Ofensiva Socialista n°15 - agosto/setembro 2013

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Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00 Jornal da LSR N° 15 agosto/setembro - 2013 Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT) Tendência do PSOL site: www.lsr-cit.org • e-mail: [email protected] • telefone: (11) 3104-1152 4° Congresso Nacional Por um PSOL afinado com as ruas! pág 06-07 Incertezas, luta social e esgotamento do “lulismo”! pág 02 Uma nova geração entra na luta! pág 04 Estatuto do nascituro: vamos barrar esse ataque! pág 09 Militares no Egito tentam consolidar seu poder com banho de sangue pág 10 Junho ainda não acabou... Retomar as ruas! Por transporte, saúde, educação, moradia, salário, aposentadoria e o fim da repressão! Construir pela base um grande Encontro nacional dos movimentos de junho unindo a juventude e os trabalhadores! Por uma greve geral de 24 horas com manifestações de massas, bloqueios de rodovias e ocupações! As jornadas de junho mobilizaram milhões em todo o país. Em pânico, governos e políticos em todos os ní- veis foram obrigados a abrandar a voz e fingir que estavam do lado do povo. De Dilma a Alckmin, de Ma- rina a Cabral, todos fingem humilda- de para ver se amansam a fera solta nas ruas. Mas, todos continuam de- fendendo em uníssono a repressão. Patrões, especuladores e todo tipo de parasitas colocaram as barbas de molho apostando que esse movimen- to não ia durar. Mas, o Brasil mudou radicalmente desde junho. Há uma nova relação de forças sociais e políticas no país. A juventude e os trabalhadores perce- beram a força da luta coletiva nas ru- as e não vão recuar tão cedo. Milha- res de novos ativistas se juntam aos velhos lutadores da classe trabalha- dora e do povo. As lutas específicas e locais, as campanhas salariais, os movimentos sociais ganharam enor- me energia desde junho. Embriões de novas formas de or- ganização da luta também surgiram como as Assembleias Populares, Fó- runs de Luta, etc. Agora é preciso reunificar todas essas lutas em um nível superior. É preciso construir um programa unitário e um plano de ação comum que mantenha a ra- dicalidade de junho e faça o movi- mento avançar. Um caminho para isso é construir um grande Encontro nacional de to- dos os movimentos de junho reunin- do o que há de mais combativo na juventude e entre os trabalhadores. Um Encontro organizado pela ba- se, com democracia pra valer e não o controle dos velhos aparatos e da velha burocracia. Assim teríamos condições de or- ganizar pela base uma verdadeira greve geral de 24 horas. Uma greve ativa, com manifestações de mas- sas, bloqueios de rodovias por todo o país e grandes ocupações de pré- dios públicos. Dessa forma podemos voltar a co- locar governos e patrões contra a parede e arrancar nossas reivindi- cações.

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Jornal da Liberdade, Socialismo e Revolução, corrente do PSOL e seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores

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Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00 Jornal da LSR

N° 15 agosto/setembro - 2013

Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT)

Tendência do PSOL

site: www.lsr-cit.org • e-mail: [email protected] • telefone: (11) 3104-1152

4° CongressoNacional

Por um PSOL afinado com as ruas!

pág 06-07

Incertezas, luta social e esgotamento do “lulismo”!

pág 02

Uma nova geração entra na luta!

pág 04

Estatuto do nascituro: vamos barrar esse ataque!

pág 09

Militares no Egito tentam consolidar seu poder com banho de sangue

pág 10

Junho ainda não acabou...

Retomar as ruas!Por transporte, saúde, educação, moradia, salário, aposentadoria e o fim da repressão!

Construir pela base um grande Encontro nacional dos movimentos de junho unindo a juventude e os trabalhadores!

Por uma greve geral de 24 horas com manifestações de massas, bloqueios de rodovias e ocupações!

As jornadas de junho mobilizaram milhões em todo o país. Em pânico, governos e políticos em todos os ní-veis foram obrigados a abrandar a voz e fingir que estavam do lado do povo. De Dilma a Alckmin, de Ma-rina a Cabral, todos fingem humilda-de para ver se amansam a fera solta nas ruas. Mas, todos continuam de-fendendo em uníssono a repressão. Patrões, especuladores e todo tipo de parasitas colocaram as barbas de molho apostando que esse movimen-to não ia durar.

Mas, o Brasil mudou radicalmente desde junho. Há uma nova relação de forças sociais e políticas no país. A juventude e os trabalhadores perce-beram a força da luta coletiva nas ru-as e não vão recuar tão cedo. Milha-res de novos ativistas se juntam aos velhos lutadores da classe trabalha-dora e do povo. As lutas específicas e locais, as campanhas salariais, os movimentos sociais ganharam enor-me energia desde junho.

Embriões de novas formas de or-ganização da luta também surgiram

como as Assembleias Populares, Fó-runs de Luta, etc. Agora é preciso reunificar todas essas lutas em um nível superior. É preciso construir um programa unitário e um plano de ação comum que mantenha a ra-dicalidade de junho e faça o movi-mento avançar.

Um caminho para isso é construir um grande Encontro nacional de to-dos os movimentos de junho reunin-do o que há de mais combativo na juventude e entre os trabalhadores. Um Encontro organizado pela ba-se, com democracia pra valer e não o controle dos velhos aparatos e da velha burocracia.

Assim teríamos condições de or-ganizar pela base uma verdadeira greve geral de 24 horas. Uma greve ativa, com manifestações de mas-sas, bloqueios de rodovias por todo o país e grandes ocupações de pré-dios públicos.

Dessa forma podemos voltar a co-locar governos e patrões contra a parede e arrancar nossas reivindi-cações.

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2 • nacional Ofensiva Socialista n°15 agosto/setembro - 2013

é uma publicação da Liberdade, Socialismo e Revolução

Telefone: (11) 3104-1152E-mail: [email protected]ítio: www.lsr-cit.orgCorreio: CP 02009 - CEP 01031970 - SP Assinatura: 10 edições: R$ 20 reais (Envie cheque nominal p/Marcus William Ronny Kollbrunner à caixa postal)

Colaboraram nessa edição: Alexandre (Nhonho), André Ferrari, Bel Keppler, Bilbo Görans-son, Cristina Fernandes, Dimitri Silveira, Eduardo Moraes, Felipe Alencar, Jane Barros, Jonathan Mendonça, Jorge, José Wilson, Lazinho, Luciano Barboza, Marcus Kollbrunner, Mariana Cristina, Marzeni Pereira, Maurício, Miguel Leme, Múcio, Pastor, Robert Berchert, Rubens, Silvio Motoboy, Sônia Godeiro e Thais Kubik

Incertezas, luta social e esgotamento do “lulismo”!

Quem matou Ricardo?Ricardo Ferreira Gama, auxiliar de limpeza terceirizado na Uni-versidade Federal de São Pau-lo – Baixada Santista, foi mor-to no dia 2 de agosto, alvejado com 8 tiros por 4 homens en-capuzados. Menos de 48 horas antes, ele tinha sido agredido em frente ao campus por três policiais sem identificação.

LSR Santos

Alguns estudantes intervieram em defesa de Ricardo, indo até a dele-gacia qual os policias disseram es-tar o levando, sem qualquer alusão à acusação. Lá, eles foram intimida-dos e ameaçados, bem como Ricar-do, que, menos de dois dias depois, estava morto.

O campus da Unifesp-BS está ins-talado numa região central, próxima

ao porto. Na rua da unidade central, a Silva Jardim, pessoas em situação de rua são constantemente aborda-das violentamente pela polícia. Mui-tas vezes o assunto do “policiamen-to ao redor do campus” vinha à tona, quando algum estudante era assalta-do. De repente, são os nossos – es-tudantes e trabalhadores – que estão sofrendo violência policial.

Durante os meses anteriores ao assassinato de Ricardo, estudantes foram agredidos por policiais sob a alegação de estarem fumando ma-conha. Repúblicas foram invadidas pela polícia.

Logo, o medo verteu-se em cora-gem. Pela primeira vez na história do campus, terceirizados se uniram a estudantes, técnicos e professores em espaços de discussões e num ato, realizado uma semana após a mor-te de Ricardo. Juntas, as quatro ca-

tegorias com a família e os amigos de Ricardo, fecharam uma avenida de grande circulação em Santos, le-ram poemas, e entoaram palavras de ordem contra os crimes do Estado.

A Polícia Militar, que alegava que Ricardo havia se machucado sozi-nho e encerrara a investigação in-terna contra os policias envolvidos na agressão, foi obrigada a reabrir o processo e afastar os policiais.

O caso ganhou repercussão, e fi-guras públicas como Carlos Gianna-zi (Dep. Estadual – PSOL SP), Jean Wyllys (Dep. Federal – PSOL RJ) e Amanda Gurgel (Vereadora – PS-TU Natal, RN) aderiram à campa-nha “Quem matou Ricardo?”. Mo-vimentos como as Mães de Maio, Tribunal Popular, MTST também se juntaram à luta.

Mas descobrir quem matou Ricar-do e punir os assassinos não basta.

É preciso que casos como o de Ri-cardo, Amarildo e tantos mais não sejam tratados de forma pontual. Queremos uma polícia desmilitari-zada, sob controle dos trabalhado-res, que promova segurança, em vez de assassinatos e desaparecimentos em massa.

O mês de junho marcou a ex-plosão das contradições acu-muladas em décadas de neoli-beralismo no Brasil e mais es-pecificamente do modelo “lu-lista” dos últimos dez anos. As bases econômicas, políticas e sociais do pacto de classes construído pelo PT nos últimos anos, para garantir os interes-ses do grande capital, come-çam a ruir a olhos vistos.

André Ferrari

A combinação de turbulências econômicas, lutas de massas e di-visões na cúpula governista podem colocar em risco a governabilida-de e a reeleição de Dilma Rousseff em 2014.

Esgotamento do modelo

O fim da era de ouro das commo-dities, um dos pilares do modelo “lu-lista”, deixa a olho nu os limites da economia brasileira. A balança co-mercial brasileira registrou no pri-meiro semestre um déficit recorde, da ordem de 4,9 bilhões de dólares. A deterioração das contas externas brasileiras recoloca o país a mercê da vontade dos investidores externos.

O baixo crescimento e a redução do consumo e dos investimentos amea-çam outro pilar do “lulismo”: os bai-xos índices de desemprego. Se já não bastasse o fato de que os empregos gerados eram precários e de baixos salários, o que vemos hoje é uma de-saceleração na criação de novos pos-tos de trabalho e certo aumento do de-semprego, incluindo demissões mas-sivas em certos setores da economia.

A chiadeira dos ditos “mercados” com Dilma se baseia nos temores de que o governo, pressionado pelas ru-as e diante das eleições de 2014, não consiga garantir um superávit primá-rio à altura do apetite dos vampiros--credores da dívida.

Mesmo no auge das mobilizações de junho, Dilma fez questão de colo-car a responsabilidade fiscal (leia-se: austeridade para garantir o pagamen-to da dívida aos especuladores) en-tre seus cinco pactos anunciados em rede nacional de TV. Além dos cor-tes já planejados e efetuados desde o início do ano, o governo anunciou cortes adicionais da ordem de 10 bi-lhões de reais. Isso totaliza cerca de 40 bilhões durante o ano.

A política de incentivos a certos setores da indústria, outra marca do “lulismo” não se mostra suficiente para reverter a crise na indústria e o baixo crescimento.

Dilma poderá terminar seu man-dato como a presidenta com mais baixo crescimento das últimas duas décadas. Nesse cenário não há Co-pa do Mundo que possa recuperar a imagem do “Brasil grande” que Lu-la tanto se esforçou para inventar.

Base governista infiel

Se já não era muito leal antes, de-pois do “tsunami” de massas nas ruas e as más perspectivas econômicas, a base governista no Congresso trans-formou-se em uma geleia e custa ca-da vez mais caro mantê-la.

No primeiro semestre, Dilma de-parou-se com a base parlamentar mais indisciplinada que um presi-dente já teve desde a retomada das eleições diretas para presidente em 1989 (FSP, 04/08/13). Com a pressão das ruas e o derretimento dos índices de apoio à presidenta, a situação fi-cou ainda mais perigosa para Dilma.

A infidelidade reflete o salve--se quem puder no Congresso na-cional. Segundo a imprensa (Valor, 20/08/13), circulam no Congres-so avaliações catastróficas para os atuais parlamentares. Segundo es-sas avaliações, o índice de renova-ção na Câmara dos Deputados nas eleições de 2014, por exemplo, po-de chegar a superar o recorde das

eleições de 1990, quando chegou a 61,82%. Isso significa que a maio-ria vai perder o cargo, escorraçados pela ira popular refletida nas urnas.

O repentino surto de “humildade” e a aparente conversão dos deputa-dos e senadores à “causa das ruas”, com a aprovação de projetos supos-tamente alinhados com a vontade po-pular (passe livre para estudantes, o fim do voto secreto na cassação de mandatos, corrupção como crime he-diondo, retirada da PEC 37, etc), não são definitivamente resultado da vi-sita do Papa. Refletem a nova relação de forças sociais e políticas no país.

Reeleição ameaçada

Antes de junho, a reeleição de Dil-ma em 2014 estava garantida. Mes-mo os problemas na economia não pareciam ameaçar uma nova vitória eleitoral. Hoje as incertezas nesse cenário são infinitamente maiores.

O governismo ainda é favorito, mas somente por causa da fragilida-de dos adversários. O PSDB não tem o que oferecer às ruas e ainda carre-ga nas costas o mega-escândalo nas licitações do metrô de São Paulo.

Marina ameaça mais. Porém, mes-mo na hipótese de que consiga lega-lizar seu “novo partido velho”, terá dificuldades em manter-se na pon-ta sem estrutura e com um discurso que cada vez mais se parece com a lengalenga tucano-petista.

Marina fica espremida entre tentar parecer algo novo e diferente e, de outro lado, buscar ganhar parcela da elite econômica e política para o seu lado. Suas declarações recentes a fa-vor da repressão a certas manifesta-ções de rua e em defesa da reforma neoliberal da previdência mostram sua verdadeira face.

Eduardo Campos fica na moita, mas não é carta fora do baralho. Ape-sar dos esforços pessoais de Lula em tentar demovê-lo, ele pode vir a ser um adversário perigoso ao projeto

lulo-petista. Ainda assim, seu pro-jeto é mais de longo prazo.

No novo cenário pós-junho, a ree-leição de Dilma precisa ser desafia-da por uma alternativa que se colo-que claramente no campo das lutas de massas e incorpore a radicalida-de e a força das mobilizações. Des-sa forma, qualquer que seja o gover-no eleito, terá que se deparar des-de o início com uma clara alternati-va social e política de esquerda em processo de gestação e com grandes possibilidades de crescimento.

Se o PSOL, em seu Congresso no final do ano, conseguir assumir um perfil, um programa e uma prática coerente com a voz das ruas e ga-rantir a construção de uma Frente de Esquerda (com PSTU, PCB e mo-vimentos sociais combativos), po-derá ser um fator relevante no cená-rio de 2014.

Há espaço à esquerda. O que fal-ta é quem esteja à altura de ocupá--lo. Construir essa alternativa no no-vo contexto criado a partir das lutas de junho é a tarefa mais importante para os socialistas.

Defendemos: ● Pelo direito à cidade para os

trabalhadores e o povo! Tarifa zero nos transportes públicos! Estatiza-ção do sistema de transporte com controle democrático dos traba-lhadores e usuários! Não às remo-ções de moradores para obras da Copa e especulação imobiliária! Pelo direito à moradia garantido a todos e todas! Nenhum corte nos gastos e investimentos sociais! Mais investimentos na qualidade do transporte e serviços públicos!

● Dinheiro público para saúde e educação e não para os estádios e obras da Copa! 10% do PIB para a educação pública já! 10% do or-çamento para a saúde pública já!

● Reforma agrária controlada pelos trabalhadores com fim do latifúndio! Não à usina de Belo Monte! Em defesa do meio ambiente e do direito à terra para as comunidades indígenas! Fim do massacre dos sem-terra e indígenas!

