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O TEATRO ANCHIETANO ENQUANTO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO: ANÁLISE DAS PEÇAS RUCKSTADTER, Vanessa Campos Mariano. 1 ARNAUT DE TOLEDO, Cézar de Alencar. 2 INTRODUÇÃO Este texto se apresenta como resultado de um estudo feito no curso de Especialização em Pesquisa Educacional. Foi escrita uma monografia, que discute de forma mais global o teatro anchietano, cujas discussões foram sintetizadas para este artigo. 3 Nesta pesquisa estudamos a figura do padre José de Anchieta (1534-1597), jesuíta que atuou de forma decisiva no início da formação da cultura brasileira no século XVI. Anchieta escreveu cartas, poemas, uma gramática da língua tupi e o objeto central deste texto: peças de teatro. As peças de Anchieta, que ao todo somam doze, foram reunidas pelo padre Armando Cardoso, estudioso da figura de Anchieta, no terceiro volume dedicado às obras completas de Anchieta (1977). Esta obra nos servirá de fonte para a análise dos textos teatrais, sempre pressupondo sua ligação com o contexto no qual foram escritos e encenados. Foi no período colonial, mais especificamente no século XVI, que o padre José de Anchieta produziu peças de teatro no Brasil. Nas mãos de Anchieta, o teatro assumiu um caráter catequético, que pode ser entendido também como pedagógico. O objetivo deste estudo é analisar de forma geral as peças teatrais escritas pelo jesuíta José de Anchieta e relacioná-las com o intuito catequético-pastoral de que estavam imbuídos os padres jesuítas no Brasil, bem como com o contexto no qual foram produzidas e apresentadas. A análise dos textos teatrais de José de Anchieta foi sustentada por dois eixos, sendo eles a contextualização histórica do período no qual as peças foram escritas e também representadas, além de uma breve biografia de Anchieta, e, por fim, a análise da estrutura das peças. Esta análise pressupôs sempre a ligação de suas obras teatrais com o projeto político- pedagógico da Companhia de Jesus. A análise partiu sempre das obras teatrais do próprio Anchieta, para depois buscar o apoio na contextualização, em estudiosos da figura e do pensamento de Anchieta, além de um suporte para discussão teórica sobre o teatro. Tal análise nos permitirá entender as relações que se deram no primeiro século de colonização do Brasil entre a ação dos jesuítas e o contexto indígena, bem como a primeira educação escolar em terras brasileiras.

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O TEATRO ANCHIETANO ENQUANTO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO: ANÁLISE DAS PEÇAS

RUCKSTADTER, Vanessa Campos Mariano.1

ARNAUT DE TOLEDO, Cézar de Alencar.2INTRODUÇÃO

Este texto se apresenta como resultado de um estudo feito no curso de

Especialização em Pesquisa Educacional. Foi escrita uma monografia, que discute de

forma mais global o teatro anchietano, cujas discussões foram sintetizadas para este

artigo.3 Nesta pesquisa estudamos a figura do padre José de Anchieta (1534-1597),

jesuíta que atuou de forma decisiva no início da formação da cultura brasileira no século

XVI. Anchieta escreveu cartas, poemas, uma gramática da língua tupi e o objeto central

deste texto: peças de teatro. As peças de Anchieta, que ao todo somam doze, foram

reunidas pelo padre Armando Cardoso, estudioso da figura de Anchieta, no terceiro

volume dedicado às obras completas de Anchieta (1977). Esta obra nos servirá de fonte

para a análise dos textos teatrais, sempre pressupondo sua ligação com o contexto no

qual foram escritos e encenados.

Foi no período colonial, mais especificamente no século XVI, que o padre José

de Anchieta produziu peças de teatro no Brasil. Nas mãos de Anchieta, o teatro assumiu

um caráter catequético, que pode ser entendido também como pedagógico. O objetivo

deste estudo é analisar de forma geral as peças teatrais escritas pelo jesuíta José de

Anchieta e relacioná-las com o intuito catequético-pastoral de que estavam imbuídos os

padres jesuítas no Brasil, bem como com o contexto no qual foram produzidas e

apresentadas.

A análise dos textos teatrais de José de Anchieta foi sustentada por dois eixos, sendo

eles a contextualização histórica do período no qual as peças foram escritas e também

representadas, além de uma breve biografia de Anchieta, e, por fim, a análise da

estrutura das peças. Esta análise pressupôs sempre a ligação de suas obras teatrais com

o projeto político- pedagógico da Companhia de Jesus. A análise partiu sempre das

obras teatrais do próprio Anchieta, para depois buscar o apoio na contextualização, em

estudiosos da figura e do pensamento de Anchieta, além de um suporte para discussão

teórica sobre o teatro. Tal análise nos permitirá entender as relações que se deram no

primeiro século de colonização do Brasil entre a ação dos jesuítas e o contexto indígena,

bem como a primeira educação escolar em terras brasileiras.

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DEFININDO CONCEITOS E TRAVANDO DEBATES: educação, atuação

jesuítica no Brasil e início formação da cultura brasileira

A ciência da História nos permite entender por meio da produção material dos

homens as relações sociais temporalmente definidas. Estudar a história da educação nos

permite entender a partir destas relações os processos educacionais em diferentes épocas

históricas. Na apresentação do primeiro de três volumes do livro Histórias e memórias

da Educação no Brasil, António Nóvoa (2004, p. 09) destaca o que se pode esperar de

um historiador da educação: 4

Ao historiador da educação pede-se que junte os dois termos desta equação. Não há História da Educação sem a mobilização rigorosa dos instrumentos teóricos e metodológicos da investigação histórica. Mas também não há História da Educação sem um pensamento e um olhar específicos sobre a realidade educativa e pedagógica.

A importância que podemos atribuir aos estudos das memórias da educação,

segundo Stephanou e Bastos (2004, p.15), “é a contribuição dada em exercitar nosso

pensamento, nossas opções, tomadas de decisão sobre os agoras da educação de nosso

tempo”. Ainda mais na área de educação, onde a novidade sempre é aclamada, mesmo

que esta novidade seja somente uma retomada de idéias e ações pedagógicas separadas

da contemporaneidade muitas vezes por séculos. Adquire importância ter conhecimento

do passado para entender as relações sociais existentes em nossa época, sobretudo no

campo educacional, uma vez que educação é uma construção social.

Quando se pensa em educação geralmente se pensa em uma forma de educação:

a educação escolar. O uso do artigo definido uma é utilizado aqui não por acaso, uma

vez que, conforme veremos, a escola é somente uma das instituições modernas onde se

dá a aprendizagem.5 No entanto, não foi esta a concepção que adotamos para nossa

análise, apesar de muitas análises tomarem tal diretriz. Educação, de um ponto de vista

muito mais amplo, deve ser estendida às diversas esferas da vida social. Várias são as

instituições responsáveis pela educação. Podemos destacar entre elas: a família, a igreja,

o convívio social, o ambiente de trabalho, entre tantas outras. Aqui então podemos fazer

uma diferenciação entre educação, em seu sentido mais amplo, e educação escolar,

somente uma dentre tantas outras esferas onde se dá o aprendizado. A educação está

inserida na sociedade e conforme a sociedade se organiza, organizam-se as instituições

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sociais. A educação contém também, mas não somente, a educação escolar. Tal relação

de dependência deve ser considerada quando se fala de educação. Sendo assim, a

expressão educação neste trabalho, refere-se ao aspecto cultural no sentido geral e

amplo e não apenas escolar em sentido estrito.

