O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NO AMBIENTE ESCOLAR: COMO PREVENIR?

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA- PARFOR LICENCIATURA INTEGRADA EM LETRAS – PORTUGUÊS E INGLÊS ARISTEA RODRIGUES DA SILVA JIDIDIAS RODRIGUES DA SILVA O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NA ESCOLA: COMO PREVENIR?

Transcript of O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NO AMBIENTE ESCOLAR: COMO PREVENIR?

SERVIÇO PÚBLICO FEDERALUNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ

PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA-PARFOR

LICENCIATURA INTEGRADA EM LETRAS – PORTUGUÊS E INGLÊS

ARISTEA RODRIGUES DA SILVAJIDIDIAS RODRIGUES DA SILVA

O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NA ESCOLA: COMO PREVENIR?

ALMEIRIM - PA2015

ARISTEA RODRIGUES DA SILVAJIDIDIAS RODRIGUES DA SILVA

O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NA ESCOLA: COMO PREVENIR?

Monografia apresentada a Universidade Federal do Oeste Pará como requisito parcial para obtenção do Título de Licenciado em Língua Portuguesa e Inglesa.

Orientadora: Profª Luciene Marinho da Silva

ALMEIRIM – PA2015

ARISTEA RODRIGUES DA SILVAJIDIDIAS RODRIGUES DA SILVA

O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NA ESCOLA: COMO PREVENIR?

Apresentado em _______/_______/________

Orientadora Prof. Luciene Marinho da Silva

BANCA EXAMINADORA:

1º Examinador

2º Examinador

Conceito ________________

ALMEIRIM – PA2015

AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente a Deus pela saúde e força que nos concedeu

nesses anos de estudo agradecemos também a nossa família pelo incentivo e apoio

nas horas mais difíceis e a todos que contribuíram com o desenvolvimento de nossa

prática pedagógica, em especial aos professores Drº Raimundo Nonato e professora

Drª Cristina Vaz que nortearam a escolha do tema e a nossa orientadora pelo apoio.

[...] de todos os conjuntos de superstições infundadas que compõem a cultura brasileira, nenhum e tão resistente, parece, quanto o das ideias preconcebidas que impregnam nosso imaginário a respeito de línguas em geral e, mais especificamente, da língua que falamos (BAGNO 2003, p. 15)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1-Qual sua formação ...................................................................................23

Gráfico 2 - Você considera a linguagem padrão como a única correta e a única que

deve ser ensinada nas escola? ................................................................................24

Gráfico 3- Você já ouviu falar em preconceito linguístico?........................................25

Gráfico 4 - Você corrige seu aluno quando fala diferente ou uma palavra de forma

“errada” ?....................................................................................................................26

Gráfico 5 - Você trabalha as variantes linguísticas em sala de aula?.......................27

Gráfico 6 - Você já sofreu preconceito por falar “diferente” ou por considerarem que

você falou alguma palavra “errada”?..........................................................................28

Gráfico 7- Você se sente constrangido quando o professor ou colega lhe corrigi em frente aos demais ?....................................................................................................30

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................09

2. PRECONCEITO LINGUÍSTICO......................................................................12

2.1O preconceito linguístico na escola................................................................15

2.2Formas de prevenir e amenizar o preconceito linguístico na escola..............18

3 METODOLOGIA..............................................................................................20

3.1 Descrição do ambiente..................................................................................20

3.2 Perfis dos participantes.................................................................................20

3.3 Instrumentos de pesquisa.............................................................................21

3.4 Métodos de análise........................................................................................22

3.5 Análises dos resultados.................................................................................22

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................31

REFERÊNCIAS ..................................................................................................32

APENDICE..........................................................................................................34

RESUMO

O presente estudo apresenta o resultado de uma pesquisa relacionada ao preconceito linguístico nas escolas brasileiras, uma vez que, que a temática, tem-se apresentado como um problema social nos estudos da sociolinguística e também tem sido discutida em vários debates acadêmicos nos cursos de licenciaturas em todo país, como um problema existente em boa parte da sociedade e também no contexto escolar e que deve ser combatido o mais urgente possível. A partir da problemática existente no contexto da Escola Alberto Torres no município de Porto de Moz, buscou-se diversas considerações sobre o tema, sendo utilizado como métodos a pesquisa bibliográfica juntamente com pesquisa de campo, de cunho qualitativo, sendo realizado por meio de entrevistas com questionário pré-elaborado. O resultado da pesquisa foi promissor, pois trouxe bastante contribuição com relação ao objetivo principal do trabalho, comprovando que realmente há uma interferência do preconceito linguístico no desenvolvimento e aprendizagem dos alunos.

Palavras-Chaves: preconceito, variação, norma-padrão, variedades linguísticas.

ABSTRACT

This study presents the results of a survey related to the linguistic prejudice in Brazilian schools, since that issue has presented itself as a social problem in the sociolinguistic studies and has also been discussed in several academic debates in undergraduate courses throughout the country, as an existing problem in much of society and in the school context and that should be tackled more urgent as possible. From the existing problematic in the context of the School Alberto Torres in the municipality of Porto de Moz, he sought to several considerations on the subject, being used as methods to literature along with field research of qualitative nature, being conducted through interviews with pre-prepared questionnaire. The result of the research was promising because it brought enough contribution in relation to the main objective of the work, proving that there really is an interference of linguistic bias in development and student learning.

Key Words: preconception, variance, standard-standard language varieties.

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1. INTRODUÇÃO

Sabe-se que o preconceito linguístico ora observado na maioria de nossas

escolas e nos meios de comunicação tem relação com as variações linguísticas

presentes em todo o Brasil, influenciadas por fatores regionais ou socioeconômicos

nas quais os indivíduos estão inseridos.

Nesse sentido Bagno (1998) afirma que uma grande parcela dos alunos que

utilizam o português denominado de “não-padrão” fazem parte de famílias

desfavorecidas economicamente sem quaisquer acesso a uma educação de

qualidade.

