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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” O psicopedagogo na escola Márcia Penna Fernandes ORIENTADORA SIMONE FERREIRA Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

O psicopedagogo na escola

Márcia Penna Fernandes

ORIENTADORA

SIMONE FERREIRA

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

O psicopedagogo na escola

Rio de Janeiro

2011

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia. Por: Márcia Penna Fernandes

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AGRADECIMENTOS

Ao meu pai e minha mãe Maurício de Castro

Fernandes e Márcia Neves Penna Fernandes e meus irmãos:

Marina Penna Fernandes Pereira, David Penna Fernandes e

Ester Penna Fernandes e vou estender ao meu cunhado Carlos

Gomes Pereira que teve participação na realização da

monografia e não somente isso, mas a todos da minha família

pela paciência e espera nas tardes de sábado que estive ausente.

A todos os professores que de alguma forma

provocaram e contribuíram para ter mudanças dentro de mim,

num sentido de aprendizagem e de vida. Especialmente aos

professores Simone de Oliveira Ferreira que orientou essa

monografia e me deu aula na disciplina Alterações no Processo

de Aprendizagem e ao Eliseu de Oliveira Neto que faltou tempo

para ter mais conteúdo.

A todos os meus amigos que me apoiaram.

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DEDICATÓRIA

Ao meu Deus, meu Único e Verdadeiro que é Digno de

receber a honra, a glória e o louvor, por ter me capacitado a

concluir este curso. Abaixo estão dois versículos da bíblia que

expressam o meu sentimento de chegar ate aqui.

“Eu te louvarei, Senhor, de todo o meu coração; contarei todas

as tuas maravilhas.

Em ti alegrarei e saltarei de prazer; cantarei louvores ao teu

nome, ó Altíssimo.”

Salmos, capítulo 9, versículo 1 e 2.

“...Ate aqui nos ajudou o Senhor”

1 Samuel, capitulo 7, versículo 12

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RESUMO

No presente trabalho será feito a explanação sobre os conceitos de problemas de

aprendizagem, as formas e os tipos de aprendizagem e as possíveis soluções para os

problemas de aprendizagem. O papel do psicopedagogo, quem é o profissional, a função

social e a importância ao quadro educacional. As estratégias de prevenção dos

problemas de aprendizagem da escola, do psicopedagogo e da família. As diferentes

atuações do psicopedagogo dentro da instituição escolar, no foco professor, aluno e

professor e aluno conscientizando os demais profissionais da importância do papel

desse profissional na escola onde vai estar capacitado para ajudar em relação à

aprendizagem. O ato de aprender foi, é, sempre será a única forma de nós relacionarmos

com as pessoas. Aprender é fazer de uma informação, de um conceito, uma ferramenta

de transformação de atitude ou postura. Aprender também é a ferramenta indispensável

para capacitação e enfrentamento de mudanças sociais e profissionais, é estar aberto

para construir conhecimentos, é modificar o cotidiano, desenvolver ações que se

revertem em benefício próprio e é um processo longo e difícil que representa a vida

como um exercício diário de aprendizagem. Entender é a chave para aprender e aplicar

o que é aprendido, ou seja, aqui que se dá à aprendizagem significativa onde o novo

conteúdo é incorporado as estruturas de conhecimento de um aluno e adquire

significado para ele, a partir da relação com seu conhecimento prévio. O aluno precisa

ter uma disposição para aprender, ou seja, tem que ter um desejo, uma motivação para o

conteúdo escolar a ser aprendido para ser potencialmente significativo onde tem que ter

significado lógico que depende somente da natureza do conteúdo e o significado

psicológico ligado a experiência que cada indivíduo tem. Cada aprendiz faz uma

filtragem dos conteúdos que tem significado ou não para si próprio. A aprendizagem

significativa envolve três atributos articulados entre si. Os conhecimentos que é a

cognição, habilidades que são as tendências desenvolvidas e as atitudes que é a

capacidade de operar.

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METODOLOGIA

Foi realizada pesquisa bibliográfica e teórica em todo traballho. A maioria

das fontes foi de internet, livros e artigos.

No começo a monografia foi baseada na Teoria Psicogenética, mas no

decorrer do texto tem mais teóricos aprofundados como o mais conhecido Vygotsky,

dentre outros como poderão observar.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 8

CAPITULO 1 ...........................................................................................................................11

Conceito de problemas de aprendizagem

CAPITULO 2 ........................................................................................................................... 45

O papel do psicopedagogo na escola

CAPITULO 3 ............................................................................................................................ 53

Estratégias de prevenção dos problemas de aprendizagem

CAPITULO 4 ............................................................................................................................ 94

Áreas de atuação do psicopedagogo

CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 119

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 121

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INTRODUÇÃO

O trabalho científico aqui apresentado abordara a Psicopedagogia Institucional

em que o foco vai ser o psicopedagogo na escola. A psicopedagogia institucional tem

três áreas de atuação. Na empresa, na escola e no hospital. O foco dessa pesquisa é o

psicopedagogo na escola, como ele atua dentro dessa instituição. Como o professor lida

com a ajuda desse profissional? Quando o psicopedagogo está preparado para trabalhar

na escola?

Conscientizar os demais profissionais da importância do papel desse profissional

na escola onde vai estar capacitado para ajudar em relação à aprendizagem. O ato de

aprender foi, é, e sempre será a única forma de nos relacionarmos com as pessoas.

Aprender é fazer de uma informação, de um conceito, uma ferramenta de transformação

de atitude ou postura. Aprender também é a ferramenta indispensável para capacitação e

enfrentamento de mudanças sociais e profissionais, é estar aberto para construir

conhecimentos, é modificar o cotidiano, desenvolver ações que se revertem em

benefício próprio e é um processo longo e difícil que representa a vida como um

exercício diário de aprendizagem. Entender é a chave para aprender e aplicar o que é

aprendido, ou seja, aqui que se dá à aprendizagem significativa ao qual o novo conteúdo

é incorporado as estruturas de conhecimento de um aluno e adquire significado para ele,

a partir da relação com seu conhecimento prévio.

O aluno precisa ter uma predisposição para aprender, ou seja, tem que ter um

desejo, uma motivação para o conteúdo escolar a ser aprendido para ser potencialmente

significativo onde tem que ter significado lógico que depende somente da natureza do

conteúdo e o significado psicológico ligado a experiência que cada indivíduo tem. Cada

aprendiz faz uma filtragem dos conteúdos que tem significado ou não para si próprio. A

aprendizagem significativa envolve três atributos articulados entre si. Os conhecimentos

que é a cognição, habilidades que são as tendências desenvolvidas e as atitudes que é a

capacidade de operar. Existem cinco dimensões do processo de aprendizagem onde os

alunos precisam passar para tê-lo o aprendizado significativo. Os alunos precisam ter

atitudes e percepções positivas sobre a aprendizagem onde diz respeito aquilo que tem

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que ser feito para desenvolver nos alunos atitudes e percepções positivas em relação à

aprendizagem e isso inclui quatro blocos de itens. O conforto físico, A aceitação por

professores e colegas, Regras claras quanto a procedimentos e a Adequação das tarefas

propostas. Os alunos precisam identificar padrões ou ligar à informação nova a

informação de que já dispõem. Formas de ajudar o aluno a adquirir conhecimento,

integrá-lo como conhecimento que já tem e rete-lo na memória, Ligar o conhecimento

novo ao conhecimento já existente para a criação de modelos mentais e a fixação do

conhecimento na memória permanente, Conhecimento declarativo (saber que) e

conhecimento procedural (saber como). Os alunos precisam ampliar e refinar o

conhecimento. Ir além daquilo que já aprendeu acrescentando novos conceitos e

estabelecendo novas relações. Exige atividades como questionar, comparar, classificar,

fazer induções, fazer deduções, abstrair, analisar erros e analisar perspectivas. Os alunos

precisam aplicar e usar o conhecimento de forma significativa. Dar sentido aquilo que

se aprende contextualizar, Transferência de conhecimento através de cinco classes de

atividades. A tomada de decisão, Resolução de problemas, Invenção, Pesquisa e

Indagação experimentação. Os alunos precisam cultivar hábitos mentais positivos

incentivados pelo professor facilitador através de jogos, estímulos a leitura e raciocínio

lógico, feedback sistematizado e possibilidades de correções de rumo. Os objetivos

dessa pesquisa será o papel desse profissional junto com os demais profissionais dentro

da escola.

As estratégias de prevenção que o professor deve ter para os problemas e

dificuldades dos alunos. A atuação do psicopedagogo com o aluno. Como esse

profissional trabalha para solucionar as dificuldades?

O objetivo geral desse estudo e mostrar a atuação do psicopedagogo na escola

como especialista em aprendizagem, onde junto com os outros profissionais da escola

trabalhe afim de que o aluno consiga aprender.

O professor deve lidar positivamente com a intervenção do psicopedagogo

porque esse profissional esta apto para verificar as dificuldades de aprendizagens dos

alunos juntamente com eles. Esse profissional está preparado para trabalhar na escola

quando se está qualificado em dar assistência aos professores e outros profissionais da

instituição escolar para melhoria das condições do processo ensino-aprendizagem,

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trabalhando com foco na prevenção dos problemas de aprendizagem, fortalecendo a

identidade da instituição, procurando sintonizá-la com a realidade que está sendo

vivenciada no momento histórico atual e buscando adequar essa escola as reais

demandas da sociedade.

É esperado com esse trabalho mostrar as diferentes áreas de atuação do

psicopedagogo dentro da escola fazendo com que os profissionais da educação dentro

da instituição escolar tenham conhecimento dos problemas de aprendizagens dos alunos

para que possam dentro da realidade de cada um favorecer a aprendizagem significativa.

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CAPITULO 1

CONCEITO DE PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM

O desenvolvimento humano refere-se ao desenvolvimento mental e ao

crescimento orgânico. O desenvolvimento mental é uma construção contínua, que se

caracteriza pelo aparecimento gradativo de estruturas mentais. Estas são formas de

organização da atividade mental que se vão aperfeiçoando e solidificando até o

momento em que todas elas, estando plenamente desenvolvidas, caracterizarão um

estado de equilíbrio superior quanto aos aspectos da inteligência, vida afetiva e relações

sociais.

Algumas dessas estruturas mentais permanecem ao longo de toda a vida. Por

exemplo, a motivação está sempre presente como desencadeadora da ação, seja por

necessidades fisiológicas, seja por necessidades afetivas ou intelectuais. Essas estruturas

mentais que permanecem garantem a continuidade do desenvolvimento. Outras

estruturas são substituídas pela autonomia moral do adolescente ou, outro exemplo, a

noção de que o objeto existe só quando a criança o vê (antes dos 2 anos) é substituída,

posteriormente, pela capacidade de atribuir ao objeto sua conservação, mesmo quando

ele não está presente no seu campo visual.

A criança não é um adulto em miniatura. Ao contrário, apresenta características

próprias de sua idade. Compreender isso é compreender a importância do estudo do

desenvolvimento humano. Estudos e pesquisas de Piaget demonstraram que existem

formas de perceber, compreender e se comportar diante do mundo, próprias de cada

faixa etária, isto é, existe uma assimilação progressiva do meio ambiente, que implica

uma acomodação das estruturas mentais a este novo dado do mundo exterior.

Estudar o desenvolvimento humano significa conhecer as características comuns

de uma faixa etária, permitindo-nos reconhecer as individualidades, o que nos torna

mais aptos para a observação e interpretação dos comportamentos.

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Todos esses aspectos levantados tem importância para a Educação. Planejar o

que e como ensinar implica saber quem é o educando. Por exemplo, a linguagem que

usamos com a criança de anos não é a mesma que usamos com um jovem de 14 anos.

E, finalmente, estudar o desenvolvimento humano significa descobrir que ele é

determinado pela interação de vários fatores.

Vários fatores indissociados e em permanente interação afetam todos os aspectos

do desenvolvimento. São eles:

→ Hereditariedade – a carga genética estabelece o potencial do indivíduo, que

pode ou não desenvolver-se. Existem pesquisas que comprovam os aspectos genéticos

da inteligência pode desenvolver-se aquém ou além do seu potencial, dependendo das

condições do meio que se encontra.

→ Crescimento Orgânico – refere-se ao aspecto físico. O aumento de altura e a

estabilização do esqueleto permitem ao individuo comportamentos e um domínio do

mundo que antes não existiam. Pense nas possibilidades de descobertas de uma criança,

quando começa a engatinhar e depois a andar, em relação a quando esta criança estava

no berço com alguns dias de vida.

→ Maturação Fisiológica – é o que torna possível determinado padrão de

comportamento. A alfabetização das crianças, por exemplo, depende dessa maturação.

Para segurar o lápis e manejá-lo como nós, é necessário um desenvolvimento

neurológico que a criança de 2, 3 anos não tem. Observe como ela segura o lápis.

→ Meio – o conjunto de influencias e estimulações ambientais altera os padrões

de comportamento do indivíduo. Por exemplo, se a estimulação verbal for muito

intensa, uma criança de 3 anos pode ter um repertório verbal muito maior do que a

média das crianças de sua idade, mas, ao mesmo tempo, pode não subir e descer com

facilidade uma escada, porque esta situação pode não ter feito parte de sua experiência

de vida.

O desenvolvimento humano dever ser entendido como uma globalidade, mas,

para efeito de estudo, tem sido abordado a partir de quatro aspectos básicos:

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→ Aspecto Físico-Motor – refere-se ao crescimento orgânico, a maturação

neurofisiológica, a capacidade manipulação de objetos e de exercício do próprio corpo.

Exemplo: a criança leva a chupeta à boca ou consegue tomar a mamadeira sozinha, por

volta dos 7 meses, porque já coordena os movimentos das mãos.

→ Aspecto Intelectual – é a capacidade de pensamento, raciocínio. Por

exemplo, a criança de 2 anos que usa um cabo de vassoura para puxar um brinquedo

que está embaixo de um móvel ou o jovem que planeja seus gastos a partir de sua

mesada ou salário.

→ Aspecto Afetivo-Emocional – é o modo particular de o indivíduo integrar as

suas experiências. É o sentir. A sexualidade faz parte desse aspecto. Exemplos: a

vergonha que sentimos em algumas situações, o medo em outras, a alegria de rever um

amigo querido.

→ Aspecto Social – é a maneira como o indivíduo reage diante das situações

que envolvem outras pessoas. Por exemplo, em um grupo de crianças, no parque, é

possíveis observar algumas que espontaneamente buscam outras para brincar, e algumas

que permanecem sozinhas.

Se analisarmos melhor cada um desses exemplos, vamos descobrir que todos os

outros aspectos estão presentes em cada um dos casos. E é sempre assim. Não é possível

encontrar um exemplo "puro", porque todos estes aspectos relacionam-se

permanentemente. Por exemplo, uma criança tem dificuldades de aprendizagem, repete

o ano, vai-se tornando cada vez mais "tímida" ou "agressiva", com poucos amigos e, um

dia, descobre-se que as dificuldades tinham origem em uma deficiência auditiva.

Quando isso é corrigido, todo o quadro reverte-se. A história pode, também, não ter um

final feliz, se os danos forem graves.

Todas as teorias do desenvolvimento humano partem do pressuposto de que

esses quatro aspectos são indissociados, mas elas podem enfatizar aspectos diferentes,

isto é, estudar o desenvolvimento global a partir da ênfase em um dos aspectos. A

Psicanálise, por exemplo, estuda o desenvolvimento a partir do aspecto afetivo-

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emocional, isto é, do desenvolvimento da sexualidade. Jean Piaget enfatiza o

desenvolvimento intelectual.

A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE JEAN PIAGET

Este autor divide os períodos do desenvolvimento humano de acordo com o

aparecimento de novas qualidades do pensamento, o que, por sua vez, interfere no

desenvolvimento global:

1 período: Sensório-motor (0 a 2 anos)

2 período: Pré-operatório (2 a 7 anos)

3 período: Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos)

4 período: Operações formais (11 ou 12 anos em diante)

Segundo Piaget, cada período é caracterizado por aquilo que, de melhor o

indivíduo consegue fazer nessas faixas etárias. Todos os indivíduos passam por todas

essas fases ou períodos, nessa seqüência, porém o início e o término de cada uma delas

dependem das características biológicas do indivíduo e de fatores educacionais, sociais.

Portanto, a divisão nessas faixas etárias é uma referência, e não uma norma rígida.

PERÍODO SENSÓRIO-MOTOR: (o recém-nascido e o lactente - 0 a 2 anos)

Neste período, a criança conquista, através da percepção e dos movimentos, todo

o universo que a cerca.

No recém-nascido, a vida mental reduz-se ao exercício dos aparelhos reflexos,

de fundo hereditário, como a sucção. Esses reflexos melhoram com o treino. Por

exemplo, o bebê mama melhor no décimo primeiro dia de vida do que no dia. Por volta

dos cinco meses, a criança consegue coordenar os movimentos das mãos e olhos e pegar

objetos, aumentando sua capacidade de adquirir hábitos novos.

No final do período, a criança é capaz de usar um instrumento como meio para

atingir um objeto. Por exemplo, descobre que, se puxar a toalha, a lata de bolacha ficará

mais perto dela. Neste caso, ela utiliza a inteligência prática ou sensorio-motora, que

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envolve as percepções e os movimentos.

Neste período, fica evidente que o desenvolvimento físico acelerado é o suporte

para o aparecimento de novas habilidades. Isto é, o desenvolvimento ósseo, muscular e

neurológico permite a emergência de novos comportamentos, como se sentar, andar, o

que propiciará um domínio maior do ambiente.

Ao longo deste período, irá ocorrer na criança uma diferenciação progressiva

entre o seu eu e o mundo exterior. Se no início o mundo era uma continuação do próprio

corpo, os progressos da inteligência levam-na a situar-se como um elemento entre

outros no mundo. Isso permite que a criança, por volta de 1 ano, admita que um objeto

continue a existir mesmo quando ela não o percebe, isto é, o objeto não está presente no

seu campo visual, mas ela continua a procurar ou a pedir o brinquedo que perdeu,

porque sabe que ele continua a existir. Esta diferenciação também ocorre no aspecto

afetivo, pois o bebê passa das emoções primárias (os primeiros medos, quando, por

exemplo, ele se enrijece ao ouvir um barulho muito forte) para uma escolha afetiva de

objetos (no final do período), quando já manifesta preferências por brinquedos, objetos,

pessoas etc.

No curto espaço de tempo deste período, por volta de 2 anos, a criança evolui de

uma atitude passiva em relação ao ambiente e pessoas de seu mundo para uma atitude

ativa e participativa. Sua integração no ambiente dá-se, também, pela imitação das

regras. E, embora compreenda algumas palavras, mesmo no final do período só é capaz

de fala imitativa.

PERÍODO PRÉ-OPERATÓRIO: (a primeira infância - 2 a 7 anos)

Neste período, o que de mais importante acontece é o aparecimento da

linguagem, que irá acarretar modificações nos aspectos intelectual, afetivo e social da

criança.

A interação e a comunicação entre os indivíduos são, sem dúvida, as

conseqüências mais evidentes da linguagem.

Com a palavra, há possibilidade de exteriorização da vida interior e, portanto, a

possibilidade de corrigir ações futuras. A criança já antecipa o que vai fazer.

Como decorrência do aparecimento da linguagem, o desenvolvimento do

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pensamento se acelera. No início do período, ele exclui toda a objetividade, a criança

transforma o real em função dos seus desejos e fantasias (jogo simbólico);

posteriormente, utiliza-o como referencial para explicar o mundo real, a sua própria

atividade, seu eu e suas leis morais; e, no final do período, passa a procurar a razão

causal e finalista de tudo (é a fase dos famosos "porquês"). E um pensamento mais

adaptado ao outro e ao real.

Como várias novas capacidades surgem, muitas vezes ocorre a superestimação

da capacidade da criança neste período. É importante ter claro que grande parte do seu

repertório verbal é usada de forma imitativa, sem que ela domine o significado das

palavras; ela tem dificuldades de reconhecer a ordem em que mais de dois ou três

eventos ocorrem e não possui o conceito de número. Por ainda estar centrada em si

mesma, ocorre uma primazia do próprio ponto de vista, o que torna impossível o

trabalho em grupo. Esta dificuldade mantém-se ao longo do período, na medida em que

a criança não consegue colocar-se do ponto de vista do outro.

No aspecto afetivo, surgem os sentimentos interindividuais, sendo que um dos

mais relevantes é o respeito que a criança nutre pelos indivíduos que julga superiores a

ela. Por exemplo, em relação aos pais, aos professores. É um misto de amor e temor.

Seus sentimentos morais refletem esta relação com os adultos significativos – a moral

da obediência - em que o critério de bem e mal é a vontade dos adultos. Com relação às

regras, mesmo nas brincadeiras, concebe-as como imutáveis e determinadas

externamente. Mais tarde, adquire uma noção mais elaborada da regra, concebendo-a

como necessária para organizar o brinquedo, porém não a discute.

Com o domínio ampliado do mundo, seu interesse pelas diferentes atividades e

objetos se multiplica, diferencia e regulariza, isto é, torna-se estável, sendo que, a partir

desse interesse, surge uma escala de valores própria da criança. E a criança passa a

avaliar suas próprias ações a partir dessa escala. É importante, ainda, considerar que,

neste período, a maturação neurofisiológica completa-se, permitindo o desenvolvimento

de novas habilidades, como a coordenação motora fina - pegar pequenos objetos com as

pontas dos dedos, segurar o lápis corretamente e conseguir fazer os delicados

movimentos exigidos pela escrita.

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PERÍODO DAS OPERAÇÕES CONCRETAS: (a infância propriamente dita - 7 a 11

ou 12 anos)

O desenvolvimento mental, caracterizado no período anterior pelo egocentrismo

intelectual e social, é superado neste período pelo início da construção lógica, isto é, a

capacidade da criança de estabelecer relações que permitam a coordenação de pontos de

vista diferentes. Estes pontos de vista podem referir-se a pessoas diferentes ou à própria

criança, que "vê" um objeto ou situação com aspectos diferentes e, mesmo, conflitantes.

Ela consegue coordenar estes pontos de vista e integrá-los de modo lógico e coerente.

No plano afetivo, isto significa que ela será capaz de cooperar com os outros, de

trabalhar em grupo e, ao mesmo tempo, de ter autonomia pessoal.

O que possibilitará isto, no plano intelectual, é o surgimento de uma nova

capacidade mental da criança: as operações, isto é, ela consegue realizar uma ação física

ou mental dirigida para um fim (objetivo) e revertê-la para o seu início. Num jogo de

quebra-cabeça, (próprio para a idade) ela consegue, na metade do jogo, descobrir um

erro, desmanchar uma parte e recomeçar de onde corrigiu, terminando-o. As operações

sempre se referem a objetos concretos presentes ou já experienciados.

Outra característica deste período é que a criança consegue exercer suas

habilidades e capacidades a partir de objetos reais, concretos. Portanto, mesmo a

capacidade de reflexão que se inicia, isto é, pensar antes de agir, considerar os vários

pontos de vista simultaneamente, recuperar o passado e antecipar o futuro, se exerce a

partir de situações presentes ou passadas, vivenciadas pela criança.

Em nível de pensamento, a criança consegue:

→estabelecer corretamente as relações de causa e efeito e de meio e fim;

→seqüenciar idéias ou eventos;

→trabalhar com idéias sob dois pontos de vista, simultaneamente;

→formar o conceito de número (no início do período, sua noção de número está

vinculada a uma correspondência com o objeto concreto).

A noção de conservação da substância do objeto (comprimento e quantidade)

surge no início do período; por volta dos 9 anos, surge a noção de conservação de peso;

e, ao final do período, a noção de conservação do volume.

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No aspecto afetivo, ocorre o aparecimento da vontade como qualidade

superior e que atua quando há conflitos de tendências ou intenções (entre o dever e o

prazer, por exemplo). A criança adquire uma autonomia crescente em relação ao adulto,

passando a organizar seus próprios valores morais. Os novos sentimentos morais,

característicos deste período, são: o respeito mútuo, a honestidade, o companheirismo e

a justiça, que considera a intenção na ação. Por exemplo, se a criança quebra o vaso da

mãe, ela acha que não deve ser punida se isto ocorreu acidentalmente. O grupo de

colegas satisfaz, progressivamente, as necessidades de segurança e afeto. Nesse sentido,

o sentimento de pertencer ao grupo de colegas torna-se cada vez mais forte. As crianças

escolhem seus amigos, indistintamente, entre meninos e meninas, sendo que, no final do

período, a grupalização com o sexo oposto diminui.

Este fortalecimento do grupo traz a seguinte implicação: a criança, que no início

do período ainda considerava bastante as opiniões e idéias dos adultos, no final passa a

"enfrentá-los".

A cooperação é uma capacidade que se vai desenvolvendo ao longo deste

período e será um facilitador do trabalho em grupo, que se torna cada vez mais

absorvente para a criança. Elas passam a elaborar formas próprias de organização

grupal, em que as regras e normas são concebidas como válidas e verdadeiras, desde

que todos as adotem e sejam a expressão de uma vontade de todos. Portanto, novas

regras podem surgir, a partir da necessidade e de um "contrato" entre as crianças.

PERÍODO DAS OPERAÇÔES FORMAIS: (a adolescência - 11 ou 12 anos em

diante)

Neste período, ocorre a passagem do pensamento concreto para o pensamento

formal, abstrato, isto é, o adolescente realiza as operações e no plano das idéias, sem

necessitar de manipulação ou referências concretas, como no período anterior. É capaz

de lidar com conceitos como liberdade, justiça etc. O adolescente domina,

progressivamente, a capacidade de abstrair e generalizar, cria teorias sobre o mundo,

principalmente sobre aspectos que gostaria de reformular. Isso é possível graças à

capacidade de reflexão espontânea que, cada vez mais descolada do real, é capaz de tirar

conclusões de puras hipóteses.

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O livre exercício da reflexão permite ao adolescente, inicialmente, "submeter"

o mundo real aos sistemas e teorias que o seu pensamento é capaz de criar. Isto vai-se

atenuando de forma crescente, através da reconciliação do pensamento com a realidade,

até ficar claro que a função da reflexão não é contradizer, mas se adiantar e interpretar a

experiência.

Do ponto de vista de suas relações sociais, também ocorre o processo de

caracterizar-se, inicialmente, por uma fase de interiorização, em que, aparentemente, é

anti-social. Ele se afasta da família, não aceita conselhos dos adultos; mas, na realidade,

o alvo de sua reflexão é a sociedade, sempre analisada como passível de ser reformada e

transformada. Posteriormente, atinge o equilíbrio entre pensamento e realidade, quando

compreende a importância da reflexão para a sua ação sobre o mundo real. Por

exemplo, no início do período, o adolescente que tem dificuldades na disciplina de

Matemática pode propor sua retirada do currículo e, posteriormente, pode propor

soluções mais viáveis e adequadas, que considerem as exigências sociais.

No aspecto afetivo, o adolescente vive conflitos. Deseja libertar-se do adulto,

mas ainda depende dele. Deseja ser aceito pelos amigos e pelos adultos. O grupo de

amigos é um importante referencial para o jovem, determinando o vocabulário, as

vestimentas e outros aspectos de seu comportamento. Começa a estabelecer sua moral

individual, que é referenciada à moral do grupo.

Os interesses do adolescente são diversos e mutáveis, sendo que a estabilidade

chega com a proximidade da idade adulta.

Aprendizagem é um processo de aquisição de conhecimento, em que seres

compartilham suas idéias e experiências promovendo o desenvolvimento de diversas

competências. É tudo aquilo que adquirimos durante a vida. Por várias formas. Escrita,

desenho, falado, etc. É também um processo contínuo de conhecimento, investigar,

construir, reconstruir, compartilhar, trocar idéias e experiências a fim de promover no

indivíduo diversas competências refletindo assim, em seus comportamentos. É também

um processo de mudança de comportamento obtido, onde os seres adquirem novos

conhecimentos e desenvolvem novas competências através de uma experiência

construída. É como uma mudança relativamente permanente no comportamento. Todos

nascem com a habilidade para aprender, portanto, é uma forma de adaptação ao

ambiente, é o poder de tomada de consciência das necessidades postas pelo social para

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que se construam os conhecimentos a partir do repertório que se possui. São

conhecimentos que adquirimos desde que nascemos, através de experiências vividas,

trocas de conhecimentos e de desenvolvimento do nosso cognitivo. Cabe à escola

sistematizar a aquisição do conhecimento como forma de validá-la aos olhos da

sociedade. E cabe ao indivíduo que tem conhecimentos vividos compartilha-los com os

seus semelhantes de maneira que viabilize novos conceitos de conhecimentos, criando

assim nova rede de informações. Aprendizagem é a ação de aprender algo, é o tempo

durante o qual se aprende, é investigar, conhecer, construir e reconstruir idéias. A

conceituação do que seria aprendizagem tornou-se uma árdua tarefa. Após minuciosas

pesquisas, constatou-se a impossibilidade de observação direta das modificações

ocorridas no sistema nervoso, em virtude da aprendizagem.

Para sanar essa questão, a aprendizagem tem sido verificada e estudada de forma

indireta, por meio de seus efeitos sobre o comportamento.

Em outras palavras, é imprescindível que se observem as conseqüências sobre a conduta

do ser em análise, cediço que a aprendizagem resulta em uma modificação no

comportamento, ainda que não se transpareça de plano.

Isso se dá em razão de mudanças nas estruturas celulares, por meio do crescimento, de

maneira tal que facilite a excitação de todo o circuito quando um elemento componente

é excitado ou ativado.

Entretanto, a atenção deverá ser dobrada ao se enfrentar essas modificações no

comportamento, pelo fato de que outros agentes podem contribuir para esses resultados.

A título de exemplo encontra-se: a maturação, os comportamentos inatos ou simples

estados temporários do organismo como lesões, ingestão de drogas fadiga, etc.

Visando à elucidação acerca do que se pode atribuir à aprendizagem, a doutrina

majoritária prevalecente afirma que as mudanças de comportamento deverão ser

relativamente duradouras e devidas a alguma experiência ou treino anterior. O processo

de aprendizagem pode ser definido de forma sintética como o modo como os seres

adquirem novos conhecimentos, desenvolvem competências e mudam o

comportamento. Contudo, a complexidade desse processo dificilmente pode ser

explicada apenas através de recortes do todo. Por outro lado, qualquer definição está,

invariavelmente, impregnada de pressupostos político-ideológicos, relacionados com a

visão de homem, sociedade e saber. Segundo os behavioristas a aprendizagem é uma

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aquisição de comportamentos através de relações entre Ambiente e Comportamento,

ocorridas numa história de contingências, estabelecendo uma relação funcional entre

Ambiente e Comportamento.

Ambiente: Comportamento → Reforço

Apresenta como principais características:

• O indivíduo é visto como ativo em todo o processo.

• A aprendizagem é sinônimo de comportamento adquirido

• O reforço é um dos principais motores da aprendizagem

• A aprendizagem é vista como uma modelagem do comportamento

Em algumas abordagens cognitivas, considera-se que o homem não pode ser

considerado um ser passivo. Enfatiza a importância dos processos mentais no processo

de aprendizagem, na forma como se percebe, seleciona, organiza e atribui significados

aos objetos e acontecimentos.

É um processo dinâmico, centrado nos processos cognitivos, em que temos:

INDIVIDUO → INFORMAÇÃO → CODIFICAÇÃO → RECODIFICAÇÃO

→ PROCESSAMENTO → APRENDIZAGEM

De uma perspectiva humanista existe uma valorização do potencial humano

assumindo-o como ponto de partida para a compreensão do processo de aprendizagem.

