O USO DE PLANETÁRIOS COMO RECURSO EDUCACIONAL NO …

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CADERNO DE FÍSICA DA UEFS 18 (01): 1503.1-16 2020 1503.1 O USO DE PLANETÁRIOS COMO RECURSO EDUCACIONAL NO ENSINO DE CIÊNCIAS 1 Guilherme Silva (1), Marildo Pereira (2) (1-2) Mestrado Profissional em Astronomia. Departamento de Física. Universidade Estadual de Feira de Santana. Bahia. Brasil. E-mail: [email protected]. A performance dos estudantes da educação básica em diversos indicadores educacionais, nas disciplinas de exatas, tem sido um problema de destaque no Brasil, e em particular na Bahia. A busca por estratégias para aumentar o interesse e melhorar o rendimento dos estudantes é um desafio para os educadores, e neste sentido, o trabalho aqui exposto descreve uma proposta de intervenção escolar com uso de conteúdos de Astronomia, como abordagem interdisciplinar no CETEP Portal do Sertão - Feira de Santana - BA. O ambiente é uma escola pública do ensino profissional integrado ao ensino médio, e a idéia central é a introdução de exibições de sessões de vídeos com temas da Astronomia para inserção do estudante no campo das ciências e sua compreensão dos conceitos das ciências exatas. O trabalho tem sido empregado pontualmente em uma escola pública e a proposta a ser adotada de forma sistemática é aqui descrita. Palavras chave: Astrodidática Lúdica, Tecnologias Educacionais, Ensino de Ciências Figura 1. 1- INTRODUÇÃO Vários indicadores educacionais, nacionais e internacionais, que avaliam o nível da educação básica do Brasil apresentam resultados preocupantes na qualidade do ensino das nossas escolas. Mais inquietante ainda é desempenho dos estudantes nas disciplinas de Ciências Naturais e Exatas, em especial Física, Química e 1 Anais do I Workshop do Mestrado Profissional em Astronomia, 13 a 15 de Setembro de 2018, Feira de Santana

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CADERNO DE FÍSICA DA UEFS 18 (01): 1503.1-16 2020

1503.1

O USO DE PLANETÁRIOS COMO RECURSO EDUCACIONAL NO

ENSINO DE CIÊNCIAS1

Guilherme Silva (1), Marildo Pereira (2)

(1-2) Mestrado Profissional em Astronomia. Departamento de Física. Universidade Estadual de Feira de Santana. Bahia.

Brasil. E-mail: [email protected].

A performance dos estudantes da educação básica em diversos indicadores educacionais, nas disciplinas de exatas, tem sido

um problema de destaque no Brasil, e em particular na Bahia. A busca por estratégias para aumentar o interesse e melhorar

o rendimento dos estudantes é um desafio para os educadores, e neste sentido, o trabalho aqui exposto descreve uma proposta

de intervenção escolar com uso de conteúdos de Astronomia, como abordagem interdisciplinar no CETEP Portal do Sertão

- Feira de Santana - BA. O ambiente é uma escola pública do ensino profissional integrado ao ensino médio, e a idéia central

é a introdução de exibições de sessões de vídeos com temas da Astronomia para inserção do estudante no campo das ciências

e sua compreensão dos conceitos das ciências exatas. O trabalho tem sido empregado pontualmente em uma escola pública

e a proposta a ser adotada de forma sistemática é aqui descrita.

Palavras chave: Astrodidática Lúdica, Tecnologias Educacionais, Ensino de Ciências

Figura 1.

1- INTRODUÇÃO

Vários indicadores educacionais, nacionais e internacionais, que avaliam o nível da educação básica do

Brasil apresentam resultados preocupantes na qualidade do ensino das nossas escolas. Mais inquietante ainda é

desempenho dos estudantes nas disciplinas de Ciências Naturais e Exatas, em especial Física, Química e

1 Anais do I Workshop do Mestrado Profissional em Astronomia, 13 a 15 de Setembro de 2018, Feira de Santana

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Matemática, que a cada ano se distanciam da meta desejável. Diante dessa realidade, é imprescindível que se

realizem ações localizadas nas escolas, com meios disponíveis ou alternativos, pela carência de recursos, em

busca da melhoria no processo ensino-aprendizagem e estímulo ao interesse do estudante pelo campo das

ciências.

