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Programa de Pós-Graduação em Ecologia Universidade Federal do Rio Grande do Norte ESEC - Seridó 2010 Curso de Campo PPG Ecologia UFRN

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Programa de Pós-Graduação em Ecologia Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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2 Curso de Campo PPG Ecologia, UFRN, 2010. Caatinga, ESEC Seridó

Conteúdo

Conteúdo Página

Agradecimentos 4

Sobre o Curso de Campo 5

A Caatinga da ESEC Seridó 9

Parte I Projetos com orientação

Projetos orientados 1

VIGOR DE Bauhinia cheilantha E SUA VULNERABILIDADE A HERBÍVOROS EM

UMA ÁREA DE CAATINGA

12

A ATIVIDADE DE TERMORREGULAÇÃO DE DUAS ESPÉCIES SINTÓPICAS DE

Troidurus (SQUAMATA, TROPIDURIDAE) EM UMA ÁREA DE CAATINGA NO

RIO GRANDE DO NORTE

15

INFLUÊNCIA DE RIO TEMPORÁRIO SOBRE A TAXOCENOSE DE COLLEMBOLA

EM UMA ÁREA DE CAATINGA DO NORDESTE BRASILEIRO

19

CONVERGÊNCIAS ADAPTATIVAS EM RESPOSTA À PLUVIOSIDADE ENTRE

PLANTAS BRASILEIRAS E AUSTRALIANAS

22

Projetos orientados 2

CARACTERIZAÇÃO DE COMUNIDADES DE COLÊMBOLOS EM ÁREAS COM

DIFERENTES USOS DO SOLO DA CAATINGA

27

FUGA ANTI-PREDADOR DE Tropidurus hispidus E Tropidurus semitaeniatus

(TROPIDURIDAE) EM UMA ÁREA DE CAATINGA

32

INFLUÊNCIA DO EFEITO DE BORDA NA RIQUEZA E ESTRUTURA DE PLANTAS

LENHOSAS EM UMA ÁREA DE CAATINGA NO RIO GRANDE DO NORTE

36

INFLUÊNCIA DO USO DO SOLO SOBRE A COMPOSIÇÃO DA TAXOCENOSE DE

FORMIGAS EM DUAS ÁREAS DE CAATINGA

41

Projetos orientados 3

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3 Curso de Campo PPG Ecologia, UFRN, 2010. Caatinga, ESEC Seridó

INTERAÇÃO TRITRÓFICA EM Mimosa hostilis: HERBÍVOROS PODEM SER

BENÉFICOS PARA AS PLANTAS?

46

NINHOS ABANDONADOS DE TÉRMITAS POSSUEM UMA FAUNA PECULIAR DE

INVERTEBRADOS: UM ESTUDO COM Constrictotermes cyphergaster NA

CAATINGA

51

ODOR DA FUGA: EFEITO DA DETECÇÃO DE PREDADORES POR Seira sp.

(COLLEMBOLA; ENTOMOBRYIDAE) 55

SELEÇÃO DE MICROHABITAT POR Cnemidophorus ocellifer EM ÁREA DE

CAATINGA, SERRA NEGRA DO NORTE, RN 58

Parte II - Projetos livres

DEFESA DE ESTRUTURAS REPRODUTIVAS DE Macroptilium lathyroides (L.)

(FABACEAE) POR FORMIGAS Camponotus SP. EM UMA ÁREA DE CAATINGA,

NORDESTE DO BRASIL

65

PADRÃO DE DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE Caesalpinia pyramidalis Tul.

(FABACEAE) e Aspidosperma pyrifolium Mart. (APOCYNACEAE) EM UMA

ÁREA DE CAATINGA, NORDESTE DO BRASIL

70

A ATIVIDADE DE ODONATOS (ARTHROPODA: HEXAPODA: INSECTA) VARIA

AO LONGO DO DIA EM UMA CAATINGA NO NORDESTE DO BRASIL? 75

EFEITO DA ALTITUDE SOBRE A DIVERSIDADE DE COLLEMBOLA

(ARTHROPODA: HEXAPODA) EM UMA ÁREA DE CAATINGA NO RIO GRANDE

DO NORTE

81

EFEITO DA QUALIDADE DO HABITAT E DENSIDADE DE PREDADORES SOBRE A

TAXOCENOSE DE COLLEMBOLA (ARTHROPODA: HEXAPODA)

87

4 Curso de Campo PPG Ecologia, UFRN, 2010. Caatinga, ESEC Seridó

AGRADECIMENTOS

Aos professores André Megali e José Luiz de Attayde, Coordenadores do Programa de

Pós-Graduação em Ecologia (PPGE) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

por todo apoio dispensado para a realização desta segunda versão da disciplina

Ecologia de Campo; Ao Sr Juan Marcelo de Oliveira e ao Sr George S. Batista, Gestores

da Estação Ecológica do Seridó-RN, pelo apoio e hospitalidade na Unidade; Ao Prof

Adalberto Varela e ao Sr Carlos Varela Freire, pelo auxílio nas várias etapas da

realização deste Curso; Ao SISBIO pela rapidez na liberação da autorização (número:

23310-1) para a realização da disciplina; À Sra Ana Rúbia da Silva pelas deliciosas

refeições e compreensão.

5 Curso de Campo PPG Ecologia, UFRN, 2010. Caatinga, ESEC Seridó

O CURSO DE CAMPO

O Curso de Campo de Ecologia da

Caatinga é parte da disciplina Ecologia de

Campo do Programa de Pós-Graduação em

Ecologia da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte.

O objetivo do curso é treinar

alunos de Pós-Graduação em atividades

acadêmicas in loco. Os alunos são

introduzidos a técnicas de coleta e design

de experimentos, assim como análise de

dados e confecção de artigos científicos.

O curso tem a duração de oito dias

e é organizado em projetos de 24 horas

com orientação, onde professores sugerem

um problema que deve ser solucionado em

24h. Nesta atividade, os alunos são

apresentados a um problema ecológico e

devem coletar, analisar e apresentar os

resultados obtidos em um prazo de 24

horas. Uma segunda atividade é o projeto

sem orientação de 48 horas. Nesta

atividade os alunos elaboram uma questão

ecológica e possuem um prazo de 48 horas

para a coleta de dados necessária para

respondê-la.

Respeitando a organização do

curso, este livro é organizado de forma que

os projetos orientados (três por grupo em

2010) são seguidos dos projetos sem

orientação.

Esperamos que o levantamento de

dados obtido ao longo dos cursos pelos

alunos ajude a conhecer melhor o bioma

da Caatinga e a ESEC Seridó.

6 Curso de Campo PPG Ecologia, UFRN, 2010. Caatinga, ESEC Seridó

DOCENTES

Adriana M. Almeida Alexandre Vaconcellos

Carlos Roberto Fonseca

PROFESSORES CONVIDADOS

Bruno Bellini Gindomar Gomes Santana

DOUTORANDOS

Cristiane Gouvêa Fajardo Vinícius de Avelar São Pedro

7 Curso de Campo PPG Ecologia, UFRN, 2010. Caatinga, ESEC Seridó

MESTRANDOS

Allan Torrecilla Batista Brunno Freire D. Oliveira Daniel de Oliveira

Diego de Medeiros Bento Fabrício R. Camacho Françoise Dantas de Lima

Gina Rodo Mantilla Heitor Bruno A. Souza Igor Galvão de Britto

8 Curso de Campo PPG Ecologia, UFRN, 2010. Caatinga, ESEC Seridó

Izabel Maria M. Souza Karol Lyncoln B. O. França Leonardo H. Teixeira Pinto

Maíra Fontes Manzan Monalisa R. O. Silva Priscila Lins P. F. Amaral

Rodrigo Xavier Soares Uirandé Oliveira Costa

9 Curso de Campo PPG Ecologia, UFRN, 2010. Caatinga, ESEC Seridó

A CAATINGA DA ESEC SERIDÓ

O bioma da Caatinga é considerado

o único bioma exclusivo do Brasil, cobrindo

734.478 km2 na região Nordeste e

ocorrendo em manchas no norte de Minas

Gerais (Scardua, 2004). O bioma Caatinga é

caracterizado por um clima quente e semi-

árido, fortemente sazonal, com menos de

1000mm de chuva anuais, concentrados

fortemente em um período de três a seis

meses. Os totais de chuva variam muito de

ano para ano e, em intervalos de dez a

vinte anos, caem a menos de metade da

média (podendo levar até cinco anos),

fenômeno conhecido como “seca” (Velloso

et al., 2002).

Os ambientes da caatinga são

extremamente diversos, proporcionados

por um mosaico de tipos de vegetação, em

geral caducifólia, xerófila e espinhosa,

dependendo do mosaico de solos e

disponibilidade hídrica (Velloso et al.,

2002). Os diversos tipos de Caatinga

estendem-se também por regiões mais

altas e de relevo variado, incluindo

caatinga arbustivo arbórea, mata seca,

mata úmida, carrasco e formações abertas

com dominância de cactáceas e

bromeliáceas.

A Estação Ecológica do Seridó

encontra-se localizada na ecorregião

caracterizada como Depressão Sertaneja

Setrentional (Velloso et al., 2002), região

essa que engloba a maior parte dos

estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e

Ceará e prolonga-se até uma faixa no

estado do Piauí. Dentre as áreas do bioma

Caatinga, esta ecorregião é uma das mais

impactadas pela ação antrópica, mas

entretanto possui poucas áreas protegidas

em termos de número e área total.

A região do Seridó apresenta

relevo suave, com solos pedregosos e mais

raros que o restante da região. A altitude

varia de 100 a 400m, com elevações de 400

a 700m. A principal característica desta

região é a irregularidade pluviométrica,

com pluviosidade altamente concentrada e

podendo chegar a 10 meses secos ao ano.

É uma área com longa história de

perturbação, usada há longo tempo por

pecuária, assim como mineração (Velloso,

2002).

A região do Seridó é considerada

um dos centros críticos de desertificação

no país. A região do Seridó tem longo

histórico de degradação, com relatos de

queimadas feitas por fazendeiros para

defender suas terras e abrir caminho na

caatinga fechada na década de 1920

(Scardua, 2004). Atualmente existe uma

grande pressão de olarias na região que

demandam uma grande quantidade de

lenha.

A Estação Ecológica do Seridó

possui 1,163 ha e encontra-se no município

de Serra Negra do Norte, vizinho à Caicó, a

terceira cidade em tamanho e número de

habitantes do estado do Rio Grande do

norte. A ESEC-Seridó foi criada em 1982 em

uma área antes pertencente à fazenda

Solidão. Em sua área eram desenvolvidas

atividades de pecuária e cultivo de

algodão. Dentre as perturbações anteriores

à instalação da reserva encontram-se a

construção de um açude, extração de

madeira e introdução de espécies exóticas

como algaroba e leucena (Simon, 2004).

10 Curso de Campo PPG Ecologia, UFRN, 2010. Caatinga, ESEC Seridó

Referências

Scardua, F.P. (coord) 2004. Plano de manejo da

ESEC Seridó. MMA.

Simon, M.F. 2004. Avaliação ecológica rápida

para o plano de manejo da Estação

Ecológica do Seridó, RN. MMA.

Velloso, A.L., Sampaio, E.V.S.B., Pareyn, F.G.C.

2002. Ecorregiões – Proposta para o

bioma caatinga. Resultado do

Seminário de Planejamento

Ecorregional da Caatinga, Aldeia-PE.

MMA. Nature Conservancy do Brasil e

PNE.

11 Curso de Campo PPG Ecologia, UFRN, 2010. Caatinga, ESEC Seridó

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12 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

VIGOR DE Bauhinia cheilantha E SUA VULNERABILIDADE A HERBÍVOROS

EM UMA ÁREA DE CAATINGA

BRUNNO FREIRE DANTAS DE OLIVEIRA, CRISTIANE GOUVÊA FAJARDO, FABRÍCIO RODRIGUES

CAMACHO, UIRANDÉ OLIVEIRA COSTA

Introdução

A relação entre herbívoros e suas

hospedeiras é um assunto de bastante

interesse nas ciências ecológicas (Coley, 1983;

Strong et al., 1984; Lewinsohn et al., 2005). Os

fatores que influenciam a escolha e

preferência de plantas por herbívoros

estimulam um dos campos mais férteis nos

estudos de interação inseto-planta (Williams

& Cronin, 2004).

Algumas hipóteses se destacam e são

bastante utilizadas para explicar a distribuição

de herbívoros entre plantas, como a hipótese

do estresse (White, 1984) e a do vigor das

plantas (Price, 1991 e 1992). A primeira

hipótese propõe que plantas sob estresse são

mais preferidas por herbívoros devido a uma

maior disponibilidade de nutrientes e a um

menor investimento em metabólitos anti-

herbivoria. Já a hipótese do vigor da planta,

proposta por Price (1991), sugere que

herbívoros são mais abundantes em plantas

mais vigorosas devido a sua maior qualidade

nutricional. O vigor é definido como qualquer

individuo ou parte da planta que cresce mais

rápido ou é maior (Gonçalves-Alvin et al.

1999).

O presente trabalho objetivou analisar

se o vigor de Bauhinia cheilantha influencia as

taxas de herbivoria entre indivíduos ou no

mesmo individuo, utilizando como indicativos

de vigor o tamanho, o número de folhas e a

área foliar média.

Material e Métodos

O trabalho foi realizado na Estação

Ecológica do Seridó (6º35’S e 37º15’W),

localizada na ecorregião da Depressão

Sertaneja Setentrional do estado do Rio

Grande do Norte. Foi delimitada uma área de

100 m², próxima a trilha da caveira, em um

local onde Bauhinia cheilantha ocorre em

grande abundância. Nesse local, todas as

plantas maiores que um metro (classificadas

como maduras) foram selecionadas para

análise, bem como a plântula que estava mais

próxima a cada uma destas. Dessa maneira, 17

plantas maduras e 17 plântulas foram

amostradas e medidas suas alturas utilizando

trenas.

Foram escolhidas 15 folhas das

plantas maduras, aleatoriamente, e todas as

folhas das plântulas para análise das variáveis

indicativas de vigor (área foliar e número de

folhas). Com o auxílio de réguas foram

medidas a largura e o comprimento (cm) de

cada folha. A estimativa da área foliar foi

obtida através da multiplicação da largura

pelo comprimento da nervura central da

folha. Para estimar o número de folhas por

planta madura sorteamos aleatoriamente um

dos galhos e contamos o número de folhas

presentes e multiplicamos pelo número de

galhos total. Para as plântulas todas as folhas

foram contadas. O grau de herbivoria foi

estimado em 5 classes: classe 1 (0%), classe 2

(1-25%), classe 3 (26-50%), classe 4 (51-75%),

classe 5 (mais de 76 %). Para análises, foi

tirada a média aritmética das classes de

13 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

herbivoria, do número de folhas e da área

foliar para cada indivíduo.

Os dados foram analisados utilizando

o módulo GLM (General Linear Model) onde

foi verificado o efeito da média da altura,

número de folhas e área da folha sobre a taxa

de herbivoria. Todas as análises foram feitas

no SYSTAT v.12.

Resultados

A altura média + DP das plantas

analisadas foi de 3,37 + 1,1 m para plantas

maduras e de 0,13 + 0,03 m para plântulas. A

média de folhas por planta foi de 255 + 454,61

nas plantas maduras e de 43 + 1,28 nas

plântulas.

Comparando entre indivíduos, as taxas

de herbivoria não foram influenciadas pelo

tamanho das plantas, número de suas folhas e

tamanho das folhas (F = 0,161; gl = 3,29; P =

0,992).

Entre plantas maduras e plântulas,

também não houve diferenças significativas

nas taxas de herbivoria (F = 0,678; gl = 1,32; P

= 0,416) (Figura 1). As taxas de herbivoria

entre plantas maduras e plântulas não foram

afetadas pelo tamanho das plantas, número

de suas folhas e tamanho das folhas (F =

0,874; gl = 3,12; P = 0,484).

As taxas de herbivoria foram

diferentes entre as folhas do mesmo indivíduo

(F = 3,517 ; gl = 33,264 ; P < 0,05). Ou seja,

dentro do mesmo indivíduo existem folhas

que são menos consumidas que outras.

Entretanto, o tamanho das folhas não foi

determinante na variação das taxas de

herbivoria (F = 2,526 ; gl = 1,287 ; P = 0,113)

(Figura 2).

Figura 1. Média e desvio padrão de herbivoria para

plantas maduras e plântulas de Bauhinia

cheilantha na ESEC-Seridó.

Figura 2. Relação entre taxa de herbivoria (LOG10)

e área foliar de Bauhinia cheliantha na ESEC-

Seridó.

Discussão

Neste estudo há evidências de que os

indicativos de vigor analisados não explicam

as variações nas taxas de herbivoria sofridas

Plântula Madura

14 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

por plantas e plântulas de Bauhinia cheilantha

na área estudada. Assim, a hipótese do vigor

da planta não foi corroborada. Estes

resultados foram contrastantes com um

estudo utilizando uma espécie de herbácea na

mesma área (Viana et al. 2009). No entanto,

um outro estudo efetuado na caatinga de

Pernambuco testando vigor de uma

Euphobiacea e a performance de um inseto

galhador também não corroborou esta

hipótese (Magalhães, 2008).

Várias pesquisas suportam as

predições propostas pela hipótese do vigor da

planta, mas muitos outros encontraram fracas

evidências que há preferência por plantas

mais vigorosas, havendo alguns grupos de

insetos que corroboram mais fortemente a

estas predições que outros (Cornelissen et al

2008). Santos & Silveira (2007) observaram o

efeito do vigor plantas do gênero Bauhinia sob

a guilda de insetos galhadores.

Portanto, torna-se necessário a

execução de mais estudos que testem esta

hipótese considerando o vigor de Bauhinia

cheilantha sobre grupos específicos de insetos

herbívoros.

Agradecimentos

Agradecemos a todos aos professores e colegas do

PPG em Ecologia da UFRN, especialmente a

professora Adriana Monteiro de Almeida e Carlos

Roberto Fonseca pelos insights e contribuições ao

nosso desenvolvimento intelectual científico. À

equipe da ESEC-Seridó pelo acolhimento e apoio

durante o curso de campo.

Referências

Coley P. D. 1983. Herbivory and defensive

characteristics of tree species in a lowland

tropical forest. Ecological monographs 53,

209–33

Cornelissen, T. G., Fernandes, G. W., Vasconcellos-

Neto, J. 2008. Size does matter: variation

in herbivory between and within plants

and the plant vigour hypotesis. Oikos. 117,

1121-1130.

Gonçalves-Alvim, S. J., Faria, M. L., Fernandes,

G.W. 1999. Relationships between four

neotropical species of galling insects and

shoot vigor. � Anais da Sociedade

Entomológica do Brasil 28, 147-155.

Lewinsohn, T.M. 2005. Insects on Plants: Diversity

of herbivore assemblages revisited.

Annual Review of Ecology and Systematics

36, 597-620.

Magalhães, C.H.P. 2008. Vigor de Cnidoscolus

quercifolius Pohl. (Euphorbiaceae) e

performance de um inseto galhador em

uma área de Caatinga, Parnamirim, PE. In:

Leal, I.R., Almeida-Cortez, J. e Santos, J.C.

Ecologia de Caatinga – Curso de Campo

2008. Ed. UFPB.

Santos, J. C., Silveira, F. A. O., Fernandes, G. W.

2008. Long term oviposition preference

and larval performance of Schizomyia

crocapillata (Diptera: Cecidomyiidae) on

larger shoots of its host plant Bauhinia

brevipes (Fabaceae). Evolutionary Ecology

22, 123-137.

Viana, M., Oliveira, S. R., Torres, D.F., Maciel, L. V.

B., Vasconcelos, V. H. F. 2009. A hipótese

do vigor de planta (HPV) é válida para uma

herbácea do semi-árido brasileiro? In:

Vasconcellos, A. (ed.) Ecologia de Campo

Caatinga 2009 – PPG Ecologia, UFRN.

15 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

A ATIVIDADE DE TERMORREGULAÇÃO DE DUAS ESPÉCIES SINTÓPICAS DE

TROPIDURUS (SQUAMATA, TROPIDURIDAE) EM UMA ÁREA DE CAATINGA NO

RIO GRANDE DO NORTE

ALLAN TORRECILLA BATISTA; FRANÇOISE DANTAS DE LIMA; VINÍCIUS AVELAR SÃO PEDRO; MONALISA

RODRIGUES OLIVEIRA DA SILVA & RODRIGO XAVIER SOARES

Introdução

Grande parte da atividade diária de

várias espécies de lagartos é gasta em

interações com o ambiente térmico, pois a

temperatura é um dos fatores limitantes na

ecologia desses animais ectotérmicos (Rocha

et al. 2009). Em termos comportamentais, a

regulação da temperatura corpórea envolve

deslocamentos entre locais mais frescos e

mais quentes (Vitt et al. 2005).

Espécies de lagartos que ocupam um

mesmo local podem repartir um sítio de

termorregulação ocupando diferentes porções

desse sítio ou utilizando-o em períodos

distintos (Pianka 1973).

Tropidurus hispidus (Spix 1825) e T.

semitaeniatus (Spix 1825) são espécies de

lagartos heliófilos que ocorrem em sintopia na

Caatinga do nordeste brasileiro (Vanzolini et

al. 1980; Vitt 1995). Ambas podem ser

encontradas na Estação Ecológica do Seridó,

no Rio Grande do Norte, onde partilham

sobretudo áreas de afloramentos rochosos

(Kolodiuk 2008).

