O trabalho sob a égide do capital - Gestão Escolar · capitalismo, para garantir o processo de...

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1 O trabalho sob a égide do capital Autor: Roberto Leme Batista Orientador: Prof. Dr. Cláudio Stieltjes - UEM PROBLEMATIZAÇÃO DO CONTEÚDO 1. Das origens do capital Em “a assim chamada acumulação primitiva”, capítulo XXIV de O Capital, Marx trava um debate com os economistas clássicos que afirmavam que a origem da acumulação de riquezas de forma individual se constituía em um mérito dos capitalistas. Segundo esta concepção a riqueza, ou seja, o capital acumulado pela burguesia era o resultado do trabalho e esforço individual, cuja avareza e espírito poupador investiu e acumulou paulatinamente. Os economistas afirmavam que a classe proletária ao contrário dos capitalistas não era dada ao trabalho, levava uma vida desregrada, não fazia economia das ―riquezas‖, esbanjava e desperdiçava tudo, por isso, não conseguia juntar nada em suas mãos. Marx se contrapõe a esta concepção dos economistas afirmando que os métodos de acumulação de riqueza nas mãos da burguesia, não foram nada idílicos. Segundo Marx o pressuposto dos economistas políticos, ao supor que ―...em tempos muito remotos, havia, por um lado, uma elite laboriosa e sobretudo parcimoniosa, e, por outro, vagabundos dissipando tudo o que tinham e mais nada...‖ 1 aproxima-se da visão teológica de mundo, da ―história‖ em que Adão foi induzido por Eva a comer a maçã, introduzindo no mundo, o pecado. No entanto, o pecado original descrito pela Bíblia assinala que todos os homens foram condenados a ter que comer o pão com o suor de seus rostos, sendo que na idílica história dos economistas, uma classe social não tem necessidade de derramar seu suor porque recebeu de herança de seus antepassados laboriosos, parcimoniosos, etc., a riqueza. Enquanto outra classe, herdeira dos vagabundos, tem que vender no mercado sua força de trabalho, ou seja, sua própria pele. Marx assinala que alguns poucos que há muito pararam de trabalhar continuam a ver suas riquezas crescer continuamente, enquanto a grande massa de trabalhadores pobres, apesar de exercerem trabalho árduo, nada possuem, senão a si mesmos. Por isso, Marx afirma que o processo de acumulação de riquezas em mãos individuais não ocorreu de forma idílica, mas pelo contrário por meio da conquista, da subjugação, do latrocínio, ou seja, a violência do capital desempenhou o papel principal. 1 MARX, K. O Capital: Crítica da Economia Política. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. Vol. II, p. 251.

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O trabalho sob a égide do capital

Autor: Roberto Leme Batista

Orientador: Prof. Dr. Cláudio Stieltjes - UEM

PROBLEMATIZAÇÃO DO CONTEÚDO

1. Das origens do capital

Em “a assim chamada acumulação primitiva”, capítulo XXIV de O Capital, Marx trava

um debate com os economistas clássicos que afirmavam que a origem da acumulação de riquezas

de forma individual se constituía em um mérito dos capitalistas. Segundo esta concepção a

riqueza, ou seja, o capital acumulado pela burguesia era o resultado do trabalho e esforço

individual, cuja avareza e espírito poupador investiu e acumulou paulatinamente. Os economistas

afirmavam que a classe proletária ao contrário dos capitalistas não era dada ao trabalho, levava

uma vida desregrada, não fazia economia das ―riquezas‖, esbanjava e desperdiçava tudo, por isso,

não conseguia juntar nada em suas mãos.

Marx se contrapõe a esta concepção dos economistas afirmando que os métodos de

acumulação de riqueza nas mãos da burguesia, não foram nada idílicos. Segundo Marx o

pressuposto dos economistas políticos, ao supor que ―...em tempos muito remotos, havia, por um

lado, uma elite laboriosa e sobretudo parcimoniosa, e, por outro, vagabundos dissipando tudo o

que tinham e mais nada...‖1 aproxima-se da visão teológica de mundo, da ―história‖ em que Adão

foi induzido por Eva a comer a maçã, introduzindo no mundo, o pecado. No entanto, o pecado

original descrito pela Bíblia assinala que todos os homens foram condenados a ter que comer o

pão com o suor de seus rostos, sendo que na idílica história dos economistas, uma classe social

não tem necessidade de derramar seu suor porque recebeu de herança de seus antepassados

laboriosos, parcimoniosos, etc., a riqueza. Enquanto outra classe, herdeira dos vagabundos, tem

que vender no mercado sua força de trabalho, ou seja, sua própria pele. Marx assinala que alguns

poucos que há muito pararam de trabalhar continuam a ver suas riquezas crescer continuamente,

enquanto a grande massa de trabalhadores pobres, apesar de exercerem trabalho árduo, nada

possuem, senão a si mesmos. Por isso, Marx afirma que o processo de acumulação de riquezas

em mãos individuais não ocorreu de forma idílica, mas pelo contrário por meio da conquista, da

subjugação, do latrocínio, ou seja, a violência do capital desempenhou o papel principal.

1 MARX, K. O Capital: Crítica da Economia Política. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. Vol. II, p. 251.

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Segundo Marx, o modo de produção capitalista desenvolveu um mecanismo de separação

dos trabalhadores e da propriedade das condições da realização do trabalho, ou seja, separou

radicalmente os trabalhadores dos meios de produção. Ao se desenvolver, o capitalismo, não

apenas mantém esta separação, mas a reproduz em escala sempre crescente. O capitalismo além

de separar os trabalhadores das condições de trabalho, transforma também os meios de

subsistência e de produção em capital e, os trabalhadores diretos em trabalhadores assalariados.

Para se efetivar como classe que comanda o processo de produção capitalista a burguesia

teve a necessidade de expropriar dos trabalhadores as condições de trabalho, ou seja, os meios de

produção. Desde que começou a se desenvolver, a, mais ou menos, 5 séculos, o capitalismo se

constitui em um sistema dinâmico de transformação radical nas relações de trabalho.

O capital se constitui em um ―sistema‖ (in)controlável, dirigido por capitalistas privados

que organizam e conduzem o processo de produção voltados para a expansão, a acumulação e a

reprodução de suas riquezas.

O capital possui uma determinação lógica para acumular e dinamismo avassalador para se

expandir e valorizar. Mészáros afirma que o capital é ―em última análise, uma forma

incontrolável de controle sociometabólico‖.2 Neste sentido, o filósofo húngaro irá afirmar que

“... Como um modo de controle sociometabólico, o capital, por necessidade, sempre retém seu

primado sobre o pessoal por meio do qual seu corpo jurídico pode se manifestar de formas

diferentes nos diferentes momentos da história‖.3

Os capitalistas, ao desenvolverem as condições que lhes garantissem o processo de

valorização e expansão do capital, submeteram toda a sociedade a um controle social metabólico

e totalizador, impondo-se através de uma estrutura única de comando, apropriada à lógica

expansionista.

O capitalismo possui uma lógica de expansão e reprodução em escala crescente, cuja

vontade individual de acumular sempre mais capital é a força propulsora que move tal modo de

produção. Este processo efetiva-se como um meio em que a burguesia extrai dos trabalhadores

um excedente de trabalho não pago, sob a forma de mais valia que é apropriada pela classe

proprietária (burguesia), sob a forma de capital.

O capitalismo conseguiu historicamente impor sua estrutura de organização da produção,

exercendo de forma articulada a combinação de três elementos fundamentais para a valorização

do capital, quais sejam: a capacidade impulsora da força de trabalho, o objeto sobre o qual ela

2 MÉSZÁROS, I. Para além do capital: Rumo a uma teoria da transição. São Paulo: Boitempo, Campinas: Editora

da Unicamp, 2002, p. 96 3 Ibid., p. 98.

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age, ou seja, a matéria-prima e os meios de trabalho com quais ela atua que são os instrumentos,

as ferramentas, os elementos auxiliares no processo de trabalho.4

Esta forma de combinar e articular os elementos de controle é inerente à lógica de

valorização do capital. O problema da valorização do capital é determinante em todas as

transformações candentes na forma de organização do trabalho empreendida historicamente pelo

capitalismo, para garantir o processo de valorização e a continuidade do controle

sociometabólico, sem o qual haveria uma interrupção da valorização, ou seja, cessaria a extração

de mais-valia.

Para garantir a valorização e a reprodução do capital os capitalistas tiveram que

desenvolver formas diferentes de controle e disciplina do trabalho e métodos para racionalizar o

processo de produção.

O capital se valoriza através da extração de mais-valia, ou seja, pela apropriação de

trabalho excedente, não pago aos trabalhadores. Portanto, para garantir a expansão do processo

de valorização do capital é necessário intensificar o ritmo de trabalho, reduzindo o tempo de

trabalho necessário para se produzir determinado efeito útil.

O processo de valorização do capital é uma constante mutação de ―valores em processo‖,

que se resume na fórmula dinheiro-mercadoria-dinheiro. A valorização do capital no processo de

produção é garantida pela força de trabalho (trabalho vivo) que cria uma certa elasticidade,

alargando continuamente a produção e reprodução do capital.

Portanto, fica evidente que o processo de produção capitalista é essencialmente produção

de mais-valia, um meio de valorizar o valor já avançado do capital através da sucção e

incorporação de trabalho vivo, efetivando-se dessa forma o domínio do trabalho passado

(trabalho morto) sobre o trabalho presente, das ―coisas‖ sobre o homem. Nesta perspectiva, Marx

afirmou que ―...A dominação do capitalista sobre o operário é, por conseguinte, a dominação da

coisa sobre o homem, a do trabalho morto sobre o trabalho vivo, a do produto sobre o

produtor(...)”.5

Para garantir o processo permanente de expansão e valorização do capital os capitalistas

precisam desenvolver formas para aumentar a produtividade do trabalho. Ao obter melhorias na

produtividade, o capitalista individual consegue reduzir automaticamente a despesa com força de

trabalho, pois reduz a quantidade de trabalho necessário por unidade de capital investido. Este

fato coloca o produto desse capitalista num valor abaixo do valor social de produção, deixando-o

em vantagem em relação a seus concorrentes, pois o tempo de trabalho embutido no produto é

menor que o de seus concorrentes.

4 Ibid., p. 44. 5 MARX, K. O Capital, Capítulo VI, Inédito, Editora Moraes, São Paulo, SP, 1985. p. 55. Os grifos são meus.

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Existem vários fatores que influenciam diretamente na elevação da produtividade do

trabalho, contribuindo para o processo de racionalização e valorização do capital, quais sejam:

promover melhorias nos instrumentos, ou seja, nos elementos auxiliares no processo de trabalho,

através do desenvolvimento tecnológico; provocar alterações visando intensificar a divisão social

do trabalho, intervindo na concepção e na organização do processo de trabalho; desenvolver

formas para garantir o fluxo contínuo no processo de produção, eliminando as interrupções e as

porosidades do trabalho, ao mesmo tempo em que intensifica o seu ritmo; investir na capacitação

e especialização da força de trabalho; garantir a qualidade dos objetos de trabalho, isto é, da

matéria-prima; garantir o controle, a disciplina e a vigilância sobre o trabalho.

No processo de desenvolvimento tecnológico e suas conseqüentes inovações o capital

supera as condições técnicas e impõe o ritmo de trabalho de acordo com as necessidades da

valorização, pois conforme afirma Marx, nesse processo ―os meios de produção transformaram-

se imediatamente em meios para a absorção de trabalho alheio. Não é mais o trabalhador quem

emprega os meios de produção, mas os meios de produção quem emprega o trabalhador‖.6

Portanto, doravante são os meios de produção que consomem o trabalhador, e não o inverso. O

capital para se valorizar não pode ser prisioneiro das condições herdadas, já existentes

historicamente e prisioneiro da extensão e prolongamento da jornada de trabalho. Cito Marx: Tem de revolucionar as condições técnicas e sociais do processo de trabalho, portanto o próprio modo de

produção , a fim de aumentar a força produtiva do trabalho, mediante o aumento da força produtiva do

trabalho reduzir o valor da força de trabalho, e assim encurtar parte da jornada de trabalho necessária para

a reprodução deste valor.7

Dá-se assim a passagem da mais-valia absoluta para a mais-valia relativa. Portanto, o

aumento na produtividade do trabalho configura-se na intensificação da produção de mais-valia.