A Astronomia, explorada em planetários na escola, surge como uma ferramenta tecnológica e como um

recurso didático para tentar aproximar o estudante das ciências, bem como para dar um sentido aos conceitos

de Matemática e Física estimulando o aprendizado do estudante, a melhoria do seu desempenho escolar e uma

melhor formação para prosseguir a vida acadêmica e se preparar para os cenários desafiadores do mundo do

trabalho.

A inserção do planetário no âmbito escolar almeja interferir positivamente no aprendizado de 46

estudantes do ensino médio técnico do Centro Educacional de Educação Profissional do Portal do Sertão

(CETEP Portal do Sertão) em Feira de Santana – BA, no âmbito das ciências exatas, tornando disponível aos

alunos acessos periódicos aos planetários disponíveis na cidade, explorando cientificamente as apresentações

fulldome com vídeos previamente editados envolvendo o Sistema Solar, seus principais elementos e os grandes

Instrumentos de observação dos astros da nossa Galáxia.

Os estudantes envolvidos no projeto possuem faixa etária entre 15 e 17 anos, vindos majoritariamente

de escolas públicas. Apresentam baixo desempenho nas disciplinas de ciências exatas, como matemática, física

e química. Um perfil superficial mostra que todos os estudantes mostra o seguinte:

- possuem smartphone e acesso à internet na escola e em casa;

- apresentam bastante interesse pela Astronomia, mas com pouco ou nenhum conhecimento sobre o

Sistema Solar, Planetas, Estrelas, a Via Láctea e a dinâmica dos corpos celestes;

- já estudam parte do conteúdo de mecânica em disciplinas de Física;

- possuem noção, por exemplo de quais são as principais grandezas físicas e quais são as correspondentes

unidades de medidas;

- conhecem o comportamento dos corpos em movimento com e sem efeito da aceleração;

- conhecem as principais equações do movimento uniforme e uniformemente variado;

- possuem um entendimento razoável da aceleração de gravidade terrestre e do movimento vertical dos

corpos (queda livre e lançamento vertical);

- reclamam significativamente do uso da Matemática na Física e a grande maioria apresenta sérias

dificuldades na resolução de equações algébricas, na execução de operações aritméticas como radiciação ou

potenciação;

- não compreende as aplicações da trigonometria do triângulo retângulo.

Com a tese de que o uso da Astronomia pode despertar mais interesse dos estudantes com este perfil

descrito, a proposta do trabalho aqui exposto visa fazer uma abordagem de alguns problemas de

Física/Matemática, permeados com problemas que envolvam uma contextualização na Astronomia

2 - REFERENCIAL TEÓRICO

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A nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento definido na Lei de Diretrizes:

Para suportar o projeto, tomou-se como suporte as recomendações contidas na BNCC (Base Nacional

Comum Curricular), juntamente com o interesse que temas de Astronomia podem despertar nos estudantes.

Também é abordado como ferramentas, tais como os planetários podem contribuir num contexto de espaço não

formal de ensino. Desta forma é feito aqui uma breve explanação de alguns destaques associados com estes

alicerces norteadores.

2.1 - A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E A ASTRONOMIA

A nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento definido na Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996), normatiza um conjunto orgânico e progressivo de conhecimentos

considerados essenciais a todos os estudantes do país os quais devem ser seguidos durante os três ciclos da

Educação Básica por todas as escolas do país com o objetivo de assegurar a aprendizagem dos estudantes por

meio de dez competências gerais pedagogicamente consolidadas. Dentro dessas competências, a inserção da

Astronomia por meio de planetários está diretamente relacionada com pelo menos cinco das mencionadas

competências. Ver Tabela 1 para os detalhes.

