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06/05/2020 1 Análise da obra Retratos de Carolina, de Lygia Bojunga Prof. Henrique Landim A produção literária dessa autora é bastante associada ao universo infantil, embora seus textos apresentem temáticas adultas como, por exemplo, na obra Retratos de Carolina, que relata a experiência traumática de uma violação sexual. A escritora iniciou a sua vida literária como atriz, dedicou a sua veia artística também ao rádio e à televisão. Em 2002, criou a editora Casa Lygia Bojunga, espaço que foi usado pela sua família durante muito tempo. Ao longo de sua história, enquanto autora, já publicou mais de quinze obras. Lygia Bojunga (Pelotas, RS, 1932) Um pouco sobre a vida da autora: continuar viva” O título: A trajetória existencial de Carolina é representada na obra como sendo os seus retratos. O leitor é testemunha das descobertas da personagem sobre o mundo, espécie de travessia da protagonista . Assim, Carolina é retratada em idades e fases diferentes de sua vida para que o leitor a acompanhe nas descobertas, nos medos, mas também nos recomeços da personagem. Com isso, ao final do romance, temos um álbum de fotografias em nosso imaginário, condição associada a reflexões acerca da passagem do tempo, tema, essencialmente, universal (“Eu não dei por esta mudança, / Tão simples, tão certa, tão fácil: / - Em que espelho ficou perdida A minha face?” – Cecília Meireles) A CAPA: Observe a estrutura em aberto na forma geométrica (o retângulo em pé tem a parte superior e inferior com uma linha descontinua), ela deixa transparecer a noção de obra em construção(seriam as reflexões metalinguísticas da segunda parte do livro?). AS COSTAS DO LIVRO: Nas costas do livro, a escritora se coloca na condição de personagem. Portanto, Lygia Bojunga se autoficionaliza deixando que os retratos de si própria sejam revelados pela fala de Carolina. Talvez por isso, na capa do livro, a forma geométrica (retângulo em pé) tenha a parte inferior e superior aberta. AUTORA : Lygia Bojunga ANO DE PUBLICAÇÃO : 2002 GÊNERO LITERÁRIO: Gênero Narrativo (romance dividido em duas partes que envolvem o intervalo entre os 6 aos 29 anos de vida da protagonista). FOCO NARRATIVO: na primeira parte, temos um narrador em 3°pessoa onisciente. Na segunda parte, a Lygia narra em 1° pessoa, há uma seção do diário de Carolina e, por fim, o livro é finalizado com uma narração em 3° pessoa. OBRA : Retratos de Carolina O MOVIMENTO LITERÁRIO: a linguagem coloquial, a inserção da escritora no livro como personagem, na segunda parte, e as reflexões metalinguísticas, atestam a filiação do livro ao Modernismo Brasilleiro.

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Análise da obra

Retratos de Carolina,

de Lygia Bojunga

Prof. Henrique Landim

A produção literária dessa autora é bastanteassociada ao universo infantil, embora seus textosapresentem temáticas adultas como, por exemplo,na obra Retratos de Carolina, que relata aexperiência traumática de uma violação sexual. Aescritora iniciou a sua vida literária como atriz,dedicou a sua veia artística também ao rádio e àtelevisão. Em 2002, criou a editora Casa LygiaBojunga, espaço que foi usado pela sua famíliadurante muito tempo. Ao longo de sua história,enquanto autora, já publicou mais de quinze obras.

Lygia Bojunga(Pelotas, RS, 1932)

Um pouco sobre a vida da autora:

continuar viva”

O título:A trajetória existencial de Carolina é representada na obra comosendo os seus retratos. O leitor é testemunha das descobertasda personagem sobre o mundo, espécie de travessia daprotagonista. Assim, Carolina é retratada em idades e fasesdiferentes de sua vida para que o leitor a acompanhe nasdescobertas, nos medos, mas também nos recomeços dapersonagem. Com isso, ao final do romance, temos um álbum defotografias em nosso imaginário, condição associada a reflexõesacerca da passagem do tempo, tema, essencialmente, universal(“Eu não dei por esta mudança, /Tão simples, tão certa, tão fácil: / - Em que espelho ficou perdidaA minha face?” – Cecília Meireles)

A CAPA:Observe a estrutura em aberto na formageométrica (o retângulo em pé tem a partesuperior e inferior com uma linhadescontinua), ela deixa transparecer a noçãode obra em construção(seriam as reflexõesmetalinguísticas da segunda parte do livro?).