Afinal, com o aumento da produtividade do trabalho, o trabalhador consegue produzir em menos

tempo a sua subsistência, ou seja, o necessário para reproduzir a sua força de trabalho. Este

processo permite ao capitalista reter mais trabalho excedente, não pago ao trabalhador,

aumentando a valorização do seu capital.

Portanto, o desenvolvimento tecnológico permite aos capitalistas utilizarem cada vez

menos força de trabalho - trabalho vivo - que sustenta a produção de mais-valia, isto é, a

valorização do capital, pois aumenta a quantidade de trabalho passado - trabalho morto - em

forma de meios de produção à disposição dos capitalistas. A força de trabalho, o trabalho vivo, a

parte subjetiva do processo de produção, aquela que intervém diretamente na produção, que cria,

mantém e agrega valor é substituída pelo trabalho objetivado, morto, realizado no passado, que

intervém indiretamente na produção.

6 MARX, K. O capital, op cit, 1988. p. 244. 7 Op cit, p. 251.

5

É no processo de produção de mercadorias que o capital se expande e se valoriza. Na

mercadoria se expressam dois valores: o valor de uso e o valor de troca. O processo de produção

de mercadorias é a unidade imediata do processo de trabalho e do processo de valorização do

capital. As grandezas de valor do capital não devem ser apenas conservadas, elas precisam

crescer e para isso têm que sofrer um incremento de mais-valia. Enquanto na mercadoria o valor

de uso é apenas ―um objeto com propriedades determinadas‖, na força de trabalho, que atua

produtivamente, é ―transformação de coisas‖, isto é, transformação de valores de uso, o trabalho

vivo através dos instrumentos de produção opera a transformação dos objetos de trabalho

(matéria prima), acrescentando-lhe valores novos.

Vimos que o processo de produção capitalista se constitui na unidade imediata do

processo de trabalho e do processo de valorização do capital. Portanto, a mercadoria - unidade

imediata do valor de uso e do valor de troca - é o resultado imediato do processo de produção.

Marx adverte, no entanto, que o processo de trabalho não é mais do que um meio de valorização

do capital, enquanto que o processo de valorização é fundamentalmente produção de mais-valia,

ou seja, a objetivação de trabalho não pago.

Portanto, processo de trabalho e processo de valorização, são univocamente inseparáveis,

pois se trabalha uma única vez, para criar um produto que seja útil, que tenha valor de uso,

transformando assim os objetos de trabalho em produtos, ao mesmo tempo, em que acrescenta

valor novo, produzindo mais-valia, como forma de valorização do capital.

É no processo de produção de mercadorias que se manifesta a divisão social de trabalho,

pois de um lado se coloca a capacidade de trabalho - os trabalhadores - e de outro as condições

objetivas de trabalho, os meios de produção que geram as condições para a execução do trabalho.

Já vimos anteriormente que as condições objetivas da produção - os meios de produção -

constituem-se em monopólio dos capitalistas e que os trabalhadores se obrigam a vender a estes

a sua força de trabalho para garantir a sua sobrevivência.

A capacidade física e mental dos trabalhadores - a força de trabalho - se manifesta na

produção orientada para um fim determinado, qual seja, a valorização do capital através da

transformação dos objetos de trabalho - matéria-prima - em produtos, em mercadorias. Temos

então, que a força de trabalho é a condição subjetiva da produção, pois, sem ela não há

valorização do capital.

Conforme nos esclarece Marx afirmando que:

Uma parte do valor de uso com que o capital se apresenta no interior do processo de produção é a própria

capacidade viva de trabalho, mas uma capacidade de trabalho de especificidade determinada,

correspondente ao particular valor de uso dos meios de produção, e é uma capacidade de trabalho

impulsora, uma força de trabalho que, ao manifestar-se, se orienta para um fim, que converte os meios de

produção em momentos objetivos da sua atividade, fazendo-os passar por conseguinte da forma original

6

do seu valor de uso para a nova forma do produto. Daqui que os próprios valores de uso experimentem no

interior do processo de produção um verdadeiro processo de transformação.8

A força de trabalho, a parte variável do capital entra no processo de produção tendo que

consumir produtivamente a parte constante que são os objetos de trabalho, as matéria-primas e os

meios de trabalho que são as máquinas e os equipamentos, isto é, os elementos auxiliares na

produção. Ao mover e fazer funcionar os meios de trabalho produtivamente, a força de trabalho

transforma os objetos de trabalho em produtos, em mercadorias, mantendo o antigo valor, criando

e acrescentando um valor novo garantindo a expansão e a valorização do capital. Neste processo

a força de trabalho consome os objetos e os meios de trabalho, sendo que estes últimos sofrem

desgastes, fazendo-os aparecerem no final do processo de trabalho com um acréscimo de valor,

um valor novo que não pertence ao trabalhador, mas ao capitalista.

Para que tal processo se concretize, o trabalho tem que ser organizado para operar de

forma ordenada, controlada e vigiada com vistas a um fim determinado, ―... que a transformação

dos meios de produção se realize de maneira adequada; que o valor de uso que se tem em vista

como finalidade surja realmente como resultado e que o faça de forma conseguida...‖9

Este processo, segundo Marx, se impõe pela vigilância, disciplina e controle dos

capitalistas sobre os trabalhadores e, são as formas como ele se manifesta historicamente que

vamos analisar nos próximos capítulos.

INVESTIGAÇÃO DISCIPLINAR

1. Da Cooperação Simples à Grande Indústria

1.1. A cooperação simples

Com o capitalismo, desenvolveu-se a cooperação no processo de trabalho, a manufatura

que superou a produção artesanal com base no ofício, e posteriormente a grande indústria com

8 MARX, K. O Capital, Capítulo VI, Inédito, Editora Moraes, São Paulo, SP, 1985. p. 45. 9 Ibid., p. 51.

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base na maquinaria, um grande salto das forças produtivas, conforme bem demonstrou Marx na

famosa ―tríade‖ de O Capital, onde discute as transformações no mundo do trabalho

empreendidas pelo capital e o desenvolvimento das forças produtivas decorrentes do avanço

tecnológico, tais como a intensificação da divisão social do trabalho, desenvolvimento técnico e

mudança no perfil da classe operária.

O modo de produção capitalista possui uma dinâmica de transformação do processo de

trabalho que, com o desenvolvimento da cooperação e da manufatura leva a uma superação do

trabalho artesanal, que era a base de produção da sociedade feudal.

O desenvolvimento do capitalismo possibilitou um processo de dominação e controle do

capital sobre o trabalho. Os instrumentos de trabalho tornaram-se armas necessárias no processo

de acumulação do capital. Na produção artesanal, e até na cooperação manufatureira, estes

instrumentos eram ferramentas manuseadas pelos trabalhadores, mas com o advento da grande

indústria fundada na maquinaria, foram incorporados à máquina, da qual os trabalhadores serão

apenas apêndices.

Para Marx o processo de produção capitalista impulsionou o desenvolvimento das forças

produtivas, a partir do momento em que a acumulação de riqueza permitiu ao capitalista,

proprietário particular dos meios de produção, reunir trabalhadores sob o mesmo teto, sob seu

comando para produzir, fazendo com que o próprio processo de trabalho consiga fornecer

produtos numa escala maior que antes.

Portanto, a origem da disciplina e do controle exercida pelo capital sobre o trabalho está

na concentração da produção. Também, o pressuposto da gerência capitalista está em reunir os

trabalhadores sob o mesmo teto e o mesmo comando.

O capitalismo, ao desenvolver a cooperação, ao reunir e unir os trabalhadores no processo

de trabalho, superando a produção individual das corporações artesanais, revolucionou o processo

de trabalho. A união de muitos trabalhadores para executar tarefas de produção, que antes

ocupavam poucos trabalhadores, fez com que os meios de produção fossem utilizados em

comum, de forma simultânea ou alternada.

Marx considera que a cooperação torna relevante o desvelamento das aparências das

relações sociais do modo de produção capitalista, que revelam suas contradições, fazendo com

que a organização do processo de trabalho seja autônomo e independente dos trabalhadores que

cooperam entre si no processo produtivo. Nesta perspectiva, afirma que no espírito da produção

capitalista ―(...) as condições de trabalho se colocam em face do trabalhador de forma autônoma,

8

o economizá-las apresenta-se também como uma operação particular, que em nada lhe interessa e

que por isso se separa dos métodos que elevam sua produtividade pessoal.‖10

A cooperação foi o meio encontrado pelo capital para, a partir da organização do processo

de trabalho, estimular e aumentar a produtividade do trabalho; caracteriza-se, portanto, como a

forma que os capitalistas organizaram a produção, na fase inicial do capitalismo. Por isso, Marx

a define como sendo ―a forma de trabalho em que muitos trabalham planejadamente lado a lado e

conjuntamente, no mesmo processo de produção ou em processos de produção diferentes, mas

conexos, chama-se cooperação.‖11

Ao agir simultaneamente, no processo de trabalho, o trabalhador coletivo cria um

resultado muito superior do que a simples ―soma mecânica de trabalhadores individuais‖. A

cooperação, neste caso, desenvolve uma potência a partir da fusão e articulação de muitas forças

em uma única força comum.

A cooperação faz com que o simples contato e a convivência social dos trabalhadores, no

processo de trabalho decorrentes ―da fusão de muitas forças numa força global‖, desenvolva nos

trabalhadores individuais uma certa emulação, ou seja, o estímulo e o ânimo para o trabalho

aumentando assim suas capacidades produtivas. O trabalho articulado e combinado decorrentes

da cooperação faz com que um determinado número de trabalhadores juntos, em jornada

simultânea, produzam mais do que o mesmo número de trabalhadores isoladamente.

O trabalho combinado, simultâneo, faz com que desenvolva uma economia de tempo, pois

o transporte de objetos, por exemplo, sendo feito pelo trabalhador coletivo através da cooperação,

seja mais rápido do que se fosse feito isoladamente pelo trabalhador individual.

Portanto, a cooperação faz com que a maioria dos operários que trabalham juntos se

completem no processo produtivo, apesar da complexidade que envolve o processo de trabalho

na cooperação, é a junção dos trabalhadores que permite a divisão das operações e a sua execução

simultânea, possibilitando assim a economia de tempo.

A organização do processo de trabalho em forma de cooperação, permitiu a extensão do

espaço de realização do trabalho. Este foi o caso em que o objeto de trabalho, tais como ferrovias,

estradas etc. exigia em razão de sua configuração. Por outro lado, a cooperação permitiu ao

capital aumentar a produtividade do trabalho através da junção de trabalhadores em espaços

limitados e reduzidos para produzir. A cooperação possibilitou também a concentração dos meios

de produção e a eliminação de custos no processo de produção.

A cooperação, ao desenvolver o trabalho combinado, fez com que a jornada de trabalho

produzisse maiores quantidades de valor de uso em comparação com as jornadas isoladas e

10 Ibid., p. 259. 11 Ibid.

9

individuais. Este aumento da produtividade conquistado pelas mudanças no processo de trabalho

permitiu a diminuição do tempo necessário para se produzir determinado efeito útil.

Marx, ao analisar o resultado alcançado pela força produtiva do trabalho combinado,

mostra as diversas formas pelas quais a cooperação revolucionou o mundo da produção. Todos os

efeitos úteis provocados pelo trabalho combinado no aumento da produtividade do trabalho são

decorrências da força produtiva do trabalho social. ―(...) em todas as circunstâncias a força

produtiva específica da jornada de trabalho combinada é força produtiva social do trabalho ou

força produtiva do trabalho social. Ela decorre da própria cooperação...‖12

A cooperação engendrou o trabalhador coletivo, cuja capacidade produtiva revolucionou

o mundo da produção, pois ao ter que trabalhar juntamente com outros trabalhadores de forma

planejada, o trabalhador individual desfez-se de suas próprias limitações, superando-as e

desenvolvendo a capacidade e a força do trabalhador coletivo.

Portanto, para cooperar entre si, os trabalhadores precisam estar juntos, reunidos no

mesmo espaço, e isto só se tornou possível porque o capitalista compra as forças individuais de

trabalho e as coloca para cooperarem, desenvolvendo assim o trabalho combinado.

De tal forma que a cooperação dos trabalhadores no processo de trabalho só se tornou em

conseqüência direta da concentração e acumulação de capital por capitalistas individuais que

passaram a investir na produção, contratando a força de trabalho, individualmente, e colocando o

indivíduo ex-proprietário da força de trabalho para cooperar com outros, no processo produtivo.