Neste trabalho avaliou-se a atividade

de termorregulação dessas espécies de

Tropidurus, buscando responder às seguintes

questões: 1) A atividade de indivíduos dessas

espécies varia ao longo do tempo? 2) A

atividade está relacionada às variações de

temperatura do ambiente? 3) A atividade de

uma espécie influencia a atividade da outra?

Material e Métodos

O projeto foi realizado na Estação

Ecológica do Seridó (ESEC-RN), localizada no

município de Serra Negra do Norte. As

observações foram realizadas em quatro

afloramentos rochosos nas imediações da

lagoa do Junco, distante, aproximadamente, 5

km da sede da estação.

Na área de estudo foram registradas a

freqüência de uso do afloramento pelas duas

espécies e a temperatura ambiente. Essas

variáveis foram medidas, respectivamente, a

cada 10 e 30 minutos (no período de 7 às 11h

da manhã) com o auxílio de um

termohidrômetro.

Além disso, quando os indivíduos das

duas espécies ocorriam simultaneamente, foi

registrada a presença ou ausência de

comportamento agonístico, no qual uma

espécie expulsava a outra do local. Durante as

observações, o observador se posicionava a

uma distância que não interferia na atividade

das espécies Tropidurus hispidus e T.

semitaeniatus.

Realizou-se o teste de MANOVA de

medidas repetidas em bloco para analisar a

variação do número de registros entre duas as

espécies nos 4 afloramentos ao longo do dia e

uma regressão linear para observar como a

quantidade de registros varia em relação à

temperatura. Uma tabela de contingência

two-way foi utilizada para análise da co-

ocorrência das espécies ao longo do tempo.

16 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Resultados

Foram realizados 100 registros da

freqüência de uso dos afloramentos para a

atividade de termorregulação no período de

quatro horas durante a manhã. O número de

registros das duas espécies de Tropidurus

variou significativamente durante o período

observado (F = 2,306; gl = 24; p < 0,05).

Entretanto, as duas espécies apresentaram

uma dinâmica temporal semelhante ao longo

da manhã (F = 1,32; gl = 24 ; p > 0,05) (Fig. 1).

Figura 1 – Médias e desvios dos números de

registros de T. hispidus (---) e T. semitaeniatus (__)

nos afloramentos ao longo de quatro horas de

observação (25 observações realizadas de 10 em

10 minutos).

A temperatura não influenciou o

número de registros de lagartos presentes nos

afloramentos (F = 1,786; p > 0,05), assim como

não houve diferença significativa nas formas

em que as duas espécies respondem a essa

variação de temperatura ao longo do dia( F=

0,216; p > 0,05) (Fig. 2).

O número de registros de co-

ocorrência das duas espécies é

significativamente superior ao valor esperado

(p < 0,05) (Tabela 1), sugerindo que as duas

espécies partilham o mesmo recurso, no caso

do estudo, a utilização do afloramento.

Figura 2 - Variação do número de registros das

espécies de lagartos em relação a temperatura. H =

Tropidurus hispidus (---); S = T. semitaeniatus (__).

Tabela 1 – Valores de registros de co-ocorrência

observados são significativamente diferentes dos

valores esperados ao acaso.

0 1 Total

0 Observado 12 16 28

Esperado -7.28 -20.72

1 Observado 14 58 72

Esperado -18.72 -53.28

Total 26 74 100

Discussão

Apesar de Tropidurus semitaeniatus

ser geralmente mais frequente que T. hispidus

(Kolodiuk 2008), a predominância de registros

de T. semitaeniatus foi marginalmente

significativa, sugerindo que a diferença entre a

freqüência de registros das espécies não é tão

evidente e pode ter ocorrido ao acaso.

17 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Alguns lagartos podem manter

temperaturas corporais muito acima da

temperatura do ar. Por isso, a presença do sol

normalmente é mais importante que a

temperatura do ar na determinação do

padrão de atividade de lagartos (Vitt et al.

2008), justificando a ausência de relação

observada entre esta variável e o número de

registros de ambas espécies de Tropidurus.

Durante as observações realizadas neste

trabalho, o céu esteve nublado na maior parte

do tempo. Variações sutis na intensidade da

insolação podem ter sido o principal fator a

influenciar a atividade dos Tropidurus.

As diferentes preferências térmicas

das espécies limitam o uso dos habitats pelos

lagartos e as horas do dia em que estão ativos

(Vitt et al. 2008). No entanto, sabe-se que

espécies de um mesmo gênero tendem a ter

temperaturas corpóreas semelhantes (Rocha

et al. 2009). Consequentemente espera-se

que também tenham estratégias semelhantes

de termorregulação, o que explicaria a

sobreposição de Tropidurus hispidus e T.

semitaeniatus no tempo e espaço. A análise

da tabela de contingência (Tab. 01) corrobora

esta idéia, indicando uma tendência das

espécies ocuparem os afloramentos ao

mesmo tempo.

Segundo Kolodiuk (2008), há grande

sobreposição quanto à composição das dietas

dessas duas espécies de Tropidurus, com

diferença apenas no tamanho médio das

presas, que é maior para T. hispidus. Apesar

disso, o número de interações agonísticas

interespecíficas observadas foi relativamente

baixo (13% dos registros), indicando que a

competição não é um fator limitante na

utilização de recursos pelas duas espécies.

Tropidurus hispidus e T. semitaeniatus

ocupam dimensões de nicho muito

semelhantes. No entanto, as observações

realizadas mostram que essas espécies, além

de não se evitarem no tempo e espaço,

demonstram pouca agressividade

interespecífica. Possivelmente, há na área de

estudo uma grande disponibilidade de

recursos, permitindo a co-ocorrência das duas

espécies. Uma análise refinada da distribuição

espacial das espécies, relacionando-as a

diferenças microclimáticas dentro de cada

afloramento, talvez revele preferências mais

sutis na escolha dos sítios de termorregulação

pelas espécies de Tropidurus.

Agradecimentos

Ao professor Gindomar Santana pela

orientação no projeto. Aos professores do

Programa de Pós Graduação em Ecologia – PPGE,

em especial a Carlos Fonseca e Alexandre

Vasconcellos pela ajuda nos testes estatísticos.

Agradecimentos especiais aos funcionários da ESEC

pela hospitalidade e por permitir o uso de toda a

infraestrutura da reserva.

Referências

Kolodiuk, M. F. 2008. Dieta e comportamento de

forrageio de duas espécies de Tropidurus

(Squamata, Tropiduridae) em uma área de

Caatinga do Nordeste do Brasil. Dissertação de

mestrado. Universidade Federal do Rio Grande

do Norte.

Pianka, E. R., 1973. The structure of lizard

communities. Annual Review of Ecology and

Systematics 4, 53-74.

Rocha, C. F. D, Sluys, M. V., Vrcibradic, D., Kiefer,

M. C., Menezes, V. A., Siqueira, C. C., 2009.

Comportamento de termorregulação em

lagartos brasileiros. Oecologia Brasiliensis. 13,

115 – 131.

Vanzolini, P. E., Ramos-Costa, A. M. M., Vitt, L. J.,

1980. Répteis das Caatingas. Academia

Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro.

18 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Vitt, L. J., 1995. The ecology of tropical lizards in

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Papers of the Oklahoma Museum of Natural

History. 1, 1-29.

Vitt, L. J., Zani, P. A., Caldwell, J. P., Sartorius, S. S.,

Cooper Jr, W. E., Baird, T. A., Baird, T. D., Pérez-

Mellado, V, 2005. Pushing the edge: extended

activity as an alternative to risky body

temperatures in a herbivorous teiid lizard

(Cnemidophorus murinus: Squamata).

Functional Ecology 152-158.

Foto. Jararaca fotografada pelo grupo de trabalho na área de estudo.

19 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

INFLUÊNCIA DE RIO TEMPORÁRIO SOBRE A TAXOCENOSE DE COLLEMBOLA EM

UMA ÁREA DE CAATINGA DO NORDESTE BRASILEIRO

HEITOR B. A. SOUZA, IZABEL M. M. SOUZA, KAROL L. B. O. FRANÇA, LEONARDO H. T. PINTO,

MAÍRA F. MANZAN

Introdução

Collembola são pequenos artrópodes

que medem, em geral, de 0,2 a 3mm de

comprimento (Buzzi, 2005). São

ocasionalmente identificados como insetos

apterigotos, embora sejam hexápodas

endognatos (Zeppelini & Belllini, 2004). Os

colêmbolos são organismos bastante

abundantes, atingindo densidades de dezenas

a centenas de milhares/m² nas camadas

epiedáficas, isto é, vivem na serrapilheira, nas

primeiras camadas do solo (Zeppelimi &

Bellini, 2004).

Os colêmbolos são, mais

especificamente, encontrados no solo

humoso, no meio de musgos, sobre o solo,

folhas caídas, bainha de folhas e no meio de

detritos vegetais em decomposição. São raros

em regiões secas, mas estão presentes em

todas as partes do mundo (Buzzi, 2005).

Os Collembola são extremamente

importantes, pois estão na base da cadeia

alimentar e de ciclagem de nutrientes. Além

de servirem como presas para diversos

animais em diferentes etapas de seus

desenvolvimentos, eles atuam na

decomposição da matéria orgânica animal e

vegetal de forma determinante. Juntamente

com fungos e bactérias, os colêmbolos estão

envolvidos na formação e enriquecimento do

solo tanto em florestas como em

agroecossistemas. (Zeppelini & Bellini, 2004).

Existem mais de 7500 espécies

descritas de colêmbolos, sendo a região

Neotropical um dos lugares com maior

diversidade estimada em todo mundo. Nessa

região há enorme carência de especialistas em

taxonomia e ecologia (Zeppelini & Bellini,

2004). A Caatinga, por exemplo, não

apresenta dados publicados sobre aspectos

ecológicos de Collembola.

O domínio Caatinga abrange cerca de

900.000 Km², correspondendo

aproximadamente a 54% da região nordeste e

11% do território brasileiro, ocupando áreas

que ocorrem do Ceará ao estado de Minas

Gerais (Andrade et al, 2005). A Caatinga

apresenta pluviosidade média anual variando

entre 240 a 1500 mm, com mais da metade da

região recebendo menos de 700 mm anuais.

O presente trabalho teve o objetivo de

investigar a influência de um rio temporário

sobre a taxocenose de Collembola em uma

área de caatinga situada na ecorregião da

Depressão Sertaneja Setentrional.

Material e Métodos

O estudo foi realizado na Estação

Ecológica do Seridó – ESEC do Seridó,

localizada no município de Serra Negra do

Norte, no estado do Rio Grande do Norte,

Brasil. Com uma área de 1.166,38 ha e

localizada entre as coordenadas geográficas

06° 36’ 40’’ e 06° 33’ 50’’ Sul e 37° 17’ 10’’ e

37° 14’ 20’’ Oeste, a ESEC do Seridó possui

clima semi-árido com temperatura média

anual variando entre 33° e 22°. Há ocorrência

20 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

de precipitações irregulares, com chuvas no

período de Janeiro a Maio e variações

pluviométricas de 127 mm a 916 mm,

atingindo uma média de 497 mm por

ano.(Ibama, 2004)

Foram traçados três transectos

paralelos de 20m de comprimento distando,

respectivamente, 0m, 1m e 4m da margem de

um rio temporário. Cada transecto foi divido

em 10 parcelas, com distância mínima de 1m

entre as margens das parcelas adjacentes.

Para a coleta dos colêmbolos, foram sorteadas

5 parcelas de 1m² em cada transecto. Em cada

parcela, estabeleceu-se um esforço amostral

de 30 minutos por pessoa. Durante esse

período, foram dispostas amostras de folhiço

numa bandejas plásticas onde os colêmbolos

eram procurados ativamente e, com o auxílio

de um aspirador entomológico, coletados.

Os indivíduos amostrados foram

imediatamente fixados em álcool 70% para

posterior separação em morfoespécies com a

utilização de estereomicroscópio Olympus

SZ40.

Os dados de riqueza e abundância de

espécies, assim como as variáveis abióticas pH

e umidade foram submetidas a um

tratamento estatístico utilizando a ferramenta

General Linear Model do software Systat 12.

As medidas de umidade e pH do solo

foram realizadas com a utilização de um

medidor analógico Instrutherm pH2500 em

cada parcela amostrada.

Resultados

Foram encontradas sete

morfoespécies pertencentes a quatro gêneros

distintos (Seira, Lepidocyrtus, Branchystomella

e Sminthurides), sendo o gênero Lepidocyrtus

o com maior número de indivíduos

encontrados, com 64% das ocorrências (tabela

01).

A análise realizada através do Modelo

Linear Geral não mostrou relação significativa

da riqueza de espécies com nenhuma das

variáveis explanatórias analisadas, conforme a

tabela 02.

Tabela 2: Resultado da Análise de Variância para as

variáveis bióticas e ambientais.

Tratamentos gl F p-value

TRANSECTO 2 1,786 0,260

COLETOR 4 0,979 0,494

UMIDADE 1 0,049 0,834

PH 1 0,199 0,674

ABUNDANCIA 1 1,432 0,285

Erro 5

Discussão

Farkas et al (1998) demonstraram que

a riqueza de espécies de Collembola em um

ambiente constituído por um mosaico de

habitas e pluviosidade média anual variando

de 2000 a 2500mm, varia bastante em função

da umidade estando a similaridade entre

habitats relacionada fortemente com essa

variável ambiental. Nesse trabalho, habitats

Tabela 1: Lista de espécies e abundância de

Collembola

Abundância

Espécies Transecto 1 Transecto 2 Transecto 3 Total

Seira sp.1 2 3 0 5

Seira sp.2 1 1 0 2

Seira sp.3 0 5 0 5

Lepidocyrtus sp.1 14 7 15 36

Lepidocyrtus sp.2 0 1 0 1

Branchystomella sp. 4 1 3 8

Sminthurides sp. 0 0 1 1

21 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

mais secos apresentaram uma riqueza de

espécies muito que em áreas mais úmidas.

Eles também verificaram a ocorrência de

espécies que preferem ambientes mais secos.

A condição de maior riqueza em ambientes

mais úmidos também foi verificado para

comparações dentro de uma mesma área

entre diferentes épocas do ano em um

ambiente desértico situado no continente

norte-americano (Santos & Whitford, 1981). A

umidade apresenta elevada importância para

os colêmbolos, uma vez que, eles podem

perder elevadas quantidades de água para o

meio através de uma estrutura que realiza

trocas aquosas com o meio chamada

colenóforo situada na porção ventral de seu

corpo (Zeppelini & Bellini, 2004).

O presente estudo não encontrou uma

relação significativa do efeito da umidade e do

pH do solo sobre a riqueza de colêmbolos e

concluiu que, dentro do gradiente estudado

no entorno de um rio temporário situado num

remanescente de Caatinga na Depressão

Sertaneja Setentrional, a riqueza e abundância

de colêmbolos, diferentemente de outros

trabalhos realizados sobre a ecologia desse

táxon, não varia em função da umidade nem

em função do pH do solo.

Agradecimentos

Ao Doutor Bruno Bellini pelo

desenvolvimento e apoio dado para a realização

desse trabalho; aos Professores Doutores

Alexandre Vasconcellos e Carlos Fonseca pelo

auxílio fornecido nas análises estatísticas realizadas

nesse estudo.

Referências

Andrade L. A., Pereira I. M., Leite U. T., Barbosa M.

R. V. 2005. Análise da cobertura de duas

fitofisionomias de Caatinga, com diferentes

históricos de uso no município de São João do

Cariri, Estado da Paraíba. Cerne, Lavras, vol 11,

253-262.

Buzzi, J.Z. 2005. Entomologia Didática. Editora

UFPR, Curitiba, pp 125-127.

Farkas, J., Szathmáry, k., Strenner, A. 1998.

Ecofaunistical investigation of Collembola,

Aranae and Coleoptera in mosaic-like habitats

in the Cinege Valey, Hungary. Opusc. Zoo.

Budapest 31, 49-61.

Ibama. 2004. Plano de Manejo da ESEC do Seridó.

Santos, P.F,. Whitford, W.G. 1981. The effects of

microarthropods on litter decomposition in

Chihuahuan Desert Ecossistem. Ecology, vol 63,

654-663.

Zeppelini Filho, D., Bellini, B.C. 2004. Introdução ao

Estudo dos Collembola. Editora Universitária,

João Pessoa.

22 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

CONVERGÊNCIAS ADAPTATIVAS EM RESPOSTA À PLUVIOSIDADE ENTRE

PLANTAS BRASILEIRAS E AUSTRALIANAS

DANIEL DE OLIVEIRA; DIEGO BENTO; GINA MANTILLA; IGOR GALVÃO; PRISCILA DO AMARAL;

CARLOS ROBERTO FONSECA (ORIENTADOR)

Introdução

A separação do antigo continente

Gondwana, há 180 milhões de anos, isolou as

floras da América do Sul e da Austrália

(Teixeira et al., 2000). O isolamenteo

geográfico ocorrido levou a divergências

filogenéticas, de forma que, atualmente, as

floras do Brasil e da Austrália diferem

bastante, principalmente ao nível de gênero e

táxons inferiores.

Por outro lado, condições ambientais

semlhantes nas duas regiões podem levar a

convergências adaptativas (Burbidge, 1960;

Begon et al., 2006), trazendo semelhanças

entre as floras dos países. Assim, é possível

que plantas na Austrália e no Brasil, sujeitas a

pressões seletivas similares, apresentem

características morfo-funcionais semelhantes.

A diversidade de estratégias

ecológicas em plantas pode ser descrita a

partir de algumas características-chave.

Características morfo-funcionais como altura

da copa, tamanho da semente, área efetiva da

folha, área específica da folha, dentre outros

podem ser utilizados para identificar espécies

que têm estratégias ecológicas similares.

A largura da folha, medida como o

diâmetro do maior círculo que pode ser

inscrito no perímetro foliar, reflete a relação

entre transpiração e captação de carbono. Por

sua vez, a altura máxima que uma planta pode

atingir está relacionada com sua estratégia

para a captação de luz em relação ao custo

para a obtenção e transporte de água

(Fonseca et al., 2000).

Diante disso, este trabalho buscou

verificar se há convergência nas estratégias

adaptativas entre comunidades vegetais

brasileiras e australianas quando submetidas a

condições ambientais semelhantes, em

particular, a pluviosidade.

Material e Métodos

Dados da Austrália

Usando como base os dados contidos

na tabela 1 de Fonseca et al. (2000), buscou-se

o modelo, linear ou não-linear, que melhor

descrevesse a relação entre a largura foliar

média da comunidade, em centímetros, e a

pluviosidade anual média, em milímetros.

Também se procurou o modelo que melhor

descrevesse a relação entre a altura média da

copa da comunidade vegetal, em

centímentros, e a pluviosidade anual, em

milímetros.

As regressões lineares geralmente

serão boas representantes de correlações cuja

associação não oscile muito ao longo dos

eixos. As não-lineares, por sua vez,

representam uma mudança na amplitude da

relação das variáveis ao longo dos eixos.

Dentro desse último grupo, dois tipos

particulares foram testados: quadrático e de

potência. O primeiro representa uma

associação de forma parábola, apresentando

um ponto de inflexão (Zar, 1999). Ali, os

23 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

padrões crescentes ou decrescentes das

associações se invertem. Já o último, de

potência, representa uma associação

continuamente crescente ou decrescente, mas

em graus progressivamente mais intensos.

Dados do Brasil

O estudo foi desenvolvido na Estação

Ecolóica do Seridó (ESEC), localizada no

município de Serra Negra do Norte – RN. É

uma região de clima semi-úmido, com uma

pluviosidade média anual de 497 mm (IBAMA,

2004).

Foi escolhido um plote de 20 x 50

metros em área bastante conservada (Fig. 1),

dado que esta representaria melhor a flora

nativa da região.

Figura 1. Mapa da ESEC do Seridó (esquerda) com

destaque para o plot amostrado (direita). FONTE:

ICMBio

Dentro desse plote, todas as plantas

presentes foram morfotipadas e as alturas

máximas fora estimadas. Para cada espécie, a

largura de cada folha foi determinada com

0,001 cm de precisão, com auxílio de um

paquímetro. A largura foliar média foi

calculada a partir de 5 folhas de um ramo

representativo do morfotipo.

Para as análises, calculou-se a largura

foliar média (LFm) e a altura média da copa

(Am) entre todas as espécies, assim como seus

respectivos coeficientes de variância (CV).

Estes dados foram comparados às

previsões dos modelos australianos para

testar a hipótese da convergência morfo-

funcional.

Todas as análises foram feitas

utilizando o programa Systat 12.0.

Resultados

Dados os ajustes elevados das

regressões linear (R2 = 0,960), quadrática

(0,963) e de potência (0,961) entre P e LFm,

optou-se pelo modelo de potência, por se

acreditar que é o mais próximo ao esperado

biologicamente. A equação do modelo é a

seguinte:

(Eq. 1) LFm = 0,006 * P4,675

Para a relação entre P e Am, o modelo

quadrático foi o que apresentou o melhor

ajuste (R2 = 0,563), seguindo a equação 2:

(Eq. 2) Am = -1,643 * P2 + 9,866 * P – 14,480

Considerando-se a pluviosidade média

anual de 497 mm, o valor estimado de largura

foliar, utilizando a equação 1, foi de 0,619 cm,

enquanto o de altura, utilizando a equação 2,

foi de 0,177 m.

