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  • Organizadores: Valeska Fortes de Oliveira

    Adriele Machado Rodrigues Indiara Rech

    Monique Silva Tania Micheline Miorando

    ANAIS DO 5 ENCONTRO OUVINDO COISAS A INSTITUIO IMAGINRIA DA CIDADE A cidade que temos e a cidade que queremos

    1 EDIO

    Santa Maria, 2016

  • Universidade Federal de Santa Maria Reitor Paulo Afonso Burmann

    Vice Reitor Paulo Bayard Dias Gonalves

    E56a Encontro Ouvindo Coisas (5. : 2016 : Santa Maria, RS) Anais do 5 Encontro Ouvindo Coisas : a instituio imaginria da cidade : a cidade que temos e a cidade que queremos / 5 Encontro Ouvindo Coisas, 24 e 25 de novembro de 2016 ; organizadores: Valeska Fortes de Oliveira. 1. ed. Santa Maria, RS : UFSM, GEPEIS, 2016. 323 p. : il. ; 30cm ISBN 978-85-61128-49-4 1. Formao continuada Eventos 2. Imaginrio social - Eventos 3. Cidades Eventos I Oliveira, Valeska Fortes de II. Ttulo. CDU 371.13(063)

    Ficha catalogrfica elaborada por Alenir Goularte - CRB-10/990 Biblioteca Central da UFSM

    Capa: Paladino

    Arte: Andr Dalmazzo Diagramao: Tania Micheline Miorando e Adriele Machado Rodrigues

    As opinies e os conceitos emitidos, bem como a exatido, adequao e procedncia das citaes e referncias, so de exclusiva responsabilidade dos autores.

    REALIZAO:

    APOIO:

    PRA Pr-Reitoria de Administrao

  • COMISSO ORGANIZADORA DO EVENTO:

    Adriele Machado Rodrigues

    Andr Dalmazzo

    Bianka de Abreu Severo

    Camila Borges

    Cndice Moura Lorenzoni

    Danielle Difante Pedrozo

    Fabiane Raquel Canton

    Gabriella Eldereti Machado

    Indiara Rech

    Ionice Debus

    Josicler Orbem Alberton

    Marlia Fernandes Rehermann Freitas

    Maristela Silveira Pujol

    Marli da Silva

    Monique da Silva

    Rafael Salles Gonalves

    Rozangela Martins da Silva

    Samara Facco

    Tania Micheline Miorando

    Valeska Fortes de Oliveira

    Vanessa Vasconcellos

    Vanezza Peranzoni

    Wander Heinrich Echevarria

  • A INSTITUIO IMAGINRIA DA CIDADE: QUE OUTRAS CIDADES CIRCULAM NO NOSSO IMAGINRIO?

    Somos o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educao e Imaginrio Social (GEPEIS) e,

    temos vinte e quatro anos de existncia no Centro de Educao, da Universidade Federal de Santa

    Maria, Rio Grande do Sul. Temos inventado um outro formato de evento, uma forma que viabilize

    a escuta porque, numa indignao coletiva, cansamos de participar de eventos na rea da educao

    e outras afins, onde a circulao de pessoas tem o intuito de apresentar, de falar, de obter um

    certificado que tem um fim o registro da produo no lattes. Num movimento inventivo que, para

    alm da crtica, se inscreve numa energia de produo de alternativas as formas de vida e de

    relaes com nossas instituies, exercitamos nossa capacidade imaginativa, nosso imaginrio

    instituinte, desenhando o que batizamos de Ouvindo Coisas. Deixamos sempre que depois dos

    dois pontos, o tema do encontro seja motivado por questes conjunturais, ou mesmo, por nossas

    indignaes. Mas, o que carregamos desde sempre no nome que demos nossa criao, Ouvindo

    Coisas: outras formas de estar, viver e pensar na universidade. Pensar na universidade, um

    movimento que exige tempo, que exige escuta, que exige estudo, que exige o exerccio da

    capacidade criativa, contra o conformismo e a inrcia, que muitas vezes, tomam conta de nossas

    instituies.

    O V Encontro Ouvindo Coisas: a instituio imaginria da cidade comea como uma hiptese:

    em ano eleitoral, seria importante colocarmos na roda, provocando os coletivos e as pessoas

    individualmente, sobre a cidade que temos e a cidade que queremos. Honrando a categoria central

    na produo do imaginrio social de Cornelius Castoriadis, nosso autor de referncia, trouxemos a

    cidade, a construo da democracia e a criao de movimentos que pensem como temos vivido na

    cidade e como queremos viv-la.

    Para pensar na cidade que temos e na cidade que queremos, imediatamente, comeamos a

    lembrar das diferentes reas, porque estamos falando de um terreno transdisciplinar e de um tema

    que envolve a todos ns, profissionais de diferentes reas e pessoas de diferentes grupos sociais. A

    comear pelos nossos povos nativos que, de donos da terra, passaram a viver no cotidiano das

    cidades, como pessoas que precisam ocupar a rua, oferecendo a sua produo artesanal, mas sem

    visibilidade para o olhar e preocupao das cidades e das polticas pblicas.

    Organizamos o V Encontro Ouvindo Coisas com o barulho das ocupaes, que vinham de

    todos os lugares. Movimento que tem incio nas escolas pblicas estaduais do pas, inspirado em

    outros contextos, foi tomando corpo na universidade e, quando percebemos, estvamos numa

    negociao para que, como um evento com objetivos ticos, estticos e polticos, pudesse

  • incorporar as lutas das ocupaes. Entramos nas ocupaes - nosso exerccio nas redes de poder

    tambm a horizontalidade. Como grupo, foi uma das nossas maiores aprendizagens e um grande

    desafio.

    Nossos convidados, todos envoltos, nas suas instituies com as ocupaes, somaram numa

    reflexo que iniciava com performances cnicas e alargava-se para dentro dos espaos das oficinas,

    at as apresentaes de trabalhos, trazidos de diferentes lugares, de espaos educacionais, de sade,

    de arquiteturas, das artes em geral.

    Da fotografia das cidades, fomos convidando os participantes a ocupar, tambm, espaos de

    lazer de Santa Maria, que no nosso imaginrio, tambm so espaos culturais. A sade das pessoas,

    das crianas e das cidades foi para dentro do bar. O cinema as produes culturais foram

    problematizadas e sonhadas, tambm no espao do bar.

    Por dois dias, no discutimos sozinhos, indignados olhando os jornais da cidade. Por dois

    dias, discutimos e sonhamos coletivamente. Diz Hannah Arendt (1993, p. 114) no livro A dignidade

    da poltica.

    Vivemos hoje em um mundo em que nem mesmo o senso comum faz mais qualquer sentido. O colapso do senso comum no mundo de hoje indica que a filosofia e a poltica, no obstante o seu velho conflito, tiveram a mesma sina. E isso significa que o problema com relao filosofia e poltica, ou a necessidade de uma nova filosofia poltica da qual pudesse surgir uma nova cincia da poltica, est mais uma vez em pauta.

    Sonhamos juntos, movimentamos nossos corpos sensveis, acionando uma escuta que foi

    inspirada por danas circulares, onde nossos repertrios j comearam a ser acionados. A poltica

    o exerccio do pensamento transdisciplinar, o exerccio da democracia e das experincias de

    relaes horizontais onde o respeito, a diferena no um obstculo e nem se transforma em

    fascismo, mas um desejo.

    Os trabalhos apresentados ficaro como material de memria, nunca esquecendo que entre

    cestas de frutas nas rodas de conversa, como a instituio de um tempo de delicadeza e cuidado,

    fora, estvamos entre movimentos contra um tempo de golpes, na democracia, to cara a Cornelius

    Castoriadis.

    Meu carinho e agradecimento s pessoas do GEPEIS, sem elas, um sonho individual no

    seria de todos os participantes. Agradecemos como GEPEIS a participao de todos, que aderiram

    nossa provocao.

    Valeska Fortes de Oliveira Coordenadora da Tribo GEPEIS

    Novembro de 2016 Anos difceis para o Brasil

  • SUMRIO

    IMAGINRIO E ARTE

    BARQUINHO DOS LOUCOS............................................................................................................................................12

    PERALTAGEM POTICA: MEMRIAS PASSARHEIRAS DE SER RVORE...................................................15

    EXPERINCIA EDUCATIVA NA ESCOLINHA DE ARTES/UFSM......................................................................20

    BONECAS ABAYOMI NS PARA FALAR DE NS................................................................................................23

    ARTES E OUTRAS MODALIDADES EXPRESSIVAS, DE MANEIRA INTERDISCIPLINAR, COMO FACILITADORAS DO DESENVOLVIMENTO POTENCIAL DOS EDUCANDOS............................................28

    A ORGANIZAO, O ADIMENSIONAMENTO E A DESREALIZAO TOTAL A ESTRANHA CIDADE DE G. H. .................................................................................................................................................................................33

    RESISTIR PRECISO: RODANDO A CIDADE ..........................................................................................................38

    S MARGENS DO MARGINAL: IMPRESSES DAS CONFIGURAES DE CORPO NO FILME ELVIS & MADONA................................................................................................................................................................................39

    NEGRESSENCIA: PROJETO ARTSTICO AFRO-REFERENCIADO NA CULTURA NEGRA FEMININA GACHA.................................................................................................................................................................................45

    IMAGINRIO E EDUCAO

    CORPO, IMAGINRIO E SEUS REGISTROS SIMBLICOS: UMA EXPERINCIA CLNICA INSTITUCIONAL..................................................................................................................................................................52

    PALAVRARIA - UMA ESCRITA AUDIOVISUAL.........................................................................................................59

    UMA EXPERINCIA FORMATIVA ATRAVS DO IMAGINRIO SOCIAL: PRODUO DE SUPER-HERIS NO AMBIENTE UNIVERSITRIO.................................................................................................................60

    A DIFERENA NO IMAGINRIO DA CIDADE QUE HABITO..............................................................................64

    O CINEMA NA FORMAO DE PROFESSORES........................................................................................................68

    GRUPO DE ESTUDOS NO ESPAO ESCOLAR: RESISTNCIA, DEMANDAS E POSSIBILIDADES.................................................................................................................................................................75

    CIRANDA DO IMAGINRIO - PALAVRARIA: EXPERINCIAS NA/COM A FORMAO INICIAL DE PROFESSORES .....................................................................................................................................................................81

    O CUIDADO DE SI NAS NARRATIVAS DE PROFESSORAS NA ESCOLA..........................................................86

    DIFERENTES MUNDOS NO MUNDO: O PRIVILGIO DE PODER APRENDER E CONVIVER COM CRIANAS AUTISTAS E SEUS FAMILIARES..............................................................................................................91

    DOCNCIA NO ENSINO DE CINCIAS: DA TEORIA PRTICA PEDAGGICA........................................97

    PROGRAMA DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO: UMA NOVA ABORDAGEM NO