Conforme observa Marx, afirmando que:

...A concentração de grandes quantidades de meios de produção em mãos de capitalistas individuais é,

portanto, a condição material para a cooperação de trabalhadores assalariados, e a extensão da cooperação,

ou a escala da produção, depende do grau dessa concentração.‖13

A acumulação mínima de capital nas mãos de capitalistas individuais foi a condição para

que a massa de trabalho excedente, não pago aos trabalhadores possibilitasse a libertação do

pequeno empregador do trabalho manual e estabelecesse o capital como relação social, pois o

pequeno patrão foi transformado num capitalista. Desta forma, o processo de trabalho artesanal,

que funda-se na produção individual e isolada foi sendo desmontado pelo capital e transformado

num processo social combinado.

O desenvolvimento da cooperação que possibilitou ao capitalista libertar-se do trabalho

manual, possibilitou também este transferir a função de supervisionar o trabalho dos

trabalhadores sob seu comando ―a uma espécie particular de assalariados‖. A forma capitalista de

12 Ibid., p. 262. 13 Ibid.

10

produzir é despótica porque possui uma duplicidade: o trabalho que dirige é por um lado processo

social de trabalho para elaboração de um produto, por outro é simplesmente um processo de

valorização do capital.

O comando do capital sobre o trabalho, que a princípio parecia se dar em razão do

trabalhador não produzir para si, mas para o capitalista a quem vendia sua força de trabalho, à

medida que os trabalhadores assalariados foram obrigados a desenvolver o trabalho de forma

combinada, em um processo cooperativo foi se convertendo numa exigência para os próprios

capitalistas.

Marx parte da premissa que todo trabalho coletivo em grande escala exige direção, ou

seja, comando. Sendo que no modo de produção capitalista é função do proprietário de capital

dirigir a organização da produção, à medida que subordina o trabalho, tornando-o cooperativo, o

capital vai impondo sua forma de produzir para se auto-reproduzir. Portanto, o comando supremo

no processo de produção é do capitalista, que segundo Marx não é capitalista porque é dirigente

industrial, ele comanda porque é capitalista, ou seja, proprietário dos meios de produção. Marx

afirma que ―... Essa função de dirigir, superintender e mediar torna-se função do capital, tão logo

o trabalho a ele subordinado torna-se cooperativo. Como função específica do capital, a função

de dirigir assume características específicas.‖14

Quando o assunto é controle do capital sobre o trabalho, não podemos dispensar a

contribuição de Braverman, segundo o qual, o problema da gerência capitalista sobre o trabalho

surgiu assim que os trabalhadores, por ele chamados de produtores, foram reunidos no mesmo

espaço para produzirem. ―(...) tão logo os produtores foram reunidos, surgiu o problema da

gerência em forma rudimentar. Em primeiro lugar, surgiram funções de gerência pelo próprio

exercício do trabalho cooperativo.(...)‖15

O capitalista dirige o processo de produção porque é proprietário do capital, isto é, dos

meios de produção. No modo de produção capitalista tudo se torna propriedade do capital,

inclusive do tempo dos trabalhadores, que a este vende sua força de trabalho para garantir sua

subsistência. Braverman afirma que ―o capitalista assumiu essas funções como gerente em

virtude de sua propriedade do capital. Nas relações capitalistas de troca, o tempo dos

trabalhadores era propriedade dele tanto quanto a matéria-prima fornecida e os produtos saídos de

sua oficina.(...)‖16

Nos primórdios da organização da produção sob o comando do capital ocorria uma

degradação do trabalho proveniente da subcontratação, principalmente no sistema domiciliar. Isto

14

Ibid., p. 263. 15 BRAVERMAN, Harry. Trabalho e Capital Monopolista: A Degradação do Trabalho no Século XX. Rio de

Janeiro: Zahar, 1981, p. 61. 16 Ibid., p. 62.

11

ocorria porque a princípio os capitalistas desconsideravam a diferença entre força de trabalho e o

trabalho que dela poderia ser obtido, assim, compravam em vez da força de trabalho, o trabalho já

acabado em forma de produtos, sendo que isto gerava a subcontratação e o trabalho domiciliar.

Naquela forma de organização da produção, havia sempre a figura do subcontratador e de agentes

em comissão que empreitavam os trabalhos para serem executados por terceiros. Existiam casos

em que trabalhadores qualificados empregavam seus próprios ajudantes, auxiliando o capital na

exploração do trabalho de crianças. Os capatazes, além de supervisionar a produção para os

capitalistas, muitas vezes arrendavam máquinas e pagavam salários para que outros as operassem

para si. A terceirização do trabalho não é tão moderna como acreditam os doutrinadores da pós-

modernidade.17

Assim, nos esclarece Braverman, afirmando que:

As primeiras fases do capitalismo industrial foram assinaladas por um continuado esforço por parte do

capitalista para desconsiderar a diferença entre a força de trabalho e o trabalho que pode ser obtido dela, e

para comprar trabalho do mesmo modo como ele adquiria matérias-primas: como uma determinada

quantidade de trabalho, completa e incorporada no produto. Este empenho assumiu a forma de uma

grande variedade de sistemas de subcontratação e ‘desligamento’. Era encontrado sob a forma de

trabalho domiciliar na tecelagem, fabricação de roupas, objetos de metal (pregos e cutelaria), relojoaria,

chapéus, indústrias de lã e couro. No caso, o capitalista distribuía os materiais na base de empreitada aos

trabalhadores, para manufatura em suas casas, por meio de subcontratadores e agentes em comissão. (...)

O sistema persistiu inclusive nas primeiras fábricas. Nas fábricas de fios de algodão, fiandeiros

qualificados eram encarregados da maquinaria e recrutavam seus próprios ajudantes, em geral crianças,

dentre familiares e conhecidos. Os capatazes às vezes juntavam às funções de supervisão a prática de tomar a seus cuidados umas poucas máquinas e pagar salário a quem as operasse....18

Entretanto, o sistema de produção através do sistema domiciliar foi uma fase de transição,

num momento em que o capital ainda não havia assumido a função de direção da produção no

capitalismo industrial, nem o controle sobre o processo de trabalho. O sistema de produção

domiciliar era incompatível com o desenvolvimento da forma de produzir capitalista que se

tornava totalizadora, razão pela qual sobrevive apenas em casos especiais.

A subcontratação e a produção domiciliar geravam irregularidades, perdas de material e

lentidão da produção. Estes sistemas eram limitados pois não conseguiam transformar e superar a

organização artesanal da produção. A prática capitalista de comprar trabalho acabado e não a

força de trabalho, possibilitava a subcontratação e o trabalho domiciliar, deixando fora do alcance

dos capitalistas um enorme potencial de trabalho humano que não conseguiam controlar e

disciplinar. Na prática, esta forma de organização da produção se constituía em entrave para a

expansão e valorização do capital.

17

Apesar do processo descrito por Braverman não ser a mesma coisa da terceirização contemporânea, mostra-nos

que a subcontratação da força de trabalho é um recurso utilizado pelos capitalistas desde as primeiras fases do

desenvolvimento industrial. 18 Ibid., p. 62-63, os grifos são meus.

12

Analisando o controle exercido sobre turmas grandes de trabalhadores, muito anterior ao

modo de produção capitalista, nos exércitos e nos trabalhos desenvolvidos por escravos,

Braverman constata que ―a administração exigida em tais situações permanecia elementar‖:

... O capitalista, porém, lidando com o trabalho assalariado, que representa um custo para toda hora não

produtiva, numa seqüência de tecnologia rapidamente revolucionadora, e espicaçado pela necessidade de

exibir um excedente e acumular capital, ensejou uma arte inteiramente nova de administrar, que mesmo

em suas primitivas manifestações era muito mais completa, autoconsciente, esmerada e calculista do que

qualquer coisa anterior.‖19

A gerência primitiva do capital agiu através de formas rígidas, despóticas e coercitivas

para criar uma força de trabalho livre, que se habituasse às tarefas e se mantivesse sob o comando

e controle do capital durante dias e anos. A princípio, não havia uma teoria e prática desenvolvida

da gerência, isso tornou-se necessário porque o capital havia ―criado novas relações sociais de

produção‖ que colocava os capitalistas diante de problemas novos e diferentes em relação as

formas anteriores de organização da produção e do trabalho.

Com o desenvolvimento da cooperação, à medida que o trabalho já está subordinado ao

capital, também o controle capitalista sobre o trabalhador e o processo de trabalho já estão dados,

ou seja, a necessidade do controle do capital sobre o trabalho se dá com o desenvolvimento do

trabalho coletivo. A direção e a organização do trabalho sob o capital é função do capitalista. O

motivo básico pelo qual o capitalista organiza, reorganiza, ordena e reordena o processo de

trabalho é a autovalorização de seu capital, ou seja, a maior expropriação possível de mais-valia.

Portanto, a autovalorização do capital pressupõe a maior exploração possível da força de

trabalho. O capital só se reproduz por meio da expropriação de trabalho alheio. Para tanto, busca-

se desenvolver meios de racionalização do trabalho visando tal reprodução.

A organização do processo de trabalho, portanto, obedece a vontade do capitalista e sua

necessidade de acumulação e reprodução de capital. Isso não ocorre sem resistência dos

trabalhadores à exploração capitalista, o que obriga os capitalistas a pressionarem contra essa

resistência. A organização do processo de trabalho está inserida no contexto da luta antagônica

entre as classes que contrapõe os explorados contra os exploradores. São os interesses

antagônicos entre capitalistas e trabalhadores que condicionam e limitam a exploração do capital

sobre o trabalho.

A cooperação impulsionou o desenvolvimento das forças produtivas, mas esta não

pertence aos trabalhadores que a desenvolvem, por meio da execução do trabalho de forma

cooperativa e combinada, pelo contrário, pertence ao capitalista. O processo de trabalho

19 Ibid., p. 66.

13

combinado, cooperativo, só se tornou possível porque o capitalista contrata individualmente

trabalhadores que para sobreviver precisam vender suas forças de trabalho.

O capitalista contrata o trabalhador para executar tarefas de forma coletiva, mas compra a

sua força de trabalho individualmente. Não interessa ao capital se o trabalho é social, coletivo,

combinado e cooperativo. Ele, o proprietário do capital, contrata e paga a força de trabalho

individualmente, mas coloca os trabalhadores para trabalharem coletivamente, ou seja, para

cooperarem no processo produtivo, no entanto, não paga aos trabalhadores pelo trabalho

executado de forma combinada, pagando-lhes apenas o suficiente para repor sua força de

trabalho individual e de sua família, garantindo assim a reprodução futura do capital.

A cooperação sendo uma forma específica de trabalho desenvolvida pelo modo de

produção capitalista, pressupõe portanto o capitalismo, sendo que ela é ao mesmo tempo o ponto

de partida de tal modo de produção. Para Marx a cooperação nada mais é que:

... a primeira modificação que o processo de trabalho real experimenta pela sua subordinação ao capital.

Essa modificação se dá naturalmente. Seu pressuposto, ocupação simultânea de um número relativamente

grande de assalariados no mesmo processo de trabalho, constitui o ponto de partida da produção

capitalista. Este coincide com a existência do próprio capital. Se o modo de produção capitalista se

apresenta, portanto, por um lado, como uma necessidade histórica para a transformação do processo de

trabalho em um processo social, então, por outro lado, essa forma social do processo de trabalho

apresenta-se como um método, empregado pelo capital, para mediante o aumento da sua força produtiva

explorá-lo mais lucrativamente.20

1.2. Manufatura e Divisão do Trabalho

Segundo Marx, na manufatura, o processo de produção nada mais é que uma

decomposição da ―atividade artesanal em suas diversas operações parciais‖. Seja a atividade

manufatureira composta ou simples, sua execução ―dependente da força, habilidade, rapidez e

segurança do trabalhador individual no manejo de seu instrumento‖, o processo de trabalho

continua sendo artesanal. Os trabalhadores são a base fundamental desse processo de produção,

pois é o trabalho parcial, subdividido, de cada um, feito artesanalmente, que garante que o

produto percorra todas as fases da produção numa cadeia de trabalhadores parcelados. Sendo que,

o trabalhador é apropriado na produção para executar função parcial, vendo sua força de trabalho

ser ―transformada por toda vida em órgão dessa função parcial‖. Conforme se depreende da

citação a seguir, Marx entende que a divisão do trabalho na manufatura ―é uma espécie particular

da cooperação‖, sendo que ―algumas de suas vantagens‖ decorrem da ―natureza geral‖ da

cooperação ―e não dessa forma particular de cooperação.‖ Por isso, afirma que:

20 MARX, Karl. op. cit., p. 265-266.

14

Para o entendimento correto da divisão do trabalho na manufatura é essencial atentar para os seguintes

pontos: antes de mais nada, a análise do processo de produção em suas fases particulares coincide

inteiramente com a decomposição de uma atividade artesanal em suas diversas operações parciais.

