Oficina Flagrada No Caso Marisa Também Produziu Para C&a _ Repórter Brasil

11
2ILFLQD IODJUDGD QR FDVR 0DULVD WDPEpP SURGX]LX SDUD &$ _ 5HSyUWHU %UDVLO KWWSUHSRUWHUEUDVLORUJEURILFLQDIODJUDGDQRFDVRPDULVDWDPEHPSURGX]LXSDUDFDPSD Oficina flagrada no caso Marisa também produziu para C&A A REPÓRTER BRASIL ESTÁ SOB CENSURA JUDICIAL DESDE O DIA 9 DE OUTUBRO DE 2015. SAIBA MAIS. Por Maurício Hashizume* | 06/05/10 No período que antecedeu a fiscalização que encontrou imigrantes em condição análoga à escravidão, costuras eram feitas para fornecedora da rede C&A. Companhia confirmou que enviados chegaram a vistoriar o local em 2009 São Paulo (SP) – Registrada como Indústria de Comércio e Roupas CSV Ltda., a oficina de costura ligada à Marisa que foi flagrada com 17 trabalhadores imigrantes em condições análogas à escravidão produzia peças anteriormente para a C&A. A informação foi confirmada tanto pelo dono da oficina, o boliviano Valboa Febrero Gusmán, como pela própria rede varejista. Operação comandada pela Superintendência Regional de Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE-SP), ocorrida em meados de fevereiro deste ano, encontrou um amplo quadro de irregularidades no local – desde "fortes indícios de tráfico de pessoas", registros de cobranças ilegais de dívidas dos empregados e salários muito aquém dos permitidos até condições críticas no tocante à saúde e segurança no trabalho, alojamentos completamente inadequados e jornadas exaustivas (detalhes mais abaixo na descrição das condições). A Repórter Brasil Equipe Jornalismo Pesquisa Educação Olá U

description

Matéria publicada na Agência de Notícias da Repórter Brasil

Transcript of Oficina Flagrada No Caso Marisa Também Produziu Para C&a _ Repórter Brasil

Page 1: Oficina Flagrada No Caso Marisa Também Produziu Para C&a _ Repórter Brasil

09/11/2015 Oficina flagrada no caso Marisa também produziu para C&A | Repórter Brasil

http://reporterbrasil.org.br/2010/05/oficina-flagrada-no-caso-marisa-tambem-produziu-para-c-amp-a/ 1/11

Oficina flagrada no caso Marisatambém produziu para C&A

A REPÓRTER BRASIL ESTÁ SOB CENSURA JUDICIAL DESDE O DIA 9 DE OUTUBRO DE 2015.

SAIBA MAIS.

Por Maurício Hashizume* | 06/05/10

No período que antecedeu a fiscalização queencontrou imigrantes em condição análoga à

escravidão, costuras eram feitas parafornecedora da rede C&A. Companhia confirmou

que enviados chegaram a vistoriar o local em2009

São Paulo (SP) – Registrada como Indústria de Comércio e Roupas CSVLtda., a oficina de costura ligada à Marisa que foi flagrada com 17trabalhadores imigrantes em condições análogas à escravidãoproduzia peças anteriormente para a C&A. A informação foiconfirmada tanto pelo dono da oficina, o boliviano Valboa FebreroGusmán, como pela própria rede varejista.

Operação comandada pela Superintendência Regional de Trabalho eEmprego de São Paulo (SRTE-SP), ocorrida em meados de fevereirodeste ano, encontrou um amplo quadro de irregularidades no local –desde "fortes indícios de tráfico de pessoas", registros de cobrançasilegais de dívidas dos empregados e salários muito aquém dospermitidos até condições críticas no tocante à saúde e segurança notrabalho, alojamentos completamente inadequados e jornadasexaustivas (detalhes mais abaixo na descrição das condições).

