O PROCESSO COLABORATIVO NA PRODUÇÃO DE...
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Carlos Albano Volkmer de Castilho
O PROCESSO COLABORATIVO NA PRODUO DE INFORMAES:
GNESE, SISTEMAS E POSSVEIS APLICAES NO JORNALISMO
COMUNITRIO
Florianpolis2009
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Carlos Albano Volkmer de Castilho
O PROCESSO COLABORATIVO NA PRODUO DE INFORMAES: GNESE, SISTEMAS E POSSVEIS APLICAES NO JORNALISMO
COMUNITRIO
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC, para obteno do ttulo de Mestre em Engenharia de Produo.
OrientadorProf. Eduardo Meditsch Dr.
Co-Orientador
Prof. Francisco A. P. Fialho Dr.
Co-OrientadorProf. Neri dos Santos Dr.
Florianpolis
2009
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CARLOS ALBANO VOLKMER DE CASTILHO
O PROCESSO COLABORATIVO NA PRODUO DE INFORMAES: GNESE, SISTEMAS E POSSVEIS APLICAES NO JORNALISMO
COMUNITRIO
Esta dissertao foi julgada e aprovada para a obteno do grau de Mestre em Engenharia e Gesto do Conhecimento no Programa de Ps-Graduao em Engenharia e Gesto do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianpolis, 20 de fevereiro de 2009.
________________________Prof. Roberto Carlos S. Pacheco, Dr.Coordenador do Programa - UFSC
Banca Examinadora: ________________________Orientador Prof. Eduardo Barreto Vianna Meditsch, Dr.Engenharia e Gesto do Conhecimento UFSC. ________________________Co-Orientador Prof. Francisco A. P. Fialho, Dr.Engenharia e Gesto do Conhecimento UFSC. ________________________Prof. Maria Jos Baldessar, Dra.Departamento de Jornalismo UFSC.
_______________________Prof. Marco M. Chaga, Dr.Faculdades ASSESC - Florianpolis
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Agradecimentos
Esta dissertao o resultado de um esforo coletivo. Eu apenas dei o formato final. Os professores Eduardo Meditsch, Francisco Fialho, Marco Chaga e Simone Dias foram mais do que conselheiros e orientadores. Eles so co-autores, aos quais eu devo creditar os eventuais mritos deste trabalho. Mas h tambm uma pessoa cuja participao foi diria e onipresente. Este trabalho para voc, Sonia.
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SUMRIO
Resumo VII Abstract VIII
1. Introduo 9 1.1 Pergunta de Pesquisa 10 1.2 Objetivos 10
1.2.1 Objetivo Geral 101.2.2 Objetivos Especficos 101.3 Justificativa Terica 101.4 Procedimentos Metodolgicos 111.5 Aderncia 121.6 Escopo 132 A Era da Informao e do Conhecimento 14
2.1 Inovao como alavanca do processo que gerou a compu- tao e a internet 14 2.2 Transio cultural provocada pela inovao tecnolgica 17 2.3 Comunidades Virtuais 19
2.3.1 Caractersticas e diferenas 202.4 A informao na nova cultura digital 212.5 A Nuvem informativa 233 A crise no modelo convencional de jornalismo 263.1 A Crise na Imprensa 263.2 A transio no modelo de negcio da imprensa 27
3.3 A crise do noticirio local e a perda das bases comunitrias 30 3.4 O ressurgimento da informao local e o jornalismo cidado 32
3.5 A mdia busca uma nova oportunidade 333.6 A produo colaborativa e a crise da imprensa 344 A Produo Colaborativa de Contedos Informativos 364.1 Marco Conceitual 364.1.1 Contexto histrico 384.1.2 Processo colaborativo na gerao de conhecimento 384.2 Produo Colaborativa em Comunidades 42
4.2.1 Comunidades de Informao e Comunidades de Prtica 424.2.2 Produo colaborativa de notcias 414.2.2.1 Weblogs individuais 414.2.2.2 Autoria coletiva 424.2.2.3 Investigaes colaborativas 434.2.3 Produo colaborativa de informaes sobre servios 454.2.4 Mediao e recombinao 464.2.5 Certificao de credibilidade na produo colaborativa 48
4.2.6 Qualidade da informao gerada pelo processo colaborativo 50 4.2.7 Condies essenciais para a implantao da produo colaborativa de informaes em comunidades sociais visando a produo de notcias locais 51 4.2.8 Contexto bsico para o desenvolvimento da produo cola-
laborativa de notcias locais 52
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5 Consideraes Finais 545.1 Consolidao de uma nova rea de pesquisas 556 Proposta de novos estudos 567 Glossrio 588 Referncias 609 Notas 64
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RESUMO Esta dissertao de mestrado procura mostrar, com base na pesquisa bibliogrfica e no monitoramento fenomenolgico, a importncia crescente da produo colaborativa de contedos em comunidades sociais como instrumento para suprir o dficit informativo local e hiper-local, provocado pela crise no modelo de negcios da imprensa mundial.Palavras chavesJornalismo online, produo colaborativa, noticirio local, comunidades de informao, crise na mdia.
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ABSTRACTThe present dissertation, using a bibliographic research and phenomenologic monitoring approach, stresses the growing relevance of colllaborative content production system in social communities as a tool to minimze the local and hyper local news deficit, caused by the crisis in the business model adopted by the mainstream press.Key WordsOnline Journalism, collaborative production, local news, information communities, media crisis.
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1. INTRODUO 9
A Web comeou como uma plataforma de publicao, depois passou a ser
um ambiente para a interatividade social e ensaia agora os primeiros passos rumo a
sua transformao em um sistema de produo de conhecimentos, definido por
Pisani e Piotet (2008) como a alquimia de multides.
Alquimia uma imagem feliz para descrever o processo de produo
colaborativa de contedos cuja presena cada vez mais intensa em vrios
segmentos da atividade humana, como economia, direito, educao e artes. Mas
talvez na comunicao que ela ganha a sua maior significao porque pode,
potencialmente, envolver multides.
A produo colaborativa passa a ser estudada num contexto marcado
tambm pela crise no modelo de negcios das empresas jornalsticas em quase
todo o mundo.
Neste trabalho, vou discutir o uso da produo colaborativa de contedos
como uma ferramenta para captar, processar e publicar informaes a partir do que
chamaremos de comunidades de informao, situadas dentro de comunidades
sociais.
Mostraremos como esta modalidade de produo de contedos informativos
tornou-se uma necessidade dentro da internet e descreveremos as suas principais
caractersticas com base em pesquisa bibliogrfica e observao de experincias,
para sugerir condies bsicas para uma cooperao entre comunidades de
informao e veculos de comunicao de massa na produo e publicao de
notcias locais.
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1.1 Pergunta de pesquisa
Qual o contexto histrico, tecnolgico e social que condiciona a aplicao do
processo colaborativo na produo de notcias locais com participao comunitria?
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo Geral
Caracterizar a produo colaborativa de contedos informativos como o
resultado de um processo de evoluo tecnolgica, econmica e social para
destacar a sua aplicao na gerao de notcias locais, a partir do envolvimento de
integrantes de comunidades sociais.
1.2.2 Objetivos Especficos
Identificar e quantificar o crescimento exponencial na produo de
contedos informativos na Web, sua influncia na mudana dos padres de
informao dos usurios da internet;
Caracterizar o surgimento das comunidades sociais na Web e a forma
como elas esto dando origem a uma nova cultura digital, vinculada
produo de informaes e conhecimento explcito;
Definir notcias locais, identificar a sua importncia na composio da
agenda de interesses noticiosos em comunidades sociais urbanas;
Sugerir procedimentos capazes de permitir a utilizao de contedos
produzidos de forma colaborativa na elaborao do noticirio local em rgos
da imprensa convencional.
1.3 Justificativa terica
O acelerado crescimento da internet gerou uma avalancha informativa que
colocou em questo os sistemas analgicos de produo de informaes e
conhecimentos.
Este fenmeno ganhou uma grande importncia na rea da comunicao, em
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especial na atividade jornalstica, onde o modelo de produo de notcias e de
gerenciamento de negcios mostra-se cada vez mais defasado em relao nova
realidade criada pela internet.
Um dos processos que comeam a chamar a ateno de pesquisadores e
gestores de informao e conhecimento o da produo colaborativa de contedos.
Trata-se de um sistema adotado pelos pioneiros da internet e que agora est sendo
testado como uma alternativa crise de produo informativa nos veculos de
comunicao de massa.
O sistema de produo colaborativa pode ocupar um papel muito importante
na captura, processamento e publicao de informaes e conhecimentos a nvel
comunitrio porque ele permite incorporar o conhecimento tcito de indivduos e
grupos sociais que at agora estavam marginalizados do processo informativo por
limitaes estruturais do modelo de produo jornalstica adotado pela imprensa
brasileira e mundial.
A produo colaborativa de contedos em redes comunitrias pode oferecer
imprensa material informativo local a um custo e volume impossveis de serem
cobertos por jornais e emissoras de rdio ou TV, no quadro atual de cortes
oramentrios para compensar a queda de receitas com a publicidade. Isto ter
imediatas repercusses na reorganizao do mapa da imprensa e da sua funo
social, j que internet acabou com o monoplio da imprensa na publicao de
notcias.
Outra conseqncia terica relevante, como destacado por Castells (2003),
a possibilidade da produo colaborativa realimentar os vnculos sociais em redes
comunitrias tanto na esfera local, como no mbito do que Hepp (2008) definiu como
translocal [1] - entre grupos locais de diferentes pases.