O português não-padrão é a língua da grande maioria pobre e dos analfabetos do nosso povo, [...]. É também, consequentemente, a língua das crianças pobres e carentes que frequentam as escolas públicas. Por ser utilizado por pessoas de classes sociais desprestigiadas, marginalizadas, oprimidas pela terrível injustiça social que impera no Brasil- país que tem a pior distribuição da riqueza nacional em todo mundo-, o PNP é vítima dos mesmos preconceitos que pesam sobre essas pessoas. Ele é considerado “feio”, “deficiente”, “pobre”, “errado”, “rude”, “tosco”, “estropiado”. (BAGNO,1998, pag.28)

De acordo com ideia acima citada Bartoni - Ricardo (2004, p.34) afirma que:

No Brasil de hoje, os falares de maior prestígio são justamente os usados nas regiões economicamente mais ricas. (...) são fatores históricos, políticos e econômico que conferem o prestígio a certos dialetos ou variedades regionais e, consequentemente, alimentam rejeição e preconceito em relação a outros.

Segundo a autora os fatores econômicos vivenciados pelos alunos têm

grande influência na formação de sua linguagem e que essas diferenças no modo de

falar é o que gera a discriminação e preconceito na sociedade provocado por

aqueles se denominam falantes do português padrão.

Portanto, podemos inferir que o preconceito linguístico sofrido por

alunos nas instituições escolares tem relações intrínsecas com os fatores

socioeconômicos vivenciados por esses indivíduos e que a escola no seu

papel de socializadora tem o dever de procurar formas de amenizar a

problemática relacionada ao preconceito, elaborando ações que visem

integrar as diferentes variantes linguísticas dentro e fora do contexto escolar,

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para que assim se amplie a visão dos alunos e até mesmo dos professores

com relação aos diferentes falares nas distintas situações comunicativas.

As instituições sociais fazem diferentes usos da linguagem oral: um cientista, um político, um religioso, um feirante, um repórter, um radialista, enfim todos aqueles que tomam a palavra par falar em voz alta, utilizam diferentes registros em razão das também diferentes instâncias nas quais essa prática se realiza. Cabe a escola ensinar o aluno a utilizar a linguagem oral nas diversas situações comunicativas, especialmente nas mais formais. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1997, pag. 32)

Para Bagno (1999 p.18,19) valorizar a língua materna é evitar a discriminação

entre as variantes linguística existentes na escola, e proporcionar reflexão acerca do

problema para que a escola não seja um local de exclusão social. Mas que seja

acima de tudo um lugar de transformações positivas para a criança.

É preciso, portanto, que a escola e todas as demais instituições estejam voltadas para a educação e a cultura abandonem esse mito da “unidade” do português e passem a reconhecer a verdadeira diversidade linguística de nosso país para planejarem suas políticas de ação junto a população amplamente marginalizada dos falantes das variedades não-padrão. O reconhecimento da existência de muitas normas linguísticas diferentes é fundamental para que o ensino em nossas escolas seja consequente com o fato comprovado de que a norma linguística ensinada na sala de aula é, em muitas situações, uma verdadeira “língua estrangeira” para o aluno que chega a escola proveniente de ambientes sociais onde a norma linguística empregada no quotidiano é uma variedade de português não-padrão. (BAGNO,1999 p.18,19)

Diante deste contexto, o presente estudo tem como objetivo esclarecer que o

preconceito linguístico vivenciado por alunos e professores se dá pela falta de

conhecimento, principalmente com relação aos estudos linguísticos e

heterogeneidade da língua como fator social.

Diante da problemática existente, a escola e o professor de língua

portuguesa têm um papel decisivo a desempenhar no sentido de diminuir o

preconceito linguístico no ambiente escolar.

O presente estudo estrutura-se em três partes, a saber, a primeira consiste na

fundamentação teórica, onde se expõem as diversas opiniões de autores sobre o

preconceito linguístico incluindo neste contexto a opinião de órgãos governamentais

e de pesquisadores como Marcos Bagno, Stella Maris Bartoni-Ricardo, Rodolfo Ilari,

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Renato Basso, Luiz Carlos Cagliari – Todos esses reconhecidos nos estudos da

sociolinguísticos e argumentam sobre as variações linguísticas atreladas ao

preconceito. Ainda no primeiro capítulo, fala-se sobre o preconceito linguísticos nas

escolas, desde as suas formas de manifestação bem como formas de se prevenir ou

amenizar a problemática existente.

O segundo momento, refere-se ao processo metodológico deste estudo, onde

se fará a análise e tabulação dos dados da pesquisa de campo realizada com

professores da escola Alberto da Silva Torres no município de Porto de Moz no

estado Pará, onde os resultados são apresentados em gráficos demonstrativos com

intuito de expor a opinião dos professores e alunos com relação as variantes

linguísticas e o preconceito linguístico.

E o terceiro e último capítulo, refere-se às considerações finais, onde se faz

uma abordagem geral do estudo, ressaltando os resultados da pesquisa em

contraste com a fundamentação teórica, as dificuldades encontradas na realização

deste estudo bem como soluções plausíveis para problemáticas encontradas no

decorrer da pesquisa reafirmando a postura da sociolinguística no que tange as

variantes linguísticas.

Com estudo desta temática esperamos contribuir de forma significativa para

que o português denominado de “não-padrão” passe ser visto não como uma língua

de pessoas que falam errado, mas sim, como uma variante linguística que se formou

pela dinamicidade da língua como fator social. Espera-se também conscientizar

professores e alunos sobre a importância de conhecermos as diferentes variantes

linguísticas dentro e fora do ambiente escolar, sobre a heterogeneidade da língua

afim de, eliminarmos ou pelo menos amenizarmos o preconceito linguístico.

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2. O PRECONCEITO LINGUÍSTICO

A palavra preconceito em seu sentido etimológico é formada pela

justaposição de dois vocábulos que segundo o Dicionário Houaiss da Língua

Portuguesa (2009) são prefixo latino “pre” (anterioridade, antecedência) mais

o substantivo “conceito” (opinião, reputação, julgamento, avaliação). Nesse

sentido poderíamos definir o preconceito como sendo um conceito concebido

antes de se ter os conhecimentos necessários; é a opinião formada de

maneira antecipada, sem maior ponderação.

Ainda nesta vertente o Dicionário Etimológico da Nova Fronteira (1998)

define a palavra preconceito como, “conceito ou opinião formados

antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos”, sendo

que a etimologia de preconceito na versão do dicionário é dada como sendo

“calcado no francês préconçu” (Cunha, 1998, p. 629).

Nesta mesma linha de pensamento Gadamer (1988 apud

SOUSA,,2010) afirma que preconceito significa um julgamento que é

formulado antes que todos os elementos que determinam uma situação

tenham sido examinados, ou seja, é um juízo de valor na qual se atribui a

determinada opinião ou ação, sem conhecer a fundo as circunstâncias da

situação ou estado do indivíduo.

