O Traje Dos Lentes - por Armando Carvalho Homem, 2004

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Memória para a história da veste dos universitários portugueses.

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  • FFIICCHHAA TTCCNNIICCAA

    TTTTUULLOO:: O TRAJE DOS LENTES - MEMRIA PARA A HISTRIA DA VESTE DOS UNIVERSITRIOS PORTUGUESES

    OORRGGAANNIIZZAAOO:: ARMANDO LUS DE CARVALHO HOMEM

    EEDDIIOO:: FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO

    AANNOO DDEE EEDDIIOO:: 2006

    CCOOLLEECCOO:: FLUPe-DITA

    IISSSSNN:: 1646-1525

    CCOONNCCEEPPOO GGRRFFIICCAA:: MARIA ADO E GRECA - ARTES GRFICAS

    CCOOMMPPOOSSIIOO EE IIMMPPRREESSSSOO:: GRECA - ARTES GRFICAS

    NN DDEE EEXXEEMMPPLLAARREESS:: 300

    DDEEPPSSIITTOO LLEEGGAALL:: 244001/06

    IISSBBNN:: 972-9350-96-5

    FACULDADE DE LETRAS

  • IN MEMORIAM:

    Maria Lusa Nunes Miguns(1923-2000)

    Antnio Cardoso de Carvalho Homem,bacharel em Leis pela U. Coimbra

    (1796)

    Armando de Carvalho Homem (1923-1991),licenciado em Cincias Fsico-Qumicas pela U. Coimbra

    (1945)

    Para a Zi,sem cujo permanente apoio crtico este texto

    (e outros) jamais teria(m) visto a luz do dia

  • Nota prvia

    1. Heranas de Oitocentos

    2. Coimbra, 1910 ss.

    3. As Universidades da primeira metade do sculo XX

    a) A Universidade do Porto

    b) A Universidade de Lisboa

    c) A Universidade Tcnica de Lisboa

    4. As novas Universidades (1973 ss.)

    5. O Ensino Superior Privado, Cooperativo e Concordatrio

    6. Notas conclusivas

    7. A fechar

    Apndice

    Fontes Impressas e Bibliografia

    ndice antroponmico

    Posfcio, por Jos Novais Barbosa

    Sumrio

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    Redigido em Janeiro/Fevereiro de 2001, o presente trabalho destina-va-se a funcionar como texto preambular ao catlogo de uma Exposi-o, a ter lugar no Museu Nacional do Traje, das vestes do Dr. MrioSoares enquanto doutor honoris causa por 34 Universidades,nacionais e estrangeiras. Prevista para o perodo de Primavera/Vero doano em causa, tal Exposio acabou por no se concretizar at aomomento presente; o que me leva a retomar o texto e a d-lo estampacomo volume autnomo.

    Uma preveno terminolgica: intencionalmente se evita a expres-so traje acadmico, merc da bem fcil possibilidade de confusocom o traje das Academias, hoje cado em desuso, mas pujante e devi-damente regulamentado (casaca, chapu, espadim e insgnia [colar]) emtempos pretritos*.

    E resta-me, penhoradamente, agradecer a quantos, com as suasinformaes ou com a sua amabilidade, me facilitaram a tarefa heurs-tica na realizao do presente texto; concretizando: Doutor A. H. deOliveira Marques (para a UL nos anos 50 e 60 e para a UNL a partirdos 70); Doutora Alcina Manuela Oliveira Martins (lente da U.Portucalense); Doutor Amndio Sampayo Tavares (lente jubilado deMedicina/UP); Doutora Ana Maria Rodrigues (para a U. Minho);Doutor Antnio Machado Pires (lente da U. Aores e seu antigo Reitor);Doutor Antnio Marques de Almeida (lente de Letras/Histria, Vice-Reitor da UL); Mestre Antnio M. Nunes (para a UC e em geral pararituais e cerimnias de contexto universitrio); Doutor Avelino de FreitasMeneses (lente da U. Aores); Doutor Bento Ferreira Murteira (lentejubilado do ISEG/UTL); Dr. Carolina Nunes da Silva (conservadora doPatrimnio da Fac. Cincias Mdicas/UNL); Dr. Eduardo Costa (U.Autnoma de Lisboa/Direco da Cooperativa de Ensino Universit-rio); Doutor Eduardo Romano de Arantes e Oliveira (lente jubilado da

    Nota prvia

    * Cf., para a Academia Portuguesa da Histria, TORGAL, MENDES e CATROGA [63], pp. 255-256.

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    UTL [IST] e seu antigo Reitor); Doutor Fernando Jorge Cardoso (Vice-Reitor da U. Moderna); Doutor Fernando Santos Neves (Reitor da U.Lusfona de Humanidades e Tecnologias); Doutor Francisco VelezGrilo (lente jubilado de Engenharia, Vice-Reitor da UP 1982-1985);Rev. Doutor Henrique Pinto Rema OFM (U. Catlica); DoutoraHermnia Vilar (lente da U. vora); Mestre Hermnio da ConceioEsteves (U. Autnoma de Lisboa); Doutora Isabel Maria MagalhesColao (lente jubilada de Direito/UL, 1926-2004); Doutora IsabelRebelo Gonalves (lente jubilada da FL/UL); Dr. Jaime Amorim Ribes(coordenador do Gabinete de Apoio da Reitoria da UTL); Doutor JooAlves Dias (lente da FCSH/UNL, responsvel pela indigitao do meunome Direco do Museu Nacional do Traje); Doutor JoaquimAugusto Ribeiro Sarmento (lente jubilado de Engenharia/UP); DoutorJoaquim Verssimo Serro (lente jubilado de Letras/Histria, Reitor daUL 1973-1974); Doutor Joel Mata (lente da U. Lusada); Doutor JorgeLopo Tuna (lente jubilado de Medicina/UL); Doutor Jorge Miranda (aotempo Presidente do Conselho Directivo da FD/UL); Doutor Jorge Rino(lente jubilado da U. Aveiro); Dr. Jos Guilherme Victorino (coorde-nador do Gabinete de Relaes Externas da U. Autnoma de Lisboa);Doutor Jos Lopes da Silva (Reitor da UTL); Doutor Jos ManuelToscano Rico (lente de Medicina, Reitor da UL 1983-1986); D. LdiaSerpa Jacomelli (que me facultou abundantes documentao e icono-grafia sobre sua Me, a Doutora Maria Serpa dos Santos); C.el MestreLus Alves de Fraga (para o ISCSP/UTL); Mestre Lus Filipe Oliveira(U. Algarve); Doutor Lus Sousa Lobo (Reitor cessante da UNL); DoutorLus Teixeira (lente da U. Lusada); Mestre Madalena Marques dosSantos (FD/UL); Doutor Manuel Joo Lemos de Sousa (lente jubiladode Cincias/UP); Doutor Manuel Jos dos Santos Silva (Reitor da U.Beira Interior); Doutora Maria de Lurdes Rosa (para a U. Catlica);Doutora Maria Joo Branco (lente da U. Aberta); D. Maria ManuelCruz (U. Beira Interior); Dr. Maria Rosa Paxeco Machado, a propsi-to do percurso acadmico de sua Me, a Doutora Maria Elza Paxeco;Doutora Maria Serpa dos Santos (lente jubilada de Farmcia/UC);Doutor Martim de Albuquerque (lente de Direito/UL); Doutor NunoGonalo Monteiro (lente do ISCTE); Doutor Nuno Valrio (lente doISEG/UTL); Doutor Ramiro Ladeiro Monteiro (lente aposentado doISCSP/UTL); e Doutor Reginaldo Rodrigues de Almeida (lente da U.Autnoma de Lisboa e seu Secretrio-Geral); bem como s instituiesque permitiram a reproduo de obras de arte pertena sua: ConselhoDirectivo da FD/UL, Conselho Directivo do ISEG/UTL, Direco da

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    FCM/UNL; Reitorias da U. Aberta, da UC, da U. vora, da UL, da U.Minho, da UNL e da UTL; e Academia Portuguesa da Histria. Aindauma palavra para a muita simpatia com que o Escultor FernandoAlmeida me recebeu na sua Academia de Corte M. Guilherme AlmeidaLda. - Rua da Palma, Lisboa - e me facultou uma infinidade de infor-maes e elementos sobre trajes e insgnias de numerosas Us portugue-sas (pblicas e privadas).

    designer MARIA ADO se deve a competente composio do volu-me; e ao Conselho Directivo da FL/UP a oportunidade de incluso domesmo na presente coleco.

    A todos, um reiterado e sentido Bem hajam !.

    Lisboa / Morelinho (Sintra), Agosto / Novembro de 2002

  • Post-Scriptum [Jan.2003]: Entre Maio do ano findo e o ms emcurso, aprovou o Senado da Universidade do Porto diversas alteraesao protocolo dos actos solenes, bem como um traje doutoral. As alte-raes protocolares foram praticadas pela primeira vez em Outubroltimo, aquando de 3 doutoramentos h.c. pelo Instituto de CinciasBiomdicas Abel Salazar. Os prottipos do traje doutoral foram usa-dos j no corrente ms pelos dois doutores mais novos da Faculdade deArquitectura, em 2 doutoramentos h.c. por esta Escola.

    Sendo tudo isto muito recente e estando o trabalho em vias de entre-ga ao Editor, pareceu-me que em vez de acrescentos e modificaes deltima hora, a palavra autorizada do Reitor da minha ALMA MATER o lente de Eng. Civil Doutor Jos ngelo Novais Barbosa** seria asoluo ideal para aos leitores dar conta das inovaes no cerimonial eno traje do Stvdivm Generale portuense; e assim lhe solicitei umPosfcio. Com uma disponibilidade digna de realce, o Doutor NovaisBarbosa acedeu de imediato. O derradeiro agradecimento vai portantopara quem, nos ltimos anos, tem sabido acentuar, no funcionamentoda Reitoria e demais Servios Centrais da UP, aquela dimenso de rostohumano inseparanda de qualquer Instituio Pblica, por maioria derazo se de Cincia e Docncia.

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    ** Eleito em 1998, cumprindo desde h meses o seu segundo mandato.

  • Ao princpio era a pedra, o homem, a ideia. E o largo azul,recamado de estrelas. O homem tomou a pedra e a ideia, ergueu

    o templo, construiu o livro. E no suor vibrante do seu rosto sentiuque o seu trabalho era bom porque tambm ele participava do azul,

    das estrelas, da criao divina. A pedra o documento: e pouco importa que sejao duro granito da penedia, desafiador dos sculos, ou o frstulo inerme do papiro

    que, apenas ressuscitado, se esfarela sob os dedos nervosos do investigador. Porquenum e noutro se retm o fluir do tempo, a glria e a caducidade das geraes.

    A ideia o golpe de lana que rasga a bruteza da pedra, a neblina do caosprimitivo: e descobre o castelo encantado, a geometria das leis eternas,

    a vertebrao de um pensamento que se diria embrionrio. A ideia a hiptese darealizao, e a realizao comporta (devia comportar) a felicidade. Mas pedra e

    ideia reclamam o plasma do esforo e da inteligncia, as noites desveladas,a opresso das horas sem progresso, a revolta dos dias embrumados que no trazema fama de um laurel. O homem contempla as estrelas e suspira: como esto longe,a tantos anos-luz ! Mas uma poalha de ris, cabeleira de anjo, possa eu ret-la no

    cncavo da mo. Por isso ningum se deslembre ou se deslumbre: sob o fulgorcambiante da seda, candidatos e seus apresentantes trazem o mesmo cilcio,

    o mesmo saio de estamenha. Questo apenas de brancas ou de tintas, nuns mais,noutros menos: e do ricto de amargor, oblitervel ainda ou fixado para sempre

    nos ngulos da boca.

    (Walter de Sousa MEDEIROS)1

    Il y a trois professions qui sont habilites a porter la robe, celle de juge,de prtre et duniversitaire. Ce vtement atteste la maturit desprit de celui

    qui le porte, son indpendance de jugement et sa responsabilit directe devant saconscience et son Dieu. Il signifie la souverainet intrieure de ces trois professions

    lies entre elles. Elles doivent tre les dernires se permettre dagir sous lacontrainte et dobir aux presssions.

