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Of*icinadaterra1º Prémio Nacional de Artesanato Contemporâneo F*iA20001ª Menção Honrosa Nacional Artesanato Contemporâneo F*iA20001º Prémio Nacional Artesanato Contemporâneo F*iA20011º Prémio Nacional Artesanato Contemporâneo F*iA20021º Prémio Nacional Bienal de Artesanato Contemporâneo IEFP - Ministério Cultura 2003/2005

Of*icinadaterra“Uma nova forma de sentir o barro(...)”Correio da Manhã - 29/08/2001

“Este sucesso deve- se(...) à originalidade da sua produção(...) e de romper com a visão antiquada do artesanato”J.P.S - Publico - 18/10/2001

“Cerâmica com alma”Alma do design - publicação anual 2003 - instituto Português de design

“Peças que conversam em silencio... Falam sério, com humor ... Inexplicavelmente descontraídas”Cristina Pereira - revista Unibanco Nov- Dez 2004

“Da terra, do barro, Deus moldou o primeiro homem, dele a primeira mulher. Pela Of*icinadaterra, dois mil anos depois, vi moldado o pensamento” -Maria Luisa Baião sobre “Paixão” - Diario do sul 5/4/2005

Of*icinadaterra Os artesãosTiago Cabeça Nasceu em Évora a 29 de Maio de 1970.Em 1987 bolseiro da CGTP na União Soviética. Curso de língua russa na faculdade preparatória de Kiev - Ucrânia. Ingressou, sucessivamente, em 1989 no instituto politécnico de Vinitsa - Ucrânia no curso de construção de computadores; 1990 por transferencia no Instituto Politécnico de Kiev - Ucrânia, em programação de computadores; na Universidade de Évora, em 1992 regressado já da CEI, em Engenharia de Processos e Energia como estudante - trabalhador nos mais variados ofícios e prof*issões.Frequentou Artes Plásticas, na Universidade de Évora, aprendeu em 1999 os segredos da arte do barro com os mestres Orlando Guimarães e António Velho, da Olaria Guimarães/Velho em S. Pedro do Corval - Reguengos de Monsaraz. Esculpe e molda todas as peças da, por si criada com Magda Ventura em 1999, of*icina da terra.

Magda Ventura Nasceu em Reguengos de Monsaraz a 16 de Novembro de 1976.Participou em Workshops de pintura sobre olaria tradicional em S. Pedro do Corval - Reguengos de Monsaraz. Frequentou o Curso de Física e Química da Universidade de Évora. Pinta e f*inaliza todas as peças da, por si também criada, of*icina da terra.

Foi graças a uma feliz convergência de interesses que, a convite da Câmara Municipal de Redondo, a Oficina da Terra se comprometeu com entusiasmo em realizar uma exposição de trabalhos inéditos em Redondo. Por seu turno, a autarquia procurava assegurar a qualidade que tem sido seu apanágio na programação do Centro Cultural de Redondo (CCR), em particular num mês com o simbolismo de Dezembro. Pensamos ter atingido uma vez mais esse objectivo.

Dessa parceria resultou a exposição Estórias de Encantar, patente ao público entre 1 de Dezembro e 6 de Janeiro de 2008, no foyer do CCR. Mantendo-se fiéis a um trabalho de sucessos e honrarias que vem sendo desenvolvido pela Oficina da Terra, as peças criadas para esta ocasião resultam do modo como estes artesãos interpretaram, com recurso à moldagem do barro, alguns dos mais belos contos da literatura infantil universal.

Contudo, a própria história que aqui vos contamos ficaria incompleta se apenas consistisse numa exposição com a duração de um mês. Assim, o Município de Redondo e a Oficina da Terra decidiram editar este livro com os mágicos contos de encantar que agora apresentamos, esperando contribuir para a renovação da magia, tão característica da quadra natalícia.

Resta-nos terminar esta bela história, com a convicção de que o Natal significa, antes de mais, uma reedição de valores e princípios que estas estórias de encantar nos trazem em cada frase que percorremos.

Feliz Natal a todos, são os votos do Município de Redondo.

O Presidente da Câmara Municipal

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Há muitos séculos atrás, havia um reino governado por uma rainha muito vaidosa e má que era cruel com todos os seus vassa-los. A rainha apenas se preocupava com a sua beleza e conforto, sem se importar com o sofrimento do seu povo. De tal forma, que uma das suas vítimas predilectas era a sua enteada, a princesa Branca de Neve. A princesa era uma criada nas mãos da malvada madrasta. Porém, embora sofresse, a menina não se tornava triste nem infeliz. Executava o seu trabalho diário com muito empenho e alegria.

A madrasta praticava feitiçaria negra e tinha um espelho mágico que consultava acerca de tudo o que queria saber. Por ser tão egoísta e vaidosa, interrogava frequent-emente o espelho.- Espelho mágico diz-me, quem é a mulher mais bela do reino?- Tu, minha rainha. Tu és a mais bela de todas. - respondia o espelho.E isto continuamente. No entanto, certo dia, algo se alterou.- Temo que tenhas deixado de ser a mais

Branca de Neve e os Sete Anões......................................5

o gato das botas....................................................9

o soldadinho de chumbo...................................................13

os três porquinhos ......................................15

A cinderela ....................................................................19

o Nascimento de jesus ....................................................21

Alice no país das Maravilhas..............................23

o flautista de hamelin .....................................................27

rapunzel .................................................29

gulliver .........................................................................32

joão e o pé de feijão..........................................34

joão, Maria e a casinha de chocolate.............................38

a história da Arca de Noé..............................40

pinóquio.............................................................................42

o gigante egoísta................................................................46

A pequena sereia..................................................51

Capuchinho vermelho.......................................................57

pedro e a Andorinha.........................................60

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bela - respondeu-lhe. A madrasta nem queria acreditar nos seus ouvidos. O espelho continuou: - Branca de Neve superou-te na beleza.

Furiosa, a rainha tomou uma decisão: man-dou o caçador real passear Branca de Neve pelo bosque e matá-la. O caçador recebeu a ordem com muita amargura, pois amava a menina como um pai ama a sua f*ilha. Mas nada disse à rainha, pois sabia que isso lhe custaria a vida.Naquela tarde, encantada com a luz e cor da f.loresta, Branca de Neve passeava com o seu amigo caçador. Ajoelhou-se no chão, no meio de um campo de f.lores silvestres e nesse instante, o caçador viu que seria o momento certo para a matar. Desem-bainhou o cutelo e ergueu-o, mas vacilou. A emoção e os sentimentos pela princesa traíram-no. Ajoelhou-se aos pés de Branca de Neve e pediu-lhe perdão. Confessou os desejos mórbidos da rainha e pediu-lhe que escapasse dali de imediato. A menina des-pediu-se do bom amigo com um abraço e fugiu.

Branca de Neve correu desesperadamente

durante horas, por entre as árvores e arbus-tos. Estava tão assustada por estar sozinha num lugar desconhecido e escuro, que qualquer ruído a apavorava.Ao f*im de algum tempo, encontrou uma casinha construída no tronco de uma árvore. Bateu à porta mas ninguém respondeu. Em-purrou a porta e entrou numa sala onde os móveis eram muito pequenos. Parecia uma casa de crianças. Mas, o que mais chamou a atenção da princesa foi a sujidade que havia por todo o lado, como se aquele local jamais tivesse sido limpo. Decidiu limpar a casa toda. Quando já estava tudo a reluzir, Branca de Neve sentiu-se esgotada. Subiu ao andar superior e deitou-se sobre três pequenas camas, adormecendo num instan-te, dominada pelo cansaço.

Vindos do ermo do bosque, um grupo de sete anões regressava a casa, após um longo dia de trabalho. Mal entraram, as-sustaram-se. A casa estava tão limpa. Que sucedera?!... Subiram ao andar superior e a surpresa deixou-os boquiabertos. Uma autêntica princesa dormia nas suas camas. Branca de Neve acordou com o barulho,

contou-lhes tudo e pediu-lhes que a ajudassem a esconder-se da ma-drasta. Em troca, ela cuidaria das lides domésticas e prepararia todas as refeições. Todos acabaram por concordar, comovidos com a história da menina.No castelo, a rainha questionou de novo o seu espelho. Mas para sua surpresa e raiva, este voltou a dizer-lhe que Branca de Neve era muito mais bela do que ela. Também acabou por a informar onde se escondia a bela princesa.

Vermelha de ódio, a rainha resolveu tomar uma poção mágica que a transformou numa velha. Preparou também uma maçã envenenada, que daria a comer à princesa. O feitiço provocado pelo veneno só se que-braria, eventualmente, com um genuíno beijo de amor. Isso seria certa-mente coisa difícil para quem estivesse adormecido para todo o sempre na f.loresta profunda.

Na manhã seguinte, os anõezinhos retornaram ao trabalho mas avisaram a menina para não abrir a porta a ninguém, pois a rainha tinha espiões em toda a parte. Passada uma hora, estava a princesa na sua lide do-méstica, quando ouviu alguém bater à porta. Assustou-se inicialmente mas era af*inal uma inofensiva velhinha que se mostrava cansada e com sede. Pediu-lhe água e Branca de Neve enterneceu-se, servindo-lhe gen-erosamente um copo.- Muito obrigada, menina. Em troca do teu gesto bondoso, ofereço-te esta maçã vermelha. É a melhor e mais suculenta que tenho.

Quando os anõezinhos chegaram à gruta onde trabalhavam, ouviram um estranho barulho e observaram que os morcegos não paravam de voar

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freneticamente em círculos. Perceberam de imediato que era um sinal, um aviso de que algo não estava bem. Chamaram uma família de veados e, montados sobre os lombos dos animais, empreenderam uma correria desenfreada em direcção a casa.

Com Branca de Neve caída inanimada no chão depois de ter comido a maçã, a rainha malvada tirou o disfarce e riu-se num esgar tenebroso celebrando a vitória: era agora a mulher mais bela de todas! Ao pressen-tir a chegada dos anõezinhos, escapou-se perante a tristeza da f.loresta e auxiliada pelos seus feitiços. Porém, os fortes ventos e chuvas invocados pela rainha viraram-se contra ela e foi fulminada por um raio. A força daquele fenómeno atirou a rainha para um abismo, desaparecendo para sempre da face da Terra.

Inconsolados pelo adormecimento da princesa, os anõezinhos prepararam um leito majestoso, onde descansaria o corpo da Branca de Neve. Ro-deada de f.lores, a menina jazia como que a dormir, embalada no pranto dos seus amigos. Nisto, um ruído de cascos fez-se ouvir e num belo corcel branco vinha montado um denodado cavaleiro. Era um príncipe que vinha de um país longínquo, atraído pela beleza e triste história da princesa. Ao encontrá-la deitada debruçou-se sobre Branca de Neve e deu-lhe um suave beijo de amor nos lábios. Aquele gesto desfez imediatamente o feitiço da maçã envenenada e Branca de Neve acordou lentamente. Todos se alegraram por ela estar viva. O príncipe tomou-a nos braços e levou-a para o seu reino, tomando-a como sua esposa. Os anõezinhos nunca deixaram de visitar a sua amiga. E todos viveram felizes e em paz para sempre.

Adaptação a partir do conto original dos Irmãos Grimm.

Era uma vez um moleiro muito velhinho e cansado. Certo dia, pressentiu que a sua hora de partir para outro lugar estava a chegar e decidiu repartir os seus bens pelos três f.ilhos. Ao mais velho, deu-lhe o moinho; ao segundo, deixou-lhe o burro; e ao mais novo, um gato. O terceiro f.ilho sentiu-se muito descontente com o que tinha herdado, pois sabia que morreria à fome sem trabalho e o gato não valia nada. Mas ao sentir o seu novo dono em agonia, o gato disse-lhe:- Caro amo. Arranja-me um par de botas e um saco e verás a boa sorte que o teu pai te deixou. Acredita, meu amo, valho mais que um moinho ou um asno.