Composta ou simples, a execução continua artesanal e portanto dependente da força, habilidade, rapidez e

segurança do trabalhador individual no manejo de seu instrumento. (...) Precisamente por continuar sendo

a habilidade manual a base do processo de produção é que cada trabalhador é apropriado exclusivamente

para uma função parcial e sua força de trabalho é transformada por toda vida em órgão dessa função

parcial. Finalmente, essa divisão do trabalho é uma espécie particular da cooperação e algumas de suas

vantagens decorrem da natureza geral e não dessa forma particular da cooperação.21

Para Marx, a manufatura produz a virtuosidade do trabalhador detalhista, porque

consegue na oficina reproduzir, desenvolver e impulsionar ao extremo ―a diferenciação

naturalmente desenvolvida dos ofícios,‖ que ela (a manufatura) já encontrou desenvolvida na

sociedade. O trabalho parcial é desenvolvido ao seu limite pela manufatura.

A vantagem da atividade executada pelo trabalhador parcial da manufatura em relação ao

trabalho executado pelo artesão, é que o artesão tinha que executar todas as operações na

produção de um determinado produto, tinha que se movimentar muito para executar o seu

trabalho, além de ter que trocar constantemente de instrumento de trabalho. Com isso, ele perdia

muito tempo, e criava ―poros em sua jornada de trabalho‖. Já o trabalhador parcial se vê obrigado

a executar o dia inteiro a mesma operação, o mesmo movimento, fazendo com que os poros

diminuam ou desapareçam. Essa forma de trabalho faz com que aumente a produtividade do

trabalho graças ao ―dispêndio crescente da força de trabalho em dado espaço de tempo.‖ O

excesso de energia dispendida pelo artesão ao manusear os instrumentos e ter que se mover de

um lado para outro, é compensado pelo trabalhador parcial ao atingir maior perduração da

velocidade normal do seu trabalho.

A produtividade na divisão manufatureira do trabalho não dependia apenas do trabalhador

e de sua virtuosidade, mas fundamentalmente da perfeição de seus instrumentos de trabalho.

No entanto, o trabalhador parcial, ao assumir as tarefas decompostas e dissociadas,

subdivididas e parceladas na produção manufatureira, acaba desenvolvendo ―a forma mais

adequada possível‖ para a execução do trabalho, facilitando a sua atividade e exigindo novos

instrumentos de trabalho.

Essa mudança de forma possui sentido na ―experiência das dificuldades específicas

ocasionadas pela forma inalterada‖. Os primeiros trabalhadores parciais receberam as mesmas

ferramentas de trabalho que eram antes utilizadas pelos artesãos, portanto, ferramentas que

prestavam para diversas atividades ao mesmo tempo. Como tinham que executar uma mesma

21 Ibid., p. 268-269.

15

atividade permanentemente, desenvolveram novas formas de intervir na produção e

consequentemente a necessidade de novas ferramentas especializadas para o trabalho, para uso

particular, fixo e exclusivo em determinadas atividades, condizentes com o trabalho parcial.

Ao desenvolver a ferramenta especializada, melhorando, diversificando e adaptando ―às

funções exclusivas particulares dos trabalhadores parciais‖, o período manufatureiro criou as

condições materiais para o surgimento e desenvolvimento da maquinaria, que ―consiste numa

combinação de instrumentos simples‖.22

Na produção manufatureira o trabalhador parcial exerce uma importância vital, pois de

sua virtuosidade depende a continuidade da cadeia produtiva. A produção de um dado produto é

feito em seqüência, ou seja, um trabalhador tem que dar continuidade ao trabalho do outro, ―o

resultado do trabalho de um constitui o ponto de partida para o trabalho do outro‖.23

É a

experiência do trabalhador parcial que permite prever e fixar o tempo necessário para ―alcançar o

efeito útil ambicionado em cada processo parcial‖, sendo possível basear-se o resultado a ser

obtido pelo mecanismo global da manufatura. Somente através desta organização que permite aos

―diferentes processos de trabalho, que se complementam mutuamente‖ prosseguir a produção no

mesmo espaço, ao mesmo tempo sem necessidade de interrupção. Este mecanismo gera uma

dependência do processo produtivo em relação aos trabalhos desenvolvidos pelos indivíduos, e ao

mesmo tempo dos trabalhadores entre si, obrigando ―cada indivíduo a empregar só o tempo

necessário à sua função‖. É esta dependência que ao prender o indivíduo em sua função faz com

que a produção manufatureira consiga superar as formas de trabalho anterior. Conforme nos

esclarece Marx, observando que:

... É claro que essa dependência direta dos trabalhos e portanto dos trabalhadores entre si obriga cada

indivíduo a empregar só o tempo necessário à sua função, produzindo-se assim uma continuidade,

uniformidade, regularidade, ordenamento e nomeadamente também intensidade de trabalho totalmente

diferentes das vigentes no ofício independente ou mesmo na cooperação simples....24

Marx observa que o período manufatureiro tinha conscientemente como princípio

diminuir o tempo de trabalho necessário para a produção de mercadorias, e que o mesmo

chegou, embora esporadicamente a desenvolver a utilização de máquinas para a execução de

processos simples.

Segundo Marx o ―trabalhador coletivo, combinação de muitos trabalhadores parciais‖, é a

maquinaria específica do período manufatureiro. Analisando a complexidade da produção

22 Ibid., p. 270-271. 23 Ibid., p. 273. 24 Ibid.

16

manufatureira com suas diversas operações a executar, exigindo do trabalhador ora força, ora

habilidade, outrora atenção mental, Marx assinala que o mesmo indivíduo não possui todas estas

qualidades no mesmo grau. Por isso, na manufatura faz-se a separação, autonomização e

isolamento das diferentes operações, separando, classificando e agrupando os trabalhadores de

acordo com suas qualidades dominantes. É sobre as peculiaridades naturais dos trabalhadores que

se estabelece a divisão do trabalho, entretanto, com a introdução da manufatura, desenvolve-se

força-de-trabalho, apta para funções específicas unilaterais. Ao desenvolver o trabalho

combinado, cooperativo, a manufatura consegue ter no trabalhador coletivo ―todas as

propriedades produtivas no mesmo grau de virtuosidade‖ conseguindo utilizar todos os seus

órgãos, individuais ou de grupos de trabalhadores, de forma exclusiva em suas funções

específicas. A manufatura consegue fazer com que o limite e a imperfeição do trabalhador parcial

torne-se uma perfeição como trabalhador coletivo. O trabalhador parcial, enquanto exerce uma

função unilateral transforma esta função em seu órgão natural, já em conexão com o mecanismo

global de produção é levado a operar como se fosse um componente de máquina. De tal forma

que:

As diferentes operações que são executadas alternadamente pelo produtor de uma mercadoria e que se

entrelaçam no conjunto de seu processo de trabalho apresentam-lhe exigências diferentes. Numa ele tem

de desenvolver mais força, em outra mais habilidade, numa terceira mais atenção mental etc., e o mesmo

indivíduo não possui essas qualidades no mesmo grau. Depois da separação, autonomização e isolamento

das diferentes operações, os trabalhadores são separados, classificados e agrupados segundo suas

qualidades dominantes. (...) O trabalhador coletivo possui agora todas as propriedades produtivas no

mesmo grau de virtuosidade e ao mesmo tempo as despende da maneira mais econômica, empregando

todos os seus órgãos, individualizadas em trabalhadores ou grupos de trabalhadores determinados,

exclusivamente para suas funções específicas. A unilateralidade e mesmo imperfeição do trabalhador

parcial tornam-se sua perfeição como membro do trabalhador coletivo. O hábito de exercer uma função

unilateral transforma-o em seu órgão natural e de atuação segura, enquanto a conexão do mecanismo global o obriga a operar com regularidade de um componente de máquina.25

O processo de produção sob a manufatura, fundada na cooperação e no trabalho

combinado, portanto coletivo, ao fazer com que os trabalhadores tenham que exercer funções

simples e complexas, baixa e elevada, exige grau de formação diferenciada dos trabalhadores

individuais, sendo que, isto faz variar também o valor da força de trabalho. A manufatura

desenvolve uma hierarquia das forças de trabalho ao criar a escala de salários. A produção

manufatureira apropria-se e anexa o trabalhador parcial por toda a sua vida a uma função

unilateral, obrigando-o a adaptar-se ―as diferentes operações daquela hierarquia (...) às

habilidades naturais adquiridas.‖

25 Ibid., p. 275-276.

17

O período manufatureiro criou os chamados trabalhadores não qualificados, aqueles cujos

despreparos para a produção eram descartados pelo artesanato. A manufatura, ao mesmo tempo

que desenvolve ao extremo toda a especialidade unilateral do trabalhador parcial, sua capacidade

total de trabalho, fazendo-o dominar a arte de produzir, transformando-o em um ser virtuoso,

também começa ―a fazer da falta de todo desenvolvimento uma especialidade‖, ou seja, a utilizar

a força de trabalho não qualificada.

A manufatura cria ao lado da separação hierárquica uma separação entre trabalhadores

qualificados e não qualificados. Para o trabalhador não qualificado a aprendizagem não tem

custo, ao passo que para o trabalhador qualificado há uma redução de custo em comparação com

o trabalhador artesanal, em razão da simplificação da função. Por outro lado, a manufatura

provoca uma desvalorização da força de trabalho em relação ao trabalho artesanal. A

desvalorização da força de trabalho é também um meio de valorização do capital, pois aumenta o

trabalho excedente não pago ao trabalhador.

O comando capitalista sobre um grupo considerável de trabalhadores foi a condição para a

existência e desenvolvimento da cooperação e da manufatura. A divisão manufatureira do

trabalho fez aumentar o número de trabalhadores empregados, pois desenvolveu ainda mais a

divisão do trabalho. A base técnica da manufatura impulsionou a concentração de capital em

mãos de capitalistas individuais, determinando a transformação dos meios sociais de subsistência

e de produção em capital. Para tanto:

Um número relativamente grande de trabalhadores sob o comando de um mesmo capital constitui o ponto

de partida naturalmente desenvolvido tanto da cooperação em geral, quanto da manufatura.

Reciprocamente, a divisão manufatureira do trabalho desenvolve o crescimento do número de

trabalhadores empregados numa necessidade técnica. O mínimo de trabalhadores, que um capitalista

individual tem de empregar, é-lhe agora prescrito pela divisão do trabalho estabelecida. (...) O incremento

progressivo do volume mínimo de capital em mãos de capitalistas individuais ou a transformação

crescente dos meios sociais de subsistência e dos meios de produção em capital é portanto uma lei que

decorre do caráter técnico da manufatura.26

Tal qual na cooperação simples, na manufatura é o corpo de trabalho em ação a forma de

existência do capital, pois os trabalhadores parciais movimentam um mecanismo social de

produção que pertence ao capitalista. A força produtiva do trabalho fundada na combinação dos

trabalhadores parciais, acaba aparecendo como força produtiva do capital, pois a manufatura

submete ao comando e disciplina do capital o trabalhador que antes exercia suas atividades

artesanais de forma autônoma, criando uma graduação hierárquica entre os trabalhadores. Ao

26 Ibid., p. 282.

18

contrário da cooperação simples que não alterava a forma individual de trabalho, a manufatura

apropria-se da força de trabalho individualmente, transformando radicalmente o modo de

produzir.

A manufatura, ao transformar o trabalhador em executor parcial de uma determinada

atividade, aleija-o convertendo-o numa anomalia, fomentando artificialmente sua habilidade.

