ão - UNIFACS - Universidade · PDF fileCOMISSÃO CIENTÍFICA: ... 02...

107
Capa: Adaptado de Gritto Comunicação

Transcript of ão - UNIFACS - Universidade · PDF fileCOMISSÃO CIENTÍFICA: ... 02...

Cap

a: A

dap

tad

o d

e G

ritt

o C

om

un

icaç

ão

V WORKSHOP RIO SÃO FRANCISCO:

cultura, identidade e desenvolvimento

Temática Central:

Novos Olhares Sobre o Semiárido

Promoção:

Universidade de Salvador (UNIFACS)

Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF)

Universidade do Estado da Bahia Campus (UNEB)

Albright College (EUA)

Companheiros das Américas - Comitê Bahia/Pennsylvania

Local e Data

Auditório do Hotel Belvedere

Paulo Afonso-BA, 25 e 26 de novembro de 2013

V WORKSHOP RIO SÃO FRANCISCO:

cultura, identidade e desenvolvimento Novos Olhares Sobre o Semiárido

COMISSÃO ORGANIZADORA:

Profa Dra. Regina Celeste de Almeida Souza (PPDRU/UNIFACS) - Coordenadora

Profa Dra. Carolina Andrade Spínola (Pró-Reitora de Pesquisa e Extensão UNIFACS)

Profa Dra. Lúcia Marisy de Oliveira (Pró-Reitora de Pesquisa e Extensão UNIVASF)

Profa Dra. Adilva de Souza Conceição (UNEB Paulo Afonso)

Prof. Dr. Paulo Eduardo de Oliveira (UNEB Salvador)

Prof. Ms. Tiago Sá Teles Cordeiro (FTC)

Profa. Ms. Miriam de Almeida Souza (Companheiros das Américas/ Associação Comercial

da Bahia)

Doutoranda Gisele das Chagas Costa (PPDRU/UNIFACS - Bolsista CAPES)

Mestranda Analice Passos Costa Gramacho (PPDRU/UNIFACS - Bolsista CAPES)

Mestranda Josemary dos Santos Santana (PPDRU/UNIFACS - Bolsista FAPESB)

Graduanda Raissa da Matta Almeida (UNIFACS – Bolsista IC FAPESB)

Graduando Patrick Passinho (UNIFACS – Bolsista IC FAPESB)

COMISSÃO CIENTÍFICA:

Profa Dra. Regina Celeste de Almeida Souza (PPDRU/UNIFACS) - Coordenadora

Profa Dra. Carolina Andrade Spínola (Pró-Reitora de Pesquisa e Extensão UNIFACS)

Profa Dra. Lúcia Marisy de Oliveira (Pró-Reitora de Pesquisa e Extensão UNIVASF)

Prof. Dr. Laumar Neves de Souza (Coordenador do Programa em Pós-Graduação em

Desenvolvimento Regional e Urbano/UNIFACS)

Profa Dra. Adilva de Souza Conceição (UNEB – Campus Paulo Afonso)

Prof. Dr. Alcides Caldas (UFBA)

APRESENTAÇÃO

“Novos olhares sobre o semiárido” é o tema destacado durante o V Workshop Rio São

Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento, que em sua quinta edição, inédita na cidade

de Paulo Afonso- BA, traz à sociedade acadêmica, empresarial, ambientalista e comunidade

em geral, um momento de reflexão, discussão e aprendizagem sobre o Rio São Francisco, sua

dinâmica territorial, ambiental e cultural e sobre a problemática do semiárido.

Sabendo da inesgotabilidade dessa matéria e da relevância da mesma, o V Workshop

promoveu o aprofundamento do debate sobre a cultura, identidade e desenvolvimento

focalizando questões pertinentes a um espaço geográfico tão peculiar quanto este que engloba

o município de Paulo Afonso e outros municípios vizinhos, tendo o Rio São Francisco como

eixo estruturador; discutiu com gestores públicos, sociedade civil, meio acadêmico e

empresários locais quanto as possibilidades de desenvolvimento para a região, tendo em vista

a valorização de determinados atributos físicos locais, do resgate de aspectos marcantes da

cultura regional, bem como da introdução de novas atividades econômicas, dentre elas o

turismo e por fim, divulgou resultados de pesquisas científicas realizadas em diversas áreas,

no Vale Sanfranciscano, possibilitando intercâmbio entre pesquisadores e entre alunos da

graduação, bolsista de Iniciação Científica e programas de pós-graduação das universidades

envolvidas.

Em sua diversificada programação sediada no auditório do Hotel Belvedere, foram

ministradas 04 palestras, 02 sessões de comunicações de pesquisa (alunos da UNEB / Paulo

Afonso, UNIFACS e UNIVASF) e 05 mesas redondas. Paralela às discussões foi exibida a

Exposição Fotográfica intiulada Velho Chico: Cores & Dores, em homenagem à professora

Elizabeth Kiddy, do Albright College, idealizadora do projeto Rio São Francisco: cultura,

identidade e desenvolvimento. Também houve exposição de artesanato em tecelagem, e em

couro de tilápia, produzidos por comunidades do município de Paulo Afonso e lançamento e

comercialização de livros acadêmicos, destacando-se “Rio São Francisco- ocupação

territorial. Problemas socioambientais: desafios e possibilidades”, 2012, trabalho

multidisciplinar, decorrente do IV Workshop Rio São Francisco, realizado em Bom Jesus da

Lapa (BA) e organizado pelos professores Regina Souza (UNIFACS) Carolina Spínola

(UNIFACS) e Elvina Ramos (UNEB).

Nestes Anais, estão sendo disponibilizados dezessete resumos dos trabalhos técnico-

científicos apresentados nos dias 25 e 26 de novembro de 2013, no V Workshop Rio São

Francisco.

Com muita gratidão aos parceiros institucionais e àqueles que apoiaram esse evento, a

coordenação e os autores dos trabalhos desejam a todos uma proveitosa leitura.

Comissão Organizadora do V Workshop Rio

São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento.

SUMÁRIO

Diego Daltro Vieira; José Iranildo Miranda de Melo; Adilva de Souza

Conceição. A ordem Boraginales Juss. Ex Bercht. & J. Presl na ecorregião

Raso da Catarina, Bahia, Brasil.

07

Jessica Batista Lima; Adilva de Souza Conceição. Malvoideae Burnett

(malvaceae) na APA Serra Branca/ Raso da Catarina, Jeremoabo, Bahia,

Brasil.

14

Jéssica Vieira dos Santos; Teonildes Sacramento Nunes; Adilva de Souza

Conceição. A família Passifloraceae Juss. Ex Roussel na Apa Serra Branca/

Raso da Catarina, Jeremoabo, Bahia, Brasil.

21

Luíza Regina Silva; Milene Maria da Silva- Castro; Adilva de Souza Conceição.

A família Bignoniaceae na Apa Serra Branca/ Raso da Catarina, Jeremoabo,

Bahia, Brasil.

26

Vivian Oliveira Amorim; Hortênsia Pousada Bautista. Asteraceae da Ecorregião

Raso da Catarina, Bahia, Brasil: riqueza e similaridade florística.

33

Diane da Conceição Silva; Hortência Pousada Bautista. Riqueza e similaridade

florística de Apocynaceae sensu lato na ecorregião Raso da Catarina, Bahia,

Brasil.

39

Luanna Oliveira de Freitas; Eliane Maria de Souza Nogueira. A pesca artesanal

e o estoque pesqueiro no cânion do Rio São Francisco, nordeste do Brasil.

45

Jackeline Guedes Ferreira; Lucia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira. Pescadores

(as) artesanais da Ilha do Rodeador: a capacitação em tecnologia de pescado

como ferramenta de inclusão social e econômica.

50

Gisele das Chagas Costa; Regina Celeste de Almeida Souza. Territorialidades

de povos indígenas no estado da Bahia.

56

Carolina de Andrade Spínola; Élvia Fadul; Fabrício Vitória; Lucas Cerqueira.

Reflexões sobre a Política de Recursos Hídricos no Estado da Bahia:

proposição de uma agenda de pesquisa.

63

Analice Passos Costa; Regina Celeste de Almeida Souza. O território a partir do

rio: um olhar sobre o Rio das Fêmeas no Território Bacia do Rio Grande

70

Josemary dos Santos Santana; Regina Celeste de Almeida Souza.

Transformações locais decorrentes do turismo religioso em Bom Jesus da

Lapa – BA

75

Daniele Balbino Moura de Jesus; Regina Celeste de Almeida Souza. Avaliação

da qualidade da água do rio São Francisco na região de Bom Jesus da Lapa-

Bahia e as atividades antrópicas relacionadas.

82

Patrick Passinho Silva; Regina Celeste de Almeida Souza. A Educação

Ambiental como mecanismo mitigador de impacto ambiental: O caso de Bom

Jesus da Lapa, Ba

86

Lua Morena Leôncio de Oliveira; Regina Celeste de Almeida Souza. Estudo dos

impactos ambientais causados pela prática e manejo da irrigação.

89

Raissa da Matta Almeida; Regina Celeste de Almeida Souza. Brasil e Índia:

utilização de energia renovável na eletrificação rural.

94

Maria Cândida Arrais de Miranda Mousinho; Regina Celeste de Almeida Souza.

Opará: energias renováveis e desenvolvimento regional.

97

7

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

A ORDEM BORAGINALES JUSS. EX BERCHT. & J.PRESL NA

ECORREGIÃO RASO DA CATARINA, BAHIA, BRASIL

Diego Daltro Vieira1; José Iranildo Miranda de Melo

2; Adilva de Souza Conceição

1

1 Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus VIII - Paulo Afonso, Bahia, Brasil. Departamento de

Educação. Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Vegetal, Herbário HUNEB (Coleção Paulo

Afonso). Email: [email protected]. 2

Universidade Estadual da Paraíba. Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. Departamento de Biologia -

Campina Grande, Paraíba, Brasil.

Resumo

O Raso da Catarina é uma das oito Ecorregiões reconhecidas para a caatinga, apresenta clima,

geomorfologia e vegetação peculiares, sendo considerada uma área de importância biológica de

alta relevância, e por isso prioritária para conservação. Foram analisados espécimes coletados no

período de março/2009 a julho/2013, as analises foram complementadas com coleções dos

herbários: ALCB, IPA, HRB, HST, HTSA, HUEFS, HVASF, PEUFR e UFP. Foram registradas

duas famílias, cinco gêneros e 16 espécies. Cordiaceae foi representada pelos gêneros Cordia L.

[C. glabrata (Mart.) A.DC., C. rufescens A.DC., C. superba Cham. e C. trichotoma (Vell.) Arráb.

ex Steud.] e Varronia P.Browne [V. curassavica Jacq., V. globosa Jacq., V. leucocephala (Moric.)

J.S.Mill. e V. leucomalloides (Taroda) J.S.Mill.] e Heliotropiaceae com os gêneros Euploca Nutt.

[E. paradoxa (Mart.) J.I.M.Melo & Semir e E. procumbens (Mill.) Diane & Hilger], Heliotropium

L. [H. angiospermum Murray, H. elongatum (Lehm.) I.M.Johnst. e H. indicum L.] e Tournefortia

L. [T. candidula (Miers) I.M.Johnst., T. rubicunda Salzm. ex DC. e T. salzmannii DC.]. São

apresentadas descrições e comentários sobre morfologia e taxonomia das espécies estudadas.

Palavra-chave: Florística; Taxonomia; Semiárido; Caatinga; Diversidade.

Introdução

Boraginales reúne aproximadamente 130 gêneros e 2.700 espécies, compreendendo as

famílias Boraginaceae sensu stricto, Heliotropiaceae, Cordiaceae, Hydrophyllaceae sensu stricto e

Ehretiaceae, incluindo Lennoaceae. Seus representantes estão distribuídos nas regiões tropicais,

subtropicais e temperadas do mundo, com centros de diversidade na América Central e as regiões

noroeste e central da América do Sul, leste da Ásia e nos habitats mediterrâneos do Velho e do

Novo Mundo (AL-SHEHBAZ, 1991, GOTTSCHLING, 2003). No Brasil, a ordem possui quatro

famílias, dez gêneros e 129 espécies. Para a caatinga, com base na lista de espécies da flora do

Brasil (MELO et al., 2013), foram registradas duas famílias, seis gêneros e 45 espécies para

Boraginaceae sensu lato. Gürke (1893) subdividiu Boraginaceae sensu lato em quatro

subfamílias: Boraginoideae, Cordioideae, Ehretioideae e Heliotropioideae, tratamento tradicional,

adotado por muitos estudiosos do grupo. No entanto, estudos filogenéticos utilizando dados

morfológicos e moleculares mostram que Boraginaceae s.l. não constitui um grupo monofilético,

sendo necessária a elevação das subfamílias ao nível de famílias e inclusão de Hydrophyllaceae

8

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

s.s. e Lennoaceae, para o reconhecimento de Boraginales como grupo natural (BÖHLE; HILGER,

1997; GOTTSCHLING et al., 2001).

Apesar da existência de estudos sobre Boraginales para o semiárido do Nordeste,

trabalhos específicos para o estado da Bahia são escassos. O presente trabalho teve como objetivo

realizar o levantamento das espécies da ordem na Ecorregião Raso da Catarina, visando contribuir

para o conhecimento da flora do semiárido do estado da Bahia, bem como, fornecer subsídios para

o desenvolvimento dos planos de manejos das unidades de conservação existentes na Ecorregião.

Metodologia A Ecorregião Raso da Catarina possui 30.800 km2, é uma bacia de solos muito arenosos,

profundos e pouco férteis, de relevo muito plano, mas com canyons na parte Oeste (formados por

afloramentos de arenito). O clima é semiárido, existe pouca água de superfície, exceto nas áreas

dos canyons e a vegetação predominante é a caatinga (VELLOSO et al., 2002). As expedições

foram concentradas nas unidades de conservação, presentes na parte Sul da Ecorregião (Bahia):

APA Serra Branca (09º53'15,5" a 09º44'34,6"S e 38º49'36,1" a 38º52'20,4"O); Estação Biológica

de Canudos (09º55'58,6" a 09º58'25,2"S e 38º57'32,2" a 39º1'38,5"O); Estação Ecológica Raso da

Catatina (09º33'13" a 09º54'30"S e 38º29'20" a 38º44'00"O); Parque Estadual de Canudos

(09º56'19,7" a 09º54'32,4"S e 39º06'13,3" a 39º04'20,5"O) e RPPN Fazenda Flor de Lis

(10º50'14,1" a 10º50'26,4"S e 38º31'46,4" a 38º31'34,7"O). As coletas foram realizadas no período

entre março de 2009 a julho de 2013, seguindo a metodologia de Fosberg; Sachet (1965) e Mori et

al. (1989). Informações foram complementadas pela análise de espécimes depositados nos

herbários: ALCB, IPA, HRB, HST, HTSA, HUEFS, HVASF, PEUFR e UFP. Os especímes

foram depositados no herbário da Universidade do Estado da Bahia (HUNEB – Coleção Paulo

Afonso) e as duplicatas enviadas para os principais herbários do estado da Bahia.

Resultados e Discussão

Na Ecorregião Raso da Catarina, Bahia foram encontradas duas famílias, cinco gêneros e

16 espécies. Cordiaceae R.Br. ex Dumort., compreende os gêneros Coldenia (monoespecífico),

Cordia L. (ca. 250 espécies) e Varronia P.Browne (ca. 100 espécies). Seus representantes

distribuem-se nas regiões tropicais e subtropicais, sendo geralmente encontradas no Novo Mundo,

com centros de diversidade na América Central e norte da América do Sul, com poucas espécies

nas regiões temperadas. A família teve seu monofiletismo sustentado em dados moleculares e

pelos seguintes caracteres morfológicos: endocarpo não dividido, quatro lobos estigmáticos e

cotilédones plicados (GOTTSCHLING, 2003; MILLER; GOTTSCHLING, 2007). Na área de

estudo a família está representada pelos gêneros Cordia e Varronia, e as seguintes espécies:

Cordia glabrata (Mart.) A.DC. – Árvore, 4–6 m. Folha com lâmina 6,2–15,5 × 4,5–14

cm, semicoriácea a coriácea, discolor, oval a orbicular, ápice agudo a arredondado, margem

inteira, base obtusa, truncada a subcordada. Inflorescência 4–15 cm compr., panícula, terminal e

internodal, laxa a congesta. Flores 2,5–3,5 cm compr., sésseis; cálice tubular; corola salverforme.

Drupa ca. 0,7 × 3–4,2 mm, ovoide, marrom, glabra a pubescente. Assemelha-se à C. trichotoma,

podendo ser diferenciada por apresentar lâmina foliar oval a orbicular, tricomas simples (vs. oval,

oboval a elíptica, tricomas estrelados em C. trichotoma), flores 2,5–3,5 cm (vs. 1,4–1,9 cm), lobos

da corola orbiculares e ápice obtuso a arredondado (vs. oblongos e ápice subtruncado).

9

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Cordia rufescens A.DC. – Subarbusto ou arbusto, 0,6–2 m. Folha com lâmina 4–16,5 ×

2,5–8,2 cm, semicoriácea, discolor, oval, elíptica a oboval, ápice agudo a arredondado, margem

inteira ou crenada a denteada na porção apical, base cuneada, Inflorescência 4–8 cm compr.,

panícula de ramos helicoidais, terminal, laxa. Flores 3,5–5 cm compr., sésseis; cálice tubular-

campanulado; corola infundibuliforme. Drupa 1,6–2 × 1–1,5 cm, ovoide, ápice apiculado, verde

quando jovem, creme a amarelada quando madura, glabra. Assemelha-se à Cordia superba,

contudo, apresenta ramos geralmente rufos, glabros, vilosos a tomentosos (vs. castanhos a

marrons, escabros a estrigosos em C. superba), lâmina foliar crenada a denteada na porção apical

(vs. levemente denteada na porção apical), folhas com face abaxial tomentosa (vs. pubérula a

glabrescente, hispídula a estrigosa nas nervuras) e cálice rufo, externamente tomentoso (vs.

castanho a verde-vináceo, externamente escabro).

Cordia superba Cham. – Arbusto ou arvoreta, 1,5–4 m. Folha com lâmina 4–17,5 × 2,2–

7,5 cm, semicoriácea, discolor, elíptica a oboval, ápice agudo a acuminado ou arredondado,

margem inteira ou levemente denteada na porção apical, base cuneada, obtusa ou oblíqua.

Inflorescência 5–9 cm compr., panícula de ramos helicoidais, terminal, laxa. Flores 3,5–5,5 cm

compr., subsésseis; cálice tubular-campanulado; corola infundibuliforme. Drupa imatura ca. 1,6 ×

1,2 cm, ovoide, ápice apiculado, verde, glabra. Morfologicamente semelhante à Cordia rufescens,

entretanto, pode ser facilmente diferenciada pela cor e indumento dos ramos, indumento e forma

da lâmina foliar e indumento e cor do cálice (ver comentários em C. rufescens).

Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud. – Árvore, 4–10 m. Folha com lâmina 3–12,7 ×

1,2–4,5 cm, cartácea a semicoriácea, discolor, oval, oboval a elíptica, ápice agudo a acuminado,

margem inteira, base cuneada, raramente arredondada ou obliqua. Inflorescência 3–15 cm compr.,

panícula, terminal, laxa a congesta. Flores 1,4–1,9 cm compr., subsésseis; cálice tubular; corola

hipocrateriforme. Drupa 0,5–0,7 × 2,5–3,2 mm, subcilíndrico, marrom, glabra. Pode ser

reconhecida por possuir lâmina foliar oval, oboval a elíptica, tricomas estrelados, flores 1,4–1,9

cm, lobos da corola oblongos e ápice subtruncado.

Varronia curassavica Jacq. – Arbusto, 1,5–3,5 m. Folha com lâmina 1,5–9 × 0,5–3 cm,

cartácea, discolor, lanceolada, ápice agudo, margem serreada, base atenuada. Inflorescência 1,7–

10,5 cm compr., espiciforme, terminal e internodal, congesta. Flores 4–7 mm compr., sésseis;

cálice campanulado; corola infundibuliforme a salverforme. Drupa 4–7 × 4–6 mm, ovoide, verde

quando jovem, vermelha quando madura, glabra. Seguramente reconhecida por apresentar hábito

arbustivo, ereto, subescandente a escandente, lâmina foliar com base atenuada, inflorescências

espiciformes, lacínios do cálice oval-lanceolados com ápice trulado e corola infundibuliforme a

salverforme.

Varronia globosa Jacq. – Arbusto, 1,5–4 m. Folha com lâmina 1,5–6,2 × 0,6–2,7 cm,

cartácea, discolor, oval a lanceolada, ápice agudo, margem serreada, base cuneada a truncada.

Inflorescência 1–2,4 cm compr., glomérulo-globosa, terminal e internodal, congesta. Flores 4–9

mm compr., sésseis; cálice campanulado; corola infundibuliforme. Drupa 3,5–6 × 2–4,5 mm,

globosa, verde quando jovem, vermelha quando madura, glabra. Compartilha características com

V. leucocephala e V. leucomalloides, sendo hábito arbustivo, inflorescência glomérulo-globosa,

cálice campanulado e corola infundibuliforme, os caracteres morfológicos mais semelhantes a

estas espécies. Entretanto, V. globosa pode ser diferenciada das duas espécies, pelos ramos

escabros a estrigosos (vs. velutinos entremeados por tricomas maiores hirsutos em V.

10

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

leucocephala e hirsutos entremeados por tricomas menores flocosos ou densamente flocosos em

V. leucomalloides), inflorescência terminal e internodal (vs. terminal e terminal e axilar), e pelo

cálice com lacínios de ápice filiforme (vs. agudo e mucronado).

Varronia leucocephala (Moric.) J.S.Mill. – Arbusto, 1–2,5 m. Folha com lâmina 2,2–9 ×

0,6–4,5 cm, cartácea, discolor, oval, elíptica a oval-lanceolada, ápice agudo, margem serreada,

base cuneada a obtusa. Inflorescência 2,8–4 cm compr., glomérulo-globosa, terminal, congesta.

Flores 2,4–3,5 cm compr., sésseis; cálice campanulado; corola infundibuliforme. Drupa 3–5 × 2–

2,8 mm, ovoide, verde quando jovem, vermelha quando madura, glabra. Reconhecida pelos ramos

velutinos entremeados por tricomas maiores hirsutos, inflorescência terminal, flores portando

cálice com lacínios de ápice agudo e corola com 20–35 mm.

Varronia leucomalloides (Taroda) J.S.Mill. – Arbusto, 1–2 m. Folha com lâmina 1,5–5 ×

0,6–2 cm, cartácea, discolor, elíptica, oval a lanceolada, ápice agudo a cuneado, margem serreada,

base cuneada a obtusa, levemente assimétrica. Inflorescência 0,8–1 cm compr., glomérulo-

globosa, terminal e axilar, congesta. Flores 4–6 mm compr., sésseis; cálice campanulado; corola

infundibuliforme. Drupa 3,5–4 × 2,8–3,2 mm, subgloboso, verde quando jovem, vermelha quando

madura, glabra. Facilmente identificada pela inflorescência terminal e axilar, cálice com lacínios

de ápice mucronado e pelo indumento flocoso presente nos ramos, folhas e cálice.

Heliotropiaceae Schrad., compreende os gêneros Euploca Nutt. (ca. 100 espécies),

Heliotropium L. (ca. 200 espécies), Ixhorea Fenzl (monoespecífico, restrito à Argentina),

Myriopus Small (ca. 20 espécies) e Tournefortia L. (ca. 100 espécies). Seus representantes estão

distribuídos nas zonas tropicais e subtropicais de todos os continentes, sendo mais diversificados

em habitats sazonalmente secos. O monofiletismo da família é sustentado com base em dados

moleculares, bem como, pelo complexo estigma cônico, sinapomorfia morfológica única dentro

de Boraginales (DIANE et al., 2004; HILGER; DIANE, 2003). Na área de estudo foram

encontrados os gêneros Euploca, Heliotropium e Tournefortia, e as seguintes espécies:

Euploca paradoxa (Mart.) J.I.M.Melo & Semir – Erva ou subarbusto, 10–15 cm. Folha

com lâmina 0,3–1,2 × 0,1–0,4 cm, cartácea a semicrassa, concolor, lanceolada, ápice agudo,

margem inteira, base atenuada. Flores 0,8–1,2 mm compr., solitárias, axilares, pediceladas,

bracteadas; cálice lobado; corola campanulada. Esquizocarpo 3–4 × 2–3 mm, depresso-piriforme,

ápice aristado, verde, pubescente a estrigoso, 4 núculas com 1 semente cada. Pode ser reconhecida

na área de estudo por apresentar lâmina foliar lanceolada, flores solitárias, pediceladas,

bracteadas, corola inteiramente amarela, lobos alternados por apêndices e pelo fruto depresso-

piriforme, pubescente a estrigoso.

Euploca procumbens (Mill.) Diane & Hilger – Erva ou subarbusto, 10–30 cm. Folha com

lâmina 0,8–3,2 × 0,5–1,5 cm, semicrassa, concolor a levemente discolor, elíptica a oboval, ápice

agudo a obtuso, mucronado, margem inteira, base atenuada. Inflorescência 0,8–6 cm compr.,

escorpioide, terminal e axilar, congesta. Flores 2–3 mm compr., subsésseis, ebracteadas; cálice

lobado; corola tubular. Esquizocarpo 1,2–2 × 1–1,8 mm, subgloboso, verde, seríceo, 4 núculas

com 1 semente cada. A espécie é facilmente reconhecida na área de estudo, por apresentar lâmina

foliar elíptica a oboval, flores reunidas em inflorescência, subsésseis, ebracteadas, corola alva com

fauce amarela, lobos não alternados por apêndices e pelo fruto subgloboso, seríceo.

Heliotropium angiospermum Murray – Erva ou subarbusto, 15–30 cm. Folha com lâmina

2,2–9 × 1,2–4,4 cm, membranácea, discolor, oval a elíptica, ápice agudo a acuminado, margem

11

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

inteira, ciliada, base atenuada. Inflorescência 2,6–16 cm compr., escorpioide, falsamente terminal

e axilar, laxa a congesta. Flores 3–4 mm compr., sésseis; cálice lobado; corola obcampanulada.

Esquizocarpo 2–3,2 × 2–3 mm, depresso-globoso, verde, verruculoso. Pode ser reconhecida, por

possuir ramos escabros a estrigosos, pecíolo sem alas, corola obcampanulada, estigma largamente

cônico e fruto depresso-globoso de superfície verruculosa.

Heliotropium elongatum (Lehm.) I.M.Johnst. – Erva ou subarbusto, 20–70 cm. Folha com

lâmina 2,5–6 × 1,5–4 cm, membranácea, discolor, oval a deltoide, ápice agudo, margem irregular,

base assimétrica, atenuada ou truncada. Inflorescência 2–14 cm compr., escorpioide, falsamente

terminal e axilar, congesta. Flores 4–7 mm compr., sésseis; cálice lobado; corola hipocrateriforme.

Esquizocarpo 3,5–4,5 × 3–4 mm, mitriforme, verde, costado, glabro ou híspido, núculas

justapostas, ápice levemente denteado. Pode ser confundida na área de estudo com H. indicum,

pois ambas apresentam hábito herbáceo a subarbustivo, ereto a decumbente, ramos angulosos,

fistulosos, estrigosos a hirsutos, pecíolo alado, tricomas aciculiformes nas folhas e flores, e fruto

mitriforme, costado. Podendo a primeira espécie ser diferenciada por apresentar lâmina foliar

bulada na face adaxial (vs. plana em H. indicum), estigma clavado (vs. subcapitado), e pelo fruto

com núculas justapostas (vs. divergentes).

Heliotropium indicum L. – Erva ou subarbusto, 30–60 cm. Folha com lâmina 2,6–11,6 ×

1,5–6,5 cm, membranácea, discolor, oval, deltoide a rômbica, ápice agudo a acuminado, margem

inteira ou irregular, base assimétrica estreitando-se para o pecíolo ou truncada. Inflorescência 2,5–

20 cm compr., escorpioide, terminal e axilar, congesta apenas no ápice. Flores 4–6 mm compr.,

sésseis; cálice lobado; corola hipocrateriforme. Esquizocarpo 3–4 × 3,5–4,2 mm, mitriforme,

verde, costado, glabro, núculas divergentes, ápice fortemente denteado. Morfologicamente

semelhante à H. elongatum, por ambas apresentarem pecíolos alados. No entanto, H. indicum

pode ser diferenciada por apresentar lâmina foliar plana na face adaxial, estigma subcapitado e,

sobretudo, pelo fruto com núculas divergentes.

Tournefortia candidula (Miers) I.M.Johnst. – Arbusto, 1,2–1,7 m. Folha com lâmina 1,9–

7,5 × 1–5 cm, cartácea, discolor, oval, ápice agudo a cuspidado, margem inteira, base

arredondada. Inflorescência 2–7,5 cm compr., escorpioide, com ramos secundifloros, reunidos em

panículas, terminais, congestas, piramidais. Flores 5–6 mm compr., sésseis; cálice lobado; corola

tubular. Drupa 3–4,5 × 5–7 mm, pirênios 4, subglobosa, verde quando jovem, alva com 4 manchas

esféricas negras, quando madura, vilosa a tomentosa. Facilmente diferenciada pelos ramos

cinéreos a esbranquiçados, desprovidos de lenticelas, inflorescências congestas, piramidais, flores

com cálice verde-cinéreo e corola alva a verde-cinérea, ambos densamente vilosos, bem como,

pela drupa vilosa a tomentosa.

Tournefortia rubicunda Salzm. ex DC. – Arbusto, 1,5–2 m. Folha com lâmina 2,5–10,5 ×

0,8–4 cm, membranácea, discolor, oval a lanceolada, ápice agudo a acuminado, margem inteira,

base aguda a obtusa, por vezes obliqua. Inflorescência 2–6 cm compr., escorpioide, com ramos

secundifloros, reunidos em panículas, terminais e internodais, laxas, nunca piramidais. Flores ca.

5 mm compr., sésseis; cálice lobado; corola tubular. Drupa 3–5 × 2–4 mm, pirênios 4,

subglobosa, verde quando jovem, amarela, alaranjada ou vermelha quando madura, glabra a

hirsuta. Reconhecida pelo hábito arbustivo, formando touceiras, ramos cilíndricos com lenticelas

esbranquiçadas, tricomas foliares com base acentuadamente discoide, ovário obclavado e estigma

cônico-triangular curto.

12

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Tournefortia salzmannii DC. – Arbusto, 2–3,5 m. Folha com lâmina 2,5–7,5 × 1–4,5 cm,

membranácea, discolor, oval a elíptica, ápice agudo a acuminado, margem inteira, base

arredondada. Inflorescência 1,5–14 cm compr., escorpioide, com ramos secundifloros, reunidos

em panículas, terminais e internodais, laxas, nunca piramidais. Flores 3,5–5 mm compr., sésseis;

cálice lobado; corola tubular. Drupa 3–4,5 × 3–5 mm, pirênios 4, globosa, imatura verde, madura

alaranjada a avermelhada ou raramente alva apresentando 4 manchas esféricas negras,

correspondente as sementes, glabra. Reconhecida na área pelo hábito arbustivo, decumbente ou

escandente, ramos subcilíndricos com lenticelas amarronzadas, tricomas foliares com base nunca

discoide, ovário cônico-piramidal e estigma cônico-triangular alongado.

Conclusões

Na Ecorregião Raso da Catarina a ordem Boraginales está representada por duas famílias,

cinco gêneros e 16 espécies. Os gêneros Cordia e Varronia com quatro espécies cada foram os

mais representativos. As espécies mais comumente encontradas foram Cordia glabrata, Varronia

globosa, Varronia leucocephala, Euploca procumbens, Heliotropium angiospermum e

Heliotropium elongatum, associadas aos solos arenosos. Cordia superba e C. trichotoma

encontradas em ambientes mais úmidos, Euploca paradoxa coletada nas margens do rio São

Francisco e, Varronia leucomalloides ocorrendo em caatinga hiperxerófita, e áreas de contato

entre caatinga e cerrado, foram às espécies mais restritas na área. Os caracteres morfológicos mais

relevantes para o reconhecimento e separação das famílias, gêneros e espécies pertencentes à

Boraginales na área de estudo foram o hábito, a arquitetura da inflorescência, o número de

estigmas, tipos de tricomas, fusão das anteras ou não, forma das folhas, cálice e lobos da corola, o

tipo de fruto e o número de sementes por fruto ou, com relação aos frutos esquizocárpicos

(Euploca e Heliotropium), as unidades de dispersão.

Referências

AL-SHEBAZ, I. A. The genera of Boraginaceae in the southeastern United States. Journal of the

Arnold Arboretum, Lawrence, v. 1, p. 1-169, 1991.

BÖHLE, U.R.; HILGER, H.H. Chloroplast DNA systematics of “Boraginaceae” and related

families: a goodbye to the old familiar concept of 5 subfamilies. Scripta Botanica Bélgica,

Bruxelles, v. 15, p. 30, 1997.

DIANE, N.; FÖRTHER, H.; HILGER H. H.; WEIGEND, M. Heliotropiaceae Schrad. In:

KUBITZKI, K (ed.). Families and Genera of the Flowering Plants. Berlin: Springer, 2004. p.

62-70.

FOSBERG, F. R.; SACHET, M. H. Manual for tropical herbaria. Netherlands: Utrecht, 1965.

132p.

13

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

GOTTSCHLING, M. Phylogenetic analysis of selected Boraginales. 2003. 101 f. Thesis (PhD

in Biology) – Freie Universität, Berlin, 2003.

GOTTSCHLING, M.; HILGER, H. H.; WOLF, M.; DIANE, N. Secondary structure of the ITS1

transcription and its application in a reconstruction of the phylogeny of Boraginales. Plant

Biology, Dundee, v. 3, p. 629-636, 2001.

GÜRKE, M. Borraginaceae. In: ENGLER, A.; PRANTL, K. (ed.). Die natürlichen

Pflanzenfamilien. Leipzig: Wilhelm Engelmann, v. 4, p. 71-131, 1893.

HILGER, H. H.; DIANE, N. A systematics analysis of Heliotropiaceae (Boraginales) based on

trnL and ITS1 sequence data. Botanische Jahrbürcher für Systematik, Sttutgart, v. 125, p. 1-33,

2003.

MELO, J. I. M.; SILVA, L. C.; STAPF, M. N. S.; RANGA, N. T. 2013. Boraginaceae. In:

FORZZA, R. C. et al. (org.). Lista de Espécies da Flora do Brasil. Disponível em:

<http://floradobrasil.jbrj.gov.br/2012/FB000064>. Acesso em: 09 jul. 2013.

