O Preconceito

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O Preconceito O preconceito remonta à Antiguidade, porém o estudo sobre o mesmo surgiu por volta da metade do século XX, onde a comunidade americana e européia se preocupou com este conceito. (Duckitt, 1992 e Pereira, 2004). Segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa o preconceito é uma idéia, opinião ou sentimento desfavorável formado a priori, sem maior conhecimento, ponderação ou razão. Para Allport (1954), o preconceito é uma atitude evitativa ou hostil contra uma pessoa que pertence a um grupo simplesmente porque ela pertence a ele, e está, portanto, presumido que objetivamente ela tem as qualidades atribuídas ao grupo. Em Outhwaite e Bottomore, citados por Pereira (2004), o preconceito refere-se a um julgamento categórico antecipado que têm componentes cognitivos (crenças, estereótipos 1 ), componentes afetivos (antipatia, aversão) e aspectos comportamentais (discriminação). Segundo Picazio (1998) o preconceito é um pré-julgamento um sentimento ou resposta antecipada a coisas ou pessoas, portanto não se baseia em experiências reais. Segundo Myers (1999), o preconceito é uma atitude injustificável e em geral negativa em relação a um grupo - na maioria das vezes um grupo cultural, étnico ou sexual diferente. Pode-se entender ainda como uma representação social, sendo um conhecimento de conceitos e imagens sobre pessoas, 1 Do grego “Stereos (que significa rígido) e túpos, que significa (traço). Cf. (Nunan, 2007)

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O Preconceito

O preconceito remonta à Antiguidade, porém o estudo sobre o mesmo surgiu por

volta da metade do século XX, onde a comunidade americana e européia se preocupou com

este conceito. (Duckitt, 1992 e Pereira, 2004).

Segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa o preconceito é uma idéia,

opinião ou sentimento desfavorável formado a priori, sem maior conhecimento, ponderação

ou razão.

Para Allport (1954), o preconceito é uma atitude evitativa ou hostil contra uma

pessoa que pertence a um grupo simplesmente porque ela pertence a ele, e está, portanto,

presumido que objetivamente ela tem as qualidades atribuídas ao grupo.

Em Outhwaite e Bottomore, citados por Pereira (2004), o preconceito refere-se a

um julgamento categórico antecipado que têm componentes cognitivos (crenças,

estereótipos1), componentes afetivos (antipatia, aversão) e aspectos comportamentais

(discriminação). Segundo Picazio (1998) o preconceito é um pré-julgamento um sentimento

ou resposta antecipada a coisas ou pessoas, portanto não se baseia em experiências reais.

Segundo Myers (1999), o preconceito é uma atitude injustificável e em geral

negativa em relação a um grupo - na maioria das vezes um grupo cultural, étnico ou sexual

diferente.

Pode-se entender ainda como uma representação social, sendo um conhecimento

de conceitos e imagens sobre pessoas, papéis sociais e estruturas do cotidiano, entendido

também como uma construção social historicamente formada (Rangel, 2005).

Dentre os grupos minoritários que sofrem com o preconceito, encontram-se os

homossexuais, que para Mott (2000) em palestra, disse serem os mais odiados dentre todas as

minorias.

2. O preconceito contra homossexuais.

Segundo Spencer (1999, p.274), o termo "homossexualidade" aparece pela

primeira vez em um panfleto escrito por Karoly Maria Benkert para denominar as relações

sexuais entre pessoas do mesmo sexo.

A homossexualidade tem sido vista sob vários aspectos ao longo da História: na

Grécia e Roma antiga as relações homossexuais, eram respeitadas quando relacionada a ritos

sagrados, iniciação de adolescentes para a vida adulta (Spencer, 1999). Só eram repudiadas

1 Do grego “Stereos (que significa rígido) e túpos, que significa (traço). Cf. (Nunan, 2007)

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quando ameaçavam subverter a hierarquia social (Lacerda et al. 2002). Não era visto como

algo doentio ou anormal (Costa, 1989).