Mesmo não tendo f.icado totalmente convencido, o rapaz gastou todo o dinheiro que tinha num belo par de botas e num saco para o seu gato. Este calçou as botas, pôs o saco às costas e dirigiu-se a um prado verde. Antes de partir, meteu farinha dentro do saco e algumas folhas de couve. Quando chegou ao prado, abriu o

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saco e espalhou alguma farinha no chão. Deitou-se ali ao lado, muito quieto e quase sem respirar, f.ingindo-se morto. Seduzido pelo cheiro da comida, um coelho enf.iou-se no saco. O gato pegou nele e levou-o à presença do Rei, oferecendo-lhe o coelho.- Sua Alteza, trago-vos aqui um manjar... Um coelho bravo que o meu amo, o Marquês de Carabás, lhe envia em seu nome.- Coelho bravo! - exclamou o Rei. - Adoro! Diz ao teu amo que agradeço a sua amabilidade e envia-lhe os meus mais sinceros agradecimentos. Na manhã seguinte o gato praticou o mesmo esquema de caça e capturou duas gordas perdizes. De imediato levou-as ao Rei, tal como tinha feito com o coelho. O rei rejubilou de alegria. F.icou tão curioso com este desconhecido que lhe enviava deliciosas peças de caça, que mandou preparar a sua carruagem a f.im de visitar o tal marquês, fazendo-se acompanhar da princesa, sua f.ilha.O gato foi logo ter com o seu amo e disse-

lhe:- Meu senhor, a sua sorte está a chegar... Mas terá de seguir os meus conselhos para a alcançar. Venha comigo até ao rio e f.ique lá a banhar-se no lugar que eu indicar. Conf.ie e deixe o resto por minha conta.O rapaz fez tudo o que o gato lhe disse. Quando passava a carruagem real, o gato desatou a gritar: - Socorro, socorro! Acudam! - Que aconteceu? - perguntou o Rei enquanto mandava parar a carruagem.- Dois ladrões roubaram a roupa e os pertences do meu nobre amo! - disse o gato.Solidário com tal incómodo, o Rei mandou uns servos ao palácio, para lhe trazerem um dos seus fatos. Depois de ataviado com as reais vestes, a elegância do rapaz não deixou indiferente a princesa que, de imediato se apaixonou pelo rapaz. Também o Rei se sensibilizou com o «marquês» e convidou-o para um passeio.

Apercebendo-se que o seu plano triunfava, o gato antecipou-se e chegou antes da

carruagem a um campo onde ceifavam alguns camponeses e disse, num tom ameaçador:- Ouçam, o Rei está quase a chegar aqui. Se não lhe disserem que toda esta pradaria pertence ao Marquês de Carabás, transformo os vossos corpos em banha triturada.Quando o Rei passou e perguntou quem era o dono dos campos, os camponeses responderam em coro:- Pertencem ao Marquês de Carabás!- Mas que belas terras tem você! - disse o Rei para o f.ilho do moleiro. O rapaz sorriu incomodado e o Rei murmurou ao ouvido da f.ilha:- Eu também era assim tímido na minha juventude... O gato corria continuamente à frente da carruagem. Ameaçava e instruía todas as pessoas que encontrava no caminho. Dentro da carruagem, o Rei estava maravilhado e perplexo com tamanha riqueza de um nobre tão jovem.

O gato prosseguia na sua corrida.

Atravessou uma densa mata e chegou à porta de um enorme e magníf.ico castelo, no qual vivia um gigante. Este gigante era muito rico e, na verdade, era ele o verdadeiro dono de todos os campos semeados e da mata. O gato, sem perder a coragem, bateu à porta e disse ao gigante:- Caro gigante, ouvi histórias magníf.icas a seu respeito. É mesmo verdade que tendes o poder espantoso de vos transformardes em qualquer tipo de animal?- Claro que sim. - respondeu o gigante transformando-se num leão.- Oh, incrível. - f.ingiu surpreender-se o gato - Mas a verdadeira arte reside em nos tornarmos tão pequenos que ninguém dá pela nossa presença. Por acaso... conseguirias transformar-te num ratinho?- É para já! - assentiu o gigante, transformando-se num rato.Perante isto, o gato nem esperou um segundo. Cravou-lhe logo as suas unhas e devorou-o com uma dentada.Desceu até à porta do castelo, pois pelos seus cálculos e previsões, naquele preciso momento a carruagem real chegava. Abriu a

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porta e disse:- Sejam bem vindos, ilustres senhores, ao castelo do Marquês de Carabás!- Meu Deus! - exclamou o Rei com admiração - Mas que exuberante castelo tem o senhor! Peço-lhe a delicadeza de ajudar a minha querida f.ilha a descer da carruagem.O rapaz, ofereceu timidamente a sua mão à princesa e o rei murmurou-lhe novamente ao ouvido:- Eu também era assim tímido na minha juventude...

Naquele meio tempo, o gato foi à cozinha e mandou preparar um esplêndido e rico banquete com os melhores alimentos e vinhos que por ali havia. Depois do Rei ter visitado todo o castelo, entraram na sala de jantar e sentaram-se à mesa.Após o almoço, o Rei diz discretamente ao Marquês:- Nobre rapaz, és tão tímido e charmoso como eu era nos meus tempos de juventude. Mas já entendi que gostas muito da minha f.ilha, assim como ela gosta de ti. Porque não a pedes em casamento?O pretenso Marquês fez uma vénia ao Rei e, corando, pediu a princesa em casamento, como lhe tinha dito o Rei. Depois do casamento, o afortunado f.ilho do moleiro nunca mais se separou da princesa. Nem do gato das botas.Adaptado de Os mais belos contos de Perrault, Editora Civilização, 1993

Era uma vez um menino chamado Pedro. Ele era órfão e, por isso, vivia com os seus avós maternos. Numa manhã muito especial Pedro fez anos. Ele f.icou muito feliz com a prenda que seus avós lhe ofereceram. Nunca tinha visto nada igual: era uma caixa cheia de soldadinhos de chumbo.

Estranhamente, um dos soldadinhos só tinha uma perna. Por ser diferente de todos os outros, o menino decidiu tirá-lo da caixa e colocou-o em cima do seu armário de brinquedos, ao lado de uma bonita bailarina que se equilibrava graciosamente numa só perna. Nesse instante, tão próximos um do outro, nasceu um grande amor entre eles.

Bem no alto do armário, o soldadinho não imaginava o mal que o espreitava. No dia seguinte, foi violentamente empurrado por um boneco que estava louco de ciúmes por também amar a bailarina. Em desequilí-brio e após um par de trambolhões, o sol-dadinho de chumbo tombou janela fora e foi transportado pelo vento. O infeliz caiu num canteiro, entre f.lores lilases. Bem perto, dois meninos jogavam à bola e, um deles, viu algo a brilhar.

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Chamou o seu amigo e foram ver o que luzia tanto. Ficaram muito felizes com o achado. Então um deles disse:- Tive uma grande ideia! Vamos metê-lo dentro do meu barquinho de papel e pô-lo a navegar na água deste ribeirinho.Infelizmente, a corrente de água era muito forte e o soldadinho de chumbo foi empur-rado até ao interior de um esgoto. Perseguido por ratos e outros seres das profundezas dos esgotos, o soldadinho con-seguiu bater-se com bravura, escapando por mais de uma vez a morte certa. No entanto, já no rio, o frágil barquinho de papel acabou por não resistir, naufragando. O soldadinho de chumbo não podia escapar a esse azar e afundou-se. O pior era que ele não con-seguia nadar. Mas, embora se afundasse cada vez mais, por nada deste mundo queria terminar a sua vida daquela forma e naquele lugar, longe da sua doce bailarina. Sem o saber, a sua sorte havia de mudar novamente, pois um peixe que por ali pas-sava, engoliu-o num ápice julgando tratar-se de uma bela refeição. No outro dia, Pedro teve uma surpresa. Em cima da mesa da cozinha estava o seu sol-dadinho de chumbo. A sua avó tinha acaba-do de retirá-lo da barriga de um peixe que estava a ser confeccionado para o almoço e que tinha sido comprado no mercado nessa manhã. Era uma grande coincidência.Porém, novo azar bateu à porta daquele infeliz soldadinho. No meio da brincadeira, o

rapaz deixou escapar o soldadinho da mão voando para junto da lareira. Aproveitando a ocasião, o boneco ciumento empurrou o soldadinho para o fogo, cujas chamas proibiram o rapaz de se aproximar, mal se apercebeu do sucedido.

O soldadinho de chumbo começou lenta-mente a derreter no calor daquele inferno, procurando despedir-se da bailarina com o olhar. Já quase sem fôlego o soldadinho vacilava em profunda tristeza e no preciso momento em que se preparava para lançar um último olhar em redor, foi surpreendido pela presença dela, que ali estava, para o amar. Estavam novamente juntos. Beijaram-se pela primeira vez, enquanto eram con-sumidos pelas chamas.

No dia seguinte, a avó de Pedro limpava a lareira e, entre as cinzas, encontrou um pequeno coração de chumbo, mas que brilhava intensamente. Parecia uma pedra preciosa e era tudo que restara do soldadin-ho, f.iel até o último instante ao seu grande amor.

Adaptado de Barnabé, J. ; Novos Contos Maravilhosos; Porto, Livraria Civilização Editora, 2004

Era uma vez três irmãos porquinhos que viviam perto de um bosque. O mais velho era muito sensato e trabalhador mas os seus irmãos só pensavam em dançar, cantar e brincar.O f*im do Verão já estava a chegar e o Sabi-chão, o irmão mais velho, avisava-os todos os dias assim:- Manos, olhem que o Inverno não tarda em chegar e ainda não começaram a fazer os vossos abrigos. Cautela! Olhem que com o frio, desce das montanhas o lobo esfomeado à procura de comida... Vocês passam os dias a cantar e a brincar mas quando o lobo vier, a brincadeira será outra. - O lobo? Nós não temos medo de nada. - disse Bolota, o irmão do meio, a troçar.- Ai é? Então como é que vão safar-se do lobo mau se nem têm uma casa forte? - per-guntou o Sabichão. - Sigam o meu exemplo... a minha casita já está quase pronta! Des-pachem-se e construam as vossas também.

Pouco preocupados, os dois irmãos lá foram construir as suas casas. Uma para cada um. Fartura, o mais novo, acabou a sua casa numa semana:- A minha casa está pronta, é de palha e foi

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muito fácil de construir! Por seu turno, o porquinho Bolota decidira fazer a sua casinha em madeira.- Só mais meia dúzia de tábuas e es-tará pronta - dizia ele para si, cheio de conf*iança.

O tempo passou rapidamente e numa bela manhã, a neve tinha coberto todos os cam-pos de branco. Fartura e Bolota divertiam- se a brincar com a neve:- Vamos andar de trenó! - desaf*iava Fartura - Tu empurras!- Está bem! - concordou Bolota.Sabichão, que era o mais previdente, lá ia recordando os seus irmãos do perigo que correriam caso não fossem mais atentos:- Não se afastem muito de casa! Olhem que o tempo dos lobos já chegou...…- És mesmo chato... nunca queres brincar connosco. Só pensas em trabalho. - disse Fartura.

Nisto, os dois irmãos subiram uma encosta para a descer em trenó. Porém, como Sabi-chão previu, o lobo rondava aquela zona e já os observava ao longe, camuf.lado pelas

árvores, aproximando- se cada vez mais.Já muito perto, o lobo faminto saltou por de-trás de uma árvore e saudou-os, mostrando- lhes a assustadora boca cheia de dentes aguçados. Aterrorizados, os dois porquinhos entraram em pânico e deitaram a correr num atropelo até à casa mais próxima. Era a casa de palha de Fartura. O lobo inspirou fundo e soprou com toda a sua força, já a pensar no belo petisco que iria comer. A frágil casinha de palha resistiu quatro se-gundos e voou pelo ar. Nada restou, apenas os dois porquinhos abraçados um ao outro a tremer.- Vamos mano, depressa! - disse Bolota enquanto fugia - Vamos para a minha casa! É muito resistente,f*i-la toda em madeira!

Já dentro de casa, Bolota tentava acalmar o seu irmão que tremia de medo:- Acalma-te. O lobo bem pode soprar com todo o seu fôlego, que esta, ele não deita abaixo!O lobo encheu novamente os pulmões e não perdeu mais do que seis segundos para mandar aos ares a casinha de madeira, como se fosse um baralho de cartas. Hor-rorizados, os dois porquinhos fugiram a sete pés até à casa do Sabichão. - Somos nós, mano, abre rapidamente a porta! - disse fartura - O lobo destruiu as nossas casas!- Ah foi? Vocês não passam de dois preguiçosos! Construíram as vossas casas de qualquer maneira e ainda se admiram que o lobo as tenha mandado abaixo? Ca-

beças de alho xoxo! Felizmente que construí esta casa, sólida como um castelo. Aqui, o lobo não entra! - sentenciou o irmão mais velho.

Ao ver que eram três, os porquinhos que estavam prestes a servir-lhe de refeição, o lobo sorriu e pensou: - “ora viva ... há anos que não tinha um almoço tão abastado como o que vou ter hoje”.Encheu uma vez mais os pulmões de ar e soprou, soprou, soprou... até se cansar.- Bolas, a porta nem tremeu. Tentou mais uma vez... e nada. Quase a desmaiar de tanto soprar, o lobo reconhe-ceu a derrota:- Ganharam... vocês ganharam... desisto. Vou-me embora.Bolota e Fartura puseram-se aos pulos a festejar o anúncio do lobo.Mas Sabichão sabia que o lobo era matreiro e não desistia assim tão facilmente: - Parem! Não festejem ainda! - disse Sabi-chão - Não sabem que o lobo é manhoso? Pensou, pensou, pensou e, olhando para a chaminé disse: - a chaminé é a única entrada possível para a casa. Se o lobo tentar entrar por aqui... Vai esperá-lo uma grande surpresa!

