Operadores Argumentativos88

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Operadores Argumentativos Operador argumentativo é o morfema que transforma as potencialidades argumentativas de um enunciado(cf.Ducrot). Por exemplo, vejamos estes dois enunciados: (a’) São oito horas (a”) São apenas oito horas No primeiro caso(a’) há somente o conteúdo. O operador argumentativo "apenas" é um operador se as possibilidades de argumentação do primeiro enunciado não são as mesmas independentemente das informações veiculadas pelo discurso. Os operadores argumentativos mais utilizados são: até, até mesmo, inclusive, pouco, ainda, já, na verdade, aliás,pelo menos etc. ATÉ: Institui uma escala de valores. O objeto a que se refere pode estar no topo da lista ou no final. Transmite a avaliação do autor e direciona o ponto de vista do leitor. ATÉ MESMO: Argumenta positiva- e negativamente. Refere-se a algo que detem mais importância pelo acréscimo ou pela falta de algo ou alguém. POUCO / UM POUCO: Entre os dois operadores há uma distância. Se o autor aforma que algo é pouco não há uma argumentação tão forte quanto em um pouco. Um pouco pode argumentar negativa e positivamente. AINDA: Aqui há dois sentidos possíveis. Um denota excesso temporal, ou seja, já passou do tempo. O outro, introduz mais um elemento no discurso. JÁ: Pode marcar uma antecipação ou uma mudança de estado. Pode também marcar uma urgência em relação a algo. Há também o caso em que o "já" pode ser substituido por "enquanto". Quando isso ocorre, ele trata de duas coisas paralelas. Assim, não terá mais a função de um operador argumentativo, mas de uma conjunção.

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Operadores Argumentativos

Operador argumentativo é o morfema que transforma as potencialidades argumentativas de um enunciado(cf.Ducrot).

Por exemplo, vejamos estes dois enunciados:(a’) São oito horas(a”) São apenas oito horas

No primeiro caso(a’) há somente o conteúdo. O operador argumentativo "apenas" é um operador se as possibilidades de argumentação do primeiro enunciado não são as mesmas independentemente das informações veiculadas pelo discurso.

Os operadores argumentativos mais utilizados são: até, até mesmo, inclusive, pouco, ainda, já, na verdade, aliás,pelo menos etc.

ATÉ: Institui uma escala de valores. O objeto a que se refere pode estar no topo da lista ou no final. Transmite a avaliação do autor e direciona o ponto de vista do leitor.

ATÉ MESMO: Argumenta positiva- e negativamente. Refere-se a algo que detem mais importância pelo acréscimo ou pela falta de algo ou alguém.

POUCO / UM POUCO: Entre os dois operadores há uma distância. Se o autor aforma que algo é pouco não há uma argumentação tão forte quanto em um pouco. Um pouco pode argumentar negativa e positivamente.

AINDA: Aqui há dois sentidos possíveis. Um denota excesso temporal, ou seja, já passou do tempo. O outro, introduz mais um elemento no discurso.

JÁ: Pode marcar uma antecipação ou uma mudança de estado. Pode também marcar uma urgência em relação a algo.Há também o caso em que o "já" pode ser substituido por "enquanto". Quando isso ocorre, ele trata de duas coisas paralelas. Assim, não terá mais a função de um operador argumentativo, mas de uma conjunção.Por exemplo: Ana é boa aluna, já Carina nunca faz o tema.

NA VERDADE: Introduz a versão final de um argumento:: uma nova versão, ou uma contraposição de dois argumentos.

ALIÁS: Introduz um argumento decisivo. O que se pode chamar de um "golpe final".

posted by mara @ 10:04 AM

3 Comments:

At 6:53 AM,  marlene said...

Não é que haja somente conteúdo em "São 8 horas." O que se quer dizer é que, acrescentando-se um operador ("já","ainda", etc.), não se modifica a informação, mas a direção do argumento a que esse enunciado está servindo.

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At 6:55 AM,  marlene said...

A descrição de alguns operadores pode ser melhorada ("pouco" e "um pouco", por exemplo).

At 6:56 AM,  marlene said...

Fiquei com pena que, no exercício de avaliação, não incluíste essa análise que fazes do "já" como "enquanto".

segunda-feira, junho 13, 2005

OPERADORES ARGUMENTATIVOS

Na aula do dia 09/06, discutimos, em aula, os operadores argumentativos. Mas o que são operadores argumentativos? Bem, operador argumentativo é o morfema que, aplicado a um conteúdo, transforma as potencialidades argumentativas desse conteúdo (cf. Moeshler, 1985, p.61-2).Vejamos alguns exemplos utilizados pela professora Marlene Teixeira:

(a’) Este vestido é caro.(a”) Este vestido é caro demais.