MILLER, J. S.; GOTTSCHLING, M. Generic classification in the Cordiaceae (Boraginales):

resurrection of the genus Varronia P.Br. Taxon, Vienna, v. 56, n. 1, p. 163-169, 2007.

MORI, S. A.; SILVA, L. A. M.; LISBOA, G.; CORADIN, L. Manual de manejo do herbário

fanerogâmico. 2 ed. Itabuna: Centro de Pesquisas do Cacau, 1989. 104 p.

VELLOSO, A. L.; SAMPAIO, E. V. S. B.; PAREYN, F. G. C. Ecorregiões propostas para o

bioma Caatinga. Recife: Associação Plantas do Nordeste, 2002. 80 p.

14

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

MALVOIDEAE BURNETT (MALVACEAE) NA APA SERRA

BRANCA/ RASO DA CATARINA, JEREMOABO, BAHIA, BRASIL

Jéssica Batista Lima¹; Adilva de Sousa Conceição¹.

¹ Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus VIII. Departamento de Educação, Herbário

HUNEB (Coleção Paulo Afonso), Bahia, Brasil. Email: [email protected]

Resumo

Malvoideae é a maior subfamília de Malvaceae, incluindo 110 gêneros e 1.730 espécies,

distribuídas nas regiões tropicais, com alguns representantes em regiões temperadas. No Brasil, a

subfamília está representada em todo o território nacional e domínios fitogeográficos. O

levantamento florístico das Malvoideae na APA Serra Branca compreendeu a análise de

espécimes coletados no período de agosto/2011 a fevereiro/2013 e de coleções herborizadas

depositadas nos herbários ALCB, HUEFS e MAC. Foram encontradas dezesseis espécies,

pertencentes a seis gêneros: Sida L. foi o gênero mais representativo com cinco espécies (S.

angustissima A.St.-Hil., S. castanocarpa Krapov., S. cordifolia L., S. galheirensis Ulbr., S.

linifolia Cav. e S. spinosa L.), seguido de Pavonia Cav. com três espécies (P. blanchetiana Miq.,

P. cancellata (L.) Cav. e P. glazioviana Gürke), Sidastrum Baker com três espécies (S.

micranthum (A.St.-Hil.) Fryxell, S. multiflorum (Jacq.) Fryxell e S. paniculatum (L.) Fryxell) e

Herissantia Medik. com duas espécies (H. crispa (L.) Brizicky e H. tiubae (K.Schum.) Brizicky).

Os demais gêneros estão representados por uma espécie cada um, Pseudabutilon sp. e Malvastrum

tomentosum (L.) S.R.Hill subsp. tomentosum. A maioria das espécies ocorrentes na APA Serra

Branca possui distribuição neotropical, sendo que seis espécies são endêmicas do Brasil, destas

Herissantia tiubae, Sida galheirensis, Pavonia blanchetiana e Pavonia glazioviana são endêmicas

da região Nordeste, as duas últimas espécies de ocorrência exclusiva na caatinga.

15

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Palavras-chave: Biodiversidade; Morfologia; Taxonomia; Caatinga; Semiárido.

Introdução

A família Malvaceae sensu lato é caracterizada pela presença de um nectário constituído

de tricomas glandulares situado internamente na base do cálice ou menos comumente nas pétalas

ou no androginóforo (JUDD; MANCHESTER, 1997; BAYER et al., 1999; VOGEL, 2000; JUDD

et al. 2009).

Malvaceae s.l. compreende nove subfamílias: Grewioideae Hochr., Tilioideae Arn.,

Brownlowioideae Burret, Bombacoideae Burnett, Malvoideae Burnett, Byttnerioideae Burnett,

Helicterioideae (Schott e Endl.) Meisn., Sterculioideae Burnett e Dombeyoideae Beilschm

(BAYER et al., 1999). A Subfamília Malvoideae reúne todos os gêneros de Malvaceae s.s e

alguns gêneros tradicionalmente tratados em Bombacaceae e Sterculiaceae, tendo como

sinapomorfia as folhas simples (BAUM et al., 2004). É a maior subfamília de Malvaceae s.l.,

compreende 110 gêneros e 1.730 espécies distribuídas nas regiões tropicais, especialmente no

Novo Mundo, com alguns representantes nas regiões temperadas (BAYER; KUBITSKY, 2003).

No Brasil, está representada em todo o território e domínios fitogeográficos, sendo que Pavonia

Cav., Abutilon Mill., Sida L. e Hibiscus L. são os gêneros mais representativos (BOVINI et al.,

2010).

Malvoideae está representada por ervas até árvores, de folhas simples, inteiras ou lobadas;

flores perfeitas, geralmente solitárias ou em inflorescências terminais ou axilares, podendo

apresentar brácteas; cálice e corola pentâmeros, partes livres dos estames ao longo ou no ápice do

tubo estaminal; ovário súpero e fruto esquizocárpico (ALVES et al., 2011).

Quanto ao interesse econômico, destacam-se na indústria têxtil e na alimentação espécies

de Gossypium L. e Abelmoschus Medik., respectivamente. Como ornamentais são utilizadas

principalmente espécies de Hibiscus, Malvaviscus Fabr., Abutilon e Pavonia. A subfamília inclui

também diversas espécies de Abutilon, Sida, Urena L., Malvastrum A.Gray. e Herissantia Medik.,

produtoras de fibras utilizadas na cordoaria, com potencial medicinal, além de espécies ruderais

ou daninhas (TAKEUCHI, 2011; SOUZA; LORENZI, 2012).

Diante da importância da subfamília e da escassez de informações sobre a mesma para o

bioma Caatinga, o presente trabalho teve como objetivo realizar o levantamento das espécies da

subfamília Malvoideae (Malvaceae), ocorrentes na APA Serra Branca/Raso da Catarina, visando

contribuir para o conhecimento da flora do estado da Bahia, bem como, fornecer subsídios para o

desenvolvimento do plano de manejo da APA.

Metodologia

A Área de Proteção Ambiental Serra Branca/Raso da Catarina, localiza-se no município

de Jeremoabo, Nordeste da Bahia, totalmente inserida no “polígono das secas”, com 67.237 ha é

delimitada pelas coordenadas 09º53’15,5’’ a 09º44’34,6’’S e 38º49’36,1’’a 38º52’20,4’’W,

limitando-se ao sul com o rio Vaza-Barris e ao norte com a Estação Ecológica (ESEC) Raso da

Catarina. A caatinga (Estepe) predomina em praticamente toda a região, ocorrendo também áreas

de ecótono Savana-Estepe-Floresta Estacional, o clima dominante de acordo com a classificação

de Köppen é o Bsh (semiárido quente), as precipitações anuais variam em torno de 500 mm e a

temperatura anual é de aproximadamente 23ºC (SZABO et al., 2007). Os solos são em geral

16

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

arenosos, profundos e pouco férteis, de relevo plano com formações de arenito (VELLOSO et al.,

2002).

A coleta do material botânico foi efetuada ao longo de trilhas ou nas bordas explorando-se

ao máximo a área. Foram realizadas nove excursões, no período de agosto/2011 a fevereiro/2013,

onde foram coletados materiais com flores e/ou frutos e feitos registros fotográficos das espécies.

O processo de herborização do material coletado foi realizado seguindo a metodologia de

Fosberg; Sachet (1965) e Mori et al. (1989). Os espécimes encontram-se depositados no herbário

da Universidade do Estado da Bahia – HUNEB (Coleção Paulo Afonso) e as duplicatas enviadas

para os principais herbários do Estado da Bahia.

As identificações foram realizadas com o auxílio de chaves analíticas e bibliografias

especializadas, ou por meio de análises morfológicas comparativas, utilizando materiais

depositados nos acervos dos herbários ALCB, MAC e HUEFS. A terminologia geral adotada nas

descrições seguiu Harris; Harris (2001) e Gonçalves; Lorenzi (2011) e os estudos específicos de

Malvoideae (ESTEVES, 2000, 2004; FRYXELL, 1988, 1997).

Resultados e Discussão

Na APA Serra Branca (APASB) as Malvoideae estão representadas por dezesseis espécies

distribuídas em seis gêneros: Herissantia Medik., Malvastrum A.Gray, Pavonia Cav.,

Pseudabutilon R.E.Fr., Sida L. e Sidastrum Baker. Destacando-se como mais representativo o

gênero Sida, com seis espécies, seguido de Pavonia e Sidastrum com três espécies cada um. As

espécies mais coletadas na área foram Pavonia glazioviana Gürke e Sida galheirensis Ulbr., em

ambientes de caatinga subarbustiva e arbustiva-arbórea, associadas aos solos arenosos,

predominantes na área. As menos representativas foram Sida angustissima A.St.-Hil., Sida

linifolia Cav., Sida spinosa L. e Sidastrum micranthum (A.St.-Hil.) Fryxell, com apenas uma

coleta cada, sendo as duas primeiras coletadas apenas no período chuvoso.

Quanto à distribuição geográfica, a maioria das espécies ocorrentes na APASB possui

distribuição neotropical. Sida angustissima, Sida castanocarpa Krapov., Herissantia tiubae

(K.Schum.) Brizicky, Sida galheirensis, Pavonia blanchetiana e Pavonia glazioviana são

endêmicas do Brasil, dentre estas, quatro espécies são endêmicas da região Nordeste, sendo as

duas últimas de ocorrência exclusiva na caatinga (FRYXELL, 1973; BOVINI, 2013; ESTEVES,

2013).

A maioria das espécies ocorrentes na APASB apresenta potencial apícola. Sida

galheirensis, Sida cordifolia L. e as espécies de Herissantia são utilizadas como forrageiras,

enquanto Pavonia cancellata (L.) Cav., Sida cordifolia, Sida spinosa e Sidastrum micranthum

(A.St.-Hil.) Fryxell possuem potencial medicinal (SAMPAIO et al. 2005).

Herissantia Medik - Herissantia caracteriza-se pelos frutos inflados, pendentes e pelos mericarpos

com as paredes laterais frágeis (BOVINI; CARVALHO-OKANO; VIEIRA, 2001). Na área de

estudo as espécies H. crispa (L.) Brizicky e H. tiubae (K.Shum) Brizicky, representam o gênero.

Malvastrum A.Gray

As três bractéolas do epicálice, um óvulo ereto, carpídios lateralmente comprimidos em

forma de cunha, podendo ser múticos ou até triaristados, são caracteres utilizados para o

17

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

reconhecimento do gênero (BOVINI; CARVALHO-OKANO; VIEIRA, 2001). Na APA Serra

Branca o gênero está representado por: M. tomentosum (L.) S.R.Hill subsp. tomentosum.

Pavonia Cav. - O gênero é caracterizado pelo número de estiletes que correspondem ao dobro do

número de carpelos e difere dos demais gêneros da tribo pela ausência de nectários foliares,

pétalas sem aurícula basais, epicálice com bractéolas não peltadas e pelos mericarpos desprovidos

de acúleos gloquidiados (ESTEVES, 2001). Na APA Serra Branca foram catalogadas as espécies:

P. blanchetiana Miq., P. cancellata (L.) Cav. e P. glazioviana Gürke

Pseudabutilon R.E.Fr. - Os representantes de Pseudabutilon possuem mericarpos com três

sementes, podendo apresentar ou não uma constrição mediana e endoglossa (TAKEUCHI, 2011).

Este gênero apresentou um único representante para a APA Serra Branca: Pseudabutilon sp.

Sida L. - De acordo com Bovini et al. (2001), a delimitação taxonômica do gênero torna-se difícil,

por possuir as espécies mais polimórficas de toda a família. No entanto, alguns caracteres

marcantes podem ser mencionados para o grupo, como o cálice costado na base, carpídios

reticulados nas faces laterais e dorso-basal e a presença de um óvulo pêndulo por lóculo. Este foi

o gênero mais representativo da área de estudo, com seis espécies: S. angustissima A.St.-Hil., S.

castanocarpa Krapov., S. cordifolia L., S. galheirensis Ulbr., S. linifolia Cav. e S. spinosa L.

Sidastrum Baker - As espécies que compõe o gênero Sidastrum foram segregadas de Sida por

apresentarem redução no tamanho do cálice e no número de estames (até 20), além de

apresentarem mericarpos com laterais frágeis (FRYXELL, 1978). O gênero está representado na

APA Serra Branca por S. micranthum (A.St.-Hil.) Fryxell, S. multiflorum (Jacq.) Fryxell e S.

paniculatum (L.) Fryxell.

18

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Figura 1. Representantes de Malvoideae da APA Serra Branca/Raso da Catarina. a. Herissantia crispa; b.

Herissantia tiubae; c. Malvastrum tomentosum subsp. tomentosum; d. Pavonia blanchetiana; e. Pavonia

cancellata; f. Pavonia glazioviana; g. Pesudabutilon sp.; h. Sida angustissima; i. Sida castanocarpa; j. Sida

cordifolia; l. Sida galheirensis; m. Sida linifolia; n. Sida spinosa; o. Sidastrum micranthum; p. Sidastrum

multiflorum; q. Sidastrum paniculatum.

Conclusão

O estudo de Malvoideae na APA Serra Branca/Raso da Catarina contribuiu para o

conhecimento de dezesseis espécies pertencentes aos gêneros Herissantia Medik., Malvastrum

A.Gray, Pavonia Cav., Pseudabutilon R.E.Fr., Sida L. e Sidastrum Baker. Das dezesseis espécies

que ocorrem na APA Serra Branca, seis são endêmicas do Brasil, destas, quatro espécies são

endêmicas da região Nordeste, sendo duas de ocorrência exclusiva na caatinga. Na área de estudo

o gênero Sida destacou-se com registro de seis espécies, sendo Sida galheirensis uma das espécies

mais coletadas. Outros dois gêneros bem representativos foram Pavonia e Sidastrum com três

espécies cada um. Assim como S. galheirensis, Pavonia glazioviana foi uma espécie bem

coletada. Enquanto Sida angustissima e Sida linifolia Cav. foram coletadas apenas uma vez.

Quanto ao potencial econômico, a maioria das espécies catalogadas apresenta potencial apícola,

quatro são utilizadas como forrageiras e quatro possuem potencial medicinal

Referências

ALVES, I. M.; DANTAS, I. C.; MELO, J. I. M.; FELISMINO, D. C. A Família Malvaceae sensu

lato em Uma Área Do Agreste Paraibano, Nordeste do Brasil. BioFar, Campina Grande, v. 06, n.

01, p. 1-20, 2011.

BAUM, D. A.; SMITH, S. D.; YEN, A.; ALVERSTON, W. S.; NYFELER, R.; WHITLOCK, A.;

OLDHAM, R. Phylogenetic relationship of Malvatheca (Bombacoideae and Malvoideae;

Malvaceae sensu lato) as inferred from plastid DNA sequences. American Journal of Botany,

St. Louis, v.91, n.11, p. 1863-1871, 2004.

BAYER, C.; FAY, M. F.; DE BRUIJIN, A. Y.; SAVOLAINEN, V.; MORTON, C. M.;

KUBITZKI, K.; ALVERSON, W. S.; CHASE, M.W. Support for an expanded family concept of

Malvaceae within a recircunscribed order Malvales: a combined analysis of plastid atpB and rbcL

DNA sequences. Botanical Journal of the Linnean Society, London, v.129, n.4, p. 267-303,

1999.

BAYER, C.; KUBITZKI, K. Malvaceae. The families and Genera of Vascular Plants.

Flowering Plants Dicotyledons. Malvales, Capparales and Non-betalain Caryophyllales. v. 5.

Berlin: Springer-Verlag, 2003. p. 225-311.

BOVINI, M. G. Pseudabutilon. In: Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do

Rio de Janeiro. 2013. Disponível em:

<http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB19521>. Acesso em: 03 jun. 2013.

19

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

BOVINI, M. G.; CARVALHO-OKANO, R. M.; VIEIRA, M. F. Malvaceae A. Juss. no Parque

Estadual do Rio Doce, Minas Gerais, Brasil. Rodriguésia, Rio de Janeiro, v.52, n.81, p. 17-47,

2001.

BOVINI, M. G.; ESTEVES, G. L.; DUARTE, M. C. 2010. Malvaceae. In: FORZZA, R.C. et al.

Catálogo de Plantas e Fungos do Brasil. v. 2. Rio de Janeiro: Jardim Botânico do Rio de

Janeiro, 2010. p. 1201-1227.

ESTEVES, G. L. Taxonomic characters of the staminal tube and epicalyx in Brazilian Pavonia

(Malvaceae). Brittonia, New York, v. 52, n. 3, p. 256-264, 2000.

____________ O gênero Pavonia Cav. (Malvaceae) na Região Sudeste do Brasil. Bol. Bot. Univ.

São Paulo, São Paulo, v. 15, p. 125-194, 2001.

____________Taxonomic characters of fruit and seed in Brazilian species of Pavonia Cav.

(Malvaceae). Hoehnea, São Paulo, v. 31, n. 1, p. 87-92, 2004.

ESTEVES, G. Pavonia. In: Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de

Janeiro. 2013. Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB19521>.

Acesso em: 03 jun. 2013.

FOSBERG, F. R.; SACHET, M. H. Manual for tropical herbaria. Netherlands: Utrecht, 1965.

FRYXELL, P. A. New species and other notes in the Malvaceae. Brittonia, New York, v. 25, p.

77-85, 1973.

____________ Neotropical Segregates From Sida L. (Malvaceae). Brittonia, New York, v. 30, n.

4, p. 447-462, 1978.

____________ Malvaceae of México. Systematic Botany Monographs. The American Society of

Plants Taxonomists. Michigan, v. 25, p. 1-522, 1988.

____________ The American genera of Malvaceae-II. Brittonia, New York, v. 49, n. 2, p. 204-

69, 1997.

GONÇALVES, E. G.; LORENZI, H. Morfologia vegetal: organografia e dicionário ilustrado

de morfologia das plantas vasculares. 2 ed. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora,

2011.

HARRIS, J.; HARRIS, M. Plant identification terminology: an illustrated glossary. 2. ed.

Utah: Spring Lake Publishing, 2001.

20

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

JUDD, W. S.; CAMPBELL, C. S.; KELLOG, E. E.; STEVENS, P; DONOGHUE, M. J.

Sistemática Vegetal um enfoque filogenético. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

JUDD, W. S.; MANCHESTER, S. R. Circumscription of Malvaceae (Malvales) as determined by

a preliminary cladistic analysis of morphological, anatomical, palynological, and chemical

characters. Brittonia, New York, v. 49, n. 3, p. 384-405, 1997.

MORI, S.A.; SILVA, L.A.M.; LISBOA, G.; CORADIN, L. Manual de manejo do herbário

fanerogâmico. Ilhéus: Centro de Pesquisa do Cacau, 1989.

SAMPAIO, E. V. S. B.; PARYEN, F. G. C.; FIGUEIRÔA, J. M.; JUNIOR, A. G. S. Espécies da

Flora Nordestina de Importância Econômica Potencial. Recife: Associação Plantas do

Nordeste, 2005.

SOUZA, V. C.; LORENZI, H. Botânica Sistemática: Guia ilustrado para identificação das

famílias de Fanerógamas nativas e exóticas no Brasil, baseado em APG III. 3. ed. Nova

Odessa: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2012.

SZABO, A. V.; ROCHA, A. C. S.; TOSATO, J. A. de C.; BARROSO, W. Área de proteção

ambiental (APA) Serra Branca Raso da Catarina. In: MARQUES, J. As Caatingas: debates

sobre a ecorregião do Raso da Catarina. Paulo Afonso: Fonte Viva, 2007. p. 21-40.

TAKEUCHI, C. Estudo taxonômico de Abutilon Mill. (Malvoideae-Malvaceae) no Estado de

São Paulo. Dissertação de mestrado. Instituto de Botânica da Secretaria de Estado do Meio

Ambiente, São Paulo, 2011.

VELLOSO, A. L.; SAMPAIO, E. V. S. B.; PAREYN, F. G. C. Ecorregiões propostas para o

bioma Caatinga. Recife: Associação Plantas do Nordeste, 2002.

VOGEL, S. The floral nectaries of Malvaceae sensu lato – a conspectus. Kurtziana, Córboda, v.

28, p. 155-171, 2000.

21

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

A FAMÍLIA PASSIFLORACEAE JUSS. EX ROUSSEL NA APA

SERRA BRANCA/RASO DA CATARINA, JEREMOABO, BAHIA,

BRASIL

Jéssica Vieira dos Santos1; Teonildes Sacramento Nunes

2; Adilva de Souza

Conceição1.

1 Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus VIII. Departamento de Educação, Herbário

HUNEB (Coleção Paulo Afonso), Bahia, Brasil. Email: [email protected] 2

Universidade Estadual de Feira de Santana. Departamento de Ciências Biológicas, Herbário

HUEFS, Bahia, Brasil.

Resumo

A caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro, caracterizado pelo clima semiárido, com

elevado potencial de evapotranspiração, precipitações baixas e temperatura média anual de 23 a

27ºC. A família Passifloraceae contém cerca de 20 gêneros e 600 espécies, de ocorrência

pantropical. No Brasil ocorrem quatro gêneros: Ancistrothyrsus Harms, Dilkea Mast., Mitostemma

Mast. e Passiflora L., este último o mais representativo. Na Bahia, apenas os gêneros Mitostemma

e Passiflora têm ocorrência, representados por 139 espécies. O trabalho apresenta o levantamento

florístico das espécies de Passifloraceae ocorrentes na APA Serra Branca/Raso da Catarina, Bahia.

As coletas dos espécimes foram realizadas no período de agosto/2011 a fevereiro/2013 e

22

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

analisadas coleções herborizadas depositadas nos herbários ALCB, HRB e HUEFS. Foram

catalogadas quatro espécies do gênero Passiflora L.: Passiflora cincinnata Mast., P. foetida L., P.

luetzelburgii Harms e P. setacea DC. São apresentadas descrições e comentários sobre

distribuição geográfica.

Palavras-chave: Florística; Semiárido; Caatinga; Biodiversidade.

Introdução

A caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro que cobre uma porção significativa

(11,67%) do território nacional, levando em consideração as áreas de transição com outros

biomas, e constitui o chamado “Polígono das Secas”. Nesta região prevalece o clima semiárido,

caracterizado pelo elevado potencial de evapotranspiração e, sobretudo, precipitações baixas

concentradas entre três a cinco meses do ano e temperatura média anual de 23 a 27ºC (NIMER,

1972; QUEIROZ; CONCEIÇÃO; GIULIETTI, 2006). A família Passifloraceae contém cerca de

20 gêneros e 600 espécies, de ocorrência pantropical com distribuição ampla em regiões tropicais

e subtropicais de todo o mundo (DEGINANI, 2001; CERVI, 2005; SOUZA; LORENZI, 2012).

No Brasil ocorrem com cerca de 147 espécies, distribuídas em quatro gêneros: Ancistrothyrsus

Harms, Dilkea Mast., Mitostemma Mast. e Passiflora L., este último é numericamente e

economicamente o gênero mais importante da família com 139 espécies (BERNACCI et al.,

2013).

Apesar de ser a única grande região natural do Brasil, o conhecimento da biodiversidade da

caatinga ainda são escassos. Com o objetivo de conhecer a flora e acrescentar informações que

viabilizem ações para conservação e desenvolvimento sustentável da região, foi realizado o

levantamento das espécies da família na APA Serra Branca/Raso da Catarina.

Metodologia

A APA Serra Branca/Raso da Catarina está localizada no município de Jeremoabo, nordeste

da Bahia, totalmente inserida no “polígono das secas”, a 371 km de Salvador, com uma área de

67.237 ha., delimitada pelas coordenadas 09°53’15.5’’ a 09°44’34.6’’S e 38°49’36.1’’ a

38°52’20.4’’W, limitando-se ao norte com a Estação Ecológica (ESEC) Raso da Catarina e ao sul

com rio Vaza Barris (Fig. 1) (SZABO et al., 2007). Possui relevo plano com formações areníticas.

Tem predominância dos solos tipo arenoso. O clima é muito quente e semiárido, apresentando

temperaturas médias anuais em torno de 23°C e, pluviosidade ou precipitações anuais que variam

em torno de 500 mm (VELLOSO; SAMPAIO; PAREYN, 2002; SZABO et al., 2007).

23

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Figura 1 – Mapa de localização da APA Serra Branca/Raso da Catarina.

As coletas foram realizadas no período de agosto/2011 a fevereiro/2013, onde foram

coletados materiais com flores e/ou frutos, e anotados características tais como: hábito, coloração

das folhas, flores e frutos, visitantes florais, tipo de solo, entre outros. O material botânico foi

processado em estufa de campo, herborizado com jornais, papelões, alumínio corrugado e prensas

de madeira seguindo a metodologia de Fosberg e Sachet (1965) e Mori et al. (1989). O material

testemunho encontra-se depositado no herbário da Universidade do Estado da Bahia – HUNEB

(Coleção Paulo Afonso). A identificação das espécies foi realizada com base em coletas e

bibliografias especializadas.

Além do material botânico coletado na área de estudo, foram examinados exemplares das

espécies ocorrentes na mesma área ou adjacente através de visitas técnicas aos principais

Herbários do estado da Bahia, listados a seguir: ALCB – Herbário Alexandre Leal Costa,

Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, Bahia; HRB – Herbário RADAMBRASIL,

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Salvador, Bahia e HUEFS – Herbário da

Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Feira de Santana, Bahia.

Resultados e Discussão

A família Passifloraceae está representada na APA Serra Branca pelo gênero Passiflora L.,

que se caracterizam por apresentar gavinhas axilares, nectários extraflorais no pecíolo foliar,

24

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

flores solitárias, androginóforo reto, três estiletes e cinco estames, e corona de filamentos em uma

a várias séries. Foram catalogadas quatro espécies do gênero para área de estudo: Passiflora

cincinnata Mast., Passiflora foetida L., Passiflora luetzelburgii Harms e Passiflora setacea DC.

Todas as espécies estão associadas aos solos arenosos com baixa capacidade de retenção de água,

sendo geralmente mais resistentes, menos exigentes, e consequentemente, boas colonizadoras.

Passiflora cincinnata Mast., Gard. Chron. 37: 966.1868.

Trepadeira. Folhas cartáceas, (3-)5-lobadas a (3-)5-partidas; brácteas com glândulas na base

e na margem. Flores com sépalas de face externa verde e face interna violácea; pétalas violáceas;

filamentos da corona em várias séries, violáceos, com faixas rosadas a alvacentas próximas ao

meio e arroxeado no ápice; opérculo membranoso, margem filamentosa; límen cupuliforme,

margem lisa; disco nectarífero presente; androginóforo reto. Baga globosa, verde, glabra.

Possui ampla distribuição geográfica na América do Sul, ocorrendo desde o Paraguai até a

Venezuela, do leste do Brasil ao oeste da Bolívia (KILLIP, 1938). No Brasil, a espécie encontra-

se distribuída no Norte (Pará), Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio

Grande do Norte) Centro-Oeste (Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso) e

Sudeste (Minas Gerais, São Paulo) em domínios fitogeográficos de Caatinga, Cerrado e Mata

Atlântica (BERNACCI et al., 2013). Na Bahia ocorre praticamente em todo o estado, sendo

predominante em locais perturbados (NUNES; QUEIROZ, 2006).

Passiflora foetida L., Sp. Pl. 2: 959. 1753.

Trepadeira herbácea. Folhas membranáceas, 3-lobada; brácteas pinatissectas, com tricomas

simples e glandulares por toda a margem. Flores com sépalas de face externa verde-claro e face

interna branca; pétalas branco-esverdeadas; filamentos da corona em 5 séries, séries externas

brancas com base roxa azulada, séries internas roxas a azuladas; opérculo membranoso, margem

denteada; límen membranoso; disco nectarífero presente; androginóforo reto. Baga globosa,

verde, pilosa.

Apresenta ampla distribuição geográfica, ocorrendo na América Central, nos países Porto

Rico, Jamaica e Antilhas, e amplamente por toda América do Sul (KILLIP, 1938). A espécie é

bem distribuída no Brasil, registrada praticamente em todos os estados e tipos vegetacionais como

Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal (NUNES; QUEIROZ, 2006;

BERNACCI et al., 2013).

Passiflora luetzelburgii Harms, Repert. Spec. Nov. Regni Veg. 19: 32. 1923.

Trapadeira lenhosa. Folhas cartáceas, inteiras ou 3-lobada (lobos laterais reduzidos no

mesmo indivíduo. Flores com sépalas e pétalas vermelhas; filamentos da corona em 2 séries, série

externa branca com base esverdeada, série interna branca; opérculo membranoso; límen

membranoso, denticulado; disco nectarífero presente; androginóforo reto; Baga ovoide, verde,

glabra.

Espécie endêmica do Nordeste semiárido do Brasil, sendo encontrada apenas nos estados da

Bahia, Pernambuco e Piauí (NUNES; QUEIROZ, 2006; ARAÚJ,O, 2009), em ambientes de

Caatinga e Cerrado (BERNACCI et al., 2013).

Passiflora setacea DC., Prodr. 3: 329. 1828.

Trepadeira. Folhas cartáceas, 2-3 lobada (às vezes inteira no mesmo indivíduo). Flores com

sépalas de face externa verde pintalgada com manchas vináceas e face interna branca; pétalas

brancas; filamentos da corona em 1 série, brancos com base esverdeada; opérculo membranoso;

25

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

límen cupuliforme, membranoso; disco nectarífero presente; androginóforo reto. Baga elipsoide,

verde, glabra.

Passiflora setacea DC. é endêmica do Brasil, encontrada apenas no Nordeste (Bahia),

Centro-oeste (Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso) e Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio

de Janeiro), em ambientes de Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica (BERNACCI et al., 2013).

Conclusão

A família Passifloraceae está representada na APA Serra Branca/Raso da Catarina por

quatro espécies: Passiflora cincinnata Mast., Passiflora foetida L., Passiflora luetzelburgii Harms

e Passiflora setacea DC. Todas as espécies catalogadas estão associadas aos solos arenosos com

baixa capacidade de retenção de água, sendo geralmente mais resistentes, menos exigentes, e

consequentemente, boas colonizadoras. Das quatro espécies de Passifloraceae ocorrentes na APA

Serra Branca, Passiflora cincinnata e Passiflora foetida foram as mais frequentes, encontradas em

ambientes perturbados ou degradados. Vários visitantes florais foram observados durante as

coletas das espécies, tais como: abelhas, besouros, borboletas e formigas, sendo suas flores

bastante requisitadas pelo néctar oferecido. As espécies estudadas possuem potencial econômico

alimentício, ornamental a medicinal. O potencial ornamental das espécies é marcante por

possuírem flores vistosas de colorações exuberantes, que varia de branco, vermelho a violáceo.

Referências

ARAÚJO, D.A. Passifloraceae. In: ALVES, M.; ARAÚJO, M.F.; MACIEL, J.R.; MARTINS, S.

Flora de Mirandiba. Recife: Associação Plantas do Nordeste, 2009. p. 280-282.

BERNACCI, L.C.; CERVI, A.C.; MILWARD-DE-AZEVEDO, M.A.; NUNES, T.S.; IMIG,

D.C.; MEZZONATO, A.C. 2013. Passifloraceae. In: FORZZA, R.C.; STEHMANN, J.C.;

NADRUZ, M.; COSTA, A.; CARVALHO JR., A.; PEIXOTO, A.L.; WALTER, B.M.T.;

BICUDO, C.; MOURA, C.W.N.; ZAPPI, D.; COSTA, D.P.; LLERAS, E.; MARTINELLI, G.;

LIMA, H.C.; PRADO, J.; BAUMGRATZ, J.F.A.; PIRANI, J.R.; SYLVESTRE, L.S; MAIA,

L.C.; LOHMANN, L.G.; PAGANUCCI, L.; ALVES, M.V.S.; SILVEIRA, M.; MAMEDE,

M.C.H.; BASTOS, M.N.C.; MORIM, M.P.; BARBOSA, M.R.; MENEZES, M.; HOPKINS, M.;

EVANGELISTA, P.H.L.; GOLDENBERG, R.; SECCO, R.; RODRIGUES, R.S.;

CAVALCANTI, T.; SOUZA, V.C. Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do

Rio de Janeiro. Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB182>.

Acesso em: 20 out. 2013.

CERVI, A.C. Espécies de Passiflora L. (Passifloraceae) publicadas e descritas nos últimos 55

anos (1950 – 2005) na América do Sul e principais publicações brasileiras. Estudos de Biologia.

v. 27, p. 19-24, 2005.

DEGINANI, N.B. Las Especies Argentinas del Género Passiflora (Passifloraceae). Darwiniana,

v. 39, n. 1-2, p. 43-129, 2001.

26

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

FOSBERG, F.R.; SACHET, M.H. Manual for tropical herbaria. Netherlands: Utrecht, 1965.

KILLIP, E.P. The American Species of Passifloraceae. Field Museum of Natural History

Publication, Botanical Series. v. 19, n. 1, 2, p. 1-613, 1938.

MORI, S.A.; SILVA, L.A.M.; LISBOA, G.; CORADIN, L. Manual de manejo de herbário

fanerogâmico. Itabuna: Centro de Pesquisas do Cacau, 1989.

NIMER, E. Climatologia da região Nordeste do Brasil: introdução à climatologia dinâmica.

Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro. v. 34, n. 2, p. 3-51, 1972.

NUNES, T.S.; QUEIROZ, L.P. Flora da Bahia: Passifloraceae. Sitientibus Série Ciências

Biológicas. v. 6, n.3, p. 194-226, 2006.

QUEIROZ, L.P.; CONCEIÇÃO, A.A.; GIULIETTI, A.M. Nordeste Semi-Árido: Caracterização

Geral e Lista das Fanerógamas. In: GIULIETTI, A.M.; CONCEIÇÃO, A.; QUEIROZ, L.P.

Diversidade e Caracterização das Fanerógamas do Semi-Árido Brasileiro. Recife: Associação

Plantas do Nordeste, 2006. p. 15-364.

SOUZA, V.C.; LORENZI, H. Botânica Sistemática: guia ilustrado para identificação das

famílias nativas e exóticas no Brasil, baseado em APG III. 3 ed. Nova Odessa: Instituto

Plantarum, 2012.

SZABO, A.V.; ROCHA, A.C.S.; TOSATO, J.A.C.; BARROSO, W. Área de proteção ambiental

(APA) Serra Branca Raso da Catarina. In: MARQUES, J. (Org.). As Caatingas: debates sobre a

ecorregião do Raso da Catarina. Paulo Afonso: Fonte Viva, 2007. p. 21-40.

VELLOSO, A.L.; SAMPAIO, E.V.S.B.; PAREYN, F.G.C. Ecorregiões propostas para o bioma

Caatinga. Associação Plantas do Nordeste, Recife, 2002.