Tabela 1 - Competências Gerais da Educação Básica [1]

Características das Competências Gerais da Educação Básica

1 Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social,

cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a

construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

2 Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a

investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas,

elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas)

com base nos conhecimentos das diferentes áreas.

4 Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal,

visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e

científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em

diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo

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5 Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica,

significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se

comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e

exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

7 Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e

defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos

humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e

global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.

O desenvolvimento dessas competências demanda habilidades que envolvem conceitos de Matemática

e das áreas ligadas às Ciências da Natureza, incluindo aquelas Tecnologias para garantir uma melhor

assimilação dos conteúdos por parte dos estudantes (Tab. 2). A BNCC [1] cita nas suas propostas de

competências e habilidades, diversas aplicações de elementos da Astronomia, de maneira interdisciplinar, em

busca do melhor aprendizado do estudante.

Tabela 2 – Aplicações que envolvem a Astronomia segundo a BNCC [1]

Habilidades

EM13MAT103

Interpretar e compreender o emprego de unidades de medida de diferentes grandezas,

inclusive de novas unidades, como as de armazenamento de dados e de distâncias

astronômicas e microscópicas, ligadas aos avanços tecnológicos, amplamente divulgadas

na sociedade.

EM13CNT201

Analisar e utilizar modelos científicos, propostos em diferentes épocas e culturas para

avaliar distintas explicações sobre o surgimento e a evolução da Vida, da Terra e do

Universo.

EM13CNT204

Elaborar explicações e previsões a respeito dos movimentos de objetos na Terra, no

Sistema Solar e no Universo com base na análise das interações gravitacionais.

2.2 - ENSINO DE CIÊNCIAS E A ASTRONOMIA

Um dos temas mais motivadores no processo de ensino-aprendizagem das Ciências é certamente a

Astronomia, uma das ciências mais antigas e hoje considerada uma das mais modernas [2], em uma área que

contempla experimentos simples como a observação do céu, uma atividade possível a quase toda a população

mundial, independentemente da idade, e que aguça a curiosidade sobre o que é visível, mas desconhecido. O

homem, desde os primórdios da humanidade, já se encantava com a beleza do céu noturno, com as ocorrências

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dos astros em movimento e também se assombrava com os eclipses e com os outros fenômenos atmosféricos

que influenciaram fortemente filosofia, sociedades, culturas e religiões ao longo da própria história [3]. Com o

passar do tempo, o homem percebeu certa regularidade anual de algumas ocorrências cosmológicas que afetam

a vida na terra, ajudando inclusive a prever certos acontecimentos futuros. A partir desta constatação, surge a

necessidade de observar o céu de maneira sistemática, com recursos ópticos que de fato permitiram entender,

após muitos esforços, o comportamento dos astros, fundamentando assim a inclusão a pleno título da

Astronomia entre as ciências.

No ensino da Astronomia é comum começar com a observação do céu. No entanto, talvez por conta da

influência na mídia, o interesse dos estudantes é voltado para buracos negros, supernovas e exoplanetas, objetos

celestes que não são perceptíveis a olho nu e que, para serem observados, precisam de instrumentação altamente

avançada e tecnologicamente sofisticada. Isso provoca um abismo muito grande entre a percepção dos

estudantes ao olhar o céu e os resultados obtidos pelos instrumentos de última geração usados em astronomia,

dificultando assim uma abordagem pedagógica construtivista para o ensino de ciências na educação básica [4].

Com base nisso, torna-se óbvio afirmar que nas escolas é necessário fazer uso de espaços de educação não-

formais [5], trazendo elementos que possam amenizar o problema da distância entre cotidiano do estudante e

resultados dos grandes centros astronômicos. Somente assim será possível estimular os discentes à manter o

interesse sobre conceitos cosmológicos que conhece de forma superficial mas para os quais possui uma intensa

curiosidade. Por tanto, a Astronomia representa uma ferramenta particularmente eficaz para o ensino de

Ciências nas escolas [6].

