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1 OLIVINA OLÍVIA CARNEIRO DA CUNHA (1886 – 1977): REMINISCÊNCIAS HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO NA PARAÍBA Viviane Freitas da Silva Márcia Cristiane Ferreira Mendes Universidade Federal da Paraíba - UFPB Resumo O presente estudo trata-se de uma pesquisa inserida no Grupo de Estudos e Pesquisas, História da Educação da Paraíba – HISTEDBR – GT/PB, tendo como objetivo desvelar e analisar a biografia da educadora, poeta e escritora paraibana, Olivina Olívia Carneiro da Cunha (1986-1977). O referencial teórico-metodologico está respaldado na abordagem da Nova História Cultural, com ênfase no território das memórias. Este trabalho permite conhecer as contribuições dessa educadora para a formação e escolarização de gerações paraibanas, dando ênfase, às suas práticas educacionais, políticas e literárias. Na pesquisa de campo realizou-se entrevistas com ex-alunos e familiares da referida professora, o que permitiu obter informações históricas acerca da sua trajetória. Para tanto, foram feitas pesquisas nas seguintes instituições: Instituto Histórico Geográfico Paraibano (IHGP) e a Fundação Espaço Cultural da Paraíba (FUNESC). Locais onde foi identificado um acervo considerável de documentos e revistas do início do século XX. No cenário do citado acervo foi possível o aprofundamento sobre as práticas, à memória e o tempo vivenciado por essa educadora paraibana. Palavras-chave: Olivina Olívia. Educação. Mulher. Memórias. Considerações iniciais O presente trabalho, vinculado ao projeto Educação e educadoras na Paraíba do século XX: práticas, leituras e representações, do Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil” – (HISTEDBR-GT/PB), vem desvelar e analisar a trajetória de vida da professora e poeta Olivina Olívia Carneiro da Cunha, no âmbito da historiografia da educação da Paraíba, dando ênfase, principalmente, às suas práticas educacionais, políticas e literárias. Justifica-se a escolha dessa educadora, devido a sua grande contribuição para a educação de gerações paraibanas durante mais de cinco décadas, sua participação no cenário intelectual e cultural paraibano, além do seu destacado envolvimento em diversas mobilizações em defesa dos desfavorecidos. Olivina Olívia Carneiro da Cunha foi professora de geografia na Escola Normal da Paraíba e de língua portuguesa no Liceu Paraibano. Presidiu entidades culturais,

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OLIVINA OLÍVIA CARNEIRO DA CUNHA (1886 – 1977): REMINISCÊNCIAS HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO NA PARAÍBA

Viviane Freitas da Silva Márcia Cristiane Ferreira Mendes

Universidade Federal da Paraíba - UFPB Resumo O presente estudo trata-se de uma pesquisa inserida no Grupo de Estudos e Pesquisas, História da Educação da Paraíba – HISTEDBR – GT/PB, tendo como objetivo desvelar e analisar a biografia da educadora, poeta e escritora paraibana, Olivina Olívia Carneiro da Cunha (1986-1977). O referencial teórico-metodologico está respaldado na abordagem da Nova História Cultural, com ênfase no território das memórias. Este trabalho permite conhecer as contribuições dessa educadora para a formação e escolarização de gerações paraibanas, dando ênfase, às suas práticas educacionais, políticas e literárias. Na pesquisa de campo realizou-se entrevistas com ex-alunos e familiares da referida professora, o que permitiu obter informações históricas acerca da sua trajetória. Para tanto, foram feitas pesquisas nas seguintes instituições: Instituto Histórico Geográfico Paraibano (IHGP) e a Fundação Espaço Cultural da Paraíba (FUNESC). Locais onde foi identificado um acervo considerável de documentos e revistas do início do século XX. No cenário do citado acervo foi possível o aprofundamento sobre as práticas, à memória e o tempo vivenciado por essa educadora paraibana. Palavras-chave: Olivina Olívia. Educação. Mulher. Memórias. Considerações iniciais

O presente trabalho, vinculado ao projeto Educação e educadoras na Paraíba do

século XX: práticas, leituras e representações, do Grupo de Estudos e Pesquisas “História,

Sociedade e Educação no Brasil” – (HISTEDBR-GT/PB), vem desvelar e analisar a

trajetória de vida da professora e poeta Olivina Olívia Carneiro da Cunha, no âmbito da

historiografia da educação da Paraíba, dando ênfase, principalmente, às suas práticas

educacionais, políticas e literárias. Justifica-se a escolha dessa educadora, devido a sua

grande contribuição para a educação de gerações paraibanas durante mais de cinco

décadas, sua participação no cenário intelectual e cultural paraibano, além do seu

destacado envolvimento em diversas mobilizações em defesa dos desfavorecidos.