Neste contexto, poderíamos incluir como preconceito, a aversão que

determinados grupos sociais ou indivíduos sofrem por pertencerem a uma

classe social “diferenciada” (determinado por sexo, cor, religião), poderíamos

também incluir outra modalidade de preconceito, o que denominamos de

preconceito linguístico, nosso principal objeto de estudo, que não deixa de ser

uma forma de exclusão social e que se tem discutido bastante sobre ele.

Na visão Scherre (2008 apud Abraçado 2008, p.12) o “[...] o

preconceito linguístico é mais precisamente o julgamento depreciativo, jocoso

e, consequentemente, humilhante da fala do outro[...]. O preconceito

linguístico tem a ver, essencialmente, com a língua falada.”

Marcos Bagno (2006) afirma que:

O preconceito linguístico se baseia na crença de que só existe [...] uma única língua portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos dicionários. Qualquer manifestação linguística que escape desse triângulo escola-

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gramática- dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito linguístico, “errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente [...] (BAGNO 2006, p.40)

De modo simplificado poderíamos entender que o preconceito

linguístico, é na verdade qualquer ação de repúdio que alguém sofre por

utilizar uma variante linguística que foge do padrão aceito pela gramática

normativa ou por aqueles tomam uma variante linguística como padrão

nacional imutável. Nesse sentido Bagno (2007, p. 40), afirma que qualquer

manifestação linguística que foge da gramática normativa é considerada

“errada” ou “deficiente” e ainda é quase comum ouvirmos em nossa

sociedade a expressão de que a forma não-padrão “não é português”.

Na visão de Leite (2008, pag. 24) o preconceito linguístico é um tipo de

discriminação silenciosa e velada que o indivíduo pode ter em relação à

linguagem do outro: “é um não-gostar, um achar-feio ou achar-errado um uso

(ou uma língua), sem a discussão do contrário, daquilo que poderia configurar

o que viesse a ser o bonito ou correto”.

Desta forma:

Os preconceitos aparecem quando se considera uma especificidade como toda a realidade ou como um elemento superior a todos os outros. Neste caso, tudo o que é diferente é visto seja como inexistente, seja como inferior, feio, errado. A raiz do preconceito está na rejeição da alteridade ou na consideração das diferenças como patologia, erro, vício, etc.( FIORIN, 2000 apud MACHADO,2007, p.202)

Na visão do autor o preconceito se caracteriza pela rejeição de tudo

aquilo que é considerado diferente da norma padrão defendidas por

gramáticos, ou seja, qualquer variante linguística que foge da norma padrão

apregoadas nas escolas e nos livros didáticos como correto, é considerada

errada e portanto sujeita a uma ação de repúdio.

É importante frisar que objetivo da discussão não é dizer que qualquer

manifestação linguística deva ser aceita incondicionalmente o uso ou não de

certas formas linguísticas vai depender da situação de comunicação. Não é

que defendemos um vale tudo na língua portuguesa como já afirmavam Fiorin

(2009), devemos analisar o contexto da situação afim de atribuirmos um juízo

de valor.

A consciência de que, dependendo do contexto, faz-se necessário

adequarmos nossa linguagem deve estar bem clara ao aluno. Nesse sentido

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o professor e a escola tem o dever de orientar seus educandos a dominarem

as diversas variações linguísticas, e elucidar que embora a escola não

discrimine o seu modo de falar, estes devem procurar dominar outras

variantes. Desta forma

O mais importante é que o aluno possa vir a dominar efetivamente o maior número possível de regras, isto é, que se torne capaz de expressar-se nas mais diversas circunstâncias, segundo as experiências e convenções dessas circunstâncias. Nesse sentido, o papel da escola não é o de ensinar uma variedade no lugar da outra, mas de criar condições para que os alunos aprendam também as variedades que não conhecem. (POSSENTI, 1996, p.82-83)

Ainda neste pensamento Bagno (2007: 129-130,): defende que na

verdade, em termos de língua, tudo vale alguma coisa, mas esse valor vai

depender de uma série de fatores. Falar gíria vale? Claro que vale: no lugar

certo, no contexto adequado, com as pessoas certas.

Por tanto, dominar bem a língua portuguesa não consiste

simplesmente em dominar as flexões e as demais regras existentes, mas em

encontrar um equilíbrio entre as diferente variantes, seja na modalidade oral

ou escrita, o falante tem que encontrar o ponto de aceitabilidade e

adequabilidade de sua variante.

Nesse sentido:

É totalmente inadequado, por exemplo, fazer uma palestra num congresso científico usando gírias, expressões marcadamente regionais, palavrões etc. A plateia dificilmente aceitará isso. É claro que se o objetivo do palestrante for precisamente chocar seus ouvintes, aquela linguagem será muito adequada... Não é adequado que um agrônomo se dirija a um lavrador analfabeto usando uma terminologia altamente técnica e especializada, a menos que queira não se fazer entender. Como sempre, tudo vai depender de quem diz o quê, a quem, como, quando, onde, por quê... (BAGNO, 2007: 130-131)

Por fim, se o preconceito linguístico é concebido como um problema

social, gerado a partir da utilização de uma variante linguística denominada

como “errada” ou “deficiente” pela gramática ou pela mídia, faz-se necessário

então à adoção de políticas educacionais que possam prevenir ou amenizar a

problemática, ora existente não só no ambiente escolar, mas também no seio

da sociedade.

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2.1 PRECONCEITO LINGUÍSTICO NAS ESCOLAS.

Embora tenhamos vivenciado mudanças socioculturais na atualidade

com relação ao preconceito linguístico nas escolas brasileiras, ainda é

possível perceber uma resistência para aceitar as variedades linguísticas

diferentes da denominada e aceita como variante padrão.

De acordo com Bagno (2006) o preconceito linguístico está

fundamentado na ideia fixa de que só existe uma única língua portuguesa

digna deste nome e que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas

gramáticas e catalogadas nos dicionários, ou seja, a língua nesse caso é

concebida como fenômeno homogêneo e não como realmente é,

heterogênea.

Estudos apontam que a grande parcela dos alunos que sofrem o

preconceito linguístico nas escolas e fora dela são em sua maioria oriundos

de classes sociais menos favorecidas ou de localidades onde o acesso à

educação de qualidade foi deficitária, fato que os leva, a utilizarem uma

variante linguística diferente da concebida como correta pela norma padrão,

regida pela gramática normativa.

