O uso do flúor em Odontologia

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O uso do flúor em Odontologia: Uma estratégia de prevenção em saúde bucal. ROCHA, Camila Vasconcellos*; ARAUJO, Leila Marques*; ARAUJO, Izamir Carnevali**. *Acadêmicas da UFPA; **Professor Orientador MSc. Clínica Integrada UFPA. [email protected] RESUMO O flúor vem sendo utilizado na Odontologia por aproximadamente um século é considerado um dos instrumentos de maior importância dentre o arsenal de medidas que visam o controle da doença cárie, contudo muito se discute sobre seu mecanismo de atuação e formas de emprego. Sabe-se que seu efeito cariostático primário ocorre pela sua presença na cavidade bucal em contato direto com os dentes já irrompidos, interferindo no desenvolvimento da cárie dentária, inibindo a desmineralização e ativando a remineralização do complexo esmalte-dentina. A exposição tópica freqüente e em baixas concentrações de flúor via dentifrícios fluoretados e bochechos confere aos dentes um efeito benéfico protetor com relação à ocorrência de lesões de cárie dentária, assim como o seu uso pela população através da fluoretação das águas de abastecimento. Além disso, através de estudos recentes, sua aplicabilidade tem-se mostrado vantajosa no tratamento de casos de hipersensibilidade dentinária. Atualmente novas formas de aplicação deste método de promoção de saúde bucal vêm sendo aprimoradas, dentre estas podemos destacar sua ação associada ao uso do laser, buscando uma potencialização de sua força preventiva. Objetivamos com este trabalho realizar uma pesquisa sobre o uso do flúor como uma estratégia de prevenção em saúde bucal com uma visão prática de resultados de diversos artigos, analisando também o que há de novo na literatura sobre o uso de flúor em todos os níveis de prevenção de uso individual e coletivo . INTRODUÇÃO O flúor é um agente químico encontrado sob a forma de um gás, levemente amarelado ou amarelo-esverdeado, estando presente nos três reinos da natureza. Ele é usado na Odontologia já há algum tempo, podendo ser empregado de diferentes formas conforme os modos preventivos nos diversos níveis de risco de cárie, ou ainda de acordo com a necessidade de tratamento desta doença e outras alterações como hipersensibilidade dentinária. Por muitos anos o efeito preventivo dos fluoretos foi atribuído à redução da solubilidade do esmalte, resultante da incorporação do flúor na apatita, característica do processo de remineralização do mecanismo DES x RE. Recentemente estudos mais detalhados vêm sendo realizados com o intuito de se determinar seu efeito frente à placa bacteriana. REVISÃO DE LITERATURA

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O uso do flúor em Odontologia: Uma estratégia de prevenção em saúde bucal.

ROCHA, Camila Vasconcellos*; ARAUJO, Leila Marques*; ARAUJO, Izamir Carnevali**.*Acadêmicas da UFPA; **Professor Orientador MSc. Clínica Integrada UFPA. [email protected]

 RESUMO

O flúor vem sendo utilizado na Odontologia por aproximadamente um século é considerado um dos instrumentos de maior importância dentre o arsenal de medidas que visam o controle da doença cárie, contudo muito se discute sobre seu mecanismo de atuação e formas de emprego. Sabe-se que seu efeito cariostático primário ocorre pela sua presença na cavidade bucal em contato direto com os dentes já irrompidos, interferindo no desenvolvimento da cárie dentária, inibindo a desmineralização e ativando a remineralização do complexo esmalte-dentina. A exposição tópica freqüente e em baixas concentrações de flúor via dentifrícios fluoretados e bochechos confere aos dentes um efeito benéfico protetor com relação à ocorrência de lesões de cárie dentária, assim como o seu uso pela população através da fluoretação das águas de abastecimento. Além disso, através de estudos recentes, sua aplicabilidade tem-se mostrado vantajosa no tratamento de casos de hipersensibilidade dentinária. Atualmente novas formas de aplicação deste método de promoção de saúde bucal vêm sendo aprimoradas, dentre estas podemos destacar sua ação associada ao uso do laser, buscando uma potencialização de sua força preventiva. Objetivamos com este trabalho realizar uma pesquisa sobre o uso do flúor como uma estratégia de prevenção em saúde bucal com uma visão prática de resultados de diversos artigos, analisando também o que há de novo na literatura sobre o uso de flúor em todos os níveis de prevenção de uso individual e coletivo .

INTRODUÇÃO

O flúor é um agente químico encontrado sob a forma de um gás, levemente amarelado ou amarelo-esverdeado, estando presente nos três reinos da natureza. Ele é usado na Odontologia já há algum tempo, podendo ser empregado de diferentes formas conforme os modos preventivos nos diversos níveis de risco de cárie, ou ainda de acordo com a necessidade de tratamento desta doença e outras alterações como hipersensibilidade dentinária. Por muitos anos o efeito preventivo dos fluoretos foi atribuído à redução da solubilidade do esmalte, resultante da incorporação do flúor na apatita, característica do processo de remineralização do mecanismo DES x RE. Recentemente estudos mais detalhados vêm sendo realizados com o intuito de se determinar seu efeito frente à placa bacteriana.

REVISÃO DE LITERATURA

Apesar de todo desenvolvimento tecnológico da Odontologia, a cárie dentária continua sendo um grave problema. No controle e prevenção desta doença, em se tratando de agentes químicos, o flúor tem destacada importância e mostrado maior viabilidade.Sabe-se que os agentes fluoretados têm como principal produto formado o CaF2, armazenado como um reservatório de flúor que pode ser dissociado no momento em que ocorre queda do pH durante os processos de desmineralização (Serra, Sartini Filho e Cury, 1989), além de apresentar atividade antimicrobiana e reduzir a capacidade de adesão das bactérias à superfície do dente (Cruz e Rölla, 1991; Brum e Medeiros, 1998). O flúor utilizado pelo paciente dentro de casa está presente em dentifrícios, soluções para bochecho e fios dentais. Todos esses métodos, desde que corretamente prescritos e aplicados, só contribuirão para melhorar a saúde bucal da população.

