O Problema da Existência de Deus

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Unidade 3.3. A dimensão religiosa: Análise e compreensão da experiência religiosa O Problema da Existência de Deus

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  • 1. Ser que Deus existe?Haver bons argumentos ou boas razes para pensar queDeus existe ou no?

2. Argumentos Tradicionais a Favor daExistncia de Deus 3. Esquema 4. Portanto, Senhor, Tu que ds o entendimento da f, concede-me que, quanto sabes ser-meconveniente, entenda que existes como acreditamos e que s o que acreditamos [seres]. E na verdadeacreditamos que Tu s algo maior do que o qual nada pode ser pensado.Acaso no existe uma tal natureza, pois o insensato disse no seu corao: No h Deus? Mas comcerteza esse mesmo insensato, quando ouvir isto mesmo que digo, algo maior do que o qual nada podeser pensado, entende o que ouve e o que entende est no seu intelecto, ainda que no entenda queisso exista. Com efeito, uma coisa algo estar no intelecto, outra entender que esse algo existe. Comefeito, quando o pintor concebe previamente o que vai fazer, tem isso mesmo no intelecto, mas aindano entende que exista o que no fez. Mas quando j pintou, no s o tem no intelecto como entendeque existe aquilo que j fez. E, de facto, aquilo maior do que o qual nada pode ser pensado no podeexistir apenas no intelecto. Se est apenas no intelecto, pode pensar-se que existe na realidade, o que ser maior. Se, portanto, aquilo maior do que o qual nada pode ser pensado est apenas no intelecto,aquilo mesmo maior do que o qual nada pode ser pensado aquilo relativamente ao qual pode pensar-se algo maior. Existe, portanto, sem dvida, algo maior do que o qual nada possvel pensar noapenas no intelecto, mas tambm na realidade. Santo Anselmo, Proslogion 5. 1. Argumento OntolgicoSanto Anselmo(1033-1109) 6. O CONCEITO DE DEUS Maior no tem aqui o significado comum de maior em tamanho, mas de maior em perfeio. Santo Anselmo 7. Estrutura do Argumento: Premissa 1 Deus o ser maior do que o qual nada podeser pensado. Premissa 2 Deus existe apenas no pensamento.Se Deus existe apenas no pensamento, ento Premissa 3 h algo maior (outro ser) do que Deus.Logo, Deus no existe apenas no pensamento. ConclusoDeus tambm existe na realidade. 8. Explicao do Argumento:Afirmar que Deus o ser maior do que o qual nada pode ser pensado dizer que Deus perfeito, ou seja, tem todas as qualidades.A ideia de um ser maior (perfeito) implica a existncia desse ser, umavez que tentar imaginar um ser perfeito que no exista to absurdo comotentar imaginar um crculo quadrado. Se Deus existisse apenas na mente(ideia), ento no seria o ser maior do que o qual nada pode serpensado; no logicamente admissvel dizer que Deus s existe na nossamente. Como existir na realidade superior a existir s no pensamento eno posso pensar um ser maior do que Deus, Deus tem de existir quer nopensamento quer na realidade. Se assim no fosse, ns, seres humanos,seriamos maiordo que Deus. 9. Objeces ao Argumento Ontolgico1. GAUNILO Ilha perfeitaExiste na minha mente a ideia de uma ilha perfeita. A ilha em questo no seria perfeita se apenas existisse na minha mente e no na realidade.Logo, a ilha perfeita existe na realidade.2. KANT A existncia no uma qualidadeKant afirma que a existncia no um predicado ou uma qualidade, mas o suporte da atribuio de toda a predicao. porque um ser (Antnio) existe, que lhe podemos atribuir uma qualidade ( alto). A definio de ilha perfeita diz-nos apenas como a ilha em questo seria se existisse. 