Foram encontrados 19 morfotipos na

área amostrada. O log da LFm foi 0,408cm

(0,210-0,606; 95% de confiança) e o da Am foi

de 0,255 (-0,003-0,514; 95% de confiança)

(Fig. 2).

O valor para largura foliar média está

ligeiramente acima do lmite superior do

intervalo observado para a área amostrada,

enquanto o segundo situa-se dentro do seu

intervalo de confiança (Fig. 3).

24 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

a.

b.

Figura 2. Distribuição das (a) larguras foliares e (b)

alturas máximas (log) para os morfotipos na área

amostrada. Os coeficientes de variação foram

1,006 e 2,095, respectivamente.

b.

Figura 3. Modelos de regressão não-lineares para

os dados de Fonseca et al. (2000). (a) Modelo de

potência entre os logs de LFm e P. (b) Modelo

quadrático entre os logs de Am e P. Os traços

vermelhos representam os limites do intervalo de

confiança para os dados observados. A seta azul

representa o valor estimado.

Discussão

Com base nos coeficientes de variação

(Fig.2), pode-se afirmar que há, na

comunidade, maior diversidade de estratégias

da característica altura máxima, quando

comparado a largura foliar.

Considerando-se que o valor estimado

para o log LFm também possui um erro

associado, mas que não foi representado, não

se pode rejeitar a hipótese de convergência

adaptativa entre as regiões analisadas, uma

vez que é possível a sobreposição entre as

margens de erro dos valores estimado e

observado. Além disso, o valor estimado para

25 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Am está contido no intervalo de confiança

observado e distante dos limites,

evidenciando a convergência adaptativa

também para essa característica.

Dessa maneira, há uma forte

convergência adaptativa dessas características

morfo-funcionais entre plantas brasileiras e

australianas submetidas a semelhante

pluviosidade.

Agradecimentos

Somos gratos ao nosso orientador, Carlos

Roberto Fonseca, pelo amplo apoio em todo o

desenvolvimento do projeto. Também

agradecemos aos funcionários da ESEC por todo o

seu apoio operacional e colaboração para nosso

bem-estar.

Referências

Begon, M., Townsend, C. R., Harper, J. L. 2006.

Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. Artmed.

São Paulo.

Burbidge, N. T. 1960. The phytogeography of the

Australian region. Australian Journal of Botany.

8, 75-211.

Ibama. 2004. Plano de Manejo da Estação

Ecológica do Seridó.

Fonseca, C. R., Overton, J. McC., Westoby, M.

2000. Shifts in trait-combinations along rainfall

and phosphorus gradient. Journal of Ecollogy.

88, 954-977.

Teixeira, W., Toledo, M. C. N., Fairchild, T. R., Taioli,

F. 2000. Decifrando a Terra. Oficina de Textos.

São Paulo.

Zar, J. H. 1999. Biostatistical Analysis. Prentice Hall.

New Jersey.

26 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

27 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

CARACTERIZAÇÃO DE COMUNIDADES DE COLÊMBOLOS EM ÁREAS COM

DIFERENTES USOS DO SOLO DA CAATINGA

DANIEL DE OLIVEIRA; DIEGO BENTO; GINA MANTILLA; IGOR DE BRITTO; PRISCILA DO AMARAL

Introdução

Colêmbolos (Collembola: Ellipura:

Hexapoda) são hexápodes entognatos com

um tamanho que pode variar de 0,2 a 3 mm

(Zeppelini & Bellini, 2004). É o segundo grupo

de invertebrados mais abundantes do solo,

ocorrendo em serrapilheira, árvores, litoral

marinho e água doce (Barreta et al.,2007).

Assim como outros invertebrados do

solo, os colêmbolos estão intimamente

associados aos processos ecossistêmicos que

ocorrem no compartimento serrapilheira-solo

refletindo padrões de funcionamento do

ecossistema. Vários estudos demonstraram a

contribuição direta ou indireta desse grupo

nos processos ecológicos do solo, como

mineralização de nitrogênio, respiração do

solo ou lixiviamento de carbono orgânico

dissolvido (Filser, 2002)

Mudanças no uso da terra provocam

alterações nas propriedades químicas, físicas e

biológicas dos solos, reduzindo a quantidade

de resíduos vegetais e alterando

completamente as características do solo

(Sautter et al., 1999). Como a diversidade de

colêmbolos tem sido usada como bioindicador

de distúrbios e da qualidade do solo (Barreta

et al.,2007), este estudo objetivou comparar

comunidades de colêmbolos em duas áreas

com diferentes regimes de uso do solo: uma

área preservada e outra de pastagem

extensiva.

Material e Métodos

O estudo foi desenvolvido na Estação

Ecológica do Seridó e em uma área contígua,

na Fazenda Solidão, localizadas no município

de Serra Negra do Norte-RN.

Foram estabelecidos dois transectos

de 100m paralelos entre si, sendo um em cada

área (Fig. 1). Em cada transecto sorteou-se 10

plots de 1m², com permanência de 20 minutos

em cada plot, nos quais foram coletadas

amostras de folhiço, colocadas em bandejas e

revolvidas para a captura com auxílio de

aspiradores entomológicos. Cada coletor

amostrou os mesmos pontos em ambos os

transectos (blocos) no sentido de minimizar o

erro no esforço amostral. Os plots sorteados

ficaram nas distâncias de 1, 7, 19, 22, 30, 32,

79, 87, 89, 92 m ao longo do transecto.

Figura 4. Desenho amostral. A linha tracejada

representa a cerca divisória entre as áreas

estudadas; as linhas contínuas os transectos com

os plots amostrados; as caixas claras as estradas. A

distância entre os transectos foi de 14 m, sendo

2m da cerca para a estrada e 5 m desta para os

mesmos. Os plots sorteados ficaram nas distâncias

de 1, 7, 19, 22, 30, 32, 79, 87, 89, 92 m.

As amostras foram identificadas ao

nível de gênero e posteriormente

morfotipadas de forma a possibilitar a

28 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

avaliação dos índices biológicos (riqueza,

diversidade e equitabilidade), da composição

e a análise comparativa das comunidades

(ANOVA, Agrupamento e PCA).

Resultados

Foi coletado um total de 86

indivíduos, representados principalmente

pelos grupos Poduromorpha,

Entomobryomorpha e Symphypleona,

classificados e 10 morfotipos pertecentes a 8

gêneros e 7 famílias.

Os índices de diversidade e

equitabilidade das áreas apresentaram valores

próximos (Tab. 1). O índice Bray-Curtis

quantificou apenas 33% de similaridade entre

as comunidades.

A distribuição da abundância dos

morfotipos encontrada entre as áreas com

diferentes tipos de uso de solo foi desigual.

Alguns táxons foram encontrados apenas em

uma das áreas, e os comuns a ambas

apresentaram abundâncias diferentes (Fig. 2).

A análise de variância entre as áreas

amostradas, considerando os blocos, indicou

que não há diferenças significativas entre as

riquezas (Fig. 3).

Para um melhor resultado do

agrupamento, não foram considerados os

plots em que nenhum indíviduo foi observado

(Plots E30 e S79). Essa análise gerou uma

árvore que separa as áreas amostradas em

dois grandes grupos, um contendo todos os

plots da ESEC do Seridó e alguns da Fazenda

Solidão e o outro contendo a maioria dos plots

da Fazenda Solidão (Fig. 4).

Tabela 1. Índices biológicos das comunidades da

Esec do Seridó e da Fazenda Solidão.

Índice ESEC Solidão

Shannon 1,576 1,125

Margalef 1,616 1,051

Pielou 0,81 0,7

Bray-Curtis 33%

A análise de componentes principais

demonstrou que a variabilidade dos dados foi

explicada por quatro eixos totalizando 67,25%,

com os eixos 1, 2 e 3 contribuindo com

50,76% (Tab. 2). A relação entre os três

principais eixos separou as áreas em duas

nuvens de pontos, que equivalem às duas

áreas amostradas (Fig. 5).

29 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Figura 5. Abundância de cada morfotipo (eixo X) na ESEC do Seridó e na Fazenda Solidão. Houve 5 espécies

ocorrendo apenas na fazenda Solidão e 7 apenas na ESEC. Nas duas em comum, encontrou-se abundâncias

distintas.

Figura 6. As riquezas médias das áreas

amostradas não foram diferentes (F = 1,018;

g.l. = 19; P = 0,490).

Figura 7. Análise de agrupamento das áreas

amostradas utilizando a como métrica de

distância Euclidiana e método Ward. Áreas

foram, em geral, mais similares dentro de cada

uso de terra do que entre eles, havendo alguma

sobreposição entre algumas áreas da Solidão e

da ESEC.

30 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Fig. 8. Análise de componente principal para as

áreas amostradas. Áreas da ESEC e da Solidão

representadas como pontos vermelhos e azuis,

respectivamente. Os três eixos apresentados

explicam 50,76% da variação total.

Tabela 2. Eixos da análise de componentes

principais para as áreas amostradas. Os 4 eixos

explicam 67,25% da variação a partir de

relações positivas ou negativas de cada

espécie com os eixos.

Táxon 1 2 3 4

NEANURA 0,74 0,16 0,45 0,30

SEIRA_2 -0,71 0,24 0,28 0,13

SMINTHURIDES1 -0,58 0,01 0,27 0,29

ALLACIMA 0,06 -0,85 -0,24 -0,32

DICYRTOMA 0,06 -0,80 0,09 0,22

LEPIDOCYRTUS 0,13 0,19 0,78 0,13

RASTRIOPES 0,00 -0,23 -0,66 0,02

SEIRA_1 -0,21 0,02 0,64 0,39

SMINTHURIDES2 0,01 -0,26 0,19 -0,80

BRACHYSTOMELLA 0,12 0,24 -0,16 -0,70

1 2 3 4

14,648 16,718 19,389 16,494

Discussão

Florestas nativas, de uma maneira

geral, possuem maior heterogeneidade de

hábitat e são capazes de suportar maior

diversidade de Colêmbolos (Barreta, 2007),

no entanto, a riqueza de espécies entre as

áreas estudadas foi semelhante. Não

obstante, é preciso reconhecer que hoje os

padrões de diversidade frequentemente

exibem um “fantasma do antigo uso da

terra”, refletindo anteriores atividades de

manejo da terra (Harding et al. 1998).

Como a ESEC do Seridó era parte da

Fazenda Solidão, apesar de estar livre de

maiores impactos antrópicos desde sua

implantação (1982), não pode ser

considerada uma área primária.

Apesar disso, encontraram-se

comunidades com composição bastante

diferenciada, refletindo que mudanças no

uso da terra podem não afetar a riqueza.

Todavia, ao alterar a composição da

riqueza, o funcionamento do ecossistema

também é modificado.

Devido à maior cobertura vegetal

da ESEC do Seridó, foi observada uma

maior quantidade de serrapilheira e

pressupõe-se que a umidade do folhiço é

31 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

mais elevada. A partir disso pode-se inferir

que também há uma maior diversidade da

microflora do solo, principal recurso

alimentar dos colêmbolos. (Zeppelini &

Bellini, 2004).

A análise das características morfo-

funcionais dos grupos encontrados sugere

diferentes níveis de resistência à

dessecação. Neanura sp.1 pertence ao

grupo (Poduromorpha) com menor

colóforo (superfície extra para a perda de

umidade corporal) e cutícula mais espessa,

características que reduzem a perda de

água para o meio (Bellini, comunicação

pessoal), e foi encontrado apenas na

Fazenda Solidão. Por outro lado, quatro

dos cinco morfotipos de Symphypleona

(Sminthurides sp.1, Sminthurides sp.2,

Allacma sp.1, Rastriopes sp.1 e Dicyrtoma

sp.1) foram encontrados apenas na ESEC.

Esse grupo apresenta o maior colóforo

entre os Collembola, sendo mais

dependentes de alta umidade (Bellini,

comunicação pessoal).

Diante disso, pode-se afirmar que

há uma relação entre a composição das

comunidades de Collembola e o uso dado

ao solo.

Agradecimentos

Somos gratos ao professor doutor

Bruno Bellini pela orientação, pela realização da

triagem e pelo nosso aprendizado. Ao professor

Carlos Fonseca pelo apoio nas análises

estatísticas. Aos funcionários da ESEC.

Referências

Andrade-Lima D., 1981. The caatinga

dominium. Revista Brasileira de Botânica 4,

149-63.

Barreta, D., Sousa, J.P., Ferreira, C.S., Cardoso,

E.J.B.N. 2007. Colêmbolos (Hexapoda:

Collembola) como indicadores da qualidade

do solo em áreas com Araucaria

angustifolia. XXXI Congresso Brasileiero de

Ciência do Solo. Gramado-RS.

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and nitrogen cycling in soil. Pedobiologia,

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the ghost of land use past. Proc. Nat. Acad.

Sci. USA, 95: 14843-14847.

Sampaio, E. V. S. B., 1995. Overview of the

Brazilian Caatinga. In: Bullock, S.H.,

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Comparação das comudades de

Entomobryidae e Isotomidae (Collembola)

entre plantio direto em três níveis de

fertilidade, plantio convencional e um

ecossistema natural (campo nativo) em

Ponta Grossa, Paraná, Brasil. Revista

Brasileira de Zoologia. 16 (1), 117-124.

Zeppelini, D., Bellini, B.C. 2004. Introdução ao

estudo dos Collembola. Editora

Universitária, João Pessoa

32 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

FUGA ANTI-PREDADOR DE Tropidurus hispidus E Tropidurus semitaeniatus

(TROPIDURIDAE) EM UMA ÁREA DE CAATINGA

FABRÍCIO RODRIGUES CAMACHO, BRUNNO FREIRE DANTAS DE OLIVEIRA, UIRANDÉ OLIVEIRA COSTA E

CRISTIANE GOUVÊA FAJARDO

Introdução

Os lagartos constituem o grupo

mais diverso dos répteis, com cerca de

5000 espécies (Uetz et al., 2008). No Brasil

encontram-se 234 espécies de lagartos, das

quais 31% dessas espécies ocorrem no

bioma Caatinga. Em algumas regiões desse

bioma duas espécies são bastante

frequentes, Tropiturus semitaeniatus e

Tropidurus hispidus, sendo a primeira

endêmica.

Apesar dessas espécies de lagartos

ocorrerem em sintopia, elas são

territorialistas. Alguns autores sugerem

que o aumento no risco de predação reduz

a freqüência de encontros agressivos entre

lagartos (Baker et al., 1999; Brick, 1999;

Díaz–Uriate, 1999), o que pode afetar

diretamente as taxas de disputa por

território e indiretamente o sucesso

reprodutivo das espécies. Dessa forma,

estudos que focam a distância de fuga anti-

predador são relevantes para o

entendimento do comportamento de

defesa de território, especialmente no se

refere ao trade-off entre forragear e

proteger o território.

Fatores como o tamanho do

animal, temperatura do ambiente e

divergências morfológicas ou

comportamentais entre espécies podem

influenciar as distâncias de fuga entre

indivíduos (Díaz–Uriate, 2001).

Assim, os objetivos do presente

trabalho foram verificar as diferenças da

distância de fuga anti-predador entre T.

semitaeniatus e T. hispidus. Além disso,

averiguar se a temperatura do ambiente e

diferenças no tamanho entre coespecíficos

influenciam na distância de fuga.

Material e Métodos

O estudo foi realizado em quatro

afloramentos rochosos, próximos à Lagoa

do Junco na Estação Ecológica do Seridó -

ESEC. Em cada afloramento foram

simuladas situações de ataque as espécies

Tropidurus semitaeniatus (Figura 1A) e T.

hispidus (Figura 1B). Os ataques foram

intervalados por um período mínimo de 15

minutos para que uma situação natural

fosse restabelecida. As distâncias de fuga

anti-predador foram medidas de acordo

com o método de Cooper (2000) pelo

mesmo observador distanciado 5 metros

do lajedo.

Figura 1. (A) Indivíduo de Tropidurus

semitaeniatus, (B) indivíduo de T. hispidus.

Para avaliar as diferenças nas

distâncias de fuga de acordo com os

tamanhos dos indivíduos de cada espécie,

foram categorizadas duas classes de

tamanho. O tamanho o indivíduo é um

fator que pode afetar seu potencial de

A

C

A B B

33 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

defesa do território (Fox et al, 1990). Na

nossa metodologia classificamos como

grandes os indivíduos maiores que 20 cm e

pequenos os menores que 20 cm, para T.

hispidus, e pequenos os indivíduos maiores

que 15 cm e pequenos os menores que 15

cm para T. semiteniatus.

As medidas de temperatura

ambiente foram registradas a cada 30

minutos, com termohigrômetro digital

INSTRUMENTHERM HT-300®.

Os dados foram analisados no

módulo GLM do programa Systat 12.0, no

qual foi analisado o efeito das variáveis

categóricas: espécie, tamanho, e a

interação entre estas; e da variável

contínua temperatura sobre a variável

dependente distância de fuga.

Resultados

Existem diferenças significativas

nas distancias de fuga entre as espécies de

T. semitaeniatus e T. hispidus (F = 7,54 ; GL

= 1,54 ; P < 0,01), com a primeira espécie

apresentando menor distância de fuga

anti-predador (Figura 2).

Não foi observado efeito das

diferenças de tamanhos entre espécies

sobre as distâncias de fuga (F = 6,28 ; GL =

1,59 ; P = 0,108). No entanto, constatamos

uma diferença aparente, onde em T.

hispidus os indivíduos grandes

apresentaram distancias de fuga menores

que os pequenos, e o inverso foi notado

para T. semiteniatus (Figura 3).

Apesar de as espécies estudadas

serem pecilotérmicas, as variações na

temperatura ambiente não surtiram efeito

sobre as distâncias de fuga das duas

espécies (F = 0,27 ; GL = 1,54 ; P = 0,605)

(Figura 3).

Figura2: Gráfico relaciona as médias e desvios

padrão nas distâncias de fuga de anti-predador

para as espécies Tropidurus hispidus (H) e T.

semitaeniatus (S).

Figura 3: Tamanho (pequeno = P ; grande = G)

dos indivíduos das espécies Tropidurus

hispidus.(H) e T. semitaeniatus (S) com relação

à distância de fuga anti-predador.

34 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Figura 4. Relacionamento da temperatura (ºC) e

distância de fuga anti-predador em metros (m)

das espécies T. hispidus (H) e T. semitaeniatus

(S).

Discussão

Kolodiuk (2008) observou que as

duas espécies estudadas apresentam

diferenças morfológicas, entretanto, não se

distinguem significativamente com relação

à dieta e comportamento.

Os resultados obtidos com o

presente trabalho indicam que há

diferenças significativas no

comportamento de fuga de entre as

espécies, sendo Tropiduros semitaeniatus a

espécie que se expõe mais tempo ao

predador.

Para espécies territorialistas o

tamanho corporal é um fator importante

durante o confronto por território (Fox et

al., 2003). No entanto, não observamos

diferenças significativas entre os tamanhos

dos indivíduos para as espécies estudadas,

mostrando que o tamanho do corpo, não é

importante para determinar diferenças na

fuga do predador.

Cooper (2000) não observou

influencia da temperatura na distância de

fuga anti-predador. Os resultados deste

trabalho corroboram os obtidos por

Cooper (2000). Apesar das espécies

estudadas serem ectotérmicas, as

distâncias de fuga parecem não serem

afetadas pela temperatura ambiente

parece não influenciar dentro da variação

climática que foi possível observar em

campo (mínima de 25,3 e máxima de 33,5

ºC).

Este trabalho revela diferenças

significativas na distância de fuga entre

Tropidurus semitaeniatus e T. hispidus, isso

pode surtir efeitos positivos sob o fitness

de T. semitaeniatus. Entretanto, tais

efeitos ainda devem ser testados.

Agradecimentos

Aos funcionários da ESEC-Seridó, ao Professor

Doutor Gindomar Gomes Santana pela

orientação, aos Professores, especialmente ao

Prof. Carlos Fonseca pelo auxílio com as

análises estatísticas, e ao Programa de Pós

Graduação em Ecologia da UFRN.

Referências

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Aggressive interaction and risk of fish

predation for larval damselflies. Journal of

Insect Behaviour 12, 213-223.

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cost of sampling. Behaviour Ecology 10,

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Díaz-Uriart, R. 2001. Territorial intrusion risk

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model. Proceedings of the Royal Society of

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Fox, S. F.; McCoy, J. K.; Baird, T. A. 2003. Lizard

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University Press. 410p.

Kolodiuk, M. F. 2008. Dieta e comportamento

de forrageio de duas espécies de Tropidurus

(Squamata, Tropiduridae) área de caatinga

do nordeste do Brasil. Dissertação de

Mestrado em Psicobiologia na Universidade

Federal do Rio Grande do

Norte/UFRN.31pp.

Uetz, P. Etzold, T. & Chenna, R. 2008. The EMBL

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database.org/ acessado em 24/06/2010

36 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

INFLUÊNCIA DO EFEITO DE BORDA NA RIQUEZA E ESTRUTURA DE PLANTAS

LENHOSAS EM UMA ÁREA DE CAATINGA NO RIO GRANDE DO NORTE

ALLAN T. BATISTA; FRANÇOISE. D. LIMA; VINÍCIUS A. SÃO PEDRO; MONALISA R. O. DA SILVA &

RODRIGO X. SOARES

Introdução

A Caatinga engloba um número

elevado de formações e tipos

vegetacionais, principalmente, pela grande

variação ambiental associada ao clima, solo

e relevo (Prado, 2003). Essa peculiaridade

ecossistêmica pode resultar em grande

variação fisionômica, tanto na densidade

quanto no porte das plantas. Contudo, a

pressão antrópica sobre esse bioma vem

sendo intensificada ao longo dos anos.