A Repórter Brasil Equipe Jornalismo Pesquisa Educação Olá U

Page 2: Oficina Flagrada No Caso Marisa Também Produziu Para C&a _ Repórter Brasil

09/11/2015 Oficina flagrada no caso Marisa também produziu para C&A | Repórter Brasil

http://reporterbrasil.org.br/2010/05/oficina-flagrada-no-caso-marisa-tambem-produziu-para-c-amp-a/ 2/11

Oficina de costura CSV chegou a passar por auditoria da C&A em 2009 (Foto: Maurício Hashizume)

Quando da fiscalização, Valboa confirmou ter fabricado peças devestuário durante os últimos anos (até 2009) para a Karvin que, por suavez, atuou como fornecedora da C&A por cerca de 25 anos. Eledeclarou inclusive que, entre outubro de 2009 e janeiro de 2010,representantes da companhia internacional com sede na Holandafizeram vistorias das instalações da oficina situada no bairro de VilaNova Cachoeirinha, na capital paulista.

À Repórter Brasil, a C&A não se esquivou da responsabilidade emrelação à cadeia produtiva dos itens que comercializa, diferentementede sua concorrente – que preferiu responder na ocasião quea "situação detectada pelos auditores não é de responsabilidade diretaou indireta da Marisa".

A C&A admitiu inclusive que tomou conhecimento da presença da CSVna sua cadeia produtiva somente em outubro de 2009. "Até então, ofornecedor Karvin não havia comunicado à empresa a inclusão destaoficina na sua lista de subcontratados", acrescenta a companhia, quesustenta ter "advertido a Karvin de que este procedimento não seriatolerado novamente".

Desde 2006, a C&A mantém um segmento próprio para auditar a suacadeia de suprimentos denominado Organização de Serviço paraGestão de Auditorias de Conformidade (Socam).Segundo a empresa, as vistorias são "aleatórias e não agendadas, como objetivo de coibir qualquer tipo de mão de obra irregular e buscar amelhoria contínua das condições de trabalho".

A rede varejista confirma ter realizado uma primeira visita à CSV, pormeio da Socam, em 23 de outubro de 2009. Nenhum estrangeiro ilegalfoi encontrado, assegura a empresa, que verifica, entreoutros, aspectos como a regularidade do Cadastro Nacional de PessoaJurídica (CNPJ). 

Com o intuito de melhorar as condições de trabalho do local, a Socamestabeleceu, em 28 de outubro, um "plano de ação" para a CSVcom diversas ações: disponibilizar e apresentar documentos e critérios

adotados para cálculo e pagamento de salários; sinalizar todas as

Page 3: Oficina Flagrada No Caso Marisa Também Produziu Para C&a _ Repórter Brasil

09/11/2015 Oficina flagrada no caso Marisa também produziu para C&A | Repórter Brasil

http://reporterbrasil.org.br/2010/05/oficina-flagrada-no-caso-marisa-tambem-produziu-para-c-amp-a/ 3/11

adotados para cálculo e pagamento de salários; sinalizar todas assaídas; providenciar a recarga de extintores de incêndio e kit deprimeiros socorros; arrumar e organizar a área de trabalho; proteger emelhorar disjuntores e instalação elétrica e providenciar sabonetelíquido e papel toalha nos banheiros, entre outras.

"É importante ressaltar que o trabalho realizado pela Socam não temcaráter punitivo, exceto nos casos de infrações graves. O objetivo, alémde coibir qualquer tipo de mão de obra ilegal, é também buscar amelhoria contínua das condições de trabalho dos seus fornecedores,informar e promover a transformação destes espaços", argumenta aC&A.

Caderno de anotações apreendido tinha registros de cobranças ilegais (Foto: Maurício Hashizume)

Em janeiro de 2010, a Socam voltou à CSV para acompanhar aimplantação do "plano". Segundo a empresa, novamente não houveregistro de imigrantes sem documentação legal. "Constatou-se, porém,que o plano não havia sido implantado. O prazo inicialmente de 90 diasfoi prorrogado pelo mesmo período, até abril de 2010. O nãocumprimento implicaria na suspensão do fornecimento. No início defevereiro, a CSV foi descadastrada pela Karvin, que constatou nestadata a existência de trabalhador sem documentação regularizada",relata a C&A.