    (Ernst H. KANTOROWICZ)1a

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    1 Discurso, em Doutoramento solene [17], pp. 560-561.1a Texto de 1950 traduzido e transcrito por Alain BOUREAU, Histoires dun historien:

    Kantorowicz, Paris, Gallimard, 1990, p. 136.

  • da sabedoria das naes que, ao abrir o sculo XX, no ocaso daMonarquia Constitucional, o nosso Pas dispunha de uma sUniversidade, a de Coimbra, isto sem embargo da prvia existncia deinstituies outras de Ensino Superior: detendo estas as suas razes, nasmais das vezes, em finais de Setecentos, sedimentam-se pelos meados dosculo subsequente, com realce para o reformismo de Passos Manuel2 naconfigurao duradoura de algumas escolas (Escolas Mdico-Cirrgicasde Lisboa e Porto, Escola Politcnica de Lisboa, Academia Politcnicado Porto: 1836 ss.) e para o empenhamento pessoal do rei D. Pedro Vna criao de outra (Curso Superior de Letras [Lx.], 1859).Acrescentem-se ainda, e at ao termo da Monarquia, o surgimento deEscolas de Farmcia como anexas s Mdico-Cirrgicas, a reforma doCurso Superior de Letras nos alvores do sculo XX (ministro JaimeMoniz) e vrias reformas na prpria ALMA MATER da Universidade por-tuguesa na viragem da centria3.

    Como trajavam lentes e escolares nesses tempos pr-1911? questoque para Coimbra, naturalmente, recebe resposta mais substancial4. Dehbito talar localmente crismada a veste de mestres e estudantes, emOitocentos como, para os primeiros, ainda hoje5. E no creio que osleitores do presente trabalho necessitem do explicitar da razo anatmi-ca de tal dizer..., mas de qualquer modo...: uma batina preta e uma capaa recobrir, descendo esta (quase) verticalmente at aos tornozelos; paracompletar: cala preta e camisa branca com volta de tipo eclesistico; ea, naturalmente, a origem da veste desses (alis nem sempre...) outrosclercs, diplomados ou diplomandos.

    De notar que j no sculo XIX o uso de tal traje no ter sido de todopacfico, mormente entre os escolares; e mesmo, nos alvores do novo

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    1. Heranas de Oitocentos

    2 V. por todos RAMOS [48]. 3 V. por todos GOMES [25], captulo introdutrio, pp. 9-41.4 V. por todos NUNES [44].5 Expresso, alis, completamente desusada hoje noutros contextos universitrios, aspecto a que

    voltarei.

  • sculo, no seio de alguns lentes que achavam excessivo o cerimonial dosactos acadmicos (v.g. a presena da Charamela nos actos deConcluses Magnas) e prefervel o fim da obrigatoriedade do hbitoestudantil, merc dos desleixos e/ou desvirtuamentos no raro patentea-dos6; a verdade que boa parte da contestao da Gerao de 70 ao feroe severo Reitor Baslio Alberto de Sousa Pinto, Visconde de S. Jernimo(1793-1881, Reitor 1859-1863)7, se deveu ao rigorismo do mesmo naexigncia do uso de volta eclesistica, de uma complexa batina [loba]apertando atrs, cales at ao joelho e meias altas (quais resqucios deSetecentos)8. Mais para o final do sculo, o hbito no deixou de regis-tar alguma evoluo9 num sentido laicizante-aburguesante, evoluontida sobretudo entre a comunidade discente10. Talar mantm-se acapa; a batina tende a encetar uma evoluo que a faz subir para umpouco abaixo das rtulas e, sobretudo, na verso estudantil, a abrir aparte anterior, como que se transformando num casaco subido e maistarde numa sobrecasaca (eventualmente decorada de acetinadas ban-das), por baixo dos quais pode ser visvel um colete da mesma cor;enquanto o tradicional colarinho se seculariza, fechado por umacessrio a lembrar um plastron11. Nem todos tero apreciado tais modi-

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    6 V.g. Jlio Henriques ou Antnio dos Santos Viegas (cf. TORGAL [62], pp. 213 e 218).Acrescente-se o seguinte testemunho de Fernando Duarte Silva de Almeida Ribeiro (1881-1959),lente de Medicina Legal, sobre os Actos de Concluses Magnas nos alvores do sculo XX: Desteacto [...], se disse muito mal. Houve quem quisesse ver nele uma anacrnica sobrevivncia das prti-cas ante-pombalinas, de meras e ocas discusses escolsticas. [...] Decerto, por vezes, nos pontos quea isso especialmente se prestavam, aquecia a discusso e o entusiasmo dos adversrios dava azo a quese comprometesse um pouco a metdica e desejvel sucesso das falas. E isto prejudicava a clarezados resultados do prlio e justificava que, no obstante a conservao sempre ntegra da cortezia dosopositores, o Reitor mandasse dar sinal Charamela para, com a harmonia, embora nem sempremuito afinada, dos seus metais, restaurar a boa harmonia do ambiente. Tambm acontecia que cer-tas disciplinas, pela sua ndole de consignadoras de factos patentes, como a Anatomia DescritivaMicroscpica, no davam fcil margem para discusses de Sala Nobre ou, nesta, para demons-traes objectivas, s possveis em anfiteatros e laboratrios. E o meu ilustre e talentosssimo MestreDoutor Baslio Augusto Soares da Costa Freire, por isso mesmo, entendia faltar habitualmente aestes actos; j que no lhe parecia bem faltar apenas quando algum argumento sobre Anatomia, queregia com tanta distino, lhe houvesse, por escala, sido atribudo (Fernando de Almeida RIBEIRO,No meu tempo e agora..., in RIBEIRO [50], pp. 20-21; conservou-se a ortografia do original).

    7 Cf. RODRIGUES [51], pp. 226-234, com reproduo do seu retrato p. 495; e HOMEM [27], pp.12-25.

    8 Em menor grau, tambm o Reitor D. Joo de Alarco ser contestado em 1907, por fora dainsistncia no rigor do traje acadmico, tendo as posies estudantis recebido, virtualmente, oapoio das Congregaes das Faculdades de Philosophia e Teologia (cf. TORGAL [62], pp. 213-215).

    9 Descreve-se o essencial da evoluo e, naturalmente, deixam-se de lado as singularidades ten-dencialmente desvirtuantes a que j se fez referncia.

    10 Um Edital da Reitoria, datado de 1863/10/10, ter sido a mola propulsora das transfor-maes (cf. NUNES [44], p. 411 et passim).

  • ficaes no trajar; por algum motivo escrevia Ramalho Ortigo em1888: O grave uniforme decompe-se pelo modo mais irreverente-mente pelintra. O cabeo e a volta foram substitudos pelo colarinhopostio e pela gravata de futriquismo lir. A batina degenerou num casa-co gebo e mestio, de padre paisana. A cala escorreu inartstica e bes-ta, pela perna abaixo, esbaiando apolainada sobre a odiosa bota deelstico. Assim o belo costume histrico da antiga Universidade se per-verteu sem se reformar, reduzindo-o a uma aproximao cenogrfica deentremez barato ou zarzuela pobre12. Como poderia ter dito uma qual-quer personagem queiroziana: ele h tempos e tempos no ramalhalopinar...

    Assim, ao abrir do novo sculo, tal traje, com as variantes e evoluesmencionadas, mantinha-se obrigatrio no quotidiano lectivo de lentes eestudantes. Reservadas para os actos solenes ficavam as insgniasdoutorais dos primeiros, s quais ser agora tempo de fazer referncia.Borla e capelo se lhes chama normalmente, tendendo a atribuir-se ofacies actual reforma pombalina13; o que no ser de todo exacto: deorigem plausivelmente comum das insgnias da Universidade deSalamanca14, os mais recentes estudos apontam para evolues sensveisno sculo XVIII, mas anteriores a Pombal, que no se pensa que tenhaprocedido a reformas de traje e de insgnias. Uma evoluo vinda j deSeiscentos ter tendido a complexificar o barrete de borlas, que pas-sou a ser decorado com tufos de fios cados a toda a volta, presos nocentro por uma espcie de boto alongado, o qual servia para o utentedele fazer uso mais prtico15. Quanto ao capelo, pequena capa comum longo capuz a cair pelas costas, confeccionado em veludo e cetim,ser por Setecentos que uma evoluo igualmente complexificante seprocessar: do apertar com singelos botes forrados, avanar-se- parao apertar com alamares, rumo ao aspecto actual16.

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    11 Veja-se a fotografia de alvores do sculo, representando presumivelmente um grupo de lentese escolares de Teologia, publicada em NUNES [44], p. 419; cf. tambm os dados patentes no mesmotrabalho, p. 411.

    12 Transcrito por NUNES [44], p. 411.13 NUNES [44], pp. 410-411.14 Veja-se a significativa fotografia de um Reitor de Salamanca na actualidade, patente em

    NUNES [44], p. 417, fig. 6; as insgnias de Salamanca generalizaram-se entretanto nas Universidadesdo Pas vizinho.

    15 NUNES [44], p. 410. O Autor refere-se possibilidade de colocar e retirar a borla com umas mo, contrariamente ao chapu doutoral espanhol.

    16 NUNES [44], pp. 410 e 416-417. Nestas ltimas pginas, o Autor apresenta 4 fotografias ac-tuais (1990) de um cnego envergando dois modelos de barrete e capelo (figs. 4, 5, 7 e 8), que, porsi ss, apontam para alguma identidade gensica.

  • Que dizer dos Mestres das Escolas superiores que, na Capital e noPorto, se federaram como Universidades em 1911?

    Remontam dcada de 1850 as primeiras determinaes sobre ostrajes dos lentes destes outros estabelecimentos de Ensino Superior: pio-neiramente, os Mestres da Academia Politcnica do Porto, ao rece-berem em 1852 a visita de D. Maria II, decidem em ConselhoAcadmico apresentar-se de casacas, coletes e calas pretas, sapatos emeias de seda preta, e leno branco ao pescoo17. Anos decorridos, umdecreto datado de 1 de Outubro de 1856 estabelece como uniformeda Escola Mdico-Cirrgica de Lisboa a beca (na circunstncia ditatoga) depois imortalizada na esttua do clebre lente Dr. Jos de SousaMartins (1843-1897), fronteira sede da Escola18. Tal traje seria usadono servio escolar corrente; para actos pblicos de grande cerimonialdisporiam os lentes de uma farda, com alguns pontos de contacto com ados diplomatas ou a dos Pares do Reino ou ainda, porventura em menorgrau, com a da Academia das Cincias de Lisboa. Vejamos ento o quese prescreve em tal decreto:

    Artigo 1. - So estabelecidos os uniformes de que os lentes proprietrios,substitutos e demonstradores da Escola Mdico-Cirrgica de Lisboa ho-de usarno exerccio das suas funes acadmicas, e quando tenham de apresentar-se,individual ou colectivamente, em quaisquer actos pblicos e solenes.

    Artigo 2. O uniforme para o servio escolar constar de toga de l preta comalamares na parte anterior, forro do mesmo estofo, gravata branca, sinto [sic] decetim preto, com borlas de seda da mesma cor, meia de seda preta e sapato comfivela dourada.

    Artigo 3. A composio do fardamento para as solenidades pblicas ser aseguinte: farda direita de pano azul com silvado de folhas e landes de carvalhobordado a oiro na gola e nos canhes, gravata e colete branco, cala azul comuma lista de galo de ouro de largura ordinria nas costuras laterais, chapuarmado guarnecido de plumas brancas e espadim.

    Artigo 4. Os padres das bordaduras de que trata o presente Decreto seropela Escola Mdico-Cirrgica submetidos aprovao do Governo19.

    Cerca de um ano depois (decreto de 15 de Setembro de 1857) a togae a farda so tornadas extensivas congnere Escola portuense20 e mais

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    17 SANTOS [57], p. 130, citando uma acta do Conselho Acadmico.18 Actual sede da Faculdade de Cincias Mdicas/UNL.19 Publ. por SACADURA [54], pp. 5-6. Da beca primitiva, cf. visualizao na estampa anexa ao

    Decreto, publ. em SACADURA [54], p. 5; para a farda, cf. o retrato do lente portuense AgostinhoAntnio do Souto publ. em SACADURA [54], p. 7.

