Oficina
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Oficina (Paulo Henriques Britto) I Escrever, mas não por ter vontade: escrever por determinação. Não que ainda haja necessidade (se é que já houve) de autoexpressão, ou sei lá qual carência faminta: toda veleidade dessa espécie estando de longa data extinta, resta o desejo (que se não cresce por outro lado também não míngua) de estender frágeis teias de aranha tecidas com os detritos da língua. Uma ocupação inofensiva: quem cai na teia sequer se arranha. (E a maioria dela se esquiva.)
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Um poema de pHB
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Oficina
(Paulo Henriques Britto)
I
Escrever, mas no por ter vontade:
escrever por determinao.
No que ainda haja necessidade
(se que j houve) de autoexpresso,
ou sei l qual carncia faminta:
toda veleidade dessa espcie
estando de longa data extinta,
resta o desejo (que se no cresce
por outro lado tambm no mngua)
de estender frgeis teias de aranha
tecidas com os detritos da lngua.
Uma ocupao inofensiva:
quem cai na teia sequer se arranha.
(E a maioria dela se esquiva.)