O PROFESSOR E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DO … · No sistema educacional existem algumas...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ - CERES
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO - DEDUC
CAMPUS DE CAICÓ
RAFAELA DA SILVA BRITO
O PROFESSOR E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DO ALUNO SURDO
CAICÓ – RN
2015
RAFAELA DA SILVA BRITO
O PROFESSOR E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DO ALUNO SURDO
Monografia apresentada ao Departamento de
Educação do Centro de Ensino Superior do Seridó
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
como requisito parcial para obtenção do título de
Licenciatura em Pedagogia.
Orientador: Prof. Ms. Gisonaldo Arcanjo de Sousa.
CAICÓ – RN
2015
À minha família, pela fé e a confiança.
À todos que me apoiaram durante o transcorrer deste
caminho de estudo.
A meu namorado Josilúcio pelo apoio.
In memoriam de Rafael, com amor.
Dedico este trabalho.
AGRADECIMENTOS
A conclusão deste trabalho é a própria realização de um sonho compartilhado e
idealizado por várias pessoas, e não teria sido possível sem a colaboração e a boa vontade
daqueles que aqui são referidos. A todos, sinceros agradecimentos.
Ao professor Me. Gisonaldo Arcanjo de Sousa, orientador desta monografia, por
todo o apoio, pela sua compreensão, pela energia, paciência, sabedoria em nós guiar até o
final, e por ter sido um ombro amigo no momento mais difícil de minha vida.
À professora Me. Maria José de Oliveira e à professora Me. Suenyra Nobrega
Soares, componentes da banca examinadora, pela atenção e avaliação do meu desempenho na
minha pesquisa.
As professoras e toda a comunidade escola da Escola Coronel Paulino Barcelos, pela
disponibilidade e acolhimento.
A todos os professores que fizeram parte da minha vida acadêmica, assim como
todos que perpetuaram parte da minha vida estudantil, pela esperança e compromisso de
promover uma educação que reproduza um ser pensante e investigativo.
Aos meus colegas de curso, em especial Gildete, Ysla, Gean e Isaias com quem
dividi a maior parte dos meus dias durante essa graduação, além da construção de um laço de
amizade que perdurará pelo tempo.
Aos meus colegas orientandos, Eliete, Aline, Ilda e Welma, Andressa pelas
experiências trocadas, pela atenção, força e carinho prestados.
Aos meus todos os meus amigos que sempre estiveram comigo me apoiando e dando
forças, em especial Thiago, Selma, Jaciara, Daniele Cristina, Ully e a casa das 7 mulheres que
me acolheram e me apoiaram nessa fase de desequilíbrio.
A minha toda minha família e em especial nas pessoas de Chica Pepe(Voinha),
Cerlania(Tia Nita), Joãozinho, Joserlania, Cerlucia, Sergiane e todos aqueles que me ajudaram
a seguir em frente.
Ao meu namorado Josilúcio Medeiros dos Santos pelo seu apoio, sua paciência,
compreensão, amorosidade e torcida.
In memoriam do meu irmão Rafael da Silva Brito pelo seu amor incondicional
durante seus dias de vida aqui na terra, por ter me ajudado a ser quem eu sou, e por ser esse
exemplo que eu tento seguir de ser humano amoroso e de coração puro. Esse trabalho também
faz parte das suas conquistas meu irmão, e mesmo que não estejamos mais unidos
fisicamente, sei que estais junto a mim a vibrar comigo essa nossa vitória.
Aos meus pais, Antonio Ferreira de Brito e Cerlandia Maria da Silva, pelo amor, a
confiança, o respeito, a compreensão, e fé que depositam em mim, por ter me tornado quem
sou, e por nunca desistirem junto comigo dos nossos sonhos.
A Deus, Pai todo Poderoso, pelo seu infinito amor e bondade.
Ouvir é muito mais do que ter a capacidade orgânica
da audição. É muito mais do que o simples
“escutar”. (FERRAREZI, 2014,p.68).
RESUMO
O presente trabalho acadêmico intitulado de: “O professor e o processo de
alfabetização do aluno surdo”, nasceu da necessidade de se investigar como esse processo de
alfabetização do aluno surdo acontece e tem como objetivo investigar o papel do professor
perante esse processo, visando também identificar as metodologias que são utilizadas para que
esse aconteça. Para que esse trabalho fosse realizado utilizamos o método qualitativo, leituras
bibliográficas e estudo de caso. Na fundamentação teórica, metodológica, mantemos um
diálogo com obras de pesquisadores que possuem produções nesse campo, entre eles, Soares
(1999), Mazzota (1996), Stainback (2006), Soares (1998), Soares (1998), entre outros. Essa
pesquisa possibilitou a identificação das metodologias utilizadas para o processo de
alfabetização do aluno surdo, que se reproduzem a partir de uma prática voltada para um
ambiente interacionista que associa o concreto ao abstrato através da linguagem oral e língua
de sinais, além do comportamento adotado pelo educador como formador.
Palavras – chave: Alfabetização. Aluno Surdo. Professor.
ABSTRACT
This academic paper titled: "The teacher and the deaf student literacy process" was born from
the need to investigate how this process happens literacy of deaf students and aims to
investigate the teacher's role before this process to also identify methods that are used for this
happening. For this work was done we use the qualitative method, book readings and case
study. In the theoretical, methodological basis, we maintain a dialogue with works of
researchers who have productions in this field, including, Soares (1999), Mazzota (1996),
Stainback (2006), Soares (1998), Soares (1998), among others. This research led to the
identification of methodologies for literacy process of deaf students, which reproduce from a
dedicated practice for an interactional environment that associates the concrete to the abstract
through the oral language and sign language, besides the behavior adopted by educator and
trainer.
Key - words: Literacy. Deaf student. Teacher.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10
1 CARACTERIZAÇÃO DO LÓCUS DA PESQUISA ........................................................... 11
1.1 Objetos de pesquisa e aportes metodológicos ............................................................ 11
1.2 Alfabetização e letramento ........................................................................................ 12
1.3 A relação entre o professor e o processo de alfabetização do aluno .......................... 13
1.4 O papel da sala de Recursos Multifuncionais e o Atendimento Educacional
Especializado (AEE) ............................................................................................................. 14
2 REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................... 16
2.1 Conceituando a surdez ............................................................................................... 16
2.2 O processo de alfabetização do aluno surdo .............................................................. 18
2.3 Metodologia do professor no ensino de alunos surdos .............................................. 20
3 DISCUSSÃO DE DADOS .............................................................................................. 23
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 31
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 33
APÊNDICES ........................................................................................................................... 35
10
INTRODUÇÃO
Este trabalho visa a contribuir para a compreensão dos processos de alfabetização do
aluno surdo. Destina-se a toda a comunidade acadêmica por sua importância no que se refere
à formação de novos educadores e à investigação de problemas envolvidos no ato educativo.
Destina-se também para aqueles profissionais que já estão atuando no ensino básico na
perspectiva de originar contribuições para sua prática pedagógica, uma vez que traz por
objetivo a compreensão de estratégias de ensino para a alfabetização do aluno surdo a partir
das metodologias, concepções e ações docentes, com o intuito de analisar a prática docente no
processo de alfabetização do aluno surdo, discorrendo e identificando as metodologias
facilitadoras para esse, a partir da investigação do comportamento e desenvolvimento desse
aluno durante esse período.
O tema dessa pesquisa é algo que transita não só nas preocupações dos professores,
que lidam diretamente com o processo de alfabetização no tocante ao aluno surdo, mas
também de estudiosos e pesquisadores.
No sistema educacional existem algumas especificidades que necessitam ser estudadas
e repensadas para um ensino igualitário e de qualidade, dentre elas está a alfabetização do
aluno surdo. Nesse sentido, o professor tem papel fundamental, uma vez que está diretamente
ligado ao processo de ensino e aprendizagem desse aluno. Durante a vasta produção teórica
nesse campo, com contribuições advindas de inúmeras áreas do conhecimento, os órgãos
responsáveis pelo sistema educativo brasileiro público ainda não encontraram soluções para
resolver este problema. Por isso, fazem-se necessários estudos que busquem entender esta
problemática com a finalidade de contribuir para o seu enfrentamento e busca de soluções.
