O SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO SOCIAL NO … · 4. O terceiro capítulo ... Aos meus amigos e...

208
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL APARECIDA MENDES DE PAIVA O SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO SOCIAL NO ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO: UM ESTUDO DE CASO NO BAIRRO JARDIM FELICIDADE, EM BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS Belo Horizonte 2018

Transcript of O SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO SOCIAL NO … · 4. O terceiro capítulo ... Aos meus amigos e...

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL,

EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL

APARECIDA MENDES DE PAIVA

O SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO SOCIAL NO ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO: UM ESTUDO DE CASO

NO BAIRRO JARDIM FELICIDADE, EM BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS

Belo Horizonte

2018

APARECIDA MENDES DE PAIVA

O SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO SOCIAL NO

ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO: UM ESTUDO DE CASO NO BAIRRO JARDIM FELICIDADE, EM BELO

HORIZONTE, MINAS GERAIS

Dissertação apresentada ao Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una como requisito parcial à obtenção do título de mestre. Área de concentração: Inovações Sociais e Desenvolvimento Local. Linha de pesquisa: Gestão Social e Desenvolvimento Local.

Orientadora: Profa. Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos

Belo Horizonte 2018

NOTA INTRODUTÓRIA

No Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, as dissertações de mestrado se orientam pelas seguintes normas aprovadas por seu Colegiado:

Para os elementos textuais: 1. A introdução deve trazer o tema, problema, questão central da

pesquisa, hipótese (facultativa), objetivo geral, objetivos específicos, justificativas e o plano de capítulos;

2. O primeiro capítulo deve trazer uma revisão teórica na área temática

da pesquisa, dentro de um recorte de tempo. É esperado que esse capítulo seja apresentado na forma de um artigo de revisão, contendo: título, subtítulo, nomes e filiação institucional dos autores (o mestrando e a orientadora), resumo, palavras-chave, abstract, keywords, introdução, desenvolvimento, conclusão, referências, notas, anexos e apêndices;

3. O segundo capítulo deve trazer o relato da pesquisa realizada pelo

mestrando. É esperado que esse capítulo seja apresentado na forma de um artigo científico, contendo: título, subtítulo, nomes e filiação institucional dos autores (o mestrando e a orientadora), resumo, palavras-chave, abstract, keywords, introdução, discussão teórica, metodologia, análise dos dados e/ou discussão dos resultados, considerações finais, referências, notas, anexos e apêndices;

4. O terceiro capítulo deve trazer o produto técnico derivado da revisão

teórica e da pesquisa realizada pelo mestrando, sua proposta de intervenção na realidade. É esperado que contenha: título, subtítulo, nomes e filiação institucional dos autores (o mestrando e a orientadora), resumo, palavras-chave, abstract, keywords, introdução, discussão para introduzir o produto técnico e contextualização, descrição detalhada do produto técnico, considerações finais, referências, notas, anexos e apêndices;

5. Por último, o mestrando deve trazer as considerações finais da

dissertação; 6. Ficam mantidos os elementos pré-textuais e pós-textuais de praxe em

dissertações e teses; 7. Alguma flexibilidade em relação a essa estrutura pode ser

considerada, mas é indispensável que o/a mestrando/a apresente pelo menos uma das suas partes na forma de um artigo.

AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus que sempre esteve comigo me carregando em seus braços de

amor e suprindo todas as minhas necessidades – Ebenézer!

Ao meu marido Rogério, que me apoiou, sustentou, suportou e ajudou a

realizar este projeto de vida. Sem você meu amor, a caminhada teria sido

insuportável. Você é minha sorte na vida.

À minha orientadora Professora Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos,

que com suas orientações lapidou meu trabalho transformando-o de pedra

bruta em diamante. Neste processo gestacional, você foi obstetra, anestesista

e, na hora, final foi minha doula. Obrigada por compartilhar comigo seu saber

e vasta experiência.

Aos meus filhos Mayna e Guto pela paciência que tiveram comigo durante

este percurso e por sempre me apoiarem na realização de meus sonhos.

Vocês são os meus galardões.

À Professoras Dra. Maria Lucia Afonso e ao Professor Dr. Claudio Márcio

Magalhães pelas brilhantes e enriquecedoras contribuições no exame de

qualificação.

Aos Professores Dra. Carla Bronzo Ladeira e Dr. Cláudio Márcio Magalhães

pela disponibilidade em participar e contribuir na banca de defesa.

A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social,

Educação e Desenvolvimento Local, por terem sido os responsáveis pela

desconstrução, reconstrução e ressignificação de saberes e fazeres

acadêmicos.

Ao Leandro e demais funcionários e colaboradores do Centro Universitário –

UNA que sempre recebem com carinho, atenção e competência as nossas

demandas.

Aos amigos e às amigas do Mestrado, pela convivência, aprendizado, confiança e

amizade durante esta longa caminhada.

Ao professor André Borges, que se dedicou (e que dedicação) à revisão gramatical

em língua portuguesa.

A professora e amiga Fabiana Fadul que colocou “caraminholas” em minha

cabeça e me incentivou a fazer este mestrado.

Aos meus amigos e amigas, aos familiares que compreenderam minhas ausências

e torceram por mim.

Aos moradores e amigos do bairro Jardim Felicidade, que participaram como

sujeitos desta pesquisa e cooperaram para que eu pudesse realizar este

trabalho acreditando em meu projeto. A vocês, toda minha gratidão.

A todos e todas que de alguma maneira contribuíram para que esta

dissertação fosse realizada.

“Alarga o espaço da tua tenda, estende as

cordas, reforça as estacas. Pois hás de

transbordar para a direita e para a esquerda”.

Isaias 54:2

RESUMO

Esta pesquisa teve o propósito de elucidar a possível relação existente entre o sentimento de pertencimento social dos moradores do Bairro Jardim Felicidade, em Belo Horizonte (MG) e o engajamento comunitário destes moradores, no que tange às ações de cuidado com o território e o desenvolvimento local.Optou-se pela pesquisa com abordagem qualitativa, descritiva e concebida pelo estudo de caso, aprovada sob n° CAAE: 75117717800005098. Os sujeitos dessa pesquisa são moradores do bairro Jardim Felicidade, selecionados pela técnica de snowball sampling até a saturação. Foram realizadas 25 entrevistas semi-estruturadas e um grupo focal com participação de 19 moradores. Para análise desses dados, utilizou-se a análise de conteúdo, submetidos ao software IRAMUTEQ e foram obtidas cinco categorias: (1) Responsabilidade e cuidado com o território; (2) Identidade social; (3) Engajamento e participação comunitária; (4) Mobilização comunitária; e (5) Sentimento de pertencimento social. Para os dados do grupo focal, adotou-se o discurso do sujeito coletivo, submetido ao software DSCSoft, gerando três categorias: (1) A história do bairro Jardim Felicidade fortalece o sentimento de pertencimento; (2) Ter uma casa no Jardim Felicidade representa a emancipação social; e (3) Engajamento e participação são diferentes entre os moradores do bairro Jardim Felicidade. Constatou-se que o sentimento de pertencimento dos moradores em relação ao bairro, é maior entre os moradores que participaram da sua construção, demonstrando a aquisição do pertencimento, devido à vivência de mobilização e participação coletiva nesse processo. Assim, esse grupo se engaja nas ações que visam o desenvolvimento local e as melhorias do território. Esses resultados serão socializados por meio de um média-metragem/documentário que resgata a história de construção do bairro Jardim Felicidade, sendo protagonizado e produzido pelos próprios moradores. Palavras-chave: Pertencimento. Engajamento comunitário. Mobilização social. Desenvolvimento local. Gestão social.

ABSTRACT

This research had the purpose of elucidating the possible relationship between the residents of Bairro Jardim Felicidade neighborhood, in Belo Horizonte (MG) feeling of social belonging and the community engagement of these residents, regarding the actions of care with the territory and the development local. The qualitative, descriptive approach research was chosen and conceived by the case study, approved under CAAE n °: 75117717800005098. The subjects of this research are residents of Jardim Felicidade district, selected by the snowball sampling technique until saturation. Twenty-five semi-structured interviews and a focus group were carried out with the participation of 19 residents. In order to analyze these data, we used the content analysis, submitted to IRAMUTEQ software and obtained five categories: (1) Responsibility and care for the territory; (2) Social identity; (3) Community engagement and participation; (4) Community mobilization; and (5) Feeling of social belonging. For the focus group data, the discourse of the collective subject, submitted to DSCSoft software, was adopted, generating three categories: (1) Jardim Felicidade neighborhood history strengthens the sense of belonging; (2) Social emancipation is to have a house in Jardim Felicidade neighborhood; and (3) Engagement and participation are different among residents of Jardim Felicidade neighborhood. It was verified that the residents' feeling of belonging to the neighborhood is greater among the residents who participated in its construction, demonstrating the acquisition of belonging, due to the experience of mobilization and collective participation in this process. Therefore, this group engages in actions aimed at local development and territorial improvements. These results will be socialized through a medium-length documentary that rescues the history of construction of the neighborhood Jardim Felicidade, being starred and produced by the residents themselves. Keywords: Belonging. Community engagement. Social mobilization. Local development. Social management.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Inter-relação entre engajamento e participação 42

Figura 2: Bairro Jardim Felicidade 80

Figura 3: Representação gráfica – nuvem de palavras 90

Figura 4: Resultado da análise de similitude 91

Figura 5: Classificação Hierárquica Descendente 95

Figura 6: Dendograma da Classificação Hierárquica Descendente 96

Figura 7: Representação gráfica – nuvem de palavras 120

Figura 8: Significado e freqüência da palavra GENTE 120

Figura 9: Preparação para gravação em estúdio de gravação 175

Figura 10: Imagem de abertura do vídeo 175

Figura 11: Visão geral do bairro Jardim Felicidade – Rua 16 176

Figura 12: Fotos antigas do bairro na época de sua fundação 176

Figura 13: Parte do córrego Tamboril atualmente - Poluição 177

Figura 14: Imagem usada na personalização do pencard 178

LISTA DE TABELA e QUADROS

LISTA DE TABELA

Tabela 1: Correlação palavras e categorias geradas pelo

IRAMUTEQ

95

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Principais temas e seus respectivos autores 28

Quadro 2: Setores censitários e classificação de risco do índice de

vulnerabilidade da saúde – IVS do território Jardim Felicidade

81

Quadro 3 Descrição dos sujeitos da pesquisa entrevistados 83

Quadro 4 Síntese da estrutura do DSC: Expressões-Chave – Ideia-Central

– Categorias referentes à pergunta 1

122

Quadro 5 Síntese da estrutura do DSC: Expressões-Chave – Ideia-Central

– Categorias referentes à pergunta 2.

123

Quadro 6 Síntese da estrutura do DSC: Expressões-Chave – Ideia-Central

– Categorias referentes à pergunta 3

124

Quadro 7 Síntese da estrutura do DSC: Expressões-Chave – Ideia-Central

– Categorias referentes à pergunta 4.

125

Quadro 8 Créditos de produção do média-metragem/documentário

JARDIM FELICIDADE: Vozes em transformação

177

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

% Porcentagem

AC Análise de Conteúdo

BH Belo Horizonte

CAAE Certificado de Apresentação para Apreciação Ética

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CF Constituição Federal

CHD Classificação Hierárquica Descendente

COOPERLIX Cooperativa de Trabalhadores de Materiais Recicláveis

COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais

CRAS Centro de Referência da Assistência Social

DSC Discurso do Sujeito Coletivo

DSCSOFT Software do Discurso do Sujeito Coletivo

ECH Expressão-Chave

GEMA Grupo de Elaboração de Materiais para Aprendizagem

GF Grupo Focal

IAD1 Instrumento de Análise de Primeiro Nível

IAD2 Instrumento de Análise de Segundo Nível

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBICT Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

IC Ideia Central

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IRAMUTEQ Interface de R Pour Les Analyses Multidimensionnelles de

Textes et de Questionnaires

IVS Índice de Vulnerabilidade da Saúde

Km² Quilômetro quadrado

m² Metro quadrado

MG Minas Gerais

MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

MSTS Movimento dos Trabalhadores Sem Teto

n° Número

NAVLAB Nave Laboratório áudio visual

ONG Organização Não Governamental

PBH Prefeitura Municipal de Belo Horizonte

PNAS Política Nacional de Assistência Social

PNEA Política Nacional de Educação Ambiental

PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

PVC Policloreto de Polivinila

RS Representação Social

SCIELO Scientific Electronic Library Online

ST Segmento de Texto

SUAS Sistema Único da Assistência Social

TCLE Termo de Esclarecimento Livre e Esclarecido

TIC Tecnologia da Informação e Comunicação

TNT Tecido Não Tecido

UCE Unidades de Contexto Elementares

UFLA Universidade Federal de Lavras

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

X² Qui-Quadrado

SUMÁRIO

1 Introdução .....................................................................................

15

2 O Sentimento de Pertencimento Social no Engajamento Comunitário: Um Estudo de Caso no Jardim Felicidade, Belo Horizonte (MG)...............................................................................

23

2.1 Introdução........................................................................................ 25

2.2 Sentimento de pertencimento social................................................ 29

2.3 Engajamento comunitário................................................................ 38

2.4 Território: espaço de promoção do pertencimento social e do engajamento comunitário................................................................

44

2.5 A gestão social para o desenvolvimento local................................. 50

2.6 Considerações Finais...................................................................... 55

Referências...................................................................................... 57

3 Influência do Sentimento de Pertencimento Social na Participação e Engajamento Comunitário...................................

65

3.1 Introdução........................................................................................ 67

3.2 Revisão de literatura........................................................................ 70

3.2.1 Pertencimento e identidade social................................................... 70

3.2.2 Engajamento comunitário 72

3.2.3 Gestão social e desenvolvimento Local.......................................... 73

3.3 Metodologia..................................................................................... 78

3.3.1 Caracterização da Pesquisa............................................................ 79

3.3.2 Unidade de análise.......................................................................... 80

3.3.3 Sujeitos de pesquisa........................................................................ 82

3.3.4 Coleta de Dados.............................................................................. 84

3.3.5 Tratamento dos Dados.................................................................... 86

3.3.6 Aspectos Éticos............................................................................... 88

3.4 Análise dos Resultados................................................................... 88

3.4.1 Categoria (1) – Responsabilidade e cuidado com o território.......... 98

3.4.2 Categoria (2) – Identidade social..................................................... 101

3.4.3 Categoria (3) - Engajamento comunitário........................................ 105

3.4.4 Categoria (4) – Mobilização comunitária......................................... 110

3.4.5 Categoria (5) – Sentimento de pertencimento social....................... 114

3.5 Análise do Discurso do Sujeito Coletivo.......................................... 119

3.5.1 Pergunta orientadora 1 – O que o bairro Jardim Felicidade representa para você?.....................................................................

127

3.5.2 Pergunta orientadora 2 – Como os moradores mais recentes vêem o bairro?.................................................................................

130

3.5.3 Pergunta orientadora 3 – Você se sente responsável pelo o que bairro se tornou hoje?......................................................................

131

3.5.4 Pergunta orientadora 4 – Você acredita que algo ainda pode ser 132

feito pela melhoria do bairro?.......................................................... 3.6 Considerações Finais...................................................................... 139

Referências...................................................................................... 145

4 Média-Metragem como Ferramenta de Intervenção Social para Educação Ambiental no Bairro Jardim Felicidade em Belo Horizonte (MG)......................................................................

155

4.1 Introdução........................................................................................ 157

4.2 Breves considerações sobre os média-metragens/documentários. 159

4.3 Metodologia..................................................................................... 168

4.4 Análise dos Resultados................................................................... 171

4.4.1 Média-metragem/vídeo documentário: Jardim Felicidade – Vozes em transformação............................................................................

171

4.4.2 Roteiro do média-metragem/documentário: Jardim Felicidade – Vozes em transformação.................................................................

173

4.4.3 Organização do espaço e tratamento do material gravado............. 174

4.5 Considerações Finais...................................................................... 180

Referências...................................................................................... 181

5 Considerações Finais.................................................................... 186 5.1 Limitações da pesquisa................................................................... 192 5.2 Sugestões do trabalho futuro........................................................... 194 Referências

........................................................................................

197

Apêndices

Apêndice A Roteiro para entrevista semiestruturada com os moradores do bairro Jardim Felicidade / MG ................

198

Apêndice B Roteiro de perguntas norteadoras para grupo focal ..... 199

Apêndice C Produto técnico .............................................................

200

Anexos

Anexo A CAAE da plataforma Brasil ............................................ 201 Anexo B Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............... 202 Anexo C Termo de autorização de gravação e uso de imagem e

depoimentos .................................................................. 203

Anexo D Autorização para coleta de dados ................................. 204 Anexo E Termo de compromisso da resolução 466/12 ............... 205 Anexo F Declaração de revisão textual e gramatical 206 Anexo G Declaração de tradução dos resumos da dissertação

para língua inglesa 207

15

1 INTRODUÇÃO

A participação e o engajamento comunitário são conceitos atualmente em

eminência nas discussões acadêmicas e nos diversos segmentos sociais. O

advento da promulgação da Constituição Federal, em 1988, trouxe, em seu

arcabouço legal, o reconhecimento da participação social, que estimulou a

atuação da sociedade na gestão pública. A partir disso, o cidadão brasileiro

passou a se envolver mais nas agendas políticas, tornando-se um dos atores

nas escolhas de projetos e na elaboração de políticas públicas, o que antes era

restringido apenas aos governantes.

No campo das políticas públicas, o argumento para participação social foi e

ainda é a demanda por aumento das ações eficazes de políticas públicas que

beneficiam o coletivo. Pode-se perceber que a demanda por ações que

beneficiam o coletivo é frequentemente apresentada pelas comunidades de

baixa renda.

As comunidades de baixa renda são espaços territoriais que sofrem com o

descaso do poder público. Esses locais são marcados pela degradação

urbana, taxas elevadas de pobreza e desemprego, péssimas condições de

saneamento básico e insuficiência de serviços básicos, como saúde, educação,

assistência social. As condições habitacionais são precárias e, por vezes,

inseguras. As pessoas convivem rotineiramente com problemas sociais, tais

como: crime, violência, drogas e taxas elevadas de doenças mentais.

O Bairro Jardim Felicidade em Belo Horizonte é o objeto de estudo dessa

pesquisa. Por suas características, ele é considerado uma comunidade de

baixa de renda, cujos problemas incluem, além dos citados anteriormente, a

construção de moradias com infraestrutura precária, mas construídas de forma

interativa, popularmente conhecida por puxadinhos, e que se expandem de

acordo com as necessidades da família. Um exemplo é a agregação de novos

integrantes à família, que gera um outro fenômeno comum nas comunidades

de baixa renda: a superlotação.

16

Nesse contexto, o tema desta dissertação propõe discutir a questão do

sentimento de pertencimento mais especificamente no âmbito da comunidade

do bairro Jardim Felicidade. Essa discussão se faz importante, pois propicia um

constructo importante para o entendimento da formação de uma identidade

social dessa comunidade, identidade essa que é necessária ao engajamento e

participação no que tange às ações de cuidado com o território e com a

mitigação dos problemas ambientais vivenciados.

Em relação à identidade social, Bauman (2005, p. 18), aponta que a formação

de identidade não vai acontecer enquanto o pertencimento continuar sendo

uma condição que não se realizou. Assim, um indivíduo ou grupo, ao sentir-se

pertencente a algo ou a algum lugar, poderá contribuir intervindo para

transformar o seu meio ambiente, a partir da transformação de sua visão de

mundo que, segundo Bourdieu (1983, p. 65) pode ser interpretada como sendo

a forma pela qual os sujeitos percebem o mundo à sua volta, a partir de um

conjunto integrado de arranjos constantes e transponíveis de experiências

vividas.

O problema que delineou esse estudo perpassa pelo fato de que o bairro

Jardim Felicidade, situado na região Norte do município de Belo Horizonte

(MG), por ser uma comunidade periférica com alto índice de vulnerabilidade

desde sua construção, favorece o fato de que os moradores convivam

cotidianamente com problemas sociais como a criminalidade, que envolve os

adultos, as crianças e adolescentes, a violência doméstica, e a tóxico

dependência. Toda essa caracterização inclui o território Jardim Felicidade no

rol de comunidades vulneráveis.

Esta vulnerabilidade social deve ser compreendida em suas perspectivas

estruturais e subjetivas. Sob o escopo do apresentado por Bronzo (2010), a

vulnerabilidade social pode se estruturar territorialmente, sendo abordada pelo

vetor espacial em que se identifica que determinados espaços/territórios

concentram aspectos objetivos (estruturais) e subjetivos (relações

17

interpessoais, baixa auto-estima, processos de estigmatização e exclusão

social) que a produz e reproduz.

De acordo com a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), famílias,

grupos e indivíduos, em situação de vulnerabilidade social, criam estratégias e

alternativas diferenciadas de sobrevivência, como o trabalho infanto-juvenil, o

envolvimento com práticas ilícitas dentre outras. Além disso, o longo período de

permanência fora de casa por parte dos pais e responsáveis por crianças

aumenta os riscos, pessoais e sociais, tornando essas crianças cada vez mais

vulneráveis e susceptíveis às vicissitudes do meio em que vivem (PNAS, 2004,

p. 18-19).

O descaso do poder público em investimentos no saneamento básico para

desenvolvimento local do território tem sido pauta de reuniões comunitárias. Os

fóruns realizados no bairro, após sua fundação, nos quais são discutidos os

problemas ambientais recorrentes, têm levantado demandas importantes tais

como a questão dos lixões, dos bota-foras e do descarte de toda natureza de

lixo em locais públicos e no córrego do bairro. No entanto essas demandas têm

gerado tensões entre os moradores pelo fato de que apenas alguns se

prontificam a desenvolver algumas ações de cuidado, ainda que seja em uma

pequena área de seu entorno residencial, ao contrário de outros moradores

que parecem não se importar.

No sentido de compreender o fenômeno de descuido do território por parte de

seus moradores, a resignação diante das problemáticas sociais e ambientais

com as quais convivem diariamente, compreender a forma como cada

indivíduo percebe o ambiente em que vive (age e reage sobre esse ambiente)

e como se dá, por parte dos moradores, o sentimento de pertencimento em

relação a esse território, surgiu a questão norteadora dessa pesquisa que é:

qual a influência do sentimento de pertencimento social no engajamento

comunitário dos moradores do bairro Jardim Felicidade?

18

Partindo dos pressupostos:

o senso de pertencimento em relação ao bairro Jardim Felicidade

por parte dos moradores mais antigos é maior quando

comparados aos dos moradores que chegaram recentemente ao

bairro;

o sentimento de pertencimento interfere no nível de engajamento

comunitário;

a presença do sentimento de pertencimento proporciona na

comunidade uma gestão social;

o comportamento cuidado com o território é interpretado de

diferentes formas entre os moradores.

O objetivo geral desta pesquisa é analisar como o senso de pertencimento

social pode contribuir para a promoção do engajamento comunitário tendo em

vista o desenvolvimento de intervenção na área de gestão social com

características de inovação social e potencializadora do desenvolvimento local.

Para tanto, os objetivos específicos foram estabelecidos da seguinte maneira:

1. Realizar revisão teórica sobre a questão do pertencimento social e seus

impactos no engajamento comunitário no que tange às ações de

cuidado e desenvolvimento desse território.

2. Caracterizar as relações dos moradores com o bairro Jardim Felicidade.

3. Identificar se existe relação entre o senso de pertencimento social e o

engajamento comunitário dos moradores do bairro Jardim Felicidade.

A escolha do tema desta pesquisa surgiu a partir da experiência do trabalho

exercido pela pesquisadora no Centro de Referência da Assistência Social

(CRAS) Jardim Felicidade. O vínculo estabelecido com esta comunidade

ocorreu a partir da relação de trabalho com famílias que propiciou à

pesquisadora a aproximação, tanto das pessoas quanto de seus mais diversos

problemas e desafios sociais e ambientais, favorecendo o conhecimento de

suas fragilidades e potencialidades.

19

Um aspecto de potencialidade que pode ser constatado no bairro Jardim

Felicidade é que esta comunidade, desde sua formação, à sua maneira e com

os recursos disponíveis, luta por melhorias e pelo desenvolvimento local.

Nessa luta, alguns moradores permanecem buscando o desenvolvimento e a

melhoria da qualidade de vida da população deste lugar, desde a fundação do

bairro.

Atualmente, estas ações incluem a construção de parques, jardins, quadras

poliesportivas, formação de associação comunitária, implantação de transporte

público, saneamento básico, segurança pública, melhoria da estrutura de

equipamentos públicos como os centros de saúde, escolas e melhoria do

próprio Centro de Referência da Assistência Social, CRAS Jardim Felicidade,

pois estes são os espaços onde acontecem as convivências.

Nesse contexto, esta pesquisa se faz relevante por tornar possível a

compreensão de que pode existir relações entre o sentimento de pertencimento

e o engajamento comunitário. Constanzo (2005) menciona que a participação

comunitária promove tanto o desenvolvimento comunitário quanto o social, na

medida em que desenvolve sentimentos de pertença, autonomia, pró atividade

e ativa mecanismos psicológicos que se interconectam os indivíduos com o

espaço público e privado fazendo com que a necessidade do bem comum seja

uma tarefa compartilhada.

Essa pesquisa mostra que, quando a sociedade, o governo e as comunidades

acadêmicas se interessam pelo conhecimento teórico sobre os conceitos de

pertencimento e engajamento, podem elaborar estratégias direcionadas à

mitigação dos problemas existentes em comunidades de baixa renda, como é o

caso do bairro Jardim Felicidade.

Esta pesquisa é também importante para a sociedade porque mostra que o

sentimento de pertencimento pode favorecer processos participativos como a

formação de conselhos para discussão de políticas públicas. A prerrogativa é

que os sujeitos envolvidos nesses conselhos se tornem mais comprometidos e

20

engajados e se tornem multiplicadores da ideia de uma gestão social

participativa, em nível local.

No que tange à área de concentração deste Programa de Pós-graduação que é

Inovação Social e Desenvolvimento Local, a pesquisa é importante por trazer a

compreensão de que o sentimento de pertencimento pode interferir no

engajamento comunitário. Dessa maneira, se faz necessário pensar ações que

promovam o sentimento de pertencimento e auxilie na formação de sujeitos

engajados, de modo a contribuir com ações inovadoras que culminem no

desenvolvimento local.

Bignetti (2011, p. 4) define a inovação social “como uma das formas de se

buscarem alternativas viáveis para o futuro da sociedade humana”, já que ela

traz em sua dimensão principal as respostas para solucionar problemas ou

necessidades de pessoas vulneráveis, envolvendo-as e motivando a

participação, de forma que as ações e intervenções possam ir ao encontro de

suas reais necessidades, considerando suas potencialidades e aproveitando os

fazeres locais. Esses fatos refletem na melhoria da qualidade de vida e das

relações sociais, fortalecendo os mecanismos de participação (LOPES et al.,

2015, p. 2).

A autora desta pesquisa é graduada em Psicologia, Especialista em

Intervenção Psicossocial no contexto das Políticas Públicas, servidora pública

de carreira na área da Educação atuando como diretora em Escola Municipal

de Educação Infantil de Belo Horizonte. Assim, esta pesquisa é relevante por

contribuir para ampliação da experiência profissional, capacitando-a para

melhorar sua atuação nessas áreas e em outras diversas áreas em que possa

contribuir com saberes adquiridos para tornar a sociedade um lugar melhor.

A estrutura dessa dissertação será organizada da seguinte maneira: o capítulo

introdutório contempla o tema abordado, a questão central ou problema da

pesquisa, os pressupostos e a relevância da pesquisa para a sociedade, para a

academia, para a área de concentração desse programa de mestrado.

21

Em seguida serão apresentados outros três capítulos: O primeiro, que tratará

da apresentação do referencial teórico que embasou a pesquisa e tornou

possível a compreensão de fenômenos como pertencimento social,

engajamento comunitário e cuidado com o território que são as principais

temáticas norteadoras. Será abordada a metodologia utilizada para o

desenvolvimento da pesquisa e as implicações dos referidos fenômenos no

que tange à gestão social e ao desenvolvimento, bem como as possíveis

lacunas que o estudo pode suprir e as considerações finais acerca desse

capítulo.

O segundo capítulo será composto pela apresentação da pesquisa empírica.

Na introdução se fará um breve apontamento do tema com os principais

conceitos (pertencimento e engajamento comunitário), os objetivos da pesquisa

empírica e as implicações e lacunas que poderão ser preenchidas a partir do

alcançado com o estudo de campo realizado.

Será apresentada a revisão de literatura feita a partir dos conceitos da gestão

social e seus pressupostos e de como esta gestão pode ser aplicada ao

desenvolvimento local; a metodologia usada para desenvolvimento da pesquisa

empírica; os resultados alcançados através da análise das entrevistas e do

grupo focal; as considerações finais e as referências do capítulo.

No terceiro capítulo, será apresentado o produto técnico oriundo de todo o

trabalho realizado, que é um média-metragem/documentário elaborado a partir

dos resultados da pesquisa empírica com a co-participação da própria

comunidade na criação do roteiro, na participação dos depoimentos acerca da

história do bairro desde sua fundação e nas imagens cedidas que compuseram

o documentário.

A revisão de literatura deste capítulo compreenderá os conceitos de curta e

média-metragem, as implicações de seu desenvolvimento na comunidade,

considerando a complexidade técnica e social desde sua elaboração. O média-

metragem/documentário, depois de exibido, será usado como ferramenta de

22

intervenção sob a perspectiva da inovação social, com vistas à formação e

potencialização do sentimento de pertencimento social. E abrangência do

média-metragem/documentário, para além da comunidade do bairro Jardim

Felicidade.

As considerações finais desta pesquisa, bem como as limitações para sua

realização, as sugestões para trabalhos futuros e aspectos sociais importantes

serão abordados no quarto capítulo dessa dissertação.

23

2. O SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO SOCIAL NO ENGAJAMENTO

COMUNITÁRIO: um estudo de caso no Jardim Felicidade, Belo Horizonte

(MG)

1Aparecida Mendes de Paiva

2Fernanda Carla Wasner Vasconcelos

RESUMO

O propósito deste artigo é apresentar a visão de diferentes autores acerca dos

temas: pertencimento social, engajamento e participação comunitária, território,

gestão social e desenvolvimento local. Estes temas são importantes para que

se compreenda a possível relação existente entre o sentimento de

pertencimento social dos moradores do Bairro Jardim Felicidade, em Belo

Horizonte (MG) e a participação e o engajamento comunitário destes, no que

se refere às ações de cuidado e de desenvolvimento local do território. A

metodologia utilizada foi a abordagem qualitativa que incluiu a pesquisa

bibliográfica. Os resultados dessa pesquisa evidenciaram que pode existir

influência do sentimento de pertencimento no que tange à participação e ao

engajamento comunitário, pois quando o sujeito se sente pertencente a algum

lugar, ele pode desenvolver interesse pela participação e engajamento de

ações que envolvam esse território. Entretanto, existem fatores que podem

potencializar ou fragilizar esse sentimento de pertencimento.

Palavras-chaves: Desenvolvimento local. Gestão social. Território.

1 Psicóloga, Especialista em intervenção social no Contexto das Políticas Públicas. Mestranda em

Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, pelo Centro Universitário Una. E-mail: [email protected] 2 Bióloga, Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (UFMG). Doutora em

Ciências (UFLA). Professora do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]

24

2 THE FEELING OF SOCIAL BELONGING IN COMMUNITY ENGAGEMENT: A case study in Jardim Felicidade, Belo Horizonte (MG)

[1] Aparecida Mendes de Paiva

[2]Fernanda Carla Wasner Vasconcelos

The purpose of this article is to present the vision of different authors about the themes: social belonging, engagement and community participation, territory, social management and local development. These themes are important in order to understand the possible relationship between the residents of Bairro Jardim Felicidade` s neighborhood feeling of social belonging in Belo Horizonte (MG), and their participation and community engagement, with regard to care actions and local development of the territory. The methodology used was the qualitative approach that included bibliographical research. The results evidenced that there may be influence of the feeling of belonging with regard to community participation and engagement, because when the subject feels he belongs somewhere, he may develop interest in participation and engagement in actions that involve that territory. However, there are factors that can enhance or weaken this sense of belonging. Keywords: Local development. Social management. Territory.

______________

¹Psicóloga, Especialista em intervenção social no Contexto das Políticas Públicas. Mestranda em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, pelo Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]

² Bióloga, Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (UFMG). Doutora em Ciências (UFLA). Professora do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]

25

2.1 INTRODUÇÃO

Este artigo analisa os fenômenos sociais que engendram a participação e o

engajamento comunitários. Alguns desses fenômenos são complexos e

envolvem o desemprego, a inflação, a distribuição das riquezas, o consumismo

exacerbado e tendem a maximizar as forças sociais que são constituídas por

associações de moradores, de trabalhadores, comissão de cidadãos, partidos

políticos, igrejas, organizações não governamentais, que se encarregam de

ações contra a pobreza na defesa das classes sociais desfavorecidas.

Esses fenômenos sociais, presentes na atualidade, incidem na forma pela qual

os indivíduos e grupos se posicionam perante à sociedade, podendo inclusive

influenciar o seu status quo, já que nem sempre esses valores predominantes

na sociedade globalizada, respeitam os valores coletivos, a diversidade e a

justiça social. A complexidade dos fenômenos sociais, como observa

Constanzo (2005), desafiam as pessoas a enfrentarem mudanças em diversos

campos da vida, sejam eles, tecnológicos, sociais e/ou valorativos.

De acordo com Alba Zambrano Constanzo, faz sentido questionar a aliança

entre por um lado os valores culturais, os valores éticos ou de consciência e,

por outro lado os valores econômicos predominantes numa sociedade

capitalista, quando se busca o desenvolvimento social. Esse questionamento

faz sentido porque, de acordo com os valores predominantes numa sociedade

capitalista nem todos os seres humanos são contemplados, de fato, como

pessoas em uma conjuntura de oportunidades (CONSTANZO, 2005).

Outro fator que pode incidir sobre os sujeitos, em razão da presença dos

fenômenos sociais como a pobreza, a exclusão e a estigmatização pode ser o

sentimento de apatia frente aos problemas sociais. A apatia, segundo o

dicionário Aurélio de língua portuguesa, pode ser identificada como a falta de

energia, indiferença e indolência. É uma condição psicológica caracterizada

por um estado emocional de impassibilidade, falta de sentimento ou

26

encorajamento de um indivíduo perante alguma situação e tem como

particularidades o desgaste físico, a inércia e a letargia. (FERREIRA, 2002, p.

50).

Sobre a apatia ou inércia, Cardoso (2008) analisa que este estado se manifesta

de maneira mais profunda, devido ao impacto de séculos de escravidão, o que

de certa forma pode ser visto como um fenômeno revisitado na sociedade

capitalista atual, que vive num contexto de exploração e exclusão social e que

se consolidaria num comportamento de apatia e indiferença frente aos

problemas sociais, que corroboram para que as pessoas, devido à dificuldade

de acesso aos bens e recursos essenciais à sobrevivência, se revoltem ou se

anulem ante o problema.

A resignação e apatia diante dos desafios é um fenômeno no qual a parcela

social mais empobrecida e oprimida pode estar sujeita. Segundo Cidade (2012,

p. 112), isso ocorre quando indivíduos e grupos experimentam cotidianamente

frustrações recorrentes dos seus esforços em transformar o curso de suas

vidas. Seu imaginário social aciona mecanismos psíquicos que são um

conjunto de leis, justificativas e modelos explicativos, que os auxiliam a

entender a realidade em que vivem. Um desses mecanismos é a justificativa de

que existe uma ordem divina já estabelecida, que é responsável pelo destino

dos sujeitos e, dessa forma, se aceita passiva e resignadamente a situação,

por acreditar ser da vontade divina.

A resignação e a passividade de determinados indivíduos e grupos, perante às

condições de opressão e descaso que acometem parte da população mais

vulnerável são denominadas por Martín-Baró (1998) de fatalismo. Segundo

Cidade (2012), o fatalismo é um fenômeno psicossocial que advêm das

condições de pobreza e opressão consequentes da forma como vivem as

sociedades oprimidas, perpetuadas por crenças religiosas que estimulam e

disseminam ideais de resignação.

27

Nesse contexto, Martín-Baró (1998, p. 89) assevera que o fatalismo lançaria

suas raízes, mais na psique das pessoas, do que na operação de estruturas

econômicas, políticas e sociais. Essa incursão psíquica é o que poderia levar

os indivíduos e grupos a uma aceitação passiva e resignada das condições de

opressão e descaso que os cercam, podendo levá-los ao comportamento de

obstinação à participação, e apatia ante ao engajamento nas ações de

desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida local. E ainda, “Em crescente

isolamento, com as pessoas sendo capazes de participar cada vez menos nas

cerimônias sociais e tradições que uma vez reuniu as pessoas e ajudou a criar

e manter laços sociais entre os indivíduos.” (REYLES, 2007, p. 2).

Nesse enquadramento, Bauman também assinala que esse fenômeno, às

vezes inconsciente, de resignação e aceitação passiva perante aos problemas

sociais vivenciados pela comunidade se assemelha a um abismo do qual

apenas alguns se atreveriam a sair de forma voluntária sem serem empurrados

para fora, pois “forças centrípetas e centrífugas, de atração e repulsão, se

combinam para segurar os inquietos e estancar a inquietude dos

descontentes.” (BAUMAN, 2007, p. 13).

Observa-se que resignação, fatalismo e sentimento de apatia são

comportamentos que se contrapõem ao sentimento de pertencimento e ao

engajamento, e que podem ser assimilados em razão da vivência contínua de

opressão e descaso, pela qual as pessoas de baixa renda são acometidas. E,

que de alguma maneira, estes fenômenos podem incidir no modo como as

pessoas se relacionam umas com as outras e com o meio em que vivem, ou

seja, o território.

O objetivo deste capítulo foi apresentar através da revisão teórica realizada

autores que discursaram sobre os temas pertencimento social, engajamento

comunitário, gestão social, desenvolvimento local e território, a fim de encontrar

elementos que subsidiassem a pesquisa sobre o pertencimento social e seus

impactos e implicações no engajamento comunitário no que tange às ações de

28

cuidado e desenvolvimento local por parte dos moradores do bairro Jardim

Felicidade.

O Quadro 1 apresenta a organização dos principais temas abordados e que

fizeram parte da revisão de literatura para o desenvolvimento deste trabalho,

bem como os aportes dos autores utilizados e suas referências.

Quadro 1 – Principais temas e seus respectivos autores

Tema de pesquisa Contribuição para o campo de investigação

Autores

Pertencimento social

Os autores conceituam o construto e demonstram sua importância e aplicação em diferentes contextos

Brea (2014); Santos e Manfrin (2016); Maturana (2002); Sá (2005); Cousin (2013); Bauman (2005); Amaral (2006); Lestinge (2004).

Engajamento Comunitário

Os autores conceituam o engajamento comunitário e discorrem sobre sua aproximação com o tema participação social. Além de explicitar sua importância e campos de aplicação.

Lima e Galimbertti (2016); Sales (2014); Alencar (2014); Mccloskey (2011); Jacobi (2005); Piva et al. (2010); Freitas (1996); Montero (1996).

Desenvolvimento Local

Definição, aplicação e caracterização

Gómez (2002); Kuyumjian, Santos e Sant’Anna (2014); Tenório (2007); Lizuka, Goncalves-Dias e Aguerre (2012).

Gestão Social

Conceituação, aplicação e caracterização

Tenório (1998); Fischer et al. (2006); Cançado (2011); Sousa (2012); Wanderley (2013); Freitas et al. (2016); Dias e Figueiredo (2015); Sabino e Araujo (2015).

Território

Os autores apresentam os conceitos e sua aplicação.

Gattari (1985); Raffestin (1993); Santos (2000); Haesbaert (2005); Koga (2003); Brasil (2008); Gottmann (2012); Nascimento e Mellazo (2013); Itaborahy (2010); Gottmann (2012).

Fonte: Elaboração própria.

29

Almeja-se, com este estudo, contribuir para que a compressão dos conceitos

pertencimento social e engajamento comunitário possam dirimir as lacunas

ainda existentes nas intervenções em comunidades desfavorecidas

socioeconomicamente (como ocorre no bairro Jardim Felicidade, objeto desse

estudo). Contribuir na formulação de estratégias que viabilizem e aprimorem

novas práticas e ações de desenvolvimento local que levem em consideração

as especificidades dos territórios e que, principalmente, envolvam os sujeitos

desse território nessas ações.

Uma dessas lacunas é o que se tem observado na forma verticalizada de

intervenção social nos territórios, principalmente nos mais vulneráreis. Esta

forma de intervenção desconsidera as potencialidades que este território e

estes atores têm para oferecer e inviabilizam as práticas de Gestão Social.

2.2 SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO SOCIAL

O pertencimento social tem sido um construto bastante discutido na literatura.

Dentre os autores visitados pela pesquisadora, citam-se Brea (2014); Santos e

Manfrin (2016); Maturana (2002); Sá (2005), Cousin (2013); Bauman (2005).

Esses autores promovem discussões relacionadas aos fatores que

potencializam ou fragilizam o pertencimento e os benefícios desse sentimento

no engajamento comunitário, que subsidiaram a pesquisadora com elementos

necessários para responder a questão central da pesquisa, que foi identificar a

possível relação entre o sentimento de pertencimento e o engajamento

comunitário, e como isso se estabelece entre os moradores de um território, tal

qual pode ser constatado no território estudado.

Áreas de estudos, como a Psicologia, têm promovido discussões acerca do

sentimento de pertencimento e trazido contribuições para compreensão desse

fenômeno. Para a Psicologia Social Crítica, a subjetividade humana é uma

constituição sócio-histórica, em que os sujeitos, em sua relação com meio,

30

determinam e são por ele determinados (TAVARES, 2014). A Psicologia Social

Crítica compreende que

a construção da identidade e da subjetividade dos indivíduos

são processos psicossociais que têm em sua composição

fatores históricos e contextuais, que afetam as relações e

segmentam a sociedade em classes e/ou categorias. Dessa

forma, acentuam-se as semelhanças e diferenças entre os

indivíduos e produzem, ao mesmo tempo, sentimentos de

pertença a determinados grupos, bem como discriminações e

exclusão de outros. (TAVARES, 2014, p. 193).

Rosana Carneiro Tavares também argumenta que o pertencimento social é

sentimento típico da condição humana, e que é necessariamente elementar ao

ser humano o sentir-se parte da sociedade. Isso ocorre pelo fato de o ser

humano, em sua constituição, ser inerentemente social.

No contexto da Psicologia Ambiental, Lima e Bomfim (2009) evidenciam as

contribuições trazidas pela psicologia social através dos estudos de Kurt Lewin

e da preocupação com o meio ambiente ao estudar as relações e inter-relações

entre as pessoas e o ambiente, bem como os processos afetivos e cognitivos

que perpassam por este ambiente social. Na medida em que seu objeto de

estudo são as relações em todas as suas configurações, esta vertente

psicológica se preocupa com o que as pessoas sentem, pensam e como

vivenciam e experimentam o espaço em que vivem. Esses aspectos assinalam

na direção do pertencimento social.

Nesse sentido, tanto a Psicologia Social quanto a Psicologia Ambiental, são

estudos para o construto pertencimento social, na medida em que, os sujeitos

em destaque nas duas vertentes constroem suas subjetividades e identidades

nas relações e inter-relações com o Outro e com o meio. Este Outro se

relaciona ao conceito de alteridade, o Outro que está em relação com, e se

diferencia do outro (com letra minúscula) que quer dizer, semelhante, próximo

(LACAN, 1985). De acordo com Gilberto Velho (2008), este Outro é que

ressalta a diferença existente entre os sujeitos sociais.

31

As discussões realizadas entre os diferentes autores e áreas de estudo

perpassam pelo fato de que o sentimento de pertencimento esteja ligado às

relações interpessoais estabelecidas com e no território e à forma como os

indivíduos e grupos interagem dentro desse espaço. Assim, transcorre pela

discussão de que o sentimento de pertencimento esteja relacionado ao

cooperativismo e à coletividade, podendo assim, favorecer o engajamento

comunitário.

Seguindo esta lógica, a pesquisadora compreendeu que tais discussões

apresentavam alguns elementos que a auxiliariam nas respostas da questão

central desta pesquisa, propiciando condições de análise da identificação da

relação entre pertencimento e engajamento comunitário, o que de fato ocorreu

durante todo o processo de pesquisa de campo.

Nessa direção, tornou-se fundamental para o estudo a que se propunha esta

pesquisa, fazer menção dos sujeitos implicados em todo o processo de

subjetivação que os envolve. Assim, não se pode fazer referência ao

sentimento de pertencimento sem ter em mente os indivíduos e grupos, seu

território e as relações ali estabelecidas. No contexto desta pesquisa, esses

sujeitos e grupos foram os moradores e as instituições do bairro Jardim

Felicidade. São os sujeitos pertencentes ao território, a partir de uma lógica de

proximidade do cidadão, reconhecendo-se também a existência de diversos

fatores sociais, econômicos, políticos e culturais nele presentes

(NASCIMENTO; MELAZZO, 2013, p. 67).

Afonso e Fadul (2014) corroboram com a discussão de que, ao se fazer

referência ao sentimento de pertencimento, deve-se considerar os indivíduos e

os grupos, bem como considerar as relações estabelecidas entre estes e seu

território. Isso quer dizer que as intervenções devem levar em conta tanto os

sujeitos sociais, como seus territórios, ou seja, os moradores, as lideranças, as

instituições públicas (escolas, centros de saúde, Centro de Referência da

Assistência Social, igrejas, entre outros) e privadas (comércios da região),

32

Organização Não Governamental, pois estas intervenções “não se

materializam sem a participação do sujeito” (AFONSO; FADUL, 2014, p. 105).

Dessa maneira, o sentimento de pertencimento é a crença subjetiva num laço

comum que une distintos sujeitos. Esses sujeitos, a partir desse sentimento de

pertença, passam a pensar em si mesmos como membros de uma

coletividade, cujos sinais ou marcas que os identificam expressam valores,

medos e aspirações. O sentimento ainda pode ser reconhecido na maneira

como um grupo desenvolve suas atividades, respeitando as diferenças

individuais e mantendo as relações sociais (AMARAL, 2006).

A partir do momento que os membros de uma comunidade são reconhecidos a

partir da crença subjetiva de comunidade, surge daí o sentimento de pertença

em que os laços se fazem a partir do compartilhamento da crença de que, ao

se envolverem, o fazem em benesse de um objetivo e de um destino comum

que é, por exemplo, a esperança de uma vida melhor.

Brea (2014) entende o pertencimento como diretamente ligado ao modo como

um sujeito ou grupo social interage com o meio em que vive. Assim, quando os

sentimentos de pertencimento e identidade estão mais fortalecidos, valores

como respeito, cuidado e ajuda mútua estarão presentes nas relações

humanas, facilitando a cooperação entre os sujeitos, em ações que visem o

bem comum.

Isso pode explicar o motivo de muitos grupos minoritários, assim considerados

pelos seus aspectos econômicos, sociais, culturais, físicos ou religiosos, ao

invés de submergirem, se organizarem e se unirem na busca por espaço na

sociedade e na conquista por igualdade de direitos, reconhecimento e

dignidade humana. Dessa maneira, o senso de pertença pode contribuir para

que grupos, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o

Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MSTS), os movimentos de defesa

dos negros, índios, das mulheres, dos homossexuais se apropriem do lugar e

33

passem a acreditar que podem intervir para promover a transformação desse

lugar (AMARAL, 2006).