1.4 Procedimentos metodolgicos
O presente trabalho usa o mtodo fenomenolgico para identificar as causas
e conseqncias da crise no modelo de negcios e dos valores adotados por
empresas de comunicao e jornalistas profissionais. A observao fenomenolgica
caracteriza-se por retratar o fenmeno pelas suas caractersticas em si.
A partir de uma pesquisa documental, seguindo a definio de Remor, e do
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levantamento de contedos publicados na Web, identificamos as inovaes
tecnolgicas que provocaram a diversificao das fontes de informao e, com isto,
eliminaram o monoplio da imprensa convencional na contextualizao e produo
de notcias, gerando uma conjuntura que afetou negativamente os negcios das
empresas jornalsticas no mundo inteiro, em especial na Europa e nos Estados
Unidos (REMOR & REMOR, 2008, p. 6).
A observao fenomenolgica permitiu tambm delinear o processo de
esvaziamento do noticirio local e hiper-local, iniciado antes mesmo da
popularizao da internet. As conseqncias deste processo no foram mais
drsticas graas ao desenvolvimento de sistemas digitais de produo colaborativa
de contedos informativos.
O mtodo indutivo nos levou a investigar a possibilidade de usar a produo
colaborativa a nvel comunitrio como instrumento para reduzir o dficit informativo
criado pelos cortes dos jornais na cobertura da temtica local e hiper-local em
comunidades urbanas. A pesquisa bibliogrfica mostrou a existncia de propostas
tericas, mas muito poucas experincias prticas, notadamente aqui no Brasil.
A partir desta constatao, desenvolvemos um raciocnio dedutivo para
levantar a hiptese de uma cooperao entre comunidades de informao baseadas
no sistema colaborativo de produo de contedos e empresas de comunicao de
massa.
1.5 Aderncia
A produo colaborativa online de contedos informativos , em sua essncia,
um sistema de converso de conhecimento tcito em explcito. Para desenvolver
esta funo, ela se apia nos processos de gesto e disseminao da informao.
Ao ressaltar a sua importncia como ferramenta para a produo de notcias
locais, estamos enfatizando a disseminao de conhecimentos explcitos, a partir da
gesto de informaes realizada no interior de comunidades sociais tanto no mbito
urbano quanto rural.
Neste sentido, a dissertao est articulada s preocupaes bsicas do
curso de ps-graduao do Departamento de Engenharia e Gesto do
Conhecimento da UFSC.
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1.6 Escopo
A proposta ressaltar a importncia terica e histrica da produo
colaborativa como uma forma de gerao de conhecimentos que ganhou uma
relevncia crescente no mbito da internet.
A dissertao de mestrado no pretende modelar um sistema colaborativo
online para produo de notcias locais. Isto ser objeto de estudo posterior.
Tambm no pretendemos testar o sistema mediante o uso de pesquisas de campo.
Pretendemos mostrar as principais experincias nesta rea de
conhecimento, e listar o contexto bsico para o desenvolvimento de redes noticiosas
colaborativas em comunidades sociais.
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2 A ERA DA INFORMAO E DO CONHECIMENTO
2.1 Inovao como alavanca do processo que gerou a computao e a internet
A humanidade nunca assistiu a uma avalancha informativa como a produzida
a partir dos anos 70 pela combinao da digitalizao com a internet. Este fenmeno
no s est alterando os processos informativos da sociedade como est gerando
uma cultura digital, que incorpora novas rotinas, crenas e valores.
Esta no a primeira vez que a humanidade enfrenta um surto de produo
massiva de contedos informativos. O anterior aconteceu no sculo XV com a
introduo, na Europa, do uso de tipos mveis para a impresso em papel. Tanto
num caso como no outro, a avalancha informativa foi a conseqncia de inovaes
tecnolgicas que mudaram o modo de produo e gesto do conhecimento, com
reflexos na comunicao e na organizao social.
As tecnologias que provocaram grandes mudanas na comunicao,
definidas por Meditsch como tecnologias intelectuais, foram objeto de estudo de
pensadores como Marshall McLuhan, Pierre Lvy, Jack Goody e Walter Ong
(MEDITSCH, 2007, p. 44). Estes autores investigaram como a tcnica pode interferir
na comunicao mediada e, com isto, alterar estruturas e valores sociais.
Quando o ourives alemo Johannes Gutenberg criou o sistema de tipos
mveis por volta do ano 1439, todo o acervo mundial de informaes se resumia a
30 mil manuscritos guardados em conventos e igrejas (McGARRY, 1999).
Nos 150 anos posteriores inveno que permitiu o surgimento do primeiro
livro impresso em 1452, nada menos que 1,25 milho de ttulos foram publicados na
Europa. S os escritos de Martinho Lutero, impressos em 1517, alcanaram tiragens
da ordem de 300 mil exemplares. (McGARRY, 1999)
As conseqncias desta primeira avalancha informativa variaram desde o fim
do monoplio da Igreja Catlica sobre a cultura da poca, a multiplicao de
universidades e de bibliotecas por toda a Europa, at as grandes descobertas
martimas.
A democratizao da produo textual permitiu a publicao de livros sobre
temas no religiosos, como os escritos de Galileu e Kepler que revolucionaram a
cincia da poca. A inveno da imprensa aconteceu em pleno Renascimento e
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possibilitou a reproduo de autores do sculo XV como Dante Alighieri, Nicolau
Maquiavel e Giovanni Boccaccio.
Cinco sculos e meio depois de Gutenberg, uma nova avalancha informativa
gerou mais uma quebra de paradigmas culturais. Ela resultou da combinao da
computao eletrnica, da digitalizao de contedos informativos, da formao de
uma rede mundial de computadores e da criao da interface grfica que
transformou a rede num canal de produo, gesto e disseminao de informaes.
Em 2003, os professores Hal Varian e Peter Lyman, da Escola de Sistemas e
Gerncia da Informao, da Universidade da Califrnia (Berkeley)[2], publicaram um
trabalho no qual procuraram medir o volume da produo informativa publicada na
Web e chegaram aos seguintes nmeros:
- Em 2002 (ano de referncia para a pesquisa), foram publicados cinco
exabytes[3] de informaes novas, 92% dos quais em formato digital e
arquivados principalmente em discos duros. Aproximadamente o dobro
do material produzido em 1999, quando os dois autores fizeram uma
pesquisa similar.
- Hal e Lyman calcularam, na poca, que o volume de informao nova
publicada na Web crescia 30% ao ano. Com base nesta projeo
conservadora[4], possvel estimar que at o final de 2008, o volume
total de informaes novas produzidas anualmente pode chegar a 18,5
exabytes[5].
- O total de documentos novos produzidos durante o ano 2002 equivale
criao, por ano, de 37 mil novas Bibliotecas do Congresso norte-
americano, cujo acervo na poca era de 17 milhes de livros
cadastrados, sem contar com manuscritos, jornais, revistas, e
documentos oficiais. Em todo o ano de 2008, a produo mundial de
documentos novos seria equivalente a 70 mil novas Bibliotecas do
Congresso norte-americano.
- Em 2003, o estudo How Much Information[6] calculou que cada ser
humano produziria (numa mdia terica) 800 megabytes de informao
por ano. Isto equivale a mais ou menos uma pilha de livros com
aproximadamente nove metros de altura. Cinco anos mais tarde,
levando em conta o ritmo estimado pelo documento, poder-se-ia prever
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que a produo informativa per capita seria de 2.761 megabytes ou
2,76 gigabytes, e a pilha de livros alcanaria 32 metros de altura, ou
um edifcio de nove andares[7].
A disponibilizao de uma tal quantidade de dados, informaes e
conhecimentos inevitavelmente iria ter repercusses no processo de formao
daquilo que Yankelovich (1991, p. 5) chama de julgamento pblico[8], ou seja, a
formao de uma opinio pblica mais qualificada por causa do maior volume de
insumos informativos.
Ainda segundo Yankelovich (1991), esta qualificao que est na base das
mudanas culturais impulsionadas por grandes inovaes tecnolgicas.
2.2 Transio cultural provocada pela inovao tecnolgica
A avalancha informativa do sculo XXI, a exemplo da que ocorreu no sculo
XV, o resultado de uma seqncia de inovaes tecnolgicas e tambm est na
origem de mudanas culturais, polticas, sociais e econmicas.
Ambos os processos resultaram de contextos histricos definidos nos quais a
informao jogou e joga um papel protagnico. No caso da grfica de Gutenberg, o
barateamento do custo de multiplicao de documentos alterou drasticamente a
conformao da esfera pblica ao criar um fluxo unidirecional de informaes que
aumentou o poder das elites de condicionar o debate pblico. A populao
continuou, no entanto, fora deste debate.
Neste trabalho, adotamos a definio simplificada de Benkler (2006, p. 177)
para esfera pblica: (...) o conjunto de prticas que os membros de uma
sociedade usam para se comunicar em questes que eles consideram temas de
interesse pblico e que exigem um reconhecimento ou uma ao coletiva.
A revoluo informativa deflagrada pela inveno de Gutenberg deu origem
ao que conhecemos hoje como comunicao de massa, ou seja, um sistema de
transmisso de dados, notcias e informaes baseado na multiplicao de uma
mesma mensagem para um grande nmero de receptores passivos. A comunicao
de massa surgiu com os primeiros jornais no sculo XVII, mas adquiriu suas
caractersticas atuais no final do sculo XIX, quando passou a ter uma influncia
decisiva na conformao da esfera pblica de debates.
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As inovaes tecnolgicas no final do sculo XX e incio do sculo XXI
criaram as bases para o surgimento de um novo sistema de transmisso de dados e
informaes cuja caracterstica primordial so as redes de computadores
interligando comunidades sociais (CASTELLS, 2003).
