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299 Em Fevereiro de 2011, o CITCEM iniciou a realização regular das suas Oficinas de Investi- gação, visando criar um espaço dinâmico de divulgação e de debate científico entre todos os seus investigadores e colaboradores, em especial em torno dos projetos de investigação dos estudantes de mestrado, doutoramento ou pós-doutoramento, organizados em conferên- cias temáticas, podendo associar investigadores convidados de outros centros ou universidades nacionais ou estrangeiras. Ao longo do ano, realizaram-se 14 sessões das Oficinas de Investigação, com a apresentação de 46 comunicações ou projetos, seguidas de debates entre os participantes, abrangendo problemáticas de investigação diversificadas, no sentido de cruzar informações, questões teóricas e metodológicas e resultados de pesquisa. As Oficinas de Investigação do CITCEM são organizadas pela Comissão Executiva do centro em colaboração com um Grupo de Trabalho pluridisciplinar, constituído por Carla Sequeira (História Contemporânea), Susana Castro (Literatura), Elsa Pereira (Literatura), Joana Sequeira (His- tória Medieval) e Marta Miriam Ramos Dias (História da Arte). Na primeira sessão das Oficinas de Investi- gação do CITCEM, realizada em 28 de Fevereiro de 2011, o debate centrou-se nas Questões de política económica, entre a Regeneração e o Estado Novo, a partir das comunicações apresentadas por Carla Sequeira (Entre o livre-cambismo e o proteccionismo: o Douro e o vinho do Porto, entre a Regeneração e o Estado Novo), Hugo José Silveira da Silva Pereira (Política ferroviária nacional, 1845-1892 – uma abordagem) e Fernando Sottomayor (A indústria fosforeira portuguesa, antes do monopólio, 1868-1895). A sessão de 11 de Março debruçou-se sobre Questões da História e da Cultura Brasileira, a partir das apresentações de Maria das Graças Andrade Leal, da Universidade da Baía (Socie- dade dos artífices: pioneirismo de associação mutualista na Baía escravista, 1832-1862), Ana Catarina Oliveira Marques (Cadernos do obsceno – a ficção transgressora de Hilda Hilst) e Alexsan- dro Donato Carvalho (Os manuais escolares de história e a cidadania no período de redemocrati- zação do Estado brasileiro: o Programa Nacional do Livro Didáctico – PNLD – entre 1997 e 2011). Questões de Arqueologia foi o tema da Oficina realizada a 25 de Março, tendo o debate sido precedido pelas intervenções de José Manuel Amaral Branco Freire (A Celtização do Ocidente Peninsular – a case study entre duas cronologias culturais: Proto-História e Idade Média), Paulo Costa Pinto (A rede de castros no Noroeste Peninsular) e Pedro Abrunhosa Pereira (O vinho na Lusitânia). A sessão de 29 de Abril versou a temática das Elites intelectuais e políticas: da Academia de Ciências ao Estado Novo, a partir das comunicações de Eurico Gomes Dias (As dinâmicas da construção historiográfica nos primeiros tempos da Academia Real das Ciências de Lisboa, 1792-1814), Nuno Miguel Magarinho Bessa Moreira (Construções da Memória e da Identidade na Revisa de História, 1912-1928: Observações teórico-metodológicas sobre uma observação em curso) e Eliana Brites Rosa (A elite municipal do Porto, 1933-1945: para uma análise política e social do Estado Novo). A primeira das duas Oficinas dedicadas a Questões de História da Educação (3 de Junho) incluiu intervenções de Fernando José Monteiro da Costa (O manual escolar: Alvo, Espelho e Tela), Bruno Pinheiro (História, o ensino e a religião: concepções peda- gógicas, políticas, historiográficas do programa de História do Ensino Liceal no Estado Novo), Mar- celo Magalhães (Entre o balcão e a carteira: notas para a compreensão do ensino técnico comercial no século XX) e Eva Maria Silva Ferreira (Os professores e modelos de profissionalização no Estado Novo) e a segunda, realizada a 16 de OFICINAS DE INVESTIGAÇÃO DO CITCEM 2011 NOTÍCIAS

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Em Fevereiro de 2011, o CITCEM iniciou arealização regular das suas Oficinas de Investi-gação, visando criar um espaço dinâmico dedivulgação e de debate científico entre todos osseus investigadores e colaboradores, emespecial em torno dos projetos de investigaçãodos estudantes de mestrado, doutoramento oupós-doutoramento, organizados em conferên-cias temáticas, podendo associar investigadoresconvidados de outros centros ou universidadesnacionais ou estrangeiras.

Ao longo do ano, realizaram-se 14 sessõesdas Oficinas de Investigação, com a apresentaçãode 46 comunicações ou projetos, seguidas de debates entre os participantes, abrangendoproblemáticas de investigação diversificadas,no sentido de cruzar informações, questõesteóricas e metodológicas e resultados depesquisa. As Oficinas de Investigação doCITCEM são organizadas pela ComissãoExecutiva do centro em colaboração com um Grupo de Trabalho pluridisciplinar,constituído por Carla Sequeira (HistóriaContemporânea), Susana Castro (Literatura),Elsa Pereira (Literatura), Joana Sequeira (His-tória Medieval) e Marta Miriam Ramos Dias(História da Arte).