A empresa afirma ainda que o relacionamento comercial com a Karvintambém foi temporariamente suspenso por conta de situaçõesirregulares encontradas em outras oficinas subcontratadas. "Ofornecimento ficará suspenso até que as irregularidades apontadassejam resolvidas", prossegue.

Em depoimento à fiscalização, por seu turno, o proprietário daCSV alegou que o "preço muito baixo" pago pela Karvin (parafornecimento à C&A) por cada peça costurada teria sido um dosmotivos para a descontinuidade do vínculo comercial. Questionadasobre a porcentagem de partilha média do preço final pago peloconsumidor – quanto seria destinado aos produtores(oficinas/fornecedores) e quanto ficaria mais especificamente com ovarejo -, a C&A afirma seguir "os valores que são praticados pelomercado".

"É importante ressaltar que o preço de venda não se justificaunicamente com a produção da peça, mas inclui várias despesas na

operação como impostos, salários, logística, infraestrutura", adiciona a

Page 4: Oficina Flagrada No Caso Marisa Também Produziu Para C&a _ Repórter Brasil

09/11/2015 Oficina flagrada no caso Marisa também produziu para C&A | Repórter Brasil

http://reporterbrasil.org.br/2010/05/oficina-flagrada-no-caso-marisa-tambem-produziu-para-c-amp-a/ 4/11

operação como impostos, salários, logística, infraestrutura", adiciona aempresa. 

A Karvin foi procurada para se pronunciar sobre o caso e prometeuatender a reportagem. Após o primeiro contato, porém, arepresentante da empresa não foi mais encontrada nos diversostelefones mantidos pela fornecedora de peças de vestuário com baseno bairro do Bom Retiro.

Com relação aos gastos com publicidade (recentes campanhas da C&Aforam protagonizadas por estrelas internacionais da música pop) e àpossibilidade de deslocar parte desses recursos para recompensaraqueles que trabalham na cadeia produtiva dos produtos vendidos naslojas, a C&A se restringiu apenas a declarar que "esta informação[sobre publicidade] não é pública" e que a mesma é "consideradaestratégica para a companhia".

VistoriasDesde 2006, conforme números divulgados pela C&A, a Socam járealizou mais de 6 mil visitas em fornecedores e subcontratados. Emcasos de infrações graves (como o trabalho de imigrantes ilegais eo trabalho infantil), informa a rede, a Socam pode cancelar deimediato as compras do fornecedor. Assim como no caso daCSV, podem ser propostos também planos deação corretivos, com meta e prazo determinados. O descumprimentodo combinado, sustenta a companhia, pode igualmente implicar nasuspensão do fornecimento.

Neste período, cerca de 100 fornecedores foram bloqueados pelaSocam, ou seja, tiveram o fornecimento suspenso. "As oficinas(subcontratados) não são bloqueadas pela Socam, mas pelofornecedor, que é responsável pelos seus subcontratados", completa arede. Por "uma questão de relação comercial com nossosfornecedores", a C&A – que se coloca publicamente como "pioneira noBrasil, entre as empresas de varejo de moda, a possuir umaorganização [específica, como a Socam]" – prefere não divulgar aquantidade de planos de ação elaborados junto a fornecedores esubcontratados.

Detalhe de um dos alojamentos: inadequação e exposição a doenças (Foto: Maurício Hashizume)

A adesão ao “Código de Conduta” e às “Condições Gerais deFornecimento” – que contêm cláusulas que exigem o cumprimento da

legislação trabalhista vigente – é uma das premissas para que uma

Page 5: Oficina Flagrada No Caso Marisa Também Produziu Para C&a _ Repórter Brasil