No contexto do século XVI podemos identificar no Brasil-colônia tanto a

educação sistematizada, organizada pelos jesuítas em seus colégios a partir de 1553,

como a educação que se efetivou desde o primeiro contato dos povos nativos com o

europeu, onde já aconteceu um aprendizado. Além de aprender na catequese os dogmas

e determinações morais da Igreja Católica, os indígenas também aprendiam nas missões

jesuíticas a viver naquele novo contexto, onde a vida era produzida e reproduzida de

forma completamente diferente daquela sociedade em que viviam até então. A

sociedade fundada no trabalho aos poucos se impunha pelo processo colonizador, o que

exigiu dos povos nativos novas práticas sociais e modos de pensar e produzir a vida.

Não fazia parte da forma indígena, de modo geral, de produzir a vida, por exemplo,

acumular. Com a instalação de uma nova forma de entender e reproduzir a vida, os

europeus legaram aos índios não a completa negação dos seus costumes, mas a

incorporação de novos. Essa incorporação de novos costumes, podemos chamar de

aculturação.6 A nova organização econômica e social implantada na empresa colonial

pelos colonizadores europeus, exigiu dos povos nativos uma integração à nova

sociedade que aqui se formava. Aqui reside o terreno de amplas discussões feitas

sempre que se faz referência à educação jesuítica no Brasil-colônia. A educação escolar

jesuítica não deve ser o horizonte de uma pesquisa que procura entender a história da

educação no Brasil a partir da ação dos jesuítas. Antes mesmo de fundar colégios, os

jesuítas atuaram na catequese indígena, e também contribuíram, quer com suas cartas,

poemas, sermões ou peças de teatro, para a formação da cultura brasileira. Assim, sob

uma perspectiva mais ampla de educação, podemos afirmar que não somente a prática

escolar dos padres jesuítas tem relevância para um estudo na área de educação. Mais

que isso, a ação cultural e econômica dos jesuítas no Brasil-colônia teve papel

importante na formação da própria cultura brasileira.

Os estudos que têm por tema a ação da Companhia de Jesus, seja na Europa ou

no Brasil, estavam impregnados ou de paixão ou de repulsa. Assunção (2004) traz um

panorama das discussões travadas acerca do duvidoso rigor científico das primeiras

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análises sobre os padres jesuítas.7 Este autor destaca a escassez de produções acerca da

ação da Companhia de Jesus que não estejam ligadas às correntes do antijesuitismo, a

partir do século XVIII, ou às análises apaixonadas, geralmente feitas pelos próprios

membros da Ordem, quer contemporâneos a nós, quer contemporâneos aos padres que

atuaram no período colonial.8 No princípio do século XX, os debates eram polêmicos:

de um lado, uma literatura que defendia a construção da modernidade no século XVI a

partir da ação da Companhia de Jesus no mundo, do outro, autores que acreditam que os

jesuítas eram representantes do mundo medieval, da escolástica, portanto, sinônimos de

atraso. O autor segue afirmando que “uma onda antijesuítica na Europa efervescia e

causava discussões calorosas no meio intelectual e político; discursos apaixonados e

exaltados ganhavam os jornais, estimulando o debate (...)” (ASSUNÇÃO, 2004, 18).9

Não é possível negar a construção da modernidade e a ação da Companhia de Jesus

como um grande contributo, especialmente na área de educação. A ordem já nasceu

moderna na Europa, e atribuir o “atraso” a essa ordem foi inclusive um dos pretextos do

Marquês de Pombal para a expulsão dos jesuítas do Brasil no ano de 1759. No Brasil,

atuou de forma incisiva para a conformação de uma lógica capitalista no tocante à

produção material. Como uma ordem que contribuiu para a instalação no Brasil de uma

nova lógica, a do mundo do trabalho, lógica esta carregada de modernidade, pode ser

legada a ser uma ordem com ideais medievais?10 Além disso, houve com os jesuítas

inovações que diferenciavam a Companhia de Jesus das outras ordens medievais: não

era uma ordem que pregava a clausura, ao contrário, apresentou-se como uma ordem

missionária; além disso, tinha um voto a mais que as ordens medievais, o quarto voto,

de obediência máxima ao papa.11

TEATRO: arte e instrumento pedagógico

Devemos considerar que José de Anchieta enquanto ainda vivia e estudava na

Europa teve contato com o teatro humanista, mas também com o teatro medieval, que

ainda persistia com temas cristãos. Para entender o estilo literário de Anchieta, bem

como a estrutura de suas peças, faz-se necessário entendermos o teatro enquanto arte e

também enquanto instrumento pedagógico, bem como a função que este assumiu

historicamente, principalmente o teatro medieval.

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Tanto na antiguidade clássica quanto na Idade Média o teatro desempenhou uma

função que não era estritamente o entretenimento. Antes, podemos constatar sua função

social e política. Tanto na sociedade greco-romana quanto na sociedade medieval, o

teatro representava a ridicularização de uma sociedade que lutava para se manter

coerente. Durante a Idade Média houve um estilo teatral bastante difundido e utilizado:

o auto. Geralmente estes eram apresentados em praças, igrejas, ou mesmo nos castelos

para reis e sua corte. Neste cenário, encontramos importante representante de tal estilo,

Gil Vicente, que influenciou o estilo de Anchieta. Há muito que encontrar do estilo

vicentino nas obras de Anchieta. A seguir iremos analisar brevemente o teatro enquanto

instrumento pedagógico, bem como seus objetivos, sempre pressupondo sua ligação

com o projeto político-pedagógico dos jesuítas.

A pedagogia jesuítica utilizou com muita freqüência o recurso do teatro tendo

como objetivo a catequese e a instrução. Em todos os colégios e escolas da Companhia,

as referências ao teatro como parte da educação são freqüentes. Nas terras do Brasil, na

Europa, ou, em qualquer lugar onde houvesse uma instituição escolar jesuítica, o teatro

foi utilizado e muito discutido:

(...) os jesuítas não inventaram o “drama escolar”, mas o cultivaram num nível especialmente alto por um longo período de tempo, numa vasta rede de colégios quase ao redor do mundo. Envolveram-se com o drama, poucos anos depois de abrir o colégio de Messina. (O’MALLEY, 2004, p. 348)

Podemos observar que, em todo o mundo, o teatro já era utilizado como instrumento

pedagógico nos colégios da Companhia de Jesus muito antes de Anchieta escrever seu

primeiro auto e continuar a catequizar utilizando-o.12

Isto nos mostra a coerência interna e a rigidez hierárquica da própria ordem, e

que havia uma regra maior que regulamentava o ensino. Para regulamentar o ensino

nos colégios jesuíticos, foi elaborada a Ratio Studiorum, um conjunto de normas

elaboradas com a finalidade de ordenar as atividades, funções e os métodos de

avaliação nas escolas jesuítas. 13 Não estava explícito no texto o desejo de que a Ratio

Studiorum se tornasse um método inovador que influenciasse a educação moderna,

mesmo assim, foi ponte entre o ensino medieval e o moderno.14 Antes do documento

em questão ser elaborado, a Ordem tinha suas normas para o regimento interno dos

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colégios, os Ordenamentos de Estudos, que serviram de inspiração e ponto de partida

para a elaboração da Ratio Studiorum.

