Opinião - Agência ECCLESIA...António Guterres como novo secretário-geral das Nações Unidas é...

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04 - Editorial: Octávio Carmo06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional20 - Opinião Manuel Barbosa22 - Opinião Mário Sousa26 - Semana de.. Luis Filipe Santos28 - Dossier Justiça e Fiscalidade

30 - Entrevista: Teresa Vasconcelos60 - Estante62 - Concílio Vaticano II64- Agenda66 - Por estes dias68 - Programação Religiosa69 - Minuto Positivo70 - Liturgia72 - Jubileu da Misericórdia74 - Fundação AIS76 - LusoFonias

Foto da capa: DRFoto da contracapa: DR

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Padre Américo AguiarPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Opinião

Igreja saúdaeleição de AntónioGuterres[ver+]

Papa em Fátima,com certeza[ver+]

Impostos, pobrezae justiça[ver+]

Octávio Carmo | J.M. Pereira deAlmeida | Luis Filipe Santos | Mário

Sousa |Manuel Barbosa | Paulo Aido

Tony Neves

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Coração quente, guerra fria

Octávio Carmo Agência ECCLESIA

Portugal, o país que “deu novos mundos aomundo”, que tantas vezes se resigna ao seu“fado” e repete até à exaustão que é uma“pequena nação” - embora não o seja -,Portugal, dizia, volta a estar sob os holofotes daopinião pública internacional. A escolha deAntónio Guterres como novo secretário-geral dasNações Unidas é um momento histórico para ainstituição, que precisa de renovação, e para onosso país, chamado, depois da liderança daComissão Europeia, a ver o seu nome associadoa um grande cargo internacional.De Guterres muito se tem dito, das (más) contasao catolicismo fervoroso. Pessoalmente, lembro-me do testemunho de um colega, com muitosanos nestas andanças, que dava do antigoprimeiro-ministro português uma imagemcompletamente diferente, para melhor, do queera costume quando a conversa versava sobre aclasse política. “Fazer o bem em grande” era oobjetivo da vida política do agora sucessor deBan Ki-moon. Uma frase simples, profunda, queencontra no maior palco do mundo o lugar exatopara poder ser levada à prática comrepercussões globais.Depois do Alto Comissariado das Nações Unidaspara os Refugiados, onde enfrentou a maiorcrise humana desde a II Guerra Mundial, AntónioGuterres sobe ao topo da ONU para assumir umaresponsabilidade imensa, com preocupações que- como católico - partilha em larga medida com

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o Papa Francisco (que, não poracaso, chamou a si aresponsabilidade dos refugiadosnum momento de transição dostrabalhos na Cúria Romana):reforma da própria ONU e dasorganizações financeirasinternacionais, a pobreza, aexclusão económica e social, a criseambiental, as migrações forçadas, aguerra, a

proliferação nuclear, asperseguições de minorias étnicas ereligiosas.Guterres leva para Nova Iorque,sem sombra de dúvidas, um coraçãoquente. Resta saber se vai sercapaz de ajudar a superar assombras de guerra fria, mundial,que se abatem sobre a humanidade.

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Ban ki-moon e António Guterres @Lusa

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“É uma vitória da competência e datransparência e é também uma vitória de umconsenso nacional”Marcelo Rebelo de Sousa, presidente daRepública, sobre a eleição de AntónioGuterres como secretário-geral da ONU,Lisboa, 05.10.2016 "O mérito óbvio e primeiro é do engenheiroAntónio Guterres, que (…) revelou ser apessoa melhor colocada para exercerfunções como secretário-geral das NaçõesUnidas"António Costa, primeiro-ministro português,Palácio de Belém, 05.10.2016 "É histórico para Portugal, é a primeira vezque um português terá este lugar tãorelevante"Pedro Passos Coelho, presidente do PSD,Palácio de Belém, 05.10.2016 “António Guterres tem a capacidade deestabelecer pontes. Ele vai ser umsecretário-geral que representa a voz dasNações Unidas como tal”Augusto Santos Silva, ministro dos NegóciosEstrangeiros, Lisboa, 05.10.2016 “É uma vitória para as Nações Unidas queterão o melhor candidato possível para estecargo. É também algo que honra muitoPortugal”.Assunção Cristas, presidente do CDS-PP,Lisboa, 05.10.2016

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Em Fátima, com certeza

O Papa Francisco anunciou emconferência de imprensa que vaivisitar o Santuário de Fátima, em2017. “Irei com certeza a Portugal eirei apenas a Fátima”, disse aosjornalistas, no voo de regressodesde o Azerbaijão, este domingo.O Santuário de Fátima assinala nopróximo ano o Centenário das

Aparições da Virgem Maria aos trêsvidentes, conhecidos como osPastorinhos, na Cova da Iria. OPapa explicou que em 2017 vai teruma agenda mais apertada, dadoque no Ano Santo (dezembro de2015-novembro de 2016), o Jubileuda Misericórdia, foram suspensas asvisitas 'ad Limina', encontros com

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conferências episcopais de todo omundo, no Vaticano."Por isso, há pouco espaço paraviagens. Mas vou a Portugal", disse,"Para já, só no dia 13 [de maio],mas, ao certo, ainda não sei”,acrescentou, em resposta a umapergunta colocada pela RádioRenascença."A realidade percebe-se melhor apartir das periferias do que a partirdo centro, mas isto não afasta apossibilidade de ir a um grande paiscomo é Portugal ou a França, nãosei, veremos”, acrescentou.Francisco será o quarto Papa avisitar Portugal, depois de Paulo VI(13 de maio de 1967), João Paulo II(12-15 de maio de 1982; 10-13 demaio de 1991; 12-13 de maio de2000) e Bento XVI (11-14 de maiode 2010).O porta-voz da ConferênciaEpiscopal Portuguesa, padreManuel Barbosa, saudou aconfirmação da visita do Papa aFátima. “Em primeiro lugar,manifestar o regozijo pelaconfirmação, pela boca do próprioPapa Francisco, de que virá aFátima em maio de 2017”, referiu,em declarações à AgênciaECCLESIA.“Esse anúncio concretiza o fortedesejo do Papa em visitar Portugal,

expresso aos bispos portugueses navisita ‘ad Limina’ em setembro de2015 e noutros encontrosparticulares com alguns bispos. Vemigualmente no seguimento do desejoe expectativa da Igreja em Portugal,e do povo português, de receber avisita apostólica do Papa Francisco”,sustentou o padre Manuel Barbosa.Também o vice-reitor do Santuáriode Fátima, padre Vítor Coutinho, secongratulou com a confirmação davisita do Papa. “Alegra-nos saberque o Santo Padre tem no coraçãoeste Santuário e que tenciona vircomo peregrino”, referiu osacerdote, em depoimento enviadoà Agência ECCLESIA.O também coordenador daComissão Organizadora doCentenário das Aparições de Fátima(1917-2017) recordou que, ao longodos últimos meses, Francisco temconfirmado “a diversas pessoas eem diversas ocasiões” que tencionavir à Cova da Iria.

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Igreja Católica promove SemanaNacional da Educação CristãA Igreja Católica vai celebrar nosúltimos dias de outubro a SemanaNacional de Educação Cristã 2016,propondo uma educação “integral”para o “desenvolvimentoharmonioso das pessoas”. “Aeducação integral é essencial parapromover o desenvolvimentoharmonioso das pessoas e paraalicerçar a justiça, a paz e o bem-estar das sociedades. Portanto, épela educação que podemospreparar um futuro com esperança”,escreve a Comissão Episcopal daEducação Cristã e Doutrina da Fé,em documento enviado à AgênciaECCLESIA.Na nota pastoral ‘Educar – proporcaminho para uma vida plena’, oorganismo sublinha que educar é“uma tarefa gratificante sem deixarde ser complexa e árdua”. Os bispoque constituem a comissãoconsideram que perante a“emergência da educação” todostêm a missão de colaborar e, nessesentido, em nome da Igreja eapoiados pelo seu “rico patrimónioespiritual, humanista e moral”querem contribuir apresentandoalguns critérios em ordem a “educarpara o

desenvolvimento pessoal integral” epara a participação livre e“responsável na construção de umasociedade justa e fraterna”.Neste contexto, o documentopublicado no âmbito da SemanaNacional da Educação Cristã, quese realiza de 21 a 30 de outubro,começa por assinalar que “educar éconduzir no caminho do bem e daverdade” e não tendo apenas opropósito de “atingir umadeterminada etapa ou patamar” édinâmica, é aprender a caminhar, aprogredir, “a crescer continuamentepara a plenitude”.“Não se deixar tentar pelamentalidade maniqueísta que dividea sociedade em bons e maus,julgando como maus «os outros quenão pensam como nós»”, observamos bispos da Comissão Episcopal daEducação Cristã e Doutrina da Fé.

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UCP tem nova reitoraIsabel Capeloa Gil, professoracatedrática da Faculdade deCiências Humanas, é a nova reitorada Universidade CatólicaPortuguesa (UCP), sucedendo aMaria da Glória Garcia, primeiramulher no cargo, que estava àfrente da instituição académicadesde 2012. A UCP adianta emcomunicado enviado à AgênciaECCLESIA que a tomada de posseda nova responsável, até agoravice-reitora, está marcada para 28de outubro, às 17h00, no auditórioCardeal Medeiros, em Lisboa.A cerimónia vai ser presidida por D.Manuel Clemente, cardeal-patriarcade Lisboa e magno chanceler daUniversidade Católica Portuguesa.Na mesma ocasião, vão tomarposse como vice-reitores TeresaLloyd-Braga, professora catedráticada Faculdade de CiênciasEconómicas e Empresariais; JoséTolentino Mendonça, professorassociado da Faculdade deTeologia; Miguel Athayde Marques,professor auxiliar da Faculdade deCiências Económicas eEmpresariais; e Luis GustavoMartins, professor auxiliar da Escoladas Artes.A equipa inclui ainda, como pró-reitor, Fernando Ferreira Pinto,professor auxiliar da Faculdade deDireito, e como administradora

Maria Helena de Almeida,professora auxiliar convidada daFaculdade de Ciências Económicase Empresariais.Isabel Maria de Oliveira Capeloa Gilnasceu a 22 de julho de 1965 emMira, Coimbra; tem doutoramentoem Língua e Cultura Alemãs naFaculdade de Ciências Humanas daUCP, da qual foi diretora desde2005 e 2012.A sexta reitora nos 50 anos dehistória da UCP integra o painel deperitos da Comissão Fulbright, daFundação para a Ciência eTecnologia, do ‘Research Councilfor the Humanities’ da FundaçãoDinamarquesa para a Investigação,da Fundação para o Amparo daPesquisa do Estado de São Paulo(FAPESP) e da ‘European ScienceFoundation’.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosemwww.agencia.ecclesia.pt

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Porto: Paço Episcopal aberto aos visitantes

Festa das Colheitas em Escariz S. Martinho, Vila Verde (Braga): tradições emanifestações crentes

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Do Cáucaso para o mundo, pela paze o diálogo

O Papa realizou a sua primeira visitaà Geórgia, um país de maioriaortodoxa e tradicionalmente hostil aRoma. Francisco deixou váriasmensagens em favor dareconciliação de católicos eortodoxos. “Há um grande pecadocontra o ecumenismo: oproselitismo.

