Roberto Burle Marx foi homem de Sete Instrumentos. Experimentador e Pesquisador da Pintura, da Música, da Escultura, do Paisagismo, da Poesia, ... ceramista... joalheiro... Criava o SEU mundo e a SUA paisagem, tentando mostrar um mundo que fosse uma metáfora do belo. Seu discurso não incluiu a preocupação ou o foco urbanístico, a funcionalidade, a reação do visitante, do utilizador, do observador. Satisfêz primeiro a Sua vontade mesmo que em seus jardins fi zesse introdução de plantas “de fora do contexto”, de “fora do entorno”.

Não foi um estudioso, estrategista e pregador da importância da paisagem esculpida, modifi cada, preser-vada, contextualizada ou ampliada nos seus efeitos sobre o homem e consequentemente na vida da cidade a sua volta como foi Frederick Law que sendo tambem escritor e crítico determinado a defender a relação do bem estar do ser humano e a sua relação sensorial e funcional com a paisagem a sua volta, incluiu aí as edifi cações produzidas ou a serem produzidas pelo homem naquele contexto. Frederick Law Olmstead foi responsável pela caracterização do profi ssional Arquiteto Paisagista. Sua fi losofi a e práticas de trabalho estabeleceram o conceito de projeto de paisagem dando assim o respectivo valor aos profi ssionais dessa especialidade.

Olmsted cria assim um estilo e uma escala de intervenção paisagística que supera em muito a reputação dos conhecidos jardineiros do seu tempo. Tem assim a iniciativa de criar projetos que afetam o subconsci-ente daqueles que interagem no espaço. Desenvolve o “poder narrativo” que uma paisagem pode ter, deve ter e acaba por ter - seja ela qual for. Para que isso fosse assim bem interpretado, mesmo não podendo ser completamente desenhado ou explicado por palavras, visto ser algo sensorial Olmsted aplica-se em de-senvolver paisagens que naturalmente correspondem com as necessidades do ser humano, inconsciente-mente afetando-o. Foi exímio em adaptar e combinar conceitos da “velha escola” do paisagismo Europeu, à realidade Americana, nomeadamente o Inglês.

Roberto Burle Marx difere de Olmsted principalmente quanto a dimensão e a importancia social da produção da paisagem na vida do cidadão e na cultura contemporânea, limitando-se a expressar essa produção na forma de arte, deixando assim bem claro os diferentes níveis de processo criativo, de sensibilidades e de conhecimentos específi cos entre ele e Olmsted.

Marx apresenta-se como que conformado com o retorno dado às suas impactantes obras, não fazendo sinal de preocupar-se com os efeitos sobre os expectadores até porque defende que a natureza é para ser compreendida pela observação do todo tal como ele naturalmente é, enquanto que Olmsted claramente vai a luta para fazer valer o que pensa, o que defende e o que foca como resultado esperado das suas in-tervenções na paisagem, empenhando-se cientifi camente em estabelecer métodos, sistemas e princípios de projeto que devidamente executados satisfaçam, na relação causa-efeito, as expectativas pré-concebidas que ele conceituou. Olmested não simplesmente usa um estilo objetivando uma concientização estética mas sim utilizou-se das qualidades de porções da natureza que devidamente conjugadas oferecem um impácto pisicológico e uma reação esperada, portanto, para além da mera contemplação.

Enquanto que, se superfi cialmente, tomarmos as principais obras de ambos para avaliar e comparar... mesmo colocando cada qual no seu contexto, no seu tempo, na sua cultura própria, notaremos o alto grau de difi culdade que seria tecer algum comentário comum que valesse para os dois. Frederick Law Olmsted é um técnico pragmático com forte visão social também de cunho urbanístico enquanto que Roberto Burle Marx aparece como interlocutor e articulador entre diferentes manifestações artísticas na sua relação com a paisagem dentro do Movimento Moderno, porém ambos expressam o seu desejo de buscar a continuidade entre a história e paisagem - e fazem-no muito bem.

ENSAIO: Escultores da Paisagem ou Escultores em Paisagem? Frederick Law Olmsted e Roberto Burle Marx

por: Willians Gomes de Camposgraduando em Arquitetura e UrbanismoUniversidade São Francisco - Itatiba - SPBrasilOutubro -2012