(b’) Ela levou um fora.(b”) Ela levou mais um fora.

Os operadores argumentativos mais utilizados são: até, até mesmo, pouco, um pouco, ainda, já, na verdade, aliás, etc.

Agora, veremos como esses operadores funcionam em alguns enunciados. Para isso, utilizaremos mais alguns trechos dos textos: “O povo perde a vez” e “Uma aula de como governar”:

1-“É extraordinário que, historicamente, o folguedo popular, criado artesanalmente por amadores, tenha conseguido despertar a atenção de espectadores da classe alta e até de turistas, que se deslocam e pagam para assisti-lo.”No trecho acima, o conector argumentativo “até”, tenta persuadir seus leitores e apóia uma tese. Ele puxa o argumento para o topo de uma escala. Ou seja, os folguedos são um sucesso, atraem tanto a classe alta, quanto os turistas.

2- “Com isso veio, porém, a preocupação de transformar o folguedo em espetáculo: primeiro, com a contratação de profissionais para o conceber e gerenciar; depois, com o progressivo aumento dos gastos, que termina por alijar o adepto tradicional da participação e até da platéia, que ganhou preço de mercado.”Aqui o conector argumentativo “até”, marca o argumento mais forte, o conector hierarquiza os argumentos.

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3- Agora veremos como os conectores argumentativos transformam as potencialidades argumentativas dos enunciados abaixo:

a) “Morreu mais uma indiazinha em Dourados.”Aqui o conector argumentativo “mais” nos mostra que este é um fato que se repete; ele denúncia as mortes.

b) “A resposta já foi dada por Humberto Costa (...)”Neste exemplo, o conector “já” enfatiza a ocorrência de um fato em tempo passado.

c) “Sua viúva agradece agora ser espanhola, um pouco menos pobre.”Aqui o conector “um pouco” argumenta no sentido de que a situação econômica da viúva melhorou; uma ultrapassagem de limite, que nos leva em direção da riqueza.

d) “Sua viúva agradece agora ser espanhola, um pouco menos pobre.”Neste caso, o operador “um pouco menos”, deixa implícito a possibilidade de aumento da posição social.

MARCADORES DE INTEGRAÇÃO LINEAR

Ainda nessa aula, vimos os marcadores de integração linear ou seqüenciadores, cuja função é estruturar a linearidade do texto, organiza-lo em uma sucessão de fragmentos complementares que facilitam a interpretação.

O marcador linear pode ter três funções:

1 - indicar que o constituinte que ele acompanha marca a abertura de uma série (valor de abertura): primeiramente, antes de mais nada, em primeiro lugar, por um lado, por uma parte, etc. Ex: “Inicialmente, exporei algumas reflexões que (...)”.

2- marcar que o constituinte discursivo que ele acompanha entra na série sem ser o elemento inicial (valor de intermediação): em segundo lugar, em seguida, a seguir, por outro lado, por outra parte, etc. Ex: “(...) Um segundo fator está em jogo (...)”.

3- indicar que o constituinte discursivo que ele acompanha marca o fechamento da série (valor de fecho): enfim, finalmente, para terminar, em último lugar, etc.Ex: (...) Finalmente especularei sobre o perfil (...)”.

CONECTORES - Análise

Agora vamos ver na prática a utilização dos conectores vistos anteriormente. Para os exemplos utilizaremos trechos de dois textos: “Uma aula de como governar” de Clóvis Rossi, publicado na Folha de São Paulo em 12/03/2005 e “O povo perde a vez” de Rachel Valença, publicado na Folha de São Paulo em 05/02/2005.

1- Os efeitos contextuais da conjunção são:

a) sucessividade: “(...) com a contratação de profissionais para o conceber e gerenciar (...)”; “(...) formas de folguedo carnavalesco existentes pelo país, quase sempre

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idealizados e organizados por gente humilde (...)”.

b) simultaneidade: soma duas coisas que podem ocorrer ao mesmo tempo: “(...) realizar algo de muito belo e rico em nome de sua cultura.”

c) restrição/ inversão: “O dinheiro era pouco, e a dedicação, enorme.” Aqui o “e” é substituível pelo “mas”.

d) conseqüência: “(...) morrer em atentados terroristas ‘está dentro do número que normalmente acontece’ e que, portanto, o governo nada poderia fazer para ajudar as famílias das vítimas.” Aqui o “e” tem valor de “conseqüentemente, portanto”.

e) ultrapassagem: “(...) tenha conseguido despertar a atenção de espectadores da classe alta e até de turistas (...)” Aqui o “e” pode ser substituído por “além disso, não só...mas também”.