Ela divide não só os trabalhos parciais específicos entre os indivíduos, senão o ―próprio indivíduo

é dividido no motor automático de um trabalho parcial‖. Marx observa que a manufatura faz com

que o trabalhador, que a princípio vende sua força de trabalho para o capital por não ter os meios

materiais para a produção de mercadorias, tenha necessariamente que vender sua força de

trabalho individual ao capital, pois é a condição ―sine qua non‖ para poder cumprir seu serviço. A

força de trabalho só funciona depois de vendida ao capitalista, na oficina deste. As

transformações técnicas e do processo de trabalho na manufatura deformam o trabalhador,

tornando-o um incapacitado, fazendo desaparecer ―a qualidade natural para fazer algo

autônomo‖, pois desaparecem as habilidades artesanais do trabalhador individual. O trabalhador

torna-se um apêndice da oficina capitalista e só consegue desenvolver uma atividade produtiva

como acessório desta.

A manufatura apropria-se dos conhecimentos, compreensão e vontade que o camponês ou

artesão autônomo desenvolviam, mesmo que em escala pequena, que agora são exigidos pela

oficina de trabalho em seu conjunto. Marx observa também que ―as potências intelectuais da

produção ampliam sua escala por um lado, porque desaparecem por muitos lados.‖ Aquilo que os

trabalhadores parciais perdem em habilidades é concentrado e incorporado ao capital com que se

defrontam. A divisão manufatureira do trabalho opõe, aos trabalhadores, as forças intelectuais da

produção, fazendo desta uma propriedade alheia e um poder que os domina, pois torna-se poder

do capital. O trabalhador é pago para produzir, não para pensar. Marx revela que o processo de

dissociação entre ―elaboração‖ e ―execução‖ começou com a cooperação simples, onde o

capitalista já representava ―a unidade e a vontade do corpo social de trabalho‖, diante dos

trabalhadores individuais. Esse processo intensificou-se, mutilando ainda mais o trabalhador,

convertendo-o, na manufatura, em trabalhador parcial e completando com a grande indústria que

separou ―do trabalho a ciência, como potência autônoma da produção e a força de servir ao

capital.‖ Conforme se depreende da afirmação de Marx:

Os conhecimentos, a compreensão e a vontade, que o camponês ou artesão autônomo desenvolve mesmo

que em pequena escala, como o selvagem exercita toda arte da guerra como astúcia pessoal, agora passam

a ser exigidos apenas pela oficina em seu conjunto. As potências intelectuais da produção ampliam sua

escala por um lado, porque desaparecem por muitos lados. O que os trabalhadores parciais perdem,

19

concentra-se no capital com que se defrontam. É um produto da divisão manufatureira do trabalho opor-

lhes as forças intelectuais do processo material de produção como propriedade alheia e poder que os

domina. Esse processo de dissociação começa na cooperação simples, em que o capitalista representa em

face dos trabalhadores individuais a unidade e a vontade do corpo social de trabalho. O processo

desenvolve-se na manufatura, que mutila o trabalhador, convertendo-o em trabalhador parcial, ele se

completa na grande indústria, que separa do trabalho a ciência como potência autônoma de produção e a

força a servir ao capital.27

Algumas deformações da divisão do trabalho no período manufatureiro são inseparáveis

da divisão geral do trabalho na sociedade, ou seja, a manufatura reproduzia a divisão do trabalho

já existente na sociedade com base nas corporações de ofício. No entanto, o período

manufatureiro levou muito mais longe essa divisão social dos ramos de trabalho. Foi a divisão

manufatureira que forneceu o material e deu o impulso para o desenvolvimento da patologia

industrial. Marx afirma que, neste sentido:

Certa deformação física e espiritual é inseparável mesmo da divisão do trabalho em geral na sociedade.

Mas como o período manufatureiro leva muito mais longe essa divisão social dos ramos de trabalho e, por

outro lado, apenas com a divisão peculiar alcança o indivíduo em suas raízes vitais, é ele o primeiro a

fornecer o material e dar o impulso para a patologia industrial.28

A divisão manufatureira do trabalho desenvolveu uma nova força produtiva social do

trabalho a partir da análise da atividade artesanal de trabalho, da especificação dos instrumentos

de trabalho, da formação dos trabalhadores especiais, isto é, de trabalhadores parciais, do

desenvolvimento de um mecanismo global de produção que agrupa e combina o trabalho desses

trabalhadores. Esta mesma divisão do trabalho social engendrou uma graduação qualitativa e uma

proporcionalidade quantitativa de processos sociais de produção. Sendo a divisão manufatureira

do trabalho uma forma de produção social específica do capitalismo, desenvolvida sob as bases

deste modo social de produção, seu desenvolvimento não poderia se dar de outra forma. Segundo

Marx, esta divisão social de trabalho não é outra coisa, senão um método especial de produzir

mais-valia relativa, ou seja, de aumentar a alto-valorização do capital à custa de maior quantidade

de trabalho excedente tirado dos trabalhadores. A reprodução do capital pressupõe a exploração

contínua de trabalho excedente que é convertido em capital como forma de garantir a expansão

da reprodução capitalista. Esta divisão social do trabalho não só desenvolve a força produtiva

social do trabalho só para o capitalista, alijando o trabalhador deste desenvolvimento, como

desenvolve esta força produtiva através da mutilação do trabalhador individual que é

transformado em um trabalhador parcial. A divisão manufatureira do trabalho cria novas

27 Ibid., p. 283-284. 28 Ibid., p. 285.

20

condições de dominação do capital sobre o trabalho. Esta divisão do trabalho embora apareça

como progresso histórico, pois é um avanço em relação ao trabalho artesanal, por isso mesmo,

um processo necessário, é, na realidade, um meio civilizado e refinado de exploração social.

Razão pela qual:

A divisão manufatureira do trabalho cria, por meio da análise da atividade artesanal, da especificação dos

instrumentos de trabalho, da formação dos trabalhadores especiais, de sua agrupação e combinação em um

mecanismo global, a graduação qualitativa e a proporcionalidade quantitativa de processos sociais de

produção, portanto determinada organização do trabalho social, e desenvolve com isso, ao mesmo tempo,

nova força produtiva social do trabalho. Como forma especificamente capitalista do processo de produção

social - e sob as bases preexistentes ela não podia desenvolver-se de outra forma, a não ser na capitalista -

é apenas um método especial de produzir mais-valia relativa ou aumentar a autovalorização do capital - o

que se denomina riqueza social, Wealth of Nations etc. - à custa dos trabalhadores. Ela desenvolve a força

produtiva social do trabalho não só para o capitalista, em vez de para o trabalhador, mas também por meio

da mutilação do trabalhador individual. Produz novas condições de dominação do capital sobre o trabalho.

Ainda que apareça de um lado como progresso histórico e momento necessário do processo de formação econômica da sociedade, por outro ela surge como um meio de exploração civilizada e refinada.29

A divisão manufatureira do trabalho chocou-se com diversos obstáculos para poder

realizar as suas tendências. Ela criou ao lado da graduação hierárquica dos trabalhadores uma

divisão entre trabalhadores qualificados e não qualificados, sendo a quantidade dos últimos

limitada pela influência dos primeiros. Os hábitos e a resistência dos trabalhadores masculinos

levaram os capitalistas no período manufatureiro a ajustar ―as operações especiais aos diversos

graus de maturidade, força e desenvolvimento dos seus órgãos vivos de trabalho‖, incrementando

a exploração de mulheres e crianças no processo produtivo. A decomposição da atividade

artesanal reduziu os custos de formação, logo, reduziu também o valor do trabalhador parcial, no

entanto, o trabalho de detalhe mais difícil exigia um tempo mais longo de aprendizagem, sem

contar que os trabalhadores procuravam preservar esta necessidade mesmo onde isto fosse

supérfluo. A base da manufatura foi a atividade artesanal cujo mecanismo global era

extremamente dependente dos trabalhadores, o que obrigava o capital a ter que lutar

constantemente contra a insubordinação destes. Assim sendo, Marx afirma que:

Durante o período manufatureiro propriamente dito, isto é, o período em que a manufatura era a forma

dominante do modo de produção capitalista, a plena realização de suas tendências se choca com

obstáculos de diversas naturezas. Embora, como vimos, ela criasse ao lado da graduação hierárquica dos

trabalhadores uma divisão simples entre trabalhadores qualificados e não qualificados, o número dos

últimos fica muito limitado em virtude da influência predominante dos primeiros. Embora ajustasse as

operações especiais aos diversos graus de maturidade, força e desenvolvimento dos seus órgãos vivos de

trabalho e portanto induzindo a exploração produtiva de mulheres e crianças, essa tendência malogra

geralmente devido aos hábitos e à resistência dos trabalhadores masculinos. Embora a decomposição da

29 Ibid., p. 286.

21

atividade artesanal reduzisse os custos de formação e portanto o valor do trabalhador, continua necessário

para o trabalho de detalhe mais difícil um tempo mais longo de aprendizagem e mesmo onde este tornava

supérfluo, os trabalhadores procuravam zelosamente preservá-lo. (...) Uma vez que a habilidade artesanal

continua a ser a base da manufatura e que o mecanismo global que nela funciona não possui nenhum

esqueleto objetivo independente dos próprios trabalhadores, o capital luta constantemente com a

insubordinação dos trabalhadores.30

A manufatura não se apossa de toda extensão da produção social, nem mesmo

revoluciona-a em profundidade. Embora economicamente esteja acima do artesanato urbano e da

indústria doméstica rural, ao atingir certo grau de desenvolvimento, entra em contradição com as

necessidades de produção que ela mesmo criou, em conseqüência de sua estreita base técnica. A

manufatura desenvolveu a oficina para produção dos instrumentos de trabalho, que já produzia

aparelhos mecânicos complicados que se começava a aplicar na produção.

Ao mesmo tempo, a manufatura nem podia apossar-se da produção social em toda a sua extensão, nem

revolucioná-la em sua profundidade. Como obra de arte econômica ela eleva-se qual ápice sobre a ampla

base do artesanato urbano e da indústria doméstica rural. Sua própria base técnica estreita, ao atingir certo

grau de desenvolvimento, entrou em contradição com as necessidades de produção que ela mesmo criou. Uma de suas obras mais completas foi a oficina para a produção dos próprios instrumentos de trabalho, nomeadamente também dos aparelhos mecânicos mais complicados que já começavam a ser aplicados.31

As oficinas que a princípio produziram instrumentos de trabalho acabaram por produzir

máquinas. As máquinas superaram o trabalho artesanal e passaram a regular a produção social.

Isso suplantou a anexação do trabalhador a uma função parcial, por toda a vida e fez cair as

barreiras que aquela anexação por motivos técnicos impunham ao domínio do capital sobre o

trabalho.

Esse produto da divisão manufatureira do trabalho produziu, por sua vez máquinas. Elas superam a

atividade artesanal como princípio regulador da produção social. Assim, por um lado, é removido o

motivo técnico da anexação do trabalhador a uma função parcial, por toda a vida. Por outro lado, caem as

barreiras que o mesmo princípio impunha ao domínio do capital.32

No entanto, as máquinas só surgiram no final do século XVIII. Veremos, no próximo

item, que a ela foram agrupadas as ferramentas antes controladas pelos trabalhadores. Até o

surgimento da máquina, os instrumentos de trabalho foram durante milênios utilizadas de forma

manual como meio de os homens produzirem a vida material.

30 Ibid., p. 287-288. 31 Ibid., p. 288. 32 Ibid., p. 289.

22

1.3. Maquinaria e Grande Indústria

A base técnica desenvolvida pela divisão social do trabalho manufatureira, cujas oficinas

produziam instrumentos de trabalho para os trabalhadores, foram levadas a produzirem máquinas,

revolucionando assim o processo de produção. Esta revolução conduziu o capitalismo a uma fase

mais avançada da organização da produção, ou seja a Grande Indústria, fundada na maquinaria. A

partir desse momento, o processo de produção capitalista efetiva a separação entre o trabalhador e

o instrumento de trabalho. Os instrumentos de trabalho que na produção artesanal e

manufatureira eram manuseados e controlados pelos trabalhadores foram anexados à máquina.

