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    GT Gesto, processos, polticas e estratgias de comunicao nasrganizaes.

    O processo comunicacional na cultura organizacional e nas relaes de trabalho

    Autora: Andra Clara Freire Batista

    Pesquisadora UMESP

    Resumo

    O cenrio empresarial precisa valorizar os indivduos na organizao e alterarsubstancialmente a cultura organizacional atravs da aprendizagem e da capacidade de inovare recriar o futuro.Uma nova postura empresarial, valorizando os processos comunicacionais,alterando a relao sistmica controladora para a relacional processual, levar aorganizao a um novo patamar para o desenvolvimento e aprimoramento humano nasempresas, reconfigurando as relaes de trabalho, a cultura organizacional e o papel dos

    indivduos nas organizaes.Essa tendncia nas organizaes apresenta uma maior valorizaodos aspectos intangveis, principalmente da maturidade e responsabilidade das pessoas comoagentes desse emergente processo de mudana

    Palavras-chave: comunicao empresarial, cultura organizacional e relaes de trabalho.

    Os recentes avanos da cincia e tecnologia de informao permitiram, mesmo de

    forma embrionria, o reconhecimento da comunicao ao diversificar e redefinir os papis das

    pessoas nas empresas. Tambm houve contribuies para importantes transformaes no que

    diz respeito ao acesso s informaes e ao conhecimento do papel das organizaes nasociedade ps-moderna.

    A transio do mundo do trabalho para o mundo da comunicao, incluindo a cultura

    organizacional e o papel do fator humano nas empresas ensejaram a necessidade de escrever

    sobre o assunto, para ampliar a viso dos profissionais e acadmicos e facilitar as tomadas de

    decises, tendo em vista o atual estgio de maturidade do mercado aliado velocidade e a

    profundidade das mudanas sociais, econmicas, polticas e tecnolgicas.

    Hoje, as emoes precisam ser gerenciadas como o emprego do tempo, as relaes, a

    imagem e a identidade. H o emprego da racionalizao das esferas da vida social, isto , a

    sistematizao descrio, explicao e interpretao do mundo a partir de categorias de

    gesto.

    Chanlat (1999, p. 48) afirma que o ser humano aparece na maior parte do tempo como

    um ser abstrato, um objeto econmico, um indivduo sem afeto, sem histria e sem cultura.

    Ele inscreve-se em um projeto instrumental que confere todas as virtudes a uma s lgica: a

    lgica tcnica.

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    No entanto, para Harbermas (1972) existem duas outras lgicas a lgica da prtica e

    a lgica emancipadora. A lgica a prtica (CHANLAT, 1999, p. 49) parte da idia de que o

    mundo humano um conjunto de processos objetivveis que se procura conhecer e controlar.

    (...) . Utiliza intensamente o clculo a fim de medir os resultados obtidos. O resultado que se

    espera o de fazer recuar a irracionalidade do mundo social. A finalidade da lgica prtica

    atingir uma melhor compreenso mtua, facilitando a comunicao social.

    A lgica emancipadora visa colocar um fim aos sofrimentos inteis provocados por

    determinadas prticas sociais. (...). Essa lgica procura revelar como os modelos de conduta e

    a significaes que lhes podem ser atribudas esto enraizados nas estruturas de dominao

    (CHANLAT, 1999, p. 49).Habermas (1987) insiste nos aspectos simblicos da vida coletiva e define o papel da

    ao comunicativa, a partir de uma dialtica positiva, na construo do consenso e da razo.

    Ele defende a restaurao da sociabilidade com base na ao comunicativa.

    Assim, a comunicao pode levar a sociedade atual, atravs de uma nova postura

    empresarial, a um novo patamar para o desenvolvimento e aprimoramento humano nas

    organizaes, modificando as atuais relaes de trabalho que enfatizam o velho paradigma

    Manda quem pode e obedece que tem juzo, para manda quem pode e modifica quem tem

    competncia.