Este sentimento faz com que os grupos minoritários, a despeito das

dificuldades, dos desafios e de suas limitações estruturais, se organizem em

prol de um projeto social, político e/ou comunitário. A isso Amaral (2006)

chama de pertencimento. A autora discorre acerca desse sentimento,

argumentando que o esse sentimento corrobora para a formação de grupos

com objetivos comuns de desenvolvimento e de luta por direitos, inferindo que

esse sentimento de pertença tenha relação estreita com a noção de

participação e de engajamento, na medida em que os atores ali envolvidos

persuadem uma construção coletiva de forma participativa e co-responsável no

processo, pois se considera os resultados como parte de cada integrante.

O sentimento de pertencimento é definido com um sentimento que cria raízes e

identificação do individuo com um determinado grupo ou ambiente. Quando o

individuo se sente pertencente, ele passa a ter um compromisso com o seu

próprio desenvolvimento, com o desenvolvimento do grupo de pertença e com

o lugar (BREA, 2014).

Na perspectiva do agir coletivamente, Santos e Manfrin (2016) demonstram

que o sentimento de pertencimento se relaciona ao cooperativismo e à

coletividade. As autoras reforçam a necessidade de fortalecer a coletividade e

o cooperativismo de modo que as pessoas reconheçam sua importância e, ao

reconhecê-los percebam que, a partir do trabalho coletivo, podem-se obter os

resultados desejados. E, havendo a satisfação pelo resultado alcançado,

desenvolver no grupo o sentimento de pertencimento poderá favorecer a

participação dos sujeitos nos processos de planejamento e tomada de decisão

em relação ao coletivo.

A exemplo de como o sentimento de pertencimento é importante para o

fortalecimento do trabalho coletivo, Santos e Manfrin (2016) relatam o trabalho

desenvolvido na Cooperativa de Trabalhadores de Materiais Recicláveis

34

(Cooperlix) que vinha se reestruturando fazendo necessária a inclusão de

novos cooperados.

Assim, segundo as autoras, era necessária uma intervenção para que se

fortalecesse a cooperativa, expandindo-a no mercado de trabalho, com vistas à

geração de renda, qualidade de vida e inclusão social, dos catadores de

materiais recicláveis, na cidade de Presidente Prudente. Nessa intervenção, o

sentimento de pertencimento esteve presente na medida em que propiciou a

participação de todos os cooperados evitando assim a transformação da lógica

cooperativista em uma lógica de mercado empresarial (SANTOS; MANFRIN,

2016).

Nesse contexto, Brea (2014) alega que autores vinculados a empresas, situam

o sentido de pertencimento ao empregado que, dentro de uma organização

compartilha os valores e metas desta empresa. Que sente desejo de

permanecer e se percebe aceito, valorizado, incluído e parte importante da vida

e das atividades do grupo.

Assim, não fará diferença ao sujeito se ele se sente pertencente a uma

organização, a uma comunidade, a um território, a uma cidade, a um país, a

uma família; este sentimento fará com que este sujeito se aproprie deste lugar

e se sinta à vontade para intervir neste lugar. E mais que isso, ele sente que

vale a pena investir na transformação daquele lugar e empenha esforços para

isso.

O fato de não fazer diferença ao sujeito de qual grupo, organização ou

comunidade, ele faz parte, desde que ele se sinta pertencente é

problematizado por Koury (2010) que argumenta que o sentimento de pertença

também pode gerar práticas negativas, como no caso do sujeito se sentir

pertencente a um grupo, cujos valores e preceitos norteiam ações e práticas de

extremismo.

35

Baseado nessa análise Koury (2010, p.42) esclarece que a “emoção deixa de

ser pura subjetividade de expressões de sentimento para ser moldada e

praticada pelos indivíduos e pelo conjunto societário através de seus

micropoderes” e ainda que

os compromissos morais para com o grupo, para com os outros

e para com a pessoa mesma, deste modo, passam a

ressignificar o caráter da ação social individual e grupal, e os

indivíduos que nela se movem são sujeitos ao conjunto das

normas e regras socialmente instituídas e vêem-se uns aos

outros através deste complexo moral. (KOURY, 2010, p. 42).

Outra questão é a que Bauman apresenta ao mencionar que as relações entre

algumas pessoas estão cada vez mais fragilizadas e descartáveis; com

“ligações frouxas e compromissos revogáveis” (BAUMAN, 2007, p. 12). Estes

fatos, conforme enunciado por Bauman e problematizados por Guattari, alertam

para a possibilidade de que, o simples fato de se estabelecer as inter-relações -

condição inerente aos processos grupais -, essas inter-relações podem gerar

tanto o comprometimento, quanto o conflito e o descomprometimento, devido à

relação entre a subjetividade e a exterioridade, que leva os sujeitos da relação

a vivenciarem um “movimento geral de implosão e infantilização regressiva”

(GUATTARI, 2001, p. 8).

Este movimento de implosão e infantilização vivenciado pelos indivíduos e

grupos, conforme Guattari podem gerar inquietações e perturbações

estruturais, relacionais e psíquicas, que terão implicações nos modos de vida

dos seres humanos, individuais e coletivos e podem ter como consequência a

degradação progressiva das relações de reciprocidade e empatia entre as

pessoas. Exemplos dessa degradação progressiva aparecem na vida familiar e

conjugal, nas relações de vizinhança que tendem a se reduzir ao mínimo até

chegarem à mais indigente expressão (GUATTARI, 2001)

Essas inquietações e perturbações estruturais, relacionais e psíquicas, que

culminam na fragilização das relações familiares e de vizinhança podem estar

vinculadas ao sentimento dos indivíduos pelo espaço territorial, e ao

36

sentimento de inserção destes indivíduos, na medida em que se sentem ou

não, integrados a um propósito maior, numa dimensão não só concreta, mas

também abstrata e subjetiva. No que tange ao sentimento de pertencimento

dos sujeitos para com o território, Lestinge (2004) assinala que este

sentimento, pode ser também definido como enraizamento e, neste caso, está

associado à realidade política, social e econômica.

Sá (2005) profere que, em razão de uma sociedade que tem suas bases de

construção no capitalismo, o ser humano passa a desconhecer as relações que

o tornam humano ou, nos termos de Maturana (2002) e Machado (2010), que o

hominizam, como por exemplo, a aceitação do outro como legítimo na

convivência. Esta deshominização tende a levar o indivíduo a ignorar um

problema que não o afete direta e eminentemente, ou seja, desde que não se

sinta prejudicado diretamente por alguma situação proveniente do desrespeito

e descuido com o meio ambiente, este sujeito não se implica; não se envolve;

não participa.

Nessa circunstância, Sá ainda destaca que “o sentimento de pertencimento é

sublinhado como uma capacidade humana de empatia entre subjetividades,

desde que o ser humano reconheça a subjetividade como uma qualidade do

mundo vivido e entre em comunicação intersubjetiva com ele” (SÁ, 2005, p. 3).

Nesse contexto, entende-se como subjetividade o mundo interno dos seres

humanos. Esse mundo interno contempla suas emoções, sentimentos e

pensamentos em relação a tudo que o circunda.

Através de seu mundo interno, ou seja, a partir da subjetividade, os sujeitos

constroem seu mundo externo, suas relações interpessoais e intersubjetivas,

ou seja, a subjetividade compartilhada coletivamente com os outros membros

da comunidade. Esses relacionamentos vão se construindo e se

desconstruindo a partir das representações sociais de cada indivíduo. Isso

permite que cada indivíduo desempenhe diferentes papéis, conforme os

ambientes e as situações com as quais precisa lidar cotidianamente, pois

37

“Toda ação decorre de certa compreensão/interpretação, de algo que faz

sentido” (CARVALHO; GRUN, 2005, p. 180).

Cousim (2013) corroborando com a opinião de Sá (2005) acrescenta que o

“pertencimento pode ser compreendido como uma crença ou ideia que une as

pessoas, e é expresso por símbolos e valores sociais, morais, estéticos,

políticos, culturais, religiosos e ambientais dentre outros, de um determinado

lugar” (COUSIN, 2013, p. 10). Isso reforça o entendimento de que o

pertencimento pode ser um sentimento adquirido e, portanto, pode ser

promovido através de ações e intervenções sociais.

Como visto na literatura estudada, o sentimento de pertencimento é primordial

nas relações do sujeito com o meio ambiente. O meio ambiente, enquanto o

lugar onde se vive, configura-se como o espaço das relações, dos conflitos, da

formação de identidade. E, portanto, existem fatores que favorecem o

pertencimento e fatores que o desfavorecem.

Dos fatores que favorecem o pertencimento, e que estão no contexto deste

trabalho, citam-se o reconhecimento e a valorização das potencialidades dos

indivíduos; relacionamentos pautados no respeito, na reciprocidade e na

empatia; o respeito às diferenças; o compartilhamento de crenças e desejos

comuns; a participação em algum grupo; a apropriação do território; a

cooperação e o trabalho coletivo.

Dos fatores que desfavorecem o pertencimento social, foram vistos na literatura

que discorre sobre o tema, os relacionamentos cada vez mais fragilizados e

descartáveis; os desequilíbrios ecológicos; o consumismo exacerbado; a

exclusão social; a estigmatização das minorias; a presença de conflitos não

resolvidos; o descomprometimento social; a degradação do afeto nos

relacionamentos; as interações baseadas na agressão que interferem e

rompem a convivência (MATURANA, 2002); o desrespeito aos seres humanos

e aos espaços públicos; o isolamento social; o descaso do poder público para

38

com a classe empobrecida e para com os territórios mais vulneráveis e o

fatalismo religioso.

A fim de compreender a relação que envolve o sentimento de pertencimento

dos indivíduos e grupos de uma comunidade e o engajamento destes sujeitos

nas intervenções propostas, sejam por meio de políticas públicas, sejam por

meio de programas e projetos, se fez necessária a sua conceituação. Cabe

esclarecer que a pesquisadora não pretendeu trazer conclusões definitivas em

relação ao conceito, mas apenas provocar a reflexão a cerca da importância do

sentimento de pertencimento na relação do cidadão com o seu território.

2.3 ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO

Vale ressaltar que engajamento comunitário e participação comunitária são

vistos como conceitos semelhantes em algumas das literaturas revisadas que

versam sobre a temática: Lima e Galimbertti (2016); Sales (2014); Alencar

(2014); McCloskey et al. (2011); Jacobi (2005). Nesse aspecto, Sales (2014)

analisa as convergências entre os dois conceitos, descritas nos aspectos tanto

presentes em um, quanto em outro e assegura que no Brasil, o Engajamento

Comunitário e Participação Comunitária tendem a ser compreendidos como

termos semelhantes.

Para o contexto desta pesquisa, foram apresentados os conceitos de

participação e engajamento, no sentido de fundamentar a reflexão acerca

destes conceitos e, para tanto, se fez necessário conceituá-los à luz dos

referenciais teóricos encontrados, sem, contudo, pretender esgotar e/ou chegar

à definição unânime acerca dos conceitos.

O engajamento comunitário será compreendido, para a conjuntura pesquisada,

como construto que poderá ser identificado quando um sujeito ou grupo

comunitário age sobre determinada coisa ou determinado lugar, para

transformá-lo positivamente, para si e para o Outro. De acordo com o proposto

por Sales (2014, p. 27),

39

o Engajamento Comunitário deve ser entendido como um

processo, que envolve um continuum de atividades [...]

Enquanto um continuum, as metas propostas podem variar

desde o fornecimento e intercâmbio de informação até a

coprodução de serviços/atividades, bem como o controle, pelas

comunidades [...].

Nesse sentido, o engajamento é um processo que gera ações contínuas por

parte dos envolvidos em relação à comunidade e o território. Os esforços e a

mobilização de potências subjetivas e intersubjetivas tendem a assumir o

formato de pequenos grupos, em que cada participante trabalha de maneira

colaborativa buscando o bem comum e não somente buscando seus interesses

individuais (SALES, 2014). Dessa maneira, McCloskey et al. (2011) dizem que,

o engajamento comunitário também pode ser visto como um envolvimento da

comunidade nos mecanismos de participação.

Mccloskey et al. (2011) asseveram que o engajamento da comunidade pode

ser alcançado durante um período de tempo limitado, quando, por exemplo, um

determinado problema transitório afeta parte da população e esta se mobiliza

em um projeto temporário, até que o problema específico seja resolvido. Mas,

frequentemente, as pessoas envolvidas nestas ações temporárias podem

desenvolver parcerias de longo prazo, que passam de uma única questão, ou

seja, um problema pontual na comunidade (como falta de saneamento básico,

por exemplo) para abordar uma gama de fatores sociais, econômicos e

ambientais que afetam a vida de todos.

As parcerias estabelecidas em busca da solução de problemas e a participação

como produto do engajamento da comunidade que surgiram com o advento da

CF/88, se tornaram espaços institucionalizados, como é o caso dos “conselhos

de políticas públicas, as conferências nacionais, as audiências públicas e as

ouvidorias” (ALENCAR, 2014, p. 261) que são instituições participativas que

possuem o objetivo de unir os membros de uma comunidade em prol de um

mesmo objetivo: construir os processos de participação da sociedade no

cenário político e propor o diálogo entre diversos atores da sociedade civil e o

estado.

40

No que tange às instituições participativas, Alencar (2014) apresenta, em seu

estudo (Participação Social: Institucionalização e Integração ao Ciclo de

Políticas Públicas) canais de participação, criados e fortalecidos, como é o

caso das comissões, conferencias e conselhos temáticos da (assistência,

saúde, educação). Segundo a autora, estes espaços participativos vieram

crescendo ao longo do tempo e o número de conselhos e comissões

aumentaram consideravelmente. A autora aponta que

de 1988 até 2010, foram criados 52 conselhos nacionais, que

se somaram aos cinco existentes, 24 deles foram criados de

2003 a 2010 Organizaram-se 103 conferências nacionais entre

2003 e 2014, nas diversas áreas de políticas públicas. No

período de 2004 a 2009, foram realizadas mais de 203

audiências públicas (Ipea, 2013a). As ouvidorias públicas do

Poder Executivo federal, ouvidorias gerais dos estados,

Legislativo e Judiciário no Brasil, segundo levantamento mais

recente, totalizam 420 (ALENCAR, 2014, p. 261).

Lima e Galimbertti (2016) acrescentam que, no Brasil, a participação da

sociedade, em diversas instâncias sociais, se deu histórica e paulatinamente

imersa em um cenário de opressão e resistência. Este cenário incentivou e

conduziu o debate sobre a participação social nas políticas públicas e sobre a

criação de mecanismos políticos de participação de diferentes atores sociais. O

reconhecimento da importância da participação desses atores sociais ocorreu a

partir de 1980 (DIEGUES, 2012).

Para Jacobi (2005), a participação pode ser vista como um processo de ação

coletiva e colaborativa de participação, de mobilização de potências de ação

subjetiva e intersubjetiva que possibilita e estimula a formação de identidades

coletivas nos espaços de convivência. Sugere-se que pertencimento, por sua

vez, poderá levar ao envolvimento e ao engajamento comunitário, a partir do

momento em que se mobilizam forças intersubjetivas que incluem “tanto a

compreensão do que está acontecendo na mente do outro, quanto à imersão

empática na experiência vivida” (PIVA et al., 2010, p. 82).

41

A partir dessa premissa, McCloskey et al. (2011) descrevem que o

engajamento comunitário é o processo ocorrido quando se trabalha

colaborativamente em grupos de pessoas afiliadas por proximidade geográfica,

interesse comuns ou problemas semelhantes, que se reúnem para tratar de

questões que afetam o bem estar dessas pessoas. Seguindo esse raciocínio, o

engajamento, como forma de materializar a participação comunitária, torna-se

um conceito que pode ser compreendido dentro do escopo das atividades

comunitárias, constituindo-se num processo participativo, dialógico e

conscientizador (SALES, 2014).

Nestes termos, a participação pode ocorrer a partir do engajamento, do

envolvimento dos sujeitos nas ações, a partir do compartilhamento das

necessidades e das relações empáticas e de reciprocidade estabelecidas, o

que justifica o atrelamento e a justaposição dos conceitos: engajamento e

participação, no contexto desta pesquisa. Assim, essa inter-relação entre

engajamento comunitário e participação poderá ser vista da seguinte maneira:

A participação pode promover o engajamento comunitário. O engajamento

comunitário pode consolidar a participação. E, assim sucessivamente,

conforme exemplificado na figura 01.

FIGURA 1: Inter-relação entre o engajamento e a participação comunitária.

Fonte: Elaborado pela autora.

42

A participação comunitária será abordada à luz da Psicologia Comunitária que,

de acordo com Ornelas (1997), tem estudos direcionados ao desenvolvimento

de técnicas inovadoras de prestação e criação de serviços adequados ao

atendimento das populações socialmente marginalizadas, através de

estratégias de empoderamento, a fim de favorecer a participação de grupos.

A respeito da Psicologia Comunitária, Góis afirma que está voltada ao

“desenvolvimento humano e à mudança sociopolítica de uma realidade

psicossocial caracterizada por relações de dominação e de exclusão social”

(GOIS, 2003, p. 286). Assim a Psicologia Comunitária se interessa pelo

desenvolvimento do sujeito enquanto sujeito sócio-histórico e comunitário e,

para tanto, se preocupa em estudar os fenômenos psicológicos decorrentes de

vida em comunidade buscando compreender seus sistemas de relações e

valores. Estuda, ainda, a pertença dos membros em relação aos grupos e à

própria comunidade.

Dessa maneira, a Psicologia Social Comunitária, segundo Freitas torna

possível a reflexão sobre as práticas que a psicologia em comunidade tem

assumido, ao passo que, compreende que toda “prática profissional e humana

é dimensionada e adquire significação em sua relação direta com o contexto

social do qual se origina” (FREITAS, 1996, p. 65). A Psicologia Social

Comunitária privilegia o trabalho com grupos, na medida em que colabora,

através de sua práxis que “se materializa na recuperação da memória histórica,

na potencialização das capacidades populares e na construção de novas

formas de consciência, possibilitando uma análise sobre o poder social e o

desenvolvimento de um novo poder histórico” (FREITAS, 1996, p. 75).

Coadunando com Freitas (1996), Montero (1996) assinala que a participação é

entendida como o fazer alguma coisa juntos, de maneira compartilhada, em

que o fenômeno é considerado coletivamente. Desse modo, o participante

constrói e modifica o objeto no qual participa e ao fazê-lo é também

transformado, numa relação de reciprocidade.

43

A partir do exposto acerca dos conceitos, engajamento comunitário e

participação, a literatura consultada apresentou alguns pontos de convergência

entre eles, que foram: a realização de atividades continuadas; a colaboração; a

formação de identidades coletivas; a afiliação geográfica; a vivência de

interesses comuns ou problemas semelhantes; a empatia frente às situações

vividas; a mobilização de potências subjetivas e intersubjetivas conforme Sales

(2014); Jacobi (2005); McCloskey et al. (2011); Alencar (2014); Piva et al.

(2010). Esses foram alguns dos aspectos considerados, no contexto desta

pesquisa, que auxiliaram na análise da relação entre o engajamento

comunitário e o sentimento de pertencimento dos moradores do bairro Jardim

Felicidade, considerando a importância da participação dos sujeitos nesse

processo.

No entanto, o sentimento de pertencimento e o engajamento podem se tornar

um problema quando orientam e motivam um determinado grupo a agir de

maneira que suas ações não respeitem as diferenças individuais e não

observem os direitos universais de todo ser humano. Um exemplo disso se deu

na Alemanha Nazista: o sentimento de pertencimento a esta nação e a crença

na grandeza da raça ariana, em detrimento de outras raças, principalmente os

judeus, fez com que, muitos alemães concordassem e lutassem pela

purificação racial (FAUSTO, 1998).

De acordo com literatura estudada existem fatores que favorecem o

engajamento comunitário e também fatores que o desfavorecem. Os fatores

que favorecem o engajamento comunitário são: a formação de identidades

coletivas; os mecanismos de participação ou as instituições participativas; o

reconhecimento da participação dos atores sociais, pela sociedade e governo;

a imersão empática nos problemas sociais; a proximidade geográfica; a

solução coletiva dos problemas/resultados positivos, segundo Brea (2014);

Alencar (2014); Santos e Manfrin (2016); McCloskey et al. (2011); Diegues

(2012); Sá (2005).

44

Os fatores que desfavorecem o engajamento comunitário, identificados na

literatura pesquisada foram: a resignação e a apatia frente aos problemas

sociais, o fatalismo religioso, o descaso do poder público diante das questões

sociais; o não reconhecimento da participação social; a ausência de

mecanismos de participação no território; a não valorização das

potencialidades territoriais, em conformidade com Bauman (2007); Cardoso

(2008); Cidade (2012); Martin-Baró (1998); McCloskey et al. (2011).

A partir da premissa de que existem fatores que podem favorecer e

desfavorecer o pertencimento social, em um dado contexto, é importante

considerar a possibilidade da criação de mecanismos e estratégias processuais

e participativas, que corroborem na elaboração de ações que busquem o

desenvolvimento e ou potencialização de sujeitos e comunidades engajadas

nessas ações. É importante pensar ações que possam favorecer o

pertencimento social nas comunidades vulneráveis e, ao mesmo tempo, mitigar

os fatores que o desfavorecem.

Como exposto anteriormente neste trabalho, um dos fatores que favorece o

engajamento comunitário é a proximidade geográfica, ou seja, o fato das

pessoas estarem localizadas geograficamente em um mesmo território físico

favorece os processos participativos. Para tanto, a pesquisadora trouxe para o

cenário desta pesquisa a temática do território como sendo um espaço onde se

dão o pertencimento e o engajamento comunitário.

2.4 TERRITÓRIO: ESPAÇO DE PROMOÇÃO DO PERTENCIMENTO SOCIAL

E DO ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO

A pesquisadora adotou o conceito de território, devido a sua importância para o

contexto estudado, tanto no que tange ao pertencimento social quanto ao que

se refere ao engajamento comunitário. Para tanto, se fez uma incursão nos

trabalhos de autores que trazem diferentes conceitos de território, mas sem

pretender esgotar as considerações sobre o tema, a saber, Guattari (1985);

45

Raffestin (1993); Santos (2000); Haesbaert (2005); Koga (2003); Brasil (2008);

Gottmann (2012); Nascimento e Mellazo (2013).

Observou-se, durante a pesquisa bibliográfica sobre essa temática, que a

definição e o conceito de território foram se alternando no espaço e no tempo.

Com as ferramentas tecnológicas à disposição da sociedade organizada, pôde-

se averiguar que esse conceito sofreu alterações ao logo dos séculos

(GOTTMANN, 2012) e evolui na história do pensamento, a partir dos contextos

que inspiraram suas conceituações e discussões (ITABORAHY, 2010).

De acordo com Gottmann (2012), o território se define por um conceito político

e geográfico, cuja porção do espaço geográfico combina com a extensão

espacial da jurisdição de um governo, sendo para este, um invólucro físico e

sustentáculo político dentro de uma estrutura governamental. Dessa maneira

Jean Gottmann pondera que

o território consiste, é claro, de componentes materiais

ordenados no espaço geográfico de acordo com certas leis da

natureza. Entretanto, seria ilusório considerar o território como

uma dádiva divina e como um fenômeno puramente físico. Os

componentes naturais de qualquer território dado foram

delimitados pela ação humana e são usados por um certo

número de pessoas por razões específicas, sendo tais usos e

intenções determinados por e pertencentes a um processo

político. (GOTTMANN, 2012, p. 523).

Haesbaert (2005), por sua vez, relata que o território se apresenta com dupla

conotação em sua origem. E que essa conotação perpassa pelas dimensões:

material e simbólica, já que etimologicamente a palavra território quer dizer

tanto terra-territorium, quanto terreo-territor (terror, aterrorizar). Esse segundo

sentido expressa o sentido de dominação jurídico-política através do medo.

Entretanto, sob a perspectiva da extensão, o território pode inspirar a

identificação positiva e a efetiva apropriação do espaço por aqueles que têm o

privilégio de usufruí-lo.

46

É valido ressaltar que, nesta pesquisa, os conceitos de comunidade e território

são diferentes, contudo sobrepostos e interligados entre si. Assim, a

comunidade será entendida como um aglomerado de pessoas que vivem

dentro de uma mesma área geográfica, rural ou urbana, ligadas por interesses

e condições de vida comuns. A comunidade se caracteriza por uma base

territorial, com distribuição de pessoas, de instituições, de uma vida social

marcada por certo grau de coesão social (SILVA; HESPANHOL, 2016) e onde

existe a partilha das vantagens entre os membros, independentemente do

talento ou importância deles (BAUMAN, 2005).

O território será compreendido como produto e resultado das ações sociais dos

sujeitos que os produzem. O território será compreendido também como campo

de forças e relações sociais que se organizam em um espaço de vida com

dinâmicos movimentos em múltiplas escalas, conforme mostram estudos de

Nascimento e Mellazo (2013). E ainda, como espaços de vida, de relações, de

trocas, de construção e desconstrução de vínculos cotidianos, de disputas,

contradições e conflitos, de expectativas e de sonhos, que revelam os

significados atribuídos pelos diferentes sujeitos (BRASIL, 2008).

Entrementes, o território será abordado pela perspectiva dos autores citados

como sendo um lugar em que ocorrem as relações sociais e onde a vida

acontece diariamente. Também pelos autores, o território é um espaço que

ultrapassa os limites geográficos e se faz também pelos limites e jurisdições de

um governo. Assim, pode-se pensar na construção de uma perspectiva

analítica e de intervenção (NASCIMENTO; MELAZZO, 2013), que leve em

consideração os sujeitos e seus territórios.

Por essa perspectiva analítica, e também pela ideia da “intervenção” como um

movimento em que os sujeitos envolvidos no processo, Koga (2003) aponta o

território como representativo da base da cidadania, talvez influenciada por

Santos (2000) que por sua vez expõe o território como sendo o chão mais a

população. Koga acrescenta que cidadania significa a vida ativa no território

47

onde as relações sociais, de vizinhança e solidariedade e de poder se

concretizam.

Antes de Koga (2003) e Santos (2000), Guatarri (1985) já havia se referido ao

território como estando ligado a uma ordem de subjetivação individual e

coletiva, funcionando em uma relação intrínseca com a subjetividade que o

delimita, ou seja, o conjunto formado por elementos interconectados naturais

existentes em um dado país ou num dado espaço e pelos acréscimos que os

homens impuseram a esses sistemas naturais (SANTOS, 1996).

No que tange ao proposto por Guatarri (1985), quanto aos acréscimos dos

homens frente aos sistemas naturais, Raffestin (1993) traz a concepção de

território como sendo o resultado de uma ação conduzida por atores

sintagmáticos em qualquer nível e que, ao se apropriarem de um determinado

espaço, seja concreta ou abstratamente, esses atores se sentem parte desse

espaço. O território é, dessa maneira, o local onde se projeta energia e

informação, e que, por consequência, revela as relações marcadas pelo poder.

E, dessa maneira, Raffestin declara que

em graus diversos, em momentos diferentes e em lugares

variados, somos todos atores sintagmáticos que produzem

"territórios". Essa produção de território se inscreve

perfeitamente no campo do poder de nossa problemática

relacional. Todos nós combinamos energia e informação, que

estruturamos com códigos em função de certos objetivos.

Todos nós elaboramos estratégias de produção, que se

chocam com outras estratégias em diversas relações de poder.

(RAFFESTIN, 1993, p. 153).

Ao partir dessa reflexão, Raffestin confere ao território, o status de um lugar de

resistências e conflitos em que se faz presente o dinamismo das relações

sociais, com sua multiplicidade de fatores que maximizam as relações de poder

e que podem culminar no desmantelamento de ações coletivas condicionantes

da resistência dos indivíduos e grupos em aderir a novas ações.

48

Portanto, ao planejar e organizar ações e estratégias a fim de minimizar ou

mitigar problemas em um determinado território é necessário que se conheça

este território, seus recursos, sua população, as relações sociais e de classes

estabelecidas nele. É importante conhecer as demandas desse território, suas

carências, mas é também fundamental conhecer as suas potencialidades.

Assim, o território além de representar mais que do que o espaço geográfico e

possuir múltiplos espaços intra-urbanos que expressam diferentes arranjos e

configurações socioterritoriais (BRASIL, 2008), ele pode ser também um lugar

de desafios, em que se consolida todo tipo de conflito, já que sua

materialidade, enquanto um espaço vivido reúne a materialidade e a vida que o

anima (SANTOS, 1996, p. 51). Este fato avaliza a abordagem do conceito de

território a partir da ideia de Milton Santos e dos autores que corroboram com

sua visão, sobre o mesmo.

Alicerçado no exposto, Milton Santos (2000) elucida a importância do território

ao apontar que ele não é apenas

o resultado da superposição de um conjunto de sistemas

naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo

homem. O território é o chão e mais a população, isto é, uma

identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos

pertence. O território é a base do trabalho, da residência, das

trocas materiais e espirituais e da vida, sobre os quais ele influi.

Quando se fala em território deve-se, pois, de logo, entender que

se está falando em território usado, utilizado por uma dada

população. (SANTOS, 2000, p. 96).

É no território “vivido”, território “usado”, como aponta Santos (2000), que

acontecem as relações, as trocas e as possibilidades de participação coletiva

em prol de um objetivo comum. Partindo dessa premissa, o Sistema Único da

Assistência Social (SUAS) elege o território como sua base de organização,

asseverando que

os territórios são espaços de vida, de relações, de trocas, de

construção e desconstrução de vínculos cotidianos, de

disputas, contradições e conflitos, de expectativas e de sonhos,

49

que revelam os significados atribuídos pelos diferentes sujeitos.

É também o terreno das políticas públicas, onde se

concretizam as manifestações da questão social e se criam os

tensionamentos e as possibilidades para seu enfrentamento.

(BRASIL, 2008, p. 53).

Compreende-se assim, que os sujeitos inseridos no território são os sujeitos

que detém a possibilidade de transformação local, a partir da participação e do

engajamento comunitário, a partir de suas relações, dos vínculos

estabelecidos, das expectativas, do desejo por melhorias locais, mas também a

partir das disputas, contradições e conflitos.

Estes sujeitos imprimem significado ao território, produzem a formação de

identidade e transforma e são, por ele, transformados. Mas, em alguma

medida, o território pode ser também o produtor da estagnação, da apatia e

resignação social, em razão das percepções ambientais, dos processos de

subjetivação, ou seja, das memórias afetivas e do sentido e significados que a

população imprimiu sobre ele.

Pensar o território como o lugar onde a vida acontece, a partir das experiências

afetivas e das relações de poder que ali se estabelecem (SANTOS, 2000), é

reconhecer as possibilidades de transformação nele, com ele e para ele. É no

território que se encontra um campo fértil de expectativas e sonhos em que se

manifestam as demandas sociais, ambientais e é nele também onde as

possibilidades para seu enfrentamento emergem e se efetivam.

Para fins desta dissertação, o território foi enfatizado porque está diretamente

relacionado à questão central e ao problema desta pesquisa no que resvala a

importância dos sujeitos, no discurso sobre gestão social e desenvolvimento

local, no que tange à percepção ambiental e ao cuidado desses sujeitos com o

território.

50

2.5 A GESTÃO SOCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL

A Gestão Social tem sido uma temática comumente discutida, tanto na esfera

pública, quanto na esfera empresarial cada qual buscando suas próprias

especificidades na aplicação do conceito. Autores que discorrem sobre o tema

atribuem a ele um caráter polissêmico e interdisciplinar. Os autores

consultados para esta pesquisa foram: Tenório (1998); Fischer et al. (2006);

Cançado (2011); Sousa, Vasconcelos e Vasconcelos Sobrinho (2012); Lizuka,

Gonçalves-Dias e Aguerre (2012); Wanderley (2013); Freitas et al. (2016);

Vandenberghe (2015); Cruz et al. (2015); Rodrigues (2015).

Tenório aponta ao descrever a gestão social, que esta intenta “substituir a

gestão tecnoburocrática, monológica, por um gerenciamento mais participativo,

dialógico, no qual o processo decisório é exercido por meio de diferentes

sujeitos sociais” (TENÓRIO, 1998, p.16). De acordo com esse autor, para a

esfera pública, no que tange aos governos, este tema tem sido proclamado

para sublinhar a importância das questões sociais e igualmente das questões

ambientais, especialmente, na implementação de políticas públicas.

No que tange a gestão dialógica e participativa, a professora associada ao

Departamento de Política e Gestão Social da Faculdade de Ciências Sociais da

PUC-SP, Mariângela Belfiore Wanderley, traz em seus estudos uma concepção

de gestão social, com raízes nos movimentos sociais, de camponeses e de

operários, em que a ideia de participação e ação coletiva é fundamental para a

gestão social e tem como objetivo, trabalhar o fortalecimento das relações

sociais e estimular práticas de cidadania propiciando o “desenvolvimento de

processos decisórios, auto e cogestionados, participativos e coletivizados”

(WANDERLEY, 2013, p. 20).

Nesse sentido, há sintonia entre o pensamento de Wanderley (2013) e Tenório

(2005), na medida em que Tenório assevera que, a gestão social se dá a partir

de um dialogismo em que a “autoridade decisória é compartilhada entre os

participantes da ação” (TENÓRIO, 2005, p.102), aonde o social é percebido

51

como o espaço singularizado de relações sociais onde todos têm o direito à

fala, sem nenhum tipo de repressão.

Dentro da premissa de que a participação e a ação coletiva são fundamentais

na Gestão Social, Tenório (2007) ressalta a necessidade de construção de um

processo de articulação dos empreendimentos individuais, comunitários,

urbanos e rurais, que partam de uma integração socioeconômica, da

reconstrução do tecido social e também de geração de renda. Pois parte-se do

pressuposto de que a Gestão Social está fundada na lógica da cidadania e dos

direitos, sendo, portanto, um processo democrático que compreende os

diferentes atores envolvidos em uma determinada ação, e que pode

desembocar em disputas, conflitos e cooperação (WANDERLEY, 2013).

Lopes e Machado (2014) argumentam que na ideia de Gestão Social estão

incutidas concepções teóricas e práticas que tomam o dialogismo como um

elemento constitutivo, posto que a coerção é estranha ao processo de Gestão

Social. Assim, a Gestão Social tem na participação uma de suas principais

características, tomando como elementos fundamentais a tomada de decisão

coletiva, a inclusão social, o diálogo, a participação e a emancipação. As

autoras argumentam que a participação é fundamental no processo de Gestão

Social, tendo em vista que

o necessário processo de tomada de decisão coletiva, esse

processo só se efetiva a partir da participação, não somente

simbólica (presencial), mas interventora dos sujeitos sociais

nela envolvidos. A participação é um elemento básico da

Gestão Social, pois como ação prática, somente se concretiza

se houver a disponibilidade dos sujeitos envolvidos no

processo, que devem acreditar e trabalhar para que uma nova

e aperfeiçoada prática social seja construída diariamente.

(LOPES; MACHADO, 2014, p. 20).

Compreende-se, portanto, que a gestão social é importante para o

desenvolvimento local, na medida em ocorre a partir da participação e do

envolvimento dos atores sociais, como observa Herberton Sabino e Wânia

Maria Araújo

52

[...] para que ocorra um efetivo Desenvolvimento Local,

algumas ações mostram-se imprescindíveis: o debate e a

definição pela comunidade do que ela entende como

desenvolvimento, a criação de uma cultura participativa que

amplie o capital social, o estabelecimento consensual de

objetivos claros a serem alcançados, a transformação desses

objetivos também em políticas públicas, a criação pelos atores

sociais envolvidos de indicadores quantitativos e qualitativos

capazes de medir e avaliar a eficácia das ações empreendidas.

(SABINO; ARAUJO, 2015, p. 115-116).

Ainda segundo os autores, a Gestão Social compreende a importância da

participação de todos os atores sociais de uma forma horizontal, que incentiva

e valoriza a fala dos que participam promovendo, dessa maneira, o

empoderamento da comunidade local, tornando-a mais ativa e mais autônoma

nas tomada de decisões que apontam para o desenvolvimento local (SABINO;

ARAUJO, 2015)

Assim, o engajamento e o pertencimento podem ser comportamentos

necessários na Gestão Social, ou como afirma Tenório (2012, p. 29), num

processo de relação entre pessoas, em que o “eu interage com o tu, se

tornando, o nós” e ainda em uma relação em que haja vínculos de cooperação

e solidariedade entre os indivíduos: uma relação entre “sujeito/sujeito e não

sujeito-objeto, tampouco objeto-objeto”. Cruz e colaboradores acrescentam

assinalando que “a participação popular, em tomadas de decisões, remete

diretamente à Gestão Social.” (CRUZ et al., 2015, p. 14).

À vista disso, pensar a Gestão Social e o desenvolvimento local no contexto

desta pesquisa se fez relevante. Tanto a Gestão Social, quanto o

Desenvolvimento Local decorrem, com e a partir da coletividade e da

participação social, tendo em vista que seu esboço se arquiteta nas relações

sociais, que se manifestam nas relações de poder, de conflitos e de

aprendizagens (LIZUKA; GONÇALVES-DIAS; AGUERRE, 2012).

53

Dessa forma, a Gestão Social se faz por meio de atores sociais envolvidos que

participam e se articulam em redes de cooperação, onde suas queixas,

desafios e problemas são explicitados através de diálogo aberto e

argumentativo, em que as propostas e deliberações, têm um objetivo coletivo e

são partilhados entre todos (SOUSA; VASCONCELOS; VASCONCELOS

SOBRINHO, 2012), tornando possível o processo de Desenvolvimento Local.

Explorando a questão, Gómez (2002) alerta que o conceito de desenvolvimento

local progrediu concomitantemente com as necessidades de superação das

crises do capital nas últimas seis décadas, considerando, em seu formato mais

recente, o território local como lugar apropriado para se estimular o

ambicionado desenvolvimento. Nesse sentido, o autor convida para uma leitura

crítica acerca das relações entre desenvolvimento e participação, que permita ir

além do sistema ideológico que o capital propõe como ideia de

desenvolvimento.

Em face disso, Gómez (2002) reflete que, além da polissemia em torno do

conceito desenvolvimento local, existe também quem o critique. Por exemplo, o

fato do desenvolvimento local retratar uma ideia de desenvolvimento que é

habitualmente utilizada no “corpo ideológico do capital, que serve como

instrumento dinamizador da sua expansão e da acumulação” (GÓMEZ, 2002,

p. 1), ainda que supostamente seja visto como um fator eminentemente

positivo e que beneficia toda sociedade.

Nesta perspectiva, ao considerar os aspectos elencados acerca do

desenvolvimento, buscá-lo é pretender a melhoria da qualidade de vida, na

diversificação produtiva e na participação. E, nesse contexto se insere o

território, com todas as suas peculiaridades, pois

o território vai servir como aglutinador, como ponto de

convergência, dessa tripla visão do “novo” desenvolvimento. A

nova guinada na procura do desenvolvimento incorpora esta

importância da base territorial, ainda que de forma parcial e

unilateral, através do local. [...] se trata de uma incorporação do

território de forma unilateral, no sentido de que as

54

possibilidades que o território oferece são peneiradas pelo

estreito crivo do capital. (GÓMEZ, 2002, p. 4).

O que também é passível de crítica por parte de Gómez (2002), pois este

considera que, numa conjuntura capitalista, também o território local e os

sujeitos nele inseridos, bem como suas relações no processo de participação,

acabam servindo ao interesse do capital, além de levantar e reunir demandas

que são oriundas da própria desestruturação, dos desequilíbrios e das

desigualdades sociais causadas pela própria lógica do capital.

Ainda assim, o território é um conceito importante na discussão proposta nesta

pesquisa, no que tange à influência do pertencimento na participação e no

engajamento comunitário dos moradores do bairro Jardim Felicidade, em Belo

Horizonte. O território, no contexto como apresentado nesta pesquisa, é

concebido como espaço vivido e dessa maneira, compreendido como o espaço

“formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de

sistemas de objetos e sistemas de ações [...] no qual a história se dá”

(SANTOS, 1996, p. 26), e onde se podem materializar as práticas de

desenvolvimento local.

Uma vez que no território se dão as práticas de desenvolvimento local, o

sentimento de pertencimento para com o território é fator significativo no

engajamento e participação da comunidade nessas práticas. Kuyumjian,

Santos e Sant’Anna (2014) entendem por práticas de desenvolvimento local o

conjunto de ações e medidas adotadas por intermédio de um grupo de

pessoas, que se organizam na condução de certas unidades socioterritoriais,

com vistas a reduzir os níveis de pobreza e, simultaneamente, viabilizar a

ascensão das condições mínimas de saúde, educação, lazer, cultura,

segurança, moradia, renda e o bom uso dos recursos naturais, considerando

as potencialidades dos sujeitos e de seus territórios.

Em conformidade com o destacado por Kuyumjian, Santos e Sant’Anna (2014),

acerca das práticas de desenvolvimento local no território, Sarlot e Schmidt

assinalam que o sentimento de pertencimento é fundamental para a formação

55

dos modos de ser e de agir do ser humano sobre o meio. O sentimento de

pertencimento pode se desenvolver nos indivíduos e grupos, atitudes de

filiação com o meio ambiente e de cuidado com o território onde se vive. Para

tanto, é necessário que o sujeito conheça o seu território, se identifique com ele

e com seus desafios, mas também com suas potencialidades, pois “sem o

conhecimento sobre um determinado local, não pode haver sentimento de

pertencimento.” (SARLOT; SCHMIDT, 2014, p. 139).

Dessa maneira, esta pesquisa apontou para a existência de um processo, um

caminho lógico, para se chegar ao engajamento comunitário num território e

promover, por meios da participação e envolvimento da comunidade, o

desenvolvimento local, a preservação, a conservação, o cuidado com o

território e a melhoria das condições de sobrevivência.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo realizado demonstrou que o pertencimento social é inerente à

condição humana. O estudo demonstrou também que o sentir-se pertencente a

algo e/ou entender que determinada coisa, lugar, projeto lhe pertence é

importante para criar nos indivíduos e grupos o desejo de contribuir para o

desenvolvimento do que é tomado pelo sujeito, como ‘seu’.

Um dos pressupostos levantados nesta pesquisa é de que o pertencimento

favorece o engajamento comunitário e interfere no nível de participação dos

moradores do bairro Jardim Felicidade, em Belo Horizonte (MG), no que se

refere às ações de cuidado e desenvolvimento local, a partir das práticas de

Gestão Social.

A literatura estudada revelou que, de fato, existe correlação entre o sentimento

de pertencimento e o engajamento comunitário, já que o pertencimento cria

uma identidade no indivíduo que é compartilhada pelos demais sujeitos

inseridos no território e, dessa maneira, emerge o desejo pelo agir coletivo que

56

faz com que estes sujeitos se empenhem coletivamente na luta por uma

sociedade mais igualitária.

O estudo trouxe importantes informações acerca do território como o lugar

onde as vivências acontecem. Sejam estas vivências positivas ou negativas, é

no território que elas se darão. Portanto, torna-se fundamental em qualquer

intervenção que se faça no âmbito de uma comunidade, que se conheça e

reconheça o território. Não o território geográfico, como alguns autores

apresentam, mas o território que se caracteriza pela experiência dos sujeitos

no determinado espaço e tempo. Território também em que as relações

interpessoais, culturais, étnicas, religiosas..., são consideradas na proposição

de uma intervenção de modo que esta intervenção seja construída ‘com’ o

sujeito e não ‘para’ o sujeito.

Quando se volta o olhar para o bairro Jardim Felicidade, levando em conta o

que foi visto na revisão de literatura desta pesquisa, percebe-se que esta

comunidade traz, em seu arcabouço, forte elemento de engajamento

comunitário que fincam suas bases no sentimento de pertencimento como

poderá ser visto no capítulo 3 (três). Nesse capítulo será apresentada a

pesquisa realizada em campo em que foram entrevistados os moradores do

território e se teve a clara compreensão de que os moradores mais antigos (os

que participaram da construção do bairro) exprimem um apego e sentimento de

pertença em relação ao bairro, sendo, portanto, os que continuam, à sua

maneira e com os recursos disponíveis, lutando pela melhoria no bairro.

REFERÊNCIAS

AFONSO, M.L.M; FADUL, F.M. A construção da Interdisciplinaridade no

território da PNAS: exercícios para uma psicologia da cidadania. In:

ROMAGNOLI, R. C.; MOREIRA, M. I. C. O Sistema Único de Assistência

Social – SUAS: a articulação entre a Psicologia e o Serviço social, seus

desafios e perspectivas. 1 ed. Curitiba: CRV, 2014. Cap.7, p.238

ALENCAR, L. O. Participação social: institucionalização e integração ao ciclo

de políticas publicas. In: MONASTERIO, L. M.; NERI, M. C.; SOARES, S. S. D.

57

Brasil em desenvolvimento 2014: estado, planejamento e políticas

públicas. Brasília: Ipea, 2014, p. 517.

AMARAL, A. L. Pertencimento. In: DICIONÁRIO de direitos humanos.

Disponível em: http://escola.mpu.mp.br/dicionario/tiki-

index.php?page=Pertencimento. Acesso em: 20 de Nov. 2016

BAUMAN, Z. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchii/Zygmunt Bauman. Rio

de Janeiro: Zahar. 2005. 110p.

BAUMAN, Z. Vida líquida. Rio de Janeiro: Zahar. 2007. 110p.

BIGNETTI, L. P. As inovações sociais: uma incursão por ideias, tendências e

focos de pesquisa. Ciências Sociais Unisinos, v. 47, n. 1, jan.-abr., 2011, p.

3-14.

BOURDIEU, P. Questões de Sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero. 1983.

288p.

BRASIL. CapacitaSuas: Configurando os Eixos de Mudança / Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 1 ed. Brasília: MDS, 2008, p.136.

BREA L. M. Factores determinantes del sentido de pertenencia de los

estudiantes de arquitectura de la pontificia universidad católica madre y

maestra campus Santo Tomas de Aquino. 2014. 196 f. Tese (Doutorado)

Universidad de Murcia. Disponível em: http://hdl.handle.net/10201/42306

Acesso em: 13 de mar 2018

BRONZO, C. Intersetorialidade, autonomia e território em programas municipais de enfrentamento da pobreza: experiências de Belo Horizonte e São Paulo. Planejamento e Políticas Públicas, v. 35, p.119-160, 2010.

CANÇADO, A. C. Fundamentos teóricos da gestão social. 2011. 246 f. Tese

(doutorado) - Universidade Federal de Lavra, Lavras, 2011.

CARDOSO, A. Escravidão e sociabilidade capitalista: um ensaio sobre inércia

social. Novos estud. – CEBRAP, São Paulo , n. 80, p. 71-88, mar. 2008 .

Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-

33002008000100006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 24 abr. 2017.

http://dx.doi.org/10.1590/S0101-33002008000100006

CARVALHO, I. C. M.; GRUM, M. Hermenêutica e Educação Ambiental In

FERRARO JÚNIOR, L. A. (org.) Encontros e caminhos: Formação de

58

Educadoras(es) Ambientais e Coletivos Educadores/Ministério do Meio

Ambiente. Diretoria de Educação Ambiental. Brasília: 2005. p. 175-187.

CIDADE, E. C. Juventude em condições de pobreza: Modos de vida e

fatalismo. 2012. 163.f. Dissertação (Mestrado em psicologia) Centro de

humanidades, departamento de psicologia. Universidade do Ceará. Fortaleza.

2012.

CONSTANZO, A Z. Participación y empoderamiento comunitario: rol de las

metodologias implicativas. In: Congreso Internacional Del Clad Sobre La

Reforma Del Estado Y Dela Administración Pública, 5, 2005 Santiago. Anais...

Chile, 2005, p. 18 – 21.