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Dentifrícios Fluoretados

O flúor dos dentifrícios fluoretados mantém o equilíbrio mineral nos dentes, interferindo na iniciação e progressão da lesão de cárie. Além disso, ativa a saliva e a capacidade remineralizante controlada pelo efeito de limpeza (escovação, remoção da placa bacteriana, ação da saliva) e ação do flúor (efeito remineralizante e preventivo).

Fio Dental com Flúor

O uso do fio dental é o método mais recomendado e eficiente para a remoção de placa interproximal e tem provado sua eficiência na redução de Streptococos mutans nas faces interproximais quando impregnados com fluoretos. Esta combinação no mesmo produto de um agente mecânico e um químico traz um enorme sucesso. Jorgensen et al. (1989), sugerem que há um aumento de flúor no esmalte após uso do fio dental fluoretado. Este resultado é animador, principalmente em se tratando das faces proximais, que são áreas que tem elevado risco cárie, onde uma escova dental e dentifrício com flúor não podem sempre alcançar.

Bochechos Fluoretados

O bochecho com solução de fluoreto de sódio (NaF) apresenta resultados positivos durante a sua utilização na prevenção da cárie dentária. As soluções recomendadas para a técnica são o fluoreto de sódio a 0,05% para bochechos diários e a 0,2% para bochechos semanais. Identifica-se um método vantajoso na redução na incidência da cárie dentária, reforço na capacidade de resistência do esmalte (ação remineralizadora e cariostática) e inibição enzimática das bactérias da placa.É um método abrangente e seletivo, e ainda permite continuidade de aplicação e exercício da educação preventiva, além de ter um custo reduzido, por isso muitas vezes se apresenta como método preventivo de escolha em Saúde Pública. É também de fácil e segura aplicação, mas deve ser recomendado após avaliação profissional de sua real necessidade, não sendo indicados para crianças menores de seis anos (Amarante, 1983).

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Verniz com Flúor

Ajuda a proteger todas as superfícies dentárias. Normalmente possuem uma concentração elevada de flúor (20 vezes superior aos cremes dentais) mas são usados em pequenas quantidades a fim de serem seguros. Uma vez aplicados, os vernizes liberam lentamente flúor durante várias horas.

A importância da fluoretação em águas de abastecimento público ficou evidente a partir da comprovação da eficácia no combate à cárie dentária, representando um mecanismo efetivo e com uma ação em massa, além de uma estratégia do Governo para concretizar as políticas de saúde pública no Brasil como práticas de saúde coletiva. Existem ainda outras formas mais recentes de utilização e aplicabilidade do flúor como sua utilização combinada ao uso do laser na prevenção, aumentando a resistência do dente à cárie. Verificando o efeito da utilização de aplicações tópicas de flúor e da irradiação laser sobre a absorção de flúor pelo esmalte e sua resistência ao ataque ácido, através de análise química e microscopia eletrônica, Tagomori & Morioka, em 1990 obtiveram como resultado, que a aplicação tópica de flúor fosfato acidulado depois da aplicação do laser, produziu as mais altas concentrações de flúor no esmalte, junto com um aumento nos piques de cálcio e fósforo, indicando uma concentração mais alta de fluoreto de cálcio incorporado ao esmalte.O flúor também pode ser empregado no tratamento de hipersensibilidade dentinária por meio do uso de pastas contendo fluoreto de sódio; vernizes contendo fluoreto, estes acabam por formar cristais de fluoreto de cálcio que bloqueiam a abertura dos túbulos dentinários;

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além da Iontoforese, que possibilita a transferência de íons de flúor sob pressão elétrica para a superfície do corpo, mais profundamente nos túbulos dentinários.A aplicação dos fluoretos também está presente na clínica restauradora através da utilização de materiais que liberam flúor para a cavidade, “restaurações terapêuticas”, como o ionômero de vidro. A adesão à estrutura dental e a lenta liberação de flúor são duas vantagens dos cimentos de ionômero de vidro (Busato, 1996).Quanto maior o uso de materiais restauradores e selantes oclusais liberadores de flúor, mais reservatórios desta substância existirão no meio bucal, o que favorece a redução do número de colônias de S. mutans em relação a um meio de ausência destes materiais ( Koch,1995).Surgiram os compômeros, materiais resinosos com capacidade de liberação de flúor (Costa, 1996). O flúor também encontra-se presente em outros materiais como resinas compostas, sistemas adesivos e sistemas para cimentação.A adição de flúor ao adesivo dental poderia realçar a integridade marginal da interface restauradora, ajudando a minimizar lesões de cárie recorrentes e enfatizando que o potencial de liberação de flúor condicionaria a escolha de um sistema adesivo dental.

CONCLUSÃO

Diversas são as possibilidades de utilização do flúor nos mecanismos de prevenção e promoção de saúde, vastos também são seus resultados positivos no tratamento de processos já instalados. No entanto, deve-se desenvolver e disseminar a idéia da Odontologia Preventiva, a possibilidade de prevenção deve ser considerada como o melhor tratamento que a odontologia pode oferecer no momento, deixando de estar preso à tradição do reparo e partindo para atitudes mais inteligentes onde os materiais ou a técnica restauradora em si, que a princípio detinham o papel principal na resolução de problema, assumem uma função auxiliar no controle e tratamento da doença em todos os níveis de atenção.