O maior objetivo de Anchieta ao trazer até os pátios dos colégios jesuíticos e das

igrejas a representação teatral, era o da catequese, tanto dos nativos quanto dos

colonizadores. O contexto colonial do Brasil não possibilitava que, como acontecia na

Europa, o texto de teatro fosse todo em latim. Desta forma, fica mais visível a razão

pela qual Anchieta utilizou em seus autos até mesmo quatro idiomas: o latim, o

português, o espanhol e o tupi, maneira direta de atrair o principal público dos

missionários, os indígenas. Para conseguir atrair ainda mais seu público-alvo, Anchieta

escrevia seus autos unindo temas e personagens indígenas e europeus, e também unindo

os deuses indígenas e o Deus da religião católica, juntamente com todos os outros

santos. No decorrer da análise das peças, tal ligação aparecerá de forma mais clara, bem

como a participação das tribos nativas nas representações, geralmente apresentadas em

dias de festa. Anchieta, bem como outros jesuítas, observou algumas manifestações

ritualísticas dos índios, e utilizou aquela linguagem, tanto musical quanto corporal em

seus autos.

Com a discussão que se segue, poderemos entender um pouco da vida de José de

Anchieta e de sua formação, ou seja, sua época histórica que influenciou em sua atuação

junto aos índios no período colonial brasileiro.

ENTRE O MEDIEVAL E O MODERNO

José de Anchieta, nascido nas Ilhas Canárias, fez sua formação superior na

Universidade de Coimbra. Foi no período de maior efervescência das idéias humanistas,

período este de transição da sociedade medieval para a sociedade moderna, que José de

Anchieta estudou no Colégio de Artes (HERNANDES, 2001, 10). Teve professores

como Diogo de Teive, renomado humanista, e também dramaturgo, que escrevia peças

com temas bíblicos, no entanto, inspirados nas tragédias e comédias greco-romanas. No

quadro de oposição entre o teatro medieval e o humanista, entre o medieval e o

moderno, podemos inserir, com certeza, o teatro anchietano. Com apenas dezessete

anos, neste período, Anchieta se revelava um homem do seu tempo, e sofreu forte

influência do teatro de Gil Vicente, poeta e teatrólogo português.

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Chegou ao Brasil em 1553, onde viveu até a sua morte. Em 1554, participou da

fundação do colégio da Vila de São Paulo de Piratininga, núcleo da futura cidade que

receberia o nome de São Paulo. Exerceu cargos de comando na Companhia de Jesus em

São Paulo de Piratininga, São Vicente, Vitória e Rio de Janeiro. Viajou por toda a costa

brasileira, onde aprende a língua tupi, tendo inclusive escrito vários de seus textos nessa

língua, além de uma gramática da língua.

Na preocupação de catequização, propósito maior da ação da Companhia de Jesus

na colônia, José de Anchieta compôs versos, discursos, textos históricos, cartas (que são

hoje valiosos documentos para o estudo da história do Brasil e da filosofia educacional

dos jesuítas), e, o que interessa especialmente neste projeto: peças de teatro. Tendo

produzido como o fez, Anchieta é visto pelos estudiosos da literatura brasileira,

conforme afirma Moisés (1977, p. 32-47), como um de seus fundadores. E no que diz

respeito ao teatro, Prado (1999, p. 17-18) afirma que José de Anchieta foi o primeiro a

escrever peças e com certa regularidade.

Podemos perceber ao ler sua breve biografia que foi o teatro medieval quem trouxe

às encenações temas cristãos, aliados a temas sociais e políticos. Seu primeiro contato

com o teatro foi em Coimbra, com as obras de Gil Vicente e sua escola e, por este

motivo, a métrica, prosódia e mesmo suas idéias eram parecidas com as da escola

vicentina. Então, quando chegou ao Brasil e observou o gosto dos índios por danças,

cantos e espetáculos, surgiu uma possibilidade: catequizar os índios adaptando sua

própria crença. A partir de então, a inspiração de Anchieta se desmembrou e, além da

escola vicentina, inspirou-se no contexto indígena.

Cardoso (1977) em sua obra identifica tal ligação entre o estilo de Anchieta e de

Gil Vicente. O estilo anchietano era simples e a influência da cultura católica

portuguesa pode ser notada inclusive, na freqüência de personagens como: o diabo e

anjos. Eles cumpriam o papel de diversão, amedrontamento, catequese, enfim, os

valores católicos dos quais a Companhia de Jesus era zelosa guardadora, formuladora, e,

propulsora, uma vez que veio ao Brasil como ordem oficial da Coroa Portuguesa com

um duplo objetivo: catequizar os índios e instruir os colonos. As peças escritas por

Anchieta e reunidas por Cardoso (1977) servirão de fonte para a análise, de um

panorama geral, da pedagogia jesuítica, tendo em vista sempre sua significação para a

formação dos homens do Brasil colonial.

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ANÁLISE DAS PEÇAS

Conforme vimos, José de Anchieta entrou em contato com as obras de Gil

Vicente quando estudou no Colégio de Artes em Coimbra. Gil Vicente escrevia suas

obras com o objetivo de divertir a corte portuguesa. Por ser um homem que presenciou a

transição do medieval para o moderno – assim como Anchieta – em suas obras estão

presentes conflitos ideológicos, pois, se por um lado levantava críticas à sociedade

burguesa-mercantil, por outro ainda seguia o pensamento conservador medieval,

presente devido à busca do religioso. Através de suas farsas, recheadas de ironias, Gil

Vicente fazia a sociedade rir de seus próprios costumes – mesmo os reis e príncipes –

além de possuir o prestígio dos reis D. Manuel e D. João III e de toda a sua corte

(SPECHOTO et al., 2001, 135). As obras de Gil Vicente dividem-se em obras de

devoção, farsas, obras miúdas (monólogos e paráfrases de Salmos), comédias e

tragicomédias. Segundo a temática, no entanto, dividem-se em autos, farsa e comédias

(Idem, ibidem, 14).

Os autos, de nosso interesse maior neste texto, são composições religiosas,

pastoris. Podemos notar que nestes autos há uma grande proximidade com o mundo

medieval, pois a temática reflete os valores daquele período, como as alegorias. A partir

da trilogia das barcas e do Auto da Alma pode-se notar, também, uma crítica social,

quando o papel do diabo é ridicularizar personagens de destaque na sociedade como o

Fidalgo, o Onzeneiro (Usurário) e o Frade.