COUSIN, C. S. Pertencimento ao lugar e a formação de educadores

ambientais: um diálogo necessário. In: EPEA – Encontro Pesquisa em

Educação Ambiental, 7, 2013, Rio Claro – SP. Anais... 2013. Disponível em

<http://www.epea.tmp.br/epea2013_anais/pdfs/plenary/0130-1.pdf> Acesso 02

jan. 2017.

CRUZ, J. C. L., et al. Gestão Social e Participação Popular no Âmbito do

Conselho de Assistência Social do Município de Palmas – TO. Cadernos

Gestão Social, América do Norte, v. 6, n. 1, 2015. Disponível

em: http://www.periodicos.adm.ufba.br/index.php/cgs/article/view/560. Acesso

em: 23 jan. 2017.

DIEGUES, G. C Construção da Participação Social na Gestão das Políticas

Públicas: O Protagonismo do Governo Local no Brasil. Administração Pública e

Gestão Social, viçosa, v. 4, n. 4, 2012, p. 365-380 [S.I]. Disponível em

<http://www.apgs.ufv.br/index.php/apgs/article/view/115/199>. Acesso em 19 Jan.

2017.

FAUSTO, B. Ensaio bibliográfico. A interpretação do nazismo, na visão de

Norbert Elias. Mana, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, 1998. p. 141-152, . Disponível

em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-

93131998000100006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 Jul. 2017.

http://dx.doi.org/10.1590/S0104-93131998000100006.

FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio básico da língua portuguesa. Rio de

Janeiro: Nova Fronteira, 2002, p. 50.

FISCHER, T., et al. Perfis visíveis na gestão social do desenvolvimento. Rev. Adm.

Pública, Rio de Janeiro , v. 40, n. 5, p. 789-808, Oct. 2006 . Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-

59

76122006000500003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 3 de Mar. 2016.

http://dx.doi.org/10.1590/S0034-76122006000500003.

FREITAS, A. F.; FREITAS, A. F.; FERREIRA, M. A. M. Gestão social como

projeto político e prática discursiva. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro , v.

14, n. 2, p. 278-292, 2016. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-

39512016000200278&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 30 mar. 2017.

http://dx.doi.org/10.1590/1679-39513690.

FREITAS, M. F. Q. Contribuições da psicologia social e psicologia política ao desenvolvimento da psicologia social comunitária. Psicologia & Sociedade, São Paulo, v. 8, n. 1, 1996, p. 63-82. GÓIS, C. W. L. Psicologia comunitária. Universitas Ciências da Saúde. v. 01,

n. 02 [S.I], 2003. p. 277-297 Disponível em

<https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/cienciasaude/article/viewFile/5

11/332> Acesso em 26 mar. 2017.

GÓMEZ, J. M. Crítica ao conceito de desenvolvimento. Pegada Eletrônica,

Presidente Prudente, v. 3, n.1, 2002, p. 20-32. Disponível em

<http://revista.fct.unesp.br/index.php/pegada/article/viewFile/798/821> Acesso

em 26 mar. 2017.

GOTTMANN, J. A evolução do conceito de território. Boletim de Geografia, v.

2, n. 3, [S.I], 2012. Disponível em: <

http://agbcampinas.com.br/bcg/index.php/boletimcampineiro/article/viewFile/86/

2012v2n3_Gottmann>. Acesso em: 26 de abr. 2017

GUATTARI, F. As três ecologias. 11 ed.. Campinas: Papirus. 2001. 56p.

GUATTARI, F.Espaço e poder: a criação de territórios na cidade, Espaço &

Debates: Revista de Estudos Regionais e Urbanos. São Paulo, ano V, nº

16, 1985, p. 112.

HAESBAERT, R. Da desterritorialização à multiterritorialidade. In: Encontro dos

Geógrafos da América Latina, 10, 2005, São Paulo. Anais...São Paulo: USP,

2005. p. 6774– 6792.

ITABORAHY, N. Z. A Geografia, o Conceito do Território e os processos de

territorialização das Comunidades Quilombolas: Primeiras Aproximações. In:

Anais XVI Encontro Nacional dos Geógrafos. Crise, práxis e autonomia:

espaços de resistência e de esperanças. Espaço de Diálogos e Práticas. Porto

Alegre, RS. 25-31 de Julho, 2010. Disponível em:

60

http://www.ufjf.br/nugea/files/2010/09/A-Geografia-o-conceito-do-

territ%C3%B3rio-e-os-processos-de-territorializa%C3%A7%C3%A3o-das-

comunidades-quilombolas.pdf. Acesso em: 2 dez. 2017.

JACOBI, P. R. Educação ambiental: o desafio da construção de um

pensamento crítico, complexo e reflexivo. Educação e Pesquisa. São Paulo,

v. 31, n. 2, p. 233-250, Ago. 2005 . Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151797022005000200

007&lng=en&nrm=iso> Acesso em 07 mar. 2017 http://dx.doi.org/10.1590/S1517-

97022005000200007.

KOGA, D. Medidas de cidades: entre territórios de vida e territórios vividos.

São Paulo: Cortez, 2003. 299p.

KOURY, M. G. P. Identidade e pertença: disposições morais e disciplinares em

um grupo de jovens, Etnográfica [Online], v. 14, n.1, p. 27-58, 2010.

Disponível em: http://etnografica.revues.org/148. Acesso em: 20 Jul. 2017.

KUYUMJIAN, R.; SOUZA, E. M.; SANT'ANNA, S. R.. An analysis about the

local development: the social entrepreneurship at Morro do Jaburu-Vitória (ES),

Brazil. Revista de Administração Pública, v. 48, n. 6, p. 1503-1524, 2014.

LACAN, J. O Seminário: Livro 1: os escritos técnicos de Freud, Rio de Janeiro:

Zahar, 1985. P. 336.

LESTINGE, S. Olhares de educadores ambientais para estudos do meio e

pertencimento. 2004. 263 f. Tese (doutorado em Recursos Florestais) –

Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo,

Piracicaba, 2004.

LIMA, D. M. A.; BOMFIM, Z. A. C. Vinculação Afetiva pessoa-ambiente:

diálogos na psicologia comunitária e psicologia ambiental. PSICO, Porto

Alegre, PUCRS, v.40, n.4, p. 491-497, out. / dez. de 2009. Disponível em

http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/4711/4

936. Acesso em: 23 de março de 2016.

LIMA, F. A.; GALIMBERTTI, P. A. Sentidos da participação social na saúde

para lideranças comunitárias e profissionais da Estratégia Saúde da Família do

território de Vila União, em Sobral-CE. Physis, Rio de Janeiro, v. 26, n. 1, p.

157-175, Mar. 2016. Disponível em

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010373312016000100

157&lng=en&nrm=iso> Acesso em 19 Jan. 2017.

61

LIZUKA, E. S.; GONCALVES-DIAS, S. L. F.; AGUERRE, P. Reflexões sobre o

desenvolvimento territorial sustentável, gestão social e cidadania deliberativa: o

caso da bacia do rio Almada (BA). Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro, v.

46, n. 6, p. 1599-1623, 2012. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-

76122012000600009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 23 Jan. 2017.

http://dx.doi.org/10.1590/S0034-76122012000600009.

LOPES, C. J. R; MACHADO, L. R. S. Projeto político pedagógico como

instância de gestão social da educação. Revista Pretexto, Belo Horizonte, v.

15, n. 3, p. 90-105, 2014. Disponível em:

http://www.fumec.br/revistas/pretexto/article/view/2269/pdf_27. Acesso em 20

de mar. 2018.

LOPES, D. P. T, et al. Inovação gerencial e inovação social: penando para

além da inovação tecnológica. Inovação para além da tecnologia. In: Anais XVI

Congresso Latino Iberoamericano de Gestão da Tecnologia. Porto Alegre, RS.

19-22 de outubro, 2015. Disponível em:

https://sigarra.up.pt/flup/pt/pub_geral.pub_view?pi_pub_base_id=108382.

Acesso em: 03 abr. 2018

MACHADO, L. Instrumentos de trabalho. In: OLIVEIRA, D. A.; DUARTE, A. M.

C.; VIEIRA, L. M. F. DICIONÁRIO: trabalho, profissão e condição docente. Belo

Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2010. CDROM

MARTÍN-BARÓ, I. Psicologia de la liberación. Madrid: Trotta, 1998. 376 p.

MATURANA, R. H. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo

Horizonte. UFMG. 2002. 98p.

MCCLOSKEY, D. J.; et al. Principles of community engagement. 2. ed. [S.I]:

Printed, 2011. 193p.

MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento. Pesquisa qualitativa em

saúde. São Paulo: Hucitec, 2009. 269p.

MONTERO, M. Paradigmas, comentes y tendencias de la psicologia social finisecular. Psicologia & Sociedade, São Paulo, v. 8, n 1, p. 102-119, jan.jun.1996. NASCIMENTO, P. F., MELAZZO, E. S. Território: conceito estratégico na

Assistência Social. Serviço Social em Revista, [S.I], v.16, n.1, 2013. DOI:

10.5433/1679-4842.2013v16n1p66. Disponível em

62

<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/ssrevista/article/viewFile/16148/14624

>. Acesso em 17 mar. 2017

ORNELAS , J. Psicologia comunitária: Origens, fundamentos e áreas de intervenção.

Aná. Psicológica, Lisboa , v. 15, n. 3, p. 375-388, set. 1997. Disponível em

<http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-

82311997000300002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 23 jan. 2017.

PIVA, A., et al. Origens do conceito de Intersubjetividade: Uma trajetória entre a

Filosofia e a Psicanálise Contemporânea. Contemporânea - Psicanálise e

Transdisciplinaridade, Porto Alegre, n. 09, 2010 Disponível em

<http://www.revistacontemporanea.org.br/site/wp-content/artigos/artigo234.pdf>

Acesso em 26 de mar. 2017.

PNAS - POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL aprovada pelo

Conselho Nacional de Assistência Social por intermédio da Resolução nº 145,

de 15 de outubro de 2004, e publicada no Diário Oficial da União – DOU do dia

28 de outubro de 2004.

RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do Poder. Tradução de Maria Cecília

França. São Paulo: Ática, 1993. 269p.

REYLES, D. Z. A proposal for internationally comparable indicators of shame

and humiliation, OPHI working Paper. Reino Unido, v. [S.I] n. 3, 2007, p. 1-32.

Mai de 2007. Disponível em <http://www.ophi.org.uk/wp-content/uploads/OPHI-

wp03.pdf> Acesso em 17 mar. 2017

RODRIGUES, D. S. R. Mudanças e continuidades na gestão social das favelas

cariocas: as experiências do SERFHA e do UPP social. Cadernos Gestão

Social. Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, 2015. Disponível em:

http://www.periodicos.adm.ufba.br/index.php/cgs/article/viewArticle/467.

Acesso em 23 de jan. 2017

SÁ, L. M. Pertencimento. In: FERRARO JUNIOR, L. A. (org.) Encontros e

caminhos: formação de educadoras (es) ambientais e coletivos

educadores. Brasília, MMA, Diretoria de Educação ambiental, 2005, cap. 21,

p. 245-256.

SABINO, H. ARAUJO, W. M. BSC SOCIAL: Para a Gestão Democrática das

Escolas Públicas da Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais. 2015. 144 f.

Dissertação (Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local)

– Centro Universitário UNA, Belo Horizonte, 2015

63

SALES, C. P. Engajamento Comunitário e Entendimento Público da

Ciência: Primeiras anotações para uma agenda de pesquisa. 2014. 85 f.

dissertação (Mestrado em Informação e comunicação em Saúde) – Instituto de

Comunicação e Informação Cientifica e Tecnológica em Saúde, Fundação

Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, 2014.

SALORT, M. C.; SCHMIDT, E. B. O ambiente virtual de aprendizagem como

potencializador da Arte/Educação Ambiental. REMEA - Revista Eletrônica do

Mestrado em Educação Ambiental, [S.l.], p. 132-148, dez. 2014. ISSN 1517-

1256. Disponível em: <https://www.seer.furg.br/remea/article/view/4855>.

Acesso em 22 fev. 2017

SANTOS, A.; MANFRIN, S.. Proposta de Intervenção Técnico Social na

Cooperlix de Presidente Prudente – Autogestão, Cooperativismo e

Coletividade. Seminário Integrado, América do Norte, v. 9, n 9 , p. 1-19, 2016

SANTOS, M. A natureza do espaço – Técnica e tempo. Razão e emoção.

São Paulo: Hucitec, 1996. 259p.

SANTOS, M. Por uma outra globalização - do pensamento único à

consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000. 85p.

SILVA, J. M.; HESPANHOL, M. R. A. Discussão sobre comunidade e

características das comunidades rurais no município de Catalão (GO)

Sociedade e natureza, Uberlândia, v. 28, n. 3, p. 361-374, dez. 2016.

Disponível em

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S198245132016000300

361&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 28 abr. 2017. http://dx.doi.org/10.1590/1982-

451320160303.

SOUSA,Y. M; VASCONCELOS, A. M. A.; SOBRINHO, M. V. Limites,

Possibilidades e Dificuldades de Gestão Social em Redes de Cooperação para

o Desenvolvimento Local. Cadernos Gestão Social, América do Norte, v.3, n.

2, 2012. Disponível

em: http://www.periodicos.adm.ufba.br/index.php/cgs/article/view/295. Acesso em 30

abr. 2017

TAVARES, R. C. O sentimento de pertencimento social como um direito básico

e universal. Cadernos de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas,

Florianópolis, v. 15, n. 106, p. 179-201, jun. 2014. Disponível em

<https://periodicos.ufsc.br/index.php/cadernosdepesquisa/article/view/1984895

64

1.2014v15n106p179>. Acesso em 24 abr. 2017.

doi:http://dx.doi.org/10.5007/1984-8951.2014v15n106p179

TENÓRIO, F. G. (Re) Visitando o Conceito de Gestão Social. In: LIANZA, S.;

ADDOR, F. (orgs.). Tecnologia e desenvolvimento social e solidário. Porto

Alegre: Editora da UFRGS, 2005, n. 5, ano 3, p. 101-124

TENÓRIO, F. G. Gestão social: metodologia, casos e práticas. Rio de

Janeiro: Editora FGV, 2007. 135p.

TENÓRIO, F. G. Gestão social, um conceito não idêntico? ou a insuficiência

inevitável do pensamento. In: CANÇADO, Airton Cardoso; TENÓRIO,

Fernando Guilherme; SILVA JR, Jeová Torres. (Org.). Gestão social: aspectos

teóricos e aplicações. Ijuí: Editora UNIJUÍ, 2012, v. , p. 23-36

TENÓRIO, F. G. Gestão social: uma perspectiva conceitual. Revista de

Administração Pública. Rio de Janeiro, v. 32, n.5 1998. Disponível em:

<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/article/viewFile/7754/6346>

Acesso em 30 de abr. 2017

VANDENBERGHE, F. Gestão social: um campo de práticas em busca de

teorias. Cadernos de Gestão Social, [S.I], v. 6, n. 1, 2015. Disponível em:

http://www.periodicos.adm.ufba.br/index.php/cgs/article/viewArticle/573. Acesso

em: 23 de jan. 2017

VELHO, G. Cultura: notas para uma antropologia da sociedade

contemporânea. 8.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. 152p.

WANDERLEY, M. B. Discussão sobre a gestão social: conceitos e

protagonistas. Serviço Social em Revista, Londrina, v. 16, n. 1, 2013.

Disponível em

<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/ssrevista/article/view/17973>. Acesso

em 30 abr. 2017. DOI: 10.5433/1679-4842.

65

3 INFLUÊNCIA DO SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO SOCIAL NO ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO.

[1] Aparecida Mendes de Paiva [2] Fernanda Carla Wasner Vasconcelos

RESUMO

O sentimento de pertencimento é um construto que tem sido investigado como

uma variável situacional e que se manifesta a partir de características

individuais. A necessidade deste sentimento influencia a forma como os

indivíduos percebem e se relacionam com o meio social. Este artigo apresenta

os resultados da pesquisa de campo realizada com o intuito de identificar se

existe relação entre o sentimento de pertencimento social e o engajamento

comunitário, nos moradores do bairro Jardim Felicidade, em Belo Horizonte

(MG). A metodologia adotada foi entrevista semiestruturada com 25 moradores

do bairro, transcritas e submetidas à análise de conteúdo e grupo focal de um

encontro, com 19 participantes, cujo conteúdo também foi transcrito e

submetido à análise do discurso do sujeito coletivo. Por se tratar de pesquisa

que envolve a participação de humanos, foi submetida na Plataforma Brasil e

aprovada sob o nº CAAE: 75117717800005098. Os resultados demonstraram

que o sentimento de pertencimento social é um construto que exerce influência

na participação e engajamento comunitário dos moradores do bairro Jardim

Felicidade. Revelaram ainda que, os moradores que desenvolveram com este

território o sentimento de pertença são os sujeitos que contribuem com as

ações que visam ao desenvolvimento local a partir da participação e do

engajamento comunitário.

Palavras-chave: Desenvolvimento local. Engajamento comunitário.

Pertencimento social. Identidade social. Gestão social.

___________

[1] Psicóloga, Especialista em intervenção social no Contexto das Políticas Públicas. Mestranda em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, pelo Centro Universitário Una. E-mail: [email protected] [2] Bióloga, Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (UFMG). Doutora em Ciências (UFLA). Professora do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]

66

3 THE FEELING OF SOCIAL PERFORMANCE INFLUENCE IN COMMUNITY ENGAGEMENT.

[1] Aparecida Mendes de Paiva [2] Fernanda Carla Wasner Vasconcelos

ABSTRACT

The sense of belonging is a construct that has been investigated as a situational variable and that manifests itself from individual characteristics. The need for this feeling influences how individuals perceive and relate to the social environment. This article presents the results of the field research carried out in order to identify if there is a relationship between the feeling of social belonging and the community engagement of the residents of Jardim Felicidade neighborhood in Belo Horizonte, MG. The methodology adopted was a semi-structured interview with 25 residents of the neighborhood, transcribed and submitted to content analysis and focal group of a meeting, with 19 participants, whose content was also transcribed and submitted to the discourse analysis of the collective subject. The research was submitted in Brasil Platform and approved under the number CAAE: 75117717800005098 because it involves the participation of humans. The results demonstrated that the sense of social belonging is a construct that exerts influence in the participation and community engagement of Jardim Felicidade neighborhood’s residents. They also revealed that the residents who developed the feeling of belonging to this territory are the subjects that contribute to the actions that aim at local development based on participation and community engagement. Keywords: Local development. Community engagement. Social belonging. Social identity. Social management.

_________

[1] Psicóloga, Especialista em intervenção social no Contexto das Políticas Públicas. Mestranda em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, pelo Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]. [2] Bióloga, Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (UFMG). Doutora em Ciências (UFLA). Professora do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected].

67

1 INTRODUÇÃO

Este capítulo apresenta de forma breve os conceitos de pertencimento, de

engajamento comunitário e suas implicações para a gestão social, assim como

para o desenvolvimento local no que tange a comunidade do bairro Jardim

Felicidade, em Belo Horizonte, Minas Gerais (BH/MG). Serão apresentados

aqui também os modos como estes conceitos se convergem em práticas

comunitárias na perspectiva de inovação social, conforme apontado por

Bignetti (2011). Esse autor assevera que, em face de carências sociais, as

comunidades vêm adotando práticas inovadoras na busca de alternativas que

solucionem ou minimizem os seus impactos sociais negativos.

O sentimento de pertencimento é um construto que tem sido investigado como

uma variável situacional e que se manifesta a partir de características

individuais. A necessidade deste sentimento influencia a forma como os

indivíduos percebem e se relacionam com o meio social (GASTAL; PILATI,

2016), funcionando como estímulo à formação da identidade social que une os

indivíduos ao local (ARAUJO; AGUIAR NETO; GOMES, 2016).

Freitas (2008) define o pertencimento como o conjunto de relações que unem

os indivíduos e grupos a partir do modo de ser, de se comportar e dos estilos

específicos de cada grupo. Dessa maneira, os indivíduos se sentem

participantes e passam a agir de modo pleno, no que tange aos papéis sociais,

às normas e aos valores. Como observam Oliveira e Cavalcante (2017), a

subjetividade que envolve o construto pertencimento torna difícil sua

conceituação.

O sentimento de pertencimento influencia o modo como as pessoas se

relacionam com o meio e pode influenciar no engajamento e participação de

um determinado grupo nas atividades locais em prol do desenvolvimento. O

contexto desta pesquisa apresenta os termos engajamento e participação

como correlatos. Sendo engajamento definido por Ferreira (2002), como ato ou

efeito de engajar-se, em que engajar-se significa: pôr-se a serviço de uma

causa.

68

Entende-se por este viés que a participação em si não caracteriza o

engajamento, pois o simples fato de participar de uma ação, não significa ter

responsabilidade sobre esta ação (BENINCÁ, 1995). No entanto, ao participar,

o sujeito pode vir a se engajar no processo participativo e, por isso, a

participação deve ser construída fundamentada num processo coletivo de

tomada de decisões e da gestão das ações implementadas pela própria

comunidade (SOUZA, 1996).

Dessa maneira, concorda-se com Soratto e Witt (2013) que a criação e o

fortalecimento dos processos participativos são importantes para que as vozes

da população sejam ouvidas e que os saberes e práticas da comunidade sejam

reconhecidos e aplicados. A participação dos sujeitos nas atividades pode

despertar o sentimento de pertencimento propiciando ligação emocional e

afetiva deste sujeito para com o lugar, motivando neste indivíduo o

engajamento comunitário (SILVA; ALMEIDA, 2016).

As lacunas que se pretendem suprir e que justificam este trabalho são de que

as metodologias que intentam promover o pertencimento e o engajamento

comunitário consideram a implicação social que garanta participação de todos

os sujeitos, instituições e grupos sociais envolvidos.

Essas metodologias devem priorizar a participação dos moradores na

construção das propostas, de tal modo que se garanta o protagonismo dessas

pessoas e se valorize a criatividade e contribuições de cada um. Uma forma de

suprir essas lacunas no território do Jardim Felicidade (BH/MG) seria o

fortalecimento da Rede de Apoio ao Desenvolvimento do Bairro, existente

desde 2001 neste território, atuando por meio dos processos formativos para

todos os envolvidos (SILVA; GOMES, 2013), cuja demanda de intervenção

parte exclusivamente da comunidade.

Dessa maneira, tais metodologias precisam contemplar a promoção de

diferentes níveis de aprendizagem social de maneira que sejam

contextualizadas e compartilhadas em uma flexibilidade criativa. Por sua vez,

essa flexibilidade criativa alcançada permite reajustar ações que sejam cada

69

vez mais efetivas em uma realidade social em constante mudança.

(CONSTANZO, 2005).

Destarte, outra lacuna existente diz respeito à falta de valorização da

criatividade e das potencialidades endógenas em um território. Para dirimi-la,

faz-se necessário reconhecer que o processo criativo pode se originar da

participação dos sujeitos pertencentes ao contexto local. Dessa capacidade de

criação podem surgir ações com características de inovação social, já que esta

inovação é definida como resultado de um conhecimento aplicado às

necessidades sociais através da participação de diversos atores (BIGNETTI,

2011).

Nesse sentido, a revisão teórica feita neste capítulo se faz relevante pelo fato

de apresentar aspectos fundamentais para a compreensão de construtos e

conceitos, tais como: sentimento de pertencimento, identidade social,

engajamento e participação comunitária que incidem diretamente sobre

fenômenos sociais, a saber, violência; degradação do meio ambiente (poluição

diversa, depredação de espaços públicos; problemas de saúde provenientes de

vetores: mosquitos, baratas, ratos).

A contribuição cientifica deste estudo é que, ao conhecer estes fenômenos e

compreendê-los à luz da literatura consultada, torna-se possível identificar os

modos pelos quais as medidas de intervenção contextualizadas e factíveis no

âmbito local se tornem mais efetivas, eficazes e principalmente autogeridas, no

sentido de continuarem o trabalho, quando do afastamento do interventor

externo.

O objetivo desse artigo foi analisar de que modos o sentimento de

pertencimento pode contribuir para o engajamento comunitário, engajamento

esse que promove a realização de intervenções que visam à inovação social e

o desenvolvimento local no bairro Jardim Felicidade – BH/MG.

70

3.2 REVISÃO DE LITERATURA

Os principais temas abordados neste capítulo são pertencimento e identidade

social; participação e engajamento comunitário; gestão social e

desenvolvimento local. A abordagem destes conceitos e construtos é

necessária para o entendimento dos modos pelos quais a participação e o

engajamento comunitário podem ocorrer a partir do sentimento de

pertencimento que o indivíduo estabelece com o seu território.

3.2.1 PERTENCIMENTO E IDENTIDADE SOCIAL

Os construtos pertencimento e identidade social foram abordados à luz do

proposto por Bauman (2005); Bonder (1999); Brea (2014); Cousin (2013);

Maldonado e Oliva (2010); Menezes (2010); Moreira (2014) e Sá (2005).

Nesse contexto, a identidade é entendida como resultado da interação entre o

individuo e o mundo social. Essa interação inclui os papéis sociais, as relações

sociais, a identidade grupal. Por serem compostas por elementos da cultura, as

identidades só poderão ser compreendidas dentro de um sistema de

significação (MENEZES, 2010). No caso dessa pesquisa, o bairro Jardim

Felicidade é o sistema de significação visto que é nesse território que as

relações sociais são estabelecidas.

A identidade é composta por elementos da cultura e não da natureza. Menezes

(2010) contradiz o que antes fora dito por Silva (2009) que expõe que a

identidade não é uma essência, não é um fato ou dado, seja da natureza seja

da cultura. No entanto, Silva observa que

a identidade é uma construção, um efeito, um processo de

produção, uma relação, uma ato performativo. A identidade é

instável, contraditória, fragmentada, inconsciente, inacabada. A

identidade está ligada a sistemas de representação. A

identidade tem estreitas conexões com relações de poder.

(SILVA, 2009, p. 97).

Nesse sentido, a identidade é o resultado da interação social, corroborando

com o pensamento de Maldonado e Oliva (2010), pois a identidade social

implica no sujeito se reconhecer como membro de um grupo, no qual, por sua

71

vez, lhe permite se diferenciar dos membros de outros grupos. Assim, a

identidade supõe um exercício de autorreflexão por meio do qual o indivíduo

pondera suas capacidades e potencialidades e tem consciência do que é como

pessoa, porém que não está sozinho, mas coexistindo com outros

(MALDONADO; OLIVA, 2010).

O fato das identidades requererem uma autorreflexão é problematizado por

Bonder (1999) e Bauman (2005). Bonder (1999) ao mencionar que não existe

identidade sem o outro, assim como, não existe o bom sem o mau e o bem

sem mal, adverte que a identidade se faz na presença do outro. Bauman (2005,

p.19) por sua vez completa que as “identidades flutuam no ar, algumas de

nossa própria escolha, mas outras infladas e lançadas pelas pessoas em nossa

volta, e é preciso estar em alerta constante para defender as primeiras em

relação às últimas.”

O pertencimento é compreendido como a crença ou a ideia que une as

pessoas. É um sentimento expresso através de símbolos e valores sociais,

morais, políticos, estéticos, culturais, religiosos e ambientais de um

determinado local (COUSIN, 2013).

O pertencimento social consiste na inclusão dos indivíduos em grupos que

podem ser formados a partir das demandas individuais, do grupo, dos papéis

sociais ou por meio da apropriação ou internalização de questões

emblemáticas na comunidade. Dessa maneira, implica em afiliação ou pertença

ao grupo e no compartilhar de conteúdos socialmente aceitos pelo grupo, isto

é, estar atento aos traços que os tornam comuns e permitirão os diferentes

entrelaçamentos (MALDONADO; OLIVA, 2010).

A construção da noção de pertencimento humano exige que se permita

inscrever a “lógica da vida nas condições específicas do modo de organização

da sociedade humana.” (SÁ, 2005, p. 5). Nesse aspecto, o território torna-se o

lugar do pertencimento, em que é possível formar a identidade social a partir

dos elementos do espaço vivido. No território, considerado como o lugar das

vivências sociais, cada objeto ou coisa tem uma história que se confunde com

a história dos seus habitantes. (MOREIRA, 2014).

72

Nesse ínterim, Wanderley Codo (2002) assevera que o pertencimento é o

fundamento no qual se erige a identidade e é uma chave importante para

compreendê-la. Desse modo, a identidade social se constrói a partir do

pertencimento.

Desse modo, os conceitos de pertencimento adotados neste capítulo são os

propostos por Cousin (2013), no qual o pertencimento é visto como sentimento

expresso por meio de símbolos e valores, compreendido com uma crença ou

ideias comuns e, por Sá (2005) que evidencia o pertencimento como uma

capacidade humana de empatia entre subjetividades, em que os indivíduos se

reconhecem como sujeitos na relação com o mundo vivido e que entrem em

comunicação intersubjetiva com o outro e com seu mundo vivido.

3.2.2 ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO

Outras características importantes são a participação e o engajamento

comunitário apresentados para o contexto desta pesquisa, conforme proposto

por Freitas (1996), Jacobi (2005), Sales (2014), Vieira-Silva (2015) visto que

esses autores interligam esses conceitos de maneira a suscitar a promoção do

desenvolvimento local de um determinado território.

A partir do que profere Jacobi (2005), a participação pode ser compreendida

como o envolvimento de pessoas nas ações, de forma coletiva e colaborativa.

Essa participação pode mobilizar nos sujeitos envolvidos potências de ação

subjetiva e intersubjetiva que possibilitam e estimulam a formação de

identidades coletivas nos espaços de convivência.

Nesse sentido, Freitas (1996) pressupõe o trabalho coletivo, o produzir em

conjunto, de maneira compartilhada, sendo que cada participante constrói e

transforma o contexto do qual participa e, na mesma medida em que

transforma um determinado contexto, ele é também transformado por este

contexto, numa relação de reciprocidade.

A participação da sociedade e o engajamento comunitário aconteceram a partir

do processo de redemocratização do Brasil nos anos 1980. Em 1988, com o

advento da Constituição Federal, a sociedade passa a formar parcerias

73

estabelecidas para solucionar problemas sociais. Estas parcerias se fortalecem

e se tornaram espaços institucionalizados de participação, o que é

exemplificado pelos conselhos, conferências nacionais, audiências públicas e

auditorias (ALENCAR, 2014; SILVA, 2015).

Dessa forma, a participação comunitária e o envolvimento dos sujeitos na ação

podem levar ao engajamento comunitário. McCloskey et al. (2011) assinalam

que esse processo é observado quando o grupo trabalha de maneira

colaborativa, tendo como participantes pessoas que se reúnem a partir de

interesses e problemas comuns. Nesse viés, Sales (2014) acrescenta que a

participação engendra o engajamento comunitário que é constituído no

processo participativo, dialógico e consciente, favoráveis aos processos de

gestão social e de desenvolvimento local.

3.2.3 GESTÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL

A gestão social tem sido discutida nas últimas décadas. Trata-se de um

conceito cuja construção teórica é resultado de práticas governamentais e da

sociedade civil que se mobilizam cotidianamente (PINHO; SANTOS, 2014) o

que reflete, de certa maneira, o sentimento de pertencimento e o engajamento

de uma determinada comunidade.

Wanderley (2013) observa que o conceito de gestão social exige um

aprofundamento dos saberes produzidos pelas várias áreas de conhecimento e

de uma ampliação da capacidade de articulação e de diálogo. Sendo, portanto,

necessário que a gestão social constitua uma ação de constante construção

coletiva.

O social da gestão social abrange uma dimensão humana que envolve valores

universais, valores construídos com base na solidariedade e equidade

territorial. Além disso, esse social (da gestão social) abarca um conjunto de

elementos cognitivos que estruturam as ações coletivas, de modo coerente e

autogestionário (OFFRENDI, 2013). Desse modo, a gestão social implica em

processo dialógico e participativo pautado nos valores universais, de equidade

e de solidariedade.

74

O dialogismo e a participação na gestão social estão associadas aos

movimentos sociais, em que a ideia de participação e ação coletiva são

fundamentais e têm por objetivo trabalhar o fortalecimento das relações sociais

e impulsionar as condutas de direitos e deveres dos cidadãos, propiciando o

incremento de demandas decisórias, participativas e coletivizadas

(WANDERLEY, 2013).

Nesse sentido, há sintonia entre o pensamento de Wanderley (2013) e Tenório

(2006), na medida em que este último assevera que

(...) o conceito de gestão social é entendido como o processo

gerencial dialógico onde a autoridade decisória é compartilhada

entre os participantes da ação. O adjetivo social qualificando o

substantivo gestão é percebido como o espaço privilegiado de

relações sociais onde todos têm o direito à fala, sem nenhum

tipo de coação. (TENÓRIO, 2006, p. 147-148).

Nas discussões sobre a concepção de gestão social, Silva e Moretto Neto

(2015, p.141) afirmam que “os processos decisórios devem ser participativos,

pressupondo a autoridade decisória compartilhada entre os participantes da

ação.”.

Dentro da premissa de que a participação e ação coletiva são fundamentais na

gestão social, Tenório (2007) ressalta a necessidade de construção de um

processo de articulação, coordenação e inserção dos empreendimentos

empresariais associativos e individuais, comunitários, urbanos e rurais, que

compreendam a integração socioeconômica, a reconstrução de tecido social e

de geração de renda, representado pelo desenvolvimento local que se

expressa na territorialidade e é viabilizado pela gestão social.

Neste contexto, a gestão social orienta-se pela mudança e para a mudança, ou

pode-se dizer, para o desenvolvimento local de uma determinada comunidade

e requer envolvimento e participação de todos na construção de estratégias e

tomadas de decisão (FISCHER et al., 2006). Esta construção deve ser coletiva,

dialogada e que valorize os diversos saberes técnicos, científicos e populares

existentes. Assim,

75

a gestão social caracteriza-se pela construção coletiva de

regras, normas e instrumentos de gestão; pela inovação de

metodologias que privilegiam o diálogo, a participação,

decisões compartilhadas, horizontalidade hierárquica, com a

valorização de diferentes saberes na ação. (MACHADO;

AFONSO, 2012, p. 76).

Nesses moldes, a gestão social ocorre por meio do envolvimento dos atores

sociais que participam e se articulam em redes de cooperação buscando

também o desenvolvimento local por meio do debate aberto e argumentativo,

cujas propostas e deliberações têm objetivo coletivo e são partilhados entre

todos (LIZUKA; GONÇALVES-DIAS; AGUERRE, 2012; SOUSA;

VASCONCELOS; VASCONCELOS SOBRINHO, 2012).

Assim, a participação e o engajamento comunitário são fundamentais para que

a gestão social aconteça em territórios como o bairro Jardim Felicidade

(BH/MG). É por meio da participação e do envolvimento dos moradores que as

demandas por desenvolvimento local, podem ser discutidas e requisitadas

junto ao poder público. Logo, o poder público se unirá ao grupo, construindo

coletivamente as estratégias de promoção do desenvolvimento local na

comunidade, de forma dialogada, com decisões compartilhadas, de modo que

todos os saberes e conhecimentos sejam valorizados.

Nessa pesquisa, pressupõe-se que o desenvolvimento local envolva a

participação efetiva da comunidade. A participação em todo processo de

desenvolvimento ocorre desde o planejamento até a execução das ações bem

como a sua avaliação e as propostas de adequação e melhoria. Neste

processo devem ser observadas as demandas e as necessidades

apresentadas pela própria comunidade e elencar suas potencialidades,

permitindo e incentivando o protagonismo comunitário, de gestão social e,

principalmente, da autogestão.

Dessa maneira, Tenório (1998, p. 22) adverte que “este processo de

desenvolvimento deve ocorrer desde a identificação do problema, o

planejamento de sua solução e o acompanhamento da execução até a

avaliação do impacto social efetivamente alcançado.”

76

Gómez convida para uma leitura crítica sobre as relações entre

desenvolvimento e participação, que permita ir além do sistema ideológico que

o capital propõe como ideia de desenvolvimento. Nesse sentido, o autor

assevera que críticas em torno do conceito ocorrem pelo fato do

desenvolvimento local retratar uma ideia de desenvolvimento que é

habitualmente utilizada no “corpo ideológico do capital, servindo como

instrumento dinamizador da sua expansão e da acumulação”, conforme

descrito por Gómez (2002, p. 1), ainda que supostamente seja visto como um

fator eminentemente positivo e que beneficia toda sociedade.

Nesta perspectiva, ao considerar os aspectos elencados acerca do

desenvolvimento, buscá-lo, é pretender a melhoria da qualidade de vida na

diversificação produtiva e na participação. É nesse contexto que se insere o

território, com todas as suas peculiaridades, pois

o território vai servir como aglutinador, como ponto de

convergência, dessa tripla visão do “novo” desenvolvimento. A

nova guinada na procura do desenvolvimento incorpora esta

importância da base territorial, ainda que de forma parcial e

unilateral, através do local. [...] se trata de uma incorporação do

território de forma unilateral, no sentido de que as

possibilidades que o território oferece são peneiradas pelo

estreito crivo do capital. (GÓMEZ, 2002, p. 4).

O que também é passível de crítica por parte de Gómez (2002), pois este autor

considera que numa conjuntura capitalista, tanto o território quanto os sujeitos

nele inseridos acabam servido ao interesse do capital, além de levantar e reunir

demandas que são oriundas da própria desestruturação, dos desequilíbrios e

das desigualdades sociais causadas pela própria lógica destrutiva do capital.

Como assinalado, a gestão social refere-se à gestão das ações sociais

públicas e à gestão das demandas e necessidades dos cidadãos. Os projetos

de âmbito local são canais para se alcançar os propósitos da gestão social e

trazer respostas às demandas e às necessidades das políticas públicas

(CARVALHO, 1999).

77

A gestão social considera que a participação das pessoas nas decisões que lhe

dizem respeito é essencial na prática de cidadania. Portanto, ao se propor a

integração entre gestão social e desenvolvimento local, dialoga-se com Lizuka,

Dias e Aguerres (2012), que propõem uma gestão social considerando uma

dimensão do próprio desenvolvimento local, que se materializa por meio dos

pressupostos da gestão social, a saber, construção coletiva, processo decisório

dialógico, participação social.

Seguindo esse raciocínio, entende-se que a formação de agentes

transformadores engajados nas ações de desenvolvimento local advém da

participação. Para as autoras, a participação não é espontânea e nem

acontece automaticamente, mas depende de vários fatores, como

compreender como é ou não promovida, que fatores a potencializam ou a

fragilizam, que instrumentos e estratégias são utilizados na promoção da

participação, devendo ser considerada como um aspecto importante no

processo de transformação dos sujeitos (DUTRA; AFONSO, 2015).

O engajamento comunitário é característica fundamental à gestão social que

pode viabilizar o processo de desenvolvimento local, ao possibilitar tomadas de

decisões coletivas e conscientes dos sujeitos envolvidos além de engajar

vários atores sociais nessas diferentes ações. Como discorrem Lopes e

Machado (2014, p. 20), “a participação é um elemento básico da gestão social,

pois como ação prática, somente se concretiza se houver a disponibilidade dos

sujeitos envolvidos no processo, que devem acreditar e trabalhar para que uma

nova e aperfeiçoada prática social seja construída diariamente.”.

É válido ressaltar que a gestão que visa a potencialização do desenvolvimento

local, é uma gestão social com características de inovação social. Nessa

gestão, os atores locais são considerados numa conjuntura de efetiva

participação. De acordo com Boullousa e Schommer (2010), a inovação social

nessa perspectiva deve conter o gene do desenvolvimento, inclusive o

crescimento econômico, como maior e mais amplo impacto social.

Nesse aspecto da gestão social com características de inovação social, o

cidadão, inserido no processo de participação é percebido como indivíduo

78

político que, no decurso da participação, aprende e desenvolve seus

potenciais. Dessa maneira, esse indivíduo se torna um sujeito ativo na

comunidade se engajando em ações que busquem o desenvolvimento local

(BOULLOUSA; SCHOMMER, 2010) de maneira a introduzir mudanças criativas

dentro de uma ordem existente ou planejada, pois inovar “(...) é sempre inovar

em relação a algo(...)” (JACOBI; PINHO, 2006, p. 8).

Esse caminho se constitui da compreensão de que é necessário conhecer o

território e seus sujeitos, bem como os fenômenos sociais que incidem sobre

eles, quando se pretende o desenvolvimento local. Assim, surgem algumas

questões: É fundamental identificar os fatores que existem nesse território e

estabelecer como devem ser potencializados? Qual é a cultura e valores

predominantes na comunidade? Existem participação e engajamento no Jardim

Felicidade? Em qual medida? Estas indagações precisam ser feitas para se

conhecer um território.

3.3 METODOLOGIA

O procedimento adotado nessa pesquisa, quanto à abordagem foi a qualitativa,

quanto aos fins, foi a pesquisa descritiva e quanto aos meios adotou-se o

estudo de caso. Para coleta dos dados, optou-se pela pesquisa bibliográfica,

entrevista semiestruturada e grupo focal. Para o tratamento e análise dos

resultados, fez-se opção pela análise de conteúdo, conforme proposto por

Bardin (2016) e a análise do discurso coletivo do sujeito, proposto por Lefrève e

Lefrève (2003; 2014).

3.3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

A abordagem qualitativa foi adotada por propiciar a compreensão do significado

que uma determinada circunstância tem para o sujeito ou para o grupo de

sujeitos, no desempenho de suas ações e na atuação de seus distintos papéis

na sociedade. Este tipo de pesquisa privilegia a singularidade do sujeito, uma

vez que a atitude de escuta e o interesse por parte do pesquisador desperta no

entrevistado o impulso de revelar-se mediante a narrativa (BRISOLA;

79

MARCONDES, 2011), respondendo a questões muito particulares que não

podem ser quantificadas (MINAYO, 2009).

Assim, buscou analisar o sentimento de pertencimento dos moradores

fundadores do bairro que moram nele há mais de 30 anos, e dos que passaram

a morar no bairro posteriormente e não colaboraram diretamente na sua

construção.

Quanto aos fins, a pesquisa é descritiva, pois se pretendeu descrever as

características da população do bairro Jardim Felicidade e dos fenômenos

presentes neste território, que estão direta ou indiretamente relacionados às

temáticas propostas: pertencimento social, participação e engajamento

comunitário.

Esta abordagem permite a exposição de características claras e delineadas de

determinada população, envolvendo técnicas padronizadas e estruturadas de

coleta de dados (VERGARA, 2007). Este tipo de pesquisa vai “além da simples

identificação da existência entre as variáveis e pretendem determinar a

natureza dessa relação.” (GIL, 2010, p. 28).

Para se alcançar o objetivo geral da pesquisa, adotou-se o estudo de caso que

“consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira

que permita seu amplo e detalhado conhecimento” (GIL, 2010, p. 37), por

entender que este método viabilizaria a análise do senso de pertencimento

social e do engajamento comunitário, no contexto do território e seus múltiplos

fenômenos sociais.

3.3.2 UNIDADE DE ANÁLISE

A unidade de análise foi o bairro Jardim Felicidade, situado na região Norte do

município de Belo Horizonte (MG), conforme mapa apresentado na Figura 2.

Este bairro foi oficialmente reconhecido como bairro Jardim Felicidade, em

agosto de 2005 e tem uma área que abrange 793.641m².

O bairro possui dois centros de saúde, duas escolas municipais, duas creches

comunitárias, três organizações de base comunitária e igrejas de variadas

denominações. O comércio no bairro é concentrado em uma avenida beira-rio,

80

contendo padaria, mercearia, papelaria, açougue, salão de beleza e bares.

(SILVA; GOMES, 2013).

Figura 2 – Delimitação em vermelho do Bairro Jardim Felicidade.

Fonte: GOOGLE MAPS. [Jardim Felicidade]. [2017].

O bairro foi construído a partir da demanda e da mobilização de moradores que

não se viam em condições de pagar aluguel. Assim, para reivindicar a posse da

antiga Fazenda Tamboril, desapropriada pela Prefeitura Municipal de Belo

Horizonte, seis pessoas se reuniram no bairro Primeiro de Maio (BH/MG) para

discutir sobre moradia. Foi

nesta reunião o Padre Piggi informou sobre as possibilidades

da desapropriação do terreno “Fazenda Tamboril”. Disse que já

havia verificado os impostos e outras questões legais junto à

Prefeitura e o Estado de Minas Gerais. A negociação sobre a

doação do terreno teve início com Prefeito Rui Lage,

concretizando no mandato de Sergio Ferrara. A verba para

aquisição do terreno veio da aprovação federal e repassada

para a prefeitura pelo ministro de planejamento Sr. Aníbal

Teixeira. (SILVA; GOMES, 2013, p. 9).

81

O bairro Jardim Felicidade é constituído por 26 setores censitários3 de acordo

com o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE 2010) (BELO HORIZONTE, 2016). Ao relacionar os setores censitários

com base no território de abrangência do Centro de Referência da Assistência

Social – CRAS Jardim Felicidade, com a classificação do Índice de

Vulnerabilidade da Saúde (IVS 2012), descritos no quadro 2.

Quadro 2 – Setores censitários e classificação de risco do índice de

vulnerabilidade da saúde – IVS do território Jardim Felicidade.

Nº Setor Censitário IVS 2012

1 60.66.0002 Elevado

2 60.66.0011 Médio

3 60.66.0012 Médio

4 60.66.0013 Elevado

5 60.66.0014 Muito elevado

6 60.66.0015 Elevado

7 60.66.0016 Muito elevado

8 60.66.0017 Muito elevado

9 60.66.0018 Muito elevado

10 60.66.0035 Muito elevado

11 60.66.0036 Elevado

12 60.66.0037 Elevado

13 60.66.0038 Muito elevado

14 60.66.0039 Elevado

15 60.66.0040 Elevado

16 60.66.0206 Elevado

17 60.66.0217 Elevado

18 60.66.0218 Elevado

19 60.66.0252 Elevado

20 60.66.0258 Muito elevado

21 60.66.0264 Muito elevado

22 60.66.0309 Elevado

23 60.66.0310 Médio

24 60.66.0312 Elevado

25 60.66.0314 Médio

26 60.66.0315 Muito elevado

Fonte: BELO HORIZONTE, 2016, p. 14.

Constatou-se que 50% destes setores censitários foram classificados de risco

elevado; 35% de risco muito elevado e 15% de risco médio (Quadro 2). Por

3 Setor Censitário é unidade territorial de coleta das operações censitárias, definido pelo IBGE,

com limites físicos identificados, em áreas contínuas e respeitando a divisão político-administrativa do Brasil (IBGE, 2010)

82

essas informações, o território do bairro Jardim Felicidade é classificado com

elevado risco de vulnerabilidade social (BELO HORIZONTE, 2016).

De acordo com o IBGE (2010), a população presente no território bairro Jardim

Felicidade totaliza 19.175 pessoas, sendo que deste total, 10.049 (52%) são do

sexo feminino e 9.126 (48%) são do sexo masculino. Os segmentos jovens e

adultos se destacaram numericamente representando respectivamente,

23,04% e 37,96% do total da população do território. Enquanto a população de

idosos, acima de 60 anos, totalizando 7,41% (BELO HORIZONTE, 2016).

3.3.3 SUJEITOS DE PESQUISA

Os sujeitos da pesquisa foram selecionados entre moradores e lideranças

comunitárias do bairro, pertencentes à faixa etária de 18 a 80 anos, por

acessibilidade, utilizando também a técnica bola de neve. Essa técnica permite

que os participantes indiquem novos participantes até que o ponto de

saturação seja alcançado.

Os sujeitos foram divididos para a entrevista em dois grupos: (i) moradores

mais antigos, ou seja, aqueles que estão no bairro desde a sua fundação em

1987; e (ii) moradores mais recentes aqueles que se mudaram para o bairro

após 2010. Ano em que se iniciou a entrega de títulos de propriedades dos

imóveis aos moradores, concluída em 2011. No total foram realizadas 25 (vinte

e cinco) entrevistas, sendo 12 (doze) entrevistados pertencentes ao grupo dos

moradores mais antigos e 13 (treze) moradores do grupo dos moradores que

habitam o Jardim Felicidade após 2010, conforme quadro 3.