2- Os conectores de disjunção ligam duas proposições, estabelecendo alternância entre o elemento coordenado e o elemento anterior. Vejamos os trechos abaixo:a) “Não adianta perguntar ao ministro da Saúde ou a qualquer outra autoridade o que estão fazendo.” Aqui o “ou” tem efeito contextual de equivalência, é inclusivo.b) “Ou, posto de outra forma, ninguém do governo espanhol (...)”. Aqui novamente, o “ou” é inclusivo.

3- Em relação ao conector porque em : “Para mim, este momento é sempre o Carnaval, porque fica visível, impossível de ser ignorada, a força da cultura.” – a relação se dá entre proposições, ou seja, causalidade que decorre da visão do sujeito falante sobre determinado fato/ fato possível, argumentativo.

4- Nos enunciados abaixo (a) e (b), os conectores “mas” e “embora” expressam relação de restrição. O conector “mas” nega os argumentos da outra asserção, ele quase sempre frustra uma expectativa. E o conector “embora” nega o argumento do segmento em que aparece. Assim sendo, o “mas” restringe uma conclusão a partir da primeira idéia (implícita) e, o “embora” é sinalizador de um argumento mais fraco daquele que seguirá depois.

(a) Saddan Hussein é um tirano sanguinário que merece o pior dos destinos. O Iraque certamente ficará melhor sem ele. Mas isso não significa que os EUA e o presidente George W. Bush tenham o direito de arriscar milhares de vidas de iraquianos e de (a) soldados da coalizão para iniciar uma guerra para depor o ditador. (Folha de São Paulo, 22/03/2003)(b) Embora as crianças de escola pública tenham direito a um ano letivo normal, é injusto que os reajustes salariais não cubram a inflação.

5- Funcionamento discursivo do conector “mas”:

a) “Alguns desses folguedos são bastante rudimentares, mas têm a beleza do que vem do povo, do que é autêntico.” Temos aqui um exemplo de “mas” argumentativo. O conector “mas” nega argumentativamente o segmento e apresenta um outro aspecto a ser considerado.

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b) “Mas que turista pagaria caro por eles?” Aqui o “mas” é um elemento fático, configurando-se como uma marca de negociação de ponto de vista típica da interação. E tem a função de atrair a atenção do interlocutor.

c) “(...) que lamentava muito, mas morrer em atentados terroristas ‘está dentro do número que normalmente acontece (...)”. Aqui o “mas” é refutativo, caracterizando uma estratégia discursiva conflitual.

6.1- Nos trechos abaixo, analisados, a relação causal se dá entre predicações, ou seja, acontecimentos ou situações do mundo – causalidade real/ efetiva:

a) “A cada novo pacote econômico, os argentinos ficam mais abatidos porque mudanças anunciadas sempre trazem mais conseqüências ruins para o povo.’b) “O governo argentino está conseguindo desagradar muito a população, porque um número crescente de manifestações ganha as ruas.”c) “Alguns turistas brasileiros estão aproveitando essa crise no país vizinho porque as companhias de turismo estão registrando uma procura por pacotes para a Argentina duas vezes maior que a normalmente registrada nos anos anteriores.”

6.2 - No trecho seguinte, a relação causal se dá entre proposições – fatos possíveis:a) “Como a população quer chamar a atenção do governo, apela para os famosos panelaços.”

6.3 - E finalmente no trecho abaixo, a relação causal se dá entre enunciados – atos de fala:a) “Eles afirmam que, já que, para ter crédito no exterior é preciso apertar os cintos da população, estão tomando as decisões mais acertadas para o bem estar da nação.”

Uso de operadores argumentativos.

VIDEO AULA: http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL1458000-5604,00-PROFESSOR%2BDA%2BAULA%2BSOBRE%2BOPERADORES%2BARGUMENTATIVOS.html

Dá-se o nome de operadores argumentativos a certos elementos da língua, explícitos na própria estrutura gramatical da frase, cuja finalidade é a de indicar a argumentatividade dos enunciados. Introduzem variados tipos de argumentos que apontam para determinadas conclusões.