AS COSTAS DO LIVRO:

Nas costas do livro, a escritora secoloca na condição de personagem.Portanto, Lygia Bojunga seautoficionaliza deixando que osretratos de si própria sejam reveladospela fala de Carolina. Talvez por isso,na capa do livro, a forma geométrica(retângulo em pé) tenha a parteinferior e superior aberta.

AUTORA: Lygia Bojunga

ANO DE PUBLICAÇÃO: 2002

GÊNERO LITERÁRIO: Gênero Narrativo (romance dividido em duaspartes que envolvem o intervalo entre os 6 aos 29 anos de vida daprotagonista).

FOCO NARRATIVO: na primeira parte, temos um narrador em3°pessoa onisciente. Na segunda parte, a Lygia narra em 1° pessoa,há uma seção do diário de Carolina e, por fim, o livro é finalizadocom uma narração em 3° pessoa.

OBRA: Retratos de Carolina

O MOVIMENTO LITERÁRIO: a linguagem coloquial, a inserção daescritora no livro como personagem, na segunda parte, e asreflexões metalinguísticas, atestam a filiação do livro aoModernismo Brasilleiro.

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O tempo:O romance é divido em duas partes, a primeira se volta paraas fases da infância, da adolescência e da vida adulta daprotagonista Carolina. Observe a gradação temporal:

06 anos: marcado pelo relacionamento com Priscilla15 anos: viagem para Europa / Londres (cidade predileta)20 anos: curso arquitetura com a amiga Bianca21 anos: casamento com o “Homem Certo”22 anos: casamento opressivo / trancamento faculdade23 anos: lembrança do pássaro da gaiola24 anos: câncer do pai /aborto / divórcio / morte do pai25 anos: quitinete / conflito com a mãe / sonho

O tempo:Na segunda parte, Carolina, aos vinte nove anos,“invade” a criação literária de sua criadora para lheexigir a continuação dos seus retratos. Temos nessaseção, os diários de Carolina. Curiosamente, aprotagonista se encontra com a sua amiga de infância,Priscilla, condição que confere ao romance umaestrutura cíclica, pois termina com alguns personagensdo início como, por exemplo, a Priscilla.

PRISCILLA: A queda, para essa autora, ocorre no tempo da angústiae pode ser verificada quando as personagens mergulham no maisprofundo de si, na sua parte mais sombria e sofre uma espécie de“adultecimento”, termo usado pela professora Eliane Yunes para sereferir ao processo de amadurecimento das personagens de LygiaBojunga e que se dá de modo doloroso. A primeira decepção deCarolina ocorre após ela sofrer agressão física e verbal por parte damãe. O segundo desapontamento, que acontece na festa deaniversário de Priscilla, é duplo, primeiro porque ela quase precisaimplorar para Priscilla ouvi-la e depois se sente frustrada com umaarmação da amiga que, por meio de uma trapaça, tira dela o prêmioque lhe fora sorteado.

ASPECTOS IMPORTANTES:

A BRINCADEIRA COM SERGINHO: Tendo em vista os preceitos deFreud, podemos inferir que Carolina sente a castração de modoinconsciente e isso se evidencia na rivalidade com a mãe, o querperdura a narrativa inteira. Todavia, o desejo de fazer xixi “pra nuvem”– que leva as crianças a simularem uma cirurgia na qual Carolinaganharia um pênis – caracteriza a necessidade de participar domundo masculino, representado pelo pai, figura pela qual a meninatem verdadeira fascinação e que sempre se mostra receptivo e amigodela. Carolina sente pela figura paterna uma espécie de amoredipiano, que segundo Freud (1996), ocorre nas meninas através docomplexo da castração, o qual é decorrente da descoberta presençado pênis nos meninos e da sua ausência nas meninas. Tal descobertacoloca o pai num lugar de superioridade, enquanto a mãe é censuradapela falta do pênis, uma vez que, na perspectiva freudiana, a filhaculpa a figura materna pela castração.