Olivina Olívia Carneiro da Cunha foi professora de geografia na Escola Normal da

Paraíba e de língua portuguesa no Liceu Paraibano. Presidiu entidades culturais,

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assistenciais, religiosas e filantrópicas. Era Irmã Definidora da Santa Casa de Misericórdia

e foi uma das fundadoras da Associação Paraibana pelo Progresso Feminino, na década de

1930, onde estabeleceu como principal meta licenciar as mulheres na busca dos direitos

como ser pensante e atuante na sociedade.

Em 06 de abril de 1938, entrou para o quadro de sócios do Instituto Histórico

Geográfico Paraibano (IHGP). Também se dedicou à poesia, tendo escrito três livros:

Pérolas Esparsas, Migalhas de Inspiração e publicou um livro referente à memória do seu

pai intitulado Barão do Abiahy, em 1940. Publicou muitos artigos em revistas e jornais de

destaque no período.

Atuou no Movimento Nacional de Combate à Hanseanise

e foi líder do Educandário Eunice Weaver. No território político, candidatou-se ao cargo de

vereadora no município de João Pessoa, em meados dos anos de 1950, porém, não foi

eleita. Participou da reestruturação da Academia Paraibana de Poesia; em 1974, foi eleita

presidente da referida entidade e, após sua morte, ocupou a Cadeira nº. 8. Diferente da

maioria das mulheres de sua época que tinha o comportamento, social e político passivo,

Olivina Olívia Carneiro da Cunha era ativa, politizada e assumia o seu papel de

protagonista e construtora da sua história e da história do seu estado. E porque não dizer do

país, já que também esteve presente em movimentos em nível nacional.

Este trabalho inscreve-se nos pressupostos teórico-metodológicos da Nova História

Cultural e analisa, especificamente, as contribuições educativas e literárias dessa

educadora, poeta e escritora paraibana.

Foi utilizada para o desenvolvimento deste estudo a metodologia da história oral,

desenvolvida entre os meses de agosto a dezembro de 2008, quando se realizou entrevistas

com um ex-aluno e um sobrinho da professora Olivina Olívia, o que permitiu obter

informações adicionais e aprofundar uma riqueza de detalhes dos momentos cotidianos da

trajetória da referida educadora. As pesquisas também aconteceram em instituições como:

Instituto Histórico Geográfico Paraibano (IHGP) e a Fundação Espaço Cultural da Paraíba

(FUNESC), onde se identificou um acervo considerável de documentos e revistas, datados

do período histórico delimitado e que contribuíram para um maior aprofundamento sobre a

memória e tempo vivenciados por essa educadora.

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A origem familiar

De família nobre, Olivina Olívia nasceu em 26 de maio de 1886, na Parahyba do

Norte, atual cidade de João Pessoa/ Paraíba, filha de Silvino Elvídio Carneiro da Cunha

(Barão do Abiahy) e de Maria Leonarda Bezerra Cavalcante (Baronesa do Abiahy).

Durante sua infância residiu no palacete localizado na Rua das Trincheiras, atual prédio da

Delegacia Regional do Trabalho, juntamente com seus irmãos: Rita Ricardina Carneiro da

Cunha, Claudiano Cláudio Carneiro da Cunha, Julita Julieta Carneiro da Cunha, Horácio

Hermeto Carneiro da Cunha.

Desde criança, Olivina Olívia demonstrava interesse pelo magistério, ensinando em

sua residência, juntamente com sua irmã Rita Ricardina, as primeiras letras para os filhos

dos empregados de seu pai.