A FAMÍLIA BIGNONIACEAE NA APA SERRA BRANCA/RASO DA

CATARINA, JEREMOABO, BAHIA, BRASIL

Luiza Regina Silva1, Milene Maria da Silva-Castro

2, Adilva de Souza Conceição

1*

27

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

1 Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Departamento de Educação, Herbário HUNEB

(Coleção Paulo Afonso), Paulo Afonso, Bahia, Brasil. Email: [email protected] 2

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB. Departamento de Ciências Biológicas,

Campus de Jequié, Jequié, Bahia

Resumo

Este trabalho consiste no levantamento florístico da família Bignoniaceae na APA Serra

Branca/Raso da Catarina, localizada no município de Jeremoabo, Bahia. Foram analisados

espécimes coletados no período de agosto 2009 e fevereiro 2012 e coleções herborizadas

depositadas nos Herbários ALCB, HRB e HUEFS. Foram encontrados onze espécies, distribuídas

em dez gêneros: [Arrabidaea DC.: A. corallina (Jacq.) Sandwith, A. limae A.H.Gentry;

Anemopaegma laeve DC.; Clytostoma sciuripabulum Bureau & K.Schum.; Cuspidaria sp nov.;

Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos; Jacaranda jasminoides (Thunb.) Sandwith.;

Lundia cordata DC.; Mansoa sp nov.; Piriadacus erubescens (DC.) Pichon; Tabebuia aurea

(Manso) Benth. & Hook f. ex Moore]. Arrabidaea foi o gênero mais representativo com duas

espécies. Foram catalogadas duas novas espécies de Bignoniaceae para caatinga. São apresentadas

fotos das espécies, comentários sobre distribuição geográfica e fenologia das espécies.

Palavras-chave: Florística; Semiárido; Biodiversidade.

Introdução

A família Bignoniaceae é composta por 82 gêneros e 827 espécies, distribuídas nas regiões

tropicais e subtropicais, com poucas espécies em climas temperados, muito diversa na América do

Sul (JUDD et al., 2009; LOHMANN; ULLOA, 2013). De acordo com Gentry (1990) é a família

de lianas mais importante, ecologicamente, nos trópicos da América, assim constituem um modelo

para se pesquisar a grande diversidade das comunidades vegetais tropicais. O Brasil é o centro de

diversidade do grupo (GENTRY, 1980) com cerca de 391 espécies organizadas em 32 gêneros

(LOHMANN, 2013). De acordo com Lohmann (2013) para o nordeste são registradas 206

espécies e Giulietti et al. (2006) listaram 45 espécies do grupo para caatinga, e consideraram a

família como a oitava mais rica em espécies nesse bioma.

Pesquisas demonstraram que a família só se sustentava como grupo monofiletico, com a

exclusão da tribo Schlegelieae e o gênero Pauwlonia. Com base nestes dados, Schlegelieae e

Pauwlonia foram segregados de Bignoniaceae, e incluídos em duas famílias distintas:

Schlegeliaceaehttp://floradobrasil.jbrj.gov.br/2012/index?mode=dp&tid=219 e Paulowniaceae

(OLMSTEAD et al., 2009; SPANGLER; OLMSTEAD, 1999). Atualmente Bignoniaceae está

inserida na ordem Lamiales, mas as relações filogenéticas do grupo ainda não são claras (APG III,

2009). A importância econômica da família se expressa em seu potencial madeireiro, na

fabricação de móveis e construção civil, sendo, utilizada também em paisagismo, reflorestamento

e na medicina popular (GENTRY, 1992; LORENZI, 2008).

Apesar da importância ecológica e econômica da família poucos trabalhos são realizados na

região nordeste, especialmente para áreas de caatinga. Diante da necessidade de estudos para

região semiárida, especialmente para o estado da Bahia, o trabalho teve como objetivo contribuir

28

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

com mais informações sobre o grupo na região de caatinga. Para isso, foi realizado um

levantamento das espécies da família Bignoniaceae ocorrentes na APA Serra Branca/Raso da

Catarina, visando contribuir para o conhecimento das espécies vegetais das caatingas baianas,

bem como, o fornecimento de subsídios para o desenvolvimento do plano de manejo da APA.

Metodologia

A APA Serra Branca/Raso da Catarina está localizada no município de Jeremoabo, nordeste

da Bahia, totalmente inserida no “polígono das secas”, a 371 km de Salvador, com uma área de

67.237 ha., delimitada pelas coordenadas 09º53ʹ15.5ʹ a 09º44ʹ34.6ʹS e 38º49ʹ36.1ʹa

38º52ʹ20.4ʹW. A caatinga predomina em praticamente toda a região, com índices

pluviométricos médios anuais inferiores a 600 mm e temperatura média anual de 27ºC (SZABO et

al., 2007). As coletas do material botânico foram realizadas em nove excursões, no período de

agosto/2010 a fevereiro/2012. Durante as coletas foram feitas anotações sobre a distribuição das

espécies e tipo de solo. O processo de herborização do material coletado foi realizado seguindo a

metodologia tradicional de (FOSBERG; SACHET 1965; MORI et al. 1989). O material

testemunho encontra-se depositado no herbário da Universidade do Estado da Bahia – HUNEB

(Coleção Paulo Afonso) e as duplicatas enviadas para os principais herbários do estado da Bahia

A identificação do material e a terminologia utilizada para descrição foi baseada em

bibliografia especializada: Gonçalves; Lorenzi (2011), Radford et al. (1974), Harris; Harris

(2001), Silva; Queiroz (2003); Silva-Castro et al., (2007), chaves de identificação, protológos e

consulta das coleções dos principais herbários do estado da Bahia (ALCB, HRB e HUEFS). Os

dados sobre fenologia são referentes às observações na área de estudo.

Resultados e Discussão

Para APA Serra Branca foram catalogadas onze espécies, distribuídas em dez gêneros. O

gênero que teve maior representatividade na APA foi Arrabidaea DC. com duas espécies:

Arrabidaea corallina (Jacq.) Sandwith e Arrabidaea limae A.H.Gentry, enquanto todos os outros

foram representados apenas por uma espécie. As espécies com maior ocorrência foram:

Anemopaegma laeve DC, Piriadacus erubescens (DC.) Pichon e Jacaranda jasminoides (Thunb.)

Sandw. Enquanto que as espécies menor ocorrência foram: Arrabidaea corallina (Jacq.)

Sandwith, Arrabidaea limae A.H.Gentry e Lundia cordata DC.

Anemopaegma laeve DC. Prodr. [A. P. de Candolle] 9: 189. 1845. (FIGURA 1-a)

Espécie endêmica do Brasil, com registro para áreas de caatinga e cerrado, ocorrendo nas

regiões sudeste e nordeste, nos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Paraíba e Pernambuco

(LOHMANN, 2013). Na APA foi coletada em flor e fruto nos meses de janeiro, março, abril,

novembro e dezembro. É uma das espécies mais representativas da área, podendo ser facilmente

identificada por apresentar pseudoestípulas foliáceas bem desenvolvidas, cálice com nectários,

corola amarela e fruto tipo cápsula, compressa e alargada, oval a orbicular.

Arrabidaea corallina (Jacq.) Sandwith, Kew Bull. 1953: 460. 1954. (FIGURA 1-b)

Espécie não é endêmica do Brasil, com registro para áreas de caatinga, cerrado, mata

atlântica, pantanal e floresta amazônica, ocorrendo da região norte até o sudeste. No nordeste está

29

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

distribuída nos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,

Alagoas, Sergipe e Bahia. (LOHMANN, 2013). Foi coletada na APA em plena floração no mês de

dezembro. É uma das espécies menos representativas da área, sendo reconhecida por pelos

folíolos apresentando domácias de tricomas na face abaxial e tricomas glandulares sésseis, cálice

truncado e corola tomentosa, lilás passando a alva com lobos roxos.

Arrabidaea limae A.H.Gentry, Phytologia 46: 204 (-205). 1980. (FIGURA 1-c)

Espécie endêmica do Brasil, registrada apenas para caatinga, distribuída pelos estados do

Piauí, Ceará, Pernambuco e Bahia (LOHMANN, 2013). Na APA Serra Branca foi encontrada em

flor e fruto nos meses de maio e novembro. A espécie é uma das menos representativas da área,

podendo ser facilmente reconhecida por ser a única espécie que apresenta flores com corola alva,

cálice truncado e fruto tipo cápsula linear compressa.

Clytostoma sciuripabulum Bureau & K.Schum., Fl. Bras. (Martius) 8, pt. 2: 149. 1896. (FIGURA

1-d)

Espécie não é endêmica do Brasil e é amplamente distribuída por todo país, com registro

para áreas de caatinga, cerrado, mata atlântica, pantanal, floresta amazônica, ocorrendo da região

norte até o sul do Brasil. No nordeste foi registrada para os estados do Maranhão, Piauí, Alagoas e

Bahia (LOHMANN, 2013). Na APA foi coletada em plena floração nos meses de novembro e

dezembro. A espécie tem boa representatividade na área, sendo facilmente reconhecida por

apresentar ramos com pseudoestípulas escamiformes, folíolos com superfície adaxial lustrosa,

tubo da corola levemente achatado e lobos alongados.

Cuspidaria sp nov. (FIGURAS 1-e,f)

A espécie é conhecida até o momento para as áreas de caatinga do município de

Jeremoabo, Bahia. Coletada em flor e fruto nos meses de março, maio, setembro e novembro. É

uma das espécies bem representadas na área, podendo ser identificada por apresentar cálice com

dentes cuspidados com tricomas glandulares capitados e sésseis, estames com anteras retrorsas

pouco indumentadas e fruto linear com superfície estriada. Vegetativamente pode ser reconhecida

por seus folíolos relativamente pequenos ca. 2,5 x 2, 0 cm, apresentando tricomas simples e

glandulares capitados.

Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos, Loefgrenia 50: 2. 1970. (FIGURA 1-g)

Espécie amplamente distribuída no Brasil, com registro para áreas de caatinga e mata

atlântica. No nordeste foi registrada para os estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do

Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia (LOHMANN, 2013). Na APA foi coletada

em plena floração no mês de novembro. A espécie é bem representada na área e pode ser

facilmente reconhecida pelas suas folhas digitadas, flores com cálice glabro, apresentando

nectários e corola lilás a roxa com listras amarelas na fauce.

Jacaranda jasminoides (Thunb.)mSandwith., Recueil Trav. Bot. Néerl. 34: 232. 1937. (FIGURA

1-h)

30

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Espécie endêmica do Brasil com registros para áreas de caatinga, cerrado e mata atlântica,

com ocorrência para as regiões nordeste e sudeste. No nordeste se distribui pelos estados do Piauí,

Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia (LOHMANN,

2013). Na APA foi coletada com flor e fruto nos meses de fevereiro, março e junho. A espécie é

uma das mais representativas na área, podendo ser facilmente reconhecida pelos ramos com folhas

pinadas na base e bipinadas no ápice, flores com corola levemente curvada, vinácea com uma

listra alva na fauce e estaminódio bastante desenvolvido com tricomas glandulares capitados.

Lundia cordata DC., Prodr. [A. P. de Candolle] 9: 180. 1845. (FIGURA 1-i)

Espécie endêmica do Brasil com registros para áreas de caatinga e mata atlântica, com

ocorrência para regiões sudeste e nordeste. No nordeste foi registrada para os estados do Ceará,

Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia (LOHMANN, 2013). Na

APA a espécie foi coleta uma única vez com flor no mês de julho. É a uma das espécies menos

representativa na área, podendo ser reconhecida por apresentar folíolos grandes levemente

cordados, corola completamente púrpura, estames exsertos, anteras pilosas, ovário piloso sem

disco nectarífero.

Mansoa sp nov. (FIGURA 1-j)

Até o momento, a espécie foi registrada para as áreas de caatinga no município de

Jeremoabo, Bahia. Coletada em flor entre os meses de julho a novembro. É uma espécie com boa

representatividade na área, podendo ser facilmente identificada por apresentar gavinha trifurcada

no ápice, flores com cálice fendido e nectários, corola roxa sem máculas.

Piriadacus erubescens (DC.) Pichon, Bull. Soc. Bot. France 92: 225. 1946. (FIGURA 1-l)

Espécie é endêmica do Brasil, com registro para áreas de caatinga, cerrado e mata atlântica,

com ocorrência nas regiões sudeste e nordeste. No nordeste se distribui pelos estados do Piauí,

Ceará, Pernambuco e Bahia (LOHMANN, 2013). Na APA foi coletada com flor e fruto nos meses

de abril, setembro, novembro e dezembro. É uma das espécies mais representativas na área,

facilmente reconhecida pelos seus folíolos obovados, flores com coloração passando de alaranjada

para vermelha, estames exsertos e frutos com margens com alas.

Tabebuia aurea (Manso) Benth. & Hook f. ex Moore, Trans. Linn. Soc. London, Bot. 4(3): 423.

1895. (FIGURA 1-m)

Espécie amplamente distribuída no Brasil, com registro para áreas de caatinga, cerrado,

mata atlântica, pantanal e floresta amazônica, ocorrendo desde a região norte até o sudeste. No

nordeste se distribui pelos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,

Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia (LOHMANN, 2013). Na APA foi coletada em plena

floração no mês de novembro. É uma das espécies bem representada na área, podendo ser

identificada pelas suas folhas digitadas com indumento lepidoto, flores com cálice bilabiado,

lepidoto e corola amarela.

31

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Figura 1 – Representantes de Bignoniaceae da APA Serra Branca/Raso da Catarina, a. Anemopaegma

laeve; b. Arrabidaea corallina; c. Arrabidaea limae; d. Clytostoam sciuripabulum;e- f. Cuspidaria sp nov;

g. Handroanthus impetiginosus; h. Jacaranda jasminoides; i. Lundia cordata; j. Mansoa sp nov.; l.

Piriadacus erubescens; m. Tabebuia aurea

a b c

d e f

g h i

j m l

32

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Conclusão

A família Bignoniaceae se encontra bem distribuída na APA Serra Branca, com onze

espécies. Dentre as espécies catalogadas para APA, duas foram inéditas para ciência. Esses dados

mostraram a necessidade de uma investigação mais aprofundada do grupo no bioma caatinga.

Referências

APG III. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families

of flowering plants: APG III. Botanical Journal of the Linnean Society. London, 2009. v. 161,

p. 1-17.

FOSBERG, F. R.; SACHET, M. H. Manual for tropical herbaria. Netherlands: Utrecht, 1965.

132p.

GENTRY, A. H. A Synopsis of Bignoniaceae Ethnobotany and Economic Botany. Annals of the

Missouri Botanical Garden, Missouri, v. 79, p. 53-64. 1992.

_________. Evolutionary patterns in neotropical Bignoniaceae. Memoirs of the New York

Botanical Garden, New York, v. 55, p. 118-129, 1990.

_________. Bignoniaceae, Part I, Tribes Crescentieae and Tourretieae. Flora Neotropica, v. 25,

p. 1-131, 1980.

GIULIETTI, A. M.; et al. Nordeste semi-árido: caracterização geral e lista das espécies

fanerógamas. In:_________.(Ed.). Diversidade e Caracterização das Fanerógamas do

Semiárido Brasileiro. Recife: Associação Plantas do Nordeste, 2006. p. 15-40.

GONÇALVES, E. G.; LORENZI, H. Morfologia vegetal: organografia e dicionário ilustrado

de morfologia das plantas vasculares. 2 ed. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora,

2011. 512p.

HARRIS, J.; HARRIS, M. Plant identification terminology: an illustrated glossary. 2. ed. Utah:

Spring Lake Publishing, 2001. 206p.

JUDD, W. S.; CAMPBELL, C. S.; KELLOGG, E. A.; STEVENS, P. F.; DONOGHUE,. M. J.

Sistemática vegetal: um enfoque filogenético. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. 486p.

LOHMANN, L.G. 2012. Bignoniaceae. In: Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim

Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: < http://floradobrasil.jbrj.gov.br/2012/FB112305>.

Acesso em 20 de out. 2013.

LOHMANN, L.G. & ULLOA ULLOA, C. Bignoniaceae. In: iPlants prototype Checklist.

Disponível em: <www.iplants.org> Acesso em 20 de out. 2013.

33

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

LORENZI, H. Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas do

Brasil. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2008. p. 58-79.

MORI, S. A. et al. Manual de manejo do herbário fanerogâmico. Ilhéus: Centro de Pesquisa do

Cacau, 1989. 103p.

OLMSTEAD, R. G.; ZJHRA, M. L.; LOHMANN, L. G.; GROSE, S. O.; ECKERT, A. J. A

molecular phylogeny and classification of Bignoniaceae. American Journal of Botany,

Columbus, v. 6, p. 1731-1743, 2009.

RADFORD, A. E.; DICKISON, W. C.; MASSEY, J. R. & BELL, R. Vascular Plant

Systematics. New York: Harper & Row publishers, 1974. 891p.

SILVA, M. M.; QUEIROZ, L. P. A família Bignoniaceae na região de Catolés, chapada

Diamantina, Bahia, Brasil. Sitientibus série Ciências Biológicas, Feira de Santana, v. 3, p. 3-21,

2003.

SILVA-CASTRO, M. M.; COSTA, C. R. A.; BRITO, R. F. Flora da Bahia – Bignoniaceae 1:

Jacaranda Jussieu. Sitientibus Série Ciências Biológicas, Feira de Santana, v. 7, p. 15-31, 2007.

SOUZA, V. C.; LORENZI, H. Botânica Sistemática: guia ilustrado para identificação de das

famílias de fanerógamas nativas e exóticas no Brasil, baseado em APG II. 2. ed. Nova

Odessa: Instituto Plantarum, 2008. 574p.

SPANGLER, R. E.; OLMSTEAD, R. G. Phylogenetic analysis of Bignoniaceae based on the

cpDNA gene sequences rbcL and ndhF. Missouri Botanical Garden Press. Missouri, v. 86, p.

33-46, 1999.

SZABO, A. et al. Área de proteção ambiental (APA) Serra Branca Raso da Catarina. In:

MARQUES, J. As Caatingas: debates sobre a ecorregião do Raso da Catarina. Paulo Afonso:

Fonte Viva, 2007. p. 23-39.

34

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

ASTERACEAE DA ECORREGIÃO RASO DA CATARINA, BAHIA,

BRASIL: RIQUEZA E SIMILARIDADE FLORÍSTICA

Vivian Oliveira Amorim¹; Hortensia Pousada Bautista¹

1Universidade do Estado da Bahia – UNEB. , Departamento de Educação. Programa de Pós-

graduação em Biodiversidade Vegetal. Rua do Gangorra 503, 48608-240, Paulo Afonso, Bahia,

Brasil. E-mail: [email protected]

Resumo

A Caatinga é um dos biomas brasileiros mais negligenciados quanto à conservação e recentemente

foi subdividido em oito ecorregiões. A ecorregião Raso da Catarina é uma das mais conservadas,

sendo delimitada pela bacia sedimentar Tucano-Jatobá. A família Asteraceae na Caatinga conta

com 272 espécies e 109 gêneros. O objetivo deste estudo foi reconhecer e comparar a composição

florística de Asteraceae da ecorregião Raso da Catarina, Bahia, com outras áreas de Caatinga. O

levantamento das espécies foi realizado através de expedições mensais a campo no período de

abril de 2012 a agosto de 2013 e de visita às coleções botânicas dos herbários ALCB, BAH, HRB,

HUEFS e HUNEB. A análise de similaridade foi realizada no programa FITOPAC 2.1. Foram

catalogadas para ecorregião Raso da Catarina 52 espécies, 41 gêneros e 14 tribos. O hábito

herbáceo foi predominante. As tribos mais representativas foram Vernonieae, Heliantheae e

Eupatorieae. A flora de Asteraceae da ecorregião Raso da Catarina apresenta maior similaridade

com a flora apresentada em Buíque (Pernambuco), uma área de caatinga sobre sedimento arenoso,

e com as Florestas Estacional e Serrana (brejos de altitude), provavelmente devido aos ecótonos

que ocorrem no Raso da Catarina. O substrato se apresenta como um dos fatores determinantes na

formação dos agrupamentos.

Palavras-chave: Diversidade de Compositae; Análise de agrupamento; Flora da Caatinga.

Introdução

Asteraceae apresenta distribuição cosmopolita, com exceção na Antártica, menos

frequente em áreas tropicais (BREMER, 1994; PANERO; FUNK, 2008). Compreende atualmente

12 subfamílias, 43 tribos, 1.600-1.700 gêneros e 24.000-30.000 espécies (FUNK et al., 2009). No

Brasil, ocorrem aproximadamente 276 gêneros e 2048 espécies distribuídas em quase todos os

tipos vegetação e biomas, incluindo a Caatinga, onde são registrados 109 gêneros e 272 espécies

35

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

(NAKAJIMA et al., 2013). A família está entre as 12 mais ricas na Caatinga, destacando-se pela

diversidade e importância medicinal e são comumente encontradas em áreas abertas. Na flora

baiana, Asteraceae está entre uma das mais diversas.

A Caatinga destaca-se dentre os vários tipos de vegetação por ser considerada

exclusivamente brasileira (LEAL; TABARELLI; SILVA, 2003). Entretanto, os trabalhos

florísticos em áreas de Caatinga ainda são escassos, mesmo diante de estudos que mostram a

biodiversidade encontrada no bioma (GIULIETTI et al., 2002). Entre os estudos que necessitam

ser realizados na Caatinga, está principalmente o levantamento das espécies.

Sampaio e colaboradores (2002) ao realizarem estudos na região do semiárido

constataram a diversidade de fatores edafoclimáticos que formam um mosaico de paisagens na

Caatinga. Os diferentes padrões de caatinga são delimitados principalmente pelo tipo de solo,

podendo ter origem no embasamento cristalino ou em superfícies sedimentares arenosas,

compondo floras distintas (QUEIROZ, 2006).

Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo identificar e comparar a riqueza

de Asteraceae da ecorregião Raso da Catarina, Bahia, com outras áreas de Caatinga.

Metodologia

Área de estudo – A ecorregião Raso da Catarina compreende os estados de Pernambuco e

Bahia e forma uma faixa estreita e alongada no sentido Norte-Sul na parte Centro-Leste do bioma

Caatinga. Possui 30.800 Km2

estabelecidos pelos limites naturais geomorfológicos da bacia

sedimentar Tucano-Jatobá. A porção correspondente á área de estudo refere-se à parte Sul (Bahia)

da ecorregião Raso da Catarina. Abrange parte dos municípios de Canudos, Chorrochó, Euclides

da Cunha, Glória, Jeremoabo, Macururé, Paulo Afonso, Ribeira do Pombal, Rodelas e Santa

Brígida. Na ecorregião Raso da Catarina as excursões a campo ocorreram principalmente nas

cinco unidades de conservação: APA Serra Branca (09º53'15,5" a 09º44'34,6" S e 38º49'36,1" a

38º52'20,4" O); Estação Biológica de Canudos (09º55'58,6" a 09º58'25,2" S e 38º57'32,2" a

39º1'38,5" O); Estação Ecológica Raso da Catarina (09º33'13" a 09º54'30" S e 38º29'20" a

38º44'00" O); Parque Estadual de Canudos (09º56'19,7" a 09º54'32,4" S e 39º06'13,3" a

39º04'20,5" O) e RPPN Fazenda Flor de Lis (10º50'14,1" a 10º50'26,4" S e 38º31'46,4" a

38º31'34,7" O).

Inventário florístico – Foram realizadas 17 excursões a campo no período de abril de 2012

a agosto de 2013, seguindo a metodologia de campo proposta por Filgueiras e outros (1994).

Além disso, foram analisadas as exsicatas depositadas nos herbários ALCB, HRB, HUEFS e

HUNEB. Todos os espécimes foram georreferenciados e fotografados. O material coletado foi

herborizado segundo as técnicas usuais (MORI et al., 1989) e incorporados ao acervo do herbário

da Universidade do Estado da Bahia. As identificações foram baseadas em literaturas

especializadas, obra princeps, comparação com material herborizado e tipos depositados nos

herbários disponíveis online.

Análise de similaridade – Para a análise de similaridade foram selecionadas 20 áreas do

bioma Caatinga, sendo construída uma matriz binária de presença/ausência das espécies de

Asteraceae. As análises de similaridade entre as áreas foram realizadas através do programa

FITOPAC 2.1 (SHEPHERD, 2010), utilizando o índice de similaridade de SØrensen

36

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

(MUELLER-DOMBOIS; ELLENBERG, 1974). A ligação dos grupos foi avaliada por média do

grupo pelo método UPGMA (weighted pair-group average).

Resultados e Discussão

Para Asteraceae na ecorregião Raso da Catarina foram catalogadas 52 espécies, 41gêneros

e 14 tribos (Tabela 1). Dentre os gêneros, os mais representativos foram Pectis L., Stilpnopappus

Mart. ex DC. e Trichogonia Gardner, com 3 espécies cada. As tribos que apresentaram maior

diversidade foram Vernonieae (11 spp.) seguida por Heliantheae e Eupatorieae com (10 spp.)

cada. O hábito herbáceo foi predominante.

Do total, apenas Aspilia bonplandiana (Gardner) S.F.Blake, Chresta martii (DC.) H.Rob.,

Enydra radicans(Willd.) Lack, Mattfeldanthus andrade-limae (G.M.Barroso) Dematt., Pectis

linifolia L. var. linifolia, Stilpnopappus pratensis Mart. ex DC., Stilpnopappus scaposus DC.,

Trichogonia heringeri R.M.King & H.Rob., Wedelia hookeriana Gardner, são restritas a

Caatinga.

No geral, as áreas analisadas apresentam baixa similiaridade entre si (Índice de Sorensen-

IS < 50%). As maiores similaridades são encontradas entre Ibimirim, Mirandiba (69% IS),

Betânia (55% IS) e Floresta (50% IS); Inajá, Triunfo (67% IS) e Maturéia (57% IS); Jeremoabo,

Paulo Afonso (74% IS), Buíque (66% IS) e Canudos (55% IS).

A flora de Asteraceae da ecorregião Raso da Catarina, parte Sul, apresenta maior

afinidade com a caatinga sobre superfície arenosa de Buíque\Pernambuco (66% IS) e com os

brejos de altitude localizados na Paraíba e Pernambuco (41% IS). As similaridades com os brejos

de altitude são provavelmente devido às áreas de contato Caatinga\Floresta Estacional\Cerrado

registradas nos municípios que formam a ecorregião Raso da Catarina.

Tabela 1 - Espécies de Asteraceae da ecorregião Raso da Catarina, Bahia, Brasil.

ASTERACEAE - TRIBO/ ESPÉCIES

Astereae (3 gêneros, 3 espécies)

Baccharis cinerea DC.

Conyza bonariensis (L.) Cronquist.

Egletes viscosa (L.) Less.

Cichorieae (1gênero, 1 espécie)

Sonchus oleraceus L.

Coreopsideae (1 gênero, 1 espécie)

Bidens pilosa L.

Eupatorieae (7 gêneros, 10 espécies)

Ageratum conyzoides L.

Bishovia (cf.)

Conocliniopsis prasiifolia (DC.) R.M.King & H.Rob.

Koanophyllon conglobatum (DC.) R.M.King & H.Rob.

Mikania cordifolia (L.f.) Willd.

37

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Mikania obovata DC.

Platypodanthera melissifolia (DC.) R.M.King & H.Rob. subsp. Melissifolia

Trichogonia campestris Gardner

Trichogonia heringeri R.M.King & H.Rob.

Trichogonia salviifolia Gardner

Gnaphalieae (2 gêneros, 2 espécies)

Achyrocline satureioides (Lam.) DC.

Gamochaeta americana (Mill.) Wedd.

Gochnatieae (1 gênero, 1 espécie)

Gochnatia oligocephala (Gardner) Cabrera

Heliantheae (9 gêneros, 10 espécies)

Acmella uliginosa (Sw.) Cass.

Aspilia bonpladiana (Gardner) S.F.Blake

Aspilia martii Baker

Blainvillea acmella (L.) Philipson

Delilia biflora (L.) Kuntze

Eclipta prostrata (L.) L.

Melanthera latifolia (Gardner) Cabrera

Tilesia baccata (L.) Pruski

Verbesina macrophylla (Cass.) S.F.Blake

Wedelia hookeriana Gardner

Inuleae (1gênero, 1 espécie)

Pluchea sagittalis (Lam.) Cabrera

Millerieae (2 gêneros, 2 espécies)

Acanthospermum hispidum DC.

Tridax procumbens L.

Nassauvieae (1 gênero, 1 espécie)

Trixis antimenorrhoea (Schrank) Mart. ex Baker subsp. antimenorrhoea

Neurolaeneae (1 gênero, 1 espécie)

Enydra radicans (Willd.) Lack

Senecioneae (2 gêneros, 3 espécies)

Emilia fosbergii Nicolson

Emilia sonchifolia DC.

Erechtites missionum Malme

Tagetae (3 gêneros, 5 espécies)

38

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Pectis brevipedunculata (Gardner) Sch.Bip.

Pectis linifolia L. var. linifolia

Pectis oligocephala var. affinis (Gardner) Baker

Porophyllum ruderale (Jacq.) Cass. subsp. ruderale

Tagetes minuta L.

Vernonieae (7 gêneros, 11 espécies)

Blanchetia heterotricha DC.

Chresta matii (DC.) H.Rob.

Centratherum punctatum Cass.

Cyanthilium cinereum (L.) H.Rob.

Eremanthus capitatus (Spreng.) MacLeish

Lepidaploa chalybaea (Mart. ex DC.) H.Rob.

Lepidaploa cotoneaster (Willd. ex Spreng.) H.Rob.

Mattfeldanthus andrade-limae (G.M.Barroso) Dematt.

Stilpnopappus (cf.)

Stilpnopappus trichospiroides Mart. ex DC.

Stilpnopappus scaposus DC.

Stilpnopappus pratensis Mart. ex DC.

A análise de similaridade resultou em três grupos distintos, cuja formação sofre

predominância de um determinado tipo de substrato ou vegetação, evidenciando e corroborando a

ideia de heterogeneidade da vegetação e solo no bioma Caatinga. Os blocos formados podem ser

definidos como, grupo (A) onde ocorre predomínio das áreas de caatinga sobre embasamento

cristalino (34% IS); grupo (B), as áreas de caatinga e brejo de altitude com maior influência de

sedimento arenoso (41% IS); e grupo (C), as áreas de carrasco sobre sedimento arenoso (36% IS).

Conclusão

A família Asteraceae está representada na ecorregião Raso da Catarina por 52 espécies e

41 gêneros. A área apresentou um baixo percentual de endemismos, representado apenas por nove

espécies. A análise de agrupamentos mostrou uma maior similaridade entre a flora da caatinga

sobre sedimento arenoso da ecorregião Raso da Catarina e a flora da caatinga no município de

Buíque, cuja vegetação também ocorre em solos arenosos. Apresentou-se também similar à flora

das Florestas Estacional e Serrana, possivelmente devido às áreas ecotonais de

Caatinga/Cerrado/Floresta Estacional que ocorrem no Raso da Catarina.

Referências

BREMER, K. Asteraceae: cladistics and classification. Portland: Timber Press, 1994.

39

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

FILGUEIRAS, T.S.; BROCHADO, A.L.; NOGUEIRA, P.E.; GUALLA, G.F. Caminhamento: um

método expedito para levantamentos florísticos qualitativos. Caderno Geociências, v.12, p. 39-43,

1994.

FUNK, V. A.; SUSANNA, A.; STUSSEY, T. F.; BAYER. R. J. Systematics, evolution and

biogeography of Compositae.Vienna: IAPT, 2009.

GIULIETTI, A. M.; HARLEY, R. M.; QUEIROZ, L. P.; BARBOSA, M. R. V.; BOCAGE-

NETA, A. L.; FIGUEIREDO, M. A. Espécies endêmicas da caatinga. In: SAMPAIO, E. V. B.;

GIULIETTI, A. M.; VIRGÍNIO, J.; GAMARRA-ROJAS, C. (Eds.). Vegetação e Flora da

Caatinga. Recife: Associação Plantas do Nordeste. 2002. p. 103-118.

LEAL, I. R.; TABARELLI, M.; SILVA, J. M. Ecologia e conservação da Caatinga. Recife:

EDUFPE, 2003.

MORI, S.A.; SILVA, L.A.M.; LISBOA, G.; CORADIN, L. Manual de manejo do herbário

fanerogâmico. Ilhéus: Centro de Pesquisa do Cacau, 1989.

MUELLER-DOMBOIS, D.; ELLENBERG, H. Aims and methods of vegetation ecology. New

York: J. Willey, 1974.

NAKAJIMA, J.; LOEUILLE, B.; HEIDEN, G.; DEMATTEIS, M.; HATTORI, E. K. O.;

MAGENTA, M.; RITTER, M. R.; MONDIN, C. A.; ROQUE, N.; FERREIRA, S. C.; TELES, A.

M.; BORGES, R. A. X.; MONGE, M.; BRINGEL JR. J. B. A.; OLIVEIRA, C. T.; SOARES, P.

N.; ALMEIDA, G.; SCHNEIDER, A.; SANCHO, G.; SAAVEDRA, M. M.; LIRO, R. M.;

SOUZA-BUTURI, F. O.; PEREIRA, A. C. M.; MORAES, M. D. Asteraceae In Lista de Espécies

da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em:

<http://www.floradobrasil.jbrj.gov.br>. Acesso em: 01 maio 2013.

PANERO, J. L.; FUNK, V. A. The value of sampling anomalous taxa in phylogenetic studies:

Major clades of the Asteraceae revealed. Molecular Phylogenetics and Evolution, v. 47, p. 757-

782, 2008.

QUEIROZ, L. P. The Brazilian caatinga: phytogeographical patterns inferred from distribution

data of the Leguminosae. In: PENNINGTON, R. T.; LEWIS, G. P.; RATTER, J. A. (Eds.).

Neotropical savannas and dry forests: plant diversity, biogeography, and conservation. Oxford:

Taylor & Francis CRC Press. 2006. p. 114-144.

SAMPAIO, E. V. S. B.; GIULIETTI, A. M.; VIRGINIO, J.; GAMARRA-ROJAS, C. F. L.

Vegetação e Flora da Caatinga. Recife: Associação Plantas do Nordeste, 2002.

SHEPHERD,G.J. Fitopac 2.1 (Programa e manual do usuário). Departamento de Botânica,

Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2010.

40

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

RIQUEZA E SIMILARIDADE FLORÍSTICA DE APOCYNACEAE

SENSU LATO NA ECORREGIÃO RASO DA CATARINA, BAHIA,

BRASIL

Diane da Conceição Silva¹; Hortênsia Pousada Bautista¹.