Considera que as pessoas podem controlar seu próprio destino, possuem liberdade para

agir e que o comportamento delas é conseqüência da escolha humana. Os princípios que

regem tal abordagem são a auto-direção e o valor da experiência no processo de

aprendizagem. Preocuparam-se em tornar a aprendizagem significativa, valorizando a

compreensão em detrimento da memorização tendo em conta, as características do

sujeito, as suas experiências anteriores e as sua motivações. O indivíduo é visto como

responsável por decidir o que quer aprender. Aprendizagem é vista como algo

espontâneo e misterioso. Numa abordagem social, as pessoas aprendem observando

outras pessoas no interior do contexto social. Nessa abordagem a aprendizagem é em

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função da interação da pessoa com outras pessoas, sendo irrelevantes condições

biológicas. O processo de aprendizagem na abordagem de Vygotsky parte do ponto da

análise de uma concepção vygotskyana de que o pensamento verbal não é uma forma de

comportamento natural e inata, mas é determinado por um processo histórico-cultural e

tem propriedades e leis específicas que não podem ser encontradas nas formas naturais

de pensamento e fala. Uma vez admitido o caráter histórico do pensamento verbal,

devemos considerá-lo sujeito a todas as premissas do materialismo histórico, que são

válidas para qualquer fenômeno histórico na sociedade humana (Vygotsky, 1993 p. 44).

Sendo o pensamento sujeito às interferências históricas às quais está o indivíduo

submetido, entende-se que, o processo de aquisição da ortografia, a alfabetização e o

uso autônomo da linguagem escrita são resultantes não apenas do processo pedagógico

de ensino-aprendizagem propriamente dito, mas das relações subjacentes a isto.

Vygotsky diz ainda que o pensamento propriamente dito seja gerado pela motivação,

isto é, por nossos desejos e necessidades, nossos interesses e emoções. Por trás de cada

pensamento há uma tendência afetivo-volitiva. Uma compreensão plena e verdadeira do

pensamento de outrem só é possível quando entendemos sua base afetivo-volitiva

(Vygotsky, 1991 p. 101). Desta forma não seria válido estudar as dificuldades de

aprendizagem sem considerar os aspectos afetivos. Avaliar o estágio de

desenvolvimento, ou realizar testes psicométricos não supre de respostas às questões

levantadas. É necessário fazer uma análise do contexto emocional, das relações afetivas,

do modo como à criança está situada historicamente no mundo. Na abordagem de

Vygotsky a linguagem tem um papel de construtor e de propulsor do pensamento,

afirma que aprendizado não é desenvolvimento, o aprendizado adequadamente

organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos

de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer (Vygotsky,

1991 p. 101). A linguagem seria então o motor do pensamento, contrariando assim a

concepção desenvolvimentista que considera o desenvolvimento a base para a aquisição

da linguagem. Vygotsky defende que os processos de desenvolvimento não coincidem

com os processos de aprendizagem, uma vez que o desenvolvimento progride de forma

mais lenta, indo atrás do processo de aprendizagem. Isto ocorre de forma seqüencial.

(Vygotsky, 1991 p. 102). Nos estudos de Piaget, a teoria da equilibrarão, de uma

maneira geral, trata de um ponto de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, e

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assim, é considerada como um mecanismo auto-regulador, necessária para assegurar à

criança uma interação eficiente dela com o meio-ambiente. (Wadsworth, 1996) Piaget

postula que todo esquema de assimilação tende a alimentar-se, isto é, a incorporar

elementos que lhe são exteriores e compatíveis com a sua natureza. E postula também

que todo esquema de assimilação é obrigado a se acomodar aos elementos que assimila,

isto é, a se modificar em função de suas particularidades, mas, sem com isso, perder sua

continuidade (portanto, seu fechamento enquanto ciclo de processos interdependentes),

nem seus poderes anteriores de assimilação. (Piaget, 1975, p. 14). Em outras palavras,

Piaget (1975) define que o equilíbrio cognitivo implica afirmar a presença necessária de

acomodações nas estruturas; bem como a conservação de tais estruturas em caso de

acomodações bem sucedidas. Esta equilibração é necessária porque se uma pessoa só

assimilasse, desenvolveria apenas alguns esquemas cognitivos, esses muito amplos,

comprometendo sua capacidade de diferenciação; em contrapartida, se uma pessoa só

acomodasse, desenvolveria uma grande quantidade de esquemas cognitivos, porém

muito pequenos, comprometendo seu esquema de generalização de tal forma que a

maioria das coisas seria vistas sempre como diferentes, mesmo pertencendo à mesma

classe. Essa noção de equilibração foi à base para o conceito, desenvolvido por Paín,

sobre as modalidades de aprendizagem, que se servem dos conceitos de assimilação e

acomodação, na descrição de sua estrutura processual. É de Piaget o postulado de que o

pleno desenvolvimento da personalidade sob seus aspectos mais intelectuais é

indissociável do conjunto das relações afetivas, sociais e morais que constituem a vida

da instituição educacional. À primeira vista, o desabrochamento da personalidade

parece depender sobretudo dos fatores afetivos; na realidade, a educação forma um todo

indissociável e não é possível formar personalidades autônomas no domínio moral se o

indivíduo estiver submetido a uma coerção intelectual tal que o limite a aprender

passivamente, sem tentar descobrir por si mesmo a verdade: se ele é passivo

intelectualmente não será livre moralmente. Mas reciprocamente, se sua moral consiste

exclusivamente numa submissão à vontade adulta e se as únicas relações sociais que

constituem as relações de aprendizagem são as que ligam cada estudante

individualmente a um professor que detém todos os poderes, ele não pode tampouco ser

ativo intelectualmente. (Piaget, 1982) Piaget afirma que "adquirida a linguagem, a

socialização do pensamento manifesta-se pela elaboração de conceitos e relações e pela

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constituição de regras. É justamente na medida, até, que o pensamento verbo-

conceptual é transformado pela sua natureza coletiva que ele se torna capaz de

comprovar e investigar a verdade, em contraste com os atos práticos dos atos da

inteligência sensório-motora e à sua busca de êxito ou satisfação" (Piaget, 1975 p. 115).

Paín (1989) descreve as modalidades de aprendizagem sintomática tomando por base o

postulado piagetiano. Descreve como a assimilação e as acomodações atuam no modo

como o sujeito aprende e como isso pode ser sintomatizado, tendo assim características

de um excesso ou escassez de um desses movimentos, afetando o resultado final. Na

abordagem de Piaget, o sujeito está em constante equilibração. Paín parte desse

pressuposto e afirma que as dificuldades de aprendizagem podem estar relacionadas a

uma hiperatuação de uma dessas formas, somada a uma hipo-atuação da outra gerando

as modalidades de aprendizagem sintomática a seguir: Sendo a assimilação o

movimento do processo de adaptação pelo quais os elementos do meio são alterados

para serem incorporados pelo sujeito, numa aprendizagem sintomatizada pode ocorrer

uma exacerbação desse movimento, de modo que o aprendiz não se resigna ao aprender.

Há o predomínio dos aspectos subjetivos sobre os objetivos. Esta sintomatização vem

acompanhada da hipoacomodação. A acomodação consiste em adaptar-se para que

ocorra a internalização. A sintomatização da acomodação pode dar-se pela resistência

em acomodar, ou seja, numa dificuldade de internalizar os objetos (Fernández, 1991 p.

110). Acomodar-se é abrir-se para a internalização, o exagero disto pode levar a uma

pobreza de contato com a subjetividade, levando à submissão e à obediência acrítica.

Essa sintomatização está associada à hipoassimilação. Nesta sintomatização ocorre uma

assimilação pobre, o que resulta na pobreza no contato com o objeto, de modo a não

transformá-lo, não assimilá-lo de todo, apenas acomodá-lo. A aprendizagem normal

pressupõe que os movimentos de assimilação e acomodação estão em equilíbrio. O que

caracteriza a sintomatização no aprender é predomínio de um movimento sobre o outro.

Quando há o predomínio da assimilação, as dificuldades de aprendizagem são da ordem

da não resignação, o que leva o sujeito a interpretar os objetos de modo subjetivo, não

internalizando as características próprias do objeto. Quando a acomodação predomina, o

sujeito não empresta sentido subjetivo aos objetos, antes, resigna-se sem criticidade. O

sistema educativo pode produzir sujeito muito acomodativos se a reprodução dos

padrões for mais valorizada que o desenvolvimento da autonomia e da criatividade. Um

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sujeito que apresente uma sintomatização na modalidade hiperacomodativa/

hipoassimilativa pode não ser visto como tendo “problemas de aprendizagem”, pois

consegue reproduzir os modelos com precisão. A aprendizagem no seu todo encarada

como ação educativa, tem como finalidade ajudar a desenvolver nos indivíduos às

capacidades que os tornem capazes de estabelecer uma relação pessoal com o meio em

que vivem (físico e humano), servindo-se para este efeito, das suas estruturas sensório-

motoras, cognitivas, afetivas e lingüísticas. A aprendizagem está inevitavelmente ligada

à História do Homem, à sua construção enquanto ser social com capacidade de

adaptação a novas situações. Desde sempre se ensinou e aprendeu, de forma mais ou

menos elaborada e organizada, já antes do início deste século existiam explicações para

aprendizagem, mas o seu estudo está intimamente ligado ao desenvolvimento da

Psicologia enquanto ciência. Contudo, este não se processou de forma uniforme e

concordante. O estudo da aprendizagem centrou-se em aspectos diferentes, de acordo

com as diversas correntes da Psicologia, e com as diferentes perspectivas que cada um

defendia. Destas teorias as que adquiriram maior relevo foram: As comportamentalistas

(behavioristas) - a aprendizagem é vista como a aquisição de comportamentos

expressos, através de relações mais ou menos mecânicas entre um estímulo e uma

resposta, sendo o sujeito relativamente passivo neste processo; As cognitivistas – a

aprendizagem é entendida como um processo dinâmico de codificação, processamento e

recodificação da informação. O estudo da aprendizagem centra-se nos processos

cognitivos que permitem estas operações e nas condições contextuais que as facilitam.

O indivíduo é visto como um ser que interage com o meio e é graças a essa interação

que aprende; As humanistas - a aprendizagem baseia-se essencialmente no caráter único

e pessoal do sujeito que aprende, em função das suas experiências únicas e pessoais. O

sujeito que aprende tem um papel ativo neste processo, mas a aprendizagem é vista

muitas vezes como algo espontâneo. Estas diferentes perspectivas sobre a aprendizagem

conduziram a diferentes abordagens e conceitos. No entanto, estas diferenças não

devem ser encaradas como um problema, mas antes como uma vantagem, já que

possibilita uma visão mais abrangente, não reduzindo a explicação da diversidade deste

processo a uma única teoria. Atualmente a aprendizagem é vista como um processo

dinâmico e ativo, em que os indivíduos não são simples receptores passivos, mas sim

processadores ativos da informação. Todos os indivíduos à sua maneira e tendo em

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conta as suas características pessoais são capazes de “aprender a aprender”, isto é,

capazes de encontrar respostas para situações ou problemas, quer mobilizando

conhecimentos de experiências anteriores em situações idênticas, quer projetando no

futuro uma “idéia” ou “solução” que temos no presente, interagimos com estímulos

(situações e problemas) de uma forma pessoal. A Educação é um processo que

possibilita uma articulação das capacidades de agir intelectualmente e pensar

produtivamente; de estabelecer vínculos entre trabalho e educação e para a

contextualização cada vez maior do conhecimento, já que esta é condição essencial da

eficácia do funcionamento cognitivo. Neste sentido, a missão do ensino é transmitir não

é mero saber, mas uma cultura que permita compreender a condição do ser humano e o

ajude a viver e que favoreça, ao mesmo tempo, um modo de pensar aberto e livre. Neste

contexto, o ensino e aprendizagem são processos complementares, mediados pelo uso

da linguagem. O processo de aprender é bastante complexo, envolve vários fatores:

variáveis cognitivas, afetivas, sociais, econômicas e até políticas. O ensinar envolve

também, inúmeras variáveis e pode ser considerado como aberto a experiências

dialógicas, assim, a aprendizagem é a construção permanente do conhecimento. A

aprendizagem envolve uma integração de fatores contextuais e internos do aluno que

podem tanto favorecer como afetar de maneira negativa o processo de aprender. A

atenção é inata ao indivíduo, mas se relaciona com a mediação simbólica, esta se divide

em voluntária e involuntária. A atenção voluntária é aquela na qual o indivíduo

direciona conscientemente para o que considera essencial ao seu desenvolvimento; e a

atenção é involuntária porque o indivíduo não tem domínio, nem consciência sobre a

importância daquilo que lhe chama a atenção. Desta forma um processo interpessoal é

transformado num processo intrapessoal, onde as funções no desenvolvimento do

indivíduo aparecem duas vezes no ciclo do desenvolvimento humano: primeiro entre as

pessoas e, depois, no interior do indivíduo. A capacidade de aprender está presente em

todos os indivíduos sendo que para alguns ocorre uma relativa dificuldade de

assimilação e manutenção de seu conhecimento, ligando o processo de absorção daquilo

que ser quer aprender a fatores muito mais relevantes do que o simples fato de

necessitar fixar aquilo que é ensinado. Assim entende-se que o processo de

aprendizagem é desencadeado a partir da motivação, onde o mesmo se dá no interior do

indivíduo, estando, entretanto, intimamente ligado às relações de troca que o mesmo

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estabelece com o meio, principalmente, seus professores e colegas. Nas situações

escolares, o interesse é indispensável para que o aluno tenha motivos de ação no sentido

de apropriar-se do conhecimento. Entende-se assim, que a dificuldade de aprendizagem,

quando presente no período inicial da escolarização pode favorecer a vulnerabilidade ao

desenvolvimento infantil, sendo necessário à elaboração de programas visando o

enfrentamento de tais situações consideradas críticas para o desenvolvimento. O

professor hoje, não é mais o detentor do conhecimento, aquele que sabe tudo e seus

alunos são meros receptores do conhecimento. Com as várias informações que estão ao

alcance de todos principalmente na Internet, o trabalho isolado do professor já não

satisfaz mais. As mudanças de postura, a quebra de paradigmas faz com que o trabalho

do professor não seja mais isolado; assim o trabalho em conjunto, cooperativo vem de

encontro com as necessidades dos alunos na busca da construção do conhecimento e o

professor entra como mediador, orientador deste conhecimento, aquele que mostra os

caminhos para seus alunos em conjunto buscarem de forma interativa o saber e a

construção de novos saberes. Neste ambiente o professor continuará sendo professor,

mas um professor mediador e orientador e não mais o detentor do conhecimento, pois o

trabalho cooperativo ele aprenderá com seus alunos. Então, cabe aos educandos

proporcionar situações de interação tais, que despertem no educando motivação para

interação com o objeto do conhecimento, com seus colegas e com os próprios

professores; pois, embora a aprendizagem ocorra na intimidade do indivíduo, o processo

de construção do conhecimento dá-se na diversidade e na qualidade das suas interações.

A educação seja ela no âmbito escolar ou em qualquer ambiente de aprendizagem, tem

buscado aprimorar seus conceitos e metodologias no sentido de propiciar ao integrante

do processo educacional a assimilação adequada daquilo que lhes é ensinado, fato que

tem sido alvo de constantes discussões e reflexões entre agentes educacionais e teóricos

do assunto para que se consiga organizar o processo de aprendizagem de forma mais

objetiva para a aquisição do conhecimento pelo indivíduo envolvido nesse processo. O

ato de educar é contribuir para que os docentes e alunos transformem suas vidas em

processos constantes de aprendizagem. É contribuir com os alunos na construção da sua

identidade, da sua trajetória pessoal e profissional, no desenvolvimento das habilidades

e competências de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar

seu espaço social, político, econômico, cultural e educacional. A generalidade do ensino

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escolar ainda se situa na transmissão da informação. Pouca atenção é prestada ao

ensino das competências de resolução de problemas. Embora professores reconheçam a

importância de se desenvolver a compreensão e o raciocínio dos alunos, na realidade

esses aspectos não parecem fazer parte do conjunto de objetivos principais a serem

atingidos pela educação, já que na prática a escola não tem valorizado pensar e o

transformar. Pouco tem sido feito no sentido de desenvolver no aluno a capacidade de

aprender a aprender. É fundamental, pois, que se abram espaços para o “aprender a

aprender” e o “aprender a pensar”. É sem dúvida a possibilidade de discriminação

inteligente da informação que permite o desenvolvimento de uma consciência crítica.

Aprendizagem é um fenômeno extremamente complexo, envolvendo aspectos

cognitivos, emocionais, orgânicos, psicossociais e culturais. A aprendizagem é

resultante do desenvolvimento de aptidões e de conhecimentos, bem como da

transferência destes para novas situações. O processo de aprendizagem é desencadeado

a partir da motivação. Esse processo se dá no interior do sujeito, estando, entretanto,

intimamente ligado às relações de troca que o mesmo estabelece com o meio,

principalmente, seus professores e colegas. Nas situações escolares, o interesse é

indispensável para que o aluno tenha motivos de ação no sentido de apropriar-se do

conhecimento. Durante séculos, na escola, memorizar foi sinônimo de decorar nomes,

datas e fórmulas. Afinal, eram esses os conhecimentos sempre exigidos nas provas, nas

chamadas e nos testes. Com base nos estudos sobre o processo de aprendizagem da

criança, concluiu-se que a decoreba era inimiga da educação. E a memória – confundida

com repetição – foi posta de castigo. Um grande erro. A memória é a base de todo o

saber – e, por que não dizer, de toda a existência humana, desde o nascimento. Como

tal, deve ser trabalhada e estimulada. “É ela que dá significado ao cotidiano e nos

permite acumular experiências para utilizar durante toda a vida”, afirma a psicóloga e

antropóloga Elvira Souza Lima, especialista em desenvolvimento humano. Nos últimos

20 anos, a neurociência avançou muito nas descobertas sobre o funcionamento do

cérebro. Hoje se sabe o que acontece quando ele está captando, analisando e

transformando estímulos em conhecimento e o que ocorre nas células nervosas quando

elas são requisitadas a se lembrar do que já foi aprendido. “Com isso o professor pode

aprimorar suas estratégias de ensino”, diz o neuropsiquiatra Everton Sougrey,

coordenador do curso de pós-graduação em Neuropsicologia da Universidade Federal

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de Pernambuco. Estão provadas, por exemplo, as vantagens de estabelecer ligações

com o conhecimento prévio do aluno ao introduzir um novo assunto e de trabalhar

também a emoção em sala de aula. O cérebro responde positivamente a essas situações,

ajudando a fixar não somente fatos, mas também conceitos e procedimentos.

O valor do conhecimento prévio

Quando assiste aula, o estudante recebe informações de todo tipo, tanto visuais

como auditivas. Elas se transformam em estímulos para o cérebro e circulam pelo

córtex cerebral antes de serem arquivadas ou descartadas. Sempre que encontram um

arquivo já formado (o tal conhecimento prévio) arrumam um “gancho” para o seu

armazenamento, fazendo com que no futuro ela seja resgatada mais facilmente. “É

como se o recém-chegado fosse morar em uma nova casa, mas em rua conhecida”,

ilustra Elvira Lima. Quando essa informação é resgatada da memória, trilha os mais

variados caminhos. Se eles já tiverem sido percorridos anteriormente, a recuperação de

conhecimentos será simples e rápida. O que não tem nada a ver com decoreba. “Se o

estudante não aprende um conteúdo é porque não encontrou nenhuma referência nos

arquivos já formados para abrigar a nova informação e, com isso, a aprendizagem não

ocorreu. Não adianta insistir no mesmo tipo de explicação”, ressalta a neuropsicóloga

Leila Vasconcelos, da Universidade Federal de Pernambuco. Cabe ao professor oferecer

outras conexões. Como? Usando abordagens diferentes e estimulando outros sentidos.

Daí a importância de investigar os conhecimentos prévios da turma, recordar conteúdos

de aulas anteriores, para formar os “ganchos”, e dispor de diferentes estratégias de

ensino.

Criando elaborações mentais

O cérebro funciona em módulos cooperativos, que se ajudam na hora de

recuperar informações. Quanto mais caminhos levarem a elas, mais fácil será o

“resgate”. Exemplo: se um conceito estiver conectado simultaneamente a uma imagem

e a um som, pelo menos três áreas diferentes do cérebro trabalharão para recuperá-lo.

Por isso, inventar uma imagem simbólica – associar conceitos a formas, palavras a sons,

cores a significados e assim por diante – é um hábito extremamente saudável. “Sair do

concreto faz com que determinada informação seja guardada sob várias chaves, como se

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fossem fichas. A aprendizagem e a construção do conhecimento são processos

naturais e espontâneos do ser humano que desde muito cedo aprende a mamar, falar,

andar, pensar, garantindo assim, a sua sobrevivência. Com aproximadamente três anos,

as crianças são capazes de construir as primeiras hipóteses e já começam a questionar

sobre a existência. A aprendizagem escolar também é considerada um processo natural,

que resulta de uma complexa atividade mental, na qual o pensamento, a percepção, as

emoções, a memória, a motricidade e os conhecimentos prévios estão envolvidos e onde

a criança deva sentir o prazer em aprender. O estudo do processo de aprendizagem

humana e suas dificuldades são desenvolvidos pela Psicopedagogia, levando-se em

consideração as realidades interna e externa, utilizando-se de vários campos do

conhecimento, integrando-os e sintetizando-os. Procurando compreender de forma

global e integrada os processos cognitivos, emocionais, orgânicos, familiares, sociais e

pedagógicos que determinam à condição do sujeito e interferem no processo de

aprendizagem, possibilitando situações que resgatem a aprendizagem em sua totalidade

de maneira prazerosa. Segundo Maria Lúcia Weiss, “a aprendizagem normal dá-se de

forma integrada no aluno (aprendente), no seu pensar, sentir, falar e agir. Quando

começam a aparecer “dissociações de campo” e sabe-se que o sujeito não tem danos

orgânicos, pode-se pensar que estão se instalando dificuldades na aprendizagem: algo

vai mal no pensar, na sua expressão, no agir sobre o mundo”. Atualmente, a política

educacional prioriza a educação para todos e a inclusão de alunos que, há pouco tempo,

eram excluídos do sistema escolar, por portarem deficiências físicas ou cognitivas;

porém, um grande número de alunos (crianças e adolescentes), que ao longo do tempo

apresentaram dificuldades de aprendizagem e que estavam fadados ao fracasso escolar

pôde freqüentar as escolas e eram rotulados em geral, como alunos difíceis. Os alunos

difíceis que apresentavam dificuldades de aprendizagem, mas que não tinha origens em

quadros neurológicos, numa linguagem psicanalítica, não estruturam uma psicose ou

neurose grave, que não podiam ser considerados portadores de deficiência mental,

oscilavam na conduta e no humor e até dificuldades nos processos simbólicos, que

dificultam a organização do pensamento, que consequentemente interferem na

alfabetização e no aprendizado dos processos lógico-matemáticos, demonstram

potencial cognitivo, podendo ser resgatados na sua aprendizagem. Raramente as

dificuldades de aprendizagem têm origens apenas cognitivas. Atribuir ao próprio aluno

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o seu fracasso, considerando que haja algum comprometimento no seu

desenvolvimento psicomotor, cognitivo, lingüístico ou emocional (conversa muito, é

lento, não faz a lição de casa, não tem assimilação, entre outros.), desestruturação

familiar, sem considerar, as condições de aprendizagem que a escola oferece a este

aluno e os outros fatores intra-escolares que favorecem a não aprendizagem. As

dificuldades de aprendizagem na escola, podem ser consideradas uma das causas que

podem conduzir o aluno ao fracasso escolar. Não podemos desconsiderar que o fracasso

do aluno também pode ser entendido como um fracasso da escola por não saber lidar

com a diversidade dos seus alunos. É preciso que o professor atente para as diferentes

formas de ensinar, pois, há muitas maneiras de aprender. O professor deve ter

consciência da importância de criar vínculos com os seus alunos através das atividades

cotidianas, construindo e reconstruindo sempre novos vínculos, mais fortes e positivos.

O aluno, ao perceber que apresenta dificuldades em sua aprendizagem, muitas vezes

começa a apresentar desinteresse, desatenção, irresponsabilidade, agressividade, etc. A

dificuldade acarreta sofrimentos e nenhum aluno apresenta baixo rendimento por

vontade própria. Durante muitos anos os alunos foram penalizados, responsabilizados

pelo fracasso, sofriam punições e críticas, mas, com o avanço da ciência, hoje não

podemos nos limitar a acreditar, que as dificuldades de aprendizagem, seja uma questão

de vontade do aluno ou do professor, é uma questão muito mais complexa, onde vários

fatores podem interferir na vida escolar, tais como os problemas de relacionamento

professor-aluno, as questões de metodologia de ensino e os conteúdos escolares. Se a

dificuldade fosse apenas originada pelo aluno, por danos orgânicos ou somente da sua

inteligência, para solucioná-lo não teríamos a necessidade de acionarmos a família, e se

o problema estivesse apenas relacionado ao ambiente familiar, não haveria necessidade

de recorremos ao aluno isoladamente. A relação professor/aluno torna o aluno capaz ou

incapaz. Se o professor tratá-lo como incapaz, não será bem sucedido, não permitirá a

sua aprendizagem e o seu desenvolvimento. Se o professor, mostrar-se despreparado

para lidar com o problema apresentado, mais chances terá de transferir suas dificuldades

para o aluno. Os primeiros ensinantes são os pais, com eles aprendem-se as primeiras

interações e ao longo do desenvolvimento, aperfeiçoa. Estas relações, já estão

constituídas na criança, ao chegar à escola, que influenciará consideravelmente no poder

de produção deste sujeito. É preciso uma dinâmica familiar saudável, uma relação

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positiva de cooperação, de alegria e motivação. Torna-se necessário orientar aluno,

família e professor, para que juntos, possam buscar orientações para lidar com

alunos/filhos, que apresentam dificuldades e/ou que fogem ao padrão, buscando a

intervenção de um profissional especializado. Dicas para os pais:

1. Estabeleça uma relação de confiança e colaboração com a escola;

2. Escute mais e fale menos;

3. Informe aos professores sobre os progressos feitos em casa em áreas de

interesse mútuo;

4. Estabeleça horários para estudar e realizar as tarefas de casa;

5. Sirva de exemplo, mostre seu interesse e entusiasmo pelos estudos;

6. Desenvolva estratégias de modelação, por exemplo, existe um problema

para ser solucionado, pense em voz alta;

7. Aprenda com eles ao invés de só querer ensinar;

8. Valorize sempre o que o seu filho faz, mesmo que não tenha feito o que

você pediu;

9. Disponibilize materiais para auxiliar na aprendizagem;

10. É preciso conversar, informar e discutir com o seu filho sobre quaisquer

observações e comentários emitidos sobre ele.

Cada pessoa é uma. Uma vida é uma história de vida. É preciso saber o aluno

que se tem, como ele aprende. Se ele construiu uma coisa, não pode-se destruí-la. O

psicopedagogo ajuda a promover mudanças, intervindo diante das dificuldades que a

escola nos coloca, trabalhando com os equilíbrios/desequilíbrios e resgatando o desejo

de aprender. Os problemas de aprendizagem podem ser muitos e variados. Nunca existe

uma causa única para os problemas de aprendizagem. Da mesma forma também não

existe uma causa única para os outros problemas do nosso dia a dia. Muito se fala

acerca de problemas de aprendizagem e de outros problemas, mas quanto a soluções, as

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que frequentemente se aplicam deixam muito a desejar. Isto leva a que

frequentemente se diga que não existem soluções ou que as que existem não dão

soluções e assim sucessivamente. Muitas vezes avança-se com a solução das medicinas

complementares e se gasta muito dinheiro acreditando que se obtêm resultados. Uma

vez por outra isso acontece, mas frequentemente os resultados costumam ser baixos.

Dois pontos importantes a ter em atenção: Há que saber determinar as causas por detrás

dos problemas de aprendizagem e Depois há que ter as ferramentas corretas para

corrigir essas causas. Se existe dificuldade em aprender, há que determinar exatamente

as razões pelas quais isso acontece. Só depois se pode fazer algo para resolver a

situação. As causas variam muito de pessoa para pessoa e de situação para situação. Isto

desconcerta os investigadores e a medicina tradicional e as medicinas complementares,

que acabam por não conseguirem dar respostas nem soluções para estas e muitas outras

situações. No entanto hoje em dia já se sabe bastante acerca destas e de outras

patologias, suas causas e soluções apesar de ainda muito pouco faladas. Frequentemente

as soluções vão contra as idéias preconcebidas na medicina ou na ciência apesar de

frequentemente faladas no dia a dia das pessoas. Mas, hoje tudo tem de ser cientifico ou

corre o risco de não prestar. Pena é que a ciência ande atrás da sabedoria popular e leve

tanto tempo a comprovar aquilo que toda a gente sabe. A ciência do século XXI ainda

está muito atrasada em relação à realidade e hoje muita dessa ciência fica apenas nos

laboratórios uma vez que se sair cá para fora coloca em causa muito daquilo em que

acreditamos. Hoje, dentro e fora da ciência já se sabe muito, mas que, infelizmente,

ainda só se pode falar ao ouvido uma vez que coloca em causa o que nós somos e aquilo

a que chamamos o universo físico. Dentro de poucos anos muitas verdades serão

reveladas e teremos de ver tudo o que nos rodeia de uma maneira completamente

diferente. E o que isto tem a ver com os problemas de aprendizagem? Tudo ou nada

consoante o ponto de vista de cada um. No entanto isto serve como ponto de partida

para chamar a atenção de que nem tudo o que se vê é verdade e de que nem tudo o que

se ouve ou diz é verdade. E que muita coisa existe para além daquilo em que

acreditamos ou daquilo que nos fazem acreditar. Quando mudamos a maneira de ver as

situações há nossa volta, as soluções aparecem. Mas para isso temos de nos livrar das

crenças que fomos acumulando ao longo da vida e ao longo das formações que fizemos.

Os problemas de aprendizagem tanto podem ter a ver com fatores físicos como podem

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ter a ver com fatores mentais, com fatores energéticos, com fatores emocionais bem

como muitos outros fatores. Como a maior parte deles não se vem nem acusam nos

aparelhos e exames que se fazem, diz-se que eles não existem. E se não existem nada há

a fazer. Lá por os exames e os aparelhos nada mostrarem, isso não quer dizer que isso

não exista ou que não exista algo de errado em algum lugar. Felizmente que existe

sempre alguém capaz de detectar e localizar a raiz deste e de muitos outros problemas e

com capacidade de saber como os resolver. É tudo uma questão de procurar quem o

saiba e quem o consiga fazer. A aprendizagem só tem uma coisa boa, abre-me novas

idéias e novas possibilidades. Frequentemente estão incorretas, mas é devido a elas que

eu descubro quais as corretas. E a vida também é assim; só pelo errado nós aprendemos

o que não devemos fazer. E só vivendo se pode SABER a verdade. Quando se SENTE e

quando se SABE então estamos pouco ligando para o que se diz ou se afirma. E

problemas de aprendizagem podem ser muito melhorados quando se sabe o que fazer

para melhorá-los. Há que compreender as razões e as causas por detrás dos problemas

de aprendizagem. Hoje isso já se consegue. Depois há que saber como corrigir este e

outros problemas e isso também já se sabe. Infelizmente a medicina convencional e as

suas diversas abordagens assim como as medicinas complementares não dão os

resultados que se desejam e a razão é simples: Não conhecem as causas por detrás

destes e de outros problemas de saúde. E quando dizem conhecer as causas, não

conseguem obter resultados o que é no mínimo um contra-senso. E sem conhecer as

causas é impossível tratá-las. A área da educação nem sempre é cercada somente por

sucessos e aprovações. Muitas vezes, no decorrer do ensino, nos deparamos com

problemas que deixam os alunos paralisados diante do processo de aprendizagem, assim

são rotulados pela própria família, professores e colegas. É importante que todos os

envolvidos no processo educativo estejam atentos a essas dificuldades, observando se

são momentâneas ou se persistem há algum tempo. As dificuldades podem advir de

fatores orgânicos ou mesmo emocionais e é importante que sejam descobertas a fim de

auxiliar o desenvolvimento do processo educativo, percebendo se estão associadas à

preguiça, cansaço, sono, tristeza, agitação, desordem, dentre outros, considerados

fatores que também desmotivam o aprendizado. A dificuldade mais conhecida e que

vem tendo grande repercussão na atualidade é a dislexia, porém, é necessário estarmos

atentos a outros sérios problemas: disgrafia, discalculia, dislalia, disortografia e o

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TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). O aluno com dificuldade

de aprendizagem sente-se rejeitado pelos colegas

- Dislexia: é a dificuldade que aparece na leitura, impedindo o aluno de ser

fluente, pois faz trocas ou omissões de letras, inverte sílabas, apresenta leitura lenta, dá

pulos de linhas ao ler um texto, etc. Estudiosos afirmam que sua causa vem de fatores

genéticos, mas nada foi comprovado pela medicina.

