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O TESTEMUNHO DO SENHOR e a Necessidade do Mundo

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O TESTEMUNHODO SENHOR

e a Necessidade do Mundo

O TESTEMUNHODO SENHOR

T. AUSTIN-SPARKS

e a Necessidade do Mundo

Traduzido do original em inglês:The Lord’s Testimony & the World Need

© 1994 by: Stichting Gods Akker (Twello - Holanda)© 1999 por: CCC Edições / Editora dos Clássicos

1a edição: março de 2000 / 2a edição: maio de 2017

Tradução: Robertson Barros de OliveiraRevisão da 1a edição: Francisco NunesRevisão da 2a edição: Paulo César de OliveiraCapa: Wesley MendonçaProjeto: Gerson Lima

Todos os direitos reservados na língua portuguesa

Editora dos Clássicos19 3217-7089 / 19 [email protected]

Proibida a reprodução total ou parcialsem autorização escrita dos editores.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)

A935tAustin-Sparks, T.

O testemunho do Senhor e a necessidade do mundo / T. Austin-Sparks; tradução Robertson Barros de Oliveira. – 2. ed. – Monte Mor (SP):Editora dos Clássicos, 2017.

96 p. : 14 x 21 cmInclui bibliografia.Título original: The Lord’s Testimony and the World NeedISBN 978-85-87832-62-7

1. Bíblia. N.T. Evangelhos – Estudo e ensino. 2. Deus. 3. Vida Cristã.I. Oliveira, Robertson Barros de. II. Título.

CDD-226.007

SUMÁRIO

Prefácio à Segunda Edição Brasileira...............................................7

Prefácio à Primeira Edição Brasileira ..............................................9

Capítulo 1

A Necessidade do Mundo: Vida.......................................................11

O que Entendemos por Vida? .........................................................17

A Resposta do Testemunho do Senhor: Ressurreição ..................19

Um Conhecimento Experimental do Significado da Cruz ...........25

O Poder da Sua Ressurreição Há de Ser

Manifestado novamente no Mundo...............................................27

Uma Revelação Viva de Cristo pelo Espírito Santo.......................28

Capítulo 2

O Vaso do Testemunho....................................................................31

Um Vaso Escolhido .........................................................................34

O Vaso Anterior foi Suplantado ......................................................35

Um Recipiente Novo.......................................................................39

Divinamente Encarcerado...............................................................43

O Vaso Liberado ..............................................................................44

A Vocação do Vaso ..........................................................................46

Capítulo 3

Nossa Necessidade: uma Visão de Deus ........................................51

O Começo da Vida Espiritual..........................................................54

A Continuação da Vida Espiritual...................................................55

A Consumação da Vida Espiritual..................................................56

A Visão Necessária para o Serviço ..................................................57

A Visão que Liberta .........................................................................58

A Visão que Une.............................................................................60

A Visão que Sustenta ......................................................................62

A Natureza da Visão........................................................................63

A Visão de Cristo como o Soberano Cabeça da Igreja..................64

A Visão de Cristo em Seu Senhorio Universal..............................67

A Visão da Igreja como o Corpo de Cristo ....................................69

A Visão do Vaso Vencedor ..............................................................72

SOBRE T. AUSTIN-SPARKS

Um Servo Fiel a Cristo e a Sua Cruz.................................................75

As citações bíblicas usadas são da Versão Revista e

Atualizada de João Ferreira de Almeida, 2a edição, da Sociedade Bíblica

do Brasil, salvo quando indicado pelas abreviaturas.

PREFÁCIO À SEGUNDAEDIÇÃO BRASILEIRA

Mergulhado em um mar de crise – social, política, hu-

manitária, ética, moral –, qual é a grande necessidade do

mundo hoje? De que as pessoas precisam para saciar sua

grande e desesperadora necessidade de satisfação interior?

ArespostadeDeusé:Vida!AIgreja foi comissionadapara

serSeutestemunhoecanaldeSuavida,masela temcumprido

sua tarefa?Ouse tornou tão terrenaecarentecomoomundo?

T. Austin-Sparks, coma penetrante percepção espiritual

que lhe era característica, descreve comprecisão oqueomun-

do ansiosamente busca e, comassustadora clareza, por que

a Igreja não consegue lhe dar uma resposta. Como um sé-

rio alerta, o autor declara que somente com uma firme de-

cisão de permitir ao Senhor assumir o lugar de Cabeça so-

berano da Igreja é que os filhos de Deus poderão cumprir

sua tarefa demanifestar Deus emunidade e pureza de tes-

temunho, saciando, assim, a necessidade do mundo.