No mundo todo, o atendimento de crianças com necessidades especiais em escolas
regulares passou a representar um tema bastante preocupante. Sabendo-se dessa realidade, a
pesquisadora buscou responder a seguinte problemática: quais metodologias e
comportamentos o professor deve utilizar no processo de alfabetização do aluno surdo?
Consideram-se, ainda, que é na escola que o aluno surdo terá seu contato direto e
proposital com o conhecimento, podendo ser proporcionado um período de inclusão na
sociedade a partir da educação. Nesse sentido, esse estudo se faz necessário, uma vez que
possibilita a constatação da realidade enfrentada pelo educador e as possíveis soluções para a
problemática elencada anteriormente.
Sob o aporte teórico, a pesquisa delineou-se numa metodologia partindo da pesquisa
bibliográfica, qualitativa, estudo de caso. O referencial teórico contou com a contribuição
especialmente de Soares (1999), Mazzota (1996), Stainback (2006), Soares (1998), Soares
(1998).
Os dados descritos relativos à monografia serão apresentados seguindo a seguinte
estrutura: 1 Caracterização do Lócus da Pesquisa; 2 Referencial Teórico; 3 Analises de Dados
Considerações Finais; Referências e Apêndices .
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1 CARACTERIZAÇÃO DO LÓCUS DA PESQUISA
No mundo todo, o atendimento de crianças com necessidades especiais em escolas
regulares passou a representar um tema bastante preocupante. Sabendo-se que para haver o
processo de alfabetização do aluno surdo é necessário que o professor busque metodologias
que auxiliem no processo de ensino e aprendizagem, com o intuito de possibilitar uma
educação igualitária e proporcionar ao surdo sua inserção na sociedade é necessário rever
alguns conceitos e possibilitar novas metodologias de ensino e aprendizagem, uma vez que o
processo de alfabetização do aluno surdo é muito objetivo, pois seus métodos variam de
acordo com cada necessidade específica de cada aluno.
1.1 Objetos de pesquisa e aportes metodológicos
No sistema educacional existem algumas especificidades que necessitam ser estudadas
e repensadas para um ensino igualitário e de qualidade, dentre elas está a alfabetização do
aluno surdo. Nesse sentido, o professor tem papel fundamental, uma vez que está diretamente
ligado ao processo de ensino e aprendizagem desse aluno. No mundo todo, o atendimento de
crianças com necessidades educacionais especiais em escolas regulares passou a representar
um tema bastante preocupante. Sabendo-se dessa realidade, a pesquisadora com o intuito de
analisar a prática docente no processo de alfabetização do aluno surdo discorrendo e
identificando as metodologias facilitadoras para esse, a partir da investigação do
comportamento e desenvolvimento desse aluno durante esse período, buscou responder a
problemática que visa identificar quais as metodologias e comportamentos que o professor
deve utilizar no processo de alfabetização do aluno surdo com o objetivo de compreender as
estratégias de ensino necessárias para a alfabetização desse indivíduo a partir das
metodologias de ensino, concepções e ações docentes.
Para a concretização dessa pesquisa a pesquisadora realizou, a priori, uma pesquisa
bibliográfica com o objetivo de encontrar subsídios para o tema estudado, além do estudo de
caso que oportuniza a coleta de dados a partir de uma profunda análise do objeto através de
instrumentos de coleta de dados e interação da pesquisadora com o objeto de estudo,
possuindo caráter descritivo-qualitativo, com o intuito de observar, registrar e analisar os
fenômenos acerca do processo de alfabetização do aluno surdo e suas características,
buscando identificar o papel do professor e suas metodologias nessa ação. Nesse sentido,
concluímos que essa abordagem nos subsidiará na realização da análise uma vez que nos
permite compreender de forma ampla o objeto da pesquisa. Assim para Bogdan e Biklen
(1999):
O plano geral do estudo de caso pode ser representado como um funil. Num estudo
qualitativo, o tipo adequado de perguntas nuca é muito específico. O inicio o estudo
é representado pela extremidade mais larga do funil: os pesquisadores procuram
locais ou pessoas que possa ser objeto de estudo ou fontes de dados e, ao
encontrarem aquilo que pensam interessar-lhes, organizam uma malha larga,
12
tentando avaliar o interesse do terreno ou das fontes de dados para seus objetivos.
Procuram indícios de como deverão proceder e qual a possibilidade de o estudo se
realizar. Começam pela recolha de dados, revendo-os, e vão tomando decisões a
cerca o objetivo do trabalho. Organizam e distribuem o seu tempo, escolhem as
pessoas que irão entrevistar e quais aspectos aprofundar.
Sendo a pesquisa descritiva a coleta de dados da própria realidade, foram utilizados
como instrumentos de trabalho a observação da prática do professor com o aluno em sala de
aula durante esse processo, além de observações no trabalho de atendimento educacional
especializado oferecido na instituição e a realização de entrevistas com as professoras, a fim
de constatar através de suas falas o trabalho desenvolvido com esse aluno surdo. Em relação
ao aluno foram investigados qual seu nível de desenvolvimento e como responde aos
estímulos potencializados pelo educador nesse processo.
A investigação qualitativa que defendemos substitui a resposta pela construção, a
verificação pela elaboração, e a neutralidade pela elaboração. O investigador entra
em campo com o que lhe interessa investigar, no qual não supõe o encerramento no
desenho metodológico de somente aquelas informações diretamente relacionadas
com o problema explícito a priori no projeto, pois a investigação implica a
emergência do novo nas ideias do investigador, processo em que o marco teórico e a
realidade se integram se e contradizem de formas diversas no curso da produção
teórica. (GONZÁLEZ REY, 1998, p.42, apud MADUREIRA, 2006, p.6).
A pesquisa foi realizada em uma turma de 1° ano do Ensino Fundamental e em uma
sala de Recursos Multifuncionais (SRMF) onde acontece o Atendimento Educacional
Especializado (AEE) da Escola Municipal Coronel Paulino Barcelos, que está localizada na
Rua Major Camboim nº 910, bairro Paraíba, na cidade de Caicó/RN. Essa instituição foi
fundada com o ensino de 1ª a 4ª serie no ano de 1970, e atualmente atende a clientela de
educação infantil e 1º a 4º ano do Ensino Fundamental, além de uma Sala de AEE que
funcionam nos horários matutino e vespertino. Sua clientela é composta por crianças
provenientes de diferentes camadas sociais, oriundos de bairros vizinhos e da zona rural da
cidade. Seu quadro de professores é composto por pedagogos, geógrafos e teólogos.
O período de observação e aplicação das técnicas de pesquisa utilizadas neste estudo
se deram em 13 encontros com duração de 4h/aula, sendo 8 em sala de aula normal, 2 em sala
de Atendimento Educacional Especializado, 2 destinados as entrevistas realizadas com as
professoras da turma do 1° ano de Ensino Fundamental e a professora da Sala de Recursos
Multifuncionais (SRMF). Após a observação e realização das entrevistas foram feitas as
comparações e analises de dados coletados da realidade com o objetivo de obter um resultado
fundamentado com as pesquisas bibliográficas anteriormente realizadas.
1.2 Alfabetização e letramento
O processo de alfabetização e letramento se concretiza a partir da aquisição da escrita,
por um indivíduo ou grupo de indivíduos, sendo o processo pelo qual se adquire o domínio de
um código e das habilidades utilizadas para ler e escrever. Nele o indivíduo assimila o
aprendizado do alfabeto e a sua utilização como código de comunicação, não se resumindo
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apenas na aquisição de habilidades mecânicas (codificação e decodificação) do ato de ler, mas
na capacidade de interpretar, compreender, criticar e produzir conhecimento envolvendo
desenvolvimento de novas formas de compreensão e uso da linguagem de uma maneira geral.
A leitura, a compreensão e a produção numa relação de contexto social, são três eixos bases
para que a alfabetização e o letramento tomem parte do ensino da língua em sua prática social
de se alfabetizar letrando.
Soares(2006) aponta que alfabetizar significa orientar a criança para o domínio da
tecnologia da escrita e letrar significa levá-la ao exercício das práticas sociais de leitura e de
escrita. Nessa linh,a a criança alfabetizada é uma criança que sabe ler e escrever, e a letrada,
uma criança que tem o hábito, as habilidades e até mesmo o prazer de leitura e escrita de
diferentes gêneros de textos, suportes, contextos e circunstâncias. Letramento é, pois, o
resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que
adquire um grupo social ou um individuo como consequência de ter-se apropriado da escrita.