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Evidências para o uso de fluoretos em Odontologia

Por que usar fluoreto em Odontologia e seu mecanismo de ação anticárie - Parte I

Dentre os mais diversos agentes preventivos ou terapêuticos de sucesso, que causaram um

impacto importante na saúde e qualidade de vida das pessoas, talvez seja difícil encontrar

um que se assemelhe ao íon flúor (fluoreto = F-). Não há quem não saiba, mesmo entre os

indivíduos com menor acesso ao conhecimento gerado no meio científico, que “o flúor

protege os dentes da cárie”. Por outro lado, o mecanismo de ação é muitas vezes

interpretado de forma inadequada, não sendo raro encontrar descrições incorretas ou

inapropriadas como: fortalece os dentes, inibe a produção de ácidos produzidos pelas

bactérias da placa dental, método sistêmico de uso de flúor, entre outras, que muitas vezes

dificultam a adequada indicação deste íon na prevenção da cárie

Frente aos mais diversos meios de uso e novos produtos lançados no mercado em todo

momento, fica difícil indicar o mais adequado, em nível populacional ou individual, sem que

a real ação do íon na cavidade bucal seja conhecida. O objetivo dessa série intitulada

“Evidências para o uso de F- em Odontologia” é discutir os mais diversos aspectos do uso

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deste íon na prevenção da cárie, desde seu mecanismo de ação (parte 1), os meios de

utilização (parte 2) e as limitações de seu uso, em termos de toxicidade aguda e crônica

(parte 3).

 Ilustração do efeito do fluoreto na dinâmica do

desenvolvimento da cárie dental e o conseqüente resultado clínico

O primeiro conceito importante é: o mecanismo de ação do íon flúor é sempre o

mesmo , independente do meio de utilização. Água fluoretada, dentifrícios, bochechos,

produtos para aplicação profissional, materiais odontológicos que liberam fluoreto, todos

agem da mesma forma: fornecem íons flúor para a cavidade bucal. É necessário mais do

que o simples conceito de que o mineral fluorapatita (FA) é menos solúvel do que a

hidroxiapatita (HA) da estrutura dental, para entender este mecanismo de ação.

Quando as primeiras observações de que populações que consumiam água naturalmente

fluoretada apresentavam um menor índice de cárie foram feitas, acreditou-se que o mineral

FA incorporado ao dente seria importante para diminuir a sua solubilidade. Essa idéia

perdurou por mais de meio século, e ainda hoje vemos tal descrição em divulgações sobre o

mecanismo de ação do flúor. No entanto, mesmo que o dente seja enriquecido com uma

grande quantidade de FA, a porcentagem em relação ao mineral total não chega a 10%.

Portanto, a menor solubilidade do mineral FA não muda significativamente a solubilidade do

dente enriquecido com ela! E, portanto, não é necessário incorporar F- ao dente em

formação (efeito sistêmico!) para que ele tenha efeito anticárie

Mas afinal, como o F- controla a cárie dental? Para entender, voltamos ao conceito de que

FA é um mineral menos solúvel do que a HA. Sendo menos solúvel, a FA é um mineral que

tende a se precipitar mais facilmente do que a HA em meio contendo cálcio e fosfato

inorgânico, minerais presentes na saliva e na placa dental (biofilme). Assim, havendo F-

presente na cavidade bucal, toda perda mineral que ocorrer sob o biofilme dental ca-

riogênico tenderá a ser parcialmente revertida pela precipitação no dente do mineral

menos solúvel FA. Com isso, a perda mineral líquida é reduzida, uma vez que parte dos

minerais perdidos é reposta novamente na estrutura dental.

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Assim, é comum a descrição de que o fluoreto diminui a desmineralização e ativa a

remineralização do esmalte e da dentina. A diminuição da desmineralização diz respeito à

precipitação de minerais na forma de FA, quando a HA da estrutura dental está sendo

solubilizada pelo baixo pH gerado no biofilme dental exposto a carboidratos fermentáveis. A

ativação da remineralização sugere que, quando o pH do biofilme dental volta a subir, ou

quando este é removido pela escovação expondo a estrutura dental à capacidade

remineralizadora da saliva, a precipitação de mineral nos locais onde ele foi perdido será

ativada, se houver F- presente no meio ambiente bucal.

Portanto, mais importante do que ter F- incorporado à estrutura mineral do dente, é ter

fluoreto disponível na cavidade bucal, para ser incorporado à estrutura mineral do

dente, quando o mineral mais solúvel HA está sendo dissolvido como conseqüência do

processo de cárie. Logo, uma maior concentração de F- no dente é conseqüência desses

eventos, e não a causa da menor perda mineral que ocorre na presença deste íon.

O segundo conceito importante diz respeito à palavra parcialmente , descrita acima para

refletir a reversão da perda mineral pelo F-. Nesse sentido, a causa da perda mineral no

processo de cárie dental é a presença de um biofilme dental cariogênico, que produz ácidos

quando exposto a carboidratos fermentáveis (sacarose, principalmente), causando a

desmineralização dental na interface dente-biofilme. Assim, são fatores indispensáveis, para

o desenvolvimento de cárie, a presença de biofilme e sua exposição ao açúcar. O F- não tem

ação sobre esses dois fatores. Embora ele possa apresentar algum efeito antimicrobiano,

diminuindo a produção de ácidos por bactérias, mas este só foi demonstrado em laboratório,

sob exposição a altas concentrações de F-, que não ocorrem regularmente na cavidade

bucal (mínimo 10 ppm F-).