A linguista, Scherre (2008 apud Abraçado 2008, p.12) discorre que:

“[...] as variedades linguísticas mais sujeitas a preconceito linguístico são

normalmente, as que possuem características associadas a grupos de

pessoas desfavorecidas na escala social ou a grupos de pessoas da área

rural ou do interior do país”. A autora afirma ainda que é frequente, a questão

do preconceito pela variação diatópica, que se baseia nas diferenças

geográficas, ou seja, nos sotaques de diferentes regiões, como por exemplo,

a da região nordeste, mais conhecida como “caipirês”.

Quando estes alunos adentram a um ambiente onde as diversas

culturas se intercalam e estes trazem consigo traços de suas culturas

inclusive o modo de falar estes alunos passam a ser vistos como pessoas que

não sabem falar direito e que devem ser ensinados pelos que dominam a

norma padrão, inclusive por professores.

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Nesse sentido, Santos e Gomes (2014) afirmam que a maiorias dos

defensores da gramática.

Firmam-se no, pois, num ponto de vista de que, quando o falante não

se expressa de acordo com o que está descrito e prescrito na norma

gramatical comete “erro”, entretanto o que eles analisam como erro,

desvio da norma, são, em verdade, variações de fala, e não erros,

uma vez que só existe o chamado erro linguístico, na medida em que

o outro falante, no papel de interlocutor, não entende o que está

sendo lhe comunicando. (SANTOS E GOMES, 2014)

Na visão do autor, o que defensores da gramática normativa analisam

como uma sentença errada, na verdade não é um erro, mas um desvio da

norma padrão, errado seria se a mensagem não fosse compreendida pelos

seus interlocutores, neste caso sim, haveria um erro, pois a função essencial

da língua é a comunicação, havendo comunicação mesmo utilizando-se de

uma outra variante, a sentença do ponto de vista linguístico é válida.

Mesmo conhecendo os estudos linguísticos com relação às variantes,

ainda é comum em algumas escolas o constrangimento constante aos alunos

que utilizam uma variante linguística diferente da norma padrão, sendo que

estas situações em muitos casos, partem dos próprios professores.

A escola como promotora do ator de educar deve respeitar as variantes

linguísticas que o aluno utiliza para interagir, mas também tem o dever de

ensinar a norma padrão, não como imposição da classe dominante, nem

como uma possibilidade de ascensão social, mas com outros objetivos que é

o de aluno adquirir todas as competências linguísticas para se expressar

através da variante padrão da língua portuguesa em todas as ocasiões

necessárias.

Desse modo é preciso refletir que:

Em primeiro lugar, uma escola transformadora não aceita a rejeição dos dialetos dos alunos pertencentes às camadas populares, não apenas por eles serem tão expressivos e lógicos quanto o dialeto de prestígio (argumento em que se fundamenta a proposta da teoria das diferenças linguísticas), mas também, e sobretudo, porque essa rejeição teria um caráter político inaceitável, pois significaria uma rejeição da classe social, através da rejeição de sua linguagem. Em segundo lugar, uma escola transformadora atribui ao bidialetalismo a função não de adequação do aluno às exigências da estrutura social, como faz a teoria das diferenças

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linguísticas, mas a de instrumentalização do aluno, para que adquira condições de participação na luta contra desigualdades inerentes a essa estrutura. (SOARES, 1980, p.74)

Portanto é dever da escola, proporcionar aos seus educandos

oportunidades, que intercalem as diferentes variantes linguísticas na

comunicação dentro e fora da sala de aula, mas para que isto aconteça é

necessário que professores e colaboradores tenham ciências da problemática

existente em seu ambiente escolar, para que assim as ações pedagógicas

possam ter objetivos e metas reais.

Segundo Bagno (1997)

O objetivo da escola, no que diz respeito à língua, é formar cidadãos capazes de se exprimir de modo adequado e competente, oralmente e por escrito, para que possam se inserir de pleno direito na sociedade e ajudar na construção e na transformação dessa sociedade. (BAGNO,1997)

Ainda com relação ao papel da escola, Bortoni-Ricardo (2005 apud

VALADARES, 2010) afirma que a escola não pode ignorar as diferenças

sociolinguísticas, sendo que os professores — e, por meio deles, os alunos —

têm de estar bem conscientes de que existem duas ou mais maneiras de

dizer a mesma coisa. E mais, que essas formas alternativas servem a

propósitos comunicativos distintos e são recebidas de maneira diferenciada

pela sociedade.

Para fins de complementação, Santos (2002, p. 42) apresenta mais

características de como deveria ser essa adequação: “[...] o aluno deve

conhecer que variedade é apropriada a cada situação comunicativa, como

fazer a adequação do registro de língua, quando deve falar ou calar-se. Como

controlar os gestos de acordo com os atos da fala, etc.”

Desse modo, poderíamos entender que os que compreendemos

muitas das vezes como erros na verdade são inadequações da linguagem, ou

seja, seria o uso de uma variante em situações comunicativa que

necessitasse de outra.

As variedades não são erros, mas diferenças. Não existe erro linguístico. O que há são inadequações de linguagem, que consistem não no uso de uma variedade em vez de outra, mas no uso de uma variedade em vez de outra numa situação em que as regras sociais não abonam aquela forma de sala. (GERALDI, 1997, p.52)

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Faz-se necessário que a escola e todas as instituições de ensino,

reconheçam a diversidade linguística presente em nosso país, abandone o

mito da unidade do português brasileiro e aceitem as variantes linguísticas

presentes no âmbito escolar ou da comunidade. E mais, é importante que os

alunos passem a reconhecer a importância e a necessidade de estudar sua

língua materna, mas estudá-la de forma relativa à realidade e não de forma

utópica como tem sido feita, focalizando apenas em uma variedade da língua.

2.3 FORMAS DE PREVENIR E AMENIZAR O PRECONCEITO LINGUÍSTICO

NA ESCOLA

Diante das exposições, nas sessões anteriores, é possível

compreender que o preconceito linguística se firma na falta de informação

sobre a dinamicidade da língua, foi possível também compreendermos que

não existe língua errada ou certa, o que na verdade existe são linguagens

diferentes em contextos diversificados.

Vimos que as escolas ainda não se livraram de alguns mitos com

relação língua portuguesa e como consequência, continuam reproduzindo o

preconceito contra aqueles que fazem parte das classes menos favorecidas e

que utilizam variantes denominadas por alguns como “errada”:

Por sua vez neste tópico iremos apontar algumas alternativas que

podem corroborar para a diminuição ou prevenção do preconceito linguístico

em nossas escolas, e tentar conscientizar nossos educadores e educandos a

respeito das variantes linguísticas existentes.