(SOARES, 2006. p.18)
A aquisição da leitura e da escrita da criança se dá a priori pelo conhecimento de
mundo, uma vez que seu processo de alfabetização inicia-se muito antes do contato com a
escola. Freire (2006) afirma que a leitura de mundo precede sempre a leitura da palavra e a
leitura desta implica a leitura daquele. Nesse sentido, o autor retrata que a criança está em
constante contato com a linguagem em seu cotidiano seja ela oral ou escrita, assim a
alfabetização e o letramento seria muito mais que apenas ensinar a ler e escrever. O termo
abrangeria a leitura do mundo e a compreensão de tudo que nos cerca. O aluno, nesse sentido,
deve ser capaz de, através da alfabetização, discernir o mundo ao seu redor e se tornar um
agente transformador de sua situação social e politica. Nesse sentido a alfabetização seria o
processo pelo qual o indivíduo adquire habilidades de leitura, interpretação, domínio da
escrita e solução de situações-problemas.
1.3 A relação entre o professor e o processo de alfabetização do aluno
O professor é o mediador entre o conhecimento e os seus alunos, é ele quem organiza
e propicia espaços e situações de aprendizagem, em que são articulados os recursos afetivos,
emocionais, sociais e cognitivos de cada educando aos conhecimentos prévios em cada área
especifica. É ao professor que cabe o trabalho de singularizar as situações de aprendizagem,
ponderando todas as suas capacidades e potencialidades, planejando as condições de
aprendizagem que considerem as necessidades e ritmos individuais com as características
próprias de cada individuo, levando em conta o pensamento e a linguagem de casa um dos
seus alunos, bem como seus conhecimentos prévios e o interesse em determinado assunto,
organizando situações de aprendizagem, a fim de proporcionar experiências que busquem
promover o crescimento e o equilíbrio necessário para que aconteça a aprendizagem.
O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação
social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação,
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expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz
conhecimento. Assim, um projeto educativo comprometido com a democratização
social e cultural atribui à escola a função e a responsabilidade de garantir a todos os
seus alunos o acesso aos saberes lingüísticos necessários para o exercício da
cidadania, direito inalienável de todos. (BRASIL, 1997, p.21)
No processo de construção de conhecimentos, os educandos utilizam-se das mais
variadas formas de linguagens, a partir de interações que estabelecem com outras pessoas e
com o seu meio. A atividade de construção do conhecimento é mediada pela cultura, tendo
por base os conhecimentos adquiridos pelos alunos anteriormente e os conteúdos escolares
organizados e planejados pelo educador, que deve ser estimulador da participação e expressão
de todos e motivador de novas aprendizagens.
Nesse sentido, o papel do professor no processo do letramento, deve se dar a partir da
atitude de oportunizar ao aluno de se alfabetizar de modo efetivo, lúdico e prazeroso
objetivando a formação de leitor e escritor eficiente, que saiba usar a linguagem oral e a
escrita nas mais diversas situações, familiarizando com os diversos tipos de textos:
quadrinhas, poemas, placas de rua, parlendas, cantigas de roda, pequenas canções, advinhas e
outros, ressaltando o que é mais importante para o aluno nesse processo com o objetivo de
despertar no aluno o prazer de ler e escrever, explorando atividades que fazem parte do
universo infantil, mágico, imaginário e popular da criança.
1.4 O papel da sala de Recursos Multifuncionais e o Atendimento Educacional
Especializado (AEE)
A educação especial é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis de
ensino da educação básica a superior tendo como objetivo subsidiar as necessidades de
indivíduos que possuem algum tipo de deficiência, um dos recursos existentes para atender
essas necessidades são as Salas de Recursos Multifuncionais (SRMF) que foram instituídas
pelo Programa de Implantação de Sala de Recursos Multifuncionais, via Portaria n °13, de 24
de abril de 2007 e atendem através do atendimento educacional especializado (AEE), com o
objetivo de dar suporte às escolas públicas na inclusão de crianças com deficiência, com o
intuito de possibilitar uma educação igualitária para esses indivíduos. Seu público alvo é a
educação especial para pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
com altas habilidades ou superdotação.
As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado diferenciam-
se daquelas realizadas em sala de aula comum, não sendo substitutivas à
escolarização, com foco pedagógico e não clínico. É importante lembrar que não
deve ser confundido com sala de reforço, e sim como um ensino complementar.
(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2012, p.36).
O papel do AEE é de oferecer procedimentos educacionais específicos de acordo com
cada tipo de deficiência, ou seja, as ações são definidas de acordo com cada aluno, numa
perspectiva de complementar ou suplementar suas necessidades educacionais, esse trabalho
realizado nas Salas de Recursos Multifuncionais tem o objetivo de promover condições de
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acesso, participação e aprendizagem no ensino regular e garantir serviços de apoio
especializados de acordo com as necessidades individuais de cada aluno, garantindo a
transversalidade das ações da educação especial no ensino regular, fomentando o
desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que iluminem as barreiras no processo
de ensino e aprendizagem de aluno, com a finalidade de assegurar condições para a
continuidade de estudos nos demais níveis, etapas e modalidades de ensino.
Os professores que atuam nas salas de recursos multifuncionais além de possuírem
formação adequada devem participar de maneira colaborativa com o professor da classe
comum para a definição de estratégias pedagógicas que favoreçam o acesso ao aluno com
deficiência ao currículo e a sua interação no grupo, entre outras ações para promover a
inclusão deste aluno no contexto social da escola e do meio em que vive.
16
2 REFERENCIAL TEÓRICO
A inclusão da pessoa com deficiência no âmbito escolar é um debate atual que
demanda a organização de várias propostas de trabalho, pelas especificidades inerentes à
pessoa humana e pelas diversas barreiras existentes no contexto escolar.
2.1 Conceituando a surdez
A história dos surdos foi marcada durante muito tempo por discriminação e humilhação.
Eram ignorados pelos ouvintes na sociedade, na escola e no trabalho. No entanto, com a
Declaração Mundial de Educação para Todos que culmina em 1994, com a Declaração de
Salamanca e com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ‐ 9394/96, os surdos vêm
buscando e conquistando o direito de serem incluídos, assim como o respeito pela sua cultura
enquanto língua.
Fazendo um breve percurso histórico encontramos na Idade Antiga, mais precisamente
na Grécia Antiga e em Roma a primeira forma de tratamento de surdos. Para eles os surdos
eram incapazes e incompletos, e dessa forma não existia nenhuma forma de educação
oferecida aos que tinham essa deficiência. No Egito e na Pérsia eram vistos como enviados
dos deuses, mas a vida era inativa e sem educação. Soares (1999) afirma que até o fim da
Idade Média, os surdos eram considerados ineducáveis e que só a partir do século XVI o
médico Giordano Cadarno, preocupou-se seriamente com esse problema. Para ele, segundo a
autora (1999) os surdos podiam “ouvir lendo e falar escrevendo”. Na Idade Média, o surdo
não possuía nenhum tipo de direito. Não podia votar, casar-se entre si, nem receber a
comunhão ou receber herança de algum parente, nessa época todos os seus direitos eram
vetados.
O primeiro professor de surdos de quem se tem notícia foi Pedro Ponce de Leon (1529‐
1584), monge beneditino que instruía filhos de nobres ensinando‐os a ler, escrever, calcular e
expressar‐se oralmente. Mas somente no século XIII e início do XIX os alunos surdos
passaram a ter direito a escola propriamente dita e o registro das primeiras metodologias
adotadas pelos alfabetizadores. De acordo com Mazzota (1996) foi na Europa, especialmente,
na França, que os primeiros movimentos pelo atendimento dos surdos se deram, e tais
medidas foram se expandindo para outros países, inclusive para o Brasil.