Então, havendo biofilme acumulado sobre os dentes e sendo este exposto a açúcares,

mesmo na presença de F-, haverá a produção de ácidos e o mineral do dente terá a

tendência de se dissolver. O F- no meio ambiente bucal será importante para reverter, como

descrito acima, parte desses minerais perdidos, embora alguma perda mineral sempre

ocorrerá.

Portanto, focar medidas preventivas no uso isolado de F-, como descrito acima, sem um

controle dos demais fatores necessários para que a doença cárie se desenvolva, não é

suficiente, uma vez que isoladamente o fluoreto não impede o desenvolvimento de

cárie (ver diagrama).

Por outro lado, a reversão parcial da perda mineral que ocorre na presença de F- é

extremamente importante, pois aumenta muito o tempo necessário para que algum sinal

clínico de desmineralização seja visível. Em outras palavras, desde que o desafio

cariogênico não seja excessivo, o F- disponível na cavidade bucal poderá reverter as

pequenas perdas minerais que ocorrem diariamente, de tal forma que nenhum sinal clínico

de desmineralização será observado. Clinicamente, este é o mecanismo de ação do F-.

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Um indivíduo “zero placa” não terá cárie, mas existe tal indivíduo? Biofilmes sempre se

formarão sobre a superfície dental, e em algum local negligenciado pela escovação ele

poderá permanecer. Daí a importância de sempre manter o íon na cavidade bucal,

independente da idade do indivíduo, pois o processo de cárie ocorre em indivíduos de todas

as idades, seja no esmalte ou na superfície radicular exposta! Assim, a associação entre

higiene bucal e fluoreto é a maneira mais racional de controlar a cárie dental .

Iniciamos este artigo dizendo que todos os meios de utilização do fluoreto agem da mesma

forma, fornecendo íons para a cavidade bucal. No próximo texto vamos abordar como meios

aparentemente diferentes de utilização de F-, indo desde água fluoretada, passando pelos

dentifrícios e chegando a aplicação profissional de F-, atendem este requisito. No passado

esses meios de manter F- constantemente no meio ambiente bucal eram classificados em

métodos sistêmicos e tópicos de uso de flúor, fazendo com que até hoje perdure o conceito

de que, não existindo água fluoretada numa cidade, devemos fazer suplementação medi-

camentosa de F- , pré ou pós-natal! Qual é a evidência?

Meios de usar fluoreto em Odontologia - Parte II

Introdução

No artigo anterior desta série (JABO número 115, Setembro/Outubro 2008, pág. 24),

abordamos o mecanismo de ação anticárie do fluoreto (íon flúor, F - ) e a importância da

manutenção desse íon na cavidade bucal para interferir nos processos de

desmineralização e remineralização dental. No entanto, mesmo conhecendo o

mecanismo de ação, a variedade de meios de utilização de fluoreto disponível gera

dúvidas: afinal, qual(is) meio(s) de utilização de fluoreto devo recomendar para meu

paciente?

Infelizmente, não há uma resposta simples para esse questionamento. E mesmo que

houvesse para os produtos disponíveis atualmente, novos poderiam surgir e com eles

novas dúvidas. Assim, o importante é conhecer os fundamentos de cada meio de

utilização de fluoreto, como ele fornece íons F - para a cavidade bucal e como diferentes

meios poderiam ser associados de acordo com a necessidade de cada paciente.

Nesse sentido, cabe recordar alguns conceitos importantes na indicação clínica de uso de

fluoreto:

1. Quem não está sujeito à cárie, não precisa de fluoreto. De fato, “falta de

fluoreto” não causa cárie, mas sim acúmulo de biofilme (placa) dental e exposição

freqüente a carboidratos fermentáveis.

2. Quem está sujeito à cárie, precisa de fluoreto. E qualquer indivíduo está sujeito à

cárie, desde que acumule biofilme dental e tenha uma alta freqüência de exposição a

carboidratos – “quantos cafezinhos com açúcar tomamos por dia; quantas bolachas

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recheadas; quantos refrigerantes?”

3. Quem está mais sujeito à cárie, precisa mais de fluoreto. Observe que indivíduos

sob alto desafio cariogênico são aqueles que mais precisam de fluoreto, o que não

necessariamente significa que precisem de mais fluoreto. Assim, um arsenal de meios de

utilização de fluoreto pode não ser suficiente para controlar a doença, se os fatores

determinantes para seu desenvolvimento forem totalmente negligenciados!

4. Quem esteve com o processo de cárie sob controle na presença de fluoreto,

ficará sujeito à cárie na sua ausência. Como o importante é a manutenção de fluoreto

na cavidade bucal, uma vez que o uso de fluoreto seja interrompido, seu efeito anticárie

também será.

Todos os meios de utilização de fluoreto objetivam aumentar a concentração do íon na

cavidade bucal. Considerando que o mecanismo de ação é sempre o mesmo (“tópico”),

classificar os meios de uso de fluoreto de acordo com sua exposição sistêmica é um erro,

pois sugere que na ausência de água fluoretada algum outro meio de uso “sistêmico” de

fluoreto deveria ser utilizado, o que não se justifica atualmente.

Assim, a classificação mais racional para os meios de uso de fluoreto inclui sua abrangência

e modo de aplicação, como descrito a seguir:

Meios de uso de fluoreto

1. Coletivos

A fluoretação das águas de abastecimento público é um importante meio coletivo de uso de

fluoreto no Brasil. E é lei: toda cidade com estação de tratamento de água deve agregar

fluoreto na sua água (Lei Federal 6.050, de 24/5/74). A importância dessa medida fica clara

quando observamos que a prevalência de cárie é menor em cidades com água fluoretada

em comparação com aquelas sem fluoretação.