“Fomos chamados para orar [exorta Sparks] a fimde que

o Senhor dê uma visão aos instrumentos do Seu ministé-

rio nestes dias emqueEle trará Seupovopara dentro deuma

nova revelação de Si mesmo e, então, irá uni-lo, não como

umaorganização, nemcomoumamultidão de pessoas que

aceitamcerta interpretação,masuni-lo pelos laços espirituais,

porque quiseram ver o Senhor de formanova. E tudo o que

estamos pedindo é que haja um ministrar assim de Cristo

nestemundo, pela revelação doEspírito Santo, para que tudo

que não seja Cristo seja retirado e o povo seja unido ao pró-

prio Senhor. E se estiverem unidos com Ele, então haverá

unidade e as divisões cessarão.”

Publicada comooprimeiro livro deSparks emportuguês,

em abril de 2000, a presente obra é a 2a edição revisada se-

gundo o novo acordo ortográfico da língua portuguesa.

Pelos interesses de Cristo,

Os Editores

Campinas, maio de 2017

PREFÁCIO À PRIMEIRA

EDIÇÃO BRASILEIRA

Assim como A. W. Tozer, T. Austin-Sparks tem sidoconsiderado vastamente um dos profetas de maior pro-jeção da Igreja do século XX. Suas obras em inglês sãoaltamente estimadas na Inglaterra e nas outras regiõesde língua inglesa do mundo e têm sido acolhidas comabundante louvor por muitos líderes cristãos bem co-nhecidos, incluindo Watchman Nee, da China, e BakhtSingh, da Índia. Por isso, devemos nossa gratidão aos res-ponsáveis pela publicação desta tradução emportuguês.

O próprio valor intrínseco desta obra assegura queela será recebida com apreço. Herdados de G. Camp-bell Morgan e Jessie Penn-Lewis quando jovem, e apren-dendo aos pés dessas pessoas, o sr. Sparks tem profundoconhecimento da Palavra de Deus e um discernimen-to espiritual singular, unidos aos dons de consideraçãooriginal e de vigorosa expressão. Como alguém que per-cebeu o valor das obras de Sparks, quando as li pela pri-meira vez, em inglês, há muitos anos, estou especial-mente contente em vê-las disponíveis em português aum amplo círculo de leitores e cordialmente as reco-mendo a todos os santos de língua portuguesa.

Christian Chen

Flushing, NY, abril de 2000

CAPÍTULO 1

A NECESSIDADEDO MUNDO: VIDA

“Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado paraser apóstolo, separado para o evangelho deDeus, o qual foi por Deus, outrora,prometido por intermédio dos seus profetas

Capítulo 1

nas Sagradas Escrituras, com respeito a seuFilho, o qual, segundo a carne, veio dadescendência de Davi e foi designado Filhode Deus com poder, segundo o espírito desantidade pela ressurreição dos mortos, asaber, Jesus Cristo, nosso Senhor, porintermédio de quem viemos a receber graçae apostolado por amor do seu nome, para aobediência por fé, entre todos os gentios, decujo número sois também vós, chamadospara serdes de Jesus Cristo.”

ROMANOS 1.1-6

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No que diz respeito à verdadeira necessidadedo mundo, tudo pode ser resumido emuma palavra: vida. Não importa por qual ân-

gulo analisemos, sempre iremos constatar que essaé a necessidade.

Temos evidências que sustentam esse fato em todosos sentidos e podemos reuni-las em algumas formasespecíficas de expressão dessa necessidade.

Comecemos pelo âmbito mais amplo. Evidenciamosa necessidade do mundo nos domínios da impiedade.Não precisamos nos deter muito nessa esfera, mas estámuito patente que o mundo fora de Cristo apresenta,de forma nova, com uma intensidade também nova, seuanelo por vida, sua necessidade de vida. Esse mundopossui suas próprias ideias em relação à forma comodeve ser encarada tal necessidade. Sua busca por vidatoma uma forma peculiar, a forma característica da ce-gueira, das trevas e da ignorância do mundo. Todavia,está evidente que o mundo procura vida. Não queremosdizer com isso que esteja à procura da vida em Deus.Não queremos dizer com isso que ele esteja à procu-ra daquilo que entendemos por vida, isto é, uma vidadivina, espiritual e eterna, mas sim daquilo a que elechama “vida”. Vida é o que o mundo deseja.