ASPECTOS IMPORTANTES:

O BOLO DE ANIVERSÁRIO: “A entrada do bolo na sala causousensação: o bolo era um exagero de tamanho e decoração [...] – Obolo não é assim tão grande só porque vocês são uma porção. É quetêm três prêmios dentro dele. E os três são deste tamanho” p.30. Asmanobras no campo pessoal e social dos homens são metaforizadasna imagem do bolo, condição que pode associá-lo à própria vida(metáfora da vida). Na existência, nós podemos escolher caminhos /decisões embora, às vezes, dentro de um contexto deimprevisibilidade (a sorte). Priscilla escolheu o caminho da mentira emoposição à Carolina que defende a verdade.

ASPECTOS IMPORTANTES:

A GAIOLA E O PÁSSARO: no dia do aniversário de Priscilla, oterceiro prêmio sorteado seria o pássaro (“...era uma gaiola grande,toda feita de bambuzinho, um trabalho artesanal belíssimo. Dentrotambém um pássaro também grande e belo. No alto da gaiola, umaargola em madeira esculpida” – p. 33). A imagem do pássaro é umpresságio da vida futura de Carolina em seu casamento com o“Homem Certo”, ela viverá presa nos laços familiares.

ASPECTOS IMPORTANTES:

O JARDIM DA CASA DE PRISCILLA: Se configura como espaço dafuga simbólica, pois metaforicamente o jardim remete à semânticade paraíso, no caso do nosso livro, refúgio à Carolina. O jardim aresguarda no seu sofrimento e a protege do outro até o momentoem que o pai a resgata da festa (“...agora nem Priscilla nemninguém vai ver ela, agora ela vai ficar pra sempre ali escondida...”p.40)

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A VIAGEM PARA LONDRES: a viagem física pela Europa,simbolicamente, representa a viagem iniciática, na qual apersonagem passa por mudanças também no nível psíquico.Sobre a viagem no imaginário humano, comenta Chevalier eGheerbran(2006): Essas buscas, como sendo a doconhecimento, correspondem ainda às viagens de Enéias, deUlisses, de Dante [...] A viagem enquanto progressão espiritual– que encontramos no budismo sob a forma de vias, veículos,travessias – exprime-se muitas vezes como um deslocamentoao longo do Eixo do mundo (2006, p. 951).

ASPECTOS IMPORTANTES:

O VESTIDO: A tão sonhada festa dos 15 anos, ou de debutante,que marca a transição da menina para a vida adulta e suaentrada na sociedade, simbolicamente, ocorre com adescoberta do desejo pelo vestido, vestimenta que, comopodemos observar pela perspectiva do pai, não caberia nagarota, mas sim em uma mulher: “– Mas... Carolina... você nãoacha que esse vestido é assim mais pra... uma mulher mais...você não acha que você ainda é meio garota pra esse vestido”(BOJUNGA, 2002, p. 58). Carolina, cuja descrição física é poucadada ao leitor, na perspectiva do pai, ainda tem corpo de garota,de uma menina de quinze anos.

ASPECTOS IMPORTANTES:

O sonho de Carolina: A figura do sonho remete o seu eu-artesãreivindicando o seu aflorar novamente, primeiro impaciente,depois aguardando. O mais curioso, contudo, é a ligação comRetratos de Carolina. A personagem, após o divórcio conturbado,aluga uma quitinete e prepara-se para reconstruir a sua vida. Suamãe a visita, as duas discutem, e Carolina fica aborrecida,confusa, desnorteada, é tomada por saudade do falecido pai eapós horas sentada à escrivaninha adormece e seu sonho écarregado de imagens com a sua mão. Ela sonha que percorreum túnel, no meio do qual encontra objetos que foramsignificativos em sua vida, o vestido que a ligou ao ex-marido, osapato do pai com quem tinha tanta conexão e no fim do túnelavista uma gaiola vazia. Essa gaiola simboliza a liberdade dapersonagem, ela agora está livre para fazer o que quiser. O sonhoé todo tateado, ela apreende o sentido com as mãos.