  • MUNICPIO DE ITAARA.................................................................................................................................................102

    BRINCAR: MLTIPLAS POSSIBILIDADES!..............................................................................................................107

    O PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAO DOCNCIA (PIBID) E SUA CONTRIBUIO NA FORMAO INICIAL DE PROFESSORES DE QUMICA: HORIZONTES E POSSIBILIDADES NO TRAJETO FORMATIVO.......................................................................................................112

    O SABER SOBRE A LNGUA E AS SUAS RELAES COM O ENSINO: O CASO DO PORTUNHOL SELVAGEM..........................................................................................................................................................................119

    EU OCUPO, TU OCUPAS: O MODELO DE EDUCAO ESCOLAR EM EVIDNCIA ATRAVS DO OLHAR DO DOCUMENTRIO ACABOU A PAZ, ISTO AQUI VAI VIRAR O CHILE .................................................................................................................................................................................................126

    IDENTIDADE DE GNERO E O NOME SOCIAL NA UFSM: AS RACHADURAS NAS BARREIRAS INSTITUDAS E AS DISCUSSES NA FORMAO DOCENTE.........................................................................133

    ESTUDO DE CASO SOBRE A EDUCAO AMBIENTAL DE DUAS ESCOLAS NO MUNICPIO DE ALEGRETE/RS...................................................................................................................................................................139

    SEXUALIDADE NA FORMAO INICIAL DE PROFESSORES DE PEDAGOGIA: NARRATIVAS DE (SI) LUZ DO IMAGINRIO SOCIAL................................................................................................................................146

    O INSTITUDO NOS PARMETROS CURRICULARES E O INSTITUINTE NA/COM O ENSINO MDIO E A TICA FILOSFICA..................................................................................................................................................151

    TESOUROS INVISVEIS...................................................................................................................................................157

    O ENSINO DE CINCIAS NOS ANOS INICIAIS: O QUE TEM SIDO PRODUZIDO E O QUE SE PRETENDE PRODUZIR?.................................................................................................................................................162

    APRENDIZAGENS DA PEDAGOGIA ONTOPSICOLGICA DURANTE O ESTGIO DO ESINO FUNDAMENTAL................................................................................................................................................................168

    RDIO BILAC: ARTICULAO DE SABERES QUE PERPASSAM AS VOZES DOCENTES E DISCENTES..........................................................................................................................................................................175

    RELATO DE EXPERINCIA: SIGNIFICAO DA INICIAO CIENTFICA NA FORMAO INICIAL DE PROFESSORES.............................................................................................................................................................182

    CRIAO EM AUDIOVISUAL - MICROCONTOS DE TERROR..........................................................................187

    O RAP DA CASA DO HIP HOP DE DIADEMA: DO UNIVERSO MTICO E SIMBLICO A UMA PEDAGOGIA DO IMAGINRIO....................................................................................................................................193

    ANLISE INSTITUCIONAL E CONDIES CONTEMPORNEAS DA PRODUO DE SADE: POSSIBILIDADES DE GENERALIZAES DE ANLISES...................................................................................198

    REPRODUO INTERPRETATIVA DO BRINCAR: OUVINDO NARRATIVAS DE CRIANAS............................................................................................................................................................................202

    A CASA-CORPO NA DANA DE SALO: DESTRANCANDO PORTAS, RELATANDO EXPERINCIAS..................................................................................................................................................................207

    UTILIZAO DA TERTLIA LITERRIA DIALGICA NA DISCIPLINA DE LITERATURA HISPANO-AMERICANA II DO CURSO DE LETRAS/ESPANHOL DO IFB - CAMPUS TAGUATINGA CENTRO................................................................................................................................................................................212

    HISTRIAS DE VIDA, FORMAO DOCENTE NO CURSO NORMAL E O CINEMA: IMAGENS E NARRATIVAS......................................................................................................................................................................217

    ABORDAGEM ACERCA DA IDEIA DE CAUSALIDADE EMPREENDIDA POR HUME EM TRATADO DA

  • NATUREZA HUMANA.....................................................................................................................................................222

    (RE)ARRANJOS DE CRIAO........................................................................................................................................227

    IMAGINRIO E URBANIDADES

    PROJETO NARRADORES DE BAG: REVISITANDO A CIDADE A PARTIR DAS SUAS MANIFESTAES POPULARES...................................................................................................................................233

    CAMINHADAS URBANAS: O EDIFCIO CAUDURO E A PROMOO DO IMAGINRIO SANTAMARIENSE.............................................................................................................................................................237

    POPULAO EM SITUAO DE RUA, AFETIVIDADE E IMAGINRIO.......................................................242

    IMAGINRIO DA CIDADE E DO TRABALHO: PERSONAGENS DA NARRATIVA FERROVIRIA.....................................................................................................................................................................247

    MULTIMTODOS DE ANLISE COM INTERAO DOS USURIOS DA PISTA MULTIUSO DO CAMPUS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA RS...................................................................252

    PISTA MULTIUSO CAMPUS UFSM: IMPLEMENTAO DA PROPOSTA E EXTENSO DO SISTEMA...............................................................................................................................................................................258

    ITINERRIOS DA BOEMIA:A CARTOGRAFIA DOS BARES DE BAG DE ERNESTO WAYNE..................................................................................................................................................................................263

    CIDADE, CASA, COLAGEM............................................................................................................................................269

    PRAA VIVA: VIVNCIA COLETIVA NA PRAA SANTO ANTNIO CACHOEIRA DO SUL/RS..................................................................................................................................................................................276

    IMBRICAES ENTRE LAZER MERCADORIA E A JUVENTUDE DE SANTA MARIA..............................282

    COIMBRA : UM OLHAR ESTRANGEIRO...................................................................................................................288

    CAMINHADAS URBANAS: RELATOS E REFLEXES............................................................................................292

    CARTOGRAFIAS DA PRODUO DE UM DEVIR: CENOGRAFIA ENQUANTO TERRITRIO HBRIDO. .............................................................................................................................................................................298

    SER UM MESTRE POKMON: SOCIABILIDADE JUVENIL EM PKEMON GO...........................................304

    VIAGEM A ANDARA: A CIDADE IMAGINRIA DE VICENTE CECIM............................................................309

    A BOCA DO CU, UMA ALEGORIA SOBRE A VIDA DE ESTUDANTE........................................................314

    29 41' S 53 48' O (FOTOGRAFIAS DE SANTA MARIA) ......................................................................................317

    REFLEXES, MEMRIAS E RELATOS. QUAL A CIDADE QUE SE HABITA? ..............................................318

    http://media.wix.com/ugd/886796_24fc2d10a05346a9b0b6ce56cd22efab.pdf
  • 12

    BARQUINHO DOS LOUCOS

    Conrado Alencastro Bueno Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Projeto de Extenso Geringona -Pedagogias da diferena

    PROREXT-UFRGS [email protected]

    Aline Britto Miranda

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Residente do Programa de Residncia Multiprofissional em Sade Mental Coletiva

    [email protected]

    Daniele Noal Gai Universidade Federal do Rio Grande do Sul, professora-adjunta do Departamento de Estudos

    Especializados Da Faculdade de Educao [email protected]

    RESUMO O projeto de extenso intitulado Atelier Parafernlias: Nexos, Artese Educao, morreu no dia 19 de Novembro do ano de 2015. Na celebrao de sua morte realizamos um ritual que se enreda em torno das questes de fazer morrer e estar morto transversalmente com as discusses da Reforma Psiquitrica Brasileira. Tomamos por temtica um envolvimento entre Educao e Sade, e como arquiteturas e engendramentos do ambiente para a apresentao em questo: a Arte. Estticas de barcos de papel, velas, gua, vasilhas, lpis de cor, papis coloridos: pequenos oceanos. Pensvamos em contar sobre a Nau dos Loucos, narrada por Foucault em uma de suas grandes histrias. Pensvamos em falar da relao entre a loucura e a morte, to prximas como em um relacionamento ntimo, atravs de diversos questionamentos para os participantes do rito. Por intermdio de uma curadoria desses questionamentos que foram selecionados para disparar as discusses e para que acontecesse tais movimentos dialgicos numa perspectiva coletiva em crculos de conversaes, se direcionaram percursos outros; percursos rizomticos que aconteceram como fluxos que desenharam outras linhas de pensar as temticas em questo na produo de outros jeitos, outras maneiras de abordagem e na confeco de escritas, quer sejam individuais e/ou coletivas, relatos de experincias, intervenes poticas visuais, teatrais, musicais, entre tantas outras formas e fundos de manifestaes. Palavras-chave: Morte, Loucura e Arte

    INTRODUO

    A apresentao do relato de experincias se deu por vertentes transversais entre o

    imaginrio sobre a morte, a loucura e a arte. Atravs de um dilogo feito durante a ltima ao do

    projeto de extenso intitulado Atelier Parafernlias: Nexos, Artes e Educao, cujo projeto faleceu

  • 13

    idem para com a ao final datada no dia 19 de Novembro do ano de 2015, questes como a

    Reforma Psiquitrica Brasileira/ Luta anti-manicomial, a morte que ocorria constantemente nos

    manicmios/ hospcios e que ainda ocorre como num enfrentamento com as diferenas em diversos

    outros espaos quer seja institucionalizados ou no, uma das tantas realidades que acontecem

    mas que se acreditam ainda estar numa escala do inaudvel, do indizvel, aquilo que no pode ser

    dito, pois parece-se que se proibido dizer sobre, ou seja, um tabu, como na personagem Lord

    Voldemort, da coletnea de livros com ttulos primeiros de cujo nome de outra personagem da

    saga:Harry Potter.

    DESENVOLVIMENTO

    Tomada por uma temtica em relacionamentos entre Educao e Sade, a arquitetura e o

    engendramento do espao para com os presentes numa construo de uma ambincia para a

    apresentao em questo se deu por: a morte, a loucura e a arte, em sua diversidade de imaginrio e

    por o que estava a passar pelas pessoas que propuseram a temtica, em corpos territoriais

    passageiros, em determinados momentos e acontecimentos que estavam em constante atualizao

    de ns(outros).

    Estticas de barcos de papel, velas, gua, vasilhas, lpis de cor, papis coloridos, giz de cera:

    pequenos oceanos. Pensvamos em falar dessa relao de uma perspectiva entre a loucura e a

    morte, to prximas como em um envolvimento ntimo, atravs de diversos questionamentos para

    os participantes do rito, estampados em cartazes espalhados em um espcie de mural que se fez

    numa muralha de cadeiras empilhadas em uma das quatro paredes do espao.

    Por intermdio de um pensar quais perguntas/ questes disparvamos para os presentes do

    momento, uma curadoria para seleo de tantos pensares e produes que foram a surgir ao longo

    de um planejamento dessas perguntas/questes.