09/11/2015 Oficina flagrada no caso Marisa também produziu para C&A | Repórter Brasil

http://reporterbrasil.org.br/2010/05/oficina-flagrada-no-caso-marisa-tambem-produziu-para-c-amp-a/ 5/11

legislação trabalhista vigente – é uma das premissas para que umaconfecção se torne fornecedora, reforça a C&A. "Cabe ao fornecedor adecisão de escolha de sua rede de subcontratados. Porém, estesdevem ser listados e informados à empresa, previamente ao início darelação comercial com a C&A. Também é de responsabilidade dofornecedor manter sua lista de oficinas subcontratadas atualizada.Tanto o fornecedor quanto a Socam realizam as vistorias nas oficinas",emenda. Estima-se que o investimento na área tenha sido de R$ 7milhões. Somente em 2009, teriam ocorrido 2,1 mil vistorias.

Em 2007, a C&A, assim como a Marisa e outras empresas do ramo,assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o MinistérioPúblico do Trabalho (MPT) com o compromisso de evitar ligaçõescomerciais com oficinas de costura envolvidas na exploraçãode trabalho análogo à escravidão e de viabilizar auditorias períódicasde suas cadeias produtivas.

Convidadas a fazer parte do Pacto Contra a Precarização, e peloEmprego e Trabalho Decentes – Setor das Confecções, contudo, a C&Anão aderiu. "A assinatura ao pacto deve ser analisada considerando osetor como um todo, e não somente com adesões pontuais, que nãoirão produzir os resultados almejados", rebate a rede. "A C&A nãoacredita que a adesão de uma só companhia poderá surtir efeitos reaisno setor. É preciso um esforço conjunto e estamos em contatoconstante com os demais players do nosso setor de modo a conseguirum esforço conjunto neste sentido". 

A implantação de um sistema de certificação com vistas a garantirmelhores condições de trabalho nas cadeias produtivas está sendodiscutida no âmbito da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abeim) –que engloba outras redes como a própria Marisa, Riachuelo e Renner.Uma das consultorias envolvidas na iniciativa é a internacional BureauVeritas, também citada no relatório de fiscalização do caso queenvolveu diretamente a Marisa.

Para fazer vistorias semelhantes aos que a Socam faz para a C&A (atéem cumprimento ao TAC celebrado com o MPT em 2007), a Marisacontratou a empresa Bureau Veritas, fundada na Bélgica, em 1928. Naavaliação que fez das condições gerais de trabalho na trinca defornecedores formada por Dranys, Elle Sete e Gerson de Almeida(que tinham contrato com a Marisa e subcontratavam a CSV) em maioe setembro de 2009, a consultoria aprovou incondicionalmente asinstalações das fornecedoras que cuidavam mais do arremate daspeças, a despeito dos diversos problemas (como risco de incêndio,desorganização do ambiente e falta de ventilação) verificados pelaoperação fiscal, que visitou todos os participantes da cadeia produtiva. 

Mesmo sem visitar as terceirizadas (que fazem a parte maissubstantiva do processo: transformam cortes de tecidos em peças devestuário quase prontas) da Dranys/Elle Sete/Gerson de Almeida, os

auditores da Bureau Veritas atestaram que, no quadro geral, as

Page 6: Oficina Flagrada No Caso Marisa Também Produziu Para C&a _ Repórter Brasil

09/11/2015 Oficina flagrada no caso Marisa também produziu para C&A | Repórter Brasil

http://reporterbrasil.org.br/2010/05/oficina-flagrada-no-caso-marisa-tambem-produziu-para-c-amp-a/ 6/11

auditores da Bureau Veritas atestaram que, no quadro geral, asauditadas "atendiam" às condições de regularidade quanto à ausênciade trabalho forçado. Contatada pela reportagem, a consultoria optoupor não se pronunciar.

RepercussõesQuase três meses depois da fiscalização e mais de 45 dias após adivulgação na Repórter Brasil, o flagrante de trabalho escravo deimigrantes envolvendo as lojas Marisa continua gerando repercussões. 

Advogados da Marisa negociam o estabelecimento de novos padrõesde conduta para evitar a ocorrência de flagrantes e para contribuir nsentido de qualificar as condições de trabalho no conjunto da cadeiadas confecções.