Foi na França que se iniciou o primeiro método de alfabetização conhecida como a
Língua de Sinais, que segundo Mazzota (1996) foi aperfeiçoado pelo francês Abade Charles
M. L’Eppé, em 1770, destinado a completar o alfabeto manual, bem como a designar objetos
que não podiam ser percebidos pelos sentidos. Esse Abade teve sua prática reconhecida não
somente pelo seu método, mas também pela sua ação humana. Mazzota (1996) afirma que
L’Eppé recolhia crianças surdas e pobres das ruas de Paris para ensinar a nova língua, que
passou mais tarde a ser reconhecida como a língua oficial dos surdos, a língua de sinais.
Nesse período, o aluno surdo começou a ser reconhecido na escola. No entanto no final do
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século XIII e início do XIX, com o avanço do oralismo, os surdos passaram por grandes
sanções. Soares (1997) afirma que Hernerk inventou o método oral, denominado também de
método orofacial ou leitura labial. Esse método obrigava os alunos a esquecer a linguagem
com as mãos e gestos e passaram a usar apenas a linguagem oral.
Somente a partir de 1960 e início de 1770 surgiu uma nova concepção de educar os
surdos em substituição ao oralismo puro, denominado por Soares (1997) de comunicação total
quando o método oral começa a perder sua magnitude e passava a ser visto como método
tradicional de ensino. Para a autora a comunicação total significou um passo para emergir a
partir da década de 1990 a luta pelo Bilinguismo.
A partir desse momento o bilinguismo passa a ser a bandeira de luta dos surdos, como
própria de sua cultura, e assim começam a ganhar espaço na sociedade e fazer valer seus
direitos. Partindo desde a Conferência Mundial de Educação para Todos, realizado em
Jontien, 1990, onde a Inclusão e a democratização passaram a ser pautas primordiais, e mais
tarde em 1994 em Salamanca na Espanha, onde foi construído um documento oficial que
legaliza todas as Instituições educacionais a incluírem os alunos surdos nas salas regulares,
com acompanhamento especializado, e direito de ser respeitado na sua língua (a língua de
sinais), que ficou conhecido mundialmente com a Declaração de Salamanca.
Posteriormente, com influência da Declaração de Salamanca, foi criada no Brasil, uma
seção na Lei de Diretrizes da Educação Nacional‐ LDBEN 9394/96 que destaca normas para
o funcionamento da educação especial e para os profissionais que atuarão com essa clientela.
Os alunos, antes denominados como “deficientes”, passam a serem tratados como “alunos
com necessidades educativas especiais.”
Outro avanço na educação especial na educação de surdos foi a promulgação da Lei Nº
10.436 de 24 de abril de 2002 que diz:
Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua
Brasileira de Sinais ‐ LIBRAS e outros recursos de expressão a ela associados.
Parágrafo único. Entende‐se como Língua Brasileira de Sinais ‐ LIBRAS a forma de
comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual‐motora,
com estrutura gramatical própria, constitui um sistema lingüístico de transmissão de
idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. (Lei Nº10. 436
de 24 de abril de 2002).
Esse documento instaura na educação especial a educação bilíngue para os Surdos. O
fator de ter um decreto que legaliza a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como sistema
linguístico viso‐motora no Brasil, e ainda contemplar uma estrutura gramatical, pode definir a
partir de então a construção da identidade surda dentro do espaço escolar como grande
objetivo educacional. Nessa linha de pensamento, surge a importância de começar na
alfabetização o processo de conhecimento dessa língua para os não‐ouvintes.
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2.2 O processo de alfabetização do aluno surdo
A aquisição da linguagem das crianças surdas se dá a partir da capacidade humana de
significação que se apresenta como uma competência específica para a produção e
decodificação dos signos, permitindo através dela, produzir significados. O professor é o
agente formador/responsável por ter o papel fundamental nesse contexto. Dessa forma
Stainback (1999, p. 9) afirma:
Para dirigirem-se às necessidades dinâmicas dos alunos, em um número crescente de
salas de aula, os professores estão assumindo o papel de organizadores de
ambientação das salas de aula, das experiências de aprendizagem, dos recursos e das
condições dos procedimentos e das práticas para o ensino aprendizagem. A
participação do aluno, a interação e a aprendizagem interdependente são o foco
principal. Os recursos e as técnicas para fornecer informações e dirigir o currículo de
uma maneira que os alunos tenham não somente habilidades e as oportunidades, mas
também a motivação e o foco para dirigirem as suas necessidades de aprendizagem,
são os desafios do professor.
Nessa perspectiva de inclusão, Soares nos mostra o letramento como mudança na
maneira do surdo ver o mundo, e a capacidade de transformar sua realidade, esperando que
sua vida melhore cada vez mais. Portanto, a alfabetização do surdo tanto na língua materna
dele, que é a Libras, como no Português, a língua na qual se comunicam com a sociedade,
devem ser respeitadas como um individuo diferente apenas e não inferior aos demais.
O letramento não pode ser considerado um “instrumento” neutro a ser usado nas
práticas sociais quando exigido, mas é essencialmente um conjunto de práticas
socialmente construídas que envolvem a leitura e a escrita, geradas por processos
sociais mais amplos, e responsáveis por reforçar ou questionar valores, tradições e
formas de distribuição de poder presentes nos contextos sociais.” (SOARES, 1998,
p.75)
Para Magda Soares (1998, p.86) letramento pode ser estado ou condição de quem não
só sabe ler e escrever, mas exerce as práticas sociais da leitura e escrita, que circulam na
sociedade em que vivem, conjugando-as com as praticas sociais de interação oral.
Nessa linha de pensamento a alfabetização e letramento entrelaçam-se e assumem uma
postura de mesmo sentido, pois a alfabetização não é vista meramente como habilidade para
decodificar e compreender a escrita, mas quando os alunos são ou estão alfabetizados
começam a utilizar a leitura para que eles criem sua própria cultura. Contudo o letramento
vem promover e desenvolver os processos mentais, como a superação das dificuldades que
aparece em seu dia a dia, e treinar o raciocínio. A alfabetização não deve ser apenas no
sentido de decodificação e codificação da língua escrita. Deve alfabetizar letrando o surdo ao
mesmo tempo, levando em conta os diversos contextos nos quais as práticas sociais da língua
escrita acontecem nas pessoas com necessidades auditivas especiais.
A autora ainda ressalta que a alfabetização ocorre por meio de práticas sociais de
leitura e de escrita, ou seja, através de atividades de letramento, sendo realizada efetivamente,
por meio da aprendizagem das relações fonema/grafema. Nesse sentido os professores
necessitam estar capacitados para incluir estes alunos junto aos ouvintes na sala de aula.
Podemos dizer, que os alunos com necessidades especiais auditivas possuem dificuldades
assim como os ouvintes, ou seja, a alfabetização é feita através da memorização, logo, a
19
professora mostra a figura e mostra o sinal, e dessa forma o aluno surdo vai aprendendo
memorizar o alfabeto e dessa forma eles vão aprendendo as matérias escolares como os
ouvintes.
Diante diss,o podemos dizer que alfabetizar e letrar os alunos com necessidades
especiais auditivas é similar ao processo aplicado às pessoas ouvintes, pois ambas são
alfabetizadas com a teoria e letradas com as experiências vividas do indivíduo. A diferença é
que o surdo utiliza-se de sinais para se comunicar, então, é preciso que se trabalhe muito a
memorização.
Ferreiro afirma que “nenhuma pratica pedagógica é neutra. Todas estão apoiadas em
certo modo de conceber o processo de aprendizagem e o objeto dessa aprendizagem” (1990,
p.31).
Segundo o Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa (2012, p.28) entender as
implicações da surdez na alfabetização passa também pela compreensão da importância da
audição para alfabetizar em uma língua oral auditiva, cuja escrita alfabética é um sistema
notacional.
Portanto, os problemas tradicionais apontados como característicos da pessoa surda
são produzidos por condições sociais. Não há limitações cognitivas ou afetivas
inerentes à surdez, tudo depende das possibilidades oferecidas pelo grupo social para
seu desenvolvimento, em especial para a consolidação da linguagem (apud GÖES,
1996, p.38).
Contudo é papel do professor criar condições que facilitem a aprendizagem do aluno
surdo.