    No sistema econmico, o que importa o dinheiro; no sistema poltico, o poder e no

    sistema atual a comunicao aparece substituindo o trabalho e reconfigurando a cultura

    organizacional e o papel dos indivduos nas organizaes.

    Essa tendncia nas organizaes apresenta uma relao direta com o crescimento do

    aprendizado, do conhecimento e da criatividade para a competitividade empresarial, ou seja,

    maior valorizao dos aspectos intangveis, principalmente das pessoas como agentes desse

    processo de mudana.O novo cenrio valoriza os indivduos na organizao e altera substancialmente a

    cultura organizacional ao exigir das empresas uma capacidade de inovar usando os

    colaboradores para recriar o futuro.

    Muitas empresas esto sendo convidadas a questionar velhas premissas

    administrativas, a flexibilizar suas estruturas e a experimentar novas prticas diante do imenso

    dinamismo, da indefinio de fronteiras e dos fatores chave da competio.

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    Para Habermas, a linguagem tem um aspecto universal ao possuir um conjunto de

    regras bsicas que pode ser compreendido. A linguagem possibilita a comunicao entre os

    homens e permite que as fronteiras de mundo tidas como incomensurveis ainda se mostrem

    permeveis (HABERMAS, 1990, p.153).

    A necessidade de ruptura com o passado e a implantao de novas formas

    organizacionais um desafio permanente para as empresas e para os tericos das

    organizaes. O processo de organizao de transformao organizacional relao capital x

    trabalho, patro x empregado, emprego x desemprego, define a mudana como certa e

    permanente.

    Assim, as organizaes devem estar preocupadas com desenhos de processosorganizacionais, definio de atividades organizacionais/gerenciais de orientao estratgica e

    desenvolvimento de uma viso estratgica para uma cultura aglutinadora e de valorizao do

    indivduo.

    A cultura aglutinadora rene valores alicientes como a confiana que estabelece

    consistncia s mensagens e lealdade que determina a preservao da empresa, atravs da

    marca, qualidade dos produtos e servios.

    Hoje os sistemas computadorizados de toda a organizao disponibiliza as

    informaes. O problema a confiabilidade, relevncia e atualidade dessas informaes. A

    relao de confiana entre a empresa e os seus colaboradores imprescindvel para que as

    pessoas se sintam compelidas a compartilhar seu conhecimento e tornar os sistemas de

    informao ferramentas que aumentam o estoque do fluxo de conhecimento e valor dos ativos

    intelectuais e, conseqentemente, a interao humana.

    Em termos de estratgia, importante reconhecer a comunicao no mundo de negcios,no como um evento isolado, mas como um processo contnuo, parte de uma seqncia deeventos isolados. Estes se devem menos aos fatos do que interao ao ajustamento

    entre o comunicador e o seu pblico. A qualidade desse ajustamento o que determina adiferena entre falar e ser ouvido, entre palavras ao vento e idias em comum.Kaplan (1993, p. 12).

    Existe, nas organizaes, uma quantidade enorme de informaes disponveis, mas

    ainda no h preocupao em aumentar a capacidade interpretativa dos colaboradores para que

    as pessoas no sejam conscientes do seu papel de colaborador consideradas objetos da

    comunicao e sim agentes ativos, conscientes de seu papel de colaborador, que participam e

    influenciam as mudanas nos seus diversos nveis de atuao.

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    A viso que define o indivduo como um elemento ativo se baseia na constatao do

    aumento na variedade de mensagens intercambiadas e na qualidade da representao social

    que as pessoas passam a ter no processo comunicacional, na participao nas tomadas de

    decises e influncia nas mudanas.

    atravs da comunicao que se recorre e proporciona informao para fazer com que aspessoas cooperem. A comunicao o meio que permite orientar as condutas individuais eestabelecer relaes interpessoais funcionais que permitam o trabalho em equipe paraalcanar uma meta. De maneira mais concreta, nos grupos se estabelecem acordos derelao mtua convenientes para coordenar os esforos em prol de objetivos comuns.