Os três irmãos acenderam a lareira e puseram um caldeirão com água a ferver. Sabichão acertou em cheio. Depois de se recompor, o lobo regressou e escalou agil-mente a parede até à chaminé. Chegado lá acima, nem hesitou e enf*iou-se pela chami-

né abaixo. Assim que caiu no caldeirão com água a ferver, soltou um enorme grito e saiu espavorido pela porta que Sabichão lhe abrira entretanto.

Os três porquinhos festejaram f*inalmente, cantando e dançando de felicidade.Quanto ao lobo, acabou a noite sentado num riacho, lamentando o seu azar.E os dois porquinhos preguiçosos apren-deram uma lição de que nunca mais se esquecerão.

Adaptado de Os três porquinhos inDuval, Marie e Jost, Alain; Viagem ao país dos contos; Porto, Livraria Civilização Editora, 2004

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Era uma vez uma jovem rapariga chamada Cinderela. A sua mãe morreu quando Cin-derela tinha seis anos e, passados uns tempos, o seu pai, um comandante de um navio, casou com a viúva Violante, mãe de Hortense e Raimunda. Elas eram as três muito egoístas, feias e invejavam a beleza, graça e a bondade de Cinderela. Não lhe entregavam nada do que o seu pai lhe enviava, obrigando-a a trabalhar como uma escrava e a vestir as roupas gastas e vel-has das suas irmãs.

A rapariga cozinhava, varria e limpava o dia todo. Para piorar a situação, as suas irmãs chamavam-na constantemente:- Cinderela, traz-me um copo com água! - gritava Hortense.- Cinderela, engraxa os meus sapatos! - or-denava Raimunda. Mesmo sofrendo tanta humilhação, ela nunca se queixava. Nem mesmo ao seu pai, nos pequenos períodos de tempo em que ele f*icava em casa.

Certo dia, a família recebeu um convite para um grandioso baile no palácio real. O f*ilho do Rei procurava uma donzela para casar.

- Tenho a certeza de que o príncipe se vai apaixonar por mim... - disse Raimunda.- Tu?! Alguma vez?! Nem em sonhos! És horrivelmente feia! - sentenciou Hortense, desdenhando a própria irmã. A pobre Cin-derela não teve descanso, atarefada a trabalhar e a preparar as irmãs para o baile. Coseu bainhas, engraxou sapatos, penteou- as, pintou-as, engomou-lhes os saiotes e vestidos e ainda limpou as suas jóias.

Mas Cinderela também queria ir ao baile e perguntou inocentemente às irmãs se as poderia acompanhar. Hortense e Raimunda limitaram-se a troçar dela.Quando pediu o mesmo à madrasta, esta dirigiu-se à cozinha, agarrou num saco cheio de ervilhas e despejou-o entre as cinzas da lareira.- Querida Cinderela... -começou com ironia - Podes ir ao baile depois de apanhares todas as ervilhas. - Após a madrasta ter saído da cozinha, Cinderela correu para a janela e chamou pelos seus amigos passarinhos que, de imediato voaram para dentro da cozinha e ajudaram-na a apanhar as ervilhas.Em seguida, Cinderela levou as ervilhas à madrasta mas esta respondeu secamente: - Com ervilhas ou sem ervilhas, não vais ao baile. Estás imunda e desalinhada. O teu lugar é na cozinha, não numa festa chique com damas e cavalheiros.

Depois de nova humilhação, Violante e as suas duas f*ilhas partiram numa carruagem para o baile, abandonando Cinderela no chão a chorar. Chorou tanto que sentia a sua face queimada. Mas nem por isso con-seguia parar de chorar.

Subitamente, um clarão de luz azul encheu a cozinha e dele surgiu uma fada: - Cinderela, não chores mais. - disse a fada - Apesar do que te disseram, irás ao baile. Traz-me uma abóbora e reúne alguns dos teus amiguinhos no pátio. Num ápice, Cinderela juntou tudo o que lhe fora pedido pela fada que, sorrindo, tocou na abóbora com a varinha mágica. Plim! Transformou-a numa majestosa carruagem. Seis ratinhos foram transformados em lindos cavalos brancos atrelados à carruagem e um outro converteu-se num elegante cocheiro. - Agora és tu, minha linda menina! - disse a fada.A sua magia envolveu Cinderela num lindo vestido cor-de-rosa, decorado com contas de ouro. E, num toque f*inal, presenteou a pequena com uns admiráveis brincos de diamantes e uns delicados sapatinhos de cristal. - Estás pronta, minha querida. Mas não te esqueças que quando baterem as doze badaladas no relógio, o encanto termina. E tudo voltará ao mesmo.

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- Não me irei esquecer das tuas palavras. - prometeu Cinderela.

Quando entrou no salão de baile, todas as pessoas se calaram, espantadas com tanta beleza. Todos se perguntavam quem seria aquela donzela e de onde viera.Até as irmãs de Cinderela não a recon-heceram. f*izeram-lhe uma vénia, pensando tratar-se de uma princesa estrangeira.Mal a viu, o príncipe não resistiu e foi ao seu encontro.- Quem sois vós? Nunca vos tinha visto antes. - disse-lhe o príncipe.

Nessa noite, o príncipe só dançou com Cin-derela. Encantado com aquela moça, apa-ixonou-se perdidamente por ela. Cinderela estava tão feliz que se esqueceu do tempo que passava e do aviso da fada. Só quando o relógio começou a dar as doze badaladas é que se lembrou.Sem dizer nada, correu para fora do palá-cio. Ao descer a monumental escadaria per-deu um dos sapatinhos, mas já não havia tempo para o apanhar.O príncipe correu atrás dela mas sem sucesso. Porém, observou algo que brilhava num degrau. Aproximou- se e viu o sapat-

inho, recolhendo-o com amor.

Depois daquela noite, o príncipe decidiu percorrer todo o reino com o sapatinho de cristal, prometendo casar-se com a jovem a quem servisse o sapato. Experimentou-o em centenas de raparigas mas todas tinham o pé demasiado grande ou demasiado peque-no. f*inalmente chegou a casa de Cinderela. Hortense e Raimunda tentaram enf*iar o pé no sapatinho mas também não conseguiram.- Posso experimentar? - perguntou então Cinderela com timidez.- Sua Alteza não tem tempo a perder con-tigo... - respondeu a madrasta - vai imedi-atamente para a cozinha!- Não faz mal. - interrompeu o príncipe, calçando o sapato no pé de Cinderela. Para espanto de todos, o sapato serviu na per-feição.- Mas tu não foste ao baile! - resmungaram espantadas Hortense e Raimunda.Cinderela tirou o outro sapato do bolso, provando def*initivamente ser ela a donzela desconhecida.- És mesmo tu... - murmurou o príncipe com os olhos a brilhar. Deu-lhe a mão e levou-a para o palácio. Passados três dias casaram e viveram felizes para sempre.

Adaptado do livro Cinderela; Colecção A Minha Biblioteca de Contos

Clássicos, Hong Kong, Tormont International Ltd., 1995

Há cerca de dois mil anos viveu numa terra chamada Belém na antiga Judeia, uma jovem muito bela e com um coração de ouro, chamada Maria.Ela estava casada com o carpinteiro José. A dada altura, Maria f.icou grávida de uma criança muito especial. Tão especial, que os anjos de Deus a visitaram para anunciar a chegada dessa criança e o seu nome: Jesus. Era o f.ilho de Deus Todo-poderoso e a alma de Maria fora escolhida de propósito. Jesus seria o Messias, um guia intemporal

dos homens, uma luz para todos no caminho da salvação.

Do longínquo Oriente, três Reis Magos decidiram ir ao encontro do menino que iria nascer em Jerusalém. Sabiam que seria o novo Messias, anunciado em livros de profecias antigas. Consultaram os astros e, em sonhos, anjos disseram-lhes para seguirem uma estrela que os orientaria até ao recém-nascido. Certo dia, pouco antes da anunciada

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chegada da criança, José e Maria tiveram que viajar de burro até Belém. Maria estava quase a ter o seu menino mas mesmo assim não quis deixar de acompanhar o seu esposo. Na noite que chegaram a Belém, todas as estalagens e hospedarias da cidade estavam cheias. José e Maria não tinham onde dormir e ela estava prestes a dar à luz. Foram para fora da cidade e encontraram um velho estábulo de vacas. Entre as palhas Maria preparava-se, com a ajuda de José, para ter o seu f.ilho.

As primeiras contracções, apareceram dois anjos que a ajudaram no parto. Nessa mesma noite. num prado de pastagem, dormiam ao relento um grupo de pastores, que tomavam conta dos seus rebanhos. De repente, um anjo de Deus apareceu-lhes. Ele estava rodeado de uma luz tão intensa que os pastores sentiram muito medo, pois nunca tinham visto nada assim. O anjo acalmou-os com a sua voz suave e melodiosa:- Venho anunciar-vos a Boa-Nova. Hoje, na cidade de Belém, nasceu o vosso Salvador. Sigam-me! - disse, indicando-lhes

o caminho.Juntou-se a este anjo uma multidão de anjos que cantavam a Grande Prova de Amor que Deus tinha dado a toda a humanidade. O menino nasceu e Maria envolveu-o em faixas de tecido, deitando-o em seguida numa manjedoura coberta de palha.

Guiados pela estrela que f.icou a brilhar em cima do estábulo, os Reis Magos aproximaram-se e encontraram o Menino Jesus com a Mãe, inclinando-se de imediato em sinal de respeito e agradecendo aos céus pela imensa alegria que tinham. Ajoelharam-se junto a Jesus e ofereceram prendas dignas de um rei: ouro, mirra e incenso.Passado pouco tempo chegaram os pastores. Eles estavam nervosos mas felizes, na presença do Menino Jesus. Contaram a todos os que estavam no estábulo o que lhes tinha acontecido nessa noite. Todos os que ouviram f.icaram maravilhados com a graça do acontecimento e agradeceram a bênção de Deus, em nome de todos os homens. Adaptado de Evangelho Segundo São Mateus (1,18-25; 2, 1-12 ); Evangelho Segundo São Lucas ( 2,1-20); in Biblia Pastoral; vol.II, Alfragide, Ediclube, 1999

Era uma vez uma menina chamada Alice. Ela vivia numa casa de campo perto de um lago. Adorava e respeitava todos os animais. Sempre desejou e tentou que os animais falassem com ela. Um dia, sentou- se debaixo de uma árvore por causa do calor que fazia e foi invadida por uma estranha sonolência. Fechou os olhos e adormeceu. Quando acordou, viu um enorme coelho branco que corria velozmente pelo prado. Poderia ser perfeitamente natural, se o coelho não fosse tão diferente de todos os que conhecia. Vestia roupa humana e, de quatro em quatro passos, consultava o relógio de bolso e dizia:- Estou atrasado! Já estou atrasado!Alice f*icou perplexa com aquilo, mas seguiu o curioso coelho.- Olá, senhor coelho! - perguntou Alice

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- onde vai com tanta pressa?- Não tenho tempo de lhe responder. Estou atrasado.- Atrasado para quê?- Para um encontro muito especial. Já estou atrasado. - disse, desaparecendo por um buraco entre as raízes de uma árvore.Alice enf*iou a cabeça no buraco mas não conseguia ver nada. Aproximou-se mais um pouco e, de repente, o chão desapareceu debaixo dela.

A menina caiu num abismo sem f*im. E a sensação de pânico só desapareceu quando Alice se apercebeu que, na verdade, estava a f.lutuar suavemente. A escuridão foi gradualmente desaparecendo para dar lugar a uma galeria ricamente decorada ainda no interior da árvore. f*inalmente, depois dessa queda interminável, Alice aterrou no chão da galeria e encontrou-se numa ampla sala circular.

Viu o coelho desaparecer atrás de uma portinhola, a única saída daquele espaço. Mas Alice era demasiado grande para atravessar a portinhola. Olhou à volta e viu uma caixa de bolachas e um frasquinho verde com um líquido. O instinto levou-a a escolher o frasquinho. Revelou-se, então, a opção certa. Começou a reduzir de tamanho até f*icar com o tamanho de um insecto. Abriu a porta e foi ter ao jardim mais belo

que poderia ter visto ou imaginado. Também viu estranhos seres que dançavam mas decidiu continuar a caminhar, pois eles pareciam loucos. Alice deu-se conta que era muito pequenina e decidiu procurar novamente o coelho branco. Talvez ele a pudesse ajudar a voltar ao tamanho normal e, assim, voltar para casa.Correu pela f.loresta e lá encontrou o apressado coelho branco que acabara de passar atrás de uns juncos. Sem hesitar, a menina foi atrás dele. Mas o coelho, repetindo a mesma cantilena, desapareceu.