ASPECTOS IMPORTANTES:

O sonho de Carolina: Ao encontrar a gaiola aberta, percebe opedaço de bambu que prendia a porta da gaiola e o aperta emsua mão. Essa imagem se conecta a um episódio de sua infância,o primeiro retrato, “Carolina aos seis anos”, em que na festa desua amiga Priscilla é enganada por ela em uma distribuição eprêmios e é presenteada com uma um pássaro em uma gaiola.Ela foge frustrada para o jardim com a gaiola na mão e acabasoltando o bambu que prende a porta da gaiola. Seu pai e buscae a gaiola fica esquecida. Ao encontrar a gaiola vazia no sonho esegurar o pedaço de bambu em sua mão ela percebe quelibertou o pássaro. A sua mão foi a responsável pela liberdade dopássaro e simboliza a libertação dela mesma como o seudespertar para uma nova vida.

ASPECTOS IMPORTANTES:

ENREDO:

Após um mês de aulas, apareceu em sala de aula a Priscilla. Priscilla logo seduziu Carolina com a sua beleza física (olhos verdes escuro,

cabelo ruivo cheio de cachos e covinhas no queixo e bochecha quando sorria). Explicação da professora acerca de como escrever o nome da Priscilla. Carolina e Priscilla estabeleceram laços de amizade.Numa sexta feira, Priscilla iria comemorar sete anos de vida.Na casa de Priscilla, aconteceria a festa de aniversário. Carolina chegou à casa

da amiga desesperada, precisava fazer uma revelação. Carolina conta que a sua mãe havia saído. Com isso, ela e o Serginho foram

brincar de médico nos fundos da casa dela. Foram para o fundo da casa, conta Carolina. Tiraram a roupa. Serginho faria

uma cirurgia em Carolina para colocar um pênis nela. Em meio ao processo, amãe de Carolina chegou e expulsou o Serginho.

A mãe agrediu e xingou Carolina. A menina apanhou com chinelo do pai,motivo de muita mágoa.

Terminada a história, Priscilla chamou a mãe de Carolina de puta e voltou aoaniversário deixando Carolina sozinha no quarto.

6 anos

ENREDO:

Na festa de aniversário, ocorreu a brincadeira do bolo (lembre-se das ameixascom sementes). Seriam sorteados os seguintes prêmios:

1) Grande boneca: falsa imagem de alguém2) Espingarda: objeto não verdadeiro3) Gaiola com o pássaro: não voo e canta (sem essência do pássaro)

O sorteio ocorre por meio de manipulação da aniversariante. Frustrada, Carolina se esconde no jardim levando o pet. O pai de Carolina tira a filha do jardim.

15 anos

Carolina estava com a família em Londres Carolina se apaixona por um vestido. Chama o pai para comprá-lo, mas a loja

estava fechada (fechamento: 17:30 / horário: 17:40).O atendente afirmou que a loja estava fechada. Carolina chorou muito. Carolina sofreu muito com duas perdas: a partida de Londres e não ter

comprado o vestido.

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ENREDO:21 anos

Carolina cursava arquitetura. Na universidade, conhece Bianca que faz o cursoapenas por status.

Bianca iniciou o namoro com um homem que possui o dobro da idade dela (“OHomem Certo”). O sujeito é divorciado, carente e viciado em cocaína.

Carolina e Bianca vão à casa do “Homem Certo”, lá foram recebidos pelaJudite, a empregada, e Piedoso, o cão. O dono da casa não estava. Ocombinado seria que jantariam às 20 hs.

O “Homem Certo” dizia que “pé de mulher e para ser admirado em suainteireza” p. 70 / ““Homem Certo dizia que toda mulher deve manter umacerta intimidade com a cozinha” p. 71.

Bianca anunciou que na parte superior da casa há um banheiro em art deco. Carolina foi ao segundo andar: “...subiu a escada, enveredou pelo corredor,

passou por uma porta que estava fechada, passou por outra entreaberta, logoadiante parou, a curiosidade aguçada pelo pedaço de armário entrevisto naporta” p. 71. Relação com a existência e as nossas escolhas.

Carolina entrou no quarto sendo seduzida pelo guarda-roupa. Abriu o guardaroupa e encontrou o vestido de Londres colocando-o em seguida.

ENREDO:

O “Homem Certo” apareceu no quarto chamando Carolina de Eduarda.Ocorreu um constrangimento.