Essas atividades humanas têm

intensificado o processo de fragmentação

deste bioma, o que pode resultar na

formação de bordas nas comunidades

vegetacionais. Em paisagens fragmentadas,

as alterações biológicas são intensificadas

pelo efeito de borda (Santos & Santos,

2008).

A criação de bordas pode alterar

características da vegetação,

principalmente, devido às mudanças

microclimáticas, como maior penetração

de luz (Laurance et al., 2002). No entanto,

essas alterações ocorrem de forma distinta

dependendo do tipo de ambiente.

Para o bioma Caatinga,

representado por florestas com dossel

baixo e bem aberto, é provável que as

condições abióticas da borda e do interior

não apresentem grandes diferenças, desta

forma, o efeito de borda pode ser menos

pronunciado (Silva, 2009).

Com o intuito de avaliar o efeito de

borda, este estudo pretende comparar a

riqueza de espécies de plantas lenhosas em

dois ambientes: borda e interior da

Caatinga.

Metodologia

O estudo foi realizado na Estação

Ecológica do Seridó, localizada no

município de Serra Negra do Norte, Rio

Grande do Norte. A área encontra-se no

bioma da caatinga e está entre as mais

impactadas pela ação antrópica (IBAMA,

2004).

Na amostragem foram utilizados

dois transectos, paralelos a estrada e

distantes 50 m um do outro, divididos em

10 quadrados de 10m². Para a coleta de

dados foram selecionados

randomicamente três quadrados para cada

ambiente(fig. 1).

Em cada quadrado amostrado

foram consideradas apenas as plantas

maiores que um metro de altura, com o

intuito de selecionar as adultas. Os

indivíduos foram identificados em

morfotipos com base no guia de campo de

árvores da Caatinga (Santos et al, 2009) e,

posteriormente, contados.

Para analisar a estrutura da

vegetação nos dois ambientes foi medido o

diâmetro do tronco à altura solo (DAS) e

estimada a altura da copa de dois

37 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

indivíduos de cada espécie para cada

quadrado.

Figura 1. Delineamento amostral destacando os três quadrados (cinza claro) selecionados para estudo na borda e no interior da Caatinga.

Aplicou-se análises de variância

(ANOVA) para comparar as médias de

riqueza, abundância, dominância,

equitabilidade e diversidade (índice de

Shannon-Wiener) entre os ambientes. A

análise de covariância (ANCOVA) foi

utilizada para testar a relação do DAS com

altura para a espécie dominante Croton

sonderianus (família Euphorbiaceae) nos

dois ambientes e semelhança entre os

quadrados. Todas as análises foram feitas

através do programa Systat 12.0.

Resultados

A vegetação do local amostrado é

formada por uma floresta baixa com dossel

médio de cinco metros. As árvores e

arbustos são freqüentes e não há

vegetação rasteira. A vegetação

acompanha um córrego temporário com

leito rochoso de dois metros de largura,

porém, o dossel não é totalmente fechado.

Foram identificados 15 morfotipos

de plantas lenhosas (Tabela 1), das quais

três foram exclusivas da área de borda,

duas exclusivas do interior e 10 foram

comuns em ambos os ambientes (Figura 2).

Figura 2. Diagrama de Venn mostrando a riqueza e similaridade de espécies entre as áreas de borda e interior.

Tabela 1. Lista de morfotipos e abundância em

cada ambiente.

ESPÉCIES

(ou morfotipo) BORDA INTERIOR

Croton sonderianus 151 263

Bauhinia cheilantha 20 0

Peludinha 14 1

Mimosa hostilis 13 6

Cheirosinha 11 3

Mufumbo 9 8

Aspidosperma

pyrifolium 7 6

Caesalpinia

pyramidalis 6 13

Piptadenia

stipulaceae 6 5

Mônica 3 0

P. piauhiensis 3 1

Acerola da Caatinga 2 0

Folha dura 1 4

Commiphora

leptopholeus 0 2

Angico 0 2

A

INTERIOR BORDA

38 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

BORDA INTERIOR

ÁREA

0

1

2

3

4

5

6

AL

TU

RA

(m

)

BORDA INTERIOR

ÁREA

-50

0

50

100

150

200

DA

S (

mm

)

Não houve diferenças significativas

entre as duas áreas analisadas quanto às

variáveis, riqueza, abundância, diversidade,

dominância e equitabilidade (Tabela 2).

Em relação à estrutura da

comunidade, foi constatado que as

espécies do interior atingem tamanhos

significativamente maiores do que as da

borda (F = 19,48; gl = 1,8; p < 0,01). No

entanto, o DAS não apresentou diferenças

significativas entre os dois sítios analisados

(F = 0,005; gl = 1,82; p = 0,9) (Figuras 3 e

04).

Tabela 02. Resultados das ANOVAS para as

variáveis estudadas entre as duas áreas.

F gl p-valor

Riqueza 2,000 1 0,230

Abundância 2,035 1 0,227

Diversidade 3,415 1 0,138

Dominância 3,724 1 0,126

Equitabilidade 3,924 1 0,119

A relação positiva entre a altura da

planta e DAS foi marginalmente

significativa. A análise de covariância

(ANCOVA) realizada com a espécie mais

abundante e mais frequente nos dois

ambientes, o Croton sonderianus (Tabela

1), mostrou que a relação entre altura da

planta e DAS não foi significativamente

diferente (F = 0,258; gl = 1; p = 1,0624)

entre as duas regiões (Figura 5).

Figura 3. Comparação das médias da altura

entre as duas áreas analisadas.

Figura 4. Comparação da média do DAS

entre as duas áreas analisadas.

Figura 5. Relação entre altura e DAS do

Marmeleiro para as áreas de borda e

interior.

39 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Discussão

A criação de áreas de

bordas, segundo Laurance et al. (2002),

pode afetar a estrutura da comunidade

dentro do ecossistema. No entanto, este

comportamento não foi observado para a

área de Caatinga estudada, sugerindo que

o efeito de borda não influencia a

composição da comunidade ao longo do

gradiente estudado.

Para Prado (2003), características

peculiares deste bioma modelam a vida

animal e vegetal. Assim, a formação de

bordas pode não ter influência nas

condições microclimáticas.

Foi observado que a altura

das plantas, o diâmetro do caule ao nível

do solo, a riqueza e a abundância de

espécies não foram influenciadas pela

proximidade com a borda. Este padrão

também foi encontrado em um estudo

anterior na Caatinga (Santos & Santos,

2008) que encontrou baixa alteração na

estrutura e composição da vegetação

arbustiva neste bioma.

Apesar da similaridade

entre as espécies nos dois ambientes, em

cada um deles foram encontradas espécies

exclusivas (ver Figura 2). Este padrão pode

ser explicado pela heterogeneidade

ambiental criada pela criação da borda, o

que pode favorecer o crescimento de

espécies pioneiras e adaptadas a

ambientes perturbados. Bem como, pelo

acaso já que as amostras são pequenas.

Adicionalmente, mudanças em escala local

podem ser associadas a uma alteração na

condição ambiental, como em um

gradiente de umidade em direção a um

corpo d’água (Amorim et al., 2005).

A maior abundância para o

Croton sonderianus pode estar relacionada

ao grau de perturbação da área de estudo,

pois sabe-se que espécies de

Euphorbiaceae são apontadas como um

importante grupo colonizador desse tipo

de ambiente (Araújo et al., 2005 apud Leal,

2008).

A altura e o DAS dos

indivíduos de Croton sonderianus não

mostraram diferenças entre os dois

ambientes. O mesmo foi observado por

Leal (2008) em um estudo do efeito de

borda sobre a família Euphorbiaceae em

áreas de Caatinga. Este padrão corrobora a

hipótese da ausência do efeito de borda

neste bioma, sendo a estrutura vegetal

mais afetada por outras variáveis

ambientais, como por exemplo, a

disponibilidade de água.

Agradecimentos

À professora Adriana Monteiro pela

orientação no projeto. Aos professores do

Programa de Pós- Graduação em Ecologia –

PPGE, em especial a Carlos Fonseca pela ajuda

nos testes estatísticos. Agradecimentos

especiais aos funcionários da ESEC pela

hospitalidade e por permitir o uso de toda a

infra-estrutura da reserva.

Referências

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2005. Flora e estrutura da vegetação

arbustivo-arbórea de uma área de caatinga

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e dos Recursos Naturais Renováveis. 2004.

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Seridó. Relatório Técnico não publicado.

LAURANCE, W.F.; LOVEJOY, T.E.;

VASCONCELOS, H.L.; BRUNA, E.M.;

DIDHAM, R.K.; STOUER, P.C.; GASCON, C.;

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LEAL, L.C. 2008. As bordas influenciam a

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PRADO, D. E. 2003. As Caatingas da América do

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the shrubby Caatinga free from edge in

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SILVA, E. E. S. 2009. Existe efeito de borda

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Brasil, 1 ed., 2009. Anais do IX Congresso de

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SYSTAT 12 © Copyright 2007, SYSTAT Software,

Inc. All Rights Reserved.

41 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

INFLUÊNCIA DO USO DO SOLO SOBRE A COMPOSIÇÃO DA TAXOCENOSE

DE FORMIGAS EM DUAS ÁREAS DE CAATINGA

HEITOR B.A. SOUZA, IZABEL M. M. SOUZA, KAROL L. B.O. FRANÇA, LEONARDO H.T. PINTO,

MAÍRA F. MANZAN

Introdução

Pertencentes à classe

Hymenoptera e à família Formicidae, as

formigas são encontradas na maioria dos

ecossistemas terrestres do globo. Apesar

de representarem apenas 1,5% da fauna de

insetos descrita, somam mais de 10% da

biomassa total de animais em diversos

habitats importantes do planeta (Agosti et

al., 2000), influenciando diversos

organismos de diferentes níveis tróficos e

participando ativamente da ciclagem de

nutrientes tanto através da ação de

herbivoria (Wirth et al., 1997 ) quanto pela

disponibilização de nutrientes para as

plantas (Hölldobler & Wilson, 1990).

Ademais, em relação a outros

animais, as formigas são organismos

especialmente apropriados para serem

usados como bioindicadores da qualidade

ambiental, pois são sensíveis às mudanças

nas condições do ambiente, apresentam

alta abundância e riqueza, além de

apresentarem muitos táxons

especializados, distribuição geográfica

ampla e serem facilmente amostrados e

separados em morfo-espécies (Silva &

Brandão, 1999). Neste sentido, o estudo de

comunidades locais de formigas tem se

mostrado uma valiosa ferramenta de

avaliação das condições ambientais em

estudos de acompanhamento de áreas

degradadas e dos diferentes padrões de

uso do solo.

Sendo assim, esse trabalho

procurou avaliar o potencial bioindicador

da taxocenose de formigas na qualidade de

solos. Para isso, testou-se a hipótese de

que a riqueza de formigas seria maior em

áreas com menor impacto sobre o solo,

buscando compreender quais fatores

estariam relacionados a esse padrão.

Material e métodos

Área de estudo

A área de coleta se divide em duas

subáreas de fragmentos de Caatinga com

diferentes estados de conservação, cada

uma com 1 ha. A primeira localiza-se

dentro da ESEC – Seridó e foi tomada como

controle por estar preservada desde a

criação da Estação Ecológica em 1982. A

segunda área localiza-se na fazenda

Solidão, onde ocorre pecuária extensiva.

Dentro de cada área foram sorteados cinco

plots, cada qual com 10m² para a

realização da coleta dos parâmetros

ambientais e bióticos a serem analisados.

Coleta de dados

Em cada plot foram medidos o pH

e a umidade do solo com a utilização de

um medidor analógico Instrutherm

pH2500, bem como a compactação, com o

auxílio de um compactômetro. Mediu-se o

DAP (diâmetro da altura do peito) para os

ramos individuais de todas as plantas com

diâmetro superior a 5 cm que,

posteriormente, foram substituídos na

42 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

equação desenvolvida por Sampaio & Silva

(2005) para o cálculo da biomassa vegetal

aérea. Também foi determinado o peso da

necromassa vegetal em uma área de

0,25m2 em cada um dos cinco plots das

áreas amostrais.

Para a amostragem de formigas

foram utilizados quatro métodos de coleta:

i. Guarda-chuva entomológico, para a

coleta de organismos da parte aérea de

três árvores de cada plot; ii. Sweep, para

coleta de organismos no extrato herbáceo

com três amostras e duas repetições; iii.

Isca, composta de água e açúcar, para a

coleta de organismos no solo, disposta

durante 20 minutos; e iv. Coleta de

necromassa vegetal para triagem das

formigas presentes na liteira.

Análise dos dados

Para verificar se há diferenças na

riqueza de espécies entre as duas áreas

estudadas, os dados foram submetidos a

uma ANOVA univariada. Para testar se

diferenças na riqueza de espécies entre as

áreas ocorria em decorrência das variáveis

abióticas avaliadas foi utilizada a

ferramenta Modelo Linear Geral (GLM) no

software Systat 12.

Resultados

Foram encontradas seis espécies

de formigas, das quais todas ocorreram na

área controle e apenas quatro foram

encontradas na área onde é praticada

pecuária extensiva (Tabela 01).

Foi constatado que há diferença

significativa na riqueza de espécies (F=

16,9; gl= 1,8; p<0,05).

Verificou-se que a área controle

apresentou uma riqueza de espécies maior

que na área da fazenda, provavelmente

pelo maior pisoteio, conforme pode ser

visualizado na figura 1.

Tabela 1. Espécies encontradas nas áreas

amostradas

Espécies

Fazenda

Solidão

ESEC

Seridó

Formicidae sp. 4 19

Crematogaster sp. 10 29

Solenopsis sp. 3 9

Camponotus sp1 13 5

Camponotus sp1 0 8

Cephalotes sp. 0 8

Total 30 58

Figura 1. Riqueza média de espécies de

formigas nas áreas em estudo. As barras

verticais representam erro padrão.

Não houve relação significativa

entre variáveis abióticas e a riqueza de

espécies, conforme visualizado na tabela

02.

43 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

De acordo com o resultado

apresentado anteriormente, nenhuma das

variáveis exerceu influência significativa

sobre a riqueza de espécies de formigas.

Em seguida, realizou-se uma simplificação

de modelo utilizando-se uma redução de

modelo stepwise. Com essa redução de

modelo, a diferença na riqueza de espécies

entre as áreas em estudo permaneceu

sendo significativa mantendo-se as

variáveis umidade e compactação, apesar

da influência delas não ser significativa

(Tabela 3).

Tabela 3. GLM para efeito da área umidade e

compactação sobre a riqueza de espécies.

Tratamentos gl F P

AREAS 1 6,506 0,043

UMIDADE 1 2,819 0,144

COMPACTACAO 1 3,316 0,118

Erro 6

Discussão

De um modo geral, os gêneros

representantes da mirmecofauna

encontrada na Ecorregião da Depressão

Sertaneja Setentrional (ESEC – Seridó)

foram similares àqueles encontrados em

outros ecossistemas brasileiros, assim

como o que foi observado por Leal (2003)

para diferentes unidades de paisagem da

caatinga.

No presente trabalho, a riqueza de

espécies e abundância de formigas foi

maior na área considerada como controle.

Embora no trabalho realizado por Leal

(2003) a maior diversidade da

mirmecofauna para regiões de caatinga

tenha sido associada a áreas com maior

diversidade vegetal e solos mais profundos,

o estudo aqui realizado não encontrou

relação significativa da riqueza de espécies

de formigas com uma maior biomassa

vegetal aérea, maior umidade do solo e,

também, um menor grau de compactação

do solo, em comparação à área de pecuária

extensiva, como era esperado no início.

Embora alguns estudos tenham

utilizado com sucesso a riqueza de espécies

e abundância de formigas como

bioindicadores da qualidade ambiental,

como o que foi realizado por Silvestre &

Silva (2001) quando, ao analisarem 14

guildas de formigas classificadas de acordo

com suas características taxonômicas e

preferências de habitat, encontraram uma

resposta positiva para a utilização de

algumas guildas de formigas em programas

de avaliação, conservação e manejo

ambiental, de acordo com suas

preferências e utilização do ambiente. Já

Tabela 2: GLM para efeitos da área, biomassa, pH, umidade e compactação do solo sobre a riqueza de

espécies.

Tratamentos Coeficiente Erro Padrão DF F P

Constante

AREAS 0,548 0,756 1 0,526 0,508

BIOMASSA 0 0 1 0,419 0,553

PH -1,287 1,544 1 0,696 0,451

UMIDADE -0,231 0,178 1 1,687 0,264

COMPACTACAO 2,238 1,58 1 2,006 0,23

44 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Silva & Brandão (1999), revisando a

literatura sobre o uso de diferentes

gêneros de formigas como bioindicadores

e indicadores de biodiversidade concluíram

que existe correlação entre as variações

nas condições ambientais e os padrões de

resposta dos organismos estudados.

Contudo, no presente trabalho não

foi possível analisar a resposta da

taxocenose de formigas às variações nas

condições ambientais.

Sendo assim, dentro do universo

abordado, a riqueza de espécies de

formigas é significativamente diferente

entre as duas áreas com diferentes

estratégias de uso do solo, corroborando a

hipótese teórica inicial e sugerindo o

potencial de utilização da mirmecofauna

como possível bioindicadora das variações

no uso do solo. Além disso, conclui-se que

nenhum dos fatores ambientais abordados

foi responsável para a ocorrência dessa

diferença na riqueza de espécies.

Agradecimentos

Ao professor Dr. Alexandre

Vasconcellos pelo desenvolvimento e apoio

para a realização desse trabalho e ao professor

Dr. Carlos Fonseca pelo auxílio fornecido nas

análises estatísticas. E, por fim, aos

funcionários da ESEC pela cordialidade e

hospitalidade com a qual nos receberam.

Referências

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T.SCHULTZ. 2000. Standard methods for

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45 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

46 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

INTERAÇÃO TRITRÓFICA EM Mimosa hostilis: HERBÍVOROS PODEM SER

BENÉFICOS PARA AS PLANTAS?

HEITOR B. SOUZA, IZABEL M.M. SOUZA, KAROL L. B.O. FRANÇA, LEONARDO H.T. PINTO,

MAÍRA F. MANZAN

Introdução

De acordo com Begon (2007), os

organismos mutualistas têm sido muitas

vezes negligenciados, mesmo constituindo

a maior parte da biomassa do mundo. O

mutualismo se caracteriza pela interação

entre organismos de espécies diferentes

que se beneficiam mutuamente. É errado,

no entanto, pensar nesta interação como

uma relação sem conflitos. Estudos

recentes têm mostrado que esta interação

é, na realidade, mais relacionada com uma

exploração recíproca.

A variação espaço-temporal em

relações de mutualismo entre plantas e

formigas tem sido principalmente atribuída

as mudanças na interação entre fatores

bióticos. Por exemplo, o aumento das

relações formiga-planta em uma planta

Amazônica do gênero Tachigali determina

um padrão ontogenético de sucessão, que

involve oito diferentes formigas parceiras,

gerando um número de interações bióticas

indiretas (Fonseca & Benson 2003).

Alguns trabalhos têm mostrado

relações mutualísticas bastante evidentes

entre formigas e plantas e entre formigas e

homópteros. A presença de nectários atrai

formigas, por representarem uma fonte

rica de açúcares. Dessa forma, as formigas

defendem o seu recurso de potenciais

competidores, culminando em defesa

indireta contra herbívoros para a planta. A

presença de homópteros, os quais são

“cultivados” pelas formigas em troca de

secreções ricas em açúcar, também pode

promover uma relação positiva indireta

formiga-planta. Assim, na defesa do seu

recurso, as formigas protegem os afídeos

contra predação e a planta contra

herbivoria (Begon 2007). Nesse contexto,

Fonseca (2004) verificou que o aumento no

número de formigas faz com que ocorra a

diminuição da herbivoria e aumento da

estimativa de vida da planta.

Nesse sentido, o objetivo do

presente estudo foi verificar se a presença

dos herbívoros homópteros promove

algum benefício para a planta Mimosa

hostilis, na presença de uma formiga

predadora do gênero Camponotus.

Material e Métodos

Foram sorteadas 25 árvores ao

longo da estrada de acesso da Estação

Ecológica do Seridó – ESEC, em 15 das

quais foi realizado o experimento de

indução da resposta condicional da

formiga, enquanto a partir das demais

realizou-se o censo de estruturas

vegetativas e componentes da fauna

freqüentadora.

Coleta de dados

O censo foi realizado a partir do

sorteio de três ramos localizados na parte

inferior do extrato arbóreo das 10 árvores

citadas. Foram registrados o número de

folhas e o nível de herbivoria, classificado

em 4 categorias: 0) sem perda de folíolos ;

47 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

1) 1-25%; 2) 26 – 50%; 3) 51 – 75%; 4) 76 –

100% de perda de folíolos; número de

formigas, número de membracídeos

(homópteros herbívoros), flores e frutos

dos ramos, em uma dimensão de 30 cm a

partir do ápice.