Na primeira sessão das Oficinas de Investi-gação do CITCEM, realizada em 28 de Fevereirode 2011, o debate centrou-se nas Questões depolítica económica, entre a Regeneração e o EstadoNovo, a partir das comunicações apresentadaspor Carla Sequeira (Entre o livre-cambismo e oproteccionismo: o Douro e o vinho do Porto, entrea Regeneração e o Estado Novo), Hugo JoséSilveira da Silva Pereira (Política ferroviárianacional, 1845-1892 – uma abordagem) eFernando Sottomayor (A indústria fosforeiraportuguesa, antes do monopólio, 1868-1895). Asessão de 11 de Março debruçou-se sobreQuestões da História e da Cultura Brasileira, apartir das apresentações de Maria das Graças

Andrade Leal, da Universidade da Baía (Socie-dade dos artífices: pioneirismo de associaçãomutualista na Baía escravista, 1832-1862), AnaCatarina Oliveira Marques (Cadernos do obsceno– a ficção transgressora de Hilda Hilst) e Alexsan-dro Donato Carvalho (Os manuais escolares dehistória e a cidadania no período de redemocrati-zação do Estado brasileiro: o Programa Nacionaldo Livro Didáctico – PNLD – entre 1997 e 2011).Questões de Arqueologia foi o tema da Oficinarealizada a 25 de Março, tendo o debate sidoprecedido pelas intervenções de José ManuelAmaral Branco Freire (A Celtização do OcidentePeninsular – a case study entre duas cronologiasculturais: Proto-História e Idade Média), PauloCosta Pinto (A rede de castros no NoroestePeninsular) e Pedro Abrunhosa Pereira (O vinhona Lusitânia). A sessão de 29 de Abril versou atemática das Elites intelectuais e políticas: daAcademia de Ciências ao Estado Novo, a partirdas comunicações de Eurico Gomes Dias (Asdinâmicas da construção historiográfica nosprimeiros tempos da Academia Real das Ciênciasde Lisboa, 1792-1814), Nuno Miguel MagarinhoBessa Moreira (Construções da Memória e daIdentidade na Revisa de História, 1912-1928:Observações teórico-metodológicas sobre umaobservação em curso) e Eliana Brites Rosa (A elitemunicipal do Porto, 1933-1945: para uma análisepolítica e social do Estado Novo). A primeira dasduas Oficinas dedicadas a Questões de Históriada Educação (3 de Junho) incluiu intervençõesde Fernando José Monteiro da Costa (O manualescolar: Alvo, Espelho e Tela), Bruno Pinheiro(História, o ensino e a religião: concepções peda-gógicas, políticas, historiográficas do programa deHistória do Ensino Liceal no Estado Novo), Mar-celo Magalhães (Entre o balcão e a carteira: notaspara a compreensão do ensino técnico comercialno século XX) e Eva Maria Silva Ferreira (Osprofessores e modelos de profissionalização noEstado Novo) e a segunda, realizada a 16 de

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Dezembro, envolveu a discussão dos temas dedoutoramento de Maria Amélia VasconcelosFaria (De onde vêm? Roteiro geográfico e socialdos alunos da Escola Secundária Coelho e Castro),Basílio Manuel Marques de Almeida (Educaçãoe formação de adultos – das lógicas daalfabetização à lógica da gestão dos recursoshumanos), Rebeca Helena André (Ensino deHistória em Angola: contexto político e educacio-nal e cooperação) e Tiago Santos Reigada (Oespaço do cinema nos programas e manuais deHistória do 3º ciclo do Ensino Básico). A sessão de17 de Junho discutiu Crítica Textual naLiteratura dos séculos XVII-XX, com base nasintervenções de Cidália Dinis (Francisco deVasconcelos Coutinho: edição crítica da obra deum poeta madeirense), Elsa Pereira (Des/Ventu-ras de um crítico afortunado: a edição das obras deJoão Penha) e Cristiana Pires (Primeiros versosde António Nobre: edição crítica). Novas leiturasda Literatura Contemporânea foi o tema doencontro de 1 de Julho, animado pelascomunicações de José Rui Teixeira (Guilhermede Faria: um poeta neo-romântico redescoberto),Otília Lage (Correspondência(S) Mécia e Jorge deSena: um diário a quatro mãos) e Susana Gui-marães e Castro (Uma Herança bem Moderna: aoculta sedução da música barroca na construçãopolifónica em dois romances de António LoboAntunes). Lino Tavares Dias e David Ferreiraintroduziram o tema da Oficina Desafios actuaisde investigação sobre a paisagem, realizada em 16de Setembro, com as intervenções Indicadorespara unidades de paisagem património: reptos eperspectivas e A paisagem cultural na avaliação deimpactes: ponto de situação e perspectiva. A sessãode 30 de Setembro, sobre Economia Medieval dePortugal: temas, fontes, métodos e problemas,reuniu um bom número de medievalistas, quediscutiram as comunicações apresentadas porJoana Sequeira (Produção têxtil em Portugal nosfinais da Idade Média: um percurso de investiga-ção), Sérgio Carlos Ferreira (As múltiplas facesda moeda portuguesa na Baixa Idade Média),Rodrigo Dominguez (O financiamento da coroaPortuguesa no século XV, 1438-1495) e Flávio

Miranda (O comércio atlântico de Portugal naIdade Média: fontes, problemas e hipóteses).