1 Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Departamento de Educação. Programa de Pós-

graduação em Biodiversidade Vegetal. Rua do Gangorra 503, 48608-240, Paulo Afonso, Bahia,

Brasil. E-mail: [email protected]

Resumo

Apocynaceae apresenta ampla distribuição nos neotrópicos e com ocorrência nos mais diversos

ambientes, desde florestas úmidas até regiões semiáridas. No Brasil, a família é representada por

85 gêneros e 950 espécies. A Ecorregião Raso da Catarina é uma das oito ecorregiões propostas

para o bioma Caatinga, localizando-se nos estados da Bahia e Pernambuco. A área de estudo na

Bahia limita-se pelas coordenadas 09°07'28" a 10°01'26.30" de latitude Sul e 38°11'11" a

39°00'22" de longitude Oeste. Foram realizadas expedições mensais a campo entre os meses de

abril/2012 a agosto/2013 e consultas aos herbários ALCB, BAH, HRB, HUEFS e HUNEB. A área

é caracterizada pelo clima semiárido com precipitação media de 650 mm/ano e presença de solos

com areia e latossolos. O objetivo deste trabalho é realizar a investigação da riqueza florística de

Apocynaceae na parte da Ecorregião Raso da Catarina, localizada na Bahia, e efetuar uma análise

de similaridade florística em 14 áreas do Nordeste brasileiro. Foram inventariadas 20 espécies,

distribuídas em 11 gêneros, com destaque para Matelea Aubl. (4 spp.), Ditassa R. Br. (3 spp.),

Mandevilla Lindl. (3 spp.) e Marsdenia R. Br. (2 spp.). A análise de similaridade apontou para

41

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

cinco agrupamentos, sendo o índice pluviométrico a variável ambiental que mais influenciou nos

resultados. A heterogeneidade demostrada no dendrograma ratifica a natureza diversa da

Caatinga, sugerindo que os fatores edafoclimáticos agem de forma diferenciada dentro do mesmo

bioma.

Palavras-chave: Flora da Caatinga; Ecorregião; Similaridade florística.

Introdução

Apocynaceae sensu lato (s.l.) é uma das maiores famílias de Angiospermas, com cerca

355 gêneros e 3700 espécies (JUDD et al., 2009). Apresenta morfologia floral peculiar dentro das

Angiospermas, fator investigado tanto do ponto de vista evolutivo, quanto taxonômico

(ENDRESS, 1994; WYATT; LIPOW, 2007). Os representantes atualmente admitidos no conceito

de Apocynaceae s.l. eram tratados em duas famílias, Asclepiadaceae e Apocynaceae s.str.,

facilmente distinguidas pela presença ou não de polinários, respectivamente. A adoção dos

princípios de sistemática filogenética na botânica, baseado em caracteres morfológicos e

moleculares, levou à fusão dessas famílias em Apocynaceae s.l. (RAPINI, 2000).

No Nordeste, a família é representada por 53 gêneros e 256 espécies e no bioma Caatinga

é reconhecida por 35 gêneros e 127 espécies, sendo 25 espécies endêmicas deste bioma (KOCH et

al., 2013). Ainda para o Brasil, são apontadas 85 espécies raras, mas revisões taxonômicas em

gêneros complexos como Matelea e mais estudos florísticos nas Regiões Nordeste, Norte e

Centro-Oeste poderão indicar muitas outras espécies raras na família (RAPINI; SOUZA-SILVA;

SAMPAIO, 2009).

A Caatinga ocupa uma área de 734.478 km2, e é o único bioma exclusivamente brasileiro.

Do ponto de vista vegetacional, é bastante diversificada por incluir outros ambientes associados.

Somente de Caatingas são reconhecidas 12 tipologias diferentes, as quais despertam atenção

especial pelos exemplos fascinantes de adaptação aos hábitats semiáridos. Isto implica dizer que, a

relação entre os fatores abióticos como solo-clima-pluviosidade pode explicar, em parte, a grande

diversidade de fisionomias aliada à composição florística, com muitas das espécies vegetais

endêmicas no bioma (MELLO; ANDRADE, 2007).

No Estado da Bahia, a área com predominância de Caatinga, ocupa a maior parte do seu

território, abrangendo 256 municípios e 357.820,2 km² de área. Esta região (Raso da Catarina) se

insere no domínio da Caatinga, cuja vegetação é de porte arbóreo e arbustivo, onde predominam

espécies decíduas e espinhentas com elevado grau de xeromorfismo. Ocorrem ainda nesta região,

outros tipos de vegetação isolados, tais como os brejos florestados e os campos rupestres, enclaves

importantes para a manutenção de algumas espécies da fauna que ocorrente na caatinga

(AB’SÁBER, 2003; SILVA, 2007).

Este trabalho representa uma contribuição ao conhecimento florístico da família

Apocynaceae s.l. nas unidades de conservação do Raso da Catarina, Bahia, e teve por objetivo

realizar um levantamento florístico e comparar a riqueza de Apocynaceae s.l. da Ecorregião Raso

da Catarina, Bahia, com outras áreas de Caatinga.

Metodologia

42

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Área de estudo - A Ecorregião Raso da Catarina está situada na porção centro-leste do

bioma Caatinga e apresenta uma área de 30.800km². Caracteriza-se por estar localizada numa

bacia de solos arenosos, profundos e poucos férteis, de relevo plano, mas com canyons na parte

oeste formados por afloramento de arenito.

Na parte sul dessa ecorregião, que se localiza no Estado da Bahia, predominam os solos

de areia profundos, excessivamente drenados, ácidos e de fertilidade muito baixa, mas ocorrem

também latossolos profundos, bem drenados, ácidos e de fertilidade baixa.

Na parte norte da ecorregião, no Estado de Pernambuco, predominam as areias. A porção

estudada situa-se na Região Econômica Nordeste do Estado da Bahia. Está delimitada pelas

coordenadas 09°07'28" a 10°1'26.30" Sul e 38°11'11'' a 39°00'22'' Oeste, compreendendo os

municípios de Canudos, Chorrochó, Cícero Dantas, Euclides da Cunha, Glória, Jeremoabo,

Macururé, Paulo Afonso, Rodelas, Santa Brígida e Uauá (VELLOSO et al., 2002).

Inclui cinco Unidades de Conservação: APA Serra Branca (09º53'15,5" a 09º44'34,6" S e

38º49'36,1" a 38º52'20,4" O); Estação Biológica de Canudos (09º55'58,6" a 09º58'25,2" S e

38º57'32,2" a 39º1'38,5" O); Estação Ecológica Raso da Catarina (09º33'13" a 09º54'30" S e

38º29'20" a 38º44'00" O); Parque Estadual de Canudos (09º56'19,7" a 09º54'32,4" S e 39º06'13,3"

a 39º04'20,5" O) e RPPN Fazenda Flor de Lis (10º50'14,1" a 10º50'26,4" S e 38º31'46,4" a

38º31'34,7" O) (OLIVEIRA; CHAVES, 2010), nas quais se investiu um maior esforço de coleta.

A área apresenta altitudes que variam de 400 a 600 m.

Coleta de dados - Para o levantamento florístico, foram efetuadas expedições a campo no

período de abril/2012 a julho/2013. Com o objetivo de complementar a lista das espécies e

complementar as informações do material coletado, foram realizadas visitas aos herbários ALCB,

BAH, HRB, HUEFS, HUNEB E UEC (THIERS, 2013). O material coletado foi prensado em

campo, conforme os padrões usuais em botânica (FIDALGO; BONONI, 1984; MORI et al.,

1985). Os espécimes encontram-se depositados no Herbário da Universidade do Estado da Bahia

(HUNEB – Coleção Paulo Afonso).

Tratamento taxonômico - As identificações ocorreram com o auxílio de chaves analíticas

e bibliografia especializada. Os termos morfológicos utilizados nas descrições estão baseados em

Radford e colaboradores (1974). Este trabalho segue a classificação atual, para a família, que foi

elaborada por Endress e Bruyns (2000).

Análise de similaridade - Para a análise de similaridade foram selecionadas 14 áreas da

região Nordeste. Foi construída uma matriz binária das espécies de Apocynaceae s.l. com o uso do

Excel, versão 2007, indicando a presença/ausência das espécies registradas.

Os dados foram tratados estatisticamente com o auxílio do programa PAST

(Palaeontological Statistics), versão 2.15. Para obtenção dos dados de similaridade foi utilizado o

índice de Sörensen-Dice.

Resultados e Discussão

Na Ecorregião Raso da Catarina, Bahia as Apocynaceae estão representada por 11 gêneros

e 20 espécies (Tabela 1). Os gêneros mais representativos foram: Matelea Aubl. (4 spp.), Ditassa

R.Br. (3 spp.), Mandevilla Lindl. (3 spp.) e Marsdenia R.Br. (2 spp.), os demais tiveram uma

espécie cada. Três espécies foram apontadas como endêmicas do bioma Caatinga Allamanda

43

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

blanchetii, Marsdenia megalantha e Matelea endressiae; uma espécie com distribuição restrita à

Bahia Mandevilla microphylla.

O hábito predominante é trepadeira, representado por 14 das 20 espécies (70 %), seguido

do arbóreo com 5 espécies (25%) e arbustivo com 1 espécie (5%).

O resultado da análise de similaridade do agrupamento formado pelas 14 áreas de Caatinga,

utilizando um nível de corte a 40%, demonstrou a formação de um dendrograma composto por

cinco grupos (A-E).

O grupo A, formado por áreas de Mata Ciliar, fator que provavelmente influenciou na

proximidade destas áreas.

O grupo B, composto por uma área de Brejo de Altitude e outra de Caatinga. Pode-se inferir

que estas áreas, apesar de tipos vegetacionais diferentes, ficaram juntas por tratar-se de áreas de

altos índices pluviométricos.

A formação do grupo C ocorre por uma área de Caatinga e outra de tensão Caatinga/Mata

Atlântica, as quais, provavelmente, ficaram juntas em decorrência de estarem sobre a bacia

sedimentar arenosa e pluviosidade anual aproximada.

As áreas que compõem a Ecorregião Raso da Catarina (grupo D), ficaram próximas,

legitimando a proposta de formação das Ecorregiões (RODAL et al., 1999), ambas são formações

de Caatinga, sobre bacia sedimentar arenosa. Os índices pluviométricos anuais também explicam

a organização deste grupo, apesar da porção norte (PE) ser mais árida que a porção sul (BA), com

aproximadamente 500 mm/ano.

O grupo E é formado por áreas com cobertura vegetal diferenciada, sendo uma formação

de Caatinga e a outra é uma Floresta Estacional Semidecidual. Os fatos que explicam a união das

áreas no grupo são o tipo de sedimento (embasamento cristalino) e o índice pluviométrico anual

de 500 mm.

Tabela 1. Lista de espécies de Apocynaceae s.l., inventariadas para Ecorregião Raso da Catarina,

Bahia.

ESPÉCIE HÁBITO COLETOR

Allamanda blanchetii A.DC. Trepadeira D.C.S./ 87; L.P.Q./ 7038

Aspidosperma pyrifolium Mart. Árvore

D.C.S./103, 105, 107, 119; M.V.R. /333;

A.S.C./ 1248; L.P.Q./ 7261

Calotropis procera Aiton Árvore

V.O.A./ 102; D.C.S./74; R.M.C./1283;

L.R.N./2944

Ditassa capillaris E.Fourn. Trepadeira D.A.O.D./ 88; D.C.S. 182

Ditassa hastata Decne. Trepadeira D.C.S./ 85; E.B.M./616; F.H.M.S./508

Ditassa hispida (Vell.) Fontella Trepadeira A.R./ 1243; A.R./1188

Hancornia speciosa Gomez Árvore D.C.S./ 86, 99; E.M./6661

Himatanthus drasticus (Mart.) Plumel Árvore D.C.S./71, 72, 73; F.H.M./ 369; 376

Himatanthus obovatus (Müll.Arg.)

Woodson

Árvore E.M./6673

Mandevilla microphylla (Stadelm.)

M.F.Sales

Trepadeira A.R./ 1238; D.C.S./ 111, 112; D.D.V/57

Mandevilla moricandiana (A.DC.)

Woodson

Trepadeira D.C.S./ 156

44

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Mandevilla scabra (Hoffmann. ex Roem.

& Schult.) K.Schum.

Trepadeira A.F.S.B./101

Marsdenia megalantha Goyder & Morillo Trepadeira A.R./1226

Marsdenia hilariana E.Fourn Trepadeira A.R./1235

Matelea endressiae Fontella & Góes Trepadeira A.R./1233

Matelea marítima (Jacq.) Woodson Trepadeira A.R./ 1250

Matelea nigra (Decne.) Morillo & Fontella Trepadeira L.P.Q./ 4649

Matelea ganglinosa (Vell.) Rapini Trepadeira E.M./6778

Skytanthus hancorniifolius (A.DC.) Miers Arbusto R.P.O./ 569

Temnadenia violaceae (Vell.) Miers Trepadeira D.C.S./189

Conclusão

Apocynaceae s.l. esta representada na Ecorregião Raso da Catarina, Bahia, por 11 gêneros

e 20 espécies, das quais três foram apontadas como endêmicas do bioma Caatinga e uma espécie

com distribuição restrita à Bahia.

A análise de similaridade, utilizando a Apocynaceae s.l. como marcador, evidenciou que a

Ecorregião Raso da Catarina possui alta diversidade quando comparada com os demais estudos

florísticos usados neste trabalho. Demostrou também diferentes formações vegetais, fato que

indica a necessidade de traçar estratégias distintas de conservação, para cada área e suas

especificidades. As áreas formaram blocos distantes e a variável que demostrou ser mais relevante

foi o índice pluviométrico. Outros fatores também influenciaram na formação dos agrupamentos,

como altitude e tipo de solo. O fator de menor relevância foi a distância geográfica.

Referências

AB’SABER, A. N. O domínio morfoclimático semiárido das caatingas brasileiras.

Geomorfologia, Porto Alegre, v. 43, p. 1-37, 1974.

ENDRESS, P. K. Diversity and evolutionary biology of tropical flowers. Cambridge:

Cambridge University Press, 1994. 311p.

ENDRESS, M. E.; BRUYNS, P. V. A revised classification of the Apocynaceae s.l. The

Botanical Review. v. 66, n.1, p. 1-56, 2000.

FIDALGO, O.; BONONI, V. L. Técnicas de coleta, preservação e herborização de material

botânico. São Paulo: Instituto de Botânica, 1984.

JUDD, W. S.; SANDERS, R. W.; DONOGHUE, M. J. Sistemática vegetal: um enfoque

filogenético. Porto Alegre: Artmed, 2009.

45

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

KOCH, I.; RAPINI, A.; KINOSHITA, L.S.; SIMÕES, A.O.; SPINA, A.P. Apocynaceae. In Lista

de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 2013. Disponível em <

http://floradobrasil.jbrj.gov.br/2013/FB000048>. Acesso em 12 de agosto de 2013.

MELO, J. I. M.; ANDRADE, W. M. Boraginaceae s.l. A. Juss. Em uma área de Caatinga da

ESEC Raso da Catarina, BA, Brasil. Acta Botânica Brasílica, v. 21, p. 369-378, 2007.

OLIVEIRA, J.H.M.; CHAVES, J.M. Mapeamento e Caracterização Geomorfológica: Ecorregião

Raso da Catarina e Entorno NE da Bahia. Revista Mercator, Fortaleza, v. 9, p 217-238, 2010.

RAPINI, A. Asclepiadaceae ou Asclepiadoideae (Apocynaceae)? Conceitos distintos de

agrupamento taxonômico. Hoehneae, v.27, n. 2, p. 121-130, 2000.

RAPINI, A.; SOUZA-SILVA, R.F.; SAMPAIO, L.N.P. Apocynaceae. In: GIULIETTI, A.M.;

RAPINI, A.; ANDRADE, M.J.G.; QUEIROZ, L.P.; SILVA, J.M.C. (Orgs.). Plantas Raras do

Brasil. Belo Horizonte: Conservação Internacional do Brasil; Feira de Santana: Universidade

Estadual de Feira de Santana, 2009, p. 54-64.

RODAL, M.J.N.; NASCIMENTO, L.M.; MELO, A.L. Composição florística de um trecho de

vegetação arbustiva caducifolia, no município de Ibimirim, PE, Brasil. Acta Botânica Brasílica,

v.13, p.15–28, 1999.

SILVA, F.H.M. Contribuições à Palinologia das Caatingas. Tese (Doutorado em Botânica) -

Pós-graduação em Biologia Vegetal, Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia, 194 f.,

2007.

THIERS, B. [continuously updated]. Index Herbariorum: a global directory of public herbaria and

associated staff. New York Botanical Garden's Virtual Herbarium. http://sweetgum.nybg.org/ih/

(ultimo acesso em 28/07/2013). 2013.

VELLOSO, A. L.; SAMPAIO, E. V. S. B.; PAREYN, F. G. C. Ecorregiões propostas para o

bioma Caatinga. Recife: Associação Plantas do Nordeste, 2002. 80 p.

WYATT, R.; LIPOW, S.R. A new explanation for the evolution of pollinia and loss of carpel

fusion in Asclepias and the Apocynaceae s.l. Annals of the Missouri Botanical Garden, v. 94, n.

2, p. 474-484, 2007.

46

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

A PESCA ARTESANAL E O ESTOQUE PESQUEIRO NO CÂNION

DO RIO SÃO FRANCISCO, NORDESTE DO BRASIL

Luanna Oliveira de Freitas1; Eliane Maria de Souza Nogueira

1

1 Programa de Pós-Graduação em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental, Universidade do estado da

Bahia (UNEB – Campus VIII). [email protected]; [email protected]

Resumo

O estudo analisa a atividade pesqueira desenvolvida no cânion do rio São Francisco, em trechos

da Bahia e Alagoas e a percepção dos pescadores locais quanto ao estoque pesqueiro. O trabalho

de campo foi realizado em 2012, e os dados foram coletados através de entrevistas aplicadas a 84

indivíduos, com idades entre 20 e 83 anos. Os resultados apontam que, dentre os problemas

elencados pelos pescadores, o que mais ameaça a pesca artesanal ainda é a diminuição dos

estoques pesqueiros, com reflexos imediatos na renda familiar, levando os pescadores a

aumentarem o esforço de captura do pescado. Este esforço, além do praticado normalmente, tem

ocasionado agravos à saúde desses trabalhadores. Além disso, os dados obtidos no presente estudo

apontam que o estoque de espécies nativas como Pacu (Myleus micans), Mandi (Pimelodus sp) e

Piau-verdadeiro (Leporinus elongatus) tem sofrido diminuição relevante para a região em questão.

Ressalta-se a importância em desenvolver estudos com as comunidades, por serem indicadores da

necessidade ambiental local, a fim de nortear a adoção de medidas de manejo da pesca.

Palavras-chave: peixes nativos; comunidades locais; qualidade ambiental.

Introdução

A pesca artesanal é definida como aquela em que o pescador sozinho ou em parcerias

participa diretamente da captura, usando instrumentos relativamente simples (DIEGUES;

ARRUDA, 2001).

A pesca além de ser uma profissão, é um modo de vida, sendo também unidade de

produção, de consumo e de partilha onde o trabalho é livre e tem um regime autônomo e coletivo,

no qual os pescadores são donos dos seus meios de produção (CNPA, 2009).

Historicamente, o rio São Francisco foi uma das principais fontes brasileiras de pescado,

atendendo o comércio de regiões do nordeste e do sudeste do Brasil e fornecendo peixes

suficientes para alimentar e gerar recursos, através da pesca, à população ribeirinha (GODINHO;

GODINHO, 2003).

Nesta bacia, são registradas cerca de 158 espécies de peixes, excetuando-se as diádromas.

No entanto, mesmo apresentando essa diversidade, boa parte dos estoques pesqueiros encontra-se

em queda em função das alterações no fluxo e na qualidade da água e impedimento à migração

reprodutiva (BARBOSA; SOARES, 2009, GODINHO; GODINHO, 2003).

47

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Diante do exposto, o presente estudo objetivou investigar a situação atual da pesca

artesanal no Cânion do rio São Francisco, bem como a percepção dos pescadores quanto ao

estoque pesqueiro nesta região.

Metodologia A área selecionada para o presente estudo foi o cânion do Rio São Francisco, situado no

Baixo São Francisco. O Cânion abrange três estados – Alagoas, Bahia e Sergipe - e cinco

municípios, Paulo Afonso/BA, Canindé do São Francisco/SE, Delmiro Gouveia/AL, Olho D’água

do Casado/AL e Piranhas/AL.

O Rio São Francisco tem aproximadamente 2.700 km de extensão, é considerado o

terceiro maior rio brasileiro, possui uma área de 639.219 km², onde habitam cerca de 13 milhões

de pessoas, que correspondem a 8% da população do país (ANA, 2004).

Para realização deste estudo, inicialmente foi feita uma pesquisa bibliográfica, seguida da

atividade de campo, realizada durante o ano de 2012. As informações foram coletadas por meio de

conversas informais e entrevistas, formuladas com questões abertas e fechadas, aplicados a 84

pescadores artesanais residentes em comunidades situadas às margens do cânion São Francisco.

No universo amostral estudado a maior representação é masculina com um percentual de

79,3%, a distribuição etária inclui pescadores de 20 a 83 anos, a grande maioria é casada, com

baixa escolaridade e renda mensal que varia de R$ 200,00 a cerca de R$ 1000,00. No que tange a

atividade pesqueira, o tempo de pesca varia de um a mais de 40 anos, destes 88,7% possuem

registro profissional de pescador (RGP).

Resultados e Discussão

A atividade pesqueira desenvolvida pelos pescadores do cânion do São Francisco é do

tipo artesanal, conforme as definições pertinentes ao tema, praticada em um intervalo de tempo

que varia de um a mais de 40 anos. Vivem exclusivamente da pesca, 67,1% dos pescadores,

revelando a importância da qualidade ambiental e estabilidade dos estoques pesqueiros para

manutenção desta atividade, que caracteriza-se tanto como uma profissão quanto como um modo

de vida e expressão cultural.

Os pescadores que moram próximo ao trecho em que pescam deslocam-se diariamente até

essas localidades, não se enquadrando no grupo que se utiliza de acampamento as margens do rio

(Figura 1).

48

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Figura 1 – Ranchos construídos as margens do Cânion para abrigo durante o período de acampamento.

O tempo de acampamento entre os pescadores que desenvolvem essa modalidade variou

de 3 a 15 dias. Cabe ressaltar que o pescador não tem um ponto fixo para pescar, mas mantém

locais específicos para se abrigarem durante o período da pescaria.

A pesca é realizada em pequenas embarcações, principalmente canoas, das quais 90,2%

são de propriedade do pescador e o petrecho mais utilizado são as redes (38,8%).

O pescado capturado em 93,9% dos casos é destinado tanto para o consumo quanto para o

comércio, sendo que Pirambeba, tucunaré, curvina, traíra e tilápia foram as etnoespécies mais

capturadas e disponíveis para venda no período em que o trabalho foi realizado.

O pescado é comercializado em sua maioria congelado (35,4%) ou fresco (32,9%), assim

como limpo e eviscerado (67,1%). Estes dados estão de acordo aos apresentados por Burda e

Schiavetti (2008) e Costa-Neto e Marques (2001), que registraram resultados semelhantes em

estudos realizados em outras localidades da Bahia. Os autores observaram que o pescado das áreas

estudadas era comercializado imediatamente após a sua captura ou congelado e vendido

posteriormente.

Dentre os problemas elencados pelos pescadores sobre a atividade de pesca, destaca-se a

diminuição do peixe, resultado dos barramentos das águas do rio São Francisco para geração de

energia elétrica. Eles afirmaram que, por ocasião das cheias e redução da correnteza da água,

houve um comprometimento do período reprodutivo dos peixes de piracema. Outro aspecto citado

diz respeito à introdução de espécies exóticas como o Tucunaré, predador das espécies nativas

apreciadas na região.

A percepção de escassez do pescado, no que diz respeito à pesca predatória, também

elencada pelos atores, é um conflito existente, uma vez que há um embate dos pescadores

artesanais com aqueles que praticam essa modalidade. Descrita por Rosa e Mattos (2010) a pesca

predatória é aquela que é realizada em períodos de defeso, ou quando é feita com material

impróprio e esforço excessivo da mesma. O período de defeso corresponde ao período de desova,

caracterizado como o ápice da vida dos reprodutores (SANTOS; SANTOS, 2005).

Ainda quanto a pesca predatória, faz-se necessário lembrar que há um desequilíbrio entre

o material alocado do meio aquático e o que ele consegue repor, com possibilidades de limite da

produtividade pesqueira e, consequentemente, com impacto social e comprometimento do

equilíbrio ecológico da área.

Das 21 espécies inventariadas na pesquisa (Quadro 1), destacam-se as exóticas e aquelas

que são consideradas pelos pescadores como raras ou que desapareceram, sendo as mais citadas o

dourado (Salminus hilarii), o surubim (Pseudoplatystoma corruscans) e o Pirá (Conorhynchus

conirostris). A situação se agrava com diminuição significativa de outras espécies como Pacu

(Myleus micans), Mandi (Pimelodus sp), Piau-verdadeiro (Leporinus elongatus) e Apaiari

(Astronotus ocellatus).

49

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Quadro 1 – Etnoespécies de peixes citadas, segundo a percepção dos pescadores do Cânion São Francisco.

Etnoespécie* Nome Científico

Apaiari Astronotus ocellatus (Cuvier, 1829)*

Caboge/Mandim armado Franciscodoras marmoratus (Reinhardt, 1874)

Cari/Acari Hypostomus sp.

Curimatã/Crumatá/Bambá Prochilodus sp.

Curvina/Corvina/Cruvina Pachyurus francisci (Cuvier, 1830) e P.squamipinnis Agassiz, 1831

Dourado/Tubarana Salminus hilarii (Cuvier, 1829) e Salminus franciscanus Lima & Britski, 2007

Mandi Pimelodus SP

Pacamã Lophiosilurus alexandri Steindachner, 1877

Pacu Myleus micans (Reinhardt, 1874)

Pescada Plagioscion squamosissimus*

Piaba Astyanax sp. e outros morfotipos

Piau Leporinus sp.

Piau-verdadeiro Leporinus elongatus Valenciennes, 1850

Pirá Conorhynchus conirostris (Valenciennes, 1840)

Pirambeba Serrasalmus brandti (Lütken, 1875)

Piranha Pygocentrus piraya (Cuvier, 1819)

Surubim Pseudoplatystoma corruscans (Spix & Agassiz, 1829)

Tambaqui Colossoma macropomum (Cuvier, 1818)*

Tilápia/Fidalgo Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758) *

Traíra Hoplias malabaricus (Bloch, 1794)

Tucunaré/Tupunaré Cichla sp.*

Fonte: Entrevistas realizadas na coleta de campo, 2012; BARBOSA; SOARES, 2009

Nota: Os nomes das etnoespécies correspondem à denominação nativa fornecida no decorrer das entrevistas

e a classificação científica segue Barbosa e Soares, 2009.

* Espécies exóticas

50

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

A queda dos estoques pesqueiros a redução da renda familiar levam os pescadores a uma

sobrecarga de trabalho, aumentando o esforço de captura do pescado, o que reflete agravos à

saúde desses trabalhadores. Em sua jornada de trabalho ficam expostos a variadas condições

ambientais e climáticas, e mais susceptíveis a problemas de saúde e possíveis acidentes de

trabalho. Dos entrevistados, 64,6% se queixam de problemas de saúde, sendo principalmente

relacionados a problemas de coluna (52,5%).

Considerações Finais

A existência da pesca artesanal nas comunidades ribeirinhas assume um papel essencial

na vida de muitos pescadores, tanto em função da necessidade financeira, quanto na necessidade

de preservar e exercitar a cultura pesqueira. Em função disso, informações sobre o conhecimento

dessas comunidades são importantes por auxiliarem na adoção de medidas de manejo da pesca e

por serem indicadores da necessidade ambiental local.

Deve-se levar em consideração, também que a avaliação do conhecimento local é de

grande importância como ferramenta para entender as atividades dos impactos causados pelo

homem no ambiente, assim como a importância do recurso para a população, permitindo assim,

uma análise contextualizada e de maior aplicabilidade às causas locais de alterações ambientais.

Referências

ANA/GEF/PNUMA/OEA. Projeto de Gerenciamento Integrado das Atividades Desenvolvidas em

Terra na Bacia do São Francisco, Sub-projeto 4.5C – Plano Decenal de Recursos Hídricos da

Bacia do Rio São Francisco – PBHSF (2004-2013). Controle de cheias. Estudo Técnico de

Apoio nº 10. Brasília: SUM/ANA, 2004. 58p.

BARBOSA, J. M.; SOARES, E. C. Perfil da ictiofauna da Bacia do São Francisco: estudo

preliminar. Revista Brasileira de Engenharia de Pesca, v. 4, n. 1, p. 155-172, 2009.

BURDA, C. L., SCHIAVETTI, A. Análise ecológica da pesca artesanal em quatro comunidades

pesqueiras da Costa de Itacaré, Bahia, Brasil: Subsídios para a Gestão Territorial. Revista da

Gestão Costeira Integrada, v. 8, n. 2, p. 149-168, 2008.

COSTA-NETO, E. M.; MARQUES, J. G. W. Atividades de pesca desenvolvidas por pescadores

da comunidade de Siribinha, Município de Conde, Bahia: uma abordagem etnoecológica.

Sitientibus, v.1, n. 1, p. 71-78, 2001. (Série Ciências Biológicas)

CONFERÊNCIA DOS PESCADORES ARTESANAIS DO BRASIL- IºCNPA: Pescadores e

pescadoras na luta por território, afirmando políticas de direitos para a pesca artesanal 2009.

Texto-base. Brasília, 2009. 26p.

DIEGUES, A. C.; ARRUDA, R. S. V. Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil. Brasília:

Ministério do Meio Ambiente; São Paulo: USP, 2001.

51

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

GODINHO, A. L.; GODINHO, H. P. Breve visão do São Francisco. In: Águas, peixes e

pescadores do São Francisco das Minas Gerais. Belo Horizonte: PUC Minas, 2003. 468p.

SANTOS, G. M.; SANTOS, A. C. M. Sustentabilidade da pesca na Amazônia. Estudos

avançados, v. 19, n. 54, p.165-182, Ago 2005.

PESCADORES (AS) ARTESANAIS DA ILHA DO RODEADOR: A

CAPACITAÇÃO EM TECNOLOGIA DE PESCADO COMO

FERRAMENTA DE INCLUSÃO SOCIAL E ECONÔMICA

Jackeline Guedes Ferreira1; Lucia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira

1

1

Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF. Email: [email protected],

[email protected]

Resumo

Este estudo aborda a situação dos (as) pescadores (as) artesanais da Ilha do Rodeador, localizada a

20 km da cidade de Juazeiro-Bahia, e as ações de empoderamento com eles (as) realizadas na

perspectiva de agregar valor ao pescado, transformando a sua carne em produtos semi-

industrializados. A pesquisa foi de natureza quanti-qualitativa, com enfoque nas representações

sociais. A capacitação em humanidades e em tecnologia do pescado, obedeceu aos principios da

alfabetização científica, priorizando-se os saberes populares que os (as) participantes ja

dominavam.

Palavras-chave: pescadoras artesanais, associativismo, capacitação, pescado.

Introdução

O Rio São Francisco atravessa o sertão semiárido possibilitando a sobrevivência da

população ribeirinha de baixa renda, a irrigação em pequenas, médias e grandes propriedades e,

sobretudo a criação de caprinos, entretanto, desde as nascentes a bacia do São Francisco vem

sofrendo degradações com sérios impactos sobre as águas e, consequentemente, sobre os peixes.

O povoado Ilha do Rodeador, localizado na margem direita do Rio São Francisco, a 20 Km da

cidade de Juazeiro-Bahia, não possui tratamento de esgotos, lançando-os diretamente no rio e

poluindo as suas águas. O desmatamento tem reduzido as matas ciliares e o uso intensivo de

fertilizantes e defensivos agrícolas, têm contribuído para a degradação ambiental. Além disso, a

52

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

irrigação e as barragens hidrelétricas são responsáveis pelo desvio do leito do rio, redução da

vazão, alteração da intensidade e época das enchentes, transformação do rio em lagos, com

impactos diretos sobre os recursos pesqueiros.

Segundo Zellhuber e Siqueira (2007), atualmente o rio São Francisco possui apenas dois

trechos de águas correntes: 1.100 km entre as barragens de Três Marias e Sobradinho e 280 km da

barragem de Sobradinho até a entrada do reservatório de Itaparica. Daí para baixo, transforma-se

em uma cascata de reservatórios da CHESF, (Itaparica, Complexo Moxotó com Paulo Afonso I,

II,III,IV e Xingó). Pesquisa realizada por OLIVEIRA et al (2010),concluiu ser preocupante a

forma como esse recurso natural vem sendo tratado, refletindo na captura de peixes, estabelecendo

conflitos na regulamentação da pesca e alocação de recursos, além de muitas dificuldades nas

comunidades de pescadores. Das 152 espécies de peixes nativos da bacia, muitas já não existem

ou são localizadas muito raramente, como é o caso do surubim, curvina, pocomon e outras. As

espécies mais comuns hoje na região são oriundas de outras bacias hidrográficas, ou mesmo

espécies exóticas, introduzidas no sistema a partir de experimentos de cultivo que são predadoras

das espécies nativas e possuem menor valor comercial, ampliando o estado de pobreza dos (as)

pescadores (as). (DIEGUES: 1996).

Pela total ausência de infra-estrutura para armazenamento e comercialização, os pescados

são entregues aos atravessadores ainda no meio do rio pelo preço aviltante de 0,40 centavos a R$

2,00 o quilo, sem que tal atitude desencadeie no (a) pescador (a) um sentimento de revolta, já que

são eles do seu convívio, parentes, compadres ou vizinhos. Muito comumente, atravessadores são

ex-pescadores (as) ou pescadores (as) aposentados (as), o que torna mais difícil chamar atenção

dos que estão na ativa para a exploração a que são submetidos (as).

Entre os (as) pescadores (as), como afirma Diegues (1996), a unidade familiar e as

relações de parentesco ou de compadrio recebem grande importância, pois geralmente sustentam o

exercício das atividades econômicas, sociais e culturais. Em sua luta pela subsistência, essas

populações tendem a combinar várias atividades econômicas, como a criação de animais para

consumo próprio, os pequenos cultivos e a pesca, a produção e venda de comidas, como é o caso

das mulheres da ilha do Rodeador, sendo esses conhecimentos compartilhados coletivamente, o

que não impede o surgimento de tensões e conflitos à medida que os recursos ambientais se

tornam escassos.