    Assim selecionadas as perguntas/ questes, estampadas na muralha de cadeiras, todo o

    grupo se direcionou (andari)derilhantes e danantes para o espao que se foi propositivo para

    acontecimentos em movimentos dialgicos numa perspectiva coletiva em crculos de conversaes

    de direcionamento de percursos e perguntas/questes outras; percursos rizomticos que

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    aconteceram como fluxos que desenharam outras linhas de pensar as temticas na produo de

    outros jeitos, outras maneiras de abordagem e na confeco de escritas, quer sejam individuais

    e/ou coletivas, relatos de experincias, intervenes poticas visuais, musicais, teatrais, entre

    tantas outras formas e fundo de manifestaes que ali poderiam estar a acontecer em presena de

    cada um de ns.

    CONCLUSO

    O Barquinho dos Loucos foi interessante na (re)construo, (res)significao, (re)pensar o

    pensamento da loucura em borramentos com a morte, significados outros feitos por outras linhas

    de se pensar o que a loucura e a morte resgatados desde em sua tenra historicidade at no

    presente cotidiano em sua contemporaneidade.

    REFERNCIAS

    ARBEX, DANIELA. Holocausto Braisleiro. Editora Gerao., So Paulo, 2013.

    ALVERGA, A. R.; DIMENSTEIN, M. A reforma psiquitrica e os desafios nadesinstitucionalizao da loucura. Interface - Comunicao, Sade, Educao., v.10, n.20, p.299-316, jul/dez 2006.

    FOUCALT, Michel. Histria da Loucura. Editora Perspectiva S.A., So Paulo, 1978.

    LARROSA, Jorge. Notassobre a experincia e o saber de experincia. Revista Universidade Estadual de Campinas, Departamento de Lingstica N 19Jan/Fev/Mar/Abr, So Paulo, 2002.

    ROWLING, JOANNE. Harry Potter e a Pedra Filosofal. Editora Rocco. Rio de Janeiro, 1997.

    SHAKESPEARE, WILLIAM. Hamlet. Editora L&PM Pocket., Porto Alegre, 1997.

  • 15

    PERALTAGEM POTICA:MEMRIAS PASSARHEIRAS DE SER RVORE

    Fernanda Saldanha DACARATAPA Grupo de Teatro

    [email protected]

    Josiane Medianeira Soares DACARATAPA Grupo de Teatro

    [email protected]

    RESUMO Esta pesquisa aborda a criao de um espetculo teatral inspirado na obra do poeta Manoel de Barros e nas memrias pessoais das atrizes/criadoras envolvidas. A dramaturgia foi escrita por quatro mos, a partir de poemas selecionados e cenas elaboradas atravs do imaginrio infantil. O espetculo aborda questes relacionadas ao ser artista-educadora, os desafios e utopias existentes neste caminho rduo, mas potico e encantador. Traz como ttulo Memrias passarinheiras de ser rvore e uma produo do DACARATAPA Grupo de Teatro, fundado em Santa Maria/RS, por estudantes do curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Santa Maria UFSM e que agora tem sede em Venncio Aires/RS. Palavras-chave: Manoel de Barros; Memrias; Teatro.

    Neste ano, comemora-se o centenrio do nascimento do grande e inspirador poeta

    matogrossense, Manoel Wenceslau Leite de Barros. Manoel de Barros um dos poetas mais aclamados

    atualmente, falecido em 2014, com 98 anos, o menino do mato, como ficou conhecido, por trazer em

    sua obra memrias e histrias do mato, nos apresenta um universo imaginrio e potico, de uma

    infncia inventada, da comunho com os animais e das desimportncias da vida. Sua obra, repleta de

    simplicidade, inocncia e pureza infantil desperta nos leitores a vontade de olhar o mundo com olhos

    mais sensveis.

    Imensamente tocadas por esse mundo criado por Manoel de Barros, desde nosso primeiro

    contato com sua obra, atravs do poema O menino que ganhou um rio1, e unindo sonhos, utopias e

    desafios pessoais e coletivos, embarcamos nesse voo potico-teatral. Mergulhamos na obra atravs dos

    livros, CDs com poemas narrados por ele prprio e vdeos importante ressaltar o documentrio S

    dez por cento mentira: a desbiografia oficial de Manoel de Barros2.

    1 Do livro Memrias Inventadas As Infncias de Manoel de Barros (2008).

    2 A primeira vez que assistimos ao documentrio citado foi em 2013, na disciplina Estgio Supervisionado de

    Docncia em Teatro II Ensino Fundamental, disciplina do Curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal

  • 16

    Ao encontrarmo-nos com a obra de Barros, praticamente impossvel no rememorar nossa

    prpria infncia, uma vez que, o poeta resgata memrias e a partir delas, inventa outras e mais outras e

    mais outras, pois como ele bem afirmava: Tudo o que no invento falso (BARROS, 2008, p. 5).

    Com o entendimento de que a memria tambm inventada, vislumbramos a possibilidade de

    (re)fazer nossa autobiografia3, subverter nossa histria, transcender tudo que j vivemos. Percebemos

    que poderamos reviver tantos momentos especiais e ainda inventar uma infncia que no tivemos.

    Para tanto, dedicamo-nos criao da dramaturgia, que nasceu coletivamente, depois dessa imerso

    neste universo Manoels, atrelada ao nosso anseio pelas utopias na educao e nossa inquietao por

    tratarmos, especialmente, da arte-educao, dramaturgia esta baseada nos diversos poemas

    previamente selecionados.

    Ademais, somos artistas-educadoras, graduadas na Licenciatura em Teatro, pela Universidade

    Federal de Santa Maria. Somos muito parecidas em se tratando de ideais e modos de enxergar o

    mundo. Escolhemos ser artistas-educadoras, por paixo e convico, mas antes de qualquer profisso,

    todos somos seres humanos, temos uma histria de vida e dentro da sala de aula, temos que nos colocar

    como pessoa, para que os educandos nos reconheam como tal e tenham o espao de se colocar como

    pessoa tambm. No d para separar a imagem docente da imagem humana. (...) Estamos na escola na

    totalidade de nossa condio humana. Os alunos nos veem como gente. Eles se veem como gente,

    como afirma Miguel Arroyo (2004, p. 242). Atualmente fala-se tanto no professor-artista, o professor

    fazedor de sua arte, e foi este universo que aprendemos a admirar e mirar para nossa vida, viver a arte,

    no somente compartilh-la em sala de aula. fundamental que o(a) professor(a) siga pesquisando e

    ativo(a) na arte, com afinco, com alma, entregue ao trabalho, pois isso certamente refletir na sua

    prtica em sala de aula. Assim, percebemos o quanto so desafiadoras para ns as questes artsticas,

    uma vez que, na prtica docente nos sentimos mais seguras, desafiadas, mas com mais clareza do que

    fazemos.

    de Santa Maria. S dez por cento mentira: a desbiografia oficial de Manoel de Barros. Direo de Pedro Cezar

    (Brasil, 2008, 82 min). 3 Referncia do filme Atonement (Desejo e Reparao), no qual a narradora escreve um livro e afirma que (...)

    no livro, eu pretendi dar a Robbie e Ceclia o que eles perderam na vida. Eu gostaria de pensar que isso no fraqueza

    ou evaso, mas um ato final de bondade. Eu dei a eles a sua felicidade.... Desejo e reparao.Direo de Joe Wright

    (Frana, Reino Unido, 2007, 123min).

  • 17

    Com este novo projeto, o que se coloca em jogo como a histria ser contada teatralmente e

    como ela se construir pelas afetaes e pelos atravessamentos das nossas biografias e lembranas

    enquanto personagens em processo de criao.

    Entretanto, no se trata apenas de contar, relembrar fatos de histrias de vida, trata-se de uma

    reinveno e de diversos contrapontos: lembrar e esquecer, revelar e esconder, consciente e

    inconsciente, veracidade e dvida, presente e passado. Nesse sentido, a fonte inventiva nesta pesquisa

    est calcada em nosso imaginrio autobiogrfico, representado atravs das palavras do poeta Manoel

    de Barros, com seu Idioleto Manoels4.

    O ato criativo proposto relaciona-se diretamente com a imaginao e a memria, isso porque na

    arte o imaginrio possibilita um dilogo com o inconsciente, com o fragmento esquecido, relembrado e

    recriado, que pode se materializar e reorganizar em forma artstica, essa consciente e visvel. O que se

    prope, enfim, um imaginrio que recrie a memria autobiogrfica.

    Manoel de Barros afirmou que h histrias to verdadeiras que s vezes parece que so

    inventadas (BARROS, 1997, p. 69), da mesma forma que nossas memrias, em parte, tambm so

    reelaboradas ou at mesmo inventadas, sendo que no lembramos de muitos momentos relatados por

    nossas famlias, mas os aceitamos e ainda reproduzimos a narrativa. Sigmund Freud indaga a

    veracidade das lembranas de infncia:

    Pode-se, na verdade, questionar se temos mesmo alguma lembrana da nossa infncia: lembranas relativas a nossa infncia podem ser tudo o que possumos. Nossas lembranas infantis mostram-nos nossos primeiros anos no como eles foram, mas como nos apareceram nos perodos posteriores em que as lembranas foram despertadas (FREUD, 1974, p. 354).

    Desse modo, lembramos algumas memrias de nossas infncias e identificamos que vivemos

    momentos similares, no recordar das brincadeiras de aulinha e vendinha, por exemplo. Estas

    memrias foram-se emaranhando com os poemas de Manoel de Barros, levando, carinhosamente, o

    nome de Sucatrio Manoels, inspirado no poema Sobre sucatas e ganhando vida em cena. Desta

    vez, optamos por deixar de buscar explicao em tudo, afinal entender parede, precisamos procurar

    4 O prprio poeta refere-se assim sua obra. Citao do documentrio S dez por cento mentira a

    desbiografia oficial de Manoel de Barros, aos 5min10seg: Idioleto Manoels, como o prprio Manoel define, a

    lngua dos bocs e dos idiotas, tambm a lngua que cria um universo to absurdo quanto palpvel.

  • 18

    sermos rvores, mesmo que no Teatro no seja um dos papis mais desejados, ser rvore incorporar

    poesia, viver poeticamente.

    Arte no tem pensa: O olho v, a lembrana rev, e a imaginao transv. preciso transver o mundo. (BARROS, 1997, p. 75)

    Com esta dramaturgia, procuramos expressar que possvel transver o mundo e criar um

    imaginrio inventado que diga respeito s nossas memrias, uma vez que, no teatro construmos

    mundos novos e passamos a habit-los enquanto vivemos a histria que encenada.