● Aumentos salariais de acordo com a inflação! Congelamento dos preços dos alimentos e tarifas públicas! Redução da jornada de trabalho sem redução de salários! Fim do fator previdenciário e anu-lação da reforma da previdência. Não às terceirizações e precariza-ção das relações de trabalho!

● Contra o estatuto do nascituro em tramitação no Congresso! Pela legalização do aborto! Pelo fim da violência contra a mulher! Contra as propostas de reforma traba-lhista e da previdência que visam retirar direitos da mulher trabalha-dora! Salário igual para trabalho igual! Por mais verbas para a implementação da Lei Maria da Penha! Fora Feliciano! Contra toda forma de opressão às comunida-des LGBTT!

● Não às leis de exceção da Copa! Pelo direito democrático de manifestação! Não à crimina-lização dos movimentos sociais e à repressão! Liberdade e fim dos processos sobre os manifestan-tes!

● Basta de violência policial racista nas periferias! Desmilitari-zação e controle popular sobre a polícia! Combater o racismo nas universidades, nos locais de traba-lho e na sociedade.

● Não pagamento das dívidas interna e externa aos grandes capitalistas para garantir os recur-sos necessários para os serviços públicos e o desenvolvimento econômico com igualdade social! Auditoria das dívidas controlada pelas organizações dos trabalha-dores!

● Reestatização das empresas privatizadas por FHC, Lula e Dilma com controle democrático dos trabalhadores! Estatização do sistema financeiro sob controle dos trabalhadores!

● Por um governo dos trabalha-dores baseado na democracia das ruas, na mobilização de massas dos trabalhadores e da juventude e com um programa socialista!

Desde junho, só dor de cabeça para Dilma.

Marcelo Freixo, deputado estadual (PSOL-RJ), quer saber.

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30 de agosto: Novo dia nacional de paralisação

Construir uma greve geral pela baseComo continuidade das jorna-das de junho e julho, as cen-trais sindicais estão convocan-do um Dia Nacional de Parali-sação para o dia 30 de agosto. Na pauta unificada está a me-lhoria e redução das tarifas dos transportes coletivos, 10% do PIB para a Educação pública, 10% do orçamento para a saú-de pública, fim dos leilões das reservas de petróleo, fim do fa-tor previdenciário e aumento do valor das aposentadorias, redução da jornada de traba-lho, contra o PL 4330 que am-plia as terceirizações, reforma agrária e salário igual para tra-balho igual.

Miguel LemeDiretor da Apeoesp pela

Oposição Alternativa e membro da Executiva

Nacional da CSP-Conlutas

O dia 30 de agosto tem condições de ser superior ao dia 11 de julho, pois estamos vivendo um momento de greves importantes como é o ca-so dos professores, trabalhadores da saúde e policiais do Rio Grande do Norte. No Rio de Janeiro, há tam-bém greve na educação envolvendo os professores do estado e do muni-cípio do Rio de Janeiro.

Há também várias outras catego-rias que estão ou estarão em campa-nha salarial como é o caso dos meta-

lúrgicos, petroleiros, bancários, quí-micos e os trabalhadores dos cor-reios.

O dia 11 de Julho foi marcado pe-la entrada da classe trabalhadora or-ganizada na luta, como sindicatos e centrais sindicais, com paralizações de fábricas e mobilização. No en-tanto, veio também os velhos méto-dos das centrais pelegas e governis-tas, como a CUT, CTB e UGT que pagaram “militantes” despolitizan-do o debate. Chegaram ao ponto de entregar para a polícia um militante black block. A mesma lógica da dis-puta leviana para falar ao microfone, que pouco dialoga com o novo mo-mento em que vivemos.

Além disso, há uma movimenta-ção do governo Dilma no sentido fa-zer que com que as centrais gover-nistas não mobilizem as suas bases para esta data. Isto ficou evidente, simbolicamente, na visita que Dil-ma Rousseff fez à sede da UGT e na tentativa da CUT em reduzir to-da a pauta à pequenas alterações no PL 4330.

Construir a luta pela base

Para evitar que esse desmonte do dia 30 de agosto ocorra por parte das direções das centrais governis-tas, é necessário que o Dia Nacional de Paralisação continue sendo cons-truído pela base. É necessário exigir que assembleias dessas categorias sejam realizadas e aprovada a parti-

cipação no Dia Nacional de Parali-sação. Plenárias preparatórias preci-sam ser realizadas nos estados, en-volvendo todas as entidades e movi-mentos sociais que participaram das jornadas de junho e julho.

O desafio é reproduzir as experi-ências positivas de espaços amplos de organização da luta, como é ca-so do Fórum de Lutas do Rio de Ja-neiro, Assembleia Popular de Belo Horizonte e do Bloco de Lutas em Porto Alegre.

Dessa forma podemos começar a construção uma greve geral de 24 horas pela base, para encostar pa-trões e governos na parede, bem co-mo de uma alternativa de poder pa-ra a nossa classe. Do nosso ponto de vista, a construção desta alternativa passa pela realização de um grande Encontro Nacional das entidades e movimentos sociais de junho.

Apesar de vivermos uma nova relação de forças no país, onde é possível e necessária a construção de uma alternativa de poder para o país, a direção majoritária da CSP--Conlutas não tem contribuído co-mo poderia, para que esse processo ocorra de fato. Isto ficou evidente no Seminário Nacional sobre Reor-ganização Sindical e Popular, reali-zado nos dias 17 e 18 de julho em Porto Alegre.

Este Seminário Nacional foi con-vocado pela CSP-Conlutas, “CUT pode mais” do Rio Grande do Sul, Feraesp-SP, Direção Majoritária da

Condsef e CNTA e teve o objetivo de debater a nova conjuntura que es-tamos vivendo e o processo de reor-ganização sindical e popular.

CSP-Conlutas e a reorganização

sindical e popular

A postura da direção majoritá-ria da CSP-Conlutas neste Semi-nário foi desastrosa. Nós da LSR e do Bloco de Resistência Socialis-ta – Sindical e Popular (BRS), de-fendemos que é necessária a reali-zação de um Encontro Nacional de todos os movimentos sociais de ju-nho para organizar a continuidade da luta e acelerar o processo de re-composição sindical e popular. En-tretando, a direção majoritária aca-bou apenas convidando os demais setores para que ingressassem na CSP-Conlutas.

Este tipo de postura altoproclama-tória provocou uma reação negativa nos setores que convocaram este Se-minário e não contribuiu para uma

mudança qualitativa no processo de reorganização sindical e popular.

Apesar da CSP-Conlutas ser o que mais de progressivo surgiu no pro-cesso de reorganização sindical e po-pular no último período, temos a lei-tura de que ainda é necessária a cons-trução de uma central sindical e po-pular efetivamente unitária, cons-truída pela base, sem os vícios bu-rocráticos do passado, radicalmente democrática e sem o hegemonismo de um partido político, como o que ocorre atualmente internamente na CSP-Conlutas.

Esta nova Central Unitária tem que ser um espaço em que os movi-mentos sociais presentes nas jorna-das junho tenham vontade em parti-cipar. Esta nova ferramenta está por ser construída e é uma tarefa funda-mental de toda a esquerda combati-va. Mas para que isso ocorra, é ne-cessário que as correntes da esquer-da socialista mudem de postura e coloquem os interesses estratégicos da nossa classe acima da sua própria construção.

Apesar da vitória contra o au-mento das tarifas de ônibus, o transporte coletivo como um todo continua muito ruim na ci-dade de São Paulo e nos muni-cípios da Grande São Paulo. Ao mesmo tempo, foi revelado co-mo centenas de milhões são roubados através de licitações previamente acordadas. No dia 14 de agosto, 5 mil pessoas marcharam no centro de São Paulo contra a corrupção e por um transporte público de quali-dade, no primeiro ato do Fórum de Luta de São Paulo.

Miguel Leme

Nas últimas semanas, ficamos sabendo que mais de meio bilhão de reais foram roubados dos cofres públicos por uma quadrilha for-mada por sucessivos governos tu-canos – Covas, Alckmin e Serra – e empresas multinacionais, com é caso o da alemã Siemens e a fran-cesa Alston.

Esse roubo veio à tona a partir de denúncia da própria Siemens. A em-presa fez um acordo de delação pre-miada com o Conselho Administra-tivo de Defesa Econômica (Cade) a fim de reduzir as suas responsabili-dades jurídicas e financeiras.

Esse acordo para a Siemens é im-portante: em 2007 e 2008 ela foi obrigada a pagar R$ 3,6 bilhões em multas e acordos realizados com os governos de vários países.

Segundo a Siemens, as licitações eram acertadas entre as empresas

envolvidas no cartel. Pelo acordo, as empresas “vencedoras” contrata-vam as “derrotadas”. Os preços dos serviços tiveram um acréscimo mé-dio de 30%. Esse aumento no pre-ço era dividido entre as empresas do cartel e políticos do PSDB.

Para dar continuidade à luta por um transporte público de qualidade na cidade de São Paulo foi formado um Fórum de Luta, que tem a par-ticipação de vários movimentos so-ciais e entidades sindicais presentes nas jornadas de junho e julho. O Ato do dia 14 de agosto, foi a primeira iniciativa importante deste Fórum. É necessário que este Fórum participe também do dia Nacional de Parali-sação 30 de agosto. Se ônibus, trens e metrô pararem no dia 30 de agos-to, ampliaremos as condições para a realização de uma greve geral na ci-dade de São Paulo.

Cartel no setor de transporte envolve

governos do PSDB e PT

Geraldo Alckmin anunciou que processará a Siemens por corrup-ção nos contratos de trens e metrô do estado de São Paulo. De forma contraditória, disse também, que os contratos desta empresa serão mantidos.

A razão por trás disso é simples: os tucanos promoveram toda essa cor-rupção em São Paulo e em outros es-tados do país e tem rabo preso com a Siemens e com as demais empresas que fizeram parte deste cartel. Caso contrário, teriam iniciado uma in-

vestigação em 2008 em São Paulo, quando apareceram as primeiras de-núncias na imprensa.

Quando a imprensa começou a di-vulgar com mais ênfase as denúncias de corrupção no metrô e trens do Es-tado de São Paulo, houve um silên-cio de dirigentes petistas.

Esse silêncio inicial foi compre-ensível: há indícios muito fortes de que o esquema de cartel nas obras do Metrô de São Paulo tenha atu-ado também em licitações federais envolvendo a CBTU e a Trensurb.

O governo Dilma foi obrigado a adiar a licitação do trem-bala ligando o Rio a São Paulo. Se levasse adian-te, a licitação orçada em R$ 55 bi-lhões seria ganha pela francesa cor-rupta Alston.

É necessária a criação de Comissões Populares

de Investigação

Apesar de haver o debate da cria-ção de uma CPI mista no Congres-so Nacional para apurar as denún-cias de corrupção nos trens e me-trô no país, sabemos que não haverá nenhuma investigação pra valer por parte do PT e PSDB e demais parti-dos burgueses.

É necessária a formação de Co-missões Populares de Investigação formada pelos sindicatos do setor de transporte, movimentos sociais e usuários, para que todas essas mara-cutaias dos governos tucanos, petis-tas e dos demais partidos burgueses nas diversas esferas venham à tona para a população brasileira.

● Tarifa zero nos transportes públicos!

● Criação de Comissões Populares de Investigação formadas pelos sindicatos do setor de transporte, movimentos sociais e dos usuários para apurar toda a corrupção nos trens e metrô de São Paulo, no governo federal e em outras capitais do país.

● Prisão e confisco de bens dos políticos e das empresas envolvidas nos escândalos dos trens e metrô!

● Devolução do dinheiro desviado e sua utilização imediata na redução da tarifa do metrô e dos trens e melhoria da qualidade do serviço de transporte!

● 2% do PIB para garantir metrô e trem, estatal e de qualidade para todos!

● Estatização do sistema de transporte com controle democrático dos trabalhadores e usuários!

● Fora Alckmin e todos os governos corruptos nas diversas esferas!

Marcha contra fraude no metrô em SP

O Sindicato dos Metroviários de São Paulo no ato contra o cartel no metrô descoberto recentemente.

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4 • movimento Ofensiva Socialista n°15 agosto/setembro - 2013

Uma nova geração entra na luta!É preciso tirar lições das lutas de junho: por um movimento amplo, democrático e unitário!As grandes manifestações que vimos em junho, quando dois milhões de pessoas foram pa-ra as ruas denunciar a farsa do “Brasil grande”, foram o ponto alto de um processo de reorga-nização e retomado das lutas. Mas ainda é só o começo.

No último período, mesmo an-tes de junho, novos movimen-tos haviam surgido, como as diversas marchas (vadias, liber-dade e da maconha), os black bloc, grupos performáticos e culturais, os fóruns de luta, as-sembleias populares, etc.

Mariana Cristina

Todos são expressão da profun-da insatisfação do povo e da juven-tude com as desigualdades do siste-ma capitalista. Mas, também refle-tem a dificuldade da esquerda or-ganizada em construir alternativas amplas e unificadas de luta. Temos que tirar lições dessas novas formas de luta para avançarmos na luta an-ticapitalista.

Vivemos anos de ofensiva neoli-beral, que por um lado privatizava e atacava nossos direitos e por ou-tro impunha o capitalismo e as saí-das individuais como as únicas for-mas possíveis de organização social e política. Com as jornadas de junho tivemos uma inflexão na luta de clas-ses, pois depois de anos as lutas co-letivas obtiveram conquistas e reto-maram a possibilidade concreta de se construir espaços amplos de or-ganização da juventude e dos tra-balhadores.

A maré está virando!

Após a queda do muro de Berlim a esquerda foi desconstruída como uma alternativa para a maior parte da população. Em sua maioria os líderes populares foram cooptados pela ins-titucionalidade. As organizações de esquerda se fragmentaram e na au-sência de lutas de massas se lança-ram em uma busca pela própria so-brevivência e autoconstrução.

Essa realidade já estava se modifi-cando em escala internacional há al-gum tempo, com o desgaste do neo-liberalismo, a profunda crise capita-lista e as novas ondas de lutas. Vimos nos últimos anos explosões de mo-vimentos de juventude pelo mundo, muitos deles reivindicando-se aparti-dários, como os “indignados” na Es-panha, “occupy” (nos EUA), agluti-nando muitos jovens que a esquerda organizada não conseguiu aglutinar.

Era uma questão de tempo até os efeitos da crise econômica e social, junto com o desgaste do lulismo, provocar explosões também no Bra-sil. Mas, da mesma maneira que vi-mos em outros países, devido à trai-ção da velha esquerda representada pelo PT, CUT, UNE, esses novos

movimentos passaram por fora das antigas estruturas de luta.

O caráter espontâneo e explosivo das lutas em que esses novos movi-mentos se inserem contribuem muito para mobilizar uma nova camada de jovens lutadores. Reconhecendo is-so, precisamos sempre avaliar quais métodos ajudam a avançar na cons-trução de um movimento mais am-plo, e quais podem levar a um beco sem saída.

Organização democrática e coletiva

Os black blocs, por exemplo, ape-sar de não reivindicarem ser um mo-vimento político, mas um método de atuação, tem aglutinado muitos jo-vens que não vislumbram outras al-ternativas de atuação e mudança so-cial. Os black blocs atuam em pri-meiro lugar com o objetivo de de-nunciar o sistema atacando os seus símbolos, como temos visto em São Paulo e no Rio onde muitas agências bancárias e estabelecimentos comer-ciais são atacados.

Em um dos primeiros atos na casa do Cabral, quando a defesa do “Fo-ra Cabral” ganhou maior repercus-são, os jovens autonomistas e os que atuaram como black bloc construí-ram várias barricadas no início e no fim das ruas do entorno, impedindo que o caveirão e o carro de jato de água da polícia alcançassem os ma-nifestantes. Isso enquanto cantavam: “não adianta me reprimir, esse go-verno vai cair”. Por isso ganharam muita simpatia do conjunto dos ma-nifestantes.