O sistema de redes inverteu o modelo tradicional, de um para muitos, para
dar origem ao modelo muito para muitos, onde o fluxo emissor > receptor
substitudo por uma interao de fluxos informativos entre internautas e as redes,
criando um sistema comunicativo (DE FELICE, 2008, p. 44).
A comunicao deixa de ser um processo unidirecional e horizontal para se
transformar num sistema rizomtico[9] no qual j no mais possvel identificar o
emissor e o receptor, tornando o mecanismo da produo da comunicao ainda
mais complexo.
A teoria rizomtica foi desenvolvida pelo filsofo francs Gilles Deleuze, nos
anos sessenta, para demonstrar que as construes filosficas tinham invertido a
lgica secular dos modelos baseados em hierarquias verticais (ou modelos
derivados de rvores do pensamento) para um novo patamar fundado em prticas
sociais. (DELEUZE, 1996).
Sendo assim, possvel pensar que o emissor no emite mais mensagens,
mas constri um sistema de rotas de navegao e conexes (SANTAELLA, 2004, p.
163 apud DE FELICE, 2008).
A inverso do fluxo informativo no ambiente digital da internet provocou
tambm o surgimento da mdia individual, onde individual no significa isolamento.
Estamos falando do individualismo conectado, de um individualismo em rede.
A mdia individual elimina a hegemonia da mdia de massa, mas no a elimina
como sistema de comunicao. As duas mdias passam a conviver, cada uma dentro
de sua especificidade.
As redes digitais conformaram um novo ambiente social onde comeou a
desenvolver-se o modelo da autoria coletiva, da sabedoria das multides[10] e das
comunidades inteligentes. So todas expresses cunhadas por pensadores da era
digital e que tm em comum o fato do comportamento coletivo na gerao de novos
conhecimentos estar ocupando espaos antes preenchidos pela ao individual.
(CAVALCANTI & NEPUMOCENO, 2007)
Se no fluxo informativo as redes digitais resgataram o individualismo, na
produo de conhecimentos ocorreu o fenmeno contrrio, ou seja, a produo
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individual perdeu espaos para a ao coletiva, no ambiente digital. No h como
produzir conhecimentos na intensidade, profundidade e velocidade exigidas pela era
digital, seno por meio da ao coletiva. Da mesma forma que, sem a computao e
a robotizao, a corrida espacial e automatizao da produo industrial seriam
inviveis.
A expanso contnua e acelerada da Web para mais de um bilho de usurios
aumentou o impacto social das mudanas de paradigmas na comunicao. Isto
gerou o surgimento de novos comportamentos, crenas e valores, que entraram em
conflito com rotinas e valores da era analgica.
A estabilidade est cedendo lugar mudana constante e fluidez. O
conhecimento e a informao j no se situam mais em ambientes fixos e
determinados, mas encontram-se espalhados por toda a rede de pessoas
conectadas internet.
Bauman[11] mostra como a crescente fluidez do quotidiano, combinada com a sensao permanente de mutabilidade, criou as condies
contemporneas para uma existncia lquida, como uma vida precria,
vivida sob condies de precariedade permanente (DEUZE, 2007, p. 42,
traduo do autor).
Deuze criou a expresso jornalismo lquido[12] para identificar o exerccio da
atividade informativa num ambiente social caracterizado pela fluidez e mutabilidade
constantes.
(...) ns tambm estamos assistindo um nvel sem precedentes de ativismo
e controle social em nossa experincia pessoal de realidade mediada. Um
jornalismo que pretenda inserir-se nesta ecologia ter necessariamente que
tornar-se fluido: um jornalismo lquido (DEUZE, 2006, p. 6-7).
Santaella leva a idia de fluidez na comunicao a um nvel ainda mais
amplo, ao situ-la num contexto de obra em permanente reelaborao:
Toda variedade de prticas inclusivas na comunicao via redes correio
eletrnico, mensagens instantneas, videoconferncias etc. constituem
um sujeito mltiplo, instvel, mutvel, difusa e fragmentado, enfim uma
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constituio inacabada, sempre em projeto. (SANTAELLA, 2004, p. 126)
A gerao de novos comportamentos, crenas e valores pelas tecnologias
intelectuais acontece dentro do contexto das novas redes digitais onde as
comunidades virtuais ocupam um lugar preponderante.
2.3 Comunidades virtuais
As comunidades virtuais so parte integrante das sociedades em rede e do
que Benkler[13] e Habermas definem como esfera pblica. As comunidades so os
nodos (ns) das redes que se interconectam por meio da plataforma fsica chamada
internet.
As definies de comunidade virtual, tambm chamada de comunidade
online, variam muito e, conforme aponta Castells, so fortemente influenciadas pelo
debate entre socilogos e os pesquisadores da internet. Ainda segundo Castells:
Talvez o passo analtico necessrio para se compreender as novas formas
de interao social na internet seja tomar como base uma redefinio de
comunidade, dando menos nfase ao seu componente cultural e mais
nfase ao seu papel de apoio a indivduos e famlias, desvinculando sua
existncia social de um tipo nico de suporte material. (CASTELLS, 2003,
p. 106)
Barry Wellman (apud CASTELLS, 2003), define comunidades virtuais como
(...) redes de laos interpessoais que proporcionam sociabilidade, apoio,
informao, um senso de integrao e identidade social .
J Cavalcanti e Nepumoceno (2007, p. 46) caracterizam as comunidades em
redes virtuais como entidades (...) que acessam o mesmo ambiente virtual, que
fornecem informaes de forma voluntria ou involuntria, permitindo assim gerar
conhecimento coletivo.
Combinando as trs definies poderamos chegar a uma frmula que, para
efeitos operacionais neste trabalho, poderia ser expressa da seguinte maneira: uma
comunidade virtual formada por indivduos com algum interesse, vivncia ou
problema em comum, que se comunicam de forma, basicamente, no presencial
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usando algum tipo de ferramenta miditica para alcanar uma meta coletiva.
O termo comunidade virtual j era conhecido antes do surgimento da internet,
mas tornou-se muito popular depois do livro Virtual Communities (Comunidades
Virtuais), publicado em 1993 pelo escritor e pesquisador norte-americano Howard
Rheingold. Desde ento, a obra tornou-se uma referncia entre os pesquisadores de
comunidades baseadas na internet[14].
2.3.1 Caractersticas e diferenas
O surgimento de comunidades virtuais assinala algumas rupturas importantes
em relao ao modelo convencional de comunidade, como mostra Marcos Palcios
(1996, p.87):
Nas sociedades pr-modernas, a maior parte dos indivduos no tinha
qualquer escolha quanto comunidade a que pertenciam. Eles, em
geral, nasciam, viviam e morriam numa comunidade, exercendo muito
pouca opo no que diz respeito a pertencer a outras comunidades,
fossem elas quais fossem. A Modernidade, com o aumento da
mobilidade fsica dos indivduos, a urbanizao, o estabelecimento do
sistema poltico de representao, do direito de cidadania, etc., traz o
aumento da possibilidade do indivduo eleger a comunidade, ou
comunidades, a que deseja pertencer. A mltipla inscrio social ,
indubitavelmente, uma das caractersticas da sociabilidade
contempornea.
Ainda segundo Palcios (1996, p.89):
Nas comunidades de tipo clssico, ou mesmo ps-moderno, a
existncia de meios prprios de comunicao, quaisquer que sejam eles,
(jornais, newsletters, servios de alto falantes, jornais murais, circuitos de
fofocas e mexericos, etc.), constitui um elemento de peso na formulao
do tipo ideal de comunidade. No caso da comunidade virtual, o meio de
comunicao (as redes interativas) a prpria razo de existir da comunidade. No h separao possvel entre a comunidade virtual e o
meio de comunicao que d origem a ela. A comunidade virtual se
estabelece nesse meio e em virtude da existncia de tal meio.
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De forma esquemtica, poderamos organizar do seguinte modo as principais
diferenas entre as comunidades tradicionais (pr-internet) e as comunidades
virtuais:
Quadro 1 Comunidades tradicionais e Comunidades virtuais
O conceito de pertencimento est vinculado a identidades geogrficas,
culturais, econmicas e afetivas como, por exemplo: nacionalidade, etnias, atividade
produtiva comum e famlia. Nas comunidades tradicionais, h uma forte conexo
entre o pertencimento e a territorialidade, enquanto nas comunidades virtuais, h o
que Giddens chama de desencaixe[15] entre estes dois elementos (GIDDENS,
1991).
A noo de desencaixe est ligada diretamente importncia que a
informao passou a ter na forma pela qual as pessoas se agrupam. Se antes o
fator de aglutinao era determinado pela geografia e pelo pertencimento, na era
digital, a informao passou a ser determinante no comportamento dos indivduos.
As pessoas se juntam para buscar, processar ou disseminar informaes, num
processo onde os espaos fsicos perderam relevncia para o ambiente digital.
2.4 A informao na nova cultura digital
A idia de comunidade est associada a toda a histria da internet. Desde
que a tecnologia viabilizou a interconectividade entre computadores, estes passaram
a funcionar como ns ou nodos de redes virtuais, ligando comunidades de usurios.
Estas comunidades conformam ambientes presenciais e/ou virtuais classificados por
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Castells e Melucci como laboratrios da nova cultura digital onde possvel
materializar os efeitos sociais das inovaes tecnolgicas.
Castells (2003, p. 99) adverte para o fato de que os estudos sobre cultura
digital ainda esto fortemente influenciados por dicotomias simplistas, ideolgicas,
que dificultam uma compreenso dos novos padres de interao social.
Melucci (1996), por seu lado, assinala que a identificao dos novos valores
culturais gerados pela interao em redes sociais complicada pela multiplicao de
modismos e pela mercantilizao extremada dos usos das novas tecnologias.