    Isto seja: Deus deu a forma. Os artistas desformam. preciso desformar o mundo: Tirar da natureza as naturalidades. Fazer cavalo verde, por exemplo. Fazer noiva camponesa voar como em Chagall. (BARROS, 1997, p. 75)

    A Educao engessada, as escolas seguem currculos programticos ultrapassados, que j no

    dialogam com as tantas questes que se apresentam hoje em nossa sociedade. A Arte vem como uma

    potncia de mudana, de um novo jeito de enxergar o mundo e as pessoas que nele habitam, com olhar

    mais sensvel e justo, sem preconceitos e amarras.

    Vivemos a realidade da sala de aula diariamente h pouco tempo, mas tempo suficiente para

    identificarmos que h professores e professoras que fazem os dois papis que trazemos no espetculo;

    ora so a Menina que l atrs queria dar encantamento, ora so a Professora que corta as asas e diz

    que voar para passarinhos, avies e borboletas. Poesia poesia. Com sua forma, rima e informaes.

    Ns seguimos lutando para que apenas a menina se apresente na nossa prtica docente, mas h

    momentos difceis, contudo, no deixamos de honrar aquela menina que fomos e os sonhos que ela

    tinha, dos quais muitos permanecem conosco.

    Na dramaturgia, um momento que dedicamos a todos os professores/as quando o Pssaro faz

    uma reflexo sobre a docncia a partir da comunho com as rvores: Ah, professores sonhadores

    rvores imponentes e cheias de vida, que traziam em seus galhos a esperana de um mundo florido.

    Talvez, j cansados de podas em tempos de primavera, deixaram de transver o mundo.

  • 19

    Entretanto, no desistimos de nossas utopias, pois como afirmou o educador Pacheco (2009, p.

    127), quando deu significado palavra Utopia em seu dicionrio: Usualmente, utilizada para

    designar sonhos de perfeio social, algo impossvel de atingir. Contrariando a opinio dos cnicos, eu

    afirmaria que a utopia algo necessrio e... realizvel. Sendo assim, ns acreditamos que possvel,

    sim, renovar o ser humano usando borboletas, parafraseando o desejo de nosso querido Manoel de

    Barros.

    A pesquisa nos proporcionou muitas descobertas, fomos nos transformando, vencendo nossos

    desafios. Sentimo-nos mais capazes, cumprindo nosso desafio de ser artista. Acreditamos agora que

    conseguimos fazer Arte, no uma Arte puramente esttica, talvez at pecamos neste quesito mas

    uma Arte sensvel, que afeta quem dela compartilha, uma Arte mais sublime do que bela, talvez.

    Certamente, no se deve esquecer a tcnica, ela necessria, mas por si s no vale coisa nenhuma.

    Qualquer obra que se tenha feito sem criatividade, sensibilidade nem intuio no nada. um

    exerccio de virtuosismo vazio. O virtuosismo por si s no Arte, como afirmou Sez (2013, p. 99).

    Puxamos o alarme do silncio e samos por a a atuar, lecionar, compartilhar, sonhar, realizar!

    Sejamos todos rvores!

    REFERNCIAS ARROYO, Miguel G. Gaveta dos guardados. In:Imagens Quebradas: trajetrias e tempos de alunos e mestres. Petrpolis: Editora Vozes, 2004, p. 239-252. BARROS, Manoel de. Livro sobre nada. Rio de Janeiro, So Paulo: Editora Record, 1997. _________________. Memrias Inventadas: As Infncias de Manoel de Barros. So Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008. FREUD, Sigmund. Lembranas encobridoras. In:(1895) Obras Completas, volume III. Rio de Janeiro: Imago, 1974, p. 333-354. PACHECO, Jos. Pequeno Dicionrio das Utopias da Educao. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2009. SEZ, Juanjo. A arte: conversas imaginrias com minha me. Traduo Monica Stahel. So Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013.

  • 20

    EXPERINCIA EDUCATIVA NA ESCOLINHA DE ARTES/UFSM

    Jssica Maria Freisleben Universidade Federal de Santa Maria, Mestrado em Educao -LP 4- Educao e Artes

    [email protected]

    Aline Graziele Lang Universidade Federal de Santa Maria, Curso de Artes Visuais- Licenciatura em Desenho e Plstica

    [email protected]

    Milena Regina Duarte Corra Universidade Federal de Santa Maria, Curso de Artes Visuais- Licenciatura em Desenho e Plstica

    [email protected] RESUMO A experincia educativa relatada neste texto surgiu a partir da proposta de atividades da disciplina de Prtica Educacional V, componente da grade curricular do curso de Artes Visuais-licenciatura, da Universidade Federal de Santa Maria/RS. O desenvolvimento da disciplinaacontece no Laboratrio de Iniciao e Criatividade em Artes- LICA, conhecida popularmente como Escolinha de Arte ou s Escolinha, no Centro de Artes e Letras- CAL, situado na prpria Universidade. A Escolinha/LICA desenvolve aes pedaggicas e artsticas com crianas de 6 a 12 anos que frequentam os encontros no turno inverso ao ensino regular em que esto matriculadas. Os encontros so semanais e dirigidos pelos acadmicos do curso de Artes Visuais matriculados na disciplina. Palavras-chave: Educao e arte, experincia educativa, arte na infncia. INTRODUO Sabe-se que as Escolinhas de Arte vem funcionando desde a dcada de 60, atravessando os

    movimentos e as transformaes histricas do campo da Arte/Educao no Brasil. Neste cenrio

    ela vm oportunizando acesso arte e criao artstica para crianas, como tambm, a formao

    de professores vinculados ao curso de Licenciatura em Artes Visuais. Atualmente a Escolinha

    funciona respeitando o calendrio letivo da Universidade, em turnos de manh e tarde, na sala

    1123, com espao fsico de 122 m e capacidade para atender 20 crianas por turma. Seu vnculo

    com a Universidade tem se mantido desde 1965 e, neste perodo, manteve-se atenta aos estudos e

    tendncias vanguardistas da Arte/Educao atravs da sua relao com o curso de Msica, Artes

    Cnicas e Artes Visuais estruturados na UFSM. Tm ainda grande importncia como campo de

    estgio para os cursos de licenciatura na rea das Artes.O espao da Escolinha diferenciado dos

    demais no CAL;suas cadeiras, mesas e cavaletes so pequenos, projetados ergometricamente para

    crianas. As paredes so coloridas, h mobiles pelo teto e trabalhos com barro e outros materiais

    esto espalhados por todos os cantos. H armrios com diversos materiais artsticos e figurinos

  • 21

    para peas teatrais. Desde sua criao, a Escolinha trabalha com um espao que estimule

    criatividade e potencialize a experincia artstica para a criana.

    A sala 1123 do prdio do Centro de artes e Letras muito diferente das demais existentes no campus da UFSM. A comear pelo tamanho dos mveis. As mesas, cadeiras, estantes so muito pequenas e logo se constata que os usurios no so alunos do curso superior O ambiente alegre. As paredes decoradas com colagens multicoloridas. No teto esto pendurados aviezinhos de madeira. Estantes com muitos livros infantis e trabalhos feitos em barro. Neste pequeno espao do campus universitrio funciona uma escolinha de arte.

    DESENVOLVIMENTO Partindo do objetivo geral da disciplina de Prtica Educacional V; que visa pensar em aes de arte

    na infncia, a experincia educativa que vem a tecer este texto buscou dar espao para o pblico

    infantil expressar seus anseios e curiosidades pela arte. O projeto teve durao de um semestre, no

    incio do ano de 2014 com durao de 3 horas em encontros semanais. Os mediadores -professores

    na Escolinha e alunos na graduao- eram seis e, o nmero de crianas variava entre dez e quinze

    durante as semanas. O acolhimento inicial foi de apresentaes e elaborao de normas de

    convivncia. Atravs de dilogos e dinmicas foi feito um mapeamento de atividades de interesse e

    um levantamento de propostas para as prticas subsequentes. A temtica girou em torno de

    questes da infncia: conhecer brincadeiras e preferncias do pblico infantil, como tambm, as dos

    mediadores das aes, no como comparativos, mas como troca de experincias. O eixo das

    propostas denominou-se: Cultura infantil: modismos e diferenas de gnero. Entre os objetivos

    da proposta, o interesse maior se tratava das relaes de infncia tanto dos discentes como dos

    docentes e, posteriormente, gostos e escolhas distintas entre meninos e meninas. Debatendo

    questes de gnero mostrando historicamente como se constitui os vesturios e desmistificar

    preconceitos existentes acerca das cores rosa e azul, assim como dos brinquedos, atividades

    desportivas de menino e de menina. Tambm buscou-se aproximar imagens da Histria da

    Arte e imagens publicitrias que tem como protagonistas as crianas, com objetivo de explorar sua

    criatividade e formas de construo visual sendo elas seus referenciais.

    Ampliar o repertrio das imagens e objetos tambm implica abastecer as crianas de outros elementos produzidos em outros contextos e pocas, como, por exemplo, as imagens da histria da arte, fotografias e vdeos, objetos artesanais produzidos por culturas diversas, brinquedos, adereos, vestimentas, utenslios domsticos, etc. (CUNHA, 1999,p.14)

    Ao passo que as crianas e os mediadores foram interagindo, a primeira atividade partiu dos seis

    graduandos, onde cada um criou uma espcie de personagem e nele apareceria um pouco de sua

    infncia, brinquedos, roupas... para que ficasse explicito os modismos de cada poca que permeiam

    os que hoje so crianas e aqueles que foram. Assim, queria-se superar questes de boneca para

  • 22

    menina ou carrinhos so para meninos. Subsequentemente as crianas foram convidadas a criar

    suas narrativas e apresentar suas vivncias em um desenho de sua silhueta que seria preenchido

    pela representao de seus brinquedos, programas, animaes e etc. Em encontros posteriores o

    foco centrou-se na moda. Apresentao de imagens de distintos perodos da histria humana com

    suas respectivas formas de vestir. Buscou-se problematizar as principais mudanas atravs do

    vdeo: A Histria da moda- 100 anos em 100 segundos. Os questionamentos provocadores

    giravam em torno de questes como: quais as diferenas entre as roupas adultas e infantis? Por que

    razo (em determinados perodos) as pessoas tinham o seu corpo to escondido em relao aos dias

    de hoje? As mulheres usavam cala desde o incio da histria? Por que em algumas culturas os

    homens usam saias? Assim, foi ressaltado a importncia de superar certos preconceitos que

    envolvem esses assuntos. A produo visual foi atravs da criao de um objeto tridimensional, um

    personagem que explorasse as questes tratadas com materiais disponveis na sala. O

    envolvimento das crianas com as atividades se deu de maneira ldica tornando os momentos

    prazerosos e ricos em troca de experincias para as duas partes envolvidas. A diversidade de

    materiais, contedos e apresentaes foram flexveis buscando sempre ser adaptados faixa etria.