Como em Gil Vicente, encontramos também em Anchieta a característica de

alegorizar temas cristãos, dando-lhes vida humana e voz. Podemos observar claramente

essa aproximação ao vermos, por exemplo, os nomes dados às personagens do Auto da

Alma e do Auto da Pregação Universal: Alma, Igreja e Dois diabos no primeiro e

Guaixará (diabo), Aimbiré (diabo) e Anjo no segundo. Outra semelhança, que vai além

das personagens, é a temática e o desenrolar da peça. Em ambas vemos o papel de

Cristo como redentor dos homens – temática cristã, no caso, católica – e a vitória do

bem sobre o mal. No caso de Anchieta, ao dar voz para essas alegorias era possível

mostrar na prática, sobretudo aos índios, o que Deus (e a igreja católica) esperava deles,

exercendo o papel da instrução destes na fé católica. Outro ponto a ser destacado é o

fato de que o teatro, bem como a música e as danças presentes, eram um atrativo para os

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índios, que se identificavam devido às adaptações feitas por Anchieta e viam

semelhanças com a sua própria cultura.15

Este trabalho se propõe analisar de maneira geral todas as peças de José de

Anchieta, que ao todo somam doze. Neste trabalho será dedicada mais atenção à análise

do Auto da Pregação Universal, que foi, segundo Cardoso (1977) o auto mais

representado na costa brasileira. Em seguida, as peças serão analisadas em ordem

cronológica. Conforme também foi afirmado, ao ser feita a análise dos textos de

Anchieta, paralelamente alguns serão comparados eventualmente com duas peças de Gil

Vicente: Auto da Barca do inferno (1517) e Auto da Alma (1518). Foram escolhidos

esses dois textos pelo fato de serem obras de devoção, autos, que é o mesmo estilo dos

textos teatrais de José de Anchieta.

O Auto da Pregação Universal foi o primeiro auto escrito por Anchieta, por

ocasião da comemoração do Natal de 1561. Este primeiro auto foi escrito em três

línguas, ou seja, em um mesmo texto encontramos a presença do português, do tupi e do

espanhol.16 A denominação “Universal” do título significa que este foi dirigido tanto

aos brancos quanto aos índios.

As personagens do auto nos deixam bem clara a união entre temas nativos e

europeus, entre a religião considerada “pagã”, dos indígenas e a religião do colonizador

europeu, a católica. Podemos observar, já nas personagens, que a participação dos

índios era fundamental para que recebessem a mensagem com maior ênfase. Outro

ponto a ser destacado é que as personagens que representavam os nativos eram meninos,

ou seja, eram as crianças indígenas o “alvo” principal da empreitada educacional dos

jesuítas em terras brasileiras. Quanto à utilização quase que estilizada de crianças índias,

esta fazia parte da estratégia geral dos padres jesuítas. O projeto era ousado: inverter a

ordem dos ensinamentos entre as comunidades indígenas, onde era valorizada a

sabedoria dos índios mais velhos. Ao atrair as crianças, os padres se informavam sobre

os seus costumes e, ensinando a eles uma nova religião e nova cultura, esperavam que

as novidades fossem transmitidas aos demais índios. O projeto unia, assim, educação,

cultura e catequese.17

Anchieta uniu em sua peça diabos com nomes indígenas (Guaixará e Aimbiré),

com um Anjo e também com a figura bíblica de Adão, ficando, portanto, demonstrada a

10

união, tantas vezes citada, entre a cultura indígena e a ocidental, feita por José de

Anchieta em suas peças teatrais.

A mensagem central de redenção contida no texto de Anchieta pode ser

entendida no último ato, quando o pelote domingueiro, ou seja, a graça de Deus é

devolvida aos homens com o nascimento de Jesus. A peça que partiu da idéia do pecado

original de Adão tem por desfecho a humanidade sendo redimida pelo nascimento do

filho de Deus. Por se tratar de um Auto encomendado para o Natal, o último ato é

encenado ao lado do presépio, onde Adão recupera a comunhão com Deus. Uma

mensagem clara e que exerce um papel fundamental na catequese, o de reforçar o

compromisso com Deus. Neste caso, a pregação já havia sido feita, os princípios

católicos já haviam sido apresentados tanto aos índios quanto aos colonos.

A segunda peça escrita por José de Anchieta foi o Auto de São Lourenço,

apresentado no ano de 1587 em Niterói. Tal auto é uma adaptação feita a partir do Auto

da Pregação Universal, e tem por novidade a presença de São Lourenço. O mártir desta

peça não é Jesus, como na Pregação Universal, mas sim São Lourenço. O santo aparece

também como aquele que salvou a aldeia dos demônios, os mesmos do primeiro auto:

Guaixará e Aimbiré. O ato inicial consiste no martírio de São Lourenço, diferente do ato

I da Pregação Universal, que, conforme vimos, tem início com o pecado original de

Adão. No entanto, a temática desenvolvida é a mesma: a luta do bem contra o mal. O

ato II pouco se difere entre um e outro auto, sendo o ato no qual os demônios invadem a

aldeia, aqui representantes dos costumes indígenas. Os versos 33-41 correspondem aos

versos 32-40 do primeiro auto. No último ato, é interessante perceber a personificação

das figuras: Temor de Deus e Amor de Deus. Podemos perceber clara influência de Gil

Vicente, que em sua obra o Auto da Barca do Inferno, personifica um anjo e um diabo,

possibilitando diálogos como esse:

ONZENEIRO: Para onde caminhais? DIABO: Oh! Que má hora chegais Onzeneiro meu parente! (GIL VICENTE, 2001, p. 75)

Assim como o diabo dialoga com personagens como o bispo, o fidalgo ou o onzeneiro,

assim também o faz o anjo.

Do Auto de São Sebastião restou no caderninho de Anchieta somente um

excerto, que corresponde ao quarto ato. Neste ato podemos novamente perceber a

11

personificação da figura do anjo, único personagem no trecho que se tem notícia.

Segundo Cardoso há uma possibilidade de que esse auto seja o mesmo descrito por

Fernão Cardim, por isso afirma que provavelmente foi escrito no ano de 1584 por

ocasião da vinda do visitador P. Cristóvão de Gouveia, para festejar o dia de São

Sebastião. Duplo motivo da encenação: um recebimento e o dia do padroeiro do Rio de

Janeiro, São Sebastião. O trecho que chegou até nós traz um anjo exaltando os feitos de

São Sebastião, sobretudo agradece pela proteção ao Rio de Janeiro.

Para entender a quarta peça de Anchieta é necessário contarmos a história do

personagem central, o P. Pero Dias. A peça intitulada Diálogo do P. Pero Dias Mártir

foi encenada em São Vicente ou em Salvador e narra o diálogo entre o padre jesuíta,

alunos do colégio, cantadores e Jesus Cristo. Junto com outros 14 jesuítas, o P. Pero

Dias zarpou em setembro de 1571 rumo ao Brasil. No entanto, foram atacados por João

Capdeville, que Cardoso (1977) frisa ter sido calvinista. Foram mortos doze dos

missionários, e esse martírio passou a ser comemorado no Brasil a partir de 1574. O

pano de fundo dessa peça é o martírio, mas vejamos qual foi sua finalidade. Mais uma

vez podemos dizer que a intensão de José de Anchieta, e aqui já podemos estar sendo

um pouco repetitivos, é a catequese. No entanto, estamos, por comparação, trazendo

uma unidade à obra de José de Anchieta por meio dessa análise. Utilizou-se do exemplo

de um mártir para passar a mensagem central do cristianismo: a de Jesus Cristo

Salvador dos homens.