Nunca se deve fazer proselitismocom os ortodoxos. São nossosirmãos e irmãs, discípulos de JesusCristo”.O Papa apelou à coexistênciapacífica entre povos, religiões eEstados no Cáucaso, além de rezarpelas vítimas dos conflitos na Síria eIraque, numa

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inédita oração com a comunidadeassírio-caldeia. “Fazei saborear aalegria da vossa ressurreição aospovos exaustos pelasbombas: levantai da devastação oIraque e a Síria”.Francisco alertou para o queconsiderou como uma guerramundial contra o casamento,apontando o dedo à ideologia dogénero. “Hoje está em curso umaguerra mundial para destruir ocasamento. Destrói-se não com asarmas, mas com as ideias. Hojeexistem colonizações ideológicasque o destroem. Por isso, é precisodefender-se das colonizaçõesideológicas. Se houver problemas,fazei as pazes o mais depressapossível, antes de acabar o dia, enão esqueçais as três palavras:«com licença», «obrigado»,«desculpa»”.A viagem internacional prosseguiuno domingo, com uma Missa juntoda pequena comunidade católica,em Bacu, capital do Azerbaijão, paradeixar uma palavra de coragem aesta periferia. “Nesta CelebraçãoEucarística, dei graças a Deusconvosco, mas também por vós:aqui a fé, depois dos anos daperseguição, realizou maravilhas.Desejo recordar tantos cristãoscorajosos, que tiveram confiança noSenhor e se mantiveram fiéis nasadversidades”.

Após uma homenagem aos quelutaram pela independênciado Azerbaijão, cerimónia oficial deboas-vindas, no paláciopresidencial, reuniu cerca de milrepresentantes da sociedade civil eautoridades políticas, com quemFrancisco falou da necessidade depromover a paz e o diálogo, acomeçar pelas religiões. "O apegoaos valores religiosos genuínos étotalmente incompatível com atentativa de impor aos outros, pelaviolência, as próprias conceções,escudando-se no santo nome deDeus".A viagem encerrou-se na GrandeMesquita de Bacu, com umamensagem em favor do diálogointer-religioso e contra ainstrumentalização da fé. “Deus nãopode ser invocado para interessesparticulares nem para fins egoístas;não pode justificar qualquer formade fundamentalismo, imperialismoou colonialismo. Mais uma vez,deste lugar tão significativo, levanta-se o grito angustiado: nunca maisviolência em nome de Deus”.Esta foi a 16ª viagem internacionaldo pontificado do Papa Francisco,que tinha visitado a Arménia, emfinais de junho deste ano, naquelaque foi a sua primeira deslocaçãoao Cáucaso.

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Papa recebeu primazes da IgrejaAnglicanaO Papa recebeu esta quinta-feiraem audiência o arcebispo deCantuária, Justin Welby, primaz daComunhão Anglicana, e 35 primazesdas províncias anglicanas, um diadepois da assinatura de umadeclaração conjunta entre as duasIgrejas. As iniciativas celebram o50.° aniversário do “encontrohistórico” entre o Papa Paulo VI e oarcebispo Michael Ramsey.“Estes 50 anos de encontro e trocade experiências, assim como areflexão e os textos comuns, falamde cristãos que, por fé e com fé, seouviram e partilharam tempo eforças. Aumentou a convicção deque o ecumenismo não é umempobrecimento, mas uma riqueza”,referiu Francisco.Já esta quarta-feira, o Papa tinhapresidido à celebração deVésperas, na igreja dos SantosAndré e Gregório al Celio, emRoma, por ocasião deste 50ºaniversário. Antes da oração,Francisco e Justin Welby assinaramuma declaração conjunta em queadmitem tanto o “grande progresso”realizado no diálogo entre católicose anglicanos, como os “novosdesacordos”, particularmente emrelação à ordenação sacerdotal demulheres e às “recentes questões

relativas à sexualidade humana”.Os dois responsáveis sublinham queestas divergências não devem“impedir” a oração comum,valorizando a “comunhão, que,mesmo sendo imperfeita,” já existe.“A nossa capacidade de nosreunirmos no louvor e na oração aDeus e de testemunharmos aomundo, apoia-se na certeza de quecompartilhamos uma fé comum e,em medida substancial, um acordona fé”, prossegue o texto.O Papa e o líder da Igreja Anglicanaapresentam como “causa comum”para todos os cristãos “apoiar edefender a dignidade” humana e“reconhecer o inestimável valor detoda a vida humana”.A 23 e 24 de março de 1966 tevelugar a visita solene de MichaelRamsey (1904-1988), arcebispo deCantuária, ao Papa Paulo VI (1897-1978), com a assinatura da primeiraDeclaração Comum entre católicos eanglicanos.

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Visita-surpresa às vítimas do sismona ItáliaO Papa Francisco visitou esta terça-feira a localidade de Amatrice, umadas zonas afetadas pelo sismo nocentro de Itália, a 24 de agosto,para encontrar-se com as vítimas eas suas famílias. A viagem surpresacomeçou junto das crianças naescola provisória construída pelaProteção Civil Italiana.Acompanhado pelo bispo de Rieti,D. Domenico Pompili, o Papapassou ainda pela chamada ‘zonavermelha’ de Amatrice, onde osdanos, ainda visíveis, foram maissignificativos. “Pensei bem, nosprimeiros dias destas tantas dores,que a minha visita talvez fosse maisum peso do que uma ajuda, umasaudação, e não queria incomodar-vos; por isso, deixei passar umpouquinho de tempo para queficassem prontas algumas coisas,como a escola”, explicou Francisco.O Papa referiu que “desde oprimeiro momento” sentiu o desejode visitar estes locais, para ofereceràs pessoas “proximidade e oração”.“Simplesmente para dizer-vos queestou convosco, que estou ao vossolado, nada mais, e que rezo, rezopor vós”, acrescentou.Depois de rezar por todos os quevivem este “momento de tristeza, dedor e de prova”, convidando ospresentes a recitar em conjunto

uma Avé-Maria. “Vamos em frente,há sempre um futuro. Há tantosentes queridos vos deixaram, quecaíram aqui, sob os escombros.Rezemos a Nossa Senhora poreles”, declarou.Francisco desafiou os sobreviventesa “olhar sempre em frente”, com“coragem” e todos unidos.“Caminha-se sempre melhor juntos,sozinhos não se consegue. Emfrente, obrigado!”, concluiu.O Papa cumprimentou crianças,professores e vários sobreviventes,alguns a chorar, antes de rezar emprivado e em silêncio junto dosedifícios em ruínas. Esteve tambémem Rieti para visitar uma casa desaúde para idosos, ondecumprimentou os cerca de 60utentes, a maior parte dos quaisficou sem casa por causa doterramoto, almoçando com eles.

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Encontro mundial sobre «fé e desporto»

Papa pede aos jornalistas «respeito pela verdade» e «forte sentido ético»

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Nota sobre a eleição de AntónioGuterres como Secretário-geral daONU

Manuel Barbosa Porta-voz da CEP

Sabendo que o Eng. António Guterres estápraticamente eleito como Secretário-geral daOrganização das Nações Unidas, a nossa reaçãosó pode ser de profundo reconhecimento esincera congratulação pelo facto de esteeminente cidadão português que é AntónioGuterres assumir o cargo de tão elevadaresponsabilidade como Secretário-geral da ONU.Há cerca de um ano, a 25 de setembro de 2015,o Papa Francisco, na senda dos papasanteriores que visitaram e discursaram na sededas Nações Unidas (Paulo VI, João Paulo II duasvezes e Bento XVI), realçou o apreço e aimportância que a Igreja Católica reconhece aesta instituição e as esperanças que coloca nassuas atividades: na defesa dos direitos humanos,nas missões humanitárias de paz e reconciliação,na defesa do meio ambiente, na procura de umasolução para a crise dos refugiados, na lutacontra todos os fenómenos da exclusão social eeconómica dos cidadãos, «com as suas tristesconsequências de tráfico de seres humanos,tráfico de órgãos e tecidos humanos, exploraçãosexual de meninos e meninas, trabalho escravo,incluindo a prostituição, tráfico de drogas e dearmas, terrorismo e criminalidade internacionalorganizada»; no dizer do Papa Francisco.Desejamos que o novo Secretário-geral, pelo seuprofundo sentido de humanidade e de fé, pelasua competência e sabedoria acumuladas em

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importantes serviços à sociedadeem Portugal e no âmbito da ONU,consiga enfrentar com coragem,diálogo e decisão todos os grandesdesafios que estão na agendamundial, sempre na procura da paz,da solução pacífica dos conflitos edo desenvolvimento de relaçõesamistosas entre as nações, como seafirma no início da Carta dasNações Unidas.

Esperamos que António Guterrescontribua de modo eficaz para que aONU, com os seus Estados-Membros e funcionários, «prestesempre um serviço eficaz àhumanidade, um serviço respeitosoda diversidade e que saibapotenciar, para o bem comum, omelhor de cada nação e de cadacidadão» (Papa Francisco).

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A tradução da Bíblia de FredericoLourenço

P. Mário Sousa(Professor de SagradaEscritura no InstitutoSuperior de Teologia deÉvora e Pároco na Matrizde Portimão)

São várias as pessoas que me têm pedido umaopinião sobre a tradução da Bíblia de FredericoLourenço, cujo primeiro volume (Os Evangelhos)saiu estes dias. Aqui fica. Vale o que vale: umaopinião entre outras.1- Confesso que me aproximei da tradução comcuriosidade académica, mas com algumadesconfiança perante a publicidade ambíguafeita pela distribuidora da obra: ao contrário doque deixa subentendido, não é a primeira vezque a Bíblia é traduzida das línguas originaispara português; o Novo Testamento já o foivárias vezes, tal como o Antigo Testamento apartir do hebraico (e grego no que se refere aos7 livros escritos originalmente nesta língua:Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1-2 Macabeus). É o caso das edições da DifusoraBíblica e da Sociedade Bíblica, para recordar asmais recentes. A novidade da obra de FredericoLourenço – e daí a minha expectativa - está emtraduzir a versão grega do Antigo Testamento,chamada «LXX», elaborada a partir do textohebraico, no séc. III a.C. em Alexandria,destinada aos judeus que viviam na diáspora eque já só falavam e compreendiam a línguafranca da altura: o grego. Ou seja, o queFrederico Lourenço faz, em relação ao AT, é umatradução para português da, por sua vez,tradução do hebraico para o grego. E este é umaspeto muito positivo, pois era algo inexistentena nossa língua. No entanto, não me possopronunciar sobre ela, pois o volume que estasemana saiu do prelo contém apenas osEvangelhos. É sobre este que escrevo.

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2 - O autor apresenta o seutrabalho como uma tradução que«privilegia, sem a interferência depressupostos religiosos, amaterialidade histórico-linguística dotexto». Esta afirmação deixou-meapreensivo, pois a palavra não énua; reveste-se sempre de contextoe de finalidade: o Sitz im leben (o contexto vital) emque os diferentes livros da Bíbliaforam escritos é religioso; todos elespartem de um contexto religioso etêm uma finalidade religiosa. Fazeruma leitura sem «pressupostosreligiosos» é desencarnar o texto dasua alma semântica e ler o textosem contexto. Ora, aqui reside, naminha perspetiva, o grandecalcanhar de Aquiles desta obra:uma acentuada e positivapreocupação com o aspetolinguístico (que se expressa deforma eloquente nas notas), masesquecendo que, embora a línguaseja grega, o conteúdo éveterotestamentário. Ou seja, pordetrás das palavras gregas estãoconceitos não gregos mashebraicos e semitas. Aliás, até aonível idiomático surgem váriasexpressões que são uma traduçãoliteral do hebraico, como é o casoda pergunta de Jesus em Jo 2,4,que traduz o hebraico “mah-lî walak”, e que Lourenço apresenta como«O que tem isso a ver contigo ecomigo,

mulher?», quando o que équestionado é diferente: «O que háentre mim e ti, mulher?»(literalmente: «O quê para mim epara ti, mulher?»; ou seja, não setrata da relação dos dois com asituação, mas de Jesus com a suaMãe). E o autor não se fica poraqui: embora afirme que não querpartir para a sua traduçãocom «pressupostos religiosos» eque «as notas não pretendeminterpretar o texto

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na sua extraordinária riquezateológica (nem eu teria competênciapara tal)», acaba por partir com pre-conceitos religiosos e a partir delesfazer considerações teológicas,como é o caso da nota que apõe aoversículo em questão, onde fala de«mariolatria medieval»! Econtradizendo ainda o que afirmara,recorre com frequência ao trabalhode biblistas e exegetas parafundamentar as suas opiniões(muitas vezes sem os citar). Então,em que ficamos? 3- Embora o não digaexpressamente, Lourenço deixapairar ao longo da introdução (e dasentrevistas que deu) a suspeiçãosobre todas as outras traduções emlíngua portuguesa; apenas a sualevará o leitor a encontrar-se com averdade «histórico-linguística dotexto». Qual verdade? A deFrederico Lourenço? A Bíblia nãotem uma tradução, mas traduções.Todas elas com qualidades (como ade Lourenço) e defeitos (como a deLourenço), que se enriquecem, namedida em que não são mónadasmas textos dialogantes, queiluminam o significado sempreinesgotável de determinadapassagem ou livro bíblico.

