio, novamente meno ao poder do intelecto divino

    como principiador do ser inteligvel para s depois haver o ser possvel, dizendo, ento, que o

    intelecto divino produz esse ser no ser inteligvel num primeiro instante de natureza onde este

    se relaciona num segundo instante de natureza com o ser possvel, e, reforando a ideia de

    Scotus que Deus conhecido ou tido por onipotente e no pelo intelecto divino que no seria

    prpria ou formalmente a potncia ativa de Deus.

    Perseguindo essa ideia, chegar-se- a concluso de que a impossibilidade sempre ser

    da parte da coisa e isso, por causa da incompatibilidade para que seja feita. Volta -se nesse

    ponto, ao impossvel lgico/formal, ligado estritamente ao princpio de no-contradio.Trazendo mais adiante um pouco que o impossvelsimpliciter, ou, pura e simplesmente inclui

    segundo Scotus coisas incompossveis, e, essa incompossibilidade se d pelas suas razes

    formais e, a qual seria principiativamente por causa do intelecto divino que concebe coisas

    que so formalmente incompatveis entre si.

    Portanto, dito por Scotus que a impossibilidade primeira seria formalmente do ou no

    prprio impossvel e s ento principiativamente em Deus que daria inteligibilidade a tal ser

    atravs do seu intelecto, pois o intelecto divino principiaria algo em tal ser no qual essaspartes seriam incompatveis e segundo o mesmo, em detrimento dessa incompatibilidade

    formal um todo a partir dessas partes seria pura e simplesmente impossvel. Criticando assim,

    deste modo, queles que procuram a razo ou o motivo da impossibilidade em algum ser uno.

    E quanto a essas coisas ditas incompatveis dito que tal razo dessa incompatibilidade seria

    ou a partir das razes formais delas, e, aqui aparece o ponto chave que j vem sendo dito

    anteriormente por Scotus, incompatibilidade essa que elas tm primeiramente pelo intelecto

    divino.Porm, quanto ao argumento principal, e, aqui, vale ressaltar que, na verso, a saber,

    em Lectura essa parte denominada de razo principal, no entanto, em ordinatio chamada

    de argumento principal. E, dito ento que tal coisa no pode ter capacidade para que algo

    seja feito e, contudo, esse motivo estaria reduzido nica e puramente incompatibilidade

    formal das partes, e, em ltima instncia ao intelecto divino. Pode-se notar aqui no argumento

    principal em ordinatio que em ltimo caso a incapacidade para tal coisa ser feita, ou que

    impossvel se reduz, entretanto ao intelecto divino que d primeiramente possibilidade a tal

    ser15.

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    ethic@-Florianpolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.1, p.57-81, Jul. 2015.

    Quanto s opinies prprias e as razes ou argumentos principais reportatio

    parisiensis examinata i

    Em reportatio afirmado categoricamente por Scotus que a onipotncia divina,

    enquanto atributo absoluto em Deus anterior criatura segundo todo e qualquer ser dessa.

    Concluindo um pouco adiante que a possibilidade e a onipotncia, ou, a potncia ativa de

    Deus anterior a alguma possibilidade da parte da criatura. Porm, no que segue este diz que

    a primeira razo da possibilidade na criatura no a potncia ativa ou onipotncia de Deus,

    mas, sim o intelecto divino pelo qual essa coisa constituda primeiramente no ser inteligvel.

    No que segue pode-se notar outra vez a argumentao em torno da defesa do principio

    de no-contradio, quando dito que nenhuma afirmao primeiramente uma coisaimpossvel nos entes, pois, afinal de contas, todo e qualquer afirmativo, que pode ser

    concebido, pode ser. E desta maneira, nada pura e simplesmente impossvel a no ser que

    implique contradio16. Nos pargrafos seguintes vai ser levantada a questo que do prprio

    impossvel haja uma razo primeira e nisso dito que assim como tambm do seu oposto que

    o necessrio, e para tanto trazida novamente a autoridade de Aristteles no Livro IV da

    Metafsica onde dito por este que (...) (com efeito, necessrio significa no poder no ser).

    Portanto, no possvel que seja verdade, ao mesmo tempo, dizer de algo que homem eque no homem. Conforme ARISTTELES (2005, p. 151).