O auto que se segue na coletânea é Na Aldeia de Guarapari. Segundo Cardoso

(1977, p. 204), essa é peça mais longa de Anchieta dentre as que foram escritas

exclusivamente em tupi. Por esse motivo, é também a que mais contém indianismos. É

dividida em cinco atos, e tem início e término com cantos e danças, comum nas peças

de Anchieta. Foi encenada na aldeia de Guarapari no Espírito Santo, provavelmente em

8 de dezembro de 1585, e foi encenada ao ar livre. Assim como no Auto da Pregação

Universal, essa peça inicia e termina com cânticos e danças. Os atos, de modo geral,

muito se parecem com o primeiro texto teatral de Anchieta, que nos atos centrais, ou

seja, no clímax da peça, temos um diálogo dos dois demônios condenando a prática dos

índios. Uma retomada temática pode ser abordada nesse auto em relação ao primeiro: a

condenação dos costumes indígenas. A crítica nesse auto, porém, feita à poligamia, é

mais direta (JOSÉ DE ANCHIETA, 1977, p. 217). A temática central do Auto da Alma é a

12

afirmação da imortalidade da alma, temática esta que também aparece no auto de

Anchieta em questão. Os dois últimos atos não são diálogos e são bem curtos.

Consistem na despedida das imagens das santas e na dança de dez meninos

respectivamente, despedida já conhecida na estrutura das peças de Anchieta, a da

despedida com canto e dança, assim como a mesma começou.

Além de serem encenadas para festejar padroeiros, as peças eram também

encenadas em recebimento de alguma autoridade. No caso da sexta peça escrita por

Anchieta, o Recebimento que fizeram os índios de Guarapari ao Padre Provincial

Marçal Beliarte, tal temática já está posta no próprio título. Foi encenada no ano de

1589 na aldeia de Guaraparim no Espírito Santo. Os personagens se repetem, bem como

a estrutura da peça. São as personagens um Índio, um Anjo, dois diabos, e, mais uma

vez, dez meninos que cantam e dançam no início e no final da peça. O primeiro ato é a

saudação ao padre Beliarte pelo indígena, seguido das boas vindas da aldeia. O padre é

introduzido a partir do discurso como um homem santo, um pastor desejado, um pai, um

regedor, um defensor e um vigário de Cristo.18 No segundo ato o diabo se dirige à igreja

criticando a visita do padre. Mesmo que esta peça não tenha sido escrita em mais de

duas línguas como o Auto da Pregação Universal, a mensagem aqui da catequese e da

crítica às práticas no Brasil-colônia são dirigidas tanto aos índios quanto aos brancos.

Pode-se identificar novamente a preocupação dos padres em manter os colonos

próximos da fé católica, sobretudo em terras tão distantes e com a ameaça de uma nova

fé: o protestantismo. A novidade presente neste auto está no terceiro ato quando quem

expulsa os diabos da aldeia é um índio guerreiro, e não santos ou mártires como nos

anteriores. Neste auto os diabos também não têm mais nomes de chefes indígenas. Na

fala do índio guerreiro dirigida ao diabo podemos encontrar a divindade indígena

Tupansy, a Lua, relacionada à Virgem Maria. Ao final do ato, o bem vence o mal, o

bem representado pelo índio convertido e o mal pelo diabo. A pedagogia do exemplo

poderia ser um instrumento eficiente, uma vez que os índios se reconheceriam na

personagem indígena, e da mesma forma, se manteriam na fé católica ou se

converteriam à mesma. A peça é finalizada com a dança dos dez meninos no quarto ato,

composta de dez estrofes, seguidas de uma música adaptada de uma cantiga popular do

século XVI. Era mais eficiente passar uma mensagem de forma lúdica, intenção de

Anchieta com os cantos e danças presentes em suas peças.

13

A sétima peça escrita por Anchieta foi escrita em comemoração ao dia da

assunção e foi intitulada Dia da assunção, quando levaram sua imagem a Reritiba. Foi

encenada em Reritiba, hoje Anchieta, no Espírito Santo, cidade fundada no

provincialato de Anchieta, provavelmente em 15 de agosto de 1590. De acordo com a

estrutura das outras peças, este texto teatral composto de cinco atos tem início com um

coro de meninos para receber a imagem no porto. O cenário também se repete: primeiro

ao ar livre, iniciando no porto, passando pelo adro da Igreja e terminando dentro da

igreja (CARDOSO In: JOSÉ DE ANCHIETA, 1977, p. 248-249). As personagens são o

Anjo protetor da aldeia, um coro de meninos, Diabo com demônios que o acompanham,

seis selvagens dançando e dois índios civilizados dançando. Gostaríamos de atentar para

os dois últimos grupos de personagens, que dançam no terceiro e quarto atos. Anchieta

na letra cantada pelos índios mostra o desejo dos mesmos em se converter. Na fala dos

índios já convertidos, civilizados, encontramos devoção à Maria e pedidos de proteção.

Suas falas são mais uma oração, que preparam a passagem para o quinto e último ato, o

momento da despedida com mais uma adaptação de uma cantiga popular.19

A oitava peça de Anchieta foi escrita também em virtude da visita de uma

autoridade, neste caso, do padre Bartolomeu Simões Pereira. Intitulada Recebimento do

administrador apostólico P. Bartolomeu Simões Pereira, esta peça é um texto curto,

baseado em outra recepção de autoridade, aquele analisado anteriormente, por ocasião

da chegada do provincial P. Beliarte. Sua vinda tinha por objetivo crismar índios já

batizados: “Por isso a peça se chama também Auto da Crisma.” (CARDOSO In: JOSÉ

DE ANCHIETA, 1977, p. 259). Foi encenada possivelmente em fins de 1591 ou

princípios de 1592 em uma aldeia indígena do Espírito Santo. Por se tratar de um

recebimento, assim como o ato inicial de recebimentos de imagens, este auto tem início

no porto, onde cinco meninos saúdam o visitante com música. Mais uma vez o texto de

Anchieta contém a junção dos deuses indígenas com a doutrina católica, quando a mãe

de Deus é chamada de mãe de Tupã (JOSÉ DE ANCHIETA, 1977, p. 266).

Mais um recebimento está entre os textos teatrais de José de Anchieta. Em

Recebimento do P. Marcos da Costa, oitavo texto a ser analisado neste trabalho, o

intuito de Anchieta era o de que os visitantes se interessassem pelas missões indígenas.

(CARDOSO In: JOSÉ DE ANCHIETA, p. 268-269). Mais curto que os autos de

recebimentos anteriores, queria causar uma boa impressão, mostrando a conversão dos

14

povos indígenas. Foi encenado em Reritiba no início de 1596, e teve por cenário o porto

e o adro da igreja. Difere-se dos outros autos já analisados por não haver a presença de

alegorias. São os personagens somente meninos índios. Após a recepção usual no porto,

o tema central consiste em um diálogo entre quatro meninos, um deles vestidos de

marinheiro. Um diálogo entre os quatro meninos exalta as virtudes do padre Marcos da

Costa. A temática bem versus mal aparece de forma tangencial nesta peça de Anchieta,

mesmo assim ela se faz presente, até mesmo por que o objetivo central de Anchieta com

seus textos era a catequese.