4- Uma outra característica revesteesta obra e que é,concomitantemente, a sua riqueza efraqueza: resulta do trabalho de umhomem só. Riqueza porque lhe dáharmonização de critérios; fraquezaporque tem origem num texto nãodialogado. De há 4 anos trabalho naComissão Coordenadora datradução da Bíblia para aConferência Episcopal Portuguesa efoi-me entregue a responsabilidadeda subcomissão que se ocupa doNovo Testamento. Neste momentoestamos a rever a tradução dosEvangelhos apresentada pelosbiblistas a quem foram solicitadas.Nesta subcomissão somos três: doisexegetas e um professoruniversitário de grego. Acontece-nosmuitas vezes ter de discorrerdemoradamente sobredeterminadas opções de traduçãoaté chegar a uma conclusão equando não há consenso preferimosdeixá-la em suspenso e consultaroutros exegetas. Ou seja, trata-sede uma tradução dialogada, fruto dereflexão demorada sobre o sentidolinguístico, mas também semântico esimbólico de determinada palavra ouexpressão. A perspetiva de cada ummelhora a dos outros e a traduçãoresultante surge enriquecida pelosdiferentes

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ângulos e contributos. Na traduçãode Lourenço encontramos apenas aperspetiva de Lourenço.Em conclusão: Frederico Lourençoaporta-nos um contributo muitopositivo, na medida em que nosproporciona não «a» tradução, mas«mais uma» tradução de Bíblia,

com anotações linguísticas que nosajudam, a par de outros e variadosestudos, a tirar do tesouro que é aSagrada Escritura «coisas velhas ecoisas novas» (Mt 13,52).

Frederico Lourenço | Foto Ricardo Almeida

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Europa abre os olhos e vê o sorrisodeste português

Luís Santos Agência ECCLESIA

Excluindo o sentido patriótico, a vitória de AntónioGuterres para secretário-geral das NaçõesUnidas (ONU) veio demonstrar que a verdadeainda tem lugar nesta globalização cheia dehipocrisia. A dimensão da derrota da búlgaraKristalina Georgieva traduz também a da alemãAngela Merkel e de todas as manobras debastidores para minar a candidatura doportuguês.A eleição para aquele cargo foi um feitoextraordinário, mas os portugueses são peritos aultrapassar os cabos das tormentas que nascema cada esquina. Depois da vitória no relvado daesplendorosa «cidade luz» com um simples golode Éder, António Guterres deu uma autênticagoleada a Angela Merkel.Na final de Paris, a seleção lusa tinha ínfimashipóteses de ser campeão da Europa. Pareciaque apenas o católico e tenaz Fernando Santosacreditava no sucesso. Na contagem dos votospara secretário-geral das Nações Unidas foiangariando (já o tinha anteriormente) prestígio edeu o golpe final, no dia 05 de outubro, com maisuma vitória

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categórica. O católico e socialistaAntónio Guterres acreditou até aofim e mostrou à «poderosa»Alemanha que pode «mandar» naEuropa, mas nunca mandará nomundo porque as duas guerrasmundiais jamais serão esquecidas.O político português tinha váriosparâmetros contra si… Nasceu nopaís mais ocidental da Europa ehavia «acordos apalavrados» parauma personalidade do leste europeu. Poroutro lado, estava na hora de seruma mulher desempenhar o cargo.Outra contrariedade.Aquele «filho do II Concílio doVaticano» que se deixou moldarpelos documentos conciliares esempre teve preocupaçõeshumanistas ganhou a batalha semdenegrir a imagem de ninguém. SeAngela Merkel queria mesmo umamulher de Leste à frente

da ONU, teria apoiado uma das quejá estavam na corrida e não utilizavaas suas, bem conhecidas,artimanhas. O humanismo venceu atecnocracia…O patriotismo está nos nossosgenes. Estas eleições vieramdemonstrar que ainda vale a penaser justo e verdadeiro no mundo dastroikas e da hipocrisia. ParabénsAntónio Guterres, a tua forma deestar devia inspirar muitos europeusde conveniência. O teu semblantesincero venceu o rosto alemão e, areboque, a comissão europeia.Europa abre os olhos e vê o sorrisodeste português.Depois da França, derrotámos a«invencível» Alemanha… No meiodestas vitórias, só lamento que o ex-presidente da Comissão Europeia,Durão Barroso, tenha ido ocupar umcargo que manchou a nossaepopeia nos últimos meses.

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A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) organiza a 22 de outubrouma conferência sobre o tema ‘Sistema fiscal e justiça social’. Nummomento em que se ultimam as negociações para o próximoOrçamento de Estado, o Semanário ECCLESIA partiu desta iniciativada CNJP para falar com especialistas católicos sobre o que é umafiscalidade justa e o que ensina, a este respeito, a Doutrina Social daIgreja.A mesma CNJP alertou para as consequências das medidas deausteridades em Portugal, afirmando que os mais pobres continuama ser os mais afetados por essas políticas. Um tema em destaque naentrevista à secretária do organismo laical, Teresa Vasconcelos.

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«Um terço das famílias portuguesasem situação de pobreza é de bradaraos céus» Teresa Vasconcelos, secretária da Comissão Nacional Justiça e Paz, abordadocumento mais recente que o organismo católico dedicou à situaçãosocioeconómica em Portugal Agência ECCLESIA (AE) – Estedocumento que a CNJP publicacomeça por dizer que a pobreza emPortugal tem um nome: de umhomem, de uma mulher, de umacriança, de um idoso. Em quepreocupações é que ele assenta?Teresa Vasconcelos (TV) - Estedocumento é baseado num estudo da Fundação FranciscoManuel dos Santos, relativo aoperíodo mais agudo da crise, entre2009 e 2014, e que incidesobre pormenores easpetos mais finos deinformação, que nós nãotínhamos. Sobretudo em relação às mulheres, mas também aos jovens, aos idosos e às crianças.

Aspetos sobre os quais a Comissãotem de alguma forma o dever deincentivar a que sejam tomados emdevida conta, quer pela IgrejaCatólica quer pelas autoridades dasociedade civil.Primeiro em relação às mulheresporque elas são as pessoas sobrequem a pobreza tem tido maioresimplicações. Está demonstrado porexemplo que as mulheresapresentam um índice maior dedesemprego ou de perda deemprego.Em segundo lugar, porque asmulheres sozinhas, costumamosdizer mães solteiras, mulheres quegerem uma família, são aquelas quemais têm sido vítimas das situaçõesde pobreza.Só isso, a meu ver, é qualquer coisade muito importante a que nóstemos de prestar atenção. AE – Então este documentopretende ser um alerta…TV – É um alerta social, porque nósnivelamos tudo como se fosse igual,claro que o índice de desemprego

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mais ou menos agora está umbocadinho estabilizado, mas oestudo demonstra que realmente asmulheres são das vítimas principaisda pobreza, e portanto temos deprestar atenção a isto. AE – Um dos dados que esteestudo explicita é que um em cadatrês portugueses passou um anopela pobreza. O que é que isto nosdiz da sociedade portuguesa?TV – Diz-nos que ela éextremamente desigual. Sabemosque a riqueza está concentrada em15 por cento das pessoas e poroutro lado, que a situação depobreza não é apenas incidentenaquelas que nós tradicionalmenteconsiderávamos os mais pobres.Há muita pobreza na classe média,uma pobreza que nós tambémchamamos escondida ouenvergonhada, porque as pessoastêm mais dificuldade em pedirapoios.Mas nós sabemos que há situaçõesdessas, em que pai e mãe estãodesempregados, em que os paistinham os filhos num colégio privadoe colocaram-nos no ensino público -não quer dizer que seja melhor oupior, depende de cada tipo deinstituição - porque não podiampagar propinas.

Num país europeu, como nósconsideramos ser, saber que umterço das famílias passaram porsituações de pobreza é realmentede bradar aos céus. AE – O estudo indica que reduziu adesigualdade em Portugal mas queos níveis portugueses continuam aser superiores aos da UniãoEuropeia.TV – Exatamente. Há a condição dadesigualdade, e eu acredito sempreque ao nível das políticas vão-sefazendo coisas, teremos indicadoresde que a situação não é tão gritantemas mesmo assim. AE – Mas essas políticas sãoapenas paliativos, como fala odocumento?TV - São paliativos, mas o que estáem causa é aquilo que é dito por umlindíssimo proverbio oriental: nãopesques o peixe, antes ensina apescar. E parece-me que este étambém um grande desafio para aIgreja Católica, que tem sido de umagenerosidade imensa com assituações de pobreza, desde quecomeçou esta crise.A Igreja Católica é a instituição quemais tem dado apoios mas ela temde pensar que não é apenascaridade, entre aspas, para ficarmoscom a consciência sossegada, masque é preciso dar a cana de pesca.Isso

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só se pode fazer de uma formatalvez muito mais lenta, ajudando aspessoas em situação de pobreza, aencontrar um caminho que lhespermita serem autossuficientes enão estarem sempre dependentesda caridade de outros, dossubsídios, dos paliativos.Pode fazer-se de muitas formas,mas a meu ver é mais lento mas étambém mais profundo, maisfecundo, e tem maior impactoevangélico. AE – Que papel é que o Estado temtido nesse ensinar a pescar? Ecomo é que tem sido este processotambém pedagógico, de tornar asociedade mais autónoma?TV – Vou dar-lhe um exemplo:quando estava no Ministério daEducação, em funções dirigentes,trabalhei com o Paulo Pedroso norendimento mínimo garantido.A ideia sempre foi que as famíliaspusessem as crianças na escola,tinham de estar todas escolarizadas.Os mais pequeninos, sempre quehouvesse lugar, iriam para a creche,e este apoio seria temporário até aspessoas, de alguma forma,regularem a sua vida.Claro que isto não sucede comtodos, infelizmente, mas a ideia do

rendimento mínimo garantidoinicialmente era essa.Instalou-se na sociedadeportuguesa a ideia de que há umadependência do Estado e o Estadodeve apoiar os mais desfavorecidos,assim como a Igreja, enquantoinstituição que tem umarepresentação enorme e que deveser um modelo de apoio aos quemais sofrem.E portanto penso que, com o tempo,este rendimento mínimo garantido, àmedida que também foi diminuindo,o suporte financeiro, tambémperdeu esta intenção que eraajudar.Por exemplo, porque é que nósusávamos as estruturas deeducação de adultos? Porque eranecessário os adultos estaremtambém inscritos em cursos decomplemento de habilitações, osque não tinham sequer aescolaridade obrigatória.De forma que aquilo que era um nóda pobreza, que às vezes é umenredo que não sabemos muito poronde pegar, fosse de alguma formadiminuído, porque à medida quealguém tem escolaridade podefuncionar no universo do escrito,pode ter acesso à informação,ganha maior autoestima.