Ações de autodefesa como as ci-tadas acima são fundamentais para garantir a segurança do movimen-to, mas precisam ser construídas co-letivamente. Mas, outros tipos de ações isoladas, como quebra-que-bra e bombas caseiras, táticas ado-tadas pelos black blocs, podem des-legitimar os espaços coletivos de de-cisão, facilitando a ação de provoca-dores e de policiais infiltrados e co-locando em risco os próprios mani-festantes. A ausência de um progra-ma claro anticapitalista e socialista é outra crítica que fazemos a estes companheiros.

Defendemos que a atuação cole-tiva, com deliberações acumuladas de forma radicalmente democráti-ca nos espaços legítimos para isso, como Fóruns de luta, assembleias, movimentos, são mais eficazes, por ter um plano de ação e um objetivo mais amplo.

Ocupações como instrumento de denúncia

As várias ocupações de Câmaras que estão ocorrendo no momento são puxadas em sua maioria por au-tonomistas. A ocupação da Câma-ra do Rio de Janeiro que reivindica

uma CPI dos transportes que não se-ja chapa branca, e da Câmara de Ni-terói, exigindo CPI dos Desabriga-dos vítimas dos desmoronamentos do morro do bumba, jogam um pa-pel importante para criar repercus-são pública sobre essas lutas.

Essas ações são importantes pa-ra denunciar as falcatruas do Esta-do e pautar nossas bandeiras de lu-ta. Elas cumprem um papel, mas te-mos que ter claro que é o povo na rua que vai trazer transformações profundas e, por isso, as ocupações tem que dialogar com os movimen-tos mais amplos.

Fóruns democráticos de base

Uma das grandes vitórias desta ex-plosão de lutas foi a construção de espaços amplos e democráticos de organização dos atos de forma co-letiva, como as Assembleias Popu-lares e o Fórum de lutas unificado.

O Fórum do Rio tem obtido mui-tos avanços, pois construiu comis-sões que sintetizam as experiências organizativas que tivemos desde ju-nho, como a comissão de organiza-ção, mas também a de comunica-ção e segurança. Os núcleos de ba-se permitem descentralizar as dis-cussões e que mais pessoas possam participar ativamente na elabora-ção de propostas para serem enca-minhadas para a assembleia geral, aonde ocorrem as trocas e as deli-berações coletivas.

Precisamos construir uma unidade maior entre os lutadores e lutadoras de junho, construir um Encontro na-cional dos movimentos de junho, pa-ra preparar um plano nacional de lu-tas que nos fortaleça para construir-

mos novas mobilizações unificadas que voltarão a ser explosivas duran-te a Copa do Mundo!

Unidade da esquerda – por um movimento de massas, democrático e classista!

Existe uma nova camada de lide-ranças, na maioria de jovens, que não viveram grandes lutas coletivas e es-tão criando agora suas formas de or-ganização. Esses novos movimentos mostram que a luta coletiva nas ru-as é possível, mas muitas vezes aca-bam não apontando um caminho pa-ra além disso, adotando métodos es-pontaneístas, sem um planejamento coletivo e sem uma tática e estraté-gia de poder. Por isso a tendência é que após um “boom” de crescimen-to, esses movimentos declinem e de-sapareçam.

O papel da esquerda revoluciona-ria organizada é, juntamente com es-ta juventude, aprender com os erros e resgatar os acertos históricos da classe trabalhadora. Temos que sa-ber disputar os rumos destes movi-mentos, atos, ocupações através de um debate fraterno, ao mesmo tem-po que construirmos uma direção conjunta, visando a derrubada deste sistema perverso.

Posturas sectárias em nada con-tribuem, assim como posturas acrí-ticas não possibilitam uma nova sín-tese. Todos os grupos, inclusive os da esquerda organizada são passí-veis de erro, porém diminuímos es-tas chances estudando as experiên-cias históricas e internacionais. To-dos saem enriquecidos de um deba-te democrático e fraterno.

Mais do que nunca precisamos re-organizar a esquerda revoluciona-

ria, colocar os objetivos da luta de classes acima da autoconstrução dos grupos políticos. É hora de a esquer-da vencer as diferenças e se lançar na construção de espaços amplos, encontros e movimentos que unifi-quem toda a esquerda e essa nova juventude combativa, ombro a om-bro. Vamos disputar os rumos deste movimento unidos e fortes, ou cor-rer o risco de perder essa nova ge-ração que entra em luta?

Unir as pautas da juventude e dos trabalhadores!

É fundamental juntar as lutas da juventude com as lutas dos traba-lhadores para fortalecer ainda mais as nossas lutas. São os métodos da classe trabalhadora organizada, co-mo as greves e piquetes, que irão ata-car o coração do sistema: a produção e circulação de mercadorias, a fonte de riqueza do capital.

As bandeiras da juventude e das jornadas de junho são as mesmas da classe trabalhadora e de lutas que en-volveram os trabalhadores organiza-dos em julho. Exigimos qualidade de vida, aumento de salário e melhores condições de trabalho, serviços com maior qualidade para tod@s, saúde, educação e transporte públicos com “padrão Fifa”. A tarefa dos novos movimentos sociais é democratizar as instâncias de luta, construir os sin-dicatos de baixo para cima, organi-zando o jovem trabalhador “preca-rizado”, construindo um movimen-to unitário de trabalhadores, jovens e desempregados. A nossa luta está só começando e o sistema que se se-gure, pois vamos derrubar essas ve-lhas estruturas!

Fórum de lutas no Rio de Janeiro com participação massiva.

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movimento • 5 Ofensiva Socialista n°15 agosto/setembro - 2013

A “revolta do busão” em Natal mostrou o caminho da lutaA nova conjuntura depois de junho de 2013 é claramente mais favorável e exige que a esquerda organizada entenda as novas características dos movimentos e repense seus métodos, se quiser ganhar a confiança de quem luta.

Bel Keppler

Os fóruns, assembleias e plenárias populares que nascem pelo Brasil re-únem a esquerda e os novos ativis-tas. Em Natal e alguns municípios do Rio Grande do Norte, é centralmen-te nas plenárias da Revolta do Busão que vemos esse processo acontecer.

Em Natal, a Revolta do Busão sur-ge no segundo semestre de 2012, contra o aumento da passagem, um movimento que foi vitorioso e se tor-nou referência para a luta em outros estados. Este já foi, em parte, um reencontro da juventude que esteve presente no #ForaMicarla em 2011, que mobilizou milhares às ruas e re-sultou na ocupação da Câmara Mu-nicipal, movimento que ficou co-nhecido como a Primavera Potiguar.

A resposta dos governos às jornadas de junho nos diz: não podemos

sair das ruas!

Carlos Eduardo (PDT), prefeito de Natal, pouco tem se pronunciado diante os protestos. O presidente da Câmara Municipal, Albert Dickson (PP), por outro lado, ao transformar a Câmara Municipal em um campo de concentração, deixou clara a relação que quer estabelecer com a juventu-de, os trabalhadores e a população.

A Câmara Municipal de Natal es-tá cada dia mais fechada. Primei-ro vieram tapumes e a cerca elétri-ca. Depois veio a porta detectora de metais e a exigência de documentos e cadastramento para entrar. Ago-ra, a construção de grades de ferro. Fechar a Câmara Municipal signifi-ca fechar o canal de diálogo com a voz das ruas.

No mesmo sentido caminha a go-vernadora Rosalba (DEM). A fama de “Rio Greve do Norte” que o es-tado recebeu em 2011, agora retorna com a saúde, a educação, a polícia civil e outras categorias em greve. A governadora recusa-se a dialogar com os sindicatos e parte para uma política repressiva. Na saúde, ame-açou cortar o ponto dos trabalhado-

res parados. Na educação, cortou o salário de diretores do sindicato, um claro ataque ao movimento sindical que a CSP Conlutas precisa enfren-tar fortemente. Esse cenário só jus-tifica a necessidade urgente de orga-nização da juventude, dos trabalha-dores e do povo.

Reorganização da esquerda: é preciso avançar sem repetir

velhos erros

As plenárias da Revolta do Bu-são são um exercício de democra-cia direta e de construção de uma ferramenta política alternativa, que ressalta um caráter horizontal como contraposição às experiências bu-rocratizadas de organização da luta. Ao invés de existir um grupo ou uma pessoa autoproclamando-se direção do movimento, pouco a pouco se for-ma uma vanguarda que é reconhe-cida pelos ativistas que participam.

Nesse sentido, o movimento pas-sa por um processo de amadureci-mento, possível pela combinação dos atos na rua e os espaços de ple-nária para debater, fazer balanço e síntese das discordâncias e acordos.

A formação da Comissão de co-municação e da Comissão de comba-te às opressões representou um im-portante passo. Ainda assim, é evi-dente que temos muito que avançar. O desafio do movimento é conseguir expandir-se de fato para toda Natal, descentralizando-se, e não ficar ape-nas no eixo da Zona Sul – UFRN.

Também está previsto um Seminá-rio da Revolta do Busão para pautar eixos polêmicos, como a questão da licitação ou estatização e a luta pelo passe livre e a tarifa zero.

A posição da LSR na pauta e no modelo

de organização

Nós da LSR/PSOL estamos pre-sentes desde o início na Revolta do Busão, nas diversas manifestações, plenárias e atividades. Além disso, em 2012, aproveitamos a campanha eleitoral para defender e apoiar a lu-ta. Abrimos um espaço no programa de TV do horário eleitoral para que o movimento denunciasse a repressão que sofremos em uma das manifesta-ções e apresentamos as pautas para a população. O candidato do PSOL a prefeito, Professor Robério, tam-bém fez a denúncia e contou a ver-são do movimento, em contraponto ao que a mídia burguesa distorcia ou sequer falava, nos diversos debates entre candidatos.

Acreditamos que para conseguir de fato mudar a realidade do trans-porte público, é preciso a estatiza-ção dos transportes, com o controle social dos trabalhadores. Não temos expectativas que disputar o proces-so de licitação deva ser uma tarefa do movimento. Como um passo pa-ra a estatização, apontamos a criação de uma empresa municipal de trans-porte, o que implicaria na abertura da

“caixa preta” do SETURN, a divul-gação das planilhas de custos, bem como uma consulta popular sobre o preço da tarifa.

Em relação ao Projeto de Lei do Passe Livre para estudantes e desem-pregados, iniciativa do mandato da vereadora Amanda Gurgel (PSTU) e subscrito pelos outros dois parla-mentares da bancada da esquerda socialista – Marcos Antonio e San-dro Pimentel (PSOL), compreende-mos que seja um passo inicial na lu-ta rumo à tarifa zero, e que, portanto, deve ser apoiado e servir como um meio para canalizar ainda mais for-ças. Goiânia e Porto Alegre já mos-traram que não é utopia, e que é pos-sível fazer o passe livre acontecer.

No plano organizativo da Revol-ta do Busão, defendemos a criação de Fóruns, descentralização para ga-rantir maior participação, que sejam reflexo das grandes mobilizações de junho, envolvendo todas as regiões e garantir encontros com representan-tes de todos esses fóruns para produ-zir uma síntese do que cada região debate e delibera.

Recentemente foi convocada uma reunião para formação de um Fórum de Lutas Potiguar baseado em outra visão de movimento. Estavam pre-sentes representantes do PT, Nova Central, Força Sindical, Consulta Popular, Levante Popular da Juven-tude, CTB, CUT, SINAI e Intersin-dical. Outros grupos se incorpora-ram na atividade que formalizou a sua criação.

Diferentemente dos fóruns que surgem de norte a sul do Brasil co-mo iniciativas para superar uma bu-rocracia que certamente dificultou e ainda dificulta a mobilização da ju-ventude, da classe trabalhadora or-ganizada e do povo, esse fórum bus-ca reorganizar a luta a partir de uma superestrutura burocratizada em que grande parte de seus membros apoia o governo federal e já não correspon-dem aos interesses daqueles que fo-ram às ruas.

Não é isso que queremos. É evi-dente que as organizações políticas que estão nas lutas podem e devem participar desse espaço e disputar a sua política. No entanto, defendemos a criação de um fórum independen-te das burocracias, impulsionado pe-la base. Junho mostrou ser um gran-de marco e deixamos o recado que a juventude do Rio Grande do Nor-te não pode sair e não sairá das ruas.

Por um Encontro nacional dos movimentos de JunhoEm junho desse ano, a insatis-fação popular com a dura rea-lidade em que vivemos ganhou as ruas. Milhares de jovens e de trabalhadores do país to-do ocuparam as principais vias das cidades em manifestações e protagonizaram um momen-to histórico. O aumento das ta-rifas do transporte público foi a gota d’água para que toda uma série de reivindicações vies-sem à tona.

Felipe AlencarDCE Unifesp e Coletivo

Nacional Construção

A partir das mobilizações contra o aumento abusivo das passagens, diver-sas outras bandeiras e pautas foram in-corporadas aos atos, o que pôde ser per-cebido nitidamente de norte a sul do Brasil. Denúncias dos crimes cometi-dos pelo Estado nos preparativos da Co-pa do Mundo e palavras de ordem pelo direito à moradia, por educação e saúde de qualidade, contra a corrupção e por melhores condições de vida deram a tô-nica das chamadas “jornadas de junho”.

Assim que os movimentos se massi-ficaram, os governos tremeram: por to-do o país vimos aumentos de tarifa sen-do revogados. Conquistamos o que os governantes diziam “ser impossível” e isso mostrou a todas e todos que a luta vale a pena, que nossos instrumentos de reivindicação são legítimos e que é possível obter vitórias.

Assembleias de base

Cidades como Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Campinas e Natal constru-íram comitês de luta e assembleias po-pulares para debater os rumos e dar con-tinuidade às mobilizações. Tal experi-ência é fundamental para que os ativis-tas e militantes que compuseram os mo-vimentos de junho tenham um espaço amplo, de construção unitária, onde cai-bam diferentes perspectivas e propos-tas, de modo a organizar coletivamente os próximos passos das lutas.

Mais do que nunca, portanto, faz-se necessário concretizarmos um Encon-tro dos movimentos de Junho, um fó-rum unitário de construção coletiva das lutas que virão e que ainda estão laten-tes. É importante ressaltar a urgência da construção desse fórum, que deve ser realizado idealmente entre o segun-do semestre desse ano e o primeiro de 2014, de modo que seja inserido ainda no calor das mobilizações e, principal-mente, aponte ações coordenadas para o período da Copa do Mundo.

Nesse sentido, para que possamos dar esse passo organizativo, propomos que se organize este Encontro com ba-se em três grandes eixos: 1) Tarifa zero, já! 2) Contra a repressão e violência aos movimentos e lutadores! 3) Contra os investimentos massivos na Copa! Por investimento em Saúde e Educação!

Em vários lugares do Brasil, os comi-tês e assembleias populares mostraram que é possível organizarmos pautas uni-tárias, para nortear a luta de forma con-junta com os movimentos populares, os sindicatos e coletivos de juventude. O Encontro seria um passo inicial, mas é preciso priorizar sua organização, sa-bendo que as ruas permanecerão sendo reflexos de nossos erros e acertos, sen-do síntese das políticas que construir-mos coletivamente. Que venham cada vez mais junhos e vitórias!

Por uma síntese da radicalidade massiva de

junho com a ação grevista dos trabalhadores

As jornadas de junho apresentaram elementos decisivos para o conjunto da esquerda socialista. O sentimento anti partidário manifestado pelo mo-vimento de massas representou um re-chaço aos partidos políticos adaptados ao sistema, às organizações verticali-zadas e autoritárias, etc. Muitos jovens se utilizaram de métodos voluntaristas e de agressão a símbolos do capitalis-mo. Outros pintaram a face de verde e amarelo, porque viam na bandeira na-cional uma alternativa às bandeiras que refletiam interesses mesquinhos e não a legítima vontade do povo. A ausên-cia de uma clara referencia de classe, de esquerda e socialista, potencializou essa reação confusa, ainda que inevitá-vel no atual contexto.