Passando desse reino mais exterior, da multidão dehomens e mulheres ímpios, a círculos mais interiores,testificamos a necessidade que está claramente sus-tentada (talvez, novamente em ignorância) por aquilo

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que podemos chamar de “a Igreja nominal”. Quantoà distância a que a “Igreja” nominal e secular está si-tuada da real natureza de sua necessidade, talvez nãosejamos capazes de julgar, mas essa “Igreja” forneceuma verdadeira e autêntica evidência de consciência desua necessidade; e, pelos meios que emprega e méto-dos que adota, mostra que vida é o que almeja. O pró-prio fato de estar entrando tão duramente em compe-tição com o mundo no que diz respeito a prazeres, di-versões, celebrações e muitas outras formas de ocupaçãoé, por um lado, uma prova de sua consciência a respeitoda falta de algo que satisfaça e, por outro lado, revelaque somente o que pode ser chamado de “vida” justi-ficará sua existência.

Apesar de talvez estar inconsciente das implicaçõestotais de seus caminhos, ela deixa claro que a neces-sidade é de vida e que somente vida irá satisfazê-la. Po-der-se-ia dizer que estar sem essas coisas que ela ado-ta é estar morto; e nesse reino — um reino absoluta-mente superficial —, ouvimos pessoas falarem fre-quentemente de uma “comunidade religiosa avivada”,porque possui muitas das atividades que a caracteri-zam como tal. Eles afirmam: “Essa é uma igreja mui-to avivada!”. E quando perguntamos: “O que vocês que-rem dizer com estar avivada? Quais são as caracterís-ticas dessa vida?”, a resposta é a seguinte: “É por vá-rias razões, é avivada porque tem um grupo animadoe uma boa programação musical, além de muitas ou-

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tras coisas”. É isso que significa ser avivado! Logo, aprocura da Igreja é por vida, ainda que de modo cegoe confuso, pois tudo isso revela que somente a vida podejustificar sua existência e somente ela, a vida, corres-ponderá à sua necessidade.

Avançando, talvez, um pouco mais para dentro, ve-rificamos um grande número de movimentos religio-sos questionáveis e confusos, com seu alcance ex-traordinário, coisas sobre as quais devemos ter sériasdúvidas e nas quais nunca deveríamos depositar a con-fiança total de nosso coração. Vemo-los como movi-mentos religiosos, como movimentos cristãos, com umevangelho à parte, num estágio maior ou menor, var-rendo a terra, atraindo e levando multidões consigo, ar-rastando milhares após si. E perguntamos: “Qual é o se-gredo do sucesso deles?”.

Não é necessário investigarmos muito para desco-brir que há sérias dúvidas em relação à integridade desua posição e de suas doutrinas. Há sérias carências emalguns e ênfases sérias em outros. Qual é o segredo dosucesso de seu alcance e por que muitos são captura-dos e arrastados por ele? A resposta é que essas coisastêm uma semelhança de vida; elas são a compensaçãopara um estado de morte espiritual religiosa. Elas es-tão em contraste com o que é meramente tradicionale histórico no cristianismo, que se tornou moribundo.É isso que, denominado “vida” por aqueles que levamconsigo tantas pessoas, dá a eles o sucesso. Quando se

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considera a abrangente visão divina e espiritual acer-ca de sucesso e a aplicamos ao âmbito desses “bem su-cedidos” movimentos cristãos, evidencia-se o fato deque, por fim, o que o mundo necessita em todos os as-pectos é de vida.

Há uma esfera ainda mais interna, na qual en-contramos o testemunho dos filhos do Senhor que es-tão espiritualmente famintos. Não devemos superes-timar isso; não devemos ser levados a imaginar que ascoisas estão melhores nesse aspecto do que realmen-te estão, pois só se pode provar com exatidão que aspessoas estão espiritualmente famintas examinando-se o quanto estão preparadas para se sacrificar a fimde ter sua fome saciada e para sofrer e suportar. Mas,apesar de termos igualmente de examinar esse grupo,há indubitavelmente uma fome entre os filhos do Se-nhor por todo o mundo, que está se revelando e nãoé difícil perceber.