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AE – Novos horizontes…TV – E os horizontes das famílias, ameu ver, modificam-se. É umasituação muito difícil porque, de umaforma geral, as estruturas dasociedade tal como as temos, atendência é sempre criar maispobres, dado este fosso enormeentre os mais ricos, a concentraçãodas grandes fortunas numa minoriae o facto de sermos o país daEuropa com mais pobres. AE – O estudo fala inclusivamentenum padrão de desigualdadeexistente em Portugal.TV – Exatamente, é muitopreocupante que isto seja dito e quenão tenha

sido dito anteriormente. É queapesar deste estudo referir-se a umdeterminado número de anos (2009a 2014) o que corresponde àgrande crise mundial, a nívelfinanceiro, ele também de algumaforma diz que há um padrão jáinstalado há muito tempo nasociedade.E isto, a meu ver, deve ser objeto dereflexão, e agora falando comocristã, penso que o Evangelhointerpela-me a mim e a todos nóspara que olhemos para este facto edigamos como é que, através dasestruturas da Igreja a quepertencemos, das paróquias, dosmovimentos eclesiais, como é quepodemos interromper este ciclo depobreza.

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E a meu ver, insisto, não apenas viacaridade tradicional. AE – Em 2015 houve eleiçõeslegislativas. Muitos indicam umamudança de ciclo, outros que nãovivemos essa mudança, quecontinuamos a viver no mesmocontexto, apesar da troika já nãoestar em Portugal. Efetivamente oque é que vivemos?TV – Eu acho que a mudança aindanão é visível e eventualmente estamudança de governação àesquerda talvez ainda não tenhatido uma grande expressão, massimbolicamente a meu ver é muitoimportante.Nós nunca tínhamos tido apossibilidade de ter um governoestrategicamente e claramentecolocado à esquerda. Háproblemas, por exemplo opresidente da República nãopromulgou o decreto-lei sobre ataxação das grandes fortunas.Eu não estou a dizer que fosse amelhor coisa, tinha algumasreservas, mas teve o impactosimbólico, é que chamou a atençãodo público em geral que já, dealguma forma que alguns erambastante mais ricos eoutros bastante mais pobres, queisto pode

ser resolvido com uma outramedida.Não estou a dizer que seja a melhor,mas isto pode ser feito de algumaforma e pode ser feito com impostosjustos. O encontro da CNJP no fimde outubro vai ser exatamente sobrea justiça fiscal e contamos comintervenções muito boas.E é esse o grande tema dascomissões ‘Justiça e Paz’, é a justiçafiscal que seja séria e por isso oGoverno tem mecanismos pararegular ou incrementar mais estajustiça fiscal.Por outro lado, penso que a IgrejaCatólica, enquanto voz autorizada,ética, moral, pode também chamar aatenção de muitos cristãos que têma mesma forma de funcionar – sepuderem não pagar ao Estado, nãopagam, porque assim têm maisdinheiro para outras coisas. É preciso que os cristãosse convençam que quandonão pagam e fogem aosimpostos, de algumaforma estão a adulteraros valores do Evangelho.Eu acho que este desafiopara a Igreja éfundamental.

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AE - Sobre a questão dadesigualdade na repartição dossacrifícios, entre a população queterá mais dinheiro e a mais pobre. Oque é que isto faz para a coesãosocial?TV – Nós sabemos, é doconhecimento público, que onúmero de ricos, de pessoas queconcentram riqueza aumentouexponencialmente ao longo destacrise. Isto quer dizer alguma coisa,alguém está a beneficiar com acrise.E nós sabemos também que, emtermos gerais, da Europa, os paísesdo sul estão a ser mais vitimizadospela crise do que os do norte.Alguns países, permita-me não dizernomes, não vale a pena, estão aviver melhor com a crise. Esteaspeto a meu ver é muitoimportante.Por outro lado, com estasdisparidades e com o avolumar dasituação de carência dos maispobres, ao mesmo tempo umaclasse média que passa porgrandes dificuldades, isto em termosda coesão social é terrível.Quando nós dizemos que os índicesde violência em Portugal estãoprogressivamente a aumentar,porque é que isso acontece?Porque é que há mais insegurança,porque é que tem havido maisassaltos, roubos, etc?

Eu não estou a desculpar isso, deforma nenhuma, mas estou a dizerque a coesão social se há-denecessariamente ressentir comestas diferenças.Se queremos olhar as coisas numhorizonte amplo e não apenaslimitado a paliativos, temos de olharpara esta questão com muitaatenção. AE – Este documento terminacolocando a questão de que muitasvezes os pobres não têm palco, nãoé esta a expressão mas é a ideia, ospobres não nos entram pela casaadentro ou muitas vezes estão àdistância de um zapping. Oproblema também é este?TV – Repare também navulgarização que é trazida pelosmeios de comunicação. Por ainformação que constantementeentra nas nossas casas. Mesmoquando são notícias sobre asquestões da pobreza, nós pomo-lasno mesmo quadro que as guerrasque se passam não exatamente naEuropa mas em outros países,nomeadamente agora na Síria.Isto traz indignação mas traz maisindignação quando há terroristasque atacam França ou o ReinoUnido, porque estão ao pé da porta.E há constantemente terrorismo

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noutros pontos do globo.Portanto o nosso olhar é filtrado porestas situações, por estaproximidade, quando háproximidade nós preocupamo-nos,quando é longe, aqui na Europaestamos menos preocupados. Isto éum facto, com honrosas exceções.Agora, em termos da pobreza,somos

um povo muito individualista eà medida que lá nos vamosequilibrando ou safando,esquecemo-nos que há alguns querealmente não têm voz e esses sãoos mais pobres dos pobres.Por isso eu queria salientar asmulheres, os jovens, os idosos ealguns aposentados, mas só parasublinhar a questão dos jovens.

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TV - Não são apenas aqueles queemigram em massa para fora dopaís, quando nós investimos neles,na educação, nos graus, etc, eagora vão servir outros países quetêm défice de pessoas, de jovenscom essas profissões.Este é um aspeto até, sob o pontode vista financeiro, perverso. Nãoquer dizer que não se deva dareducação mas que está arepresentar perdas financeiras parao nosso país está. E esses países que precisam de

engenheiros, como a Alemanha, ouque precisam de enfermeiros, comoo Reino Unido, não têm que investirna formação desses jovens.Em segundo lugar, os que ficam sãoaqueles que eventualmente são osmenos educados, e esses ficam como estigma da pobreza, com oestigma de serem minoria muitasvezes, cultural, social, etc., e essegrupo também é um potencial motorde violência.Pensam que não há nada a fazer,que perderam o sentido para avida,

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são também de segunda ou terceirageração de emigrantes, perderamas raízes riquíssimas que teriam nosseus países e portanto isto tambémé uma espécie de vulcão que pode,a qualquer momento, voltar a lançarlava e nós depois aí dizermos ‘aquidel rei’, porque vivemos ao nível doimediato.Isto que estou a dizer quasejustificava um comunicado porsemana da Comissão NacionalJustiça e Paz. Não o fazemostambém porque penso, e é umarealidade, que se começamos ainvadir a sociedade civil comcomunicados depois tambémperdemos a nossa força.O grande papel da CNJP é fazer adenúncia e temos que insistir,sempre que houver atentados àJustiça e Paz no nosso país. AE – À Igreja Católica cabe apenasdenunciar? Que caminhos é que aCNJP aponta, indica, não só aoscristãos mas à sociedade em geral,como possíveis para ultrapassaresta situação?TV – A Comissão não pode fazermais do que isto, pelo menos naestrutura que temos no nosso país.Mas a sociedade civil e a IgrejaCatólica,

nomeadamente, têm que encontrarsoluções, são chamadas a meu ver,pelo Evangelho, a encontrarsoluções, se querem ser realmentecristãos.E aí foi muito interessante oprocesso de construção destecomunicado, porque a segundaparte do documento éeventualmente mais pequena doque a primeira mas aponta paracaminhos de futuro.E o primeiro grande sinal de futuro,a meu ver, é a forma como aencíclica do Papa Francisco‘Laudato si’ tem sido altamentediscutida na sociedade portuguesa.

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TV - Depois penso também que aIgreja Católica e a sociedade emgeral devem facilitar todas asiniciativas que, de alguma forma,são sinal de que qualquer coisaestá a mudar.Vou dar um exemplo: Eu falo emautarquias mas principalmente emjuntas de freguesia, que estãopróximas dos cidadãos, e háiniciativas interessantíssimas dejuntas de freguesia com idosos, comcrianças.Não é apenas meter os idosos noautocarro e ir a Fátima e a outroponto do país, fazer turismo. Mas ésobretudo respostas para, dealguma forma, volto a insistir nametáfora, se dê a cana para sepescar.E a esse nível por exemplo, que sepassa em muitas autarquias, a meuver é um sinal de esperança.Outro exemplo é a camada decidadãos mais novos,nomeadamente da classe média,que optam por ir viver para fora deLisboa.Há casos até de alguns que alugampropriedades, que não são deles,para criarem o seu próprioemprego.Basta nós acompanharmos estesprogramas de televisão que apoiaminiciativas de jovens, para vermosque eles têm iniciativas da maiorcriatividade, mesmo ao nível de

começar startups, pequenasempresas, fazem-no com umaenorme qualidade.Apesar das suas limitações, a nossaformação universitária é muito boa,e portanto ao nível das tecnologias,das engenharias, etc, fazemtrabalhos muito interessantes. E ofacto de muitos estarem a tersucesso, não todos mas muitos,incentiva outros a fazerem a mesmacoisa.E a palavra ‘empreendedorismo’torna-se ato através destassituações que, a meu ver, sãograndes sinais de esperança nasociedade portuguesa. Comotambém muito simplesmente asolidariedade. O Banco do Tempo éum exemplo disso. AE – É como realçam no vossocomunicado, a coesão socialconstrói-se com a colaboração detodos os homens de boa vontade.TV – Homens, mulheres, idosos,jovens e até crianças podemaprender qual é a sua função nomundo, que não seja apenasbrincar, fazer os deveres. Existemoutros deveres de cidadania queuma criança, desde muitopequenina, pode aprender. E acoesão social faz-se através disso.

