o Sistema de Cotas Raciais Na Universidade de Brasília
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O SISTEMA DE COTAS RACIAIS NA UNIVERSIDADE DE BRASLIA
Bruna Garcia Carvalho1
Cassiano Mendes Porcino2
Cludio Rogrio de Azevedo3
Euzeir Scherrer Hemerly4
Gustavo Garcia Nunes5
Liz Mara Aguiar6
Resumo: Este trabalho aborda a situao da Universidade de Braslia (Unb) frente s polticas de ao afirmativa para o ingresso de negros na universidade. O estudo aqui apresentado baseou-se na pesquisa exploratria e mtodo dedutivo, atravs de pesquisas em livros e artigos de pginas da web, que comentam posicionamentos a respeito do assunto, sendo eles favorveis ou no. Dessa forma, buscou-se verificar a legalidade constitucional das aes afirmativas de cunho racial, com nfase do princpio da igualdade.
Palavras-Chave: Cotas raciais; Constitucionalidade; Poltica Afirmativa; Princpio da Igualdade.
1 CONSIDERAES INICIAIS
Atravs do presente trabalho, abordaremos a situao da Universidade de Braslia
(Unb) frente s polticas de ao afirmativa para o ingresso de negros na faculdade,
que de relevncia significativa, pois alm de expandir as discusses sobre o tema,
proporciona, de certo modo, a diminuio da existncia de diferenas entre iguais.
Assim como a incluso social, a incluso racial tem sido debatida com maior
freqncia nos ltimos tempos, principalmente atravs das polticas de ao
afirmativa em universidades. A constitucionalidade desse tema colocada agora
frente a dilemas ticos, morais e humanos. 1 Bacharelando em Direito Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim
2 Bacharelando em Direito Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim
3 Bacharelando em Direito Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim
4 Bacharelando em Direito Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim
5 Bacharelando em Direito Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim
6 Bacharelando em Direito Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim
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2 SISTEMA DE COTAS NA UNIVERSIDADE DE BRASLIA
As polticas de aes afirmativas, entre elas as cotas raciais, procura promover a
promoo de grupos de minorias, visando efetivar o princpio constitucional de
igualdade. O Sistema de Cotas para Negros adotado pela Universidade de Braslia
UnB, uma iniciativa institucional importante e inovadora no Brasil, e tambm
resultado de esforos histricos dos Movimentos Negros. Este projeto da UnB faz
parte do Plano de Metas para Integrao Social, tnica e Racial, que ser aplicada
por 10 anos7.
fato que a realidade e a luta por educao da populao negra, no s brasileira
como tambm mundial, so dados contemporneos. Pode-se identificar, dentre
outras, as reivindicaes da Frente Negra Brasileira, dcada de 40, e as propostas
de Abdias Nascimento em favor da implementao de polticas pblicas para o
atendimento das demandas desse grupo social:
Desde a formao das instituies de ensino superior no sculo 19, jamais houve um projeto que garantisse o acesso em massa da populao negra academia. Hoje, os negros correspondem a apenas 2% do contingente de universitrios, apesar de representarem 45% dos brasileiros
8.
Como a primeira universidade pblica federal a romper com essa lgica de
segregao racial da academia brasileira, onde se constata que a formao de
profissionais de maioria branca, a UnB deu um passo decisivo para o futuro do
pas. Decorrente disso despertou-se vrios questionamentos a nvel nacional,
obrigando assim o STF a tomar um posicionamento referente ao assunto9. Por
outro lado, o carter estrutural da poltica afirmativa que foi corajosamente
implantada pela universidade demanda uma srie de desafios particulares de
incluso10.
7 JESUS, Jaques. Sistema de cotas para negros. In: SISTEMA DE COTAS de pginas pessoais da
UnB Braslia. Disponvel em: . Acesso em: 26 abr. 2010.
8 Idem.
9 CANUTO, Loureno. STF recebe pedido do DEM para suspender cotas para negros na UnB.
Texto disponibilizado em: 21 de jul. 2009. In: Servio de pginas da educao do UOL. Disponvel em: < http://educacao.uol.com.br/ultnot/2009/07/21/ult105u8392.jhtm> Acesso em: 28 abr. 2010.
10 JESUS, op. Cit., nota 7.
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Exemplo desses desafios foi o ocorrido com a escola de medicina da Universidade
da Califrnia em Davis nos Estados Unidos, que na dcada de 70, com um
programa de ao afirmativa que reservava dezesseis vagas a grupos de minorias
em desvantagem educacional e econmica sofreu ao em favor de Allan Bakke,
candidato rejeitado em seu processo seletivo regular. O caso foi para no Supremo
Tribunal dos EUA, que mesmo aps levantadas as questes defendidas pelos
advogados do candidato alegando a ilegalidade do programa, decidiu que a Lei dos
Direitos Civis no impede os programas de ao afirmativa, mesmo que usem cotas
explicitas e que, a prpria Constituio autoriza tais programas11.