É importante ressaltar que o objetivo não é menosprezar a variante

denominada de padrão, ensinada em nossas escolas, mas sim propiciar aos

alunos a oportunidades de conhecerem as diversas variantes para que em

situações comunicativas possam utilizar a que mais se adequa a situação.

Considerando o fato de que é necessário que as escolas ensinem ou

propiciem a oportunidade aos seus educandos de terem acesso a norma culta

é essencial que se ensine de forma correta, orientando que o uso dessa

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variante é importante sim, principalmente no âmbito do trabalho e nos meios

de comunicação.

Nesse sentido Ramos (1997, p. 6), afirma; para que os alunos tenham

acesso a linguagem culta é necessário ter contato com essas pessoas que

falam essa língua através de textos e linguagens diversas, consultando

jornais, revistas, ciência, música, literatura etc. Deve-se ler e incentivar a ler

de tudo.

Conforme explicitado, cada falante se expressa de acordo com

variantes que aprendeu no seu convívio social, cabe ao professor orientar

seus discente a dominarem as diversas variantes para que assim em

situações comunicativas diversificadas possam utilizar a que melhor se

adéqua ao momento.

Na verdade, o que está em jogo não e dizer que esta ou aquela variedade De língua é melhor, pois todas são válidas e utilizadas dependendo do contexto de fala. Todas as pessoas podem utilizar a linguagem uma hora formal, outra informal, pois ninguém e perfeito a ponto de utilizar sempre uma só linguagem. Aliás, por perfeição, aqui, no âmbito da comunicação, devem entender-se justamente a não homogeneidade ou fixação em uma forma única de expressão linguística. (SOUZA,2010, p.42)

No intuito de inserir os alunos no universo das variantes linguísticas os

professores podem, proporcionar aos seus alunos o contato com outras

variantes através de atividades de teatro reforçando os dialetos e sotaques

nordestinos e outras regiões do Brasil, novelas, música popular, filmes,

depoimentos, romances e poesias.

Dessa forma, de acordo com os PCNs (1998) é através dessas opções

que os alunos podem analisar e refletir sobre a forca expressiva da linguagem

popular na comunicação cotidiana e por certo erradicar o preconceito

linguístico com as demais variantes uma vez que os mesmos tem acesso a

elas e podem concebê-las como nuances da língua portuguesa.

O professor precisa mostrar aos seus alunos que as variedades

linguísticas utilizadas em situações menos favorecidas são tão ricas quanto

às demais, e que podem ser usadas por eles de acordo com o contexto de

fala. É preciso orienta-los a conviver com as diferenças que é a partir do

conhecimento sobre a situação ou fato, que ocorre a aceitação e por certo o

fim do preconceito.

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Por serem estigmatizadas, estas últimas devem ser tratadas na escola com naturalidade e “traduzidas” por formas do dialeto padrão. E é exatamente por seu peso social que seria importante o professor estar atento a elas, de modo a evitar que sua atitude de rejeição se manifeste (RAMOS, 1997, p.11).

Ainda com relação a posição do professor frente a orientação, Cagliari

(2007, p. 82 apud SOUZA, p.41) sugere aos docentes trabalhar com os

alunos em sala de aula sobre o que vem a ser variedades linguísticas,

mostrando a estes as diferentes formas de utilização da fala, os preconceitos

que ocorrem com algumas variedades e as consequências desse

preconceito. Dessa forma, segundo o autor, os alunos irão encarar esse

fenômeno variação passando a ter um comportamento social crítico e mais

adequado com relação às diferenças linguísticas.

3. METODOLOGIA

3.1 Descrição do ambiente de pesquisa

A pesquisa de campo realizou-se com os professores e alunos do 6º ao

9º ano, do ensino fundamental da Escola Municipal de Ensino Fundamental

Alberto da Silva Torres, no município de Porto de Moz no estado do Pará. A

escola atende a um público diversificado, tanto moradores da comunidade

como de outras vilas adjacentes e comtempla as modalidades do Ensino

Fundamental a Educação de Jovens e Adultos.

A referida instituição foi construída em 2011 pelo governo municipal em

parceria com o governo Federal no modelo de escolas polos. A instituição

atende em três turnos manhã, tarde e noite, com um total de 333 alunos, 12

turmas formadas por idades e/ ou rendimento, com critério de avaliação e

classificação para alunos sem escolaridade anterior em conformidade com as

leis da LDB. A escola ainda conta com uma equipe pedagógica formada pelo

coordenador geral e por uma coordenadora pedagógica que são escolhidos

pelo gestor municipal.

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A estrutura física da escola é composta por 06 salas de aula, 01 sala

de diretoria, 01 sala dos professores, 01 laboratório de informática, 01 quadra

de esporte coberta além da área de serviços como refeitório, cozinha,

banheiros.

É importante frisar que a instituição foi escolhida em função de ser a

única escola da comunidade e também por terem sido nela desenvolvidos os

projeto de estágio.

3.2 Perfis dos participantes

O trabalho de investigação foi realizado com 5 (cinco) professores na

qual dentre os entrevistados 2 (dois) professores são de língua portuguesa e

os demais de outras disciplinas (História, Estudos Amazônicos e Geografia).

A maioria dos professores entrevistados concluíram sua a formação superior

em 2007 em uma turma de formação de professores, com habilitação em

Letras ou Pedagogia pela Universidade Estadual do Vale do Acaraú (UVA) e

pós-graduação em gestão escolar pelo Instituto de Teologia Aplicada (INTA),

outra parcela dos professores possuem como escolaridade o antigo ensino

médio normal (magistério).

Outro grupo participantes desta pesquisa, são os alunos do 6º ao 9º

ano do ensino fundamental II na qual foi tomado na amostragem 10 (dez)

alunos das respectivas series. Os discentes entrevistados são moradores da

localidade e de vilas ribeirinhas adjacentes, filhos de agricultores, pescadores

e comerciantes locais, sendo que a maioria dos pais destes alunos não

concluíram o ensino fundamental II conforme dados da escola. Boa parte

desses são assistidos por programas sociais do governo como bolsa família e

seguro defeso.

