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 Ele é Marcos, de Barcelona. Porém poderia ser qualquer um, em qualquer outra parte. Vai se encontrar com algo que ocorre todos os dias, em diversos escritórios e lares do mundo. Uma peça da impressora falhou... e o fabricante Ihe recomenda levá-la a uma autorizada. Meu técnico fez um diagnóstico prévio porém isso custa 15 euros mais impostos Será difícil encontrar as peças para poder consertá-la Realmente, consertá-la não lhe vai sair muito barato... Consertá-la custará uns 110 ou 120 euros. Têm impressoras a partir de 39 euros Eu te aconselharia a olhar impressoras novas. Sem dúvida eu compraria uma nova. Não é casualidade que os três vendedores sugiram comprar uma nova impressora. Caso aceite, Marcos será uma nova vítima da "obsolescência programada"... o motor secreto de nossa sociedade de consumo. Nosso papel parece limitar-se a pedir empréstimos e comprar coisas que não necessitamos. Nossa sociedade está dominada por uma economia de crescimento cuja lógica não é crescer para satisfazer as necessidades, senão crescer por crescer. Se as pessoas não compram, a economia não cresce. Obsolescência Programada

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Ele é Marcos, de Barcelona.

Porém poderia ser qualquer um,em qualquer outra parte.

Vai se encontrar com algo que ocorre todosos dias, em diversos escritórios e lares do mundo.

Uma peça da impressora falhou... e ofabricante Ihe recomenda levá-la a uma autorizada.

Meu técnicofez um diagnóstico prévio

porém isso custa15 euros mais impostos

Será difícil encontrar as peçaspara poder consertá-la

Realmente, consertá-la nãolhe vai sair muito barato...

Consertá-la custaráuns 110 ou 120 euros.

Têm impressoras a partir de 39 euros

Eu te aconselhariaa olhar impressoras novas.

Sem dúvida

eu compraria uma nova.

Não é casualidade que os três vendedoressugiram comprar uma nova impressora.

Caso aceite, Marcos será uma novavítima da "obsolescência programada"...

o motor secreto denossa sociedade de consumo.

Nosso papel

parece limitar-sea pedir empréstimos e comprarcoisas que não necessitamos.

Nossa sociedade está dominadapor uma economia de crescimento

cuja lógica não é crescerpara satisfazer as necessidades,

senão crescer por crescer.

Se as pessoas não compram, a economia não cresce.

Obsolescência Programada

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o desejo do consumidor

de possuir algo um pouco mais novo,um pouco antes do necessário.

Neste documentário,

revelaremos como a obsolescência programadadefiniu nossas vidas desde os anos 20

quando os fabricantes começaram a diminuira vida útil dos produtos

para aumentar as vendas

Assim que reduzirama vida útil a 1.000 horas.

Descobriremos que designers e engenheirosse viram forçados a adotar novosvalores e objetivos.

Tiveram que começar de novopara criar algo mais frágil.

Está calculado!Termina de pagar algo,

e já não serve.

Usar e jogar fora!

Conheceremos uma nova geraçãode consumidores

que está indo na direçãocontrária dos fabricantes.

É viável uma economia semObsolescência Programada?

E sem seu impacto sobre o meio-ambiente?

A posteridade não nos perdoará.

Descobrirão o estilode vida desperdiçador

dos países avançados...

Comprar, jogar fora, comprar:A história secreta da Obsolescência Programada.

Bem-vindos a Livermore, Califórnia,

lar da lâmpadamais antiga do mundo.

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Sou Lynn Owens,

presidente do Comitê da Lâmpada.

Em 1972 descobrimos

que uma lâmpada

do corpo de bombeiros

era uma lâmpada importante.

A lâmpada de Livermore está funcionandoininterruptamente desde 1901.

No atual momento,

já se compraram duas webcams,e a lâmpada já vai para a terceira webcam.

em 2001, quando a lâmpada chegoua um século,

Livermore organizou uma grande festa deaniversário, ao estilo americano.

Esperávamos umas 200 pessoas,

mas no fimvieram umas 800 ou 900.

Imagina cantar felizaniversário para uma lâmpada?

Bem... Nós também não,mas cantaram.

A origem da lâmpada...

Fabricaram-naem Shelby, Ohio,

em cerca de 1895.

...montaram-na estas

interessantes damase alguns cavalheiros,acionistas da Companhia.

O filamento é uma invençãode Adolphe Chaillet.