Em julho, a luta incorporou outro componente com a entrada em cena das centrais sindicais e a realização de gre-ves, paralisações parciais de locais de trabalho e o bloqueio de rodovias por todo o país. O dia nacional de luta de 11 de julho levantou um elemento cen-tral para a continuidade das mobiliza-ções: a paralisação da produção e cir-culação de mercadorias. As velhas cen-trais sindicais pelegas e governistas se viram obrigadas a fazer algo para não perderem o trem da história e se des-legitimarem. Sem autoridade e respal-do, a burocracia sindical não teria for-ça para controlar e frear o movimen-to posteriormente. Ainda assim, o fa-to de que greves aconteceram repre-senta um importante avanço que deve ser aprofundado. Centrais de luta co-mo a CSP-Conlutas e movimentos so-ciais combativos como o MTST, Terra Livre, etc, devem buscar fazer avançar esse processo.

As lutas de junho e a paralisação na-cional de 11 de julho não brotaram do nada. Esse processo já vinha sendo ges-tado desde a grande greve dos trabalha-dores do setor público em 2012, quan-do mais de 300 mil trabalhadores cru-zaram os braços e foram às ruas, en-tre tantas lutas e greves de outras ca-tegorias. A tarefa de construir pela ba-se e com democracia uma greve geral de 24 horas, massiva e radicalizada, é uma forma de avançar na síntese entre o que houve de melhor em junho e ju-lho e as paralisações de 30 de agosto.A governadora Rosalba recusa

dialogar com grevistas.

A tarefa de construir pela base e com democracia uma greve geral

de 24 horas, massiva e radicalizada.

A Revolta do Busão deu continuidade às lutas de 2011-12.

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6 • 4° Congresso do PSOL Ofensiva Socialista n°15 agosto/setembro - 2013

Assim começa a tese assinada pe-la Liberdade, Socialismo e Revolu-ção (LSR), Reage Socialista, Grupo de Ação Socialista (GAS) e indepen-dentes ao 4° Congresso do PSOL, a realizar-se no final de novembro des-se ano. O debate sobre o papel do par-tido nessa nova conjuntura de lutas e as lições do balanço da trajetória do PSOL serão decisivos para o futuro do partido.

Esse debate não é novo. Nós da LSR levantamos há tempos a impor-tância de preparar o partido para mo-mentos decisivos como esse que vi-vemos. Apontamos que não somente a crise econômica vai chegar ao Bra-sil, mas deve vir acompanhada de ex-plosões sociais que, da mesma ma-neira que em outros países - devido à traição de classe de partidos como o PT - serão compostas por uma no-va geração de jovens que entram na luta pela primeira vez extremamen-te desconfiados e até mesmo hostis a todos partidos políticos, pelo menos num primeiro momento.

Por isso, para que o PSOL não se-ja julgado tal e qual os demais parti-dos, temos que nos diferenciar radi-calmente dos partidos da ordem em todos os aspectos.

A Tese sintetiza esses aspectos em três pontos principais:

1. Prioridade às lutas diretas dos trabalhadores, da juventude e do povo oprimido, colocando a dis-puta institucional a serviço des-sas lutas;

2. Funcionamento interno radi-calmente democrático, militante, participativo e baseado na orga-nização pela base;

3. Defesa de um programa e uma estratégia anticapitalista e socia-lista.

Infelizmente, o partido vem se afastando desses princípios políti-cos e organizativos e tem demostra-do uma tendência a piorar. Se o 4° Congresso não conseguir ajustar es-ses erros, o potencial do PSOL para ser porta-voz dessa nova geração de lutadores e uma importante ferramen-ta para a transformação social, sofre-rá sérias consequências.

Prioridade à luta dos trabalhadores

Nos debates, praticamente todas as correntes do PSOL sempre defende-ram que a luta social, por fora do par-lamento, é mais importante do que

a luta institucional para a transfor-mação socialista. No entanto, a ca-da eleição que disputamos, a direção majoritária do PSOL tem aprofunda-do um viés eleitoreiro.

Para garantir cargos na disputa ins-titucional, apelou para a paulatina ampliação do arco de alianças até que, nas últimas eleições, chegou a incluir até mesmo partidos da base do governo Dilma, como o próprio PT, o PPS (claramente um partido da direita, que governa aliado aos tucanos em São Paulo) e o PSC de Marco Feliciano, entre outros. Fora do “arco oficial”, foram feitas alian-ças informais até mesmo com parti-dos e representantes dos partidos ve-tados pelo estatuto de PSOL, como PSDB, DEM e PTB, como ocorrido no estado do Amapá.

Dois argumentos têm sido usados para justificar essa política. O primei-ro é o de que, embora as lutas sejam mais importantes, a conjuntura atual é de retrocesso e por isso as eleições tendem a ganhar mais peso. Em se-gundo lugar, afirmam que devemos procurar aproveitar as contradições que existem dentro do campo bur-guês para dividir os nossos inimigos.

Ambos os argumentos são falsos. O primeiro, inclusive, foi totalmen-te refutado pelas enormes mobiliza-ções de junho. Mas, por detrás desse argumento, existe também uma visão sobre a estratégia para acabar com o capitalismo, que divide esse proces-so em duas etapas: uma primeira em que a prioridade é a tomada do po-der institucional, o que permitiria a um governo radical a implementação de reformas que trariam avanços na correlação de forças em prol dos tra-balhadores para que, no futuro, nu-ma segunda etapa, esses possam tra-var a luta para derrubar o atual siste-ma capitalista, rumo ao socialismo.

Essa é a visão do setor majoritá-rio liderado por Ivan Valente e Ran-dolfe Rodrigues. Em sua tese titula-da “Unidade Socialista por um PSOL popular” essa linha fica clara, espe-cialmente nos temas internacionais.

Esquerda “viável”?

Em sua tese, Ivan e Randolfe de-fendem, por exemplo, que o PSOL deve considerar a entrada no Foro de São Paulo (um foro que inclui, jus-tamente, os partidos que são recha-çados nas ruas do Brasil afora hoje, como PT, PDT e PSB). A justificati-

va para tal é a de que se trata de uma “arena de debate e troca de experiên-cias da esquerda latino-americana. A iniciativa adquire especial relevo por ser essa a única região do mundo em que várias vertentes de esquerda tive-ram êxito em transformar insatisfa-ções em projetos políticos viáveis.” Por “projetos políticos viáveis” en-tendemos a alusão a países como a Venezuela, a Bolívia e o Equador – exatamente em um momento cru-cial em que as contradições surgi-das nesses países, onde se procurou gerir o capitalismo em prol dos tra-balhadores, estão chegando ao pon-to de ameaçar tudo o que se tinha de ideal socialista.

As contradições desses países mos-tram como é impossível criar um pro-jeto “viável” sem uma ruptura de fa-to com o sistema. A luta pelo socia-lismo é para hoje, não para um futu-ro distante.

No caso da Bolívia, por exemplo, o giro a direita do governo Evo Mora-les não só levou à greve geral recen-temente, mas também ao lançamen-to de um novo Partido de Trabalha-dores pela central COB. Esse impor-tante novo processo é ignorado por todas as teses menos a da LSR.

Outro exemplo que mostra essa vi-são é o comentário sobre a Grécia na tese de Ivan/Randolfe: “Na Grécia, o Syriza se torna referência a nível con-tinental diante do desastre ultraliberal que tritura o país, mostrando a vito-riosa combinação de luta de massas e ocupação dos espaços institucionais.”

Isso é totalmente falso! Os traba-lhadores na Grécia vêm travando uma luta heroica contra uma avalan-che de ataques aos seus direitos, já fi-zeram mais de 20 greves gerais. Mas até agora se trata de uma luta longe de ser vitoriosa, nenhum dos ataques foram barrados. Isso levou a uma si-tuação atual de grande desmoraliza-ção, mesmo se ainda há muitas lutas importantes.

Outras lições da Grécia

A razão do fracasso de barrar os ataques é a falta de estratégia para as lutas por parte dos sindicatos, que são liderados pelos socialdemocratas. Eles chamam as greves gerais como um protesto simbólico, não para der-rotar o governo e a política de auste-ridade – isso iria requerer uma ruptu-ra com os ditames da “Troika” (FMI, União Europeia e Banco Central Eu-ropeu): o não pagamento da dívida, estatizar os bancos, etc. Em todo es-se processo, o Syriza não tem con-seguido travar uma disputa contra a direção dos sindicatos e dar uma li-nha para a luta.

O Syriza acertou sim, nas últimas eleições, ao chamar por um gover-no de esquerda e levantar o tema de suspender os acordos com a Troika, o pagamento da dívida e estatizar os bancos. Mas desde as eleições o par-tido tem dado um giro a direita, fa-lando de governo de “salvação” que pode incluir todos os partidos (me-nos os neonazistas), e não tem fala-do mais de estatizações, etc.

O fato é que mesmo existindo mui-tos que ainda votam no partido como

a única alternativa viável para der-rotar a direita, existe um grande ce-ticismo em relação ao Syriza e uma maioria que não acredita que o par-tido vai implementar uma programa radical. O líder do partido, Tsipras, mostra que está se preparando pa-ra governar dentro do sistema. Não é atoa que quando ele fez uma visi-ta ao Brasil ele priorizou o encontro com Dilma e não a breve conversa com o PSOL.

Em suma, essa visão sobre a Gré-cia, onde não se enxerga as contra-dições do Syriza, sintetiza a visão de Ivan/Randolfe: “vitorioso” é se o par-tido ganhar votos, mesmo se as lu-tas dos trabalhadores perdem, por-que quem vai resolver o problema é o governo de esquerda, não as lutas. É o mesmo equívoco que a Heloísa Helena cometeu na campanha pre-sidencial 2006 quando respondeu a pergunta sobre o que ela ia fazer con-tra as ocupações ilegais de terra, di-zendo: “no meu governo não haverá ocupações, por que eu vou fazer re-forma agrária”. Como se fazer refor-ma agrária se tratasse de assinar um papel, e não de mobilizar os milhões de sem-terra para destruir as estrutu-ras de poder no campo e na cidade.

Nossa visão é a contrária a essa. Grandes mudanças só virão com o povo trabalhador mobilizado. Um governo de esquerda pode jogar um papel fundamental para inspirar e dar um foco à luta, mas em si não é su-ficiente.

Essa visão etapista, sintetizada na concepção do “programa democráti-co popular”, acaba justificando uma política de lutar por dentro da insti-tucionalidade, que leva a uma adap-tação cada vez mais às instituições e um distanciamento cada vez maior da luta pelo socialismo – mesmo num período de ascenso de massas.

Por isso não é incoerente para Ran-dolfe “taticamente” participar da ba-se do governo no senado ou aparecer em foto com Dilma apoiando sua ten-tativa desesperada de desviar as lu-tas com a proposta de plebiscito so-bre “reforma” política, num momen-to de maior debilidade do governo.

O segundo argumento, o da tática de tentar rachar os partidos do po-der, também é falso. Quando o PSOL ganhou políticos de outros partidos (como o vereador Paulo Pinheiro no Rio de Janeiro, que veio do PPS), is-so tem acontecido sem precisar fazer alianças com esses. Nenhuma aliança com o PSOL gerou crise em qualquer outro partido burguês – para eles é to-talmente normal fazer alianças com qualquer político, é algo inerente no sistema político corrupto e fisiológi-co que temos. É justamente no PSOL que isso gera crise e é incoerente.

Infelizmente, mesmo correntes que são parte do Bloco de Esquer-da do PSOL já cometeram esse tipo de equívoco. Não esqueçamos que as primeiras alianças com partidos bur-gueses que o PSOL fez em 2008 fo-ram com o PV em Porto Alegre (pelo

Por um PSOL afinado com as ruas... de luta, socialista e radicalmente democrático!

“A situação política brasileira mudou radicalmente a partir

de junho. O esgotamento do modelo lulista, que parecia eterno

e invencível para muitos, vem se somar ao já consolidado fias-

co do neoliberalismo tradicional dos tucanos. O cenário atual

da luta de classes é qualitativamente superior. O povo na rua

voltou a assumir um papel protagonista. Outro tipo de desafio,

ainda maior, se coloca diante de nós.

O fato de que o PSOL existe e persiste apesar de todas as

dificuldades dos últimos anos é em si mesmo uma vitória.

Mas, isso está muito longe de ser suficiente. O fato de termos

suportado o refluxo na luta de classes e as ilusões ‘lulistas’

não nos credencia automaticamente para essa nova etapa. As

jornadas de junho já deixaram bem claro que a esquerda so-

cialista, e o PSOL em particular, terão que (re)conquistar sua

legitimidade diante do movimento de massas.

Agora sim o PSOL terá que provar a que veio. Quando mi-

lhões tomam as ruas no Brasil e uma crise política e econômi-

ca se mostra no horizonte, é nesse momento que tem início o

nosso maior teste histórico.”

O lugar do PSOL é nas ruas!

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4° Congresso do PSOL • 7 Ofensiva Socialista n°15 agosto/setembro - 2013

MES) e com o PSB em Macapá (pe-la APS, que na época era unificada).

A política de alianças, junto com a questão de aceitar doações de em-presas para nossas campanhas elei-torais são fundamentais para defi-nir como o PSOL será visto pela no-va geração de lutadores. Pode-se tal-vez ganhar algo taticamente no cur-to prazo, mas paga-se o preço de ser visto como mais um aparato eleito-ral, preocupado somente com cargos institucionais.

Bloco de Esquerda um passo importante

As experiências negativas das elei-ções municipais 2012, especialmente os casos de Belém (com Lula e Dil-ma aparecendo no programa de TV do PSOL) e Macapá (alianças com a direita) colocam em risco o futuro do partido. Tudo isso levou a novas rup-turas nas correntes maiores e a polari-zação entre uma direita (o bloco ma-joritário atual liderado por Ivan/Ran-dolfe) e uma esquerda. Oito teses e contribuições formaram um Bloco de Esquerda que lançou um manifesto sob o título “Por um PSOL sintoni-zado com o avanço das lutas da ju-ventude, das trabalhadoras, dos tra-balhadores e do povo”. Esse manifes-to levanta temas centrais, colocando a necessidade de romper com a atu-al política de alianças e que o PSOL tem que estar longe do governismo.

O centro dessa disputa é derrotar a linha representada por Ivan/Randol-fe. Um tema que vai ser um divisor de águas é quem será o candidato do partido nas próximas eleições presi-denciais. Uma eventual candidatura do senador Randolfe Rodrigues se-ria catastrófica para o perfil do par-tido como oposição de esquerda ao governo Dilma.

Infelizmente a esquerda ainda não conseguiu se unir em torno de uma figura que possa representar um pro-grama verdadeiramente de esquerda e uma nova concepção de partido de-mocrático e socialista, como expresso no manifesto do Bloco de Esquerda.

O nome da companheira Luciana Genro foi apresentado há algum tem-po e, ainda que tenhamos diferenças políticas e metodológicas bastante conhecidas com sua corrente políti-ca, jogou um papel positivo ao colo-car a necessidade de uma candidatu-ra claramente comprometida com as posições do Bloco de Esquerda. Ho-je existem outras possíveis pré-candi-daturas da esquerda do partido. Nós, da LSR, defendemos que o Bloco de Esquerda debata democraticamente e defina por uma candidatura unitária representando uma plataforma cons-truída coletivamente.

Ainda não está claro se Randolfe será mesmo o candidato da direita do partido. Existe a possibilidade de que ele seja candidato a governador do Amapá. Nesse caso, o nome do deputado Chico Alencar poderia ser

apresentado como alternativa. Clara-mente vinculado ao setor majoritário do partido, Chico, porém, é visto por setores da esquerda do PSOL como mais aberto e democrático. Entende-mos, no entanto, que seria um erro que a esquerda abra mão de uma pré--candidatura própria em nome de um consenso em torno de Chico.

A formação do Bloco de Esquer-da é um passo importante, mas não é o fim da história. Mesmo dentro do Bloco há importantes diferenças em relação ao balanço de suas tra-jetórias passadas, concepção e prá-tica de atuação no partido e mesmo em questões programáticas. Por isso trabalhamos também para criar um polo mais consequente de esquerda socialista e revolucionária dentro do PSOL, que possa continuar esse de-bate mesmo no caso de uma vitória dessa esquerda ampla.