Ao contrário do que se pensava no passado, não é o fluoreto incorporado ao dente que

diminui a solubilidade da estrutura mineral do dente, como já abordado em nosso artigo

anterior. Quando ingerimos água fluoretada, o fluoreto absorvido e circulando pelo sangue

irá atingir as glândulas salivares, sendo secretado na saliva. Indivíduos que vivem em região

de água fluoretada apresentam cerca de 0,02 ppm de F na saliva, contra 0,01 ppm de F em

média em indivíduos que não vivem em região de água fluoretada. No biofilme dental, a

diferença na concentração de fluoreto pode chegar a 10 vezes! Essa diferença tem efeitos

marcantes em termos de físico-química, diminuindo a tendência de desmineralização dental

e ativando a remineralização.

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E não apenas o consumo de água fluoretada causa esse efeito: alimentos cozidos com essa

água, como arroz e feijão, por exemplo, trarão o mesmo benefício! Assim, mesmo que não

consumam a água de abastecimento público fluoretada, indivíduos que vivem em regiões

fluoretadas são beneficiados pelos alimentos preparados com ela.

Assim, dois pontos importantes surgem para nossa reflexão: 1. Indivíduos que vivem em

região de água fluoretada e se mudam para região de água não fluoretada não mais serão

beneficiados pelo fluoreto, pois em alguns dias ou semanas a concentração de fluoreto na

saliva será semelhante à dos indivíduos da região não fluoretada. Portanto, água fluoretada

só beneficia aqueles que a estão continuamente ingerindo! 2. Para indivíduos que vivem em

regiões não fluoretadas, a indicação de outro meio de uso de fluoreto que envolva sua

ingestão não se justifica atualmente, pois o efeito do fluoreto é local, e o uso freqüente de

dentifrícios fluoretados deverá ser o meio de escolha para manter fluoreto na cavidade

bucal!

Outro meio de uso de fluoreto de abrangência coletiva é a solução fluoretada para bochecho

semanal usada em programas preventivos em escolas, como a solução de NaF a 0,2% (900

ppm de F - ). Sua efetividade como método de prevenção da cárie dental está suportado por

estudos clínicos de qualidade. Os bochechos, assim como os dentifrícios fluoretados,

promovem um aumento da concentração de fluoreto na saliva e no biofilme dental, como

será discutido no próximo item. A recomendação de programas de uso semanal de

bochecho deve levar em consideração a atividade de cárie do grupo populacional alvo (ver

adiante).

 

2.Individuais

Dentre todos os meios de utilização de fluoreto, o dentifrício fluoretado é o mais racional,

pois associa a desorganização do biofilme dental, cujo acúmulo é necessário para o

desenvolvimento de cárie, à exposição da cavidade bucal ao fluoreto. De fato, existe

evidência científica sólida de que a escovação com dentifrícios fluoretados resulta em

significativa diminuição do desenvolvimento de cárie, com base em revisões sistemáticas de

estudos clínicos controlados de alta qualidade. Dentifrício fluoretado é, portanto, um

meio de utilização de fluoreto que deve ser recomendado para todos os

indivíduos, de todas as idades! Quando escovamos os dentes com dentifrício fluoretado,

a concentração de fluoreto na saliva aumenta, permanecendo alta por 1 a 2 horas. O

fluoreto reagirá com as superfícies dentais limpas pela escovação formando produtos de

reação tipo fluoreto de cálcio (CaF 2 ), e nos remanescentes de biofilme, não removidos

devido a uma escovação imperfeita, a concentração de fluoreto também permanecerá alta

devido a difusão do fluoreto e sua retenção em reservatórios orgânicos e inorgânicos no

biofilme. Mesmo 12 horas após a escovação, o biofilme remanescente em indivíduos

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utilizando dentifrício fluoretado 2 a 3 vezes ao dia terá maior concentração de fluoreto do

que o biofilme de indivíduos não utilizando o dentifrício.

A manutenção de fluoreto no biofilme remanescente é importante, pois este é o local onde

ele é mais necessário, onde poderá ocorrer perda mineral da estrutura dental pela

exposição a carboidratos fermentáveis.

A evidência científica existente para o efeito anticárie dos dentifrícios fluoretados está

embasada por estudos utilizando dentifrícios com concentração convencional de fluoreto, de

1.000 a 1.500 ppm F. A eficácia anticárie desses dentifrícios é independente do tipo de

composto fluoretado adicionado a eles, NaF ou MFP (monofluorfosfato de sódio). O NaF é

agregado a dentifrícios contendo a sílica como abrasivo, normalmente na concentração de

1.000 a 1.100 ppm F. Já o MFP é compatível quimicamente com o abrasivo carbonato de

cálcio, o principal sistema abrasivo utilizado em dentifrícios brasileiros. Com o

envelhecimento, parte do fluoreto presente no dentifrício contendo MFP/carbonato de cálcio

pode se tornar insolúvel (inativo contra cárie) pela reação com o cálcio do abrasivo, e para

compensar essa perda, esses dentifrícios normalmente possuem em torno de 1.500 ppm F,

garantindo uma concentração suficiente de F ativo contra cárie. As evidências atuais sobre o

efeito anticárie dos dentifrícios com menor concentração de fluoreto (500 ppm F), que têm

sido indicados para diminuir o risco de fluorose em crianças pequenas, serão discutidas no

próximo artigo desta série.

Soluções fluoretadas para bochecho diário, como a solução de NaF a 0,05% (225 ppm F - ),

também têm comprovada evidência científica de ação anticárie. Nesse caso, uma dúvida

freqüente é: quando indicar tais soluções? É importante ter em mente que indivíduos

utilizando dentifrício fluoretado 2 a 3 vezes ao dia já estão levando fluoreto para a cavidade

bucal durante essas ocasiões. A associação dentifrício + bochecho é importante? Veja

abaixo no item Combinação de Meios.

