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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM Fracasso escolar: reflexão aos olhos da Psicopedagogia Por: RITA ALMEIDA DA SILVA Orientador Prof. MARCELO SALDANHA Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

Fracasso escolar: reflexão aos olhos da Psicopedagogia

Por:

RITA ALMEIDA DA SILVA

Orientador

Prof. MARCELO SALDANHA

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

Fracasso escolar: reflexão aos olhos da Psicopedagogia

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de especialista em

Psicopedagogia Clinica e Institucional.

Por: RITA ALMEIDA DA SILVA

Rio de Janeiro

2012

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar á Deus, pelo dom da vida que ele me deu, sua

presença constante em me viver, pela força, coragem e determinação, pois sei que a

minha vitória foi ele quem deu.

Agradecimentos são também a todos que diretamente ou indiretamente

contribuíram neste meu caminhar.

O meu carinhoso abraço a todos que acreditaram em mim.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha família, pelo amor, carinho, força, incentivo e intenso companheirismo nos momentos decisivos da minha vida.

.

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EPIGRAFE

O que se passa menino? O que acontece contigo?[...]

Que se passa, menino, em tua cabeça, em teu coração?[...]

Quem te disse que não podes, que não sabes? [...] A escola te rejeita, te enjeita,

Pois não marchas no ritmo que querem, Não respondes em refrão,

não cantas os hinos em coro, não pedes a bênção nem beijas a mão...

Alfabetiza-me na cartilha do teu “não saber” para que eu possa descobrir o sabor da leitura e o prazer da escrita

de um texto que ainda não li.

Monólogo de um psicopedagogo - Iara Cairão

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RESUMO

O presente trabalho teve como principal objetivo, de promover uma reflexão sobre o fracasso escolar e a Psicopedagogia; Compreender a relação entre o fracasso escolar e Psicopedagogia nas diferentes situações, através dos papeis da sociedade, da família, da escola, dos professores e dos alunos; E por fim, ponderar sobre a prática, o diagnóstico, a intervenção e a prevenção, que o psicopedagogo deve ter sobre fracasso escolar. Para tanto, adotaram-se as referências dos seguintes autores: Weiss (2007), Bossa (2008), Sampaio (2009), Fernández (2008), Pain (1985), dentre outros. Portanto, o presente trabalho tem como tema “Fracasso Escolar: reflexão aos olhos da Psicopedagogia”. E para facilitar o processo da mesma, foi, então, dividido em dois capítulos, no primeiro, o Fracasso Escolar; no segundo, a Psicopedagogia e o Fracasso Escolar. Concluímos que o compromisso do psicopedagogo é com a transformação da nossa realidade escolar, e só através do exercício reflexivo superaremos os obstáculos que nós somos impostos.

Palavras-chave: Fracasso Escolar, Aprendizagem e Intervenção Psicopedagógica.

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METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma pesquisa qualitativa e descritiva. Tendo

como tema principal Fracasso escolar: reflexão aos olhos da Psicopedagogia. Para

embasarmos o estudo se fez necessário num uma pesquisa bibliográfica sobre

assunto em questão, tendo como referencial como teóricos dos (as) seguintes

autores (as): Weiss (2007), Bossa (2008), Sampaio (2009), Fernández (2008), Pain

(1985), dentre outros (as).

As fontes serão documentos impressos em meios eletrônicos (trabalhos

científicos publicados na Internet que constam na bibliografia), livros e revistas.

Todos esses documentos serão analisados e submetidos a uma leitura analítica a

fim de refletir o objeto deste estudo monográfico.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I - Fracasso Escolar 12

1.1. A extensão do problema 13 1.2. Causas e Consequências 15 1.3. O papel da sociedade 18 1.3.1. Da família 18 1.3.2. Da escola 20 1.3.3. Do professor 22 1.3.4. Do aluno 23

CAPÍTULO II - A Psicopedagogia e o Fracasso Escolar 25

2.1. A Prática 26 2.2. O Diagnóstico 29 2.3. A Intervenção 32 2.4. A Prevenção 35 CONCLUSÃO 38

BIBLIOGRAFIA CITADA 42

ÍNDICE 44

FOLHA DE AVALIAÇÃO 45

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INTRODUÇÃO

A competência, dentre as qualidades profissionais, está cada vez mais sendo

buscada pela sociedade. Sendo esta a qualquer custo. E a escola também segue

esta visão. Há tal nível de exigência em que aqueles não conseguem respondê-la na

instituição podem sofrer com um problema de aprendizagem. A busca incansável e

imediata pela perfeição leva à rotulação daqueles que não se encaixam nos

parâmetros impostos.

Portanto, torna-se trivial o surgimento em todas as instituições educativas de

“crianças problemas”, de “crianças fracassadas”, disléxicas, hiperativas, agressivas,

etc. Esses problemas tornam-se parte da identidade da criança. Perde-se o sujeito,

ele passa a ser sua dificuldade. Desta forma, ao passar pelo portão da escola, a

criança assume o papel que lhe foi atribuído e tende a correspondê-lo. Porém, ao

conceder este rótulo à criança, não se observa em quais circunstâncias ela

apresenta tais dificuldades (ele está assim e não é assim). Isso não é apenas uma

diferença terminológica, ela revela uma possibilidade de mudança.

Portanto, é necessário distinguir aquilo que é próprio da criança, em termos

de dificuldades, daquilo que ela reflete em termos do sistema em que se insere.

Assim, o Psicopedagogo carecer buscar o que significa o aprender para esse sujeito

e sua família, tentando descobrir a função do não aprender. Conhecer como se dá a

circulação de conhecimento na família, qual a modalidade de aprendizagem da

criança, não perdendo de vista qual o papel da escola na construção do problema de

aprendizagem apresentado, tentando também engajar a família no projeto de

atendimento para ampliar seu conhecimento sobre a dificuldade, modificando seu

modo de pensar e de agir com relação à criança.

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Sendo assim, é imprescindível que os educadores e os psicopedagogos

tenham conhecimentos que lhes permitam compreender sua prática e os meios

necessários para promoverem o progresso e o sucesso dos educandos. Um dos

modos de se abordar a isso é através das contribuições que a Psicopedagogia

proporciona, pois é a área que estuda e lida com o processo da aprendizagem e

com os problemas dele decorrentes. Esta novidade de concepção vem sendo

proporcionada pela Psicopedagogia e vem ganhando espaço nos meios

educacionais brasileiros, despertando o interesse dos profissionais que atuam nas

escolas e buscam subsídios para sua prática.

Para compreender melhor tal processo, levantou-se a seguinte questão: Qual

a importância de conhecer as causas e consequências do fracasso escolar para o

psicopedagogo?

Justifica-se este estudo porque o fracasso escolar, nos tempos atuais, tem

sido um grande problema para o sistema escolar. E cabe ao psicopedagogo ser

agente mediador para tentar solucionar este problema. Pois, as mudanças e

inovações da sociedade atual demandam reorganização de paradigmas para todos

os profissionais envolvidos com os processos de aprendizagem, sejam eles

pedagogos, psicólogos, psicopedagogos, professores, etc.

Vários são os fatores emocionais, sociais, orgânicos, pedagógicos que se

entrelaçam e se mesclam na constituição de um sintoma que é cotidiano. Cabe

também a Psicopedagogia, enquanto ciência que se ocupa da aprendizagem, refletir

sobre as causas do não aprender, questionando e levantando hipóteses, não

somente acerca do porque o sujeito não aprende, mas ocupando-se principalmente

em perceber como ele aprende.