- Disgrafia: normalmente vem associada à dislexia, porque se o aluno faz trocas

e inversões de letras conseqüentemente encontra dificuldade na escrita. Além disso, está

associada a letras mal traçadas e ilegíveis, letras muito próximas e desorganização ao

produzir um texto.

- Discalculia: é a dificuldade para cálculos e números, de um modo geral os

portadores não identificam os sinais das quatro operações e não sabem usá-los, não

entendem enunciados de problemas, não conseguem quantificar ou fazer comparações,

não entendem seqüências lógicas e outros. Esse problema é um dos mais sérios, porém

ainda pouco conhecido.

- Dislalia: é a dificuldade na emissão da fala, apresenta pronúncia inadequada

das palavras, com trocas de fonemas e sons errados, tornando-as confusas. Manifesta-se

mais em pessoas com problemas no palato, flacidez na língua ou lábio leporino.

- Disortografia: é a dificuldade na linguagem escrita e também pode aparecer

como conseqüência da dislexia. Suas principais características são: troca de grafemas,

desmotivação para escrever, aglutinação ou separação indevida das palavras, falta de

percepção e compreensão dos sinais de pontuação e acentuação.

- TDAH: O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um problema

de ordem neurológica, que traz consigo sinais evidentes de inquietude, desatenção, falta

de concentração e impulsividade. Hoje em dia é muito comum vermos crianças e

adolescentes sendo rotulados como DDA (Distúrbio de Déficit de Atenção), porque

apresentam alguma agitação, nervosismo e inquietação, fatores que podem advir de

causas emocionais. É importante que esse diagnóstico seja feito por um médico e outros

profissionais capacitados.

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Professores podem ser os mais importantes no processo de identificação e

descoberta desses problemas, porém não possuem formação específica para fazer tais

diagnósticos, que devem ser feitos por médicos, psicólogos e psicopedagogos. O papel

do professor se restringe em observar o aluno e auxiliar o seu processo de

aprendizagem, tornando as aulas mais motivadas e dinâmicas, não rotulando o aluno,

mas dando-lhe a oportunidade de descobrir suas potencialidades.

1.1 Formas de Aprendizagem

O papel da memória na aprendizagem independente da escola de pensamento

seguida sabe-se que o indivíduo desde o nascimento, utilizando seu campo perceptual,

vai ampliando seu repertório e construindo conceitos, em função do meio que o cerca.

Estes conceitos são regidos por mecanismos de memória onde as imagens dos sentidos

são fixadas e relembradas por associação a cada nova experiência. Os efeitos da

aprendizagem são retidos na memória, onde este processo é reversível até certo tempo,

pois depende do estímulo ou necessidade de fixação, podendo depois ser sucedido por

uma mudança neural duradoura. A memória de curto prazo é reversível e temporária,

acredita-se que decorra de um mecanismo fisiologia|fisiológico, por exemplo, um

impulso eletro-químico gerando um impulso sinapse|sináptico, que pode manter vivo

um traço da memória por um período de tempo limitado, isto é, depois de passado certo

período, acredita-se que esta informação desvanesce-se. Logo a memória de curto prazo

pouco importa para a aprendizagem. Memória de longo prazo é a permanente, ou

memória de longo prazo, depende de transformações na estrutura química ou física dos

neurônios. Aparentemente as mudanças sinápticas têm uma importância primordial nos

estímulos que levam aos mecanismos de lembranças como imagens, odores, som|sons,

etc, que, avulsos parecem ter uma localização definida, parecendo ser de certa forma

blocos desconexos, que ao serem ativados montam a lembrança do evento que é

novamente sentida pelo indivíduo, como por exemplo, a lembrança da confecção de um

bolo pela avó pela associação da lembrança de um determinado odor. As influências e

os processos da aprendizagem são influenciados pela inteligência, motivação, e,

segundo alguns teóricos, pela hereditariedade (existem controvérsias), onde o estímulo,

o impulso, o reforço e a resposta são os elementos básicos para o processo de fixação

das novas informações absorvidas e processadas pelo indivíduo.

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O processo de aprendizagem é de suma importância para o estudo do

comportamento. Alguns autores afirmam que certos processos neuróticos, ou neuroses,

nada mais são que uma aprendizagem distorcida, e que a ação recomendada para

algumas psicopatologias são um redirecionamento para a absorção da nova

aprendizagem que substituirá a antiga, de forma a minimizar as sintomatizações que

perturbam o indivíduo. Isto é, através da reaprendizagem (re-educação) ou da

intervenção profissional através da Psicopedagogia. Com a motivação aprende-se

melhor e mais depressa se houver interesse pelo assunto que se está a estudar.

Motivado, um indivíduo possui uma atitude ativa e empenhada no processo de

aprendizagem e, por isso, aprende melhor. A relação entre a aprendizagem e a

motivação é dinâmica: é freqüente o Homem interessar-se por um assunto, empenhar-

se, quando começa a aprender. A motivação pode ocorrer durante o processo de

aprendizagem. Os conhecimentos anteriores que um indivíduo possui sobre um assunto

podem condicionar a aprendizagem. Há conhecimentos, aprendizagens prévias, que, se

não tiverem sido concretizadas, não permitem a possibilidade de se aprender. Uma nova

aprendizagem só se concretiza quando o material novo se incorpora se relaciona, com

os conhecimentos e souber que se possui. A possibilidade de o Homem aprender novas

informações é limitada: não é possível integrar grandes quantidades de informação ao

mesmo tempo. É necessário proceder-se a uma seleção da informação relevante,

organizando-a de modo a poder ser gerida em termos de aprendizagem. A diversidade

das atividades quanto mais diversificadas for às abordagens a um tema, quanto mais

diferenciadas as tarefas, maior é a motivação e a concentração e melhor decorre a

aprendizagem. A planificação e a organização e a forma como se aprende pode

determinar, em grande parte, o que se aprende. A definição clara de objetivo, a seleção

de estratégias, é essencial para uma aprendizagem bem sucedida. Contudo, isto não

basta: é necessário planificar, organizar o trabalho por etapas, e ir avaliando os

resultados. Para além de estes processos serem mais eficientes, a planificação e a

organização promovem o controle dos processos de aprendizagem e, deste modo, a

autonomia de cada ser humano. A forma como cada ser humano encara um problema e

a forma como o soluciona é diferente. Por isso, determinados tipos de problemas são

mais bem resolvidos e a aprendizagem é mais eficaz se existir trabalho de forma

cooperativa com os outros. A aprendizagem cooperativa, ao implicar a interação e a

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ajuda mútua, possibilita a resolução de problemas complexos de forma mais eficaz e

elaborada.

Estilos de aprendizagem

Cada indivíduo apresenta um conjunto de estratégias cognitivas que mobilizam o

processo de aprendizagem. Em outras palavras, cada pessoa aprende a seu modo, estilo

e ritmo. Embora haja discordâncias entre os estudiosos, estes são quatro categorias

representativas dos estilos de aprendizagem:

* visual: aprendizagem centrada na visualização

* auditiva: centrada na audição

* leitura/escrita: aprendizagem através de textos

* ativa: aprendizagem através do fazer

* olfativa: através do cheiro pode possibilitar conhecimento já adquirido

anteriormente, com o deitar de gazes é exemplo de uma aprendizagem olfativa.

1.2 Tipos de Aprendizagem

Aprendizagem Associativa

A associação é um tema que reside na observação de que o indivíduo percebe

algo em seu meio pelas sensações, o resultado é a consciência de algo no mundo

exterior que pode ser definida como idéia. Portanto, a associação leva às idéias, e para

tal, é necessária a proximidade do objeto ou ocorrência no espaço e no tempo; deve

haver uma similaridade; freqüência de observação; além da proeminência e da atração

da atenção aos objetos em questão. Estes objetos de estudo para a aprendizagem podem

ser, por exemplo, uma alavanca que gera determinado impulso, que ao ser acionada gera

o impulso tantas vezes quantas for acionada. A associação ocorre quando o indivíduo

em questão acionar outra alavanca similar à primeira esperando o mesmo impulso da

outra. O que levou ao indivíduo acionar a segunda alavanca foi à idéia gerada através da

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associação entre os objetos (alavancas). Um grupo liderado pelos pesquisadores

Guthrie e Hull sustentava que as associações se davam entre estímulos e respostas, estes

eram passíveis de observação. A teoria da aprendizagem associativa, ou a capacidade

que o indivíduo tem para associar um estímulo que antes parecia não ter importância a

uma determinada resposta, ocorre pelo condicionamento, em que o reforço gera novas

condutas. Porém, as teorias de estímulo e resposta não mostraram os mecanismos da

aprendizagem, pois não levaram em conta os processos interiores do indivíduo. (Há que

se diferenciar aprendizagem de condicionamento). Tolman pesquisou que as

associações através do estímulo geravam uma impressão sensorial subjetiva.

Aprendizagem Condicionada

O reforçamento é uma noção que provém da descoberta da possibilidade que é

possível reforçar um padrão comportamental através de métodos onde são utilizadas as

recompensas ou castigos. A aprendizagem é uma proposta para integrar alunos e

professores durante a aprendizagem em sala de aula, de modo a possibilitar a construção

de conhecimentos por meio das interações. A melhoria da qualidade da prática docente

facilita o aprendizado de novos modos de ensino e expande estratégias de

aprendizagem. Na formação de Docentes é necessário ter em conta, como princípio

básico, a atuação, tornando a sua prática para muito além dos meios tradicionais de

ensino.

O princípio da aprendizagem reflexiva, considerada por alguns autores, trata da

urgência em formar profissionais, que venham a espelhar a sua própria prática, na

esperança de que a reflexão será um meio de desenvolvimento do pensamento e da

ação. A dificuldade em decifrar este conhecimento, reside no fato das ações serem

ativas, de forma diversificada em às teorias, que são mais estáticas. Desta forma, ao

descrever o conhecimento empregue numa determinada ação, com o intuito de

compreendê-la, o futuro docente, estará a praticar um processo de estrutura do seu

saber. Atualmente, muitos profissionais da área educacional contestam a existência de

uma validade universal na teoria da associação. Estes afirmam a importância de outros

fatores na aprendizagem. Exemplo típico é os educadores que seguem a linha

gestalt|gestaltista, estes defendem que os processos mais importantes da aprendizagem

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envolvem uma reestruturação das relações com o meio e não simplesmente uma

associação das mesmas. Existem também, os educadores que estudam os aspectos

psicológicos da linguagem, ou psicolinguistas. Estes, por sua vez, sustentam que a

aprendizagem de uma língua abrange um número de palavras e locuções muito grande

para ser explicado pela teoria associativa. Alguns pesquisadores afirmam que a

aprendizagem lingüística se baseia numa estrutura básica de organização elemento.

1.3 Possíveis Soluções

Diante do baixo desempenho acadêmico, as escolas estão cada vez mais

preocupadas com os alunos que têm dificuldades de aprendizagem, não sabem mais o

que fazer com as crianças que não aprendem de acordo com o processo considerado

normal e não possuem uma política de intervenção capaz de contribuir para a superação

dos problemas de aprendizagem. Neste contexto, o psicopedagogo institucional, como

um profissional qualificado, está apto a trabalhar na área da educação, dando assistência

aos professores e a outros profissionais da instituição escolar para melhoria das

condições do processo ensino-aprendizagem, bem como para prevenção dos problemas

de aprendizagem. Por meio de técnicas e métodos próprios, o psicopedagogo possibilita

uma intervenção psicopedagógica visando à solução de problemas de aprendizagem em

espaços institucionais. Juntamente com toda a equipe escolar, está mobilizado na

construção de um espaço adequado às condições de aprendizagem de forma a evitar

comprometimentos. Elege a metodologia e/ou a forma de intervenção com o objetivo de

facilitar e/ou desobstruir tal processo. Os desafios que surgem para o psicopedagogo

dentro da instituição escolar relacionam-se de modo significativo. A sua formação

pessoal e profissional implicam a configuração de uma identidade própria e singular que

seja capaz de reunir qualidades, habilidades e competências de atuação na instituição

escolar. A psicopedagogia é uma área que estuda e lida com o processo de

aprendizagem e com os problemas dele decorrentes. Acreditamos que, se existissem nas

escolas psicopedagogos trabalhando com essas dificuldades, o número de crianças com

problemas seria bem menor. Ao psicopedagogo cabe avaliar o aluno e identificar os

problemas de aprendizagem, buscando conhecê-lo em seus potenciais construtivos e em

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suas dificuldades, encaminhando-o, por meio de um relatório, quando necessário,

para outros profissionais - psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista, etc. que realizam

diagnóstico especializado e exames complementares com o intuito de favorecer o

desenvolvimento da potencialização humana no processo de aquisição do saber.

Segundo Dembo (apud FERMINO et al, 1994, p.57), "Evidências sugerem que um

grande número de alunos possui características que requerem atenção educacional

diferenciada". Neste sentido, um trabalho psicopedagógico pode contribuir muito,

auxiliando educadores a aprofundarem seus conhecimentos sobre as teorias do ensino-

aprendizagem e as recentes contribuições de diversas áreas do conhecimento,

redefinindo-as e sintetizando-as numa ação educativa. Esse trabalho permite que o

educador se olhe como aprendente e como ensinante. Além do já mencionado, o

psicopedagogo está preparado para auxiliar os educadores realizando atendimentos

pedagógicos individualizados, contribuindo para a compreensão de problemas na sala

de aula, permitindo ao professor ver alternativas de ação e ver como as demais técnicas

podem intervir, bem como participando do diagnóstico dos distúrbios de aprendizagem

e do atendimento a um pequeno grupo de alunos. Para o psicopedagogo, a experiência

de intervenção junto ao professor, num processo de parceria, possibilita uma

aprendizagem muito importante e enriquecedora, principalmente se os professores

forem especialistas nas suas disciplinas. Não só a sua intervenção junto ao professor é

positiva. Também o é a sua participação em reuniões de pais, esclarecendo o

desenvolvimento dos filhos; em conselhos de classe, avaliando o processo

metodológico; na escola como um todo, acompanhando a relação professor e aluno,

aluno e aluno, aluno que vem de outra escola, sugerindo atividades, buscando

estratégias e apoio. Segundo Bossa (1994, p.23). Cabe ao psicopedagogo perceber

eventuais perturbações no processo aprendizagem, participar da dinâmica da

comunidade educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações

metodológicas de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do

grupo, realizando processos de orientação. Já que no caráter assistencial, o

psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos

no contexto teórico/prático das políticas educacionais, fazendo com que os professores,

diretores e coordenadores possam repensar o papel da escola frente a sua docência e às

necessidades individuais de aprendizagem da criança ou, da própria ensinagem. O

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estudo psicopedagógico atinge seus objetivos quando, ampliando a compreensão

sobre as características e necessidades de aprendizagem de determinado aluno, abre

espaço para que a escola viabilize recursos para atender às necessidades de

aprendizagem. Para isso, deve analisar o Projeto Político-Pedagógico, sobretudo quais

as suas propostas de ensino e o que é valorizado como aprendizagem. Desta forma, o

fazer psicopedagógico se transforma podendo se tornar uma ferramenta poderosa no

auxílio de aprendizagem. A escola mudou com o passar dos tempos. Novas tecnologias

e metodologias ingressaram no cotidiano escolar. Professores e planos de curso tornam-

se defasados, necessitando de atualização. Paradigmas ultrapassados ou esgotados

perdem espaço para paradigmas emergentes ou inovadores - o que não diminuiu

consideravelmente o compartimento e isolamento da escola em relação à realidade de

cada educando. Muitas vezes desmotivado e amedrontado pela reprovação, num local

em que as necessidades individuais de aprendizagem não são atendidas. É neste

contexto atual que o Psicopedagogo conquista espaço. Uma observação minuciosa e

uma escuta atenta sem "pré conceitos", assinalada pela imparcialidade, pode detectar a

real problemática da instituição escolar. "Esse é o papel do psicopedagogo nas

instituições: olhar em detalhe, numa relação de proximidade, porém não de

cumplicidade", afirma Césaris (2001); facilitando o processo de aprendizagem. Afinal, a

Psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do processo da

aprendizagem humana e assim estar resolvendo as dificuldades da mesma, ou mesmo

prevenindo-as, visando o interesse e o prazer do aluno e do professor pelo processo de

ensinar e aprender, garantindo o sucesso escolar para todos. Com vasto cabedal teórico,

a Psicopedagogia tem diversos e diferentes fatores nos quais se basear para tentar

explicar eventuais entraves no processo de aprendizagem, passando a assumir um papel

mais abrangente, "cujo principal objetivo é a investigação sobre a origem da dificuldade

de, bem como a compreensão de seu processamento,considerando todas as variáveis que

intervêm neste processo", como afirma Rubinstein (1992, p. 103). Ou seja, a linha de

trabalho definida pelo psicopedagogo, é a forma de ação e investigação para identificar

as possíveis defasagens no processo de aprender. Tamanha a complexidade deste ato,

todas as variáveis devem ser consideradas, desde uma disfunção orgânica ou uma falha

no processo de compreensão, que pode estar comprometendo a aprendizagem.

Assim, as necessidades individuais de aprendizagem não podem ser definidas por

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apenas um fator, estando ele na própria criança, no meio familiar ou no ambiente

escolar. Exatamente por isso, Ferreira (2002), ressalta: Devido a complexidade dos

problemas de aprendizagem, a Psicopedagogia se apresenta com um caráter

multidisciplinar, que busca conhecimento em diversas outras áreas de conhecimento,

além da psicologia e da pedagogia. É necessário ter noções de lingüística, para explicar

como se dá o desenvolvimento da linguagem humana e sobre os processos de aquisição

da linguagem oral e escrita. Também de conhecimentos sobre o desenvolvimento

neurológico, sobre suas disfunções que acabam dificultando a aprendizagem; de

conhecimentos filosóficos e sociológicos, que nos oferece o entendimento sobre a visão

de homem , seus relacionamentos a cada momento histórico e sua correspondente

concepção de aprendizagem. A Psicopedagogia Educacional pode assumir tanto um

caráter preventivo bem como assistencial. Na função preventiva, segundo Bossa (2000)

cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo de aprendizagem,

participar da dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a integração,

promovendo orientações metodológicas de acordo com as características e

particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos de orientação . Já no

caráter assistencial, o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração

de planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas educacionais, fazendo com

que professores, diretores e coordenadores possam repensar o papel da escola frente a

sua docência e às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou, da própria

"ensinagem". Participando da rotina escolar, o psicopedagogo interage com a

comunidade escolar, participando das reuniões de pais - esclarecendo o

desenvolvimento dos filhos; dos conselhos de classe - avaliando o processo didático

metodológico; acompanhando a relação professor-aluno - sugerindo atividades ou

oferecendo apoio emocional e, finalmente acompanhando o desenvolvimento do

educando e do educador no complexo processo de aprendizagem que estão

compatilhando. Apesar desta dinâmica, Ferreira (2002), adverte: (...) Mesmo que a

escola passe a se preocupar com os problemas de aprendizagem, nunca conseguiria

abarcá-los na sua totalidade, algumas crianças com problemas escolares apresentam um

padrão de comportamento mais comprometido e necessitam de um atendimento

psicopedagógico mais especializado em clínicas. Sendo assim, surge a necessidade de

diferentes modalidades de atuação psicopedagógica; uma mais preventiva com o

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objetivo de estar atenuando ou evitando os problemas de aprendizagem dentro da

escola e outra, a clínico-terapêutica, onde seriam encaminhadas apenas as crianças com

maiores comprometimentos, que não pudessem ser resolvidos na escola.

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CAPITULO 2

O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO

2.1 Quem é o psicopedagogo

O que é a Psicopedagogia? Qual o seu objeto de estudo? Quem é o

Psicopedagogo? Quais as possibilidades de atuação? A Psicopedagogia surge para

atender crianças, que por diferentes razões, não conseguem aprender. É uma área de

conhecimento e atuação junto à aprendizagem humana. Seu objeto de estudo é o sujeito

em processo de aprendizagem. O psicopedagogo é o profissional capacitado para se

ocupar da prevenção e do tratamento das dificuldades de aprendizagem. O espaço de

atuação em Psicopedagogia no Brasil, que de início se restringia às clínicas, se expande

até as instituições escolares, hospitais, empresas e o campo da pesquisa. Um estudo

sobre a história da Psicopedagogia nos remete à Europa do século XIX. Segundo

BOSSA (2000), as primeiras iniciativas para atender crianças com dificuldades de

aprendizagem se deram na França, onde o atendimento era feito por profissionais da

Medicina, Psicologia, Psicanálise e Pedagogia. Esse atendimento alcança sucesso e se

espalha por diferentes países. Na Argentina, a Psicopedagogia se torna atividade

popular e rotineira, sendo desenvolvida na rede pública de ensino. A Psicopedagogia no

Brasil surge com a influência da Argentina, devido à proximidade geográfica e à

presença de psicopedagogos argentinos ministrando cursos e desenvolvendo atividades

no nosso país. No Brasil os primeiros cursos e experiências psicopedagógicas surgem

por volta de 1970. Na década de 80 é criada a Associação Brasileira de Psicopedagogia

(ABPp). A ABPp, com sede em São Paulo, conta com treze sessões em diferentes

estados brasileiros e dez núcleos regionais. O desafio da Psicopedagogia no Brasil é ver

concluído o processo de regulamentação da profissão e ampliar seu espaço de

atendimento. Há uma evolução no conceito de Psicopedagogia. Quando surge, tem uma

visão organicista e patologizante da dificuldade de aprendizagem. Seu objetivo era fazer

a reeducação das crianças portadoras de deficiências. Avançou ao considerar seu objeto

de estudo o processo de aprendizagem com todas as variáveis que nele interferem. Seu

objetivo passou a ser a investigação da etiologia da dificuldade, seu significado para a

criança e sua família, a sua modalidade de aprendizagem e reais possibilidades para

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aprender. Atualmente, define-se a Psicopedagogia como uma área cujo objeto de

estudo é o ser cognoscente e que tem como objetivo facilitar a construção da

aprendizagem e da autonomia desse ser identificando e clarificando os obstáculos que

podem impedir que esta construção se faça. O psicopedagogo é um profissional

capacitado para atuar junto à aprendizagem humana, considerando em sua ação todas as

dimensões desse processo. Sua atuação vai além das questões relacionadas aos

"problemas" de aprendizagem. Dirige-se para três vertentes: a psicopedagogia clínica ou

curativa, a preventiva e a da pesquisa científica. A primeira tem como objetivo devolver

ao sujeito, com dificuldades, o desejo e as possibilidades de aprender; a segunda

modalidade tem como objetivo o aperfeiçoamento das práticas educativas, facilitando o

processo de aprendizagem, atenuando ou evitando os problemas. Através da pesquisa, o

psicopedagogo está contribuindo para o fortalecimento da Psicopedagogia e

aperfeiçoamento do trabalho junto às crianças e aos jovens brasileiros. No Brasil, a

Associação Brasileira de Psicopedagogia está credenciando para atuar os

psicopedagogos que se formaram em cursos de pós-graduação reconhecidos por ela, que

iniciam o atendimento sob a supervisão de um psicopedagogo credenciado e que seja

associado da ABP. No Brasil, de início, a prática psicopedagógica estava restrita aos

consultórios e às clínicas onde se tratava, individualmente, as crianças com problemas

de aprendizagem. Essa prática se faz necessária onde as dificuldades já se instalaram.

Após cuidadoso diagnóstico, desenvolvido com instrumentos específicos da

Psicopedagogia, faz-se a intervenção com o objetivo de devolver no sujeito o desejo e a

possibilidade de aprender. Atualmente o espaço para a Psicopedagogia se amplia.

Cresce o número de instituições escolares, hospitais e empresas que contam com a

atuação do psicopedagogo. Nessas instituições o atendimento é preferencialmente

preventivo e se dirige a grupos específicos ou à instituição como um todo. A

Psicopedagogia escolar tem como objetivo ampliar as possibilidades de aprendizagem

de todas as pessoas da escola. Como assessor ou membro da equipe, o Psicopedagogo

ouve e discute os assuntos da escola, propõe mudanças, elabora propostas educativas,

faz mediação entre os diferentes grupos envolvidos na relação ensino-aprendizagem

(alunos, professores, famílias, funcionários), aprimora e cria metodologias e estratégias

que garantem melhor aprendizagem; colabora na formação dos professores,

possibilitando a ampliação de seus conhecimentos sobre o aluno, metodologias e

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estratégias de ensino adequadas; trabalha com grupos específicos dentro da escola.

Nas instituições de saúde, o atendimento psicopedagógico se faz como uma alternativa

de apoio ao paciente interno visando minimizar suas perdas e diminuir o impacto

causado pela doença. Nas empresas, o psicopedagogo atua ampliando formas de

treinamento, desenvolvendo criatividade e a melhoria das relações, participando na

elaboração, no desenvolvimento e na avaliação de projetos, propondo e coordenando

cursos de atualização. A preocupação com a reflexão teórica sobre a prática

psicopedagógica se manifesta no crescente número de trabalhos publicados. A

Psicopedagogia cresce, construindo seu próprio saber teórico. O fundamento da

Psicopedagogia é o estudo e atuação junto ao sujeito em processo de aprendizagem. É

uma atividade ampla e complexa, que exige do psicopedagogo conhecimento

interdisciplinar que o torna capaz de atuar na compreensão da aprendizagem e do

desenvolvimento integral do sujeito, contribuindo para que cada um, a partir de sua

originalidade, aprenda a ser, a conhecer, a fazer e a conviver. A profissão é reconhecida

pela sociedade brasileira e se fortalece com o desafio de aperfeiçoar seu trabalho e de

ampliar seu atendimento, abrindo as portas a todas as crianças.

2.2 A função social do psicopedagogo

Este assunto versa sobre a importância de se pensar o conjunto de relações entre

escola, Estado e sociedade, refletindo desta forma o processo educativo na condição de

formador de conceitos e capaz de moldar a própria humanidade. Daí a importância do

psicopedagogo face ao contexto ensino-aprendizagem. Até porque, o atual paradigma

de competência repousa em uma ação humana criativa, contextualizada, adequada à

realidade, respaldada no conhecimento científico e realizada com muita maturidade

emocional.

Cronologia da Educação no Brasil

A escola, enquanto instituição surge com o estado democrático burguês, fruto da

Revolução Francesa. A burguesia tinha a escola como objeto de ascensão e ostentação

social. No Brasil, a educação escolar só se consolida com a vinda da Corte Portuguesa.

A dicotomia capitalismo/socialismo se acentua com a Guerra Fria. Os marxistas

defendiam programas de “educação de base” e os capitalistas, por sua vez, a

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“universalização do ensino” e a denominada “educação para todos”. A LDB – Lei de

Diretrizes e Bases da educação Nacional, é projetada inicialmente por Darcy Ribeiro,

com as seguintes tendências para o século XXI:

•Universalização do ensino, igualdade de acesso e permanência na escola, cuja

gestão democrática seja pautada com a inserção do Plano Decenal de Educação – PDE –

anos 1990/2000;

•“Aprender a aprender”, como instrumento de valorização dos processos de

aprendizagem face aos recursos didáticos implantados como balizadores da educação de

qualidade;

•Qualidade educacional como ferramenta de acesso à novas oportunidades de

valorização do corpo docente;

A escola atual, no sentido da relação para com o Estado, necessita de se adequar

à política educacional emanada do sistema, como forma de inserção social. Existem,

portanto, tendências que podem ser expressas face às suas características, como sendo:

•Todas as instituições necessitam estar contextualizadas, no estabelecimento de

compromissos sociais;

•Não há uma relação biunívoca entre ensino/aprendizagem e, a crucial pedagogia

não se resume apenas num bom ensino;

•Qualquer ciência tem, também, suas limitações.

Nesse contexto, a cultura não pode mais ser vista como simplesmente um

acúmulo do saber. O homem culto, na atualidade, é aquele que sabe onde encontrar a

informação necessária, tendo, pois, condições de selecioná-la com sobriedade. A

sociedade globalizada, no entanto, apesar de mensurar possibilidades de criação de uma

cultura tida como universal, aguça o individualismo e a competição. Diante dos desafios

da pós-modernidade, a escola muda ou desaparece. (Ilich, 1977). Os processos de

ensino/aprendizagem e, sobretudo os de avaliação, precisam ser adaptados e

reformulados para atender as necessidades reais e individuais. O homem é um ser da

comunicação, no sentido de que, para saber o que é, para saber de si, precisa estar com o

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outro. A Psicopedagogia tem o papel de desempenhar na nova escola, o conhecimento

que tem, com objetivos consolidados, como: velar, cuidar, organizar as relações

comunicativas. Sendo primordial o papel do psicopedagogo, algo decisivo na formação

do profissional do século XXI. O Psicopedagogo tem a função de ser “suporte”, quer

dizer, um mediador de informações, indicando caminhos possíveis a serem trilhados

pelo sujeito. Aprender a lidar com o desconhecido, com o conflito, com o inusitado,

com o erro, com a dificuldade, transformar informação em conhecimento, ser seletivo e

buscar na pesquisa as alternativas para resolverem os problemas que surgem são tarefas

que farão parte do cotidiano do psicopedagogo. A escola, no cumprimento da sua

função social, deverá desenvolver nas crianças e jovens que nela confiam a sua

formação, competências e habilidades para prepará-los para agir conforme as exigências

da contemporaneidade. Como não há como se distanciar desta realidade, todos os

profissionais da educação sentem a necessidade de refletir sobre suas ações pedagógicas

no que diz respeito a conhecer e reconhecer a importância do sujeito da aprendizagem,

a entender o que pode facilitar ou impedir que se aprenda. Auxiliando professores e

todos aqueles envolvidos com a questão do aprender, surgiu a Psicopedagogia, ciência

nova que se destina a buscar as causas dos fracassos escolares e resgatar o prazer de

aprender numa visão multidisciplinar, podendo orientar as instituições escolares e seus

professores e atender a pais e alunos na perspectiva de transformar as relações com o

aprendizado. Nas relações entre escola, Estado e sociedade, o psicopedagogo pode vir a

ser o profissional que articula instâncias reguladoras entre os diversos âmbitos da

realidade educacional.