Decepcionada, Alice descobriu uma lagarta que fumava em cima de um cogumelo e pensou que talvez ela a pudesse ajudar.- Por favor, senhora lagarta, ando à procura de alguma coisa que me faça crescer. Sabe onde posso encontrá-la?- Julgas que sou algum posto de informação? - respondeu a lagarta a fazer anéis de fumo com a boca. mas como não pareces ser daqui, irei ajudar-te... se comeres do lado esquerdo do cogumelo, cresces. Se comeres do outro, encolhes. Alice colheu um pedacinho de cada lado... e, ao experimentar um dos pedacinhos, recuperou a estatura original. Apesar disso, dispôs-se a guardar dois bocadinhos de cogumelo, um de cada lado, pois naquele

país louco tudo poderia acontecer.

Continuou a sua procura. Tinha mesmo de encontrar o coelho branco, pois só ele a poderia tirar daquele lugar. Em cima de uma árvore enorme distinguiu algo que brilhava e aproximou-se, curiosa com aquele fenómeno. f*icou espantada ao perceber que o que brilhava era um enorme sorriso. Aos poucos, uma cabeça foi-se formando em redor do sorriso. Era a cabeça de um gato. Depois apareceu o corpo e, por f*im, o rabo.- Olá, Alice! - disse o gato sempre a sorrir.- Olá! Quem és tu? - perguntou a menina com receio.- Sou o Gato de Cheshire. - disse a bizarra criatura - E tu és a Alice e andas à procura do caminho que te leve de volta a casa.- É verdade! - respondeu Alice - Que me queres?- Tens piada! - disse o gato a rir - o Gato de Cheshire a querer alguma coisa de alguém! Enf*im - se queres encontrar o caminho, pergunta à rainha; vais encontrá-la lá dentro. - disse, apontando para um tronco.

No tronco da árvore onde se encontrava o Gato de Cheshire, abrira-se uma porta que dava para um jardim. Alice entrou. Viu de imediato o coelho branco que tocava uma corneta.- A Rainha de Copas! - anunciou solenemente.- Alice observou a rainha. Era uma mulher muito gorda e enorme, com cara de antipática. Dava a impressão que passava o dia a meter medo a todos os seus súbditos. Parou diante de Alice e perguntou:- Sabes jogar croquet? Sim? Optimo! Então vamos jogar uma partida!Sem querer, Alice viu-se a jogar a partida de croquet mais absurda em toda a sua vida. Os tacos eram f.lamingos, que se mantinham muito hirtos enquanto a rainha batia na bola e encolhiam-se sempre que era a vez da menina. Ainda por cima, a bola era um ouriço batoteiro.Todos pareciam estar contra a Alice. Moviam-se para a menina perder o jogo e a Rainha de Copas ganhar. Como isso não aconteceu, esta acabou zangada aos gritos exigindo que cortassem a cabeça de Alice. O Rei de Copas pediu timidamente à sua esposa para que Alice fosse

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julgada previamente. A rainha anuiu e Alice foi conduzida à sala de audiências por dois guardas.

Assim que começou o julgamento, a menina reparou que as coisas não corriam a seu favor. Como era inútil defender-se, a menina encolheu os ombros e levou as mãos aos bolsos. Subitamente, os seus dedos encontraram os pedacinhos de cogumelo que faziam encolher ou diminuir. Como não sabia qual dos dois a aumentaria, pôs os dois pedacinhos na boca. Cresceu tanto de tamanho que bateu com a cabeça no tecto da sala.- Que estava a dizer Sua Majestade? - perguntou com ironia.- Nada, querida, nada - disse a rainha com um sorriso amarelo - foi tudo um erro lamentável. Desculpa. Estava errada mas, felizmente, dei-me conta a tempo...…- Não é verdade! - berrou Alice - o que acontece é que, agora a situação se modif*icou. Agora já não sou uma menina pequena, manipulável e inofensiva. Não é verdade?Com um pontapé, Alice mandou pelos ares o exército de cartas que fazia a guarda.A rainha estava a tremer de medo e nem se atreveu a responder à afronta. No entanto, algo de inesperado aconteceu: a menina voltou a encolher. Nesse instante, a rainha aproveitou e mandou a sua guarda apanhá-la novamente. Alice correu com todas as suas forças, fugindo dos seus perseguidores. A menina gritava de medo, quando sentiu uma mão no seu ombro. Era a sua mãe a acordá-la do terrível pesadelo. Suspirou de alívio, abraçou a mãe e foi tomar o pequeno- almoço descansadamente.

Walt Disney; Bambi e Alice no País das Maravilhas; Leon, Evergraficas, 1988

Há muitos, muitos anos, a cidade de Hamelin na Alemanha sofreu uma enorme praga de ratos. Eram tantos que atacavam e roíam tudo e todos. E por onde passavam, devoravam toda a comida, deixando as casas e as lojas completamente destruídas. Os habitantes da cidade não conseguiam expulsar todos aqueles malditos bichos que, aos poucos, tomavam conta da cidade.

Desesperado com esta situação e depois de ter tentado exterminar aqueles malditos, o povo juntou-se e foi pedir auxilio ao Rei. O porta-voz popular disse:- Sua Majestade, precisa de fazer algo... A cidade vai f*icar deserta e em ruínas se Vossa Alteza não acabar com esta

calamidade que se abateu sobre nós.

Então, o Rei fez anunciar em todo o reino que daria como recompensa uma bolsa recheada de moedas de ouro a quem conseguisse livrar a cidade da praga de ratos.Muitos tentaram a sua sorte mas sem sucesso. Até que um dia, um estranho desconhecido apresentou-se no palácio real:- Meu senhor, sou um f.lautista e o meu nome não interessa... mas prometo-vos restabelecer a ordem na cidade, livrando- vos dessa praga.

Agastado por tantos insucessos, o Rei anuiu e deu ordem para que o f.lautista

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começasse o seu trabalho o mais depressa possível. Nesse preciso instante, o f.lautista abandonou o palácio real, produzindo uma melodia irresistível com a sua f.lauta. Aquele som era mágico e, hipnotizados pelo som, os ratos seguiram o f.lautista até fora da cidade.O f.lautista encaminhou-os até um rio e, como que enfeitiçados pela música, os ratos entregaram-se às águas, morrendo afogados.

Apesar deste sucesso, quando o f.lautista foi ao palácio real reclamar a sua recompensa, o Rei recusou:- Só te posso dar meio saco de moedas de ouro. Qualquer um podia ter tocado f.lauta e levado os ratos daqui para fora. Portanto, caro f.lautista, ou levas isto ou nada.O f.lautista fez então uma vénia ao Rei e abandonou o castelo em silêncio. Andou pelas ruas da cidade e tocou outra melodia mágica. Outro feitiço poderoso fora lançado, desta vez sobre todas as crianças de

Hamelin, que o seguiram para fora da cidade. Nem uma só criança f*icou.O Rei, muito arrependido e amargurado com o que tinha feito, procurou o f.lautista entre os bosques. Fora de si, ajoelhou-se junto a uma árvore pedindo perdão a chorar. Gritou que tinha duas bolsas cheias de moedas de ouro, pedindo-lhe a devolução das crianças. Só teve como resposta o silêncio. Há muito que o f.lautista desaparecera daquele bosque.

Infelizmente, o arrependimento do Rei veio tarde demais. E é por isso que ainda hoje, não vivem ratos na cidade de Hamelin. Nem crianças...

Conto adaptado de “O Flautista de Hamelin” - Irmãos GrimmBarnabé, J.; Novos Contos Maravilhosos; Porto, Livraria Civilização Editora, 2004

Era uma vez um lenhador que vivia numa cabana de madeira. Era casado e vivia em plena felicidade com a sua esposa. E era um momento de imensa alegria porque esperavam o nascimento do primeiro f*ilho. Ao lado da cabana deste casal vivia uma bruxa maléf*ica. Era uma criatura muito egoísta. Não ajudava nem gostava de ninguém. Tinha um quintal cheio de frutas e legumes deliciosos e suculentos, capazes de encher um castelo com manjares divinais. Mas a bruxa, por ser egoísta, construiu um muro altíssimo à volta de todo o seu quintal, para que ninguém soubesse o que lá havia.

Na casa do lenhador havia uma janela de onde se via todo o quintal da bruxa. Nessa janela, a esposa do lenhador passava horas a olhar para os rabanetes do quintal da bruxa. Os rabanetes eram tão coloridos e grandes que a esposa do lenhador f*icava com água na boca só de os ver. Só pensava em comê-los.

Certo dia, a esposa f*icou doente, tão doente, que não conseguia comer nada do que o seu marido lhe preparava com tanto amor. Ela só pensava nos rabanetes da bruxa vizinha.

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Por amor e preocupado com a doença da sua esposa, o lenhador resolveu ir roubar alguns rabanetes. Esperou que a noite chegasse, saltou o muro da casa da bruxa e correu em silêncio até aos rabanetes. Conseguiu levar uma mão cheia deles. Os rabanetes eram tão deliciosos que a sua esposa não resistiu e quis comer mais. Conformado, o lenhador ia em silêncio todas as noites, buscar rabanetes ao quintal da bruxa, na esperança de que a sua esposa apresentasse melhoras visíveis. Com o tempo, ela começou, de facto, a aparentar estar curada da doença.

Porém, uma noite enquanto o lenhador colhia rabanetes, surge a bruxa com os olhos vermelhos, ladeada pelos seus corvos negros.- Vejam bem... - disse - Agora já descobrimos quem nos anda a roubar os legumes!O lenhador sentiu-se infeliz e tentou explicar à bruxa. Mas ela não o quis sequer ouvir. Em troca dos rabanetes roubados exigiu o bebé que estava para nascer! O pobre do lenhador, cheio de medo e remorsos, não lhe conseguiu dizer que não.

Passaram alguns meses após este encontro e uma linda menina nasceu num belo dia de sol. O lenhador e a sua esposa radiavam de felicidade com a sua f*ilha. Cuidavam e

tratavam dela com imenso carinho e afecto. Mas a bruxa pressentiu que a menina já tinha nascido e foi buscá-la. Os pais choraram e imploraram de joelhos, para que a bruxa não levasse o seu tesouro de amor. Nada disto adiantou. O coração da bruxa era negro e insensível. Levou a menina nos braços e deu-lhe o nome de Rapunzel.

Os anos passaram e Rapunzel crescia bela e graciosa. Um dia, enquanto penteava e entrançava os cabelos doirados da menina, a bruxa malvada e egoísta pensou: “Rapunzel está a f*icar cada vez mais bonita e atraente... Irei prendê-la numa torre alta no meio da f.loresta, sem portas, para que ninguém ma roube. Usarei as suas longas tranças para subir à torre, sempre que queira”.Assim aconteceu. Rapunzel começou a viver presa na torre. Passava os dias a pentear- se e a cantar com os únicos amigos que poderia ter ali, uns passarinhos. Quando a bruxa a ia visitar gritava-lhe: - Rapunzel, atira as tuas tranças, quero ver-te! A menina atirava as tranças e assim, a bruxa trepava até ao cimo da torre.

Num belo dia, um príncipe explorava aquela parte da f.loresta. Ouviu uma melodia cantada por Rapunzel e de imediato se sentiu atraído por aquela doce voz. Seguiu o som do canto e encontrou a torre.

Contornou-a e apercebeu-se que esta não tinha nenhuma entrada. A pessoa que tinha aquela doce voz estava presa certamente. Um restolhar avisou-o que alguém se aproximava e escondeu-se. Chegava a bruxa: - Rapunzel, atira as tuas tranças! gritou a malvada.O príncipe acabara de descobrir o segredo para entrar na torre.

Na noite seguinte voltou e imitou a voz da bruxa: - Rapunzel, atira as tuas tranças! A donzela assim o fez. Mas quando o príncipe saltou da janela diante dela, ela assustou- se. Nunca tinha visto um homem.- Quem és tu? - perguntou Rapunzel amedrontada.O príncipe pediu-lhe desculpas por a ter assustado e sussurrou-lhe que se tinha encantado pela sua voz. A rapariga f*icou enternecida. falaram por muito tempo e, desse dia em diante, começaram a encontrar-se em segredo.

No entanto não há bem que dure sempre - Um dia, enquanto puxava a bruxa, a donzela queixou-se: - É bem mais pesada do que o príncipe! - para imediatamente se arrepender, levando as mãos à boca. A bruxa f*icou furiosa ao descobrir os encontros dos dois. Cortou as tranças de Rapunzel. Chamou os seus corvos negros

e ordenou-lhes que a levassem para o deserto, para ela viver sozinha por lá.Inocentemente, sem saber nada, o príncipe foi visitar Rapunzel. A bruxa má, matreira, segurava as tranças enquanto o príncipe subia. Quando ele chegou à janela, a bruxa olhou-o nos olhos, riu-se macabramente e, acto contínuo, atirou as tranças para o chão. Ele caiu da janela desamparado sobre uma roseira que lhe arranhou os olhos, cegando-o.