No que se refere aos recursos naturais, a gravidade da sua não preservação é que,

diferentemente de outros setores produtivos, os pescados não surgem como produto do trabalho

humano. Eles surgem segundo as leis de reprodução dos cardumes, independente da vontade do

homem, daí a preocupação com o descaso a que os (as) pescadores (as) artesanais são submetidos

(as). Sem educação ambiental, apoio em infraestrutura e organização comunitária e investimento

em capacitação tecnológica, a pobreza tende a ser ampliada no segmento.

Para Cordell (1989), fazer-se pescador artesanal é tornar-se portador de um conhecimento

e de um patrimônio sociocultural, que o permite conduzir-se, ao saber o que vai fazer nos

caminhos e segredos das águas, amparando seus atos em uma complexa cadeia de inter-relações

ambientais típicas dos recursos naturais aquáticos.Ao se deparar com a ausência dos peixes nos

locais onde normalmente são eles encontrados, o (a) pescador (a) numa sabedoria própria de

quem se acostumou a observar a natureza, passa a buscá-los em outros pontos. Trata-se de um

53

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

aprendizado contínuo que populações tradicionais desenvolvem desde crianças, como mecanismo

de sobrevivência, mas isto não basta.

O antropólogo Claude Lévi-Strauss em O Pensamento Selvagem (1989), ressalta a

importância do conhecimento das populações tradicionais, cuja curiosidade não é apenas a

necessidade de satisfazer as suas necessidades, mas o conhecer pelo prazer de conhecer. Esses

saberes da tradição representam maneiras de se relacionar e de interpretar a natureza, num

processo educativo calcado pela observação e pelos ensinamentos de gerações mais experientes.

Como afirma Faria (2002), o tempo de observar é, portanto, não apenas o tempo de esperar, de

contemplar, mas também o tempo de aprender com o rio, e de proteger os equipamentos do ofício.

A população da Ilha do Rodeador tem uma tradição de pesca artesanal de pequeno porte

hoje ameaçada pelo crescimento agroindustrial e hidrelétrico, poluição e desmatamentos, que

resultam em desbarrancamento e assoreamento e reduzindo os estoques pesqueiros. Segundo

Coelho (2005), até a década de setenta o Rio era navegável entre Pirapora e Juazeiro /Petrolina,

no trecho de 1.312 Km, no médio curso, e entre Piranhas e a foz, 208 Km, no baixo curso. Hoje,

só apresenta navegação comercial no trecho compreendido entre os portos de Muquém do São

Francisco (Ibotirama), na Bahia e Juazeiro / Petrolina, na divisa entre Bahia e Pernambuco.

Mesmo neste trecho, a navegação vem sofrendo revezes por deficiência de calado, sobretudo na

entrada do lago de Sobradinho, onde um intenso assoreamento multiplica os bancos de areia

(ANA/OEA/GEF/PNUMA et al, 2004).

Outro sinal alarmante da situação deplorável do Rio é a diminuição da sua vazão. Em

2001, o reservatório de Sobradinho chegou a 5% de sua capacidade; em outubro de 2007, atingiu

um pouco mais de 20%. Em combinação com a elevada carga de poluição doméstica e industrial

que cai no Rio, o ecossistema aquático nos períodos mais secos regularmente chega ao colapso. O

resultado é a mortandade de peixes e o comprometimento da saúde da população ribeirinha. De

toda vazão retirada do Rio São Francisco, 68% da água são para irrigação

(ANA/OEA/GEF/PNUMA et al, 2004).

A base materialista de interpretação da realidade social possibilita o entendimento da

formação da consciência ecológica dos pescadores, não por influência de outros, mas pelas suas

necessidades reais; pela falta do pescado; pelo empobrecimento das suas famílias atrelado ao

empobrecimento da natureza, ficando evidenciado o pressuposto marxista que não é a consciência

que determina a vida, mas a vida que determina a consciência (...), portanto, é um produto social,

e continuará sendo enquanto existirem homens (Marx e Engels, 1987). Apesar da importância da

pesca artesanal na região do semiárido em termos de geração de emprego e alimentação, a

regulação da atividade é precária, carecendo de políticas públicas que determinem a sua

continuidade com dignidade.

Metodologia

A população do estudo foi constituída por pescadoras e pescadores artesanais que

praticam essa atividade econômica e que residem no povoado ilha do Rodeador, no município de

Juazeiro - Bahia. A pesquisa foi de abordagem quanti-qualitativa com enfoque teórico-

metodológico nas representações sociais e as categorias analíticas foram definidas tomando-se por

base as representações de meio ambiente definidas por Barzano (2000), sendo elas: Naturalista,

Antropocêntrica, Biocêntrica e Contextualizada, além dos aspectos culturais relacionados à

54

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

concepção local, como religiosidade, musicalidade, lendas, mitos e festejos. A análise adotou,

portanto, a subjetividade como instrumento de conhecimento e as representações sociais como

eixo condutor. Para tanto, buscou-se a objetivação, que transforma o abstrato em concreto e a

ancoragem pela qual se permite dar sentido aos acontecimentos, pessoas, grupos e fatos sociais

(MOSCOVICI,1961), percorrendo a seguinte orientação metodológica: entrevista semi-

estruturada, contendo na primeira parte itens referentes à identificação sóciodemográfica dos

participantes e na segunda parte questões norteadoras estruturadas de acordo com o referencial

teórico adotado; registro dos dados, utilizando-se gravação com consentimento dos participantes,

transcritas na íntegra e interpretações das suas falas.

O trabalho organizativo com a comunidade foi na direção da consolidação de uma

identidade rural que delimitasse espaços e gerasse novas consciências de cidadania para a sua

população, na compreensão de que uma política de autonomia, conforme recomenda Castoríades

(1982), deve agir sobre as pessoas com o objetivo de ajudá-las a atingir sua própria

independência. Portanto, toda ação implementada foi no sentido da aprendizagem para o fazer

coletivo dentro de um processo educativo e democrático.

Resultados e Discussões

Do universo pesquisado ficou evidenciado que a pesca ainda se constitui uma atividade

masculina, por demandar um período fora de casa e pelo código de ética que embasa as relações

conjugais condicionarem o labor feminino ao lar. Nesse contexto, a participação da mulher na

atividade pesqueira se dá de forma indireta, através da confecção e reparo de redes; tratamento do

pescado para comercialização e agora, na transformação da carne in natura em produtos semi-

industrializados.

Os (as) filhos (as) dos (as) pescadores (as) pesquisados, não desejam continuar na

atividade, alegando a impossibilidade de manterem as suas famílias com a pesca e a gravidade

dessa situação é que a alimentação das famílias ribeirinhas com pescados sempre foi a tradição e a

principal fonte de proteína, porque os seus rendimentos mesmo em tempos mais alvissareiros

jamais permitiram a aquisição de outras carnes no cotidiano.

Finalizada a pesquisa, constatou-se a fragilidade da população da Ilha do Rodeador em

capital humano, apresentando-se como fundamental o seu preparo para enfrentar os desafios

impostos pela sociedade cada vez mais exigente em termos de conhecimentos e inovações

tecnológicas.Nessa perspectiva, foi planejado com os pescadores (as) o plano de ação com vistas

ao seu desenvolvimento sustentável que envolveu: capacitação em humanidades, para a maior

compreensão e valorização da sua história, valores, tradições e identidade rural; formação em

associativiasmo; oficinas práticas para transformação do pescado em produtos semi-

industrializados; orientação para o marketing e a comercialização dos produtos; incentivo à

retomada do Samba de Veio - uma manifestação cultural típica do local, como ferramenta de

incremento ao turismo receptivo.

Para as capacitações foram adotados os princípios da alfabetização científica com ênfase

na pedagogia da prática, promovendo a geração e a apropriação coletiva de conhecimentos, a

construção de processos de desenvolvimento sustentável e a adaptação e adoção de tecnologias

55

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

voltadas para a formação de pescadores (as) sustentáveis, onde o ponto de partida foi sempre

a realidade e os saberes locais. Isso se traduziu na prática, pela animação e facilitação de

processos coletivos capazes de resgatar a história, identificar problemas, estabelecer

prioridades e planejar ações para alcançar objetivos que facilitassem aos homens e mulheres

fazer uma leitura do mundo onde vivem, podendo assim transformar a sua realidade para

melhor.Como bem afirma Padilha apud Sabbatini (2004:02), o analfabetismo científico é

responsável pela falta de acesso a oportunidades de trabalho e crescimento profissional e pelo

escasso aproveitamento que os governos fazem do conhecimento científico para a resolução de

problemas produtivos e sociais com vistas ao desenvolvimento sustentável.

Na operacionalização do Plano de Sustentabilidade, percorreu-se as etapas:

a. Diagnóstico Participativo - Nessa etapa trabalhou-se com a análise FOFA - Forças,

Oportunidades, Fraquezas e Ameaças, já que o objetivo dos atores envolvidos era viabilizar a

geração de trabalho e renda para a população, respeitando-se a sua vocação natural que era o rio,

o feitio de comida, o turismo receptivo e a cultura.

b. Planejamento e execução do curso - A sua formatação adquiriu dois momentos: o

primeiro, voltado para complexos temáticos, cuja finalidade foi a reflexão sobre a organização da

sociedade e o papel daquela população no contexto da globalização. Identidade, arte, cultura,

turismo e desenvolvimento, fizeram parte dessa construção. No segundo momento, exercitou-se

oficinas práticas para o tratamento do pescado, até a sua transformação em outros produtos com

valor agregado, possibilitando renda justa ao trabalho, com respeito ao meio ambiente. As aulas

foram realizadas na comunidade em sala cedida pela escola municipal Maria Monteiro Bacelar,

bem como na UNIVASF, no Centro de Ciências Agrárias. Foram capacitados vinte sujeitos com

faixa etária entre 33 e 68 anos, com evasão nula e desempenho excelente. Todos foram

certificados ao final do evento pela Pró-Reitoria de Extensão.

Conclusões A análise dos dados evidencia a fragilidade da pesca artesanal nos municípios

pesquisados, dado a baixa expectativa dos mais idosos em relação a sua continuidade e a

desmotivação dos mais jovens em aderir a uma profissão cujos resultados financeiro e social não

apresentam-se atrativos. A degradação ambiental do Rio São Francisco tem agravado a situação

de pobreza das populações tradicionais, considerando que desde a década de 70 com o advento da

agricultura irrigada na região, as suas águas passaram a receber resíduos químicos poluentes que

comprometem a sua qualidade tanto para o homem como para os peixes, reduzindo as espécies

nativas em mais de 50% (Diegues:1968).

O ausência de informações tecnológicas dos (as) pescadores (as) sobre temas relevantes

para a sustentabilidade das ações relacionadas com o pescado, bem como, a falta de infraestrutura

para a sua armazenagem,os colocam nas mãos dos atravessadores, que lhes pagam preços muito

abaixo do mínimo necessário para uma vida com dignidade. A recomendação deste estudo é no

sentido de que os órgãos governamentais ampliem as políticas voltadas para o incentivo à pesca

artesanal, desenvolvendo um amplo programa de educação ambiental; financiamento com juros

baixos para a compra de barcos modernos e equipamentos de pesca; freezers, além da capacitação

permanente para assegurar a sustentabilidade das iniciativas empreendedoras dos(as) pescadores

(as) artesanais.

56

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Referências

ALMEIDA, Manuel José de. O drama do São Francisco. Gráfica do Senado Federal:

Brasília,1991.

ANA/OEA/GEF/PNUMA et al. Projeto de gerenciamento integrado das atividades

desenvolvidas em terra na Bacia do Rio São Francisco. Programa de ações estratégicas para

o gerenciamento integrado da Bacia do Rio São Francisco e da sua Zona Costeira (PAE).

GEF São Francisco. Relatório final. Brasília, TDA Desenho & Arte Ltda, 2004.

BANCO MUNDIAL. Impactos e externalidades sociais da irrigação no Semi-Árido

Brasileiro. Brasília, 2004.

COELHO, A. M. G. Conflito sócio-ambiental: comunidade do Batoque e o Grupo

Oderbrecht. INFORMANDES. Jornal do ANDES- SN, n. 104. Brasília: 2005.

CORDELL, John . A sea of small boats. Massachusetts, Cambridge, 1989.

DIEGUES, A. C. S. O Mito Moderno da Natureza Intocada.São Paulo, Hucitec,1996.

_____. Pescadores, Camponeses, Trabalhadores do Mar. Ática, São Paulo, 1968.

FARIA, M. F. Vozes e imagens do rio São Francisco: Um estudo sobre as populações tradicionais

e problemas ambientais. Dissertação de Mestrado, PPG-CSO /UFSCAR, 1996.

FARIA, M. F. Vozes e imagens do rio São Francisco: Um estudo sobre as populações tradicionais

e problemas ambientais. Dissertação de Mestrado, PPG-CSO /UFSCAR, 2002

LÉVI-STRAUSS, C. O pensamento selvagem. Tradução de Tânia Pellegrini. Campinas, SP:

Papirus, 2002.

Malvezzi, Roberto. Semi-Árido: uma visão holística. Brasília, Confea, 2007.

MARX, K. & ENGELS, F. Ideologia alemã. São Paulo: Hucitec, 1984.

MOSCOVICI, S. La psychanalyse son image et son public. Paris: Presses Universitaires de

France, 1961.

ZELLHUBER, Andrea & SIQUEIRA, Ruben. Rio São Francisco em Descaminho:degradação

e revitalização. Cadernos CEAS, 227. Salvador, Centro de Estudos e Ação Social, jul-set, 2007,

p.7-32.

57

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

TERRITORIALIDADES DE POVOS INDÍGENAS NO ESTADO DA

BAHIA

Regina Celeste de Almeida Souza1; Gisele das Chagas Costa

1

1 Universidade Salvador – UNIFACS. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional

e Urbano (PPDRU). Respectivamente, Professora Doutora do PPDRU; Doutoranda do PPDRU.

Membros do Grupo de Pesquisa em Turismo e Meio Ambiente (GPTURIS). Email:

[email protected] e [email protected]

Resumo

A pesquisa tem como objetivo investigar as relações existentes entre a construção da

territorialidadade e o empoderamento de Povos Indígenas. A partir da promulgação da

constituição brasileira intensificou-se a luta de minorias étnicas na regularização e posse definitiva

das terras. No caso indígena, constata-se um percurso que envolve a retomada identitária, com

consequente empoderamento – premissa para construção da territorialidade; assim, esse estudo

constitui-se em parte da pesquisa em andamento sobre a construção de territorialidades pelos

58

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Povos Indígenas no Estado da Bahia, desenvolvida no Grupo de Pesquisa em Turismo e Meio

Ambiente e vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano

da UNIFACS.

Palavras-Chave: Territorialidade; Povos Indígenas; Retomada Identitária; Empoderamento.

Introdução

Esse texto nasce de reflexões sobre o tema proposto para o desenvolvimento da pesquisa

em curso no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano da UNIFACS,

o qual trata da construção de territorialidades por povos indígenas no Estado da Bahia, através de

um percurso que envolve a retomada identitária, com o consequente empoderamento desses

grupos étnicos.

Estudos sobre os Povos Indígenas na Bahia apontam que questões identitárias e de

empoderamento vem garantindo aos mesmos espaços cada vez mais amplos de discussão na

sociedade e participação efetiva nas esferas decisórias do poder institucionalizado (BANDEIRA,

1972; BRASILEIRO, 1996, 2000; NASCIMENTO, 1994, 1995; BAINES, 2008; SILVA, 2011;

COSTA, SOUZA, 2012), com a possibilidade de construção de um “espaço de luta onde

procuram reconstruir antigos territórios ou recriarem novas condições de sobrevivência através do

uso da terra”. (SILVA, 2011)

O entrelaçamento entre questões territoriais e empoderamento é factível na medida em

que questões territoriais, em uma concepção geográfica e de acordo com os referenciais teóricos

delimitados na pesquisa em andamento, remetem necessariamente a sua “dominação político-

econômica mais tais questões, afeitas ao caráter material e simbólico do território, são relevantes

para a compreensão dos reordenamentos territoriais, engendrados continuamente pelo o

tensionamento estabelecido entre o Estado e seus interesses e aqueles que se manifestam por

segmentos da população que tiveram suas histórias, culturas e geografias negadas em um processo

colonizador hegemônico, como é o caso dos Povos indígenas na Bahia.

Assim, a pesquisa tem como objetivo geral avaliar as correlações existentes entre o

resgate étnico e a construção de territorialidades por Povos Indígenas, com a proposta de recorte

investigatório para um dos grupos étnicos residentes em Reserva Indígena no vale sanfranciscano.

Metodologia

A fim de adquirir validade científica, toda pesquisa deve delinear sua fundamentação

teórico-metodológica. Por isto, buscou-se o respaldo teórico em diversos autores, a saber: Cervo e

Bervian (2002); Chizzotti (1998); Ludke e André (1986), Macedo (2000), e Mattos (2005 e 2006),

a fim de caracterizar os procedimentos que serão utilizados.

Quanto a abordagem da pesquisa propõe-se a ótica qualitativa, ao considerar que não é

possível traduzir em números a vinculação dinâmica que existe entre o sujeito e o mundo real, ou

seja, a relação inseparável que se dá entre a subjetividade humana e o mundo concreto. E também

pelo entendimento de que “a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte de dados

e o pesquisador como seu principal instrumento”. (LUDKE e ANDRÉ, 1993).

A base da pesquisa qualitativa é a interpretação do processo e a atribuição de significados

aos fenômenos estudados. Assim, esta abordagem não exige “[...] o uso de métodos e técnicas

59

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

estatísticas. O ambiente natural é fonte direta para a coleta de dados e o pesquisador é o

instrumento chave [...] Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente”. (SILVA;

MENEZES, 2000, p. 20). Vale destacar, que o uso da pesquisa qualitativa não inviabiliza a coleta

de informações através de dados quantitativos, principalmente, onde tais elementos possibilitem a

demonstração de uma relação mais profunda entre os aspectos pesquisados.

Chizzotti (1998) ressalta que neste tipo de abordagem o pesquisador integra o processo de

conhecimento, interpreta fenômenos, e lhes concede significação. Já o objeto estudado, não é algo

neutro ou inerte, ele está cheio de significados e relações que são criadas pelas ações diárias dos

sujeitos concretos envolvidos na questão em análise.

Quanto ao método optou-se pelo método etnográfico. Ao adotar a etnografia como

método, espera-se tornar claro que a presente proposta de pesquisa tem como fundamento a noção

de que o conhecimento não é algo pronto, mas, sim, algo que está em constante (re)construção.

Cabe ao pesquisador, então, buscar por meio de suas observações fazer perguntas inovadoras e

úteis e, do mesmo modo, através de um determinado método buscar soluções, também inovadoras,

para as suas indagações.

A etnografia foi usada inicialmente por Malinowski, que pregava em 1920 ser a

observação participante o meio pelo qual o pesquisador poderia superar a perspectiva etnocêntrica

e conhecer em profundidade a realidade da comunidade estudada. Por isto ele é considerado o pai

deste método.

De acordo com Ludke e André (1986), a etnografia foi desenvolvida para estudar a cultura

das sociedades. Seu sentido etimológico é descrição cultural. Os autores afirmam ainda que os

antropólogos podem lhe conceder dois sentidos: o de técnicas usadas para recolher informações

sobre as normas, crenças, hábitos e práticas de um grupo ou do relatório que traz o resultado da

aplicação destas técnicas.

Conforme Mattos (2006) a pesquisa etnográfica depende muito das qualidades do

pesquisador-observador, da sua sensibilidade, de seu potencial empático, da sua capacidade de

questionar, do seu domínio teórico e metodológico, no momento em que ele vai descrever o que

enxerga como realidade na ótica do outro, utilizando-se de termos que os sujeitos investigados

usariam. Deste modo, o investigador torna-se sujeito ativo da investigação.

Outro dado interessante da pesquisa etnográfica é que os seus procedimentos de

investigação vão se delineando ao passo que a pesquisa vai avançando, e o pesquisador junto com

o grupo pesquisado vai refletindo sobre suas diversas possibilidades, utilizando-se do que

Hammersley e Atkinson (apud MATTOS, 2006), chamam de hipóteses progressivas, ou seja,

construídas ao longo do caminho.

A etnografia passou a ser empregada pelos antropólogos quando estes passaram primeiro

a coletar materiais e informações no campo de pesquisa para utilizá-los com objeto de uma

construção teórica posterior. A intenção maior era a de que a etnografia se tornasse uma

ferramenta que possibilitasse o aprendizado com as pessoas e não um instrumento para avaliar as

pessoas.

Cabe ressaltar que só será possível realizar um estudo etnográfico se o grupo a ser examinado

também tiver interesse nesta análise, pois os seus componentes irão precisar se desnudar um para

o outro em suas interelações e até ultrapassá-las, para que assim se torne possível descrever da

forma mais detalhada possível todas as possibilidades que ocorrem neste ambiente.

60

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

É por isto que Mattos (2006), considera a etnografia como um método adequado para

tentar compreender como se organizam e vivem grupos particulares de pessoas que se

interrelacionam por algum motivo específico, em um determinado ambiente.

Quanto aos procedimentos técnicos optou-se pelo estudo de caso etnográfico, em uma

reserva indígena no Estado da Bahia a ser definida ao longo do processo de investigação, sendo

escolhido por se considerar que: a) a investigação não pode aceitar a distância tradicional entre sujeito e objeto

de pesquisa; b) a comunidade tem um acúmulo de experiências vividas e de

conhecimentos; existe, portanto, um saber popular, que deve servir de base para

qualquer atividade de investigação em benefício dela. (HAGUETE, 1997, p.

150).

Haguete (1997) indica que os estudos etnográficos devem integrar aspectos vindos da

ecologia cultural e da teoria sistêmica. Por isto, ao realizar uma pesquisa etnográfica é necessário

prestar atenção ao global e ao sistêmico, ao singular e ao específico, ao processual e ao dinâmico,

ao incerto e ao instável, ao pessoal e ao subjetivo.

Quanto aos Instrumentos propõe-se a permanência no local de análise com adoção de

determinados instrumentos de coleta e análise de dados, tais como entrevista, video, fotografias,

pinturas, questionários, observação participante, análise de discurso, análise documental, cultural,

histórica, critica, entre outras, sempre visando uma melhor compreensão das ações vivenciadas

pelo grupo investigado. (MATTOS, 2006).

Resultados e Discussão

A pesquisa bibliográfica e documental realizada até então indicam que o território e

demais conceitos oriundos dessa categoria de análise geográfica (territorialidade,

desterritorialização, reterritorialização), não podem ser compreendidos apenas por sua

funcionalidade material, ou seja, como mero substrato físico, já que envolve a organização e

(re)produção socioespacial, na medida em que as “relações sociais projetadas nos espaços”

(SOUZA, 2006, p. 87) constituem-se em territórios, portanto, mais do que a sua compreensão

enquanto substrato material precisa ser compreendido por sua natureza simbólica, sua

apropriação, onde se manifestam as marcas do vivido, daquilo que foi e é (re)significado por um

ou mais grupos sociais.

A categoria território traz em sua acepção outra categoria, de uso corrente nas ciências

políticas e sociais. Trata-se da categoria poder, apropriada na análise territorial não apenas como o

tradicional poder político, o qual é abordado pela Geografia Política enquanto mecanismo

engendrado no interior do Estado-Nacional como garantia de manutenção de sua base física, de

suas fronteiras.

O poder, no sentido mais concreto está afeito a dominação, e nesse viés interpretativo pode-se

afirmar que o mesmo aproxima-se conceitualmente de território. O verbete latino territorium

indica uma porção de terra apropriada, trazendo em seu bojo, segundo Raffestin (1993) tanto a

ideia de dominação – poder do Estado; como a de interdição – controle territorial e demarcação

das fronteiras dos Estados Nacionais.

Em um sentido simbólico, que importa na presente reflexão, o entrelaçamento entre poder

e território está afeito a apropriação, ao valor de uso, enquanto que em um sentido mais concreto e

61

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

funcional, ao valor de troca, de dominação, conforme destaca Lefebvre (1986 apud

HAESBAERT, 2005, p. 75) O uso reaparece em acentuado conflito com a troca no espaço, pois ele implica

“apropriação” e não “propriedade”. Ora, a própria apropriação implica tempo e

tempos, um ritmo ou ritmos, símbolos e uma prática. Tanto mais o espaço é

funcionalizado, tanto mais ele é dominado pelos “agentes” que o manipulam

tornando-o unifuncional, menos ele se presta à apropriação. Por quê? Porque

ele se coloca fora do tempo vivido, aquele dos usuários, tempo diverso e

complexo.

Essa discussão tem especial relevância na medida em que questões territoriais a serem

pesquisadas junto a segmentos tradicionais da sociedade só poderão ser suficientemente

apreendidos através da noção de espaço-tempo vivido numa perspectiva múltipla, diversa e

complexa de território (HAESBAERT, 2005, 2006, 2011), o que se distingue de uma perspectiva

reducionista e unifuncional de análise territorial, afeita a uma perspectiva clássica da Geografia

Política, e que interessa sobretudo a lógica capitalista hegemônica e seus propósitos de reprodução

material.

Ao longo das décadas de 70, 80 e 90 consolidou-se o movimento indígena no Brasil,

também denominado por Baines (2008) de ativismo político indígena, com um marco na

Constituição de 1988, onde ocorreu o abandono de uma perspectiva assimilacionista e

integracionistas e reconhecimento dos “direitos originários” dos índios sobre suas terras, além do

reconhecimento dos mesmos com o direito de ingressar em juízo em defesa de seus direitos e

interesses, podendo dispensar a FUNAI em tais ações. (BAINES, 2008)

A Constituição Federal de 1988 apresentou avanços no reconhecimento das “minorias”

étnicas, entre elas os grupos indígenas, o que fortaleceu a organização de diversas etnias em prol

da posse definitiva das terras historicamente ocupadas, buscando garantir o preconizado pela

própria Constituição, a reprodução de suas práticas socioespaciais e “[...] necessárias a sua

reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.” (BRASIL, 1988, Art. 231,

§ 1.º).

Pode-se sintetizar o percurso geohistórico dos Povos Indígenas da Bahia através do

Esquema apresentado no Quadro 1. Após séculos de massacre a esse segmento da sociedade,

observa-se uma retomada identitária, também denominada por Arruti (2006, p. 51) de etnogênese,

a qual envolve a construção de uma “autoconsciência e identidade coletiva contra uma ação de

desrespeito com vistas ao reconhecimento e à conquista de objetivos coletivos”.

Tal retomada identitária não ocorre de modo homogêneo entre todos os Povos Indígenas,

ainda que pode-se observar percursos similares sendo tomados e aplicados a situações

particulares, que envolvem cada um dos grupos sociais envolvidos.

Tais percursos envolvem uma ressignificação de seu universo simbólico e cultural, como,

por exemplo, a prática ritualística do Toré, o qual representa uma das manifestações de um

conjunto de crenças e práticas religiosas denominadas complexo ritual da jurema. Nascimento

(1994, p.08) sinaliza a importância e funcionalidade de tal prática ritualística na “estruturação do

grupo étnico enquanto forma de organização política de seus agentes”.

Tal retomada identitária leva ao empoderamento dos povos indígenas, fortalecendo o

movimento indígena no país. O mesmo está relacionado com o desenvolvimento da consciência

social e capacidade de participação em espaços privilegiados de decisões em prol da conquista dos

62

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

direitos sociais, possibilitando a superação da “dependência social e dominação política”

(PEREIRA, 2006).

Quadro 1 – Síntese da Geohistória dos Povos Indígenas no Estado da Bahia

Fonte: Adaptado a partir da bibliografia pesquisada, 2013.

Conclusões

Analisar o território e as territorialidades engendradas por Povos Indígenas que

historicamente tiveram suas práticas espaciais anuladas e sua força produtiva explorada através de

processos escravistas, justificados em um modelo sociopolítico e econômico do território

brasileiro em formação, perpassa necessariamente pela compreensão de como a retomada de seu

universo simbólico e cultural favorece a compreensão de sua etnicidade e consequente processo

de empoderamento, condição indispensável para a construção de sua territorialidade.

O estudo das relações existentes entre a territorialidade e a retomada identitátia e

empoderamento indígena é envolvente e merece um olhar mais aprofundando, o qual pretende-se

desenvolver ao longo da pesquisa. Estudos posteriores sobre a percepção do espaço por esses

povos são fundamentais para compreensão de sua territorialidade. Faz-se necessário também um

estudo relacional entre as territorialidades indígenas e o efetivo desenvolvimento sustentável

Contatos de caráter belicoso com a sociedade colonial portuguesa

Tentativas de aldeamento em Missões Jesuíticas

Extinção das Missões

Expulsão e dispersão dos Povos indígenas aldeados

Invasão/grilagem dos territórios de ocupação tradicional indígena e das áreas de aldeamento

Desterritorialização dos Povos indígenas

Assimilação, aculturação, negação de identidades indígenas

Retomada identitária (etnogênese)

Empoderamento

Construção da territorialidade

Negociações e conflitos prolongados, mais ou menos violentas, em torno do reconhecimento oficial de sua condição diferenciada e dos direitos à

posse das terras que reivindicam

63

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

local, a fim de perceber os rebatimentos das territorialidades construídas com a melhoria efetiva

da qualidade de vida dos grupos sociais envolvidos.

A reafirmação identitária e o consequente empoderamento pelo grupo social constituem-

se em elementos fundamentais para entendimento das diversas territorialidades engendradas pelos

Povos Indígenas na Bahia, dado que o território, substrato material e simbólico-representacional, é

um elemento chave para compreensão de toda mobilização política e cultural dos grupos sociais.

Referências

ARRUTI J. M. Etnogêneses indígenas. In: Ricardo, B; Ricardo, F. (Orgs.). Povos Indígenas no

Brasil: 2001-2005. São Paulo: Instituto socioambiental, 2006. p. 50-54.

BAINES, S. G. Identidades Indígenas e ativismo político no Brasil: depois da constituição de

1988. Série Antroplogia, Vol. 418. Brasília: Universidade de Brasília, 2008.

BANDEIRA, M. L. Os Kariri de Mirandela: um grupo indígena integrado. Dissertação de

Mestrado. Salvador: UFBA, 1972, 172 p.

BAQUERO, R. V. A. Empoderamento: instrumento de emancipação social? Uma discussão

conceitual. Revista Debates, Porto Alegre, v. 6, n. 1, p.173-187, jan.-abr. 2012.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

<www.planalto.

gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 22 jul. 2012.

BRASILEIRO, S. O “caso Kiriri”. In: SANTO, M. A. do E. (Org.). Política indigenista: leste e

nordeste brasileiro. Brasília: FUNAI, 2000. p. 79 – 86.

______. A organização política e o processo faccional no povo indígena Kiriri. Dissertação de

Mestrado. Salvador: UFBA, 1996, 250 p.

COSTA, G. C; SOUZA, R. C. A. Territorialidade dos Índios Kiriris no Estado da Bahia. In:

SOUZA, Regina Celeste de A. (Org.). Rio São Francisco – ocupação territorial e problemas

socioambientais: desafios e possibilidades. Salvador: UNIFACS, 2012. No prelo.

HAESBAERT, R. Dos múltiplos territórios à multiterritorialidade. Conferência – setembro de

2004. Disponível em: <www.uff.br/observatoriojovem/sites/default/files/documentos/

CONFERENCE_Rogerio_HAESBAERT.pdf>>. Acesso em 01 set. 2012.

________. Da desterritorialização à multiterritorialidade. In: X Encontro de Geógrafos da

América Latina, 20 a 26 de março de 2005, Universidade de São Paulo, Anais... São Paulo, p.

6774 – 6792.

64

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

______. Desterritorialização: entre as redes e os aglomerados de exclusão. In: CASTRO, I. E.

de; GOMES, P. C. da C.; CORRÊA, R. L. (Orgs.). Geografia: conceitos e temas. 8. ed. Rio de

Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. p. 165 – 206.

______. O mito da desterritorialização: do fim dos territórios à multiterritorialidade. 6. ed. Rio

de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

HOROCHOVSKI, R. R; MEIRELLES, G. Problematizando o conceito de empoderamento. Anais

do II Seminário Nacional Movimentos Sociais, Participação e Democracia. Florianópolis: UFSC,

2007, p. 485 – 506.

NASCIMENTO, M. T. S. O tronco da Jurema: ritual e etnicidade entre os povos indígenas do

nordeste: o caso Kiriri. Dissertação de Mestrado. Salvador: UFBA, 1994, 324 p.

______. O povo indígena Kiriri. In: SILVA, A. L. da; GRUPIONI, L. D. B. (Orgs.). A temática

indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília: MEC, MARI,

UNESCO, 1995. p. 67 – 72.

PEREIRA, F. C. O que é empoderamento (Empowerment). Disponível em:

<www.fapepi.pi.gov.br/

novafapepi/sapiencia8/artigos1.php>. Acesso em 13 ago. 2012.

RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do Poder. São Paulo: Ática, 1993.

SILVA, M. E. F. Território, poder e as múltiplas territorialidades nas terras indígenas e de

pretos. Disponível em: <http://www.alasru.org/wp-content/uploads/2011/09/GT18-Maria-

Ester.pdf>. Acesso em 10 ago. 2012.

SOUZA, M. J. L. O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In:

CASTRO, I. E. de; GOMES, P. C. da C.; CORRÊA, R. L. (Orgs.). Geografia: conceitos e temas.

8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. p. 77 – 116.

REFLEXÕES SOBRE A POLÍTICA DE RECURSOS HÍDRICOS NO

ESTADO DA BAHIA: PROPOSIÇÃO DE UMA AGENDA DE

PESQUISA

65

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Carolina Spínola1, Élvia Fadul

2, Fabrício Vitória

2, Lucas Cerqueira

1

1 Universidade Salvador – UNIFACS. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento

Regional e Urbano. Email: [email protected] e [email protected] 2 Universidade Salvador – UNIFACS. Programa de Pós-Graduação em Administração. Email:

[email protected] e [email protected]

Resumo

O Brasil, a partir da Lei nº 9.433 de 8 de janeiro de 1997, instituiu a Política Nacional de Recursos

Hídricos, que foi desdobrada em legislações estaduais específicas. Nesse contexto, este trabalho

tem por objetivo apresentar uma reflexão sobre a política estadual de recursos hídricos no Estado

da Bahia, analisando os resultados da legislação atual na promoção da descentralização da gestão,

com a criação dos comitês de bacias hidrográficas, e a institucionalização de cobrança pelo uso da

água, como determina a Lei. Além disso, este trabalho pretende ainda propor uma agenda de

pesquisa para melhor compreensão do campo e contribuir para avanços no setor, no que tange aos

aspectos sociais, políticos, territoriais e econômicos envolvidos. Este estudo foi elaborado

mediante análise bibliográfica e documental, e com base em dados secundários obtidos no

relatório sobre a conjuntura dos recursos hídricos da ANA e no site do INEMA. É possível

perceber um campo de pesquisa a ser explorado, principalmente no entendimento dos fatores que

mostrem porque o Estado não criou comitês de bacias para todas as regiões administrativas de

água, e os comitês existentes não institucionalizaram a cobrança pelo uso da água.