Sindicato dos Comerciários organizou protesto contra a Marisa em Fortaleza (CE) (Foto: SEC)

"Estamos envidando todos os esforços possíveis e imagináveis parareunir o maior número de pessoas em torno desse caso com afinalidade de atingirmos um grau correto e positivo de eficácia danossa ação fiscal. Por isso, toda a movimentação para trazermos osmais diversos órgãos públicos e entidades da sociedade civil", comentaRenato Bignami, auditor fiscal do trabalho da SRTE/SP que esteve àfrente da operação que rastreou a cadeia produtiva a partir da oficinade costura CSV.

A punição apenas da Marisa, salienta Renato, não pode serconsiderada satisfatória. "É necessário buscarmos soluções para queesse caso não volte a se repetir e para corrigirmos um processocrônico de fuga para a clandestinidade, informalidade e irregularidadeque se abateu sobre esse setor", complementa. A OIT, o Instituto Ethose a Abeim conversam para estabelecer processos de responsabilidadesocial que possam consolidar avanços no setor.

Paralelamente, os participantes do Pacto Contra a Precarização e PeloEmprego e Trabalho Decentes se reuniram no auditório da DefensoriaPública da União (DPU), na última segunda-feira (3), para fazeravaliações e dar continuidade ao processo de articulação por melhoriaspara os trabalhadores do setor. Estiveram presentes representantes doMinistério do Trabalho e Emprego (MTE) e das associações decoreanos, bolivianos e paraguaios, além do Sindicato das Costureirasde São Paulo e Osasco, dos Sindicatos das Indústrias do Vestuário noEstado de São Paulo (Sindivestuário), do Serviço Pastoral do Migrante

(SPM), do Centro de Apoio ao Migrante (Cami), da Secretaria Nacional

Page 7: Oficina Flagrada No Caso Marisa Também Produziu Para C&a _ Repórter Brasil

09/11/2015 Oficina flagrada no caso Marisa também produziu para C&A | Repórter Brasil

http://reporterbrasil.org.br/2010/05/oficina-flagrada-no-caso-marisa-tambem-produziu-para-c-amp-a/ 7/11

de Justiça (SNJ), da Receita Federal, da Organização Internacional doTrabalho (OIT), da Comissão Municipal de Direitos Humanos (CMDH),da ONG Repórter Brasil e da Procuradoria Regional do Trabalho 2ªRegião (PRT-2), na pessoa de Vera Lúcia Carlos, propositora dos TACsfirmados com as redes varejistas.

Em Brasília (DF), a deputada federal Janete Capiberibe (PSB-AP) levou ocaso aos colegas parlamentares em pronunciamento no Plenário daCâmara, no dia 7 de abril. Após fazer menção à fiscalização da oficinaCSV, a congressista propôs boicote à Marisa "até que sejam garantidosos direitos trabalhistas de todos os colaboradores e melhordistribuição do lucro".

Dois dias depois, o Sindicato dos Comerciários de Fortaleza (CE)organizou um protesto contra o trabalho escravo de imigrantes emfrente à loja da Marisa no centro da capital cearense. Os sindicalistaschamaram a atenção de populares e distribuíram exemplares daedição do jornal Brasil de Fato que reproduziu conteúdo publicado pelaRepórter Brasil.

De acordo com Romildo Miranda, do sindicato e da ConfederaçãoNacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (Contracs), houveuma reunião com enviados da rede de varejo Marisa há cerca de 15dias em que a questão foi tratada. "Segundo eles [da empresa], aquestão foi resolvida. Mas não paramos por aqui. Se ficarmos sabendode mais denúncias, voltaremos a nos mobilizar. Insisto mais uma vez:não paramos por aqui", destacou o sindicalista.