83

Quadro 3 - descrição dos sujeitos da pesquisa entrevistados

SUJEITO DA PESQUISA (P) Pertence / (NP) Não Pertence

IDADE TEMPO DE MORADIA

ENTREVISTADO 1 P 40 30 a 20 anos ENTREVISTADO 2 NP 21 Menos de 10 ENTREVISTADO 3 P 32 30 a 20 anos ENTREVISTADO 4 P 37 30 a 20 anos ENTREVISTADO 5 P 63 30 a 20 anos ENTREVISTADO 6 NP 35 Menos de 10 ENTREVISTADO 7 P 54 20 a 10 anos ENTREVISTADO 8 NP 28 Menos de 10 ENTREVISTADO 9 NP 19 Menos de 10 ENTREVISTADO 10 P 18 Menos de 10 ENTREVISTADO 11 P 60 30 a 20 anos ENTREVISTADO 12 P 39 30 a 20 anos ENTREVISTADO 13 P 37 30 a 20 anos ENTREVISTADO 14 P 58 20 a 10anos ENTREVISTADO 15 NP 23 20 a 10 anos ENTREVISTADO 16 P 48 30 a 20 anos ENTREVISTADO 17 NP 36 30 a 20 anos ENTREVISTADO 18 P 23 20 a 10 anos ENTREVISTADO 19 P 38 Menos de 10 ENTREVISTADO 20 NP 43 30 a 20 anos ENTREVISTADO 21 P 55 20 a 10 anos ENTREVISTADO 22 NP 62 30 a 20 anos ENTREVISTADO 23 P 68 30 a 20 anos ENTREVISTADO 24 NP 21 Menos de 10 ENTREVISTADO 25 P 48 20 a 10 anos

Fonte: Dados da pesquisa, 2017

Dos 25 (vinte e cinco) indivíduos que responderam as entrevistas, 19

(dezenove) aceitaram o convite para participar do grupo focal. A faixa etária

destes moradores era de 19 a 56 anos, sendo que 64,29% são do sexo

feminino e 35,71% do sexo masculino. Dos 19 participantes, 14 (quatorze)

responderam às perguntas e participaram do diálogo. Com relação ao grau de

escolaridade, 36,36% desses indivíduos concluíram o Ensino Médio e 9,09%, o

Ensino Superior; enquanto 54,55% mencionaram não ter completado o Ensino

Fundamental.

3.3.4 COLETA DE DADOS

Os procedimentos adotados para a realização da coleta de dados desta

pesquisa incluíram a revisão de literatura, através de pesquisa bibliográfica

com o foco nos temas pertencimento social, engajamento comunitário, gestão

social, desenvolvimento local e território. A busca foi realizada em bancos de

dados, periódicos, artigos, revistas, dissertações, selecionadas através dos

84

sites IBICT e SCIELO, CAPES, Bibliotecas Digitais e sites oficiais do Governo e

livros.

A pesquisa de campo foi realizada junto aos moradores do bairro Jardim

Felicidade (BH/MG), por meio dos instrumentos de coleta de dados, entrevista

semiestruturada (APÊNDICE A) e grupo focal (APÊNDICE B) que foram

previamente elaborados com base na literatura consultada.

As entrevistas foram do tipo semiestruturadas que não seguem um rigor em

sua classificação, o que as tornam semelhantes a uma conversa, na qual o

pesquisador busca compreender os significados que os sujeitos atribuem aos

fenômenos que os circundam no cotidiano (ALVES-MAZZOTTI;

GEWANDSZNAJDER, 2001). As entrevistas propiciaram a compreensão do

significado que uma determinada circunstância tem para o sujeito ou para o

grupo de sujeitos, no desempenho de suas ações e na atuação de seus

distintos papéis na sociedade.

Este instrumento de coleta de dados privilegiou a singularidade dos moradores,

uma vez que a atitude de escuta e o interesse por essas contribuições

despertaram no (na) entrevistado (a) o impulso de revelar-se mediante a

narrativa, de acordo com a proposta de Brisola e Marcondes (2011),

respondendo a questões muito particulares que não podem ser quantificadas

em consonância com Minayo (2009).

As entrevistas foram previamente agendadas com cada entrevistado

particularmente, por meio de telefonemas, mensagem via telefone e aplicativos,

e pessoalmente em visita domiciliar, para aqueles que não possuíam estes

meios de comunicação. Logo, dias e horários foram devidamente acordados.

O grupo focal (GF) foi escolhido como o segundo instrumento de coleta de

dados desta pesquisa, com o intuito de qualificar os dados obtidos nas

entrevistas semiestruturadas (APÊNDICE A). Para tanto, as perguntas do

roteiro de entrevista que necessitaram de qualificação nortearam a discussão

no GF e estão descritas no Apêndice B.

85

De acordo com Nicolau, Escalda e Furlan (2015), os GF constituem debate

aberto e acessível a todos os participantes. Os assuntos que norteiam as

discussões são de interesse de todo o grupo e não se faz acepção das

pessoas quanto às diferenças referentes à posição social. Essa técnica permite

a coleta de dados diretamente dos depoimentos do grupo, a partir do momento

em que os indivíduos relatam suas experiências e percepções em torno de um

tema de relevância coletiva e proporcionam “a troca de experiências, conceitos

e opiniões entre os participantes.” (BUSANELO et al., 2013).

Todos os entrevistados foram convidados a participar do GF cujo encontro

ocorreu no dia 21 de novembro de 2017, às 18:30 horas e contou com a

participação de 19 (dezenove) moradores. A equipe de apoio do GF foi

composta por 4 pessoas voluntárias, exercendo as seguintes funções: papel de

mediadora, gravação em áudio, filmagem e observador.

A reunião do grupo focal durou duas horas e trinta minutos, sendo os últimos

trinta minutos dedicados a um lanche coletivo. Foi preservada a

homogeneidade do grupo considerando os aspectos: tempo de moradia no

território estudado e pertencerem à faixa etária de 18 a 80 anos (BUSANELO et

al., 2013; KINALSKI et al., 2017). Ressalta-se que o GF aconteceu em uma

sessão, em conformidade com o exposto por Aschidamini e Saupe (2004).

3.3.5 TRATAMENTO DOS DADOS

Para o tratamento dos resultados, os dados das entrevistas foram submetidos

à análise de conteúdo conforme Bardin (2016), por meio do software gratuito

Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de

Questionnaires (IRAMUTEQ) que é um programa que viabiliza diferentes tipos

de análise de dados textuais, desde as mais simples até análises multivariadas,

organizando o vocabulário de forma compreensível e visualmente clara

(CAMARGO; JUSTO, 2013).

Para fins didáticos, Bardin (2016) divide a fase de análise de conteúdo em: (i)

pré-análise; (ii) exploração do material e (iii) tratamento dos resultados,

86

considerando a inferência e a interpretação. Para a pré-análise, fez-se a

organização de todo o material a ser analisado, ou seja, transcrição na íntegra

de cada uma das 25 entrevistas, cuidando para que o máximo de informações

fosse preservado. Feito isso, realizaram-se diversas leituras em todo o

material.

Após a pré-análise do material, passou-se à fase de exploração dos dados

alcançados e à formulação das categorias de análise referendadas na

literatura. As 25 entrevistas foram organizadas por respostas dos entrevistados,

sendo compiladas na íntegra para compor um corpus textual, seguindo a

formatação sugerida pelo software IRAMUTEQ, como por exemplo: **** *E_1

*sex_1 *mor_1, em que, E = entrevistado; *sex = sexo do entrevistado; *mor =

tempo de moradia no bairro.

Os entrevistados e suas respostas foram assinalados como: Entrevistado (1 a

25); sexo (masculino e feminino) em que 1 se refere ao sexo feminino e 2 ao

sexo masculino e para o tempo de moradia no bairro, 1 se refere a quem mora

no bairro de 20 a 30 anos; 2, a quem mora no bairro de 10 a 20 anos e 3, a

quem mora há menos de 10 anos no bairro.

O agrupamento do conjunto de textos por diferenciação segundo o gênero é o

que se chama categorização. Essa distribuição dos segmentos de textos, em

categorias possibilita e facilita as interpretações e as inferências. As categorias

são classes que reúnem um conjunto de elementos sob um título genérico que

é feito a partir dos caracteres comuns destes elementos. Nesta pesquisa se

adotará o termo categoria, para classificação das unidades de registro, ao

invés do termo classe.

O Iramuteq faz o agrupamento do conteúdo das entrevistas, a partir da base

estatística que tem como fórmula o chi2 (X² - de associação do segmento de

texto com a classe), formando um dendograma em que é factível analisar a

frequência das palavras no corpus e torna-se possível a identificação do

conteúdo lexical presente nos segmentos de texto (ST) de cada uma das

classes ou categorias. Assim, na terceira fase dessa análise, foram

87

estabelecidas cinco categorias: (1) Responsabilidade e cuidado com o

território; (2) Identidade social; (3) Engajamento comunitário; (4) Mobilização

comunitária e (5) Sentimento de pertencimento social.

Esse software também possibilitou a análise hierárquica descendente (CHD) ao

organizar os dados que ilustram as relações entre as classes, dando ao

pesquisador condição de realizar inferências minimamente pessoais,

garantindo validade à análise.

Assim como as entrevistas, o material verbal coletado no grupo focal foi

formado por 33 depoimentos que responderam 4 perguntas norteadoras

(APÊNDICE B), transcritos e, posteriormente, submetidos à análise do

Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) com auxílio do DSCSoft, ambos propostos

por Lefèvre e Lefèvre (2003; 2014).

A partir deste cadastro, o software fez as análises de primeiro nível no

Instrumento de Análise do Discurso 1 (IAD1) e de segundo nível no

Instrumento de Análise do Discurso 2 (IAD2). As análises de primeiro nível

(IAD1) e segundo nível (IAD2) foram feitas organizando o material verbal de

sentidos semelhantes ou complementares, como preconizadas na metodologia

do DSC. A IAD1 abrangeu a seleção das expressões-chave (ECH) e das ideias

centrais (IC), que direcionaram para a categorização. A IAD2 construiu o DSC

a partir das ECH de sentido semelhante ou complementar (MARINHO, 2015).

Após passarem pelo processamento e serem analisados, os depoimentos

deram origem a 8 (oito) Discursos do Sujeito Coletivo (DSC) e foram

identificadas três categorias: (1) A história do bairro Jardim Felicidade fortalece

o sentimento de pertencimento e identidade social; (2) Ter uma casa no Jardim

Felicidade representa a emancipação social e (3) Engajamento e participação

são diferentes entre os moradores do bairro.

3.3.6 ASPECTOS ÉTICOS

Os aspectos éticos foram observados em todas as fases dessa pesquisa.

Assim, o projeto foi cadastrado na Plataforma Brasil, para que fosse submetido

ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), observando a Resolução n° 466/2012

88

(vigente à época da solicitação), do Conselho Nacional de Saúde (ANEXO E),

sendo aprovado pelo CAAE n° 75117717.8.0000.5098, apresentado no Anexo

A.

Após explicar aos sujeitos como a coleta de dados seria realizada e tendo a

sua concordância, foi feita a solicitação de sua assinatura, em duas vias no

Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) apresentado no Anexo B,

do Termo de Autorização de Gravação e Uso de Imagem e Depoimentos

(ANEXO C) sendo que uma via ficou com as pesquisadoras e outra foi

entregue ao entrevistado e/ou participante do grupo focal. Após esse

procedimento, as entrevistas foram gravadas em áudio e filmadas, para

posterior transcrição.

3.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

A análise e interpretação dos resultados ocorreram após criteriosa exploração

de todo o material coletado nas entrevistas e no grupo focal (GF). A definição

das categorias de análises geradas, tanto pela análise de conteúdo (AC)

quanto pela análise do discurso do sujeito coletivo (DSC) tiveram por base a

literatura estudada, os depoimentos dos sujeitos entrevistados e dos

participantes do grupo focal.

A análise de conteúdo originou o corpus textual e as suas respectivas

categorias extraídas das entrevistas semiestruturadas; e o Discurso do Sujeito

Coletivo foi organizado a partir das expressões chaves (ECH) e das ideias

centrais (IC) oriundas das informações do grupo focal. Neste tópico serão

apresentados primeiramente os resultados da análise de conteúdo e, em

seguida, os do Discurso do Sujeito Coletivo.

Para a análise de conteúdo, confirmou-se que a saturação foi atingida na

vigésima quinta entrevista realizada quando ficou evidente a lógica interna do

objeto de estudo, com todas as suas conexões e interconexões e que a partir

daquele momento, as próximas entrevistas não trariam maiores

esclarecimentos para o objeto estudado (MINAYO, 2017). Esse resultado foi

89

confirmado pelos resultados gerados pelo Interface de R pour les Analyses

Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (IRAMUTEQ), visto que

dos 878 segmentos que compuseram o corpus textual, 795 foram classificados,

ou seja, 90,55%. Observa-se que o software considera que uma classificação

válida requer uma retenção mínima de 75% dos segmentos de texto (JUSTO;

CAMARGO, 2014).

O primeiro produto oferecido pelo Iramuteq, a nuvem de palavras, constitui uma

análise lexical mais simples, em que se trabalha com a representação gráfica

dos principais vocábulos que apareceram nos depoimentos, tendo em vista, a

frequência das palavras presentes nesse corpus textual. Conforme

apresentado na figura 3, a nuvem de palavras é interessante, pois possibilita

rápida identificação das palavras-chave de um corpus textual, contribuindo na

interface dos resultados (JUSTO; CAMARGO, 2014).

Figura 3: Nuvem de palavras obtidas nas falas dos entrevistados pelo Iramuteq.

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

Especificamente, na nuvem de palavras gerada para o contexto desta

pesquisa, as palavras mais frequentes foram: gente e bairro. A palavra gente

surge nos relatos dos sujeitos 287 vezes (32,68%) seguida da palavra, bairro,

90

que aparece 216 vezes (23,69%). É válido ressaltar que o vocábulo gente,

pode ser interpretado nos discursos dos entrevistados com o sentido de nós,

cuja conotação é a coletividade, corroborando com os seguintes relatos:

-“... E aí a gente chegou nesse momento e, aí, passamos a morar no

Jardim Felicidade.” (ENTREVISTADO 7).

-“Então... a gente está nesse processo de busca e de aprendizagem

e de experiência ainda.” (ENTREVISTADO 15).

-“E a gente quer propor isso para as pessoas e que elas se sintam

incentivadas a participar desse processo e a se preocupar com a

sua comunidade também, porque muitos deles vão ter filhos no

bairro, vão crescer.” (ENTREVISTADO 4).

- “A gente joga tudo que é lixo no rio, cachorro, cavalo, até guarda

roupa de tudo de tudo mesmo.” (ENTREVISTADO 19).

Para estabelecer as categorias de análise desta pesquisa, os dados obtidos

das entrevistas foram submetidos ao software Iramuteq. A figura 4 expõe a

análise de similitude realizada pelo Iramuteq utilizada frequentemente por

pesquisadores das representações sociais.

Por meio da análise de similitude, é possível identificar as co-ocorrências entre

as palavras nas categorias. Às palavras mais representativas é dado destaque

usando como referencia o Qui-quadrado (X²) de associação dessas palavras

dentro das categorias. Esse resultado traz indicações da concatenação entre

essas palavras, auxiliando na identificação da estrutura da representação

(CAMARGO; JUSTO, 2013).

Assim, é possível verificar, por meio de uma análise característica, que, apesar

das palavras pertencerem a uma determinada categoria, elas subsidiam o

entendimento. Podem também fortalecer outras categorias visto que a

sobreposição de vocábulos representativos para as ações contempla as 5

categorias estudadas.

91

Figura 4 – Resultado da análise de similitude

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

Ao observar os quadrantes da figura 4 de análise de similitude, percebem-se as

partes comuns, cujas palavras que exibem alguma conexão estão mais

próximas entre si. Esta forma de apresentação gráfica separa os grupos de

palavras por cores, tornando possível a criação e análise das categorias.

Quanto mais próximas ao eixo horizontal as palavras estiverem, maior

familiaridade há entre as categorias representadas. Quanto mais, as palavras

se distanciam do eixo horizontal, menor ligação existe entre as categorias

representadas.

92

As palavras que compuseram a categoria 1 – Responsabilidade e cuidado com

o território – jogar, lixo, córrego, rua, responsabilidade – estão na cor vermelha,

no quadrante III (inferior à esquerda), mais afastada do centro do quadrante.

As palavras que compõem a categoria 2 – Identidade social– trabalhar, noite,

Deus, graça, ficar – estão representadas pela cor cinza, no quadrante II

(inferior à direita), mais próxima do centro do quadrante e atingindo partes do

quadrante I (superior direito). Os quadrantes I e II apresentam as palavras – vir,

“cá”, lote, mãe, pai, morar, ganhar – que compõem a categoria 5 – Sentimento

de pertencimento social, e está representada na cor lilás.

As palavras vir, “cá”, lote, mãe, pai, morar, ganhar estão localizadas mais

afastadas do centro desse quadrante, porém estão associadas com as

palavras trabalhar, noite, Deus, graça, ficar, que compõem a categoria

identidade social e estão mais próximas ao centro desse quadrante o que

comprova uma proximidade temática entre essas categorias, oriundas dos

diversos relatos.

As palavras que compõem a categoria 3 – Engajamento comunitário: bairro,

comunidade, talvez, gosto, melhor, processo estão representadas na cor verde.

Encontram-se localizadas no quadrante inferior esquerdo, mais próximo do

centro do quadrante e agrupadas entre as palavras grupo, ajudar, Cleiton,

participar, CRAS, que compõem a categoria 4 – Mobilização comunitária, na

qual está representada na cor azul, localizadas no quadrante IV (superior à

esquerda).

O agrupamento das palavras por cores favorece a constatação de que as

palavras mais próximas representam conectividade entre as categorias. Por

exemplo, as palavras nas cores em azul e verde no quadrante superior

esquerdo são mais frequentes e representam as categorias 3 (Engajamento

comunitário) e 4 (Mobilização comunitária), apresentadas, respectivamente

verde e azul.

93

Nota-se, portanto, que as palavras: grupo, ajuda, participar, comunidade,

bairro, mobilização, correlacionam as propostas de engajamento comunitário e

mobilização comunitária no Bairro Jardim Felicidade.

Assim, seguindo a lógica de aproximação e interrelação entre as palavras nos

quadrantes, a partir da análise da figura 4, concebe-se que as categorias 3

Engajamento comunitário (verde) e 4 Mobilização comunitária (azul); 1,

Responsabilidade e cuidado com o território (vermelho); e 5 Sentimento de

pertencimento (lilás) e 2 Identidade social, constituem 3 blocos que encontram-

se distantes do eixo horizontal, o que indica uma menor ligação entre as

categorias 1; 3 e 4; 2 e 5.

Seguindo esse mesmo raciocínio, as palavras jogar, córrego, lixo,

responsabilidade representam a categoria 1 - Responsabilidade e cuidado dos

moradores, para com bairro Jardim Felicidade, enquanto que as palavras lote,

mãe, pai, morar, ganhar estão na categoria 5 – e representam o sentimento de

pertencimento social dos moradores ao local. Percebe-se que, as ações de

responsabilidade e cuidado com o território não estão diretamente relacionadas

ao sentimento de pertencimento no contexto desta comunidade, mas com a

formação da identidade social.

No entanto, percebe-se que, como visto na figura 4, o sentimento de

pertencimento está ligado à formação de identidade social – categoria 2 – que,

está de acordo com o estudo de Brea (2014), pois o indivíduo deverá se

empenhar coletivamente pela melhoria da qualidade de vida, por meio de um

pensamento mais crítico e reflexivo dentro de uma perspectiva que leva à

emancipação.

A constatação de que o sentimento de pertencimento e a identidade social

estão correlacionadas, se confirma com a análise de similitude (Figura 4), nos

quadrantes I e II da figura 4, que exibe a proximidade das palavras que

compõem as categorias Identidade social e Sentimento de pertencimento

social. Nesse sentido, a identidade social é um ponto importante na relação

94

com o sentimento de pertencimento, na medida em que, segundo Brea (2014),

tanto o pertencimento quanto a identidade podem interferir na construção de

valores e atitudes, e podem influenciar a forma de como os indivíduos e grupos

interagem entre si e com o local onde vivem.

Nesse mesmo sentido, tanto o pertencimento quanto a identidade social podem

interferir no modo como as pessoas agem sobre o meio, conforme propõem

Fassini, Machado e Schultz (2013) ao mencionarem que o ser humano se

humaniza a partir da linguagem e da vida em grupo. E como proposto por

Sarlot e Schmidt (2014), é no convívio com os demais que as identidades são

afirmadas e as atitudes de afiliação dos indivíduos com o local são fortalecidas,

estabelecendo as características desse ambiente social.

A análise feita a partir da Classificação Hierárquica Descendente (CHD)

possibilitou a separação do corpus textual (conjunto de textos analisados), em

25 unidades de textos iniciais, 878 segmentos de texto, 3428 formas distintas,

30.916 ocorrências, 2051 formas ativas, 5 classes formadas a partir da

aproximação dos sentidos e relevância das palavras, conforme apresentado na

figura 5.

Figura 5: Classificação Hierárquica Descendente (CHD)

------------------------ |I|R|A|M|U|T|E|Q – Tue Nov 28 15: 40:32 2017 ------------------------ Number of texts: 25 Number of text segments: 878 Number of forms: 3428 Number of occurrences: 30916 Número de lemas: 2222 Number of active forms: 2051 Numero de formas suplementares: 162 Numero de formas ativas com a frequência: >=3:726 Média das formas por segmento: 35.211845 Number of clusters: 5 795 segments classified on 878 (90.55%) ############################ Tempo: 0h 0m 23s ############################

Fonte: Dados da pesquisa gerados no Iramuteq, 2017.

95

A tabela 1 apresenta a correlação das palavras nas 5 categorias, em que

Eff.S.t representa o número de segmentos de texto que contêm a palavra na

classe; Eff. Total o número de segmentos de texto no corpus que contêm, ao

menos uma vez, a palavra citada; Porcentagem corresponde a ocorrência da

palavra no segmento de texto nesta classe, em relação a sua ocorrência no

corpus textual; Chi2 representa o X² de associação da palavra com a classe; e

UCE é a Unidade de Contexto Elementar que é entendida como a

representação elementar, o enunciado mínimo de discurso dentro de um texto.

O software localiza o vocabulário nas diferentes unidades de contexto e as

coloca em relação. Em outras palavras, conecta contextos que possuem

palavras comuns. (DELAVIGNE, 2003).

Tabela 1 – Estruturação das categorias a partir das palavras-chave.

Categoria 1 – Responsabilidade e cuidado com o território UCE: 24,03%

Palavras Eff. S.t. Eff. Total Porcentagem Chi2 Jogar 59 63 93.65% 181.72 Lixo 56 66 84.85% 145.88 Córrego 30 41 73.17% 57.2 Rua 42 72 58.33% 51.05

Responsabilidade 12 12 100.0% 38.53 Morador 20 31 64,52% 28,97

Papel 12 14 85,71% 29,71 Categoria 2 – Identidade social

UCE: 21,51% Trabalhar 39 53 73.58% 91.21

Noite 10 10 100.0% 36.96 Deus 20 31 64.52% 35.34 Ficar 40 91 43,96% 30,67 Tarde 9 9 100.0% 33.22 Graça 15 21 71.43% 31.84

Categoria 3 – Engajamento comunitário

UCE: 21,26% Bairro 63 149 42.28% 48.42 Comunidade 24 38 63.16% 41.86

Talvez 8 8 100.0 29.93 Gosto 31 66 46.97% 28.43

Bom 30 65 46.15% 26.21

Melhor 14 23 60,87% 22,2

Processo 8 10 80,0% 20,88

Categoria 4 – Mobilização e participação comunitária UCE: 14,59%

Grupo 16 21 76.19% 65.68

Ajudar 32 82 39.02% 43.8 Cleiton 7 7 100.0% 41.34

Participar 27 66 49.90% 40.0 CRAS 11 18 61.11% 31.98

Categoria 5 – Sentimento de pertencimento social UCE: 18,62%

Lote 21 22 95.45 88.17 Mãe 34 55 61.82% 72.79

Pai 23 30 76.67% 69.34 Vir 63 116 54,31% 114,21 Lote 21 22 95,45 88,17

Cá 32 41 78,05 100,78 Morar 46 94 48.94% 64.68 Ganhar 23 32 71.88% 62.42

Fonte: Dados da pesquisa, 2018

96

A Classificação Hierárquica Descendente (CHD) visa obter classes de

segmentos textuais semelhantes entre si e, ao mesmo tempo, diferentes dos

segmentos de outras classes. Com essa organização, o software analisa os

dados e os apresenta em um dendograma que ilustra as relações entre as

possíveis classes (CAMARGO; JUSTOS, 2013), como pode ser verificado na

figura 6. Observe que o dendograma mantém as diferentes cores utilizadas na

análise de similitude.

Figura 6: Dendograma Classificação Hierárquica Descendente (CHD)

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

Como base no conteúdo lexical e na representação fatorial da CHD, foram

obtidas cinco categorias com seus respectivos vocábulos, a saber:

97

Categoria 1, Responsabilidade e cuidado com o território, com as

palavras jogar, lixo, córrego, rua, responsabilidade e morador;

Categoria 2, Identidade social, trabalhar, noite, Deus, graça;

Categoria 3, Engajamento comunitário, contendo as palavras bairro,

comunidade, talvez, gosto, bom, tarde, melhor e processo;

Categoria 4, Mobilização comunitária, estruturada com os termos grupo,

ajudar, Cleiton, participar e CRAS;

Categoria 5, Sentimento de pertencimento social, com as palavras, vir,

“cá” (significando aqui), lote, mãe, pai, morar e ganhar.

Assim, cada categoria recebeu uma denominação em função dos termos

apresentados e das temáticas dessa pesquisa (pertencimento social,

participação e engajamento comunitário) como propõem os estudos de Justo e

Camargo (2014).

Com base no dendograma (Figura 6), da esquerda para a direita, têm-se dois

subcorpus que representam as categorias dois e cinco; a seguir, outros dois

subcorpus que correspondem às categoria quatro e três e, isoladamente a

categoria um. Assim, foram estabelecidas cinco categorias: (i)

Responsabilidade e cuidado com o território; (ii) Identidade social; (iii)

Engajamento comunitário; (iv) Mobilização comunitária; (v) Sentimento de

pertencimento social que serão apresentadas a seguir.

3.4.1 CATEGORIA 1 – RESPONSABILIDADE E CUIDADO COM O

TERRITÓRIO

A Responsabilidade e o cuidado do território, como visto nos resultados desta

pesquisa, estão relacionados às práticas de manutenção e limpeza, descarte

adequado dos resíduos (lixo), saneamento básico e revitalização do córrego

Tamboril. Estas práticas estão relacionadas ao cuidado com o meio ambiente e

estão previstas na Constituição Federal de 1988, no artigo 225 que trata desse

assunto: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem

98

de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao

Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as

presentes e futuras gerações.” (BRASIL, 1998).

A categoria - Responsabilidade e cuidado com o território envolveu 24,3% dos

relatos dos entrevistados. As palavras em evidência são: jogar (93,65%); lixo

(85,85%); córrego (73,17%); rua (58,33%); responsabilidade (38,53%); papel

(85,71%) e morador (64,52%). Para os moradores do bairro Jardim Felicidade,

a relação de cuidado e responsabilidade com o território está diretamente

ligada à manutenção da limpeza das ruas, do córrego e deposição dos

resíduos sólidos em local adequado.

Vale esclarecer que a palavra jogar, neste contexto foi usada pelos

entrevistados no sentido de: arremessar, depositar, atirar, lançar. Ela tem

representatividade de 93,65% na categoria Responsabilidade e cuidado com o

território, o que equivale ao X² de 181,72. A categoria, Responsabilidade e

cuidado com o território é composta pelas unidades de contexto elementares

(UCE) absorvidas nessa classificação totalizando 24,03% dos relatos dos

sujeitos entrevistados, conforme tabela 1.

Percebe-se que cuidado e responsabilidade enunciam o zelo com o meio

ambiente, local onde se vive, remetendo ao cuidado com o território em seu

aspecto estrutural e relacional (BRASIL, 2008; KOGA, 2003; LIMA; YASUI,

2014; RAFFESTIN, 1993; SANTOS, 2000).

O território pode ser, portanto, referência de pertença e identificação positiva,

quando os moradores dele se apropriam e têm o privilégio de usufruí-lo

(HAESBAERT, 2005). O cuidado, neste contexto, envolve as práticas

relacionadas ao saneamento básico (limpeza, acondicionamento, descarte

correto dos resíduos sólidos e líquidos em local apropriado), ou mesmo, a

despoluição do córrego. Alguns relatos das entrevistas ilustram essa categoria,

a saber:

- “Então, no Jardim Felicidade, eu não sou um mero espectador. Sou uma pessoa, uma pessoa que se importa com esse bairro. Eu gosto do que principalmente do que eu ajudei a construir porque eu me sinto parte

99

dessas coisas, responsável. Eu gosto de gostar delas é o primeiro passo para se envolver com elas, para se preocupar com elas, se não, eu as negaria. Eu posso dizer que eu não gosto do Córrego poluído, mas eu gosto muito desse córrego e gosto tanto a ponto de querer que ele seja limpo, que as pessoas não jogam mais lixo nele, que o esgoto não caia mais nele, que as revitalizações que as nascentes sejam revitalizadas. (...).” (ENTREVISTADO 4).

-“Principalmente a questão do lixo é tão simples uai o caminhão de lixo já não passa nos dias alternados tudo direitinho? é só colocar o lixo no dia certo na hora certa (...) A mensagem desse bairro é essa, é isso! Um bom dia, isso é cuidar do seu espaço, isso é cuidar do ambiente, essa educação entre as pessoas, isso é um cuidado.” (ENTREVISTADO 18).

- “(...) então assim, retiramos os lixos de alguns pontos (...) então, eu vejo

que quando algumas pessoas começa a conhecer a importância daquela

ação, elas cuidam então a importância de não se ter lixo.”

(ENTREVISTADO 1).

- “(...) e essa falta de cuidado que a gente pode observar na rua com os

lixo as casas mal acabadas isso as vezes nem é tanto problema financeiro.

Isso é mais às vezes porque a pessoa não se importa mesmo com aquele

lugar. Então, como eu falei né do cuidado com as casas como os lixo na

rua... isso dos moradores primeiramente né porque eu acho até que é uma

questão social.” (ENTREVISTADO 9).

- “Jogando lixo no lugar certo, doando tempo para desenvolver atividades

que beneficiam os outros moradores e criando campanhas de

conscientização contra vícios, violência e o descuido com o meio

ambiente.” (ENTREVISTADO 3).

Nessa perspectiva de cuidado e responsabilidade, o território foi mencionado

de forma explícita nos relatos dos sujeitos entrevistados, especificamente

quando estes falam sobre o bairro, o ambiente, o espaço, o lugar:

- “E aí, esse lugar foi me encantando, foi me encantando.”

(ENTREVISTADO 20).

- “Não tenho nada a reclamar desse bairro (...) hoje, então para mudar para

melhorar esse bairro, nosso aqui, as coisas tem que começar a mudar lá

em cima”. (ENTREVISTADO 5)

- “Aí eu peguei elas e arrumei um lote aqui no Jardim Felicidade.”

(ENTREVISTADO 7).

100

Os dados revelam ainda que, a queixa dos moradores em relação ao bairro

Jardim Felicidade está relacionada ao fenômeno da violência no território,

principalmente, a que envolve crianças, adolescentes e jovens.

- “Tem muita violência aqui no bairro tem muita gente no meio das drogas.

Eu não gosto quando isso entra dentro da casa da gente, sabe? Porque às

vezes, a gente acha que as coisas não acontecem dentro da casa da

gente, só na casa dos outros.” (ENTREVISTADO 15).

- “Deus um dia, vai colocar uma pessoa que pensa. Que vai arrumar um

projeto para os nossos jovens, alguma coisa assim, que tenha onde focar.

Que eles gostam de fazer, que eles não têm esse tempo de tá mexendo

com coisa errada.” (ENTREVISTADO 7).

Independente da conotação positiva ou negativa do depoimento, no que tange

à categoria Responsabilidade e cuidado com o território, fica evidente que o

território é compreendido como sendo o lugar das relações sociais em que a

vida acontece diariamente. Seguindo esta lógica, o território pode inspirar a

identificação positiva e a efetiva apropriação do espaço por aqueles que têm o

privilégio ou a necessidade de usufruí-lo (HAESBAERT, 2005), conforme relato

de um dos sujeitos entrevistados, que ao descrever sobre seu sentimento em

relação ao bairro, diz:

- “(...) isso aqui é um lugar que eu não admito que fale isso, [entrevistada faz gestos de unir os dedos polegar e indicador numa demonstração de coisa pequena] desse bairro, porquê eu comecei ali do zero (...) Ah.... ele representa o meu crescimento. O meu crescimento como pessoa.” (ENTREVISTADO 22).

- “(...) porque trabalho e faço faculdade. Então, meu dia a dia é mais fora

da comunidade mesmo (...) eu acho que se elas tivessem chance, elas não

morariam aqui, as vezes, muitas delas não todas, mas se elas tivessem

condição de ter né outra casa, em outro lugar... talvez, elas cuidariam

melhor né valorizaria o bairro. Então, assim, eu acho que elas moram aqui,

mas não porque gostam daqui, mas porquê precisam, porque quando você

gosta do lugar que você mora, você cuida muito mais.” (ENTREVISTADO

9).

A categoria Responsabilidade e cuidado com o território é bem retratada nas

respostas dos entrevistados, evidenciando como as pessoas podem cuidar do

local onde moram e que tipo de cuidado o bairro precisa. Conclui-se que o

construto cuidado com o território é compreendido pelos moradores como

101

ações que retratem a responsabilidade dos moradores bem como o papel de

cada um para a manutenção da limpeza do bairro e para a preservação do

córrego Tamboril.

3.4.2 CATEGORIA 2 – IDENTIDADE SOCIAL

A identidade pode ser construída tanto em âmbito individual quanto coletivo,

pois está relacionada ao indivíduo como ser único, com suas peculiaridades,

que vão se desenvolvendo ao longo da vida. Assim, a identidade social é

formada nas relações deste sujeito único, com outros indivíduos e com meio

social, que transita por diferentes contextos e grupos formando sua identidade,

ao permitir a esse sujeito que se localize socialmente (BERLATTO, 2009;

OLIVEIRA; SILVA, 2017).

A categoria, Identidade social é composta pelas unidades de contexto

elementares (UCE) absorvidas nessa classificação totalizando 21,51% dos

relatos dos sujeitos entrevistados conforme apresentado na tabela 1. A palavra

trabalho (73,58%) e suas variações lexicais (trabalhar, trabalhando, trabalhei,

trabalhavam) aparecem nos relatos dos sujeitos atreladas, principalmente, à

história de construção coletiva do bairro. Inter-relacionadas a elas, estão as

palavras: noite (100,0%) Deus (64,52%), ficar (43,92%), perder (88,89%) e

graça (71,43%).

- “Isso aqui foi feito com muito suor, muita luta. A gente começou do nada. Então, quem viu isso aqui e quando olha para isso aqui é um bairro humilde, mas para mim, isso aqui... para mim, é um Belvedere!4 Porque isso aqui foi com muito muita luta. Cada casinha dessa aqui que a gente viu crescer.” (ENTREVISTADO 24).

A análise que se faz do conteúdo destes relatos é que os moradores atribuem

o trabalho de construir suas moradias e o bairro, a uma graça e providência

divina. Por esse motivo, expressões como Deus e graça aparecem em

4 Belvedere é um bairro situado na região Sul da capital de Belo Horizonte, com localização

privilegiada e que abriga as classes de maior poder aquisitivo.

102

evidencia. Neste contexto, justificam-se as palavras: ficar (43,92%), perder

(88,89% e noite (100%). Para os moradores, o fato de trabalharem edificando

suas moradias, principalmente à noite com o intuito de conseguirem edificar

suas casas sem que seu direito fosse perdido, estava de acordo com o critério

de construção em 45 dias estabelecido pela AMABEL. Os depoimentos a

seguir ilustram essa percepção.

- “A gente pegou uma afinidade muito grande do começo pra ver o bairro

crescer, nascer. Eu carreguei muita lata_d´água na cabeça, ajudei muitas

pessoas.” (ENTREVISTADO 5).

- “Então... sabe, eu tava no céu. Isso aqui é meu graças a Deus. Não tinha

muro nem nada, não tinha nada, nada, nada, sabe? [...] Que tinha aquele

tanto de gente construindo [...] Hoje, eu tenho maior orgulho disso aqui [...]

Eu ganhei material pra dois cômodos e como era muito acidentado, eu fiz

me deram os bloco para fazer o porão. Aí, o que eu fiz? Eu fiz o porão de

cozinha, uma escada, até no quarto e banheiro. Fiz dois andar e o piso era

queimado que fala né? Aí eu não tinha muito móvel, aí comprei dois

móveis. Aí eu tava no meu Palácio.” (ENTREVISTADO 21).

-“Não conseguiram melhorar tem alguns cantinhos aqui tem as casas

antigas e graças a Deus hoje não, hoje a maioria tá melhor. Essa casa

minha, você vê desse tamanho, isso foi feito com muito sacrifício.”

(ENTREVISTADO 7).

- “Esse bairro representa tudo. Tudo que eu consegui, eu consegui aqui,

eu estudei aqui, tive meus amigos aqui, o meu primeiro emprego foi aqui,

eu fui jovem aprendiz do Banco Brasil e lá eu aprendi muito. Então, ele

representa tudo... tudo... mesmo.” (ENTREVISTADO 17).

Ao analisar o contexto em que as palavras se evidenciam nesta categoria, e

com base na literatura estudada, identifica-se que a formação da identidade,

especificamente, a identidade social está associada ao conjunto de vinculações

de um sistema social que permite ao sujeito localizar-se e ser localizado

socialmente (BERLATTO, 2009).

- “Você só via muita gente trabalhando porque tinha prazo de construir que

era 45 dias que o povo tinha para construir, 2 cômodos se não construísse

em 45 dias, a pessoa perderia.” (ENTREVISTADO 5).

- “Era final de semana e de noite que a gente construía, porque tinha que

trabalhar né?” (ENTREVISTADO 22).

103

- “Aí depois minha mãe foi morar com meu padrasto, aí a vida ficou um

pouco mais difícil aí ficava naquele vai e volta sabe aí até que hoje, graças

a Deus, a gente tá melhor.” (ENTREVISTADO 12).

Dessa maneira, percebe-se, ao analisar os relatos dos moradores

entrevistados, que estes sujeitos formam com este território seu espaço de

identificação, sua identidade social. Nesse sentido, Tavares (2014) observa a

partir do que propõe a Psicologia Social Crítica, que

a construção da identidade e da subjetividade dos indivíduos são processos psicossociais que têm em sua composição fatores históricos e contextuais, que afetam as relações e segmentam a sociedade em classes e/ou categorias. Dessa forma, acentuam-se as semelhanças e diferenças entre os indivíduos e produzem, ao mesmo tempo, sentimentos de pertença a determinados grupos, bem como discriminações e exclusão de outros. (TAVARES, 2014, p. 193).

Como visto à priori, para os moradores do bairro Jardim Felicidade, a formação

de identidade se relaciona ao território a partir do trabalho exercido por eles na

construção do bairro. Nesse sentido, é possível perceber que não só

moradores que ajudaram na construção do bairro, mas também aqueles que

conhecem a história de luta dos primeiros moradores ou participaram

indiretamente e/ou que, de alguma forma estão envolvidos em ações de

desenvolvimento deste território, aparentam ter mais identificação com o local.

- “Então, o bairro eu vim de uma realidade que ela foi destruída né? Então,

minhas raízes não estão mais lá. Elas foram destruídas. Só estão na

lembrança, né? E, é no Felicidade que eu reconstruí.” (ENTREVISTADO

4).

- “Isso aqui é minha segunda casa e a comunidade também. Aqui, eu

aprendi, eu ganhei muito aqui... nossa eu aprendi muito, gente eu ganhei

muito aqui, eu gosto daqui, da acolhida.” (ENTREVISTADO 23).

A identidade é formada a partir das relações sociais. Nesse sentido, Brea

(2014) assinala que a identidade é um sentimento que faz referência à

singularidade e à participação do indivíduo nos ideais e nos modelos culturais

do grupo; na medida em que os processos de sua formação são sociais

(DESCHAMPS; MOLINER, 2009).

104

Dessa maneira, analisa-se que, os moradores que vivenciaram a construção do

bairro Jardim Felicidade, tiveram sua identidade social concebida a partir das

relações e vínculos estabelecidos, das expectativas, do desejo por melhorias

locais e também pelas possíveis disputas, contradições e conflitos

estabelecidos durante a edificação de suas casas, quando chegaram ao bairro

e precisavam construí-las em curto período de tempo. Estes moradores

construíram suas identidades a partir de causas e necessidades comuns com o

território e com outros moradores.

- “O povo trabalhava tudo junto, era mais unido, um ajudava o outro na

construção da casa e, ali também, eu gostava.” (ENTREVISTADO 15).

- “Este bairro é a extensão da minha casa. É onde eu vivo. Onde construí

minha vida, foi aqui nesse bairro... Então, ele é isso extensão da minha

casa.” (ENTREVISTADO 14).

Outros moradores, em contrapartida, não estabeleceram uma identidade

positiva com o bairro.

- “Eu acho que as pessoas moram aqui no bairro, mais pela situação de não ter onde morar, de não ter condições de ter um outro lugar. Eu acho que se elas tivessem, elas não morariam aqui (...).” (ENTREVISTADO 8).

- “Amigos assim que eu posso trocar ideias desse tipo, eu não tenho. Eu

não tô trabalhando. Não estou estudando. Eu fico mais é em casa mesmo.

Esse bairro não representa nada prá mim. Não tem coisa boa hoje em dia.

Não tem uma coisa legal aqui. Mas, ele foi bom na época que eu tinha 7

anos. Tinha meus amigos que a vida levou. Esse bairro então, ele

representa para mim é saudade dos meus amigos que a vida levou.”

(ENTREVISTADO 10).

Os resultados da pesquisa apontam para o fato de que, no processo de

construção do bairro Jardim Felicidade, houve a formação da identidade social

dos moradores, na medida em estes desenvolveram o sentimento de

pertencimento para com este território em consonância com os estudos de

Fassini, Machado e Schultz (2013).

Entretanto, também foram apresentados relatos de moradores que não

estabeleceram uma identidade positiva em relação ao bairro. Problematiza-se o

fato deste não pertencimento e não identificação com o bairro estar vinculado

105

ao estigma atribuído aos moradores de comunidades de baixa renda (SILVA;

FINELLI; ALMEIDA, 2016), como é o caso do Bairro Jardim Felicidade.

As respostas dos entrevistados evidenciaram que os grupos sociais possuem

identidades que lhes são peculiares ou que podem ser fruto de uma

conjugação de características decorrentes da vivência social (OLIVEIRA;

SILVA, 2017). Dessa maneira, a construção de identidade social se dá nas

relações e inter-relações com o Outro e com o meio conforme observado nos

relatos citados anteriormente.

Este Outro tem relação com o conceito de alteridade, o Outro que está em

relação com, e se diferencia do outro que quer dizer, semelhante, próximo

(LACAN, 1985). De acordo com Gilberto Velho (2008), este Outro é que

ressalta a diferença existente entre os sujeitos sociais e também pode

fortalecer os processos de estigma voltados à comparação e à diferenciação,

que são aspectos relevantes na formação de identidade social e que podem

influenciar negativamente a construção dessa identidade (ANDRÉ, 2007).

3.4.3 CATEGORIA 3 - ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO

O engajamento comunitário, de acordo com Jacobi (2005) e Sales (2014), é um

construto que deve ser compreendido como processo que envolve

continuidade nas ações. Além de ser coletivo e colaborativo, esse processo

mobiliza potências subjetivas e intersubjetivas em espaços de convivência (SÁ,

2005). O engajamento pode ser identificado quando os indivíduos trabalham

juntos em favor de uma causa, um objetivo comum.

A categoria Engajamento comunitário é composta pelas unidades de contexto

elementares (UCE) absorvidas nessa classificação totalizando 21,26% dos

relatos dos sujeitos entrevistados (TABELA 1) e está em acordo com o

proposto por Sales (2014), quando esta diz que engajamento comunitário

implica em modos de agir e de planejar a ação em parceria com os sujeitos de

determinado território. Isso justifica os termos: talvez, bom e melhor nas

entrevistas realizadas, pois o comportamento do indivíduo é diferente em

relação às ações comunitárias existentes.

106

Assim, as palavras em destaque nesta categoria são: bairro (42,28%);

comunidade (63,16%); talvez (100,0%); gosto (46,97%); bom (46,15%); melhor

(60,87%) e processo (80,0%) conforme descrito na tabela 1. Elas surgem nos

relatos dos sujeitos da seguinte maneira.

- “Mas, a comunidade tem que fazer sua parte também, Tem que ajudar

porque que se os governantes fazem alguma coisa e a comunidade não

ajuda, não adianta. Então, eu acho que é mais da comunidade.”

(ENTREVISTADO 3).

- “Eu gosto... gosto muito do bairro. Eu gosto de pessoas. Eu acho que o

bairro... é um bairro de pessoas simples como eu e eu acho que é um

bairro que eu posso ajudar, você entendeu?” (ENTREVISTADO 6).

Nota-se que as palavras em evidência nos relatos dos entrevistados foram:

bairro e comunidade. A palavra Bairro tem 42,28% de ocorrências nos

segmentos de texto na classe em relação ao corpus. A palavra comunidade

aparece tem 63,16% de ocorrência nos segmentos de texto na classe em

relação ao corpus conforme descrito na tabela 1.

Vale ressaltar que o sentido da palavra comunidade para o contexto desta

pesquisa está elucidado à luz do proposto por Silva e Hespanhol (2016), como

sendo um grupo de pessoas que vivem dentro de um mesmo espaço territorial,

ligadas por interesses e condições de vida comuns. Para as autoras, a

comunidade é caracterizada a partir de uma base territorial, com distribuição de

pessoas, de instituições e de uma vida social marcada por certo grau de

coesão social e pode ser ilustrado pelo seguinte depoimento:

- “Minha família conta da luta que foi pra construir, pra conseguir as coisas.

Aqui, era um bairro muito pobre mesmo. Meu dia a dia, na comunidade, é

tranquilo porque conheço a maioria dos moradores.” (ENTREVISTADO 3).

Nesse contexto, a palavra bairro aparece com sentido semelhante ao de

comunidade na medida em que é a integração natural da vida social. A análise

do conteúdo das entrevistas indica que o bairro e a comunidade são, para os

moradores, o lugar em que se dá o engajamento comunitário como

apresentado nos depoimentos a seguir:

107

- “É um bairro que tem tudo para dar tudo certo, mais do que já deu... tem

uma comunidade, vamos falar assim... boa, uma boa vizinhança.”

(ENTREVISTADO 19).

- “Acho que todo mundo tem que fazer sua parte a comunidade tem que

juntar e levantar os problemas, o que o bairro precisa e deve levar pros

governantes que também tem que fazer a parte deles.” (ENTREVISTADO

17).