Os dois autores coincidem, no entanto, que apesar dos fatores limitantes,
possvel perceber o surgimento da nova cultura digital, especialmente entre os
adolescentes e jovens entre 20 e 35 anos.
H uma variada gama de novos comportamentos e valores culturais
emergindo no ambiente comunitrio virtual, conforme mostram os estudos de
Castells (2003), Melucci (1996), Ito (2005), Di Maggio et al. (2001). Mas para efeitos
deste trabalho, nos deteremos apenas nos que afetam o uso da informao pelos
usurios da Web.
Jenkins (2006, p. 25) mostrou como os espectadores de sries de televiso
como Survivor criaram comunidades virtuais para trocar informaes visando
antecipar-se ao desenrolar da trama, numa iniciativa motivada pelo simples prazer
de desafiar o sigilo em torno do nome do ltimo sobrevivente do episdio produzido
na Amaznia, em 2004.
No auge do fenmeno das comunidades criadas em torno do programa
Survivor, mais de cinco mil pessoas, apelidadas de spoilers (predadores), chegaram
a participar de quase uma centena de grupos na internet que trocavam informaes
sobre a srie. Foi a primeira vez que as comunidades tiveram um papel
preponderante num exemplo prtico de convergncia de canais de comunicao.
A situao chegou a um ponto tal que a rede CBS, a produtora da srie,
resolveu apelar para a justia norte-americana para tentar impedir que a inteligncia
coletiva gerada dentro de comunidades acabasse com o mistrio em torno do ltimo
sobrevivente e que era o grande atrativo para manter audincias da ordem de 40
milhes de norte-americanos. Os tribunais deram ganho de causa aos spoilers.
O poder da inteligncia coletiva gerada em comunidades virtuais mudou os
valores sociais associados a comportamentos tradicionais na rea da informao,
especialmente a jornalstica. No caso dos spoilers da srie Survivor, quem no
22
-
tornasse pblica uma informao pessoal acabava enfrentando a ira dos demais
membros da sua comunidade porque a reteno de um dado obrigava os restantes
a trabalho adicional.
As redaes jornalsticas, em especial, sempre valorizaram muito o chamado
furo, informao indita e exclusiva. No caso dos spoilers, ficou patente a
superioridade dos coletivos na produo de informao, apesar das resistncias
culturais ligadas cultura da informao como uma mercadoria capaz de ser
estocada.
A coletivizao da cultura informativa nas comunidades ganhou inclusive um
atrativo comercial com o sucesso de iniciativas concebidas dentro da chamada Web
2.0, cuja caracterstica mais marcante a participao do usurio como fornecedor
de insumos informativos.
Nesta categoria encontram-se as comunidades virtuais criadas em torno de
sites interativos como Facebook, MySpace, Hi5, Orkut, Bebo e Friendster cujo
crescimento foi vertiginoso a partir do ano 2006 e que em junho de 2008 reuniam, na
soma total, cerca de 580 milhes de visitantes nicos em todo o mundo, segundo o
site ComScore[16].
Trata-se de um fenmeno realmente global que surgiu nos Estados Unidos e
Europa, mas hoje registra seus maiores ndices de crescimento na sia, frica e
Amrica Latina, apesar do atraso tecnolgico nestas regies em comparao aos
pases ricos.
Isto representa uma acelerada incorporao de informaes e conhecimentos
ao capital intelectual disponvel na internet.
2.5 Nuvem informativa
Para o socilogo italiano Alberto Melucci (1996, p. 226), professor da
Universidade de Milo:
o mundo em que vivemos est irreversivelmente construdo base de
informao. A viso ingnua de que a informao um espelho da
realidade no passa de uma ressaca do passado e deve ser abandonada.
A informao em suas vrias formas realidade, pelo menos no sentido de
que nossa experincia hoje totalmente mediada.
23
-
Nesta frase de Melucci, h duas idias centrais: a de que a informao no
mais vista como um espelho da realidade; e a de que a informao a realidade.
A idia da informao como espelho, segundo Melucci, est baseada na
concepo de que a realidade algo que pode ser congelado ou fotografado.
Quanto mais fiel for esta fotografia ou descrio da realidade, mais objetiva, exata
e fiel seria a informao.
Percebemos a realidade por meio dos nossos sentidos, que alimentam a
formao de mapas mentais que por sua vez servem de base para o
desenvolvimento do conhecimento individual. Como cada pessoa diferente, porque
tem histria e contexto distintos, cada uma delas cria um mapa mental diferente.
Assim, cada pessoa v a realidade de um jeito diferente, portanto, no h um nico
espelho e sim bilhes de espelhos (FIALHO, 2001).
A principal conseqncia desta constatao a de que no existe a
objetividade absoluta na informao e que, portanto, a imprensa no pode mais se
apresentar como a guardi desta objetividade (MELUCCI, 1996, p. 226).
Antes da revoluo tecnolgica provocada pela digitalizao da informao e
pelo surgimento da World Wide Web, a imprensa ainda podia arrogar-se a funo de
espelho da realidade quotidiana porque a circulao de dados, informaes e
conhecimentos era limitada, se compararmos com os padres ps internet.
Mas depois da avalancha informativa provocada pela internet, segundo
Melucci, houve uma mudana dramtica na natureza de nossa vida social e
individual aumentando enormemente a importncia da anlise das formas como a
informao constri a realidade. J no se trata mais de denunciar manipulaes e
omisses de informaes pela imprensa, mas de fatores muito mais importantes e
relevantes como a maior ou menor visibilidade dos cdigos que condicionam a
cultura da imprensa como manuais de redao e cdigos de tica, bem como os
processos de tomada de deciso e de construo do vocabulrio (MELUCCI, 1996,
p. 226).
Alm de perder um guardio da objetividade que funcionava como referncia
para determinar o que era exato ou inexato e, por conseqncia, um dos elementos
para determinar o certo ou errado, a sociedade contempornea assiste tambm
emergncia do fenmeno da informao onipresente e ubqua, porque ela impregna
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-
a nossa existncia, na forma de uma nuvem informativa.
A nuvem informativa um conceito desenvolvido pelo norte-americano
Thomas Wander Val[17], para definir grandes volumes de informao digitalizada.
Wander Val (2004) identifica quatro tipos de nuvem informativa:
a) Nuvem Informativa Global na internet, de livre acesso e sem controle
b) Nuvem Informativa Externa acesso mediante senha e protegida por firewall;
c) Nuvem Informativa Local - LANs com acesso limitado;
d) Nuvem Informativa Pessoal controle individual, mvel e de acesso livre.
A idia de nuvem informativa global est apoiada no conceito de computao
em nuvem, ou seja, a multiplicao de softwares e bancos de dados no residentes
em computadores e acessveis por intermdio da Web. Exemplos deste novo
conceito de software so as vrias ferramentas desenvolvidas pela empresa Google
e que esto disponveis grtis na internet.
Um dos elementos chaves da nuvem informativa global o sistema de
indexao de contedos por meio de etiquetas eletrnicas (tags) criadas por
usurios da Web para permitir uma localizao personalizada de contedos digitais.
Este recurso ganhou uma enorme popularidade depois do sucesso do site Delicious
e passou a conformar o que muitos chamam de nuvem de tags.
Ao criar uma tag, um usurio associa conhecimento pessoal a uma palavra
que, por sua vez, est vinculada a uma pgina ou site na Web. Uma nuvem de tags
basicamente formada por grandes volumes de informao pessoal circulando na
rede num processo onde cada usurio pode usufruir a experincia e reputao dos
demais (WANDER VAL, 2004).
A nuvem informativa pessoal a que cresce de forma mais acelerada em
virtude da multiplicao dos equipamentos eletrnicos portteis. O usurio
virtualmente seguido por uma nuvem contendo seus dados pessoais que podem
ser baixados por equipamentos do tipo telefone celular, tocador de MP3 (iPod),
laptop, GPS[18], todos com acesso sem fio Web, em qualquer lugar.
25
-
Estes equipamentos, como no caso das SMS[19] (Short Message Service),
estudadas por Rheingold, permitem a comunicao entre as nuvens informativas
pessoais formando tribos e comunidades virtuais. (RHEINGOLD, 2002, p. 3)
3 CRISE NO MODELO CONVENCIONAL DE JORNALISMO
3.1 A crise na imprensa
Os primeiros sintomas de crise na imprensa norte-americana surgiram no final
dos anos 70, quando os ndices de leitura e de circulao dos jornais comearam a
cair de forma contnua. O que mais impressionou os pesquisadores foi a intensidade
da queda no segmento dos leitores jovens, com menos de 35 anos.
A situao tornou-se ainda mais grave, a partir dos anos 90, com a crescente
popularizao da internet como ferramenta de comunicao. O que antes era
atribudo basicamente a uma questo editorial, tornou-se no final da dcada tambm
um problema financeiro e estratgico, porque os portais informativos online
passaram a atrair os leitores mais jovens e conquistar anunciantes tradicionais na
mdia impressa, como os anncios classificados.
O grfico a seguir, produzido pelos autores do informe State of the News
Media 2008 (Estado da Imprensa Noticiosa, 2008)[20] mostra o declnio dos ndices
de leitura, nas edies durante a semana e nos finais de semana, nos jornais norte-
americanos desde 2003.
Figura 1 ndices de leitura Fonte: Estado da Imprensa Noticiosa (2008)
Os leitores jovens, com menos de 35 anos, foram os que mais deixaram de
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ler jornais nos Estados Unidos, ainda segundo as estatsticas do Informe sobre o
Estado da Imprensa 2008. A queda mais ou menos constante em todas as faixas
etrias, com um decrscimo mdio de 10 pontos percentuais num perodo de oito
anos. Ela menos intensa apenas no segmento dos leitores com mais de 65 anos,
onde a reduo de leitura de jornais foi inferior a 6%, conforme mostra o grfico a
seguir[21].