Todavia, não desistiu de procurar Rapunzel. Caminhou cego e perdido entre vales e montanhas, a gritar pelo seu amor. Sem se aperceber, chegou ao deserto. Escondida numa gruta, Rapunzel ouviu o seu príncipe a gritar por ela e correu ao seu encontro. Abraçou-o mas ao aperceber-se que ele estava cego, chorou amargurada. Duas lágrimas escorreram para dentro dos olhos do príncipe. Milagrosamente ele voltou a ver.O jovem casal, junto para não mais se separar, partiu para o palácio do príncipe. Muito felizes casaram. Mandaram chamar os verdadeiros pais de Rapunzel para viver com eles. A bruxa má, ao saber disto tudo, raivosa e a espumar de veneno, fechou-se na torre e nunca mais de lá saiu.

Adaptação de um conto dos irmãos Grimm.

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Gulliver era um marinheiro, cujo navio nau-fragou. Após ter lutado durante horas contra a violência das ondas e da tempestade, ele conseguiu f*inalmente alcançar terra f*irme. Exausto, adormeceu profundamente. Ao acordar, apercebeu-se que tinha todo o seu corpo amarrado por cordas sem se poder mexer. À sua volta aglomeravam-se pequenos homezinhos, não mais altas que

uma polegada. Ao tentar libertar-se, aqueles seres desferiam uma chuva de Flechas minúsculas, tão dolorosas como agulhas. Informado pelo povo, o imperador de Lilliput estava ansioso por conhecer o gigante e ordenou que o trouxessem à sua presença. Os súbditos construíram então um atrelado grandioso com vinte e quatro rodas para deslocar Gulliver. E foram usados mil e

duzentos cavalos para o puxar.

Vencido o receio inicial, o imperador rece-beu-o e graças ao seu carácter pacíf*ico, Gulliver ganhou a conf*iança do imperador e os seus conhecimentos tornam-se preciosos para ele. Na verdade, uma grande ameaça pesava sobre o seu reino: o império vizinho de Blefescu preparava-se para um ataque marítimo. Para vencer o inimigo, Gulliver engendrara um plano que consistia em ar-rastar para fora do porto os navios inimigos, deixando o império vizinho sem navios de ataque. Dito e feito.Após esta acção bem sucedida, o impera-dor de Blefescu dirigiu-se ao soberano de Lilliput propondo-lhe a paz entre os dois impérios. Foi logo aceite pelo imperador de Lilliput, que via nesse acordo grandes van-tagens. Gulliver participou nas negociações com óptimas sugestões que agradaram aos dois soberanos. O marinheiro foi tão útil que o imperador de Blesfescu simpatizou de imediato com ele.

Após estes sucessos, Gulliver tornou-se o preferido do imperador. No entanto, por ciúmes e invejas, alguns ministros conspira-ram contra ele, pedindo ao imperador que o castigasse severamente. Felizmente, um

cortesão que gostava muito de Gulliver, avisou-o que a tempo.Alertado pelo grave perigo que corria, Gulliver foi pedir refúgio ao imperador de Blesfecu, que o recebeu calorosamente. A vida em Blefescu era tranquila, o marinheiro escrevia as suas memórias e dava longos passeios à beira-mar. Num desses passeios, identif*icou no mar um barco virado ao con-trário.Conseguiu recuperá-lo e, em menos de um mês, com a ajuda dos habitantes, preparou o barco para a travessia. Tantas manifesta-ções de afecto entristeceram a sua despe-dida. Apenas o consolava a ideia de poder rever a sua família e amigos, de quem sentia muitas saudades. No dia seguinte, de madrugada, Gulliver fez-se ao mar, esper-ando-o novas e excitantes aventuras, mas isso são outras histórias.

Adaptado de SWIFT, J.; As Viagens de Gulliver; Vila Nova de Gaia,

Edições Gailivro, 2002

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Era uma vez uma pobre viúva que vivia com o seu f*ilho João. O dinheiro mal dava para eles comerem e, além disso, possuíam apenas uma vaca que era o seu único sustento.Quase sem comida em casa, João lembrou-se que seria melhor vender a vaca. A mãe consentiu e pediu ao seu f*ilho que a levasse para o mercado da vila. No mercado, um homem de aspecto estranho propôs-lhe f*icar com a vaca em troca de uns feijões que dizia serem mágicos. João consentiu e voltou para casa todo contente com o negócio. A mãe, quando viu o que o rapaz tinha feito, chorou e atirou os feijões pela janela. João pediu desculpa à mãe e tentou consolá-la.

No dia seguinte, o rapaz acordou cedo e viu que alguma coisa estava a fazer sombra à janela do seu quarto. Saiu e f*icou abismado com o que viu: os feijões que a sua mãe tinha deitado fora, tinham crescido imenso, para lá das nuvens. Encorajado pela descoberta, decidiu trepar por ali acima e, ao cabo de umas horas, chegou a um lugar estranho. Ali encontrou uma bela fada, elegantemente vestida de branco e possuidora de um sorriso encantador.

- Lembras-te do teu pai? - perguntou a fada.- Não. Quando pergunto coisas sobre ele, a minha mãe começa a chorar e não me diz nada.- Eu era a fada madrinha do teu pai. Mas quando ele precisou mais de mim, eu não tinha o meu poder e por isso ele morreu. - lamentou-se a fada, para de seguida revelar: - O teu pai era uma pessoa muito boa. Era rico e respeitado. Contudo, teve uma infelicidade. Um gigante que o teu pai tinha ajudado muito acabou o trair, roubando-o e matando-o. Em seguida, ameaçou a tua mãe para que ela nunca contasse o que se passou. Caso contrário, vocês os dois seriam mortos por ele. O meu poder só reapareceu no dia em que foste vender a vaca. Encaminhei o mago, para trocar os feijões contigo. E fui eu, quem fez crescer muito depressa o pé de feijão. O malvado gigante vive aqui e tu deves livrar o mundo deste monstro cruel. Para isso, tens que lhe tirar todas as riquezas que, af*inal, pertenciam ao teu pai. - Que devo então fazer? - questionou o menino.- Segue esta estrada até encontrares um palácio dourado. E quando lá chegares, age conforme a tua intuição. Boa sorte!

A fada desapareceu e João caminhou até ao sol se pôr. Avistou o palácio dourado e, à porta, encontrava-se uma mulher. Ele pediu-lhe um lugar para dormir, deixando-a surpreendida, pois não era comum ver um humano por aquelas bandas. Mas a mulher respondeu-lhe que o seu marido, o gigante, Ficava muito nervoso e irado com humanos por perto. João insistiu com a mulher, que acabou por o fazer entrar no castelo. Entraram e ela conduziu-o a um quarto, oferecendo-lhe comida e bebida. Subitamente, ouviram uma batida forte na porta de entrada.- É o meu marido! Se ele te encontra aqui, mata-nos aos dois. - disse a mulher assustada.- Esconda-me no forno.- pediu aterrorizado o João.

O gigante era enorme e horrível. Ordenou à sua mulher para que ela que trouxesse uma galinha. Ela obedeceu e colocou-a na mesa. - Põe um ovo! - ordenou o gigante.

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Receosa, a galinha pôs imediatamente um ovo.- Põe outro maior!Cada vez que ele ordenava, a galinha punha um ovo maior do que o anterior, parecendo não ter f*im. Com tanto ovo devorado, o gigante adormeceu num sofá junto à lareira. Ressonava tão alto como uma metralhadora.

Passada uma hora, João saiu do forno, agarrou a galinha e fugiu desenfreadamente com ela, deslizando pelo pé de feijão. Ao chegar a casa, mostrou a galinha à sua mãe e com todos os ovos vendidos, João e a mãe venceram as dif*iculdades durante uns meses.

Um dia, João resolveu voltar ao palácio do gigante para trazer mais riquezas. Disfarçou-se com roupas velhas e pintou a cara. Subiu o pé de feijão e encontrou a mesma mulher à porta do palácio dourado. Pediu-lhe abrigo por uma noite, mas a mulher negou- lho, contando-lhe que, certo dia, acolhera um menino e ele tinha roubado um dos tesouros do gigante. No entanto, João insistiu tanto que a mulher acabou por o deixar entrar. Quando ele acabou de comer na cozinha ela escondeu-o num armário velho. O gigante chegou a casa à hora habitual. Sentou-se à lareira e gritou:- Mulher! Sinto o cheiro de carne fresca! - Dei carne fresca aos corvos.- disse a mulher atrapalhada, disfarçando o medo.- Traz-me qualquer coisa para me distrair.- exigiu o gigante - As minhas sacas de ouro!

Eram duas grandes e pesadas sacas, repletas de moedas de ouro. A mulher despejou-as na mesa e o gigante começou a contá-las, ordenando à mulher que saísse. f*inalmente, o gigante arrumou-as no saco e adormeceu.O menino aproveitou a ocasião e saiu do esconderijo, carregando

as duas sacas, uma em cada ombro. Eram tão pesadas que levou dois dias a chegar a casa. Ao chegar a casa, deu o dinheiro à mãe, o qual lhe permitiu viver comodamente durante alguns anos. Durante esse tempo, João procurou não visitar o gigante.

Porém, um dia decidiu preparar-se para mais uma viagem. Arranjou um disfarce melhor e diferente do que usara da última vez. Quando chegou ao palácio, encontrou novamente a mulher à porta. A custo, conseguiu convencê-la a dar-lhe abrigo e a esconder-se num caldeirão. Quando o gigante chegou a casa, devorou a sua refeição e sentou-se à lareira. Ordenou que sua mulher lhe trouxesse a sua harpa. Era a harpa mais bela e original que João tinha visto. O gigante colocou-a na mesa e disse:- Toca!Imediatamente a harpa começou a tocar uma melodia doce e bela. Fazendo com que o gigante adormecesse num instante. João saiu do caldeirão e largou a correr como um raio com a harpa encantada nos braços. Mas ao ver-se em mãos estranhas, a harpa gritou por socorro:- Meu senhor! Meu senhor, socorro!O gigante acordou e foi atrás de João. O menino correu tão depressa que alcançou num tempo mágico o pé de feijão. Desceu por ele abaixo e correu a buscar um machado a casa. Nessa altura já o gigante descia o pé. João começou a abater pela raiz o pé de feijão, o qual não resistiu ao peso do gigante que acabou por se estatelar no jardim, desfazendo-se em pó. Mais tarde, a fada apareceu à mãe de João e contou-lhe tudo o que se tinha passado. Nunca mais faltou dinheiro ou comida na casa de João. E ele, por f*im, podia ouvir as histórias do seu pai contadas pela sua mãe.

Adaptado do conto original de Jonathan William Von Hapsburg

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Era uma vez dois irmãos chamados João e Maria. Viviam com o pai, um lenhador pobre, e com a madrasta. O pai dif*icilmente os conseguia sustentar e a madrasta detestava- os. Pressionado pela extrema pobreza a que tinha chegado e pela maldade da esposa, o lenhador decidiu um dia levar os seus dois f*ilhos pela mão e abandoná-los no meio de uma densa e tenebrosa f.loresta. Mas o f*ilho, ao aperceber-se do plano e esperto por natureza, marcou o caminho de casa até à f.loresta com pedrinhas. Assim, os dois meninos acharam com muito facilidade o caminho de volta a casa.

Mas no dia seguinte, o pai levou-os por outro caminho e evitou que João marcasse o percurso com pedrinhas. Maria estava assustada, porém o rapaz acalmou-a, confessando-lhe muito baixinho, para que o pai não ouvisse, que estava a deitar migalhas de pão ao longo de todo o trajecto. No entanto, diversos pássaros comeram todas as migalhas

e os dois irmãos perderam-se.Deambularam pela Floresta à procura do caminho que os levasse a casa. Alguns dias depois, os irmãos avistaram um corvo branco que os guiou até uma grande clareira. Ali havia uma casinha de chocolate. Esfomeados, quando viram a casinha, correram aliviados e excitados para junto dela em busca de segurança e alimento. Começaram por morder as esquinas da casa e a experimentar várias partes das deliciosas paredes. Nisto, foram surpreendidos por uma velhinha corcunda com ar carinhoso, que os convidou amavelmente a entrar.

