O Pulsar (entre a Vida e a Morte)
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Transcript of O Pulsar (entre a Vida e a Morte)
Em todo o Universo há movimento...,
e em torno desta Terra há um pulsar,pode-se dizer,
para corresponder à Vida.
E por ser o pulsar assim tão importante,em nós, criaturas vivas, quando somos feitos,
o primeiro órgão a ser formadoé o coração.
Por issoa realidade é assim:
onde não há pulso ou pulsarnão se detecta a presença de vida.
O coração sempre me impressionou.É o órgão que gera criaturas animais, embora
não exista dentro dele um cérebro ou uma mente.
E é ele que com sangue irriga nosso cérebro esustenta nossa mente..., junto a todo nosso ser.
É auto-propulsor, assim como a Vida. Funciona por ele mesmo e, quando
detém seu pulsar, leva qualquerum de nós à morte, a despeito
da nossa importância.É nosso fim,
ou não?
Aqui entra em cena a segunda personagemmais importante que vive entre nós neste mundo:
a morte.
Vamos aproveitar para falar a respeito dela,enquanto a vida nos faz o favor de manter
o pulsar dos nossos corações.
Primeiro,em atenção à idéia de que
este mundo é uma tragicomédiaonde os “palhaços” são os verdadeiros
anunciadores das nossas realidades,vamos ouvir o que os comediantes
teriam ou têm para nos dizer.
Ou então, na falta deles,vamos ouvir o que tem para nos dizeralguém que se mostrou interessado
por eles..., em analisá-los.
Mortena moderna visão de
PEDRO BIAL- famoso apresentador de TV -
em especial do programaBig Brother.
Com o seu jeito inteligente e, sem dúvida, perspicaz,brindou-nos com as suas reflexões,
por ocasião da morte do comediante Bussunda,líder do programa Casseta & Planeta.
“Eu assistia o velório de Bussundano momento em que os seus ex-colegas do
Casseta & Planeta davam depoimentos.Parecia-me que a qualquer instante
iria estourar uma piada.
“Mas estava tudo sério demais;faltava a esculhambação, a zombaria,
a desestruturação da cena.
“Nada acontecia ali de risível.Eram só dor e perplexidade..., estas
coisas que são vistas em todos os que ficam.
A verdade é que não havia nada a acrescentarno roteiro: a morte, por si só, é uma piada pronta.
“Morrer é ridículo.Você combinou o jantar com a namorada,
está em pleno tratamento dentário,tem planos para a semana que vem, precisa autenticarum documento em cartório, colocar gasolina no carro
e, no meio da tarde, morre.
“Como assim?E os e-mails que você ainda não abriu,
o livro que ficou pela metade,o telefonema que você prometeu dar à tardinha
para um cliente?...
Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer.A troco do quê?
“Você passou mais de dez anos da sua vidadentro de um colégio estudando fórmulas químicas
que não serviriam pra nada,mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente.
Praticou muita educação física,quase perdeu o fôlego,
mas não desistiu.
“Passou madrugadas sem dormir, estudandopara o vestibular, mesmo sem ter certeza
do que gostaria de fazer da vida,cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida.
Mas era hora de decidir, então decidiu,e mais uma vez foi em frente...
“Assim, de uma hora para outra,tudo isso termina numa colisão na freeway,
numa artéria entupida, num disparo feito por umdelinqüente que gostou do seu tênis.
Qual é?
“Morrer é um chiste.Obriga você a sair no melhor da festa
sem se despedir de ninguém,sem ter dançado com a garota mais linda,
sem ter tido tempo de ouvir sua música preferida.
Você deixou em casa suas camisas penduradas noscabides, sua toalha úmida no varal, e deixou
penduradas também algumas contas.
Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas,a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que
você deixou durante uma vida inteira.
“Logo você, este que sempre dizia:das minhas coisas cuido eu...
Que pegadinha macabra:você sai sem tomar café e talvez não almoce,
caminha por uma rua e talvez não chegue na próximaesquina, começa a falar e talvez não conclua o quepretende dizer. Não faz exames médicos, fuma doismaços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas,
transa muito e morre num sábado de manhã.
Se faz check-up regulares e não tem vícios,morre do mesmo jeito.
“Isso é para ser levado a sério?
Tendo mais de cem anos de idade, vá lá,o sono eterno pode ser bem vindo.
Já não há mesmo muito a fazer,o corpo não acompanha a mente,
e a mente também já rateia, sem falar quenão há quase nada guardado nas gavetas.
Ok.Hora de descansar em paz.