Figura 2 ndices de leitura Fonte: Estado da Imprensa Noticiosa (2008)
A situao da imprensa nos Estados Unidos est sendo acompanhada por
estudiosos e profissionais da comunicao porque ela considerada a mais
avanada do mundo, tanto no aspecto tecnolgico e corporativo, como em matria
de produo de contedos (MEYER, 2007).
A crise na imprensa norte-americana tem um significado especial para a ns
brasileiros, porque a grande maioria dos nossos jornais adotou o modelo norte-
americano de jornalismo, com adaptaes provocadas por diferenas culturais,
sociais e econmicas. (SILVA, 1991, p. 58)
3.2 A transio no modelo de negcio da imprensa
Em todo o mundo, os principais compradores e assinantes de jornais so
pessoas na faixa dos 35 a 65 anos. Caso a evaso do pblico jovem continue no
ritmo atual, quando a gerao que tem hoje 18 a 25 anos chegar maturidade
plena, ela no ter mais como hbito a leitura de jornais e revistas impressos.
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Depois da virada do sculo, a acelerada proliferao de pginas pessoais
chamadas weblogs criou um tem adicional na, j longa, lista de dilemas enfrentados
pelos grandes grupos miditicos, em especial nos Estados Unidos.
Desde 2004, a crise obrigou os jornais norte-americanos a reduzirem a
cobertura internacional para cortar custos, conforme revelou a pesquisa The
Changing Newsroom: Gains and Losses in Today's Papers[22], que entrevistou
executivos e editores de 259 jornais de pequeno, mdio e grande porte nos Estados
Unidos, no primeiro quadrimestre de 2008.
A investigao mostrou que 2/3 dos jornais norte-americanos eliminaram
correspondentes estrangeiros e reduziram em quase 70% a cobertura internacional.
Cortes similares foram feitos no noticirio nacional e na informao econmica,
provocando uma reduo do espao dedicado s notcias em 3/5 dos jornais
investigados.
A situao da imprensa escrita nos Estados Unidos, notadamente dos jornais,
entrou numa fase considerada crtica a partir de 2003/2004 quando os papis das
empresas jornalsticas foram muito desvalorizados como conseqncia de
prognsticos sombrios sobre o futuro do setor. Os acionistas da cadeia Knight
Ridder, de jornais e emissoras de televiso, obrigaram a famlia Knight, que
controlava o segundo maior imprio jornalstico do pas, a vender a maior parte dos
32 jornais da rede.
No The New York Times, a famlia Sulzberger teve que enfrentar uma forte
oposio dos acionistas contra o sistema de voto privilegiado, que garante o controle
do jornal por um reduzido nmero de pessoas e a manuteno da linha editorial que
transformou o jornal no principal cone da imprensa norte-americana.
O pessimismo na imprensa norte-americana atravessou o Atlntico, nos anos
2007 e 2008, contaminando tambm os jornais europeus, notadamente na
Inglaterra, Frana, Blgica, Holanda e Dinamarca. A maior fonte de preocupao dos
jornais passou a ser a perda dos anncios classificados para a internet, onde eles
so publicados de graa, e a migrao para a web de servios que antes atraiam
muitos leitores como as cotaes da bolsa, ndices financeiros e o segmento de
lazer (cinemas, teatro, shows, restaurantes e bares).
Os anncios classificados garantiam, em 2001, 40% da vendagem e 40% do
lucro lquido dos 100 maiores jornais norte-americanos e europeus, segundo a
revista Advertising Age. Em 2007, ainda segundo a mesma fonte, a venda de
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anncios classificados caiu US$ 5,4 bilhes entre 2000 e 2007 (uma queda de
27,7%). Os setores que registraram as maiores redues foram o de anncios de
novos empregos (56,3%) e o de vendas de automveis (35%).
O nico segmento dos anncios classificados que no registrou perdas
significativas no perodo 2000/2007 foi o setor da habitao, mas a partir deste ano,
a queda foi intensa conseqncia da crise financeira na rea de crdito imobilirio. A
nova situao levou especialistas, como executivo e consultor Allan Mutter[23], a
prever que a receita lquida dos jornais norte-americanos em 2008 pode ficar abaixo
dos US$ 40 bilhes, no pior desempenho financeiro da indstria de jornais nos
ltimos 20 anos.
A reduo progressiva de receitas e a presso dos investidores nas bolsas
de valores levaram a maioria dos jornais a adotarem medidas de economia que, por
sua vez, provocaram cortes nas redaes. S nos Estados Unidos, o contingente de
jornalistas empregados nos grandes grupos da imprensa encolheu de 122 mil para
116 mil profissionais registrados entre os anos de 1992 e 2002, segundo um estudo
da Universidade de Indiana[24].
Mais recentemente, o fenmeno se intensificou com a demisso de mais de
mil jornalistas em cinco grandes jornais norte-americanos[25], num fenmeno que o
escritor e jornalista Timothy Eggan[26] comparou leitura de um obiturio.
A rebelio dos acionistas assustados com a contnua desvalorizao dos
papis dos principais conglomerados jornalsticos dos Estados Unidos apontou para
a necessidade de uma reviso do modelo de negcio adotado pela imprensa norte-
americana, tema que passou a ser um tem na agenda de debates da mdia,
incluindo a o segmento publicitrio, a televiso e as revistas, em especial as
semanais de informao.
Enquanto o pessimismo torna-se endmico na mdia norte-americana, na sia
e Amrica Latina, a situao da imprensa diferente por conta de uma conjuntura
econmica marcada pelo aumento do consumo interno e pela expanso mais lenta
da internet, em especial em pases como China, ndia e Brasil.
Segundo dados do relatrio da Associao Mundial de Jornais (WAN) a
circulao dos jornais na Amrica Latina cresceu 6,72% na Amrica do Sul, 4,7% na
sia e caiu na frica (-0,49%), na Europa (-1,97%), na Amrica do Norte (- 2,14) e
na Austrlia e Oceania (- 4,28%)[27].
A euforia econmica chinesa est ligada ao vertiginoso crescimento das
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empresas de montagem de mquinas e produtos de consumo que usam mo de
obra barata, e aos investimentos feitos na preparao das Olimpadas de Pequim,
cujo custo superou os 20 bilhes de dlares, segundo a revista norte-americana
Dollar & Sense[28].
O aumento da produo agrcola e de combustveis no Brasil, aliado ao
saneamento financeiro, provocaram uma estabilidade nos preos que levou as
pessoas a consumirem mais. Alm disso, a queda da taxa bsica de juros e o
aumento das facilidades de crdito determinados pelo governo, geraram uma rpida
expanso dos negcios imobilirios e no setor de automveis, com imediatas
repercusses no setor publicitrio e, o conseqente, o aumento das receitas da
imprensa.
No Brasil, a receita publicitria dos 138 jornais vinculados a Associao
Nacional de Jornais (ANJ) aumentou 18,91% no primeiro semestre de 2008,
superando a casa do R$ 1,6 bilho. No mesmo perodo a circulao global
aumentou 8,1%, segundo dados do Instituto Verificador de Circulao (IVC), citados
no site da ANJ[29].
Os nmeros positivos no desempenho da imprensa na Amrica Latina e sia
provavelmente sero afetados pelo agravamento da recesso norte-americana e da
reduo do ritmo econmico na Europa, depois da crise nas principais bolsas de
valores do mundo, iniciada na primeira quinzena de outubro de 2008.
3.3 A crise do noticirio local e a perda das bases comunitrias
A perda de importncia do noticirio local dentro da agenda informativa dos
jornais, emissoras de rdio e de televiso comeou a ser percebida de forma mais
intensa j nos anos 70 quando a imprensa no mundo capitalista adotou a estratgia
da globalizao informativa, que levou criao de grandes conglomerados
jornalsticos.
Mas o processo comeou bem antes, na dcada de 50, quando a agenda
noticiosa vinculada disputa ideolgica entre Unio Sovitica e Estados Unidos deu
ao noticirio internacional e nacional um destaque desproporcional em relao
informao local, que at ento era o principal elo entre o pblico e a imprensa.
A slida aliana estabelecida entre mega-corporaes na imprensa e setores
do comrcio, servios e sistema financeiro, a partir dos anos 80, gerou uma
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concentrao publicitria nos veculos de maior circulao e audincia. A imprensa
local, que j vinha perdendo espaos editoriais em funo do baixo custo do
noticirio internacional produzido por agncias e jornais globalizados, ficou ainda
mais vulnervel pela reduo aguda das receitas de anncios.
Os jornais locais foram fechando as portas gradativamente, enquanto no
segmento das emissoras de rdio e de televiso, a produo local foi substituda por
programas transmitidos em rede. As estaes locais passaram a ser meras
retransmissoras, sem equipes jornalsticas, provocando o que Klinenberg (2007)
chamou de perda de identidade local.
Como a imprensa local ficou submetida a pautas editoriais impostas por
redaes situadas a centenas de quilmetros de distncia, as agendas nacional e
internacional passaram a predominar sobre os temas comunitrios. Com isto a
produo local de notcias acabou sendo dominada pelo noticirio sobre crimes,
escndalos, curiosidades, sexo, tragdias naturais e personalidades.
O descrdito da mdia local tambm foi influenciado pelo fato de que a maioria
dos jornais e rdios em pequenas cidades geralmente controlada por empresrios
ou polticos da regio que usam os veculos em beneficio prprio. O jornalismo local
passou a ser visto com desconfiana pelos leitores, o que tambm contribuiu para a
queda de sua circulao e de suas receitas com vendagem.