Em quase todos os lugares, existem aqueles que es-tão completamente desapontados com o que há de dis-ponível em termos de vida e alimento espiritual, e aquestão que tem sido feita em todas as direções é: “Ondepodemos obter sustento espiritual?”. O crescimento eo tremendo desenvolvimento do movimento de con-ferências entre os próprios filhos do Senhor é uma luzlateral; o fato é que se qualquer servo ou servos de Deustiverem realmente algum suprimento espiritual paradar, os famintos sempre encontrarão aqueles que es-

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tão prontos a fazê-lo, e haverá continuamente uma por-ta aberta para tal ministério. Isso, como tantos outrossintomas e indicações, é uma evidência do fato da exis-tência, em todas as esferas, de uma profunda e forte ne-cessidade de vida, daquilo que é ativo.

Essa é a situação geral no que concerne à neces-sidade do mundo. Tudo está resumido numa só pa-lavra: VIDA.

O QUE ENTENDEMOS PORVIDA?

Mas devemos analisar e definir essa palavra. Se per-guntássemos a qualquer pessoa o que ela entende por“vida”, acredito que descobriríamos, quer utilizasse ounão as mesmas palavras, que o pensamento sobre o as-sunto e a busca do coração podem ser expressos basi-camente em três palavras:

(1) Realidade. Comumente se entende realidadecomo a experiência viva daquilo que se quer dizer e doque se deseja, em contraposição a uma teoria, a umadoutrina, a um credo, a uma forma; é aquilo que vemdo mais íntimo do ser como uma realidade viva. Pro-vavelmente, a palavra “experiência”, por si só, seria maisutilizada do que qualquer outra, mas todas sempre te-riam o sentido de “realidade”. Vida, para as pessoas, sig-nifica o que é real, em contraposição àquilo que é so-mente teórico, místico, abstrato, um mero enunciadode palavras.

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(2) Poder. A segunda palavra que mais aparecerianuma pesquisa sobre o que se entende por vida seria“poder”. Utilizamos bastante o termo “dinâmico”.Isso é vida, não meramente como algo ativo em opo-sição a algo inativo, mas é vida que implica poder, queé capaz de realizar o que quer que seja; é estar numasituação de capacidade, por possuir o recurso da ener-gia, da vitalidade, da eficiência. Tudo isso está implícitona palavra “poder”.

(3) Abundância. Em terceiro lugar, na definição de“vida”, seríamos levados a entender que, sem dúvidaalguma, seu significado é “abundância”. Outro termoque poderia ser utilizado é “satisfação”, mas percebendo-se que o homem não é facilmente satisfeito, seria ne-cessária uma abundância imensa para ele chegar a umareal satisfação. Logo, essa “abundância” é uma carac-terística da “vida”.

Isso resume a necessidade do mundo: por um lado,é a vida, que significa realidade, a qual é inerente à ex-periência de vida, que indica poder, dinamismo, for-ça, capacidade, recursos para realizar, para alcançar,para chegar-se a, para ser eficiente, em oposição a serfraco, derrotado, fracassado, incapaz de alcançar umobjetivo; por outro lado, é a compreensão de que háum reino onde a necessidade mais profunda é satis-feita, por isso não é preciso procurar em outro lugara resposta a essa necessidade. Essa, pois, é a neces-sidade do mundo.

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Estamos diretamente ligados à necessidade domundo e ao testemunho do Senhor; assim, devemosprocurar no próprio testemunho do Senhor a respos-ta à necessidade do mundo. Tratamos acerca do mun-do em todos os pontos, e o testemunho do Senhor, porconseguinte, trata acerca do mundo em todos os pon-tos. Não vamos nos deter no primeiro mundo men-cionado, o mundo dos ímpios, nem nos ocuparemosmuito com o segundo, o mundo da Igreja nominal esecular. Devemos estar mais voltados, de imediato, aosoutros dois, mais especialmente ao quarto mundo men-cionado, que é o da necessidade espiritual do povo doSenhor, mas poderemos discorrer casualmente sobreo reino da questionável e confusa atividade cristã.

A RESPOSTA DOTESTEMUNHODO SENHOR:RESSURREIÇÃO

O testemunho do Senhor é a resposta à necessidadeem todos os aspectos, e tal como toda a necessidade estáresumida na palavra “vida”, a resposta, representada pelotestemunho do Senhor, está resumida na palavra “res-surreição”. Uma leitura bem superficial do Novo Testa-mento já nos permite ver, com clareza, que “ressurreição”é a palavra-chave para a fé cristã. Se você ainda não exa-minou, por exemplo, o Livro de Atos,marcando as ocor-rências da palavra “ressurreição” e observando seu con-texto, deixou de fazer um dos estudos mais proveitosos,

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úteis e importantes desse livro. Essa é a palavra-chave paraa fé cristã.