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Perspetiva católica do impostoOs impostos nopensamento social cristãoNo número 355 do Compêndio daDoutrina Social da Igreja encontra-se o texto que me servirá de guia nopróximo passo desta reflexão. Dizassim:A coleta fiscal e a despesa públicaassumem uma importânciaeconómica crucial para qualquercomunidade civil e política: oobjetivo para o qual deverão tenderé para umas finanças públicascapazes de se proporem comoinstrumento de desenvolvimento ede solidariedade. Umas finançaspúblicas equitativas, eficientes,eficazes produzem efeitos virtuososna economia, porque conseguemfavorecer o crescimento doemprego, apoiar as atividadesempresariais e as iniciativas semfins lucrativos, e contribuem paraaumentar a credibilidade do Estadoenquanto garante dos sistemas deprevidência e de proteção socialdestinados em particular a protegeros mais fracos. As finanças públicasorientam-se para o bem comumquando se atêm a alguns princípiosfundamentais: o pagamento dosimpostos [cf. Concílio Vaticano II,Const. past. Gaudium et spes,

30: AAS 58 (1966) 1049-1050] comoespecificação do dever desolidariedade; racionalidade eequidade na imposição dos tributos[cf. João XXIII, Carta encicl. Mater etmagistra: AAS 53 (1961) 433-434,438]; rigor e integridade naadministração e no destino dadoaos recursos públicos [cf. Pio XI,Carta encicl. Diviniredemptoris: AAS 29 (1937) 103-104]. Ao redistribuir as riquezas, asfinanças públicas devem seguir osprincípios da solidariedade, daigualdade, da valorização dostalentos, e prestar grande atençãoao amparo das famílias, destinandoa tal fim uma adequada quantidadede recursos [cf. PioXII, Radiomensagem emcomemoração do 50° aniversário da «Rerum novarum»: AAS 33 (1941)202; João Paulo II, Cartaencicl. Centesimus annus,49: AAS 83, 1991, 854-856; Id.,Exort. Apost. Familiaris consortio,45: AAS 74 (1982) 136-137].[1]

É aqui apontado como objetivo dacoleta fiscal a construção de umasfinanças públicas tendencialmentecapazes de serem instrumento «dedesenvolvimento e desolidariedade».O desenvolvimento e

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a solidariedade surgem, assim,como critério. É parao desenvolvimento e paraa solidariedade que os impostos seorientam, com a atenção necessáriaquer quanto à sua racionalidade e àsua equidade, quer quantoao rigor e à integridade da suaaplicação.O conceito subjacente a estasconsiderações é o do ‘bem comum’.Existem bens, realidadesobjetivamente importantes na vidasocial, que dizem respeito a todos.Pelo menos, assim se diz. E diz-se:é importante que todos procedamosde tal modo que a sociedade possair ao encontro das necessidades detodos

[2]: ao bem comum não se

pode sacrificar a vida de ninguém eninguém pode ser excluído dele. Noentanto, até com esta linguagem,

pode ter-se em mente, com certafacilidade, que o ‘bem comum’ é aprocura de um conjunto de bens, depossibilidades de vida, para osquais todos devem contribuir demodo que cada um possa tirarproveito para si próprio.Eventualmente da melhor maneirapossível. Se fosse assim, o ‘bemcomum’ tornava-se um instrumentopara um ‘bem privado’[3].Desta maneira se esvaziaria aindicação de sentido mais profundaque recebemos das tradições,primeiro na revelação escrita (Antigoe Novo Testamento), e depois natradição teológica da Igreja(Católica), em que a referênciacentral para a vida humana,segundo a intencionalidade doCriador, é que todos somoschamados a

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partilhar a vida. Chamados assim atornarmo-nos uma humanidadecapaz de partilhar a existência,capaz de partilhar o que énecessário para viver.Esta ideia de bem comum comofinalidade de comunhão, comocaminho pelo qual procurar osmeios, os instrumentos, aspossibilidades concretas que são defacto possíveis, é aquela que nospermite ter critérios para avaliar edecidir o que é humanamenteválido.Se o conceito de bem comum fosseentendido de modo instrumental(como meio) e não como telos (fim,finalidade), a vida social tornava-semarginal em relação à honestidade

da pessoa; seria como sepudéssemos viver a nossa vidaindependentemente de apartilharmos com os outros. E émesmo assim, no modotendencialmente individualista, queo conhecemos na sociedade que éa nossa: no modo de compreendera vida social e no modo decompreender a honestidadepessoal[4]. Viver é con-viver [5]Vivemos num mundo e é na relaçãocom o mundo em que vivemos quenos compreendemos a nós próprios.Não criámos, nós, o mundo. Masnão vivemos no mundo recebendodele

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(do exterior) significados e valores.Estamos em condições dereconhecer dados que,progressivamente, podemosorganizar de acordo com um sentidoque não depende deles, um sentidoque vamos compreendendo a partirda nossa experiência. Referimo-nosaos dados a partir de nós.Referimo-los à nossa vida. É assimque vamos fazendo com que omundo se torne humano.A vida do ser humano não se viveunicamente na sua relação com ascoisas. Quando a relação não é dealguém-com-uma-coisa mas dealguém-com-outro-alguém, umarelação pessoa-a-pessoa, essarelação assume as característicasespecíficas do encontro. ‘O outro’não se apresenta como um objetoqualquer pertencente ao meumundo. Com a sua interioridade,com o seu modo de viver livre eresponsável, ‘o outro’ nega toda apretensão de domínio que eu possaquerer vir a ter sobre ele, nega queeu possa integrá-lo no meuhorizonte de compreensão, deavaliação e de decisão. O quesucede, no meupessoal encontro com o outro, éque ele não se apresenta comorealidade a ser interpretada pormim; o seu existir diante de mimpertence ao seu ser interpretante.A vida pessoal é qualificada pelarelação em que a pessoa não diz

só uma palavra de sentido,mas recebe também uma respostade sentido. Viver no mundo sabendo-sechamado a responder.Na relação interpessoal, a existênciado outro permite-me dizer a vida eouvir outros dizerem a vida. Arelação torna possível umaexperiência verificada, confirmada,consciente e, por isso, livre. Onosso horizonte de compreensão ede avaliação, no decidir e noprojetar, é qualificado, no sentidopropriamente humano, pela relaçãocom o outro/pessoa, com apossibilidade de entender e deconstruir a vida pela colaboração noviver dos outros. Se o mundo setorna um mundo humano é porque arelação com qualquer realidade(coisa) se torna mediação darelação entre pessoas.O meu decidir (escolha de relação)é sempre uma afirmação de sentidoque eu atribuo ao outro que estádiante de mim; é sempre umaresposta à sua presença. Umaresposta a ele, presente. Qualquerque seja a decisão de relação queeu tome, ela é a resposta queinterpreta, da minha parte, o seuestar diante de mim. Poderei atédecidir “não ter nenhuma relaçãocom ele”: seria uma relação deexclusão, negando (pelo que de mimdepende) o seu valor

[6].

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Os discípulos de Jesus vãoconhecendo os seus gestos, aspalavras que os clarificam einterpretam, as suas atitudes, assuas opções, os seus critérios.Conhecemos «o que o move, o queo convence, o que motiva os modosdo seu comportamento, aquilo quepode indicar a finalidade das suasopções e a intencionalidade querege o seu viver. O crente colheesta intencionalidade e podeconfrontar-se com ela verificando asmotivações do seu viver e do seuagir»

[7].

De facto, ao tornarem-se discípulosdo Senhor, os cristãos não hão-decopiar exteriormente ocomportamento de Jesus para orepetirem de forma estereotipada.As palavras de Jesus não têmaplicação direta na vida dos seusdiscípulos do início deste século XXI;não por estarem desatualizadas:esta experiência tiveram-na osdiscípulos logo no século I (cf., porexemplo, o encontro de Pedro eCornélio em Actos 10). Na adesão àpessoa de Jesus e ao seu projeto éque os discípulos, de ontem e dehoje, através da necessáriainterpretação dos comportamentose das palavras de Jesus,reconhecendo a suaintencionalidade, vão percebendoquais os comportamentosdesejáveis e possíveis enquantodiscípulos, quais

os valores preferidos e preferíveiscom que eles, hoje, podem vivercom Jesus a mesma relacionalidadeque os seus irmãos de ontemviveram

[8].

Conversão moral e conversão de féencontram-se intimamente ligadas eambas são entendidas, não comoum único momento em que tudomuda definitivamente, mas comoum caminho não linear de avanços ede recuos, de fidelidade e defragilidade, de limite e de sonho, doqual faz parte a dúvida, o medo e oconflito, mas também a confiança eo ânimo. Neste contexto poderemosdizer que uma correta vida de féimplica, não só como consequência,mas também como condição, umaautenticidade de consciência. E, noentanto, é exatamente oacontecimento do encontro com oSenhor que revela, no seu seio, eliberta, no sentido da conversão, acondição originária do ser humano.Reconhecemos assim umareciprocidade entre a nossaexperiência moral e a nossaexperiência de fé

[9].

A experiência moral, que nasce darelação interpessoal, é experiênciade responsabilidade. É experiênciade que a minha liberdade, comoexercício consciente de escolhaentre as

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diversas relações possíveis, échamada a tornar-se, pela presençado ‘outro’, responsabilidade; naminha liberdade devo responder ao‘outro’ presente. É experiênciainterior de bondade ou de maldadeno dizer-me diante do outro. Nessarelação, ou me torno responsávelda vida do outro e da sua liberdade,ou prefiro viver arbitrariamenteignorando-o, sem lhe responder.Neste sentido, a experiênciado encontro com um ‘tu’ põe oproblema da liberdade enquantochamada a tornar-seresponsabilidade. O acontecimentodo encontro com o outro qualifica aminha liberdade no sentido daresponsabilidade, a partir da minha

entrega ao ‘outro’ (o termo entregacom sentido preciso para oscristãos, já que evoca a figura deJesus), porque entregar-me numacolhimento tendencialmentegratuito, ou não o fazer, constitui aalternativa radical.Espera-se que o nosso itineráriopessoal possa permitir ocrescimento da livreresponsabilidade pessoal no cuidardo ‘outro’ no mundo em quevivemos, sobretudo se esse ‘outro’ éfraco, se é necessitado, se precisa;tornamo-nos, assim, pessoaseticamente maduras. Espera-se queo nosso itinerário pessoal possapermitir a aprendizagem de gestosde verdadeira liberdade,não condicionados pela avaliação

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prévia em termos de utilidadeprópria. Gestos de verdadeiraliberdade determinados unicamentepela livre e objectiva avaliação dobem concretamente possível.Com a expressão ‘pessoaeticamente madura’ não nosreferimos a uma condiçãoencontrada. Falamos sim, aoreconhecer uma tendencialplenitude do humano, de uma metaa atingir. É essa convicção quepermite

interpretar criticamente o presente eorientar, a partir das condiçõesreais, as possibilidades concretaspara uma realização maior emtermos de humanidade.Isto coloca em primeiro plano umtrabalho de formação que dizrespeito a todos e que tem, paracada um, a duração da própriavida, como para a humanidadeparece ter a duração da história.

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Em termos de responsabilidadeética, convém notar que a atuaçãolimitada (o bem concretamentepossível) não é só limite e distância.No hoje, é aplenitude, o bem, ocumprimento da existência pessoal,o que é pedido e confiado à livreresponsabilidade. E, ao mesmotempo, é também o caminho queabre ulteriores possibilidades.O trabalho de formação é, antes demais, um trabalho de autoformação.Exatamente porque se trata deassumir a responsabilidade noexercício da própria conscienteliberdade, a moralidade não permitedelegação, não pode ser exercidapor outrem.O âmbito da relacionalidadeconcreta constitui possibilidade elimite ao amadurecimento pessoal.Possibilidade, já que é o lugaroriginário do fenómeno ético. Limite,porque a liberdade, o conhecimentoreal e a capacidade deresponsabilidade, no seu maturarinterior e no seu exprimir-se emcomportamentos, estãonecessariamente condicionados.É através das relações em que nosencontramos e através da nossacolaboração nas estruturas(relações estruturadas) que, de umamaneira ou de outra, todosconcorremos para

a formação ética dos outros esomos, por isso, corresponsáveisdessa formação.As antíteses do Sermão daMontanha (Mt 5-7; Lc 6) sãoexemplos que recordam o amorfraterno e o amor pelos inimigos, operdão e a misericórdia, o não julgare o não resistir a quem nos faz mal.São afirmações a ilustrar com omodelo presente – que é a própriapessoa de Jesus – uma fraternidadesincera e transparente, nãofuncional ou instrumental: é-mecaro, está-me no coração o bem dooutro. Tanto quanto posso procuro oseu bem, sem lhe pôr condições.