Até ao final de 2011, realizaram-se ainda as Oficinas A morte e o além: representaçõesmateriais, liturgia e culto (28 de Outubro), comcomunicações de Marta Dias (Uma novainterpretação da Arte Funerária Medieval no con-texto de um projecto de doutoramento), InêsAfonso Lopes (O Purgatório – características deum sistema estruturado e estruturante) e RogérioSousa (A Morte e o Além: representações icono-gráficas no Antigo Egipto) e Redes – problemas emétodos (25 de Novembro). Esta última Oficinaabriu com uma sessão animada por inter-venções de colegas de outros centros e univer-sidades, nomeadamente: de Joaquim Carvalho(Universidade de Coimbra – Equipa doTimelink) sobre Ferramentas e métodos emanálise de redes – o timelink e suas aplicações; deLeonor Freire Costa (ISEG – Instituto Superiorde Economia e Gestão) / Marta Varanda (ICS –Instituto de Ciências Sociais) e Tanya Araújo(UECE – Unidade de Estudos da Complexidadee Economia), sobre Risco em espaços sociais nãocoesos: metodologia e problemas para rever oconceito de redes na historiografia económica; deJorge Pacheco (Departamento de Matemática eAplicações – U. Minho)/Francisco Santos/FlávioPinheiro/João Moreira (ATP-Group/CMAF),sobre Cooperation in complex networks. Foramainda apresentados projectos de estudantes dedoutoramento em História da FLUP e colabora-dores do CITCEM, designadamente, Ana SofiaRibeiro (Comportamentos de cooperação emredes de comércio do século XVI – o caso da redede Simon Ruiz), Sara Pinto (Redes económicas eredes espaciais: intersecções e retroprojecções) eRosa Capelão (A configuração e reforço de redessociais mediante um sistema de crenças comparti-das: O negócio de relíquias).

A importância das Oficinas de Investigação doCITCEM, como espaço de debate científico e dediálogo interdisciplinar, justifica a sua pros-secução em 2012, estando já a ser preparado orespectivo programa pelo mesmo Grupo deTrabalho que coordenou as Oficinas de 2011.

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O CEPIHS – Centro de Estudos e Promoçãoda Investigação Histórica e Social –, com sedeem Torre de Moncorvo, fundado em Setembrode 2010, incide a sua actuação nas regiõestransmontana e alto-duriense. Este projectoconvocou, desde logo, o interesse de conceitua-dos especialistas de diferentes áreas do saber ede outros com responsabilidades culturais.Todos partilham da necessidade de desenvolvero conhecimento destas regiões à luz de umaanálise conceptual e crítica do patrimóniocultural, mas, também, dos processos e daspotencialidades que se lhe associam.

Nesta acepção, o Centro de Estudos con-grega recursos humanos e materiais, desen-volve parcerias locais e regionais, adoptapráticas de trabalho colaborativo. Aos investi-gadores oferece uma grande variedade decampos temáticos, numa linha multi e interdis-ciplinar, e a fruição de um acervo acauteladopelos arquivos, museus e bibliotecas, públicos eparticulares. O CEPIHS, afirma-se, por isso,como um espaço privilegiado de pensar acultura e os seus territórios, um espaço dereferências e de diferenciação, um espaçogerador de dinâmicas e do equacionar dequestões. O discurso crítico e argumentadorresultante dos vários e válidos contributostraduz-se num amplo e rico leque de explica-ções e de representações.

O conhecimento assim construído, ampliadoou aprofundado, local e regional mas inseridona realidade nacional, fica disponível através dasua divulgação, quer em encontros e colabora-ções científicos, quer através de publicaçõescomo a Revista do CEPIHS. Centrado na

Primeira República e enquadrado na celebra-ção do centenário da sua implantação, oprimeiro exemplar, de Janeiro de 2011, reúneum conjunto de artigos que fomentam umaimportante reflexão sobre esta realidade, aoporem em jogo distintos ângulos de análise.Encontramos, entre eles, os que nos trazem aespecificidade deste período histórico noconcelho de Torre de Moncorvo, trabalhos quepatenteiam uma pertinente abordagem dasfontes locais, nomeadamente, da imprensa.

A existência do Centro de Estudos conta,ainda, com a celebração recente, de umprotocolo com o Instituto Piaget, de Macedode Cavaleiros, sinónimo de uma tarefa que emcomum se partilha: a de se reflectir a nossaherança cultural – que se resguarda e lega – eque não é mais do que a necessidade de sepreservar uma memória que dê um sentido decontinuidade ao presente e consistência àprodução futura.

Ancorado o CEPIHS neste ciclo temporal,figuramo-lo como a participação de constru-ções e de modelos que se vão modificando aosabor das interpretações de novos dados. Nãohá um saber último. A história das culturas, dascivilizações, das ideias e sensibilidades que seforam sucedendo, tem na sua essência umconstante fazer e desfazer ao classificar, inter-pretar e diferenciar os objectos e as matérias,que admite como os do seu estudo, numatarefa para sempre interminável. Neste sentido,e em última instância, o CEPIHS está emrelação com o mais vasto pano de fundo – anossa própria identidade.

CEPIHS – CENTRO DE ESTUDOS E PROMOÇÃO DA INVESTIGAÇÃOHISTÓRICA E SOCIAL – TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOUROADÍLIA FERNANDES(CITCEM/DIREÇÃO DO CEPIHS)

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«O Clero Secular Medieval e as suascatedrais. Novas perspectivas e abordagens» é otítulo de um Encontro Internacionalpromovido pelo Centro de Estudos de HistóriaReligiosa (CEHR), organizado em duas sessõestemporalmente distintas, mas que se comple-tam mutuamente. A primeira sessão do Encon-tro, decorrida em Outubro de 2010, reuniuespecialistas que se debruçaram sobre espaços,símbolos e poderes do mundo catedralício. Já asegunda sessão, na qual participou a signatária,teve lugar em 1 e 2 de Abril de 2011, e dedicou-se especialmente ao mundo das culturasmaterial e intelectual do clero das catedrais.

O primeiro painel de conferências versousobre a cultura material, tendo sido apresentadosestudos sobre liturgia, inventários de espólio(nomeadamente no que se refere a vestuário,habitação, mobiliário, etc.), paramentaria e ouri-vesaria conservadas em museus. O debate que selhes seguiu abriu caminho para um workshopsobre o quotidiano dos clérigos seculares nosséculos XIV e XV, no qual foram brevementeexpostas tanto hipóteses de trabalhos adesenvolver, como investigações em curso. Seráde salientar a participação de estudiosos maisexperientes ao lado de outros menos conhecidos,bem como o facto de alguns não pertencerem acentros universitários mas a instituições ligadas àconservação do património, como museus.