A dedicação ao magistério

No ano 1904, com apenas 15 anos incompletos, diplomou-se pela Escola Normal,

templo do ensino público paraibano que formou gerações de professores.

No ano seguinte, foi nomeada para a 9ª Cadeira do mesmo educandário, onde

passou a ensinar Música e Trabalhos de Agulha. Dois anos depois (1907), foi admitida

para a 1ª Cadeira do Grupo Escolar Modelo, anexo à Escola Normal.

Como nunca se casou, viveu com suas irmãs na mesma residência em que passou a

infância com seus pais. Segundo seu sobrinho Abiahy (2008), elas eram muito unidas e só

a morte as separou. Era chamada carinhosamente de tia Liva pelos seus sobrinhos Osíris do

Abihay (aposentado como Procurador da Fazenda Estadual) e Tigre do Abiahy (ex-

funcionário do Banco do Brasil), os quais foram criados por ela.

Era considerada uma pessoa religiosa e de absoluta integridade em todos os atos

que praticava na vida, segundo depoimento de seu sobrinho Osíris do Abiahy:

No Colégio Aderude aconteceu um episodio bem interessante. Ela estava dando aula no

curso e era inicio do ano letivo e entrou um aluno que havia sido reprovado por ela no ano anterior,

e ela abandonou o curso por esse motivo. A professora Olivina acreditava que tinha sido justa em

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sua decisão e deixou muitos impressionados com esse fato. (OSÍRIS DO ABIAHY, entrevista em

04/ 12/ 2008).

Era uma mulher culta, amante da poesia e da literatura brasileira, tinha grande

admiração por escritores como Camões, Alexandre Herculano, Assis de Queiroz, entre

outros. Apreciava escrever poesia e era colaboradora de revistas como Era Nova e de

jornais como o Jornal da Festa das Neves. Segundo a escritora e amiga de Olivina, Balila

Palmeira (1985), suas contribuições para esses jornais e revistas locais se davam sempre de

maneira a favorecer a mulher na defesa de seus direitos de cidadania.

Lecionou durante 56 anos ininterruptos a sucessivas gerações de paraibanos, nas

mais diversificadas matérias. Em 1917, foi designada pelo Presidente do Estado. Antônio

Pessoa, para reger a Cadeira de Desenho e Trabalhos Manuais no Grupo Escolar Dr.

Thomáz Mindello.

Figura 01: Prédio da Escola Normal Parahyba do Norte, onde Olivina se formou e logo, após, lecionou. Fonte: REVISTA ERA NOVAS-27 de março de 1921, Anno I, nº 1.

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E, a pedido do diretor da Escola Normal, deu aulas de Matemática, na falta do seu

titular, ensinando nesta instituição durante um período considerável. Entre 1918 e 1920,

passou a substituir o mestre de Geografia e Corografia do Brasil aos alunos do 1º ano.

Em 1925, o Governo a designou para dirigir a 2ª cadeira de Geografia Geral e

Corografia do Brasil. Sem prejuízo dessas funções, em 1926, substituiu o Professor de

Pedagogia, no 4ºano, e o de Álgebra e, posteriormente, o titular de Pedagogia, do 3º ano,

em 1928.

No dia 1º de março de 1929, suprimida a 2ª cadeira de Geografia, ficou em

disponibilidade, mas voltou a ensinar, no mês seguinte, como auxiliar da disciplina de

Geografia, no 1º ano Curso Normal. Em 8 de setembro de 1930, dispensada da função de

Geografia, o interventor Antenor Navarro a colocou em disponibilidade sem vencimentos.

Mas, a 14 de março de 1931, o mesmo governante a nomeou para ensinar Português na

mesma Escola.

Em 8 de abril de 1934, o Interventor Argemiro de Figueiredo a nomeou para

exercer o cargo de professora de História da Pedagogia, na Escola de Aperfeiçoamento. Já

em 29 de julho de 1937, recebeu as cadernetas de seu registro de professora, nos dois

ciclos (ginasial e colegial), expedidas pelo então Ministro da Educação e Saúde Pública.