3.3 Instrumentos da pesquisa

Esta pesquisa foi desenvolvida em duas etapas distintas: o

levantamento bibliográfico e a pesquisa de campo. A pesquisa bibliográfica foi

feita em livros por meio de leituras orientadas, revistas, artigos em revistas

eletrônicas, entre outros, com objetivo de coletar um maior número possível

22

de informações sobre a temática para que assim o estudo tivesse o respaldo

de teóricos reconhecidos no mundo acadêmico. Para Carvalho (2000) “a

pesquisa bibliográfica é a atividade de localização e consulta de

fontes diversas de informação escrita, para coletar dados gerais ou

específicos a respeito de determinado tema”

Em relação à pesquisa de campo, a mesma foi realizada em uma

escola na zona rural do município de Porto de Moz no estado do Pará, com

professores e alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. A pesquisa de

campo dividiu-se em três etapas distintas, sendo a observação nas aulas e

nos corredores da escola, entrevistas com professores de diversas disciplinas

e com um grupo de alunos.

Conforme Gil (1999, p. 72) “[...] no estudo de campo, estuda-se um

único grupo em determinada comunidade, em termos de sua estrutura social,

ou seja, ressaltando a interação de seus componentes. [...]”. Assim, o estudo

de campo tende a utilizar muito mais técnicas de observação do que de

interrogação.

Destaque-se que as perguntas do presente estudo tiveram como

objetivo saber dos professores de que forma lidam com o preconceito

linguísticos no ambiente escolar.

3.4 Método de análise

Esta pesquisa, insere-se em uma abordagem qualitativa de cunho

descritivo uma vez que foi observado, registrado, analisado os fatos e os

fenômenos sem quaisquer manipulações. Para Goldengerg (2000, p. 53) “Os

dados qualitativos consistem em descrições detalhadas de situações com o

objetivo de compreender os indivíduos em seus próprios termos.”

Conforme Rapazzo, (2004, p. 58) “[...] a qualitativa busca uma

compreensão particular daquilo que estuda: o foco da sua atenção é

centralizado no específico, no peculiar, no individual, almejando

23

sempre a compreensão e não a explicação dos fenômenos

estudados. [...]” Acrescenta ainda, a esse respeito:

Os dados da pesquisa qualitativa não são coisas isoladas, acontecimentos fixos, captados em um instante de observação. Eles se dão em um contexto fluente de relações: são “fenômenos” que não se restringem às percepções sensíveis e aparentes, mas se manifestam em uma complexidade de posições, de revelações e de ocultamentos. Na pesquisa qualitativa todos os fenômenos são igualmente importantes e preciosos: a constância das manifestações e sua ocasionalidade, a frequência e a interrupção, a fala e o silêncio. Procura-se compreender a experiência que todos os “sujeitos” têm. (RAPAZZO, 2012, p. 58)

Por isso, comenta que o objetivo da pesquisa qualitativa na sala de

aula, é desvendamento dos problemas ora escondidos, que muitas vezes por

serem rotineiros passam desapercebidos para os atores que deles participam.

3.5 Análise dos Dados e Discussão

Nesta seção, analisaram-se os dados obtidos na pesquisa de campo

confrontando os resultados com as opiniões dos autores que discutem a

temática e também transcrevendo as falas dos entrevistados. Na visão de

Carvalho (2000) a análise de dados é “[...] a etapa de classificação e

organização das informações coletadas, tendo em vista os objetivos do

trabalho.[...]” Já para Best (1972 apud Lakatos, 2010) “representa a aplicação

lógica dedutiva e indutiva do processo de investigação”.

É importante frisar que as entrevistas para este estudo ocorreram de

forma separada em dias diferentes para que o professor ou aluno pudesse

nos fornece sua real opinião sem interferência de opiniões alheias.

Com relação a entrevistas Lakatos, (1992) afirma que:

É um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha

informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação

de natureza profissional. É um procedimento utilizado na investigação

social, para a coleta dedados ou para ajudar no diagnóstico ou no

tratamento de um problema social. (LAKATOS, 1992, p. 195).

24

Após a coleta dos dados foi realizada tabulação dos mesmos para que

se pudessem averiguar os resultados obtidos.

A primeira pergunta feita aos professores, foi com relação a suas

formações acadêmicas, onde obtivemos os seguintes resultados: 95% dos

professores possuem o nível superior com formação em Letras e Pedagogia e

com especialização em Gestão Escolar e Metodologia do Ensino Superior,

somente 5% não possuem um curso superior, apenas formação no

magistério.

GRÁFICO 1–Qual sua formação?

Fonte: E.M.E.F Alberto da Silva Torres (2015)

É importante observar neste contexto a formação deste profissional

para entender melhor a dinâmica do ensino, se estes profissionais possuem

habilidade para lidar com a diversidade linguísticas dentro do contexto

escolar.

A primeira pergunta aos professores foi com relação se estes

consideravam a linguagem denominada de “padrão” como única correta e a

única a ser usada nas escolas? Obtivemos os seguintes resultados: 16% dos

professores afirmaram que consideravam a língua padrão como única correta

e a que deveria ser ensinada nas escolas. É interessante observar que os

que afirmaram tal concepção apresentavam uma formação acadêmica inferior

95%

5%

FORMAÇÃO SUPERIOR

SEM FORMAÇÃO

25

aos demais, enquanto que 84% afirmaram que não consideravam a única

correta e que as demais variantes deveriam também ser comtempladas no

currículo escolar do professor.

GRÁFICO 2 –Você considera a linguagem padrão como a única correta e a única que deve ser ensinada nas escola?

Fonte: E.M.E.F Alberto da Silva Torres (2015)

O professor precisa estar ciente quanto ao processo de variação da

língua pois cabe a ele a orientação a ser dada aos discentes quanto as

diversas possibilidades no processo da fala, é preciso antes reconhecer que

não existe uma única forma de falar invariável, mas que podem existem

diferentes possibilidades de se dizer uma mesma coisa.

Quando perguntado aos entrevistados sobre qual o seu conhecimento

sobre o preconceito linguístico? Obtivemos os seguintes resultados: 78% dos

professores afirmaram desconhecer a problemática, 20% afirmaram que

conhecer o tema e 2% já ouviu falar, mas não atentaram para o tema. Foi

verificado na pesquisa que os professores com maior grau de escolaridade,

demonstraram um conhecimento mais avançado em relação as variações da

língua e por certo o preconceito linguístico mas segundo os mesmo poucos

foram as ações para coibir tal prática.