    Partindo, pois, da premissa aristotlica de que necessrio aquilo que no pode no

    ser, Scotus diz que preciso que se investigue a razo primeira da impossibilidade e da

    necessidade. Contudo, no pargrafo seguinte se pode contemplar claramente a opinio e o

    posicionamento de Scotus frente ao problema quando este diz que:

    Quanto a isso deve ser dito que a impossibilidade, no impossvel, tem de ser

    reduzida ao intelecto divino, [e] no que em Deus resida a primeira impossibilidadecomo razo e causa da impossibilidade na criatura (...) Ora, as partes do prprioincompossvel so simultaneamente incompossveis e, em si, formalmenterepugnantes, tal como o branco e o negro. O primeiro ser possvel que [essas partes]tm, tm[-no] pelo intelecto divino principiativamente e, por conseguinte, tm pelointelecto divino principiativamente a sua incompossibilidade, assim como tambmas suas razes formais. (SCOTUS, 2008, p. 475).

    Scotus faz a distino entre o ente de fico e o ente firmado, o qual, esse ente de

    fico conforme os exemplos dados como a quimera e o homem irracional s podem ser

    concebidos por um intelecto que erra, e enquanto concebido por um intelecto que erra

    segundo ele nada . Para Scotus esses entes de fico e contraditrios significam a mesma

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    ethic@-Florianpolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.1, p.57-81, Jul. 2015.

    coisa, pois, ademais s podem ser pensados ou imaginados, nunca, no entanto, como seres

    reais, ou melhor, entes firmados. Afirma que tais seres fictcios ou contraditrios nem sequer

    teriam ideias correspondentes em Deus, a no ser que considerssemos as suas partes

    contraditrias.

    No entanto, concedido por Scotus que embora este considere que o intelecto divino

    seja a primeira causa da possibilidade na criatura, tambm concede que esse mesmo intelecto

    divino seria a causa do impossvel quanto s partes dele, no que toca ao ser possvel

    primeiramente, mas no quanto a todo o impossvel ou com respeito ao impossvel todo como

    este diz. Pois segundo o compreendido at ento, o impossvel no teria causa nem no ser e

    to pouco no ser inteligvel segundo afirmao de Scotus.

    Curioso o fato de mais uma vez aps a opinio prpria o titulo subsequente virnovamente levemente alterado, a saber, em lectura se l Quanto razo principal, em

    ordinatio Quanto ao argumento principal e aqui em reportatio se l quanto aos argumentos

    principais da primeira questo, e aqui, pode ser levantada a seguinte pergunta, porque

    primeira questo? E a resposta muito simples, pois, parece que Scotus viu certa necessidade

    em delimitar um pouco melhor nessa ltima verso dos comentrios o seu ponto de vista ou

    opinio sobre o assunto, levantando uma segunda questo, a saber, de titulo Se Deus poderia

    fazer coisas diferentes do que fez17

    .Por isso, no que diz respeito aos dois argumentos principais expostos por esseDoutor,

    no primeiro exposta a opinio quanto dizer algo sobre o possvel no prprio possvel a

    partir de si formalmente. Contudo, quanto ao impossvel dito que no o caso que porque

    Deus no tenha dado tal capacidade para os incompossveis, mas porque d as partes do

    impossvel que somente simultaneamente se contradizem.

    Em artigo escrito pelo professor Theo Kobush da Universidade de Bonn na Alemanha,

    artigo este que recebeu o seguinte titulo Um novo caminho do conhecimento filosfico deDeus: Henrique de Gand, Mestre Eckhart, Duns Scotus faz-se meno em seus estudos sobre

    os quodlibets VI e VIII de Henrique de Gand, textos esses que serviram de pano de fundo para

    as interlocues usadas por Scotus sobre o que pensava Gand a respeito desses temas sobre o

    possvel e o impossvel.

    De forma a clarear alguns posicionamentos que Scotus vem defendendo em suas

    opinies prprias se faz necessrio ressaltar algumas das concluses a que chega o professor

    Kobush neste artigo, a saber:

    O motivo interno, porm, para a possibilidade de algo reside, por um lado, na sua

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    ethic@-Florianpolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.1, p.57-81, Jul. 2015.

    essncia mesma; para a impossibilidade, por outro, na lei de no-contradio, querepresenta tambm o limite do poder de criao divino. (...) assim tambm a

    possibilidade de infrao contra a lei de no-contradio significava a destruio daordem das essncias, sim, a suspenso de toda ordem. (KOBUSH in. Veritas, 2008,

    p. 62).

    Pode-se pensar aqui, no entanto, que Scotus poderia concordar com alguns desses

    posicionamentos, principalmente no que se refere a no violao do princpio de no-

    contradio, colocando em tal lei uma vital importncia.