Marx nos afirma que:

Se examinarmos, agora, mais de perto a máquina-ferramenta ou máquina de trabalho propriamente dita,

então reaparecem, grosso modo, ainda que freqüentemente sob forma muito modificada, os aparelhos e

ferramentas com que o artesão e o trabalhador de manufatura trabalham, não como ferramentas do

homem, porém agora como ferramentas de um mecanismo ou ferramentas mecânicas. Ou a máquina toda

é uma edição mecânica mais ou menos modificada do antigo instrumento artesanal, como no caso do tear

mecânico, ou os órgãos ativos implantados na armação da máquina de trabalho são velhos conhecidos,

como fusos na máquina de fiar, agulhas no tear de confeccionar meias, lâminas de serra na máquina de

serrar, facas na máquina de picar etc. (...)33

Este processo de transferência das ferramentas - que antes eram manuseadas e controladas

pelos trabalhadores no processo de produção - para a máquina, faz parte da lógica do sistema

capitalista cuja busca permanente de expansão e reprodução do capital conduziu necessariamente

à superação do limite humano que se constituía naquele momento em um entrave para o

desenvolvimento do trabalho social. A maquinaria veio para revolucionar as forças produtivas,

aumentando a produtividade do trabalho, que passou a produzir com a menor quantidade de

trabalho um volume maior de mercadorias. A tendência histórica do capital é revolucionar a sua

composição técnica, como forma de se expandir e se reproduzir. Portanto, a revolução

introduzida pela maquinaria se insere nessa tendência histórica, pois alterou substancialmente a

composição técnica do capital ao tirar dos trabalhadores os instrumentos de trabalho, superando

as limitações da organização manufatureira do trabalho que tal qual o sistema de produção

artesanal ainda mantinha as ferramentas do ofício como base da produção. A revolução

introduzida pela maquinaria acabou por conduzir à produção de máquinas que produziam

máquinas, consubstanciando ainda mais o desenvolvimento das forças produtivas sob o comando

do capital. Marx observa que:

33 MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. São Paulo: Nova Cultural, 1988. Vol. II, p. 6-7.

23

Quando a própria ferramenta é transferida do homem para um mecanismo, surge uma máquina no lugar de

uma mera ferramenta. A diferença salta logo à vista, mesmo que o ser humano continue sendo o primeiro

motor. O número de instrumentos de trabalho com que ele pode operar ao mesmo tempo é limitado pelo

número de seus instrumentos naturais de produção, seus próprios órgãos corpóreos.34

Marx enfatiza que a virtuosidade do trabalhador parcial também foi transferida para a

máquina juntamente com a ferramenta. Este processo superou o fundamento técnico da divisão

manufatureira do trabalho, pois a máquina emancipa a eficácia da ferramenta do limite natural da

força de trabalho humana. Se antes a organização do processo de trabalho baseava-se no trabalho

coletivo dos trabalhadores parciais, agora a organização passa a se basear no sistema de

máquinas, limitando a atuação do trabalhador que passa a ter que apenas acompanhar o trabalho

da máquina. Neste sentido, ocorre um processo de substituição da força de trabalho humana pela

maquinaria, ou seja, substitui-se o trabalho vivo pelo trabalho morto.

Com a introdução da maquinaria os trabalhadores não trabalham mais de forma

articulada, pois são distribuídos entre as máquinas que ficam enfileiradas dentro das fábricas. Os

trabalhadores passam a ter que executar entre si apenas cooperação simples, pois o trabalho

articulado, complexo, é feito pelo sistema de máquinas conduzidas por máquinas-ferramentas.

Surge, então, a figura do operário principal que com a ajuda de poucos auxiliares substitui o

grupo que na manufatura executava o trabalho cooperativo, de forma combinada e articulada.

Marx define a nova composição da classe trabalhadora gestada pela maquinaria da seguinte

forma:

A distinção essencial é entre trabalhadores que efetivamente estão ocupados com as máquinas-ferramentas

(adicionam-se a estes alguns trabalhadores para vigiar ou então alimentar a máquina-motriz) e meros

ajudantes (quase exclusivamente crianças) desses trabalhadores de máquinas. Entre os ajudantes incluem-

se mais ou menos todos os feeders (que apenas suprem as máquinas com material de trabalho). Ao lado

dessas classes principais, surge um pessoal numericamente insignificante que se ocupa com o controle do

conjunto da maquinaria e com sua constante reparação, como engenheiros, mecânicos, marceneiros etc. É

uma classe mais elevada de trabalhadores, em parte com formação científica, em parte artesanal, externa ao círculo de operários de fábrica e só agregada a eles. Essa divisão de trabalho é puramente técnica.35

Portanto, a maquinaria se constituiu em um instrumento para o capital aumentar a

produtividade do trabalho, ou seja, para elevar a extração de mais valia. Ao desenvolver a

máquina ferramenta que opera simultaneamente com diversas ferramentas, o capital conseguiu se

livrar do limite humano que emperrava o ritmo da produção, emancipando-se da ―...

34 Ibid., p. 7. 35 Ibid., p. 40.

24

barreira orgânica que restringe a ferramenta manual de um trabalhador...‖.36

Com isto, o capital

consegue aumentar o ritmo, a produtividade e o volume de trabalho excedente não pago aos

trabalhadores.

Na maquinaria, a cooperação, base do trabalho parcial na manufatura, passa a ser

exercida, não mais pelos trabalhadores, mas por um sistema de máquinas que permite a execução

da produção de forma combinada pelas máquinas. Na manufatura, os trabalhadores manuseavam

as ferramentas e executavam parcialmente, individualmente ou em grupos os processos de

produção. O processo de trabalho era organizado de tal forma que os trabalhadores eram

adequados ao processo, mas o processo tinha que ser antes adaptado aos trabalhadores. A

maquinaria suprimiu este princípio que norteou a produção manufatureira, pois com a

mecanização, o processo de produção passou a ser pensado de forma objetiva por meio das

análises de suas fases constitutivas. Observando este processo, Marx afirma que:

A partir do momento em que a máquina de trabalho executa todos os movimentos necessários ao

processamento da matéria prima sem ajuda humana, precisando apenas de assistência humana, temos um

sistema de maquinaria automático, capaz de ser continuamente aperfeiçoado em seus detalhes..37

A transição da manufatura para o período da grande indústria fundada na maquinaria

possibilitou ao capital substituir a força de trabalho humana por forças naturais, bem como

substituir na organização da produção o empirismo pelas ciências da natureza. O trabalhador

parcial e suas ferramentas foram substituídos pela força do motor, pelo sistema de transmissão e

pela máquina. A maquinaria ao revolucionar os meios de trabalho possibilitou a dispensa de todo

trabalho individual, pois funda-se no trabalho coletivo, sendo a cooperação no processo de

trabalho uma necessidade inerente à sua própria natureza.

A organização da produção fundada na grande indústria tornou dispensável a força de

trabalho com base na musculação, tornando possível a exploração de mulheres e crianças. Isto

aumentou o número de assalariados e propiciou ao capital reduzir o valor da força de trabalho

masculina.

A reprodução da força de trabalho, como garantia de expansão e reprodução do próprio

capital, antes da revolução introduzida pela maquinaria, supunha que o valor da força de trabalho

tinha que ser o suficiente para a manutenção do trabalhador e de sua família. Com a maquinaria

surgiu a oportunidade de se explorar o trabalho de mulheres e crianças, enfim, de toda a família

do trabalhador, aumentando a quantidade da força de trabalho explorada ao mesmo tempo que se

reduzia o salário do homem. Sobre esta questão, Marx afirma que:

36 Ibid., p. 7. 37 Ibid., p. 12.

25

A compra de uma família parcelada, por exemplo, em 4 forças de trabalho, custa, talvez mais do que

anteriormente a compra da força de trabalho do cabeça da família, mas, em compensação, surgem 4

jornadas de trabalho no lugar de uma, e o preço delas cai proporcionalmente ao excedente de mais-

trabalho dos quatro em relação ao mais-trabalho de um.38

A maquinaria se constituiu em um mecanismo de alienação do trabalhador, fazendo-o

perder o conhecimento sobre o processo de trabalho ao roubar-lhe o controle sobre as

ferramentas. O trabalhador que na produção manufatureira detinha o conhecimento sobre o

trabalho, pois dominava e manuseava os instrumentos de trabalho perdeu o posto de protagonista

no processo de trabalho, tornando-se um mero coadjuvante, em um apêndice da máquina.

Conforme observa Marx afirmando que:

Na manufatura e no artesanato, o trabalhador se serve da ferramenta; na fábrica, ele serve a máquina. Lá, é

dele que parte o movimento do meio de trabalho; aqui ele precisa acompanhar o movimento. Na

manufatura, os trabalhadores constituem membros de um mecanismo vivo. Na fábrica, há um mecanismo

morto, independente deles, ao qual são incorporados como um apêndice vivo.39

O capital ao desenvolver o sistema de máquinas conseguiu se apropriar de parte do

conhecimento hereditário que os trabalhadores tinham sobre o processo de trabalho. Ao se

apropriar de parte do conhecimento e anexá-lo à máquina por meio das ferramentas o capital

desenvolveu um sistema de controle e subordinação dos trabalhadores aos interesses do capital. A

partir de então, o ritmo de trabalho passa a ser ditado pela máquina, cujos movimentos exigem

que o trabalhador tenha um acompanhamento atento e rigoroso do trabalho.

A maquinaria superou também o pressuposto anterior, em que na relação de troca entre o

trabalhador e o capitalista, aquele vendia ao outro sua força de trabalho, já que se confrontavam

como pessoas livres, o primeiro como possuidor de força de trabalho e o outro como possuidor de

dinheiro, ou seja, de capital. À medida que o capitalista passou - com o advento da maquinaria -

a poder comprar a força de trabalho de mulheres e de crianças, o trabalhador que antes vendia sua

força de trabalho, sentiu-se desvalorizado e se obrigou a vender a própria família. Além do que,

a maquinaria, ao possibilitar a exploração do trabalho de mulheres e de crianças, permitiu aos

capitalistas quebrarem a resistência do trabalhador masculino adulto. Conforme afirma Marx

―Com a adição preponderante de crianças e mulheres ao pessoal de trabalho combinado, a

maquinaria quebra finalmente a resistência que o trabalhador masculino ainda opunha na

manufatura ao despotismo do capital‖.40

38 Ibid., p. 21. 39 Ibid., p. 41. 40 Ibid., p. 26.

26

A tendência histórica de transformação da composição técnica do capital se dá visando

elevar a produtividade do trabalho, portanto, para aumentar a produção de mais-valia. O sistema

desenvolvido de máquinas está inserido nesta tendência histórica, sendo, portanto, um meio

encontrado pelos capitalistas para aumentar a produção de mais valia. Ao elevar a produtividade

do trabalho, a maquinaria encurtou o tempo necessário para a produção de mercadoria mas,

segundo Marx, em vez de reduzir a jornada de trabalho a maquinaria se constituiu no:

...mais poderoso meio de prolongar a jornada de trabalho para além de qualquer limite natural. Ela cria,

por um lado, novas condições que capacitam o capital a dar livre vazão a essa sua tendência constante e,

por outro lado, novos motivos para aguçar seu apetite voraz por trabalho alheio.41

A maquinaria ao permitir ao capital explorar a força de trabalho de contingentes

inacessíveis, como é o caso das mulheres e das crianças e ao mesmo tempo dispensar os

trabalhadores deslocados do processo de produção pelas máquinas, criou um contingente de

trabalhadores desempregados que se obrigavam a aceitar as condições miseráveis de trabalho

impostas pelo capital. Segundo observa Marx:

Daí o notável fenômeno na história da indústria moderna de que a máquina joga por todos os limites

morais e naturais da jornada de trabalho. Daí o paradoxo econômico de que o meio mais poderoso para

encurtar a jornada de trabalho se torna o meio infalível de transformar todo o tempo de vida do trabalhador

e de sua família em tempo de trabalho disponível para a valorização do capital.42

Não se trata de uma posição reacionária, que não admite que a máquina possa substituir o

trabalho humano, executando as tarefas árduas e difíceis do trabalho em lugar do homem.

Trata-se de uma posição que ao mesmo tempo que reconhece a importância da máquina, portanto

da automação do trabalho, questiona a forma repugnante de exploração capitalista na divisão do

trabalho imposta pela maquinaria.

A maquinaria alterou substancialmente a composição do capital, aumentando a

produtividade do trabalho. Os meios de produção com base na maquinaria são, portanto,

superiores à massa da força de trabalho humana. A parte constante do capital, ou seja, máquinas e

equipamentos, aumentaram mais que sua parte variável, ou seja, a força de trabalho. Os

capitalistas conseguiram desta forma impor um processo de valorização do capital com base num

novo patamar de composição técnica que lhes permitiu intensificar o ritmo de acumulação.