    20 SACADURA [54], p. 6.

  • tarde, em 1902 (decreto de 6 de Fevereiro), Academia Politcnica21.Ou seja, independentemente de adaptaes e pontuais modificaes aolongo dos tempos, o traje dos lentes das actuais Universidades de Lisboa,do Porto, Nova de Lisboa e (mutatis mutandis) dos Aores22 remontaa meados de Oitocentos e foi originariamente concebido para a EscolaMdico-Cirrgica da Capital; e nos alvores do sculo XX estava em usoem boa parte das Escolas superiores no-coimbrs23. Beca, tambm ela,talar, confeccionada em l (eventualmente merino), seda e cetim, degrande verticalidade no cair acentuada pela profuso de pregas, dandoalis um recorte bem tpico ao articular dos ombros -, verticalidadesomente atenuada por uma faixa de cetim24 marcando a cintura e pelaamplido das mangas25. Acrescem: alamares decorando a zona torcica26;um chapu (no previsto no decreto de 1856, mas cedo usado) em formade tronco de cone invertido (predominantemente em Lisboa) ou de tron-co de pirmide octogonal invertida (chapu de cantos, predominante-mente no Porto), encimado por uma roseta (pom-pom) hemiesfrica27; e,

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    21 Fontes e factos referenciados por SANTOS [57], p. 130.22 FERNANDES [22], p. 576. A UNL adopta este traje nos finais da dcada de 70 e a U. Aores

    algo de muito semelhante um pouco mais tarde.23 Com uma ressalva: a origem acadmica coimbr de muitos lentes, por exemplo, do Curso

    Superior de Letras (v.g. Tefilo Braga, dr. em Direito, ou Jos Maria Rodrigues, dr. em Teologia)ou da Academia Politcnica (v.g. Adriano Abreu Cardoso Machado, dr. em Direito, ou FranciscoGomes Teixeira, dr. em Matemtica) levou o hbito talar mais a borla e capelo a migrar para para-gens outras. Sirva-nos de ilustrao a iconografia de Gomes Teixeira, primeiro Reitor da UP (retra-to a leo na galeria dos Reitores [quadro de Abel de Moura, reproduzido em SANTOS [57], p. 178];e retrato da coleco da Fac. Cincias, actualmente decorando a sala de reunies da Fundao como seu nome, edifcio do Crculo Universitrio do Porto, R. do Campo Alegre, 877). Ao longo deNovecentos viramos a ter continuadas manifestaes deste facto na UL e na UP, como veremos.

    24 Da qual pende um cordo de serigaria terminando em borla; eventualmente da cor da Escolarespectiva.

    25 A ttulo de exemplo veja-se a excelente fotografia do lente de Medicina Lus Jos de PinaGuimares (abreviadamente Lus de Pina, 1901-1972) patente em SANTOS [57], p. 215; ou, paraLisboa, os retratos de Eduardo Coelho (1895-1974, lente de Medicina, mdico pessoal de Salazar1945 ss.) quando proferiu a orao de sapincia no acto de inaugurao da actual Reitoria da UL ede abertura do ano lectivo de 1961/62 (cf. COELHO e COELHO [8], pp. 100-101).

    26 Eventualmente de cores diferentes conforme a especializao cientfica do lente: assim, naAcademia Politcnica do Porto, ao abrir de Novecentos, os alamares teriam a seguinte colorao:azuis e brancos para a seco de Matemtica; azuis para a de Filosofia [Philosophia Natural, enten-da-se]; carmezins para a de Cincias Econmico-Sociais (SANTOS [57], p. 130).

    27 Vejam-se os diferentes tipos de chapu nas fotografias de Sousa Martins e do lente portuenseJos Pereira Reis (1808-1887) publicadas em SACADURA [54], pp. 15 e 17, respectivamente. NoPorto, onde o pom-pom encimante chegou a ser da cor da Escola, tal chapu caiu em desuso nasegunda metade do sculo XX. Em contrapartida, revigorou ento na UL e na UNL. Veja-se afotografia reproduzida em NUNES [44], p. 416, figura 3, representando dois lentes da UNL numacerimnia solene na UC. Para alm do chapu, outros contrastes Lisboa/Porto se verificam actual-mente na beca: globalmente, a do Porto mantm-se mais prxima do modelo original e das con-cretizaes de Oitocentos: folhos levantados (pontualmente muito levantados) nos ombros, longafaixa de cintura, dando duas voltas ao tronco; mangas de balo; e longa abotoadura, at base (veja-

  • mais tarde, uma medalha com o smbolo da Escola, pendente de umafita de seda na cor correspondente28.

    Que origens para tal trajar? , obviamente, matria a requerer inda-gao29. Mas as interrogaes podero fervilhar:

    Origem alm-fronteiras?

    Influncia de hbitos monsticos?30

    Origem comum s becas e togas do mundo judicirio?31

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    se a iconografia referida supra, nn. 19 e 25); as da UL, da UNL e da U. Aores so globalmente maisleves, nos termos que remontam reforma de Marcello Caetano (1960): ombros mais baixos,arredondando no ngulo para o antebrao; faixa de cintura de uma s volta; mangas de canho (ocanho teve efemeramente a cor da Faculdade); botes terminando um pouco abaixo da cintura,ficando aberto o resto da frente.

    28 De lenta generalizao no Porto, onde, alis, a funo (insgnia doutoral? insgnia de cte-dra?) no foi constante. E note-se que na galeria de retratos dos Reitores portuenses o primeiro a serrepresentado com a dita medalha o 8. titular do cargo, Antnio Jos Adriano Rodrigues (1890-1981, lente de Engenharia, Reitor 1943-1946) (quadro de Abel de Moura reproduzido em SANTOS[57], p. 192). E no por acaso que, depois dele e at actualidade, apenas mais dois Reitores-Engenheiros tenham sido retratados com a medalha da sua Faculdade: Manuel Corra de Barros Jr.(1904-1991, Reitor 1961-1969) e Armando Campos e Matos (1919-1990, Reitor 1978-1981) (cf.reprodues dos seus retratos a leo, por Antnio Figueiredo e Jlio Resende, respectivamente, emSANTOS [57], pp. 194 e 199); o facto prende-se com especificidades do uso da medalha naquelaFaculdade da UP; voltarei ao assunto. NB: Os restantes Reitores so retratados como segue:Francisco Gomes Teixeira (1851-1933, lente de Cincias/Matemtica, Reitor 1911-1917): hbitotalar com borla e capelo, como se disse (v. supra, n. 23); Cndido Augusto Correia de Pinho (n. 1858,lente de Medicina, Reitor 1918-1919): beca, sem insgnias; Augusto Pereira Nobre (1865-1946, lentede Cincias/Zoologia, Reitor 1919-1926): como o anterior; Jos Alfredo Mendes de Magalhes(1870-1957, lente de Medicina, Reitor 1926-1928): como o anterior; Alexandre Alberto de SousaPinto (1880-1982, lente de Cincias/Fsica, Reitor 1929-1931): beca com uma condecorao;Alberto Eduardo Plcido (1874-1942, Reitor 1931-1932, sendo data Desembargador da Relaodo Porto): beca de magistrado com colarinhos altos; Jos Pereira Salgado (1873-1946, lente deCincias/Qumica, Reitor 1935-1943): beca e condecoraes; Amndio Joaquim Tavares (1900-1974, lente de Medicina, Reitor 1946-1961): beca e colarinhos altos com lao branco (na tradioda antiga Escola Mdico-Cirrgica); Antnio de Sousa Pereira (1904-1986, lente de Medicina,Reitor 1969-1974): beca, sem insgnia; Ruy Lus Gomes (1905-1984, lente de Cincias/Matemtica[afastado da Funo Pblica por motivos polticos entre 1947 e 1974], Reitor 1974-1975): traje depasseio; Lus Antnio de Oliveira Ramos (n. 1939, lente de Letras/Histria, Reitor 1982-1985): beca,com a insgnia de dr. h.c. pela U. Bordus (cf. os retratos reproduzidos em SANTOS [57], pp. 179,180, 181, 182, 185, 186, 191, 193, 196, 197 e 200). Quanto ao prelado universitrio em funes noPorto data da publicao da obra de SANTOS [57], Alberto Manuel de Sampaio e Castro Amaral(lente de Cincias/Qumica, Reitor 1985-1998), o Autor em causa publica-lhe a pp. 200 umafotografia em beca, sem insgnia, fotografia que parece ter funcionado como modelo ao retrato deDario Alves, inaugurado em finais de 1999. Note-se que a inconstncia iconogrfica no um exclu-sivo portuense, atingindo a prpria galeria reitoral da UC, como veremos.

    29 De meu conhecimento, apenas um lente de Qumica da Fac. Cincias/UP, Alberto Carlos deBrito (1902-1975), ter dedicado, no incio da dcada de 70, alguma ateno ao assunto. Mas o quepossa ter averiguado ou escrito encontra-se indito.

    30 Hiptese aventada pelo meu Mestre Doutor Antnio Cruz (1911-1989), em conversa havidaem finais de 1986. Pessoalmente, esta beca afigura-se-me demasiado farfalhuda para uma origemmonstica linear.

    31 tentador encarar a questo da semelhana com as becas de magistrados. Vejam-se tosomente as reprodues fotogrficas de trajes e insgnias de conselheiros do Supremo Tribunal de

  • Fiquemo-nos pelas interrogaes. E digamos, para concluir este tra-jecto pelos tempos da Monarquia Constitucional, que, ao findar damesma, o traje estudantil se expandira j por diversos lugares e institui-es. A fundao do Liceu Nacional de Coimbra (1839), dependente daReitoria da Universidade at 1880, levara a andaina at aos escolaresrespectivos (bichos, segundo o jargon praxstico); e a influncia sobreos restantes Liceus Nacionais no ter sido pequena32; Liceus Nacionaise no s: as Escolas Superiores portuenses tero assistido, e pelo menosdesde os primeiros anos do recm-defunto sculo, ao uso da capa e bati-na pelos escolares respectivos: assim o documenta um grupo de lentes ede finalistas da Academia Politcnica - l esto as becas dos primeiros;l esto, por banda dos segundos, algumas capas, uma maioria futricae uma interessante componente de uniformes militares, de cursantes dosPreparatrios das Escolas de Guerra e Naval33.

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    Justia (em manequim ou enroupando, digna e conselheiramente, o M. I. Juiz Bernardo GuimaresFisher de S-Nogueira) em NUNES [43], p. 99.

    32 NUNES [44], pp. 411-412. 33 HOMEM [31]. Estudantes uniformizados podem tambm ver-se no retrato de grupo do lti-

    mo curso da Escola Mdico-Cirrgica (1909/1910), bem como na mais antiga fotografia do OrfeoAcadmico do Porto (1912/1913): cf. SANTOS [57], pp. 160-161, 167 e 229. Face ltima foto men-cionada, de crer que o uso da capa e batina tenha crescido exponencialmente com a fundao daUniversidade.

  • Recentremo-nos, entretanto, em 1910/11. A mudana de Regime,culminando em Coimbra uma dcada no propriamente pacfica34,determinara de vez a entrada numa fase iconoclasta em matria de ritos,tradies, cerimnias. O facto nada tem de extraordinrio, marcandofrequentemente pocas de maior conturbao social e poltica. Repetir-se- nos anos 60 e 70. Enquanto que as dcadas de 40, 50, 80 e 90 sero,todas elas, e mesmo que mutatis mutandis, tendencialmente neo-ceri-monializantes e teatrocrticas (na expresso de G. Balandier)35.Coimbra 1910 ss. s poder assim surpreender em termos de precoci-dade36. O certo que logo nos dias subsequentes ao 5 de Outubro se ve-rificam situaes de invaso e danificao da Sala dos Capelos, destrui-o de roupas e insgnias de lentes mais assumidamente monrquicos,etc.37 E no tardar a queda da obrigatoriedade do hbito talar paradocentes e discentes. A partir do final do primeiro trimestre de 1911 faz-

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    2. Coimbra, 1910 ss

    34 Veja-se o exemplo da crise acadmica de 1907, com causa prxima na reprovao em Actode Concluses Magnas (na linguagem do tempo) do doutorando em Direito Jos Eugnio Ferreira(filho do lente de Direito e poltico Jos Dias Ferreira), mais tarde professor do Instituto Superior deCincias Econmicas e Financeiras / U. Tcnica de Lisboa; av de Manuela Ferreira Leite, ex-mi-nistra da Educao (1993-1995) e das Finanas (2002-2004), e da lente da UL Jlia Dias Ferreira deAlmeida Flor (cf. o livro fundamental de XAVIER [67], bem como TORGAL [62], p. 214 et passim).Veja-se tambm a contradana das oraes de sapincia nas aberturas dos primeiros anos lectivosdo sculo XX entre os partidrios da tradio universitria (v.g. Eusbio Barbosa Tamagnini deMatos Encarnao [1880-1972], lente de Philosophia, futuro ministro da Instruo Pblica [1934-1936], orador em 1909) e os defensores de uma reforma modernizante da Instituio (v.g. SidnioPais, lente de Matemtica [1872-1918], orador em 1908; ou Bernardino Machado, lente dePhilosophia [1851-1944], orador em 1905); para um apanhado desta ltima questo v. por todosDIAS [11] e GOMES [23], pp. 443-447.