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Três aspetos a considerarDito isto, aponto unicamente trêsaspetos concretos que julgo seremos mais relevantes, deste ponto devista[10]. 1. O peso crescente dos impostosindiretos provoca um recuo nosefeitos redistributivos e solidários dosistema fiscal, pois a tributaçãoindireta é tendencialmente cega àsnecessidades e rendimentos reaisdas famílias. 2. O surgimento de umaparafiscalidade cada vez maispesada (taxas municipais, taxas dasentidades

reguladoras de energiaelétrica, água, saneamento,contribuições extraordinárias,segurança social) parece nãoconhecer limites; tanto mais queapenas a criação de impostos éreservada ao Parlamento, de modoque este tipo de encargos surgecomo fruto da autonomia de umcrescente conjunto de centros dedecisão. 3. A volatilidade dos capitais e acompetitividade dos mercadosfiscais distorcem os mecanismos detributação a uma escala puramentenacional. O constante receio dafuga de capitais para ‘paraísosfiscais’ ou para territórios com níveisde

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tributação mais reduzidos contribuipara que a tributação do capital nãoseja verdadeiramente justa porcomparação com os impostos sobreos rendimentos do trabalho.

José Manuel Pereira de AlmeidaDiretor do Secretariado Nacional

da Pastoral Social

[1] CONSELHO PONTIFÍCIO JUSTIÇA E PAZ, Compêndio da Doutrina Social daIgreja, Principia, S. João do Estoril 2005, n.355.[2] Em campo eclesiástico e sobretudo para evitar equívocos, fosse de tiposocialista-marxista, fosse de tipo liberal-capitalista, foi-se precisando dizendo queo bem comum é «o bem de todos e de cada um» (João Paulo II, Sollicitudo reisocialis, n.38) explicando de imediato: «porque todos somos verdadeiramenteresponsáveis por todos». Nesse tempo, não era habitual fazer-se citações deautores laicos em documentos pontifícios… Mas pode dizer-se que, neste ponto,João Paulo II se referia sem dúvida a Dostoevskij – existem dois passos de Osirmãos Karamazov (o diálogo entre Markél e a sua mãe e num dos sermões deZosima) – onde, sobre a culpa, este discurso é apresentado; ou na releiturafilosófica de Lévinas, na Ética e infinito: «Nós somos responsáveis por tudo e portodos, diante de todos e eu mais que todos os outros».[3] Cf. J.M. Pereira de Almeida, “Moralità e socialità” in D. Abignente, G. Parnofiello(ed.), La cura dell’altro. Studi in onore di Sergio Bastianel sj , Il pozzo di Giacobbe,Trapani 2014, 228-229.[4] Cf. Ibidem, 229-230.[5] Cf. J.M. Pereira de Almeida, “Catequese e formação da consciência moral” in J.Cardoso de Almeida, M. H. Calado Pereira, C. Sá Carvalho, (ed.), Forum deCatequese, SNEC, Lisboa 2003, 81-86.[6] Sergio Bastianel, “Relazione ed eticità” in Quaderni di Counseling 1 (2003) 30.[7] Id., “Referência a Jesus Cristo na decisão moral”, in Aa. Vv., Ética: consciênciae verdade, UCP, Lisboa 2001, 185.[8] Cf. Ibidem.[9] Donatella Abignente, Conversione morale nella fede. Una riflessione etico-teologica a partir da figure di conversione del vangelo di Luca, Queriniana, Roma,Brescia 2000, 343[10] Em diálogo com André Folque, a quem muito agradeço.

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Justiça Social e Solidariedade

«Tanto para os povos como para aspessoas possuir mais não é o fimúltimo. Qualquer crescimento éambivalente. Embora necessáriopara permitir ao homem ser maishomem, torna-o contudo prisioneirono momento em que se transformano bem supremo que impedir de vermais além. Então os coraçõesendurecem e os espíritos fecham-se, os homens já não se reúnempela amizade mas pelo interesse,

que bem depressa os opõe e osdesune. A busca exclusiva do terforma então um obstáculo aocrescimento do ser e opõe-se à suaverdadeira grandeza: tanto para asnações como para as pessoas, aavareza é a forma mais evidente desubdesenvolvimento moral» - foiPaulo VI quem o disse, na encíclica«Populorum Progressio (nº 19).A leitura desta citação permite-nosenquadrar o tema fundamental da

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sustentabilidade económica efinanceira e da justiça social. E hácinco pontos que não poderemosdeixar de reter. Em primeiro lugar, ocrescimento económico não é umfim, é um meio – não basta produzirmais, uma vez que são as pessoase a sua dignidade que importasalvaguardar e preservar. Emsegundo lugar, não é a busca do teraquilo que mais importa, mas sim adefesa de uma relação entre aspessoas que permita, em cadamomento, colocarmo-nos no lugardos outros. Em terceiro lugar, essaconsciência da importância do outroconduz-nos à necessidade deencarar a justiça social não comoum subsídio, como uma esmola oucomo qualquer forma deassistencialismo, mas como umaautêntica partilha justa de recursose responsabilidades. Em quartolugar, as políticas públicasorientadas para o desenvolvimentohumano têm de preservar aigualdade de oportunidades, mastambém a diferenciação positiva e apermanente correção dasdesigualdades. O dinheiro públicodeve ser, por isso, distribuído eutilizado com a maior das cautelas.Em quinto lugar, como estásubjacente ao texto citado, asustentabilidade e o rigoreconómico e financeiro têm de sebasear na sobriedade e no cuidadorelativamente aos recursos que sãopostos ao dispor de todos –

combatendo-se o desperdício,prevenindo a situação dos maispobres e das gerações futuras enão caindo a tentação de seguiruma falsa austeridade que nãogaranta a justiça social. Sópreservaremos o ser se olharmospermanentemente para os doispratos da balança – onde estão osbens disponíveis e as açõesnecessárias e urgentes paracombater a injustiça. Eis como rigore equidade têm de estar semprepresentes! Guilherme d’Oliveira MartinsCentro Nacional de Cultura

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A Doutrina Social da Igreja ePortugal, Estado e sociedadeO professor universitário padreJorge Teixeira da Cunha,especialista em Teologia Moral,considera a solidariedade algo deimediato, “de proximidade”,enquanto a justiça “toca a todos”independentemente da “posiçãosocial” e adianta três situações“importantíssimas” para Portugalaos olhos da Doutrina social daIgreja.À Agência ECCLESIA, o docente daFaculdade de Teologia começa porenumerar que é preciso fazer areforma do Estado, sendonecessário “tirar competências”para que ele “possa ser justo”.“Temos de tirar ao Estado aomnipotência, a omnisciência quetem tido até agora para que possacumprir a sua missão”, observou oantigo diretor-adjunto do núcleoregional do Porto da Faculdade deTeologia, da Universidade CatólicaPortuguesa (UCP).Depois, está a questão do trabalhoe do emprego, que “é a maisimportante” a resolver no futuro,porque como sociedade o acessoaos bens que cada um precisa paraa sua vida faz-se através do“contributo

no campo laboral e no banco dotrabalho” como refere a DoutrinaSocial da Igreja.“Uma vez que hoje não há postos detrabalho para todos temos depensar o futuro de uma maneiracompletamente nova e deinventarmos o futuro nessecapítulo”, acrescenta o sacerdote daDiocese do Porto.Para o especialista em TeologiaMoral a terceira questão“importantíssima” para Portugal é a“convivência plural, a convivênciacívica” de respeito pelas liberdadese pela liberdade religiosa.“Se enquanto Igreja conseguirmoscapacitar as pessoas para puderemter força de viver, para puderemdesenrascar a sua vida poderemoster os elementos e fundamentospara escapar à pobreza”, assinala,comentando que não se escapa àpobreza pela dádiva de dinheiro.“Temos é de pôr as pessoas asaberem qual é o seu lugar, a teremautonomia, cidadania, força de viver,força de promover ações eatividades que possam livrá-los dapobreza”, acrescentou.Neste contexto, o padre Jorge

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Teixeira da Cunha referiu que oEstado baseia-se “na justiça”enquanto a solidariedade éconstruída pelas pessoas enquanto“famílias, associações locais, peloassociativismo que está para lá dapolítica e do Estado”.A solidariedade é algo de imediato,“de proximidade”, e a justiça “toca atodos” independentemente da“posição social”.O Estado não se ocupa do bem-comum porque essa função “é dosmoralistas”, dos homens de Igreja,

das “pessoas associadasou privadamente” sublinha que oEstado “ocupa-se da justiça” que éo “limite abaixo do qual ninguémdeve e pode ser tratado numasociedade”.“Hoje, creio que há uma grandeconfusão entre a norma do bem-comum e a norma da nossaconvivência cívica. Ao Estadocompete ordenar a vida de maneiraa que todos possam ser respeitadosnaquilo que são as exigênciasbásicas”, reforçou o padre JorgeTeixeira da Cunha.

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«Como produzir e criar mais riquezae não como redistribuir», o essencialna sociedade

O docente universitário JoaquimCadete, mestre em EconomiaMonetária e Financeira, consideraque a, ultimamente, a discussãocentra-se na redistribuição dariqueza o que “evidencia anecessidade de mudar o tópico”para “como produzir e criar maisriqueza”.

entre o que é a posição de sacrifíciode alguém e o que é a redistribuiçãopara alguém. Esse é o debate eprecisamos fazer conversa calmacom todos os principaisintervenientes no processo dedecisão e infelizmente essa calmanão tem reinado”, disse o professorà Agência ECCLESIA.

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Joaquim Cadete explicou que o seureceio é que se esteja a “focarapenas na redistribuição” semperceber que a prazo nessatrajetória “o bolo vai ser menor e ajustificação é óbvia”.O mestre em Economia Monetária eFinanceira observa que se asfamílias vivem com dificuldades paracontinuarem a garantir condições deensino, de saúde, “vão ter decontratar créditos”, bem como asempresas que também têmdificuldades, “inevitavelmente, nofinal do ano, vão ter de contratarcréditos”.“O problema da dívida que o paísdefronta é a decorrência de anossistemáticos em que quer famílias,quer empresas viveram comdificuldades. Adicionalmente oEstado para tentar socorrer foi-seprogressivamente endividando”,desenvolveu.Para Joaquim Cadete se não existiruma mudança no debate de“redistribuir para tentar produzir”,inevitavelmente, a prazo não vaihaver um “grande bolo de produçãoe quanto menor for mais difícil setorna”.Segundo o também mestre emCiência Política e RelaçõesInternacionais nos últimos 10 anos emeio “muitas empresas foramincapazes de se adaptar ao mundoglobal” e foram

“contratando, progressivamente,dívida” para manter a sua atuaçãoque “já não era válida” e “foram-se endividando e muitascolapsaram” nos primeiros anos daassistência.Neste contexto, o professoruniversitário sublinha a importânciade chegar a um acordo no que é alinha da Doutrina Social da Igreja“envolvendo todos em partilha deganhos mais do que tentar imputarganhos a uns e afetação de custosa outros”.A proposta de Orçamento doEstado para 2017 vai serapresentada pelo Governo no dia15 de outubro e se fosse chamado aparticipar, com a Doutrina Social daIgreja, considera que o ponto “acimade tudo, é perceber” que a “dita”classe média começa a estar,“claramente, sobrecarregada deimpostos”.Outro ponto central é a evidência sea tributação não começa “a afastarpotenciais investidores” e,adicionalmente, uma “mudançacultural nas próprias elitesportuguesas”.Alertando também o populismopolítico que considera estar acrescer na Europa, Joaquim Cadeterefere que está a ganhar o “valorsimbólico do lado político” mas o“valor efetivo do lado económico oufinanceiro é praticamente nulo” e otempo está a passar.