A cultura intelectual do clero constituiu o

tema de enfoque do segundo painel. Tema que,como não podia deixar de ser, se centrouessencialmente no ensino realizado nas cate-drais medievas, na escrita, nas bibliotecas indi-viduais ou institucionais e nos arquivos doscartórios capitulares. As dificuldades que secolocam ao estudioso do ensino nas catedraishispânicas; os elementos que os vários manus-critos avulsos oferecem para uma abordagemsobre os diversos níveis de literacia e práticasescreventes dos autores dos textos; e o recursoa bibliografia existente nas catedrais, nomeada-mente de índole jurídica, alimentaram adiscussão entre os presentes permitindo trazerà luz do dia uma série de questões que têmestado subjacentes às análises que urge fazer.

Com este evento pretendeu-se, por umlado, dar a conhecer trabalhos de investigaçãoque se têm vindo a desenvolver no nosso paíssobre o clero secular português na IdadeMédia, e, por outro, apontar novas perspectivasde estudo. Por essa razão, o Encontro revelou-se da maior importância, até porque, além dehistoriadores tout court, reuniu especialistasnacionais e estrangeiros oriundos de áreascientíficas distintas, como é o caso da Museo-logia, da Arqueologia e da História da Arte.Tornou-se patente deste modo a importânciado cruzamento de dados obtidos por estudosespecíficos, que se completam com o conheci-mento do que se investiga em disciplinas afins.

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O CLERO SECULAR MEDIEVAL E AS SUAS CATEDRAIS. NOVAS PERSPECTIVAS E ABORDAGENSMARIA CRISTINA CUNHA (FLUP/CITCEM)

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A escavação do sítio do Castelo de Cres-tuma foi iniciada em 2010. Todavia, o local é járeferido por diversas fontes desde o séculoXVIII1 como um possível castelo, torre oucastro, com referências, pelo menos desde adécada de 1940 a vestígios arqueológicos2.

A primeira visita de um dos arqueólogosligados a este projecto, Gonçalves Guimarães,terá sido realizada em 1986. A partir destemomento, uma série de contactos deste investi-gador e de António Manuel Silva com o localleva a que o mesmo seja referido várias vezesem publicações da sua autoria3. O contacto daJunta de freguesia de Crestuma com G.Guimarães, no ano de 2000, ocasionou umadeslocação ao sítio durante trabalhos deconstrução de uma estrutura sanitária, visita

que deu azo ao primeiro artigo monográficosobre o sítio4. Todavia, será apenas em 2010 quese iniciarão os trabalhos de escavação, desenvol-vidos pelo Gabinete de História, Arqueologia ePatrimónio da Confraria Queirosiana e finan-ciados pelo Parque Biológico de Gaia (actual-mente Águas e Parque Biológico de Gaia,EEM), contando ainda com o apoio da Junta deFreguesia de Crestuma e da Gaianima, EEM.

Os trabalhos arqueológicos são dirigidospor uma equipa coordenada por AntónioManuel Silva e Joaquim A. Gonçalves Guima-rães, integrando os arqueólogos Filipe Pinto,Laura Sousa, Paulo Lima e Pedro Pereira. Otrabalho de campo tem sido realizado por umaequipa profissional que inclui ainda outrosarqueólogos, assistentes de arqueólogo e alunosda licenciatura em Arqueologia da Faculdadede Letras da Universidade do Porto.

Estendendo-se pelo interior e imediações doactual Parque Biológico de Crestuma (freguesiade Crestuma, Vila Nova de Gaia), o sítio ocupaum esporão rochoso sobranceiro ao rio Douro,a jusante da confluência com o Rio Uima. A áreaque revela ocupação humana anterior à moder-nidade delimita-se geograficamente entre oMonte do Outeiro (onde vestígios de ocupaçãoantiga foram também detectados), a Sul e sepa-rado por um fosso artificial do promontório, e oRio Douro, a Norte. Trabalhos relativamenterecentes de construção terão destruído even-tuais vestígios a Este do Parque Biológico e aOeste do areal de Favaios, as duas zonas actual-mente intervencionadas.

O estudo do sítio prende-se sobretudo coma sua história entre o Baixo-império Romano e

1 CARDOSO, Luis (1747) – Dicionário Geográfico.T. II, p. 155. 2 SOUSA, Arlindo de (1957) – Antiguidades do Municípiode Gaia: Civilizações Pré-romanas, Romana e RomanaPortuguesa. Estudos de Arqueologia, Etnologia e História.Rio de Janeiro; ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de (1978)– Castelologia Medieval de Entre-Douro-e-Minho, desdeas origens até 1220. Trabalho complementar paraapresentação de provas de doutoramento em História daArte apresentado à Faculdade de Letras da Universidadedo Porto. Porto. Texto dactilografado; ALMEIDA, CarlosAlberto Ferreira de (1989) – Castelos e cercas medievais,séculos X a XIII. In História das Fortificações Portuguesasno Mundo (direcção de Rafael Moreira) Lisboa: PublicaçõesAlfa, p. 38-54.3 GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (1993) – Alguns materiaisarqueológicos de estações da margem sul do Rio Douro:as tegulae. «Lvcerna, Cadernos de Arqueologia do Centrode Estudos Humanísticos», 2.ª série, vol. 3 (Actas do VIColóquio Portuense de Arqueologia, 1987). Porto, p. 217-235; SILVA, António Manuel S. P. (1994) – Proto-história eRomanização no Entre Douro e Vouga Litoral. Elementospara uma avaliação crítica. Dissertação de Mestradoapresentada à Faculdade de Letras da Universidade doPorto. Porto. Texto policopiado; e SILVA, António Manuel S.P. (2007) – Revisão do Plano Director Municipal de VilaNova de Gaia: Património Arqueológico; PatrimónioGeomorfológico. Relatório Final. Vila Nova de Gaia. Textodactilografado.