41 Ibid., p. 26-27. 42 Ibid., p. 30.

27

REFERÊNCIAS

BRAVERMAN, Harry. Trabalho e Capital Monopolista: A degradação do trabalho no século

XX. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.

MARX, K. O Capital, Capítulo VI, Inédito, Editora Moraes, São Paulo, SP, 1985.

________. O Capital: Crítica da Economia Política, Volumes I e II, Coleção ―Os

Economistas‖, 3ª edição, Nova Cultural, São Paulo, SP, 1988.

MÉSZAROS, I. Para além do capital: Rumo a uma teoria da transição. São Paulo: Boitempo,

Campinas: Editora da Unicamp, 2002.

PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR

O objeto em questão transita pelas diferentes áreas das Ciências Humans, ou seja, as relações

capital x trabalho, o controle, a extração de mais-valia, atende o objetivo dos conteúdos

estruturantes da História e aproxima-se da Geografia, principalmente da Sociologia. Além do que

pode ser útil também a diferentes áreas da educação educação profissional.

Cito as Diretrizes Curriculares para o Ensino de História na Educação Básica em Revisão que em seu item

3.3.1 trata das relações de trabalho, afirmando que:

"Articulados aos demais conteúdos estruturantes, reconhecer as contradições decada época, os impasses sociais da

atualidade, e dispor-se a analisá-los, a partir desuas causas, permite entender como as relações de trabalho foram

construídas noprocesso histórico e como determinam a condição de vida do conjunto da população" (p. 35).

disponível em:

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/portal/diretrizes/pdf/t_historia.pdf

Nas diretrizes Curriculares de sociologia temos no ítem 2.1.1. a concepção sociológica de Karl

Marx e nos conteúdos estruturantes e específicos o ítem 3.3 trata ddo trabalho, produção e classes

sociais.

Já os conteúdos estruturantes da geografia em seu item 3.1 trata da dimensão econômica da

produção do/no espaço.

Portanto, ao tratar da questão do controle do captial sobre o trabalho em seu desenvolvimento

histórico, este trabalho apresenta um importante contribuição à rede pública de Ensino do Estado

do Paraná, que pode ser melhorado com a contribuição de professores das diferentes áreas.

Contextualização

28

Vivemos em uma sociedade cuja base das relações sociais se funda no trabalho

assalariado sob a égide do capital. A relação de assalariamento estabelece a existência de duas

classes sociais fundamentais que são: de um lado a classe dos capitalistas (burguesia) que é

proprietária das condições objetivas de trabalho, os meios de produção, e de outro, a classe dos

trabalhadores (proletariado) não proprietários, que excluídos dos meios de produção, portanto das

condições de trabalho para garantir a subsistência, necessitam vender sua capacidade de trabalho

para sobreviver.

As condições objetivas no processo de produção são os objetos de trabalho e os meios de

trabalho, isto é, as matérias-primas e os instrumentos, ou seja, as ferramentas de trabalho, que são

os elementos auxiliares do trabalhador. A condição subjetiva no processo de produção é

constituída pela força de trabalho que na perspectiva da valorização dos capitalistas deve ser

organizada, disciplinada, vigiada e controlada para que execute corretamente o seu papel que é

manter o valor inicial, acrescentar e agregar valores novos ao capital investido. Ou seja, a força

de trabalho deve garantir a valorização e a expansão do capital.

Este trabalho tem como objetivo apreender como o capital conseguiu desenvolver

historicamente as diversas formas de controle, disciplina e vigilância sobre o trabalho. Para tanto,

procuramos entender as origens do capital, seu desenvolvimento até se constituir em um sistema

hegemônico que expropriou dos trabalhadores as condições de trabalho, transformando-os em

simples vendedores de força de trabalho.

São as formas como este processo se manifesta historicamente que serão estudadas neste

trabalho. Por isso mesmo, nossa análise será histórica e os dados secundários, ou seja, já

existentes em bibliografia especializada.

Portanto, pretendemos particularmente entender como as formas de controle, disciplina e

vigilância se manifestam em diferentes momentos históricos na organização do processo de

produção, desdobrando em transformações na organização do processo de trabalho.

Nesse sentido fazemos uma breve análise sobre o processo de formação do capital,

buscando situá-lo em suas origens históricas. Empreendemos uma análise sobre a cooperação

simples, veremos, então, que o capital na fase de transição do trabalho artesanal para a produção

efetivamente capitalista não alterou a sua base técnica de produção e o conteúdo do processo de

trabalho. Ao desenvolver a manufatura o capital conseguiu superar as contradições e os limites

existentes nas relações de produção , transformando gradativamente as formas de organização do

trabalho que até então se fundava na cooperação simples que havia se desenvolvido com o

capitalismo nascente. Ao desenvolver a manufatura o capital rompe com o trabalhador

especialista da cooperação simples ao engendrar o trabalho parcelar, decompondo as tarefas que

antes era feita por um único artífice em várias parcelas.

29

Analisamos ainda a transição da manufatura para o período da grande indústria, movida pela

maquinaria que substitui os trabalhadores no processo produtivo. Ou seja, os trabalhadores foram

substituídos pelos instrumentos de trabalho, pelo sistema de máquinas.

Sítios

Projeto Tela Crítica

http://www.telacritica.org/

Comentários

Este sítio apresenta o Projeto Tela Crítica, importante instrumento pedagógico através da análise

temática de filmes "través da análise da forma e do sentido do filme, procura-se apreender

sugestões heurísticas interessantes capazes de propiciar uma consciência crítica da sociedade

global". Traz ainda informações sobre o projeto Cinema como Experiencia Critica, mostra

Cinetrabalho, colóquios, seminários e outros eventos.

Rede de Estudos do Trabalho

http://estudosdotrabalho.org

A Rede de estudos do trabalho constitui-se da filiação de importantes grupos de pesquisa sobre o

trabalho, em diferentes áreas do conhecimento, sob a Coordenação do prof. Dr. Giovanni Alves, e

da qual também sou membro pesquisado e coordenador da seção trabalho e educação.

"A RET constituiu-se a partir do crescimento dos Seminários do Trabalho, realizados na UNESP

- Campus de marilia, no decorrer da década de 2000. Os Seminários do Trabalho surgiram como

evento organizado pelo Grupo de Pesquisa ―Estudos da Globalziação‖, Projeto NEG – Núcleo de

Estudos da Globalização, com apoio do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais. O I

Seminário do Trabalho ocorreu em 2001. No seu inicio, como evento anual, oSeminário de

Trabalho teve crescimento paulatino nos anos seguintes. A proposta de reunir pesquisadores da

área de trabalho das mais diversas disciplinas das ciências humanas, buscando compartilhar uma

perspectiva critica, dando espaço para a discussão da conjuntura social e política do País e do

mundo, em diálogo aberto com movimentos sociais e Governo, demonstrou ser uma fórmula de

sucesso. Até 2004, os Seminários do Trabalho foram realizados anualmente. A partir de 2004, os

30

Seminários do Trabalho passaram a contar com o apoio do Projeto Tela Crítica, articulando

ci6encia social critica e cinema.

A idéia da RET surgiu no III Seminário do Trabalho, em 2003, a partir da necessidade de

articular uma rede virtual de colaboração entre os pesquisadores criticos da área de trabalho. Ela

surge articulando alguns eventos organizados, de forma independente, por professores-

pesquisadores da área de trabalho. Como destaque, de inicio, colocamos o Seminario O Trabalho

Em Debate – USP-Ribeirão Preto (SP), Seminários Mundos do Trabalho na UEL - Londrina (PR)

e Seminários de Historia-FAFIPA, em Paranavaí (PR). Depois passa a incorporar, em 2006, a

Jornada do Trabalho, da UNESP/Presidente Prudente (SP). Além de buscar articular eventos, a

RET buscou articular, de modo virtual, pesquisadores de várias instituições de ensino superior e

pesquisa do País.

No III Seminário do Trabalho, em 2003, surgiu a proposta da RET, como projeto de integração

virtual de perspectivas, divulgando na Internet, atividades desenvolvidas pelos Grupos de

Pesquisa e Núcleo de Estudos dos parceiros. Sua estruturação material tem sido lenta, gradual,

mas constante. Teve seu lançamento oficial em 2004 no IV Seminário do Trabalho. Em 2006,

com o V Seminário do Trabalho, agora evento binual, e de corte internacional, busca se

consolidar mais ainda, tornando claro sua proposta e programa.

Dentro dos seus limites, a RET busca ocupar espaços de interlocução, perseguindo o

desenvolvimento do espírito de equipe no corpo de pesquisadores que se vinculam a uma

proposta critica e interdisciplinar. A RET adota um modelo não-hierárquico de gestão, possuindo

um coordenador-geral cuja única função é facilitar, de forma intensa, os contatos necessários para

garantir o diálogo pleno e constante entre os vários grupos de pesquisa e os núcleos de estudos e

acima de tudo, divulgar a produção docente e discente destes núcleos de estudos e grupos de

pesquisa associados".

Revista Pegada Eletrônica

http://www4.fct.unesp.br/ceget/pegada.htm

31

Importante revista do Centro de Estudos de Geografia do Trabalho (CEGET), da UNESP -

Presidente Prudente, coordenado pelo prof. Dr. Antonio Thomaz Júnior. Esta revista eletrônica

constitui-se numa "base referencial para o exercício efetivo da interlocução com os

pesquisadores, trabalhadores,lideranças dos movimentos sociais populares, dirigentes sindicais e

demais interessados na temática do trabalho".

Segundo o prof. Antonio Thomaz Jr. esta revista expressa o compromisso do CEGET com a

crítica da dinamica da sociedade de classes sob o capitalismo atual, onde as contradições atuais

revelam a necessidade de emancipação. Nesse sentido, "as atenções voltadas para a complexa

trama societária que intensifica a hetegoneizaçao e a precarização do trabalho nesta viragem do

século XXI, as pesquisas e, por via de conseqüência, os textos e ensaios serão reveladores não

somente das mudanças no regime de acumulação do capital e dos novos modos de regulação

social e político. Segundo interpretações de estudiosos sobre o assunto, esse processo se expressa

com a vigência da produção destrutiva do capital (Mészáros), da acumulação flexível (Harvey),

da mundialização do capital (Chesnais), e o prenuncio das condições para a emancipação social

para além do capital (Bihr). Estar-se-á focando também as implicações no âmbito da

subjetividade do trabalho e os reflexos para as instâncias organizativas do movimento operário e

sindical, bem como os conteúdos e os referenciais político-ideológicos que embasam o

(des)pertencimento de classe" (Pegada eletrônica, n. 1, Apresentação).

Sons e vídeos

Áudio-CD/MP3

32

Título da Música: Construção

Intérprete: José Miguel Wisnik - Luiz Tatit

Compositor: Chico Buarque

Título do CD: Songbook Chico Buarque 7 - Vários

Nome da Gravadora: Trama

Ano: 1999

Disponível em (endereço web):

http://www.videolar.com/ProdutoCD.asp?ProductID=011220&cod_sub_media=3894&WT.srch=1

Comentários:

Esta música de Chico Buarque pode ser considerada uma obra prima. Possui extremo rigor

literário e musical, ao mesmo tempo que apresenta elementos sociológicos e históricos. A letra da

música apresenta elementos para reflexões acerca da realidade cotidiana do trabalho na contrução

civil, é um importante instrumento para discutir a realidade do trabalho, considerando a

exploração (extração de mais-valia), expoliação, alienação, estranhamento, reificação.

Texto

33

34

Disponível em: http://vagalume.uol.com.br/chico-buarque/construcao.html acesso em

fevereiro de 2008

Ver também um vídeo muito interessante acessando:

http://vagalume.uol.com.br/chico-buarque/videos/lbIjZXBGs-A-construcao-chico-

buarque.html

Vídeo

Título: O operário em construção

Direção: Taiguara

Duração (hh:mm): 05:19

Local da Publicação: You Tube

Ano: 2007

Comentários:

O cantor Taiguara interpreta de forma magistral "O operário em costrução" de Vinícius de

Moraes. O poema transforma-se em música. A letra poética de Vinícius constrói toda uma

alegoria a partir da epígrafe e vai desenvendo por todo o poema uma exaltação da

emancipação humana, uma superação da alienação pela formação da consciência. O sujeito,

no caso o operário vai deixando de ser objeto e transformando-se em sujeito real, concreto e

consciente da sua própria história.