Em pouco tempo Joãozinho e Maria descobriram que as aparências iludem. A velha corcunda era af*inal uma bruxa monstruosa, que erguia casinhas deliciosas, para enganar as crianças que se perdiam. Depois de aprisionadas, as crianças eram engordadas com doces pela bruxa, para depois as vir a comer. Porém, sem desistirem de se libertar, João e Maria procuravam enganar a bruxa, que era muito má de vista.- Mostra-me o teu dedinho. - pedia ela nas suas habituais inspecções aos meninos.E João, pelas grades da jaula onde estavam, estendia-lhe um pauzinho delgado f*ingindo ser o seu dedo.- Ainda estás muito magrinho. Tens de comer mais. - dizia a bruxa.

Mas chegou f*inalmente o dia em que se conseguiram libertar e, estando a bruxa distraída a tirar bolos do forno, deram-lhe um forte empurrão lá para dentro. A velha, entre gritos lancinantes, esvaiu-se no fumo da chaminé. Joãozinho e Maria levaram todos os tesouros escondidos da bruxa e, com a ajuda do corvo branco, encontraram rapidamente o caminho para casa. A sua madrasta tinha morrido, mordida por uma cobra venenosa e seu pai vivia sozinho e muito arrependido com o que tinha feito aos seus queridos f*ilhos. Quando os viu a abrir a porta, chorou de felicidade. Com todas as riquezas que trouxeram de casa da bruxa má viveram felizes para sempre.

Adaptado de Hansel e Gretel dos irmãos Grimm. Fonte Wikipedia. 3938

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Noé era um excelente pai de família. Não havia ninguém igual a ele no mundo inteiro. Era o homem mais justo e puro de coração. Era um homem honesto que adorava e temia Deus acima de tudo.No entanto, o Criador dos Universos sentia- se arrependido de ter dado a terra aos homens, pois estes tinham-se esquecido do seu lado divino e de salvaguardar um coração puro, ao contrário de Noé. Os homens viviam entre mentiras e violência de todo o género e forma. A espécie humana não podia continuar a existir assim, em constante malvadez e perdição. Por isso, Deus decidiu destruir o mundo para o poder refazer numa segunda tentativa.

Para nosso bem, lembrou-se Deus do seu amado e querido servo, Noé. Pediu-lhe que construísse uma arca, deu-lhe todas as medidas e dimensões, para que ele e

a sua família se salvassem e não fossem arrastados pelas águas que inundariam o mundo.Noé começou a construir a arca e todos os seus vizinhos troçavam dele. Não acreditavam nas suas palavras, nas palavras que Deus transmitira. Não obstante, não esmoreceu e continuou a trabalhar no projecto divino.Chegou o dia marcado e juntamente com a família de Noé (a sua mulher, f*ilhos e esposas), a mando de Deus, entraram na arca um casal de cada espécie animal. Também embarcaram todo o tipo de alimentos e sementes. fecharam as portas e o dilúvio começou.

Durante quarenta dias e quarenta noites a chuva caiu sem parar. Os mares e os oceanos subiram. As montanhas esgueiraram-se para debaixo do azul do mar. Todos os seres vivos que não estavam dentro da arca desapareceram.Após os quarenta dias, a chuva parou e fez-se silêncio no mundo dos homens.

A arca ainda navegava sem direcção sobre as águas e todos os seres que estavam lá dentro não sabiam onde estavam. Viviam

angustiados, porém, conf*iavam que Deus não os tinha esquecido ou abandonado.Certo dia, Noé lembrou-se de soltar um corvo e este não voltou. Passaram mais alguns dias e Noé largou uma pomba e esta também não retornou. Passaram mais sete dias e Noé resolveu soltar nova pomba, a qual regressou à barca com uma folha nova de oliveira. O sinal de que as águas secavam sobre a terra vinha materializado naquela pequena folha.A Arca de Noé encalhou, pouco tempo depois disso, numa rocha que se revelou uma montanha quando as águas baixaram. Tinha chegado o dia de, homens e animais, voltarem a povoar a terra. Noé prometeu a Deus que não deixaria novamente o coração dos homens tornar- se impuro. Deus prometeu a Noé que não voltaria a tomar medidas tão drásticas. Noé agradeceu a Deus, erguendo um altar em sua honra. Deus abençoou Noé e todos os seus descendentes. No céu surgiu um arco- íris, o sinal da aliança eterna entre Deus, os homens e todos os outros seres vivos.

Fonte: Bíblia Gen 6:11, até Gen 9:19.

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Era uma vez uma pequena aldeia italiana. Vivia neste lugar um senhor chamado Gepeto. Era considerado um dos melhores relojoeiros do mundo. Gepeto vivia em paz, dedicado ao seu trabalho mas, sempre houvera algo que o entristecera: sempre desejara muito ter um f*ilho. Infelizmente, não tinha mulher e já se achava muito velho para arranjar uma. Convencido que, de carne e osso, não lograria ter descendência, decidiu construir um boneco que seria o mais perfeito de todos! Quase humano! Seria o f*ilho que o bom Gepeto nunca tivera - Deu-lhe o nome de Pinóquio.

Nessa mesma noite especial em que Gepeto terminou o seu boneco e o baptizou, uma fada madrinha visitou a sua of*icina. Sem Gepeto dar por ela, aproximou-se de Pinóquio tocou-lhe com a varinha mágica e disse:- A partir de agora terás vida em ti. Acorda boneco! Não te esqueças que deves ser sempre bom e verdadeiro como a vida que te estou a dar. - aconselhou a fada.

Na manhã seguinte, Gepeto f*icou sem palavras ao ver o seu f*ilho de madeira a brincar na sua of.*icina. Pensou que era melhor para o seu menino de madeira começar a frequentar a escola. Acompanhou-o, Pepe, o grilo falante.

No caminho para a escola encontraram a D. Raposa e a D. Gata.- Porque é que vais para a escola? Não sabes que existem por aí certos lugares bem mais interessantes e alegres? Anda, vem connosco. - convidou a raposa.- Não lhe dês ouvidos! - avisou-o o sensato Pepe.Porém, o inexperiente Pinóquio para quem a vida era uma excitante novidade, decidiu seguir as duas malandras. Estas levaram- no a Strombóli, o anafado e untoso dono de um teatro de marionetas.- Oh, que belo boneco vem à minha presença - Se f*icares comigo, farei de ti o artista mais famoso do mundo. - segredou- lhe ao ouvido o interesseiro Strombóli.Seduzido por aquelas promessas, o menino de madeira acedeu, entusiasmado:- Que bom! Vou ser artista de circo! Vou ser famoso!

Depois de alguns ensaios, o espectáculo começou. Sem dúvida que Pinóquio era a estrela da noite, principalmente pelos seus erros e enganos. A sua inocência brilhava por todo o pequeno palco e isso reverteu em risos e gargalhadas no público. Os outros bonecos eram hábeis na sua arte mas Pinóquio era o rei das asneiras.No f*inal do espectáculo Pinóquio quis ir para casa mas Strombóli já tinha outros

planos:- Onde pensas que vais?! - interrogou Strombóli. - Nem penses que me escapas. f*icas preso nesta jaula! Agora és meu. Vales mais do que diamantes.

Para sorte do menino, o grilo Pepe vira tudo o que se tinha passado e correu num fôlego, a avisar a fada madrinha. Esta, de imediato enviou uma borboleta mágica para salvar Pinóquio.Depois de o ter salvo, a borboleta perguntou-lhe onde vivia ele.- Não tenho uma casa. - respondeu-lhe Pinóquio, mentindo.A borboleta não queria acreditar naquilo e voltou a fazer-lhe a mesma pergunta. Mas ele dava-lhe sempre a mesma resposta, crescendo-lhe cada vez mais o nariz. E quanto mais mentia, mais lhe crescia o nariz. Assustado com aquele estranho fenómeno, Pinóquio soluçou: - Que se passa com o meu nariz?!... Não o quero assim!...- Se é isso que queres, terás de te portar bem e não mentir mais. Voltarás para a tua casa e para a escola. - ordenou-lhe a borboleta mágica.Durante uns tempos, Pinóquio portou-se bem. No entanto, foi sol de pouca dura porque não parava de mentir. Nem o seu

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nariz parava de crescer...… Passaram-se uns tempos e, certo dia a caminho da escola, foi novamente interpelado pela D. Raposa. Mais uma vez esta voltou a desaf*iá-lo para que a o acompanhasse à Ilha dos Jogos. Incapaz de resistir, lá foi outra vez atrás dela. Assim que chegou à ilha, começaram a crescer-lhe as orelhas e transformou-se em burro. Todos os meninos que ali estavam, também tinham faltado à escola e, por essa razão, tinham tido o mesmo f*im.Apavorado com a situação, valeu-lhe o Grilo, que lhe disse:- Anda Pinóquio. Vem comigo. Conheço uma porta secreta. Tu não te queres transformar em burro, pois não? Olha que eles te levam para um curral.- Sim meu amigo, vou contigo. - retorquiu-lhe o menino boneco. fugiram todos os burricos dali para fora, voltando aos poucos à sua forma de rapazinhos:- Nunca mais faltamos à escola! - prometeram todos em coro.

Quando Pinóquio e Pepe chegaram a casa, Gepeto não estava. Estranharam muito pois sabiam que o relojoeiro nunca se afastava e decidiram ir à sua procura. No porto haviam alguns marinheiros que lhe disseram ter visto Gepeto lançar-se ao mar num bote:- Pobre do Gepeto, alguém lhe disse que o f*ilho andava a boiar no mar alto!Pinóquio f*icou horrorizado de culpa porque aquela notícia era o resultado de tantas mentiras que pregava a todos na aldeia. O seu pai estava sozinho no meio do mar e das ondas grandes. E a culpa era toda sua! Como o grilo Pepe era um ser muito esperto e luminoso de ideias, ajudou Pinóquio a construir uma jangada em três tempos. Sem demoras, o menino meteu-se ao mar e o grilo seguiu-o. O coração apertava-se-lhe de medo mas também de culpa.

Passaram alguns dias no mar. Enquanto navegavam e remavam, chamavam por Gepeto, mas nunca tiveram resposta. Certo dia, já muito distantes da costa, avistaram uma baleia.- Ai, ai, ai!... A baleia vem contra nós! - gritou Pepe a tremer de medo. - Pinóquio salta para a água! Vamos…Mas não foram a tempo. A baleia abriu a enorme boca e de um trago, foram engolidos deslizando até à sombria barriga do animal. Qual não foi a sua surpresa quando, detrás de uma costela, encontraram Gepeto! O relojoeiro

tinha sofrido um naufrágio no decurso de uma tempestade medonha e, também ele, fora engolido pelo bicho gigante. Abraçados, um ao outro, Gepeto e Pinóquio choraram felizes por se reencontrarem.

Mas dentro da baleia fazia muito frio, era quase como estar numa caverna gigantesca, cheia de correntes de ar. Para se aquecerem resolveram acender uma fogueira. Era de facto uma boa ideia mas o fumo libertado causou mal-estar na baleia. As náuseas eram tão grandes que a baleia acabou por mandar tudo lá para fora.Nadaram os três para os destroços do barco que ainda Flutuavam por perto. Mais aliviada, a baleia mergulhou para as profundezas. E eles puderam voltar para terra em segurança. Já em casa, Pinóquio disse ao seu pai:- Perdoa-me paizinho, fui um idiota. Gepeto abraçou-o carinhosamente. A partir desse dia, Pinóquio nunca mais mentiu e revelou-se tão dedicado e bondoso com todos, que a fada madrinha, no dia do seu primeiro aniversário, o transformou num menino de carne e osso. Num menino a sério!Pinóquio e seu velho pai viveram, desde então, felizes para sempre.

Adaptado de As Aventuras de Pinóquio - Carlo Lorenzini, sob o pseudónimo de Carlo Collodi.

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Num tempo distante da nossa era, a Terra era habitada por todo o género de seres, entre os quais se contavam uns seres mágicos. Perto de uma pequena povoação, entre os vales, vivia um gigante muito egoísta. Todas as tardes, quando terminavam as aulas, um grupo de crianças ia brincar para o jardim deste gigante. Era um jardim maravilhoso, coberto de relva macia. Por todo o lado viviam belas e exóticas f.lores de todas as cores, tão luminosas como as estrelas do céu. Também haviam doze pessegueiros que, com a alvorada da Primavera, f.loresciam em tons de pérola e rosa e, no Outono, vergavam os seus ramos com o peso de exuberantes frutos.Os pássaros pousavam nas árvores e cantavam tão docemente que as crianças paravam os seus jogos só para os escutar.- É tão bom estar aqui! - diziam alegremente umas às outras.