    Marn (1997, p. 163).A comunicao empresarial pode ser entendida como as normas e os valores de

    controle capazes de atingir grande eficcia atravs da capacidade de ordenar, atribuir

    significaes e construir a identidade organizacional.

    A conexo estabelecida pelas redes, alterou as distncias geogrficas, considerando,

    exclusivamente, a disponibilidade de tempo e a rede de relacionamentos como essenciais para

    obtermos informaes.

    Um novo mundo est tomando forma neste fim de milnio Originou-se mais ou menos nofim dos anos 60 e meados da dcada de 70 na coincidncia histrica de trs processosindependentes: revoluo da tecnologia da informao, crise econmica do capitalismo e aconseqente reestruturao de ambos e apogeu de movimentos sociais culturais, tais comoliberalismo, direitos humanos, feminismo e ambientalismo. A interao entre esses

    processos e as reaes por eles desencadeadas fizeram surgir uma nova estrutura socialdominante, a sociedade em rede (...)

    Castells (1999, p. 112).

    O processo de fragmentao cultural, social, econmica e tecnolgica determina que

    no importa onde nascemos, moramos ou trabalhamos, e sim, a nossa qualidade de conexo

    para estarmos sintonizados com o mundo e estabelecermos nossa rede de relacionamentos para

    nos mantermos no mercado de trabalho.

    Isso significa que estamos na era de transio do controle para a intersubjetividade, no

    qual o dilogo e a troca privilegiam a comunicao em detrimento do trabalho.

    As organizaes

    Nos ltimos anos, tem-se notado um grande crescimento a nvel mundial de estudos

    sobre as organizaes. Este fato teve como fator principal s mudanas ocasionadas pela

    Globalizao e pelos avanos tecnolgicos, esquecendo das relaes de trabalho.

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    Atualmente faz-se necessrio entender as organizaes como sistemas sociais que

    possuem memria, so burocrticas e, atravs de esforos conjuntos de auto-reflexo dos seus

    membros, precisam ser reenergizadas para serem mais humanas.

    Na era das incertezas, uma organizao caracterizada como um estado de relaes

    ordenadas entre partes claramente definidas que tm uma ordem determinada.

    Sob esse prisma convm salientar Weber, quando afirma que as organizaes so

    burocrticas e a lgica que movimenta a sociedade moderna encontra-se no processo de

    dominao, por meio da racionalizao. Assim, atualizar o pensamento de Weber implica

    mostrar que as organizaes agem por influncia da ps-modernidade, caracterizada pela

    ineslasticidade economiajust in time, por causa dos juros altos e da renda baixa.Refletir sobre organizaes significa entender a ocorrncia de mudanas constantes que

    tm como finalidade perpetuar a capacidade de auto-renovao da empresa atravs da

    resoluo de problemas e de uma compreenso da realidade atual e da dinmica do negcio.

    Embora constante com sempre foi e vital como agora, a mudana ainda considerada

    de difcil realizao e exige que os afetados por ela estejam envolvidos no processo para

    minimizar os problemas.

    Sendo assim, a comunicao uma ferramenta estratgica para auxiliar as alteraes

    ao estabelecer mensagens claras e precisas e criar um ambiente confivel para o intercmbio

    de informaes, buscando incessantemente dirimir problemas.

    As organizaes precisam se transformar para competir no mercado atual e serem

    capazes de construir e gerenciar ativos fsicos, explorar ativos intangveis, dentre eles as

    pessoas, a comunicao empresarial, a cultura organizacional e as relaes de trabalho.