    A razo ou motivo interno da possibilidade residir em sua essncia mesma parece

    dizer algo com o qual Scotus j concordara, ou seja, que o possvel por essncia intrnseca

    assim, sendo que, no que concerne impossibilidade, esta est puramente baseada na no

    violao da lei ou princpio de no-contradio, o qual foi sem nenhuma hesitao atribudocomo delimitador do poder de criao divino. Com isso se pode perceber uma coisa, pois,

    que, ir contra a lei de no-contradio seria destruir a ordem das essncias e toda ordem

    segundo o mesmo.

    O que parece haver aqui o fato de que essa lei ou esse princpio de no-contradio

    , no somente algo perante o qual o poder de criao divino est submetido mas, sim, muito

    mais uma lei estatuda por Deus mesmo para ordenar as essncias no mundo, ou melhor, pr

    ordem s mesmas, a qual nem Deus de potncia ativa ou onipotncia pode transgredir para

    que Ele no entre em contradio com a prpria lei previamente estatuda.

    E isso se configura de maneira muito clara, simplesmente pelo fato de que se Deus em

    sua infinita sabedoria e poder institusse tal lei ou um princpio do qual teria por vez ou outra

    de transgredir, significaria que se houvesse a necessidade dessa transgresso por parte de

    Deus seria nica e exclusivamente por que Ele erra e, se Ele erra, logo, no bom, nem

    perfeito. E isso acredita-se que no possa ser concedido, e pensa-se que nenhum desses

    doutores concederia tal coisa, visto haverem tantas defesas da impossibilidade mesmo da

    parte de Deus para que se destrua a ordem estabelecida pela lei de no-contradio.

    Perante as distines que so feitas quanto ao ser pensado pelo intelecto divino como

    ser possvel e o ser real de existncia externa so feitas as seguintes consideraes, conforme

    KOBUSH (in. Veritas 2008, p. 63):

    Portanto, todo ente criado , ontologicamente, composto de trs determinaes: dacoisidade mais geral, que consiste na mera concebibilidade atravs de um intelectocriado, da coisidade de determinao interna, isto , da essncia, e do ser deexistncia exterior.

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    ethic@-Florianpolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.1, p.57-81, Jul. 2015.

    Quando vemos a palavra utilizada pelo professor Kobush coisidade, por associao

    podemos pensar diretamente no termo latino quiditas, traduzido em portugus por quididade,

    que significa em terminologia mais tcnica a palavra essncia, a qual, por vezes tambm pode

    ser traduzida de maneira um tanto quanto mais informal por coisidade. A coisidade de um ser

    ou de um ente aquilo pelo qual esse ser se identifica como objeto singular irrepetvel, em

    linguagem propriamente filosfica, idntico a si mesmo.

    Tm-se claramente uma harmonia entre aquelas coisas que Scotus pensa acerca do

    mesmo e atravs do estudo do professor Kobush sobre o pensamento de Henrique de Gand

    pode se traar algumas linhas semelhantes de posies quanto a isso. Pois, concede-se que

    Scotus assim como Gand aceita que uma coisa o ser possvel em potncia no intelecto

    divino e outra o ser real extramental de existncia. Outra mxima concedida tanto porScotus quanto por Henrique de Gand, que o princpio ou lei de no -contradio no deve ser

    transgredida, e, a mesma no pode s-lo nem mesmo por Deus, porque ao que tudo parece

    indicar Deus o autor desse princpio, princpio esse que mais se parece com um axioma que

    se refere a ordem das coisas.

    Concluso

    Pensa-se, antes de qualquer coisa, que possa ser de grande auxilio para a discusso em

    questo que se faa duas perguntas, a fim de se estabelecer melhor a concluso, a saber, (i) o

    que significa dizer que algo possvel? E (ii) o que significa dizer que algo impossvel?

    Quando se volta o olhar para as opinies prprias de Scotus e os argumentos expostos

    nas razes e argumentos principais do mesmo, pode-se notar sempre uma coisa em comum

    permeando as concluses pensadas e expostas por Scotus nos comentrios que este fez ao

    livro das sentenas de Pedro Lombardo, a saber, que (i) a primeira razo da possibilidade dealgo est diretamente ligada ao intelecto divino que possibilita tal ente no ser inteligvel, (ii)

    Deus a causa da possibilidade, quando intelige algo atravs de seu intelecto que,

    formalmente no inclua contradio entre os seus termos, (iii) Deus a causa no-precisa do

    impossvel no por causa do seu no-poder para que seja feito, mas muito mais pelo seu poder

    e pelo intelecto que concebe coisas diversas que se contradizem formalmente e no podem

    formar um todo e (iv) dizer que algo impossvel a Deus dizer que esse algo primeiramente

    de si e a partir de si impossvel, por uma razo muito simples e clara, porque para Deus

    nica e puramente algo impossvel aquilo que inclui contradio e formalmente possui uma

    incompossibilidade dos seus termos.