Programa socialista é mais necessário

que nunca!Na conjuntura atual, com a maior

crise do capitalismo de nossas vidas e um novo ascenso de lutas, é funda-mental avançar com um programa so-cialista. Infelizmente, várias das cor-rentes em suas teses recuam em pon-tos centrais. Um exemplo é a questão da dívida pública, que continua fun-damental. Quase metade do orçamen-to federal é destinada ao pagamento da dívida. Essa dívida na verdade é um mecanismo para roubar os cofres públicos e enriquecer os bancos. O que foi pago de juros e amortizações desde os anos 1980 é muito superior à dívida inicial e todos os emprésti-mos somados. Trata-se de uma dívi-da totalmente ilegítima que conso-me grande parte de nossos impostos.

O PSOL deveria defender a sus-pensão imediata do pagamento da dí-vida pública, uma auditoria indepen-dente com representantes dos movi-mentos sociais, indenizando somen-te pequenas poupanças e não aos 20 mil banqueiros e especuladores que controlam 80% da dívida.

Infelizmente, temos teses que só falam de “auditoria da dívida” (co-mo no caso das teses da APS-esquer-da: “Avançar a Resistência Popular e Defender o PSOL” e a tese de Chi-co Alencar e Coletivo Rosa Zumbi: “Para o PSOL continuar necessário”). A tese do setor do Ivan/Randolfe (a dissidência da APS e outros setores) defende continuar pagando os juros durante a auditoria colocando: “audi-toria da dívida pública (com a poste-rior suspensão do pagamento de sua parte ilegítima)”. Um tema que fal-ta também nessas teses é a necessi-dade de estatizar o sistema financei-ro, que é fundamental para começar arrancar o poder do grande capital.

A tese de Chico Alencar/Rosa Zumbi apresenta formulações vagas também em outros pontos centrais. Fala de “crítica à agenda de privati-zações” e “revisão de privatizações suspeitas, como a da Vale” ao invés de dizer claramente NÃO às privati-zações e a suspensão de todas as pri-vatizações, pois todas colocaram o patrimônio público a serviço do lu-cro de uma pequena elite. A tese fa-

la também vagamente de “questiona-mento do ‘dogma’ do superávit pri-mário”, não claramente da necessi-dade de por um fim a essa política neoliberal.

Linha para as lutas

Outro tema fundamental na con-juntura atual é construir uma alter-nativa para o movimento de massas. Esse é um tema que mereceria um tratamento melhor nas teses. Em um extremo temos a tese do Chico Alen-car/Rosa Zumbi que simplesmente ignora a explosão de lutas de junho, até falando de uma “conjuntura mui-to difícil para a esquerda fiel aos seus princípios”. A tese de Ivan/Randolfe levanta que “um dos maiores desa-fios dos partidos da esquerda socialis-ta em nosso país é tirar todas as con-sequências das jornadas de junho” e que devemos nos debruçar sobre as causas de repulsa aos partidos que também atinge o PSOL. Mas a tese não dá respostas, somente entra em temas internos, como a necessidade de politica de autofinanciamento (que sim é necessária) e regras mais claras para a Comissão de Ética!

Mas mesmo as teses da esquerda não acertam sempre o alvo. A tese do Enlace, CSOL e outros (“Democra-cia real já, nas ruas e no PSOL”) co-metem o equívoco de menosprezar o dia nacional de lutas de 11 de julho. Apesar do 11 de julho ter sido uma iniciativa das grandes centrais gover-nistas, burocráticas, de cima pra bai-xo, ela teve uma participação impor-tante de setores de esquerda como a CSP-Conlutas, e introduziu no mo-vimento os métodos de luta da classe trabalhadora: greves e paralizações. A tese assinada pela LSR enfatiza a necessidade de juntar os melhores elementos de junho e julho: as mo-bilizações de massas, os fóruns de-mocráticos de luta que surgiram e as greves que atingem o poder econô-mico. Essa síntese seria possível se fossem feito encontros dos fóruns, movimentos e sindicatos que parti-cipam nas lutas, locais, regionais e finalmente se juntando num encon-tro nacional para discutir um progra-ma de ação e plano de lutas para cul-minar numa greve geral de 24 horas construída pela base.

A questão da reorganização do mo-vimento sindical e popular não é um tema secundário. Isso fica claro quan-

do observamos a situação na Europa onde as greves gerais impulsionadas pela pressão por baixo ainda aconte-cem sob o controle da antiga buro-cracia sindical. A maioria das teses tem uma visão de que é impossível superar a fragmentação da esquerda sindical e defende que o PSOL im-pulsione uma nova central, consoli-dando essa fragmentação.

Nós, que participamos na CSP-Con-lutas, lutamos pela reorganização do movimento sindical que passa pela unificação das diferentes iniciativas, numa central sindical e popular de-mocrática e de luta. Sabemos que é um processo difícil, mas necessário se vamos começar a desafiar as cen-trais governistas. Isso requer superar uma visão que predomina na esquer-da em que cada um defende o seu pe-queno aparato a qualquer custo, tra-tando todos os outros como inimigos.

Partido radicalmente democrático

As teses assinadas pela LSR tem sempre levantado o importante te-ma de concepção de partido. O cur-so negativo do partido, que levou ao abandono dos núcleos e estruturas democráticas, em prol de uma dispu-ta centrada em quem controla o apa-rato, baseada em filiações em massa sem critérios políticos, infelizmente continua. O atual processo congres-sual não é diferente. O que prevalece é a contagem de votos obtidos através dos mesmos métodos que ajudaram a distorcer o PT (manobras, ônibus que levam filiados que pouco sabem do que se trata, etc.) ao invés de deba-te político fraterno. A cada congres-so o funil fica mais apertado, tornan-do mais difícil eleger delegados ao congresso. A tendência é um partido cada vez mais controlado por cima e pelos mandatos com uma base pou-co politizada, sem poder e passiva.

A conclusão necessária é que se a conjuntura mudou, o PSOL tam-bém precisa mudar. Precisamos de um PSOL a altura das lutas de ju-nho, que possa ajudar esse movimen-to a dar um salto de qualidade para começar a questionar o próprio sis-tema. Para isso é necessário que o PSOL aprenda com os seus erros, mas também com os erros que leva-ram à perda do PT. Ainda há tempo! O 4° Congresso é fundamental nes-sa disputa sobre os rumos do PSOL.

Por um PSOL afinado com as ruas... de luta, socialista e radicalmente democrático!

O lugar do PSOL é nas ruas!

Randolfe com Dilma: não representa a base do PSOL.

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8 • nacional/sindical Ofensiva Socialista n°15 agosto/setembro - 2013

Greve dos trabalhadores da saúde do Rio Grande do NorteA greve da saúde do Rio Gran-de do Norte teve início em pri-meiro de agosto devido a não negociação do Governo do Es-tado sobre a pauta da reivin-dicação da Campanha Salarial 2013.

Sônia Godeiro e José WilsonOposição do Sindsaúde do

Rio Grande do Norte

No mês de julho de 2013, o gover-no Rosalba anunciou que o Estado estava quebrado e que iria atrasar o pagamento da folha. A folha de ju-lho saiu em dia, mas sem o pagamen-to de 1/3 de férias, funções gratifi-cadas e a não incorporação das gra-tificações da saúde. Isso foi a faísca para o início da greve que saiu mais forte do que a direção do Sindsaú-

de esperava, principalmente na ca-pital. Até o momento o interior não parou, o que é ruim para enfrentar um governo duro como este do DEM e PMDB.

A greve é o resultado da péssi-ma situação da saúde pública no Rio Grande Norte. Faltam leitos, UTIs, medicamentos e pessoal. Corredo-res de hospitais estão lotados, hou-ve fechamento de pediatrias e a re-de básica de saúde dos municípios e da capital não funcionam. Devido a este quadro, a governadora Rosal-ba enfrenta uma rejeição de 80% da população.

Após o início da greve, houve ne-gociação em que governo se com-prometeu a pagar a incorporação de gratificações ao salário, correspon-dente a 25%, referente a uma Lei aprovada em setembro de 2012, re-

troativo a julho, bem como o paga-mento das férias.

Além disso, foi criada uma comis-são paritária para rever num prazo de 45 dias o plano de carreira que está defasado. Condicionou o cum-primento destas propostas ao fim da greve. A assembleia rejeitou o re-torno ao trabalho, mas a direção do Sindsaúde/RN rebaixou a nossa pau-ta de reivindicação de 19 para ape-nas 5 pontos.

A nosso ver, essa medida foi equi-vocada, pois proporcionou um ata-que do governo na imprensa ao afir-mar que dos 5 pontos que o sindicato apresentou, ele já havia atendido 4 e que, portanto, não tinha mais senti-do a greve. Vale ressaltar que 4 des-tes 5 pontos já são leis, o que falta é o cumprimento por parte do gover-no estadual.

A greve enfraqueceu a partir da segunda semana quando o governo Rosalba partiu para o ataque amea-çando desconto dos dias parados e a suspensão da produtividade e dos plantões eventuais (extras). No iní-cio, as passeatas foram boas, mas houve uma redução significativa no número de pessoas nas últimas que foram realizadas.

Além da saúde, pararam também em agosto, a polícia civil, ITEP e os professores estaduais. Entretanto, o grande problema é que não houve uma unificação da luta de todas es-sas categorias. É tarefa da direção do Sindsaúde buscar de forma incansá-vel a unidade de todo o funcionalis-mo estadual para que possamos en-costar o governo Rosalba na parede e ter todas as nossas reivindicações atendidas.

Novo Movimento de metalúrgicos de MinasO Movimento por Indepen-dência e Democracia na Fe-deração Sindical e Democrá-tica dos Trabalhadores Meta-lúrgicos de Minas Gerais (FS-DTM-MG) foi lançado na Ple-nária da Federação dos Meta-lúrgicos, realizada nos dias 28 e 29 de junho em Divinópolis. Esse Movimento é filiado ao Bloco de Resistência Socialis-ta – Sindical e Popular (BRS) e foi fundado no dia 16 de ju-nho, em um Seminário realiza-do em Itajubá.

Alexandre (Nhonho), Maurício, Silvio Motoboy, Rubens, Pastor, Lazinho,

Jorge e MúcioDiretores e militantes do

Sindicato dos Metalúrgicos de Itajubá-MG

Esse Movimento não tem esse no-me por acaso. No último período, a Federação dos Metalúrgicos, filia-da à CSP-Conlutas, tem funcionado como uma mera extensão da políti-

ca definida in-ternamente por um partido po-lítico.

Não somos contra os parti-dos. Ao contrá-rio. Entende-mos que é pro-gressivo quan-do os trabalha-dores resolvem construir e se organizar em seus próprios partidos.

O problema está quando os partidos não só bus-cam defender a sua política dentro dos sindicatos, mas também, atrelá--los a si. Na maioria das vezes, pa-ra consolidar este atrelamento, estes partidos acabam com a democracia interna e colocam os interesses de sua construção partidária acima dos interesses históricos da nossa classe.

Com isso, há um processo de buro-cratização acompanhado de desvios de conduta de seus dirigentes, como

é o caso do assédio moral, privilé-gios materiais ou mesmo indícios de desvios de recursos financeiros dos sindicatos e dos trabalhadores. Infe-lizmente, parte dessa realidade tem ocorrido com a nossa Federação e em alguns dos seus sindicatos filia-dos. As decisões não são tomadas de-mocraticamente nas instâncias, pois já foram definidas previamente em reuniões internas do PSTU.

As opiniões diferentes, na maioria

das vezes, são desconsideradas sem qualquer tipo de debate, pois vive-mos uma ditadura dos caciques que impõem a qualquer preço, a políti-ca do seu partido aos nossos sindica-tos. Quando sofrem resistência, tra-tam como inimigos os que ousaram questionar a sua política.

É exatamente por não aceitar es-sas práticas e métodos da direção majoritária da nossa Federação que estamos construindo o Movimento e convidamos todos os companheiros (as) metalúrgicos que tenham acordo com as nossas críticas para que par-ticipem conosco, para construirmos uma nova direção para a Federação e seus sindicatos filiados.

• Independência política e finan-ceira da Federação dos Metalúrgi-cos e dos seus sindicatos filiados de patrões, governos e partidos.

• Garantir a Democracia Operária em todas as instâncias da Federação e dos seus sindicatos filiados.

• Organização pela base, ação di-reta e unidade dos nossos sindica-tos para obter conquistas e derrotar os ataques de patrões e governos.

Rio das Ostras inserida nas lutas! As lutas de junho que ocorre-ram em todo o país também desenharam o novo cenário de Rio das Ostras. A cidade do in-terior fluminense com popula-ção próxima a 115 mil pesso-as levou por dois dias segui-dos, 20 e 21 de junho cerca de 9 mil pessoas às ruas. Este ce-nário de lutas que eclodiu na cidade vem sendo construído há alguns anos pelos movimen-tos sociais.

Jonathan MendonçaProfessor da rede municipal de Rio das Ostras e Macaé,

militante do Luta Educadora e do Vem pra Rua Rio das Ostras.

Com a nova eleição de Sabino (PSC), a população tinha ilusões de que os desmandos do governo Car-los Augusto (PMDB) seriam supe-rados. Desde então, já evidenciáva-mos de que um novo governo Sabi-no configuraria a continuidade ao projeto de Carlos Augusto.

O Governo Verde/Azul já se ini-ciou com grandes conflitos com os servidores públicos municipais. Is-so, somado à onda de mobilizações, gerou a maior paralisação da educa-ção da história de Rio das Ostras, que obrigou o prefeito a atender algumas de nossas reivindicações.

Avançar com unidade

Ocorreu mobilização de diversas outras categorias como a dos guar-das, motoristas, merendeiras, auxi-liares de desenvolvimento infantil, etc. Infelizmente, o SindServ (Sindi-cato dos Servidores Públicos Muni-cipais), privilegiou a luta institucio-nal, que dividia as categorias, e não resgatou as ferramentas dos traba-lhadores como paralisação e greves.

Para nós este é o momento de se construírem pautas unitárias para to-dos estes movimentos, de maneira a se estabelecer uma greve ampla na cidade e conseguir avançar nos di-reitos destes trabalhadores, bem co-mo no serviço público municipal.

Além dos servidores, outros seto-res da população continuaram mo-bilizados após junho por conta dos grandes problemas que a cidade en-frenta. A violência já causa pânico na população. Mantém também um ín-dice de estupros absurdo (como no caso da menina Gabrielly que ga-nhou repercussão nacional na gran-de mídia) e por isso a população or-ganizou o Movimento “Chega de Es-tupros em Rio das Ostras”.

Além disso, o saneamento bási-co, saúde e educação, sem falar da questão dos transportes (Monopólio regional da 1001) afligem todos os moradores. Soma-se a isso a falta de transparência no destino dos recur-sos públicos.

O movimento “Vem Pra Rua” criou uma extensa pauta com cerca de 90 reivindicações e apresentou ao Prefeito Sabino que deu respos-tas evasivas à maioria delas e o mo-vimento continua construindo ações políticas na cidade.

O “Vem Pra Rua Cultural” é uma delas que pretende ocupar praças e

ruas fazendo o debate político com a população com púlpito popular livre.

Além disso, organizamos o “Fora Cabral!”, quando o desGovernador veio lançar dois programas sociais.

O Grito dos Excluídos é o próximo grande ato que ocorrerá na cidade. Nos últimos dois anos houve gran-des manifestações e este ano tende a ser maior.

Por conta disso, a Prefeitura já se demonstra preocupada, propondo até o cancelamento do desfile da Inde-pendência ou, ainda, que a Educação, que é o setor que traz mais pessoas para as ruas neste dia, não participe.

Por um Fórum Permanente dos Movimentos Sociais!

Por isso tudo, nós da LSR defen-demos a criação de um Fórum Per-manente dos Movimentos Sociais de Rio das Ostras.

O povo foi para a rua e mostrou que não está de bobeira, nossa luta está só começando e muitas conquis-tas estão por vir!

MOVIMENTO POR INDEPENDÊNCIA E DEMOCRACIA NA

FSDM-MGBLOCO DE RESISTÊNCIA

SOCIALISTASINDICAL E POPULAR

Reforma da educação municipal de São Paulo: mais uma mentira de HaddadA reforma da educação muni-cipal anunciada no dia 15 de agosto por Fernando Haddad (PT) não passa de mais uma mentira que constará no cur-rículo do prefeito Pinóquio.