A palavra “ressurreição” também deve ser definida,assim como definimos a palavra “vida”. Neste caso,olhamos para o Novo Testamento, a fim de defini-la com seus termos próprios. “Ressurreição”, comodefinido pelo Novo Testamento, possui quatro aspectosprincipais:

Em primeiro lugar, implica uma posição inteira-mente nova para o homem. Analisemos o peso e a for-ça total de cada uma dessas palavras: uma posição in-teiramente nova para o homem. “Ressurreição” signi-fica, portanto, que não há mais nada do que era anti-go e que tudo agora é novo. Significa que o homem estánuma posição que ele jamais ocupara antes e que nes-sa nova posição nada do que obtém agora podia ser ob-tido antes. Uma das coisas mais importantes que todoo povo do Senhor deve entender é que a ressurreiçãoem união com Cristo significa que tudo o que se refe-re à posição deve ser perfeita e absolutamente novo.

Em segundo lugar, a ressurreição proclama que amensagem básica da fé cristã é a cruz, pois não podehaver nada de novo neste caminho até que tudo o quefor antigo seja lançado fora. A fim de assegurar que tudoagora é novo, o Senhor, muito definitivamente, faz a se-paração entre o novo e o velho; a cruz, portanto, é bá-sica para a ressurreição, porque esta não abrange so-mente o reino onde a morte tem lugar. É inútil, é in-

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sensato falar sobre ressurreição com Cristo sem reco-nhecer que isso pressupõe morte com Cristo e que aressurreição do Senhor Jesus, a fim de ter algum valorespiritual em nós, demanda que a Sua morte tambémtenha tido um efeito espiritual em nós.

O testemunho do Senhor está na ressurreição, o queimplica uma posição totalmente nova para o homeme, mais do que isso, um abandono completo da antigaposição, com tudo o que está relacionado a ela.

Em terceiro lugar, ressurreição significa, no aspectopositivo, um poder plenamente novo no homem. Essepoder não é algo do homem, de forma alguma. A vidae a obra no âmbito da ressurreição em união com Cris-to baseiam-se no poder que vem unicamente deDeus, e nem um pouco do homem. É aqui que se en-contra a lamentável falha na compreensão, pois o ho-mem não pode fazer coisa alguma, o homem é irre-levante, não pode fornecer uma base de poder para aconsumação do que existe na esfera da ressurreiçãodo Senhor Jesus. Tudo o que há nesse reino é daquelanatureza que poder humano algum pode alcançar, nemna vida nem no serviço.

Não é estranho que, apesar de ser tão claro, e ape-sar de o poder ser geralmente aceito como a realida-de, toda a história da Igreja e a história da maioria doscristãos contradizem isso, pois a Igreja e multidões decrentes têm procurado viver como cristãos e fazer otrabalho do Senhor com suas próprias energias?

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Veja a enorme quantidade de energia humana queé utilizada na atividade cristã e somada para o cum-primento dos fins cristãos. Em sua quase totalidade,o que é chamado de “cristianismo organizado” está ba-seado nos projetos do homem e no desenvolvimentode seus planos, programas, esquemas, empreendi-mentos e propósitos, utilizando os recursos da men-te e do cérebro, da vontade, do que é material, do in-teresse, do entusiasmo humanos para atingir aquelesobjetivos. Mas depois de tantos séculos, concluímosque, apesar do enorme desenvolvimento e esforço, oque se vê não é proporcional ao que devia ser, isto é,está aquém no processo de consumação em relação aoinício da era cristã.

Veja o poder de realização naqueles primeirosanos. Veja como as coisas caíam perante o testemunhodo Senhor no início. Veja como toda força que se opu-nha a esse testemunho não suportava e se rendia. Vejacomo até os poderosos impérios, que colocavam todosos recursos para apagar esse testemunho, foram elespróprios derrubados, enquanto o testemunho avança-va. E veja a capacidade das forças do mundo para re-sistir a esse testemunho hoje, para se colocar contra ele,para o derrubar! (Talvez estejamos errados em deno-minar “o testemunho”; deveríamos realmente chamarde “cristianismo organizado”.) O que isso significa?A resposta está na ressurreição em união com Cristo,pois nela o poder é inteiramente outro em relação àque-

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le do homem. É um poder completamente novo, todode Deus, ao qual o homem tem de se render em lugarde retê-lo ou tentar usá-lo.