Inventou esse filamentopara que durasse.

Por que dura tanto?Não sei.

O segredo de como fez se foi com elepara o túmulo.

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A fórmula para um filamento de longa duração

não é o único mistério na história das lâmpadas.

Um segredo muito maior é

como e porquê este humilde produto

se tornou na primeira vítima daObsolescência Programada.

O dia de Natal de 1924foi um dia especial.

Em genebra, várioscavalheiros bem vestidos se reuniram

com um plano secreto.

Criaram o primeirocartel mundial

para controlara produção de lâmpadas

e dividirem o bolodo mercado mundial.

O cartel se chamou Phoebus.

Phoebus incluía os principais fabricantes

de lâmpadas da Europa e dos EUA,

inclusive de longínquas colónias naÁsia e na África.

O objetivo era intercambiar patentes,controlar a produção

e, sobretudo,controlar o consumidor.

Queriam que as pessoas

comprassem lâmpadas com regularidade.Se as lâmpadas durassem muito,era uma desvantagem económica.

No início, a meta dos fabricantes erauma longa duração para suas lâmpadas.

Em 21 de outubro de 1871,

numerosos experimentosderam como resultado

uma pequena lâmpadade enorme resistência,

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com um filamentode grande estabilidade.

Em 1881, Edison pós à vendasua primeira lâmpada.

Durava 1.500 horas.

Em 1924, quandose fundou o cartel Phoebus,

se anunciava comorgulho 2.500 horas de vida útil

e os fabricantes destacavama longevidade de suas lâmpadas.

De modo que em Phoebus pensaramem limitar a vida útil das lâmpadas

a 1.000 horas.

Em 1925 se criou

O "Comitê das1.000 Horas de Vida"

para reduzir tecnicamentea vida útil das lâmpadas.

Mais de 80 anos depois,

Helmut Hegel, um historiador de Berlim,

encontra provas das atividades do comitê,

ocultas nos documentos internos dosintegrantes do cartel.

Empresas como Philips, na Holanda,

Osram, na Alemanha,

E lâmpadas Teta na Espanha.

Aqui temosum documento do cartel.

"A vida média das lâmpadasde iluminação geral

não deve ser garantida ou oferecida

por outro valorque não seja 1.000 horas".

Pressionados pelo cartel,

os fabricantes realizaram experimentos paracriar uma lâmpada mais frágil,

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para cumprir coma nova norma das 1.000 horas.

A fabricação estavarigorosamente controlada

para que a norma fosse cumprida.

Montaram-se estantes

com muitos bocais para lâmpadas

nos quais se rosqueavammostras de cada série produzida.

Companhias como Osramregistravam meticulosamente

a duraçãodessas lâmpadas.

Phoebus criou uma complicada burocraciapara impor suas regras:

Os fabricantes eram multados severamente casose desviassem dos objetivos acordados.

Aqui temosa tabela de multas de 1929

que mostra quantos francos suíços

deviam pagar os membros do cartel

se suas lâmpadas durassem,

por exemplo, mais de 1.500 horas.

A medida em que a Obsolescência programadasurtia efeito,

a vida útil começou a cair

em apenas dois anos,passou de 2.500 horas...

a menos de 1.500.

Nos anos 40, o cartel já havia conseguidoseu objetivo.

uma lâmpada comum durava 1.000 horas.

Entendo que istofosse tentador em 1932.

Na época, a sustentabilidadeera menos importante

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porque não viam que o planeta

tivesse recursos finitos.

Viam-no dentrouma perspectiva de abundância.

Ironicamente, a lâmpada,que sempre foi um símbolo

de ideias e de inovação,

é um dos primeiros exemplosde obsolescência programada.

Nas décadas seguintes,

foram patenteadas dezenas de novas lâmpadas,

inclusive uma que durava 100.000 horas.Porém, nenhuma chegou a ser comercializada.

Oficialmente, Phoebus nunca existiu,

porém, seu rastro nunca desapareceu.

Sua estratégia erair mudando de nome.

Se chamou"Cartel Internacional de Eletricidade",

E depois tornaram a mudá-lo.

O importante é que essa ideia,como instituição, continua existindo.

Em Barcelona,

Marcos ignorou o conselho dos vendedores detrocar a impressora.

Está decidido a consertá-la,

e encontrou alguém na internet que descobriuo que acontece com sua impressora.

O segredo sujodas impressoras a jato de tinta.