4 GUIMARÃES, J. A. Gonçalves; GUIMARÃES, SusanaGonçalves (2001) – O Castelo de Crestuma, uma estaçãoarqueológica quase desconhecida. «Al-madam», 2.ª série,10 (Dezembro). Almada, p. 43-47.

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TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS NO CASTELO DE CRESTUMA(Crestuma, Vila Nova de Gaia) – Campanha de 2011PEDRO PEREIRA(CITCEM / UMR 5138 ARCHÉOMÉTRIE ET ARCHÉOLOGIE - ULLII/CNRS)

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a Alta Idade Média. No sector correspondente àpraia de Favaios, os vestígios construídos sãomuito difusos, como aliás, no resto do arqueo-sítio. Todavia, a existência de derrubes e dediversas reutilizações de blocos de granito,material exógeno à zona, demonstram aanterior existência de estruturas. Igualmente, avasta amostragem de materiais exumados,sobretudo dos séculos V e VI, constituem umaboa base de estudo para o sítio. A opção derealizar uma intervenção neste areal deve-se auma série de factores, nomeadamente apresença de abundantes cerâmicas arqueoló-gicas visíveis à superfície. Os resultados dasprimeiras campanhas, a detecção de grandessilhares almofadados aparecidos nas perfura-ções relacionadas com a instalação do gasodutoe os dados preliminares de prospecções porgeo-radar, levam-nos a crer que poderá terexistido uma estrutura portuária nesta zona, oque poderá justificar a grande quantidade de

materiais de importação do levante mediter-rânico e de outras áreas da Hispânia.

Na zona relativa ao interior do ParqueBiológico de Crestuma, junto à Casa da Eira, asevidências de construções são igualmente ves-tigiais, sendo constituídos sobretudo pornumerosas estruturas negativas, escavadas emfragas. Também aqui encontramos diversosblocos de granito reutilizados em construçõesrecentes. Este tipo de vestígios encontram-seum pouco por toda a área do cabeço do pro-montório e até cotas relativamente baixas (atéao momento, foram detectadas inúmerasestruturas negativas de diversos tipos e feitios eblocos aparelhados em granito, reutilizados emmuretes de contenção de terras e edifíciosrecentes). Devido à fraca potência estratigrá-fica, este tipo de estruturas estão, na maiorparte das vezes, demasiado violadas para serpossível determinar os momentos de utilização.Todavia, através de uma cuidadosa escavação

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estratigráfica e dos primeiros estudos doespólio algumas hipóteses sobre o faseamentoda ocupação começam a emergir. A escolha dazona intervencionada decorre da presença denumerosos entalhes visíveis nos afloramentosrochosos aflorantes, para além de espóliosuperficial, o que poderia relacionar-se com o aexistência de um castelo, «Castr’uima», refe-rido pelas fontes históricas na zona, o quepoderá remeter para a instalação de dispositi-vos defensivos e/ou áreas habitacionais entre oBaixo Império e o período da reconquistacristã.

Na campanha de 2011 continuaram-se ostrabalhos de escavação nas duas zonas inter-vencionadas em 2010, ampliando-se as áreas deescavação. No sector da Praia de Favaios, o

alargamento da área de escavação permitiudefinir os limites totais de um derrubedetectado na campanha anterior, o seu registoe posterior desmonte. No sector localizado nointerior do Parque Biológico de Crestuma, ostrabalhos deste ano permitiram o alargamentoda área de escavação e a continuação detrabalhos do ano anterior. No alargamento aNoroeste, foram descobertas estruturas, comuma continuidade cronológica semelhante à dazona escavada em 2010.

Os dados provenientes da escavação deCrestuma prometem, assim, ajudar a desmisti-ficar muitas teorias aceites pela historiografiatradicional para o período da transição entre oBaixo-império Romano e Alta Idade Média nabacia do Douro.

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O CITCEM organizou, no passado dia 20 a22 de Outubro de 2011, na Faculdade de Letrasda Universidade do Porto, o seu segundoencontro, subordinado ao tema O MAR –patrimónios, usos e representações (http://www.citcem.org/encontro/) que se insere noquadro das actividades científicas estabelecidasdesde 2010, de dinamização da investigação econhecimento científico programadas no seuplano de actividades.

O encontro procurou convocar a comuni-dade científica com o objectivo de organizarum debate interdisciplinar, historicamenteorientado, sobre o Mar, os seus patrimónios,usos e representações, em torno de temaspropostos e debatidos em painéis temáticos:

Paisagens marítimas e ordenamento marítimo;Portos e actividades portuárias;Recursos marítimos;A economia do mar e os usos económicos do mar;Populações marítimas;Patrimónios marítimos;Memórias e identidades marítimas;Dinâmicas marítimas e globalização;Urbanismo em frentes de mar;Viagem, turismo e lazer;e Representações do mar.

Esta iniciativa inseriu-se, por um lado,numa estratégia definida pelo CITCEM, nosentido de criar espaços de debate que permi-tam o cruzamento dos investigadores e dainvestigação que se tem desenvolvido nas dife-rentes linhas de investigação que o estruturam:a) Paisagens, Fronteiras e Poderes; b) Históriadas Populações; c) Sociabilidades, Práticas eFormas de Sentimento Religioso: d) Multicul-turalidade e Diálogo Internacional; e) Memó-ria, Património e Construção de Identidades.