Emquarto lugar, um conhecimento plenamente novoé estabelecido coma ressurreição. Isso é o que é chamadorevelação. No terreno da ressurreição há, para aquelesque estão verdadeiramente num caminho espiritual e devida, umnovo conhecimento que pertence ao caráter darevelação divina pelo Espírito Santo. Em outras palavras,é um ensinamento sobre o Senhor Jesus realizado peloEspírito Santo diretamente ao coração do que crê. Isso,diferindo integralmente de se aceitar uma história cris-tã, uma tradição cristã, uma narrativa cristã, uma dou-trina cristã ou um credo cristão — o que tem sido co-mumente aceito como a interpretação da fé cristã atra-vés dos séculos —, é o que vem diretamente ao crentecomo o resultado do trabalho do Espírito Santo em re-velar Cristo ao coração.

Essa revelação não é à parte da Palavra, das Escri-turas, mas é por meio das Escrituras; não é meramentecompreender a letra das Escrituras e conhecer o que hána Bíblia, como se faz para conhecer o que há em qual-quer outro livro (mesmo que se possa considerar a Bí-blia diferente e superior a todos os outros livros), masé como uma iluminação por meio das Escrituras, a fimde que o conteúdo espiritual seja manifestado, não deuma só vez, mas ampla e progressivamente medianteas experiências. São necessárias as provações, as ad-

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versidades, as situações de perplexidade; desse modo,é pavimentado o caminho para uma revelação deCristo para aquela particular necessidade. Uma reve-lação viva, ativa e prática de Cristo ao coração pelo Es-pírito Santo é uma abertura do grande reino da reali-dade espiritual e eterna, reunida na Pessoa de Cristo.Ressurreição denota esse tipo de conhecimento interior.

Precisamos acrescentar algo mais. Ressurreição sig-nifica uma plenitude inteiramente nova. Ou seja, res-surreição indica o ilimitado; é mover-se num reino semfronteiras. Uma experiência viva e espiritual traz-nosessa consciência, de tal modo que não importa há quan-to tempo temos caminhado com o Senhor, ou oquanto o Senhor nos tem ensinado, ou, ainda, quãoabundante possa ser nossa compreensão a respeito doSenhor, adquirimos a consciência de que estamos ape-nas no início da caminhada. É a entrada num mundosem limites, e há infinitamente mais a ser conhecidodo que já se conheceu ou se conhece. Mas o coraçãoestá sossegado, satisfeito em Cristo.

A ressurreição traz a consciência de que estamos emum lugar de plenitude, mas essa plenitude vai tão além,que sabemos perfeitamente bem que é possível avan-çar sempre. É algo muito abençoado e que deve ser mi-nistrado nesse reino. A questão de muitos no minis-tério é a seguinte: “Serei capaz de perseverar? Posso es-gotar todos os textos da Bíblia; e, então, o que aconte-cerá?”. Parece que as multidões de pregadores já

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exauriram todos os textos da Bíblia e têm partido paraseus próprios textos! É de ressurreição que se tem ne-cessidade. Ela traz consigo esse reino de uma nova po-sição, de um novo poder, de uma nova energia, de umanova plenitude por meio da cruz. Esse é o testemunhodo Senhor para a necessidade do mundo.

Juntando tudo o que foi dito, e colocando em outraspalavras, temos o seguinte: a necessidade que é supridano testemunho do Senhor é, em primeiro lugar,

UM CONHECIMENTO EXPERIMENTALDO SIGNIFICADO DA CRUZ

Essa afirmação é mais desafiadora do que pode pa-recer-nos no primeiro momento. Analisamos todas asesferas onde encontramos morte espiritual ou, comocolocamos, necessidade de vida — o que indica havermorte em maior ou menor grau —, e questionamos,em relação a cada uma daquelas direções onde há mor-te: “Qual é a causa da morte? Qual será o caminho davida?”. Concluímos, então, que a causa da morte é a ig-norância ou a rejeição do significado da cruz, fato quepossui uma aplicação interior.