16%

84%

Considero única correta

Não considero a única cor-reta

26

GRÁFICO 3 –Você já ouviu falar em preconceito linguístico?

Fonte: E.M.E.F Alberto da Silva Torres (2015)

Uma das dificuldades relacionadas ao combate do preconceito

linguístico nas escolas é a falta de informação, até mesmo dos professores,

alguns ainda presos a um método totalmente arcaico tem a gramática

normativa como divisor entre falar “certo” e falar “errado”. Urge neste

momento a implementação de políticas educacionais que visem esclarecer a

professores e alunos para a problemática.

De acordo Carneiro e Dodge (2007, p.91):

Para que uma prática se torne uma realidade na escola, é preciso mudar a visão dos estabelecimentos a respeito dessa ação e a maneira como entendem o currículo. Isso demanda uma transformação que necessita de um corpo docente capacitado e adequadamente instruído para refletir e alterar suas práticas. Envolve, para tanto, uma mudança de postura e disposição para muito trabalho.

Segundo os entrevistados:

‘Eu nunca ouvir falar sobre esse tal preconceito linguístico, isso é mais um termo que inventaram pra gente estudar, já ouvir falar sobre o racismo e sobre homofobia que ta tão divulgado na televisão, mas agora sobre esse preconceito linguístico não ouvir falar não, mas o que isso mesmo?” (INFORMANTE P1, há 08 anos trabalhando na educação)

“olha que já ouvir falar sim, sobre o preconceito linguístico em uma revista aqui na escola, acho que é a discriminação com as pessoas que falam errado, tipo a galera do interior que fala “parmada” ao invés de “palmada”

20%

78%

2%

Já ouviu falar

Nunca ouviu falar

Ouviu Falar mas não aten-tou para o tema

27

tipo isso aí não tem muita informação, mas acredito que seja isso, é (INFORMANTE P02, há 12 anos na educação básica)

Na terceira questão foi perguntado ao professor, se ele corrigia seus

alunos quando estes falavam “diferente” ou alguma palavra de forma “errada”,

no questionamento. Obteve-se os seguintes dados, na qual 90% afirmaram

que sim e 10% afirmaram que não.

GRÁFICO 4 – Você corrige seu aluno quando fala diferente ou uma palavra de forma “errada” ?

Fonte: E.M.E.F Alberto da Silva Torres (2015)

E importante que o professor fique atento ao modo de falar de seu

aluno, e por certo orientá-lo quanto ao uso correto das variantes em situações

comunicativas diversificada. O docente não pode simplesmente dizer ao

aluno que ele está falando errado, ele precisa orientá-lo quanto ao uso correto

das variantes.

“Olha na hora da leitura, chamo a atenção deles, ou quando às vezes eu peço a opinião deles e eles falam errado eu corrijo, acho que é a função do professor fazer, se não vão dizer por aí, teu professor não te ensinar falar direito não?.”.( INFORMANTE P03,há 10 anos na educação).

Nesta perspectiva os PCNS (1997) afirmam que:

A questão não é falar certo ou errado, mas saber qual forma de fala utilizar, considerando as características do contexto de comunicação, ou seja, saber

90%

10%

SIM NÃO

28

adequar o registro às diferentes situações comunicativas. É saber coordenar satisfatoriamente o que falar e como fazê-lo, considerando a quem e por que se diz determinada coisa. É saber, portanto, quais variedades e registros da língua oral são pertinentes em função da interação comunicativa, do contexto e dos interlocutores a quem o texto se dirige. A questão não é de correção da forma, mas de sua adequação às circunstâncias de uso, ou seja, de utilização eficaz da linguagem: falar bem é falar adequadamente, é produzir o efeito pretendido. (PCNs, 1997, p. 32)

Na quarta questão, foi perguntado aos professores se eles trabalhavam

as variantes linguísticas em sala de aula, utilizando os gêneros textuais, 98%

afirmaram que não, 2% afirmaram que já falaram sobre o tema em suas

aulas.

GRÁFICO 5- Você trabalha as variantes linguísticas em sala de aula?

Fonte: E.M.E.F Alberto da Silva Torres (2015)

Uma das alternativas que podem surtir efeito no combate do

preconceito linguístico é a ação de professores compromissados com o

ensino, o professor principalmente de línguas precisa trabalhar as variantes

linguísticas em suas aulas, seja através de poesias, músicas ou teatros mas

que as ações possam elucidar seus alunos quanto os nuances de nossa

língua, o aluno precisa entender que as variações são formas de se dizer

algo, mas de outra forma.

Nesse sentido Bartoni-Ricardo (2005) elucida que:

2%

98%

SIM

NÃO

29

A escola não pode ignorar as diferenças sociolinguísticas. Os professores e, por meio deles, os alunos têm que estar bem conscientes de existem duas ou mais maneiras de se dizer a mesma coisa.

Com relação à entrevista com os alunos foi possível analisar suas

repostas e selecionar algumas delas a fim de elucidar a real situação do

preconceito linguístico o ambiente escolar e fora dele também. Foi

perguntado se os mesmos já sofreram algum tipo preconceito quando falaram

uma palavra diferente em frente aos colegas ou do professor. Dos 10 alunos

entrevistados, 82% afirmaram que sim, 18% responderam que não.

GRÁFICO 6- Você já sofreu preconceito por falar “diferente” ou por considerarem que você falou alguma palavra “errada”?

Fonte: E.M.E.F Alberto da Silva Torres (2015)

É real a situação do preconceito linguístico em nossas escolas, a

mentalidade enraizada pela gramática normativa de que todo mundo que fala

de maneira que foge os padrões por ela apregoados é errado ainda e permeia

na mente não só de nossos alunos, mas também de boas partes de nossos

professores, mas para que se possa reverter esse quadro são necessárias

medidas, que proporcionem aos professores e alunos o acesso a informação

sobre a heterogeneidade da língua que permite que variantes coexistam

como modalidades de comunicação não menos importante que a “variante

padrão” que possuem regras linguísticas que permitem que uma mensagem

seja compreendidas por seus interlocutores.