Nos anos 80 e 90, surgiram estudos sobre a sociologia comunitria
mostrando uma acentuada tendncia ao isolacionismo. O livro Bowling alone, de
Robert Putnam, um clssico da literatura do gnero, onde o autor fundamenta com
pesquisas o acelerado processo de introspeco na sociedade norte-americana,
como conseqncia da falta de comunicao interpessoal em comunidades situadas
dentro do pas que levou mais longe a globalizao informativa. (PUTNAM, 2001, p.
225-225)
H 60 anos, existiam nos Estados Unidos 1.300 jornais locais. Na virada do
sculo XXI, este total caiu para menos de 300, num fenmeno qualificado por
Overholser (1999) como potencialmente perigoso para a sobrevivncia da
democracia e da diversidade nas pequenas comunidades norte-americanas.
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3.4 O ressurgimento da informao local e o jornalismo cidado
A partir de 2005, a pesquisa The changing newsroom: gains and losses in
Today's Papers constatou uma reviso na estratgia editorial dos 259 jornais
pesquisados. Cada vez mais preocupados com a concorrncia dos weblogs sobre
temas comunitrios e com perda de assinantes residentes em subrbios ou
condomnios, os jornais resolveram apostar novamente no noticirio local.
Esta transferncia de prioridades editoriais do noticirio internacional e
nacional para o local aconteceu num momento em que as questes comunitrias
tornaram-se o foco das atenes de centenas de weblogs produzidos por pessoas
sem formao tcnica em jornalismo, definidas por Gillmor (2004, p. 137) como
jornalistas cidados[30].
O jornalismo cidado marca o reaparecimento, na era digital, do jornalismo
cvico, uma variante do jornalismo profissional que surgiu em meados dos anos 90,
nos Estados Unidos como uma reao de um grupo de reprteres, editores e
professores, contra o que Rosen (2001, p.1923) classificou, na poca, de divrcio
crescente entre a agenda da imprensa e as preocupaes das comunidades
urbanas.
O jornalismo cvico, patrocinado por um projeto de 10 milhes de dlares do
Pew Center For Civic Journalism[31] contou com a adeso de quase 30 jornais
regionais em diferentes estados norte-americanos. Estes jornais passaram a
convocar a populao de bairros para participar de assemblias pblicas nas quais
as autoridades municipais eram questionadas sobre os problemas comunitrios. O
principal objetivo era aumentar a participao dos moradores em eleies locais.
A iniciativa provocou uma profunda diviso entre os jornalistas porque
alterava o tradicional conceito de que os profissionais da informao no devem
tomar partido em reivindicaes sociais. A polmica entre os jornalistas s no teve
maiores conseqncias porque o projeto no teve os resultados esperados nas
eleies legislativas de 1994, nas reas onde ele foi aplicado e as fontes de
financiamento decidiram no renov-lo.
Quase 15 anos depois, a rpida expanso dos weblogs reacendeu a polmica
entre os profissionais da imprensa, agora com o surgimento da figura do jornalista
cidado e da importncia adquirida pelo que passou a ser chamado de noticirio
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-
hiper-local, uma modalidade de busca, produo e publicao de informaes sobre
agrupamentos humanos em reas urbanas reduzidas como bairros pouco
populosos, ruas e condomnios.
O site Melrose Mirror[32] foi criado em 1996 por um grupo de 50 aposentados
e idosos na cidade norte-americana de Melrose, no estado de Massachusetts, nos
Estados Unidos. Desde ento, eles se renem todas as quartas-feiras para discutir
questes locais e decidir quais os assuntos que sero tratados na newsletter
eletrnica, que considerada por Gillmor como a precursora dos weblogs
hiperlocais.
O Mirror surgiu como um projeto experimental do programa News in the
Future[33] (A Notcia do Futuro) criado pelo Massachusetts Institute for Technology
(MIT), na poca em que o jornalismo cvico estava em evidncia. A newsletter tinha
uma edio impressa mensal, at que em 2001 ela passou a ser publicada na web.
Foi a partir da experincia com o Melrose Mirror que os engenheiros do MIT
desenvolveram o software Silver-Stringer, usado at hoje por centenas de projetos
comunitrios ao redor do mundo.
A idia de jornalismo cidado ganhou novo impulso em 2004 com a criao
do jornal online sul coreano OhmyNews[34], produzido por cerca de 30 mil
colaboradores voluntrios e editado por um grupo de 30 jornalistas profissionais. O
jornal, cujo slogan Cada Cidado um Reprter, teve um crescimento
vertiginoso at chegar a um patamar de dez milhes de visitantes dirios em mdia.
O OhmyNews serviu de inspirao para inmeros outros projetos como o
NetZeitung[35] (alemo), o Observers[36] e AgoraVox[37] (franceses) e o
iNorden[38] (pases escandinavos).
Aqui na Amrica Latina, o Chile, Peru e Bolvia so os pases com maior
nmero de experincias em jornalismo cidado. El Morrocotudo[39] publicado na
provncia de Arica, o mais acessado site de jornalismo cidado do Chile, onde a
empresa Dirios Ciudadanos edita outros nove sites regionais no pas.
No Brasil, a experincia mais recente a do site Boca do Povo[40], editado
na Bahia e no estado de Tocantins com base em material informativo produzido por
leitores.
3.5 A mdia busca uma nova oportunidade
33
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O fortalecimento gradual da produo independente de notcias foi
beneficiado pelo fato das pesquisas de opinio pblica apontarem no final dos anos
90 uma queda do interesse dos leitores, ouvintes e telespectadores pelo noticirio
internacional em conseqncia do fim da Guerra Fria.
Os dados da pesquisa The Changing Newsroom: Gains and Losses in
Today's Papers mostram que 62% dos jornais norte-americanos estudados
aumentaram o espao para cobertura de assuntos comunitrios, enquanto 50% dos
editores entrevistados afirmaram que houve um acrscimo na quantidade de notcias
publicadas sobre temas regionais ou estaduais.
Quarenta por cento dos jornais norte-americanos pesquisados publicam blogs
produzidos por jornalistas autnomos e produtores independentes de notcias locais.
A insero de weblogs em portais informativos e nas pginas web de jornais tornou-
se uma tendncia mundial, inclusive aqui no Brasil.
O site do jornal O Globo publica 85 blogs de colunistas e colaboradores, com
assuntos que vo desde a poltica at educao infantil. O The New York Times[41]
publica 63 blogs em sua pgina na web incluindo temas que vo da culinria e
vinhos, at maternidade e biologia. O jornal francs Le Monde[42] tambm seguiu o
mesmo caminho com 31 blogs permanentes, mais uma seleo diria de outros 30
blogueiros convidados.
Mas apesar do aumento constante no espao concedido aos blogs nos sites
de jornais convencionais, os editores ainda tm muitas restries aos produtores
independentes de notcias. Na pesquisa The Changing Newsroom..., 46% dos
editores de jornais norte-americanos admitiram que os blogs so um componente
importante nos jornais atuais e futuros, mas 42% de todos os entrevistados
afirmaram que o material produzido por no profissionais deve ser usado apenas
como insumo bsico para a produo de notcias.
Metade dos participantes da pesquisa afirmou que os textos enviados por
independentes s eram publicados depois de avaliados por reprteres e editores
profissionais. As fotografias enviadas por informantes autnomos, que inicialmente
eram publicadas sem checagem, passaram tambm a ser rotineiramente analisadas
para identificar adulteraes.
3.6 A produo colaborativa e a crise da imprensa
34
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Apesar da forte resistncia produo independente de notcias ainda
existente nas redaes convencionais, vrias universidades e jornais dos Estados
Unidos comearam a explorar modalidades alternativas de cobertura local.
Pouco menos de 38 anos depois de se recusarem a aderir a um projeto de
investigao coletiva da morte do jornalista Dan Bolles, em Phoenix, Arizona, os
editores chefes dos jornais The New York Times e The Washington Post admitiram
num simpsio sobre jornalismo investigativo realizado na Universidade da Califrnia,
em abril de 2008, que ambas publicaes esto agora dispostas a participar de
projetos colaborativos[43].
Por seu lado, vrias fundaes filantrpicas norte-americanas passaram a
financiar projetos de produo noticiosa independente a nvel local. A Fundao
Knight Ridder est apoiando os projetos Tandem e Spot.Us[44], voltados para a
produo colaborativa de notcias. No site Spot Us, indivduos ou organizaes
sociais podem contratar jornalistas para investigar um determinado tema de
interesse coletivo, enquanto o Tandem um projeto desenvolvido por sete
universidades norte-americanas visando produo colaborativa vdeos, udios e
textos, por cidados comuns. O Tandem apoiado tambm pelo Idea Lab, do
MIT[45].
A Fundao Sadler apostou 10 milhes de dlares no projeto Pro-
Publica[46],voltado para a produo de reportagens para a grande mdia, feitas por
jornalistas independentes e free lancers. E h vrias outras iniciativas similares
como a do Pulitzer Center on Crisis Reporting[47], que tambm produz reportagens
com base em colaboradores independentes.
O que comea a se esboar uma tendncia no sentido da buscar formas
alternativas de produo de material informativo, como uma maneira de contornar a
escassez de recursos das empresas jornalsticas, num momento em que o pblico
comea a consumir mais informaes locais.
As limitaes oramentrias surgem num contexto marcado tambm pelo
aumento da preocupao das comunidades em obter maior visibilidade pblica na
busca de solues para os seus problemas quotidianos, como pavimentao de
ruas, rede de esgotos, segurana, transporte etc.