Tentei imprimir e dizia "algumas peças devemser trocadas".

Decidi consertá-la eu mesmo.

Olá, Marcos,

recebi sua mensagem.

Marcos entrou em contato

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com o autor do vídeo.

Há uma esponjano fundo da impressora

onde se acumulaa tinta descartada.

As impressoras limpamconstantemente os bicos

jorrando jatos de tinta

que caem sobre a esponja.

depois de umnúmero prefixado de jatos,

a impressora decide

que está cheia e deixa de funcionar.Justificam que não queremmanchar a sua mesa de tinta.

Porém, o problema real é que as desenhampara que deixem de funcionar.

A obsolescência Programadasurgiu ao mesmo tempo

que a produção em massa,e a sociedade de consumo.

O problema dos produtosfeitos para durarem menos

é um padrão que começoucom a revolução industrial.

Das novas máquinassaíam mercadorias muito mais baratas

e isso era fantásticopara os consumidores.

Porém, havia tanta produção

que as pessoas já não podiam seguiro ritmo das máquinas.

Em 1928, uma influente revista depublicidade advertia:

"um artigo que não se desgasta é umatragédia para os negócios"!

De fato, com a produção em massa,

baixaram os preços, e os produtosficaram mais acessíveis.

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As pessoas começaram a comprar mais pordiversão que por necessidade.

A economia acelerou!

Em 1929, a crise de Wall Street freiou

drasticamente o consumo

e levou os EUA a uma recessão económica.

A parada alcançouproporções apavorantes.

Em 1933, o desempregochegou a 25 por cento.

As filas já não eram para comprar, mas parapedir trabalho e comida.

De Nova lorque, chegou uma proposta radicalpara reativar a economia.

Bernard London,um proeminente investidor imobiliário,

sugeriu sair da depressão tornando obrigatóriaa obsolescência programada.

Era a primeira vez que o conceitoaparecia por escrito.

London pleiteava que todos os produtostivessem uma vida limitada,

com uma data de validade,

depois da qual seriam consideradoslegalmente "mortos".

Os consumidores os devolveriam a uma agênciado governo para serem destruídos.

Tentava-se equilibrar

capital e trabalho.Assim, sempre haveria mercadopara novos produtos,

sempre faria faltamão de obra

e o capitalteria recompensa.

Bernard London acreditava que com aobsolescência programada obrigatória

as fábricas continuariam produzindo

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as pessoas continuariam consumindo

e haveria trabalho para todos.

Giles Slade está em Nova lorque para saber maissobre a pessoa que há por trás da ideia.

Pergunta se com a obsolescência, Bernard Londonpretendia maximizar os benefícios,

ou melhor, ajudar aos desempregados.

Dorothea Veitner conheceu Bernard Londonnos anos 30,

durante uma excursão familiar.

Não me diga quem é.

Que interessante!Sem dúvidaparece um intelectual.

Você o conheceuem 1933...

Quando eu tinha 16 ou 17 anos

meus pais tinhamum enorme Cadilac,

tão grandequanto um zepelim.

Minha mãe dirigia,meu pai ia a seu lado

e os London iamno assento de trás.

Meu pai pediu ao Sr. Londonque me explicasse sua filosofia.

E este homemtão interessante me contou

sua ideia parareduzir a Depressão.

A economia era um desastrepior que agora.

Estava obcecadocom essa ideia,

igual que um artista

com suas pinturas.

Sussurrou-me no ouvido,

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como se temesse

que fosse uma ideiaradical demais.

De fato, a ideia de Bernard London nãoobteve interesse

e a obsolescência obrigatória nunca foiposta em prática.

20 anos depois, nos anos 50,

a obsolescência programada ressurgiu, porém,com uma mudança crucial:

já não se tratava de obrigar o consumidor...senão de servi-lo.

obsolescência programada:o desejo do consumidor

de possuir algo

um pouco mais novo,um pouco melhor,

um pouco antesdo necessário.

esta é a voz de Brook Stevens,

apóstolo da obsolescência programada naAmérica do pós-guerra...

este elegante designer industrial

criou de eletrodomésticos,até carros e trens,

contando sempre com aobsolescência programada.

em sintonia com a época,os desenhos de Brook Stevens transmitiamvelocidade e modernidade.

Até sua casa era incomum.

Meu pai desenhouesta casa, na qual me criei.

Durante sua construção,

todos acreditavam que seria

uma estação de ónibus

porque não parecia

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uma casa tradicional.