Dimitri SilveiraProfessor da Rede Municipal de São Paulo, do Sinpeem e

Educadores Socialistas na Luta

Depois das manifestações de ju-nho e com a disputa eleitoral de 2014 em curso, Haddad pretende “mostrar serviço” na área da edu-cação, sob risco de ser um ponto fraco do PT nas próximas eleições, pois foi ministro da Educação.

Esta reforma, portanto, tem dois objetivos. O primeiro é restaurar a imagem do prefeito, que ficou des-gastada em função do aumento da tarifa de ônibus e a subsequente re-volta que isso provocou. O segun-do é se credenciar como o prefei-to que mudou a história da edu-cação municipal e, para isso, pre-tende aumentar o Índice de De-senvolvimento da Educação Bá-sica (Ideb) na cidade de São Pau-lo a qualquer preço.

É certo que esta reforma não trará nenhum avanço. As mudan-ças são cosméticas e não atacam o centro do problema. Se o objetivo fosse realmente melhorar a quali-dade do ensino, a reforma deve-ria garantir melhores condições de trabalho aos profissionais da edu-cação, expressiva redução do nú-mero de alunos por sala e remune-ração decente capaz de libertar os professores do acúmulo de cargos.

Os engodos do programa “Mais Educação São Paulo” já estão sen-do evidenciados. Em entrevista ao site UOL, a professora pesquisa-dora da Unifesp Márcia Apareci-da Jacomini dispara: “Eu tiro a au-tonomia do professor [sua “auto-ria” no processo] e acho que ele vai formar um aluno autor?”, se referindo ao “Ciclo Autoral” cria-do pelo programa.

A reforma está impregnada com ideias retrógradas e já se mostra-ram nocivas à educação, como a repetência dos alunos, ensino de tempo integral sem estrutura, con-vênios com organizações não go-vernamentais e privatização. Alu-nos, pais e profissionais do ensino sequer foram chamados para con-tribuir com suas propostas, o que mostra o conteúdo antidemocrá-tico e demagógico desta reforma.

Haddad quer se promover às custas da tragédia em que se trans-formou a educação pública muni-cipal. Não podemos aceitar isso! Devemos retomar nossa luta e dar resposta a essa mentira nas ruas!

Haddad: prefeito Pinóquio.

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opressões/movimento • 9 Ofensiva Socialista n°15 agosto/setembro - 2013

No fim de semana dos dias 20 e 21 de julho houve, em Reci-fe, o primeiro seminário do Tri-bunal Popular do Nordeste. Es-tiveram reunidos diversos mo-vimentos populares da região nordeste, que atuam em lutas pela libertação da terra, pela reforma urbana e agrária, e pe-la cultura de resistência da pe-riferia.

Thaís Kubikmilitante do Terra Livre

Militantes dos movimentos Terra Livre (entre eles, dezenas de morado-res das ocupações Tijolinho Verme-lho-Paraíba, Novo Amanhecer-Ser-gipe e Alagoas), Tribunal Popular, Resistência Popular, Movimento dos Trabalhadores Cristãos, Grupo Cul-tural POESIS (Recife), além de mi-litantes do PSOL, representantes da Associação dos Geógrafos Brasilei-ros e independentes (entre eles mo-radores do assentamento Sítio Ága-ta, Zona da Mata norte de Pernambu-co) puderam conversar sobre as prin-cipais ameaças do capital e nossas es-tratégias conjuntas para derrubá-lo.

Uma das mais alarmantes amea-ças do capital, e que a esquerda co-mo um todo tem pouco discutido, são os megaprojetos de infraestru-tura do IIRSA (Iniciativa para a In-tegração da Infra-Estrutura Regional Sul-Americana). O IIRSA, iniciado

nos anos 2000 com a participação de 12 países da América do Sul, é uma rede de relações comerciais en-tre países e bancos com o foco de-senvolvimentista em comunicações, energia e transportes. No Brasil, es-tá estreitamente relacionado ao PAC (Programa de Aceleração do Cresci-mento), principal responsável pelos inúmeros despejos de comunidades pobres que ocupam e “atrapalham” o desenvolvimento dos megaempre-endimentos.

A ameaça do IIRSA

A influência do IIRSA sobre a or-ganização no campo também é evi-dente: o modelo do agronegócio ex-pulsando o homem do campo e sen-do substituído pela mecanização em grandes áreas de monocultura de um dono só. Mesmo na região nordeste, o agronegócio avança com os trans-gênicos exterminando a biodiversi-dade, e juntamente as comunidades tradicionais, indígenas e quilombo-las, e mantendo a escravidão humana.

No Tribunal Popular do Nordeste também foi discutida a importância da organização e da comunicação entre os diversos movimentos pa-ra barrar, no campo e na cidade, os despejos truculentos. Uma das prin-cipais tarefas de todos os participan-tes do seminário foi a construção de uma cartilha contra despejos, tanto para proteção das famílias ocupan-

tes como para a ação conjunta das organizações.

Ainda no campo, foi discutida a importância de assegurar a produção alimentar e a resistência dos assenta-mentos, evitando-se que os agricul-tores tenham que sair do campo pa-ra ir para morar nas periferias e fa-velas dos grandes centros urbanos.

O latifúndio, as monoculturas e os despejos fizeram parte de inúmeros poemas e intervenções teatrais que aconteceram no seminário. A arte, como forma de resistência, tem sua função de denúncia e de forma de unificar as diversas bandeiras das or-ganizações do seminário, que mes-mo com linhas políticas diferentes (movimentos anarquistas, correntes trotkistas, cristãos, etc.), têm inimigo em comum: o grande capital.

Um consenso dos Grupos de Dis-cussões do seminário foi sobre a di-ficuldade da esquerda em construir lutas conjuntas, especialmente na re-gião Nordeste, deixando que as di-vergências políticas tomem a frente e dificultem a luta contra o capital, a exploração contra o homem e a terra.

Atividades e lutas conjuntas, cons-truídas pelo Tribunal Popular do Nordeste, devem, portanto, ser to-madas como prioridade. E é essa a função do Tribunal Popular do Nor-deste: unificar as lutas para fortale-cer as organizações combativas e ar-rancar vitórias do povo do campo, da cidade e da floresta.

Estatuto do nascituro: vamos barrar esse ataque! Um novo ataque contra as mu-lheres entra em cena no ce-nário nacional: o estatuto do nascituro, um projeto de lei de 2007 que recentemente saiu da gaveta, tido como “viável” pela Comissão de Finanças da Câmara dos deputados.

Cristina Fernandes

O projeto considera que o nasci-turo é o “ser humano concedido e não nascido”, e desde a fecundação dispõe “proteção integral”.

Vale lembrar que a uns meses atrás o Conselho federal de medi-cina brasileiro em nota declara posi-ção favorável a legalização do abor-to até a 12° semana de gestação, en-tendendo que esse tema é um caso de saúde pública. Uma conquista importante para o movimento fe-minista.

Bolsa estupro: uma dupla condenação!

O Estatuto entende o aborto co-mo crime hediondo, mesmo quan-do a gravidez coloca em risco a vi-da da mulher, ou em caso de violên-cia sexual, propondo até uma “bol-sa estupro” para que a mulher possa manter a criança fruto da violência até os 18 anos de idade. Ou seja, ela será duplamente penalizada e viola-da: pelo estuprador e pelo Estado.

Isso nada mais é que um ataque ao direito sobre nossos corpos. Es-sa lei coloca-nos na posição de me-ras reprodutoras, como “sacos” de-positários, podendo nos obrigar até a reconhecer como “pai” da crian-ça o estuprador.

“Lugar de estuprador é na cadeia e não na certidão”!

Mulheres gestantes que tem pro-blemas de saúde terão que colocar em primeiro lugar a “vida” de um “não nascido”. O Estatuto do Nas-cituro, se aprovado, criminalizará a mulher mesmo em casos de abortos espontâneo, se opõe também a re-produção em vitro e mesmo a pes-quisas com célula tronco.

Esse projeto é uma volta a ida-de média, é sem sombra de dúvida um retrocesso em relação a direitos já conquistados, como o direito ao aborto em casos de estupro, anen-

cefalia e casos de risco a vida da mãe. Além disso, evidencia a cor-rida conservadora e fundamentalis-ta contra o Estado Laico.

A questão do aborto

O aborto tem que ser visto como uma questão de saúde pública e co-mo um direito da mulher de decidir sobre seu próprio corpo.

Hoje no mundo mais de 47 mil mulheres morrem todo ano tentan-do fazer um aborto ilegal. Isso nos mostra que a proibição não impe-de que abortos sejam feitos, mas faz com que milhares de mulheres pobres morram, pois quem tem di-nheiro poderá pagar uma clínica on-de fará os procedimentos de forma mais segura.

Em seis meses de legalização do aborto no Uruguai foram realiza-do 2.500 abortos, de forma segu-ra e sem nenhuma morte. Segundo o ministério de saúde pública esses números colocam o Uruguai entre os países com o menor número de aborto. Contrariando argumentos que dizem que a legalização seria um incentivo a pratica.

Ano que vem acontece às elei-ções, e não queremos que esse te-ma que é tão fundamental a nós mu-lheres se torne moeda de troca co-mo aconteceu nas eleições presiden-ciais quando Dilma muda de posi-ção somente para ganhar a banca-da evangélica.

A importância de lutar contra o estatuto

Lutar contra o estatuto do nas-cituro é também uma luta pelo es-tado laico, onde o estado não seja influenciado por questões religio-sas. Vemos uma onda conservado-ra, de uma bancada reacionária que tenta aprovar projetos que são uma afronta aos direitos humanos, como a cura gay, que foi derrubado graça as mobilizações populares.

Já aconteceram protestos contra o estatuto do nascituro no Brasil in-teiro. E as mobilizações irão conti-nuar até que derrubemos esse pro-jeto, pois nós mulheres temos que ter o direito de decidir sobre nos-sos corpos.

Educação sexual para prevenir, contraceptivo para não engravi-dar e aborto legal e seguro para não morrer!

Desde a grande inundação pro-vocada pelo fechamento das comportas da barragem da Pe-nha em 2009, o Governo do Es-tado (PSDB) e a Prefeitura de São Paulo (na época, DEM) prometeram resolver os proble-mas de moradia e, até agora, nada. Bastaram os holofotes da mídia saírem da área que o governo também deu as costas para os problemas.

Marzeni Pereira

No final de 2009, o bairro Jardim Pantanal, situado na várzea do Rio Tietê, que compreende vários bair-ros da zona Leste da cidade de São Paulo, foi inundado pelo esgoto do Rio Tietê por cerca de 40 dias. Ce-nas de sofrimento e agonia da popu-lação pobre e trabalhadora trazia in-dignação ao país inteiro.

Mas, por trás da inundação, exis-tia a intenção do governo paulista de remoção forçada dos moradores e lá, construir um parque linear para tor-nar a região mais aceitável aos olhos dos turistas que viessem para a Copa do Mundo e para o setor imobiliário.

Entretanto, a população estava bem organizada e resistiu. Através do MULP (Movimento de Urbaniza-ção do Jardim Pantanal) e Terra Livre, de imediato denunciaram a atitude criminosa do governo do estado em fechar as comportas da barragem da Penha para provocar as inundações.

Diante do desgaste, o governo tu-cano e a prefeitura logo encontra-ram 11 terrenos e os tornaram de in-teresse social para construir casas,

para vender ao povo desabrigado. Queria fazer os trabalhadores acre-ditarem que estaria resolvido proble-ma da moradia. Mas era pura propa-ganda, como o MULP e Terra Livre já denunciavam na época. Inclusi-ve, um dos terrenos, na Vila Curu-çá, foi ocupado pelas famílias desa-brigadas – imediatamente a prefei-tura junto com proprietário, devedor de 14 anos de IPTU, pediram reinte-gração de posse.

Nenhuma casa até agora

Resumindo: até hoje, não foi en-tregue uma única casa construída nesses terrenos para nenhuma famí-lia do Jardim Pantanal.

Pois bem, recentemente soubemos que foi definido um novo limite pa-ra a área de remoção pelo Departa-mento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) e pelo Conselho Gestor da

Área de Proteção Ambiental (APA). Mas e as famílias atingidas para on-

de vão? Porque tanta enrolação para construir moradia e pressa para remo-ver? Veja que milhares de pessoas fo-ram retiradas de suas casas e coloca-das no vale aluguel de miseráveis R$ 300,00 e depois de quatro anos apare-cem de novo com a ideia de remoção!

Outra recente notícia é a de que uma empresa irá construir cerca de 420 apartamentos no Jardim Roma-no, em São Paulo. Mas não são apar-tamentos para as famílias do Jardim Pantanal, apesar de ficar dentro do bairro, mas sim para especulação imobiliária.

Agora está confirmado o que o MULP vinha dizendo: O problema do Pantanal não são as enchentes! Pois é possível urbanizar e morar com dignidade nesse bairro. O pro-blema são os interesses dos empre-sários e dos governos que querem re-mover o povo para passar a área pa-ra a especulação imobiliária.

Uma coisa é certa, se os morado-res do Jardim Pantanal não se levan-tarem de novo, os interesses da bur-guesia através da especulação imo-biliária, vão colocar milhares de fa-mílias no olho da rua.

Terrenos estão cada vez mais caros e mais difíceis de encontrar em boa localização, a Copa vem aí, o pro-jeto eleitoreiro do parque linear es-tá sendo implantado aos poucos e o discurso de que é necessário prote-ger a área ainda permanece.

Então, às moradoras e morado-res, militantes do movimento popu-lar, resta uma saída: Organizar-se e ir à luta!

Tribunal Popular do Nordeste: unificando as lutas!

Jardim Pantanal: entre o povo e a especulação imobiliária

Lugar de Mulher é na Luta!No último período vimos o po-

vo ocupar as ruas, destes 61% eram mulheres. Isso mostra que vive-mos um período de fortalecimen-to da luta em geral, e, sobretudo da pauta feminista.

As mulheres ocupam as ruas e trazem suas demandas por: mais creches, combate a violência sexis-ta, pela legalização do aborto, con-tra o estatuto do nascituro, trabalho igual salário igual, dentre outros.

O 1º Encontro Nacional do Mo-vimento Mulheres em Luta é mo-mento de reunir todas as expres-sões da luta das mulheres. Quere-mos reunir aquelas mulheres que há tempos militam em movimen-tos sindicatos, as que fizeram gre-ve pela primeira vez, as que fo-ram parte ou não das manifesta-ções, mas que olharam com simpa-

tia para esse novo momento. Que-remos reunir as diversas esperan-ças depositadas nessa nova onda de lutas. E transformar essas es-peranças em ação e organização.

Venha ser parte desse momento, venha reunir todos os gritos con-tra o machismo, a discriminação, o preconceito e a exploração. É mo-mento de reunir a explosão da ju-ventude com a força transforma-dora da mulher trabalhadora. É o momento para organizar nossa lu-ta. É momento de revolucionar. Ve-nha participar!*

Dias 04-06 de outubro de 2013Sarzedo - MG (região metropo-

litana de Belo Horizonte)

*Partes que compõem na íntegra o Jornal de divulgação do Encon-tro do MML.

Após enchentes em 2009: nenhuma casa, muita enrolação

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10 • internacional Ofensiva Socialista n°15 agosto/setembro - 2013

Militares no Egito tentam consolidar seu poder com banho de sangueÉ urgente a ação independente dos trabalhadores para enfrentar os militares e o sectarismoMilhões pelo mundo, e espe-cialmente no Oriente Médio, fi-caram chocados com a mor-te de centenas de pessoas, em sua maioria desarmadas, na re-moção brutal de dois acampa-mentos pró-Mursi em Cairo pe-los militares.