Com relação ao uso de medicamentos com flúor, conhecidos como suplementos pré- e pós-

natal, enquanto não há nenhuma evidência da eficiência anticárie na prescrição para

gestantes, há muito pouca evidência da indicação para crianças. Em acréscimo, com o

objetivo de manter fluoreto constante na cavidade bucal, escovar os dentes com dentifrício

fluoretado é a medida mais racional.

 

3.Profissionais

Produtos contendo alta concentração de fluoreto para aplicação profissional (géis, verniz

tipo Duraphat) também já demonstraram sua eficiência clínica em estudos controlados.

Esses produtos, além de aumentarem a concentração de fluoreto na cavidade bucal no

momento da aplicação, têm um adicional: formam reservatório de CaF 2 . Esse mineral se

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forma pelo contato do fluoreto, em alta concentração no produto, com íons cálcio

disponíveis na cavidade bucal. Assim, a formação do CaF 2 é maior quando se utiliza um

produto acidulado, pois a liberação de íons cálcio da superfície dental aumenta a reatividade

com o fluoreto do produto. O CaF 2 também poderá se formar no biofilme dental

remanescente, mas sendo o biofilme indispensável para o desenvolvimento de cárie, a

limpeza dental deverá sempre ser recomendada antes da aplicação de tais produtos pelo

profissional. Além disso, a formação de CaF 2 é maior em dentes com lesões de cárie

incipientes, onde a porosidade da estrutura dental é maior e aumenta-se a área para reação

do fluoreto. Assim, quando é feita uma aplicação tópica de fluoreto serão beneficiadas não

só as superfícies dentais que apresentam lesões ativas de cárie, mas também outras

superfícies nas quais a lesão ainda não está visível. .

O CaF 2 depositado no dente funciona como um reservatório de fluoreto, liberando o íon

para o meio bucal para interferir com o processo de cárie. Assim, a utilização de produtos de

alta concentração de fluoreto pelo profissional visa não apenas o aumento momentâneo da

concentração de fluoreto na cavidade bucal, mas também promover sua lenta liberação a

partir de reservatórios formados na cavidade bucal, tentando compensar o não auto-uso de

fluoreto pelo paciente.

Outro meio de uso de fluoreto profissional são os selantes e materiais restauradores

liberadores de fluoreto. Embora esses materiais se enquadrem perfeitamente nos conceitos

da importância de meio para manutenção de fluoreto constante no meio ambiente bucal, a

relevância clínica da sua indicação deve levar em consideração não só a atividade ou risco

de cárie do paciente, como principalmente se ele já está usando freqüentemente dentifrício

fluoretado.

 

4.Combinações de meios de uso de fluoreto

Talvez a maior dúvida dos profissionais no uso de fluoreto seja essa: quando associar

meios? Inicialmente, devemos considerar que os meios coletivos são extremamente

importantes para o Brasil, pois buscam minimizar diferenças de acesso a outros meios de

uso de fluoreto. Além disso, como já descrito anteriormente, a utilização de dentifrícios

fluoretados deve ser recomendada para todos os indivíduos, de todas as idades! Resta ainda

a dúvida: quais meios adicionais devo indicar para o paciente?

É importante lembrar que precisará de meios adicionais apenas quem está mais sujeito a

cárie! Assim, indicar bochechos diários ou realizar aplicação profissional de fluoreto

em indivíduos que controlam cárie pelo uso de água e dentifrício fluoretados não trará

nenhum benefício ! Por outro lado, indivíduos que não controlam o processo de

cárie, seja devido a uma alta freqüência de exposição a carboidratos fermentáveis, pela

diminuição do fluxo salivar por medicamentos ou pela dificuldade de remoção do biofilme

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dental pela instalação de dispositivos ortodônticos, precisam de meios adicionais! A

escolha do meio adicional de uso de fluoreto caberá ao profissional, de acordo com sua

experiência clínica e conhecimento do comprometimento do paciente com o protocolo

escolhido.

 

CONCLUSÃO

As recomendações de meios de uso de fluoreto para as quais há evidência científica de

redução de cárie dental estão sumarizadas na tabela abaixo. Obviamente, há muitos

detalhes sobre cada um desses meios que não foram abordados neste artigo, mas

esclarecimentos adicionais podem ser obtidos por e-mail (litenuta@ fop.uni camp.br ou

jcury@ fop.uni camp. br).

Embora nenhum país tenha conseguido controlar a cárie da sua população a não ser usando

fluoreto de alguma forma, uma série de polêmicas surge freqüentemente sobre os riscos de

seu uso em Odontologia, envolvendo desde toxicidade aguda (de vômitos a morte) até

toxicidade crônica (fluorose dental). Casos letais ocorreram no passado pela ingestão

inadvertida de comprimidos de flúor e do uso inadvertido de produtos em consultórios. No

que fiz respeito à relação entre fluorose e água otimamente fluoretada, já foi dito e aceito

que “seria preferível fluorose que cárie”. Embora o declínio de cárie dental, ocorrida tanto

em países desenvolvidos como no Brasil, seja atribuído ao uso amplo de fluoretos, fluorose

dental tem sido hoje questionada, tema que será abordado na última série desses três

artigos de divulgação científica, lembrando que:

1. Qualquer F - constantemente no meio ambiente bucal (saliva-biofilme) tem potencial anti-

cárie

2. Qualquer F - absorvido pelo organismo e circulando pelo sangue terá potencial de

manifestar algum efeito colateral

“O que diferencia o veneno do remédio é a dose”

Paracelsus (1493-1541)