Nesse sentido, é necessário criar condições para a aprendizagem, já que a falta de
linguagem comum é o que dificulta esse processo. Para isso, é garantido a você,
educador, o apoio das salas de Atendimento Educacional Especializado (AEE), onde
o plano de ação conjunta entre escola, família, estudantes e parceiros deve buscar
estratégias válidas para os casos que se apresentam, partindo da avaliação das
condições concretas dos indivíduos. (PACTO NACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO
NA IDADE CERTA, 2012. p.28)
No que rege a lei, segundo o Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa (2012, p.30) o
Decreto nº 5.626/05, diz que a pessoa surda tem direito ao ensino da Libras e também da
Língua Portuguesa como segunda língua, desde a educação infantil.
No Art. 22, § 1o desse documento, por exemplo, são denominadas escolas ou classes
de educação bilíngue aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua
Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o
processo educativo. (PACTO NACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO NA IDADE
CERTA. 2012. p. 30)
Segundo Quadros e Schmiedt (2006, p.19), “a educação bilíngue depende da presença
de professores bilíngues”. O aluno surdo aprende uma língua na qual não fala ou não possui
maior fluência.
20
O Português é uma língua oral- auditiva e a Libras é visual-espacial, como toda
língua de sinais. Isso implica dizer que a criança, para adquiri-la, precisa ter o
contato com um usuário. (...) Nessa direção, pensar a alfabetização da pessoa surda
requer pensar em possibilitar o acesso à construção do conhecimento por meio da
língua de sinais, e para isso são necessários professores fluentes na Libras.
A alfabetização da escrita é um processo lento, a professora tem que mostrar figuras e
em seguida mostrar os sinais. Muitos alunos surdos terão dificuldade no aprendizado, mas
isso não significa que os alunos não irão aprender, por isso é importante que os alunos com
necessidade especiais auditivos aprendam primeiro a sua língua materna, ou seja, Libras.
Os alunos com necessidades especiais auditivas possuem dificuldades assim como os
ouvintes, a alfabetização e o letramento deles são através da memorização, a professora
mostra a figura e mostra o sinal, e dessa forma o aluno surdo vai aprendendo e memorizando
o alfabeto, e todas as imagens que a professora mostra, para que ele possa viver em sociedade
e aprender tudo que criança ouvintes aprendem nas escolas e pelo mundo a fora.
O processo de Alfabetização do aluno surdo é muito objetivo, pois os métodos variam
de acordo com cada necessidade do aluno. O método¹1 para se alfabetizar em libras é a
memorização.
2.3 Metodologia do professor no ensino de alunos surdos
O posicionamento de alguns professores se vê em um rumo contraditório ao que
Carvalho e Barbosa (2008) refletem sobre o que é ideal em sala, pois muitas vezes não
utilizam uma metodologia específica aplicada aos alunos surdos. As aulas são ministradas, em
sua grande parte, através de diálogos orais e atividades escritas sobre temas abordados durante
as classes que, em muitas vezes, no planejamento não engloba a forma de aprendizagem ou o
desempenho necessário ao aluno surdo. Fica evidente uma exclusão para esse aluno, uma vez
que de fato esta metodologia não realiza uma inclusão linguística necessária. E, como
consequência, resulta em grande dificuldade de comunicação por falta de uma Língua que os
una.
(...) o ensino da língua portuguesa para crianças surdas, principalmente em escolas
regulares, não tem considerado este fato e as crianças surdas, inseridas em classes de
crianças ouvintes recebem o mesmo tipo de atividade como se já tivessem adquirido
esta língua naturalmente e tivessem o mesmo desempenho das ouvintes. (FELIPE,
1997, p. 41).
É necessário que os professores ou profissionais de educação tenham compreensão do
que estão tratando e sobre o que estão falando, para que se tenha uma efetiva inclusão destes
alunos em uma turma de ensino regular. Devendo ser levado em conta que as experiências
1 Segundo Bunge (1980) método é um procedimento regular, explicito e passível de repetições para conseguir-se
alguma coisa, seja material ou conceitual.
21
visuais dos alunos surdos não são as mesmas dos ouvintes, uma vez que os alunos Surdos
privilegiam mais o canal visual e os alunos ouvintes o auditivo. O sujeito surdo se comunica
com o mundo a partir da experiência visual. Todas as suas construções de conhecimento
partem do campo visual que são mediados pelo seu instrumento natural de comunicação, que
é a LIBRAS e a linguagem escrita.
A metodologia²2 apropriada para a criança com surdez no seu processo educacional é a
criação de um ambiente bilíngue realizado por um profissional formado em LIBRAS, além do
professor, para atender essa criança dentro das salas de aula. Nesse sentido, o Decreto Nº
5.626, de 22 de Dezembro de 2005 regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que
dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais e diz.:
Art. 14. As instituições federais de ensino devem garantir, obrigatoriamente, às
pessoas surdas acesso à comunicação, à informação e à educação nos processos
seletivos, nas atividades e nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os
níveis, etapas e modalidades de educação, desde a educação infantil até à superior.
V- garantir o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos surdos,
desde a educação infantil, nas salas de aula e, também, em salas de recursos, em
turno contrário ao da escolarização;
Com este profissional presente no ambiente escolar é esperado que se faça a utilização
da Língua de Sinais e da Língua Portuguesa num contínuo processo dia a dia para que a
criança surda atendida possa receber todos os conhecimentos dos diferentes conteúdos
curriculares transmitido por diversos professores que venham atender à criança. Esse
atendimento deverá ser feito dia a dia acompanhando a criança durante o processo de ensino a
cada aula.
Esse profissional deverá apoiar-se além de sua experiência em Libras, de muitas
imagens visuais de todo tipo de referencia que venha colaborar para o aprendizado dos
conteúdos curriculares em estudo na sala de aula com a criança atendida.
O profissional que acompanha um aluno surdo deve procurar métodos e dinâmicas que
possam fazer transparecer os conhecimentos em relação ao tema estudado, seja em forma de
desenhos e gravuras ou por formas de associação feitas por analogias a nossa língua. Os usos
de recursos visuais são fundamentais para a compreensão da Língua Portuguesa de modo a
possibilitar ao aluno surdo associar o abstrato ao concreto, seguido de uma exploração
contextual dos conteúdos em estudo.
Os recursos didáticos utilizados na sala de aula comum para a compreensão dos
conteúdos curriculares devem ser previamente repassados com antecedência a este
profissional bilíngue para que ele possa vir preparado metodologicamente para atender seu
aluno nas aulas programadas.
2 Segundo Rodrigues (2007) metodologia é um conjunto de abordagens técnicas e processo utilizados pela
ciência para formular e resolver problemas de aquisição objetiva do conhecimento, de maneira sistemática.
22
Durante a transmissão e recepção dos conteúdos explorados, os professores de base
comum devem registrar o desenvolvimento que estas crianças surdas apresentam, interagindo
com o profissional que as acompanha.
É importante ressaltar que o bilinguismo pressupõe LIBRAS para todas as disciplinas
de ensino. Essa língua tem segundo os preceitos da educação bilíngue, o status da língua
materna do aluno surdo, ou seja, sua primeira língua.
Ao tratar especificamente sobre a relação pensamento-linguagem, Vygotski (2001)
considera a importância da linguagem para a comunicação entre as pessoas e, sobretudo, para
o desenvolvimento do indivíduo, como ser pensante. Para ele, linguagem e pensamento são
considerados unidades que expressam os significados da fala e, como tal, são indissociáveis.
Sendo assim, a manifestação concreta da linguagem transmitida-assimilada, basicamente, pelo
sentido oral-auditivo, adquire um estatuto privilegiado no estudo do desenvolvimento
humano. Paradoxalmente, considerando a afirmação de Vygotski de que a linguagem não
depende da natureza do meio material que utiliza, essa tendência é perfeitamente adequada
também aos estudos sobre surdez. Ela toca no ponto crítico de todos os esforços dos
profissionais envolvidos nessa área: o desenvolvimento da linguagem humana. Após diversas
e constantes tentativas de fazer os surdos expressarem-se oralmente (método oral ou
oralismo), atualmente, vários estudos consideram a importância de valorização da linguagem
natural dos surdos: a língua de sinais. Funcionalmente essa língua é o único meio capaz de
substituir a língua oral, utilizada pelos ouvintes.