    CONCLUSO Os objetivos traados foram bem audaciosos e visavam contemplar os diferentes assuntos

    pertencentes ao projeto. O envolvimento, curiosidade e a criatividade foram evidentes tanto no

    comportamento, quanto nas produes artsticas realizadas. O intuito de fazer brotar as primeiras

    anlises crticas e experimentao de materiais foi alcanado com xito, assim como a construo

    da autonomia e a explorao do potencial artstico. O envolvimento de mais de um

    professor/mediador potencializou a troca de ideias, experincias e o contato com cada criana.

    Sobretudo, no que diz respeito ao auxlio na formao como docente, esta experincia educativa se

    fez fundamental por propiciar o intercmbio da arte como fio condutor para o ensino na Escolinha.

    Todo o processo, desde o planejamento, a escrita do projeto e, posteriormente, a aplicao deste, se

    mostrou importante para enfatizar o quanto o processo de ensinar arte transforma e enriquece

    aqueles que o fazem.

    REFERNCIAS

    CUNHA, Susana Rangel Vieira da, Cor, som e movimento A expresso plstica, musical e

    dramtica no cotidiano da criana. Porto Alegre: Mediao, 1999.

  • 23

    BONECAS ABAYOMI Ns para falar de ns

    Josiane Medianeira Soares Escola de Educao Bsica Educar-se

    [email protected]

    RESUMO Esse trabalho fruto das experinciaes realizadas com crianas do 4 ano do Ensino Fundamental da Escola de Educao Bsica Educar-se, em Santa Cruz do Sul, que culminaram na confeco de bonecas Abayomi. At chegar na construo dessas bonecas, foram realizadas diferentes aes a fim de refletir, desconstruir e conscientizar as crianas acerca da igualdade racial, numa cidade que comercializada e conhecida por ser predominantemente, alem, e isso reforado pela festa, tipicamente alem, nomeada Oktoberfest. No entanto, preciso mostrar que Santa Cruz (tambm) negra5; Trazer para a escola o debate e fazer pensar sobre a importncia do povo negro desde a construo da cidade, a condio imposta a eles pela sociedade, sobre as formas enraizadas de racismo que precisamos dissolver e, principalmente, para as crianas negras se verem pertencentes ao municpio e no margem dele e para que elas se empoderem e se reconheam como pessoa negra. Palavras-chave: Arte-educao, Bonecas Abayomi, Igualdade.

    Em uma poca em que preconceitos, discursos de dio e de discriminaes tornam-se mais

    perceptveis e possveis de serem compartilhados pelas redes sociais, preciso, ainda mais, montar

    resistncia para com relao aos ataques sofridos aos direitos humanos das ditas minorias e

    contra-atacar com ideias e atitudes que dissolvam com o dio e conscientizem a populao nas

    redes reias.

    Santa Cruz do Sul uma cidade com mais de 120 mil habitantes, localizada no Vale do Rio

    Pardo, conhecida por sediar a maior festa tpica da cultura alem do Rio Grande do Sul, como

    anunciada pelos organizadores da Oktoberfest. Essa festa celebra a cultura germnica e acabou

    afirmando a identidade do municpio como um municpio alemo. No entanto, antes de ser

    conhecida assim, antes mesmo da chegada dos imigrantes alemes, j haviam outros moradores

    no municpio, como afirma o pesquisador e professor

    (...) entende-se que a narrativa identitria na qual se produziu a cultura germnica em Santa Cruz do Sul est estruturada em torno de algumas dicotomias ou oposies binrias bsicas que, por sua vez, esto carregadas de conceitos hierarquizadores como: alemo/brasileiro; limpo/sujo; trabalhador/indolente. Ademais, a histria de Santa Cruz

    5Slogan da campanha realizada na cidade de Santa Cruz do Sul, com o nome de Pretinhosidades para dar visibilidade s crianas negras da cidade.

  • 24

    do Sul estruturada a partir do marco de chegada dos 12 primeiros imigrantes em dezembro de 1849, entretanto, o local no era um vazio histrico e demogrfico. A regio j possua relaes de sociabilidade, com atores sociais (luso-brasileiros, afro-descendentes, ndios, caboclos) e relaes de poder. (Skolaude S. Mateus pg.6)

    Percebe-se que o municpio buscava uma idealizao do santa-cruzense com a figura do

    homem branco, dos olhos azuis e colocou margem os outros,como aponta o pesquisador

    O lugar destinado aos migrantes, ou seja, aos outros, foram os bairros perifricos da cidade, num processo de segregao social e espacial. Nesse cenrio, a periferia se constituiu, enquanto espao estereotipado e fronteirio, demarcador de relaes simblicas e prticas sociais de grupos que no se encaixavam aos padres idealizados pela sociedade santa-cruzense. Alm da estigmatizao deste outro, a inveno de uma identidade alem como forma de defesa frente alteridade, foi uma das estratgias principais de manuteno do poder por parte de grupos tradicionais no municpio. Nesse contexto construdo os enunciados de uma poltica multicultural que tolera o outro desde que sejam mantidas as fronteiras culturais e tnicas bem demarcadas. (Skolaude S. Mateus pg.18)

    A busca por essa construo de uma identidade soberana que ficou enraizada na cidade se

    tornou um grande risco identidade daqueles e daquelas que no tem caractersticas germnicas.

    Numa tentativa de desconstruir a dominao cultural germnica, ou ao menos, mostrar

    aos estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental da Escola de Educao Bsica Educar-se

    outras realidades e, para levantar o debate sobre questes de cor de pele que iniciamos esse

    trabalho.

    O objetivo principal das vivncias na disciplina de Artes era promover a igualdade e

    mostrar a diversidade cultural e racial que existe na cidade, estado e no pas. As vivncias foram

    diversas e sero, brevemente, explanadas aqui. Elas tiveram inicio em uma aula de Artes, quando

    as crianas solicitavam o lpis cor de pele, nome designado ao lpis rosinha que ficou intitulado

    assim, e teve esse nome fixado pelo senso comum. Comeamos a questionar: Que pele? A minha

    pele, ou a sua pele? E assim, apresentamos aos alunos o giz cores de pele.

    Em uma caixa, esto 12 cores de giz de cera, que buscam representar as diferentes

    tonalidades de cores de pele e a partir da, promover a igualdade.Esse giz foi desenvolvido pela

    UniAfro (programa de aes afirmativas para a populao negra) em parceria com a Koralle,

    empresa de materiais de produo artstica.

    Essa atividade oportunizou s crianas o reconhecer de sua cor de pele e se sentir

    representada em uma cor mais real a sua. Isso tambm trouxe o desconforto em se ver em uma cor

  • 25

    que no aquela uniforme imposta pelo lpis cor de pele, surgindo questes de negao da

    identidade, principalmente por crianas negras. Numa cidade que refora a branquitude,

    reconhecer-se e pintar seu autorretrato como negro ou negra um ato de reafirmao muito forte

    e difcil para muitas crianas.

    Isso no acontece somente em uma ou em outra escola, mas na cidade em si. Nesse ano de

    2016, idealizado por negros e negras em parceria com brancos e brancas da cidade e de fora dela,

    criou-se uma campanha intitulada Pretinhosidades Santa Cruz (tambm) negra, que tem

    como objetivo o empoderamento da criana negra atravs da autoestima, visibilidade e

    representatividade (Pretinhosidades). O projeto contou com crianas negras que foram

    fotografadas e tiveram suas fotos coladas em alguns Busdoor e em cartazes da cidade.

    Para Marta Nunes, mulher negra, produtora cultural e idealizadora do projeto, preciso ressaltar que a marcante presena destes esteretipos, que colocam os descendentes germnicos como um ideal a ser alcanado, coloca, consequentemente, os indivduos que no se enquadram em um patamar de tratamento (institucional ou pessoal) como de segunda classe. (in Portal Gazl)

    Essa campanha, somada a textos provocativos que mostravam as formas de discriminao, e

    imagens de promoo de igualdade foram agregadas para o debate desenvolvido em sala de aula.

    Foi perceptiva a reflexo e a forma como esse tema mobilizou as crianas. Apareceram relatos de

    crianas que presenciaram algum ato racista ou preconceituoso, de crianas que se indignaram com

    os fatos apresentados e gostariam de viver num mundo mais igual em oportunidades, tratamentos,

    reconhecimento para todas as pessoas e que no existisse preconceito ou desigualdade.

    Dando sequencia s reflexes, produes artsticas em forma de desenhos e pintura com o tema

    Igualdade que estavam sendo feitas, retomamos o percurso para conhecer uma

    representatividade de resistncia em forma de afeto da cultura afrodescendente. As crianas

    tiveram o contato com a histria e com a confeco de bonecas Abayomi, bonecas feitas por mes

    africanas para acalentar seus(as) filhos(as) durante as terrveis viagens a bordo dos tumbeiros -

    navio de que realizava o transporte de escravos entre frica e Brasil onde as mes africanas

    rasgavam retalhos de suas saias e a partir deles criavam pequenas bonecas, feitas de tranas ou ns,

    que serviam como amuleto de proteo.

  • 26

    As bonecas so smbolo de resistncia e ficaram conhecidas como Abayomi, que significa Encontro

    precioso, em Iorub. No possuem costura,nem demarcao de olho, nariz nem boca, para

    favorecer o reconhecimento das mltiplas etnias africanas.

    Essa atividade foi desenvolvida prximo ao dia das crianas para mostrar elas uma fase

    triste de nossa histria e como isso afetou as criana escravizadas, pensar tambm as crianas de

    hoje, pois nem todas tem um dia to feliz assim e que no o valor do mercado que valida um

    presente, mas sim, o valor afetivo, o estar presente.

    As aulas em que confeccionamos as bonecas foram encontros riqussimos, de cuidado com a

    obra e de sensibilizao pela histria contada sobre as bonecas. Era visvel o encantamento e

    apreo das crianas com essa construo. At o momento, a confeco desses elementos foi a ltima

    atividade desenvolvida com as crianas dos 4s anos sobre a cultura afro e os temas ligado a

    igualdade, mas a reflexo cotidiana.

    Todas essas vivncias compartilhadas aqui no esto dissociadas do que as professoras titulares

    desenvolvem em sala de aula com as crianas.Esse dilogo e reflexo aconteceram

    concomitantemente pelas professoras titulares ao aprofundarem o estudo sobre o municpio.

    Momentos e reflex(a)es assim so pequenas fascas para promover a igualdade e fomentar

    a representatividade negra em sala de aula. Uma pequena ao, mas que reverbera no pensar, no

    falar e no agir das crianas. Falar de igualdade s crianas fundamental para que, desde cedo, no

    sejam enraizadas nelas a cultura da discriminao. A criana no em si preconceituosa, mas, por

    vezes, a famlia pode fazer esse desservio, e ns como professores precisamos, desde cedo,

    desenvolver o senso crtico e promover a igualdade entre as crianas.