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A Psicopedagogia sempre se inquietou em distinguir fracasso escolar de

problema de aprendizagem, em separar causas escolares, das familiares,

importando-se em demasia com diagnósticos. Portanto, o campo teórico e de

atuação do psicopedagogo necessita mais do que nunca voltar-se para reflexões

pertinentes e consistentes sobre os sujeitos com dificuldade de aprendizagem

inserida em contextos mediadores. Essa reflexão deve estender-se para a

elaboração de ações eficazes que possam ocupar não somente o espaço clínico,

mas principalmente de intervenções nas escolas, nos hospitais e nas famílias. O

Psicopedagogo, então, diante de uma visão sistêmica, assume a função primordial

de articular a constituição de redes de apoios aos sujeitos em dificuldade de

aprendizagem.

Para tanto, esta pesquisa tem como principais objetivos: Promover uma

reflexão sobre o fracasso escolar e a Psicopedagogia; Compreender a relação entre

o fracasso escolar e Psicopedagogia nas diferentes situações, através dos papeis da

sociedade, da família, da escola, dos professores e dos alunos; E por fim, ponderar

sobre a prática, o diagnóstico, a intervenção e a prevenção, que o psicopedagogo

deve ter sobre fracasso escolar.

Esta monografia é um estudo dedutivo qualitativo, a respeito do Fracasso

escolar: reflexão aos olhos da Psicopedagogia elaborado a partir de uma revisão

bibliográfica, com base em livros, artigos científicos e bases de dados. A seleção

dos materiais utilizados ocorreu com base nos seguintes autores: Weiss (2007),

Bossa (2008), Sampaio (2009), Fernández (2008), Pain (1985), dentre outros (as).

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CAPÍTULO I

FRACASSO ESCOLAR

Os estudos sobre o fracasso escolar no Brasil surgiu a “partir da escolaridade

obrigatória a partir do século XIX, em função das mudanças econômicas e

estruturais da sociedade”, como reitera Cordié (apud BOSSA, 2002, p.35).

É nesta conjuntura, a escola, que o sujeito irá ser monitorado, disciplinado e

preparado, e consequentemente estará demonstrando suas necessidades, suas

angústias e suas desilusões, a partir de um sistema contextualizado em um período

em que o dinheiro e o reconhecimento social são elementos fundamentais para ser

reconhecido, respeitado e visto. Portanto, ao longo desses séculos, a escola se

constituiu a sociedade. Assim continua, ainda hoje, a escola. E, dessa forma,

congregada às grandes mudanças e transformações tecnológicas, desde as

primeiras formas de agricultura, passando pela revolução industrial e pelo

desenvolvimento da informática, a partir da segunda metade do século XX, da

História Moderna, nos deparamos, hoje, com vários problemas que surgem, afloram

nas salas de aulas, nos espaços escolares em geral. Sendo um desses é o fracasso

escolar, sobre o qual se pretende traçar neste estudo algumas considerações.

O fracasso escolar não pode não pode ser imputado integralmente aos

educandos. Professores, pais, a escola e a organização escolar são fatores

imprescindíveis no processo educativo. Nesta perspectiva Weiss (2007, p. 16) afirma

que: “considera-se como fracasso escolar uma resposta insuficiente do aluno a uma

exigência ou demanda da escola. Essa questão pode ser analisada e estudada por

diferentes perspectivas: a da sociedade, a da escola e a do aluno.” Que ao longo

desta pesquisa iremos tecer alguns conceitos.

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1.1- A Extensão do problema

O fracasso escolar é dos mais impertinentes assuntos da sociedade atual, ou

seja, sem dúvida, um dos mais graves problemas com o qual a realidade

educacional brasileira vem convivendo há muitos anos. Sabe-se que tal fato se

evidencia praticamente em todos os níveis de ensino do país. Entretanto, incide com

maior frequência nos primeiros anos da escolarização. Segundo Dorneles (Apud

ZANLORENZI, 2010, p.25), “à medida que começamos a estudar mais

profundamente o fracasso escolar, percebemos que, no Brasil, esse problema

adquire características de fenômeno de massa, ou seja, atinge a maior parte da

população em idade escolar”.

Dentre os inúmeros aspectos sociais correlacionados com o fracasso escolar,

aparecem tanto os extraescolares como os intra-escolares. Os extraescolares dizem

respeito às más condições de vida e subsistência de grande parte da população

escolar brasileira. Deste modo, as péssimas condições econômicas, responsáveis

dentre outros fatores pela fome e desnutrição; a falta de moradias adequadas e de

saneamento básico, por fim, todo o conjunto de privações com o qual convivem as

classes sociais menos privilegiadas surge como o elemento explicativo fundamental.

Dentre os aspectos intra-escolares são salientados os programas, o currículo,

o trabalho desenvolvido pelos professores e especialistas, e as avaliações do

desempenho dos alunos que são hoje. Quando o professor aplica métodos ativo de

ensino deve ter clareza que somente são válidos se estimulam a atividade mental

dos alunos. Ao invés de adotar a máxima “Aprendendo fazendo”, deve adotar esta

outra: “Aprender pensando naquilo que faz”. (LIBÂNEO, 1990, p.124).

Segundo MELLO (Apud BOSSA, 2002, p.46),

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[...] mecanismos de seletividade poderosos. Sua natureza e qualidade são de teor tal que contribuem para o fracasso escolar das crianças de origem social e econômica desfavorecida, ainda que grande parte desse fracasso se deva sem dúvida à pobreza material da quais essas crianças são vítimas. Nesse sentido, essas condições escolares contribuem para reproduzir a desigualdade social, por meio de um duplo mecanismo: o primeiro é a exclusão dos mais pobres da escola, o segundo, a legitimação dessa exclusão na medida em que o aparecer apenas técnico do modo de operar da escola dissimula seu sentido político.

Muito pouco tem sido feito para reverter o quadro do fracasso escolar. Além

do que, há sérios indícios de que há outros problemas maiores proporções nas

escolas e no sistema educacional.

Sabemos que, quando um aluno é relacionado com o fracasso escolar, ele é

taxado de incapacitado para prosseguir os estudos e essa condição afeta bastante

sua autoestima de forma negativa.

No cotidiano de sala de aula, as atividades são sempre impostas pelo

professor e até mesmo previamente definidas por conteúdos programáticos ditados

por currículos e livros didáticos, sem levar em consideração os interesses e

expectativas dos alunos.

Esta visão do fracasso escolar provoca certa adequação nos aprendiz que

muitas vezes percebem o problema e não conseguem constituir uma relação direta

entre o processo educativo desenvolvido na escola. Fazendo com que o índice do

fracasso escolar esteja em grande escala a nível Brasil.

O educador é um agente de transformação social e, para isso, é necessário

que se proponha a ter uma participação ativa no processo pedagógico e questione o

sentido social e político de suas atividades como docente.

Nas tramas do viver e do fazer o pedagógico na atuação do psicopedagogo

todos os dias nas escolas que é pode-se entender as reais razões do fracasso

escolar das crianças ocorridas de meios socioculturais mais pobres. O

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psicopedagogo sabe que o fracasso escolar é uma dura realidade com a qual

convivemos há muitas décadas, porém, é um mito, muito bem engendrado, o fato de

não conseguirmos dar conta dele. É necessário que desmistifiquemos as “famosas”

causas externas desse fracasso escolar, pela articulação destas àquelas existentes

no próprio âmbito escolar, e que tenhamos clareza dos fatores que as determinam e

as articulam.

Portanto, o psicopedagogo deve inverter formas de se compreender este

fracasso, dentre as quais poderíamos citar a atual caracterização do fracasso

escolar como “problema de aprendizagem” e que deveria, neste ponto de vista, se

configurar também e talvez, principalmente, como “problema de ensinagem”, que

não se produz unicamente dentro da sala de aula e sim na sociedade inteira. Esta

reflexão constitui-se na matéria do nosso argumento.