Os demais vocábulos evidentes nesta categoria são gosto, do verbo gostar,

cuja ocorrência de segmentos de texto é 46,97% (TABELA 1), refletindo a

apreciação pelo bairro Jardim Felicidade, conforme os depoimentos a seguir:

- “Eu gosto, gosto muito do bairro. Eu gosto de pessoas. Eu acho que o

bairro é um bairro de pessoas simples como eu.” (ENTREVISTADO 5).

- “Eu gosto das pessoas, dessa união. Sabe... tem muita coisa pra fazer

aqui na questão do córrego e a gente tá fazendo.” (ENTREVISTADO 20).

- “Eu gosto do que eu ajudei a construir. Eu gosto de tá ajudando.”

(ENTREVISTADO 4).

- “Eu gosto da boa convivência com os moradores, gosto de que aqui

tenha moradores dispostos a se envolverem com políticas sociais para a

melhoria do próprio bairro.” (ENTREVISTADO 3).

A palavra gosto também surgiu em relatos negativos em relação às questões e

fenômenos existentes no bairro, como a violência, o tráfico de drogas, os

problemas socioambientais que podem comprometer o engajamento

comunitário, a saber:

- “(...) eu não gosto do Córrego poluído, (...) eu não gosto dessa violência,

dessa disputa do tráfico (...).” (ENTREVISTADO 4).

- “Eu não gosto de falar que eu moro aqui.” (ENTREVISTADO 10).

A palavra processo aparece nos segmentos de texto em relação ao corpus com

80,0% de ocorrência conforme tabela 1 e surge nos seguintes relatos dos

entrevistados:

- “Ele [o bairro] pede como uma troca essa união, ele está em processo de

começar a ser unido em ações, ele tá começando a ganhar isso, assim tá

pouquinho, pouquinho e a gente tá fazendo.” (ENTREVISTADO 20).

108

- “Esse processo foi através da privatização da vale e aí nós fomos

desapropriados e aí meu pai começou no desespero de procurar outra

moradia (...) Eu participei de todos os processos também e aí eu participei

de muitas coisas aqui que culminam na pessoa que eu sou hoje, assim de

luta, ai eu tô aqui para continuar, sabe?” (ENTREVISTADO 4).

Constata-se que, nesse estudo, a palavra processo está investida do

significado de sucessão, estado de mudança, realização, execução de alguma

tarefa, de um objetivo comum, em consonância com Ferreira (2002). No

contexto dos moradores do bairro Jardim Felicidade, o processo ao qual se

referem os entrevistados diz respeito à evolução em que os acontecimentos

relacionados à busca por melhoria das condições de sobrevivência no bairro se

deram no passado e que ainda ocorrem na atualidade.

- “Tem um grupo também de mulheres que é da economia solidária que eu

as acompanho (...) Eu estudei Serviço Social. (...) estou colocando à

disposição da comunidade meu conhecimento. Lá, elas têm oficinas e

constroem coisas maravilhosas. (...). Tenho participado dessas lutas

ambientais, por exemplo, da revitalização do córrego Tamboril. Tenho

participado da rede de moradores na perspectiva também de criar

intervenções mais amplas para uma comunidade melhor. Eu tenho

participado de uma série de interlocuções com escola municipais.”

(ENTREVISTADO 1).

- “Bom, eu tenho liderado o coletivo da juventude que cria e organiza

ações em prol de uma comunidade melhor. Tenho participado dessas lutas

ambientais, por exemplo, da revitalização do Córrego Tamboril. Tenho

participado da rede de moradores na perspectiva também de criar

intervenções mais amplas para uma comunidade melhor. Eu tenho

participado de uma série de interlocuções com Escola Municipais, com o

CRAS, com os instrumentos públicos que nós temos aqui na perspectiva

de que eles possam também realizar melhor os seus trabalhos e

possamos fazer trocas.” (ENTREVISTADO 4).

- “(...) hoje, eu sou oficineiro (...) aqui no bairro (...). Eu faço oficina e eu

sou muito ligado à educação física, eu sou formado em Educação Física e

trabalho com artes marciais, sou professor de jiu jitsu numa academia e

vim com o desafio de implantar o futebol que é a coisa mais fácil no

espaço.” (ENTREVISTADO 14).

Com relação ao engajamento comunitário, os dados dessa pesquisa revelam

que 56% dos moradores que exercem alguma atividade no bairro, são

109

moradores há mais de trinta anos ou são filhos desses moradores. 28% dos

moradores entrevistados que disseram não estarem engajados em nenhuma

atividade relacionada ao bairro, justificam que estão no bairro há menos de 10

anos e 12% afirmaram morar no bairro há mais de trinta anos.

Dos moradores que responderam não estarem envolvidos em nenhuma

atividade de desenvolvimento do bairro, a porcentagem é maior (12%) quando

se trata daqueles que disseram terem ido morar no bairro há menos de 10

anos. Os motivos foram justificados pelos depoimentos:

- “Mas, agora, eu não participo mais, cansei. A gente luta, luta e não

melhora, aí cansei.” (ENTREVISTADO 6).

- “Não! Não dá tempo de participar de nada. Só de trabalhar.”

(ENTREVISTADO 2).

Esta constatação vai de encontro ao pressuposto da pesquisa, que o

sentimento de pertencimento interfere no engajamento comunitário, uma vez

que a porcentagem de moradores engajados é maior quando se trata daqueles

indivíduos que moram no bairro desde sua fundação.

A categoria Engajamento comunitário permitiu a inferência de que, para os

moradores do bairro Jardim Felicidade, este território é o local, o espaço vivido

(SANTOS, 1996) onde se materializa o processo de engajamento. Esse

processo, segundo os entrevistados 4 e 20, ocorreu por meio do engajamento

dos moradores nas ações.

3.4.4 CATEGORIA 4 – MOBILIZAÇÃO COMUNITÁRIA

A mobilização comunitária consiste em um processo de participação popular

que ocorre quando cidadãos se reúnem na busca de soluções para problemas

comuns. No contexto desta pesquisa, a mobilização comunitária visa à

capacitação da comunidade para lidar com os problemas sociais que os

afetam, de acordo com o estudo de Santos (2012).

Em Ferreira (2002), a palavra mobilizar significa: “Movimentar, Motivar, mover

em prol de causa, campanha, movimento, etc”. (FERREIRA, 2002, p. 466). De

110

acordo com o dicionário de língua portuguesa Priberam, a palavra mobilizar

tem as seguintes conotações: pôr-se em movimento, pôr-se em ação

(PRIBERAM, 2008-2013).

A categoria Mobilização comunitária apresentada na figura 6, é a 4ª categoria

nesta base de análise. Os relatos dos entrevistados totalizaram 14,6%. As

palavras em evidência são: grupo (76,19%); ajudar (39,02%); Cleiton (100,0%);

participar (40,91%); CRAS (61,11%). A categoria Mobilização comunitária é

composta pelas unidades de contexto elementares (UCE) absorvidas nessa

classificação totalizando 14,59% dos relatos dos sujeitos entrevistados,

conforme tabela 1.

De acordo com Henriques (2013, p. 31), a mobilização social é “um ato de

vontade das pessoas em torno de propósitos comuns, tendo em perspectiva as

contribuições de cada um, no processo de transformação das suas condições”.

As palavras em evidência na categoria Mobilização comunitária surgem nos

relatos dos sujeitos, conforme a seguir:

- “Eu preciso, mais tem gente que precisa mais. O CRAS me ajudou muito.

Eu participo da Academia da Cidade vou no posto de saúde quando

preciso, faço caminhada... só esse bairro representa pra mim um lugar

bom pra morar e conviver.” (ENTREVISTADO 3).

- “Mas, com minha proximidade com o Cleiton, com essa proximidade, eu

fico mais por conta. Então, por causa da associação, eu vou em muitas

reuniões, participo das mobilizações de tudo sabe.” (ENTREVISTADO 20).

- “Passei a participar da Rede e minha vida fluiu e cada vez me sinto mais

conectada nesse lugar. Cada vez me sinto mais presente, cada vez mais

me sinto eu neste lugar, eu juro para você (...).” (ENTREVISTADO 1).

- “Então, eu sempre participei, assim... de mobilizações muito pontuais,

tipo a igreja chamou o pessoal pra participar do Orçamento Participativo,

então eu ia. Na rua chamava, fazia aquele movimento ah sei lá... alguma

coisa da festa do bairro.” (ENTREVISTADO 14).

De acordo com Vráblíková (2013), a mobilização versa sobre aspectos de

participação do cidadão na sociedade, no sentido de suprir as lacunas das

privações e carências sociais, levando os sujeitos a se mobilizarem na busca

111

de melhores condições para a coletividade. Entretanto, Moisés et al. (2010)

argumentam que a mobilização social, sob um ponto de vista mais crítico, não

se limita a engajar os indivíduos, as famílias e a coletividade para uma ação,

mas trata de incentivá-los à participação efetiva dos recursos das comunidades

locais, capacitando, fortalecendo e organizando os sujeitos por meio de

processos educativos transformadores.

Os relatos das entrevistas condizentes com o exposto anteriormente foram:

- “(...) comecei desde um pequeno convite de morador Z, para fazer, para

fazer um trabalho no Jardim Felicidade e, hoje, estou aqui... de verdade,

sério! Sabe? Eu comecei a entender o que é ser morador. Aí... eu comecei

a perceber, mesmo eu sendo nova, que eu tenho um papel. Eu tenho uma

função, né? E, é bom quando você começa a perceber que você tem essa

função, que não é nada imposto.” (ENTREVISTADA 18).

- “Então, eu sempre participei assim de mobilizações muito pontuais, tipo a

igreja chamou o pessoal pra participar do orçamento participativo então eu

ia na rua chamava, fazia aquele movimento.” (ENTREVISTADO 1).

- “Agora, eu tô ajudando o morador X no coletivo da juventude to vindo

agora participar da rede que eu não sabia que existia se não já tinha vindo

oferecer minha ajuda aqui.” (ENTREVISTADO 21).

- “Mas, com minha proximidade com o morador X eu fico mais por conta da

associação eu vou em muitas reuniões participo das mobilizações de

tudo.” (ENTREVISTADO 17).

Constata-se que as pessoas compreendem a mobilização, ou seja, estarem

mobilizadas, quando estão de alguma forma ligada a um movimento, seja

atuando em alguma instituição, em prol de alguma ação, seja convidando e

incentivando outros a se envolverem, conforme exposto a seguir:

- “Aí depois que eu vim pra “cá”, foi quando eu vim fazer parte da

Associação que era da quarta sessão. Aí, eu comecei a fazer parte da

Associação E aqui era assim, não tinha nada. Em alguns setores tinha

começado a chegar, mas nas outra parte não tinha. Não tinha água, não

tinha esgoto, não tinha asfalto, entendeu? E a gente olhando! tem que

fazer parte dos movimentos para conseguir para buscar recurso para

melhoria né? Nessa luta, aí comecei a participar das reuniões, das

associações, dos órgãos públicos, para poder conseguir a luz, a água e

esgoto, eu fazia parte desse grupo que representava a Associação.”

(ENTREVISTADO 22).

112

De acordo com Oliveira (2009), numa visão mais ampla, os movimentos sociais

são compostos por atores que reivindicam leis, cujos movimentos e

organizações sociais pressionam o Estado para que sejam promovidas ações

institucionais capazes de atender as demandas sociais. Assim, o pressuposto

da mobilização comunitária é de que “se a ação é desempenhada

coletivamente, nas formas de movimentos sociais ela também deve ser

concebida, pensada e percebida de modo coletivo por meio de um processo de

construção e atribuição de sentido à luta coletiva.” (OLIVEIRA, 2009, p. 10).

No caso dos moradores do bairro Jardim Felicidade, isso fica evidente quando

se têm os relatos de alguns entrevistados que mencionaram algum

envolvimento nas atividades de melhoria das condições de sobrevivência no

bairro, enquanto foram motivados por alguém ou alguma instituição do

território, mas que deixaram de se envolver, após ausência dessas pessoas ou

instituições. Tal situação está ilustrada no seguinte relato:

- “Eu já cooperei. Agora, num coopero mais não. Já estive no CRAS, no

projeto rua saudável, porque a [nome ocultado] incentivava a gente, ela era

animada e ajudou muito nosso bairro, participava do Maria-Maria, das

oficinas de dança do CRAS, do EJA. Eu era do EJA, mas briguei com a

professora e não fui mais. Se ela sair da EJA, eu vou voltar.”

(ENTREVISTADO 25).

Analisa-se que a mobilização comunitária no contexto do bairro Jardim

Felicidade ocorre em razão de uma demanda coletiva por melhoria da

qualidade de vida e pelo desenvolvimento local. Tal mobilização acontece,

conforme apontam Toro e Werneck (2007), quando um grupo de pessoas

decide e age com um objetivo comum, na busca de resultados definidos e

desejados por todos.

No entanto, questiona-se o posicionamento dos moradores que relatam

estabelecer com o território uma identidade positiva, porém demonstram pouco,

ou nenhum envolvimento em ações que buscam a melhoria do local. Se de

alguma forma estão envolvidos, esse envolvimento ocorre somente a partir da

mobilização e da proximidade com outros moradores que são envolvidos.

113

- “(...) e aí comecei desde um pequeno convite de [nome ocultado] para

fazer, para fazer um trabalho no Jardim_Felicidade e, hoje, estou aqui de

verdade, sério! Sabe? Eu comecei a entender o que é ser morador.”

(ENTREVISTADO 18).

- “Não. Não, porque é igual eu te falei, né? É só quando eu recebo convite.

Aí quando tem reunião e dá pra mim participar, eu vou. Dá pra descer a

lenha? Eu desço também.” (ENTREVISTADO 11).

Assim, interroga-se: A formação de identidade social estaria atrelada ao

comodismo frente à segurança de poder usufruir do espaço e da moradia que

os antepassados conquistaram e construíram? Estes sujeitos saíram do bairro

em busca de outras oportunidades, e somente por não terem sido bem

sucedidos, necessitaram retornar ao bairro? Frente a estas situações, o

pertencimento social e a identificação com o bairro não poderiam estar

vinculados à resignação, apatia e fatalismo gerados pela frustração? Situações

semelhantes foram observadas nos estudos de Bauman (2007), Cardoso

(2008), Cidade (2012) e Martin-Baró (1998).

Conforme Santos (2000), se nesse território ativo e dinâmico ocorrerem

relações de disputa, conflitos e resistências, esses fatores podem culminar no

desmantelamento das ações coletivas. Por consequência, o desmantelamento

acarreta a resistência dos indivíduos ou grupos em aderir a novas ações. O

relato a seguir exemplifica o enunciado:

- “Eu acho que tem algumas instituições que explora isso politicamente.

Isso me deixa muito, muito, muito irritado e desanimado, sabe? [...] aqui

deve ter uns 22.000, 25.000 habitantes aqui e a pessoa faz um trabalho

com cinquenta ou cem pessoas e fala que está representando a

comunidade. Entendeu? Isso eu acho que é explorar a comunidade, isso

me deixa muito irritado...” (ENTREVISTADO 23).

A categoria Mobilização comunitária pode ser interpretada, no contexto do

bairro Jardim Felicidade, como uma ação em prol de um objetivo comum como

por exemplo, a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento do bairro.

Nesse aspecto, essa mobilização tem acontecido nos moldes de movimentos

sociais, nos quais os moradores se reúnem e as demandas são pensadas e

planejadas de maneira coletiva. No entanto, a partir dos relatos, observa-se

que as intervenções propostas necessitam de um maior número de

114

participantes e que haja sempre um cuidado especial em mobilizar aqueles que

estão menos interessados ou que, por algum motivo, encontram-se

desiludidos.

3.4.5 CATEGORIA 5 – SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO SOCIAL

O sentimento de pertencimento aqui apresentado está de acordo com o

proposto por Brea (2014). Segundo esse autor, um indivíduo sente que

pertence a uma comunidade quando sente que faz parte e se identifica com

ela. Uma vez se sentindo pertencente, esse indivíduo passa a adotar

comportamentos e promover ações no sentido de melhorar a qualidade de vida

e do ambiente da comunidade.

Sá (2005) descreve o sentimento de pertencimento como a capacidade do

sujeito de se sentir enraizado a um determinado ambiente. Esse enraizamento

desperta, nos sujeitos, uma sensibilidade em relação a aquele local. Dessa

forma, os sujeitos passam a refletir sobre o que realmente valorizam na vida e

se dispõem a pensar coletivamente sobre os problemas que incidem sobre

aquele espaço.

O Sentimento de pertencimento social foi a quinta categoria identificada, sendo

composta por 18,62% unidades de contexto elementares (UCE), conforme

tabela 1 e caracterizada pelas seguintes palavras: vir (54,31%); “cá” (78,05%);

lote (95,45%); mãe (61,82%); pai (76,67%); morar (48,94%) e ganhar (71,88%).

As palavras vir, “cá” (no sentido de neste lugar), lote, mãe e pai, morar e

ganhar, se encontram contextualizadas nos relatos dos entrevistados, quando

estes dizem respeito à família, à organização do espaço, à experiência de

edificação das casas e do próprio bairro. Como exemplo, a palavra vir e suas

variações lexicais (vim, vinham, veio, vieram) aparecem no sentido de se fixar

em um determinado lugar, retratando segurança, satisfação e possibilidade de

prosperidade, como ilustrado nos seguintes relatos:

115

- “Muitos dos meninos que vieram para “cá” e ficaram sem escola, ficaram

sem estudar. Até, logo em seguida, construir o Jardim Felicidade, a escola

e, depois como foi expandido as outras glebas, aí construiu a Rui da Costa

Val.” (ENTREVISTADO 24).

- “Minha tia veio primeiro. Ela tinha feito a inscrição e veio, ai ela conheceu

as pessoas aqui, viu como era que fazia pra conseguir as casinhas e

chamou minha mãe, aí minha mãe veio.” (ENTREVISTADO 17).

- “Até vi uma criança nascer aqui, a mãe veio pra “cá” no dia de ganhar

menino e, na hora que acabou de armar a barraca de lona, eu escutei um

choro... era a menina nascendo, a menina nasceu junto com o Felicidade.”

(ENTREVISTADO 12).

- “Aí eu peguei elas [filhas] e arrumei um lote aqui no Jardim Felicidade. Na

época, o povo tava invadindo mesmo... aí, eu fiquei sabendo e vim

também era o único jeito.” (ENTREVISTADO 7).

A palavra “cá” se revela como advérbio de lugar surge nos relatos dos

entrevistados, vinculada à experiência de ida dos moradores para o bairro. Ao

dizerem “cá”, eles fazem menção ao bairro.

- “Então, depois que eu vim para “cá” é que eu vi que tu tem que lutar, que

você tem que correr atrás do seu objetivo.” (ENTREVISTADO 23).

- “Eu vim pra “cá” com minha filha.” (ENTREVISTADO 12).

- “Eu fui indenizada lá e eles compraram e aí a gente veio e mudou para

“cá” comprou uma casa que eu e meu esposo a indenização né.”

(ENTREVISTADO 6).

- “Por isso que o Felicidade virou um depósito de pessoa porque quanto

mais filhos, a família tinha o terreno era garantido aí quando o pessoal veio

para “cá”, os filhos eram de 0 a 8 anos.” (ENTREVISTADO 24).

- “A minha mãe veio para “cá” primeiro do que eu. Veio para “cá” minha

mãe, minha sogra, meus irmãos. Aí... nós lutamos também para ter um lote

aqui.” (ENTREVISTADO 18).

Pai e Mãe são palavras classificadas como substantivos e nos discursos dos

sujeitos funcionam como ratificadoras dos relatos de como foi a ida para o

bairro, com quem foram, quem construiu e como construíram suas casas.

- “Eu moro aqui no Jardim Felicidade com minha mãe e meu padrasto, tem

5 anos... meu padrasto comprou a nossa casa aqui. Nós morava em

116

Neves. Mas lá, lá é muito longe e meu padrasto tem um amigo que queria

mudar do Jardim Felicidade e vendeu a casa pra gente.” (ENTREVISTADO

2).

- “Moro aqui, desde o início, eu tinha uns 10 anos, 10 para 11 anos. Meu

pai tinha um lote em Neves, ele tinha feito a inscrição do loteamento aqui

do Jardim Felicidade foi contemplado (...). Eram 2 cômodos com banheiro,

2 portinhas de madeira, ou seja, de ferro. Eu vinha mais é brincar mesmo,

mas lembro da luta do meu pai e de todos também.” (ENTREVISTADO

14).

- “Muitas pessoas não conseguiram comprar outras casas, gastaram o

dinheiro todo em aluguel. Meus pais conseguiram comprar essa aqui,

compramos de uma família que ela tinha problema com filho né.”

(ENTRVISTADO 4).

- “Quem construiu foi meu pai e meu avô, meus tios e nós. Pegamos água

do córrego e a água do córrego era branquinha, branquinha mesmo.

Aquela água corrente que você via peixinho e as pedrinhas.”

(ENTREVISTADO 22).

As palavras morar, ganhar e lote estão também dentro da conjuntura de como

ocorreu a construção do bairro e das casas.

- “(...) porque a gente tem dois filhos e é apertado pagar aluguel e como eu

conheci o bairro aqui, eu também comecei ir nas reuniões para ver se

conseguia um lote, uma casa aqui igual minha sogra conseguiu.”

(ENTREVISTADO 21).

- “A gente morava na casa da minha avó paterna de favor e minha mãe ia

nas reuniões... foi onde ela ganhou lote que ganhou material para tá

construindo 2 cômodos e 1 banheiro (...).” (ENTREVISTADO 22).

- “Tinha um tempo específico para entregar a casa. Então, os vizinhos

tinham que ajudar os materiais de construção, eram colocados em alguns

cantos longe e você ia lá e pegava os seus tijolos o que precisava, a

porta...” (ENTREVISTADO 14).

- “O critério para ganhar as casas era você participar das reuniões... não

poderia faltar das reuniões, não poderia ter falta.” (ENTREVISTADO 18).

- “Tem 10 anos que a gente mora sozinha com meu avô. Foi meu avô, ele

é que ganhou a casa, ele que tá aqui desde a fundação, ele é que ganhou

a casa e deixou a gente vir morar com ele.“ (ENTREVISTADO 10).

Os depoimentos dos moradores acerca de como ocorreu a ida para o bairro e a

construção das casas estão de acordo com o proposto por Lestinge (2004).

117

Segundo o autor, o pertencimento remete à possibilidade de vinculação e ao

sentimento de inserção num espaço territorial. Também para este autor, o

pertencimento leva as pessoas a se sentirem integrados ao espaço territorial

que ajudaram a construir e criam, com este espaço, uma identidade que faz

com este sujeito integrado a um grupo de pertencimento se empenhe numa

luta coletiva por melhorias sociais (BREA, 2014).

Em complemento à ideia de que o pertencimento contribui para que as pessoas

se empenhem coletivamente na busca por melhores condições de

sobrevivência e com isto promovam o desenvolvimento local. Convém ressaltar

que o pertencimento e a identidade se constroem, se desconstroem e se

reconstroem de acordo com as situações cotidianas (CUCHE,1999).

Nesse sentido, Bauman (2005) propõe que o pertencimento e a identidade não

são sólidos e nem garantidos para toda vida, são negociáveis e revogáveis.

Santos (2010, p. 78), por sua vez, contribui mencionando que, “os vínculos de

pertencimento e identidade devem ser construídos continuamente durante todo

o processo de formação”, pois estão em constante movimento. Dessa forma

qualquer mudança social faz com que tais vínculos se reformulem de modo

diferente.

Os depoimentos a seguir demonstram o que foi apresentado nos estudos de

Cuche (1999), Santos (2010) e Brea (2014) acerca do sentimento de

pertencimento e de como ele está diretamente ligado à maneira como as

pessoas interagem com o lugar onde se estabelecem.

- “Também ajudo as meninas que fazem crochê e tricô e vagonite, a gente

é como família.” (ENTREVISTADO 7).

- “Por que a gente cresceu e viveu aqui. Então tudo que eu adquiri, tudo

que eu vejo, tudo que eu aprendi foi dentro do Felicidade. Foi na

comunidade. Foi nesta comunidade, como se diz, carente né? Então, eu

sou fruto dessa comunidade, então tenho muito esse pensamento, muito

coletivo, né?” (ENTREVISTADO 4).

118

- “Ó menina deixa eu te falar com você, cada um tem uma visão do Bairro,

na minha visão aqui é a terra prometida, né?” (ENTREVISTADO 5).

- “Nossa! [demonstração de muita alegria] esse bairro é minha vida! Esse

bairro é minha vida!” (ENTREVISTADO 16).

A partir do entendimento de que o pertencimento está relacionado aos modos

como os indivíduos interagem com meio social, relacionado aos caminhos que

percorrem e à maneira como agem, identifica-se neste estudo, que alguns

moradores não desenvolveram sentimento de pertencimento em relação ao

bairro, conforme os relatos a seguir:

- “Então, ah! Esse bairro não representa para mim, ah! Sei lá! Não, é. Não

tem coisa boa [...]. Esse bairro então, ele representa para mim é saudade

dos meus amigos que a vida levou. Pra mim, hoje em dia, ele não tem

mais nada de bom, eu perdi muitos amigos aqui.” (ENTREVISTADO 9).

- “Esse bairro representa muita coisa, assim, eu tenho receio. Parte pelo

que ele se tornou. Isso sim, a questão da segurança que ainda não é boa.”

(ENTREVISTADO 8).

Nos depoimentos supracitados, está explícita a ideia de que o pertencimento

está diretamente relacionado à maneira como os moradores interagem com o

território, com as histórias, com a maneira como agem e formam com este, sua

identidade social.

Entretanto, observa-se que, mesmo a despeito dos fenômenos sociais que

ocorrem no território e que são motivo de queixas, a maior parte, 64% dos

moradores entrevistados desenvolveram o sentimento de pertencimento ao

bairro Jardim Felicidade, alicerçados em objetivos e desejos comuns (sair do

aluguel, ter a casa própria, melhoria da qualidade de vida no local), que são

importantes na formação da identidade social.

Destes, apenas dois são moradores a menos de dez anos. 36% dos

entrevistados não demonstram sentimento de pertencimento em relação ao

bairro, sendo que cinco são moradores a menos de 10 anos, conforme pode

ser verificado no quadro 3.

119

Fundamentados na análise de conteúdo proposta por Bardin (2016) e com o

auxílio do software Iramuteq, os dados da pesquisa foram organizados e

sistematizados. Ressalta-se que essa organização e sistematização geraram

as cinco categorias: Sentimento de pertencimento social; Identidade social;

Engajamento comunitário; Mobilização comunitária e Responsabilidade e

cuidado com o território.

3.5 ANÁLISE DO DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO

Para se analisar o conteúdo do GF, fez-se a opção pelo método de Análise do

Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) que, segundo Lefèvre e Lefèvre, constitui

em

uma forma de metodologicamente resgatar e apresentar as

Representações Sociais obtidas de pesquisas empíricas.

Nessas, as opiniões ou expressões individuais que apresentam

sentidos semelhantes são agrupadas em categorias

semânticas gerais, como normalmente se faz quando se trata

de perguntas ou questões abertas. (LEFÈVRE; LEFÈVRE,

2014, p. 503).

Assim, como na análise de conteúdo, o material obtido no grupo focal foi

submetido à análise e obteve-se a nuvem de palavras apresentada na figura 7.

O site utilizado foi o Wordclouds que pode ser acessado gratuitamente em:

wordclouds.com. O resultado obtido do conteúdo verbal gerado pelos relatos dos

sujeitos no grupo focal demonstra a palavra GENTE em evidência. No corpus

de texto, esta palavra aparece sete vezes.

120

Figura 7- nuvem de palavra gerado do conteúdo do grupo focal pelo Wordclouds.

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

É importante salientar o significado atribuído à palavra GENTE, nos relatos dos

sujeitos. A figura 8 traz a demonstração do significado e da frequência em que

a palavra GENTE aparece no texto.

Figura 8 – Significado e frequência da palavra gente, no DSC.

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Dessa maneira, de acordo com o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), proposto

por Lefèvre e Lefèvre (2014), do material verbal coletado e analisado, foram

obtidas 33 ideias centrais (IC) e suas correspondentes expressões-chave

(ECH), para que assim fossem nomeadas as categorias. Após definidas

121

observando-se as ideias centrais, as 3 categorias foram assim nomeadas: 1 =

A história fortalece o sentimento de pertencimento e identidade social; 2 = Ter

uma casa no Jardim Felicidade representa a emancipação social e 3 =

Engajamento e participação são diferentes entre os moradores do bairro Jardim

Felicidade, originando 8 Discursos do Sujeito Coletivo (DSC).

Os resultados deste enquadramento de respostas, considerando a transcrição

total das falas do grupo focal, feito com o auxílio do DSCSoft e com base no

referencial teórico desta pesquisa, revelaram que 51,5% dos depoimentos

foram enquadrados na categoria 3; 42,4% dos depoimentos na categoria 1 e

apenas 6,6% foram enquadrados na categoria 2.

De acordo com Figueiredo, Chiari e Goulart (2013) e Marinho (2015), a ideia

central (IC) é um nome ou uma expressão que descreve os sentidos presentes

nas expressões-chave (ECH) analisadas. São descrições do núcleo de sentido

presentes nas respostas e que são reunidas de forma sintética para compor o

DSC.

As expressões-chave (ECH) são trechos das narrativas a serem detectadas

pelo pesquisador, que revelam as ideias e opiniões, a essência do discurso

comunicada em conformidade com a cultura e a singularidade da cada falante.

É “A Representação Social (RS) na qualidade de conhecimento do senso

comum está sempre presente numa opinião, posicionamento, manifestação ou

postura de um individuo em sua vida cotidiana”. (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2014,

p. 503).

Dessa maneira, o objetivo das perguntas norteadoras da discussão no grupo

focal foi identificar a representação social (RS), ou seja, o que pensam os

moradores sobre o bairro Jardim Felicidade. A partir das perguntas

norteadoras, foi gerado o conteúdo verbal que é a resposta de cada

participante a estas questões. Com esse material verbal transcrito e lançado no

DSCSoft, foi possível identificar as IC e ECH para a pergunta 1 (QUADRO 4);

para a pergunta 2 (QUADRO 5); para a pergunta 3 (QUADRO 6); para a

122

pergunta 4 (QUADRO 7) por meio do Instrumento de Análise do Discurso 1

(IAD1), que posteriormente gerou o Discurso do Sujeito Coletivo, enunciando a

representação social dos sujeitos em relação aos temas e as categorias

estabelecidas.

Nesse contexto, os resultados da pergunta 1 (O que o bairro representa para

você?) aludiram o que o bairro representa socialmente para os seus

moradores: um lugar melhor que muitos outros, o renascimento, o lugar que é

amado, o trabalho coletivo... conforme os depoimentos a seguir descritos

estruturalmente no quadro 4:

- “Melhor que muitos bairros mais velhos. O Jardim Felicidade é um bairro maravilhoso.” (PARTICIPANTE 7). - “Esse bairro para mim foi o meu renascimento.” (PARTICIPANTE 1). - “O lugar que eu amo.” (PARTICIPANTE 6). - “Muita gente trabalhando junto na construção do bairro.” (PARTICIPANTE 9).

Quadro 4 - Síntese da estrutura do DSC: Expressões-Chave – Ideia-Central –

Categorias referentes à pergunta 1

Pergunta 1 – O que o bairro Jardim Felicidade representa para você? Expressões chave (ECH) Ideia Central (IC) Categorias

- “... eu também não sairia do Felicidade nem se ganhasse um milhão, sabe porque? é aqui que eu amo, é aqui que eu quero ficar.”

O lugar que eu amo.

Conhecer a história fortalece o sentimento de pertencimento e

identidade social.

- “Nós temos muita coisa em vista de que bairro mais velho do que esse tem... Eu não pretendo sair daqui por nada nesse mundo. Eu acho esse bairro maravilhoso.”

Melhor que muitos bairros mais velhos. O Jardim Felicidade é um bairro maravilhoso.

- “Eu gosto muito do bairro. Tô aqui desde que eu nasci.”

Eu gosto muito do bairro. Tô aqui desde que eu nasci.

- “Isso aqui é muito importante. A história do Felicidade é maravilhosa.”

O bairro é muito importante e sua história é maravilhosa.

- “Esse bairro para mim foi o meu renascimento.”

Esse bairro para mim foi o meu renascimento.

- “Esse bairro é maravilhoso. Esse bairro é maravilhoso.”

Esse bairro é maravilhoso. Esse bairro é maravilhoso.

- “Mas tinha uma bica e aí eu ficava a noite inteira de madrugada esperando a água de madrugada quando a água chegava em mim já tava acabando aí eu pegava o balde de fralda e ia lavar roupa na Biquinha. Aí depois a rua era barro puro. Eu já tinha três meninas. Mas eu tinha a minha casa. Era humilde, mas era a minha casa que eu sonhava.”

É a minha casa. É humilde, mas é a minha casa que eu sonhava.

Ter uma casa no Jardim Felicidade representa o sonho realizado.

- “...e a gente não tinha dinheiro para pagar aluguel direito. Agora é Felicidade mesmo.

Não precisar mais pagar aluguel

- “...e tem muita gente e muitos grupos de reunião que se reuni para lutar pelo bairro. É muita gente do bem aqui louco para ver esse Felicidade Grande.”

Muitos grupos e pessoas se reúnem para buscar o desenvolvimento do bairro.

O nível de engajamento e mobilização é maior em relação aos

moradores mais antigos e mais recentes do bairro.

- “Era muita gente trabalhando junto, fazendo as casas, lutando para ter luz, esgoto, essas coisas”.

Muita gente trabalhando junto na construção do bairro.

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

123

O que o bairro representa socialmente para seus moradores mais recentes

também foi observado nas repostas da pergunta 2 (Como os moradores mais

recentes veem o bairro?): os mais jovens estão inertes aos problemas do

bairro; os jovens que ouvem a história do bairro são mais participativos; o

bairro não é favela e tem muita coisa boa, conforme se verifica nos relatos a

seguir e apresentados no quadro 5:

- “Existe uma inércia em relação ao envolvimento das pessoas, principalmente os jovens na busca por melhoria do bairro.” (PARTICIPANTE 7). - “Os jovens que ouvem a história do bairro, contada por seus antecessores são mais participativos.” (PARTICIPANTE 6). - “Meu bairro não é favela.” (PARTICIPANTE 11). - “Esse bairro tem coisa boa.” (PARTICIPANTE 12).

Quadro 5 - Síntese da estrutura do DSC: Expressões-Chave – Ideia-Central –

Categorias referentes à pergunta 2.

Pergunta 2 – Como os moradores mais recentes veem o bairro? ECH IC Categorias

- “Então eu vejo que aqueles pais que conta as historias para os filhos, eles são uma pouco mais participativos, mas aqueles

jovens que não conheceram a historia eu vejo que eles não estão nem ai.”

Os jovens que ouvem a historia do bairro contada por seus antecessores são mais

participativos.

Conhecer a historia fortalece o sentimento de pertencimento e

identidade social.

- “... que esse bairro tem coisa boa. Igual Nivaldo já chegou até discutir com uma

moça que veio morar aqui tem uns 10 anos já por causa desse bairro.”

Esse bairro tem coisa boa.

- “Minhas filhas odeiam isso aqui. Elas falam que aqui é muito parado. De noite não pode

sair na rua. Elas não gostam daqui.”

Filhas não gostam do bairro. Não dão valor

porque pegaram tudo pronto. - “Os jovens falam que o Felicidade não

cresceu. Eles não tem noção quando fala que esse bairro não cresceu.”

Jovens falam que o Felicidade não cresceu, mas o bairro cresceu.

- “Isso que me deixa revoltada, quando fala comigo eu cheguei na favela. Meu bairro

num é favela.”

Meu bairro não é favela.

- “O bairro viveu momentos de muita conquista, mas nós jovens paramos naquilo

que estava e não quisemos melhorar mais. É um momento de inércia que o povo esta

vivendo hoje.”

Existe uma inércia em relação ao envolvimento das pessoas, principalmente os jovens na busca por melhoria do bairro.

O nível de engajamento e mobilização é maior em relação aos moradores

mais antigos e mais recentes do bairro.

-“As pessoas já fizeram tudo errado e agora nós jovens é que temos que remediar? Nem

sei se tem como.”

Jovens “chateados”, pelo descuido dos antecessores em relação ao bairro. Não

veem como “remediar” a situação. - “Tem muita gente fazendo tudo para mudar o bairro e ele mudou, nós é que não fazemos

nada, falei!”

O bairro mudou através da participação das pessoas. À exceção dos jovens.

- “...Toninho falou, do que a tia falou: que os meninos hoje estão com “mamãozinho com

mel.”.”

Os jovens já pegaram tudo pronto. Não vivenciam as dificuldades dos fundadores.

- “A população do bairro mudou. Os filhos construíram em cima, embaixo. Foi

aumentando a população e os jovens já pegaram tudo pronto.”

A população mudou. Os jovens já pegaram tudo pronto. Ponto final

Fonte: Dados da pesquisa, 2018. Nota: a composição do grupo focal considerou os critérios gênero, idade e tempo de moradia no bairro.

124

No que refere à pergunta 3 (Você se sente responsável pelo que o bairro se

tornou?), A representação social que os moradores possuem do bairro Jardim

Felicidade para com o território é: o bairro melhorou devido à participação e

envolvimento da comunidade; o bairro foi feito com sacrifícios, conforme

descritos nos relatos a seguir e estruturados no quadro 6.

- “O bairro melhorou e conquistou muita coisa, devido à participação da comunidade.” (PARTICIPANTE 4).

- “Construção do bairro feita com sacrifício e envolvimento na participação.” (PARTICIPANTE 9).

Quadro 6 - Síntese da estrutura do DSC: Expressões-Chave – Ideia-Central –

Categorias referentes à pergunta 3.

Pergunta 3 – você se sente responsável pelo que o bairro se tornou hoje? ECH IC Categorias

- “Tô aqui na luta lutando para melhorar esse bairro. Participo de tudo aqui no bairro porque aqui é onde a minha família mora. Aqui, meus filhos mora. É onde meus netos vão morar.”

Participação em busca de melhoria do bairro.

O nível de engajamento e mobilização é maior em relação aos moradores mais antigos e

mais recentes do bairro.

- “A gente ir para vários lugares. ia na Câmara Municipal para lutar.” - “Então, hoje tá muito melhor. A gente foi fazendo. Todo mundo ajudando, a gente fazendo as coisas pra vender, pra ajudar.”

O bairro melhorou e conquistou muita coisa, devido a participação da

comunidade.

- “Aqui tudo foi feito com muito sacrifício e com muita ajuda das pessoas e por isso que eu tô sempre na luta, sempre que precisa tô ai pra ajudar.”

Construção do bairro feita com sacrifício e envolvimento na

participação.

- “A gente tinha que roubar água nos vizinhos do Jardim Guanabara, Floramar para construir. eles até ameaçava a gente, porque a gente roubava as águas.”

As dificuldades na construção das casas levaram a “roubar” águas dos

bairros vizinhos.

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

No que se refere a pergunta 4 (Você acredita que algo ainda pode ser feito pela

melhoria do bairro?), a representação social dos moradores é a mobilização da

comunidade na busca por melhoria é necessária. O progresso chegou ao

bairro, mas os problemas socioambientais também chegaram, conforme os

depoimentos a seguir e a estrutura para o DSC proposta no quadro 7.

- “Devido aos muitos problemas que ainda existe, a mobilização deve continuar.” (PARTICIPANTE 1).

125

- “O progresso que chegou através da COPASA gerou problemas socioambientais.” (PARTICIPANTE 9).

Quadro 7 - Síntese da estrutura do DSC: Expressões-Chave – Ideia-Central –

Categorias referentes à pergunta 4.

Pergunta 4 – Você acredita que algo ainda pode ser feito pela melhoria do bairro? ECH IC Categorias

-“ Eu falo que o progresso foi chegando no Felicidade e também foi matando os rios. A COPASA é uma destruidora do córrego. Ela matou e a população tira o entulho de dentro de casa e joga no córrego.”

O progresso que chegou através da COPASA gerou problemas socioambientais.

Conhecer a historia fortalece o sentimento de pertencimento e identidade social.

-“...o que me faz querer fazer é a energia que esse lugar tem.”

O que me faz querer fazer é a energia que esse lugar tem.

- “Todo dia eu levanto as mãos nas

minhas orações, eu levanto, eu

agradeço pela casa que eu tenho, pelos

vizinhos que eu tenho no bairro todo.”

Gratidão pelo bairro e pelos vizinhos.

- “Mas tem muita coisa que pode ser feita e tem o pessoal da rede que reúne as pessoas para ajudar.”

A rede de moradores promove mobilização.

O nível de engajamento e mobilização é maior em relação aos moradores mais antigos e mais recentes do bairro.

- “...a gente então chegou no feijão com a arroz. Chegou no básico e agora Os jovens não querem mais buscar melhoria.”

Pouca participação dos jovens na busca por melhoria.

- “Aqui tem muita coisa que melhorar.” - “Nós temos um problema sério com a invasão das áreas verdes. Temos que continuar a mobilizar o povo pra luta.”

Devido aos muitos problemas que ainda existem, a mobilização deve continuar.

-“ A gente já conseguiu, mas e os outros que tá precisando? É isso que me leva a lutar ainda. Ver que muita gente ainda precisa.”

O que motiva a participação é saber que as pessoas ainda precisam de ajuda.

Fonte: Dados da pesquisa, 2018. Nota: Foi mantido nessa análise o discurso proposto pelos diferentes sujeitos

Com base na proposta metodológica do DSC, essas representações sociais se

manifestaram na forma de discursos individuais que, após serem processados,

deram origem ao discurso do sujeito coletivo. O processamento dos dados pelo

DSCSoft permitiu a identificação das Expressões-chave de cada resposta,

possibilitando a elaboração das ideias centrais correspondentes a cada uma

das 4 perguntas.

O agrupamento das respostas com sentido semelhantes na pergunta 1

oportunizou a classificação de 3 categorias: (1) A história do bairro Jardim

Felicidade fortalece o sentimento de pertencimento social e favorece o

desenvolvimento da identidade social; a categoria (2) Ter uma casa no bairro

Jardim Felicidade representa a emancipação social e a categoria (3)

Engajamento e Mobilização comunitária são diferentes entre os moradores do

bairro Jardim Felicidade. Nesse caso, 60% das respostas atenderam à

126

categoria 1 – A história do bairro Jardim Felicidade fortalece o sentimento de

pertencimento e identidade social.

Os DSC gerados a partir das respostas à pergunta 1 indicam que, quando se

trata da representação social, ou seja, a forma como os moradores do bairro

Jardim Felicidade o interpretam coletivamente, a história do bairro torna-se um

fator relevante para os moradores, pois alegam que, ouvir e conhecer a história

do bairro fortalece o sentimento de pertencimento e a formação da identidade

social, conforme o depoimento a seguir.

- “Então... eu vejo que aqueles pais que conta as histórias para os filhos,

eles são uma pouco mais participativos, mas aqueles jovens que não

conheceram a história, eu vejo que eles não estão nem ai.”

(PARTICIPANTE 4).

A categoria 2, ter uma casa no Jardim Felicidade representa a emancipação

social, também foi classificada na pergunta 1, com 20% de enquadramento,

indicando que alguns moradores veem o bairro como o local que propiciou a

realização do sonho de se ter uma casa própria e não precisar mais pagar o

aluguel.

- “É a minha casa. É humilde, mas é a minha casa que eu sonhava.”

(PARTICIPANTE 5).

Percebe-se que, sob a perspectiva de alguns dos falantes, nem todos os

moradores se envolvem como deveriam nas atividades no/do/para o bairro.

Estes sujeitos justificam essa falta de envolvimento visto que eles se mudaram

para o bairro depois de sua edificação e essa é a causa. A justificativa é que os

jovens são menos envolvidos e engajados, por não terem vivenciado a

experiência de construção do bairro.

Portanto, essas respostas atenderam à categoria 3, evidenciando que o nível

de engajamento e mobilização comunitária é diferente entre os moradores mais

antigos e aqueles recentes no bairro, com 20% de enquadramento.

- ”(...) gostei que o [nome ocultado] falou, do que a tia falou: que os

meninos hoje estão com “mamãozinho com mel.” (PARTICIPANTE 8).

127

- “A população do bairro mudou. Os filhos construíram em cima, embaixo.

Foi aumentando a população e os jovens já pegaram tudo pronto.”

(PARTICIPANTE 9).

3.5.1 PERGUNTA ORIENTADORA 1 – O QUE O BAIRRO JARDIM

FELICIDADE REPRESENTA PARA VOCÊ?

O objetivo da pergunta 1 foi identificar o que os moradores do bairro Jardim

Felicidade pensam e como se sentem em relação ao bairro. O quadro 4

apresenta a pergunta e as ideias centrais elaboradas a partir das respostas dos

falantes a esta pergunta.

O Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) redigido para a pergunta 1 a partir da

categoria A - A história do bairro Jardim Felicidade que fortalece o sentimento

de pertencimento e identidade social – foi:

DSC 1 - Eu também não sairia do Felicidade nem se ganhasse um milhão,

sabe porque? É aqui que eu amo, é aqui que eu quero ficar. Nós temos muita

coisa aqui, em vista “de que” bairro mais velho do que esse tem. Eu não

pretendo sair daqui por nada nesse mundo. Eu acho esse bairro maravilhoso.

Eu gosto muito do bairro. “Tô” aqui desde que eu nasci. Então, hoje, eu tenho

primeiro que agradecer a Deus e ao padre radical que foi muito importante.

Isso aqui é muito importante. A história do Felicidade é maravilhosa. Esse

bairro para mim foi o meu renascimento. Esse bairro é maravilhoso. Esse bairro

é maravilhoso.

A ideia de que o bairro Jardim Felicidade é um bom local para se viver está

presente no discurso coletivo. Nesse discurso é possível identificar que os

moradores formaram uma identidade positiva em relação ao local,

principalmente no que tange ao resgate das memórias de construção do bairro.

Nota-se que o fato destes moradores partilharem dos mesmos objetivos e

dificuldades na construção das casas propiciou a criação de vínculos de

amizade com os vizinhos e filiação para com o território. Este vínculo de

amizade e filiação com o bairro engendrou o sentimento de pertencimento,

como pôde ser constatado no DSC.

128

O DSC redigido para a pergunta 1, a partir da categoria 2 – Ter uma casa no

Jardim Felicidade representa a emancipação social – foi:

DSC 2 - Aí depois a rua era barro puro. Eu já tinha três meninas. Mas, eu tinha

a minha casa. Era humilde, mas era a minha casa que eu sonhava. Ai do

jeitinho que eu sonhava, pois eu fiz. Ainda bem que ficou esse nome mesmo,

porque era aluguel e a gente não tinha dinheiro para pagar aluguel direito.

Agora não. Agora é Felicidade mesmo.

Este DSC revela que, para os moradores do bairro Jardim Felicidade, a ida

para o bairro tornou possível planejar melhores condições de vida. Para eles, a

única possibilidade de terem a casa própria decorreu em consequência da

oportunidade que tiveram de se estabelecerem no local, ainda que de forma

precária. O fato de considerarem a ida para o bairro o vislumbre de dias

melhores, e poder construir nele a casa dos sonhos, favoreceu que alguns

moradores desenvolvessem o sentimento de pertencimento para com o bairro.

O DSC redigido para a pergunta 1, a partir da categoria 3 - Engajamento e

mobilização comunitária participação são diferentes entre os moradores do

bairro Jardim Felicidade – foi:

DSC 3 - O Felicidade hoje “tá” maravilhoso e tem muita gente e muitos grupos

de reunião que se reuni para lutar pelo bairro. É muita gente do bem aqui louco

para ver esse Felicidade Grande. Quando eu vim para “cá”, eu vim na

construção do bairro. Tinha muita gente trabalhando junto, fazendo as casas,

lutando para ter luz, esgoto, essas coisas. O rio era limpo e tinha um lugar que

a gente pegava água pra construir. Era no lugar que chamava Biquinha e lá

tinha muitos peixinhos, era piabinha, peixe pequenininho. No lugar que tinha,

as crianças tomavam banho nessa Biquinha, nesse córrego. A água era limpa.