A décima peça foi representada por ocasião da chegada da relíquia das onze mil

virgens. Este auto intitulado Quando no Espírito Santo se recebeu uma relíquia das

onze mil virgens, segundo Cardoso (In: JOSÉ DE ANCHIETA, 1977, p. 276), foi

chamado comumente de Auto de Santa Úrsula, uma vez que a mesma foi uma das

virgens mártires mortas na Alemanha. Pela primeira vez temos conhecimento do nome

de um dos atores de uma encenação; seria este ator João de Souza Pereira, que teria

encenado outra peça de Anchieta em São Vicente em 1577. Esta peça foi mais uma das

muitas adaptações da encenação de São Vicente que não foi conservada, mas que foi

descrita por Cardim em suas cartas. É possível fazer tal afirmação uma vez que,

conforme as cartas de Cardim, o prólogo e o epílogo iniciados com Cordeirinha Linda,

se repetiam em outras encenações (CARDOSO In: JOSÉ DE ANCHIETA, 1977, p.

277). Provavelmente foi encenada no ínicio de 1595 na vila de Vitória no Espírito

Santo, e teve por cenário, assim como a maioria, o porto e o adro da igreja de S. Thiago.

Como era comum em autos medievais, aparecem neste auto como personagens alguns

santos da Igreja. Gil Vicente em seu Auto da Alma também utilizou santos como

personagens. Enquanto no auto vicentino participam dos diálogos Santo Agostinho,

Santo Ambrósio, São Jerônimo e São Tomás, no auto anchietano estão presentes São

Vital, São Maurício e Santa Úrsula. Composto de cinco atos, destaca-se os versos que

iniciam e terminam a peça, muito conhecidos e considerados como poesia brasileira por

muitos manuais de literatura destinados ao Ensino Médio no Brasil (JOSÉ DE

ANCHIETA, 1977, p. 278). Cordeirinha linda é uma canção composta por Anchieta, e tais

versos compõem tanto a recepção da relíquia de uma das mil virgens no porto quanto a

despedida da mesma, no último ato. O quarto ato é um diálogo entre São Maurício e São

Vital, que mostra um pouco da situação do século XVI em relação às invasões que a

15

colônia sofria. Pode-se ler nos versos 228-232 uma referência à algumas dessas

invasões no século XVI. Freqüentes eram as invasões francesas e inglesas na América

portuguesa e também na espanhola, mesmo após da instalação no Brasil do governo-

geral e das capitanias hereditárias. Apesar de ter sido pioneiro nas grandes navegações,

Portugal sofreu com os ataques de outros povos que não concordavam com a divisão do

mundo entre portugueses e espanhóis pelo Tratado de Tordesilhas. No último ato os

atores entram na igreja se despedindo da relíquia, e como de costume nos textos de

Anchieta, a despedida consiste em um canto. Outro ponto destacado por Cardoso (1977,

p. 284) é o uso de expressões em latim, conhecidas por toda a população, característica

esta também presente em Gil Vicente.

A décima peça escrita por José de Anchieta foi Na Vila de Vitória ou Auto de

São Maurício, foi provavelmente apresentada em 22 de setembro de 1595, e é a mais

extensa (contém 1674 versos) e a melhor elaborada de todos os autos anchietanos

(CARDOSO In: JOSÉ DE ANCHIETA, 1977, p. 286). Essa peça teria um especial

significado, uma vez que a vila de Vitória havia recentemente expulsado corsários

franceses e ingleses, bem como passado por um período de seca e ataques de índios

(CARDOSO In: JOSÉ DE ANCHIETA, 1977, p. 285). Na época, Anchieta era Superior

no Espírito Santo, e a capitania passava por um momento particularmente agitado

devido à um problema de sucessão. Outros personagens também foram inspirados nesse

contexto, por exemplo, o Bom Governo é a personificação de Azeredo e, o embaixador

do Paraguai, inspirado no partido de Filipe II. Pode-se perceber outra questão que

envolvia esse contexto histórico, a União Ibérica (1580-1640). Por esse motivo Filipe II,

rei da Espanha, reivindicava o direito de tomar posse da capitania, uma vez que, com a

junção dos reinos da Espanha e de Portugal, a Espanha passou a comandar também as

colônias além-mar portuguesas. Mais que no Auto da Pregação Universal, neste auto

Anchieta utilizou o recurso da personificação, não somente os já citados, mas também

as personagens Temor e Amor de Deus. Esse auto trata da temática do bem que vence o

mal, mas não traz muitos elementos da cultura indígena. Relata mais a confusão política

da vila e atribui às mesmas aos feitos de Lúcifer. Não consiste aqui em ensinar os

índios, mas sim os colonos, os habitantes da vila, a passarem por aquela crise. Parece

coerente afirmar que outra indicação desse dado é o fato de que esse auto foi escrito

somente em português e castelhano, não tendo a presença do tupi.

16

Seguindo em nossa discussão, cabe neste ponto voltarmo-nos à última peça que

nos propusemos a analisar. Anchieta escreveu Na Visitação de Santa Isabel um mês

antes de sua morte. Temos, portanto, a indicação de que Anchieta compôs até os seus

últimos dias. Essa peça não foi escrita em várias línguas, como as outras, mas somente

em castelhano. Foi escrita a pedido da Confraria da Misericórdia de Vila Velha, para

que fosse representada em sua capela. A peça foi representada em Vila Velha do

Espírito Santo, no dia 2 de julho de 1597, no Adro da Igreja do Rosário de Vila Velha.

Na pessoa do romeiro ele se despede e encontra conforto para a hora de sua morte na

Virgem Maria e em seu amparo. Cardoso (1977) destaca a aproximação com os autos de

Gil Vicente, pelo fato de não haver distinção entre os atos da peça, Na Visitação de

Santa Isabel termina com o mesmo mote que a começou. Tal característica nos revela

mais uma marca dos autos de Gil Vicente na escrita de Anchieta. Mais que a intenção

da catequese, foi um momento no qual Anchieta demonstrou sua devoção particular. A

preocupação nessa peça claramente pode ser percebida não como o da catequese. Mas

sim, era o momento no qual Anchieta era o próprio romeiro, era uma oração pessoal.

Mesmo assim tem função pedagógica, a pedagogia do exemplo. Mesmo à hora da

morte, enfermo, José de Anchieta poderia ser tomado como exemplo de como deve agir

um cristão, ainda que em uma situação difícil.

De modo geral, as peças de Anchieta possuem uma estrutura parecida, e

objetivavam a catequese dos índios ou a instrução dos colonos. Ou seja, formar o

homem que atuaria naquele momento histórico, que contribuiria para o projeto

colonizador era sua intenção. Diferente de Gil Vicente, que utilizou seu teatro para

contestar os costumes de uma sociedade, ridicularizando-a, Anchieta escreveu suas

peças para educar, visando a manutenção de um projeto maior: o projeto colonizador

português. Não nos esqueçamos que os jesuítas aqui estavam como ordem oficial da

coroa portuguesa e Estado e Igreja estavam ligados pelos laços do padroado.