Robert Bechert, CWI

Embora considerável, as recentes manifestações de apoio ao presidente deposto Mursi não têm sido tão gran-des quanto os gigantescos protestos anti-Mursi há dois meses. Na verda-de, os acampamentos pró-Mursi, en-quanto um elemento de irritação pa-ra o novo regime liderado pelo exér-cito não representava nenhuma ame-aça direta e imediata.

O momento e brutalidade da ação militar foi fundamentalmente uma demonstração de força pelos gene-rais, para servir como um alerta pa-ra intimidar seus adversários atuais ou futuros.

É por isso que já há questionamen-to e oposição a este ataque organiza-do pelos generais corruptos que não têm nenhuma credencial “democráti-ca”, inclusive daqueles que têm pou-ca ou nenhuma simpatia pelos obje-tivos da Irmandade Muçulmana. Há temores justificados que esta é uma tentativa de começar o reestabele-cimento do “Estado de segurança” de Mubarak sob uma nova lideran-ça. Este ataque aprofundou imensa-mente a polarização na sociedade, mas esta não é em linhas de classe, mas cada vez mais entre os pró ou contra as ações da direção das For-ças Armadas.

Há relatos de grupos de autode-fesa, tanto pró e anti-Mursi, sen-do construídos em diferentes partes do Cairo. Nossa proposta é que tais agrupamentos devem ser democráti-cos e unir-se como parte de um mo-vimento do povo trabalhador mais amplo, não-sectário, com o objeti-vo de tomar o controle de suas vidas.

Mas, se não houver nenhum movi-mento independente organizado pe-la classe trabalhadora, e se a batalha atual sobre o futuro do Egito for sim-plesmente travada entre os generais e as forças religiosas conservado-ras, esses eventos ameaçam descar-rilhar seriamente a revolução que co-meçou em 2011. Organizações sin-dicais e dos trabalhadores genuínas são a única força capaz de unir to-

dos os setores da sociedade em uma batalha contra ditadura e a explora-ção capitalista.

Imediatamente após a remoção de Mursi como presidente, o CIT aler-tou que o sequestro pelos generais egípcios das gigantescas mobiliza-ções de junho e julho, que chega-ram a reunir 17 milhões de pesso-as, preparava a base para eles toma-rem o poder.

A brutalidade do despejo dos acampamentos e da repressão san-grenta dos protestos posteriores, deu um vislumbre de como os generais gostariam de lidar com toda a opo-sição.

Ataques aos trabalhadores

Agora são os manifestantes pró--Mursi que estão sendo esmagados, mas apenas dois dias antes do mas-sacre nos acampamentos pró-Mursi do dia 14 de agosto, o regime havia investido contra uma ocupação dos trabalhadores da siderúrgica Suez Steel, prendendo dois dos líderes.

Enquanto o ataque em Suez Steel mostrou o caráter de classe dos ge-nerais, não foi uma experiência no-va para os trabalhadores no Egito pós-Mubarak. Anteriormente, o go-verno de Mursi também havia mos-trado seu caráter capitalista, quando forças de segurança atacaram em fe-vereiro uma ocupação na fábrica de cimento Portland Cement, em Ale-xandria.

Desde a remoção de Mursi do po-der no dia 03 de julho, os líderes militares, sob comando do general al-Sisi, têm trabalhado para conso-lidar o poder em suas próprias mãos. Antigas unidades de segurança da era Mubarak foram reativadas. Dois terços dos novos governadores pro-vinciais anunciados em 13 de agosto ou eram generais do exército ou da polícia, alguns com “histórico fla-grante de hostilidade à Revolução de 2011” (conforme The Economist, em 17 de agosto).

Um comentarista disse que “O que o Egito tem visto desde o golpe, foi o retorno sistemático do Estado po-licial e militar através de prisões ar-bitrárias, repressão da mídia e do disparos contra manifestantes [...] O aparato de segurança está se vin-gando dos últimos dois anos, quan-do se sentiu ameaçado pela possibi-lidade de qualquer nova ordem que acabaria por responsabilizá-los por seus crimes. Desde o golpe, dá pa-ra sentir que tomaram o controle no-vamente e estão prontos para bater duro contra qualquer um que desa-fiá-los, independentemente da sua ideologia”(The Guardian, em 16 de agosto).

Mas os militares não simplesmen-te encenaram um golpe, eles afirma-ram falsamente que estavam agindo em nome do poderoso movimento contra o governo de Mursi. Os ge-nerais foram capazes de assumir o controle, porque, infelizmente, es-te magnífico protesto de milhões de pessoas não tinha seus próprios re-presentantes e liderança independen-tes, capazes e dispostos a mostrar como esse movimento poderia to-mar o poder.

O fato dos militares tomarem o po-der permitiu que os líderes da Irman-

dade Muçulmana se apresentassem como defensores da democracia, ape-sar de métodos cada vez mais autori-tários, que estavam sendo usados du-rante a breve presidência de Mursi. Ao mesmo tempo, não pode haver dú-vida de que entre aqueles que apoia-ram a queda de Mursi, a crueldade de despejo dos acampamentos e da bru-tal repressão dos protestos, além do modo com que os generais estão con-solidando seu poder, vão servir para levantar dúvidas e oposição. No en-tanto, isto não irá se desenvolver au-tomaticamente em uma linha reta.

O sectarismo crescente, mostra-do nos ataques às igrejas da minoria cristã, porque os líderes cristãos são considerados apoiadores dos milita-res, pode significar que o exército se-rá visto, por alguns, como uma pro-teção contra o conflito religioso e o desenvolvimento da violência jiha-dista. Mas isto não é o caso.

Na verdade, a remoção de Mursi pelos militares e o apoio recebido de muitos governos estrangeiros, em si, vai abastecer guerrilha islâmica e a atividade terrorista, se os apoiadores dos partidos islâmicos de direita ti-rarem a conclusão de que a estraté-gia de conquistar o poder por meio de eleições da Irmandade Muçulma-na falhou. O impacto desses eventos será sentido em todo o Oriente Mé-dio, e além.

Pela organização independente dos

trabalhadores e uma democracia socialista

O perigo da situação é, como o CIT escreveu anteriormente, que no momento só “parece ser uma batalha liderada por um lado pela Irmanda-de Muçulmana conservadora e rea-cionária e outros líderes sectários e, por outro lado, pelos líderes das For-ças Armadas”.

Nesta situação, é absolutamente essencial que os esforços sejam re-dobrados para construir um movi-mento independente dos trabalhado-res, que possa oferecer uma alterna-tiva real aos trabalhadores e pobres,

que hoje apoiam Mursi, por causa de sua própria oposição aos milita-res e à velha elite.

Desde o início da revolução em 2011 vimos um enorme crescimen-to do movimento dos trabalhadores no Egito. As lutas dos trabalhado-res, já importantes antes da derru-bada de Mubarak, têm se desenvol-vido imensamente. Houve um gran-de crescimento em sindicatos inde-pendentes, que passavam de 50 mil filiados quando Mubarak caiu, pa-ra mais de 2,5 milhões, além dos 4 milhões de filiados nos antigos sin-dicatos controlados pelo Estado. No último período temos visto, em mé-dia, 800 greves por mês, e não ape-nas sobre salários e condições de tra-balho, mas também contra a gestão que vem da era Mubarak, contra pri-vatizações e criminalização dos sin-dicalistas.

No entanto, pouco se ouviu a voz independente do movimento dos trabalhadores desde a derrubada de Mursi. Pelo contrário, Kamal Abu-Eita, o presidente da central Federação Egípcia de Sindicato Independentes (EFITU), tornou-se ministro do Trabalho e começou pedindo o fim das greves. Não é a primeira vez na história que um líder sindical foi trazido para um governo capitalista, com o objetivo explícito de deter as lutas.

Três centrais sindicais apoiaram oficialmente o chamado do general al-Sisi a uma manifestação, no dia 26 de julho, para mostrar apoio ao no-vo governo, embora tenha sido im-portante notar que, na executiva do EFITU, a proposta passou apenas de-pois de uma votação de 9 contra 5.

Esta política de apoiar a cúpula militar é um caminho para o desas-tre dos sindicatos. As organizações de trabalhadores precisam ter seu próprio programa, independente e classista, para oferecer uma forma de evitar tanto a consolidação de um re-gime militar e a ameaça de crescente divisão sectária e violenta.

Um tema urgente é a organização de comitês de autodefesa democrá-ticos e não-sectários das comunida-

des e locais de trabalho, contra ata-ques do Estado e de sectários em to-do o país.

Os sindicatos, especialmente o EFITU, devem exigir que Abu-Eita deixe o governo e lance sua própria campanha contra a repressão, o sec-tarismo e o regime militar, em defe-sa dos direitos democráticos e para a realização de eleições livres ime-diatas para uma assembleia consti-tuinte revolucionária, para que o po-vo egípcio possa decidir o seu pró-prio futuro.

Não vai ser fácil para o general al-Sisi e seus colegas militares re-estabelecer um “Estado de seguran-ça” estável. A revolução egípcia ain-da não acabou. A rápida desilusão e explosão de oposição ao governo de Mursi mostrou quão rapidamente a oposição pode se desenvolver.

Enquanto os acontecimentos san-grentos dos últimos dias podem, compreensivelmente, levar à hesi-tação, devido a temores de repres-são e do crescimento do sectaris-mo, isso não vai durar para sempre. A combinação de crise econômica e social profunda do Egito mais a força emergente do movimento dos traba-lhadores, vai levar a lutas renovadas.

As experiências dos trabalhado-res, tais como o conflito em Suez Steel, sob esta nova versão do regi-me militar, bem como o sangrento esmagamento dos protestos, irá mi-nar boa parte do apoio que foi dado inicialmente à expulsão de Mursi pe-los militares. Isso pode criar oportu-nidades para ganhar apoio às políti-cas socialistas. Mas isso não é auto-mático, as forças religiosas também estarão competindo pelo apoio da-queles que entram em oposição ao novo regime.

Nenhum apoio aos militares

Organizações de trabalhadores e de esquerda não devem dar qualquer apoio a este regime militar, que nun-ca teve um caráter progressivo. Os militares removeram Mursi não ape-nas para defender seus próprios pri-vilégios e interesses, mas também para cortar o movimento de massas anti-Mursi que estava crescendo, que poderia ter levado a um aprofunda-mento da revolução e um enfraque-cimento do Estado capitalista. É por isso que o regime tem sido apoiado pelas potências ocidentais que, co-mo Obama, agora só foi criticando muito suavemente a repressão bru-tal à oposição.

Em eventos tumultuosos como es-tes, o movimento dos trabalhadores e revolução precisa de mais clareza do que nunca. Desde a derrubada de Mubarak em fevereiro de 2011, o CIT tem defendido que a revolu-ção só poderia ser concluída com sucesso, no interesse do povo tra-balhador, se o povo fazer valer seu direito de decidir o futuro do país. Nenhuma confiança deve ser colo-cado em figuras do regime ou seus amos imperialistas para governar o país ou executar eleições. É neces-sário eleições imediatas totalmente livres, controladas e garantidas por comitês de massa dos trabalhadores e dos pobres, para uma assembleia constituinte revolucionária que po-de decidir o futuro do país.

Mursi, da Irmandade Mulçumana, presidente deposto.

Militares não representam alternativa.

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internacional • 11 Ofensiva Socialista n°15 agosto/setembro - 2013

Protestos abalam governo de PeruO Peru tornou-se recentemen-te palco de grandes protestos. No último período, o governo do Peru tem sido abalado por uma série de crises e enfrenta-do inúmeras greves.

Bilbo GöranssonMilitante sueco do CIT,

direto de Lima

As greves dos motoristas de ôni-bus, controladores de tráfego aéreo e trabalhadores da saúde tem tido grande repercussão ao mesmo tem-po em que o apoio ao presidente es-tá muito baixo. No dia 22 de julho, uma marcha de 30 mil pessoas, na capital Lima, obrigou o parlamento a recuar da indicação de corruptos ao altos cargos no judiciário.

O Peru tem sido o país com o maior crescimento no continente, com uma média de 6,5% ao ano, des-de 2003. Agora que a economia está desacelerando, com uma queda nos preços de minérios no mundo. Ca-da vez mais trabalhadores e pobres vêm se perguntando: se não recebe-mos nada durante os “bons anos” de crescimento, qual será nosso desti-no quando a economia desacelera?

Quando Ollanta Humala (Parti-do Nacionalista Peruano) ganhou as eleições presidenciais em 2011, ele vinha de uma trajetória de rei-vindicar o “bolivarianismo” de Hu-go Chávez.

A mídia de direita descrevia Hu-mala como “mais à esquerda que Hu-go Chávez”. Mas já antes das elei-

ções ficou claro que o modelo de Hu-mala era como o de Lula no Brasil, e não Chávez na Venezuela e sua cam-panha eleitoral foi feita com ajuda de marqueteiros de Lula. As expectati-vas foram rapidamente transforma-das em desilusão.

Muitos socialistas já tinham alerta-do sobre os rumos de Humala, mes-mo entendendo a determinação dos trabalhadores de não querer eleger, no segundo turno, a filha de Alber-to Fujimori, que fez o infame “au-togolpe” em 1992 e implementou duros ataques à classe trabalhadora.

“Candidato da esquerda, mas governa

como burguês”

Mas, Humala não representava a classe trabalhadora e, sim, mais uma política populista e nacionalista. Até mesmo a revista britânica “The Eco-nomist” constatou que Humala foi “eleito como candidato de esquer-da, mas governa como um burguês conservador”.

Isso se tornou evidente no conflito em Cajamarca, no ano passado, onde a população defendia a última fon-te de água potável contra a ganância por lucro das mineradoras. E Huma-la, vergonhosamente, se posicionou ao lado do capital.

O governo de Humala foi marca-do por escândalos de corrupção e uma constante troca de ministros pa-ra manter o nome do presidente lim-po, mas o apoio do presidente caiu de 50% para 30% em seis meses.

O último escândalo foi a chama-da “repartição” (la repartija), onde os três partidos no congresso perua-no (a aliança de Humala “Gana Pe-ru”, a Aliança Popular Revolucioná-ria Americana (APRA) e os fujimo-ristas) dividiram cargos no Estado. No acordo, cargos do Tribunal Cons-titucional e o cargo de Defensor Pú-blico foram parar nas mãos de gan-gsters. Até mesmo a mídia de direi-ta admitiu que isso foi resultado de um acordo espúrio.

Porém, o congresso teve que re-cuar diante de uma poderosa mobi-lização de 30 mil peruanos de todo o país contra a política do governo no centro de Lima. Várias fileiras de policiais foram montadas para bar-rar os manifestantes a chegar até o palácio presidencial e o congresso. Ao mesmo tempo, a mídia amigável ao governo falava que foram somen-te 500 manifestantes do APRA que atacaram violentamente a polícia.

Enquanto isso, enfermeiras e mé-dicos estavam há quase um mês nu-ma greve nacional, reivindicando por salários e condições de trabalho. Um novo acordo foi assinado em 14 de agosto no qual os trabalhadores da saúde conseguiram certas conces-sões. Mas logo após foram declara-das novas greves nos aeroportos e o transporte público de Lima.

É urgente a tarefa de construir uma ferramenta política para os trabalha-dores e pobres do Peru, que não se-jam plataformas para eleger populis-tas, mas um trampolim para a toma-da do poder da classe trabalhadora.

Alternativa socialista cresce nos EUA“Um terremoto político”, tem sido o comentário usado para descrever os resultados eleito-rais espetaculares da Kshama Sawant, professora de uma uni-versidade pública em Seattle (estado de Washington) e mi-litante do Socialist Alternative (CIT nos EUA).

Marcus Kollbrunner e Cristina Fernandes

Pela segunda vez ela está desafian-do os principais líderes locais do par-tido Democrata, que dominam total-mente a cena política regional, com uma alternativa socialista. No dia 06 de agosto ela conseguiu 35% (44 mil votos) dos votos nas prévias da elei-ção a vereador, chegando em segun-do lugar e agora vai concorrer com o representante democrata Richard Conlin em novembro.

Entrevistamos Ty Moore, que tam-bém será candidato pelo Socialist Al-ternative em Minneapolis sobre es-ses fatos.

O que está por trás do sucesso da campanha eleitoral da Kshama Sawant?