    Aprender e inovar, com tica e transparncia, para sobreviver no mercado diminuindo

    os gastos de energia atravs do compartilhamento, ou seja, da coopetio torna-se chave para a

    ocorrncia do processo. O que no deve ser esquecido que o conflito, a cooperao, ainsegurana individual e as rotinas de defesa fazem parte de toda a empresa e que o respeito

    nas relaes interpessoais deve ser a tnica para o sucesso empresarial.

    A coopetio uma importante perspectiva de anlise dos comportamentos

    estratgicos de relacionamento entre empresas concorrentes. A teoria tem sido reconhecida por

    tericos e executivos como relevante para a compreenso da dinmica dos relacionamentos

    entre empresas concorrentes.

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    Gerir uma empresa no caracteriza verificar, delegar e acompanhar, utilizando somente

    a presso quando o desempenho cai. Implica em facilitar a compreenso entre as pessoas com

    diferentes pontos de vista, atravs de informaes claras e confiveis.

    Entender as organizaes como empresas formadas por pessoas, produtores humanos

    que idealizam, executam, atuam e se relacionam reflete uma crescente conscientizao acerca

    desta nova tendncia na qual os indivduos passam a ser elementos fundamentais para o

    alinhamento estratgico.

    O alinhamento estratgico um modelo que analisa a ligao entre estratgia do

    negcio e estratgia de tecnologia da informao refletindo-se nos componentes externos e

    internos que podem ser explicados para integrao estratgica e integrao operacionalrespectivamente.

    Outro aspecto importante a ser considerado que o mundo do trabalho mudou. Nada

    igual. Tudo semelhante e fractal. Hoje preciso pensar o trabalho visualizando os pequenos

    sinais: o sentido (Weber), o voluntarismo (Barnard), a comunicao empresarial (Bueno) e a

    cultura organizacional (Nassar) e as pessoas (Dutra).

    No existe construo de sentido sem linguagem. A humanidade, para desenvolver

    pensamentos, sistemas de significaes e relaes sociais, utiliza-se da linguagem. Toda

    existncia social repousa, de fato, sobre comunicaes que supem uma forma de linguagem.

    (CHANLAT, 1999, p. 45).

    O voluntarismo est sendo considerado uma forma de trabalho boa e recomendvel que

    conduz a busca dos reais sentimentos e emoes propiciando que os grupos troquem sentidos,

    isto , busquem o livre fluxo de idias atravs do dilogo e das relaes interpessoais mais

    respeitosos.

    A comunicao empresarial revela a verdadeira realidade das organizaes

    empresariais brasileiras, onde a censura e auto-censura permanecem vivas, onde as verbascostumam ser escassas e/ou quase sempre inexistentes e a tica e a transparncia so agredidas

    a cada momento. A comunicao, no mbito de uma organizao, deve ser nica, ou seja, no

    pode seguir um modelo ou receiturio pronto. Cada organizao tem suas caractersticas

    prprias, por isso faz-se necessrio entender a cultura de uma organizao.

    A cultura organizacional requer formas de comunicao que estejam afinadas com a

    agilidade das tecnologias emergentes e com o incremento da massa crtica. Isso significa

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    procurar atingir os diferentes pblicos, de forma interativa. A cultura organizacional revela os

    valores e a postura de uma organizao.

    As foras que existem concretamente numa organizao so as pessoas, os respectivos

    negcios e a comunicao entre eles; tudo mais conseqncia de como circula o fluxo de

    informaes.

    As pessoas

    O contexto atual exige que todos os membros de uma organizao ajam de forma

    autnoma conforme as circunstncias. Espera-se da organizao uma ampliao da chance deintroduzir oportunidades inesperadas.

    Sabe-se que as idias originais emanam de indivduos autnomos, que estejam

    motivados e difundem-se dentro da equipe, transformando-se ento em idias organizacionais

    que proporcionaro organizao uma imagem diferenciada organizaes que aprendem e

    um diferencial competitivo.

    Nesse aspecto, a organizao que adota esses procedimentos mais propensa a manter

    maior flexibilidade ao adquirir, interpretar e relacionar informaes, reconhecendo a

    importncia da comunicao empresarial e da cultura organizacional.