    35 Cf. Poder (El) en escenas: de la representacin del poder al poder de la representacin, trad.esp., Barcelona, Paids, 1994, passim. J MONCADA [38], passim, se deu conta desta alternncia desituaes na sua Universidade.

    36 A este respeito, delicioso o testemunho de Carlrichard Brhl (1925-1997), antigo Presidenteda Commission Internationale de Diplomatique, evocando a sua situao de estudante alemo emParis na viragem dos anos 40 para os 50 (!!!): Jai [...] suivi [les] cours [du canoniste Gabriel Le Bras] la Facult de Droit o lon faisait encore le cours en toge. Jai trouv a trs bien, mais jtais fortinquiet lorsque jai constat que la salle tait ferme cl pendant le cours et que mme le professeurne pouvait pas sortir (cf. Rponse de M. Carlrichard Brhl, in Remise [49], p. 37).

    37 Cf. GOMES [25], pp. 43-138; TORGAL [62], pp. 219-220.

  • se sentir a aco reformadora do ministro do Interior38, por sinal umbacharel formado em Medicina pela prpria UC, Antnio Jos deAlmeida (1866-1929)39.

    Entre a espontaneidade estudantil e a responsabilidade republicana,apontemos como alteraes dignas de nota:

    I. O hbito talar torna-se, repito-o, facultativo. Mas as consequncias serodivergentes no que a escolares e lentes diz respeito. Relativamente aos primeiros,a economia objectiva do seu uso vai duradouramente mant-lo, com acentuaodas caractersticas laicizantes-aburguesantes de tempos anteriores: a batina con-verte-se definitivamente numa sobrecasaca com bandas de cetim, com acentua-mento retro-posterior da cintura por dois botes encimando uma abertura ver-tical; o uso de colarinhos moles ou altos e de gravata ou lao depender do con-texto de maior ou menor cerimnia; sem esquecer que as batinas no deixarode acompanhar a moda, quanto largura (maior ou menor) ou forma das ban-das acetinadas (simples ou de bico), ou quanto ao tipo de abotoadura (normal oucom os botes tapados por uma carcela, ao jeito das abotoaduras centrais dealgumas gabardines e sobretudos); sem esquecer o remate inferior da cala (comou sem dobra, estreito ou a tender para a boca de sino, to usual na cala -para ambos os sexos - dos anos 60-70); todas estas formas coexistiam em finaisda dcada de 60, em plenas vsperas das crises que ditariam o hibernar de todoo universo de prticas. No se esquea, entretanto, a entrada em cena da versofeminina do traje (capa sobre saia-casaco preto), na viragem dos anos 40 para os5040.

    II. Quanto aos Mestres, o hbito no ter sofrido modificaes de maior: capatalar, fechada por um cordo (eventualmente duplo) de serigaria, terminandoem borla(s); batina entre tibial e genucular, sem bolsos (contrariamente versoestudantil), fechada at ao pescoo, deixando ver um colarinho branco, vulgarou alto conforme as ocasies; acentuamento retro-posterior da cintura seme-lhante ao do modelo estudantil, em relao ao qual , globalmente, mais com-prida41. Mas as circunstncias do seu uso tendem a restringir-se: proscrito das

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    38 Pasta sucessora do antigo Ministrio do Reino e, como tal, detentora ao tempo da tutela doSistema Educativo; com episdicos antecedentes no sculo XIX, o Ministrio da Instruo Pblicaapenas ser definitivamente criado em 1913; o Estado Novo crism-lo- de Ministrio daEducao Nacional na segunda metade da dcada de 30.

    39 Sobre o conjunto das reformas universitrias republicanas cf. GOMES [25], pp. 139-167.40 E provavelmente alguns anos antes no Porto, no mbito do Orfeo Universitrio.41 Sobre as adaptaes do traje ao uso por lentes do sexo feminino - aps o doutoramento pio-

    neiro (na UC) de Maria Helena Monteiro da Rocha Pereira (MHRP, 1956), e por responsabilidadeque lhe foi cometida - , cf. NUNES [44], p. 412, n. (17): Segundo testemunho prprio, a DoutoraMaria Helena fez cintar um pouco mais a batina masculina, chegando esta ligeiramente abaixo dojoelho, e substituiu a cala comprida por saia at meia perna, com macho atrs. Este testemunhono deixa de me suscitar algumas interrogaes. Antes de mais, porquanto MHRP no foi propria-mente a primeira Mulher doutorada em Portugal, nem sequer a primeira da UC. O pioneirismoabsoluto em termos nacionais - e deixando aqui de lado o caso sui generis de Carolina Michalisde Vasconcelos (1851-1925), dr. pela U. Freiburg e pela UC, de que foi prof. ordinria a partir de1911; usava as insgnias doutorais sobre capa recobrindo um vestido preto talar (testemunho do

  • aulas, o traje vai concentrar-se, a partir de ca. 1920, na Sala Grande dosActos (com cortejo de acesso a partir da Biblioteca Joanina ou dos sales doPao das Escolas) e na Capela da Universidade; com uma distino de fundo:os actos solenes (doutoramentos h.c. - uma novidade da Repblica42-,imposio de insgnias aos novos doutores, abertura anual das aulas, possedo Reitor...) comportam o uso de borla e capelo43; os actos correntes

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    Doutor Lus de Albuquerque [1916-1992], recolhido pelo Mestre Antnio M. Nunes) - cabe a MariaGabriela de Lemos Pereira Beato, dr. em Cincias Farmacuticas pela UL em Fev.1927: cf. SANTOS[56], p. 45, n. [1]; em 1938 a vez de Maria Elza Paxeco (Letras/Filologia Romnica pela UL);prestou provas com o traje da U. do Pas de Gales, onde se formara e post-graduara; seguiram-se--lhe, nos anos 40 e na UP, Leopoldina Ferreira Paulo (Cincias/Biologia, Nov.1944), Judite dosSantos Pereira (Cincias/Geologia, Jan.1945) e Maria Serpa dos Santos (Farmcia, Nov. 1947),sendo esta ltima, at ento, preparadora da Escola Superior de Farmcia/UC: cf. SANTOS [56], pp.45-46; pelo meio, e ainda em 1944, Andre Crabb Rocha (Letras/Filologia Romnica pela UL);tambm em 1947 (Fevereiro) doutora-se em Letras/Cincias Histricas pela UL Virgnia RobertsRau (1907-1973); em 1953 obtm a lurea Maria de Lourdes Belchior (1925-1998), emLetras/Filologia Romnica pela UL; e no ano seguinte doutora-se Isabel Maria Magalhes Colao(1926-2004, Direito pela UL); 1. assistente da sua Escola a partir de 1957, desde logo usar hbitotalar com borla e capelo; a adaptao da batina foi concebida por um alfaiate de Lisboa e compor-tou a inverso do lado da abotoadura relativamente verso masculina, bem como alturas idnticaspara a batina e para a saia (Fonte: informaes transmitidas telefonicamente pela prpria, em2002/11/01); finalmente, e j em 1957, Maria Alzira Bessa de Almoster Moura Ferreira (Cincias/Qumica pela UP; ser 1. assistente da FC/UP [1958] e professora extraordinria [1969] e cate-drtica [1972] da FC/UL). As duas primeiras dr.s da Fac. Cincias/UP tiveram solene imposio deinsgnias em 1945, aspecto a que voltarei; e Maria Serpa dos Santos ter comeado a usar na UChbito talar com insgnias, pouco tempo decorrido sobre as provas doutorais (cf. carta que me dirigiuem 2002/09/30); e a terceira dr. pela FC/UP prestou provas em hbito talar com batina (Filhas deMinerva [22a], pp. 25-31). Pelo que os factos me parecem incontestveis: desde a dcada de 40 setero ensaiado adaptaes femininas do hbito talar (presumivelmente, nas mais das vezes, com asaia mesma altura da batina: tal , com efeito, o facies do traje com que Maria Serpa dos Santosnos surge fotografada na escada central de acesso Via Latina em Outubro de 1966, por ocasio daabertura solene do ano lectivo; ou ento - casos de Virgnia Rau e de Andre Crabb Rocha - comum tailleur preto em vez de batina), precedendo a adaptao definitiva (?) cometida a MHRP, adap-tao na qual os detalhes da altura da batina e da saia se afiguram relevantes; mas nessa altura jiam decorridas quase 3 dcadas sobre o dia em que, pela vez primeira, um capelo doutoral obtidoem provas pblicas pousara em ombros femininos...

    42 TORGAL [62].43 Com um pormenor, relativo ao Reitor: o prelado universitrio apresenta-se normalmente de

    borla, sem capelo. Porqu ? Durante a Monarquia e a 1. Repblica, permitia a legislao que oReitor fosse algum exterior ao claustro, eventualmente sem grau outro que o de bacharel formado.Exemplos: a) Na Monarquia: Adriano Machado, lente da Academia Politcnica do Porto, comovimos (cf. supra, n. 23), Reitor 1886-1890; ou D. Joo Alarco Osrio, par do Reino, Reitor 1907;b) na Repblica: Manuel de Arriaga, bacharel formado em Direito, Reitor 1910-1911; ArnaldoMendes Norton de Matos, magistrado, Reitor 1916-1918; Joaquim Coelho de Carvalho, bacharelformado em Direito e diplomata, Reitor 1919; Antnio Lus Gomes, dr. em Direito mas exterior aoclaustro, Reitor 1921-1923 (pai do lente de Matemtica e futuro Reitor da UP Ruy Lus Gomes [cf.supra, n. 28]); Francisco Pinto da Cunha Leal, capito do Exrcito na reserva e poltico, Reitor 1924-1925; e Henrique Jardim de Vilhena, lente da Fac. Medicina da UL, Reitor 1925-1926 (v. por todosRODRIGUES [51] e [52], pp. 95-97). Acresce que a Repblica oscilou entre a eleio do Reitor peloclaustro e a nomeao governamental (v. por todos GOMES [25], passim). Daqui resulta que o Reitorno tinha que ser doutor e que no eram, portanto, as insgnias respectivas que, sendo-o, lhe confe-riam a autoridade; mas sendo doutor, a borla funcionaria como exteriorizao mnima de tal habili-tao. Tudo isto ajudar a explicar a inconstncia iconogrfica tambm presente na galeria deretratos reitorais da UC: antes de mais, s pelos meados de Oitocentos os Reitores comeam a serretratados em hbito talar - Jos Machado de Abreu ([1794-1857], lente de Leis, Reitor 1850-1853)ser o primeiro, mas em hbito talar e uma condecorao, sem insgnias: cf. RODRIGUES [51], p. 494;Antnio Augusto da Costa Simes (1819-1903], lente de Medicina, Reitor 1892-1898) ser oprimeiro retratado em hbito talar segurando a borla: cf. RODRIGUES [51], p. 501; por outro lado,