– A maioria da esquerda socialista nos EUA ainda está muito pra bai-xo após duas décadas em que hou-ve um retrocesso das ideias socia-listas, com a queda do stalinismo e a grande campanha ideológica da classe dominante declarando que o “socialismo morreu”. Mas o movi-mento “Ocupe” mostrou como existe uma grande ira contra o capitalismo e seus dois partidos. Sentimos que havia uma nova abertura para ideias socialistas. Nós intervimos no movi-mento colocando que “o Wall Street (a bolsa de valores) tem dois parti-

dos – nós precisamos de um nosso!”. – Nós vimos a chance de popula-

rizar as ideias do socialismo na cam-panha eleitoral, lançando uma can-didatura que se identificava com os protestos. Lançamos a Kshama Sa-want como candidata a deputada es-tadual no estado de Washington para as eleições em novembro 2012, on-de temos um trabalho forte na cida-de de Seattle. Já o fato dela chegar a segundo lugar nas prévias e ir para o segundo turno foi uma vitória. Mas o resultado no segundo turno foi es-petacular. Ela conseguiu 21 mil vo-tos, 29%, contra o líder dos Demo-cratas, Frank Chopp, que dominam completamente o cenário político no estado e na cidade. Foi o melhor re-sultado para um candidato socialis-ta em décadas.

– Mostramos que era possível fa-zer uma campanha sem apoio de em-presas e com perfil socialista. Fize-mos uma campanha militante, com apoio de jovens, trabalhadores e mesmo parte da classe média que está revoltada com os cortes.

– Frank Chopp foi forçado a de-bater conosco e tentar explicar por que eles reduzem os impostos para as grandes empresas e cortam no se-tor público.

Como vai ser a campanha eleito-ral agora nas eleições municipais?

– Nós lançamos três candidatos agora: Kshama Sawant em Seattle, eu em Minneapolis e Seamus Whe-lan em Boston.

– A campanha da Kshama Sawant está muito forte. Nas prévias ela con-seguiu 35% dos votos contra o 48% do candidato dos Democratas, isso com um orçamento muito menor que o dele. Kshama tem apoio do sindi-cato dos professores universitários,

do sindicato dos trabalhadores de co-municação, os eletricistas e um im-portante sindicato dos funcionários municipais AFSCME, entre outros.

– Nossa campanha não aceita doa-ções de empresários. Mesmo assim, já conseguimos arrecadar 30 mil dó-lares (72 mil reais), a maioria são do-ações de até 25 dólares. Já temos 125 voluntários trabalhando para a cam-

panha, com a meta de chegar a 300.– Uma bandeira importante na

nossa campanha é a favor de um sa-lário mínimo de 15 dólares por ho-ra. Está acontecendo uma campa-nha importante pela mesma deman-da com greves em diferentes regiões dos trabalhadores de “fast food”, que são muito explorados.

– Em Minneapolis temos uma par-ticipação importante na luta contra os despejos de famílias que não con-seguem pagar suas dívidas, no “Oc-cupy Homes” (ocupar as casas). Conseguimos barras vários despe-jos, construindo uma rede de pes-soas preparadas a barrar fisicamen-te tentativas de despejos.

– Todos nossos candidatos pro-metem de só receber um salário de trabalhador e não o salário altíssi-mo dos políticos. E resto do salário vai ser doado para as lutas sociais.

– Nossa campanha levanta a ne-cessidade de estatizar as grandes empresas e bancos que dominam os EUA. Só assim podemos começar a lidar com os problemas sociais, de-semprego, defender o meio ambien-te, etc. Levantamos também a neces-sidade de construir um partido para os “99%”, para os milhões, não pa-ra os milionários.

Qual foi o impacto das revela-ções do Snowden sobre a espiona-gem do serviço de inteligência dos EUA contra milhões de cidadãos comuns?

– O impacto foi massivo. O gover-no de Obama vem rompendo uma série de promessas, entre elas de ser um governo mais transparente. Para muitos foi a gota d’água. Uma maio-ria agora acha que Obama é “deso-nesto” e ele perdeu apoio especial-mente entre os jovens.

– Snowden cometeu um ato heroi-co. Ele agiu sem interesse próprio e vai viver o resto da vida em fuga ou na prisão.

– Espionagem de e-mails, sms e chamadas telefônicas são uma com-pleta invasão na vida das pessoas. Nós defendemos que os serviços de inteligência como a NSA e CIA de-vem ser desmantelados. Mas o ca-so também mostra o risco inerente no fato de que são empresas priva-das que controlam a comunicação, mesmo na internet.

Se fala muito da “recuperação” econômica dos EUA. Isso está acontecendo? Qual é o impacto?

– Depende sobre quem você es-tá falando. As bolsas de valores es-tão batendo novos recordes. Os seis maiores bancos anunciaram recen-temente seus maiores lucros desde 2007, antes da crise financeira. Tu-do isso graças às enormes injeções de dinheiro feitas pelo banco central. Esse dinheiro não vai para criar em-pregos. É uma fonte de grana barata usada para especular e engordar os bancos. O desemprego ainda é mui-to alto. Os novos empregos que sur-gem são de salários baixos, sem pla-no de saúde, etc.

– Ao outro lado, a crise continua profunda para os trabalhadores, mas também para grande parte das cida-des e estados. Recentemente, a ci-dade de Detroit declarou falência. É incrível. A cidade já foi a quinta maior do país, era o centro do setor automobilístico e também da indús-tria de música. Os serviços públicos vão ser massacrados e os funcioná-rios públicos vão perder boa parte de suas aposentadorias. Como pode ver, é uma recuperação para os ricos, e não para os trabalhadores.

Susan Mosquera Vargas foi uma entre milhares de trabalhadores e estudantes que participaram no pro-testo de 27 de julho. Ela milita na Iniciativa Ciudadana – uma asso-ciação que luta contra corrupção e por participação popular.

Por que você participou do pro-testo?

– Está na hora dos jovens se po-sicionarem sobre as decisões do Es-tado, já que isso tem a ver com o

nosso futuro. Quando somos tantos nas ruas, os que estão no poder tem que pensar duas vezes antes de to-mar uma decisão. Mas não vamos só manifestar nossa raiva, quere-mos mudanças.

– Na mídia da direita só mostram apoiadores do APRA protestando. Mas na manifestação quase não vi-mos ninguém. A APRA está em pro-funda crise e tentam utilizar a opor-tunidade para se mostrar, mas pou-cos caem nessa.

Kshama Sawant obteve 44 mil votos nas prévias em Seattle.

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Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00

N° 15 agosto/setembro - 2013

Acesso o nosso site:

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telefone: (11) 3104-1152

Cabral foi um dos mais bem vo-tados governadores do país na última eleição (reeleito com 66% dos votos), mas atualmen-te é o governador que possui o menor índice de aprovação, com 12%. Ele foi desmascara-do, pelo favorecimento de em-presas e empresários como Ei-ke Batista; os abusos de poder como o uso do helicóptero pú-blico para transportar sua famí-lia; os desmandos violentos e autoritários através da crimina-lização da pobreza; e o sucate-amento dos serviços públicos de educação e saúde.

Luciano BarbozaMestre em planejamento

urbano e membro do diretório estadual do PSOL-RJ

Todos esses ataques à população feitos pelo governo Cabral foram ca-nalizadas pelas jornadas de mobili-zação de junho, estenderam-se para julho e agosto, colocando-o contra a parede e o obrigando a rever algumas de suas políticas anteriores.

A crise política do governo Cabral e da polícia militar se agravou princi-palmente após o aumento da repres-são aos manifestantes. A resposta do governador às lutas foi de reprimir para intimidar, e impedir a organiza-ção da juventude. Armamentos cada vez mais pesados da polícia, cente-nas de jovens sendo indiciados, co-mo formação de quadrilha, persegui-ção às lideranças e sequestros relâm-pagos. Uma postura clara de crimi-nalização dos movimentos sociais.

Manifestações diárias

As manifestações são quase diá-rias exigindo o Fora Cabral. Mani-festantes permanecem ocupados na frente da casa do Governador há se-manas. Estas lutas obrigaram Cabral a desistir de derrubar a Escola Frie-denreich, o Estádio de Atletismo Cé-lio de Barros e o Parque Aquático Jú-lio de Lamaree, que ficavam no em torno do Maracanã. Cabral devolveu a Aldeia Maracanã para os índios e está discutindo voltar atrás na pri-vatização do Estádio do Maracanã, além disso, reintegrou os 14 bom-beiros que haviam sido expulsos da corporação por causa de suas mani-festações por melhores salários em 2011, por fim declarou que não ha-verá mais a remoção dos moradores da Vila Autódromo.

Esses recuos não serão suficien-tes para parar as mobilizações, pois

o que a população do Rio de Janei-ro quer é a renuncia do governador. As jornadas de junho, de modo pe-dagógico, ensinou ao povo que o que muda a vida é a luta, as ruas, e que portanto, o processo de mobili-zações deve prosseguir.

Como reflexo destas lutas houve, em agosto, a ocupação da câmara municipal do Rio de Janeiro. Elio-mar Coelho, vereador do PSOL, pro-pôs a instauração de uma CPI dos transportes, diante da impossibilida-de de recuo, o PMDB deu um golpe.

Os vereadores da base do governo de Eduardo Paes colocaram na pre-sidência e na comissão, vereadores que haviam votado contra a instau-ração da CPI. A ocupação exige a anulação desta comissão golpista e a instauração de uma nova.

Bancado por empresas

O Rio de Janeiro se transformou na cidade que obedece diretamente o grande capital, ou seja, os interesses dos empresários e conglomerados fi-nanceiros se sobrepõe aos interesses dos trabalhadores. Isso ocorre por-que tanto o prefeito quanto o gover-nador obtiveram com esses mesmos grupos financiamento de campanha eleitoral. O RJ tem vários “donos”, mas a figura de Eike Batista se des-tacou nesse sentido, pois ficou evi-dente para a população sua relação quase patronal com Sérgio Cabral.

Em meio a tudo isso os profissio-nais da educação do Estado e mu-nícipio entram em greve, por uma educação de qualidade, por maio-res salários e melhores condições de trabalho.

Como vemos, o domínio do PMDB no estado e na prefeitura do Rio de Janeiro, base do governo Dil-ma, esta chegando ao fim. Sergio Ca-bral deverá renunciar no começo do ano que vem, segundo Picciani (pre-sidente do PMDB-RJ), para tentar salvar a candidatura a governador do Estado de seu vice, Luiz Fernando Pezão. A antecipação da renúncia se-ria mais uma vitória importante das lutas e por isso as mobilizações nas ruas continuaram até o Cabral cair.

Contra a criminalização da pobreza e dos

movimentos sociais!

O RJ agora global produz o novo Porto Maravilha e exclui e desloca espacial e socialmente pobres para a periferia metropolitana, gerando uma cidade auto-segregada. O go-verno produziu áreas centrais reno-

vadas, expulsando um grande núme-ro de moradores através de remoções sem garantia de nova moradia digna para os removidos.

As favelas abrigam um terço da população total da capital carioca e a polícia do RJ é a que mais mata no mundo principalmente neste ter-ritório. A violência policial aumen-tou significativamente no governo Sergio Cabral que mata jovens ino-centes geralmente pobres, negros, fa-velados, oficializando a criminaliza-ção da pobreza através de uma polí-tica de segurança pública que prio-riza o extermínio.

A política de ocupações policiais nos morros para instaurar as UPPs é questionada por vários moradores que tiveram suas casas destruídas e invadidas, tanto pelos traficantes em guerra entre si, como pelos po-liciais. A polícia há meses está ame-açando entrar no complexo de fave-las da Maré para instalar a UPP, ge-rando medo e terror psicológico nos moradores.

Cadê o Amarildo?

Em uma operação policial na Ma-ré em junho morreram 12 pessoas, o que desencadeou um ato de mais de 2000 pessoas criticando essa ação da polícia, graças ao assenso de lu-tas que vivemos.

Sabemos que operações policiais que matam moradores nas favelas são frequentes, como no caso conhe-cido como cadê o Amarildo?, mas o que é novidade é que hoje as pesso-as não aceitam mais isso e estão lu-tando nas ruas para denunciar essa triste realidade. O cadê o Amaril-do? se tornou o exemplo emblemá-tico, internacional, desta impossibi-lidade de silêncio.

E tudo isso é só o começo!

As lutas que aconteceram durante a Copa das Confederações de 2013, as jornadas de luta iniciadas em ju-nho, são uma prévia para o que irá ocorrer durante a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Os Megaeventos acentuaram as con-tradições entre a ilusão “do Brasil grande e próspero” e a realidade da qualidade de vida precária dos tra-balhadores.

Essa contradição potencializa as lutas e por isso a repressão às mani-festações durante a Copa do Mun-do deverá ser ainda maior. O Rio de Janeiro no próximo período se apre-senta como o principal foco da luta de classes no Brasil.

Fora Cabral! Vá com Paes!RJ: Crise de humildade do Cabral não foi milagre do Papa, mas das lutas!

Educação para no Rio de JaneiroEm defesa da educação e de melhores condições de traba-lho, educadores das redes es-tadual e municipal do RJ es-tão em greve desde o dia 8 de agosto. Essa mobilização tem como uma de suas inspirações as jornadas de junho, nas quais a defesa da educação foi um dos temas centrais.

Eduardo Moraesprofessor e diretor do

SEPE – regional 4

A educação pública vem sofrendo os mesmos ataques há anos: arrocho salarial, falta de verbas, estrutura e funcionários, falta de democracia na gestão, desrespeito à autonomia pe-dagógica e imposição da meritocra-cia. Mas agora professores, inspeto-res, auxiliares de creche, merendei-ros e demais servidores da educação estão dando a resposta!

Após 19 anos sem greves, a rede municipal do Rio de Janeiro, maior rede escolar da América Latina, en-trou numa greve histórica. A catego-ria exige 19% de reajuste, novo pla-no de carreira, aplicação da lei do 1/3 de carga horária para planejamen-to do trabalho, fim da meritocracia e melhoria das condições de traba-lho. Em 14 de agosto, cerca de 15 mil educadores foram às ruas como há muito tempo não se via e sequer se imaginava possível pouco tempo atrás. A prefeitura adotou uma pos-tura arrogante e autoritária, recusan-do-se a negociar e ameaçando cortar o ponto. A categoria respondeu com um novo ato, de 20 mil educadores, forçando a prefeitura a negociar e mostrando que não nos intimidarão e que a greve só terminará quando obtivermos conquistas!

Na rede estadual, a greve foi con-flagrada em meio a um forte declí-nio da popularidade do governador Sérgio Cabral. O clima favorável levou a base da categoria a decretar a greve apesar da postura vacilante da direção do SEPE. A rede estadu-al exige 28% de reposição de perdas acumuladas, o direito de professores trabalharem em apenas uma escola, eleição para diretores, fim da meri-tocracia entre outras propostas. Pa-ra alcançar seus objetivos, a greve se unificará ao forte movimento da re-de municipal e se somará às mobili-zações do Fora Cabral!

Avançar na luta

Infelizmente o SEPE cometeu er-ros como marcar atividades das re-des em greve no mesmo horário em locais diferentes. Contando com pro-fissionais nas duas redes, uma as-sembleia da rede estadual teve um atraso absurdo de 3 horas, que levou a uma postura despolitizada da base, que votou para que não houvesse fa-las de avaliação, indo direto às deli-berações. Vimos também uma falta de política para situações como ao fi-nal do ato com 15 mil do município, em que o prefeito não se encontrava no local da manifestação e sem nada concreto a direção decretou o fim do ato, frustrando a categoria.

Para as greves continuarem cada vez mais fortes, é necessário que nos juntemos aos atos contra Paes e Ca-bral, que já ocorrem, e que essas gre-ves não sejam apenas greves dos edu-cadores do Sepe, mas parte de uma grande luta pela educação pública, com a participação da população. De-vemos nos juntar ao dia 30 de agos-to, chamado pelas centrais sindicais como Dia Nacional de Paralisação.

20 mil professores tomaram as ruas do Rio de Janeiro dia 21 de agosto.