“Mas morrer antes de viver tudo?,antes de viver até a rapa?... Não, isto não se faz!
Morrer cedo é uma transgressão,desfaz a ordem natural das coisas.
Enfim,morrer é um exagero.
Mas, como todos já sabem,o exagero é a matéria-prima das piadas.
Só que esta não tem graça.
“Por isso viva tudo que há para viver.Não se apegue às coisas pequenas
e inúteis da Vida.”
Parabéns, Pedro Bial. Tudo o que escreveué sábio e verdadeiro..., salvo o último ponto:
como não nos apegar às coisas inúteis da Vidase, diante da morte, tudo é pequeno e
qualquer esforço é inútil?...
Aparentemente, a última liberdadeque procuramos é bastante singular,
se, realmente, procuramos nos libertardo enorme esforço de ser... vivos.
Certamente ela já estava por aqui, na Terra,antes do surgimento do homem... e não foi,
portanto, um obstáculo para a Vida.
Mas ela foi transformada em sério obstáculopara o homem, devido à natureza de sua consciência
concentrada na percepção de sua individualidade.
E a morte assim, visível demais para ser ignoradae, mesmo se mostrando calada demais para sercompreendida, determinou e ainda determina,
direta ou indiretamente, todos os nossosestados psicológicos.
Morte.
E vamos refletir um poucoa partir de uma prescrição feita
pelo inteligente Pedro Bial:
“Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer.A troco do quê?”
Interessante como que muitos entre nósjá não se deixam seduzir pela idéia mística
de uma existência individual espiritual eternanum paraíso de recompensas divinas
...
E, então, fica assim:enquanto os religiosos nos induzem
a desprezar nossas vidas neste mundo(pecaminoso, provisório e descartável),
por outro lado somos estimuladosa tirar o máximo de proveito denossas existências individuais
neste mundo, antes quea morte certa chegue
prematuramentepara
interrompertudo.
Estamos passando por um novo processode transformação, sem dúvida, ajustandonossa percepção da existência individual:
esta que tentamos pôr acima de tudo,de um jeito ou de outro.
E assim, modernamente,se a nossa vida não é eterna,
“que seja eterna enquanto dure”...
Pobres de nós, pobre de mim,não tenho com certeza as respostas, leitores.
Tudo que tenho está neste esforço de entendere está em livros... Aliás, sem mudar o assunto,
tenho pensado no meu filho de nove anos...Pobrezinho, tudo o que deixarei para ele,
como herança, serão livros..., estesque lutam, entretanto, para
que o meu filho, juntoaos seus filhos,
tenham ummundo
...
Certos assuntos só cabem em grossos livros,como o que eu terminei de escrever, ondeesta sentença está exposta com detalhes:
Quanto maior for a nossa percepção da individualidadetanto maior será a nossa percepção da morte
como o fim inevitável!
A morte nunca foi e não é a nossa inimiga.O individualismo é o nosso real inimigo.Este tem o efetivo poder de nos matar.
Então, agora, antes que se dê o fim,precisamos abrir nossas mentes para
redescobrirmos a extraordináriadimensão da nossa consciência
que é, ao mesmo tempo,individual e universal,
finita e infinita.
Ou que isto fique bastante claro:a realidade que nos envolve não é uma piada;
vivemos em um único mundo que é um todo aoqual estamos visceral e mentalmente ligados,
para o êxito ou o fracasso.
Não há como sobrevivermosvivendo apenas o momento ou o presente.
Aliás, habilidades mentais especiais nos foramdadas para aprendermos com os erros do passado
e ainda avaliarmos as conseguênciasdos nossos atos no futuro.
Não há nada de erradocom o projeto celeste definido
para a nossa existência nesta Terra.
A inteligência nos foi dadapara o grande desafio de existir.
E se existir é um desafio duro para nós,é proporcional às nossas potencialidadese às enormes habilidades que recebemos.
Ajudaria se aproveitássemoso nosso já conhecido sentido de “religião”para enfim nos “religar” à Terra e, então,
evoluirmos intimamente integrados.
Assim, só assim nos harmonizaremoscom o movimento das forças que dão vida
ao Universo... e que, portanto, lhe dãoo único verdadeiro sentido de
existência.
...Nunca encontraremosrespostas na morte.
Ainda sinto o pulsar da vida neste mundo,embora eu mesmo já esteja um pouco velho.
Não sei quanto a vocês, meus amigos leitores,mas quanto a mim seguramente estou aqui,
preocupando-me com o futuro de um mundoem que eu não estarei.
Lanier Wcr