  • (provas de doutoramento44 ou de concurso de provas pblicas) ou de outrotipo de cerimonialidade (celebraes religiosas na Capela, funerais de membrosda comunidade acadmica...) dispensam as insgnias. Para alm disto, o reorde-namento das Escolas (e consequentemente das cores): as Faculdades deMatemtica e de Philosophia vo fundir-se, originando a Faculdade de Cincias(cor azul celeste, salvo para o grupo de Matemtica: azul-celeste e branco); desactivada Faculdade de Teologia (cor branca)45 como que sucede a novaFaculdade de Letras (cor: azul escuro, tal como as antigas Faculdades das Artes,primeiro, de Philosophia, depois); Direito e Medicina mantm o estatuto deFaculdade e as cores respectivas (vermelho e amarelo); e a Escola de Farmcia(cor: roxo), partida anexa Faculdade de Medicina, autonomiza-se ca. 1915,ganhando o estatuto de Faculdade nos alvores dos anos 2046; em fases ulteriores

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    a heterognea origem dos prelados (pares do Reino, conselheiros, magistrados, diplomatas,lentes de outras Escolas Superiores) ajuda a explicar a diversidade do visual com que se fazemretratar: tendo to-somente em conta a I Repblica, encontramos um Reitor em vestes de magistra-do (Arnaldo Norton de Matos), outro em traje de passeio (Francisco da Cunha Leal) e um ltimoenvergando a beca da Faculdade de Medicina da UL (Henrique Jardim de Vilhena) (vejam-se osretratos respectivos em RODRIGUES [51], pp. 510-515). Para o perodo post-1926, apenas trsReitores se fizeram retratar simplesmente de hbito talar segurando a borla, sem mais atavios: trata--se de Fernando de Almeida Ribeiro, j referido (cf. supra n. 6, Reitor 1926-1927); de Jos GouveiaMonteiro (1922-1994, lente de Medicina, Reitor 1970-1971); e de Jos Joaquim Teixeira Ribeiro(1908-1997, lente de Direito, Reitor 1974-1976) (cf. RODRIGUES [51] pp. 516, 523 e 525); interes-sante , entretanto, o caso de Maximino Jos de Morais Correia (1893-1969, lente de Medicina,Reitor 1943-1960), que, de facto, se fez retratar de borla sem capelo, mas com diversas condeco-raes, assim se apresentando tambm em actos solenes, v.g. o doutoramento h.c. de Franco (1949)(cf. RODRIGUES [51], p. 520 e TORGAL [62], p. 257). Note-se que, exteriormente galeria reitoral,existe um exemplo anterior de um Reitor simplesmente retratado (leia-se: fotografado) com hbitotalar e borla sobre os joelhos: veja-se a fotografia, datada de 1880, publ. por NUNES [42a], fig. 8;o Reitor em causa ser Jlio Mximo de Oliveira Pimentel, visconde de Vila Maior (lente deMatemtica, Reitor 1869-1884), que surge sentado, enquadrado pelo Secretrio, pelo Guarda-Mor,pelos Bedis e pelos Archeiros. Lembre-se tambm que, sendo Cardeal-Patriarca, o DoutorGonalves Cerejeira se apresentou por vrias vezes em actos solenes da sua ALMA MATER trajandoa prpura e segurando a borla de Letras na mo direita (cf. por exemplo a foto patente em Memoria[37], p. 352 [os lentes da Universidade na abertura do ano lectivo de 1940/1941]).

    44 Doutoramentos cientficos, na expresso de TORGAL [62], sucessores dos antigos actos deConcluses Magnas, por contraposio, agora, aos doutoramentos solenes (Honoris causa ou aimposio solene de insgnias aos [cientificamente] aprovados em provas pblicas).

    45 Nunca formalmente extinta; deixou pura e simplesmente de receber inscries a partir de1910/11, permitindo-se aos inscritos a concluso do curso. A maioria do Corpo Docente transitoupara a nova Faculdade de Letras, havendo pelo menos um caso de prosseguimento e concluso decarreira na FL/UL: Jos Joaquim de Oliveira Guimares (1877-?), que foi inclusivamente Directorda sua ltima Escola (1940-1947) (cf. A. H. de Oliveira MARQUES, Notcia Histrica da Faculdadede Letras de Lisboa [1911-1961], in MARQUES [35], p. 164); outro tologo coimbro, Jos MariaRodrigues (1857-1942), rumara entretanto Capital j na dcada de 1890, ensinando sucessiva-mente no Curso Superior de Letras e na FL/UL (MARQUES [35], passim).

    46 Esteve a um passo da extino - tal como a sua congnere de Lisboa - em 1928, aquando dapromulgao do Decreto 15.365, de 14 de Abril, que pretendeu extinguir a Fac. Letras da UP (o quese concretizou), a Fac. Direito da UL (o que no se concretizou, pela forte mobilizao da comu-nidade acadmica), as duas Faculdades de Farmcia e o Liceu da Horta. As Us de Coimbra e deLisboa puderam conservar o ensino da Farmcia, mas no mbito de Escolas Superiores da especia-lidade, ministrando somente o Curso Profissional (3 anos); a licenciatura e o doutoramento ficaramassim confinados Fac. Farmcia da UP, e nela se graduaram diversos lentes de Coimbra, v.g. JosRamos Bandeira (dr. em 1944), Maria Serpa dos Santos (dr. em 1947; v. supra, n. 41) ou AntnioPinho de Brojo (1927-1999, dr. em 1961) [Note-se que o primeiro teve solene imposio de insgniasna UP, em 1945 (cf. SANTOS [57] , pp. 210); os dois restantes tero usado de imediato borla e caplo

  • (anos 70 ss.), Economia adoptar o vermelho e branco e Psicologia e Cincias daEducao o laranja.

    III. Os tempos iniciais da Repblica no iam de feio manuteno de grandescerimoniais de Nobre Sala. Os doutoramentos passam a fazer-se, durante algumtempo, em traje de passeio47; ainda em 1919, o doutorando Lus Cabral deMoncada enfrenta um tribunal jurdico com os juzes futrica; e no meio detanto laicismo burgus, apresenta-se, qual noivo de Minerva, de fraque,luvas e chapu alto...48 S pelos alvores da dcada de 20 as provas pblicas naNobre Sala revem lentes e candidatos talarmente revestidos e s pela mesmaaltura os novos doutores comeam a receber solenemente insgnias em cerim-nia especfica ulterior s provas pblicas49: Manuel Gonalves Cerejeira rece-ber as suas em 1918, em cerimnia na sala do Senado, paraninfada pelo seuMestre Antnio Garcia Ribeiro de Vasconcelos (1860-1941), ao tempo Directorda FL/UC50; o gegrafo Aristides de Amorim Giro (1895-1960) foi o primeirodoutor solenemente investido na Sala Grande, em 1922, em cerimnia que teveCerejeira como orador, o qual se referiu circunstanciadamente ao valor dossmbolos51; e o segundo ser, cerca de um ano depois, Manuel Serras Pereira,tambm da Faculdade de Letras52. Mas s mais para o final da dcada estesactos ganham foros de regularidade: v.g., e entre 1926 e 1931, o encapelamen-to de Slvio Vieira Mendes de Lima (Letras); de Manuel dos Reis, GumersindoSarmento da Costa Lobo e Rui Gustavo Couceiro da Costa (todos de Cincias);ou de Adriano Pais da Silva Vaz Serra, Jos Carlos Moreira, Joo Pinto daCosta Leite (Lumbrales) e Fernando de Andrade Pires de Lima (todos deDireito)53.

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    na UC: Maria Serpa dos Santos pode ver-se numa fotografia dos lentes de Farmcia em 1960, onde,alis, est tambm Jos Ramos Bandeira (Memoria [37], p. 362); de Antnio Brojo, nome cimeiroque tambm foi da guitarra de Coimbra, h um retrato de recm-doutorado, com hbito talar eborla e capelo, exibido num programa biogrfico da RTP (transmitido ca. 1982), e assim aparecetambm numa srie de fotos referentes solene abertura do ano lectivo de 1966/67 (cpias gentil-mente cedidas pelos familiares de Maria Serpa dos Santos). Reforce-se, finalmente, a ideia de que asinsgnias de Jos Ramos Bandeira, Maria Serpa dos Santos e Antnio Brojo so, em rigor, insgniasdoutorais da UP, onde obtiveram o grau, num tempo em que a simples Escola Superior deFarmcia da UC o no conferia]. Em 1968 - exactamente 40 anos depois - o governo de MarcelloCaetano, nas suas primeiras semanas de exerccio, restaurou as duas Faculdades; e Maria Serpa dosSantos tornar-se- em 1972 a primeira Mulher catedrtica de Farmcia em todo o Pas.

    47 O que, ocasionalmente, ressurgir nas Us de Coimbra e do Porto, nos tempos imediata-mente ulteriores mudana de Regime em 1974. Em 1976 - e julgo que isto nunca foi narrado porescrito - um pequeno incidente ocorreu na Faculdade de Medicina da UP, quando, escassos mesesdecorridos sobre a jubilao do Reitor Ruy Lus Gomes (v. supra, n. 28), o Vice-Reitor em exercciopretendeu presidir a um jri de concurso para professor extraordinrio envergando jeans e umbluso de nylon azul... O jri acabou por ter a liderana do Presidente do Conselho Directivo daFaculdade...

    48 MONCADA [38], p. 127. 49 Antes de 1910 a colao do grau doutoral seguia-se de imediato aprovao nas provas

    pblicas (v. por todos GOMES [23], p. 430, transcrevendo normas estatutrias).50 Cargo que exerceu de 1911 a 1920. Sobre a imposio de insgnias ao Doutor Gonalves

    Cerejeira, cf. TORGAL [62], pp. 240-245.51 TORGAL [62], pp. 246-250.52 TORGAL [62], pp. 293-294.53 TORGAL [62], pp. 294-297.

  • IV. 1921 vira inaugurar-se os doutoramentos honoris causa, com a investidu-ra, em 15 de Abril, dos oficiais-generais aliados Marechal Joffre (Frana),Generalssimo Armando Diaz (Itlia) e General Smith Dorrien (Inglaterra)54.Assim se abre um tipo de cerimnia que em Coimbra tanto pode agraciar figu-ras da Cincia, como expoentes da cena poltica, mormente internacional55

    (sobretudo Chefes de Estado ou de Governo de visita ao Pas, v.g. Afonso XIIIde Espanha56, Franco [1949], Joo Caf Filho [1955], Juscelino Kubitschek deOliveira [1960], Ludwig Ehrard [1961], Kurt-Georg Kiesinger [1968] ouLaureano Lopez Rod [1973] durante o Estado Novo; e, ulteriormente [1980ss.], Karl Carstens [1980], Amintore Fanfani [1982], Joo Paulo II [id.]57,Tancredo Neves [1985]58, Jos Sarney [1986], Javier Prez de Cuellar [1987],Aristides Pereira [1989], Juan Carlos de Espanha [id.], Richard von Weiszker[1990], Giovanni Spadolini [1991], Jacques Delors [1992] ou FernandoHenrique Cardoso [1995])59; ou ainda dois mecenas (Jos de Azeredo Perdigo

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    54 TORGAL [62], pp. 252-256. Passa-se isto em curiosa sintonia cronolgica, tipolgica e pessoalcom a UP, que no dia 11 do mesmo ms de Abril do ano em causa fizera j drs. h.c. pela Fac.Cincias os mesmssimos Generais Armando Diaz e Smith Dorrien, antecedidos, no dia 6, do mes-mrrimo Marechal Joseph Joffre (creio que ainda ningum salientou por escrito este facto). Em 24de Outubro do ano seguinte sero drs. h.c. pela Faculdade Tcnica (ulterior Fac. Engenharia, 1926ss.) os heris nacionais Carlos Viegas Gago Coutinho e Artur de Sacadura Cabral (a listagem dosdrs. h.c. pela UP pode encontrar-se nos opsculos ultimamente editados por acasio de actos de talnatureza; no momento em que escrevo, o ltimo data de 2001/02/01 e diz respeito ao ex-Presidenteda FIFA Joo Havelange, dr. h.c. pela Faculdade de Cincias do Desporto e da Educao Fsica porocasio da passagem do 25. aniversrio desta Escola). Note-se que Gago Coutinho e SacaduraCabral foram tambm drs. h.c. pela UL, no mesmo ano de 1922.