Condições encontradas na oficina de costura CSV

Nenhum dos imigrantes que operavam máquinas na oficina CSV tinhaCarteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) assinada e pelo menos

um deles sequer estava regularizado junto à Polícia Federal (PF).Segundo a fiscalização, um dos trabalhadores bolivianos não tinha 18

anos completos.Foram apreendidos vários cadernos com anotações de "taxas" ilegais

de "passagem", "fronteira" e "documentos") e registros de "salários" deR$ 202 e de R$ 247, menos da metade do salário mínimo (R$ 510) e

menos de um terço do piso da categoria (R$ 766).A estrutura (instalações elétricas, móveis etc.) da oficina não seguia ospadrões mínimos exigidos. Uma criança, filha de uma das costureiras,estava exposta a acidentes com o maquinário. A jornada de trabalhocomeçava às 7h e chegava até às 21h. As refeições eram preparadas

improvisadamente nos fundos do mesmo cortiço do local de trabalho.O irmão do dono da oficina permanecia o tempo todo junto com os

trabalhadores, atuando como "vigia".Em apenas um cômodo mal iluminado nos fundos de um dos"alojamentos", construído para ser uma cozinha, sete pessoas

dormiam em três beliches e uma cama avulsa. Infiltrações, umidadeexcessiva, falta de circulação de ar, mau cheiro e banheiros precários

Page 8: Oficina Flagrada No Caso Marisa Também Produziu Para C&a _ Repórter Brasil

09/11/2015 Oficina flagrada no caso Marisa também produziu para C&A | Repórter Brasil

http://reporterbrasil.org.br/2010/05/oficina-flagrada-no-caso-marisa-tambem-produziu-para-c-amp-a/ 8/11

excessiva, falta de circulação de ar, mau cheiro e banheiros precárioscompletavam o cenário. Não havia separação adequada das diversas

famílias alojadas na mesma construção.Na avaliação da médica e auditora fiscal Teresinha Aparecida DiasRamos, que fez parte da comitiva e checou até a receita médica deuma das trabalhadoras que apresentava uma doença de pele, asvítimas de trabalho escravo na CSV estavam expostas a distúrbios

respiratórios, problemas ergonômicos, e justamente a enfermidadesdermatológicas, além das condições psicossociais indesejáveis, por

causa do medo constante.

*O jornalista da Repórter Brasil acompanhou a fiscalização da SRTE/SPcomo parte dos compromissos assumidos no Pacto Contra a Precarizaçãoe pelo Emprego e Trabalho Decentes em São Paulo – Cadeia Produtiva dasConfecções

Notícias relacionadas:Escravidão é flagrada em oficina de costura ligada à MarisaAnistia não esgota problemas enfrentados por imigrantesExploração de estrangeiros na cadeia têxtil é debatidaAnistia a estrangeiros beneficia mais de 40 mil pessoasIniciativas em São Paulo se voltam para auxílio de imigrantesRegularização de imigrantes não garante confecções formalizadasFiscais debatem exploração no campo, na cidade e nos portosPacto visa promover trabalho digno na cadeia das confecçõesAnistia a imigrantes ilegais deve ser sancionada até 6 de julho

Compartilhe

Sobre isso, leia também:

0 0 0

Escravidão é flagrada emoficina de costura ligada àMarisa

Etapas do processo desde oaliciamento até as lojas domagazine foram apuradas pelaSuperintendência Regional doTrabalho e Emprego de São Paulo(SRTE-SP), que aplicou 43 autos deinfração, com passivo […]

Escravidão em ferroviapaulista: detalhes erepercussão

Reportagem exclusiva dissecaflagrante de trabalho escravoocorrido na linha férrea Santos-Mairinque, concedida à empresaALL. Isoladas em contêineres naSerra do Mar, vítimas enfrentavamdegradância, […]

Costureiras são resgatadasde escravidão em açãoinédita

Fiscalização encontrou duasbolivianas em condição de trabalhoescravo no meio urbano eprovidenciou abrigo às vítimas.Submetidas a uma rotina deviolências físicas e morais, elascosturaram […]

Por que a Lei Áurea nãorepresentou a aboliçãodefinitiva?