Por outro lado, justificou-se por se tratar deuma temática oportuna numa época em que asCiências Sociais e Humanas deverão desempe-nhar um papel crescente na transversalidade dainvestigação em torno do Mar e dos seus usos.Refira-se que, já em 16 a 19 de Junho de 2011,o CITCEM participou no Fórum do Mar, quedecorreu na EXPONOR, com o apoio da Reito-ria da Universidade do Porto e inserido nopavilhão que apresentava a investigaçãocientífica realizada na Universidade do Porto(http://www.forumdomar.exponor.pt/apresentacao.aspx), no qual se propôs um slogan defundo, pelo seu significado semântico ehistoriográfico plural: «EM REDE: relemos opassado, projectamos o futuro».

O Congresso atraiu a comunidade científicainternacional (46 investigadores) e nacional (73investigadores), que submeteu painéis temáticosou enviou comunicações individuais, num totalde 90 comunicações apresentadas. Investigadoresde outras áreas do conhecimento, que não aHistória, foram interlocutores. Em termos depropostas de apresentação de comunicações e departicipação dos debates, em ordem a promoverum desejável e necessário diálogo multidiscipli-nar, contaram-se investigadores de Geografia,Etnografia, Antropologia, Sociologia, Demogra-fia, História da Arte, Cinematografia e Fotogra-fia, Museologia, Cultura e Literatura, Arqueo-logia Marítima, Urbanismo, Biologia.

Incentivou-se, em particular, a participaçãode jovens investigadores (39 com comunicação e42 sem comunicação). Sessões específicas foram,ainda, dedicadas à apresentação de projectos deI&D (3 sessões), assim como à apresentação deposters que decorreu em paralelo.

Cinco sessões plenárias/conferências foramde relevante interesse para proceder à aberturade reflexões e debates científicos. Logo na aber-

II ENCONTRO DO CITCEMO MAR – PATRIMÓNIOS, USOS E REPRESENTAÇÕES.PORTO, 20-22 OUTUBRO 2001COMISSÃO ORGANIZADORA DO II ENCONTRO

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tura, uma reflexão interdisciplinar, realizada porum biólogo, o Professor Mário Ruivo, Presi-dente da Comissão Oceanográfica Intersectorialdo Ministério Português da Ciência, Tecnologiae Ensino Superior COI/MCTES, subordinadoao título O Oceano: de espaço misterioso e desco-nhecido a património comum da humanidade. Asegunda sessão, pelo historiador Poul Holm(University of Dublin, Trinity College), respon-sável pela participação das Ciências Sociais eHumanas no projecto Census of Marine Life(Past, present and future), que reflectiu sobre aevolução das Marine resources. A terceira sessãoplenária, no segundo dia, debateu Os usoseconómicos do mar, sendo a abordagem de AnaMaria Rivera Medina (Universidad Nacional deEducación a Distancia, Madrid), que propôs aabordagem micro Del paisaje natural al paisajetransformado: mutaciones y adaptaciones de lospuertos vizcaínos, Ss. XIV-XVI. Numa quartasessão, Gelina Harlaftis, investigadora grega daIonian University, procedeu a uma abordagemdas dinâmicas marítimas com a conferênciaChanges in the Mediterranean trade and shipping of the 18th century: The dynamicsof the ‘maritime city’ of the Ionian and AegeanSeas. Finalmente, na manhã do terceiro dia, JuanAlegret, da cátedra de Estudos Marítimos e daequipa que lidera o Museu de Pálamos, Girona,Província da Catalunha, apresentou o resultado

Teve lugar na Universidade de Coimbra oCongresso Luso-Brasileiro da História dasCiências, evento que decorreu de 26 a 29 deOutubro, realizado no âmbito do projectoHC/0119/2009 – História da Ciência na Uni-versidade de Coimbra (1547-1933), financiadopela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

Promovido pelo Museu da Ciência da Uni-

versidade de Coimbra (UC), resultou de umaorganização conjunta de especialistas portugue-ses e brasileiros, com o objectivo de promover aHistória da Ciência na UC desde a edificação doColégio Jesuíta, em 1547, até à altura em que teveinício o Estado Novo, em 1933. Foi ainda ummomento de celebração dos 100 anos daFaculdade de Ciências de Coimbra, que resultou

da investigação e da divulgação mediadora doconhecimento científico, no seu discurso queversou a Producción patrimonial maritima encontextos neo-museograficos. El ejemplo delproceso de patrimonialización del «pescado depoco precio» en el Espai del Peix de Palamós.

Os painéis organizados em 31 sessõesparalelas ao longo dos três dias de realização doEncontro, demonstraram a dinâmica gerada.

As conclusões apresentadas na sessão deencerramento, para além de salientarem aelevada produtividade do Encontro, a suanotória internacionalização e o cumprimentocabal do objectivo da pluridisciplinaridade a quese propunha, projectaram também uma série dedesafios para investigações futuras. Foi, emparticular, salientada a necessidade de se desen-volverem projectos de investigação colectiva, denatureza efectivamente inter e transdisciplinar,bem como a de se promoverem programas deestudos pós-graduados, a nível de mestrado edoutoramento, em ordem a criar Escola, nosentido académico do termo, nas áreas científi-cas envolvidas pelos Estudos do Mar. Foi aindasublinhada a pertinência e a necessidades derealização de Encontros desta mesma natureza,tendo o Mar como objecto, em tempos em quea Universidade do Porto e os planos estratégicosnacionais e europeus promovem o Mar comouma das suas prioridades centrais.

CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS.UNIVERSIDADE DE COIMBRA, 26-29 OUTUBRO 2011RUI MANUEL PINTO COSTA (CITCEM/CEIS20)

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CEM N.º 2/ Cultura,ESPAÇO & MEMÓRIA

da fusão das Faculdades de Filosofia e Matemá-tica, criadas pela Reforma Pombalina.

O volume algo inusitado de comunicaçõesenglobou mais de 200 trabalhos apresentados ediscutidos nos vários auditórios disponibiliza-dos simultaneamente para o efeito, uma vezque a adesão manifestada pela elevada quanti-dade de inscrições ultrapassou as expectativasiniciais.

As sessões plenárias contaram com apresença de personalidades de destaque ligadasà História das Ciências, em áreas tão latas edistintas entre si como a matemática, a filoso-fia, as ciências da vida, a astronomia e asciências da Terra, passando ainda pela incon-tornável intersecção de relações entre ciência epolítica. Entre os oradores convidados para asconferências de fundo destacamos AntónioAugusto Passos Videira (Universidade Estadualdo Rio de Janeiro – UERJ), Henrique Leitão(Universidade de Lisboa), Jaime Benchimol(Casa de Oswaldo Cruz/FIOCRUZ), FernandoCatroga (Universidade de Coimbra), JoãoLobo Antunes (Universidade de Lisboa), UgoBaldini (Università degli Studi di Padova),Marina Massimi (Universidade de São Paulo),Robert Halleux (Université de Liège) e RobertFriedman (Universidade de Oslo). Não faltouainda uma justa homenagem póstuma aManuel Serrano Pinto da Universidade deAveiro, um dos membros da comissão organi-zadora entretanto falecido alguns meses antesda abertura do Congresso.

Privilegiando a História das Ciências rela-cionada com a Universidade de Coimbra e asrelações luso-brasileiras, as diferentes áreas dediscussão temática estenderam-se do «Conhe-cimento científico nos séculos XVI e XVII» à«Filosofia e teoria da ciência», passando pelo«Ensino das ciências pelos Jesuítas», «Asciências no Iluminismo», «O desenvolvimentocientífico nos séculos XIX e XX», «As ciênciasmatemáticas e a astronomia», «As ciênciasmédico-farmacêuticas no universo lusófono»,«As instituições científicas e o patrimóniohistórico-científico», os «Cem anos das Facul-

dades de Ciências», as «Fontes da ciência por-tuguesa e brasileira», e ainda a «Arte, ciência etecnologia na História».

Estas onze áreas pelas quais se dividiram as131 comunicações orais e 72 posters, ilustrambem a multiplicidade e o interesse associado àHistória das Ciências, objecto em crescendocontínuo e invulgar na produção historiográficados últimos anos, tanto em Portugal como noBrasil. O maior número de comunicações apre-sentadas centrou-se no âmbito das «Ciênciasmédico-farmacêuticas no universo lusófono» enas «Instituições científicas e o patrimóniohistórico-científico», se bem que a secçãorelativa às «Fontes da ciência portuguesa ebrasileira: caminhos e descaminhos» tivesseigualmente reunido uma fatia considerável dasintervenções. Tanto nas sessões plenárias comonas comunicações em sessões paralelas, seguiu-se o modelo da apresentação seguida de debatefinal, moderado por um especialista, colocandono mesmo plano os trabalhos de investigadoresjovens e seniores, num diálogo que se mostrouproveitoso e potenciador de ensaios futuros.

Produzidos essencialmente por investigado-res dedicados à História, muitos dos estudosapresentados foram também elaborados porcultores de outras áreas disciplinares, com sejama Física, a Química, a Matemática, a Medicina eoutras, mostrando o carácter agregador que aHistória tem na interligação que consegueproporcionar entre os cultores das ciências ditasexactas e as ciências sociais e humanas.

No caso português, não faltou a presençamassiva de investigadores e respectivos trabalhosafectos aos principais centros dedicados à His-tória e/ou Filosofia das Ciências, como é o casodo Centro Inter-universitário de História dasCiências e da Tecnologia (CIUHCT), do Centrode Estudos de História e Filosofia da Ciência(CEHFCi) ou do Centro de Estudos Interdisci-plinares do Século XX (CEIS20), este últimorepresentado em larga medida pelo Grupo deInvestigação de História e Sociologia da Ciência.Foi inserido numa sessão afecta às «Ciênciasmédico-farmacêuticas no universo lusófono»

NOTÍCIAS

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moderada por Maria de Fátima Nunes (CEHFCi)que o Centro de Investigação Transdisciplinar«Cultura, Espaço e Memória» (CITCEM) esteverepresentado, quando Rui Manuel Pinto Costaapresentou uma comunicação intitulada«Câmara Pestana e o Micróbio do Carcinoma:um caso de oncologia experimental em Portugalno último quartel do século XIX».

Uma palavra acerca do livro de Actas; apre-sentado em formato CD e adossado interna-mente ao Livro de Resumos, foi disponibili-zado desde o início do Congresso e trata-se deum instrumento de trabalho riquíssimo e deextrema utilidade. Este é apenas mais um

Promovido pela Câmara Municipal de Gui-marães e inserido na programação da CapitalEuropeia da Cultura, realiza-se em Guimarães,de 24 a 26 de Outubro de 2012, no CentroCultural Vila Flor, o I Congresso Internacional«As cidades na História», subordinado ao temaPopulação.

A história das cidades é fulcral na investiga-ção histórica, qualquer que seja a abordagemescolhida, População, Economia, Sociedade,Cultura, ou Arte. Foi lançado um desafio aosdiferentes parceiros europeus de aprofunda-mento da história das suas cidades na longaduração, constituindo-se como uma importan-tíssima ocasião de diálogo e de encontro deraízes culturais comuns, com consequênciasque podem ultrapassar os objectivos científicosde partida.