Quando os moradores do bairro Jardim Felicidade discursam sobre o

engajamento e a mobilização comunitária nas atividades que visam à melhoria

da qualidade de vida no local, pode-se perceber que as pessoas mais

envolvidas nestas atividades são aquelas que citam como sua experiência a de

participar na construção do bairro.

O discurso também revela um saudosismo latente em relação às perdas que

tiveram com o crescimento desordenado do bairro, como por exemplo, a

129

poluição do rio que eles usaram para pegar água e construir suas casas e que

hoje em dia tornou-se um problema socioambiental.

O conteúdo foi classificado para a pergunta 2 (QUADRO 5) e geraram 2

categorias. 70% das respostas atenderam à categoria 1 – a história do bairro

Jardim Felicidade fortalece o sentimento de pertencimento e identidade social e

60% das respostas foram enquadradas na categoria 3 – Engajamento e

participação são diferentes entre os moradores do bairro Jardim Felicidade.

O número de respostas enquadradas por categorias (13) é maior que o número

de respostas dos sujeitos (10) porque, no processamento do software, uma

única resposta pode gerar duas ideias centrais distintas e, consequentemente,

podem ser enquadradas em diferentes categorias, como pode ser constatado

na resposta a seguir:

- “Eu vejo as pessoas mostrando para os filhos como fazer prá

cuidar do bairro que a gente construiu, mas muita gente não faz isso.

Não conta as histórias do que vivemos para os filhos. Então, eu vejo

que aqueles pais que conta as história para os filhos, eles são um

pouco mais participativos, mas aqueles jovens que não conheceram

a história do eu vejo que eles não estão nem ai.” (PARTICIPANTE

6).

Esta resposta gerou duas ideias centrais: (i) importância da história e (ii)

engajamento e participação. As ideias centrais foram enquadradas em duas

categorias distintas: (i) A história do bairro Jardim Felicidade fortalece o

sentimento de pertencimento e identidade social dos moradores do bairro

Jardim Felicidade; e (ii) Engajamento e participação são diferentes entre os

moradores do bairro Jardim Felicidade. Isso pode acontecer, uma vez que a

quantidade de respondentes pode ser menor que a quantidade de respostas

dadas.

3.5.2 PERGUNTA ORIENTADORA 2 – COMO OS MORADORES MAIS

RECENTES VÊEM O BAIRRO?

O objetivo da pergunta 2 foi identificar se existe diferença entre a forma como

os moradores mais recentes veem o bairro e se relacionam com ele. O quadro

130

5 representa as ideias-centrais elaboradas a partir das respostas dos falantes a

esta pergunta.

Com relação à pergunta 2 (Como os moradores mais recentes veem o bairro?),

foram obtidas as categorias: (1) A história do bairro Jardim Felicidade fortalece

o sentimento de pertencimento social e identidade social e (3) Engajamento e

participação são diferentes entre os moradores do bairro Jardim Felicidade.

Assim, o Discurso do Sujeito Coletivo produzido para a pergunta 2, a partir de

das Ideias-centrais, foi:

DSC 4 - Então eu vejo que aqueles pais que conta as histórias para os filhos,

eles são um pouco mais participativos, mas aqueles jovens que não

conheceram a história, eu vejo que eles não estão nem ai. Minhas filhas

odeiam isso aqui. Elas falam que aqui é muito parado. De noite não pode sair

na rua. Elas não gostam daqui. [nome ocultado] já chegou até discutir com uma

moça que veio morar aqui tem uns 10 anos por causa desse bairro. Os jovens

falam que o Felicidade não cresceu. Eles não têm noção quando fala que esse

bairro não cresceu. Eu não gosto, no conjunto, é quando as pessoas falam que

está chegando numa favela. Isso que me deixa revoltada, quando fala comigo,

eu cheguei na favela. Meu bairro num é favela.

Percebe-se que, no discurso coletivo do sujeito redigido a partir da resposta à

pergunta (Como os moradores mais recentes veem o bairro?), os moradores

expõem a ideia de que conhecer a história do bairro fortalece o pertencimento

e a identidade social. O pensamento destes moradores é: aquelas pessoas que

afirmam não gostarem do bairro, ou mesmo, o denigrem, são aquelas que não

compartilharam da história e que “já pegaram tudo pronto” no bairro.

DSC 5 - O bairro viveu momentos de muita conquista, mas depois de um

tempo pra “cá” ele passou também a viver momentos de muita inércia, porque

nós jovens paramos naquilo que estava e não quisemos melhorar. É um

momento de inércia que o povo está vivendo hoje. As pessoas já fizeram tudo

errado e, agora, nós jovens é que temos que remediar? Nem sei se tem como.

É porque tipo assim, na discussão que a gente teve para o documentário eu

até gostei muito que o [nome ocultado] falou, do que a tia falou que os meninos

hoje estão com mamãozinho com mel. A população do bairro mudou e, hoje,

dobrou a população. Os filhos construíram em cima, embaixo. Foi aumentando

a população e os jovens já pegaram tudo pronto.

131

O DSC redigido das respostas para a pergunta (como os jovens veem o bairro

Jardim Felicidade?) mostra que, para alguns, os moradores mais recentes, que

não conhecem a história do bairro, são menos engajados e mobilizados para

as atividades que visem a sua melhoria. Este fato tem gerado tensão e

insatisfação por parte de alguns moradores que se queixam do

desengajamento, principalmente dos mais jovens.

- “Existe uma inércia em relação ao envolvimento das pessoas,

principalmente os jovens na busca por melhoria do bairro.”

(PARTICIPANTE 7).

Afirmam que já houve engajamento e mobilização da comunidade, mas que

atualmente, há uma inércia que leva os mais jovens a não continuarem

buscando melhorias para o local. O DSC induz à forma como os moradores

mais recentes se relacionam com o bairro é diferente da forma como os

moradores mais antigos o veem.

3.5.3 PERGUNTA ORIENTADORA 3 – VOCÊ SE SENTE RESPONSÁVEL

PELO O QUE BAIRRO SE TORNOU HOJE?

O objetivo dessa pergunta foi o de verificar o que os moradores pensam sobre

suas ações no bairro e se eles se sentem responsáveis pelo que o bairro se

tornou. As ideias-centrais elaboradas a partir das respostas dos participantes

estão demonstradas no quadro 6. Cinco respostas foram classificadas para a

pergunta 3, com 20% das respostas enquadradas na categoria 3. O Discurso

do Sujeito Coletivo elaborado desses relatos foi:

DSC 6 - A gente ia para vários lugares. Lá, na Câmara Municipal, para lutar.

Então, assim, hoje tá muito melhor. Todo mundo ajudando, a gente fazendo as

coisas prá vender, pra ajudar. A gente tinha que roubar água nos vizinhos do

Jardim Guanabara, Floramar para construir. Eles até ameaçava a gente,

porque a gente roubava as águas. Aqui, tudo foi feito com muito sacrifício, com

muito sacrifício e com muita ajuda das pessoas e, por isso, que eu tô sempre

na luta, sempre que precisa tô ai prá ajudar. Tô aqui na luta, lutando para

melhorar esse bairro. Participo de tudo aqui no bairro porque aqui é onde a

132

minha família mora. Aqui... meus filhos mora. É onde meus netos vão morar. A

Rua 16 todinha foi doado a pessoas que construíram com benefícios próprios.

Observa-se que o agrupamento das respostas à pergunta gerou apenas a

categoria C, que retrata ser o nível de engajamento e mobilização comunitária

diferente entre os moradores mais antigos e mais recentes no bairro. A partir

do DSC, infere-se que os moradores do bairro Jardim Felicidade têm a

consciência coletiva de que eles são os responsáveis pelo o que o bairro se

tornou hoje, tanto nos aspectos positivos (melhorar o bairro, buscar seu

desenvolvimento, emancipação social, mobilização comunitária, trabalho

coletivo), quanto nos aspectos negativos (rio poluído, invasão das áreas

verdes, destinação inapropriada dos resíduos).

Nesse sentido, o engajamento dos moradores ao construírem suas casas e a

mobilização constante na busca de melhores condições de sobrevivência no

local é o que justifica essa categoria.

3.5.4 PERGUNTA ORIENTADORA 4 – VOCÊ ACREDITA QUE ALGO

AINDA PODE SER FEITO PELA MELHORIA DO BAIRRO?

O objetivo da pergunta 4 foi o de averiguar se, para os moradores do bairro

Jardim Felicidade, o bairro ainda pode melhorar e se eles ainda estão

dispostos a impelir esforços para esta melhoria. O quadro 7 apresenta as

ideias-centrais elaboradas a partir das respostas para esta pergunta. A história

do bairro Jardim Felicidade fortalece o sentimento de pertencimento e

identidade social, com 37% de enquadramento na categoria 1; e Engajamento

e participação são diferentes entre os moradores do bairro Jardim Felicidade,

com 75% de enquadramento na categoria 3.

Com relação à pergunta 4, a conjunção das respostas com mesmo sentido

classificou duas categorias: (1) A história do bairro Jardim Felicidade fortalece

o sentimento de pertencimento e identidade social, com 37% de

enquadramento; e (3) Engajamento e participação são diferentes entre os

133

moradores do bairro Jardim Felicidade. Os Discursos do Sujeito Coletivo

redigido para a pergunta 4 foram:

DSC 7 - Todo dia eu levanto as mãos nas minhas orações, eu levanto, eu

agradeço pela casa que eu tenho, pelos vizinhos que eu tenho no bairro todo.

Eu falo que o progresso foi chegando no Felicidade e também foi matando os

rios. A Copasa é uma destruidora do córrego. Ela matou e a população agora

tira o entulho de dentro de casa e joga no córrego.

Nesse DSC, A história do bairro Jardim Felicidade fortalece o sentimento de

pertencimento e identidade social. Isto fica explicito no DSC, quando os

sujeitos revelam a gratidão pelo bairro, pelos amigos. Denota-se também que

existe um incômodo pela poluição e pela degradação do córrego ao longo dos

anos. Nesse aspecto, está manifesto no DSC o sentimento de pertencimento

social e a formação da identidade dos moradores para com o território.

DSC 8 – A gente então chegou no feijão com arroz. Chegou no básico e, agora, os jovens não querem mais buscar melhoria. Nós temos um problema sério com a invasão das áreas verdes. Em época de chuva, é muito perigoso, mas eu acho assim, que diante do que a gente já enfrentou, tá bom demais. Temos que continuar a mobilizar o povo prá lutar. Aqui, tem muita coisa que melhorar. O bairro melhorou muito. Mas ainda tem muito o que fazer. Tem que acabar com violência e o lixo no bairro. O que me faz querer fazer é a energia que esse lugar tem. Se a gente lutando tá difícil, se a gente cruzar os braços é pior. A gente já conseguiu, mas e os outros que tá precisando? É isso que me leva a lutar ainda. Ver que muita gente ainda precisa.

O DSC enuncia o fato que moradores concordam com os avanços e conquistas

que o bairro teve desde sua fundação. Contudo, há concordância de que

muitas ações ainda precisam ser feitas e por isso a comunidade deve continuar

se mobilizando e se engajando em situações que possam minimizar a violência

e o lixo no bairro. Assim, entendem que é necessário continuar engajados,

conforme a resposta:

- “Se a gente lutando tá difícil, se a gente cruzar os braços é pior.”

(PARTICIPANTE 13).

134

Contradizendo ao DSC anterior, apontado por parte de alguns moradores, o

conformismo em relação à situação do bairro também foi relatada pelo

participante 14:

- ”... mas eu acho assim, que diante do que a gente já enfrentou ta

bom demais.”

A análise realizada a partir do método do DSC evidenciou que 50% dos

moradores acreditam que, quando a história do bairro é contada e os

moradores mais recentes se apropriam desta história, o sentimento de

pertencimento e identidade social se fortalecem, engendrando assim maior

engajamento e mobilização destes moradores para com as ações de

desenvolvimento do bairro.

Os moradores afirmam que todo o trabalho coletivo e participativo da

comunidade fez com que o bairro se tornasse o que é hoje. Entretanto,

reforçam o pensamento de que existe maior envolvimento por parte daqueles

que participaram da construção do bairro. Assim, a análise direciona para o

entendimento de que a mobilização e o engajamento dos moradores, na tarefa

de construção das casas e do bairro, possibilitaram o seu crescimento.

De acordo com a análise dos dados gerados, os moradores respondentes

avaliam que ainda existe muito a ser feito pelo desenvolvimento do bairro e

citam, por exemplo, os problemas socioambientais:

- “Nós temos um problema sério com a invasão das áreas verdes. Temos

que continuar a mobilizar o povo pra luta.” (PARTICIPANTE 2).

- “O bairro melhorou muito, mas ainda tem muito o que fazer. Tem que

acabar com a violência e o lixo no bairro.” (PARTICIPANTE 14).

Ao observar os relatos dos participantes no grupo focal, percebe-se que os

moradores mais antigos do bairro Jardim Felicidade queixam que os moradores

mais recentes no bairro não se engajam nas ações de cuidado e melhoria da

qualidade vida no local.

135

O Discurso do Sujeito Coletivo revela a representação social dos moradores,

ou seja, a crença de que os jovens, por não conhecerem a historia do bairro, se

envolvem menos na participação e são menos engajados nas ações de

melhoria do bairro. Assim, no que tange ao pertencimento e à formação da

identidade social, essa análise sinaliza que a manutenção da memória de lutas

e conquistas coletivas corrobora na promoção do sentimento de pertencimento

e na formação da identidade social em relação ao bairro.

Nesse sentido, ressalta-se que os moradores mais antigos compreendem que

é importante a história ser contada, e acreditam que os moradores mais

recentes no bairro exibem menor nível de engajamento e mobilização, pelo fato

de não terem vivenciado a experiência de lutas e conquistas pela construção

do bairro ou por não conhecerem estes acontecimentos.

Conforme foi possível perceber, os resultados da análise de conteúdo, gerados

a partir do Software Iramuteq, e os resultados da análise do Discurso do Sujeito

Coletivo gerados pelo Software DSCSoft, no que tange aos principais conceitos

abordados neste estudo (Pertencimento social, Identidade social e Participação

e engajamento comunitário) responderam ao objetivo geral desta pesquisa:

analisar como o sentimento de pertencimento social pode contribuir para a

promoção do engajamento comunitário.

A análise de conteúdo (AC) e o discurso do sujeito coletivo (DSC) permitiram a

criação de categorias de base de análise que possibilitaram a interpretação dos

resultados e posterior inferência sobre os mesmos. A convergência entre os

métodos se deu, primeiramente, pelo fato de ambos, AC e DSC utilizarem

material verbal (respostas da entrevista semiestrutura e respostas às perguntas

no grupo focal), como objeto de análise. A AC e o DSC extraem os sentidos e

significados desse material e sistematiza-os de maneira a possibilitar a

interpretação e a análise dos resultados, tomando como base o referencial

teórico da pesquisa.

136

Desse modo, a convergência e os resultados alcançados por meio do DSC e

da AC podem ser sintetizados da seguinte maneira: A AC é uma técnica de

análise de dados qualitativos das comunicações, que consiste em organizar de

forma sistemática um corpo de texto. É um conjunto de instrumentos

metodológicos que se aplicam a discursos e que possibilita desvendar os seus

sentidos e significados (BARDIN, 2016).

A DSC é uma técnica de tabulação e organização de dados qualitativos, que

são organizados a partir de expressões ou opiniões de sentidos semelhantes

que são agrupados em categorias semânticas gerais. Tem como objeto o

pensamento das coletividades, que se faz mediante operações sobre os

depoimentos de diferentes sujeitos (LEFRÈVE; LEFRÈVE, 2014;

FIGUEIREDO; CHIARI; GOULART, 2013; MARINHO, 2015).

Nesse sentido, tanto o DSC quanto a AC têm como objeto de análise os

conteúdos das comunicações e dos discursos dos sujeitos. A partir deste

material verbal é possível desvendar os sentidos e significados desses

conteúdos. O conteúdo verbal das entrevistas analisado pela AC gerou cinco

categorias: Responsabilidade e cuidado com o território; Identidade social;

Engajamento comunitário; Mobilização comunitária e Sentimento de

pertencimento social.

O conteúdo verbal do grupo focal analisado pelo DSC gerou três categorias: A

história do bairro Jardim Felicidade fortalece o sentimento de pertencimento e

identidade social; Ter uma casa no Jardim Felicidade representa a

emancipação social; e Engajamento e participação são diferentes entre os

moradores do bairro Jardim Felicidade.

Os conteúdos verbais da AC e do DSC foram organizados e agrupados com

base nas palavras, expressões e ideias, cujos sentidos e significados eram

semelhantes ou complementares entre si, para compor a mesma categoria e

ao mesmo tempo, diferentes para formarem outras categorias (CAMARGO;

JUSTO, 2013).

137

No caso das categorias da AC e do DSC, que correspondem ao sentimento de

pertencimento e identidade social, os resultados são condizentes, e expõem

que: o sentimento de pertencimento dos moradores do bairro Jardim Felicidade

favoreceu a formação de identidade social destes moradores com o local.

- “(...) porque a gente cresceu e viveu aqui. Então tudo que eu adquiri, tudo

que eu vejo, tudo que eu aprendi foi dentro do Felicidade. Foi na

comunidade. Foi nesta comunidade, como se diz, carente né? Então, eu

sou fruto dessa comunidade, então tenho muito esse pensamento, muito

coletivo, né?” (ENTREVISTADO 4).

O que também é explicitado no DSC 1 que se refere à história do bairro no

sentido de fortalecer o sentimento de pertencimento e identidade social.

Ao observar a figura 4 - análise de similitude - gerada pelo Iramuteq, se verifica

que o agrupamento das palavras com sentidos e significados semelhantes está

nos mesmos quadrantes, inferior e superior direito compostas pelas palavras:

trabalhar, noite, deus, graça, ficar e vir, “cá”, lote, mãe, pai, morar, ganhar,

indicando que estas categorias estão interrelacionadas, ou seja, infere-se que

os vínculos de pertencimento e identidade social dos moradores foram

incorporados durante o processo de construção do bairro.

As categorias de análise da AC e do DSC que referem ao engajamento

comunitário e que culminam nas ações de cuidado com o território também

convergiram, pois os resultados retratam que alguns moradores participam e

estão engajados em ações que visam o cuidado com o território, a melhoria da

qualidade vida e o desenvolvimento local.

- “(...) eu passei a participar da rede e minha vida fluiu e cada vez me sinto

mais conectada nesse lugar, cada vez me sinto mais presente, cada vez

mais me sinto eu nesse lugar.” (ENTREVISTADO 1).

O DSC gerado para categorias que dizem respeito ao engajamento comunitário

é o DSC 6. Foi possível verificar que os moradores que se sentem

pertencentes ao bairro Jardim Felicidade e formam com este, sua identidade

138

social, são os mesmos que se dizem participativos e engajados nas tarefas que

objetivam o desenvolvimento do bairro.

- “Então no Jardim Felicidade (...) sou uma pessoa, uma pessoa que se importa com esse bairro. Eu gosto do que... principalmente, do que eu ajudei a construir (...).” (ENTREVISTADO 4).

- “O povo trabalhava tudo junto era mais unido, um ajudava o outro na

construção da casa e ali também eu gostava.” (ENTREVISTADO 15).

- “Eu gosto, gosto muito do bairro. Eu gosto de pessoas, eu acho que o

bairro é um bairro de pessoas simples como eu e eu acho que é um bairro

que... que eu posso ajudar. Você entendeu?” (ENTREVISTADO 6).

Assim, os resultados das análises do DSC e AC assinalam que o sentimento

de pertencimento é um construto que deve ser considerado quando se intenta

o desenvolvimento local. A partir desse sentimento os sujeitos desenvolvem a

identidade social que contribui para o desenvolvimento local.

A contribuição dos indivíduos pertencentes ao território propicia a utilização de

estratégias de gestão que visam à potencialização do sentimento de pertença

de outros sujeitos. Tais estratégias possibilitam também que ocorra a gestão

social das demandas apresentadas pela própria comunidade e que que essa

gestão seja a protagonista em todo o processo. Dessa maneira, torna-se

possível uma gestão com características de inovação social, pois serão

consideradas as potencialidades e criatividades presentes no âmbito local.

Assim, esta pesquisa revelou que o sentimento de pertencimento influencia na

maneira de como os moradores do bairro Jardim Felicidade se relacionam com

este território. O sentimento de pertencimento influencia no engajamento dos

moradores nas atividades locais de desenvolvimento. Esta pesquisa

demonstrou também o que fora anteriormente assinalado por Silva e Almeida

(2016): a participação dos moradores nas atividades pode despertar o

sentimento de pertencimento destes moradores para com o bairro, motivando-

os a se engajarem nas ações de desenvolvimento local.

139

3.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa buscou identificar se existe relação entre o sentimento de

pertencimento social e o engajamento comunitário dos moradores do bairro

Jardim Felicidade, em Belo Horizonte (MG).

Para atender ao objetivo geral, os instrumentos usados para coleta de dados

foram a entrevista semiestruturada e o grupo focal. Para cada instrumento de

coleta de dados, utilizaram-se diferentes métodos de análise, Análise de

Conteúdo (AC) e o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC).

A escolha desses instrumentos metodológicos de análise foi feita devido à

convergência identificada entre ambos, visto a extração dos sentidos e

significados presentes nos depoimentos dos sujeitos investigados (LEFÈVRE

et al., 2010). Nesse sentido, os instrumentos metodológicos se mostraram

eficazes no que tange aos resultados adquiridos.

Os dois métodos preconizam a identificação de categorias de base para

análise, que são fundamentais na sistematização e compreensão dos

resultados dessa pesquisa. Na AC, as categorias são classes que se

organizam por meio dos elementos textuais reunidos a partir de características

semelhantes (SANTOS, 2012; BARDIN, 2016). No DSC, as categorias são os

pensamentos e crenças socialmente compartilhados pelos indivíduos de uma

determinada sociedade, num determinado momento histórico (LEFÈVRE;

LEFÈVRE, 2003; 2014).

As categorias identificadas com base na AC foram: Responsabilidade e

cuidado com o território; Identidade social; Engajamento comunitário;

Mobilização comunitária; Sentimento de pertencimento social.

Os resultados de análise destas categorias mencionaram que a

responsabilidade e o cuidado aos quais moradores do bairro Jardim Felicidade

se referem é o zelo pelo ambiente, lugar onde vivem. Esta constatação é feita

quando se observa que as palavras em maior evidência, nesta categoria foram:

140

jogar (93,65%) e lixo (85,85%). Os relatos dos sujeitos, quando se referem ao

cuidado e responsabilidade com o território, afirmaram a importância de não se

jogar (lançar, atirar, arremessar) o lixo, nas ruas, nas esquinas e,

principalmente, no córrego Tamboril, o que corrobora com Salgado, Soares e

Vasques (2011).

Sobre a categoria Identidade social, os resultados demonstram que o trabalho

de construção das moradias, de forma compartilhada entre os moradores,

favoreceu que estes formassem com o bairro sua identidade social (SILVA;

GOMES, 2013). Além disso, essa identidade social está associada também à

história desta construção, conforme sinalizam Moreira (2014) e Silva e Gomes

(2013). Observa-se nos depoimentos dos sujeitos, que aqueles moradores

participantes direta ou indiretamente da construção, ou mesmo aqueles que

conheceram e se apropriaram da história do bairro, exteriorizam maior

identificação com esse local.

Os resultados aludiram ainda que a identidade social é formada a partir do

sentimento de pertencimento desses moradores para com o território, a partir

de identificações com causas e necessidades comuns, da afiliação com o

território e com outros moradores. Dessa maneira, o sentimento de

pertencimento manifesto na maioria dos moradores entrevistados está

relacionado ao fato de existir uma vinculação e inserção ao espaço territorial

por parte destes moradores. Assim, eles adotam ações coletivas e estratégias

que possam promover melhores condições de sobrevivência, impulsionando o

desenvolvimento local (FISCHER et al., 2006; LIZUKA; GONÇALVES-DIAS;

AGUERRE, 2012; SOUSA; VASCONCELOS; VASCONCELOS SOBRINHO,

2012).

Nestes termos, o sentimento de pertencimento e a identidade social estão

diretamente relacionados, corroborando com o apresentado por Sarlot e

Schmidt (2014) que assinalam a importância do pertencimento na formação da

identidade social.

141

Quanto ao engajamento comunitário, os resultados revelam que ele acontece a

partir da mobilização. A mobilização comunitária atingiu cerca de metade dos

moradores do bairro Jardim Felicidade participantes dessa pesquisa, sendo a

maioria deles participantes da fundação do bairro. Estes moradores,

mobilizados e engajados em alguma atividade no bairro, afirmam que se

mobilizaram a partir do convite e do incentivo de outros moradores. E que o

fazem em razão de uma demanda coletiva por melhoria da qualidade de vida e

pelo desenvolvimento local (SARLOT; SCHMIDT, 2014). No entanto, alguns

moradores relataram que, a partir do momento em que as pessoas que os

motivaram se distanciaram e deixaram de participar dessas ações, eles

também deixaram de se envolver e participar.

No contexto do bairro Jardim Felicidade se engendra a participação e o

engajamento dos moradores nas ações de cuidado com o território e nas

atividades que promovem o desenvolvimento local.

As categorias identificadas com base no DSC foram: a história fortalece o

sentimento de pertencimento e identidade; ter uma casa no Jardim Felicidade

representa a emancipação social; o engajamento e mobilização comunitária

são diferentes entre os moradores mais recentes e os mais antigos no bairro.

Com base nestas categorias de análise, os dados processados por meio do

DSCSoft geraram resultados sinalizadores de que conhecer a história do bairro

motiva o sentimento de pertencimento e a identidade social dos moradores em

relação a esse território.

Nesse sentido, há convergência entre os resultados gerados a partir da AC que

revelam que o sentimento de pertencimento favorece a identidade social, e os

resultados do DSC que revelam que conhecer a história do bairro leva os

moradores a expressarem maior pertencimento e identidade social. Outro fato

constatado é que, também no DSC, os resultados mostram que os moradores

mais antigos manifestam um nível maior de pertencimento social e, em

consequência, são os que também aparecem como os moradores mais

142

envolvidos e engajados nas ações de cuidado com o território. Isto está de

acordo com Menezes (2010) e Brea (2014).

Os autores assinalam que as pessoas que se sentem pertencentes e inseridas

num espaço territorial criam uma identidade com este local e, assim, buscam

melhorias para este local e envolverão outras pessoas, como observado

também por Maldonado e Oliva (2009) e Silva e Almeida (2016). Além disso, os

fundadores do bairro Jardim Felicidade atribuem a baixa participação dos

moradores mais recentes/jovens ao fato deles não terem vivenciado os

desafios e conquistas que os moradores mais antigos vivenciaram e também

por não conhecerem a história do bairro, corroborando com os estudos de

Moreira (2014).

Portanto, embora os resultados revelem o desejo de alguns de nunca saírem

do bairro, há de se ter um olhar mais crítico sobre esse sentimento, uma vez

que estes sujeitos podem nutrir sentimentos de resignação e apatia latentes,

manifestos em forma de alívio e gratidão. Há de se considerar também que os

construtos pertencimento e identidade social são processos psicossociais que

têm em sua constituição fatores históricos e contextuais que os afetam

cotidianamente (TAVARES, 2014).

É interessante observar que a nuvem de palavras gerada pelo Iramuteq (figura

3) evidenciou que os vocábulos mais significativos foram gente, bairro e

pessoa. Esses termos demonstram a filiação que os moradores manifestam em

relação ao bairro e a importância da coletividade no âmbito dessa comunidade,

uma vez que a palavra - gente - em maior evidência é interpretada como nós,

nas duas análises realizadas nessa pesquisa apresentadas nas figuras 3 e 8.

Ressalta-se que foram desconsideradas as interjeições relacionadas ao

vocábulo GENTE que apareceram no contexto do diálogo, por serem

expressões que, no contexto deste trabalho, não são relevantes.

Assim, compreende-se que, para haver a participação e o engajamento, é

necessário promover o sentimento de pertencimento e a identidade social, uma

143

vez que estes construtos, como vistos na literatura, são instáveis, negociáveis

e revogáveis (BAUMAN, 2005). Conclui-se ainda que o sentimento de

pertencimento dos moradores do bairro Jardim Felicidade está diretamente

ligado à forma como eles interagem com o território (BREA, 2014; CUCHE,

1999; SANTOS, 2010).

Nesse aspecto pode-se inferir que, no contexto do bairro Jardim Felicidade é

iminente a possibilidade de se promover a gestão social em prol do

desenvolvimento local. Este fato pode ser constatado quando se observa que

alguns dos moradores, que em 1987 começaram a construção deste bairro,

alcançaram resultados notórios de desenvolvimento local. Atualmente, a

demanda de revitalização do córrego Tamboril tem sido a causa comum que

une alguns moradores do bairro Jardim Felicidade na busca da solução deste

problema, por meio de um processo dialógico caracterizando a gestão social,

conforme assinala Góes e Machado (2013).

A gestão social a que se propõe o desenvolvimento local, no âmbito do bairro

Jardim Felicidade, deve ser contextualizada e ancorada territorialmente

(FISCHER, 2012). Deve ter como prerrogativa as relações já estabelecidas

entre os moradores e instituições que se articulam em diversos níveis de poder

individual e social e o fortalecimento da Rede de Apoio ao Desenvolvimento do

Bairro Jardim Felicidade (SILVA; GOMES, 2013).

A proposta é abarcar os potenciais humanos e os recursos culturais e

simbólicos presentes no território. Pois, de acordo com Fischer (2012), a

gestão social considera o território como a origem e o destino das ações

voltadas ao desenvolvimento local. Dessa maneira, parte-se do pressuposto de

que, em razão da ineficiência do poder público em dirimir as carências sociais,

as pessoas têm se valido de estratégias inovadoras na busca de alternativas

que solucionem ou minimizem os impactos sociais negativos, como assinalado

por Bignetti (2011).

144

E dessa maneira, tornam-se interessante as propostas de intervenções como a

Educação ambiental, conforme assinala Dias (2010) que buscam instigar e

gerar nas pessoas a percepção de que é necessário agir em busca da

melhoraria ou manutenção a sua qualidade de vida.

Nesse aspecto, questiona-se: que estratégias podem ser adotadas para que se

promova a gestão social em territórios como o bairro Jardim Felicidade. Como

se reconhece que o sentimento de pertencimento é o motor da participação e

do engajamento comunitário? Que desenvolvimento local essa comunidade

busca, quando se propõem intervenções que visam ao desenvolvimento local?

Quais recursos culturais, simbólicos, naturais, humanos existem neste território

e podem ser potencializados? Quais são as demandas comuns que tem unido

os diversos sujeitos em prol de um mesmo objetivo?

À guisa de conclusão,

Identificou-se que o sentimento de pertencimento influencia o engajamento e a

participação dos moradores do bairro Jardim Felicidade, como foi o objetivo

desta pesquisa. Entretanto, surgem ainda, inúmeras inquietações acerca das

respostas que se podem dar às comunidades de baixa renda, para que se

promova ‘com elas’ o desenvolvimento local.

Pensando nisso foi desenvolvido o produto técnico: MÉDIA-

METRAGEM/DOCUMENTÁRIO JARDIM FELICIDADE – Vozes em

transformação, que será utilizado como ferramenta de intervenção na

perspectiva da educação ambiental. A intenção é o vídeo como um produto

inovador, produzido com os recursos locais e por meio do envolvimento e da

participação da própria comunidade que, como protagonistas, contam e

recontam sua história.

REFERÊNCIAS

ALENCAR, L. O. Participação social: institucionalização e integração ao ciclo

de políticas publicas. In: MONASTERIO, et al. Brasil em desenvolvimento

2014: estado, planejamento e políticas publicas. Brasília: Ipea, 2014, p. 517

145

ALVES – MAZZOTTI, A. J; GEWANDSZNAJDER, F. O método nas ciências sociais. In: ALVES –MAZZOTTI, A. J.; GEWANDSZNAJDER, F. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. p. 109-187.

ANDRE, M. C. Processos de subjetivação em afro-brasileiros: anotações para um estudo. Psic.: Teor. e Pesq. [online]. Brasilia, v. 23, n. 2, 2007, p.159-167. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722007000200006. Acesso em 16 de abr. 2018.

ARAÚJO, S. S.; AGUIAR NETTO, A. O.; GOMES, L. J. A percepção ambiental, identidade e pertencimento dos moradores... Revista Desenvolv. Meio Ambiente v. 36, p. 239-253, 2016.

ASCHIDAMINI, Ione Maria; SAUPE, Rosita. GRUPO FOCAL ESTRATÉGIA METODOLÓGICA QUALITATIVA: UM ENSAIO TEÓRICO. Cogitare Enfermagem, [S.l.], v. 9, n. 1, jun. 2004. Disponível em: <http://revistas.ufpr.br/cogitare/article/view/1700>. Acesso em: 21 mar. 2018. doi:http://dx.doi.org/10.5380/ce.v9i1.1700.

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Tradução: Luís Augusto Pinheiro. São Paulo: Edições 70, 2016. 279p.

BAUMAN, Z. Vida líquida. Rio de Janeiro: Zahar. 2007. 110p.

BAUMAN, Zygmunt; Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. 14p.

BELO HORIZONTE. Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social. Documento Técnico: Revisão Territorial CRAS Jardim Felicidade. Belo Horizonte: PBH/SMAAS, 2016.

BENINCÁ, E. As origens do planejamento participativo no Brasil. Revista Educação - AEC, Brasília, n. 26, p. 7-21, 1995.

BERLATTO, O. A construção da identidade social. Revista do curso de direito da FSG. Rio Grande do Sul, v.3, n.5, p. 141-151, jan/jun. 2009.

BIGNETTI, L. P. As inovações sociais: uma incursão por ideias, tendências e focos de pesquisa. Ciências Sociais Unisinos, v. 47, n. 1, jan.-abr., 2011, p. 3-14

BONDER, Nilton. A ditadura do bom. Folha de São Paulo, São Paulo, 02 nov. 1999. Tendências e Debates, p. 3.

BOULLOUSA, R. F.; SCHOMMER, P. C. Gestão social: Caso de Inovação em Políticas Públicas ou Mais um Enigma de Lampedusa? In: Gestão Social e Políticas Públicas de Desenvolvimento: Ações, Articulações e Agenda. Recife: UNIVASF, 2010. p. 64-92.

146

BRASIL. CapacitaSuas: Configurando os Eixos de Mudança / Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 1 ed. Brasília: MDS, 2008, p.136

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2012

BREA L. M. Factores determinantes del sentido de pertenencia de los estudiantes de arquitectura de la pontificia universidad católica madre y maestra campus Santo Tomas de Aquino. 2014. 196 f. Tese (Doutorado) Universidad de Murcia. Disponível em: http://hdl.handle.net/10201/42306 Acesso em: 13 de mar 2018

BRISOLA, E. M. A; MARCONDES, N. A. V. A História oral enquanto metodologia dentro do universo da pesquisa qualitativa: um foco a partir da análise por triangulação de métodos. Revista ciências humanas – UNATEC, São Paulo, v. 4, n 1. 2011. Disponível em: http://www.rchunitau.com.br/index.php/rch/article/view/9. Acesso em: 20 de abr. 2017.

BUSANELLO, J. et al. Grupo Focal como técnica de coleta de dados. Cogitare Enfermagem, [S.l.], v. 18, n. 2, jun. 2013. ISSN 2176-9133. Disponível em: <http://revistas.ufpr.br/cogitare/article/view/32586>. Acesso em: 22 jul. 2017. Doi:http://dx.doi.org/10.5380/ce.v18i2.32586.

CAMARGO, B. V.; JUSTO, A. M. IRAMUTEQ: um software gratuito para análise de dados textuais. Temas de Psicologia, Ribeirão Preto , v. 21, n. 2, p. 513-518, dez. 2013 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2013000200016&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 10 ago. 2017. http://dx.doi.org/10.9788/TP2013.2-16.

CARDOSO, A. Escravidão e sociabilidade capitalista: um ensaio sobre inércia social. Novos estudos. – CEBRAP, São Paulo , n. 80, p. 71-88, mar. 2008 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-33002008000100006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 24 abr. 2017. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-33002008000100006

CARVALHO, M. C. B. Gestão social: alguns apontamentos para debate. In: Rico, E. D. M.; Raichelis, R. (Orgs.). Gestão social: uma questão em debate. São Paulo: EDUC/IEE, 1999. 19-29 p.

CIDADE, E. C. Juventude em condições de pobreza: Modos de vida e fatalismo. 2012. 163.f. Dissertação (Mestrado em psicologia) Centro de humanidades, departamento de psicologia. Universidade do Ceará. Fortaleza. 2012.

CODO, W. Identidade e Economia (I): Espelhamento, Pertencimento, individualidade. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Brasília, v. 18, n. 3, p. 297-304, 2002

147

CONSTANZO, A Z. Participación y empoderamiento comunitario: rol de las

metodologias implicativas. In: Congreso Internacional Del Clad Sobre La

Reforma Del Estado Y Dela Administración Pública, 5, 2005 Santiago. Anais...

Chile, 2005, p. 18 – 21.

COUSIN, C. S. Pertencimento ao lugar e a formação de educadores ambientais: um diálogo necessário. In: EPEA – Encontro Pesquisa em Educação Ambiental, 7, 2013, Rio Claro – SP. Anais... 2013. Disponível em <http://www.epea.tmp.br/epea2013_anais/pdfs/plenary/0130-1.pdf> Acesso 02 jan. 2017.

CUCHE, D. A noção de cultura nas ciências sociais. 1ed. Bauru: EDUSC, 1999. 256p.

DELAVIGNE, V. Alceste, un logiciel d’analyse textuelle. Texto! Textes et cultures, Équipe Sémantique des textes, 2003. Disponível em: https://hal.archives-ouvertes.fr/hal-00924168/document. Acesso em 6 abr. 2018

DESCHAMPS, J. C.; MOLINER, P. As representações sociais. In: DESCHAMPS, J. C.; MOLINER, P. A identidade em Psicologia Social: dos processos identitários às representações sociais. Petrópolis: Vozes, 2009. p. 125-140.

DIAS, G.F. Educação Ambiental: Princípios e práticas. 9ed. São Paulo: Gaia. 2010. 551p.

DUTRA, G. S.; AFONSO, M. L. M. Gestão Social dos Conselhos Escolares. Revista Lugares de Educação (RLE). Paraíba, v. 5, n. 11, 2015. p. 224-240 Disponível em: http://periodicos.ufpb.br/index.php/rle/article/view/21452/pdf. Acesso em: 28 de fev. 2011.

FASSINI, E; MACHADO, N. G.; SCHULTZ, G. Identidade e pertencimento: a dinâmica social de um grupo de mulheres no Vale do Taquari, Rio Grande do Sul. Cadernos Pagu, Campinas, n. 41, p. 405-433, Dez. 2013 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332013000200019&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 26 fev.. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-83332013000200019.

FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio básico da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002, p. 266.

FIGUEREDO M.A.; CHIARI, B.M.; GOULART, B.N.G. Discurso do sujeito coletivo: uma breve introdução à ferramenta de pesquisa qualiquantitativa. Disturb Comum. [S.I.], v. 25, n. 1, 2013, p. 129-36.

FISCHER, T. Desenvolvimento territorial como campo de convergências. In: JUNQUEIRA, L. A. P. et al. Gestão social: mobilizações e conexões. São Paulo: LCTE Editora, 2012, v. 4, cap. 3, p. 308-336.

148

FISCHER, T., et al. Perfis visíveis na gestão social do desenvolvimento. Revista de Administração. Pública, Rio de Janeiro , v. 40, n. 5, p. 789-808, 2006 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-76122006000500003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 3 de Mar. 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-76122006000500003.

FREITAS, C. G. Desenvolvimento local e sentimento de pertença na comunidade de Cruzeiro do Sul - Acre. 2008. 104 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Local) – Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, MS, 2008

FREITAS, M. F. Q. Contribuições da psicologia social e psicologia política ao desenvolvimento da psicologia social comunitária. Psicologia & Sociedade, São Paulo, v. 8, n. 1, 1996, p. 63-82.

GASTAL, C. A; PILATI, R. Escala de Necessidade de Pertencimento: Adaptação e Evidências de Validade Psico-USF, Bragança Paulista, v. 21, n. 2, p. 285-292, 2016

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2010. 175p.

GÓES, F. T.; MACHADO, L. R. S. Políticas Educativas, Intersetorialidade e Desenvolvimento Local. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 38, n. 2, p. 627-648, abr./jun. 2013. Disponível em: http://www.ufrgs.br/edu_realidade. Acesso em: 22 de fev. 2018

GÓMEZ, J. M. Crítica ao conceito de desenvolvimento. Pegada Eletrônica, Presidente Prudente, v. 3, n.1, 2002, p. 20-32. Disponível em <http://revista.fct.unesp.br/index.php/pegada/article/viewFile/798/821> Acesso em 26 mar. 2017.

HAESBAERT, R. Da desterritorialização à multiterritorialidade. In: Encontro dos Geógrafos da América Latina, 10, 2005, São Paulo. Anais...São Paulo: USP, 2005. p. 6774– 6792.

HENRIQUES, M.S. A dinâmica da comunicação para a mobilização social nas práticas da extensão universitária. Interfaces - Revista de Extensão. [S.I.], v. 1, n. 1, p. 24-34, 2013. Disponível em: https://www.ufmg.br/proex/revistainterfaces/index.php/IREXT/article/download/6/pdf. Acesso em: 06 de fev. 2018

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2010c. Disponível em: https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.php?id_pesquisa=40. Acesso em mai. 2017

JACOBI, P. R. Educação ambiental: o desafio da construção de um pensamento crítico, complexo e reflexivo. Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 31, n. 2, p. 233-250, Ago. 2005 . Disponível em:

149

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151797022005000200007&lng=en&nrm=iso> Acesso em 07 mar. 2017 http://dx.doi.org/10.1590/S1517-97022005000200007.

JACOBI, P.; PINHO, J. A. Inovação no campo da gestão pública local: novos desafios, novos patamares. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. 204 p.

JUSTO, A. M.; CAMARGO, B. V. Estudos qualitativos e o uso de softwares para análises lexicais. In: NOVIKOFF, C.; SANTOS, S. R. M.; MITHIDIERI, O. B. (Eds.). . Caderno de artigos: X SIAT & II Serpro (2014: Duque de Caxias, RJ). Duque de Caxias: UNIGRANRIO, 2014. p. 37–54.

KINALSKI, D. D. F., et al. Grupo focal na pesquisa qualitativa: relato de experiência. Revista Brasileira de Enfermagem [Internet]. [S.I.], v. 70, n. 2, 2017, p. 442-448. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reben/v70n2/pt_0034-7167-reben-70-02-0424.pdf. Acesso em: 21 de abr. 2018.

KOGA, D. Medidas de cidades: entre territórios de vida e territórios vividos. São Paulo: Cortez, 2003. 299p.

LACAN, J. O Seminário: Livro 1: os escritos técnicos de Freud, Rio de Janeiro: Zahar, 1985. P. 336

LEFEVRE, F. et al. O discurso do sujeito coletivo como eu ampliado: aplicando a proposta em pesquisa sobre a pílula do dia seguinte. Revista Brasileira do Crescimento e Desenvolvimento Humano. São Paulo, v. 20, n. 3, p. 798-808, 2010. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12822010000300015&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 21 mar. 2018.

LEFEVRE, F.; LEFEVRE, A. M. C. Discurso do sujeito coletivo: representações sociais e intervenções comunicativas. Texto Contexto Enfermagem, abr-jun 2014, v. 23, n. 2. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/tce/v23n2/pt_0104-0707-tce-23-02-00502.pdf> Acesso em: 23 de fev. 2018.

LEFÈVRE, F.; LEFÈVRE, A. M. C. O discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa (Desdobramentos). 2.ed. Caxias do Sul: Educs, 2005.

LESTINGE, S. Olhares de educadores ambientais para estudos do meio e pertencimento. 2004. Tese (doutorado em Recursos Florestais) – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2004.

LIMA, E. M. F. A.; YASUI. S. Territórios e sentidos: espaço, cultura, subjetividade e cuidado na atenção psicossocial. Revista Saúde em Debate. Rio de Janeiro, v. 38, n. 102, 2014. p. 593-606.

LIZUKA, E. S.; GONCALVES-DIAS, S. L. F.; AGUERRE, P. Reflexões sobre o desenvolvimento territorial sustentável, gestão social e cidadania deliberativa: o caso da bacia do rio Almada (BA). Revista Administração Pública, Rio de

150

Janeiro, v. 46, n. 6, p. 1599-1623, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-76122012000600009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 23 Jan. 2017. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-76122012000600009.

LOPES, C. J. R; MACHADO, L. R. S. Projeto político pedagógico como instância de gestão social da educação. Revista Pretexto, Belo Horizonte, v. 15, n. 3, p. 90-105, 2014. Disponível em: http://www.fumec.br/revistas/pretexto/article/view/2269/pdf_27. Acesso em 20 de mar. 2018.

MALDONADO M.; OLIVA, A.; HERNANDEZ, A. V. El proceso de construcción de la identidad colectiva. Convergência, Toluca, v. 17, n. 53, p. 229-251, 2010. Disponível em <http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1405-14352010000200010&lng=es&nrm=iso>. Acesso em 03 mar.2018.

MARINHO, M. O Discurso do Sujeito Coletivo: Uma Abordagem Qualiquantitativa para a Pesquisa Social. Trabajo Social Global-Global España, v.5 n. 8, 2015. p. 90-115.

MARTÍN-BARÓ. I. Psicología de la liberación. Madrid: Trotta, 1998, p. 376.

MCCLOSKEY, D. J.; et al. Principles Of community Engagement. 2. ed. [S.I]: Printed, 2011. 193p.

MEDEIROS, H. Q. Educação ambiental na temporalidade do Acre: um olhar sobre a heterotopia de Chico Mendes. 2007. 182 f. Tese (doutorado) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. 2007.

MENEZES, T. D. A Identidade social: Uma análise teórica UFPE/ PGLETRAS. Pernambuco, v. 5, n. 2, p. 16-27, 2010.

MINAYO, M. C. S. Amostragem e saturação em pesquisa qualitativa: consensos e controvérsias. Revista Pesquisa Qualitativa. São Paulo. SP, v. 5, n. 7, p. 01-12, abril. 2017. Disponível em: http://rpq.revista.sepq.org.br/index.php/rpq/article/view/82/59. Acesso em: 23 de fev. 2018

MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento. Pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 2009. 269p.

MOBILIZAR. In: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013. Disponível em: https://www.priberam.pt/dlpo/mobilizar. Acesso 13 de fev. 2018

MOISÉS, M. et al. A política federal de saneamento básico e as iniciativas de participação, mobilização, controle social, educação em saúde e ambiental nos programas governamentais de saneamento. Ciências e saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 5, 2010, p. 2581-2591. Disponível em:

151

http://www.scielo.br/pdf/csc/v15n5/v15n5a32.pdf. Acesso em: 21 de abr de 2018.

MOREIRA, R. Para onde vai o pensamento geográfico? Por uma epistemologia crítica. São Paulo: Contexto, 2014. 192 p.