2.3 - O PLANETÁRIO NA ESCOLA

A aprendizagem da astronomia, assim como de outros conteúdos científicos, pode acontecer em

diferentes âmbitos educacionais. Por exemplo pode ser feito uso dos tipos de educação formal, informal e não

formal, assim como podem ser usadas atividades voltadas para a popularização da ciência. A educação formal

acontece em espaço escolar, contando com planejamento e estrutura própria, apoiada em bases legais, cujo

conhecimento é sistematizado com a finalidade de ser didaticamente trabalhado; a educação não formal

acontece fora ou dentro da escola, de maneira coletiva, sem obrigatoriedades legais mas de maneira sistemática

e com objetivos predeterminados, ocorrendo, além da própria escola, em museus, cinemas, observatórios,

planetários, feiras e outras instituições não convencionais de educação [7]. A educação informal já acontece de

maneira espontânea, desprovida de intenções e instituições, geralmente ocorrendo em momentos de convívio

com amigos e familiares em momentos casuais.

O uso do planetário nas escolas, assunto amplamente abordado por diversos autores [7] [8]

[9][12][13][14], surge como uma alternativa não formal de educação, que além do aspecto motivacional

apresenta uma função particularmente interessante: aquela de ser um ambiente alternativo para promover o

ensino, pois os diversos recursos disponíveis nestes locais podem enriquecer e complementar os conteúdos

escolares. Ainda assim, os planetários são usados mais como lazer pela sociedade e, por isso, o uso como

instrumento pedagógico demanda estudos sistemáticos para determinar a forma de maximizar o seu efeito

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transformando o potencial educacional em ações concretas e eficazes para o ensino em ambientes não formais

[8].

2.4 - PLANETÁRIOS NA BAHIA

Existe uma quantidade considerável de planetários na Bahia (Tab. 3). Por esta razão várias ações são

realizadas no estado envolvendo planetários fixos e itinerantes (móveis) promovendo, também em pequenas

cidades, a inserção dos jovens à descoberta das ciências por meio da Astronomia explicada em sessões de

cúpula.

Tabela 3 -Planetários na Bahia (2017) [6]

Cidade Instituição Planetário Tipo

1 Amargosa UFRB Planetário do Projeto Astronomia no Recôncavo da

Bahia Móvel

Móvel

2 Feira de

Santana

Prefeitura de Feira

de Santana

Planetário do Museu Parque do Saber

Fixo

3 Feira de

Santana

UEFS

Planetário do Observatório Antares Fixo

4 Feira de

Santana

UEFS

Planetário do Observatório Antares

Móvel

5

Ilhéus

UESC

Observatório Astronômico da Universidade Estadual

de Santa Cruz

Móvel

6 Salvador Museu Geológico

da Bahia

Planetário do Museu Geológico da Bahia Móvel

7 Vitória da

Conquista

IFBA Planetário Gamma Crucis Móvel

8 Vitória da

Conquista

Prefeitura

Municipal de

Vitória da

Conquista

Planetário Professor Everardo Publio de Castro Fixo

Desde o ano de 2003, o Museu Antares de Ciência e Tecnologia (MACT) vem desenvolvendo um

trabalho de popularização de Ciências e Astronomia por meio de sessões em planetário móvel, observações do

céu com instrumentos apropriados e atividades experimentais com os participantes. Essas ações têm o intuito

de aproximar o público jovem de várias cidades da Bahia (distantes dos grandes centros urbanos), das ciências,

almejando a formação do cidadão e melhoria da qualidade de vida [9].

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Mesmo com ações desenvolvidas em algumas regiões da Bahia, no intuito de levar ciências por meio de

planetários à várias cidades, foi identificada uma ausência de metodologia para uma melhor eficiência do uso

desses recursos com o público estudantil [6]. Sendo assim, é importante que se faça uso desta ferramenta de

maneira planejada, objetivando uma aprendizagem significativa ao público alvo e promovendo não somente o

entretenimento, mas principalmente o conhecimento.