Numa lógica de construção de um saberintegrado, o I Congresso Internacional «AsCidades na História» incide sobre a temática daPopulação, primeira distinção entre mundourbano e mundo rural. Neste Congresso

abordar-se-á a evolução da população urbanaem contextos históricos e geográficos distintos,desde a Cidade Antiga à Cidade do Presente acaminho do Futuro. Serão temas em análise aevolução de quantitativos populacionais, oregime demográfico próprio das cidades, com-parações entre demografia urbana e demogra-fia rural no que respeita a comportamentos denupcialidade, fecundidade, mortalidade oumobilidade. Dar-se-á relevo à mobilidadecampo-cidade e cidade-campo, à distribuiçãoespacial dos imigrantes dentro do mundourbano, ao papel da cidade como destino efonte de redistribuição das migrações interna-cionais, às diferentes respostas a momentos decrise demográfica, à «penalização urbana» emmatéria de saúde e fecundidade, ao pesopolítico da cidade e suas instituições face àpopulação. O Congresso dividir-se-á em cincograndes áreas temáticas: a cidade no mundoantigo, na época medieval, moderna, industriale transição demográfica e, finalmente, a cidadena época actual.

ponto a favor do trabalho desenvolvido poruma comissão organizadora que soube estar aonível do esperado, destacando-se o papeldesempenhado pela coordenação de CarlosFiolhais, Carlota Simões e Décio Martins.

Pode afirmar-se, sem correr o risco de separecer superlativo, que se tratou do maiorevento dedicado à História das Ciências reali-zado no país em 2011 (e até dos últimos anos),onde a multiplicidade de olhares de amboslados do Atlântico se entrecruzaram e concilia-ram para enriquecer de modo significativo opanorama cultural e historiográfico no uni-verso lusófono.

CONGRESSO INTERNACIONAL «AS CIDADES NA HISTÓRIA: POPULAÇÃO»GUIMARÃES, 24-26 DE OUTUBRO DE 2012

NORBERTA AMORIM (UM/CITCEM)

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CEM N.º 2/ Cultura,ESPAÇO & MEMÓRIA

O CITCEM – Centro de InvestigaçãoTransdisciplinar «Cultura, Espaço & Memória»integra mais de uma centena de investigadoresque se encontram a preparar as suas provas dedoutoramento, constituindo a articulação coma formação avançada um dos principais eixosestratégicos de desenvolvimento do centro.Para esses investigadores, o projecto de investi-gação da sua tese concentra, ao longo de váriosanos, a maior parte da sua actividade científica.

A integração, visibilidade e valorização dotrabalho desses investigadores passa pelaparticipação regular em diversas actividades docentro, desde a inserção em equipas deprojectos à apresentação de comunicações emencontros científicos no país ou no estrangeiro,organizados pelo CITCEM ou por outrasentidades, à colaboração nas revistas e publica-ções colectivas da unidade. Porém, muitas dessasactividades, bem como o reconhecimento quedecorre da obtenção do título através daaprovação da tese apresentada em provaspúblicas, ficam, frequentemente, confinadas aouniverso académico. Para estimular uma maiorvisibilidade pública desses trabalhos entendeua Comissão Executiva do CITCEM instituir, emcolaboração com as Edições Afrontamento, o

PRÉMIO CITCEM/AFRONTAMENTO «TESESUNIVERSITÁRIAS».

O Prémio, a atribuir com a periodicidadeanual, visa distinguir as melhores teses dedoutoramento apresentadas por investigadoresdo CITCEM em qualquer universidade portu-guesa ou estrangeira no ano transacto ao dasua atribuição.

Valorizando as teses aprovadas comclassificação máxima, que melhor traduzam oespírito transdisciplinar do CITCEM, o Prémiopretende, ainda, dar maior visibilidade públicaàs teses de doutoramento realizadas porinvestigadores do centro, através da respectivapublicação em colecção própria, co-editadapelo CITCEM e pelas Edições Afrontamento.

Na sua edição de 2011, a que se candidata-ram diversas teses defendidas no ano de 2010, ojúri do PRÉMIO CITCEM/AFRONTAMENTO2011 atribuiu o primeiro lugar ex-aequo aostrabalhos O Anacronismo no Romance HistóricoPortuguês Oitocentista, da autoria de Ana Mariados Santos Marques; O Alto Douro entre o livre-cambismo e o proteccionismo, da autoria de CarlaMaria Sequeira Ferreira; e Luta contra o cancro eoncologia em Portugal. Estruturação e normaliza-ção de uma área científica (1889-1974), daautoria de Rui Manuel Pinto Costa.

PRÉMIO CITCEM/AFRONTAMENTO «TESES UNIVERSITÁRIAS»

Cada uma destas áreas terá uma sessãoplenária estruturada em torno de dois confe-rencistas, um português e outro estrangeiro, eum conjunto de sessões paralelas de apresenta-ção de trabalhos sobre as respectivas temáticas.O Congresso finalizará com uma mesa redondasobre a cidade do futuro.

O Congresso é co-organizado por: CITCEM,Asociación de Demografia Histórica (ADEH),Società Italiana di Demografia Storica (SIDES),

Société de Démographie Historique (SDH) eAssociação Portuguesa de Demografia (APD).Presidente Honorário do Congresso: Prof.Doutor Diogo Freitas do Amaral; Presidentedo Congresso: Prof. Doutor Luís A. de OliveiraRamos; Coordenadores da Comissão Científicaos Professores David Reher (UniversidadeComplutense de Madrid) e Maria NorbertaAmorim (GHP/CITCEM/ /Universidade doMinho).