Há ao longo do poema um libertar-se das amarras da alienação produzida pela fetichização da

realidade social. A consciência é uma internalização do sujeito e não uma realidade imposta

de fora. A consciência é resultado da relação do sujeito com o mundo objetivo. Vinícius

desenvolve de forma magistral uma reflexão que conduz "o operário" de individual num

primeiro momento, em estágio de alienação, a sujeito social à medida que vai tomando

consciência do mundo real em que está inserido.

Portanto, este poema é extremamente útil para se discutir a questão da exploração, da

alienação, do fetichismo criado pelo controle do capital sobre o trabalho.

A produção musical de Taiguara está divida em "O operário em construção 1" - duração 5:19,

disponível em http://vagalume.uol.com.br/coisa-e-tal/videos/nYUqvm8tIdk-taiguara-o-

operario-em-construcao-1-vinicius-de-moraes.html e "O operário em construção 2" - duração

7:19, disponível em

35

http://vagalume.uol.com.br/dois-a-um/videos/ChIAWMkYWSU-taiguara-o-operario-em-

construcao-2-vinicius-de-moraes.html

Texto

O Operário em Construção

Vinicius de Moraes

“E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo: — Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu. E Jesus, respondendo, disse-lhe: — Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.”

(Lucas, Cap. V, versículos 5-8)

36

Era ele que erguia casas Onde antes só havia chão. Como um pássaro sem asas Ele subia com as casas Que lhe brotavam da mão. Mas tudo desconhecia De sua grande missão: Não sabia, por exemplo Que a casa de um homem é um templo Um templo sem religião Como tampouco sabia Que a casa que ele fazia Sendo a sua liberdade

Era a sua escravidão.

De fato, como podia Um operário em construção Compreender por que um

tijolo Valia mais do que um pão? Tijolos ele empilhava Com pá, cimento e esquadria Quanto ao pão, ele o comia... Mas fosse comer tijolo! E assim o operário ia Com suor e com cimento Erguendo uma casa aqui Adiante um apartamento Além uma igreja, à frente Um quartel e uma prisão: Prisão de que sofreria Não fosse, eventualmente

Um operário em construção.

Mas ele desconhecia Esse fato extraordinário: Que o operário faz a coisa E a coisa faz o operário. De forma que, certo dia À mesa, ao cortar o pão O operário foi tomado De uma súbita emoção Ao constatar assombrado Que tudo naquela mesa — Garrafa, prato, facão — Era ele quem os fazia Ele, um humilde operário, Um operário em construção. Olhou em torno: gamela Banco, enxerga, caldeirão Vidro, parede, janela

Casa, cidade, nação! Tudo, tudo o que existia Era ele quem o fazia Ele, um humilde operário Um operário que sabia

Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento Não sabereis nunca o quanto Aquele humilde operário Soube naquele momento! Naquela casa vazia Que ele mesmo levantara Um mundo novo nascia De que sequer suspeitava. O operário emocionado Olhou sua própria mão Sua rude mão de operário De operário em construção E olhando bem para ela Teve um segundo a impressão De que não havia no mundo

Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão Desse instante solitário Que, tal sua construção Cresceu também o operário Cresceu em alto e profundo Em largo e no coração E como tudo que cresce Ele não cresceu em vão. Pois além do que sabia — Exercer a profissão — O operário adquiriu Uma nova dimensão:

A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu Que a todos admirava: O que o operário dizia Outro operário escutava. E foi assim que o operário Do edifício em construção Que sempre dizia sim Começou a dizer não. E aprendeu a notar coisas A que não dava atenção: Notou que sua marmita Era o prato do patrão Que sua cerveja preta Era o uísque do patrão

Que seu macacão de zuarte Era o terno do patrão Que o casebre onde morava Era a mansão do patrão Que seus dois pés andarilhos Eram as rodas do patrão Que a dureza do seu dia Era a noite do patrão Que sua imensa fadiga Era amiga do patrão. E o

operário disse: Não! E o operário fez-se forte

Na sua resolução.

Como era de se esperar As bocas da delação Começaram a dizer coisas Aos ouvidos do patrão. Mas o patrão não queria Nenhuma preocupação. - ―Convençam-no‖ do

contrário - Disse ele

sobre o operário

E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário Ao sair da construção

Viu-se súbito cercado

Dos homens da delação

E sofreu, por destinado Sua primeira agressão. Teve seu rosto cuspido Teve seu braço quebrado Mas quando foi perguntado O operário disse: Não! Em vão sofrera o operário Sua primeira agressão Muitas outras se seguiram Muitas outras seguirão. Porém, por imprescindível Ao edifício em construção Seu trabalho prosseguia E todo o seu sofrimento Misturava-se ao cimento

Da construção que crescia.

Sentindo que a violência Não dobraria o operário Um dia tentou o patrão

37

Dobrá-lo de modo vário. De sorte que o foi levando Ao alto da construção E num momento de tempo Mostrou-lhe toda a região E apontando-a ao operário Fez-lhe esta declaração: — Dar-te-ei todo esse poder E a sua satisfação Porque a mim me foi entregue E dou-o a quem bem quiser. Dou-te tempo de lazer Dou-te tempo de mulher. Portanto, tudo o que vês Será teu se me adorares E, ainda mais, se abandonares O que te faz dizer não. Disse, e fitou o operário Que olhava e que refletia Mas o que via o operário O patrão nunca veria. O operário via as casas E dentro das estruturas Via coisas, objetos Produtos, manufaturas. Via tudo o que fazia O lucro de seu patrão E em cada coisa que via Misteriosamente havia A marca de sua mão.

E o operário disse: Não!

— Loucura! — Gritou o

patrão Não vês o que te dou eu? — Mentira! — disse o

operário

Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se Dentro do seu coração Um silêncio de martírios Um silêncio de prisão Um silêncio povoado De pedidos de perdão Um silêncio apavorado Como o medo em solidão Um silêncio de torturas E gritos de maldição Um silêncio de fraturas A se arrastarem no chão. E o operário ouviu a voz

De todos os seus irmãos Os seus irmãos que morreram Por outros que viverão. Uma esperança sincera Cresceu no seu coração E dentro da tarde mansa Agigantou-se a razão De um homem pobre e

esquecido Razão porém que fizera Em operário construído O operário em

construção.

38

Disponível em

http://www.espacoacademico.com.br/024/24poesia_vm.htm

Revista Espaço Acadêmico - Ano III - Nº 24 - ISSN 1519.6186

Áudio-CD/MP3

Título da Música: Vida de Operário

Intérprete: Pato Fu

Disponível em (endereço web):

http://vagalume.uol.com.br/patife-band/vida-de-operario.html

Comentários:

A música "vida de operário", interpretada pela Banda Pato Fu, traz em sua letra uma

reflexão sobre a exploração e a alienação no processo de trabalho. O problema do

controle, do relógio, do cartão ponto, do transporte são explicitados na mússica como

causa da agonia operária. Além do que, a música refere-se também ao operário que é

consumido pela máquina gerando assim o lucro do patrão.

Texto:

Vida de operário

Pato Fu

Composição: Excomungados

Disponível em:

http://vagalume.uol.com.br/pato-fu/vida-de-operario.html

Acesso em fevereiro de 2008.

39

Imagens

Comentários e outras sugestões de Imagens:

As imagens acima expressam o processo evolutivo e cumulativo alcançados pelo

homem por meio das inovações tecnológicas. A primeira imagem conduz-nos a um

processo intermediário na História da Tecnologia, contexto em que os instrumentos

dependiam da força da tração animal.

Enquanto que a segunda imagem revela uma superioridade tecnológica quando

comparada à primeira, pois pode ser movida por energia à base do motor de combustão,

elétrica etc.

A terceira imagem revela-nos a capacidade humana de melhorar os instrumentos através

da melhoria da técnica e das inovações tecnológicas.

O processo de desenvolvimento das forças produtivas em geral pressupõe inovações

tecnológicas, conseqüentemente melhorias da técnica e incorporação da ciência ao

mundo produtivo.

OUTRAS IMAGENS:

Muitas imagens interessantes podem ser encontradas em cd-roms do Projeto Tela

Crítica. Trata-se de uma série de análises de filmes clássicos do cinema mundial.

Especificamente, recomendo três cd’s de filmes que abordam a problemática do

trabalho, ou seja:

1. Metropólis, de Fritz Lang - Versão 1.0 - 62 slides

2. Tempos Modernos, de Charles Chaplin - Versão 2.0 - 77 slides

3. A Nós A Liberdade, de René Clair - Versão 2.0 - 61 slides

Portanto, nesses três cd’s temos um conjunto de 200 imagens, além de toda uma

discussão crítica do processo de modernização capitalista e sua conseqüente exploração

sobre o trabalho, a partir da análise dos filmes.

40

Os cd’s podem ser adquiridos através do sítio http://telacritica.org, onde é possível

também o acesso a sinopses de dezenas de filmes.

PROPOSTA DE ATIVIDADES

Análise do filme Tempos Modernos de Charles Chaplin

Analisar com os alunos o filme Tempos Modernos. O filme deve ser apresentado após

um conjunto de reflexões sobre a realidade do trabalho na sociedade capitalista, que

permita a apreensão sobre o significado do controle, da alienação, da exploração e do

sofrimento diante do cotidiano do mundo do trabalho que aparecem na narrativa do

filma.

Após o filme os alunos devem ser motivados a vasculhar a realidade do trabalho através

da observação da realidade em que vivem, apreendendo questões como a do controle do

tempo, jornada de trabalho, riscos à saúde, desemprego, salário, aposentadoria etc.

Também pode se estimular a busca de notícias em jornais e revistas sobre as condições

de precarização do trabalho de diferentes categorias profissionais. Para esta atividade é

importante a organização de um painel.

Sugestões de leitura:

Sugestões de leitura:

Sobrenome: Batista

Nome: Roberto Leme

Título do livro: Desafios do trabalho: capital e luta de classes no século XXI

Edição: 2

Local de Publicação: Londrina – PR

Editora: Práxis

Comentários:

Este livro organizado por Roberto Leme Batista e Renan Araújo é uma tentativa de

mapear alguns desafios do trabalho, através de reflexões de diversos pesquisadores que

apontam resultados de investigações de diveroso temas. A nalise a conjuntura do

capitalismo mundial e no Brasil. Este livro é importante para a apreensão concreta dos

fenômenos do mundo do trabalho. O livro se propõe a fazer uma ampla apresentação

dos desafios do trabalho, tratando de temas amplos e diversos - cotidiano, educação,

41

qualificação profissional, sindicalismo, estratégias organizacionais, precarização do

estatuto salarial, exploração intensiva e extensiva da força de trabalho. Enfim, o livro

oferece uma abordagem crítica e interdisciplinar do mundo do trabalho, procurando

resgatar suas contradições objetivas e seus desafios concretos nessa atual.

Destaques

Título: Revista Eletrônica da RET

Fonte: http://estudosdotrabalho.org

Texto:

Revista Eletrônica da Rede de Estudos do Trabalho, publicação on-line destinada à

divulgação de jovens pesquisadores da área do trabalho em uma perspectiva

interdisciplinar.

Notícias:

Sobrenome: Alves

Nome: Giovanni

Título da notícia/artigo: Diversos

Nome da Revista: Observatório da Precarização do Trabalho

Disponível em (endereço WEB): http://trabalhoopt.blogspot.com/

Comentários:

O Observatório da Precarização do Trabalho, organizado pelo Prof. Dr. Giovanni Alves,

reúne centenas de notícias sobre a realidade do trabalho no Brasil a partir de 2002. Este

Observatório reúne notícias de diferentes órgão da imprensa sobre o mundo do trabalho.

Paraná

Título: Trabalho e capital no Paraná

Texto:

O Paraná há muito tempo faz parte do sistema do capital. O processo de

desenvolvimento do Estado desde sua formação na metade do século XIX, com a

produção, industrialização e exportação da erva mate e do café e atualmente com

diversificação da agricultura esteve sempre voltado para o mercado mundial.

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Atualmente o Estado conta com um parque industrial diversificado sobretudo na

agroindústria e também com importantes montadoras automobilísticas, refinarias e

indústrias químicas.

Desta forma o processo de exploração voltado para a acumulação de capital há muito

está presente no Estado.