    55 Os casos nacionais so apenas dois, e em contextos bem diferenciados: Salazar (dr. h.c. porLetras, 1959) e Mrio Soares (dr. h.c. por Direito aps o termo do seu segundo mandato como PR).

    56 Acto no concretizado, por motivo da mudana de Regime no Pas vizinho, em 1931, e con-sequente no-realizao da visita rgia. Sobre o ulterior destino das insgnias, temporariamenteusadas pelo lente de Direito Lus Cabral de Moncada (1888-1974), vejam-se as bem-humoradas con-sideraes deste ltimo em MONCADA [38], p. 208.

    57 Com a particularidade de ter sido feito dr. h.c por todas as Faculdades. Algo de idntico ocor-rer 5 anos mais tarde na UP, com Jos de Azeredo Perdigo (1896-1993). Note-se que o entoPresidente da Fundao Calouste Gulbenkian foi dr. h.c. pelas Us de Coimbra, Lisboa, Porto, Novade Lisboa e Aveiro.

    58 TORGAL [62], pp. 257 e 263. Tancredo Neves recebeu este grau como Presidente eleito doBrasil, cargo de que no chegaria a tomar posse, por doena a que no sobreviveu.

    59 TORGAL [62], pp. 257-264; listagem detendo-se em 1993. A listas dos drs. h.c. pelas restantesUs portuguesas revela uma bem menor componente poltica. Ainda assim, realcem-se, na UP, eantes de 1974, as investiduras do Ministro do Exterior brasileiro Jos Magalhes Pinto (Economia,1968) e do escritor, diplomata e longevo director do Dirio de Notcias Augusto de Castro SampaioCrte-Real (Letras, 1969); de 1990 para c, destaquem-se: Mrio Soares (Letras, 1990), FernandoHenrique Cardoso (Economia, 1995), Jacques Delors (id., 1999), Xanana Gusmo, D. Carlos FilipeXimenes Belo e Jos Ramos-Horta (todos Letras, 2000). De realar ainda, no panorama portuense:os mecenas Jos de Azeredo Perdigo (todas as Faculdades, 1987) e Victor S Machado (Medicina,1987); o realizador Manoel de Oliveira (Arquitectura, 1989); e o ex-lder do futebol mundial JooHavelange (Cincias do Desporto e da Educao Fsica, 2001). Nas restantes Us, salientem-se: emvora, a rainha Sofia de Espanha; em Aveiro, Sophia de Mello Breyner; na U. Nova de Lisboa,Antnio Carlos (Tom) Jobim; e na U. Minho, D. Eurico Dias Nogueira e Eurico de Melo. Quantos Us privadas, tenham-se em ateno: Antnio Ramalho Eanes e D. Manuel da Silva Martins pelaU. Lusada; Camilo Jos Cela e Mikhal Gorbatchov, professores honorrios da U. Moderna.Registe-se ainda, como prtica alternativa ao doutoramento h.c., o que se passou nos anos 80 aquan-do da visita a Portugal do Presidente grego Christos Sartzetakis: juiz do Supremo Tribunal do seu

  • [1960] e Fernando Aguiar Branco [2001]), um criador literrio (VerglioFerreira [1993])60 ou um cultor de uma rea do saber - a Arquitectura - s entoem vias de ser introduzida no claustro coimbro (Fernando Tvora [1993]).Uma palavra sobre o cerimonial61. Num ritual de Sala Nobre em que a liturgiado gesto e a liturgia do verbo harmonicamente se enlaam, saliente-se antes demais a breve e elegante orao em que o doutorando - ou o protocolarmentemais antigo, se forem vrios - faz ao Reitor a petio do grau. A prtica,sequente, dos dois oradores - qual galo e galinha que se afrontam62, nos lugaresrespectivos do estrado, direita e esquerda do Reitor, segundo a ordem deinterveno -, um elogiando o doutorando, o outro o apresentante, cimenta-se apartir de 192263. Salientem-se ainda os dizeres protocolares em latim - petio,outorga e agradecimento do grau -, a cerimnia dos abraos ao(s) novo(s)doutor(es) - e as intervenes dos metais da Charamela - nem sempre muito afi-nados, hoje como h um sculo64 -, pontuando os cortejos de abertura (daBiblioteca para a Sala Grande) e de sada (da Sala para a Reitoria) com um co-nhecido tema de G.-F. Haendel, os abraos com o clebre Gaudeamus Igitur efechando com o Hino Acadmico, de Jos Cristiano de Medeiros (sc. XIX)[eventualmente tambm o Hino Nacional, se o acto tiver a presena do Presi-dente da Repblica]. Por ltimo, nos sales da Reitoria, a leitura do auto e aassinatura do mesmo pelo(s) novo(s) doutor(es), apresentante(s), testemunhas e oReitor65.

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    Pas, foi entre ns investido conselheiro honorrio do STJ; julgo tratar-se de circunstncia nica. 60 Cf. Doutoramento [13]. Note-se que Verglio Ferreira (1916-1996) era lic. em Filologia

    Clssica pela FL/UC (1940).61 A componente poltica e diplomtica dos doutoramentos h.c. pela UC levou a que a norma-

    tiva protocolar tenha sido modernamente pela primeira vez transcrita nas Regras do CerimonialPortugus, do Emb. Hlder de Mendona e CUNHA (1. ed.: Amadora, Bertrand, 1976, pp. 167-172),texto que o Autor, que j chefiara o protocolo de Estado, apresentara inicialmente como relatriointerno no MNE. Mais recentemente, a normativa foi transcrita em: TORGAL [62], pp. 313-319 (como ttulo Doutoramento solene, e indicando como fonte Documento elaborado com base nosEstatutos e nas Praxes, Direco dos Servios Acadmicos da UC); e em Doutoramento [13], pp.53-57.

    62 Segundo o calo acadmico.63 TORGAL [62], pp. 250-251. O acto pioneiro em matria de dois oradores foi o da imposio

    solene de insgnias a Amorim Giro (1922/05/28).64 Cf. supra, n. 6.65 bvio que, nas mais diversas conjunturas, h sempre lentes que em tal cerimonial se no

    revem. Veja-se, para as dcadas de 30 a 50, o testemunho de Lus Cabral de Moncada, particular-mente interessante por provir de um campo, porventura, conservador: (...) Tocava a charamela asua marcha nupcial, repicavam os sinos festivos, estralejavam foguetes e [o] cortejo deslizava empasso de procisso, atravessando o ptio, como se fosse a prpria procisso da Rainha Santa. (...) Anossa [tradio] (...) vinha (...) das profundidades do sculo XIII. No admirava (...) que conservasse(...) ainda muitos traos da sua origem eclesistica medieval. Eram estas as rugas da sua velhice.Algumas tinham-se cavado (...) mais fundo, como aquela em que o reitor, impondo as mos sobre acabea do novo doutor, o nefito, laia de sacramento, e lendo de um livro uma frmula solene emgica, parecia invocar o Esprito Santo, alis o de Minerva, que quase materialmente ns vamosbaixar sobre a sua cabea como o Parclito. Tudo isto me parecia desculpvel. Mas o que eu nocompreendia era o ar comovido e quase beato com que os meus colegas, na sua maioria, olhavampara todos os pormenores desta liturgia e neles colaboravam como se fossem fiis de um culto orien-tal dos comeos do cristianismo. Faltava-lhes (...) humorismo consigo mesmos e descontraco.Asfixiava-se. A gente sentia-se embalsamada, mumificada, dentro de tanta teatralidade por fora epor dentro. Era por isso que Magalhes Colao, marchando a meu lado, me dizia uma vez, hirto e

  • V. Quanto s aberturas solenes das aulas, o clima tambm lhes no era propcionos tempos iniciais da Repblica. S as visitas Universidade de Chefes doEstado que a tinham a sua ALMA MATER - Sidnio Pais, lente de Matemtica,em 1918; e Antnio Jos de Almeida, bacharel em Medicina, em 192166 - con-tribuiro para alterar a situao. Ganhando regularidade a partir do final dadcada de 20, tende ento a cristalizar67 um tipo de cerimonial com momentosaltos na leitura do Relatrio anual do Reitor e na orao de sapincia, rotativa-mente a cargo de lentes das mltiplas Faculdades68.

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    irnico, sentir-se, sob as franjas da borla que tremia, quase igual imagem da Rainha Santa nos diasda grande procisso (MONCADA [38], pp. 207-208). Para os anos 80 veja-se a querela que opsnomeadamente diferentes sensibilidades de Mestres da FL/UC (cf. NETO [39a]).

    66 TORGAL [62], pp. 236-238 et passim. 67 Com uma soluo de continuidade entre a crise acadmica de 1969 e os finais da dcada de 70.68 claro que, em Coimbra como alhures, nem sempre as intervenes em to solenes actos -

    quer se trate de elogios acadmicos, quer de oraes de sapincia - primam pela elegncia literriaou pelo rigor do contedo. No raro descambam na vulgaridade, na retrica bacoca, nos recadosa terceiros ou no disparate puro e simples (poderia exemplificar; s que no vou por a...). Mas hilustres excepes: para citar um texto j clssico, direi que o livro de SANTOS [55] teve origem naorao de sapincia da abertura do ano lectivo de 1985/86; e o texto respectivo foi inicialmente pu-blicado no Anurio da UC referente ao ano em causa.

  • Que dizer agora de trajes e cerimoniais nas restantes Us existentes apartir da I Repblica (Lisboa e Porto) ou dos anos 30 (Tcnica deLisboa)?

    a) Comecemos pela UP, que talvez tenha sido, das duas Us criadasem 1911, a de mais precoce afirmao em termos de traje e cerimonialprprios. Vejamos: data da fundao, as Faculdades de Cincias e deMedicina, e depois a Tcnica (futura Engenharia) e a de Farmcia,como herdeiras das Escolas de Oitocentos, eram utentes da menciona-da beca; as instalaes universitrias estavam concentradas numa zonano particularmente extensa do Centro urbano: dos Clrigos aoCarregal, como j tive oportunidade de me exprimir69, zona prolonga-da pelos eixos virios de Cedofeita - at Rua dos Bragas70 - e das Ruasdo Rosrio e da Boa Hora - at s imediaes da igreja romnica deCedofeita71. Acrescentem-se, pela sua importncia, as comemoraesdos Centenrios da Real Escola de Cirurgia (1825-1925)72 e daAcademia Politcnica (1837-1937)73. Refira-se, por ltimo, o elevadosentido de Instituio de alguns Reitores: uma palavra ser aqui devidaa Jos Pereira Salgado e a Amndio Joaquim Tavares74. E fcil se

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    169 HOMEM [32]; neste permetro ficavam a Reitoria, a Faculdade de Cincias, a Faculdade de

    Medicina (at final da dcada de 50), a Faculdade Tcnica/de Engenharia (at 2001), a Faculdadede Farmcia e, mais tarde, as Faculdades de Economia (anos 50/anos 70), de Letras (anos 60/anos70)e, por ltimo e ainda hoje, o Instituto de Cincias Biomdicas Abel Salazar (1976 ss.).

    70 Localizao da sede da Faculdade de Engenharia a partir dos anos 30.71 Zona onde ir situar-se o edifcio da Faculdade de Farmcia, em prolongada construo ao

    longo das dcadas de 20 e de 30. O arruamento onde se localiza vir a receber o nome de um dosprimeiros directores da Escola: Anbal Cunha.

    72 Antecessora, sucessivamente, da Escola Mdico-Cirrgica (1837) e da Faculdade deMedicina (1911). O seu Centenrio dar lugar, entre outras, publicao Prto [1925] e, provavel-mente, adopo do Emblema esfragstico da Universidade, de que voltarei a falar.

    73 Antecessora das Faculdades de Cincias (1911) e Tcnica (1915). O seu Centenrio darlugar, entre outras, publicao BASTO [3], bem como ao reaparecimento do Orfeo Acadmico(com a designao Orfeo Acadmico da UP), integrando pela primeira vez naipes femininos.

    74 Durante o reitorado deste ltimo o automvel da Reitoria chegou a ostentar, na partedianteira do capot, uma pequena bandeira com o smbolo da UP (testemunho de seu Filho, DoutorAmndio Gomes de Sampayo Tavares).