10. A existncia de Deus pode ser provada por cinco vias.A segunda via resulta da natureza da causa eficiente. Vemos que nomundo dos sentidos existe uma ordem das causas eficientes. No hnenhum caso conhecido (nem, na verdade, possvel) no qual severifique que uma coisa a causa eficiente de si mesma; pois, dessemodo, seria anterior a si mesma, o que impossvel.Ora, no possvel regredir infinitamente nas causas eficientes,porque em todas as causas eficientes ordenadas a primeira a causada causa intermdia e esta, quer seja vrias ou apenas uma, a causada causa ltima. Ora, retirar a causa retirar o efeito. Portanto, seno existisse uma causa primeira entre as causas eficientes, noexistiria uma causa ltima nem nenhuma causa intermdia. Mas se forpossvel regredir infinitamente nas causas eficientes, no existir umaprimeira causa eficiente, nem existir um ltimo efeito, nem quaisquercausas eficientes intermdias; e tudo isto completamente falso. (1225-1274)Portanto, necessrio admitir uma primeira causa eficiente, qualtodos do o nome de Deus.So Toms de Aquino, Suma Teolgica, Parte a, 2, 3. 11. 2. Argumento Cosmolgico 1. Tudo o que existe tem de ter uma causa. 2. A cadeia causal no pode regredir indefinidamente. Em algum ponto, temos de chegar Causa Primeira. 3. Causa Primeira damos o nome de Deus. 12. Explicao do argumento:O argumento cosmolgico um argumento a posteriori, ou seja,uma () No h nenhum caso conhecido (nem, na verdade, possvel) no qual se verifique queprocuraa provareficiente de si mesma;Deus desse modo,dos dados da si mesma, o que coisa causa a existncia de pois, partindo seria anterior a observaoemprica. () impossvel.So Toms de Aquino, Suma TeolgicaSe as ligaes causa-efeito regredissem indefinidamente, nada haveria noincio para desencadear a sua sequncia, o que absurdo. Deste modo, torna-se bvio que na natureza as cadeias causais (ligaes causa-efeito) no podemregredir indefinidamente, isto , tem de haver uma causa primeira quedesencadeou toda a sequncia causal.A essa causa primeira atribui-se o nome de Deus.Logo, Deus existe. 13. Objeces ao ArgumentoCosmolgico 1. Autocontraditrio:CRTICAS Este raciocnio auto-contrditrio dado que aprimeira e a segunda premissas no podem ser simultaneamente verdadeiras. Primeiro diz-se que Tudo tem de ter umacausa, mas logo em seguida admite-se queexiste algo (Deus) que no tem uma causa. 2. O Argumento no prova a existncia doDeus dos testas (omniponte, omnisciente ebenevolente). Quanto muito prova aexistncia de uma Causa Primeira. Ora acausa primeira pode ter sido o Big Bang. 14. Supe que ao atravessar uma mata tropeo numa pedra e me perguntam como foi ela ali parar.Poderia talvez responder que, tanto quanto me dado a saber, a pedra sempre ali esteve; e talvezno fosse muito fcil mostrar o absurdo desta resposta. Mas suponha-se que eu tinha encontradoum relgio no cho e procurava saber como podia ele estar naquele lugar. Muito dificilmente mepoderia ocorrer a resposta que tinha dado antes que, tanto quanto me era dado saber, o relgiopoderia sempre ali ter estado. Contudo, por que razo esta resposta, que serviu para a pedra, noserve para o relgio? Por que razo no esta resposta to admissvel no segundo caso como noprimeiro? Por esta razo e por nenhuma outra: a saber, quando inspeccionamos o relgio, vemos (oque no poderia acontecer no caso da pedra) que as suas diversas partes esto forjadas eassociadas com um propsito; por exemplo, vemos que as suas diversas partes esto fabricadas eajustadas de modo a produzir movimento e que esse movimento est regulado de modo a assinalara hora do dia; e vemos que se as suas diversas partes tivessem uma forma diferente da que tm, setivessem um tamanho diferente do que tm ou tivessem sido colocadas de forma diferente daquelaem que esto colocadas ou se estivessem colocadas segundo uma outra ordem qualquer, a mquinano produziria nenhum movimento ou no produziria nenhum movimento que servisse para o queeste serve. (...) Tendo este mecanismo sido observado (...), pensamos que a inferncia inevitvel:o relgio teve de ter um criador; teve de existir num tempo e num ou noutro espao um artfice ouartfices que o fabricaram para o propsito que vemos ter agora e que compreenderam a suaconstruo e projectaram o seu uso. (...) 