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Sistema Fiscal e Justiça Social A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) promove a sua conferência anualsobre o tema: «Sistema Fiscal e Justiça Social». Data e local 22 de outubro, das 09h30 às 17h30Fundação Calouste Gulbenkian, auditório 3 Painéis e convidados «O sistema fiscal na Doutrina Social da Igreja»: Pe. Ildefonso Camacho S.J. «Sistema fiscal e justiça social»: Guilherme d´Oliveira Martins. «A ética e os impostos»: João Amaral Tomaz. «O que é uma tributação justa?»: António Bagão Félix e Manuela Silva. Já está disponível o programa da conferência: PROGRAMA (pdf)

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Sunset de apresentação do DOCAT,com Mariana AlvimA edição portuguesa do DOCAT éapresentada por Mariana Alvim numSunset animado pela música do DJAntónio Mendes, da RFM. O eventoacontece no dia 13 de outubro,pelas 19h00 e terá a presença deD. Manuel Linda, bispo das ForçasArmadas e Segurança. O Sunsetdecorrerá nas instalações daMarinha Portuguesa, na AvenidaRibeira das Naus, em Lisboa (emfrente ao Cais das Colunas, noTerreiro do Paço).DOCAT é um livro que aborda a

Doutrina Social da Igreja numalinguagem jovem, acessívele dinâmica. Foi apresentado peloPapa Francisco na Polónia, duranteas Jornadas Mundiais da Juventude,no final de julho. O “sonho” doSanto Padre é ter um milhão dejovens a aplicar a Doutrina Social daIgreja em todo o mundo. «Eu esperoque um milhão de jovens, maisainda, que uma geração inteira seja,para os seus contemporâneos, umadoutrina social em movimento»,refere o Papa

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Francisco no prefácio da obra.Para o Santo Padre, «o mundo sómudará quando homens com Jesusse entregarem por ele, com Eleforem para as periferias e para omeio da miséria». O Papa Franciscodesafia todos os jovens a irem paraa política e a lutarem pela justiça epela dignidade humana, sobretudodos mais pobres. «Um cristão quenão seja revolucionário nestetempo, não é cristão», diz o SantoPadre.A PAULUS Editora quer marcar oarranque do ano escolar e pastoralcom este Sunset de apresentaçãodo DOCAT e ajudar a concretizar o“sonho” do Papa. Dar a conhecer

a Doutrina Social da Igreja e ajudara agir de acordo com ela no dia adia é o objetivo do DOCAT, agoradisponível em todas as livrarias eem www.paulus.pt.

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II Concílio do Vaticano: A «ideiamaluca» do padre António Serrãopara Lisboa

Logo após o encerramento do II Concílio do Vaticano(1962-1965), o anseio, sobretudo dos padres maisnovos do Patriarcado de Lisboa, por um início rápidoda renovação pastoral da Diocese de Lisboa esbarrounum completo silêncio do cardeal Manuel GonçalvesCerejeira.Numas jornadas de atualização teológico-pastoral doclero, realizadas no Seminário dos Olivais, em janeirode 1991, o padre Luis Azevedo Mafra falou sobre os«Aspetos da aplicação do concílio no Patriarcado» esublinhou: “Ao cair do pano sobre o palco de SãoPedro sucedeu completo silêncio do nosso patriarcadurante os primeiros meses. Como se o que sepassara não merecesse uma palavra! Chocou-nos ecausou-nos mal-estar” (Conferência do padre LuisAzevedo Mafra).Foi nessa circunstância que um dia, na residência daBela Vista (Lisboa), o padre Luís Mafra e o padreAntónio Serrão conversaram sobre o assunto.“Entendíamos que era preciso pegar quanto antesnas perspetivas do concílio e começar a aplicá-las. Adiocese estava demasiado e urgentementenecessitada de remodelação pastoral paracontinuarmos à espera”. Perante a pergunta: Comofazer? O padre António Serrão lançou este repto que“ele próprio chamou de «ideia maluca»: Porque nãotentar provocar qualquer coisa um pouco à maneirade um sínodo”. O padre Mafra ficou a pensar noassunto e escreveu: “mais maluca ou menos maluca,senti que não era de perder”.Aos presentes, o referido sacerdote da diocese deLisboa frisou que admitia “perfeitamente que suaeminência

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tivesse intenção de agir, masfechou-se demasiado em si próprio,talvez, quem sabe, pela suaconhecida maneira de ser e deatuar, e é possível que tambémpelos seus muitos afazeres”. O IIConcílio do Vaticano (1962-65) nãoteve o impacto que muitoselementos do clero de Lisboaansiavam. “Pareceu-nos, noentanto, que depois deacontecimento de tal monta, comtantas e tão grandes consequênciaspara toda a Igreja e, portanto,também para o Patriarcado, deveriadizer algo, ao menos aos seuspadres: sua impressão do concílio,intenções, uma certa partilha do seuespírito e preocupações de pastor.Não o terá percebido, porém, e

nada nos comunicou”. (Palavras dopadre Luis Azevedo Mafra).A convivência com outros colegas, apartir de 1963, na residência deassistentes diocesanos da AçãoCatólica (AC), na rua da Bela Vista àLapa (Lisboa) e o desenrolar doconcílio é que o foram “aproximandomais da realidade e situaçãopastoral do Patriarcado”. Além dasdeficiências existentes ao nívelpastoral, o padre Luis Mafra revelouque “um elevado número de padres”estava “insatisfeito e descontente”com a pastoral diocesana. O espíritorenovador do concílio “nelesproduzia uma animação edespertava uma esperança notáveis”

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outubro 201608 de outubro. Estoril - As Edições Salesianas e aFundação Salesianos promovem a8.ª edição do E-vangelizar, “ummega evento de formação pastoral”que tem como pano de fundo ocentenário das aparições de Fátima,marcado para 2017. Dia 8 deoutubro na escola salesiana doEstoril. . Porto - Casa de Vilar - Conselhodiocesano da Pastoral Familiar. Lisboa - Lumiar (MonjasDominicanas) - Conferência «Rezaré abraçar a vida como ela é» pelopadre Tolentino Mendonçaintegrada no ciclo «Viver umamística de olhos abertos» . Fátima, 09h30 - Milhares deescuteiros de todo opaís peregrinam até ao Santuáriode Fátima numa iniciativa este anoinserida na comemoração doCentenário das Aparições de NossaSenhora, em maio de 2017- terminaa 09 de outubro . Aveiro - Seminário de Aveiro,09h30 - A Diocese de Aveiroapresenta o programa pastoral parao próximo ano que tem como lema«Somos Igreja,

somos família, testemunhamos aesperança». . Fátima, 29 set 2016 (Ecclesia),10h00 – O Apostolado Mundial deFátima vai promover um momentode Adoração Eucarística comcrianças e jovens, no contexto docentenário das aparições do Anjo,na Paróquia de Fátima. . Coimbra - Seminário Maior, 14h00- Abertura solene da Escola deTeologia e Ministérios da Diocese deCoimbra 09 de outubro. Aveiro - Santa Comba Dão - Apresentação do livro «Fernão deOliveira - Humanista notável» daautoria de monsenhor João Gasparcom a presença de D. AntónioMoiteiro, bispo de Aveiro 10 de outubro. Porto - Centro Hospitalar CondeFerreira - Exposição sobre«Herculano Sá Figueiredo - Umescultor entre dois mundos»promovida pela Santa Casa daMisericórdia do Porto. (até 06 dejaneiro de 2017)

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11 de outubro. Fátima - Casa de Nossa Senhoradas Dores, 10h30 - Conselhopermanente da CEP (ConferênciaEpiscopal Portuguesa) 12 de outubro. Fátima - Peregrinação aniversáriapresidida pelo cardeal Pietro Parolin(termina a 13 de outubro) . Lisboa - Teatro Camões - Ensaiogeral solidário do bailado «QuinzeBailarinos e Hora Incerta» para oMovimento Defesa da Vida . Lisboa – UCP – 10h00 – Osecretário de Estado da Santa Sé,cardeal Pietro Parolin, faz umaconferência sobre «A Diplomacia daSanta Sé nos últimos pontificados»,na Universidade CatólicaPortuguesa, em Lisboa. . Itália – Roma, 21h15 - Jogo defutebol «Unidos pela Paz» promovido pelo Papa Francisco e asua rede de escolas solidárias.

13 de outubro. Fátima - Encerramento (início a 08de dezembro de 2015) do concursode fotografia sobre a Cova da Iria . Fátima - Centro Pastoral de PauloVI,1530’ - Estreia do musical sobreFátima «Entre o Céu e a Terra

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8 outubro, 21h00 - Mosteiro da BatalhaCiclo ‘E o espírito voltará a Deus’, dedicado aencenações de textos bíblicos selecionados apresentao ‘Apocalipse’, o último livro da Bíblia. Tendo sido otexto escolhido pelo diretor da entidade organizadora,Joaquim Ruivo. 12 outubro, 10h00 - Auditório Cardeal Medeiros, UCP,LisboaSecretário de Estado da Santa Sé faz uma conferênciasobre ‘A Diplomacia da Santa Sé nos últimospontificados’, na Universidade Católica Portuguesa,em Lisboa.O cardeal Pietro Parolin nos dias 12 e 13 de outubropreside também à Peregrinação InternacionalAniversária, em Fátima. 13 outubro, 15h30 - Anfiteatro do Centro Pastoral dePaulo VI, Santuário da Cova da IriaEstreia o musical ‘Entre o Céu e a Terra – O Musicalsobre Fátima’ que entre os 19 atores, cantores ebailarinos conta com nomes com Sofia Escobar, Sofiade Portugal e Joel Branco. A obra recorda a últimamanifestação de Nossa Senhora aos três pastorinhosna Cova da Iria, a 13 de outubro de 1917. 14 e 15 de outubro - GuardaA Casa de Saúde Bento Menni, das IrmãsHospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus naDiocese da Guarda, promove jornadas dedicadas aotema ‘saber envelhecer’, no auditório da instituição.

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 13h30Domingo, 09 outubro -11h45 - Fátima, 100 anosdepois Segunda-feira, dia 10, 15h00 - Entrevista: Escutismo, umambiente pedagógico. Terça-feira, dia 11, 15h00 - Informação e entrevista aopadre Eduardo Novo sobre asJornadas de Pastoral Juvenil Quarta-feira, dia 12, 15h00 - Informação e entrevistaao padre João Chaves sobre o trabalho da Secretariade Estado da Santa Sé. Quinta-feira, dia 13, 15h00 -Informação e entrevistaao Octávio Carmo, chefe de redação da AgênciaEcclesia, sobre a revista especial da AgênciaECCLESIA que mostra a visita da Imagem Peregrinade Nossa Senhora de Fátima a Portugal. Sexta-feira, dia 14, 15h00 - Análise à liturgia dedomingo por frei José Nunes e padre Armindo Vaz. Antena 1Domingo, dia 09 de outubro - 06h00 - MusicalCalcutá: história de vida e testemunho de SantaTeresa de Calcutá Segunda a sexta-feira, dias 10 a 14 de outubro - 22h45 - Congresso de Mariologia: olhar Fátima à luzda atualidade

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Ano C – 28.º Domingo do TempoComum Agradecer afé que nossalva emCristo