    3. As Universidades da primeirametade do sculo XX

  • tornar compreender a configurao na UP de todo um cerimonial deactos acadmicos a prolongar-se at dcada de 60 e com algumasmodificaes de fundo apenas no ltimo quartel do sculo. Vejamos ascircunstncias, uma por uma:

    I. Aberturas do ano lectivo - No edifcio da Faculdade de Cincias (ex-AcademiaPolitcnica) ficavam tambm a Reitoria, a Secretaria-Geral e outros ServiosCentrais. Naturalmente, o Salo Nobre respectivo passou a funcionar como Salados Actos. E anualmente passou a ter lugar, por meados de Outubro, a cerim-nia de abertura das aulas. No raro com a presena do Presidente da Repblicae/ou do Ministro da Educao (e, eventualmente, de outros membros doExecutivo), bem como de autoridades civis, militares e eclesisticas, tal cerim-nia englobava a leitura do Relatrio anual do Reitor, a entrega de prmios esco-lares e a orao de sapincia75. Tudo pontuado com intervenes do OrfeoUniversitrio do Porto76, normalmente abrindo com o Hino Nacional e fechan-do com a Proposio dOs Lusadas, de Hermnio do Nascimento. Nas tri-bunas sentavam-se apenas os professores catedrticos (envergando beca), fican-do os restantes docentes doutorados na zona central do salo, em hbito talar.As crises acadmicas de 1969 levaram suspenso desta cerimnia nos estabe-lecimentos do Ensino Superior Pblico77; e o Porto no constituiu excepo:para os anos subsequentes retenho apenas a realizao de duas cerimnias deentrega de prmios escolares (Abr. e Dez.73), realizadas sob forte proteco poli-cial e sem a presena de nenhum dos coros universitrios. Restaurada no reitora-do de Lus de Oliveira Ramos (1983), esta cerimnia voltaria a realizar-se at1988, nas mais das vezes na Fac. Cincias (1984, 1987 e 1988), mas tambm emEconomia (1983 e 1986) e no auditrio da Reitoria (1985)78. Novamente suspen-sa no reitorado de Alberto Amaral (a partir de 1989), conheceria um reapareci-mento sui generis no mandato do actual prelado, Jos ngelo da Mota NovaisBarbosa (1998 ss.): constatando que as diversas Escolas tinham entretantocomeado a realizar as suas prprias aberturas de ano lectivo79, e no possuin-

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    75 A ltima cerimnia desta natureza antes do 25 de Abril de 1974 teve lugar em 1968/10/26.Assisti, como estudante recm-ingressado na licenciatura em Histria. Presentes Amrico Thomaz(PR) e ainda Antnio Gonalves Rapazote (min. Interior), Jos Hermano Saraiva (min. Educao) eJos Estvo Abranches Couceiro do Canto Moniz (min. Comunicaes), todos integrando oprimeiro Executivo de Marcello Caetano, empossado semanas antes. Era Reitor Manuel Corra deBarros Jr. (que produziu um corajoso Relatrio apontando problemas como o da no-audio dasUs na recentssima reforma curricular das Facs. de Letras e de Cincias - a reforma dos bachare-latos) e Vice-Reitor Armando Vasconcelos Laroze Rocha (lente de Farmcia, 1900-1983). A oraode sapincia coube a Jayme Eduardo Rios de Souza ( 1971), lente de Matemtica e membro, pordireito prprio, da galeria das figuras pitorescas da UP: dissertou sobre A evoluo das geometriasno-euclidianas (publ.: Porto, UP, 1969). Entre os premiados deste ano estiveram os actuais lentesManuel Ricardo Falco Moreira, Jorge Reis Lima (ambos Cincias/Matemtica) e EugnioFrancisco dos Santos (Letras/Histria). Evoquei j esta cerimnia em HOMEM, Prlogo [30a],p. 10.

    76 Esta designao remonta a 1942/43.77 No se olvide que Coimbra/1969 teve o seu arranque na inaugurao do edifcio de

    Matemtica (1969/04/17). 78 Entre as oraes de sapincia saliente-se a notabilssima de 1987, de Lus Vasco Nogueira

    Prista (Fac. Farmcia), sobre a dimenso histrica do medicamento e a sua situao face s novastecnologias.

  • do ainda a UP nenhum grande auditrio, o novo Reitor decidiu instituir o Diada Universidade (22 de Maro)80, compreendendo uma sesso solene e todo umconjunto de realizaes em torno de uma dada problemtica: Universidade epatrimnio museolgico (1999)81 e Universidade e Cidade (2000)82; ou a inau-gurao oficial das novas instalaes da Faculdade de Engenharia (2001) ou daFaculdade de Direito (2004).

    II. Doutoramentos e outros actos de provas pblicas - Desde cedo se efectuaramnas Faculdades, desde que dispondo de edifcio (e, consequentemente, de SaloNobre) prprio: Cincias, Medicina, Farmcia (anos 20)83, Engenharia (anos30). Surgidas nos anos 50 e 60, as Faculdades de Economia (1953 ss.)84 e deLetras (1962 ss.)85 realizaram no Salo Nobre de Cincias, e at aos anos 70, osseus actos acadmicos. Tradicionalmente85a os candidatos apresentavam-se emhbito talar, traje que conservavam, em caso de sequncia de carreira, at aoacesso ctedra86.

    III. Doutoramentos h.c. - No particularmente numerosos at dcada de 70,estes actos cedo se processaram segundo um cerimonial idntico ao da UC: elo-gio do doutorando, elogio do apresentante, petio e colao do grau, instalaodo novo doutor no cadeiral do mais jovem e palavra sua de agradecimento87;

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    79 Em Letras tal prtica remonta a 1980/81.80 Data do decreto de criao da UP, em 1911. 81 Realizou-se a sesso no Salo Nobre da Fac. Cincias, estando a orao de sapincia a cargo

    de Armando Coelho Ferreira da Silva (Letras/Dep. de Cincias e Tcnicas do Patrimnio).82 Sesso no Teatro do Campo Alegre, com orao de sapincia por Domingos Tavares

    (Arquitectura). 83 Embora o edifcio s ficasse concludo na dcada subsequente. 84 Sediada at 1974 nas guas-furtadas da Faculdade de Cincias. 85 Sediada at 1977 em parte do antigo edifcio de Medicina, ao Largo da Escola Mdica (ac-

    tual Largo Prof. Abel Salazar), junto ao Hospital de St. Antnio. O Salo Nobre era objecto de uti-lizao docente quotidiana (por Letras, Cincias, Economia e at Belas-Artes) (cf. HOMEM [32a],maxime p. 305), o que impedia qualquer utilizao como Sala de Actos. A ulterior atribuio doedifcio ao Instituto de Cincias Biomdicas Abel Salazar (ICBAS, 1977 ss.) no melhorou a situaodessa sala austeramente digna, outrora tambm palco de concertos de cmara, pelos quais passaramGuilhermina Suggia, Helena e Madalena Moreira de S e Costa et alii: transformada agora emdepsito de material de laboratrio, viria a ser destruda por violento incncio ca. 1990, o qualatingiu toda a ala sul (fachada principal) do edifcio; as obras de restauro tm-se processado com irri-tante lentido.

    85a Pelo menos a Faculdade de Medicina ter tido a prtica inicial do uso de casaca pelosdoutorandos; mas esse uso no ter ultrapassado os meados de Novecentos, contrariamente UL e UTL, como veremos.

    86 Excepes tero sido os trs doutoramentos femininos ocorridos na dcada de 40: LeopoldinaFerreira Paulo, Judite Santos Pereira (Cincias / Biologia e Geologia, respectivamente) e MariaSerpa dos Santos (Farmcia). Pelo menos a primeira apresentou-se em traje de passeio (veja-se afotografia publicada por SANTOS [56], p. 46 e SANTOS [57], p. 256). Note-se que Leopoldina Pauloe Judite Pereira tiveram solene imposio de insgnias em 1945, em acto que abrangeu ainda os tam-bm recentes doutores Arnaldo Deodato da Fonseca Roseira (Cincias/Botnica), Jayme EduardoRios de Souza (Cincias/Matemtica), Joaquim Augusto Ribeiro Sarmento (Eng. Civil), JoaquimRodrigues dos Santos Jr. (Cincias/Biologia) e Jos Ramos Bandeira (Farmcia) (cf. SANTOS [57], p.210; de Leopoldina Paulo veja-se a fotografia em hbito talar com insgnias patente em SANTOS [56],p. 45 e SANTOS [57], p. 258; pelo que de concluir que na UP ter havido, nos anos 40, um primeiroensaio de verso feminina do hbito talar [cf. tambm supra, n. 41]).

    87 Que na UC uma simples fala ritual, em Latim, surge na UP como a interveno do laurea-do, em lugar da inexistente petio inicial em breve e elegante orao.

  • tudo pontuado, tambm aqui, por intervenes do Orfeo Universitrio doPorto88. As insgnias tero sido, provavelmente desde o incio - os doutoramen-tos h.c. de 3 oficiais-generais aliados (1921)89 -, a borla e capelo.

    Em contrapartida, a posse de um Reitor sempre foi acto despido dequalquer cerimonial de trajes ou de Sala Grande. At aos anos 70 decor-reu pura e simplesmente no gabinete reitoral, perante o Secretrio-Geral da Universidade (hoje Administrador). Na dcada de 80, e com apontual presena do Ministro da Educao90, passou a ter lugar noauditrio da Reitoria, desde os anos 70 localizada no edifcio do antigoquartel do Centro de Instruo de Conduo Auto do Porto (CICAP), Rua D. Manuel II.

    Uma palavra sobre vestes e insgnias. Traje de todos os tipos delentes (proprietrios, substitutos e demonstradores) da EscolaMdico-Cirrgica e da Academia Politcnica, como vimos, a becatornou-se exclusiva dos professores catedrticos, nova designao (em-bora com antecedentes) dos Mestres hierarquicamente cimeiros.Complementarmente beca, estaria a medalha pendente de fita na corda Faculdade; correspondente ctedra e, como tal, no propriedadedo lente, o reverso ostentaria um nmero de ordem e a pea seriadevolvida Escola quando aquele se jubilasse, para ulterior entrega aonovo ocupante da vaga91. Mas o uso da medalha foi-se sempre pautan-do pela escassa assiduidade: numa sesso solene realizada poucos mesesantes do 25 de Abril quase s os Directores de Faculdade as ostentavam.

    E que medalhas ? Tratava-se essencialmente de verses de medalhasdas Escolas de Oitocentos:

    I. A Academia Politcnica teve como smbolo, desde 1881/82, um selo ovaladocom uma iconografia respeitante s matrias professadas: uma caravela, umfarol e uma ncora representando a Nutica; o sol (rosto) reportando-se Astronomia; uma lente, para a Fsica; e uma srie de motivos vegetais, relativa-mente Botnica; no exterior, a divisa VIRTUS UNITA FORTIUS AGIT (A fora[energia solar] unida actua mais fortemente)92. Este selo foi adoptado pela

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    88 nico coro universitrio at 1966, data da fundao do Coral de Letras da UP.89 Cf. supra, n. 54.90 V.g. na posse de Lus A. de Oliveira Ramos, primeiro Reitor eleito, em Abr.82. data, o mi-

    nistro era Vtor Crespo.91 Esta regra foi muito frequentemente infringida, e numerosas foram as medalhas que ficaram

    para sempre na posse dos lentes e, postumamente, dos familiares. Ter sido a Fac. Eng. aquela ondemais regularmente a norma se praticou (cf. supra, as observaes da n. 28, a propsito do visual dosretratos reitorais). Actualmente, o decano do Departamento de Eng. Metalrgica, Doutor HorcioMaia e Costa (Vice-Reitor no mandato de Armando Campos e Matos, 1978-1981), o detentor daltima medalha numerada.

    92 SANTOS [57], p. 413.

  • Faculdade de Engenharia a partir de 1926 (abandonando-se o efmero smboloda Fac. Tcnica, 1915 ss.). Cincias prolongou, com adaptaes (1918), o emble-ma da Politcnica: a divisa latina passa para o interior, enquanto no rebordoexterior se identifica a Escola (Faculdade de Ciencias do Porto), acrescentan-do-se as datas de 1762 (criao da Aula de Nutica) e de 1911 (fundao daUP)93.