NICOLAU, K. W.; ESCALDA, P. M. F.; FURLAN, P. G. Discurso do Sujeito Coletivo (DSC): usabilidade do software Qualiquantisoft na pesquisa em Saúde. Atas CIAIQ2015 v.1, 2015 p. 243-246. Disponível em: https://proceedings.ciaiq.org/index.php/ciaiq2015/article/view/56. Acesso em: 23 de Fe. 2018

OFFREDI, C. Desafios e potencialidades da gestão social na França e no Brasil. In: Junqueira, L.A.P., Dias, S.L.F.G., Wanderley, M.B., Mendonça, P. Gestão social, mobilizações e conexões, LCTE, p.85-91, 2013. Disponível em: http://halshs.archives-ouvertes.fr/halshs-01122017. Acesso em 28 de fev. 2018〈halshs-01122017〉

OLIVEIRA, A. R. S.; SILVA, C. H. Território, Territorialidade e Identidade Territorial: categorias para análise da dinâmica territorial quilombola no cenário geográfico. Caderno de Geografia, [S.I.], v.27, n.49, 2017, p. 411-426. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/geografia/article/viewFile/p.2318-2962.2017v27n49p411/11329. Acesso em: 28 de fev. 2018.

OLIVEIRA, F. M. B. Mobilizando oportunidades: estado, ação coletiva e o recente movimento social quilombola. 2009. 222 f. Dissertação ( mestrado em ciência pública) - faculdade de filosofia, letras e ciências humanas da universidade de São Paulo, 2009.

OLIVEIRA, T. R. F.; CAVALCANTE, L. F. B. Biblioteca escolar: espaço que cria laços de pertencimento. Biblionline, João Pessoa, v. 13, n. 3, p. 30-42, 2017

PINHO, J. A. G.; SANTOS, M. E. P. Gestão social: uma análise crítica de experiências brasileiras. Revista do Serviço Público Brasília, v.66, n. 2, p 257-279, 2015. Disponível em: http://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/2312/1/gest%C3%A3o%20social.pdf. Acesso em 02 de mar. 2018. DOI: 10.5433/1679-4842.2013v16n1p19.

RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do Poder. Tradução de Maria Cecília França. São Paulo: Ática, 1993. 269p.

ROCHA, C. A. R.; SANTOS, E. H. Gestão social e ergogestão: pontos de interseção. In: MACHADO, L. R. S.; AFONSO, M. L. M. Gestão social, educação e desenvolvimento local. Instrumentos para a transformação social (organizadoras). Belo horizonte: Autêntica Editora, 2012. p. 69-87.

SÁ, L. M. Pertencimento. In: FERRARO JUNIOR, L. A. Encontros e caminhos: formação de educadoras (es) ambientais e coletivos educadores. Brasília, MMA. Diretoria de Educação ambiental, 2005, p. 245-

152

256. Disponível em <http://cetrans.com.br/artigos/Lais_Mourao.pdf> Acesso em 25 de out. 2016.

SALES, C. P. Engajamento Comunitário e Entendimento Público da Ciência: Primeiras anotações para uma agenda de pesquisa. 2014. 85 f. dissertação (Mestrado em Informação e comunicação em Saúde) – Instituto de Comunicação e Informação Cientifica e Tecnológica em Saúde, Fundação Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, 2014.

SALGADO, C. M. M.; SOARES, G. Q. C.; VASQUES, R. O. Consciência ambiental cuidado com o lixo. Saúde & Ambiente em Revista. Duque de Caxias, RJ, v. 6, n.1, 2011.

SALORT, M. C.; SCHMIDT, E. B. O ambiente virtual de aprendizagem como potencializador da Arte/Educação Ambiental. REMEA - Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, [S.l.], p. 132-148, dez. 2014. ISSN 1517-1256. Disponível em: <https://www.seer.furg.br/remea/article/view/4855>. Acesso em 22 fev. 2017

SANTOS, S. A. M. Políticas públicas de educadores ambientais: Análise do processo de constituição do coletivo educador de São Carlos, Araraquara, Jaboticabal e região – CESCAR. Orientadora: Haydée Torres de Oliveira, 2010. 217 f. Tese (doutorado em ciências) - Escola de Engenharia São Carlos - USP, 2010.

SANTOS, J. F. Mobilização comunitária e comunicação de risco para a redução de riscos de desastres, [s.n.] Florianópolis, CEPED UFSC, 2012. 16p.

SANTOS, M. A natureza do espaço – Técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996. 259p.

SANTOS, M. Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000. 85p

SILVA, D. F.; FINELLI, L. A. C.; ALMEIDA, T. L. O estigma social entre os jovens da Vila Castelo Branco In: CONGRESSO EM DESENVOLVIMENTO SOCIAL, 5, 2016, Campinas. Anais... Campinas: Estado, meio ambiente e desenvolvimento. 2016. p. 5-16. Disponível em: http://www.congressods.com.br/anais/gt_05/O%20ESTIGMA%20SOCIAL%20ENTRE%20OS%20JOVENS%20MORADORES%20DA%20VILA%20CASTELO.pdf. Acesso em: 2 de jan. 2018.

SILVA, J. A. R.; GOMES, M. C. Jardim Felicidade: Várias histórias em uma história. 1 ed. Belo Horizonte: o Lutador, 2013. 128p.

SILVA, J. M.; HESPANHOL, M. R. A. Discussão sobre comunidade e características das comunidades rurais no município de Catalão (GO) Sociedade e Natureza, Uberlândia, v. 28, n. 3, p. 361-374, dez. 2016. Disponível em

153

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S198245132016000300361&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 28 abr. 2017.

SILVA, K. V; MORETTO NETO, L. Gestão social e participação nas decisões. Estudos de caso em cooperativas de base social Catarinenses. Desenvolvimento em questão. Ijui, v. 13, n. 30, p. 132-154, 2015. Disponível em: http://www.redalyc.org/pdf/752/75235861006.pdf. Acesso em: 2 de fev. 2018

SILVA, L. O.; ALMEIDA, E. A. Percepção Ambiental e Sentimento de Pertencimento em Área de Proteção Ambiental Litorânea no Nordeste Brasileiro Revista Eletrônica Mestrado Educação Ambiental. Rio Grande do Sul, v. 33, n.1, p. 192-212, 2016.

SILVA, T. T. A Produção Social da Identidade e da Diferença. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.); HALL, S.; WOODWARD, K. Identidade e Diferença: A perspectiva dos Estudos Culturais. 9.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009 p. 73-102

SORATTO, J., WITT, R. R. Participation and social control: perception of familyhealth workers. Texto e Contexto Nursing, Florianópolis, v. 22, n. 1, p. 89-96, 2013

SOUSA, Y. M; VASCONCELOS, A. M. A.; SOBRINHO, M. V. Limites, Possibilidades e Dificuldades de Gestão Social em Redes de Cooperação para o Desenvolvimento Local. Cadernos Gestão Social, América do Norte, v.3, n. 2, 2012. Disponível em: http://www.periodicos.adm.ufba.br/index.php/cgs/article/view/295. Acesso em 30 abr. 2017

SOUZA, M. L. Desenvolvimento de comunidade e participação. 5ed. São Paulo: Cortez, 1996, p. 231

TAVARES, R. C. O sentimento de pertencimento social como um direito básico e universal. Cadernos de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas, Florianópolis, v. 15, n. 106, p. 179-201, jun. 2014. ISSN 1984-8951. Disponível em <https://periodicos.ufsc.br/index.php/cadernosdepesquisa/article/view/19848951.2014v15n106p179>. Acesso em 24 abr. 2017. doi:http://dx.doi.org/10.5007/1984-8951.2014v15n106p179.

TENÓRIO, F. G. Gestão social: metodologia, casos e práticas. 5 ed. Rio de Janeiro: FGV, 2007. 135p.

TENÓRIO, F. G. Gestão social: uma perspectiva conceitual. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, v. 32, n. 5 . 1998. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/article/viewFile/7754/6346> Acesso em 30 de abr. 2017

TENORIO, Fernando G. A trajetória do Programa de Estudos em Gestão Social (Pegs). Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro, v. 40, n. 6, p. 1145-1162, Dez. 2006. Disponível em:

154

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-76122006000600011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 04 Mar. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-76122006000600011.

TORO A. J. B; WERNECK, N. M. D. Mobilização social: um modo de construir a democracia e a participação. Belo horizonte. Autentica, 2007. 104p.

VASCONCELOS, F.C.W. et al. Impactos ambientais decorrentes do crescimento do bairro Belvedere III – Belo Horizonte/Minas Gerais /Brasil. Revista Geográfica de América Central. EGAL. Costa Rica, 2011, p 1-17

VELHO, G. Cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. 8.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. 152p.

VERGARA, S. C. Projetos de relatórios de pesquisa em administração. 2ed. São Paulo: Atlas, 2007. 90p.

VIEIRA-SILVA, M. Práticas em psicologia comunitária e processos de mobilização social: provocações para um debate Pesquisas e Práticas Psicossociais, v. 10, n. 2, São João del-Rei, julho/dezembro 2015. p.292-300

VRÁBLÍKOVÁ, K. How context matters? Mobilization, political opportunity structures, and nonelectoral political participation in old and new democracies. Comparative Political Studies, v. 20, n. 10, p. 1-27, 2013.

WANDERLEY, M. B. Discussão sobre a gestão social: conceitos e protagonistas. Serviço social em Revista, Londrina, v. 16, n. 1, 2013. Disponível em <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/ssrevista/article/view/17973>. Acesso em 30 abr. 2017. DOI: 10.5433/1679-4842.2013v16n1p19.

155

4 MÉDIA-METRAGEM COMO FERRAMENTA DE INTERVENÇÃO SOCIAL

PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BAIRRO JARDIM FELICIDADE EM

BELO HORIZONTE (MG).

[1] Aparecida Mendes de Paiva

[2] Fernanda Carla Wasner Vasconcelos

RESUMO

O presente artigo tem como finalidade a apresentação do média-

metragem/documentário JARDIM FELICIDADE – Vozes em Transformação,

elaborado a partir dos resultados da pesquisa intitulada: O sentimento de

pertencimento no engajamento comunitário: um estudo de caso no bairro

Jardim Felicidade (MG). Os resultados dessa pesquisa evidenciaram que o

sentimento de pertencimento no bairro Jardim Felicidade (MG) influencia no

engajamento dos diferentes sujeitos nas ações de cuidado e desenvolvimento

do território. A partir desta constatação, surge a proposta de elaboração desse

curta metragem, como recurso metodológico de intervenção social para

educação ambiental visando o desenvolvimento e a potencialização do

sentimento de pertencimento desses moradores. Dessa forma, o média-

metragem/documentário apresenta a história do bairro Jardim Felicidade desde

sua fundação e narra as lutas e superações dos moradores, para a efetivação

do direito à moradia. O vídeo é um produto técnico que tem como temática a

inovação social com aspectos de gestão social, na medida em que sua

produção foi feita juntamente com os próprios moradores que atuaram como

produtores, documentaristas, roteiristas e protagonistas. É inovador visto que

surgiu da criatividade e capacidade dos próprios moradores em realizar com os

poucos recursos disponíveis, um documentário que seja capaz de transmitir e

mediar conhecimentos de forma inovadora

Palavras-chave: Documentário. Intervenção social. Gestão social.

Inovação social.

___________________________

[1] Psicóloga, Especialista em intervenção social no Contexto das Políticas Públicas. Mestranda em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, pelo Centro Universitário Una. E-mail: [email protected] [2] Bióloga, Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (UFMG). Doutora em Ciências (UFLA). Professora do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]

156

SHORT FILM AS A TOOL FOR SOCIAL INTERVENTION FOR ENVIRONMENTAL EDUCATION IN JARDIM FELICIDADE IN BELO HORIZONTE (MG).

[1] Aparecida Mendes de Paiva [2] Fernanda Carla Wasner Vasconcelos

The purpose of this article is to present the JARDIM HELICIDADE - documentary film "Vozes em Transformação," based on the results of the research entitled: The feeling of belonging in community engagement: a case study in Jardim Felicidade neighborhood (MG). The results of this research showed that the feeling of belonging in Jardim Felicidade neighborhood (MG) influences the engagement of the different individuals in the care and development actions of the territory. Based on this observation, the proposal for the elaboration of this short film appears as a methodological resource of social intervention for environmental education aimed at developing and enhancing the residents’ sense of belonging. In this way, the short film / documentary presents the history of Jardim Felicidade neighborhood since its foundation and tells the residents’ struggles and overcoming, so that the right to have a house becomes effective. This technical product that has characteristics of social innovation with aspects of social management, since its construction was made with the residents themselves who acted as producers, documentarists, writers and protagonists. It is innovative because it came from the residents’ creativity and ability to build with the few resources available, a documentary that is capable of transmitting and mediating knowledge in an innovative way. Keywords: Documentary. Social intervention. Social management. Social innovation.

______________

[1]Psicóloga, Especialista em intervenção social no Contexto das Políticas Públicas. Mestranda em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, pelo Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]

[2] Bióloga, Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (UFMG). Doutora em Ciências (UFLA). Professora do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]

157

4.1. INTRODUÇÃO

O sentimento de pertencimento social é próprio da condição humana. Este

sentimento é necessário para a formação da identidade social, que por

consequência, propicia a participação e o engajamento dos indivíduos nas suas

ações de transformação e desenvolvimento, em consonância com os estudos

de Tavares (2014) e Bauman (2005) conforme se constata nesta pesquisa.

Após autorização do CEP, sob parecer no CAAE 75117717.8.0000.5098,

coletaram-se os dados a partir de 25 entrevistas e um grupo focal composto

por 19 participantes. Os resultados da pesquisa confirmaram o pressuposto:

sentimento de pertencimento intervém no nível de engajamento comunitário, no

contexto da comunidade do bairro Jardim Felicidade, em Belo Horizonte (MG) e

apontaram também que os moradores que participaram da construção do

bairro apresentam maior sentimento de pertença e estão mais envolvidos nas

ações de proteção desse território e na melhoria da qualidade de vida e

ambiental.

Para socializar o conhecimento oriundo dessa pesquisa, desenvolveu-se como

produto técnico, um média-metragem/documentário intitulado: JARDIM

FELICIDADE – Vozes em transformação, que teve como objetivos: (i) promover

o resgate da história de construção do bairro Jardim Felicidade; (ii)

desenvolver, a partir do resgate da história do bairro, o sentimento de

pertencimento, principalmente dos moradores que não vivenciaram a sua

construção; (iii) sensibilizar a comunidade local acerca da importância da

responsabilidade e cuidado com o território, com vistas ao desenvolvimento

local pautado numa gestão social horizontalizada e participativa.

O média-metragem/documentário tem como tema a história do bairro, que é

apresentada através de relatos, fatos, imagens e fotos que contarão as

conquistas e os desafios vivenciados pelos moradores do bairro Jardim

Felicidade, ao longo dos 30 anos de sua fundação.

158

Para isso, foram firmadas parcerias com a Associação Coletivo da Juventude

Olga Benário, a Organização Não Governamental (ONG) Casa Recriar, o

Grupo de Elaboração de Materiais para Aprendizagem (GEMA) e com a

senhora Marilda Portela.

A produção foi realizada em parceria com a Associação Coletivo da Juventude

Olga Benário, que voluntariamente colaborou na criação do roteiro, gravação

das entrevistas, edição de som e imagens. A ONG Casa Recriar, situada no

bairro Jardim Felicidade, cedeu uma sala para organizar o cenário das

gravações. Para auxiliar na organização do material e na socialização do

conhecimento produzido no âmbito do mestrado, contou-se com o Gema e com

a Senhora Marilda Portela que disponibilizou recursos financeiros para

produção do média-metragem/documentário.

O documentário produzido poderá ser utilizado como instrumento de

intervenção socioambiental na promoção do sentimento de pertencimento e no

engajamento comunitário, valendo-se dos princípios da educação ambiental

não formal, para conservação e melhorias no território. Por esse motivo, o

material desenvolvido será disponibilizado para as instituições públicas e

privadas presentes no território, as lideranças comunitárias e também nas

redes sociais (YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=uu0loKhYw-w,

Facebook, site PBH, site Porta curtas e Curta na Escola).

Dessa maneira, este artigo tem a finalidade de apresentar o média-

metragem/documentário JARDIM FELICIDADE – Vozes em Transformação,

elaborado a partir dos resultados desta pesquisa, com o objetivo de ser um

recurso metodológico de intervenção social para educação ambiental visando o

desenvolvimento e potencialização do sentimento de pertencimento dos

moradores do bairro Jardim Felicidade.

159

4.2 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CURTA E MÉDIA

METRAGENS/DOCUMENTÁRIOS

Nos primórdios da história do cinema, a definição de curta e média metragem

era associada a uma limitação técnica. Dessa forma, a produção de curtas e

médias não era uma questão de escolha de seus produtores, mas a única

maneira de fazer cinema naquele início de produções cinematográficas no final

do século XIX.

Anos se passaram, mudanças e avanços tecnológicos ocorreram e as

características que identificavam um curta e média metragem naquele tempo,

ainda estão presentes hoje, e a principal delas é a sua extensão. Nos curta-

metragem, tem-se um filme curto, geralmente com uma duração inferior a 30

minutos, de acordo com Alcantara (2014). Já os média-metragens possuem

duração 31 a 69 minutos, como assinalado por Teles (2001).

Essa característica atribuída ao média-metragem propicia seu uso como

ferramenta de intervenção social. Além disso, outros fatores que favorecem a

produção e exibição de curtas e médias são o tempo e o baixo custo na

produção; a necessidade de poucos participantes e recursos; um mínimo de

personagens e diálogos, além de possuir narrativas menores e tempo de

história linear (ALCANTARA, 2014). A produção a partir de histórias reais,

vivenciadas por seus espectadores, pode provocar encantamento nas pessoas

que a eles tem acesso (PERINELLI NETO; PAZIANE, 2015), devido à

semelhança entre a realidade e a ficção que produz sentidos, para o autor que

o desenvolve, para aquele que encena o texto audiovisual e para o

telespectador.

Estas características fazem com que os curtas e os média-metragens ocupem

“cada vez mais um lugar de destaque na organização das práticas sociais,

gerando efeitos em todo o universo social e criando dinâmicas diferenciadas

onde o conhecimento passa a tomar um lugar central” nas sociedades atuais

(RODRIGUES; COLESANTI, 2008, p. 60).

160

trata-se na realidade de um cinema dinâmico, que se voltou, sobretudo a formação critica e de atitudes do espectador. Um cinema cuja ficção nos conduz a uma realidade nada fantástica e o documentário nos faz querer transformar nosso contexto. Um cinema cuja duração faz um verdadeiro vácuo a maioria dos padrões dos filmes de longa-metragem, que estão em todos os circuitos comerciais cinematográficos e os de curta-metragem, que por muitas vezes "abriu" as sessões de cinema antes da exibição dos longas: os chamados filmes de media-metragem (TELES, 2001, p. 21).

Assim como os curta-metragens e os média-metragens, os documentários são

produções audiovisuais com características próprias, que também favorecem

sua utilização como ferramenta de intervenção social. De acordo com Guido e

colaboradores,

trata-se de uma manifestação artística que desencadeia reflexões que podem ser compartilhadas em atividades coletivas, a fim de se constituir um espaço criativo, emancipador, oportunizando um ambiente em que se pode pensar juntos, e assim permite um aprofundamento das relações entre os sujeitos. (GUIDO et al., 2013, p. 136).

Desta maneira, optou-se para o contexto desta pesquisa, trabalhar com a

expressão média-metragem/documentário, por entender que o produto técnico

oriundo dos resultados dessa pesquisa agrega características, tanto de um

quanto do outro. Além disso, o material produzido constitui um produto da

Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) com possibilidades de inclusão

social em consonância com Perinelli Neto e Paziane.

Atualmente, as possibilidades abertas pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) incentivaram a produção e o compartilhamento de vídeos, ampliando assim os espaços e as ocasiões em que a visualização dos filmes se faz presente, para além da sala de cinema ou dos aparelhos de televisão, o que nos faz pensar na importância de se promover processos formativos voltados, especialmente, para o emprego consciente e crítico dessas tecnologias no ensino/aprendizagem. (PERINELLI NETO; PAZIANE, 2015, p. 281).

Dessa maneira, compreende-se a importância do média-

metragem/documentário JARDIM FELICIDADE – Vozes em transformação

161

como recurso para a intervenção social e a educação ambiental, por ser este

vídeo um instrumento capaz de promover o sentimento de pertencimento,

engajamento e participação da comunidade em relação ao ambiente, pois

existe na

verossimilhança com a realidade, grande carga emotiva e

sugestiva, além de apresentar desfechos geralmente

surpreendentes. E, pela sua natureza cinematográfica, é

grande a possibilidade de veicular conteúdos culturais com

valores educativos. Por isso mesmo, torna-se uma fonte

inesgotável e valiosa para trabalhar aspectos da interação

humana, como cultura e linguagem. (ALCANTARA, 2014, p.

17).

Nesse aspecto, acredita-se que este recurso midiático em articulação com a

educação ambiental pode possibilitar a interação entre o ser humano e o

ambiente, proporcionando condições para que o ser humano desenvolva ou

resgate o sentimento de pertença pelo espaço vivido, ao favorecer o diálogo

acerca das questões socioambientais (COUSIN, 2013), potencializando novas

maneiras de conhecer, pensar e agir sobre as relações estabelecidas pelo tripé

indivíduo, o Outro e o meio ambiente.

Em concordância com Alcântara (2014), com Perinelli Neto e Paziane (2015),

Cousin (2013) e Teles (2001), Benjamin (1987) mencionou o fato de que o

contato com as produções cinematográficas propiciava aos seres humanos

exercitarem novas percepções e relações condizentes com sua vida cotidiana.

Dessa forma, os média-metragens/documentários, tornam-se importantes

instrumentos técnicos que podem ser usados nos processos de educação

ambiental, nas intervenções sociais em tempos em que as TIC têm aberto

novas possibilidades e oportunidades.

Nesse aspecto, Duarte (2009) observa que em sociedades com amplo acesso

às tecnologias audiovisuais, é comum atribuir atitudes, valores e crenças

adquiridas pelas pessoas a estes meios de comunicação. Isso faz com que

seja necessário avaliar cada vez mais o conteúdo das produções áudio visuais

a serem disponibilizados e exibidos e quais seus objetivos.

162

Parece ser desse modo que determinadas experiências

culturais, associadas a uma certa maneira de ver filmes,

acabam interagindo na produção de saberes, identidades,

crenças e visões de mundo de um grande contingente de

atores sociais. Esse é o maior interesse que o cinema tem para

o campo educacional sua natureza eminentemente

pedagógica. (DUARTE, 2009, p. 19).

O uso de vídeos tem sido um recurso bastante utilizado na educação formal5 e

não formal6, em processos formativos e educacionais, por ser um recurso

dinamizador do aprendizado e instrumento de comunicação audiovisual que

facilita a apreensão do conteúdo informativo ao impulsionar mais de um dos

sentidos para a compreensão do conteúdo (JESUS et al., 2013), e assim,

produz-se conhecimento de maneira crítica e interativa. Nesse contexto, cita-se

como exemplo o Projeto Curta na Escola7 que foi desenvolvido pela Petrobrás,

com intuito de promover e incentivar o uso de curtas metragens como material

de apoio pedagógico no ensino.

Essa educação baseada no diálogo crítico sobre as questões ambientais

favorece “o desenvolvimento da autonomia, da curiosidade, da postura crítica,

da observação e da análise”, conforme estudos de Cousin (2013, p.2) para que

os sujeitos envolvidos nesse processo educativo ampliem seus conhecimentos.

Dessa forma, podem contribuir com ações que visam à melhoria do ambiente

em que vivem. Assim, o média-metragem/documentário pode atuar como

5 Ensino desenvolvido pela escola a partir de conteúdos previamente estipulados e dentro de uma proposta curricular, “com conteúdos previamente demarcados” (GOHN, 2014, p. 40). É definida como educação institucionalizada, intencional, planejada através de organizações públicas e organismos privados reconhecidos e, que na sua totalidade, formam a educação formal sistema de um país (OLCOTT, 2013). 6 “aquela que se aprende "no mundo da vida", via processos de compartilhamento de

experiências, principalmente em espaços e ações coletivas cotidianas” (GOHN, 2014, p.40). Ela pode acontecer também em múltiplos e diversos espaços (GADOTTI, 2005; OLCOTT, 2013). 7 Esta iniciativa já existia desde o início do Porta Curtas Petrobras, em agosto de 2002.

Em março de 2006, foi criado dentro do Porta Curtas, o canal Curta na Escola em que havia a indicação de filmes do acervo para o uso pedagógico, com sugestões de especialistas e produção de planos de aula para todos os níveis de ensino. O canal sempre teve uma grande adesão de professores, que baixaram planos de aula e elogiaram o serviço, motivando o desenvolvimento do Projeto Curta Na Escola, que reúne hoje, neste website, um conjunto de ferramentas dedicadas à promoção do uso dos curtas-metragens brasileiros na educação. (PORTACURTAS, 2018).

163

ferramenta para conhecimento e desenvolvimento de habilidades e promoção

de atitudes, em que tanto a família, quanto o Estado podem lançar mão desse

recurso metodológico.

Nesse contexto, Marcelo Tas assevera que o interventor/mediador é a figura

necessária para estimular no sujeito a percepção acerca dos processos

socioambientais, sendo portanto, um facilitador desse gigantesco download de

conteúdos (TAS, 2008), contribuindo para que o grupo possa processar,

assimilar e selecionar criticamente as informações, tornando-as aplicáveis ao

seu cotidiano.

Essa mediação assinalada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (BRASIL, 1999) pode ser expressa através de diversos recursos

tecnológicos como a linguagem, sons, imagens, dentre outras. Em observação

ao proposto por Casale et al. (2014) de que o processo de educação ambiental

deve se expressar através de múltiplas linguagens, em integração com as TIC,

justifica a utilização do média-metragem/documentário como recurso de

intervenção social no processo de educação ambiental.

De acordo com Sato (2003), a educação ambiental é um processo de

reconhecimento de valores e elucidação de conceitos, com o objetivo de

desenvolver habilidades e modificar as atitudes do homem em relação ao meio,

visando entender essas relações e suas culturas. A educação ambiental está

também relacionada à maneira de como as pessoas tomam suas decisões e

com a ética que os conduzem na busca por melhoria na qualidade de vida. A

autora ainda argumenta que

a tarefa da Educação ambiental é reconstruir uma nova ética

capaz de comportar a tensividade e o diálogo, recuperando o

movimento das mãos e das mentes de cada sujeito ecológico.

Nesta ciranda epistemológica, o movimento terá início quando

reducação ambientalmente compreendermos que a Educação

ambiental exige um esforço multissetorial para poder cumprir,

pelo menos em parte, os desafios da humanidade. (SATO,

2003, p. 15).

164

Em face dos objetivos da educação ambiental, a Conferência

Intergovernamental sobre Educação ambiental, em Tbilisi, no ano de 1977

expõe que

cabe à Educação ambiental transmitir os conhecimentos

necessários para interpretar os fenômenos complexos que

compõem o ambiente; estimular os valores éticos, econômicos

e estéticos que constituem a base de uma autodisciplina,

favorecer o desenvolvimento de comportamentos compatíveis

com a preservação e melhoria desse ambiente e promover

uma ampla gama de habilidades práticas necessárias à

concepção e à aplicação de soluções eficazes para os

problemas ambientais. (TBILISI, 1977, p. 3).

Nesse sentido, a educação ambiental pode contribuir como instrumento de

Gestão Social e Desenvolvimento Local, a partir do momento em que orienta

as atitudes do homem em relação ao meio ambiente. Por ser “um instrumento

eficaz para superar os atuais embaraços da sociedade” conforme Reis;

Semêdo e Gomes (2012, p. 48), ela contribui na orientação dos atores sociais

para que estes percebam a visão da coletividade, em detrimento do papel

individual dentro da comunidade.

Ainda sobre a educação ambiental, a Lei 9795 de abril de 1999, institui a

Política Nacional de Educação ambiental (PNEA), evidenciando que a

educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação

nacional. A lei afirma também que a educação ambiental deve estar articulada

em todos os níveis e modalidades do processo educativo, tanto em caráter

formal quanto não formal (BRASIL, 1999).

Alguns autores, como Gohn (2014); Garé (2014); Olcott (2013); Gadotti (2005)

discursam sobre a educação formal e não formal apontando as contribuições e

especificidades de cada uma. Vê-se nos apontamentos dos autores que,

embora diferentes, ambos assumem a responsabilidade de promover a

educação em diferentes esferas da sociedade. No contexto deste trabalho,

corrobora-se com Trajber quando este assinala que

165

a Educação ambiental precisa saber se expressar em múltiplas

linguagens, para além da fala e da escrita, experimentando as

linguagens da imagem, do som e do movimento em suas

integrações com o uso das novas tecnologias da informação e

da comunicação, principalmente a Internet. (TRAJBER, 2005,

p. 153)

Nesse contexto, a educação não formal constitui num processo sociopolítico,

cultural e pedagógico de educação para a cidadania, em que a formação do

cidadão é entendida como o processo político que propicia a interação deste

indivíduo com outros indivíduos em sociedade. Essa formação configura-se em

um conjunto de práticas sociais e culturais de aprendizagem e produção de

saberes que conta com a participação de vários setores sociais e institucionais

para a elaboração e execução de atividades, programas e projetos valendo-se

de formas e recursos variados e criativos.

O fato deste formato de educação acontecer para além dos muros da escola

regular, rompendo com os paradigmas e com as representações sociais que se

tem acerca da escola e suas funções, faz com que a educação não formal

possua um lugar de importância. Nesse sentido, a escola se insere como

ferramenta de intervenção na comunidade tendo como recurso didático e

metodológico a exibição do média-metragem/documentário.

Embora a educação não formal se apresente de forma pouco estruturada e

mais flexível, ela é constituída sob condicionalidades e intencionalidades

específicas em seu desenvolvimento e “volta-se para a formação de cidadãos

(as) livres, emancipados, portadores de um leque diversificado de direitos,

assim como de deveres para com o(s) outro(s).” (GOHN, 2014, p. 40).

Ghanem, Trilla e Arantes (2008) acrescentam que quando a educação não

formal é aplicada em comunidades socioeconomicamente desfavorecidas, ela

promove a inclusão social por meio do resgate da riqueza cultural daquela

comunidade, através de diversificados métodos, procedimentos, sistemas

individualizados e coletivos e também através do uso de tecnologias que

166

podem ser sofisticas ou simples, além da possibilidade de ter uma

programação minuciosamente planejada ou não.

Assim, o processo de elaboração e construção do média-

metragem/documentário exemplifica o que foi descrito por Ghanem, Trilla e

Arantes (2008) e evidencia o fato assinalado por Bezerra et al. (2014), pois

estimulou a criatividade, oferecendo oportunidade para que os jovens

desenvolvessem suas habilidades e capacidades.

Além disso, o vídeo pode contribuir para o engajamento em processos de

mudança local e propiciar a inclusão social desses jovens cinegrafistas e dos

moradores que participaram dando seus depoimentos. Foi promovido também

o resgate da riqueza cultural daquela comunidade, que é a história de luta e

superação vivenciada durante a construção do bairro. A realização do vídeo

demonstrou a capacidade e a criatividade dos produtores/documentaristas ao

desenvolver o documentário de maneira diversificada e inovadora, através de

métodos, procedimentos e o uso de recursos tecnológicos simples.

No entanto, não se deve considerar a educação não formal e a exibição dos

curtas como aquelas capazes de resolver todos os problemas e desafios

sociais, educacionais e ambientais. Não é prudente considerá-las como um

“remédio para as desigualdades educacionais e sociais, e para os vícios em

que a escolarização formal tem caído” (TRILLA, 2008, p. 54). É importante

conciliar tais ações com a proposta da educação formal, ainda que uma das

críticas que recaia sobre este modelo é que o mesmo tenha se tornado

estático, obsoleto e ultrapassado.

Destaca-se ainda que não se deve arrazoar a educação ambiental, sem levar

em consideração o fato de que a sociedade, de um modo geral, ainda ignora a

importância de buscar estratégias que minimizem os impactos do agir do

homem sobre a natureza. E tampouco a sociedade se encontra engajada para

uma participação coletiva ou individual que priorize a preservação e

preocupação com o meio em que se vive (GOBIRA; TOMASI, 2017).

167

Assim, busca-se através da educação ambiental não formal promover nas

pessoas o engajamento, o comprometimento e a sensibilidade, haja vista que

“quando o indivíduo é sensibilizado, passa a adotar comportamentos

ambientalmente desejáveis e abandona as atitudes que causam qualquer tipo

de impacto no ambiente” (CORDULA et al., 2015, p. 75).

A proposta de se trabalhar a educação ambiental não formal através de

exibições do média-metragem/documentário que tem como tema a própria

história do bairro Jardim Felicidade, suas lutas, suas conquistas (em

seminários, congressos, reuniões comunitárias, escolas, igrejas, ONG,

instituições públicas e privadas) está de acordo com o que foi proposto por Bosi

(2003), quando esta afirma que o resgate da memória através da história

restitui o que o passado enxergou e o presente esqueceu.

Este fato justifica a proposta de intervenção através da educação ambiental,

quando se tem como objetivo desenvolver na comunidade o sentimento de

pertencimento dos moradores em relação ao seu território, suscitando em seus

moradores, o desejo e o prazer pelo cuidado e preservação do meio ambiente,

a busca do desenvolvimento local e da qualidade de vida.

Dessa maneira, o média-metragem/documentário JARDIM FELICIDADE –

Vozes em transformação, a ser usado como recurso didático e metodológico de

intervenção social, através da educação ambiental não formal no bairro Jardim

Felicidade, emerge com o propósito de desenvolver ou potencializar o

sentimento de pertencimento dos moradores, propiciando o engajamento

comunitário nas ações de cuidados socioambientais com vistas ao

desenvolvimento local.

4.3. METODOLOGIA

O média-metragem/documentário foi produzido com e pelos moradores do

bairro Jardim Felicidade, em Belo Horizonte/MG. Este é um bairro constituído

por 26 setores censitários e por uma população aproximada de 19.175

168

pessoas, de acordo com o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE-2010), sendo considerado um território de

elevada presença de risco e vulnerabilidade social (BELO HORIZONTE, 2016).

Os resultados que nortearam esse média-metragem/documentário são

oriundos da dissertação intitulada Sentimento de pertencimento social no

engajamento comunitário: um estudo de caso no bairro Jardim Felicidade, Belo

Horizonte (MG) aprovada sob o n°. CAAE 75117717800005098.

Posteriormente, para compor o curta, foram gravadas nove (9) entrevistas. A

seleção dos moradores para participação no média-metragem considerou a

aproximação da pesquisadora com os membros do coletivo da juventude Olga

Benário, que indicou os três jovens que fizeram parte da produção do vídeo.

O cenário de gravação foi montado a partir de materiais recicláveis e

alternativos como cano de PVC, papel de seda, pedestal quebrado para

microfone, latas de tintas vazias, lâmpadas frias, tecido não tecido (TNT) preto,

barras de ferro, abajur de mesa, câmera digital pessoal, gravador de som, um

notebook, muita criatividade e boas ideias. As sessões de gravação ocorreram

duas vezes por semana em horários variados de acordo com a disponibilidade

do grupo, em sala cedida pela ONG Casa Recriar.

Todas as etapas de elaboração do vídeo foram previamente agendas com os

envolvidos por meio de contato telefônico e por mensagens realizadas através

de aplicativos de celular.

A primeira etapa de elaboração do média-metragem/documentário foi o

encontro de planejamento das ações com os jovens moradores do bairro que

fizeram a produção. Na oportunidade, foi apresentada a pesquisa que estava

sendo realizada e a demanda de produção do média-metragem/documentário,

que foi bem aceita pela comunidade.

A segunda etapa foi a realização de um encontro com a comunidade, mais

especificamente, com os potenciais sujeitos a participarem do média-

169

metragem/documentário, para apresentar-lhes a pesquisa e organizar o

cronograma das gravações. Participaram nove pessoas da comunidade

interessadas em atuar nas gravações.

Na terceira etapa, foi definido o formato de entrevista com os participantes e

quem seriam entrevistados, pois era necessário retratar os resultados da

pesquisa que evidenciaram: (i) o sentimento de pertencimento e identidade

social dos moradores do bairro Jardim Felicidade capaz de influenciar no

engajamento e participação destes, nas ações de desenvolvimento local e (ii) o

sentimento de pertença é maior, quando se trata dos moradores que

participaram da fundação do bairro. Assim, optou-se por convidar para fazer

parte do documentário os moradores que estão no bairro desde a fundação.

Neste encontro também foram elaborados as questões norteadoras e o roteiro

do documentário, a composição de cenas, áudios e vídeos in loco que

deveriam constar no documentário e o cronograma de gravação.

A quarta e quinta etapas compreenderam as gravações e a edição dos vídeos

que aconteceram simultaneamente durante os meses de novembro e

dezembro de 2017 e janeiro de 2018. O trabalho foi integrado a fim de realizar

ajustes técnicos e adequação à proposta da dissertação.

A sexta etapa constituiu a apresentação e entrega de cópia do média-

metragem/documentário para a comunidade. Em 14 de abril de 2018,

aconteceu o Fórum Comunitário JARDIM FELICIDADE – Vozes em

Transformação, organizado em parceria com a Rede de moradores do bairro e

o Centro Universitário Una.

As estratégias de abordagem para produção do documentário foram:

1. Apresentação do projeto de pesquisa, da proposta do documentário e das

intenções de uso futuro para o representante da Associação Coletivo da

Juventude Olga Benário – visto a participação dos jovens membros desta

Associação como produtores e protagonistas.

170

2. Articulação de parcerias internas e externas à comunidade que tornaram a

produção viável, pois toda a materialidade para execução do projeto veio da

própria comunidade.

3. Encontro com os moradores – Toda a produção foi feita na comunidade,

com os moradores. A narrativa se constituiu a partir da história desta

população. Esse fato foi considerado pelos representantes desta

comunidade como algo positivo vírgula, sendo autorizada a realização

dessa intervenção.

4. Encontro com os três jovens para elaboração do documentário (temática,

recursos materiais necessários, distribuição de tarefas como: seleção de

imagens, gravação in loco, gravação no estúdio, elaboração do roteiro,

cronograma e financiamento).

5. Organização do estúdio para gravação das cenas de entrevista, utilizando a

sala cedida pela ONG Casa Recriar e adaptada pelos jovens produtores. O

material utilizado na montagem foi todo improvisado com muita criatividade,

disposição e com base em conhecimento não formal adquirido pelos três

jovens, em diversas situações na própria comunidade.

6. Realização de entrevistas individuais com duração de vinte minutos a uma

hora, com nove moradores do bairro. Cada entrevistado foi orientado

quanto às questões técnicas (foco de iluminação, posição frente à câmera,

altura de voz) e posicionado para a gravação após assinatura de termo de

autorização de imagem (ANEXO C). Permaneceram na sala apenas os

cinegrafistas, o entrevistado e a entrevistadora.

7. Após cada entrevista, o conteúdo foi arquivado em notebook, para futura

inclusão de imagens e vídeos, decupagem8 e edição final, que ficou sob

responsabilidade dos jovens da Associação Coletivo da Juventude Olga

Benário.

8. Seleção das imagens e fotos feita com base na temática proposta de

elaboração do média-metragem/documentário e com base na decupagem,

ocorreu no processo de edição das entrevistas.

8 Decupagem – do francês découpage, derivado do verbo découper, recortar –

é no audiovisual, no cinema e na comunicação, a divisão do planejamento de uma filmagem e

planos e cortes. Fonte: https://www.infoescola.com/cinema/decupagem/

171

9. Revisão final do material produzido – Após decupagem e edição do

material, com seleção e ordenação de informações, sons, imagens, vídeos

e fragmentos da entrevista ou como dito por Melo (2002, p. 32) “costura de

vozes”, foi realizada a revisão final do documentário que ocorreu após

assistir todo o vídeo gravado.

10. Disponibilização do média-metragem/documentário em suporte pen drive

card para a comunidade – esta ação é de fundamental importância, pois é a

forma de dar feedback e retribuir à comunidade todo seu envolvimento e

participação nesse projeto. Dessa maneira, foi realizado um fórum

comunitário, em que serão entregues cópias para as instituições públicas e

privadas, participantes da produção e colaboradores externos após a

defesa dessa dissertação.

4.4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.4.1. MÉDIA-METRAGEM/VÍDEO DOCUMENTÁRIO: JARDIM FELICIDADE

– VOZES EM TRANSFORMAÇÃO.

O média-metragem/vídeo documentário: Jardim Felicidade – Vozes em

transformação é um produto técnico com características de inovação social

elaborado para ser um instrumento capaz de produzir o desenvolvimento local

através da gestão social, tendo a educação ambiental, mais especificamente a

não formal, como ferramenta de intervenção socioambiental.

Os resultados da análise dos dados evidenciaram que o pertencimento

favorece o engajamento comunitário e influencia o nível de participação no

âmbito desta comunidade. No entanto, há moradores que se queixam da falta

de comprometimento dos mais jovens em relação ao bairro e argumentam que

isso se dá, pelo fato desse público não ter vivenciado a história do bairro.

A partir disso, os moradores mais antigos e os que de participaram da

construção do sugeriram criar mecanismos que propiciassem o resgate da

memória de construção do bairro, de modo que as gerações atuais, e também

172

os antigos moradores não percam o sentimento de pertencimento em relação

ao bairro e a motivação para a luta, como pode ser constatado nos

depoimentos a seguir:

- “Talvez seja interessante ele saber que as pessoas andaram

com sacola no pé. Seria interessante que os mais jovens

ouvissem as histórias de seus pais, desse bairro, como foi. As

escolas podiam falar disso. Ai ainda que eles não teve isso eles

iam saber.” (INDIVÍDUO 1).

- “Então às vezes a gente desanima sim. Dá vontade de sair do

lugar, mas quando a gente lembra da história dos nossos pais,

do que eles passaram para construir isso. Se a gente for olhar

lá atrás o que eles fizeram. O que a minha mãe passou. O que

meu pai passou. Eu vejo que é muito fácil eu desistir, deixar

para lá, tentar fugir disso. Isso é que me dá força para poder

tentar mudar isso aqui. É lembrar da história, lembrar daquelas

pessoas de tanto que elas lutou para que eu pelo menos

tivesse isso aqui.” (INDIVÍDUO 15).

Nesse sentido, Pollak (1992) assinala que a memória é um elemento que

constitui o sentimento de identidade, tanto individual quanto coletiva. E, como

visto anteriormente, o sentimento de pertencimento está relacionado à

formação da identidade social. Dessa maneira, o resgate da história do bairro

Jardim Felicidade é importante na promoção do sentimento de pertencimento e

por meio deste promover a participação e o engajamento comunitário neste

território.

Em concordância com o proposto por Pollak (1992), Guido et al. (2013)

argumentam que as produções midiáticas podem servir de intermédio para o

resgate da memória coletiva, pois a partir do momento em que se contam ou

resgatam as lembranças de um povo, essas lembranças se tornam memórias.

Seguindo esta constatação, o média-metragem/documentário JARDIM

FELICIDADE – Vozes em Transformação foi roteirizado de maneira que o

conteúdo de sua produção suscitasse no receptor o desejo de transmitir a

história do bairro e sensibilizá-los para a importância de se lançar um novo

olhar para as questões sociais e ambientais, oportunizando um ambiente em

173

que possam pensar juntos e, dessa maneira, fortalecer as relações entre os

sujeitos e destes para com o meio ambiente (GUIDO et al., 2013).

4.4.2 ROTEIRO DO MÉDIA-METRAGEM/DOCUMENTÁRIO: JARDIM

FELICIDADE – VOZES EM TRANSFORMAÇÃO

ARGUMENTO/PROPOSTA DE DOCUMENTÁRIO:

A proposta é realizar um documentário no formato de média-metragem que

descreva a história do bairro Jardim Felicidade desde sua fundação. A ideia é

realizar uma construção coletiva, cuja produção possa valer-se das pessoas da

própria comunidade, em todas as fases de produção do Média-

metragem/documentário.

O Título do documentário é JARDIM FELICIDADE: Vozes em transformação e

aborda a história de luta e de superação vivenciada pelos moradores do bairro

Jardim Felicidade (MG), que estabeleceram suas moradias a partir da cessão

de lotes em um terreno desapropriado pela Prefeitura de Belo Horizonte, no

ano de 1987. A conquista da moradia e o desenvolvimento do bairro ocorreram

a partir das vozes que ecoaram e ecoam na comunidade que tem reivindicado

desde sua fundação, condições melhores de sobrevivência.

A produção do documentário segue as especificidades técnicas de um média-

metragem quanto à escala temporal, podendo ter em média entre trinta e um

minutos a sessenta e nove minutos de duração, segundo Teles (2001). O

média-metragem/documentário JARDIM FELICIDADE – Vozes em

transformação tem duração de trinta e um minutos e 7 segundos.

O média-metragem/documentário foi produzido a partir dos depoimentos dos

moradores, que foram incentivados a se sentirem à vontade para descrever

sua história de maneira livre, contando como foi e como tem sido seu dia a dia

no bairro e as experiências vividas, os desafios e as conquistas ao longo dos

anos. Objetiva-se com esta metodologia singular de produção, cuja

participação dos envolvidos é estimulada e valorizada, aproveitando as

potencialidades e recursos existentes na própria comunidade e desenvolvendo

174

e/ou potencializando neste grupo, incentivar o sentimento de pertencimento em

relação ao território Jardim Felicidade.

Para tanto, após cada sessão de gravação, foram realizados diálogos sobre a

experiência vivida pelos sujeitos, nos quais foi possível discorrer sobre a

importância do sentimento de pertencimento e da participação na

transformação local. Estes diálogos pós gravação tinham uma duração média

de 15 minutos e evidenciaram o sentimento de pertença por parte dos

moradores que participaram da construção desse bairro.

O intuito de produção do documentário é sua utilização como ferramenta de

intervenção socioambiental, com vistas ao resgate da história e preservação

das memórias de construção do bairro Jardim Felicidade, a fim de que se

promova o sentimento de pertencimento dos moradores, sensibilizando-os a

respeito da importância de se cuidar com responsabilidade do território.

4.4.3 ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E TRATAMENTO DO MATERIAL

GRAVADO

Num primeiro momento, apresenta-se a imagem de preparação do estúdio de

gravação para as entrevistas, com fotos de alguns dos materiais recicláveis

usados, conforme a figura 9.

Figura 9 - preparação para gravação em estúdio

(a) Material usado na montagem do estúdio (b) Estúdio montado

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

175

Situação 1 –Imagem do vídeo em preto e branco do córrego Tamboril que

corta a principal Avenida do bairro Jardim Felicidade (Figura 10). Durante a

exibição do vídeo de apresentação, tem-se ao fundo, áudio com mistura de

música instrumental, voz em off de uma das moradoras e a apresentação dos

nomes das pessoas entrevistadas participantes do documentário.

Figura 10 - Imagem de abertura do vídeo

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Situação 2 –Imagem de uma parte do bairro (Rua 16) gravada em um ponto

mais alto, com visão panorâmica e sua configuração atual (FIGURA 11). Ao

fundo, voz em off de um dos moradores e de um líder comunitário que

participou ativamente da construção do bairro, contando a história da

construção do bairro.

Figura 11 – Rua 16 - bairro Jardim Felicidade em 2017

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

176

Situação 3 – Apresentação das entrevistas e entrevistados em estúdio de

gravação. Nesta primeira abordagem, eles contaram a história que vivenciaram

ou conheceram em relação ao bairro. Com apresentação de imagem com fotos

antigas do bairro (FIGURA 12) e voz em off de morador.

Figura 12 - Fotos antigas do bairro na época de sua fundação.