Para meu pai,o mais importante

ao desenhar um produtoera que tivesse caráter.

Odiavaos produtos insossos,

que não provocavamno consumidor

nenhum desejoque Ihe impulsionasse a comprar.

O antigo enfoque europeu

era criar o melhor produtoe que durasse para sempre.

Comprava-se uma boa roupapara levá-la desde seu casamento

até seu enterrosem poder renová-la.

O enfoque americano

é criaro consumidor insatisfeito

com o produtoque já tenha desfrutado,

para que o vendade segunda-mão

e para que compre o mais novocom a imagem mais nova.

Brook Stevens viajou por todo EUA

promovendo a obsolescência programadaem suas palestras e discursos.

Suas ideias se desenvolveram eecoaram amplamente.

As pessoas estão prestando maisatenção nas aparências das coisas.

Prestam atenção

a todo o novo,bonito e moderno.

O design e o marketing

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seduziam ao consumidor para que desejassesempre o último modelo.

Meu pai nuncadesenhou um produto

para que falhasse

intencionalmente

ou se tornasse funcionalmenteobsoleto em pouco tempo.

A obsolescência programadadepende do consumidor.

Ninguém o obriga a ir a uma lojae comprar um produto.

Vão por sua própria vontade,

é sua escolha.

Liberdade e felicidade atravésdo consumo ilimitado

O estilo de vidados americanos dos anos 50

assentou as basesda sociedade de consumo atual.

Sem a obsolescência programada

estes lugares não existiriam.

Não haveria produtos,não haveria industria,

não haveria designers, arquitetos,

serventes, faxineiros,

agentes de segurança,

todos os trabalhosdesapareceriam.

Cada quanto tempovocês trocam de celular?

- Cada 18 meses.- Uma vez por ano.

Hoje em dia, a obsolescência programada

é ensinada nas escolasde designers e engenharia.

Boris Skinov dá aulas sobreciclos de vida do produto:

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eufemismo moderno para"obsolescência programada".

Fui às compras.

Comprei algumas coisas:

uma frigideira,

sal, uma camisa, outra camisa...

Ensina aos estudantes

a desenharem para um mundo empresarial

dominado por um único objetivo:

compras frequentes e repetidas.

Quero que me digam oquanto vocês acreditam que durarão,

qual será sua vida útil.

Os designers devem entenderpara que empresa trabalham.

Com seu modelo de negócio,a empresa determina

a frequência de renovação

de seus produtos.

Os designersrecebem essa informação

e devem desenhar o produtopara que se encaixe perfeitamente

Com a estratégiade negócio do cliente.

A obsolescência programada

está na raiz do considerávelcrescimento económico

que o mundo ocidentalviveu a partir dos anos 50.

Desde então,

o crescimento tem sido o "Santo Graal" denossa economia.

Vivemos em

uma sociedade de crescimento

cuja lógica não é crescer

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para satisfazer às necessidades,

senão crescer por crescer.Crescer infinitamente,

com uma produçãosem limites.

E, para justificá-lo,o consumo deve crescer sem limites.

Serge Latouche, um destacado críticoda sociedade de crescimento,

escreve frequentementesobre seus mecanismos.

Há três instrumentosfundamentais:

a publicidade, a obsolescênciaprogramada e o crédito.

Na última geração,

nosso papel se limitaa pedir empréstimos

para comprar coisasque não necessitamos.

Não tem sentido.

Os críticos da sociedade de crescimento

alertam que não é sustentável a longo prazo

porque se fundamentanuma contradição flagrante.

Quem acreditaque um crescimento ilimitado

é compatível

com um planeta limitadoou está louco

ou é economista.

O drama é que agoratodos somos economistas.

Cria-seum produto novo

a cada 3 minutos.

Isso é necessário?

Muita gente se dá conta

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de que as coisas têm que mudar

quando os políticosdizem que ir às compras e consumir

é a melhor medidapara reativar a economia.

Poderíamos dizer que,com a sociedade de crescimento,

estamos montadosem um bólido

que, claramente,ninguém mais pilota,

que vai à toda velocidade,

e cujo destinoé chocar contra um muro

ou cair por um precipício.

Consultando manuais de instrução,

Marcos se dá conta de que os engenheiros

determinam a vida útil de muitas impressorasao desenhá-las.

Conseguem-no colocando um chip dentroda impressora.

Encontrei o chip.

É um chip EEPROMonde se guarda

um contador de impressões.