    II. Uma outra adaptao do smbolo da Politcnica esteve no Emblemaesfragstico da Universidade (1925-1937), da autoria de Eduardo Lopes(Secretrio-Geral da UP) e Cipriano de Oliveira e Silva (2. oficial). Cedo con-siderado inesttico e incongruente, seria substitudo, em 1940, pela medalhaconcebida para o Centenrio da Academia Politcnica (1937)94, com algumasmodificaes.

    III. Este ltimo smbolo, da autoria do escultor JOO DA SILVA, ostenta no anver-so a figura de Minerva, sentada com um livro aberto na mo esquerda, e umfacho aceso na mo direita, smbolos, respectivamente, da sabedoria e do conhe-cimento. Tem a seus ps o braso da cidade anterior a 194095. No rebordoexterior, a inscrio PORTUCALENSIS UNIVERSITAS.

    IV. Quanto s cores da fita de onde penderia a medalha, seriam as seguintes:Cincias - azul-claro; Medicina - amarelo; Engenharia - tijolo; Farmcia - roxo;e, posteriormente: Economia - vermelho e branco; Letras - azul-escuro;Psicologia e Cincias da Educao - laranja; Instituto de Cincias BiomdicasAbel Salazar - amarelo e azul-claro; Cincias do Desporto e da Educao Fsica- verde-claro; Medicina Dentria - amarelo e branco; Arquitectura - branco;Direito - vermelho-sangue; Nutricionismo: amarelo e verde.

    Os doutorandos e, em caso de sequncia de carreira, os 1.s assis-tentes e os professores extraordinrios usavam, como j se disse, o hbitotalar coimbro.

    No meio de tudo isto, de insgnia doutoral pouco havia. Ainda assim,a provenincia coimbr, partida, de uns tantos lentes - v.g., na conjun-tura fundacional, o primeiro Reitor, Francisco Gomes Teixeira - e aulterior (1930) definio legal das insgnias da UC como nacionais, em-bora de uso facultativo96, tero levado sobrevivncia da borla e capelono Studium Generale da Invicta, j para doutoramentos h.c., j empontuais investiduras de novos doutores. Cndido Santos d notcia detrs actos desta natureza, entre 1929 e 1945:

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    93 SANTOS [57], pp. 413-414.94 SANTOS [57], pp. 414-415. O Emblema esfragstico est tambm reproduzido na capa e

    no frontispcio de Prto [45].95 SANTOS [57], p. 415. Dispensa-se a descrio do reverso, j que no passou para a actual

    medalha doutoral da UP. 96 Cf. infra, n. 115, bem como as referncias no documento transcrito em Apndice. Acresce o

    testemunho oral do Doutor Joaquim Sarmento, de existncia na Reitoria, durante bastante tempo,de uma borla e capelo por Faculdade, para utilizao em cerimnias como as mencionadas.

  • i. 1929 - os novos drs. investidos foram Ferno Couceiro da Costa(Cincias/Matemtica), Manuel Joaquim Ferreira (Medicina) e Armando LarozeRocha (Farmcia);

    ii. 1930 - o nefito foi George Agostinho Baptista da Silva (Letras/FilologiaClssica)97;

    iii. 1945 - receberam insgnias neste ano, como j se disse98, Leopoldina Paulo,Judite Pereira, Arnaldo Roseira, Jayme Rios de Souza, J. R. Santos Jnior,Joaquim Sarmento e Jos Ramos Bandeira99.

    Nos anos 70 e 80, os Reitores Armando Campos e Matos e Lus deOliveira Ramos visaram transformar a medalha da Academia Politcni-ca, com pequenas adaptaes, em insgnia doutoral, a receber pelosnovos doutores aps as provas. E para tanto se mandaram cunharnumerosos exemplares da esfrgide. A inteno era ptima. Mas, comosi dizer nosso Povo em casos tais, foi pior a emenda que o soneto:porquanto, o gravador grafou nas medalhas de tal emisso a divisa daUP como VIRTUS UNITA PORTIUS [sic] AGIT100! Da que muitos lentesnunca tenham querido usar tal pea, substituda entretanto, nos anos90, pela medalha com o que o smbolo da UP desde os anos 30, e deque j se falou101.

    A finalizar o percurso pela UP, consignem-se algumas notas sobre aevoluo ao longo do ltimo quarto de sculo:

    I. As solues de continuidade dos anos 60-70 fizeram perder memria de muitacoisa. Para alm de os escassos actos de provas pblicas realizados entre Abril de1974 e finais de 1976 terem predominantemente decorrido com jris e can-didatos em traje de passeio, o facto que se perdeu a noo de hbito talarprofessoral. Julgo que 80% - se no mais - dos membros da comunidade univer-sitria cr tratar-se do traje estudantil. E assim neo-trajados102 se tm visto

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    97 evidente que se torna difcil imaginar o heterodoxo Agostinho da Silva da maturidade eda velhice a passar por um cerimonial destes. A primeira FL/UP apenas produziu mais um doutora-mento: o de Antnio Salgado Jr. (Filologia Romnica), depois um distinto professor liceal.

    98 Cf. supra, n.86.99 SANTOS [57], p. 210, com fotografia do acto de 1929; v. tambm supra, n. 41. Note-se que h

    fotografias de A. A. Mendes Corra (anos 40 ?) e de Antnio Cruz (anos 60) de borla e capelo sobrea beca; mas aparentemente esta combinatria no se consagrou. Note-se tambm que alguns actuaislentes de Letras/Histria e, pelo menos, um de Cincias so possuidores de borla e capelo; mas notm usado tal insgnia em cerimnias da UP.

    100 Ter porventura pensado que o vocbulo tinha a ver com a Cidade ?...101 Uma questo permanece, entretanto, sem resposta: medalha dos drs. pela UP ou medalha

    dos professores da UP ? A questo no propriamente menor, numa altura em que comeam a pro-liferar, como drs. pela UP, investigadores estrangeiros ou docentes de outros subsectores do EnsinoSuperior nacional. Note-se ainda que diversos lentes que, nos anos 80, receberam a medalha da gra-lha a continuam a usar: at pela singularidade esfragstica...

    102 Note-se que alguns se limitam a colocar uma capa estudantil por cima de um fato escuro.

  • muitos doutorandos - incluindo as senhoras com saia-casaco em vez de batina -,bem como doutores recentes em cerimnias solenes.

    II. As Faculdades mais antigas (Cincias, Medicina, Engenharia, Farmcia) tmmantido a beca como exclusivo dos professores catedrticos; o que, natural-mente, favorece as situaes descritas no tpico anterior.

    III. Para alm do uso de trajes doutorais de Us de outros pases, saliente-se queEscolas mais jovens (Economia, Letras, Arquitectura...) tm estendido o uso dabeca a todos os docentes doutorados, sem distines quanto ao uso ou no dealamares, por exemplo. Inclusivamente, Economia e Arquitectura elaboraramverses prprias deste traje (em Arquitectura segundo design de FERNANDOTVORA [1923-2005]), eliminando faixa de cintura e alamares; para alm de, nocaso de Arquitectura, se inserirem alguns detalhes cromticos no revestimentointerior das mangas103.

    IV. A desmemria do hbito talar igualmente se tem feito sentir nos doutora-mentos h.c. Alguns doutorandos estrangeiros apresentam-se com o seu traje deorigem, ao qual sobrepem, ainda hoje, a borla e capelo: o que poder originarcuriosos efeitos cromticos104.

    V. Estas cerimnias no raro se tm pautado - mormente no reitorado deAlberto Amaral (1985-1998) - por um completo caos protocolar. O maximumter sido atingido no doutoramento h.c. de Mrio Soares por Letras (Jun.90)105;mas o de Jlio Ferry Borges por Engenharia (Mai.91) no ficou muito atrs -algum concebe que se coloque um capelo sobre um fato escuro ?! Pois foi issomesmo o que aconteceu nas duas ocasies...106 Mais recentemente o disparatetem-se atenuado, com os doutorandos envergando uma capa (normalmenteestudantil) sobre traje de passeio (sem esquecer os casos de continuidade dautilizao do traje universitrio de origem).

    VI. Parecendo o cerimonial dos doutoramentos h.c. portuenses decalcado no daALMA MATER da Universidade portuguesa, uma especificidade, no entanto, setem consagrado: quando os doutorandos so vrios o cerimonial repete-se,verbo a verbo, gesto a gesto, para cada um, como se de actos independentes setratasse. Assim, e para citar um exemplo recente, se os doutorandos forem 3 (v.g.Xanana Gusmo, D. Carlos Ximenes Belo e Jos Ramos-Horta107, Out.2000) osoradores (e respectivos discursos de elogio) sero 6 (3 por doutorando + 3 porpadrinho). Todos os novos doutores proferem no final o seu agradecimento(embora, pontualmente, j tenha acontecido um faz-lo em nome de todos)108.

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    103 Em contrapartida, em Escolas velhas ou novas quase desapareceu o chapu; apenas algunslentes mais antigos o possuem, mas raramente o usam em pblico.

    104 V.g. Jean Delumeau, dr. h.c. por Letras (Jan.84), com insgnias em azul escuro sobre a togaamarela da Sorbonne...

    105 Cf. Doutoramento [15].106 Aponte-se como excepo o doutoramento h.c. de Victor S Machado por Medicina (Jul.87)

    (cf. Doutoramento [16a]): produto da Fac. Direito da UC - onde teria ingressado como assistente deFerrer Correia, no fora o veto da PIDE -, o malogrado Presidente da Fundao CalousteGulbenkian (m. 2002) apresentou-se efectivamente de hbito talar.

    107 Os padrinhos foram, respectivamente, Antnio Guterres, D. Jos Policarpo e Jos ManuelDuro Barroso.

    108 D. Ximenes Belo, em seu nome, de Xanana Gusmo e de Ramos-Horta (Out.2000).

  • O que alonga, e no pouco, o acto109.

    VII. O fundo musical tem-se diversificado nos actos solenes da UP dos anos 80para c: o monoplio do Orfeo Universitrio desfez-se, e tm tambm actua-do o Coral de Letras da UP, bem como o Grupo de Metais do Porto e outrasformaes corais ou de cmara110.

    VIII. Apesar da idiossincrasia algo iconoclasta do prelado, das situaes de caosprotocolar e de outras inslitas ocorrncias em actos solenes, o reitorado deAlberto Amaral trouxe duas inovaes significativas: a j referida adaptao doselo da UP (1940) a medalha doutoral (ca. 1994); e a criao de uma medalhareitoral: nela se atenua a circularidade da pea, de perfil mais curvilineamentealongado; em fundo de esmalte branco, a figura de Minerva e o rebordo exte-rior so em metal dourado; e a expresso PORTUCALENSIS UNIVERSITASsobressai em letras douradas sobre fundo azul-escuro; tudo pendente de uma fitacom a cor da UP: rosa-claro111; se a tudo isto somarmos as dignas comemo-raes do 75. aniversrio da UP (1986/87), quase ser caso para dizer: Alberto,volta, ests perdoado!.

    Saliente-se, a encerrar, que no momento em que este texto redigi-do est em estudo um traje doutoral para a UP, o qual seria usadopelos lentes no catedrticos e pelos doutores no pertencentes ao claus-tro; os lentes no topo da carreira conservariam a beca. Aguardemos oresultado dos estudos actualmente em curso111a.

    * * *

    bb)) O panorama da UL apresenta diversos pontos de contraste. Edesde logo pela maior disperso das Faculdades no tecido urbano: ape-sar da relativa constituio de um plo no Campo de Santana e imedia-es (Reitoria, Faculdades de Medicina e de Direito), a verdade queCincias ( R. da Escola Politcnica, primitiva designao da Escola,como sabido), Letras (nos baixos da Academia das Cincias)112 eFarmcia (num palacete Av. 28 de Maio, hoje das Foras Armadas)estavam longe. No quer dizer que a Reitoria e o Senado no encaras-sem a questo. H referncias a resolues do segundo daqueles rgos(1915, 1925 e 1926) visando a adopo da beca da Faculdade de

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    109 Como sabido, na UC, seja o doutorando somente 1, sejam 9 (como, por exemplo,