O QUE É O PODER

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O QUE É O PODER? O QUE É O PODER? NILDO VIANA Muito se fala no poder nas universidades, nos meios de comunicação de massas, nos meios políticos. Alguns querem conquistá-lo, outros querem destruí-lo. Entretanto, poucos definem com clareza o que se entende por poder. Foucault afirma que ele é uma “relação de forças”, mas nunca dizem quais são estas forças que se relacionam e em que elas consistem. O “marxista”-estruturalista Nicos Poulantzas coloca que o poder é resultado da exploração de classe. E vemos assim um sem número de definições imprecisas e que não conseguem revelar o verdadeiro caráter deste fenômeno social. O poder só pode ser compreendido como uma relação social. ocorre, porém, que tudo que existe na sociedade é uma relação social. O que importa saber é que tipo de relação social específica constitui o poder. O poder é uma relação social de dominação, o que implica na existência de dominantes e dominados . Os dominantes, nesta relação, exercem a dominação sobre os dominados. Já sabemos o que é o poder, mas resta ainda saber qual é sua razão de ser, ou seja, por qual motivo existe o poder, a dominação? Alguns ideólogos dizem que ele surgiu devido à “vontade de poder” que seria inata ao ser humano. Ao enviar para a natureza humana a razão de ser do poder, se cria uma ideologia que busca tornar natural e universal algo que é histórico e transitório. Esta ideologia é bastante convincente tendo em vista que nascemos e vivemos em uma sociedade que tem como base de sustentação o poder. É uma sociedade marcada por ideologias que santificam o poder (a “santificação do poder” surge com o cristianismo e se torna mais forte com a sua institucionalização na Idade Média, tal como se vê na ideologia do poder divino e na hierarquia e idolatria existente nas igrejas). Ao lado da santificação do poder e indo além dela, surgem novas formas de ideologias que justificam o poder e tornando-o algo constitutivo da história da humanidade tal como expresso na

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O QUE O PODER?

O QUE O PODER?Nildo VianaMuito se fala no poder nas universidades, nos meios de comunicao de massas, nos meios polticos. Alguns querem conquist-lo, outros querem destru-lo. Entretanto, poucos definem com clareza o que se entende por poder. Foucault afirma que ele uma relao de foras, mas nunca dizem quais so estas foras que se relacionam e em que elas consistem. O marxista-estruturalista Nicos Poulantzas coloca que o poder resultado da explorao de classe. E vemos assim um sem nmero de definies imprecisas e que no conseguem revelar o verdadeiro carter deste fenmeno social.

O poder s pode ser compreendido como umarelao social. ocorre, porm, que tudo que existe na sociedade uma relao social. O que importa saber que tipo de relao socialespecficaconstitui o poder.O poder uma relao social de dominao, o que implica na existncia de dominantes e dominados. Os dominantes, nesta relao, exercem a dominao sobre os dominados.

J sabemos o que o poder, mas resta ainda saber qual suarazo de ser, ou seja, por qual motivo existe o poder, a dominao? Alguns idelogos dizem que ele surgiu devido vontade de poder que seria inata ao ser humano. Ao enviar para a natureza humana a razo de ser do poder, se cria uma ideologia que busca tornar natural e universal algo que histrico e transitrio. Esta ideologia bastante convincente tendo em vista que nascemos e vivemos em uma sociedade que tem como base de sustentao o poder. uma sociedade marcada por ideologias que santificam o poder (a santificao do poder surge com o cristianismo e se torna mais forte com a sua institucionalizao na Idade Mdia, tal como se v na ideologia do poder divino e na hierarquia e idolatria existente nas igrejas). Ao lado da santificao do poder e indo alm dela, surgem novas formas de ideologias que justificam o poder e tornando-o algo constitutivo da histria da humanidade tal como expresso na filosofia e na cincia moderna. Esta ltima chega mesmo a substituir a religio como forma suprema de justificar o poder, realizando a grande traduo fictcia da histria da humanidade em uma eterna e imutvel luta pelo poder, de acordo com os interesses da classe dominante, tal como se v, para ficar em apenas um exemplo, na ideologia darwinista da luta pela existncia, amplamente criticada por Kropotkin e outros pensadores que rompem com esta verso naturalista da ideologia burguesa.

Se consultarmos a historiografia e a etnografia, veremos que existem sociedades em que os indivduos no possuem nenhuma vontade de poder e, por conseguinte, tal vontade no natural nem universal. Assim como o poder, a vontade de poder (que difere da vontade de potncia, no sentido de superar a alienao e sentimento de impotncia gerado a partir dela) um produto histrico e transitrio. Mas compreender a razo de ser do poder difcil porque esteamos acostumados com a diviso capitalista do trabalho intelectual e assim no nos fcil perceber que o poder no algo que pertence esfera do poltico, que seria, segundo a ideologia burguesa, separada da esfera econmica, cultural, etc. O poder surge com a instituio da dominao de um grupo de seres humanos sobre outros seres humanos e isto surge historicamente com o advento da escravido (no caso da Europa Ocidental).

A escravido surgiu quando se descobriu que os prisioneiros feitos nas guerras intertribais podiam ser, como os animais, domesticados, transformados em cativos e colocados para trabalhar para da se extrair mais-trabalho. Em poucas palavras, dominao e explorao nascem juntas e s podem continuar existindo juntas. Isto quer dizer que a razo de ser da dominao a explorao, embora a diviso capitalista do trabalho intelectual ofusque, com sua distino entre economia e poltica, a ligao indissolvel entre elas.

A instituio da dominao e explorao de uma classe social sobre outra no se faz sem a luta e a resistncia das classes e grupos explorados e dominados. Por isso necessrio a formao de uma instituio e de um grupo social cuja funo seja reprimir a resistncia dos explorados: o estado. O surgimento do estado significa o surgimento de uma nova classe social: a burocracia. Esta se caracteriza por ser uma classe auxiliar da classe dominante, pois ela existe para manter e regular a dominao de classe existente. O estado , pois, uma relao de dominao de classe cujo objetivo manter a explorao de classe, as relaes de produo que fundamentam esta explorao.

Porm, a dominao de classe cria um conjunto de necessidades que produz a generalizao da dominao em todas as esferas da vida social, passando a atingir as relaes familiares, as escolas, etc., criando uma diversidade de formas de opresso: sexual, racial, etria, etc. A manuteno da dominao de classe exige um intenso controle social sobre toda a sociedade, o que cria focos de resistncia em todas as esferas da vida social, gerando diversas formas de conflitos sociais.

A abolio da dominao s possvel atravs da instaurao da autogesto social. A instaurao da autogesto social, por sua vez, s possvel atravs da autogesto das lutas sociais pelas classes e grupos explorados e oprimidos. impossvel superar a dominao atravs da reproduo da dominao, tal como prope o chamado marxismo-leninismo com sua proposta de partido de vanguarda e estado de transio, que so, na verdade, embries do domnio da burocracia que quer se tornar uma nova classe dominante. Atravs da autogesto das lutas sociais j se esboa novas relaes sociais, fundamentadas na solidariedade e na igualdade, que se concretizam com a autogesto social, que significa a abolio das classes e, conseqentemente, da dominao de classe, ou seja, do poder.