É importante lembrar que o ensino da LIBRAS é uma linguagem com fins definidos: o
aluno surdo que adquire e aprende-a no início de sua escolarização (educação infantil e
primeira etapa do ensino fundamental) é aquele que terá experiências e competência
linguística suficiente para, não somente acessar o conhecimento, mas também transformar
esse conhecimento de forma crítica e ativa. E mais do que isso: a língua de sinais é a língua
por meio da qual as identidades surdas são constituídas e a cultura surda se manifesta de
forma efetiva.
23
3 DISCUSSÃO DE DADOS
Esse capítulo consiste em discorrer sobre as analises realizadas pela pesquisadora
acerca do tema pesquisado, a fim de responder a problemática lançada e possibilitar soluções
para práticas docentes futuras.
A pesquisa foi realizada em uma escola municipal da cidade de Caicó-RN , com os
instrumentos de observação e entrevistas, no período de 13 encontros com duração de 4h/aula,
sendo 8 em sala de aula regular, 2 em sala de Atendimento Educacional Especializado e 2
destinados às entrevistas realizadas com as duas professoras. Para descrição nas análises, a
seguir, a professora da sala de aula normal será identificada como P1, a professora
responsável pelo AEE na sala de recursos multifuncionais como P2 e a aluna surda objeto de
pesquisa como Q.
Durante o período de observação na sala de 1° ano onde a P1 atua foi possível detectar
uma ação docente voltada para o bilinguismo, mass com ressalvas, uma vez que a mesma não
possui formação em LIBRAS e atua com o conhecimento que foi interiorizado através de
pesquisas. Em sua dinâmica de sala está presente o uso de materiais concretos e visuais, onde
estabelece uma ligação entre o oral e o visual. Na rotina da sala, os procedimentos são
realizados oralmente e em Libras, possibilitando a aluna fazer a relação da língua materna e
de sua segunda língua. Suas metodologias estão voltadas para o intersecionismo do indivíduo
com o meio que o cerca, buscando sempre fazer uma relação ao contexto de cada indivíduo.
Em suas aulas foi possível notar o planejamento voltado para a aluna A e o seu
acompanhamento nas atividades a serem realizadas e participação da aluna na aula.
A aluna Q, em observação, encontra-se no nível pré-silábico, reconhecendo apenas
algumas letras do alfabeto e números (tanto em Libras quanto na língua portuguesa). Sua
escrita é representada por garatujas e algumas letras soltas sem significado sonoro. Seu
desenvolvimento na sala é um pouco conturbado, pois a aluna em alguns momentos não
acompanha ou completa as atividades, muitas vezes devido não está no nível exigido para a
realização de tal. Sua participação e interesse estão voltados de forma mais intensa em
atividades que envolvem pintura, dobradura, e recursos visuais.
Na prática da professora P2, na sala de recursos multifuncionais através do AEE há
uma atuação mais forte nas metodologias voltadas para a interação do visual com o oral o que
desperta maior interesse e rendimento da aluna Q. Nesse ambiente são trabalhados com essa
aluna o alfabeto, os números, as letras do nome da aluna, o relógio, as cores e alguns
pequenos textos, sendo todos oralizados e mostrados em LIBRAS, para que a criança possa
fazer a relação entre as duas línguas. Em sua prática, a professora P2 busca relacionar o que
está sendo trabalhado em sala de aula comum, para que possibilite a aluna evoluir na mesma
direção dos demais. É notório a diferença de interesse entre os dois ambientes, pois a aluna na
sala de AEE concretiza todos os seus trabalhos e se interessa pelo que está lhe sendo
apresentado, enquanto que na sala de aula normal fica inquieta e um pouco desconcertada.
24
Ambas as professoras comentaram que era seu primeiro contato com alunos surdos em
sala de aula e ao serem questionadas quanto a capacitação responderam:
Professora P1
Bem, assim, capacitação nós fizemos um curso na área de educação especial, se
não me engano em 2004 mais são essas coisas assim que eles mandam e são praticamente
jogadas (...) então dentro de uma tarde nos tivemos uma aula de intérpretes para
aprender a língua de sinais. E assim, não condiz com nossa realidade na sala de aula,
porque você sabe que para poder ter essa experiência a gente teria que ter a prática, não
basta você ver apenas a teoria. Então eu acho que um dia ou uma tarde para você
aprender LIBRAS não é suficiente, assim como as outras modalidades de educação
inclusiva que teve nesse curso de 380 horas, que assim eu acho muito vago, pois era para
ter uma continuação.
Professora P2
“ Fiz um treinamento pela prefeitura em mais ou menos uns, não sei o tempo, mais eu
fiz, mais era incluindo tudo, não só era para aluno surdo não. Era para todas as
deficiências.”
Em sua fala as professoras P1 e P2 ressaltam a falta de capacitação, uma vez que o
período que foi oferecido, não condiz com a necessidade da prática, pois segundo a mesma
não há capacidade de absorver e por em prática uma língua como a LIBRAS que necessita de
prática para se falar fluentemente. Segundo o DECRETO Nº 5.626, de 22 de dezembro de
2005 as instituições federais de ensino devem garantir e promover cursos de formação de
professores para o ensino e uso de Libras, além de prover as escolas o professor de Libras ou
instrutor de Libras.
Quando questionada sobre o planejamento adotado para trabalhar em sala de aula com
a aluna surda Q a professora nos responde:
Professora P1
A gente planeja tentando visualizar o aluno surdo por que ele não pode ficar alheio as
coisas, mais assim, você além de planejar tem que ter os recursos, e muitas vezes não
tem. Você tem que improvisar. (...) eu utilizo o pouco que eu consegui guardar da
graduação, que são poucas coisas e a gente tenta utilizar e alguns materiais que a gente
confecciona por que não tem mesmo.
25
Durante sua prática docente, a professora trabalha uma sistemática que visa à inclusão
da aluna surda nas atividades realizadas. Seu trabalho está voltado para o visual e oral, onde a
oralização permite a aluna surda se situar e absorver o que está sendo trabalhado pela
professora. Em uma de suas aulas a professora P1 propôs a construção de um supermercado,
para iniciar essa construção a professora sugeriu a separação dos produtos em alimentos,
higiene e limpeza. Nesse momento foram distribuídos vários rótulos entre os alunos com o
objetivo de que tentassem descobrir o nome do produto e em que quadro aquele produto se
enquadraria. Após um tempo destinado para a observação do produto cada aluno ia ao centro
e junto com a professora soletrava oralmente e em LIBRAS o nome de cada produto. O
interessante é que ao chegar a vez da aluna surda, mesmo não sabendo ler conseguiu
identificar as letras em Libras e oralmente, comprovando que a partir do que se consegue
chegar a absorção do conhecimento que está sendo mostrado a esse aluno.
Continuando com as perguntas, as professoras foram questionas sobre como acontecia
o processo de alfabetização do aluno surdo. A professora P1 em sua fala reflete um pouco das
metodologias utilizadas em sala com a aluna Q, que retrata o desenvolvimento da oralização,
da leitura labial, da aprendizagem de LIBRAS e da língua portuguesa a partir da sua realidade
, além da dificuldade devido não ter o acompanhamento da aluna com um intérprete, pois para
que esse processo se efetive é necessário utilizar recursos que sejam necessários para
aprendizagem dessa aluna, e sendo sua língua materna a LIBRAS é algo indispensável a
presença de um profissional habilitado para essa função.
Professora P1
Dentro da interação, sempre utilizando o visual, porque ela é surda então a gente
vai trabalhar mais o visual. A oralidade, nesse atendimento está próximo a criança, falar
e gesticular a sua voz. Você vai ter que falar mais direcionado para ela , para fazer com
que ela tenha uma leitura labial e a Libras, mais assim eu não sou capacitada para isso.
É por isso que se tem a necessidade de ter um interprete que pela lei, pelo papel, teria
que ter um interprete, mais na realidade não existe isso.
Em concordância com a Professora P1 a P2 ressalta-se a construção do conhecimento
através da relação do abstrato com o concreto, fazendo menção ao que chama a atenção do
aluno e ao que está inserido em seu contexto social. E nos revela que está também em um
processo de aprendizagem, uma vez que não possuía contato com uma sala de AEE.
26
Professora P2
Eu creio muito nessa questão de você mostrar o concreto, fazer comparação da
teoria com o concreto. Eu creio assim, eu, no primeiro momento estou fazendo assim.