O fim da escravidão legal no Brasilnão foi acompanhado de políticaspúblicas e mudanças estruturaispara a inclusão dos trabalhadores.Por isso, os escravos modernossão herdeiros dos que foram […]

Apoie a Repórter Brasil

Page 9: Oficina Flagrada No Caso Marisa Também Produziu Para C&a _ Repórter Brasil

09/11/2015 Oficina flagrada no caso Marisa também produziu para C&A | Repórter Brasil

http://reporterbrasil.org.br/2010/05/oficina-flagrada-no-caso-marisa-tambem-produziu-para-c-amp-a/ 9/11

10 Comments

Apoie a Repórter Brasil

saiba como

Luciana on 7 de maio de 2010 at 8:51

O dinheiro que estas empresas lucram com a venda destes produtosé manchado de sangue, suor e lágrimas. Mas para o sistemacapitalista isto não interessa, é o lucro pelo lucro.Ontem (6/5) o cidadão brasileiro Domingos Conceição do Santos, 47anos trabalhador foi ao banco bradesco de uma agência em SãoMiguel Paulista para receber seu primeiro salário como aposentado,e, explicou ao segurança que não poderia passar pela porta giratóriaporque utiliza aparelho marcapasso, houve discussão entre ambos eo segurança deu-lhe um tiro na cabeça.O trabalhador brasileiro estáhospitalizado em coma, É o fim do mundo, é um brasileiro atirandoem outro brasileiro. Atirar na cabeça! Atirar porque?

Reply

Alice on 7 de maio de 2010 at 9:50

É, Luciana! A maldade humana não conhece limites.Pessoas que poderiam tratar bem, dar melhores condições aostrabalhadores, não o fazem por conta da ganância, a sede de ganhardinheiro, mais e mais!

Parabéns ao Maurício Hashizume pela reportagem, ao Repórter Brasilpelo interesse nesse tipo de notícia e por estar, alem de relatando osfatos, ajudando nós, cidadãos, a entendermos e agirmos em nossasociedade.

É através de nós mesmos que esses problemas terão fim. Boicote edivulgação das denúncias são o que nos ajudarão a dar fim a essaliberdade dessa gente sem caráter.

Reply

Luciana on 7 de maio de 2010 at 11:30

Alice CA e Marisa, boicoto, não patrocino trabalho escravo.OntemDomingos Conceição dos Santos, 47,foi a agência Bradesco, R.JoséOtoni S.Miguel, e avisou o segurança que não poderia passar pelaporta giratória por usar marcapasso,negada a entrada, inicia-sediálogo ríspido e o segurança atirou na cabeça de Domingos que forareceber seu primeiro salário de aposentado.Crime brutal.Está emcoma induzido.Capitalismo selvagem.Quem é dono da empresa desegurança?Qual idoneidade?Até quando portas giratorias quediscriminam e cerceiam o direito de ir e vir?Até quando temos queconviver com esta violência?

Reply

Adriana Carranca on 7 de maio de 2010 at 11:48

Caros, vejam lá a reportagem da Agência Brasil citada no blog PeloMundo, do Estadão, no link: http://blogs.estadao.com.br/adriana-carranca/

Reply

Luciana on 7 de maio de 2010 at 11:53

Repórter Brasil, divulguem todos os dias. E os produtos vendidosReply

Page 10: Oficina Flagrada No Caso Marisa Também Produziu Para C&a _ Repórter Brasil

09/11/2015 Oficina flagrada no caso Marisa também produziu para C&A | Repórter Brasil

http://reporterbrasil.org.br/2010/05/oficina-flagrada-no-caso-marisa-tambem-produziu-para-c-amp-a/ 10/11

Submit a CommentO seu endereço de email não será

Repórter Brasil, divulguem todos os dias. E os produtos vendidosnestas lojas são caríssimos.Falta responsabilidade social e solidariedade, simplesmente ignorame desrespeitam.