    Para Dutra (2002; p. 44) no momento em que a organizao pensa as pessoas como

    parceiros de seu desenvolvimento e as pessoas pensam o mesmo em relao empresa, o foco

    altera-se do controle para o desenvolvimento.

    No entanto, medida que o conhecimento e a inovao tornam-se mais importantes

    para o sucesso competitivo, a crescente insatisfao com as estruturas organizacionais

    tradicionais vem aumentando e a exigncia para que as mudanas acompanhem o rpido

    processo torna-se cada vez maior.No se aceita mais que a gesto de pessoas seja comandada por grupos de poder que

    priorizem apenas as contingncias da organizao. Sendo assim construir diretrizes e

    instrumentos que assegurem a compreenso da situao em toda a sua extenso e

    profundidade enxergando a realidade em sintonia com a complexidade e as mudanas a

    opo mais vivel, mas pouco ou quase nada utilizada.

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    Para Dutra (2002; p. 44) no momento em que a organizao pensa as pessoas como

    parceiros de seu desenvolvimento e as pessoas pensam o mesmo em relao empresa, o foco

    altera-se do controle para o desenvolvimento.

    Reconhecer o compromisso pessoal dos funcionrios/colaboradores, dando uma nova

    dimenso para o papel do fator humano nas organizaes, e a identificar os interesses pessoais

    com a misso da empresa tornam-se indispensveis. Para isso ocorrer, a estratgia precisa est

    em conformao com as regras definidas pela cultura organizacional.

    No h como negar a existncia de uma grande defasagem entre a demanda das

    necessidades organizacionais, ao exigir um papel mais ativo dos colaboradores

    comprometimento e envolvimento e a realidade, que mantm padres de controle carto deponto, horrio fixo, prticas remuneratrias e desempenho (rigidez e burocracia).

    Sem dvida que os membros de uma equipe criam novas perspectivas atravs do

    dilogo. Esse dilogo envolve uma linguagem e considerveis conflitos e desacordos, mas

    exatamente essa divergncia que impulsiona as pessoas a questionarem as premissas existentes

    e a compreenderem suas experincias de uma nova maneira.

    Esse tipo de interao, intermediada pelos processos comunicacionais e pela cultura

    organizacional, possibilita a transformao do conhecimento pessoal em conhecimento

    empresarial.

    A Comunicao Empresarial

    Discutir a comunicao empresarial pode parecer banal e at mesmo intil, mas no ,

    tendo em vista a realidade e as relaes de trabalho. A implantao dos instrumentos que

    permitem a sua existncia, no garantem a sua funcionalidade. Efetiva-se uma pluralidade de

    diferentes tipos de formas de comunicao e interao com os clientes que na grande maioriano funciona.

    Fornecer, obter e utilizar informaes claras, interpretar, saber ouvir, leropinies e

    transmitir com preciso o que se deseja, seja oralmente ou via comunicao impressa, torna-se

    indispensvel.

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    Evitar desperdcio de tempo, no mundo empresarial e, compreender as tendncias que

    se manifestam em cada situao presente para a elas antecipar -se, contribui para a construo

    de uma situao futura mais slida.

    No basta, pois, remeter a qualidade dos servios de atendimento aos clientes s

    dificuldades encontradas na contratao de mo-de-obra qualificada. De fato, esses fatores

    acabam sendo emblemticos, mas a causa est pautada na cultura da empresa, na viso dos

    executivos e na forma como tratar os clientes externos e internos.

    Reconhecer que a comunicao empresarial deve atuar orientada pelas estratgias da

    empresa, pelas expectativas dos pblicos e com diretrizes claras e bem definidas, envolve

    outras reas e exige no perder de vista o centro para o qual devem se dirigir todas as aes donegcio: os clientes. Isto implica em estudar e entender a organizao exaustivamente,

    verificando cuidadosamente todos os aspectos tangveis e intangveis.