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    ethic@-Florianpolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.1, p.57-81, Jul. 2015.

    Dizendo isso, podem ser inferidas muitas coisas, a saber, que o possvel tem sua

    primeira razo pelo intelecto divino que principia tal coisa no ser inteligido e mostra

    vontade que o faz possvel num segundo momento pelo poder ativo que executa e produz algo

    no ser de existncia. O poder intelectivo de Deus anterior sua onipotncia ou poder ativo

    pelo qual produz algo externamente. Porm, contudo, esse poder do intelecto divino pelo qual

    faz possvel o ser primeiramente intra-mental no aquela potncia pela qual Deus chamado

    de onipotente, mas essa potncia ativa que a onipotncia pode se dizer que pressupe a ao

    do intelecto como causa concorrente.

    Portanto, pode se dizer que o possvel tudo aquilo com o qual Deus pode

    primeiramente pelo seu intelecto divino que principia tal ser sem que haja repugnncia formal

    entre seus termos, ou seja, o possvel tem sua razo primeira em Deus por meio de seuintelecto divino e num segundo momento por meio de sua onipotncia ou seu poder ativo esse

    ser produzido no ser real de existncia e como bem dito possvel , tambm, aquilo que no

    de si necessrio e no inclui contradio.

    Deste modo, por impossvel deve ser entendido todo e qualquer que inclua

    repugnncia formal das partes, tornando deste modo, por incompatibilidade formal impossvel

    que seja formado um todo a partir disso. E quanto a isso a razo primeira de tal

    impossibilidade sempre do prprio impossvel que de si e a partir de si no se relaciona comDeus, pois, o impossvel dito de Deus sempre numa relao onde a criatura quanto a Deus

    dita no-potente. E assim, Deus tido como a causa no-precisa do impossvel por conceber

    no intelecto divino coisas que no podem formar um todo, como entes de fico, que s

    podem em ltima instancia serem pensados e imaginados como seres intramentais e nunca

    como seres de realidade extramental externa.

    Consequentemente, deve ser colocado que sempre foi deixado muito claro por Scotus

    que Deus de forma alguma a primeira razo da impossibilidade no factvel, ao passo que,para o oposto disso deve ser dito que quanto s coisas possveis, essas o so primeiramente

    porque atravs do intelecto divino existe a no repugnncia formal entre os termos de uma

    proposio tal, que quanto ao todo pode ser pensada a sua existncia exterior.

    Portanto, do impossvel primeiramente h uma privao e uma negao da parte do

    prprio impossvel que nunca dito de Deus, mas sempre e pura e simplesmente quanto

    criatura. E, por outro lado, que poderia ser o caso que pelo poder divino do intelecto de Deus,

    Deus seria a causa no precisa do impossvel ao passo que o intelecto divino cria e intelige

    coisas que no podem formar um todo por haver uma repugnncia formal entre os seus

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    ethic@-Florianpolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.1, p.57-81, Jul. 2015.

    extremos.

    E, com isso, suscita-se novamente aquilo que foi dito no princpio, a saber, que a

    discusso sobre o possvel e o impossvel implicava dois tipos de argumentao em torno de

    seu debate, ou seja, uma argumentao metafsica e outra lgico/formal. A argumentao

    metafsica aquela que liga o possvel e o impossvel diretamente s relaes de Deus com a

    criatura ao passo que a argumentao lgica aquela sobre a qual muito se falou at agora, a

    saber que o impossvel bem como o possvel esto estreitamente submetidos ao princpio ou

    lei de no-contradio. Princpio esse que sobrevive desde os gregos antigos.

    De todo modo, em ltima instancia at Deus se encontra submetido ao princpio de

    no-contradio, ao passo que, seria contraditrio ir opostamente contra algo que pr-

    determinou que fosse de determinado modo.

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    ethic@-Florianpolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, n.1, p.57-81, Jul. 2015.

    Notas:

    1Franciscano que nasceu em Duns na Esccia em torno de 1265/66 e veio a falecer em Colnia no ano de 1308.