3 POSICIONAMENTOS SOBRE O ASSUNTO
No h consenso sobre o assunto, mas geralmente as cotas voltam-se para a
populao que se autodeclara negra, podendo, portanto, abranger os pardos que se
declarem negros. O caso dos gmeos univitelinos ocorrido em 2007 na UnB,
reacendeu a polmica, quando foram classificados sendo de raas diferentes12.
Os contrrios s cotas raciais dizem que o elemento central da desigualdade no
ensino a condio social, a pobreza. Afirmando que as cotas raciais podero
estimular a descriminao racial. Alegam tambm que esto sendo violados diversos
preceitos fundamentais fixados pela Constituio de 1988, como a dignidade da
pessoa humana, o preconceito de cor e a discriminao, afetando o prprio combate
ao racismo. Alguns argumentam que o problema de base e que atacar as
conseqncias no resolve o problema, apenas cria outro:
Ele diz que em determinadas reas do Nordeste existem lavradores brancos, de olhos azuis, muito pobres, descendentes dos exploradores holandeses que invadiram o Brasil na poca da colonizao. "Eles em nada
11
DWORKIN, Ronald. Uma questo de princpio. Trad. Luis Carlos Borges. 2. ed. So Paulo: Martins Fontes, 2005. p.438-494.
12 OLIVEIRA, Juliana. Amenizao das disparidades sociais ou institucionalizao do racismo?:
aps quase dez anos de implementao, as cotas raciais ainda causam divergncias.Texto disponibilizado em: 03 de jul. 2010. In: UNEGRO Paran. Disponvel em: . Acesso em: 07 jul. 2010.
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so diferentes de pessoas que tenham outra cor de pele. A diferena est na questo econmica e social", argumenta
13.
Algumas controvrsias especficas s cotas de cunho racial residem no fato de que
seria difcil definir quem teria direito a tais polticas. Alguns defendem o critrio de
autodeclarao, outros defendem a instaurao de uma comisso de avaliadores
que, baseados em critrios objetivos e subjetivos, decidiriam quem teria direito s
cotas14.
A OAB Ordem dos Advogados do Brasil manteve-se imparcial sobre o assunto,
alegando a necessidade de analisar melhor a constitucionalidade das cotas raciais:
No primeiro dia da audincia pblica que trata de polticas afirmativas para a reserva de vagas no ensino superior, a maioria dos expositores se manifestou favorvel s chamadas cotas raciais em universidades pblicas. Dos oito participantes, apenas a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) optou por no assumir uma posio no debate
15.
Favorvel a esta questo, os defensores dizem que elas pagam um erro cometido
no passado contra a populao negra:
A favor das cotas raciais nas universidades, o professor Alexandre disse que, em primeiro lugar, "elas pagam uma injustia histrica, uma dvida que o Estado brasileiro tem com a populao negra". Segundo ele, as cotas no ferem o princpio do mrito, "at pelo contrrio, quem precisa das cotas neste pas so as instituies, principalmente as universidades, no necessariamente a populao negra
16.
Segundo o diretor de Cooperao e Desenvolvimento do Instituto de Pesquisa
Econmica Aplicada (Ipea), Mrio Lisboa Theodoro, estudos do instituto indicam que
a desigualdade racial no Brasil persistente ao longo da Histria e que as polticas
13
CANUTO, op. cit., nota 9.
14 OLIVEIRA, op. cit., nota 12.
15 LABOISSIRE, Paula. Paula. Agncia Brasil Em Braslia. Em primeiro dia de audincia pblica,
maioria favorvel s cotas em universidades. Texto disponibilizado em: 3 de mar. 2010. In: Servio de pginas da educao do UOL. Disponvel em: < http://educacao.uol.com.br/ultnot/2010/03/03/ult105u9135.jhtm> Acesso em: 28 abr. 2010.
16 EC,FK/EH. Defensores de cotas raciais entregam "Carta da igualdade" ao presidente do STF
aos 120 anos da Abolio. Texto disponibilizado em 13 mai. 2008. In: Servio de pginas da educao do JURISWAY. Disponvel em: < http://www.jurisway.org.br/v2/noticia.asp?idnoticia=24558>. Acesso em: 29 abr. 2010.