2.3 A importância em relação ao quadro educacional

O psicopedagogo pode atuar em diversas áreas, de forma preventiva e

terapêutica, para compreender os processos de desenvolvimento e das aprendizagens

humanas, recorrendo a várias estratégias objetivando se ocupar dos problemas que

podem surgir. Numa linha preventiva, o psicopedagogo pode desempenhar uma prática

docente, envolvendo a preparação de profissionais da educação, ou atuar dentro da

própria escola. Na sua função preventiva, cabe ao psicopedagogo detectar possíveis

perturbações no processo de aprendizagem; participar da dinâmica das relações da

comunidade educativa a fim de favorecer o processo de integração e troca; promover

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orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos;

realizar processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma

individual quanto em grupo. Numa linha terapêutica, o psicopedagogo trata das

dificuldades de aprendizagem, diagnosticando, desenvolvendo técnicas remediativas,

orientando pais e professores, estabelecendo contato com outros profissionais das áreas

psicológica, psicomotora. fonoaudiológica e educacional, pois tais dificuldades são

multifatoriais em sua origem e, muitas vezes, no seu tratamento. Esse profissional deve

ser um mediador em todo esse processo, indo além da simples junção dos

conhecimentos da psicologia e da pedagogia. O psicopedagogo pode atuar tanto na

Saúde como na Educação, já que o seu saber visa compreender as variadas dimensões

da aprendizagem humana. Da mesma forma, pode trabalhar com crianças hospitalizadas

e seu processo de aprendizagem em parceria com a equipe multidisciplinar da

instituição hospitalar, tais como psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e médicos.

No campo empresarial, o psicopedagogo pode contribuir com as relações, ou seja, com

a melhoria da qualidade das relações inter e intrapessoais dos indivíduos que trabalham

na empresa. Os psicólogos educacionais desenvolvem o seu trabalho em conjunto com

os educadores de forma a tornar o processo de aprendizagem mais efetivo e

significativo para o educando, principalmente no que diz respeito à motivação e às

dificuldades de aprendizagem. Focam a sua ação não apenas nas necessidades da

criança na escola como, também, noutras áreas onde as experiências escolares têm

impacto. Alguns psicólogos escolares centram o seu trabalho no desenvolvimento das

capacidades e necessidades das crianças com dificuldades de aprendizagem, como no

caso da Desordem por défict de atenção com hiperactividade, problemas emocionais ou

problemas comportamentais. O fato de uma instituição escolar ter em seu quadro um

psicopedagogo institucional contratado, não invalida ou, não substitui as tarefas que só

podem ser executadas por um assessor, ou seja, alguém que vem de fora, vê de fora,

pontua, revela, identifica o latente naquilo que está manifesto. “A psicopedagogia

trabalha e estuda a aprendizagem, o sujeito que aprende, aquilo que ele está apontando

como a escola em seu conteúdo sociocultural. É uma área das Ciências Humanas que se

dedica ao estudo dos processos de aprendizagem. Podemos hoje afirmar que a

Psicopedagogia é um espaço transdisciplinar, pois se constitui a partir de uma nova

compreensão acerca da complexidade dos processos de aprendizagem e, dentro desta

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perspectiva, das suas deficiências.”(Nívea M. C. Fabrício). A Psicopedagogia vem

atuando com muito sucesso nas diversas Instituições, sejam escolas, hospitais e

empresas. Weiss (1992) explica que em relação à instituição, “Seu papel é analisar e

assinalar os fatores que favorecem, intervêm ou prejudicam uma boa aprendizagem em

uma instituição. Propõe e ajuda o desenvolvimento dos projetos favoráveis a mudanças,

também psicoprofiláticamente”. (Weiss, 1992, p.4). A aprendizagem deve ser olhada

como a atividade de indivíduos ou grupos humanos, que mediante a incorporação de

informações e o desenvolvimento de experiências, promovem modificações estáveis na

personalidade e na dinâmica grupal as quais revertem no manejo instrumental da

realidade. Na Argentina e na França (Pólos Culturais), este trabalho já vem sendo

desenvolvido há anos, tendo o psicopedagogo papel indispensável nas equipes

multidisciplinares destas instituições. Inspirando-nos em Rivière (1994), um dos que se

preocuparam com a questão "GRUPO", verifica-se a importância de se trabalhar estas

instituições: “A aprendizagem é uma apropriação instrumental da realidade para

transformar-se e transformá-la. Essa apropriação possibilita uma intervenção que gera

mudanças em si, e no contexto que se dá. Caracteriza-se também, por ser uma adaptação

ativa, constante na realidade. Implica, portanto, em estruturação, desestruturação e

restruturação. Isso gera tensão a qual necessita não apenas ser descarregada, mas

revitalizada, renovada, enriquecida”. (1994, p.45). Partindo da Teoria do Vínculo de

Pichon-Rivière, a investigação deveria se dar em três dimensões: individual, grupal,

institucional ou sociedade, que nos permitiria três tipos de análise:

* Psicossocial - que parte do indivíduo para fora;

* Sociodinâmica - que analisa o grupo como estrutura; e

* Institucional - que toma todo um grupo, toda uma instituição ou todo um país

como objeto de investigação.

O trabalho do psicopedagogo se dá numa situação de relação entre pessoas. Não

é uma relação qualquer, mas um encontro entre educador e educando, em que o

psicopedagogo precisa assumir sua função de educador, numa postura que se traduz em

interesse pessoal e humano, que permite o desabrochar das energias criadoras, trazendo

de dentro do educando capacidades e possibilidades muitas vezes desconhecidas dele

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mesmo e incentivando-o a procurar seu próprio caminho e a caminhar com seus

próprios pés, este é o objetivo deste profissional. Para Weiss, “a Psicopedagogia na

escola desenvolve um trabalho em que se busca a melhoria das relações com a

aprendizagem”(1992,p.6). A autora ainda explica que a qualidade na construção da

aprendizagem de alunos e educadores também é parte do trabalho da psicopedagogo.

Weiss (1992), afirma que o papel da Psicopedagogia na escola não deve ser

encarado como recurso para evitar o fracasso escolar, nem mesmo para melhorar o

rendimento dos alunos, pois estes fatos implicam outros aspectos como alunos,

professores, técnicos e equipe de apoio refletirem e buscarem um denominador comum

em relação à aprendizagem. O trabalho do psicopedagogo possibilita a reflexão, a

adoção de medidas e mudanças de atitudes sobre diferentes caminhos existentes na

produção do conhecimento em diferentes formas e níveis.

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Capítulo 3

Estratégias de prevenção dos problemas de aprendizagem

3.1 Da escola

O Brasil, ao longo de sua história, estabeleceu um modelo de desenvolvimento

excludente, impedindo que milhões de brasileiros tivessem acesso à escola ou nela

permanecessem. Com o objetivo de corrigir injustiças, eliminar discriminações e

promover a inclusão social e a cidadania para todos no sistema educacional brasileiro, o

MEC (Ministério da Educação e Cultura), comprometido com a pauta de políticas

afirmativas do governo federal, vem fortalecendo as políticas e criação de instrumentos

legais de gestão para a afirmação cidadã, valorizando a riqueza de nossa diversidade.

Com isso, na busca de se tornar uma sociedade que reconhece e respeita a diversidade

que a constitui, é preciso garantir o acesso e a permanência de todas as crianças, jovens

e adultos com necessidades educacionais especiais no sistema regular de ensino. "A

educação é um direito fundamental de todos, mulheres e homens de todas as idades, no

mundo inteiro." Ao assinar esta declaração o Brasil assumiu, perante a comunidade

internacional, o compromisso de erradicar o analfabetismo e universalizar o ensino

fundamental no país. É importante construir critérios para a organização das salas de

aula inclusivas, observando normas especificas que visa à realidade social que cada

instituição vai atender. A medida que todos forem envolvidos na reflexão sobre a

escola, sobre a comunidade a qual se origina seu aluno, sobre as necessidades dessa

comunidade e sobre os objetivos a ser alcançados por meio da ação educacional, a

escola passa a ser sentido como ela realmente é: de todos e para todos. O respeito à

diversidade, considerando que em cada escola existem pessoas com diferentes desejos,

necessidades, habilidades e conseqüentemente com diferentes formas de aprender.

Porém nem todos os alunos conseguem assimilar da mesma forma e ao mesmo tempo

os ensinamentos que a escola oferece. A proposta primordial deste trabalho é refletir

sobre as possíveis causas de crianças consideradas normais terem dificuldades de

aquisição do conhecimento veiculado pela escola. Inicialmente apresentaremos estudos

e reflexões com algumas maneiras de diagnosticar dificuldades de aprendizagem em

alunos normais, lembrando que, quando as diferenças individuais do educando não são

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reconhecidas pelo professor, ou quando o mesmo faz um diagnóstico errado e rotula o

aluno como "problema" este passa a ser um forte candidato à repetência ou evasão

escolar. As dificuldades de aprendizagem não devem ser confundidas com incapacidade

de aprender. Em seguida serão abordados os principais fatores que contribuem para o

fracasso escolar. E uma tentativa de esclarecer que alguns fatores são inatos, outros,

porém são ambientais e psicológicos. Isso reforça a idéia de que o professor precisa ser

bem preparado não apenas pra reconhecer a origem dos possíveis problemas do

educando, mas também para saber quais as providências a tomar para minimizar a

questão da não aprendizagem. Nesse sentido vale ressaltar que o professor e a escola

como um todo podem ser um elo muito importante entre educando, família e sociedade,

no intuito de observar ou até mesmo apontar solução a problemas que interferem

diretamente no fim maior da educação que é a aprendizagem do aluno. É sabido que a

sala de aula é o espaço onde o ensino é a aprendizagem escolar se efetiva. Por isso,

retratamos a importância da inclusão pedagógica no processo ensinar e aprender.

Repensar o currículo, a metodologia e a avaliação são fatores fundamentais para obter

êxito em turmas heterogêneas. Porém, esse processo de re-inventar as aulas merece

atenção especial do docente. Propostas simples e inovadoras podem direcionar o

trabalho pedagógico tradicional para uma maneira diversificada e dinâmica capaz de

atender a turma como um todo e a cada aluno em especial. Essa idéia também está

estruturada neste estudo, uma demonstração de que toda e qualquer atividade que o

professor desenvolva em sua sala de aula poderá ser um fio condutor para a

aprendizagem de todos se for bem planejado. Cada indivíduo é único. Apresenta

diferenças nas aptidões mentais, nas reações emotivas, nas preferências por certas

atividades, especialmente na capacidade para aprender. Partindo deste pressuposto, não

se pode idealizar um ensino homogêneo, onde todos os alunos aprendem da mesma

forma, sonho de quase todo professor! Mas o que fazer com as crianças que não se

desenvolvem no mesmo nível dos colegas de classe? A dificuldade de aprendizagem

vem sendo objeto de estudo há muito tempo. Segundo Auredite, era rotina submeter à

criança que apresentasse um comportamento diferente no domínio de operações

escolares como leitura, escrita e cálculos a uma bateria de testes padronizados criados

no inicio do século xx, com a finalidade de determinar o potencial de inteligência em

crianças da mesma idade. As crianças que ficassem aquém do esperado nesta faixa eram

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consideradas como débeis rotuladas como incapazes intelectualmente. Estes testes,

muitas vezes mal interpretados ou desacatados à realidade, apresentavam um resultado

incoerente com a realidade da criança testada. Este fato contribuiu para uma crescente

demanda de crianças tidas como incapazes e privadas de uma escolaridade regular,

submetendo-se a classes especiais que muito contribuíram para acentuar o estigma da

insuficiência mental. As crianças portadoras de dificuldades para aprender, eram

denominadas como portadoras de distúrbios psicomotores e de aprendizagem,

geralmente diagnosticados como portadores de Cerebral mínima (DCM), expressão

substituída posteriormente por Distúrbio do Déficit da atenção (DDA) especificamente

como, dislexia, disgrafia, discalculia, disortografia, afasia como ou sem hiperatividade.

Tais dificuldades eram decorrentes de uma lesão cerebral. Assim, a escola pouco ou

nada podia fazer, uma vez que a origem destes distúrbios era puramente orgânica,

embora não encontrassem argumentos científicos que justificassem todas as causas dos

distúrbios de aprendizagem. Com a evolução das pesquisas, a relação dificuldade de

aprendizagem com deficiência neurológica, foi-se modificando, dando lugar ao estudo

de vários outros fatores que interferem na aprendizagem da criança independente de

lesão cerebral. O esquema de desenvolvimento é comum a todas as crianças, mas vários

fatores contribuem para que crianças com a mesma faixa etárias perfeitamente normais

comportem-se de maneira diferente e criem obstáculos no aprender. Os fatores vão

desde diferenças de caráter, questões físicas e ambientais do próprio sistema de ensino.

Levando em consideração os diversos fatores que desencadeiam um problema ou

distúrbio de aprendizagem, é preciso considerar a criança como um ser social dotada de

cultura, linguagem e valores específicos, bem como suas condições de vida familiar e

não se preocupar apenas com uma anomalia. Dessa forma: "Distúrbios de aprendizagem

estão mais ligados a fatores orgânicos. Os problemas de aprendizagem estão mais

ligados às questões emocionais, sociais e familiares. As dificuldades de aprendizagem

estão mais ligadas ao processo de aprendizagem normal e podem ser decorrentes de

oscilações que marcam a diferentes etapas do desenvolvimento, mas podem ter como

causa uma inadaptação a uma metodologia, ou a uma relação mal estabelecida com a

escola ou professor" (AUREDITE, 2001, p.35). Embora independente de qualquer um

dos conceitos apresentados pela autora, na questão do não-aprender, estão presentes os

fatores biológicos, emocional, cognitivo e motor. No entanto, é preciso descobrir em

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qual área a criança se encontra mais afetada. As causa das dificuldades de

aprendizagem não são claramente identificadas, uma vez que vários fatores contribuem

para isso e, não se pode atribuir a nenhuma delas isoladamente a responsabilidade pela

inadaptação da criança na escola. A criança ingressada em uma nova pauta de relações,

em outro ambiente, com novos papéis e funções, certamente irá criar obstáculos frente à

nova situação. Desenvolvem uma série de estratégias de resistência aos esquemas

normativa impostos pelos professores. O aluno pode-se tornar apático, não se interessar

pelas atividades, não realizar as tarefas previstas, nada perguntar, não respeitar professor

e colegas, tornar-se agressivo, briguento ou uma criança retraída."O negar-se a aprender

é um sintoma que pode ser uma defesa e tem um efeito positivo sobre o sujeito".

(AUREDITE, op. cit. p.35). O professor deve contar com seus próprios conhecimentos

para detectar as dificuldades de aprendizagem que surgem dentro da sala de aula. Para

isso é necessário que esteja mais atento e mais consciente de sua responsabilidade como

educador. Pois é o modo de agir do professor em sala de aula, mais do que suas

características de personalidade, que colabora para uma adequada aprendizagem dos

alunos. E necessário que o professor observe cada aluno cuidadosamente durante as

atividades realizadas em classe, bem como na relação entre os colegas, observando seus

comportamentos, conversando com o grupo, investigando as causas de forma ampla, o

que envolve vários aspectos, inclusive o próprio método de ensino, para que possa

descobrir o que está comprometendo a aprendizagem e criar meios que possam auxiliar

o desenvolvimento forma significativa. As diferenças entre os indivíduos "são mais de

natureza quantitativa do que qualitativa. Diferem mais no grau do que na espécie".

(Martins 1984, p.147). Os alunos considerados normais possuem a mesma espécie de

aptidões e capacidades, porém em quantidade diversa. Possui maior ou menor

capacidade de memória, atenção, raciocínio, equilíbrio emocional etc. Dessa forma, as

aquisições e realizações na vida escolar vão variar. É interessante a analogia feita por

Jan Hunt em seu artigo "Distúrbios de aprendizagem": Uma rosa com outro nome, em

que compara a criança a uma rosa. Uma rosa sempre desabrocha no momento mais

oportuno para ela, não importa quando. Só precisa satisfazer as exigências de água e luz

da planta e deixar o resto por conta da natureza. Tentar retardar ou apressar o seu

processo natural de desabrochamento resultaria no murchamento da rosa. Assim

acontece com a criança. Elas nascem com a capacidade de aprender e aprendem em

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ritmos diferentes, de modos diferentes, e em tempo diferente. Desde que hes

proporcione situações adequadas, que favoreçam seu desenvolvimento total. Oferecer-

lhes a motivação de que necessitam para se sentirem seres humanos competentes e bem

sucedidos, num ambiente de ensino seguro, estimulante, paciente e sem ameaças. Deve-

se ver cada criança como um caso único, evitar rótulos traumatizantes e buscar maneiras

de intervenção que não poupem esforços, nem para encontrar caminhos específicos para

cada indivíduo, nem para buscar novos jeitos de ensinar e de fazer escola. A

aprendizagem se acha na dependência de inúmeras condições, que freqüentemente,

atuam interelacionadas. Assim o interesse do educando por determinada atividade

depende de sua idade, do ambiente sócio-cultural, das necessidades imediatas, enfim da

motivação que orienta seus comportamentos."Maturidade em termos psicológicos, é o

nível de desenvolvimento em que a pessoa se encontra em comparação com as outras

pessoas da mesma idade." (PILETTI, 1997 p. 182). Um comportamento é maduro na

medida em que for adequado à idade do individuo. Em qualquer fase da vida pode-se

falar em maturidade. A maturidade ocorre no momento em que o organismo está pronto

para a execução de determinada atividade. Não adianta querer ensinar alguma coisa à

criança antes da hora, cada criança tem sua própria hora para aprender a andar, a falar, a

ler, etc. se o aprendiz não está maduro para executar uma atividade, evidentemente não

poderá aprendê-la, porque não disporá de condições para sua realização. O bebê que

anda com onze meses apresenta maturidade na habilidade de andar enquanto que outro

bebê pode não apresenta esta mesma habilidade aos quatorze meses. O que não quer

dizer que o primeiro está mais perto do normal que o segundo. Assim ocorre o processo

de aprendizagem. Para que o educando aprenda é preciso que esteja maduro para isso,

que suas habilidades psicomotoras estejam desenvolvidas – o que pode variar de criança

para criança. Muitas dificuldades escolares surgem exatamente porque o aluno não está

preparado para as aprendizagens que lhes são propostas. O ensino e o treinamento antes

da maturação adequada podem ser inúteis e até prejudiciais. No momento de sua

entrada no sistema escolar, a criança precisa apresentar um nível de maturidade, de

desenvolvimento físico, psicológico e social, pois isto lhe facilitaria enfrentar

adequadamente as situações de aprendizagem. O processo de maturação constitui um

dos fatores que determina a prontidão para a aprendizagem e compreende quatro tipos

principais: intelectual, social, emocional e física:

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·Maturidade intelectual: refere-se ao desenvolvimento da inteligência, ou seja

do conhecimento do conhecimento que a pessoa tem de si mesma e do mundo que a

cerca. Na medida em que se desenvolve, a criança amplia seu conhecimento tanto no

sentido espacial quanto no sentido temporal.

·Maturidade social: compreende a evolução da sociabilidade, no sentido da

superação do egocentrismo infantil. De egocêntrica, preocupada apenas consigo mesma,

a criança passa a abranger um numero crescente de pessoas em suas relações, deixa de

brincar só para brincar também com os outros; quanto mais cresce, mais aceita os outros

e se torna aceita.

·Maturidade emocional: diz respeito à expressão e ao controle das emoções nas

diversas idades. Está ligada ao desenvolvimento dos sentidos básicos de amor, ódio,

medo, raiva, prazer, afeição e outros. Com o desenvolvimento, a pessoa vai aprendendo

a reconhecer suas emoções, a aceitá-las, a não deixar que elas prejudiquem outras

pessoas.

·Maturidade física: engloba o desenvolvimento das características físicas. Para

ajudar a criança a alcançar sua maturidade física, são importantes as atividades de

educação física, práticas esportivas, a expressão corporal, a dança, o teatro... Se a escola

reservar um tempo para tais atividades, estará contribuindo para um desenvolvimento

integral da criança.

Tais aspectos da maturidade são interdependentes. Um não se desenvolve sem o

desenvolvimento simultâneo dos outros. Não se aprende a escrever sem a maturidade

física do organismo, que permite segurar e movimentar o lápis ao desenho das letras.

Também não se aprende escrever sem a maturidade social necessária para ser capaz de

aceitar o outro, no caso o professor que ensina. E não se aprende a escrever sem

maturidade emocional, pois é preciso ser capaz de concentrar-se nas tarefas repetitivas

que compõem o aprendizado da escrita. (PILETTI, 1997 p.182). Nenhum aspecto da

maturidade pode ser esquecido pela escola. Todos são igualmente importantes para o

desenvolvimento do ser humano, para a formação da pessoa adulta. A motivação é a

base para a aprendizagem. Sem motivação não há aprendizagem, por mais que o

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professor se esforce para ensinar de mil maneiras diferentes e interessantes, se o aluno

não estiver motivado ele não vai aprender. Não adianta o aluno estar amadurecido ou ter

experiências anteriores favoráveis. Recompensas e punições também não resolvem se o

aluno não quiser aprender. Antes do inicio de qualquer processo de aprendizagem, é

preciso ver quais as motivações do aluno e procurar adequar a aprendizagem a tais

motivações. O aluno só aprenderá se estiver convencido de que essas aprendizagens

satisfarão suas necessidades. É importante que os objetivos propostos pela escola e pelo

professor coincidam com os objetivos do aluno. Caso contrário, o aluno não se

preocupará em atingi-los, pois não satisfarão suas necessidades. Quanto mais motivado

o aluno, mais disposição terá para aprender, e melhores serão seus resultados. Uma

parte importante dessa motivação reside no interesse do aluno naquilo que ele está

aprendendo. Quando o aluno aprende algo que tem interesse para sua vida quotidiana,

isso adquire maior significado para ele e torna-se imediatamente identificado como

formação útil. Nessas circunstâncias, ele aprende melhor. Muitas vezes uma pessoa

sente-se levada a fazer algo para evitar uma punição ou para conquistar uma

recompensa. Em ambos os casos, a iniciativa para a realização da tarefa não partiu da

própria pessoa, mas de um terceiro que a estimulou de alguma forma para que ela se

movimentasse em direção ao objetivo pretendido. A pessoa não teria caminhado em

direção ao objetivo coso não houvesse a punição ou recompensa. As pessoas podem

também agir levadas por um impulso interno, por uma necessidade interior, neste caso,

existe vontade própria para alcançar o objetivo. Quando uma pessoa se põe a caminho

de um objetivo, os fatores que a levam a caminhar naquela direção podem-lhe ser

intrínsecos ou extrínsecos. Dessa forma pode-se dizer que existem dois tipos de

motivação: a intrínseca e a extrínseca.

·Motivação extrínseca: refere-se a uma valorização que vem do meio externo.

Estímulo, reforços, prêmios, elogios, incentivos, tudo isso são fatores que surgem de

fora da pessoa para movê-la rumo à realização de certas ações que ela normalmente não

colocaria em prática. É nisso que consiste a motivação extrínseca.

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·Motivação intrínseca: refere-se a algo que as pessoas fazem por razões

próprias e para satisfação interna. Ela decorre dos interesses naturais do aluno, da

curiosidade que o professor conseguiu despertar nele, do desejo de sucesso e de auto-

realização.

A motivação ideal é a intrínseca, mas nem sempre esta ocorre ou está presente.

As pessoas não nascem gostando de tudo. O gosto também vai sendo aprendido, em

função de necessidades, da maturidade e de experiências anteriores bem sucedidas.

Toda criança precisa aprender muita coisa, e inicialmente muitas dessas coisas não lhe

oferecem qualquer interesse. Daí a necessidade da motivação externa. Recompensas e

estímulos são úteis para começar e para encaminhar os interesses e formar hábitos nas

crianças para apreciar as coisas pelo que são e não para ganhar recompensas. (ARAUJO

E CHADWICK, 2001 p. 276). Uma das principais tarefas para professores é provocar

interesse e envolvimento no assunto até quando os estudantes não estiverem

inicialmente interessados nele. O objetivo é fazer o aluno passar da motivação externa

para a motivação interna, pois a motivação que decorre de um genuíno interesse em

aprender é muito mais duradoura e valiosa do que a que provém do interesse de

aprender apenas para ganhar uma recompensa. Contudo os professores não são

responsáveis pela motivação de seus alunos. Eles podem apenas encorajar por palavras

e ações. A motivação real vem de cada individuo. Um dos mais graves problemas da

educação brasileira é o fracasso escolar, principalmente nas classes sociais menos

favorecidas. Manifesta-se pelo grande número de reprovações nas séries iniciais do

ensino fundamental, insuficiente alfabetização, exclusão da escola ao longo dos anos,

dificuldades escolares não superadas que comprometem o prosseguimento dos estudos.

Vários alunos são retirados da escola para ajudar os pais no campo, devido a

necessidades especificas, prejudicando assim, a sua vida escolar. Nem todos têm

objetivos definidos, tais como: sobressair no mercado de trabalho, ter uma vida digna,

ser um indivíduo ativo, pensante e formador de opinião. Percebe-se que as escolas

brasileiras não estão preparadas para trabalhar com crianças de vários níveis, tanto

social, econômico e cultural. Libâneo admite que: "o aluno na maioria das vezes é

discriminado pelo professor no início do ano, quando o professor olha na face dos

alunos e diz: quais terão sucesso no final do ano. Geralmente, essa previsão acaba-se

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concretizando, pois os reprovados no final do ano são aqueles já marcados pelo

professor. Além disso, alunos com diferente aproveitamento recebem tratamento

desigual, pois o professor prefere os que melhor correspondem as suas expectativas do

bom aluno. Muitas vezes, por falta de cautela, os professores estabelecem padrões,

níveis de desempenho escolar tendo como referência o aluno considerado "normal",

estudantes com poder aquisitivo alto, intelectuais vistos como modelos de aluno ótimo.

Crianças que não se enquadram nesse aspecto são consideradas fortes candidatos à

reprovação escolar. Essa é uma maneira de discriminar as crianças menos favorecidas,

dessa forma, pode-se dizer que a assimilação de conhecimentos e o desenvolvimento

das capacidades mentais dos alunos estão ligados às condições econômicas e culturais

dos mesmos. É comum os professores justificarem as dificuldades apresentadas pelos

alunos como pouca inteligência, imaturidade, problemas emocionais, falta de

acompanhamento dos responsáveis e outros. Esses problemas existem, mas nem por

isso é coerente colocar a culpa do fracasso na família. A influência do meio,

especialmente do ensino, pode facilitar ou dificultar o desenvolvimento intelectual. Se o

meio social da criança não pode dar boas condições para o desenvolvimento intelectual,

o ensino deve proporcionar um ambiente estimulante, calmo e harmonioso com a

finalidade de resgatar o aluno. Para que isso aconteça, o professor necessita estar

preparado emocional e intelectualmente há também, deficiências na organização do

ensino que decorrem dos objetivos e programas ( muito extensos ou muito resumido; da

inadequação à idade e ao nível de preparo dos alunos para a sua assimilação; da sua não

vinculação com os fatores e acontecimentos do meio natural e social: das formas de

organização da rotina escolar ( por exemplo, em boa parte das escolas públicas há uma

redução do período de permanência das crianças na escola, suspensão de aulas por

qualquer motivo, substituição de professores etc.' ( Libâneo op. Cit. P.42). Todos os

fatores supracitados interferem no ensino e na aprendizagem, podendo causar vários

transtornos na vida do indivíduo. A qualidade de ensino não se separa das

características econômicas, sócio – culturais e psicológicas da clientela atendida.

Percebe - se que o aluno que tem maior contato com os livros e realizam tarefas

educacionais, o rendimento é bem melhor ao comparar com os alunos que não tenham

os requisitos citados. O ensino pode contribuir para a superação do fracasso escolar,

desde que os objetivos e os conteúdos sejam atraentes e adequados.Existem inúmeros

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fatores que podem provocar um problema ou distúrbio de aprendizagem. São

considerados fundamentais:

a)Fatores orgânicos – Saúde física deficiente, falta de integridade neurológica

(sistema nervoso doentio), alimentação inadequada etc.

b)Fatores psicológicos – Inibição, fantasia, ansiedade, angústia, inadequação à

realidade, sentimento generalizado de rejeição etc.

c)Fatores ambientais - o tipo de educação familiar, o grau de estimulação que a

criança recebe desde os primeiros dias de vida, a influência dos meios de comunicação e

outros.

Nota – se que há vários fatores que exercem influência na aprendizagem dos

alunos. Deve-se refletir em todos e não colocar toda a culpa nas crianças ou nos

responsáveis e repensar na prática pedagógica. Esses fatores dividem em orgânicos,

psicológicos e ambientais. A proposta do sistema educacional brasileiro é dar, para cada

criança, a oportunidade de aprender tanto quanto sua capacidade permitir. O que

percebe, é que todos são capazes, não importa a sua deficiência. Quem trabalha com

crianças deve conhecê-las, não precisa ser especialista, mas precisa ter conhecimentos

básicos sobre o que é uma criança. Seus aspectos biológicos, psicológicos e sociais. A

partir do momento que o professor perceber qualquer comportamento estranho no

aluno, tentar resolver ou encaminhá-la para os canais competentes tais como: gestores

da escola, família, sociedade, especialistas e outros. De acordo com alguns estudos

feitos compreende-se que a criança depende do meio em que vive. Se for criada no

ambiente conturbado, seu desenvolvimento escolar estará prejudicado, tais como: falta

de interação, inquietação, timidez, fobia, agitação, retardamento mental. No

estabelecimento de ensino, o professor deve estar sempre atento às etapas do

desenvolvimento do aluno, pois cada etapa necessita de uma atenção especial,

facilitando a aprendizagem, atribuindo confiança e afeto ao aprendiz. Segundo Piaget,

são quatro as etapas de desenvolvimento: Sensório- motor, Pré- operatório, Operatório-

concreta, Operatório formal.

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a) Período sensório motor- vai do nascimento até aproximadamente os dois

anos de idade. Os esquemas sensório-motor são construídos a partir de reflexos inatos

(o de sucção, por exemplo), usados pelo bebê para lidar como o ambiente. Dentre as

principais aquisições do período sensório-motor, destaca-se a construção da noção "eu",

através da qual a criança diferencia o mundo externo do seu próprio corpo.

b)Período pré- operatório- marcado pelo aparecimento da linguagem oral, por

volta dos dois anos. Nessa fase, a criança é capaz de interiorizar ações, porém, diferente

do pensamento adulto, porque nesta fase a criança é muito egocêntrica.

c)Período operatório- concreto- por volta dos sete anos de idade é a etapa do

pensamento lógico e das atividades concretas.

d)Período operatório formal - a partir dos treze anos de idade; nessa fase, o

pensamento se torna livre das limitações da realidade concreta; é a fase da liberação do

pensamento, das amarras do mundo concreto. Permitirá ao adolescente pensar e

trabalhar, não só com a realidade concreta, mas também com a realidade possível.

(1997, p.20). É a família que primeiro proporciona experiências educacionais à criança,

com objetivo de orientá-la. Tais experiências resumem-se num treino, que, algumas

vezes, é realizado no nível consciente, mas que, na maior parte das vezes, acontece sem

que os pais tenham consciência de que estão tentando influir sobre a conduta dos filhos.

Este tipo de aprendizagem e ensino em diferentes níveis de consciência dá-se durante

todo o tempo, dentro ou fora da escola. Os pais e os professores estão sempre ensinando

simultaneamente em diferentes níveis de consciência, e as crianças estão sempre

aprendendo em diferentes níveis. "As coisas ensinadas ou aprendidas conscientemente

podem ou não ser importantes e podem ou não fixar-se". Lindgren (1997, p. 86) Para

Gagné "A experiência é o maior dos mestres; isto significa que os acontecimentos

vividos pelo indivíduo em desenvolvimento em sua casa, em seu meio geográfico, na

escola e em seus vários ambientes sociais - determinaram o que ele vai aprender e,

também, em grande parte, a espécie de pessoa que se tornará". (1975 p.2). Qualquer

problema de aprendizagem requer grande trabalho do professor junto à família da

criança, para diagnosticar situações e levantar características, com a finalidade de

descobrir o que está representando dificuldade ou empecilho para que o aluno aprenda.