Quando se chega aum número determinado,

a impressorase bloqueia, e deixa de imprimir.

Que acham os engenheiros

quando têm que desenhar um produtopara que se quebre?

O dilema é refletido num clássico do cinemabritânico, de 1951,

onde um jovem químico inventa um fio

que não se desgasta nunca.

O químico crê que conseguiu um

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grande progresso

Porém, nem todos gostam do invento.

E em pouco tempo é perseguido não sópelos donos das fábricas,

mas também pelos operários, que tememficar sem seus empregos.

É muito interessante,e me lembra algo

que ocorreuna indústria têxtil.

Em 1940, o gigante químico Dupont

apresentou uma fibra

sintética revolucionária:o Nylon!

Para as mulheres, as meias duradouras eramum grande progresso.

Mas, a alegria durou pouco.

Meu pai trabalhou na Dupont

antes e depois da guerra,na divisão do nylon

e me contou quequando o nylon apareceu

e o provavampara fazer meias,

os trabalhadores de sua seçãolevavam meias para casa

para que suas mulheres enamoradas as provassem.

Meu pai as levou para minha mãe,

e as primeiras Ihe encantaramporque eram muito resistentes.

Os químicos da Dupont tinham motivos paraestarem orgulhosos.

Inclusive os homens admiravam a resistênciadas meias de nylon.

O problema é

que duravam demais,

As mulheres estavam muito contentes

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porque não desfiavam,

mas isso significavaque os fabricantes

não iam vendermuitas meias.

Dupont deu novas instruções ao pai deNicols Fox e seus colegas.

Os homens de sua seçãotiveram que começar do zero

para criar fibras mais fracas

e chegar a algo mais frágil,que se rompesse,

e assim as meiasnão durariam tanto.

Os mesmos químicos que aplicaram todo seusaber para criar um nylon duradouro,

seguiram a corrente da época e o fizerammais frágil.

Esse fio eterno desapareceu das fábricas,tal como no cinema.

Queremos o controle total

desta descoberta.

Se quiser, pagaremoso dobro desse contrato.

um quarto de milhão...

- Para acabar com ele?- Sim.

O que os químicos da Dupont achavam

em reduzir a vida de um produtodeliberadamente?

Deve ter sido frustrantepara os engenheiros

terem que usar seus conhecimentospara criar um produto inferior

depois de tanto esforçopara fazer um bom produto.

Mas suponho que essa é

uma visão de fora.

Eles só faziam seu trabalho.

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Fazê-lo mais forte ou mais frágil,esse era seu trabalho.

Eticamente eram temposcomplicados para os engenheiros.

este enfrentamentoIhes fez examinar

seus conceitos éticosmais fundamentais.

A velha escolaacreditava que deviam fazer

produtos duradourosque nunca se quebrassem.

Os da nova escola,motivados pelo mercado,

queriam fazer produtos

tão descartáveisquanto possível.

O debate se resolveu

quando a nova escolaganhou a partida.

A obsolescência programa não afetousó os engenheiros,

a frustração dos consumidores

fez eco no clássico teatralde Arthur Miller,

"A morte do caixeiro viajante".

Como Willie Lomax,

os consumidores só poderiam se queixar.Gostaria de algo quefosse meu antes de quebrar!

É uma luta contínuacontra a corrente!

Acabo de pagar o carroe já está nas últimas.

A geladeira gasta correiascomo uma louca.

Está calculado!

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Termina-se de pagar algoe já não serve.

Os consumidores não sabiam que do outrolado da "Cortina de Ferro"

nos países do bloco do leste

havia uma economia inteira sem obsolescênciaprogramada.

A economia comunista não sebaseava no livre mercado,

mas estava planificada pelo estado.

Era pouco eficiente, e sofria uma faltade recursos crónica.

Nesse sistema, a obsolescência programadanão tinha nenhum sentido.

Na antiga Alemanha Oriental,

a economia comunista mais eficiente,

as normas diziam que asgeladeiras e lavadoras

deveriam funcionar durantevinte e cinco anos.

Comprei esta geladeirana Alemanha Oriental em 1985,

tem pelo menos 24 anos.

Nunca tive quemudar a lâmpada,

tem quase 25 anos.

Em 1981, uma fábrica de Berlim Oriental

começou a produzir umalâmpada de longa duração.

Apresentaram-na numa feira internacional,

em busca de compradores ocidentais.