Para verificar a resposta

condicional das formigas à presença do

herbívoro invasor, selecionaram-se dois

ramos adjacentes, um com membracídeos

e outro sem, medindo-se 30 cm a partir do

ápice como área experimental. O método

consistiu na disponibilização de um cupim

da espécie Nasutitermes cornigea disposto

a 15 cm do ápice do ramo, registrando-se o

tempo de interação das formigas do

gênero Camponotus com o cupim durante

um período de dez minutos, enquanto

realizavam seu comportamento de

patrulhamento dos ramos da árvore. Os

cupins foram retirados de um ninho

arborícola de aproximadamente 20 L.

Análises estatísticas

Para compreender se a quantidade

de tecidos vegetais disponíveis influencia a

presença de membracídeos no vegetal foi

realizada uma regressão logística múltipla.

Dentre os ramos onde os membracídeos

ocorreram, foi realizada uma regressão

linear múltipla para investigar se a

quantidade de tecido vegetal tem

influência sobre a quantidade de

membraídeos encontrada nesses ramos.

Visando compreender a relação entre o

número de membracídeos e o número de

formigas nos ramos observados foi

realizada uma regressão linear simples foi

realizada. Para a compreensão da relação

entre o número de formigas observadas

nos ramos e a taxa de herbivoria

encontrada em suas folhas também foi

realizada uma regressão não-linear. A

influência da presença do membracídeos

sobre o tempo de resposta das formigas à

presença de um predador foi testada

através de uma análise de variância

univariada com a utilização de blocos.

Todas as análises estatísticas foram

realizadas com o auxílio do software Systat

12.

Resultados

Não foi encontrada relação

significativa entre a quantidade de tecidos

vegetais e a quantidade de membracídeos

observada nos ramos (Tabela 1).

Tabela 1: Resultado da regressão logística múltipla para análise da relação entre

quantidade de tecidos vegetais e número de membracídeos.

Tratamentos Beta Erro padrão Z p Intervalo de Confiança 95 %

Inferior Superior

CONSTANTE -0,34 0,798 -0,422 0,673 -1,901 1,228

2 FOLHAS 0,012 0,025 0,485 0,627 -0,037 0,061

3 FLORES -0,13 0,093 -1,379 0,168 -0,31 0,054

4 FRUTOS 0,044 0,054 0,815 0,415 -0,061 0,149

Rho² =0,134 g.l.=3 p= 0,140

48 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Tabela 2: Resultado da regressão linear múltipla para análise da relação entre quantidade de

tecidos vegetais e número de membracídeos.

Tratamentos Coeficientes Erro Padrão t p

CONSTANTE 4,534 1,862 2,435 0,022

FOLHAS -0,017 0,056 -0,302 0,765

FRUTOS 0,02 0,094 0,21 0,835

FLORES -0,286 0,169 -1,69 0,1

R²=0,105

Dentre os ramos que apresentaram

membracídeos, não houve relação

significativa entre a quantidade de tecidos

vegetais e o número de membracídeos

(tabela 2).

Foi encontrada relação significativa

entre o número de formigas e o número de

membracídeos nos ramos observados

(Tabela 3).

A relação entre o número de

formigas e a taxa de herbivoria apresentou

um comportamento onde, quando não

havia formigas ou quando o número de

formigas era muito pequeno, a taxa de

herbivoria continha bastante variação.

Quando o número de formigas foi maior, a

taxa de herbivoria foi reduzida

progressivamente (Figura 1). A regressão

não-linear, utilizando um modelo

polinomial apresentou um valor de F=58,53

p<0,001

Tabela 3: Análise de regressão linear simples da

relação entre o número de formigas e o número de

membracídeos.

Tratamentos Coeficientes Erro

padrão t p

CONSTANTE 0,143 0,298 0,481 0,635

MEMBRACIDAE 0,444 0,05 8,921 0

R²= 0,74

Figura 1: Variação da taxa de herbivoria em

função do número de formigas.

A análise de variância univariada

em blocos revelou que as formigas

encontravam o herbívoro num tempo

significativamente menor quando havia a

presença do Membracidae, conforme pode

ser verificado na figura 2 F=7,601; ( g.l. = 1;

p=0,010).

49 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Figura 2: Tempo de resposta da formiga (Log10)

à presença do cupim.

Discussão

A falta de significância na relação

entre o número de tecidos vegetais e a

presença ou abundância de membracídeos

nos ramos de Mimosa hostilis parece

indicar que os membracídeos não são

afetados pela maior disponibilidade de

tecidos vegetais passíveis de serem

parasitados.

O número de formigas em cada

ramo de Mimosa hostilis, por sua vez, foi

positivamente afetado pela abundância de

membracídeos, evidenciando a

importância desses organismos na dieta

das formigas do gênero Camponotus.

Contudo, um estudo realizado por Bentley

(1976) mostrou que os nectários

extraflorais são importantes componentes

na dieta de uma comunidade de formigas

visitantes de plantas em uma área de

floresta tropical na Costa Rica, onde a

presença das formigas exerceu um efeito

de redução da herbivoria, que foi mais

acentuado em áreas perturbadas. Por

outro lado, Lima Jr. (2004) comparando as

diferenças de atração de formigas entre

nectários extraflorais e herbívoros

homópteros, não encontrou diferenças

significativas entre ambos os recursos

ofertados às formigas em um experimento

realizado na área do Projeto Dinâmica

Biológica de Fragmentos Florestais em

Manaus, AM, durante um curso de campo.

No presente estudo, por sua vez,

não foram contabilizados os números de

nectários extraflorais presentes nas folhas

de Mimosa hostilis, portanto não há

possibilidade de se fazer uma comparação

mais aprofundada com os resultados de

Bentley (1976), buscando compreender

quais vegetais influenciam a presença ou

abundância de membracídeos em plantas

de Mimosa hostilis, entretanto, foi

observada uma forte correlação entre o

número de formigas e o número de

membracídeos, assim como, uma redução

progressiva nas taxas de herbivoria a partir

de uma maior abundância de formigas.

Trabalhos experimentais

manipulando a presença de formigas têm

demonstrado um profundo impacto sobre

a sobrevivência de plantas a sobre o

destino dos herbívoros que as consomem

(Fonseca 1994, Kersch & Fonseca 2005). O

presente estudo encontrou uma relação

significativamente positiva entre a

presença de membracídeos nos ramos de

Mimosa hostilis e o tempo da resposta

condicional das formigas, sendo esse

tempo menor nos ramos com

membracídeos, assim como foi esperado

inicialmente.

Essa interação indica que as

formigas do gênero Camponotus atuam de

forma a proteger os membracídeos contra

possíveis predadores, devido à sua

importância como fonte de açúcares e,

indiretamente, são benéficas para as

plantas analisadas, participando de duas

interações mutualísticas, sendo a primeira

50 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

formiga-membracídeo e, após interagir

agonisticamente com os organismos

herbívoros invasores, formiga-planta.

Sendo assim, pode-se concluir que

dependendo das interações existentes, a

presença do herbívoro membracídeo

(Homoptera) será benéfica para Mimosa

hostilis.

Agradecimentos

Ao professores, Dr. Carlos Fonseca e Dra.

Adriana Almeida por toda orientação e apoio

para a realização desse trabalho. E, por fim, aos

funcionários da ESEC pela cordialidade e

hospitalidade com a qual nos receberam.

Referências

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Ecologia: de indivíduos ecossistemas. Cap

13, pp. 381.

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Lima Jr., D. P., 2004. Curso de Campo em

Biologia da Conservação,

PDBFF/INPA/Smithsonian Institution.

Foto. Camponotus sp. e Membracidae em ramo. Foto do grupo de trabalho.

51 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

NINHOS ABANDONADOS DE TÉRMITAS POSSUEM UMA FAUNA PECULIAR

DE INVERTEBRADOS: UM ESTUDO COM Constrictotermes cyphergaster NA

CAATINGA

ALLAN T. BATISTA; FRANÇOISE. D. LIMA; VINÍCIUS A. SÃO PEDRO; MONALISA R. O. DA SILVA &

RODRIGO X. SOARES

Introdução

Os térmitas estão entre os grupos de

invertebrados mais abundantes, sendo

amplamente distribuídos nos trópicos e

subtrópicos (Araújo, 1970). Eles são

considerados espécies “engenheiras de

ecossistemas”, pois constroem ninhos

formados por partículas do solo,

excrementos e restos vegetais, os quais

influenciam a composição química e física

do solo, alterando a disponibilidade de

recursos para outros organismos, (Jones,

1994). Além disso, os ninhos abandonados

de térmitas podem ser ocupados por

outros animais conhecidos como

inquilinos. Nesse sentido, eles são

importantes sítios de abrigo, reprodução e

alimentação para outros invertebrados,

como formigas, abelhas e aranhas, e até

mesmo vertebrados, como lagartos e aves

(Moura et al., 2006 ).

A espécie Constrictotermes cyphergaster

ocorre no Paraguai, Bolívia, nordeste da

Argentina (Constantino, 1998) e no Brasil é

encontrado no cerrado e na caatinga, onde

constroem ninhos conspícuos (Lima-

Ribeiro, 2006; Mélo & Bandeira 2004).

Nesses ambientes, os ninhos podem atuar

como um elemento importante de

heterogeneidade do habitat, funcionando,

dessa forma, como fator de aumento de

diversidade de invertebrados de solos.

Assim, sua importância fica evidenciada

principalmente em regiões que vêm

sofrendo impactos constantes, como

muitas áreas de Caatinga (IBAMA, 2004).

Tendo em vista a importância dos ninhos

abandonados como um fator de

heterogeneidade do ambiente, este estudo

propõe uma comparação na composição

de invertebrados de solo em quatro tipos

de micro-habitats em uma região de

caatinga: ninhos abandonados de cupins,

serrapilheira, troncos caídos e sob pedras.

Metodologia

O estudo foi realizado na Estação Ecológica

do Seridó, localizada no município de Serra

Negra do Norte, no Rio Grande do Norte. A

área encontra-se na Caatinga e está entre

as mais impactadas pela ação antrópica na

região (IBAMA, 2004). A amostragem foi

realizada na Serra Verde, localizada na

porção norte da ESEC Seridó, a uma

altitude aproximada de 320 metros.

Foram selecionados quatro ninhos inativos

da espécie Constrictotermes cyphergaster

com volume aproximado de 30L cada.

Buscou-se por invertebrados habitando os

ninhos (N) e em três outros micro-habitats

que se encontravam localizados a pelo

menos 10 m do cupinzeiro abandonado:

serrapilheira (S), troncos caídos (T) e sob

pedras (P) (Figura 1).

52 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

10m

Figura 1. Desenho amostral em cada ninho de

cupim selecionado para coleta de invertebrados

nos micro-habitats.

As buscas por invertebrados foram

realizadas simultaneamente nos quatro

micro-habitats por um período de 20

minutos.

Os espécimes encontrados foram

analisados em laboratório com o auxílio de

um microscópio binocular e identificados

em morfoespécies.

Foi realizada uma análise de

Cluster (Bray-Curtis) para agrupar os micro-

habitats com composição de espécies

semelhantes; uma análise de

escalonamento multidimensional para

dados não paramétricos (nMDS), em um

corte 20% de similaridade, para melhor

visualizar o agrupamento dos micro-

habitats e um ANOSIM para diferir os

agrupamentos propostos pelo cluster. Para

tal foi usado o programa de estatística

denominado Primer.

Resultados

Foram obtidas 34 morfoespécies,

pertencentes a 12 grupos de

invertebrados, ocupando os quatro micro-

habitats (Tabela 1).

Tabela 1. Número de morfoespécies de

invertebrados registrados por grupo.

Taxon N. de espécies

Araneae 7 Blattaria 3

Chilopoda 2

Coleoptera 1

Embioptera 1

Formicidae 7

Gastropoda 5

Isopoda 2

Isoptera 3

Orthoptera 1

Scorpiones 1

Thysanura 1

Total 12 34

Figura 2. Riqueza de espécies de cada grupo de

invertebrados em cada micro-habitat.

Grupos distintos foram dominantes em

cada micro-habitat. Nos ninhos houve

predomínio de espécies de Araneae.

O grupo Formicidae foi mais rico na

serrapilheira e, juntamente com Isoptera,

dominou também nos troncos caídos. Sob

pedras o grupo com o maior número de

espécies foi Gastropoda (Figura 2).

Os quatro ninhos analisados mostraram

uma composição de morfoespécies similar,

Araneae

53 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

sendo agrupados dentro de um grupo

único, enquanto os demais micro-habitats,

serrapilheira, troncos caídos e sob pedras,

não mostraram a mesma tendência de se

agruparem, sendo assim mais

heterogêneos. O micro-habitat T1 (tronco

caído) mostrou uma composição de

espécies similar àquela dos ninhos, mas no

corte de 20% de similaridade, formou um

grupo separado dos demais (Figuras 3 e 4).

Figura 3. Análise de agrupamento da similaridade entre os micro-habitats. N = ninho; S = serrapilheira; T = tronco e P = pedra.

Figura 4. Análise nMDS mostrando agrupamento dos pontos de coleta em um corte de 20% de similaridade.

A composição de espécies dos

ninhos é significativamente diferente da

composição da serrapilheira (R = 0,849; p <

0,05) e da de pedras (R = 0,541; p < 0,05).

Esta diferença foi marginalmente

significativa (R = 0,474; p = 0,057) entre

ninhos e troncos.

Discussão

Sabe-se que os cupins atuam como

engenheiros de ecossistemas, pois

transformam a paisagem, aumentando a

disponibilidade de recursos para outras

espécies (Jones et al., 1994). Corroborando

essa perspectiva, os ninhos abandonados

de Constrictotermes cyphergaster

analisados, mostraram-se especiais em

relação aos demais micro-habitats, pois

possuíam uma composição peculiar de

invertebrados de solo. Isso mostra a

importância desses ninhos como um fator

adicional da heterogeneidade espacial.

Essa variedade de micro-habitat propicia

uma amplitude do espectro de recursos

disponibilizado para a comunidade desses

ambientes, como fontes de alimentação,

locais de refúgio e reprodução, microclimas

(Begon et al., 2007). Tal fato indica que os

ninhos abandonados são essenciais no

aumento e manutenção da diversidade

local.

Cada micro-habitat estudado

mostrou abrigar grupos relativamente

distintos de invertebrados. Isso se deve ao

fato de que as características de cada

micro-habitat favorecem determinados

grupos, conforme suas necessidades e

adaptações (Townsend, et al., 2008). Os

Gastropoda, por exemplo, estão associados

a ambientes mais úmidos e por isso são

predominantes sob as pedras. De alguma

forma, pode-se inferir que os ninhos

inativos de Constrictotermes cyphergaster

proporcionam condições favoráveis a

várias espécies de aracnídeos no ambiente

de caatinga. No entanto, estudos adicionais

relacionados às peculiaridades dos

organismos presentes nesses ninhos

Riq

uez

a d

e es

péc

ies

54 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

devem ser realizados a fim de comprovar

tal inferência.

Agradecimentos

Ao professor Dr. Alexandre

Vasconcellos pelo desenvolvimento e apoio

para a realização desse trabalho e ao professor

Dr. Carlos Fonseca pelo auxílio fornecido nas

análises estatísticas. E, por fim, aos

funcionários da ESEC pela cordialidade e

hospitalidade com a qual nos receberam.

Referências

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.

55 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

ODOR DA FUGA: EFEITO DA DETECÇÃO DE PREDADORES POR Seira sp.

(COLLEMBOLA; ENTOMOBRYIDAE)

CRISTIANE GOUVÊA FAJARDO, BRUNNO FREIRE DANTAS DE OLIVEIRA, FABRÍCIO RODRIGUES

CAMACHO, UIRANDÉ OLIVEIRA COSTA

Introdução

A injuria ou a morte de outro

indivíduo pode liberam sinais químicos

(Rollo et al., 1995), ou necromônios (Rollo

et al., 1994). Animais de solo podem

apresentar sensibilidade química para

reconhecer esses odores.

Presas podem responder a sinais

de predadores paralisando, reduzindo a

sua mobilidade ou escapar para se

defender (Dicke & Grostal, 2001). Nilson e

Bengtsson (2004a) observaram que

indivíduos de uma espécie de Collembola,

Protaphorura armata, podem reconhecer

sinais da presença de um predador se este

se alimentou de um coespecífico,

sugerindo sensibilidade a necromônios.

Os objetivos do presente estudo

foram testar se indivíduos de uma espécie

de Seira: (a) reconhecem e evitam locais

onde encontra-se um predador ou

coespecífico morto, distanciando-se deste

local e, (b) se a intensidade desta resposta

varia com o tempo de exposição ao

estímulo.

Materiais e Métodos

Neste trabalho foram utilizadas

espécimes de Seira sp. e um espécime de

aracnídeo, que foram coletados em uma

região de caatinga localizada dentro da

Estação Ecológica do Seridó – ESEC.

Dentro de placas de Petri foram

testados os efeitos de dois tratamentos

sobre a movimentação de Seira sp. no

tempo: um com um espécime coespecífico

morto e outro com um espécime de

predador morto. Cada espécime morto foi

posicionado no centro de uma placa de

Petri de 7 cm de raio localizada sobre um

painel com 14 círculos concêntricos,

espaçados 0,5cm entre si, de forma que

era possível visualizar as linhas do painel

através do vidro da placa (Figura 1). Cada

linha do circulo foi numerada para

observação da posição do espécime de

Seira sp. no decorrer do tempo. Também

foi realizado um terceiro tratamento

(controle), sem coespecífico morto ou

predador, para se comparar diferenças no

no distanciamento ao centro da placa por

Seria sp na ausência de estímulo. Cada

indivíduo testado passou somente por uma

vez pelo tratamento sendo, logo em

seguida, foi devolvido no campo.

Figura 1. Arena experimental utilizada para os

tratamentos.

56 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Para cada tratamento 10 réplicas

sequeciadas temporalmente foram

realizadas. A distância do indivíduo vivo em

relação ao centro foi registrada a cada 10

segundos, observando-se a posição do

animal em relação às linhas circulares

enumeradas do painel. Antes do início do

experimento o colêmbolo passou por um

tempo de aclimatação na placa de Petri de

20 segundos.

Os dados obtidos foram analisados

por meio de uma ANOVA de Medidas

repetidas, rodada no software Systat 12.

Resultados

A distância média de Seira sp. até o

centro da arena experimental foi similar

para os três tratamentos (F = 0,625 ; GL =

2,27 ; P = 0,543). O padrão de

distanciamento do centro foi similar no

decorrer do tempo do experimento (F=

1,268 ; GL = 29,783 ; P = 0,158), mesmo se

comparado entre tratamentos (F =0,877;

GL = 58,783; P = 0,729). A dinâmica

temporal de distanciamento do centro de

Seira sp. não foi significativo (Figura 2), de

modo que as observações em todos os

experimentos foram concentrados na

borda da placa de Petri (Figura 3), ou seja,

posição 14.

Figura 2: Dinâmica temporal das posições de

Seria sp. no tempo de acordo com os

tratamentos. Linha vermelha para tratamento

com predador, azul para coespecífico morto e

preto para controle.

Figura 3: Distribuição do número de

observações constatadas para cada posição do

colêmbolo na placa de Petri.

Discussão

Algumas espécies de colêmbolos

são capazes de identificar a presença de

predadores e coespecíficos mortos através

da detecção de feromônios, fugindo ou

evitando regiões onde o odor está

presente (Nilsson & Bengtsson, 2004a,b).

Entretanto, os resultados do presente

trabalho sugerem que Seira sp. não reage

da mesma forma, pois seu comportamento

não diferiu do comportamento do

colêmbolo no tratamento controle.

57 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Nilsson & Bengtsson (2004)

observaram que uma espécie de

colêmbolo, Protaphotuts armata, não

reconhecem o odor do predador. O

presente trabalho corrobora esse estudo,

demonstrando que o comportamento do

colêmbolo no tratamento com predador

morto foi semelhante ao encontrado no

controle.

Seira sp. não conseguiu identificar

a presença do predador diante das

condições testadas neste experimento. Isso

pode significar que Seira sp. detecta

predadores de outra forma, sem a

utilização do olfato, ou que este

experimento não foi sensível para

detectar.este efeito. O aumento do tempo

de aclimatação na placa de Petri antes do

início do experimento pode reduzir o

estresse do colêmbolo e tornar os

resultados ainda mais confiáveis.

Agradecimentos

Agradecemos aos funcionários da ESEC, aos

caros professores, colegas do PPG Ecologia da

UFRN e em especial a Bruno Belline na ajuda

com os Collembolas e a Carlos Fonseca pela

ajuda no delineamento experimental análise

dos dados.

Referências

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58 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

SELEÇÃO DE MICROHABITAT POR Cnemidophorus ocellifer EM ÁREA DE

CAATINGA, SERRA NEGRA DO NORTE, RN

GINA MANTILLA; DANIEL DE OLIVEIRA; DIEGO BENTO; PRISCILA DO AMARAL; IGOR GALVÃO

Introdução

Dentro do seu habitat, os indivíduos

optam pela utilização de microhabitats de

acordo com características relacionadas à sua

história de vida, tais como alimentação,

segurança, reprodução e termorregulação,

fator fundamental para a manutenção da

homeostase dos répteis (Dawson, 1975). Na

maioria dos lagartos, a seleção de

microhabitats depende primariamente de

características estruturais do ambiente (Vitt et

al., 2007) e a sua forma de uso varia sobre

diferentes condições de habitat (Veja et al.,

2000).