O cachorro Piedoso apareceu pensando ser Eduarda. Judite foi ao quarto para anunciar o jantar, condição que quebrou incômodo

da situação. Enquanto jantavam, Carolina se desculpou e explicou a relação que ela teve

com o vestido em Londres. O “Homem Certo” havia comprado o vestido seismeses depois de Carolina passar à loja.

Carolina perguntou por que Eduarda não usou o vestido. Bianca, enciumada,respondeu que não era da conta de Carolina.

No outro dia, Bianca cortou as relações com Carolina. Carolina revelou ao pai que estava apaixonada pelo “Homem Certo”, tudo isso

ocorreu no escritório do pai. Enquanto Carolina narra a suas experiências amorosas, o pai olha a dama da

noite pela janela: “-Mas ela já está dando perfume! -Mas ela já está dandoflor? – Deu ontem pela primeira vez. [...] O olho do Pai vai voltando pra dama-da-noite” p. 87.

Carolina afirma que vai se casar. Está completamente apaixonada, nunca viuum cerco tão elaborado.

ENREDO:

O pai havia conhecido o “Homem Certo” em outra oportunidade, com isso,disse à filha: “vocês não têm muito a ver um com o outro” p. 94

Carolina retrucou falando: “...que diz dois bicudos não se beijam?” p. 95Dias depois, Carolina se casou numa cerimônia simples sem a presença da

família do “Homem Certo”.Há, nesta parte do livro, um pequeno resumo da vida do “Homem Certo”:

• Cheirava cocaína• Bebia uísque• Fumaça 3 maços de cigarro• Consumismo• Estranho comportamento sexual• Eduarda separou dele para ficar com outro homem que não bebia e

fumava. O “Homem Certo” passou a beber e fumar muito até queconheceu Bianca. Meses depois, viu Carolina e achou que Eduardativesse voltado: “Ele já ia respondendo, você é a Eduarda. Mas sesegurou a tempo e respondeu a pergunta com um afago sedutor.” p.102

ENREDO:22 anos

Diálogo com o pai acerca da origem da ampulheta. Ela estava sobreescrivaninha desde que Carolina tinha quatro anos de idade. O avô estava emlua de mel na Argentina e encontrou a peça uma antiquário.

Carolina diz ao pai que trancou a faculdade. O “Homem Certo” disse para ela:“Você vai ser arquiteta da nossa vida” p. 105

Carolina disse ter trancado o curso para não se indispor com o marido. Ela nãogostava de brigas.

23 anos

Carolina estava no escritório do pai pensando na vida. Ao ver o pai chegar elaperguntou se ele lembrava do pássaro preso na gaiola no jardim da casa dePriscilla.

O pai vê a filha indo embora e nota o quanto o tempo estava marcando-a,negativamente.

ENREDO:24 anos

Carolina recebeu uma ligação do pai que exigia dela uma visita para umaconversa particular.

No escritório, o pai afirma à Carolina que ele está com câncer avançado noestômago.

Carolina diz que o casamento dela não vai bem.Diante da fala da filha acerca de seu casamento, o pai faz uma revelação: ele

se casou com alguém que ele não tinha muitas afinidades. Assim, elepermaneceu casado apenas por pena da esposa.

Toda a fala do pai tinha o intuito de comparar o seu casamento ao da filha. Carolina explica das dificuldades do casamento, ela passou a dormir no sofá,

local onde acabou sendo abusada sexualmente. Carolina engravidou, mas abortou. Relatou ao marido. Ele entrou em

depressão acreditando ser o culpado pelo aborto.O pai de Carolina apoia a filha e diz que a escrivaninha é dela quando ele

partir.Dias depois, o pai morreu debruçado sobre a escrivaninha.

ENREDO:25 anos

Carolina mora sozinha numa quitinete. Certo dia, recebeu a visita da mãe quefaz uma profunda pressão moral à filha: “Você mata o seu filho, você se separado seu marido, você se recusa a morar com sua mãe, você despreza uma casasimples, mas confortável (a minha, do seu pai, a nossa casa) e uma casaluxuosa (a do seu marido) pra se enfiar nesse... Nessa coisinha aqui, e vocêacha que eu posso entender uma atitude dessas? Nem eu, nem ninguém [...]Por que a minha filha, aminha única filha, está me abandonando na horamesma em que eu fico viúva e desamparada, na hora em que eu mais precisode alguém junto demim” p.144

A mãe diz à Carolina que a filha tá morando sozinha para bancar a vítima ecastigar a todos.

