O que parece impossível torna-se possível no Sertão: FAMÍLIAS PRODUZEM E COMERCIALIZAM...

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O que parece impossível torna-se possível no Sertão: famílias produzem e comercializam orgânicos José Pereira da Silva(Juru), Marli Leite de Lima(Juru), Adeildo Estévão da Silva(Tavares), Cilene Pereira da Silva(Tavares), Maria do Nascimento Alves Silva(Tavares), Selma Alves Pereira de Andrade(Tavares), Maria do Socorro Marques de Lima Alves(Tavares), Maria Nicácio Ferreira(Tavares), Maria Ramiro da Silva(Tavares), são produtores e comercializadores de hortaliças orgânicas de comunidades vizinhas dos Municípios de Juru e Tavares próximas à rodovia PB 306 sentido Água Branca Princesa Isabel. “A gente planta e trata sem veneno. Nossos produtos são sadios, Ave Maria! O povo na feira já sabe, já procu- ra a gente”, diz Dona Selma colhendo o coentro. Com os seus trabalhos essas famílias mostram que o que parece ser impossível aos olhos de muitos torna-se possível no Sertão. Com pouca água e sem produtos químicos essas famílias se dedicam a plantar: cebolinha, pimentão, coentro, alface, etc. A maioria já tem essa atividade há mais de 20 anos. A experiência dos mais antigos e persistentes serviu de motivação para outras famílias. Dona Selma diz que foi isso que a motivou: “Vendo outros agricultores produzindo e obetendo lucro”. Quando entrevistados dizem dos muitos benefícios que a atividade tem trazido para a família: ter uma renda extra(é o benefício mais citado), garante a feira da semana, ter produtos sadios na mesa, o trabalho exige pouca mão de obra, é acessível às mulheres, não exige tanta água. Antes só plantavam milho e feijão e a família não tinha outra fonte de renda a não ser quando trabalhava dias de aluguel ou de benefícios emergenciais do governo. O que hoje produzem tinham que comprar na feira, dizem. “Era uma vida difícil e muito sofrida” diz Dona Maria Ramiro. Embora, em muitos casos, sejam os homens os responsá- veis pela experiência, são as mulheres que assumem o trabalho com muita garra: plantam, colhem, vão às feiras e articulam todo o trabalho. Na maioria, todos os que estão em casa se envolvem com o processo incluindo jovens e adolescentes. Juru | Tavares Setembro / 2013 Ano 7 n˚1286 “A gente planta e trata sem veneno. Nossos produtos são sadios, Ave Maria!...” Dona Marli e seu esposo na coleta dos produtos para feira. Dona Selma - Tavares-PB

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O que parece impossíveltorna-se possível no Sertão:

famílias produzeme comercializam orgânicos

José Pereira da Silva(Juru), Marli Leite de Lima(Juru), Adeildo Estévão da Silva(Tavares), Cilene Pereira da Silva(Tavares), Maria do Nascimento Alves Silva(Tavares), Selma Alves Pereira de Andrade(Tavares), Maria do Socorro Marques de Lima Alves(Tavares), Maria Nicácio Ferreira(Tavares), Maria Ramiro da Silva(Tavares), são produtores e comercializadores de hortaliças orgânicas de comunidades vizinhas dos Municípios de Juru e Tavares próximas à rodovia PB 306 sentido Água Branca Princesa Isabel. “A gente planta e trata sem veneno. Nossos produtos são sadios, Ave Maria! O povo na feira já sabe, já procu-ra a gente”, diz Dona Selma colhendo o coentro. Com os seus trabalhos essas famílias mostram que o que parece ser impossível aos olhos de muitos torna-se possível no Sertão. Com pouca água e sem produtos químicos essas famílias se dedicam a plantar: cebolinha, pimentão, coentro, alface, etc. A maioria já tem essa atividade há mais de 20 anos. A experiência dos mais antigos e persistentes serviu de motivação para outras famílias. Dona Selma diz que foi isso que a motivou: “Vendo outros agricultores produzindo e obetendo lucro”. Quando entrevistados dizem dos muitos benefícios que a atividade tem trazido para a família: ter uma renda extra(é o benefício mais citado), garante a feira da semana, ter produtos sadios na mesa, o trabalho exige pouca mão de obra, é acessível às mulheres, não exige tanta água. Antes só plantavam milho e feijão e a família não tinha outra fonte de renda a não ser quando trabalhava dias de aluguel ou de benefícios emergenciais do governo. O que hoje produzem tinham que comprar na feira, dizem. “Era uma vida difícil e muito sofrida” diz Dona Maria Ramiro. Embora, em muitos casos, sejam os homens os responsá-veis pela experiência, são as mulheres que assumem o trabalho com muita garra: plantam, colhem, vão às feiras e articulam todo o trabalho. Na maioria, todos os que estão em casa se envolvem com o processo incluindo jovens e adolescentes.

Juru | Tavares

Setembro / 2013Ano 7 n˚1286

“A gente planta e trata sem veneno. Nossos produtos são sadios,Ave Maria!...”

Dona Marli e seuesposo na coletados produtos para feira.

Dona Selma - Tavares-PB

Há muito vínculo de parentesco entre as famílias e trocas de saberes nos cuidados com a plantação. Mas, quando perguntamos sobre as dificuldades falaram dos longos períodos de estiagens, dos poucos recursos hídricos, da falta de acompanhamento técnico e do esterco: têm que comprar ou buscar longe, sobretudo, quando em longa estiagem se vende o gado da região. Dizem aparecer pragas, no período invernoso mesmo assim nada usam para combate-las. O que é produzido é comercializado nas feiras livres de Juru, Tavares-PB e em cidades maiores e mais distantes: Princesa Isabel-PB e Tabira-PE (cerca de 42Km). Todas as famílias entrevistadas apontaram dificul-dades na comercialização: nas feiras não têm espaços próprios. Seus produtos orgânicos são comercializados junto de outros produtos que não têm o mesmo nível de qualidade. São obrigados a se abrigarem em barracas de colegas que têm pontos fixos na feira(barracas maiores), e ainda pagam taxas cobradas pelas prefeituras. Essa mistura põe em dúvida a qualidade de seus produtos diante dos fregueses. Sempre são obrigados a mudar de lugar na feira. Colocam seus produtos num certo local mas para ter uma melhor venda precisam sair oferecendo-os dentro da feira de forma ambulante. Alguns fregueses já conseguem distinguir os seus dos demais produtos não orgânicos pela qualidade e durabilidade das hortaliças em conserva e já os procuram com frequência, mas, as feiras oferecem muitas opções de preços daí a concorrência ser muito grande “é preciso sair oferecendo pelo meio da feira", diz D. Marli Leite. Embora exista muita solidariedade entre as famí-lias, sobretudo, na comercialização ao ponto de algumas pegarem hortaliças com outras quando as suas não são suficientes para a feira, não existe uma organização entre elas para melhoria da comercialização e maior valorização dos produtos saudáveis. Nós das organizações acreditamos que a experiên-cia empolgante das famílias, apesar dos seus desafios, com a ajuda dos GAPAs (Gestão da Água para Produção de Alimentos) e SISMAs (Sistemas Simplificados de Água para Produção) do P1+2 além, dos Encontros Microrre-gionais (famílias produtoras experimentadoras) do Médio Sertão se tornem espaços de reflexão e oportunidades para um processo de organização e melhoria da comer-cialização dessas famílias que com o seu jeito simples e perseverante mostram-nos que um outro mundo é pos-sível para elas e outras muitas famílias no Semiárido Brasileiro.