    A Escola Educar-se um ambiente onde a formao da criana e do adolescente

    fundamentada na criticidade e na autonomia do sujeito. uma Escola onde se tem todo o apoio

    propostas que faam a criana ver que no existe apenas o universo onde elas esto imersas, pois

    existem crianas sem celular, sem roupas de marca e, at mesmo sem comida. Que existem formas

    de seremos felizes sem ser por meio de um consumismo demasiado e que todos somos agentes de

    transformao do mundo.

  • 27

    Sabemos que se trata de uma Escola privada, mas ela no esquece do pblico, do humano e

    do coletivo, alis, fomenta e prope esses questionamentos, inquietaes e aes de desconstruo e

    de ao efetiva na sociedade. Possui um corpo docente inquieto, desacomodado, formado por

    sonhadores e transformadores sociais.

    Esse trabalho no foi para falar bem ou mal do municpio, da Escola, das aes artsticas ou

    possui qualquer receita de como se fazer um mundo mais justo, igualitrio e sem racismo. para

    compartilhar uma ao que possibilitou ampliar a discusso e o repertrio das crianas em relao

    a essa questo.

    Sabemos como fundamental todos falarmos, pensarmos e agirmos para acabar com o

    racismo no mundo inteiro ou melhor, acabar com todas as formas de preconceitos, enxergando no

    outro a riqueza e importncia da sua singularidade num coletivo. O municpio de Santa Cruz

    precisa disso, como tantos outros. preciso fazer mais para mudar uma ideia construda a sculos.

    As propostas desenvolvidas nas aulas de Artes foram um vis, no o nico e, talvez nem o melhor,

    mas se no houver um inicio, uma fagulha, o todo no vai se incendiar e nenhuma mudana

    acontece para termos igualdade em nossas diferenas.

    REFERNCIAS:

    SKOLAUDE, Mateus L. HISTRIA, IDENTIDADE E REPRESENTAO SOCIAL: O CASO DA COMUNIDADE AFRO-DESCENDENTE DE SANTA CRUZ DO SUL in http://www.escravidaoeliberdade.com.br/site/images/Textos5/skolaude%20mateus%20silva.pdf (Acesso em 25/10/2016 s 15h:45min); Projeto Poltico Pedaggico da Escola Educar-se http://educar-se.unisc.br/?page_id=77 (Acesso em 27/10/2016, 14h); http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=431680&search=rio-grande-do-sul|santa-cruz-do-sul|infograficos:-historico (Acesso em 25/10/2016 s 15h); http://www.hypeness.com.br/2015/03/marca-lanca-giz-de-cera-com-varias-cores-de-pele/ (Acesso em 27/10/2016 s 17h) http://gaz.com.br/conteudos/regional/2016/07/28/77413-campanha_com_criancas_negras_busca_problematizar_racismo_em_santa_cruz.html.php (postada em 28/07/2016 10:17:04) www.afreaka.com.br/notas/bonecas-abayomi-simbolo-de-resistencia-tradicao-e-poder-feminino/ (Acesso em 10/10/2016 s 14h).

    http://www.escravidaoeliberdade.com.br/site/images/Textos5/skolaude%20mateus%20silva.pdfhttp://educar-se.unisc.br/?page_id=77http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=431680&search=rio-grande-do-sul|santa-cruz-do-sul|infograficos:-historicohttp://www.cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=431680&search=rio-grande-do-sul|santa-cruz-do-sul|infograficos:-historicohttp://www.hypeness.com.br/2015/03/marca-lanca-giz-de-cera-com-varias-cores-de-pele/http://gaz.com.br/conteudos/regional/2016/07/28/77413-campanha_com_criancas_negras_busca_problematizar_racismo_em_santa_cruz.html.phphttp://gaz.com.br/conteudos/regional/2016/07/28/77413-campanha_com_criancas_negras_busca_problematizar_racismo_em_santa_cruz.html.phphttp://www.afreaka.com.br/notas/bonecas-abayomi-simbolo-de-resistencia-tradicao-e-poder-feminino/
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    ARTES E OUTRAS MODALIDADES EXPRESSIVAS, DE MANEIRA INTERDISCIPLINAR, COMO FACILITADORAS DO DESENVOLVIMENTO

    POTENCIAL DOS EDUCANDOS

    Lorena Ins Peterini Marquezan UFSM, Professora e Chefe do Departamento Fundamentos da Educao

    Agncia de Fomento: PROLICEN E-mail: [email protected]

    Bernardete Antonello Cerezer

    UFSM, Aluna de Artes Visuais Agncia de Fomento: PROLICEN

    E-mail:[email protected]

    Geisiane Ins Descovi Soares UFSM, Aluna de Artes Visuais

    Agncia de Fomento: PROLICEN E-mail: [email protected]

    RESUMO Essa pesquisa trata da arte e seus materiais plsticos, como instrumentos de mediao do desenvolvimento potencial da criana e do adolescente no CACC (Centro de Apoio a Criana com Cncer Santa Maria/RS) e na Escola Municipal Vicente Farencena Santa Maria RS, buscando atravs da arte e educao despertar o imaginrio, a criatividade, afetividade, auto-estima, o autoconhecimento buscando um equilbrio bio-psquico no enfrentamento dos desafios da enfermidade e da superao das adversidades tentando amenizar as ansiedades, os medos, as dores da prpria existncia. A metodologia utilizada foi a fenomenologia, pois atravs da sensibilizao criamos espaos de modalidades expressivas interdisciplinares. Os resultados dos anos anteriores foram significativos tanto para as crianas, familiares e alunos da UFSM. Na Escola Municipal Vicente Farencena a mdia foi de 7,4 no IDEB. As implicaes afetivas permearam o resgate da arte na vida de cada um, mostrando a sua importncia, uma vez expressando o emocional e criativo ajudando na reintegrao social das crianas e jovens da Educao Infantil, Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Salientamos a vivncia da indissiociabilidade entre o Ensino, Pesquisa e Extenso pelos alunos das Licenciaturas da UFSM no contexto escolar e no CACC, como dispositivo legal constante na constituio federal de 1988 para a implementao das aes, da prxis pedaggica interdisciplinar e transdisciplinar. Palavras chaves: imaginrio, interdisciplinaridade, criatividade INTRODUO

    Artes e outras modalidades expressivas, de maneira interdisciplinar como facilitadora do

    desenvolvimento potencial dos educandos um projeto que visa interao desses educandos com

    mailto:[email protected]
  • 29

    as artes como instrumento que media o desenvolvimento da criana ou adolescente no cotidiano

    escolar ou meio social onde vivem.

    As interaes sempre foram em busca de despertar o interesse das crianas sobre as artes, de

    consolidar a importncia de se trabalhar com qualquer modalidade artstica. Trazendo assim um

    entrelaamento entre o mundo real e o mundo imaginrio. E como no o mundo real h a interferncia

    social atravs das convivncias a que esto sujeitos, seja essa interferncia um mtodo de cunho

    transformador para as crianas e adolescentes, na medida em que possam estabelecer uma relao no

    que diz respeito percepo da vida individual e a influncia da sociedade sobre as transformaes

    adquiridas.

    Mas Vygotsky questionava a noo comum de que a criatividade seria um fenmeno raro e

    natural da essncia humana. Esta atividade obedeceu, portanto, duas formas bsicas de construo: a

    primeira seria a reproduo de fatos anteriormente vividos, ligada diretamente memria; e a segunda

    seria a capacidade que o organismo humano tem, devido plasticidade do sistema nervoso e da

    imaginao, de mudar o que foi mantido na memria, criando e desenvolvendo novos hbitos.

    DESENVOLVIMENTO

    Na Escola Vicente Farencena a aula de artes, em uma primeira ocasio, percebida pelos

    pequenos, como um momento de serem eles mesmos, eles suas fantasias transformadas e

    transportadas para a materialidade atravs da plasticidade.

    Foi um tempo de grandes descobertas e transformaes e como a curiosidade que uma

    ferramenta que nos impulsiona para as nossas realizaes, essa curiosidade estava presente naquelas

    crianas. Foi percebido como seria produtivo esse trabalho junto s crianas de 1 ano da Escola

    Vicente Farencena. Castoriadis (1982) afirma que a instituio da sociedade abrange um magna de

    significaes imaginrias sociais, que podemos e devemos denominar um mundo de significaes.

    Assim, se refere:

    Poderamos retomar esta anlise a propsito de todas as significaes imaginrias sociais centrais, quer se trata-se da famlia, da lei, do Estado; porque antes de apressa-se em qualificar esses termos como referindo-se a instituio[...]Elas condicionam e orientam o fazer e o representar sociais nos e pelos quais elas continuam alternando-se[...] As significaes imaginrias e sociais so aquilo atravs do que tais vises subjetivas concretas ou mdias tornam-se possveis[...]O mundo das significaes tem que ser pensado, no como uma rplica do mundo irreal de um mundo real...Temos que pens-lo como posio primeira, inaugural, irredutvel do social-histrico e do imaginrio social tal

  • 30

    como se manifesta cada vez numa sociedade dada; posio que se presentifica e se figura na e pela instituio das significaes...Da mesma maneira que quando falamos do social-histrico e do imaginrio social, a dificuldade no inventar novos vocbulos[...] (CASTORIADIS,1982, p. 409 - 413)

    Ele nos convida a redimensionar, a compreender o social-histrico emergindo, figurando,

    criando, alterando, ressignificando o imaginrio radical como o social-histrico e como

    psiqu/soma, fluxo representativo/ afetivo/intencional. Denominamos imaginrio social no

    sentido primrio do termo ou sociedade instituinte, o que no social-histrico posio, criao,

    fazer ser. Percebe-se assim a riqueza dessa reflexo para o processo de subjetivao dos professores

    e de todo o ser humano.

    Acreditamos na importncia da curiosidade como um elemento fundamental no processo

    cognitivo das crianas, foi proposto a atividade da pesquisa sobre os produtos naturais que

    poderiam ser utilizados para se extrair os pigmentos.

    Figuras 1 e 2: Alguns desenhos realizados pelos alunos da Escola Vicente Farencena

    Fonte: Acervos pessoais.

    Quando foi abordado esse tema foi explicado que podemos na atualidade usar esses

    elementos da natureza para fazer arte, mesmo tendo a disposio muitas tintas industriais, sendo

    que foi uma prtica interdisciplinar, pois foram construdos trabalhos com muita criatividade.