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

Situação 4 –Voz em off do morador e vídeo com imagens atuais do bairro

Jardim Felicidade, com apontamentos da realidade atual, cujo desafio é a

questão ambiental como a degradação do córrego Tamboril. (FIGURA13) e as

sociais como a violência, o tráfico de drogas, precarização nas ofertas das

políticas publicas de educação, saúde, esporte, lazer, cultura.

Figura 13 – Parte do Córrego Tamboril atualmente - Poluição

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

177

Situação 5 – Entrevistas em estúdio em que os entrevistados narram a história

de luta pela melhoria do bairro e as principais demandas das famílias naquela

época e atualmente. Voz em off e áudio com música instrumental ao fundo.

Situação 6 – Voz em off de morador. Exibição de vídeos gravados em

diferentes pontos do bairro.

Situação 7 – Vozes em off dos moradores e exibição de imagens em preto e

branco com os créditos de produção do documentário (entrevistados,

idealizadores, realização, direção e montagem, captação e edição de som,

produção, voz off, agradecimentos, apoio), conforme quadro 8.

Quadro 8: Créditos de produção do média-metragem/documentário JARDIM

FELICIDADE: Vozes em transformação.

Entrevistados Marcos Aurélio Barbosa de Oliveira Cleiton Henriques da Silva João Bosco Miranda Zilma de Oliveira Souza João Carvalho Paixão Italo Pedro de Oliveira Ketleyn Stefane Lopes Pereira Vilmar Pereira Dias

Idealizadores Aparecida Mendes de Paiva Cleiton Henriques da Silva

Direção e imagem Rafael Santos Paiva

Captação e edição de som Ítalo Dias

Produção Ítalo Dias Rafael Santos Paiva Coletivo da Juventude Aparecida Mendes de Paiva

Voz off Antonio Soares de Souza

Agradecimentos Gleison Henriques da Silva Fernanda Carla Wasner Vasconcelos Marilda Portela

Apoio NAVLAB – produções Projeto GEMA Rede de Apoio ao Desenvolvimento do bairro Jardim Felicidade Associação Coletivo da Juventude Olga Benário Casa Recriar Centro Universitário UMA

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Situação 8 - O Média-metragem/documentário intitulado: JARDIM

FELICIDADE – Vozes em transformação – foi gravado em pencard

personalizado com imagens do bairro, conforme figura 13. O média-

178

metragem/documentário está disponível no final da dissertação e pode ser

acessado por meio do link: https://www.youtube.com/watch?v=uu0loKhYw-w

divulgado após a defesa.

Figura 14 - Imagens usadas na personalização do pencard

Frente do pencard Verso do pencard

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

As imagens que compuseram o média-metragem/documentário foram

selecionadas de acordo com o roteiro criado para atender à proposta do

documentário que é resgatar a história de fundação de bairro Jardim

Felicidade. Assim, as fotos e os vídeos foram intercalados entre as imagens

dos moradores entrevistados, procurando seguir uma linearidade temporal da

historia do bairro.

As entrevistas realizadas para compor a produção do média-

metragem/documentário em tela, evidenciaram que existem pertencimento e

engajamento comunitário por parte desses moradores. Esta constatação ocorre

na medida em que relatam estar colaborando com a produção do vídeo, por

acreditarem que o mesmo pode ser um canal de sensibilização da comunidade

para as questões sociais e principalmente as ambientais que são ainda,

questões desafiadoras na comunidade.

Após cada sessão de gravação, os três jovens cinegrafistas que fizeram um

pequeno curso de cinema e tornaram-se apaixonados por essa tecnologia,

juntamente com a autora desta pesquisa, permaneciam por alguns momentos

179

no estúdio de gravação e dialogavam sobre as impressões ocorridas durante

as entrevistas. O relato dos jovens é emocionante, no que tange ao relato

sobre a oportunidade que estão tendo em participar deste trabalho e contribuir

com a possível transformação da comunidade local.

De acordo com um deles, ao ser perguntado sobre o valor financeiro do seu

trabalho, sua resposta é: “Não faço isso por dinheiro. Faço porque gosto. Gosto

de ajudar a comunidade.” (INDIVÍDUO 10). Outro a ser indagado sobre a forma

como se improvisou o estúdio de gravação, sem recurso e usando materiais

recicláveis argumentou: “Eu gosto de inventar coisas, de experimentar. O que

eu não sei como funciona, eu pergunto a um amigo meu que é formado em

cinema e ele me dá dicas de como fazer.” (INDIVÍDUO 11). Os demais

envolvidos na produção do vídeo declararam satisfeitos por participarem do

trabalho, mencionando o desejo de em conjunto com outros moradores,

realizarem outras ações na comunidade.

A produção do documentário foi coletiva e seguiu os princípios da gestão

social, por ter adotado o processo de participação ativa da própria comunidade

na elaboração do roteiro, na escolha do local das filmagens e das pessoas que

fariam os depoimentos (GUIDO et al., 2013). Esta participação resultou na

aproximação destes sujeitos com a sua própria história corroborando com

Sarlot e Schmidt (2014), quando assinalam a importância dos sujeitos

conhecerem seu território, se identificando com seus desafios e suas

potencialidades, pois é desse modo ocorrerá o sentimento de pertencimento

social.

4.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A constatação de que o sentimento de pertencimento e a identidade social

podem influenciar no engajamento e na participação comunitária motivaram a

elaboração deste média-metragem/documentário. Por ser um instrumento

didático metodológico de fácil acesso, ele deverá ser usado como ferramenta

de intervenção social, não só no bairro Jardim Felicidade, que foi objeto deste

180

estudo, mas também poderá ter sua metodologia de elaboração e produção

replicada em outras comunidades nas quais se pretenda desenvolver trabalhos

semelhantes.

O conhecimento adquirido e a experiência vivenciada na elaboração e

produção do média-metragem/documentário: JARDIM FELICIDADE - Vozes

em transformação impulsionam novos estudos sobre a importância da inclusão

digital, das formas inovadoras de criar estratégias usando os recursos

disponíveis e os saberes locais das comunidades, com vistas à promoção e

potencialização do sentimento de pertença e o engajamento comunitário bem

como na efetiva gestão social para e com essa comunidade.

Ratifica-se com esta pesquisa a constatação de que, através do pertencimento

e do engajamento da comunidade, pode ser possível valer-se de estratégias de

intervenções sociais que promovam a educação ambiental, mesmo em face de

parcos recursos, usando a criatividade e os saberes tácitos e práticos

existentes na própria comunidade.

Dessa forma espera-se com este trabalho contribuir para que os moradores do

bairro Jardim Felicidade, e outras comunidades socioeconomicamente

desfavorecidas que se encontram em áreas de vulnerabilidade social, se

despertem para o engajamento nas ações de cuidado com o bairro, mesmo

diante de recursos insuficientes. Espera-se que a ampla divulgação do média-

metragem/documentário produzido (portalcurtas.com.br; You Tube) possa

promover nos diferentes atores (comunidade local, instituições, estudantes,

acadêmicos...), o interesse pela temática da inclusão digital e da educação

ambiental como ferramentas relacionadas às intervenções sociais.

A partir disso, espera-se também reconhecer que a gestão social nas

comunidades propõe reflexões que promovem o sentimento de pertencimento

e, consequentemente, a mobilização e engajamento dos seus moradores. Tudo

isso pode levar à integração dos indivíduos nas ações necessárias para

181

melhoria do ambiente social, à valorização dos saberes e fazeres da

comunidade no sentido de favorecer o desenvolvimento local.

Sugere-se a realização de novas pesquisas em outras comunidades, a fim de

conhecer essas diferentes realidades, o grau de gestão social que elas

possuem, possíveis intervenções socioambientais bem, como conhecer

práticas utilizadas nesses espaços e as relacionadas à utilização de novas

tecnologias, inclusive as digitais que podem propiciar visibilidade e

empoderamento a esses jovens. Outra temática relevante é a compreensão de

como estas tecnologias têm sido usadas para produzir ferramentas

metodológicas de baixo custo e eficazes nas propostas de intervenção social.

REFERÊNCIAS

ALCÂNTARA, J. C. D. Curta-metragem: gênero discursivo propiciador de

práticas Multiletradas. 2014. 138 f. Dissertação (Mestrado) -- Universidade

Federal de Mato Grosso. UFMT. Instituto de Linguagem, Programa de pós-

graduação em estudo de linguagem Cuiabá, 2014.

BAUMAN, Z. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchii/Zygmunt Bauman. Rio

de Janeiro: Zahar. 2005. 110p.

BELO HORIZONTE. Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social.

Documento Técnico: Revisão Territorial CRAS Jardim Felicidade. Belo

Horizonte: PBH/SMAAS, 2016.

BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política. 3 ed. São Paulo: Brasiliense,

1987. 253p

BEZERRA, Y. B. S. et al. Análise da Percepção Ambiental de Estudantes do Ensino Fundamental II em uma escola do Município de Serra Talhada (PE). Revista Brasileira de Educação ambiental - RevBEA. São Paulo, v. 9, n. 2, 2014. p. 472-488

BOSI, E. O tempo vivo da memória.2. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. 219p.

BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre Educação

Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental, e dá outras

providências. Brasília, 1999. Disponível em: Disponível em

<www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm.> Acesso em 08 dez. 2017.

182

CASALE, V. C. et al. Formação de comunicadores comunitários: experiências

da bacia hidrográfica do Paraná 3, PR. Rev. Eletrônica do Mestrado em

Educação Ambiental. Rio Grande, v. especial, 2014, p. 233-244

CÓRDULA, E. B. L. et al. Educação Ambiental Não Formal para sensibilização

do público Infanto-Juvenil em assentamentos na Paraíba.. Gaia Scientia, V. 9,

n. 1. Rio de Janeiro, 2015, p. 74-88.

COUSIN, C. S. Pertencimento ao lugar e a formação de educadores

ambientais: um diálogo necessário. In: EPEA – Encontro Pesquisa em

Educação Ambiental, 7, 2013, Rio Claro – SP. Anais... 2013. Disponível em

<http://www.epea.tmp.br/epea2013_anais/pdfs/plenary/0130-1.pdf> Acesso 02

jan. 2017.

DIAS, G. F. Educação Ambiental: Princípios e práticas. 9ed. São Paulo: Gaia.

2010. 551p.

DUARTE, R. Cinema e educação. 3ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. 104p.

GADOTTI, M. A questão da educação formal/não-formal. Droit à l’education:

solution à tous les problèmes sans solution? Institut International des droits de

l’enfant, Sion, 2005. p. 11.

GARÉ, R. M. R. Educação formal x educação não formal: diferentes

práticas de ensino e a construção de identidades surdas. 2014. 218 f. Tese

(doutorado) - Universidade São Francisco. Itatiba, 2014

GHANEM, E.; TRILLA, J.; ARANTES, V. A. Educação formal e não-

formal:pontos e contrapontos. São Paulo: Summus Editorial, 2008. 167p.

GOBIRA, A. S.; TOMASI, A. R. G. Uma reflexão sobre uma modalidade de

educação para sensibilização ambiental. Revista Pedagógica, Chapecó, v. 19,

n. 40, p. 216-241, jan./abr. 2017. DOI:

http://dx.doi.org/10.22196/rp.v19i40.3751.

GOHN, M. G. Educação não formal, aprendizagens e saberes em processos

participativos. Revista da sociedade Portuguesa de Ciências da Educação,

[S.I] n. 1, p. 35-50. 2014

GUIDO, L. F. E. et al. Educação ambiental e cultura: articulando mídia e

conhecimento popular sobre plantas. Trabalho Educação e Saúde, Rio de

Janeiro, v. 11, n. 1, p. 129-144, abr. 2013. Disponível em

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-

77462013000100008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 26 jan. 2018.

183

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílios 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2010c. Disponível em:

https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa. Acesso em 13

mai. 2017.

JESUS, O. S. F. et al. O vídeo didático "Conhecendo o Solo" e a contribuição

desse recurso audiovisual no processo de aprendizagem no ensino

fundamental. Rev. Bras. Ciênc. Solo, Viçosa, v. 37, n. 2, p. 548-553, abr.

2013. Disponível:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-

06832013000200025&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 28 Jan. 2018.

http://dx.doi.org/10.1590/S0100-06832013000200025.

LEFEVRE, F.; LEFEVRE, A. M. C. Discurso do sujeito coletivo: representações

sociais e intervenções comunicativas. Texto Contexto Enferm, abr-jun 2014,

v. 23, n. 2. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/tce/v23n2/pt_0104-0707-

tce-23-02-00502.pdf> Acesso em: 23 de fev. 2018

MELO, C. T. V. O documentário como gênero audiovisual. Revista

Comunicação e Informação, Goiânia, v.5, n.1/2, 2002, p.25-40.

OLCOTT, D. “New Pathways to Leducação ambientalrning: Leveraging the Use

of OERs to Support Non-formal Education”. In: Informalisation of Education

[online dossier]. Universities and Knowledge Society Journal (RUSC). v. 10, n.

1, pp. 327-344. UOC. 2013. Disponível em:

http://www.raco.cat/index.php/RUSC/article/viewFile/284655/372888. Acesso

em: 25 de nov. 2017.

PERINELLI NETO, H.; PAZIANI, R. R. Cinema, prática de ensino de história e

geografia e formação docente: Produção de curtas-metragens - experiências e

estudos de caso. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 31, n. 4, 2015. p.

279-304, Dez. . Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-

46982015000400279&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 28 Jan. 2018.

POLLAK, M. Memória e identidade social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro,

v.5, n.10, 1992. p. 200-212.

PORTA CURTAS. Desenvolvido por Julio Worcman, 2002. Projeto de

divulgação de curtas-metragens brasileiros para a internet. Disponível em

http://portacurtas.org.br. Acesso em: 02 de jan 2016.

REIS, L. C. L.; SEMÊDO, L. T. A. S.; GOMES, R. C. Conscientização

Ambiental: da Educação Formal a Não Formal. Revista Fluminense de

Extensão Universitária, Vassouras, v. 2, n. 1, 2012, p. 47-60. Disponível em

184

<http://www.uss.br/pages/revistas/revistafluminense/v2n12012/pdf/005-

Ambiental.pdf>. Acesso em 29 abr. 2017.

RODRIGUES, G., COLESANTI, M. Educação ambiental e as novas tecnologias

de informação e comunicação. Sociedade e Natureza, Uberlândia, v.20, n.1.,

2008, p.51-66. Disponível em

://www.seer.ufu.br/index.php/sociedadenatureza/article/view/9398/5743.

Acesso em 30 set. 2017.

SALORT, M. C.; SCHMIDT, E. B. O ambiente virtual de aprendizagem como

potencializador da Arte/Educação Ambiental. REMEA - Revista Eletrônica do

Mestrado em Educação Ambiental, [S.l.], p. 132-148, dez. 2014. ISSN 1517-

1256. Disponível em: <https://www.seer.furg.br/remea/article/view/4855>.

Acesso em 22 fev. 2017

SATO, M. Educação Ambiental na Escola: abordagens conceituais. 1 ed.

Erechim/RS: Edifape, 2003, 132 p.

TAS, M., Para um bom uso das novas ferramentas, observem as crianças. In:

PRETTO, NL., e SILVEIRA, SA., orgs. Além das redes de colaboração:

internet, diversidade cultural e tecnologias do poder. [online]. Salvador:

EDUFBA, 2008. p. 201-209.

TAVARES, R. C. O sentimento de pertencimento social como um direito básico

e universal. Cadernos de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas,

Florianópolis, v. 15, n. 106, p. 179-201, jun. 2014. ISSN 1984-8951. Disponível

em

<https://periodicos.ufsc.br/index.php/cadernosdepesquisa/article/view/1984895

1.2014v15n106p179>. Acesso em 24 abr. 2017.

doi:http://dx.doi.org/10.5007/1984-8951.2014v15n106p179

TBILISI. Conferência Intergovernamental Sobre Educação Ambiental, 1977.

Tbilisi - Geórgia, de 14 a 26 de outubro de 1977 – Disponível em

<http://www.meioambiente.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteud

o=72> Acesso em 26 mar. 2017

TELES, P. C. S. Filmes de média-metragem (1960-1990) “Abandonados no

tempo”. 2001. 236 f. dissertação (Mestrado) Universidade Estadual de

Campinas. Instituto das artes. Campinas, SP 2001.

TRAJBER, R. Educomunicação para coletivos educadores. In FERRARO

JÚNIOR, L. A. (org.) Encontros e caminhos: Formação de Educadoras(es)

Ambientais e Coletivos Educadores. Brasília: MMA, Diretoria de Educação

ambiental, 2005. Cap. 14, p. 151-158.

185

TRILLA, J. A educação não-formal. In: ARANTES, V. A. Educação formal e

não formal: pontos e contrapontos. São Paulo. Summus, 2008, p. 15-58

186

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O delineamento desta pesquisa foi norteado pela seguinte questão: Qual a

influencia do sentimento de pertencimento social na participação e

engajamento comunitário dos moradores do bairro Jardim Felicidade, em Belo

Horizonte – MG?

A partir dessa pergunta, a revisão teórica, a pesquisa empírica e a metodologia

aplicada tiveram como objetivo analisar como o sentimento de pertencimento

social pode contribuir para a promoção do engajamento comunitário, tendo em

vista o desenvolvimento de intervenção na área de gestão social com

características de inovação social potencializadora do desenvolvimento local.

Os resultados obtidos na pesquisa empírica no território estudado, o Jardim

Felicidade, em Belo Horizonte – MG, sinalizaram que a relação entre o

sentimento de pertencimento social e o nível de participação e engajamento

comunitário existe e está em consonância com a literatura apresentada

(GASTAL; PILATI, 2016; OLIVEIRA; CAVALCANTE, 2017; BENINCÁ, 1995;

SILVA; ALMEIDA, 2016).

Nesse aspecto, verificou-se que os moradores do bairro Jardim Felicidade, que

manifestaram sentimento de pertencimento e formaram com este território sua

identidade social, são os que mais se engajam nas atividades que promovem a

melhoria da qualidade de vida e ambiental e que propiciam o desenvolvimento

local desta comunidade. Ressalta-se que o engajamento comunitário desses

moradores ao longo dos 30 anos de existência do bairro, promoveram algumas

melhorias e conquistas foram notórias.

Entretanto, tem havido um tensionamento entre o grupo de moradores que se

engajam em ações para que o bairro se desenvolva e se torne um lugar melhor

de se viver, e o grupo de moradores que não participam dessas atividades. De

acordo com os resultados da pesquisa, este grupo de moradores é constituído

187

por indivíduos que não vivenciaram a historia de construção de bairro e não se

apropriaram do espaço, a ponto de formar com ele sua identificação social.

Como exemplos da melhoria na qualidade de vida desta população e do

desenvolvimento local ocorridos desde sua fundação, citam-se: a

regulamentação das atividades relacionadas ao saneamento básico (coleta de

lixo nas ruas); implantação de dois postos de saúde para atendimento da

comunidade e também de escolas municipais e estaduais de Ensino

Fundamental e Ensino Médio além das unidades municipais de educação

infantil. O comércio no bairro é ativo e conta com padarias, mercados,

sacolões, farmácias, restaurantes. No entanto, os moradores afirmam que

estes serviços – públicos e privados - ainda são incipientes na oferta e

prestação de serviços à comunidade.

O bairro conta com o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) e a

Casa Recriar que prestam serviços socioassistenciais à população. De acordo

com os próprios moradores, estas conquistas para o bairro se deram devido ao

processo de mobilização dos primeiros moradores junto aos órgãos públicos.

Acrescenta-se às conquistas, a posse das moradias que foram entregues aos

moradores nos anos de 2010 e 2011, devido à mobilização social destes

moradores. (SILVA; GOMES, 2013).

Entretanto, os resultados também revelam que o crescimento desordenado do

bairro trouxe consideráveis problemas socioambientais, como a invasão de

áreas verdes do bairro, construções irregulares em áreas de risco e a poluição

do córrego Tamboril. Uma das críticas e preocupações dos moradores é que o

desenvolvimento chegou ao bairro, mas também os problemas

socioambientais.

De acordo com o morador fundador, no início, as casas tinham fossas onde

eram lançados os esgotos domésticos. Mas, com a canalização do esgoto para

o córrego, a população entendeu erroneamente que poderia descartar também

todo tipo de resíduo sólido o que tem causado assoreamento, erosão de suas

188

margens e contaminação das águas. Observa-se que tanto a disposição final

quanto o descarte dos resíduos sólidos de maneira incorreta também em ruas

e vielas têm sido uma prática comum, adotada por vários moradores locais e

inclusive de bairros adjacentes. Este fato tem provocado indignação em alguns

moradores, principalmente por parte daqueles que apresentam o sentimento de

pertencimento social por esse território.

Os resultados dessa pesquisa evidenciaram que o pertencimento social é típico

da condição humana, em consonância com os estudos de Tavares (2014),

sendo necessário ao ser humano sentir-se pertencente à sociedade. Assim,

esse estudo no bairro Jardim Felicidade confirmou que quando o sujeito se

sente pertencente à comunidade, os processos participativos são favorecidos

em nível local e a possibilidade de uma gestão social com práticas inovadoras

em prol do desenvolvimento ocorrem efetivamente nesse território.

A constatação de que há, por parte de alguns moradores do bairro jardim

felicidade o sentimento de pertencimento é evidenciado no envolvimento e na

participação dos jovens que atuaram na produção do média-metragem

documentário.

Outra constatação baseada nos estudos de Brea (2014); Cousin (2013);

Bauman (2005) é que o sentimento de pertencimento é um construto que pode

ser desenvolvido ou potencializado de maneira individual ou coletiva. Pode ser

construído por meio de estratégias como a educação ambiental não formal que

possibilita a interação entre o ser humano e o ambiente, dando a esse sujeito

condições de desenvolver e/ou resgatar o sentimento de pertença ao espaço

vivido (ALCANTARA, 2014; GADOTTI 2005; GOHN, 2014).

Este sujeito pertencente e que se identifica com o território poderá adotar

práticas de gestão social que propiciem o desenvolvimento local. Uma vez que

o sentimento de pertencimento está relacionado ao conjunto de sentimentos,

percepções, desejos e necessidades construídas sobre as bases das práticas

cotidianas de desenvolvimento nos espaços (BREA, 2014).

189

A partir da constatação de que a educação ambiental é importante ferramenta

de intervenção na promoção do sentimento de pertencimento na comunidade

foi desenvolvido o produto técnico, que é o média-metragem/documentário,

produzido e protagonizado pelos próprios moradores do bairro Jardim

Felicidade. Este produto técnico foi proposto e elaborado buscando seguir os

princípios da gestão social e da inovação social, portanto a sua construção foi

feita a partir de uma intervenção com a participação dos próprios moradores

que utilizaram recursos disponíveis, identificaram as suas potencialidades para

que cada um pudesse contribuir nas diferentes etapas do processo (elaboração

de proposta do vídeo, captação de pessoal, montagem do estúdio, gravação de

cenas externas, entrevista dos moradores, gravação em estúdio, edição final).

Esse média-metragem/documentário foi intitulado JARDIM FELICIDADE –

vozes em transformação e tem como principal objetivo divulgar a história do

bairro, pois os resultados da pesquisa evidenciaram que os moradores que

vivenciaram a construção do bairro e aqueles que vivenciaram essa história

mesmo que pela ótica dos seus antecessores, manifestaram um nível de

sentimento de pertencimento e identidade social mais eminente que aqueles

que se fixaram nesse território recentemente e, assim, não vivenciaram esse

processo, não se apropriaram da história e não criaram nenhum sentimento de

pertencimento ao bairro.

O objetivo a que se pretendeu esta pesquisa foi alcançado, tendo em vista que

o sentimento de pertencimento em relação ao bairro Jardim Felicidade por

parte dos moradores mais antigos é maior quando comparado ao dos

moradores que chegaram recentemente ao bairro. Este fato ficou evidente nos

resultados da análise de conteúdo e na análise do discurso do sujeito coletivo

em que a maioria dos moradores que afirmaram exercer alguma atividade no

bairro, são moradores a mais de trinta anos ou filhos desses moradores que

vivenciaram a construção do bairro. Constatou-se também que esse

pertencimento social interfere no engajamento comunitário dos moradores do

bairro Jardim Felicidade, principalmente, no que tange as ações de cuidado

com o território.

190

Entretanto, no que tange ao sentimento de pertencimento e identidade social,

problematiza-se o fato de que os moradores mais antigos do bairro Jardim

Felicidade expõem em seus relatos, o pensamento de terem conseguido

adquirir um terreno no bairro e construir suas moradias como sendo a

realização de um sonho ou uma graça divina.

Problematiza-se a identidade social destes moradores formada a partir da

identificação com os problemas comuns entre eles, como a vulnerabilidade

social. Pois, os resultados assinalam que no processo de construção do bairro

Jardim Felicidade houve a formação da identidade social dos moradores, na

medida em que estes desenvolveram o sentimento de pertencimento para com

este território a partir do compartilhamento das necessidades e desafios de

construção das moradias e adaptação ao local.

A questão é: A identidade formada a partir de um contexto de privação social,

em que os sujeitos desenvolvem o sentimento de pertencimento ao território,

não geraria o fatalismo e a resignação?, conforme os estudos de Martín-Baró

(1998) e Cidade (2012) e de Bauman (2007), respectivamente. Com base em

que um determinado bairro, considerado um dos mais vulneráveis de Belo

Horizonte, é considerado o melhor lugar para se viver?

Mesmo em face destes questionamentos, os resultados desta pesquisa foram

importantes porque mostraram que o sentimento de pertencimento pode

favorecer os processos participativos. Que a identidade social se forma a partir

do sentimento de pertencimento e que esse pode ser desenvolvido por meio de

intervenções sociais e ferramentas de educação ambiental, desde que haja o

envolvimento da comunidade em todo o processo.

Dessa maneira, se verificou com esta pesquisa que o pertencimento e a

identidade social estão relacionados à maneira como os moradores interagem

com o território e com as histórias do bairro conforme destaca Brea (2014).

Estão associados aos códigos específicos da interpretação da realidade, do

191

sistema de valores, da forma de sentir e de pensar que definem as ações

desses sujeitos.

Percebeu-se que os moradores entendem que o desenvolvimento do bairro

ocorreu por causa da participação e engajamento dos primeiros moradores e

que se os jovens não se envolverem, o bairro não continuará o processo de

desenvolvimento.

Com base nos resultados apresentados, esta pesquisa apresenta algumas

implicações socioambientais, principalmente no que tange aos aspectos

sociais, a saber: a compreensão de que o sentimento de pertencimento pode

ser um construto adquirido e promovido através de intervenções sociais; a

gestão social e o desenvolvimento local decorrem da participação e do

engajamento comunitário, que se manifesta nas relações entre os sujeitos, e

destes sujeitos com o local, o espaço vivido conforme proposto por Santos

(1996; 2000) Koga (2003) e Brasil (2008).

Dessa maneira surgem as indagações:

Quais medidas de intervenção social adotar em comunidades

vulneráveis para que se promova o sentimento de pertencimento social?

Quais abordagens poderão ser mais efetivas em determinado contexto

social em detrimento de outros?

Quais estratégias de intervenção poderão contribuir para que se

identifiquem os fenômenos sociais que incidem nos territórios

vulneráveis e que impactam diretamente o desenvolvimento local?

Os resultados desta pesquisa demonstraram que o sentimento de

pertencimento está diretamente relacionado com a formação de identidade

social e que em consequência influencia o modus operandi dessa comunidade

em relação às práticas de gestão social e promoção do desenvolvimento local.

Nesse sentido, recomenda-se que estudos diagnósticos sejam realizados no

âmbito de outras comunidades para verificar quais fatores endógenos e

exógenos paralisam ou potencializam as práticas de gestão social?

192

Acerca da gestão social integrada ao desenvolvimento local, os resultados

assinalam que o sentimento de pertencimento social e a participação e o

engajamento comunitário dos sujeitos inseridos no bairro Jardim Felicidade têm

sido fortalecidos na medida em que os moradores se reúnem para buscar

melhorias na qualidade de vida. Este fato foi constatado da literatura

apresentada por Tenório (1998), Cançado (2011), Wanderley (2013) e Sabino e

Araújo (2015) que apontam que na medida em os sujeitos se identificam e se

sentem pertencentes ao território, eles passam a participar e se engajar em

ações que promovam seu desenvolvimento.

As lacunas que se pretendem dirimir com esta pesquisa é o reconhecimento de

que a comunidade do bairro Jardim Felicidade, em Belo Horizonte, embora seja

desfavorecida economicamente, é uma comunidade em que a gestão social

para o desenvolvimento local é possível. Desde que haja o reconhecimento das

potencialidades do local e que os indivíduos sejam inseridos no processo de

construção desse desenvolvimento. Assim, como os dados indicaram, a

participação e o engajamento comunitário serão maximizados a partir do real

sentimento de pertencimento de cada um dos moradores, na medida em que

eles se sentirem parte do que ajudarem a construir.

5.1 – Limitações da pesquisa

Como todo trabalho de pesquisa, este também apresenta suas limitações:

i. Os instrumentos de coleta de dados - entrevista semiestruturada e grupo

focal - não foram suficientes para trazer informações mais precisas

sobre o engajamento comunitário, para além do cuidado com o território,

em seus aspetos de manutenção de limpeza.

ii. A abordagem qualitativa utilizada para a pesquisa, embora tenha sido

suficiente para responder aos objetivos propostos, não trazem

informações quantificáveis que poderiam constituir uma séria histórica

sobre o histórico da área, o número de moradores engajados e em quais

ações, por quanto tempo.

193

5.2 – Sugestões para trabalhos futuros

Para trabalhos futuros, sugere-se a história de vida como método de pesquisa.

Esta abordagem utiliza as narrativas de vivências do sujeito ao longo da vida e

possibilita o acesso à singularidade das pessoas diante dos fenômenos e

dimensões sociais de sua vida cotidiana o que pode gerar informações

importantes para o estabelecimento de estratégias de gestão social que

possam promover o desenvolvimento local.

Sugerem-se pesquisas em outras comunidades, com características

semelhantes às do bairro Jardim Felicidade, ou mesmo, em bairros com

características diferentes, como por exemplo, em bairros não vulneráveis, a fim

de verificar o nível de pertencimento de seus moradores em relação aos seus

espaços vividos. Assim, será possível identificar e analisar questões que

envolvem a mobilização comunitária e o engajamento destes moradores, no

que tange à gestão social e ao desenvolvimento local e como estão

relacionados ao pertencimento social.

Recomenda-se que outros estudos sejam feitos sobre a importância da

participação dos sujeitos em projetos que lhes dizem respeito; estudos que

discorram sobre a eficácia da intervenção social baseada em processos

participativos; estudos sobre autogestão nas comunidades para que as

intervenções feitas tenham continuidade e sejam geridas pela própria

comunidade.

Sugere-se a realização de mais estudos sobre o uso das tecnologias digitais e

como estas têm sido utilizada nas comunidades. E como estes estudos

potencializam o protagonismo social e auxiliam no empoderamento dos

indivíduos na medida em que reconhecem seu potencial criativo e inovador.

REFERÊNCIAS

ALCÂNTARA, J. C. D. Curta-metragem: gênero discursivo propiciador de práticas Multiletradas. 2014. 138 f. Dissertação (Mestrado) -- Universidade

194

Federal de Mato Grosso. UFMT. Instituto de Linguagem, Programa de pós-graduação em estudo de linguagem Cuiabá, 2014.

BAUMAN, Z. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchii/Zygmunt Bauman. Rio de Janeiro: Zahar. 2005. 110p.

BAUMAN, Z. Vida líquida. Rio de Janeiro: Zahar. 2007. 110p.

BENINCÁ, E. As origens do planejamento participativo no Brasil. Revista Educação - AEC, Brasília, n. 26, p. 7-21, 1995

BIGNETTI, L. P. As inovações sociais: uma incursão por ideias, tendências e focos de pesquisa. Ciências Sociais Unisinos, v. 47, n. 1, jan.-abr., 2011, p. 3-14.

BOURDIEU, P. Questões de Sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero. 1983. 288p.

BRASIL. CapacitaSuas: Configurando os Eixos de Mudança / Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 1 ed. Brasília: MDS, 2008, p.136

BREA L. M. Factores determinantes del sentido de pertenencia de los estudiantes de arquitectura de la pontificia universidad católica madre y maestra campus Santo Tomas de Aquino. 2014. 196 f. Tese (Doutorado) Universidad de Murcia. Disponível em: http://hdl.handle.net/10201/42306 Acesso em: 13 de mar 2018

BRONZO, C. Intersetorialidade, autonomia e território em programas municipais de enfrentamento da pobreza: experiências de Belo Horizonte e São Paulo. Planejamento e Políticas Públicas, v. 35, p.119-160, 2010.

CANÇADO, A. C. Fundamentos teóricos da gestão social. 2011. 246 f. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Lavra, Lavras, 2011.

CIDADE, E. C. Juventude em condições de pobreza: Modos de vida e fatalismo. 2012. 163.f. Dissertação (Mestrado em psicologia) Centro de humanidades, departamento de psicologia. Universidade do Ceará. Fortaleza. 2012.

CONSTANZO, A Z. Participación y empoderamiento comunitario: rol de las metodologias implicativas. In: CONGRESO INTERNACIONAL DEL CLAD SOBRE LA REFORMA DEL ESTADO Y DELA ADMINISTRACIÓN PÚBLICA, 5, 2005 Santiago. Anais... Chile, 2005, p. 18 – 21.

COUSIN, C. S. Pertencimento ao lugar e a formação de educadores ambientais: um diálogo necessário. In: EPEA – Encontro Pesquisa em Educação Ambiental, 7, 2013, Rio Claro – SP. Anais... 2013. Disponível em <http://www.epea.tmp.br/epea2013_anais/pdfs/plenary/0130-1.pdf> Acesso 02 jan. 2017.

195

GADOTTI, M. A questão da educação formal/não-formal. Droit à l’education: solution à tous les problèmes sans solution? Institut International des droits de l’enfant, Sion, 2005. p. 11.

GASTAL, C. A; PILATI, R. Escala de Necessidade de Pertencimento: Adaptação e Evidências de Validade Psico-USF, Bragança Paulista, v. 21, n. 2, p. 285-292, 2016.

GOHN, M. G. Educação não formal, aprendizagens e saberes em processos participativos. Revista da sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, [S.I] n. 1, p. 35-50. 2014

KOGA, D. Medidas de cidades: entre territórios de vida e territórios vividos. São Paulo: Cortez, 2003. 299p.

LOPES, D. P. T. et al. Inovação gerencial e inovação social: penando para além da inovação tecnológica. Inovação para além da tecnologia, 2015, Porto Alegre. Anais... XVI Congresso Latino Iberoamericano de Gestão da Tecnologia – ALTEC. 2015.

MARTÍN-BARÓ, I. Psicologia de la liberación. Madrid: Trotta, 1998. 376 p.

OLIVEIRA, T. R. F.; CAVALCANTE, L. F. B. Biblioteca escolar: espaço que cria laços de pertencimento. Biblionline, João Pessoa, v. 13, n. 3, p. 30-42, 2017

PNAS - POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social por intermédio da Resolução nº 145, de 15 de outubro de 2004, e publicada no Diário Oficial da União – DOU do dia 28 de outubro de 2004.

SABINO, H. ARAUJO, W. M. BSC SOCIAL: Para a Gestão Democrática das Escolas Públicas da Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais. 2015. 144 f. Dissertação (Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local) – Centro Universitário UNA, Belo Horizonte, 2015

SANTOS, M. A natureza do espaço – Técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996. 259p.

SANTOS, M. Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000. 85p.

SILVA, J. A. R.; GOMES, M. C. Jardim Felicidade: Várias histórias em uma história. Belo Horizonte: o Lutador, 2013. 128p.

SILVA, L. O.; ALMEIDA, E. A. Percepção Ambiental e Sentimento de Pertencimento em Área de Proteção Ambiental Litorânea no Nordeste Brasileiro Revista Eletrônica Mestrado Educação Ambiental. Rio Grande do Sul, v. 33, n.1, p. 192-212, 2016.

TAVARES, R. C. O sentimento de pertencimento social como um direito básico e universal. Cadernos de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas,

196

Florianópolis, v. 15, n. 106, p. 179-201, jun. 2014. Disponível em <https://periodicos.ufsc.br/index.php/cadernosdepesquisa/article/view/19848951.2014v15n106p179>. Acesso em 24 abr. 2017. doi:http://dx.doi.org/10.5007/1984-8951.2014v15n106p179

TENÓRIO, F. G. Gestão social: uma perspectiva conceitual. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, v. 32, n.5 1998. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/article/viewFile/7754/6346> Acesso em 30 de abr. 2017.

WANDERLEY, M. B. Discussão sobre a gestão social: conceitos e protagonistas. Serviço Social em Revista, Londrina, v. 16, n. 1, 2013. Disponível em <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/ssrevista/article/view/17973>. Acesso em 30 abr. 2017. DOI: 10.5433/1679-4842.

197

APÊNDICE A

ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA COM OS

MORADORES DO BAIRRO JARDIM FELICIDADE / MG

Nome:

Idade:

Gênero: ( ) Feminino ( ) Masculino ( ) Outro

Tempo de moradia no bairro: ( x ) 30 a 20 anos ( ) 20 a 10 anos ( ) menos de

10 anos.

Quantas pessoas moram em sua casa/terreno? (x ) até 5 pessoas ( ) até 10

pessoas ( ) mais de 10 pessoas.

Você pode me contar um pouco sobre sua história, como chegou aqui e de

onde veio?

Fale-me um pouco sobre seu dia-a-dia na comunidade?

Fale-me sobre o que este bairro representa para você.

Fale-me sobre o que você gosta e o que não gosta no bairro.

Você tem feito alguma coisa aqui no bairro para torná-lo melhor? Conte-me

sobre o que você tem feito.

Você participa de alguma atividade aqui no bairro? Fale-me sobre essas

atividades.

Fale-me um pouco sobre como as pessoas podem cuidar do local onde mora.

Que tipo de cuidado você acha que o bairro precisa?

Você acha que a responsabilidade de cuidar do bairro é de quem? Fale-me um

pouco sobre isso.

198

APÊNDICE B

ROTEIRO DE PERGUNTAS NORTEADORAS PARA GRUPO FOCAL O objetivo da roda de conversa é possibilitar um clima acolhedor, onde todos se sintam entrosados e à vontade para participar de um momento de discussão sobre o bairro Jardim Felicidade. Quais suas possibilidades e desafios no que se refere às questões socioambientais e de cuidado com o território. A roda será coordenada pela pesquisadora, podendo contar com a colaboração de colegas acadêmicos com interesse na temática. As questões norteadoras serão as mesmas da entrevista semiestruturada aplicada à priori aos participantes, considerando a possibilidade de alterações, resguardando o foco na temática principal: pertencimento e engajamento comunitário. Local: Data: Coordenador: Sistematizador: Atividade: Participantes: QUESTÔES NORTEADORAS

1. O que o bairro Jardim Felicidade Representa para você? 2. Como os moradores mais recentes vêem o bairro? 3. Você se sente responsável pelo que o bairro se tornou hoje?

4. Você acredita que algo ainda pode ser feito pela melhoria do bairro?

CONVITE PARA O GRUPO FOCAL

199

APENDICE C

PRODUTO TÉCNICO

Vídeo/documentário Jardim Felicidade - VOZES em transformação

Anexar o pencard

200

ANEXO A

CAAE da plataforma BRASIL

201

ANEXO B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Programa: Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento

Local do Centro Universitário UNA, Belo Horizonte/MG.

Título da pesquisa: “Sentimento de pertencimento social no engajamento comunitário: um

estudo no Jardim Felicidade, Belo Horizonte (MG)”

Nome da pesquisadora orientadora: Fernanda Carla Wasner Vasconcelos

Nome da pesquisadora aluna: Aparecida Mendes de Paiva

1. Natureza da pesquisa: o sr.(sra.) está sendo convidado(a) a participar dessa

pesquisa que tem como finalidade Analisar a relação entre o senso de pertencimento

social e o engajamento comunitário dos moradores do bairro Jardim Felicidade – BH, MG e

como a Educação Ambiental poderá contribuir como instrumento de intervenção. Para isso

serão realizadas pesquisa de campo com entrevistas e roda de conversa.

2. Participantes da pesquisa: participarão dessa pesquisa moradores do bairro Jardim

Felicidade.

3. Envolvimento na pesquisa: ao participar desse estudo, o sr. (sra) permitirá que a

pesquisadora Aparecida Mendes de Paiva, utilize na pesquisa as informações prestadas

durante a entrevista, salvaguardando a confidencialidade da identidade daqueles que

prestaram as informações. Tem ainda a liberdade de se recusar a participar ou a continuar

participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para si. Sempre que

quiser, poderá pedir mais informações sobre pesquisa através do telefone do pesquisador

do projeto e, se necessário, através do telefone do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).

4. Sobre as entrevistas: serão realizadas presencialmente no bairro, em local adequado

para sua realização acordado entre o entrevistado e a pesquisadora. Em caso específico,

ainda poderá ser realizada por de telefone ou conferência virtual.

5. Riscos e desconforto: a participação nessa pesquisa não traz complicações legais.

Durante a entrevista os riscos e/ou desconfortos potenciais identificados são o

constrangimento acerca das as informações prestadas durante a entrevista . Os

procedimentos adotados obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres

Humanos, conforme Resolução no. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum

dos procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade.

6. Confidencialidade: todas as informações coletadas nesse estudo são estritamente

confidenciais. Somente a pesquisadora e a orientadora terão conhecimento dos dados e

será mantido em sigilo a identidade das pessoas que as prestaram as informações.

7. Forma de acompanhamento e assistência: em caso de constrangimento a

entrevista será suspensa até que possa ser continuada por anuência do entrevistado.

8. Benefícios: ao participar dessa pesquisa, o(a) sr.(sra.) não terá nenhum benefício direto.

Entretanto, esperamos que esse estudo traga informações importantes sobre os

202

fenômenos presentes no território, que potencializam ou fragilizam as ações de

desenvolvimento, de forma que o conhecimento que será construído possa amadurecer os

debates a respeito do sentimento de pertencimento e engajamento na comunidade em que

a pesquisadora se compromete a divulgar os resultados obtidos.

9. Pagamento: o(a) sr.(sra.) não terá nenhum tipo de despesa para participar dessa

pesquisa, bem como nada será pago por sua participação.

Após esses esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para

participar da referida pesquisa. Portanto, preencha, por favor, os itens que se seguem.

Obs.: Não assine este termo se ainda tiver dúvida a respeito.

Consentimento Livre e Esclarecido

Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida,

manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo

de consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste

estudo.

__________________________________ Assinatura do(a) participante da pesquisa

Nome do(a) participante da pesquisa

__________________________________ Assinatura do pesquisador

___________________________________

Assinatura da Orientadora

Pesquisadora Aluna: Aparecida Mendes de Paiva. Telefone (31) xxxxxxxxx.

Pesquisadora Orientadora: Fernanda Carla Wasner Vasconcelos. Telefone (31) xxxxxxxxx.

Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Guajajaras, 175, 4º andar. Belo Horizonte/MG. CEP

30.180-100. Telefone (31) 3508-9110.Email: [email protected]

Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP): Esplanada dos Ministérios,

Bloco G, Anexo B, Sala 104B. Brasília. CEP 70.058-900. Telefone (61) 3315-2150

/ 3315-2151 / 3315-3566.Email: [email protected]

203

ANEXO C

TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE GRAVAÇÃO E USO DE IMAGEM E

DEPOIMENTOS

Eu ____________________________, CPF ____________, RG_______________,

depois de conhecer e entender os objetivos, procedimentos metodológicos, riscos e

benefícios da pesquisa, bem como de estar ciente da necessidade do uso de minha

imagem e/ou depoimento, especificados no Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE), AUTORIZO, através do presente termo, a pesquisadora aluna

Aparecida Mendes de Paiva, sob a orientação da Dra. Fernanda Carla Wasner

Vasconcelos, do projeto de pesquisa intitulado O SENTIMENTO DE

PERTENCIMENTO SOCIAL NO ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO: um estudo de

caso no Jardim Felicidade, Belo Horizonte (MG), a realizar as fotos e/ou vídeos que

se façam necessários e/ou a colher meu depoimento sem quaisquer ônus

financeiros a nenhuma das partes.

Ao mesmo tempo, libero a utilização dessas fotos e/ou vídeos (seus respectivos

(Negativos ou cópias) e/ou depoimentos para fins científicos e de estudos (livros,

artigos, slides e transparências), em favor dos pesquisadores da pesquisa,

acima especificados, obedecendo ao que está previsto nas Leis que resguardam

os direitos das crianças e adolescentes (Estatuto da Criança e do Adolescente –

ECA, Lei N.º 8.069/ 1990), dos idosos (Estatuto do Idoso, Lei N.° 10.741/2003) e das

pessoas com deficiência (Decreto Nº 3.298/1999, alterado pelo Decreto Nº

5.296/2004).

Belo Horizonte, ______ de ________________ de 2017.

______________________________

Participante da pesquisa

________________________________

Pesquisador responsável pelo projeto

*Em duas vias

204

ANEXO D

AUTORIZAÇÃO PARA COLETA DE DADOS

Eu, ________________________________________________________ AUTORIZO a coleta de dados do projeto: “SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO SOCIAL NO ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO: UM ESTUDO NO JARDIM FELICIDADE, BELO HORIZONTE (MG) realizado pela pesquisadora Aparecida Mendes de Paiva, sob a orientação da Professora Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos, para fins de pesquisa do Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, no bairro Jardim Felicidade, Belo Horizonte (MG), após a aprovação do referido projeto pelo CEP do Centro Universitário UNA. Belo Horizonte, ______ de ____________________ de ______.

_____________________________________________ Assinatura do entrevistado

205

ANEXO E

TERMO DE COMPROMISSO DE CUMPRIMENTO DA RESOLUÇÃO Nº 466/2012

Nós, Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos, inscrita no CPF sob o número 876.491.956-00, e Aparecida Mendes de Paiva, inscrito no CPF sob o número 04.1450.556-59, responsáveis pela pesquisa intitulada “SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO SOCIAL NO ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO: UM ESTUDO NO JARDIM FELICIDADE, BELO HORIZONTE (MG)” declaramos que:

Assumimos o compromisso de zelar pela privacidade e pelo sigilo das informações que serão obtidas e utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa;

Os materiais e as informações obtidas no desenvolvimento deste trabalho serão utilizados para se atingir o(s) objetivo(s) previsto(s) na pesquisa;

O material e os dados obtidos ao final da pesquisa serão arquivados sob a nossa responsabilidade;

Os resultados da pesquisa serão tornados públicos em periódicos científicos e/ou em encontros, quer sejam favoráveis ou não, respeitando-se sempre a privacidade e os direitos individuais dos sujeitos da pesquisa, não havendo qualquer acordo restritivo à divulgação;

Assumimos o compromisso de suspender a pesquisa imediatamente ao perceber algum risco ou dano, consequente à mesma, a qualquer um dos sujeitos participantes, que não tenha sido previsto no termo de consentimento.

O CEP do Centro Universitário UNA será comunicado da suspensão ou do encerramento da pesquisa, por meio de relatório apresentado anualmente ou na ocasião da interrupção da pesquisa;

As normas da Resolução 466/2012 serão obedecidas em todas as fases da pesquisa.

Belo Horizonte, ____ de________de 2017.

___________________________________ Aparecida Mendes de Paiva

__________________________________

Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos

206

ANEXO F – DECLARAÇÃO DE REVISÃO TEXTUAL E GRAMATICAL

207

ANEXO G – DECLARAÇÃO DE TRADUÇÃO DOS RESUMOS DA DISSERTAÇÃO PARA LÍNGUA INGLESA