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Os distúrbios de comportamento constituem um assunto de grande preocupação para

os professores porque, embora muitos casos exijam assistência especializada, a "criança

problema" geralmente permanece em sala, mesmo enquanto o tratamento está-se

realizando. Muitos psicólogos classificam os distúrbios de comportamento em duas

categorias: problemas de conduta e de personalidade. Os problemas de conduta

relacionam-se a comportamentos que perturbam totalmente as outras pessoas e podem

ser dirigidos contra elas, visto que são inimigos, agressivos, destrutivos, às vezes

envolvendo delito e psicopatologia. Mediante os estudos de José e Coelho: Os

problemas de personalidade são de caráter neurótico e podem ser chamados de

"comportamentos esquivo", isto é, a criança tem medo dos outros, sente, se ansiosa,

evita situações que possam expô-la à crítica, ao ridículo ou à rejeição. (COELHO, 2004,

p.168). Os problemas de conduta geralmente chamam mais atenção do que os

problemas de personalidade. Os problemas de personalidades não são facilmente

identificados pelo fato de que, em geral, crianças com problemas de personalidade são

submissas e obedientes, dificultando a observação. O meio onde a criança convive,

influência no comportamento, acarretando danos ou benefícios para a aprendizagem. A

criança não interage com outras pessoas. O sintoma pode aparecer desde os primeiros

anos de vida. A criança vive num mundo particular e não socializa. Segundo José e

Coelho, "No momento do nascimento, a criança é de aparência normal". Só aos oito

meses é que se observa a ausência dos movimentos antecipadores habituais. Quando

chamamos uma criança normal de oito meses para vir ao colo, ela estende os braços e se

adapta ao nosso corpo. O autista já não estende os braços e não se ajeita se o pegarmos.

(2004, p. 170). É freqüente o diagnóstico incorreto do autista, confundindo-o com casos

de retardamento mental, surdo-mudez, afazia e outras síndromes. Quanto mais cedo se

identificar o autismo, mais rápido será o tratamento e, em alguns casos é possível a

recuperação. O tratamento indicado é a psicoterapia prolongada, que em certos casos

devem-se atender também os pais. É importante o trabalho multidisciplinar (psiquiatria,

psicologia, neurologia etc.). São catorze os sintomas característicos e a presença de sete

já é o bastante para definir o autista. Características da criança autistas mais evidentes:

·Não se mistura com outras crianças.

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·Não demonstra medo de perigos reais.

·Risos e movimentos não apropriados.

·Resiste ao contato físico.

·Modo e comportamento indiferente e arredio.

·Acentuada hiperatividade física.

·Usam pessoas como ferramentas.

Embora a presença de uma criança totalmente autista seja rara na escola do

ensino fundamental, é importante que o professor tenha conhecimento dos sintomas

característicos desse distúrbio, pois as crianças que conseguem se recuperar

parcialmente podem vir a freqüentar classes normais. Encontram-se crianças agressivas,

devido à influência do seu meio social. Vários fatores contribuem: rejeição dos pais ou

parentes, excessiva tolerância da agressividade; falta de supervisão dos pais ou

responsáveis; desvios sociais dos pais e parentes: desavenças em família; tratamento

inadequado (superproteção e / ou punição); uso de punições físicas dolorosas; ameaças

de punição física. Para amenizar agressividade no estabelecimento escolar é necessário

orientar os alunos quanto à importância da harmonia, mostrando que nenhum indivíduo

vive sozinho. Segundo José e Coelho, várias atitudes podem ser feitas, evitando

agressividade no recinto escolar tais como:

·Estabelecer contrato didático, juntamente com a classe, aceitando sugestões e

argumentando com seriedade sobre as conseqüências dos atos violentos;

·Selecionar os alunos e atribuir tarefas. Exemplo: supervisionar a sala;

·Incentivar os alunos com símbolos comportamentais;

·Trabalhar sempre com atividades relevantes, com intuito de não deixarem os

alunos ociosos;

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·Sugar as energias dos alunos, atribuindo tarefas de acordo com os seus

talentos, ex.: pintura, montagem, encenações teatrais.(op.cit.p.175). De acordo com os

estudos feitos de José e Coelho, à incapacidade total ou parcial de freqüentar a escola

dá-se o nome de fobia escolar. Ocorre com alunos de todos os níveis sociais, qualquer

grau de escolaridade e diferentes níveis de inteligência. Manifesta-se através de

ansiedade, susto, náuseas, vômitos, diarréia, dores de cabeça e de barriga, falta de

apetite, palidez, febre etc. A criança até vai à escola, mas quando chega começa a sentir

esses sintomas ou chora. Para combater a fobia escolar, precisa do apoio da família e

professores. Professores no sentido de orientar as mães para ser mais calma, tranqüila,

carinhosa, mas firme e determinada, no sentido de fazer com que o filho permaneça

sozinho na escola. A família pode ficar com o filho na escola até que o mesmo se

acostume e se adapte. Não se deve confundir a fobia escolar com o medo natural dos

primeiros dias de aula, sobretudo na pré-escola. Se persistir a reação por várias

semanas, deve-se suspeitar de fobia escolar. A criança é mais fácil para se tratar e

contornar o problema. Adolescentes e adultos só conseguem algum resultado através da

psicoterapia intensa. O comportamento de uma criança fóbica é gerado através de uma

superproteção dos pais, que com este comportamento encoraja o filho a ficar em casa,

inventando desculpas ou até mesmo doenças. Outro caso é quando o aluno teve

experiências infelizes. Os alunos com fobia escolar necessitam de atenção especial tanto

fora como dentro do estabelecimento de ensino. A criança já nasce com uma série de

características mais ou menos pronunciadas. Algumas são inibidas e outras

extrovertidas. Quando é superprotegida e lesada, não consegue sobressair devido a sua

timidez. A falta de independência limita o meio escolar e social. Não se deve confundir

a criança tímida com a parada ou desinteressada. Todas precisam de amor, apoio, paz,

afeto dos pais, professores e demais funcionários. Para José e Coelho, a timidez

excessiva de uma criança deve ser encarda com seriedade. Provém em geral de um

complexo de inferioridade cultivado por pais, irmãos, outros adultos e colegas através

de frases que depreciem, subestimem ou ofendam. São frases que impedem a criança de

confiar em sim mesma e geram a timidez que pode acompanhá-la durante toda a vida,

prejudicando suas relações futuras. (op.cit, p.180). Ansiedade, inquietação, euforia e

distração freqüentes podem significar mais do que uma fase na vida de uma criança: os

exageros de conduta diferenciam quem vive um momento atípico daqueles que sofrem

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de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDHA), doença precoce e

crônica que provoca falhas nas funções do cérebro responsáveis pela atenção e

memória. O transtorno de déficit de atenção / hiperatividade é um problema que atinge

uma parte do cérebro do ser humano causando algumas variações de comportamento

como: desatenção, agitação e impulsividade. Estes transtornos levam as crianças a

desenvolverem grandes dificuldades em relacionamentos bem como apresentarem

comportamentos variados. Esses distúrbios são percebidos nas crianças que se distraem

com facilidade e em muitos casos são prejudicados na aprendizagem escolar e no seu

dia a dia social. Por isso é importante que a escola capacite seus profissionais e também

contrate profissionais especializados que possa encaminhar essas crianças à especialista

para que se realizem diagnóstico preciso. De origem genética, o transtorno de déficit de

atenção/hiperatividade tem como fatores predominantes, e não necessariamente

simultâneos, a desatenção, a impulsividade e a hiperatividade, além de influências

externas relevantes, como traumas inclusiva cerebrais, infecções, desnutrição ou

dependência química dos pais. Segundo, "Não se trata de rotular essas crianças, mas de

reconhecer que apresentam um conjunto de sintomas que as colocam em risco." (Rohde,

p.48, 2003- Revista Pátio.). Muitas crianças hiperativas são classificadas pelos pais e

profissionais da educação como preguiçosos, incapazes, indisciplinados, mal educados,

inquietos... No entanto antes de classificar estas crianças com rótulos depreciativos é

importante que os educadores procurem estar informados sobre o assunto para tomar as

devidas providências. Sintomas mais conhecidos da hiperatividade:

Desatenção

·Tem dificuldades em organizar tarefas e atividades;

·Perde coisas necessárias para as tarefas e atividades, tais como brinquedos,

obrigações escolares, lápis, livros ou ferramentas;

·É esquecido em atividades diárias.

·É facilmente distraído por estímulos externos;

·Tem dificuldades de manter a atenção em tarefas ou jogos;

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Hiperatividade/impulsividade

·Agita mãos ou pés ou se remexe na cadeira;

·Tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de

lazer;

·Fala demais;

·É impulsiva;

·Dá respostas precipitadas, antes de ouvir a pergunta inteira;

·Intromete-se na conversa dos outros ou a interrompe.

Para que se considere um indivíduo com TDAH, os sintomas devem se

manifestar em vários ambientes (Escola, casa, viagens...). Dislexia é uma disfunção

neurológica que tem como conseqüência dificuldades acentuada que ocorrem no

processo da leitura, escrita, soletração e ortografia. É um termo abrangente onde

descreve grandes dificuldades em assimilar sons e letras resultantes de discretas

anomalias na organização dos circuitos cerebrais responsáveis pela coordenação visual-

auditivo-motora-verbal e que sustentam o complexo da percepção e compreensão da

linguagem escrita. A dislexia não é uma doença e sim um distúrbio de aprendizagem

inato que de alguma forma interfere de maneira significativa na integração dos símbolos

lingüísticos e perceptivos, que por meio de estimulação permitirá certa organização das

estruturas psiconeurológicas. Tudo isso sendo possível com a ajuda de uma equipe

multidisciplinar, isto é, psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo e se necessário, um

neurologista e um geneticista, para direcionar a aprendizagem. Assim sendo a criança

começará a perceber seu universo orientado, irá desenvolver seus sentidos, a razão de

sua percepção. Como afirma NUNES, "É possível que as crianças disléxicas levem

desvantagem, ou seja, mais lentas do que outras crianças no reconhecimento de formas

em geral. Uma diferença dessa natureza provavelmente constituiria uma deficiência,

uma vez que, ao ler, muitas pessoas podem reconhecer algumas palavras, como um

todo, com base em sua forma global", (1992. p. 26). Esse comprometimento vem

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sempre associado a dificuldades na coordenação motora geral ou fina, no equilíbrio,

ritmo, na noção do espaço temporal, localização de conceito, antes e depois, embaixo e

em cima, na identificação e localização do esquema corporal, datas e fatos históricos. O

sistema funcional da linguagem precisa de certa estrutura bem vivenciada para que

determine a maturação do sistema nervoso para facilitar a aprendizagem da criança. No

entanto, é preciso perceber a importância a aprendizagem sensorial desde zero até seis

anos. É nesta fase que o indivíduo adquire todas as suas capacidades humanas, como

sendo, a locomoção, linguagem e o pensamento, estabelecendo assim condições

corticais necessárias para esta aprendizagem. Mesmo sendo um distúrbio da

aprendizagem, o disléxico é capaz de evidenciar sua inteligência. A dislexia não implica

no comprometimento do nível intelectual, muito pelo contrário, um ser humano

considerado disléxico pode ter inteligência acima da media, como é o caso dos

cientistas Albert Einstein e Thomas Edison, o ator Tom Cruise, o pintor Pablo Picasso

entre outros. As causas da dislexia e outras patologias podem ser genéticas,

desconhecidas e congênitas. Não se deve dizer que uma criança é disléxica em

decorrência dos fatores como gestação fragilizada ou mesmo uma alimentação

inadequada ou nascimento prematuro. E sim pode ser um portador de conduta típica

com alguma síndrome, apresentando quadro de ordem neurológica, e ou psicológica,

podendo assim comprometer sua aprendizagem da leitura e escrita. Como também em

decorrência de algum tipo de lesão cerebral ou acidentes ou mesmo de remoção de um

tumor cerebral pode ocasionar a dislexia adquirida. Características mais evidentes da

criança disléxica:

·Incapaz de falar ou de ler com a mesma facilidade das outras crianças ditas

normais.

·Não consegue acompanhar os colegas de classe e tem grande dificuldade no

aprendizado e na fixação da linguagem escrita

·Tem letra ilegível, apresenta lateralidade indefinida, a maioria é canhota e

possui vocabulário limitado.

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·Para ler e escrever deita na mesa ou posicionam a cabeça de lado ou seguram-

na.

Nem sempre a dislexia é a causa das dificuldades no ambiente escolar. E nem

toda a demora no aprendizado é sintoma de dislexia. Portanto é preciso que os

professores estejam preparados. Eles são os primeiros a perceberem os sinais, é, pois

função de escola e dos pais ajudar a criança a persistir nos estudos. Cabe ao professor

conhecer os modos de identificar a dificuldade, verificar se o problema é eventual ou

persistente e encaminhar, depois de constatar a permanência da situação. A dislexia não

tem cura porque não é uma enfermidade, e sim um acentuado distúrbio de

aprimoramento. Essas dificuldades são amenizadas com terapia adequada e com

estratégias de compensação que moderam seus efeitos. Mesmo com todas as

dificuldades que a dislexia pode trazer para a vida escolar de uma criança, é possível

contornar o problema. O mais importante é que os pais e eventualmente os professores

estejam sempre atentos, pois o grau do distúrbio varia e os sinais costumam ser

inconstantes. De acordo com os estudos feitos, percebe-se que todas as crianças têm

capacidades de aprender. Não importa se tem alguma anomalia. Seu aprendizado será de

acordo com o seu potencial. A palavra Inclusão na Educação tem dois significados

distintos, um quando se fala em possibilitar às pessoas com deficiência, iguais

oportunidades de aprendizado e outro quando se refere ao conceito de educação

inclusiva. O primeiro significado diz respeito ao acesso físico à escola, treinamento e

desenvolvimento de atividades educacionais que estimulem as aptidões culturais,

artísticas e laborais das pessoas com deficiência. A educação especial atende o primeiro

conceito, uma vez que visa oferecer escolaridade, apesar de segregar os indivíduos com

necessidades educativos especiais. Já a Educação Inclusiva, não é apenas a simples

colocação em sala de aula, significa a criação de uma escola onde pessoas com e sem

deficiência possam conviver e estudar em ambientes onde os indivíduos aprendem a

lidar com a diversidade com a diferença. Nesse caso o aspecto segrega dor da educação

especial dá espaço a um novo conceito de escola, chamada escola Inclusiva, cujas

crianças, jovens e adultos portadores de deficiência fossem admitidos em classes

comuns, em contato com alunos sem deficiências, com intuito de aprender e situar a

deficiência no meio dos outros (Mota, 1999 pg.34). Criar as condições para o

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desenvolvimento de escolas para todos e que garantam educação de qualidade com

equidade, implica promover transformações nos sistemas educacionais, na organização

e no funcionamento das escolas, nas atitudes e nas práticas dos docentes, bem como nos

níveis de relacionamentos entre os diversos atores. Nesse sentido, o sistema escolar tem

que ajustar-se para satisfazer as necessidades de todos os discentes. No material

elaborado pelo MEC-Ministério da Educação e Cultura – "Educar na Diversidade",

encontra-se normas e acordos internacionais elaborados sobre educação de qualidade

para todos:

989 - Convenção sobre os Direitos da Criança (Nações Unidas): dispõe sobre os

direitos que devem ser aplicados a todas as crianças, jovens e adultos sem qualquer

exceção, com base nos quais o Estado é obrigado a adotar as medidas necessárias para

proteger a criança contra todas as formas de discriminação contra todas as formas de

discriminação.

1990- Conferência Mundial sobre Educação para todos recomenda especial

atenção às necessidades básicas de aprendizagem das pessoas com deficiência e a

adoção de medidas para assegurar igualdade de acesso a educação como parte integrante

do sistema educacional.

1994- Normas Padrão das Nações Unidas sobre Igualdade de Oportunidades

para pessoas com Deficiência: garantem que os membros deste grupo social possam ter

os mesmos direitos e responsabilidades que qualquer outro indivíduo na sociedade.

1994- Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais: Acesso

e Qualidade (Salamanca): dispõe sobre a obrigatoriedade das escolas de acolher todas as

crianças, independentemente de suas condições pessoais.

1996- Reunião de Ministros da Educação na América Latina e Caribe

(Kingstom): uma das recomendações estabelece o fortalecimento das condições e

estratégias para que as escolas atendam a crianças com necessidades educacionais

especiais ou que apresentem dificuldades de aprendizagem em virtude de diferentes

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razões, tais como, deficiências, ensino ou escolaridade inadequada e ambiente social

precária.

2000-Reunião Regional das Américas, preparatória do Fórum Mundial de

Educação para Todos (São Domingos): estabelece o compromisso de formulação de

políticas de educação inclusiva dando prioridade, em cada país, aos grupos mais

excluídos; estabelece marcos legal e institucional para tornar obrigatória a inclusão

como responsabilidade coletiva.

2001- VII Reunião Regional de Ministros da Educação (Cochabamba): reafirma

a necessidade de valorizar a diversidade e a interculturalidade como elementos de

enriquecimento da aprendizagem, recomendando que os processos pedagógicos levem

em conta as diferenças sociais, culturais, de gênero, capacidade e de interesses, com

vistas a uma melhor aprendizagem, á compreensão mútua e à convivência. "(Duk, 2005

pg.58).

No Brasil, a integração escolar com base na Constituição preconiza o

atendimento ao portador de deficiência preferencialmente na rede regular de ensino

(art.208, Constituição Federal, 1988), o que devem fortalecer a idéia de Educação

Inclusiva. Com base neste artigo da Constituição, vários Decretos foram criados com

intuito de garantir o acesso, na educação e o sucesso de todos na educação escolar. O

principio fundamental das escolas Inclusivas consiste em que todos os alunos aprendam

juntos, independentemente das dificuldades das diferenças que apresentem para garantir

um bom nível de educação. Partindo dessa idéia, um dos maiores desafios que os países,

estados e municípios enfrentam diz respeito a como avançar na direção de um modelo

de educação Inclusiva, que ensine e eduque todos os alunos simultaneamente, reconheça

as diferenças individuais como um valor a ser levado em consideração no

desenvolvimento e na materialização dos processos de ensino e de aprendizagem,

(Fonseca, 1989). Em linhas gerais, pode-se dizer que é necessário uma política

educacional cujo objetivo estabeleça que a escola se comprometa com a igualdade de

oportunidades e condições para todos os estudantes a fim de garantir que todos possam

ser bem sucedidos educacionalmente. No decorrer da história, o Brasil tem

gradativamente se movimentado na busca de se tomar uma sociedade que reconhece e

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respeita a diversidade que a constitui. É preciso garantir o acesso e a permanência de

todas as crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais especiais ou não no

sistema regular de ensino. A escola deve ser um ambiente que reflita a sociedade como

ela é, os alunos inclusos deverão ter garantido seu espaço e oportunidade. A

organização de um sistema educacional inclusivo exige a transformação dos saberes e

das práticas de todos os participantes da comunidade educacional e, portanto, o

envolvimento de todos. De acordo com as Diretrizes Nacionais para a Educação

Especial Básica, no artigo 3°, parágrafo único, os sistemas de ensino devem construir e

fazer funcionar um setor responsável pela educação especial, dotado de recursos

humanos, materiais e financeiros que viabilizem e dêem sustentação ao processo de

construção da educação inclusiva. Nesse sentido, o Projeto Político Pedagógico da

escola que é Poe excelência o instrumento teórico metodológico que define as relações

da escola com a comunidade a quem vai atender, deve estabelecer a ponte entre a

política educacional do município e a população acadêmica. Ao educador compete

compreender a força e o impacto das causas que o processo pedagógico exerce sobre o

aluno, favorecendo seu sucesso ou fracasso na

escola, e esse impacto ocorre de forma negativa, já a partir do momento em que se

adota, inadequadamente, o princípio de que é o aluno que deve ajustar-se ao processo

educacional e não o processo a ele. Com relação a essa situação, o sistema de ensino

brasileiro tem procurado encontrar novas formas de responderás necessidades de

criança com dificuldade de aprendizagem. Freqüentemente os professores se queixam

que seus alunos não possuem estimulação necessária à alfabetização e que isto interfere

no ensino. Em vez de culpar seus alunos, os docentes devem procurar desenvolver as

capacidades dos mesmos levando-os a sentirem a necessidade de valorizarem os

instrumentos da cultura e as atividades que se relacionam com ela. O relacionamento

professor-aluno também é um fator que pode influenciar o processo ensino-

aprendizagem. O professor tem que ser aberto às perguntas e indagações dos alunos e

trata-los com respeito (Oliveira, 1997, p.119). Frente a essa reflexão constata-se que

muitas das dificuldades apresentadas pelos alunos podem ser facilmente sanadas no

contexto da sala de aula, isso se o professor estiver atento e consciente de sua

responsabilidade como educador e dedique seus esforços para aumentar o potencial do

aluno em todos os aspectos. E sabido que a atuação dos professores, as decisões que

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tomam as experiências que proporcionam e as relações que estabelecem com os

alunos têm uma grande influência no desenvolvimento cognitivo dos

mesmos. Por essa razão, as dificuldades de aprendizagem podem ser encaradas em

termos curriculares. Partindo do principio que toda criança é especial e por isso aprende

de maneira diferente, o objetivo da educação deve ser responder individualmente a

todos os alunos e reconhecer que se deve respeitar a individualidade e o ritmo de

aprendizagem cada um. Preocupado com a formação do educador para adequar às atuais

exigências da educação, em 1998 o MEC - Ministério da Educação e Cultura em

consonância com as ações da UNESCO, organizou um manual de capacitação de

professores, com o objetivo de ajudá-los a agir de forma positiva às necessidades

especiais de seus alunos em sala de aula. De acordo com esse manual, três critérios são

essenciais para o sucesso da aprendizagem:

a)Os professores precisam conhecer bem os alunos, suas capacidades, anseios,

limitações e suas experiências anteriores;

b)Os alunos precisam ser orientados a atribuir um sentido às atividades de que

participam;

c)As aulas devem ser organizadas de modo a estimular a participação e o esforço

do aluno. Os professores conseguem por em prática esse aspectos de maneira criativa

que pode ser realizada de diversas formas, porém, devem basear-se nos seguintes

conceitos:

Finalidade: geralmente, os alunos que não assimilam bem a aula ignoram a

finalidade do que lhes foi proposto para fazer. Se lhes perguntar, porque estão fazendo

aquilo, podem responder que é porque o professor mandou. Nesse sentido, a atividade é

inútil para os alunos, a experiência não tem nenhum sentido. Nesse caso, o professor

precisa encontrar uma forma de ajudar os alunos a compreenderem para que serve as

diferentes tarefas, as razões porque foram propostas, como e quando devem ser

realizadas. Assim, os alunos serão capazes de responsabilizarem-se por sua própria

aprendizagem e de trabalhar por um objetivo real. Mas, de que forma o professor pode

ajudar os alunos a compreender melhor a natureza e a finalidade das atividades que lhes

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são dadas? Não se tem uma receita pronta para essa questão, o que se sabe é que

muitos professores utilizam metodologias diferenciadas que na maioria das vezes são

positivas. Alguns profissionais preferem recorrer a uma abordagem direta, utilizando a

palavra para ajudar os alunos a compreender o que lhes é pedido. Outros, porém,

preferem um estilo menos diretivo, procurando favorecer a compreensão por meio de

um processo de discussão e negociação com os alunos. Pode acontecer de alguns alunos

terem dificuldades em seguir as explicações. O professor menos diretivo pode

privilegiar a discussão individual ou em pequenos grupos enquanto se movimenta pela

sala observando o trabalho dos alunos e intervindo quando necessário. Essa maneira de

atuar oferece oportunidade de adaptar as explicações em nível adequado a cada aluno e

verificar a sua compreensão. Outra maneira de facilitar a aprendizagem é a apresentação

do conteúdo de maneira clara apoiada por uma demonstração que inspire e estimule o

pensamento e a participação de todos os alunos. Vale ressaltar que qualquer método ou

metodologia que o professor utilizar em sala de aula pode não promover a

aprendizagem geral do grupo, isto porque alguns alunos necessitam de

acompanhamento individualizado. Assim sendo, o professor deve encontrar maneiras de

manter toda a turma ocupada para poder estabelecer diálogo com um ou com um

pequeno grupo a respeito do que estão fazendo e o porquê da atividade. Para tanto, a

organização do tempo e dos recursos são aspectos de fundamental importância:

Variedade e escolha: o professor tem de certa forma, um público garantido que

é obrigado a estar ali. E certo que muitas crianças gostam e interessam em aprender,

querem descobrir algo diferente e novo no mundo em que vivem. Em geral, também

estão interessadas em agradar ao professor e aos pais. Ao contrário de outras que só vão

para a escola porque são obrigadas a obedecer à imposição da família e do próprio

sistema organizacional do Brasil.É tarefa do professor, despertar e aguçar a curiosidade

e desejo do educando, respeitando as diferenças individuais do mesmo. Um fator

essencial para conquistar o publico no contexto da sala de aula é a variedade. Ao falar

em variedade referimo-nos tanto ao que se az, com à maneira como se faz. Ou seja, as

aulas devem ser preparadas de modo a proporcionar aos alunos assuntos diversificados,

variedade de contexto de aprendizagem bem como materiais didáticos apropriados,

procurando assim atender às diferenças individuais entre os alunos. Outro aspecto que

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pode contribuir para o sucesso dos alunos é proporcionar a eles a oportunidade de

escolher o que querem fazer, como e quando realizar as atividades propostas. E dar-lhe

a oportunidade de relacionar as atividades da aula com suas experiências anteriores e

com os conhecimentos já adquiridos. E assegurar que as crianças tragam para a aula,

aspectos de sua cultura pessoal, não só para ter claro o sentido que dão às atividades,

mas também como fonte de enriquecimento. Muitas vezes, alunos oriundos de famílias

que adotam estilos de vida pouco habituais, são vistas como "problemas"; porem, é

necessário reconhecer que nesse caso, crianças com estas características trazem consigo

conhecimentos, idéias e perspectivas que podem ser utilizadas para esclarecer a

compreensão e o respeito à diversidade.

Reflexão e análise: foi evidenciada a importância do professor conhecer bem

seus alunos, suas capacidades, conhecimentos, interesses atitudes e suas experiências

anteriores. O professor aprende a conhecer melhor seus alunos por meio de observações

cuidadosas e de controle sistemático dos seus progressos, através de métodos de

acompanhamento, que podem ser registros ou outros que o professor achar conveniente,

para acompanhar, avaliar e conversar com os alunos conjuntamente e/ou

individualmente se necessário for, sobre como realizar seus estudos com sucesso. É

fundamental reconhecer a importância de feedback. Observando que os alunos

aprendem por meio de seus sucessos e dos seus fracassos. Desse modo, o feedback dado

pelo professor e pelos colegas pode oferecer orientação e estimulo para ajudar a obter

melhores resultados Convém especialmente, corrigir os erros o mais rapidamente

possível para evitar que os alunos voltem a comete-los. Existem vários métodos que

podem ser utilizados para verificar o nível de compreensão dos alunos. Variam,

evidentemente, com a natureza da atividade. E viável que o professor priorize as

atividades que condicionam os alunos a assumirem a responsabilidade de verificar seus

progressos. Pó exemplo, pedir para as crianças registrarem o que fazem, assinalando as

atividades realizadas com sucesso e identificando as que precisam ser melhoradas.

Outro método importante é, no final de uma atividade levar as crianças a refletir e

relatar em dupla ou em pequenos grupos sobre o que estiveram fazendo, o que

conseguiram, o que foi mais importante e o que sentiram ao fazer a tarefa. Essa

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experiência faz com que as crianças (mesmo as menores), se sensibilizem e assumem

na maioria das vezes responsabilidade e controle de seu progresso.

Utilização flexível de recursos no ensino é fundamental a gestão do tempo:

turmas bem organizadas são geridas de modo a facilitar uma utilização eficaz do tempo,

Os materiais e equipamentos a serem utilizados na sala de aula devem estar guardados

de modo a serem encontrados quando necessários, tomando assim os alunos

relativamente independentes do professor. Por outro lado, nas aulas menos organizadas,

os alunos dependem do professor para dispor dos materiais para correções e para

decisões sobre a orientação do trabalho. Desse modo, o tempo do professor é

desperdiçado em questão de organização e de administração de rotina. Os dois recursos

mais importantes da aprendizagem em qualquer sala de aula são o professor e os alunos.

A utilização de seu tempo é importante e decisiva para um ensino e uma aprendizagem

eficazes. As dificuldades surgem geralmente, quando se pede para os alunos

trabalharem de forma independente. O professor tem de assegurar que todos trabalhem

adequadamente, e as crianças têm que resolver as possíveis dificuldades que

encontrarem quando trabalharem com menos indicação e supervisão. As atividades

independentes permitem em geral que os alunos pratiquem e apliquem habilidades e

conhecimentos anteriormente adquiridos. Em determinadas circunstâncias a

oportunidade de praticar consideravelmente para ajudar as crianças a conseguir aprender

o que não tinha aprendido anteriormente. São. Contudo, de pouco proveito, se a criança

não adquiriu previamente as habilidades e os conhecimentos necessários para realizar a

tarefa com um mínimo de sucesso. Dessa forma, é fundamental saber quando a criança

adquiriu um nível de aprendizagem que lhe permite prosseguir na realização da tarefa

com menos supervisão. Também frequentemente, os alunos sentem dificuldades no

trabalho por não terem compreendido bem o que estão fazendo. Em outras palavras, sua

falta de sucesso é, pelo menos em parte, resultado da não apresentação adequada por

parte do professor, das idéias trabalhadas ou, falta de orientações suficientemente claras

sobre como realizar o trabalho. Essa situação acentua, mais uma vez, a necessidade de

se verificar cuidadosamente a compreensão das crianças durante as fases iniciais da

aprendizagem ou do desenvolvimento de novas habilidades. As deslocações e

inferências do professor durante o período de atividades independentes do aluno podem

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também contribuir consideravelmente para mantê-lo ativo nas tarefas proporcionadas.

os alunos tendem a se sobressair melhor quando são encorajados e elogiados em seus

trabalhos. E conveniente ressaltar que quando um professor gasta muito tempo voltando

a explicar as coisas a muitos alunos, tem seguramente a indicação de que as explicações

iniciais e os períodos de pratica orientado foram insuficientes, por alguma razão.

Cooperação: partindo do principio que as salas de aula são locais em que as

pessoas são capazes de trabalhar em conjunto, partilhar idéias e apoiar-se mutuamente,

o professor deve organizar as suas aulas de forma a promover a cooperação. E habitual

ver alunos trabalharem sozinhos na sala de aula. Muitas vezes estão sentados em

grupos, mas é ainda raro vê-los realizar tarefas em colaboração com os colegas, é difícil

saber por que é assim, embora uma explicação possível seja que muitos professores não

recebem formação a respeito das formas de organizar trabalho de grupo na sala de aula

embora trabalhar sozinho em tarefas individualizadas seja uma forma importante para

todas as crianças, sua utilização em excesso é uma modalidade limitada de

aprendizagem. Experiências e estudos comprovam que promover estudos em grupos

diversificados de alunos, mesmo em sala uni seriada é uma forma dinâmica e proveitosa

de organizar os trabalhos, essa tarefa não é fácil porque requer planejamento,

reorganização de grupos de acordo com as habilidades e objetivos da aula alem de

acompanhamento especifico direcionados aos grupos. Muitos professores se sentem

pouco preparados para atuarem de forma diferenciada, porém, percebem que precisam

adequar-se às reais necessidades dos alunos.

A introdução de formas cooperativas de trabalho deve ser planejada e implementada de

forma sistemática, como qualquer outra nova experiência de aprendizagem. Implica,

com efeito, a introdução de um conjunto adicional de exigências que requer dos alunos,

alem do trabalho relativo aos objetivos curriculares, prosseguir, ao mesmo tempo, com

novos objetivos relativos a sua capacidade de colaboração.