Quando os fabricantesda Alemanha Oriental

apresentaramestas lâmpadas de longa duração

na feira de Hanoverde 1981,

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seus colegas do Ocidente disseram:"Vocês ficarão sem trabalho".

Os engenheiros daAlemanha Oriental disseram:

"Não, pelo contrário.

Conservaremosnossos trabalhos

se economizarmos recursose não desperdiçarmos tungstênio. "

Os ocidentais repeliram a lâmpada.

Em 1989, caiu o muro de Berlim.

A fábrica fechou, e a lâmpada de longa

duração não foi mais fabricada.Agora só pode ser vistaem exposições e museus.

20 anos depois da queda do murode Berlim,

o consumismo desenfreado está tantono leste quanto no oeste.

Com uma diferença: na era da internet,

os consumidores estão dispostos a lutar contraa obsolescência programada.

Nosso primeirotrabalho com êxito

foi um curtasobre o iPod.

Estava completamente duroe comprei um iPod

que valia uns 400ou 500 dólares.

Uns 8 ou 12 meses depoisa bateria "morreu".

Chamei a Apple para Ihes pedirque trocassem a bateria

e sua política de entãoera dizer aos clientes

que comprassem outro iPod.

- Melhor comprar um novo.

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- Apple não oferece...- Não.

- Apple não ofereceuma bateria para troca? - Não.

O chato não foi

que a bateria morresse.

Se acontece com meu celular Nokia,

compro uma bateria nova.

Inclusive quanto a meu iPhone

posso trocar a bateria.

Mas o iPod, tão caro,ao terminar a bateria,

tem que trocaro aparelho inteiro.

Meu irmão teve uma ideiade fazer um curta sobre isso.

Íamos com umestêncil e um spray

pintando sobre os anúnciosdo iPod que víamos.

"A bateria não substituível do iPoddura apenas 18 meses. "

Disponibilizamos o vídeo em nosso site,www. ipodsdirtysecret. com

No primeiro mês teve

cinco ou seis milhõesde visitas

e o site ficou louco.

Uma advogada de São Francisco,Elizabeth Pritzkar,

ouviu falar do vídeo,

e resolveu processar a Apple em razãoda bateria do iPod.

Meio século depois do caso do Cartel,

a obsolescência programada chegava denovo aos tribunais.

Ao começar este litígio,

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o iPod estavaa dois anos no mercado,

e a Apple havia vendido

três milhõesde iPods nos EUA.

Boa parte desses iPods tinham problemascom a bateria,

e seus proprietários estavam dispostosa irem aos tribunais.

Um deles era Andrew Westley.

Dentre os consumidoresque nos chamaram

escolhemos representantespara uma demanda coletiva.

Uma demanda coletiva

é um mecanismo particulardos Estados Unidos.

Um pequeno grupo de pessoasrepresenta a um grupo maior

para apresentaruma demanda ante um tribunal.

Meu papel nesse casofoi representar milhares,

talvez dezenasde milhares de pessoas.

O caso ficou conhecido como "Westley contra Apple".

Quando meus amigos ouviramque era um caso importante

acreditaram queeu estava radicalizando.

Eu era outro Erin Brockovich.

Em dezembro de 2003,

Elizabeth Pritzker apresentou a demanda

perante oTribunal do Condado de San Mateo,

próximo à sede central da Apple.

Pedimos a Applediversos documentos técnicos

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relativos à vida útilda bateria do iPod

e recebemosmuitos dados técnicos

sobre o processo de desenhoe de testes da bateria.

E assim descobrimos que

a bateria de lítio do iPodfoi desenhada,

desde o princípio,

para teruma vida curta.

A premissano desenvolvimento do iPod

foi a obsolescência programada.

Depois de meses de tensão, as duas parteschegaram a um acordo.

A Apple criou um serviçode troca de baterias,

e prolongou a garantia para dois anos.

Os querelantes receberam uma compensação.

Algo que me chateiapessoalmente

é que a Apple se apresenta

como uma empresamoderna, jovem e avançada.

Que uma empresa assim não tenha

uma política ambientalque permita ao consumidor

devolver os produtospara reciclagem e eliminação

é contraintuitivoe vai contra sua mensagem.

A obsolescência programada provoca um fluxoconstante de resíduos

que acabam em países do terceiro mundo,como Gana, na África.

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Faz oito ou nove anos

me dei conta de quechegavam a Gana

muitos containerscom resíduos eletrónicos.