1.2- Causas e Consequências

Várias são as pesquisas que dispor-se levantar as causas e consequências

do fracasso escolar. Estas preocupações são antigas e, os estudiosos buscam

explicar o insucesso escolar através de características físicas e psicológicas,

analisando as condições sociais e os métodos educacionais.

Perrenoud (2000, p.18) diz que é a própria organização escolar do trabalho

pedagógico que causa o fracasso escolar. E continua afirmando que definir fracasso

escolar como consequência de dificuldades de aprendizagem é uma visão

naturalizadora, que “separa os que têm êxito dos que não têm êxito e que o

sentimento de fracasso experimentado” por um aprendiz, muitas vezes é a

interiorização do julgamento da instituição escolar expresso pelo professor no alto do

seu saber. Muitos mestres e psicopedagogos que comprovam tal fato à medida que

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vê o aumento do fracasso escolar, e o déficit na aprendizagem um problema

ocasionado por causas extras escolares.

Segundo Dorneles (Apud ZANLORENZI, 2010, p.26):

A causa do fracasso escolar não está exclusivamente em um único dos fatores possíveis, nem só do professor, nem nos métodos, nem nos recursos, nem na escola e nem no sistema. Está no sistema e nos métodos e nos recursos e na avaliação.

Para Dorneles há seis fragmentos de concepções referentes a aspectos

internos da escola que, aliadas a outras, acabam causando o fracasso escolar:

a) A concepção de aprendizagem predominante entre alguns professores permanece a de que o aluno aprende através da repetição. b) Há uma preocupação central entre os professores em exercer controle e contenção da conduta dos alunos. c) A avaliação da aprendizagem é predominante realizada utilizando-se provas escritas. d) Há uma expectativa dos professores enquanto ao aluno ideal a qual se afasta completamente da realidade. e) A relação entre a escola e a família é fragmentada e pouco cooperativa. f) Os professores consideram o aluno como o principal responsável pelo seu fracasso escolar. (DORNELES Apud ZANLORENZI, 2010, p.27-28).

Segundo Weiss (2007, p.18) existem três áreas que causam o fracasso

escolar, a da afetividade, a social e a física. A área afetiva possui uma ligação entre

o desenvolvimento afetivo, e sua relação com a construção do conhecimento e a

expressão deste através da produção escolar. O não-aprender pode, por exemplo,

expressar uma dificuldade na relação da criança com a sua família, será o sintoma

de que algo vai mal nessa dinâmica. Quanto à área social, Weiss afirma que no

“diagnóstico psicopedagógico do fracasso escolar de um aluno não se pode

desconsiderar as relações significativas existentes entre a produção escolar e as

reais oportunidades que a sociedade possibilita aos representantes das diversas

classes sociais”. Em relação à área física, constata-se que os professores

entrevistados não consideram como a área que esteja mais relacionada com as

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dificuldades de aprendizagem, pelo fato de que em suas classes não havia crianças

portadoras de necessidades especiais ou com déficit físico ou orgânico, mas

reconhecem a importância do corpo na aprendizagem.

Para PAIN (1985, p. 22), “é com o corpo que se fala, se escreve, se tece, se

dança, resumindo, é com o corpo que se aprende. As condições do mesmo sejam

constitucionais, herdadas ou adquiridas, favorecem ou atrasam os processos

cognitivos e, em especial, os da aprendizagem”.

Alguns educadores e estudiosos distinguiram a falta de interesse do aluno

como um fator que contribui para as dificuldades de aprendizagem e

consequentimente para aparecimento do fracasso escolar. Mas, para WEISS (2007,

p. 23), é preciso que o professor competente e valorizado encontre o prazer de

ensinar para que possibilite o nascimento do prazer de aprender. O ato de ensinar

fica sempre comprometido com a construção do ato de aprender, faz parte de suas

condições externas. A má qualidade do ensino provoca um desestímulo, na busca

do conhecimento.

Não há assim um investimento dos alunos, do ponto de vista emocional, na

aprendizagem escolar, e essa seria uma condição interna básica. Há casos em que

tal desinteresse é visto como um problema apenas do aluno, sendo ele

encaminhado para diagnóstico psicopedagógico por não ter o menor interesse nas

aulas é não estudar em casa, baixando assim sua produção. Constata-se que

mesmo a família estando ciente das dificuldades que apresenta a criança, muitas

vezes, fica omissa não ajudando o professor, não contribuindo para o trabalho da

escola, que deveria ser em conjunto com a família para superação das dificuldades.

Weiss (2007, p.28) ressalta que o não-aprender na escola é uma das causas

do fracasso escolar, deve ser mensurada de uma forma mais ampla. Ela considera

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como fracasso escolar uma resposta insuficiente do aluno a uma exigência ou

demanda da escola, e ela estuda a questão por diferentes perspectivas. Que

explanaremos a seguir.

1.3- O papel da sociedade

O papel da sociedade é a primeira expectativa, segundo Weiss (2007, p.29),

onde levamos em consideração, como influentes na educação, a cultura, as

condições e relações político-sociais e econômicas vigentes, o tipo de estrutura

social, as ideologias dominantes, etc. A sociedade coíbe muitos aprendizes de

aprender, tirando-lhes ensejos de crescimento cultural, de desenvolvimento da

linguagem e da construção cognitiva.

A autora afirma que se priva o aprendente do desenvolvimento da linguagem,

priva-o ao mesmo tempo do acesso ao desenvolvimento da leitura e da escrita, e

que as condições socioeconômicas e culturais influenciarão nos aspectos físicos de

alunos carentes, pois eles estarão sujeitos a vários tipos de doenças que poderão

deixá-los com deficiência na aprendizagem.

Portanto, devemos ter uma visão mais ampla e necessária no sentido de

compreender a relação do aluno a esta sociedade em que está inserido, se propõe

em termos de construção de conhecimento entre este e a realidade em que está

envolvido.

1.3.1- Da escola

A segunda perspectiva da autora Weiss (2007, p.32) é a escola, que contribui

e muito para o fracasso escolar de seus alunos. A falta de profissionais qualificados,

a carência de material didático, carência na estrutura física e pedagógica, a má

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qualidade de ensino, tudo isso faz com que a escola seja um agente contribuinte dos

problemas de aprendizagem e do fracasso escolar. Mas esse é um problema que

precisa da contribuição social e também educacional.

Temos que reconhecer que falta nas escolas da excitação para ensinar e

aprender, e a importância de que somos todos aprendizes. Que, a cada instante,

todos os indivíduos colaboram para a construção da história geral, da história do seu

país, da sua sociedade, da sua escola, da sua família, e, sobretudo para a história

do próprio sujeito. Reconhecemos que todos nós somos capazes de produzir

conhecimento, e que a falta de oportunidade para construir feri o ontológico de

sermos sujeitos da nossa história.

O saber professor criado pela classe dominante também é um agente que

evita o saber aprender, pois muitas vezes quem determina se os saberes do

educador valem ou não são grupos distantes do dia a dia de sala de aula.

Consequentimente tornam-se “profissionais de gabinete”, que transformam

constantemente de opinião, provocando, portanto, a má condução do processo

ensino-aprendizagem. Essas influências no processo ensino-aprendizagem atrasam

não só o professor, que tem que se habituar-se invariavelmente às mudanças, mas

também o educando, que mesmo sem saber tem que aprender a aprender e

aprender a se adaptar aos retoques e aumentos feitos por esses profissionais.