É importante reconhecer que a aprendizagem cooperativa pressupõe uma abordagem

planejada que vai muito alem de uma simples intenção de encorajar os alunos a

trabalharem em conjunto. Exige, por exemplo, prestar uma atenção cuidados a:

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a)Organizar atividades em que a colaboração seja necessária;

b)Ajudar os alunos a perceber o seu sucesso depende em boa parte do sucesso do grupo;

c)Determinar a dimensão e a composição dos grupos de forma adequada ás capacidades

e experiências dos alunos como também à natureza das tarefas atribuídas;

d)Desenvolver a capacidade dos alunos no domínio do trabalho em grupo,

principalmente no campo da comunicação, cooperação e tomada de decisões.

Vale acrescentar que é mais fácil para os professores fomentar a utilização de

métodos cooperativos de aprendizagem quando estes se inserem no contexto geral de

toda a escola. Ou seja, a aprendizagem cooperativa na sala de aula é facilitada por uma

planificação cooperativa realizada por todos os educadores. A sala de aula é um dos

contextos educacionais de maior importância no desenvolvimento do aluno. A

qualidade da aprendizagem do educando é influenciada, em grande parte, pela qualidade

dos processos educacionais que acontecem na classe e pela capacidade do professor de

analisar sobre sua prática a fim de tomar decisões que promovam a aprendizagem e a

participação de todos. O construtivismo enfatiza a necessidade de promover

aprendizagens significativas em lugar de aprendizagens mecânicas, repetitivas e não

relevantes para o desenvolvimento do educando. Também ressalta a importância da

atividade e da atividade e da atuação do aluno como protagonista em seu processo de

aprendizagem, sendo interessante então, partir de seus conhecimentos prévios, a

incidência da aprendizagem cooperativa e a autonomia e auto-regulamentação do

processo de aprendizagem. A aprendizagem significativa implica proceder a uma

representação interna e pessoal dos conteúdos escolares, estabelecendo relações

substantivas entre o novo conteúdo de aprendizagem e o que já se sabe. Neste processo

de construção modifica-se conhecimento esquemas prévios e cria-se uma nova

representação ou conceituação. Nesta perspectiva, a aprendizagem não é um processo

linear de acumulação de conhecimentos, mas uma nova organização do conhecimento,

que diz respeito tanto ao "saber sobre algo"( esquemas conceituais), como o " saber o

que fazer" e, ainda, como " saber o que fazer" e, ainda, como " com o que se

sabe"(esquema de procedimentos) e o " saber quando utilizá-lo"( conhecimentos sobre

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em que situações usar o que se sabe). O aluno chega à aula trazendo uma série de

conceitos sobre o mundo físico e social que lhes serve de base na apropriação dos novos

conhecimentos estabelecidos no currículo escolar. "Estes conceitos prévios ou

alternativos podem ser reconstruídos em sala de aula, aprimorados e direcionados aos

"conceitos científicos", significa que o ensino deve situar-se na" zona de

desenvolvimento proximal", postulado por Vigostsky (in Duk,2005 pg.173), a qual se

encontra entre o que o aluno pode fazer por si só e o que é capaz de fazer e aprender

com ajuda de outros mais capazes. Como Já foi mencionado, não existe um método

único ou uma estratégia ideal para que todos aprendam, porque cada aluno tem forma de

aprendizagem, competência e interesses distintos; uma metodologia que pode ser muito

eficaz para um aluno pode não dar resultado com outro. Por outro lado, existem

estratégias de ensino que podem ser muito úteis para aprender conceitos, mas não

procedimentos. Assim, o professor precisa contar com grande repertório de estratégias

instrucionais que dêem respostas às variadas necessidades e situações de aprendizagem.

Isso não significa, porém, que vale tudo, quer dizer, não se trata de adotar uma postura

eclética fácil, mas, sim, de selecionar um conjunto de estratégias no contexto de alguns

princípios pedagógicos essenciais que sejam coerentes com a forma em que deseja que

os alunos aprendam. Convém lembrar que as crianças com necessidades educacionais

especiais não aprendem de forma muito diferente, ainda que necessitem, em muitos

casos, de mais ajuda e/ou ajudas diferenciadas dos demais. Outro aspecto importante

para favorecer a autonomia e atender as diferenças é oferecer aos alunos a possibilidade

de escolher entre diversas atividades e decidir como realiza-las. Para conseguir maior

autonomia, é preciso dar oportunidade para que o aluno decida sobre o planejamento de

seu trabalho e se responsabilizar pela aprendizagem. A escolha de atividade permite ao

aluno se adaptar às diferenças individuais e que se reconheça na condição de aprendiz.

Já se sabe que as crianças não aprendem apenas com o professor, mas também com as

outras crianças. As atividades cooperativas têm efeitos positivos no rendimento escolar,

na auto-estima, nas relações sociais e no desenvolvimento pessoal. A utilização deste

tipo de técnica pressupõe uma grande ajuda para o professor, por facilitar o trabalho

autônomo dos alunos, permitindo-lhe dedicar mais atenção àqueles que mais

necessitarem. É fundamental estimar o respeito e a valorização mútua entre os alunos e

promover atividades que fomentem cooperação e solidariedade, no lugar de

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competitividade. Os alunos devem reconhecer o potencial de seus colegas e valorizá-

los como pessoas únicas. A titulo de exemplo ilustraremos a brincadeira "dança das

cadeiras cooperativa". No jogo convencional o objetivo é mutuamente exclusivo, ou

seja, apenas um dos participantes pode sair vitorioso, ao passo que todos os outros

terminaram como perdedores. Na dança das cadeiras cooperativa o objetivo comum é a

participação de todos, sendo assim ao terminar o jogo todos os participantes deverão

estar sentados. Procedimento: coloca-se um numero de cadeiras menor que o número de

participantes envolvidos, da mesma forma que na brincadeira tradicional; a diferença,

portanto consiste no momento em que se dá a pausa na musica, todos deverão sentar

utilizando os recursos que estiverem no jogo – cadeiras e pessoas. Poderão sentar nas

cadeiras, nos colos uns dos outros; em seguida eliminam-se algumas cadeiras, mas

ninguém sai do jogo e a dança continua. É possível observar que dessa forma os

participantes vão se libertando dos padrões competitivos e passam a resgatar e fortalecer

a expressão do "potencial cooperativo" para brincar e viver: ao invés de ficarem colado

às cadeiras, ir todos na mesma direção, ficarem ligado na interrupção da musica, dançar

travado, ter pressa para sentar com medo de "sobrar" e sair da brincadeira, passam a

movimentar-se livremente uma vez que não há competição. O jogo prossegue ate onde

o grupo desejar. Em geral, a motivação é tão intensa que, mesmo depois de sentarem

todos em uma única cadeira, o jogo continua com uma cadeira imaginaria. È possível

observar que quase todos os jogos e brincadeiras convencionais podem ser adaptados

para a modalidade cooperativa. Para tanto é necessário que o professor tenha objetivos

definidos, criatividade e disposição para fazer as alterações necessárias levando em

consideração a turma como um todo e cada aluno em especial. O mesmo critério deve

ser observado pelo professor ao preparar as aulas; tem que se pensar em variadas

metodologias pedagógicas para que o ensino seja eficaz e aprendizagem se efetive

realmente. Um aspecto do ensino que merece atenção é sem duvida, como planejar

atividades que tenham sentido para os alunos, a fim de que compreendam o propósito

do que esta fazendo. Assim, os alunos não só ficam mais motivados para aprender, mas

também obtêm maior aproveitamento no processo de aprendizagem. A seguir

apresentaremos algumas estratégias apontadas por Duk (2005) que poderão ajudar o

professor a preparar atividades significativas para os alunos:

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a) Incentivar os alunos a expressar espontaneamente suas idéias e opiniões

sobre determinado tema, deixando que compartilhem o que sabem. Por exemplo: numa

aula de ciências, sobre classificação dos animais, os alunos poderão relacionar todos os

animais que conheçam enquanto o professor, ou algum aluno anota os nomes citados no

quadro. Em seguida, os alunos poderão ser agrupados, podem-se dizer o que se sabe

sobre os animais, quais suas características comuns..., o professor por vez, incorpora

outras contribuições à dos alunos e, certamente o conhecimento prévio dos educandos

será enriquecido.

b) Resolução de problemas – ao apresentar aos alunos um "problema", o docente

pode pedir que juntos recorram a tudo o que já aprenderam individualmente para

resolver a tal situação colaborativamente. Após o envolvimento ativo dos alunos e o

levantamento das diversas formas que os estudantes encontrarem para resolver o

problema, o professor explicará uma nova maneira ou habilidade. Por exemplo:

* na disciplina de matemática – conteúdo curricular: divisão – para explicar a

operação de divisão, o professor pode solicitar aos alunos que dividam equitativamente

quinze livros entre três crianças. Quando todos os alunos tiverem encontrado a solução,

o professor apresenta a operação de divisão como uma maneira mais pratica e eficiente

de resolver o problema;

* na disciplina de ciências – conteúdo curricular: meio ambiente – em uma aula

sobre meio ambiente, o professor poderá indagar os alunos que medidas podem ser

adotadas para reduzir os lixos tóxicos procedentes das indústrias localizadas em suas

respectivas cidades ou no país. Após obter as respostas, o professor devera acrescentar

outras medidas possíveis.

c) Compartilhar o conhecimento com um colega – antes de abordar um novo

tema, pede-se ao aluno que escreva seus conhecimentos, idéias ou opiniões sobre o

assunto. Em seguida, os na sala de aula. Sem dúvida, a sala de aula e os processos

educacionais que envolvem docentes e estudantes constituem o contexto que explica em

grande parte o êxito ou o fracasso acadêmico dos educandos. Compartilhe com um

colega que ouve com atenção, isto pode ser feito com facilidade na grande maioria das

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aulas de leitura, antes que os alunos leiam o texto. O mesmo pode ser aplicado a

inúmeros temas científicos ou sociais.

d) Utilizar as experiências cotidianas dos alunos ao ensinar um novo conteúdo, o

professor deve procurar ilustra-lo com exemplos extraídos das vivencias dos alunos.

Isto esclarecerá a pertinência do que lhes está sendo ensinado. Por exemplo:

* na disciplina de ciências – conteúdo curricular: condutividade – para explicar a

noção de capacidade, o professor poderá pedir aos alunos que tragam para a sala

garrafas de bebidas vazias, para comparar seus diferentes volumes. Em uma aula sobre a

condutividade, os alunos poderão deduzir de suas experiências em casa que materiais

deixam ou não transmitir calor.

e) Historias par despertar o interesse, geralmente, historias de todo tipo

despertam o interesse das crianças, em qualquer idade. Para cada um dos temas

propostos aos alunos existem muitas historias, para cada disciplina a trabalhar existem

muitas historias ou episódios oriundos de diversas fontes que o professor poderá

consultar. Esse procedimento poderá tornar a aprendizagem mais agradável para o aluno

e para o professor.

f) Inter-relacionar as diferentes disciplinas, trabalhando as distintas matérias

como se fossem completamente independentes umas das outras, quando na realidade os

conteúdos curriculares costumam estar inter-relacionados e ser interdependentes. Para

que os alunos não tenham uma idéia compartimentada dos conhecimentos, é

conveniente que o professor mostre, sempre que seja possível, o relacionamento

existente entre os diferentes âmbitos de aprendizagem. Por exemplo:

* Em matemática utiliza-se as coordenadas para localização de determinado

ponto em um mapa, do mesmo modo que em geografia se utilizam as altitudes e as

longitudes para localizar determinado lugar nos mapas. Os gráficos por sua vez, não são

utilizados somente em matemática, mas também em ciências, geografia, historia e em

muitos aspectos da vida. Assim como as formas geométricas podem ser aplicadas na

arte para fazer decorações e desenhar.

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* O estudo das descobertas cientificas pode tornar-se mais interessante se

mostrada sua fluência na evolução histórica, como a que a descoberta da força de

expansão do vapor exerceu na Revolução Industrial.

* Algumas noções de matemática e ciências podem ser facilmente ilustradas,

fazendo com que os alunos participem de algum tipo de receita culinária: medem-se as

quantidades nos recipientes, o valor nutritivo dos ingredientes e as calorias dos

alimentos.

* O estudo da luz, em ciências, pode ser relacionado com o estudo das cores, na

área de artes.

h) Excursões e trabalhos "in loco" – as excursões e atividades "in loco" podem

ser realizadas constantemente ao longo do ano escolar. São atividades que, alem de ser

divertida para os alunos, se devidamente organizadas, podem servir para aplicar às

situações da vida real os conteúdos já aprendidos. Essas atividades permitem que

apliquem o que foi aprendido e consolidem a sua aprendizagem no contexto real da

vida.

Existem inúmeras atividades que podem ser adaptadas pelos educadores para

melhor atender seus alunos. As propostas mencionadas neste trabalho poderão ser

adequadas a qualquer disciplina e quanto maior for a experiência do professor mais

capacidade terá de adaptar e idealizar seus trabalhos pedagógicos com intuito final de

servir todos os alunos. A Educação Inclusiva não constitui uma nova expressão para

designar a integração de alunos com necessidades educacionais especiais. A inclusão

constitui um enfoque inovador para identificar e abordar as dificuldades educacionais

que emergem durante o processo ensino-aprendizagem. A maioria das crianças que

enfrentam barreiras para aprender a participar na vida escolar é capaz de superá-las

rapidamente, sempre que suas necessidades são levadas em conta e ajuda compatível é

oferecida. A origem das dificuldades do educando pode estar situada no âmbito das

diferenças pessoais, culturais ou lingüísticas, ou ainda no fato da escola não considera-

las. Oferecer uma educação que assegure participação e aprendizagem de qualidade para

todos os alunos não apenas exige o desenvolvimento da escola como um todo, mas é

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imprescindível que o processo de melhoria da escola se traduza em mudanças

concretas na maneira de conduzir o processo de ensino e aprendizagem na sala de aula.

Sem dúvida, a sala de aula e os processos educacionais que envolvem docentes e

estudantes constituem o contexto que explica em grande parte o êxito ou o fracasso

acadêmico dos educandos. Portanto, o resultado educacional é o que definitivamente

expressa a qualidade da educação e a capacidade que a escola tem (ou não) de

potencializar ao máximo a aprendizagem de todos e de cada um dos alunos. Nesse

sentido, a atitude e o estilo do ensino do docente representam fatores primordiais para

assegurar o êxito de todos. Uma nova abordagem educacional pressupõe pensar o

ensino a partir de uma atitude aberta, flexível e, sobretudo reflexiva em relações à

prática educacional inclusiva.

3.2 Do psicopedagogo

Diante do baixo desempenho acadêmico, as escolas estão cada vez mais

preocupadas com os alunos que têm dificuldades de aprendizagem, não sabem mais o

que fazer com as crianças que não aprendem de acordo com o processo considerado

normal e não possuem uma política de intervenção capaz de contribuir para a superação

dos problemas de aprendizagem. Neste contexto, o psicopedagogo institucional, como

um profissional qualificado, está apto a trabalhar na área da educação, dando assistência

aos professores e a outros profissionais da instituição escolar para melhoria das

condições do processo ensino-aprendizagem, bem como para prevenção dos problemas

de aprendizagem. Por meio de técnicas e métodos próprios, o psicopedagogo possibilita

uma intervenção psicopedagógica visando à solução de problemas de aprendizagem em

espaços institucionais. Juntamente com toda a equipe escolar, está mobilizado na

construção de um espaço adequado às condições de aprendizagem de forma a evitar

comprometimentos. Elege a metodologia e/ou a forma de intervenção com o objetivo de

facilitar e/ou desobstruir tal processo. Os desafios que surgem para o psicopedagogo

dentro da instituição escolar relacionam-se de modo significativo. A sua formação

pessoal e profissional implicam a configuração de uma identidade própria e singular que

seja capaz de reunir qualidades, habilidades e competências de atuação na instituição

escolar. A psicopedagogia é uma área que estuda e lida com o processo de

aprendizagem e com os problemas dele decorrentes. Acreditamos que, se existissem nas

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escolas psicopedagogos trabalhando com essas dificuldades, o número de crianças

com problemas seria bem menor. Ao psicopedagogo cabe avaliar o aluno e identificar

os problemas de aprendizagem, buscando conhecê-lo em seus potenciais construtivos e

em suas dificuldades, encaminhando-o, por meio de um relatório, quando necessário,

para outros profissionais - psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista, etc. que realizam

diagnóstico especializado e exames complementares com o intuito de favorecer o

desenvolvimento da potencialização humana no processo de aquisição do saber.

Segundo Dembo (apud FERMINO et al, 1994, p.57), "Evidências sugerem que um

grande número de alunos possui características que requerem atenção educacional

diferenciada". Neste sentido, um trabalho psicopedagógico pode contribuir muito,

auxiliando educadores a aprofundarem seus conhecimentos sobre as teorias do ensino-

aprendizagem e as recentes contribuições de diversas áreas do conhecimento,

redefinindo-as e sintetizando-as numa ação educativa. Esse trabalho permite que o

educador se olhe como aprendente e como ensinante. Além do já mencionado, o

psicopedagogo está preparado para auxiliar os educadores realizando atendimentos

pedagógicos individualizados, contribuindo para a compreensão de problemas na sala

de aula, permitindo ao professor ver alternativas de ação e ver como as demais técnicas

podem intervir, bem como participando do diagnóstico dos distúrbios de aprendizagem

e do atendimento a um pequeno grupo de alunos. Para o psicopedagogo, a experiência

de intervenção junto ao professor, num processo de parceria, possibilita uma

aprendizagem muito importante e enriquecedora, principalmente se os professores

forem especialistas nas suas disciplinas. Não só a sua intervenção junto ao professor é

positiva. Também o é a sua participação em reuniões de pais, esclarecendo o

desenvolvimento dos filhos; em conselhos de classe, avaliando o processo

metodológico; na escola como um todo, acompanhando a relação professor e aluno,

aluno e aluno, aluno que vem de outra escola, sugerindo atividades, buscando

estratégias e apoio.

Segundo Bossa (1994, p.23), cabe ao psicopedagogo perceber eventuais

perturbações no processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade

educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações metodológicas de acordo

com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos

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de orientação. Já que no caráter assistencial, o psicopedagogo participa de equipes

responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das

políticas educacionais, fazendo com que os professores, diretores e coordenadores

possam repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades individuais

de aprendizagem da criança ou, da própria ensinagem. O estudo psicopedagógico atinge

seus objetivos quando, ampliando a compreensão sobre as características e necessidades

de aprendizagem de determinado aluno, abre espaço para que a escola viabilize recursos

para atender às necessidades de aprendizagem. Para isso, deve analisar o Projeto

Político-Pedagógico, sobretudo quais as suas propostas de ensino e o que é valorizado

como aprendizagem. Desta forma, o fazer psicopedagógico se transforma podendo se

tornar uma ferramenta poderosa no auxílio de aprendizagem. O conhecimento e o

aprendizado não são adquiridos somente na escola, mas também são construídos pela

criança em contato com o social, dentro da família e no mundo que a cerca. A família é

o primeiro vínculo da criança e é responsável por grande parte da sua educação e da sua

aprendizagem. É por meio dessa aprendizagem que a criança é inserida no mundo

cultural, simbólico e começa a construir seus conhecimentos, seus saberes. Contudo, na

realidade, o que temos observado é que as famílias estão perdidas, não estão sabendo

lidar com situações novas: pais trabalhando fora o dia inteiro, pais desempregados,

brigas, drogas, pais analfabetos, pais separados e mães solteiras. Essas famílias acabam

transferindo suas responsabilidades para a escola, sendo que, em decorrência disso,

presenciamos gerações cada vez mais dependentes e a escola tendo que desviar de suas

funções para suprir essas necessidades. A escola, como observa Sarramona (apud

IGEA, 2005, p 19), veio ocupar uma das funções clássicas da família que é a

socialização: A escola se converteu na principal instituição socializadora, no único lugar

em que os meninos e as meninas têm a possibilidade de interagir com iguais e onde se

devem submeter continuamente a uma norma de convivência coletiva. Considerando o

exposto, cabe ao psicopedagogo intervir junto à família das crianças que apresentam

dificuldades na aprendizagem, por meio, por exemplo, de uma entrevista e de uma

anamnese com essa família para tomar conhecimento de informações sobre a sua vida

orgânica, cognitiva, emocional e social. O que a família pensa, seus anseios, seus

objetivos e expectativas com relação ao desenvolvimento de seu filho também são de

grande importância para o psicopedagogo chegar a um diagnóstico. Vale lembrar o que

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diz Bossa (1994, p.74) sobre o diagnóstico: O diagnóstico psicopedagógico é um

processo, um contínuo sempre revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia,

segundo vimos afirmando, numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso

observar que esta atitude investigadora, de fato, prossegue durante todo o trabalho, na

própria intervenção, com o objetivo de observação ou acompanhamento da evolução do

sujeito. Na maioria das vezes, quando o fracasso escolar não está associado às

desordens neurológicas, o ambiente familiar tem grande participação nesse fracasso.

Boa parte dos problemas encontrados são lentidão de raciocínio, falta de atenção e

desinteresse. Esses aspectos precisam ser trabalhados para se obter melhor rendimento

intelectual. Lembramos que a escola e o meio social também têm a sua responsabilidade

no que se refere ao fracasso escolar.

A família desempenha um papel decisivo na condução e evolução do problema

acima mencionado, pois, muitas vezes, não quer enxergar essa criança com

dificuldades, essa criança que, muitas vezes, está pedindo socorro, pedindo um abraço

um carinho, um beijo e que não produz na escola para chamar a atenção para o seu

pedido, a sua carência. Esse vínculo afetivo é primordial para o bom desenvolvimento

da criança. Concordamos com Souza (1995, p.58) quando diz que fatores da vida

psíquica da criança podem atrapalhar o bom desenvolvimento dos processos cognitivos,

e sua relação com a aquisição de conhecimentos e com a família, na medida em que

atitudes parentais influenciam sobremaneira a relação da criança com o conhecimento.

Sabemos que uma criança só aprende se ela tem o desejo de aprender. E para isso é

importante que os pais contribuam para que ela tenha esse desejo. Existe um desejo por

parte da família quando a criança é colocada na escola, pois da criança é cobrado que

seja bem-sucedida. Porém, quando esse desejo não se realiza como esperado, surgem a

frustração e a raiva que acabam colocando a criança num plano de menos valia,

surgindo, daí, as dificuldades na aprendizagem. Para Boszormeny (apud Polity, 2000),

uma criança pode desistir da escola porque aceita uma responsabilidade emocional,

encarregando-se do cuidado de algum membro da família. Isso se produz, em resposta à

depressão da mãe e da falta de disponibilidade emocional do pai que, de maneira

inconsciente, ratifica a necessidade que tem a esposa, que seu filho a cuide. A

intervenção psicopedagógica também se propõe a incluir os pais no processo, por

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intermédio de reuniões, possibilitando o acompanhamento do trabalho realizado junto

aos professores. Assegurada uma maior compreensão, os pais ocupam um novo espaço

no contexto do trabalho, abandonando o papel de meros espectadores, assumindo a

posição de parceiros, participando e opinando. A profissão do psicopedagogo não está

regulamentada, mas se encontra na Comissão de Constituição, Justiça e Redação, na

Câmara dos Deputados Federais, para ser aprovada. Enquanto isso, a formação do

psicopedagogo vem ocorrendo em caráter regular e oficial em cursos de pós-graduação

oferecidos por instituições devidamente autorizadas ou credenciadas. A psicopedagogia

surgiu da necessidade de melhor compreensão do processo de aprendizagem,

comprometido com a transformação da realidade escolar, na medida em que possibilita,

mediante dinâmicas em sala de aula, contemplar a interdisciplinaridade, juntamente

com outros profissionais da escola. O psicopedagogo estimula o desenvolvimento de

relações interpessoais, o estabelecimento de vínculos, a utilização de métodos de ensino

compatíveis com as mais recentes concepções a respeito desse processo. Procura

envolver a equipe escolar, ajudando-a a ampliar o olhar em torno do aluno e das

circunstâncias de produção do conhecimento, ajudando o aluno a superar os obstáculos

que se interpõem ao pleno domínio das ferramentas necessárias à leitura do mundo. A

aprendizagem humana é determinada pela interação entre o indivíduo e o meio, da qual

participam os aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Dentro dos aspectos

biológicos, a criança apresenta uma série de características que lhe permitem, ou não, o

desenvolvimento de conhecimentos. As características psicológicas são conseqüentes da

história individual, de interações com o ambiente e com a família, o que influenciará as

experiências futuras, como, por exemplo, o conceito de si próprio, insegurança,

interações sociais, etc.

Nesse contexto, é pertinente concluir que:

* É fundamental que a criança seja estimulada em sua criatividade e que seja

respondida às suas curiosidades por meio de descobertas concretas, desenvolvendo a

sua auto-estima, criando em si uma maior segurança, confiança, tão necessária à vida

adulta;

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* -É preciso que os pais se impliquem nos processos educativos dos filhos no

sentido de motivá-los afetivamente ao aprendizado. O aprendizado formal ou a

educação escolar, para ser bem-sucedida não depende apenas de uma boa escola ou de

bons programas, mas, principalmente, de como a criança é tratada em casa e dos

estímulos que recebe para aprender;

* É preciso entender que o aprender é um processo contínuo e não cessa quando

a criança está em casa.

As mudanças políticas, sociais e culturais são referenciais para compreender o

que acontece nas escolas e no sistema educacional. O psicopedagogo deve saber

interpretar e estar inteirado com essas mudanças para poder agir e colaborar,

preocupando-se com que as experiências de aprendizagem sejam prazerosas para a

criança e, sobretudo, que promovam o desenvolvimento. Portando, a psicopedagogia,

pode fazer um trabalho entre os muitos profissionais, visando à descoberta e o

desenvolvimento das capacidades da criança, bem como pode contribuir para que os

alunos sejam capazes de olhar esse mundo em que vivem, de saber interpretá-lo e de

nele ter condições de interferir com segurança e competência. Assim, o psicopedagogo

não só contribuirá com o desenvolvimento da criança, como também contribuirá com a

evolução de um mundo que melhore as condições de vida da maioria da humanidade.

3.3 Da família

O conhecimento e o aprendizado não são adquiridos somente na escola, mas

também são construídos pela criança em contato com o social, dentro da família e no

mundo que a cerca. A família é o primeiro vínculo da criança e é responsável por

grande parte da sua educação e da sua aprendizagem. É por meio dessa aprendizagem

que a criança é inserida no mundo cultural, simbólico e começa a construir seus

conhecimentos, seus saberes. Contudo, na realidade, o que temos observado é que as

famílias estão perdidas, não estão sabendo lidar com situações novas: pais trabalhando

fora o dia inteiro, pais desempregados, brigas, drogas, pais analfabetos, pais separados e

mães solteiras. Essas famílias acabam transferindo suas responsabilidades para a escola,

sendo que, em decorrência disso, presenciamos gerações cada vez mais dependentes e a

escola tendo que desviar de suas funções para suprir essas necessidades. A escola, como

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observa Sarramona (apud IGEA, 2005, p 19), veio ocupar uma das funções clássicas

da família que é a socialização: A escola se converteu na principal instituição

socializadora, no único lugar em que os meninos e as meninas têm a possibilidade de

interagir com iguais e onde se devem submeter continuamente a uma norma de

convivência coletiva. Considerando o exposto, cabe ao psicopedagogo intervir junto à

família das crianças que apresentam dificuldades na aprendizagem, por meio, por

exemplo, de uma entrevista e de uma anamnese com essa família para tomar

conhecimento de informações sobre a sua vida orgânica, cognitiva, emocional e social.

O que a família pensa, seus anseios, seus objetivos e expectativas com relação ao

desenvolvimento de seu filho também são de grande importância para o psicopedagogo

chegar a um diagnóstico. Vale lembrar o que diz Bossa (1994, p.74) sobre o

diagnóstico: O diagnóstico psicopedagógico é um processo, um contínuo sempre

revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia, segundo vimos afirmando, numa

atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que esta atitude

investigadora, de fato, prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com

o objetivo de observação ou acompanhamento da evolução do sujeito. Na maioria das

vezes, quando o fracasso escolar não está associado às desordens neurológicas, o

ambiente familiar tem grande participação nesse fracasso. Boa parte dos problemas

encontrados são lentidão de raciocínio, falta de atenção e desinteresse. Esses aspectos

precisam ser trabalhados para se obter melhor rendimento intelectual. Lembramos que a

escola e o meio social também têm a sua responsabilidade no que se refere ao fracasso

escolar. A família desempenha um papel decisivo na condução e evolução do problema

acima mencionado, pois, muitas vezes, não quer enxergar essa criança com

dificuldades, essa criança que, muitas vezes, está pedindo socorro, pedindo um abraço

um carinho, um beijo e que não produz na escola para chamar a atenção para o seu

pedido, a sua carência. Esse vínculo afetivo é primordial para o bom desenvolvimento

da criança. Concordamos com Souza (1995, p.58) quando diz que

... fatores da vida psíquica da criança podem atrapalhar o bom desenvolvimento dos

processos cognitivos, e sua relação com a aquisição de conhecimentos e com a família,

na medida em que atitudes parentais influenciam sobremaneira a relação da criança

com o conhecimento. Sabemos que uma criança só aprende se ela tem o desejo de

aprender. E para isso é importante que os pais contribuam para que ela tenha esse

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desejo. Existe um desejo por parte da família quando a criança é colocada na escola,

pois da criança é cobrado que seja bem-sucedida. Porém, quando esse desejo não se

realiza como esperado, surgem a frustração e a raiva que acabam colocando a criança

num plano de menos valia, surgindo, daí, as dificuldades na aprendizagem. Para

Boszormeny (apud Polity, 2000), uma criança pode desistir da escola porque aceita

uma responsabilidade emocional, encarregando-se do cuidado de algum membro da

família. Isso se produz, em resposta à depressão da mãe e da falta de disponibilidade

emocional do pai que, de maneira inconsciente, ratifica a necessidade que tem a

esposa, que seu filho a cuide. A intervenção psicopedagógica também se propõe a

incluir os pais no processo, por intermédio de reuniões, possibilitando o

acompanhamento do trabalho realizado junto aos professores. Assegurada uma maior

compreensão, os pais ocupam um novo espaço no contexto do trabalho, abandonando o

papel de meros espectadores, assumindo a posição de parceiros, participando e

opinando. Família e escola têm um objetivo comum: estabelecer as melhores condições

para favorecer o desenvolvimento integral das crianças e dos jovens. Este objetivo

requer atuações de qualidade em cada um dos sistemas, dirigidos a que as crianças

possam ter acesso, progressivamente, à cultura de seu grupo social num processo que

repercuta de forma favorável em seu autoconceito, na capacidade de relacionar-se

construtivamente com outros e nas suas possibilidades de inserir-se paulatinamente em

novas estruturas e sistemas. Mas também requer a existência do conhecimento mútuo, a

formação de vínculos e o estabelecimento de acordos entre estes contextos originários

como condição necessária para que o potencial de desenvolvimento de cada um deles

chegue a se concretizar (Bronfenbrenner, 1987 ). Cada escola é, em si mesma, uma

comunidade que estabeleceu ao longo de sua trajetória uma história de relação e afeto

entre seus membros; entre a equipe de docentes, com os alunos, entre a equipe e as

famílias; em cada caso estes aspectos são diferentes. O psicopedagogo pode encontrar-

se em uma instituição que tem uma boa relação entre a família e escola, bem como

poderá encontrar escolas que possuem atritos, incompreensões e conflitos freqüentes,

gerando clima de desconfiança e mal-estar que provoca interações tensas e pouco

construtivas. Os psicopedagogos podem contribuir, de maneira proveitosa para o

estabelecimento de canais fluidos de comunicação entre a família e a escola. Quando

ocorre, essas relações são conduzidas pela confiança e pelo respeito mútuos e articulam-

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se em torno de algumas metas ou objetivos concernentes a ambos os sistemas. São

relações nas quais se buscam os aspectos positivos que possuem todos os

interlocutores. Paralelamente, os pais respeitam a tarefa educacional da escola, criando-

se deste modo um contexto de relação cômodo para todos. Huguet (1996), afirma que

pais e professores para que se obtenha esta boa relação entre família-escola, atribui

fundamentalmente a responsabilidade na escola. O grau em que os familiares possam

elaborar expectativas positivas em relação ao bem-estar e à educação de seus filhos na

escola vai depender da colhida que esta oferecer não somente aos alunos mas à família

em seu conjunto, assim como dos esforços destinados a manter e a cuidar dessa relação.