Falamos de computadores

e televisores estragados

que ninguém quernos países desenvolvidos.

Um tratado internacional

proíbe enviar resíduoseletrónicos ao terceiro mundo

Porém, os comerciantesusam um truque simples:

Declará-los produtos de segunda-mão.

Mais de 80% dos resíduos eletrónicosque chegam a Gana

não podem ser consertados,

e acabam abandonados emlixões por todo o país.

Estamos no lixãode Agbogbloshie.

Aqui haviaum rio maravilhoso, o Odaw,

que serpenteavapor esta área.

Transbordava de vida,havia muitos peixes.

eu ia à escolapróximo daqui,

vínhamos brincar de futebole passar um tempo.

Os pescadoresorganizavam passeios em barco.

Agora,tudo desapareceu.

E isso me faz sentirmuito triste e irritado.

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Hoje em dia, aqui não há crianças brincandodepois das aulas

Em seu lugar, jovens de famílias pobresvem buscar sucata.

Queimam o isolamento plástico dos cabos para

obter o metal que têm dentro.

As crianças menores

revolvem os restos para encontrarqualquer pedaço de metal

que os maiores tenham esquecido.

Os que estão por trásdas remessas dizem:

"queremos acabarcom o abismo digital

entre Europa e Américae o resto da África e Gana. "

Porém os microcomputadoresque nos mandam

não funcionam.

Não tem sentidoreceber resíduos

se não pode tratá-los,menos ainda se não são seus

e seu país se converteno depósito de lixo do mundo.

O lixo escondidodurante tanto tempo

na era industrialestá chegando a nossas vidas

e já não podemos evitá-lo.

A economia do desperdícioestá chegando a seu fim

porque já não existem lugaresonde depositar os resíduos.

Com o passar do tempocomeçamos a perceber

de que o planeta não pode

sustentar isto para sempre.

os recursos naturais

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e energéticos

dos quais dispomossão limitados.

A posteridade não nosperdoará nunca.

Descobrirão o estilode vida desperdiçador

dos países desenvolvidos.

Pessoas de todo o mundo

já começaram a atuar contra aobsolescência programada.

Mike Anane luta do final da cadeia.

Começou recolhendo informação.

Aqui guardo os resíduosque levam etiquetas identificadoras.

Aqui diz Centro AMU,em Sjaelland, Dinamarca.

Isto vem da Alemanha,enviaram-no para cá para jogar fora.

Universidade de Westminster,

Apple é uma empresa

que alardeia ser ecologista

porém muitos produtos Appleacabam jogados aqui.

Tenho uma base de dadoscom as etiquetas e os contatos

das empresas

às quais pertenciamos resíduosque foram jogados em Gana.

Mike pensa converter esta informação em provaspara uma denúncia ante um tribunal.

Devemos passar à açãocom medidas punitivas,

processar as pessoas

para que não cheguemmais resíduos em Gana.

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Marcos está na internet de novo

buscando como alongara vida de sua impressora.

Um site da Rússia parece oferecer umsoftware gratuito

para impressoras com um chip contador

O programador teve a paciência deexplicar sua motivação pessoal.

Isto ocorrepor uma má construção

Esse é seu modelo de negócio.

É ruim para o usuário

e para o meio-ambiente.assim que encontrei a maneirade criar um software

que permite resetaro chip contador.

Marcos não sabe o que pode acontecer

mas, de qualquer jeito,decide baixar o software.

De um pequeno povoado na França,

John Thackara luta contra a obsolescênciaprogramada

ajudando pessoas de todo o mundo

a compartilhar ideias denegócio e de design.

Nos países mais pobres,sempre se consertam as coisas.

A ideia de jogar um produtosó porque se quebra

é impensávelpara alguém do Sul.

Na Índia temuma palavra, "jugaad",

para descrever esta tradiçãode consertar as coisas,

sem ter em conta a complexidade.

Tentamos encontrar pessoas

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com projetos concretos,

que não só façaafirmações abstratas

sobre o mal que existeou o que deve mudar.

Um deles é Warner Philips,

descendente da dinastia dosfabricantes de lâmpadas.

Lembro-me quemeu avó me levou

a uma fábrica da Philips

para que visse

como se fabricavam lâmpadas,que era muito, muito legal.

Quase um século depois do Cartel da Lâmpada,

Warner Philips segue a tradição familiar,

porém com uma perspectiva diferente:

fabrica uma lâmpadaled que dura 25 anos.