A estratgia mais usada pelas comunidades para obter visibilidade a busca
de incidncia sobre a agenda noticiosa da imprensa, por meio da produo de
informaes de interesse pblico.
35
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Isto cria a possibilidade de combinao de interesses tanto da imprensa como
das comunidades. Estas poderiam dar mais ateno produo de informaes de
forma a oferecer material dentro dos parmetros mnimos de exatido, clareza e
conciso exigidos pela imprensa, enquanto os veculos de comunicao poderiam
dar maior receptividade ao material produzido pelas comunidades.
A grande capilaridade das comunidades permite que seus membros estejam
mais prximos dos eventos noticiosos locais do que os reprteres e editores de um
jornal, por exemplo. Isto reduz custos operacionais oferecendo a possibilidade de
uma sinergia entre as redes colaborativas e as redaes jornalsticas.
4 A PRODUO COLABORATIVA DE CONTEDOS INFORMATIVOS
4.1 Marco conceitual
Colaborao e cooperao so dois termos definidos de diferentes formas por
vrios autores. Nos dicionrios de Aurlio Buarque de Holanda e Antonio Houaiss,
as duas palavras so apresentadas como sinnimos de uma ao conjunta de vrias
pessoas tendo em vista um objetivo comum.
J Bair (1989) afirma num trabalho sobre informtica que a colaborao pe
mais nfase na participao individual dentro de um esforo coletivo enquanto a
cooperao preocupa-se apenas com o grupo de pessoas.
Segundo Kutova (2006),
num projeto colaborativo, h mais espao para autonomia e para
relacionamentos informais. A permanncia dentro do escopo pr-
estabelecido de difcil controle e nem sempre desejada. Deve haver um estmulo interao entre os participantes. J num projeto cooperativo, existe uma interdependncia positiva. As interaes entre os participantes so essenciais. provvel que surja espontaneamente, ou de forma planejada, uma estrutura social, com hierarquias e distribuio de
responsabilidades.
Theodore Panitz (apud KUTOVA, 2006), um educador norte-americano citado
no blog de Marcus Kutova, tambm destaca o foco individual ao tratar da
colaborao em processos educativos pela internet:
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As caractersticas individuais so relevantes e o grupo opera em um
esquema de contribuio mtua, sem competio. J na cooperao, o
objetivo a concluso de um produto ou tarefa. Pode haver uma autoridade
que controla o grupo, como um professor, e no h avaliao individual.
Panitz prope a seguinte distino entre colaborao e cooperao: no
processo cooperativo, as pessoas se agrupam para cumprir uma determinada tarefa
ou atingir um objetivo pr-estabelecido sob a coordenao de um professor,
coordenador, monitor ou moderador; j no processo colaborativo, o grupo de
indivduos tem mais liberdade e autonomia para fixar objetivos e tarefas, sem a
existncia de orientadores ou tutores. O ambiente colaborativo mais aberto e
participativo (PANITZ apud KUTOVA, 2006).
Assim, ao falarmos de produo colaborativa estamos nos referindo a um
processo onde grupos de pessoas interagem livremente entre si, sem objetivo
previamente especificado e sem o controle direto de uma autoridade fsica ou
jurdica.
O resultado final surge no decorrer do processo graas recombinao de
dados, notcias e informaes por meio da interatividade entre os participantes do
grupo ou comunidade. No caso especfico em estudo nesta dissertao, o produto
gerado pela interao colaborativa formado por notcias de interesse comunitrio.
A nossa definio de produo colaborativa baseia-se tambm nos conceitos
de organizaes em rede, desenvolvidos por Walter Powell (1991), David Stark
(1996) citados por Anita Chan (2002). Chan, com base nos conceitos de Powell e
Stark, define as redes colaborativas como estruturas baseadas na heterarquia. Este
tipo de estrutura organizacional caracterizado pela descentralizao e
horizontalizao do controle da produo de contedos, valorizando a diversidade,
iniciativa individual e polifonia de opinies. o oposto da hierarquia, centralizadora e
vertical, bem como da anarquia, ausncia de controle.
Stark (apud CHAN, 2002) afirma que a heterarquia especialmente
adequada para lidar com situaes complexas como o caso das comunidades
sociais e das redes de usurios da Web. Segundo o mesmo autor, o sistema facilita
a adaptao e contextualizao em ambientes marcados pela polarizao de
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opinies.
4.1.1 Contexto histrico
A produo colaborativa um sistema associado internet desde os anos 60
quando cientistas europeus e norte-americanos constataram as limitaes
individuais e decidiram trabalhar em conjunto para criar uma rede mundial de
computadores. Foi a primeira aplicao prtica na engenharia eletrnica do princpio
da colaborao e que mais tarde viria dar origem ao conceito de software livre[48].
O tema produo colaborativa de notcias entrou para o vocabulrio da
comunicao em 1999 quando a revista Janes, especializada em armas e
equipamentos blicos, decidiu suspender a publicao de um artigo sobre ciber-
terrorismo depois que o texto submetido aos leitores da revista online Slashdot
recebeu uma avalancha de crticas e correes.
Foi a primeira vez que uma publicao altamente respeitada admitiu o
princpio de que a soma dos conhecimentos dos seus leitores era maior do que a
dos especialistas de renome mundial, que tradicionalmente assinam os textos da
Janes, considerada uma bblia dos armamentos por militares do mundo inteiro. O
artigo foi reescrito com a aceitao das observaes de 250 colaboradores
voluntrios, mais 35 cartas de especialistas renomados.
Na poca, a revista Slashdot, cujo slogan notcias para nerds[49] (news for
nerds), tinha pouco mais de dois anos de existncia e o episdio da Janes, alm de
torn-la mundialmente conhecida, provocou um intenso debate no meio jornalstico
norte-americano e europeu sobre as relaes entre profissionais e amadores na
produo de notcias.
A partir da, a Slashdot tornou-se uma referncia no estudo de processos
colaborativos online de produo de contedos. Vrios outros projetos, como o
Kuro5sion e o Plastic foram desenvolvidos com base no Slash, o sistema de
administrao de contedos desenvolvido pelos criadores da Slashdot e
disponibilizado pelo sistema de software livre.
4.1.2 Processo colaborativo na gerao de conhecimento
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O processo colaborativo relacional, ou seja, envolve mais de um
protagonista. No caso de nosso campo de estudo, esta relao se materializa a
partir de uma troca de informaes, o que confere caractersticas especiais e nicas
ao processo. A troca de informaes se diferencia radicalmente do escambo,
processo milenar onde um produto fsico trocado por outro.
No caso da informao, a troca gera uma agregao de valor na medida em
que as partes envolvidas alm de reterem o que j tinham, incorporam o que foi
dado pelo outro ou por outros parceiros. No escambo, uma pessoa perde algo para
ter um produto, servio ou bem. Neste sentido, o escambo s gera valor quando um
dos parceiros consegue impor, ao outro, condies desiguais na troca.
No caso da troca de informaes, o ganho exponencial e teoricamente
infinito, o que confere economia baseada no conhecimento caractersticas inditas
na histria das relaes humanas.
A idia de crescimento econmico passa a estar associada diretamente
ampliao da base de conhecimento, num processo que no enfrenta as limitaes
da economia baseada em bens fsicos, no renovveis. O processo colaborativo
pode assim ser considerado uma das ferramentas essenciais na produo de
conhecimento e um dos elementos estruturais no desenvolvimento da economia
digital.
4.2 Produo Colaborativa em Comunidades
4.2.1 Comunidades de Informao e Comunidades de Prtica
A produo colaborativa de informaes acontece dentro do que Chan (2002)
definiu como Redes Colaborativas Noticiosas (Collaborative News Networks),
sistemas caracterizados por uma estrutura e lgicas informativas diferentes das
adotadas por organizaes jornalsticas convencionais, que procuram maximizar a
ordem interna por meio de uma estrutura hierrquica vertical.
As Redes Colaborativas Noticiosas, ainda segundo Chan (2002), se
distinguem das demais redes virtuais por adotarem uma estrutura heterrquica[50] e
por seguirem a lgica da livre recombinao de informaes, dados e
conhecimentos, sem padres formais pr-estabelecidos.
Neste trabalho usaremos a expresso Redes Colaborativas Comunitrias
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para designar um tipo especfico de rede colaborativa noticiosa, que atua dentro de
uma comunidade social. As redes colaborativas comunitrias so o ncleo
operacional das comunidades de informao, definidas como o conjunto de pessoas
de uma comunidade social que fornecem dados, notcias e informaes, mas no
participam diretamente do processo de produo colaborativa.
Esta a diviso de funes foi desenvolvida a partir da anlise do trabalho de
Chan (2002) e do estudo de vrias experincias de produo colaborativa
comunitria de informaes, pesquisadas pelos autores dos relatrios The Online
Community Cookbook[51] e The Hype vs Reality VS What People Value: Emerging
Collaborative News Models and the Future of News[52].
Ela pode ser visualizada da seguinte forma:
As comunidades de informao podem ser consideradas uma modalidade
particular do que Wenger (2002) caracteriza como comunidades de prtica. O autor
(2002) define as comunidades de prtica como (...) grupos de pessoas que
compartilham preocupaes ou paixes por algo que elas realizam ou procuram
fazer melhor, por meio de uma interao regular. [53]
O mesmo autor (2002) estabelece que para uma comunidade ser considerada
de prtica, ela deve possuir trs caractersticas essenciais:
a) Um domnio espao geogrfico ou temtico determinado ou rea
de interesse de pesquisa e aprendizado;
b) Pessoas - envolvidas em atividades e discusses de interesse do
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grupo visando desenvolver novos conhecimentos pelo aprendizado ou
pela troca de informaes.
c) Uma prtica as pessoas que integram a comunidade desenvolvem
conjuntamente uma atividade concreta de interesse comum (WENGER,
2002, p. 27).