3 - PROPOSTA DO PROJETO

Esse trabalho objetiva traçar o perfil dos estudantes, no que se refere ao interesse e conhecimentos em

Ciências e Astronomia e experimentar recursos audiovisuais no formato fulldome em planetários, explorando

elementos da Astronomia e buscando uma relação interdisciplinar com Matemática e Física para alunos do

ensino médio, com o intuito de promover uma melhoria no desempenho dos estudantes na assimilação dos

saberes das ciências naturais e exatas na sua rotina de aprendizagem. Nessa perspectiva, a seguir é reportada a

descrição de quanto já foi realizado e também são descritos alguns aspectos metodológicos, que utilizados ao

longo da execução do projeto:

1. Aplicação do pré-teste sobre conhecimentos e interesses em Ciências e Astronomia.

2. Levantamento dos conteúdos e suas relações com a Astronomia.

3. Encontro presenciais e virtuais para apresentação dos temas abordados nas sessões com Planetários.

4. Preparação do vídeo fulldome para exibição no Planetário.

5. Sessões com Planetário Itinerante (móvel) na escola.

6. Seminário na escola para avaliação do projeto.

7. Divulgação, em portal virtual do projeto, produtos e orientações para outros docentes.

3.1 - APLICAÇÃO DO PRÉ-TESTE

Como está se tornando tradição no Mestrado Profissional de Ensino de Astronomia da UEFS, a

metodologia prevê que seja aplicado um pré-teste para averiguar o estado do público sobre o qual é efetuada

uma determinada intervenção, no presente caso, com foco no interesse na Astronomia e na Ciência em geral.

Neste sentido, foi realizada a aplicação de um questionário, baseado no The Relevance of Science Education

(ROSE) [11], projeto intercontinental cuja foco é aferir o nível de desenvolvimento dos estudantes da educação

básica nas áreas de Ciência e Tecnologia. Esse questionário foi desenvolvido usando os recursos do Google

Drive por meio da ferramenta Google Formulário [10], cuja interface gráfica, acessível com os principais

aplicativos navegadores da internet, tanto para computador quanto para dispositivos móveis, é mostrado em

Figura 2. Característica interessante da plataforma da Google, o formulário é multiusuário, ou seja, cada vez

que um usuário alimenta a página na internet, uma cópia do formulário é criada. Desta forma é possível coletar

separadamente as respostas de cada indivíduo. Remarcável também o fato de que as respostas, dependendo da

configuração imposta pelo criador do formulário, podem ser automaticamente armazenadas e observadas numa

planilha eletrônica on-line, consequentemente acessível via internet, que possui todos os recursos para a análise

estatística e a produção de gráficos exportáveis. A idéia é que o professor tenha acesso instantâneo de respostas

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dos estudantes, para uma intervenção rápida do professor durante o processo de exposição, ou para intervenções

posteriores.

Deste modo, os resultados obtidos com a aplicação do questionário para os estudantes selecionados são

usados para nortear o planejamento das atividades com o planetário na escola. Em particular, permitem a

escolha consciente dos conteúdos a serem trabalhados e consequentemente, dos vídeos fulldome e da sequência

de projeção mais adequada para uma melhor relação conhecimento transmitido / tempo de aula não formal das

projeções.

A seguir são reportados os resultados parciais da aplicação do pré-teste organizados. Na primeira parte,

informações referentes ao público alvo. Sucessivamente o texto mostra quais são os interesses em ciências e a

Astronomia. A seguir são mostradas as respostas sobre o posicionamento pessoal a respeito de afirmações

presentes no pré-teste e sobre o conhecimento de fenômenos astronômicos. Por fim, são apresentadas as

respostas abertas com as quais os estudantes puderam expor as suas perguntas como se fossem direcionadas

diretamente a um astrônomo.