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de cotas no ensino superior so hoje o "principal mecanismo de equalizao" desse
problema na sociedade brasileira, que convive com o preconceito. Como um dos
participantes do primeiro dia da audincia pblica realizada pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) para discutir a utilizao de critrios raciais para o acesso a vagas nas
universidades pblicas. Afirmou que os estudos do instituto mostram de forma
"contundente" a desigualdade racial no Brasil apresentando dados estatsticos do
instituto que apontam que h hoje no Brasil 571 mil crianas entre 7 a 14 anos fora
da escola. Dessas, 62% so negras. Outro dado mostra que um trabalhador negro
ganha em mdia metade do que um trabalhador branco ganha; que o percentual de
negros abaixo da linha de indigncia duas vezes e meia maior do que o percentual
de branco (71% dos indigentes do pas so negros) e que 70% dos pobres so
negros. "Isso tudo nos ressalta, principalmente, que h uma renitente estabilidade
dessa desigualdade. As desigualdades raciais no Brasil no so apenas expressivas
e disseminadas, como tambm so persistentes ao longo do tempo", afirmou,
emendando que superar isso o grande desafio do pas. Ele afirmou que, mesmo
com a melhora do acesso a servios pblicos, a discriminao persiste. "A nossa
desigualdade centralizada pela questo racial, porque naturaliza a desigualdade",
disse, ao apontar a importncia de polticas complementares s polticas universais
de incluso, como o caso do sistema de cotas raciais (uma forma de ao
afirmativa), como mecanismo fundamental para mudar essa realidade17.
Mrio Lisboa informou que, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econmica
Aplicada (Ipea), o sistema de cotas para negros em universidades pblicas
contemplou, at o momento, 52 mil estudantes. "So profissionais negros que vo
disputar postos de trabalho em igualdade de condio com os outros profissionais.
Hoje, pessoas negras tm mais portas fechadas do que a populao de origem
branca", ressaltou18.
17
GELEDS. Instituto da Mulher Negra. Pesquisador do IPEA defende sistema de cotas raciais para fomentar igualdade racial: Cotas STF. Disponvel em: < http://www.geledes.org.br/cotas-no-stf/pesquisador-do-ipea-defende-sistema-de-cotas-raciais-para-fomentar-igualdade-racial.html>. Acesso em: 30 abr. 2010.
18 Idem
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4 CONSIDERAES FINAIS
Analisando o sistema de cotas, sua aplicabilidade e seus possveis prs e contras,
entendemos que a ao afirmativa, que busca transpor as diferenas, deve ser
usada de forma correta por certo tempo e no como soluo definitiva. Aliado ao
sistema de cotas, devem haver aes conjuntas, atacando o problema na sua raiz
social, estruturas de base como educao, distribuio de renda, falta de
oportunidade, e outros.
O combate discriminao racial comea dentro de cada ser humano. No s o
Brasil, mas todo o mundo tem que perceber que somos iguais sem que se leve em
conta a cor da pele.
Assim sendo, chegamos a concluso que muito ainda tem que ser feito para
alcanarmos a tao desejada igualdade social. J um comeo, mas no podemos
nos acomodar e achar que o que tem sido feito j o suficiente para sanar as
dvidas do passado, pois podemos dizer que essas so irreparaveis; mas tambem,
h muitas medidas a serem tomadas, no s em relao a raa negra, mas para
com todos que sofrem a mesma excluso, no pela cor da pele, mas pela situao
social.
REFERNCIAS
CANUTO, Loureno. STF recebe pedido do DEM para suspender cotas para negros na UnB. Texto disponibilizado em: 21 de jul. 2009. In: Servio de pginas da educao do UOL. Disponvel em: < http://educacao.uol.com.br/ultnot/2009/07/21/ult105u8392.jhtm> Acesso em: 28 abr. 2010.
DWORKIN, Ronald. Uma questo de princpio. Trad. Luis Carlos Borges. 2. ed. So Paulo: Martins Fontes, 2005. p.438-494.
EC,FK/EH. Defensores de cotas raciais entregam "Carta da igualdade" ao presidente do STF aos 120 anos da Abolio. Texto disponibilizado em 13 mai. 2008. In: Servio de pginas da educao do JURISWAY. Disponvel em: <
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http://www.jurisway.org.br/v2/noticia.asp?idnoticia=24558>. Acesso em: 29 abr. 2010.
GELEDS. Instituto da Mulher Negra. Pesquisador do IPEA defende sistema de cotas raciais para fomentar igualdade racial: Cotas STF. Disponvel em: < http://www.geledes.org.br/cotas-no-stf/pesquisador-do-ipea-defende-sistema-de-cotas-raciais-para-fomentar-igualdade-racial.html>. Acesso em: 30 abr. 2010.
JESUS, Jaques. Sistema de cotas para negros. In: SISTEMA DE COTAS de pginas pessoais da UnB Braslia. Disponvel em: . Acesso em: 26 abr. 2010.
LABOISSIRE, Paula. Agncia Brasil Em Braslia. Em primeiro dia de audincia pblica, maioria favorvel s cotas em universidades. Texto disponibilizado em: 3 de mar. 2010. In: Servio de pginas da educao do UOL. Disponvel em: < http://educacao.uol.com.br/ultnot/2010/03/03/ult105u9135.jhtm> Acesso em: 28 abr. 2010.
OLIVEIRA, Juliana. Amenizao das disparidades sociais ou institucionalizao do racismo?: aps quase dez anos de implementao, as cotas raciais ainda causam divergncias.Texto disponibilizado em: 03 de jul. 2010. In: UNEGRO Paran. Disponvel em: . Acesso em: 07 jul. 2010.