Page 13: O uso do flúor em Odontologia

Limitações do uso de fluoreto em Odontologia: toxicidade aguda e toxicidade

crônica (fluorose dental) - Parte III

INTRODUÇÃO

Nos artigos prévios desta série (JABOs 115 e 116) discorremos sobre uma importante

premissa envolvida no controle de cárie dental baseada no uso de fluoreto (íon flúor, F - ):

Qualquer F - mantido constante no meio ambiente bucal (saliva-biofilme) tem

potencial anticárie

Após descrevermos como os diferentes meios de uso de fluoretos mantêm F - na cavidade

bucal, nos deparamos com o “outro lado da moeda”, relacionado à limitação de seu uso:

Qualquer F - absorvido pelo organismo e circulando pelo sangue terá potencial

de manifestar algum efeito colateral

Os efeitos colaterais dependem da dose absorvida e do tipo de exposição. Dessa forma,

separamos a descrição da toxicidade do F - em efeitos agudos e crônicos.

Tanto a toxicidade aguda como a crônica são efeitos sistêmicos do F - e, portanto, é

necessário revisar de forma sucinta o metabolismo do F - no organismo, para um melhor

entendimento das consequências da intoxicação, prevenção e possível reversão ou

tratamento. Ao se ingerir F - , seja pela água fluoretada (ou alimentos cozidos com ela),

seja pela ingestão inadvertida de dentifrício fluoretado ou de gel de aplicação profissional

de fluoreto, em 30-45 minutos, 90% do ingerido cai em corrente sanguínea, pois sua

Page 14: O uso do flúor em Odontologia

absorção ocorre principalmente no estômago - o pH ácido facilita o transporte do fluoreto,

na forma de ácido fluorídrico (HF), através das células da mucosa gástrica. Esse

conhecimento é importante, pois: a) para ser absorvido, o F - precisa estar solúvel; b)

absorção pode ser reduzida dependendo do conteúdo gástrico; c) qualquer medida

voltada a diminuir a absorção do F - deve ser realizada rapidamente.

Assim, considerando que, para ser absorvido o fluoreto deve estar na forma de íon F -

(para haver a formação de HF e posterior difusão), a ingestão de flúor na forma de sais de

baixa solubilidade, como fluoreto de cálcio, por exemplo, reduz a absorção. Esse princípio

pode ser usado no tratamento da intoxicação aguda, pela administração via oral de

compostos contendo cálcio ou alumínio, que formam sais de baixa solubilidade com o F - ,

diminuindo sua absorção.

................

A importância do uso do flúor em Odontologia

O primeiro dente decíduo (leite) geralmente aparece por volta dos seis meses. Normalmente

até os 3 anos, os vinte dentes de leite já erupcionaram. Os dentes permanentes surgem em

torno de 6 anos, quando o 1º molar permanente (molar dos 6 anos) nasce atrás do último

molar infantil.

Os anti-sépticos bucais devem conter flúor. Ajudam a eliminar as bactérias causadoras da

placa bacteriana, previnem o aparecimento de cáries e o mau hálito, proporcionando uma

boa higiene bucal. Os ácidos presentes em bebidas e alimentos desmineralizam e

enfraquecem o esmalte.

O flúor encontra-se distribuído na forma de sais pela natureza: água, solo e alimentos em

quantidade diferentes. É absorvido no trato gastrintestinal e normalmente uma dieta

fornece, em média, 0,25 a 0,35 mg de íons flúor.

O adulto e a criança devem receber uma quantidade adicional para proteger o órgão dental,

respectivamente 1 a 1,5 e 0,4 a 1,5 mg. É desaconselhável a administração de flúor às

pessoas que estejam ingerindo medicamentos que contenham cálcio, magnésio, ferro, zinco

e manganês.

Os pais não devem permitir que a criança tome leite junto com o flúor, em virtude de não

ter os efeitos preventivos desejados.

Após a sua absorção, o flúor distribui-se por todo o líquido intra e extracelular e fixa-se no

dente e osso. Quase todo o flúor ingerido é excretado, principalmente pela urina, mas

também pelas fezes, saliva e suor.

Page 15: O uso do flúor em Odontologia

Atualmente, considera-se a eliminação dele pela saliva como fundamental para os seus

efeitos benéficos sobre o dente. A administração de flúor pode ser realizada pelas vias

sistêmica e tópica. Os métodos utilizados pela via sistêmica são: fluoretação das águas

(abastecimento público e escolas), soluções fluoretadas, comprimidos de fluoreto de sódio e

medicamentos com flúor. O melhor método por via sistêmica é a fluoretação das águas,

aproximadamente 1 ppm (1 mg / litro).

Essa quantidade reduz a incidência de cárie em torno de 60%.

Como no Brasil muitas regiões não têm água fluoretada, os esquemas de tratamento

profilático sistêmico são determinados pelo Cirurgião-Dentista, médico ou órgãos públicos.

Com relação aos bochechos com fluoreto de sódio, devem ser feitos diariamente durante

um minuto, antes de deitar.

Os principais benefícios do flúor são: produção de um dente mais perfeito em forma e

estrutura, composição mais resistente do elemento dental, menor solubilidade do esmalte,

remineralização do esmalte, diminuição de cáries e problemas gengivais.

Deve-se associar a ação profilática do flúor, o fornecimento de uma dieta rica em cálcio,

fósforo, proteínas, vitaminas A, C e D. Bombons, chocolates, sorvetes, doces, caramelos

devem ser ingeridos em quantidade reduzida.

Os cremes dentais fluoretados e a aplicação tópica de flúor reduzem o processo cariótico.

Deve-se levar a criança ao dentista antes do nascimento do primeiro dente, para que os pais

recebam orientação adequada.