Assim, há uma variedade de intervenções que estão vinculadas à cultura da escola em

relação às famílias. Os conteúdos desta relação família-escola são: o caráter sistêmico,

mutante e interativo da família; a singularidade da função educacional da família e sua

complementariedade com a da escola; o benefício das relações fluidas entre o regente e

os familiares e, simultaneamente, a necessidade de estabelecer limites entre ambos os

sistemas, evitando as intromissões indesejadas. Outras intervenções dirigidas a levar as

famílias a conhecer a escola são: palestras gerais de início de ano, comunicações

escritas, personalizadas ou gerais, apresentação de projetos nos quais a escola está

envolvida, informar sobre o estilo, as formas de relação que se estabelecem na escola;

onde o psicopedagogo pode colaborar ajudando nestas atividades. Todas estas

intervenções têm como fim prioritário melhorar a comunicação entre a família e a

instituição educacional e fomentar entre elas relações positivas.

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CAPITULO 4

ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO

4.1 Professor

Historicamente, a intervenção psicopedagógica vem ocorrendo na assistência às

pessoas que apresentam dificuldades de aprendizagem, tanto no diagnóstico quanto na

terapia. Diante do baixo desempenho acadêmico, alunos são encaminhados pelas

escolas que freqüentam, com o objetivo de elucidar a causa de suas dificuldades. A

questão fica, desde o princípio, centrada em quem aprende, ou melhor, em quem não

aprende. Diferente de estar com dificuldade, o aluno manifesta dificuldades, revelando

uma situação mais ampla, onde também se inscreve a escola, parceira que é no processo

da aprendizagem. Portanto, analisar a dificuldade de aprender inclui, necessariamente, o

projeto pedagógico escolar, nas suas propostas de ensino, no que é valorizado como

aprendizagem. A ampliação desta leitura através do aluno permite ao psicopedagogo

abrir espaços para que se disponibilize recursos que façam frente aos desafios, isto é, na

direção da efetivação da aprendizagem. No entanto, apesar do esforço que as escolas

tradicionalmente dispendem na solução dos problemas de aprendizagem, os resultados

do estudo psicopedagógico têm servido, muitas vezes, para diferentes fins, sobretudo

quando a escola não se dispõe a alterar o seu sistema de ensino e acolher o aluno nas

suas necessidades. Assim, se a instituição consagra o armazenamento do conteúdo como

fator de soberania, os resultados do estudo correm o risco de serem compreendidos

como a confirmação das incapacidades do aluno de fazer frente às exigências, acabando

por referendar o processo de exclusão. Escolas conteudistas, porém menos "exigentes",

recebem os resultados do estudo como uma necessidade de maior acolhimento afetivo

do aluno. Tornam-se mais compreensivas, mais tolerantes com o baixo rendimento,

sem, contudo, alterar seu projeto pedagógico. Mantém, assim, o distanciamento entre o

aluno e o conhecimento. Nelas também ocorre o processo de exclusão. O estudo

psicopedagógico atinge plenamente seus objetivos quando, ampliando a compreensão

sobre as características e necessidades de aprendizagem daquele aluno, abre espaço para

que a escola viabilize recursos para atender as necessidades de aprendizagem. Desta

forma, o fazer pedagógico se transforma, podendo se tornar uma ferramenta poderosa

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no projeto terapêutico. No entanto, mudanças vem ocorrendo, sobretudo nos últimos

anos. A ótica que privilegia a divisão acadêmica, que categoriza os alunos, que valoriza

o homogêneo, que considera o conteúdo como um fim, começa a sofrer um

esvaziamento. Realoca-se o conceito de aprender, a função do ensinar. Dar conta da

diversidade, do heterogêneo, possibilita o aprender coletivo, a riqueza da troca, o

aprender com o outro. O professor deixa de ser apenas o difusor do conhecimento e vive

o fazer pedagógico como o espaço para a estimulação da aprendizagem. E, é no

desdobramento desta nova condição do professor, que o estudo psicopedagógico (eu

prefiro usar a palavra estudo no lugar de diagnóstico, dadas as implicações daí

decorrentes) pode adquirir um novo recorte, ampliando sua função, que não se finaliza

mais no aluno. De objetivo, o aluno passa a ser um meio. De problema, ele se

transforma numa oportunidade. Oportunidade de aprendizagem para o professor.

Refletindo acerca dos resultados, numa ação conjunta com o psicopedagogo, o professor

se sente desafiado a repensar a prática pedagógica, inscrevendo a possibilidade de novos

procedimentos. Para o psicopedagogo, a experiência de intervenção junto ao professor,

num processo de parceria, possibilita uma aprendizagem muito importante e

enriquecedora, sobretudo quando os professores são especialistas nas suas disciplinas.

Uma experiência bem sucedida que tive na intervenção psicopedagógica em parceria

com os professores, foi vivida numa escola regular, da rede particular de ensino, na

zona sul da cidade de São Paulo. A escola encaminhou a família de A. para o estudo

psicopedagógico. Os testes de avaliação adotados à ocasião da matrícula nem puderam

ser considerados, devido ao aparente desinteresse de A. em participar. Acostumada aos

desafios com alunos portadores de dificuldades, a escola condicionou a possibilidade de

aceitá-lo, aos resultados do estudo, desde que realizado por uma profissional que

estivesse familiarizada com as propostas de ensino da instituição. Visava, desta forma,

avaliar a adequação entre suas possibilidades e as condições de aprendizagem daquele

aluno. Como era de se esperar, os pais vieram muito ansiosos em busca de auxílio.

Cansados de tantas mudanças, referiram ser aquela a 7a.escola que o filho iria

freqüentar. Concluído o estudo, a matrícula foi confirmada na 7a.série. Os resultados

obtidos revelavam um quadro importante de dificuldades na aprendizagem, com

indicação para terapia psicopedagógica. Em virtude de outros atendimentos a que se

submetia, não havia nenhuma possibilidade de se introduzir uma nova terapia. A

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solução encontrada foi intervir junto aos professores que iam atuar em sala de aula,

sob forma de orientação psicopedagógica. Este seria o elo que vincularia todos os

informes profissionais disponíveis sobre o aluno com as observações de classe feitas

pelos professores. Visávamos favorecer a sustentação da parceria professor-aluno. A

orientação psicopedagógica para os professores ocorreu através de reuniões mensais.

Algumas condições foram consideradas fundamentais para o trabalho de orientação. As

reuniões não deveriam ser individuais, mas com o grupo, favorecendo a troca de

informações e possibilitando uma maior compreensão. O apoio dado não deveria

ocorrer através da descrição das patologias que A. apresentava. Os nomes das

dificuldades não ajudariam em nada. Do contrário, serviriam de rótulo, desestimulando

os professores e o nosso objetivo era o oposto. Queríamos desafiá-los. Desafiá-los na

descoberta das características específicas daquele aluno, sobretudo nas possibilidades

preservadas para a aprendizagem. A fala dos professores representava, também, a

possibilidade de ampliar a nossa compreensão, como especialistas, sobre o caso,

permitindo uma intervenção mais eficiente. Iniciamos o trabalho pela escuta. Todos

tinham o que dizer daquele aluno tão fora do padrão do grupo, apesar da escola ter

grande experiência no atendimento de alunos com dificuldades de aprendizagem e dos

professores passarem, freqüentemente, por reciclagem. Nos relatos, havia pontos em

comum: o aluno nada produzia, não fazia as lições, não se mobilizava para nada e, para

ter algum rendimento, precisava ser estimulado individualmente. Além da dificuldade

na compreensão da leitura, seus colegas não entendiam o que ele dizia, em função de

problemas na fala. Associada a estas queixas, a defasagem no conteúdo era constatada

em todas as áreas. Assim, sugerimos a introdução de uma professora de apoio, que o

auxiliaria fora do período escolar, mas no ambiente da escola. Este procedimento

também atenderia a preservação da relação mãe-filho, desgastada sobretudo pelas

questões escolares. Por isto, A. foi mantido em período integral na escola, voltando para

casa com todas as tarefas cumpridas. Poder reconhecer e falar dos conflitos no lidar com

a diferença, permitiu aos professores caminhar numa nova direção, na direção das

possibilidades daquele aluno. Assim, no final da primeira reunião, diante de tantos nãos,

combinamos relacionar, para o encontro seguinte, apenas os pontos positivos, isto é, os

aspectos preservados no desempenho de A. Na reunião que se seguiu, todos os

professores se mostravam muito ansiosos por falar. Além do reconhecimento de pontos

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positivos, eles tinham podido lidar com as diferenças no grupo de alunos, como eles

próprios tinham vivido na reunião. Alguns já tinham desenvolvido novas estratégias de

trabalho com sucesso. Analisando estas propostas, extraímos o que havia em comum e

isto alavancou, durante a reunião, novos projetos. Alguns professores relatavam

contatos estabelecidos com o aluno que tinham se processado de diferentes maneiras.

Concluímos que estes vínculos seriam diferentes porque envolviam diferentes pessoas,

de diferentes disciplinas. Empolgados com a análise e com as possibilidades de

intervenção em classe, os professores se sentiram estimulados na direção das

possibilidades de aprendizagem daquele aluno. Assim, a cada encontro eram relatadas

novas conquistas até que, entre os professores, instalou-se a necessidade de um maior

entendimento acerca do que explicava aquelas características tão particulares do

aprendizado, que eles agora conheciam melhor. Visavam, desta maneira, reconhecer o

significado da dificuldade no processo da aprendizagem. Este era o ponto, que pode ser

delimitado pela análise do desempenho do aluno, valorizando as habilidades que

poderiam estar por detrás de cada situação bem sucedida. Ampliando o nível de

compreensão entre tarefas e habilidades implicadas, os professores puderam associar

sua experiência e criatividade com as necessidades de A. Foi um trabalho coletivo de

criação. Como no processo de inclusão, o aprendizado era coletivo e o desafio, inscrito

na diversidade. Um aprendia com o outro. Ninguém ficou confinado na sua disciplina e

as propostas tinham uma característica comum: não eram as rotineiras. Através deste

exercício, todos saíram da reunião dispostos a fazer novas experiências em sala de aula

para relatar na reunião seguinte. Paralelamente ao trabalho de orientação, a intervenção

psicopedagógica também se propunha a incluir os pais no processo, através de reuniões,

possibilitando o acompanhamento do trabalho realizado junto aos professores.

Assegurada uma maior compreensão, os pais ocuparam um novo espaço no contexto do

trabalho. Abandonando o papel de espectadores, assumiram a posição de parceiros,

participando, opinando e cobrando. Incorporados ao trabalho de equipe, eles também

tinham função e responsabilidades bem definidas. Decididamente, eles sabiam a quem

recorrer em caso de necessidade. Ficaram menos ansiosos. Na etapa que se seguiu com

os professores, demos continuidade ao trabalho de ampliação da compreensão dos

sucessos, compondo, também, estratégias que pudessem diminuir o impacto das

dificuldades instrumentais, mais especificamente na leitura e na escrita. Estavam, todos

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eles, francamente mobilizados para o ensino e, conseqüentemente, para a

aprendizagem daquele aluno. Os insucessos eram pontuados sem necessidade de serem

descritos. O problema não residia ali. O desafio era como conseguir. Achei, então, que

era chegado o momento dos professores entenderem a dimensão dos resultados do

trabalho que vinham fazendo, através do conhecimento dos diagnósticos realizados.

Havia um interesse genuíno de todos, porque ninguém parecia querer procurar nas

dificuldades, a justificativa para o insucesso. Assim, a cada diagnóstico referido, a

reaçào era de surpresa, porque A. não era o descrito. A. era o vivido por eles e, em

todos, senti uma sensação de vitória. Eles estavam conseguindo e reconheciam a

importância do trabalho em parceria, que incluia, além dos professores de classe e da

psicopedagoga, a professora de apoio que, através de um forte vínculo de confiança com

o aluno, estava conseguindo empolgá-lo na direção da aprendizagem significativa,

mobilizando novos recursos. Após um ano e meio após o início do trabalho, os

professores já se sentiam mais seguros, mais confiantes. Desta forma, decidimos

interromper a intervenção psicopedagógica sistemática, deixando em aberto a

recorrência em caso de necessidade. A. continua apresentando uma importante evolução

global e está, cada vez mais, mobilizado para a aprendizagem. Atualmente, revela

interesse por se apropriar de novas linguagens e escolheu a escultura como meio de

expressão. Descentralizado do aluno e deslocado para os professores, o trabalho

psicopedagógico ampliou a possibilidade de intervenção junto a quem ensina. Pais,

professores, especialista uniram esforços na busca de soluções. Ninguém ficou

esperando resultados. Ninguém foi excluído da equipe de trabalho. Somamos nossos

conhecimentos e experiências. Todos aprendemos. A seguir para finalizar esse

subcapítulo, existe uma historia retirada de um livro que os psicopedagogos podem

passar aos professores para eles ver a importância que eles têm diante da sociedade.

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A HISTÓRIA DA GRANDE TORRE

Se o teu sol é verdadeiro, não tenha medo das nuvens que o encobrem, pois um

dia elas se dissiparão e o brilho do sol voltará... Quais são os profissionais mais

importantes da sociedade?

Para finalizar este capitulo, contarei uma história que revela a perigosa direção

para onde a sociedade está caminhando, a crise da educação e a importância dos pais e

dos professores como construtores de um mundo melhor. Tenho contado essa história

em muitas conferências, inclusive em congressos internacionais. Muitos educadores

ficam tão sensibilizados que vão às lágrimas.

Num tempo não muito distante do nosso, a humanidade ficou tão caótica que os

homens fizeram um grande concurso. Eles queriam saber qual a profissão mais

importante da sociedade. Os organizadores do evento construíram uma grande torre

dentro de um enorme estádio com degraus de ouro, cravejados de pedras preciosas. A

torre era belíssima. Chamaram a imprensa mundial, a TV, os jornais, as revistas e as

rádios para realizarem a cobertura. O mundo estava plugado no evento. No estádio,

pessoas de todas as classes sociais se espremiam para ver a disputa de perto. As regras

eram as seguintes: cada profissão era representada por um ilustre orador. O orador

deveria subir rapidamente num degrau da torre e fazer um discurso eloqüente e

convincente sobre os motivos pelos quais sua profissão era a mais importante da

sociedade moderna. O orador tinha de permanecer na torre até o final da disputa. A

votação era mundial e pela Internet. Nações e grandes empresas patrocinavam a disputa.

A categoria vencedora receberia prestígio social, uma grande soma em dinheiro e

subsídios do governo. Estabelecidas as regras, a disputa começou. O mediador do

concurso bradou: "O espaço está aberto!" Sabem quem subiu primeiro na torre? Os

educadores? Não! O representante da minha classe, a dos psiquiatras. Ele subiu na torre

e a plenos pulmões proclamou: "As sociedades modernas se tornarão uma fábrica de

estresse. A depressão e a ansiedade são as doenças do século. As pessoas perderam o

encanto pela existência. Muitas desistem de viver. A indústria dos antidepressivos e dos

tranqüilizantes se tornou a mais importante do mundo." Em seguida, o orador fez uma

pausa. O público, pasmo, ouvia atentamente seus argumentos contundentes. O

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representante dos psiquiatras concluiu: "O normal é ter conflitos, e o anormal é ser

saudável. O que seria da humanidade sem os psiquiatras? Um albergue de seres

humanos sem qualidade de vida! Por vivermos numa sociedade doentia, declaro que

somos, juntamente com os psicólogos clínicos, os profissionais mais importantes da

sociedade!" No estádio reinou um silêncio. Muitos na platéia olharam para si mesmos e

perceberam que não eram alegres, estavam estressados, dormiam mal, acordavam

cansados, tinham uma mente agitada, dores de cabeça. Milhões de espectadores ficaram

com a voz embargada. Os psiquiatras pareciam imbatíveis. Em seguida, o mediador

bradou: "O espaço está aberto!" Sabem quem subiu depois? Os professores? Não! O

representante dos magistrados - os juizes de direito. Ele subiu num degrau mais alto e

num gesto de ousadia desferiu palavras que abalaram os ouvintes: "Observem os índices

de violência! Eles não param de aumentar. Os seqüestros, assaltos e a violência no

trânsito enchem as páginas dos jornais. A agressividade nas escolas, os maus-tratos

infantis, a discriminação racial e social fazem parte da nossa rotina. Os homens amam

seus direitos e desprezam seus deveres." Os ouvintes menearam a cabeça, concordando

com os argumentos. Em seguida, o representante dos magistrados foi mais contundente:

"O tráfico de drogas movimenta tanto o dinheiro como o petróleo. Não há como extirpar

o crime organizado. Se vocês querem segurança, aprisionem-se dentro de suas casas,

pois a liberdade pertence aos criminosos. Sem os juizes e os promotores, a sociedade se

esfacela. Por isso, declaro, com o apoio dos promotores e do aparelho policial, que

representamos a classe mais importante da sociedade." Todos engoliram em seco essas

palavras. Elas perturbavam os ouvidos e queimavam na alma. Mas pareciam

incontestáveis. Outro momento de silêncio, agora mais prolongado. Em seguida, o

mediador, já suando frio, disse: "O espaço está novamente aberto!" Um outro

representante mais intrépido subiu num degrau mais alto da torre. Sabem quem foi desta

vez? Os educadores? Não! Foi o representante das forças armadas. Com uma voz

vibrante e sem delongas, ele discursou: "Os homens desprezam o valor da vida. Eles se

matam por muito pouco. O terrorismo elimina milhares de pessoas. A guerra comercial

mata milhões de fome. A espécie humana se esfacelou em dezenas de tribos. As nações

só se respeitam pela economia e pelas armas que possuem. Quem quiser a paz tem de se

preparar para a guerra. Os poderes econômicos e bélicos, e não o diálogo são os atores

de equilíbrio num mundo espúrio." Suas palavras chocaram os ouvintes, mas eram

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inquestionáveis. Em seguida, ele concluiu: "Sem as forças armadas, não haveria

segurança. O sono seria um pesadelo. Por isso, declaro, quer se aceite ou não, que os

homens das forças armadas não são apenas a classe profissional mais importante, mas

também a mais poderosa." A alma dos ouvintes gelou. Todos ficaram atônitos. Os

argumentos dos três oradores eram fortíssimos. A sociedade tinha se tornado um caos.

As pessoas do mundo todo, perplexas, não sabiam qual atitude tomar: se aclamavam um

orador, ou se choravam pela crise da espécie humana, que não honrou sua capacidade de

pensar. Ninguém mais ousou subir na torre. Em quem votariam? Quando todos

pensavam que a disputa havia se encerrado, ouviu-se uma conversa no sopé da torre. De

quem se tratava? Desta vez eram os professores. Havia um grupo deles da pré-escola,

do ensino fundamental, do médio e do universitário. Eles estavam encostados na torre

dialogando com um grupo de pais. Ninguém sabia o que estavam fazendo. A TV os

focalizou e projetou num telão. O mediador gritou para um deles subir na torre. Eles se

recusaram. O mediador os provocou: "Sempre há covardes numa disputa." Houve risos

no estádio. Fizeram chacota dos professores e dos pais. Quando todos pensavam que

eles eram frágeis, os professores, com o incentivo dos pais, começaram a debater as

idéias, permanecendo no mesmo lugar. Todos se faziam representar. Um dos

professores, olhando para o alto, disse para o representante dos psiquiatras: "Nós não

queremos ser mais importantes do que vocês. Apenas queremos ter condições para

educar a emoção dos nossos alunos, formar jovens livres e felizes, para que eles não

adoeçam e sejam tratados por vocês." O representante dos psiquiatras recebeu um golpe

na alma. Em seguida, um outro professor que estava no lado direito da torre olhou para

o representante dos magistrados e disse: "Jamais tivemos a pretensão de ser mais

importantes do que os juizes. Desejamos apenas ter condições para lapidar a inteligência

dos nossos jovens, fazendo-os amar a arte de pensar e aprender a grandeza dos direitos e

dos deveres humanos. Assim, esperamos que jamais se sentem num banco dos réus." O

representante dos magistrados tremeu na torre. Uma professora do lado esquerdo da

torre, aparentemente tímida, encarou o representante das forças armadas e falou

poeticamente: "Os professores do mundo todo nunca desejaram ser mais poderosos nem

mais importantes do que os membros das forças armadas. Desejamos apenas ser

importantes no coração das nossas crianças. Almejamos levá-las a compreender que

cada ser humano não é mais um número na multidão, mas um ser insubstituível, um ator

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único no teatro da existência." A professora fez uma pausa e completou: "Assim,

eles se apaixonarão pela vida, e, quando estiverem no controle da sociedade, jamais

farão guerras, sejam guerras físicas que retiram o sangue, sejam as comerciais que

retiram o pão. Pois cremos que os fracos usam a força, mas os fortes usam o diálogo

para resolver seus conflitos. Cremos ainda que a vida é obra-prima de Deus, um

espetáculo que jamais deve ser interrompido pela violência humana." Os pais deliraram

de alegria com essas palavras. Mas o representante do judiciário quase caiu da torre.

Não se ouvia um zumbido na platéia. O mundo ficou perplexo. As pessoas não

imaginavam que os simples professores que viviam no pequeno mundo das salas de aula

fossem tão sábios. O discurso dos professores abalou os líderes do evento. Vendo

ameaçado o êxito da disputa, o mediador do evento disse arrogantemente: "Sonhadores!

Vocês vivem fora da realidade!" Um professor destemido bradou com sensibilidade:

"Se deixarmos de sonhar, morreremos!" Sentindo-se questionado, o organizador do

evento pegou o microfone e foi mais longe na intenção de ferir os professores: "Quem

se importa com os professores na atualidade? Comparem-se com outras profissões.

Vocês não participam das mais importantes reuniões políticas. A imprensa raramente os

noticia. A sociedade pouco se importa com a escola. Olhem para o salário que vocês

recebem no final do mês!" Uma professora fitou-o e disse-lhe com segurança: "Não

trabalhamos apenas pelo salário, mas pelo amor dos seus filhos e de todos os jovens do

mundo." Irado, o líder do evento gritou: "Sua profissão será extinta nas sociedades

modernas. Os computadores os estão substituindo! Vocês são indignos de estar nesta

disputa.' A platéia, manipulada, mudou de lado. Condenaram os professores. Exaltaram

a educação virtual. Gritaram em coro: "Computadores! Computadores! Fim dos

professores!" O estádio entrou em delírio repetindo esta frase. Sepultaram os mestres.

Os professores nunca haviam sido tão humilhados. Golpeados por essas palavras,

resolveram abandonar a torre. Sabem o que aconteceu? A torre desabou. Ninguém

imaginava, mas eram os professores e os pais que estavam segurando a torre. A cena foi

chocante. Os oradores foram hospitalizados. Os professores tomaram então outra atitude

inimaginável: abandonaram, pela primeira vez, as salas de aula. Tentaram substituí-los

por computadores, dando uma máquina para cada aluno. Usaram as melhores técnicas

de multimídia. Sabem o que ocorreu? A sociedade desabou. As injustiças e as misérias

da alma aumentaram mais ainda. A dor e as lágrimas se expandiram. O cárcere da

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depressão, do medo e da ansiedade atingiu grande parte da população. A violência e

os crimes se multiplicaram. A convivência humana, que já estava difícil, ficou

intolerável. A espécie humana gemeu de dor. Corria o risco de não sobreviver.

Estarrecidos, todos entenderam que os computadores não conseguiam ensinar a

sabedoria, a solidariedade e o amor pela vida. O público nunca pensara que os

professores fossem os alicerces das profissões e o sustentáculo do que é mais lúcido e

inteligente entre nós. Descobriu-se que o pouco de luz que entrava na sociedade vinha

do coração dos professores e dos pais que arduamente educavam seus filhos. Todos

entenderam que a sociedade vivia uma longa e nebulosa noite. A ciência, a política e o

dinheiro não conseguiam superá-la. Perceberam que a esperança de um belo amanhecer

repousa sobre cada pai, cada mãe e cada professor, e não sobre os psiquiatras, o

judiciário, os militares, a imprensa. Não importa se os pais moram num palácio ou numa

favela, e se os professores dão aulas numa escola suntuosa ou pobre - eles são a

esperança do mundo. Diante disso, os políticos, os representantes das classes

profissionais e os empresários fizeram uma reunião com os professores em cada cidade

de cada nação. Reconheceram que tinham cometido um crime contra a educação.

Pediram desculpas e rogaram para que eles não abandonassem seus filhos. Em seguida,

fizeram uma grande promessa. Afirmaram que a metade do orçamento que gastavam

com armas, com o aparato policial e com a indústria dos tranqüilizantes e dos

antidepressivos seria investida na educação. Prometeram resgatar a dignidade dos

professores, e dar condições para que cada criança da Terra fosse nutrida com alimentos

no seu corpo e com o conhecimento na sua alma. Nenhuma delas ficaria mais sem

escola. Os professores choraram. Ficaram comovidos com tal promessa. Há séculos eles

esperavam que a sociedade acordasse para o drama da educação. Infelizmente, a

sociedade só acordou quando as misérias sociais atingiram patamares insuportáveis.

Mas, como sempre trabalharam como heróis anônimos e sempre foram apaixonados por

cada criança, cada adolescente e cada jovem, os professores resolveram voltar para a

sala de aula e ensinar cada aluno a navegar nas águas da emoção. Pela primeira vez, a

sociedade colocou a educação no centro das suas atenções. A luz começou a brilhar

depois da longa tempestade. No final de dez anos os resultados apareceram, e depois de

vinte anos todos ficaram boquiabertos. Os jovens não desistiam mais da vida. Não havia

mais suicídios. O uso de drogas dissipou-se. Quase não se ouvia falar mais de

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transtornos psíquicos e de violência. E a discriminação? O que é isso? Ninguém se

lembrava mais do seu significado. Os brancos abraçavam afetivamente os negros. As

crianças judias dormiam na casa das crianças palestinas. O medo se dissolveu, o

terrorismo desapareceu, o amor triunfou. Os presídios se tornaram museus. Os policiais

se tornaram poetas. Os consultórios de psiquiatria se esvaziaram. Os psiquiatras se

tornaram escritores. Os juizes se tornaram músicos. Os promotores se tornaram

filósofos. E os generais? Descobriram o perfume das flores, aprenderam a sujar suas

mãos para cultivá-las. E os jornais e as TVs do mundo? O que noticiavam, o que

vendiam? Deixaram de vender mazelas e lágrimas humanas. Vendiam sonhos,

anunciavam a esperança. Quando esta história se tornará realidade? Se todos sonharmos

este sonho, um dia ele deixará de ser apenas um sonho.

4.2 Aluno

O psicopedagogo é o profissional que auxilia na identificação e na resolução dos

problemas no processo do aprender. Este profissional está capacitado a lidar com as

mais diversas dificuldades de aprendizagem, um dos fatores atuais que leva uma boa

parcela de alunos à multirepetência, ao fracasso escolar e, conseqüentemente, à evasão.

Weiss (2001) entende como fracasso escolar uma resposta insuficiente do aluno a uma

exigência ou demanda da escola. Se o aluno não corresponde a esta demanda "exigida"

pela unidade escolar, algo deverá ser investigado, num envolvimento global, onde todos

os profissionais que fazem parte desta organização caminhem juntos ao encontro e no

repensar de suas posturas pedagógicas. O fracasso escolar pode ocasionar problemas

sociais, que também perpassam por esta trajetória de marginalização e exclusão social.

A identificação dos problemas de aprendizagem necessita de um novo olhar a partir das

organizações educadoras. Para Vygotsky (1989), a aprendizagem da criança começa

muito antes da aprendizagem escolar que nunca parte do zero. Toda aprendizagem da

criança na escola tem uma pré-história. O profissional da psicopedagogia detém um

conhecimento científico específico oriundo da articulação de várias áreas envolvidas

nos processos e caminhos do aprender. Cabe a ele intervir, visando a solução dos

problemas de aprendizagem e tendo como foco o aluno ou a organização educadora

(escola). Realizar o diagnóstico e a intervenção psicopedagógica também é uma atitude

que poderá ser efetivada através de métodos, instrumentos e técnicas próprias da

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psicopedagogia, sendo relevantes as questões ligadas à prevenção. Envolver-se em

pesquisas e estudos científicos acerca dos problemas e processos de aprendizagem é de

fundamental importância no trabalho do psicopedagogo, pois é através de novos

enfoques que poderão ser alcançadas importantes considerações a respeito da

aprendizagem, bem como obtidos argumentos concretos para o reconhecimento da

profissão. O psicopedagogo deve ter a consciência de observar o indivíduo como um

todo: coordenação motora ampla, aspecto sensório-motor, dominância lateral,

desenvolvimento rítmico, desenvolvimento motor fino, criatividade, evolução do

traçado e do desenho, percepção espacial e viso-motora, orientação e relação espaço-

temporal, aquisição e articulação dos sons, aquisição de palavras novas, elaboração e

organização mental, atenção e coordenação, bem como, expressões, aquisição de

conceitos, e, ainda, desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático. Através destes

complexos ambientes de observação, procuramos entender o processo de aprendizagem

segundo a abordagem vygotskyana, partindo do pressuposto que são várias as razões

que determinam o sucesso ou o fracasso escolar de uma criança. A prática

psicopedagógica é entendida como o conhecimento dos processos de aprendizagem em

seus mais diversos aspectos: cognitivos, emocionais ou corporais. O trabalho

psicopedagógico está inserido no processo ensino-aprendizagem, atuando

primordialmente, junto aos profissionais comprometidos nas instituições escolares de

forma preventiva, detectando os momentos de dificuldades e prevendo questões que

seriam motivo de tratamento futuro na vida educacional dos aprendentes, como

também, interagindo com o organograma escolar quando os problemas de dificuldades

de aprendizagem já estiverem instalados, trabalhando nos diagnósticos e nas terapias

psicopedagógicas. Segundo Vygotsky (1982), a atividade criadora é uma manifestação

exclusiva do ser humano, pois só este tem a capacidade de criar algo novo a partir do

que já existe. Através da memória, o homem pode imaginar situações futuras e formar

outras imagens. Sendo assim, a ação criadora reside no fato da não-adaptação do ser,

isto é, de não estar acomodado e conformado com uma situação, buscando através do

imaginário e da fantasia, um equilíbrio, bem como a construção de algo novo. É

mediante este pressuposto, que o trabalho psicopedagógico se faz atuante. É

descobrindo no aprendente suas capacidades e desenvolvendo atividades que o auxiliam

na ordenação e coordenação de suas idéias e manifestações intelectuais. A

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especificidade do tratamento psicopedagógico consiste no fato de que existe um

objetivo a ser alcançado, a eliminação dos sintomas. Assim, a relação

psicopedagogo/aprendente é medida por atividades bem definidas cujo objetivo é

solucionar os efeitos nocivos dos sintomas. Como exemplo, podemos apontar os casos

de problemas de aprendizagem em relação à leitura, motivo bastante freqüente de

consultas psicopedagógicas. É possível que uma criança não aprenda a escrever porque

lhe faltam recursos intelectuais para elaborar e testar suas hipóteses acerca desse novo

objeto de conhecimento. É possível, também, que uma criança cercada de recursos

possua dificuldades em relação à ordenação das idéias e não consiga organizar e

construir seu conhecimento. Ao psicopedagogo cabe, indiscriminadamente, trabalhar as

duas variantes aprendentes: de forma preventiva para que sejam detectadas as

dificuldades de aprendizagem antes que os processos se instalem, como também na

elaboração do diagnóstico e trabalho conjunto com família e escola frente às

intercorrências advindas das dificuldades no processo do aprender. Partindo da idéia de

que toda criança aprende, o profissional da área psicopedagógica terá que encontrar

entre as diversas teorias educacionais a que mais se enquadra em cada caso

diagnosticado. Não se pode falar em aprendizagem sem, portanto, considerar todos os

aspectos relevantes na vida desse sujeito que se relaciona e troca, a partir da criação de

vínculos. No diagnóstico psicopedagógico, não se pode desconsiderar as relações entre

produção escolar e as oportunidades reais que a sociedade dá às diversas classes sociais.