CONCLUSÃO

As discussões contidas neste trabalho não tinham o intuito de esgotar o estudo

do teatro de José de Anchieta, mas sim levantar alguns pontos mais gerais, alguns

indicados pelo padre Armando Cardoso, outros observados no decorrer da pesquisa.

Não é possível entender o texto de Anchieta sem entender o homem Anchieta, que

17

viveu em um século de transição, de transformação, desta forma, ainda muito ligado ao

período anterior. Pode-se encontrar em seus textos, nesse caso específico, em suas peças

de teatro, elementos que mostram tal transição. Um exemplo que podemos citar é o fato

de utilizar línguas vulgares, característica moderna, e, em uma mesma peça de teatro,

utilizar a temática medieval do bem versus o mal. A junção de características medievais

e modernas foi acrescida de características do Brasil-Colônia, principalmente no que diz

respeito aos costumes indígenas incorporados tantas vezes por Anchieta em seus

escritos. O costume indígena que mais aparece em seus textos é o de receber com festa

visitantes considerados amigos. Tal costume aparece aliado ao gosto indígena pelo

canto, dança, adornos de penas e plumas, além de pinturas corporais.

Em todos os autos de José de Anchieta encontramos, ainda que de forma

tangencial, o tema medieval da luta entre o “bem e o mal”. Anchieta estava mostrando

por meio dessas encenações aos índios, sobretudo, que a vida que eles levavam antes de

conhecerem os jesuítas e a religião católica era uma vida de pecado e que seus

“professores” os teriam libertado de seus vícios através da catequese. Também em todas

as peças a figura da sagrada família foi utilizada por Anchieta para formatar uma nova

organização das tribos, estabelecer diferentes laços de parentesco.

A expansão marítima portuguesa se deu no contexto mercantilista, e foram

imbuídos deste ideário que os colonos vieram para cá, bem como a Companhia de Jesus.

Nas missões, com a catequese, mas também no cotidiano, os índios aprendiam uma

nova forma de produzir sua vida. A catequese tinha um fim, e este fim estava inserido

em um contexto muito mais amplo que a atuação dos jesuítas na conversão dos nativos

à fé católica, o processo colonizador português. Existia a preocupação em docilizar os

povos indígenas para que certa ordem, de acordo com a nova lógica estabelecida, fosse

obedecida. E não há ordem sem subjugação. Podemos afirmar que a catequese, além de

dominar moralmente, dentro do processo colonizador cumpriu a função da manutenção

da ordem social estabelecida ao amansar e domesticar os índios, quer na doutrina

católica, quer no novo ritmo de trabalho introduzido pelos portugueses. Para a

manutenção daquela sociedade era necessário também manter os colonos que aqui se

estabeleceram ligados à igreja católica. Mesmo que com menos ênfase em relação à

mensagem aos índios, há nos textos de Anchieta a preocupação em pregar para os

colonos e seus filhos.

18

Fica clara neste trabalho também a influência de Gil Vicente nos textos teatrais

de José de Anchieta, bem como a temática medieval, já mencionada acima a título de

exemplo, do bem versus o mal. A personificação das personagens, o estilo do texto,

geralmente autos, a última peça de Anchieta sem divisões em atos e o fato de iniciar e

terminar uma peça com o mesmo verso, além da métrica das rimas, todas elas

características encontradas nos textos de Gil Vicente e de José de Anchieta. Tanto Gil

Vicente quanto José de Anchieta tem um estilo simples na escrita de seus textos. As

peças de Anchieta são simples no tocante à escrita, ao estilo, entretanto, não há

ausência de um estilo literário, por ser muito parecido com o de Gil Vicente, que é

considerado um dos expoentes do teatro ibérico quinhentista. Assim como Gil Vicente

ridicularizava os costumes da corte em suas peças, o padre Anchieta condenava os

costumes indígenas. Todavia, em José de Anchieta temos com o objetivo maior, o da

catequese, a manutenção de uma ordem nascente. A essas características, somam-se as

adaptações feitas por Anchieta para tornar o teatro um eficiente instrumento

pedagógico, como a utilização de mais de uma língua em suas peças, em quase todas

com a presença do tupi, inclusive com algumas delas exclusivamente escritas em tupi,

como é o caso do auto Na Vila de Guarapari, o canto, a dança, pinturas corporais e

adornos com plumas e penas. Tudo isso aliado ao costume indígena dos recebimentos,

muito utilizado por Anchieta, tanto para receber figuras políticas quanto relíquias

religiosas. Além do mais, em suas peças os personagens que representam os índios

convertidos são crianças, principal objeto da catequese jesuítica. Conforme vimos,

pode-se considerar tal utilização dos meninos índios para passar a mensagem já

aprendida aos mais velhos uma inversão, uma vez que na sociedade indígena a tradição

é passada dos mais velhos para os mais jovens.

Deve-se considerar que mesmo com as particularidades apontadas em cada

texto, todos eles estão inseridos em um mesmo contexto e, ainda que sejam distintos no

tocante ao estilo, trazem como objetivo principal a catequização do índio e, em menor

escala, procura manter os colonizadores ligados aos dogmas da religião católica. A

intenção desse jesuíta foi utilizar o teatro como um recurso pedagógico, aliando-o aos

gostos indígenas pela dança e pelo canto, além das roupas coloridas e da pintura

corporal. José de Anchieta encontrou no teatro um instrumento eficaz, no caso do

19

Brasil, para colocar em prática os ideais da Companhia de Jesus e, é necessário

acrescentar, para o sucesso da ação colonizadora portuguesa.