Esses retoques e aumentos geram no aprendiz dificuldades de aprendizagem e,

logo, o fracasso escolar.

O fracasso escolar é ainda procedente da má condução do processo de

ensino, já que este conduz a indisciplina. Isto ocorre devido uma situação particular

inerente ou social vivenciada pelo indivíduo, levando os educandos a se tornarem

indisciplinados, especialmente em sala de aula, e a situação vivenciada pode

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também ter sido gerada pelas carências do âmbito escolar. A indisciplina é

prejudicial ao aprendiz a ponto de provocar o seu fracasso na escola, porque a

disciplina é um agente indispensável para a construção do saber.

O fato da instituição Escola não cumprir suas metas, seus objetivos não

podem ser analisados de forma isolada. A escola é, por natureza, o espaço onde se

reflete a sociedade. Quem transforma a escola é a sociedade. Para Weiss (2007,

p.16) um olhar que adentra os muros da escola e das salas de aula buscando o foco

na figura do mediador deste conhecimento em relação aos alunos:

professores em escolas desestruturadas, sem apoio material e pedagógico, desqualificados pela sociedade, pelas famílias, pelos alunos não podem ocupar bem o lugar de quem ensina tornando o conhecimento desejável pelo aluno. É preciso que o professor competente e valorizado encontre o prazer de ensinar para que possibilite o nascimento do prazer de aprender. O ato de ensinar fica sempre comprometido com a construção do ato de aprender, faz parte de suas condições externas. A má qualidade do ensino provoca um desestímulo na busca do conhecimento. (WEISS, 2007, p.16).

Compreender o contexto sociocultural, as características, visões e ações do

mundo, inserindo o espaço escolar neste contexto, nunca o desvinculando,

configuram-se como uma necessidade básica e estrutural para que possamos

compreender de forma global e relacional o fracasso escolar.

1.3.2- Do aluno

A terceira perspectiva, na concepção de Weiss (2007, p.25), está ligada ao

aluno enquanto aprendente, isto é, às suas condições internas de aprendizagem. A

autora nos leva a olhar para os aspectos orgânicos, cognitivos, emocionais, sociais e

pedagógicos que levam o aluno a não aprender. Segundo ela, os fatores externos e

internos são os responsáveis pelo fracasso escolar.

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Segundo Vygotsky (1989, p.65) para que um aprendiz aprenda que é

imprescindível que se acatem várias integridades, como o desenvolvimento

perceptivo e cognitivo, perceptivo-motor, e a maturação neurobiológica, além de

inúmeros aspectos psicossociais, como: oportunidades de experiências, exploração

de brinquedos e objetos, assistência médica, nível cultural, etc.

Porém Souza (Apud BEAUCLAIR, 2008, p.48) relata que os fatores

relacionados ao sucesso e ao fracasso escolar se dividem em três variáveis

interligadas, denominadas de: ambiental, psicológica e metodológica. O contexto

ambiental engloba fatores relativos ao nível socioeconômico e suas relações com

ocupação dos pais, número de filhos, escolaridade dos pais, etc. Esse contexto é o

mais amplo em que vive o indivíduo. O contexto psicológico refere-se aos fatores

envolvidos na organização familiar, ordem de nascimento dos filhos, nível de

expectativa, etc, e as relações desses fatores são respostas como ansiedade,

agressão, autoestima, atitudes de desatenção, isolamento, não concentração. O

contexto metodológico engloba o que é ensinado nas escolas e sua relação com

valores como pertinência e significado, com o fator professor e com o processo de

avaliação em suas várias acepções e modalidades.

A autora advertiu que em consequência do fracasso escolar, devido à

inadequação para a aprendizagem, a criança é envolvida por sentimentos de

inferioridade, frustração, e perturbação emocional, o que torna sua autoimagem

anulada, principalmente se este sentimento já fora instalado no seu ambiente de

origem. Se o clima dominante no lar é de tensões e preocupações constantes,

provavelmente a criança se tornará um acriança tensa, com tendência a aumentar a

proporção dos pequenos fracassos e preceitos próprios da contingência da vida

humana. Se o clima é autoritário, onde os pais estão sempre certos e as crianças

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sempre erradas, a criança pode se tornar acovardada e submissa com professores,

e dominadora, hostil com crianças mais jovens que ela, ou pode revoltar-se contra

qualquer tipo de autoridade. Se o clima emocional do lar é acolhedor e permite a

livre expressão emocional da criança, ela tenderá a reagir com seus sentimentos,

positivo ou negativo, livremente.

1.3.3- Do professor

Para Weiss (2007, p.29), a quarta perspectiva é o papel do professor no

fracasso escolar. A má formação do professor tem grande importância neste

contexto; só que esta questão, não pode ser pensando de forma isolada, até porque

está mais do que na hora de renovarmos os instrumentos de reflexão e

principalmente, a reflexão sobre a ação no processo ensino-aprendizagem na

escola.

O professor deve estimular o raciocínio do aprendente, pois eles gostam de

pensar e, quando lhes fornecidos meios para estimular seu raciocínio, pois surgem

oportunidades para desenvolver seu potencial. Entretanto, isso ocorre porque o

professor inicia sua aula com um diálogo, sondando o dia a dia do aprendente e se

ele já conhece o assunto discutido, consequentimente após a aula o educador deve

verificar o que lhes foi prendido, para detectar onde está a falha, se em sua

metodologia ou na forma da criança aprender. Segundo Sampaio (2009, p. 52), “o

erro é uma preciosidade que nenhum professor deve desperdiçar, vista que, por

meio dele, temos a oportunidade de observar como a criança está raciocinando e

como constrói seu pensamento”.

Quantas vezes o aluno erra na sua resposta sem que a professora note que ele estava de fato pensando, muitas vezes, até pensando bem. Não devemos supor que a resposta errada indica que a criança

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não estava pensando. Precisamos conhecer como a criança estava pensando. [...]. (CARRAHER et alii Apud SAMPAIO, 2009, p.53),

Com esta atitude o educador deve está disposto a contribuir com para que o

fracasso escolar diminua, e também podendo detectar mais rápido as dificuldades

de aprendizagem. Portanto, na sala de aula, o aluno deve ser sentir bem, com ajuda

do professor, lhe passando confiança, compreensão e paciência, para que logo

possa ser capaz de executar com êxodo a tarefa, sabendo que pode errar ou acertar

e que estes erros possibilitam sua aprendizagem.

Para completar e concluir a explanação proposta para essa análise chega-se

a quinta perspectiva é a família.

1.3.4- Da família

Sendo parte integrante do contexto de sociedade que vem sendo analisado

nas linhas de pensamento acima, a família torna-se elemento fundamental nesse

quinto eixo de análise em torno do fracasso escolar.

A família é responsável pela aprendizagem do aprendiz, sendo os

responsáveis os primeiros ensinantes e as “atitudes destes frente às emergências

de autoria do aprendente, se repetidas constantemente, irão determinar a

modalidade de aprendizagem dos filhos”. (FERNÁNDEZ, 2008, p.47).

Condições econômicas foram comprometidas principalmente nas últimas

décadas a partir da globalização e do início de uma nova economia liberal, ou seja, o

neoliberalismo, que a partir dos anos 80 começou a ganhar espaços continentais

com seu ideário de economias de mercado livre. As sociedades capitalistas,

principalmente as de terceiro mundo, tiveram sua renda domiciliar achatada, tendo

os empregos em constante mutação e defasagem, a tecnologia avançando sobre

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postos de trabalho anteriormente comandados por humanos e as classes

desfavorecidas sendo localizadas ainda mais abaixo das linhas sociológicas de

delimitação e localização de pobreza.