Gilberto Toledo Garcia de Almeida on 8 de maio de 2010 at12:02

Que respeito pode-se esperar de empresários da iniciativa privadapara com os trabalhadores de hoje,se o próprio governo não respeitaos direitos de milhões de aposentados que deram sangue e suor parao crescimento desse País,que no governo do Lula Traíra tiveramperdas em seus benefícios superiores ao do governo passado.Dizemque o Lula, a Dilma e outros mais que foram promovidos de terroristana ditadura para “perseguidos políticos”faturam uma aposentadoriaacima do teto e não dão nada para o Leão; será que estesaposentados especiais tiveram perdas em seus benefícios.Diante datrairagem do Lula se o PT eleger a Dilma,os aposentados em poucosanos serão condenados a só receberem o minímo.

Reply

alex borgomoni on 15 de julho de 2010 at 18:23

Amigo Gilberto, se voce não percebe a diferença entre a gestão Lula eas anteriores, vc precisa parar de mirar o próprio umbigo e perceber.

Reply

evair da costa nunes on 31 de julho de 2010 at 16:56

Caro Alex, o espírito crítico e/ou a vontade de perceber, de ir além dosenso comum de pessoas como Gilberto, foi tolhido pelo seu próprioconservadorismo quando não por sua pusilaminidade.

Reply

Flávio on 4 de fevereiro de 2011 at 23:30

Fico feliz em saber que existe ainda uma mídia preocupada com oque é negligenciado pelos "papelões" diários que nos desinformam.Parabens pelas matérias do site. Como diz uma letra de música "Aescravidão não acabou, é apenas um sonho". José de Souza Martinstambém nos lembra, mas o concenso geral é que a escravidãoacabou.

Reply

Ewerton on 12 de maio de 2013 at 11:58

Não podemos reduzir as falhas morais humanas aos sistemaseconômicos vigentes, o capitalismo visa sim o lucro, no entanto asmesmas pessoas que apodrecem o capitalismo atuariam em paraleloem qualquer outro sistema. O único meio de policiar esses excessos,teoricamente, seria o totalitarismo, mas seria onde as mesmas falhasmorais agiriam de forma ainda mais contundente, pois as pessoas demá índole buscariam estar no controle, custando o que custasse.É fato que para fazer um bem para a humanidade é necessário umgrande esforço e para fazer o mal, as vezes, bastam algumaspalavras.Será que nós consumidores não podemos fazer nada? Será quepodemos escolher uma marca que defenda os mesmo valores quedefendemos? Não seriam, talvez, esses 4 – 5 reais que queremoseconomizar numa loja dessas, os mesmos que forçam outroshumanos a se sujeitarem a essas condições relatadas na reportagem?O que quero dizer, principalmente, é que miséria só gera maismiséria.

Obs: Pesquisa / Realização trabalho acadêmico / EstudosSocioculturais / Curso Administração.

Reply

Page 11: Oficina Flagrada No Caso Marisa Também Produziu Para C&a _ Repórter Brasil

09/11/2015 Oficina flagrada no caso Marisa também produziu para C&A | Repórter Brasil

http://reporterbrasil.org.br/2010/05/oficina-flagrada-no-caso-marisa-tambem-produziu-para-c-amp-a/ 11/11

O seu endereço de email não serápublicado Campos obrigatórios sãomarcados *

Nome *

Email *

Site

Comentário

Você pode usar estas tags e atributos deHTML: <a href="" title=""> <abbr

title=""> <acronym title=""> <b>

<blockquote cite=""> <cite> <code>

<del datetime=""> <em> <i> <q

cite=""> <s> <strike> <strong>

Submit Comment

Repórter Brasil Especiais Referências Programas

Quem somos

Equipe

Transparência

Doe para a RB

Contato

Eles Mandam

Moendo Gente

Transgênicos

Gentrificação

Meia Infância

Dados sobre Trabalho Escravo

Documentários

Publicações

Documentos para pesquisa

Dúvidas do Trabalhador

Jornalismo

Pesquisa

Educação

Comunicar para mudar

Site desenvolvido por +