Porém no governo de Justiniano em 533 d.C, a punição para todos os atos

homossexuais era a fogueira e a castração (Spencer, 1999). Na Idade Média, a Igreja levou

centenas de lésbicas e homossexuais para a fogueira (Ibidem, 1999). A Inquisição condenava

à morte os amantes do mesmo sexo, também a pedradas (Mott, 1980).

Para Foucault (1988), a sociedade produziu um discurso sobre o “verdadeiro” e

regulamentado. O normal e o natural são classificados como a heterossexualidade, quanto à

homossexualidade, esta é encarada como algo anormal, um desvio.

Na Associação Psiquiátrica Americana (American Psychiatric Association),

alguns como (Radó, Bieber et al. e Socarides citados por Sauvagnat, 2003) apresentavam a

homossexualidade como uma doença e tinha posições oficiais sobre um “tratamento" da

mesma.

Em resposta a uma carta de uma mãe com um filho homossexual, Freud responde,

sobre o que pensa ser a homossexualidade:

“Homossexualidade, seguramente, não é uma vantagem, mas não é nada de

que tenhamos que ter vergonha. Não é vício, degradação e não pode ser

classificada como uma doença... Muitos indivíduos altamente respeitáveis,

nos tempos antigos e modernos foram homossexuais, Platão, Michelangelo,

Leonardo da Vinci, etc”. (Lewes, 1989 citado por Costa, 1995, p.255).

É verdade que as posições de Freud em relação à homossexualidade de início não

foram assim. Nos Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, de 1905 ele inscreve a

homossexualidade no rol das aberrações sexuais, denominando-os de “invertidos sexuais”.

Essa ambigüidade acabou dando margem para que se encontre na literatura homofóbica, como

na homofílica citações de Freud.

Em 1972 o psicólogo George Weinberg, de forma oficial utilizou o termo

"Homofobia", relacionado ao preconceito, ódio ou a aversão a homossexuais; a discriminação

dirigida a esse grupo; agressões físicas ou verbalizadas; sentimentos de nojo ou repulsa, etc.

Para Diplacido, (1998) citado por Nunan (2007). Gays, lésbicas e bissexuais

experenciam homofobia e estigmatização de tal forma que são colocados diante de situações

estressantes e negativas, como perda de emprego, moradia, violência e discriminação.

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Devido ao preconceito, muitos sujeitos não revelam sua verdadeira orientação

sexual ou até mentem para não sofrerem pressão psicológica.

Em 1973 a Associação de Psiquiatria Americana aprova a retirada da

homossexualidade da lista de transtornos mentais. Em 1975, a Associação de Psicologia

Americana aprova uma resolução apoiando esta decisão. No Brasil, o Conselho Federal de

Medicina em 1985 passou a não considerar a homossexualidade como doença. Nos anos 90, o

Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), também retirou a

homossexualidade da condição de distúrbio mental. No ano de 1993, a Organização Mundial

de Saúde não apresentava a homossexualidade também, enquanto doença. Em 22 de março de

1999 o Conselho Federal de Psicologia (CFP) promulga a Resolução N° 001/1999, que

estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação às orientações sexuais. Considera

que a homossexualidade não é doença, nem distúrbio e nem perversão. Determina ainda que

não se deva contribuir com eventos e serviços que proponham o tratamento e a cura da

homossexualidade.

Apesar das organizações citadas anteriormente declararem não ser uma patologia,

segundo Matias (2007) persistem em alguns profissionais idéias e estereótipos sobre a

homossexualidade.

Segundo estudo de Jablonski, citado por Nunan (2007), 20% dos estudantes

universitários analisados, declarou que o homossexualismo é doença. Em pesquisa realizada

por (Lacerda e et al. 2002), mais de três quartos dos estudantes universitários analisados

foram classificados como preconceituosos em relação a essa minoria.