Muitas vezes, os alunos de baixa renda ainda são classificados como deficientes nas

questões do aprendizado. Na realidade, faltam-lhes oportunidades de crescimento

cultural, de rápida construção cognitiva e desenvolvimento de linguagem, o que,

certamente, aumentaria suas chances de êxito escolar. A escola não pode ser vista

isolada da sociedade, pois o sistema de ensino, seja público ou privado, reflete sempre a

sociedade na qual está inserido. Na verdade, não existem culpados, o que precisamos é

trabalhar, concomitantemente, para amenizar a exclusão educacional e social. O

trabalho de conscientização e de prevenção iniciado e proposto por um profissional da

psicopedagogia é muito bem-vindo em instituições educacionais que possuem quadros

de exclusão semelhantes ao acima citado.

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Portanto, pode-se afirmar que a absorção de conhecimento pelo aluno

depende da maneira pela qual as informações lhes foram ensinadas, que, por sua vez,

dependem das condições sociais que determinarão a qualidade deste mesmo ensino.

Professores em unidades escolares desestruturadas e sem nenhum apoio material ou

pedagógico não terão como tornar real e atraente um conhecimento. É preciso que o

professor, competente e valorizado, encontre prazer em ensinar para que possibilite o

prazer de aprender. São abordagens como essas, que espelham nossas realidades

educacionais, que o profissional da psicopedagogia considera diariamente. Quando um

psicopedagogo chega à instituição escolar, muitas pessoas acreditam que ele vai

solucionar todos os problemas da escola, sejam eles de aprendizagem, indisciplina,

evasão, exclusão, desestímulo docente entre outros. O trabalho é minucioso e

abrangente, pois o profissional da psicopedagogia não trabalha isolado. Toda estrutura

educacional necessita estar envolvida e ciente das metas estabelecidas no Plano Político

Pedagógico (PPP).Por isso o trabalho psicopegagógico se depara com desafios e

habilidades tais como: competência, visão de mundo e conhecimento teórico/prático que

determinarão o sucesso deste trabalho. Com o aluno (aprendente), o trabalho

investigativo está em saber se este quer aprender, se deseja ou não aprender, se deixa

seu desejo se manifestar a partir da sua vontade e construir seu mundo de significados.

Com a instituição educadora (escola), a investigação perpassa desde o organograma até

a conversa, em particular, com cada professor em suas especificidades disciplinares,

sem esquecer de abordar o trabalho em conjunto onde todos queiram alcançar um único

objetivo: o sucesso escolar dos alunos. A aprendizagem refere-se a um confrontamento

objetivo e uma motivação: para aprender; é necessário um vínculo e para que este

vínculo se instale ela passa, também, pelo afeto. Segundo Pichon, (1980), a

aprendizagem é uma estrutura dinâmica em contínuo movimento, que funciona

acionada ou movida por motivações psicológicas. Delors (1999), cita os quatro pilares

essenciais para um novo conceito de educação quais sejam: aprender a conhecer,

aprender a viver juntos, aprender a fazer e aprender a ser. Um desses pilares reflete uma

postura amadurecida com relação ao aluno: aprender para conhecer supõe, antes de

tudo, aprender a aprender, exercitando a atenção, a memória e o pensamento. O

processo de aprendizagem do conhecimento nunca está acabado, e pode enriquecer-se

com qualquer experiência. A educação primária pode ser considerada bem sucedida se

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conseguir transmitir às pessoas o impulso e as bases que façam com que continuem

a aprender ao longo de toda vida, tanto na escola como fora dela. (DELORS, 1999,

p.92). É neste momento que a intervenção psicopedagógica alcança seu maior grau de

desempenho, fazendo com que o aluno exercite, através de estímulos, a atenção, a

memória e o pensamento lógico-crítico. Cabe ao profissional da educação proporcionar

aos seus alunos oportunidades para que o conhecimento para a vida aconteça. Como o

saber jamais se dará como acabado, o papel do psicopedagogo terá uma ampla área de

atuação, fazendo com que seus aprendentes descubram qual a melhor forma de

reconhecer e desenvolver suas capacidades intelectuais. É na prática psicopedagógica

que a teoria vygotskyana pode ser vivenciada no enfoque sócio-histórico-cultural.

Partindo-se do pressuposto que a criança, ao chegar à unidade educadora (escola), já

possui uma vasta bagagem informativa proveniente do meio em que vive, é papel dos

educadores orientar e conduzir o conhecimento a partir de uma prática vivenciada e

correlacionada à realidade da criança.

Para que o conhecimento se construa de fato, a relação do educador/aprendente

também passa pela afetividade e pelo vínculo. O educador que se compromete com a

educação deseja que seu aluno (aprendente) construa o conhecimento para a vida. O

professor é apenas um mediador de um processo muito maior, que é o aprendizado. Para

Vygotsky, a relação entre o pensamento e a palavra é um processo contínuo.O

pensamento não é simplesmente expresso em palavras, mas, por meio delas, ele passa a

existir. A prioridade no ensino diz respeito, também, às aptidões, às qualidades pessoais,

à cultura, à comunicação, enfim, à valorização do conhecimento que o aluno já possui e,

a partir da sua visão de mundo, o desenvolvimento de uma prática pedagógica que

estimule a pensar, criar, dialogar e participar ativamente na construção de novos

conhecimentos. Na ótica vygotskyana, que nos fornece subsídios para uma prática

fundamentada na construção do indivíduo como pessoa, é fundamental que ele se insira

num determinado ambiente cultural, que tanto pode ser formado a partir do seu grupo

familiar, como, escolar, religioso, esportivo, de manifestação folclórica etc., pois é esse

grupo que fornece instrumentos que irão possibilitar sua maturidade intelectual.

Poderíamos, então, observar que, a cada dia, o objeto de estudo da psicopedagogia tem

assumido contornos diferenciados, específicos e amplos. Não se trata do sujeito

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epistêmico de Piaget, do sujeito do inconsciente de Freud, do sujeito cindido de

Lacan, do sujeito e suas zonas de desenvolvimento de Vygotsky, entre tantos outros

teóricos da educação. Estamos tratando de resgatar um sujeito completo. Não apenas a

soma, mas a articulação desses sujeitos em suas especificidades. Nesta variante de

teorias educacionais, somos ainda aprendentes e, no caminhar de nossa especialização,

vamos nos identificando com alguns autores sendo o sóciointeracionismo a corrente

teórica que mais se assemelha ao nosso pensar, não deixando, por isso, analisar e

conhecer todos os autores que contemplam a educação. Cabe a cada profissional a

maturidade e a consciência de identificar qual teoria se enquadra a cada caso tratado.

4.3 Professor e Aluno

Por se tratar de uma atividade relacionada as dificuldades escolares, a primeira

vista, pensam que o psicopedagogo deva trabalhar na escola, lugar onde são produzidos

a maioria dos problemas escolares, mas são vários os campos de atuação

psicopedagógica; como clínica, escola, instituição de saúde ou mesmo em empresas. A

atuação do psicopedagogo não se refere apenas ao espaço físico onde ele vai atuar, mas

também ao modo dele pensar a Psicopedagogia e ao conhecimento que ele tem da área,

ou seja da sua atitude psicopedagógica. A Psicopedagogia Educacional tem como

objetivo, fazer com que os professores, diretores e coordenadores educacionais

repensem o papel da escola frente as dificuldades de aprendizagem da criança. Por outro

lado, mesmo que a escola passe a se preocupar com os problemas de aprendizagem,

nunca conseguiria abarcá-los na sua totalidade, algumas crianças com problemas

escolares apresentam um padrão de comportamento mais comprometido e necessitam

de um atendimento psicopedagógico mais especializado em clínicas. Sendo assim, surge

a necessidade de diferentes modalidades de atuação psicopedagógica; uma mais

preventiva com o objetivo de estar atenuando ou evitando os problemas de

aprendizagem dentro da escola e outra a clínico-terapêutica, onde seria encaminhadas

apenas as crianças com maiores comprometimentos, que não pudessem ser resolvidos

na escola. Esta pesquisa que está voltada para a Psicopedagogia Preventiva ou Escolar,

oferece conhecimentos para o profissional estar atuando dentro da instituição escolar na

prevenção ou atenuação dos problemas de aprendizagem, fazendo com que menos

crianças sejam encaminhadas para as clínicas, além de uma melhoria no rendimento

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escolar em geral. Esta demanda já aparece na nova Lei de Diretrizes e Bases, de

1996, quando faz alterações substanciais na forma de entender o ensino no Brasil,

tornando-se mais acentuada através das Diretrizes Curriculares Nacionais de 1999, que

sugere que para melhorar o ensino há a necessidade de capacitar o professor e todos os

que estão inseridos no sistema educacional. No caso dos problemas já instalados é tarefa

do psicopedagogo escolar tentar resolvê-los dentro da escola antes de encaminhamento

para a clínica. O encaminhamento para a clínica deve sempre ser feito com muito

critério, sempre levando em conta as necessidades específicas daquela criança. Para um

encaminhamento adequado é necessário que o profissional conheça muito bem não só a

criança como também a instituição que ela freqüenta. A Psicopedagogia Escolar deve

trabalhar para que a escola acompanhe o desenvolvimento da humanidade e se constitua

num verdadeiro espaço de construção do conhecimento, auxiliando para que todos que

participam da escola entendam “como” e “por que” transformá-la num lugar de

construção de conhecimento. Para que um psicopedagogo possa realizar um bom

trabalho é necessário que ele conquiste um espaço dentro da escola, o que nem sempre é

fácil, pois a maioria das escolas acham que um orientador educacional já é suficiente

para resolver todos os problemas. Uma forma de conquistar este espaço

psicopedagógico dentro da escola está na forma de como este profissional apresenta seu

trabalho. Este profissional tem que demonstrar amplos conhecimentos não só da criança

que aprende como também dos processos didáticos metodológicos e da dinâmica

institucional. Para uma atuação institucional, deve ser considerado como ambiente

educacional a escola como um todo, desde a criança que aprende, o professor que

ensina, o diretor que organiza, até a merendeira que é responsável pela alimentação.

Além disso, deve ser considerado a família responsável pela criança e outros membros

da comunidade que decidem sobre as necessidades e prioridades da escola. Segundo

Bossa (2000), o psicopedagogo pode colaborar na elaboração do projeto pedagógico,

ou seja, através de seus conhecimentos ajudar a escola a responder questões

fundamentais como: O que ensinar? Como ensinar? Para que ensinar? Pode realizar o

diagnóstico institucional para detectar problemas pedagógicos que estejam prejudicando

a qualidade do processo ensino-aprendizagem; pode ajudar o professor a perceber

quando a sua maneira de ensinar não é apropriada à forma do aluno aprender; pode

orientar professores no acompanhamento do aluno com dificuldades de aprendizagem;

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pode ainda, realizar encaminhamentos para fonoaudiólogos, psicólogos,

neurologistas, psiquiatrias infantis, entre outros. Além disso, a relação professor-aluno é

um fato importante que deve ser constantemente avaliado pelo psicopedagogo. Muitas

vezes, esta relação pode estar ocorrendo de modo negativo pelo fato do professor

desconhecer o aluno, estar muito distante de suas necessidades, ou não por não saber

identificar a fase de desenvolvimento cognitivo/afetivo do aluno, ou mesmo, por não

saber o que está se passando no ambiente familiar da criança. O psicopedagogo escolar

deve participar da reunião de pais, com o objetivo de estar esclarecendo o que se está

passando com a criança na escola, podendo assim ensinar aos pais a reconhecerem as

verdadeiras necessidades de seus filhos até ensinarem os pais a estimular seus filhos

para aprendizagens escolares em casa. Quando necessário o psicopedagogo pode marcar

hora para outros encontros com alguns pais, para melhor orientar ou mesmo conhecer

melhor o ambiente familiar da criança que está com problemas.

Faz parte do trabalho psicopedagógico educacional participar da avaliação dos

processos didáticos metodológicos, onde poderá oferecer conhecimentos sobre métodos

a ser aplicados para determinada classe ou para ajudar o professor na implantação de

uma nova sistemática de ensino, oferecendo desta forma um suporte instrumental aos

professores. É função deste profissional também oferecer um suporte emocional para

professores que estão inseguros quanto a sua capacidade para aplicação de um método

novo ou que estão com alunos com problemas de aprendizagem. Na medida em que o

psicopedagogo ouve as dificuldades dos professores, esclarece sobre suas dúvidas, este

se sentirá mais tranqüilo, ganhará mais confiança e proporcionará melhores condições

para a aprendizagem. O suporte instrumental oferecidos aos professores pode se dar

também oferecendo ao professor sugestões de atividades para a sala de aula; outras

vezes sua atuação será individual ou em grupo com os alunos. Quando a atuação do

psicopedagogo for trabalhar em pequenos grupos, poderá ter os seguintes objetivos: a)

socialização e auto-confiança; b) orientação de estudos; c) apropriação dos conteúdos

escolares; d) desenvolvimento do raciocínio e e) possibilitar o trabalho com alunos de

diferentes níveis no desempenho acadêmico numa mesma classe. Certamente cada

instituição tem suas necessidades e o psicopedagogo deverá identificá-las para que

efetivamente cumpra seu papel. A atuação Clínico-Terapêutica, é praticada fora das

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paredes escolares, em locais especiais de atendimento, o consultório

psicopedagógico; geralmente são atendidas crianças encaminhadas por outros

profissionais como médicos e psicólogos clínicos infantis. Este trabalho apresenta uma

etapa inicial onde se faz uma avaliação sobre os aspectos afetivos, cognitivos e

pedagógicos da criança, paralelo com entrevistas de anamnese com os pais, elabora-se

um estudo de caso e realiza-se sessões. Num segundo momento a criança passa por um

período de intervenção psicopedagógica paralelo com sessões de orientação aos pais.

Também a prática psicopedagógica clínica é freqüentemente desenvolvida em

instituição de saúde, que mantém atendimento psicopedagógico à criança proveniente

da comunidade e que não teriam condições financeiras para receber este tipo de

assistência em clínicas particulares. Embora muitos psicopedagogos tenham o curso de

pedagogia, ou sejam professores, existem também uma grande porcentagem de

profissionais que procuram a psicopedagogia para melhorar sua atuação profissional,

como psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e outros que atuam direta ou

indiretamente, na instituição escolar. Portanto, quem quer que se proponha a trabalhar

em uma escola precisa informar-se sobre os objetivos da mesma, para que possa atuar

com eficácia. Essa necessidade é particularmente relevante para o profissional que irá

desempenhar na escola a função de articulador entre o ensino e a aprendizagem de todos

os elementos dessa instituição, provocando mudanças e ajudando no processo evolutivo

individual e coletivo. A escola tem uma organização formal e uma organização

informal. O conhecimento e a observação da organização formal possibilitam ao

psicopedagogo a análise da organização informal, pois nessa estão envolvidos os

relacionamentos “não visíveis”de uma escola. A organização formal é constituída de

elementos sujeitos à influência da administração e intencionalmente organizada de

forma a conduzir à consecução dos objetivos escolares, podendo ser dividida em quatro

grandes áreas: Programação, Recursos materiais, Pessoal Escolar e Corpo Discente. A

Programação de uma escola consiste na previsão das atividades a serem realizadas e das

inter-relações a serem mantidas para que os objetivos possam ser alcançados. Portanto,

a programação é função dos objetivos. Fazem parte da programação o mecanismo

administrativo, o plano didático e os planos de trabalho.

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É importante que o psicopedagogo faça uma análise sobre a programação da

escola para poder subsidiar sua atuação. O mecanismo administrativo de uma escola é

representado pelo seu organograma, desta forma, o psicopedagogo poderá iniciar seu

diagnóstico escolar pela análise do mesmo, ou seja, estudando as suas relações e

fazendo suas conexões com as outras áreas da programação. Em outras palavras,

fazendo uma análise se cada profissional da escola está desempenhando adequadamente

a sua função e o que poderia ser melhorado. Quanto ao plano didático, ou seja, o

currículo e o programa organizado de acordo com uma seriação que acompanha o

desenvolvimento dos alunos em seus vários aspectos ( físico, intelectual, social, etc. ),

algumas escolas apresentam um excelente currículo e ótimos programas, mas pecam na

divulgação do conteúdo, ou seja, como ensinar. Desta forma, a análise do

psicopedagogo deve estar voltada para recursos que possam amenizar as inseguranças

dos professores na transmissão do conhecimento, como também para oferecer a esses,

técnicas e estratégias mais adequadas à aprendizagem. Os planos de trabalho

representam a implantação do plano didático e os resultados do planejamento escolar,

tendo em vista as possibilidades do mecanismo administrativo e as metas estabelecidas.

Cabe ao psicólogo observar se os planos de trabalhos estão adequados à faixa etária dos

alunos e se atendem às suas exigências cognitivas, podendo sugerir técnicas e

estratégias adequadas e mais modernas. Os Recursos Materiais, compreendem a

expressão física da programação como: prédio escolar, instalações, mobiliários,

equipamentos didáticos, materiais permanentes e de consumo, verbas entre outros. Os

recursos materiais são função da programação. Com uma análise sobre os recursos

materiais, o psicopedagogo poderá avaliar o potencial e as possibilidades de sua

atuação, frente às necessidades da escola, como também poderá utilizar toda sua

criatividade para ampliar esses recursos, no caso de escolas com recursos insuficientes.

O Pessoal Escolar pode ser classificado em: administração (diretor e auxiliar de

direção); corpo docente (professores); pessoal técnico (orientador pedagógico,

orientador educacional, psicólogo, psicopedagogo, bibliotecário, etc); pessoal auxiliar

(secretário, escriturário, inspetores de aluno, serventes). O pessoal escolar deve fazer

parte de uma equipe para planejamentos e execução de projetos, visando a melhoria da

escola. O Corpo Discente, ou seja, o aluno deve ser considerado como um ser concreto

que sintetizam, em si, inúmeras relações sociais e, sendo assim, deve ser compreendido

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na medida em que se toma como referência a situação real em que vive. Dentro de

uma escola, o corpo discente deve ser avaliado e classificado de acordo com o seu

progresso, em séries didáticas, sendo que dentro de cada série, os alunos são agrupados

em classes ou turmas. Cabe ao psicopedagogo acompanhar a avaliação, o progresso

alcançado e a adaptação do aluno na série ou turma que se encontra. Desta forma, pode

se concluir que a atuação do psicopedagogo dentro da instituição escolar inicia-se por

uma análise sobre vários aspectos da organização escolar. Além de ser primordial um

trabalho em equipe, junto com professores, alunos e pessoal administrativo, procurando

dentro deste contexto melhorar o relacionamento entre si e entre grupos, tendo como

meta à melhoria das condições de aprendizagem individual e grupal. Há muitas funções

dentro de uma escola, onde se fundem, nem sempre havendo uma distinção nítida entre

elas, principalmente entre o diretor, coordenador pedagógico, orientador educacional,

psicopedagogo, psicólogo educacional e professores. Desta forma aparece a necessidade

de articulação entre estes profissionais para a configuração de um trabalho que atenda a

necessidade de todos. Para que ocorra essa articulação, é necessário que sejam bem

esclarecidas as características de cada função dentro da instituição escolar. O

psicopedagogo tem a necessidade de conhecer, pelo menos teoricamente, o que seria a

função de cada profissional dentro da escola, para poder planejar seu trabalho. Em

síntese, uma escola é funcional quando conta com forte aliança entre a comunidade, o

corpo docente e administrativo, os quais trabalham os seus conflitos através da

colaboração e diálogo. Esses elementos são flexíveis em sua maneira de lidar com os

conflitos, utilizando-se do conhecimento de várias técnicas e métodos adequados. As

decisões são tomadas em conjunto e a participação dos alunos é solicitada, mas sem ser

igualitária. Cada membro do sistema escolar tem seu papel e função determinada. O

psicopedagogo observa e diagnostica o sistema escolar e então cria condições

favoráveis para a resolução dos problemas que surgem, fazendo com que o ensinar e o

aprender se tornem comprometidos. Depois de um bom conhecimento sobre o

funcionamento de escola onde vai atuar, o psicopedagogo necessita refletir sobre

algumas características básicas e tarefas psicopedagógicas que podem ser realizadas no

contexto escolar. Estas sempre devem ser realizadas com apoio em aspectos

teóricos/práticos e adaptadas as condições da escola onde o trabalho vai ser

desenvolvido. Para a realização deste trabalho será necessário considerar que:

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1- A intervenção psicopedagógica na escola deve ser considerada como um

recurso do sistema educacional, portanto, de todos os alunos e professores e não

somente daqueles que possuem determinadas características.

2- É uma intervenção que requer uma definição coerente com àquilo que a

própria tarefa representa como recurso para a escola e precisa de análise e reflexão

constantes, como meio para atingir objetivos.

3- É uma intervenção que, apesar de considerar aquilo que não funciona

adequadamente, investiga as características positivas da situação em que se encontram

alunos e professores, para a partir delas, poder modificar o que aparece como

inadequado.

4- Trata-se de uma intervenção mais global, não necessariamente centrada no

indivíduo; este é levado em consideração, mas ao mesmo tempo em que são

considerados os demais elementos do sistema com os quais interage.

5- É uma intervenção que não se esgota com a demanda concreta,mas que fica

ligada ao contexto específico (sala de aula, instituição) e ao contexto mais amplo

(família-comunidade) e que se apóia na rede de serviços e recursos que a comunidade

dispõe.

6- A maior parte das tarefas psicopedagógicas deve ser realizadas em equipe

(diretor, orientador pedagógico, professores e outros). O trabalho em equipe nem

sempre é fácil, mas as decisões devem ser tomadas em conjunto, para que todos

assumam responsabilidades. Um trabalho em equipe também impulsiona a cooperação

entre os profissionais. Desta forma, o psicopedagogo pode estimular junto ao

coordenador pedagógico a formação de equipes de professores, ou comissão de

orientação pedagógica, onde se torne possível um projeto comum de construir uma

escola democrática para a redução dos problemas de ensino aprendizagem. Como parte

da equipe o psicopedagogo pode participar das seguintes tarefas:

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a) colaborar junto com os professores no estabelecimento dos planos de ação de

regência mediante análise e a avaliação de modelos, técnicas e instrumentos para o

exercício da mesma, assim como de outros elementos de apoio para a realização de

atividades docentes de reforço,recuperação e adaptação escolar;

b) assessorar o corpo docente na definição de procedimentos e instrumentos de

avaliação, tanto das aprendizagens realizadas pelos alunos como dos próprios processos

de ensino;

c) assessorar o corpo docente para o tratamento flexível e diferenciado da

diversidade de aptidões, interesse e motivação dos alunos, colaborando na adoção das

medidas educacionais oportunas. Como também, trabalhar as concepções dos

professores sobre os processos de ensino aprendizagem, assinalando a

multidimensionalidade dos problemas de aprendizagem, a importância de se considerar

fatores orgânicos, cognitivos,afetivos/sociais e pedagógicos para análise e a necessidade

de se trabalhar com a diversidade, ou seja, respeitando as características de cada aluno;

d) colaborar com professores e orientador na orientação educacional e

profissional dos alunos, favorecendo neles a capacidade de tomar decisões e

promovendo a maturidade profissional;

e) colaborar para a prevenção e para a rápida detecção de dificuldades e ou

problemas de desenvolvimento pessoal e de aprendizagem que os alunos possam

apresentar,realizar avaliações psicopedagógicas cabíveis e participar, em função dos

resultados desta, da elaboração das adaptações curriculares e da programação de

atividades de recuperação e de reforço;

f) colaborar com os professores e equipe de apoio no acompanhamento dos

alunos com necessidades educacionais especiais e orientar sua escolaridade no início de

cada etapa educacional;

g) promover a cooperação entre a escola e a família para uma melhor educação

dos alunos, participar no planejamento de reuniões com os pais, privilegiando a

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integração, a cooperação e a informação, como também, atender individualmente

alguns pais quando for necessário;

h) atuar na modificação das expectativas e atitudes dos professores diante do

insucesso escolar dos alunos, ou seja, atenuar concepções preconceituosas da escola e

dos professores, sobre as dificuldades de aprendizagem da criança;

i) participar de tarefas junto com o ensino de educação especial e

j) realizar atendimentos à alunos ou à grupos de alunos com necessidades

específicas, fora da sala de aula.

Algumas sugestões em que o psicopedagogo poderá fazer, atuar dentro das

escolas,como: reuniões sistemáticas com a participação de todos os profissionais

existentes na escola: falar/ouvir/propor; elaboração e organização de cursos sobre

determinados assuntos; oficinas com atividades práticas, para professores, pais, alunos;

palestras; elaboração de cronogramas para atendimento dos pais; elaboração de

cronogramas para atendimento individual e/ou grupal de alunos, quando for possível.

Para que o psicopedagogo atinja seu objetivo, realizando estas tarefas na intervenção

psicopedagógica, deverá adaptar sua intervenção de acordo com as necessidades do

contexto educacional, se utilizando do seu saber e de sua criatividade.

Para finalizar tem uma historia com o título “A Criança e o Sábio” que esse

profissional pode usar para ajudar os professores e alunos a sonharem com uma

educação de qualidade.

A criança e o sábio

Um dia uma criança chegou diante de um pensador e perguntou-lhe: "Que

tamanho tem o universo?" Acariciando a cabeça da criança, ele olhou para o infinito e

respondeu: "O universo tem o tamanho do seu mundo”. Perturbada, ela novamente

indagou: "Que tamanho tem o meu mundo?" O pensador respondeu: "Tem o tamanho

dos seus sonhos." Se os seus sonhos são pequenos, sua visão será pequena, suas metas

serão limitadas, seus alvos serão diminutos, sua estrada será estreita, sua capacidade de

suportar as tormentas será frágil. Shakespeare disse que "quando se avistam nuvens, os

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sábios vestem seus mantos". Sim! A vida tem inevitáveis tempestades. Quando elas

sobrevêm, os sábios preparam seus mantos invisíveis: protege sua emoção usando sua

inteligência como paredes e os seus sonhos como teto. Os sonhos regam a existência

com sentido. Se seus sonhos são frágeis, sua comida não terá sabor, suas primaveras não

terão flores, suas manhãs não terão orvalho, sua emoção não terá romances. A presença

dos sonhos transforma os miseráveis em reis, e a ausência dos sonhos transforma

milionários em mendigos. A presença de sonhos faz de idosos, jovens, e a ausência de

sonhos faz dos jovens, idosos.

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CONCLUSÃO

Estudando e pesquisando sobre o tema pode-se concluir que a presença do

psicopedagogo na escola é indispensável.

Aprofundando nas pesquisas o trabalho do psicopedagogo começa primeiro na

instituição, principalmente com os professores dando assistência e orientando a terem

uma capacidade para melhor atender as necessidades dos seus alunos.

Daí o foco são os alunos auxiliando na identificação e na resolução dos

problemas no processo do aprender. Este profissional está capacitado a lidar com as

mais diversas dificuldades de aprendizagem, um dos fatores atuais que leva uma boa

parcela de alunos à multirepetência, ao fracasso escolar e, conseqüentemente, à evasão.

Pesquisando sobre o conceito de problemas de aprendizagem, o papel do

psicopedagogo, estratégias de prevenção dos problemas de aprendizagem e as áreas de

atuação percebe-se que esse profissional deve conhecer toda uma estrutura da escola,

desde o diretor ate o faxineiro para montar melhor as estratégias para que os alunos

tenham um aprendizado significativo. O professor conhecendo as dificuldades dos

alunos facilitará para melhor ensinagem, ate porque o psicopedagogo trabalha com os

professores verificando se eles são capazes e aptos para ensinar tal conteúdo.

Essa montagem de estratégia tem que ser montada juntamente com os

professores e principalmente com a família porque o conhecimento e o aprendizado não

são adquiridos somente na escola, mas também são construídos pela criança em contato

com o social, dentro dessa primeira sociedade e no mundo que a cerca. A família é o

primeiro vínculo da criança e é responsável por grande parte da sua educação e da sua

aprendizagem. É por meio dessa aprendizagem que a criança é inserida no mundo

cultural, simbólico e começa a construir seus conhecimentos, seus saberes. Contudo, na

realidade, o que temos observado é que as famílias estão perdidas, não estão sabendo

lidar com situações novas: pais trabalhando fora o dia inteiro, pais desempregados,

brigas, drogas, pais analfabetos, pais separados e mães solteiras. Essas famílias acabam

transferindo suas responsabilidades para a escola, sendo que, em decorrência disso,

presenciamos gerações cada vez mais dependentes e a escola tendo que desviar de suas

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funções para suprir essas necessidades, sendo que não deveria ser assim, pois a

responsabilidade, ou a segunda tem que ser da escola.

Concluindo esse trabalho monográfico a criança precisa sentir o prazer de ir para

escola estudar. Tem que ser um lugar onde ela se sinta a vontade para se expressar

independente tendo dificuldades ou não.

O objetivo do psicopedagogo na escola é fazer um ambiente harmonioso, onde

todos se sintam prazer de estar trabalhando ou estudando sem traumas, complexos.

.

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VITORINO, JANETE LEONY. A TEORIA VYGOSTYANA E A PRATICA PSICOPEDAGOGICA

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125

ÍNDICE

AGRADECIMENTOS ..................................................................................................... 3

DEDICATÓRIA ............................................................................................................... 4

RESUMO .......................................................................................................................... 5

METODOLOGIA ............................................................................................................ 6

SUMÁRIO ........................................................................................................................ 7

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 8

CAPITÚLO 1 .................................................................................................................... 11

CONCEITO DE PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM

1.1 Formas de aprendizagem ................................................................................................36

1.2 Tipos de aprendizagem .................................................................................................. 38

1.3 Possíveis soluções ...........................................................................................................40

CAPÍTULO 2 .......................................................................................................................45

O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO

2.1 Quem é o psicopedagogo ................................................................................................ 45

2.2 A função social do psicopedagogo ...................................................................................47

2.3 A importância em relação ao quadro educacional ............................................................49

CAPÍTULO 3 ....................................................................................................................... 53

ESTRATEGIAS DE PREVENÇÃO DOS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM

3.1 Da escola .......................................................................................................................... 53

3.2 Do psicopedagogo ............................................................................................................ 85

3.3 Da família ......................................................................................................................... 90

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CAPITULO 4 ......................................................................................................................... 94

AREAS DE ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO

4.1 Professor ............................................................................................................................ 94

4.2 Aluno ................................................................................................................................. 104

4.3 Professor e Aluno .............................................................................................................. 109

CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 119

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 121

ÍNDICE ................................................................................................................................... 125