    "A comunicao empresarial evoluiu de seu estgio embrionrio, em que se definia comomero acessrio, para assumir, agora, uma funo relevante na poltica negocial dasempresas. Deixa, portanto, de ser atividade que se descarta, ou seja, relegada a segundoplano, em momentos de crise e de carncia de recursos, para se firmar como insumoestratgico, de que uma empresa ou entidade lana mo para idealizar clientes, sensibilizarmultiplicadores de opinio ou interagir com a comunidade".

    Bueno (2000; p.50).

    Estamos diante de um dramtico processo de transformao por que passam asempresas diante do regime democrtico e da economia internacionalizada. Sem dvida, a

    comunicao como uma ferramenta estratgica de gesto, de uso interno e externo, que precisa

    se constitui num foco de ateno permanente na empresa.

    Fixar os objetivos organizacionais e saber comunic-los fundamental, pois se as

    metas so mal conhecidas, mal interpretadas, as atividades so mal executadas e os resultados

    no so satisfatrios.

    Comunicar alm de possibilitar o desenvolvimento de novas tecnologias e processos de

    transmisso da informao, envolve as interaes humanas, as sociabilidades, as tcnicas e

    prticas, as tecnologias e as novas sensibilidades.

    A comunicao antes de ser instrumental, humana. Necessita de resposta para se

    realizar, pois a informao sem retorno uma comunicao falha. As pessoas precisam ser

    respeitadas em sua dignidade para apresentarem comprometimento, ou seja, saber seu lugar no

    contexto da empresa para lutar por sua realizao pessoal e seu espao profissional.

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    No podemos adotar o critrio de aumento de produtividade para estabelecer a

    dignidade das pessoas. Outros fatores devem ser levados em considerao como a autonomia,

    a independncia, a maturidade e a viso de futuro. preciso ouvir os clientes, tomar decises

    participativas, promover trabalhos em grupo, fazer com que os procedimentos sejam

    estabelecidos pelas pessoas que o praticam e podem melhor-lo. A dignificao deve levar em

    conta a competncia profissional.

    Assim, podemos afirmar que a comunicao empresarial algo que deva ser explorada

    j que as organizaes so feitas de relaes humanas, interpeladas e interpretadas por um

    processo de persuaso, negociao e/ou manipulao, imposto pelos sistemas gerenciais e pela

    cultura organizacional.Esse novo cenrio define o desempenho organizacional aliado noo do indivduo

    como sujeito de suas aes, com a capacidade de decidir de modo voluntrio e consciente,

    essencial ao bom xito de uma organizao.

    A distino macro-micro foca as relaes entre o todo e as partes ao estudar o

    fenmeno organizacional, facilitando o entendimento. Compreender o novo cenrio significa

    construir a idia de que o foco da tomada de deciso est na escolha estratgica papel pr-

    ativo e no no acmulo de informaes e controles. As mudanas devem ser negociadas e

    ajustadas aos objetivos da empresa e das pessoas, e produzidas por transaes e definies

    sociais, e no por fora econmica e constantes ameaas de perder o emprego.

    O entendimento do novo cenrio oferece comunicao empresarial uma chance

    inigualvel de reconhecimento da sua importncia, isto , a de atrelar, definitivamente, a

    comunicao aos objetivos estratgicos da organizao, aproximar dos seus clientes internos e

    atuar de forma integrada nas outras funes da empresa. Essa considerao envolve mudanas

    na cultura organizacional.

    Cultura Organizacional

    Perceber a cultura organizacional implica em analisar o contexto scio-econmico e

    poltico e as contradies entre os modelos praticados nas organizaes e os modelos

    idealizados na academia por estudiosos.