Em muitas esferas, esse significado da cruz não éconhecido. É uma revelação completamente nova.Tudo o que se sabe a respeito da cruz é aquele traba-lho objetivo, grande e glorioso, que é, entretanto, so-

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O TESTEMUNHO DO SENHOR E A NECESSIDADE DO MUNDO

mente uma parte do que Cristo fez por nós por inter-médio de Sua cruz; e há pouco ou nenhum conheci-mento do imenso alcance daquele outro aspecto im-portante e essencial da cruz: o que Cristo fez por nósdeve trazer benefício para nós. Isto é, se Ele morreu pornós, o efeito da Sua morte deve estar registrado em nós,e havemos de morrer com Ele. E nossa morte com Cris-to não é somente a morte do pecado, mas a morte dohomem natural. Este pode ser realmente muito bom,de acordo com os padrões deste mundo, mas na mor-te com Cristo ele terá morrido com toda a sua bonda-de, bem como com toda a sua maldade.

Isso é aceito, podemos dizer, na esfera intermediáriados que creem nisso como uma doutrina, uma verda-de, que, porém, não vai além disso. Em outra esfera,isso é rejeitado, e o que é chamado de o aspecto sub-jetivo da cruz é recusado. Encontraremos, em todas es-sas esferas, uma carência de vida espiritual. Pode ha-ver muita verdade, muita doutrina, aquilo que é cha-mado “luz”. Pode haver uma boa tradição e a históriade um passado poderoso, mas o que se encontra ali ago-ra é a morte, uma séria limitação da vida espiritual; epode-se concluir, à luz disso e de forma básica, que osignificado completo da cruz, numa forma experimental,não se pode obter lá. Logo, a cruz em sua plenitude éa grande necessidade, e a cruz deve ser mostrada no-vamente ao mundo, representada e expressa na vida dosque pertencem ao povo do Senhor.

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Em segundo lugar, anuncia que:

O PODER DA SUA RESSURREIÇÃOHÁ DE SER MANIFESTADO

NOVAMENTE NO MUNDO

O que anula o poder de Deus, neutraliza sua ex-pressão, opera contra seu exercício e obscurece sua ma-nifestação é o homem não crucificado. Se desejamosconhecer o poder de Deus claramente ativo, o homemnatural paralisado, fraco, endurecido e não crucificadodeve ser retirado do caminho.

Se Paulo foi um exemplo do poder de Deus tra-balhando por meio de um homem, logo, eletambém é um exemplo claro de como aquilo queé natural e age na sua própria energia e sabedo-ria foi colocado de lado, para que esse homem fos-se conduzido para baixo, a uma posição bastan-te inferior e de total dependência de Deus, não sóespiritual como também física, por toda a vida.“Desesperamos até da própria vida”, disse ele. “Jáem nós mesmos, tivemos a sentença de morte,para que não confiemos em nós, e sim no Deusque ressuscita os mortos” (2 Co 1.8-9).

E, em terceiro lugar, a necessidade domundo saciadapelo testemunho do Senhor implica

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O TESTEMUNHO DO SENHOR E A NECESSIDADE DO MUNDO

UMA REVELAÇÃOVIVA DE

CRISTO PELO ESPÍRITO SANTO

Não devemos pregar e ensinar sobre Cristo, mas teruma revelação de Cristo pelo Espírito Santo. Isso resumeo que dissemos.

Para enfrentar a necessidade, deve haver vasos. De-vem existir vasos individuais, assim como coletivos,mes-mo que sejam pequenos. Deve haver ministérios nosquais todos esses fatos apresentados sejam verdade enos quais a cruz se tenha tornado algo muito real emrelação ao deixar de lado tudo o que é natural, do ho-mem, e em quem o poder da ressurreição de Cristo sejao poder em exercício, o poder que é de Deus e não dohomem, no qual há uma viva compreensão de Cristopela revelação e iluminação do Espírito Santo.

A necessidade do mundo, em todas as esferas, é devida? A resposta do Novo Testamento é: “Sim”; mas res-surreição é essa vida de que se tem necessidade. Res-surreição significa, antes de tudo, um lugar de mortepara que, então, possa haver ressurreição. Essa é a cruzem toda a sua plenitude. Deve haver o trabalho daquelepoder divino que é todo de Deus e não de nós mesmos.Esse poder deve obter vasos e reinar neles. Não devehaver simplesmente doutrina, isso não deve ser ensi-nado como tal, não deve haver o que é chamado “luz”;deve haver, sim, revelação pelo Espírito Santo por meioda Palavra, a fim de que haja uma crescente com-

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preensão, de forma viva, da plenitude de Cristo. Isso éressurreição, e ela deve ser expressa, exibida e manti-da nos vasos, individuais e coletivos, e nos ministérios.