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Associação de Dentistas protesta contra fim do flúor na água3/7/2010

A Associação Brasileira de Odontologia (ABO) protesta contra o projecto de lei 297/2005, de autoria do senador António Carlos Valadares (PSDB-SE), que limita a utilização de flúor na profilaxia da cárie dentária à aplicação tópica e proíbe a adição da substância na água, bebidas e alimentos.A proposta revoga a Lei nº 6.050, de 24 de Maio de 1974, que dispõe sobre a fluoretação da água em sistemas de abastecimento quando existir estação de tratamento, e está sendo relatada na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) pelo senador Flávio Arns (PT-PR).A entidade refuta as justificativas apresentadas pelo parlamentar. Valadares aponta a existência de dados que contrariam a tese de que a ingestão sistémica de flúor é eficaz na profilaxia da cárie dentária e que inúmeros outros estudos mostram também a enorme ocorrência de fluorose dentária.O parlamentar afirma também que já existe um consenso entre os especialistas de que a acção profilática do flúor decorre sobretudo de sua aplicação tópica e que não faz sentido, portanto, obrigar toda uma população a ingerir um elemento tóxico na água de abastecimento público ou em alimentos e bebidas nos quais ele vem sendo rotineiramente

Page 16: O uso do flúor em Odontologia

adicionado.Método eficaz e de baixo custo – De acordo com a ABO, a fluoretação do sistema de abastecimento público de água pode reduzir em até 60% a incidência de cáries. As estatísticas oficiais confirmam a validade da medida. O Ministério da Saúde diz que entre 1986 e 1996, houve uma queda de 53% na prevalência de cárie em crianças de 12 anos de idade provocada pela política de fluoretação.O flúor é indicado por mais de 150 organizações de ciência e saúde, entre as quais a Federação Dentária Internacional (FDI), a Associação Internacional de Pesquisa em Odontologia (IADR), a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e, desde que seja oferecido à população em dosagens e teores adequados, não oferece risco às pessoas, declara o presidente da ABO.OMS e FDI defendem o flúor – Segundo o Relatório Mundial da Saúde Oral de 2003 da OMS, as cáries continuam a ser um grande problema da saúde na maioria dos países industrializados, afectando de 60 a 90% das crianças em idade escolar e a grande maioria dos adultos. Ainda de acordo com o documento, a adição de flúor à água, onde possível tecnicamente e aceito culturalmente, tem vantagens substanciais na saúde pública.Em Novembro de 2000, em Paris (2000), a FDI aprovou o Relatório sobre Flúor e Cárie. O documento conclui, com base em vasta evidência científica, que se a substância for usada apropriadamente e com as concentrações adequadas para a prevenção de cáries, o flúor é seguro e eficaz.O relatório informa que a fluorose dental pode ser causada pela ingestão excessiva de flúor durante o desenvolvimento pré-eruptivo dos dentes, mas que nos níveis de flúor utilizados para prevenir as cáries, a opacidade ou fluorose somente ocorre numa proporção relativamente pequena da população.De acordo com o relatório, estes sintomas em geral são muito suaves e, principalmente, de interesse estético. Conforme a FDI, uma vez que os níveis de ingestão sejam cuidadosamente monitorados, o flúor é considerado a medida da saúde pública mais importante para a manutenção da saúde oral.

Fonte: Parana online

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A Necessidade do Flúor e da Aplicação do Selante:

A pessoa que se alimenta de hora em hora, não dá a oportunidade para a saliva voltar à normalidade, tornando o local propício para as bactérias produzirem ácidos que irão destruir a estrutura dentária.

A cárie inicial tem o aspecto de uma mancha branca. Essa mancha é reversível quando se escova os dentes com cremes dentais contendo flúor, bochechando-se com soluções fluoretadas e aplicações tópicas de flúor feita pelo cirurgião-dentista. Se essa mancha branca não for tratada ela progredirá, provocando cavitações e, com o tempo, atingir maior profundidade provocando dores muito fortes e infecções.

Page 17: O uso do flúor em Odontologia

A conservação da saúde bucal pode ser feita pelo controle da placa dental, da dieta e pelo uso do flúor. Como é muito difícil realizar o controle da placa e da dieta, é imprescindível o uso do flúor como meio complementar. O flúor induz a remineralização fortalecendo o elemento dentário. Os fluoretos chegam no nosso organismo através do alimentos que ingerimos (vísceras de animais, carne, ovos, leite), dos enxagüatórios bucais, do creme dental fluoretado, etc.

O hábito de bochechar após a escovação dentária é recomendado, pois o líquido penetra em regiões que não foram bem higienizadas pela dificuldade de acesso. Existe hoje no mercado algumas substâncias que além de anti-sépticos contém flúor. Esses líquidos tem a finalidade de aplicar o flúor, eliminando as bactérias causadoras da placa, prevenindo o mau hálito e as cáries nos locais de difícil acesso onde a escova e o fio dental não alcançam, proporcionando uma melhor higienização.

Há regiões do dente onde nem a escova e nem o fio dental conseguem higienizar. Nessas regiões é necessária a aplicação de selantes. Os selantes são resinas fluidas que ao se polimerizarem, formam uma película contínua e resistente, utilizadas para obliterar sulcos e fissuras protegendo os dentes das cáries. Peça orientação ao seu dentista sobre as indicações e contra-indicações do uso do selante.

Dieta Alimentar:

O açúcar é a principal causa de degeneração dentária. Reduzir sua quantidade e freqüência e controlar certos tipos de doce que seu filho consome ( pegajosos são mais perigosos que os líquidos) são passos importantes para evitar a degeneração dos dentes.