Cnemidophorus ocellifer é um lagarto

forrageador ativo comum às regiões tropicais

e subtropicais da América do Sul, distribuindo-

se no Nordeste, Centro e Sudeste do Brasil. É

abundante nos campos, cerrados e caatingas

(Vanzonlini et al., 1980). Na Caatinga, seu

período de atividade máxima ocorre nas horas

mais quentes do dia, ou seja, entre 10:00 e

12:00, com início às 08:00 e permanecendo

ativo até 13:00-14:00 (Teixeira-Filho et al,

1995).

A dieta é generalista, envolvendo

insetos de várias ordens (principalmente

Isoptera, Orthoptera, Coleoptera, Homoptera

e Hymenoptera, larvas de Lepidoptera), além

de aranhas e partes vegetais (frutos e flores)

(Dias & Rocha, 2005).

De acordo com as características da

biologia de C. ocellifer anteriormente

descritas, espera-se a preferência por

determinados ambientes, se estes estiverem

disponíveis, dentro da heterogeneidade

ambiental disponível em seu habitat. Dessa

forma, entender a associação entre a

abundância da espécie e as características de

microhabitats tem um valor considerável em

conservação, pois isso permite fazer previsões

sobre as respostas a mudanças naturais e

antropogênicas no habitat (Law & Dickman,

1998).

Deste modo, este estudo objetivou

analisar a seleção de microhabitats por C.

ocellifer em uma área de Caatinga do Seridó

do Rio Grande do Norte, bem como identificar

as características ambientais que determinam

a preferência do lagarto por determinados

microambientes.

Material e Métodos

O estudo foi desenvolvido na Estação

Ecológica do Seridó localizada no município de

Serra Negra do Norte-RN. Determinou-se um

transecto de 1440 metros (iniciado em

6o35’49,5”N, 37o14’56,95”W e finalizando em

06o36’22,26”N e 37o15’20,12”W) por 13

metros, com abrangência de 5 metros em

cada lateral da estrada (Fig. 1).

Em um sentido do transecto

registraram-se as observações de C. ocellifer

através de procura visual, enquanto no

sentido inverso sorteou-se o mesmo número

de observações para caracterizar diferentes

microhabitats da área. Em todos os pontos

mediu-se 11 parâmetros ambientais que

refletem características de habitat (Tabela 1).

Os dados foram analisados através de

regressão logística simples e tabela de

59 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

contingência, utilizando o programa Systat

12.0.

Figura 9. Delineamento amostral da área de coleta

As linhas cinza representam as faixas sem

vegetação da estrada, as verdes margens à direita

(9-13), esquerda (1-5) e centro da estrada (7). Cada

número representa 1 m.

Tabela 3. Parâmetros medidos para caracterização de microhabitat no transecto selecionado.

Parâmetro Fator de história de vida

relacionado Medição

Abundância de itens alimentares

Recurso alimentar Número de artrópodes de solo contados em plot de 50x50 cm por 2 minutos

Porcentagem de cobertura do solo

Estratégia anti-predador, recurso alimentar e termorregulação

Estimativa visual da proporção de solo coberto por folhiço e colheita em pé, categorizada em três classes

Profundidade do folhiço Recurso alimentar Média de quatro medidas do material orgânico do solo num raio 1 m, a partir do ponto

Distância ao afloramento mais próximo

Termorregulação Medida em metros da menor distância do ponto ao afloramento

Distância ao tronco mais próximo

Estratégia anti-predador e recurso alimentar

Medida em metros da menor distância do ponto ao tronco no solo

Ocorrência de toca Estratégia anti-predador Presença e ausência de toca

Ocorrência de touceira Estratégia anti-predador e recurso alimentar

Presença e ausência de touceira

Altura do estrato herbáceo Estratégia anti-predador e termorregulação

Média de quatro medidas de altura máxima de espécimes herbácea num raio 1 m, a partir do ponto

Número de plantas com Diâmetro Altura do Solo (DAS) > 5 cm

Termorregulação e recurso alimentar

Contagem de plantas com DAS > 5 cm num raio de 5 m, a partir do ponto

Riqueza da flora Termorregulação e recurso alimentar

Contagem de morfotipos de flora num raio de 5 m, a partir do ponto

Cobertura vegetal predominante

Termorregulação e recurso alimentar

Categorização da vegetação predominante num raio de 5 m, a partir do ponto, em herbácea e não herbácea

60 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Resultados

Foi amostrado um total de 40

pontos ao longo do transecto, dos quais 20

são registros de avistamento e os outros

20, não associados aos avistamentos,

sorteados (Fig. 2).

Figura 10. Área estudada com destaque para o

transecto amostrado com os registros de

visualização da espécie (pontos verdes) e os

sorteados (pontos vermelhos).

Dentre os parâmetros medidos,

somente quatro, profundidade de folhiço,

número de árvores com DAS > 5 cm,

riqueza da flora e ocorrência de touceira,

apresentaram relação significativa com a

probabilidade de ocorrência de C. ocellifer.

A regressão logística entre

probabilidade de ocorrência e o log do

número de árvores com DAS maior que 5

cm mostrou uma relação negativa e

significativa (β = -2,618; p = 0,04) (Fig. 3).

Houve relação significativa (P <

0,01) também na regressão logística entre

a probabilidade de ocorrência e o log da

profundidade do folhiço em centímetros.

Desta vez, a associação foi positiva (β =

7,541), sendo possível ver um grande

agrupamento de ocorrências nas situações

de folhiço mais profundo e um grande

agrupamento de não-ocorrências de C.

ocellifer nas situações de folhiço mais raso

(Fig. 4).

Figura 11. Regressão logística entre a

probabilidade de ocorrência de C. ocellifer e o

log da quantidade de árvores com DAS > 5 cm

(Z = -2,052; g.l. = 39; P < 0,05).

Figura 12. Regressão logística entre a

probabilidade de ocorrência de C. ocellifer e log

da profundidade de folhiço (Z = 2,148; g.l. = 39;

P = 0,032).

A regressão entre a probabilidade de

ocorrência e a riqueza vegetal também se

mostrou positiva e significativa (β = 0,530;

61 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

P = 0,002). Os encontros foram mais

freqüentes em situações de maior riqueza.

Figura 13. Regressão logística entre

probabilidade de ocorrência e riqueza vegetal.

As ocorrências se concentraram onde houve

maior riqueza de espécies vegetais. Z = 3,052;

g.l. = 39; p = 0,002.

Figura 14. Quantidades de ocorrência e não-

ocorrência de C. ocellifer relacionadas com

ausência e presença de touceira(Likelihood =

11,872; g.l. = 1; P < 0,01).

A tabela de contingência

relacionando presença ou ausência de

touceiras com avistamento e não

avistamento da C. ocellifer também foi

significativa (Likelihood = 11,872; P < 0,01)

(Fig. 6). O número de registros na presença

de touceira foi bastante maior que na

ausência, ocorrendo o comportamento

contrário para o não registro C. ocellifer.

Discussão

É consistente a significância da

relação positiva de profundidade de folhiço

e da riqueza da flora com a probabilidade

de ocorrência de C. ocellifer, uma vez que

esses parâmetros estão associados,

respectivamente, à abundância e a

diversidade de recursos alimentares. O

número de árvores com DAS maior que 5

centímetros, apesar de poder contribuir

com folhiço, pode ter uma maior influência

com o aumento do sombreamento, dado o

saldo de sua relação ser negativo com a

probabilidade de ocorrência do animal.

O hábito do animal de buscar ficar

próximo a refúgios vegetais (Teixeira-Filho

et al., 1995) pode explicar as relações

positivas entre a probabilidade de

ocorrência e a presença de touceiras.

Os resultados obtidos concordam

com a bibliografia em relação à maior

freqüência de uso de borda, arbustos e

áreas iluminadas (Teixeira-Filho et al.,

1995). Por outro lado, há divergências

quanto à preferência pelo tipo de solo, pois

o presente estudo revelou preferência por

folhiço em área de Caatinga, enquanto

Mesquita & Coli (2003) afirmam haver

preferência por terra nua e rochas para

esse tipo de ecorregião.

Sabe-se haver três grandes fontes

de calor que este ((lagarto utiliza para

termorregulação: radiação direta do sol,

62 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

calor do ar e o calor do substrato.

Entretanto, há indícios de que a radiação

direta seja a mais importante (Teixeira-

Filho et al., 1995). Essa previsão é

suportada pelos dados obtidos, uma vez

que não houve relações significativas com

os afloramentos rochosos, mas uma

relação negativa com o número de árvores,

que podem sombrear a área e impedir o

acesso à radiação direta.

Assim, conclui-se que há seleção de

microhabitat pelo C. ocellifer e que a

mesma está associada a peculiaridades

importantes de sua história de vida.

Agradecimentos

Somos gratos a Gindomar Santana por

sua orientação e grande auxílio na preparação e

execução do projeto. Agradecemos a Carlos

Roberto Fonseca pelos insights no

delineamento do projeto e auxílio no

tratamento estatístico dos dados. Agradecemos

também aos funcionários da ESEC Seridó pelo

acolhimento e auxílio logístico.

Referências

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63 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

64 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Pro

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65 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

DEFESA DE ESTRUTURAS REPRODUTIVAS DE Macroptilium lathyroides (L.)

(FABACEAE) POR FORMIGAS Camponotus SP. EM UMA ÁREA DE

CAATINGA, NORDESTE DO BRASIL

IGOR GALVÃO DE BRITTO; VINÍCIUS DE AVELAR SÃO PEDRO; IZABEL MARIA MATOS DE SOUZA

Introdução

Em uma gama diversa de interações, as

plantas podem ser alimentadas, protegidas

ou transportadas por formigas (Beattie,

1985). Sabe-se que o mutualismo formiga-

planta é um importante componente das

comunidades tropicais, envolvendo mais

de 100 gêneros de angiospermas e 40

gêneros de formigas (Heil & Mckey, 2003).

Algumas espécies vegetais

possuem nectários extraflorais (NEFs), que

são glândulas secretoras de néctar não

envolvidas diretamente com a polinização

(Fiala & Maschwitz, 1991). Formigas que

visitam os NEFs podem beneficiar a planta

detendo herbívoros interessados em suas

folhas ou estruturas reprodutivas (Oliveira,

1997).

A espécie anual herbácea

Macroptilium. lathyroides (L.) (Fabaceae),

conhecida como feijão-de-rola, possui NEFs

associados às suas estruturas reprodutivas.

Esses NEFs atraem uma série de

invertebrados, predominantemente

formigas do gênero Camponotus sp.

(Hymenoptera: Formicidae).

Neste trabalho, investigou-se a

interação entre a herbácea M. lathyroides

e as formigas Camponotus sp. em uma

área de caatinga no Rio Grande do Norte,

visando responder às seguintes questões:

1) Quais características da planta mais

favorecem a presença das formigas? 2)

Como a planta se beneficia com a presença

das formigas? Suspeita-se que a formiga

proteja a planta. Caso isso se confirme, 3)

Quais partes da planta são efetivamente

protegidas pelas formigas?.

Material e Métodos

O estudo foi desenvolvido na

Estação Ecológica do Seridó, localizada no

município de Serra Negra do Norte-RN.

Traçou-se um transecto de 20 metros a

partir do começo da trilha que leva ao

açude e 3 metros para cada lado da trilha,

dentro do qual foi realizado o censo dos

indivíduos de M. lathyroides. As plantas

foram marcadas com uma fita

identificadora e, para cada uma, contou-se:

formigas nos ramos reprodutivos, formigas

nos ramos vegetativos, total de formigas,

hastes, ramos, folhas, frutos, flores, brotos,

folhas com sinais de herbivoria. O censo foi

realizado entre as 08:30 e 13:30.

No dia seguinte, checou-se, para as

plantas que apresentavam frutos, folhas e

flores, o tempo de resposta de

Camponotus sp. a um térmita

(Nasutitermis corniger (Motschulsky,

1855)) (Isoptera: Termitidae:

Nasutitermitinae) vivo aderido, com cola

branca, respectivamente, à folha mais alta

do ramo vegetativo mais próximo ao

reprodutivo utilizado, ao meio do maior

ramo vegetativo, ao meio de um fruto

nesse ramo e ao meio de uma flor no

mesmo ramo. As observações foram feitas

66 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

sucessivamente, uma só iniciando após

término da outra, na sequência folha >

haste > fruto > flor e por um período

máximo de 10 minutos. Por fim, observou-

se, quando as formigas tocaram os

invasores com suas antenas por mais dois

minutos para avaliar qual seria a reação

final da formiga: ignorá-lo ou tentar

removê-lo.

Testou-se a diferença no número

de formigas entre plantas com e sem

estruturas reprodutivas através de uma

ANOVA. Também se testou a diferença na

distribuição das formigas entre ramos

reprodutivos e vegetativos das plantas com

estruturas reprodutivas através de uma

ANOVA. Fez-se ainda uma regressão

múltipla para relacionar o número de

formigas ao número de folhas, ramos

vegetativos e estruturas com nectários;

outra relacionando o número de frutos

com o de folhas, ramos e formigas. Por fim,

testou-se a diferença nos tempos de

resposta das formigas nas diferentes

estruturas vegetais através de uma

ANOVA. Análises conduzidas com

programa Systat 12.

Resultados

Foram observados 32 indivíduos na

área de estudo, dos quais 16 apresentaram

folhas, frutos e flores e, nos demais, uma

ou mais das estruturas não estava

presente. Observou-se que as plantas com

estruturas reprodutivas apresentaram mais

formigas que as sem (F = 6,581; g.l. = 1,30;

P < 0,02; Fig 1.).

Realizou-se também o teste não

paramétrico de Kruskal-Wallis e verificou-

se que, apesar da grande variação no

número de formigas em plantas sem

estruturas reprodutivas, essa diferença

ainda é significativa (P < 0,05).

Figura 15. Média e erro padrão do número de

formigas em plantas com e sem estruturas

reprodutivas. (F = 6,581; g.l. = 1,30; P < 0,02).

Nas plantas com estruturas

reprodutivas, as formigas também

tenderam a se concentrar em ramos

vegetativos (F= 16,69; g.l. = 1,62; P < 0,01;

Fig. 2).

O número de formigas também foi

significativamente relacionado com o

número de folhas (β = 1,042; P < 0,01),

ramos (β = -0,774; P < 0,02) e estruturas

reprodutivas (β = 0,423; P < 0,01; R2 =

0,662; Fig. 3).

O número de frutos apresentou

relações significativas apenas com o

número de formigas (β = 0,621; P < 0,01).

Não foram significativas as relações com

ramos vegetativos (β = 0,783; p = 0,099) e

folhas (β = -0,119; p = 0,799) (Fig. 4).

Indivíduos de Camponotus sp.

também reagiram mais rapidamente aos

cupins colocados em flores, frutos e ramos

vegetativos que em folhas (F = 7,39; g.l. =

67 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

3,60; P < 0,01). Contudo, não houve

diferenças significativas entre os três

primeiros (Fig. 5).

Figura 16. Média e erro padrão do número de

formigas em ramos vegetativos e reprodutivos

nas plantas com estruturas reprodutivas.

Figura 17. Número de indivíduos de

Camponotus sp (Log) em resposta ao número

de estruturas reprodutivas (Log) em cada

indivíduo observado de M. lathyroides.

Figura 18. Relação entre o número de frutos e o

número de formigas. A relação é positiva e

significativa β = 0,621; P < 0,01) .

Figura 19. Média e erro padrão do tempo de

resposta, em segundos, das formigas aos

térmitas colocados em diferentes estruturas da

mesma. Resposta mais lenta para folhas e não

significativamente diferente entre flores, frutos

e hastes.

Reprodutivo Vegetativo

Tipo de ramo

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

me

ro d

e fo

rmig

as [L

og

]

68 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Discussão

Sabe-se que, para algumas

espécies vegetais, altas taxas de predação

floral podem resultar em uma menor taxa

de produção de sementes e

conseqüentemente de descendentes

(Nascimento & Del-Claro, 2007). Nesse

sentido, as relações encontradas apontam

que as formigas podem ter um papel

fundamental na reprodução de M.

lathyroides.

Sabendo-se haver espécies

endoparasitas dos ovários e que se

alimentam das sementes que surgem

depois (Elias, 2008), o investimento em

proteção floral pode apresentar relações

diretas e indiretas com o número de

sementes viáveis.

O fato das formigas se

concentrarem nas áreas com nectários

indica que sejam essas as estruturas que

mais as beneficiam. Isso pode estar

associado tanto ao suprimento de glicídeos

pela planta como a atração de possíveis

presas, de maior conteúdo protéico

(Bentley, 1977).

O padrão de concentrar os esforços

de proteção em suas estruturas

reprodutivas pode estar ocorrendo em

função dos elevados gastos com a

produção de descendentes (Schulze et al.,

2002), que podem estar potencializados

nessa planta pelas condições em que vive.

A aridez local, a escassez de corpos d’água

próximos e a concentração das chuvas

podem limitar a atividade fotossintética

(Schulze et al., 2002) e o encontro de

parceiros. Assim, para indivíduos pouco

abundantes e semelparos ou com ciclos de

vida curtos o suficiente para que a perda

de folhas durante ou após o período

reprodutivo não seja grave, surgem

vantagens aos que protegem seus

descendentes mais do que suas folhas.

Além disso, evidenciou-se que o

número de elementos reprodutivos

pareceu mais relacionado com o número

de formigas na planta do que com o

tamanho da mesma. Esse padrão parece

reforçar a idéia de que M. lathyroides é

bastante sensível a predação em suas

estruturas reprodutivas.

Assim, pode-se concluir que M.

lathyroides se beneficia pela proteção de

suas estruturas vegetativas e,

principalmente, reprodutivas pela ação de

Camponotus sp.. Estudos futuros podem

testar mais a fundo a redução do fitness de

plantas com menos formigas, verificando

se há redução no número de sementes nas

plantas e se as formigas teriam diferenças

nos tempos de respostas caso o agente

estranho na planta lhe seja palatável (uma

presa conhecida) ou impalatável (algum

fator abiótico ou indivíduo que se saiba

não ser presa de Camponotus sp.).

Agradecimentos

Agradecemos a Carlos Roberto Fonseca, pelo

incansável apoio, madrugada a dentro, nas

análises estatísticas e valiosas sugestões sobre

a elaboração do projeto. Agradecemos também

aos funcionários da ESEC Seridó pelo

acolhimento e auxílio logístico.

Referências

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70 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

PADRÃO DE DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE Caesalpinia pyramidalis Tul.

(FABACEAE) e Aspidosperma pyrifolium Mart. (APOCYNACEAE) EM

UMA ÁREA DE CAATINGA, NORDESTE DO BRASIL

CRISTIANE GOUVÊA FAJARDO, DIEGO BENTO, MAIRA MANZAN, KAROL LYNCOLN

Introdução

A Caatinga ocupa 11% do território

nacional com uma área de

aproximadamente 800.000 km2.

Corresponde a 70% da região Nordeste,

ocorrendo nos Estados do Piauí, Ceará, Rio

Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,

Alagoas, Sergipe e Bahia. A caatinga ocorre

em áreas com marcada sazonalidade e

baixos índices pluviométricos. É um bioma

exclusivamente brasileiro e apresenta uma

fitofisionomia arbustivo-arbórea composta

principalmente por espécies xerofíticas

(Rodal & Melo, 1999).

Somente recentemente a biota da

Caatinga vem sendo mais bem estudada

(Leal et al., 2003). Quanto à flora, por

exemplo, há registro de 932 espécies

vegetais, sendo 380 endêmicas (Giulietti et

al., 2004).

Dentre as espécies vegetais com

ocorrência na Caatinga, Caesalpinia

pyramidalis Tul., popularmente conhecida

como “catingueira”, é bastante

característica e endêmica deste bioma

(Leite & Machado, 2009). É uma espécie

pioneira (Santana & Souto, 2006) com

dispersão autocórica.

Aspidosperma pyrifolium Mart.

também ocorre na caatinga e é conhecida

como pereiro, pau-de-coaru e pequiá-da-

mata. Possui sementes aladas,

características de espécies de dispersão

anemocórica. A árvore apresenta porte

regular, podendo atingir até 5m de altura.

Além disso, é uma espécie heliófila e

secundária (Andrade et al., 2005).

Sendo C. pyramidalis e A.

pyrifolium espécies que coexistem em um

mesmo habitat na Caatinga, buscou-se

investigar interações intra e

interespecíficas entre as plantas por meio

de análises do padrão espacial, pois os

padrões observados são frequentemente

reflexos dessas interações.

O objetivo do presente trabalho foi

analisar a distribuição espacial e estrutural

de Caesalpinia pyramidalis e Aspidosperma

pyrifolium, considerando-se os indivíduos

adultos, jovens e plântulas. Além disso,

averiguar se há associação espacial

interespecífica.

Material e Métodos

Local do estudo e amostragem

Delimitou-se uma área de estudo

de 2.500 m2 dentro da Estação Ecológica

do Seridó (Figura 1), região de caatinga

pertencente ao município de Serra Negra

do Norte, estado do Rio Grande do Norte,

Brasil. A região da ESEC Seridó possui uma

área de 1.166,38 ha, clima semi-árido e

localiza-se entre as coordenadas

geográficas 06° 36’ 40’’ e 06° 33’ 50’’ Sul e

37° 17’ 10’’ e 37° 14’ 20’’ Oeste.