82%

18%

SIMNÃO

30

“Olha eu acho que sofri preconceito sim, dia desse eu falei assim

“professora depois da aula nos vai pescar com o papai” a professora

falou na frente dos colegas, “não é assim que se fala, é “nós vamos

pescar com o papai”, fiquei com um pouco de vergonha por que os

moleques ficaram toda hora dizendo “ei, nois vai”, fiquei ate bravo, aí

a professora falou para eles pararem.” (INFORMANTE A01, alunos do

8º ano)

Um outro questionamento feito aos alunos foi como eles se sentiam

quando o professor ou colega lhes corrigiam em frente aos demais. Nessa

pergunta, obtivemos os seguintes resultados, 75% dos alunos afirmaram que,

sentiam-se constrangido, 20% argumentaram que não se sentiam

constrangido com os comentários dos colegas ou do professor e 5%

afirmaram que as vezes se constrangiam, se no meio do grupo tivessem

pessoas desconhecidas.

GRÁFICO 6- Você se sente constrangido quando o professor ou colega lhe corrigi em frente aos demais ?

Fonte: E.M.E.F Alberto da Silva Torres (2015)

A maioria dos professores e alunos ainda estão presos a uma

concepção de língua homogênea, e ao se depararem com uma variantes

dentro do contexto escolar ou fora dele, tacham como “erro” e portanto de

75%

20%

5%

SE CONSTRANGIAMNÃO SE CONSTRANGIAMAS VEZES SE CONSTRANGIAM

31

modo automática tentam corrigir, como se fosse algo errado, isso faz com que

as pessoas que estão sendo corrigidas se constranjam ou até mesmo evitem

dar suas opiniões com medo de falar uma palavra ou expressão que seja

considerada errada.

Diante do resultado é possível refletir sobre a real situação do

preconceito linguístico, visto que a existência deste problema tem como um

dos fatores preponderante a falta de informação, tanto por parte de

professores quanto de alunos, urge então medidas educativas que visem

sanar essas deficiências de informação para que assim este problema ora

social possa ser eliminado de nossas escolas e por certo da sociedade.

32

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, tratou-se do preconceito linguístico, como um problema social

que deve ser combatido sobre tudo no ambiente escolar, embora as escolas

brasileiras ainda se baseiem em um ensino tradicionalista, que se alimenta de um

sistema propício ao surgimento do preconceito linguístico, é possível mudar essa

imagem, mas para que isto aconteça, faz-se necessário a adoção de medidas que

envolvam ações pedagógicas reais, que priorizem um ensino inovador e não mais

tradicionalista, um método de ensino que possa convergir os diferentes falares e

apontamentos para que os alunos possam ser compreendidos e compreenderem em

relação à dinamicidade da língua portuguesa.

Almeja-se com este estudo, um novo norte em relação ao tratamento

dos alunos que utilizam de variantes locais e que possam ser compreendidos

e não mais inibidos com relação a suas falas, pois sendo vítimas do

preconceito linguístico, os alunos são acometidos de sentimentos e

sensações negativas que diminuem sua autoestima e motivação para querer

aprender e participar das aulas, se transformando em indivíduos com

complexo de inferioridade, o que pode atrapalhar no crescimento intelectual e

profissional dos indivíduos.

Portanto, pode-se concluir que, o preconceito linguístico pode e deve

ser combatido nas escolas brasileiras, urge então a necessidade de

professores determinados possam trabalhar essas peculiaridades da língua

de forma dinâmica, trabalhando as variantes em sala de aula, integrando o

aluno com os diversos falares.

33

5. REFERÊNCIAS

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BAGNO, M. Preconceito Linguístico: O que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1998.

BAGNO, Marcos. Gramatica histórica: do latim ao português brasileiro. Brasilia: Unb,2007.

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz? 45.ed.São Paulo: Loyola,2006.

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: O que é, como se faz? São Paulo: Loyola; 1999.

BORTONI- RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolinguística em sala de aula. São Paulo: Parábola, 2004.

BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Nós Chegemu na escola, e agora? Sociolinguística e educação. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.

BRASIL. MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF,1997.

CARVALHO (ORG.), Maria Cecília M. de. Construindo o saber: Metodologia científica Fundamentos e técnicas. 9.ed. São Paulo: Papirus, 2000.

CUNHA, Celso; CINTRA, Luíz F. Lindley e. Nova gramática do português contemporâneo. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1999.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1999.

GOLDENGERG, Mirian.A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciência sociais. 4 ed. Rio de janeiro: Record, 2000.

HOUAISS, A. [et all]. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

34

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicação e trabalhos científicos. . 4.ed. São Paulo: Atlas, 1992.

LEITE, Yonne. CALLOU, Dinah. Como falam os brasileiros. 3 ed. Rio de Janeiro,2008.

RAMOS, Jânia M. O espaço da oralidade na sala de aula. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

RAMPAZZO, L. Metodologia científica: para alunos dos cursos de graduação e pós-graduação. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola. 2004.

SANTOS. Claudinei Marques; GOMES. Nataniel dos Santos. Gramatica, ensino e ideologia: uma contradição de conceitos. Web revista discursividade. Ed.14, julho de 2014.Disponível em: http://www.discursividade.cepad.net.br/atual/Arquivos/claudineinataniel.pdf. Acesso em maio de 2015.

SOUZA. Luciene Felix da Silva. O preconceito linguístico dentro e fora da escola. Juína. 2010. P.46. Trabalho de conclusão de curso apresentando ao Programa de Graduação em Letras – Habilitação em português/Inglês e respectivas literaturas. Do Instituto Superior de Educação da AJES. Disponível em: http://www.biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20110915225707.pdf. Acesso em maio de 2015.

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ANEXO– QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA DE CAMPO

Lócus da Pesquisa: E.M.E.F ALBERTO DA SILVA TORRES

VILA TAPARÁ / PORTO DE MOZ –PA

Sujeitos da Pesquisa: Professores e Alunos

Turmas: 6º ao 9º ano

Professor / Aluno (a):_________________________________________ Sexo M ( )

F ( )

Obs: Caro professor e aluno as informações aqui descritas serão utilizadas no trabalho

acadêmico sem que seus nomes sejam mencionados

1ª Professor você tem formação superior ?Se tem qual ?

2ª Você considera a linguagem padrão como a única correta e a única que deve ser

ensinada nas escolas?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

_______________________________________________________________

3ª Você já ouviu falar em preconceito linguístico?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

_______________________________________________________________

4ª Você corrige seu aluno quando fala diferente ou uma palavra de forma “errada” ?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

_______________________________________________________________

5ª Você trabalha as variantes linguísticas em sala de aula??

Discentes

6ª Você já sofreu preconceito por falar “diferente” ou por considerarem que você falou alguma palavra “errada?

36

7ª Você se sente constrangido quando o professor ou colega lhe corrigi em frente aos demais ?