E esta família, que está inserida em todo este contexto de sociedade,

deposita na escola suas expectativas, ambições, angústias, necessidades e sonhos.

E é no contexto familiar que aflora aquele que é o sujeito de toda essa discussão: a

criança / aluno (a), e consequentemente o paciente.

Neste ponto de vista, para enlaçar as visões que estão sendo tecidas até

aqui, Fernández traça um cenário sobre a nossa contemporaneidade envolvendo os

aspectos acima dissertados:

se, agora, dirigirmos nosso olhar ao mundo que é dado às crianças, o que vemos? Falta de entendimento, ausência de escuta do outro, violência, destruição, morte. Observando o cotidiano no trabalho, na política, nas relações familiares, vemos falta de diálogo e de escuta do outro. Com frequência, falo de minha perplexidade e assombro diante da exclusão, da discriminação e da eliminação. (FERNÁNDEZ, 2008, p. 92-93)

E neste contexto que estamos inseridos, é nele que estão às famílias, os

professores e os alunos envoltos no ambiente escolar de tantas considerações e

expectativas ali colocadas.

Nesta perspectiva, portanto, que o fracasso escolar aparece hoje entre os

problemas de nosso sistema educacional, que são mais estudados e discutidos. E é

nessa perspectiva em que, na maioria das vezes, não se analisa o conjunto de

ações que afetam o aluno, que se deflagra o fracasso escolar como sendo, também

na imensa maioria das vezes culpa dele tão-somente, inserido ali naquele contexto

de produção de conhecimento, concluindo-se que não atende às expectativas,

metas e objetivos pretendidos e por isso deverá ser encaminhado para diagnósticos.

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CAPÍTULO II

A PSICOPEDAGOGIA E O FRACASSO ESCOLAR

O Psicopedagogo é o profissional que auxilia na identificação e na resolução

dos problemas no processo da aprendizagem. Este profissional está capacitado a

lidar com as mais diversas dificuldades de aprendizagem, um dos fatores atuais que

leva uma boa parcela de alunos repetentes evasivos e analfabetos funcionais e,

consequentemente, ao aumento do fracasso escolar.

Weiss (2007, p.72) entende como fracasso escolar uma resposta insuficiente

do aluno a uma exigência ou demanda da escola. Se o aluno não corresponde a

esta demanda "exigida" pela unidade escolar, algo deverá ser investigado, num

envolvimento global, onde todos os profissionais que fazem parte desta organização

caminhem juntos ao encontro e no repensar de suas posturas pedagógicas. Para

Fernández (2008, p.95) quando o fracasso escolar se instala, os profissionais

(fonoaudiólogos, psicólogos, pedagogos, psicopedagogos) devem intervir, ajudando

através de indicações adequadas.

O fracasso escolar pode acarretar problemas sociais, que também

transcorrem por esta trajetória de exclusão social e de marginalização. A

identificação dos problemas de aprendizagem carece de um novo olhar a partir das

organizações educadoras.

Para Vygotsky (1989, p.102), a aprendizagem da criança principia muito antes

da aprendizagem escolar que nunca parte do zero. Toda aprendizagem do aprendiz

na escola tem uma pré-história.

O profissional da psicopedagogia detém um conhecimento científico

específico procedente da articulação de várias áreas envolvidas nos processos e

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caminhos do aprender. Cabe a ele intervir, dispor-se à solução dos problemas de

aprendizagem e tendo como foco o aluno ou o ambiente escolar.

Atingir o diagnóstico e a intervenção psicopedagógica também é uma atitude

que poderá ser concretizada através de métodos, instrumentos e técnicas próprias

da psicopedagogia, sendo relevantes às questões ligadas à prevenção.

Introduzir-se em estudos científicos e pesquisas acerca dos problemas e

processos de aprendizagem é de fundamental importância no trabalho do

psicopedagogo, pois, são através de novos enfoques que poderão ser conseguidas

enormes considerações a respeito da aprendizagem, bem como obtidos contextos

concretos para o reconhecimento da profissão.

Todo psicopedagogo necessita ter a consciência de observar o ser humano

como um todo: coordenação motora ampla, aspecto sensóriomotor, dominância

lateral, desenvolvimento rítmico, desenvolvimento motor fino, criatividade, evolução

do traçado e do desenho, percepção espacial e viso-motora, orientação e relação

espaço-temporal, aquisição e articulação dos sons, aquisição de palavras novas,

elaboração e organização mental, atenção e coordenação, bem como, expressões,

aquisição de conceitos, e, ainda, desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático.

Portanto, ao longo desde capitulo faremos uma discussão prévia sobre a

prática, diagnóstico, intervenção e prevenção sobre o fracasso escolar na visão do

psicopedagogo.

2.1- A Prática

Através da observação, procuramos perceber o processo de aprendizagem

segundo a abordagem Vygotskyana, partindo da conjetura que são várias as razões

que determinam o sucesso ou o fracasso escolar de uma criança. A prática

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psicopedagógica é entendida como o conhecimento dos processos de

aprendizagem em seus mais diversos aspectos: cognitivos, emocionais ou corporais.

O trabalho psicopedagógico está implantado no processo ensino-

aprendizagem, operando primordialmente, em conjunto com os profissionais

comprometidos nas instituições escolares de forma preventiva, percebendo os

momentos de dificuldades e antevendo questões que seriam motivo de tratamento

futuro na vida educacional dos educandos, como também, interatuando com o

organograma escolar quando os problemas de dificuldades de aprendizagem já

estiverem instalados, trabalhando nas análises e nas terapias psicopedagógicas.

Segundo Beauclair (2008, p. 33),

em uma perspectiva psicopedagógica mais contemporânea e sistêmica, acredito que a facilitação no processo de aprendizagem acontece de modo qualitativo e efetivo quando existem envolvimentos reais na busca de alternativas para problemas concretos, originadas das indagações, cotidiana, emergidas do viver-saber-viver. [...] novas habilidades e conhecimentos podem ser observados, para que se possa vivenciar a interação entre prática e teoria (fase da demonstração).

Segundo Vygotsky (1989, p.104), a atividade criadora é uma manifestação

exclusiva do ser humano, pois só este tem a capacidade de criar algo novo a partir

do que já existe. Através da memória, o homem pode imaginar situações futuras e

formar outras imagens. Portanto, a ação criadora reside no fato da não-adaptação

do ser, isto é, de não estar acomodado e conformado com uma situação, buscando

através do imaginário e da fantasia, um equilíbrio, bem como a construção de algo

novo.

Por meio desta suposição, que o trabalho psicopedagógico se faz atuante. É

encontrando no aprendente suas capacidades e desenvolvendo atividades que o

ajudam na ordenação e coordenação de suas ideias e manifestações intelectuais.

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A especificidade do tratamento psicopedagógico consiste no fato de que

existe um objetivo a ser alcançado: a eliminação dos sintomas.

Assim, a relação psicopedagogo/aprendente é medida por atividades bem

definidas cujo objetivo é solucionar os efeitos nocivos dos sintomas. Desde que

encontramos psicopedagogos que estejam dispostos a valorizar e respeitar novas

ideias e opiniões, que se intitulem verdadeiras, e válidas, que desenvolvam

competências e habilidades que favoreçam o processo de aprendizagem.

(BEAUCLAIR, 2008, p.35).

Ao psicopedagogo compete, indiscriminadamente, trabalhar as duas

variantes aprendentes: de forma preventiva para que sejam detectadas as

dificuldades de aprendizagem antes que os processos se instalem como também na

elaboração do diagnóstico e trabalho conjunto com família e escola frente às

intercorrências advindas das dificuldades no processo do aprender. Partindo da

ideia de que toda criança aprende, o profissional da área psicopedagógica terá que

encontrar entre as diversas teorias educacionais a que mais se enquadra em cada

caso diagnosticado.