Neste vigésimo oitavo domingo do tempo comum, oevangelista Lucas tem como objetivo fundamentalapresentar Jesus como o Deus que Se torna pessoapara trazer, com gestos concretos, uma proposta devida nova e de libertação para todos, particularmenteos oprimidos e marginalizados. O episódio dos dezleprosos, exclusivo de Lucas, insere-se nestaperspetiva.O número dez tem o significado simbólico datotalidade. O judaísmo considerava necessário quepelo menos dez homens estivessem presentes, a fimde que a oração comunitária pudesse ter lugar,porque o dez representava a totalidade dacomunidade.A presença de um samaritano no grupo indica queessa salvação oferecida por Deus em Jesus não sedestina apenas à comunidade do povo eleito, mas atodas as pessoas sem exceção, mesmo àquelas que ojudaísmo oficial considerava definitivamente afastadasda salvação.Mas o realce do episódio de hoje está no facto de, dosdez leprosos curados, só um ter voltado atrás paraagradecer a Jesus e no facto de este ser umsamaritano. Lucas está interessado em mostrar quequem recebe a salvação deve reconhecer o dom deDeus e estar agradecido. E avisa que, com frequência,os que estão mais atentos aos dons de Deus são oshereges, os marginais, os desprezados, aqueles que ateologia oficial considera à margem da salvação.Há aqui, certamente, uma alusão à autossuficiênciados judeus que, por se sentirem povo eleito, achavamnatural que Deus os cumulasse dos seus dons; noentanto, não reconheceram a proposta de salvaçãoque, através de Jesus, Deus lhes ofereceu. Hátambém um apelo aos discípulos de Jesus, a todosnós, para que não ignoremos o dom de Deus esaibamos responder-Lhe com

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a gratidão e a fé, entendida comoadesão a Jesus e à sua proposta desalvação.Curiosamente, os dez leprosos nãosão curados imediatamente porJesus, mas a lepra desaparece nocaminho, quando iam mostrar-seaos sacerdotes. «Levanta-te esegue o teu caminho; a tua fé tesalvou», são as palavras finais doEvangelho. Isto sugere que a açãolibertadora de Jesus não é umaação mágica, caída repentinamentedo céu, mas um processoprogressivo de caminhada cristã, noqual o crente vai descobrindo einteriorizando os valores de Jesus,até chegar à adesão

plena às suas propostas e àefetiva transformação do coração. Anossa cura não é um momentomágico que acontece quando somosbatizados, ou fazemos a primeiracomunhão ou nos crismamos; mas éuma caminhada progressiva,durante a qual descobrimos Cristo enascemos para a vida nova.Acolhamos no coração este apeloessencial da Palavra de Deus a nosdizer que a fé que nos salva deveser agradecida e praticada noscaminhos de encontro de Cristo nasnossas vidas.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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Jubileu com música

O bispo de Viana do Castelopresidiu este domingo ao Jubileudos Grupos Corais e referiu perantemais de 600 pessoas que o cantolitúrgico “é sempre uma expressãode fé”. Num comunicado enviado àAgência ECCLESIA, o SecretariadoDiocesano de Comunicação Socialde Viana

do Castelo informa que D. AnacletoOliveira começou por agradecer aosgrupos corais o “serviço maravilhosoque prestam à diocese”.Na Eucaristia dominical na Sé deViana de Castelo, numa iniciativa doSecretariado Diocesano de Liturgia,o prelado explicou que cantar bem“é

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saber orientar-se por aquilo que éespecífico de um coro litúrgico, e,acima de tudo, fazer do canto umaexpressão de fé”. Nestecontexto, destacou que numa visitapastoral viu um dos coros que maiso marcou foi um coro feminino quetinha a particularidade de cantar nocentro da igreja: “O coro faz,efetivamente, parte da assembleia,não se limitando a cantar para aassembleia”.Assinalando que “é fundamentalque os membros dos grupos coraisrezem”, D. Anacleto Oliveirasublinhou que cantar é sempre umato de fé que tem origem em Deusuma vez que é

resposta à ação de Deus.No final da homilia, o bispo de Vianado Castelo pediu aos elementosdos grupos corais quedesempenhem a sua ação numaatitude de gratuidade porque nesteespírito “podem afirmar que sãoinúteis servos, não porque nãosejam úteis, mas porque sabem quesó o são com a graça de Deus, poissem Ele nada se consegue”.O Jubileu dos Grupos Coraiscomeçou no Seminário Diocesano,com uma reflexão do padre JorgeBarbosa; ao início da tarde,diferentes coros ofereceramconcertos em igrejas da cidade.

O Santuário de Fátima vai participar no encerramento do Jubileu Marianoque se realiza este fim de semana, no Vaticano, entre os dias 7 e 9 deoutubro.O reitor do Santuário mariano da Cova da Iria lidera uma comitiva que sefará acompanhar de uma imagem da Virgem Peregrina que percorreueste ano algumas dioceses italianas. Paralelamente será apresentadoum vídeo institucional do Santuário de Fátima na Praça de São Pedro.O Jubileu Mariano foi convocado pelo Papa que o encerra presidindo auma série de celebrações previstas para estes três dias. A MissaDominical vai ser celebrada na Praça de São Pedro, a partir das 10h30(09h30 em Lisboa).

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(CAIXA)O Santuário de Fátima vai participar no encerramento do Jubileu Mariano que se realizaeste fim de semana, no Vaticano, entre os dias 7 e 9 de outubro.O reitor do Santuário mariano da Cova da Iria lidera uma comitiva que se faráacompanhar de uma imagem da Virgem Peregrina que percorreu este ano algumasdioceses italianas. Paralelamente será apresentado um vídeo institucional do Santuáriode Fátima na Praça de São Pedro.O Jubileu Mariano foi convocado pelo Papa que o encerra presidindo a uma série decelebrações previstas para estes três dias. A Missa Dominical vai ser celebrada naPraça de São Pedro, a partir das 10h30 (09h30 em Lisboa).

A história de uma mulher cristã escravizada pelo BokoHaram

As lágrimas de RebeccaHá datas que nos perseguemcomo se quisessem magoar-nos.Mesmo quando Rebecca queresquecer os tempos deescravidão vividos na floresta,na Nigéria, basta-lhe olhar para oseu filho, o pequeno Ibrahim,nascido em cativeiro, para logoregressar a esses dias, a essaslongas semanas de terror, medoe violência. Rebecca, uma cristã nigeriana, foicapturada pelos islamitas do BokoHaram em 21 de Agosto de 2014.Homens armados irromperam aosgritos pela aldeia. Procuravam oshomens. Andavam atrás deles comocães famintos. Bitrus, o marido deRebecca, ficou em pânico. Naconfusão daqueles instantes,apenas guarda os gritos da mulhera implorar-lhe que fugisse. Que nãose inquietasse pois ela e os doisfilhos, Zacarias e Jonatán, de 3 e 1ano de idade, ficariam a salvo.Bitrus fugiu. Ainda hoje não sabecomo nenhuma bala o atingiu.Alguns dias depois, já a salvo,começou a procurar pela mulher epelos filhos. Ninguém sabia deles.Frustrados por não terem capturadoBitrus, os terroristas viraram-se paraa sua mulher, Rebecca, eobrigaram-na a

acompanhá-los. Foram quilómetrose quilómetros pela selva. Foram diase dias sem comer, sempreassustada com o que lhe iriaacontecer. Um dia, venderam-na aum homem, Baga Guduma. Passoua ser a sua escrava. Todas asnoites, Rebecca procuravaesconder-se nas sombras, fugindo.Um dia, agarraram em Jonatán, oseu filho mais novo, e mataram-no,atirando-o para o lago. Era o castigopor não querer entregar-se ao seudono. A resistência de Rebecca,porém, durou pouco. Venderam-naa outro homem: Malla. “Ele violou-me várias vezes. Quando deixei deter o período, soube logo queestava grávida…” Foram novemeses de sofrimento, carregando noseu ventre o filho do homem que aviolara. “Dei à luz em casa,sozinha…” Finalmente, a fugaDeram à criança o nome de Ibrahim.Era mais um soldado para o BokoHaram. Rebecca tinha cumprido asua missão. Agora, poderia servendida a outro homem e a outro, aoutro… As vezes que fossemnecessárias. Um dia, Rebeccaousou fugir com os dois filhos:Zacarias e o pequeno Ibrahim.

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Teve sorte. Conseguiuchegar a Diffa, umaaldeia onde estavamsoldados do Governo.“Eles trataram de mime levaram-me de voltapara o meu marido.”Agora, estão todos a viver emMaiduguri, ao cuidado doBispo, D. Oliver Doeme. Comoeles, há outros 500deslocados que transportamconsigo também experiênciasde dor e de sofrimento. Adiocese é pobre masprovidencia-lhes, graças àajuda dos benfeitores daFundação AIS, roupa,alimentos, medicamentos. ADiocese de Maiduguri precisada nossa ajuda para continuara curar estes corações feridos.Rebecca conseguiu fugir, masquantas mulheres, quantasraparigas não continuam,ainda hoje, nas mãos dosterroristas? Como nos diz D.Oliver, as nossas orações sãoo bem mais precioso quepodemos oferecer. Só elaspodem mudar os corações dosterroristas, só elas podemsecar as lágrimas de Rebecca.

Paulo Aidowww.fundacao-ais.pt

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O melhor de nós todos!

Tony Neves Espiritano

Foi assim que o Presidente da República definiuAntónio Guterres, o Secretário Geral da ONUeleito por aclamação. O Primeiro-Ministro, porsua vez, considerou-o ‘o homem certo no lugarcerto’. Nunca se vira tanta unanimidade em tornode uma pessoa para um cargo da dimensão dasNações Unidas. Guterres fez por isso. Católicoconvicto, nunca vendeu os seus valores na praçanem os sacrificou no altar dos interesses. Aolongo da vida, somou vitórias e derrotas, commais ou menos estrondo mediático, mas sempreevitou trepar sobre os outros para subir maisalto.Após cargos políticos de topo em Portugal(incluindo o de Primeiro-Ministro), candidatou-sea um cargo da ONU onde podia fazer muito bem.Os dez anos de liderança no Alto Comissariadoda ONU para os Refugiados (ACNUR) mostram operfil de um homem com a razão e coração quesempre quis aliar nos seus compromissospolíticos. Ajudou a colocar os refugiados nocentro da agenda mundial e foi dando vida àscausas sociais e humanitárias que abraçava.Os cenários mais dantescos de guerras eviolências desmedidas foram por ele palmilhados,em nome do ACNUR. Denunciou atrocidades semconta, conseguiu milhões para ajudahumanitária, tentou sentar à mesma mesa osque, de armas na mão, destruíam e matavam.Foi voz dos sem voz, neste século XXI que eleprofetizou ao apelidá-lo ‘o século do povo emmovimento’. Denunciou apatias e (des)interessesde alguns sectores influentes da Comunidade

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Internacional, muitas vezes decostas voltadas para os problemase para as vítimas.Numa entrevista que concedeu áAssociação da Imprensa Missionária(MissãoPress), em 2007, no augedo drama que afectava o Darfur,António Guterres falava da era daimigração ilegal, á mercê detraficantes humanos, sem coração ecom ganância desmedida de lucrosá custa da morte e da tragédiaalheias. Nos cenários de guerra enos campos de refugiados, o novoSecretário-Geral da ONU viu, olhosnos olhos, populações que vivemem pânico sem saber o que asespera na hora seguinte.Rasgar caminhos de paz e de futuroé missão de António Guterres, apartir de agora. Não é tarefa fácilporque não vivemos num mundo deinocentes. São desmedidas asganâncias de ter e de poder.Mantêm-se os direitos de veto dosmais ricos

deste mundo. Quem paga ofuncionamento da ONU vai exigircontrapartidas. Mas acredito quealguém que nunca abdicou dos seusvalores humanos e cristãos lutaráaté ao fim pela construção de ummundo que seja cada vez maishumano e mais fraterno. O sonho doPapa Francisco de uma Igreja emsaída para as periferias e margensda história, estará também – estoucerto – no coração de AntónioGuterres.Com ele, o mundo vai ser mais justoe pacífico. Assim quero acreditar esonhar.

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Foto: Ricardo Perna

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