Palavras-chaves: Água; Recursos Hídricos; Política Estadual; Agenda de pesquisa.

Introdução

A água é um bem esgotável e fundamental para toda a sobrevivência na terra.

Considerando que é um bem finito, possivelmente não findará pela abundância que possui, mas

pela má conservação de suas fontes, tornando-as impróprias para o uso. Sendo, portanto,

necessária uma atenção prioritária para seu consumo e preservação. É nesse sentido que se reforça

a ideia da necessidade de elaboração de políticas públicas capazes de garantir a disponibilidade de

água, em condição de uso, para a população.

O debate quanto à necessidade de se ter políticas públicas para a preservação dos recursos

hídricos não é recente e não se esgotará ao longo dos próximos anos, mesmo com a

implementação de mecanismos que garantam a efetiva democratização do acesso a esses recursos

e garantam o abastecimento para as gerações futuras. Na realidade, esse é um exercício que se

tornará constante para o poder público e para sociedade civil organizada, visto que as demandas

vão surgindo durante o processo de desenvolvimento e expansão local, com a possibilidade da

escassez do recurso. Esse debate também é estimulado pelo contexto ambiental atual.

Os autores agradecem ao apoio do CNPq e da CAPES.

66

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

A Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH foi estabelecida pela Lei nº 9.433, de 8

de janeiro de 1997, denominada de Lei das Águas. Esta lei inovou ao incorporar em seus

fundamentos os entendimentos de que a água é um recurso público limitado, portanto, possui

valor econômico. A lei brasileira abarca teoricamente os anseios internacionais pela

regulamentação da água, ao atribuir a participação do usuário no processo de gestão, a

democratização do uso, procurando não priorizar um setor, visto que deve existir um uso múltiplo,

possibilitando igual acesso a todos os usuários das águas, desde que se priorizando o consumo

humano e a dessedentação de animais (PNRH, 1997) diferentemente do Código das Águas antigo,

que priorizava o setor energético em detrimento aos demais (SANTOS, 2002).

Ainda no que tange à PNRH, vale reforçar que a Lei instituiu a Bacia Hidrográfica como

instrumento de planejamento mais específico para a eficiência da gestão dos recursos hídricos no

País. Essa Lei também instituiu o aparato institucional que compõe o Sistema Nacional de

Gerenciamento dos Recursos Hídricos: o Conselho Nacional de Recursos Hídricos; a Agência

Nacional de Águas; os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal; os Comitês de Bacia Hidrográfica; os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito

Federal e municipais, cujas competências se relacionam com a gestão de recursos hídricos

(PNRH, 1997).

Reforçando-se esse Sistema, a própria entidade criada para a regulação dos serviços

públicos ligados aos recursos hídricos, a ANA – Agência Nacional das Águas, na lei discorre

quanto a sua atribuição principal “estimular e apoiar as iniciativas voltadas para a criação de

órgãos gestores de recursos hídricos, de Comitês de Bacias Hidrográficas e de Agências de

Água” (ANA, 2011). Conforme corrobora: A gestão e regulação dos recursos hídricos têm características singulares dentre

os serviços públicos, com alta possibilidade de conflitos no que se refere ao uso

e consumo da água. A constituição dos Comitês de Bacias como organismos de

planejamento, gestão e regulação envolve um sistema complexo no qual

participa uma multiplicidade de atores públicos, privados, não governamentais,

usuários, além de outros grupos da sociedade civil. A cultura brasileira não está

familiarizada com a existência da bacia hidrográfica como unidade de gestão,

nem com processos descentralizados e participativos, elementos essenciais para

assegurar a eficácia da implantação da política de recursos hídricos. (FADUL,

SILVA e CERQUEIRA, 2011).

Na Bahia, os comitês de Bacias Hidrográficas foram criados a partir da Lei nº 10.432/06,

em aderência à política estadual de recursos hídricos, criando o Sistema Estadual de Recursos

Hídricos (BAHIA, 2011). Contudo, a criação desses comitês não apresenta resultados

representativos quanto ao que estabelece as diretrizes para a democratização do consumo e

cobrança pelo uso da água, como forma de garantir recursos para promover investimentos para

evitar a escassez do recurso. Percebe-se que o estado possui 25 regiões administrativas de água e

14 comitês instituídos, sendo que o último foi criado no ano de 2009.

Com base nesse entendimento, este artigo tem por objetivo analisar os reflexos da Política

de Recursos Hídricos na Bahia e propor uma agenda de pesquisa para compreensão da gestão dos

recursos hídricos no estado da Bahia. Além disso, o estudo apresenta outros objetivos como: a)

compreender o marco delimitatório da Política Estadual de Recursos Hídricos e suas implicações

e determinações, conforme disposto na introdução deste artigo, e b) apresentar um panorama da

67

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

situação atual da política estadual de Recursos Hídricos, quanto à criação de comitês de bacias e

institucionalização da cobrança pelo uso da água.

Reforça-se como justificativa pela escolha dos indicadores: a criação de comitês e a

cobrança pelo uso da água como forma de apresentar o panorama no setor no Estado da Bahia,

pela relevância que essas disposições estão contidas na Lei das Águas e nas legislações estaduais.

Metodologia

Este trabalho consiste em uma pesquisa exploratória, tendo em vista a sua natureza em

esclarecer e modificar conceitos e ideias (GIL, 2008) sobre os reflexos da política de recursos

hídricos no estado da Bahia. Ainda sobre esse tipo de pesquisa, o autor complementa que torna-se

importante por proporcionar uma visão geral do fato e também por ser tratar de um assunto pouco

explorado.

Nesse sentido, cabe esclarecer que, no âmbito estadual, o tema ainda é pouco estudado,

notadamente no que tange aos mecanismos de criação dos comitês e à cobrança pelo uso da água,

principais instrumentos instituídos para a promoção da descentralização e gestão dos recursos

hídricos, conforme disposto na Lei das Águas. Ainda nesse aspecto, em uma busca nos periódicos

científicos e principais congressos nas áreas de Administração, Meio Ambiente, Recursos

Hídricos, Ciências Sociais e outras áreas afins, encontrou-se apenas um único artigo que aborda

especificamente a gestão de comitês de bacias hidrográficas, o que reforça a necessidade deste

estudo.

Esse recorte também encontra subsídio no entendimento que Gil (2008) ainda faz sobre

pesquisa exploratória, ressaltando que o assunto necessita de uma revisão de literatura, discussão

de conceitos e procedimentos. Na classificação desta pesquisa, encontra-se também embasamento

em Gil (2008, p.28) a ideia de ser esta uma pesquisa explicativa, “que têm como preocupação

central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos

fenômenos”.

Também auxiliaram no reforço para a exploração do fenômeno o relatório produzido pela

ANA, sobre a Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil e as informações dispostas no site do

INEMA- Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia.

Resultados e Discussão

A Bahia possui 25 regiões administrativas de água. Das Regiões de Planejamento e

Gestão das Águas, nas quais está dividido o território baiano, quatorze na Região Hidrográfica

Nacional do Atlântico Leste (I – Riacho Doce; II – Rio Mucurí; III – Rios Peruípe, Itanhém e

Jucuruçu; IV – Rios dos Frades, Buranhém e Santo Antônio; V – Rio Jequitinhonha; VI – Pardo;

VII – Leste; VIII – Rio das Contas; IX – Recôncavo Sul; X – Paraguaçu; XI – Recôncavo Norte e

Inhambupe; XII – Itapicuru; XIII – Rio Real; XIV – Rio Vaza-Barris), e onze estão incluídas na

Região Hidrográfica Nacional do Rio São Francisco (XV – Riacho do Tará; XVI – Rios Macururé

e Curaçá; XVII – Rio Salitre; XVIII – Rios Verde e Jacaré; XIX – Lago do Sobradinho; XX –

Rios Paramirim e Santo Onofre; XXI – Rio Grande; XXII – Rio Carnaíba de Dentro; XXIII – Rio

Corrente e Riachos do Ramalho, Serra Dourada e Brejo Velho; XXIV – Rio Carinhanha; XXV –

Rio Verde Grande) (INEMA, 2013).

68

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Importante salientar que o as RPGAs do Riacho Doce (I) e do Rio Mucurí (II), localizadas

do extremo sul do estado, têm sua administração compartilhada com os estados do Espírito Santo

e de Minas Gerais, respectivamente. Ainda na Região Atlântico Leste, as RPGAs do Rio Real

(XIII) e do Rio Vaza-Barris (XIV) são compartilhadas com o estado de Sergipe. Já na Região do

Rio São Francisco a RPGA do Rio Tará (XV), no nordeste do estado, é compartilhada também

com o estado de Sergipe e as Regiões de Planejamento e Gestão das Águas do Rio Carinhanha

(XXIV) e do Rio Verde Grande (XXV), no sudoeste, são compartilhadas com o estado de Minas

Gerais.

Conforme mostra aponta a Figura 01, apenas quatorze dos vinte e cinco RPGAs têm seus

Comitês de Bacia instalados. Segundo o INEMA (2013), todas as regiões têm planos para

instalação do Comitê, mas a falta de mobilização local representa um grande entrave para a

efetivação desse processo. Atualmente, o estado da Bahia possui 14 comitês de bacias

hidrográficas, a saber: CBH Contas, CBH Corrente, CBH Frades, Buranhém e Santo Antônio,

CBH Grande, CBH Itapicuru, CBH Leste, CBH Paraguaçu, CBH Paramirim e Santo Onofre,

CBH Peuípe, Itanhém e Jucuruçu, Recôncavo Norte e Inhambupe, CBH Recôncavo Sul, CBH

Salitre, CBH Sobradinho e CBH Verde-Jacaré (INEMA, 2013).

Figura n.01 – Comitês de Bacias Instalados x RPGA

Fonte: Adaptado de INEMA (2013).

Nos comitês criados no Estado da Bahia, nenhum ainda instituiu a cobrança pelo uso da

água, um dos principais mecanismos definidos pela política nacional e estadual, o que pode

representar indicador não favorável à política para o setor.

Como se trata de uma pesquisa que pretende discutir a Gestão dos recursos hídricos, e não

uma abordagem ambiental, mesmo que a preservação dos recursos seja um dos objetivos desse

69

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

marco legal, estabeleceu-se em consonância com a abordagem de gerenciamento os pontos da

agenda da pesquisa como sendo: Política, Gestão, Controle e Participação Social e Geografia e

Desenvolvimento.

O campo Política seria as pesquisas que abarquem as discussões a cerca do marco legal

atual de gestão dos recursos hídricos e seus desdobramentos, bem como o histórico jurídico e

legal que permeia o setor desde a sua regulação pelo estado. Em alguns momentos do texto e da

agenda de pesquisa refere-se a essa política como um modelo de gestão de recursos hídricos por

conta da sua origem: Modelo Francês. Já no campo Gestão, as discussões permeiam a abordagem

sobre os comitês de bacias, pois se trata da unidade de planejamento definida pela Lei das Águas.

No campo Controle e Participação Social aborda-se as pesquisas que se debruçam sobre

os agentes da sociedade civil que compõem obrigatoriamente o colegiado dos comitês de bacias, e

que se faz necessário compreender como funciona essa relação entre estado e sociedade e se está

sendo garantida descentralizada proposta na política. O campo Geografia e Território foi incluído

nessa perspectiva de agenda por conta da necessidade de indicar futuros estudos que

compreendam como essas questões territoriais são respeitadas na determinação da criação das

regiões administrativas de água e constituição dos comitês.

Quadro 01 - Proposição de agenda de pesquisa no campo de Recursos Hídricos no Estado da

Bahia

POLÍTICA

Analisar as motivações para implementação do modelo de gestão

de recursos hídricos por modelo de bacias hidrográficas na Brasil-

Bahia;

• Entender se o modelo é a adequado à realidade territorial, cultural

e social do Estado;

• Analisar a efetividade do modelo de gestão dos recursos hídricos

no Estado da Bahia;

• Compreender os fatores motivadores (a lei e outros) e impeditivos

para criação de comitês de bacias no estado (há 11 regiões

administrativas que não criaram comitês);

• Analisar o histórico da gestão de recursos hídricos no estado antes

da promulgação da Lei das Águas e após a política estadual de

recursos hídricos;

• Compreender o que aconteceu no intervalo temporal entre a

promulgação da lei nacional e a lei estadual, em um efeito

comparativo;

• Analisar historicamente, antes da instituição da Lei das Águas e

suas derivações, o marco legal de recursos hídricos no Brasil e

Bahia;

• Compreender outros modelos de gestão dos recursos hídricos

existentes e analisar que modelo se aproxima da realidade local;

• Compreender a dinâmica dos Comitês criados e os fatores que

impedem a institucionalização pela cobrança do uso da água;

• Analisar como os comitês pretendem instituir o plano de bacias e

70

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

GESTÃO

cobrança pelo uso da água como se dará o processo de gestão

desses recursos.

• Como serão instituídas as Agências de Bacias;

• Compreender porque os comitês ainda não conseguiram instituir a

cobrança pelo uso da água;

• Analisar como se dá a relação entre os comitês, o Estado e a

agência reguladora ANA;

• Discutir como os setores da sociedade civil representados nesses

comitês têm garantido a alternância de poder (na gestão);

• Entender quais os instrumentos de gestão e desempenho são

instituídos pelos comitês para acompanhar o resultados da gestão

dos comitês;

CONTROLE E

PARTICIPAÇÃO

SOCIAL

• Discutir a participação social nesses comitês: quem são essas

pessoas? Qual o tipo de participação? O que seria essa

participação? Como participam?

• Discutir a relação do estado com os demais agentes (usuários) na

promoção da descentralização na gestão dos recursos hídricos;

• Compreender de que forma a participação dos agentes da

sociedade civil e demais entidades representam os anseios locais

(onde a bacia está inserida);

GEOGRAFIA E

TERRITÓRIO

• Compreender como são definidos os limites geográficos e a

composição territorial das Bacias Hidrográficas e Regiões

Administrativas de água no Estado.

• Entender se há um mapeamento hídrico no estado e se este está

compatível como as regiões administrativas de água definidas.

Fonte: Elaboração Própria (2013).

Conclusão

Este trabalho teve como objetivo ressaltar a importância de se compreender a situação

atual da política de recursos hídricos no estado da Bahia e propor uma agenda positiva de pesquisa

científica para melhor conhecer o setor.

Experiências demonstram que existem localidades nas quais o modelo de gestão por

comitês de bacias foi institucionalizado, permitindo a cobrança pelo uso da água, tais como o caso

da Bacia do São Francisco, e em comitês de bacia no Estado de São Paulo, nos quais o modelo já

está mais amadurecido. No entanto, no Estado da Bahia, mesmo após quase uma década de

instituição da política estadual, ainda não foi possível observar a instituição da cobrança pelo uso

da água nos comitês criados. Além disso, ainda há regiões administrativas de água que não

tiveram comitês sequer instituídos. Nesse aspecto, percebe-se quanto é necessário avançar, nesse

setor, neste estado.

Este artigo pretendeu apresentar essa reflexão, na busca por esforços que possam explorar

e ampliar o conhecimento do setor no estado, compreendendo fatores internos e externos ao

modelo de gestão de recursos hídricos adotados no Brasil e na Bahia que contribuem para esse

resultado aqui apresentado. Por mais que se proponha uma agenda de pesquisa, não se pretende

71

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

esgotá-la no âmbito deste trabalho, que deve servir como um parâmetro para reflexão e para o

surgimento de pesquisas mais aprofundadas que permitam superá-lo.

Referências

BRASIL. Lei 9.433, de 8 de janeiro de 1997 - Lei das Águas. Institui a Política Nacional de

Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta

o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o artigo 1º da lei nº 8.001, de 13 de março

de 1990, que modificou a Lei nº 7990, de 28 de dezembro de 1989. Brasília, 1997. Disponível em:

<www.planalto.

gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm>. Acesso em: 17 de maio de 2012.

BRASIL. Lei 9.984, de 17 de julho de 2000. Institui a Agência Nacional de Águas – ANA,

entidade federal de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e de coordenação

do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, e dá outras providências. Brasília,

2000. Disponível em: <www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/L9984.htm>. Acesso em: 17 de maio

de 2012.

BAHIA. Lei nº 10.432, de 20 de dezembro de 2006. Disponível em: <www.semarh.ba.gov.br/

Legislacao/Leis%20Estaduais/Lei10432.pdf.> Acesso em: 29 de setembro 2013.

FADUL, E. M. C. ; SILVA, L. P. ; CERQUEIRA, L. S. . Reflexões sobre o modelo de

gerenciamento de recursos hídricos de por comitês de bacias hidrográficas. In: XXXV

Encontro da ANPAD, 2011, Rio de Janeiro: Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa

em Administração, 2011.

INEMA. Disponível em: http://www.inema.ba.gov.br/. Acesso em: 14 outubro 2013

PNRH. Lei nº 9.433. Política Nacional de Recursos Hídricos. Brasília: Secretaria dos Recursos

Hídricos, Ministério do Meio Ambiente, dos recursos Hídricos e da Amazônia Legal, 1997.

SANTOS, M. E. P. As Águas como Direito e como Commodity - Uma Contradição em Termos?

Revista de Desenvolvimento Econômico - RDE. Salvador, Bahia, v. IV, n. 6, p. 60-70, 2002.

72

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

O “TERRITÓRIO” A PARTIR DO RIO: UM OLHAR SOBRE O

RIO DAS FÊMEAS NO TERRITÓRIO BACIA DO RIO GRANDE

Analice Passos Costa Gramacho; Regina Celeste de Almeida Souza1.

1 UNIFACS, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano-PPDRU, Grupo de

Pesquisa em Turismo e Meio Ambiente – GPTURIS. [email protected] e

[email protected]

Resumo

A alteração toponímica do Território de Identidade Oeste Baiano para Território Bacia do

Rio Grande, pelo governo do Estado da Bahia despertou uma reflexão em torno dos conceitos de

espaço, lugar e território, tomando como ponto de partida o Rio das Fêmeas, uns dos contribuintes

da Bacia do Rio Grande, localizado no município de São Desidério-BA. Este trabalho está

inserido num projeto maior “Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento”,

executado através do Convênio UNIFACS/Albrigth College (EUA) e Companheiros das

Américas, Comitê Bahia-Pennsylvania. Pretende-se identificar a relação entre o rio e o território, a

partir dos usuários do Rio das Fêmeas, além de pensar sobre a mudança de nomenclatura do

território como efeito de um novo paradigma do planejamento das estratégias de desenvolvimento

do Estado; além da possibilidade do Rio das Fêmeas ser um elemento contundente na construção

da identidade desse território. Para responder a tais questionamentos, utilizou-se de revisão de

literatura e legislação e pesquisa em campo, nos meses de maio e junho de 2013, em São

Desidério-BA; onde foram realizadas entrevistas com agentes sociais e visitas a localidades;

registradas por fotografias, gravações e anotações, seguidas do tratamento das informações,

redação e revisão textual. Constatou-se que a mudança do nome do território possibilita

compreendê-lo a partir de elementos relevantes em seu contexto, e revela uma nova direção nos

modelos de planejamento e consolidação da gestão integrada. Dentre os elementos constituintes

do território, o rio é privilegiado, como marca do lugar na construção da identidade.

Palavras-chave: Território; Planejamento; Bacia do Rio Grande; Rio das Fêmeas.

Introdução O texto O “território” a partir do rio: um olhar sobre o rio das fêmeas (no) território

bacia do rio grande, é parte de uma pesquisa de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em

Desenvolvimento Regional e Urbano, na UNIFACS e está inserido em um Projeto maior,

chamado Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento, desenvolvido pelo Grupo de

pesquisa em Turismo e Meio Ambiente – GPTURIS, da mesma Instituição. O trabalho que se

segue trata da discussão dos conceitos de lugar, espaço e território, sob a perspectiva da influência

e relevância de um corpo hídrico para o planejamento e definição de políticas públicas estaduais.

Essa discussão partiu do momento em que o Governo baiano, através de sua Secretaria de

Planejamento-SEPLAN, alterou o nome do Território de Identidade Oeste Baiano para Território

de Identidade Bacia do Rio Grande, uma vez que na Bahia a gestão é realizada a partir da divisão

73

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

territorial em mesorregiões para fins de planejamento e definição de estratégias

desenvolvimentistas. Assim posto, inicialmente é citado Edgard Porto (2003), que relata como o

nome Território de Identidade Oeste Baiano teve a sua identidade historicamente ligada aos

programas de desenvolvimento nacionais que focavam o planejamento no espaço geográfico da

famosa fronteira agrícola ligada a produção de grãos. O autor também fala da regionalização

administrativa baseada no critério espacial e econômico, o que Noélio Dantaslé Spínola corrobora,

quando compreende os polos na Bahia como pontos isolados e não como arranjos estruturados

que integram industrialização e ciência. Em seguida se inicia a discussão sobre os conceitos de

espaço e lugar, e por isso se faz necessário uma revisão ainda que breve, das implicações das

diferentes formas de apropriação desses conceitos no planejamento das ações do Estado sobre seu

território, especialmente na priorização e organização dos elementos que o compõem com

destaque para os recursos hídricos e dentro desses o Rio das Fêmeas na cidade de São Desidério.

Assim, são citados Milton Santos, Claude Raffestin, Joel Bonnemaison, Werther Holzer, Yi-Fu

Tuan, Luiz Felipe Ferreira, em um debate sobre espaço e lugar. No que se refere às características

hídricas do Rio das Fêmeas, são mencionados os pesquisadores Kátia Nascimento, Vicente

Amorim Junior e Olivar A. L. de Lima.

Nesse trabalho pretende-se identificar a relação entre rio e território, a partir dos usuários

do Rio das Fêmeas na cidade de São Desidério-BA, componente do Território de Identidade Bacia

do Rio Grande; e não obstante refletir sobre os seguintes questionamentos: A mudança de

nomenclatura do território acarreta implicações práticas no planejamento das estratégias de

desenvolvimento do Estado e, especificamente para este território? O Rio das Fêmeas pode ser um

elemento chave como vetor da construção da identidade do território em questão?

Por outro lado, causa estranheza o órgão de planejamento do Estado não acatar o conceito

de bacia hidrográfica como unidade de planejamento, conforme rege a Lei Nº 9433/1997, que

trata da Política Nacional de Recursos Hídricos.

Metodologia Para Gil (2008, apud SANTOS, 2008, p.1) “qualquer classificação de pesquisa deve

seguir algum critério”, ele então classifica a pesquisa em três grupos: Exploratórias, Descritivas e

Explicativas. Esse trabalho se configura em uma pesquisa descritiva, que segundo GIL (2008,

apud SANTOS,2008, p.2), “as pesquisas descritivas possuem como objetivo a descrição das

características de uma população, fenômeno ou de uma experiência”. Quanto à coleta de dados,

fase importante para validar o objetivo da pesquisa, Gil (2008) observa que existem dois grandes

grupos de delineamentos: o grupo que se vale de informações impressas (provenientes de livros,

revistas, documentos impressos ou eletrônicos), e o grupo que utiliza informações obtidas por

meio de pessoas ou experimentos. No primeiro grupo destaca-se a pesquisa bibliográfica e

documental e no segundo grupo, temos a pesquisa experimental, a pesquisa ex-post facto, o

levantamento, o estudo de caso, a pesquisa-ação e a pesquisa participante. Entendendo ser este um

estudo de caso, neste trabalho a investigação se dá a partir das técnicas de observação indireta,

como pesquisa bibliográfica e documental e observação direta, através de roteiro de entrevista

(para alcançar histórias de vida), que têm como característica principal a interrogação direta de

pessoas sobre um determinado assunto. Assim, a coleta de dados consistiu na revisão de

literatura, levantamento da legislação relacionada e de registros da imprensa local. A pesquisa em

74

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

campo, aconteceu nos meses de maio e junho de 2013, em Barreiras-BA e em São Desidério-BA;

fez-se entrevistas com agentes sociais envolvidos e realizou-se visitas a diversos órgãos e em

localidades nas zonas urbana e rural dos municípios, relacionadas ao estudo. As entrevistas e

visitas foram registradas por fotografias, gravações e anotações. Houve o tratamento e

sistematização das informações (gráficos, mapas e tabelas), além de redação, digitação e revisão

textual, para apresentação em forma escrita e exposição oral.

Resultados e discussão Os elementos mais significativos de um lugar, como um rio, por exemplo, podem se

revelar mais importantes e mais estratégicos em termos de desenvolvimento, do que demais

atributos que existam no espaço geográfico, mas não pertencem ao mesmo lugar. Ferreira (2000),

afirma que o lugar tem se apresentado como um conceito capaz de ampliar as possibilidades de

entendimento de um mundo que se fragmenta e se unifica em velocidades cada vez maiores. O

lugar como coleção de vivências e de memórias amplia o entendimento do espaço revelando mais

profundamente suas características e suas potencialidades, produzindo um conhecimento mais

produtivo e revelador, capaz de orientar de forma mais eficaz o planejamento territorial. O caráter

dinâmico do lugar pode emprestar ao território o diferencial necessário para que o planejamento

realmente contemple seus objetivos. Entender o território do ponto de vista do lugar é um avanço

que os planos de desenvolvimento careciam, mas para que isso aconteça o olhar deve ser

direcionado para os elementos significativos do lugar, e não do espaço. Para alcançar um

desenvolvimento que seja realmente territorial no sentido de utilizar a sua identidade como maior

potencialidade deve-se entender o território a partir dos elementos que mais representem essa

união, essa relação entre todos os potenciais locais, isso porque, esse olhar não enxerga um

potencial apenas, e sim múltiplas dimensões. É nesse contexto que o Rio das Fêmeas se coloca

como elemento do Território Bacia do Rio Grande, que reúne e integra os elementos constituintes

e representa a sua identidade, o que pôde ser compreendido através das falas dos entrevistados,

permeadas de memórias e de preocupação com o lugar.

Conclusão Os rios são privilegiados na construção da identidade do território. Rio é uma marca do

lugar, é fronteira, é memória. A mudança toponímica do Território de Identidade não acarreta

nenhuma implicação prática na política estadual, é, contudo um efeito que revela uma mudança de

paradigma, uma compreensão do território baseada em elementos relevantes no contexto do lugar,

no caso, os recursos hídricos. Ela indica uma nova diretriz de planejamento, além da consolidação

do modelo integrado e participativo de gestão, superando os modelos polarizadores que regeram o

Estado desde seus primeiros ciclos desenvolvimentistas. Infere-se, nas entrevistas, que muitas

vezes o desenvolvimento do território contravém ao desenvolvimento local, e que é necessária e

urgente a construção e utilização de padrões que possibilitem mensurar o crescimento sem preterir

elementos como a preservação; que identifiquem quando o crescimento prejudica o território; que

utilizem o espaço sem extinguir o lugar. Na Bacia do Rio Grande, não no Oeste, o Rio das

Fêmeas pode ser um elemento chave como vetor da construção da identidade do território, pois é

repleto de memórias e de usuários dos diversos segmentos. A tarefa é aproveitá-lo

75

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

sustentavelmente, encontrar um caminho em meio a muitos descaminhos para o planejamento

territorial baiano.

Referências

ARAÚJO, L. E.de; SOUZA, F. de A. S.; NETO, J.M. de M.; SOUTO, J. S.,REINALDO, L. R. L.

R.Bacias hidrográficas e impactos ambientais.Revista Eletrônica Qualitas.João Pessoa, v.08,

n.01, p.1-18, 2009 Disponivel em: <

http://revista.uepb.edu.br/index.php/qualitas/article/view/399/366>. Acesso em: 26 out.2013

BAHIA. Secretaria de Planejamento. Resolução Cedeter nº 05 de 19 de maio de 2011. Aprova o

PARECER N° 01 de 01 de abril de 2011, que dispõe sobre os pleitos de reconfiguração territorial

para o Plano Plurianual 2012-2015.Diário Oficial do Estado. Salvador, Ano 95, nº 20.566, 25 de

maio de 2011. Disponível em: http://www.seplan.ba.gov.br/wp-

content/uploads/2012/12/resolucao_-05_parecer_01.pdf. Acesso em: 25out. 2013.

BARROS, R. G. de. Ministério Público: sua legitimação frente ao Código do Consumidor.

Revista Trimestral de Jurisprudência dos Estados, São Paulo, v. 19, n. 139, p.53-72, ago,

1995.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Documentos Institucionais 02 – Marco

referencial para apoio ao desenvolvimento de territórios rurais. Brasília: 2005.

FERREIRA, L. F. Acepções recentes do conceito de lugar e sua importância para o mundo

contemporâneo.Revista Território, Rio de Janeiro, ano 5, n. 9, p. 65-83, jul./dez., 2000

FILHO, F.A.de S.São Desidério de A a Z.Sua história, minhas lembranças. Goiânia: Kelps,

2011618p.

HOLZER, W. Uma discussão fenomenológica sobre os conceitos de paisagem e lugar, território e

meio ambiente. Revista Território. Rio de Janeiro, vol. 2, nº 3, p.77-85, jul./dez. 1997.

JUNIOR, V. A.; LIMA, O.A.L. Avaliação hidrogeológica do Aquífero Urucuia na bacia do Rio

das Fêmeas – BA usando resistividade e polarização elétrica induzida. Revista Brasileira de

Geofísica,Rio de Janeiro.vol. 25(2) p,117-129, 2007.

NASCIMENTO, R. R. F. (Coordenação) Avaliação dos padrões hidrodinâmicos do Aquífero

Urucuia – BA. Relatório Final (Subprojeto 3.2 – Uso Conjunto das Águas Subterrâneas da

Sub-Bacia do Rio das Fêmeas – BA). 2002. Versão Eletrônica.

PORTO, E. Desenvolvimento regional na Bahia. In: AVENA,A.(Org.).Bahia Século

XXI.Salvador: SEPLANTEC, 2002,p.97-128.

76

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

RAFFESTIN, C. A produção das estruturas territoriais e sua representação In: SAQUET, M. A.;

SPOSITO, E.S. (Orgs.).Territórios e territorialidades: teorias, processos e conflitos. São

Paulo: Expressão Popular UNESP, 2008. p.17-35.

SANTOS, Carlos J. G. dos. Oficina de pesquisa - Disciplina Metodologia Científica. Texto

disponibilizado pelo Professor Carlos Alberto Costa Gomes na disciplina Metodologia das

Ciências I, PPDRU/UNIFACS. Salvador: junho, 2012.

SANTOS, M. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção.4 ed. 2 reimpr. São

Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.258p.

SILVA, F.P.M. Desenvolvimento territorial: a experiência do Território do Sisal na Bahia. In: 12ª

Semana de economia da UESB. Vitória da Conquista,13-15. jun.2013. Anais eletrônicos...

Vitória da Conquista: UESB,2013.

Disponível em: <http://www.uesb.br/eventos/semana_economia/2013/anais-2013/a05.pdf.>

Acesso em: 25 out.2013.

SPINOLA, N. D. A trilha perdida: caminhos e descaminhos do desenvolvimento baiano no

sec. XX. Salvador: UNIFACS, 2009.528p.

77

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

TRANSFORMAÇÕES LOCAIS DECORRENTES DO TURISMO

RELIGIOSO EM BOM JESUS DA LAPA – BA

Josemary dos Santos Santana1; Regina Celeste de Almeida Souza

1.

1 Universidade Salvador – UNIFACS. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional

e Urbano (PPDRU). Respectivamente, Mestranda bolsista FAPESB; Professora Doutora do

PPDRU. Membros do Grupo de Pesquisa em Turismo e Meio Ambiente (GPTURIS). Email:

[email protected] e [email protected].

Resumo

Bom Jesus da Lapa é um dos municípios baianos que ganham destaque no ramo turístico através

da religiosidade, pois possui uma das maiores peregrinações religiosas do Brasil, atraindo

milhares de romeiros, turistas e/ou excursionistas durante todo ano e, na atualidade, apresenta-se

com considerável crescimento para este segmento. Com o expressivo aumento da população

durante os períodos de romarias, surgem negativos impactos socioambientais na sede do

município, a qual detém significativo patrimônio cultural e natural. Daí a importância de se

realizar um estudo científico a partir do tema “Transformações locais decorrentes do turismo

religioso em Bom Jesus da Lapa, BA”. A fim de divulgar esse turismo religioso e contribuir para

a minimização dos impactos socioambientais ocasionados pela atividade, torna-se essencial a

busca por subsídios que direcionem o desenvolvimento turístico, interligando ações para a

conservação do meio ambiente. Neste sentido, o objetivo geral do presente estudo é demonstrar as

transformações locais a partir do incipiente turismo religioso em Bom Jesus da Lapa, analisando

os impactos socioambientais ocasionados pela atividade turística. Os procedimentos

metodológicos utilizados baseiam-se em um estudo de caso com abordagem de cunho qualitativo,

na qual a pesquisa de campo envolve coleta de dados por meio de entrevistas semiestruturadas, a

pesquisa documental e referências bibliográficas de teóricos no que concerne à temática em

questão. Trata-se, pois, de uma pesquisa que tende a contribuir na divulgação do turismo religioso

em Bom Jesus da Lapa, ao tempo em que busca sensibilizar a comunidade e seus visitantes quanto

à importància de preservação sustentável do patrimônio cultural e natural existente no município.

Palavras-chave: Romarias; Turismo religioso; Impactos socioambientais; Transformação local.

Introdução

O turismo no Brasil vem ganhando proporção nos diversos segmentos e, no cenário do

turismo baiano, a cidade de Bom Jesus da Lapa é reconhecida por meio da religiosidade.

Conforme dados da Empresa de Turismo da Bahia S/A (BAHIATURSA) e da Secretaria Estadual

b c f

78

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

de Turismo da Bahia (SETUR), este município recebe cerca de 1,5 milhões3 de romeiros, turistas

e/ou excursionistas ao ano.

O considerável fluxo de pessoas para este município se deve às várias romarias4 católicas

existentes, constituindo-se em número de seis, além de outras festas religiosas que também são

organizadas pelo Santuário local. Todavia, o foco desta pesquisa é a Romaria do Senhor Bom

Jesus da Lapa, por esta se caracterizar como precursora e ser apontada como a principal fonte de

renda e investimentos em nível local. Trata-se de uma romaria que se realiza há 322 anos5, no mês

de agosto6 e é conhecida pela fé no padroeiro local, o Senhor Bom Jesus da Lapa. Seu crescimento

se verifica a cada ano e por isso é reconhecida, embora de modo incipiente, na segmentação do

turismo religioso do Brasil, fato constatado oficialmente em 2010 através da Opera Romana

Pellegrinaggi7.