    Foram utilizados materiais como p de caf, areia, terra, beterraba, erva mate, carvo e outros,

    trabalhando tambm com as sensaes e o olfato. Cada aluno corresponde sua maneira ao

    interpretar uma proposta de produo artstica, percebendo-se a o que cada um evidencia de mais

    significativo dentro de suas vivencias cotidianas. Quanto a esse envolvimento da criana com as

    prticas artsticas escolares, fazendo relaes entre esses dois espaos vividos, cito Vygotsky:

    Podemos concluir, ento, que o processo de criao ocorre quando o sujeito imagina, combina e modifica a realidade. Portanto, no se restringe s grandes invenes da humanidade ou s obras de arte, mas refere-se capacidade do imediato. Para ele, quanto mais ricas forem as experincias que as crianas vivenciam, mais possibilidades tm de

  • 31

    desenvolver a imaginao e a criatividade em suas aes, especialmente atravs de suas brincadeiras. E, quanto mais possibilidades tiverem de desenvolver sua imaginao, mais criativas sero nas suas aes/interaes com a realidade (VYGOTSKY, 1990, p. 85).

    A arte contribui nesse sentido como uma ressignificao na autoestima da criana, ao passo

    que est se sente confortvel para transpor de dentro, do imaginrio, para fora, a concretizao

    desse imaginrio, a explorao dos seus sentimentos. E poder compartilhar com outro isso,

    colaborando para que exista um processo de construo da personalidade dessa criana ou

    adolescente.

    Para orientar o PROLICEN no CACC (Centro de Apoio Criana com Cancr) nos

    baseamos no psiquiatra Carl Jung (1920, p. 63) que explica arte a expresso mais pura que h

    para a demonstrao do inconsciente de cada um. relevante ento apontar aqui como se tornou

    visvel a alegria e a energia absorvida pelas crianas que estavam de passagem no CACC (Centro

    de Apoio criana Com Cncer) durante os trabalhos artsticos propostos com a finalidade de fazer

    com que relaxassem e por alguns momentos esquecer o sofrimento ocasionado pelas sesses de

    quimioterapia para combater o cncer.

    Figuras 3 e 4: Trabalhos com pinturas realizados no CACC

    Fonte: Acervos pessoais.

    As cores, as tintas, leituras brincadeiras e as novidades sobre alguma proposta dada para se

    trabalhar eram momentos de grande renovao percebida nos seus comportamentos porque

    geravam uma expectativa, afirmavam a renovao do estado interior e aliviavam a tenso dos pais

    acompanhantes, que j estavam em estado de cansao, tanto corporal quanto espiritual. A maioria

    das crianas em tratamento por conta da doena no estuda em colgios regulares, e esse contato

    com a arte trouxe um grande envolvimento por parte deles e percebe-se ento a elevao da

    autoestima dessas crianas produzida pela realizao dessas atividades. Porque se entende a

  • 32

    importncia para as crianas e para os pais o afeto despendido por parte de quem faz o trabalho

    voluntariado ou no no CACC.

    CONCLUSO

    No trabalho do PROLICEN realizado nas duas instituies, CACC (Cento de Apoio

    Criana com Cncer) e Escola Municipal Vicente Farencena Santa Maria, teve como caracterstica

    a aplicao das artes Visuais, Artes cnicas e Msica. Com o propsito de criar e recriar sentidos,

    sentimentos e valores nessas crianas e adolescentes atravs da prtica artstica.

    Como acadmicos no somos donos de uma verdade, mas instrumentos que potencializam

    os saberes dos educandos. Ao mesmo tempo somos aprendizes nesse processo de ensinamentos. E

    como escreve FREIRE:

    esta percepo do homem e da mulher, como seres programados, mas para aprende e, portanto, para ensinar, para conhecer, para intervir, que me faz entender a prtica educativa como um exerccio constante em favor da produo e do desenvolvimento da autonomia de educadores e educandos. Como prtica estritamente humana, jamais pude entender a educao como uma experincia fria, sem alma, em que os sentimentos e as emoes, os desejos, os sonhos devessem ser reprimidos por uma espcie de ditadura reacionalista. (FREIRE, 1996, p.145).

    Sendo assim, nessa experincia que vivenciamos como bolsistas do PROLICEN e como

    orientadora, desenvolvemos atividades com as Artes e suas Linguagens de maneira interdisciplinar

    e transdisciplinar, percebemos a interao dessas crianas e adolescentes com os temas propostos.

    Foi um processo que contribuiu para despertar em todos os envolvidos sentimentos de

    coletividade, sensibilidade, afetividade e elevao da autoestima. nesse sentido tambm uma

    troca de aprendizado porque quanto mais ensino, mais aprendo, e essa troca que facilita e destaca

    a importncia de os trabalhos continuarem avanando nas mediaes socioculturais abertas

    inacabadas.

    REFERNCIAS

    CASTORIADIS, Cornelius. A instituio imaginria da sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia saberes necessrios prtica Educativa. So Paulo: Paz e Terra, 1996. JUNG, C. G. (1961) Memrias, Sonhos e Reflexes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975. VYGOTSKI, L.S. Imagination and creativity in childhood. In: Soviet Psychology, v. 28, 1930/1990, p. 84-96.

  • 33

    A ORGANIZAO, O ADIMENSIONAMENTO E A DESREALIZAO TOTAL A ESTRANHA CIDADE DE G. H.

    Maria Edinara Leao Moreira UFSM, Doutorado concluso

    [email protected]

    RESUMO

    Este artigo aborda o andamento narrativo de A paixo segundo G. H., de Clarice Lispector, delimitando, para fins de estudo, os momentos distintos dentro de um quarto-cidade. A pesquisa de natureza bibliogrfica, com o fim de proceder anlise literria da obra. Pelo foco em primeira pessoa portanto, colado narradora-protagonista , o leitor v descortinar-se a inusitada trajetria da personagem, que ora parece elevar-se, ora parece descer aos espaos inferiores da mente e ao inorgnico da natureza. A abordagem terica parte dos conceitos de Auerbach (1971) sobre a narrativa no ocidente, Bicca (1997) sobre a formulao da subjetividade humana e Freud (1996) sobre a construo da identidade e da cultura na sociedade. Chega concluso de que aps o quarto-cidade passar por inmeras desconstrues, G. H. ainda tem presente a primeira camada narrativa, ou seja, no momento da bifurcao das camadas narrativas, a constatao e o pedido de G. H. so um lamento, a prova de que ocorre um desdobramento de personalidade, que no a impede, porm, de discernir nas camadas narrativas que se apagam os nveis de realidade e de iluso contidos. Palavras-chave: Processo narrativo; construo identitria; quarto

    INTRODUO

    A protagonista percebe sua aparente normalidade invadida por um quarto que parece se

    desconfigurar, um estranho mural na parede e a presena inusitada de uma barata. Esse quarto

    desencadeia a tenso narrativa, uma vez que dentro dele que coisas estranhas acontecem. Por fim,

    a personagem diz estar entrando em um mundo regido por outras leis, a que ela chama o inferno

    da matria viva, passando a experimentar, por meio dessa agonia, o inexpressivo, o no ser, o

    Deus, o Nada atravs da linguagem, a qual aponta, constantemente, o limite e a diferena. No

    final do captulo, detemo-nos um pouco sobre a questo temporal.

    A protagonista se descobre na condio de algum que est para conhecer um caminho,

    parodiando o Cristianismo Ningum vai ao Pai seno por mim , mas alerta que sua

    experincia em particular no substitui a trajetria humana: E intil procurar encurtar caminho

  • 34

    e querer comear, j sabendo que a voz diz pouco, j comeando por no ser pessoal. Pois existe a

    trajetria, e a trajetria no apenas um modo de ir. A trajetria somos ns mesmos (p. 172). G.

    H. d a conhecer ao seu leitor o relato de uma difcil experincia que pode ter acontecido apenas no

    plano mental ou ter vivido tambm com o corpo fsico. Sua passagem pode ser comparada paixo

    de Cristo, mas num destino inverso, pois, enquanto Cristo ascede, G. H. sofre o processo de

    descenso ao inorgnico.

    DESENVOLVIMENTO

    Um problema se coloca para qualquer leitor de A paixo segundo G. H.: como explicar a

    presena de pelo menos trs momentos fundamentais que, constitutivamente, nas suas relaes

    com qualquer realidade possvel, apresentam proposies diferentes?

    Para fins de anlise, dividimos a obra em trs partes. A primeira constitui-se da descrio.

    Delimitaremos, para melhor compreenso do leitor, o mapa da obra, conforme se desencadeia o

    processo da paixo. O que chamamos primeira parte a narrativa organizada, corresponde s

    margens bem delimitadas do apartamento, onde vive a protagonista, o seu universo familiar,

    domstico. Em uma cobertura no Rio de Janeiro, G. H. vive bem e tem amigos. A tambm viveu

    os relacionamentos amorosos. No dia anterior, a empregada despedira-se. Nessa parte, a

    representao possui feies mimticas ainda definidas, e so descritos o sujeito e o espao. O

    apartamento que conhecemos por meio dos pensamentos de G. H., agora silencioso, compe-se de

    cozinha, quartos, living, corredor e rea de servio. Na primeira parte da narrativa, G. H. segue sua

    cotidianidade, e, dessa forma, paredes, coisas, mveis, mundo ali esto de algum modo como em

    muitos outros lugares. Porm, movida por atpica predisposio, ela resolve arrumar o quarto de

    empregada. Ao entrar, descobre que o cmodo de um ensolarado vibrante. intrigante o fato de

    haver duas portas.

    Na convencionada segunda parte da narrativa, que inicia com a entrada no quarto-cidade,

    presenciamos que o cmodo parece reduzir suas propores e expuls-la, at que ela entra

    definitivamente para no mais sair. Esse o momento em que G. H. v o elemento central e mais

    perturbador da narrativa: a barata. De repente, ela, que vive em seu confortvel apartamento,

  • 35

    assaltada por dvidas sobre o que a existncia. No processo de perda da racionalidade, G. H. v

    soobrar suas antigas concepes sobre a vida. Tudo o que parecia claro, ntido, perde o sentido,

    at os sentimentos humanos, como o amor. Nesta parte, ocorre a desordenao da narrativa, da voz

    da protagonista que reflete a desorganizao perceptiva de seu mundo. Ou seja, a representao do

    mundo como o conhecemos, tende a se desfazer, a perder as noes espao-temporais. A narrao

    perde o cho e a segurana dos rumos. Tambm a porta do quarto comea a sofrer uma

    desconstruo, era como se o quarto se embrenhasse num adimensionamento. O quarto, assim

    configurado, adquire feies de um no lugar, uma no-cidade ou de algo em instncia de deixar de

    ser.