Não há um mundo ecológicoe um mundo de negócios.

Negócio e sustentabilidadesão um conjunto.

De fato, é a melhor basepara um negócio.

E a única forma de consegui-lo

é considerar o custo real

dos recursos utilizados.

E considerar tambémo consumo de energia,

incluído o consumoindireto do transporte.

Se os transportadores pagassemo custo real do transporte,

sem mencionar que o petróleo

é um recurso não renovável

e para o qual

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não há substituto,

os custos se multiplicariampor 20 ou por 30.

Se se considerar tudo issoem cada produto fabricado,

os empresários de todo o mundoteriam poderosos incentivos

para fazer produtosque durassem para sempre.

Também se pode lutar contra aobsolescência programada

reformulando a engenharia e a produção.

Um conceito novo, "do berço ao berço",afirma que se as fábricas funcionassemcomo a natureza

a própria obsolescência ficaria obsoleta.

Quando falamosde proteger o meio ambiente,

sempre pensamosem cortar, renunciar, reduzir.

Porém na primaveraa natureza, uma cerejeira

nem corta, nem renuncia.

O ciclo natural produz em abundância,

mas flores caídas e as folhassecas não são resíduos

mas nutrientes para outros organismos.

A natureza não produzresíduos, só nutrientes.

Baumgart crê que a indústria pode imitaro ciclo virtuoso da natureza

e o demonstrou ao redesenhar o processo deprodução de uma fábrica têxtil suíça.

Quando reveste um sofácom um tecido como este

os recortes

são tão tóxicos

que devem ser eliminados

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com os resíduos tóxicos.

Baumgart descobriu que afábrica usava por inércia

centenas de tintas e produtos químicosaltamente tóxicos.

Para fabricar os novos tecidos,

Baumgart e sua equipe reduziram a lista aapenas 36 substâncias,

todas biodegradáveis.

Selecionamos ingredientesque se poderia comer.

Se quisesse, poderia

adicioná-los em seu muesli.Numa sociedade de desperdício,

um produto de vida curtacria um problema de resíduos.

Se uma sociedadeproduz nutrientes,

os produtos de vida curtase convertem em algo novo.

Para os críticos mais radicais daobsolescência programada,

não basta reformularos processos produtivos:

querem reformular nossa economiae nossos valores.

é uma verdadeira revolução,uma revolução cultural,

porque é uma mudançade paradigma e mentalidade.

Esta revolução se chama "decrescimento".

Serge Latouche viajade palestra em palestra,

Explicando como abandonar a sociedadede crescimento definitivamente.

O decrescimento éum slogan provocador

que tenta rompercom o discurso eufórico

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do crescimento viável,infinito e sustentável.

Tenta demonstrar a necessidadede uma mudança de lógica.

A essência do decrescimento

pode ser resumidaem uma palavra: reduzir.

Reduzir nosso rastro ecológico,o desperdício,

a superproduçãoe o superconsumo.

Ao reduzir o consumo

e a produção,podemos liberar tempo

para desenvolveroutras formas de riqueza

que têm a vantagemde não se esgotarem ao serem usadas,

como a amizadeou o conhecimento.

Cada vez maisdependemos de objetos

para nossa identidadee autoestima.

Isso é consequênciada crise daquilo

que costumava nos dar identidade,

como a relação

com a comunidade ou a terra.Ou aquelas coisas singelas

substituídas peloconsumismo.

Se a felicidade dependessedo nível de consumo,

deveríamos serabsolutamente felizes,

porque consumimos26 vezes mais que nos tempos de Marx.

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Mas as pesquisas demonstram

que as pessoasnão são 20 vezes mais felizes,

porque a felicidadeé sempre subjetiva.

Os críticos do decrescimentotemem que destruirá a economia

e nos levará de volta à Idade da Pedra.

Voltar a uma sociedade sustentável,

cuja marca ecológicanão seja maior que um planeta,

não significa voltar

à Idade da Pedra, senão voltar,considerando os parâmetrosde um país como a França,

aos anos 60,que não é a Idade da Pedra.

A sociedade do decrescimentotorna realidade a visão de Gandhi:

Que disse: "O mundo ésuficientemente grande

para satisfazeras necessidades de todos

porém sempre serádemasiado pequeno

para a avarezade alguns".

Marcos está instalando o freewarerusso em seu computador.

Com o novo programa, podezerar o chip contador da impressora.

A impressora se desbloqueiaimediatamente.