Também não sei ainda porque “tô” tento o primeiro contato agora né, diretamente para
trabalhar aqui. Sempre quando eu estava na sala de aula eu buscava isso, mostrar o
visual e a teoria. Tipo trabalhar as letras mostrando o visual com o concreto para ele
fazer essa associação.
O professor como ser educador deve estar em constates transformações a fim de
atender a necessidades do aluno. Essa tarefa é árdua e constante, devendo ser reflexiva e
flexível, pois cada indivíduo possui sua especificidade. Nesse sentindo, a professora P1 foi
questionada em quais metodologias eram utilizadas em sala para alfabetizar o aluno surdo.
Professora P1
O aluno surdo consegue captar as coisas que lhe são passadas através do visual,
daquilo que pode ser percebido pela sua visão. Então procuro trabalhar assim,
mostrando gravuras, fotos, imagens e objetos que estão relacionados com o que eu estou
trabalhando naquele momento. Além de relacionar as palavras em língua portuguesa
com a LIBRAS, pois como ela consegue fazer leitura labial ela faz a relação entre as
duas.
O professor como mediador do conhecimento e bom observador que é, consegue
detectar quais metodologias funcionam com maior aproveitamento com cada aluno. No caso
do aluno surdo, o professor tem que buscar por métodos que usem recursos visuais que
possuam significado para o que está sendo apresentado como conteúdo. Além disso, o
bilinguismo deve estar presente durante todo o período do ambiente de aprendizagem que ele
estar inserido. O professor tem que proporcionar um ambiente que seja inclusivo a esse aluno,
não o deixando alheio aos demais, por isso, seja qual for a atividade ou dinâmica da sala ele
deve está inserido com metodologias que o ajude a compreender e avançar na sua construção
de conhecimento. O aluno surdo assim como qualquer outro aluno necessita desenvolver sua
linguagem para poder avançar e se comunicar com os demais. E é a partir do campo visual
que isso acontece. Segundo Vigotski (2001), a linguagem é responsável pela regulação da
atividade psíquica humana, pois é ela que permeia a estruturação dos processos cognitivos.
Assim, é assumida como constitutiva do sujeito, pois possibilita interações fundamentais para
a construção do conhecimento. A linguagem é o principal mediador das funções cognitivas,
mesmo não sendo o único, uma vez que, os gestos podem funcionar como linguagem, mas
não devem ser a única forma de interação existente para a comunicação entre o surdo e outros
indivíduos.
27
No referente efetivação da concretização do processo de alfabetização foi questionada
a professora como identificar se esse processo está acontecendo, ela respondeu:
Professor P1
Através do contato visual e o movimento labial, e com certeza se ela estiver sendo
acompanhada com uma pessoa especializada para isso com certeza ela iria avançar e se
desenvolver muito mais. A aprendizagem ela sempre acontece (...) eu sempre acredito
que a criança embora qualquer deficiência que ela tenha. Tendo esse convívio na sala
com as outras crianças sendo frequente ela sempre vai aprender alguma coisa, vai
desenvolver em algum aspecto.
A aluna surda responde aos estímulos lançados, então se o professor estiver atento a
suas necessidades ele as suprirá e ajudará a identificar o avanço desse processo. O professor
consegue detectar o processo de alfabetização desse aluno a partir de pequenas respostas
dadas continuamente, seja em atividades ou rotinas diárias.
Se o aluno corresponde aos estímulos e consegue avançar no seu processo de
alfabetização, como o professor pode avaliar esse aluno. Nessa linha de pensamento a
professora respondeu:
Professor P1
A gente avalia assim, como as outras crianças também (...) cada um tem s suas
necessidades, tem suas dificuldades e a gente deve levar em consideração isso. Cada
avanço é uma vitória e a gente tem que avaliar assim: pela participação na aula, pela
resposta que ela esta dando naquele dia, sendo diária e contínua.
O aluno surdo assim como o ouvinte possui seu ritmo de aprendizagem diferenciado,
nesse sentindo o educador deve possuir um olhar crítico de avaliação com o objetivo de
analisar cada avanço ou regressão desse aluno. O aluno surdo necessita de um
acompanhamento mais atencioso, mais sua avaliação deve ocorrer da mesma forma que os
demais, sendo de forma contínua, processual, valorizando os acertos e partindo dos erros para
se conseguir um avanço futuro. É oportuno ressaltar que a avaliação desse aluno se dá em
varias dimensões, uma vez que seu processo de alfabetização consiste a LIBRAS, a língua
portuguesa e o oralismo, nesse sentido esse processo deve ser proporcionado com uma
interlocução entre ambas as partes para que o aluno consiga avançar com os aspectos
necessários para a compreensão de ambos.
Tendo observado o trabalho desenvolvido pela professora P2 na sala de recursos
multifuncionais foi questionado a ela qual a atuação do AEE na concretização do processo de
alfabetização, tendo a resposta a seguir:
28
Professor P2
Eu trabalho assim, embora, agora seja o meu primeiro ano que eu trabalho nessa sala,
não tinha esse contato e na sala de aula comum é diferente, a gente procura mostrar o
conteúdo e uma imagem, uma coisa assim, aqui é mais assim a criança que tá não é
alfabetizada, não conhecia ainda o nome, nem os números e em nada, assim devia ter o
conhecimento visual, mais para fazer a relação e dizer se é um A, se é uma letra, ela não
sabia, então o que é que eu procurei fazer sempre mostrando a ela primeiro o concreto,
tentando que ela visualizasse, por exemplo o nome dela, o crachá, sempre mostrando o
crachá, bota outros crachá para ver se ela procura o nome dela já, então sempre
funcionava, a pratica, por exemplo uma atividade, um objetivo, se eu quero trabalhar os
números então eu procuro uma atividade que ela tenha prática com os números, do
mesmo jeito o alfabeto, as letras, o nome, sempre eu trago o concreto para ela descobrir
se ela sabe, sempre utilizando a língua portuguesa e a Libras, do meu jeito porque eu
não tenho curso de Libras, então eu tenho consciência de que eu nunca fiz esse negócio,
esse curso, é o conhecimento que eu busco, por exemplo, eu vô trabalhar agora, então eu
estou aprendendo as cores, eu estou explorando, então eu estou tentando ver se eu
mostro as cores, o alfabeto eu já aprendi, os números, dias da semana, eu vô aprendendo
e passando para ela, apesar de ter a resistência da mãe de não fazer isso, porque ela me
pediu que eu não fizesse isso. Quando ela estava aqui comigo eu não fazia, ela insistia
que eu não fizesse, quando ela começou a sair eu comecei a trabalhar, porque eu sei que
por lei nos temos que trabalhar o bilinguismo, então eu procurei fazer isso, mais sem
autorização dela
O AEE é um serviço da educação especial que deve ser oferecido na escola que
identifica, elabora, e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, para contribuir no
ensino e na aprendizagem do aluno e eliminar as barreiras para a plena participação dos
alunos, considerando suas necessidades específicas. No caso do aluno surdo, o professor
responsável por esse atendimento deve apresentar e trabalhar a língua de sinais, a língua
portuguesa e a oralidade partindo sempre do campo visual. Nesse atendimento, o professor
deve ter um planejamento diferenciado ao da sala de aula comum, uma vez que seu objetivo é
ajudar o aluno a desenvolver suas habilidades de compreensão, além da complementação
suplementação a formação do aluno com o intuito de desenvolver nele mais autonomia e
independência na escola ou fora dela, não devendo ser confundido como aula reforço. O
trabalho desenvolvido nesse ambiente é efetivado de forma bilíngue para a absorção de
códigos de linguagens necessários para cada comunicação.
As professoras também foram questionadas sobre quais as dificuldades existentes no
processo de alfabetização do aluno surdo e apresentaram a seguinte fala:
29
Professora P1
A questão da própria capacitação em si, porque se você não tiver esse conhecimento
você vai ter dificuldade no planejamento, de como você elaborar e procurar as melhores
metodologias, recursos e matérias para habituar aquela criança a ler aquela realidade,
porque ela não pode estar tão ausente dos demais. O interessante de observar é que essa
questão do preconceito não existe, a falta que sinto é mais dos recursos, materiais, do
interprete.