Não se pode falar em aprendizagem sem, logo, considerar todos os aspectos

relevantes na vida desse sujeito que se relaciona e troca, a partir da criação de

vínculos. No diagnóstico psicopedagógico, não se pode desconsiderar as relações

entre produção escolar e as oportunidades reais que a sociedade dá às diversas

classes sociais.

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2.2- O Diagnóstico

Segundo Weiss (2007, p. 29), todo diagnóstico psicopedagógico é, em si,

uma investigação, é uma pesquisa do que não vai bem com o aprendente, em

relação a um determinado comportamento não esperado.

Será, portanto a busca da resposta para uma queixa tanto da escola, da

família, como todos que participam do âmbito escolar. Neste caso a inquietação,

“trata-se do não-aprender, do aprender com dificuldades ou lentamente, do não-

revelar o que aprendeu, do fugir de situações de possível aprendizagem”. (WEISS,

2007, p. 29).

O problema de aprendizagem pode ser considerado como um sintoma, um

sinal de descompensação. Deste modo, o seu diagnóstico está constituído pelo seu

significado.

Os fatores fundamentais a serem levados em consideração no diagnóstico de

um problema de aprendizagem são:

1. Fatores orgânicos: integridade anatômica e de funcionamento dos órgãos, funcionamento glandular, alimentação e condições de abrigo e conforto entre outros fatores; 2. Fatores específicos: refere-se a certos tipos de transtornos na área de adequação perceptivo-motora, em especial aqueles que aparecem no nível da aprendizagem da linguagem, sua articulação e sua lecto-escrita, e se manifestam numa série de perturbações (ex-alteração das sequências percebidas); 3. Fatores psicógenos: problema da aprendizagem pode surgir como uma reação neurótica à interdição da satisfação, seja pelo afastamento da realidade e pela excessiva satisfação na fantasia, seja pela fixação com a parada de crescimento na criança; 4. Fatores ambientais: refere-se ao meio ambiente material do indivíduo, às possibilidades reais que o meio lhe fornece, à quantidade, à qualidade, frequência e abundância dos estímulos que constituem seu campo de aprendizagem habitual. (Pain, 1985, p.76).

A ação diagnostica recorre ao conhecimento na sua pratica e teoria, dentro de

uma determinada meteórica. “É uma alimentação mútua permanente entre a prática

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e a teoria”. (WEISS, 2007, p. 30). Fazendo com que o psicopedagogo veja o

diagnostico como latu sensu, ou seja, como uma pesquisa em ação, levando

hipóteses provisórias que irão sendo confirmadas ou não, ao longo do processo; no

final, hipóteses de trabalho permanente pra novos casos clínicos.

O que chamamos de sintoma, é, portanto, o que o sujeito emerge de usa

personalidade em interação com o meio que vive, ou seja, com o sistema social em

que está inserido. Segundo Fernández (2008, p.37), para que possamos “chegar a

essa conclusão acerca da existência ou não de patologias estruturadas no aprender

(sintoma - inibição - transtornos de aprendizagem reativa), nossa visão orientar-se-à

através da relação do sujeito com o conhecimento”.

Para que possamos responder interrogações particulares de um aluno/criança

ou adolescente, para Fernández (2008, p.37), devemos usar os seguintes

questionamentos;

1) Com que recursos contam para aprender? 2) O que significa o conhecimento e aprender no imaginário do sujeito e sua família? 3) Que papel foi-lhe designado por seus pais em relação ao aprender? 4) Qual é sua modalidade de aprendizagem? 5) Qual é sua posição do sujeito frente ao não dito, ao oculto, ao secreto? 6) Que função tem o não aprender para ele e pra seu grupo familiar? 7) Qual é o significado da operação particular que construí o sintoma? 8) Como aprende e como não aprende? 9) O não aprender responde a um sintoma, ou é uma resposta reativa ao meio socioeducativo?

Através deste questionamento o psicopedagogo, poderá buscar o

entendimento da dificuldade de aprendizagem, mas, melhor qualidade e validade do

diagnóstico dependeram da relação estabelecida entre o psicopedagogo-paciente:

que deve ser empática, de confiabilidade, respeito e engajamento. Portanto, o

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processo diagnóstico baseia-se no inter-relacionamento dinâmico e de condutas

interdependentes entre eles (o diagnosticador e o diagnosticado).

Procurando empreender esse processo, o psicopedagogo recorre a critérios

diagnósticos no sentido de compreender a falha na aprendizagem. Daí o caráter

clínico da Psicopedagogia, ainda que o objetivo seja a prevenção dos problemas de

aprendizagem. Clínico porque envolve sempre um processo diagnóstico ou de

investigação que precede o plano de trabalho. Esse diagnóstico consiste na busca

de um saber para saber-fazer. Através das informações obtidas nesse processo de

investigação, o psicopedagogo inicia a construção de seu plano de trabalho.

Todo o processo terapêutico é também diagnóstico, ocorrendo também no trabalho institucional, onde após o momento inicial de investigação inicia-se o processo de intervenção, com a implantação de recursos capazes de solucionar o problema tão logo este se anuncie. Durante esse processo de intervenção, o profissional não abandona o olhar interpretativo que caracteriza a prática psicopedagógica. (FERNÁNDEZ, 2008, p. 44).

No trabalho clínico, idealizar o sujeito que aprende como um sujeito

epistêmico-epistemofílico provoca procedimentos diagnósticos e terapêuticos que

avaliem tal concepção. Para isso, é imprescindível uma leitura clínica na qual,

através da escuta psicopedagógica, possam-se decifrar os processos que dão

sentido ao observado e norteiam a intervenção.

A investigação diagnóstica envolve a leitura de um processo complexo, onde

todas as ambiguidades de atribuição de sentido de sentido a uma série de

manifestações conscientes e inconscientes se fazem presentes. Interjogam aí o

pessoal, o familiar atual e passado, o sociocultural, o educacional, a aprendizagem

sistemática. O decifrar do sentido da dificuldade de aprendizagem repercute sobre o

problema que estamos interpretando: a nossa linguagem sobre a linguagem da

enfermidade nos leva a um compromisso, ou seja, ao diagnóstico, promotor de

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decisões acerca do tratamento. Atualmente, a Psicopedagogia refere-se a um saber

e a um saber-fazer, às condições subjetivas e relacionais, em especial familiares e

escolares, às inibições, atrasos e desvios do sujeito ou grupo a ser diagnosticado. O

conhecimento psicopedagógico não se cristaliza numa delimitação fixa, nem nos

déficits e alterações subjetivas do aprender, mas avalia a possibilidade do sujeito, a

disponibilidade afetiva de saber e de fazer, reconhecendo que o saber é próprio do

sujeito.

2.3-A Intervenção

A intervenção psicopedagógica é uma interferência que um profissional, tanto

o educador, quanto o psicopedagogo realiza sobre o processo de desenvolvimento

ou aprendizagem do sujeito, o qual pode estar apresentando problemas de

aprendizagem. Entende-se que na intervenção o procedimento adotado interfere no

processo, com o objetivo de compreendê-lo, explicitá-lo ou corrigi-lo. Introduzir

novos elementos para o sujeito, pensar poderá levar à quebra de um padrão anterior

de relacionamento com o mundo das pessoas das ideias. Ocorre-se na intervenção

terapêutica.