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    Uma organizao deve ter como base a cultura e o bom senso para humanizar as

    relaes de trabalho e poder interpretar e estabelecer prticas, tendo em vista que as pessoas

    interagem socialmente e criam um sentido comum para as suas aes, baseadas no somente

    em recompensas financeiras.

    Os estudos de cultura organizacional devem destacar os fatores humanos,

    reconhecendo que a organizao um sistema de significado compartilhado, para aprender,

    mudar e evoluir ao longo do tempo precisando promover a interao social entre seus

    membros e entre si mesma e o ambiente.

    Estimar a fora da cultura implica, no mnimo, observar em que proporo os membros

    da organizao demonstram compartilhar as manifestaes culturais, como: atributos fsicos,slogans, prticas, expresses de sentimentos, etc. e entender o sistema de progresso de

    carreiras: o que faz o funcionrio/colaborador ser promovido, ou seja, se o sistema de

    recompensas avalia as qualificaes, a formao acadmica, os cursos no exterior, as

    performances, o tempo de servio, a lealdade, etc.

    Segundo Bueno (2001, p. 55) "a nova cultura empresarial requer formas de

    comunicao que obedeam a um a outra lgica, afinada com a agilidade das tecnologias

    emergentes, mas tambm com o incremento da massa crtica".

    Os padres globais de eficincia e modernizao promovem mudanas que exigem

    conhecimento da cultura organizacional e estabelecem que as pessoas sejam senhoras do

    destino e gestoras de projetos tanto o profissional quanto o de vida.

    Para Fgaro (2002) as transformaes que se do no mundo do trabalho ocorrem por

    causa da comunicao, no apenas como instncia de sociabilidade, mas como tcnicas,

    instrumentos e procedimentos: como integrante das foras produtivas.

    Incorporar a cultura e a comunicao mundo macro facilitar conhecer a realidade

    da sociedade contempornea e suas formas de expresso ao considerar que ambas fazem partedo processo, mas estudadas separadamente se constituiro impulsionadoras dos fatores acima

    citados e compreender as transformaes nas relaes de trabalho que ocorrem na

    contemporaneidade.

    Para Nassar (2003; p. 35) os processos de comunicao devem se assentar fortemente

    no dilogo e nos fluxos de informao ascendentes (...) e horizontais (...). Professos que sejam

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    reflexos de uma cultura de participao e de lideranas democrticas, que promovam

    trabalhadores de espectadores a agente desses processos.

    A indissolubilidade da ligao das organizaes com a sociedade, com a cultura e com

    as pessoas cria a necessidade de a empresa obter um comprometimento/envolvimento dos

    funcionrios/colaboradores com os objetivos e estratgias organizacionais como forma de

    obter vantagens competitivas.

    A necessidade de a gesto estabelecer o dilogo com seus trabalhadores e com asociedade acentuou-se com o processo de reestruturao produtiva dos agenteseconmicos, iniciado no final da dcada de 1990, com a internacionalizao da economia ecom a mudana do perfil do Estado brasileiro. Nesse perodo, aconteceram centenas defuses e aquisies, mudanas em processos produtivos e inovaes em recursos humanos,

    produtos e servios. A gesto da comunicao empresarial deixou de ser ferramental,focada apenas na formatao de mdias, e comeou a transitar no universo da sociologia,da arquitetura, da psicologia, da antropologia, da administrao e da histria, parasolucionar problemas, cujas origens estavam na cultura, nos modelos, nas trajetrias e napsique das organizaes.

    Nassar (2003; p. 86).

    A importncia dada dimenso poltica na organizao cria o modelo poltico de

    recursos humanos que incorpora a idia de conflito e divergncia, considerando os diferentes

    interesses dos colaboradores como agentes ativos e constituintes do sucesso empresarial.

    Este modelo, segundo Vasconcellos et all (2004, p. 5) reflete os princpios da

    Democracia Industrial e baseado principalmente nos trabalhos de Herzberg e dos

    pesquisadores de Instituo de Tavistock de Londres.