    Fez seus estudos em Oxford e Paris, tambm lecionando nestas duas localidades e provavelmente em

    Cambridge. Cf. DE BONI, 2005 (p.325)

    2Nascido em Gand (Ghent em flamengo) Blgica flamenga no ano de 1217. Pertenceu comisso que arrolou as

    questes condenadas em 1277, pelo arcebispo e Chanceler E. Tempier. Mestre em Artes. Mestre de Teologia em

    1275, em Paris. Lecionou ali, de 1276 a 1292. Falecido no ano de 1293.

    3Cf. Lectura I d. 43 q. un. p. 529.

    4Cf. Ordinatio I d. 43 q. un. p. 351.

    5Cf. Joo Duns Scotus. Textos sobre poder, conhecimento e contingncia. Traduo de R. H. Pich. (p. 162).

    6Cf. Joo Duns Scotus. Textos sobre poder, conhecimento e contingncia. Traduo de R. H. Pich. (p. 301).

    7Cf. Joo Duns Scotus. Textos sobre poder, conhecimento e contingncia. Traduo de R. H. Pich. (p. 465).

    8Cf. Joo Duns Scotus. Textos sobre poder, conhecimento e contingncia.Traduzidos por R. H. Pich. (p. 163).

    9Cf. Joo Duns Scotus. Textos sobre poder, conhecimento e contingncia.Traduzidos por R. H. Pich. (p. 467).

    10Cf. Joo Duns Scotus. Textos sobre poder, conhecimento e contingncia.Traduzidos por R. H. Pich. (p. 165).

    11Cf. Joo Duns Scotus. Textos sobre poder, conhecimento e contingncia.Traduzidos por R. H. Pich. (p. 469),

    Ele considera, pois, que uma pedra, e isto [tudo] que feito pelo intelecto divino como [forma] exemplar, tementidade qididativa firmada, e por consequncia possvel que ela exista externamente. Pois [] pelo fato de

    que a coisa pode ser externamente que distinguida a entidade firmada da fico. Mas, o intelecto divino

    precede formalmente a onipotncia por toda e qualquer potncia que a onipotncia for tomada. Logo, no []pela onipotncia que alguma coisa primeiramente possvel. (...) a pedra tem ser possvel primeiramente eprincipiativamente por aquilo pelo que tem ser no intelecto ou no ato divino de inteligir.

    12Cf. Joo Duns Scotus. Textos sobre poder, conhecimento e contingncia. Traduzidos por R. H. Pich. (p. 471)

    Mas, os contraditrios tm uma repugnncia formal a partir de si, e no a partir da relao com alguma negaoextrnseca; antes, se fosse possvel que Deus no existisse, ainda assim os contraditrios contradiriam a si

    mesmos. Logo, a impossibilidade pura e simplesmente, na criatura, no se d por causa de alguma negao ou de

    uma impossibilidade em Deus.

    13Cf. Joo Duns Scotus. Textos sobre poder, conhecimento e contingncia. Traduzidos por R. H. Pich. (p. 168-

    169) (...) digo que dito que algo impossvel de ser feito no porque Deus no pode fazer aquilo ou por causado no-poder divino, mas muito mais por causa do poder: pois aquilo que no pode ser na natureza das coisas,

    imagina-se como algo composto de muitas [partes mutuamente] contraditrias, as quais no fazem um nico enem podem fazer um nico (assim como a quimera e [coisas] desse tipo); Deus, porm, (...) pode produzir

    partes desse tipo, que incluem uma incompossibilidade formal, por isso mesmo aquele todo no pode ser feito.

    (...) Donde a primeira razo extrnseca por que [alguma coisa] desse tipo no pode ser feita a potncia de Deus,

    pela qual so produzidas as coisas primeiramente no ser inteligvel; contudo a primeira razo formal a

    repugnncia formal das partes a partir das quais o composto imaginado.

    14Cf. Joo Duns Scotus. Textos sobre poder, conhecimento e contingncia.Traduzidos por R. H. Pich. (p. 170).

    Donde primeiramente as coisas so produzidas no ser conhecido, e depois so mostradas vontade e soproduzidas no ser querido, e assim no ser de existncia.

    15Cf. Joo Duns Scotus. Textos sobre poder, conhecimento e contingncia.Traduzidos por R. H. Pich. (p. 313).

    16

    Cf. Joo Duns Scotus. Textos sobre poder, conhecimento e contingncia.Traduzidos por R. H. Pich. (p. 474).17

    Cf. Joo Duns Scotus. Textos sobre poder, conhecimento e contingncia.Traduzidos por R. H. Pich. (p. 477).

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