Nas Figuras de 3-10 são apresentados resultados de proporções avaliadas de diversas questões levantadas

ao longo do processo.

A avaliação do gênero do público alvo mostrou iguais proporções de sexo (Figura3), enquanto que a

acessibilidade digital é mostrada na Figura 4.

Figura 2: Interface gráfica do formulário online do pré-teste.

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Mais de 3/4 dos interessados afirmaram ter acesso a smartphone, ou seja, telefone inteligente (veja Figura

4). Esta condição possibilita uma melhor interação com as atividades do projeto, inclusive porque na maioria

dos casos fazem uso da internet para atividades escolares, de pesquisas, para acessar redes sociais e para trocar

mensagens. Na Figura 5 são reportados os detalhe das respostas as quais evidenciam que os smarphones são

usados também como consoles de jogos e para ler notícias.

Figura 3: Levantamento de Gêneros do público alvo.

Figura 4: Quantitativo de alunos que possuem Smartphone.

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Buscando entender qual era o interesse dos estudantes por temas ligados a C&T, o gráfico de Figura 6

mostra o nível de interesse, confiança, aprendizado, influência e respeito das ciências na vida dos estudantes.

Esse item revela que a maioria dos estudante têm respeito dos resultados das ciências, porém apresentam um

baixo interesse pelas ciências exatas.

Observando as respostas dos quesitos expostos nas figuras 7, 8 e 9, se observa que os estudantes não

mostram interesses por temas como a Terra, preterida por emáticas mais exóticas, como vida extraterrestre. Isso

é bastante em contraste com os resultados obtidos com os questionamentos sucessivos (Veja Figuras 10, 11 e

12). Apesar do interesse por algo “longe do cotidiano”, as perguntas sobre conceitos astronômico básicos

evidenciam uma falta de compreensão consideravelmente difusa que pode ser imputada tanto a um desinteresse

para os normais canais educacionais quanto a uma incapacidade de assimilar os conceitos científicos.

Figura 5: Uso da internet pelos estudantes alvos da pesquisa.

Figura 6: Interesses e impactos das ciências.

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Figura 7: Interesses pela Terra, Sol e Lua.

Figura 8: Interesse por outros planetas.

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Figura 9: Interesse sobre vida fora da Terra.

Figura 10: Acredita ver planetas apenas olhando o céu.

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Como mencionado anteriormente, o último item do formulário propõe o desafio de formular uma

pergunta como se fosse direcionada diretamente a um astrônomo. O questionamento, aberto, permite que os

estudantes questionem a respeito do que consideram mais interessante. A ideia aqui é utilizar as respostas para

direcionar a apresentação que seria abordada no planetário, quando da sua exposição. A título de exemplo,

foram selecionadas as 6 perguntas:

1. “Como a estrela se forma? Existem alienígenas no Universo?”

2. “Existe vida fora da Terra? Se sim, qual?”

3. “Seria possível a existência de uma quarta dimensão?”

4. “Por que quando olhamos o espaço, vemos o passado e não o presente?”

5. “Como o Universo se formou?”

6. “Por que o Sol é quente?”

Figura 11: Sobre a Lua ser uma estrela.

Figura 12: Acreditam que o Sol é o centro do Universo.

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Como previsto, os resultados da pesquisa resultaram particularmente valiosos para o projeto como um

todo e estão sendo usados como referência para otimizar a metodologia usada na intervenção didático-

pedagógica em ambiente não formal. Principalmente, permitem direcionar a equipe de trabalho na escolha dos

vídeos a serem usados para desconstruir concepções científicas erradas dos estudantes e guiá-los na direção dos

parâmetros educacionais previstos. Também, servirão como base para avaliar os resultados dos testes que serão

propostos para os estudantes na parte final do projeto. Interessante será determinar a razão entre o delta de

aprendizagem e o tempo da projeção do vídeo, coeficiente este que poderá comprovar ou não a validade da

metodologia proposta.