Mesmo assim, não tinha disponibilidade, até que, a 12 de abril daquele mesmo ano, o

Figura 02: Grupo Escolar Dr. Thomáz Mindello em 1920. Fonte: STUCKERT FILHO, Gilberto. Parahyba: Capital em fotos, 2004.

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governo do Estado aproveitou-a como auxiliar da cadeira de Geografia do Liceu Paraibano

e, em 22 de junho, nomeou-a para exercer, interinamente, o cargo de professora da 1ª

cadeira de Português do mesmo Liceu.

No dia 24 de agosto de 1940, exonerada das funções da 1ª cadeira de Português,

voltou à disponibilidade em que se achava anteriormente.

Em 1943, submete-se a concurso de títulos para o cargo de Professor Categórico de

Português, classificando-se em primeiro lugar. O Interventor Federal da época, no entanto,

não a nomeou como devia e mandou arquivar o concurso. Apelou para a banca julgadora,

pretendendo a reforma da sua decisão, mas a banca não se submeteu e a manteve. Por isso

mesmo, sua nomeação de professora catedrática demorou tanto a sair.

Figura 03: Lyceu Parahybano Fonte: PINHEIRO, Antônio Carlos Ferreira. Um Roteiro Histórico Educacional na Cidade de João Pessoa (em texto e imaginação). João Pessoa: Editora Universitária, 2008, p. 53.

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Ficou, assim, jogada de uma para outra função, até que em 1951, obteve, em caráter

efetivo, a nomeação de Professora Padrão “J” do Quadro do Estado. Mesmo com todos

esses atropelos vivenciados em sua profissão, a professora Olivina Olívia, manteve-se

comprometida com a docência, ensinando, permanentemente, em três turnos. Sobre a sua

dedicação profissional, afirma o sobrinho Osíris do Abiahy:

Admirava o amor que ela tinha pela profissão já que lecionava os três turnos: no Lyceu Paraibano dois turnos e durante a noite em casa ensinando os alunos que não tinham condição de pagar um cursinho. Era tipo um cursinho preparatório para concursos públicos e “gratuito”. (OSÍRIS DO ABIAHY, entrevista realizada em 04/ 12/ 2008).

Daí por diante, sua situação ficou tranqüila e, mais segura ainda, a partir de 1956,

quando passou à categoria de Professor Catedrático, Padrão “N”, da Cadeira de Português

do Quadro Permanente do Estado, no curso noturno do Colégio Estadual de João Pessoa.

Porém, já estava com mais de 65 anos, demonstrando problemas de saúde. Mesmo assim,

comparecia às suas aulas, no turno da noite, com assiduidade.

Em 1960, o Governador Pedro Moreno Gondim designou-a para realizar um estágio

de observação no Ministério da Educação e Cultura, no Rio de Janeiro, durante três meses,

com as vantagens e direitos do seu cargo. Por lá ficou, então, em casas de parentes e pôde,

assim, descansar um pouco de suas atividades no magistério público.

No ano de 1961, em 22 de fevereiro, posta à disposição da Secretária de

Educação e Cultura, ficou naquela pasta, dando assessoria ao seu titular e participando de

bancas examinadoras das seguintes matérias: Português, Pedagogia, Música, História da

Civilização e do Brasil. Dizia-se, então, que era habilitada em sete instrumentos. Elaborou

programas de Geografia da 1ª, 2ª e 3ª séries, assim como de Pedagogia das 3ª e 4ª séries.

Legado educacional e morte

Em 2 de agosto de 1961, a mestra de tantas gerações aposentou-se, com todos os

direitos e vantagens a que fazia jus. Segundo o escritor e ex-deputado Joacil de Brito

Pereira, essa mulher influenciou a muitos com a sua dedicação profissional.

[...] fui seu aluno, no velho Liceu, e posso dar depoimento de sua abnegação ao magistério e da sua capacidade. Muito

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aprendi com ela sobre nossa língua, sobre as literaturas nacional e portuguesa, assim como sobre os grandes autores estrangeiros. Ensinou-me os segredos do estilo e as belezas da arte de escrever. (JOACIL DE BRITTO PEREIRA, entrevista em 17/11/2008).