Com o expressivo aumento da população durante os períodos de romarias, surgem

impactos socioambientais negativos, principalmente quanto à coleta dos resíduos sólidos urbano,

que afetam o patrimônio cultural e natural existente, materializado no Rio São Francisco e no

Morro da Lapa; este último considerado um espaço sagrado.

Em face da gravidade desses impactos, assim formulou-se o problema que norteia esta

pesquisa: Como e de que forma os envolvidos no incipiente Turismo Religioso em Bom Jesus da

Lapa podem contribuir para minimizar os impactos socioambientais decorrentes desta atividade?

O turismo religioso não para de crescer no Brasil e as festas religiosas estão entre as mais

ricas expressões da cultura brasileira. De acordo com o Ministério do Turismo8 (2013), este tipo

de turismo movimenta cerca de 15 bilhões por ano no país o que requer apoio a fim de melhor

estruturar este segmento. O referido ministério caracteriza o turismo religioso como parte do

turismo cultural e assim o compreende: O turismo religioso configura-se pelas atividades turísticas decorrentes da busca

espiritual e da prática religiosa em espaços e eventos relacionados às religiões

institucionalizadas. O Turismo Religioso está relacionado às religiões

institucionalizadas tais como as afro-brasileiras, espírita, protestantes, católica,

3 Disponível em: <www.bahiatursa.ba.gov.br/noticias/turismo-religioso-e-discutido-na-bahia/>. Acesso em

29 set. 2013. 4 Embora a palavra “romaria” tenha como origem a viagem de peregrinos a Jerusalém e a Roma, neste

trabalho refere-se ao sentido habitual utilizado nos locais para onde pessoas se dirigem por motivo de fé. 5 Completados no ano 2013.

6 Mês em que o Santuário de Bom Jesus da Lapa prepara o novenário que vai de 28/07 a 06/08, sendo que

no dia 06/08 acontece a grande festa religiosa com missa e procissão pelas ruas da cidade. Entretanto, a

chegada de romeiros, turistas e/ou excursionistas se dá a partir do início do mês de julho e vai até

novembro. 7 A Opera Romana Pellegrinaggi é uma atividade do Vicariato de Roma, órgão da Santa Sé, criada em 1934

com o objetivo de levar peregrinos aos principais santuários do mundo, os chamados itinerários do

espírito. 8 Disponível em: <www.turismo.gov.br/turismo/noticias/todas_noticias/20130912.html>. Acesso em 29 set.

2013.

79

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

as de origem oriental, compostas de doutrinas, hierarquias, estruturas, templos,

rituais e sacerdócio. (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2005 p.16)9.

Ainda que em Bom Jesus da Lapa as romarias religiosas constituam uma fonte importante

de turismo, o fluxo atual de visitantes também tem sido motivado por outros atrativos culturais e

vêm se desenvolvendo algumas ações de empreendedorismo local. Em termos econômicos o

turismo na cidade resulta do consumo dos romeiros, turistas e/ou excursionistas, o que o torna o

principal aporte para população local. Daí a relevância de estudos sobre o Santuário Católico,

locus das romarias, considerando os aspectos econômicos, culturais e socioambientais, origina

dessa procura.

Com vistas ao desenvolvimento da pesquisa, foram definidos os seguintes objetivos

específicos: Constatar qual a influência das transformações locais caracterizadas pelo processo de

mudança de romarias para turismo religioso em Bom Jesus da Lapa; Identificar estratégias e ações

do setor público e da iniciativa privada que estão sendo efetivadas para o desenvolvimento

turístico em Bom Jesus da Lapa; Analisar as políticas públicas que visam ao desenvolvimento do

turismo religioso local e no que tange aos aspectos socioambientais decorrentes dessa atividade;

Analisar os impactos socioambientais ocasionados ao patrimônio cultural e natural existente no

município, considerando o comportamento da comunidade local; Avaliar, através da integração

com o Projeto Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento10

, o papel da população

local com relação à sustentabilidade dos atributos naturais e à preservação dos bens culturais de

Bom Jesus da Lapa.

Cumpre referir que este último objetivo específico teve um apoio importante durante a

realização do IV Workshop Rio São Francisco, em Bom Jesus da Lapa, nos dias 12 e 13 de julho

de 2012. Com efeito, o turismo religioso em Bom Jesus da Lapa afirma a cada ano, fato que

necessita ser considerado como essencial para as transformações locais positivas. Entretanto, para

que isto aconteça, é fundamental que a comunidade seja realmente participativa e contribua para

elevar o nome do município no patamar turístico religioso do Brasil.

Metodologia

Utilizou-se um estudo de caso, com abordagem qualitativa, cujo processo ocorreu entre os

anos 2012 e 2013. No que se refere à credibilidade científica do método estudo de caso, eis o que

assinala Yin (2005, p.20): Como estratégia de pesquisa, utiliza-se o estudo de caso em muitas situações,

para contribuir com o conhecimento que temos dos fenômenos individuais,

organizacionais, sociais, políticos e de grupo, além de outros fenômenos

relacionados. De forma não surpreendente, o estudo de caso tem se constituído

9 Disponível em: <www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_

publicacoes/marcos_conceituais.pdf.>. Acesso em: 29 jul. 2013 10

Existente desde 2008, fruto de parceria entre Universidade Salvador – UNIFACS, Albright College e

Companheiros das Américas Comitê Bahia-Pennsylvania. O evento ocorrido em Bom Jesus da Lapa,

como atividade deste Projeto, teve como objetivo principal o aprofundamento do debate sobre cultura,

identidade e desenvolvimento, focalizando questões pertinentes à ocupação territorial do Vale

Sanfranciscano e os problemas socioambientais na região.

80

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

uma estratégia comum de pesquisa na psicologia, sociologia, ciência política,

trabalho social, administração e planejamento social. Podem-se encontrar

estudos de caso ate mesmo na economia [...] Em todas estas situações, a clara

necessidade pelos estudos de caso surge do desejo de se compreender

fenômenos sociais complexos. Em resumo, o estudo de caso permite uma

investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos

acontecimentos da vida real – tais como ciclos de vida individuais, processos

organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas,

relações internacionais e maturação de setores econômicos.

A abordagem da pesquisa com cunho qualitativo foi escolhida porque permite

compreender a dinâmica dos fenômenos sociais e, mais pertinente ao estudo de caso. Sobre a

pesquisa qualitativa, Richardson (1999, p.80) ressalta sua importância: “contribui no processo de

mudanças de determinado grupo e possibilita, em maior nível de profundidade, o entendimento

das particularidades do comportamento dos indivíduos”.

Os dados coletados provêm de fontes primárias mediante realização de entrevistas semi-

estruturadas com representantes dos setores públicos municipais responsáveis pelas empresas de

coleta do lixo urbano e de abastecimento de água e saneamento básico, reitor do Santuário do

Bom Jesus da Lapa, representantes do setor do comércio, e especialmente, turistas, romeiros e/ou

excursionistas que participam da peregrinação religiosa no município.

O estudo também utilizou outros procedimentos metodológicos: pesquisa documental

(inclusive histórica), pesquisa bibliográfica de teóricos acerca do tema e das observações direta

com aporte de registros fotográficos.

Resultados e Discussões

O Santuário de Bom Jesus da Lapa sempre foi objeto de interesse dos pesquisadores de

áreas como antropologia, sociologia, turismo, dentre outros, visto que as manifestações religiosas

ocorridas através das romarias são acontecimentos que expressam intensamente a fé católica dos

que se dirigem àquele lugar, considerado como sagrado.

O turismo religioso em Bom Jesus da Lapa, embora incipiente, tem propiciado uma

tendência para as importantes transformações locais e é uma das principais fontes econômicas do

município. Ainda que seja recente o reconhecimento nessa modalidade de turismo, em anos

anteriores já se percebia a perspectiva de inserir Bom Jesus da Lapa nesta segmentação, como

observa Costa (2000, p.7): Diante desta breve exposição do patrimônio natural e imaterial encontrado no

município de Bom Jesus da Lapa, podemos perceber o quanto o município pode

se desenvolver e se estruturar como um novo destino turístico, tendo o turismo

religioso como um grande aliado, uma vez os elementos tidos como diferenciais

de uma localidade são de grande importância para o desenvolvimento da

atividade turística.

À luz do conhecimento in loco do turismo em Bom Jesus da Lapa, cuja dimensão

principal é a religiosidade, pode-se afirmar que o município se transforma para receber os

romeiros e/ou turistas, mas algumas dessas transformações são sazonais. Justo por isso, os

responsáveis pela organização do turismo local se ressentem da falta de apoio de órgãos estaduais

81

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

e federais para implantação de obras de infra-estrutura que atendam às necessidades dos

moradores e dos turistas. Embora haja vontade em se organizar bem para receber o turista,

percebe-se que ainda é tímido o planejamento turístico, razão pela qual todos os envolvidos –

poder público, Igreja, setor privado, sociedade civil – precisam ser participativos igualmente nos

deveres e responsabilidades, a fim de que esta segmentação econômica cresça também em

qualidade.

È evidente que o conjunto de fé e belezas naturais tem sua importância no

desenvolvimento do turismo religioso de Bom Jesus da Lapa. Entretanto, o que já vem sendo

preocupante há algum tempo é a constatação do crescimento negativo dos impactos

socioambientais decorrentes da atividade turística, de que são exemplos a degradação das matas

ciliares e o acúmulo, cada vez mais visível, de lixo doméstico às margens do Rio São Francisco,

por causa da falta de locais apropriados para a destinação; as construções e as edificações que

insistem em modificar e desrespeitar a visualização do Morro da Lapa; a precariedade da estrutura

antiga de alguns serviços de saneamento básico. Tais problemas, que já se apresentam de maneira

minimizada no cotidiano da população, tornam-se mais crítico nos períodos das romarias devido

ao grande fluxo turístico. É necessário, pois, um grande esforço para minimizar esses impactos

socioambientais, o que requer ações efetivas permeadas pelo planejamento turístico, por não ser

possível pensar em transformações locais ignorando as dimensões sociais e as limitações

ecológicas existentes.

Assim, torna-se de extrema relevância a busca de subsídios que direcionem o

desenvolvimento turístico religioso de Bom Jesus da Lapa, interligado com ações que favoreçam a

conservação do meio ambiente local, especialmente em relação ao patrimônio cultural e natural

existente – Rio São Francisco e Morro da Lapa.

Espera-se, por fim, que a pesquisa científica sirva como norteadora de outras pesquisas na

aquisição de conhecimentos por meio das reflexões apresentadas, bem como signifique uma alerta

para a comunidade no que diz respeito ao desenvolvimento local por meio da participação

coletiva, pois, afinal, a dimensão do turismo religioso em Bom Jesus da Lapa tende a crescer cada

vez mais.

82

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Figuras 1 e 2 – Festa do Bom Jesus da Lapa, em 06.08.2013.

Fonte: Santuário do Bom Jesus da Lapa no facebook. Fotos de Neguinho da Barrinha

Figura 3 – Margens do São Francisco, durante a Romaria do Senhor Bom Jesus da Lapa.

83

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Fonte: Autoria própria (2013)

Conclusões

Se, por um lado, o turismo pode ser considerado como uma atividade capas de contribuir

significativamente para o desenvolvimento econômico de Bom Jesus da Lapa, por outro, carece da

abrangência de fatores socialmente qualitativos, isto é, voltados para as necessidades humanas.

Esta percepção reforça a exigência de se efetivar o turismo com base, sobretudo, no planejamento

turístico é crucial, porque precisa envolver a participação da comunidade, a fim de organizar e

ampliar o setor. Trata-se de evitar que a qualidade de vida local seja ameaçada por fatores

negativos, que às vezes estão atrelados ao desenvolvimento das atividades turísticas. Cumpre

então contemplar a dimensão ambiental do turismo.

Entre as reflexões que suscitam este trabalho, já referidas ao longo das considerações

precedentes, uma delas permite afirmar que o turismo não traz consigo apenas consequências

negativas. Entretanto, a sociedade local necessita estar atenta e preparada para a contribuição dos

avanços propiciados por essa atividade econômica, bem como participar de seu planejamento,

execução e crescimento.

Referências

BRASIL. Ministério do Turismo. Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de

Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico. Turismo Cultural. Brasília: 2005. p. 12-18.

Disponível em: <www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/

downloads_publicacoes/marcos_conceituais.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2013.

COSTA, S. M.S. Festa de Bom Jesus da Lapa: a celebração da fé no sertão. Salvador: Instituto

de Educação Superior Unyahna Salvador-IESUS, 2000. Artigo. Disponível em:

<http://www.bomjesus dalapa.org.br/site/noticias/12-artigos/151-fe-no-sertao.html>. Acesso em:

30 jul. 2012.

RICHARDSON, R.J. Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.

YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e método. Trad. Daniel Grassi. Porto Alegre:

Bookman, 2005.

84

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO SÃO

FRANCISCO NA REGIÃO DE BOM JESUS DA LAPA - BAHIA E AS

ATIVIDADES ANTRÓPICAS RELACIONADAS

Daniele Balbino Moura de Jesus1; Regina Celeste de Almeida Souza1

1 Universidade Salvador – UNIFACS. Respectivamente, graduanda de Iniciação Científica do

curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, bolsista CNPq; Professora Doutora do Programa de

Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPDRU). Membros do Grupo de Pesquisa em

Turismo e Meio Ambiente (GPTURIS). Email: [email protected] e

[email protected].

Resumo

85

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Este trabalho teve por objetivo avaliar a qualidade da água do rio São Francisco no perímetro

urbano de Bom Jesus da Lapa, BA. Foram analisados os seguintes parâmetros: Demanda

Bioquímica de Oxigênio (DBO), Oxigênio Dissolvido (DO), Nitrato, Fosfato Total, Sólidos

Dissolvidos Total (TDS) e Turbidez, Temperatura da Água, pH, Cor, Alcalinidade, Coliformes

Termotolerantes e Coliformes Totais. As concentrações dos parâmetros estudados estavam abaixo

dos valores máximos permitidos para a Classe 02 – águas doces da Resolução CONAMA

357/2005.

Palavras-chave: Rio São Francisco; Qualidade da Água; Bom Jesus da Lapa, BA.

Introdução

A água constitui um elemento vital ao abastecimento humano, ao desenvolvimento de

suas atividades industriais e agrícolas, e de importância essencial aos ecossistemas. O Rio São

Francisco tem uma grande importância regional, principalmente para as comunidades ribeirinhas

que habitam as áreas semiáridas, e pode ser considerado como um dos principais fatores de

desenvolvimento no Nordeste. O abuso indiscriminado sofrido pelo corpo d’água ao longo do seu

leito tem intensificado o processo de degradação do rio. A poluição dos recursos hídricos tem

como origem diversas fontes, associadas ao tipo de uso e ocupação do solo, dentre as quais

destacam-se os efluentes domésticos e industriais, como também a disposição inadequada de

resíduos sólidos, a derrubada das matas ciliares.

A disponibilidade de dados sobre a condição do Rio São Francisco, em relação a um

monitoramento contínuo da qualidade de água, é ainda muito precária. Entretanto, indicativos da

degradação já são tão alarmantes que mesmo sem levantamentos consistentes é possível se

observar o estado deplorável desta Bacia. Nesse sentido, este artigo objetiva contribuir com a

avaliação da qualidade da água do Rio São Francisco com a pesquisa de campo aplicada na região

de Bom Jesus da Lapa (BA).

Metodologia

Para atender ao objetivo proposto foram realizadas pesquisas bibliográficas, fichamentos,

Visita técnica ao SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) de Bom Jesus da Lapa, relatórios

parciais de pesquisa, discussões com a orientadora e tratamento dos dados dos parâmetros da

água. A aquisição dos dados das análises de qualidade da água (parâmetros físicos, químicos e

biológicos) foram obtidos pelo SAAE. As amostras de água foram coletadas no ponto de captação

de água da empresa, à margem direita do Rio São Francisco (-13º 15’ 33.71”, -43º 25’ 54.03”). As

análises físico-químicas e bacteriológicas foram realizadas pelo laboratório municipal situado na

própria estação de tratamento. Os parâmetros estudados foram: Demanda Bioquímica de Oxigênio

(DBO), Oxigênio Dissolvido (DO), Nitrato, Nitrito, Fosfato Total, Sólidos Dissolvidos Total

(TDS) e Turbidez, Temperatura da Água, pH, Cor, Alcalinidade, Coliformes Termotolerantes e

Coliformes Totais.

Resultados e Discussão

86

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Os valores das concentrações dos parâmetros de qualidade desta água encontrados

estavam dentro do permitido para a Classe 02, águas doces da Resolução CONAMA 357/2005,

como pode ser observado na tabela abaixo.

Tabela 01 — Valores dos Parâmetros de Qualidade de Água do Rio São Francisco

Parâmetros Unidade Valor Encontrado Valor de Referência*

DBO mg.L-1

1,0 ≤ 5,00

Temperatura ºC 25,3 --

pH -- 8,14 6,00 a 9,00

OD mg.L-1

7,5 ≥ 5,00

Turbidez NTU 10,1 ≤ 100,00

Sólidos Dissolvidos Totais mg.L-1

20,3 ≤ 500

Cor uC 22 --

Nitrato mg.L-1

1,1 ≤ 10,00

Alcalinidade mg.L-1

36 --

Coliformes Termotolerantes NMP/100mL < 1,8 ≤ 1000,00

Coliformes Totais NMP/100mL <1,8 --

Fosfato Total mg.L-1

0,1 ≤ 1,00

* Resolução CONAMA 357/2005 - Classe 2 Águas Doces

A DBO se verificou em torno de 1,0 mg.L-1

. A temperatura da água encontrada no ponto

foi de 25,3 ºC. O pH, 8,14. Este valor levemente básico pode ser relacionado com a litologia das

rochas calcárias presentes na região. O OD ficou dentro do exigido para a manutenção da vida

aquática, 7,51 mg.L-1

. A resolução exige que o OD seja igual ou acima de 5,0 mg.L-1

. A Turbidez

foi de 10 NTU, ficando bem abaixo do limite permitido pela resolução, que é de 100 NTU, para

rios de Classe 2. O valor da cor aparente encontrada foi de 22 uC, podendo já ser detectado pelas

pessoas. A concentração de Nitrato está em 1,1 mg.L-1

, abaixo do valor que induz ao processo de

eutrofização, acima de 5 mg.L-1

. A alcalinidade total foi de 36 mg L-1

. O valor de Coliformes

Termotolerantes, abaixo de 1,8 NMP/100mL. O Fósforo Total se apresentou dentro do permitido

pela resolução, 0,1 mg.L-1

.

Conclusão

Apesar dos valores dos parâmetros de qualidade de água se encontrarem dentro dos

permitidos na Resolução CONAMA 357/2005, é indispensável que se faça um monitoramento

constante deste e de outros pontos. Existem ainda poucas estações de monitoramento e as séries

de dados são pequenas e com periodicidade irregular, o que acarreta dificuldades para avaliações

adequadas, para que decisões corretas possam ser tomadas. O local do ponto de coleta da água

está situado à jusante da cidade de Bom Jesus da Lapa, podendo estes valores se alterarem se feito

um estudo em pontos diferentes desta localidade. A água do São Francisco, no perímetro urbano

de Bom Jesus da Lapa, mesmo com esta distinção no processo de coleta, já demonstra indícios de

agressão derivados de resíduos sólidos procedentes da área urbana e do assoreamento do rio.

Referências

87

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

BRASIL. ANA (AGENCIA NACIONAL DE ÁGUAS). Portal da Qualidade das Águas.

Indicadores de Qualidade. Disponível em:

<http://pnqa.ana.gov.br/IndicadoresQA/IndiceQA.aspx#_ftn5>. Acesso em: 13/01/2013.

COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO SÃO FRANCISCO. Usos Múltiplos das águas do

São Francisco. Disponível em: <http://cbhsaofrancisco.org.br/>. Acesso em 29/04/2013.

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA. 2005. Resolução Conama nº

357. Disponível em: <www.mma.conama.gov.br/conama>. Acesso em 29/04/2013.

FILHO, A. P. et al. Avaliação da qualidade da água do Rio São Francisco no perímetro

urbano do município de Petrolina – PE.

INEA (INSTITUTO ESTADUAL DO AMBIENTE). Qualidade de Água. Disponível em:

<http://www.inea.rj.gov.br/fma/qualidade-agua.asp> Acesso em: 13/04/2013.

MACHADO, C. J. S. Gestão de Águas Doces. 1ª Edição. Rio de Janeiro. Editora Interciência,

2004.

MALVEZZI, R. Semi-Árido – Uma Visão Holística. 2ª edição. Brasília. 2009.

MELGAÇO, S. ANA (AGENCIA NACIONAL DE ÁGUAS). Programa Interáguas.

Disponível

em:<http://interaguas.ana.gov.br/Lists/ArquivosdeDocumentos/Attachments/3/Pol%C3%ADticas

SociaisDoProgramaInteraguas(Final).pdf>. Acesso em: 13/01/2013.

MINISTÉRIO DA SAÚDE – MS 2011. Portaria nº 2.914. Disponível em:

<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/portaria_2914_12_12_2011.pdf>. Acesso em:

01/05/2013.

PROJETO DE GERENCIAMENTO INTEGRADO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

EM TERRA NA BACIA DO SÃO FRANCISCO (PBHSF) ANA/GEF/PNUMA/OEA, 2004.

Subprojeto 4.5C – Plano Decenal de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São

Francisco -PBHSF (2004-2013).

REBOUÇAS, Aldo da Cunha. Água doce no mundo e no Brasil. In: REBOUÇAS, Aldo da

Cunha; BRAGA, Benedito; TUNDISI, José Galízia (orgs). Água doces no Brasil: capital

ecológico, uso e conservação. São Paulo: Escrituras, 2006. p. 1-38.

SPERLING, M. Princípios do tratamento biológico de águas residuárias. Introdução à

qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. 2. ed. Local: UFMG, 1996.243p.

88

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

SILVA, D.F.; GALVÍNCIO, J. D.; ALMEIDA, H. R. R. C. Variabilidade da Qualidade de

Água na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e Atividades Antrópicas Relacionadas.

Qualit@s Revista Eletrônica. Vol.9. Nº 3. 2010.

SOUZA, R. C. A.; CALDAS, A. S.; KIDDY, E. Projeto Rio São Francisco: identidade, cultura

e desenvolvimento. Salvador, Universidade Salvador, Albright College e Companheiros das

Américas. 2010.

ZELLHUBER, A; SIQUEIRA, R. Rio São Francisco em descaminho: degradação e

revitalização. Cadernos do CEAS Salvador Julho/Setembro 2007 n° 227.

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO MECANISMO MITIGADOR

DE IMPACTO AMBIENTAL: O CASO DE BOM JESUS DA LAPA -

BA

Patrick Passinho Silva1; Regina Celeste de Almeida Souza

1

89

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

1 Universidade Salvador – UNIFACS. Respectivamente, graduando de Iniciação Científica do

curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, bolsista Fapesb; Professora Doutora do Programa de

Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPDRU). Membros do Grupo de Pesquisa em

Turismo e Meio Ambiente (GPTURIS). Email: [email protected] e

[email protected].

Resumo

As manifestações religiosas que ocorrem na cidade baiana de Bom Jesus da Lapa atraem turistas

do Brasil inteiro. São pessoas que encontram na beleza natural das grutas um ambiente de fé e

religiosidade. O turismo religioso, assim como outras formas de turismo, gera uma dinâmica

econômica significativa para a região; todavia, traz consigo alguns aspectos negativos ao meio

ambiente, quando não é realizado de maneira consciente a fim de gerir e solucionar possíveis

problemáticas resultantes do aglomerado de pessoas. Atualmente, a preocupação com os impactos

causados ao ambiente natural cresce, e, consequentemente, a relação Sociedade x Meio Natureza

está sendo repensada à luz de um modelo chamado de sustentável. A partir dessa premissa, o

presente artigo busca evidenciar como as práticas relacionadas à Educação Ambiental (EA)

podem ser responsáveis por conquistas em prol da preservação do ecossistema do rio São

Francisco em Bom Jesus da Lapa.

Palavras-chave: Educação Ambiental; Impactos Ambientais; Bom Jesus da Lapa - BA.

Introdução

O Brasil é um país com alto índice de biodiversidade, o que acarreta inúmeros benefícios

de caráter social, cultural e também econômico. Esses frutos não são somente os produtos

diretamente extraídos da natureza, mas também uma ampla rede de outros benefícios

proporcionados pelos ecossistemas, incluindo a minimização dos gases do efeito estufa, a

capacidade de regulação dos eventos climáticos, o potencial de descobertas de novos produtos

industriais, como os cosméticos, e medicamentos.

As atividades turísticas geram, além de uma nova dinâmica econômica para as regiões

onde se desenvolveu, alguns aspectos negativos, que nem sempre são considerados, como, entre

outros, a poluição, ocasionada principalmente pelo descarte de resíduos sem controle e os danos

causados pelo uso abusivo de ecossistemas frágeis, o que pode contribuir para a extinção de

espécies. As práticas turísticas devem ser gerenciadas e planejadas para que o uso dos recursos

disponíveis seja feito de forma responsável, assim como o descarte de resíduos deixados pelos

visitantes. Contemporaneamente, em nível mundial, impõe-se a consciência da necessidade de se

adotar modelos de desenvolvimento sustentável, por causa do esgotamento dos recursos naturais e

de sua degradação.

Metodologia

Para atender a proposta do projeto, foi realizado um levantamento bibliográfico base, com

artigos e trabalhos realizados na região de Bom Jesus da Lapa, além de títulos que conversassem

com a temática (Educação Ambiental e gestão de resíduos). A partir da revisão de bibliografia e

90

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

da visita à campo, proporcionada pela III Expedição ao rio São Francisco, julho de 2012, pode-se

identificar os principais atores sociais envolvidos e suas formas de organização; relacionar os

efeitos sobre o meio físico-natural com ameaça à qualidade de vida dos grupos sociais afetados;

identificar o posicionamento dos atores sociais envolvidos ou afetados; identificar os aspectos da

legislação ambiental federal relacionados (ao problema).

Também foi realizado um comparativo entre o período anterior aos trabalhos de EA

realizados pelo IBAMA em parceria com a UNEB Campus XVII - e outros órgãos - através do

cruzamento de fotografias disponibilizadas pela UNEB com as tiradas no período da Expedição.

Após a análise dos dados obtidos foi elaborado um artigo científico com o objetivo de demonstrar

o papel importante de metodologias como a EA para o meio ambiente, além de incentivar práticas

relacionadas, através da comprovação dos benefícios alcançados.

Resultados e Discussão

Ao pesquisar sobre a temática e a cidade de Bom Jesus da Lapa pode-se notar uma

movimentação no que se diz respeito à práticas que visem a preservação da APP do rio São

Francisco, sendo elas intituladas “campanhas”. Nessas atividades o Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) em parceria com a Universidade do

Estado da Bahia (UNEB) Campus XVII; Prefeitura Municipal de Bom Jesus da Lapa,

representada pela Secretaria Municipal de Educação e pela Secretaria Municipal Saúde; e ONG

Grupo Morro Limpo; conseguiram resultados muito importantes, como a Assinatura de Termo de

Ajustamento de Conduta entre a Prefeitura Municipal e o Ministério Público, que determinou o

aprimoramento do sistema de coleta no cais e nas coroas de areia; a manutenção de banheiros

químicos nas coroas e acampamentos durante todo o período das romarias; implantação de um

programa constante de educação ambiental no município voltado para as romarias e a gestão de

resíduos sólidos; divulgação da questão ambiental feita em conjunto com a divulgação da romaria;

disponibilização de área para acampamento com condições ambientais e sanitárias aceitáveis, por

exemplo. Sendo assim, o presente trabalho demostra de forma bastante clara a eficácia de

metodologias educativas na preservação de ecossistemas.

Conclusão

O título da pesquisa se mostrou bastante coerente quando relaciona EA à minimização de

impactos. Essa relação se torna evidente, já que os resultados expostos pelas Campanhas

educativas realizadas em Bom Jesus da Lapa foram bastante interessantes e atingiram diversas

esferas sociais. Contudo, percebe-se que o grande problema na cidade é a falta de estrutura básica

para assegurar aos romeiros um ambiente adequado, além de políticas pertinentes com a

quantidade de resíduo gerado na cidade, sejam elas: recolhimento eficaz do lixo, incentivos à

cooperativas, auxílio aos catadores, regularização de um ambiente mais adequado para descarte do

lixo (aterro), dentre outras.

Deve-se levar em consideração que o trabalho, em se tratando de educação e meio

ambiente, é algo constante, afinal existe a relação direta das comunidades em se tratando dos dois

aspectos, o que os torna extremamente mutáveis, ou seja, a relação que as comunidades têm com o

ambiente natural é reflexo da sua cultura e informação, ambas características que estão sempre em

91

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

processo de transformação. Portanto, as práticas relacionadas à instrução da comunidade devem

ser levadas a diante, construindo assim uma relação mais sustentável entre homem e o meio.

Referências

IBGE. Dados Gerais: Bom Jesus da Lapa-BA. Disponível em:

<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/

painel/painel.php?codmun=290390> Acesso em 17 maio, 2012.

IBGE. Histórico: Bom Jesus da Lapa-BA. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/

historicos_cidades/historico_conteudo.php?codmun=290390> Acesso em 17 maio, 2012.

PREFEITURA DE BOM JESUS DA LAPA. Disponível em:

<http://www.bomjesusdalapa.org.br/>. Acesso em 18 abr. 2012.

RIBEIRO, M. C. Educação Ambiental nas Romarias de Bom Jesus da Lapa – BA:

Campanha em prol da Preservação do Rio São Francisco. Apresentação oral no IV Workshop

Rio São Francisco – cultura, identidade e desenvolvimento. Bom Jesus da Lapa: Julho de 2012.

MILLER, G. T. Ciência ambiental. São Paulo: Cengage Learning, 2007.

QUINTAS, J. S. Introdução à Gestão Pública. 2ª ed. revista. – Brasília: Ibama, 2006.

RUSCHEINSKY, A. Educação Ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 2005.

SATO, M.; CARVALHO, I. Educação Ambiental: pesquisa e desafios. Porto Alegre: Artmed,

2005.

THOMAS, J. M.; CALLAN, S. J. Economia ambiental: fundamentos, políticas e

aplicações. São Paulo: Cengage Learning, 2010.

Lua Morena Leôncio de Oliveira; Regina Celeste de Almeida Souza

1

92

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

1 Universidade Salvador – UNIFACS. Graduanda em Engenharia Ambiental e Sanitária,Bolsista

de Iniciação Cientifica FAPESB; Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em

Desenvolvimento Regional e Urbano (PPDRU). Membros do Grupo de Pesquisa em Turismo e

Meio Ambiente (GPTURIS). Email: [email protected] e [email protected]. Resumo

Diante da necessidade de um melhor aproveitamento dos recursos hídricos, e da preocupação

quanto ao manejo das águas pela atividade agrícola, no que se refere às práticas de irrigação; e das

peculiaridades da região semiárida, esse estudo tem como objetivo identificar as práticas

utilizadas pela agricultura irrigada no Submédio São Francisco, bem como reconhecer ali a

existência de impactos ambientais. Através de pesquisa bibliográfica e em campo, foram

observados e identificados os manejos e práticas de irrigação utilizados na região. Tais

informações posteriormente serão utilizadas no desenvolvimento de programas de conscientização

e mobilização das comunidades ribeirinhas para que ocorram mudanças em suas práticas e

manejos de irrigação que possibilitem o desenvolvimento regional sustentável. Esse trabalho de

Iniciação Científica está apenas começando, e está inserido em um Projeto de Pesquisa intitulado

Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento, realizado pela UNIFACS, em parceria

com o Albright College (EUA) e os Companheiros das Américas – Comitê Bahia/Pennsylvania.

Palavras-Chave: Agricultura, Irrigação; impactos.

Introdução

Nos últimos 50 anos o Vale do São Francisco se tornou o ponto de partida para o

desenvolvimento a partir da geração de energia em Paulo Afonso. Este desenvolvimento se deu

com a criação da CHESF, (Companhia Hidrelétrica do São Francisco) e da CODEVASF

(Companhia de desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) criadas com a

finalidade de promover o desenvolvimento desta região , principalmente no campo da agricultura

irrigada visando à produção de frutas em Petrolina e Juazeiro. O Governo Federal investiu em

pesquisas e até criou uma universidade, abriu estradas para o melhoramento da infraestrutura e

desenvolvimento regional, assim criou a UNIVASF (Universidade Federal do Vale do São

Francisco) e cursos de especialização em comércio exterior, entre outros. Mas a concepção de

desenvolvimento implantado desde o inicio da CODEVASF altera fortemente os modos de vida

da região em suas bases originais, pois expropria as comunidades tradicionais camponesas,

executam obras de infraestrutura beneficiando através de financiamentos e assistência técnica,

sobretudo os grandes grupos empresariais oriundos de outras regiões e contém em seu bojo uma

visão educacional desta nova ordem direcionada para a formação de mão de obra especializada

para estas grandes empresas, a partir do modelo econômico que não leva em consideração o meio

ambiente e às formas tradicionais de interação com as riquezas naturais, pois não estimula o modo

de produção cooperativista.

Devido aos avanços tecnológicos é possível o sucesso da agricultura em lugares secos

como, por exemplo, o Semiárido nordestino, graças à técnicas como irrigação associada à

fertilizantes. O Submedio São Francisco, objeto de estudo do presente trabalho, é reconhecido

93

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

nacionalmente como um modelo de agricultura irrigada. De acordo com Reichardt (1990,v.1,pg

144) A produtividade e a qualidade das culturas agrícolas aumentou sensivelmente

nas ultimas décadas, principalmente devido a um preparo melhor do solo, uso

de fertilizantes, melhores variedades, controle de pragas e moléstias e melhores

práticas agrícolas. Como um resultado de todas estas melhorias, a água no solo

tem se tornado frequentemente o fator limitante da produtividade, mesmo em

climas considerados úmidos.