3.2 EDIÇÃO DOS VÍDEOS FULLDOME

Até o presente momento foi editado um vídeo com a finalidade de exibição no planetário móvel. Neste

vídeo é abordado o tema Sistema Solar. O software escolhido para a edição do vídeo é o Camtasia Studio [15].

O programa possui uma interface gráfica relativamente intuitiva que facilita o seu uso (Figura 13). Também

traz diversos efeitos e recursos suficientes para atender as demandas das criações. As músicas e efeitos sonoros

são fatores determinantes para definir o clima dos temas das apresentações no planetário.

4 - CONSIDERAÇÕES

O presente trabalho apresenta resultados preliminares de um projeto de intervenção no ensino de

Física/Matemática com o uso de recursos tecnológicos digitais aplicados (com o uso de vídeos fulldome) e na

investigação sobre interesse e conhecimento em Astronomia e Ciências em geral, com base no questionário

ROSE, teve um papel relevante nesse trabalho permitindo produzir um material audiovisual apropriado e a

Figura 13: Interface gráfica do Software Camtasia Studio.

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participação direta do estudante no preenchimento dos questionários, por meio da internet e usando os seus

próprios dispositivos digitais, devolvendo em tempo hábil, as informações tratadas no formato de gráficos.

Esse trabalho foi desenvolvido pensando em oferecer uma ferramenta didática com o uso de um

Planetário móvel como um espaço não formal de educação, explorando a Astronomia de maneira lúdica com o

intuito de proporcionar aos estudantes um entendimento e uma atenção mais especial às disciplinas de Física,

Química e Matemática, buscando assim contemplar as habilidades e competências alicerçadas na BNCC e

oferecendo mais uma alternativa didática em busca da melhoria da educação dos nossos jovens. As fases

posteriores do projeto, após a aplicação das atividades de vídeo e do planetário, irão focar nas intervenções

identificadas através das análises dos questionamentos e respostas posteriores à aplicação. Espera-se com isto,

sanar dúvidas e planejar estratégias mais efetivas para que haja uma resposta significativa do aprendizado dos

estudantes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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http://basenacionalcomum.mec.gov.br

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(01 e 02), 7-49.

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Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 35, n. 4, 4501.

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divulgação científica. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 31, n. 4, 4402.

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Planetário como ambiente Não Formal para o Ensino Sobre o Sistema Solar. Revista Latino-Americana

de Educação em Astronomia - RELEA, n. 23, 67-86.

[8] Resende, K. A. (2017). A interação entre o planetário e a escola: justificativas, dificuldades e propostas.

Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino de Astronomia) - Departamento de Astronomia do

Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, São Paulo.

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[9] Torres, T. C. S., Lima, I. J., Santos, J. C. S., Pereira, M. P., Poppe, P. C. R., Martin, V. A. F. (2011). Projeto

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[10] Google Forms. Disponível em https://www.google.com/forms/about

[11] ROSE. (s.d.). The Relevance of Science Education. Acesso em Julho de 2018, disponível em

https://roseproject.no/network/countries/brazil/brazil.html

[12] Dal'Bó, M. H., & Catelli, F. (2005). Astronomia: Explorando suas Origens e Investigando seus

Entrelaçamentos no Ensino de Física. Anais do XVI Simpósio Nacional de Ensino de Física, 24 a 28 de

janeiro de 2005. CEFET – RJ. Rio de Janeiro.

[13] Gonzalez, E. A., Nader, R. V., Mello, A. B., & Pinto, S. d. (12 a 15 de Setembro de 2004). A Astronomia

como Ferramenta Motivadora no Ensino das Ciências. Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão

Universitária. Belo Horizonte - MG, p. 1 a 7.

[14] Langhi, R., & Nardi, R. (2009). Ensino de Ciências Naturais e a Formação de Professores:

Potencialidades do Ensino Não Formal da Astronomia. São Paulo: UNESP.

[15] Camtasia Studio. Disponível em http://www.techsmith.com