Na memória do ex-aluno Joacil de Brito, a aparência da professora surge de modo

harmonioso:

Era esbelta, magrinha e andava sempre bem vestida. Usava sapatos de saltos bem altos, o cabelo longo bem penteado e preso por marrafas ornamentais e discretas. Tinha muita simpatia e bom gosto, vestindo roupas sempre claras e leves, às vezes de tecidos estampados, mas sóbrios, bem talhados, como convinha a uma mulher da sua categoria. (JOACIL DE BRITTO PEREIRA, entrevista em 17/11/2008).

Olivina Olívia Carneiro da Cunha faleceu em 12 de março de 1977, aos noventa e

um anos de idade, na cidade de João Pessoa - PB. Em sua morte, o Jornal A União, de 15

de março, noticiou o seu falecimento com as seguintes palavras:

Figura 04: Olivina Olívia Carneiro da Cunha Fonte: Arquivo Pessoal de Viviane Freitas.

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Era orgulhosa da estirpe e quando não se estava muito para aulas cacetes, preenchidas com regras gramaticais, bastava perguntar pelo nome completo do pai ilustre. A resposta vinha afiada, pronta ‘ na ponta da língua’ e daí em diante tinha-se aula de genealogia e de história. A biografia do barão era contada com riqueza de detalhes que uma filha tinha de possuir, até que a vigorosa sineta decretasse o fim do período que lhe cabia na classe. Nenhum favor se lhe fez em vida se foi dito que pertence à galeria dos bons catedráticos do Liceu Paraibano.

Logo após sua morte, segundo informações obtidas junto a Secretaria Estadual de

Educação do Estado da Paraíba, foi decretada pelo Governo de Ivan Bichara Sobreira,

como patronesse da Escola Estadual Olívina Olívia Carneiro da Cunha. Todavia, passado

alguns anos de sua morte, a sua memória foi sendo reduzida a um nome na fachada da

referida instituição escolar, haja vista que na mesma, dentre direção, professores e alunos,

poucos conhecem o seu legado no cenário intelectual e educacional paraibano.

A Escola Estadual Olívina Olívia Carneiro da Cunha foi criada e oficializada pelo

decreto nº 7.352 de 18 de Agosto de 1977. No governo de Dr. Ivan Bichara Sobreira, sendo

classificada como escola de primeira categoria e funcionado até os dias atuais.

Além do nome na cita instituição escolar, a educadora recebeu uma homenagem da

Revista Sol com uma matéria intitulada: Mestra Imortal: Uma vida dedicada à Educação,

escrita por sua amiga Palmeira (1985). Na matéria a autora destaca a dedicação da

Figura 05: Escola Estadual Olivina Olívia Carneiro da Cunha Fonte: Arquivo Pessoal de Viviane Freitas da Silva e Márcia Cristiane Ferreira Mendes

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educadora ao magistério durante anos, identificada como um sacerdócio em ação. Destaca,

também, a sua preocupação com social, com o ecológico, com o político, ou seja, seu

espírito sensível de inserção na vanguarda de uma época, a exemplo do externa no poema

“Nordéste”, publicado no livro Paisagem de minha terra, em que reconstrói a paisagem do

nordeste no seu cenário emocional, caracterizada pela fauna e flora, típica da região,

deixando transparecer o espírito sensível e poético: A’ luz do sol, as fôlhas brunas, Crepitando no seco matagal, Caem de leve. E o canto das graúnas Junta-se á voz dolente do zagal. Areias abrasadas formam dunas, E as abelhas, num séqüito feral, Passam, velozes, quais áureas escunas Lavadas por dragão medieval!...

No galho do pau darco sopra o vento, Que ardente vai queimar tôda a pastagem, Sem que ao gado lhe fique outro alimento... E a terra a consumir dos bravos filhos As gôtas de suor-seiva-que espagem Quando lavram o campo, em duras trilhas!!! (CUNHA, 1944, p. 6)

Considerações finais

Este trabalho se constituiu na tarefa de desvelar a memória da educadora e poeta

Olivina Olívia da Cunha e oferecer, simultaneamente, uma retrospectiva da historiografia

da educação da Paraíba, haja vista que, inserida no seu tempo, a citada educadora trouxe

relevantes contribuições no campo educacional e social.