Certo dia, após sete anos de visita ao seu amigo Ogre que vivia na Cornualha, o gigante regressou a casa. Mas para sua irritação, tinha crianças a brincar no seu

jardim.- Este jardim é meu e de mais ninguém! Que fazem aqui? - gritou furioso, o gigante.Foi tão grande o susto, que as crianças fugiram espavoridas.- Fiquem todos a saber: não permito que ninguém venha para o meu jardim!Então, construiu um muro altíssimo que dava uma volta ao jardim e af.ixou nele o seguinte aviso: “É proibida a entrada! Os transgressores sofrerão severos castigos!”Era mesmo muito egoísta este gigante e a sua atitude deixou as crianças sem sítio para brincar.- O espaço ideal para elas era mesmo o jardim do gigante. Mas como não podiam para lá ir, todos os dias depois das aulas vagueavam à volta do muro, recordando as brincadeiras maravilhosas que ali faziam.

Novamente chegou a Primavera e, por toda a terra, rebentaram f.lores e cantarolaram aves. Estranhamente, só no jardim do gigante continuava o Inverno. As aves não queriam ir para lá cantar, pois não havia alegria de crianças e, as árvores e as f.lores, recusaram-se a f.lorir. Os únicos elementos contentes eram a Neve e a Geada.- A Primavera esqueceu-se deste jardim! - exclamavam elas satisfeitas - podemos f.icar aqui a governar todo ano!A Neve cobriu a relva com o seu denso manto branco e a Geada pintou todas as árvores de prata cristalina. Convidaram o Vento do Norte para ir, também ele, habitar o jardim. Este aceitou o convite e pediu ao Granizo para o acompanhar. Os dois, diariamente durante três horas, rugiam e rufavam nos telhados, partindo telhas e depois faziam corridas diabólicas por todo o jardim.- Não percebo porque é que a Primavera não vem... - pensava o Gigante deprimido, sentado à janela a olhar para o seu jardim branco.- Espero que o bom tempo venha depressa...Mas a Primavera e o Verão nunca mais voltaram. Nem mesmo com a chegada do Outono aquele jardim era presenteado com frutos maduros e viçosos. - O Outono é muito egoísta. - dizia o gigante, cada vez mais infeliz, olhando para a Geada, o Vento Norte, o Granizo e a Neve, que dançavam alegremente no seu jardim.

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Numa bela manhã, o gigante despertou ao som de uma música doce e encantadora. Soava tão calmamente aos seus ouvidos que, por momentos, pensou que seriam os músicos da corte que passavam. Era um rouxinol que lhe cantava à janela. Há tantos anos que não ouvia o canto das aves no seu jardim, que lhe pareceu a melodia mais bela alguma vez escutada.Os elementos invernais deixaram de se ouvir, abandonando o jardim. E a casa, era agora percorrida por um perfume intenso e delicioso.- Oh, chegou f.inalmente a Primavera! - exclamou, saltando da cama em direcção à janela que abriu de rompante. Olhou para fora e os seus olhos arregalaram-se espantados. Viu um espectáculo deslumbrante. O jardim estava cheio de crianças que tinham entrado por buracos abertos no muro e tinham escalado para cima das árvores. E as árvores estavam tão alegres com o regresso delas que, para festejar o reencontro, cobriram-se de f.lores e balançavam suavemente de felicidade. As aves voavam e chilreavam alegremente, as f.lores, por entre a relva, espreitavam e riam. Contudo, o Inverno ainda ali estava arrumado a um canto, próximo de um menino muito pequenino que não conseguia subir a uma árvore e chorava compulsivamente. A pobre árvore continuava tristemente coberta de gelo. - Sobe meu querido - convidava a árvore. Mas a criança não conseguia. Emocionado com aquele cenário que observava da janela, o gigante enterneceu-se e reconheceu: - Tenho sido tão arrogante e egoísta... - Agora sim, percebo porque é que a Primavera nunca mais chegava. Vou derrubar o muro e, de hoje em diante, o meu jardim será para sempre das crianças.

Desceu então as escadas, abriu a porta e saiu para o jardim de

braços abertos. Mas ao pressentir aquele enorme gigante e depois das promessas feitas, as crianças fugiram horrorizadas. De imediato, o Inverno regressou ao jardim. Só a pequena criança não fugiu, porque chorava de costas viradas para o gigante. Ao vê-la, aproximou-se com cautela, pegou-lhe com todo o carinho e colocou-a em cima da árvore. Nesse instante, a árvore encheu-se de f.lores, vieram os pássaros a cantar e o menino abraçou gigante. Ao verif.icarem que o gigante já não era mau, as restantes crianças voltaram a correr, trazendo atrás deles a Primavera.- Meus queridos meninos, vocês são a alegria deste jardim, agora ele é vosso! - proclamou o Gigante. De seguida, foi buscar uma enorme picareta e derrubou o muro. E a partir daí, as crianças iam brincar para o jardim todos os dias.

Contudo, certo dia, ao estranhar a ausência do seu primeiro amiguinho, o gigante perguntou às crianças: - Aonde está o vosso amiguinho mais pequeno? Aquele que eu ajudei a trepar a árvore.- Não sabemos nada dele - respondeu uma menina - Foi embora.- Embora?! Se algum de vocês o vir, digam-lhe para aparecer por cá. Mas as não sabiam como o encontrar, deixando o gigante muito triste.- Gostava tanto de voltar a vê-lo para brincar com ele! - repetia o gigante, sempre que se lembrava do seu amigo tão especial.Os anos passaram e o gigante foi envelhecendo e enfraquecendo. Como já não podia brincar, sentava-se numa poltrona a ver as crianças a brincar, contemplando o jardim.- Tenho f.lores lindíssimas - dizia - mas as crianças são as mais belas de todas.

Numa manhã de Inverno, enquanto se vestia, olhou pela janela. Algo tinha chamado a sua atenção. No canto mais afastado do jardim, estava uma árvore revestida de f.lores douradas e brancas e debaixo da árvore estava o menino, que ele tanto amava. Cheio de alegria, o gigante desceu apressadamente a escada, atravessou a relva e aproximou-se da criança,

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mas ao vê-lo f.icou verde de raiva. O menino apresentava nas palmas das mãos e nos pés, feridas profundas a sangrar.- Quem se atreveu a magoar-te? - gritou o gigante com cólera. - diz quem foi, que eu irei já matá-lo com a minha espada.- Não - respondeu o menino - estas feridas são de amor.- Como?! Mas quem és tu af.inal? - quis saber o gigante, enquanto se ajoelhava perante a criança.O menino sorriu e respondeu:- Um dia deixaste-me brincar no teu jardim. Hoje, irás comigo para o meu. Chama-se Paraíso. Nessa tarde, depois da escola, as crianças correram para o jardim. Encontraram o seu amigo gigante estendido no chão debaixo da árvore, todo coberto de f.lores douradas e brancas.

Adaptado de “O gigante egoísta” - Oscar Wilde

Lá bem longe dos olhares do mundo terreno, onde o mar é profundamente azul e brilhante, onde as nossas cabeças e olhos não conseguem penetrar verdadeiramente, num lugar mágico e único, vivia o povo dos oceanos.O rei desse reino tinha seis f*ilhas. Eram todas muito bonitas, donas das vozes mais enigmáticas e belas de todos os oceanos. Porém, a f*ilha mais nova era diferente das suas irmãs. Tinha uma beleza única naquele mundo. A sua pele lembrava a f*ineza e delicadeza de uma pétala de rosa e os seus olhos ref,lectiam a doçura e vivacidade da cor dos oceanos, conjugado com o azul do céu. Estas irmãs, princesas dos oceanos, não tinham pernas como as meninas da terra. Em vez disso, tinham caudas de peixe. Eram sereias. A princesa mais nova era entre todas, a mais interessada e curiosa pela vida e histórias dos habitantes da terra. Sem confessar a ninguém, ela sonhava em poder

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subir até à superfície. Desejava conhecer tudo sobre os barcos, as pessoas, as cidades e os animais desse mundo desconhecido para ela.- Minha querida... quando completares 15 anos - dizia-lhe a avó - poderás subir até à superfície e sentares-te nos rochedos. Verás então o luar, os barcos, as cidades e as f.lorestas.

Passaram-se anos e quando pequena sereia completou 15 anos f*icou entusiasmada com a ideia de poder f*inalmente observar mais de perto o mundo dos homens. Subiu até à superfície e pela primeira vez viu o céu, o sol brilhante, as nuvens f.lutuantes... Viu também um navio que passava. Curiosa com tal coisa nunca vista, seguiu a embarcação. Através dos vidros das vigias, conseguiu identif*icar objectos estranhos e interessantes, assim como seres humanos ricamente vestidos.

Mas houve um que a seduziu de imediato, era o mais belo ser que já tinha visto em toda a sua vida. Era um príncipe. A pequena sereia permaneceu durante horas a contemplá-lo, apaixonando-se perdidamente. Só despertou do encantamento quando uma forte tempestade começou a agitar a embarcação. Era de tal forma feroz aquela força da natureza, que acabou por fazer lançar o príncipe borda fora. Ao ver aquilo, a princesa entrou em pânico porque sabia das histórias da avó como são frágeis os homens dentro do mar. Num segundo, mergulhou na sua direcção, agarrou-o nos braços com todo o seu amor e transportou-o em segurança até à praia mais próxima. Ao amanhecer, o príncipe ainda permanecia inconsciente. Ela olhava-o ternamente e sorria. Mas de repente aparece no areal um grupo de moças. Num ápice, a sereia escondeu-se por detrás de um rochedo e entre a espuma produzida pelas ondas. As moças viram o jovem náufrago deitado na areia e foram pedir ajuda. Quando o príncipe acordou já no palácio, não se recordava de muito nem que espécie de milagre o tinha salvo.

Entretanto, a pequena sereia voltou para casa num silêncio triste. E quando as suas irmãs lhe perguntavam acerca da sua primeira visita à superfície, ela nada dizia.

Por diversas vezes, a jovem princesa voltou à praia onde tinha deixado o seu príncipe, mas ele nunca mais ali voltou. Aquela profunda tristeza não era indiferente às irmãs que de tanto insistirem, conseguiram que ela lhes confessasse a razão de tanto sofrimento.No entanto, uma amiga sabia quem ele era e onde morava. Ao saber disso, a princesa cobriu-se de alegria pois podia nadar até bem perto do palácio onde vivia o príncipe. Escondida, observava o seu amado ao longe, desejando viver com ele.

A curiosidade sobre os humanos aumentara ainda mais e um dia resolveu perguntar à sua sábia avó se eles também morriam.- Claro, minha querida. Morrem como nós morremos. Nós podemos viver trezentos anos e quando abandonamos o nosso corpo, somos transformados em espuma do mar. Por seu turno, os humanos vivem menos mas possuem uma alma eterna.- Eu seria capaz de dar tudo para ter uma alma imortal como os humanos! suspirou a pequena sereia.- Se um homem te amar verdadeiramente... se ele concentrar todos os seus pensamentos e todo o seu amor em ti, prometendo ser-te f*iel para sempre, então uma parcela da sua alma irá transferir-se para o teu corpo. Ele dar-te- á uma nova alma. Mas tal coisa nunca acontecerá! A tua cauda de peixe, que para nós é um símbolo de suprema beleza, é considerada uma aberração no mundo dos homens.A pequena sereia suspirou olhando para a sua cauda, desejando muito mais ter duas pernas em vez da cauda.

Embora parecesse utópico o seu desejo, a princesa não conseguia deixar de pensar em ter uma alma imortal e viver com o seu adorado. Como única possibilidade de cumprir esse desejo, procurou a bruxa do mar. Esta bruxa era conhecida em todos os oceanos, por tornar reais os sonhos de todos aqueles que a procuravam. Mas havia um preço a pagar pelos desejos concedidos...Quando chegou, a bruxa já a esperava com um estranho sorriso:

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- Doçura... sei muito bem o que queres. F*ica a saber que és uma louca por quereres duas pernas. Nem imaginas a infelicidade que isso te trará! Mesmo assim, irei preparar-te uma poção mágica. Mas essa transformação que irás sofrer vai ser muito dolorosa. Cada passo que deres, será como se andasses sobre facas af*iadas. E a dor será tanta que pensarás que os teus pés foram dilacerados. Querida... estás pronta e disposta a sofrer tudo isto?- Sim. Estou pronta! - respondeu a princesa, pensando no príncipe e na alma imortal.- Pensa melhor, minha querida. Depois de teres tomado a poção, nunca mais poderás voltar a ser uma sereia. E se o príncipe se casar com outra rapariga, tu nunca terás uma alma imortal e morrerás no dia seguinte ao seu casamento.A pequena sereia aceitou as condições e sem dizer uma única palavra, observou a bruxa do mar a preparar a poção.- Aqui está pronto o teu desejo... mas antes de to dar... aviso-te que o preço é bem alto... quero a tua bela voz como troca. Tu nunca mais poderás falar ou cantar.A princesa hesitou por um segundo, contudo não desistiu. Lembrou-se do seu príncipe e agarrou a poção que a bruxa lhe estendia. Não quis voltar para o seu castelo, pois não poderia revelar os seus intentos às suas irmãs, avó ou ao seu pai. Olhou ao longe o castelo que a viu nascer e crescer, deitou uma lágrima e nadou até à praia.