A abrangência da Psicopedagogia é delimitada aos fatores que determinam o

não-aprender no sujeito e pela significação que a atividade cognitiva tem para ele;

desta forma a intervenção psicopedagógica volta-se para a descoberta da

articulação que explica o sintoma e também para a construção das condições para

que o sujeito possa situar-se num lugar tal que o comportamento patológico se torne

dispensável.

Para Pain (1985, p.96-97), a aprendizagem é constituinte de um efeito e,

neste âmbito, trata-se de uma articulação de esquemas dividida em 04 dimensões:

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1. A dimensão biológica do processo de aprendizagem: dividida em três tipos de conhecimento, a saber, o das formas hereditárias programadas junto ao conteúdo informativo relacionado ao meio de atuação do indivíduo, o das formas lógico-matemáticas que se constroem progressivamente segundo os estágios de equilibração crescente e por coordenação progressiva das ações que se cumprem com os objetos, e o das formas adquiridas em função da experiência, que fornecem ao sujeito informação sobre o objeto e suas propriedades; 2. A dimensão cognitiva do processo de aprendizagem: diferenciada em três tipos, a saber, aquela na qual o sujeito adquire nova conduta baseada no ensaio e erro, a segunda baseada na experiência como função de confirmação ou correção das hipóteses (mecanismos de antecipação e retro-ação capazes de corrigir a aplicação do esquema e promover a acomodação necessária), e por último a aprendizagem estrutural, vinculada ao nascimento das estruturas lógicas do pensamento, através das quais é possível organizar uma realidade inteligível cada vez mais equilibrada; 3. A dimensão social do processo de aprendizagem: compreende todos os comportamentos dedicados à transmissão da cultura exercitando, assumindo e incorporando uma cultura particular; 4. O processo de aprendizagem como função do eu (yo): o ego como estrutura que tem por objetivo estabelecer contato entre a realidade psíquica e a realidade externa.

Com relação às condições externas, é comum a criança com problema de

aprendizagem apresentar algum déficit real do meio devido à confusão dos

estímulos, à falta de ritmo ou à velocidade com que são brindados ou à pobreza ou

carência dos mesmos e, em seu tratamento, se vê rapidamente favorecida mediante

um material discriminado com clareza, fácil de manipular, diretamente associado à

instrução de trabalho e de acordo com um ritmo apropriado para cada aquisição.

As condições internas da aprendizagem fazem referência a três planos

estreitamente inter-relacionados. O primeiro é o corpo como infraestrutura

neurofisiológica ou organismo que favorece ou atrasa os processos cognitivos e que

é mediador da ação. O segundo refere-se à condição cognitiva da aprendizagem, ou

seja, à presença de estruturas capazes de organizar os estímulos do conhecimento.

E por fim, o terceiro plano se refere às condições internas da aprendizagem que

estão ligadas à dinâmica de comportamento.

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[...] Não pode haver construção do saber, se não se joga com o conhecimento. Ao falar de jogo, não estou fazendo referências a um ato, nem a um produto, mas a um processo. Estou me referindo a esse lugar e tempo que Winnicott chama espaço transicional, de confiança, de criatividade. Transicional entre o crer e o não crer, entre o dentro e o fora. O espaço de aprendizagem "não pode ser situado na realidade psíquica interior do indivíduo, porque não é um sonho pessoal: além disso, forma parte da realidade compartilhada”. Tampouco se pode pensá-la (a área da experiência cultural), unicamente em função de relações exteriores, porque acha-se dominada pelo sonho. Nesta entram ... o jogo e o sentido do humor. Nesta área todo bom intelecto está em seu elemento de prosperar. (FERNÁNDEZ, 2008, p.165).

Nesta citação, a autora Fernández preocupa-se com o principal objeto de

intervenção, que é o próprio jogo, na qual para o psicopedagogo interessa os

procedimentos, ou seja, os meios, que o jogador utiliza e constrói. Possibilita uma

aproximação ao mundo mental da criança que sofre de desatenção facilitando-a

suas ações no decorrer de suas ações ou jogada. O jogo possibilita que a dimensão

simbólica da criança se manifeste em fazer o que pode ser partilhado com o outro,

resignificado e transformado.

Para Fernández (2008, p.166) não pode haver construção do saber, se não

se joga com o conhecimento. O jogo é um processo que ocorre no espaço

transicional, de confiança, de criatividade. É o único onde se pode aprender. Através

do jogo a criança expressa agressão, adquire experiência, controla ansiedade,

estabelece contatos sociais como integração da personalidade e prazer.

Denomina-se intervenção psicopedagógica as estratégias que visam à

recuperação, por parte das crianças, de conteúdos escolares avaliados como

deficitárias metodologias de orientação de estudos e atividades como brincadeiras,

jogos de regras e dramatizações realizadas na escola e fora dela, com o objetivo de

gerar a plena expressão dos afetos e o desenvolvimento da personalidade de

crianças com e sem dificuldades de aprendizagem. A metodologia de intervenção

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olhar o sujeito a partir de seu contexto sócio-histórico na sua relação com o objeto

de conhecimento em sua situação de aprendizagem.

Refere-se às intervenções que têm como objetivo repassar os conteúdos

escolares e os hábitos de aprendizagem, tendo como hipótese que, sanando as

deficiências nestes aspectos, transcorrerá sem nenhum problema. Trata-se de

preencher lacunas no nível dos conteúdos escolares, o que pode ser muito útil para

a criança, se a razão de seu mau desempenho for de ordem pedagógica. A última

atividade psicopedagógica deve-se realizar com quaisquer crianças, pois seu

objetivo é auxiliar o processo de desenvolvimento do pensamento e afetividade,

trata-se de atividades de natureza psicológica, as quais poderão ser utilizadas em

sala de aula ou fora dela para ajudar o desempenho pedagógico das crianças, com

ou sem dificuldades de aprendizagem.

2.4-A Prevenção

Para os autores Como Pain (1985), Bossa (2002) e Beauclair (2008), uma das

formas de prevenção nas propostas de trabalho da educação é preparar

teoricamente o corpo docente para a prática dos jogos e atividades lúdicas,

realizando, principalmente, um aprofundamento sobre a importância do ato de

brincar para o desenvolvimento infantil. Os fatores experiênciais potencializam suas

condições intelectivas, propostas pedagógicas que privilegiam atividades lúdicas e

estimulantes possibilitarão aprendizagens cada vez mais complexas e mais

eficientes. Intervenção Psicopedagógica visa reconduzir os que têm dificuldades

escolares ao mundo da cultura, devolvendo lhes o prazer das novas aprendizagens

(KIGUEL apud SAMPAIO, 2009, p.64).

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Roman e Steyer (apud SAMPAIO 2009, p.65) referem que os conflitos

emocionais interferem muito no rendimento da criança. Cabe a escola, na figura da

professora, fazer a “escuta” adequada destas manifestações, considerando o estado

geral da criança em seu dia a dia, o contexto familiar em que está inserida e os

eventuais problemas familiares que possam estar vivenciando, desde o nascimento

de um irmão, a morte de um familiar, uma situação de desemprego, separação dos

pais, entre outros problemas.

Fernández (2008, p.96) afirma que para resolver o problema de

aprendizagem é necessário recorrer principalmente os planos de prevenção nas

escolas, porém, uma vez gerado o fracasso e conforme o tempo de sua

permanência, o psicopedagogo deverá também intervir, ajudando através de

indicações adequadas para que o fracasso do ensinante encontre terreno fértil na

criança e sua família, não se constituindo em sintoma neurótico.