Ressalte-se que Olivina Olívia Carneiro da Cunha, como educadora, viveu em um

período histórico onde as mulheres, a exemplo das borboletas, começavam a sair do casulo

da submissão e da omissão, assumindo a luta pelos seus históricos direitos, como destaca

Soihet (2000, p. 100):

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Autoridade, políticos em geral, juristas negam-se a considerar positivamente as pretensões de autonomia feminina. Respaldam-se na ciência da época, sinônimo, naquele momento, de verdade absoluta. Apelando para tais convicções e para os prejuízos acarretados à família, já que este era visto como o seu espaço prioritário, buscam limitar as mulheres nas suas ações, desejos e emoções, naturalizando determinações histórica e socialmente estabelecidas.

Assim, como enfatiza Ginzburg (1991), cada historiador faz uma leitura, uma

reinterpretação das informações e dos sinais dos documentos e dos depoimentos orais,

trabalhados anteriormente por outros estudiosos. Nesse sentido, pode deixar transparecer,

e, da mesma forma, entender as lacunas nela existentes. Uma vez que o silêncio enigmático

pode revelar indícios que ajudam a decifrar uma figura e uma realidade possível.

Em suma, podemos concluir que Olivina Olívia Carneiro da Cunha foi uma mulher

de múltiplas faces atuando como escritora, poeta, educadora etc., e despontando como

pioneira na fundação de diversas instituições. Por fim, Olivina Olívia Carneiro da Cunha

soube deixar suas marcas nos mais variados âmbitos da sociedade paraibana contribuindo,

assim, para a construção da História da Paraíba.

Referências CUNHA, Olivina Olívia Carneiro da. Nordeste. Revista Manaíra - Fevereiro e Março, 1944. FREIRE, Carmen Coelho de Miranda. História da Paraíba: para uso didático (1878-1978). 2 ed. João Pessoa: A União Cia Editora, 1978, p. 190-192. GINZBURG, Carlo. A micro-história e outros ensaios. Lisboa: Difel, 1991. PEREIRA, Joacil de Britto. Mulheres e símbolos. João Pessoa: Editora Universitária / UFBB, 2007. SOIHET, Rachel. A pedagogia da conquista do espaço público pelas mulheres e a militância feminista de Bertha Lutz. In: Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 15, set.out.nov.dez. 2000. SOUZA, Elizeu Clementino de. Pesquisa narrativa e escrita (auto) biográfica: Interfaces metodológicas e formativas. In: SOUZA, Elizeu Clementino; ABRAHÃO, Maria Helena Menna Barreto (Orgs.). Tempo, narrativas e ficções: a invenção de si. Porto Alegre-RS: EDPUCRS: EDUNEB, 2006.

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Fontes pesquisadas Orais

Joacil de Brito Pereira. Ex-aluno de Olivina Olívia Carneiro da Cunha. Entrevista

concedida a Viviane Freitas da Silva e Márcia Cristiane Ferreira Mendes em 17/11/2008.

Osíris Abiahy. Sobrinho de Olivina Olívia Carneiro da Cunha. Entrevista concedida a

Viviane Freitas da Silva e Márcia Cristiane Ferreira Mendes, em 04/12/2008.

Fotografias Arquivo pessoal de Viviane Freitas da Silva Álbum pessoal da Família Abiahy. PINHEIRO, Antônio Carlos Ferreira. Um roteiro histórico educacional na cidade de João Pessoa: em texto e imaginação. João Pessoa: Editora Universitária, 2008, p. 53.

STUCKERT FILHO, Gilberto Lira. Parahyba capital em fotos: nas lentes da família Stuckert há mais de um século fotografando esta cidade. João Pessoa: F&A Gráfica e Editora. 2004. Jornais e revistas JORNAL A UNIÃO. João Pessoa, 15 de março de 1977. REVISTA ERA NOVA, Parayba do Norte, de 1921 a 1922, circulação quinzenal. REVISTA MANAÍRA, João Pessoa, Fevereiro/ Março de 1940 a 1944, circulação mensal. REVISTA O SOL, Setembro/ Outubro de 1985, p. 92.