Professora P2
A dificuldade é não saber falar fluente Libras, porque eu não sei, além da resistência de
ela não querer, tinha essa resistência. Eu estou tentando aprender, mais ela tem a
resistência também de não querer aprender devido a mãe não querer, que também é
uma grande dificuldade. A falta de material também, pois na escola só tem dois matérias
relacionado a Libras e todos os outros somos nós aqui da sala que produzimos, então se
eu vô trabalhar o alfabeto, sou eu quem produzo, é assim.
Em algumas realidades escolares alguns profissionais passam pela experiência de não
ter uma qualificação adequada a que se necessita para atender há algum tipo de especificidade
e isso reflete na aprendizagem do aluno. Mesmo tendo direitos assegurados pela lei os surdos
ainda não possuem o seu uso efetivo, pois na prática, muitas vezes, não existem recursos
necessários para sua aprendizagem, não tem muitos materiais na escola em língua de sinais, o
auxiliar que devia está acompanhando esse aluno muitas vezes é o intérprete, que o
profissional adequado para essa função e, infelizmente, isso acarreta danos no
desenvolvimento do aluno e no seu processo de ensino e aprendizagem.
Professora P1
Mais investimentos por parte da secretaria de educação e dos órgãos responsáveis. Mais
recursos, matérias. Ter cursos para os profissionais principalmente os das salas de AEE.
Por que o que acontece é o seguinte, você inscreve um aluno no senso e ele tem essa
deficiência é pra vir os matérias e até o livro didático que não tem nada a ver com a
realidade do aluno. Você faz o cadastro e tudo mais nunca vem o material necessário e
você que está na sala de aula tem que se virar.
Professora P2
A questão do material, porque devia ter um material bem rico. A gente ter esse suporte
que a gente também não tem, a questão do interprete que é essencial e a gente também
30
não tem, por aqui, meu trabalho era para ser o pedagógico e ter alguém para trabalhar
com ela, a Libras.
Para que o professor possa ter subsídios para proporcionar uma educação de qualidade
é necessário que se tenha recursos e materiais necessários. O aluno surdo, por exemplo,
necessita de livros em libras, de materiais visuais para que possa ter um ensino mais rico e
com mais fontes de referencia. É direito do aluno com deficiência ter acessos que possibilitem
o seu desenvolvimento escolar e social, que lhe proporcione uma educação de qualidade e
igualitária.
A surdez, segundo Perlin (1998), deve ser encarada como uma diferença a ser
respeitada, e não como uma "anomalia" a ser eliminada, pois o surdo apresenta cultura e
identidades próprias. O preconceito em relação a esses alunos e à sua cultura deve ser desfeito
através de esclarecimentos e intervenções realizados pelo professor em sala de aula. Somente
assim teremos uma inclusão satisfatória e é a partir de uma educação inclusiva que isso
acontece.
É importante ressaltar que mesmo não estando narrado nas falas das professoras P1 e
P2, durante a observação foi possível detectar que o trabalho de alfabetização da aluna Q
acontece por meio de práticas que utilizam o material concreto como recursos de interação e
entre o que está sendo proposto com a linguagem oral, o campo visual da aluna e a sua língua
materna, a LIBRAS, possibilitando que a criança faça um relação com o concreto e o abstrato
possibilitando a codificação e decodificação do que está sendo proposto na metodologia do
professor.
31
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A elaboração e conclusão do trabalho monográfico é um momento de suma
importância na vida de um graduando, é nessa fase que se tem um contato direto com a
pesquisa de forma concreta e sistematizada. A curiosidade acerca do tema escolhido flui de
forma incontrolável e a busca por descobertas possibilitam a construção do conhecimento
acerca do que será produzido.
No primeiro contato com o tema e na busca de materiais que subsidiassem o trabalho,
a pesquisadora estava inquieta e com sede de mais conteúdos que somassem com seu
trabalho, com o intuito de relevar, fundamentar e realizar uma análise que proporcionasse
frutos futuros. Devido ao tempo corrido e as dificuldades encontradas durante a realização da
pesquisa, além da condição física e psicológica da pesquisadora o trabalho foi árduo, mas
prazeroso. Sendo a problemática voltada há quais metodologias e comportamentos o professor
deve utilizar no processo de alfabetização do aluno surdo com o objetivo de compreender as
estratégias de ensino necessárias para a alfabetização desse individuo a partir das
metodologias, concepções e ações docentes, a pesquisadora conseguiu caracterizar o seu
objeto e lócus de estudo.
Suas investigações permitiram a concretização de argumentações da realidade da
educação e alfabetização do aluno surdo ocorrido a partir de estudo de caso e pesquisa
qualitativa através de observações e entrevistas com a intenção de conhecer como acontece o
processo de alfabetização do aluno surdo e que metodologias o professor utiliza para que ele
aconteça se estendendo também a sala de recursos multifuncionais e o AEE com a intenção de
identificar seu trabalho durante esse processo.
Durante a investigação, a pesquisadora conseguiu concretizar o que havia encontrado
na pesquisa bibliográfica, onde a teoria fundamentada na pesquisa caminha na mesma linha
de pensamento da prática docente nesse contexto analisado. É importante ressaltar que a
alfabetização do aluno surdo se concretiza através do bilinguismo, do campo visual a partir da
socialização e interação do oral e campo visual e o professor como educador deve promover a
partir dessas metodologias a sua inclusão no contexto educacional. As metodologias
facilitadoras para que esse processo ocorra se dão a partir da junção entre o concreto e o
abstrato, onde o professor associa o material, paralelo ao oral e o visual, fazendo o exercício
da memorização, codificação e decodificação do que está sendo exposto.
O aluno surdo tem o direito de ser alfabetizado assim como qualquer aluno, e para isso
o educador necessita criar condições que favoreçam esse processo, uma vez que esse se
concretiza de forma conjunta com a língua de sinais, a língua portuguesa e o oralismo.
A pesquisadora acredita que o trabalho monográfico apresentado tenha alcançado
seus objetivos, mesmo com as lacunas que aparecem em meio ao estudo, uma vez que o tema
abordado é complexo e abrangente, pois seria impraticável englobar questões como a
alfabetização e a educação especial em um trabalho monográfico, assim acredita que o estudo
realizado servirá de aporte para outras pesquisas na área, além de proporcionar uma reflexão
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nas condições que são oferecidas às crianças com alguma deficiência na rede pùblica de
ensino, em evidencia a surdez retratada nesse trabalho, durante seu processo de alfabetização,
podendo surgir nesse sentido novos estudos nesse contexto que possibilitem subsidiar a
prática docente seja na sala de aula ou em outro ambiente com caráter pedagógico.
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2001.
APÊNDICES
ENTREVISTA DESTINADA A PROFESSORA DA TURMA DE 1° ANO DO
ENSINO FUNDAMENTAL.
ROTEIRO DA ENTREVISTA COM A PROFESSORA P1
Esse é seu primeiro contato com alunos surdos?
Tem alguma capacitação na área?
Tem algum planejamento especifico para alunos surdos?
Na sua concepção, como se dá o processo de alfabetização do aluno surdo?
Que metodologias o professor deve utilizar para alfabetizar esse aluno?
Como o educador pode identificar se esse processo está acontecendo?
Que práticas devem ser usadas para avaliar esse processo em seu avanço ou
regressão?
A escola oferece meios que possibilite desenvolver esse processo?
Você considera o material didático-pedagógico adequado para esses alunos?
Quais são as maiores dificuldades no processo de alfabetização do aluno
surdo?
O que você acredita ser necessário na escola para complementar o processo
de aprendizagem desse aluno?
ENTREVISTA DESTINADA A PROFESSORA DA SALA DE RECURSOS
MULTIFUNCIONAIS
ROTEIRO DA ENTREVISTA COM A PROFESSORA P2
Esse é seu primeiro contato com alunos surdos?
Tem alguma capacitação na área?
Na sua concepção, como se dá o processo de alfabetização do aluno surdo?
Como a sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE) atua para a
concretização desse processo?
Quais são as maiores dificuldades no processo de alfabetização do aluno surdo?
O que você acredita ser necessário na escola para complementar o processo de
aprendizagem desse aluno?