Segundo Bossa (2002, p.75) a prevenção dos distúrbios de aprendizagem

fundamenta-se especialmente em cuidar do desenvolvimento harmonioso e sadio do

cérebro da criança:

1- Na vida intrauterina: assistência pré-natal (o cérebro já se encontra formado e completo na vigésima semana de gestação); 2-Parto bem assistido para evitar anoxia e traumatismos; 3-Alimentação e sono, adequados essenciais para a mielinização e maturação dos centros nervosos; 4-Afetividade no trato com a criança para estimular a produção de neurotransmissores favoráveis à aprendizagem; 5-Estimulação de todos os sentidos por meio de brincadeiras; 6-Apoio, incentivo e acompanhamento na aprendizagem escolar.

Para resolver o fracasso escolar, quando provém de causas ligadas à

estrutura individual e familiar da criança, é requerida uma intervenção

psicopedagógica especializada. Segundo Fernández,

para procurar a remissão desta problemática, deveremos apelar a um tratamento psicopedagógico clínico que busque libertar a

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inteligência e mobilizar a circulação patológica do conhecimento em seu grupo familiar. (FERNÁNDEZ. 2008, p. 81-82).

Podem-se considerar a escola/família os principais responsáveis pelo grande

número de crianças encaminhadas ao consultório por problemas de aprendizagem.

Assim é extremamente importante que a Psicopedagogia dê a sua contribuição à

escola, seja no sentido de promover a aprendizagem ou mesmo tratar de distúrbios

nesse processo.

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CONCLUSÃO

Concluímos neste estudo que o fracasso escolar, ainda hoje, faz parte do

cotidiano das nossas escolas. Que o trabalho psicopedagógico pode e deve ser

pensado a partir da instituição escolar, a qual cumpre uma função social: a de

socializar os conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e a

construção de regras de conduta, dentro de um projeto social mais amplo.

Através da aprendizagem, o sujeito é inserido, de forma mais organizada, no

mundo cultural e simbólico, que o incorpora à sociedade. A entrada na escola

significa antes de qualquer coisa para a criança, uma penetração num círculo social

mais amplo, uma ocasião de enfrentar o desconhecido. Esse momento pode

representar uma oportunidade para um agravamento de tensões, incertezas e

carências que já vem de longe com a criança, mas também pode constituir-se numa

oportunidade para que a criança reexperimente o mundo, as pessoas e a vida de

outra maneira, mais construtiva, mais confiante, mais feliz. Na sua tarefa junto às

instituições escolares o psicopedagogo deve refletir sobre estas questões, buscando

dar a sua contribuição no sentido de prevenir subsequentes problemas de

escolaridade.

O diagnóstico psicopedagógico é um processo, um contínuo sempre

revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia, numa atitude investigadora,

até a intervenção. É preciso observar que essa atitude investigadora, de fato,

prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo da

observação.

Essa constatação ratifica a importância do psicopedagogo institucional e

clínico no sentido de criar condições juntamente com os professores para que a

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aprendizagem da leitura e da escrita aconteça de maneira eficaz, prazerosa e

significativa. Atuando, como auxiliador, na busca da melhoria do processo de

aprendizagem, desenvolvendo um trabalho integrado professor-psicopedagogo-

escola no sentido de melhor desenvolver a prática educativa. Isto significa que o

educador e o psicopedagogo precisam entender como acontece a aprendizagem da

leitura e da escrita, buscando as origens das dificuldades, do fracasso, avaliar,

diagnosticar, intervir e, acima de tudo, estabelecer um rumo teórico de ação. Assim,

através da intervenção psicopedagógica dirigida aos professores que se acredita no

real progresso da aprendizagem voltada, sobretudo, a uma educação integrada ao

desenvolvimento do aluno como agente produtor do seu meio e não apenas como

um resultado. E após o diagnóstico, o psicopedagogo deve propor mudanças

necessárias no currículo, na prática pedagógica ou mesmo na avaliação, para que o

tratamento clínico tenha melhor resultado.

Se os psicopedagogos estiverem atentos para os diversos níveis do

desenvolvimento da aprendizagem, eles poderão contribuir para que a escola

corresponda de modo positivo às suas necessidades e expectativas e dos

aprendentes também. Esta é uma forma muito eficaz de se prevenir o aparecimento

dos temidos problemas de comportamento. Estes, apesar da nossa cautela, muitas

vezes se manifestam de forma inesperada, portanto para não agravar ou precipitar a

sua evolução, ele deve ter uma observação continua, sendo esta imprescindível, e

juntamente com ela a atenção e a dedicação aos seus afazeres. Portanto o

psicopedagogo deve estar preparado para lidar com a realidade na qual o

aprendente está inserido

A especificidade do tratamento psicopedagógico consiste no fato de que

existe um objetivo a ser alcançado: a eliminação do sintoma. Deste modo, a relação

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psicopedagogo-paciente é mediada por atividades bem definidas, cujo objetivo é

"solucionar rapidamente os efeitos mais nocivos do sintoma para depois dedicar-se

a afiançar os recursos cognitivos" (PAIN, 1985, p. 77). Este é um aspecto cuja

prática tem me mostrado como bastante complicado na atuação do psicopedagogo,

pois está relacionado com a operacionalização do trabalho e consequentemente

com seu êxito. "Somente uma boa avaliação psicopedagógica de fracasso escolar

de uma criança pode discernir e ponderar devidamente "o que" e o "quantum" é da

criança, da escola, da família e da interação constante dos três vetores na

construção das dificuldades de aprendizagem apontadas pela escola". (PAIN, 1985,

p. 77). De tal maneira o atendimento psicopedagógico possibilitará a intervenção e

o apoio permanente para possíveis mudanças de conduta do aluno-paciente, dentro

do respeito suas características pessoais.

Acreditamos numa aprendizagem que possibilita transformar, sair do lugar

rígido, construir. É sob este olhar que pretendemos encaminhar sobre a realidade

escolar, na qual o fracasso escolar está inserido. Voltamo-nos para a Escola porque

é para ela que diariamente dirigem-se milhares de crianças. O olhar para a escola

implica em termos uma visão integra da: visão de aprendizagem e visão de mundo.

Portanto, o psicopedagogo é necessário na instituição escolar, se concretiza

através de uma profunda e clara observação das dimensões que envolvem o

diagnóstico de aprendizagem e que possibilite uma reflexão e conhecimento dos

problemas educacionais que estão vinculados a uma série de variáveis tais como:

correntes filosóficas, as políticas educacionais governamentais, aspectos morais,

culturais e étnicos que influenciam fortemente a pratica da docência, o modelo

didático, a relação dos pares educativos.

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O psicopedagogo envolvido em um processo de aprendizagem deve ter uma

reflexão límpida sobre o fracasso escolar, de maneira que, a busca incessante do

conhecimento seja sua bússola que norteará sua vida.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

EPÍGRAFE 05

RESUMO 06

METODOLOGIA 07

SUMÁRIO 08

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I - Fracasso Escolar 12

1.1. A extensão do problema 13 1.2. Causas e Consequências 15 1.3. O papel da sociedade 18 1.3.1. Da família 18 1.3.2. Da escola 20 1.3.3. Do professor 22 1.3.4. Do aluno 23

CAPÍTULO II - A Psicopedagogia e o Fracasso Escolar 25

2.1. A Prática 26 2.2. O Diagnóstico 29 2.3. A Intervenção 32 2.4. A Prevenção 35 CONCLUSÃO 38

BIBLIOGRAFIA CITADA 42

ÍNDICE 44

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FOLHA DE AVALIAÇÃO Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES/ FACULDADE INTEGRADA AVM Título da Monografia: Fracasso escolar: reflexão aos olhos da Psicopedagogia Autor: RITA ALMEIDA DA SILVA

Data da entrega: Avaliado por: Conceito:

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