Essa é uma visão geral da situação. Há uma gran-de quantidade de elementos reunidos no âmago daquestão, porém não temos tempo para enumerá-los.Mas se essa é a necessidade, vemos em que direção aoração é necessária. Somos novamente levados a bus-car o Senhor com um propósito real de coração, tantopara nós mesmos como para o Seu testemunho na ter-ra entre as nações.

Ele trará essas coisas outra vez para um lugar real,no verdadeiro significado da cruz, onde o homem ces-sa seu labor e se submete por inteiro ao trabalho do Se-nhor na maneira correta, ou seja, quando o homem ces-sa e dá lugar ao que é de Deus. Desse modo, onde issofor feito, por meio de uma definitiva experiência da cruz,inicial e continuamente, o Senhor fará algo novo.

Em resumo, o Senhor terá crucificado completa-mente Seus vasos, Seus filhos, homens e mulheres, osquais viverão no Seu poder, que é o poder da ressur-reição, vivendo sob um céu aberto, com o Espírito San-to revelando Cristo ao coração.

Esta é a direção que a oração deve tomar: que Ele le-vante um ministério assim!

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O TESTEMUNHO DO SENHOR E A NECESSIDADE DO MUNDO

CAPÍTULO 2

OVASO DOTESTEMUNHO

Pelo que, tendo este ministério, segundo amisericórdia que nos foi feita, nãodesfalecemos; pelo contrário, rejeitamos ascoisas que, por vergonhosas, se ocultam, nãoandando com astúcia, nem adulterando apalavra de Deus; antes, nos recomendamos àconsciência de todo homem, na presença de

Capítulo 2

Deus, pela manifestação da verdade. Mas, seo nosso evangelho ainda está encoberto, épara os que se perdem que está encoberto, nosquais o deus deste século cegou oentendimento dos incrédulos, para que lhesnão resplandeça a luz do evangelho da glóriade Cristo, o qual é a imagem de Deus. Porquenão nos pregamos a nós mesmos, mas aCristo Jesus como Senhor e a nós mesmoscomo vossos servos, por amor de Jesus.

Porque Deus, que disse: Das trevasresplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceuem nosso coração, para iluminação doconhecimento da glória de Deus, na face deCristo.

Temos, porém, este tesouro em vasos de barro,para que a excelência do poder seja de Deus enão de nós.

2 CORÍNTIOS 4.1-7

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T. AUSTIN-SPARKS

Mais de uma vez já ouvimos que hoje o mun-do necessita de outro Paulo. Mas duas coisasdevem ser ditas em resposta a essa afirmação.

Uma é que outro Paulo, ou até mesmo o próprioPaulo, dificilmente daria ouvidos ao mundo cristão dehoje. Ele se oporia tão severamente ao cristianismo denosso tempo, que fariam com ele o que o judaísmo fezcom o Senhor Jesus, e com o próprio Paulo no início.

A outra, que parece contradizer isso, é que é muitonecessário e importante lembrar que Paulo foi um re-presentante da Igreja, a qual era o vaso corporativo parao testemunho do Senhor para a dispensação, e que o Se-nhor nunca pretendeu repetir Paulo pessoalmente e terumPaulo individual ou em pessoa em cada geração des-ta dispensação. Mas o que o Senhor pretendia era quetoda a Igreja fosse, nesta dispensação, o que Paulo era.

Paulo foi colocado como um modelo, um represen-tante, uma personificação de toda a Igreja para a dis-pensação, e aquilo que era expresso por Paulo, servo deDeus, devia ser a real constituição da Igreja. As carac-terísticas da vida espiritual de Paulo deviam ser os cons-tituintes da Igreja do começo ao fim da dispensação, paraque pudéssemos estar mais próximos do alvo.

Assim, diríamos que o necessário hoje seria não ou-tro Paulo,mas a Igreja de acordo comPaulo, emsua cons-tituição espiritual. Não é oPaulo individual ou empessoa,mas é o que veio espiritualmente pormeio dePaulo e comele, constituindo a Igreja, constituindo todo o Corpo.

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O TESTEMUNHO DO SENHOR E A NECESSIDADE DO MUNDO