A produo de informaes numa rede colaborativa noticiosa est
condicionada por dois tipos de demanda por parte dos integrantes de uma
comunidade social: notcias e servios. A produo colaborativa de notcias atende
necessidade de resolver problemas coletivos, enquanto a produo colaborativa de
informaes utilitrias est mais voltada para necessidades pessoais dos integrantes
da comunidade.
4.2.2 Produo colaborativa de notcias
A produo colaborativa de notcias parte de contribuies individuais de
integrantes das redes colaborativas noticiosas. Estas contribuies podem assumir
trs formatos finais:
a) Weblogs noticiosos individuais;
b) Autoria coletiva, onde vrios colaboradores publicam notcias numa
mesma pgina web ou usam sistemas de produo colaborativa como a
plataforma wiki[54];
c) Reportagens e textos colaborativos.
4.2.2.1 Weblogs individuaisNeste tipo de produo colaborativa de contedos, indivduos integrantes de
redes colaborativas noticiosos criam weblogs para produzir notcias com base em
informaes fornecidas por integrantes da comunidade de informao. a forma
mais barata e menos complexa do ponto de vista tcnico. Os weblogs podem ser
publicados de forma isolada ou em grupos, como parte de um projeto social.
O blog Fim de jogo[55], produzido pela jornalista Cristina Dissat um exemplo
de iniciativa individual isolada. No seu blog, Dissat oferece informaes para os
freqentadores do estdio do Maracan, no Rio de Janeiro, sobre jogos, movimento
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em torno do estdio antes e depois das partidas de futebol. A jornalista reside em
frente ao Maracan, publica o seu blog desde fevereiro de 2004 e em torno dele se
desenvolveu uma pequena comunidade de freqentadores do Maracan.
Outro exemplo de blog individual o Faaala Sambaqui[56], criado pela
estudante de comunicao Angelita Brando e que passou a recolher informaes
de moradores do bairro de Sambaqui em Florianpolis.
Uma das primeiras experincias de produo agrupada de weblogs
individuais para a promoo da temtica comunitria no Brasil foi o projeto Niteri
Comunidades[57], lanado em 2007. Alunos do projeto criaram trs weblogs com
informaes sobre as comunidades de Surucucu, Caixa dgua e Morro do Estado.
A experincia durou cinco meses e foi interrompida por falta de recursos financeiros.
Outra experincia brasileira so os blogs produzidos pelos alunos da
disciplina de Jornalismo online[58] nas Faculdades ASSESC, de Florianpolis, Santa
Catarina. Cada aluno encarregado da publicao de um blog com notcias sobre o
bairro, rua ou condomnio onde reside como parte de um exerccio terico/prtico
sobre produo de notcias locais num ambiente multimdia online.
Tanto no caso do projeto Niteri Comunidades como no das Faculdades
ASSESC, os participantes tm um conhecimento direto da problemtica das
localidades cobertas porque so moradores ou inquilinos. No caso do curso de
jornalismo online, so estudantes de comunicao que recolhem notcias sobre os
bairros ou condomnios onde residem.
4.2.2.2 Autoria coletiva
Nesta categoria encontram-se os projetos baseados em programas como
Wiki[59], Google Docs[60], BuzzWord[61] e o Zoho[62], para produo
compartilhada de contedos online. Os trs ltimos so baseados na Web e de livre
acesso mediante cadastramento grtis.
Nestes programas, os participantes podem produzir coletivamente textos e
projetos conformando uma rede colaborativa dentro da qual cada pessoa pode
acrescentar, corrigir, eliminar ou refazer textos para publicao numa pgina na
Web.
Quase todos os sistemas de produo compartilhada de contedos online
dispem registro do histrico das alteraes introduzidas e rea para discusso e
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esclarecimento de dvidas entre os participantes.
A autoria coletiva de contedos por meio da produo compartilhada a
modalidade que gera maior envolvimento dos usurios, mas tambm a que exige
maior responsabilidade social dos participantes. A inexistncia de um controle
verticalizado obriga os usurios a um processo de negociao de divergncias onde
os procedimentos ticos e comportamentais ganham mais relevncia do que o
conhecimento tcnico.
O projeto mais famoso nesta categoria o da enciclopdia virtual
Wikipdia[63], criada em 2001 e que nos nove primeiros meses de 2008 recebeu
684 milhes de visitantes aos seus mais de 10 milhes de textos publicados em 250
idiomas diferentes, tudo por iniciativa de colaboradores no remunerados.
Alm da Wikipdia, existem outros 24 projetos de enciclopdias online com
graus variveis de participao de usurios. Entre as mais conhecidas, esto a
Citizendium[64] e a Hudong[65].
A Wikipdia cresceu tanto e se tornou to popular que a sua caracterstica
original como enciclopdia acabou sendo alterada com o passar do tempo por conta
dos interesses dos seus colaboradores. Em situaes especiais, como aconteceu no
caso do furaco Katrina, em Nova Orleans em 2005, os verbetes foram atualizados
com tanta rapidez que acabaram ganhando caractersticas de fonte noticiosa.
Noutros casos, como foi a questo da guerra no Iraque, os colaboradores
adotaram posies to divergentes que a produo de verbetes acabou se
transformando em verdadeiro foro de debates. A mesa situao se repetiu no
verbete sobre territrios palestinos no Oriente Mdio.
4.2.2.3 Investigaes colaborativasEsta modalidade combina dois tipos de participao dos membros de uma
comunidade:
1) Os integrantes de uma comunidade social fornecem informaes
a profissionais do jornalismo que processam o material para publicao
em weblogs ou pginas Web. Os jornalistas podem ser profissionais
independentes ou vinculados a algum rgo da imprensa. Nos dois
casos eles no so considerados membros da comunidade;
2) Os jornalistas fazem parte da rede colaborativa noticiosa de uma
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comunidade social, ou so contratados por ela, e funcionam como
tutores no processo de produo coletiva de informaes ou agentes
aglutinadores na formao de comunidades de informao.
Ambas as modalidades tm a vantagem de gerar material com boa qualidade
informativa ao mesmo tempo em que podem ser usadas em comunidades sem
acesso direto internet ou cujos integrantes no tem conhecimentos mnimos de
informtica.
Na primeira modalidade temos experincias como o blog ZH Moinhos[66],
criado pelo jornal Zero Hora, do Rio Grande do Sul, e produzido conjuntamente por
jornalistas e por um Conselho de Blogueiros, formado por moradores do bairro de
classe mdia alta Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
Nos Estados Unidos, o projeto Backfence uma experincia discutida at
hoje, depois de fechar as portas em 2007. A iniciativa lanou 13 pginas web com
notcias locais de 13 cidades norte-americanas produzidas coletivamente por
cidados comuns e jornalistas autnomos.
Outra iniciativa do gnero foi o projeto NewsAssignement[67], lanado pela
Escola de Jornalismo da Universidade de Nova Iorque. Nele, os estudantes de
jornalismo e os editores da revista Wired participaram de uma experincia com
profissionais e amadores visando a produo de um artigo sobre a popularizao do
conceito de produo colaborativa.
O projeto criou uma rede colaborativa formada por estudantes e editores em
torno da qual se formou uma comunidade de colaboradores, em sua maioria
jornalistas, que por sua vez estavam envolvidos com uma comunidade mais ampla
formada por usurios da Web interessados na questo da produo colaborativa de
notcias.
A experincia durou cinco meses, o artigo foi publicado na Wired[68] mas o
que mais gerou polmica no foi o produto final, mas o processo em si. As
dificuldades e os mtodos utilizados na experincia foram objeto de inmeros
seminrios, simpsios e fruns tanto no meio acadmico como nas organizaes
jornalsticas norte-americanas.
No rdio, uma experincia inovadora em matria de produo colaborativa foi
o programa da emissora nova-iorquina WNYC, Are You Being Gouged (literalmente
Voc est sendo garfado?), onde o apresentador Brian Lehrer[69] reuniu
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informaes sobre preos de gneros alimentcios de primeira necessidade
fornecidos por ouvintes para montar um mapa virtual do custo de vida em bairros de
Nova Iorque.
Neste caso, os mapas mostrando a defasagem de preos foram usados por
comunidades de moradores de vrios bairros de Nova Iorque para produzir material
informativo que serviu de base para movimentos de presso sobre comerciantes e
supermercados da cidade,
Outra iniciativa que provocou uma grande repercusso na mdia e nos meios
intelectuais foi a novela coletiva A Million Penguins (Um milho de pingins), criada
pela editora Penguin Books[70] em janeiro de 2007, com base no software Wiki. O
projeto enfrentou dificuldades tcnicas geradas por uma avalancha de contribuies
(quase 100 por hora) e pela ao de vndalos. Em abril do mesmo ano, a Penguin
decidiu congelar o projeto.
4.2.3 Produo colaborativa de informaes sobre servios
Nesta modalidade de produo colaborativa encontramos projetos como o da
Slashdot, onde a comunidade de usurios da revista online coleta, processa e
publica informaes que, em ltima anlise, serviro para o desenvolvimento
profissional dos participantes.
A produo colaborativa expandiu-se enormemente no setor de informaes
utilitrias na medida em que a participao dos usurios provou ser uma ferramenta
muito eficiente para gerar servios de valor agregado com custo mnimo. o caso
de projetos como os sites Delicious, Last.Fm, Digg e o Wikia Search Engine.
O Delicious[71] um sistema de busca, seleo e indexao de endereos na
Web onde os usurios classificam cada pgina usando etiquetas pessoais (tags).
Em outubro de 2008, cerca de 5,15 milhes de us