    A terceira parte corresponde a uma redescoberta de si, diferente da organizao inicial, mas

    que, nem por isso, se poderia nomear desorganizao. A terceira parte transcende a condio inicial

    da protagonista, que atravessada pela paixo e, deixando de ser quem era, perde configuraes

    humanas para se fundir no it, ou neutro, aprende a viver numa outra ordem de coisas, e a

    encontrar prazer no tdio, no deixar-se ser, sem nada fazer. Ocorre uma aproximao ao discurso

    mstico, mas pela via inversa, comparando ao Cristianismo, que coloca a ascenso aos cus como

    fim da paixo. G. H. sofre uma espcie de retorno ao inorgnico, tambm chamado neutro.

    Consegue, assim, na terceira e ltima parte, concernir ao que chama matria viva e imergir no

    nada filosfico, onde a condio de ser o prprio ser, onde vibra a coisa, por ela mesma. Na

    narrativa engasgada, G. H. vive a difcil experincia de atravessar seu deserto interno. Aps essa

    experincia, G. H. no transcendentaliza, passa pela experincia do orgnico, vive processos de

    ascenso e descenso, perde os sentimentos, mas volta humanidade, porque conclui que a

    desistncia do divino, sentindo o sabor insosso do divino, que confere ao humano, humanidade.

    Baseada no exposto sobre os momentos em que foram divididos a narrativa, faremos um

    organograma demonstrativo:

  • 36

    Organograma dos movimentos da narrativa A paixo segundo G. H.

    Iniciando a anlise do grfico pela primeira parte, a mesma corresponde rplica da vida. Esta

    parte corresponde aos momentos em que possvel delimitar bem o espao fsico e a construo da

    personagem, temos a ideia de um ser que tem conscincia de que no se conhece e de que parece ser

    possudo por outra vida, algum que participa do todo social, mas, nessa generalidade, no consegue

    perceber-se individual. G. H. se concebe como citao e rplica de si mesma.

    A personagem tinha um princpio: uma organizao que permitisse a compreenso de si, uma

    catalogao no somente para saber de si, mas para saber entre que circundantes estava. Havia um

    ciclo: o presente permeava o futuro, e um olho sabia de tudo. G. H. j no sabia se era o reflexo ou se

    fora absorvida por um espelho. Cabe, neste estudo, a explicitao sociolgica dos fatores que permitiam

    a G. H. continuar assim: em primeiro lugar, o ser livre, a ausncia de marido e filhos, comer e dormir

    facilmente e a liberdade financeira.

    G. H. criara o simulacro da casa, gostava da duplicata porque a entendia, era seu espao de

    segurana, uma vida real no poderia servir, porque teria que ser decifrada a cada instante. Localizada

    no quarto, como se ali estivesse fixa, G. H. revive a conscincia espacial adquirida desde criana,

    quando sabia que sua cama estava situada dentro de uma cidade, que se encontarva dentro da Terra,

    Parte 1 Fase de organizao da narrativa. Presena de aspectos mais pontuais do enredo. Cena: personagem no caf Personagem confortvel Espao apartamento Tempo presente narrativo Mundo representado com maior fidelidade.

    Parte 2 Princpio de desorganizao.

    Rarefao de aspectos pontuais do enredo.

    Cena: personagem porta do quarto Personagem inquieta Espao quarto Tempo fase de desrealizao Mundo representado com menos pontos de fidelidade, estranhamento.

    Parte 3 Desorganizao radical.

    Extino de pontos de contato com a estrutura tradicional do enredo.

    Cena: personagem dentro do quarto Espao quarto transformado Personagem despersonalizadaTempo desrealizado Mundo representado com base em outra estrutura, fora de padres organizados e racionais.

  • 37

    que pertencia ao mundo (p. 46), ou quando brincava de localizaes atpicas, fingindo que estava dentro

    de uma casa solta no ar e em cujo interior havia baratas invisveis (p. 46). Essas eram localizaes que

    indelimitavam o espao pela amplitude, mas agora lhe acontece o contrrio; a personagem restringe-se

    a um msero espao fsico situado entre o p da cama e a porta do guarda-roupa. Nu, o quarto,

    substantivo masculino, recebe G. H., aquela a quem [...] chamava de ela [...], um eu a que o quarto

    dera uma dimenso de ela (p. 56). Nesse trecho, a protagonista sugere uma conotao sexual, porque

    entra assexuada no cmodo, carregando as circunstncias de indivduo da espcie, mas logo

    identificada como ela, momento em que passa a assumir sua condio feminina.

    CONSIDERAES FINAIS

    Em A paixo segundo G. H., por detrs da primeira camada narrativa, vo se descortinando

    outros espaos, outras camadas: o apartamento torna-se desfiladeiro, local de difcil passagem; depois

    se converte em montanhas, que inicialmente representa a elevao s dimenses superiores; e por

    ltimo vira deserto, regio seca. O deserto representa a interiorizao absoluta, lugar desprovido de

    tudo, no caso especfico da obra em anlise, o lugar em que o confronto interno se d. O que ocorre

    posteriormente, em termos metafricos, a descida aos mundos infernais, regio infradimensional, ao

    inconsciente no iluminado dentro de si, para onde a protagonista conduzida por um cavalo, smbolo

    emblemtico do instinto. Por fim, acontece a entrada no reino dos cus, o neutro, o nada semelhante

    ao nirvana dos budistas , que constitui a terceira parte da narrativa.

    REFERNCIAS

    AUERBACH, Erich. Mmesis: a representao da realidade na literatura ocidental. Trad. George Bernard Sperber. So Paulo: Perspectiva, 1971. FREUD, Sigmund. Alm do princpio de prazer (1920). In: _____. Obras completas. Trad. Jayme Salomo. Rio de Janeiro: Imago, 1996d. v. XVIII. (Edio Standard Brasileira). _______. O mal-estar na cultura (1929). Trad. Renato Zwick. Porto Alegre: L&PM, 2010. LISPECTOR, Clarice. A paixo segundo G. H. 9. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1979.

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    RESISTIR PRECISO: RODANDO A CIDADE

    Cristine Carvalho Nunes UFSM, Licenciatura em Dana, CEFD

    [email protected]

    Fernanda Battagli Kropeniscki E.E.E.F. Joo Link Sobrinho, Professora de Educao Fsica, Governo do Estado do Rio Grande do Sul

    [email protected]

    Bernardete de Lourdes Rocha UFSM, Licenciatura em Dana, CEFD

    [email protected]

    Jlia Cassanta Gavioli UFSM, Bacharelado em Dana, CAL

    [email protected]

    CheivaneTanski UFSM, Bacharelado em Dana, CAL [email protected]

    Prof Dr. Gustavo Duarte

    UFSM, Licenciatura em Dana, CEFD [email protected]

    Proposta de realizao de uma roda de dana circular, com a msica Escravos de J, com dinmicas provocativas de incio. RESUMO A primeira formao que o ser humano adotou no desenvolvimento da vida grupal e social foi a roda. Culturas antigas e culturas ligadas terra perceberam a especialidade da forma circular para o estar e fazer junto. Nela passaram a representar os ciclos da natureza, os rituais de passagem, as celebraes, ocasies de reverncia, temor, gratido. As danas circulares resgatam prticas de diferentes matrizes culturais de um povo, pois renem vrios tipos de danas tradicionais, folclricas e outras de diferentes locais do mundo. Entendemos a dana circular como uma forma de compreender o corpo sem dissociar movimento, expresso, sentimento e pensamento, e como um meio facilitador do potencial criativo, da auto percepo, das transformaes dos sujeitos e de suas relaes com tudo que o envolve. O propsito das danas no est centrado somente na dimenso tcnica, na codificao dos passos, mas na possibilidade de percepo de tudo o que envolve esta dinmica, de se permitir ao erro, de se entender enquanto parte de um todo. Destacamos a importncia de proporcionar espaos e tempos de danas circulares para diferentes pessoas, e transbordar essas prticas para outros cenrios da cidade, buscando revitalizar e valorizar espaos pblicos como praas, Estao Rodoviria, parques, Vila Belga, Gare da Viao Frrea, entre outros, visto que, em meio ao contexto em que vivemos, onde o individualismo e a competitividade imperam, as danas circulares podem descompassar o acelerado ir e vir cotidiano das pessoas, ao colocar em roda a coletividade e possibilitar o sentimento de unio.

  • 39

    S MARGENS DO MARGINAL: IMPRESSES DAS CONFIGURAES DE CORPO NO FILME ELVIS & MADONA

    Luciano Anchieta Benitez Faculdade Integrada de Santa Maria FISMA Graduao em Psicologia

    E-mail: [email protected]

    Mariana de Almeida Pfitscher Programa de Ps-Graduao em Psicologia UFSM

    Docente na Faculdade Integrada de Santa Maria - FISMA E-mail: [email protected]

    RESUMO Este estudo apresenta um ensaio terico no que se refere constituio do corpo e seus respectivos lugares no campo masculino e feminino. A proposta faz costura a linguagem cinematogrfica, sendo utilizada a obra Elvis & Madona (2010), dirigida por Marcelo Laffitte, como uma possibilidade de anlise as construes narrativas e estticas do tema que se pretende problematizar. Objetiva-se com este estudo uma anlise destes lugares, bem como, propor caminhos para dilogo entre pares, sobre as vias de intervenes neste campo, atravs do cinema. Partimos de elementos captados na obra sobre o olhar do realizador acerca da manifestao de gnero dos personagens, tendo como referencial a teoria psicanaltica de Jacques Lacan. Se e lucida neste trabalho, uma via de compreenso da linguagem portadora de sentido e constituda pelo discurso. As dimenses conceituais da teoria psicanaltica, como a relao entre anatmico e biolgico, gnero, a dimenso da estrutura psquica e processos de sexuao sustentam a articulao terica para que seja possvel compreender os movimentos dos sujeitos na cena e os deslizamentos psquicos possveis de cada um nesse cenrio. Palavras-chave: Cinema. Psicanlise. Gnero. INTRODUO

    Elvis (Simone Spoladore) sonhava em ser fotgraf@6. Sua lente filtrava uma Copacabana

    de contrastes, emoldurada pelo calado e por seus tipos caractersticos, registrados enquanto

    abria rasgos no real da cidade com sua motocicleta. Lady Madona (gor Cotrim) era uma das

    travestis mais conhecidas do bairro. Frustrada por ter sido extorquida em todas as suas economias

    6A grafia de algumas palavras com o smbolo @ um recurso utilizado para identificar palavras que podem ser

    utilizadas em ambos os gneros. Na anlise proposta, isto tem uma diferena crucial, devido necessidade de que se acentue a impossibilidade, em muitos casos, ou a falta de necessidade de que se pro-nomine um personagem como masculino ou feminino no discurso sobre o corpo.

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    por um antigo caso amoroso, trabalhava como cabeleireira e sonhava em produzir um show de

    teatro de revista. O encontro acontece nas reverberaes violentas e marginais de Copacabana,

    cujos reflexos revelam as convergncias existenciais das personagens.

    Este o enredo que introduz e faz cena no filme Elvis & Madona, o qual