71 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Figura 1: Área de estudo indicada pela seta

dentro do mapa da ESEC Seridó.

Dentro da parcela, mapearam-se

todos os indivíduos das espécies

Aspidosperma pyrifolium e Caesalpinia

pyramidalis e foram registradas as suas

posições x e y. Adicionamente, foram

medidos o PAS (Perímetro à Altura do Solo,

posteriormente convertido em DAS –

Diâmetro à Altura do Solo) e a altura dos

indivíduos, com o objetivo de avaliar a

maturidade.

Análise do padrão de espacial

Para determinar se o padrão de

distribuição espacial para uma única

espécie é agregado (análise univariada) e

se há associação espacial entre as espécies

(análise bivariada), utilizou-se a função de

segunda ordem da densidade de vizinhos

ou NDF (Neighbourhood Density Function)

(Condit et al., 2000). A estatística NDF é

similar à função K de Ripley, entretanto

não é cumulativa (Perry et al., 2006).

Foram utilizadas classes de distância (t)

entre 2 e 24 m, pois, como sugerido por

Haase (1995) elas não devem exceder

aproximadamente ½ do menor

comprimento da parcela. Adicionalmente,

foi calculada a correção do efeito de borda,

baseado em Goreaud & Pelissier (1999). Os

valores da estatística NDF (t) foram

plotados nos correlogramas em função da

distância t e comparados a “envelopes” de

completa aleatoriedade, obtidos a partir de

499 simulações randômicas de Monte

Carlo (α = 0,01). Essas análises foram

realizadas por meio do programa SpPack

1.38 (Perry, 2004).

Correlação entre as distribuições espaciais

das duas espécies

Para analisar se as distribuições

espaciais das duas espécies estão

correlacionadas, a área amostrada foi

subdividida em 100 parcelas de 5x5 metros

e contaram-se quantos indivíduos de cada

espécie ocupavam cada parcela. Foi

efetuado um teste de correlação não-

paramétrica (utilizando o coeficiente de

correlação de Spearman) no programa

Statística 7.0.

Resultados

Demografia

Foram amostrados no total 196

indivíduos de Caesalpinia pyramidalis

(Figura 2), sendo esses 126 adultos, 61

juvenis e 9 plântulas. Para Aspidosperma

pyrifolium (Figura 3) foram encontrados 89

indivíduos, sendo 83 adultos e 6 jovens.

72 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Figura 2: Distribuição espacial de plântulas (PAS = 0

a 50), jovens (PAS= 51 a 100) e adultos (PAS = 101 a

150) de C. pyramidalis na área amostrada de

50x50m.

Figura 3: Distribuição espacial de jovens (PAS= 0 a

60) e adultos (PAS = 61 a 120) de A. pyrifolium na

área amostrada de 50x50m.

Padrão espacial

A análise do padrão espacial dos

indivíduos de C. pyramidalis (N = 196)

mostrou significantes níveis de agregação

até um raio de 10 m do indivíduo focal e

padrão aleatório em distâncias superiores

(Figura 4 A). Para a espécie A. pyrifolium (N

= 89) a densidade de vizinhos até um raio

de 4 m e entre 8 e 12 m foi maior do que o

esperado para a hipótese de completa

aleatoriedade, já nas demais classes

observou-se padrão espacial aleatório

(Figura 4 B).

Figura 4: Padrão espacial obtido por meio da análise

univariada da densidade de vizinhos (NDF) de

indivíduos adultos de Caesalpinia pyramidalis (A) e

Aspidosperma pyrifolium (B). Linhas pontilhadas

correspondem ao intervalo de confiança de 99%

para a hipótese nula de padrão espacial

completamente aleatório.

Os indivíduos jovens e plântulas

(N=70) e os adultos (N=126) de C.

pyramidalis apresentaram padrão espacial

agregado semelhante num raio de 9m do

indivíduo focal (Figuras 5 A e B).

O padrão espacial de indivíduos

adultos de Caesalpinia pyramidalis e

Aspidosperma pyrifolium foi agregado até

o raio de 6m do indivíduo focal e padrão

aleatório em distâncias superiores (Figura

6).

Foi encontrada uma correlação

significativa (r=0.4645; p <0.05) entre as

distribuições espaciais da Caesalpinia

pyramidalis e Aspidosperma pyrifolium

(Figura 7).

0

50

100

150

PAS

0 10 20 30 40 50

X

0

10

20

30

40

50

Y 0.01.02.03.04.05.0

2 8 14 20

ND

F

Distância t (m)

NDF

IC

IC

0.00.51.01.52.0

2 8 14 20

ND

F

Distância t (m)

NDF

IC

IC

A A

B

73 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Figura 5: Padrão espacial obtido por meio da análise

univariada da densidade de vizinhos (NDF) para

jovens (A) e indivíduos e adultos (B) de Caesalpinia

pyramidalis. Linhas pontilhadas correspondem ao

intervalo de confiança de 99% para a hipótese nula

de padrão espacial completamente aleatório.

Figura 6. Padrão espacial obtido por meio da análise

bivariada da densidade de vizinhos (NDF) adultos de

Caesalpinia pyramidalis e Aspidosperma pyrifolium.

Linhas pontilhadas correspondem ao intervalo de

confiança de 99% para a hipótese nula de padrão

espacial completamente aleatório.

Figura 7: Correlação não-paramétrica entre as

distribuições espaciais da e catingueira (C.

pyramidalis) e do pereiro (A. pyrifolium) na área

amostrada.

Discussão

O padrão de distribuição espacial

encontrado provavelmente reflete as

estratégias reprodutivas das espécies e o

histórico do local. Devido à síndrome de

dispersão autocórica, esperava-se uma

distribuição mais agregada em C.

pyramidalis do que em A. pyrifolium, que

possui dispersão anemocórica. Entretanto,

os resultados mostraram que tanto os

indivíduos adultos de C. pyramidalis quanto

os de A. pyrifolium apresentam elevada

densidade de vizinhos em curtas distâncias,

por volta de 6m.

Quanto ao padrão espacial das

faixas etárias, não foi observada diferença

entre os indivíduos jovens e adultos da

espécie C. pyramidalis. Esse resultado

diverge da literatura, que relata que a

maioria das espécies arbóreas apresenta

padrão agregado nos primeiros estágios de

vida e padrão aleatório com o aumento da

idade (Hamrick et al., 1993; Epperson &

Alvarez-Buylla, 1997). Provavelmente, os

valores similares da densidade de

indivíduos jovens e adultos em C.

pyramidalis estão relacionados a fatores

antrópicos. Segundo Meyer et al. (1961), a

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

3 9 15 21

ND

F

Distância t ( m)

NDF

IC

IC

0.00.51.01.52.02.53.03.54.0

3 9 15 21 27

ND

F

Distância t ( m)

NDF

IC

IC

0.00.51.01.52.02.53.0

3 9 15 21

NDF

Distância t ( m)

NDF

IC

IC

A

B

74 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

estrutura demográfica reflete o histórico

da floresta, bem como a ocorrência, no

passado, de distúrbios como fogo, corte

seletivo e herbivoria. Mais

especificamente, a herbivoria por animais

domesticados está associada à redução do

recrutamento e crescimento das plantas

(Oba, 1998), assim como na redução da

capacidade de regeneração da vegetação

(Perevolottsky & Haimov, 1992).

Além de C. pyramidalis e A.

pyrifolium apresentarem padrão espacial

agregado em curtas distâncias, há

considerável coexistência, conforme

observado na análise bivariada da

densidade de vizinhos e na correlação

positiva de Spearman. De acordo com

Paine et al. (2008), a magnitude da

competição interespecífica ainda é pouco

conhecida, mas geralmente é fraca a

competição entre algumas espécies

arbóreas Neotropicais. Segundo Byrne et

al. (2007), a intensidade com a qual os

indivíduos estão agregados afeta o sistema

de reprodução e também como as plantas

usam os recursos (Getzin et al., 2008).

Dessa forma, a agregação das

espécies poderia ser justificada pelo

processo de interação interespecífica

positiva, como a facilitação. Processo esse

comum em regiões semi-áridas sob

condições estressantes (Smit et al., 2009),

ou simplesmente, porque na área

amostrada existe uma heterogeneidade na

distribuição de nutrientes no solo,

proporcionando regiões mais férteis do

que outras, e portanto, contribuindo na

associação de C. pyramidalis e A.

pyrifolium. Entretanto, tais interações

carecem de estudos para a comprovação, e

poderão ser elucidados em futuros

trabalhos.

Agradecimentos

Aos professores Dr. Alexandre Vasconcellos e

Carlos Fonseca pelo auxílio fornecido no

presente estudo. Aos funcionários da ESEC

Seridó pela hospitalidade dedicada durante os

dias de pesquisa.

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76 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

A ATIVIDADE DE ODONATOS (ARTHROPODA: HEXAPODA: INSECTA) VARIA

AO LONGO DO DIA EM UMA CAATINGA NO NORDESTE DO BRASIL?

ALLAN BATISTA; FRANÇOISE LIMA; HEITOR SOUZA; PRISCILA DO AMARAL

Introdução

Odonatos, também conhecidos

como lavadeiras, libélulas ou zigue-zagues,

constituem uma ordem amplamente

distribuída de insetos composta por

aproximadamente 5000 espécies

conhecidas e agrupadas em cerca de 500

gêneros, distribuídos principalmente nas

regiões neotropicais (BUZZI, 2002).

A ordem Odonata se divide em três

subordens: Anisozygoptera, contendo

apenas duas espécies conhecidas de

Epiophlebia encontradas no Japão e na

Índia, Zygoptera e Anisoptera (CORBET,

1980). Os indivíduos da subordem

Zygoptera possuem olhos compostos

afastados um do outro, vôo lento e,

quando em repouso, asas elevadas sobre o

abdômen. Já os indivíduos da subordem

Anisoptera possuem olhos aproximados ou

contíguos, vôo rápido, chegando a atingir

80km/hora, e, quando em repouso,

mantém asas abertas. A subordem

Anisozygoptera é considerada uma

assembleia parafilética morfologicamente

primitiva de Anisoptera. (BUZZI, 2002).

Os indivíduos adultos de Odonata

são tipicamente ativos durante o dia,

sendo encontrados próximos a lagoas e

rios (CORBET, 1980). A maioria dos adultos

se alimenta de insetos capturados em

pleno vôo. Alguns pousam para comer a

presa, enquanto outros o fazem durante o

vôo (BUZZI 2002).

Os odonatos vêm sendo

amplamente utilizados como

biondicadores (IMOOBE & OHIOZEBAU,

2010; SILVA et al., 2010; YOON et al., 2010)

devido a algumas características como (i)

estarem presentes em todos os ambientes

aquáticos de água doce; (ii) suas ninfas

possuírem baixa tolerância a distúrbios

ambientais; (iii) as ninfas serem

relativamente sedentárias; e (iv) pelos

adultos poderem ser facilmente

observados devido ao seu comportamento

territorial (SILVA et al., 2010). Além disso,

os odonatos possuem grande importância

nas relações tróficas dos ecossistemas,

uma vez que são importantes predadores

de topo (McCAULEY, 2010).

A atividade destes organismos

pode variar de acordo com a sazonalidade

anual, e diariamente em função das

variações de temperatura. Tais variações

podem também ocorrer em função das

características intrísecas de cada espécies

(LUTZ & PITTMAN, 1970).

Apesar de sua importância nas

redes tróficas, seu potencial uso como

bioindicador e de estar distribuído

principalmente nas regiões neotropicais,

não existe nenhum estudo publicado sobre

a biologia ou ecologia de Odonata no

bioma Caatinga. Sendo assim, esse estudo

visa compreender a variação na freqüência

de atividade de Odonata ao longo de 12

horas em uma área de Caatinga.

77 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Material e Métodos

O estudo foi desenvolvido nas

proximidades do açude da Estação

Ecológica do Seridó (6°15’S e 37°16’O),

localizada no município de Serra Negra do

Norte, RN. Durante um dia (28/06/2010),

no período de 6 h da manhã às 18 h da

tarde, registrou-se o número de

ocorrências dos morfotipos de Odonata em

três parcelas de 10 m², sorteados ao longo

de um transecto de 150 m (Fig. 1). As

observações ocorriam simultaneamente

nas parcelas por 10 min, a cada 30 minutos

decorridos, totalizando 4,16 h de esforço

amostral.

Figura 1. Esquema ilustrativo da área amostrada limítrofe ao açude da ESEC do Seridó no município de Serra Negra do Norte, RN. Na forma malhada as parcelas sorteadas, no transecto de 150 m, estão em destaque (4, 19 e 29 m). A forma em azul ilustra o açude.

Um indivíduo de cada morfotipo foi

coletado com o auxílio de uma rede

entomológica para posterior identificação

ao nível do menor táxon possível e para

medição de índice do tamanho corporal

(Largura tórax/Comprimento total).

Os dados foram analisados de

forma descritiva, para verificar a ocorrência

ao longo do dia, assim como por meio de

Análise de Agrupamentos, para verificar

horários similares, e nMDS, para verificar

quais morfotipos possuem

comportamentos semelhantes. Em todas

as análises o software Systat 12.0 foi

utilizado.

RESULTADOS

Foram identificadas sete

morfoespécies da ordem Odonata,

pertencentes a duas subordens: Anisoptera

e Zygoptera. Dentro dessas subordens,

foram identificadas três famílias

(Libellulidae, Coenagrionidae e Aeshnidae)

(Tab. 1).

As morfoespécies analisadas

mostraram variação em relação à

frequência e abundância de acordo com os

diferentes horários de atividade

observados durante o dia (Fig. 2). Pôde-se

verificar que as morfoespécies Bombom e

Bambu apresentaram uma frequência de

atividade similar ao longo do dia, assim

como maiores números de registros,

enquanto a Dourada e Olho Verde se

mostraram pouco frequentes, e surgiam

em menores quantidades. Além disso, a

morfoespécie Azul surgiu em quase todas

as observações, porém em baixas

quantidades.

Tabela 1. Morfoespécies de Odonata identificadas dentro de duas subordens e três famílias.

MORFOTIPO SUBORDEM FAMÍLIA

Sp 1 (Bombom) ANISOPTERA LIBELLULIDAE Sp 2 (Vermelha) ANISOPTERA LIBELLULIDAE Sp 3 (Bambu) ANISOPTERA LIBELLULIDAE Sp 4 (Olho verde) ANISOPTERA LIBELLULIDAE Sp 5 (Roxa) ANISOPTERA AESHNIDAE Sp 6 (Dourada) ZYGOPTERA COENAGRIONIDAE Sp 7 (Azul) ZYGOPTERA COENAGRIONIDAE

78 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Figura 2. Número de registros das sete

morfoespécies de Odonata, observados ao longo

dos horários do dia, mostrando frequências de atividades diferentes.

Foi constatado que as

morfoespécies possuem similaridade em

relação à frequência de atividades

durantes horários do dia (Fig. 3). Algumas

preferem horários nos quais as

temperaturas são mais amenas, como é o

caso da Dourada e da Olho Verde que são

mais frequentes durante as horas com

temperaturas amenas, no amanhecer e no

crepúsculo. Enquanto isso, outras

morfoespécies como a Bombom e a Bambu

são mais frequentes nos horários mais

quentes do dia.

As morfoespécies aparentemente

mostraram se agrupar também em relação

ao tamanho, pois Bombom e Bambu são as

maiores em tamanho e mais frequentes,

enquanto Dourada e Olho Verde são as

menores e menos frequentes. Vermelha,

Azul e Roxa são intermediárias em relação

à frequência, tamanho e número de

registros. Porém, não houve evidências de

que o tamanho estaria influenciando o

período de atividade das Odonata (R2 = -

0,49; P = 0,3) (Fig. 4).

Figura 3. A: Gráfico de Similaridade de Bray-Curtis

agrupando as morfoespécies que apresentaram

horários de atividades semelhantes. B: Análise do

nMDS com corte no nível de similaridade 16 e 35%

mostrando quais morfoespécies compartilham

padrões semelhantes relacionados a freqüência de

atividade.

A

B

79 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Figura 4. Tamanho médio da comunidade de

Odonata plotado em relação a um dos eixos gerados pelo nMDS.

DISCUSSÃO

É conhecido que fatores como

tamanho do corpo, comportamento de

movimento e fatores ambientais, como

temperatura e exposição solar local,

influenciam na temperatura destes

organismos ectotérmicos (SAMEJIMA &

TSUBAKI, 2010). Como algumas destas

características variam de espécie para

espécie, provavelmente o padrão de

ocorrência de odonatos constatado está

ocorrendo em função dessas

características intrínsecas e das variações

diárias do ambiente.

Relacionando este conhecimento

com o presente estudo, temos que o fato

de os morfotipos Bambu e Bombom terem

sido as mais abundantes e terem ocorrido

durante a faixa de horários com

temperaturas mais elevadas pode estar

relacionado com o maior tamanho corporal

desses indivíduos, uma vez que, a

capacidade de manter a temperatura

corporal relativamente constante pode ser

associada a essa característica (CORBET,

1980), apesar de a análise de correlação

não ter se apresentado significativa. Para

uma maior certeza dessa hipótese se faz

necessária uma nova análise, onde seriam

utilizados valores referentes à temperatura

mensurados com a utilização de um

termômetro e medições de índice de

tamanho corporal em vários indivíduos por

morfotipo.

Notou-se que a parcela localizada

aproximadamente no centro do transecto

apresentou uma frequência de ocorrência

de odonatos bem maior que as outras duas

parcelas. De acordo com Corbet (1980),

microhabitats sombreados por arvores já

apresentam grandes diferenças na

composição das espécies de Odonata em

relação aos habitats não sombreados.

Estando a primeira e a terceira parcelas

perto de estratos arbóreos, pode estar aí a

justificativa para essa diferença encontrada

entre as parcelas.

Conclui-se que existe variação na

freqüência de ocorrência de Odonata ao

longo de um dia na área estudada e que

essa variação pode estar relacionada à

capacidade das diversas espécies lidarem

com as diferentes temperaturas ao longo

do dia, sugerindo que a comunidade está

estruturada através de uma divisão de

nicho circadiano. São necessários estudos

futuros mais detalhados, com um esforço

amostral maior, verificando não somente

variações diárias como também anuais da

ocorrência das espécies de Odonata,

podendo assim inferir sobre partição de

nicho espacial e temporal.

Agradecimentos

Nossa gratidão aos professores

Alexandre Vasconcelos e Carlos Fonseca

pela orientação nas análises estatísticas, e

ao Adalberto Varella pela identificação dos

Odonata. Também não podemos deixar de

agradecer à equipe da ESEC do Seridó por

80 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

todo suporte oferecido durante nossa

estadia.

Referências

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81 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

EFEITO DA ALTITUDE SOBRE A DIVERSIDADE DE COLLEMBOLA

(ARTHROPODA: HEXAPODA) EM UMA ÁREA DE CAATINGA NO RIO

GRANDE DO NORTE

DANIEL OLIVEIRA; GINA MANTILLA; MONALISA RODRIGUES O. DA SILVA & UIRANDÉ O.

COSTA

Introdução

O padrão de riqueza de espécies

nas comunidades biológicas pode ser

explicado por uma série de fatores

classificados em diferentes categorias. Um

dos padrões mais difundidos e aceitos na

ecologia aponta para uma diminuição no

número de espécies diante do aumento

altitudinal (Begon et al., 2007). Stevens

(1992) observou para plantas e

vertebrados que a riqueza de espécies nos

topos das montanhas é geralmente menor

do que em áreas mais baixas. No entanto,

há um crescente número de estudos

contrários a essa constatação, sugerindo

que a configuração dos fatores climáticos,

biológicos, geográficos e históricos pode

ser determinante para explicar a variação

na riqueza de espécies ao longo de

gradientes altitudinais (Lomolino, 2001).

Carsten (1999) ressaltou que

muitos grupos de animais, incluindo alguns

táxons de insetos, apresentam uma maior

riqueza em altitudes mais elevadas, por

exemplo, formigas em um ecossistema

árido. Em ecossistemas áridos, a riqueza de

espécies para algumas ordens de insetos

pode ser maior em maiores altitudes, onde

temperaturas mais baixas e maior

precipitação podem suportar maiores

níveis de produção primária e causar

menores níveis de estresses fisiológicos a

determinados grupos (Sanders et al.,

2003).

Colêmbolos são organismos

pequenos e semelhantes aos insetos,

podem estar associados a ambientes

terrestres, aquáticos e arborícolas

(Zeppelini & Bellini, 2004). Estes

organismos estão intimamente associados

aos processos ecossistêmicos que ocorrem

no compartimento serrapilheira-solo.

Vários estudos demonstraram sua

contribuição direta ou indireta nos

processos ecológicos do solo, como

mineralização de nitrogênio, respiração do

solo ou lixiviamento de carbono orgânico

dissolvido (Filser, 2002). Assim, conhecer a

diversidade e distribuição destes

organismos torna-se essencial em estudos

para a conservação, os quais englobam as

características e funcionalidade das

espécies.

O bioma Caatinga possui

características peculiares com grande

variação ambiental e climática. A

vegetação é um mosaico de florestas

arbóreas e arbustivas que compreende

diversas adaptações necessárias à

sobrevivência num ambiente de alta

deficiência hídrica e de elevadas

temperaturas, característico do clima do

semi-árido quente (Prado, 2003). Diante de

um clima sazonal bastante pronunciado

esperam-se efeitos significativos na

comunidade de invertebrados.