    Entender a cultura organizacional implica em analisar o contexto scio-econmico e

    poltico e as contradies entre os modelos praticados nas organizaes e os modelos

    idealizados na academia por estudiosos, mas ainda pouco utilizado nas relaes de trabalho.

    Cultura no existe sem pessoas e sem comunicao, na medida em que envolve a

    construo de significados por meio da interao social. Sendo assim, a cultura e a

    comunicao conduzem a gesto de processos organizacionais ao construrem significados,criarem conhecimentos, ajudarem na tomada de decises e ampliarem a percepo sobre a

    vulnerabilidade das organizaes que no priorizam seu potencial humano.

    A realidade organizacional encontra-se em transio e as organizaes e o trabalho

    passam, segundo Watson (2005, p. 15) da lgica sistmico-controladora para a lgica

    processual-relacional, considerando que as pessoas trabalham no s com intuito de

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    maximizar sua remunerao, mas tambm para defender seus prprios interesses e propsitos

    diversos.

    A forma sistmico-controladora de caracterizao das organizaes e da gesto,

    definida por Watson (2005, p. 18), caracteriza os membros como entidades com objetivos

    que convertem insumos em produtos finais. Trata as organizaes como entidades

    relativamente autnomas, um sistema de entrada e sada, controlados pelos gestores, e, os

    colaboradores com uma viso separada entre o mundo social e a cultura.

    A noo da lgica relacional-processual trata os membros da organizao e as prprias

    organizaes como facetas mutantes de relaes sociais, polticas, econmicas e culturais das

    quais fazem parte desde sempre. Para Watson (2005, p. 19) a empresa um conjunto deacordos e de entendimentos; uma busca contnua de interaes humanas e de processos

    criadores de significados.

    Consideraes Finais

    Satisfazer as necessidades dos patres, funcionrios/colaboradores e clientes de

    maneira eqitativa imprescindvel para as organizaes que convivem com os padres

    globais de eficincia, mas infelizmente ainda no acontece.

    A racionalizao dos modos de gesto sedimentada pelas fuses, aquisies,

    reestruturaes em massa, agendamento controlado e utilizao de tcnicas que reduzem o

    tempo de respostas e os custos organizacionais precisa ser substituda por uma forma mais

    humana.

    Reconhecer a importncia das pessoas, da cultura organizacional, da comunicao

    empresarial e da mudana de paradigma das relaes de trabalho para processual relacional

    tambm se configura como fundamental para as organizaes sobreviverem e se destacaremno mercado.

    Assim, uma organizao passa a ser um conjunto de equipes contributivas, formadas

    por pessoas ligadas entre si por laos profundos de comunicao, com propsito de atingir,

    respectivamente, o objetivo em comum e os objetivos pessoais de seus colaboradores.

    O processo evolutivo da sociedade depende do desenvolvimento da competncia

    comunicativa dos indivduos que a ela pertencem. O grande desafio, no entanto, entender

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    como estes elementos se inter-relacionam para obter a vantagem competitiva e comear a

    aplic-las no cotidiano.

    No temos dvidas de que a resposta atravs das pessoas e da mudana da viso

    atual. Reconhecer a importncia do resgate da dignidade para criar o comprometimento

    permitindo no s a realizao pessoal como a garantia do espao profissional atravs da

    competncia um dos caminhos mais concretos para o xito. Criar alicientes, isto , os

    atrativos atravs do resgate de valores por meio da racionalidade substantiva, reflexiva, auto-

    crtica outra alternativa imprescindvel.

    Imprescindvel ser exigir comprometimento e amadurecimento das pessoas na

    organizao, mas aliado a isso, faz-se necessrio promover uma relao de confiana elealdade entre a empresa e os funcionrios/colaboradores para dar suporte e estabelecer uma

    cultura aglutinadora que reconfigure e reinterprete as aes valorizando os indivduos e as

    relaes respeitosas.

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