15. (...) Pois todo o sinal de inveno, toda a manifestao de desgnio, que existia no relgio, existe nasnobras da natureza, com a diferena de que na natureza so mais, maiores e num grau tal queexcede toda a computao. Quero dizer que os artefactos da natureza ultrapassam os artefactos daarte em complexidade, em subtileza e em curiosidade do mecanismo; e, se possvel, ainda vo maisalm deles em nmero e variedade; e, no entanto, num grande nmero de casos no so menosclaramente mecnicos, no so menos claramente artefactos, no so menos claramente adequadosao seu fim ou menos claramente adaptados sua funo do que as produes mais perfeitas doengenho humano. (...) Em suma, aps todos os esquemas e lutas de uma filosofia relutante, temosnecessariamente de recorrer a uma Deidade.Os sinais de desgnio so demasiado fortes para serem ignorados.O desgnio tem de ter um projectista. Esse projectista tem de ser uma pessoa. Essa pessoa DEUS. William Paley, Teologia Natural, 1802, Cap. 1, 3 e 27. 16. William Paley (1743-1805) 17. Estrutura do Argumento:As mquinas so produzidas por desgniosinteligentes.O Universo como uma mquina.Logo, o Universo foi produzido por desgniointeligente. Esse desgnio inteligente Deus. 18. O Argumento do DesgnioO argumento do desgnio um argumento porPaley parte do princpio de que os organismosanalogia, ou seja, compara, em termos de(Universo) so como os relgios. Ora se ossemelhanas, o Universo (organismos) a umrelgios (mecanismo complexo) tm umrelgio (artefectos).criador (inteligente), ento os organismos Universo - (mecanismo muitssimo maiscomplexo) tambm tem de ter um CriadorSuperior, que s pode ser Deus. 19. Objeces1.Fraqueza da analogia 2. Limitaes da prova 3. Darwin afirma que aUmargumentoMesmo que prove aanalgicoforte explicao utilizadaquando asexistncia de um ser(artfice inteligente)semelhanas sosuperior, no prova a existncia do Deus doest errada. A correctamuitas e em aspectosfundamentais, o quetesmo. a seleco matural.neste caso no ocorre. 20. H mal no mundo: isto no pode ser seriamente negado.Basta pensar no Holocausto, nos massacres de Pol Pot noCamboja ou na prtica generalizada da tortura. Todos eles soexemplos de mal moral e crueldade: seres humanos queprovocam sofrimento a outros seres humanos por uma razoqualquer. A crueldade tem tambm muitas vezes comoobjecto os animais. H tambm outro tipo de mal, conhecidocomo mal natural ou metafsico: terramotos, doena e fomeso exemplos deste tipo de mal.Nigel Warburton, Elementos Bsicos de Filosofia, Gradiva, Lisboa, 1998,p. 45 21. Mal Natural e Mal MoralTipo de Mal que causado pelasTipo de Mal que causado pelaaces dos seres humanos;Natureza; Sofrimento causado pode ser Sofrimento causado pordeliberado (intencional) ou por fenmenos naturais. negligncia. Exemplos: cheias, terramotos,Exemplo: roubos, asssassinatos,etc.etc.Existncia de Mal Moral Mal NaturalMal no Mundo 22. Estrutura do Argumento do Mal 1. Se Deus existisse,(sabe que existe no Se Deus omniscienteento o mal o mal), Sumamente bom (quer impedir o mal) e existiria no (pode impedir o mal). omnipotente mundo.2. O Mal existe no mundo (Facto) 3. Logo, Deus no existe 23. O Problema do MalO Problema lgico: DeusOtestaaceitaduasexisteafirmaes existe1.Deus que e so logicamenteomnipotente, inconsistentes omnisciente eentre si. As duas afirmaesperfeitamente bom.E agora?so: 2. O mal existe.Deus omnipotente, omnisciente e O mal existebom 24. O Mal deve-se a Deus ou ao homem?Qual a perspectiva dacriana, que aparece novdeo, sobre estaquesto? 25. Resposta dos Testas O QUE OTesmo:DEUSO Deus dos testas um serpessoal, espiritual, imutvel,omnipresente, criador doTESMOuniverso, transcendente (queesta fora do espao e dotempo), omnipotente (que Imutvelpode tudo), omnisciente (quesabe tudo), e sumamentebom. 26. Objeces ao Argumento do Mal1. Se Deus existisse, o mal moral no existiria no mundo No h qualquer incompatilidade entre a existncia1 Objeco: de Deus e o mal, pois o mal da responsabilidade do ser humano, um mau uso do livre-arbtrio dado por Deus ao Homem. O homem no poderia ser livre, se Santo Agostinho no pudesse escolher entre fazer o bem e fazer o mal. 1. Se Deus existisse, o mal natural no existiria no mundo2 Objeco:O Mal natural compatvel com a existncia deDeus. Se no houvesse algum mal natural no mundo,o ser humano no poderia superar-se, isto , realizaractos hericos ou grandiosos. 27. E