Observe nos exemplos  como funcionam esses operadores:No Brasil ainda há crianças fora da escola.Nesse enunciado, o advérbio ainda orienta o interlocutor no sentido de inferir algo que está pressuposto: que, antes do momento da enunciação, já havia crianças fora da escola.Embora muitos adolescentes que trabalham frequentem a escola, poucos conseguem concluir os oito anos de escolaridade básica.Nesse enunciado, a conjunção embora introduz argumento que se contrapõe ao exposto na oração seguinte.

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Tipos de operadores argumentativos

Operadores que introduzem argumentos que se somam a outro, tendo em vista uma mesma conclusão: e, nem, também, não só... mas também, não só ...mas ainda, além disso, etc.

Os efeitos danosos do trabalho infantil sobre a escolarização são sentidos não só nas crianças menores, mas também nos adolescentes.

Operadores que introduzem enunciados que exprimem conclusão em relação ao que foi expresso anteriormente: logo, portanto, então, em decorrência, consequentemente, etc.

O trabalho infantil prejudica o desenvolvimento físico, emocional e intelectual da criança, portanto deve ser combatido.

Operadores que introduzem argumento que se contrapõem a outro visando a uma conclusão contrária: mas, porém, todavia, embora, ainda que, mesmo que, apesar de, etc.

Muitas pessoas são contra a exploração de crianças e adolescentes, mas poucas fazem alguma coisa para evitar que isso aconteça.

Esses operadores são geralmente representados pelas conjunções adversativas e concessivas. A opção por um determinado tipo de conjunção tem implicações na estratégia argumentativa.Por meio das adversativas (mas, porém, todavia, contudo, etc.), introduz-se um argumento que leva o interlocutor a uma conclusão contrária a que chegaria se prevalecesse o argumento usado no enunciado anterior. Com as concessivas (embora, se bem que, ainda que, etc.), o locutor dá a conhecer previamente o argumento que será invalidado. Observe:Milhões de crianças e adolescentes trabalham no Brasil, mas isso é proibido pela Constituição.Embora a Constituição proíba, milhões de crianças e adolescentes trabalham  no Brasil.

Operadores que introduzem argumentos alternativos: Ou, ou...ou, quer...quer, seja...seja, etc.

Ou sensibilizamos a sociedade sobre os efeitos danosos do trabalho infantil, ou o problema persistirá.Operadores que estabelecem relações de comparação: mais que, menos que, tão...quanto, tão...como, etc.O problema do trabalho infantil é tão grave quanto o do desemprego.

Operadores que estabelecem relação de justificativa, explicação em relação a enunciado anterior: pois, porque, que, etc.

Devemos tomar uma decisão urgente, pois o problema tende a se agravar.

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Operadores cuja função é introduzir enunciados pressupostos: agora, ainda, já, até, etc.

Até o Papa manifestou sua indignação com referência ao trabalho infantil.Nesse enunciado, pressupõe-se que outras pessoas, além do Papa, tenham manifestado indignação. Compare a força argumentativa do enunciado contrapondo-o a outros:O padre manifestou sua indignação.O bispo manifestou sua indignação.Até o Papa manifestou sua indignação.Nesse caso, temos uma escala argumentativa ascendente (orientada do argumento mais fraco para o mais forte: o Papa). Numa escala argumentativa negativa, os termos estariam em ordem descendente, e o argumento mais forte viria introduzir por nem mesmo.O acontecimento não teve nenhuma repercussão: o Papa não se manifestou, o bispo também não, nem mesmo o padre de paróquia fez qualquer referência ao assunto.A função de introduzir o argumento mais forte de uma escala argumentativa também pode ser exercida pelos operadores inclusive, até mesmo, ao menos, no mínimo, etc.

Operadores cuja função é introduzir enunciados que visem a ratificar, esclarecer um enunciado anterior: isto é, em outras palavras, vale dizer, ou seja, etc.

Duas, de cada 10 crianças trabalhadoras, ou seja, 20%, não frequentam a escola.

Operadores cuja função é orientar a conclusão para uma afirmação ou uma negação: quase, apenas, só, somente, etc.

Dentre os adolescentes que trabalham, poucos conseguiram concluir os oito anos de escolaridade básica: apenas 25,5%.O número de crianças e adolescentes que trabalham é muito grande: quase quatro milhões.O operador argumentativo quase aponta para a afirmação da totalidade e, normalmente, encadeia-se com muitos e a maioria.Apenas ( e seus equivalentes só e somente) aponta para a negação da totalidade e, normalmente, encadeia-se com poucos e a minoria.