NOTAS 1 Aluna do Mestrado em Educação da Universidade Estadual de Maringá, Fundamentos da Educação. Endereço eletrônico: [email protected]. Endereço: Praça Nossa Senhora Aparecida, 64 fundos, Vila Esperança. 87020-790. Maringá – Paraná – Brasil. Fone: (44) 3246-7218. 2 Professor Dr. do Departamento de Fundamentos da Educação e do Mestrado em Educação da Universidade Estadual de Maringá – Paraná - Brasil. Endereço: Rua Saldanha Marinho 870, Apto. 301. Zona 07. 87030-070 Maringá -PR. Brasil. Fone: 44-263-2288. Endereço eletrônico: [email protected] 3 RUCKSTADTER, Vanessa Campos Mariano. José de Anchieta: teatro e educação no Brasil-Colônia. 4 Tal volume foi destinado a discussões na área da história da educação no período colonial – séculos XVI e XVIII. É este também o período da presença jesuítica no Brasil – 1549 – 1759. 5 Vale lembrar aqui que as escolas são instituições modernas, portanto recentes. De modo geral, foi somente a partir da revolução burguesa na França que a educação financiada pelo Estado deveria ser oferecida para todos de forma gratuita. Ver mais sobre o assunto em LEONEL, Zélia. Contribuição à história da escola pública: elementos para a crítica da teoria liberal da educação. 6 Sobre a discussão das diversas explicações do conceito aculturação ver a obra de CUCHE, Denis. A noção de cultura nas ciências sociais, especialmente o quarto capítulo. 7 O primeiro a elaborar uma História da Companhia de Jesus no Brasil (1949), foi Serafim Leite, que reuniu em dez volumes, estudos sobre a atuação da Companhia de Jesus, bem como compilou importantes documentos antes dispersos por vários arquivos, como por exemplo, o Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Portugal, o Arquivo Histórico Ultramarino também em Portugal, o Arquivo Nacional e a Biblioteca Nacional, no Rio de janeiro, entre outros. Por este motivo, tal autor é considerado referência obrigatória a todo aquele que estuda os jesuítas no Brasil. 8 Para exemplificar, podemos destacar, por exemplo, as duas primeiras biografias de José de Anchieta feitas por dois de seus contemporâneos. Uma delas é a biografia escrita em 1599, logo após a morte de Anchieta por CAXA, Quirício (SJ). Vida e morte do padre José de Anchieta. A outra foi escrita de 1604 a 1609 por RODRIGUES, Pero (SJ.). Pe. Anchieta. As duas biografias são intencionalmente escritas após a morte de Anchieta com o intuito de acelerar o processo de beatificação do padre, beatificação esta que foi concretizada em 1980 pelo papa João Paulo II. 9 Ver mais sobre este debate em: Assunção, P. de. Negócios jesuíticos, p. 17-26. 10 Os grandes descobrimentos estão inseridos em um processo de consolidação do modo capitalista, que em tal período era sobretudo comercial. Ao período de consolidação do modo capitalista, e juntamente da ascensão da burguesia, chamamos modernidade. Claro que não podemos legar à modernidade uma característica econômica somente. Um dos principais aspectos a ser considerado é a quebra do paradigma medieval, dando lugar à cientificidade, baseada, sobretudo, no método científico. Ver mais sobre em THEODORO, Janice. Descobrimentos e Renascimento, 1997. 11 Estas duas características foram importantes para a expansão da fé católica dentro do ideal da chamada Contra-reforma católica, movimento este essencialmente moderno. A Contra-reforma católica foi um meio tanto de deter a propagação do protestantismo pelo mundo, quanto de propagar a fé católica, principalmente no novo mundo. Ver mais sobre este assunto na obra de DANIEL-ROPS, Henri. A Igreja da Renascença e da Reforma, 1999. Tal obra traz uma importante discussão acerca do significado do conceito Contra-Reforma. Segundo tal autor a Igreja Católica não fez reformas somente a partir do momento da ruptura da cristandade ocidental, mas sim, ao longo de toda sua história. 12 O padre jesuíta português Luís da Cruz escreveu também peças de teatro no século XVI em Portugal. Sobre o teatro jesuítico em Portugal, veja-se: MELO, A. M. M. Teatro jesuítico em Portugal no século XVI: a tragicomédia Iosephvs do P.e (sic) Luís da Cruz, S. J. 13 Sua primeira edição, de 1599, além de sustentar a educação jesuítica ganhou status de norma para toda a Companhia de Jesus. 14 Cf.: ARNAUT DE TOLEDO, Cézar de Alencar. Razão de estudos e razão política: um estudo sobre a Ratio Studiorum. In: Acta Scientiarum, 22, 1, p. 181-187, 2000. 15 A utilização do teatro era muito comum na Península Ibérica durante toda a Idade Média A respeito do teatro religioso medieval na Península Ibérica veja-se GIMENEZ, José Carlos. Imagens da sociedade

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medieval castelhana através das representações dramáticas, especialmente p.18-32. LE GOFF, Jacques. A civilização do ocidente medieval, volume II, p. 346. 16 Hessel e Raeders (1972) em sua obra O Teatro Jesuítico no Brasil levantam uma dúvida quanto à autoria do Auto da Pregação Universal ser de José de Anchieta. p. 35-36. 17 Veja-se CHAMBOULEYRON, Rafael. Jesuítas e as crianças no Brasil quinhentista. In: DEL PRIORI, Mary (org.). História das crianças no Brasil. p. 55-83. 18 Mesmo não sendo pretensão deste breve texto analisar a métrica dos textos, Cardoso mostra que Anchieta tinha conhecimento de rimas e métrica (In: JOSÉ DE ANCHIETA, 1977, p. 238). 19 Anchieta em seus textos rima em tupi, seguindo uma métrica adaptada (CARDOSO In: JOSÉ DE ANCHIETA, 1977, p. 257). REFERÊNCIAS ARNAUT DE TOLEDO, C. A. “Razão de estudos e razão política: um estudo sobre a Ratio Studiorum.” In: Acta Scientiarum, 22, 1, p. 181-187, 2000. ASSUNÇÃO, P. Negócios Jesuíticos. São Paulo: Edusp, 2003. CARDOSO, A. Introdução e notas. In: JOSÉ DE ANCHIETA. Obras Completas de José de Anchieta. 3° volume. São Paulo: Loyola, 1977. p. 07-114 CAXA, Q.; RODRIGUES, P. Primeiras Biografias de José de Anchieta. Introduções e notas do Pe. Helio Abranches Viotti, (S. J.). São Paulo: Loyola, 1988. CHAMBOULEYRON, R. Jesuítas e as crianças no Brasil quinhentista. In: DEL PRIORI, M. (Org.). História das crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 1999, p.55-83. CUCHE, D. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: Edusc, 1999. DANIEL-ROPS, H. A Igreja da Renascença e da Reforma. São Paulo: Quadrante, 1999. GIL VICENTE. Farsa de Inês Pereira, Auto da Barca do Inferno e Auto da Alma. Introd. e notas de Cristina Spechoto et al. São Paulo: Martin Claret, 2001. p. 13-16 GIMENEZ, J. C. Imagens da sociedade medieval através das representações dramáticas. 127f. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Humanas e Letras da Universidade Estadual Paulista. Assis, 1995. HERNANDES, P. R. O Teatro de José de Anchieta: arte e pedagogia no Brasil colônia. 137f. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação, UNICAMP. Campinas, 2001. HESSEL, L.; RAEDERS, G. O Teatro Jesuítico no Brasil. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1972. JOSÉ DE ANCHIETA. Obras Completas de José de Anchieta. 3° volume. São Paulo: Loyola, 1977. LACOUTURE, Jean. Os jesuítas. 1. Os conquistadores. Porto Alegre: L&PM, 1994 LE GOFF, Jacques. A civilização do ocidente medieval. v. II. Lisboa: Editorial Estampa, 1984. LEONEL, Z. Contribuição à história da escola pública: elementos para a crítica da teoria liberal da educação. 258f. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação, Unicamp, Campinas, 1994. MELO, A. M. M. Teatro jesuítico em Portugal no século XVI. Braga: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004. O’ MALLEY, J. W. Os primeiros jesuítas. São Leopoldo: UNISINOS; Bauru: Edusc, 2004. PRADO, D. de A. História Concisa do teatro brasileiro. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial, 1999.

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RUCKSTADTER, Vanessa Campos Mariano. José de Anchieta: teatro e educação no Brasil-Colônia. SPECHOTO, C. et alii. Introdução e notas. In: GIL VICENTE. Farsa de Inês Pereira, Auto da Barca do Inferno e Auto da Alma. São Paulo: Martin Claret, 2001. p. 13-16. STEPHANOU, M.; BASTOS, M. H. C. (orgs.). História e memórias da educação no Brasil. Petrópolis, volume 1: Vozes, 2004. THEODORO, J. Descobrimentos e Renascimento. São Paulo: Contexto, 1997.