Além dos impactos sociais e econômicos que podem ser causados à região pela cultura de

irrigação, existe também o impacto ambiental resultante do manejo de forma inadequada dessa

tecnologia, podendo ocasionar estragos seríssimos à bacia hidrográfica, ao solo, e à qualidade da

água. Existem muitas evidências de que após os benefícios iniciais da irrigação, grandes áreas tem

se tornado impróprias para à agricultura. Sobre o meio ambiente, devem ser considerados os

diversos tipos de impactos ambientais inerentes aos projetos de irrigação, ou seja, impactos

ambientais nas áreas inundadas, impactos ambientais na jusante das barragens e impactos

ambientais da irrigação propriamente dita. Segundo Nou, Edla A. V. et al (1994, pg 89): Um dos problemas mais comuns nos setores irrigados é o uso de agroquímicos

(inseticidas, fungicidas, herbicidas e adubos inorgânicos) que, mesmo quando

utilizados de maneira adequada, contaminam os solos e as águas [...] Na região

da barragem de Sobradinho, o pequeno agricultor utiliza as áreas de inundação

do lago para o cultivo de cebolas, empregando a irrigação em sulcos e

aplicando adubos sob a forma de “coquetéis”, o que tem contaminado as águas

do lado, provocando a mortandade de peixes, além de agravar os problemas de

intoxicação na população local.

Diversos métodos de irrigação são utilizados tanto na agroindustria como na agricultura

familiar, dentre eles: aspersão convencional, irrigação por sulcos e gotejamento. O método de

aspersão é conhecido como potencial causador de doenças nas folhas, porque as mesmas

permanecem molhadas por muito tempo, podendo ser contaminadas por fungos. Porém esse

método, a depender das características do solo pode ser o mais adequado. Na irrigação por sulcos,

há uma maior perda de água por percolação e o método por gotejamento dentre esses é o que

menos causa impacto, porém, é um método dispendioso, deixando de ser vantajoso em alguns

casos. Em qualquer um desses métodos, se aplicado de maneira incorreta, causa sérios danos ao

solo, como por exemplo, a salinização. Segundo Reichardt (1990,v.1,pg 139): Na prática de irrigação, a longo prazo, a qualidade da água é um dos fatores

mais importantes. Pequenas quantidades de soluto podem, em projetos de

irrigação mal elaborados, transformar lentamente uma área fértil em um solo

salino de baixa produtividade. Quando o agricultor dá conta do problema,

muitas vezes é tarde demais, pois a recuperação de solos salinos ou salinizados

é difícil, demorada e dispendiosa.

Há outras consequências da irrigação como, por exemplo, a contaminação de rios e

córregos e da água subterrânea. O excedente da água aplicada na região irrigada, que não é

evapotranspirada pelas culturas, retorna aos rios e córregos por meio de escoamento superficial ou

vai para os depósitos subterrâneos por meio de percolação profunda arrastando consigo sais

solúveis, fertilizantes, resíduos de defensivos e herbicidas, elementos tóxicos, sedimentos, etc.

Constituindo uma contaminação dos recursos hídricos, causando danos à água potável que de

94

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

maneira direta atinge a área urbana e rural. A contaminação pode ocorrer também por meio do

lençol freático, embora de forma mais lenta, o que pode ser agravado, se no solo houver sais

solúveis.

A cultura da irrigação trouxe grande crescimento para o Vale do Rio São Francisco,

criando no total 131.781 empregos direta e indiretamente, além de grande parte do total de

hectares irrigados serem de lotes familiares. Essa região tem como principal produto manga e uva.

Sendo seus principais produtores os perímetros de Senador Nilo Coelho e Tourão.

Tabela 1 - Distribuição dos perímetros irrigados no Submédio São Francisco por município, área irrigada e

empregos gerados.

Perímetro Irrigado Municipio Área Irrigada Empregos gerados

1 Curaçá Juazeiro (BA) 4203 9.100

2 Mandacarú Juazeiro (BA) 420 1.630

3 Maniçoba Juazeiro (BA) 4160 12.800

4 Salitre Juazeiro (BA) 5099 2.500

5 Tourão Juazeiro (BA) 14237 30.600

6 Pontal Petrolina (PE) 7.862 23.151

7 Bebedouro Petrolina (PE) 1.892 2.000

8 Senador Nilo Coelho Casa Nova/Petrolina (PE) 18.563 50.000

Total 56436 131.781

Fonte: CODEVASF, 2103.

Constatando a importância deste tema, nos propomos a realizar este estudo de Iniciação

Científica com a finalidade de alertar à comunidade sobre as possíveis consequências que podem

vir a ocorrer se as técnicas de irrigação continuarem sendo aplicadas de forma ambientalmente

inadequada.

Metodologia

Esse estudo, de caráter qualitativo, foi desenvolvido inicialmente por meio de pesquisa

bibliográfica, através do levantamento e consulta de: livros, artigos, arquivos, bibliotecas e sites e

outros meios de informação. O levantamento bibliográfico foi realizado a partir de dezoito livros,

a exemplo, O DNOCS e a irrigação do Nordeste, Impactos e externalidades sociais da irrigação

no semi-árido brasileiro e Plano Diretor para o Desenvolvimento do Vale do São Francisco

(1976).Vários sites também foram consultados para está pesquisa, vez que abordam os aspectos da

irrigação, do uso do solo à água, os aspectos negativos como os impactos, e também o

desenvolvimento regional que esse modo de produção levou para o vale. Em seguida, foi

realizado um primeiro trabalho de campo : visitas e observações, com vistas à uma primeira

aproximação sobre o tema. Durante a pesquisa de campo foram feitas entrevistas a fazendeiros

locais e engenheiros da CODEVASF, foram realizadas visitas técnicas à fazendas produtoras de

uva de mesa, nos municípios de Juazeiro e Petrolina, no perímetro irrigado de Mandacaru, além

da sede da Codevasf.

95

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Resultados

A partir do levantamento de artigos e sites, foram feitos resumos, e construídas tabelas (estas,

tendo como base, dados fornecidos pela CODEVASF, sobre a região, perímetros irrigados,

técnicas utilizadas, e culturas produzidas, entre outras). Foi apresentado em forma oral, o Projeto

desta Pesquisa no V Workshop Rio São Francisco: Cultura, Identidade e Desenvolvimento, em

Paulo Afonso-Ba, de 25 a 26 de novembro de 2013. Foi elaborado um relatório a partir dos dados

obtidos na visita técnica, com a utilização das coordenadas geográficas do Distrito Irrigado de

Mandacaru, o que possibilitará a construção de mapas que contenham todas as informações que

foram coletadas, a partir de programas de geoprocessamento.

Discussão

Pode-se constatar a partir da análise que o processo de irrigação conta com pontos fracos e

fortes. Fracos como, por exemplo, a água gerada a partir dos drenos, que tem a função de retirar o

excesso de água do solo, que é originado da irrigação, circula livremente pelos perímetros e são

lançados ao rio sem que haja qualquer tratamento, o que por si só oferece danos ao solo

(salinização) e ao rio, prejudicando a qualidade das águas. Isso se agrava, uma vez que já é

característico das regiões áridas e semiáridas irrigadas, baixos índices pluviométricos e intensa

evapotranspiração, que contribuem para aceleração do processo de salinização tornando estas

áreas improdutivas em pouco tempo. Ainda são muito utilizadas técnicas como inundação e

irrigação por sulcos, que são bastante prejudiciais ao meio ambiente de forma geral. Outro ponto observado foi a falta de fiscalização em relação à segurança dos

trabalhadores que utilizam agrotóxico na fertirrigação, na ocasião da pesquisa, os trabalhadores

não utilizavam os equipamentos de segurança e esta observação foi corroborada quando um

entrevistado colocou que existe um grande índice de câncer entre os trabalhadores, justificou

porém que não está comprovada uma relação direta entre o alto índice de câncer e o uso de

agrotóxicos sem a proteção devida. Como pontos fortes, em alguns perímetros irrigados se pode

encontrar culturas sendo irrigadas por gotejamento (técnica que utiliza menos água na sua

aplicação e causa menos danos ao solo e às plantas).

Conclusão

Com o objetivo de estudar as técnicas de irrigação do Vale do Rio São Francisco e de discorrer

sobre de que forma essas técnicas agridem o meio ambiente, e motivado pela investigação do

desenvolvimento regional e econômico vinculado à sustentabilidade ambiental; este trabalho se

deu pelo entendimento de que é prioritária a necessidade de alertar para o uso consciente da água

no sub-médio São Francisco. Ao fim desse resumo foi possível dimensionar a importância dos

impactos ambientais causados direta e indiretamente pela irrigação e a relevância que esse tema

tem para a sociedade. Entre outros motivos, a qualidade da água de abastecimento das

comunidades Sanfranciscanas pode ser comprometida devido à poluição de águas subterrâneas

ocasionadas pela lixiviação profunda pelos agrotóxicos aplicados em áreas irrigadas. Esse é um

aspecto preocupante, e há a necessidade de alertar a sociedade para que seja cobrado das

96

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

empresas, práticas e políticas que visem uma produção sustentável, buscando juntamente com o

lucro, um manejo adequado de forma a causar o menor impacto ambiental possível, visando uma

agricultura ambientalmente saudável. Tal cobrança pela comunidade, deve- se também ao fato que

a técnica que fornece uma grande quantidade de água à plantação está se tornando cada vez mais

difundida tanto na agroindustria quanto na agricultura familiar, trazendo impactos ao ecossistema.

Se não houver uma consciência ecológica na aplicação dessa técnica, há o perigo de escassez das

águas e outros danos como a salinização devido ao seu manejo incorreto.

Faz-se necessário uma transformação urgente das práticas e manejos de irrigação visando

o desenvolvimento regional sustentável. Igualmente, a conscientização ambiental e mobilização

das comunidades ribeirinhas é imprescindível, para que o Rio São Francisco não se torne

temporário devido ao manejo inadequado desse meio de produção chamado irrigação, e que foi

implantado com a motivação de trazer desenvolvimento econômico para a região (geração de

empregos com a exportação das frutas produzidas no vale e outros investimentos de apoio).

Referências

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. In: FREITAS, M. A. V. O Estado das águas no Brasil

2001-2002: edição comemorativa do dia mundial da água. Brasília: ANA, 2003.

BERNARDO, S. Desenvolvimento da irrigação no Brasil. Rev. Brasileira de Engenharia -

Caderno de Recursos Hídricos, v.7, n.2, p.31-38, 1989.

Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba – CODEVASF.

Apresenta artigo sobre Impactos Ambientais. Disponível em:

<http://www.codevasf.gov.br/programas_acoes/irrigacao/impactos-ambientais>. Acesso em 15

out. 2013.

________. Apresenta relação de projetos institucionais. Disponível em: < http://www.codevasf.gov.br/principal/perimetros-irrigados/elenco-de-projetos>. Acesso em:

10out.2013.

INDRIUNAS, Luis. Como funciona a transposição do São Francisco. Disponível em: <http://

empresasefinancas.hsw.uol.com.br/transposicao-sao-francisco3.htm> Acesso em: 15 de set. 2013.

NOU, E. A. V; et al. Diagnóstico da qualidade ambiental da bacia do Rio São Francisco, sub-

bacias do oeste baiano e Sobradinho. Rio de Janeiro: IBGE, 1994.

RURAL BR. Irrigação transforma o Vale do São Francisco. Disponível em: <

http://agricultura.ruralbr.com.br/noticia/2011/06/irrigacao-transforma-o-vale-do-rio-sao-francisco-

3358592.html>. Acesso em 21 set.2013

SOBRINHO, J. S. Desenvolvimento No Vale Do São Francisco: uma análise crítica.

Disponível em:

<http://www.geografia.fflch.usp.br/inferior/laboratorios/agraria/Anais%20XIXENGA/artigos/

97

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Sobrinho_JS.pdf. Acesso em: 21 de set. 2013.

UNGER, N. M. Da foz à Nascente: o recado do rio. São Paulo: Cortez; Campinas, SP, Editora

da Unicamp, 2001. Disponível em:

http://www.agr.feis.unesp.br/imagens/winotec_2008/winotec2008_

palestras/Impacto_ambiental_da_irrigacao_no_Brasil_Salassier_Bernardo_winotec2008.pdf> e

http://www.codevasf.gov.br/programas_acoes/irrigacao/impactos-ambientais.

BRASIL E ÍNDIA: UTILIZAÇÃO DE ENERGIA RENOVÁVEL NA

ELETRIFICAÇÃO RURAL

Raissa da Matta Almeida1; Regina Celeste de Almeida Souza

1

1

Universidade Salvador – UNIFACS. Respectivamente, graduanda de Iniciação Científica do

curso de Engenharia Ambiental e Sanitária; Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação

em Desenvolvimento Regional (PPDRU). Membros do Grupo de Pesquisa em Turismo e Meio

Ambiente (GPTURIS). Email: [email protected] e [email protected]

Resumo

Este trabalho tem por objetivo discutir aspectos pertinentes a respeito da utilização de fontes

renováveis de energia, especialmente a de natureza solar, na eletrificação rural de localidades

brasileiras e indianas. Para tanto, foi feito levantamento bibliográfico e visita técnica a uma

localidade do semiárido nordestino. Pôde-se concluir que as fontes alternativas de energia são

uma alternativa promissora para se promover a eletrificação rural no Brasil e Índia e estes

apresentam elevado potencial para a exploração da energia solar, garantida pelos excelentes

índices solarimétricos. O trabalho de pesquisa foi desenvolvido no âmbito do projeto “Rio São

Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento”, que estuda o vale desse rio, com foco especial

no Estado da Bahia.

Palavras-chave: Brasil; Índia; Eletrificação Rural; Energia Renovável.

Introdução Esse trabalho foi desenvolvido dentro da temática “Energia e Desenvolvimento” do

projeto “Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento” e teve como principal objetivo

iniciar uma discussão a respeito da utilização de energias renováveis, em especial a solar, na

eletrificação rural de regiões do Brasil e da Índia. Para tanto, se buscou pontuar as diferentes

formas desenvolvimento dos países industrializados e dos emergentes e fazer uma relação entre

Brasil e Índia e as políticas públicas existentes que possam possibilitar a inserção de luz no

campo.

Metodologia

A pesquisa realizada foi pautada basicamente no levantamento de material bibliográfico,

traduções, fichamentos, realização de entrevistas, visita técnica a localidade da Ilha da Canabrava,

98

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

na região de Bom Jesus da Lapa - BA, levantamento de material fotográfico, relatórios parciais de

pesquisa, discussões com a orientadora e co-orientadora e a análise e sistematização dos dados

obtidos.

Resultados e Discussão

Energia é um direito básico de todo cidadão. É um veículo capaz de promover o

desenvolvimento social e econômico de uma região. O acesso à eletricidade proporciona a

integração da educação, dos serviços de saúde, o abastecimento de água, o saneamento básico, a

melhoria nos processos produtivos de pequenos produtores, a universalização da informação e a

qualidade de vida.

Nesse sentido, a eletrificação rural constitui um dos principais desafios da política

energética tanto do Brasil como da Índia no processo de desenvolvimento socioeconômico. Isso

devido ao crescimento e modernização das atividades agrícola e industrial, somado ao

crescimento demográfico. Para atingir o desenvolvimento estas nações tem como principais

desafios atingir os Objetivos do Milênio estabelecidos pela ONU, além de garantir o acesso à

energia a toda a população, a segurança energética e a questão das mudanças climáticas.

Programas criados a partir de ações públicas são de extrema necessidade para a promoção da

igualdade social. As políticas públicas após serem traçadas e formuladas, desdobram-se em

planos, programas, projetos, bases de dados ou sistema de informação e pesquisas. E nesse

sentido, os programas relativos à eletrificação rural e utilização de energia renovável se fazem

extremamente necessários, a exemplo do Luz Para Todos no Brasil e Lighting a Billion Lives na

Índia.

Conclusão

Os países industrializados na busca de manter os níveis de crescimento buscam cada vez

mais a diversificação das fontes de abastecimento energético, enquanto que é preocupação

primária dos países emergentes possibilitar o acesso à energia a todos os cidadãos tendo como

principal desafio o viés sustentável. A utilização de energias renováveis na eletrificação rural

ainda é incipiente tanto no Brasil quanto na Índia. O processo de globalização leva as diversas

regiões desses países a buscarem maior integração e tendo em vista as questões ambientais

discutidas no âmbito global, há uma necessidade maior de democratizar as tecnologias ambientais,

fato principal motivador deste projeto, considerando que muitas regiões detém um grande

potencial para o desenvolvimento de energias renováveis. As diferenças regionais e sociais

derivam de fatores históricos, climáticos bem como da disponibilidade de recursos naturais. Ainda

pode-se evidenciar a questão de logística entre os centros urbanos ou de maior desenvolvimento e

aqueles localizados na periferia com maior dificuldade de conexão. Diante disso, no semiárido

nordestino, as tecnologias de energia renovável, sobretudo a solar, poderiam ser mais utilizadas

para levar energia a milhares de famílias, possibilitando melhorias na educação, saúde e qualidade

de vida. Soma-se a isso a importância da existência de políticas públicas que visem a utilização e

divulgação das energias limpas.

Referências

99

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

CRESESB. Informe PRODEEM. Energia para as comunidades isoladas. Disponível em:

http://www.cresesb.cepel.br/publicacoes/download/periodicos/informe_prodeem.pdf. Acesso em

maio, 2013.

GOLDEMBERG, J. The Brazilian Energy Initiative. World Summit on Sustainable

Development; Johannesbourg, South Africa; 2002; Executive Sumary. Disponível em:

http://www.ambiente.sp.gov.br/wp-content/uploads/2011/10/Iniciativa-Brasileira-de-Energia.pdf.

Acesso em: abril, 2013.

REIS, Lineu Belico dos. Matrizes energéticas: conceitos e usos em gestão e planejamento.

Barueri, SP: Manole, 2011. 187 p

VECCHIA, Rodnei. O meio ambiente e as energias renováveis: instrumentos de liderança

visionária para a sociedade sustentável. São Paulo , SP: Manole, 2010. 334 p.

100

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

OPARÁ: ENERGIAS RENOVÁVEIS E DESENVOLVIMENTO

REGIONAL11

Maria Cândida Arrais de Miranda Mousinho

2; Regina Celeste de Almeida Souza

3.

2

Universidade Federal da Bahia (CieNam) e Instituto Federal da Bahia. Grupo de Pesquisa em

Turismo e Meio Ambiente (GPTURIS/UNIFACS). Email: [email protected] 3

Universidade Salvador - UNIFACS. Professora Doutora do Programa de Pós-graduação em

Desenvolvimento Regional e Urbana (PPDRU). Líder do Grupo de Pesquisa em Turismo e Meio

Ambiente (GPTURIS). Email: [email protected]

Resumo

O artigo aborda a questão do desenvolvimento no âmbito da inserção de novas tecnologias na área

de energias renováveis nos municípios de Xique-Xique e Barra localizados no semiárido

Nordestino, mais precisamente no Médio São Francisco. Este trabalho é um dos produtos da

pesquisa intitulada ‘Opará: energias renováveis e desenvolvimento regional’ integrante do

‘Projeto Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento’ o qual estuda o vale do

mencionado rio, especialmente dentro dos domínios do Estado da Bahia.

Palavra-chave: Energia Renovável; Desenvolvimento; Governança e ‘Programa Luz para

Todos’.

Introdução

O São Francisco é considerado o maior rio genuinamente brasileiro, pois ele nasce e

desemboca dentro do território deste país. O vale deste rio abarca uma área que, fazendo uma

comparação em extensão territorial, é maior do que a da Áustria, Portugal, Itália e da Grécia

juntos, abrangendo, por tanto, mais de quinhentos municípios do total dos Estados por onde passa.

O rio São Francisco é perene e vem demonstrando ao longo da história a força de sua

capacidade hídrica mediante a construção de diversas barragens. Ademais, no seu vale estão

presentes diversas instituições e empresas de renome internacional, além do maior projeto de

irrigação da América Latina. No entanto, essa região apresenta consideráveis índices de pobreza.

Diante de uma situação em que ainda coexistem problemas como a má distribuição de

renda, o analfabetismo, a degradação ambiental e a falta de água, o Vale Sanfranciscano continua

sendo contemplado como uma região pobre que necessita de políticas promotoras de

desenvolvimento.

11

Este trabalho é fruto de uma pesquisa voluntária da coordenadoria de Desenvolvimento Regional dos

Companheiros das Américas Comitê Bahia/Pensilvânia coordenado pelas professoras Regina Celeste de

Almeida Souza (Universidade Salvador) e Elizabeth Kiddy (Albright College).

j l m

101

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Especialmente pela sua abrangência espacial, o vale do São Francisco é composto por

uma população heterogênea tanto em termos econômicos quanto sociais. É relevante ponderar que

as diversidades de biomas, de culturas e as disparidades econômicas presente do Vale não se

sobrepuseram ao forte vínculo de sua população com o rio ― o que remonta a muitos fatos

históricos.

Ainda no século do descobrimento do Brasil, o São Francisco já começara a ser explorado

na sua foz, particularmente porque a Caatinga e as tribos indígenas da época não permitiam fácil

acesso do colonizador ao interior, o que contribuiu para que esta parte ficasse por mais tempo

“intocada”.

A partir do século XIX, estudos mais detalhados sobre a região sanfranciscana começaram

a ser feitos, com destaque para os trabalhos do francês Emmanuel Liais, do alemão Henrique

Halfeld e do brasileiro Teodoro Sampaio por encomenda do Império do Brasil. No entanto, foi

somente a partir da segunda metade do século XX que investimentos, dentro do modelo

“desenvolvimentista” adotado pelo país contribuíram para dar contornos mais “modernos” a

região, como, por exemplo, a criacao da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) e

das hidrelétricas ao longo do seu vale.

Embora não se possa contestar a grandiosidade do rio São Francisco, parece um

contrassenso afirmar que a população que vive à sua margem sofre com escassez de água. Esse

problema se deve a vários fatores: clima, degradação ambiental, falta de políticas eficientes e/ou

da implementação delas, além de considerar uma particularidade: a diferença entre a Caatinga no

Brasil e áreas com as mesmas características em outros países é que no Brasil o homem está

presente em toda a parte e não só nas imediações do rio (WWF, 2008).

A escassez de água é um dos motivos-chave da pobreza local. Essa questão atinge

também os pequenos latifundiários, já que a seca torna a terra improdutiva para o

desenvolvimento de determinadas culturas ou para a criação de animais. Segundo Nicia Santos

(2006, p. 38) a irrigação, reconhecida como elemento importante no combate à pobreza e a seca

da região é dificultada pela falta de energia para mover bombas, máquinas e equipamentos

relacionados.

Cabe ressaltar que, o lapso de energia contribui não somente para o aumento dos índices

de pobreza relacionados à agropecuária mais também para àqueles ligados a comunicação,

habitação, tecnologia e saúde. Dessa forma, tornam-se imprescindíveis investimentos na área de

energia para a região do vale do São Francisco que contribuam para o alcance das Metas do

Milênio estabelecidas pelas Nações Unidas.

Dessa maneira, as energias alternativas surgem como uma possibilidade de promover o

desenvolvimento regional. O uso de modalidades alternativas de energia, como a solar pode

contribuir para a região sanfranciscana através da iluminação elétrica pública ou residencial para

localidades distantes dos centros urbanos, da utilização nas atividades produtivas bem como para

mitigar necessidades básicas no campo da saúde (como no armazenamento de vacinas).

Devido às suas características geográficas peculiares, à energia solar se apresenta como

uma das principais alternativas à região do São Francisco. A aplicabilidade desse tipo de energia

no semiárido se dá, segundo Santos (2006, p.41) por um conjunto de fatores como: a) a presença

de radiação solar abundante na região; b) condições específicas para o atendimento elétrico nas

zonas rurais da região; c) ser descentralizada, apresentar modularidade e custos relativamente

102

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

baixos se comparados à implantação convencional; d) ser uma alternativa para amenizar o

problema das secas a partir do bombeamento de água; e) impactos positivos para a população em

relação aos usos produtivos e fins de iluminação.

A energia ou a utilização dos recursos para sua geração é uma questão relevante e, no

cenário atual assume, no bojo das discussões multilaterais, um papel central. O vale do São

Francisco não pode ficar fora desse contexto. As usinas hidrelétricas presentes no vale são

exemplos de energia limpa, contudo, e especialmente tendo em vista a crise do petróleo e de

alimentos e o aquecimento global somadas à necessidade do povo dessa região, os investimentos

em outras fontes de energia renovável devem deixar de ser incipientes, pois a promoção dessas

fontes na conjuntura global é um fator preponderante para se alcançar o desenvolvimento

regional.

Assim, esse trabalho teve como foco estudar como a implantação de energias renováveis

nos municípios sanfranciscanos de Xique-Xique e Barra foi promovida. Seus objetivos se

concentraram em: a) identificar se existe política de promoção de energia renovável na região

estudada; b) verificar se há fontes de energias renováveis já instaladas na região e identificá-las; c)

analisar a relação entre o desenvolvimento dessas tecnologias na região e o desenvolvimento

regional, observando as Metas do Milênio estabelecidas pelas Nações Unidas; d) identificar os

principais problemas relacionados ao desenvolvimento dessas tecnologias na região; e) verificar a

relação entre educação/energias renováveis.

Metodologia

Os procedimentos metodológicos considerados os mais importantes durante o processo de

investigação foram às visitas técnicas e as entrevistas. O levantamento do referencial teórico

também permitiu identificar previamente se havia política de incentivo de fontes de energia não

convencionais na região bem como identificar a priori quais seriam essas fontes. Além disso, a

metodologia se pautou na observação sistemática participante e não participante, na

documentação fotográfica, na confecção de relatórios e comunicações sobre os resultados dos

trabalhos de campo.

Resultados e Discussão

Na área que compreende os municípios de Barra e Xique-Xique os investimentos no

campo das energias renováveis são incipientes. Apesar de existir sondagens de empresas

pertencentes sobre possibilidades de desenvolvimento de projetos nas áreas de energia eólica,

solar e biocombustíveis, a iniciativa que se apresentou de forma mais abrangente e efetiva está

pautada em uma política do governo federal no âmbito do Programa Nacional de Universalização

do Acesso e Uso da Energia Elétrica (Luz para Todos).

Segundo a executora do supracitado programa no Estado baiano, a Companhia de

Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba), foram definidos critérios fundamentais para estabelecer

quais as áreas prioritárias a serem atingidas pelo ‘Luz para Todos’ e, teriam preferência de

atendimento, àquelas localidades que abrangessem o maior número dessas exigências (COELBA,

2010).

A elegibilidade dos municípios de Xique-Xique e Barra se deveram ao fato de eles

contemplarem a maior parte dos critérios adotados: a existência das áreas de proteção ambiental –

103

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

APAs (Lagoa de Itaparica e Dunas e Veredas do Baixo-Médio São Francisco); a presença da

agricultura familiar e do artesanato como importantes fontes de renda; baixo índice de

desenvolvimento humano, na época: Xique-Xique na 365a no ranking estadual com 0,580 e Barra

na 350a posição com índice de 0,585 (SECRETARIA DE AGRICULTURA, IRRIGAÇÃO E

REFORMA AGRÁRIA, 2006); atividades de extrativismo, realizadas por comunidades

tradicionais nas ilhas situadas entre os dois municípios, bem como a questão das escolas públicas

e dos postos de saúde nessas localidades sem atendimento elétrico; a necessidade do investimento

em energia que ajude a fomentar o desenvolvimento local, dentre outros.

A obrigatoriedade da universalização do serviço público de energia elétrica e a

possibilidades de altos custos de atendimento em função da maior distância das redes (COELBA,

2010) fizeram com que as executoras passassem a empregar os sistemas fotovoltaicos

domiciliares (SFD) como parte do seu programa de eletrificação.

De março de 2004 a outubro de 2010 foram instalados, no município de Barra, 242 kits de

placa solar em quatro comunidades e uma ilha e, no município de Xique-Xique, 683 kits em trinta

e uma comunidades, sendo trinta delas em ilhas (COELBA, 2010). A Coelba terceiriza o serviço

de instalação das placas a outra empresa sediada na cidade de Xique-Xique que também está apta

a resolver possíveis problemas que a comunidade possa ter com essa ‘nova’ tecnologia. Até o ano

de 2013: 2225 kits foram instalados em Xique-Xique e 6041 em Barra (COELBA, 2013).

O referido kit é constituído de um painel sobre o telhado, uma caixa onde estão

localizadas as baterias, um controlador de carga, três luminárias e duas tomadas. Em algumas

construções públicas ou domiciliares a caixa onde se encontram as baterias fica suspensa cerca de

1 metro do chão por conta de possíveis alagamentos do rio São Francisco. Com o kit é possível

instalar três lâmpadas, um televisor colorido de quatorze polegadas, uma antena parabólica e um

rádio AM/FM de pequeno porte (Visitas técnicas, 2008).

Nas viagens técnicas realizadas durante a pesquisa, foi possível acompanhar as etapas de

instalação dos painéis solares desde o momento de sua colocação. Também visitas as primeiras e

as mais recentes comunidades contempladas com esse tipo de distribuição elétrica foram feitas,

onde puderam ser constatadas diversas transformações vislumbradas ‘pós-instalação’ das

referendadas placas na região.

Mediante o depoimento de moradores durante as visitas às comunidades pode-se

depreender que houve um aumento da interação na sociedade local, melhor rendimento escolar,

continuidade de tradições mediante a história oral, além de outras decorrências diretas sobre o

desenvolvimento desse espaço territorial.

Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) são parte de um projeto das Nações

Unidas no qual 191 países-membros, incluindo o Brasil, se comprometeram a atingir, até o ano de

2015. Ainda longe de cumprir tais metas até 2015, muitos dos problemas na região de Xique-

Xique e Barra ― com a chegada da energia elétrica através das placas solares, começaram a ser

mitigados.

Em relação ao ensino básico, as escolas com placas solares mudaram até mesmo algumas

metodologias: pode-se estudar à noite com maior flexibilidade de horário ‘pós-aula’ formal e as

crianças usam os recursos audiovisuais como novas formas de aprendizado como pôde ser

visualizado nas ilhas do Guaxinim e do Miradouro em Xique-Xique. Além disso, salienta-se que o

suprimento de energia (mesmo o básico) contribui diretamente para diminuir a tendência da

104

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

migração da população residente em centros periféricos para as sedes municipais à procura de

melhores condições relacionadas ao campo educacional.

Quanto à promoção da igualdade entre os sexos e maior autonomia das mulheres, pode-se

citar o caso do artesanato, especialmente na comunidade de Passagem em Barra, localidade em

que a maioria das mulheres trabalha na produção de artesanato de barro: a exemplo dos utensílios

domésticos como cuscuzeiros, moringas e panelas – as quais podem ser levadas diretamente ao

fogo. Todos os artefatos apresentam detalhes em pintura desenvolvidos pelas artesãs.

A geração de energia solar, segundo as próprias artesãs, em entrevista concedida em sua

casa de produção, fez com que a renda obtida por elas com a venda de produtos aumentasse, pois

agora podem trabalhar à noite; contudo, o custo de transporte no que tange ao escoamento da

produção é algo que as inquieta diante da meta de venda que elas almejam ter.

No que se refere à saúde, particularmente, pode-se citar a relação entre as energias geradas

a partir de painéis solares e uma das formas mais primitivas de gerar luz: o candeeiro – o qual gera

fumaça altamente poluente que causara diversos problemas respiratórios notadamente em crianças

e idosos.

Uma das metas dos Objetivos do Milênio é buscar a garantia da sustentabilidade

ambiental. Em relação ao programa ‘Luz para Todos’ e a implantação de energias renováveis no

espaço analisado, percebeu-se, inicialmente, que não se faz, entre os beneficiados pelo programa e

os demais partícipes desse processo, nenhuma relação imediata entre os painéis solares e a

importância deles no contexto ambiental. Evidencia-se, nesse sentido, o valor do programa ‘Luz

para Todos’ é basicamente econômico.

Apesar da curiosidade das comunidades pesquisadas, a conscientização coletiva quanto ao

que sejam energias renováveis e sua ligação com as questões ambientais (e.g.: tipologia, menor

índice de poluição gerado, aquecimento global, dentre outras), ainda é elementar.

Conclusão

Os investimentos na área de energias renováveis significam mais que impactos

econômicos positivos locais: são sinônimos de acessibilidade, de interação e integração a rede de

mercados global e de democratização de serviços. Ademais, há implicações ambientais positivas

tendo em vista o cenário e as projeções referentes ao aquecimento global.

A análise do São Francisco dentro dos mais variados campos de estudo não é uma

atividade recente e a complexidade da região faz com que as pesquisas não se encerrem. Tema de

muitos discursos políticos, responsável pela promoção de muitas entidades e pessoas, alvo da

literatura nacional, curiosidade dos aventureiros, sobrevivência do sertanejo, o rio São Francisco

corre manso, talvez evidenciando que as diferenças, as lutas, a altivez dos discursos políticos, a

degradação de suas margens, fez dele antes de tudo um forte12

, um símbolo de resistência como os

próprios habitantes da região.

Referências

12

Em alusão a frase “o sertanejo é antes de tudo um forte“ que está presente na obra literária “Os Sertões”

de autoria de Euclides da Cunha. Obra polêmica já que em alguns trechos o autor ressalta a mestiçagem

como algo negativo e preconceituoso já que fala de uma raça superior de colonização.

105

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

SANTOS, N. M. S. Energia solar para a irrigação no semi-árido baiano: o caso da

Associação dos Produtores e Horticultores do Açude do Rio do Peixe, Capim Grosso (BA),

Bahia Análise e Dados, Salvador, v. 16 n. 1 p. 37-50, Junho, 2006.

Vale do São Francisco 500 anos de integração nacional, Aspectos Macroeconômicos.

Disponível em: <www.valedosaofrancisco.com.br/Municipios/AspectosMacroeconomicos.asp>

Acesso em: Maio de 2010.

CODESVASF. Companhia dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, Aspectos Sociais.

Disponível em: http://www.codevasf.gov.br/osvales/vale-do-sao-francisco/aspectos-sociais.

Acesso em: Maio de 2010.

Vale do São Francisco 500 anos de integração nacional, História. Disponível em: <www.

valedosaofrancisco.com.br/Cultura/Historia.asp> Acesso em: Abril de 2009.

WWF, Brasil, Ameaças. Disponível em: <www.wwf.org.br/natureza_brasileira/biomas/bioma_

caatinga/bioma_caatinga_ameacas/index.cfm.> Acesso em: Maio de 2009.

MOUSINHO, M. C. A. M. Análise das Ações de Educação Ambiental em Itacaré-Bahia.

2005.

MOLINA, S. E.; RODRÍGUEZ, S. A. Planejamento integral do turismo: um enfoque para a

América Latina. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2001.

106

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento - Novos Olhares Sobre o Semiárido

Paulo Afonso, 2013.

Contatos

UNIFACS

Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano

Endereço: Rua Dr. José Peroba, nº251, sala 701,Stiep, Salvador-BA, CEP:41770-235

Telefone: (71) 32738528

E-mail: [email protected]

GPTURIS/Grupo de Pesquisa em Turismo e Meio Ambiente

Telefone: (71) 3271 8787

E-mail: [email protected]

V Workshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento

E-mail: [email protected]