Carolina lança um discurso político acerca da condição social da mulher: “-Calma, mãe, calma, não comece agora a ficar agitada. Procure compreenderque você está presa a um passado, a um tempo em que uma mulher tinha queter um marido. Pra ser sustentada. Pra ser respeitada. Pra ser conformada...”p. 150. Em seguida, a mãe partiu.

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ENREDO:25 anos

Carolina senta na cadeira e dialoga, virtualmente, com o pai morto.Ela fala das dificuldades que tem com a mãe. Carolina passou a noitetoda sem dormir, com isso, ao amanhacer, dormiu e sonhou:Carolina está à frente de um túnel, escuta o canto de um pássaro,após muito custo entra no túnel. Os dedos entram e encostam emum vestido. Ela sente também o sapato do pai, mas logo o sapatodesaparece. Ela fecha os olhos, quando abre vê uma luz, entãoavança. Sai do túnel e vê a gaiola do pet: “dentro da gaiola, um vaziobonito demais: um vazio de libertação” p. 157. Ela pensa que, nopassado, havia libertado o pássaro.

Ao acordar, Carolina se lembra que havia aberto a gaiola antes de irembora da festa na casa de Priscilla, antes atrás.

ENREDO:Segunda parte do livro

Carolina, personagem do livro vai à casa de Lygia, no Cata-Vento. A personagempede para a escritora fazer um ou dois retratos positivos dela.

Lygia vai ao RJ deixando Carolina sozinha no Cata-Vento. Carolina passa a escrever em seu diário: fala sobre a vida da escritora, pensa

que algum político poderoso poderia chamá-la para projetar uma cidade. A escritora volta e faz uma alusão ao personagem Discípulo da peça que ela

estava produzindo. Carolina se sente atraída pelo Discípulo, mas ele está envolvido

emocionalmente com Tânia. Lygia, novamente,vai ao RJ. Carolina escreve em seu diário uma relação sexual com o Discípulo em um

sonho. Lygia volta e lê o diário de Carolina. Ela ficou furiosa com os retratos criados por

Carolina: “Mas, Carolina, te retratar pra quê, se você já se retratou? Agora sófalta o título: Autorretrato aos 26anos[...] – Eu não preciso sumir com ninguémporque eu não tenho mais Discípulo: você trouxe ele pra tua história. E se eunão tenho mais Discípulo eu não tenho mais peça. Foi isso que aconteceu,Carolina, só isso: a minha peça já era” p.204-205

ENREDO:29 anos

Carolina esta trabalhando em um movimentado escritório dearquitetura.

Certo dia, ela acordou tarde numa depressão. Saiu para trabalhar eencontrou Priscilla no metrô. Saíram para almoçar. Elas não se viam há22 anos. No almoço cada uma conta a vida que teve neste intervalo.

Priscilla pede desculpas por ter chamado a mãe de Carolina de “puta”,motivo que ela acreditava ter separado as duas amigas.

Carolina diz que se separou por causa da brincadeira do bolo. Fala que aboneca era dela, a Priscilla não se manifestou.

Priscilla disse que a gaiola do pet foi encontrada aberta no jardim.Priscilla referiu-se à elaboração de um projeto arquitetônico da fundação

de seu pai e que Nando, o marido dela, procurava um bom arquiteto.Combinaram de encontrar para falar do projeto.

Lygia saiu para caminhar pela praia e deixou o seu caderno aberto paraCarolina ler, queria ver a opinião dela acerca de seu último retrato.

ENREDO:

Carolina vai à praia atrás de Lygia e dialogam sobre o último capítulodo livro. Carolina insiste na possível relação com o Discípulo.

A escritora diz que a história de Carolina tinha chegado ao fim. MasCarolina ainda pergunta como seria o encontro com Nando e Priscilla.

Lygia virou as costas e partiu, a certa distância, se virou e acenou paraCarolina dizendo tchau.

Foto de Lygia Bojuga contida nofinal do romance.