Ao beber a poção, soltou um gemido quase surdo mas cheio de dor. Sentiu como se uma lâmina lhe atravessasse toda a sua cauda. Desmaiou com a intensidade da dor. Acordou com o príncipe a observá-la. Ele estendeu-lhe a mão docemente e guiou-a até ao seu palácio. Tal como a bruxa do mar lhe tinha dito, a cada passo que agora dava, sentia que pisava lâminas aguçadas. A beleza da sereia encantava o príncipe. Ela começou a acompanhá- lo por todos os lugares. À noite, dançava para ele e os seus olhos enchiam-se de lágrimas, num misto de dor e alegria. Aqueles que a

viam dançar f*icavam hipnotizados com a sua leveza e graça natural, julgando que ela chorava emocionada entre os movimentos da sua arte.Infelizmente, o príncipe não pensava casar-se com ela. Ele ainda esperava encontrar a linda rapariga que o salvara na praia depois do naufrágio e por quem se apaixonara. A verdade é que ele tinha perdido a memória e nem por sombras imaginava que a tinha diante de si todos os dias.

A família do príncipe queria que ele desposasse a f*ilha do rei vizinho e planeou uma viagem para que ele a conhecesse. O príncipe, a menina muda e uma comitiva real seguiram em viagem para o reino vizinho. Quando a princesa o viu, exclamou: - Mas, foi este o rapaz que encontrei na praia.Cravado por aquela revelação, o príncipe não se conteve:- Meu Deus! foste tu, foste tu que me salvaste. F*inalmente encontrei a minha amada!

Não era mentira nenhuma, esta princesa era uma das raparigas que encontraram o rapaz, mas não foi ela quem o salvou verdadeiramente. Para desgraça da sereia, a princesa apaixonou-se igualmente pelo príncipe. De tal maneira que marcaram o casamento para o dia seguinte. Perante isto, todo o sacrifício ao qual a sereia se submeteu foi em vão.

Depois do casamento, toda a comitiva da boda voltou de navio para o palácio do príncipe. A sereia f*icou acordada esperando o terrível amanhecer. Aguardava o primeiro raio de sol que a viria matar.Subitamente irromperam das águas as suas cinco irmãs, de faces pálidas e sem as suas fartas e longas cabeleiras, nadando junto ao navio. Nas suas mãos traziam um objecto brilhante.- Querida irmãzinha, nós demos à bruxa do mar os nossos cabelos em troca desta adaga. Deves enterrá-la no coração do príncipe. Só assim

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escaparás da morte e poderás voltar para o teu reino como sereia. Vai depressa, deves matá-lo antes do nascer do sol.A sereia agarrou na faca e dirigiu-se ao quarto do príncipe mas, ao vê- lo, o seu coração saltou de af.lição. Não conseguiu, não teve coragem de matá-lo. O sol nascia. Caminhou lentamente até à borda do navio e chorou. Respirou fundo, mergulhou no oceano azul e, ao misturar-se com as ondas, sentiu que o seu corpo se diluía em espuma.

Uma adaptação de um conto original de Hans Cristian Andersen.

Era uma vez uma menina que vivia numa aldeia perto de uma f.loresta. Sempre que saía, usava uma capa com um capuz vermelho e, por isso, era conhecida na aldeia por Capuchinho Vermelho. Um dia, a sua avó f*icou doente e a mãe de Capuchinho Vermelho pediu-lhe para levar um cesto com bolinhos para a sua avó. Ela vivia dentro da f.loresta, por isso a sua mãe avisou-a para ir sempre pela estrada, evitando assim os perigos.

Mas a menina, ao ver um campo de f.lores na f.loresta, lembrou-se que a avó iria adorar um ramo e esqueceu-se dos conselhos da sua mãe. Colheu f.lores aqui e ali e acabou por se afastar da estrada, deparando-se com o lobo, que estava disposto a comê- la nesse instante, não fora a presença de alguns lenhadores.- O que é que faz por aqui sozinha uma menina? - perguntou o lobo.- Vou visitar a minha avó, que está doente em casa.- E ela mora longe? - perguntou novamente

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o lobo. - Sim, por detrás daquela colina acolá.- Ah ... muito bem - disse o lobo - - Eu também lhe quero fazer uma visita. Veremos quem chega mais cedo. Tu vais por este caminho e eu vou por aquele. O lobo deitou a correr pelo caminho mais curto e a menina foi pelo caminho mais longo, entretendo-se a perseguir borboletas coloridas e a juntar raminhos de f.lores.

Entretanto, o lobo não demorou a chegar a casa da avó e bateu à porta. Truz! Truz! Truz!- Quem é? - perguntou a avozinha.- É a sua neta, a Capuchinho Vermelho - f*ingiu o lobo, imitando a voz da menina. - Trago-lhe uns bolinhos que mandou a minha mãe. - Entra minha querida. - convidou a avó.O lobo entrou e a pobre avozinha nem teve tempo de dizer uma palavra antes de ser engolida. Arrotando de satisfação, o lobo vestiu uma camisa de noite, envergou uma touca e uns óculos da avozinha e deitou-se na cama esperando outra refeição ... Pouco tempo depois, Capuchinho Vermelho bateu à porta. Truz! Truz!

O lobo puxou os lençóis até ao nariz e perguntou com voz trémula: - Quem é? - Sou eu, a sua neta - respondeu a menina.- Entra minha querida e anda dar um abraço à avó - guinchou o lobo.Capuchinho Vermelho pousou o cesto na mesa mas foi surpreendida por aqueles braços descomunais que se escondiam debaixo do lençol.- Avozinha, porque tens uns braços tão grandes?- São para te abraçar melhor - respondeu o lobo.- E porque tens os olhos tão grandes? - perguntou novamente Capuchinho Vermelho.- São para ver melhor a minha netinha - redarguiu com impaciência o lobo.

- Também tens as orelhas maiores, avó - notou a menina com estranheza.- Sim... são para te ouvir melhor, minha querida.- E que grande nariz tens tu - exclamou Capuchinho.- É para te cheirar melhor, mas anda dar um abraço à avó - - disse o lobo, abrindo os braços. E nesse momento, o lençol destapou-lhe completamente a cara.- Oh! E porque tens tu uns dentes tão grandes? - interrogou a pequena, cada vez mais admirada.- São para te comer melhor! - rugiu o lobo, saltando da cama. Numa dentada, Capuchinho Vermelho juntou-se à sua avó dentro da barriga do lobo. Satisfeito com o almoço, deitou-se para uma pequena sesta. Porém, ressonava tão alto que acabou por chamar a atenção de um caçador que passava.- Mas que estranho roncar vem da casa da avozinha... Decidiu verif*icar e bateu à porta mas o lobo, que dormia profundamente, não acordou. O caçador abriu uma janela e assim que viu o lobo, pegou na sua espingarda e deu-lhe um tiro. No entanto, das entranhas do lobo vinham vozes clamando por socorro. Abriu a barriga do lobo e libertou a Capuchinho Vermelho e a avó, sãs e salvas.

Aprendida esta lição, a pequena nunca mais deu ouvidos a estranhos e passou a escutar com atenção os conselhos da mãe.

Adaptado do livro Capuchinho Vermelho; Colecção A Minha Biblioteca de Contos Clássicos,

Hong Kong, Tormont International Ltd., 1995

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Pedro era um rapazinho de Évora, de seis anos, cheio de vida e curiosidade. Com o cabelo castanho torrado, sempre desgrenhado, como se o vento o acordasse logo de manhã para brincarem juntos. Tinha uns enormes olhos azuis, para que nada do mundo lhe escapasse. Pedro tinha a carinha de um anjinho - e o saber de quatro ou cinco...

De manhã, levantado da cama, Pedro engolia um grande copo de leite frio e três torradas, antes de se escapulir porta fora. Quando o pai e a mãe davam por ele, num sorriso meio resignado, já o petiz pulava o muro do quintal e abalava bairro adiante, a caminho dos amigos e das novas aventuras do dia.Jogava à bola como nenhum. Subia às árvores do parque atrás de folhas para alimentar os seus bichos de seda e descia-as de um pulo, fugindo do jardineiro que lhe vociferava furioso. Surripiava maçãs nas bancas do mercado matinal e conhecia todos os bandidos e malandretes por quarteirão e façanhas. Não havia segredos para ele. Tinha histórias de fugir. Como aquela em que, certo dia, chegou à mãe com um enorme saco de plástico cheio de água a cheirar a podre, recolhida no lago dos patos:- Mãe, olha - um cágado!

Viera carregado com o bicho desde o parque infantil, sozinho, através de meia cidade.E valia lá a pena f*icar de castigo. Escapando-se, na vez seguinte retornava:- Mãe, olha - um osso!De visita à capela dos ossos, o mariola trouxera um fémur. Toda aquela energia angustiava a mãe, sempre preocupada com as travessuras do pequeno.

Certa vez no café do bairro, Simão, o irmão adolescente, pagou cheio de orgulho, uma Coca-Cola a cada um:- Bebe devagarinho que tem borbulhas. - aconselhou paternalista o irmão mais velho. Pedro sorveu aquela bebida boa e açucarada como se tivesse atravessado o deserto durante quarenta dias. No f*inal, manda um grandessíssimo arroto, justamente quando Simão limpava, delicadamente, a boca com um guardanapinho. Todos no café se voltaram com tamanho arroto. Claro que ninguém desconf*iou que tivesse sido o anjinho de olhos grandes azuis...

A mãe deitava as mãos à cabeça e, em frente às directoras dos colégios por onde Pedro passava, uns a seguir aos outros, encolhia os ombros:- Eu lamento imenso - Sabe como são os garotos…- conta disso, o pobre Pedro levava nesses colégios tantas orelhadas, que até lhe ferviam as orelhas. Hoje, os miúdos assim são considerados vivos e curiosos. Naquela altura eram só marotos. Apesar de todas essas rocambolescas aventuras em que se metia, a mãe amava-o muito, bem como ao irmão, pois claro.

Certo dia, estava Pedro empoleirado numa amoreira recolhendo folhas, quando viu uma andorinha caída no chão, desajeitada. Era uma andorinha jovem e ainda não tinha muito jeito para voar. Certamente caíra do ninho durante uma das tentativas que as aves fazem para aprender a voar. F*icar ali no chão signif*icaria ser atropelada ou pisada a qualquer momento por alguém que não a visse. Poderia até ser comida por um gato ou cão vadio. Não iria durar muito com certeza.

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Pedro desceu da árvore e apanhou o bicho. O primeiro impulso seria levar a ave para casa, no entanto pareceu-lhe ouvir:- Naquela árvore. Coloca-me naquela árvore.Se há coisa boa nestas idades é que nada parece estranho, nem mesmo vozes de animais. Por isso, Pedro achou normalíssimo a andorinha falar com ele, mesmo que em pensamento. E, como que atarefado para continuar as brincadeiras, fez o que ela lhe pediu sem dar a isso mais que um momento de atenção. Ao trocarem um olhar rápido o passarinho pareceu agradecer-lhe:- Obrigado.Eram feitos do mesmo vento e movimento. É assim mesmo às vezes. Os iguais reconhecem-se por entre uma multidão de diferentes. F*inalmente, Pedro encheu o saco de folhas de amoreira e meteu-o às costas. Já anoitecia. Satisfeito pela generosa colheita, encaminhou-se para casa, bastando-lhe apenas atravessar na passadeira a avenida grande.

Sete anos se passaram depois daquele episódio. Sei que a andorinha aprendeu a voar e também sei, que todos os anos retorna da sua volta de mundos e aventuras ao mesmo local onde foi salva. Por coincidência ou não, fez o ninho

junto à janela do quarto do rapaz agora adolescente que, adormecido, a recebe todas as primaveras e, adormecido também, se despede dela todos os Outonos. E assim permanece, desde aquele dia na passadeira da avenida. Foi o dia do carro em velocidade e das folhas de amoreira espalhadas, esvoaçando pelo ar. Esse foi o dia em que Pedro adormeceu profundamente. Adormeceu e f*icou menino para sempre.

Autoria de Tiago Cabeça e Magda Ventura

Baseado nas vidas reais de Pedro, Simão e Tomás

F*icha técnicaConcepção de esculturas Tiago CabeçaConcepção de cores Magda VenturaFotograf*ia Tiago CabeçaPesquisa textos e adaptação Teresa FernandesRevisão e adaptação de textos Alexandre VarelaDesign gráf*ico e paginação Hugo Marques Tiago chineloPintura de peças Magda Ventura Albertina Ventura Teresa Fernandes Ricardo Falcão

Copyright © Of*icinadaterra 2007 - Todos os direitos reservados

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