82 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Assim, é válido considerar a

hipótese de que na Caatinga, o padrão de

diversidade, através de um gradiente

altitudinal, pode ser o inverso para alguns

grupos, visto que ambientes mais elevados

podem oferecer condições diferenciadas as

encontradas normalmente nas regiões

mais baixas.

Com o intuito de testar essa

hipótese, o estudo teve como objetivo

investigar o padrão de diversidade de

espécies de Collembola ao longo de um

gradiente altitudinal. Assim como,

examinar algumas variáveis ambientais que

podem influenciar a diversidade desse

grupo no gradiente em questão, em uma

área de Caatinga no Rio Grande do Norte.

Metodologia

O estudo foi realizado na Serra

Verde, área de Caatinga localizada na

Estação Ecológica do Seridó - ESEC, no

município de Serra Negra do Norte, Rio

Grande do Norte. A região do Seridó está

entre as mais impactadas pela ação

antrópica, mas a ESEC encontra-se

conservada desde 1982. Nosso ambiente

de estudo, a Serra Verde, é considerada

uma das áreas mais conservadas da

estação (IBAMA, 2004).

A amostragem ocorreu em um

gradiente altitudinal correspondendo a 120

metros, sendo o primeiro ponto localizado

a 227 do nível do mar e o último a 347

metros.

Na coleta de dados foram

utilizados cinco transectos horizontais de

10 metros de comprimento,

perpendiculares à trilha e distantes 30m

(altitude) entre si. Os transectos foram

divididos em 10 retângulos de 1m² e para a

coleta de dados foram selecionados

randomicamente seis retângulos para cada

transecto (Fig. 1).

Figura 20: Delineamento amostral destacando

os transectos e seus seis retângulos

selecionados para estudo de gradiente

altitudinal.

A coleta de colêmbolos foi

realizada com aspirador entomológico e

armadilha de queda (pit-fall). No primeiro

método o folhiço presente no retângulo é

analisado em bandejas durante 20 minutos

e os indivíduos de collembola são

aspirados. Três coletores foram

responsáveis pela aspiração entomológica

em todo gradiente, totalizando dois

retângulos por transecto para cada coletor.

Ao longo do gradiente foram mantidos os

coletores e seus respectivos pontos.

Colocou-se armadilhas de queda (pit-fall),

com álcool a 70%, ao longo do gradiente

altitudinal. Para cada retângulo foi

colocado uma armadilha, totalizando 30

armadilhas, com tempo de exposição de

24h.

Devido problemas operacionais a

coleta ativa com aspirador entomológico

não foi amostrada no último ponto do

gradiente.

83 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Figura 21: Métodos de coleta para collembola:

A – Armadilha de pit-fall; B – Aspirador

entomológico.

Os indivíduos foram mantidos em

álcool a 70% e, após a triagem em campo,

os espécimes foram contados e

identificados em morfoespécies. A

identificação ocorreu em laboratório sob

microscópio estereoscópico, de acordo

com seus gêneros.

Utilizou-se um termohigrômetro na

medição da temperatura e pHmetro para

medir o pH e a umidade do solo ao longo

do gradiente altitudinal. A serrapilheira

utilizada para coleta de colêmbolos, por

meio do aspirador, foi pesada para

estimativa do esforço amostral entre os

transectos. A compactação do solo foi

estimada após soltar, na altura do peito,

um facão em direção ao solo e com o

paquímetro mediu-se quanto o facão

penetrou no solo.

O índice de diversidade de

Shannon-Wiener foi calculado a partir da

riqueza e abundância de cada transecto, e

para tal utilizou-se o programa PRIMER 6

Beta. Foi realizada uma análise de

regressão linear para verificar a relação da

diversidade e altitude nos transectos. A

análise de variância (ANOVA) foi utilizada

para testar diferenças entre os transectos

em relação aos métodos de coleta.

Aplicou-se o modelo linear geral (GLM)

para verificar diferenças das variáveis entre

os transectos analisados.

Todas as análises estatísticas foram

feitas através do programa Systat 12.0.

Resultados

Foram obtidos 67 indivíduos,

pertencentes a seis gêneros e classificados

em sete morfoespécies (Tabela 1), das

quais duas ocorreram em todos os

transectos e duas em apenas em um

transecto.

Tabela 4: Abundância e riqueza de

morfoespécies de Collembola em cada ponto

altitudinal analisado.

MORFOESPÉCIE P1 227m

P2 257m

P3 287m

P4 317m

P5 347m

Seira sp. 14 8 1 19 2 Allacma sp.1 4 3 2 0 4 Allacma sp.2 2 0 0 1 0 Allacma sp.3 1 0 0 0 0 Brachystomella sp. 1 2 1 2 0 Sphaeridae sp.1 1 1 3 1 2

Cryptopygus sp. 2 0 0 0 0

Abundância 25 14 7 23 8 Riqueza 7 5 5 5 4

Não houve diferenças significativas

entre os dois métodos, aspirador

entomológico e pit-fall, na riqueza (F =

1,227; gl 3= ; p = 0,320) e na abundância (F

= 1,387; gl = 5; p = 0,264) (Fig. 3).

Ao analisar o índice de diversidade

Shannon-Wiener de colêmbolos diante do

gradiente trabalhado, observou-se uma

relação negativa e significativa (R2 = -0,92;

p = 0,023) entre diversidade e altitude (Fig.

4).

Nenhuma das variáveis abióticas de

solo avaliadas mostraram relação

significativa com riqueza (F = 2,505; gl = 4;

p = 0,109) e abundância (F = 1,427; gl = 4; p

= 0,295) (Tabela 2) de Collembola ao longo

do gradiente estudado.

A

A

A

B

A

A

84 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

Figura 22: Gráficos comparando a riqueza (A) e

abundância (B) por método de coleta em

diferentes altitudes, nos transectos

amostrados. ■ Aspirador entomológico; □ Pit-

fall.

Figura 23: Variação da diversidade de

Collembola ao longo do gradiente altitudinal

analisado. Valor de diversidade é o índice de

Shannon-Wiener (R2 = -0,92; p = 0,023).

Tabela 5: P-valores para as variáveis

relacionadas à riqueza e abundância

Variáveis

p – valor

(riqueza)

p – valor

(abundância)

Compactação (solo) 0,980 0,699

Peso (serrapilheira) 0,061 0,092

Umidade (solo) 0,359 0,422

Temperatura

(transecto)

0,334 0,954

Discussão

Foi verificado que a distribuição

das espécies de colêmbolos variou diante

do gradiente de altitude estudado, como

evidenciado na tabela 1.

Observou-se que as morfoespécies

Seira sp., Sphaeridae sp.1, Allacma sp.1 e

Brachystomella sp. foram encontrados na

maioria dos níveis altitudinais. No entanto,

outras morfoespécies foram peculiares a

um único transecto, como por exemplo

Allacma sp.3 e Cryptopygus sp. presentes

apenas na parte mais baixa do transecto

altitudinal. Nesse sentido, Begon et. al.

(2007), observou que os limites de

distribuição para algumas espécies não

terminam bruscamente, mas de forma

lenta em análises de gradiente, o que é

corroborado pelos resultados obtidos

nesse trabalho.

A distribuição das morfoespécies

de colêmbolos ao longo do gradiente

altitudinal estudado pode sugerir que

algumas dessas entidades são mais

ocorrentes, possuindo maior amplitude em

algumas dimensões do seu nicho ecológico,

197 227 257 287 317 347 377Altitude (m)

0

1

2

3

4

5

6

7

me

ro d

e in

div

ídu

os

B

A

85 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

permitindo assim uma maior distribuição

altitudinal. Por outro lado, outras

morfoespécies como a Allacma sp.3 e

Cryptopygus sp., de menor largura de

nicho, foram mais específicas em apenas

um dos níveis altitudinais, ou podem ser

consideradas espécies raras pois não foram

observadas nos outros pontos do

gradiente.

Percebeu-se que existiu uma

variação na diversidade de colêmbolos

inversamente proporcional ao aumento da

altitude na área estudada. Esse resultado

corrobora a hipótese mais ampla (Stevens,

1992), contrastando com a hipótese que

motivou o estudo (Carsten, 1999), e

confirmando um padrão de declínio da

diversidade diante do aumento altitude.

McCain (2004), ao trabalhar com

pequenos mamíferos em gradientes

altitudinais, sugeriu que as diferenças na

diversidade desses grupos em diversas

altitudes são refletidas pela disponibilidade

de micro-habitats e/ou por diferenças

causadas na geomorfologia do relevo.

Dessa forma, o padrão de diversidade

encontrado pode estar relacionado com as

diferenças entre a maior heterogeneidade

espacial e maior disponibilidade de micro-

habitats nas altitudes mais baixas. Bem

como, a maior homogeneização espacial e

menor disponibilidade de micro-habitat

próximo ao topo da Serra.

É importante ressaltar que a coleta

ativa, através do aspirador entomológico,

não foi realizada no último ponto

altitudinal. No entanto, como não houve

diferenças significativas entre as duas

técnicas de coleta, as análises não foram

afetadas e o padrão encontrado na análise

de regressão também não foi prejudicado.

As variáveis ambientais

temperatura, compactação e umidade do

solo não afetaram significativamente a

riqueza e abundância dos colêmbolos.

Consequentemente, o padrão de

diversidade encontrado não pode ser

explicado pela alteração dessas variáveis. O

peso da serrapilheira foi marginalmente

significativo, indicando que essa variável

pode estar afetando uma parte da variação

na diversidade de colêmbolos. Desse

modo, a camada de serrapilheira pode

estar permitindo uma maior variação de

condições e recursos ambientais que

podem ser essenciais para estes

organismos. No entanto, outros fatores

podem estar influenciando a diversidade

desse grupo na Serra Verde. Conforme

Sanders et al. (2003), os fatores ambientais

que influenciam a diversidade em um

gradiente altitudinal são complexos e

diferem entre espécies ao longo do

gradiente.

Por fim, diante da alta relevância

biológica da Caatinga e das intensas

ameaças à sua integridade e permanência,

ainda há uma grande carência de

interesses e políticas para a conservação da

biodiversidade, das paisagens e demais

recursos naturais da Caatinga.

Dessa forma, estudos como este,

que consideram padrões de diversidade

das espécies e que ressaltam a importância

de alguns locais peculiares como refúgios

de diversidade presentes na paisagem,

devem ser repetidos e fazer parte das

iniciativas de conservação e proteção do

bioma.

Agradecimentos

Aos professores do Programa de Pós-

Graduação em Ecologia – PPGE pelas

contribuições no projeto. Agradecimentos

86 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

especiais ao Bruno Bellini e Alexandre

Vasconcellos pelo fornecimento de material e

atenção dedicada ao grupo, e aos funcionários

da ESEC pela hospitalidade e por permitir o uso

de toda a infra-estrutura da reserva.

Referências

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87 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

EFEITO DA QUALIDADE DO HABITAT E DENSIDADE DE PREDADORES SOBRE

A TAXOCENOSE DE COLLEMBOLA (ARTHROPODA: HEXAPODA)

BRUNNO FREIRE DANTAS DE OLIVEIRA, FABRICIO RODRIGUES CAMACHO, LEONARDO H. TEIXEIRA

PINTO & RODRIGO XAVIER SOARES

Introdução

A densidade de microorganismos

de solo é conhecida por ser controlada por

efeitos ascendentes resultantes da

quantidade e qualidade da serrapilheira

(Scheu & Schaefer, 1998; Rantalainen et

al., 2004). Existem evidências que sugerem

que a densidade de microartrópodes de

solo é regulada não apenas pela

quantidade e qualidade da serrapilheira,

mas também pela disponibilidade de

fungos (Hairston et al.,1960; Scheu &

Schaefer, 1998; Rantalainen et al., 2004).

Colêmbolos são bons

representantes da biodiversidade

faunística do solo (Zepelline et al., 2008),

compõem a guilda de fungívoros e

detritívoros da microfauna, e executam um

importante papel no consumo de detritos e

ciclagem de nutrientes (Zinckler & Stecken,

1986). São organismos sensíveis a fatores

exógenos como temperatura e umidade

(Klironomos & Kendrick, 1995). Além dos

fatores exógenos, a densidade de

colêmbolos pode ser controlada por

predação (Hagvar, 1995; Schaefer, 1995;

Ferguson, 2001). Estes organismos

compõem um grupo diverso de artrópodes

de solo e compartilham uma diversa fauna

de predadores na serrapilheira (Schneider

& Maraun, 2009).

O objetivo do presente estudo foi

avaliar o efeito da qualidade do habitat,

em particular a umidade e disponibilidade

de fungo (alimento) no solo, e a densidade

de predadores sobre a densidade de

colêmbolos. As hipóteses testadas são: (a)

a densidade de colêmbolos responde

positivamente à umidade e disponibilidade

de fungos (efeito ascendente); e (b) a

densidade de colêmbolos responde

negativamente a densidade de predadores

(efeito descendente).

Material e Métodos

O presente trabalho foi realizado

na Estação Ecológica do Seridó (6º35’S e

37º15’O), uma área de caatinga localizada

na ecorregião da Depressão Sertaneja

Setentrional, município de Serra Negra do

Norte.

O delineamento experimental

adotado foi uma análise de variância

fatorial em bloco. Estabeleceu-se sete

blocos de 9m² (3x3m), dispostos de

maneira aleatória, em uma área próxima à

jusante do açude da Sede da ESEC-Seridó.

Cada bloco era composto por quatro

parcelas internas de 1m², dispostas em

cada vértice do bloco. A área restante no

88 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

interior do bloco foi utilizada para

deslocamento, facilitando a coleta em cada

parcela, como apresentado na figura 1.

Cada bloco continha todos os

tratamentos. Dentro de cada bloco, os

tratamentos foram aleatorizados e

dispostos de forma que houvesse parcela

somente com água; somente com fungo;

com água e fungo; e um controle. Assim,

para cada tratamento existiam sete

réplicas (parcelas), uma em cada bloco.

Figura 1: Representação esquemática da

distribuição dos blocos na área de estudo. “A”

representa as parcelas onde foram dispostos os

tratamentos; “B” é a área utilizada para

deslocamento.

Uma mistura de 150g de fermento

biológico (Saccharomyces cerevisiae)

desidratado em pó, juntamente com água

e farinha de trigo foi produzida para ser

utilizada nos tratamentos com adição de

fungo. Alíquotas de 20ml dessa mistura

foram depositadas no centro das parcelas.

Um litro de água foi distribuido da mesma

forma para o tratamento com adição de

água.

Após 18 horas do início do

experimento, coletas de 10 minutos foram

conduzidas em cada parcela. O folhiço da

serrapilheira e solo foram depositados em

bandejas de plástico e os animais

observados foram coletados com aspirador

entomológico. Todos os colêmbolos e

pequenos artrópodes predadores, que

passassem pelo tubo do aparelho, foram

coletados e fixados com álcool a 70%. Toda

a serrapilheira triada durante o tempo de

coleta foi pesada para o cálculo da

densidade de indivíduos (densidade =

indivíduos/g. serrapilheira). Os indivíduos

coletados foram levados ao laboratório

para identificação em nível de gênero para

colêmbolos e de menor táxon possível para

predadores, sob microscópio

estereoscópico.

O efeito dos tratamentos e da

densidade de predadores sobre a

densidade de colêmbolos foi analisada

através de General Linear Model (GLM),

utilizando o software estatístico SYSTAT 12.

Resultados

Foram coletados 46 indivíduos de

Collembola, classificados em 4 espécies; e

229 indivíduos de predadores,

pertencentes a 22 espécies. Em média 2,14

indivíduos de Collembola e 5 indivíduos de

predadores foram coletados nas parcelas

controle, e 1,52 indivíduos de Collembola e

9,48 indivíduos de predadores nas parcelas

manipuladas pelos tratamentos.

A densidade de colêmbolos foi

similar entre blocos (F=0,54; gl = 6,17 ; p =

0,769); não respondeu aos tratamentos de

adição de água (F=0,653 ; gl = 1,17 ; p =

0,43); adição de fermento (F = 0,815 ; 1,17

; p = 0,38); e também não foi influenciada

pela interação entre estes (F = 0,003 ; gl =

1,17 ; p = 0,958 – Figura 2). Por fim, a

densidade de colêmbolos não respondeu à

densidade de predadores (F = 0,182 ; gl =

1,17 ; p = 0,675 – Figura 3).

89 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

A riqueza de colêmbolos, assim

como a densidade, também foi similar

entre blocos (F=0,667; gl = 6,17 ; p = 0,677)

e não respondeu aos tratamentos de

adição de água (F=0,595 ; gl = 1,17 ; p =

0,45) ou de fermento (F = 0,791 ; 1,17 ; p =

0,38), bem como à interação entre

tratamentos (F = 1,303 ; gl = 1,17 ; p = 0,27

– Figura 4). Ainda, a riqueza de colêmbolos

não respondeu a riqueza de predadores (F

= 0,182 ; gl = 1,17 ; p = 0,675)

Figura 2: Densidade de colêmbolos (ind./g. serrapilheira) e erro padrão nos tratamentos de adição de água e fungo.

Figura 3: Relação entre densidade de colêmbolos e densidade de predadores [Log(ind./g. serrapilheira)] na área de estudo.

.

Figura 4: Riqueza de colêmbolos e erro padrão nos tratamentos de adição de água e fungo.

Tabela 1: Riqueza e abundância de colêmbolos e predadores. Táxon N

Collembola Brachystomella sp1 6

Dicyrtoma sp 2 Lepidocyrtus sp1 17 Seira sp1 21

Total 46

Predadores Acari sp1 14

Acari sp2 1 Acari sp3 1 Acari sp4 4 Aranae sp1 4 Aranae sp2 1 Aranae sp3 2 Aranae sp4 1 Aranae sp5 2 Formicidae sp1 91 Formicidae sp2 9 Formicidae sp3 45 Formicidae sp4 8 Formicidae sp5 15 Formicidae sp6 1 Formicidae sp7 1 Opiliones sp1 2 Opiliones sp2 1 Pseudoescorpiones sp1 13 Pseudoescorpiones sp2 1 Pseudoescorpiones sp3 10 Pseudoescorpiones sp4 1 Reduviidae sp1 1

Total 229

Discussão

O presente trabalho mostra que a

densidade e riqueza de colêmbolos foi

indiferente aos tratamentos de adição de

fungo (alimento) e água e, também, à

R² = 0,009 ; p = 0,63

90 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

densidade e riqueza de predadores, após

um período de 18 horas do início do

experimento.

Trabalhos com adição de água

sugerem que colêmbolos respondem

positivamente a tratamentos similares ao

aqui executado após um período de uma

(Ferguson & Joly, 2002) e duas semanas

(Chikoski et al., 2006). Colêmbolos são

sensíveis a fatores exógenos como

temperatura e umidade (Klironomos &

Kendrick, 1995) podendo responder

imediatamente a variações nas condições

locais (Bellini, comunicação pessoal). O

presente estudo sugere que os organismos

analisados estão adaptados ao ambiente

de caatinga, não respondendo tão

rapidamente a um tratamento que simulou

uma precipitação momentânea de

1000mm³.m-2.

Colêmbolos são organismos

conhecidos por se alimentar de fungos

(Zinckler & Stecken, 1986; Klironomos &

Kendrick, 1995; Scheu & Schaefer, 1998).

Entretanto, no presente trabalho, a

densidade de colêmbolos não respondeu

ao tratamento de adição de fungo.

Contudo, já foi observado que este grupo

pode ser seletivo quanto à preferência em

forragear em determinadas espécies de

fungos (Ngosong et al, 2009). Neste

trabalho, a assembléia de colêmbolos não

foi capaz de responder rapidamente a

adição de alimento (Saccharomyces

cerevisiae), mantendo densidades

populacionais e riquezas de espécies

similares entre tratamentos e grupos

controle.

Resultados contrastantes podem

ser obtidos para os tratamentos realizados

neste experimento caso a comunidade de

colêmbolos tivesse mais tempo para

responder as variações ambientais aqui

manipuladas. Talvez exista um lag para se

perceber uma resposta numérica na

densidade e/ou riqueza de colêmbolos,

como resposta aos tratamentos aqui

realizados, como sugerem os trabalhos de

Ferguson & Joly (2002) e Chikoski e

colaboradores (2006).

Alguns autores observaram que

colêmbolos sofrem grande pressão de

predação por serem superabundantes em

detritos e massas de fungo (Hairston et al.

1960; Schneider & Maraun, 2009). Essa

tendência, no entanto, não foi evidenciada

pelo experimento realizado na ESEC –

Seridó. Isto, por sua vez, sugere que a

fauna de colêmbolos de solo parece ser

regulada por fatores exógenos à interação

predador-presa ou que o período

experimental adotado não foi sensível para

evidenciar tal relação.

Agradecimentos

Somos imensamente gratos aos funcionários da

ESEC-Seridó pelo carinho e recepção durante o

curso de campo de 2010. Aos professores do

Programa de Pós graduação em Ecologia da

UFRN pela paciência e compartilhamento

intelectual, em especial aos sempre solícitos,

Carlos Fonseca e Bruno Bellini. Também, aos

alunos deste PPG pelo companheirismo e

afabilidade.

Referências

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2006. Effects of water addition on soil

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93 Curso de Campo Ecologia da Caatinga, PPG Ecologia, UFRN, 2010

TURMA ECOLOGIA DE CAMPO 2010

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA-UFRN